A canção de amor de Serse

“Ombra mai fù”, a ária de abertura da ópera Serse, do compositor alemão naturalizado britânico Georg Friderich Händel, tornou-se uma das suas peças mais conhecidas após ter sido redescoberta e apresentada em 1924, quase 200 anos depois, no Festival Händel em Göttingen, na Alemanha.

Serse (ou Xerxes), HWV 40 é uma ópera em três actos composta e apresentada pela primeira vez em Londres no ano de 1738, cujo libreto foi adaptado por autor desconhecido de um libreto de Silvio Stampiglia (1664-1725) para uma ópera homónima (na verdade, Xerse) de Giovanni Bononcini (1670-1747), apresentada em Roma em 1694. O texto de Stampiglia, por sua vez, é uma adaptação do libreto de Nicolò Minato (1627?-1698), utilizado por Francesco Cavalli (1602-1676), discípulo de Claudio Monteverdi (1567-1643), na sua versão de Xerse de 1654.

Händel dedicou-se à composição de Serse logo após ter completado a ópera Faramondo, HWV 39, em 24 de Dezembro de 1737, tendo descansado somente durante o Natal. A partitura foi concluída em 14 de Fevereiro de 1738. Uma primeira apresentação em forma de concerto teve lugar no dia 28 de Março, mas a estreia no Haymarket de Londres só se deu a 15 de Abril. A obra não foi bem recebida na época, tendo havido nada mais do que cinco apresentações, a última no dia 2 de Maio.

A história passa-se por volta de 450 A.C., durante as Guerras Médicas entre a Pérsia e as cidades gregas. O personagem central é baseado livremente no imperador persa Serse I, o qual se prepara para construir uma ponte sobre o Helesponto, ligando a Anatólia à Europa para que seus exércitos marchem sobre as cidades da Grécia.

Originalmente composta para ser cantada por um castrato (e cantada em representações modernas por um contra-tenor, uma contralto ou uma meio-soprano), a ária “Ombra mai fù” tem sido frequentemente arranjada para outros tipos de voz e instrumentos, incluindo órgão solo, piano solo, violino e piano, e agrupamentos de cordas, muitas vezes sob o título “Largo de Serse”, embora o andamento original esteja marcado larghetto. Na ópera, a ária é precedida por um pequeno recitativo accompagnato de 9 compassos, que introduz a cena (“Frondi tenere e belle”).

A ária em si também é curta, consistindo em 52 compassos e durando tipicamente entre 3 e 4 minutos. É cantada pelo personagem principal, Serse I da Pérsia, e ao contrário do que se espera de um déspota e tirano, Serse, logo na primeira ária da ópera, numa atitude contemplativa e reflexiva, louva a beleza da sombra do seu amado platanus orientalis.

Frondi tenere e belle
del mio platano amato
per voi risplenda il fato.
Tuoni, lampi, e procelle
non v’oltraggino mai la cara pace,
né giunga a profanarvi austro rapace.

Ombra mai fu
di vegetabile,
cara ed amabile,
soave più.

Ramos frágeis e belos
do meu plátano amado,
deixem que o destino vos sorria.
Que os trovões, relâmpagos e tempestades
nunca perturbem a vossa querida paz,
nem os ventos que sopram vos profanem.

Nunca houve sombra
de qualquer planta
mais querida e adorável
ou mais suave.

Alguns autores sugerem que Serse é uma ópera muito pouco convencional para a época e que rompeu com os parâmetros da opera seria estabelecidos por compositores que utilizavam, por exemplo, libretos escritos a partir de textos de Metastasio (1698-1782). Não se sabe se Händel quis promover conscientemente um retorno aos padrões operáticos do final do século XVII, dada a proximidade com a obra de Giovanni Bononcini, ou se desejou simplesmente emprestar maior flexibilidade ao modelo da opera seria em uso, o qual, talvez, já estivesse a gerar um certo cansaço no público londrino. No entanto, o público pode ter ficado confuso com a natureza inovadora do trabalho. Ao contrário das suas outras óperas de Londres, Händel incluiu elementos cómicos (da opera buffa) em Serse. Embora tal fosse típico das obras venezianas do século XVII, como o cenário original do libreto de Cavalli, na década de 1730 era esperado que uma opera seria fosse totalmente séria, sem misturar tragédia e comédia ou personagens de classe alta e baixa. Outro aspecto incomum de Serse é o número de árias curtas, de uma parte, quando uma opera seria típica do tempo de Händel era quase inteiramente composta por longas árias da capo em três partes. É provável que HÄndel tenha sido influenciado, tanto no que diz respeito à comédia quanto à ausência de árias da capo, pelo sucesso em Londres de óperas balada como A Ópera do Mendigo e O Dragão de Wantley, ambas de John Frederick Lampe.

Essa espécie de retorno ao século XVII é vista hoje como uma característica intrigante da ópera, uma vez que, de certa forma, ela também aponta para o final do século XVIII e para Mozart com o seu dramma giocoso. Para muitos é a mais Mozartiana das óperas de Händel, mas não há como saber se Mozart conheceu a obra de Händel. De todo o modo, a afinidade entre os compositores não é propriamente musical. Os seus vínculos referem-se à afinidade criativa e a aspectos dramáticos que nos oferecem uma comédia sofisticada mas que se aproxima da tragédia. Nesse sentido, como nas óperas da maturidade de Mozart, e especialmente Don Giovanni (1787), o personagem Elviro empresta à trama o seu toque cómico, que tem paralelos com Leporello, enquanto o personagem principal, Serse, expõe faces múltiplas da personalidade de um tirano que não aceita que existam obstáculos para os seus desejos, como, até certo ponto, o próprio Don Giovanni.

Sugestão de audição da obra:
Andreas Scholl, countertenor
G. F. Händel, Ombra mai fù: Arias from Giulio Cesare, Admeto, Radamisto, Rodelinda, Serse, Alcina
Akademie für Alte Musik Berlin – harmonia mundi s.a., 1999

Os cavaleiros do amor

Todos os pretextos são bons para lembrar autores tão escondidos como Sampaio Bruno, não pela matéria do entendimento (uma vez que o tempo actual não é condizente com a matéria tratada) mas por serem necessários e urgentes no combate ao pensamento único interpretado por milhares de vozes.

Falta tempo ao nosso tempo, e o tempo que sobra não tem tempo para aquilo que não foque temporariamente a raiz dos problemas comuns, que por acaso são cada vez mais incomuns, na medida em que se nos apresentam como irresolúveis. Mas há um tempo em que nada fala mais alto que os saberes não revelados – revelar – voltar a velar. Processos dialécticos de ínfima construção se abatem neste nosso real, e quando já cansados do asfalto das superfícies teremos então de entrar numa zona de «Encoberto» ou as muitas vozes plenas de justo raciocínio e objetividade podem enlouquecer-nos, ou fazer de um ser um parasita que se esforça para tirar de si o que de si mesmo desconhece.

Sampaio Bruno, de seu nome José Pereira de Sampaio, é considerado o fundador da Filosofia Portuguesa. A sua origem maçónica, a sua filiação republicana foram factores determinantes para a construção da sua moral cívica. Redactor do Manifesto Republicano do malogrado 31 de Janeiro de 1891, onde em conjunto com Antero de Quental também elabora os estatutos da Liga Patriótica do Norte, Sampaio Bruno é sem dúvida uma incontornável personalidade a quem o exílio em Paris fragilizou. O desvio dos princípios racionalistas da sua juventude destronam-se subitamente, ou não tanto, talvez até gradualmente, e Bruno ensimesmado, incansável, desiludido com a República, solitário e de saber tamanho, torna-se um esotérico, uma natureza religiosa, estruturando elementos que faltavam para a construção de uma Filosofia (independentemente do complexo conceito que neste caso convém ter em atenção). Os múltiplos aspectos de que se reveste talvez não sejam consentâneos com a Filosofia em si, mas a Ibéria reescreve um seu modelo filosófico onde esta voz foi importante para deixar abertas as portas deste diálogo.

É claro que Fernando Pessoa o seguiu e consultou durante toda a sua vida, chegando mesmo a enviar-lhe o primeiro original de «Orpheu» e, acaso os mistérios falem, nem as datas aqui devem ficar por contar: Sampaio Bruno nasceu no dia em que Pessoa morreu. Os Cavaleiros do Amor, o livro que se intitula também – Plano de um livro a fazer – é uma obra complexa e apaixonante, intrigante, talvez demasiado onírica e pejada de conhecimentos que necessitam um caminhar constante nos trilhos de outros saberes, mas é neste mês de Abril que ele ergue o seu dom de manifestação e cariz profético. Nas nossas vidas, vimo-los e saudámo-los, aconteceu esse belo acaso sem que soubéssemos que estava anunciado, e quem são e ao que vêm estes Cavaleiros?

Numa contemplação esotérica de enunciação remota eles são os Capitães de Abril e a sua mensagem é esta na voz do autor: os tais libertos libertadores, libertando-se a si, libertando os seus irmãos da espécie, contribuem para a libertação universal. É uma mensagem colectiva que ganhou na marcha o efeito sonhado. São as aspectos arquetípicos que possibilitaram a manifestação.

E é por isso que os ângulos de um acontecimento não se esgotam nos seus reais efeitos, pode-se festejar a forma rara deste anunciado por prismas outros e continuar a Festa muito para além do seu artefacto. Creio mesmo que faltou uma abordagem diferente desta etapa da vida portuguesa, e isso iria reflectir-se da pior maneira. Que seja Sampaio Bruno, o grande «Encoberto», a desvendar a marcha, talvez nem queira agora dizer nada pois que ela fala por si na fonte das coisas imperecíveis. E quando cansados do trilho das sociedades nos preparamos para andar à roda de nós mesmos no ciclo fechado que nos atavia de mortes póstumas pelo festejar rotativo de algo por interpretar, seria bom conhecer melhor os nossos Cavaleiros do Amor. Nada é de facto mais parecido; nem faltou a juventude, a beleza, o arrojo, e um Maia lembrando as festas da Primavera, as «Maias», os «Maias» … os Maios.

No entender de tudo isto e indo à essência pura do registo que aqui nos traz, e sabendo-o, ao autor, um conhecedor de todas as Ordens e um seu herdeiro, diz assim: «Todavia, – quero ter a coragem de dizê-lo, consoante ainda rapaz me atrevi a dizê-lo a meu próprio pai -, em regra, e como princípio geral superior, não simpatizo com associações secretas, e não simpatizo com associações secretas porque é força da sua essência que elas façam prevalecer sobre a ideia da justiça para todos, a ideia da protecção para alguns; e, assim, sacrificam o direito profano à iniquidade do iniciado, com cuja causa o laço da misteriosa solidariedade se aperta. »

Ficam assim os efeitos germinais que de longe vêm para um tempo comum agora aqui, e que olha para onde? Endogâmico, incapaz de estabelecer contacto com a frustrante derrocada da sua liberdade, conspirando por deficiência para o aniquilamento de si mesmo, pode no entanto abrir ainda todas as portas que Abril abriu! Tudo o que está escondido é protegido por um anjo que incólume andará por entre as gentes. É tempo de o encontrar.

Google | ‘Smartphones’ da Huawei vão continuar com serviços básicos

Apesar das limitações impostas, na semana passada, pelas autoridades dos EUA às trocas de serviços entre a gigante tecnológica chinesa e empresas norte-americanas, a Google garante a manutenção dos serviços básicos nos ‘smartphones’ da Huawei

 

[dropcap]A[/dropcap] Google assegurou ontem que os utilizadores dos ‘smartphones’ da Huawei vão continuar a ter os serviços básicos da companhia norte-americana apesar das restrições impostas por Washington às relações comerciais com a empresa chinesa.

A Google, uma unidade da Alphaber Inc., afirmou ontem que está a cumprir e “a analisar as implicações” da exigência de licenças de exportação para vendas de tecnologia à Huawei Technologies Ltd.

O pedido da semana passada surge depois das acusações do Governo dos EUA de que a Huawei, a maior fabricante de equipamentos de rede para empresas de telefones móveis e a segunda maior marca mundial de ‘smartphones’, é um risco para a segurança.

“Garantimos que, enquanto cumprimos todos os requisitos do Governo dos EUA, serviços como o Google Play e a segurança do Google Play Protect continuarão a funcionar no seu dispositivo Huawei existente”, afirmou o Google no Twitter.

A Huawei disse que não faz comentários imediatos e nega que facilite a espionagem chinesa. A Huawei, que usa o sistema operativo Android da Google é a segunda maior marca global de ‘smartphones’ em número de aparelhos vendidos, atrás da Samsung Electronics, da Coreia do Sul.

A Google permite que os fabricantes de ‘smartphones’ utilizem o Android e os seus serviços básicos gratuitamente. Analistas do sector afirmam que isso significa que eles não seriam afectados pela restrição de vendas ou interacção comercial.

A transferência de hardware, software ou serviços para a Huawei ou interacção técnica com a empresa chinesa seria restrita pela ordem dos EUA na semana passada.

Em actualização

A ordem entrou em vigor na quinta-feira e exige a aprovação do Governo para todas as compras de ‘microchips’, software e outros componentes dos Estados Unidos, globalmente, pela Huawei e 68 empresas afiliadas.

O Governo dos Estados Unidos afirma que fornecedores chineses, incluindo a Huawei e a sua rival menor, ZTE Corp., representam uma ameaça de espionagem porque estão legalmente comprometidos com o Partido Comunista da China.

Mas as autoridades americanas não apresentaram provas de que algum equipamento da Huawei sirva como canal intencional de espionagem por parte de Pequim.

Entretanto, a gigante tecnológica Huawei assegurou ontem ter feito “contribuições substanciais” para o desenvolvimento do sistema operativo Android, garantindo que continuará a disponibilizar actualizações de segurança e serviços pós-venda a todos os seus equipamentos.

A Huawei informa que continuará a fornecer actualizações e serviços pós-venda a todos os seus equipamentos, tanto “aos que já foram vendidos, como aos que ainda estão em armazém”.

“Mercado aberto”

Bruxelas voltou ontem a insistir que a Europa é um “mercado aberto” e que cabe a cada país decidir se põe restrições a uma empresa por razões de segurança, numa alusão ao veto de Washington à chinesa Huawei. “Temos um mercado aberto. Tudo o que cumpra com as normas pode aceder a ele”, disseram fontes comunitárias à agência Efe, quando questionadas sobre a decisão da Google e outras tecnológicas norte-americanas de deixar de vender componentes e programas à Huawei. A Comissão Europeia deixou claro que tem em vigor normas de concursos públicos, assim como uma lei para supervisionar investimentos a fim de proteger interesses comunitários.

Design moçambicano e pintura guineense no ArtGarden Galery

Patrícia Vasco e Sidney Cerqueira são dois jovens artistas que, a convite da organização da Semana de África 2019, vieram a Macau mostrar peças de design de moda moçambicano e de pintura guineense. Ontem de manhã, enquanto montavam a exposição conjunta no ArtGarden Galery, falaram da sua arte ao HM

 

Como é que o design de moda e a pintura entraram na vossa vida? Quando é que começaram a criar os vossos primeiros trabalhos?

[dropcap]P[/dropcap]atrícia Vasco (PV): O design de moda entrou na minha vida por causa da dança, que é uma das minhas formações de base. Eu desenhava roupa para os espectáculos que fazia, mas na altura ainda só por brincadeira. Mais tarde, já eu trabalhava num banco para conseguir ter uma renda um pouco maior, decidi participar num evento que acontece anualmente em Moçambique – o Mozambique Fashion Week –, onde as pessoas apresentam os seus modelos. Entrei pela primeira vez, em 2013, na categoria de ‘young designer’, e desde então não deixei mais o design. Hoje tenho 29, mas apesar de ter começado a criar cedo, essa foi a data oficial, quando também criei a minha marca ‘Amorambique’, que era o nome da colecção que apresentei.
Sidney Cerqueira (SC): Eu faço parte de uma família de artistas e sempre desenhei desde criança. Sempre estive ligado ao desenho, mas a pintura aconteceu em 2014, quando a minha parceira, na altura, insistiu muito comigo para eu fazer um curso de pintura. Só que eu não estava muito entusiasmado. Até que um dia, ao chegar a casa, vi um formulário em cima da mesa, para fazer um curso à distância. Inscrevi-me, enviaram-me os materiais, cavaletes e telas, e foi assim que comecei. Nunca mais parei até hoje. Isto aconteceu em Lisboa, para onde eu fui viver no ano 2000, embora seja da Guiné Bissau.

O que é que vos inspira quando criam as vossas peças?

SC: Eu há muito tempo que deixei de ficar à espera de inspiração, porque tenho que trabalhar… (risos). Todos os dias entro no atelier de manhã e saio à noite, excepto ao fim-de-semana. É à noite, quando vou para a cama, que começo a trabalhar mentalmente no próximo quadro. Também faço muita pesquisa na internet e vou-me inspirando nos trabalhos de outros artistas.

PV: Olha, a capulana em si já nos inspira a fazer várias coisas. É o nosso tecido tradicional e proporciona-me várias ideias. Normalmente não crio nada que não exista já, o que faço é conjugar os tecidos tradicionais com alguns materiais para fazer coisas novas e adaptá-las à moda. A ideia é internacionalizar o nosso tecido. Só fiz moda durante um ano, porque em Moçambique temos já muitos estilistas. Para não ficar na ‘mesmice’, decidi enveredar pela área dos acessórios: carteiras e calçado.

E, do ponto de vista emocional, como é que definem a vossa arte?

PV: É impossível ficar triste ao lado da capulana! Por mais que o dia esteja cinzento, se a pessoa está vestida com todas aquelas cores da capulana, não consegue não ficar bem. No fundo, o que faço é transmitir essa alegria e uma certa confiança. Mostrar o que é nosso, de forma enquadrada, através das carteiras e do calçado, provando que é possível fazer moda actual com estes tecidos, que não são só para as pessoas com menos posses. Apesar de servirem habitualmente para carregar crianças ao colo, ou segurar num balde de água, também podem ser integrados no nosso dia-a-dia, inclusive em locais de trabalho mais formais como, por exemplo, num banco, como aquele onde trabalhei.

SC: Sim, é muita alegria! Muita alegria e muito calor. As minhas cores preferidas são o vermelho e o amarelo, as cores quentes são as que eu mais uso. Isto foi uma evolução, do carvão para a cor. Ainda me lembro do primeiro quadro que fiz, decidi pintar camelos, mas foram os camelos mais feios que alguma vez surgiram na tela. Esse quadro já nem existe. Claro que houve uma evolução, comecei com a paisagem, depois fui para o abstracto, passei ao figurativo, já fiz realismo também e, agora, misturo um pouco do realismo com o abstracto. É como vai saindo no momento. E tudo com cor, porque a África tem muito influência no meu trabalho.

Como é que está a evoluir a pintura na Guiné Bissau e o design de moda em Moçambique? E como vêem também hoje a arte africana no contexto mundial?

SC: Hoje em dia a pintura africana está a sair daquele estilo habitual, sempre com as mulheres com uma cabaça na cabeça, ou as tabancas e as aldeias. A arte está a desprender-se disso, já temos arte africana contemporânea, e pessoas a fazer pintura com plástico, por exemplo, com a mensagem da reciclagem. Em Moçambique, em Angola, no Senegal, então, estão a fazer-se coisas incríveis! A arte em África está a evoluir muito. As dificuldades que temos são o acesso a galerias, a falta de materiais para trabalhar, a falta de condições para expor na Europa ou na América. Só não temos falta, realmente, é de artistas e de ideias.

PV: Nós, em Moçambique, ainda estamos a caminhar. É algo que eu sinto que ainda é novo. Há muitos jovens designers super talentosos, só que não existem muitas oportunidades. Temos apenas uma plataforma para mostrar o trabalho dos designers – o Mozambique Fashion Week – que só acontece em Dezembro. De Janeiro até Novembro não acontece nada, o designer é que tem que correr atrás das oportunidades. Alugar um espaço para fazer um desfile é muito difícil, para comprar os tecidos e materiais é preciso patrocínios, e nós não temos. E depois não é só isso.

Em Moçambique, a arte ainda não é uma profissão estável, como ser médico, bancário, piloto. Ser artista é visto como uma ocupação para quem não tem que fazer. Enquanto que, em países como a Nigéria ou o Senegal, isso já é fonte de sustento e encontram-se ruas inteiras só de lojas.

E as vendas online? É através da internet que vocês dão a conhecer ao público o vosso trabalho?

PV: Sim, sim. Eu vim a Macau pelo Instagram! E fui a Paris pelo Instagram. Se não fosse a internet, seria muito difícil.

SC: Sem ela a minha carreira não seria o que é hoje, 90 por cento do que eu vendo é pela internet.

A internet trouxe-vos uma plataforma de visibilidade para os restantes países lusófonos e para o mundo, onde já têm exposto o vosso trabalho. Essas experiências também se reflectem depois nas obras seguintes?

SC: Sim, isso também nos inspira. É um intercâmbio e, sem fazer muito esforço, ele acontece. Eu estou sempre aberto a novas coisas, novas ideias, novas amizades, outras culturas. E quero aprender, sinto que ainda não sei nada. Quanto mais se viaja, mais se absorvem coisas novas e positivas.

PV: Claro que sim. E é incrível também ver o ‘feedback’ das pessoas de fora, que quando vêem coisas africanas ficam maravilhadas.

É a primeira vez que vêm a Macau. As cores e as luzes do território também vos impressionaram?

PV: Sim, causa algum impacto ver o céu cinzento e depois olhar para as estruturas que são em dourado e vermelho, tudo colorido. E a temperatura lembra-nos muito os nossos países, Moçambique e Guiné Bissau. Vamos levar muita coisa daqui, com certeza, e vamos inspirar-nos para as próximas colecções.

SC: Eu só cheguei ontem [domingo]. Mas vou levar alguma coisa comigo, de certeza absoluta. Fiquei completamente apaixonado pela cidade, pelo que vi ontem. É a primeira vez que venho para a Ásia e que vejo algo assim, edifícios totalmente iluminados, com várias cores e cheios de vida. É muito bonito.

Também já passearam pelas zonas de influência colonial portuguesa?

SC: Eu ainda não tive oportunidade.

PV: Eu já fui passear ali pelo Largo do Senado e pensei que estava em Lisboa! Restou muito pouco, mas lembra muito. O clima é que me pareceu mesmo que saímos de África para chegar a África…

Vocês vieram de África para a China, mas há muito que a China chegou a África. Já estavam acostumados com a cultura asiática?

SC: Eu vim de Portugal. Mas os chineses na Guiné são muito reservados. Não frequentam cafés, nem bares ou discotecas. Criam os espaços de encontro deles, mas não os conhecemos. Só temos contacto com eles através das lojas [de artigos baratos]. E também não temos restaurantes chineses na Guiné Bissau.

PV: Em Moçambique eles investiram muito em infra-estruturas no país, têm também muitas lojas de coisas chinesas, e frequentam os nossos restaurantes. Saem às sextas-feiras para os nossos locais, claro que com os grupos deles, mas se alguém lhes falar, também fazem conversa. E os moçambicanos também frequentam muito os restaurantes deles. Até temos um restaurante de Macau!

Visto que só se conheceram agora em Macau, o que tiveram oportunidade de descobrir já sobre a obra um do outro?

PV: Eu só agora é que estou a ver as obras dele, e estou muito interessada em saber de onde vêm estas cores e esta inspiração. Certos pintores têm uma pintura tão abstracta, que a pessoa tem que ficar ali horas para tentar entender o que está a ver, mas a dele eu olho e já sei o que é. E o quadro que me chamou logo a atenção foi o da bailarina, porque a minha formação é de dança.

SC: É interessante, como eu disse de manhã na rádio, cada quadro é uma história, esta exposição é um livro de contos. Este quadro da bailarina, com essa fita onde ela está suspensa, para mim essa fita é a vida. Ou seja, se nós não nos equilibrarmos na vida, o resultado é tombarmos. E quem melhor para falar do equilíbrio, do que uma bailarina. Essa é a mensagem.

Que peças trouxeram na mala para exibir nesta exposição que hoje [ontem] inaugura em Macau?

SC: Algumas das obras já faziam parte de outras colecções, como o Chaplin ou o Gandhi, que fiz, para uma exposição do Parlamento Europeu, e quis trazer também até Macau. Mas, a maior parte dos quadros, fiz a pensar nesta exposição. O da bailarina já existia, é o quadro mais antigo que eu tenho aqui, que é de 2016. São 17 peças com técnicas diversas: uns são acrílicos, outros são óleos, outros são óleo e acrílico. Eu trabalho com óleo, acrílico e aguarela.

PV: Eu trouxe muita coisa, são várias peças em capulana, e ainda não tenho ideia do que vou expor. Vou esperar para ver o que sobra, em termos de espaço [após a instalação dos quadros de Sidney Cerqueira], para organizar as minhas peças.

Banco da China | Macau acolhe reunião dos banqueiros dos países lusófonos

A directora-geral do Departamento de Instituições Financeiras do Banco da China revelou que a Associação de Bancos de Macau vai acolher, ainda este mês, um encontro de líderes da banca lusófona, onde estará presente Carlos Costa, governador do Banco de Portugal. Wendy Sun Min, em entrevista à LUSA, referiu ainda que é difícil encontrar bons projectos para investir em Portugal

 

[dropcap]”N[/dropcap]o final deste mês vamos fazer um seminário para promover a cooperação entre bancos comerciais lusófonos e Macau, num encontro para o qual convidámos todas as associações de bancos dos países africanos que falam português e os departamentos comerciais e de investimento”, disse à Lusa Wendy Sun Min.

Em entrevista na delegação do Banco da China em Macau, a responsável pelo relacionamento com as entidades financeiras internacionais disse que o governador do banco central português, Carlos Costa, e o homólogo de São Tomé e Príncipe, Américo Barros, são duas presenças já confirmadas na conferência que decorre ainda este mês em Macau.

“Durante o evento, um seminário de alto nível, todos vão poder partilhar informações e ideias para construir uma relação de longo prazo”, disse Wendy Sun Min, acrescentando que a ideia é que não sejam apenas os banqueiros centrais a participar, mas também “os principais banqueiros da banca comercial para trocar ideias”.

A Associação de Bancos de Portugal, além da anfitriã e congénere de Macau, são duas presenças confirmadas, a que se juntam os governadores centrais de Portugal e São Tomé e Príncipe.

Agulha no palheiro

A representante do Banco da China mencionou que é difícil encontrar bons projectos e oportunidades de investimento em Portugal, apesar de as empresas chinesas terem liquidez e vontade de investir. “Estamos à procura de investimentos em Portugal, mas há um problema; o nosso mercado é muito líquido e não há muitas oportunidades, ou seja, temos o dinheiro e queremos investir, mas é muito difícil para nós encontrar bons projectos e boas oportunidades” em Portugal, lamentou Wendy Sun Min.

A dirigente referiu ainda que o objectivo é “fazer mais investimentos em Portugal”, usando os vários fundos que têm sido criados nos últimos anos para este efeito.

“Temos um fundo sino-português, fundado pelo Governo chinês e também com algum financiamento disponibilizado por Macau, que tem várias fases, mas que já tem um capital inicial de 500 milhões de dólares, e faseadamente, irá aumentando”, acrescentou. “Há outros fundos soberanos, como o Fundo de Cooperação da China, que também pode investir em Portugal, há muitos fundos disponíveis à procura de oportunidades para investir; aqui no Banco da China Macau também podemos financiar empresas, sejam públicas ou privadas, que estejam interessadas em investir nos países de língua portuguesa, e Macau pode ser um centro de apoio para esse investimento”, apontou a responsável.

O aprofundamento da relação financeira da China com Portugal, especialmente visível nos últimos anos, mede-se também noutros aspectos da actividade do banco, que vão além do financiamento, disse Wendy Sun Min, apontando como exemplo deste aprofundamento das relações o recrutamento de mais pessoas que falam português fluente, que se juntam às cinco actuais, e o aumento da periodicidade das viagens para Portugal, que deixarão de ser anuais para passarem a ser trimestrais.

“Vamos começar a ir mais vezes a Lisboa. Dantes íamos uma vez por ano e agora vamos começar a ir trimestralmente, para termos uma comunicação mais frequente com os bancos portugueses e com o mercado chinês, porque como vamos frequentemente à China, podemos passar e partilhar informações” que depois podem resultar em negócios e investimentos, disse.

“Vamos também promover oportunidades de investimento na China, porque com o passar da crise financeira e a recuperação económica em Portugal, as empresas já têm capacidade para exportar e se internacionalizarem, e contactam os seus banqueiros privados para encontrar oportunidades de investimento; estes bancos falam connosco e nós passamos a informação aos nossos clientes e parceiros na China continental”, disse.

Para facilitar esta comunicação, Wendy Sun Min anunciou ainda o lançamento de uma plataforma electrónica de comércio para resolver problemas de comunicação entre as entidades empresariais e financeiras dos dois países.

“A comunicação, no passado, não era feita presencialmente, mas sim através de correio electrónico e telefonemas, e isto por vezes não é muito eficiente; estamos a tentar resolver isto lançando uma plataforma de e-commerce, na qual vamos publicar informações e oportunidades financeiras e de investimento, para que não seja preciso preocuparem-se com a diferença horária, a comunicação e a língua, porque podem usar a plataforma para saber mais sobre os projectos”, concluiu a responsável.

Plataforma monetária

Wendy Sun Min sublinhou também a honra em servir de plataforma entre o investimento chinês em Portugal e os mercados lusófonos. “Temos muitos recursos para apoiar o investimento nos países de língua portuguesa, e o Governo de Macau quer muito ajudar as empresas locais e chinesas porque pensam que é nossa responsabilidade, nós temos orgulho em ser a plataforma de investimento direccionado para Portugal”, disse a directora-geral do Departamento de Instituições Financeiras do Banco da China.

A responsável da instituição financeira vincou que as empresas chinesas e portuguesas têm “muitas vantagens” em usar Macau como plataforma de investimento e exemplificou com a China Construction, uma das maiores empresas chinesas no sector da construção civil e obras públicas. “Macau tem muitas vantagens, por exemplo a China Construction expandiu a sua actividade para Portugal e o director-geral em Portugal dantes trabalhava em Macau”, exemplificou.

Wendy Sun Min indicou que “uma das coisas boas de Macau é que, como há muitas pessoas que falam chinês e português, se as empresas quiserem investir em países de língua portuguesa, vão precisar de alguém que fale a sua língua e também português, e é mais fácil encontrar estes profissionais em Macau por causa das relações históricas, tornando Macau numa plataforma para as empresas chinesas investirem nos países lusófonos”.

Benefício mútuo

Outro dos temas abordados em entrevista à LUSA foram as negociações com países lusófonos quanto à eventual emissão de dívida em moeda chinesa. “Temos alguns contactos, mas há coisas que temos de manter confidenciais, mas a emissão de títulos de divida em moeda chinesa é possível e é benéfica para ambas as partes”, respondeu Wendy Sun Min quando questionada sobre uma possível emissão de dívida soberana de Angola ou Moçambique em renminbis.

A responsável lembrou que a moeda chinesa já faz parte das moedas aceites internacionalmente para emissão de dívida soberana “e por isso mais países estão a tomar atenção ao renminbi, de forma a terem algumas reservas nesta moeda”. Os títulos de dívida de um país emitidos em moeda chinesa são conhecidos como ‘pandabonds’, e Portugal é um dos países que se prepara para lançar dívida pública nesta moeda.

“A economia de Portugal está a melhorar, há bastante liquidez, as pessoas estão à procura de oportunidades e antes não estavam familiarizadas com o mercado chinês. Nós queremos ter a oportunidade de nos apresentarmos e mostrar as oportunidades de investimento para o mercado europeu e, em especial, para o mercado português”, disse Wendy Sun Min.

Em Outubro, Lisboa e Pequim assinaram, através da Caixa Geral de Depósitos e do Banco da China, um acordo que prevê a emissão de dívida pública portuguesa em renminbi. Este foi um dos 17 acordos bilaterais formalizados durante a visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal, no ano passado, que surgiu no seguimento da autorização dada pelo banco central chinês, em 2017, à emissão de dívida portuguesa nesse país.

Portugal é o quinto maior destino de investimento estrangeiro da China, num montante que já ultrapassou os nove mil milhões de euros desde o princípio desta década, mil milhões dos quais foram canalizados através da intervenção ou mediação do Banco da China, concluiu Wendy Sun Min.

Segurança | Operação policial no Cotai resulta em dezoito detenções

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária desencadeou uma operação na noite de domingo, entre as 20h e as 2h, no strip do Cotai com o objectivo de apanhar carteiristas, troca ilegal de moeda, entre outras actividades criminais.

A operação policial resultou na intercepção de 292 pessoas, entre elas 262 homens e trinta mulheres. Deste universo, 19 homens foram conduzidos para as instalações da Polícia Judiciária, onze por suspeita de troca ilegal de dinheiro e sete por suspeita de “angariação de gorjetas”. Esta actividade é praticada por pessoas que circundam as mesas de jogo com o intuito de pedir fichas a quem acabou de ganhar uma aposta.

Os dezoito suspeitos presentes às autoridades são todos oriundos do Interior da China e, segundo informação prestada por fonte da Polícia Judiciária ao HM, foram entregues ao Serviço de Migração da Polícia de Segurança Pública (PSP).

De acordo com informação prestada pela PSP, até ontem os suspeitos ainda estavam em processamento, mas “serão repatriados de acordo com lei”.

Esta operação policial no Cotai, realizou-se 24 horas depois de um caso de violência à saída do Hotel Four Seasons ter resultado num morto e três feridos.

Imobiliário | Preço médio do metro quadrado volta a subir em Abril

[dropcap]O[/dropcap] custo médio do metro quadrado ficou 4,8 por cento mais caro neste último mês de Abril, em relação ao período homólogo de 2018. No mês passado, o preço médio fixou-se em 107.403 patacas, de acordo com informação da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF).

O mês em análise registou o segundo maior valor deste ano, batendo Março quando o preço médio do metro quadrado ultrapassou as 110 mil patacas. Os valores mais altos praticados no território continuam a ser em Coloane, onde os preços chegaram ultrapassaram as 125 mil patacas.

Na península, o metro quadrado custou em média 103.366 patacas, enquanto que na Taipa se fixou em 94.575 patacas. Em Abril deste ano transaccionaram-se menos casas, 787, face ao mesmo mês de 2018, quando as transacções registadas foram 964. Do total das casas vendidas, 650 foram para primeira habitação. Ao longo do mês passado, apenas três casas foram compradas por não residentes.

Justiça | TSI reduz pena por tentativa de homicídio

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) reduziu a pena de um homem condenado acusado da prática, como autor material e na forma tentada, de um crime de homicídio e de incêndio, explosões e outras condutas especialmente perigosas de 11 anos de pena efectiva de prisão para a pena de 9 anos.

A revelação foi feita ontem pelos tribunais da RAEM. O caso aconteceu em Dezembro de 2017. Depois de uma briga de namorados na loja de ferragens da vítima, o homem regou o espaço com tintas e diluentes e pegou fogo ao espaço. A vítima ficou dentro da loja e sofreu queimadores de primeiro e terceiro graus em grande parte do corpo, o que colou a sua vida em perigo.

No acórdão, o TSI sublinhou que aceita a condenação do Tribunal Judicial de Base (TJB), que o julgamento foi adequado, mas corrigiu a pena quanto ao valor da indemnização.

O TJB entendia que o pagamento deveria ser de um milhão de patacas, mas o TSI corrigiu esta parte, à luz de novos documentos apresentados pela defesa, e considerou que feitas as contas, a compensação deveria ascender a 2,5 milhões de patacas. À luz destas contas, acabou por baixar a pena em dois anos, para um total de nove anos de prisão.

Património | Mario Ho pede desculpas, IC remete para proprietário

Mario Ho assume responsabilidades e pede desculpas aos cidadãos de Macau depois da divulgação de imagens onde aparece a escrever numa parede situada em zona de protecção do Património Mundial. O Instituto Cultural refere que contactou o proprietário do edifício, a quem caberá pedir responsabilidades, enquanto Sulu Sou exige que as autoridades actuem com seriedade

 

[dropcap]”Q[/dropcap]uero pedir desculpas a todos os cidadãos de Macau e aos vários departamentos do Governo”. As palavras são de Mario Ho, filho de Stanley Ho e Angela Leong, depois da divulgação de imagens em que aparece a escrever uma mensagem de amor à noiva, na altura namorada, na parede de um edifício na Travessa da Paixão, nas imediações das Ruínas de São Paulo.

Em declarações à comunicação social, Helena de Senna Fernandes disse que os Serviços de Turismo iriam acompanhar a situação, nos departamentos competentes, de modo a aferir se havia razão para investigar o caso.

Em declarações ao HM, o Instituto Cultural (IC) revelou que “o edifício cuja parede foi alvo de graffiti situa-se na zona de protecção do Património Mundial”. Porém, “não é um edifício patrimonial, mas propriedade privada”. Como tal, o IC passa a bola para o proprietário, a quem se “reserva o direito de apurar quaisquer responsabilidades relevantes decorrentes deste acto de graffiti”.

Mario Ho, que se descreve num post de Instagram como um cidadão cumpridor da lei, argumenta que as inscrições na parede foram ideia da produtora do programa de televisão em que participava e que não pensou muito bem nas consequências no momento.

Em relação às filmagens, o Instituto Cultural contraria as declarações da directora dos Serviços de Turismo, revelando que “recebeu, em Novembro de 2017, o requerimento de filmagem em Macau do programa de variedades online ‘Mr Left Mr Right’, e que, após avaliação, o requerimento foi aprovado. Segundo as informações apresentadas pelo requerente, a Travessa da Paixão seria um dos locais de filmagem, mas o requerente não mencionou qualquer plano de filmagem relativo a graffiti”, informa o IC.

Outra medida

“A culpa foi minha e assumo responsabilidades perante o Governo, estou disposto a cooperar com a investigação e aceito as consequências que vou usar como lição”, comentou Mario Ho no Instagram.

Em relação a este caso, Sulu Sou respondeu noutra rede social, o Facebook, recordando um caso ocorrido em 2015 quando cinco filipinos foram detidos depois de grafitarem a parede de um edifício protegido como património arquitectónico. O deputado pergunta se as autoridades vão actuar de forma semelhante, uma vez que há que se cidadãos interrogam se existem dois pesos e duas medidas das autoridades consoante a posição de poder.

“Como se trata de uma pessoa muito conhecida, temo que sirva de exemplo para os turistas. Espero que o Governo lide com a situação de uma forma séria”, comentou Sulu Sou ao HM.

A este respeito, o IC refere que “atribui grande importância à promoção e educação sobre a protecção do património cultural, promovendo a sensibilização junto de vários sectores da sociedade através de diversos canais, como inspecções no local, vídeo, panfletos e publicidade online”. O organismo gerido por Mok Ian Ian sublinha que “irá continuar a promover a conservação do património cultural” de Macau.

Conselhos consultivos | Pereira Coutinho critica número excessivo de órgãos

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre aquilo que considera ser um elevado número de conselhos consultivos no seio da Administração, uma vez que, até Dezembro do ano passado, foram criados “45 organismos consultivos, 78 organismos funcionais e 28 fundos”.

“Vai o Governo rever a quantidade enorme de conselhos consultivos e a necessidade de existência destes organismos, bem como de dezenas de fundos?”, inquiriu. Além disso, o deputado questionou se o Executivo de Chui Sai On “vai ponderar fundir e extinguir muitos destes organismos e fundos”, dando o exemplo do Conselho Consultivo para a Reforma da Administração Pública ou da Comissão de Avaliação dos Serviços Públicos, entre outros.

Coutinho afirma também que existem “organismos de fachada” que realizam pouco trabalho, e que servem apenas para assumir responsabilidades políticas ou atrasar decisões.

José Pereira Coutinho recorda também que, além de manter estes conselhos consultivos, o Governo “tem aumentado a despesa anual com a encomenda de estudos e pareceres a entidades privadas, cujo resultado é, muitas vezes, mantido em segredo, levantando dúvidas da real necessidade, com prejuízo para o erário público”.

Nesse sentido, é pedido em interpelação escrita que haja “maior transparência governativa” através da publicação nas respectivas páginas electrónicas de todos os estudos e pareceres encomendados a entidades privadas e universitárias, incluindo os seus custos”.

4 de Junho | Pró-democratas querem comissão de inquérito

Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Sulu Sou querem deputados a votar sobre uma investigação aos acontecimentos que ficaram conhecidos como o Massacre de Tiananmen. Ng recordou ontem uma manifestação que aconteceu em Macau há 30 anos, durante a passagem de um tufão

 

[dropcap]O[/dropcap]s deputados Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Sulu Sou apresentaram uma proposta para criar uma comissão da Assembleia Legislativa para investigar os acontecimentos de 4 de Junho de 1989, na Praça de Tiananmen em Pequim. A revelação sobre a proposta, que terá de ser discutida pelos legisladores, foi feita por Au e Ng nas redes sociais.

“Este ano celebra-se o 30.º aniversário dos acontecimentos de 4 de Junho. A verdade histórica não se compadece com a versão oficial, mas para de alguma forma tranquilizar os envolvidos e fazer o País entrar na direcção correcta da Democracia, temos a esperança que o Movimento Democrata de 1989 possa ser reabilitado o mais depressa possível, também para tratar de forma justa as vítimas”, pode ler-se na nota justificativa da proposta.

Segundo o texto publicado, há quatro objectivos definidos pelos deputados para a comissão. O primeiro passa por “realizar uma investigação independente e justa” sobre os acontecimentos de 1989 em Pequim. O segundo objectivo passa por descobrir o que aconteceu às vítimas e informar as famílias sobre os acontecimentos que envolveram os seus familiares. No terceiro ponto, os deputados pró-democratas sublinham a necessidade de compensar os familiares pelas perdas, “de acordo com a lei”. Finalmente, Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Sulu Sou defendem que é preciso responsabilizar criminalmente as pessoas que ordenaram que as tropas carregassem sobre os manifestantes.

Nos últimos anos, Au e Ng, assim como a Associação Novo Macau, têm celebrado os 30 anos do incidente com a realização de vigílias na Praça do Senado. Contudo, este ano optam por levar a acção também para o hemiciclo.

Acontecimentos

Os acontecimentos de 4 Junho de 1989 ficaram marcados pela decisão das tropas chinesas de terminar a manifestação na Praça Celestial, que se prolongou por várias semanas. Até essa data, e desde Abril, grupos de pessoas manifestaram-se no local para pedir a democratização do sistema político chinês, assim como fortes medidas de combate à corrupção.

Inicialmente tolerado, o Movimento Democrático de 1989 foi ganhando força, até que o Exército de Libertação do Povo Chinês acabou por decidir recorrer à violência para dispersar os manifestantes. A decisão de carregar sobre as pessoas foi tomada depois das autoridades terem pedido aos manifestantes para regressarem a casa.

Embora o acontecimento seja conhecido pelo local da manifestação, é discutível que tenha havido vítimas mortais na Praça de Tiananmen. A maior parte das mortes terá mesmo acontecido na Parte Oeste da cidade, quando os militares se deslocavam para a praça.

Também o número de vítimas não é consensual. Segundo os dados oficiais do Governo Central, o incidente causou 241 mortos, entre os quais 218 civis (incluindo 36 estudantes, 10 soldados e 13 polícias. Já outras fontes, como relatos de diplomatas americanos ou a Amnistia Internacional apontam para entre 300 e 1.000 mortes.

Em Macau, o acontecimento gerou uma onda de simpatia para com as vítimas, com manifestações de apoio mesmo entre as associações tradicionais. Ontem, Ng Kuok Cheong publicou online uma fotografia que retrata uma das manifestações de 1989 no território, que decorreu durante a passagem de um tufão.

Candidatos ao colégio eleitoral sem tecto máximo para campanha

[dropcap]O[/dropcap]s candidatos ao Colégio Eleitoral, que vai eleger o próximo Chefe do Executivo, vão poder gastar na campanha o que bem entenderem. Segundo a legislação actual, os 250 concorrentes às 244 vagas não têm qualquer limitação ao nível do orçamento, embora a Comissão dos Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE) admita que a lei de Eleição do Chefe do Executivo possa ser tida como referência.

“Em relação ao orçamento dos candidatos ao Colégio Eleitoral, não há um limite. Por isso, só se diz que pode ser aplicada a legislação da Eleição do Chefe do Executivo com as adaptações necessárias, mas não há um limite nem legislação concreta sobre o orçamento [dos candidatos]”, explicou a presidente da CAECE, Song Man Lei.

“Neste momento, não definimos uma verba máxima exacta. A legislação prevê um limite máximo para os gastos dos candidatos a Chefe do Executivo, mas no que diz respeito aos candidatos ao Colégio Eleitoral não há um limite. Vamos discutir a obrigatoriedade de definir um orçamento máximo para a eleição do Colégio Eleitoral”, acrescentou.

Para as eleições a Chefe do Executivo, os candidatos vão poder gastar até 23 milhões de patacas. No que diz respeito ao tecto máximo para os candidatos ao Colégio Eleitoral, Song Man Lei mostrou-se cautelosa e admitiu que poderá haver várias limitações na aplicação desta lei à eleição dos membros do Colégio Eleitoral.

Ainda em relação ao acto eleitoral de 16 de Junho, entre os 244 lugares disponíveis, apenas 88 estão por decidir. Os restantes 156 estão garantidos uma vez que o número de candidatos é igual ao número de vagas. Contudo, no que diz respeito ao subsector educacional há 31 candidatos para 29 lugares e no subsector do trabalho há 63 candidatos para 59 vagas.

Campanha entre 1 e 14 de Junho

Questionada se é justificável gastar cerca de 32 milhões de patacas em eleições com uma participação tão baixa e sobre se está a ser considerado um modelo diferente para aumentar a participação, Song Man Lei recusou alterações ao sistema actual. “Trabalhamos com esta legislação. A realidade que temos é esta. […] Cada sector ou subsector tem a sua forma de eleger os seus membros. Não podemos intervir nos assuntos deles”, apontou.

A reunião de ontem da CAECE serviu igualmente para definir o período de campanha dos candidatos ao Colégio Eleitoral. Segundo a decisão da comissão, as actividades poderão decorrer entre 1 e 14 de Junho. “Todos os sectores e subsectores devem dentro deste período realizar actividades de campanha eleitoral”, disse Song Man Lei. “Durante esse período a nossa comissão vai disponibilizar o espaço necessário. Temos ainda um calendário sobre a disponibilidade dos espaços aos sectores, para que eles organizem actividades de campanha”, clarificou.

Depois de 16 de Junho serão conhecidos os 400 membros que vão constituir o Colégio Eleitoral. Este orgão vai escolher o próximo Chefe do Executivo, numa data ainda a decidir por Chui Sai On.

Até ao momento, apenas Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa, demonstrou interesse em candidatar-se a líder do Governo.

Lei protecção civil | Associação de jornalistas exige alterações ao diploma

A Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau revela estar “perplexa” e demonstra “grande preocupação” em relação à proposta de lei de bases da protecção civil. Em causa está o artigo relativo à criminalização das “notícias falsas, infundadas e tendenciosas”, dado o seu carácter “vago”. A associação pede alterações ao diploma

 

[dropcap]A[/dropcap] nova proposta de lei de bases da protecção civil está a gerar polémica devido aos termos vagos que podem gerar situações de arbitrariedade colocar em causa a liberdade de imprensa e a independência editorial. Uma das entidades que questiona o conteúdo do diploma é a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), que revela “grande preocupação”. Como tal, a associação submeteu as suas posições ao secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.

“A AIPIM manifesta perplexidade e grande preocupação face ao artigo 25.º da proposta de lei de bases da protecção civil, relativo ao crime contra a segurança, ordem e paz públicas em incidentes súbitos de natureza pública, referente a situações após declaração do estado de prevenção imediata.”

Em causa está a “formulação relativa a ‘notícias falsas, infundadas e tendenciosas’, que nunca esteve em cima da mesa durante a fase da consulta pública”. Para a associação de jornalistas, “a grande preocupação advém da natureza vaga e subjectiva de expressões e conceitos utilizados”.

Além disso, “a expressão ‘ou por quaisquer outros motivos que possam perturbar a cessação ou o alívio do estado declarado ou a tranquilidade pública’, suscita apreensão, uma vez que poderá abrir caminho à arbitrariedade da interpretação e aplicação da lei”.

No que diz respeito à expressão notícias falsas, infundadas e tendenciosas, presente na proposta de lei, a AIPIM defende que “levanta grandes reservas face à própria expressão ‘notícias falsas’ e considera que a adjectivação ‘infundadas e tendenciosas’ é desadequada e altamente subjectiva”.

Está, portanto, em causa “um risco ao nível da liberdade de imprensa, independência editorial dos órgãos de comunicação social e jornalistas e do direito dos cidadãos à informação, podendo criar de um clima de inibição do papel dos jornalistas após declaração do estado de prevenção imediata”, defende a AIPIM.

Pedido aos deputados

No passado dia 16, a proposta de lei deu entrada no hemiciclo, sendo que o secretário para a Segurança já admitiu as alterações feitas. Apesar de tudo, Wong Sio Chak revelou abertura para discutir a criminalização das notícias falsas e garantiu que não vão ser realizadas detenções só porque as pessoas “divulgaram notícias”.

Ainda assim, a AIPIM coloca o ónus nos deputados do hemiciclo, que têm agora o poder de propor alterações aquando da discussão na especialidade. “A AIPIM solicita assim ao Governo e aos deputados na Assembleia Legislativa uma clarificação dos conceitos em causa e que procedam a alterações ao artigo com vista a uma delimitação mais estrita e clara do escopo da aplicação da lei.” Tudo para “tranquilizar os jornalistas e a comunidade, bem como para proteger os diferentes bens em causa, tendo em mente a importância de assegurar a liberdade de imprensa e o direito à informação”, aponta ainda o comunicado.

Jun Jiang, urbanista: “Em Pequim vive-se entre a Terra e o Céu”

Jun Jiang esteve em Macau como orador na palestra “On Home”, promovida pela Docomomo Macau, para debater o papel da curadoria aplicada à arquitectura. Ao HM, o urbanista falou dos desafios da arquitectura moderna na China e do seu desenvolvimento nos últimos anos. Jun Jiang foi ainda o fundador da primeira revista de análise do desenvolvimento urbanístico no continente, a Urban China

 

Como vê a evolução da arquitectura na China?

[dropcap]H[/dropcap]á uma espécie de confusão ou mesmo contradição na arquitectura moderna chinesa que oscila entre conceitos mais actuais e outros mais antigos. No entanto penso que se começa a chegar a um modelo capaz de unir as divergências, tendo em conta não apenas a concepção de arquitectura enquanto forma de arte, mas numa perspectiva que vai além da própria forma, em direcção ao chamado imaginário. Digamos que existe uma divergência entre as tendências que vêem o espaço e o tempo como conceitos absolutos e as que colocam estes conceitos em termos de relatividade. Originalmente, as características chinesas arquitectónicas como as que existem nas fachadas ou nos telhados eram facilmente identificáveis pela forma. Mas, descobriu-se que quando estas formas eram combinadas com o betão moderno, resultavam numa mistura desastrosa. No entanto, foi possível olhar para as características chinesas de outra forma, abrindo possibilidades. Tudo começou com a ida de um historiador japonês à China em 1905 dando origem a um livro publicado nos anos 30 sobre a história da arquitectura chinesa. Este historiador foi à cidade proibida em Pequim e descobriu que o maior buda que ali existia era mais pequeno do que aquele que ele conhecia no Japão. Contudo, a sensação que teve e que escreveu foi outra: O buda da cidade proibida, apesar de menor, era mais forte e com maior grandeza. A questão estava em saber porquê. Aquele buda fazia parte de uma construção maior em que estavam presentes outros que variavam de dimensão, de maiores a mais pequenos. Estando englobado num cluster, este buda parecia maior do que o que era. Quando falamos de  cluster queremos dizer que todas as coisas se juntam dentro de um campo. E este campo é relativo, não é absoluto, o que significa que temos comparações e relatividade entre os seus elementos. Na arquitectura moderna, um arranha céus pode ser pensado enquanto um cluster, como se fosse, por exemplo, uma montanha. O cluster permite ter a qualidade da mudança contínua dentro de uma constante, de um mesmo lugar. Tendo em conta esta possibilidade, eu posso estar sempre numa posição de curiosidade sobre o que vou ver a seguir. Esta é também a ideia dos jardins chineses, em que um determinado espaço esconde sempre um segredo que faz com que as pessoas se sintam curiosas e que pode ser materializado em fontes, altos e baixos ou pequenas montanhas. Ao passar esse “segredo” aparece outro e quando se olha para trás, olha-se para um outro tempo, anterior, e isso apresenta-se como um novo espaço relativo. Toda esta ideia está por detrás da construção. É o chamado padrão da sequencia diferencial, ou seja um padrão que varia sempre dentro de uma sequência que se mantém constante. Isto vai além da forma e é tipicamente chinês.

Esta noção é transportada para a arquitectura moderna?

Não toda, mas depois de 100 anos de exploração os arquitectos chineses descobriram que esta concepção seria a saída do impasse na conjugação de elementos. Não podemos chamar esta concepção de tradicional mas sim de pré-moderna e os seus fundamentos têm ainda agora o seu valor universal. Podemos ter isto aplicado a novos materiais e a novas construções.

Podemos dizer então que a arquitectura chinesa actual ainda tem bases fortes na tradicional?

Acho que esta é uma característica que pode pertencer ao mundo. Quando olhamos para a arquitectura tradicional chinesa temos a madeira e a estrutura, a moldura, que a suporta. Se tirarmos a madeira podemos substitui-la por outros materiais, como o aço ou o betão e ainda assim funciona. Mas o uso da madeira também significa que uma casa pode ser construída apenas por uma pessoa usando as suas mãos. Já com cimento isso não é possível. Mas talvez seja possível faze-lo com aço. E isto é o que está a começar a acontecer nos EUA ou na Europa em que cada vez mais pessoas constroem a sua própria casa. E de alguma forma esta metodologia vem da forma chinesa de construção. Mas o sistema arquitectónico chinês tem diferentes dimensões.

E quais são elas?

São quatro. A primeira tem que ver com a  relação entre o ser humano e a natureza, também conhecido por Fengshui e diz respeito à escolha do local de construção e como coordenar a arquitectura do edifício com a natureza circundante, incluindo a luz, o vento, a água e a orientação. O segunda dimensão diz respeito à construção, que acabámos de falar e que engloba os materiais, a estrutura e a própria forma de edificar. A terceira é o plano que tem em conta o padrão da sequência diferencial em que a construção é planeada em cluster. Aqui a ideia é ter diferentes espaços, uns cheios e outros vazios. O espaço cheio, na física quântica significa o objecto e o vazio, o campo, ou então, num lugar está a partícula e no outro está a onda, um é massa e outro é energia. Quando estas duas entidades ficam frente a frente, o espaço entre elas é distorcido pelo magnetismo e é quando alguma coisa acontece. Finalmente há a dimensão de jardim, em que se combina o plano com a relação entre a natureza e o ser humano numa utopia, numa natureza artificial em que as pessoas vivem. No jardim as pessoas podem criar um tempo ilimitado num espaço limitado. A arquitectura moderna utiliza este sistema de quatro dimensões. Arquitectos como o conhecido Wang Zhu estão a usar este sistema em que a arquitectura e a construção têm por base o trabalho manual enquanto o jardim se apoia no trabalho intelectual.

Falou do Fengshui. Qual a sua aplicação em termos urbanos?

Pequim é planeado de acordo com o Fengshui . É uma cidade situada muito perto da chamada “coluna do dragão” da China que separa o país em duas partes, a rica e a pobre. Por exemplo se alguém viver em Hangzhou está demasiado longe da parte mais pobre. O que é que isto significa? As pessoas ali, mais ricas, são muito egoístas, mais acomodadas e sem vontade de explorar, vivem já na “utopia”. Por outro lado, as pessoas das zonas mais pobres tendem a ser mais exploradoras a ir para outros lados. Podemos dizer que em Pequim se vive entre a Terra e o Céu.

Actualmente, como é o desenvolvimento da arquitectura no país?

O padrão da cidade é grandemente influenciado pelo padrão económico. Depois de 2005, o ano da reforma monetária na China, entrou muito dinheiro no país. Abrir as portas à moeda estrangeira era um dos requisitos da entrada da China na Word Trade Organization. Esta moeda fazia parte da reserva financeira de moeda estrangeira, era trocada em renminbi e ia para o mercado. Para absorver este dinheiro novo, a China começou usar o investimento imobiliário, com a construção e uso de terra. Havia várias hipóteses de direccionar este dinheiro: podia ser para  mercado da bolsa, para os bens de consumo diário e para a área da habitação e terra. O Governo decidiu que a maior parte iria para esta última. Os preços do imobiliário aumentaram muito. Por causa desta opção, o continente vive uma situação semelhante ao mercado liberal de Macau e de Hong Kong, em que o planeamento é muito influenciado pela demanda económica, pelo desejo, em que qualquer pedaço de terra tem que render dinheiro. Mas depois de 2017, a China lançou uma nova zona económica, Xiongan muito próxima de Pequim. É um projecto muito pequeno, tem uma população estimada em dois milhões de pessoas e é baseado num novo modelo financeiro: o industrial.

E como é que este modelo influencia a arquitectura?

Depois de Xiongan, o investimento imobiliário terminou. Não se pode comprar uma segunda casa, não se consegue empréstimos, se se for estrangeiro não se consegue fazer o registo para compra de casa, etc. Como tal, todo o sistema financeiro associado às terras e imobiliário está quase congelado. Mas o dinheiro que foi para este mercado, não sai. Não colapsou, não houve descidas de preço, mas não mexe, nem para cima nem para baixo. Isto significa que o dinheiro, depois de tantos anos a entrar, neste mercado da terra, está parado. Não se pode ir buscar. Por outro lado, parte deste dinheiro acabou por reverter para os Governos locais porque 20 a 40 por cento do valor da terra vai para o Estado. Fizeram dinheiro com a terra e transferiram esse dinheiro para a construção de infra-estruturas: Auto-estradas, comboios de alta velocidade, aeroportos, electricidade e agora o desenvolvimento da tecnologia 5G. A arquitectura não está ligadas às infra-estruturas mas é grandemente beneficiada. Por exemplo, na China em 2006 a 2013 houve um movimento chamado as novas aldeias socialistas em que estas infra estruturas foram alargadas a áreas rurais. Por outro lado, foram criados projectos rurais em que o investimento financiava as domésticas o que fez com que os locais tivessem mais poder de compra. Com isso os arquitectos começaram a ter mais trabalho também. A renovação destas áreas inclui ainda a construção e hotéis por exemplo, e de edifícios tradicionais, ou seja, mais oportunidades para a arquitectura.

Como vê o desenvolvimento urbanístico de Macau?

Macau tem um problema semelhante a Hong Kong. São territórios monopolizados pelo mercado à volta dos terrenos e do imobiliário. Mas Macau tem ainda os casinos. Toda a gente trabalha nalguma coisa associada ao jogo. O Governo já gastou muito dinheiro para diversificar a industrias aqui mas não parece a estar a resultar. Para mim o jogo não traz valor ao território. Trata-se de uma política especial que Macau tem e da qual não pode depender para sempre. O jogo está também ligado a várias indústrias ilegais como o tráfico de drogas e a prostituição. Um país como a China não vai tolerar isto para sempre. Penso que o jogo não terá um futuro eterno aqui. Mas esta é a minha opinião pessoal. Por outro lado, Macau deveria ter um turismo multidimensional, uma cultura virada para o desenvolvimento do turismo a longo termo, mais do que aquele que é virado para o visitante do jogo.

Tendo em conta o forte papel do jogo actualmente e ao qual é inevitável fugir, o que poderia ser feito para usar a indústria de modo a desenvolver o planeamento da cidade e sua arquitectura?

Isso seria possível. Poderia ser mesmo uma revelação, saber como estas empresas ligadas ao jogo fiquem menos orientadas apenas para as apostas. Por exemplo, 40 por cento das receitas da indústria vai para o Governo, mas talvez esta proporção deva mudar e ser maior até porque acredito que destas receitas só uma pequena parte é usada para beneficio público, e talvez 30 por cento delas vão para lado nenhum. No futuro deveria existir uma supervisão desta aplicação do dinheiro. Com esta aplicação de montantes maiores vindos das indústrias ligadas a actividades menos lícitas pode acabar por conseguir financiar, talvez, outras actividades, com mais benefícios para o território, e fazer com que se desenvolvam.

Como encara o projecto da Grande Baía?

Já existem várias zonas como esta no continente, pelo menos três. A de Xangai tem uma orientação para o Pacífico, para as Coreias e mesmo para o Japão. Está virada para o mundo de frente e por trás tem toda a China. Mas  a Grande Baía está virada para a sudeste asiático, o que pode ser uma porta no mar do sul da China. Isto pode ser uma oportunidade tendo em conta a produção de muitos bens de consumo naquela área. Depende de como for usada. Mas também tem vantagens. É uma área que implica regiões politicas diferentes contando com as regiões autónomas especiais. A par destas regiões políticas temos as regiões económicas. No entanto, são regiões que não se ouvem entre si. A cidade mais bem sucedida da Grande baía é claro, Shengzhen que vai ser a cidade dominante da região. Hong Kong é uma cidade preguiçosa. É rica porque aproveitou o meio século em que foi o único porto da China proibida sendo a porta entre o mundo e o continente. Shengzhen beneficiou de varias regiões da China. Tem o factor intelectual com a chegada de muitos intelectuais na altura de Mao, e tem o desenvolvimento tecnológico. Também é uma cidade dominada pela cultura do norte da China. Todas as outras regiões da Grande baía, são dominadas pela cultura do sul que é menos aberta. Talvez porque no norte se está mais próximo de Pequim, uma capital que viu as mudanças de imperadores e dinastias. As pessoas de Pequim têm uma mente mais política e também mais aberta mais dirigida à mudança, e as pessoas de Zhengzhen tem mais este tipo de mindset.

Macau tem alguma oportunidade?

Macau é muito pequeno. É verdadeiramente pequeno, o que traz muitos problemas. Penso que Macau pode ter um papel na forma de ligar os países de língua portuguesa.

Huawei diz que é “parceiro chave” do Android e continuará a actualizar equipamentos

[dropcap]O[/dropcap] gigante tecnológico Huawei assegurou hoje ter feito “contribuições substanciais” para o desenvolvimento do sistema operativo Android, garantindo que continuará a disponibilizar actualizações de segurança e serviços pós-venda a todos os seus equipamentos.

“A Huawei fez contribuições substanciais para o desenvolvimento e crescimento do Android. Como um dos seus parceiros chave globais, trabalhámos estreitamente com a sua plataforma de código aberto para desenvolver um ecossistema que beneficiou tanto os utilizadores como a indústria”, refere a empresa chinesa num comunicado emitido após ter sido divulgado que a Google deixará de vender componentes e ‘software’ da marca.

A Huawei informa que continuará a fornecer actualizações e serviços pós-venda a todos os seus equipamentos, tanto “aos que já foram vendidos, como aos que ainda estão em armazém”.

A tomada de posição da Google acontece poucos dias depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter declarado “emergência nacional” e proibido empresas norte-americanas de usarem equipamentos de telecomunicações de congéneres estrangeiras consideradas de risco, por poderem aproveitar vulnerabilidades nos serviços e infraestruturas do país para espionagem ou sabotagem.

Morre piloto de helicóptero que se despenhou em Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] piloto de um helicóptero que se despenhou no domingo à tarde em Hong Kong morreu na sequência do acidente, noticiou hoje a imprensa local.

De acordo com o jornal South China Morning Post (SCMP), a aeronave caiu cerca das 17:30 locais no centro de conservação e educação Kadoorie Farm e Jardim Botânico (KFBG), nos Novos Territórios, uma das zonas da Região Administrativa Especial de Hong Kong.

O piloto, Andrew Wong Fai-hung, de 49 anos, morreu na sequência do acidente, indicou fonte policial ao SCMP. Testemunhas descreveram ter visto o aparelho a desintegrar-se no ar momentos antes de cair.

Quinze bombeiros apoiados por 10 viaturas descobriram destroços do helicóptero espalhados por uma área de 100 metros. Segundo as autoridades, o incêndio foi extinto pouco depois e não houve relatos de outras vítimas no local, que tinha fechado ao público uma hora antes do acidente.

Vistos Gold | Investimento em Portugal caiu para 17,8 por cento em Abril

[dropcap]O[/dropcap] investimento captado através dos vistos ‘gold’ caiu 17,8% em Abril, face a igual mês de 2018, para 52,2 milhões de euros, segundo contas feitas pela Lusa com base nas estatísticas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

Em Abril, o investimento proveniente de Autorização de Residência para Actividade de Investimento (ARI) totalizou 52.288.163,23 euros, uma redução de 17,8% face a igual mês de 2018.
Relativamente a Março, quando o investimento atingiu 48.368.488 euros, o investimento aumentou 8%, segundo as mesmas contas efectuadas pela Lusa.

Do total do investimento angariado em Abril, a maior parte (49.088.163,23 euros) corresponde à atribuição de vistos ‘gold’ mediante o critério da aquisição de bens imóveis, enquanto os restantes 3.200.000 euros correspondem ao requisito da transferência de capitais.

No mês passado foram atribuídos 92 ARI, dos quais 89 resultante da compra de bens imóveis e três por transferência de capital. Do total de vistos concedidos com a compra de imóveis, 15 foram atribuídos no âmbito da aquisição tendo em vista a reabilitação urbana.

Nos quatro primeiros meses do ano, o montante acumulado atingiu os 249,1 milhões de euros, menos 30% face ao período homólogo de 2018. Em mais de seis anos – o programa ARI foi lançado em Outubro de 2012 -, o investimento acumulado até Abril totalizou 4.498.944.955,86 euros, com a aquisição de imóveis a somar 4.073.062.563,43 euros.

Os vistos “dourados” atribuídos por via da transferência de capital ascendem a 425.882.392,40 euros. Desde a criação deste instrumento, que visa a captação de investimento, foram atribuídos 7.383 ARI: dois em 2012, 494 em 2013, 1.526 em 2014, 766 em 2015, 1.414 em 2016, 1.351 em 2017, 1.409 em 2018 e 421 em 2019.

Até Abril passado, em termos acumulados, foram atribuídos 6.968 vistos “dourados” por via da compra de imóveis, dos quais 312 tendo em vista a reabilitação urbana. Por requisito da transferência de capital, os vistos concedidos totalizam 400 e foram atribuídos 15 por via da criação de, pelo menos, 10 postos de trabalho.

Por nacionalidades, a China lidera a atribuição de vistos (4.211), seguida do Brasil (722), Turquia (336), África do Sul (291) e Rússia (258). Desde o início do programa foram atribuídas 12.581 autorizações de residência a familiares reagrupados.

Organização da Eurovisão apanhada de surpresa com bandeiras em atuação de Madonna

[dropcap]A[/dropcap] organização do 64.º Festival Eurovisão da Canção admitiu ontem ter sido apanhada de surpresa pela inclusão de bandeiras da Palestina na actuação da cantora norte-americana Madonna, referindo que esse elemento cénico não fez parte dos ensaios.

“Na transmissão em directo da grande final do Festival Eurovisão da Canção, dois bailarinos de Madonna mostraram momentaneamente bandeiras de Israel e da Palestina nas costas das suas indumentárias. Este elemento da performance não fez parte dos ensaios, tinha sido verificado pela EBU [sigla em inglês para União Europeia de Radiodifusão] e pela emissora de acolhimento, KAN [estação de televisão pública de Israel]”, refere a organização num comunicado citado por vários órgãos de comunicação social.

Na nota, a organização sublinha recorda que o Festival Eurovisão da Canção “é um evento não-político” e que “Madonna foi avisada disso”.

A cantora norte-americana levou o conflito israelo-palestiniano para o palco da final do 64.º Festival Eurovisão da Canção, no sábado à noite em Telavive, terminando a actuação com a expressão “Wake Up” (Acordem, em português) projectada em ecrãs.

Madonna, subiu ao palco da final do concurso, no sábado à noite em Telavive, depois da actuação dos 26 concorrentes. A cantora tinha recebido vários apelos para boicotar o concurso, mas acabou por aproveitar a actuação para tomar uma posição, terminando-a com dois bailarinos que usavam bandeiras de Israel e da Palestina nas costas a caminharem abraçados.

Mas a “rainha da pop” não terá sido a única a quebrar as regras do concurso. De acordo com a organização, a Islândia pode “ser punida”, depois de os seus representantes, a banda Hatari, conhecida pela sua oposição declarada à ocupação israelita dos territórios palestinianos, terem empunhado bandeiras da Palestina durante a emissão em directo.

Num outro comunicado, a organização do concurso refere que “as consequências deste ato serão discutidas na próxima reunião do conselho executivo do concurso”.

Hoje, a ministra da Cultura israelita, Miri Regev, classificou como “um erro” a presença da bandeira palestiniana nas costas de bailarinos durante a actuação de Madonna de sábado.

“Foi um erro, não podemos misturar a política com um evento cultural, com todo o respeito que devo a Madonna “, disse Miri Regev antes do conselho de ministros semanal.

Questionada pelos jornalistas, a ministra, que não assistiu à final do festival, criticou a KAN por ter falhado a missão de impedir as bandeiras de aparecerem no ecrã.

Antes da actuação, Madonna tinha pedido a todos os que a ouviam que “nunca subestimem o poder da música para juntar as pessoas”, e citou “uma grande canção”, da sua autoria, “Music”, na qual canta “music makes the people come together” [a música faz as pessoas unirem-se, em português].

A Holanda venceu no sábado, pela quinta vez, o Festival Eurovisão da Canção, com o tema “Arcade”, interpretado por Duncan Laurence, que era o favorito à vitória de acordo com a média de várias casas de apostas.

Israel acolheu o Festival Eurovisão da Canção, depois de o ter vencido, pela quarta vez, no ano passado, em Lisboa, com o tema “Toy”, interpretado por Netta. O movimento de boicote cultural a Israel instou os artistas a boicotarem o concurso.

China pede aos EUA para evitarem novas medidas contra interesses de Pequim

[dropcap]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros da China pediu aos Estados Unidos para não irem “longe demais” e para evitarem novas “medidas prejudiciais” que atentam contra os interesses chineses durante uma conversa telefónica com o chefe da diplomacia dos EUA.

Durante a conversa com Mike Pompeo, Wang Yi expressou a sua firme oposição ao decreto emitido na semana passada pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, que proíbe o uso de equipamentos tecnológicos de empresas que supostamente tentam espiar o país, o que poderá, na prática, restringir os negócios de empresas como a Huawei, podia ler-se na imprensa chinesa de ontem.

“Os EUA devem mudar de curso para evitar danos maior nos laços bilaterais em Maio, porque a cooperação é a única opção correcta para os dois países”, afirmou Wang durante a conversa telefónica que ocorreu no sábado, segundo o jornal diário China Daily.

O pedido ocorre depois do anúncio da ordem executiva de Trump contra os “adversários estrangeiros” dos Estados Unidos, embora não nomeie especificamente a China, um país com o qual mantém uma disputa comercial.

As negociações para acabar com a guerra comercial ainda não chegaram a um fim, após mais de dez rondas de encontros, mas não há sinal de resolução a curto prazo após a imposição mútua de tarifas e a troca de acusações dos últimos dias.

“A China sempre esteve disposta a resolver disputas económicas e comerciais por meio de negociações e consultas que, no entanto, devem ser conduzidas com base na igualdade”, disse Wang, acrescentando que a China, como em qualquer outra negociação, deve “salvaguardar os seus interesses legítimos, responder aos apelos do seu povo e defender as regras básicas das relações internacionais”.

De acordo com o jornal estatal, os dois lados também trocaram opiniões sobre o mais recente desenvolvimento da questão iraniana, em torno da qual Wang enfatizou que a China está comprometida com a desnuclearização, paz e estabilidade no Médio Oriente.

“Esperamos que todas as partes ajam com contenção e cautela, a fim de evitar o aumento das tensões”, conclui Wang, citado pelo diário chinês.

Índia concluiu ontem legislativas com mais de 100 milhões de eleitores chamados às urnas

[dropcap]M[/dropcap]ais de 100 milhões de eleitores votaram ontem, em oito regiões da Índia, na sétima e derradeira fase das eleições legislativas, que tiveram início em 11 de Abril, com o primeiro-ministro Narendra Modi como recandidato a novo mandato.

As urnas abriram às 07:00 locais em quase 113 mil escolas e, na primeira hora e meia, registaram uma participação de 10,2% de votantes, liderada pelo remoto Estado de Jharkhand, no leste do país, com 15% de participação, segundo dados da Comissão Eleitoral da Índia (ECI, na sigla em inglês), citada pela agência noticiosa Efe.

Nesta última fase eleitoral serão eleitos 59 dos 543 lugares na Assembleia do Povo (Lok Sabha), do parlamento indiano, escolhidos em várias regiões da metade norte do país, incluindo diversos distritos do estado de Uttar Pradesh, o mais populoso com quase 200 milhões de habitantes.

O primeiro-ministro Narendra Modi, do partido Bharatiya Janata (BJP), apontado como o candidato favorito, concorre por Benares, a sagrada cidade hindu de Uttar Pradesh.

Numa mensagem na sua conta no Twitter, o governante apelou a uma participação recorde nesta última fase eleitoral, notando que cada voto “irá moldar a trajetória de desenvolvimento da Índia nos próximos anos”.

O líder nacionalista hindu acordou hoje numa gruta no estado de Uttarakhand, no norte do país, onde passou a noite a meditar, envergando um manto laranja.

Há mais de dois mil partidos registados na Índia e entre os principais que concorrem neste sufrágio, além do BJP, no poder, está o Congresso Nacional Indiano (conhecido como Partido do Congresso), liderado por Rahul Gandhi.

A votação de ontem também decorre no distrito eleitoral de Modi, Varanasi, uma cidade sagrada hindu onde foi eleito em 2014 com uma margem impressionante de mais de 200.000 votos.

Na capital de Bengala Ocidental, Calcutá, os eleitores fizeram fila à porta das assembleias de voto desde o início da manhã para evitar o calor escaldante, perante a vigilância das autoridades, para evitar eventuais episódios de violência.

A minoria muçulmana, que representa cerca de 14% dos 1,3 mil milhões de habitantes da Índia, criticou Modi pela sua agenda nacionalista hindu. Em Varanasi, os leitores também acorreram cedo às assembleias de voto, como Ramesh Kumar Singh, um dos primeiros a votar, que se mostrou surpreendido “ao ver o entusiasmo entre os eleitores”.

“Houve longas filas de pessoas esperando pacientemente para votar, o que é um bom sinal para a democracia”, afirmou, citado pela Efe. A contagem de votos está agendada para 23 de maio.

Com cerca de 1,3 mil milhões de habitantes, 29 Estados e sete territórios, a maior democracia do mundo conclui hoje um processo para o qual foram activadas um milhão de assembleias eleitorais, 100.000 a mais do que nas eleições de 2014.

O número de eleitores também tem crescido ao longo dos últimos cinco anos, passando de 814 milhões para 900 milhões, o que representa a inclusão de 86 milhões de jovens que puderam votar pela primeira vez, de acordo com a ECI.

Património | Filho de Stanley Ho pode ser investigado devido a inscrições numa parede

[dropcap]D[/dropcap]epois do extravagante pedido de casamento de Mario Ho, filho de Stanley Ho e Angela Leong, o filho do magnata e da deputada pode estar em sarilhos por ter feito uma inscrição numa parede da Travessa da Paixão, nas traseiras das Ruínas de São Paulo.

Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, referiu à comunicação social que a mensagem pode ser investigada por ter sido feita numa zona protegida como património mundial da humanidade da UNESCO. A mensagem de Mario Ho, dirigida à namorada, agora noiva, perguntava se havia hipóteses de ficaram juntos, com as opções “sim” e “não” assinaláveis com cruz.

O acto pode vir a ter consequências uma vez que Helena de Senna Fernandes referiu que a Direcção dos Serviços de Turismo vai analisar se existe matéria digna para investigação que apure se foram violadas leis. Além disso, a inscrição na parede foi feita durante uma produção audiovisual para a qual não foi pedida autorização.

Sangue

[dropcap]A[/dropcap] correr pelas ruas e a chegar aos joelhos, como sonhava Jim, profeta e guardião das portas da percepção abertas a chuto de rock ‘n’ roll. Hemoglobina, plaquetas e glóbulos a inundarem as calçadas do Cotai, a agigantar vermelho fluvial no campo de visão, a crescer para além das barreiras vasculares da cidade, a coagular discursos harmoniosos de sonhos dourados de paz e felicidade.

Este fim-de-semana, o Cotai, esse paraíso terreno, transformou-se num episódio do “Halloween”, com um Michael Myers trajado a Gucci foleiro a distribuir facadas como um talhante em speed.

Poupem-me à ladainha dos casos isolados, ok? No início deste mês, conhecemos detalhes do enredo de mais um filme de terror passado no quarto de uma pensão, a escassos metros de onde trabalhamos, do local onde rimos, gritamos e escrevemos até os dedos ficarem dormentes.

Enquanto trocávamos piadas, um homem era torturado e espancado até à morte. Não quero alimentar alarmismos, sempre me senti seguro em Macau, uma cidade incomparavelmente mais pacífica que Lisboa, por exemplo. Mas o discurso da harmonia, unicórnios, nuvens cor-de-rosa e violência que não contagia e que fica estanque no garrote geográfico dos casinos não pode continuar. As pessoas não são assim tão parvas.

A dissonância cognitiva e comunicativa não resulta, só atrapalha. É preciso assumir esta realidade, é essencial encarar o problema enquanto tal, como fruto maduro da irreal inundação de pessoas que chega a Macau para jogar. É também fundamental ser adulto o suficiente para reconhecer o que é o jogo, compreender a sua natureza e assumir aquilo que sempre foi: terreno fértil para o crime germinar e florescer. Desde tempos imemoriais.

Entretanto, harmonia veio apaziguar as hostes e falou aos meninos e às meninas na linguagem ancestral da alucinação securitária, justificando o aumento dos crimes violentos em Macau com o desmantelamento de uma rede crime organizado. Orwelliano elevado ao quadrado, o equivalente a dizer que os casos de gripe aumentaram devido à prescrição de aspirina.

De onde vem esta sede por agressão, este desejo de esventrar, de ceifar vida como quem colhe cereal? Que vírus ancestral infecta os nossos genes ao ponto de nos amedrontar e nos reduzir ao papel de bestas de brutalidade e selvajaria? Esta é a nossa natureza, por mais que enchamos a pança de clássicos, erudição e optimismo. O homicídio é a chave que nos descodifica.

O sangue é a vida, já dizia o outro, é tesão, irascibilidade, rubor que dá cor à lascívia, o indizível. É maré de intumescimento a rebentar termómetros, vida a sangrar de ventres férteis, veículo para hormonas e nutrientes do mundo à mais ínfima célula. Seiva nossa que nunca estanca, que não conhece leis, ditames morais, conceitos de decência ou equilíbrio. Corre enquanto pode, enquanto vive, férrea e implacável como uma espada líquida.

O sangue acelera perseguido pelo desespero, pelas palpitações que traduzem situações extremas em violência. O sangue corre nas ruas porque somos humanos, porque nos matamos e agredimos naturalmente, como uma função biológica. Batendo recordes de redundância, diria que nos está no sangue.

Perder tudo num golpe de azar parece combustível mais que lógico para fazê-lo correr desvairado. Apoiar uma sociedade numa única actividade que é adubo para a violência faz o sangue galgar tudo o que é sólido e decente. Ondas vermelhas a embater nos edifícios, pintando de rubro todas as Hello Kitties da cidade, manchando na sombra a concórdia, fraternidade e todos os lugares-comuns incompatíveis com a realidade. Da bizarra equação entre a harmonia que brota da boca dos políticos e o sangue que corre nas ruas, resulta algo semelhante à tomada de consciência de Dorothy a caminho da Terra de Oz: “Toto, I’ve a feeling we’re not in Kansas anymore.” Palavras sábias para quem vive num mundo de fantasia.

Escritos ântumos, postumamente

[dropcap]M[/dropcap]as… onde ides? Assim tão lampeiro, ligeiro, com esse riso solto e casquinado, de quem segue adiante, sem lançar, para trás, sequer um olhar de remorsa despedida. Pois, vinde cá, meu tão certo secretário, de que foges? É do bico da pena, das cócegas inquietas, que te escusas, zombeteiro? Mas se já nem é com a pena que vos escrevo. E disso, sim, na verdade tenho pena. Vá, ouvide só, este manso martelar, sincopado, do computador: há tanto que perdesteis a pena leve do voar.

Cansado de ser leito de lágrimas, com que os poetas sempre a pena desafogam os queixumes, querendo deixar cair as penas do lamentos, contornais a enfastiada pena do escrever e arriba, galgando, pondes-te à fresca, em busca de penas com que voar. Tendes razão! Quem não preferiria planar para outros mundos, em que nascer é cousa chocalheira e não o trânsito funéreo da materna sepultura para o surdo destino das sem razões. Sendo assim, vinde, meu secretário: vinde sem medos, que, de uma penada te tiro as penas: hoje acolhereis José Sesisnando, poeta da leveza, cujo pensamento sempre sobe aos mais altos lugares; escritor avesso a pesos e lamentos.

José Sesinando Palla e Carmo, José Sesinando, só, para os leitores cúmplices de humores de galhardia, é um autor, poeta, brincador de línguas, o que lhe quiserdes chamar. É um escritor capaz de depenar a língua, a crítica, a própria linguagem e seus sentidos, para nosso gaúdio, que ali ficamos a admirar o ridículo do bicho, assim, a nu. Garanto-vos que, se penas houverdes, desta vez, será somente a pena não vos ser mostrado tudo o que esta «Obra Perfeitamente Incompleta», ora publicada pela «Tinta da China», na colecção humorística de Ricardo Araújo Pereira, com edição de Luísa Costa Gomes e Abel Barros Baptista, responsável pelo prefácio, que bem faz jus ao livro.

No livro reúne-se a já esgotadíssima «Obra Ântuma», publicada, em 1986, pela «Edições Europa-América» e duas edições de autor: uma com 50 versões do «Soneto já Antigo», de Fernando Pessoa, e outra, composta por 65 variações sobre o poema «Autopsicografia». Nesta secção, aliás, o poeta passa a ser, à vez, um «roedor», um «pecador», um «pescador», um «cobertor», tão só um «senhor», ou um «péssimo actor», uma «estação», um «sabão» ou um «irmão», ou mesmo um malabarista, quando o pastiche vai além da sonoridade e ganha a liberdade acrobática que Sesinando lhe que quer emprestar.

A editora e, ainda bem, comete na edição a prudência da antítese, quase da paraprosdokian, bem explicada por Barros Baptista, no prefácio: E, assim, podemos louvar à «Tinta da China», finalmente, a publicação póstuma da obra ântuma de Sesinando.

O livro, no seu conjunto, é um completo tratado de humor. A primeira parte, «Prolegómenos», inclui uma «Nótula de Abertura», do próprio Sesinando, «Pallavras Prévias», desta feita, da responsabilidade de José Palla e Carmo, além de uma «Advertência» e um «Prefácio», de Archimbaldo Th. Leonardes e a Leonardes Júnior, respectivamente. Este último, aliás, é bastante elucidativo quanto às qualidades de Sesinando: «Serei breve, mas indeciso. José Sesinando parece-me constituir um daqueles raríssimos casos, em Portugal, de autêntico génio.», remetendo de seguida para uma nota de rodapé corroborando a informação prestada: «Cf. Saraiva (não nos recordamos qual deles), O Génio em Portugal, desde as Origens até ao Século XII, Lisboa, sem data, p.9 e última.»

A segunda parte da «Obra Ântuma», «O texto: Prosa» dá conta de verdadeiros tratados reflexivos sobre coisa nenhuma, mas em que se descasca a língua mesmo até ao caroço. Leia-se parte da «erudita comunicação», intitulada «To ser or not to estar», para se compreender, como na medula de um povo, está a sua própria língua:

«[…] Com efeito, como nem toda a gente – muito pelo contrário- consegue ser, os outros devem contentar-se com estar. Nisto (…), a língua portuguesa serve bem o nosso condicionalismo, já que nas outras linguagens — tais a teutónica, angla e a franca – o mesmo verso exprime as duas situações.

Disso decorre que, nessas outras nações, quem está é, e quem é está. Quando alguém bate à porta, a pergunta que vem do interior soa-lhe não «Quem é?», mas sim «Quem está?». Ao telefone, não se pergunta estupidamente: «Está?» (ou «Está lá»); diz-se: «É?» (ou «É lá?», ou ainda, com inflexão caucionante, «Eh, lá».

Por sua vez( e diga-se entre parênteses que estas investigações histórico-linguísticas são apaixonantes – e podemos dizê-lo sem qualquer pejo entre parênteses, já que não é por isso que nos caem os parênteses na lama), o uso do «É lá» em vez do está lá» motivou que, em vez da palavra e do conceito de raiz portuguesa estalagem ( está-lá-gem, que por sua vez era a contracção de está- lá-gente), se fala nessas outras áreas idiomáticas de elagem ( é-la-gem ou he-lá-gem, de é-la-gem, de é-lá-gem ou eh-lá, gente!). Nessas outras paragens, portanto, o estalajadeiro, ou melhor, o eladeiro, vai para a porta saudar as gentes passantes para as angariar como hóspedes; não vai estalá-las, como entre nós, mas sim éla-las – em francês héler, em inglês to hail, em alemão heilen, em brasileiro alô.»

A «Obra Ântuma», além da prosa inclui outra secção, «Texto: Poesia», com poemas «inexperimentais», poéticas pastiches ou de desfrute jubiloso, jogos, esquemas, «palavras escruzadas». Não, meu certo secretário, não são escusadas nunca, que, como diz Abel Barros Baptista, no prefácio que introduz o livro: o leitor daqui «pode colher a lição máxima e muito compensadora, ao aprender que a razão fundamental para compor escritos assim é a própria e também fundamental possibilidade de compor escritos assim: trata-se muito radicalmente de um exercício de liberdade.» A paródia com a língua é, então, uma necessidade, uma inevitabilidade, porque, lá está, a poesia e as suas palavras põem-se a jeito e toda a gente vê que estavam mesmo a pedi-las.

Entre estas duas secções, existe um «interfácio», porque afinal esta obra é de poesia, de prosa, mas também, de teoria literária, crítica, análise linguística e textual, e mais o que se quiser que a língua consiga prever e conter, porque não há uso da linguagem que não esteja à partida armadilhado. De seguida, completa-se a obra com um posfácio e variadíssimos «A-Nexos», com testes, entrevistas, notas, opiniões da crítica, que constituem um relevante e fundamental paratexto, em torno da escrita de Sesinando e da complexidade da sua obra. Neste ponto fundamental, fica o leitor a saber algo sobre os «ascendentes literários portugueses de José Sesinando»: «Quanto a influências portuguesas, são visíveis as de Almada, Castelo Branco, Chaves.», além de considerações críticas acerca da sua obra: ««Cadência fortemente sugestiva, encadeamento complexo das imagens, autêntico sortilégio verbal, riqueza expressiva reveladora de uma vincada personalidade de creador — nada disso, infelizmente, se encontra na obra de José Sesinando.»» Resumindo, se queremos saber o que é a crítica, a poesia, a literatura e as tretas que as letras nos pregam, é ler, de lápis na mão, os escritos que nos deixou Sesinando e o seu heterónimo José Palla e Carmo ou vice versa.

Que dizeis, meu tão certo secretário? Vindes agradecer-me por não depositar aqui as consabidas e costumeiras penas do lamento? Que te sentis já com as penas do voar, pelos trechos de José Sesinando que vos fui confiando? Mas, que cenho é esse carregado com que me olhais? Que preferíeis que só aqui tivesse só alinhavado citações, sem que me pusesse eu, também, tão sem graça, com piscadelas de olho à chalaça e ao trocadilho. Olha, que quereis que vos diga… Pois temos pena.

José Sesinando, Obra Perfeitamente Incompleta, Lisboa, Tinta da China, 2018</strong

Lotaria do Senado para a Santa Casa

[dropcap]A[/dropcap] primeira estadia de Camilo Pessanha em Macau ocorre de 10 de Abril de 1894 a 22 de Junho de 1896 e à sua chegada os rendimentos da lotaria da Santa Casa da Misericórdia são já uma sombra dos auferidos até um ano antes. Agora paupérrimos, começa o jogo da lotaria a acumular prejuízos. Nesse mês é reduzido o número de bilhetes que de seis mil passam para três mil e quinhentos, apesar do preço do bilhete ter aumentado de $1 para $2 patacas e mesmo assim, quase mil bilhetes ficaram por vender e nesses, poucos e pequenos prémios saíram à Santa Casa, com um residual valor de $475. A sorte não está com a S. C. da Misericórdia e a 9 de Agosto de 1895 é a sua lotaria suspensa a título temporário, pois já não dá lucro.

No dia da chegada a Macau de Pessanha, ocorrera a seguinte história relatada no jornal O Independente de 14 de Abril: “É sabido por todos que o Sr. José Maria de Castro Basto é encarregado da venda de bilhetes da Lotaria da Santa Casa da Misericórdia, recebendo por este trabalho $60 mensais. O Sr. Basto, quer por autorização da Mesa, quer por vontade própria, vendia bilhetes a crédito com garantia ou sem ela. Vendeu a crédito, ou à consignação a um mainato que vivia na povoação de S. Lázaro por nome José Paulo Ly centenas de bilhetes sem outra garantia pela segurança do pagamento além do selo da sua loja de lavagem de roupa, negócio mainato, ficando desta forma o credor sendo fiador de si mesmo, pois nem o prédio em que esta loja está estabelecida é propriedade do tal Ly. A 9 do corrente o débito do mainato já excedia a $1500; à falta de meios para saldar esta conta e querendo continuar no seu jogo de comprar os bilhetes a $1.()0 [creio ser $1.50], para os vender a $1.70, lançou mão deste meio: “. O processo foi instaurado contra José Paulo Ly, que ficou recolhido na cadeia pública.

No dia seguinte, 11 de Abril, o Secretário da Santa Casa da Misericórdia colocou um anúncio a dizer que não eram cobrados 15% aos prémios da lotaria, como em boato se propagara pela cidade, pois todos os prémios se pagam neste Cartório à apresentação dos bilhetes, sem o mais pequeno desconto.

O Echo Macaense de 18 de Abril, com o título Atenção refere, “Com relação ao artigo que apareceu no último número do Independente acerca da conta de José Paulo Ly e do encarregado da lotaria da Santa Casa da Misericórdia, o Sr. José M. de Castro Basto, fomos por este informados que os factos narrados no Independente não são exactos e que o seu proceder está em harmonia com as instruções dadas pelo Sr. Provedor suplente, Artur Tamagnini Barbosa”.

Carta Régia

A Santa Casa da Misericórdia foi fundada por D. Leonor em 1498 e em Macau estabelecida no ano de 1569 por D. Belchior Carneiro, Bispo do Japão e da China.

A SCM de Lisboa, por Carta Régia de 18 de Novembro de 1783 criara em Portugal Continental a Lotaria Nacional, concedendo 12% dos lucros aos Hospitais Reais dos Enfermos e dos Expostos, ocorrendo a primeira extracção a 1 de Setembro de 1784 e prolongou-se por 34 dias, com um prémio de 12 mil réis. Em Macau, por Carta Régia de D. João VI, na altura príncipe regente, de 5 de Junho de 1810 foi concedida autorização ao Senado para explorar uma lotaria anual, em benefício das casas de piedade e beneficência. Refere: .

Segundo o Dr. José Caetano Soares, “Nunca o Senado utilizara a mercê, mas por mais de uma vez a cedeu à Misericórdia, o que já em 1833 levaria esta, em representação ao Governador da Índia D. Manuel de Portugal e Castro, a pedir para si a prerrogativa.”