Holandeses voadores – II Luís Carmelo - 13 Ago 2020 3 [dropcap]S[/dropcap]obre a neve molhada, os pneus das bicicletas produzem um som sem gravidade. Gestos do fundo das lagoas ao jeito daquele lança-chamas subterrâneo que nos liga o corpo à calçada como se levitássemos. O horizonte desceu rapidamente, trouxe consigo um ar ainda mais fino, frio e rarefeito. Pousei os pés no chão e apalpei a câmara de ar, emprestando alguma virilidade ao acto. De um dia para o outro, os canais gelaram. Uma beleza momentânea. Até os topázios e as esmeraldas são existências a prazo. Acabei por estacionar a meio do arco da ponte para poder observar as muitas dezenas de planetas coloridos que eram os impermeáveis das crianças a deambular sobre o gelo branco, intensamente de cristal. Ela apontava com o dedo para aquela vista maravilhosa e insistia no facto de as histórias serem simples meteoritos, seres inacabados por natureza. Para estarmos à altura dos milhares de anos luz que se erguem no céu – levantámos a cabeça ao mesmo tempo e contemplámos o oceano cinza que nos reflectia o canal -, basta que caibam na palma de uma mão. É desse modo, acrescentava ela, que pego num pincel antes de me atirar a uma tela. Ao invés, eu detinha-me num orgulho quase cego. Apetecia-me negar, negar tudo. O que sobrasse de tanta negação havia de marcar encontro comigo numa cabana qualquer da floresta para me delatar os segredos e ler um poema que condensasse todos os que já foram escritos. Mas que segredos? Os segredos são carros de bois de eixo móvel que conseguem circular pelos trilhos mais ásperos, escarpados e enlameados. É uma óptima definição do poço da morte para todas as acrobacias. Sabíamos os dois mover a linguagem como se estivéssemos a construir mais um boneco no meio da neve. Contei mais de vinte só naquele passeio. Desaparecemos pouco depois com as bicicletas embrenhadas no gelo. Ser contemporâneo desta paisagem – acrescentou ela num último momento – é sempre uma sorte. Uma sorte quase igual à respiração. 4 De encontro à tela explodia como um galeão cheio de prata, pelo menos era essa a luz com que fiava a sua mímica tão lenta. Uma seda de pequenos gestos. Por vezes recuava com a tesoura numa mão e o tubo de cola na outra. Ficava imobilizada a tentar perceber os efeitos das linhas negras que acabara de traçar. Os minutos distendiam-se e ela imitava a fixidez de uma escultura de gesso com as costas a empurrar a parede, o quarteirão, a via láctea. Observava os detalhes e quando ressurgia, rodava os braços com o giz à imagem da pá de um moinho. Deste modo, as folhas de plátano misturadas com a cola, com o carvão e com a tinta infringiam a abstração inicial. Ao recuar pela segunda vez, a superfície tinha-se já transformado no volume figurado de um pássaro. Era o que saltava à vista: duas asas erguidas pelo céu limpo, apesar das manchas e das texturas criadas pela folhagem que se desprendiam do plano. Só quando virou de vez as costas ao trabalho, como uma gárgula que ignora os contrafortes da catedral de onde pende, é que se apercebeu da minha presença. Era tarde demais, é sempre tarde demais. Eu o intruso e ela a guerreira num dia que não teria tido começo. Sobre a mesa havia um vidro de Murano com uma única tulipa adoentada. Água a mais, pensei. Talvez fosse esse o sentimento de excesso com que de novo voltou a destacar um detalhe do quadro. Era uma abertura – um círculo vago de uma crina ao vento – na parte de baixo que engolia, verdadeiramente engolia tudo o que a tela por cima ostentava. Um sorvedouro. E ela já ria sem parar. Construíra um mundo que se deglutia e devorava a si próprio. E eu lembrei-me do anel de fogo do cachimbo que acendia a noite no meio da carruagem. Estávamos a poucos quilómetros de Verona e de cada vez que o vulto do fumador inspirava, e fazia-o como se ingerisse todas as viagens do universo, uma vida completa anunciava-se e logo se extinguia. O quadro repetia o aviso. A tulipa de folhas mortificadas incitava-o. Foi quando aprendi que a expressão “natureza morta” corresponde a uma palavra holandesa. Ela prenunciou-a então com vagar na minha frente: “Stilleven”. Literalmente significará “ainda viva”, mas a literalidade é um país sem qualquer esperança de primavera. (continua)
Um Festival de resistência fílmica em contexto de pandemia Rui Filipe Torres - 13 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap]AVANCA 2020, decorreu entre 22 e 26 de Julho na aldeia de Avanca, em Estarreja e em Ovar, sempre cumprindo as medidas de segurança que a pandemia obriga, seguindo as orientações e recomendações da DGS e do Governo, convém lembrar que Avanca faz fronteira administrativa com Ovar, território que esteve sitiado, em contexto de saúde pública, na situação pandémica atingiu Portugal. Para além das habituais sessões no auditória da paróquia da freguesia de Avanca, no cine teatro de Estarreja e salas de cinema de Ovar, teve um cine drive onde se fizeram ouviram efusivas buzinas após as projeções de filmes, e intervenções dos convidados. O GLOCAL, tendência que tem vindo a ser afirmada e que concilia o Global e o Local como modelo de desenvolvimento, activando sinergias, comércios e culturas, sem se fechar ao mundo e sem negar identidades e formas particulares de vida das comunidades, foi, nesta edição mais visível. A habitual presença física de cineastas e investigadores de países distantes na geografia e por vezes formas culturais, foi este ano mais apagada, embora as tecnologias da web.0.2, e a plataforma Zoom em particular, tenha permitido presenças e encontros digitais. Ainda em contexto de pandemia o Festival quis afirmar-se como peça de resistência, afirmando a necessidade de permanecer enquanto evento cultural cinematográfico de referência no tecido sócio cultural local e da região e dos festivais nacionais. O Festival exibiu 111 filmes, entre curtas, documentários, e longas metragens de ficção. Foi neste ambiente de contenção de proximidade física, e de proximidade emotiva às histórias visíveis no ecrã que a competição nacional e internacional, o espaço de workshops, as conferências, exposições e debates, tiveram lugar, afirmando a resistência e a vontade de dar a ver e pensar cinema do AVANCA FILM FEST em direção à 25 ª Edição em 2021. O grande vencedor do “24º Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia – AVANCA 2020”, foi a longa metragem Diapasão, do Iraniano Hamed Tehrani . Venceu nas categorias: Prémio Cinema para a Melhor Longa Metragem; Prémio Melhor Argumento, e o Prémio D. Quixote da FICC – Federação Internacional de Cineclubes. Nesta edição, para além de jornalista, estive na condição de júri em 3 competições. Na competição sénior – cineastas com mais de 60 anos, de forma colegial o filme ganhador foi The Prague Orgy de Irena Pavlásková | Rep. Checa / Czech Republic (112′) ficção / fiction O filme dá-nos a ver uma reconstituição social e política de um período recente de um tempo de equilíbrio geopolítico bipolar traduzido na “guerra fria” e na cortina de ferro, bem como nas asserções de mundo livre ocidental e ferocidade totalitária nas repúblicas socialistas da União Soviética. Reconstituição cuidada, “décors”, guarda-roupa, exteriores e interiores, excelente casting, que serve uma narrativa fílmica que trabalha literatura e política, dando a ver o temor da vigilância totalitária em espaços aceites onde circulam as elites artísticas e políticas na cidade de Praga, após a invasão Soviética, num mundo anterior à vigilância global web.0.2. contemporânea. Interpretações consistentes, com destaque para protagonista feminina. O festival fechou, a noite da última sessão, com o filme documentário “Por detrás da Moeda”, 93 minutos de Luís Moya. Esta é uma das muitas produções locais presentes nesta edição. É um trabalho que conta duas histórias, dá-nos a ver os músicos de rua da cidade do Porto, as suas motivações, dificuldades e alegrias, entre as quais a experimentação de uma ideia radical de vida livre. Entre os vários personagens que vão surgindo, surge um músico de um grupo dos anos 80, os Peppermint Twist, a partir desse encontro, o documentário dá-nos a ver com particular insistência esse grupo, os contextos da época, e dois dos seus elementos. O AVANCA é uma organização Cine Clube de Avanca e Município de Estarreja, com o apoio do ICA / Ministério da Cultura, do IPDJ, da CIRA, da Junta de Freguesia de Avanca, do Agrupamento Escolar de Estarreja, da Escola Egas Moniz, da Paróquia e das Associações de Avanca, tem ainda o apoio de várias universidades e escolas de ensino superior do país, empresas e outras instituições da região.
Casinos não são obrigados a fechar se ocorrerem casos de covid-19 Salomé Fernandes - 13 Ago 202013 Ago 2020 [dropcap]N[/dropcap]a eventualidade de Macau ter um caso de covid-19, vão ser aplicadas medidas mais rigorosas, disse ontem a coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença. Mas isto não é sinónimo de fecho dos casinos, há primeiro que avaliar o risco que o caso representa e a influência que pode ter em Macau. “Se houver uma contaminação em determinadas zonas, vamos definir estas zonas como sendo de médio ou alto risco, mas isso não significa que quando ocorrer um caso em Macau que não tem nada a ver com casinos os vamos fechar”, disse ontem Leong Iek Hou. As medidas de distanciamento social nos casinos vão-se manter, mesmo com a retoma da emissão de vistos turísticos para a província de Guangdong a partir de 16 de Agosto e posteriormente a toda a China. “Macau agora está relativamente estável, não podemos dizer que estamos com risco zero, mas temos de equilibrar as nossas actividades económicas”, comentou a médica. A flexibilização das medidas de distanciamento social foi remetida para um futuro em que haja vacinas. Com a retoma dos vistos individuais, vão aplicar-se medidas de controlo de fluxo de pessoas “em tempo oportuno”, disse o representante do Corpo de Polícia de Segurança Pública. Uma hipótese apontada é o reforço dos transportes, para triagem das pessoas que passem a fronteira. Erros afastados Relativamente ao caso de um bebé de nove meses que engoliu uma parte da zaragatoa ao fazer o teste de ácido nucleico, concluiu-se que não houve erro médico. “Sabemos que com as crianças é possível haver incidentes”, disse Leong Iek Hou. O bebé está estável e não houve complicações, mas os Serviços de Saúde já tomaram medidas relativas aos menores. A partir de hoje, os pais que quiserem acompanhar menores de 18 anos ao Fórum Macau, podem também realizar aí o teste de ácido nucleico. Antes, só menores, portadores de deficiência e idosos é que podiam fazer o teste neste local. A partir de hoje há direito de escolha. No entanto, neste local só é disponibilizado o teste de zaragatoa nasofaríngea. Quem quiser realizar teste orofaríngeo tem de se deslocar a outro posto. Até terça-feira, estavam 1410 pessoas em observação médica, cinco das quais num barco de pesca e outra em instalações dos Serviços de Saúde.
Hong Kong | Jimmy Lai insta jornalistas a continuarem a lutar Hoje Macau - 13 Ago 2020 O milionário, dono do jornal Apple Dail, foi esta terça-feira libertado, após ter sido detido na segunda-feira, numa acção levada a cabo pela polícia que resultou na detenção de dez pessoas ligadas a grupos de activistas pró-democracia [dropcap]O[/dropcap] magnata dos ‘media’ de Hong Kong Jimmy Lai, proprietário do jornal Apple Daily, alvo de buscas na segunda-feira, instou ontem os jornalistas a continuarem a lutar, um dia depois de ser libertado sob caução. Lai, que tinha sido detido na segunda-feira por suspeita de conluio com forças estrangeiras, ao abrigo da lei de segurança nacional, foi recebido com aplausos e ovações na redação do jornal, após 40 horas sob custódia policial. “Continuemos a lutar!”, disse Lai aos jornalistas. “Temos o apoio dos habitantes de Hong Kong, não podemos abandoná-los”, instou Jimmy Lai, numa curta declaração transmitida em directo pelo jornal através das redes sociais. Alvo de buscas por 200 agentes da polícia, na segunda-feira, o Apple Daily recebeu um forte apoio da população de Hong Kong, com filas a formarem-se de madrugada para comprar a publicação. Jimmy Lai percorreu a redação do Apple Daily, debaixo dos aplausos dos funcionários. No vídeo, transmitido em directo, o magnata, muito crítico de Pequim, pediu aos jornalistas que mantenham o tom que despertou a ira da China, mas reconheceu que está a tornar-se “cada vez mais difícil” gerir um grupo de imprensa em Hong Kong. “Mas temos de continuar o nosso trabalho”, acrescentou. “Felizmente, não fui enviado para o continente [China continental]”, brincou, fazendo rir os jornalistas. Jimmy Lai, de 72 anos, é o proprietário de duas publicações pró-democracia frequentemente críticas de Pequim, o diário Apple Daily e o Next Magazine. Visto por numerosos habitantes de Hong Kong como um herói e único magnata do território crítico de Pequim, Jimmy Lai é descrito nos meios de comunicação oficiais chineses como “um traidor”, que inspirou as manifestações pró-democracia realizadas na região chinesa, e o líder de um grupo de personalidades acusadas de conspirar com nações estrangeiras para prejudicar a China. As detenções e as buscas foram condenadas pela comunidade internacional, que receia o fim da liberdade de imprensa em Hong Kong, uma cidade que tem sido sede regional de órgãos de comunicação internacionais há décadas. Outras detenções Lai foi uma das dez pessoas detidas pela polícia na segunda-feira, numa grande acção de repressão contra o movimento pró-democracia, a maioria ligadas ao grupo mediático. No mesmo dia, foi também detida a militante pró-democracia Agnes Chow, de 23 anos, que ajudou a fundar o partido Demosisto, ao lado de Joshua Wong, Nathan Law e de outros jovens activistas. A jovem é uma das primeiras activistas do partido, entretanto extinto, a ser alvo da nova lei de segurança nacional. Chow foi libertada sob caução esta madrugada, tendo ficado com o passaporte apreendido. Ao sair da esquadra de polícia de Tai Po, Chow disse que a detenção faz parte de uma campanha de perseguição política. “É muito claro que o governo está a utilizar a nova lei de segurança para reprimir os dissidentes políticos. Ainda não compreendo porque é que fui presa”, disse Chow, citada pelo site de notícias local Hong Kong Free Press.
Documentário | Segunda parte de “Macaenses – Uma Odisseia” apresentado esta sexta-feira Salomé Fernandes - 13 Ago 2020 O Instituto Internacional de Macau apresenta amanhã o segundo episódio do documentário “Macaenses – Uma Odisseia”. Com o contexto da covid-19, as plataformas digitais foram o meio escolhido para a divulgação [dropcap]A[/dropcap]partir de amanhã, o segundo episódio do documentário “Macaenses – Uma Odisseia” fica disponível nas páginas do Instituto Internacional de Macau (IIM) das plataformas do Facebook e Youtube. No youtube, o vídeo com legendas em português já aparece com contagem decrescente para as 12h30. A opção por uma transmissão online deveu-se à pandemia da covid-19. “O IIM espera, por este meio, atrair mais visualizações do público, não só de Macau como de outras partes do mundo”, diz em comunicado. A descrição do vídeo indica que até à Segunda Guerra Mundial, muitos macaenses saíram do território por falta de trabalho e pela ausência de condições para crescer profissionalmente. “Contudo, já tinham começado a surgir sinais dos tempos conturbados que se seguiriam: alguns já estavam a deixar Hong Kong devido à pressão comunista nos Portos do Tratado. E depois, com a invasão japonesa em Hong Kong, muitos macaenses mudaram-se para Macau como refugiados”, pode ler-se. Da migração macaense são destacados momentos como a abertura dos Portos do Tratado ao comércio externo, o estabelecimento da colónia britânica de Hong Kong, a migração que se seguiu à Segunda Guerra Mundial e as revoltas comunistas, o período pós-70, bem como a entrega à China de Hong Kong e Macau. Memórias fragmentadas O documentário foi feito com depoimentos de macaenses que vivem no América do Norte, recolhidos pelo jornalista e investigador Joaquim Magalhães de Castro, que percorreu várias cidades para registar a “história oral da vivência desses emigrantes e familiares”. Indo de encontro a esse trabalho, o IIM começou a preparar uma série de vídeos sobre a diáspora macaense naquela região. O objectivo da iniciativa, segundo o organismo, é “preservar as memórias das comunidades macaenses espalhadas no mundo, dar a conhecer às novas gerações as mudanças sociais que provocaram o grande fluxo migratório de pessoas de Macau, as razões da sua ‘deslocação’ e lembrar-lhes que as suas raízes ainda se encontram em Macau”. O projecto vai ter quatro segmentos de cerca de 30 minutos cada. Os dois primeiros já estão concluídos e o terceiro encontra-se em vias de finalização. O documentário está a ser produzido com base no guião da investigadora Mariana Leitão Pereira, com montagem de António Pinto Marques. A primeira parte esteve focada em quem viveu os tempos que se seguiram à invasão do norte da China pelos japoneses, a retirada das famílias macaenses de Xangai, a subsequente Guerra do Pacífico e a ocupação de Hong Kong.
EPM | Direcção garante que ataque informático apenas encriptou base de dados Pedro Arede - 13 Ago 2020 O director da Escola Portuguesa de Macau confirmou que o ataque informático ao sistema NetGiae aconteceu no final de Abril e garantiu ao HM que “não há cópia, nem desvios de dados”. O ataque não foi comunicado aos pais, para “não preocupar as pessoas”, explicou Manuel Machado. Os moldes da implementação da história da China são ainda inconclusivos [dropcap]O[/dropcap]director da Escola Portuguesa de Macau (EPM), Manuel Machado, garantiu ontem que o ataque cibernético que afectou o sistema de consulta e gestão de informação entre alunos, encarregados de educação e professores, NetGiae, não apagou, copiou ou desviou quaisquer dados. Em vez disso, garante o director, a informação continua no servidor da escola, mas está inacessível por ter sido encriptada. “O nosso servidor foi alvo de um ataque cibernético (…) em finais de Abril. Este ataque foi feito a nível mundial e, portanto, atingiu imensos destinatários. No caso da EPM não apagou nem copiou dados. O que este ataque fez, foi encriptar os dados, impedindo o acesso aos mesmos. Portanto, os dados não andam a circular”, garantiu ao HM. “Não há cópia nem desvio de dados. Isso é muito importante. Os dados estão connosco, não podem é ser utilizados”, acrescentou. Recorde-se que a informação consta de um documento enviado pela Associação de Pais da Escola Portuguesa (APEP) aos seus associados, à qual o HM teve acesso na terça-feira. Na sequência do ataque, esclareceu Manuel Machado, foi enviado um email à Polícia Judiciária (PJ) a relatar o sucedido e contratada uma empresa de renome mundial para “tentar fazer a desencriptação de dados”. Contudo, por ainda não ter sido encontrada solução, o director da EPM admite que o sistema está a ser actualizado com os dados em falta, a tempo do início do próximo ano lectivo. “No pior dos cenários, (…) temos os dados necessários dos alunos até Setembro de 2019 e estamos a fazer a actualização da informação que está em falta, caso não seja possível a desincriptação”, explicou. Preocupações maiores Questionado sobre a razão pela qual o ataque informático não foi dado a conhecer aos encarregados de educação, Manuel Machado argumenta que foi, sobretudo, para não preocupar os pais. “Por um lado, pensámos que isto se resolvia mais depressa e, por outro, porque, quer a direcção da APEP, quer nós, infelizmente, não conseguimos resolver o problema. Por isso, não havia necessidade de estar a preocupar as pessoas”, sublinhou. Contactado pelo HM, Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da APEP, afirma que os encarregados de educação deviam ter sido informados e que, motivado pelo advento tecnológico, as instituições têm que saber como actuar neste tipo de situações. “A escola devia ter informado de imediato os pais. Os ataques informáticos são coisas que acontecem e, por isso, as instituições têm de estar preparadas e saber como reagir. Além de comunicar às entidades competentes, que nos foi dito que aconteceu, não nos especificaram a quem o fizeram”, explicou. Filipe Regêncio frisou ainda que, em virtude do sucedido, já podia ter havido consequências sem que os pais tivessem sabido do ataque. “Imaginemos que um pai ia com o filho a Hong Kong e o número [do BIR] já estava sinalizado (…) e o pai era barrado sem saber o que se passa”, partilhou o presidente da APEP. “Se calhar quem encriptou os dados também ficou com eles, não é?”, acrescentou. Já sobre a implementação da disciplina de História da China no plano curricular do 10º ano já no próximo ano lectivo, Manuel Machado afirmou ao HM que esse é “um assunto que ainda está a ser discutido e sobre o qual não há nada de conclusivo”. “Quando se diz que os currículos das novas disciplinas serão os mesmos à excepção da História da China ou que a sebenta será feita à semelhança das que existem para 2º e 3º ciclos, isso ainda não está 100 por cento definido”, esclareceu o director da EPM.
Direitos Humanos | Jason Chao entende que não é altura para grandes lutas João Luz - 13 Ago 2020 Jason Chao acha que é necessário mudar o paradigma do activismo de Macau, com o foco desviar-se das “grandes lutas” para assuntos como protecção de minorias e direitos das mulheres. Quanto à lista de questões enviada ao Governo de Macau pelo Comité de Direitos Humanos da ONU, o activista ficou surpreendido com o alcance progressista dos temas [dropcap]D[/dropcap]epois de um ano de instabilidade em Hong Kong e da resposta musculada de Pequim, Jason Chao acha que o activismo político local entrou numa nova Era, que obriga à escolha pragmática das batalhas em que valem a pena lutar. “Precisamos de mudar de paradigma, apesar de continuar a ser necessário discutir assuntos mais complicados, como liberdade de expressão, de imprensa e direitos políticos. Não é fácil continuar a pressionar esses assuntos nesta altura, devido às circunstâncias”, opinou o activista numa conferência de imprensa sobre as questões enviadas pelo Comité para os Direitos Humanos das Nações Unidas ao Governo de Macau. Jason Chao é responsável pelo Grupo de Investigação de Macau, uma das organizações que contribuiu para a lista de temas enviada pelo organismo da ONU ao Executivo de Ho Iat Seng. Ontem, o ex-dirigente da Associação Novo Macau expressou receio de que no futuro a liberdade de imprensa na RAEM seja limitada, particularmente nos órgãos de comunicação social em português e inglês. “Neste momento, são livres para noticiarem o que quiserem, mas, mais cedo ou mais tarde, podem perder essa liberdade”, alertou o activista, referindo que Pequim não terá ficado contente com a forma como a imprensa estrangeira de Macau cobriu os protestos em Hong Kong. Aliás, Chao entende que esta foi a razão para os problemas que a equipa da RTP teve ao entrar no território para cobrir a visita de Xi Jinping aquando do 20º aniversário da RAEM. Outras lutas De resto, Jason Chao mostrou-se surpreendido com a abordagem progressiva da lista do Comité para os Direitos Humanos, principalmente quanto ao alargamento dos bens jurídicos que garantam protecção legal a casais com pessoas do mesmo sexo e a trabalhadores não residentes. O responsável pelo Grupo de Investigação de Macau mencionou ainda a crescimento do programa “Olhos no Céu”, que está a espalhar câmaras de videovigilância pelo território, algumas com capacidade para reconhecimento fácil. O activista encara o sistema como uma forma de condicionar os direitos civis e políticos, com efeito dissuasor para activistas políticos.
PIB | Ho Iat Seng anuncia maior quebra desde que há registos João Santos Filipe - 13 Ago 202013 Ago 2020 Ho Iat Seng partiu ontem para Pequim, onde vai debater a cooperação com a lha da Montanha, e explicou que os estrangeiros vão poder entrar em Macau quando os respectivos países registarem mais de 130 dias sem surtos comunitários [dropcap]A[/dropcap]pandemia da covid-19 levou o Produto Interno Bruto (PIB) de Macau a sofrer uma contracção de 67,8 por cento durante o segundo trimestre, a maior quebra trimestral desde que há registos na Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Os dados foram revelados ontem pelo Chefe do Executivo, antes da partida para Pequim, onde vai estar até segunda-feira a debater o reforço da cooperação com as autoridades de Cantão para promover o desenvolvimento da Ilha da Montanha. Quando questionado sobre o impacto para a economia do fim da suspensão dos vistos individuais de turismo emitidos pelo Interior, que permitem aos habitantes de 49 cidades visitar a RAEM, Ho Iat Seng mostrou-se cauteloso e advertiu que uma recuperação total não vai acontecer este ano. “Não é possível recuperar a economia para os números que tínhamos anteriormente, pelo menos até ao final do ano. No primeiro trimestre, o PIB teve uma quebra de 58,2 por cento e no segundo trimestre a redução foi de 67,8 por cento. Com estes números não podemos estar totalmente optimistas”, afirmou o Chefe do Executivo. “Mas é claro que a vinda de pessoas a Macau através dos vistos individuais de turismo vai representar um apoio à nossa economia”, acrescentou. Segundo os dados disponibilizados pela DSEC, os registos do PIB foram apresentados por trimestre pela primeira vez no início de 2002 e a maior quebra tinha acontecido no segundo trimestre de 2015, quando se registou uma redução de 24,6 por cento. Nessa altura, decorria a campanha contra a corrupção promovida por Xi Jinping, que levou ao afastamento do mercado dos grandes apostadores de Macau. No entanto, segundo os dados apresentados por Ho Iat Seng, o pior registo foi ultrapassado entre Janeiro e Março deste ano e voltou agora a ser novamente batido, nos últimos três meses. Ainda ontem, o Chefe do Executivo recusou a ideia de criar mais apoios à economia, pelo menos nesta fase, em que se espera que a vinda de mais turistas tenha algum impacto: “Se não houver nenhum problema, a 23 de Setembro os vistos individuais vão ser estendidos [de Guangdong] a todo o país, o que vai contribuir para a recuperação económica […] Acreditamos que vai contribuir para reduzir os números do desemprego”, explicou. “Além disso, temos um princípio que é utilizar os recursos de forma devida e só vamos gastar o necessário. Por isso, acreditamos que com o regresso dos vistos de turismo não vai ser necessário implementar mais apoios”, justificou. Entrada de estrangeiros Antes de deixar Macau, Ho Iat Seng afirmou ainda que neste momento não há planos para alterar a proibição de entrada em Macau de estrangeiros. Esta é uma situação que no entender do Chefe do Executivo só deverá sofrer alterações no caso de haver países que registem, à semelhança de Macau, cerca de 130 dias sem casos comunitários de infecções por covid-19. “Por enquanto não temos este plano [para permitir a entrada de turistas ou trabalhadores não-residentes estrangeiros]. O risco no exterior ainda se mantém e o Interior da China mantém a restrição [de entrada a estrangeiros] e Hong Kong também”, apontou. “A entrada [em Macau] depende dos países. […] Se os países conseguirem mais de 130 dias sem casos de infecções comunitárias, nós podemos ponderar alterar a situação”, vincou. Já em relação à deslocação ao Interior para debater a cooperação com a Ilha da Montanha, Ho Iat Seng não adiantou muitos pormenores, mas deixou a entender que podem ser debatidas matérias fiscais.
Maria Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo: “Sentimos Portugal como uma família estendida” Pedro Arede - 13 Ago 2020 O HM falou com a directora dos Serviços de Turismo, antes do anúncio do regresso dos vistos de turismo para entrar em Macau, e a responsável não tem dúvida de que o preço dos testes à covid-19 vai ser determinante para viajar e vê com bons olhos uma eventual retoma do voo directo entre Macau e Portugal. Quanto a nomes de ruas, defende que a maioria é pela coexistência do passado e presente das culturas chinesa e portuguesa [dropcap]P[/dropcap] erante tantas incertezas, como é vivido o dia-a-dia dos Serviços de Turismo? Entrámos agora numa nova etapa, pois não há nada que possamos fazer para alterar a situação gerada pela pandemia. Mas já estamos a ter mais movimento e podemos ir avançando com mais trabalhos. Durante os últimos meses temos vivido tempos de grande incerteza porque, a cada dia, podem surgir situações completamente diferentes do dia anterior e, por isso, é preciso grande flexibilidade e capacidade de planeamento, apesar de muitos projectos acabarem por não se concretizar. Temos de estar física e mentalmente preparados para isso, porque há muitas frustrações, mas temos de ter sempre uma mentalidade muito aberta e capacidade para aceitar diferentes situações em momentos diferentes. Apesar disso, a nossa equipa tem alcançado alguma coisa nos últimos meses. Isto, depois do desafio de ajudar os Serviços de Saúde [SS] e outros departamentos a controlar a situação da pandemia. Ultrapassada esta etapa, o dia-a-dia já é mais suave, porque temos mais experiência, os SS têm mais informação sobre o vírus e a forma como, dentro de Macau, estamos a tentar evitar qualquer contágio também contribuiu para dar mais confiança às pessoas. O foco da DST passa agora por reanimar a actividade económica? Ninguém pensou que iríamos passar tantos meses sem turistas ou pessoas a entrar, pois todos os clientes são locais. Por isso, estamos a passar de uma altura em que estávamos dedicados a conter o vírus para outra, em que temos que reabrir a indústria e a actividade económica, algo que tem de ser feito passo a passo. Acho que estamos no bom caminho e, apesar de não termos muitos turistas, passámos de 200 ou 300 visitantes diários para mais de cinco mil. Há mais movimento nas fronteiras e dentro da cidade, mas ainda estamos longe da recuperação económica, porque isso não depende só de nós. Agora já não é a área do turismo a fazer planos sobre quais os mercados com mais potencial. É a área da saúde que diz quais os mercados sobre os quais podemos trabalhar. Daqui para a frente vamos ainda ter grandes desafios, porque o mundo do turismo vai ser completamente diferente. Muito se tem falado em diversificação económica. Que solicitações recebeu a DST nesse sentido? A diversificação da economia vai ser um trabalho conjunto e nós fazemos parte disso, assim como o Instituto Cultural [IC] e o Instituto do Desporto [ID] que estão também a fazer muitos planos. Vamos trabalhar também mais estritamente com o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento [IPIM] na área das convenções e exposições e com a Direcção dos Serviços de Economia [DSE] para desenvolver as lojas com características tradicionais de Macau, porque também podem ser atracções. Também a área da saúde, ao nível do bem-estar como está a acontecer em Hengqin como o projecto NovoTown, pode ser uma maneira de atrair pessoas. Daqui para a frente, além de dizer que Macau é uma cidade com grandes atracções turísticas, também temos de mostrar aos potenciais clientes que temos um bom histórico na contenção da pandemia, de forma a transmitir confiança para as pessoas voltarem a visitar Macau. Este vai ser um ponto muito importante até ao fim do ano e provavelmente em 2021. Foram anunciados cortes de mais de 30 por cento no orçamento da DST para 2020. Prevê que ainda possam existir mais ajustes? O nosso orçamento foi cortado, mas isso não quer dizer que o Governo deixou de investir. O Governo está a subsidiar directamente outras indústrias com muitos milhões, mas, na área do turismo, está a apoiar de forma indirecta através da campanha “Vamos! Macau!”, que inclui as excursões locais, e a plataforma de descontos [Macau Ready Go] que lançámos. Isto permite ajudar os que trabalham no turismo e, através do movimento dos residentes locais, ajudar outras áreas a recuperar. Não vai ser uma recuperação completa, porque o total de residentes é ainda muito menor que o número de visitantes que costumamos ter anualmente, mas, pelo menos, há movimento a recomeçar. Utilizamos também estas excursões para descobrir novas atracções de Macau, ou melhor dizendo, atracções que já existiam, mas que nunca foram utilizadas na área do turismo. Acho que as excursões que estão a ter maior adesão podem ser transformadas em produtos comerciais no futuro para os visitantes. Admite que as excursões locais possam ser prolongadas? A ideia inicial é que o programa dure até 30 de Setembro. Não estamos a pensar estender porque o objectivo passa pela reabertura do turismo à China. De facto, as excursões locais têm tido uma grande adesão, quase 110 mil pessoas já se inscreveram, mas, mesmo assim, é uma fracção do turismo que normalmente recebemos. Não vamos agora, de um dia para o outro, recomeçar o turismo e fazer com que tudo seja igual ao que era antes da pandemia, porque há muitos factores em jogo e o mercado tem de reabrir passo a passo. A longo prazo temos de reabrir o turismo para ajudar a indústria. As excursões locais estão de facto a ajudar muito, mas não podemos ter toda a gente de Macau, todos os dias, a viajar dentro de Macau. Toda a indústria está à espera da reabertura total do turismo. Neste momento não [ponderamos prolongar], mas é muito difícil dizer com toda certeza. Espero que não haja necessidade de prolongar as excursões locais porque seria mau sinal. Se temos de continuar, quer dizer que não há hipótese de abrir o mercado turístico, não é? Por isso, acho que temos de continuar a trabalhar para a reabertura total do turismo. Para já, o nosso trabalho vai focar-se nas províncias que têm mais facilidade de viajar para Macau, quer por via aérea ou de comboio, ou seja, a província de Fujian e Hunan. Mas também isso só vai ser possível, passo a passo, não vai ser amanhã. Há residentes estrangeiros que se sentem esquecidos no alargamento de isenções para Guangdong. Esta situação pode ser alterada em breve? Neste momento, é muito difícil de dizer porque, na China, quando fazem uma isenção [nas fronteiras] não é só para quem vive em Macau, mas para o país inteiro. Vai ser uma consideração bastante complicada, porque não podem apenas dizer: “os estrangeiros que estão em Macau podem viajar para a China, mas os outros estrangeiros não”. Isto seria até uma discriminação de alguns estrangeiros em relação a outros, de regiões diferentes. Se a pandemia se prolongar por muito mais tempo, a DST planeia investir no turismo internacional mais cedo que o previsto? Estamos sempre a investir no mercado internacional, mas este ano temos de ser objectivos nos nossos planos. Agendámos reuniões online com representantes dos EUA, Europa, Austrália e outras partes da Ásia. Nessas reuniões, recolhemos informações sobre as novas considerações dos diferentes mercados. Um exemplo muito simples: mesmo abrindo para diferentes mercados, uma grande condicionante vai ser o teste de ácido nucleico. Durante algum tempo, este vai ser, para além do passaporte, uma necessidade para viajar. No entanto, mesmo que em Macau não seja assim tão caro (120 patacas) e na China seja ainda menos (75 renminbis), em diferentes partes do mundo o custo é bastante elevado. Falámos com o nosso representante na Indonésia e na Coreia do Sul e disseram-nos que nestes países o teste custa cerca de 150 dólares americanos. Por isso, o custo dos testes vai influenciar em grande medida a vontade de viajar. Se contabilizarmos 150 dólares americanos por pessoa, uma família de quatro pessoas já vai ter de gastar 600 dólares só para os testes, ainda sem contar com os custos das viagens e alojamento. Não podemos pensar apenas que a pandemia já passou e vai ser tudo igual ao que era. Não vai ser assim, temos de ter todos estes novos factores em consideração e ver quais as regiões com maior potencial, tendo em conta estas condicionantes. Esses alvos já estão identificados? É bastante difícil. Mesmo que as pessoas de Hong Kong queiram viajar para Macau agora, eles têm de gastar mais de 1.000 dólares de Hong Kong. Apesar de ser um mercado muito atraente pelo preço da viagem, a partir de agora vão pensar três vezes antes de decidir onde vão viajar, porque os custos não vão ser os mesmos. Macau esteve perto de abrir as fronteiras com Hong Kong? Tivemos grandes esperanças no final de Junho que isso pudesse acontecer, até porque Hong Kong não tinha novos casos há muitos dias, mas infelizmente, a situação piorou de repente. Em Macau, ainda bem que temos a possibilidade de abrir as portas ao Interior da China. Hong Kong está a passar por uma fase muito difícil. Fui ver o número de entradas de visitantes em Julho e Macau recebeu 22 mil pessoas. Depois fui ver o número de visitantes para Hong Kong na mesma altura e fiquei chocada, porque tivemos mais pessoas a visitar Macau do que Hong Kong, que apenas recebeu 15 mil. Isto é impensável. Desde que entrei na DST nunca tinha visto esta situação. Se achamos que a situação em Macau é difícil, a situação de Hong Kong é ainda pior em termos de turismo. A dependência que Macau tem do aeroporto de Hong Kong para aceder a outros mercados ficou à vista devido à pandemia? Gostava muito que o aeroporto tivesse mais capacidade de receber voos de médio e longo curso, mas isto não depende só da nossa vontade, porque existem considerações comerciais. De facto, Macau tem esta dificuldade porque temos uma população bastante pequena e, para sustentar um voo de longo curso, este não pode depender apenas dos habitantes. No futuro, temos que pensar de que forma podemos trabalhar em conjunto com a Grande Baía para que essas pessoas venham a Macau e utilizem o nosso aeroporto para atrair voos directos de outras partes do Mundo, pois só com a população de Macau é muito difícil. A hipótese de estabelecer um voo directo para Portugal pode ser equacionada no futuro? Portugal é um país com o qual partilhamos sempre grandes emoções e, apesar de estar distante, estamos próximos quando falamos do coração. Além disso, temos muitos estudantes lá e muitos portugueses a trabalhar aqui, por isso, sentimos Portugal como se fosse uma família estendida. Em relação ao voo, comercialmente não é fácil, mas se fosse possível era muito bom para Macau. Preservar o patrimómio cultural de Macau vai continuar a ser uma das prioridades da DST? Sem dúvida nenhuma. O centro histórico de Macau é património mundial e é preciso protegê-lo. Além disso, porque há sempre aspectos positivos mesmo em contextos difíceis, acho que temos de ter sempre uma mentalidade optimista. Por causa disso, mesmo nas excursões locais, há boas ideias que podem ser aproveitadas. É necessário ter imaginação e abertura, mas o património é, e vai continuar a ser sempre, uma parte muito importante das nossas operações turísticas. Além do património físico, o património intangível também é importante, como o patuá e a ópera chinesa. Daqui falo, não só do património Ocidental, mas também a mistura que se vive dentro de Macau. Nesse sentido, como classifica as palavras do vogal do Conselho Consultivo do IAM Chan Pou Sam que defendeu recentemente a alteração dos nomes das ruas para apagar os vestígios do passado colonial? Este tipo de pensamento pode ser prejudicial para o turismo? Os visitantes da China querem vir a Macau porque Macau é diferente das outras províncias do Interior. Esta diferença existe porque temos uma grande tradição e uma longa história de convivência com diferentes culturas. Este é um aspecto que temos de continuar a defender. Em 2020 celebramos os 15 anos da entrada do centro histórico de Macau na lista do Património Mundial e esta possibilidade existe por causa da nossa mistura de culturas. Quando nos candidatámos a “Cidade Criativa de Gastronomia”, também conseguimos convencer a UNESCO que merecíamos ser incluídos na lista, devido ao resultado da convivência entre as diferentes culturas. Temos sempre que defender a coexistência das diferentes culturas. Claro que há quem tenha ideias diferentes, mas acho que a maioria das pessoas de Macau dá muito valor à coexistência das culturas Ocidental e Oriental, sobretudo da cultura chinesa e portuguesa. Dado o contexto, o podemos esperar da edição deste ano do Festival Internacional de Cinema de Macau? O festival vai acontecer, mas o grande problema é que as pessoas não podem vir cá. Uma parte será virtual e outra presencial, onde, mesmo assim, teremos de reduzir o número de pessoas na assistência por causa das novas restrições de saúde. O Mike [Goodridge] e a equipa de programação já contactaram responsáveis por vários filmes que queremos exibir e estamos no bom caminho. Infelizmente, ainda não sabemos se vamos ter filmes locais, pois tem sido um ano muito difícil para todas as produções a nível mundial, mas temos esperança que venha a acontecer. Estamos a trabalhar num evento híbrido, em que o público poderá ver uma parte nos cinemas e outra, talvez até de forma mais confortável, em casa. Ainda persistem muitas incertezas, mas confiamos que vamos conseguir fazer um festival, apesar de diferente, com bons filmes e qualidade para mostrar à audiência local. De que forma o orçamento do IFFAM vai ser afectado este ano? O orçamento não vai ser igual ao dos anos anteriores, mas ainda não conseguimos dizer porque vamos lançar concursos em breve, tendo em conta diferentes modelos. Estamos a estudar, em termos de online o que é preciso fazer e investir num sistema de Geoblock, ou seja restringir o visionamento dos filmes em algumas partes do mundo. Estamos também a analisar as obras que podem ser exibidas online e por isso essa triagem está a ser feita para decidir quais os filmes que vão ser exibidas em sala e as que vão ser transmitidas online. Mesmo online vai existir uma limitação em termos dos “lugares” que podem ser vendidos. Que participação a Cinemateca vai ter no festival deste ano? A utilização da Cinemateca durante o festival já foi aceite pelo IC. Estamos a falar de assistências muito reduzidas porque, infelizmente, dos 70 lugares disponíveis só poderão ser vendidos cerca de 30. Vai ser difícil para quem quer ver os filmes, mas continuamos a achar que a Cinemateca é um bom local. No futuro, estamos a planear uma sala de exibição de filmes dentro do novo museu do Grande Prémio. No entanto, não vai estar pronta este ano. Como tem sido a relação com a nova gestão da Cinemateca, que tem levantado tanta polémica? Acredito que não haja grandes dificuldades, mas, até lá, não posso dizer com certeza porque ainda não fizemos qualquer reunião técnica. Para já, as discussões têm sido apenas entre a DST e o IC e ainda não entrámos em pormenores com a companhia que está a gerir o espaço. Acho que isto vai acontecer apenas quando tivermos mais informações sobre os filmes que vamos passar. Até lá, julgo que não deve haver grandes transtornos. Conseguimos sempre arranjar uma solução e penso que desta vez vai acontecer o mesmo.
Fronteiras | Vistos turísticos entre Zhuhai e Macau a partir de amanhã Pedro Arede - 11 Ago 2020 A partir de amanhã é retomada a emissão de vistos de turismo, individuais e de grupo, para quem vem de Zhuhai. Também a partir de amanhã os residentes de Macau podem viajar para toda a China sem necessidade de quarentena. Quem não tem passaporte chinês continua de fora. Basta haver um caso para as restrições voltarem, assegura Lei Chin Ion [dropcap]P[/dropcap]ode muito bem ser o primeiro sinal de retorno a alguma normalidade fronteiriça e até de reactivação económica de maior escala em Macau. O Governo anunciou que a partir de amanhã será retomada a emissão de vistos de turismo para os residentes de Zhuhai que pretendem entrar em Macau, tanto individuais, como de grupo. Obtendo o visto, os visitantes passam a estar isentos de quarentena à entrada em Macau, tendo apenas de apresentar um teste de ácido nucleico negativo e fazer prova que, nos 14 dias anteriores não estiveram em Hong Kong, Taiwan ou no estrangeiro. A medida foi avançada ontem pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U. “A partir do dia 12 de Agosto os vistos de turismo individuais e de grupo vão voltar a ser emitidos para a cidade de Zhuhai e (…) para os cidadãos de Zhuhai virem a Macau”, sublinhou a secretária, por ocasião da conferência de actualização do novo tipo de coronavírus. Questionada sobre a razão pelo qual a nova medida se restringe a Zhuhai e não inclui a recentemente “aberta” província de Guangdong, Ao Leong U argumentou que este é um processo que tem de ser feito gradualmente e de acordo com a evolução da epidemia, antes de serem dados novos passos. “Temos de observar se as medidas tomadas são ou não suficientes, para depois comunicarmos ao Governo Central as nossas intenções de retomar a emissão de vistos a partir de outras regiões”, começou por responder Ao Leong U. “Pode existir um ressurgimento da epidemia. Temos de observar a situação, garantindo que tudo é seguro para passarmos à próxima etapa”, acrescentou. Por fim, a China Na conferência de ontem, Ao Leong U anunciou ainda que a partir de amanhã os residentes de Macau com passaporte chinês ou salvo conduto podem viajar para toda a China sem necessidade de fazer quarentena. As condições para viajar além de Guangdong mantêm-se iguais às anteriormente definidas para circular na província, com a agravante de ser aconselhada a obtenção do relatório do teste de ácido nucleico em suporte físico, ou seja, em papel. “A partir do dia 12 de Agosto, os residentes de Macau que entram no interior da China, com um historial de viagem sem passagens no estrangeiro nos últimos 14 dias e um código de saúde que confirme o resultado negativo ao teste de ácido nucleico, válido nos últimos sete dias, passam a estar isentos de observação médica de 14 dias. Se os cidadãos quiserem sair além de Guangdong devem pedir o suporte em papel do teste de ácido nucleico porque não é fácil estabelecer o reconhecimento mútuo do código de saúde com outras cidades da China”, explicou a secretária. Excluídos das isenções de quarentena continuam os residentes estrangeiros, dando assim continuidade à medida restritiva implementada por Pequim desde Março. “A China ainda não admite a entrada de estrangeiros, isto é só para residentes de Macau titulares de passaporte da China ou de outros documentos de identificação emitidos pela China”, esclareceu a secretária. Ao Leong U avisou ainda que as medidas nas fronteiras podem voltar para trás caso se verifique um “agravamento da situação epidémica”. O Director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, corroborou o cenário, vincando que basta existir um novo caso em Macau para as restrições voltarem. “É simples! Basta aparecer um caso em Macau. Não estou a falar de casos importados, mas se aparecer um caso confirmado de transmissão local, serão reforçadas novamente as medidas. Se forem registados mais de 10 caso locais, Macau passa a ser considerada uma zona de alto risco. Até lá, é uma zona de médio risco, mas também temos medidas para essa situação”, garantiu Lei Chin Ion.
Polícia deteve Agnes Chow, figura de proa do campo pró-democracia de Hong Kong Hoje Macau - 11 Ago 2020 [dropcap]U[/dropcap]ma das principais figuras do movimento pró-democracia em Hong Kong, Agnes Chow, foi ontem presa, juntamente com outras nove pessoas, no âmbito da nova lei da segurança, imposta em Junho por Pequim no território, anunciou fonte policial. “Agora está confirmado que Agnes Chow foi presa sob a acusação de ‘incitar a secessão’ sob a Lei de Segurança Nacional”, lê-se, por seu lado, na conta da activista na rede social Facebook. A detenção de Agnes Chow ocorreu no mesmo dia que a polícia deteve o magnata Jimmy Lai, empresário e proprietário do Next Media, grupo de comunicação social de Hong Kong. A detenção de Lai foi saudada por Pequim, que o acusa de ser um “agitador” a soldo das potências estrangeiras que procuram desestabilizar a segurança nacional. “Esses agitadores antichineses em conluio com as forças estrangeiras puseram gravemente em causa a segurança nacional e a prosperidade de Hong Kong”, disse, em comunicado, o gabinete chinês encarregado de seguir a situação em Hong Kong e Macau. “Jimmy Lai é um dos seus representantes”, lê-se na nota. Resposta e Bruxelas A União Europeia considerou que as buscas na redação do Apple Daily e a detenção do seu proprietário alimentam ainda mais os receios de uma crescente asfixia da liberdade de imprensa. “As recentes detenções de Jimmy Lai, membros da sua família e outros indivíduos, e as buscas aos escritórios do jornal Apple Daily, sob alegações de conluio com forças estrangeiras, alimentaram ainda mais os receios de que a Lei de Segurança Nacional esteja a ser usada para sufocar a liberdade de expressão e dos meios de comunicação social em Hong Kong”, declarou ontem o porta-voz do chefe da diplomacia da UE. “Além disso, a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social são pilares da democracia, pois são componentes essenciais de uma sociedade aberta e livre”, prossegue o porta-voz, concluindo que “é essencial que os direitos e liberdades existentes dos residentes de Hong Kong sejam plenamente protegidos, incluindo a liberdade de expressão, de imprensa e de publicação, bem como a liberdade de associação e de reunião”.
Automobilismo | Um título português com muita influência chinesa Sérgio Fonseca - 11 Ago 2020 No passado domingo, António Félix da Costa conquistou o título do Campeonato FIA de Fórmula E. A vitória do português somou mais um troféu ao palmarés onde figuram duas vitórias no Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 [dropcap]A[/dropcap]ntónio Félix da Costa, duas vezes vencedor do GP de Macau de Fórmula 3, celebrou no domingo a conquista do título do Campeonato FIA de Fórmula E. Antes disso, na primeira das três jornadas duplas do campeonato de carros eléctricos disputadas no aeroporto Berlim-Tempelhof, ouviu-se “A Portuguesa” duas vezes. Contudo, os mais atentos terão ouvido também a “Marcha dos Voluntários” na consagração do piloto português. Isto porque o primeiro título internacional do automobilismo lusitano numa competição de viaturas eléctricas foi conquistado com a preciosa ajuda de uma equipa chinesa, a DS Techeetah. Antes do sucesso trazido pelo piloto de Cascais, a equipa conquistou o seu primeiro título de pilotos na temporada 2017/2018, através do francês Jean-Éric Vergne, numa época em que também assegurou o segundo lugar no Campeonato de Equipas. A partir da temporada 2018/2019, a Techeetah associou-se à DS Automobiles, tornando-se DS Techeetah, uma associação que se tem mostrado proveitosa para ambas as partes. Na temporada 2018/2019, a equipa conquistou os ceptros de Campeã de Equipas e Campeã de Pilotos, com Jean-Éric Vergne, e no defeso contratou Félix da Costa que estava ao serviço da BMW. Apesar de ser a equipa oficial do construtor automóvel DS Automobiles, que faz parte do Grupo PSA, como a Citroen e a Peugeot, e que fornece a motorização dos monologares pretos e dourados, a estrutura que levou Félix da Costa à conquista deste êxito para o automobilismo português é detida pela empresa chinesa SECA (Xangai) Limited. Com sede em Xangai, a SECA é uma empresa líder no mercado chinês na área do marketing e gestão desportiva. A empresa é especializada na representação de talentos do desporto, gestão de eventos e desenvolvimento de conteúdos. Com fortes relacionamentos no desporto, entre os accionistas da empresa contam-se a China Media Capital (CMC) Holdings e Yao Ming, estrela incontestada do basquetebol chinês e membro do “NBA Hall of Fame”. Se Yao Ming dispensa apresentações, a CMC, fundada e presidida por Ruigang Li, é um dos mais prestigiantes nomes no mundo dos investimentos e da gestão operacional no universo dos media e entretenimento na China e nos mercados globais. Com sede em Xangai, a CMC ajudou a criar e a desenvolver várias referências e líderes emergentes nos sectores dos media e entretenimento. Do Vizela… Apesar da entrada do capital chinês logo na segunda época da Fórmula E, a base operacional desta estrutura está desde o primeiro dia em Inglaterra. O esqueleto da equipa manteve-se praticamente inalterado na sua filosofia, e parte técnica continua a ser inteiramente europeia, liderada pelo britânico Mark Preston, que esteve mais de uma década ao serviço da McLaren na Fórmula 1, e que conta também Xavier Mestelan Pinon, um dos homens por trás do sucesso passado da Citroen no WRC e no WTCC. Contudo, o presidente da DS Techeetah é o chinês Edmund Chan, nascido no Canadá, e que entre muitos cargos e negócios em várias actividades desportivas, é sócio fundador da Kosmos, em parceria com o futebolista espanhol Gerard Pique e o CEO da Rakuten, Hiroshima Mikitani. Curiosamente, o “patrão” Félix da Costa também faz parte da administração do Futebol Clube de Vizela. Isto, porque a empresa SECA Corporate, sediada em Hong Kong, entrou no capital da SAD do FC Vizela, em Abril de 2017, detendo 80 por cento das acções. …à EFACEC Igualmente ligada a este sucesso do automobilismo nacional, com forte componente chinesa, estará a portuguesa Efacec, recentemente nacionalizada, devido à participação de Isabel dos Santos na companhia portuguesa, arrestada pela justiça na sequência do caso “Luanda Leaks”. Pioneira na mobilidade eléctrica e líder na produção de carregadores rápidos e ultrarrápidos para veículos eléctricos, a Efacec está a participar, de forma activa, em alguns dos maiores mercados de mobilidade eléctrica, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. A sua presença ao lado da equipa chinesa não é inocente e esta segunda temporada a patrocinar a equipa de capitais chineses era vista como “uma nova oportunidade para potenciar novos negócios e reforçar o posicionamento da empresa como referência nos domínios da mobilidade, energia e ambiente” e a “entrada no mercado da região Ásia-Pacífico constitui uma aposta estratégia da Efacec. A parceria com a CMC oferece todas as condições para a Efacec elevar a notoriedade da marca e conquistar novos negócios na região”.
A bela invenção Paulo José Miranda - 11 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] escritor esloveno, a viver em Trieste, Milan G., tem um texto pouco conhecido chamado «A Bela Invenção». Neste pequeno ensaio, o escritor identifica a bondade como a grande invenção humana. «O Universo é um conjunto de relação de forças. Milhões de anos mais tarde, o humano introduziu a bondade nesta relação de forças.» G. acrescenta que nada que se conheça na história do Universo se compara a essa invenção humana: «Nem o amor é uma invenção tão radical como a bondade. O amor, se visto como extensão do sentimento maternal, é uma metáfora pobre da bondade. Como invenção, nem Deus se lhe compara.» Evidentemente, e isso aparece no texto, o amor entendido enquanto Eros, é uma força sexual e, neste sentido, parte da relação de forças do Universo. Mas o que é a bondade, a mais bela invenção humana, segundo Milan G.? Escreve assim: «Milhões de anos depois da origem do Universo, o humano inventa a bondade. Mas o que é a bondade e para que serve? A bondade afina o Universo. Como conjunto de relação de forças em expansão o Universo tende a desafinar e a bondade é o instrumento que permite afiná-lo. Fazer o bem, ser gentil, tratar bem ou cuidar do outro, isto é, da relação de forças exteriores, é aquilo que permite afinar o Universo, devolver-lhe aquilo a que o humano chamou justiça. Bondade e justiça estão interligadas. Poderíamos ser levados a pensar que foi a justiça que permitiu a invenção da bondade, visto esta servir a outra, mas não foi assim que aconteceu. A invenção da bondade surgiu da necessidade de colocar o som no seu lugar; e ao resultado chamou-se justiça. Veja-se através de um exemplo banal: a casa de um homem é destruída por um incêndio, pela relação de forças do Universo, e um conjunto de homens, seus vizinhos, reuniu-se e construi-lhe uma nova casa, isto é, afinaram o Universo, sentiram uma necessidade de repor o som justo, o som belo; e a isto mais tarde chamou-se justiça.» É preciso, contudo, não pensar que a bondade seja uma espécie de reposição de uma qualquer norma – por conseguinte, ser um instrumento normativo – ou uma reposição temporal, no sentido em que recuperava o sentido de um tempo anterior. Pode também ser isso, sem dúvida. Mas o alcance da bondade é maior: «Afinar o Universo, não é apenas repor a nota anterior, justa, bela, pois essa nota pode ainda não existir. Assim, a bondade muitas vezes cria notas que afinam o Universo, porque o Universo assemelha-se mais a um sistema de notas do que a um piano. Para que o sistema ganhe sentido, ou não o perca, por vezes tem de se criar notas, introduzir novas notas no sistema, na escala, na composição.» Se o exemplo que vimos anteriormente, da casa perdida no incêndio, se assemelha mais a uma reposição do sentido, à imagem clássica da afinação do piano, o exemplo da criação de sentido, a introdução de novas notas no sistema, é dado pela «sopa dos pobres». E a «sopa dos pobres» assume uma dupla conotação: 1) literal, um lugar aonde o pobre se dirige e tem uma refeição grátis; 2) metafórico, onde cabem todas as estruturas socias que impliquem a irradicação ou mitigação da fome, da desigualdade do sofrimento humano, existentes e por existir. Além da sopa dos pobres, outro dos exemplos de bondade é a educação. «Educar alguém é afinar o Universo; desviá-lo da alienação também.» Não obstante, a bondade como o que ainda está por vir é o lado mais idealista do escritor. «A bondade é um iceberg, não apenas porque a grande maioria do que a constitui não se vê, mas porque a grande maioria do seu alcance, do que ela pode ser, ainda está por acontecer. A bondade é um instrumento que ainda é pouco usado, se comparado com o que ele pode fazer.» Aqui, Milan G. volta à metáfora do instrumento musical para mostrar como a bondade ainda está nos seus primórdios e acrescenta: «Imaginem um piano em que até agora só se usou uma mão! Imaginem as belas composições que ainda estão por ser criadas!» A invenção chama-se «bela» precisamente pela sua ligação ao som. Não apenas à produção de som, mas de som belo e da possibilidade de repor ou afinal os sons maus. E devemos entender por maus aquilo que destrói, que agride. Há uma passagem enigmática que pode fazer as delícias dos mais racionalistas, esses que já vêem «som mau» com desconfiança: «No Universo não há bom nem mau, mas o ser humano fez isso acontecer através dos actos, dos gestos. Queimar propositadamente uma floresta é um gesto mau, tentar destruir o planeta é um gesto mau, matar um ser humano é um gesto mau. Mau é tudo aquilo que não deriva da relação de forças naturais, mas de uma decisão do ser humano e que implica destruição ou prejuízo de algo ou de alguém. Embora uma árvore ao cair possa matar um homem, ou um tigre na selva, nenhum ser humano pode fazê-lo. O humano não deve imitar as forças da natureza para prejuízo de outrem.» Temos, contudo, de sublinhar a não moralidade desta passagem, assim como de todo o livro de Milan G.. O que está em causa não é a moral, mas algo mais palpável: a imitação do Universo ou, se preferirem, a concordância com o Universo. Escreve G.: «Não há destruição gratuita no Universo. Nem acto para benefício de uma parte do Universo em prejuízo de outrem. Há coisas que acabam e coisas que começam, assim como o ser humano imita essa ordem natural, à sua escala, com o nascimento e a morte. O que não imita [ou concorda, pois em outros momentos G. usa esse verbo ao invés do verbo “imitar”] o Universo é o lucro, a destruição antes do tempo, o sofrimento.» É evidente que estamos perante uma posição política de entendimento do Universo e da bondade. É muito claro em várias passagens do livro que, para Milan G., a bondade não pode coexistir com o lucro. E, como sabemos, há centenas de milhar de posições humanas contra este entendimento da bondade. O que talvez não haja tanto, ou pelo contrário, haja até muito pouco, é alguém a tentar pensar e escrever acerca da bondade como Milan G. o fez. A despeito do que «achamos» ou deixamos de achar acerca da bondade, do Universo e da relação entre ambos, talvez fosse bom passar algum tempo reflectindo juntamente com este escritor esloveno. Pensar com ele esta «bela invenção» que é a bondade.
O primeiro quinteto com piano Michel Reis - 11 Ago 2020 O Quinteto Opus 89 de Gabriel Fauré tem uma imagem enigmática, destacando-se de entre as obras do compositor publicadas pelo velho Gustav Schirmer em Nova Iorque, em 1924, o ano derradeiro do compositor, em parte graças à improvável acção do jovem compositor Aaron Copland, então a viver na Europa. [dropcap]O[/dropcap]Quinteto Opus 89 de Gabriel Fauré tem uma imagem enigmática, destacando-se de entre as obras do compositor publicadas pelo velho Gustav Schirmer em Nova Iorque, em 1924, o ano derradeiro do compositor, em parte graças à improvável acção do jovem compositor Aaron Copland, então a viver na Europa. O Primeiro Quinteto surgiu em 1906. Durante muito tempo, os comentadores supuseram que, por ter surgido perto da sua nomeação como professor no Conservatório de Paris, a sua criação deve ter sido apressada e atormentada por distracções, e alguns usaram isto para alimentar os preconceitos contra a obra. Mas, como o professor Robert Orledge mostra no seu distinto estudo sobre Fauré (Eulenberg, 1979/1983), a gestação tinha sido longa e problemática. Um caderno de anotações sobrevivente contém ideias usadas no Finale, juntamente com esboços para o Requiem, Op. 48, indicando que as tentativas de composição do Quinteto datam de tão cedo quanto 1887. Em 1891, Fauré considerava a adição de uma segunda parte de violino a um terceiro quarteto de piano projectado, e nesta fase reproduziu esboços de um ‘Quinteto com Piano, Opus 60’ com o Ysaÿe Quartet (Eugène Ysaÿe tornar-se-ia o dedicatário da Opus 89). O trabalho intermitente no Quinteto prosseguiu até 1894, mas depois cessou até 1903. Um grande esforço ocorreu no final de 1904, durante o qual o compositor se referiu numa carta a “este animal de um Quinteto”. A peça foi finalmente concluída no final de 1905. A estreia, no dia 23 de Março de 1906 em Bruxelas, envolvendo o Quarteto Ysaÿe, foi ensaiada pela primeira vez apenas um dia antes, devido ao estilo de vida e aos “métodos” caóticos de Ysaÿe, um fato bastante triste a juntar à já difícil génese da obra. O tema de abertura do primeiro andamento do Quinteto com Piano No 1 em Ré menor, Op. 89, molto moderato, tipifica uma leveza distintamente arrebatada, alcançada em várias ocasiões por Fauré. À luz do caderno de 1887, podemos ser recordados do andamento ‘In Paradisum’ do Requiem. A tonalidade inicial inclina-se predominantemente para Fá Maior, conquistando a nota tónica somente quando esta gera uma cadência sombria. A característica suavidade de progressão é aparente, assim como o é alguma relação harmónica entre material secundário e o terceiro e o quarto andamentos do Segundo Quinteto com Piano, Opus 115. O tom é por vezes austero, e por outras melancólico, com algum grau de ambos na conclusão atenuada em Ré Maior. Uma introspecção melancólica prevalece durante o andamento lento, Adagio, realizada em parte por intervalos descendentes proeminentes do tom e semitom e por clímaxes melismáticos de curta duração que desaparecem com uma tristeza peculiar. Um novo tema a cerca de um terço do caminho, apresentando uma escala decrescente de quatro notas seguida por uma quinta descendente, mostra claramente a importância dos recursos expressivos de modalidade linear de Fauré. Longe de ser um caso escrito à pressa, este andamento – especialmente na sua conclusão – causou-lhe dificuldades prolongadas. O Finale, Allegro moderato, abre em estilo quase de “divertissement” apologético, como se hesitante em se tornar um scherzo ou passar-lhe por cima. Talvez isto seja importante, já que se sabe que Fauré se adaptou ao formato de três andamentos em Agosto de 1905. Novamente, a densidade das cordas é a força motriz e, embora o piano assuma por vezes igual importância melódica, nunca o faz com um efeito retórico grandioso. A música é rica em contraponto livre, mas quase totalmente desprovida de notas aumentadas, ligaduras ou desvios da acentuação do down beat. O relativo “músculo” pianístico da conclusão surge como uma surpresa – ou, talvez, um aceno irónico do que poderia ter sido. O efeito compósito da Opus 89 é de uma melancolia estranhamente interior. Na década de 1880, Fauré tinha experimentado tonturas, fortes dores de cabeça e depressão, aparentemente recorrências da sua infância. Estas podem estar ou não relacionadas com a morte do seu pai em 1885 com quem teve um relacionamento difícil e reservado em criança. Da mesma forma, os seus problemas dos anos de 1880 podem ter pressagiado dificuldades auditivas posteriores; e estas começaram em 1902, pouco antes de voltar ao quinteto para o ataque definitivo. Qualquer que seja a verdade, e apesar do reconhecimento cansado do compositor de que parecia repetir-se incessantemente, os problemas desse trabalho negligenciado merecem ser vistos – ainda que especulativamente – como criativamente importantes e conscientes, não desatentamente perfunctórios ou desmotivados. Sugestão de audição: Gabriel Fauré: Piano Quintet No. 1 in D minor, Op. 89 Cristina Ortiz (piano), Fine Arts Quartet – NAXOS, 2009
Taiwan | Tsai Ing-wen recebe mais importante representante dos EUA desde 1979 Hoje Macau - 11 Ago 2020 A Presidente de Taiwan recebeu ontem o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Alex Azar, na mais importante deslocação de membros do Governo norte-americano desde a ruptura formal das relações diplomáticas entre Washington e Taipé, em 1979 [dropcap]”A[/dropcap]vossa visita representa um grande passo em frente na cooperação antipandémica entre os nossos países”, disse Tsai Ing-wen, no momento em que recebeu a delegação norte-americana liderada por Azar. Por seu lado, Azar afirmou que “é uma honra trazer uma mensagem de forte apoio a Taiwan” do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e elogiou “o êxito” na prevenção da covid-19 na ilha, que considerou “uma das mais bem sucedidas do mundo”. “Os nossos valores democráticos partilhados trouxeram sucesso à saúde”, disse. A delegação dos EUA foi submetida a um teste de coronavírus ao aterrar, no domingo, e viajará em veículos especiais durante a estada na ilha, para evitar o contágio. O secretário de Saúde norte-americano visitará também o Centro de Controlo de Doenças da ilha, onde vai assistir, com o ministro da Saúde e Bem-Estar de Taiwan, Chen Shih-chung, à assinatura de um memorando de entendimento entre o Instituto Americano de Taiwan e o Gabinete de Representação Económica e Cultural dos EUA em Taipé. O último evento na agenda de Azar é um discurso na Universidade de Taipé, previsto para amanhã, de acordo com a agência de notícias espanhola Efe. Ambiente pesado Azar é o primeiro membro do Governo dos Estados Unidos a visitar Taiwan em seis anos. Em 2014, a visita da então responsável da Agência de Protecção do Meio Ambiente norte-americana, Gina McCarthy, provocou o protesto da China, que acusou os EUA de trair o compromisso de manter apenas relações não oficiais com Taipé. A visita do secretário de Saúde dos EUA é considerada como uma provocação por Pequim, que considera Taiwan, formalmente República da China, como parte do território chinês e se opõe a qualquer relação entre as autoridades da ilha e governos estrangeiros. Na quinta-feira, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, tinha prometido uma “retaliação firme e vigorosa” à visita do secretário da Saúde dos EUA a Taiwan, numa altura de escalada de tensões entre Washington e Pequim. Neste momento, menos de duas dezenas de países mantêm relações diplomáticas com Taiwan.
Hong Kong | Dono do Apple Daily detido por conluio com forças estrangeiras Hoje Macau - 11 Ago 202011 Ago 2020 O empresário Jimmy Lai foi ontem detido ao abrigo da nova lei de segurança nacional. Pelo menos, sete outras pessoas foram detidas, incluindo dois filhos do magnata, e a redação do Apple Daily foi sujeita a buscas, enquanto os jornalistas transmitiam a operação nas redes sociais [dropcap]”F[/dropcap]oi detido em casa, cerca das 7h. Os nossos advogados estão a caminho da esquadra”, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) Mark Simon, um dos colaboradores de Lai. Simon acrescentou que outros membros do grupo de comunicação social dirigido por Jimmy Lai também tinham sido detidos. Momentos antes, na rede social Twitter, Mark Simon tinha anunciado: “Jimmy Lai está agora a ser detido por conluio com potências estrangeiras”. Um responsável da polícia disse, a coberto do anonimato, à AFP que Lai foi detido por conluio com forças estrangeiras, um dos crimes previstos na nova lei de segurança nacional, e por fraude. Através do Twitter, Mark Simon indicou ainda que a polícia estava a fazer buscas na casa de Lai e na do filho. O South China Morning Post adianta que o próprio Mark Simon, que não se encontra em Hong Kong, é procurado pela polícia. Mais de duas centenas de polícias estiveram envolvidos na operação que tomou o edifício da Next Digital, a empresa que detém o Apple Daily, em Tseung Kwan O. Em declarações ao South China Morning Post, fontes policiais afirmaram que a operação não teve como alvos departamentos editoriais ou repórteres. No entanto, dezenas de agentes das forças de segurança entraram na sede do grupo ao final da manhã, com os jornalistas do jornal Apple Daily a difundir em directo as imagens das buscas policiais, na rede social Facebook. Nas imagens, vê-se o chefe de redação do diário, Law Wai-kwong, a pedir à Polícia que não toque em nada antes de os advogados do grupo verificaram o mandado judicial, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP). Os agentes ordenaram aos jornalistas que se levantassem e alinhassem para proceder à verificação da identidade, enquanto outros faziam buscas na redação. Escrito nas estrelas Jimmy Lai, de 72 anos, é o proprietário de duas publicações pró-democracia e frequentemente críticas de Pequim, o diário Apple Daily e o Next Magazine. Visto por numerosos habitantes de Hong Kong como um herói e único magnata do território crítico de Pequim, Jimmy Lai é descrito nos meios de comunicação oficiais chineses como “um traidor”, que inspirou as manifestações pró-democracia realizadas na região chinesa, e o líder de um grupo de personalidades acusadas de conspirar com nações estrangeiras para prejudicar a China. Em meados de Junho, duas semanas antes de ser aprovada a nova lei de segurança nacional, Jimmy Lai disse à AFP esperar a detenção. “Estou pronto para ir para a prisão. Se isso acontecer, terei oportunidade de ler livros que ainda não li. A única coisa que posso fazer é ser positivo”, afirmou. Para o empresário, a nova lei “vai substituir” o regime legal de Hong Kong e “destruir o estatuto financeiro internacional” da cidade. A lei da segurança nacional criminaliza actos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio com forças estrangeiras para intervir nos assuntos da cidade.
FRC | Palestra discute importância da estética no ambiente ideal para o estudo João Santos Filipe - 11 Ago 2020 Fong Lin Wa, presidente da Câmara de Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, vai ser o orador do evento que tem como tema a importância da estética na criação da sala de estudo ideal. A palestra está marcada para sexta-feira, às 18h30, na Fundação Rui Cunha [dropcap]O[/dropcap]papel da estética na criação da sala de estudo como um lar e a importância para a reflexão de uma classe intelectual são os temas em discussão na Fundação Rui Cunha, na sexta-feira às 18h30. O evento co-organizado pela Câmara de Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau será apresentado em cantonês com interpretação simultânea para inglês, e vai ter como principal orador o presidente Fong Lin Wa. Com o tema “Elegância dos Literatos I – Introdução aos Objectos de Madeira da Classe Intelectual”, Fong Lin Wa vai partilhar a história de quatro objectos raros feitos de madeira de sândalo vermelho e como estes foram importantes na constituição de um ambiente propício à reflexão de antigos estudiosos. Os objectos em causa são uma caixa e capa embelezada, um suporte para tinta, uma mesa e ainda um ceptro Ruyi de madeira esculpida. Não só de palavras vai viver a palestra que promete cativar outros sentidos, como o tacto. Assim sendo, os participantes vão ter a oportunidade para tocar nos objectos e sentirem a textura da madeira de sândalo vermelho, matéria-prima originária da Índia e que ao longo da história foi muito utilizada na escultura, principalmente em móveis, mas também em representações religiosas ligadas ao hinduísmo. Além dos objectos, a palestra vai abordar a ligação com os intelectuais na criação de um ambiente propício ao estudo. “Uma sala de estudo antiga não seria apenas um espaço físico destinado ao trabalho e produção intelectual, mas também uma habitação espiritual de antigos letrados chineses, tendo como lema ‘lar é onde está o coração’, tal como ecoa na reflexão poética de Su Dongbo”, é explicado no comunicado sobre o evento. Dongbo viveu entre 1037 e 1101, e é considerado um dos pensadores mais influentes da Dinastia Song. Além da influência a nível do pensamento político, afirmou-se como homem das artes, com trabalhos de caligrafia, pintura, poesia, e até gastronomia e farmacologia. Ao longo da palestra vai também ser abordado o contexto das “tradicionais salas de estudo, repletas de peças de arte de refinada elegância”, ao mesmo tempo que vai traçar-se um perfil sobre “o gosto estético desta classe de eruditos”. Mercado de arte A palestra de sexta-feira resulta de um esforço conjunto entre a Fundação Rui Cunha e a Câmara do Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, uma associação sem fins lucrativos que tem como objectivo “incentivar o desenvolvimento do mercado de arte antiga em Macau”, ao mesmo tempo que tenta promover “a cultura artística chinesa” e reforçar a “comunicação e o profissionalismo” da indústria. Fong Lin Wa é o actual presidente da associação e ao mesmo tempo o CEO da empresa Old House Gallery, que fundou em 1993 e se dedica à venda de materiais de colecção. Conta com mais de 30 anos de experiência no ramo das peças de mobiliário antigo. A Câmara do Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, e a Old House Gallery, vão estar ainda representadas na palestra através de Fong Mei Leng, que vai assumir a posição de anfitriã. Fong tem um mestrado em Arte Empresarial na Universidade de Tsinghua, uma das mais conceituadas do Interior, e também no Instituto de Arte da Sotheby’s, uma multinacional dedicada a leilões e venda de objectos de arte.
Jogo | Cabo Verde admite atrasos em casino da Macau Legend Hoje Macau - 11 Ago 2020 O hotel e casino a ser construído no ilhéu da Praia representa um investimento de 2,4 mil milhões de patacas para a Macau Legend, mas as obras decorrem a ritmo reduzido, devido à pandemia mundial [dropcap]O[/dropcap] Governo cabo-verdiano admite que a pandemia de covid-19 deverá atrasar a conclusão do hotel-casino que o grupo Macau Legend está a construir na Praia, mas acredita que o investimento, de aproximadamente 2,4 mil milhões de patacas, não está em causa. Em declarações à agência Lusa, o ministro do Turismo, Carlos Santos, garantiu que tal como o empreendimento que o grupo do empresário David Chow está a implantar entre o ilhéu de Santa Maria e o litoral da Praia, os grandes investimentos no sector turístico em Cabo Verde não foram colocados em causa pelos promotores, até ao momento, apesar das consequências da covid-19. “Creio que não. E nem temos tido sinais nesse sentido [da pandemia colocar em causa investimento do grupo Macau Legend]. Aliás, digo que a esmagadora maioria dos investidores que estão a fazer investimentos em Cabo Verde […] com a realização dos voos de repatriamento solicitaram ao Governo autorização para fazerem chegar os seus técnicos a Cabo Verde para dar continuidade aos projectos”, afirmou Carlos Santos. O grupo Macau Legend anunciou em Março que prevê inaugurar no final de 2021 o hotel-casino na cidade da Praia, em Cabo Verde, após em 2019 ter previsto a conclusão da obra para o final do corrente ano. “Em Cabo Verde, a construção do novo complexo de hotel e casino está em andamento e esperamos uma abertura gradual deste negócio no final de 2021”, apontou o grupo, em comunicado, mas adiantando que o “plano de construção do complexo hoteleiro e casino está actualmente a ser analisado”. Possíveis atrasos “Não tem havido manifestação de vontade de desistir. É muito bom, significa que os empresários e os investidores estão a acreditar no país, no destino Cabo Verde e na capacidade de continuar a crescer, nas oportunidades de negócio que temos”, insiste Carlos Santos, apesar de as obras do futuro hotel-casino decorrerem há vários meses com poucos trabalhadores no local e sem avanços visíveis, além da construção da ponte que liga a Praia (ilha de Santiago) ao ilhéu de Santa Maria, concluída há vários meses. “As informações são as normais. Nós temos tido informações que eles continuam com as obras. Obviamente que neste momento, com a pandemia, houve um desacelerar, mas não temos tido informações contrárias, de que há desistência, e entendemos que aquela obra é para continuar, porque é um investimento de grande porte. E vai continuar de certeza”, garantiu o ministro. Ainda assim, um novo atraso na conclusão da empreitada, que Carlos Santos garante ser um “projecto estruturante para o turismo em Cabo Verde”, não é descartada: “Provavelmente terá de haver aí algum atraso, precisamente por causa das paragens que existiram. Mas estamos esperançados que no que diz respeito aos grandes investimentos as coisas continuarão”. Acordo de 2015 Em 2015, David Chow assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo para a construção do empreendimento, tendo sido lançada a primeira pedra do projecto em Fevereiro de 2016. Trata-se do maior empreendimento turístico de Cabo Verde, com um investimento global previsto de 250 milhões de euros [2,4 mil milhões de patacas] – cerca de 15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) cabo-verdiano – para a construção de uma estância turística no ilhéu de Santa Maria, que cobrirá uma área de 152.700 metros quadrados, inaugurando a indústria de jogo no arquipélago. A obra envolve a construção de um hotel com ‘boutique casino’, de 250 quartos, uma grande piscina e várias instalações para restaurantes, bares e estabelecimentos comerciais, além de uma marina. Contudo, uma minuta de adenda ao acordo entre a empresa e o Governo cabo-verdiano, de Abril de 2019, refere que, “considerando que, face à evolução da envolvente nacional do empreendimento nos últimos dois anos, o promotor sugeriu, e o Governo entendeu aceitar, uma proposta de realização do projecto de investimento por fases”. Assim, nesta primeira fase do projecto, que deveria então estar concluída dentro de 22 meses, serão investidos 90 milhões de euros [848 milhões de patacas]. David Chow recebeu uma licença de 25 anos do Governo de Cabo Verde, 15 dos quais em regime de exclusividade na ilha de Santiago. Esta concessão de jogo custou à CV Entertaiment Co., subsidiária da Macau Legend, cerca de 11,2 milhões de patacas.
Turismo | Coutinho quer quotas para residentes nos ‘resorts’ Hoje Macau - 11 Ago 2020 O deputado quer que o Governo aproveite a revisão dos contratos de exploração de jogo para exigir às concessionárias a criação de quotas para residentes continuarem a usufruir dos hotéis e ‘resorts’ quando a entrada de turistas do Interior da China for normalizada. A proposta vai ser apresentada ao Chefe do Executivo [dropcap]O[/dropcap]deputado da Assembleia Legislativa (AL) José Pereira Coutinho defendeu ontem que o Governo deve passar a exigir aos casinos uma quota turística para residentes, nos ‘resorts’ de luxo, durante a revisão das concessões do jogo. À agência Lusa, o deputado disse que as medidas do Governo de incentivo ao turismo doméstico resultaram, assim como os pacotes de descontos promovidos pelas concessionárias do jogo que exploram os ‘resorts’ integrados. No entanto, defende Pereira Coutinho, é preciso dar continuidade a essa política. “Tendo em conta a pandemia e as restrições de deslocação de residentes de Macau para o exterior, o Governo introduziu medidas extremamente positivas em articulação com as concessionárias de jogo, o que permite que, sobretudo aos fins-de-semana e feriados, as famílias possam usufruir de hotéis e ‘resorts’, locais de diversão muito virados para as famílias, muitas das quais nunca tinham sequer entrado naqueles locais”, explicou. “As medidas introduzidas estão a resultar, como é o caso da aquisição de bilhetes a preços módicos, o que fez com que, aos fins-de-semana, em especial o último que passou, as concessionárias estivessem lotadas”, acrescentou. Investimento interno É neste contexto que o deputado vem defender que “na revisão dos contratos seja introduzida uma percentagem para os residentes de Macau poderem, no futuro, continuar a beneficiar dessas medidas, mesmo quando começarem a surgir mais turistas do continente”. “Esta quota turística local deveria fazer parte da responsabilização das concessionárias para com o território, porque a maior parte dos lucros não é investida em Macau”, salientou. A proposta vai ser apresentada ao líder do Governo “no âmbito do diálogo permanente com o Chefe do Executivo”, para se deixar a mensagem de que as acções foram positivas, mas que merecem continuidade”, sustentou. O Governo de Macau prometeu avançar com um concurso público até 2022, ano em que terminam as licenças de exploração do jogo.
AL | Agnes Lam explicou voto a favor de criminalização de “notícias falsas” João Santos Filipe - 11 Ago 202011 Ago 2020 A deputada defende que perdia legitimidade para “negociar” com o Governo se tivesse votado contra a segunda versão da lei. Como tal, Agnes Lam argumenta que o voto a favor da criminalização das fake news foi para manter “a capacidade de lutar por mudanças no futuro” [dropcap]A[/dropcap]deputada Agnes Lam esteve entre os 27 membros da Assembleia Legislativa que na semana passada votaram a favor das alterações à Lei de Protecção Civil, que criminalizam notícias consideradas falsas pelas autoridades. Este foi um dos aspectos mais polémicos da lei que levou o Governo a apresentar uma segunda versão do diploma, após críticas do sector. Apesar das mudanças, quatro deputados do campo democrata votaram contra o artigo. Feita a votação, a legisladora sentiu necessidade de explicar o seu voto, num comunicado publicado nas redes sociais, durante o fim-de-semana. A “cedência” do Executivo foi utilizada como justificação: “Será que podemos votar contra uma lei que já foi alterada, após termos pedido algumas alterações? Sim, podemos. Mas se votarmos contra, que motivação tem o Governo para fazer cedências no futuro?”, argumentou Agnes Lam. A deputada eleita pela via directa considerou ainda que se tivesse votado contra o artigo polémico no futuro não poderia exercer influência junto do Executivo para outras alterações necessárias: “Este voto a favor não é apenas devido às mudanças feitas [no diploma], é também para manter a capacidade de lutar por mudanças no futuro”, vincou. “É um aspecto político, e espero que todos compreendam”, apelou. Sobre o conteúdo do documento, Agnes Lam defendeu que as duas objecções que tinha foram alteradas pelo secretário Wong Sio Chak, após uma reunião. A deputada considerava ser inaceitável que os órgãos de comunicação social estivessem obrigados por lei a aderir à propaganda oficial, porque isso “facilmente levaria à interferência na liberdade de imprensa”. Segundo Agnes Lam, como esta obrigação foi removida na segunda versão da lei, nada impedia que votasse a favor. Versão aceitável Quanto à segunda objecção, a legisladora afirmou ser contra a utilização da expressão “por quaisquer outros motivos” no artigo que criminalizava a difusão de notícias falsas. Como a expressão foi removida, Agnes Lam considerou que já podia votar a favor. Porém, a legisladora defendeu que o Executivo até foi mais longe e alterou outros aspectos, como a obrigatoriedade de estar declarado o estado de emergência para haver crime, assim como a obrigatoriedade de provar intenção de causar pânico e dificultar as operações de resgate e salvamento. Finalmente, segundo a deputada, também só haverá condenação no caso de a informação falsa estar relacionada com os mecanismos de resposta a crises. “Com as mudanças […] senti que os requisitos para haver condenação eram aceitáveis e que seria impossível condenar alguém sem intenção de cometer o crime. O artigo reuniu os requisitos pelos quais lutei e, por isso, decidi votar a favor”, explicou. A resposta acabou por não convencer todos os seguidores da deputada, e num comentário Agnes Lam foi mesmo confrontada com o facto de agora falar em objecções à versão inicial, mas no dia da votação na generalidade ter saído do Plenário sem votar. A deputada defendeu-se e respondeu que o facto de ser contra um artigo individual não faz com que seja contra o restante conteúdo do diploma.
Defesa de Miguel Ian rejeita papel de “mentor” em alegado grupo criminoso Salomé Fernandes - 11 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] Ministério Público considera que o alegado grupo de Ng Kuok Sao “dependia” de Miguel Ian para elaborar documentos, e que o antigo funcionário do IPIM assumia o cargo de “mentor” na organização. “Desempenhava um papel muito importante, de mentor e conselheiro porque quando o grupo tinha dificuldades lembrava-se logo dele”, descreveu o delegado do MP. No entender da acusação, os conselhos dados por Miguel Ian não se deviam apenas a uma relação de amizade, já que antes de 2014 ficou dois anos e nove meses sem contacto com Ng Kuok Sao. Depois disso, Pak Wa Ngai descreveu que as conversas entre os dois arguidos se centravam em dois aspectos: pedidos de residência e imóveis na Ilha da Montanha. Para o MP, em troca das informações prestadas, Miguel Ian tinha o objectivo de comprar imóveis na Ilha da Montanha a um valor abaixo do mercado. Em causa está a possível venda de fracções no edifício Star Tower por Ng Kuok Sao, a um preço de 19 mil renminbis por metro quadrado. O MP reconheceu que Miguel Ian ainda não adquiriu essas fracções, mas argumentou que 20 por cento dos imóveis permanecem disponíveis para compra. A defesa da ex-chefia também foi ouvida ontem e disse que os imóveis disponíveis pertencem a uma testemunha do caso, frisando que Miguel Ian “não chegou a receber vantagens ilícitas nem tinha motivo para falsificar documentos” para o grupo de Ng Kuok Sao. Além disso, a defesa descreveu que entre as mensagens trocadas entre os dois só três eram sobre a Star Tower e duas sobre pedidos de residência, num universo de mensagens em que havia 47 a combinar refeições. O advogado Jorge Ho declarou que Miguel Ian “não sabia” que o conteúdo dos documentos apresentados ao IPIM era falso, e que o empresário “estava a aproveitar-se dele”. Descreveu assim que Miguel Ian foi “demasiado boa pessoa” e que “por causa desta acusação perdeu o emprego, a família perdeu o pilar de sustento económico”.
Caso IPIM | Ministério Público pede condenações, defesa aponta falta de provas Salomé Fernandes - 11 Ago 2020 Nas alegações finais apresentadas ontem em tribunal no caso do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, o Ministério Público considerou que os factos que alegou foram provados, enquanto a defesa alertou para a falta de provas [dropcap]O[/dropcap] julgamento do processo que tem Jackson Chang, ex-presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), no banco dos réus entrou ontem nas alegações finais. O Ministério Público (MP) manteve os crimes, e considerou que todos “os factos da acusação ficaram provados”. Da parte da defesa, o advogado de Jackson Chang disse que o ex-presidente do IPIM “não merece a justiça que passou, mas merece a justiça que será feita”. Descrevendo Jackson Chang como “inocente”, Álvaro Rodrigues pediu para no caso de ter outro entendimento, o tribunal aplicar ou para ponderar pena suspensa se optar por prisão, tendo em conta a personalidade, percurso profissional e tempo de prisão preventiva cumprido pelo arguido. “Por tudo o que aprendemos neste processo, acredito que a prisão preventiva do arguido foi completamente injusta, infundada e infeliz (…). Um pai que eventualmente para manter um posto de trabalho a uma filha passou uma informação a essa mesma filha e já pagou com pelo menos um ano de prisão, um ano de humilhação nos media, eu acho que chega”, declarou. O MP alega que Ng Kuok Sao e a esposa, Wu Shu Hua, chefiavam uma associação criminosa criada em 2010, que funcionou até ser descoberta. Durante esse período, a acusação diz que foram falsificados vários documentos para pedir fixação de residência. Os empresários recrutariam clientes e cobravam “taxas exageradas”. O delegado do Ministério Público Pak Wa Ngai disse que a participação de Jackson Chang no alegado grupo “parece ser baixa”, mas deu a entender que o ex-presidente do IPIM não teria recebido várias vantagens ilícitas se tivesse prestado apoio apenas num caso. Lançada a ideia, declarou que “podemos confirmar, sem dúvidas, que participou na associação criminosa”. O advogado de Jackson Chang, contestou a acusação. “A hipótese de ser considerado membro de associação criminosa não faz sentido nem chamando as regras de experiência comum”, declarou Álvaro Rodrigues. O advogado argumentou que Jackson Chang denunciou dezenas de casos suspeitos, alguns dos quais relativos a pedidos de fixação de residência tratados pela empresa de Ng Kuok Sao e que indeferiu vários que obrigaram o empresário a devolver o dinheiro aos requerentes. “Não fazia sentido Ng Kuok Sao dar benefícios a quem só lhe prejudicava os negócios”, notou o advogado. Para além disso, argumentou que não há informações novas em relação às outras acusações contra Jackson Chang para justificar que a associação criminosa seja um crime autónomo. Álvaro Rodrigues considera que o Ministério Público não agiu de forma “leal”, por acusar Jackson Chang com o “maior número de crimes possível, na esperança” de condenação. Ao longo da sua intervenção, disse também que o MP teceu acusações “sem provas nenhumas”, e que se “prendeu um inocente”. Deontologia em cheque O Ministério Público acusou Jackson Chang de violar “os deveres e o código de deontologia dos funcionários públicos”, e de abuso de poder ao requer informações sobre processos de pedidos de residência de algumas pessoas. Pak Wa Ngai disse que o ex-presidente do IPIM forneceu dados confidenciais ao empresário Ng Kuok Sao, explicando que no caso de uma requerente deu informações de que o investimento tinha de ser de 13 milhões de patacas. No seguimento, refutou a defesa de a informação de 13 milhões de patacas ser o valor necessário público em 2018. “É absurda essa posição. Mesmo que tenha sido divulgada em 2018, isso não tem efeitos retroactivos no que aconteceu. Antes não se podia ter acesso a essa informação”, declarou Pak Wa Ngai. O debate sobre que informações do IPIM eram confidenciais foi uma constante nas sessões de julgamento. Para o MP, ficou provado que o montante mínimo de investimento e o progresso dos pedidos não podiam ser divulgados. Da parte da defesa, Álvaro Rodrigues notou a inexistência de uma regra escrita que dite a confidencialidade. O advogado argumentou que os factos da acusação são de uma altura em que o IPIM estava em transição para adoptar novas medidas, descrevendo como “louvável” a postura de “transparência” de Jackson Chang perante os cidadãos. “Não faz sentido acusar de violação de segredo o funcionário que tem poderes para determinar o que é segredo ou não”, declarou. Sobre ajudar os requerentes em relação ao andamento de processos, o advogado defendeu que “não é abuso de poder, é um dever da administração”. A acusação acredita que Jackson Chang correu o risco de dar as informações a troco de benefícios. Os salários de Angela Ip, mulher, e Júlia Chang, filha, que trabalharam numa empresa de Ng Kuok Sao em períodos desfasados, estariam entre eles. O MP descreveu que não encontrou vestígios de Angela Ip ter trabalhado na empresa e que Júlia Chang não tinha capacidades para exercer a função de recepcionista, comentando que o seu salário “não era razoável”, por ser mais alto que o de uma colega com habilitações superiores. “Achamos que estes chamados salários eram benefícios do grupo de Ng Kuok Sao a [Jackson Chang]”, declarou o delegado. Álvaro Rodrigues remeteu a análise desta acusação para hoje, mas frisou que tanto a mulher como a filha trabalharam na empresa e que os investigadores do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) o admitiram. O MP alegou ainda que Jackson Chang forneceu informações através da filha. “Júlia desempenhou um papel importante entre Jackson Chang e Ng Kuok Sao”, disse Pak Wa Ngai, acrescentando que isso ocultou a ligação entre os dois homens. Para além disso, recordou que o ex-presidente do IPIM pediu à mulher para apagar mensagens. “Essas condutas sem dúvida tinham como objectivo ocultar a proveniência ilícita dos interesses”, declarou. A origem do dinheiro Para além da família, o MP descreveu que o empresário deu “lai sis” com regularidade a Jackson Chang. A lógica da acusação é que por não ter sido descoberto que o ex-presidente tenha dado informações a outras pessoas, a proveniência dos “lai sis” seria Ng Kuok Sao. No caso de 500 mil dólares de Hong Kong que o casal emprestou a um amigo, a acusação não encontrou transferências bancárias desse valor nas contas de Angela Ip ou Jackson Chang. A teoria é que esse numerário “não vinha das contas bancárias nem de rendimentos normais dos dois”, mas antes de pagamentos de Ng Kuok Sao que o casal guardaria. “Se tivesse depositado no banco seria mais fácil ser descortinada esta forma de entrega em numerários para ocultar proveniência ilícita desses bens”, descreveu. De acordo com o MP, o dinheiro em numerário que permitiu a compra de dois relógios e 51 mil patacas encontradas no gabinete de Jackson Chang tem a mesma origem. A defesa abordou alternativas para a origem do dinheiro. Descreveu que entre Abril de 2011 e Março de 2014 foram levantadas 544,500 mil patacas de contas de Jackson Chang, e que entre 2016 e 2018 foram levantados 230 mil dólares de Hong Kong. “Montante mais do que suficiente para comprar dois relógios. E repare que para fazer esse exercício não precisamos de ‘powerpoint’”, comentou. Álvaro Rodrigues frisou ainda que o arguido ganhava em média 1,3 milhões de patacas e que era proprietário de dois imóveis na Taipa, juntamente com a mulher. Uma das fracções foi hipotecada em 2013 por 4,9 milhões de patacas. Depois de um contrato promessa de compra e venda na ilha de Hengqin de 2,9 milhões de renminbis, restavam 1,5 milhões de patacas. O advogado notou que o investigador chefe do CCAC não conseguiu confirmar a origem do dinheiro. “No direito penal, meter uma pessoa na cadeia sem provas directas? Só com experiência comum?”, alertou. O causídico argumentou que a experiência comum foi usada pela acusação para “restituir os factos”.
Rodolfo Ávila conquista nove pódios em Zhouzhou Pedro Arede - 10 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]o todo, foram nove os pódios conquistados pelo piloto de Macau, Rodolfo Ávila, durante o fim de semana, no Circuito Internacional de Zhuzhou. Cinco no Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) e outros quatro na prova que assinalou o arranque da temporada do campeonato TCR China. Num “super evento” de seis dias a contar para o CTCC, e que equivaleu a metade da temporada, em oito corridas, Rodolfo Ávila conquistou três segundas posições e dois terceiros lugares. O rescaldo do fim de semana não foi ainda mais brilhante, devido a uma falha mecânica no VW Lamando conduzido pelo piloto de Macau, registada quando liderava confortavelmente a última corrida da prova, obrigando-o a desistir. “Foi talvez a semana mais dura da minha carreira, pois nunca tinha realizado tantas corridas num tão curto espaço de tempo. Ainda assim, estamos todos muito contentes pelo regresso das corridas depois de uma paragem tão longa devido a razões que são alheias ao automobilismo”, afirmou Ávila em comunicado. “A minha equipa fez um bom trabalho e evoluímos em termos de performance ao longo da semana. Gostava de ter saído daqui com uma vitória, mas tal não foi possível. Ainda faltam disputar outras oito corridas até ao final do ano, portanto ainda muito pode acontecer”. Com estes resultados, o piloto de Macau ocupa agora o quarto lugar na classificação de pilotos, estando a 333 Racing à frente na classificação de equipas. O CTCC regressa em Setembro para uma jornada de duas corridas no Circuito Internacional de Xangai, no fim-de-semana de 12 e 13 de Setembro. Vira o disco Também no Circuito Internacional de Zhuzhou, Rodolfo Ávila deu início à sua temporada de 2020 do campeonato TCR China com quatro subidas ao pódio, conquistando uma segunda posição e três terceiras posições ao volante do MG6 da MG Xpower Team. “Dadas as circunstâncias, o resultado global do fim-de-semana acaba por ser muito positivo. Não havia muito mais que pudesse fazer. O nosso carro não está ainda ao nível da concorrência e vamos ter que trabalhar para encurtar esta diferença nas próximas provas. Todavia, estes resultados são como um prémio para todos os membros da equipa que fizeram um enorme esforço para que conseguíssemos estar aqui na máxima força”, disse o piloto de Macau. Os concorrentes do campeonato TCR China regressam ao activo no fim-de-semana de 12 e 13 de Setembro, também no Circuito Internacional de Xangai.
Tudo o Que se Atribui a Zhao Boju Hoje Macau - 10 Ago 2020 Paulo Maia e Carmo [dropcap]Z[/dropcap]hao Xigu (activo c.1195 – c. 1242) um influente crítico de arte da dinastia Song, no seu tratado curiosamente intitulado «Relação de Pura Alegria da Caverna do Eremita» (Dongtian Qinglu Ji) insurgiu-se contra os pintores que, antes de pintar, já tinham escolhido os títulos das pinturas, tornando-as assim indiferentes às surpresas proporcionadas pelo próprio acto de pintar. Esses pintores, de entre aqueles que vieram para o Sul em 1127, «não levavam a sério a pintura, não estudavam os dez mil livros, não enchiam o olhar com pinturas antigas nem viajavam de carro ou a cavalo pela metade do território debaixo do céu.» Porque «só então podiam pegar no pincel. De outro modo não entenderiam a actividade» da pintura. Os que a entendessem, escreveu «nem deixariam traços do pincel», ideia que exprime a supremacia do espírito sobre a técnica, que é o que deve prevalecer. Zhao Xigu alinha-se com aquela que seria qualificada como a «pintura dos letrados» (wenrenhua) e é por isso desafiante saber quem eram aqueles que ele via como pintores exemplares. De um deles a expressão «sem traços de pincel» (wubiji) noção estética e filosófica, tornar-se-ia literal e a mera alusão ao pintor, um estimado referente. Chamava-se Zhao Boju e o seu nome confundir-se-ia com o de um irmão mais novo, igualmente pintor, Zhao Bozhu no qual a mudança de um caracter quase não modifica a pronúncia do nome. Sabe-se que um deles viveu entre 1120 e 1182, do outro apenas que viveu até 1162. O facto de os dois serem muitas vezes referidos em conjunto por Chen Jiru, Dong Qichang ou Shen Hao não ajuda à distinção. Zhao Boju foi porém um nome associado ao revivalismo da pintura dos Tang, das paisagens azuis e verdes (qinglu) e ouro e jade (jinbi) associadas a Li Sixun (651-716-18). O pintor que, segundo alguns biógrafos terá nascido na Província de Hebei e trabalharia na Academia de Huizong (r.1100-1126) tornar-se-ia um favorito do imperador Gaozong (r. 1127-1162) sendo filho do pintor Zhao Lingrang (activo em 1070-1100) que era descendente do fundador dos Song, Tazu (r.960-975). São-lhe atribuídas obras como «Cores de Outono sobre rios e montanhas» (rolo horizontal, a tinta e cor sobre seda, 56,6 x 323,2 cm) datada de 1160 e que se encontra no Museu do Palácio, em Pequim e que poderia justificar uma curiosa atribuição de uma suposta «Paisagem de Outono» que foi apresentada na corte de Hongwu, o primeiro imperador dos Ming (r.1368-1398) que sem bases factuais lhe outorga a autoria. Muitas outras pinturas em museus por todo o mundo lhe são atribuídas sempre com um ponto de interrogação. O que não se pode negar é que, se não os traços do pincel é o espírito de Zhao Boju como queria Zhao Xigu, que permanece vivo na memória daqueles que ao longo dos séculos foram limpando a poeira para ver quais eram afinal as suas fugidias pinturas.