Covid-19 | Portugal com 119 mortes e mais de 5.900 infectados

[dropcap]P[/dropcap]ortugal regista hoje 119 mortes associadas à covid-19, mais 19 do que no sábado, e 5.962 infectados (mais 792), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).

O relatório da situação epidemiológica em Portugal, com dados actualizados até às 24:00 de sábado, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortes (61), seguida das regiões do Centro e de Lisboa e Vale do Tejo, com 28 cada, e do Algarve, que hoje regista dois mortos. Relativamente a sábado, em que se registavam 100 mortes, hoje observou-se um aumento de 19%. De acordo com dados da DGS, há 5.962 casos confirmados, mais 792 (um aumento de 15,3%) face a sábado.

Das 100 mortes registadas, 70 tinham mais de 80 anos, 27 tinham idades entre os 70 e os 79 anos, 15 entre os 60 e os 69 anos e cinco entre os 50 e os 59 anos. Pela primeira vez o boletim regista mortos na faixa etária dos 40 aos 49 anos (duas mulheres).

Os dados da DGS, que se referem a 75% dos casos confirmados, precisam que Lisboa é a cidade que regista o maior número de casos de infecção pelo coronavírus SARSCov2 (594), seguida do Porto (317 casos), Vila Nova de Gaia (351), Maia (296), Matosinhos (294), Gondomar (242) e Braga (208). Desde o dia 1 de Janeiro, registaram-se 38.042 casos suspeitos, dos quais 5.508 aguardam resultado laboratorial.

O boletim epidemiológico indica também que há 26.572 casos em que o resultado dos testes foi negativo e que 43 doentes recuperaram. Das 5.962 pessoas infectadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), a grande maioria (5.476) está a recuperar em casa, 486 (mais 68, +16,2%) estão internadas, 138 (mais 49, +55%) dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos.

A região Norte continua a registar o maior número de infecções, totalizando 3.550, seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo, com 1.478 casos, da região Centro (709), do Algarve (108) e do Alentejo, que hoje apresenta 41 casos. Há ainda 33 pessoas infectadas com covid-19 nos Açores, 43 na Madeira.

A DGS regista ainda 17.785 contactos em vigilância pelas autoridades (menos 2.142). A faixa etária mais afectada é a dos 40 aos 49 anos (1.146), seguida dos 50 aos 59 anos (1.084), dos 30 aos 39 anos (902) e dos 60 aos 69 anos (850).

Há ainda 64 casos de crianças com idades até aos nove anos, 138 de jovens com idades entre os 10 e os 19 anos e 588 com idades entre os 20 e os 29 anos. Os dados indicam também que há 611 casos de pessoas com idades entre os 70 e os 79 anos e 579 com mais de 80 anos.

Segundo o relatório da DGS, 124 casos resultam da importação do vírus de Espanha, 93 de França, 41 do Reino Unido, 28 de Itália, 24 da Suíça, 21 dos Emirados Árabes Unidos, 13 de Andorra, 10 do Brasil, oito Países Baixos, sete da Alemanha, seis da Bélgica, cinco da Argentina, cinco dos EUA, quatro da Áustria, quatro em Cabo Verde e quatro no Canadá.

O boletim dá ainda conta de três casos importados da Índia e outros três de Israel e dois casos do Egito, dois da Irlanda e outros dois da Jamaica. Foram ainda importados um caso da Áustria/Alemanha, Austrália, Chile, Cuba, Dinamarca, Indonésia, Irão, Luxemburgo, Malta, Maldivas, Noruega, Paquistão, Polónia, Qatar, República Checa, Tailândia, Venezuela e Ucrânia.

Segundo a DGS, 62% dos doentes positivos ao novo coronavírus apresentam como sintomas tosse, 52% febre, 35% dores musculares, 29% cefaleias, 24% fraqueza generalizada e 20% dificuldade respiratória. Esta informação refere-se a 73% dos casos.

Portugal, onde o primeiro caso foi confirmado a 2 de Março e que está em estado de emergência até quinta-feira, entrou já na terceira e mais grave fase de resposta à doença (Fase de Mitigação), activada quando há transmissão local, em ambiente fechado, e/ou transmissão comunitária.

Covid-19 | Espanha regista novo recorde com 838 mortos num só dia

[dropcap]E[/dropcap]spanha registou, nas últimas 24 horas, 838 mortos com o novo coronavírus, voltando a aumentar o número de falecidos num só dia e elevando o balanço total para 6.528, de acordo com a última atualização das autoridades sanitárias. Os números do Ministério da Saúde espanhol revelam ainda um aumento de 6.549 no número de infectados, menos do que os 8.189 novos casos anunciados no sábado.

Desde o início da pandemia, o país registou um total de 78.797 casos de covid-19, dos quais 6.528 morreram e 14.709 tiveram alta e são considerados como curados. Na totalidade do país estão ou estiveram hospitalizadas 43.397 pessoas e dessas 4.907 estão ou já estiveram em unidades de cuidados intensivos.

A região com mais casos positivos de covid-19 é a de Madrid, com 22.677 infectados e 3.082 mortos, seguida pela da Catalunha (15.026 e 1.226) e a do País Basco (5.740 e 265), mas há registos de mais falecidos com a pandemia em Castela-Mancha (539) e Castela e Leão (380).

O governo espanhol aprova hoje, num Conselho de Ministros extraordinário, a paralisação de todas as atividades económicas “não essenciais”, medidas que entrarão em vigor a partir desta segunda-feira e até 09 de abril, o último dia de trabalho antes do fim de semana de Páscoa.

A decisão do Governo endurece as medidas já tomadas no quadro do “estado de emergência” que até agora permitiam que, aqueles que não estavam em teletrabalho, podiam deslocar-se até ao seu local de trabalho.

De acordo com o anúncio feito no sábado pelo primeiro-ministro, Pedro Sánchez, pretende-se reduzir ainda mais a mobilidade e o risco de infeção, assim como tentar evitar o colapso nas unidades de cuidados intensivos, quando o pico de contágio chegar.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 640 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 30.000. Dos casos de infecção, pelo menos 130.600 são considerados curados.

O continente europeu, com mais de 351 mil infectados e mais de 21 mil mortos, é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 10.023 mortos em 92.472 casos registados até sábado.

A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, enquanto os Estados Unidos são o que tem maior número de infectados (mais de 121 mil). A China, sem contar com os territórios de Hong Kong e Macau, conta com 81.439 casos (mais de 75 mil recuperados) e regista 3.300 mortes. A China anunciou hoje 45 novos casos, dos quais 44 oriundos do exterior, e mais cinco mortes, numa altura em que o país suspendeu temporariamente a entrada no país de cidadãos estrangeiros, incluindo residentes.

Os países mais afectados a seguir a Itália, Espanha e China são o Irão, com 2.640 mortes reportadas (38.309 casos), a França, com 2.314 mortes (37.575 casos) e os Estados Unidos com 2.010 mortes. Na Alemanha existem mais de 50 mil pessoas infectadas e registaram-se 389 vítimas mortais. O número de mortes causadas pela covid-19 em África subiu para 117 com os casos acumulados a ultrapassarem os 3.900 em 46 países, segundo a mais recente atualização das estatísticas sobre a pandemia.

Covid-19 | Díli quase parada, mesmo sem restrições de circulação no estado de emergência

[dropcap]A[/dropcap] população de Díli parece ter ido mais longe do que as próprias restrições do Governo relativas ao estado de emergência e hoje deixou a cidade praticamente deserta, com cada vez menos gente nas ruas e mais lojas fechadas.

Durante toda a semana esta tendência foi crescendo, com responsáveis nos municípios a reportarem a chegada de muitas famílias provenientes da capital, num movimento que ecoa tempos passados de outros medos.

Quando a situação se agrava – seja no passado pela segurança, como agora pelo medo à covid-19 -, a reação de muitos é abandonar a capital e seguir para o interior do país, um refúgio para muitos, especialmente os que vivem em Díli em situações mais precárias.

Esse sinal viu-se ao longo da semana nas zonas das ‘microlets’ e ‘biscotas’ – os transportes públicos mais usados – nas saídas para sul, leste e oeste da capital, mas até começou pelas ‘angunas’, os camiões amarelos carregados de arroz a sair para outras cidades.

Muitos dos habitantes da capital timorense, incluindo funcionários públicos, optaram por sair das ruas mesmo antes do início do estado de emergência, que começou hoje, e sem que fossem conhecidas as medidas restritivas.

Muitas lojas fecharam, tanto de comerciantes timorenses como de comerciantes chineses e de outros estrangeiros, vários ministérios reportaram menos funcionários – o Governo começou a dispensar funcionários não essenciais – e outros habitantes da cidade simplesmente fecharam-se em casa ou saíram da cidade.

As escolas e as universidades estão fechadas – e assim vão continuar – e todos os momentos de culto passam a ser não presenciais, mesmo os da Páscoa, algo que também ajudou a reduzir a presença de cidadãos nas ruas.

Daí que, hoje, a cidade tenha sido pautada pelo movimento reduzido de pessoas e viaturas, especialmente durante a tarde, com ruas desertas, especialmente as outrora movimentadas zonas comerciais, Colmera e Audian.

Mais reduzida é igualmente a presença de vendedores ambulantes, quer os miúdos que transportam a fruta pendurada em paus de bambu, quer alguns vendedores nos mercados, um pouco por toda a cidade.

O Governo não aprovou restrições à circulação nem restrições comerciais, mas as opções para os cidadãos ficam agora mais reduzidas, sendo suspensos todos os transportes públicos, tanto em terra como marítimos, deixando assim praticamente isoladas as populações do enclave de Oecusse e da ilha de Ataúro.

O transporte de bens e serviços está permitido, mas os navios não podem transportar passageiros. O efeito total das medidas, apesar das menores restrições do que era esperado, só se notarão na segunda-feira, quando os serviços voltarem a funcionar e as lojas a abrir.

Vários proprietários de empresas ouvidos pela Lusa dizem ter já recebido telefonemas de empregados a dizer que não iam trabalhar.

Taiwan oferece-se para acolher jornalistas norte-americanos expulsos pela China

[dropcap]O[/dropcap]s jornalistas norte-americanos expulsos pela China serão “bem-vindos em Taiwan”, garantiu Joseph Wu, ministro dos Negócios Estrangeiros desta ilha, descrita pelas autoridades locais como “um refúgio para a liberdade de expressão” na Ásia.

“Gostaria de vos saudar e dar as boas-vindas a Taiwan, um farol de liberdade e democracia”, escreveu Wu na rede social Twitter, acrescentando que os jornalistas norte-americanos serão acolhidos em Taiwan “com sorrisos e braços abertos”.

Pequim decretou, no início de março, a expulsão de 13 jornalistas do New York Times, Washington Post e Wall Street, em mais uma escalada no clima de tensão com os Estados Unidos da América.

As autoridades chinesas avisaram ainda que os jornalistas expulsos não teriam autorização para trabalhar em Hong Kong, apesar de o território ter autonomia em matéria de emigração.

Covid-19 | Portugueses em Macau arrecadam mais de 440 mil patacas para ajudar Portugal

[dropcap]O[/dropcap] movimento solidário de Macau já conseguiu mais de 440 mil patacas para compra de material médico destinado a Portugal para combater a covid-19, disse hoje à Lusa o presidente do BNU. Carlos Álvares indicou que o montante actual é de 440,327 mil patacas.

A angariação de fundos estende-se até 5 de Abril e foi anunciada na terça-feira por um movimento solidário que junta duas dezenas de entidades e personalidades de Macau. O objectivo é, em cerca de 12 dias, recolher fundos para adquirir equipamento de proteção para os profissionais de saúde em Portugal e material que garanta mais testes para despistar a covid-19.

As entidades criaram uma conta no Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau, com o número 9016556516, sob o nome COVID19 – Portugal Conta Solidariedade.

Entre as várias entidades do território promotoras do movimento conta-se a Casa de Portugal, a Santa da Casa da Misericórdia, a Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau e a Associação de Imprensa em Língua Portuguesa e Inglesa, entre outras.

Na apresentação do movimento, a conselheira das comunidades portuguesas em Macau, Rita Santos, sublinhou à Lusa a importância de se conseguir mobilizar a comunidade, sem esquecer o desafio que representa a aquisição do material na China, bem como a logística de envio para Portugal.

O movimento solidário conta com o apoio institucional do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e do Banco Nacional Ultramarino (BNU).

Em Portugal registam-se 100 mortos e 5.170 infectados, de acordo com a Direcção-Geral da Saúde. Dos infectados, 418 estão internados, 89 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 43 doentes que já recuperaram.

Covid-19 | Com mais de 9.500 infectados, Coreia do Sul impõe quarentena a todos os que chegam ao país

[dropcap]O[/dropcap] governo da Coreia do Sul anunciou hoje que todas as pessoas que chegarem ao país a partir da próxima quarta-feira terão de ficar em quarentena por duas semanas, para evitar a expansão da covid-19.

O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro sul-coreano, Chung Sye-kyun, numa altura em que as autoridades registaram um aumento no número de pessoas que chegam à Coreia do Sul de outros países e que já estão infetadas com o novo coronavírus, que provoca a covid-19.

Segundo os dados mais recentes, a Coreia do Sul registou até agora 9.583 casos de pessoas infectadas pelo vírus, 105 das quais nas últimas 24 horas. Desses novos casos, 41 eram estrangeiros, incluindo 23 da Europa e 14 da América, informou hoje o Centro de Prevenção de Doenças Infecciosas (KCDC) da Coreia.

O primeiro-ministro da Coreia do Sul indicou, em declarações a agência local Yonhap, que a quarentena deverá ser observada por todos os visitantes, independentemente da sua nacionalidade e país de origem, e que, caso não possuam um endereço local, permanecerão em instalações oficiais, com as despesas cobertas por quem chega ao país.

Os turistas europeus já precisavam de cumprir uma quarentena de duas semanas após a chegada à Coreia do Sul, com ou sem sintomas, e os que chegavam dos Estados Unidos tinham de se isolar voluntariamente em casa pelo mesmo período.

“O governo reforçou as medidas de quarentena para aqueles que vêm da Europa e dos Estados Unidos, mas, dada a velocidade com que o vírus se está a espalhar globalmente, precisamos de medidas adicionais”, acrescentou Chung.

Morreu Mécia de Sena, escritora e guardiã do “para sempre” que a ligou ao escritor português Jorge de Sena

[dropcap]A[/dropcap] escritora portuguesa Mécia de Sena, viúva do escritor Jorge de Sena e organizadora da sua obra, morreu este sábado, em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, aos 100 anos, disse à agência Lusa fonte da família.

“Mécia de Sena, a viúva de Jorge de Sena, faleceu esta manhã, 28 de março, em Los Angeles, Califórnia. A família pede a amigos e conhecidos que respeitem a sua privacidade, neste triste momento”, lê-se na mensagem de um dos seus filhos.

Nascida em Leça da Palmeira, em 16 de março de 1920, Mécia de Freitas Lopes Sena era filha do músico e compositor Armando Leça, investigador do “Cancioneiro Musical Popular Português”, e irmã do professor, crítico e historiador Óscar Lopes (1917-2013). Formada em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, detentora do curso do Conservatório de Música do Porto, foi professora, primeiro, e, depois do casamento, em 1949, “colaboradora literária” de Jorge de Sena, e “à altura dele”.

A opinião é do próprio escritor, para quem, “sem o [seu] apoio, não teria sido possível realizar talvez metade do que realizou, quer como autor, quer como professor”, recordou Rui Silvino de Freitas Lopes, na sua crónica familiar, citada pela investigadora Maria Otília Pereira Lage, na obra “Mécia de Sena e a escrita epistolar com Jorge de Sena: Para a história da cultura portuguesa contemporânea”.

As cartas e a escrita de natureza diarística marcam a produção literária de Mécia de Sena, nomeadamente a obra inédita “Flashes”, que Otília Pereira Lage evoca como exemplo de literatura intimista e de expressão “micro-textual”, predominantemente sob “a forma de um diálogo continuado [com Jorge de Sena], que a morte deixara em suspenso”.

A investigadora destaca igualmente “a modernidade” da produção literária de Mécia de Sena, estabelecendo “uma relação possível com a prática de escrita de diários de outros autores”, como Miguel Torga.

“Uma mulher ímpar, corajosamente à altura dos imensos desafios de uma vida intensa, que atravessa as mudanças sociais, políticas e culturais de grande parte do século XX, quer em Portugal, quer no seu longo exílio no Brasil [1959-1965] e nos Estados Unidos da América”, onde se fixou com o marido, após o golpe militar de 1964, que deu origem a 20 anos de ditadura brasileira.

Mécia de Sena casou-se com Jorge de Sena quando este era um engenheiro civil da Junta Autónoma de Estradas (1948-1959). Partiu com ele para o exílio, quando a ditadura do Estado Novo os cercou. Fixaram-se no Brasil, onde o escritor ensinou Literatura, e de onde partiu para a Universidade do Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos, antes de se fixar em Santa Barbara, Califórnia, onde foi catedrático de Literatura Comparada.

A morte precoce de Jorge de Sena, em 1978, aos 59 anos, abriu “um terceiro período na vida de Mécia de Sena”, deixando-lhe em mãos “uma quantidade monumental de projetos não realizados [do escritor], toneladas (…) de manuscritos, propósitos de livros de prosa e versos, correspondência”, segundo Rui Silvino de Freitas Lopes.

A partir de então, Mécia de Sena assumiu a organização, documentação e edição do espólio literário do autor de “Sinais de Fogo”, assim como a promoção e revelação da sua obra, da sua real dimensão, com a preocupação de concretizar “todos os sonhos que eram os do marido”, segundo o irmão da escritora.

Todos os títulos surgidos desde então, tiveram Mécia de Sena na origem. “A obra dele é imensa”, disse a escritora numa carta dirigida em 1991 ao jornal Público, na qual confessava fazer “esforços inauditos para que [seu] marido [fosse] honestamente publicado”.

“Isto tudo que nos Rodeia”, volume editado pela Imprensa Nacional, em 1982, revelou as cartas de amor de ambos. E inaugurou também um segmento determinante na obra de Jorge de Sena, a escrita epistolar, que atravessou grande parte do século e se cruzou com figuras do meio literário português como Sophia de Mello Breyner Andresen, João Gaspar Simões, José Régio, Vergílio Ferreira, Eduardo Lourenço, José-Augusto França, Delfim Santos e António Ramos Rosa.

“Jorge de Sena: bio-bibliografia”, em codição com Isabel de Sena, “Correspondência Jorge de Sena e Mécia de Sena ‘Vita Nuova'” são outros volumes em que o diálogo de ambos se cruza. Mas foi no primeiro, nesse que dimensionava “isto tudo que nos rodeia”, que Mécia de Sena viria a revelar o seu primeiro encontro com o escritor.

“Entre os vários rapazes com quem dancei, houve um que fora totalmente desconhecido. À despedida, perguntara-me o meu nome. Meses depois, cruzámo-nos numa conferência (…). Passados outros meses, encontrámo-nos num recital (…). Disse-me que também escrevia poemas (…). O nosso conhecimento mútuo a bem dizer nem se iniciara e iria fazer-se através de correspondência que se lhe seguiu”.

A rejeição do “caminho mais fácil” entre ambos, “deu lugar a uma confiança e uma identificação que dificilmente poderão ter paralelo”, escreveu então Mécia de Sena. “Não sem agruras e com algumas duras provas, ambas resistiram durante quase 30 anos, afinal o nosso ‘para sempre’ dignamente cumprido”.

Covid-19 | Macau anuncia mais dois casos importados de Portugal. Já há 37 infectados

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau anunciaram hoje mais dois casos importados de contágio da covid-19 provenientes de Portugal, elevando o número de infectados no território para 37 desde o início do surto do novo coronavírus. Trata-se um português de 32 anos de idade, residente de Macau, noivo do 11.º caso confirmado no território, que esteve a visitar a família no Porto com a sua noiva sul-coreana, regressando a Macau no dia 14 de Março.

“Como este indivíduo tinha sido considerado como um caso do contacto próximo esteve desde o dia 16 de março em observação médica no Centro Clínico de Saúde Pública”, informou em comunicado o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.

Após vários testes negativos, o português realizou hoje um de teste do ácido nucleico e revelou positivo, “confirmando a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus”, acrescentaram as autoridades.

Já o segundo agora anunciado trata-se de um residente de Macau, de 21 anos de idade, que voltou para Macau também vindo de Portugal.

“Chegou a Macau na madrugada do dia 15 de Março, foi sujeito à observação domiciliária conforme as medidas em vigor na altura”, informou o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.

Após a realização de vários exames, hoje “foram realizados novos testes de zaragatoa nasofaríngea e os resultados foram positivos para a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus”. Em cerca de 24 horas o território registou quatro novos casos, todos importados.

Após Macau ter estado 40 dias sem identificar qualquer infecção, nos últimos 13 dias foram identificados 27 novos casos, todos importados.

Em Fevereiro, Macau registou uma primeira vaga de 10 casos da covid-19, já todos com alta hospitalar. Após a deteção de novos casos, as autoridades reforçaram as medidas de controlo e restrições fronteiriças, assim como a obrigatoriedade de quarentena de 14 dias imposta a praticamente todos aqueles que entrem no território.

Macau conta já com 34 casos de infecção com covid-19

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau anunciaram esta sexta-feira mais um caso de contágio da covid-19, elevando o número de infectados para 34 desde o início do surto do novo coronavírus. Trata-se de um homem, residente de Macau, de 43 anos, que esteve em Manila desde novembro de 2019, informou em comunicado o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.

No dia 18 de março, o residente de Macau, acompanhado pelos dois filhos, apanhou o voo CX902 (Assento 14A, business class) da Cathay Pacific Airways com a partida de Manila (Filipinas) e destino Hong Kong”. O homem e os filhos foram, de seguida, transportados da antiga colónia britânica para Macau através do serviço de transporte institucionalizado pelas autoridades do território.

“De acordo com as medidas em vigor naquele momento, foram encaminhados para isolamento domiciliário por um período de 14 dias pelos inspetores dos Serviços de Saúde no posto fronteiriço”, acrescentaram as autoridades.

Esta sexta-feira o homem testou positivo, “confirmando-se pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus”, detalharam. Após Macau ter estado 40 dias sem identificar qualquer infecção, nos últimos 12 dias foram identificados 24 novos casos, todos importados.

Em Fevereiro, Macau registou uma primeira vaga de 10 casos da covid-19, já todos com alta hospitalar. Após a deteção de novos casos, as autoridades reforçaram as medidas de controlo e restrições fronteiriças, assim como a obrigatoriedade de quarentena de 14 dias imposta a praticamente todos aqueles que entrem no território.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil. Dos casos de infecção, pelo menos 112.200 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu, com mais de 292 mil infectados e quase 16 mil mortos, é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 8.165 mortos em 80.539 casos registados até quinta-feira.

A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, registando 4.858, entre 64.059 casos de infeção confirmados até hoje, enquanto os Estados Unidos são desde quinta-feira o que tem maior número de infectados (mais de 85 mil).

A China, sem contar com os territórios de Hong Kong e Macau, conta com 81.340 casos (mais de 74 mil recuperados) e regista 3.292 mortes. A China anunciou quinta-feira 55 novos casos, quase todos oriundos do exterior, e mais cinco mortes, numa altura em que o país suspendeu temporariamente a entrada no país de cidadãos estrangeiros, incluindo residentes.

Os países mais afectados a seguir a Itália, Espanha e China são o Irão, com 2.378 mortes reportadas (32.332 casos), a França, com 1.696 mortes (29.155 casos), e os Estados Unidos, com 1.178 mortes.

O número de mortes em África subiu hoje para 85, com os casos acumulados a ultrapassarem os 3.200 em 46 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia.

Vários países adoptaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.

Alen Tagus ao vivo em estúdio

Alen Tagus ao vivo no Studio Canoa

[dropcap]S[/dropcap]im, de um lado Sines do outro Paris, uma linha pelo meio. Charlie Mancini encontrou Pamela Hute online e com o despertar da curiosidade, por empatia no gosto mútuo pela composição musical, estabeleceu a ligação e começou a enviar-lhe ficheiros sonoros com composições suas, elaboradas nas teclas do seu piano. A luzinha acendeu do outro lado e desse primeiro embate, Pam resolve colocar a sua técnica apurada e a voz, misturando os fios para a eternidade do que à partida seria um encontro efémero, na verdadeira glória da partilha electrónica.

Assim nasceram os Alen Tagus, nome que não é preciso descodificar. A conexão prosseguiu durante meses a fio, numa ligação criativa vivida apenas à distância. Os temas começaram a sair do forno como pãezinhos quentes e de repente tinham um álbum nas mãos para apresentar ao mundo, “Paris, Sines”. Em Portugal, passaram pelas rádios e novos brilhos se acenderam. O passo seguinte seria, finalmente, o encontro cara-a-cara e a formação física de uma banda. De novo de cá e de lá surgiram os outros elementos: Eva Tribolles, no baixo; Miguel Sousa Moreira, nas guitarras; e Pedro Sousa Moreira, na bateria. A simbiose para um equilíbrio perfeito.

A estreia deu-se no Festival Termómetro, um concurso musical que decorreu no último Outono/Inverno. Com datas marcadas para os primeiros concertos em Portugal e com uma residência artística agendada para Sines, deu-se o isolamento forçado pela pandemia mundial do vírus que deixa todos em casa. Sem a possibilidade da digressão prevista, o forno voltou a ter a sua chama e novos temas surgem com regularidade. O sabor é distinto, como uma iguaria da cuisine française elaborada no Alentejo.

ALEN TAGUS

Projecto franco-português, imaginado entre Sines e Paris, Alen Tagus criam uma indie-pop introspectiva influenciada pelos sons dos anos 70. O primeiro single questiona a evolução do amor e da amizade nas relações humanas e revela uma composição sensível e elegante. Nascida da inesperada associação entre o músico português Charlie Mancini – pianista e compositor de filmes – e a artista francesa Pamela Hute – melodista e roqueira no coração – Alen Tagus exploram bases musicais incomuns.

Alen Tagus

PAMELA HUTE, CHARLIE MANCINI, EVA TRIBOLLES, MIGUEL SOUSA MOREIRA, PEDRO SOUSA MOREIRA

Covid-19 | Air Asia suspende voos

[dropcap]A[/dropcap] Air Asia, a maior linha aérea de baixo custo do continente asiático vai suspender temporariamente a maioria das ligações devido às restrições impostas pelos governos da região para conter a pandemia de covid-19, anunciou hoje a companhia.

A Air Asia, com sede na Malásia e filiais na Tailândia, Indonésia, Filipinas e Índia vai “submeter a maior parte da frota a uma hibernação temporária” por períodos que vão depender das restrições impostas em cada um dos países em que tem instaladas filiais, informa em comunicado.

Deste modo, a Air Asia Malayia suspende todos os voos internacionais e domésticos entre hoje e o dia 21 de abril, assim como a Air Asia Philippines que vai manter em terra a frota até ao dia 14 de abril, um prazo que coincide com a quarentena imposta à ilha de Luzon e outras regiões das Filipinas.

A Air Asia India manterá o mesmo procedimento. A Air Asia Thailan suspende todos os voos internacionais até ao dia 25 de abril e a Air Asia Indonesia vai reduzir significativamente as operações internacionais e as ligações domésticas.

Ainda não foi esclarecida a situação laboral dos trabalhadores da companhia face às novas circunstâncias. A companhia tem cerca de 20 mil funcionários e uma frota de 243 aviões. Em 2019, a Air Asia transportou 83,5 milhões de passageiros.

“Todos os passageiros afetados estão a ser notificados por correio eletrónico e SMS”, assinala um comunicado da Air Asia que acrescenta que as reservas podem vir a ser convertidas em créditos para uso em viagens futuras.

Macau Solidário | 105 mil patacas em menos de 48 horas

[dropcap]A[/dropcap] comunidade portuguesa em Macau já arrecadou 105 mil patacas em menos de 48 horas para comprar material médico para Portugal associado ao combate do surto da covid-19. O valor foi avançado à agência Lusa pelo presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU), Carlos Álvares.

O dinheiro angariado, num tão curto espaço de tempo, “é animador”, disse a presidente da Casa de Portugal em Macau, Amélia António, uma das entidades que pertence ao movimento solidário que se propõe recolher fundos para adquirir equipamento de protecção para os profissionais de saúde em Portugal e material, que garanta mais testes para despistar a covid-19.

O movimento junta quase duas dezenas de entidades e personalidades e, em cerca de 12 dias quer apoiar Portugal “no esforço de guerra” face ao surto do novo coronavírus, estabelecendo como prioridade a aquisição de equipamento que proteja todos aqueles que estão na linha da frente e a capacidade nacional de detecção de casos, explicaram os seus membros.

BNU | Presidente admite queda até 20% nos resultados de 2020

Carlos Álvares, presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) admitiu ontem que os resultados para este ano podem cair entre os 10 e os 20 por cento. A revisão em alta das perdas, surge depois da situação pandémica do novo tipo de coronavírus estar a “alastrar em todo o mundo”

 

[dropcap]O[/dropcap] presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU) em Macau admitiu ontem que os resultados da instituição podem cair, este ano, entre 10 e 20 por cento devido ao impacto económico da pandemia da covid-19.

“No ano passado o crescimento foi de 24 por cento, o que foi bastante interessante. Acredito que este ano os resultados do banco possam cair entre os 10 e os 20 por cento”, afirmou à Lusa, Carlos Álvares, líder da instituição que pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos.

“Inicialmente estimava não ser superior a 10 por cento”, uma previsão que teve de rever face “à gravidade (…) e ao alastrar da situação em todo o mundo”, explicou.

A margem financeira do banco tem-se comportado razoavelmente bem, semelhante ao ano passado, mas as comissões caíram e os custos aumentaram, explicou o responsável, lembrando, por exemplo, que a queda significativa na área das comissões explica-se facilmente: “há muito menos transações, não há viagens ao estrangeiro, as pessoas não utilizam os cartões”.

Por outro lado, “o banco teve um cuidado muito grande com as pessoas, com a sua equipa, e isso obviamente reflecte-se em termos de custos”, acrescentou. Um factor positivo, ainda com base nos dados de Fevereiro, é que a instituição não sentiu um aumento no crédito malparado.

Condições únicas

“O Governo (…), a associação de bancos e todos os bancos concederam períodos de carência de capital por seis meses para quem o pediu e, portanto, até à data não sentimos situações de incumprimento que levassem ao aumento de imparidades”, indicou.

A “almofada financeira em Macau” dá “condições únicas para resistir a este problema gravíssimo que alastra por todo o lado”, mas muito irá depender da “capacidade de recuperação do negócio dos casinos e com a abertura dos vistos individuais para os turistas chineses”, salientou.

Carlos Álvares sublinhou ainda que o banco tem “quotas interessantes nos casinos” e “no sector governamental”, mas não entre as micro, pequenas e médias empresas (PME), “trabalhando activamente” apenas com três mil das cerca de 40 mil que operam em Macau.

“Por outro lado, também abrimos linhas especiais para pagamento de salários e para pagamento de rendas e também para investimento [em] equipamento médico e tem havido alguma procura, mas não é uma coisa brutal”, frisou.

Ser responsável

O presidente do BNU defendeu que o Governo foi rápido a tomar medidas de apoio às empresas e população. “Se somarmos a tentativa do aumento do consumo, a protecção das PME e o aumento dos gastos públicos com obras, penso que está a tocar os diferentes pilares que fazem com que a economia ande, depois é (…) ver a dose que será necessário utilizar”, comentou.

Em relação à responsabilidade social que o chefe do Governo de Macau exigiu neste momento de crise aos grandes agentes económicos no território, as operadoras que exploram o jogo, Carlos Álvares elencou uma lista de acções promovidas pelo banco que custaram cerca de 4,5 milhões de patacas no ano passado em vários sectores da sociedade.

Fitch estima que MGM China pode ter quebras superior a 30%

[dropcap]O[/dropcap] impacto negativo da pandemia de covid-19 está a afectar quase todos os sectores da economia, com as concessionárias a não serem excepção. Nessa linha, a agência de rating Fitch estima que a MGM China Holdings Lts deve registar quebras de receitas na ordem dos 31 por cento no final de 2020, de acordo com uma nota publicada na passada quarta-feira, citada pelo portal GGRAsia.

A Fitch considera que a operadora pode mesmo registar uma queda de 50 por cento nos resultados operacionais, ou seja, antes das deduções financeiras e fiscais, no final do ano.

Prevendo um 2020 fraco, a Fitch baxou o rating da MGM China de BB para BB-, à semelhança do que aconteceu com a sua congénere norte-americana a MGM Resorts International. Importa referir que a nota BB já é considerada por investidores como uma nota especulativa.

A agência justificou a apreciação em parte por entender que o grupo diminuiu a sua flexibilidade financeira na sequência da “severa disrupção no mercado global do jogo causado pelo surto do novo coronavírus”. Outro factor que ajudou à descida de notação é a incerteza quanto à profundidade e duração da pandemia, isto partindo do princípio que o sector do jogo irá começar a recuperar no final deste ano, ou no início de 2021.

Ainda assim, a Fitch sublinha a posição favorável de que a MGM China beneficia em termos de liquidez, com capacidade para amortecer o choque que se prevês para 2020.

Contraste anual

No mês passado a MGM China revelou que fechou o ano de 2019 com uma receita líquida de 2,9 mil milhões de dólares americanos mais 19 por cento em comparação com 2018.

Em destaque estiveram os resultados do MGM Cotai, a funcionar desde Fevereiro de 2018, responsável por uma receita de 1,326 mil milhões de dólares americanos em 2019, quase o dobro do montante arrecadado em 2018. Já o MGM Macau registou 1,578 mil milhões de dólares americanos em 2019, o que representa uma perda nas receitas homólogas. Em 2018 tinha alcançado 1,721 mil milhões de dólares.

O grupo disse ter registado no último trimestre de 2019, um aumento de 6 por cento na receita líquida, fixando-se em 727 milhões de dólares americanos.

No quarto trimestre do ano, o MGM China aumentou em 31 por cento as receitas obtidas através do jogo de massas e uma diminuição de 20 por cento nas receitas do jogo VIP, devido à “redução de 33 por cento no volume de negócios no MGM Macau”.

Peste III

[dropcap]O[/dropcap]s corpos dos mortos amontavam-se. Criaturas meio-mortas cambaleavam. Juntavam-se à volta de todos os fontanários. Os lugares sagrados encontravam-se pejados de cadáveres. À medida que a catástrofe passava todos os limites, os homens, sem saberem o que lhes ia acontecer, tornavam-se completamente indiferentes a tudo, fosse sagrado ou profano. (Tucídides H. 2, 52.3-4). Os homens atreviam-se, agora, a fazer às claras o que, anteriormente, procuravam fazer sem dar nas vistas. O rápido desaparecimento das pessoas e daquela maneira atroz, o prejuízo dos melhores e o benefício dos piores levava que tudo esbanjassem, sobretudo no que desse prazer. A riqueza era tida como coisa de um só dia. Perde-se a vergonha e a honra. A conduta tinha como única regra o gozo do presente. Apenas o gozo é honroso e útil.

O medo dos deuses e das leis dos homens não constituía limite algum ao modo de viver “Ninguém esperava viver o tempo suficiente para ser levado a julgamento por causa das suas ofensas, antes sentiam que uma pesada pena havia já sido lavrada contra todos eles, estando suspensa sobres as suas cabeças. Pelo que, antes que lhes caísse em cima, era justo que não pensassem noutras coisa senão em gozar a vida.”

Toda a especulação acerca da origem e das causas da doença, se é que é possível encontrar causas capazes de produzir tão grande devastação, é deixado ao cuidado de outros, leigos ou profissionais.

A descrição, identificação, isolamento e reconhecimento do decurso e história clínica da doença bem como dos seus sintomas tem como único objectivo a possibilidade de poderem ser reconhecidos, caso a doença volte a aparecer. É isso que Tucídides pretende.

Em causa está a possibilidade da prevenção, da profilaxia. Os indícios estão no passado. Mas são indícios no interior do horizonte humano. O seu rastreio é por mor do futuro. Não enquadra nenhum outro interesse senão esse. O estatuto ontológico da investigação não visa nenhuma apreensão do que se passou, mas o reconhecimento possível do que poderá vir a passar-se. É talvez o destino da res humana e da nossa condicio estender-nos entre o que se passou e o que poderá vir a passar-se. Mas se a causa fáctica se encontra objectivamente dada, é do futuro que ela abre. Talvez a causa final não esteja identificada. Mesmo com as 17 ocorrências do substantivo em Th.. Mas ela opera de modo tão fundamental que não permite por defeito de finitude o seu reconhecimento ou isolamento. Em causa não está nenhuma disputa de estilo literário, mesmo quando em causa estão formulações líricas, trágicas, técnicas. A narrativa não é um conto. O que se pretende é examinar com transparência o que terá acontecido, porque o que aconteceu será possivelmente o que poderá acontecer outras vezes no futuro, de acordo com a constituição humana. Tem em vista a utilidade. Não o prazer.”

O que Tucídides escreve é sempre por mor do futuro. É uma posse para a eternidade. As causas da Guerra terão de ser reconhecidas para a podermos evitar. Os sintomas da doença habilitar-nos-ão ao tratamento eventual ou à prevenção profilática.

Trad. David Martelo

Os idiotas

[dropcap]S[/dropcap]eguindo o caminho inverso da obra de Dostoievski, o mais longe possível da pureza de espírito que torna um ser humano impróprio para a sociedade, os idiotas de hoje são um perigo para a humanidade. Bolsonaro diz que o covid-19, que matou mais de 22 mil pessoas à hora em que escrevo esta coluna, não passa de um resfriadinho e que o que é preciso é voltar ao trabalho. Isso da vida pode parecer muito bonito, mas a economia precisa de sacrificar uns quantos no divino altar do lucro. Isto, numa altura em que o novo coronavírus alastra pelo Brasil livremente.

Donald Trump recomenda em conferência de impresa medicamentos contra a malária que não foram testados como medicação contra o covid-19, com base no relato de provas anedóticas, porque é um “smart guy” e tem “bom feeling” que pode revolucionar a farmacologia. O resultado foi a morte por envenenamento de, pelo menos, um seguidor cego do homem laranja. Trump começou por dizer que isto não é nada, que o novo coronavírus é menos perigoso que a gripe normal, para no passo seguinte entrar em pânico, apontando culpas para onde está virado.

Estes tipos têm em mãos as vidas de bem mais de 500 milhões de pessoas. A arrogância e cálculo político estão bem acima de qualquer preocupação com saúde pública, não olham para a comunidade científica como algo legítimo, mas como inimigos que vaticinam inconveniências. Votar nestes gajos vai muito além de atirar um calhau à janela do establishment, é um tiro no pé, para ser simpático. Temo pelos povos que governam.

O mais alto responsável

[dropcap]O[/dropcap] antigo mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, anunciou que se retiraria da corrida a representante do Partido Democrata nas Presidenciais deste ano, por falta de apoio entre os membros do Partido. Esta decisão foi tomada depois de ter gasto mais de 600 milhões de dólares na campanha. O que será que torna o poder tão apelativo? Será uma questão de promoção pessoal ou a vontade de servir o povo? São duas possibilidades. Mas se os politicos não tiverem cuidado, assumir um alto cargo pode, em última análise, conduzi-los ao descrédito e à ruína das suas carreiras públicas.

Prefiro designar aqueles que se encontram à frente de um país ou de uma região como “o mais alto responsável”, por me parecer a forma mais apropriada. Demasiadas pessoas receberam ao longo da História o epíteto de “grande líder”, no entanto a maioria acabou por não realizar nada de verdadeiramente “grande”.

Também não será muito apropriado apelidá-los de “líderes supremos”, já que a incompetente liderança de alguns causou a sua própria morte. Designar aqueles que ocupam o mais alto cargo político como “responsável máximo” é uma forma de lhes conferir o sentido de responsabilidade. Os políticos têm de ser responsáveis por todas as suas acções. Se não querem assumir essa responsabilidade, então porque é que se dão ao trabalho de encetar uma carreira política?

A epidemia de covid-19, que teve início em Wuhan, na China, já se espalhou por todo o globo. É um novo coronavírus com características semelhantes à gripe e ao vírus da SARS (Síndrome Respiratório Agudo Grave). Este novo surto tem feito mergulhar muitos governos no caos e representa um desafio às capacidades governativas do “responsável máximo” de cada país e de cada região, particularmente para os governos da China, de Taiwan, Hong Kong e Macau.

Tsai Ing-Wen, a actual “responsável máxima” de Taiwan, que ganhou a eleição presidencial a 11de Janeiro último, teve de enfentar a crise da covid-19 pouco depois da sua reeleição. As lojas e as escolas continuam a funcionar embora o Governo tenha impedido os estrangeiros de entrar no país. Apesar de a sociedade ainda estar a funcionar, a prevenção e o controlo da doença em Taiwan têm sido bastante eficazes, registando-se até à data apenas 200 casos confirmados. Este facto demonstra que as medidas adoptadas têm sido correctas, apesar do arrefecimento das relações com a China ter causado uma quebra no turismo, o que em certa medida tem ajudado a manter o baixo número de infectados. Tsai Ing-Wen e o seu braço direito Chen Shih-chung, têm dado provas de idoneidade e de responsabilidade.

Por outro lado, na RAE de Macau, o desempenho de Ho lat-seng tem sido amplamente apreciado pela população. No discurso que proferiu há poucos dias, explicou que, depois de bem informado, podia tomar medidas decisivas e rápidas, como ficou provado pelas acções atempadas que tomou para evitar a propagação do vírus. O encerramento temporário dos casinos e de todas as salas de espectáculo evitou a contaminação comunitária da covid-19 e beneficiou a população. Estas medidas deixaram os opositores

Ho lat-seng sem argumentos para o criticar. Com as reservas que Macau acumulou nos últimos 20 anos, Ho lat-seng pôde gerir a situação sem ter de abrir as portas e fazer entrar pessoas infectadas da China, e ainda conseguiu fazer regressar a casa os residentes que estavam no estrangeiro. No primeiro teste a que foi submetido após assumir o cargo, Ho lat-seng passou com nota elevada. Agora, o outro desafio que tem pela frente, é a recuperação económica no período pós-epidemia. Para isso, é preciso esperar que a China retome o regime dos “Vistos Individuais” para os continentais que queiram visitar Macau, o que significa que a retoma depende dos turistas vindos da China. No cômputo geral, Ho lat-seng tem evidenciado claramente estar à altura das responsabilidades do seu cargo.

A “mais alta responsável” de Hong Kong é Carrie Lam, que possui uma personalidade particular. Cada acção que empreende, embora bem intencionada, tem-se revelado contra prudecente. Por exemplo, durante a agitação criada pelo” Movimento Contra a Lei de Extradição”, que até hoje ainda não se encontra completamente solucionada, Carrie Lam recorreu à estratégia do “uso da força para combater a violência e prender agitadores para parar o caos”. Esta estratégia só fez com que a violência e as prisões fossem aumentando, tendo sido detidos diariamente inúmeros jovens. Com Hong Kong ainda mal recuperado deste período conturbado, os esforços de Carrie Lam para impedir a propagação da covid-19, tentando impôr aos outros as suas convicções pessoais, não tiveram bom resultado. Quando se impede os bares de vender alcoól, não é normal que passem a vender outras bebidas? Esta decisão de Carrie Lam foi muito pior do que determinar o encerramento temporário dos bares. A forma como o Governo continua a lidar com a compensação económica das pessoas afectadas por esta crise não é a melhor, a distribuição de 10.000 HKD pelos residentes não vai remediar a situação. Hong Kong tem mais casos confirmados de covid-19 do que Taiwan e do que Macau, mas o Governo fechou as portas aos residentes destas duas regiões, de forma a transferir a sua responsabildade para os outros, mas acreditando que está a cumprir a sua missão. Carrie Lam, como “responsável máxima” de Hong Kong, poderá tornar-se na “maior devedora” e o momento da “liquidação” está a chegar.

Wuhan foi a primeira cidade da China a ser posta em isolamento devido ao surto de covid-19, e Hubei a província onde se registou o maior número de casos a nível nacional. O sacrifício imposto a Wuhan e a Hubei salvou efectivamente o país, mas o que é que os responsáveis fizeram nos dez dias que mediaram entre a declaração do primeiro caso e a implementação das medidas de isolamento? Ainda continua a faltar uma resposta a esta pergunta. E só encontrando a resposta e a verdade podemos ficar a saber quem é realmente responsável.

Tornar-se o “mais alto responsável” é o sonho de muitos políticos. Mas aqueles a quem falta capacidade, sabedoria, personalidade forte e ideais sólidos, apenas estão a ir ao encontro de dificuldades. E o pior de tudo é que irão partilhar essas dificuldades com os outros.

A banhos

[dropcap]E[/dropcap]stou de folga. No momento em que assinalo meia quarentena cumprida, percebo-me cansada. A descrição do parto da oitava filha de Lu Shangguan e do primeiro de uma jovem mula ainda está por acabar de ler. O Mo Yan merece mais. O espanhol “Plataforma” ainda não está visto. Tentei ver “Freud”, uma ´série que ansiava por ser entusiasta do senhor ,- que com certeza teria uma explicação para o fenómeno actual da corrida ao papel higiénico – e acabei desiludida. Tenho trabalhado o que posso e feito umas coisas a mais. Ainda não tive pausas. É hoje.

Enchi a banheira e esperei ver a espuma escorrer um bocadinho para fora até fechar a água. Recordei o peso de uma outra espuma, espessa e aromática, de um banho em Istambul, e chorei os céus e a terra fechados. Um dia, se o mundo ainda rodar, vou-lhe dar três voltas. Pelo meio, vou repetir a espuma dos Hamam e fazer um pirete à espuma dos dias, com todo o respeito pelo Boris Vian.

Ainda era dia quando mergulhei. Por vezes faço-o, mas mais lá para a madrugada. É um entretém em que deposito a esperança num sono rápido. Hoje não. Vesti uma túnica chinesa e lamentei não ter uma cabaia. Ainda assim consegui ter o gosto de apertar aqueles dois botões, redondos e delicados, do lado esquerdo da gola direitinha que molda o pescoço.

Vi e segui escrupulosamente o vídeo da Rita. Anunciado como uma série de exercícios para os “velhotes”, diz ela. Pareceu-me que à semelhança da quarentena, devia ser uma rotina obrigatória para todos. Mais logo vou enviá-lo aos meus pais e amigos. Acho que que lhes vai fazer bem. A Rita faz bem às pessoas.
A Sara continua preocupada e a Marta desiludida. O João, a Luana e o Pedro contam-me histórias. A Natacha corre atrás do petiz que, felizmente alheio, não se coíbe de explorações.

Quando o telefone toca

No outro dia ligaram-me. “Boa tarde, sou da polícia e queria dizer-lhe que não pode sair do quarto”, ouvi num inglês perfeito. “Não estou a contar fazê-lo” repliquei só para não ficar calada. Seria óbvio que a viabilidade de sair era nula. Aliás, se punha a cabeça de fora para conversar com esta minha boa vizinhança, alertavam-me logo que tinha ultrapassado a linha que marca a porta e, por conseguinte, a minha fronteira. Nunca gostei de fronteiras. “Muito bem. Pode dizer-me o seu nome?”, continuou a voz, penso que para confirmar que eu sabia quem era e que correspondia ao nome no papel que imagino que teria nas mãos com a minha identificação. Respondi. “Obrigada, boa noite”, rematámos.

Hoje está nevoeiro, mas o final do dia é atropelado pelo sol.
Volto segunda-feira, já apostada numa recta final.

Bom fim-de-semana

Macau, 26 de Março de 2020

Covid-19 | Taxista sem máscara motiva queixa

[dropcap]O[/dropcap] Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus recebeu ontem uma queixa contra um condutor de táxi que não estaria a usar máscara durante o serviço. Além desta denúncia, dirigida ao Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) foram ainda registados mais 63 casos, sobre medidas de migração, medidas de isolamento, atestado médico, medidas de migração para portadores de documentos estrangeiros, do Interior da China e TNR, exame médico e medidas de migração para residentes da RAEM.

Já na Direcção dos Serviços de Turismo (DST), foram registadas 33 queixas, com destaque para as situações relacionadas com os indivíduos em isolamento, onde consta “a má atitude dos serviços do hotel” ou dificuldades na “formas de deslocação a Hong Kong”. Das 08h00 do dia 25 de Março até às 08h00 do dia 26 de Março de 2020, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus recebeu, no total, 486 pedidos de informação.

EPM | Pais defendem mais horas de aulas no ensino à distância 

Alguns encarregados de educação querem que os alunos da Escola Portuguesa de Macau tenham mais horas de aulas online. A maioria tem duas aulas por dia de 40 minutos cada, mas há quem defenda o cumprimento integral do horário escolar

 

[dropcap]O[/dropcap] ensino à distância na Escola Portuguesa de Macau (EPM) funciona há cerca de três semanas devido à pandemia da covid-19 que decretou a suspensão das aulas presenciais. Ainda assim, há encarregados de educação a defender que os alunos deveriam ter mais horas de aulas por semana.

Filipe Regêncio Figueiredo, encarregado de educação e presidente da Associação de Pais da EPM (APEP), é um deles. “São dadas duas aulas por dia de 40 minutos cada. Acho que é pouco, mas também acho que não deveriam ser dadas todas as aulas, mas sim as que têm matérias mais importantes ou onde haja necessidade de maior acompanhamento.”

Catarina Terra, encarregada de educação de dois alunos no 5º e 8º ano, questiona as razões pelas quais a EPM não cumpre na íntegra o calendário escolar na plataforma online.

“Já estamos na terceira semana e não houve um aumento do número de aulas. Conheço alunos que estão em escolas privadas em Portugal onde as aulas por videoconferência estão a respeitar o horário escolar. Além disso há aulas suplementares na parte da tarde para ajudar com os trabalhos de casa.”

“Porque é que na EPM os professores não dão mais do que uma aula por semana, quando isso é manifestamente insuficiente? E os próprios alunos também precisam de acompanhamento para os trabalhos de casa, que não existem desde Fevereiro”, disse ainda ao HM.

Um outro encarregado de educação, que não quis ser identificado, diz que há “professores que não fazem nada”. “Mandam trabalhos e nem corrigem. Todos sabemos que a falta de feedback ou de avaliação é, além de desmotivadora, um dos principais obstáculos para o avanço na matéria. O sistema de videoconferência está a correr bem, mas deveria ser aproveitado para as disciplinas em que é necessário mais acompanhamento, como português, matemática ou ciências”, frisou.

Este pai fala de problemas nas aulas do ensino primário. “Há professores que se esforçam e mandam uns filmes, mas há outros que mandam umas fichas e não as corrigem. Deviam ser todos obrigados a fazer os filmes e correcções. Há pais nervosíssimos porque vêem o ano a terminar e os miúdos não sabem as letras e não se avança na matéria.”

Em análise

Confrontado pelo HM com estas preocupações, Manuel Machado, director da EPM, adiantou que eventuais alterações a este modelo dependem das directrizes da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). De frisar que não há ainda uma data definida para o regresso às aulas presenciais, tendo em conta o ressurgimento de novos casos de infecção com a covid-19 no território. “Em função da situação que se vive em Macau, e tendo em conta as normas da DSEJ, decidiremos como proceder até à altura em que as aulas serão retomadas.”

Apesar da APEP ter feito um pedido para não se avançar para a interrupção das aulas online no período da Páscoa, Manuel Machado vai manter essa regra. Questionado sobre a falta de interacção por parte de alguns professores com os alunos, o director da EPM prefere “não comentar questões internas nos jornais”.

“Desde que a escola implementou o ensino online que tem sido cumprido o horário normal através da plataforma Google Classroom. Os professores, nos seus horários, estão presentes nessa plataforma para tratarem das questões que há a tratar, ensinar matérias e corrigir trabalhos”, disse.

Manuel Machado recorda que, “quando se iniciaram as aulas por videoconferência [decidiu-se realizar] uma sessão semanal por cada disciplina”. No entanto, “há várias disciplinas em que já foi dada mais do que uma sessão, fruto da necessidade em avançar com os programas e de acordo com as necessidades dos alunos”, rematou o director da EPM.

AL aprova orçamento rectificativo com medidas que protegem empregos e PME

[dropcap]A[/dropcap] Assembleia Legislativa aprovou ontem por unanimidade o orçamento rectificativo apresentado pelo Governo, que prevê um défice de 38,950 mil milhões de patacas. Este valor tem em conta o pacote de estímulo à economia, assim como uma redução das receitas do jogo de 260 mil milhões de patacas para 130 mil milhões, à luz da pandemia do covid-19.

Em resposta às dúvidas dos deputados, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, destacou a importância de proteger o sector das Pequenas e Médias Empresas, que é visto como chave para a resistência à crise.

“Temos de salvaguardar as PME durante este período. Não sou um especialista nesta matéria, mas conto com a minha equipa neste aspecto. Actualmente as PME ocupam 90 por cento do tecido empresarial e garantem 40 por cento dos postos de trabalho. Se estabilizarmos a situação das PME vamos conseguir estabilizar a sociedade”, sustentou Lei. “O importante é assegurar o emprego permanente dos cidadãos. Mesmo que haja uma redução nos salários, mantemos as pessoas com rendimentos”, apontou.

O secretário mostrou-se optimista na capacidade de resposta à pandemia, mas reconheceu que após esta fase é necessário diversificar a economia. “Posso dizer que nunca tínhamos enfrentado uma situação como esta. […] Mas, vai chegar a Primavera. Vamos conseguir ultrapassar esta fase, temos de insistir”, sublinhou.

No debate, as deputadas Agnes Lam e Song Pek Kei questionaram o Executivo sobre a necessidade de injectar ainda mais dinheiro na economia, além dos apoios anunciados. A hipótese não foi afastada: “Neste momento a situação está sempre a evoluir e a alterar-se. Se houver outras necessidades não descartamos a possibilidade de voltar à Assembleia Legislativa para apresentar outro orçamento retificativo”, reconheceu.

Com um défice de quase 40 milhões de patacas, o Governo vai ter de recorrer à reserva financeira que em Fevereiro era de 577,6 mil milhões de patacas. Na AL, o secretário apelou à responsabilidade dos deputados face às propostas despesistas: “Esta reserva financeira é o resultado de uma poupança de 20 anos e vamos gastá-la de forma responsável. Mas no futuro vamos enfrentar muitos desafios e incertezas. Vamos ter de estar preparados para em tempos incertos fazer coisas certas”, justificou.

Pacote de benefícios fiscais

Isenção, por seis meses, do imposto de turismo a hotéis, health clubs, saunas, massagens e karaokes
Dedução no imposto complementar de rendimentos num limite de 300 mil patacas

Subida do montante fixo anual do rendimento de trabalho não colectável de 25 para 30 por cento
A percentagem de devolução do imposto profissional de 2018 sobe para 70 por cento e até a um limite de 20 mil patacas

Isenção de contribuição predial urbana de 2019 para casas em nome de residentes locais
Dedução de 25 por cento na contribuição predial urbana para hotéis, escritórios, espaços comerciais e industriais

Isenção do imposto do selo para alvarás e licenças administrativas e devolução dos montantes já pagos
Isenção do imposto de circulação, ou devolução dos montantes já pagos, para veículos com fins comerciais, de escolas ou autocarros públicos

Os donativos em Macau e no Interior da China para combater a pandemia passam a ser deduzíveis nos impostos sobre os rendimentos

Deputado Mak Soi Kun questiona compromisso das concessionárias “estrangeiras” com a Pátria e Macau

[dropcap]A[/dropcap]s grandes empresas “estrangeiras” em Macau são “más” e só pensam nos seus lucros, sem se comprometerem com o bem-estar da população. Foi este o conteúdo da intervenção antes da ordem do dia de Mak Soi Kun.

Após Ho Iat Seng ter admitido, na terça-feira, a dificuldade em encontrar hotéis para a quarentena e ter recordado às concessionárias do jogo que a sua responsabilidade social tem de ser mostrada nestas alturas, Mak acusou as operadoras de só pensarem nos lucros: “Depois de ouvir o Chefe do Executivo, os cidadãos acham que as grandes empresas estrangeiras são más, e, neste caso, só sabem ganhar dinheiro em Macau e não contribuem”, começou por relatar.

Mak Soi Kun apontou exemplos, como o sector da construção civil, a que pertence, e realçou que todos estão a esforçar-se no combate à pandemia do covid-19, sem olhar aos lucros. Porém, a excepção são as operadoras: “Todos os sectores sociais envidaram esforços para doações em dinheiro e material, sem pensar nos custos económicos. […] Será que eles [sectores] não sabem que os prejuízos económicos representam dinheiro? Só as grandes empresas de capital estrangeiro é que sabem?”, questionou.

O deputado indicou que as concessionárias são as grandes beneficiadas, mas fogem das responsabilidades: “As empresas do sector do jogo, que é o predominante em Macau, ganham muito dinheiro todos os anos, mas precisam que alguém lhes fale para assumirem as suas responsabilidades sociais durante a ocorrência de grandes incidentes? Isto é demais!”, acusou.

Por este motivo, indicou que as grandes empresas não devem ser beneficiadas pelas políticas do Governo. “Através desta epidemia, creio que todos podem saber que a maioria dos cidadãos está disposta a contribuir com abnegação, o que demonstra ainda mais a gratidão e o amor dos residentes de Macau e das micro, pequenas e médias empresas pela Pátria e pela RAEM”, justificou. “Assim, alguns cidadãos sugerem que as futuras políticas económicas do Governo não se devem limitar às empresas de capital estrangeiro”, sublinhou.

Em Macau há seis concessionárias, entre as quais três tem capitais norte-americanos, nomeadamente MGM, Wynn e Sands China.

AL | Deputados nomeados querem meios para combater associações políticas e civis

Os académicos Davis Fong, Pang Chuan e o advogado Chan Wa Keong querem que sejam criadas leis para combater as “associações políticas e civis” vistas como ameaças à “segurança nacional”

 

[dropcap]O[/dropcap]s deputados Chan Wa Keong, Davis Fong e Pang Chuan defendem a criação de mais mecanismos legais para actuar contra associações políticas e civis, de forma a complementar a Lei da Segurança Nacional. O apelo foi deixado ontem na Assembleia Legislativa, numa intervenção antes da ordem do dia lida pelo advogado Chan Wa Keong, após o primeiro encontro, esta semana, com Ho Iat Seng no comando da Comissão de Defesa da Segurança do Estado.

“Há que avançar com a regulamentação de diplomas complementares à Lei de Segurança Nacional, recorrendo-se a meios jurídicos, à observação perspicaz e a estudos meticulosos para prevenir os actos prejudiciais à segurança nacional por parte de determinadas associações políticas e civis em Macau”, sublinhou Chan.

O advogado citou mesmo as expressões do Presidente Xi Jinping, no ano passado, quando apontou a necessidade do povo chinês estar alerta aos “cisnes negros” e “rinocerontes cinzentos”, tanto a nível externo como interno. A primeira expressão foi entendida como um aviso para eventos difíceis de prever com grande impacto para os mercados financeiros e a segunda como os riscos identificados, que as pessoas optam por ignorar. Ambos foram encarados como desafios à legitimidade do Partido Comunista Chinês, num contexto de desaceleração económica.

“Há que manter a consciencialização para prevenir e resolver os riscos internos e externos, e estar alerta para os incidentes do tipo “cisne negro” e “rinoceronte cinzento”, avisou ainda Chan.

Mais acções

No entanto, ambos os legisladores deixaram ainda um aviso à sociedade de Macau, não basta juras de amor, é preciso passar aos actos de defesa: “Falar sem actuar não contribui para a prosperidade do Estado. O conceito de segurança nacional não pode ficar-se pelo simples slogan, havendo antes que contar com acções reais”, atirou.

Já no âmbito da epidemia do covid-19, Chan pediu obediência e um esforço conjunto da população, sem dissidências nem rumores: “Os residentes de Macau devem articular-se com o Governo na execução da lei, abstendo-se de desobedecer, de inventar, acreditar ou transmitir rumores, devem sim unir-se para combater, em conjunto, a epidemia, salvaguardando a própria segurança, a segurança da RAEM e a segurança nacional”, defendeu.

Na intervenção, Chan Wa Keong, Davis Fong e Pang Chua apontaram ainda os limites da actuação política: “Há que garantir a intocabilidade do limite político, isto é, o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e assegurar a absoluta estabilidade da nossa base constitucional, composta pela Constituição e Lei Básica”, frisou.

Para cumprir este princípio, os deputados pediram um reforço dos poderes do Executivo: “O Governo da RAEM tem de aumentar as competências na governação de acordo com a lei e ter por base a salvaguarda da segurança e dos interesses do País, da RAEM e dos residentes, construindo, mediante constantes aperfeiçoamentos e balanços, um sistema de governação científica”, indicaram como missão a cumprir.

Wong Sio Chak diz que abertura do posto fronteiriço depende de obras complementares

[dropcap]O[/dropcap] secretário para Segurança Wong Sio Chak revelou ontem que a abertura do posto fronteiriço de Hengqin (Ilha da Montanha) vai acontecer o quanto antes, estando agora dependente da realização de testes e da conclusão de obras de aperfeiçoamento, após terem sido detectados “alguns problemas” durante uma visita de acompanhamento aos trabalhos, realizada pelo próprio e pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário.

“Já tive a oportunidade de inspeccionar as obras, bem como o secretário Raimundo. As duas partes estão a tentar fazer algumas obras complementares. Por se tratarem de obras de aperfeiçoamento há sempre contratempos e, por isso, apresentámos muitas sugestões”, explicou ontem Wong Sio Chak, depois de ter marcado presença na reunião da 1ª comissão de acompanhamento da Assembleia Legislativa (AL).

Segundo Wong Sio Chak tratam-se apenas de “pequenas reparações”, cujos custos só serão conhecidos depois de ser feita uma avaliação no final. Ao mesmo tempo, vincou, estão a ser feitos trabalhos de coordenação com vários serviços públicos para testar o funcionamento das operações previstas ao nível da segurança entre Macau e Zhuhai. No entanto, o secretário recusou-se a avançar uma data para a abertura do posto fronteiriço.

“A entrada em funcionamento depende das obras. Apesar de não haver necessidade de passagem de fronteiras neste momento devido à situação da epidemia (…), vamos tentar que o funcionamento aconteça o mais breve possível”, sublinhou, garantindo que o objectivo é que aconteça ainda durante este ano.

Recorde-se que no início do ano o Governo apontou a abertura do posto fronteiriço de Hengqin para o primeiro semestre de 2020. Entretanto, o parecer da proposta de lei sobre as normas para a aplicação do direito da RAEM sobre o posto fronteiriço de Hengqin já foi concluído pela 2ª comissão de acompanhamento da AL.

Apoio em marcha

Questionado sobre os incentivos a dar para o pessoal da linha da frente que tem actuado no primeiro plano de combate ao novo tipo de coronavírus, Wong Sio Chak reforçou que a intenção tem vindo a ser demonstrada pelo próprio Chefe do Executivo, tendo já sido dadas instruções aos secretários.

Segundo Wong Sio Chak, os funcionários públicos que obtenham avaliação de desempenho “Excelente” podem receber licença por mérito ou prémio pecuniário. Já para os agentes de segurança (PJ e CPSP) estão a ser equacionados benefícios para efeitos de acesso ou progressão de carreira e Menções de Mérito Excepcional.