Associação das Mulheres de Macau comemora 70 anos

Com mais de 43 mil sócios, e um historial de assistência social, que se traduz num grande reconhecimento popular, a Associação das Mulheres é uma das forças políticas mais fortes do território. Tina Ho, a irmã do Chefe do Executivo, é a actual presidente, mas a ligação entre a associação, o partido comunista e as elites locais não é uma excepção, tem sido a regra da realidade das “Mulheres” desde a sua criação

 

[dropcap]F[/dropcap]oi a 21 de Maio de 1950, há precisamente 70 anos, que um grupo de mulheres se juntou e fundou a Associação das Mulheres de Macau. Entre as presentes constava Lo Pak Sam, mulher do empresário Ma Man Kei, próximo do Partido Comunista Chinês, que na altura liderava a Associação Comercial de Macau. É por esse motivo que a primeira sede se localizou no 2.º andar do edifício dessa associação.

No entanto, a ideia de um grupo de mulheres chinesas se juntar em organizações não governamentais para promover os direitos femininos não foi uma inovação do território. Foi apenas a extensão em Macau da tendência encorajada pelo Partido Comunista Chinês, no Interior, logo após ter vencido a guerra civil e fundado a República Popular da China, em 1949.

“A Associação das Mulheres é uma extensão da Federação de Todas as Mulheres da China [All-China Women’s Federation, em inglês]. E no caso da organização-mãe falamos de uma estrutura que apesar de servir as bases, com implementação popular, sempre foi liderada por mulheres com um alto nível de educação, que em muitos casos até tinham estudado no Ocidente. Não era liderada por pessoas de base”, explicou Larry So, académico e comentador político, ao HM.

“A partir de 1949, com a criação da organização-mãe houve um conjunto de filiais a serem fundadas por todas as províncias e cidades da China. Nestes casos eram adoptadas estruturas com um poder muito centralizado em Pequim. E o mesmo aconteceu em Macau e Hong Kong”, acrescentou.

Mas, se no Interior a associação agrupava as mulheres tidas como revolucionárias e apoiantes do partido, em Macau, um território que ainda estava longe de ser entregue para ser administrado pela China, muito do apoio à associação residia nas mulheres dos empresários próximo do regime. A natureza da associação ficou ainda mais clara com o incidente do 1,2,3, em 1966, quando a administração portuguesa expulsou as associações de cariz nacionalista do território, os movimentos que apoiavam o governo de Chiang Kai Shek, radicado em Taiwan.

“A associação foi criada pelo Partido Comunista e concentrava um conjunto de mulheres revolucionárias. Claro que em Macau não eram propriamente revolucionárias, mas mulheres com uma certa ideologia de esquerda ligadas à elite local”, considerou João Guedes, jornalista e investigador. “Esta elite local engloba os chamados capitalistas patriotas, que apoiavam abertamente a República Popular da China e que tinham várias associações. A Associação das Mulheres era uma dessas plataformas”, explicou, sobre o contexto do surgimento e afirmação do grupo.

De resto, a ligação entre o partido e a associação nunca foi escondida. As fotografias de arquivo das actividades internas apresentam frequentemente bandeiras da República Popular da China e retratos de Mao Tsé-Tung.

Alta liderança

Apesar de ser uma associação que se destaca pelo papel social desempenhado, com uma forte componente de assistência às camadas sociais mais desfavorecidas, a liderança apresentou sempre um cariz elitista bem vincado. Por isso, as presidentes, e principalmente a partir dos anos 70, foram sempre mulheres ligadas aos empresários locais mais poderosos.

Lo Pak Sam terá sido a cara mais visível deste aspecto, uma vez que assumiu a presidência entre 1976 a 2000. A mulher de Ma Man Kei teve como sucessora Ho Lai Cheong, mulher do empresário Chui Tak Kei, tio de Fernando Chui Sai On, que desempenhou o cargo de Chefe do Executivo entre 2009 e 2019. Actualmente, e desde 2006, a presidente é Tina Ho Teng Iat, empresária e irmã de Ho Iat Seng.

“Quando falamos das senhoras que fazem parte dos órgãos sociais, estamos a falar de grandes personalidades do território. Apesar de a organização ter um serviço para as bases da população, é uma associação que reúne as mulheres ricas e com um certo estatuto social”, apontou João Guedes.

Todavia, Larry So sublinha que a associação se limita a ser um clube de caridade: “Quando olhamos para os órgãos sociais, e mesmo nos dias de hoje, podemos dizer que é um clube de caridade de mulheres ricas”, reconhece. “Mas, um olhar profundo às ligações e contactos dos membros permite-nos perceber que a missão é essencialmente política, muito mais do que social”, sublinha.

Se, por um lado, a associação engloba algumas das mulheres mais influentes no território, por outro, e no que diz respeito ao trabalho de assistência social, a hierarquização não é um factor muito presente. Esta é a opinião de Anabela Ritchie, ex-presidente da Assembleia Legislativa, e membro da associação.

“Se disserem que é uma associação liderada por elites… Talvez essa observação não esteja muito longe da verdade. Mas no dia-a-dia da associação e nas actividades em que me envolvo, que dizem respeito ao cariz da assistência social, nunca notei que alguém utilizasse o estatuto para se sobrepor”, relatou a macaense, ao HM.

Ao serviço do partido

Por volta de 1957, no Interior, a Federação de Todas as Mulheres da China, apesar de se manter como organização sem fins lucrativos, passa a ficar oficialmente sob o controlo do partido. É nessa altura que há uma mudança do nome original, Federação de Todas as Mulheres Democráticas da China, para o actual. A referência à vertente democrata, como se tratavam as mulheres de esquerda na época, caiu e a tendência foi seguida em Macau.

É verdade que o registo oficial, de acordo com os dados apresentados no livro da associação de comemoração dos 60 anos, só foi realizado nos anos 80, altura em que também foi publicado no Boletim Oficial. Mas, a Associação das Mulheres de Macau era até aí conhecida como Associação das Senhoras Democráticas de Macau. Um nome que no idioma português sobreviveu durante mais anos. É possível encontrar a utilização do nome antigo em português em arquivos do Gabinete de Comunicação Social pelo menos até 2005.

Porém, a utilização da associação para servir o Governo Central vem desde o início. “A infiltração em associações com um forte cariz popular, ou a criação das mesmas, sempre foi uma forma de actuar do Partido Comunista. Houve sempre o objectivo de infiltrar nas associações os membros para assegurar o controlo e divulgar a ideologia do partido. E este modo de operar ainda hoje não mudou”, considera Larry So.

“Além da defesa dos direitos das mulheres, e da vertente de assistência social, a associação tem como missão manter a estabilidade na comunidade, o que é um papel visto como muito importante em Macau. É um meio indispensável para ouvir as opiniões e controlar as bases”, complementou.

A missão política da associação foi igualmente frisada por um dirigente português, que pediu o anonimato. “A associação surgiu em Macau, não só para organizar as mulheres na defesa dos seus interesses, mas para enquadrar e dinamizar actividades junto da comunidade chinesa de defesa do sentido patriótico ligado à República Popular da China”, apontou. “As actividades que desenvolveu foram sempre com o objectivo de promover a República Popular da China em Macau. Neste sentido, a assistência popular foi sempre uma forma de ganhar o apoio popular”, acrescentou a mesma fonte.

Por sua vez, a associação não esconde a agenda pró-Pequim nem as diversas actividades realizadas em sintonia com o Governo Central, mesmo durante a administração portuguesa.

Segundo o registo de actividades da associação, publicado em 2010, é referido que Outubro foi organizado no ano de 1960 uma manifestação contra o apoio do governo da República Portuguesa e o Executivo da República da China, ou seja Taiwan. Meses antes, em Junho, a Associação das Mulheres havia conduzido uma actividade abertamente anti-Estados Unidos.

Já durante o incidente que ficou conhecido como o 1,2,3, em 1966, quando a população chinesa se revoltou contra o Governo português por não ter autorização para abrir uma escola, a associação toma partido pelos manifestantes e, num acto simbólico, envia uma comitiva para visitar os primeiros feridos.

Reconhecimento popular

Agenda política à parte, na população há um grande reconhecimento pelas acções de assistência social promovidas pela organização que, segundo os dados oficiais disponibilizados ao HM, tem mais de 43 mil associadas.

“A Associação das Mulheres de Macau sempre foi muito popular, talvez mais no passado. Numa altura em que não havia dinheiro no território e prestava vários tipos de assistência social. Como ajudava uma grande parte da população, tem esse reconhecimento”, aponta o analista Larry So.

Esta é uma visão partilhada por Anabela Ritchie, que confessa só ter tido tempo para se dedicar à associação depois de ter deixado de exercer funções políticas. “Tenho estado envolvida nos trabalhos da associação de assistência social e sou curadora na escola da Associação das Mulheres de Macau”, reconheceu. “É uma associação que tem um trabalho notável na área da assistência social, com muito apoio às mulheres, às famílias e também às crianças. É inegável que tem um histórico riquíssimo de serviço”, sublinhou.

Estas actividades de apoio à população estão documentadas num artigo produzido por Lou Shenghua, professor catedrático do Instituto Politécnico de Macau, com o nome “Desenvolvimento económico e social e a acção da assistência e da caridade em Macau na segunda metade do Século XX”.

Segundo o levantamento do académico, desde a sua criação que a associação disponibilizava aos mais necessidades subsídios médicos, de nascimento, casamento e para funerais. Também para os mais necessitados era entregue o chamado “subsídio de conforto”.

Ainda no âmbito dos apoios à população, a associação distribuía arroz no final do ano e organizava cursos em que se ensinavam às mulheres valências que lhes permitissem encontrar um emprego, como cursos de costura. O primeiro curso do género foi disponibilizado logo em Abril de 1950, um mês antes da data de nascimento oficial.

No entanto, o reconhecimento da Administração Portuguesa do papel da associação na vertente social só chegou em 1989, já depois de assinada a declaração conjunta Luso-Chinesa, que selou a transferência da soberania. A 5 de Junho desse ano, o Governo de Carlos Melancia conferiu a Medalha de Mérito Filantrópico à “Associação das Senhoras Democráticas de Macau”.

Transformação com a RAEM

Embora sempre tenha sido uma força política, a Associação das Mulheres só recentemente se afirmou em nome próprio, nomeadamente em 2017, quando apresentou uma lista independente à Assembleia Legislativa. Os eleitores não viraram costas à associação e Wong Kit Cheng, vice-presidente, garantiu um lugar no hemiciclo.

Esta mudança, motivada por motivos pragmáticos, não deixa de ser reflexo de um reposicionamento que surgiu depois da criação da RAEM. Apesar de ter diversificado os apoios sociais, com a oferta de aconselhamentos matrimoniais, jurídicos, ou apoios à terceira idade, o Governo assume cada vez mais as funções de intervenção social, ao mesmo tempo que as associações tradicionais se afirmam mais como políticas. A tendência foi notada por Lou Shenghua, que fala numa transformação da filantropia local de “assistência popular mútua de ajuda para a assistência de intervenção Governamental”.

Mesmo assim, o motivo para a “separação” da aliança tradicional com a União Geral dos Moradores de Macau (Kaifong), uma associação quase gémea, foi pragmático. “A separação entre as associações é uma estratégia eleitoral, porque é sempre mais fácil eleger dois deputados em listas separadas do que na mesma lista. Mas, não se pode dizer que tenha havido uma grande alteração no relacionamento entre as duas”, afirmou Larry So. “Se formos muito rigorosos, nem podemos apontar diferenças na forma como se posicionam politicamente. A Associação das Mulheres pode focar uma agenda com mais temas de género, mas em termos de ideologia, o valor principal, estão ao nível dos Kaifong. São associações que fazem a ligação com as camadas mais pobres e que seguem o Governo”, sustentou.

Uma análise semelhante é feita pelo académico Bill Chou, que em 2005 publicou um artigo sobre os grupos de interesses políticos na RAEM. “No essencial, a função política que assumem é a mesma: são veículos da China para executar a política de Frente Unida”, sublinhou o professor, face à posição das associações em relação ao Governo Central. A visão é igualmente partilhada por um dirigente português, que pediu anonimato: “São duas associações vistas como frentistas do Governo Central em Macau. Foram fundadas com esse propósito e é um papel que mantêm, assim como a Federação das Associações dos Operários”, aponta.

Conservadoras?

No que diz respeito aos assuntos de género, a Associação das Mulheres de Macau tem pautado a actuação por valores conservadores. Este facto ficou bem demonstrado quando, em 2016, não deu o apoio à proposta que visava transformar a violência doméstica em crime público. Como resultado a proposta foi chumbada e apenas seria passada anos mais tarde, desta feita já com o apoio da associação.

“Não há dúvida que a sociedade de Macau é muito conservadora. Supostamente nas sociedades as associações e as organizações não-governamentais assumem um papel de promoção de mudança e resolução de problemas sociais”, começou por realçar Bill Chou, sobre a opção das Mulheres. “Mas este estilo não faz parte das lideranças das Mulheres nem dos Kaifong, que são mais conservadoras e sem capacidade de promover este tipo de liderança”, considerou.

Por sua vez, Larry So não contesta a visão de uma associação conservadora, porém, explica a abstenção com a lealdade ao Governo: “O voto não foi tanto por ser uma associação conservadora, mas antes porque são uma força tradicional e seguem as decisões do Governo”, justificou. “E como passados três anos o Governo mudou de posição eles também o fizeram. É uma associação muito leal ao Executivo”, explicou.

Tiananmen | CPSP não autoriza habitual vigília. Organizadores recorrem da decisão

Depois da recusa do pedido para a habitual vigília que marca o dia do massacre de Tiananmen, Au Kam San, um dos organizadores, revelou ao HM que vai recorrer para o Tribunal de Última Instância. Analistas alertam para o atentado aos direitos fundamentais. Do ponto de vista jurídico, Jorge Menezes destaca a violação da liberdade de expressão

 

[dropcap]O[/dropcap] pedido para a vigília que assinala, a 4 de Junho, as vítimas do massacre da Praça de Tiananmen, foi rejeitado pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), segundo noticiou ontem a TDM – Rádio Macau.

A decisão das autoridades policiais é histórica, e abre um precedente em três décadas em que se assinalou a data em Macau.

A CPSP justificou a decisão com as “actuais circunstâncias” de controlo da propagação da covid-19, quando já não existe qualquer infecção no território, e um dia depois do director dos Serviços de Saúde ter referido que Macau corria um risco de contágio “muito baixo” e que a abertura das piscinas públicas estaria para breve.

Em declarações ao HM, o deputado Au Kam San, um dos organizadores da vigília, mostrou inconformismo perante a decisão e garantiu que irá interpor recurso para o Tribunal de Última Instância. O legislador elencou uma série de razões para recorrer. Do ponto de vista jurídico, entende que, como a organização apenas apresentou um pré-aviso, a recusa do CPSP “não tem fundamento jurídico”, ao abrigo da Lei do Direito de Reunião e Manifestação.

Apesar de reconhecer a importância da prevenção à pandemia, o deputado pró-democracia acha que as autoridades poderiam ter exigido medidas apropriadas para garantir a saúde pública e permitir a realização da vigília.

“Justificar com a prevenção da pandemia não é razoável. O Governo lançou o cartão de consumo que estimulou a corrida de multidões a restaurantes e supermercados. A explicação da CPSP não faz qualquer sentido”, considera Au Kam San.

O deputado recorda que é proibido mencionar este tema na China continental, mas que a concretização do princípio “Um País, Dois Sistemas” deveria assegurar actividades públicas relativas ao 4 de Junho. Além das dúvidas de que o princípio basilar ainda se aplica a Macau, Au Kam San referiu ao HM que “os secretários, o Chefe do Executivo e o Governo Central não podem dizer que não se envolveram no caso, e têm de assumir a responsabilidade política de ferir o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”.

Silêncio de Ho

Na passada segunda-feira, o HM enviou duas questões ao Gabinete de Comunicação Social (GSC) que recebe perguntas dirigidas ao Chefe do Executivo, sobre as declarações do deputado Joey Lao que referiu que as exposições fotográficas sobre Tiananmen violavam a Constituição chinesa, a Lei Básica da RAEM e o princípio “Uma País, Dois Sistemas”. Perguntámos se Ho Iat Seng se revê na opinião do deputado eleito pelo Executivo do seu antecessor, Chui Sai On, e se considera que durante 30 anos Macau foi palco de uma exposição que violou as leis acima mencionadas.

A resposta foi curta: “Em relação às suas perguntas, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, já respondeu à comunicação social, a 12 de Maio. Não temos mais comentários a fazer”. Recorde-se que o secretário afastou motivos jurídicos e políticos para a decisão de não permitir as exposições, remetendo a justificação para a pandemia. Sobre a legalidade do evento desde a formação da RAEM, nem uma palavra.

Desgosto de Maio

“São notícias muito tristes e um sinal sério para a sociedade civil de Macau. É a primeira vez que a vigília é banida, não queremos que seja uma decisão permanente em Macau”, desabafou Sulu Sou, acrescentando que a CPSP deveria dar razões concretas quanto à decisão que tomou.

O deputado recorda a vigília de Agosto passado, também recusada pelas autoridades locais, de protesto contra a violência policial em Hong Kong e que nessa altura a justificação foi a ilegalidade do assunto que motivava o protesto pacífico.

Sulu Sou espera que o TUI dê razão ao recurso dos organizadores, porém, se a Justiça assim não entender, revela que alguns cidadãos pensam em assinalar a data de forma diferente. A ocupação silenciosa do Leal Senado é um cenário, para já, pouco provável, tendo em conta o episódio recente. “Alguns residentes temem que a Polícia faça o mesmo que fez em Agosto e que os leve para a esquadra. Essa é outra preocupação que também partilhamos”, confessou o deputado.

O académico Éric Sautedé olha para a decisão do CPSP como “mais um passo do Governo para apagar parte da memória colectiva democrática de Macau”. Além disso, recorda que a última vez que se assistiu a uma vigília concorrida no Leal Senado, com a participação de 2.000 pessoas, foi em 2014, e que, desde então, contou com cerca de uma centena de residentes. Ainda assim, a justificação das autoridades não convence o académico. “As preocupações de saúde têm sido muito convenientes nesta altura”, remata.

Do ponto de vista legal, Jorge Menezes explica que “sem uma lei que limite os direitos fundamentais, tem de se aplicar a lei e esta é clara. Só se pode proibir a vigília por fins contrários à lei e nada disso foi invocado”.

O advogado entende que o CPSP violou a liberdade de expressão, que “permite vozes que exprimam opiniões contrárias às veiculadas pelas autoridades”.

Para além das questões jurídicas, Jorge Menezes destaca os danos que estas decisões provocam, além do alcance legal. “Se só pudermos expressar aquilo que o Governo gosta, não somos cidadãos em liberdade, somos um rebanho acrítico que segue um pastor de pau na mão”.

O advogado lamenta as proibições e traça um cenário cívico, caso o Governo siga o mesmo rumo. “Estas proibições constituem um grave retrocesso civilizacional e o princípio da governação pelo medo. Macau está a deixar de ser um espaço de liberdade e sem liberdade não haverá criatividade, diversidade e massa crítica. Seremos uma cidade civicamente empobrecida.”

AI | Criticadas proibições em Macau e Hong Kong

A Amnistia Internacional, em resposta enviada à agência Lusa, sustentou que “é alarmante que o Governo de Macau tenha proibido pela primeira vez a vigília anual do aniversário de Tiananmen”.

A organização não-governamental (ONG), numa resposta assinada pelo vice-director regional para a região do Sudeste Asiático, sublinhou que a “polícia alegou preocupações com a saúde por causa da covid-19, apesar de não haver novos casos” há 42 dias consecutivos e que “a medida segue uma proibição semelhante na vigília de 4 de Junho em Hong Kong”, para concluir: “o vírus não deve ser usado como desculpa para conter a liberdade de expressão e reunião”.

Já a ONG Human Rights Watch (HRW) acusou a China de, com estas decisões, “continuar a esconder-se atrás da covid-19 para conseguir a repressão pública”, em especial “em Hong Kong”.

O vice-director da HRW para a Ásia, Phil Robertson, afirmou à Lusa que “esta é uma forma de tentar travar os protestos” pró-democracia na antiga colónia britânica, pensando que o actual momento de combate à pandemia pode atenuar as reacções da comunidade internacional “aos abusos da China ao nível dos direitos humanos”.

Exposição | Doca dos Pescadores reúne arte inspirada em Portugal

Até ao fim deste mês, a Galeria Lisboa, na Doca dos Pescadores, exibe a exposição “The Explicit Charm of Portugal”, o resultado de uma visita de artistas de Macau a terras lusas no ano passado. A mostra consiste num conjunto de 64 obras que reflectem paisagens portuguesas interpretadas pela visão artística de 41 criadores locais

 

[dropcap]S[/dropcap]e estiver com saudades de Portugal, a Galeria Lisboa, na Doca dos Pescadores, tem patente uma exposição de pintura que é uma visita guiada pelo imaginário e as paisagens portuguesas. “The Explicit Charm of Portugal”, patente até ao final deste mês, reúne 64 trabalhos de 41 artistas locais que se expressaram de formas tão diversas como a aguarela, óleo, acrílico, caligrafia, esboços e pintura tradicional chinesa.

A exposição resultou do convite do Escritório da RAEM em Portugal e do Instituto Cultural à Sociedade de Arte de Macau, associação com 64 anos de actividade, para uma visita de artistas locais a Portugal com o objectivo de inspirar retratos de paisagens de cidades portuguesas. A ideia é transmitir uma espécie de abraço cultural entre a região e Portugal para comemorar o 20º aniversário da RAEM.

Os trabalhos consistem em interpretações artísticas de locais tão emblemáticos como o Castelo de São Jorge, em Lisboa, o Castelo dos Mouros em Sintra, a zona costeira de Cascais, o Cabo da Roca, o Santuário e Igreja de Fátima, a cidade medieval de Óbidos, a Ponte de D. Luís no Porto e a cidade universitária de Coimbra.

Entre os artistas convidados contam-se nomes conceituados como James Chu, Ung Wai Meng, Ng Wai Kin, Andre Liu e Sio In Leong e jovens criadores como Song Wei, Kay Cheong e Leong Wai Chon.

A cidade invicta foi o ponto de partida para a criação de James Chu, que se inspirou na paisagem dos bairros antigos para criar um trabalho, de técnica mista, com colagem de dourados em cima dos telhados de uma fotografia, a preto e branco, panorâmica do Porto.

Ng Wai Kin também se apaixonou pelo cenário do Porto Ribeirinho, visto de Gaia. O resultado foi uma aguarela intitulada “Love of Porto”, vincadamente geométrica, com barcos rabelos no Douro, entalados entre as traseiras de uma das mais conhecidas caves de vinho do Porto, e a ribeira que se estende cidade acima.

Sete colinas

A cidade com a luz que impressionou o realizador alemão Wim Wenders serviu de musa a alguns artistas de Macau, cujos trabalhos também estão expostos na Galeria Lisboa. Ma Kam Keong usou a tinta da China como meio para retratar Alfama e a Torre de Belém. O artista nascido em Macau, e consultor da Associação de Belas Artes de Macau, aliou a fantasmagoria da tinta da China à caligrafia para compor dois retratos intemporais da cidade.

A capital foi também fonte de inspiração para Ng Wai Kin, nomeadamente nas aguarelas “Bom dia, Lisboa”, que representa uma vista da Baixa Pombalina e do Chiado, com o Convento do Carmo e o Elevador de Santa Justa em destaque, polvilhada por pombos. O artista captou também a azáfama da Rua da Prata e do rio de gente que desagua na Praça de Figueira.

Outra visão da Baixa lisboeta que merece menção é a aguarela da autoria de Sio In Leong, pelo realismo e movimento que transpira da obra. “Eléctrico em Portugal” é um fotograma da linha do 28, o eléctrico mais popular de Lisboa, de passagem pela Baixa a subir a encosta para a Sé.

Ung Wai Meng é outro dos nomes cimeiros da mostra, através de três trabalhos de desenho com lápis, com particular destaque para o retrato de Évora e Braga.

Mas nem só de paisagens citadinas vive “The Explicit Charm of Portugal”, com paisagens bucólicas da Serra de Sintra e Cabo da Roca, por exemplo.

APN | Plenário arranca em período de debilidade económica e tensão geopolítica

[dropcap]A[/dropcap] sessão plenária do legislativo chinês arranca esta semana, num período de abrandamento económico e crescente tensão geopolítica, devido à covid-19, com analistas a preverem maior centralização do poder político perante a crise actual.

A sessão plenária da Assembleia Popular Nacional, o mais importante evento anual na agenda política da China, começa na sexta-feira, após ter sido adiada por dois meses e meio devido à epidemia da covid-19.

Não se sabe ainda se este ano o Governo chinês vai rever a meta de crescimento económico, depois de uma contracção de 6,8 por cento, no primeiro trimestre, e face à incerteza global e às tensões entre Pequim e Washington, na sequência da pandemia, que desencadeou críticas e intensificou a competição ideológica entre a China e os Estados Unidos (EUA) e alguns países europeus.

Um analista do Centro de Estudos Carnegie-Tsinghua, no norte de Pequim, alertou para os riscos de uma batalha ideológica entre a China e os EUA, numa altura em que os dois países enfrentam uma prolongada guerra comercial.

“As acusações são mútuas e aumentam o risco de as duas sociedades se distanciarem. Existe uma barreira de comunicação que continua a crescer”, advertiu Tong Zhao.

O analista apontou que a relação entre Pequim e Washington se assemelha cada vez mais à Guerra Fria e admitiu que a China não estava preparada para a acelerada mudança no ambiente externo.

“A China poderá ficar de fora das cadeias de fornecimento e do acesso à tecnologia do resto do mundo. Embora tenha feito progressos nas últimas décadas, o país ainda precisa de desenvolver muitos sectores”, disse. “Pequim queria impedir esse confronto, mas agora está completamente fora do seu controlo”, acrescentou.

Culpas locais

Para Ryan Manuel, director do Official China Ltd, unidade de investigação com sede em Hong Kong, e ex-analista do Governo australiano para assuntos da China, o surto do novo coronavírus vai reforçar a centralização do poder na China, à medida que o cepticismo sobre os poderes locais credibiliza o modelo de governação autoritário do Presidente Xi Jinping.

“A crise mostrou mais uma vez a Xi Jinping que ele não pode confiar nos governos locais”, observou.
Os primeiros casos da covid-19 surgiram na cidade de Wuhan, no centro da China, em Dezembro passado.
Após uma lenta reacção inicial e de ter silenciado médicos que alertavam para os perigos de uma nova doença contagiosa, o Governo chinês tomou medidas drásticas, incluindo colocar a província de Hubei, da qual Wuhan é capital, sob quarentena, que resultaram na suspensão da actividade económica do país.

Para Ryan Manuel, a crise de saúde pública reforçou a descrença de Xi no modelo de governação herdado do antecessor Hu Jintao, que se limitava a assumir o papel de “coordenador”, atribuindo mais poderes e incentivos aos governos locais.

“Xi não gosta disso e a crise só vai acelerar esta tendência, de que ninguém pode fazer as coisas particularmente bem, excepto o Governo central”, apontou. “E, mesmo dentro do centro, apenas os grupos de trabalho que lhe são mais próximos”, acrescentou.

Nas semanas seguintes ao início do surto, os órgãos oficiais do regime dirigiram as culpas para as autoridades de Hubei. Vários altos quadros da província e de Wuhan, incluindo os respectivos secretários do Partido Comunista, foram substituídos.

Ao contrário do surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave, ou pneumonia atípica, entre 2002 e 2003, quando a má gestão e ocultação de informações cruciais levou à queda do presidente da câmara de Pequim e do ministro da Saúde, nenhum membro do Governo central foi desta vez afastado.
“Historicamente, a tensão entre o poder central e as províncias foi sempre um conflito importante na China”, explicou Ryan Manuel.

Reunião junta 3000

Desde que ascendeu ao poder, em 2013, Xi Jinping reforçou o carácter totalitário do regime, revertendo as normas estabelecidas por Deng Xiaoping, de acordo com observadores.

Arquitecto-chefe das reformas económicas que abriram a China ao mundo, Deng procurou basear a tomada de decisão num processo de consulta colectiva, separar o Partido do Governo e descentralizar a autoridade pelas províncias e localidades, para evitar os excessos maoistas que quase destruíram a China.

Dada à dimensão da China e consequente dificuldade em controlar cada município, cidade vila ou aldeia, o analista apontou que Xi vai continuar a “alterar as regras internas de disciplina do Partido Comunista Chinês para obrigar todos os seus membros a seguirem certas directrizes”.

“Para garantir a sua autoridade, Xi certificou-se que controla todos os órgãos disciplinares”, explicou.
Durante a sessão anual, os quase três mil deputados do órgão máximo legislativo da China estão encarregados de aprovar projectos de lei, o relatório do Governo ou o orçamento de Estado.

Estes deputados são oriundos de todo o país e eleitos por cinco anos, pelas assembleias das diferentes províncias, regiões autónomas, municípios, regiões administrativas especiais e forças armadas chinesas.

Confissões de um novo lamechas

[dropcap]H[/dropcap]á cerca de dezassete anos houve em Portugal o aparecimento de um novo meio de comunicação: o blogue. De repente discutiam-se ideias – por oposição a “comentá-las” em caixas -, trocavam-se cromos musicais e literários, escreviam-se crónicas, relatavam-se acontecimentos. Do combate político ao género diarístico havia um pouco de tudo.

A tentação de escrever num meio que era absolutamente livre e apenas limitado pelo bom senso e bom gosto dos que o utilizavam foi também irresistível para mim. E assim, durante vários anos, mantive um blogue onde, com frequência irregular, depositava as minhas muitas idiossincrasias e conhecia a generosidade de outros.

Antes que o amigo leitor aproveite a nova era desconfinada para fugir do que parece ser um exercício de vaidade, eu explico o prólogo: nesse blogue criei um alter ego, uma personagem que interrompia furiosamente o autor – eu – para criticá-lo e impor a sua mundividência. Era o “Professor Lamechas”.

O professor Lamechas revoltava-se contra o pretenso cinismo e os aforismos blasé que eu ostentava. E aproveitava para defender o seu mundo vulnerável, cor de rosa e em constante demanda por lenços de papel. As suas intervenções terminavam geralmente com exemplos musicais do que o “bom gosto” considerava grandes xaropadas: baladas pirosas de lágrima em riste, bandas com penteados duvidosos etc.

Ou seja: o professor Lamechas servia-me para apresentar o que se chama de “prazeres culpados” de forma mais protegida. E eis então a razão porque o invoco para aqui: porque o professor Lamechas parece ter finalmente conquistado o mundo.

Isso, amigos. Ser lamechas já não é visto como uma falha de caracter derivado aos dias de porcelana que atravessámos e que em muito serviram e servem para expor fragilidades e revelar sem medo coisas que estavam mais ou menos a coberto da luz dos outros. Emoções, por exemplo. Veja-se, como exemplo maior e brilhante, os directos de Como o Bicho Mexe, idealizados por Bruno Nogueira e transmitidos no Instagram. O último episódio, como já deverão saber, teve 175 mil espectadores e enorme interacção. O próprio não escondeu a sua comoção e realmente foi comovente ver, entre risos e choros, a disponibilidade de todos a troco de quase nada.

Os sinais estão por todo o lado: ainda há dias um grupo de amigos em que me incluo ressuscitou canções de amor mais ou menos pirosas sem receio de perder a noção de esclarecimento musical. A razão única: porque nos comoviam, quase à beira das lágrimas. Agora, com o distanciamento, vejo como sempre vi os elementos sacarinos em profusão. Mas aos primeiros acordes de I’m all out of love, dos infames Air Supply, desmorono como um castelo de cartas.

A verdade é que sempre fomos uns sentimentalões, com maiores ou menores defesas. Lembro-me da famosa frase de Orson Welles sobre os finais felizes: “Se quiser um final feliz isso depende, claro, onde quiser terminar a sua história”. O regresso da lamechice, antes alternativa e agora tornada mainstream e tendência de moda, parece mostrar que toda a gente tem vontade de terminar a sua história num lugar bonito. E isso parece-me tão bom como surpreendente. Deixem estar assim, por favor.

O elo mais fraco

[dropcap]S[/dropcap]erve esta crónica para traçar um breve olhar sobre a politização que há muito se faz da pandemia da covid-19 e do trabalho da Organização Mundial de Saúde (OMS). Repare-se no jogo de pingue-pongue entre a China e os EUA que, até há bem pouco tempo, se fazia sobretudo a nível comercial.

Os EUA cortam no financiamento à OMS, a China anuncia apoios de 2 mil milhões de dólares americanos para países necessitados e mantém o seu financiamento à OMS, criticando a postura de Donald Trump. Pelo meio está Taiwan, pequenina como há muito é em termos diplomáticos, mas um caso bem sucedido no combate à covid-19 que não tem hipótese de ser membro observador da OMS porque está lá a gigante China a predispor-se a financiar e a ajudar.

Tudo isto numa altura em que os americanos cortam no financiamento. Perante isto, não surpreende o resultado do primeiro dia da assembleia-geral da OMS esta segunda-feira. China anuncia ajuda a tudo e todos, a lançar mais uma jogada de soft power, o mundo observa e a OMS curva-se. Quase que nos esquecemos da politização que também houve com o início de uma pandemia que mudou a vida de todos.

O Sexo e a Maria-Joana

[dropcap]A[/dropcap] investigação do efeito das drogas no sexo ainda está na sua infância. Há evidência clara de que as drogas psicoactivas afectam a sexualidade de forma negativa – tanto que é uma barreira para a aceitação da medicação psiquiátrica – mas pouco mais se sabe. A criminalização de outras drogas são uma barreira para a investigação e auto-descoberta, à excepção de umas vozes dissidentes que querem ver além. Pessoas, investigadores e terapeutas sexuais querem perceber a relação entre o sexo e a canábis, na sua totalidade de características de alteração de consciência, e o óleo CBD, que não é uma droga, mas que pode ser de aquisição difícil e de uso ainda bastante estigmatizado.

A pouca investigação que existe mostra que o consumo continuado e excessivo da canábis pode levar a disfunção eréctil e a contagem de esperma diminuída (o que não quer dizer que possa ser usado como contraceptivo!). Mas outros efeitos ainda estão longe de ser explorados. Paralelamente, muito se tem questionado acerca do uso da canábis e do óleo CBD para o tratamento de situações de ansiedade e controlo da dor. Não é fácil separar a discussão do sexo e a canábis da discussão global de como esta planta pode ser usada para fins terapêuticos. Aqui falaremos do pouco que se sabe da sua relação com o sexo e as suas especificidades.

No sexo há problemas que já nos são bem conhecidos, como a ansiedade em alcançar a performance perfeita, agradar o outro, ter um orgasmo assim ou assado ou querer apresentar-se da forma que se “julga” normal. A desigualdade do orgasmo também, discriminado por género, é um problema complexo de origens socio-culturais e biológicas. Todas estas dificuldades criam barreiras a uma boa conexão com o sexo, coisa que a canábis diz ajudar a resolver. Um estudo publicado em 2017 mostrou que muitas mulheres reportam um efeito positivo, de aumento de intensidade sexual e do orgasmo, consumindo canábis no pré-coito.

Apesar de, para outras pessoas, o uso de drogas poder ter o efeito completamente contrário – de desconexão e retracção – para outros, parece intensificar a experiência. A teoria é que a canábis ajuda a baixar as resistências mentais e ter uma experiência mais conectada com o corpo, e com o outro.

O óleo CBD, por sua vez, proveniente da canábis e do cânhamo, sem THC (a substância psicoactiva) pode trazer um estado de corpo e mente igualmente interessantes para o sexo e para a saúde sexual. Só que a investigação nessa área é mais escassa ainda. A indústria, contudo, não se retraiu de trazer cá para fora produtos inspirados no potencial deste óleo, que é discutido em teoria, mas que na prática não se sabe quase nada. Já existem lubrificantes sexuais com óleo CBD que dizem ajudar no relaxamento da zona pélvica e ajudar na minimização da dor sexual. Também já existem tampões com óleo CBD que dizem ajudar nas dores menstruais. Para quem sofre de endometriose, parece que o CBD tem um potencial enorme no tratamento dos sintomas. Há pessoas que têm deixado o seu testemunho por aí, mas pouco mais sabemos.

O perigo de não existir investigação que nos ajude a navegar nas incríveis vantagens que estes produtos podem trazer, é que se sabe pouco sobre dosagens e, como todas as drogas, que outros efeitos podem trazer. O uso desta planta e dos seus derivados para efeitos sexuais deve ser ponderada e cuidadosamente analisada. Não deve demorar muito até começar a existir um corpo de literatura mais robusto que nos ajude a perceber as vantagens e desvantagens dos seus efeitos.

À Sombra da Cidade

“Não que de Macau eu tenha
queixas. Pelo contrário:
afeiçoei-me à terra e aqui
fiquei. Nunca ganhei nem
perdi dinheiro no jogo, porque
nunca joguei; nunca ganhei
rios de dinheiro nem cousa
que com isso se parecesse
porque, além de outras razões,
em Macau, rios de dinheiro,
honestamente, ninguém pode
ganhar.”

Manuel Silva Mendes (1867-1931); professor, sinólogo, filósofo, advogado

 

[dropcap]S[/dropcap]ophia de Mello Breyner (1919 – 2005) dizia que o ócio é o trabalho do poeta. O meu é vaguear – “ não sei por onde vou/ sei que não vou por aí”, sigo as palavras de José Régio (1901 – 1969) –,sem horas, sem destinos, sem objectivos – desbloqueio a cabeça – e é aí, quando menos espero, que as ideias me visitam – abandonei a cidade nos últimos anos, vivo inconformado.

Gasto os caminhos com os meus passos ao visitar diariamente a cidade. O tempo não é inocente ao percorrê-la agora. O tempo devora o espaço, um espaço vazio de existência. Esta brusca interrupção da vida criou um sentimento de ansiedade, solidão, medo – e o medo substitui a esperança.
A cidade foi devolvida aos habitantes.

O bafo quente já castiga, mas prefiro aos dias cinzentos de chuva, frio, de ar abafado, húmido. A cidade nesses dias parece obscurecida por um humor colectivo – triste, zangada, melancólica, aborrecida, deprimida. Não é imaginação minha, é pura realidade: Macau não é uma cidade de chuva.
Macau ergueu-se de desamparos e alimenta-se de silêncios – para calar silêncios, precisamos de novas elites, novos protagonistas –, mas mesmo as novas elites, novos protagonistas, são uma classe proletarizada no gosto, na educação e na ambição, vivem em crise de ideias e valores – vivem de preconceitos e dogmas.

O maior défice da sociedade de Macau é o pensamento. Houve uma degradação do “ser” em “parecer”, para citar o autor de “A Sociedade do Espectáculo”, Guy Debord.

Ao calcorrear as calçadas da história, tropeçamos, involuntariamente, nas palavras da poesia, ruas arrumadas em toponímias – perdemo-nos a folhear um passado presente – , andamos até desaguar em pátios fabulados de fábulas.

Macau tem história e muitas histórias para contar. Considero-me um Homem de sorte por ter visto/vivido Macau num estado poético. É aqui, na malha urbana da cidade, que a estética é a do improvável e do incongruente – “nós ao sentir evaporamo-nos”, como dizia Rilke. Em Macau, o passado é construído no presente, é uma realidade física tão perceptível quanto a luz do sol que nos ilumina e nos reconforta.

Ao longe, surge como um quadro fantástico, não é mais na realidade do que um simples amontoado de ruas estreitas, íngremes, fechadas, escuras, sem o mínimo de carácter, povoadas por um conjunto de velhas casas. Esses labirintos – vasos capilares –, ainda transportam uma beleza “naive” e as velhas casas já mudas, cegas e surdas, uma dormência irespirável, desmoronam-se na solidão, no abandono – do esplendor à ruína.

É aqui que se sente o seu real e verdadeiro batimento cardíaco – respira mais vagarosamente – e se pode olhar verdadeiramente a alma de Macau. Aqui, não há sangue novo – há uma serenidade imposta. Uma cidade sem alma convida ao sono.

As pessoas vivem uma tristeza disfarçada de tímida felicidade. É com esta gente, nestes meios, e cito Sto. Alberto Magno, que “na doçura da vida comunitária se encontra a verdade”.

Demoramos anos a deixar de ouvir – “E Depois do Adeus” -, já é tempo para termos um olhar mais reflexivo, crítico e sem complexos, não nos devemos martirizar. O objectivo nem sempre é criticar ou culpar alguém, mas ajudar a construir uma nova sociedade, até porque, conforme os tempos, outros tempos virão, as conversas, debates em Macau, vão tendo problemas e discussões diferentes – vamos abrindo consciências ao mundo.

Tive o feliz prazer de aqui viver, conviver numa época em que ainda havia pessoas que fizeram frente ao tempo sem nunca ambicionar a eternidade – hoje os tempos são outros! Foram vozes que apareceram para pintar a cidade de cores vivas, nas injustiças, desigualdades, desonestidades, ignorância, corrupção, boçalidade e uma pitada de novos sabores na justiça, igualdade, fraternidade transparência, exigência, verdade.

O meu olhar ocidental – nunca o corrigi – leva-me por vezes a uma reflexão instável, movediça, contraditória – sem nunca cristalizar o pensamento –, como acontece quando vagueio pelas vielas, becos e pátios. Não me sinto filho da terra – os tempos também são outros -, mas para falar verdade também não me sinto completamente de outro lugar algum, mas preservo e tento vitalizar e revitalizar a minha ligação com “Ao Men”.

É preciso olhar a cidade com um outro olhar. É urgente regenerar a habitação e o pequeno comércio de bairro. Criar novas dinâmicas do quotidiano, mobilidade, aumentar a qualidade de vida dos moradores, requalificar e fixar espaços públicos e reforçar dinâmicas culturais. Além disso, é essencial, para promover e dispersar o turismo, limpeza, casas de banho, iluminação, ambiente, segurança, nova sinalética e sobretudo limitação de tráfego e estacionamento.

Nostalgia de uma outra vida, mais humana… é humano idealizar o passado e alimentar a nostalgia. Volto quando a tarde avança, lentamente, à conquista da noite, as sombras são agora mais lânguidas… o que nos define é o prazer, a alegria e a felicidade!

Macau Solidário | Cônsul agradece resposta acima de “todas as expectativas”

[dropcap]P[/dropcap]aulo Cunha Alves, Cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong agradeceu ontem publicamente em nome do Governo português os donativos angariados através da campanha “Covid-19 – Portugal Conta Solidariedade para os profissionais de saúde dos hospitais portugueses”, que decorreu entre Março e Abril.

Através de uma nota oficial, Paulo Cunha Alves mostrou assim o seu apreço por “todas as associações e indivíduos (…) pelo empenho e dedicação demonstrados ao longo da campanha de solidariedade”. Segundo o Cônsul, a sociedade civil de Macau foi capaz de abraçar a causa, respondendo “de forma generosa e incondicional, com donativos que ultrapassaram todas as expectativas dos organizadores”.

Como resultado da campanha, a comunidade portuguesa em Macau vai enviar 1,25 milhões de máscaras angariadas e 25 mil fatos de protecção para hospitais portugueses adquiridos com o montante recolhido, no valor de 4,66 milhões de patacas.

Automobilismo | Início das provas no Interior da China adiado para Junho

[dropcap]A[/dropcap] República Popular da China está a ser muito cautelosa no que respeita ao recomeço das várias actividades desportivas profissionais após a pandemia da covid-19 ter colocado todas as modalidades de joelhos. Se a Superliga de Futebol espera retomar na última semana de Junho, a popular liga de basquetebol não tem ainda uma data acordada para o regresso à competição, embora tal seja esperado para o mês de Julho. Os desportos motorizados deveriam arrancar no final deste mês, mas o início dos principais campeonatos passou para o final de Junho.

As provas no Interior da China terão este ano um maior peso para os pilotos de Macau devido à não realização das provas organizadas pela Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC). Vários pilotos locais confirmaram ao HM que foram informados por via telefónica pela associação que não haverá este ano as habituais corridas de carros de Turismo, que além de determinarem os vários campeões do território, também servem de apuramento para os pilotos locais para o Grande Prémio de Macau.

Inicialmente, os dois “Festivais de Corridas de Macau” de 2020 estavam marcados para o Circuito Internacional de Zhuzhou, na Província de Hunan. Contudo, dada crise sanitária, as provas previstas para finais de Maio e Junho foram canceladas. Os pilotos da RAEM que o ano passado se classificaram para o Grande Prémio terão acesso directo para competirem na edição deste ano da prova.

Apesar das competições de automobilismo de caracter regional estarem autorizadas no Interior da China – o Ningbo Speedpark acolheu à porta fechada a primeira prova do troféu monomarca Honda Endurance Cup no passado dia 25 de Abril – as competições de nível nacional viram o seu arranque adiado para o final do mês de Junho. O Campeonato da China de Fórmula 4 deveria ser o primeiro a começar, no próximo fim-de-semana em Ningbo, mas a organização do campeonato comunicou o seu adiamento na passada sexta-feira para uma data no mês de Junho e numa localização a determinar.

Também na passada sexta-feira, o Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), onde corre o piloto português de Macau, Rodolfo Ávila, atrasou o arranque previsto para o último fim-de-semana de Maio, em Zhaoqing, para o último fim-de-semana de Junho, em Xangai. Com o objectivo de limitar os custos, a organização proibiu, por agora, a presença de pilotos estrangeiros convidados nas suas provas. As equipas, muito dependentes de pessoal técnico de fora, terão que comunicar em adiantado à organização caso queiram trazer para as corridas elementos residentes no exterior

O Campeonato da China de GT terá a sua jornada de abertura na companhia do CTCC em Xangai, enquanto o “sinal verde” no TCR China será visto apenas no mês de Julho. Com uma prova agendada para o fim-de-semana de 19 e 20 de Junho em Ningbo, o Campeonato de Endurance da China (CEC) poderá ser a primeira competição automóvel a iniciar-se. Ainda não há datas conhecidas para os ralis e todo-o-terreno.

Aqui ao lado

Os dois circuitos permanentes da região de Guangdong, onde habitualmente os pilotos de Macau costumam realizar os seus testes, estão ambos a operar. O Circuito Internacional de Zhuhai foi o primeiro a abrir as portas, no final de Março, mas por agora apenas está a funcionar para a realização de testes, track days e escolas de pilotagem. A administração do circuito que tem ligações a Malaca adiou para 2021 os seus três “Pan Delta Super Racing Festival”, visto que são manifestações desportivas com uma forte componente comercial e que aglomeram milhares de espectadores. Contudo, o primeiro fim-de-semana de corridas na cidade continental adjacente a Macau poderá ser no último do mês de Junho da disciplina de Fórmula 4.

Nos arredores da cidade de Zhaoqing, no Circuito Internacional de Guangdong, que serve como base para várias equipas da RAEM, o problema da exploração do circuito terá já sido resolvido e no dia 22 de Maio, a pista voltará a abrir para as actividades em pista. O recinto está há dois meses aberto às equipas, que podem aceder às suas oficinas e realizar o seu trabalho diário, mas até aqui não podiam fazer-se ao asfalto. As primeiras corridas, provavelmente o “GIC Challenge”, estão previstas também para o final de Junho, mas ainda sem data exacta.

Apelos a mais inspecção e civismo devido a lixo nos trilhos de Coloane

A poluição nos trilhos de Coloane continua a deixar marcas. Membros do Conselho de Serviços Comunitários das Ilhas defendem o envio de mais agentes para inspecção dos trilhos. Para além da protecção da natureza, também foram apontadas preocupações ao aumento da dificuldade das tarefas dos trabalhadores de limpeza

 

[dropcap]U[/dropcap]m trio de membros do Conselho de Serviços Comunitários das Ilhas defende que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) deve reforçar o número de agentes para inspecções não periódicas nos trilhos mais populares de Coloane. A ideia é dar uma lição de educação cívica a quem deixa lixo no chão, aplicando sanções em caso de necessidade, noticiou o Ou Mun.

Ng Chi Lung, U Chi Lek Patrício e Lam Ka Chun querem também que o IAM afixe mais avisos a sensibilizar quem percorre os trilhos para a importância de valorizar o ambiente e para evitar deitar lixo fora. Para além disso, querem que os visitantes aprofundem o seu conhecimento, sugerindo para tal efeito a criação de placas com informação geológica.

Os membros do Conselho de Serviços Comunitários das Ilhas, receberam queixas de moradores relativamente ao lixo encontrado nos trilhos, e na costa quando a maré alta traz para terra materiais como sacos e garrafas de plástico. Situação para a qual pedem a intervenção dos serviços.

Note-se que durante a pandemia, os trilhos em Coloane passaram a ter maior afluência, por exemplo os trilhos do Altinho de Ká Hó e à Beira-Mar de Long Chao Kok de Hac Sá.

De acordo com o jornal Ou Mun, os membros do conselho visitaram os locais e verificaram que havia lixo em zonas mais densas, o que aumenta a dificuldade da tarefa dos trabalhadores de limpeza. E reconheceram que o volume de lixo aumentou recentemente entre cinco a dez vezes, enquanto a frequência de limpeza aumentou para duas a três vezes por dia, em vez de uma semanal.

Uma publicação de Agnes Lam nas redes sociais alertou para o mesmo problema. A deputada observa que há mais pessoas na zona de montanha, e que há quem deixe lixo à beira da estrada, podendo ver-se nos trilhos de Coloane garrafas, papel e pacotes de comida. Mostrou-se ainda “preocupada” com quem limpa a área. “Os trabalhadores de limpeza trabalham sob o sol, e a subir e descer a montanha para trazer todo o lixo”, descreveu.

A deputada considera que apesar de a RAEM ser rica e poder contratar pessoas para fazerem a limpeza do espaço é necessária uma abordagem pedagógica. “Temos de educar as pessoas e elas devem trazer o seu próprio lixo consigo quando vêm da montanha”, aponta. Em linha com essa ideia está a sua defesa de que o Governo pode tentar retirar alguns caixotes de lixo dos trilhos. “É conveniente para as pessoas deitarem fora o lixo, mas também as encoraja a deitar fora”, explicou.

O que dá à costa

No último fim-de-semana, o grupo Macau ECOnscious divulgou que numa acção de limpeza da costa removeram cerca de 300 quilos de lixo, incluindo esferovite, plástico e objectos grandes. “O lixo que retiramos é inferior à quantidade de lixo que o mar traz para a costa”, indica Gilberto Camacho, um dos impulsionadores do grupo.

No seu entender, a situação é difícil de resolver e prende-se com educação. “O problema é uma questão de educação e de prioridade de quem está no Governo. Vivemos numa Era em que a prioridade do Governo não deveria ser a economia, mas o ambiente. Porque sem um bom ambiente deixaremos de ter o chão para usufruirmos de uma boa economia”, explica. Apesar disso, Gilberto Camacho reconhece haver maior consciencialização das pessoas, e boa adesão a políticas como a criação de tarifas para sacos de plástico.

Telecomunicações | Grupo do sector cria associação para pensar o futuro

Com Macau a entrar na fase da 5.ª Geração das telecomunicações e com os desafios do triple-play, a Associação de Desenvolvimento de Comunicações de Macau espera afirmar-se como um think tank local do sector

 

[dropcap]C[/dropcap]riada no ano passado por um grupo de ex-trabalhadores das telecomunicações, a Associação de Desenvolvimento de Comunicações de Macau é o primeiro movimento associativo formado no território para pensar o sector. Numa altura em que o Governo insiste na transformação de Macau numa “Cidade Inteligente”, a associação espera lançar o debate sobre o caminho do sector para o futuro.

Os objectivos foram explicados pelos fundadores, entre eles Roger Kuong Kuok Fu, presidente da assembleia-geral, em declarações ao HM. “Nos próximos anos, o sector vai enfrentar questões muito importantes, que vão implicar escolhas. Vai haver o lançamento dos serviços de 5.ª Geração (5G) e convergência das telecomunicações, conhecida como triple-play. Por isso, esta é uma boa altura para nos juntarmos e debatermos de forma mais activa o futuro da indústria”, explicou Kuong.

“Somos um grupo de pessoas com um conhecimento especializado no sector, todos com 30 a 40 anos de experiência, e sentimos que podemos contribuir para que o desenvolvimento das telecomunicações possa ser feito a pensar no longo prazo”, acrescentou.

Por sua vez, Windus Lam, presidente da direcção, sublinha a importância do sector, principalmente quando o Governo está comprometido com o objectivo de transformar Macau numa “Cidade Inteligente”, ou seja, de uma cidade que recorre a uma rede de sensores e colecção de dados para gerir os assuntos do dia-a-dia de forma mais eficaz.

“Para nós foi muito positivo ver o Chefe do Executivo nas Linhas de Acção Governativa apontar que Macau tem de fechar a distância em termos da Cidade Inteligente face às regiões vizinhas”, começou por apontar Windus. “Se olharmos para a Grande Baía, espera-se que Guangzhou, Shenzhen, Hong Kong e Macau formem um corredor tecnológico, por isso é importante que o Governo esteja ciente das suas responsabilidades. Nós queremos contribuir para esse objectivo com uma maior aposta no desenvolvimento”, apontou.

Seminários e talentos

Os fundadores da associação têm em comum o facto de terem trabalhado na Companhia de Telecomunicações de Macau. Após essa experiência, os caminhos profissionais passaram por outras empresas. No entanto, e embora os fundadores queiram que a associação conte com o apoio de todas as empresas do sector, o objectivo passa mesmo por conseguir reunir o máximo de profissionais da indústria, em nome individual.

“Claro que para nós é importante que as empresas do sector se envolvam na associação. Mas, queremos que as pessoas participem em nome individual e que todos se sintam bem-vindos”, explicou Xeque Hamja, vice-presidente.

Na mesma linha, Carlos Rui Marcelo, também vice-presidente, frisa a independência dos órgãos sociais. “A nossa visão não está ligada a qualquer empresa, o nosso objectivo é apoiar com conhecimento especializado o desenvolvimento tecnológico de Macau e beneficiar o território”, apontou.

Em termos de actividades, e apesar da pandemia da covid-19, a Associação de Desenvolvimento de Comunicações de Macau espera realizar seminários dedicados ao sector e promover uma plataforma para transmitir conhecimentos aos mais novos, de forma a aumentar o interesse pelas telecomunicações.

“Estamos a falar de um sector que exige conhecimento muito especializado e os recursos humanos são um verdadeiro problema. Há um certo ciclo vicioso em que as pessoas seguem outras áreas e isso faz com que haja cada vez menos interesse”, sustentou Rui Carlos Marcelo. “Só que sabemos que uma Cidade Inteligente não se faz sem talento e uma massa conhecedora. Ao fazermos seminários e debates esperamos que seja possível aumentar o interesse nesta área”, acrescentou.

Windus Lam defendeu que Macau pode constituir uma massa crítica local, apesar de haver tendência para os empregos serem concentrados na indústria do jogo. “Os residentes que estudam fora de Macau muitas vezes não querem regressar porque não estão interessados no jogo. Mas, se houver um ambiente nas telecomunicações com incentivos permanentes ao desenvolvimento, os alunos vão encarar a área de outra forma e vão querer voltar, porque sentem que podem crescer profissionalmente”, apontou. “É possível criar essas condições e contribuir para que se crie uma massa crítica para concretizar a Cidade Inteligente e fazê-la crescer e avançar”, apontou.

Retalho e restaurantes com quebras entre 1 a 3 por cento em Março 

[dropcap]D[/dropcap]ados oficiais divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que o sector da restauração e retalho sofreram quebras entre 1 a 3 por cento em Março.

Segundo um comunicado, 97 por cento dos proprietários dos restaurantes falaram de perdas de 1 por cento em relação a Fevereiro, enquanto que no sector do retalho 87 por cento dos comerciantes apontou para perdas de 3 por cento em termos anuais em relação ao mês de Fevereiro.

Apenas 2 por cento dos donos de restaurantes asseguraram ter tido acréscimos no volume de negócios em Março, uma proporção semelhante à de Fevereiro. No caso dos retalhistas, apenas 10 por cento disse ter registado um aumento do volume de vendas.

Questionados sobre as expectativas em relação ao desempenho dos seus negócios no mês de Abril, “os proprietários da restauração e os retalhistas do comércio a retalho estavam, de um modo geral, menos confiantes em relação ao comportamento do mercado devido ao contínuo impacto gerado pela epidemia”. A DSEC aponta que 56 por cento dos donos de restaurantes e 62 por cento dos comerciantes do ramo de retalho “anteviram que o volume de negócios para Abril diminuísse cinquenta por cento ou mais em termos anuais”.

Produtos frescos | Governo diz que não há limitações de mercado

[dropcap]A[/dropcap] deputada Song Pek Kei disse numa interpelação escrita que o Governo deve estudar a liberalização do mercado dos produtos alimentares frescos e vivos, observando que o fornecimento destes bens é assegurado pelas empresas Nam Kwong e Nam Yue. Em resposta, o director dos Serviços de Economia (DSE), Tai Kin Ip, assegura que o Governo tem “políticas abertas” e que “não há limitações para os operadores e para as origens”.

Além disso, o responsável garantiu que é dado apoio ao sector para explorar os canais de fontes de produtos, dando como exemplo a cooperação com o Departamento de Agricultura e Assuntos Rurais da Província de Guangdong e a Direcção de Agricultura e Assuntos Rurais de Cantão para organizar visitas dos principais importadores de Macau ao Interior da China, de forma a conhecerem a base de cultivo presencialmente, bem como os armazéns e a distribuição.

Quanto à criação de uma lei “antitrust” (ou anti-monopólio), o responsável volta a remeter para o relatório de um estudo que não estabelece uma correlação entre a criação de uma lei da concorrência e a estabilização dos preços dos produtos. “Como não há qualquer restrição de acesso ao mercado na maioria dos sectores, basta que a livre entrada e saída de empresas no mercado promova a concorrência entre si”, explicou.

Ficou por responder se o Governo vai acelerar a criação de uma lei sobre o regime de gestão dos mercados públicos e dos vendilhões. Tai Kin Ip limitou-se a explicar que os vendilhões têm despesas com a água e a electricidade das bancas, e que precisam de mostrar os preços de forma clara quando vendem os produtos.

APN | Anúncios de Pequim podem aliviar indústria do jogo

Analistas da Sanford C. Bernstein e da Roth acreditam que a sessão da Assembleia Popular Nacional que começa na sexta-feira pode vir a trazer boas notícias para a indústria do jogo em Macau. Em cima da mesa, avançam, está apoio financeiro e o alívio de restrições nas fronteiras

 

[dropcap]A[/dropcap] terceira sessão da 13ª Assembleia Popular Nacional (APN) pode vir a aliviar a pressão da crise provocada pela pandemia do novo tipo de coronavírus em Macau e trazer efeitos positivos à recuperação da indústria do jogo.

A crença é dos analistas das correctoras Sanford C. Bernstein e Roth Capital Partners LLC, citados pelo portal GGR Asia que afirmam que a APN pode trazer “anúncios positivos” para a economia de Macau a pretexto do evento.

“Podem vir a ser anunciadas medidas de estímulo económico aplicáveis a toda China que podem apoiar os interesses de Macau”, apontam os analistas da Sanford C. Bernstein, Vitaly Umansky, Eunice Lee e Kelsey Zhu, referindo-se à indústria do jogo.

Já numa nota oficial da Roth, o analista David Bain avança ter fontes que acreditam que o relaxamento na política de concessão de vistos de entrada em Macau pode começar “durante ou logo após” a realização da sessão plenária da APN.

Acreditando que tais medidas podem assumir o papel de “fortes catalisadores do mercado”, o analista aponta mesmo que estará para breve a diminuição de restrições que impliquem a realização de quarentena e a concessão de maiores facilidades à entrada de pessoas provenientes da província de Guangdong. Contudo, David Bain alerta também que os recentes surtos detectados em algumas regiões do Interior da China podem “travar a vontade política existente sobre a abertura das fronteiras de Hong Kong e Macau”.

À espera do dia

Sobejamente dependente dos turistas provenientes do Interior da China, as previsões dos analistas estão em linha com o que já havia sido dito noutras ocasiões, ou seja, que a recuperação da indústria de jogo de Macau só poderá verdadeiramente acontecer quando forem conhecidos os moldes em que serão levantadas as medidas de restrição à circulação e a velocidade de recuperação da economia chinesa.

Recorde-se que em Abril, as receitas brutas dos casinos de Macau registaram uma queda de 96,8 por cento em termos anuais, totalizando cerca de 754 milhões de patacas. Em igual período de 2019, as receitas foram de 23,58 mil milhões de patacas.

De acordo com a mesma fonte, a Sanford C. Bernstein estima que as receitas brutas anuais dos casinos de Macau podem cair mais de 41 por cento, em 2020.

Forças de segurança | Remuneração suplementar decidida pelo Chefe do Executivo

Está divulgada a proposta de alteração à lei que define as remunerações acessórias das forças e serviços de segurança. O cálculo muda, mas o valor ainda não é conhecido: é para ser decidido pelo Chefe do Executivo

 

[dropcap]J[/dropcap]á foi admitida na Assembleia Legislativa a proposta de alteração à lei que define as remunerações acessórias das forças e serviços de segurança. Uma das principais mudanças é que passa a ser o Chefe do Executivo a fixar o valor da remuneração complementar para o pessoal em regime de disponibilidade permanente que seja chamado a trabalhar mais de 44 horas semanais.

Quando a duração do trabalho semanal não for superior a 44 horas, o cálculo muda e tem como base uma média mensal: “faz-se a partir da divisão do total de horas de trabalho mensal pelo número de dias úteis de trabalho nesse mesmo mês, multiplicado por cinco dias úteis de trabalho semanal”.

A remuneração suplementar vai aplicar-se ao pessoal de investigação criminal da Polícia Judiciária, da carreira alfandegária dos Serviços de Alfândega, do Corpo de Guardas Prisionais e dos quadros do Corpo de Polícia de Segurança Pública e do Corpo de Bombeiros. Assim, é proposta a revogação de vários regulamentos administrativos e ordens executivas referentes à remuneração suplementar mensal de pessoal destes organismos, nos casos em que actualmente é correspondente ao índice 100 da tabela indiciária dos funcionários públicos. O Governo quer também que o pessoal do Corpo de Guardas Prisionais deixe de ter um horário de 45 horas de serviço semanal.

A atribuição das remunerações acessórias é fundamentada “na especialidade, na disponibilidade permanente, na penosidade e no risco agravado inerente a determinadas valências operacionais”, pode ler-se na proposta.

Sem limites

José Pereira Coutinho considera que ao nível dos direitos dos trabalhadores a lógica “está mal”. Em causa está a possibilidade de serem ultrapassadas 44 horas de trabalho semanais. Apontando que há quem trabalhe mais de 70 horas por semana, o deputado observou que “fica tudo prejudicado” com o “desgaste físico e a falta de convívio familiar”. “Deve haver um limite, e mesmo para se atingir esse limite deve depender-se de autorização prévia do Chefe do Executivo para o exercício desses trabalhos”, defendeu.

Recentemente já houve polémica em torno do tempo de descanso dos trabalhadores das forças de segurança. Recorde-se que num debate das Linhas de Acção Governativa o secretário para a Segurança rejeitou o pedido de Sulu Sou para se definir um tecto máximo de horas extraordinárias a estes trabalhadores. E acusou-o de tentar angariar votos, levando o deputado a abandonar a sessão em protesto.

OMS | EUA ameaçam sair e China diz que Trump quer desviar atenções

Donald Trump ameaçou ontem sair da Organização Mundial de Saúde dentro de 30 dias, caso não se verifiquem mudanças profundas na forma como o organismo internacional opera. A China respondeu afirmando que Trump só quer desviar as atenções da má gestão da pandemia. Já a União Europeia manteve o apoio à entidade e sublinhou que este não é o momento para “apontar dedos”

 

[dropcap]O[/dropcap] último de dois dias da Assembleia-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), que decorreu por videoconferência em Genebra, Suíça, ficou marcado por um ultimato feito por Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos. Numa carta divulgada na sua conta oficial no Twitter, Trump ameaçou sair da OMS caso a entidade não proceda a mudanças estruturais de funcionamento. De frisar que em Abril os Estados Unidos suspenderam, de forma temporária, o financiamento à OMS.

“Se a OMS não se comprometer com melhorias significativas nos próximos 30 dias, tornarei a suspensão temporária de fundos à OMS permanente e reconsiderarei a nossa participação na agência”, ameaçou Donald Trump, numa carta que enviou ao director-geral da OMS, partilhada também no Twitter.

Na carta, com quatro páginas, o Presidente dos Estados Unidos anunciou que Washington já “iniciou conversações sobre como reformar a organização” com o responsável da OMS, Tedros Ghebreyesus, acrescentando que “não há tempo a perder” e que “é necessário actuar rapidamente”.

Trump considerou que a OMS tem “uma alarmante falta de independência” em relação à China, frisando que entre as reformas planeadas por Washington está a desvinculação de Pequim.

“A única forma de avançar, para a OMS, é se realmente for capaz de demonstrar independência em relação à China”, disse o Presidente norte-americano na carta, que elenca uma série de falhas que os Estados Unidos atribuem a Tedros Ghebreyesus e a Pequim na gestão da pandemia do novo coronavírus.

Como resposta, a China assegurou que as acusações de Donald Trump têm apenas o intuito de desviar as atenções pela forma como a pandemia da covid-19 tem sido gerida pela Casa Branca.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian, considerou que a acusação tem por objectivo “manchar os esforços da China no combate à epidemia” para não enfrentar as suas próprias responsabilidades domésticas. O porta-voz exortou Washington a “deixar de lançar a culpa” para a China e a concentrar-se antes a combater o novo coronavírus, cujo epicentro é, neste momento, nos Estados Unidos, que registam mais de 1,5 milhões de infectados e 90.000 mortes.

O orçamento da OMS é fixado por períodos de dois anos. Em 2018 e 2019 ascendeu a 5,62 mil milhões de dólares. Os Estados Unidos são o maior contribuinte para o orçamento da agência subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), com 553,1 milhões de dólares naquele período, entre contribuições obrigatórias e voluntárias, que comparam com 7,9 milhões de dólares pagos pela China.

A 14 de Abril Trump suspendeu a contribuição financeira do país à entidade, anunciando que iria conduzir um estudo “para examinar o papel da OMS na má gestão e ocultação da disseminação do novo coronavírus”. Na carta enviada ao responsável Tedros Ghebreyesus, Trump deu por concluída a avaliação, confirmando “muitos dos sérios problemas” de que acusava a organização. Questionado sobre o futuro da contribuição norte-americana, Trump apenas disse que vai “tomar uma decisão em breve”.

Questão de Taiwan

Na sessão de ontem o assunto de Taiwan voltou a ser abordado por vários países, como foi o caso de São Cristóvão e Nevis, duas pequenas ilhas no Caribe e dos poucos países que mantém relações diplomáticas com Taiwan. “Há muito a aprender com a forma utilizada por Taiwan para lidar com a pandemia, e o nosso país apela para que Taiwan adquira o estatuto de membro da OMS”, disse o representante do país.

O representante das ilhas caribenhas acrescentou ainda que a Formosa “tem feito significativas contribuições para o mundo, em termos de conhecimento e de tecnologia e resposta a desastres”. Na sua visão, “o sucesso global na guerra contra a covid-19 depende de uma forte liderança a todos os níveis, governamentais, sector privado e sociedade civil”.

No caso do Paquistão, que mantém relações diplomáticas próximas com a República Popular da China, a mensagem foi de apoio à declaração do país. “O Paquistão apoia os esforços da China no que diz respeito à sua soberania e integridade territorial. A posição do Paquistão é que Taiwan é parte integrante da China.”

O velho continente

A União Europeia (UE) reiterou o seu apoio aos esforços da OMS no combate à covid-19, face a novas ameaças dos Estados Unidos, e salientou que este não é o momento de “apontar o dedo”.

Questionada sobre a posição adoptada na última madrugada pelo Presidente norte-americano, que ameaçou tornar a suspensão temporária de fundos à OMS permanente e reconsiderar a participação dos Estados Unidos na agência, a porta-voz da Comissão Europeia responsável pelos Negócios Estrangeiros afirmou que, para a UE, “a cooperação global e a solidariedade através de esforços multilaterais são a única opção efectiva e viável para ganhar esta batalha” contra a pandemia.

“A UE apoia a cooperação internacional e soluções multilaterais nesta crise pandémica, como já tivemos oportunidade de dizer diversas vezes. Este é o momento da solidariedade, não o momento de apontar o dedo ou de prejudicar a cooperação internacional, em particular hoje, quando aguardamos para as próximas horas a aprovação de uma resolução que foi apresentada pela UE e pelos seus Estados-membros à assembleia-geral da OMS”, declarou a porta-voz Virginie Battu-Henriksson.

A mesma porta-voz lembrou que, nessa resolução, a UE defende a “necessidade de retirar lições sobre como a comunidade internacional, incluindo a OMS, responderam à crise”, mas “na altura apropriada”, pois, reforçou, “agora é a altura de reforçar as organizações multilaterais e trabalhar em conjunto para responder a esta crise”.

“A UE apoia os esforços da OMS para conter e mitigar a covid-19 e já providenciou financiamento suplementar para apoiar esses esforços”, lembrou.

Macau atento

Vários governantes do Executivo, incluindo a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, e Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde de Macau, assistiram à assembleia-geral da OMS. O comunicado ontem divulgado destaca o discurso do Presidente chinês Xi Jinping, tendo a secretária referido que “é de grande importância partilhar a experiência da prevenção e controlo de epidemia por meio de videoconferências, fortalecer intercâmbios e cooperação internacionais, responder em conjunto e controlar a epidemia ao lidar com pandemia causada pela covid-19”. Além disso, é também “valioso que o Governo da RAEM possa definir estratégias de prevenção e controlo de epidemia”.

Aprovado por unanimidade

A Assembleia Mundial da Saúde aprovou por unanimidade a resolução que supõe uma avaliação à resposta da OMS à pandemia da covid-19. Os 194 países-membros da OMS, reunidos por teleconferência, concordaram que se deve proceder a uma avaliação “imparcial, independente e completa” ao papel da organização, como se tinha comprometido na segunda-feira o seu director-geral, Tedros Ghebreyesus. “Para ser verdadeiramente completa, essa avaliação deve incluir a resposta de todos os actores, de boa fé. Iniciarei uma avaliação independente, o mais brevemente possível, para analisar a experiência que se ganhou, as lições aprendidas e para fazer recomendações para melhorar a preparação e a resposta nacional e global à pandemia”, afirmou Ghebreyesus.

Concedida alta hospitalar ao último doente de covid-19 em Macau

Ao 41º dia sem novos casos confirmados, Macau voltou a não ter pacientes internados com o novo tipo de coronavírus. Apesar da boa nova e de o risco de contágio ser “muito baixo”, o director dos serviços de saúde Lei Chin Ion apela uma vez mais para a população “não baixar a guarda”

 

[dropcap]F[/dropcap]oi concedida alta hospitalar ao último paciente de Macau que estava a receber tratamento contra o novo tipo de coronavírus. A notícia foi transmitida ontem pelo director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion, que fez questão de sublinhar que o facto de o contador dos casos confirmados estar novamente a zeros, marca o final da segunda vaga do surto epidémico na região. No total, incluindo os 10 pacientes da primeira vaga, foram tratados com sucesso 45 pacientes, sendo que um deles chegou a estar em situação grave.

“O último doente recebeu alta hoje [ontem]. Desde 15 de Março, dia do início da segunda vaga de covid-19 passaram 66 dias. Com o esforço do Governo, da população de Macau e dos trabalhadores da linha da frente, conseguimos curar os 35 doentes de Macau. Todos já receberam alta e temos o registo zero de novo”

Quanto à paciente que teve alta, trata-se de uma estudante de 15 anos, residente de Macau, que estava internada há 56 dias. De acordo com o médico Alvis Lo Iek Long, da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, a estudante chegou a Hong Kong, vinda do Reino Unido, a 17 de Março, onde ficou uma semana, antes de regressar a Macau no dia 24 do mesmo mês, altura em que foi diagnosticada com a doença. A residente de Macau cumprir agora 14 dias de isolamento no Centro Clínico do Alto de Coloane.

Por ocasião da conferência de imprensa diária da covid-19, Lei Chin Ion admitiu ainda que o risco de contágio em Macau é muito baixo, já que a região não apresenta novos casos e não existem pacientes infectados. No entanto, o director dos SS deixou ainda um alerta sobre a situação da pandemia a nível mundial.

“O risco em Macau é muito baixo, mas é preciso ter em conta a situação em todo o mundo onde existe um risco alto. O número de casos está a aumentar cada vez mais, a título de exemplo, a Rússia tem cerca de 300 mil casos e na Índia o número está também a aumentar. Daí que não podemos baixar a guarda. Precisamos de ter este cuidado e acompanhar de perto a situação da epidemia em todo o mundo. Só assim podemos assegurar a saúde da população de Macau e recuperar a normalidade”, explicou Lei Chin Ion.

Fronteiras o “mais cedo possível”

Afirmando não acreditar que Hong Kong abra as fronteiras nos próximos dias, depois de o Governo da região vizinha ter prolongado as restrições às concentrações públicas, Lei Chin Ion revelou não ser possível avançar uma data definitiva “por se estar ainda na fase de comunicação”.

“Sei que os cidadãos estão preocupados com a abertura das fronteiras, mas é preciso negociar com Zhuhai, Hong Kong e a província de Guangdong. Temos mantido uma relação estreita e depois de analisadas as medidas vamos tentar voltar à circulação normal o mais cedo possível”, partilhou.

Hotel procura-se

Com a capacidade de lotação da Pousada Marina Infante perto do limite, Inês Chan dos Serviços de Turismo revelou que vai ser disponibilizado um segundo hotel destinado aos recém-chegados a Macau que precisem de cumprir quarentena. Apesar de não ter avançado o nome do estabelecimento, a responsável adiantou apenas que será um dos 12 hóteis designados anteriormente pelo Governo. “Na Pousada Marina Infante temos 316 pessoas (…), restam apenas 10 quartos e todos os dias chegam pessoas a Macau a precisar de quarentena”, detalhou.

Piscinas em breve

A reabertura das piscinas públicas ainda não tem data, mas as directivas necessárias para o efeito já se encontram a ser definidas em conjunto pelos Serviços de Saúde e o Instituto do Desporto. O ponto de situação foi dado ontem pela Leong Iek Hou, do Centro de Prevenção e Controlo da Doença. “Temos de limitar o número de entrada de pessoas e todas precisam de passar pela medição de temperatura corporal, apresentar o seu código de saúde de Macau. Além disso, as piscinas também precisam de fazer uma desinfecção às instalações e aumentar a frequência da desinfecção”, explicou durante a conferência de imprensa diária sobre a covid-19. Quanto à reabertura de recintos desportivos, como campos de futebol e basquetebol, Leong Iek Hou adiantou que serão abertos “em breve”, mas só depois de serem reforçadas as medidas de desinfecção e outras normas que ainda carecem de tempo para ser concretizadas.

Covid-19 | Índia ultrapassa 100 mil casos de contágio

[dropcap]O[/dropcap] número de infectados pelo novo coronavírus na Índia ultrapassou os 100 mil, verificando-se um aumento significativo de infectados entre os trabalhadores migrantes que abandonaram as cidades durante o confinamento decretado pelo governo de Nova Deli.

O ministro da Saúde da União Indiana indicou hoje um total de 101.139 casos e 3.163 mortes provocadas pelo covid-19. Os dados oficiais referem que 39 mil pessoas conseguiram recuperar da doença. Até à semana passada, a Índia reportava cerca de quatro mil casos de infecção por dia. O Estado mais afectado é o de Maharashtra, que regista um total de 1.249 mortes e 35 mil casos de contágio.

A Índia prolongou as medidas de confinamento até ao dia 31 de maio, mas permite aos Estados mais desfavorecidos economicamente abrir os estabelecimentos comerciais.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 316.000 mortos e infetou mais de 4,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (90.309) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,5 milhões). Seguem-se o Reino Unido (34.796 mortos, mais de 246 mil casos), Itália (32.007 mortos, quase 226 mil casos), França (28.239 mortos, cerca de 180 mil casos) e Espanha (27.709 mortos, mais de 231.600 casos).

A Rússia, com menos mortos do que todos estes países (2.722), é, no entanto, o segundo país do mundo com mais infeções (mais de 290 mil).

China regista seis novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas

[dropcap]A[/dropcap] China diagnosticou, nas últimas 24 horas, seis novos casos da covid-19, no oitavo dia consecutivo em que a soma diária de infecções no país permanece abaixo de dez, informaram hoje as autoridades.

A Comissão de Saúde da China disse ter identificado três novos casos de origem local, até às 23:59 de segunda-feira: dois em Jilin, no nordeste do país, e o outro na província de Hubei, de onde a doença é originária. Jilin, que faz fronteira com a Rússia e a Coreia do Norte, diagnosticou dezenas de casos nas últimas semanas, pelo que as autoridades chinesas passaram a restringir as deslocações para fora da província.

Os restantes três novos casos da covid-19 foram diagnosticados em pessoas oriundas do exterior, na Mongólia Interior, no extremo norte do país.

As autoridades de saúde informaram ainda que, nas últimas 24 horas, três pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infetadas ativas no país asiático se fixou em 85, incluindo dez em estado considerado grave.

Desde o início da pandemia, a China registou 82.960 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Até ao momento, 78.241 pessoas tiveram alta. As autoridades chinesas referiram que 740.428 pessoas que tiveram contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, entre as quais 5.054 permanecem sob observação.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 316.000 mortos e infectou mais de 4,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.

Ho Iat Seng presente na sessão de abertura da APN

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, vai participar, na sexta-feira, em Pequim, na abertura da terceira sessão da 13.ª Assembleia Popular Nacional (APN), foi ontem anunciado. Ho Iat Seng desloca-se a Pequim, entre quarta-feira e sexta-feira, acompanhado pela chefe do gabinete do chefe do executivo, Hoi Lai Fong, indicou um comunicado do Gabinete de Comunicação Social.

Durante a ausência de Ho Iat Seng do território, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, vai exercer, interinamente, as funções de chefe do executivo, acrescentou. Ho, de 62 anos, é um ex-membro do comité permanente da APN.

Em Abril do ano passado, a APN aceitou o pedido de demissão do então presidente da Assembleia Legislativa de Macau para que Ho Iat Seng apresentasse a candidatura a chefe de Governo do território. Eleito em Agosto, tomou posse a 20 de Dezembro passado.

Macau tem 12 deputados na APN, principal órgão legislativo da China, eleitos em 17 de Dezembro de 2017. Estes e os membros do comité nacional do Conferência Consultiva Política Popular Chinesa (CCPPC) vão participar nos trabalhos em Pequim. O primeiro chefe do executivo de Macau, Edmund Ho, é vice-presidente do comité nacional da CCPPC.

OMS | China anuncia ajuda de 2 mil milhões de dólares para países afectados pela covid-19

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou esta segunda-feira, na reunião anual da Organização Mundial da Saúde (OMS), que a China vai oferecer dois mil milhões de dólares em assistência aos países afectados pela pandemia da Covid-19, sobretudo aos mais pobres.

O líder chinês apontou ainda que potenciais vacinas que a China consiga desenvolver contra a doença, que causou já mais de 300.000 mortes em todo o mundo, “vão estar disponíveis como um bem público globalmente para que sejam acessíveis a todos os países em desenvolvimento”.

Xi Jinping garantiu que a China vai trabalhar em conjunto com as restantes economias do G20 para acordar uma moratória da dívida dos países mais pobres, como parte das medidas para superar a atual crise económica provocada pela pandemia do novo coronavírus.

O apoio financeiro será distribuído num prazo de dois anos, numa altura em que o Governo norte-americano suspendeu os pagamentos à OMS, por alegada má gestão na pandemia da covid-19.

No seu discurso na assembleia da OMS, Xi assegurou que a China forneceu todos os dados relevantes sobre a doença à OMS e a outros países, incluindo a sequência genética do vírus, “da forma mais oportuna”.

“Compartilhamos a experiência sobre o controlo e tratamento com o mundo sem reservas. Fizemos tudo ao nosso alcance para apoiar e ajudar os países atingidos”, apontou.

O bloco dos 27 membros da União Europeia e outros países pediram durante a assembleia uma avaliação independente da resposta inicial da OMS à pandemia do novo coronavírus “para rever a experiência adquirida e as lições aprendidas”.

A resolução da UE propõe que a avaliação independente seja iniciada “o mais rapidamente possível ” e deve, entre outras questões, examinar “as ações da OMS e os seus cronogramas referentes à pandemia”.

A OMS anunciou que o surto de coronavírus seria uma emergência de saúde global em 30 de janeiro, o seu nível mais alto de alerta. Nas semanas seguintes, a OMS advertiu os países de que havia uma “janela de oportunidade” estreita para impedir que o vírus se espalhasse globalmente.

As autoridades da OMS, no entanto, descreveram repetidamente a transmissão do vírus como “limitada”, apontando que não era tão transmissível como a gripe, apesar de vários especialistas afirmaram que o nível de contágio da doença é muito superior.

A OMS declarou que o surto era uma pandemia em 11 de março, depois de o vírus matar milhares em todo o mundo e provocar grandes surtos na Coreia do Sul, Itália ou Irão.

Xi disse que também apoia a ideia de uma revisão abrangente da resposta global ao COVID-19.

“Este trabalho deve ser baseado na ciência e profissionalismo, liderado pela OMS e conduzido de maneira objetiva e imparcial”, defendeu.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 315.000 mortos e infetou mais de 4,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço da agência de notícias AFP.

Mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano passou nas últimas semanas a ser o que tem mais casos confirmados (quase 2,1 milhões contra 1,9 milhões no continente europeu), embora com menos mortes (cerca de 125 mil contra mais de 166 mil).

A Ásia conta mais de 12.100 mortos (mais de 355 mil casos), Médio Oriente mais de 8.100 mortos (quase 280 mil casos), África 2.735 mortos (mais de 82.500 casos) e Oceânia 126 mortos (quase 8.400 casos).

Adiada participação de Taiwan como membro observador na OMS

[dropcap]O[/dropcap]s países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiram esta segunda-feira, durante a sessão anual da agência da ONU, adiar os debates sobre a participação de Taiwan como observador. No primeiro dos dois dias da assembleia, pela primeira vez virtual, os países aceitaram discutir a questão de Taiwan quando os debates forem retomados, esperando a OMS que tal aconteça ainda este ano.

Nenhum país se opôs à proposta, apesar dos Estados Unidos e de outras nações terem exigido a participação da ilha nos últimos dias. A 6 de Maio, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, pediu ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, para convidar Taiwan para a reunião anual da organização, apelando também a todos os países para apoiarem a participação da ilha na organização como observadora.

Taiwan foi excluído da OMS, onde tinha o estatuto de observador até 2016, por pressão da China. O ministro da Saúde de Taiwan, Chen Shih-chung, reagiu aquele apelo dos Estados Unidos, considerando que a exclusão do seu país da Assembleia Mundial de Saúde podia prejudicar a resposta global à pandemia.

“A coisa mais importante no combate à pandemia é a transparência. Todos devem partilhar o que sabem sobre o tema”, disse Chen, justificando a utilidade da sua presença na reunião da OMS. A Assembleia Mundial da Saúde é o órgão de decisão daquela agência especializada das Nações Unidas.

A reacção dos EUA

Washington tem elogiado a resposta de Taiwan à propagação do novo coronavírus e acusado a China de esconder a verdade sobre a origem e a escala da epidemia, que surgiu no final de 2019 na cidade chinesa de Wuhan. Acredita também que a OMS negligenciou um alerta feito por Taiwan sobre a gravidade da crise sanitária e suspendeu o financiamento norte-americano à organização. A agência da ONU nega qualquer negligência.

Numa nota à imprensa, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, criticou “a falta de independência” de Tedros Ghebreyesus, a quem acusa de ter escolhido “não convidar Taiwan sob pressão da República Popular da China”.

Na abertura da reunião anual da OMS, esta segunda-feira, os países membros concordaram em debater a questão de Taiwan, mas tomar uma decisão apenas até ao final do ano.

“Enquanto o mundo continua a combater a pandemia de covid-19, precisamos de instituições multilaterais que respeitem as suas missões estatutárias e sirvam os interesses de todos os seus estados membros, em vez de se enredarem em fazer política”, protestou o chefe da diplomacia norte-americana.

“Ninguém questiona o facto de Taiwan ter implementado uma das respostas mais eficazes do mundo para conter a pandemia, apesar da sua proximidade geográfica com o berço do vírus, em Wuhan, na China”, disse Pompeo.

“Não é uma surpresa. Democracias transparentes, saudáveis e inovadoras como Taiwan sempre respondem melhor e mais rapidamente a pandemias do que regimes autoritários”, acrescentou o secretário de Estado.

Para Pompeo, o director-geral da OMS tinha “o poder legal e os precedentes necessários” para convidar Taiwan para a reunião anual da organização.

“As acções difamatórias da China para silenciar Taiwan demonstram quão vazias são as suas reivindicações pela transparência e cooperação internacional contra a pandemia e tornam a diferença entre China e Taiwan ainda mais flagrante”, lamentou Mike Pompeo.

AFA | Exposição de Tong Chong para ver até 7 de Junho 

A AFA – Art for All Society, exibe até ao próximo dia 7 de Junho um conjunto de trabalhos do pintor Tong Chong, nascido em Fuzhou, mas residente em Macau desde 1984. Eis uma oportunidade para ver obras de pintura chinesa contemporânea de um artista que foi aluno do conceituado artista Mio Pang Fei

 

[dropcap]U[/dropcap]ma mistura de alegria com simplicidade e até ingenuidade. São estes os adjectivos que Alice Kuok, presidente da AFA – Art for All Society, usa para descrever os trabalhos do artista Tong Chong. A exposição, composta por um total de 22 obras com curadoria de Alice Kuok, intitula-se “Somniloquence” e pode ser vista até ao dia 7 de Junho.

Esta é a 11ª exposição individual do autor e faz parte de uma série de exposições a que a AFA deu o título “Perpetual Impermanence”. “Este conjunto com os seus mais recentes trabalhos reflectem uma exploração do artista com as cores nos últimos dois ou três anos”, descreve a curadoria numa nota publicada no website da AFA.

“Tong Chong, que tem hoje 40 anos, disse que havia uma ausência de cores claras nas suas pinturas anteriores. Mas como chegou à meia idade, parece ter iniciado um novo entendimento em relação ao uso da cor. Resolveu recorrer a pigmentos usados na pintura tradicional chinesa, porque as cores das plantas e dos minerais são mais naturais, e o uso das cores combinam com a arte tradicional do corte do papel.”

Para Alice Kuok, o estilo de Tong Chong “exige uma grande atenção”, ao mesmo tempo que “aparenta ser livre e fácil”. “Sempre que tem tempo ele corta papel em diferentes formas e depois classifica esses pedaços em diferentes categorias, e usa imagens recortadas para criar, colocar e pintar sobre eles”, descreve Alice Kuok.

Este processo de experimentação durou alguns meses, nos quais Tong Chong “explorou vários tipos de papel, cola, tipos e marcas de pintura para chegar ao actual método [de criação]”. A curadora aponta que, além da importância de olhar para a forma dos quadros é fundamental olhar “para o estado mental da criação artística”. “Se ele não está num estado mental adequado ele não pinta. Ele disse que o estado mental aqui referido está relacionado com a psicologia e o subconsciente”, acrescentou Alice Kuok.

Carreira em Macau

Nascido em Fuzhou, na província de Fujian, em 1977, Tong Chong veio para Macau em 1984, não sem antes ter regressado à sua terra natal, com a idade de 13 anos, para estudar pintura. Um ano mais tarde voltaria ao território para ter aulas de pintura moderna na Escola de Artes Visuais do Instituto Politécnico de Macau.

Entre os anos de 1991 e 1996, Tong Chong estudou pintura com o conceituado artista Mio Pang Fei.
Assumindo ter uma “especial afinidade” com o lado da arte primitiva e folk, o artista assume-se como sendo alguém de poucas palavras. O actual estilo começou a ser definido na adolescência. “A sua pintura nunca se transformou em outras formas da cultura dominante. Ele dedicou-se a explorar a plasticidade de transformar a realidade em padrões e imagens, o que o levou ao caminho da escultura.” Nesse sentido, a exposição patente na AFA contém também alguns trabalhos de escultura do autor.