Anhedonia II António de Castro Caeiro - 31 Jul 2020 [dropcap]N[/dropcap]ietzsche diz que os orientais e os ocidentais têm dois tipos de narcóticos diferentes. Os chineses o ópio. Os europeus, o álcool. Nietzsche acentua a diferença mais na rapidez dos efeitos do que na consequência. Hoje, não a diferença geográfica que N. traça não faz sentido. É interessante o critério que emprega. A rapidez dos efeitos e a duração da eficácia. Quando se fala de eficácia, é de alteração do estado de consciência. A alteração do estado da consciência transforma a biologia do nosso corpo, a psicologia dos nossos comportamentos, a própria forma da nossa existência. A dimensão em que passa a existir quem usa substâncias psicotrópicas é diferente da da realidade. Desde a antiguidade que a lucidez “seca” é diferente da lucidez “molhada”, a vida sóbria e seca opõe-se e contrasta com a vida ébria e encharcada. A invasão do álcool, normalmente, do vinho foi estudada na antiguidade como uma forma de perceber como é que a melancolia, um líquido segregado pelo corpo humano pode afluir ao cérebro e transformar o modo de pensar, a forma de agir, a mentalidade e a própria existência das pessoas. O uso de drogas, mas também o uso das diferenças bebidas, identificam diferentes personalidades. Pode haver quem “goste” de toda a espécie de substância de que se torna adicto, pode haver que tenha substâncias de eleição e não consuma nenhuma outra. Há bebedores que não se drogam. Há quem fume, por exemplo, erva e nunca beba álcool. Há sem dúvida quem nunca use nenhuma substância nem sequer alcoólica. Há também, ainda que mais raras, pessoas que usem mas não possam ser consideradas ou adictas ou alcoólicas. A adicção é uma doença. Desenvolve-se uma obsessão compulsiva por uma substância. O elemento comum, do ponto de vista neurofisiológico, é que ficamos “viciados” em dopamina. O nosso doce preferido na infância, a nossa comida preferida nos jantares com amigos, a nossa bebida de eleição, o rosto da atração erótica, seja o que for tem uma estimulação de dopamina. O que nós chamamos sex-appeall ou sexy, o que é atraente, o que é estimulante, excitante, segrega dopamina. É por isso que o nosso cão de estimação lá de casa rouba bolo de chocolate e não puré de brócolos. Mas o que tem a narcose? O que tem a alteração da consciência? Para quê a alteração da consciência? Há uma procura clara dessa alteração. Ou por curiosidade ou para experimentar ou porque é uma possibilidade já dada na vida. O ser humano gosta da alteração. O ser humano não gosta de estar sempre na mesma. A mudança que se experimenta com a rapidez de um rastilho a queimar-se e com a influência de uma substância do mundo é que é diferente de uma experiência da mudança que se possa ter com a alteração de perspectiva e uma verdadeira mudança de vida. O que há nas drogas, no álcool, no café, no tabaco, no açúcar, na comida ingerida em excesso, é uma busca artificial da experiência rápida da mudança. A alteração pode dar-se mas de tal forma que se ultrapassa o ponto sem retorno. Ou seja, o que gostaríamos de ter era uma consciência ainda da alteração da consciência e não uma perda da consciência ou uma abertura a uma dimensão alucinante onde não existimos, agimos sem pensar, sem ver, como se tudo fosse um sonho, ao sabor dos caprichos, daquilo para o que nos dá, mas sem sermos nós próprios. A outra alteração da consciência seria assim a da toxicidade para a sobriedade. Podíamos pensar que estávamos sempre inconscientes e ganharíamos consciência, que estávamos a dormir um sonho, a sonhar e acordávamos. Ou então podemos pensar que estamos numa situação que os teólogos descrevem como conversão, não víamos e passávamos a ver, não éramos e passávamos a ser. Há uma enorme dificuldade em lidar com a luz, com o estado de vigília, com a consciência que ganhamos da situação em que nos encontramos. Uma das relações que se estabelece com a sobriedade é uma relação com a lucidez, com a possibilidade de ela não se apagar nunca. É difícil viver sem nunca apagar, sem nunca descansar. Viver com a lucidez é extraordinariamente difícil, mas é por isso que algumas pessoas usam drogas ou álcool, porque não aguentam a realidade. Mas a aproximação à lucidez e à sobriedade é uma forma complexa de aproximação à aurora, à madrugada, ao nascimento, ao princípio, à infância, à atmosfera disposicional em que a vida se bastava a si própria como as vibrações sonoras e a cadência temporal da vida. Nietzsche falava dessa outra possibilidade da vida se encontrar com o êxtase, com uma embriaguez que se dá na sobriedade e na lucidez e ainda assim nos deixa fora de nós. Dentro de nós e fora de nós, com a possibilidade mais extrema e radical musical que é a do ser humano. Virá sempre uma fragrância, um entardecer, um lugar à mesa em companhia de amigos em que o êxtase que queremos será aquele rápido e breve, como se não houvesse amanhã, mas a nossa aventura, a nossa demanda pela música será interrompida não se sabe por quanto tempo.
Não há paisagem Duarte Drumond Braga - 31 Jul 2020 [dropcap]N[/dropcap]o meio das litanias pela inacção, pelo tédio e pela abdicação, a China aparece de repente no meio do Livro do Desassossego. Bernardo Soares podia ser o Lao Tse da Rua dos Douradores, e Pascoaes o Confúcio do Marão, mas nem por isso. De qualquer maneira, para os dois primeiros a renúncia é a libertação e é certo que só “não querer” é o verdadeiro poder. Nisso concordam, quer o mestre Lao quer o guarda-livros (quer ainda o Manuel de Barros, lá na capitania de Mato Grosso), mas o sábio assiste e dá valor às dez mil coisas, revés e convexo do vácuo. Já Bernardo nem por isso, e fica-se pela pura inação: “Que me pode dar a China que a minha alma me não tenha já dado? E, se a minha alma mo não pode dar, como mo dará a China, se é com a minha alma que verei a China, se a vir? Poderei ir buscar riqueza ao Oriente, mas não riqueza de alma, porque a riqueza de minha alma sou eu, e eu estou onde estou, sem Oriente ou com ele.” De resto, por que razão aparece aqui a China? Ela é aqui apenas uma metáfora do longe, e interessa aqui o seu uso conhecido como imagem do outro absoluto. É assim exemplo privilegiado para uma desconstrução do exotismo da viagem. A única viagem possível é a viagem interna, porque o único criador de diferenças e de exotismos é a alma. É difícil entender esta ideia, tão habitados que estamos – ou que estávamos, melhor dizendo – à ideia de viajar, de perder países. Na verdade, viajar é apenas uma vulgaridade, como o mesmo Bernardo disse a propósito de subir à montanha. Quem está no alto da montanha está apenas a ver o mesmo que se vê de baixo, só que de uma altura maior. Quem está no alto da montanha está apenas no alto da montanha. Assim também, quem viajou apenas se moveu uns quantos passos para a frente. Da mesma forma, quem está na China está apenas na China, foi ao termo real do continente ao qual se prende a Península Ibérica: em Vladivostok ou Dalian, comendo um bom glass noodle entre as duas Coreias, aí o termo real da península dos iberos e da terra dos zuavos. Quem está na China está apenas uns quantos quilómetros mais à frente. Lá só vai encontrar o mesmo que se encontra na Serra da Arrábida ou no Cacém, com uns quilómetros de permeio. O campo é igual à cidade, o mar é igual à terra, e esta ao rio, e assim sucessivamente. A paisagem tem sempre gente lá dentro, e essa gente é sempre e toda mais ou menos boa, ou mais ou menos má. Como consola, como ajuda, nestes tempos em que não podemos viajar, entender que viajar é apenas uma declinação pobre da (in)capacidade de sentir! Afinal, viaje quem não pode sentir, vá quem não pode ficar. Eu só encontro aquilo que os meus e mesmos olhos mostram, e daqui até à China a glauca retina não muda de cor nem de massa. São tão pobres os livros de viagens!, diz Soares: as terras de que falam, todas iguais e daninhas, imagens baças coladas a uma retina, uma fotografia que desliza como faz um verme.
LMA | Funk e pop na segunda edição do Arroz Music Festival Andreia Sofia Silva - 31 Jul 2020 Depois de uma bem-sucedida primeira edição, a 18 de Julho, o Arroz Music Festival está de regresso este sábado aos palcos do espaço Live Music Association. O cartaz é composto por bandas de Macau como os LAVY, FIDA, Dr. Jen, Fall to Fly, A Little Salt e Frontline Castle, que sobem ao palco a partir das 18h [dropcap]O[/dropcap] espaço Live Music Association (LMA) volta a acolher mais uma edição do Arroz Music Festival, um evento de concertos que vai mostrar o que de melhor se faz nos mais variados estilos musicais em Macau. Para este sábado o palco está reservado a bandas como LAVY, FIDA, Dr. Jen, Fall to Fly, A Little Salt e Frontline a partir das 18h, com entrada gratuita. Esta será a segunda edição de uma iniciativa que promete não ficar por aqui, conforme contou ao HM Dickson Cheong, um dos gestores do LMA. “Na primeira edição queríamos focar-nos no punk, heavy metal e rock, esse tipo de som mais pesado. Mas desta vez queremos trazer sons como funk, pop, rock and roll e pop-rock, numa maior aproximação aquilo que as pessoas podem gostar.” A terceira edição contará com a presença de cinco ou seis bandas que tocam no formato de mini-concerto, adiantou Dickson Cheong. Em altura de pandemia, quando as fronteiras de Macau estão praticamente fechadas, esta é uma boa altura para ouvir música ao vivo e fazer com que as pessoas saiam de casa. “O público está mais aberto a estes eventos porque as pessoas não podem sair de Macau. É uma boa oportunidade para que se aproximem dos concertos e da música ao vivo ao invés de apenas ouvirem as canções no telemóvel”, frisou o responsável pela organização do festival. Todos a florescer Os promotores do festival decidiram dar-lhe o nome de arroz por ser um alimento que não só está muito presente na gastronomia de Macau como é um símbolo de união das várias comidas. “Quando estávamos a organizar o festival não sabíamos qual seria o nome ideal para ele. Fizemos uma pausa, pedimos comida de fora e decidimos que o festival poderia chamar-se Arroz, devido à mistura do arroz cozido com comida chinesa ou ocidental. É como a música, em que podemos misturar todo os estilos”, contou Dickson Cheong. O objectivo do festival é promover mais união entre as bandas locais e o seu potencial público, mas os organizadores querem juntar todos aqueles que trabalham na área cultural e criativa. “Também convidamos pessoas de outras áreas, tal como fotógrafos ou produtores, ou designers. Temos o plano de misturar todas as indústrias para que estas possam florescer, queremos reunir toda a indústria criativa para que, de certa forma, possa renascer.” Em declarações ao HM, Dickson Cheong nota que há cada vez mais pessoas em Macau a fazer música, seja de forma profissional ou amadora, e que anseiam por mostrar aquilo que fazem. “O ambiente da música não tem parado e tem melhorado significativamente. Conheço pessoas novas que decidiram começar a tocar. O público tem de abrir a mente para experimentar novos tipos de sonoridades e de espectáculos. Há caras novas em todos os eventos e ficamos surpreendidos com isso”, rematou.
FSS | Cerca de 36,5 milhões distribuídos por razões humanitárias Salomé Fernandes - 31 Jul 2020 A repartição extraordinária de saldos orçamentais chegou a mais requerentes por razões humanitárias em 2017, e por motivos de despesas médicas em 2013 [dropcap]A[/dropcap]o longo dos últimos 11 anos, foram distribuídas verbas de repartição extraordinária de saldos orçamentais num valor total de 28,5 mil milhões de patacas. O ano com mais pedidos de apoio aprovados por razões humanitárias ou situações devidamente fundamentadas foi 2017, com 258 requerentes a receberem um total de 8,19 milhões de patacas. Foi também o ano com o número mais alto de rejeições: 139 requerentes através dessa via não conseguiram aceder às verbas. De acordo com dados facultados ao HM pelo Fundo de Segurança Social (FSS), só em 2011 as razões humanitárias passam a integrar a tabela como fundamento para requerer a verba. Nesse ano, foram aprovados 30 pedidos, num valor total de 300 mil patacas. Os rejeitados foram o triplo. Dois anos depois, começou a ser dado o aval à maioria dos pedidos por motivos humanitários, uma tendência que se mantém. No total, entre 2011 e 2019 foram distribuídos cerca de 36,5 milhões de patacas neste âmbito. Note-se que estão habilitados a receber a verba os residentes com mais de 65 anos, desempregados com 60 anos ou mais, residentes com elevadas despesas médicas devido a lesões ou doenças graves, quem invocar razões humanitária ou os beneficiários há mais de um ano de pensão de invalidez do FSS e especial do Instituto de Acção Social. Os beneficiários têm de ser residentes permanentes, ter, pelo menos 22 anos, e ter permanecido no ano passado no território um mínimo de 183 dias. Motivos médicos em queda Em 2010 foram autorizados 782 pedidos por requerentes que se viram na situação de terem de assumir despesas elevadas para tratamento médico devido a lesões corporais ou doença grave. Apenas um pedido foi rejeitado. O volume de beneficiários por motivos de despesas médicas foi mais alto em 2013. Atingiu 1094 deferimentos, que representaram um montante de 19,07 milhões. Ficaram de parte 306 pedidos. Desde então o volume destes pedidos tem, no geral, vindo a diminuir. Ainda assim, o ano em que o benefício por motivos médicos teve um peso financeiro maior foi em 2018, superando 26 milhões.
DSPA | Qualidade do ar melhora, mas níveis de ozono aumentam Andreia Sofia Silva - 31 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) publicou ontem o Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2019 que conclui que “a qualidade do ar do Delta do Rio das Pérolas tem vindo a ser constantemente aperfeiçoada”. “Comparando com 2006, os valores médios anuais de concentração de Dióxido de Enxofre (SO2), partículas inaláveis e Dióxido de Azoto (NO2) verificados em 2019 desceram 84, 37 e 29 por cento, respectivamente”, acrescenta o relatório. A DSPA explica ainda que “embora os dois factores de monitorização – Monóxido de Carbono (CO) e partículas finas – só tenham sido inseridos em toda a rede em Setembro de 2014, em 2019 verificou-se, também, uma diminuição de 4 por cento e 14 por centos nos valores médios anuais de CO e partículas finas, face a 2015”. O relatório revela, contudo, que os níveis de concentração de ozono aumentaram 36 por cento em relação a 2006, pelo que “a situação da poluição luminosa e química na região precisa ainda de ser melhorada”. Thomas Lei, académico da Universidade de São José, destacou ao HM o facto de as medidas implementadas pelo Governo para a redução do número de veículos estarem a surtir efeitos. No entanto, o investigador defende a criação de zonas de baixa emissão de carbono, como na Rua do Campo, com circulação exclusiva a carros com menos de oito anos. Quanto à subida dos níveis de ozono, “esta tendência não se verifica apenas em Macau, mas em várias zonas da China”, disse.
Estudo | Mobilidade com impacto significativo na qualidade do ar Andreia Sofia Silva - 31 Jul 202031 Jul 2020 Um estudo da Universidade de São José comparou os níveis de poluição durante a Semana Dourada de 2019 e a fase de confinamento deste ano, e avaliou o impacto da mobilidade de veículos e pessoas na poluição do ar. Entre Janeiro e Fevereiro houve uma grande redução de partículas PM2.5 e PM10, que voltaram a valores normais em Março [dropcap]U[/dropcap]ma equipa de investigadores da Universidade de São José (USJ) e da Universidade Nova de Lisboa (UNL) publicou recentemente um estudo no International Journal of Environmental Research and Public Health intitulado “Statistical Forecast of Pollution Episodes in Macao during National Holiday and Covid-19”. O trabalho comparou os níveis de poluição do ar durante dois períodos distintos em termos de afluência de pessoas em Macau: os feriados da Semana Dourada em 2019 e o período de confinamento devido à pandemia da covid-19, no início deste ano. A investigação avalia o impacto da mobilidade de pessoas e veículos nos níveis de poluição do ar, uma vez que, entre Janeiro e Fevereiro, os níveis de partículas PM 2.5 e PM10, partículas finas de poluição, registaram níveis muito baixos por oposição aos níveis elevados registados em Outubro do ano passado. “Os níveis de concentração das partículas PM2.5 tiveram uma redução significativa depois da confirmação do primeiro caso de covid-19 em Macau a 22 de Janeiro, [algo] que causou pânico e ansiedade na população local, seguindo-se o anúncio do encerramento dos casinos pelo Governo de Macau como uma das medidas preventivas da covid-19, entre 5 e 20 de Fevereiro. Quando a medida de encerramento dos casinos foi levantada, e o medo e tensão dos residentes diminuíram, isso promoveu a mobilidade da população”, lê-se no estudo. Nesse sentido, “apesar de os níveis de concentração de partículas de PM2.5 terem melhorado significativamente em finais de Janeiro e meados de Fevereiro, a concentração dos níveis de PM 2.5 gradualmente voltou ao normal em Março de 2020, depois de terem sido levantadas algumas medidas preventivas em Macau e na vizinha província de Guangdong”. Thomas Lei, académico da USJ e um dos autores do estudo, explica que a tendência para o futuro deve ser a redução da circulação de veículos. “Os níveis de mobilidade em Janeiro e Fevereiro baixaram e baixaram também praticamente todos os níveis de poluentes. Vemos que a redução da circulação de veículos melhorou de facto a qualidade do ar em Macau. Em relação ao futuro, a tendência deve ser reduzir o número de veículos nas estradas”, defendeu ao HM. Níveis de ozono a subir Os investigadores da USJ e da UNL analisaram dados de emissão de poluentes com base em três modelos, relativos a três períodos distintos, de 2013 a 2016, de 2015 a 2018 e de 2013 a 2018, recorrendo a diversos métodos estatísticos. O estudo também concluiu que o modelo de 2013 a 2018 foi o que teve melhor performance na previsão dos dados. “O modelo de 2013-2018 foi bem sucedido na previsão do episódio de maior poluição durante o período dos feriados nacionais da China [Semana Dourada] em finais de Setembro e meados de Outubro de 2019 e o episódio de menor poluição durante as medidas preventivas contra a pandemia da covid-19 em finais de Janeiro e meados de Fevereiro”, lê-se no artigo. “Para compreender se o modelo de previsão era robusto para variações extremas de concentração de poluentes”, explica o estudo, foram ainda feitos testes durante a fase de elevada concentração de partículas de PM2.5, durante o período da Semana Dourada, e no período de confinamento. A análise feita ao período da Semana Dourada mostra “elevados níveis de concentração” de partículas de PM2.5 e 03, “com picos diários de concentração a exceder os 55 μg/m3 e 400 μg/m3, respectivamente”. Pelo contrário, durante o período de confinamento, registou-se “um baixo recorde diário de concentração dos níveis de partículas PM 2.5 e 03 para 2 μg/m3 e 50 μg/m3, respectivamente”. O estudo conclui também que a “melhoria da qualidade do ar em termos globais é possível no território, mas está firmemente ligada à implementação de medidas de controlo da poluição do ar nas áreas industrial e de mobilidade em Macau, e em particular na província de Guangdong”. A poluição do ar é, portanto, “um problema regional e não está apenas limitado a Macau, mas também às regiões vizinhas de Hong Kong e da província de Guangdong”, lê-se no artigo.
Consulado recebeu 1.500 pedidos para residir em Portugal Hoje Macau - 31 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong registou cerca de 1.500 pedidos de pessoas que querem residir em Portugal, anunciou ontem o cônsul Paulo Cunha-Alves, segundo a Lusa. A informação foi avançada durante o webinar “Investir em Portugal. O Seu Próximo Local”, que teve como principal missão atrair investimento e promover Portugal como destino de investimento de cidadãos de Macau e Hong Kong. Paulo Cunha-Alves explicou que no primeiro semestre o número de pessoas que solicitaram, junto do consulado baseado em Macau, um registo criminal foi de cerca de 1.500. O registo criminal é um dos requisitos para o processo dos ‘vistos gold’ e de residência em Portugal. O investimento total captado através dos vistos ‘gold’ aumentou 2,9 por cento no primeiro semestre, face a igual período de 2019, para 383 milhões de euros, segundo contas feitas pela Lusa com base nas estatísticas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Nos primeiros seis meses do ano, o investimento total resultante da concessão de Autorização de Residência para Investimento (ARI) ascendeu a 383.003.719,56 euros, mais 2,9 por cento ao primeiro semestre de 2019 (372.243.909,50 euros). Em Junho, uma empresa especializada na obtenção de ‘vistos gold’ em Portugal disse à Lusa, que os pedidos de informação de residentes de Hong Kong dispararam após o anúncio de Pequim sobre a lei de segurança nacional que entrou em vigor no território vizinho. No evento, que teve como um dos organizadores a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), o cônsul Paulo Cunha-Alves sublinhou ainda o sucesso do investimento estrangeiro em Portugal, que faz com que o país esteja agora “no radar” de várias empresas do mundo. Paulo Cunha-Alves disse ainda que o consulado português estará sempre disponível para apoiar os investimentos através de Hong Kong e Macau. Porta de entrada Por seu lado, a conselheira de Investimentos da Embaixada de Portugal em Pequim, Patrícia Conceição, afirmou que o investimento estrangeiro é fulcral para a economia do país. “Tem um tremendo impacto em todas as empresas”, sublinhou. De forma a captar a atenção de investidores presentes na conferência online, Patrícia Conceição referiu que Portugal é o segundo país mais seguro da União Europeia, segundo o índice de ameaças à segurança. O facto de Portugal estar inserido na União Europeia e de ser uma ligação para os países de língua portuguesa faz com que os possíveis investidores tenham acesso a um mercado de mais de 700 milhões de pessoas, enfatizou.
Caso IPIM | Glória Batalha recorre ao TSI para anular provas de WeChat João Santos Filipe - 31 Jul 2020 A defesa da ex-vogal do IPIM defende que as gravações de conversas no telemóvel são equiparadas a escutas e não podem ser utilizadas como prova para crimes com moldura penal de três ou menos anos [dropcap]A[/dropcap] defesa de Glória Batalha, ex-vogal do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), arguida no caso que envolve Jackson Chang, recorreu da decisão da juíza Leong Fong Meng, e pretende impedir que as gravações de conversas de WeChat sejam utilizadas como meio de prova. A situação colocou-se inicialmente na sessão de 9 de Julho do julgamento que decorre no Tribunal Judicial Base, quando o advogado Pedro Leal contestou o recurso às gravações como forma de prova contra a sua cliente. Segundo a tese da defesa, as conversas apreendidas em formato áudio com os telemóveis são equiparadas a escutas telefónicas, o que faz com que só possam ser utilizadas como prova quando os crimes têm moldura penal superior a três anos de prisão. Como Glória Batalha apenas responde pela prática dos crimes de “abuso de poder” e “violação de segredo”, punidos com pena máxima de prisão de três anos e um ano, respectivamente, a defesa considera que estas provas não podem ser utilizadas. Na data da primeira decisão, Leong Fong Meng após recusar o requerimento da defesa, indicou que a mesma tinha um prazo de 20 dias para recorrer para o Tribunal de Segunda Instância. Foi o que aconteceu com o recurso a dar entrada na quarta-feira. A acusação do MP contra Glória Batalha é em grande parte sustentada com recurso a conversas de WeChat, apesar do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) “não ter conseguido” decifrar todas as trocas de mensagens. Pessoa “honesta” Recursos à parte, ontem decorreu mais uma sessão do julgamento do caso IPIM, e foram ouvidas várias testemunhas de acusação e abonatórias. Uma das testemunhas foi Rita Santos, antiga secretária-geral adjunta do Secretariado Permanente do Fórum de Macau. No depoimento, Rita Santos considerou pouco credível a tese da acusação que aponta Jackson Chang, ex-presidente do IPIM, como um dos membros da associação criminosa montada pelo casal de empresários Ng Kuok Sao e Wu Shu Hua. “Não acredito que esteja ligado a uma associação criminosa. Ele é uma pessoa muito honesta”, defendeu a também conselheira das comunidades portuguesas. Por outro lado, Rita Santos destacou o sentido de responsabilidade de Jackson Chang: “Numa das visitas oficiais em que participava o Fórum Macau e o IPIM vi-o a chamar a atenção os seus funcionários para que respeitassem o orçamento”, recordou. Sem ajudas para amigo Na mesma sessão foi ouvido um amigo de infância de Jackson Chang, com o apelido Chan. A testemunha admitiu que manteve contactos profissionais pontuais com o ex-presidente do IPIM, uma vez que é empresário no sector das exposições e convenções e elogiou o carácter do arguido: “Não é uma pessoa excessivamente ambiciosa, que não olhe a meios para chegar aos fins”, realçou. Por outro lado, e ainda sobre o carácter do amigo, apontou que chegou a queixar-se a Jackson Chang por só ter vencido um concurso público no IPIM, quando o arguido nem era presidente: “Em 10 anos, a minha empresa nunca teve uma adjudicação do IPIM, só antes de ele ser presidente. Uma vez até lhe disse que nunca mais ia participar nos concursos públicos do IPIM porque nunca ganhava”, revelou Chan. Outra das testemunhas ouvidas foi o ex-deputado Ung Choi Kun, próximo do empresário Chan Meng Kam. Ung deixou elogiou a Glória Batalha Ung a quem admitiu tratar como irmã, pelo facto de ambos partilharem o apelido Ung. Ainda sobre a ex-vogal do IPIM, o antigo deputado sublinhou que prestou muitos serviços de forma empenhada à RAEM.
UM | Estudo conclui que residentes “têm forte identificação” com a China Andreia Sofia Silva - 31 Jul 2020 [dropcap]U[/dropcap]m estudo feito pelo departamento de sociologia da Universidade de Macau (UM), coordenado pelo académico Spencer Li, conclui que “os residentes de Macau sentem uma forte identificação com a China”, além de que “a maior parte deles se sentem macaenses e chineses”, lê-se num comunicado. Outra das conclusões da investigação revela que “uma elevada percentagem dos residentes é composta por migrantes ou trabalhadores migrantes que vêm maioritariamente da China para se juntarem às suas famílias ou para procurarem trabalho”. Além disso, “os residentes de Macau têm, em termos gerais, uma boa condição física e mental com uma melhoria do nível de educação”. O estudo da UM aponta ainda para o facto de o multiculturalismo do território “prevalece na fé e no sistema de valores dos residentes de Macau”, sendo que a maior parte “mostra uma atitude aberta e tolerante e apoia a igualdade de género”. O estudo, intitulado “Macao Social Survey”, levou cinco anos a ficar concluído e foi feito com base em inquéritos e entrevistas. Neste trabalho colaboraram também os académicos Wang Hongyu, Cai Tianji e Kuo Shih-Ya, além de outros docentes e alunos de mestrado e doutoramento. A investigação, que teve início em 2015, conta com entrevistas a mais de 3500 residentes a partir dos 16 anos.
Wong Sio Chak nega que fugitivo Jho Low esteja em Macau João Santos Filipe - 31 Jul 2020 No comunicado emitido ontem, as autoridades de Macau criticam a congénere malaia por divulgar “unilateralmente” uma informação que não “corresponde à verdade” [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, nega que Jho Low, bilionário foragido da justiça, esteja escondido em Macau e deixou um ataque às autoridades malaias. A resposta surgiu após o inspector-geral da polícia da Malásia, Tan Sri Abdul Hamid Bador, ter afirmado que as autoridades chinesas estavam a proteger o empresário acusado de estar envolvido num esquema que desviou 4,5 mil milhões de dólares norte-americanos do Estado malaio. “A Polícia da Malásia, contrariando as regras e as práticas no âmbito de cooperação policial internacional, divulgou unilateralmente que o Lao XX [Jho Low] se encontra em Macau, informação que não corresponde à verdade”, esclareceu o gabinete do secretário, em comunicado. Na mesma posição sobre o tema que chegou à imprensa internacional, o secretário critica ainda a congénere malaia por não ter feito qualquer pedido de assistência desde 2018, apesar de as declarações feitas de falta de cooperação. “Desde o ano 2018 até ao presente, a Polícia da Malásia não efectuou qualquer comunicação para as Autoridades de Macau, nem formulou qualquer pedido”, foi revelado. Por outro lado, o Governo explicou que logo em 2018, meses após de ter sido emitido o mandato internacional de captura de Jho Low, Macau recebeu um pedido de extradição. Contudo, também nessa altura as autoridades negaram que Low estivesse na RAEM. “Em 2018, o subgabinete de Macau da Polícia Judiciária do Gabinete Central Nacional Chinês da Interpol recebeu um pedido das Autoridades da Malásia, tendo dado resposta clara de que o referido indivíduo não se encontrava em Macau”, foi apontado. Atitude “franca” Finalmente, as autoridades da RAEM destacam a atitude pragmática e franca na relação com as autoridades internacionais. “É de salientar que a Polícia de Macau cumpre sempre a lei e os procedimentos, tomando uma atitude pragmática e franca e de acordo com os princípios de igualdade, reciprocidade e de respeito mútuo no que toca ao desenvolvimento de uma cooperação policial efectiva com todos os países e regiões”, consta no comunicado. Também a embaixada chinesa em Kuala Lumpur, capital da Malásia, negou que as autoridades chinesas oferecessem protecção a Jho Low e considerou a acusação “sem fundamento” e “inaceitável”. No mesmo sentido, o comunicado da embaixada, citado pelo jornal Strait Times, recusa a ideia de a China poder receber criminosos. “A posição do governo chinês no combate ao crime é muito clara”, foi destacado. “A China não oferece protecção nem nunca vai oferecer a criminosos estrangeiros”, foi adicionado. Jho Low tem um mandato de captura internacional desde 2017, depois de ter estado envolvido num roubo de 4,5 mil milhões de dólares americanos, que resultou na condenação a 12 anos de prisão do ex-Primeiro-Ministro malaio Najib Razak.
Segurança alimentar | Lojas de “take-away” vão ter registo obrigatório Salomé Fernandes - 31 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap]s lojas de take-away e online aumentaram com o contexto de pandemia, e uma vez que não estão reguladas “serão incorporadas no sistema de fiscalização através do regime obrigatório de registo”, disse ontem o secretário para a Administração e Justiça. A proposta de lei está feita e prevê-se que o regime de registo seja lançado ainda este ano, por motivos de higiene e segurança alimentar. Durante o debate, André Cheong disse que pretende atingir este objectivo no próximo mês. “Não esperamos com a implementação deste regime obrigatório que as actividades desses lojistas venham a ser afectadas”, comentou. Desde que a Lei de Segurança Alimentar entrou em vigor, o Instituto para os Assuntos Municipais emitiu 250 acusações de infracção, num valor de 12,5 milhões de patacas, e 13 foram remetidas para o Ministério Público. Apesar disso, o secretário disse que a lei já entrou em vigor há vários anos e “é necessária uma revisão”.
Ambiente | Aterro verteu lixo em direcção ao Aeroporto de Macau Salomé Fernandes - 31 Jul 2020 [dropcap]H[/dropcap]á cerca de duas semanas, parte do lixo do aterro sanitário caiu em direcção ao Aeroporto Internacional de Macau. A informação foi dada ontem em Assembleia Legislativa pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas. Concluindo que o aterro tem um “grande problema”, Raimundo do Rosário explicou que “quanto a esse tipo de lixo já se verificou tal problema e tivemos de parar uma semana de continuar a pôr lixo”. O secretário defendeu a necessidade de se pensar em limitações ao lixo aterrado no local, por falta de espaço. “Espero que não vá acontecer nenhum grande incidente, mas um pequeno problema já aconteceu”, declarou. O cenário foi mais positivo em relação aos dados da central de incineração. No ano passado, eram tratadas 1570 toneladas de lixo por dia, que este ano desceram para 1200 toneladas. Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), disse aos deputados que espera lançar no próximo ano o concurso para criar um centro de tratamento de resíduos alimentares. Prevê-se que a infra-estrutura tenha capacidade para tratar 200 toneladas de resíduos por dia quando entrar em funcionamento. O Governo está também a ponderar proibir a importação de esferovite em utensílios de take-away. Recorde-se que no ano passado os sacos de plástico passaram a ser pagos. De acordo com Raymond Tam, mais de dez lojistas doaram as receitas vindas dessa cobrança para associações de natureza de caridade, num total de 430 mil patacas. “Essas taxas ou despesas cobradas não vão todas para o bolso dos lojistas, mas também para efeitos de protecção ambiental”.
CPSP | Negada tendência para rejeitar manifestações e reuniões Salomé Fernandes - 31 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] Comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Ng Kam Wa, garantiu ontem em Assembleia Legislativa que não há tendência de aumento da rejeição de pedidos de manifestação ou reunião, em resposta a uma interpelação de Sulu Sou. E argumentou que houve menos rejeições comparativamente a quando os avisos prévios estavam sob a alçada do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Foi a única interpelação oral em que o secretário da tutela não esteve presente para responder. De acordo com os dados apresentados, entre Junho de 2017 e Setembro de 2018, o IAM recebeu 599 avisos prévios de reunião e manifestação, não permitindo 13. Por sua vez, de Outubro de 2018 a Junho de 2020 a CPSP recebeu 308, rejeitando 11. Com base nos números, Ng Kam Wa defende que não se pode concluir que a polícia apertou ou relaxou restrições. Escudou-se ainda no facto de haver quem não cumpra os prazos legais para os avisos prévios, e na necessidade de impedir concentrações desde o início do ano por causa da prevenção da epidemia. Outro dos pontos levantados por Sulu Sou foi a ausência de definições claras sobre os conceitos de manifestação e reunião. “De acordo com o acórdão do TUI, entendemos que uma pessoa pode exercer direito de manifestação e duas para direito de reunião. Foi sempre esta a nossa interpretação e nunca mudámos”. Agnes Lam propôs ao Governo definir na lei os diferentes conceitos, acrescentando esperar “que a polícia possa executar a lei de forma mais suave”. Em resposta à intervenção da deputada, o representante das autoridades disse que há abertura para revisão da lei e rejeitou que exerçam as suas funções “de forma dura ou rígida”, e que “nem utilizamos violência”.
Metro Ligeiro | Secretário diz que problemas não se prendem com segurança Salomé Fernandes - 31 Jul 2020 As avarias no Metro Ligeiro não foram por problemas de segurança. Esta foi uma das ideias defendidas por Raimundo do Rosário na Assembleia Legislativa. O secretário pediu também paciência para melhorias ao nível da utilização do transporte público [dropcap]A[/dropcap]s avarias que o Metro Ligeiro teve desde que entrou em funcionamento foram alvo de crítica na sessão plenária de ontem. Mas o secretário para os Transportes e Obras Públicas rejeitou que as falhas representem problemas de segurança. “Não está em causa a segurança do Metro Ligeiro. É natural que haja problemas, mas não tem nada a ver com segurança”, disse Raimundo do Rosário perante os deputados. O secretário reconheceu que são precisos ajustes, mas indicou que o sistema é japonês e que há coisas que só se conseguem resolver com a vinda de técnicos do Japão, algo que não se sabe quando vai ser possível. “Mas, apesar disso, o Metro Ligeiro é seguro. Avaria é outra coisa, tal como acontece com os automóveis. Até ao momento, não houve acidente e espero que não haja. Os pequenos problemas sim, existiram”. Ao nível das melhorias, comentou também que está prevista maior aposta em elementos comerciais, por exemplo com lojas no terminal multimodal da Barra. Reiterando a promessa de que a ligação até á Barra vai estar concluída em 2023, Rosário acrescentou que em Dezembro vai dar mais informações sobre a linha de Hengqin. Além disso, referiu sobre o Metro Ligeiro e a sociedade que “é ainda uma criança, nem sabe andar”, frisando a necessidade de as linhas levarem tempo. “Não vai ser feito em seis meses ou um ano, temos de dar mais tempo a estas obras”. Expectativas baixas O secretário lembrou aos deputados que inicialmente chegaram a circular por dia quase 30 mil passageiros, números que atribuiu ao facto das viagens serem gratuitas e não haver epidemia. Com a mudança de contexto, houve dias em que apenas 300 ou 500 pessoas usaram o transporte. Ainda assim, o número aumentou nos últimos tempos até quase dois mil passageiros. “Temos de ter paciência para que esta situação melhore”, declarou o responsável. Raimundo do Rosário explicou que perante a necessidade de cortes em despesas orçamentais, o Metro Ligeiro “não é uma exceção”. Indicou que o Metro Ligeiro tem um subsídio proveniente da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, e uma dotação para realizar obras no metro. Os custos de exploração diária terão reduzido de 1300 para 1250 milhões. “Nenhum transporte público, sobretudo o Metro Ligeiro, ganha dinheiro”, tinha já comentado. Por outro lado, depois da celebração dos contratos de concessão com os serviços de autocarro, o Governo vai avaliar a utilização de meios electrónicos para o pagamento da tarifa de Metro Ligeiro. “Vamos ver como podemos fazer a correspondência usando o Macau Pass. Já estamos a tratar do assunto, quase na recta final”, disse Raimundo do Rosário.
Nair Cardoso, directora da Creche Internacional de São José: “O errado não existe na sala” Pedro Arede - 31 Jul 2020 Apesar dos entraves colocados pelo IAS, a directora da nova Creche Internacional de São José (CISJ) está decidida a implementar uma filosofia pedagógica diferente, assente nas artes e na criatividade. Ainda com data de abertura incerta, o novo espaço vai admitir crianças que não tenham BIR [dropcap]C[/dropcap]omo surgiu a ideia de criar a Creche Internacional de São José? Não fiz parte do início do projecto e comecei apenas em Julho. O projecto nasceu mais ou menos em 2018, através da Universidade de São José (USJ), parte de uma vontade muito grande do padre Peter [Stiwell] de criar uma creche. Até porque existe uma aposta muito grande na área da educação na USJ, nomeadamente nos cursos de licenciatura, pós-graduação e mestrado em educação e agora também no doutoramento, frequentado por muitas pessoas. Portanto, haveria sempre uma grande aposta para se avançar com uma creche e eu penso que está aberta a porta para abrir um infantário, num futuro próximo. Com a saída do Peter Stilwell e a entrada do novo reitor, acharam que a creche precisava de mais apoios e então passou a ser da diocese. Isto calhou precisamente com a minha entrada na diocese. Vamos ter aqui voluntários que nos vão ajudar na área da psicologia e da educação e talvez possamos receber aqui alunos para fazer intercâmbios. Como estão a correr os preparativos para a abertura? Já foi definida uma data? Estamos a aguardar a decisão do Governo, como todas as outras escolas. Até Abril, a creche estava à espera de licença e em Abril conseguiu a licença do Instituto de Acção Social (IAS), que é uma fase bastante complexa e complicada. O IAS, que apoia totalmente esta creche, vem aqui inspeccionar o espaço e diz o que falta, ao nível dos equipamentos, o que é preciso comprar e a formação que as pessoas precisam de ter para ser contratadas. Quando cheguei já tínhamos todos os 22 funcionários contratados. O plano era abrir em Setembro. Para mim calhava bem porque esta fase, Julho e Agosto, é óptima para mudar pedagogias, coisas que a outra directora tinha em mente e que eu, como venho de uma escola internacional, vejo de forma diferente. Por isso, estou a implementar procedimentos alternativos, a formar pessoal e a mudar a disposição das salas. Criámos, inclusivamente, um atelier para apostar na arte. Venho com uma perspectiva diferente e tenho um sonho diferente para este espaço. Como vai ser materializada essa pedagogia, assente na exploração de estímulos, na brincadeira e nas artes? Quando recebi o desafio achei logo interessante. Venho de uma escola muito realizada que é a Escola Internacional de Macau (TIS). Trabalhei lá quatro anos, fui líder pedagógica num infantário, estava bem e sentia-me realizada. O desafio aqui é muito grande, porque deixei as crianças dos 4 e 5 anos, para trabalhar com crianças do 1 aos 3. Paralelamente, tenho um projecto dedicado a actividades extracurriculares, inspirado numa filosofia pedagógica totalmente diferente, chamada Regio Emilia, que é uma aposta que vai 100 por cento nesse sentido. Por isso, quando cheguei aqui pensei logo: vou implementar este sistema aqui na creche. No entanto, não é possível devido aos protocolos que o IAS nos exige, nomeadamente, quanto à utilização de materiais reciclados, que não podem ser usados, pelo facto de as crianças ainda serem muito pequenas e poderem ter alergias, por exemplo, com as tintas que queremos usar. Por isso, agora estou a pensar como vou implementar este sonho, que é o de implementar pedagogias alternativas e não tão tradicionais numa creche, pensando sempre na segurança das crianças. Então, decidimos apostar nas artes, porque é importante que as crianças explorem os sentidos e não há nada melhor do que a arte para o fazer. Ainda para mais, o meu mestrado e doutoramento são focados na pedagogia dos sentidos. Através deles é possível ensinar outras coisas que as crianças têm de aprender, como socializar e discutir umas com as outras. Isso tudo é importante e possível de desenvolver através da arte, para que as crianças não estejam sentadas no seu lugar. Aliás, nós não queremos crianças sentadinhas o tempo todo. Elas precisam de mexer, têm que mexer e precisam de mexer para saber o que aprender a seguir. É essa mudança de mentalidades que quero implementar aqui na creche. Como é que essa filosofia pedagógica vai ser adaptada para funcionar de acordo com as regras do IAS? O IAS tem 12 volumes de manuais pedagógicos que têm de ser implementados na creche, mas só existem em chinês. Sei falar fluentemente mandarim, mas não sei ler. Tive várias reuniões com o IAS e essa tem sido a minha luta. Vou dar o exemplo da música. As crianças têm de tocar um ritmo padrão e eu pergunto: o que é que as crianças de 1 ano vão entender com isso e porque é que a música tem de ser aprendida com uma pandeireta seguindo um determinado padrão? Porque é que não podemos colocar uma música a dar, deixando as crianças pintarem e explorarem, enquanto dançam e se sujam, tudo ao menos tempo? O IAS diz que, não é que não possa ser feito assim, mas, no entanto, é preciso ter em atenção a regra que fala da alergia dos materiais. Pensei então na filosofia da reciclagem do Regio Emilia e, por isso, estamos a testar usar as sobras das cascas das cenouras e das couves, para fazer tintas com a comida. Por isso, estamos nesta fase de experimentação e a ver o que é possível ou não fazer, sem que as crianças não têm a preocupação do certo e do errado. O errado não existe na sala. Como se retira essa preocupação do que é certo e errado? Por exemplo, e sem querer ferir susceptibilidades de outras escolas, eu não concordo com o puzzle. Não quer dizer que esteja errado e outras pessoas não possam educar as crianças de outra forma, mas só há uma maneira para encaixar um puzzle, não há criatividade nenhuma. Até podem estar a desenvolver, talvez, a coordenação motora, mas, para mim, é preferível, pôr uma série de blocos à frente dos miúdos para eles montarem o que quiserem. Cada peça pode ser, sei lá, uma nave espacial, um boneco ou o pai e a mãe. Chamamos a isso “open ended materials”, que é o que eu pretendo aos poucos colocar nas salas. Não há certo ou errado nesta idade. Nesta fase, as crianças têm de explorar os sentidos, ser felizes e alegres. O maior desafio para uma criança do 1 aos 3 anos é a separação. Claro que vão existir regras, não vamos montar aqui uma selva, mas de uma forma em que as crianças não são frustradas. Não há stress aqui. Os pais se quiserem deixar os filhos dentro da sala podem deixar. Se quiserem ficar um pouco dentro da sala de aula também podem. Vou tentar criar um ambiente o mais parecido possível com o sítio de onde vêm. Podemos estar a passar ao lado de muitos talentos, só porque não abrimos as “portas certas” às crianças ou assumimos, à partida, um determinado caminho? Infelizmente, as creches são regidas pelo IAS e, a meu ver, elas deveriam ser integradas na Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). A pergunta que eu faço a Macau é: porque é que as creches têm de ser vistas como uma componente social? Ou seja, em Macau as creches fazem parte do trabalho comunitário social que se oferece aos pais para tomar conta das crianças enquanto trabalham. Contudo, do 1 aos 3 anos já existem muitas potencialidades, as crianças podem brincar com arte, explorar a música, dançar, já sabem comer sozinhas. Não são seres que precisam de um adulto a monitorizá-los a toda a hora, todos os seus movimentos. Além disso, as creches oferecem um horário muito extenso, porque há pais, aqui em Macau, que trabalham por turnos e eu concordo com isso. No entanto, acho que deviam saber se os pais precisam mesmo deste serviço, porque as crianças não podem estar oito horas nas escolas. Aqui abrimos às 8h e fechamos às 20h, de segunda a sábado. É importante que as crianças estejam com os pais, irmãos, avós. Qual a importância de apostar na multiculturalidade numa cidade como Macau? A aposta na arte é a melhor linguagem, por isso é que também se apostou nessa área. Queremos implementar as línguas oficias de Macau aqui na creche. Infelizmente, a equipa, neste momento, não poderá ajudar tanto na utilização do português e do inglês nas salas e será mais o cantonês e o mandarim. Mas, a linguagem vem aos poucos e tanto as crianças vão poder ajudar os professores, como o contrário também é verdade. Os alunos estão aqui para ajudar e há uma ligação com o ambiente, em que ele próprio é também um “professor”, segundo a pedagogia que queremos aplicar. O professor está na sala, mas crianças também vão ensinar umas às outras. Nada melhor do que as crianças falarem a sua própria língua umas com as outras. Nunca vai haver a situação de “agora só vamos falar chinês” ou “agora é hora do inglês” e a multiculturalidade vem por aí. Porque em Macau, nós vemos miúdos a falar inglês, português, chinês, mandarim, vietnamita, tailandês e é precisamente essa a nossa aposta. As crianças podem falar a língua que usam em casa e daí poder influenciar os outros e todos poderem aprender. Os não residentes também podem ser admitidos na creche? Nesta fase, não temos nenhuma objecção do IAS para termos algumas vagas para crianças que não tenham BIR e isso foi o primeiro pedido que fiz. Eles disseram que dependendo da creche podemos atribuir um número para não residentes e acho que isso é importante, porque, às vezes, é um desespero os pais que detêm bluecard não terem escolas para os filhos. Ainda não sei o número definido, mas vamos ter uma quota para crianças que não têm BIR. As que têm BIR as propinas são equiparadas a todas as escolas do IAS, ou seja, 2.500 patacas mensais, o dia todo, já incluindo refeições. O preço é o de uma escola pública e o serviço é equiparado a uma escola privada. Quais os objectivos de ocupação neste primeiro ano lectivo? Com a licença que temos, podemos ter no máximo 240 crianças com as oito salas a funcionar. No entanto, numa primeira fase, vamos tentar restringir-nos, no máximo a 120, porque o número de pessoal que temos actualmente só dá para funcionar cinco salas. Para já, o objectivo é receber entre 80 e 90 crianças em quatro salas. Isto porque é preciso adaptação a uma nova filosofia de ensino e pedagogia, até porque temos de ganhar a confiança dos pais. Somos novos. Não é como uma creche que está aberta há 10 ou 11 anos na qual os pais confiam de olhos fechados. Os pais têm muito receio das doenças transmitidas nas salas e das intoxicações alimentares e essa é outra preocupação. Por isso estamos a dar formação ao pessoal sobre a maneira como se desinfecta os brinquedos e as salas. Estamos também a testar o menu que a cozinha está a preparar. Está preocupada com o efeito que a pandemia pode ter no dia a dia da creche? Na verdade, a pandemia até me vai ajudar, porque os pais já educaram as crianças nesse sentido e elas já sabem desinfectar as mãos, lavar as mãos várias vezes, usar a máscara e manter alguma distância das outras crianças. Isso ajudou, porque desde Fevereiro que estamos nesta situação e as crianças tiveram mais do que tempo para se adaptar e os pais também estão mais mentalizados para isso.
Glockenwise – “Plástico” Hoje Macau - 30 Jul 202030 Jul 2020 Plástico Fazem um ar zangado De quem não quer falar Cruzam os olhos de lado Com medo de espreitar Tem cuidado no passo Graça de artista só Muitas manias no trato A mim só me dá dó E oh! É tão fácil ver Que é só plástico Oh, eu também quero ser Só de plástico Vesti a indumentária Que hoje vou aparecer A crítica é binária Quase tudo para esquecer É festa, não presta, não tem valor Focado, ao lado, só causa dor Porque, oh! É tão fácil ver Que é só plástico Oh, eu também quero ser Só de plástico E eu sei que é difícil de aceitar Que eu tenho a minha arte no falhar E ando à toa E oh! É tão fácil ver Que é só plástico Oh, eu também quero ser Só de plástico Glockenwise NUNO RODRIGUES, RAFAEL FERREIRA e RUI FIUSA
Hong Kong | Doze candidatos pró-democracia impedidos de concorrer às eleições Hoje Macau - 30 Jul 2020 [dropcap]D[/dropcap]oze candidatos pró-democracia de Hong Kong, entre os quais Joshua Wong, foram desqualificados para concorrer às eleições de setembro, indicou hoje o Executivo do território. “O Governo defende a decisão (…) de invalidar as 12 candidaturas às eleições do Conselho Legislativo”, anunciou o governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong através de um comunicado. Os partidos pró-democracia em Hong Kong realizaram em Julho primárias para nomearem os seus candidatos para as eleições parlamentares previstas para Setembro, apesar dos avisos das autoridades de que corriam o risco de violar a nova lei de segurança. A votação, que contou com a participação de 600 mil pessoas, foi considerada ilegal pelas autoridades da República Popular da China. Na lista dos candidatos impedidos de concorrer figuram alguns destacados líderes do movimento pró-democracia de Hong Kong, como o secretário-geral da extinta organização política Demosisto, Joshua Wong e o deputado e líder do Partido Cívico, Alvin Yeung. “Acabam de vetar o meu nome para as eleições do Conselho Legislativo apesar de ser o vencedor das primárias (…) Pequim está a levar a cabo a maior repressão contra as eleições na cidade ao desqualificar desta forma quase todos os candidatos pró-democratas”, afirmou Wong através de uma mensagem difundida pela rede social Twitter após ter sido conhecida a decisão. De acordo com o Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, a medida sobre estes doze candidatos foi tomada porque “não apresentaram devidamente assinada a declaração em que se comprometem a proteger a Lei Básica e a jurar lealdade à República Popular da China”. A autoridade eleitoral considera que aqueles que defendem a independência de Hong Kong, que pedem a outros países para intervir nos assuntos locais ou se neguem a aceitar que a região é território sob soberania de Pequim e se oponham à Lei de Segurança Nacional “não podem proteger a Lei Básica de forma honesta”. Após os resultados alcançados nas eleições locais de novembro de 2019, a oposição democrata esperava conseguir a maioria nas próximas eleições legislativas de Setembro. Para a Comissão Eleitoral outro dos motivos para a desqualificação foi a rejeição por alguns candidatos ao Conselho Legislativo de propostas de lei, nomeações, e orçamentos no sentido de “obrigarem o Executivo a aceitar certas exigências políticas”. Perante as críticas sobre a desqualificação, o Executivo local diz que “não se trata de nenhum tipo de censura política, restrição, liberdade de expressão ou direito de concorrer às eleições”. As eleições estão agendadas para o dia 6 de Setembro mas nas últimas horas têm surgido notícias na imprensa local que indicam que o governo está a ponderar adiar a votação para 2012 por causa da “nova vaga” da pandemia de SARS CoV-2 que se regista na antiga colónia britânica.
Universidade de Hong Kong expulsa Benny Tai, figura do movimento Occupy Central, e provoca indignação Hoje Macau - 30 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] demissão do professor universitário e figura proeminente do movimento pró-democracia de Hong Kong Benny Tai, conhecida ontem, está a provocar indignação contra as pressões de Pequim na antiga colónia britânica. O professor de direito, de 56 anos, disse que foi afastado por uma comissão disciplinar da Universidade de Hong Kong (HKU), depois de já ter sido preso, no ano passado, por participar nos protestos pela defesa de direitos, liberdades e garantias. O Gabinete de Ligação, que representa o governo central da República Popular da China em Hong Kong, saudou o afastamento do professor e disse hoje através de um comunicado que Benny Tai “é uma pessoa maléfica”. A demissão do académico provocou consternação e indignação entre os ativistas da região administrativa especial, marcada por meses de contestação sem precedentes contra Pequim, que impôs recentemente a nova lei de segurança nacional que fere os direitos, liberdades de garantias em Hong Kong. “Benny Tai é um mártir da desobediência civil”, afirmou Joseph Chan, professor de ciências políticas da Universidade de Hong Kong através de uma mensagem no Facebook. “A universidade de Hong Kong está a sacrificar a própria reputação e fica impedida de ‘levantar a cabeça’ perante a comunidade académica mundial” acrescentou Chan considerando a demissão de Benny Tai “uma grande mancha” na história da instituição. Sophie Richardson, da secção China da organização não-governamental Human Rights Watch, disse que as universidades de todo o mundo devem rever as relações com a Universidade de Hong Kong. “Chegou a altura para que sejam levantadas vozes contra o escândalo”, disse Richardson numa mensagem dirigida aos universitários. “Pequim começou agora a atacar as liberdades académicas de Hong Kong”, disse Joshua Wong, figura do movimento de contestação estudantil contra Pequim. Benny Tai apelou ontem, através da plataforma digital Facebook, para que a chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong impedisse o processo de demissão. “Carrie Lam não pode alhear-se das responsabilidades que tem na erosão das liberdades académicas em Hong Kong”, escreveu Benny Tai acusando Pequim de pressão direta na decisão da universidade. Tai é uma figura popular do campo pró-democrata em Hong Kong, defensor da não-violência e fortemente criticado pelas autoridades. A Universidade de Hong Kong, por seu turno, ainda não explicou os motivos que provocaram a expulsão de Benny Tia nem responde às perguntas dos jornalistas. Benny Tai foi um dos fundadores do movimento “Occupy Central”, em 2013. Em 2019, Tai foi condenado a 16 meses de prisão por “responsabilidade e envolvimento” nos movimentos de contestação. Recentemente o professor de Direito esteve envolvido na organização das primárias que escolheram os candidatos pró-democracia para as eleições de setembro em Hong Kong. Mais de 600 mil pessoas participaram na votação considerada ilegal pelo Executivo local tendo o Gabinete de Ligação acusado “o ‘gang’ de Benny Tai de tentar provocar uma revolução”.
Covid-19 | MUST lidera desenvolvimento de vacina com “potente resposta” em animais Hoje Macau - 30 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) anunciou ontem que o projecto que lidera sobre o desenvolvimento de uma vacina para a covid-19 induziu “uma potente resposta funcional de anticorpos” em animais. De acordo com comunicado, o professor Zhang Kang da Faculdade de Medicina da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau lidera uma equipa de investigação conjunta com instituições da China continental e de Hong Kong. O estudo, publicado na revista académica Nature, segundo a MUST, aponta ter conseguido “induzir uma potente resposta funcional de anticorpos nos ratos, coelhos e primatas não humanos imunizados logo ao sétimo ou 14.º dias após uma injeção de dose única”. “O nosso pensamento inicial ao conceber a nossa vacina em janeiro de 2020 foi o de utilizar a menor parte da proteína S [proteína Spike], de modo a produzir o melhor efeito vacinal, mas com o menor potencial de efeitos secundários, tais como uma complicação de melhoramento anticorpo dependente do corpo, por isso fizemos cuidadosamente várias vacinas candidatas e testámos cada uma delas, e concluímos que a RBD é a melhor candidata”, indicou o líder da equipa. “Em retrospectiva, isso parece óbvio agora, mas em Janeiro de 2020, quando todos os outros estavam a avançar com a produção de vacinas, foi uma decisão difícil. Estamos agora satisfeitos por não nos termos apressado e tomado a decisão certa antes de avançarmos”, acrescentou. No comunicado, a universidade detalhou existirem mais de cem vacinas da covid-19 em desenvolvimento no mundo, mas que “estão a enfrentar desafios árduos em termos de eficácia, efeitos secundários e produção”. No estudo, observou a MUST, ficou demonstrado que “as vacinas recombinantes contra a região da proteína Spike RBD podem induzir eficazmente uma resposta imunitária potente no organismo com um bom perfil de segurança”. A Universidade notou, contudo, que a “eficácia da vacina precisa de ser avaliada e validada em ensaios clínicos em humanos, que serão iniciados em breve”.
Vaticano e diocese de Hong Kong alvo de alegados ataques informáticos Hoje Macau - 30 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] Vaticano e a diocese de Hong Kong têm sido alvo de supostos ataques de piratas informáticos antes das negociações sobre as relações entre a Santa Sé e a China, revelou ontem a organização não-governamental Recorded Future. De acordo com aquela organização não-governamental norte-americana os alegados ataques informáticos estão a ser levados a cabo, alegadamente, pelo grupo “RedDelta” e começaram no passado mês de Maio. Anteriormente, uma notícia publicada no jornal New York Times referia que a vigilância e os ataques informáticos contra o Vaticano têm como objetivo as negociações que estão marcadas para setembro. O Vaticano ainda não comentou mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim negou qualquer tipo de envolvimento considerando o relatório da Recorded Future “especulativo”. Segundo a organização Recorded Future, a Missão Hong Kong/China (Hong Kong Study Mission to China), a entidade que faz a ligação entre o Vaticano e Pequim, assim como o Instituto para as Missões foram alvo de ataques cibernéticos. “A intrusão suspeita sobre o Vaticano permite ao grupo ‘RedDelta’ penetrar nas informações sobre as posições da Santa Sé antes da nova ronda negocial de setembro”, refere o relatório da Recorded Future. O mesmo documento acrescenta que os ataques informáticos também obtêm “informações importantes” sobre as entidades católicas na Região Administrativa Especial de Hong Kong assim como vigia os grupos pró-democratas da antiga colónia britânica. Ainda segundo o relatório, os “ataques” prolongaram-se pelo menos até 21 de junho e houve mesmo uma tentativa de obtenção ilegal de documentos da Secretaria de Estado do Vaticano nos contactos estabelecidos com Hong Kong. Os 12 milhões de católicos chineses dividem-se entre os que pertencem à Associação Patriótica dos Católicos Chineses, fora da autoridade do Vaticano, e os grupos clandestinos da igreja leal ao Papa. Os sacerdotes na clandestinidade assim como os fiéis são frequentemente alvo de perseguições e prisões na República Popular da China. Em 2018, foi alcançado o princípio de um acordo, sem precedentes, entre a Santa Sé e Pequim sobre a designação de bispos, nomeadamente de sete bispos que não eram reconhecidos pelo Vaticano, um assunto de conflito entre os dois Estados. Muitos católicos clandestinos mostraram reservas em relação ao acordo encarado como uma cedência ao regime comunista e traindo a lealdade dos fiéis em relação ao Papa. Pequim nega a existência de programas financiados pelo Estado que visam a vigilância informática de segredos de outros países ou instituições. No princípio do mês, os Estados Unidos disseram que foram detetadas intrusões informáticas chinesas e acusou dois cidadãos da República Popular da China por alegadamente estarem à frente de ataques contra empresas norte-americanas e de outros países. As autoridades judiciais dos Estados Unidos disseram também que piratas informáticos que trabalham para Pequim atacaram empresas norte-americanas que estão a desenvolver projetos científicos relacionados com vacinas contra o SARS CoV-2. A República Popular da China já respondeu que os Estados Unidos não têm provas sobre estes alegados ataques informáticos.
Banco Mundial | Economia chinesa cresce 1,6% este ano e 7,9% em 2021 Hoje Macau - 30 Jul 2020 Apesar dos riscos inerentes ao desenvolvimento da crise pandémica e das tensões entre a China e os Estados Unidos, as previsões do Banco Mundial apontam para um crescimento económico no país em 2021 só ultrapassado pelos números de 2012 [dropcap]A[/dropcap] economia da China vai crescer 1,6 por cento este ano, a taxa mais baixa desde 1976, devido ao impacto da pandemia da covid-19, mas expandirá 7,9 por cento em 2021, segundo as projecções actualizadas do Banco Mundial (BM) ontem divulgadas. Embora a previsão para 2020 represente a menor taxa de crescimento desde 1976, a expansão de 7,9 por cento em 2021 seria a maior desde 2012, depois de em 2011 a economia da China ter crescido 9,6 por cento. A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto é medida em termos homólogos. A previsão do Banco Mundial não difere muito das mais recentes estimativas feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê um avanço menor em 2020, de 1 por cento, mas maior para o ano seguinte, alcançando os 8,2 por cento. O Banco Mundial considerou que as condições económicas “mudaram dramaticamente” desde o início da pandemia, visto que o impacto da covid-19 e as medidas adoptadas para conter o surto “provocaram um choque combinado na procura e na oferta”. “Embora as restrições na oferta tenham diminuído, a fraca procura interna e externa continua a travar o ritmo da recuperação [económica], apesar das medidas adoptadas”, afirmou a agência. O Banco Mundial advertiu que o crescimento dos rendimentos das famílias e a taxa de eliminação da pobreza vão desacelerar na China, prevendo-se entre 8 a 20 milhões a menos de pessoas que vão sair da pobreza extrema no país este ano. “Embora os riscos sejam excepcionalmente altos, com boas políticas, eles podem ser parcialmente reduzidos”, explicou o director do Banco Mundial na China, Martin Raiser. Pequim deve apostar em re-orientar a economia para um crescimento “mais inclusivo, sustentável e verde”, porque a pandemia “expôs profundamente as fraquezas económicas, sociais e ambientais” do país. “A recuperação oferece uma oportunidade para acelerar o progresso em direção a essas metas”, disse o representante da instituição no país asiático. Riscos e lacunas O Banco Mundial considerou o desenvolvimento do surto da covid-19 e as tensões da China com os seus parceiros comerciais, especialmente os Estados Unidos, como os dois principais desafios para a economia chinesa. A possibilidade de uma recessão prolongada em todo o mundo é outro risco. A entidade pede a Pequim que mantenha as suas políticas monetárias e financeiras flexíveis para “garantir liquidez” na economia. O economista-chefe do Banco Mundial para a China, Sebastian Eckardt, destacou a “necessidade de fechar a lacuna na segurança social do país para apoiar os trabalhadores e as famílias afectadas, além de minimizar a fraqueza persistente no consumo doméstico”.
Hong Kong | Polícia anuncia quatro detenções ao abrigo da nova lei de segurança nacional Hoje Macau - 30 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong fez, esta quarta-feira, as primeiras grandes detenções sob a nova lei de segurança nacional, ao prender quatro jovens sob suspeita de incitação à secessão. Três homens e uma mulher, entre os 16 e 21 anos, foram presos em três locais, afirmou um dirigente da polícia durante uma conferência de imprensa. A polícia disse que o grupo fez comentários nas redes sociais desde que a lei entrou em vigor que exigiam a independência de Hong Kong, um território chinês semi-autónomo. “Eles dizem que querem estabelecer a República de Hong Kong e que lutarão sem reservas por ela. Disseram também que querem unir todos os grupos pró-independência de Hong Kong para esse propósito”, afirmou Li Kwai-wah, superintendente sénior de uma unidade recém-formada para fazer cumprir a lei de segurança nacional. A lei, que entrou em vigor a 30 de Junho, foi imposta a Hong Kong pelo governo central de Pequim e aumentou preocupações acerca da autonomia e liberdade nesta região administrativa especial chinesa. As detenções ocorrem no mesmo dia em que ficou conhecida a demissão do professor universitário e figura proeminente do movimento pró-democracia de Hong Kong Benny Tai, que está a provocar indignação contra as pressões de Pequim na antiga colónia britânica. O professor de direito, de 56 anos, disse que foi afastado por uma comissão disciplinar da Universidade de Hong Kong (HKU), depois de já ter sido preso, no ano passado, por participar nos protestos pela defesa de direitos, liberdades e garantias.
Covid-19 | China detecta mais de 100 casos pelo segundo dia consecutivo Hoje Macau - 30 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] China identificou nas últimas 24 horas mais de 100 casos de covid-19 pelo segundo dia consecutivo, números que não se registavam no país asiático desde Abril, informou hoje a Comissão Nacional de Saúde. No total, o país somou 105 novos casos, na quarta-feira. A região de Xinjiang, no extremo noroeste do país, contou 96. Na província de Liaoning, no nordeste da China, foram diagnosticados mais cinco. Também em Pequim foi detetado um novo caso, pelo terceiro dia consecutivo. Todos estes casos ocorreram por contágio local. O país detectou ainda três casos entre viajantes oriundos do exterior, os chamados casos “importados”. O número representa uma tendência crescente nos últimos dias: 101 casos terça-feira, 68 na segunda-feira e 61 no domingo. A mesma fonte detalhou que, até à meia-noite, 13 pacientes receberam alta e oito deram entrada em estado grave. O número total de casos activos na China continental fixou-se em 574, entre os quais 33 estão em estado grave. A Comissão não anunciou novas mortes por covid-19, pelo que o número permaneceu em 4.634, entre um total de 84.165 pacientes diagnosticados oficialmente na China desde o início da pandemia. Mais de 78.950 superaram a doença e receberam alta. A pandemia de covid-19 já provocou mais de 660 mil mortos e infectou mais de 16,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Universidades privadas lideram apoios da Fundação Macau no 2º trimestre Andreia Sofia Silva - 30 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap]s entidades gestoras das universidades privadas do território continuam a liderar a lista dos apoios recebidos da Fundação Macau (FM). A lista relativa aos subsídios atribuídos no segundo trimestre deste ano, publicada ontem em Boletim Oficial (BO), revela que a Fundação da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST) foi a entidade que mais recebeu, com a atribuição de cerca de 42 milhões de patacas por parte da FM. Esse dinheiro destinou-se ao plano anual da MUST para o ano lectivo de 2020/2021 e ao Hospital Universitário da MUST. Em segundo lugar surge a Fundação da Universidade Cidade de Macau, que recebeu da FM 36 milhões para custear “despesas com actividades académicas, equipamentos, apoios escolares e o plano de subsídio a estudantes do ano lectivo de 2019/2020”. Já a Fundação Católica de Ensino Superior Universitário, que gere a Universidade de São José (USJ), recebeu da FM 15,2 milhões de patacas “para o plano de actividades da USJ no ano lectivo de 2019/2020”. Outros apoios Ainda na área do ensino, destaque para os 4,5 milhões de patacas atribuídos à Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM) para o plano anual da escola do ano lectivo de 2019/2020. A FM apoiou também, no 2º trimestre, outras entidades de matriz portuguesa, como é o caso da Casa de Portugal em Macau, com 5,2 milhões de patacas, destinadas a custear o plano de actividades deste ano. Já a Associação dos Macaenses recebeu 1,15 milhões para o mesmo fim. Destaque ainda para os 4,2 milhões de patacas atribuídos à União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau, presidida pelo deputado Chan Chak Mo, para a organização do 20º Festival da Gastronomia de Macau. Por sua vez, a União Geral das Associações dos Moradores de Macau foi também uma das entidades que mais dinheiro recebeu, um total de 19,5 milhões, para custear as actividades da associação, das 26 filiais e dos seis centros de serviços sociais em funcionamento. A entidade Obra das Mães foi contemplada com seis milhões de patacas para financiar as actividades sociais da associação e sete entidades subordinadas.