Três escritores portugueses participam no II Fórum Literário China-Portugal Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap]s escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto vão participar no II Fórum Literário China-Portugal, que vai decorrer em Pequim a 12 de Junho. Segundo comunicado da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), o evento vai decorrer no Museu Nacional da Literatura Moderna Chinesa e vai contar com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, além da presidente da Associação de Escritores da China, Tie Ning. Depois de uma primeira edição em Lisboa, em Junho de 2017, o segundo evento vai cruzar os três autores portugueses com os chineses Lu Min, Liu Zhenyun e Xu Zechen, numa conversa que será moderada por outro escritor, Qiu Huadong. José Luís Peixoto já tinha participado na primeira edição, então ao lado de Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso. De acordo com o comunicado, o ponto alto será o painel subordinado ao tema “Visão e Imaginação”, marcado para a tarde. Para a manhã, está marcada “uma apresentação sobre a literatura chinesa e portuguesa e a sua internacionalização”, com a directora de serviços do Livro da DGLAB, Maria Carlos Loureiro, e Qiu Huadong. A medida insere-se no Festival de Cultura Portuguesa na China, promovido por Portugal no âmbito da celebração dos 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países e os 20 anos da passagem da soberania de Macau para a República Popular da China. “Este fórum acontece no âmbito do memorando de entendimento entre a República portuguesa e a China no domínio do livro e da literatura, assinado em 2015”, explica a DGLAB, no qual reforça a parceria entre Associação Chinesa de Escritores e este organismo.
RAEM, 20 anos | Pequim conhecia tão mal Macau como Lisboa, diz Henriques de Jesus Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] negociador da transferência de soberania de Macau para a China José Henriques de Jesus lembra, em entrevista à Lusa, que a discussão sobre este território quase desconhecido de Lisboa e de Pequim teve vários episódios pitorescos, e nem sempre agradáveis. “Nós, muitas vezes dizíamos: em Pequim, conhece-se tão mal Macau como em Lisboa”, contou à Lusa o economista, nomeado pelo então primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva, para integrar a delegação encarregada de negociar a transferência de administração de Macau para a China que daria origem à declaração conjunta assinada em 1987. Chefiada pelo embaixador Rui Medina, a equipa incluía ainda o embaixador João de Deus Ramos, que tinha aberto a embaixada em Pequim após o estabelecimento das relações diplomáticas com a República Popular da China em 1979), e o conselheiro de Mário Soares, Carlos Gaspar. “A negociação era entre Portugal e a China, mas o sucesso havia de ser medido em Macau, foi sempre em Macau que pensei”, adiantou Henriques de Jesus, considerando que o resultado “foi bom” porque apesar de a presença portuguesa “nunca ter sido muito forte em Macau”, Portugal soube ultrapassar as dificuldades com “força anímica”. Henriques de Jesus que tinha feito parte do governo do general Melo Egídio (1974-1981) como secretário adjunto do Governo para os assuntos económicos entre 1979 e 1981, descreve esses anos como “entusiasmantes” e explica que o seu trabalho em Macau começou com uma folha A4, onde tentou cruzar pontos fracos e pontos fortes. “Quem chega hoje a Macau não imagina como era nos anos 70”, assinala, destacando os esforços desenvolvidos na acção política e governativa nesse período, o que permitiu “o grande salto” que “foi o princípio do desenvolvimento de Macau”. Regressou alguns anos mais tarde para negociar o futuro de Macau num processo exigente, que durou seis meses, envolveu dez idas do grupo de trabalho a Pequim, aventuras logísticas “pitorescas” e “alguns episódios não muito agradáveis”. Se no quadro negocial, os interesses portugueses “eram, não exactamente coincidentes, mas convergentes” com os interesses da China, que tinha adoptado o princípio “um país, dois sistemas, facilitando a negociação, não deixaram de ser registados “incidentes mais conflituosos” Este começam, conta o antigo economista e ex-colega universitário de Cavaco Silva, quando os chineses começam por apresentar “praticamente uma tradução em português dos acordos com Hong Kong”, o que o lado português não podia aceitar. Enquanto se esperava uma nova proposta, Henrique de Jesus é confrontado com o que descreveu como uma “tradução mais perfeita” das iniciativas chinesas. “Para os chineses era mais fácil: já fizemos as negociações com os outros [o Reino Unido com quem antes tinham negociado a transferência de Hong Kong], agora vamos fazer com estes, o nosso problema é o mesmo, apresentamos a mesma coisa”, lembrou. Mas não esteve pelos ajustes. “Eu disse: eu não embarco. Se não fosse uma atitude de firmeza, tínhamos embarcado para mostrar aos chineses apenas uma tradução mais perfeita dos documentos que nos tinham apresentado”, desabafa. Acabou por não ser isso que aconteceu. “Refizemos os documentos todos à nossa maneira”, proposta que foi posteriormente – essa, sim – negociada, explicou. Outra ocasião em que os chineses “foram muito desagradáveis”, deveu-se à data da transferência de soberania, que Portugal queria avançar no tempo e demarcar da data da transferência de soberania de Hong Kong, mas que a China recusava deixar ultrapassar o ano 2000. “Vieram com o discurso de ‘colonialistas, fascistas, exploradores’. Nós ouvimos e retorquimos: vocês não têm vergonha de falar nisso, quando nos éramos um milhão quando chegamos a Macau? E vocês quantos eram? Aí, acabou a conversa”, sorri. No fim acabou por ser escolhido o dia 19 de Dezembro do ano de 1999, para não deixar passar o milénio. A questão da nacionalidade foi outro entrave negocial em que “foi preciso ser bruto”. Os portugueses não abdicavam de manter a nacionalidade portuguesa para os que já a tinham – e que eram fundamentalmente chineses. A mesma “firmeza” foi exercida no que diz respeito à liberdade de culto. Em todo o caso, Henriques de Jesus enfatiza que Portugal teve sempre relações com a China através de Macau “e de uma maneira intensa”, apesar de o país só ter formalmente estabelecido relações diplomáticas com a República Popular da China em 1979. O economista acredita até que essa formalização só não aconteceu antes porque a China ainda não estavam preparara para o diálogo com Portugal sobre a transferência de Macau. “Há situações em que não falamos para não ter de responder e eles não criaram o canal normal de diálogo para não terem de responder”, defende. Descreve Macau na actualidade como “uma terra onde as pessoas vivem bem” e “têm liberdade de expressão”, mas deixa um alerta quanto ao jogo: “A grande concentração da economia num produto pode vir a ter problemas e já tem, em termos sociais, desde que aconteceu a intensificação de licenças aos casinos. Neste momento Macau é um casino, à excepção de uma parte que tem sido conservada e valorizada pelos chineses”. Situação que encara até “com um sorriso”, recordando que foi difícil alcançar essa salvaguarda nas negociações, porque os chineses aceitavam a palavra “conservação” do património, mas nunca aceitaram a “valorização” “Agora não há quem mais valorize o património do que os chineses”, remata.
Campanha para a Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo arrancou sábado João Santos Filipe - 1 Jun 20193 Jun 2019 Mok Chi Meng e Leong Chong In vão ser os primeiros representantes dos órgãos municipais no Colégio Eleitoral. Segundo as regras estavam previstas eleições internas, mas o facto de só haver dois candidatos, para o mesmo número de vagas, fez com que a escolha fosse automática [dropcap]O[/dropcap] auditor de contas Mok Chi Meng e o arquitecto Leong Chong In são os dois membros do órgão municipal que vão estar no Colégio Eleitoral para a eleição do Chefe do Executivo. A decisão foi anunciada na sexta-feira pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). De acordo com o comunicado, ficou definido que no futuro os representantes do IAM vão ser eleitos por sufrágio interno e secreto, no mesmo dia da eleição dos restantes membros para o Comité Eleitoral. Porém, nesta situação não vai haver eleições porque o número de membros interessados é igual ao das vagas existentes: “Até ao fim do prazo [para apresentação de candidaturas], a 30 de Maio, foi recebido um total de duas declarações de interesse entregues pelos membros do órgão municipal Mok Chi Meng e Leong Chong In, para se candidatarem à Comissão Eleitoral”, comunicou o IAM. “Conforme as regras referidas, como o número de interessados em serem eleitos é igual ao número de assentos sujeitos a sufrágio, aqueles consideram-se automaticamente eleitos, não havendo lugar a votação”, acrescentou. Leong Chong In nasceu em 1973 e é licenciado pela Universidade de Huaqiao em arquitectura. Desde 2000 que é presidente da Associação de Arquitectos de Macau, sendo igualmente membro da direcção da Cruz Vermelha. Já Mok Chi Meng nasceu em 1952 tem o grau de mestre em Gestão de Empresas pela Universidade Aberta da Ásia. Exerce a profissão de auditor de contas registado. É membro de várias entidades como a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, em inglês), a Associação de Auditores de Contas Registados de Macau e a Cruz Vermelha. Em andamento Já a campanha eleitoral para a escolha dos membros da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo arrancou no sábado e vai prolongar-se até às 24h00 do dia 14 de Junho. A Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE) esteve reunida na sexta-feira e a presidente revelou que até ao final de quinta-feira já tinham sido entregues pedidos por parte de candidatos para utilizar o auditório do Edifício da Administração Pública. “Até ontem recebemos pedidos de diferentes sectores e subsectores e houve candidatos que estão interessados em utilizar o nosso local para actividades de campanha eleitoral”, informou. O auditório tem capacidade para cerca de 200 pessoas e já esteve disponível ontem para acções de campanha. No próximo fim-de-semana volta a estar disponível para candidatos dos subsectores educacional, profissional, desportivo, do trabalho e dos serviços sociais. No subsector educacional há 31 candidatos para 29 lugares e no subsector do trabalho há 63 candidatos para 59 vagas. Os restantes lugares do Colégios estão garantidos, uma vez que apenas nos subsectores educacional e do trabalho o número de candidatos foi superior ao de vagas.
Xi Jinping escreveu aos alunos de Macau, Chui Sai On agradeceu Sofia Margarida Mota - 1 Jun 20194 Jun 2019 Em pleno dia da criança, Xi Jinping respondeu por carta a alunos de uma escola de Macau. A missiva, além ter deixado Chui Sai On comovido, foi motivo para uma palestra com o propósito de estudar o espírito das palavras do Presidente chinês. No evento participaram, além do Chefe do Executivo, o director do Gabinete de Ligação do Governo Central, Fu Ziying, Alexis Tam e representantes do sector educativo [dropcap]F[/dropcap]icámos todos muito emocionados com a recepção da carta do presidente Xi e o carinho que deixou, assim como um recado muito rico à população e para os alunos de Macau”. Foi assim que Chui Sai On reagiu à missiva assinada por Xi Jinping em resposta à carta enviada pelos alunos da Escola de Talentos anexa à Escola de Hou Kong de Macau. “O Presidente Xi Jinping é uma pessoa muito atarefada, mas, mesmo assim, utilizou o seu tempo para responder à carta dos alunos da escola primária. Isto para Macau é uma grande honra”, referiu o Chefe do Executivo. A correspondência motivou uma palestra com o intuito de interpretar a filosofia contida na mensagem do Presidente chinês. “O espírito e a filosofia da carta reveste-se de um grande significado, como tal devemos aprender esta filosofia. Temos de perceber o seu conteúdo e importância e perceber a filosofia subjacente”, referiu o Chefe do Executivo. Chui Sai On destacou ainda o facto de Xi Jinping ter assinalado a “excelência do desempenho das crianças e o patriotismo que demonstraram” e de Macau ser a materialização do desenvolvimento da tradição patriótica chinesa. O líder do Governo local realçou, em conferência de imprensa, que é necessário descortinar o valor essencial do país de forma a permitir maior interacção e integração entre os dois territórios. “Quando a pátria está bem, Macau também vai estar bem”, completou Chui Sai On. Influência do exterior O director do Gabinete de Ligação do Governo Central, Fu Ziying, foi um dos participantes na palestra destinada ao sector educativo e também revelou ter ficado emocionado com a carta enviada por Xi Jinping. “Sinto o amor do Presidente a Macau”, comentou. Além de destacar o incentivo ao patriotismo da juventude local, Fu Ziying destacou os grandes projectos nacionais, como a Grande Baía e “Uma Faixa, Uma Rota”, como pólos de participação patriótica dos alunos locais. Também destacou a perigosidade de interferências externas. “Numa sociedade liberalizada, como Macau, é muito fácil os jovens serem influenciados, por isso temos a responsabilidade de criar valores correctos”, referiu o director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. A directora da Escola Hou Kong, Chan Hong, referiu que as crianças são formadas para saberem como amar a pátria e Macau. “São ensinados conhecimentos sobre tecnologia, sobre a realidade nacional e sobre todos os compromissos que têm que assumir perante a sociedade, a família e o país”, revelou a directora. Teoria da evolução A escola Hou Kong, foi o estabelecimento de ensino que há trinta anos escreveu a Pequim, a criticar o Governo Central pelos acontecimentos em Tiananmen. A memória foi recordada ontem pelo deputado Sulu Sou, citado pela Rádio Macau. “A escola Hou Kong foi uma das que há três décadas escreveu uma carta ao Governo Central apoiando o movimento estudantil e censurando a violência. Trinta anos depois parecem ter mudado a maneira de pensar”, disse o deputado. Para Sulu Sou, a palestra realizada ontem destinada ao sector educativo para “aprendizagem e aplicação do espírito da carta de resposta do presidente Xi Jinping aos estudantes de Macau”, representa ainda o controlo cada vez maior do ambiente político local.
Casinos | Melco compra de 19,99% de acções de Crown Resorts por mil milhões de euros Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] operadora de hotéis e casinos Melco Resorts anunciou ontem a compra de 19,99 por cento das acções da maior operadora de casinos da Austrália, a Crown Resorts, por mais de 1,7 mil milhões de dólares australianos. De acordo com o comunicado da Melco Resorts, uma das concessionárias do jogo em Macau, o grupo “assinou um contrato definitivo de compra” com o qual “adquirirá 135,35 milhões de acções da Crown (…) por um preço de 13 dólares australianos por acção”. O negócio está assim avaliado em 1,759 mil milhões de dólares australianos“A transacção será concluída em duas parcelas iguais, em 6 de Junho de 2019 e até 30 de Setembro de 2019”, lê-se na mesma nota. O presidente e director executivo da Melco Resorts, Lawrence Ho, ambiciona ter um lugar no conselho de administração da Crown, “de acordo com a sua [nova] posição” dentro da empresa. “Vejo o investimento da Melco na Crown como uma incrível oportunidade de adquirir uma participação estratégica no que acredito ser o principal provedor de experiências de resort verdadeiramente integradas na Austrália”, disse o Lawrence Ho, filho do fundador da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Stanley Ho. Este acordo acontece pouco mais de um mês depois de a Wynn Resorts, com casinos nos Estados Unidos e Macau, ter posto fim às negociações para comprar a maior operadora de casinos da Austrália devido à divulgação prematura de discussões preliminares por parte da Crown. O grupo australiano tinha avançado estar em discussões confidenciais sobre uma oferta da Wynn.
Hotéis e pensões com mais de um milhão de pessoas em Abril Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]M/dropcap]ais de um milhão de visitantes ficaram alojados nos hotéis e pensões de Macau, em Abril, o que representa uma descida de 2,2 por cento em relação a igual período do ano anterior, foi ontem divulgado. Em comunicado, os Serviços de Estatística e Censos (DSEC) indicaram que 1.143.000 pessoas ficaram no território por um período médio de 1,4 noites, tal como em Abril de 2018. A taxa de ocupação média atingiu 91,4 por cento, mais 0,3 pontos percentuais relativamente ao período homólogo, com destaque para a dos hotéis de cinco estrelas de 92,3 por cento. No final de Abril estavam registados do território de Macau 117 hotéis e pensões, que representavam, em conjunto, 39 mil quartos. A oferta nos hotéis de cinco estrelas manteve-se nos 24 mil quartos, ou 63,4 por cento do total. Os hóspedes provenientes da Coreia do Sul (40 mil) e de Hong Kong (137 mil) aumentaram 13,1 por cento e 1,3 por cento, respectivamente, em termos anuais. O número de hóspedes da China (774 mil) e de Taiwan (34 mil) desceu 2,8 por cento e 20,5 por cento, respectivamente, em relação a igual período de 2018, indicou a DSEC. No mês em análise, 908 mil pessoas visitaram o território em excursões, um aumento de 20,2 por cento comparativamente a Abril de 2018. Nos primeiros quatro meses do ano, 4.662.000 pessoas ficaram alojadas nos hotéis e pensões de Macau, ou mais 2,8 por cento do que em igual período do ano passado.
GPDP | Huawei deu palestra sobre protecção de dados Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap]llen Ting, conselheiro do Departamento dos Assuntos Jurídicos da Huwaei, esteve em Macau a convite do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP) a dar uma palestra sobre a protecção de dados e as leis relacionadas com a segurança nesta área. Na iniciativa, que ocorreu a 10 de Maio, participaram mais de 100 funcionários públicos e o comunicado do GPDP diz que a postura foi “muito activa”. Na palestra, Allen Ting abordou o Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados da União Europeia (General Data Protection Regulation, GDPR) e analisou as suas condições aplicáveis. Também as características jurídicas da segurança informática da China, assim como as medidas da protecção de dados pessoais do País estiverem em análise.
China e países lusófonos com contratos de 101 mil milhões de euros Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] China e os países lusófonos assinaram 5.620 novos projectos na área de construção de infraestruturas entre 2008 e 2018, no valor de 101 mil milhões de euros, segundo um relatório divulgado ontem pelo Governo de Macau. O número de trabalhadores deslocado pelos construtores chineses para os países de língua portuguesa, nesses 11 anos, atingiu os 203 mil, sendo que, destes, 19 mil estavam a trabalhar naqueles territórios no final de 2018, de acordo com o relatório apresentado na inauguração do 10.º Fórum Investimento e Construção de Infraestruturas (IIICF, na sigla em inglês), que terminou ontem. Os mais recentes contratos assinados por empresas chinesas em Angola atingiram mais de 8.500 milhões de dólares, mas caiu de forma significativa para os 2.200 milhões de euros em 2018, pode ler-se no documento encomendado à Associação Internacional de Constructores da China. Esta situação deveu-se a factores como a desaceleração económica e o aumento do défice fiscal, de acordo com o relatório. O número de contratos assinados por empresas chinesas em Cabo Verde e na Guiné Bissau registou uma tendência decrescente. Entre 2012-2018, o valor dos contratos e o volume de negócios associados a projectos de infra-estruturas financiados pelos países de língua portuguesas e que envolveram empresas chinesas atingiram, respectivamente, 36.200 e 39.300 milhões de dólares, sublinhando-se no relatório que este é o modelo predominante de financiamento na área da construção, seguido pelos empréstimos comerciais apoiados pelo governo chinês. Angola, Brasil, Moçambique e Portugal são os países lusófonos nos quais se regista um maior envolvimento de empresas chinesas no desenvolvimento de infraestruturas, conclui-se no mesmo documento. Dar trabalho Na sessão de abertura do fórum, o vice-ministro do Comércio chinês disse que a China está a criar 700 mil empregos/ano desde 2010 nos países onde está a investir em infraestruturas. Wang Bingnan garantiu que desde a primeira edição do fórum, em 2010, “foram criados anualmente 700 mil postos de trabalho” e investidos “30.000 milhões de dólares de financiamento para cooperação internacional para infraestruturas através de instituições financeiras chinesas”. O governante chinês sublinhou que entre as maiores 250 empresas de construção mundial 69 são chinesas, o que leva Bingnan a concluir que a iniciativa internacional de Pequim de construção de infraestruturas “Uma Faixa, Uma Rota” é “um pilar muito importante para o desenvolvimento económico nacional” chinês.
O fim da vida Jorge Rodrigues Simão - 1 Jun 2019 “I will respect the privacy of my patients, for their problems are not disclosed to me that the world may know. Most especially must I tread with care in matters of life and death. If it is given me to save a life, all thanks. But it may also be within my power to take a life; this awesome responsibility must be faced with great humbleness and awareness of my own frailty. Above all, I must not play at God.” Hippocratic Oath-Modern Version [dropcap]A[/dropcap] população mundial está a envelhecer e a capacidade de manter as pessoas desesperadamente doentes é cada vez maior. É um dever ajudar as pessoas que querem pôr termo à vida? Em caso afirmativo, deveriam ser apenas os pacientes terminais ou incluir aqueles que sofrem de doenças psiquiátricas, como no mediático caso de Aurelia Brouwers, a holandesa de vinte e nove anos que se encontrava tão infeliz que descreveu o seu sofrimento mental como “insuportável” e bebeu veneno fornecido por um médico, e se deitou para morrer, em 26 de Janeiro de 2018. A eutanásia e o suicídio assistido por médico são legais na Holanda, e daí que a sua morte foi sancionada pelo Estado. A paciente não era uma doente em fase terminal, mas foi autorizada a acabar com a vida devido à sua doença psiquiátrica, bebendo legalmente veneno letal. O Parlamento holandês considerou que se devia criar uma lei que permitisse aos médicos ajudar os pacientes a morrer em determinadas circunstâncias. A sua história é exclusivamente holandesa. A eutanásia é contrária à lei na maioria dos países, mas na Holanda é permitida, se um médico concordar, o sofrimento de um paciente for insuportável sem perspectiva de recuperação e se não houver alternativa razoável para a sua situação. Tais critérios podem ser mais simples de aplicar no caso de alguém com um diagnóstico terminal de cancro intratável e que sente muitas dores. A grande maioria das cerca de seis mil e seiscentas mortes por eutanásia na Holanda em 2017 são referentes a casos de pessoas com uma doença física, mas oitenta e três foram ajudadas a morrer por motivos de alto sofrimento psiquiátrico e cujas condições não eram necessariamente terminais. Os médicos de Aurelia não apoiaram os seus pedidos de eutanásia o que a levou a inscrever-se numa “Clínica de Fim de Vida”, em Haia que é o local de último recurso para aqueles cujas candidaturas foram rejeitadas pelo seu psiquiatra ou médico de família. A clínica supervisionou sessenta e cinco das oitenta e três mortes aprovadas na Holanda por motivos psiquiátricos, embora apenas cerca de 10 por cento dos pedidos psiquiátricos são aprovados, e o processo pode levar anos. A “Clínica de Fim de Vida”, só oferece eutanásia ou suicídio assistido a pessoas cujo pedido de morte assistida foi negado pela primeira vez pelo seu médico. A clínica não é um hospital ou um hospício, mas uma fundação com equipas de médicos e enfermeiros que trabalham separadamente e visitam os pacientes em casa. A clínica primeiro analisa o pedido, para determinar se cumpre os estritos critérios da lei holandesa de eutanásia e em caso afirmativo, uma das equipas conversa com o paciente por diversas vezes para investigar por completo o pedido. O historial clínico é pesquisado e os médicos envolvidos na situação são consultados. Se todos os critérios forem observados, o paciente pode morrer em casa, na presença de familiares e amigos. A cínica foi fundada em 2012, com base na lei da eutanásia e o direito holandês de morrer na sociedade. Ainda que qualquer paciente possa pedir à clínica a morte assistida, tem como objectivo principal os pacientes cujos pedidos de morte assistida são mais complexos e muitas vezes negados pelos seus médicos, ou seja, pacientes psiquiátricos, pessoas com demência ou que sofrem com doenças não fatais. A lei holandesa da eutanásia determina que apenas os pacientes que têm um sofrimento insuportável, sem perspectiva de melhoria, podem ser elegíveis para a eutanásia. A lei não contempla a distinção entre sofrimento físico ou psicológico. Os pacientes devem ser persistentes na decisão de solicitar a morte assistida e devem entender as consequências do seu pedido. O médico deve estar convencido de que não existe outra solução razoável para pôr termo ao sofrimento. Mas a lucidez significa que alguém tem a capacidade mental de escolher a morte em detrimento da vida? De acordo com a lei holandesa, um médico deve encontrar-se seguro do pedido de eutanásia do paciente, “voluntário e bem examinado”. Será que um doente psiquiátrico é idóneo para tomar a decisão? O desejo de morte poderá ser um sintoma da sua doença psiquiátrica? O facto de que se pode racionalizar sobre essa situação não significa que não seja um sinal da doença. Os psiquiatras devem tudo fazer para ajudar os pacientes a diminuir os sintomas da sua patologia e em transtornos de personalidade, um desejo de morte não é incomum. Se isso é consistente, e tiveram os seus tratamentos de transtorno de personalidade, significa que o desejo de morte é o mesmo que em um paciente com cancro que diz que não quer ir até à fase terminal? Os psiquiatras nunca devem conspirar com os pacientes que alegam que querem morrer, pois é possível não ser contaminado pela falta de esperança. Os pacientes perdem a esperança, mas os médicos podem ficar do seu lado e dar-lhes esperança. A morte da holandesa tem provocado um enorme debate a nível mundial e particularmente nos Países Baixos, pois ninguém sugeriu que era ilegal, embora os críticos tenham inquirido se era o tipo de caso para o qual a legislação permitia a eutanásia. As opiniões dividem-se sobre se havia uma alternativa aceitável, sendo que alguns argumentam de quando as pessoas solicitam a eutanásia por motivos psiquiátricos, em alguns casos suicidam-se, se não a recebem e que devem ser consideradas com doenças terminais. Alguns médicos afirmam que sabiam que os pacientes iriam cometer suicídio e não os podiam ajudar, pelo que a eutanásia como alternativa os deixava mais tranquilos por que existe uma lei que a permite e os que cometerão suicídio são terminais e não os querem abandonar pelo facto de não poderem continuar a viver nessa situação. Há outros médicos que discordam, pois sempre trabalharam com pacientes suicidas e nenhum foi terminal, que tiveram pacientes que cometeram suicídio, mas na verdade não eram casos para prever tal desfecho. O desconforto em torno da eutanásia para pacientes psiquiátricos tem a ver com a preocupação de que todas as opções podem não ter sido exploradas. Na clínica holandesa mais de metade daqueles que vão à procura da eutanásia por motivos psiquiátricos são rejeitados porque não tentaram todos os tratamentos disponíveis. A eutanásia e o suicídio assistido por médico referem-se a acções deliberadas tomadas com a intenção de terminar uma vida, a fim de aliviar o sofrimento persistente. Na maioria dos países, a eutanásia é contrária à lei e pode ser decretada uma sentença de prisão, sendo que nos Estados Unidos a lei varia entre os Estados. As definições de eutanásia e suicídio assistido variam. A distinção útil é de que a eutanásia é a acção que permite a um médico, por lei, acabar com a vida de uma pessoa por meios indolores, desde que o paciente e a sua família concordem, enquanto o suicídio assistido é a acção pela qual um médico ajuda um paciente a cometer suicídio se solicitar. A eutanásia também pode ser classificada como voluntária ou involuntária. É voluntária quando é conduzida com consentimento. A eutanásia voluntária é actualmente legal na Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Suíça e nos Estados de Oregon e Washington nos Estados Unidos. É não voluntário quando é conduzida em uma pessoa que é incapaz de consentir devido às suas condições de saúde e neste cenário, a decisão é tomada por outra pessoa, em nome do paciente, com base na sua qualidade de vida e sofrimento. É involuntária quando é realizada em uma pessoa que seria capaz de dar consentimento mas não porque deseje a morte ou porque não a solicitou, e é considerado como homicídio, pois muitas das vezes é contra a vontade dos pacientes. A eutanásia tem sido um tema controverso e emotivo. Existem duas classificações processuais de eutanásia, a passiva quando os tratamentos que sustentam a vida são retidos. As definições não são precisas. Se um médico prescreve doses crescentes de medicamentos analgésicos fortes, como opióides, pode eventualmente ser tóxico para o paciente e alguns argumentam que se trata de eutanásia passiva e outros, no entanto, dizem que não é eutanásia, porque não há intenção de tirar a vida. A eutanásia activa é quando alguém usa substâncias ou forças letais para acabar com a vida de um paciente, seja pelo próprio ou por outra pessoa. A eutanásia activa é a mais controversa, e envolve argumentos religiosos, morais, éticos e compassivos. O suicídio assistido tem várias interpretações e definições diferentes sendo um o que é de forma intencional ajudando uma pessoa a cometer suicídio, fornecendo medicamentos para auto-administração, a pedido voluntário e idóneo da pessoa. Algumas definições incluem as palavras “para aliviar o sofrimento intratável (persistente, imparável) ”. A maioria dos hospitais têm unidades de cuidados paliativos e qual o seu papel? A dor é o sinal mais visível de angústia pelo sofrimento persistente, e as pessoas com cancro e outras situações crónicas que ameaçam a vida muitas vezes recebem cuidados paliativos. Os opióides são comummente usados para controlar a dor e outros sintomas. Os efeitos adversos dos opióides incluem sonolência, náusea, vómito e constipação, podendo criar dependência e uma “overdose” pode ser fatal. É de considerar que em muitos países, incluindo os Estados Unidos, um paciente pode recusar o tratamento recomendado por um profissional de saúde, desde que tenha sido devidamente informado e se encontre com capacidade para decidir. O “Juramento de Hipócrates” é um argumento contra a eutanásia ou suicídio assistido por médico que remonta a cerca de dois mil e quinhentos anos. O juramento original incluía, as seguintes palavras: “Eu não darei uma droga mortal a quem pediu, nem farei uma sugestão nesse sentido.” O mundo mudou desde a época de Hipócrates, e muitos acham que o juramento original está desactualizado. A versão actualizada é usada em alguns países, enquanto em outros, por exemplo, no Paquistão, os médicos ainda aderem ao original. À medida que mais tratamentos se tornam disponíveis, a possibilidade de prolongar a vida, seja qual for a sua qualidade, é uma questão cada vez mais complexa. A eutanásia tem sido um tema de debate desde o início do século XIX. A primeira lei anti-eutanásia nos Estados Unidos foi aprovada no Estado de Nova Iorque, em 1828 e com o tempo, outros Estados seguiram o exemplo. O oncologista e bioeticista americano Ezekiel Jonathan Emanuel, no século passado, afirmou que a era moderna da eutanásia foi introduzida pela disponibilidade de anestesia. Em 1938, uma sociedade de eutanásia foi estabelecida nos Estados Unidos para pressionar pela legalização do suicídio assistido. O suicídio assistido por médicos tornou-se legal na Suíça em 1937, desde que o médico que termine com a vida do paciente nada tenha a lucrar. Durante a década de 1960, a defesa da abordagem do direito à morte por eutanásia cresceu. A Holanda descriminalizou o suicídio assistido por médico, reduzindo algumas restrições em 2002 e no mesmo ano o suicídio assistido por médico foi aprovado na Bélgica. É de atender que nos Estados Unidos, os comités formais de ética existem em hospitais, casas de repouso e clínicas, e as directrizes de saúde antecipadas, ou testamentos em vida, são comuns em todo o mundo. Estes tornaram-se legais na Califórnia em 1977, com outros Estados a seguir o exemplo. No testamento vital, a pessoa declara os seus desejos por cuidados médicos, caso se tornem incapazes de tomar a sua própria decisão. Em 1990, o Supremo Tribunal Federal aprovou o uso de eutanásia não activa. Em 1994, os eleitores do Oregon aprovaram a “Lei da Morte com Dignidade”, permitindo que os médicos auxiliassem os pacientes terminais que não esperavam ter mais de seis meses de vida. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos adoptou essas leis em 1997 e o Texas tornou a eutanásia não-activa legal em 1999. O célebre caso de Theresa Schiavo galvanizou a opinião pública na Florida, dado ter sofrido uma paragem cardíaca em 1990, passando quinze anos em estado vegetativo antes que o pedido do seu marido para permitir que terminasse com a vida fosse concedido. O caso envolveu várias decisões, apelações, moções, petições e audiências judiciais durante vários anos, antes da decisão de desligar o suporte vital ocorresse em 18 de Março de 2005. A Legislatura da Florida, o Congresso dos Estados Unidos e o presidente Bush desempenharam um importante papel e em 2008, 58 por cento dos eleitores do Estado de Washington escolheram a “Lei da Morte com Dignidade”, que se tornou lei em 2009. Vários argumentos são comummente citados a favor e contra a eutanásia e o suicídio assistido por médicos. Os argumentos a favor têm como base a liberdade de escolha, em que os defensores argumentam que o paciente deve ser capaz de fazer a sua própria escolha; a qualidade de vida, pois só o paciente sabe realmente como se sente e como é a dor física e emocional da doença e como a morte prolongada afecta a sua qualidade de vida; a dignidade, dado que todo o indivíduo deve poder morrer com dignidade; as testemunhas, pois os que testemunham a morte lenta de outros acreditam que a morte assistida deve ser permitida; os recursos, dado fazer mais sentido canalizar os recursos de pessoal altamente qualificado, equipamentos, leitos hospitalares e medicamentos para tratamentos que salvam vidas e para os que desejam viver, ao invés dos que não desejam; o humano, permitindo que uma pessoa com sofrimento intratável possa escolher acabar com esse padecimento, pois pode ajudar a encurtar o sofrimento dos entes queridos. Tais actos são praticados quando um animal de estimação tem sofrimento intratável, e é visto como um acto de bondade. Porque essa nobreza deve ser negada aos humanos? Os argumentos contra têm por base o papel do médico, pois os profissionais de saúde podem não estar dispostos a comprometerem a sua profissão, especialmente à luz do “Juramento de Hipócrates”; os argumentos morais e religiosos, pois várias religiões vêem a eutanásia como uma forma de homicídio e moralmente inaceitável. O suicídio também é “ilegal” em algumas religiões e moralmente, há o argumento de que a eutanásia enfraquecerá o respeito da sociedade pela santidade da vida; a capacidade do paciente, pois a eutanásia só é voluntária se o paciente for mentalmente capaz, com uma compreensão lúcida das opções e consequências disponíveis e a capacidade de expressar esse entendimento e o seu desejo de terminar com a sua própria vida. Determinar ou definir tal capacidade não é simples É ainda de considerar argumentos contra a culpa, pois os pacientes podem sentir que são um fardo para a sociedade e são psicologicamente pressionados a consentir. Os pacientes podem sentir que o fardo financeiro, emocional e mental para a sua família é demasiado grande e mesmo que os custos do tratamento sejam fornecidos pelo Estado, existe o risco de que o pessoal do hospital possa ter um incentivo económico para encorajar o consentimento à eutanásia; a doença mental, pois uma pessoa com depressão é mais propensa a pedir o suicídio assistido, o que pode complicar a decisão; a escalada escorregadia, pois existe o risco de que o suicídio assistido por um médico comece com os pacientes que estão em estado terminal e desejem morrer por causa do sofrimento intratável, mas depois comecem a incluir outros indivíduos e situações. É de considerar por último como argumentos contra a possível recuperação, pois ocasionalmente, um paciente recupera, contra todas as probabilidades. O diagnóstico pode estar errado; os cuidados paliativos, dado que os bons cuidados paliativos tornam a eutanásia desnecessária; o regulamento, pois a eutanásia não pode ser adequadamente regulada e as estatísticas, dado que as opiniões parecem estar a aumentar a favor da eutanásia e do suicídio assistido. Em 2013, pesquisadores da Universidade de Harvard publicaram resultados de uma pesquisa na qual inquiriram pessoas de setenta e quatro países acerca do suicídio assistido por médicos, tendo 65 por cento dos entrevistados discordado e onze dos países inquiridos foram a favor. Os mil e oitocentos entrevistados nos Estados Unidos representavam quarenta e nove Estados, tendo 67 por cento votado contra, sendo que em dezoito Estados, a maioria era a favor do suicídio assistido por médico. A pesquisa realizada pela “Gallup” em 2017, revelou que 73 por cento dos inquiridos eram a favor da eutanásia e 67 por cento eram a favor do suicídio assistido por médico nos Estados Unidos. A entrevista descobriu que 55 por cento dos que frequentavam uma igreja semanalmente eram a favor de que um médico pusesse fim à vida de um paciente que está com doença terminal, em comparação com 87 por cento dos que não frequentavam regularmente a igreja. A pesquisa descobriu ainda que se trata de uma questão política também, pois nove entre dez liberais são a favor, em comparação com 79 por cento dos moderados e 60 por cento dos conservadores. Os países onde a eutanásia ou o suicídio assistido são legais, são responsáveis por um total de entre 0,3 e 4,6 por cento das mortes, mais de 70 por cento das quais relacionadas com o cancro.
Europa mais verde João Romão - 1 Jun 20195 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap] agenda ecológica vai fazendo o seu lento mas aparentemente imparável caminho na discussão política: a cada vez mais visível emergência dos problemas ambientais e a eminência de uma catástrofe global sensibilizam um número evidentemente crescente de pessoas e mobilizam-nas para ações políticas diversas: com muito pouco tempo de diferença, tivemos adolescentes nas ruas de todo o mundo numa sem precedentes reivindicação do seu direito ao futuro e assistimos à duplicação da representatividade dos partidos ecologistas no Parlamento Europeu. Em vários países da Europa, os países ecologistas foram o segundo mais votado. Portugal também contribuiu para este crescimento com a estreia de um deputado eleito pelo PAN – contrariando, de resto, a generalidade das projeções publicadas na imprensa – mas foi da Alemanha (mais 8), França (mais 6) e Reino Unido (mais 5 deputados) que chegaram os maiores contributos. Já em relação à participação eleitoral, foi modesto o contributo nacional e a abstenção manteve-se muito próxima dos níveis habituais neste tipo de sufrágio, ao contrário do que aconteceu na generalidade do território europeu – na realidade um sinal de que as questões transnacionais da governação da União Europeia se vão tornando mais interessantes e mobilizadoras para a população do continente. Talvez essa preocupação chegue também a Portugal, um destes dias. Por enquanto pareceu percorrer grande parte do continente e contribuir – aparentemente de forma decisiva, como no caso da Holanda – para neutralizar a emergência da extrema-direita xenófoba em vários países. O aumento da participação foi acompanhado por um manifesto aumento da diversidade. A tendência que se vem assinalando em quase todos os países para a perda de hegemonia dos alegados “blocos centrais” – essa mesa onde animadamente repastam as chamadas esquerda e direita “moderadas” – atingiu um patamar sem precedentes no Parlamento Europeu: pela primeira vez desde que se realiza este tipo de eleição, as duas grandes “famílias” políticas não têm, em conjunto, mais de 50% de deputados. “Geringonças” governativas cada vez mais complexas há hoje muitas, por esse mundo fora. Também no Parlamento Europeu novas e criativas aritméticas serão certamente convocadas para definir maiorias num contexto de relativa pulverização do eleitorado e diversificação programática dos seus excelsos representantes. Nesta diversificação não coube o primeiro movimento que reivindica um original caráter europeu, liderado pelo conhecido ex-ministro das finanças da Grécia, no triste período histórico em que o país tentou enfrentar – sem sucesso – as regras da austeridade definidas pelas instituições europeias e pelo FMI. Apesar do mediatismo de algumas intervenções, nenhuma das candidaturas nacionais associadas a esse movimento transeuropeu – o Diem25 – conseguiu eleger representantes. Aliás, também a “esquerda da esquerda” sofreu significativa derrota e perda de representatividade à escala europeia, ainda que o número de representantes portugueses se tenha mantido, com uma significativa troca de posições entre os dois partidos (BE e CDU) aí representados. Pelo contrário, além dos ecologistas, também os liberais (onde se inclui o partido do Presidente francês, mas também uma forte representação – provavelmente temporária – do Reino Unido) conseguiram um crescimento significativo, juntando-se aos mais tradicionais grupos da social democracia, da democracia cristã e dos conservadores enquanto forças hegemónicas no Parlamento Europeu. Uma hegemonia mais partilhada e complexa, em todo o caso. Ao contrário do que foi anunciando na imprensa da especialidade nas semanas anteriores à eleição, nem os movimentos mais assumidamente xenófobos (ou fascistas, numa designação também muito utilizada – até pelos próprios – e eventualmente mais precisa), nem os partidos mais abertamente anti-EU assumiram posições determinantes nos luxuosos hemiciclos de Bruxelas e Estrasburgo. Essa extrema direita liderada pelo movimentos anti-imigração da Itália, França e Alemanha não foi acompanhada por uma significativa emergência de movimentos semelhantes noutros sítios – na realidade, em países como a Holanda, até desapareceram do espectro. Tal como noutros momentos históricos, a emergência da extrema-direita só parece ser possível em momentos de crise económica profunda, o que não parece ser (já? ainda?) o caso. De maneira semelhante, também os movimentos claramente anti-EU acabaram por conseguir limitada representação parlamentar – e que se tornará ainda mais pequena se e quando se concretizar o Brexit e saírem do Parlamento os deputados eleitos pelo Reino Unido. Dessa saída resultarão uma nova reconfiguração de forças e novas geografias e aritméticas parlamentares. São tempos interessantes mas com respostas lentas às urgências fundamentais.
Para o Diogo Calado António de Castro Caeiro - 1 Jun 2019 [dropcap]É[/dropcap] do fundo dos tempos que vem a relação do ser humano com a luta. A palavra “agonia” dizia o lugar onde as pessoas se reuniam para assistir às competições entre atletas pela disputa de um prémio. Hoje, a palavra está reservada para o derradeiro combate que se trava contra a morte. As competições desportivas entre os gregos eram uma disputa mortalmente séria. Lutava-se pelo título, mas, sobretudo, pelo prestígio, porque os atletas, os competidores, representavam uma casa, uma família, um estado. Competir era ter a possibilidade de inscrever o seu nome no livro dos vivos. É sobreviver, de alguma maneira, à lei da morte. A morte em combate é o ideal orientador da disputa e o gatilho da violência máxima. Embora haja apenas relatos de quatro mortes em combate desde o ano 550 até 110 a.C., a própria lei ateniense reconhecia morte em combate como não intencional e, portanto, involuntária. Não admitia abertura de processo nem, por isso, condenação e castigo. Dito isto, ninguém se apresentava para disputar uma competição sem estar absolutamente bem preparado. Todos os rapazes nascidos livres tinham algum tipo de treinador: um pai, um irmão ou um estranho, seja contratado por um dos pais ou compartilhado com os outros no ginásio. Além disso, nenhum rapaz, por mais aristocrata que fosse, poderia disputar a competição pan-helénica em boxe, luta, ou o pancrácio, sem uma preparação competente. E longa. Não eram poupados gastos para se poder ter o melhor treino possível. Mas é como laboratório da vida que importa tentar perceber o que estava em disputa num combate. Demos a palavra a Platão: “Se fôssemos boxeurs, deveríamos ter estado a aprender a combater, muitos dias antes do combate e a trabalhar no duro, praticando em mimetismo todos aqueles métodos que pretendemos empregar no dia em que estaremos a lutar pela vitória, e imitando a coisa a sério da melhor maneira possível: assim, deveríamos usar luvas acolchoadas em vez de luvas usadas no ringue, para obter a melhor prática possível a dar golpes e a evitá-los; e se por acaso não tivermos companheiros de treino, […] se alguma vez estivéssemos num deserto, e sem companheiros de treino, não poderíamos recorrer à luta de sombra do tipo mais literal, contra nós mesmos? Ou o que mais adequadamente se deveria chamar à prática da postura do pugilista?” (Platão. Leges 830a). Píndaro, o grande poeta lírico grego, entretece com cada descrição do que objectivamente se passa num combate um saber sentencial. A “moral da história” pode ser folclore nacional ou a forma mais ou menos popular com que sobrevem um pensamento. É da profundidade abissal da vida que se projecta a própria compreensão de um sentido para o combate. Não é um sentido óbvio, mas faz vibrar quem se encontra no ringue, quem assiste ao combate, quem lê sobre ele. Nada, nunca, é apenas o que acontece no momento em que a prova tem lugar. O dia do combate é a cabeça de um cometa que traz atrás de si a cauda de dias e dias, meses e anos, até décadas de preparação. E joga-se a vitória ou a derrota. Joga-se um modo de vida, aquilo com o qual alguém se relacionará para sempre depois de ter acontecido. Pode ter repercussões para a vida inteira, podemos ficar presos de derrotas e de vitórias. Também podemos não fazer nada de vitórias passadas e as derrotas poderão estar à nossa espera na hora da nossa morte. Tal como na vida, a preparação é ao mesmo tempo que a disputa. Na citação conhecida de Samuel Butler: “a vida é como executar um solo de violino em público, aprendendo a tocar o instrumento ao mesmo tempo que se toca”. Tal como o passo de Platão, a preparação é feita com vista à antecipação de todos os cenários possíveis, da esquiva ao contra-ataque, de todos os golpes que se possam desferir, trabalhados isoladamente e em encadeamento. Procura-se antecipar as acções possíveis do combatente do outro canto. Todo o treino, dieta, descanso tem em vista a disputa. A disputa tem em vista a vitória. Um combate não é um acto isolado. Quantos combates pode um combatente disputar na sua carreira? Quantos terá perdido. Ali, um dos grandes, para alguns o maior boxeur do século XX, perdeu cinco dos seus 61 combates. Parece impensável que os grandes combatentes não tenham permanecido invictos. Mas, na verdade, se o ringue for como a vida, é provável que coisas improváveis aconteçam e que numa saraivada de golpes ou num só, inesperado, as luzes se apaguem, e acordemos sem ter acompanhado a nossa própria queda. Aprende-se com a possibilidade da derrota, como se aprende com a derrota. Uma derrota é um desfecho de um combate, como a vitória, se excluirmos o empate. A derrota não existe para qualquer um. Só quem disputa a vitória pode perder. Só quem disputa a vida pode viver. Os gregos não achavam que tínhamos um lugar garantido na vida. Só alguns o poderão encontrar. “Só um homem que sabe o que é ser derrotado pode atingir o fundo da sua alma e erguer-se com um grama extra de poder capaz de o fazer vencer quando o combate está empatado.” (Ali)
A Grande Dama do Chá Hoje Macau - 1 Jun 2019 Por Fernando Sobral [dropcap]O[/dropcap] escritório de Marina Kaplan no “Bambu Vermelho” era pequeno e despojado, mas acolhedor. Por detrás da cadeira onde ela se sentava, estava, em cima de um móvel de madeira maciça, uma estatueta de jade verde de um guerreiro chinês. A seu lado, uma fotografia de uma família que, devido à forma como estava vestida, deveria ser russa. Memória do passado que ela não queria esquecer. Ao lado de Marina, também sentado, estava Ezequiel de Campos. O seu sorriso era o de um sedutor. Os seus olhos azulados combinavam com o cabelo branco penteado para trás. Garantia segurança e, num advogado, isso era tudo. Entre a orelha esquerda e o pescoço via-se uma cicatriz. E ele parecia ter o prazer raro de a acariciar, de vez em quando, como uma velha ferida que nunca sarara. Talvez a acariciasse só para marcar distâncias. Ou para mostrar a sua inacessibilidade. Quando Cândido chegou ao “Bambu Vermelho”, Ezequiel fez-lhe um sinal e disse-lhe: – Bebes um vodka connosco? Cândido sorriu e seguiu-o até à pequena sala onde Marina tinha o seu escritório. Cândido conhecera-o numa das noites que passara ali, há uns meses. Já então andava com Marina Kaplan. – Continuas a tocar, Cândido? – É a minha vida. Não sei fazer muito mais coisas. – Sabes, não queres é sair do teu conforto. Temos de saber o que queremos. Eu sei que não gosto de jazz. É uma música que nos faz sentir quem ninguém ama ninguém. – Pelo contrário, aproxima as pessoas, faz com que dancem perto uns dos outros. – É exactamente por isso. As pessoas tocam-se, têm desejos. Concretizam-se. Mas evitam amar-se. Dá muito trabalho. Marina olhou para os dois. Não sabia se Ezequiel falava a sério. Nunca se sabia, porque era indecifrável a sua voz pausada. Dizia-se que Ezequiel era o homem melhor informado de Macau. Ou, pelo menos, ele fazia com que todos acreditassem nisso. Cândido disse: – És um homem muito informado sobre o que se passa em Macau. – Enganas-te. Aqui ninguém sabe nada sobre ninguém. Apesar de todos acharem que sim. O que Ezequiel queria dizer é que só ele sabia quase tudo sobre todos. Cândido bebeu um trago de vodka, que era de excelente qualidade. – Como consegues arranjar este vodka, Marina? – A Rússia não desapareceu. E há quem continue a saber fazer vodka. Os bolcheviques também o bebem. Às vezes, demais. Por isso não é proibido. Dizendo isto, Marina agarrou no seu copo, elevou-o e levou-o aos lábios, bebendo tudo de um golo. E, depois, atirou o copo contra a parede, estilhaçando-o. – O vodka é fogo. Faz com que ardam as nossas veias. Cândido sorriu. Ezequiel ficou a olhar para a quantidade de vodka que ainda tinha no copo, mas não fez tenção de bebê-lo. Disse apenas: – O fogo enerva-me. Há demasiado à nossa volta. Prefiro a prudência. Também deverias aprender isso, Cândido. Para que a nossa vida seja longa, e agradável, é conveniente sermos prudentes, não achas? Ezequiel falava sobretudo para Marina. Cândido encolheu os ombros. Uma vidente dissera-lhe, um dia, que a sua linha da vida era longa. Morreria velho. Por isso poderia cometer todos os riscos. Ezequiel pareceu adivinhar os pensamentos do músico, mas não deu muita importância a isso. – Sabes o que é a prudência, Cândido? Cândido assentiu. Respondeu: – Acho que sim. Vivemos tempos perigosos. A guerra cerca-nos. Mas podemos evitá-la, não te parece? Mesmo que ela exista, podemos fingir que ela não existe. – Diz-me, o que é que é que achas que conduz um homem para a guerra? – Sei lá. A ignorância? A estupidez? – Tudo isso e outra coisa, a imprudência. Porque é que os portugueses sobrevivem há quase 500 anos em Macau? Porque são prudentes. Sabem as suas forças e as suas fraquezas. Moldam-se. Estão bem com todos. Que interessa agora estar ao lado dos japoneses ou dos ingleses? Um ganhará, outro perderá no fim. E esse não se adivinha. Ainda é mais difícil saber quem dos senhores da guerra chineses vencerá. Por isso há que ser pragmático. Macau é um porto de abrigo para todos. Sempre fomos comerciantes. Temos de colaborar com todos. Sabemos que isso é bom para nós e para os nossos interesses. Cândido ouvia-o, mas olhava sobretudo para Marina. Continuava bela e insinuante. Ezequiel não era o seu único amante em Macau, pressentia. Ezequiel, indiferente ao olhar que Cândido e Marina trocavam, voltou a falar: – Mantém os olhos sempre atentos, desconfia de tudo e, de preferência, evita morrer. O grande general Sun Tzu dizia que a mais preciosa faculdade dos reis era a manipulação divina dos cordéis, que consistia em pôr em funcionamento um serviço secreto. É preciso antever as jogadas dos outros. Porque a mesma mão que faz, também desfaz. Não podemos pensar que Macau está imune ao que se passa à volta. O paraíso tem sido, muitas vezes, destruído. Sempre pela mesma coisa, a guerra. – O mundo é o nosso grande inimigo. Em tudo. Ezequiel riu. – Será. Mas se todos dominassem as leis da sedução como faz a Marina, este seria um mundo melhor. Marina sorriu e beijou a face de Ezequiel. Este passou-lhe a mão pelo braço e depois voltou a fitar Cândido. Nesse momento bateram na porta do escritório. Jin Shixin entrou e aproximou-se devagar. Conhecia Ezequiel, através de Marina. Usava um clássico vestido chinês, o Cheongsam, justo, que lhe alongava a silhueta. Vestia-o sem calças por baixo, o que lhe dava um ar ainda mais sensual. Jin sabia usá-lo, porque era um vestido que obrigava a gestos bem cuidadosos. Rodeou a mesa e foi colocar-se, de pé, por detrás da cadeira onde estava sentada Marina. Sorriu para Cândido. – Voltamos a encontrarmo-nos. – Em melhores circunstâncias. – É verdade. Nem a face de Ezequiel nem a de Marina revelaram surpresa. Sabiam, claramente, o que se passara. – De que falavam? Cândido disse: – Da guerra e de Macau. – Então falavam da sobrevivência. Marina sussurrou: – Disso mesmo. Para sobreviver, às vezes, é preciso saborear as cinzas deixadas pelo fogo. Jin Shixin não disse nada. Fixou o olhar em Cândido. Ela era uma mulher que sabia ler os homens sem deixar que a lessem. Sabia seduzir e só era seduzida quando isso lhe interessava. Mas a forma como olhava para Cândido revelava que ainda tinha dúvidas sobre ele. Ela disse então: – Macau é a cidade dos amores impossíveis. Durante séculos atraiu comerciantes e padres em busca de ópio e de almas. Não se pode contentar todos para sempre. – Tal como agora é impossível contentar japoneses e chineses, não é verdade? Jin retorquiu: – Não coloque os ocidentais fora da guerra. Quando elevava a voz, Jin ficava com um ar elegante e altivo. Demasiado tentador. Ezequiel disse, apaziguador: – Se tivermos um jardim e só lá estiverem plantadas rosas não será tão bonito como se lá tivermos flores diferentes. Em Macau e na Ásia se só tivermos uma cultura ou uma religião perde-se a diversidade. E a beleza. Jin suspirou e respondeu: – Isso é no mundo ideal. Não num tempo de guerra, onde todas as flores são destruídas.
Eliete e o Facebook Valério Romão - 1 Jun 20198 Jul 2019 [dropcap]O[/dropcap] Facebook é cada vez mais – a par do Google – um dos motores do Zeitgeist em que vivemos. Podemos ser contra – por diversas razões – ou a favor – por outras tantas e, às vezes, até por razões coincidentes com as que outros são contra –, mas não lhe podemos ser indiferentes. Escrevo isto a propósito do último romance da Dulce Maria Cardoso, o fantástico Eliete, um entretecido de múltiplas camadas de sentido que vão, com enorme subtileza e um ritmo magistralmente gerido, compondo aquilo que Virginia Woolf não desdenharia chamar “o grande rosto da vida”, declinação central do conceito de “moments of being” que funciona como ponto arquimédico de toda a sua obra. Muito do romance vai ao osso da dicotomia fundamental da nossa época: a identidade real e a identidade digital. E Dulce insiste, e bem, na radical mudança que as redes sociais em sentido lato – nomeadamente o Facebook e o Tinder – têm vindo a operar na nossa vida. Mas não é um romance-diagnóstico. Está demasiado perto da realidade que procura dirimir e está sobretudo na charneira de uma mudança muito mais vasta do que a que lhe é possível abraçar. Eliete vê bocados da criatura movendo-se, percebe-lhe as pegadas, os efeitos nos sítios por onde passa, aquilo que arrasta consigo e aquilo que deixa para trás. E não se lhe pode pedir mais: a criatura está longe de ter chegado ao destino. Mas estas mudanças na organização da identidade e das suas hierarquias Eliete expõe-nas magistralmente, sobretudo quando incide sobre a decisiva inversão da hierarquia de importância das identidades reais e virtuais. O que doravante importa (apresentar aos outros) é uma cuidada construção da identidade virtual, sendo essa construção muito mais simples de fazer e de manter porque a estrutura própria do virtual é a do enquadramento fotográfico: ao contrário da realidade, cuja estrutura de fluxo impede obviamente a captação fragmentária, o virtual funciona – pelo menos por ora – mediante instantes meticulosamente escolhidos pelo portador dessa identidade. Às múltiplas perspectivas alheias incidindo impiedosamente sobre o sujeito, próprias do real, contrapõe-se uma generosa curadoria mono-ocular: é o sujeito que dita a sequência de perspectivas pela qual os outros acedem à sua vida. Enquadra, filtra, contextualiza, reconfigura. E Eliete é o retrato deste processo em curso, preocupada com os likes ou os comentários de desconhecidas às fotos do marido, Jorge, zangada com os laços inautênticos que marido e filha exibem numa fotografia de conjunto, inquieta com a quantidade de likes e outros emojis recebidos numa foto na qual tem o cuidado de aprimorar digitalmente as pernas. E ao Facebook segue-se o Tinder e a neutralização progressiva da angústia a que corresponde a dissociação cada vez maior entre a identidade real e a identidade virtual. Vistas as coisas de uma perspectiva aérea, parece não estarmos a falar de muito: uma mulher na meia-idade, a consciência clara desse processo, o desinteresse sexual do marido, o desinteresse total das filhas, a demência da avó, as múltiplas formas de perda e as poucas redenções possíveis. Mas Eliete tem a rara virtude de transformar o quotidiano áspero e o sonho comezinho, passíveis em mãos menos seguras de provocar unicamente um longo e monótono bocejo, numa cartografia precisa de um modo de vida cuja disposição naturalmente caótica era refractária à sua compreensão – como todos os modos de vida. E às vezes é só isso que os grandes romancistas fazem: aclaram, organizam, mapeiam.
“Junho, Mês de Portugal” com teatro infantil e marionetas Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap]s mais pequenos estão todos convidados para celebrar amanhã, 1 de Junho, o Dia Mundial das Crianças. Há espectáculos de marionetas e teatro, no âmbito do programa das festividades de “Junho, Mês de Portugal”, organizadas pela Casa de Portugal e pelo IPOR. “A Magia do Circo” é uma história de marionetas, com doze personagens principais, e mais alguns amigos, que vão ganhar vida nas mãos da artista Elisa Vilaça. São figuras que habitam o mágico mundo circense, com palhaços, malabaristas, e outros convidados, que podem ser vistos por crianças a partir dos 6 meses em diante. O espectáculo tem duas sessões no Conservatório de Macau, às 11h30 e às 15h00, e os bilhetes gratuitos podem ser levantados na Casa de Portugal. Pelas 17h30, é a vez da peça “O Nabo Gigante” subir ao palco do Auditório da Casa Garden, um espectáculo de teatro oara a infância adaptado do conto tradicional russo, com o mesmo nome, recolhido por Alexis Tolstoi no séc. XIX. A história relata as inquietações de um casal idoso, que encontra na sua quinta um nabo que não pára de crescer. O conto popular tem ingredientes divertidos e é adequado a crianças a partir dos 5 anos de idade. Trazido pela companhia ATE – Associação de Teatro Educação, a peça será contada pelos artistas Alexandre Sá e Rita Burmester, com organização do Instituto Português do Oriente.
Música | Matiné no LMA traz três bandas de indie-rock até Macau Raquel Moz - 1 Jun 2019 Qual a melhor hora para se começar um concerto? O LMA quer fazer a experiência e vai abrir as portas amanhã às cinco da tarde, com um programa de bandas alternativas indie-rock, vindas do Japão, Hong Kong e Guangzhou [dropcap]H[/dropcap]oje é dia de matiné no LMA – Live Music Association – com um trio de bandas indie-rock de referência para a juventude local, que prometem festa de arromba até ao início da noite. É uma oportunidade única para ver estes grupos musicais num só dia: Buddhistson, do Japão, The Lovesong, de Hong Kong, e Smellyhoover, de Guangzhou. O director da associação, Vincent Chi Tat, tem grandes expectativas para este encontro de bandas que quis reunir num só espectáculo, de tributo aos 11 anos de concertos ao vivo que o LMA tem conseguido trazer até Macau. “Queríamos organizar uma grande festa para mostrar às pessoas que temos já mais de uma década de actividade na organização de eventos de música alternativa ao vivo”. O destaque vai para a banda Buddhistson, que faz as honras da festa e está no território pela quarta vez. A primeira actuação foi em 2006, numa edição do Festival Hush!, onde Vincent os conheceu. “Foi há mais de uma década e foi a primeira vez que os vi ao vivo. A banda era muito boa, muito impressionante, e adorei a música. Então, anos mais tarde o LMA voltou a convidá-los para tocarem em Macau por duas vezes, como artistas principais para celebrar o 2º aniversário do LMA (em 2010), e uma terceira vez, com uma performance acústica. Os Buddhistson são uma banda indie-rock criada em 1999, que vem de Kashiwa, no Japão. Com um som etéreo e cru, vozes roucas e melodias emocionalmente carregadas, o grupo conta já com quatro álbuns originais editados e um de compilações. Shima é o vocalista, compositor e guitarrista, que deu o nome à banda por ser, quem diria, um fã de Buddha. São reconhecidos pelo charme e qualidade dos seus espectáculos ao vivo, recorrendo muitas vezes ao grafismo animado nos cenários dos shows. Os The Lovesong, de Hong Kong, também se juntam ao evento, outra banda iniciada em 1999, definida como pós-hardcore e emocore – género com influências punk-rock da década de 1980, caracterizado por melodias expressivas e letras confessionais –, que acrescenta elementos soul e noise, com ritmos sincopados e algum reggae. Saltaram para a ribalta com o seu primeiro grande show em Hong Kong, em 2005, foram depois convidados como banda honorária para representar o território vizinho no maior festival de rock ao ar livre da China, o Midi Festival, e, ainda em 2007, fizeram a abertura do concerto da banda de rock industrial norte-americana, os Nine Inch Nails, em Hong Kong. A terceira banda, Smelly Hoover, é “uma orquestra de um homem só”, Shi Miaoli, que vem de Guangzhou. “Ele era o vocalista de uma outra banda conhecida de Guangzhou, chamada Golden Cage, que agora tem este projecto a solo”, desde 2012. Canta em cantonês, misturando rock, folk, electrónica e shoegaze – um estilo de rock em que os diversos instrumentos e vozes se esbatem num som indistinto – para partilhar sentimentos de alegria e tristeza, louvor e sátira, elogios e críticas, adicionando e gravando os diversos instrumentos e estilos ao vivo, até conseguir músicas completas. E não só Entre os três concertos haverá música seleccionada por artistas convidados: o DJ Lobo, produtor de música local, o DJ Ryoma, japonês baseado em Macau, e um dos músicos japoneses da banda Buddhistson, que também vai dar ritmo ao público. A festa começa às 17h da tarde e termina por volta das 22h30, uma proposta diferente para jovens num dia de sábado, em que se espera mais tempo de chuva no território. “Temos sempre muitas reclamações por causa do barulho, já que os eventos são geralmente pela noite fora. Desta vez quisemos experimentar fazer uma coisa diferente, num outro horário em que os fãs podem vir ouvir música e dançar, sem chegar tarde a casa. Quem sabe qual é a melhor hora para se começar um concerto? Pode ser ao início da tarde. Vamos testar…”, comentou Vincent Chi Tat. Os bilhetes custam 220 patacas e estão à venda na Livraria Portuguesa (250 à porta do LMA).
Acidentes | FGAM pagou 5,13 milhões a vítimas Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]esde a criação da RAEM, o Fundo de Garantia de Automóvel e Marítimo (FGAM) pagou 5,13 milhões de patacas para satisfazer pedidos de indemnizações por morte ou lesões corporais resultantes de acidentes com este tipo de veículos. Os dados foram revelados por Benjamin Chan, presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), em resposta a uma interpelação do deputado Sulu Sou. Segundo o responsável a prioridade nos pagamentos vai para as pessoas que sofreram lesões corporais e das 49 notificações judiciais recebidas, 39 tiveram de ser resolvidas em tribunal. Entre estes casos, 17 obrigaram o FGAM ao pagamento das indemnizações, sendo os restantes 22 pedidos de indemnização recusados. O deputado Sulu Sou tinha questionado o FGAM se haveria hipótese de disponibilizar adiantamentos ou empréstimos às vítimas, enquanto aguardam pelo andamento dos processos nos tribunais para fazerem face às despesas com os hospitais, mas o FGAM recusou a hipótese colocada. Benjamin Chan reconhece as “pressões financeiras” para as vítimas, mas explica que há outros métodos de auxílio, nomeadamente por parte do Instituto de Acção Social.
Bancos | Países de Língua Portuguesa e Macau de acordo Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap]s Bancos de Países de Língua Portuguesa e os congéneres de Macau assinaram ontem um acordo para aprofundar a ligação existente o que poderá levar a um maior investimento no continente africano. Segundo o presidente do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-África, Shi Jyiang, já foram feitos investimentos de 2 triliões de dólares norte-americanos em África e a instituição ainda tem disponíveis 800 milhões de dólares americanos. “Estou sempre a pensar e a procurar projectos para investir”, afirmou o responsável durante o seu discurso. Shi explicou também que estes 800 milhões podem passar pelo bancos de Macau, como plataforma, uma vez que o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China-África não dispõe de um rede de bancos a retalho.
Português estava de visita a Macau e fez graffiti no edifício do IAM João Santos Filipe - 31 Mai 20193 Jun 2019 Cerca de 37 mil patacas é o preço que o homem de 35 anos vai ter de pagar devido à “declaração de amor” feita em forma de graffiti na parede do IAM. O português foi identificado pela videovigilância e confessou ter sido o autor do acto de vandalismo, depois de ter ingerido álcool [dropcap]U[/dropcap]m cidadão português de 35 anos foi detido e confessou ter feito o graffiti que surgiu na parede do Edifício do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), na noite de 22 de Maio. A detenção do turista que se encontrava no território a visitar a namorada foi feita na quinta-feira e anunciada no dia seguinte. Segundo a informação divulgada pelo jornal Ou Mun, o homem estava em Macau a visitar a namorada, quando no dia 22 à noite foram jantar a um restaurante. Além da comida consumiram álcool até que decidiram abandonar o restaurante. Segundo a explicação dada, a namorada estaria a sentir-se mal. Quando já se encontrava sozinho e passou pela Rua do Dr. Soares o indivíduo decidiu fazer uma dedicatória à sua amada. Na inscrição podia ler-se o nome da namorada, constava um coração, e depois um nome que aparenta ser do suspeito. Foi só no dia seguinte que os responsáveis do Instituto para os Assuntos Municipais se aperceberam da situação e pediram à polícia que investigasse o sucedido. Além disso, a operação para remover o graffiti terá custado 37 mil patacas aos cofres da RAEM. Após as autoridades terem começado a investigar o caso, conseguiram identificar o suspeito com recurso ao sistema “Olhos no Céu”, ou seja as câmaras de videovigilância. Através do sistema conseguiram saber que o homem estava acomodado num apartamento na Calçada de Santo Agostinho, tendo depois procedido à detenção. Pena até 10 anos Quando foi detido, o português, que é programador informático, confessou a prática do crime e explicou os contornos em que o mesmo aconteceu. Além disso, mostrou-se disponível para pagar pelos danos causados e assumir a responsabilidade pelo ocorrido. Segundo as autoridades, o caso foi reencaminhado para o Ministério Público e o homem terá de responder pelo crime de dano qualificado, que é punido com uma pena de prisão que vai até aos 5 anos. No caso de haver condições agravantes, a moldura penal é de 2 a 10 anos de prisão. O HM contactou o Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong mas sem sucesso.
Mais de um milhão de pessoas no aperfeiçoamento contínuo Hoje Macau - 31 Mai 2019 [dropcap]M[/dropcap]ais de um milhão de pessoas participou desde 2011 até ao final de Março deste ano no Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo. Os números da iniciativa do programa foram revelados pelo director da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pak Seng, em resposta a uma interpelação de Song Pek Kei. “Até 31 de Março de 2019, o número total de participantes nas três fases ultrapassou um milhão. O programa foi bem acolhido pela população e obteve bons resultados”, considerou Lou. Ao nível das preferências dos participantes os cursos técnico-profissionais são a principal escolha ao acolherem 61 dos participantes. Entre estes, as aulas de tradução linguística, comércio e gestão são as mais populares. Segundo a DSEJ, as preferências mostram que há um aumento nas competências e qualificações profissionais dos residentes, o que contribui para “o desenvolvimento diversificado da economia” local. Fiscalização in loco Um dos assuntos quem tem assombrado este programa são os eventuais casos de fraudes. No entanto, a DSEJ garante que tem feito inspecções in loco, além de ter implementado outras medidas de controlo. De acordo com a informação enviada a Song Pek Kei, até 31 de Março deste ano, houve cerca de 2.800 inspecções nos locais das instituições que ministram estes cursos. Deslocações que resultaram em mais de 2.800 documentos analisados, em entrevistas a 1.000 pessoas e mais de 22.000 casos analisados de forma aleatória. Durante as inspecções, os representantes da DSEJ passam entre 5 e 10 minutos nos locais, de forma a evitarem que as aulas sejam afectadas. A mesma informação revela também que desde Janeiro de 2019 as presenças dos alunos são inseridas num sistema electrónico, a que a DSEJ tem acesso, para certificar-se que as aulas decorrem dentro da normalidade. Na mesma interpelação, o Governo deixa ainda a certeza que “caso sejam detectadas infracções ou ilegalidades são instaurados processos de averiguação administrativa ou são encaminhados para os órgãos de polícia criminal e órgãos judiciais”.
Turismo | Apoios a projectos podem chegar aos 15 milhões de patacas Sofia Margarida Mota - 31 Mai 2019 O Fundo das Indústrias Culturais vai apoiar um total de 12 projectos que utilizem a imagem do Mak Mak. A iniciativa é feita em parceria com os Serviços de Turismo e vai envolver um investimento que pode atingir os 15 milhões de patacas [dropcap]O[/dropcap] Fundo das Indústrias Culturais (FIC) vai disponibilizar apoios até 15 milhões de patacas para projectos que envolvam a utilização da marca de turismo local, o Mak Mak. A informação foi deixada ontem em conferência de imprensa e a medida pretende “aumentar a diversidade de produtos e de serviços que envolvam experiências turisticas”, de modo a contribuir para a “transformação de Macau num centro mundial de turismo e de lazer”, apontou a presidente da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes. Para o efeito, e de modo a encorajar as empresas a explorar os elementos culturais do território e a desenvolverem novos produtos, o FIC em conjunto com a DST lançaram o programa de apoio financeiro para os projectos que promovam a formação da marca de turismo Mak Mak, a mascote local desde Abril do ano passado. A iniciativa vai apoiar 10 projectos de criação de produtos e dois projectos de experiências turísticas, que utilizem a imagem da mascote. O Mak Mak será cedido para exploração por um período de cinco anos, após a concessão da ajuda financeira. Este período pode vir a ser alargado caso a relevância da implementação do projecto o justifique, acrescentou Senna Fernandes. Milhões distribuídos O apoio contempla até 50 por cento do valor total do investimento, sendo que para a criação de produtos o limite máximo será de 500 000 patacas. Já quanto às experiências turísticas, por exigirem “normalmente um investimento maior e poderem integrar, por exemplo, a criação de ambientes de realidade virtual” o apoio pode chegar aos cinco milhões de patacas por projecto, apontou Davina Chu, membro do conselho de administração do FIC. Os interessados devem apresentar as suas candidaturas de 3 de Junho a 30 de Agosto. São aceites os projectos que se apresentam em nome de empresas com titulares residentes de Macau.
IPM nega ter barrado entrada a jornalista Hoje Macau - 31 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] jornal Cheng Pou publicou ontem um artigo em que um repórter dizia ter sido barrado, quando tentava fazer a cobertura da cerimónia de formatura do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Segundo um relato, o jornalista teria sido interceptado por um segurança que lhe teria pedido para se identificar. Como outros jornalistas foram autorizados a passar e ele não, terá abandonado o local. Em resposta a esta exposição, o IPM explicou que foi um mal-entendido por parte de um guarda inexperiente e já pediu desculpas ao repórter: “O IPM não bloqueou ou impediu a entrada de qualquer jornalista na cerimónia de graduação. O que aconteceu foi que um jornalista se dirigiu a um dos guardas da segurança, perguntando se podia entrar. Este guarda nunca tinha sido confrontado com uma situação deste género e não soube como reagir de imediato”, começou por explicar a instituição, numa resposta ao HM. “Dada a dimensão da cerimónia, [o guarda] teve receio de cometer algum erro e pediu ao jornalista para esperar. Talvez por a resposta ter demorado, o jornalista foi-se embora. Só hoje [ontem], ao ler a notícia no jornal, o IPM soube do sucedido e tratou de apurar de imediato a verdade”, foi acrescentado. O IPM garantiu também que foram dadas instruções aos seguranças para que situações deste género não se repitam no futuro e garantiu respeitar todas as leis do território, como as leis de imprensa.
Fórum Macau | Contratação de intérpretes do continente justificada com características das funções Sofia Margarida Mota - 31 Mai 2019 [dropcap]A[/dropcap] contratação de tradutores-intérpretes da China continental pelo Fórum Macau foi ontem justificada pela secretário geral adjunto do Fórum, Ding Tian, com o facto do organismo precisar de talentos com um forte conhecimento da realidade do continente e terem como língua materna o mandarim. “As línguas de trabalho nas actividades do Fórum Macau são o Mandarim e o Português, exigindo um complexo nível de proficiência em ambas as línguas e, como tal, afigura-se necessário contratar intérpretes-tradutores experientes e aptos em ambas as línguas”, apontou. Desta forma, Ding Tian responde às acusações feitas pelo deputado Pereira Coutinho que sublinhavam a prioridade dada à contratação de profissionais do continente em detrimento dos locais, bem como a isenção destes tradutores de passarem pelo regime de recrutamento de gestão uniformizada. Por outro lado, e dada a necessidade de familiarização com documentos emitidos pelo Governo Central, “é necessário que os tradutores se familiarizem com matérias directamente ligadas ao Interior da China”, acrescentou Ding Tian, ontem à margem da cerimónia de encerramento de um colóquio do organismo. Trazer para o território profissionais especializados do interior da China traz também vantagens para os tradutores locais, sendo que “este processo irá beneficiar os residentes a aperfeiçoar as suas capacidades e ainda permitir uma melhor gestão dos trabalhos preparativos da próxima Conferência Ministerial”, disse Ding Tian. Tudo legal Já em nota de imprensa o Fórum Macau acrescentou que dada a especificidade desse recrutamento, a contratação destes intérpretes-tradutores não-residentes foi feita de acordo com os procedimentos legais do Regime de Contrato Individual de Trabalho “com o maior rigor e prudência”. Para o futuro fica a promessa de recrutar mais intérpretes-tradutores locais através do regime de gestão uniformizada. De acordo com o responsável, de momento o Fórum conta com os serviços de três intérpretes-tradutores locais. No processo de recrutamento do interior da China foram admitidos cinco candidatos , três dos quais exercem actualmente funções. Os restantes dois aguardam pela conclusão das formalidades necessárias.
Fórum Macau | Fundo de cooperação não está a ser bem explorado Sofia Margarida Mota - 31 Mai 2019 Lançado em 2010 e activado em 2013, o Fundo de Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, no valor de mil milhões de dólares, apenas apoiou três projectos, num total de 35 milhões. De acordo com representantes dos Países de Língua Portuguesa, este apoio não está a ser devidamente explorado e a causa pode estar associada à alta taxa de retorno exigida [dropcap]P[/dropcap]arece-me que o Fundo não terá sido ainda explorado da forma que poderia ser e não só por Portugal, mas por todos os países”, afirmou ontem Carla Silva, coordenadora na Agência de Gestão de Tesouraria e de Dívida Pública portuguesa, referindo-se à aplicação do Fundo de Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, à margem da cerimónia de encerramento do colóquio do Fórum Macau. Segundo a responsável, a razão da pouca exploração do Fundo pode ter que ver com a elevada taxa de retorno exigida aos seus beneficiários. “Daquilo que percebemos, das conferências anteriores, o fundo não está a ser ainda devidamente explorado porque tem um preço muito elevado de retorno”, apontou. Para resolver a situação, Carla Silva admite mesmo que o retorno exigido possa vir a ser alvo de revisão de modo a tornar este apoio financeiro mais acessível e mais útil. “Daquilo que percebi, até é possível que esta situação esteja revista em termos do fundo que o Fórum tem disponível para os países de língua portuguesa”, acrescentou. Abrir aos pequenos A necessidade de alterações ao modo de funcionamento deste Fundo de apoio aos países lusófonos é partilhada por alguns representantes que também marcaram presença ontem na mesma cerimónia. Arlindo Dabata, de Moçambique mencionou no seu discurso que seria positivo abrir este apoio às pequenas e médias empresas. “Seria conveniente descentralizar o Fundo do Fórum de modo a que esteja acessível às empresas mais pequenas”, apontou. A opinião é partilhada por Mussa Sambi, Secretário de Estado da Economia e Finanças da Guiné Bissau que sublinhou, em declarações aos jornalistas, que “as regras actuais são demasiado exigentes para as pequenas e médias empresas”. O responsável apela à flexibilização deste sistema. Activado em Junho de 2013, o Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa – de mil milhões de dólares americanos – anunciado em 2010 pelo então primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, aprovou, até ao momento, o financiamento de apenas três projectos, localizados em Moçambique, Angola e Brasil, concedendo um montante total de cerca de 35 milhões de dólares. Trata-se de um projecto agrícola em Moçambique da empresa chinesa Wanbao, um outro relacionado com o fornecimento de equipamentos para transmissão e distribuição de electricidade em Angola e um projecto de energia solar no Brasil.
Pereira Coutinho pede medidas para acabar com burocracia e papéis nos tribunais João Santos Filipe - 31 Mai 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho quer saber que medidas o Executivo está a tomar para tornar os tribunais mais electrónicos e aumentar a competitividade face a outras regiões como Hong Kong, Singapura ou Taiwan. O conteúdo faz parte de uma interpelação escrita, ontem divulgada. “Após quase vinte anos do estabelecimento da RAEM que medidas estão a ser planeadas e gradualmente implementadas pelo Governo no sentido de eliminar a burocracia nos tribunais com a digitalização dos processos e aumentando a sua competitividade regional e eficiência?”, questiona Coutinho. Um dos pontos sublinhados é a necessidade de reduzir a utilização do papel, o que, segundo o legislador, vai gerar vários ganhos. “Em todo mundo e principalmente em países e regiões com elevado desenvolvimento económico se tem adoptado uma política de ‘cultura de papel zero’, incluindo os tribunais onde quase todos os documentos e outros papéis são convertidos em formato digital”, conta. “Esta importante conversão permite economizar gastos administrativos e financeiros, aumentar a produtividade e eficiência dos serviços prestados à população, economizar espaços, facilitar a utilização simultânea e instantânea de documentos e proteger o meio ambiente com menos utilização de papéis”, sustenta. Consultas online Ao mesmo tempo, o legislador ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) quer saber se vão ser implementadas medidas que facilitem ainda mais o acesso aos processos transitados em julgado através da Internet. Actualmente, o portal dos tribunais já permite aceder a algumas decisões. Mas Coutinho quer ainda mais. O também jurista defende que todos as decisões constantes no arquivo devem ser digitalizadas e colocadas online. “Quando vai o Governo proceder à digitalização integral de todos os processos judiciais existentes nos arquivos e considerados documentos históricos de Macau?”, questiona. Ainda de acordo com o deputado este são exemplos que estão implementados tanto em Singapura como em Portugal.