SMG devem lançar sinal 1 de tempestade tropical esta noite

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) deverão lançar ainda esta noite o sinal 1 de tempestade tropical, tendo em conta a depressão tropical perto da ilha de Luzon, nas Filipinas, que se aproxima do território e que está a menos de 800 quilómetros de Macau.

Numa nota informativa publicada no website, os SMG explicam que a depressão tropical deverá prosseguir a sua trajectória para noroeste em direcção genérica à costa oeste de Guangdong. Esperam-se ainda chuvas fortes para os próximos dias.

“De acordo com as últimas previsões a depressão tropical vai continuar a intensificar-se e nos próximos dias vai trazer aguaceiros e vento fortes à região”, lê-se no comunicado, que dá também conta da possibilidade de ocorrência de inundações nas zonas baixas do Porto Interior no período da manhã entre esta terça e sexta-feiras.

Governador ocupa a península de Macau

por José Simões Morais

[dropcap]O[/dropcap] Governador-Geral da Província de Macau, Timor e Solor, Conselheiro e Capitão-de-Mar-e-Guerra João Maria Ferreira do Amaral (1846-1849) vinha nomeado de Lisboa e não, como até então, por Goa. Tomou posse a 21 de Abril de 1846 e trazia o propósito de preparar a colónia a tornar-se independente do governo chinês. Assim, em provocação, logo contrariou pelos seus passeios a cavalo as chapas dos mandarins que advertiam serem os verdadeiros limites do fanfang as portas de Santo António e do Campo.

Cinco meses depois, o Procurador Manuel Pereira propôs ao Governo que “as embarcações chinesas de passagem e carga, denominadas , fossem registadas na procuratura, e pagasse cada uma o imposto mensal de uma pataca à fazenda pública”, segundo A. Marques Pereira, que refere, o Governador, em sessão do Senado por ele presidida, “aprovou a proposta, – e, constando em seguida que as ditas embarcações se recusavam a obedecer ao edital do procurador que ordenava o registo, mandou que de 3 de Outubro [1846] em diante fossem retidas todas as que teimassem na recusa. Começaram desde logo os chineses dos faitiões a reunir-se a miúdo no Pagode Novo [mais tarde Templo Lin Fong], consultando aí com os principais do bazar sobre o modo de resistirem àquela determinação. Ao mesmo tempo moviam os mandarins a oficiar para Macau em seu apoio, e afixavam pelas ruas proclamações instigando à revolta.

Amaral, o enérgico e venerando conquistador da autonomia portuguesa de Macau, não costumava hesitar. As medidas convenientes tinham-se tomado sem demora. A alfândega fortificara-se. A tropa estava em armas.” Na noite de 7 para 8 de Outubro, os faitiões encostados à cidade eram trinta e sete, de onde ao amanhecer “desembarcou grande número de lancháes, armados todos, e com três peças de artilharia. Engrossando com os de terra, a multidão hostil era em breve de mais de mil e quinhentos homens” e ao seu encontro logo marchou “uma força de quarenta soldados. Os chineses dispararam sobre ela as três peças, e avançaram pela travessa fronteira à igreja de Santo António, apesar do fogo vivo que se lhes fazia. Não tardou porém que recuassem, reforçados os nossos com uma peça da alfândega e vinte soldados, e outra da fortaleza do Monte com alguns soldados e muitos cidadãos.”

Com grande perda de gente, abandonando o armamento os lancháes chegando “de roldão aos faitiões, trataram de fazer-se de vela para fugir, mas aí os esperava já uma escuna do governo, que naquele tempo servia de registo na Taipa, e várias embarcações armadas, de particulares, que todas romperam sobre eles um fogo activo. Alguns dos faitiões foram abordados e tomados, muitos metidos a pique, e oito ficaram encalhados.” Nenhum português saiu ferido, mas nada sabemos sobre as baixas dos lancháes.

“As lojas do bazar fecharam-se todas. Fora de antes sempre esta manifestação a grande arma dos chinesas, pois importava a subsistência da cidade. Quando os lojistas se conluiavam por este modo, o senado concedia o que lhe era exigido e amiudava as súplicas aos mandarins, que deliberadamente espaçavam a graça, fazendo sentir o valor dela. – Era esta prática mediocremente eficaz e aceitável para que Amaral a seguisse. Declarou por editais, na mesma tarde do dia 8, que, se no espaço de vinte e quatro horas as lojas se não abrissem, o bazar seria arrasado pela artilharia do Monte. Na manhã de 9 as lojas abriram todas, sem excepção de uma. No dia 10 apresentaram-se às portas da cidade dois mandarins, a quem o governador fez saber que deveriam deixar fora a sua comitiva armada. Retiraram-se, e no dia 11 tornaram sem comitiva. O objecto da sua visita era certificarem ao governador os seus sentimentos de amizade.” António Marques Pereira, que narrou esta história, refere ainda, ter em Macau fundeado na rada às sete horas da manhã do dia 9 de Outubro de 1846 a fragata a vapor Vulture, comandada por o capitão-de-mar-e-guerra Dougal com ordem do Governador de Hong Kong para se pôr à disposição do Governador Macau, “e, posto que à sua chegada tudo estivesse acabado, só em 12 regressou a Hong Kong.”

Procurador remunerado

Após a revolta dos faitiões [da qual não conhecemos a versão chinesa], o Governador Ferreira do Amaral a 17 de Outubro de 1846 organizou o Batalhão Provisório de Macau para resistir a qualquer ameaça e destinado a auxiliar a Força mista de 1ª linha, ou Batalhão de Artilharia de Primeira Linha, criado por decreto a 13 de Novembro de 1845 para substituir o Batalhão Príncipe Regente. Aprovado por Portaria Régia de 12-3-1847, o Batalhão Provisório de Macau foi instalado no extinto Convento de S. Domingos e por Decreto de 10-12-1847 “teve como Major-Comandante o macaense Francisco José de Paiva, Comendador da Ordem de Cristo e Cônsul Português em Hongkong”, segundo Beatriz Basto da Silva. O denominado Batalhão de Macau conjugava o Batalhão (de 1.ª linha de Infantaria) de Macau e o Batalhão Provisório, que durante vinte anos prestou bons serviços. O Batalhão de Infantaria de Macau seria extinto a 18-4-1876 e estava já desde 30-12-1866 instalado no quartel construído no local do antigo Convento de S. Francisco.

“Em Macau, a maioria das vias públicas, eram conhecidas, pelos nomes dos seus principais moradores não havendo, nomenclatura oficial. Assim, podia haver mais de um nome para a mesma rua”, segundo Ana Maria Amaro. Para solucionar possíveis confusões, o Governador a 23 de Novembro de 1847 mandou dar o nome às ruas que não o tinham e mudar muitos dos repetidos.
Já anteriormente, a 27 de Fevereiro de 1847 Ferreira do Amaral manifestara uma posição de poder, sem se importar com os interesses chineses, e tomou posse das terras para além das muralhas a envolver a cidade cristã portuguesa. Mandou rasgar três estradas nos terrenos fora das muralhas da cidade, onde se situavam antigas campas chinesas e por onde constantemente os britânicos se passeavam a cavalo. A primeira estrada, desde a Porta de S. João até ao Pagode; outra rodeando a colina de Mong-Há e a terceira, desde a Porta de St.º António até às Portas do Cerco, ligando-se junto ao Pagode Novo com a primeira. Para construir a terceira estrada deu um prazo até ao fim de Março para os chineses removerem desse local todas as sepulturas.

Nesse mesmo dia 27, o Leal Senado enviou para Lisboa uma queixa, reclamando contra a obra governativa do Governador.
Com a chegada do Governador Ferreira do Amaral, as atribuições da Procuratura do Leal Senado foram ampliadas, pois era o único tribunal em Macau para julgamento de chineses, e a 20 de Agosto de 1847 passou a estar anexa à Secretaria do Governo, no que respeitava a negócios sínicos.

Para o ano de 1847 era Procurador Lourenço Marques, filho do Comendador Domingos Pio Marques, que exerceu ininterruptamente o cargo até 1855. Como Procurador passou desde 20 de Agosto de 1847 a ser remunerado e a estar subordinado ao Governador e no Senado apenas tratava dos assuntos puramente municipais.

TCR China | Souza não abdica de participação

[dropcap]U[/dropcap]ma das ausências mais notadas do evento de abertura do campeonato TCR China foi a de Filipe Souza. O piloto macaense previa realizar a temporada completa da competição chinesa, mas as limitações de circulação dos residentes de Macau na China Interior impediram que o experiente piloto do território se pudesse deslocar a Zhuzhou, na Província de Hunan, para as primeiras quatro corridas do ano. Agora que as restrições foram levantadas, Souza espera estar à partida das quatro provas que faltam em Xangai, Zhejiang e Zhuhai.

“Como agora já posso ir a todo o lado na China quero estar presente, por isso estou a preparar com a equipa a minha participação”, esclareceu Souza ao HM, ele que prevê conduzir o Audi RS 3 LMS TCR da equipa T.A. Motorsport, viatura que conduziu o ano passado, quando venceu a classe TCR dos “Pan Delta Super Racing Festival” na cidade de Zhuhai.

O piloto está ciente das dificuldades que terá de enfrentar, pois está arredado das pistas há várias meses e a concorrência no campeonato TCR China, onde também corre o conterrâneo Rodolfo Ávila, está este ano ainda mais forte. Porém, Souza encara os obstáculos que terá pela frente com positivismo e quer aproveitar a oportunidade para evoluir como piloto e assim melhor preparar a sua participação na 67ª edição do Grande Prémio de Macau, no mês de Novembro.

“Já vi que este ano o campeonato conta com a equipa oficial da Lynk & Co e que também a MG entrou no TCR China com bons pilotos. Isto é bom para mim e por isso estou a preparar-me para fazer o máximo de dias de testes possíveis no circuito de Zhuhai antes de fazer a minha primeira corrida este ano”, explicou Souza que a temporada transacta fez duas incursões neste campeonato. “O meu objectivo é ter mais corridas e começar um bom ritmo para preparar o Grande Prémio de Macau este ano. Não será nada fácil para mim este ano, porque já parei de guiar há quase nove meses. Claro que estou um pouco apreensivo, pois tenho que ganhar ritmo e velocidade.”

Apesar das dúvidas existentes, pois ainda não foi realizada qualquer competição automóvel Circuito Internacional de Xangai desde o início da pandemia, após terem cumprido duas jornadas duplas das seis que compõem a temporada, os concorrentes do campeonato TCR China regressam ao activo no fim-de-semana de 12 e 13 de Setembro, no circuito chinês construído para receber a Fórmula 1.

Corrida da Guia pontua para o TCR Ásia

Após o triunfo em 2019 na classe “1950cc ou Superior” da Taça de Carros de Turismo de Macau do Grande Prémio de Macau, Souza mantém o seu plano inicial inalterado e vai regressar à Corrida da Guia. Este ano a prova não será pontuável para a Taça do Mundo de Carros de Turismo da FIA (WTCR) e os moldes de como será disputada ainda não são do conhecimento público. Contudo, a semana transacta ficamos a saber que a prova irá pontuar para o “TCR Asia Series”, competição que será este ano decidida pela combinação de resultados da prova do Circuito da Guia e de uma corrida a disputar no mês de Dezembro, no circuito malaio de Sepang.

É desconhecido para já o interesse de concorrentes estrangeiros na Corrida da Guia, estando vários interessados na expectativa, aguardando por mais informações, principalmente da circulação de pessoas e quarentenas a aplicar. “Será complicado para pilotos de fora participarem este ano, portanto não sei se haverá muita gente interessada. No entanto, acredito que é possível reunir uma grelha de partida com cerca de vinte carros”, reconhece Souza, que vai para a sua sexta participação na Corrida da Guia, após se ter estreado em 2011.
Mas o programa desportivo de Souza para 2020 não se fica por aqui, pois o piloto macaense quer alinhar nas provas organizadas pela Associação Geral Automóvel Macau-China (AAMC). O calendário e a localização destas corridas ainda não foi tornado público, mas tudo indica que serão realizadas duas provas no Circuito Internacional de Guangdong, nos meses de Agosto e Setembro.

Taiwan | Finalizado negócio para aquisição de aviões caça F-16 aos EUA

[dropcap]T[/dropcap]aiwan finalizou o contrato para uma grande encomenda de aviões caças F-16 à fabricante de aviões norte-americana Lockheed Martin, com um valor que pode atingir 52,4 mil milhões de euros em 10 anos, foi sábado anunciado.

O Pentágono revelou sábado o contrato, sem especificar o comprador dos aviões, mas uma fonte próxima do negócio confirmou à agência AFP que se trata de Taiwan.

Taiwan recebeu no ano passado luz verde de Washington para efectuar esta compra que lhe permitirá modernizar a sua defesa, anúncio que provocou descontentamento a Pequim.

A ilha já possui uma frota de caças F-16, adquirida em 1992, e o novo contrato cobre aeronaves mais recentes, equipadas com tecnologia e armamento moderno.

Taiwan pretende que o acordo atinja os 90 aparelhos, destacou o comunicado de imprensa do Pentágono.
A China considera Taiwan como parte do seu território. A ilha é governada por um regime rival que se refugiu naquele local após os comunistas terem tomado conta do território continental em 1949, no fim da guerra civil chinesa.

Já Washington, que em 1979 rompeu as relações diplomáticas com Taipé, reconhecendo Pequim como único representante da China, continua a ser agora o aliado mais poderoso da ilha e o seu principal fornecedor de armas.

Matéria ‘quente’

O contrato foi finalizado numa altura em que a autoridade da China sobre Hong Kong causa preocupação em Taiwan, que tem 23 milhões de habitantes.

O negócio acontece também dois dias após a visita inédita a Taiwan de um alto governante norte-americano, que provocou irritação em Pequim.
O secretário de Saúde e Serviços Humanos norte-americano, Alex Azar, iniciou a visita de mais alto nível a Taiwan por um funcionário norte-americano, desde 1979, quando Washington e Pequim estabeleceram relações diplomáticas.

Azar reuniu-se com a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, a quem transmitiu uma “mensagem de firme apoio”, enviada pelo chefe de Estado norte-americano, Donald Trump.

Este é mais um assunto ‘quente’ entre norte-americanos e chineses, tal como muitos outros temas, como a pandemia, Hong Kong, direitos humanos, rivalidades comerciais ou tecnológicas.

A questão de Taiwan é vista por Pequim como a “mais sensível e importante” no seu relacionamento com os Estados Unidos.

Cinema | Filme sobre refugiados judeus em Macau pode ser rodado em Portugal

O livro “Strangers on the Praia”, do escritor britânico Paul French, sobre judeus refugiados em Macau durante a Segunda Guerra Mundial, vai dar origem a um filme, com planos para rodar em Portugal, disse à Lusa o autor

 

[dropcap]F[/dropcap]ui abordado por uma produtora australiana e chinesa que gostou da história e me pediu para escrever um guião”, contou à Lusa o escritor britânico, com dois livros já publicados em Portugal, “Meia-Noite em Pequim”, da editora Bertrand (2013), e “Coreia do Norte – Estado de paranoia”, da Desassossego (2019).

“A pandemia atrasou as coisas, mas antes disso já fizemos algum levantamento de lugares de filmagem”, que incluem “exteriores em Portugal” e cenas em Xangai e em estúdios australianos, disse o escritor à Lusa.

O livro “Estranhos na Praia: Uma história de refugiados e resistência em tempo de guerra em Macau” (no original, “Strangers on the Praia: A Tale of Refugees and Resistance in Wartime Macao”), da editora Blacksmith Books, conta “a história pouco conhecida” de refugiados judeus em Xangai, na China, que conseguiram chegar à então colónia portuguesa, território neutro durante a Segunda Guerra Mundial.
Inspirado em casos reais, o relato, que mistura factos e ficção, surgiu depois de o escritor, residente em Xangai durante 20 anos, ter descoberto arquivos de duas centenas de judeus, “a maior parte jovens mulheres”.

“Como Macau era uma colónia portuguesa nessa época, muitas pessoas acreditavam que se conseguissem lá chegar poderiam ir para Lisboa, e daí apanhar um avião ou barco para Inglaterra ou os Estados Unidos”, contou.

Xangai, onde “era possível chegar sem passaporte”, acolheu cerca de 25 mil judeus durante a Segunda Guerra Mundial, mas as condições para quem vivia no gueto da capital chinesa agravaram-se após um surto de tuberculose, em 1940.

Nesse ano e no seguinte, chegaram a Macau centenas de refugiados judeus, não só de Xangai, como das Filipinas e Hong Kong, depois da queda da então colónia britânica nas mãos dos japoneses.

“A maioria instalou-se na Aurora Portuguesa, uma pensão em Macau frequentada por homens de negócios e altos funcionários, que se converteu numa espécie de abrigo”, contou o escritor. A esperança que os levou a Macau acabaria, no entanto, por não se concretizar, e o território converteu-se num beco sem saída devido ao bloqueio naval.

O cerco japonês

Macau recebeu milhares de refugiados durante a Segunda Guerra Mundial, “pessoas com nacionalidade portuguesa a viver em Hong Kong e noutras ex-colónias, muitas dos quais nunca tinham posto um pé em Portugal, além de britânicos”.

Com os japoneses a bloquearem o mar do Sul da China, floresceram “o contrabando e os negócios duvidosos”, “uma das únicas formas de o Governo português conseguir comida e combustível”, lembrou.

“As autoridades portuguesas em Macau tinham um equilíbrio difícil de manter, e precisavam de negociar com os japoneses e os alemães, por isso algumas refugiadas judias acabaram na estranha situação de serem secretárias para empresas como o Banco Nacional Ultramarino, a traduzir documentos e escrever cartas para clientes alemães”, contou.

Foi também neste contexto que o ex-magnata do jogo Stanley Ho, ele próprio refugiado em Macau após a queda de Hong Kong, floresceu. “Ele era uma espécie de contrabandista autorizado, e fez muito dinheiro, que usou para comprar os primeiros casinos”, apontou.
O livro explora este ambiente de “Casablanca do Oriente”, através da perspectiva de uma refugiada judia, personagem compósita criada a partir de vários casos reais.

Algumas “obtiveram passaportes portugueses através de casamentos de conveniência”, contou o escritor, enquanto outras “ajudaram agentes dos serviços secretos britânicos que fugiram de Hong Kong para Macau e queriam chegar à China continental, fingindo ser suas mulheres”.

De Nam Van a Cascais

Desde que escreveu o livro, divulgado em versão mais reduzida e igualmente na origem de um ‘podcast’ nomeado para os prémios do festival de rádio de Nova Iorque em 2020, muitos contactaram o escritor: “Várias pessoas me disseram o mesmo: viram fotografias da baía de Macau e pensavam que eram fotos do Mediterrâneo”. Essa é aliás uma das razões para a escolha de Portugal para as filmagens, explicou Paul French. “A passear em Cascais, pensei: ‘Isto pode funcionar’. As igrejas são iguais, [tem] o estilo especificamente português dos faróis [e] o estilo modernista das estações. Macau, nos anos 1930, era como Cascais hoje [risos]”.

Actualmente a viver em Londres, onde nasceu em 1966, Paul French estudou chinês na Universidade de Xangai, na China, e admite o fascínio por Macau, que visitou várias vezes.

No livro, French evoca as impressões do poeta anglo-americano W.H. Auden quando visitou o território, em 1938. A viagem deu origem ao soneto “Macau”, em que Auden chama à então colónia portuguesa “erva daninha da Europa católica” e cidade de “indulgência”.
“Sempre houve grandes romances sobre Lisboa na Segunda Guerra Mundial, que foi um centro de atracção para refugiados, espiões e resistentes aos nazis, e Macau, a ‘Casablanca do Oriente’, era como uma versão asiática”, apontou.

Covid-19 | Autoridades reforçam que a comida pode ser fonte de contágio

Depois de a OMS ter afirmado que a comida não é fonte de contágio, os Serviços de Saúde de Macau reforçaram que este é um meio de transmissão ao qual vai ser dada a máxima atenção, depois de terem sido encontradas asas de frango contaminadas. Os testes aos trabalhadores dos casinos devem terminar dentro de dias

 

[dropcap]A[/dropcap]pós terem sido encontradas carne contaminada com o novo tipo de coronavírus, nomeadamente asas de frango congeladas, importadas do Brasil para Shenzhen, os Serviços de Saúde (SS) reiteraram a continuidade de reforçar o número de análises feitas aos alimentos que entram em Macau. Isto, apesar de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter referido que as pessoas “não devem recear a comida ou as embalagens de comida” como fontes de contágio de covid-19. A garantia foi deixada na sexta-feira pela coordenadora do Núcleo de Prevenção e Vigilância da Doença, Leong Iek Hou.

“O IAM [Instituto para os Assuntos Municipais] tem feito testes às carnes importadas. Nós sabemos que, se os produtos estiverem infectados e contactarmos com eles, levando depois, por exemplo, as mãos aos olhos, podemos ser contaminados. Além disso, como esses produtos infectados podem também contaminar o local onde se encontram, caso as pessoas permaneçam nesse local e haja falta de circulação de ar, podem também contrair a doença. Por isso, neste momento, o Governo da RAEM dá grande importância aos produtos importados, nomeadamente aos congelados e refrigerados, aos quais continuaremos a fazer testes”, afirmou a responsável, por ocasião da conferência de actualização da covid-19.

A tomada de posição aconteceu um dia depois de o Governo anunciar a suspensão da importação de carne de frango proveniente do Brasil e após ter confirmado que em Macau existem produtos oriundos do mesmo fornecedor que vendeu as asas de frango contaminadas. Numa nota divulgada pelo IAM na quinta-feira, o organismo garantiu que a carne que que se encontra no território passou os testes de despistagem à covid-19.
Quanto aos argumentos da OMS, recorde-se que a principal responsável técnica no combate à covid-19, Maria van Kerkhove, esclareceu, segundo a agência Lusa, que a China “testou cerca de cem mil embalagens” de comida à procura do novo coronavírus, mas que só o encontrou em “menos de dez”.

Já Michael Ryan director executivo do programa de emergências sanitárias da OMS afirmou que “não há provas de que os alimentos ou a cadeia alimentar participem na transmissão deste vírus”. “As pessoas já estão suficientemente assustadas e com medo”, acrescentou.

A tempo e horas

Foi ainda anunciado que os testes de ácido nucleico que estão a ser feitos aos trabalhadores da linha da frente dos casinos devem terminar dentro de dias, depois de retomados na passada quinta-feira.

“Ontem [quinta-feira] começámos a enviar os trabalhadores dos casinos para fazer o teste de ácido nucleico e, mais ao menos, 2.300 trabalhadores que já o fizeram. Dentro de 10 dias vamos concluir o teste de ácido nucleico para todos os trabalhadores da linha da frente dos casinos. Todos os dias vamos fazer cerca de 3.000 testes”, esclareceu Leong Iek Hou.

Cumprindo-se a previsão, todos os trabalhadores dos casinos terão sido testados aquando do alargamento da emissão de vistos turísticos anunciado para toda a província de Guangdong a partir do dia 26 de Agosto.

Matadouro | Deputados pedem transparência e renovação de processos

Perante os prejuízos acumulados de 21,6 milhões de patacas, a comissão para os assuntos das finanças púbicas pede ao Matadouro mais transparência e “novos métodos operacionais”. Quanto ao PIDDA, dada a constante escavação e repavimentação das vias públicas, é exigida “mais qualidade” nas obras

 

[dropcap]A[/dropcap] Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa (AL) considera que, tendo em conta os prejuízos acumulados do Matadouro de Macau, exige-se que a empresa de capitais públicos seja mais transparente na divulgação de informações e que reveja o seu actual modo de funcionamento para “aumentar as receitas e diminuir as despesas”. Foi esta a principal conclusão do parecer assinado na passada sexta-feira pela comissão sobre a situação financeira do Matadouro, da Macau Renovação Urbana e do Centro de Ciência de Macau.

Aos jornalistas, Mak Soi Kun, deputado que preside à comissão, disse ainda que o Matadouro deveria acompanhar a evolução dos tempos, já que há cada vez menos interessados em trabalhar lá e a empresa falha em não ter presença online. “O Matadouro é a empresa que tem levantado maior preocupação à comissão, porque há cada vez menos pessoas interessadas em trabalhar lá. Por isso, alertámos o Governo para rever o modelo de funcionamento da empresa para que possa acompanhar a evolução dos tempos. Neste momento não conseguimos aceder a qualquer informação na internet e é necessário rever e reformular o modelo de funcionamento desta empresa de capitais públicos que tem prejuízos”, explicou Mak Soi Kun.

O objectivo é que o público fique a par da situação real das operações, aumentando a transparência e possibilitando a fiscalização pública.
“O Matadouro (…) tem como objectivo a prestação de serviços relacionados com a vida da população, devendo, por isso, envidar esforços para aumentar a transparência, no sentido de possibilitar a fiscalização da sua actividade pelo público”, lê-se no relatório.
A comissão verificou ainda que o Matadouro “raramente divulga a situação financeira”, limitando-se a publicar, anualmente, no Boletim Oficial da RAEM, o relatório das contas do exercício.

Recorde-se que só em 2019, as despesas totais do Matadouro foram de 23,76 milhões de patacas, registando-se uma perda de 1,47 milhões de patacas. O prejuízo acumulado é de 21,66 milhões de patacas.

“Tendo em conta o envelhecimento do equipamento e com prejuízos acumulados durante o seu funcionamento ao longo dos anos, a comissão sugere que o matadouro reveja o seu actual modo de funcionamento, procurando entrar soluções para estes problemas com a maior brevidade possível”, sublinhou Mak Soi Kun.

Aumentar a qualidade

No outro parecer assinado na sexta-feira, onde consta a análise financeira ao Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA), Mak Soi Kun considera que a qualidade das obras de repavimentação e escavação das vias públicas deve melhorar, para reduzir o número de intervenções ao longo dos anos e melhorar a vida da população.

Quanto aos projectos com baixa ou nenhuma taxa de execução orçamental, a comissão “pede que o Governo utilize adequadamente o erário publico” e reduza as situações de subaproveitamento do orçamento que “afectam negativamente a execução da política governativa, especialmente na actual situação de défice orçamental”.

Finanças | Reserva sobe para 597,85 mil milhões no primeiro semestre

A Reserva financeira de Macau subiu para 597,85 mil milhões de patacas no primeiro semestre de 2020. Já as aplicações nos mercados financeiros internacionais renderam mais de 5,14 mil milhões de patacas, indicou a Autoridade Monetária de Macau

 

[dropcap]A[/dropcap]reserva financeira de Macau ascendeu a 597,85 mil milhões de patacas e as aplicações financeiras renderam 5,14 mil milhões de patacas no primeiro semestre de 2020, indicou na passada sexta-feira a Autoridade Monetária de Macau (AMCM).
“No cenário internacional, apesar de vários fundos soberanos principais terem registado, no primeiro semestre de 2020, prejuízos e perdas de diferentes níveis, a reserva financeira da RAEM continuou a registar rendimentos de investimento, na ordem dos 5,14 mil milhões de patacas”, adiantou a AMCM numa resposta enviada à agência Lusa.

“Por sua vez, até finais de Junho de 2020, a dimensão da reserva financeira da RAEM ascendeu a 597,85 mil milhões de patacas”, pode ler-se na mesma resposta.

Macau anunciou, no início do ano, que a reserva financeira fechou 2019 com 579,4 mil milhões de patacas, mais 13,9 por cento que o registado até 2018. Ou seja, em seis meses, a reserva financeira de Macau cresceu 18,45 mil milhões de patacas, enquanto que em todo o período de 2019 rendeu 30,2 mil milhões de patacas, quando se atingiu uma taxa de rentabilidade anual de 5,6 por cento, um novo recorde desde a criação da reserva financeira em 2012.

A reserva financeira acumulada por Macau, que arrecadou no ano passado 112,7 mil milhões de patacas em impostos directos sobre as receitas brutas do jogo, tem sido investida em depósitos e aplicações nos mercados financeiros internacionais ao longo dos anos.
Além disso, o Governo tem “aplicações em títulos emitidos por determinados países de língua portuguesa”, salientou a AMCM, sem detalhar quais as nações ou os montantes investidos.

A AMCM indicou apenas o facto de deter “Obrigações Panda emitidas pelo Estado português”, numa referência aos dois mil milhões de renmimbi em ‘Panda Bonds’, que Portugal colocou no mercado a três anos, na primeira emissão em moeda chinesa de um país da zona euro e a terceira de um país europeu.

Apostar com cautela

À agência Lusa, a mesma entidade sublinhou ainda que “as economias mundiais têm vindo a ser afectadas seriamente e com inúmeras flutuações acentuadas nos mercados financeiros internacionais” e que o facto de as taxas de juro baixas ou mesmo negativas nos mercados monetários “constitui, igualmente, um grande desafio para os investimentos das reservas”.

Por essa razão, a AMCM “adoptou estratégias de investimento mais prudentes, consubstanciadas na redução do peso de determinados activos em acções com riscos elevados”.

Fronteiras | Política de controlo recebe elogios do Governo Central

O Chefe do Executivo termina hoje uma visita a Pequim, onde tem recolhido elogios para Macau sobre as políticas de imigração, implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas” e da defesa da Segurança Nacional

[dropcap]A[/dropcap] política de controlo das fronteiras de Macau foi elogiada pelo vice-ministro da Segurança Pública e director da Administração Nacional de Imigração, Xu Ganlu, que sublinhou também a determinação das autoridades locais na defesa da segurança nacional. O encontro entre Xu e o Chefe do Executivo aconteceu na sexta-feira, no âmbito da visita de Ho Iat Seng a Pequim, que termina hoje, com o objectivo de debater o desejo de diversificação da economia através da Ilha da Montanha.

Segundo um comunicado emitido pelo Governo da RAEM, no encontro entre os dois, Xu considerou que as autoridades de imigração “têm colaborado efectivamente na política de imigração, no modelo alfandegário e no combate aos crimes transfronteiriços” com “resultados notáveis”. O responsável do Interior sustentou ainda que este desempenho conjunto é “uma garantia” para as populações.
No entanto, os elogios não se ficaram pelas políticas de imigração. Xu Ganlu louvou também o compromisso de Macau para com os desejos do Governo Central, no que diz respeito ao compromisso com as políticas “Um País, Dois Sistemas”, Defesa da Segurança Nacional, onde disse haver “uma firme implementação”.

Sobre o futuro, Xu afirmou esperar o reforço da cooperação no combate aos “crimes transfronteiriços” e no “aperfeiçoamento do ambiente e das condições da passagem entre fronteiras e no mecanismo de troca de informações”.
Por sua vez, o Chefe do Executivo deixou um pedido ao Governo Central: quer ser apoiado na “facilitação de passagem transfronteiriça” entre Macau e Hengqing, porque considera que esse vai resultar num “melhor desenvolvimento dos dois territórios”.

Comportas em risco

Já no dia anterior, Ho Iat Seng encontrou-se com o ministro dos Recursos Hídricos, E Jingping, com o qual discutiu a segurança do abastecimento de água a Macau.

Contudo, o comunicado emitido pelo Governo da RAEM, mostra que o actual Executivo está com muitas dúvidas sobre as comportas de marés. Por isso, no encontro com o responsável do Interior, E Jinping, Ho Iat Seng “considerou que se deve fazer uma análise bem fundamentada” e perceber se as comportas vão mesmo “cortar o mal pela raiz”. Além deste aspecto, o Chefe do Executivo pediu ao Ministério dos Recursos Hídricos que auxilie a RAEM com “opiniões técnicas”.

Ho Iat Seng foi ainda recebido por Ni Yuefeng, director da Administração Geral da Alfândega, Yi Gang, vice-governador do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, director da Administração Estatal de Divisas Estrangeiras e Wang Ju, director da Administração Tributária do Estado.

PJ | Investigado caso de corpo de um bebé encontrado perto do Wynn

Foi na margem do lago artificial perto do hotel Wynn que no sábado se descobriu o corpo de um feto, dentro de uma caixa. O caso está sob investigação e, para já, desconhecem-se os pormenores da situação. Dificuldades económicas e exclusão social são apontados como factores que podem levar alguém a abandonar um bebé

 

[dropcap]N[/dropcap]o sábado foi encontrado o corpo de um feto, com cordão umbilical, na margem do lago artificial perto do hotel Wynn na Avenida de Sagres. De acordo com as autoridades, o bebé foi encontrado dentro de uma caixa por um trabalhador de limpezas do Instituto para os Assuntos Municipais. A Polícia Judiciária (PJ) disse que o género é desconhecido e que o corpo se encontrava em decomposição.
“Tem de ser determinado por análise forense e o caso ainda está sob investigação”, respondeu a PJ quando questionada se há suspeitas de aborto ilegal ou quais as penalidades que podem estar em causa para os pais.

Não foi a primeira vez que se descobriu no território um bebé abandonado, apesar de o cenário ser distinto (ver texto secundário). O que levanta a pergunta: que circunstâncias podem levar ao abandono de uma criança?

A directora do Centro Bom Pastor observou que a mãe pode estar a enfrentar diferentes problemas que a levaram a abandonar o bebé, equacionando que “pode ser uma pessoa ilegal em Macau, ou uma mãe solteira (talvez seja uma rapariga menor de idade), e depois de o bebé nascer não sabe como enfrentar a situação”. Além disso, Debbie Lai disse ao HM que se a mãe for estrangeira pode “ter menos ou ‘zero’ recursos sociais e não saber como pedir ajuda”.

Para que estas mulheres saibam as opções existentes, aponta que o Governo e as Organizações Não Governamentais (ONG) precisam de promover regularmente informação para o público, especialmente trabalhadores migrantes, uma vez que a barreira linguística pode dificultar o acesso à informação. Deixou assim a mensagem: “quem enfrentar uma situação de gravidez e não souber como tomar conta do bebé ou tiver problemas financeiros, pode ir ao Instituto de Acção Social de Macau (IAS), NGOs ou à Caritas Macau para pedir ajuda”.

Reconhecendo que é comum o Centro Bom Pastor receber pedidos de ajuda de mulheres grávidas ou que foram mães recentemente, Debbie Lai deu o exemplo de casos de adolescentes, que se os pais não quiserem apoiar a tomar de um bebé não têm capacidade financeira para o manter. Nessa situação, é sugerido dar o bebé ao IAS que o coloca como candidato à adopção. Se a família as apoiar, as adolescentes podem manter o bebé e continuar a estudar até se graduarem e conseguirem um trabalho. Explicando a necessidade de preparação psicológica para uma adolescente ser mãe, a directora do Centro descreveu que fornecem aconselhamento para ajudar as jovens a assumir esse papel.

Campo das hipóteses

Comentando de forma geral a situação, Melody Lu observou que a tendência vai ser “condenar os pais, especialmente a mãe” pelo abandono do bebé, mas frisou que se desconhece o contexto em que isso aconteceu. “Não sabemos se morreu durante o nascimento, ou se nasceu saudável e o deixaram para morrer. São dois cenários diferentes”. Caso a criança tenha nascido saudável e o abandono causado a sua morte, nota que “claro que é inaceitável, é matar uma criança”.

No entanto, a professora do departamento de sociologia da Universidade de Macau (UM) observou a possibilidade de a criança ter morrido durante o nascimento sem que houvesse apoio médico durante o parto, motivando a necessidade de se pensar também na mãe. Uma ideia que se mantém perante a hipótese de um aborto numa gravidez em estado avançado. “O que leva uma mulher a dar à luz ou fazer um aborto num cenário tão perigoso?”, questionou.

É com esta pergunta em mente que a académica considera “que há a possibilidade de [a mulher] ser economicamente ou socialmente excluída”. Se for migrante, descreve que a pessoa pode não ter acesso a cuidados de saúde públicos por implicar o pagamento de taxas elevadas. Já a nível social, disse que se pode tratar de vergonha por parte de raparigas adolescentes ou também migrantes que não conseguem procurar ajuda. Ressalvou ainda assim que em Macau haveria apoio para quem tivesse menos posses, para garantir segurança.

Caminhos de mudança

“No cenário de a criança ter nascido saudável e os pais terem decidido abandoná-la, não é aceitável porque Macau tem um bom sistema, alguém vai tomar conta da criança”, comentou Melody Lu. Segundo a académica, as raparigas jovens que não queiram que a criança cresça num orfanato, mas que não têm condições para tomar conta dela, podem optar por abandonar a criança.

Neste âmbito, a docente descreve que muitas crianças nos orfanatos de Macau não podem ser adoptadas, apesar de existirem várias famílias com capacidade e disponibilidade para as ajudar. Motivo pelo qual Melody Lu sugere que o Governo considere que possam vir a ser adoptadas. No seu entender, há menos probabilidades de uma criança ser abandonada desta forma se as pessoas acreditarem que pode vir a crescer noutra família.

Questionada sobre o impacto do fecho das fronteiras no acesso a abortos seguros no Interior da China, a professora observou que não é permitido aos assistentes sociais e ONGs “encorajar ou sequer partilhar informação sobre aborto na China”. Aponta o aborto como “um tabu” em Macau devido à influência católica, e que a maioria das raparigas o fará sozinhas, desconhecendo-se sequer se quando vão à China Continental “procuram ajuda médica adequada”.

No seu entender, na eventualidade de ter sido um aborto, a discussão sobre as mudanças de política varia em função da identidade da mãe. Se fosse migrante, haveria “a possibilidade de dar aconselhamento e apoio”, mas se for uma mulher local era um caso mais indicado para pedir que o Governo e os serviços médicos ou a assistência social dessem aconselhamento e colocassem a opção do aborto. “Se não se começar a falar disto não há estrada para mudanças de política”, disse. “Uma decisão informada deve ser parte da saúde reprodutiva”, concluiu.

A estratégia do bridge

O “Mahjong” é o jogo de mesa mais popular na China. É estranho que os chineses se interessem tanto por jogos individuais, como o “Mahjong” e o “Pai Gow”, onde não entra em linha de conta o espírito de equipa. Excepção à regra foi Deng Xiaoping, o líder supremo da República Popular da China entre 1978 e 1989, que tinha uma paixão pelo bridge, possivelmente por ter estudado em França.
O bridge é um jogo de cartas com 4 jogadores divididos em duas equipas de 2. Além do factor sorte, a estratégia e o entendimento entre os parceiros de equipa é essencial. O meu conhecimento deste jogo não é muito aprofundado, mas estou plenamente convencido que para um líder político é do maior interesse estudar a sua estratégia.

Pensemos em Hong Kong como um campo de batalha entre a China e os Estados Unidos, sendo o comércio a arma a que ambos recorrem. A China não pode à partida ter os trunfos porque os Estados Unidos são uma super -potência. Pelo contrário, sempre que a China faz um movimento estratégico, os Estados Unidos tiram proveito dessa jogada e colocam-na numa posição passiva. Outro factor de grande importância neste jogo é a escolha dos parceiros. Os Estados Unidos têm do seu lado o Reino Unido, a França, a Alemanha e o Japão, ao passo que a China tem a Coreia do Norte, Cuba, o Irão e o Paquistão. Basta olhar para este alinhamento, para perceber que o cenário não é favorável à China, cujo maior vizinho é a Rússia que acabou de celebrar o 160º aniversário da conquista ao Império Qing da cidade portuária de Vladivostok. Por enquanto, a Rússia não é inimiga da China, mas também não é aliada. No quadro actual, se a China jogar a carta errada vai fracassar.

As relações internacionais são um jogo de força e de habilidade. Quando Deng Xiaoping visitou os Estados Unidos, estava plenamente consciente de que a ideia de “ultrapassar a Grã-Bretanha e ombrear com os Estados Unidos” não passava de um slogan político. Por isso, o caminho certo era continuar com a política de reformas e de abertura da China ao mundo, e o recurso à ciência e tecnologia ocidentais para promover a economia chinesa. De facto, a China demonstrou a sua capacidade para se tornar “a fábrica do mundo”, devendo-se grande parte desta eficácia ao seu dividendo demográfico. Deng Xiaoping afirmou certa vez, que as reformas e a abertura iriam enriquecer inicialmente um pequeno grupo de pessoas, mas que depois a riqueza se iria estender a um grupo muito maior. Infelizmente, as reformas políticas na China não conseguiram acompanhar o ritmo das reformas económicas, tendo conhecido um enorme revés em 1989 (com o incidente de 4 de Junho). O desenvolvimento económico da China durante os últimos 30 anos atingiu o nível da “bolha”, e as reformas e a abertura passaram a estar envolvidas em corrupção. Para reverter esta tendência, é necessário reformar o sistema político porque um governo autocrático não é a solução do problema.

Um jogador de bridge experiente pode transformar uma “má mão” numa “boa mão”, mas um jogador pouco hábil pode fazer precisamente o contrário. Desde que Hong Kong promulgou a “Lei de Defesa Nacional para Hong Kong” a 1 de Julho, as perseguições tornaram-se frequentes. Comparando com Macau, onde a “Lei relativa à defesa da segurança do Estado”, entrou em vigor em 2009, e onde nunca houve qualquer tipo de instabilidade, recordamos a teoria política do filósofo chinês Laozi, que afirmava que se um Governo for clemente o povo será honesto. Quanto mais duras forem as medidas políticas, mais o povo terá vontade de se rebelar contra elas. Quanto mais severa for a lei, maior será a vontade do povo de a violar. É uma situação que se assemelha a “jogar bridge”, na medida em que os jogadores têm de manter o sangue frio se quiserem ganhar o jogo. É isto que explica porque é que Deng Xiaoping conseguiu atravessar “vários altos e baixos” na sua carreira política e mesmo assim ter-se tornado o arquitecto do plano de Reformas e de Abertura da China.

O Governo de Macau, confrontado com o surto de Covid-19 e com a necessidade de recorrer à sua reserva financeira para colmatar os problemas económicos internos, vai precisar da ajuda do Governo Central. Para já, não tem outra forma de lidar com o impacto da pandemia. O que é digno de louvor é ter-se mantido de cabeça erguida e não optar por seguir certas tendências de forma indiscriminada.

Estágio para a morte

[dropcap]Q[/dropcap]uando era criança, só os velhos morriam. Era uma coisa natural, eram velhos. Às vezes era até uma coisa bondosa: depois de anos a sofrerem avcs até perderem o mais básico controlo dos seus corpos ou carcomidos pelo cancro, o acontecimento da morte acabava por ser o momento pelo qual uma luta inglória e injusta encontrava finalmente o seu fim. Embora ninguém o dissesse abertamente, sob pena de censura social, era um alívio para quem ficava.

A morte, quando eu era criança, ainda estava em processo de mudança para os lares de terceira idade e era-nos mais próxima. Aparecia nos velhos com a boca ao lado, vítimas das tromboses que agora inspiram outro cuidado hospitalar e um desfecho bastante menos incapacitante. Aparecia nas estradas secundárias portuguesas, repletas de carros em terceira mão (antes do dinheiro da Europa) e de condutores incapazes de recusar o quinto digestivo e agarrados à ideia de que o cinto de segurança era uma mariquice passageira. A morte, apesar de não vir por mim, andava muito mais na rua.

Neste jogo em que participamos simplesmente por assistir à passagem do tempo vemos a morte acercar-se todos os dias cada vez mais. Toda a gente conhece as regras: à medida que o tempo decorre, as hipóteses diminuem. Não dá para protelar nem desistir. Desistir é, aliás, entregar o jogo e antecipar o desfecho.

Mas a morte está muito diferente. A massificação dos lares de terceira idade transformou a experiência da morte para a família dos velhos e moribundos. Há quarenta anos não havia tantos lares; as famílias eram ainda mais remediadas do que agora. Na maior parte dos casos, os velhos eram cuidados em casa até chegar a sua hora. Não subjazia a este hábito nenhum princípio humanitário: apenas não havia dinheiro para ser de outro modo.

A omnipresença dos lares e a imperiosa necessidade do trabalho feminino (eram as mulheres e as crianças sob supervisão das mulheres que cuidavam do acamado) acabaram por introduzir uma espécie de estágio para a morte. Já é muito raro os velhos passarem os últimos anos das suas vidas em casa ou na casa dos seus filhos, cuidados por estes. E, provavelmente – não tenho números, apenas a evidência anedótica de estar atento ao que me rodeia – cada vez mais cedo. A morte vai acontecendo cada vez mais longe: na cama do lar, no leito do hospital.
Teoricamente, não tenho nada contra o conceito dos lares. Até sei – todos sabemos, pelas migalhas de notícias cândidas que intervalam os desastres em série que são os o grosso dos telejornais – de histórias enternecedoras de velhos que foram para lares e que se apaixonaram e tiveram direito a uma última e inesperada volta no carrossel antes de serem expulsos da feira.

A especificidade desta pandemia global – cuja mortalidade é directamente proporcional à idade de quem vai infectando – revelou sem margem para grandes dúvidas aquilo que todos sabíamos sem o querermos admitir: que a maior parte dos lares, dos mais baratos aos mais caros, são verdadeiros entrepostos de corpos frágeis e mal cuidados alternando períodos semi-comatosos resultantes da sobremedicação com intervalos de rara lucidez desesperada. Não há nada de bondoso no lar, nada que o redima. Os velhos são postos lá para morrer e tudo corre contra eles.
Os filhos lá vão cuidando das suas vidas, uns visitam os pais nos lares, outros só lhes ligam de duas em duas semanas, outro nem isso. Até um dia chegar a notícia da morte. E porque os filhos são pais e os pais têm filhos e o tempo passa, de espectadores mais ou menos interessados acabamos por passar todos a utentes.

Tentações

[dropcap]N[/dropcap]ão, por hoje. Hoje, não. “Hoje” é muito tempo. Agora, neste instante, por exemplo, o não, não é bem não. Não estou a negar nada. Não me passaria pela cabeça negar o que quer que fosse. Não declino nada, porque nada me é proposto nem por mim. Não me dá para nada. Não tenho vontade disso agora. O tempo do não é o tempo do sim. O tempo da inclinação é o tempo da queda e da possibilidade de me agarra ao que for para não cair. Mas agora, “não” é uma palavra, não tem significado, não é uma intenção, não faz sentido, a minha vida não depende disso. Ah! “Não”, “não”. Falta o quero. Quero não querer. Mas não me dá vontade nenhuma de querer. Para dizer não a sério, com convicção, para mostrar personalidade e carácter, tenho de estar a lidar com a tentação. Tem de ser a hora do diabo. E o diabo não é horrível, nem feio, nem repulsivo. É exactamente o contrário. O diabólico é encantador. Reveste-se de diversas formas, arma-se em toda a gente que nos fascina e oferece-nos toda a ocasião de queda. Aí sim, temos tudo para cair, para dizer sim e outra vez.

Pode ser uma rendição triunfante, acompanhada com um “que se lixe!”. Pode inaugurar-se com pompas e circunstâncias: “estão abertas as hostilidades”. Pode ser sem querer. Foi e pronto. Pode ser contrariados, porque não fomos capazes de evitar e estávamos a ver onde íamos parar na loucura já do mundo que se estava a abrir. Aí, sim. O não faz sentido. É naquele instante da loucura. Breve, brevíssimo em que podemos dizer. Agora, não. Podemos dizer de nós para nós. Dura pouco tempo a dizer não. Muito menos tempo do que o tempo do dia a passar. Mas a rendição pode dar-se já neste instante. É agora que é preciso estar atento. Não é de fora, quando ninguém quer a coisa, quando nos propomos a não, que podemos dizer “hoje, não”. Temos de começar por um “agora, não”. E temos de tentar agarrar-nos como uma tábua de salvação ao “não”, mesmo que seja só da boca para fora e repeti-lo como um mantra. “Agora, não”. Acrescentar o “agora” ao “não”. E um “obrigado” antes de toda e qualquer explicação que não virá. O diabo encontra sempre alguém para nos oferecer o que nos quer dar, são sempre pessoas próximas e as mais insuspeitas ou então estranhos que por serem estranhos também são insuspeitos e a hora pode ser uma hora qualquer do dia. E quando é essa hora do dia é a sério. Vem com um cheiro de uma fragrância que nos deixa acesos, vem como os acordes de uma melodia, vem com uma memória de dentro da nossa cabeça. Vem de repente não se sabe de onde e dá-nos uma vontade absurda.Olha para o que nos deu e para o que nos dá e são sempre vontades insanas. Aí a resposta convicta: “Agora, não” pode vir com um “Obrigado”.

Tudo fica preso da tentação, da nossa inclinação, da nossa tendência. É só aquilo que há, no que pensamos é só nisso, em queda livre. É o caos. Tudo isso é um breve instante. Um brevíssimo instante. A insanidade é que a alteração da existência dá-se na realidade mais neutra que possa haver. Pode ser no trânsito, pode ser na sala de estar, pode ser no meio de uma qualquer actividade do quotidiano. E não menos insana é a possibilidade de lhe cedermos, de cairmos, de arriscarmos. Tudo tem estado aí e não é como se não víssemos que tem estado aí, todos os objectos da tentação estão lá e é como se estivessem tapados mas à vista de toda a gente.

O nosso olhar não é transparente a maior parte do tempo para as nossas inclinações e desejos. Mas também é verdade que não é para sempre que eles estão resolvidos e que é para todo o sempre que lhes estamos insensíveis. O debate pode ser menos frequente, as vontades podem dar-se com menos violência, o desejo pode não ser o mesmo e pode parecer que se ausentou e nós somos outros e ficamos diferentes. E vem como uma vaga, uma onda. E é a sério o que dizemos. Não é por um dia. Hoje, não. Só por hoje, é a eternidade. Tem de haver estratégias para adiar um pouco mais a vontade. Ainda não. Um pouco mais de tempo. Cinco minutos é muito tempo, exposto à vontade tremenda que me dá. Um minuto é insuportável. O poeta contava os minutos em colheres de chá. É ao segundo. Segundo a segundo, trava-se uma batalha tremenda.

Estar por cima e estar por baixo torna-nos grotesco. A reflexão cartesiana é originariamente desejo logo existo, mas sou eu que sinto a falta de mim com o meu desejo “matado”. Sou eu que tenho de matar o desejo com o objecto de desejo que eu projecto e que depende dessa projecção que me usa para existir. “Agora, não. Obrigado”. Ainda resisto. Agora, a escrever não faz sentido. Não me apetece nada, não sinto desejo de nada, nada me faz falta. Agora, não obrigado” pressupõe um querer. Agora, não quero. Mas o querer não está vivo, não está activo. Mas quando está é tremendo. Segundo a segundo: não, ainda. Quase a ceder, mas resisto ainda. Como é a súplica? Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. O mal é “isto”. “Isto” é um conteúdo diferente para cada pessoa e para a mesma pessoa pode ser diferente ao longo do tempo. Há pessoas que têm muitos “males”, estão mais expostos e são mais vulneráveis.

A multiplicação dos males acelera e alarga o campo de obsessão compulsiva. Os objectos podem não ser nocivos e podem ser tão nocivos que nos convertemos nos escravos desses mesmos desejos e impulsos, só tendo sossego na terra de ninguém, depois da vergonha de lhe termos cedido e quando ainda não estamos a combater pela nossa subsistência, como Santo António e os seus pecados. As faltas, os pecados, as obsessões, as ideias fixas, os desejos, os amores, são o que temos na nossa agenda. A nossa própria existência é propulsionada por um motivo e um objectivo que nos faz estender e ir por aí além, mas resulta de uma saudade de ser independente e autónomo, livre, a olhar para cima e para a frente e não, como os gregos diziam dos animais no prado, a olhar para baixo e a esgotar o horizonte com o tempo breve em que se engole o que há para devorar.

Separados pelo vírus

[dropcap]E[/dropcap]le desapareceu no outro lado do mundo. A oriente do oriente do oriente. Regressou ao desgoverno urbano e à incurável vedação do seu espaço mental, fecharam as portas, não o deixaram sair, a mim não me deixaram entrar.
Um vírus cansado a voar sobre os assuntos todos. Um soco nos nervos, uma mescla de fé com morbilidade. Um rebento vedado, restos de céu entre os meus braços durante cinco meses. Vultos instáveis a subirem pelas paredes da antiga casa da vila, onde os mortos e os recém-nascidos passam uns pelos outros como relâmpagos. Onde os traumas de infância amamentam a minha adolescência como um vento já conhecido porque já passou mais do que uma vez.

A minha mãe, força suspeita nas torrentes noturnas da serotonina anciã. Dar mais do que o que se pode, só quem pode. Um pânico por lavar deixado na sombra que abandonei no meu berço. Mas o destino! Cuidador informal deste ladrar cínico nas paredes do crânio. A doutora nunca esperou muito do meu sentido de identidade, por isso não se surpreendeu. Sou esboço em cãibras semi-legíveis, às vezes aspiro a ser agradável. Sentido de ego adaptado às características da vossa personalidade. Analisar, repetir. A informalidade mas a conversa certa para a ocasião, a conversa de ocasião numa ocasião de sorrisos obedientes, contagem dos mortos à hora de almoço. Por vezes louco, um sorriso insano no vislumbre da treva e nunca serei validada como como acima da média nacional. Toda lágrimas amadoras de ingratidão ao Serviço Nacional de Saúde. Meu amor, perdido no glitch nocturno de uma foto em Shenzhen. Esqueci-me do respeito que temos pelo silêncio. Desfiz-me desse silêncio prático das sirenes, do lixo tombado que insinua coisas terríveis, desperdício de ânimo nas hortas da banalidade que nos recusamos a cultivar. Aqui, aculturei-me de mim mesma, cobri-me de ruído à hora das sestas, das tantas sestas que faço e que preocupam as pessoas.

Meu amor, há entusiasmos assim ingénuos facilmente ofendidos, que não trazem certificado de presença. Entram só, assim, como um chamamento ao mundo como as fraldas que gostavas de estar a cheirar mas não podes, o sorriso que rebola terno entre o pretexto e a utilidade concreta de evitar o abandono. A madrugada que lhe chora por dentro. A quarentena desnecessária aos dois meses de idade. Mas diz-me, amor, sentes a mão sobre o peito do teu filho nas tuas cinco da manhã, nove da noite cá? Sentes o mar próximo da entrada de metro, o ar puro nos rostos bloqueados por questões de segurança, no vírus que viste à paisana e que tiveste quando tiveste dúvidas sobre nós? Só quero saber se vais voltar. Mesmo que intruso deste espaço-pátria vigiado pelo passado, sair do futuro – vigiado pelo governo, vais ser o presságio das coisas concisas, dos dizeres lacónicos, da desadequação necessária à sobrevivência das ideias únicas. Como regressar a ti quando regressares cá? Tão acima da média nacional, tanto extensão da carne nas veias do rebento, o sangue desagua-nos no mar onde estaremos de rastos, numa palavra-cabana sem leme possível, só o amor-instinto na ajuda à navegação, a divagar entre todas as linguagens que evitamos ensinar à criança.

Xi Jinping ordena fim de banquetes tradicionais

[dropcap]B[/dropcap]anquetes sumptuosos, com inúmeros pratos, vão deixar de se realizar na China por ordem do Presidente, Xi Jinping, que considerou esta semana o desperdício de comida no país “chocante e preocupante”.

Conhecidos pela gastronomia e pelo bom apetite, os chineses terão de adoptar a austeridade, invertendo a tradição, que exige que sejam servidos à mesa tantos pratos quantos forem os convidados e mais um.
A nova regra estipula que seja servido um prato por convidado, menos um.
Várias associações profissionais do sector da restauração nas cidades de Pequim, Wuhan ou Xi’an estão a tentar impor este modelo. Os seus membros também são convidados a oferecer nos menus a possibilidade de encomendar pequenas porções, ou mesmo meias porções.
A iniciativa segue uma “instrução” emitida na terça-feira por Xi Jinping, que considerou “chocante e preocupante” o desperdício de alimentos pelos seus compatriotas.

“Apesar das boas colheitas que o nosso país consegue todos os anos, é necessário manter o sentido da crise em matéria de segurança alimentar”, alertou o chefe de Estado e secretário-geral do Partido Comunista Chinês.

Num relatório de 2018, a Academia Chinesa de Ciências estimou a quantidade média de comida desperdiçada por pessoa em cada refeição em quase 100 gramas.

No final da refeição, a tradição chinesa exige que se deixe comida no prato, simbolizando assim que se comeu o suficiente.
Devido ao trepidante ritmo de desenvolvimento económico, a China passou de períodos de fome para um de consumo excessivo em poucas décadas.
Em 2015, a Academia de Ciências da Agricultura estimou em 35 milhões de toneladas a quantidade de alimentos desperdiçada todos os anos no país.

A China é o país mais populoso do mundo, com cerca de 1,4 mil milhões de pessoas.
As redes sociais assumiram a luta contra o desperdício.

As plataformas populares Douyin (ou TikTok, no exterior) e Kuaishou anunciaram que vão encerrar as contas dos utilizadores que se filmam a empanturrarem-se até ao extremo, um hábito conhecido pelo termo coreano ‘mukbang’.

Alguns internautas parecem duvidar dos resultados da nova política de austeridade.
“Devemos começar por mudar o nosso hábito nacional de exibicionismo”, observou um utilizador na rede social Weibo, o Twitter chinês. “Pensamos sempre ser desprestigiante pedir um único prato para duas pessoas”, apontou.

Hong Kong | Associação de jornalistas estrangeiros denuncia problemas com vistos

Os jornalistas estrangeiros em Hong Kong estão a encontrar maiores dificuldades na renovação dos seus vistos. A denúncia de atrasos na concessão e renovação das autorizações é feita pelo Clube de Correspondentes Estrangeiros que questiona as autoridades locais sobre a hipótese de os processos estarem agora a ser supervisionados por uma unidade de segurança nacional

 

[dropcap]O[/dropcap] Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong (FCC) denunciou atrasos na renovação ou concessão de vistos de imprensa estrangeira pelas autoridades locais após a aprovação da nova lei de segurança nacional, informaram os ‘media’ de Hong Kong.
Numa carta aberta ao director da Imigração de Hong Kong, Au Ka-wang, o FCC (na sigla em inglês), observou que “um novo procedimento poderia ter sido estabelecido” para o processamento de vistos para os ‘media’ internacionais na região semiautónoma.
A associação referiu que “houve numerosos relatos de atrasos na concessão ou renovação de vistos” e indicou que isso criou “sérias preocupações” entre os meios de comunicação e jornalistas “que têm o direito de operar livremente em Hong Kong”.
O documento questionou o chefe da Imigração se houve alguma mudança no tratamento dos pedidos e se agora estão a ser processados por uma “unidade de segurança nacional” do seu departamento, como afirmaram alguns meios de comunicação locais.
Além de pedir esclarecimentos sobre esta prática, o FCC exige garantias de que “o novo procedimento não restringirá a capacidade dos jornalistas de noticiarem livremente sobre Hong Kong e a China continental”.
A carta é assinada por Jodi Schneider, presidente do FCC, que explicou ontem à agência de notícias EFE que ainda não recebeu qualquer resposta das autoridades de imigração e que estão a exigir esclarecimentos porque “parece que estão realmente a modificar o processo” de concessão de vistos da imprensa estrangeira.

Troca de “mimos”

O artigo 9.º da nova lei de segurança nacional de Hong Kong, aprovada pela Assembleia Popular Nacional (ANP, Legislativo chinês) em 30 de Junho, apela especificamente para o fortalecimento da “supervisão e regulamentação” dos ‘media’ em questões relacionadas à segurança.
Au Ka-wang, além de chefe da Imigração, é membro do Comité para a Protecção da Segurança Nacional, criado em Julho sob a polémica nova lei.
O Comité, que responde perante o Governo central e está sob a sua supervisão, está encarregado de formular políticas para a segurança nacional e promover o desenvolvimento do sistema jurídico da cidade.
Em Fevereiro, Washington declarou que cinco veículos de comunicação estatais chineses nos Estados Unidos eram “agências controladas por Pequim”, tendo reduzido o número de jornalistas permitidos no país e a duração dos seus vistos.
Em seguida, Pequim expulsou três repórteres do Wall Street Journal após o jornal publicar um artigo de opinião intitulado “A China é o verdadeiro doente da Ásia”.
Passadas duas semanas, a China revogou ainda as credenciais de vários jornalistas norte-americanos do Times, Wall Street Journal e The Washington Post.
Em Julho, o jornal norte-americano The New York Times anunciou que iria transferir um terço de seus funcionários sediados em Hong Kong para Seul, depois de Hong Kong ter recusado renovar o visto do seu antigo correspondente Chris Buckley.

ArtFem regressa em Setembro apesar da pandemia

[dropcap]A[/dropcap] segunda bienal internacional de mulheres artistas de Macau (ArtFem), que deveria ter arrancado no Dia da Mulher, em Março, foi adiada para Setembro, com “muitas interrogações” por causa da pandemia, disse à Lusa, Carlos Marreiros, presidente da comissão organizadora do evento.

Em 2018, a primeira edição da bienal foi inaugurada no Dia Internacional da Mulher, a 8 de Março, mas este ano a epidemia de covid-19, que chegou ao território no final de Janeiro, levou ao adiamento da segunda edição para 30 de Setembro.
“A pandemia adiou a bienal e estragou a vida a todos nós”, disse Carlos Marreiros, apontando que, apesar das restrições às viagens, não quiseram adiar esta segunda edição para o próximo ano.

“Temos algumas confirmações e algumas desistências, e temos muitas interrogações, porque as pessoas querem vir ao extremo oriente, mas as restrições [às viagens] são terríveis”, explicou Carlos Marreiros, frisando, no entanto, estar “optimista”.
“Neste momento, devido à pandemia, há obras que provavelmente não chegarão, por isso, temos já obras connosco para assegurar uma exposição com muita qualidade”, adiantou.

Esta segunda edição vai contar com a participação de 116 artistas de todo o mundo, “com uma presença forte da China e Portugal”, e representação de todos os países de língua portuguesa.

Naturalmente diverso

O tema escolhido é “Natura”, incluindo “o conceito de mãe natureza na tradição folclórica e etnográfica” e “as questões climáticas para a preservação da natureza”, disse o presidente da comissão organizadora.
Cinco curadores asseguram a bienal deste ano: além de Carlos Marreiros, também Leonor Veiga, em Lisboa, Alice Kok e James Chu, de Macau, e Angela Li, da China.

Além das exposições, a bienal vai contar ainda com oficinas, palestras e acções de graffiti.
Criada em 2018, a ArtFem “continua a ser a única bienal internacional no mundo exclusivamente dedicada a artistas no feminino”, sublinhou Carlos Marreiros.

Paula Rego, que já tinha sido “madrinha” da primeira edição, em 2018 (na altura representada pela filha, Victoria Willing), vai continuar a ser “madrinha honorária” do evento, que este ano conta também com mais duas artistas plásticas a “amadrinhar” a edição: a escultora chinesa Xiang Jing e a artista Un Chi Iam, residente em Macau.

A inauguração vai ter lugar no dia 30 de Setembro, com exposições no Albergue SCM, nas galerias do antigo estádio municipal, na Galeria Lisboa e na Fundação da Casa Oriente, na casa Garden.

A ArtFem – 2.ª bienal internacional de artistas mulheres de Macau vai estar patente entre 30 de Setembro e 13 de Dezembro.

Música | Concrete/Lotus ao vivo no Club Legend

Dupla actua amanhã a partir da meia-noite no Club Legend, integrado no evento Toghether We Dance. As portas abrem às 22h30 ao som de Ryoma. Até às cinco da manhã outros três DJs juntam-se à dança. O ambiente pouco habitual prometer puxar por uma nova faceta dos Concrete/Lotus

 

[dropcap]H[/dropcap]abituados à sintonia com o ar livre que chega mais lá para o final da tarde, os Concrete/Lotus sobem amanhã a um palco pouco habitual, a partir da meia-noite. Sem a luz de uma tarde passada no jardim, mas com a intensidade do ambiente do Club Legend, a dupla composta pelo produtor, cantor e multi-instrumentista Kelsey Wilhelm e pela vocalista Joana de Freitas, diz estar preparada para enfrentar um desafio mais “pesado”, que permite, porém, dar aso a outras viagens a nível musical.

“É a primeira vez, ou talvez a segunda, que tocamos numa discoteca. É uma atmosfera muito diferente, que nos obrigou a adaptar ligeiramente o nosso set a um concerto, com um ambiente mais pesado digamos assim. Não é pesado no sentido de mudarmos o nosso estilo, vamos é aproveitar para mostrar músicas que temos e que, por vezes, não saem do estúdio porque são um pouco diferentes daquilo que fazemos normalmente”, disse ao HM Joana de Freitas.

A vocalista partilhou ainda que a actuação de amanhã no Club Legend vai permitir ao público contactar “um bocadinho com outro tipo de influências” dos Concrete/Lotus. “Tudo o que fazemos é original. Se tivéssemos de nos encaixar num género, não seria o normal, seria Trip Hop, que é como nos classificam normalmente (…) mas, na verdade, nunca sabemos bem dizer, porque somos influenciados por muitos estilos”, acrescentou.

Antes dos Concrete/Lotus entrarem em palco, quando as portas do Club Legend abrirem às 22h30 o som ficará a cargo do conhecido DJ Ryoma. Depois do concerto dos Concrete/Lotus, a música vai continuar até às cinco da manhã, ficando a cargo dos DJs, D-Hoo, Matteo C. e Furtas.
O evento é organizado pela Macau Dance Music Association e o custo de admissão é de 200 ou 250 patacas, consoante a entrada seja feita antes ou depois da meia-noite.

É bom estar de volta

Com mais ou menos luz, Joana de Freitas não tem dúvidas que, depois de tanto tempo em que a pandemia atirou Macau para um silêncio forçado, o que importa é estar de volta aos palcos, até porque em Agosto e Setembro, os Concrete/Lotus têm já agendados vários espectáculos.
“A nossa parte favorita de fazer música é mesmo tocar ao vivo. É uma adrenalina incrível e sentimo-nos completamente livres. Em Julho, já tivemos um pouco dessa experiência depois de tanto tempo parados (…) com os concertos das Casas-Museu da Taipa. Este mês tivemos já convites para mais dois ou três concertos lá”, partilhou a vocalista.

O primeiro desses espectáculos ao ar livre acontece já no domingo, ficando a promessa de mostrar “algumas músicas novas”.
“Como estivemos tanto tempo fechados sem poder mostrar nada, agora temos uma data de músicas novas. Antes faltava tempo para criar, mas agora ficou a faltar tocar para alguém, mostrar às pessoas aquilo que fazemos”, rematou.

Escola Portuguesa | PJ recebeu queixa de ataque informático na quarta-feira

A Escola Portuguesa de Macau garantiu aos pais dos alunos, em Julho, que na sequência do ataque informático, ocorrido em Abril, foram alertadas todas as entidades competentes. O HM apurou ontem que a PJ recebeu a queixa do director do EPM apenas esta quarta-feira, dia 12, e que foi a única entidade pública contactada pela escola. Segundo o director da EPM, foi enviado um e-mail “nos finais de Abril, início de Maio”, a alertar a PJ para o sucedido

 

[dropcap]C[/dropcap]omo o HM noticiou ontem, o sistema de consulta e gestão de informação entre alunos, encarregados de educação e professores, NetGiae, usado na Escola Portuguesa de Macau (EPM), foi alvo de um ataque informático, facto comunicado à Associação de Pais da Escola Portuguesa (APEP) numa reunião realizada no dia 16 de Julho.

Num sumário da reunião, passado aos pais associados e a que HM teve acesso, é referido que “foi esclarecido pela Direcção [da EPM] que todas as entidades competentes tiveram conhecimento do sucedido.”

Porém, a queixa às autoridades policiais foi apenas apresentada nesta quarta-feira, dia 12 de Agosto, no dia em que o HM contactou Manuel Machado, director da EPM, para comentar o ataque cibernético. “O director reportou o caso à Polícia Judiciária no dia 12 de Agosto, que está em investigação”, revelou a autoridade policial.

Face a esta informação, Manuel Machado reiterou ter enviado um alerta por correio electrónico, pouco tempo depois de ter sido dado o alarme para o ataque dos hackers. “Enviámos um email nos finais de Abril ou início de Maio a reportar a situação”, declarou o responsável, acrescentando que a PJ foi a única entidade a que foi dado conhecimento da situação, além da Fundação Escola Portuguesa de Macau.

Uma realidade que não vai ao encontro do que foi revelado à APEP, na reunião de 16 de Julho, quando pela primeira vez os pais ficaram a saber que tinha havido um ataque informático ao sistema NetGiae. “Quando nos disseram que foi dado conhecimento a todas as entidades competentes, para mim, essas entidades competentes, além da Polícia Judiciária, deviam ser a DSEJ, a Fundação da Escola Portuguesa, o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais e a Comissão para a Cibersegurança”, comenta Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da APEP.
“Pressuponho que essa queixa foi feita na altura em que as coisas aconteceram”, comentou ao HM José Luís Sales Marques, membro do Conselho de Administração da Fundação Escola Portuguesa de Macau.

Confrontado com a confirmação da PJ de que a queixa foi apresentada a 12 de Agosto, Sales Marques referiu que é preciso apurar o que se passa. “A fundação está sempre atenta às questões que a escola vive, é a nossa obrigação”, assegurou o membro da entidade que tutela o estabelecimento de ensino, sublinhando que “esta é a direcção que a fundação nomeou”.

Dados não adquiridos

Outra situação por explicar prende-se com os danos resultantes do ataque. Se por um lado, terá sido alegadamente dito à APEP que desapareceram dados pessoais, nomeadamente nomes, fotografias e números de identificação de alunos, Manuel Machado negou essa versão em declarações na quarta-feira ao HM. “Não há cópia nem desvio de dados. Isso é muito importante. Os dados estão connosco, não podem é ser utilizados”, esclareceu o director da escola.

Versão que esbarra com a da associação de pais. “Não nos foi dito nada em relação a encriptação de dados. Primeiro, disseram que tinham desaparecido dados, agora o director já diz que afinal os dados não desapareceram, mas que estão lá encriptados”, comentou ontem Filipe Regêncio Figueiredo.

O presidente da associação de pais mostrou ainda “preocupação com este assunto” e revelou que o organismo que dirige vai “tentar obter junto da escola mais informações” para “prestar o apoio necessário”.

Cinemateca | Bilhetes à venda na segunda quinzena de Agosto

Numa resposta enviada ao HM, o Instituto Cultural garantiu que os bilhetes para os programas a serem exibidos a partir de Setembro vão ser postos à venda na segunda quinzena deste mês. A programação a cargo da nova gestora da Cinemateca, essa, continua no segredo dos deuses. O espaço está actualmente encerrado para obras de restauro

 

[dropcap]A[/dropcap] partir do dia 1 de Setembro a Cinemateca Paixão volta a abrir portas ao público, de cara lavada e sob a batuta de uma nova gestora, a Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada. No entanto, a programação prevista para a reabertura do espaço após a conclusão das obras de restauro de que está a ser alvo, continua a ser desconhecida.

Numa resposta enviada pelo Instituto Cultural (IC) ao HM, a única certeza que parece existir é de que a Cinemateca Paixão volta a abrir ao público a partir de Setembro e que os bilhetes para as exibições e actividades que irão ter lugar daí para a frente, começam a ser vendidos na segunda quinzena deste mês. Aos interessados é pedido que estejam atentos à divulgação online.

“A Cinemateca Paixão (…) vai concluir as obras de restauro e reabrir ao público a partir de Setembro, continuando a prestar serviços culturais públicos de qualidade aos residentes e divulgando ao público informações relativas a programas e actividades antes da sua realização, como habitualmente. Os bilhetes para os programas que irão ter lugar em Setembro serão colocados à venda na segunda quinzena do corrente mês, devendo o público estar atento à publicação de informações actualizadas no sítio web da Cinemateca”, pode ler-se na resposta do IC.

Quanto à data de início das operações da nova empresa está tudo dentro do previsto, já que, no caderno de encargos que definiu os critérios do concurso público lançado para encontrar a nova gestora da Cinemateca, a data estipulada para a prestação de serviços é de “1 de Setembro de 2020 a 31 de Julho de 2023”.

A 16 de Julho, o HM questionou, por escrito, a empresa In sobre a data estimada para a apresentação da nova programação da Cinemateca, bem como o andamento da construção da futura página oficial da In na internet. Adicionalmente, após várias tentativas falhadas de contacto telefónico com a empresa através da sua coordenadora, Kathy Wong, o HM confrontou o IC com a ausência de respostas da In. O IC voltou a remeter a responsabilidade para a nova gestora da Cinemateca.

“A construção do sítio web da empresa adjudicada constitui um acto comercial da mesma sugerindo-se, desta forma, que seja contactada a Sr.ª Wong, representante da empresa em questão”, pode ler-se na resposta do IC.
Recorde-se que, desde que foi anunciado que a In venceu o concurso de gestão da Cinemateca Paixão, têm vindo a ser levantadas muitas dúvidas acerca da experiência e trabalho feito pela empresa na área do cinema. Por ocasião de uma conferência de imprensa que aconteceu nas instalações da In a 24 de Junho, quando foram pedidos exemplos concretos de trabalhos realizados, Kathy Wong remeteu mais informações para a futura página oficial da In na internet.

Sector insiste

O grupo de cineastas locais “Macau Cinematheque Matters” vai entregar na próxima segunda-feira ao gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U, o resultado da recolha de cartas de apoio onde são partilhadas, além de experiências dos últimos três anos, preocupações relativas à recente controvérsia gerada pela nova gestão.

A informação foi revelada ontem ao HM pela “Macau Cinematheque Matters”. Ao todo vão ser entregues à secretária 60 cartas, com imagens, ilustrações e conteúdos escritos.
Segundo o grupo, vários elementos têm também procurado contactar a empresa In nas últimas semanas, mas sem sucesso.

Jogo | Galaxy com perdas de 2,86 mil milhões no primeiro semestre

Apesar das medidas do levantamento faseado das restrições de viagem, o presidente do grupo, Lui Che Woo, afirmou que a recuperação do sector vai ser lenta

 

[dropcap]A[/dropcap] concessionária Galaxy registou perdas de 2,86 mil milhões de dólares de Hong Kong durante a primeira metade do ano, segundo os resultados apresentados ontem. Este número contrasta com o lucro de 6,68 mil milhões na primeira metade do ano passado.
Numa mensagem ontem divulgada, o presidente do grupo, Lui Che Woo, justificou os resultados com a pandemia e as restrições de viagens entre o Interior, Macau e Hong Kong. “Estas limitações resultaram numa redução significativa do número de visitantes e tiveram como consequência a redução das receitas”, indicou.

Devido a esta realidade, as receitas do grupo na primeira metade do ano foram de 6,22 mil milhões de dólares de Hong Kong, quando no ano passado tinham sido de 26,22 mil milhões, o que faz com que haja uma diferença significativa de 20 mil milhões.
Lui Che Woo comentou também as medidas recentes com o regresso dos vistos individuais de turismo, que permitem às pessoas do Interior vir a Macau jogar, mas mostrou-se cauteloso face ao impacto para o sector. “Apesar da importância destes primeiros passos, é prematuro comentar sobre a rapidez da recuperação do mercado do jogo. Por isso, quando olhamos para o futuro ainda estamos à espera de factores negativos relacionados com a pandemia, que vão acabar por ter um impacto no nosso desempenho financeiro”, explicou.

Belo pé de meia

Os resultados da Galaxy reflectem a tendência do mercado do jogo em Macau que na primeira metade do ano viu as receitas terem uma redução de 77,4 por cento para os 35 mil milhões de patacas, quando no período homólogo as receitas tinham sido de 149,5 mil milhões. No mesmo período, também o número de turistas que chegaram a Macau afundou 84 por cento, para os 3,3 milhões de visitantes.
Face ao cenário negro, o presidente do grupo Galaxy assumiu que a companhia está mais focada em “controlar de forma efectiva os custos”, em vez de apostar na expansão das receitas.

No entanto, Lui Che Woo vincou igualmente que a empresa está empenhada em seguir as políticas do Governo, de proteger os empregos dos residentes e apoiar a economia através das Pequenas e Médias empresas.
O grupo explicou ainda que tem reservas em dinheiro de 43,6 mil milhões de dólares de Hong Kong para fazer face a qualquer adversidade. O número sobe para 49,8 mil milhões, quando é calculado o valor dos investimentos.

Pequim | Ministro do Comércio promete apoiar empresários que invistam em Hengqin

Na reunião com Ho Iat Seng, Zhong Shan recordou a amizade de “vários anos” entre os dois e elogiou os resultados “nada fáceis” do Governo local no controlo da epidemia, que, frisou, terem correspondido à missão traçada por Xi Jinping

 

[dropcap]O[/dropcap] ministro do Comércio, Zhong Shan, elogiou a Ilha da Montanha pela abertura que tem mostrado para receber o investimento de Macau e prometeu apoiar os empresários locais. As declarações foram prestadas na quarta-feira e divulgadas pelo Governo da RAEM, após um encontro entre os dois no âmbito da visita do Chefe do Executivo a Pequim.

Durante a reunião, Ho Iat Seng terá defendido que o espaço de Hengqin poderia ser utilizado pelos empresários de Macau para actividades económicas, como a medicina tradicional chinesa. Segundo o Chefe do Executivo, esta seria uma forma de auxiliar a RAEM a seguir os desígnios de Xi Jinping e contribuir para a diversificação da economia local.

Por sua vez, o ministro do Comércio mostrou apoiar a utilização da Ilha da Montanha pelos empresários de Macau e afirmou que esta zona é muito aberta ao exterior. Zhong Shan destacou ainda que Ministério irá cumprir escrupulosamente as instruções do secretário-geral [Xi Jinping] para implementar um novo mecanismo para inovação, acelerando a exploração de Hengqin e apoiando o desenvolvimento adequado da economia de Macau.

Outro assunto em cima da mesa, levantado por Ho Iat Seng, foi a situação da Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Sobre o evento, Zhong Shan respondeu que neste momento é preciso resolver primeiro a situação da pandemia e que após este desígnio ser conseguido vai apoiar a realização da conferência ministerial.

Combate à epidemia

Durante o encontro, que aconteceu poucas horas depois do Chefe do Executivo ter voado para Pequim, Zhong Shan terá também destacado que estava feliz por reencontrar Ho Iat Seng, de quem, sublinhou, é “amigo há vários anos”.
Por outro lado, o ministro destacou os trabalhos conduzidos pelo Executivo no controlo e combate à pandemia da covid-19, que disse terem sido feitos “sob a liderança do Governo Central”.

“O Chefe do Executivo da RAEM materializou com firmeza a essência do importante discurso do secretário-geral Xi Jinping, liderando todos os sectores de Macau no combate à epidemia, com o qual obteve bons resultados, nada fáceis de atingir”, consta no comunicado.
Em relação à prevenção da pandemia, Ho Iat Seng agradeceu ao Interior por ter apoiado Macau com a venda de máscaras, mas também com o abastecimento de alimentos, como óleo e cereais.

Autocarros | Novos contratos com tecto máximo para assistência financeira

A assistência financeira à Transmac e TCM vai ter um limite máximo de 600 milhões de patacas anuais, com excepção dos encargos sociais. Os contratos de concessão vão ter um período de seis anos e metas para veículos mais amigos do ambiente

 

[dropcap]O[/dropcap]s novos contratos de concessão dos serviços de autocarros públicos da Transmac e TCM vão durar seis anos e devem ser assinados este mês ou no próximo, disse ontem o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário.
O apoio financeiro anualmente ronda mil milhões de patacas, mas a forma de cálculo vai mudar, com os valores de 2019 a servirem de referência. A assistência a passageiros idosos, portadores de deficiência ou alunos é entendida como um “encargo social”, pelo que se mantém como um valor variável. Já o resto da assistência financeira, que no ano passado foi de cerca de 600 milhões de patacas, passa a ter esse montante definido como limite máximo.

“No futuro este valor (600 milhões) fica fixado como um tecto máximo e haverá um esquema para periodicamente comparar com a situação de 2019. Esse valor pode ser reduzido e nunca será aumentado”, disse Raimundo do Rosário. O ano de 2019 é tomado como a referência por terem sido transportadas mais de 200 milhões de pessoas, uma situação que o Governo considera que “dificilmente voltará a acontecer”.
De acordo com Ella Lei, presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas, depois de três anos pode haver oportunidade para as empresas requererem o aumento desse valor. Mas o pedido vai estar sujeito a uma apreciação do Governo.

As empresas vão também poder pedir anualmente uma actualização dos preços dos bilhetes. “No futuro se calhar as operadoras podem pedir para aumentar o preço dos bilhetes 20 ou 40 avos por causa do aumento dos salários ou despesas ordinárias. A operadora pode pedir, mas o Governo sublinhou que o pedido pode não ser deferido, depende da situação em concreto”, explicou a presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas.

Serviços privados

O novo contrato vai permitir prestação de serviços de autocarros para particulares, em moldes diferentes do actual. No fundo, se quiserem ter serviço de aluguer, as operadoras precisam de ter duas frotas: uma dedicada ao serviço público, e outra ao particular. Cada uma com os seus motoristas. E vão poder realizar actividades de publicidade. No entanto, todas as receitas que receberem “serão incluídas na mesma contabilidade, finda a qual as companhias terão de pagar uma retribuição à RAEM”, disse ainda Raimundo do Rosário. Ainda não está definida a percentagem do lucro que será devida como retribuição.

A medida está associada ao tempo de vida útil dos autocarros, que o secretário apontou como sendo de oito anos. Ao fim desse período, se passarem com êxito a inspecção da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Trânsito, os veículos podem fazer serviços particulares. Os autocarros que o façam vão ter uma cor diferente para serem facilmente distinguidos pelos cidadãos.

Mobilidade verde

Há também exigências ao nível ambiental das viaturas. Sempre que for preciso adquirir pequenos e médios autocarros, terão de ser veículos amigos do ambiente, dentro das opções de mercado. Nas linhas que não atravessem a ponte, metade dos autocarros terão de ser amigos do ambiente até 2022, com a percentagem a subir para 100 por cento em 2024. Por veículos amigos do ambiente, Raimundo do Rosário esclareceu seguirem-se os padrões europeus. Fica à escolha das empresas se são eléctricos, híbridos ou a gás, por exemplo.

De acordo com Ella Lei, em caso de necessidade de serviços como oficinas, estacionamento ou abastecimento de combustíveis, o Governo pode vir a atribuir de forma gratuita um terreno às empresas. Com a ressalva de que o terreno e as instalações que lá forem construídas ficam ligados aos serviços de autocarros públicos, em vez de uma concessão directa à operadora. Ainda não existe um terreno preparado para essa finalidade.

A presidente da Comissão indicou que segundo as informações dadas pelo Governo, vai haver um mecanismo de avaliação da qualidade do serviço das concessionárias, e que no futuro os cidadãos vão poder participar nessa avaliação. Estão previstas sanções para as empresas que não satisfaçam a avaliação, que podem abranger uma redução da assistência financeira. A deputada deu como exemplos de factores passíveis de afectar a avaliação o número de carreiras, a qualidade do serviço e o número de acidentes. De acordo com Ella Lei, o Governo disse também que há sanções “picantes”, apesar de não terem sido dados pormenores sobre esta parte do contrato.

Spencer Li, coordenador do estudo “Macao Social Survey”: “Macau é ainda uma sociedade conservadora”

Pela primeira vez foi produzido um estudo abrangente sobre o panorama socioeconómico e político do território, da autoria de vários académicos da Universidade de Macau e coordenado pelo sociólogo Spencer Li. A desigualdade social e a falta de transportes públicos são os principais problemas apontados pelos residentes. Spencer Li denota que a sociedade é inclusiva em relação aos trabalhadores estrangeiros, mas consumidores de droga, portadores de HIV ou homossexuais são marginalizados

 

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efere que, com este estudo, os académicos têm maior capacidade para fazer sugestões ao Governo de políticas. De que forma concreta este estudo pode ajudar o Executivo na governação?

O foco mais importante das políticas a implementar deveria ser a resolução dos problemas que identificámos no estudo. O principal problema identificado pelos residentes prende-se com a falta de transportes públicos. Há limitações geográficas, pois Macau é um território muito pequeno, onde circulam muitos veículos. Então o melhor que devemos fazer é apostar nos transportes públicos. O Governo tem agido para reduzir o problema, mas há outros problemas que mencionamos no livro. O segundo mais grave é a desigualdade social, que sempre foi muito elevada. Isso pode levar ao descontentamento popular e conflitos sociais, especialmente entre as gerações mais novas que não veem oportunidades de crescer socialmente em algumas áreas. Outro problema mencionado é o ambiente, além do facto de Macau precisar de um desenvolvimento generalizado na área da educação. Nos últimos 10 anos, o nível de educação aumentou, mas ainda não é suficiente, especialmente se compararmos Macau com outras regiões ou cidades desenvolvidas. Macau é um território desenvolvido e muito rico, mas em termos educacionais ainda não atingimos um determinado nível. Deveríamos prestar atenção a esse aspecto. Mas há ainda outro problema, muito óbvio aliás, que é a dependência de uma única indústria, a do jogo e do turismo. Isso cria problemas para quem procura trabalho em outras áreas, sobretudo os mais jovens. Podem não conseguir trabalhar fora da indústria do jogo, do retalho ou do turismo, sobretudo tendo em conta o facto que o nível de educação é cada vez maior. Os jovens querem trabalhar em áreas nas quais Macau não oferece oportunidades.

Como explica o baixo nível de educação, tendo em conta o desenvolvimento do ensino superior dos últimos anos?

Pela minha experiência como professor vejo, que a maior parte dos alunos são motivados. Muitos dos meus alunos estudam e trabalham ao mesmo tempo e não terminam os estudos pós-graduados ou mesmo as licenciaturas. E porquê? Não veem qualquer objectivo nisso. Têm interesse, mas não veem qualquer utilidade em fazer um mestrado, por exemplo. Como refere o livro, para encorajar mais as pessoas a seguir os estudos superiores é preciso recompensas e oportunidades. Se as pessoas não virem a recompensa, então ficam menos motivadas. Há uma grande desconexão entre o sistema educativo e as oportunidades. Podem estudar no Reino Unido, na Austrália ou na China, mas depois regressam e não conseguem encontrar um trabalho fora da indústria do jogo.

O problema está no mercado de trabalho.
Sim. O mercado laboral é muito limitado e virado para um só segmento. Para termos uma melhor força laboral é preciso melhorar o mercado.

Qual deveria ser o papel do Governo aqui?

Não sou economista. A situação causada pela pandemia do novo coronavírus reduziu as reservas financeiras do Governo, mas essa não é a norma. O Governo ainda tem muito dinheiro e penso que se tem esforçado em investir em novas indústrias. Mas, até agora, não temos visto grandes resultados. O Governo tem de continuar a apostar em novas indústrias para dar oportunidades à força laboral educada.

Sobre a desigualdade social. A pandemia da covid-19 pode aumentar ainda mais o fosso entre ricos e pobres?

Em primeiro lugar, perderam-se muitos empregos e rendimentos. Macau tem muitos empreendedores na área do retalho ou dos restaurantes, que vivem de pequenos negócios. Mas devido à crise, que levou ao fecho de restaurantes e lojas, muitas entraram em falência. Isso pode ser muito difícil. Os ricos continuam a ter muitas opções, pois podem investir noutras áreas, e se em Macau não funciona podem investir na China ou outros países. Na verdade, a crise causada pela pandemia trouxe mais oportunidades a bilionários, que não estão a lutar pela sobrevivência. Pelo contrário os mais pobres estão numa situação muito pior e isso é uma preocupação. Pode, de facto, aumentar a desigualdade entre ricos e pobres.

Outra das conclusões do estudo é que a maior parte dos residentes se sentem próximos da China.

De certa forma, não é uma conclusão surpreendente. No entanto, até agora tínhamos algumas percepções, mas não sabíamos se era verdade ou não. O nosso estudo é o primeiro que verdadeiramente apresenta dados que confirmam isso. Há várias explicações. A primeira é que 95 por cento dos residentes são chineses e descendem de gerações mais antigas que vieram da China. Têm esses laços. A segunda explicação surge pelo facto de estarmos ligados economicamente à China, além de que a maior parte dos turistas vêm da China. Muitas pessoas vivem em Zhuhai e trabalham em Macau. A terceira explicação surge pelo facto de Macau beneficiar de inúmeros acordos com a China, algo que nos beneficia, como os turistas chineses, e a política “um país, dois sistemas”.

Considera Macau uma sociedade inclusiva? Pergunto isto porque há muito a ideia de oposição entre residentes e não-residentes.

De uma forma geral penso que é inclusiva. Temos pessoas de origens diferentes em Macau. Descobrimos com o nosso estudo que a maior parte dos residentes são inclusivos e tolerantes. A maior parte das pessoas que entrevistamos não tem problemas em viver no mesmo território com pessoas que falam outra língua e que vêm de outro sítio. Mas também descobrimos que esse problema não se verifica tanto com determinados grupos étnicos. Há marginalização em relação a problemas sociais ou a estilos de vida diferentes. As pessoas não querem vizinhos consumidores de drogas, cerca de 50 por cento dos inquiridos responderam isso. Também não querem viver com pessoas que têm HIV ou homossexuais. Então não falamos propriamente de um sentimento contra grupos étnicos, mas sim contra estilos de vida não convencionais. Nesse sentido, Macau é ainda uma sociedade conservadora.

Se a sociedade é inclusiva, como explica posições de deputados contra trabalhadores não residentes?

O estudo não abordou esta questão, mas se pergunta a minha opinião digo-lhe que isso se deve a motivos económicos. Macau é tão pequeno que há o receio de que os trabalhos sejam roubados aos residentes pelos trabalhadores que vêm de fora. Os trabalhadores estrangeiros trabalham mais horas e ganham menos. Os residentes podem não estar dispostos a isso e penso que essa atitude se deve à economia. Eu próprio sou um trabalhador estrangeiro, embora seja um trabalhador qualificado. Não falo cantonense, só falo mandarim e inglês, mas sempre fui bem tratado. O que sinto é que a maior parte das pessoas não tem qualquer tipo de problema em lidar com trabalhadores estrangeiros, mas receiam a ameaça económica. É isso que leva à preocupação em relação aos não residentes.

Sobre a participação política da população, o estudo conclui que a maior parte está ligada a associações de cariz político. Existem mesmo participação política ou a motivação prende-se com benefícios ou contrapartidas?

Não acredito que as compensações sejam a principal motivação para a participação nas eleições. Mais de 50 por cento dos residentes inquiridos disseram fazer parte de associações, muitas delas com representantes políticos ou que têm as suas preferências políticas, incentivando o voto. Essa é a força motriz. Claro que esses residentes também têm as suas preferências políticas. Em relação às consultas públicas promovidas pelo Governo, os residentes também participam nesses processos.

Algumas destas associações são muito antigas. Continuam, assim, a ser muito importantes para a população de Macau.

Sim, muito importantes. Essa é uma das características da sociedade de Macau, a ligação das associações à comunidade. As pessoas participam na política porque são membros destas associações.