Gestores de empresa do Governo para renovação urbana sem salários João Santos Filipe - 4 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap]s membros da direcção da empresa com capitais públicos Macau Renovação Urbana vão trabalhar sem receber salário. A garantia foi deixada ontem pelo presidente Peter Lam, durante uma conferência de imprensa para apresentar a companhia responsável pelos projecto de renovação urbana. “Nós não temos salários”, afirmou Peter Lam, quando questionado sobre a previsão anual para os custos com os ordenados dos sete membros da direcção. Além do empresário Peter Lam fazem ainda parte como vice-presidentes o ex-deputado Tommy Lau, Paulo Tse e Leong Keng Seng. O arquitecto Wong Chung Yuen, o engenheiro Rocky Poon e o advogado Tam Chi Wai são os restantes membros dos sete. “Os membros da direcção são profissionais com grande experiência na construção. Além disso, temos engenheiros, arquitectos e ainda especialistas em Direito”, afirmou Peter Lam. A medida vai afectar apenas a direcção da empresa que tem como accionistas o Governo da RAEM, o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização e o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia. Ainda durante a apresentação, Lam traçou como objectivo a criação de um melhor “ambiente urbano” na cidade, assim como uma plataforma para ouvir as opiniões dos cidadãos. Candidaturas a 17 de Junho Um despacho do Chefe do Executivo anunciou ontem que os compradores de fracções no Pearl Horizon vão poder candidatar-se para receber uma outra habitação entre 17 de Junho e 16 de Agosto. Em relação a este processo, o presidente da Macau Renovação Urbana explicou que o projecto para os novos edifícios no terreno onde devia ter sido erigido o Pearl Horizon ainda tem de ser feito. Porém, garantiu que as fracções vão ser em número maior do que as candidaturas dos lesados da Polytex. Sobre as candidaturas, as fracções vão ser atribuídas de acordo com o preço pago pela compra da casa no Pearl Horizon e tendo em conta a dimensão do apartamento adquirido. “O preço vai ter flutuações porque as pessoas também pagaram valores diferentes, quando adquiriram as fracções. Mas só depois de termos as candidaturas e de terminarmos o projecto é que vamos saber quantas casas vão ser construídas”, explicou. Faz parte das funções desta empresa construir as casas de alojamento temporário, que vão acolher as pessoas quando os prédios ontem habitam estiverem a ser renovados. Porém, sobre o processo de renovação não houve pormenores.
China foi tópico de debate nas reuniões do Grupo Bilderberg Andreia Sofia Silva - 4 Jun 2019 Terminou este domingo mais um encontro anual do Grupo Bilderberg, que aconteceu em Montreaux, na Suíça. A China foi tópico de debate, mas não esteve representada. Dois jornalistas que escreveram sobre Bilderberg defendem mais transparência e falam no crescente interesse que a China desperta no grupo que junta figuras de topo da política e dos interesses económicos [dropcap]C[/dropcap]riado em 1954 no rescaldo da II Guerra Mundial, o Grupo Bilderberg mantém-se até aos dias de hoje como sempre foi: secreto, fechado e exclusivo a algumas personalidades das mais altas esferas económicas e políticas que recebem convites para ali debaterem os mais diversos assuntos da actualidade. Este ano, a 67.ª reunião abordou o assunto da China, a par de temas como “Uma Ordem Estável e Estratégica”, “Mudanças Climáticas e Sustentabilidade” e “O Futuro do Capitalismo”, num total de 11 temas. A China tem sido, aliás, objecto de discussão nos últimos anos, apesar da falta de representatividade no campo político e empresarial. Houve apenas uma excepção, em meados de 2011 e 2012, com o convite ao vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo embaixador no Reino Unido e Austrália, Fu Ying. Do lado português, estiveram presentes, este ano, personalidades como Durão Barroso, presidente da Goldman Sachs e ex-presidente da Comissão Europeia, Estela Barbot, membro do conselho de administração da REN, onde a China tem investimentos, e Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. No Grupo Bilderberg o secretismo é quase uma imagem de marca. Como tal, no comunicado de imprensa disponível no website oficial não existem quaisquer informações adicionais sobre a reunião, que decorreu entre quinta-feira e domingo. “Os Encontros de Bilderberg constituem um fórum para discussões informais sobre grandes temas. As reuniões acontecem de acordo com a Regra Chatham House, que determina que os Estados participantes são livres para usarem a informação que recebem, mas não podem revelar a identidade ou a afiliação dos participantes”, pode ler-se. O mesmo comunicado determina ainda que “devido à natureza privada dos encontros, os participantes participam de forma individual e não na sua posição oficial, e não estão sujeitos às convenções do seu cargo ou a posições pré-acordadas. Desta forma, eles podem ter tempo para ouvir, reflectir e reunir ideias”. Além disso, no Grupo Bilderberg “não há uma agenda detalhada, não há proposta de resoluções, não são feitas votações e não há declarações políticas emitidas”. O facto de Estela Barbot, da REN, ter sido convidada este ano, é algo que não deve ser ignorado, devido ao facto da energia ser um sector estratégico para os chineses, de acordo com os autores ouvidos pelo HM. “Naturalmente, que isso pode estar na cabeça deles (do grupo Bilderberg)”, referiu Rui Pedro Antunes, jornalista e autor do livro “Os Planos de Bilderberg para Portugal”. “A questão da energia é muito importante para Bilderberg e para a maior parte das empresas, pois estão a tentar combater a influência chinesa na Europa, e na REN os chineses ganharam posição de destaque. Também já foram convidados responsáveis da EDP”, exemplificou. Já Frederico Duarte Carvalho, também jornalista e autor do livro “O Governo Bilderberg” lembrou que a energia é um sector estratégico e importantíssimo para todos nós. “Não sei o suficiente, as minhas análises são mais políticas do que económicas, mas sei o suficiente para afirmar de que há aqui algo que não é transparente, e que isso preocupa”. Atenção sínica Rui Pedro Antunes dá conta do interesse crescente que a China tem gerado no seio do grupo nos últimos anos. “Das muitas temáticas que essas personalidades têm discutido, a China tem sido uma das preocupações principais, tal como a Rússia, embora a China tenha uma importância maior”, defendeu ao HM. Isso deve-se ao facto do país “ter ganho um poder que antes não tinha, sobretudo a nível económico, e passou a ser importante abordar a forma como lidar com a China, sobretudo a nível militar, pois o país tem uma dimensão que a Europa e os Estados Unidos não têm”, acrescentou. O facto de serem feitos convites a personalidades chinesas depende muito do estado das relações diplomáticas no momento, e nesta altura a China e os Estados Unidos enfrentam uma guerra comercial sem fim à vista. “Na altura (aquando da participação de Fu Ying), as relações estavam muito boas e foi feito o convite. Creio que as relações entre a China e a Europa não estão propriamente más, mas (no seio do grupo Bilderberg) acaba por haver muita influência norte-americana e da família Rockefeller”, alertou Rui Pedro Antunes. O jornalista denota que, “neste momento, a China será sempre um assunto principal de debate, tendo em conta as ligações com os EUA”. Para Frederico Duarte Carvalho está na altura de a China estar mais atenta ao que se discute no seio deste grupo. “Quando estão a falar da China, falam de algo que está ausente, e por isso não se pensa nos interesses da pessoa ausente. Isso não contribui para a paz no mundo, seja ela política ou económica. Só lamento que num mundo tão globalizado, como é o de hoje, se ache que continua a fazer sentido conversar só sobre dois polos, quando a China é um interlocutor cada vez mais presente a nível internacional. A melhor forma de combater a China é inclui-la nas conversações.” O jornalista, que escreveu vários livros de investigação, pensa que a China “tem de ter algum cuidado político e muita diplomacia para resolver estas questões”. “O primeiro passo é estar atento, questionar se faz sentido continuar a usar as mesmas tácticas do pós-II Guerra Mundial, com esses encontros de secretismo e reuniões de grandes CEOs sem considerar outras realidades. A China deve manter-se informada e diplomática para não ser usada como bode expiatório numa crise que venha a ser criada contra ela”, frisou. Esta crise pode acontecer, aos olhos de Frederico Duarte Carvalho, caso falhe a introdução da rede 5G na Europa. “Fala-se na questão das redes 5G e do perigo da espionagem chinesa. Temo que a China, de repente, possa vir a ser uma espécie de bode expiatório do falhanço da não inovação das outras potências, e que historicamente sabemos que são bélicas, mais do que a China. A China tem uma outra estratégica, ligada à celebre paciência do chinês.” Transparência, precisa-se Rui Pedro Antunes assume uma posição diferente de Frederico Duarte Carvalho pois, para ele, Bilderberg não governa o mundo. Ainda assim, ambos concordam que há falta de transparência no grupo. “A partir do momento em que há representantes políticos fechados numa sala com empresários e representantes de multinacionais é uma coisa opaca que não deveria existir”, disse Rui Pedro Antunes. “Cada vez mais luta-se para que os cidadãos tenham acesso ao que se passa numa reunião governamental ou parlamentar, cada vez se sabe mais sobre regimes que nem são democráticos, e continua a existir uma reunião de Bilderberg à porta fechada, sem saber muito bem o que por lá se discute. Isto não é bom para a democracia e para o mundo em geral, e deveria existir mais transparência”, defendeu. Para Rui Pedro Antunes, jornalista no jornal online Observador, “Bilderberg não governa o mundo, mas tem muitos lobbies de governação, políticos e financeiros, e se houvesse maior transparência as pessoas saberiam o que acontece”. Frederico Duarte Carvalho acredita que o facto de a China não estar representada “acaba por ser um bastião de liberdade”. Contudo, “quando aceitar estar lá dentro de acordo com as regras, estará o mundo inteiro a conspirar contra o resto do mundo e seremos todos escravos”. “Enquanto estiver fora será um polo para exigir os seus direitos de forma livre e transparente. Se a China quiser ser o país do povo, não pode estar no Bilderberg. Senão aceita as regras do mercado e torna-se um inimigo do povo”, rematou o jornalista.
Rodolfo Ávila vence em Xangai e sobe na classificação do CTCC Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]R[/dropcap]odolfo Ávila venceu na visita do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) este fim-de-semana ao Circuito Internacional de Xangai. O triunfo do piloto português residente em Macau e da equipa SVW333 Racing surgiu na segunda corrida do programa, disputada na tarde de domingo. O bom resultado do fim-de-semana começou a desenhar-se logo nas sessões de treinos cronometrados. Na sessão de qualificação, que desta vez decidiu a formação da grelha de partida para a corrida de domingo, Ávila esteve ao seu melhor nível e realizou o segundo melhor tempo, a apenas 0.041 segundos do pole-position, o pluri-vencedor da Corrida da Guia do Grande Prémio de Macau, Rob Huff, pode ler-se no comunicado de imprensa do piloto. Na tarde de sábado disputou-se a primeira corrida do fim-de-semana, onde a regra da grelha invertida colocou o VW Lamando nº9 na oitava posição à partida. Um mau início de corrida, causado por uma opção técnica errada, quase que deitava a perder, mas Ávila fez uma corrida imaculada desde o 13º lugar na primeira volta até ao 7º posto final, ultrapassando seis adversários em sete voltas. “A equipa optou por um mapa de motor que não funcionou. Perdi posições no arranque e nas primeiras curvas. Mudámos o mapa do motor e com cuidado, sem exageros, comecei a subir posições, conseguindo terminar na sétima posição”, explicou o piloto que representa a equipa oficial do construtor automóvel SAIC Volkswagen. A subir Para a segunda corrida do fim-de-semana, Ávila alinhou do 2º lugar da grelha de partida, defendendo com sucesso a sua posição na primeira curva. Quando a corrida de 10 voltas ao circuito chinês ia a meio, Ávila ascendeu à primeira posição, posição essa que jamais iria largar até à bandeirada de xadrez. “Estou obviamente muito satisfeito com esta vitória, a minha primeira no campeonato, mas acima de tudo este é um triunfo de toda a equipa que tudo fez para vencer as duas corridas este fim-de-semana em Xangai e conseguiu um “1-2-3” na corrida de hoje. Este resultado dá uma motivação extra na luta pelo campeonato e esse será o objectivo em que nos iremos focar até ao final da temporada”, disse no final da corrida o piloto da equipa SVW333 Racing que colocou três carros nas três primeiras posições na corrida de domingo. Com estes resultados, Ávila subiu do 10º para o 5º lugar na classificação de pilotos quando estão disputadas duas das oito jornadas duplas do campeonato. A SAIC Volkswagen lidera a classificação de construtores, onde enfrenta a oposição da KIA, BAIC, Ford e Toyota. O campeonato de automobilismo mais popular da República Popular da China, que este ano celebra o seu décimo quinto aniversário, continuará por Xangai, desta vez para uma deslocação ao Circuito de Tianma no fim-de-semana de 22 e 23 de Junho.
E se fizessem o reset* do sistema? Sérgio de Almeida Correia - 3 Jun 2019 [dropcap]M[/dropcap]aio foi-nos trazido sob a influência de Urano, agente do despertar cósmico, das mudanças rápidas, por vezes violentas, propiciador de relâmpagos e tempestades, capaz de libertar sem aviso prévio ideias e frases de grande impacto. Ao que me dizem, a aproximação de Vénus a Saturno trar-nos-á alguma contenção e equilíbrio a partir do último dia do mês, assim se antecipando dias estivais mais calmos. Para quem já esqueceu, o mês que findou foi politicamente vibrante e isso reflectiu-se na visita do Presidente da República, nas romarias a Pequim e Lisboa dos responsáveis políticos, na exaltação das virtudes patrióticas e num sem número de declarações que deveriam merecer reflexão. E, quem sabe, diria mesmo um acto de contrição como aquele que agora aconteceu com o multimilionário Joseph Lau. Condenado pelos tribunais da RAEM por corrupção activa e branqueamento de capitais em pena a que até hoje escapou, depois de ter anunciado a sua oposição à proposta de lei que permitiria ao Governo de Hong Kong facilitar a entrega de infractores em fuga, como ele, às entidades do interior da China, de Macau e de Taiwan, veio de repente dizer que desistiu de se opor à nova lei. Diz que não vai contestá-la, que está muito triste com a desarmonia gerada e que apoia a governação de acordo com a lei por parte do Governo de Hong Kong. E antes? Desconheço se o sujeito entrou nalgum trade-off, nem com quem, mas tanto amor à lei, à Pátria e a Hong Kong, tanto empenho na harmonia deveria terminar com a sua entrega às autoridades da RAEM para cumprir a pena em que foi condenado. Então não seria bonito de um momento para o outro ver toda a bandidagem do colarinho branco (alguma já com os colarinhos encardidos de tanto esquema), de cá e de lá, a entregar-se às autoridades? Isso é que seria amor à Pátria e ao princípio “um país, dois sistemas”. A sério. Certamente que os seus advogados lhe dirão isto. Mas quanto às declarações locais, a primeira pérola veio de Ho Iat Seng, candidato a Chefe do Executivo. E que disse ele? Então não é que antecipando–se à piedosa confissão de Joseph Lau veio dizer que com ele os direitos da comunidade portuguesa irão ser respeitados, que valoriza o seu papel e que serão todos tratados da mesma forma? Quando o ouvi no canal radiofónico da TDM pensei que se tinham enganado a ler as notas. Depois, ao ler no jornal, fiquei com curiosidade de saber em que circunstâncias tais declarações foram produzidas. Se à saída de um karaoke ou se depois de uma noite de insónia. Pelo que se viu com a dispensa dos ex-assessores portugueses da AL, dando-lhes cabo das carreiras profissionais e das vidas familiares, atirando-os para o desemprego, já estaria a ensaiar o seu modelo de protecção à comunidade portuguesa. Sim, porque portugueses não quer dizer comunidade portuguesa. A comunidade é óptima, claro. Os portugueses individualmente é que não, salvo quando se comportam como uns caniches amestrados, adulando quem lhes paga e temperando os pareceres que dão para lhes renovarem os contratos. Mal refeito desta tirada do candidato a Chefe do Executivo, ouvi o Senhor Secretário para a Segurança exaltar as virtudes do jornalismo obediente, mansinho e ao serviço do poder político e das suas causas. Genial. Foi pena que, aproveitando-se a deslocação a Macau de Rocha Vieira, de Fernando Lima e de Martins da Cruz, não tivessem reunido esforços para darem um curso de jornalismo sadio, patriota, aos profissionais locais. Carecidos como eles estão, com o apoio da Fundação Macau e do Instituto Internacional do Dr. Rangel, teria sido um sucesso. Pode ser que o José Carlos Matias se lembre disso numa próxima ocasião, mas não vai ser fácil voltar a reunir na RAEM tantas sumidades versadas em matéria de escutas, rumores e controlo da comunicação social. Esse curso de jornalismo amestrado teria sido particularmente importante numa altura em que a situação da segurança começa a fazer lembrar os piores tempos da administração portuguesa. Esfaqueamentos, cenas de pugilato no Cotai, roubo de milhões de dentro de um casino, aumento da criminalidade violenta, sequestros, gatunagem em fuga e dependente do auxílio das autoridades do outro lado para ser apanhada…; enfim, tanta câmara, tanta polícia, tanta escuta e só há resultados na cobrança de multas de estacionamento e no excesso de velocidade? É claro, por falar em multas, que nada disso tem o peso das declarações do Secretário para os Transportes e Obras Públicas. Por vezes tenho a impressão de que ele perde a paciência com os deputados. Como o compreendo. E o caso não é para menos. Não bastavam as obras do metro ligeiro, as inundações, aos aluimentos de terras, o hospital, os autocarros, os táxis, a qualidade do ar, os plásticos, o terminal marítimo da Taipa, a água que jorra da ETAR de Macau, a China Road and Bridge Corporation zangada e em tribunal por causa de meia dúzia de patacas, os “talentos” espalhados pelos passeios e em risco de serem pisados a qualquer momento pelo deputado Mak Soi Kun, e ainda se vão queixar do estacionamento? Mas onde é que esta gente vive? Qualidade de vida? Andem a pé. Então não gostam de ir todos os anos na marcha do Jornal Ou Mun? Agora podem treinar durante todo o ano, emagrecer saudavelmente. A influência de Urano ainda se fez sentir nas declarações da Secretária para a Administração e Justiça. A Dra. Sónia Chan reconheceu candidamente acreditar que “depois de haver uma sentença que essa vai ser traduzida para a outra língua”. Pois é, se recebesse sentenças saberia que não devia acreditar na imaginação, porque na prática não é verdade. Ainda há dias uma simpática senhora juíza, depois de ter notificado verbalmente em chinês, com tradução simultânea em português ao ouvido do advogado, mais de uma dezena de páginas, dispensou a tradução ao arguido em língua portuguesa, entre outras razões, imagine-se, por falta de meios! Falta de meios? Em Macau? Com o PIB que temos? Ainda se fosse no Canadá ou na Suíça, que não têm casinos decentes, eu poderia entender. Ora, a Senhora Secretária devia começar por dar meios aos tribunais. Para o que bilinguismo melhore e as decisões judiciais possam ser notificadas aos interessados com cópia em papel na língua que os destinatários, advogados ou partes, dominam. Para que se cumpra a Declaração Conjunta Luso-Chinesa e a Lei Básica. Imagine o que seria se os despachos do Chefe do Executivo lhe fossem entregues em servo-croata? É mais ou menos o mesmo. Pareceu-me ver aí alguma condescendência e boa vontade quando afirmou “eu até posso dialogar com os tribunais e alterar a lei actual”. E de que está à espera? Parece-me um bom princípio e só lhe ficaria bem, tanto mais que é a própria que também diz que isso “não é difícil”. O problema está quando, logo a seguir, a Dra. Sónia Chan pergunta: “mas na verdade, e na prática, se fizermos a alteração, o que vai acontecer depois?” (HojeMacau, 28/05/2019, p.7). Ó Senhora Dra., então isso pergunta-se? E o deputado Pereira Coutinho iria responder-lhe? Eu não quero deixá-la na dúvida e posso garantir-lhe que se isso for feito vamos todos, cidadãos residentes e não-residentes, advogados, magistrados, entendermo-nos muito melhor. Vamos ser todos muito felizes. Ainda mais, quero dizer. E logo na Grande Baía, Senhora Dra.! Já viu o benefício que seria? Já nos imaginou a recebermos despachos judiciais, sentenças, acórdãos numa língua que entendemos? E se isso fosse alargado às notificações do Turismo e dos Assuntos Laborais, e a todos os serviços da Administração Pública? Já pensou nisso? A quantidade de ramos de rosas que a AAM e os meus colegas, até os avarentos e que andam sempre à procura de subsídios, não iriam enviar para o seu gabinete. E então se as sentenças viessem por correio electrónico traduzidas nem lhe conto. Alguns até iriam dançar para a Praia Grande, lançar foguetes, sei lá, dar vivas ao futuro querido líder. Hoje vou deixar descansar o Dr. Alexis Tam e o Dr. Lionel Leong. Um porque ainda está a gozar os louros do seu Honoris Causa e a recuperar do jet-lag. O outro porque ainda está a reflectir sobre as razões para não o deixarem ser candidato a Chefe do Executivo. Não convém perturbá-los, ainda têm muito para fazer. Em todo o caso, gostaria de deixar uma palavra de solidariedade e muita compreensão ao Senhor Procurador, Dr. Ip Son Sang. É certo que me parece ver ali um remar contra a maré quando se alerta para a necessidade de contratação de magistrados portugueses “qualificados e experientes” para trabalharem em Macau. Sei que contratar portugueses já será difícil, qualificados e experientes ainda mais. Concordo, aprecio o esforço e também o trabalho que tem desempenhado no sentido da melhoria dos recursos e em matéria de tradução. Espero que o escutem e que lhe dêem razões para sorrir. Porém, onde senti que era mais importante deixar uma palavra de apoio ao MP e à sua hierarquia foi na parte do relatório 2018 em que o estimado Dr. Ip se queixou das dificuldades criadas pelo seu senhorio à acção da instituição que dirige. Homessa? Então não é que o MP enfrentou “de novo” uma acção de despejo, em 2018, “mais uma vez a ‘desocupação forçada’ exigida pelo proprietário para recuperar a unidade”? E que “o caso acabou por ser resolvido com um acordo que previa o aumento do valor de renda”, o que motivou “a incerteza do decurso da negociação, sendo causa de “enorme distúrbio e preocupação ao funcionamento e gestão dos lugares de trabalho do MP” (HojeMacau, 29/05/2019, p.9)? Como é possível isso acontecer? E com um inquilino que tem um batalhão de magistrados e funcionários, conhece a lei, tem-na do seu lado e paga as rendas atempadamente? Senhorio glutão. Imaginem então como será com o desgraçado do inquilino do estúdio, sem força negocial, que está nas mãos dos tubarões das agências de mediação e dos senhorios de Hong Kong e do Interior. Espero que o deputado Chan Chak Mo, presidente da 2.ª Comissão da Assembleia Legislativa, tenha lido com atenção o relatório do MP, em especial nesta parte, esclarecendo depois a opinião pública se o MP também cai na categoria dos “arrendatários trapaceiros”. Não dava jeito nenhum. Sugiro, pois, que se comece a preparar o reset do sistema de governança. Com a época de tufões à porta, e a silly season a entrar com esta força, tantos foram os bugs de Maio que começa a ser difícil distinguir a intromissão dos piratas (hackers) no sistema da acção dos especialistas encartados. * reset: o mesmo que reconfigurar, redefinir, reiniciar
Diogo Coutinho Docem assassinado José Simões Morais - 3 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]screver sobre a estadia em Macau do Governador Diogo Coutinho Docem é um exercício bastante difícil devido às confusões dos historiadores sobre a personagem aqui assassinada, assim como os intervenientes e as suas razões. D. Diogo viera para a Ásia com o seu pai Francisco Coutinho Docem, que fora nomeado Governador de Macau a 24 de Maio de 1634 com a promessa verbal do Rei Filipe III de ser Vice-rei da Índia se desempenhasse bem o cargo. Partiram a 13 de Abril de 1635 na armada que trazia para a Índia o Vice-Rei Pedro da Silva (1635-39) e chegaram a Goa a 8 de Dezembro. Aí, D. Francisco cedeu o cargo a Domingos da Câmara de Noronha, que a 29 de Abril 1636 rumou para Macau onde aportou em Agosto, ficando a governar até 1638, substituindo o irmão Manuel, Governador de Macau de 1631 a 1636. Já D. Francisco Coutinho Docem morreu a 2 de Junho de 1636 num combate naval nocturno contra os holandeses no porto de Malaca. D. Diogo, que o acompanhava nessa altura, ficou Capitão da Fortaleza de Malaca de 1636 a 1639, mas incompatibilizou-se com Luís de Sousa Chichorro, que à data exercia o cargo de comandante naval de Malaca e como tal lhe estava subordinado. O diferendo provocou a morte a 70 portugueses e deixou Malaca ainda mais vulnerável, que cairia nas mãos dos holandeses a 14 de Janeiro de 1641, sendo Chichorro na altura e desde 1640 Capitão da Fortaleza. Diogo Docem em 1640 vai transferido para Negapatão no Sri Lanca, donde socorreu Colombo com mantimentos, então também ameaçada pela armada holandesa. Após a queda de Malaca, Docem foi preso em Goa onde aguardou pelo veredicto do Rei sobre a sua culpabilidade nas desavenças, sendo em 1643 libertado por não haver provas concretas e nada se deve ter apurado pois em 1646 foi D. Diogo nomeado pelo Vice-Rei D. Filipe Mascarenhas para o cargo de governador de Macau, na altura com grandes e difíceis problemas para resolver e nada apetecível pois não dava grandes proveitos. Dos antecedentes Ainda antes da chegada da Dinastia Qing à China, já Macau se encontrava numa posição extremamente difícil. Deixara de poder contar com os lucros fabulosos auferidos do comércio com o Japão, pois os portugueses tinham daí sido expulsos definitivamente por um édito publicado em 1639. Os navios da Companhia Britânica das Índias Orientais apareciam no porto de Macau para adquirirem os produtos chineses, sendo a nau London a primeira a chegar em 1635 fretada pelo Vice-rei da Índia para carregar artilharia da fundação de Bocarro. Com a conquista de Malaca, o estreito com o nome da cidade passou a estar controlado pelos holandeses, impedindo aos barcos vindos de Goa a entrada no Oceano Pacífico, pois dominavam também desde 1602 o Estreito de Sunda. A Macau restava o comércio com Macassar e as ilhas de Timor, Solor e Flores. O Rei Filipe III banira em 1634 o comércio entre Macau e Manila, mas este continuou até 1642, quando de facto terminou devido à Restauração da Independência de Portugal em relação a Espanha iniciada a 1 de Dezembro de 1640. Macau apenas dela soube oficialmente a 31 de Maio de 1642 por António Fialho Ferreira, que viera de Lisboa à Cidade do Nome de Deus para o anunciar em nome do novo rei. Como durante todo o período filipino, a praça de Macau tivera sempre hasteada a bandeira portuguesa, foi em 1642 conferido à cidade o título de “Não Há Outra Mais Leal”. O então Governador de Macau D. Sebastião Lobo da Silveira (1638-1644), apesar de endividado pela falta de viagens ao Japão e a viver de empréstimos feitos pelos moradores, para a “aclamação de D. João IV fizera enormes despesas e para se compensar, lançou mão dos soldos do presídio, que montavam a 1200 patacas mensais. Os soldados, vendo-se sem dinheiro, abandonaram os seus postos, deixando indefesas as fortalezas e revoltaram-se”, segundo o padre Manuel Teixeira. Outros problemas ocorridos durante a governação de Sebastião Lobo da Silveira, nomeado pelo Rei Filipe IV de Espanha, foram resolvidos pelo seu sucessor Luís de Carvalho e Sousa, indicado em 1643 Governador de Macau da confiança de D. João IV (1640-56), mas só aqui tomou posse do cargo em Agosto de 1645. Governador assassinado Na frota que levava ao Japão o Embaixador Gonçalo de Siqueira de Sousa veio D. Diogo Coutinho Docem como Governador de Macau. Partiram de Goa a 30 de Abril de 1646 e em Malaca, por estar já em vigor uma trégua, pagaram aos holandeses direitos de 200 patacas por cada galeão, aportando em Macau a 24 de Junho. Desembarcou no dia seguinte D. Diogo, tomando então posse do Governo. A cidade vivia em verdadeiro estado de guerra civil. Em Outubro de 1646, “os soldados, com soldo em atraso, envolveram-se em desordem com os donos das lojas chinesas. O mandarim de Chinsam mandou fechar as Portas do Cerco, impedindo a vinda das provisões e veio a Macau exigir satisfações; . Pouco depois, veio uma chinesa a vender comestíveis a Macau e os soldados roubaram-lhos, usando de violência. Com estas desordens por falta de pagamentos e penúria da cidade, se pôs alguma artilharia em venda”, segundo o Padre Manuel Teixeira, que refere ter em Novembro D. Diogo Coutinho solicitado “a ajuda da frota chinesa, pois Macau via-se cercado de piratas que faziam encarecer os mantimentos; quando se queria proceder contra eles, logo tirava o entendimento aos moradores, para não concordarem nem efectuarem nada de bom em sua defesa. Só confiava no auxílio de Deus e do Rei; pedindo a D. Filipe Mascarenhas que enviasse uma frota com dinheiro para 500 homens, sendo necessário em Macau um presídio pelo menos de 300. De 480 portugueses casados que havia antes, faltava a terça parte; ficaram apenas 160 homens, tendo os homens saído para outras partes, levados pela fome; a terça parte dos que restavam eram velhos e incapazes para as armas. Sem armada não se podia defender Macau. A cidade via-se rodeada de inimigos; piratas no mar, holandeses sobre ela e os espanhóis de Manila. D. Diogo (…) queixava-se ainda dos jesuítas, conhecidos por suas traças, quando entendiam que eram .” Já C. R. Boxer refere, “Parece que a guarnição se amotinou contra ele e contra o Senado, por terem os soldos em atraso. Os soldados tomaram o Forte da Guia, afixaram proclamações sediciosas nas portas das igrejas e apontaram os canhões para o Leal Senado. Os cidadãos, por seu turno, tomaram armas, assaltaram o Palácio do Governo e fizeram em postas o malogrado capitão-geral, que encontraram escondido debaixo da escada.” Deu-se isto nos finais de 1647 e os amotinados, que reagiram violentamente contra a ordem de prisão, eram Jacinto Guterres, Lourenço Meneses Cordeiro, António da Costa Benúchio, João da Costa Benúchio e Diogo Vaz Bavaro. Foi este o único assassinato em toda a história de Macau perpetrado por portugueses na pessoa dum governador.
A Pegada de Sísifo A Foz em Delta, de Manuel Gusmão Rita Taborda Duarte - 3 Jun 20197 Ago 2019 [dropcap]V[/dropcap]inde cá, meu tão certo secretário, que vos quero falar de atrito e gravidade. Porque se de mecânica vive a literatura, que dizer da poesia, essa tão desajeitada engenhoca da linguagem. Pois ouvide e aprendei sobre a física e os mecanismos da linguagem que se regem por medidas outras, mais labirínticas e intricadas que as leis naturais. Que dizeis? Lembrais, contrafeito, que o meu compromisso é confidenciar-te poemas e poetas e não prelecções avulsas de uma ciência mal sabida? Pois não digais tal, meu sempre certíssimo secretário. A poesia não é só da ordem das letras! É, sim, mecânica pura movendo a engrenagem do mundo e suas linguagens; e para bem compreendermos um poema, sua dinâmica, a sua velocidade e aceleração rumo à razão, às ideias, ao coração, à emoção, há que descobrir a fórmula que se sustenta o movimento. Falo-vos do livro de Manuel Gusmão, «A Foz em Delta», título, ele mesmo, metáfora de poesia: a torrente do rio que antes de alcançar o mar se propaga em percursos múltiplos, rasgando a terra em diferentes sulcos, inventado caminhos, descobrindo-lhes sinuosidades itinerantes. A foz em delta é bem o paradigma de uma particular resistência à passagem de água, que se embrenha na terra, antes ainda de mergulhar no oceano, criando pequenas ilhas, areais instáveis, resistindo, por porfia, ao deslize das águas. Ouvide, pois, secretário, aprendendo: «A corrente do rio arrasta consigo a terra que as raízes das árvores têm presa. O rio continua avançando e traz para o meio da foz pequenas ilhas terrestres. Ergue à altura de uma copa de pinheiro manso as imagens dessas ilhas incompletas.» A resistência do falar poético nasce desta simbiose improvável entre terra firme e a força das águas. Nem uma nem outra se vencem: mantém-se um vínculo inusitado, em que água e terra se penetram. Assim é a poesia a desaguar no mundo; mas tal como a terra se distingue dos dedos de rio «arrepanhando as águas», também o poema e a ideologia, a poesia e pensamento político, a poesia e mundo; interpenetrando-se, sempre, nunca se confundindo. Sim, meu tão certo e caro secretário, por isso vos falava do atrito, da resistência. Tantas forças no mundo, conjugando-se para encalhar no poema, abrandá-lo; mas o poema reage, firme e provoca atrito também ao mundo, e atrasa, sim, por pouco que seja o seu movimento. Tal como o atrito, a gravidade. Que dizeis, meu secretário? Que uma pedra caindo pouca influência de atracção tem sobre a terra. Pois sim, não mata, nem mossa causa. Mas alguma coisa há-de moer. E isto que vos digo, o diz magistralmente o poeta e ensaísta Manuel Gusmão, num gesto de um só verso, que vale toda uma poética : « O mundo supõe a poesia para se poder dizer». E, imediatamente, antes, já o poeta explicara essa espécie de atrito, força que poesia exerce face ao mundo. Vinde cá, e aprendei, meu secretário: «A poesia é uma palavra tão carregada de sentido que vibra/ dar outra vez o nome às coisas/ dar outro nome às coisas mostra-as/ a uma luz e segundo uma música diferente.». Onde ides? Continuai, pois, a ler. É com os mestres que se aprende. Reparai que «este dar nome às coisas/faz parte da nossa experiência sensível. «A terra é azul como uma laranja». [Paul Eluard]» A poesia será um modo de criar atrito no mundo, ao mesmo tempo que este exerce também uma força no poema; jogo de esforço e resistência que um e outro se oferecem; o rio a fuçar a terra, rasgando-a em delta, portanto, antes ainda de atingir o mar. O discurso poético, todo ele, desdobra-se como esse discurso de resistência, de per se, e isto independentemente da lógica e da verbalização directamente política, literalmente militante («o comunismo que vem connosco/e para além de nós recomeça») que este livro assume, a moer (rebentando-a tão só aparentemente) a distinção entre poesia e ideologia. Aliás, Foz em Delta acaba por ser (e isso implica uma fundamentação teórica que lhe está implícita, aduzindo-lhe, uma outra noção de atrito, que é a resistência à leitura, pelo confronto desta obra com os livros de poesia anteriores de Manuel Gusmão e o seu ensaísmo) um enraizamento na memória: a memória histórica, que não deixa de ser pessoal (com a convocação da luta de classes; os poemas dedicados a Álvaro Cunhal, um deles «Elogio da terceira coisa», mas também uma historicidade íntima , com o poemas dedicado ao pai e toda uma secção dedicada às filhas e netas. A poesia, vá por que caminhos for, desague na foz, por que ramificações, transforma-se, sobretudo (e também por isso resistência) em memória, assente na consciência histórica; e pouco importa o quão longe se vai no reconhecimento concreto, político, pessoal ou biográfico, quando a palavra instaurada no discurso poético é aquela «carregada do sentido que vibra» , que renomeia as coisas. O mundo, repitamo-lo em sincronia, meu secretário e não o esqueçamos mais, supõe «a poesia para se poder dizer». Por isso, Foz em Delta é poesia e ensaio, em simultâneo, reflexão e desfocamento poético, que coloca mais uma pedra na engrenagem da poesia, e reduzindo, sempre, com a sua força de resistência, atrito, a velocidade do mundo que avança selvagem, capitalista, acelerando. Numa das secções do livro intitulada «Definição de um Território» (o da poesia, meu tão certo secretário?), há um conjunto de parágrafos, subordinados, exactamente, ao título «poesia e resistência». Aí se lê: «A poesia pode ser uma forma de resistência. Pode sê-lo. Sempre, por definição, ou seja, em determinados contextos, sociais, políticos, culturais. Hoje em alguns dos lugares em que a história da modernidade de longa duração continua a vir e a inscrever-se nos tempos, alguma poesia continua a resistir. Ela resiste à quantidade de barbárie em que cada tempo insiste. (…) Dizer que a poesia resiste é afirmar que ela é uma específica resistência à sua completa apropriação pela mente ou pelo espírito. […] . Como forma de vida, a poesia é um fazer e um acontecimento de linguagem que a tem por palco, co-move os sentidos e o corpo & alma dos cidadãos, mobiliza, atravessa e convoca o conhecimento, a ética, e a estética.». Também por isto, os poemas, estes que se exibem como lastro ideológico, político, partidário e militante até, e expressamente, é resistência, sim, uma força de atrito, que influi na cinética do mundo, abrandando-o, mas não, nunca, ideologia, que, a poesia desfoca a linguagem com que aponta, no entanto ao mundo: «A fonte fria/na manhã clara/é de qualquer modo/o foco de luz/que te chega aos olhos.» Diz Silvina Rodrigues Lopes num artigo dedicado a «poesia e ideologia» do livro «Literatura, Defesa do Atrito» (pois é claro, meu tão certo secretário, bem vos dizia, ao início, que as leis da mecânica e da física são, pois, próprias da poesia) que «a nossa vontade de domínio segrega o desejo de plenitude e com ele a ideologia que retira às palavras o seu enigma: transforma a verdade e o desejo que a habita em vontade de verdade, força reactiva ao serviço de uma ordem, uma asfixia. Sem a poesia, que salvaguarda o enigma ao oferecer-se como um gesto ou acto necessário (…) as palavras estariam gastas. Não haveria como responder.» Pois, é verdade, meu tão certo secretário, a linguagem, bem o sabemos, nós dois, é, para o homem, a única unidade de medida do mundo; e poesia é o que impede a erosão das palavras, à possibilidade de renomear o mundo, pondo-o em movimento. Assim, faz-se em simultâneo atrito e caminho, resistência e impulso: é, ao mesmo tempo, a pedra às costas de Sísifo, a montanha que ele repetidamente percorre e, até, o próprio Sísifo, ele mesmo. Repetidamente, deixando a sua pegada no caminho. Manuel Gusmão, A Foz em Delta, Lisboa, Edições Avante, 2018
Sara F. Costa, vencedora do Prémio Glória de Sant’Anna, sobre Macau: “Um lugar inspirador” Andreia Sofia Silva - 3 Jun 2019 O seu livro, “A Transfiguração da Fome”, ganhou o prémio do melhor livro de poesia publicado em países de língua portuguesa. Sara F. Costa reside em Pequim e fala da “dimensão inesperada” que esse reconhecimento lhe trouxe como poetisa, além de destacar o lugar de Macau para a sua obra poética O que representa este prémio para si? É um grande orgulho receber este prémio literário internacional, uma vez que é um prémio atribuído ao melhor livro de poesia editado em países de língua portuguesa durante o ano de 2018. Esta designação é realmente imponente e esta atribuição bastante inesperada. Quando vi que a lista de livros finalistas incluía nomes como Ana Horta, António Cabrita ou João Luís Barreto Guimarães, nunca pensei que o prémio me fosse atribuído. Estes são autores que admiro há muito tempo e é para mim um enorme prazer poder divulgar a minha poesia, também, junto deles. O Prémio Glória de Sant’Anna é um prémio de grande prestígio e graças a esta atribuição pude constatar que prima por uma excelente organização. Trata-se de um grupo muito especial de pessoas que realmente se interessam pela divulgação de valores literários. Como foi o processo de escrita do livro vencedor deste prémio? O meu processo de escrita é simultaneamente visceral e disciplinado. Necessito de organizar o meu espaço mental para que a escrita seja regular, mas preciso de ter algo que me é vital para dizer. Entre a experiência e a escrita. Por vezes não sei se escrevo sobre a experiência ou se experiencio para escrever, mas o que é certo é que nunca dissocio a vivência da escrita. Para que a escrita seja plena é preciso viver plenamente. Até que ponto o livro “A Transfiguração da Fome” é influenciado pela cultura chinesa e pelo idioma? Essa influência é inegável uma vez que foi um livro escrito entre Lisboa e Pequim com passagens por Macau. É um livro influenciado pela cultura chinesa na medida em que muitos poemas neste livro possuem representações culturais da minha passagem por Macau e pela vivência em Pequim. O idioma e a leitura de poesia chinesa também me ajudaram a conceber a minha noção pessoal de poesia. Se pensarmos em Ezra Pound ou William Carlos Williams podemos ver como a poesia chinesa foi introduzida na língua inglesa nas primeiras décadas do século passado como uma reação à forma vitoriana que era, essencialmente, o soneto. Claro que isso aconteceu também porque a poesia chinesa foi introduzida através da tradução em verso livre. A minha concepção essencialmente imagética do poema tem origem nessas traduções da poesia chinesa e japonesa. É também curioso verificar como essa poesia da imagem se cruza tão bem com o simbolismo francês. É nesse cruzamento de influxos que situo a minha poesia. De que forma a vivência na China a marca como poetisa? A vivência em Pequim tem sido surpreendentemente enriquecedora no alargar dos meus horizontes poéticos. Estou envolvida num colectivo artístico internacional que se dedica à criação e manutenção de uma comunidade literária muito dinâmica e muito consolidada. Não só aprendo muito sobre poesia chinesa como também sobre poesia de outras geografias, uma vez que aqui se cruzam poetas de várias nacionalidades. Neste momento organizo um workshop de poesia bi-semanal, o primeiro da cidade, integrado no colectivo de que faço parte chamado Spittoon. Ao nível da poesia chinesa, quais são as suas influências? A noção que há pouco referia da poesia imagética ou poesia-pintura acaba por ser uma grande influência e posso dar como exemplo o poeta Wang Wei da dinastia Tang ou Su Shi da dinastia Song. Hoje em dia, aventuro-me a ler os poemas contemporâneos de autores como Haizi, Chang Yao, Zhangzao, entre outros. Tenho acesso a esta poesia porque tenho bons amigos e amigas que me guiam na descoberta de novos poetas chineses e tem sido uma descoberta muito enriquecedora. No nosso colectivo artístico publicamos novos poetas chineses para inglês como forma de dar uma voz internacional a novos valores literários. Esta experiência é fundamental para estar a par da criação poética na China. Depois de vencer este prémio, que portas se podem abrir? Este prémio acaba por ter, para mim, uma dimensão inesperada. Para além de um pouco mais de visibilidade, já fui abordada com propostas de publicação do livro no Brasil, por exemplo. Da última vez que o meu livro anterior “O Movimento Impróprio do Mundo” foi seleccionado para a lista final do prémio em 2017, recebi um convite para representar poesia contemporânea europeia no Festival Internacional de Poesia de Istambul. É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido e é sempre bom ver que há algum progresso na sempre tímida carreira literária. Todos os pequenos passos contam. Esteve em Macau no festival Rota das Letras. O território passa pelos seus planos literários, seja para escrever sobre ele ou para desenvolver projectos a esse nível? É inevitável que Macau me inspire. Eu tenho uma trajectória peculiar enquanto portuguesa na China. Vivi em Tianjin primeiro, depois visitei muitas partes da China continental e só depois tive contacto com Macau. Encontrar este recanto intercultural que comunica tanto com os portugueses, causa sempre um grande impacto. É sem dúvida um lugar inspirador. Recentemente tive poemas publicados pela revista literária de Hong Kong Cha: An Asial Literary Journal na edição “Writing Macau”. Irei também fazer parte de uma antologia de poetas portugueses com ligações a Macau organizada pelo António MR Martins. Acho que esta ligação entre Macau e a minha poesia ainda está para durar.
Rubéola | Caso registado em mulher grávida Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi diagnosticado um caso de rubéola numa grávida de 14 semanas que trabalha no Star World Hotel Casino. De acordo com uma nota dos Serviços de Saúde, esta mulher no dia 30 de Maio, à tarde, manifestou erupções cutâneas no peito e teve dores de garganta. Na manhã de 31 de Maio, a doente manifestou erupções cutâneas que se espalharam por todo o corpo e recorreu ao Serviço de Urgência do CHCSJ. No mesmo dia, os resultados dos testes laboratoriais revelaram positividade à Rubéola. A doente apesar de manifestar, ainda, erupções cutâneas apresenta um “estado de saúde estável”, apontam os SS. Os serviços alertam ainda para a urgência da vacinação, sendo que a rubéola nos casos de gravidez, em mulheres sem anticorpos, infectadas nas primeiras 16 semanas do parto, pode causar aborto, morte fetal ou danos sérios na saúde dos bebés que podem abranger a surdez, defeitos oculares, doença cardíaca congénita ou atraso mental.
Jogo | Receitas cresceram 1,8 por cento em Maio Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap]s casinos de Macau fecharam o mês de Maio com receitas brutas de 25.952 milhões de patacas, mais 1,8 por cento em relação ao período homólogo de 2018. Contudo, as receitas brutas acumuladas nos primeiros cinco meses do ano continuam a registar um decréscimo de 1,69 por cento em relação a 2018, um resultado que se deve sobretudo às variações negativas registadas em Janeiro e Abril. Em relação ao mês anterior, as receitas brutas das salas de jogo registaram um aumento de 2.364 milhões de patacas.
Ilha Verde | Duas jovens hospitalizadas por intoxicação Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]U[/dropcap]m vazamento de monóxido de carbono num apartamento do Edifício Mayfair Garden, na Ilha Verde, aconteceu na madrugada de sábado para domingo, afectando duas irmãs que se encontravam no local e foram enviadas para o hospital para tratamento médico, informou ontem o canal chinês da Rádio Macau. O incidente ocorreu à 1h da manhã, no Bloco 3 do Edifício Mayfair Garden, quando uma rapariga de 16 anos, residente no apartamento, foi levada para o Hospital Kiang Wu por sentir tonturas, sendo mais tarde confirmada a intoxicação por monóxido de carbono. Às 3h da manhã, a irmã, de 20 anos, também se sentiu indisposta e foi acompanhada ao Hospital pelo pai. Os bombeiros foram então chamados ao local para investigar: testaram o esquentador e detectaram o monóxido de carbono, descobrindo que apesar de ter sido instalado o mais seguro esquentador a gás com chaminé, faltava a instalação do tubo de extracção dos gases para o exterior.
Polícia | Subchefe aposentado suspeito de suicídio Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]U[/dropcap]m subchefe do Corpo de Polícia de Segurança Pública foi encontrado morto, em casa, num apartamento perto do Parque Central da Taipa, com a pistola de autodefesa ao lado. O corpo apresentava ferimentos de bala, ao lado da orelha, e foi encontrado pela filha, na noite de sábado, às 9h35. De acordo com a investigação da CPSP, havia uma nota de suicídio, estando o caso a ser tratado como tal, aponta um comunicado da Policia Judiciária. O comandante do CPSP, Leong Man Cheong, afirmou ontem que em Macau existem 2 mil licenças de uso e porte de arma de defesa emitidas, e que aquela instituição revê a cada ano as licenças em vigor. Entretanto, o regulamento sobre a atribuição de licenças encontra-se também a ser revisto pelos organismos competentes.
China pode ajudar a superar insuficiência de capitais em Portugal Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] secretário-geral da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Norberto Rosa, disse à agência Lusa, em Macau, que a China pode ajudar a superar a insuficiência de capitais em Portugal. “Naturalmente que um dos problemas em concreto que Portugal tem é a insuficiência de capitais e, portanto, a China [que] tem feito investimentos, mais na aquisição de activos existentes, era fundamental que passasse também a fazer investimentos em novas indústrias e em novos sectores”, sustentou Norberto Rosa. “Aí [na China] existe capital em excesso e nós temos insuficiência de capital: penso que poderá ser uma boa simbiose entre a economia portuguesa e a economia chinesa”, acrescentou o responsável à margem da assinatura de um acordo de cooperação entre associações de bancos lusófonos e de Macau. O acordo foi assinado por iniciativa da Associação de Bancos de Macau, em conjunto com a Associação Portuguesa de Bancos, Associação Moçambicana de Bancos, Associação Santomense de Bancos e a Associação Profissional de Bancos e Estabelecimentos Financeiros da Guiné Bissau. “A importância [do protocolo] é muito grande, por não só permitir uma maior cooperação com os países de expressão portuguesa, como também a sua articulação com a China e com o mercado chinês”, afirmou o secretário-geral da Associação Portuguesa de Bancos. Norberto Rosa lembrou que na sexta-feira, “curiosamente, e por coincidência, deu-se a emissão dos ‘Panda Bonds’, [sendo] que [Portugal] foi o primeiro país da área do euro a fazer essa emissão, o que mostra perfeitamente o bom relacionamento actual existente com um país com a dinâmica de desenvolvimento da China, Portugal e todos os outros países de expressão portuguesa”, justificou.
Comércio | Importações de países lusófonos subiram 16,4 por cento Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]M[/dropcap]acau importou nos primeiros quatro meses do ano mercadorias dos países lusófonos no valor de 298 milhões de patacas, mais 16,4 por cento em comparação a igual período de 2018, divulgaram as autoridades do território. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), Portugal exportou para Macau, nos primeiros quatro meses do ano, 135,33 milhões de patacas em mercadorias, um aumento de 29,79 milhões de patacas em relação ao período homólogo do ano passado. De acordo com os dados da DSEC, as exportações vão no sentido inverso. Macau exportou para os países de língua portuguesa, entre Janeiro e Abril, 258 mil patacas menos 51,2 por cento em termos anuais, aumentando assim o défice da balança comercial com os lusófonos. No total, as exportações do território subiram 12,9 por cento até final de Abril, para 4,59 mil milhões de patacas, e apesar de as importações gerais terem diminuído 1,1 por cento, para 28,66 mil milhões de patacas, o défice da balança comercial aumentou para 24,07 mil milhões de patacas.
Renminbi | Macau pode ser relevante na internacionalização da moeda Sofia Margarida Mota - 3 Jun 2019 As relações de cooperação económica entre o território e os países de língua portuguesa podem ser utilizadas no processo de internacionalização do Renminbi, considera Lionel Leong. O secretário para a Economia e Finanças defendeu ainda a criação e um centro de formação de talentos financeiros em Macau [dropcap]M[/dropcap]acau, enquanto plataforma entre a China e os países lusófonos pode contribuir para a internacionalização do Renminbi. A ideia foi deixada pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, na Conferência dos Governadores dos Bancos Centrais e dos Quadros da Área Financeira entre a China e os Países de Língua Portuguesa na passada sexta-feira. “Temos expectativas de que através de uma articulação exacta entre os novos sectores das actividades financeiras com características próprias, os elementos e os componentes integrantes que sustentam a plataforma de prestação de serviços financeiros entre a China e os países de língua portuguesa de Macau possam ser continuamente enriquecidos, assim como o aproveitamento pleno da rede de conexão existente entre Macau e os países de língua portuguesa no sentido de promover o aprofundamento contínuo da cooperação financeira recíproca, contribuindo para o processo de internacionalização do Renminbi”, disse o secretário, de acordo com uma nota da Autoridade Monetária de Macau. O governante exaltou ainda a emissão recente de obrigações Panda efectuada por Portugal “com grande sucesso”. Lionel Leong espera também que “Macau possa prestar serviços relacionados com a emissão de obrigações, principal actividade do mercado de capitais”, contribuindo para o aumento do número de projectos de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. Talentos financeiros Na área financeira, o secretário deixou ainda expresso o desejo de transformar Macau num centro de formação de talentos tendo em conta as relações com os países lusófonos. Para o efeito, o território já está a desenvolver intercâmbios com as instituições de ensino superior e a “aproveitar as capacidades dos peritos chineses nesta matéria acrescentou Leong. No mesmo encontro, Benjamin Chan, presidente do conselho de administração da autoridade monetária de Macau sublinhou o crescimento das transacções entre a China e os países de língua portuguesa “de um nível de 18,3 mil milhões de dólares americanos (em 2004) para um valor próximo dos 150 mil milhões de patacas (em 2018)”. O responsável destacou o alargamento de trocas comerciais além do comércio de mercadorias, abrangendo agora áreas como as infra-estruturas, os recursos naturais e as finanças”. Criação de bolsa de valores em estudo A criação da bolsa de valores de Macau vai ser alvo de estudos. A ideia foi deixada pelo presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), Benjamin Chan à margem da Conferência dos Governadores dos Bancos Centrais e dos Quadros da Área Financeira entre a China e os Países de Língua Portuguesa, de acordo com a Rádio Macau. “Macau vai fomentar este papel no âmbito da cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. Preparamo-nos para designar uma companhia para elaborar estudos sobre a viabilidade da criação, em Macau, desta bolsa de valores”, disse citado pela mesma fonte, sendo que a ideia de se criar uma bolsa de valores em Macau remonta à década de 1980.
Ho Iat Seng rejeita emissão de parecer sobre o “massacre de Tiananmen” Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] pedido feito pelos deputados pró democratas Sulu Sou, Ng Kuok Cheong e Au Kam San , ao presidente da Assembleia Legislativa para a emissão de um voto sobre “o massacre de Tiananmen” foi rejeitado. Na resposta de Ho Iat Seng, publicada por Sulu Sou no Facebook, pode ler-se que a proposta apresentada pelos pró-democratas não está de acordo com as normas sobre emissão de voto que só se aplicam a “congratulação, pesar, protesto, saudação, louvor e censura”. De acordo com o presidente da AL, esta emissão de voto não está no âmbito do organismo, “não tendo a AL competência para tratar da matéria”. Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Sulu Sou emitiram no mês passado, em conjunto, um pedido para uma emissão de votos relativamente ao “30º aniversário do massacre de Tiananmen”, a 4 de Junho de 1989. Os pró-democratas apresentaram ainda uma proposta para criar uma comissão da Assembleia Legislativa para investigar os acontecimentos de 4 de Junho de 1989, na Praça de Tiananmen em Pequim. Dos propósitos Os deputados apontavam quatro objectivos. O primeiro passava por “realizar uma investigação independente e justa” sobre os acontecimentos de 1989 em Pequim. O segundo, por descobrir o que aconteceu às vítimas e informar as famílias sobre os acontecimentos que envolveram os seus familiares. No terceiro ponto, os deputados pró-democratas sublinham a necessidade de compensar os familiares pelas perdas, “de acordo com a lei”. Finalmente, Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Sulu Sou defendem que é preciso responsabilizar criminalmente as pessoas que ordenaram que as tropas carregassem sobre os manifestantes.
Judas cobrou 100 mil para colocar emblema da China na AL Hoje Macau - 3 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] instalação do emblema nacional da China na Assembleia Legislativa, requisito obrigatório à luz da nova lei dos símbolos nacionais, custou 98,5 mil patacas e foi feita em 14 dias pela empresa Judas Ung E.I.. A informação consta no portal das Obras Públicas. A adjudicação do trabalho foi feita por concurso público ao qual concorreram outras quatro propostas. A vencedora apresentou o preço mais baixo, assim como o prazo de execução. A proposta mais elevado tinha sido apresentada pela empresa Va Tat Hong Material e Sistemas Anti-Fogo, que pretendia receber 376,7 mil patacas por um trabalho com a duração de 30 dias. A segunda proposta mais barata pertenceu à Companhia de Construção e Engenharia Civil Ip Fong, com preço de 110,5 mil patacas e um prazo de execução de 25 dias.
Metro Ligeiro | Governo vai reduzir autocarros para evitar competição João Santos Filipe - 3 Jun 2019 O Metro Ligeiro vai entrar em funcionamento na Taipa até Dezembro. Para evitar a competição entre autocarros e o novo meio de transporte, o Executivo prepara-se para alterar os percursos actuais [dropcap]O[/dropcap] Governo vai reduzir o número de autocarros ou suprir parte das rotas actuais, quando o Metro Ligeiro entrar em funcionamento na Taipa. O ponto da situação foi feito na sexta-feira, pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, que esteve reunido com a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas. A informação foi logo avançada por Raimundo do Rosário, após a reunião, quando respondia às questões em chinês. Mais tarde foi confirmada pelo presidente da comissão, o deputado Mak Soi Kun. “O Governo disse-nos que o serviço de autocarro e metro não vão concorrer entre si. Quando o metro entrar em funcionamento vai haver um ajustamento nos percursos de alguns autocarros”, apontou o legislador. Já no que diz respeito ao subsídio dos autocarros, Governo e deputados esperam que a fasquia para o metro ultrapasse os mil milhões de patacas, como já havia sido anunciado anteriormente. Porém, Raimundo do Rosário deixou a garantir quem em Dezembro o esquema de financiamento com verbas públicas dos transportes não vai sofrer alterações. Ou seja, independentemente dos rendimentos dos cidadãos todos têm direito ao mesmo desconto. Os idosos, estudantes e pessoas com deficiências vão ter igualmente benefícios no preço dos bilhetes. “Neste momento os subsídios são cegos. Independentemente do senhor ser pobre ou rico paga três patacas. O idoso é rico ou pobre, não paga. O estudante é rico ou pobre e paga metade. No metro também será assim. É o sistema que vigora em Macau”, disse o secretário. Anteriormente, Raimundo do Rosário tinha levantado questões sobre este modelo, porém explicou que se tratou de uma opinião pessoal. “Não sou contra o modelo. Tudo isto está estabelecido e há diferentes pontos-de-vista. Eu às vezes partilho as minhas opiniões pessoais, mas não é mais do que isso”, clarificou. Actualmente o Governo subsidia 70 por cento dos bilhetes e os restantes 30 por cento são assumidos pelos passageiros. Assim para o corrente ano foram orçamentados 1,03 mil milhões de patacas para o subsídio. Apesar da reunião ter previsto o plano dos gastos com o metro e autocarros além de 2019, durante o encontro o tema não foi abordado. Assim como também não foram discutidas as alterações e financiamento dos novos contratos de concessão para as operadoras de autocarros: “Era um tema que não fazia parte da reunião”, justificou Mak Soi Kun. Até Dezembro o Metro Ligeiro deve começar a operar na Linha da Taipa. No que diz respeito a Seac Pai Van, o concurso para a atribuição dos trabalhos deve decorrer durante o terceiro trimestre. Já as obras da Barra devem ficar concluídas em 2023. Por outro lado, perante os deputados, Raimundo do Rosário recusou assumir qualquer compromisso face à linha que vai passar pela Zona A dos aterros e fazer a ligação às Portas do Cerco. Tal prende-se com o facto do mandato do Governo terminar já em Dezembro deste ano.
Acontecimentos de Tiananmen noticiados em Portugal como “banho de sangue” Hoje Macau - 3 Jun 2019 Há 30 anos, os acontecimentos na Praça Tiananmen foram noticiados nos jornais portugueses como um “banho de sangue” e geraram preocupações no poder político em Portugal. Hoje, em Lisboa, a Amnistia Internacional organiza uma acção de rua para recordar a repressão contra o movimento pró-democracia protagonizado por estudantes [dropcap]A[/dropcap] imprensa portuguesa noticiou, há 30 anos, o massacre de Tiananmen como “um banho de sangue”, com multidões a defenderem-se com paus e pedras dos tanques e balas com que o governo chinês tentava aniquilar o movimento pró-democracia. Há seis semanas que os estudantes ocupavam a praça de Tiananmen, no centro de Pequim, para exigir reformas democráticas, num movimento a que se juntaram muitos cidadãos e que começava a ter eco em outras cidades chinesas. Na noite de 3 para 4 de Junho, os confrontos com o exército intensificaram-se e tropas forçaram a entrada no reduto ocupado pelos estudantes. Um telex emitido pela Lusa reportava: “Pequim entrou hoje no caos, com os soldados a dispararem indiscriminadamente sobre multidões exasperadas de cidadãos desarmados, enfrentando a morte para protestarem contra o que descrevem como os seus dirigentes fascistas”. As embaixadas estrangeiras preparavam planos de retirada dos seus cidadãos e aconselhavam os residentes a não saírem de casa. Os jornais davam conta de milhares de vítimas, com base em testemunhos, manifestantes e fontes diplomáticas. A China apenas reconheceu algumas centenas, entre soldados e manifestantes, invocando razões de segurança nacional para justificar o massacre. As imagens que chegavam de Pequim chocavam o mundo. À comunidade internacional exigiam-se medidas e criticava-se a falta de acção. Os jornalistas debatiam-se com apreensões de materiais, censura e uma lei marcial que duraria um ano, como noticiava a Capital em 1990: “Tiananmen limpa de tropas. Levantada Lei Marcial em Pequim em oito meses”. Preocupação lusitana O movimento ganhara força nas universidades meses antes do massacre, onde os estudantes decretaram uma greve geral. Em Maio, a demissão de Deng Xiaoping e dos principais líderes chineses, como o primeiro-ministro, Li Peng, era exigida nas ruas de Pequim por um milhão de pessoas, numa manifestação de apoio a “centenas de estudantes em greve de fome”, conforme noticiou o Europeu. O semanário Independente, à época dirigido por Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, revelava o plano da diplomacia portuguesa para lidar com o problema, dias depois do massacre. “Portugal manda Roberto Carneiro avisar a China” foi a manchete de 9 de Junho do semanário, para noticiar a viagem do então ministro da Educação a Macau, a pretexto do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. A ideia colhia o apoio do Presidente da República, Mário Soares, e do primeiro-ministro, Cavaco Silva, evitando-se assim envolver directamente o ministro dos Negócios Estrangeiros, João de Deus Pinheiro, o que daria “um caráter internacional” à viagem. De acordo com o jornal, Roberto Carneiro levava no bolso uma mensagem de Soares e recados de Cavaco. Na mensagem, citada pelo jornal, Soares transmitia “grande preocupação” pela situação na China, afirmando esperar que não ameaçasse “a liberdade e segurança” do território de Macau, então sob administração portuguesa. O chefe de Estado português falava ainda da “necessidade de restabelecimento dos equilíbrios sociais e políticos na China” como única forma possível de “cumprir em absoluto” a Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre o Futuro de Macau, a que Portugal se afirmava “inteiramente fiel”. Durante a deslocação, Roberto Carneiro deveria também manter contactos com políticos e empresários, para aferir “sentimentos e intenções”, e proferir duas declarações, a primeira, à chegada, para manifestar a “solidariedade de Lisboa” com a população portuguesa de Macau, e uma segunda com alusão aos acontecimentos de Pequim, “condenando o uso arbitrário de violência sobre civis desarmados”. A perseguição contra os líderes do movimento estudantil continuou muito para além de Junho de 1989, com alguns a procurarem asilo nos Estados Unidos e na Europa. AI recorda movimento A Amnistia Internacional (AI) Portugal vai assinalar os 30 anos do massacre com uma manifestação em Lisboa, um abaixo-assinado em defesa de um activista preso na China e o envio de mil postais ao Presidente chinês. A manifestação está marcada para hoje, dia 3, data que marca o início da “invasão da Praça de Tiananmen” pelo exército chinês, disse à agência Lusa Teresa Nogueira, coordenadora da AI Portugal para as questões da China, recordando “as imensas mortes” civis que nunca foram reconhecidas pelas autoridades chinesas. “Temos também postais já editados, dirigidos a Xi Jinping, dizendo que as famílias das vítimas ainda esperam que seja feita justiça, 30 anos depois”, indicou, alertando que continuam a ser detidos cidadãos por lembrarem os acontecimentos que culminaram no massacre de estudantes e outros civis reunidos na principal praça do centro de Pequim em defesa de reformas democráticas. Mais uma vez será pedido às autoridades que reconheçam publicamente as vítimas, que levem a tribunal “os culpados pelas violações de direitos humanos” e que “acabem com a perseguição a todos aqueles que querem relembrar” os acontecimentos de há 30 anos. Os postais serão enviados por todos os grupos da Amnistia em Portugal, de norte a sul do país. Paralelamente, decorrerá uma recolha de assinaturas pela libertação de Chen Bing, “um activista que está preso por querer relembrar” o massacre, frisou. Em entrevista à Lusa, Teresa Nogueira recordou que pouco depois dos acontecimentos, a China reconheceu a existência de cerca de 300 feridos e 30 mortos, entre soldados e estudantes, mas afirma que “foram muito mais, foram milhares de pessoas mortas e pensa-se que centenas de estudantes”. Três décadas depois, as famílias continuam a pedir justiça, quer em colectivo, como as “Mães de Tiananmen”, quer individualmente, como é o caso de Chen Bing, tentando que seja feita uma reapreciação dos acontecimentos em que, diz Teresa Nogueira, as vítimas “ainda são consideradas culpadas pela tal revolta que visaria acabar com a estabilidade social”, na versão das autoridades chinesas. “Logo a seguir, os próprios familiares das vítimas começaram a ser perseguidos, de tal maneira que as pessoas tinham medo de dizer que familiares seus tinham sido mortos nos acontecimentos”, lembrou a activista. Perseguições continuam Ainda hoje, segundo a responsável da AI Portugal, grupos de familiares directos das vítimas continuam a ser perseguidos e a ver as movimentações “muitíssimo restringidas”. São pessoas que “de vez em quando estão em prisão domiciliária, são constantemente vigiadas, por vezes cortam-lhes a Internet, as comunicações”, relatou. Teresa Nogueira citou o caso de uma professora universitária em Pequim, cujo filho de 17 anos foi baleado no coração no dia 3 de Junho de 1989. “O marido já morreu, sem ter visto a justiça ser feita”, lamentou. “Além disso, ainda actualmente aqueles que querem relembrar o que aconteceu e evitar que caia no esquecimento – tal como as autoridades chinesas tudo têm feito para que aconteça – continuam a ser perseguidos”, reiterou, evocando um caso recente. “Em 2016, quatro activistas foram detidos porque produziram um vinho branco chamado Baijiu – um vinho típico chinês – e que engarrafaram, cuja marca registaram e que, depois de colocados os rótulos, puseram à venda”, contou. Mediante um jogo de palavras, os rótulos diziam “Lembrem-se de 89 – 04 de Junho”. As garrafas estiveram à venda cerca de três semanas, até que as autoridades chinesas descobriram o que estava a passar-se e prenderam os quatro activistas”, afirmou Teresa Nogueira. “Apenas foram julgados no princípio de Abril deste ano, depois de terem estado desde 2016 até agora presos sem julgamento”, acrescentou. Três elementos deste grupo foram condenados a três anos de prisão, com pena suspensa. Chen Bing foi condenado a três anos e meio e continua preso. “É em relação a ele que vamos recolher assinaturas, durante a manifestação e vamos também colocar uma petição online”, avançou, indicando que está a decorrer, a nível mundial, uma acção urgente neste sentido. Nos postais a enviar ao Presidente da República Popular da China constará a foto que celebrizou um dos manifestantes, sozinho frente a uma fila de tanques, e cujo nome e paradeiro permaneceram desconhecidos até hoje. Macau, Taiwan, Hong Kong, Estados Unidos e Reino Unido são alguns dos territórios onde a data será lembrada, com vigílias, debates e outros eventos públicos, à semelhança da manifestação de Lisboa, que decorrerá na avenida 24 de Julho, frente à sede da EDP. Algumas secções da AI decidiram também pedir aos parlamentos dos respectivos países que leiam um de três textos enviados pelo secretariado internacional: a declaração escrita em cativeiro pelo falecido activista Liu Xiaobo, quando da atribuição do Prémio Nobel da Paz, a Carta 08, um manifesto de que foi o primeiro subscritor e que esteve na origem da detenção ou uma carta das “Mães de Tiananmen”.
Zhao Ziyang, o líder que aceitou dialogar com Tiananmen, foi preso e ostracizado Hoje Macau - 2 Jun 2019 João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]O[/dropcap] único alto quadro do regime chinês que há três décadas dialogou com os estudantes que lideravam o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen acabou votado ao ostracismo, passando os últimos anos de vida em vigilância domiciliária. Os trágicos acontecimentos ocorridos na noite de 3 para 4 de Junho de 1989 ditaram o destino do então secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC) Zhao Ziyang e puseram fim à esperança de qualquer reforma política no país. Iniciado por estudantes da Universidade de Pequim, o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen foi esmagado pelos tanques do exército, ao fim de sete semanas de protestos. Em meados de Abril, o luto pela morte de Hu Yaobang, defensor de uma maior liberalização na China, mas afastado da cúpula do Partido Comunista por “falta de firmeza face ao liberalismo burguês”, tornou-se rapidamente num protesto político. Entre os estudantes, que começaram por exigir a “reabilitação” de Hu e o reconhecimento do seu trabalho reformista, começou-se também a gritar “Abaixo a ditadura”, “Viva a democracia e a ciência”. A contestação estudantil alastrou-se a toda a sociedade chinesa e, em meados de maio, o Governo decretou a lei marcial em Pequim. Durante os protestos, Zhao abriu canais de diálogo directo entre os estudantes e o Governo, visando direccionar a China no que considerava “um rumo assente na democracia e num Estado de direito”. O então secretário-geral do PCC, que morreu em 2005, ordenou uma cobertura jornalística das manifestações estudantis com inédita abertura, e pôs em andamento várias reformas legislativas, visando reformar a imprensa ou o ensino. Após o Governo ter decretado a lei marcial, e sentindo que a facção mais ortodoxa do partido estava a ganhar vantagem, Zhao deslocou-se a Tiananmen para implorar aos estudantes que saíssem, se salvassem e negociassem com o Partido. “Nós já somos velhos, já não contamos”, disse-lhes. Mas Zhao Ziyang acabou apagado da história chinesa por acções que o partido considerou terem sido “graves erros”. A China, que passou os últimos trinta anos a tentar apagar o 4 de Junho da memória colectiva, é hoje a segunda maior economia do mundo e principal potência comercial do planeta, tendo-se convertido num ‘player’ capaz de disputar a liderança global com os Estados Unidos. O contrato social selado entre o Partido Comunista e o povo chinês é claro: o partido mantém uma autoridade indisputada e os privilégios da elite dominante e, em troca, assegura o crescimento económico, melhoria dos padrões de vida e elevação do estatuto global do país. Mas Pequim terá abdicado de aplicar o que Zhao considera o “maior teste” ao socialismo: a abertura política. O seu objectivo era transformar a China num Estado moderno, democrático e socialista até ao ano 2000. Desde que assumiu a liderança da China, em 2013, o actual Presidente chinês, Xi Jinping, tornou-se o centro da política chinesa e é hoje considerado um dos líderes mais fortes na história da República Popular, comparável ao seu fundador, Mao Zedong. No ano passado, Xi conseguiu abolir o limite de mandatos para o seu cargo, criar um organismo com poder equivalente ao do executivo, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promover aliados a posições chave do regime. Sob a sua direcção, a China tem reduzido liberdades na sociedade civil, meios académicos ou Internet. Entre uma sociedade cada vez mais próspera e instruída, o regresso a um poder mais centralizado e autoritário não será bem aceite, mas o país está hoje a desenvolver e testar tecnologia para identificar e vigiar potencias dissidentes, criando uma espécie de jaula virtual suportada pela inteligência artificial, câmaras com reconhecimento facial ou a análise de dados massivos (‘Big Data’). “Em 1989, o regime foi apanhado de surpresa”, explica Louisa Lim, autora do livro “The People’s Republic of Amnesia: Tiananmen Revisited”, à Lusa, “mas não pretende cometer o mesmo erro duas vezes”.
Repressão em Tiananmen transformou país em República Popular da Amnésia, diz Louisa Lim Hoje Macau - 2 Jun 2019 Por João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]O[/dropcap] exército chinês matou há 30 anos, no centro de Pequim, estudantes desarmados que pediam reformas políticas, expondo o carácter repressivo do regime apesar da abertura económica promovida, transformando o país na República Popular da Amnésia, segundo a escritora Louisa Lim. Os acontecimentos sangrentos ocorridos na noite de 3 para 4 de Junho de 1989, quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de protestos, são esta semana lembrados em várias partes do mundo, mas, na China, as autoridades conseguiram com sucesso assegurar uma amnésia colectiva sobre o sucedido. Os protestos ganharam força durante maio de 1989, pouco após a morte do líder reformista Hu Yaobang, que dividiu a hierarquia do Partido Comunista (PCC) em facções. Hu era tido como um protector dos intelectuais e defensor de uma maior liberalização, numa altura em que a liderança chinesa lançava reformas económicas. Ficou também conhecido por iniciar uma discussão pública para pôr fim ao “culto cego” ao fundador da República Popular, Mao Zedong, na sequência da Revolução Cultural (1966-1976), uma década vista hoje como catastrófica. Mas os desvios da linha ortodoxa do partido – Hu chegou a afirmar que as teorias marxistas-leninistas defendidas por Mao não se aplicavam à China moderna e a pressionar por uma governação mais transparente – levaram à sua queda. Na sequência de uma primeira vaga de protestos estudantis, em 1986, Hu foi criticado por ser permissivo com os manifestantes, e acabou por ser destituído pela cúpula do partido, em Janeiro de 1987, por “falta de firmeza face ao liberalismo burguês”. O luto após a sua morte rapidamente se tornou num protesto político. “A morte de Hu caiu como uma faísca na atmosfera altamente inflamável, marcada pela divisão entre a elite e insatisfação popular”, segundo os autores dos Papéis de Tiananmen, uma compilação de documentos secretos sobre os acontecimentos de 1989. Os estudantes “lançaram actividades espontâneas de luto, como uma oportunidade para expressar a sua insatisfação com a direcção política do país”, lê-se naqueles documentos. “Morreu o homem errado”, começou por se ler em cartazes afixados nas universidades, e depois nas ruas de Pequim, antes de os protestos ganharem força na Praça de Tiananmen. Entre os estudantes, que começaram por exigir a “reabilitação” de Hu e o reconhecimento do seu trabalho reformista, começou-se também a gritar “Abaixo a ditadura”, “Viva a democracia e a ciência”. Comboios cheios de manifestantes seguiam todos os dias para Pequim. Cerca de um milhão de pessoas chegou a ocupar a Praça Tiananmen. A contestação estudantil alastrou a toda a sociedade chinesa e, em meados de maio, o Governo decretou a lei marcial em Pequim. Na noite de 3 de Junho, paraquedistas da 15.ª Divisão da Força Aérea chinesa, com as caras cobertas, foram transportadas por passagens secretas para o centro da capital, para, em conjunto com polícias paramilitares e os comandos, suprimirem os manifestantes. Colunas de tanques chegaram dos subúrbios. No dia seguinte, o sangue dos estudantes, desarmados, correu em Pequim. Desde então, a China tornou-se, nas palavras da escritora Louisa Lim, a República Popular da Amnésia. No ano seguinte, 12% dos jornais foram fechados, 32 milhões de livros apreendidos, 150 filmes proibidos e muitas dezenas de milhares pessoas presas. Os protestos produziram uma das mais icónicas fotografias do século XX – a imagem de um homem a bloquear a passagem de um tanque -, mas que continua praticamente desconhecida no país onde foi registada. O contrato social selado entre o Partido Comunista e o povo chinês é claro: o partido mantém uma autoridade indisputada e os privilégios da elite dominante e, em troca, assegura o crescimento económico, melhoria dos padrões de vida e elevação do estatuto global do país. Desde que assumiu a liderança da China, em 2013, o actual Presidente chinês, Xi Jinping, tornou-se o centro da política chinesa e é hoje considerado um dos líderes mais fortes na história da República Popular, comparável ao seu fundador, Mao Zedong. No ano passado, conseguiu abolir o limite de mandatos para o seu cargo, criar um organismo com poder equivalente ao do executivo, para supervisionar a aplicação das suas políticas, e promover aliados a posições chave do regime. Sob a sua direcção, a China tem reduzido liberdades na sociedade civil, meios académicos ou Internet. Entre uma sociedade cada vez mais próspera e instruída, o regresso a um poder mais centralizado e autoritário não será bem aceite, mas o país está hoje a desenvolver e testar tecnologia para identificar e vigiar potencias dissidentes, criando uma espécie de jaula virtual suportada pela inteligência artificial, câmaras com reconhecimento facial ou a análise de dados massivos (‘Big Data’). “Em 1989, o regime foi apanhado de surpresa”, explica Louisa Lim, à Lusa, “mas não pretende cometer o mesmo erro duas vezes”.
China fecha uma zona do Mar do Sul para treino militar Hoje Macau - 2 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] Administração chinesa anunciou o encerramento, entre hoje e terça-feira, de uma zona do Mar do Sul da China para realização de treinos militares. A Administração de Segurança Marítima da China informou que os exercícios serão hoje realizados durante todo o dia, decorrendo ainda durante meio dia na terça-feira, numa área próxima às ilhas Paracel. A China reivindica todo o Mar do Sul da China como seu território, opondo-se fortemente à actividade naval na área por outros países. Outros cinco governos têm reivindicações sobrepostas, sobretudo relativas às ilhas Spratly, a Leste. Esta faixa do Mar do Sul da China é rica em áreas de pesca, representando anualmente cerca de cinco triliões de dólares norte-americanos em comércio. Recentemente, a zona tem tido uma forte presença chinesa, uma forma de pressão da China para fazer reconhecer as suas pretensões. Pequim construiu, inclusive, ilhas artificiais para poder estar mais presente no local.
China adoptou “política correcta” na repressão à manifestação na Praça Tiananmen em 1989 Hoje Macau - 2 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] repressão de 1989 à manifestação na Praça Tiananmen em Pequim foi a política correta a ser adoptada, disse hoje o ministro da Defesa chinês. “Este incidente foi uma turbulência política e o Governo central tomou medidas para acabar com essa turbulência, o que foi a política correta”, disse o general Wei Fenghe durante um discurso num fórum de segurança em Singapura. Perante uma plateia que integrava ministros da Defesa, altos militares e especialistas, o general Wei perguntou por que razão a comunidade internacional mantém a afirmação de que a China “não lidou com o incidente adequadamente”. “Estes 30 anos provaram que a China viveu grandes mudanças”, disse ele, acrescentando que, graças à acção do governo, “a China desfrutou de estabilidade e desenvolvimento”. Há 30 anos, Pequim foi o epicentro dos protestos encabeçados por estudantes, tendo sido mortos centenas, se não mais de mil manifestantes na Praça Tiananmen em 4 de Junho de 1989.
Pequim responde a Washington com criação de lista negra de empresas estrangeiras Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês vai criar a sua própria lista negra de empresas estrangeiras “não fiáveis”, anunciou o Ministério do Comércio, em plena rivalidade comercial e tecnológica com os Estados Unidos. Este anúncio surge depois de o gigante das telecomunicações chinês Huawei ter sido colocado em meados deste mês por Washington numa lista de empresas suspeitas às quais as entidades norte-americanas não podem vender equipamentos tecnológicos. A Huawei, que depende dos ‘chips’ electrónicos de fabrico norte-americano para equipar os seus telemóveis, foi assim severamente atingida na sua própria existência, referem analistas citados pela AFP. A medida anunciada esta sexta-feira por Pequim aparece como uma resposta à ofensiva da administração Trump contra a Huawei. “As empresas, organizações e particulares estrangeiros que não obedecerem às regras do mercado, que se afastam do espírito de um contrato, que impõem embargos ou param de fornecer empresas chinesas por razões não comerciais e danificam gravemente os seus interesses e direitos legítimos serão colocados numa lista de entidades não confiáveis”, disse o porta-voz do Ministério do Comércio da China, Gao Feng. Esta nova medida é anunciada na véspera da entrada em vigor de novas taxas aduaneiras punitivas na China sobre produtos norte-americanos, quase um ano depois do início das hostilidades comerciais desencadeadas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Portugal exibe selecção de documentos da colecção “Chapas Sínicas” em Pequim Hoje Macau - 1 Jun 2019 [dropcap]U[/dropcap]ma exposição com uma centena de documentos seleccionados da colecção “Chapas Sínicas” – Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886), vai ser inaugurada a 10 de Junho, em Pequim, na China. De acordo com a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), a iniciativa, conjunta com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal, está inserida nos 40 anos de relações diplomáticas estabelecidas entre Portugal e a China. Também se enquadra no 20.º aniversário da passagem da soberania de Macau para a República Popular da China, com celebrações ao longo de 2019. A exposição “Chapas Sínicas – Histórias de Macau na Torre do Tombo” será integrada no Festival de Cultura de Portugal na China, e apresentada no Museu Nacional de Livros Clássicos, em Pequim. Aberta ao público de 11 de Junho a 26 de Julho, a mostra apresentará uma selecção de mais de cem documentos, escolhidos de entre os cerca de mais de 3.600 que constituem a colecção “Chapas Sínicas” – Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886). De acordo com a DGLAB, os registos desta correspondência “reflectem as condições da sociedade, a vida das pessoas, as interacções político-administrativas, a gestão urbanística, a administração da justiça e tributária, e outros assuntos de natureza religiosa e comercial que ocorreram em Macau durante a dinastia Qing”. A colecção “Chapas Sínicas” foi alvo de uma candidatura conjunta do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal e do Arquivo Histórico da Região Administrativa Especial de Macau, e encontra-se, desde 30 de Outubro de 2017, inscrita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) no Registo da Memória do Mundo. Primeiramente exposta no dia 6 de Julho de 2018 no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, no âmbito da edição inaugural do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, a exposição “suscitou enorme interesse e afluência de público”, recorda a DGLAB. Após Pequim, será exposta em Portugal, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Outubro de 2019. A cerimónia de inauguração contará com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e terá lugar no dia 10 de Junho, pelas 15h00 horas.