Quarentena | Mais dois hotéis dispensados de observação médica Andreia Sofia Silva e Pedro Arede - 14 Abr 2020 [dropcap]I[/dropcap]nês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo, disse ontem que os hotéis Grand Harbour e Royal Dragon vão deixar de receber pessoas em regime de quarentena. Estes “não têm nenhuma pessoa hospedada para observação médica e já receberam instruções dos Serviços de Saúde para limpeza e para se proceder às demais providências para que deixem de ser hotéis designados”, adiantou Inês Chan, que explicou existir um plano caso sejam necessários mais empreendimentos hoteleiros para a realização de quarentenas. “Temos quatro hotéis para observação médica e há mais hotéis que serão libertados. Neste momento não temos um número exacto [de quantos hotéis são necessários], pois temos um plano para eventuais necessidades no futuro. Vamos fazer com que o número de quartos e de hotéis seja suficiente, não queremos andar à procura com urgência caso ocorra uma situação inesperada”, frisou a responsável. O Grand Lapa deixou também de ser usado para isolamento no passado domingo. No total, há ainda 753 pessoas em observação médica em hotéis.
Zhuhai | Residentes de Macau com novas regras para cruzar fronteira Pedro Arede - 14 Abr 2020 Desde a meia noite de domingo, os residentes isentos de quarentena à entrada na província de Guangdong têm de avisar as autoridades que pretendem cruzar a fronteira com algumas horas de antecedência. Após cinco dias sem registo de novos casos, os Serviços de Saúde admitem, contudo, não conseguir ver “um fim próximo para a epidemia” [dropcap]O[/dropcap]s residentes que vivem em Zhuhai estão desde o passado domingo, obrigados a contactar as autoridades locais três horas antes de cruzarem a fronteira se forem de Macau para Zhuhai e uma hora antes, para fazer o percurso inverso. As novas regras foram avançadas no sábado pelo Grupo de Trabalho de Prevenção e Controlo Conjuntos Zhuhai – Macau e dizem respeito apenas aos residentes de Macau isentos de fazer os 14 dias de quarentena exigidos pela província de Guangdong. As restantes regras são para manter. Ou seja, além da apresentação da declaração electrónica de saúde, para atravessar a fronteira é preciso continuar a fazer prova da residência em Zhuhai e ainda apresentar a cada sete dias “um certificado de resultado de teste de ácido nucleico negativo” ou “um certificado de amostras de teste de ácido nucleico emitido pelos departamentos competentes da Cidade de Zhuhai”, pode ler-se em comunicado. Quem não cumprir a medida, está sujeito “às medidas de observação médica de quarentena concentrada pelo período de 14 dias”, à semelhança do que acontece desde o final de Março, a todos os residentes de Macau que cruzam a fronteira. Recorde-se que podem pedir isenção “trabalhadores que asseguram a normal vida produtiva de Macau”, comerciantes, transportadores de bens essenciais, condutores com dupla matrícula, idosos com mais de 70 anos e menores de 14 anos. Sem fim à vista Sem registo de novos casos ao fim de cinco dias, os Serviços de Saúde (SS) admitiram ontem, no entanto, não ser possível antecipar um prazo para o final da crise provocada pela covid-19, sobretudo quando a situação a nível mundial é ainda preocupante. “Desde o início da epidemia até agora já muitos especialistas e académicos fizeram previsões sobre o desenvolvimento da situação epidémica. Não podemos agora antecipar a situação num futuro muito próximo, uma vez que a situação mundial é ainda alarmante. Num curto espaço de tempo não estamos a ver a extinção deste vírus ou o fim desta epidemia”, sublinhou Lo Iek Long, médico do Centro Hospitalar Conde de São Januário, por ocasião da conferência diária sobre o novo tipo de coronavírus. O médico referiu ainda a aposta feita na investigação e na criação de uma vacina para combater a covid-19, alertando, contudo, para possíveis mutações do vírus. “Não sabemos quais são as mutações do vírus. Pode haver uma mutação em que o vírus começa a baixar a probabilidade de contaminação ou, ao invés, poderá ser um vírus mais severo”, afirmou Lo Iek Long. “Só com o desenvolvimento da situação é que poderemos saber quais as novas medidas a ser lançadas”, acrescentou. Sobre o número de pedidos de residentes de Macau para regressar ao território, após se deslocarem a Hong Kong para receber tratamento médico, Inês Chan, dos serviços de turismo revelou que são já 24. Destes, dois dos residentes já estão em Macau e oito têm os documentos exigidos para voltar. Recorde-se que o Governo criou um corredor especial para estes casos na semana passada.
APOMAC levou preocupações com acesso à habitação pública a Ho Iat Seng João Santos Filipe - 14 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] desvantagem dos residentes nascidos em Macau no acesso à habitação económica e social foi um dos assuntos que a Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC) debateu com Ho Iat Seng, na passada quinta-feira. O encontro com o Chefe do Executivo decorreu no âmbito da preparação das Linhas de Acção Governativa (LAG). “É muito mais difícil para as pessoas nascidas em Macau terem acesso à habitação pública. Eu olho para os meus familiares e apenas uma pessoa conseguiu comprar uma casa disponibilizada pelo Governo” começou por explicar Jorge Fão. “Não é porque as pessoas não querem comprar casas, mas os seus salários são sempre superiores aos níveis de acesso à habitação económica, embora sejam inferiores aos preços do mercado”, acrescentou. “Creio que cerca de 90 por cento dos residentes que compraram habitações económicas são imigrados do Interior e de outras paragens. Não é que as pessoas que vêm para Macau ganhem menos. Em muitos casos até acredito que ganhem mais, mas não há forma de o provar. Ao mesmo tempo, a população autóctone está maioritariamente na função pública e nas empresas concessionárias, o que não permite enganos na contabilidade”, justificou. Tensões e crença em Ho O sentimento de injustiça no acesso à habitação é um aspecto que para Jorge Fão deve ser corrigido, de forma a evitar o aumento das tensões sociais. Porém, o ex-deputado considera que Ho Iat Seng pode ser a pessoa ideal para lidar com a questão e aliviar as tensões. Para Fão, a resposta à epidemia da covid-19 mostra que Ho tem as capacidades necessárias para lidar com a questão: “Tomou atitudes rápidas, expeditas e correctas. É claro que foram desafios difíceis, não é fácil fechar os casinos. Mas ele mesmo assim fez isso”, considerou. Em relação aos aposentados da função pública, Jorge Fão lamentou que depois de 1996 só tenha existido um concurso de atribuição de habitações. “Há certas políticas que nos fazem pensar que o Governo não está a acarinhar a Função Pública. Os aposentados da Função Pública não têm nenhuma hipótese de ter acesso a uma casa pública, nem arrendada nem comprada”, sustentou. Dividendos patrióticos Jorge Fão considera que a APOMAC está a pagar o preço por não ser vista como uma associação “patriota”, como acontece com as mais tradicionais. Uma das justificações para tal conclusão prende-se com o facto de a associação não ver atendido o pedido de receber mais um piso no edifício onde tem sede. “Ando há muitos anos a pedir mais um piso para prestar mais serviços. Em cima de nós está um núcleo de um serviço dependente dos Serviços de Saúde e até hoje… Zero”, explicou o ex-deputado. “Parece-me que estamos a pagar por não sermos vistos como uma associação patriótica, como as tradicionais. Mas a verdade é que nunca estivemos aqui para fomentar actos impróprios. Somos uma associação politicamente correcta que gosta de Macau”, apontou.
LAG | Analistas esperam medidas para contornar crise económica Andreia Sofia Silva - 14 Abr 2020 Eleito há nove meses, Ho Iat Seng enfrenta, provavelmente, a mais dura batalha do seu primeiro mandato: o combate à pandemia da covid-19. Nas primeiras Linhas de Acção Governativa como Chefe do Executivo, espera-se que apresente soluções para os problemas socioeconómicos causados pela pandemia e que não se afaste muito daquilo que prometeu enquanto candidato [dropcap]Q[/dropcap]uando Ho Iat Seng foi eleito, a 25 de Agosto do ano passado, nada fazia prever que teria de lidar com uma crise de saúde pública sem precedentes em Macau, desde que surgiram os primeiros casos de infecção de covid-19 em Wuhan, China. São diversos os quadrantes políticos e sociais que entendem que Ho Iat Seng revelou capacidade de liderança e de gestão da crise que, inevitavelmente, deverá dominar a apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) a 20 de Abril, segundo noticiou ontem a TDM Rádio Macau. Contudo, o analista político e docente da Universidade de Macau (UM), Eilo Yu, defende que é necessário ir mais além caso a crise se prolongue nos próximos meses. “Parece-me que o Governo ainda não definiu os valores públicos que podem trazer consenso à sociedade. O Governo enfrentar desafios, muita oposição e pressão [na implementação de políticas] e é essa a minha preocupação. É uma boa oportunidade para mostrar a ideologia do Governo e quais as suas posições para ajudar as pessoas e as empresas”, disse ao HM. Para Eilo Yu, o facto de Ho Iat Seng ter sido bem-sucedido até aqui na gestão da crise causada pela covid-19, que obrigou ao fecho de estabelecimentos comerciais e casinos, não significa que não apresente respostas para os próximos tempos. “O novo Chefe do Executivo pareceu-me ser bastante eficiente numa primeira fase de combate à pandemia, ao mesmo tempo que foi responsável, fez o devido planeamento e providenciou informação. Conseguimos ver a liderança nesta crise. Mas o problema é que o Governo me parece lento na resposta aos problemas socioeconómicos, caso esta crise se prolongue.” Até ao momento, o Governo accionou linhas de crédito para pequenas e médias empresas (PME) e anunciou um segundo programa de subsídios concedidos apenas a residentes, que vão até 15 mil patacas por pessoa, pagas em três tranches. O Executivo também avançou com a atribuição de vales de consumo no valor de três mil patacas para cada residente. Além disso, está prevista a criação de um fundo de 10 mil milhões de patacas, criado através da Fundação Macau, que se destina a residentes, empresas e estabelecimentos comerciais em dificuldades devido à crise causada pela covid-19. Além das respostas necessárias para o mercado interno, Eilo Yu denota a necessidade de maior coordenação no projecto político da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. “Deve-se analisar a criação de um mecanismo com o Governo de Guangdong e não apenas como resposta à pandemia. Não existe, actualmente, grande coordenação e penso que cada região está a olhar para as suas próprias políticas sem avaliar o impacto que podem ter em outras regiões.” Eilo Yu diz serem necessárias “medidas para coordenar melhor os governos da Grande Baía, porque há diferentes desafios a enfrentar”. Subsidiar salários Para o deputado José Pereira Coutinho, é preciso pensar em medidas que respondam ao possível aumento da taxa de desemprego. “Não é bom existirem mais orçamentos rectificativos consoante factos consumados, tal como o aumento dos despedimentos”, frisou ao HM. Nesse sentido, e apesar dos apoios anunciados, Pereira Coutinho defende subsídios para salários. “Esta pandemia expôs as fragilidades da dependência quase única da economia em relação às receitas do jogo. A taxa de desemprego vai aumentar e não sabemos, neste momento, quando acontecerá a retoma económica.” Perante este cenário, “encontrar um novo emprego será muito difícil porque quase todas as empresas estão a reduzir custos. Há também muitas profissões liberais, tal como fotógrafos, programadores informáticos ou consultores, pessoas que emitem recibos M7, que estão a lutar com enormes dificuldades de sobrevivência”. Assim, o Governo “deveria subsidiar uma percentagem dos salários dos trabalhadores, à semelhança do que foi feito em Singapura, Reino Unido ou Espanha”. Além disso, o deputado, que preside à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), pede “um salário adicional para todos os trabalhadores da linha da frente que lutam directamente com a covid-19, incluindo trabalhadores do sector privado, tal como jornalistas”. O deputado pede também perdão de dívidas à banca. “O Governo deve esforçar-se mais para que o sector bancário perdoe pequenas dívidas dos trabalhadores, nomeadamente empréstimos, além de adiar o pagamento de amortizações das habitações. Devem também reduzir a taxa preferencial, que é superior a Hong Kong.” Coutinho defende também a atribuição de um segundo cheque pecuniário. “O Governo deveria atribuir um segundo subsídio respeitante aos dividendos económicos do ano económico e financeiro de 2019, pois o subsídio que começou a ser distribuído a 1 de Abril é relativo aos dividendos económicos de 2018.” Estas ideias foram já apresentadas a Ho Iat Seng por José Pereira Coutinho no passado dia 7, aquando da reunião com o Chefe do Executivo no âmbito da habitual ronda de auscultações para preparar as LAG. Pereira Coutinho defendeu a realização de testes de rastreio da covid-19 a todos os trabalhadores da função pública, além de defender uma diversificação da fonte de turistas em Macau. Seguir o programa Agnes Lam defende que Ho Iat Seng deve manter as promessas que fez durante a candidatura ao cargo de Chefe do Executivo, apesar dos novos tempos que se vivem. “Acredito que as medidas relacionadas com a pandemia da covid-19 vão continuar a ser o foco destas LAG. Mas espero que nos tragam uma nova perspectiva, tendo em conta que temos uma nova liderança”, começou por dizer. Acima de tudo, para a deputada, “as políticas que [Ho] anunciou durante a campanha, sobretudo as que estão associadas à eficiência governativa, aos procedimentos da Administração pública e transparência, deveriam ser a sua prioridade”. Para Sulu Sou, estas LAG “vão ser significativamente diferentes do passado”, tendo em conta “o compromisso político de Ho Iat Seng obtido com as eleições de Agosto do ano passado e a postura no combate à pandemia da covid-19 nos últimos meses”. O deputado do campo pró-democracia considera fundamental continuar a assegurar melhor capacidade governativa algo que foi, aliás, uma das bandeiras políticas de Ho Iat Seng durante a campanha eleitoral. “A primeira coisa que tem de ser feita é estender a forte capacidade de coordenação durante o período de combate à pandemia e melhorar a comunicação com os cidadãos. Isso inclui a reorganização de alguns departamentos públicos, quebrar as barreiras de cooperação entre departamentos governamentais e estabelecer um mecanismo de consulta mais directo e aberto e não apenas ouvir as opiniões das associações pró-Governo.” No dia em que foi eleito Chefe do Executivo, Ho Iat Seng destacou a necessidade de reforma administrativa. “Temos que aprofundar a reforma da Administração Pública, agora se vamos promover reduções [de funcionários públicos] ainda não posso responder porque tenho que analisar bem. Não podemos tomar decisões arbitrárias, mas sim aprofundadas.” Ho Iat Seng reconheceu que “há uma camada da sociedade que não consegue adquirir habitação”, e prometeu soluções para os jovens e a classe média. Na área da saúde, ficou também a promessa de reforçar o serviço público de saúde com mais especialistas. “Muitos idosos precisam de especialidades e o tempo de espera é muito prolongado, pelo que poderemos ter que aumentar o número de médicos especializados para a população sénior”, disse.
Covid-19 | Selecção chinesa de futebol com elevado nível de “ansiedade” Hoje Macau - 13 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] seleccionador da China, o antigo futebolista Lie Tie, revelou que os jogadores estiveram sob grande pressão psicológica e com grande nível de ansiedade durante a estadia no Dubai, devido à crise desencadeada pela pandemia da covid-19. A equipa de futebol da China esteve concentrada desde Março no Dubai, bem como algumas equipas da Superliga chinesa, mas em 23 de Março seguiu viagem para Hainan, onde se manteve em quarentena desde então. “Durante esse período [no Dubai], todos – jogadores e ‘staff’ -, estiveram sob grande pressão psicológica. Com ansiedade, saudades de casa e preocupados com a própria segurança”, disse o selecionador à televisão chinesa. Lie Tie, de 42 anos, também antigo internacional e jogador do Everton e Sheffield United, explicou que a cada dia que passava a situação piorava também no que dizia respeito ao número de doentes nos Emirados Árabes Unidos. “A situação epidémica no Dubai agravava-se a cada dia, o número de clientes no hotel diminuía diariamente. As outras equipas chinesas regressavam uma após a outra à China”, disse Lie Tei, explicando o contexto de ansiedade na seleção. Com o campeonato chinês, que deveria ter começado em Fevereiro, adiado para uma data a definir, o grupo tinha-se concentrado com vista aos jogos de qualificação da zona asiática para o Mundial de 2022, previstos para 26 e 31 de Março, com as Maldivas e Guam, que acabaram também adiados.
Covid-19 | Cartões de consumo começaram hoje a ser distribuídos Hoje Macau - 13 Abr 202015 Abr 2020 [dropcap]C[/dropcap]omeçaram a ser distribuídos os cartões de consumo aos residentes esta terça-feira, sendo esta uma das medidas implementadas pelo Governo como resposta à crise gerada pela pandemia da covid-19. De acordo com um comunicado emitido, há 150 postos de atendimento disponíveis para o levantamento do cartão onde os residentes inscritos devem levantar o cartão de consumo de acordo com a data e local previamente marcados, munidos do original do bilhete de identidade. Em caso de levantamento por uma terceira pessoa, esta deve munir-se tanto dos originais dos bilhetes de identidade deste e do inscrito como da procuração. Caso o cartão venha a ser perdido ou extraviado, “não é possível pedir uma segunda via”, até porque “o subsídio da segunda fase do plano de subsídio de consumo será distribuído através do mesmo cartão, [pelo que] os cidadãos devem guardá-lo adequadamente após o seu levantamento”. Em caso de ocorrência de ilegalidades com o uso do cartão, podem ser apresentadas denúncias por parte dos cidadãos junto da Direcção dos Serviços de Economia. Face à evolução contínua da epidemia da Pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus, é provável que alguns cidadãos de Macau inscritos não possam chegar a Macau atempadamente, no mês de Abril, para o levantamento do cartão de consumo electrónico no posto de atendimento marcado, devido a diversas razões, como a saúde individual e as medidas de prevenção e controlo da epidemia. O subsídio de 3 000 patacas, carregado no cartão de consumo electrónico, deve ser utilizado no período de utilização, de 3 meses, entre Maio e Julho, sendo o saldo remanescente não utilizado neste período reposto nos cofres públicos.
Covid-19 | China rejeita acusações de racismo e xenofobia no tratamento a cidadãos africanos Hoje Macau - 13 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] China rejeitou este domingo as acusações de racismo e xenofobia feitas pela União Africana e pelos Estados Unidos da América (EUA), por alegados maus-tratos a cidadãos africanos e afro-americanos em Cantão. “As autoridades em Cantão atribuem uma grande importância às preocupações recentemente levantadas por alguns dos nossos parceiros africanos”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian, citado pela agência France-Presse, acrescentando que as autoridades “estabelecerão um mecanismo de comunicação eficaz com os consulados” situados naquela província. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China sublinhou que as autoridades locais “opõem-se firmemente a qualquer racismo e qualquer declaração discriminatória”. As autoridades africanas confrontaram publicamente a China por causa das alegações de maus tratos aos cidadãos africanos, na sequência da pandemia da doença provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). De acordo com a Associated Press (AP), houve relatos de africanos que dizem ter sido afastados e discriminados num centro comercial devido ao medo da doença covid-19. A agência refere também um alerta de segurança da embaixada dos EUA na China, emitido hoje, que dá nota de que “a polícia ordenou que bares e restaurantes não atendessem clientes que pareçam ser de origem africana” e que as autoridades locais determinaram a realização de testes obrigatórios e ‘auto quarentena’ para “qualquer pessoa com contactos africanos”. A embaixada denunciava ainda que algumas empresas e hotéis se recusam a fazer negócios com afro-americanos, em resposta ao aumento das infeções na cidade chinesa de Cantão, a norte de Macau e Hong Kong. A polícia e o departamento de saúde pública de Cantão disseram na terça-feira aos jornalistas que as autoridades haviam respondido aos rumores, já desmentidos, de que “300.000 negros” naquela cidade do sul da China “estavam a desencadear uma segunda epidemia”, o que “causou pânico”. Diplomatas africanos reuniram-se com responsáveis dos serviços diplomáticos da China para expressar “preocupação e condenação das experiências perturbadoras e humilhantes” às quais os seus “cidadãos foram submetidos”, revelou a embaixada da Serra Leoa em Pequim, através de um comunicado divulgado na sexta-feira. Pelo menos 14 cidadãos de Serra Leoa foram colocados em quarentena obrigatória por 14 dias, segundo a mesma nota. A situação motivou já críticas do presidente da Câmara dos Deputados da Nigéria, Femi Gbajabiamila, e a intervenção do chefe da diplomacia nigeriana, Geoffrey Onyeama, que disse ter convocado o embaixador chinês para expressar “extrema preocupação” e pedir uma resposta imediata de Pequim. O Quénia também já se manifestou através de uma declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da embaixada daquele país em Pequim.
Covid-19 | China regista 108 novos casos, número mais alto desde Março Hoje Macau - 13 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] China registou 108 novos casos de infecção pelo novo coronavírus, incluindo dez de contágio local, o número mais alto desde 28 de março, informou hoje a Comissão de Saúde do país. Até às 00:00 de segunda-feira, morreram duas pessoas devido à covid-19, ambas na cidade de Wuhan, centro da epidemia, disse. Os dez casos de contágio local ocorreram nas províncias de Guangdong, adjacente a Macau, no sul do país, e de Heilongjiang, na fronteira com a Rússia, e um novo centro de infeção na China devido ao fluxo de viajantes entre os dois países vizinhos. A cidade de Suifenhe, que fica do lado chinês da fronteira, e se encontra sob quarentena desde quarta-feira passada, registou já cerca de 200 casos confirmados e mais de 100 casos assintomáticos, informou a agência de notícias oficial chinesa Xinhua. A maioria dos casos foi diagnosticado em chineses a residir na Rússia e que voaram de Moscovo para Vladivostok (leste) e entraram na China através do posto fronteiriço em Suifenhe. As autoridades chinesas destacaram vários médicos e funcionários de saúde para um hospital de campanha montado na última semana em Suifenhe, para tentar conter o surto. As autoridades chinesas baniram a entrada de estrangeiros no país, no final do mês passado, mas muitos chineses radicados no exterior estão a voltar ao país, à medida que a doença alastra pelo resto do mundo, pelo que a China passou a contar com centenas de casos importados. Segundo a Comissão de Saúde chinesa, 88 pacientes receberam alta após terem superado a doença, nas últimas 24 horas, mas devido às 108 novas infeções registadas, o número total de infectados no país asiático aumentou para 1.156, no segundo dia consecutivo de inversão de tendência de descida. Entre os 1.156 casos de infecção “activos”, 121 estão em estado grave, indicaram. O número total de infectados diagnosticados na China desde o início da pandemia é de 82.160, dos quais 3.341 pessoas morreram e, até ao momento, 77.663 pessoas tiveram alta, acrescentaram. As autoridades chinesas referiram que 719.908 pessoas em contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, entre as quais 9.655 permanecem sob observação. A pandemia da covid-19 já causou mais de 112 mil mortos e infectou mais de 1,8 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, os Estados Unidos são agora o país que regista o maior número de mortes (mais de 22 mil) e de infectados (mais de 555 mil). O continente europeu, com mais de 932 mil infectados e 77 mil mortos, é o que regista o maior número de casos, e a Itália é o segundo país do mundo com mais vítimas mortais, contando 19.899 óbitos e mais de 156 mil casos confirmados. Em Espanha, as autoridades sanitárias apontam 16.972 mortos e mais de 166 mil casos de infecção. Além de Estados Unidos, Itália e Espanha, os países mais afectados são França, com 14.393 mortos (cerca de 132 mil casos), Reino Unido, com 10.612 mortos (84 mil casos), Irão, com 4.474 mortos (71 mil casos), China, com 3.341 mortos (82 mil casos), e Alemanha, com 2.673 mortes (120 mil casos). Em África, há registo de 747 mortos e mais de 13 mil casos em 52 países.
DSEJ | Alunos podem passar todos de ano caso aulas não recomecem até Julho Hoje Macau - 9 Abr 202013 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo admitiu hoje a passagem administrativa de todos os estudantes do ensino não superior caso as aulas não recomecem durante este ano lectivo, que termina em 31 de Julho. A informação foi avançada por um representante da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) durante a conferência diária de acompanhamento do surto do novo coronavírus e uma reunião plenária do Conselho de Educação para o Ensino Não Superior. O chefe de departamento de estudos e recursos educativos da DSEJ, Wong Kin Mou, afirmou, contudo, que não existe um calendário ou data limite para se tomar esta medida. Na reunião do Conselho para o Ensino Superior, Cheang Sek Kit, Chefe de Divisão da DSEJ, disse que a sugestão é de que “nenhuma escola reprove alunos”, uma vez que o ensino online não é igual ao ensino presencial. “Recomendamos às escolas que possam considerar os alunos passarem de ano”, afirmou, de acordo com a TDM Rádio Macau. Citado por um comunicado, Cheang Sek Kit adiantou que “a saúde e a segurança dos alunos são os principais factores a ter em consideração”. Nesse sentido, “de acordo com os fundamentos científicos e os pareceres abalizados dos Serviços de Saúde, [a DSEJ] procede ao estudo e apreciação dos assuntos relativos ao reinício das aulas, que serão dados a conhecer ao público, em tempo oportuno”. Regresso “faseado” Apesar de a DSEJ estar a ponderar que todos os alunos passem de ano, a verdade é que já existem algumas ideias definidas de como será feito o regresso às aulas. Cheang Sek Kit afirmou ainda que “o retomar das actividades lectivas nas escolas será iniciado com o Ensino Secundário Complementar, e a partir daí vai ser feito de forma faseada, sendo a entrada e saída dos alunos organizada em horários diferenciados”. Serão também adoptadas “medidas versáteis para os alunos do Ensino Infantil e dos três primeiros anos de escolaridade do Ensino Primário, no sentido de se efectuar uma preparação mais conveniente”. Para as escolas, a DSEJ elaborou um conjunto de instruções para o regresso às aulas, que passam pela “limpeza e desinfecção do espaço escolar, a higiene, prevenção e gestão da saúde de docentes e alunos, o planeamento dos cursos e do ensino, a avaliação dos alunos e o tratamento flexível das faltas, a gestão dos serviços de bar, a coordenação do almoço, da sesta no ensino infantil, entre outros”. Subsídios aumentam Na mesma reunião do Conselho para o Ensino Não Superior foi também apresentado o relatório relativo ao ajustamento do subsídio de escolaridade gratuita, bem como os subsídios relativos às propinas e à melhoria dos rácios turma/professor e professor/aluno, sem esquecer os apoios para as actividades extra-curriculares e ensino recorrente. Todos estes ajustamentos de apoios financeiros dizem respeito ao próximo ano lectivo de 2020/2021. Sit Weng Tou, Chefe da Divisão da DSEJ, anunciou os aumentos “adequados” dos montantes tendo em conta a “situação financeira do Governo e os factores que afectam as despesas da área da educação”, explica o mesmo comunicado. Desta forma, o subsídio de escolaridade gratuita vai variar entre 1.063.800 patacas e 1.584.300 patacas por turma, enquanto que o subsídio de propinas registará uma variação entre 20.970 patacas e 25.480 patacas por aluno. O subsídio por turma para as actividades extracurriculares aumentará para 27.300 patacas, o subsídio para o desenvolvimento profissional do pessoal docente de todos os níveis variará entre 3.010 e 11.448 patacas e o subsídio directo para os professores apresentará valores entre 3.010 e 6.360 patacas, a atribuir mensalmente. No que diz respeito ao subsídio para o ensino recorrente, vai variar entre 899.600 e 1.210.600 patacas por turma, mantendo-se inalterado o valor do subsídio para a melhoria do rácio turma/professor ou do rácio professor/aluno. Prevê-se um investimento total de mais de 5,1 mil milhões de patacas nos seis subsídios, o que representa um aumento de 5,8% em comparação com as despesas previstas para o ano lectivo de 2019/2020.
Covid-19 | Mantidos donativos à Loja Social Hoje Macau - 9 Abr 2020 [dropcap]N[/dropcap]os meses de Fevereiro, Março e Abril, os patrocinadores (Sands China, Sociedade de Jogos de Macau e MGM) da Loja Social da Santa Casa da Misericórdia continuaram a doar 300 mil patacas cada um. De acordo com comunicado da Santa Casa, os cabazes de bens essenciais foram enviados para a União Geral das Associações de Moradores e para a Federação das Associações dos Operários de Macau, para evitar ajuntamentos. A entrega ficou a cargo das associações, que colaboram na triagem das famílias mais carenciadas. As restantes pessoas que beneficiam do programa receberam indicações sobre como aceder aos bens de forma segura. “O plano de contingência adoptado para a Loja Social deverá manter-se nos mesmos moldes enquanto a situação imposta pela Covid-19 não se alterar em Macau”, frisou a Santa Casa.
Empregadas domésticas | Chan Chak Mo diz que “salário mínimo pode ter impacto negativo” Pedro Arede - 9 Abr 2020 A proposta de lei do salário mínimo dos trabalhadores entra em vigor a 1 de Novembro e volta a deixar de fora as empregadas domésticas. Segundo Chan Chak Mo, o Governo considera a exclusão justa pois tem em conta “a capacidade financeira do empregador”. Já os trabalhadores com deficiência poderão receber o equivalente ao salário mínimo [dropcap]“Q[/dropcap]uando esses trabalhadores vêm cá trabalhar já sabem qual é o seu salário. Por isso não posso dizer se é justo ou não, até porque não sei quanto dinheiro é que precisam”, apontou Chan Chak Mo quando questionado se os deputados da comissão à qual preside estavam de acordo com a exclusão das empregadas domésticas da proposta de lei do salário mínimo. As declarações foram proferidas ontem pelo deputado, após uma reunião da 2ª Comissão Permanente da Assembleia da República (AL), onde foi assinado o parecer da versão final da proposta de lei do salário mínimo para os trabalhadores. Questionado sobre se os deputados estão confortáveis com o facto de a proposta de lei deixar de fora as empregadas domésticas, Chan Chak Mo afirmou que a comissão entendeu que a questão “não é um grande problema” porque existe um mecanismo que assegura uma remuneração mínima, feita a pensar na capacidade financeira das famílias e pessoas singulares empregadoras. “Garantir um salário mínimo pode trazer um impacto negativo nas famílias. Mas seja como for, está garantida uma remuneração salarial mínima dos trabalhadores através do mecanismo da sua contratação. Ou seja (…) se o salário é demasiado baixo, não é autorizado. Claro que este valor não corresponde ao valor do salário mínimo e segundo a DSAL, isso tem a ver com capacidade financeira de cada empregador ou requerente”, explicou Chan Chak Mo. Segundo explicou o deputado, a exclusão deve-se às regalias atribuídas aos trabalhadores domésticos além do salário, como alojamento e habitação. “Segundo o Governo, além do salário, estes trabalhadores também têm alimentação e alojamento. Muitas vezes os empregadores (…) são pessoas singulares e também trabalham por conta de outrem e (…) não têm a mesma capacidade que têm as empresas”, sublinhou. Segundo o parecer assinado ontem, a decisão de deixar os trabalhadores domésticos de fora “não atenta contra o princípio da igualdade e da discriminação” e “não vai contra” as convenções da Organização Mundial do Trabalho (OIT). Deputados divididos Já sobre os trabalhadores com deficiência, o parecer assinado ontem atesta que “a comissão mostrou-se dividida”, acabando, no entanto, por conseguir um compromisso entre deputados e Governo que garante um mecanismo para atribuir um valor complementar equivalente ao salário mínimo, a estes trabalhadores. “Os trabalhadores com deficiência, no futuro, também vão conseguir auferir um salário correspondente ao salário mínimo porque o Governo prometeu que ia pagar a diferença do seu salário”, explicou Chan Chak Mo. O mecanismo de apoio aos trabalhadores com deficiência vai assumir a forma de regulamento administrativo e entrar em vigor no dia 1 de Novembro, o mesmo dia da implementação da lei do salário mínimo que consta na última versão da proposta de lei. A análise na especialidade da proposta de lei ficou terminada ontem e segundo Chan Chak Mo, o diploma deve ser votado ainda este mês. O valor do salário mínimo está fixado em 6.656 patacas por mês, passando assim a ser generalizado a partir de 1 de Novembro a outros sectores além dos trabalhadores de limpeza e segurança de condomínios.
Burroughs à presidência! António Cabrita - 9 Abr 202010 Abr 2020 [dropcap]T[/dropcap]rouxe para a quarentena os livros “certos”, mas a net dispersa-me, arrasta-me numa deriva que me faz sulcar textos e autores ao arrepio do planeado. Uma crónica do Roberto Bolaño provoca-me a vontade de reler A Revolução Electrónica, de William Burroughs, um livrinho de 1972. Como não tem mais do que sessenta páginas, baixei-o da net para o ler de imediato. As teses delirantes do autor de Refeição Nua assentam como uma luva na situação de hoje. Sobressaem três linhas de força: – a metáfora da adição como figura de toda a forma de controle; somos dominados pelos poderes do Estado e do mercado mediante a adição induzida às drogas, ao dinheiro, ao poder, ao consumo, ao sexo, e à palavra; – viciamo-nos nas palavras porque estas na verdade, como o sistema de que emanam, a linguagem, não nos são originariamente naturais: a linguagem é um vírus chegado de «um espaço exterior», não-humano, que nos invadiu e parasitou, tendo-nos inclusive provocado uma enfermidade viral que nos alterou a estrutura interna da garganta. Face a essa infecção que fez brotar em nós as cordas vocais – resultado dessa simbiose entre nós e o vírus – muitos morreram mas os que sobreviveram adquiriram a linguagem; – terceiro ponto a reter: o vírus pode ser maligno, mas como hospedeiros do vírus temos uma palavra a dizer, i.é, o seu efeito sobre nós depende também da energia que colocámos no seu “combate”, Burroughs atribuiu uma parte relevante ao papel do medo como detonador de outros vírus ou sintomas latentes no nosso corpo e que aproveitam o novo parasita para nos infernizar. Como ele o diz, se deixamos que o célebre “instinto de morte” freudiano nos persuada de que somos “uns derrotados” estamos fritos. Estes dois últimos pontos podem-nos servir de consolo ou de alavanca. É iniludível que o corona vai desencadear mutações no nosso sistema de vida que a prazo nos poderão ser favoráveis, desde que esta reiterada consciência do que seja a “biopolítica” reforce a urgência de nos empenharmos nas causas sociais e numa “nova aliança”, eco-ética. Esta crise, por outro lado, trouxe-nos respostas definitivas: o neo-liberalismo é o regime que menos nos defende, numa crise humanitária, e sabemos quem o representa. Em segundo lugar, lembra-nos: as instâncias inconscientes e simbólicas tanto regem a nossa relação com o corpo como a sua saúde, eis um convite a que exorcizemos os nossos fantasmas. Outra leitura que surpreendentemente me revelou outro tipo de contaminação – neste caso literário – e que demonstra que a virologia nos cerca, seja qual for o domínio, é a impensável ligação entre dois livros e autores aparentemente nos antípodas. Quem à partida ousaria falar de afinidades entre Jack Kerouac e o Camilo José Cela? Pois façam o favor de ler o Pela Estrada Fora e em seguida A Cruz de Santo André. Os contactos são esmagadores e em vários pontos Cela dá um bigode a Kerouac, a começar pela voltagem da linguagem, o ritmo da escrita, mais amorfo no americano, e até – outro item desconcertante – na narração das relações sexuais entre as personagens, muito mais livre e inventiva no galego. Kerouac escreveu Pela Estrada Fora num rolo de papel de teletipo com 36 metros de comprimento, simplesmente inserido na máquina de escrever e sem qualquer divisão de parágrafos, deixando que o papel se desenrolasse sobre o chão e tomasse o aspecto de uma estrada, A cruz de Santo André, escrito quarenta anos depois, no mais desopilante estilo paródico, começa assim: «Aqui, nestes rolos de papel de retrete (as patroas das pensões de estudantes dizem papel higiénico), marca La Condesita, escrevendo com esferográfica (…) vai ser narrada a crónica de um desmoronamento». Segundo os relatos mitológicos, Kerouac limitou-se a sentar-se e a deixar que durante 22 dias o texto fluísse, ao som duma rádio onde só passava be-bop, desfilando as suas histórias de vida, relatos verdadeiros de como se sucedia a vida estrada fora, à boleia, e como havia cruzado a América na companhia de seu louco amigo Dean e no desfrute do jazz, do álcool, das garotas, das drogas, da liberdade. Em A Cruz… a desbunda é vivida pela coralidade das narradoras, que serão igualmente as «personagens do drama» e se vão revezando a macular com esferográfica o papel higiénico – Matilde Verdú, Clara Erbecedo, Mary Carmen, Jesusa Cascudo, Mary Boop e a sua mana Matty – e a “estrada fora” plasma-se na deambulação permanente das suas existências cruzadas, numa paisagem galega que se desdobra como os foles de uma concertina e à boleia dos seus inescapáveis apetites, vivenciados num ritmo sincopado e truculento (puro Charles Mingus) porque o desejo entra sempre com a vida «pela porta do cavalo» e foge à norma, ao planeado, à lei e à lógica do argumento. A “moral” da derrocada anunciada tange a do tempo que desgasta os corpos e enuncia-se assim: «Todas e todos nos sentimos descobridores do vício e cúmplices do vicioso, se Betty Boop tivesse sabido que o pai ia ao ginásio para ver atletas no duche, caía-lhe o céu na cabeça, se Betty Boop tivesse sabido que a mãe ia à sauna para ver mulheres nuas e às últimas filas do cinema para ouvir o sossegado arfar das masturbações recíprocas, caia-lhe o céu na cabeça, a Betty Boop também se sentia a inventora do vício; o Lucas Muñoz explicou uma noite ao violinista o que disse Baudelaire: não procures mais no meu coração, foi comido pelas feras.» Ademais, em termos estilísticos fareja-se mais no Pela Estrada Fora o «comedimento administrativo» que em Cela… que logra com outra estaleca uma progressão narrativa não-linear. Enfim – o que os vírus nos fazem descobrir e roça os paradoxos mais desconcertantes -, o conservador Cela torna Kerouac num seu avatar menor (não contem isto ao Trump). Leiam e divirtam-se: há uma edição de A Cruz… que se apanha nas livrarias de fundo a dois euros.
As mãos e a pandemia Luís Carmelo - 9 Abr 2020 [dropcap]H[/dropcap]avia neve nos Pirinéus na Páscoa de 1972. E eu ainda não sabia que 48 anos depois estaria em quarentena, por causa de um vírus. Objectivamente: por causa de uma guerra biológica em que o campo de batalha é formado por curvas e cidades desertas. O futuro é o que está à mão, mas também o que virá e que já não caberá na minha mão. Tudo o que se estende para fora do corpo não está na minha mão prevê-lo. Mas é aí que me reencontro, é aí que me sento com todos os livros ainda por escrever. É aí que me deixarei cair dentro do poço da Alice por estar sempre distraído a olhar para as nuvens. Em tempos de pandemia o futuro é a parte da vida que não envelhece. O que persiste. Todos os discursos conjecturam essa perenidade. A economia é o ponto de encontro das angústias que se conjecturam e antecipam. A economia, não o economês dos pobres diabos, é o dorso oculto da pandemia. Esquecemos muitas vezes que o polegar foi a primeira forma em que investimos para conjecturar a natureza. Depois, quando os humanos se puseram de pé e começaram a andar em frente, o bullying à natureza foi sendo realizado pelo tempo. E o tempo, afinal, éramos e somos nós: assediar a natureza tornou-se no relógio invisível que abre caminho para que continuemos a andar em frente. Sem parar. Uma erosão nefasta que brilha (maravilhosamente) e que nos segreda que o futuro há-de descer pela mesma ravina que o vê desaparecer todos os dias. Nestes dias de recolhimento, os crepúsculos chegam durante o dia e enfrentam a luz como uma música que subverte a imaginação, por vezes o tédio. Uma imagem que me devora e que me alimenta. A biografia é, ou poderia ser, esse breve parágrafo que enche a possibilidade de eu ter sido (e de aqui continuar a escrever esta crónica). Imaginemo-la como uma fotografia – sempre a mesma – a passar em ‘loop’ e sem qualquer esquadria. Ou como a chuva a transbordar os vidros da janela. Uma fotografia que se diz natural apenas porque é (ou será) olhada por alguém. O que se apresenta como natural visa afinal, e com toda a inocência, o futuro. Tinha 17 anos quando cheguei aos Pirinéus e a polícia não me deixou passar. Estava com uma tia e com o meu irmão. Atirei o saco que trazia ao ombro contra as grades da fronteira francesa. Um gesto violento, mas um gesto que ficou sem resposta. O polícia francês tinha uma barriga enorme e sorriu com rosto de cágado. Foi aí que a minha memória susteve o mundo. Foi aí que o meu futuro podia ter sido sempre outro e outro. Nunca provei um martini, mas poderia colocar um copo de martini na minha biografia. Nunca usei um arco-íris na lapela (nem na net), mas poderia perfeitamente colocar um arco-íris na lapela da minha biografia. O futuro é uma enxada. Uma parte metálica a que se adapta um cabo e que só tem sentido, porque se conjectura e antecipa o que ela faz (ou poderá vir a fazer). Cada ferramenta pode ser o mundo todo, mas o essencial não cabe nunca na narração. Não me lembro do comboio que me levou e me trouxe dos Pirinéus a Saragoça nesses dias distantes da Páscoa de 1972. Hoje estou encostado à janela a averiguar o poço da Alice e as ruas estão desertas. É nesse vaivém vertical que circularão todas as biografias. Sobem, descem, vertiginam em ‘loop’. O que se apaga, irá arder mais tarde. E a escrita pode ser esse fogo, do mesmo modo, dizia eu (dizia mesmo?), que o futuro é o que está à mão e ainda por vir, mas também o que virá e que já não cabe mais na minha mão. Sobre as cinzas, ainda havemos um dia de festejar. Não se sabe bem o quê. Nem que seja a capacidade que os humanos têm em perceber e criar aquilo que designam por festa. Nem que seja para tocarmos com as mãos (e com os polegares) uns nos outros. Afinal somos velhos primatas, sedentos e desejosos de nos erguermos.
Defesa da Globalização Pedro Arede - 9 Abr 2020 [dropcap]S[/dropcap]ão já poucos os que duvidam que o mundo que vamos encontrar, ultrapassada a crise provocada pela pandemia, muito provavelmente, não voltará a ser o mesmo em variadíssimos aspectos. O reposicionamento de forças e a antecipação de vantagens e dividendos económicos é um jogo que está a ser disputado neste preciso momento e tem na acção diplomática um alicerce fundamental. Até mesmo para não deixar morrer um dado por demais adquirido até agora como a Globalização. Foi no Diário de Notícias que li, citando o Le Monde, que a “geopolítica da máscara” a que actualmente podemos assistir, faz lembrar uma prática antiga do Governo chinês de oferecer pandas a líderes estrangeiros quando quer melhorar as suas relações externas. Desta vez, a oferta são máscaras cirúrgicas e podem fazer toda a diferença nos países mais afectados. Mas, para além de uma atitude solidária de louvar e de contribuir para reparar danos na imagem de uma China que chegou a ser questionada ao nível da sua transparência para com a OMS numa fase inicial da pandemia, pode também servir para sair em defesa da Globalização. Considerada como “fábrica do mundo”, a verdade é que a pandemia pôs a nu o excesso de dependência que muitos países têm no facto de o fabrico de alguns produtos, como as máscaras, ter lugar sobretudo na China. Voltaremos a ver uma Europa ou uns EUA a procurar controlar algumas cadeias de produção essenciais dentro de portas? Ou passada a crise, terão os esforços diplomáticos desempenhado o seu papel na manutenção do mercado global? As perguntas certamente não se esgotam por aqui.
Estudo da UM conclui que rede de tráfico tem origem em Yunnan, Sichuan e Myanmar Hoje Macau - 9 Abr 2020 [dropcap]U[/dropcap]m estudo desenvolvido por dois investigadores da Universidade de Macau (UM) conclui que as regiões de Yunnan, Sichuan e Myanmar constituem a principal origem da rede de tráfico de droga que opera na China. Enquanto isso, as regiões de Guangdong, Xinjiang e Sichuan servem como destinos principais. As conclusões surgem no estudo intitulado “Smuggling of Drugs by Body Packing: Evidence from Chinese Sentencing Documents”, da autoria de Tang Ruoyang, doutoranda do departamento de sociologia da Universidade de Macau (UM) e do seu supervisor, Cai Tianji, professor no mesmo departamento. O artigo foi publicado na revista científica International Journal of Drug Policy. Os dois investigadores analisaram os processos judiciais na China relacionados com tráfico de droga e casos de transporte de droga no corpo, entre o período de 2006 e 2016. “Os resultados revelam que a heroína e as metanfetaminas são as principais drogas traficadas recorrendo a ‘mulas de transporte’”, descreve um comunicado da UM. Além disso, o estudo conclui ainda que os tribunais da China aplicam penas mais pesadas “em casos que envolvem uma maior quantidade de drogas e quando há reincidência do crime”. Por outro lado, “mulheres grávidas ou a amamentar, portadores de deficiência, ou menores, tendem a receber penas mais leves”. Foi também concluído que os infractores que confessam a prática do crime são os que são condenados a maiores penas. Este estudo faz parte de um projecto de Cai Tianji focado na análise de sentenças judiciais chinesas e é um dos nove artigos científicos já publicados em publicações científicas de referência, aponta a UM.
Wynn | Fecho de casinos custou 20 milhões por dia Hoje Macau - 9 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] encerramento dos casinos em Macau para prevenir a propagação do covid-19 gerou perdas à operadora Wynn de 20 milhões de patacas por dia, segundo um comunicado da empresa à Bolsa de Hong Kong. A estes custos a operadora afirma ter ainda gasto 4 milhões de patacas em juros para fazer face às perdas. “Durante o período de encerramento contabilizamos despesas de aproximadamente 2,5 milhões de dólares norte-americanos [20 milhões de patacas] por dia, excluindo o montante gasto com juros de aproximadamente 0,5 milhões de dólares por dia [4 milhões de patacas]”, revelou a empresa. Além do encerramento durante 15 dias, a operadora enfrenta várias restrições nas mesas de jogo, assim como uma redução acentuada do número de clientes, relacionadas com as restrições à circulações de pessoas. Por este motivo, a Wynn afirma que vai registar uma redução nas receitas durante o primeiro trimestre que vai dos 40 aos 44 por cento. “Com base nas tendências descritas, as nossas receitas de operação combinadas para os três meses terminados a 31 de Março de 2020 vão situar-se entre os 912 milhões e os 969 milhões de dólares norte-americanos [7,30 mil milhões e 7,75 milhões de patacas], comparando com o valor de 1,64 mil milhões de dólares [13,10 mil milhões de patacas] registado a 31 de Março de 2019”, foi acrescentado.
Droga | Covid-19 “obriga” casal a traficar através de plataforma online João Luz - 9 Abr 2020 [dropcap]C[/dropcap]om as restrições fronteiriças impostas pelas autoridades para travar a propagação da pandemia, um casal de residentes que traficava metanfetaminas para Macau passou a usar uma plataforma de compras online para trazer a droga para o território. Segundo a Polícia Judiciária (PJ), um residente, com 34 anos, e uma residente, de 33 anos, foram detidos por suspeita de receber droga escondida em embalagens de café. A mercadoria entraria no território com a “ajuda” de uma empresa de logística que serve plataformas online, como o Taobao. De acordo com os registos fronteiriços, o casal passou a fronteira para o Interior várias vezes, viagens que a PJ suspeita terem servido para trazer droga para o território, mas as restrições fronteiriças resultantes da pandemia da covid-19 obrigaram os traficantes a mudar de estratégia. A mulher, de apelido Lam, que segundo as autoridades trabalha em vendas, dedica-se ao tráfico de droga há, pelo menos, três anos. O homem, com quem Lam tem um relacionamento amoroso, e que afirma ser taxista, é suspeito de ter levado Lam ao Interior para adquirir metanfetaminas, antes das restrições fronteiriças. Um dos pacotes de café descobertos pela PJ continha 12,5 gramas de droga, com valor de mercado de 41 mil patacas. Foi também encontrada parafernália de consumo Na sequência da investigação, as autoridades terão descoberto que o indivíduo, de apelido Lin, terá contactado um traficante através uma aplicação móvel. Os estupefacientes, que custaram cerca de 4000 RMB, foram pagos também online. O casal foi detido em casa do homem, na Avenida de Almeida Ribeiro, onde foram encontrados outros pacotes de café idênticos ao que continha droga. Os residentes foram conduzidos ao Ministério Público por suspeitas de tráfico de droga.
TDM | Empresa recebeu 340 milhões do Governo Hoje Macau - 9 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] TDM recebeu 340,27 milhões de patacas do Governo no ano passado, o que representa um aumento de 15,25 milhões de patacas em relação a 2018, quando o valor dos subsídios tinha sido de 325,02 milhões. Os números foram publicados pela empresa no relatório em contas, com o subsídio à exploração do Governo da RAEM a representar 302,71 milhões e o subsídio para o Investimento do Governo da RAEM a totalizar 37,56 milhões. Ainda de acordo com as contas apresentadas, as operações da empresa resultaram num prejuízo de 333,81 milhões de patacas, que foi compensado com os apoios do Governo. Por este motivo, a empresa conseguiu apresentar um lucro de 5,86 milhões de patacas, superior aos resultados positivos de 4,88 milhões de patacas registados em 2018. A maior despesa prendeu-se com os recursos humanos cujos pagamentos aumentaram mais de 20 milhões de 295,04 milhões de patacas, 2018, para 315,20 milhões no ano passado. No entanto, a empresa terminou o ano com menos funcionários, num total de 694, quando 2018 tinha terminado com 702.
Cônsul Paulo Cunha Alves reaparece em público após quarentena João Santos Filipe - 9 Abr 2020 O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong voltou esta semana a aparecer em público, após ter regressado de Portugal no dia 22 e ter cumprindo um período de 14 dias de quarentena [dropcap]O[/dropcap] cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, regressou esta semana à actividade, após ter cumprido um período de quarentena, como exigido pela legislação actualmente em vigor de prevenção e combate à pandemia do covid-19. A informação foi confirmada ontem, ao HM, pelo consulado. Paulo Cunha Alves tinha-se deslocado a Portugal na semana entre 9 e 13 de Março por “motivos familiares” e regressou no dia 22 do mesmo mês. Por este motivo, quando regressou à RAEM foi levado para quarentena, onde passou cerca de 14 dias, uma vez que a Europa é actualmente considerada um área de alta incidência da covid-19. “Informamos que o Senhor Cônsul-Geral, Embaixador Paulo Cunha Alves, regressou a Macau no passado dia 22 de Março. Cumpriu depois um período de duas semanas de quarentena, de acordo com os preceitos estabelecidos pela lei da RAEM”, revelou o consulado, ao HM. Após a quarentena os testes do covid-19 foram negativos e o cônsul ficou apto para regressar ao activo. “Os testes finais realizados no hospital foram negativos pelo que retomou esta semana as suas actividades”, foi indicado. Assim sendo, Paulo Cunha Alves pode participar ontem na cerimónia de entrega de donativos por parte de associações de cariz social, individuais e empresas ao movimento Macau Solidário. Este movimento foi estabelecido em contacto com a Embaixada de Portugal na China que vai enviar os fundos recebidos, de cerca de 3,5 milhões de patacas, para a Direcção Geral de Saúde (DGS). Da viagem A deslocação a Portugal deu-se na semana entre 9 e 13 de Março por motivos familiares e tinha sido autorizada pela Embaixada de Portugal em Pequim e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. No entanto, o cônsul acabou por ser surpreendido com a imposição de medidas mais restritivas na circulação de pessoas tanto na União Europeia como em Macau, o que acabou por dificultar o regresso. Porém, quando prestou declarações ao HM, a 19 de Março, Paulo Cunha Alves admitiu estar a concentrar todos os esforços para regressar à RAEM o mais depressa possível, sem descurar as suas funções. “Voltarei a Macau logo que as circunstâncias internacionais o permitam. Entretanto, estou em contacto permanente com a equipa do Consulado Geral em Macau que continua activamente a apoiar e a atender às necessidades da comunidade portuguesa”, declarou na altura. O regresso aconteceu três dias depois.
Crime informático | Lei não limita acesso a dados fora da RAEM João Santos Filipe - 9 Abr 2020 Os deputados da 1.ª Comissão Permanente avisam que os limites às buscas de dados informáticos em nuvem ou fora da RAEM Macau não estão expressos na lei. Porém, têm “esperança” que, ainda assim, sejam aplicados na prática [dropcap]A[/dropcap] obrigação da Polícia Judiciária (PJ) apenas aceder a dados informáticos transfronteiriços com o consentimento voluntário do proprietário, ou através de portais de acesso público, não está consagrado “de forma expressa” nas alterações à Lei de Combate à Criminalidade Informática. Esta é a opinião dos deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, que apontam que apesar de o Executivo afirmar ter tido como base a Convenção de Budapeste, os limites podem ser entendidos como “uma interpretação”. Segundo a convenção mencionada pela tutela de Wong Sio Chak, durante investigações a polícia pode aceder a dados guardados em outras jurisdições, desde que legalmente autorizada pelas entidades do local onde os dados estão guardados. Por exemplo, se a Polícia Judiciária quiser aceder a dados que se encontram no Canadá tem de pedir auxílio às autoridades canadianas. Há duas excepções na convecção que permitem operar sem colocar a soberania da outra jurisdição em causa, nomeadamente quando os dados são de acesso público ou há autorização voluntária do visado pela investigação. A comissão liderada por Ho Ion Sang destaca que estes limites não estão expressos no documento proposto pelo Governo. “A comissão […] realçou que a alteração agora introduzida […] não estabelece, de forma expressa, os limites previstos naquela Convenção para o acesso transfronteiriço”, é apontado no parecer da comissão. Todavia, os deputados acabaram por não fazer qualquer proposta de alteração ao documento porque aceitaram a explicação do Executivo, que argumenta que essa exigência já consta do Código de Processo Penal. “A comissão acabou por concluir que aqueles limites estabelecidos pela Convenção de Budapeste […] acabam por estar presentes, ainda que de forma não expressão, nos pressupostos legais que são exigíveis”, lê-se no documento. Uma esperança Apesar destes pressupostos, a própria comissão não excluí outras interpretações. “A comissão espera que, no futuro, a aplicação do disposto nesta alínea 6) se faça de acordo com tal interpretação e que no acesso a tais dados transfronteiriços os órgãos de polícia criminal recorram, preferencialmente, aos mecanismos de cooperação internacional ou inter-regional” é desejado, refere o parecer. Outro dos assuntos mais polémicos do diploma era a possibilidade de através de um equipamento electrónico, por exemplo de um telemóvel, se aceder a dados guardados num dispositivo diferente, como um computador. Neste caso, a comissão considera que é claro que as buscas devem respeitar o Código de Processo Penal, ou seja, a extensão de um equipamento para outro só pode ser feita com autorização prévia ou ordem da autoridade judiciária, normalmente o Ministério Público. Em último recurso, e se houver risco de destruição de provas, a autorização pode ser obtida nas 72 horas seguintes à busca. Após a assinatura do parecer, os deputados têm de votar em Plenário as alterações à Lei de Combate à Criminalidade Informática. A data para a votação ainda não foi marcada.
Governo concede mais subsídios e um segundo vale de apoio ao consumo Salomé Fernandes - 9 Abr 20209 Abr 2020 O Governo não poupa nas medidas de apoio no combate contra a crise provocada pela covid-19: quase todos os trabalhadores residentes vão receber um subsídio de 15 mil patacas e haverá uma segunda ronda de distribuição de vales ao consumo, no valor de cinco mil patacas. O anúncio foi feito ontem pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong [dropcap]O[/dropcap] Governo apresentou ontem as medidas que vão ser tomadas para apoiar o combate à pandemia, com base no fundo de 10 mil milhões anunciado na semana passada. Além deste montante, o Executivo revelou que tem também uma reserva de 3,6 mil milhões para a revitalização da economia de Macau no futuro. Uma segunda ronda com vales de apoio ao consumo vai ser lançada na segunda metade do ano com o objectivo de “garantir o emprego, estabilizar a economia e assegurar a qualidade de vida da população”, disse ontem o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong. Outra medida apresentada, passa pela atribuição a quase todos os trabalhadores residentes de um apoio de 15 mil patacas, que corresponde a cinco mil patacas por três meses. Prevê-se que a medida abranja 260 mil pessoas. Ficam excluídos os trabalhadores da Função Pública e a quem forem devolvidas 20 mil patacas do imposto profissional do ano de 2018, ou seja, que auferem anualmente 720 mil patacas. “Há mais de 15 mil pessoas excluídas por causa do seu salário”, disse Lei Wai Nong. O valor a atribuir foi calculado com base nos 25 por cento da mediana do rendimento mensal do emprego dos residentes, que no ano passado correspondeu a 20 mil patacas. O Governo espera que os regulamentos administrativos sejam aprovados na Assembleia Legislativa de forma a permitir a atribuição de verba em Maio. É criado também um plano de apoio pecuniário a profissionais liberais, que dependendo do número de trabalhadores por si contratados podem receber entre 15 mil e 200 mil patacas. Arrendatários de bancas de mercados, vendilhões e titulares de licença de triciclo, bem como condutores de táxi que aluguem o veículo ao proprietário vão poder receber 10 mil patacas. As licenças de exploração dos táxis vão ser alargadas por mais seis meses. Mundo empresarial Por outro lado, há um montante de 2.400 milhões de patacas destinado ao apoio a empresas. Os estabelecimentos comerciais que não recrutam trabalhadores, como por exemplo um dono de salão de beleza que trabalha sozinho, têm direito a um máximo de 15 mil. “Também contribuem, pagam imposto profissional, e têm alugado um espaço para o funcionamento da sua empresa, que também tem um certo custo”, disse Lei Wai Nong. Os estabelecimentos comerciais que recrutem um a três trabalhadores podem receber até 50 mil. O apoio pode ascender até 200 mil patacas no caso de as empresas recrutarem 21 ou mais trabalhadores. Caso o empresário tenha mais do que um estabelecimento, a situação muda e o tecto máximo do apoio atinge um milhão de patacas. Se os beneficiários despedirem trabalhadores sem justa causa no espaço de seis meses têm de devolver o valor de forma proporcional. Ficam excluídos deste plano instituições de diferentes áreas, como a da electricidade, autocarros públicos e metro ligeiro, instituições de ensino e sector do jogo. O Governo anunciou ainda medidas ligadas à formação subsidiada. Residentes desempregados que participem em cursos de formação podem receber um subsídio de 6.656 patacas. Há cerca de 10 mil vagas e o Executivo planeia disponibilizar 50 mil postos de trabalho, oferecidos depois da conclusão da formação. Há registo de mais de 1100 casos de pedidos de subsídios por parte de pessoas desempregadas. Para quem se mantém no activo, e em situações de licença sem vencimento, o Governo disponibiliza cursos de formação para melhoria de técnicas profissionais. Quem o concluir recebe cinco mil patacas. Cada empregador pode recomendar um máximo de cinco trabalhadores. Mais para consumo O plano de apoio financeiro inclui também uma segunda fase do cartão de apoio ao consumo. Todos os residentes vão receber mais um subsídio, desta vez com um valor de cinco mil patacas, entre Agosto e Dezembro deste ano. O secretário para a Economia e Finanças disse que em Junho vai ser feita uma avaliação intercalar para ver o funcionamento da medida e se é preciso fazer ajustamentos na segunda ronda, mas entende que “a possibilidade de causar inflação é relativamente baixa”. Questionado sobre a diversificação da economia e os futuros pilares da economia, Lei Wai Nong respondeu que “a Ilha de Hengqin é uma parte do futuro de Macau”, recordando o ênfase dado por Xi Jinping ao uso da Ilha da Montanha através de uma comunicação estreita com o Interior da China. No entender do secretário, “o espaço é um limite grande para Macau”, mas “a diversificação moderada da economia é uma coisa obrigatória”. TNR | Prioridades motivam exclusão O secretário para a Economia e Finanças reconheceu que os trabalhadores não residentes (TNR) “constituem uma força activa de Macau” e agradeceu as suas contribuições. Mas estas pessoas ficaram ainda assim de fora dos apoios ontem anunciados. Apesar de dizer que gostava de os ter em conta, Lei Wai Nong comentou que “com os recursos limitados que temos agora temos de dar prioridade aos trabalhadores locais”. Wong Chi Hong, director dos Serviços para os Assuntos Laborais, reiterou nas suas intervenções que os TNR são para complementar a falta de recursos humanos e que face à falta de trabalhos, os seus contratos cessam para dar lugar a trabalhadores locais.
Covid-19 | Pequenos ateliers de arquitectura sofrem impacto da crise Andreia Sofia Silva - 9 Abr 20209 Abr 2020 A crise gerada pela pandemia da covid-19 trouxe um profundo impacto ao sector da construção civil, dificuldades que contagiaram os ateliers de arquitectura de pequena dimensão. Sem novos concursos públicos e com encomendas privadas reduzidas a zero, tenta-se contornar a crise motivando equipas e apostando todas as energias nos projectos em curso. Ainda assim, muitos escritórios deixaram de contratar e estão praticamente parados [dropcap]C[/dropcap]om o sector da construção civil a trabalhar a meio gás, os ateliers de arquitectura de pequena dimensão de Macau estão a deparar-se com dificuldades. Alguns concentram-se em projectos em curso, tentando motivar equipas e inovar além do habitual esquema de trabalho, enquanto outros correm o risco de pararem por completo. Nuno Soares, arquitecto principal do atelier Urban Pratice, situado no edifício Ponte 9, no Porto Interior, e que faz parte da direcção da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), reconhece as dificuldades actuais. “Não acho que o nosso atelier seja sintomático de todos os outros”, começa por dizer. “Vários colegas disseram-me que têm dificuldades e que viram os trabalhos diminuir, e nós verificámos a mesma coisa. Acho que alguns ateliers pequenos vão encerrar ou pelo menos suspender a actividade durante alguns meses.” No caso do Urban Pratice, tentou-se fazer o inverso, mas as novas contratações estão suspensas. “Um dos problemas que temos é que não conseguimos contratar. Tínhamos pessoas contratadas a partir de Portugal para vir para o atelier e como isto aconteceu não vêm. Isto causa muitas dificuldades no mercado interno de Macau, mas também no recrutamento e no desenvolvimento da equipa. É uma fase difícil”, frisou Nuno Soares. Maria José de Freitas, proprietária do atelier AETEC-Mo, destaca o facto de os concursos públicos escassearem por estes dias, enquanto que as encomendas privadas pararam. “Os trabalhos que temos em mãos já têm alguns meses, e quando estiverem concluídos vamos ter algum problema de angariação, porque não se está a fazer muita coisa a nível de projectos por parte de promotores individuais”, disse ao HM. A arquitecta destaca também o facto de Macau estar a atravessar um novo momento político com Ho Iat Seng como Chefe do Executivo. “Mudámos de Chefe do Executivo e isso também se traduz em alguma dupla aferição do que estava em curso [ao nível de concursos públicos]. Isso, em conjunto com a crise do coronavírus, vai provocar um refreamento de toda a encomenda pública.” “A encomenda pública está a rarear ou é praticamente inexistente, enquanto que a encomenda privada é inexistente. Seguramente, vamos ter problemas, e quanto mais tempo esta situação se prolongar, pior”, acrescentou Maria José de Freitas. Consequências financeiras Christine Choi, presidente da Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), defendeu ao HM que as causas para o possível encerramento de ateliers de pequena dimensão são semelhantes às dos outros negócios. “Tudo depende do seu modelo de negócio e dos projectos que têm em mãos.” Na óptica da responsável, as restrições à entrada de trabalhadores não residentes também têm efeito negativo nos pequenos ateliers. “Para um atelier de pequena dimensão, a redução de um ou dois membros da equipa tem um enorme impacto comparando com empresas maiores. Muitas vezes não é possível financeiramente providenciar alojamento para estas pessoas. Além disso, com o problema da falta de recursos humanos, também há limitações na procura de profissionais fora de Macau”, adiantou. Muitas obras estão paradas devido à falta de materiais de construção, resultado de encomendas atrasadas ou que nem sairam das fábricas, situadas na China. Algumas unidades fabris fecharam mesmo as portas devido à pandemia. Christine Choi alerta para o facto de muitos escritórios enfrentarem problemas de liquidez com a falta de novos projectos. “Isto tem colocado muita pressão em termos de liquidez financeira nos pequenos ateliers desde o Ano Novo Chinês, altura em que foram pagos bónus salariais. Isso fez com que o primeiro trimestre tenha sido menos produtivo que o habitual”, concluiu. Projecto em Wuhan parado No caso do atelier AETEC-Mo, de Maria José de Freitas, um dos projectos suspensos tinha como foco a preservação e recuperação de uma cidade muralhada em Wuhan, cidade que foi o epicentro da pandemia da covid-19. “Os ateliers pequenos, como o meu, têm-se organizado dentro de determinados nichos que não são preenchidos. Tenho a sorte de trabalhar em renovação arquitectónica, também ensino cadeiras ligadas à conservação do património na Universidade de São José.” Maria José de Freitas está confiante no regresso ao projecto de Wuhan, iniciado em 2018. “Espero que, quando a situação se resolver por lá, [o projecto] possa ter outros prolongamentos. Há expectativas em relação ao futuro, não é assim tão sombrio.” No caso do Urban Practice, a equipa continuou a trabalhar nos projectos já encomendados e a pensar no futuro pós-crise. Nuno Soares não despediu nem reduziu salários. “Criámos boas condições para a nossa equipa, reajustámos o espaço de trabalho para haver espaço individual para todas as pessoas e decidimos investir. Num momento de dificuldade ou nos retraímos ou temos alguma confiança e investimos no futuro, e foi o que fizemos.” Neste momento, o Urban Practice aposta em “concluir os trabalhos em curso para que, quando a crise passar, estes possam ser implementados com maior rapidez”. Nuno Soares evoca a crise económica na Europa aquando da II Guerra Mundial como um dos momentos em que alguns arquitectos “escreveram e desenvolveram novos protótipos”. Numa escala diferente, a pandemia da covid-19 pode trazer um efeito semelhante. “Este é um momento que temos de aproveitar para inovar. Chamámos as equipas de engenheiros com quem trabalhamos e decidimos o que fazer com isto. Também estamos a desenvolver novas linhas de negócio no campo da arquitectura porque vemos que é necessário, não podemos ficar dependentes do panorama envolvente como ele está neste momento.” O Urban Pratice também tem projectos a nível internacional que estão igualmente parados, mas que lhe confere diversidade de clientes. “Queríamos apostar mais nos mercados internacionais, mas, neste momento, estamos a desenvolver capacidade e projectos, não abrandámos.” Concursos são importantes Num território onde há muito o planeamento urbanístico constitui uma das maiores dores de cabeça do Governo, a crise da covid-19 pode significar uma oportunidade para atrair, precisamente, os pequenos ateliers. Nuno Soares defende que esta é a altura ideal para o Executivo agir e abrir mais concursos. “Nesta crise, o Governo tem tido um papel fundamental. De momento, com as fronteiras fechadas, é mesmo importante olharmos para dentro de Macau e lançarmos concursos de ideias para os projectos governamentais que são necessários para o desenvolvimento da cidade, porque este é um momento em que a economia vai precisar desse investimento e há muita disponibilidade dos vários ateliers de arquitectura para participar nesse tipo de concursos.” Outro ponto positivo destacado por Maria José de Freitas passa pela maior qualidade dos projectos no Cotai. “As coisas que estão a ser feitas relativamente aos empreendimentos na zona do Cotai estão a ser feitas com maior grau de qualidade. [Isto acontece porque] Os promotores têm outro tipo de exigências, e não é fácil encontrar em Macau equipas que façam esse tipo de trabalho com qualidade. Então estão a recorrer muito a técnicos portugueses para esse tipo de observação no local, observando critérios de qualidade que são muito exigentes. Isso é bom para a construção e cria uma habituação que é positiva”, concluiu a arquitecta.
Covid-19 | Bloqueio de Wuhan termina mas cautela mantém-se perante inimigo invisível Hoje Macau - 8 Abr 2020 [dropcap]P[/dropcap]ara os estudantes angolanos em Wuhan, o fim oficial do período de isolamento não trouxe mudanças, já que os perigos suscitados por casos assintomáticos excluídos da contagem oficial ditam o prolongamento de restrições nas universidades da cidade chinesa. Milhares de pessoas abandonaram Wuhan para outras partes da China, após 76 dias de bloqueio da cidade que foi o centro do novo coronavírus, mas os portões das universidades locais “continuam encerrados” e os estudantes “proibidos de sair dos dormitórios”, descreve à agência Lusa Euclides Simeão, aluno de engenharia de Ciências da Computação. “Espero voltar a poder caminhar no ‘campus’, mas, por enquanto, continuamos retidos nos dormitórios”, diz o representante dos cerca de 40 estudantes angolanos em Wuhan, acrescentando que não há ainda data marcada para o início das aulas. O fim de um bloqueio, sem precedentes, da cidade com 11 milhões de habitantes, e que serviu como modelo para vários países que tentam agora travar a epidemia da covid-19, constitui outra experiência inédita: retomar os negócios e o quotidiano, ao mesmo tempo que se evita uma segunda vaga de infeções por uma doença que, em muitos portadores, não apresenta sintomas. “A escola diz-nos que há ainda os assintomáticos e, portanto, recomenda cautela, mesmo quando reabrirem os portões, e para manter a distância social, lavar sempre as mãos e usar sempre máscara”, conta Euclides. O fim oficial do bloqueio tem um significado político importante ao permitir ao regime chinês declarar vitória na luta contra o surto, que começou no país, numa altura em que a Europa e os Estados Unidos são os novos centros da doença. Em editorial, no entanto, o jornal do Partido Comunista Chinês alertou para comemorações prematuras. “Este dia, esperado há muito, será naturalmente celebrado pelas pessoas. Porém, não se trata da vitória final”, nota o Diário do Povo. “Temos que nos lembrar de que, apesar de satisfeitos com o fim do bloqueio, não podemos relaxar”. Só na quarta-feira passada é que a Comissão Nacional de Saúde chinesa começou a divulgar o número de pessoas infectadas que não têm sintomas, mas que podem transmitir o vírus. Desde então, o país reportou um total de 1.095 destes casos. O trânsito automóvel em Wuhan começou hoje a retomar ao normal, à medida que pontes, túneis e auto-estradas foram reabertas. Segundo os dados oficias, a cidade não registou novo caso de infeção nas últimas 24 horas. A imprensa local avançou que cerca de 65.000 pessoas deixaram hoje Wuhan, de avião ou comboio. No entanto, chegadas ao destino, serão sujeitas a uma quarentena de 14 dias e a testes de deteção de ácidos nucleicos do novo coronavírus. Para Rui Severino, um português que recusou abandonar Wuhan durante o período de isolamento, apesar da oferta de repatriamento por Portugal, o fim do bloqueio constitui uma motivação para o futuro. “É um sentimento de grande alívio”, conta à agência Lusa o treinador de cavalos de corrida. “Já podemos ver a luz ao fundo do túnel”, diz. Severino conta que, “sobretudo para pessoas que têm crianças pequenas [o período de bloqueio] foi bastante desgastante”, pelo que se “nota agora um grande alívio por poderem sair à rua”. Durante o bloqueio de 11 semanas, os residentes de Wuhan foram autorizados a sair de suas casas apenas para comprar comida ou participar em outras tarefas consideradas absolutamente necessárias. Para Euclides Simeão, o fim do bloqueio e a reabertura do ‘campus’, que deverá ocorrer nas próximas duas semanas, serviu para acalmar os estudantes. No entanto, o angolano diz que o retorno à normalidade não é aguardado com a ansiedade de outrora. “É aborrecido, mas já nos habituámos”, descreve. “Para nós, o normal passou a ser estar em quarentena”. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou cerca de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 80 mil. Dos casos de infecção, cerca de 260 mil são considerados curados.
Covid-19 | Perito de Xangai adverte para perigo de segundo surto no outono Hoje Macau - 8 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] chefe do comité de peritos em covid-19 de Xangai, o médico Zhang Wenhong, advertiu para a “elevada possibilidade” de ocorrer uma segunda vaga de contágios a nível internacional, durante o outono. Em entrevista hoje publicada pelo diário digital privado Caixin, Zhang manifestou-se convicto de que é “pouco provável” que a pandemia de coronavírus termine no verão e prognosticou que durará “até ao ano que vem”. “[Os surtos na] Europa e nos Estados Unidos não foram controlados de maneira efectiva, por agora. No entanto, em África, na América do Sul, e na Índia, onde a economia está menos desenvolvida e os recursos médicos são insuficientes, os novos casos aumentaram de forma exponencial, o que acarreta uma grande incerteza para a luta global contra a epidemia”, disse. O clínico, também director do departamento de doenças infecciosas do hospital universitário de Huashan, acrescentou: “Supondo que se pode conter [o surto actual] em três ou quatro meses, seria em finais do verão”. Questionado sobre as defesas da China perante esse possível segundo surto no estrangeiro, Zhang advertiu: “Apesar de agora não haver mais casos de contágio local, não podemos relaxar”. “Se o sistema se descuidar, poderá haver casos não detectados”, acrescentou. Neste sentido, o médico não só pediu às autoridades fronteiriças e sanitárias e às comunidades para se manterem alerta, mas também à comunidade empresarial: “Os negócios que voltem a funcionar devem assegurar-se de que os seus trabalhadores guardam a distância social”. “A China está agora sob controlo e temos confiança. Porém, o surgimento de uma segunda vaga de contágios noutros países significará que nos veremos submetidos a uma grande pressão para prevenir e controlar os casos importados. A China tem de preparar-se para um segundo pico de contágios importados, com o objetivo de prevenir uma segunda vaga [a nível local]”, defendeu. A dificuldade a curto prazo para a China, indicou o especialista, é reanimar a actividade económica, enquanto trata de evitar um ressurgimento do surto. Zhang citou o exemplo das restrições às ligações aéreas com o estrangeiro: “Não podem durar para sempre. Quando os surtos na Europa e nos Estados Unidos estiverem sob controlo, a aviação global voltará a funcionar pouco a pouco”. O líder do comité de Xangai acredita, no entanto, que as restrições chinesas não podem acabar totalmente com o risco de importação de contágios, devido à existência de casos assintomáticos ou de testes que dão falsos negativos. “O sistema de controlo de doenças tem de fazer um acompanhamento de todas as pessoas que tenham mantido contacto com pacientes de covid-19, sem haver qualquer ponto cego”, exigiu. Por último, questionado sobre as diferentes taxas de letalidade do coronavírus em países distintos, Zhang explicou que depende das prioridades de cada governo na realização de testes e no tratamento dos pacientes. “Se um país prioriza os pacientes graves nos testes e no tratamento, a sua taxa de mortalidade será elevada. Num país onde os testes são mais comuns e há muitos doentes ligeiros detetados e postos sob quarentena, a taxa será mais baixa”, indicou. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 82.000 morreram. Dos casos de infecção, cerca de 260.000 são considerados curados. O continente europeu, com mais de 750.000 infectados e mais de 58.000 mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos. Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, contabilizando 17.127 óbitos, em 135.586 casos confirmados até terça-feira. Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direcção-Geral da Saúde, registaram-se 380 mortes, mais 35 do que na véspera (+10,1%), e 13.141 casos de infecções confirmadas, o que representa um aumento de 699 em relação a terça-feira (+5,6%). Dos infectados, 1.211 estão internados, 245 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 196 doentes que já recuperaram.