Casa Garden acolhe Rota das Letras entre os dias 8 e 17 de Março

O Festival Literário de Macau Rota das Letras vai regressar à programação cultural da região durante Primavera, depois da mudança forcada para o Outono durante os anos da pandemia. Entre os dias 8 e 17 de Março, a Casa Garden vai acolher a 13.ª edição do festival que irá celebrar a obra poética de Li Bai e de Luís de Camões.
Entre os convidados, o chinês Dong Xi, vencedor do 11.º Prémio Mao Dun de Literatura, e o norte-americano Chang-era Lee, finalista do Prémio Pulitzer, são os nomes mais marcantes. Num evento com espaço também para a evocação dos 50 Anos do 25 de Abril, o escritor e jornalista João Céu e Silva, o artista Fido Nesti e a guitarrista Marta Pereira da Costa estão entre os representantes do mundo lusófono.
“Sempre entendemos que é em Março que faz mais sentido a realização do Festival Literário de Macau, por ser uma época do ano com menor sobrecarga de eventos. Daí que, à primeira oportunidade, e depois de várias edições realizadas nos meses de Outubro e Novembro, por força da pandemia, tenhamos decidido fazê-lo regressar à sua data original”, diz Ricardo Pinto, director do Rota das Letras.
Cinco meses após a última edição, o festival volta a celebrar os 500 anos do nascimento de Luís de Camões. Desta feita, a Casa Garden, com a gruta do poeta bem próxima, vai receber a visita de Kenneth David Jackson, professor da Universidade de Yale e autor de vários estudos camonianos.
O ilustrador brasileiro Fido Nesti evocará também a obra de Camões, através da sua adaptação d’ Os Lusíadas para crianças.

Lugar à poesia
Além do épico poeta português, a 13.ª edição do Rota das Letras terá como destaque outro nome grande da poesia universal na abertura do evento. A vida e a obra de Li Bai são o tema de uma exposição de fotografia de Xu Peiwu, artista chinês que ao longo da última década percorreu os mesmos caminhos por onde andou o poeta há́ mais de mil anos, registando as paisagens que o inspiraram na sua errância por vastas e dispersas regiões da China.
São imagens “de uma enorme beleza e densidade, que nos permitem contemplar uma China despida e cativante”, afirma João Miguel Barros, curador da exposição. Na sessão inaugural, a editora Livros do Meio, de Carlos Morais José, fará nova apresentação do livro ‘Li Bai – A Via do Imortal’, de António Izidro.
A evocação do 50.º aniversário da Revolução do 25 de Abril será também evocada nos primeiros dias do festival. João Céu e Silva apresenta ao público de Macau a sua obra ‘O General que começou o 25 de Abril dois meses antes dos Capitães’ – a história nunca contada de como o General António Spínola fez cair o regime.

3 Mar 2024

Casa Garden apresenta xilogravuras do artista japonês Katsushika Hokusai

As xilogravuras do japonês Katsushika Hokusai, expostas a partir do próximo sábado na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, são uma oportunidade de conhecer a técnica da gravura, muitas vezes confundida com a pintura, defende o curador da mostra.

A exposição “Hokusai The Wave Maker”, que apresenta três conjuntos de 64 gravuras ‘ukiyo-e’, na posse de uma “grande família de Osaka”, integra, entre outras, 46 peças da série “Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji”, disse à Lusa James Wong Cheng Pou.

“A Grande Onda de Kanagawa”, trabalho mais conhecido do artista do período Edo, entre 1603 e 1868, e que a partir de 2024 vai ser motivo da nota de mil ienes (6,44 euros), inaugura esta série, originalmente criada entre 1831 e 1934 e que retrata o monte Fuji em diferentes épocas do ano e de várias perspectivas.

“Há dois anos, peritos do Museu Britânico, que fez uma grande exposição sobre Hokusai, consideraram a possível existência de cerca de 8.000 cópias de ‘A Grande Onda [de Kanagawa]’ no mundo. Actualmente só se conseguem localizar cerca de 200”, notou.

Reimpressão de qualidade

Embora as gravuras expostas na delegação da Fundação Oriente em Macau sejam reimpressões da década de 1970 e anos mais recentes, James Wong nota que a qualidade é atestada pelas autoridades competentes japonesas, tendo a reprodução de respeitar “os métodos tradicionais”.

“É necessário utilizar o papel de estilo antigo, bem como madeira de cerejeira, para cortar os blocos [onde se faz a gravura], que geralmente tem de ter mais de 100 anos, além de todas as tintas das impressões serem de materiais minerais”, notou o também presidente do Centro de Pesquisa de Gravuras de Macau.

“A arte que vai ver nesta exposição são provavelmente os exemplares mais caros destas impressões recentes”, salientou.
Para Wong, membro fundador da Comunidade de Gravuras e da Trienal de Gravura em Macau, esta é também uma oportunidade para desmistificar a gravura, já que “não há muita gente que conheça a diferença entre pintura e gravura”. “Talvez [a população] tenha interesse em vir ver como são as impressões”, sugere.

A xilogravura japonesa ‘ukiyo-e’ junta dois elementos: o desenho que dá origem ao produto final e o bloco de madeira. Num primeiro momento, faz-se o desenho em papel e coloca-se sobre um bloco de madeira. Depois talha-se a madeira, deixa-se o desenho em relevo e, numa fase seguinte, o bloco é pintado e coberto com o papel onde vai ser feita a impressão, sendo que para uma só obra são necessários vários blocos. Ao longo do processo, pressiona-se o papel contra o bloco de madeira com uma ferramenta circular chamada ‘baren’.

A ‘ukiyo-e’ e o nome de Katsushika Hokusai não são completos desconhecidos do território. Em 2018, a Rádio Macau noticiou que o Fundo de Pensões tinha guardada uma coleção de arte japonesa, adquirida no final dos anos 1980 pela administração portuguesa e avaliada em 13,68 milhões de patacas.

Essas 84 gravuras remontam ao século XVIII e XIX e estão guardadas nos cofres do Banco Nacional Ultramarino (BNU) do território, de acordo com a emissora. O exemplar “Grande Onda de Kanagawa” – e as restantes 45 gravuras da série “Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji” – é a peça de arte de maior relevo adquirida pelo Fundo de Pensões.

James Wong recorda-se quando, nos anos 1990, passou “mais de uma hora” a observar essas impressões. Com ele, lembra à Lusa, encontrava-se também o artista e pedagogo português Nuno Barreto (1941-2009), na altura diretor da Academia de Artes Visuais de Macau.

“Fomos ao último andar do BNU e tivemos a oportunidade privilegiada de examinar [as peças]”, diz. A Lusa contactou o Fundo de Pensões para saber se a obra continua na posse do Governo de Macau, mas até ao momento não recebeu qualquer resposta.

10 Dez 2023

Cinema | Festival “Macau Films & Videos Panorama” arranca sexta-feira

Está de regresso mais uma edição do festival de cinema “Macau Films & Videos Panorama”, que termina dia 26 deste mês. Com organização da Associação Audiovisual CUT, esta é a oportunidade para ver, na Casa Garden, os melhores filmes feitos por realizadores locais, com o cinema universitário em destaque

 

A Casa Garden acolhe, a partir desta sexta-feira e até ao dia 26, mais uma edição do festival “Macau Films & Videos Panorama”, uma iniciativa da Associação Audiovisual CUT que pretende mostrar o que de melhor se faz no cinema local, mas não só. Serão exibidos filmes locais, parte deles integrantes da iniciativa “O Poder da Imagem”, do Instituto Cultural (IC). Há também quatro filmes escolhidos pelas universidades locais, revelando-se, assim, os melhores projectos dos estudantes de cinema. Destaque ainda para 11 filmes de Hong Kong, China e Taiwan. Todos eles vão a concurso.

Os organizadores convidaram Joyce Yang, veterano crítico de cinema de Hong Kong, para fazer parte do júri na primeira fase de selecção de filmes, tendo sido eleitas 12 de um total de 40 submissões. O júri é ainda composto por outras personalidades ligadas ao cinema asiático, como é o caso de Song Wen, fundador do FIRST – Festival Internacional de Cinema de Xining, na China; Kattie Fan, directora da programação do ifva Festival, promovido pelo Centro de Artes de Hong Kong, e Esther Chen, curadora dos Taiwan Golden Harvest Awards. A partir destes eventos, foram seleccionados os seis filmes da China, Taiwan e Hong Kong que integram a secção “Panorama Screenings”.

Destaque ainda para o facto de o público poder assistir a conversas após a exibição dos filmes, “permitindo que os realizadores locais possam comunicar com o público”. Enquanto isso, “o público poderá ter acção e dar apoio, votando nos seus trabalhos favoritos”, escolhendo as películas que vão ganhar o prémio “Escolha do Público” [Audience Choice Award].

Relativamente à secção “Made in Macau”, apresentam-se 22 filmes, incluindo dez da iniciativa “O Poder da Imagem” e 12 escolhidos das submissões feitas pelos realizadores locais. Haverá seis sessões para exibir as curtas-metragens. A organização descreve esta lista de trabalhos cinematográficos como “demonstrando inovação e vitalidade da parte dos criadores locais”, competindo pelos prémios do júri e do público.

Uma vez que grande parte dos temas explorados pelos realizadores giram em torno da pandemia e das experiências pessoais vividas nestes últimos meses de confinamentos, medos, traumas e expectativas, os organizadores “convidam o público a olhar para a perspectiva dos realizadores locais e ver como registaram as experiências do passado, como se pode ganhar um novo ritmo e fazer com que as experiências mais pesadas do passado se tornem no poder do futuro”.

O cartaz

Neste festival poderão ser vistas longas e curtas-metragens, trabalhos de ficção e também documentários. Na sexta-feira, as exibições começam às 19h30 com os filmes “Peaceful”, “The Unearthed Memory”, “Sea” e “The Ceremony of Coloane”. Este último título é um documentário sobre a ilha de Coloane e as suas vivências tão específicas, contando a história da cerimónia de abertura da Associação de Construção e Desenvolvimento de Coloane. Trata-se de um “momento histórico” contado em filme, que pretende “reforçar a felicidade, o sentido de pertença e o desenvolvimento sustentável dos residentes”.

No caso de “The Unearthed Memory” conta-se a história dramática de Ngai, que, deparando-se com a morte do pai, tem de lidar com traumas da sua infância, confrontando-se com memórias fragmentadas dos seus pais no seu dia-a-dia. Esse processo faz com que Ngai se consiga redescobrir e preparar-se para aceitar tamanha perda. Este é um filme de Ho Kueng Lon, que iniciou os estudos em cinema e televisão em 2017, na Polónia, onde continua a estudar ficção e documentário. Este realizador de Macau pretende explorar mais o chamado cinema narrativo, contando histórias “focadas na condição humana”.

As quatro películas de Macau voltam a ser exibidas no dia 25, às 21h30. Também esta sexta-feira, mas no horário das 21h30, destaque para as exibições de “The Last Sunrise” e “The Lily Yet to Bloom (Director version)”. Estes filmes voltam a ser exibidos no dia 25, às 17h.

No sábado, dia 18, às 16h30, o público poderá ver “Tantalus”, “Shipwright”, “Ghost & Cat” e “Backyard”, que voltam a ser exibidos no dia 24, sexta-feira, às 19h30. Também no sábado, mas no horário das 21h30, o festival exibe “One Night Legends”, “Before the Flight”, “Jellyfish” e “The Best Gift Ever”, repetidos no dia 26, domingo, às 19h30.

Destaque ainda para as exibições, neste sábado, no horário das 19h30, dos filmes “Daughter and Son”, “Almost Summer” e “To The Sea”. De frisar que “Daugther and Son”, filme do realizador chinês Cheng Yu, foi escolhido para a lista das melhores curtas-metragens do Berlinale – Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Este domingo, 19, às 16h30, exibem-se os filmes “By 3pm”, “Flower”, “Family Heriloom” e “Homework”, que poderão ser vistos novamente na sexta-feira, dia 24, às 21h30. A partir das 21h30 deste domingo serão exibidos “Where the Luck Goes?”, “Punctum”, “The Lost Eden of Birds” e “A Beautiful Bird Day”, novamente exibidos dia 26, às 17h.

No dia 25, serão exibidos os filmes integrantes da selecção feita pelas universidades locais, com entrada livre. A Universidade de Macau escolheu “One Day That Day”, a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau apresentou a película “Rupert’s Tears”, a Universidade de São José seleccionou “Flowers For My Mother” e a Universidade Politécnica de Macau trouxe para o festival o filme “Imprisoned”.

16 Mar 2023

Casa Garden | Segunda edição da “Highly Collectable Art Fair” a partir de sábado

A Casa Garden, delegação da Fundação Oriente (FO) em Macau volta a receber a exposição “Highly Collectable Art Fair”, naquela que é a segunda edição do evento. A inauguração acontece sábado, às 17h30, sendo que a exposição encerra no próximo dia 19.

Esta segunda exposição realiza-se seis meses após a primeira edição, que foi bem recebida pelo público, segundo uma nota da FO. Esta mostra “é ligeiramente diferente da do ano passado, a qual se centrou em artistas locais e artistas de ukiyo-e japoneses”, sendo, portanto, “apresentadas esculturas em madeira de cultura sino-portuguesa pertencentes a coleccionadores locais e estrangeiros”.

A FO explica que, ao longo dos séculos, e no decurso do desenvolvimento urbano, “este tipo de objectos decorativos, pertencentes a residências de empresários estrangeiros que viveram em Macau durante a época da administração portuguesa, quase desapareceu e raros são os que foram resgatados e preservados”.

Assim, a “Highly Collectable Art Fair” apresenta cerca de 60 trabalhos artísticos “únicos e raramente expostos”, tal como peças de porcelana de exportação, de pinturas China Trade e de outros objectos. Além disso, a colecção chinesa inclui uma paisagem em miniatura de quatro painéis de Sun Yunsheng, discípulo de Zhang Daqian, cujo trabalho em pincel é precioso, pinturas a tinta de Feng Zikai, famoso pelas suas caricaturas, e, ainda, um esboço do célebre pintor a óleo chinês Ai Xuan.

A colecção de arte ocidental integrada nesta mostra inclui litografias de Chagall, que são bastante populares entre os coleccionadores devido à sua acessibilidade. Também estão expostas algumas raras impressões em tamanho original das gravuras de Albert Durer, do final do século XIX, da Biblioteca Nacional de Paris.

9 Mar 2023

Casa Garden | Fernando António dos Santos em concerto sexta-feira

A Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, acolhe, esta sexta-feira, a partir das 20h30, o concerto do compositor e pianista português Fernando António dos Santos. Radicado em Taiwan, onde abriu o Piano Café, o músico é conhecido pelas suas colaborações com músicos como Carlos Paião, Lena D’ Água, Raúl Indipo e o grupo Da Vinci, muito populares em Portugal nos anos 80.

O espectáculo de sexta-feira será uma primeira apresentação do seu trabalho no território, tratando-se de um concerto intimista. Fernando António dos Santos apresentará um repertório de piano, cruzando temas clássicos com originais, incluindo o Fado, que se mistura com poesia e temas originais. O concerto acontece com as colaborações dos músicos Paulo Pereira, Paula Monteiro e Luís Bento, entre outros.

A ligação de Fernando António dos Santos à música começou bem cedo, aos cinco anos, quando começou a estudar piano na escola “Bracur”, na Figueira da Foz. Fez parte do conhecido grupo “Beatnicks”, ligada ao rock sinfónico, integrando depois a banda alemã “WAVEBAND”. Chegou a gravar um LP, com a chancela da Polygram, com o grupo “DOYO”. Colaborou com a cantora Ana no trabalho “Sou Laranja Laranjinha”, tendo produzido a música “Vamos lá cambada” com Carlos Paião. Com Raúl Indípuo colabora no trabalho discográfico “Sô Santo”. António Fernando dos Santos compôs ainda inúmeros temas para programas de entretenimento em televisão

1 Mar 2023

Fundação Oriente | Catarina Cottinelli assume funções de delegada em Abril

A instituição justificou a nova escolha com os objectivos de “dar continuidade ao plano de actividades culturais, educativas e sociais e da promoção da língua e da cultura portuguesas”

 

A Fundação Oriente anunciou o reforço da estrutura em Macau com a nomeação de Catarina Cottinelli como nova delegada, a partir de Abril. A notícia foi divulgada pela instituição na semana passada, através de um comunicado enviado às redacções.

“A escolha de Catarina Cottinelli decorre em linha com os objectivos estratégicos da delegação na Região Administrativa Especial de Macau, nomeadamente dar continuidade ao plano de actividades culturais, educativas e sociais e da promoção da língua e da cultura portuguesas, tanto através de iniciativas próprias, como por via de parcerias com entidades locais ou da concessão de subsídios”, foi justificado de acordo com o comunicado da Fundação Oriente.

Bilhete de identidade

Licenciada em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL), com especial foco na vertente da Renovação Urbana e Arquitectónica, a nova Delegada da Fundação Oriente em Macau tem ainda, entre outros, o mestrado em Cor na Arquitectura, na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, e o doutoramento em Design, tendo obtido o grau de Estudos Avançados em Design, também na Faculdade de Arquitectura de Lisboa.

No comunicado em que foi divulgada a notícia, Catarina Cottinelli considera que a função vai ser “um novo desafio pessoal e profissional”. “Assumo as novas funções também com o intuito de divulgar e promover o espólio da Fundação Oriente que merece ser conhecido e experienciado por todos”, afirmou.

Na sua actividade profissional conta com colaborações em ateliers de Arquitectura, participações em projectos de mobiliário para o Centro Cultural de Belém, assim como em projectos de urbanismo, de que é exemplo o Plano Director Municipal de Vila Real de Santo António, no Algarve. Em Macau desde Abril de 2018, Catarina Cottinelli leccionou na Universidade de São José.

A Fundação Oriente tem sede em Lisboa e, através de delegações, está presente em Macau, na China, em Goa, na Índia e em Timor-Leste. Com um carácter educacional e didáctico, desenvolve acções culturais, educativas, artísticas, científicas, sociais e filantrópicas, que têm em vista a valorização e a continuidade das relações históricas e culturais entre Portugal e o Oriente. A anterior delegada, Ana Paula Cleto, assumiu as funções em 2010.

26 Jan 2023

Casa Garden | Nova exposição de Eric Fok inaugurada esta sexta-feira

Chama-se “Hotel Oriental” e é a nova exposição do artista de Macau Eric Fok que abre portas esta sexta-feira na Casa Garden, delegação da Fundação Oriente no território. Esta é uma mostra que visa mostrar o trabalho do artista vencedor do Prémio para as Artes Plásticas da Fundação

 

Abre portas esta sexta-feira, às 18h30, na Casa Garden, a nova exposição individual de Eric Fok, um dos mais conceituados artistas de Macau da nova geração. “Hotel Oriental” visa dar a conhecer o trabalho de Eric que venceu uma das edições do Prémio para as Artes Plásticas da Fundação Oriente e que revela “a visão do artista sobre a história, a cidade, o ambiente, as pessoas e o mundo em geral”.
Vencedor da segunda edição do prémio, Eric Fok está neste momento a fazer um doutoramento em Taiwan.

Nas suas obras, Eric usa uma caneta técnica para desenhar no papel finos detalhes. As suas obras assemelham-se a mapas de estilo antigo que incorporam elementos contemporâneos. Partem da história dos Descobrimentos e incorporam as mudanças nas cidades causadas pelo desenvolvimento urbano bem como elementos dos fenómenos pós-coloniais.

De acordo com o artista, “a exposição pretende apresentar obras que constituem mapas representativos de diferentes épocas e que focam aspectos como a exploração humana, a divisão de terras, os registos do avanço da civilização e da fome de poder e, ainda, o projecto para a construção de um mundo ideal.”

Viagens e imaginário

Eric Fok faz ainda referência, nesta mostra, à literatura de viagens e a mapas de viajantes do Ocidente, aventureiros e missionários. O Oriente histórico é re-imaginado com base nas suas experiências, reinterpretando a origem das colónias na época dos Descobrimentos, examinando questões urbanas como o desenvolvimento e a migração populacional.

Os trabalhos do artista de Macau foram seleccionados para a “Exposição de Ilustração – Feira do Livro Infantil de Bolonha” (2013), tendo Eric recebido também o Prémio Soberano de Arte Asiática (2019). Foi ainda seleccionado para a “Bienal Internacional de Arte de Macau (2021).

Eric Fok realizou exposições individuais e feiras de arte nos EUA, Itália, Reino Unido, Portugal, Espanha, Japão, Coreia, Singapura, China continental, Hong Kong, Macau e Taiwan. As suas obras fazem parte da colecção da Fundação Oriente, da Universidade de Hong Kong, do Museu de Arte de Macau, do Macau Galaxy, do MGM Macau Cotai e de coleccionadores de Itália, Las Vegas (EUA), Reino Unido, China, Taiwan, Singapura, Hong Kong e Macau.

14 Dez 2022

Casa Garden | Exposição “Desenhar Macau” inaugurada amanhã

“Desenhar Macau”, com pinturas, desenhos e gravuras de Catarina Cottinelli da Costa, é inaugurada amanhã, na Casa Garden, depois do adiamento provocado pelo surto pandémico. Os trabalhos reflectem um período de quatro anos de Macau e diferentes fases, marcadas pelas saudades das viagens e da família e o olhar atento aos diversos espaços urbanos e arquitectónicos

 

Integrada no programa oficial de celebração do 10 de Junho, a mostra “Desenhar Macau”, com desenhos, gravuras e pinturas de Catarina Cottinelli da Costa, estava na gaveta devido ao último surto epidémico. A inauguração da exposição acontece amanhã, às 17h30, na Casa Garden. Ao HM, a artista e docente, com formação em arquitectura, explicou o significado dos trabalhos que reflectem as vivências e percepções de quatro anos de vida em Macau.

“Tendo em conta a minha cultura ligada à arquitectura, tenho sempre uma tendência para olhar e registar as coisas de um modo diferente. Uma vez que Macau tem uma cultura bastante diferente daquela em que estava inserida, tive muita curiosidade em conhecer muitos sítios. Macau reflecte situações especiais, não tinha nenhuma experiência no Oriente e foi interessante para mim contactar com as pessoas e também com as vivências e arquitecturas dos espaços.”

O foco de “Desenhar Macau” é esse mesmo, o reflexo de espaços icónicos de Macau, tal como o jardim de Lou Lim Ieok. “Foi como fazer um desenho mental, um conhecimento mental desses espaços ligados à urbanidade e às pessoas. Fui um pouco atrás dos meus interesses de momento.”

Catarina Cottinelli da Costa descreve a exposição como sendo composta por várias fases, algumas delas ligadas aos sentimentos de saudade da família, de isolamento ou de ausência. É aqui que se podem ver retratos de família pintados a óleo ou pinturas de locais exóticos, como Goa ou Tailândia, feitas a partir de fotografias.

“Há um aspecto mais sentimental da exposição que tem a ver com o facto de não poder voltar a casa devido à pandemia. Há uma parte em que explorei o retrato a óleo com pinturas dos membros mais importantes da minha família. Depois tentei ocupar o tempo desenhando e fazendo aguarelas a partir de fotografias. Mas o foco da mostra é Macau, os seus espaços e vivências, e tudo o que fiz desde que vim para cá”, frisou a artista.

Novos mundos criativos

Catarina Cottinelli da Costa lamenta que Madalena Fonseca, pintora e anterior monitora na Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau, não possa estar presente. “Investi numa área que desconhecia, que é a pintura, graças à Madalena Fonseca. Foi minha monitora e foi com ela que aprendi uma série de coisas, nomeadamente na gravura, com vários tipos de técnicas, que vão estar expressas na exposição”, adiantou.

“Desenhar Macau” é a primeira exposição individual de Catarina Cottinelli da Costa, após duas participações em mostras colectivas, e acontece por incentivo de outras pessoas que foram tendo conhecimento do seu trabalho. “É com muito agrado que posso fazer a exposição ainda este ano. Foi a Ana Paula Cleto [delegada da Fundação Oriente em Macau] que me fez este convite e se mostrou sempre muito interessada para que acontecesse ainda em 2022”, adiantou. A mostra pode ser vista até ao dia 21 de Outubro.

22 Set 2022

Casa Garden | Curtas-metragens em exibição no fim-de-semana

A Casa Garden vai exibir, amanhã e domingo, 14 curtas-metragens selecionadas do New York Portuguese Short Film Festival e do Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa. As sessões começam às 17h30 e têm entrada gratuita

 

A Casa Garden irá exibir um ciclo de curtas-metragens amanhã e no domingo, com 14 películas seleccionadas do New York Portuguese Short Film Festival e do Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A iniciativa é organizada pela Fundação Oriente, o Arte Institute e a Casa de Portugal em Macau, com o apoio institucional do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, do Instituto Português do Oriente e da AICEP.

Na sessão marcada para amanhã, serão exibidas 14 obras de realizadores portugueses, que fizeram parte do New York Portuguese Short Film Festival. A sessão começa com “Paralympia”, do Coletivo Hyperion, um filme lançado no ano passado que conta a história de dois atletas paralímpicos. A película é uma espécie de ensaio histórico desportivo, recheada de emotividade, com os dois atletas a recordarem as provas em que competiram num diálogo acompanhado pelo visionamento simultâneo de imagens de arquivo.

Numa perspectiva completamente diferente e demonstrando o ecletismo do cartaz, a curta-metragem que se segue é “The Girl from Saturn”, de Gonçalo Almeida, um filme que abre portas à fantasia. A narrativa tem no epicentro Luís, um rapaz que vive em Portugal numa zona rural. Um episódio aparentemente inocente vira de pernas para o ar a vida de Luís, quando a mãe lhe pede para acompanhar uma rapariga que não conhece. A partir daí, o jovem embarca numa viagem cósmica que lhe irá marcar a vida para sempre.

A curta que se segue é “My Castle, My home”, de José Mira, uma obra com contornos autobiográficos centrada na vida atlética de um adolescente de 13 anos, Guilherme, e na forma como a prática do ténis degenera numa miríade de pesadelos e fobias. Atormentado pelo seu treinador, o jovem começa a ser aterrorizado por criaturas que têm raquetes em vez de mãos, que o perseguem ao longo dos corredores de casa. Num ambiente de terror sufocante, a casa de Guilherme transforma-se num labirinto. A única salvação é o aconchego materno.

O cartaz prossegue com a exibição de “Two Cartoonists”, de Bruno Teixeira, “Ouro Sobre Azul”, de Andreia Pereira da Silva, “The Coop” da autoria de Rita Al Cunha, “A Straight Story” de João Garcia Neto, “Her name is Carla” de Cátia Biscaia e “Still Life” de Francisca Coutinho.

Das lusófonas

No domingo, também na Casa Garden, o dia será dedicado às curtas-metragens produzidas no universo lusófono.
Piscando o olho ao imaginário dos The Beatles, será exibido “Lúcia no céu com semáforos”, uma curta-metragem com produção angolana, realizada por Ery Claver e Gretel Marín Palacio. O filme conta a história de um ser que apenas existe corporeamente, como um objecto-vivo cuja existência tem como objectivo único a satisfação das necessidades e desejos dos outros.

No ecrã, Lúcia mantém sempre um olhar distante que esconde gritos, medos e explosões, traçando uma alegoria da mulher que se cinge a um papel funcional, sem o direito a existir, viver, pensar ou exprimir o que sente.

Um dos destaques da sessão de domingo é “Tradição e Imaginação”, da realizadora guineense Vanessa Fernandes que viveu em Macau.

Nesta obra, a autora conduz o espectador até ao Benim, na África Ocidental, numa viagem marcada pelo passado de escravatura, uma memória que perdura nas memórias dos mais velhos.

Outro dos filmes do dia é “The Flight of the Manta Rays”, uma animação surrealista com produção luso-espanhola, realizada por Bruno Carnide. Uma imagem fantástica de enormes raias a voar pelos céus, passa da fantasia para a realidade, produzindo cenários de sonho.

“Sentado no sofá, imaginei uma raia, em toda a sua beleza e magnificência, que em vez de nadar nas profundezas do mar voava na imensidão dos céus. A partir daí, comecei a desenhar”, escreveu Bruno Carnide na plataforma da Mailuki Filmes, uma agência de distribuição de filmes para festivais de cinema.

No domingo serão ainda exibidos “Simpatia do Limão”, do brasileiro Miguel de Oliveira e “Dona Mónica”, do cabo-verdiano Carlos Yuri Ceuninck.

10 Jun 2022

Fundação Oriente | Serão celebra Dia Mundial da Poesia em português

Mais de 20 pessoas, entre estudantes, professores e amantes da poesia, assinalam na sexta-feira o Dia Mundial da Poesia em Macau num serão literário com a leitura de obras em português.

“É um encontro de pessoas que gostam de poesia e em que uns dizem poesia de sua autoria – nós tentamos privilegiar os poetas de Macau para divulgarem a sua poesia através da leitura – mas também há outras pessoas que dizem poesia [de outros autores]”, explicou Ana Paula Cleto, coordenadora da delegação de Macau da Fundação Oriente, que se associa no evento ao Centro de Ensino e Formação Bilingue Chinês-Português do Departamento de Português da Universidade de Macau.

Da Universidade de Macau, “seis ou sete alunos” sobem ao palco e, entre os autores convidados, encontram-se o jornalista Carlos Morais José, o fotógrafo António Duarte Mil-Homens e o poeta chinês Yao Jing Ming.
“Mas quer-se espontâneo”, nota Ana Paula Cleto, referindo que, além dos convidados, o evento, “que tem sido organizado com alguma regularidade”, está ao alcance a todos aqueles que querem dizer poesia.

“Tem sido sempre [poesia] de autores de língua portuguesa e penso que irá continuar a ser, mas não significa que tenha de ser restrito a autores de língua portuguesa”, afirma a responsável, frisando que este “é um evento aberto” à língua chinesa. “Mas também não há muita poesia chinesa traduzida para português”, sublinha Ana Paula Cleto.

O serão literário, que se realiza na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, vai também ser celebrado com música, com elementos da banda da Casa de Portugal em Macau a cantarem obras de poetas portugueses em três momentos.

23 Mar 2022

Casa Garden | Exposição de raquetes decorativas japonesas abre este sábado

A Casa Garden acolhe, a partir deste sábado, a exposição intitulada “Os encantos mágicos de Hagoita”, onde serão mostrados vários exemplos de raquetes decorativas japonesas. Esta mostra, que será inaugurada a partir das 17h30, é realizada pela delegação de Macau da Fundação Oriente em parceria com o Printmaking Centre of Macau.

As raquetes Hagoita são usadas para jogar Hanetsuki, um jogo tradicional do Ano Novo que é jogado como uma prece para salvaguardar a saúde das pessoas. Este é um jogo semelhante ao badminton e é jogado principalmente por meninas e mulheres.

A partir do século XVII iniciou-se a tradição de oferecer raquetes Hagoita às meninas por ocasião do seu nascimento ou no Ano Novo, quando o jogo era geralmente jogado. Aparentemente, também eram colocadas em templos para afastar os maus espíritos e trazer felicidade. As raquetes Hagoita são feitas de uma madeira leve. A pena (hane-ume) para o jogo é feita da baga da árvore-sabão (mukuroji) e é coberta de penas de pássaros pintadas com cores vivas para parecerem flores.

O jogo, tal como no badminton, consiste em manter a pena no ar. Quem deixar cair perde e é marcado no rosto com um um risco a tinta da China. Quando o rosto de alguém estiver totalmente coberto de tinta, o jogo acaba e esse jogador é o vencido. O jogo não é considerado um desporto, mas sim um simples entretenimento para as mulheres.

Durante o período Edo (1603-1867), foi desenvolvida a técnica Oshi-e (colagem acolchoada) para fazer desenhos tridimensionais com decorações usando tecido acolchoado de algodão. A reprodução de cenas de peças de Kabuki nas decorações das raquetes Hagoita tornou-se popular entre a população em geral e a beleza da decoração das peças tornou-se cada vez maior.

15 Fev 2022

Casa Garden | Exposição de fotografia contemporânea a partir de sexta-feira 

João Miguel Barros é o curador de “Narrativas a Oriente”, uma exposição inteiramente dedicada à fotografia contemporânea que é também um balão de ensaio sobre os projectos desenvolvidos por fotógrafos locais. A mostra está patente na Casa Garden, da Fundação Oriente, até finais de Janeiro

 

Alguns dos nomes mais conhecidos do panorama local da fotografia, vão estar presentes na nova mostra que a Casa Garden, sede da Fundação Oriente (FO) no território, acolhe a partir desta sexta-feira. João Miguel Barros faz a curadoria de “Narrativas a Oriente” e, segundo disse ao HM, a ideia é que, com esta mostra, se possa ver o que de mais importante se faz na área da fotografia em Macau.

“O grande tema é a diversidade cultural dos projectos. Estabeleci um critério alargado, muito eclético, porque não podemos ser autoritários no gosto. Era importante dar liberdade às pessoas e isto funcionou também como um teste, para saber que tipo de projectos é que um conjunto de artistas de Macau estava a desenvolver.”

António Mil-Homens é um dos fotógrafos que participa neste projecto, apresentando uma série de auto-retratos criados quando esteve internado. “São 12 imagens trabalhadas com photoshop para lhes retirar a crueza da realidade e do estado físico do trabalho. Essa é a essência do trabalho”, contou.

Depois de muitos anos a trabalhar em fotografia, esta é a primeira vez que António Mil-Homens aposta no auto-retrato desta forma. “Fi-lo há cerca de 30 anos, para a apresentação de uma exposição em Lisboa. Mas digamos que esta é a primeira vez que me exponho, e logo com 12 retratos.”

Gonçalo Lobo Pinheiro, fotojornalista, é outro dos nomes presentes em “Narrativas a Oriente”. “Participo com duas fotografias e uma prosa poética. Posso dizer que foi um grande desafio pois não sou artista, sou fotojornalista, e a minha visão da fotografia não é conceptual. Por isso tive de me abstrair um pouco do meu rumo normal para tentar fazer algo diferente”, apontou.

Além disso, “Narrativas a Oriente” conta ainda com nomes de fotógrafos ou de pessoas que trabalham com fotografia, como Alice Kok, Jason Lei, José Drummond ou Chan Hin Io, entre outros. Estão também incluídas imagens do projecto YiiMa, de Ung Vai Meng e Chan Hin Io, que estiveram expostas no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, em 2019.

Aposta ganha

Este projecto nasceu da iniciativa de João Miguel Barros após o encerramento súbito da mostra do World Press Photo, que todos os anos acontecia na Casa Garden. “Percebeu-se que esta exposição não tinha mais futuro em Macau e falei com a Ana Paula Cleto [delegada da FO] para se aproveitar o mês de Outubro para se fazer algo relacionado com a fotografia contemporânea.”

A ideia inicial era apostar numa bienal de fotografia contemporânea em Macau na FO, em alternância com a bienal de mulheres artistas, com base em temáticas como “o problema da identidade e memória”, aproveitando também o “espaço político entre a China e os países de língua portuguesa”. A pandemia obrigou a ajustes no projecto, que levaram à criação desta exposição.

Esta “tem o mérito de juntar as pessoas, mas não é propriamente igual em termos de qualidade”, assegura João Miguel Barros. “Nem isso seria expectável com 20 propostas de pessoas muito diferentes. Temos fotógrafos profissionais, há um caso ou outro em que é visível as raízes de trabalho mais comercial que se misturou com algumas divagações artísticas, mas foi algo que resultou muito bem.”

Para o fotógrafo e advogado, que já fez diversos trabalhos de curadoria, a temática da fotografia contemporânea “está pouco explorada” no território. “Faltava uma exposição com esta dimensão, apenas de fotografia. Não tenho memória de ter visto uma em Macau. Este projecto é inovador no sentido em que apresenta apenas fotografia.”

“Narrativas a Oriente” será também um livro, com design de Henrique Silva, também conhecido como Bibito. “A ideia deste livro é estruturante dos meus projectos, e que vem na lógica da fotografia japonesa, pois privilegio mais a edição do que a exposição. O que fica na memória é o registo”, disse o curador.

Para João Miguel Barros, criar esta mostra é também uma forma de responder a um desígnio que, na sua visão, o Fórum Macau deveria reforçar: o da dinamização cultural entre a China e os países de língua portuguesa.

“Há muitos anos que penso que o facto de o Fórum [Macau] estar aqui, e de a China ter criado este espaço político, criou condições únicas para se desenvolverem projectos. Esse espaço político diminui um risco de instabilidade, é consolidado. Culturalmente era importante desenvolver projectos culturais que abrangessem os países todos à volta do Fórum. A FO podia ser um bom incubador”, sugeriu.

15 Dez 2021

Mostra de xilogravuras japonesas abre no sábado na Casa Garden

Cerca de 60 obras japonesas, incluindo as “Trinta e seis vistas do monte Fuji”, as mais famosas xilogravuras de paisagens de Hokusai Katsushika, vão estar patentes ao público, a partir de sábado, em Macau, na Casa Garden.

Com o título “As impressões românticas de uma era encantadora”, a exposição apresenta a arte Ukiyo-e, xilogravuras japonesas do período Edo (1603-1867), com origem na cultura popular em Edo, a atual Tóquio, e que retratavam personagens do mundo do entretenimento, como gueixas, lutadores de sumo e atores de teatro Kabuki, indicou em comunicado a delegação em Macau da Fundação Oriente.

O Ukiyo-e tornou-se numa forma de arte muito popular no Japão e, além de retratos, começou a incluir paisagens e cenas de natureza em trabalhos que foram especialmente influentes no desenvolvimento do movimento impressionista na Europa.

Entre as obras na exposição, destaque para as “Trinta e seis vistas do monte Fuji” de Hokusai Katsushika, que inclui a gravura icónica “A Grande Onda de Kanagawa”, criada durante a década de 1820.

A mostra, patente até 12 de junho, inclui ainda obras de Kitagawa Utamaro, Utagawa Hiroshige, Toshusai Sharaku e Toyohara Kunichika.

5 Mai 2021

Exposição | “Raízes”, de Jéssica Leão, revela imagens da Índia, Butão e Sri Lanka 

A Casa Garden acolhe, a partir desta sexta-feira, a exposição de fotografia “Raízes”, de Jéssica Leão. Natural de Goa, Jéssica habituou-se desde criança a viajar pelo sudeste asiático, não só na Índia mas também em países como o Butão ou o Sri Lanka. As imagens destacam sociedades repletas de contrastes e pessoas cuja força se reflecte no  olhar

 

“Raízes”, de Jéssica Leão, é a nova exposição de fotografia patente na Casa Garden até ao dia 12 de Abril. A inauguração acontece esta sexta-feira, dia 12. A mostra revela 79 fotografias que foram sendo captadas por Jéssica Leão ao longo de 30 anos em países como a Índia, Butão e Sri Lanka. Natural de Goa, Jéssica foi fotografando pessoas, animais e lugares destas regiões, onde contrastam diferentes nações e culturas.

Sempre de máquina na mão, percorreu lugares mágicos “do sossego de Pondicherry à caótica cidade de Bombaim, dos desertos do Rajastão às montanhas do Ladakh, passando pelas igrejas brancas e coqueiros de Goa e descendo aos vales do Butão …”.

Ao HM, Jéssica Leão confessou que estas imagens são o resultado não apenas de uma ligação familiar mas também da paixão que tem pela Índia e pelas suas gentes. “Tenho uma grande atracção pelo país, pelo Sri Lanka. Ao Butão só fui uma vez mas também me identifiquei imenso com o país.”

No Butão, onde esteve em 2012, Jéssica deparou-se com um país parado no tempo. “Foi uma experiência única porque é um país lindíssimo, com gentes espectaculares. São pessoas reservadas mas calorosas. Vê-se que há ali uma vivência muito genuína, não se vê muita interferência de coisas modernas, os miúdos com telemóveis. Vêem-se as pessoas nos jogos tradicionais, nas conversas, nos campos, é ainda um país muito genuíno. Está parado em um certo tempo, e isso encantou-me.”

Foi a própria Jéssica Leão que fez a selecção das imagens que integram esta mostra, não conseguindo destacar apenas uma. “Todas as imagens são especiais porque reportam a uma viagem, a um sítio, a um momento. O que sobressai mais são as pessoas, os olhares, a intensidade que as pessoas na Índia mostram nos seus olhares, naquilo que nos conseguem transmitir só com isso. É isso que me fascina na Índia, o poder do olhar. E tenho algumas fotografias que transmitem essa força e intensidade.”

Ideia concretizada

Jéssica Leão já tinha pensado em fazer uma exposição com as imagens que foi captando nos últimos anos, mas só quando a Fundação Oriente (FO) fez o convite é que o projecto se concretizou. Apesar de não fazer da fotografia a sua profissão, Jéssica Leão já fez vários cursos e está sempre com o olhar atrás da lente.

“É uma paixão que tenho e que gosto de exercer nos meus tempos livres, sobretudo em viagem. Mas mesmo em Macau gosto de estar sempre a fotografar e estou sempre atenta a pormenores, a luzes, a enquadramentos.”

Entre 1990 e 1993 Jéssica Leão frequentou cursos de fotografia na Academia das Artes Visuais de Macau e fez vários workshops. Publicou a sua primeira fotografia em 1993, na Revista Macau, integrada no Festival das Artes de Macau. Em 1995 participou na exposição colectiva “FM2”, na Galeria da Livraria Portuguesa de Macau. Também em 1995 integrou a 2.ª Bienal das Artes de Macau. Em 1996, participou na exposição colectiva “Regresso ao Futuro”, realizada no Instituto Português do Oriente. Em 1997 volta a integrar o conjunto de artistas da 3ª Bienal das Artes de Macau e, em 2000, participa na exposição “Mostra dos Artistas de Macau”, organizada pela Câmara Municipal Provisória de Macau, no Centro de Actividades Turísticas (CAT).

Para aqueles que visitarem a exposição, Jéssica Leão espera que “possam sentir um pouco a paixão que tenho pelas pessoas”. “Quem já esteve na Índia vai perceber, mas para quem não foi, gostava que as minhas imagens conseguissem transmitir essa beleza e serenidade que o país transmite a quem viaja por lá. É o contraste entre a alegria e as cores com a pobreza, a tristeza. É tudo muito presente para quem vive e viaja na Índia.”

10 Mar 2021

Fotografia | “Estrada: Stand Point” na Casa Garden até 31 de Janeiro 

A Associação Cultural 10 Marias apresenta, até ao dia 31 de Janeiro, a exposição de fotografia “Estrada: Stand Point”, com trabalhos da fotógrafa Marjonele Estrada. Uma mostra onde a juventude de Macau e a sua relação com o território assume o papel principal

 

A primeira exposição individual de Marjolene Estrada está patente na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, até ao dia 31 de Janeiro. A mostra de fotografia centra-se nos jovens do território e tem a curadoria de Mónica Coteriano e Patrícia Soares, ligadas à Associação Cultural 10 Marias.

Ao HM, Patrícia Soares falou de um trabalho que captou a atenção das curadoras desde o início. “Queríamos pegar no tema dos jovens em Macau e encontramos a Marjolene, que já fazia bastantes fotografias de uma forma profissional, mas mais ligada aos eventos. Depois [o seu trabalho] tem também um lado mais conceptual, artístico e achámos isso bastante interessante, porque ela tem um background bastante multicultural.”

Marjolene Estrada trabalha sobretudo com o retrato e, nesta exposição, o público poderá ver algumas das sequências construídas pela fotógrafa, com base em histórias. “Ela fotografa muito em série, escolhe um tema dentro da juventude e depois constrói histórias. Há uma série com cerca de 90 fotografias em miniatura, feitas numa praia. [Esta série] retrata uma visão do seu próprio eu, da descoberta, do sentimento de pertença e de não pertença.”

O trabalho de Marjolene Estrada revela também uma reflexão sobre a relação dos jovens com o território onde habitam. São fotografias que contam “como é que alguém se sente ligado a Macau sendo de uma etnia diferente”. “São pessoas reais retratadas mas que reflectem várias questões da juventude em Macau”, frisou Patrícia Soares.

Em “Estrada: Stand Point” está também patente uma série com fotografias de nus. “Achamos muito interessante a naturalidade com que ela fotografou e fez uma alusão ao universo LGBT.”

A multiculturalidade

Concretizar “Estrada: Stand Point” partiu também de uma vontade da Associação Cultural 10 Marias em ter no seu portfólio uma mostra sobre a juventude. “É super interessante olharmos para dentro e darmos palco e oportunidade aos novos talentos em Macau. E também dar um empurrão no cenário artístico e cultural de Macau”, explicou Patrícia Soares.

A escolha do trabalho de Marjolene Estrada é também exemplificativo da sua multiculturalidade, uma vez que é filha de pais filipinos, nascida em Macau. “É uma das jovens em Macau em contacto com várias comunidades, a portuguesa, a filipina, a chinesa, a estrangeira de um modo geral. Ela é uma pessoa bastante integrada nesta multiculturalidade que Macau às vezes nos dá.”

“Achámos interessante fazer uma exposição sobre a juventude, mas do ponto de vista dela. Aproveitámos o nome, Estrada, e mostramos o caminho que ela faz e o olhar que tem sobre a juventude em Macau, dentro do contexto dos meios onde ela se move e dos grupos onde está inserida. O seu ponto de vista acabou por se revelar bastante interessante”, rematou Patrícia Soares.

29 Dez 2020

Exposição | World Press Photo 2020 na Casa Garden em Setembro

A World Press Photo 2020 já tem data marcada para ser exibida em Macau. Entre os dias 25 de Setembro e 18 de Outubro na Casa Garden. Como é hábito no mais prestigiado concurso de fotojornalismo, as obras deste ano vivem das mais básicas emoções humanas, incluindo dos protestos em Hong Kong, Argélia e Sudão

 

[dropcap]“S[/dropcap]traight Voice” é o título do da fotografia que venceu o prémio do júri independente de 2020 do concurso World Press Photo. Um poderoso retrato de Yasuyoshi Chiba, fotógrafo japonês da Agence France Presse (AFP), que mostra um jovem iluminado por telemóveis a recitar poesia de protesto numa manifestação durante um apagão em Cartum, no Sudão. A fotografia tirada no dia 19 de Junho do ano passado por Yasuyoshi Chiba é um dos incontornáveis destaques da exposição World Press Photo 2020, que vai estar patente na Casa Garden de 25 de Setembro a 18 de Outubro.

O júri do concurso descreveu a fotografia vencedora como “poética” e uma demonstração do poder da arte e da juventude.

A imagem representa o momento que se viveu no Sudão, após a queda do regime de Omar al-Bashir, que esteve no poder durante três décadas, levando à divisão violenta entre militares com aspirações executivas e um movimento pró-democracia que encheu as ruas.

“Este foi o único momento em que presenciei o protesto de um grupo pacífico durante a minha estadia no Sudão. Senti a solidariedade invencível, como uma chama que não se apaga”, referiu Chiba sobre o momento que captou, em declarações citadas pela AFP.

O presidente do júri deste ano do World Press Photo, Lekgetho Makola, considera que, apesar de ter sido tirada num contexto de conflito, a fotografia tem o poder de “inspirar as pessoas”. “Vemos este jovem, que não está a disparar uma arma, nem a atirar uma pedra, mas a recitar um poema. Representa o reconhecimento e a expressão da esperança”, acrescentou à AFP.

Rostos da ira

Entre as distinções deste ano está uma fotografia dos protestos antigovernamentais de Hong Kong, de autoria de Nicolas Asfouri, também da AFP, na categoria de foto de notícias gerais.

Dos momentos captados pelo fotógrafo, o júri destacou duas fotografias. Uma mostra um grupo de jovens estudantes, trajadas com uniforme escolar, de mãos dadas a atravessar uma passadeira, e a outra tem como figura central uma mulher a avançar com determinação e raiva estampadas no rosto, por uma avenida cheia de detritos, segurando um guarda-chuva numa mão e uma placa com a palavra “amor” na outra.

Entre os nomeados para fotografia do ano conta-se também uma imagem que espelha a brutalidade que os manifestantes anti-governo argelinos sofreram desde Fevereiro do ano passado, depois de Abdelaziz Bouteflika ter renunciado ao poder, deixando o destino do país à mercê da ascensão executiva de um grupo de militares. Esta equação política levou a protestos de larga escala a exigir o retorno à democracia liderada por civis. A fotografia de Farouk Batiche ilustra o esmagamento literal dos manifestantes argelinos pela polícia.

Outra das fotografias premiadas é de Anna, uma rapariga arménia de 15 anos, que valeu a Tomek Kaczor a distinção de melhor retrato do ano. A foto a preto e branco, intitulada “Despertar”, mostra a jovem, numa cadeira de rodas, acabada de acordar de um estado catatónico resultante do Síndrome da Resignação. O pano de fundo é um centro de acolhimento de refugiados em Podkowa Lesna, nas imediações de Varsóvia.

O Síndrome da Resignação é uma doença psicológica pós-traumática de contornos ainda pouco conhecidos, que afecta particularmente crianças, tornando-as passivas, imóveis, sem resposta perante estímulos e sem falar. A enfermidade foi detectada em menores que escaparam de zonas de conflito bélico, como as crianças Yazidi e a geração traumatizada pela guerra dos Balcãs.

Durante a exibição, a Casa Garden ficará assim ilustrada não só com o de melhor se faz em fotojornalismo, mas também com as imagens que marcaram o mundo no ano passado, antes das máscaras cirúrgicas inundarem tudo o que é retratável.

16 Jul 2020

I Nyoman Suarnata, pintor | A sustentável procura do ser

“Eksploring of Identity, between Imagination and Reality” é a exposição do artista balinense, I Nyoman Suarnata, que abre ao público a partir de amanhã na Casa Garden. Desde super-heróis às alterações climáticas, passando pelas influências de Basquiat, o HM procurou compreender o que está na génese de uma obra, no mínimo, peculiar

 

[dropcap]A[/dropcap] arte pode ser quase um sonho onde o passado e o presente convivem com a imaginação e a realidade numa sinergia que tenta encontrar explicações para o mundo que nos rodeia. É desta forma que I Nyoman Suarnata resume em traços gerais a constante busca por aquilo que considera ser a sua identidade artística, onde residem, não poucas vezes, a renovação hinduísta através da reencarnação, memórias de infância, a exploração animal e a esperança na construção de um mundo melhor.

Natural de Tampaksiring, na região de Ubud, na indonésia, o artista de 39 anos de sorriso fácil, que vai ver a sua obra exposta na galeria principal da Casa Garden até ao próximo dia 23 de Fevereiro, contou ao HM como gosta de incluir nos seus trabalhos, mensagens que pretendem ser críticas sociais do mundo à sua volta. Materializando a sua criativade espontânea na pintura de figuras humanas inseridas em vastas multidões e animais “prontos a consumir”, o artista formado pelo Indonesia Institute of Arts combina a técnica mista de pintura a óleo, acrílico, recortes de papel e escritos, para dar vida aos seus trabalhos. Esporadicamente, confidencia, conta até com a ajuda do sobrinho para embelezar alguns trabalhos.

Como descreve a sua obra à luz do que resulta do encontro entre a imaginação e a realidade?

A imaginação e a realidade são o ponto de encontro da exploração da minha técnica nas obras que faço. Através da pintura pretendo transmitir mensagens ao público. A imaginação surge para dar vida a imagens abstractas que também pretendem ser mensagens para o público, como por exemplo, o tema da exploração animal que pode ser vista, por exemplo, no quadro onde represento uma galinha a ser transformada numa salsicha pronta para ser consumida. Da imaginação, faz parte tudo o que está dentro da minha cabeça e as obras, são a materialização disso mesmo. Do lado da realidade procuro usar no meu trabalho o que vejo à minha volta e os problemas que existem no sítio onde vivo. Estando atento à realidade consigo transmitir mensagens ao público através das minhas obras, procurando fazer com que o público entenda o meu passado e presente.

Que mensagem pretende passar com os seus trabalhos?

Existem muitas mensagens diferentes nas minhas obras e tento pensar de forma global, ao invés de tentar focar-me num único problema, conceito ou tema, pois não gosto disso. Nas minhas obras abordo, por exemplo, o tema da exploração animal intensiva ou outras situações culturais, sociais ou políticas. Quanto às alterações climáticas que têm resultado ultimamente nalgumas tragédias, penso que existe um problema global que tem de ser resolvido por todos e não apenas em Jacarta [no caso das cheias] ou [dos incêndios] na Austrália. Acho que a humanidade e o estilo de vida das pessoas têm contribuído drasticamente para o aparecimento deste tipo de problemas. Já o tema da exploração animal que tento transmitir através da minha obra, aborda a superioridade humana sobre os animais, que acaba por legitimar a possibilidade de fazer tudo. Tenho pena que se tenha de matar animais atrás de animais para servir de alimento. Gostava que homens e animais vivessem de forma harmoniosa e convivessem, sem interesses.

Qual o papel que a arte pode desempenhar na resolução de problemas sociais?

Acho que cada artista tem o seu próprio estilo, alguns mais interessados em pintar paisagens, outros mais virados para a crítica social e penso que não há problema nenhum nessa variedade. Mas penso ser importante que possa haver crítica através da arte para tentarmos mudar o mundo através das mensagens que queremos transmitir. É preciso continuar a tentar.

Uma “ideia” recorrente nesta exposição diz respeito à busca feita por uma multidão que tenta ir para um novo planeta. Porque acha que a humanidade precisa de encontrar uma nova casa?

Por um lado, resulta da minha própria experiência de vida em Bali onde as multidões e a falta de espaço são uma constante. Por outro, acho que o planeta Terra tem demasiadas pessoas e que está a chegar ao limite para acolher tanta gente. O que tento representar é que, como não há espaço para todos, existe a missão de encontrar um novo planeta, uma nova casa para as pessoas que vivem na Terra. Existe esperança, mas, nestas obras, desenho sempre as nuvens carregadas e com cores escuras também por que penso que existe demasiada poluição e isso faz com que as pessoas queiram procurar uma nova casa.

Quais os principais desafios que encontra no processo de produção das suas obras?

Não tenho encontrado dificuldades a nível técnico. A maior dificuldade que encontro passa sobretudo por arranjar ideias para as minhas obras, de forma a que público possa compreender as mensagens subjacentes ao meu trabalho. Esse é o meu maior problema e é muito difícil para mim passar a mensagem. Por exemplo, ao ver o trabalho não deve ser preciso perguntar sobre o tema que retrata, deve ser compreensível por si só e por toda a gente. As ideias surgem normalmente, através da minha imaginação, através de livros ou jornais que leio ou através do contacto com situações do dia a dia. Por outro lado, às vezes fico cansado ou aborrecido de pintar e preciso de parar por exemplo três meses até encontrar novamente a disposição certa para voltar ao trabalho. Quando deixo de ter ideias páro outra vez. Além disso, não trabalho todos os dias. Tenho a sorte de poder parar quando quero e recomeçar quando sinto que é o momento certo.

Como é que decidiu enveredar por uma carreira no meio artístico?

Desde pequeno, sempre gostei de desenhar e todos os dias desenhava, mesmo mais tarde durante a adolescência. A zona onde eu vivo, em Tampaksiring, Ubud, é uma zona culturalmente forte em Bali e onde estão os artistas todos. Originalmente queria ser arquitecto, mas não fui bem sucedido nos exames de admissão à universidade e acabei por ingressar o Indonesian Institute of the Arts, em Denpasar e fiz aí a minha formação. Por outro lado, por ter crescido em Bali, influenciado por muitas culturas fortes e pela filosofia própria da região, aprendi que o trabalho deve ser levado muito a sério e vem do coração, vem de deus. O trabalho em Bali é uma das muitas formas do Taksu, um conceito que significa “carisma” ou “vida” das artes retidas pelos olhos, mentes ou corações, tanto humanos como divinos.

Quais são as suas principais referências artísticas?

Tenho muitas referências, mas sublinho em primeiro lugar a influência de Basquiat. Entre artistas indonésios tenho de citar Made djirna, um artista de Bali de que gosto muito. Os filmes e os desenhos-animados que via quando era pequeno na televisão também foram uma influência forte, como é possível ver nalgumas obras onde retrato esse imaginário. Por vezes uso estes super-heróis nas minhas obras de forma distorcida e crítica, como por exemplo na obra do rei falso, que conta a história de uma eleição de fachada para um cargo político, onde o ex-dirigente que abandona o cargo é representado com uma capa vermelha e super-poderes. Além disso, o Hinduísmo está também presente no meu trabalho. A religião hindu é como uma confidente com quem podemos falar e que tem subjacente a ideia da reencarnação. Eu acredito que nós morremos e nascemos como se fosse um rolo de renovação contínua e por isso mesmo é que abordei esse tema da morte como um novo recomeço em algumas das minhas obras.

É verdade que o seu sobrinho de seis anos deu o seu contributo nalgumas obras?

Sim, às vezes encontro-me com o meu sobrinho para colaborarmos porque ele diz que gosta muito de desenhar, como eu. É um processo totalmente espontâneo, em que ele aparece e desenha se tiver vontade. Para mim não há problema nenhum que ele desenhe nos meus quadros, até gosto disso.

21 Jan 2020

I Nyoman Suarnata, pintor | A sustentável procura do ser

“Eksploring of Identity, between Imagination and Reality” é a exposição do artista balinense, I Nyoman Suarnata, que abre ao público a partir de amanhã na Casa Garden. Desde super-heróis às alterações climáticas, passando pelas influências de Basquiat, o HM procurou compreender o que está na génese de uma obra, no mínimo, peculiar

 
[dropcap]A[/dropcap] arte pode ser quase um sonho onde o passado e o presente convivem com a imaginação e a realidade numa sinergia que tenta encontrar explicações para o mundo que nos rodeia. É desta forma que I Nyoman Suarnata resume em traços gerais a constante busca por aquilo que considera ser a sua identidade artística, onde residem, não poucas vezes, a renovação hinduísta através da reencarnação, memórias de infância, a exploração animal e a esperança na construção de um mundo melhor.
Natural de Tampaksiring, na região de Ubud, na indonésia, o artista de 39 anos de sorriso fácil, que vai ver a sua obra exposta na galeria principal da Casa Garden até ao próximo dia 23 de Fevereiro, contou ao HM como gosta de incluir nos seus trabalhos, mensagens que pretendem ser críticas sociais do mundo à sua volta. Materializando a sua criativade espontânea na pintura de figuras humanas inseridas em vastas multidões e animais “prontos a consumir”, o artista formado pelo Indonesia Institute of Arts combina a técnica mista de pintura a óleo, acrílico, recortes de papel e escritos, para dar vida aos seus trabalhos. Esporadicamente, confidencia, conta até com a ajuda do sobrinho para embelezar alguns trabalhos.
Como descreve a sua obra à luz do que resulta do encontro entre a imaginação e a realidade?
A imaginação e a realidade são o ponto de encontro da exploração da minha técnica nas obras que faço. Através da pintura pretendo transmitir mensagens ao público. A imaginação surge para dar vida a imagens abstractas que também pretendem ser mensagens para o público, como por exemplo, o tema da exploração animal que pode ser vista, por exemplo, no quadro onde represento uma galinha a ser transformada numa salsicha pronta para ser consumida. Da imaginação, faz parte tudo o que está dentro da minha cabeça e as obras, são a materialização disso mesmo. Do lado da realidade procuro usar no meu trabalho o que vejo à minha volta e os problemas que existem no sítio onde vivo. Estando atento à realidade consigo transmitir mensagens ao público através das minhas obras, procurando fazer com que o público entenda o meu passado e presente.
Que mensagem pretende passar com os seus trabalhos?
Existem muitas mensagens diferentes nas minhas obras e tento pensar de forma global, ao invés de tentar focar-me num único problema, conceito ou tema, pois não gosto disso. Nas minhas obras abordo, por exemplo, o tema da exploração animal intensiva ou outras situações culturais, sociais ou políticas. Quanto às alterações climáticas que têm resultado ultimamente nalgumas tragédias, penso que existe um problema global que tem de ser resolvido por todos e não apenas em Jacarta [no caso das cheias] ou [dos incêndios] na Austrália. Acho que a humanidade e o estilo de vida das pessoas têm contribuído drasticamente para o aparecimento deste tipo de problemas. Já o tema da exploração animal que tento transmitir através da minha obra, aborda a superioridade humana sobre os animais, que acaba por legitimar a possibilidade de fazer tudo. Tenho pena que se tenha de matar animais atrás de animais para servir de alimento. Gostava que homens e animais vivessem de forma harmoniosa e convivessem, sem interesses.
Qual o papel que a arte pode desempenhar na resolução de problemas sociais?
Acho que cada artista tem o seu próprio estilo, alguns mais interessados em pintar paisagens, outros mais virados para a crítica social e penso que não há problema nenhum nessa variedade. Mas penso ser importante que possa haver crítica através da arte para tentarmos mudar o mundo através das mensagens que queremos transmitir. É preciso continuar a tentar.
Uma “ideia” recorrente nesta exposição diz respeito à busca feita por uma multidão que tenta ir para um novo planeta. Porque acha que a humanidade precisa de encontrar uma nova casa?
Por um lado, resulta da minha própria experiência de vida em Bali onde as multidões e a falta de espaço são uma constante. Por outro, acho que o planeta Terra tem demasiadas pessoas e que está a chegar ao limite para acolher tanta gente. O que tento representar é que, como não há espaço para todos, existe a missão de encontrar um novo planeta, uma nova casa para as pessoas que vivem na Terra. Existe esperança, mas, nestas obras, desenho sempre as nuvens carregadas e com cores escuras também por que penso que existe demasiada poluição e isso faz com que as pessoas queiram procurar uma nova casa.
Quais os principais desafios que encontra no processo de produção das suas obras?
Não tenho encontrado dificuldades a nível técnico. A maior dificuldade que encontro passa sobretudo por arranjar ideias para as minhas obras, de forma a que público possa compreender as mensagens subjacentes ao meu trabalho. Esse é o meu maior problema e é muito difícil para mim passar a mensagem. Por exemplo, ao ver o trabalho não deve ser preciso perguntar sobre o tema que retrata, deve ser compreensível por si só e por toda a gente. As ideias surgem normalmente, através da minha imaginação, através de livros ou jornais que leio ou através do contacto com situações do dia a dia. Por outro lado, às vezes fico cansado ou aborrecido de pintar e preciso de parar por exemplo três meses até encontrar novamente a disposição certa para voltar ao trabalho. Quando deixo de ter ideias páro outra vez. Além disso, não trabalho todos os dias. Tenho a sorte de poder parar quando quero e recomeçar quando sinto que é o momento certo.
Como é que decidiu enveredar por uma carreira no meio artístico?
Desde pequeno, sempre gostei de desenhar e todos os dias desenhava, mesmo mais tarde durante a adolescência. A zona onde eu vivo, em Tampaksiring, Ubud, é uma zona culturalmente forte em Bali e onde estão os artistas todos. Originalmente queria ser arquitecto, mas não fui bem sucedido nos exames de admissão à universidade e acabei por ingressar o Indonesian Institute of the Arts, em Denpasar e fiz aí a minha formação. Por outro lado, por ter crescido em Bali, influenciado por muitas culturas fortes e pela filosofia própria da região, aprendi que o trabalho deve ser levado muito a sério e vem do coração, vem de deus. O trabalho em Bali é uma das muitas formas do Taksu, um conceito que significa “carisma” ou “vida” das artes retidas pelos olhos, mentes ou corações, tanto humanos como divinos.
Quais são as suas principais referências artísticas?
Tenho muitas referências, mas sublinho em primeiro lugar a influência de Basquiat. Entre artistas indonésios tenho de citar Made djirna, um artista de Bali de que gosto muito. Os filmes e os desenhos-animados que via quando era pequeno na televisão também foram uma influência forte, como é possível ver nalgumas obras onde retrato esse imaginário. Por vezes uso estes super-heróis nas minhas obras de forma distorcida e crítica, como por exemplo na obra do rei falso, que conta a história de uma eleição de fachada para um cargo político, onde o ex-dirigente que abandona o cargo é representado com uma capa vermelha e super-poderes. Além disso, o Hinduísmo está também presente no meu trabalho. A religião hindu é como uma confidente com quem podemos falar e que tem subjacente a ideia da reencarnação. Eu acredito que nós morremos e nascemos como se fosse um rolo de renovação contínua e por isso mesmo é que abordei esse tema da morte como um novo recomeço em algumas das minhas obras.
É verdade que o seu sobrinho de seis anos deu o seu contributo nalgumas obras?
Sim, às vezes encontro-me com o meu sobrinho para colaborarmos porque ele diz que gosta muito de desenhar, como eu. É um processo totalmente espontâneo, em que ele aparece e desenha se tiver vontade. Para mim não há problema nenhum que ele desenhe nos meus quadros, até gosto disso.

21 Jan 2020

Casa Garden  | Exposição “Viver no Céu”, por Cai Gujie, inaugurada hoje

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada hoje na Casa Garden, às 18h30, a exposição “Viver no Céu”, do artista chinês Cai Gujie, uma iniciativa promovida pela Fundação Oriente. De acordo com uma nota sobre esta mostra, da autoria do seu curador, Lu Zheng Yuan, pode surgir a dúvida, logo na entrada, se esta é uma “exposição de arte ou alguma promoção imobiliária”.

“Onde está o artista? Onde estão as obras? Tudo aqui, no entanto, constitui um cenário especial cuidadosamente construído pelo artista, algures entre a realidade e a ficção. Representa a realidade mais tangível, mas também uma fuga dela. Aqui, o artista não exibe a sua arte no sentido convencional, mas joga com as regras do capital”, aponta o curador.

Para Lu Zheng Yuan, “o artista não evita as questões cruciais de hoje, nem confronta as pressões sobre a vida resultantes do desenvolvimento urbano, nem sequer propões regras para as combater”. “Ao exercer habilmente o direito de uso temporário do local da exposição e ao alugá-lo a promotores imobiliários, ele apenas subverte as relações de poder, criando um espaço que mistura arte com negócios imobiliários”, acrescenta a mesma nota.

13 Dez 2019

Casa Garden  | Exposição “Viver no Céu”, por Cai Gujie, inaugurada hoje

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada hoje na Casa Garden, às 18h30, a exposição “Viver no Céu”, do artista chinês Cai Gujie, uma iniciativa promovida pela Fundação Oriente. De acordo com uma nota sobre esta mostra, da autoria do seu curador, Lu Zheng Yuan, pode surgir a dúvida, logo na entrada, se esta é uma “exposição de arte ou alguma promoção imobiliária”.
“Onde está o artista? Onde estão as obras? Tudo aqui, no entanto, constitui um cenário especial cuidadosamente construído pelo artista, algures entre a realidade e a ficção. Representa a realidade mais tangível, mas também uma fuga dela. Aqui, o artista não exibe a sua arte no sentido convencional, mas joga com as regras do capital”, aponta o curador.
Para Lu Zheng Yuan, “o artista não evita as questões cruciais de hoje, nem confronta as pressões sobre a vida resultantes do desenvolvimento urbano, nem sequer propões regras para as combater”. “Ao exercer habilmente o direito de uso temporário do local da exposição e ao alugá-lo a promotores imobiliários, ele apenas subverte as relações de poder, criando um espaço que mistura arte com negócios imobiliários”, acrescenta a mesma nota.

13 Dez 2019

Casa Garden | ES.TAB.LISH.MENT, de Pedro Pascoinho, inaugura sexta-feira 

A Casa Garden prepara-se para receber a exposição ES.TAB.LISH.MENT, do artista plástico Pedro Pascoinho. A mostra é inaugurada sexta-feira e revela um trabalho intenso de “apropriação e descontextualização da própria imagem”, onde o passado está presente como referencial e onde o cinema também tem uma palavra a dizer

 

[dropcap]O[/dropcap] novo projecto D’As Entranhas Macau – Associação Cultural é inaugurado na próxima sexta-feira na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau. Trata-se de ES.TAB.LISH.MENT, exposição que mostra o trabalho do artista plástico português Pedro Pascoinho na Ásia e que estará patente até ao dia 6 de Janeiro do próximo ano.

O vermelho é a linha condutora destes trabalhos que parecem querer captar momentos específicos, conforme denota a curadora, Frederica Jordão, nas suas notas sobre a mostra. “Na série ES.TAB.LISH.MENT elementos arquitecturais como a escala ou a estrutura são mais certeiramente colocados ao serviço da encenação de um dramatismo a que as personagens se vêm furtando: hipnotizadas, cépticas ou dopadas, alegres iconoclastas, vêm as coisas e as paisagens deformar-se aos seus olhos enquanto, impassíveis, são vítimas de um mudar-se nelas.”

Trata-se de uma exposição com uma “narrativa eminentemente cinematográfica”, apresentando uma “tensão dramática adensada pela descontextualização”, apesar de o gesto ser “mais claro, quase universal, e o recurso a certos símbolos – a farda, o livro, a bata – parece querer provocar a designação da coisa em si”.

Ao HM, Pedro Pascoinho explica a presença do cinema na sua obra, algo que o acompanha desde criança. “Considero a minha pintura silenciosa”, assume, numa referência ao cinema mudo. “O poder da imagem é essencial, apesar de ter o som e o movimento, mas neste caso é o lado parado de uma cena. A questão do cinema na obra é a presença de um determinado plano na imagem. É o que me interessa, ir buscar esse momento.”

Apesar disso, o artista explica que, nesta mostra, o cinema não é primordial. “As imagens são uma forma de trabalho e não há um contexto assim tão cinematográfico, apesar de, em termos de planos e de composições, pensar-se um bocado nesse sentido. Mas o meu sentido não é bem isso”, disse.

De resto, o artista assume pegar nas imagens e dar-lhe outro rumo. “Digamos que o meu trabalho é entre o conteúdo da imagem e aquilo que irei apresentar depois. Tenho muito acesso a imagens de arquivos e a arquivos fotográficos da memória colectiva e a lógica do meu trabalho é de apropriação e descontextualização da própria imagem, remover-lhes um bocado a sua génese e criando um novo contexto.”

De 2014 até agora

As imagens que o público poderá visitar na Casa Garden começaram a ser feitas em 2014, embora haja alguns trabalhos novos feitos de propósito para esta mostra. “Faço uma abordagem referencial em aproximação à pintura antiga do século XV. Uso o vermelho como uma linha condutora nos trabalhos, é uma cor muito presente.”

Pedro Pascoinho assume ter curiosidade de ver a reacção dos orientais face a imagens que representam um cânone ocidental. “A abordagem que faço aqui é referencial em aproximação à pintura antiga, tanto no carácter da dimensão da própria imagem como no sentido pictórico. Uso pigmentos, tintas, e depois em termos de composição são imagens contidas, como se vê na pintura antiga. Há uma visão bastante europeia e ocidental e é essa parte que estou curioso de ver, essa percepção que se tem em relação às cores e composição.”

Para Pedro Pascoinho, o passado “é super referencial”, apesar de dizer que não tem de se aproximar demasiado dele. “Hoje em dia não se conseguem construir imagens novas e, como criadores de arte, acabamos por ficar formatados. Isso [o passado] acaba por surgir como necessidade, o reutilizar o já feito dentro do nosso contexto”, rematou.

Frederica Jordão, nas suas notas, explica ainda o uso da cor vermelha nestas imagens. “Nesta exploração dos limites do ideológico na representação, o discurso de ES.TAB.LISH.MENT faz um interessante uso do vermelho como linha condutora. Sendo a cor primordial da percepção, ele preside à série como à entrada no mundo dos vivos, reminiscente de um despertar; na Bíblia, de forma recorrente o vermelho é equacionado com as qualidades da clarividência, da pureza e do Bem criador – sangue, fogo, amor.”

Mas o vermelho pode significar também “a morte, quando não a salvífica, a outra, carregada de horror”, ou ainda ser uma “sugestão de poder”, onde “a paisagem aparentemente aberta que é cárcere; as ferramentas que designam o ofício com que se domina o mundo; a farda, que podia ser batina de clérigo, agigantando-se sobre o mundo”.

Para Frederica Jordão, ES.TAB.LISH.MENT “é uma coerente colecção de meta-representações que, não se equacionando externamente enquanto tal, no conjunto operam um movimento de revolução, tocando os pontos máximos de aproximação e afastamento entre vibração e estase, perigeu e apogeu.”

2 Dez 2019

Casa Garden | ES.TAB.LISH.MENT, de Pedro Pascoinho, inaugura sexta-feira 

A Casa Garden prepara-se para receber a exposição ES.TAB.LISH.MENT, do artista plástico Pedro Pascoinho. A mostra é inaugurada sexta-feira e revela um trabalho intenso de “apropriação e descontextualização da própria imagem”, onde o passado está presente como referencial e onde o cinema também tem uma palavra a dizer

 
[dropcap]O[/dropcap] novo projecto D’As Entranhas Macau – Associação Cultural é inaugurado na próxima sexta-feira na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau. Trata-se de ES.TAB.LISH.MENT, exposição que mostra o trabalho do artista plástico português Pedro Pascoinho na Ásia e que estará patente até ao dia 6 de Janeiro do próximo ano.
O vermelho é a linha condutora destes trabalhos que parecem querer captar momentos específicos, conforme denota a curadora, Frederica Jordão, nas suas notas sobre a mostra. “Na série ES.TAB.LISH.MENT elementos arquitecturais como a escala ou a estrutura são mais certeiramente colocados ao serviço da encenação de um dramatismo a que as personagens se vêm furtando: hipnotizadas, cépticas ou dopadas, alegres iconoclastas, vêm as coisas e as paisagens deformar-se aos seus olhos enquanto, impassíveis, são vítimas de um mudar-se nelas.”
Trata-se de uma exposição com uma “narrativa eminentemente cinematográfica”, apresentando uma “tensão dramática adensada pela descontextualização”, apesar de o gesto ser “mais claro, quase universal, e o recurso a certos símbolos – a farda, o livro, a bata – parece querer provocar a designação da coisa em si”.
Ao HM, Pedro Pascoinho explica a presença do cinema na sua obra, algo que o acompanha desde criança. “Considero a minha pintura silenciosa”, assume, numa referência ao cinema mudo. “O poder da imagem é essencial, apesar de ter o som e o movimento, mas neste caso é o lado parado de uma cena. A questão do cinema na obra é a presença de um determinado plano na imagem. É o que me interessa, ir buscar esse momento.”
Apesar disso, o artista explica que, nesta mostra, o cinema não é primordial. “As imagens são uma forma de trabalho e não há um contexto assim tão cinematográfico, apesar de, em termos de planos e de composições, pensar-se um bocado nesse sentido. Mas o meu sentido não é bem isso”, disse.
De resto, o artista assume pegar nas imagens e dar-lhe outro rumo. “Digamos que o meu trabalho é entre o conteúdo da imagem e aquilo que irei apresentar depois. Tenho muito acesso a imagens de arquivos e a arquivos fotográficos da memória colectiva e a lógica do meu trabalho é de apropriação e descontextualização da própria imagem, remover-lhes um bocado a sua génese e criando um novo contexto.”

De 2014 até agora

As imagens que o público poderá visitar na Casa Garden começaram a ser feitas em 2014, embora haja alguns trabalhos novos feitos de propósito para esta mostra. “Faço uma abordagem referencial em aproximação à pintura antiga do século XV. Uso o vermelho como uma linha condutora nos trabalhos, é uma cor muito presente.”
Pedro Pascoinho assume ter curiosidade de ver a reacção dos orientais face a imagens que representam um cânone ocidental. “A abordagem que faço aqui é referencial em aproximação à pintura antiga, tanto no carácter da dimensão da própria imagem como no sentido pictórico. Uso pigmentos, tintas, e depois em termos de composição são imagens contidas, como se vê na pintura antiga. Há uma visão bastante europeia e ocidental e é essa parte que estou curioso de ver, essa percepção que se tem em relação às cores e composição.”
Para Pedro Pascoinho, o passado “é super referencial”, apesar de dizer que não tem de se aproximar demasiado dele. “Hoje em dia não se conseguem construir imagens novas e, como criadores de arte, acabamos por ficar formatados. Isso [o passado] acaba por surgir como necessidade, o reutilizar o já feito dentro do nosso contexto”, rematou.
Frederica Jordão, nas suas notas, explica ainda o uso da cor vermelha nestas imagens. “Nesta exploração dos limites do ideológico na representação, o discurso de ES.TAB.LISH.MENT faz um interessante uso do vermelho como linha condutora. Sendo a cor primordial da percepção, ele preside à série como à entrada no mundo dos vivos, reminiscente de um despertar; na Bíblia, de forma recorrente o vermelho é equacionado com as qualidades da clarividência, da pureza e do Bem criador – sangue, fogo, amor.”
Mas o vermelho pode significar também “a morte, quando não a salvífica, a outra, carregada de horror”, ou ainda ser uma “sugestão de poder”, onde “a paisagem aparentemente aberta que é cárcere; as ferramentas que designam o ofício com que se domina o mundo; a farda, que podia ser batina de clérigo, agigantando-se sobre o mundo”.
Para Frederica Jordão, ES.TAB.LISH.MENT “é uma coerente colecção de meta-representações que, não se equacionando externamente enquanto tal, no conjunto operam um movimento de revolução, tocando os pontos máximos de aproximação e afastamento entre vibração e estase, perigeu e apogeu.”

2 Dez 2019

Fado | Fernanda Paulo acompanhada ao piano em concerto “Delicado”

[dropcap]A[/dropcap] fadista Fernanda Paulo junta-se ao piano do brasileiro Francisco Pellegrino para um concerto na Casa Garden, já no próximo dia 22 Novembro, pelas 20 horas.

O espectáculo “Delicado” resulta de um encontro musical dos dois países, Portugal e Brasil, celebrando assim “a tradição e a universalidade do Fado, num repertório emocionante que ganha nova vida com o acompanhamento ao piano, instrumento incomum para o estilo”.

Francisco Pellegrino e Fernanda Paulo conheceram-se no ano de 2010, em Buenos Aires, onde actuaram juntos pela primeira vez. O encontro deu origem a este projecto, que mistura dois estilos incontornáveis como o fado e a música popular brasileira, abarcando ainda várias influências que ambos os intérpretes trazem da sua formação eclética.

Fernanda Paulo, tem vindo a evoluir nos dois pólos artísticos, o do Teatro e o da Música, tendo começado a cantar em festivais infanto-juvenis, e, mais recentemente, desenvolvido alguns projectos musicais relacionados com o fado, cantando em diversos espectáculos e casas de fado.

Já Francisco Pellegrini é um jovem compositor brasileiro de Niterói (RJ), pianista, acordeonista e músico profissional desde os 14 anos. Tem quatro álbuns lançados em diversas partes do mundo, e terá o lançamento de seu quinto álbum no próximo ano.

19 Nov 2019

Casa Garden | World Press Photo 2019 chega em Setembro 

As fotografias vencedoras da edição deste ano do World Press Photo regressam à Casa Garden, espaço da Fundação Oriente, no próximo mês de Setembro. O drama vivido na fronteira entre o México e os Estados Unidos e a miséria no rio Pasang, nas Filipinas, são alguns relatos fotográficos que podem ser visitados pelo público

 

[dropcap]A[/dropcap]s fotografias premiadas no concurso World Press Photo 2019 vão estar patentes em Macau entre 29 de Setembro e 21 de Outubro, numa iniciativa que a organização disse à Lusa esperar atrair cerca de 2.500 pessoas.

No total vão ser exibidas na Casa Garden 157 fotografias, entre as quais a fotografia vencedora do World Press Photo 2019, tirada em 12 de Junho de 2018 por John Moore, onde se vê uma criança hondurenha (à data com dois anos de idade) a chorar agarrada à mãe enquanto os oficiais da Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos a revistam, depois de terem cruzado ilegalmente a fronteira EUA-México perto de McAllen, no estado do Texas.

A imagem, que valeu ao fotógrafo norte-americano um prémio de 10 mil euros foi capa da revista Time e gerou a contestação ao programa do Presidente norte-americano, Donald Trump, que levou à separação das famílias de imigrantes.

Mãozinha da CPM

A 12.ª edição do evento em Macau espera atrair cerca de 2.500 pessoas, disse à Lusa a coordenadora da Casa de Portugal em Macau, Diana Soeiro, acrescentando que orçamento desta iniciativa se cifra nas 180 mil patacas. Tal como nos anos anteriores as legendas das fotografias vão estar traduzidas também em chinês “de forma a atrair um público mais variado”.

Entre os premiados deste ano está a imagem do fotojornalista português Mário Cruz, premiado na categoria Ambiente, com o título “Living Among What’s Left Behind” (“Viver entre o que foi deixado para trás”), resultado de um projecto desenvolvido a título pessoal, sobre comunidades de Manila, nas Filipinas, que vivem sem saneamento e rodeadas de lixo.

A imagem vencedora mostra uma criança que recolhe materiais recicláveis deitada num colchão rodeado por lixo que flutua no rio Pasig, declarado biologicamente morto na década de 1990.

Para o fotojornalista, esta imagem “é um apelo que merece reacção rápida”. “Nós vemos imagens de praias com lixo no areal e ficamos incomodados, mas estas pessoas em Manila [capital das Filipinas] estão rodeadas de lixo diariamente, já há muitos anos, e isto merece a nossa reacção rápida”, afirmou Mário Cruz em declarações à Lusa, aquando do anúncio da nomeação para o World Press Photo.

A fotografia vencedora foi captada nesse sentido: “No fundo é um apelo para que não se ignore o que não pode ser ignorado”, disse.

Os habitantes daquelas comunidades tentaram, sem sucesso, ir viver para a capital das Filipinas e acabaram por criar construções ilegais junto ao rio, onde vivem, sem saneamento, e muitos deles da reciclagem do lixo que é atirado fora.

“É um problema que se arrastou, e está a agravar-se tomando dimensões preocupantes”, alertou o fotojornalista, acrescentando que viu estuários, criados para impedir as cheias, cheios de lixo.

“Neste momento só se vê lixo. É dramático olhar para um canal de água e não ver a água, só plástico, e isso merece sem dúvida uma reacção”, reiterou Mário Cruz, que é fotojornalista da agência Lusa, mas desenvolveu este projecto a título pessoal.

9 Ago 2019