Casa Garden apresenta xilogravuras do artista japonês Katsushika Hokusai

As xilogravuras do japonês Katsushika Hokusai, expostas a partir do próximo sábado na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, são uma oportunidade de conhecer a técnica da gravura, muitas vezes confundida com a pintura, defende o curador da mostra.

A exposição “Hokusai The Wave Maker”, que apresenta três conjuntos de 64 gravuras ‘ukiyo-e’, na posse de uma “grande família de Osaka”, integra, entre outras, 46 peças da série “Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji”, disse à Lusa James Wong Cheng Pou.

“A Grande Onda de Kanagawa”, trabalho mais conhecido do artista do período Edo, entre 1603 e 1868, e que a partir de 2024 vai ser motivo da nota de mil ienes (6,44 euros), inaugura esta série, originalmente criada entre 1831 e 1934 e que retrata o monte Fuji em diferentes épocas do ano e de várias perspectivas.

“Há dois anos, peritos do Museu Britânico, que fez uma grande exposição sobre Hokusai, consideraram a possível existência de cerca de 8.000 cópias de ‘A Grande Onda [de Kanagawa]’ no mundo. Actualmente só se conseguem localizar cerca de 200”, notou.

Reimpressão de qualidade

Embora as gravuras expostas na delegação da Fundação Oriente em Macau sejam reimpressões da década de 1970 e anos mais recentes, James Wong nota que a qualidade é atestada pelas autoridades competentes japonesas, tendo a reprodução de respeitar “os métodos tradicionais”.

“É necessário utilizar o papel de estilo antigo, bem como madeira de cerejeira, para cortar os blocos [onde se faz a gravura], que geralmente tem de ter mais de 100 anos, além de todas as tintas das impressões serem de materiais minerais”, notou o também presidente do Centro de Pesquisa de Gravuras de Macau.

“A arte que vai ver nesta exposição são provavelmente os exemplares mais caros destas impressões recentes”, salientou.
Para Wong, membro fundador da Comunidade de Gravuras e da Trienal de Gravura em Macau, esta é também uma oportunidade para desmistificar a gravura, já que “não há muita gente que conheça a diferença entre pintura e gravura”. “Talvez [a população] tenha interesse em vir ver como são as impressões”, sugere.

A xilogravura japonesa ‘ukiyo-e’ junta dois elementos: o desenho que dá origem ao produto final e o bloco de madeira. Num primeiro momento, faz-se o desenho em papel e coloca-se sobre um bloco de madeira. Depois talha-se a madeira, deixa-se o desenho em relevo e, numa fase seguinte, o bloco é pintado e coberto com o papel onde vai ser feita a impressão, sendo que para uma só obra são necessários vários blocos. Ao longo do processo, pressiona-se o papel contra o bloco de madeira com uma ferramenta circular chamada ‘baren’.

A ‘ukiyo-e’ e o nome de Katsushika Hokusai não são completos desconhecidos do território. Em 2018, a Rádio Macau noticiou que o Fundo de Pensões tinha guardada uma coleção de arte japonesa, adquirida no final dos anos 1980 pela administração portuguesa e avaliada em 13,68 milhões de patacas.

Essas 84 gravuras remontam ao século XVIII e XIX e estão guardadas nos cofres do Banco Nacional Ultramarino (BNU) do território, de acordo com a emissora. O exemplar “Grande Onda de Kanagawa” – e as restantes 45 gravuras da série “Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji” – é a peça de arte de maior relevo adquirida pelo Fundo de Pensões.

James Wong recorda-se quando, nos anos 1990, passou “mais de uma hora” a observar essas impressões. Com ele, lembra à Lusa, encontrava-se também o artista e pedagogo português Nuno Barreto (1941-2009), na altura diretor da Academia de Artes Visuais de Macau.

“Fomos ao último andar do BNU e tivemos a oportunidade privilegiada de examinar [as peças]”, diz. A Lusa contactou o Fundo de Pensões para saber se a obra continua na posse do Governo de Macau, mas até ao momento não recebeu qualquer resposta.

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