Animais | Lei de controlo sanitário em Setembro Hoje Macau - 3 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] Lei de controlo sanitário animal vai entrar em vigor a partir do dia 1 de Setembro. A chefe de departamento de Inspecção e Sanidade do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) referiu que a implementação da Lei é da maior importância pois “estabelece medidas para regular doenças epizoóticas [surtos em animais] e outras actividades do sector, que garantem que a população está informada sobre este tipo de doenças”. Recorde-se que a lei introduz a obrigatoriedade de declarar casos suspeitos de doenças em animais no prazo de 24 horas, por parte de instituições médico-veterinárias, públicas ou privadas. As multas para quem não o fizer variam entre 5.000 e 20.000 patacas, sendo que o IAM está ainda a elaborar a “lista de doenças epizoóticas de Macau e o formulário de declaração”, que será publicada, mais tarde, por despacho do Chefe do Executivo.
F1 ainda não desistiu de correr na Ásia em 2020 Sérgio Fonseca - 3 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] Campeonato do Mundo de Fórmula 1 está a debater-se com a mais complexa temporada que há memória e os seus actores fazem malabarismos para que o campeonato cumpra as quinze provas mínimas contractualizadas com parceiros e patrocinadores. Num ano atípico, dada a pandemias, após vinte e quatro anos de interregno, o Grande Prémio de Portugal está de volta. No outro lado da balança, o continente americano foi riscado do calendário. Ao todo já estão confirmados treze Grande Prémios, mas ainda falta saber o que a Fórmula 1 tem guardado para o continente asiático. Se 2020 tivesse sido um ano normal, o “Grande Circo” iria visitar pela primeira vez o Vietname, teria corridas também em Xangai, na China, em Suzuka, no Japão, e o já habitual Grande Prémio de Singapura. Tanto a cidade de estado, cujo seu evento citadino nocturno é já uma marca no calendário, como o país do sol nascente cancelaram os eventos para este ano. O Grande Prémio da China, a primeira prova a ser adiada esta temporada, e que parecia firme na segunda metade do calendário, “caiu” com o anúncio da Administração Geral do Desporto no início do mês em que dizia que “a China não irá albergar qualquer evento desportivo internacional este ano, excepto eventos de teste para os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim de 2022”. O reembolso dos bilhetes começou na semana passada. Apesar de a maioria dos países do continente asiático continuarem de fronteiras praticamente fechadas ao mundo, a Liberty Media, empresa que detém os direitos desportivos e comerciais da Fórmula 1, ainda não desistiu que o seu campeonato visite esta parte do globo. “Esperamos fazer algumas corridas na Ásia, pois essa é a nossa ambição. Somos o mais flexível que podemos ser, pois a situação, ora fica melhor, ora fica pior, nos diferentes países”, disse Ross Brawn, o director desportivo da Fórmula 1, ao HM. Apetecível Vietname O Vietname, que este ano se estrearia na Fórmula 1, está empenhada em que o circuito citadino de Hanói albergue este ano um Grande Prémio, tendo sugerido à FOM a data de 22 de Novembro, seja com ou sem público. A data coincide com a edição deste ano do Grande Prémio de Macau, o que não será um problema para a FOM, mas ter-se-á de adequar com as restantes etapas asiáticas do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 deste ano. “O Vietname é particularmente empolgante para nós, porque é o primeiro circuito em que estivemos directamente envolvidos em termos de desenho do circuito. Demos conselhos e trabalhamos com Herman Tilke no desenho do circuito para termos a certeza de que tínhamos tudo o que era preciso”, afirmou Ross Brawn, um dos obreiros dos últimos títulos da Ferrari na categoria rainha do automobilismo. “Estou muito entusiasmado com a corrida e tenho muitas esperanças de que a teremos.” Realizar uma só viagem ao continente asiático seria bastante dispendioso e poderia não fazer muito sentido para as equipas. Portanto, a Fórmula 1 estará a tentar assegurar mais uma ronda no sudeste asiático, antes do fim da temporada que deverá acontecer em Dezembro no Médio Oriente, com corridas no Bahrein e Abu Dhabi. Conversações com o Circuito Internacional de Sepang, na Malásia, estarão em curso. O Grande Prémio da Malásia de Fórmula 1 fez parte do calendário de 1999 e 2017, no entanto, cortes nos apoios e uma receita de bilheteira aquém do desejado obrigaram a administração do circuito a apostar no motociclismo.
A Covid-19 e economia (I) Jorge Rodrigues Simão - 3 Ago 2020 “Mankind does not reflect upon questions of economic and social organization until compelled to do so by the sharp pressure of some practical emergency.” Richard Henry Tawney Religion and the Rise of Capitalism [dropcap]O[/dropcap] grande economista italiano, Federico Caffè, amargamente polémico contra uma ciência económica que fez desaparecer as pessoas por detrás dos números considerava que ser economista, significava colocar o trabalho e o bem-estar das pessoas em primeiro plano. O pensamento económico fazia sentido se o seu objectivo fosse o combate à pobreza, ao desemprego e ao sofrimento da humanidade. Infelizmente, a corrente económica tomou um caminho diferente e continuou a dar prioridade aos números, e orientou as práticas dos governos e dos poderosos, justificando a enorme concentração da maior parte da riqueza do mundo em poucas mãos. Leu a globalização como uma prática em que todos poderiam ganhar, confiando na lógica pura do mercado e na forma como os negócios e as finanças tendiam a maximizar os lucros. A reorganização das cadeias de produção à escala global, procurando lugares no mundo onde fosse possível produzir a menor custo, era vista como uma operação que beneficiaria toda a gente; que aumentaria a capacidade de obter lucros daqueles que detinham o poder e a riqueza; ao mesmo tempo permitiria o desenvolvimento industrial dos países mais pobres e a manutenção de preços mais baixos ao consumidor nos países desenvolvidos; valorizou, do ponto de vista turístico e residencial, talvez para os idosos que lutavam nos seus países para viver das suas pensões, lugares no mundo esquecidos por Deus; ensinou os pobres a tirar o maior proveito possível dos seus recursos naturais, transformando as práticas tradicionais de sobrevivência em agricultura industrial de grande escala, criação intensiva de gado, trazendo também à tona formas de individualismo consumista nesses países, em detrimento de antigos laços comunitários; os indivíduos perdidos nas megalópoles, arrancados das suas aldeias e a possibilidade de viverem do seu trabalho nas suas terras. Tudo se baseia na previsão de crescimento infinito. E quando o crescimento da economia real abranda, o centro da economia desloca-se para as finanças. E as decisões mais importantes para o trabalho e a vida das pessoas concentram-se nas mãos cada vez mais distantes e invisíveis dos senhores do crédito e da bolsa, que são, entre outras, aqueles que sabem utilizar e explorar o poder dos algoritmos melhor e mais rapidamente do que qualquer outro. A crença de que a financeirização da economia continuaria o crescimento atrofiado, foi a forte ideia que fez aceitar esta expropriação gigantesca do poder dos Estados e dos cidadãos. Tudo começou no final da “era dourada”, a era do pós-guerra no início dos anos de1970, quando o aumento da produção também trouxe consigo um aumento do emprego, rendimento e consumo. O aumento do preço do petróleo e das matérias-primas restringiu as margens de lucro, assim como a possibilidade de redistribuição de algumas delas aos trabalhadores. A automação industrial reduziu o emprego necessário para a produção de bens de consumo e de capital. As novas tecnologias de informação e comunicação e a contentorização da logística permitiram manter juntos ciclos de produção que tiveram as suas fábricas espalhadas pelo mundo, numa procura contínua de locais onde o trabalho custou menos e o limiar dos direitos sociais foi mais baixo. O número de consumidores solventes foi reduzido. Fomos confrontados, pelo menos nos pontos altos do desenvolvimento capitalista, com uma crise cada vez mais evidente de superprodução. E é então que a procura do lucro é libertada de qualquer responsabilidade para com os trabalhadores, o território e os países. A única responsabilidade é para com os detentores de grandes participações. Uma transição que nos diz bem, com um certo avanço sobre a mesma análise económica, “Pretty Woman”, o filme mais culto do início dos anos de 1990. Richard Gere e o seu parceiro aprenderam que o dinheiro é feito com dinheiro, e que a produção, a cidade, os trabalhadores são pura sorte no ciclo de valorização do capital. Compram fábricas para as desembrulhar, e transformam a produção material em dinheiro para serem valorizadas nesse circuito de grandes finanças onde em poucos segundos trocam valores iguais ao PIB de todos os países do mundo. A esta concepção abstracta da valorização do capital corresponde uma concepção igualmente abstracta do amor. Na verdade, Richard vai às prostitutas. Então as regras de Hollywood prevalecem sobre a realidade. Richard Gere é demasiado bem-parecido para ser apenas um pedaço de carne, e Julia Roberts é demasiado glamorosa para acabar por ser uma prostituta. E o amor que se torna uma verdadeira relação entre as pessoas é correspondido pelo regresso do especulador, que devolve a fábrica ao antigo patrão, ainda convencido de que para ganhar dinheiro era preciso fazer os trabalhadores trabalhar e produzir bens. Uns finais felizes que a América e a moda ainda queriam ouvir. As coisas, como é bem sabido, não se resolveram dessa forma. As fábricas de Detroit tornaram-se cidades fantasmas. A produção em massa deslocou-se para países sem assistência social e sem sindicatos, onde centenas de trabalhadores podem incendiar-se em armazéns dilapidados. São os Richard Geres não redimidos pelo amor que fazem o dinheiro ir para todo o mundo e continuar a ir para as prostitutas. Os estados competem para interceptar uma parte do fluxo. Ao competir com aqueles que cobram menos impostos, os que reduzem as taxas, os que baixam os seus limiares de bem-estar. Mas era necessário encontrar uma forma de convencer até os cidadãos do Ocidente de que esse fluxo de riqueza também seria bom, que o crescimento da riqueza lhes permitiria manter o seu modo de vida, esse modo de vida americano agora generalizado no mundo, para defender os Estados Unidos, e não só, que também são legítimos para fazer guerras. O recurso à dívida nasce a nível das massas. O que não é apenas um problema para os Estados. Mas é a consequência quase inevitável dos longos anos em que os trabalhadores foram convidados a ganhar menos e a consumir mais. Em que surgiram supermercados em vez de fábricas. Em que a identidade das pessoas passava cada vez mais do trabalho para o consumo. A crise financeira do subprime, das hipotecas desfeitas para que mesmo aqueles que não tinham dinheiro para comprar casas pudesse comprá-las, dos cartões de crédito aparentemente sem fundo, e das hipotecas que nunca foram reembolsadas. Porque a valorização do capital necessita que mesmo aqueles que vêem os seus rendimentos reduzidos, os que perdem os seus empregos, continuem a consumir. Quando termina o sonho de uma melhoria colectiva das condições de trabalho e de vida, e uma vez acabada a era que tinha visto crescer a classe média, os pobres são convidados a ter os sonhos dos ricos. Consumidores em dívida para com os sonhos dos ricos, sonhos que a publicidade e os meios de comunicação social lhes apresentam todos os dias como pré-requisitos para uma vida decente, são, no entanto, a longo prazo, devedores insolventes. E a maioria dos Estados que estão cada vez mais dependentes dos créditos das grandes finanças internacionais estão também a tornar-se rapidamente insolventes. A crise financeira de 2008 resultou da acumulação de insolvência, que acabou por ser determinada pela manutenção do horizonte de crescimento infinito, enquanto os factores que o crescimento real podia suportar estavam a diminuir rapidamente. A resposta foi mais uma vez predominantemente financeira, mas pelo menos nessa altura foi construída alguma forma de cooperação entre Estados e instituições económicas internacionais para encontrar uma resposta coordenada à crise. O governo dos Estados Unidos avançou rapidamente, tendo o ex-presidente Bush convocado o G20 para implementar uma estratégia coordenada para evitar que o colapso do sistema financeiro dos Estados Unidos conduzisse ao colapso de toda a economia global. A liderança política americana parecia estar consciente de que uma catástrofe nascida no interior das suas fronteiras poderia dominar o mundo, e que isto teria efeitos perturbadores na própria economia dos Estados Unidos a longo prazo. Os limites e contradições dessa resposta têm sido examinados há muito tempo. Acima de tudo, o facto de os instrumentos financeiros e as dívidas vivas para travar a crise financeira terem sido depois transmitidos, através de sucessivas políticas de austeridade, aos cidadãos mais pobres, que eram mais do que culpados por essa crise. Mas a diferença fundamental entre essa crise e esta é que a primeira era principalmente financeira, e o restabelecimento da ordem nas finanças parecia e talvez fosse a principal necessidade. A crise actual, por outro lado, nasceu e afecta a economia real e nada é mais real do que a vida das pessoas, bloqueia as formas habituais de produção de rendimento e consumo, e torna-se financeira atirando para as mesas das autoridades monetárias internacionais, finanças globais, nas mesmas listas da bolsa, milhares de mortos e um grande número de actividades produtivas de bens e serviços, bens agrícolas e industriais, comércio e turismo, à beira da falência. E explica porque é que, apesar das injecções maciças de liquidez, da queda drástica das taxas de juro, a bolsa americana continua a estar em vermelho profundo, e as taxas de desemprego nos Estados Unidos estão a aumentar exponencialmente. Nem na América nem na Europa podem os instrumentos monetários e financeiros resolver a crise. Isso já estava a acontecer no mundo antes da Covid-19 e os fenómenos, como o enorme alongamento das cadeias de produção que tinha afectado os salários dos trabalhadores no Ocidente e causado o êxodo de muitas empresas em todo o mundo, o crescimento cada vez mais rápido da China que se tinha tornado o principal motor da economia globalizada e o abrandamento no resto do mundo do ritmo de crescimento tinha reagido com o regresso do proteccionismo. Os deveres, o encerramento das fronteiras às pessoas e em alguns casos também às mercadorias, até a uma verdadeira guerra comercial entre países e continentes. A ideologia win-win do neoliberalismo triunfante, que prometia crescimento e bem-estar a todos, foi seguida pelos “mors tua vita mea”. Jenny Offil num belo e recente romance, “Weather”” “Pergunta. Qual é a filosofia do capitalismo tardio? Resposta. Dois caminhantes vêem um urso faminto a uma curta distância. Um deles tira os seus sapatos de corrida da mochila e calça-os. “Não se pode correr mais depressa que um urso” diz o seu parceiro. “Só tenho de correr mais depressa do que tu”, diz ele.” O Estado, cujo papel económico e social tinha sido negado por Reagan e Thatcher, reaparece juntamente com a reafirmação do nacionalismo. Os soberanistas, a começar por Trump e Johnson, muito mais perigosos que os soberanos fascistas da Europa Oriental, afirmam a primazia da sua própria nação sobre todas as outras, e a defesa dos interesses dos seus cidadãos prevalece sobre todas as outras considerações e faz com que qualquer apelo à solidariedade internacional seja em vão. Este facto tem tido algumas consequências na gestão da própria pandemia. Durante algum tempo Trump e Johnson colocaram a preservação da competitividade da sua economia acima da defesa da saúde dos seus cidadãos e dos cidadãos do mundo. E é o nacionalismo competitivo, para além dos erros de organizações únicas, que provocou o enfraquecimento de todas as instituições internacionais destinadas a proteger a saúde e o ambiente, auxiliando e difundindo a educação e a cultura como a OMS, UNICEF e UNESCO. A Covid-19 e as dificuldades económicas que se seguirão estão destinados, na situação actual, a acentuar estas tendências e a tornar a guerra comercial ainda mais aguda, principalmente entre os Estados Unidos e a China e com todos os vários actores a medir os seus músculos nesta guerra. A começar pela competição selvagem em curso para o controlo das matérias-primas e dos recursos naturais. O petróleo, as florestas e a água estarão no centro da luta com algumas consequências desastrosas para África e para a maior parte da América Latina. O extractivismo, a flexão de cada recurso natural e cultural para a valorização económica capitalista, aumentará de intensidade. E a lógica da globalização continuará inexoravelmente, que tem destruído progressivamente a economia de subsistência, provocando o êxodo para as megalópoles do Terceiro Mundo de milhões de camponeses, concentrando a produção de riqueza no petróleo, nos recursos minerais, no cultivo de produtos exportáveis no Ocidente, na China e na Rússia. Tudo isto é uma das causas generativas do aquecimento global e da desertificação nesses países, bem como de muitas guerras, com a consequência de que alistar-se nos exércitos de ditadores e nas fileiras do Islão fundamentalista ou fugir para o Ocidente são a única forma de milhões de jovens africanos sobreviverem. Se o mundo dentro e depois da Covid-19 for este, a Europa arrisca-se a ficar para sempre à margem. E nenhuma medida financeira pode conseguir resolver este nó que faz da Europa, para não falar de países individualmente, um pote de panelas que colide com panelas de ferro. Para recomeçar, precisa de se repensar e passar realmente da lógica da concorrência, a da compreensão que ainda impede a adopção de medidas comuns sérias e incisivas, para a da cooperação e da solidariedade. Face a isto, pensar em termos puramente financeiros e monetários parece muito limitado. O aumento da liquidez não resolve o problema da insolvência previsível da maioria das pequenas e médias empresas. Deve ser considerada a intervenção directa dos Estados-Membros, apoiada por recursos disponibilizados pela Europa muito acima dos setecentos e cinquenta mil milhões de euros, que garantiriam a protecção dos trabalhadores e das empresas contra a perda de rendimentos resultante da cessação da produção e da actividade comercial causada pela Covid-19, como os agricultores afectados pela doença das vacas loucas e outras catástrofes naturais, ou os habitantes de cidades e aldeias varridas por terramotos ou inundações, foram compensados. A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, referiu-se repetidamente à necessidade de um Plano Marshall Europeu. Deve-se recordar que o Plano Marshall foi em grande parte uma transferência directa de recursos dos Estados Unidos para a Europa, os mais fortes e ricos da época, na crença de que era do seu interesse ressuscitar toda a Europa dos escombros da guerra dado ser mercado para as suas exportações, parceiro produtivo na nova economia industrial triunfante e aliado na nova divisão do mundo em áreas de influência. Um Plano Marshall Europeu só é possível se os países mais ricos da Europa, e antes de mais a Alemanha, aqueles que se opõem à mutualização comum da dívida (os chamados Eurobonds, que são muito menos abrangentes do que o Plano Marshall), reconhecerem a necessidade no seu interesse, de os países do Sul da Europa manterem a sua vitalidade económica ao mais alto nível possível. Um caminho decididamente diferente daquele que caracterizou as intervenções em resposta à crise financeira de 2008, que ultrapassou decisivamente a lógica dos empréstimos condicionados à transferência de poder e à redução da despesa pública e do bem-estar, e que viu a Europa dividir-se entre países do Norte e países mediterrânicos com graves consequências para a vida e as instituições sociais destes últimos. Não só da Grécia. As reduções nos cuidados de saúde, educação e investigação são também filhos dessa história. Mesmo os grandes intérpretes da Europa competitiva e orientada para o mercado estão convencidos de que é necessário mudar a arma. O ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi em particular, com o seu discurso no “Financial Times”, explicou que a recessão é agora inevitável, e que a única forma de não se transformar numa depressão sem fim são intervenções estatais decisivas que absorvam, através de um aumento da dívida pública, as crescentes dívidas privadas, dos cidadãos certamente, mas especialmente das empresas e bancos. São convidados a tornar-se um instrumento de política pública, concedendo crédito ao sistema empresarial mesmo sem garantias, mas com a garantia de que o Estado assumirá as insolvências. Alguma esquerda italiana até aplaudiu, saudando o regresso de Draghi, um antigo aluno de Federico Caffè, à órbita cultural do seu antigo mestre. Na verdade, a proposta do “Super Mario”, como muitos meios de comunicação italianos lhe chamam, pareceu a tentativa mais sensata para o regresso à normalidade económica atingida pela crise pandémica, da qual ninguém se sente culpado de forma alguma, nem mesmo aqueles que saquearam a Terra e feriram profundamente os ecossistemas em nome do crescimento infinito do fantasma. Se ninguém for responsável, se tudo o que temos de fazer é restaurar o funcionamento normal da economia, ninguém terá de pagar. E no entanto, mais cedo ou mais tarde, alguém irá pagar pelo aumento das dívidas.
Magia Anabela Canas - 3 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] pensar que às vezes a vida tem tonalidades de um realismo mágico, que neutraliza com as cores opostas o realismo trágico que nos abala. Como uma teimosia. Desviar os olhos e, como por magia, esquecer tudo o que não se apresenta ao imediato constatar dos sentidos. Sentir que tudo está bem. Em harmonia e à distância de tudo o que nos faz doer. Mas não agora, naquele momento, neste, aqui. Como um toque de perfeição. E apeteceria escrever algo como um nada inócuo. Ou melhor, um nada a soar cálido, envolvente, abrangente e bom. Um nada em forma do que cada um que é outro precise para sentir. Em doçura e agrado. Em prazer e embalo e em dimensão positiva de ausência de dor. Um nada, camaleão. Em forma de um pequeno tudo, preciso, exacto e transparente. A tomar as cores do real aprazível. A repetir. A confortar. A trazer um brilho ou um sorriso. Uma admissão do sol, que brilha sempre mesmo por detrás das nuvens. Vendo bem, quando conseguimos pensar que muita da dor está sentida num tempo verbal passado ou futuro, em forma de rescaldo ou temor, recordação ou antevisão, olhamos em volta, e com um pouco de sorte sentimos que tudo está momentaneamente bem. À custa de um olhar curto, lúcido e limpo, e de uma certa cegueira para o mundo. Ou um olhar alongado mas cuidadoso a escolher a direcção e o caminho. A passar entre todos os que estão no epicentro de algo, a combater monstros ou incêndios ou à beira de vulcões. Tudo o que nos perturba em nós e no que nos cerca pode acalmar por um tempo, tréguas de convalescença ou intervalo de sono. Não se suporta inquietação e angústia a tempo inteiro, mesmo sendo assim por defeito. Há uma janela a abrir sobre o lado sereno das coisas. O lado parcial que também pode ser uma totalidade consciente e sem remorso. Mas há teatros de guerra – estranha expressão dos analistas – há incêndios a consumir a realidade e vidas e há as moscas incansáveis sobre rostos depauperados de fome, calor, doenças e futuro inóspito para corpos de criança. Que sorriem com a plenitude abstracta, que ultrapassa tudo. Há dores presentes instaladas no corpo e a minar a alma e quaisquer caminhos que desçam dela. Há tantas coisas e por vezes nenhuma nos transtorna e mesmo assim não queremos deixar de nos amarfanhar de dor de sentir, desapontamento e frustração. Como somos fúteis. Adeptos do sentir inútil do adverso, de navegar como barco com vento de través, sempre contra a força do vento que nunca parece a favor das velas. Bolinar todos os dias cansa. Apetece a tempestade e afundar. Ou olhar de outro ângulo. Magia, pó de estrelas, poções e luzes, que as palavras ultrapassam em intensidade e poder. Mas tão poucas benéficas, mesmo em pensamento. Ou claras. Tão poucas, mão, tão poucas, remédio e tão poucas, poema. Há sempre qualquer coisa. Por detrás do que se faz do que se diz do que se escreve. Mas como eu gostaria no momento de pensar lucidamente o que fazer o que dizer ou o que escrever, – um dia – ser sobre nada e que nesse nada houvesse tudo para a plenitude e a emoção de alguém entender e se encontrar. Porque nada faz mais sentido do que o encontro de si, do outro ou com o outro. A transcender a seca solidão do escrever. Mas há a inquietação e utopias de adivinhar. Uma esponja orgânica a querer fazer ou apagar o que é certo no momento certo, refazer o tempo. O contrario do relógio que avança ao ritmo prescrito inexorável e sem dó e cumpre o seu destino friamente na maior inocência. Porque o relógio tem uma inocência ignorante maior até do que o tempo em que nos envolvemos como em capas de passado ou futuro, lentas, curvas ou estonteantes. O ónus na noção que temos e no olhar que lançamos. É isso. Queria, a pretexto desse nada, algo de textura e determinação, futuro, calor e desejo. Uma amplitude de nada com delicada cadência e uma acetinada superfície em emoção e sentir, como um parque natural para viver. Uma saída do finito e precário, da transitoriedade como tontura a revolver os olhos e o estômago, no convés. Queria isso tudo e dizer tudo o mais, em nada. Mas não seria natural. Um veemente nada. Que retorna em segurança. Como um placebo que faz bem. Uma coisa benéfica e alimentar. Penso muitas vezes no sabor das palavras, dos sentimentos. Como na diferença entre apetite e fome. O que é natural e o que é cultivado. O que é gosto e o que é necessidade. O que é vida e o que é morte diária dos alimentos, esquecidos, cumpridos e processados. Penso, porque não consigo outro modo, quando o que eu queria era ler. Sabores a transcender a alma. Queria parar, enrolar-me em mim e esperar que algo salvasse esta inutilidade. Esse lado de mim. Depois, entendo que está bem porque brinca com a areia. Imerso em pensamentos, é certo, mas descontraídamente esquecido. Nada me basta mais. Do que um escondido e ligeiro sorriso atrás dos olhos. Como a cumplicidade que não necessita palavras a produzir escolhos. Amo até à exaustão de ser de sentir ou de suportar. Mesmo a montanha mais alta e o precipício mais perigoso. Quietos, por um momento. Por magia. Uma pausa a meio da ponte. Como um limbo, podia ser um mito, mas contrário ao de Sísifo.
IndieLisboa | Covid-19 afasta filmes de Macau de cartaz com obras asiáticas Andreia Sofia Silva - 3 Ago 2020 Já é conhecido o cartaz do festival de cinema IndieLisboa, que arranca a 25 de Agosto. A pandemia da covid-19 não permitiu a concretização, este ano, da habitual parceria com o Turismo de Macau, mas mantém-se a presença de filmes asiáticos no cartaz. “Signal 8”, filmado em Hong Kong pelo realizador Simon Liu, é um dos exemplos [dropcap]O[/dropcap] IndieLisboa, como todos os eventos organizados este ano, teve de se adaptar e adiar datas para contornar os obstáculos trazidos pela pandemia. Ainda assim, o festival de cinema persiste e arranca a 25 de Agosto, em Lisboa, mas, ao contrário do que tem sido habitual nos últimos anos, o cinema de Macau não faz parte do cartaz devido aos constrangimentos causados pela pandemia. “Habitualmente, temos uma parceria com o Turismo de Macau, para ter alguns novos filmes de realizadores macaenses, mas este ano, devido à pandemia, esta parceria não foi possível concretizar-se”, contou ao HM Carlos Ramos, um dos directores de programação do festival. Apesar de não ter produções de Macau, o programa deste ano mantém a presença de filmes asiáticos, muitos deles em co-produção com países europeus. Na categoria “Silvestre” destaca-se a presença de “Signal 8” do realizador de Hong Kong Simon Liu, uma produção de 2019. O filme olha para o território como um local “à espera de uma ruptura trazida pelo crescimento constante”. Carlos Ramos descreve a curta-metragem experimental de Simon Liu como uma obra que “traça um olhar sobre a situação de Hong Kong neste momento, com todas as coisas que estão a acontecer, e com este sinal 8 [de tufão] em que para tudo”. “É um filme sem diálogo, só com imagens de 16 e 35 milímetros, em película, e som. O realizador foca-se em pormenores do dia-a-dia de Hong Kong em que praticamente não se veem pessoas, só o ambiente. É construída uma espécie de tapeçaria da cidade, em que por vezes há atrasos ou se acelera, à medida que se constrói essa tapeçaria do tráfego humano em Hong Kong”, comentou Carlos Ramos. Também na categoria “Silvestre” está o filme “A Bright Summer Diary”, do realizador chinês Lei Lei, uma co-produção China/EUA. Trata-se de uma obra de construção de memórias familiares e afectivas, conforme adiantou Carlos Ramos. “Ele [realizador] parte de uma fotografia tirada com a mãe, no final dos anos 80, e a partir daí começa a trabalhar sobre as memórias individuais e colectivas. Ele tirou a fotografia quando era criança e vai construir toda a história da sua família a partir dessa fotografia, mas também usando outras, e recorrendo à animação.” O género animação é, aliás, familiar a Lei Lei. “É um realizador que tem feito os seus filmes na China, mas que dá aulas nos EUA. Vem principalmente da animação, mas ultimamente tem começado a fazer trabalhos mais híbridos”, esclareceu Carlos Ramos. Falsificações em Shenzhen A fechar a lista de filmes asiáticos na categoria “Silvestre” destaque também para “The Works and Days (Of Tayoko Shiojiri in the Shiotani Basin)”, uma co-produção de C.W. Winter e Anders Edström entre países como os EUA, Suécia, Japão, Hong Kong, China e Reino Unido. Inspirado nos poemas gregos e latinos que elevavam artisticamente a agricultura — como são os casos de “Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo” e de “Geórgicas de Virgílio” – a obra acompanha o labor no campo de uma família japonesa, numa pequena vila perto de Quioto. “Catorze meses de rodagem convertem-se nestas nove horas que são uma magnífica ode ao trabalho, à terra, à paisagem sonora e à passagem do tempo e das estações”, lê-se no programa do festival. Carlos Ramos descreve a produção como “um filme observacional das tarefas diárias dela [de Tayoko Shiojiri], que vive perto de Quioto”. A exibição “será um dos grandes momentos do festival” IndieLisboa, denota o programador. Na categoria “Competição Internacional” o festival deste ano traz a obra “Shànzhài Screens”, uma co-produção entre a França e China do realizador francês Paul Heintz. O filme conta a história de pintores de réplicas da cidade de Shenzhen. “Temos acompanhado o trabalho deste realizador desde o primeiro filme. Ele trabalha essencialmente com a curta-metragem e este filme é todo filmado em Shenzhen. É um documentário experimental em que acompanha um conjunto de pintores de réplicas, e em que regista o seu quotidiano.” Carlos Ramos destaca o facto de, numa cidade altamente industrializada e dinâmica, a tecnologia estar sempre presente. “O engraçado é que vemos uma cidade completamente cheia de pessoas que são mediadas pela tecnologia, uma vez que, ao invés de olharem para a obra original, fazem o trabalho da réplica com a ajuda de um ecrã de telemóvel.” O festival encerra portas a 5 de Setembro e, apesar da pandemia da covid-19, acontece, como habitualmente, em várias salas de cinema da cidade de Lisboa, uma delas o Cinema São Jorge.
Habitação | Proprietários em guerra com conselho de condomínios Hoje Macau - 3 Ago 2020 [dropcap]U[/dropcap]m grupo de proprietários do Complexo Flower City está a movimentar-se nas redes sociais contras as obras de remodelação lançadas pelo conselho de condomínios. O movimento abrange os edifícios Lei Hong, Lei Tou, Lei Wai e Lei Ip após o conselho de condomínios ter proposto obras de remodelação no tecto do lobby, no interior dos elevadores e no espaço de espera dos elevadores. Em causa estão trabalhos no valor de 3,7 milhões de patacas que os proprietários dizem ser desnecessários e terem sido aprovados sem haver uma reunião de proprietários para explicar as obras. Por este motivo, o grupo está a mobilizar-se para chumbar o projecto numa votação que está a decorrer até quarta-feira. Outra crítica envolve o facto de as três obras estarem a cargo da mesma companhia. O conselho de condomínios justificou que todas as construções foram adjudicadas à mesma companhia para facilitar os trabalhos e que não foi feita uma reunião de condomínios para evitar eventuais contaminações por covid-19.
Imobiliário | Mais 176 frações com licença para habitação Hoje Macau - 3 Ago 2020 [dropcap]F[/dropcap]oram autorizadas para habitação 176 novas frações, quase todas localizadas na península de Macau. De acordo com dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), no segundo trimestre do ano oito empreendimentos habitacionais obtiveram licença de utilização. Num universo de 14 empreendimentos, 689 frações já concluídas aguardam vistoria. Para além disso, ao longo do segundo trimestre do ano 3776 frações estavam em construção, ainda sem vistoria, e estavam em fase de projecto 115 empreendimentos habitacionais com 8.916 frações. A maioria das casas que estão a ser construídas no território são de tipologia T2, e prevê-se que os nove empreendimentos em construção em Coloane representem mais de duas mil frações. Apesar do impacto da epidemia no turismo em Macau, continuam a ser edificados hotéis. Entre Abril e Junho deste ano, estiveram em fase de construção 15 empreendimentos hoteleiros, com um total de 7.040 quartos, enquanto 23 empreendimentos com 2.376 quartos estavam em fase de projecto. Um deles localiza-se Coloane e terá 457 quartos, havendo um empreendimento em construção na ilha com apenas 11 quartos. A Taipa foi a única zona sem obras. Por outro lado, de acordo com dados da Direcção dos Serviços de Finanças, o preço médio por metro quadrado de frações nos primeiros seis meses do ano foi de 100.496 patacas, com o valor mais elevado a registar-se em Coloane (111.325) e o mais baixo na península (99.507). Durante este período, foram vendidas mais de três mil habitações, a maioria delas na península de Macau. Contas feitas, o valor geral do metro quadrado desceu quase 8 por cento em comparação com a média do ano passado, que se situou nas 109.068 patacas.
Caso IPIM | Alegações finais marcadas para 10 e 11 de Agosto Salomé Fernandes - 3 Ago 2020 A fase de inquirição de testemunhas do caso IPIM chegou ao fim. Na sexta-feira, Echo Chan marcou presença em tribunal e deixou elogios ao trabalho de Glória Batalha e Jackson Chang. A data para as alegações finais ficou definida para a próxima semana [dropcap]A[/dropcap]cabaram de ser ouvidas na sexta-feira as testemunhas do caso que envolve o ex-presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). Completa a fase de produção de prova, as alegações finais foram marcadas para a próxima semana, nos dias 10 e 11 de Agosto. Com audiências a decorrer quase todos os dias durante cerca de dois meses, a juíza agradeceu a cooperação do Ministério Púbico e dos advogados. “Muito obrigada por terem cooperado e virem a horas”, disse, comentando que a produção de provas decorreu “de forma suave”. Apesar do reencontro marcado para breve, tendo em conta o início das férias judiciais no dia seguinte, a juíza deixou uma frase de despedida: “boas férias e bom trabalho”. Echo Chan, antiga vogal executiva do Conselho de Administração do IPIM, foi chamada a depor como testemunha abonatória de Glória Batalha, que conhece desde 1995 e deixou elogios à arguida. “Para mim, é uma boa colega”, disse Echo Chan, acrescentando que Glória Batalha trabalhou de forma “sincera” e “com dignidade”. Além disso, destacou trabalhos como a preparação de deslocações empresariais a países de Língua Portuguesa e à China. Frisando a dedicação da arguida ao trabalho, disse que no acolhimento da conferência ministerial do Fórum Macau, Glória Batalha trabalhou “até toda a gente estar satisfeita”. “Gosta de apoiar os outros”, frisou Echo Chan. Luzes de funcionamento Sobre o funcionamento da Comissão Executiva, descreveu que a divisão de trabalhos era feita de acordo com a experiência e características de cada membro. No caso de Echo Chan, chegou a supervisionar o departamento de apoio a investidores, relações externas e gabinete de estudos. Neste âmbito, apontou várias das funções listadas no estatuto do IPIM, como a facilitação de algumas relações externas. Em relação aos pedidos de fixação de residência, explicou que havia um gabinete jurídico que os recebia e analisava e que depois passavam pela presidência do IPIM, o gabinete do secretário para a Economia e Finanças, até ao Chefe do Executivo. De acordo com Echo Chan, “às vezes” alguns dos processos eram devolvidos e eram pedidas mais informações. Mas não precisavam de passar pelo conselho. Foram também deixados elogios a Jackson Chang. Sobre o antigo dirigente do IPIM, de quem foi colega no conselho de administração em 2004, Echo Chan descreveu como uma pessoa “muito dedicada”, que “gostava de apoiar os colegas” e com “consciência de respeitar a legislação”. A testemunha destacou o período da SARS, em 2003, quando lançou um programa de apoio a pequenas e médias empresas. Uma altura em que garante que Jackson Chang mostrou flexibilidade, trabalhando sem olhar às horas. “Parabéns pela sua excelente memória”, congratulou o advogado Álvaro Rodrigues quanto a testemunha acabou de depor. Hora de almoço A mulher de Ng Kuok Sao tem sido apontada como “patroa”, apesar de a arguida alegar que estava afastada da empresa para tomar conta dos filhos. Na última audiência foi chamada a depor uma trabalhadora que disse ajudar Wu Shu Hua a tomar conta das crianças em casa. A testemunha disse que, para além dos filhos de Wu Shu Hua almoçarem em casa e não na escola, também os dois filhos do irmão mais novo se juntavam à refeição. Uma outra testemunha, que trabalhou numa agência de viagens associada a Ng Kuok Sao, identificou assinaturas de documentos como pertencentes à mulher do empresário. A mesma funcionária reconheceu que fez depósitos e levantamentos, mas indicou ter apenas feito o trabalho que lhe foi atribuído.
Receitas da MGM China caíram a pique Hoje Macau - 3 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] grupo MGM China apresentou na sexta-feira perdas de mil milhões de dólares de Hong Kong no primeiro semestre de 2020, devido ao impacto da pandemia. Se nos primeiros seis meses de 2019 o grupo registou mil milhões de dólares de Hong Kong de EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações), agora teve um resultado negativo do mesmo valor. “Os resultados foram gravemente afectados pela pandemia da covid-19 e continuamos a ser impactados hoje”, pode ler-se no comunicado do grupo detido maioritariamente por capitais norte-americanos. Com a imposição de restrições fronteiriças e a suspensão dos vistos turísticos da China, as receitas totais dos casinos em Macau caíram 97 por cento em Junho e mais de 77 por cento no primeiro semestre, em relação a iguais períodos de 2019. Na mesma nota, o grupo MGM China apresentou ainda receitas de 2,4 mil milhões de dólares de Hong Kong, entre Janeiro e Junho de 2020, quando no mesmo período do ano passado tinha apresentado mais do dobro: 5,5 mil milhões de dólares de Hong Kong. No comunicado, o grupo sublinhou que, apesar dos maus resultados, “manteve uma posição financeira saudável”, ou seja, uma liquidez de cerca de 11,4 mil milhões de dólares de Hong Kong.
Governo electrónico | Lançado este ano requisição online de certidões Andreia Sofia Silva - 3 Ago 2020 [dropcap]K[/dropcap]ou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), assegurou, em resposta a uma interpelação do deputado Leong Sun Iok, que este ano será lançado um serviço online que permite aos cidadãos requererem vários tipos de certidões. “O Governo da RAEM vai continuar a optimizar os serviços frequentemente lançados pelos cidadãos em prol do bem-estar da população e, em 2020, irá lançar o serviço de requerimento online do diversos tipos de certidão electrónica, tais como a certidão do registo de nascimento, certidão do registo de casamento, certidão do registo comercial e certificado do registo criminal, com vista a facilitar ainda mais a vida dos cidadãos.” Além disso, os SAFP estão a trabalhar em coordenação com a Direcção dos Serviços de Finanças e Fundo de Segurança Social para integrar as contas de identificação dos serviços electrónicos numa conta única de acesso comum. Existe também o plano de integrar na aplicação para telemóvel “Acesso comum aos serviços públicos da RAEM” serviços e informações dos serviços públicos, para que os cidadãos. A resposta de Kou Peng Kuan dá também conta que, actualmente, “cerca de 30 serviços públicos lançaram no total cerca de 50 aplicações para telemóvel com destinatários específicos dos diversos serviços”.
Diplomacia | Embaixador diz que relação entre Portugal e China vai além de Macau Hoje Macau - 3 Ago 2020 Numa videoconferência promovida pela Câmara de Comércio Luso-Chinesa, o embaixador português em Pequim, José Augusto Duarte, exortou os empresários portugueses a não ficarem presos ao passado no que à relação com a China diz respeito. O responsável defendeu a criação de mais voos entre Portugal e a China e a aposta nos turistas chineses [dropcap]O[/dropcap] embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, afirmou na sexta-feira que a relação bilateral entre Portugal e a China vai além de Macau e que os empresários portugueses não devem ficar na sombra dos antepassados. “O papel de Macau tem uma ligação incontornável na relação com a China. É um caso de estudo daquilo que deve ser o diálogo entre as nações”, disse o embaixador, numa videoconferência organizada pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), lembrando que “a relação com a China é mais vasta do que Macau e não pode ser um livro de nostalgia”. O diplomata, que falava a uma centena de empresários e gestores sobre “As Relações Bilaterais e a Nova Fase da Parceria Estratégica”, evento que se realizou no âmbito do ciclo “Connecting China to Portugal”, organizado pela CCILCA, desafiou assim os empresários a construírem “um novo legado e um novo futuro”. José Augusto Duarte admitiu, no entanto, que no quadro do Fórum Macau há actualmente o desafio de “aliviar as barreiras alfandegárias” nas exportações que passam por Macau para a China continental. Os países de língua oficial portuguesa, ao exportarem para a China Continental através de Macau, enfrentam uma dupla tributação e novas barreiras alfandegárias. “Temos aqui um desafio e seria bom aliviar as barreiras alfandegárias”, prosseguiu, realçando o papel do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau). “Parceiro incontornável” O embaixador disse ainda que a China é “um parceiro incontornável em todo o mundo” e que a “aposta e compreensão deste mercado” pelos empresários portugueses “é fundamental”. Portugal “tem de estar unido e ter uma enorme parceria estratégica entre o Estado e os privados. É uma responsabilidade colectiva”, realçou, desafiando os empresários a exportarem para a China, lembrando que os termos de troca das exportações pelas importações são desfavoráveis a Portugal. Mesmo assim, referiu que no primeiro trimestre deste ano, o peso das exportações de bens agroalimentares nacionais no total das exportações para a China aumentou 255 por cento face ao período homólogo de 2019. As empresas portuguesas já se encontram habilitadas a exportar carne de porco, produtos aquáticos, laticínios, uvas de mesa, bens agroalimentares de baixo risco como o azeite, vinho ou mel. Adiantou que diversos processos negociais estão em curso entre Portugal e a China para permitir a exportação, nomeadamente de carne bovina, aves, ovinos e de peras e citrinos. “Há que não ter receio e sofrer de timidez para irmos para este mercado [de 1,4 biliões de consumidores]. Há que superar as dificuldades e é desejável e saudável para uma relação equilibrada”, realçou José Augusto Duarte. A resposta da China face à pandemia da covid-19 torna este país um dos que “mais rapidamente recuperarão”, pelo que se trata de “uma aposta certa”, pois será o que “terá o maior crescimento na próxima década”. Além disso, o embaixador considerou que Portugal tem capacidade para absorver mais capital chinês, investimento que “cumpre as regras de mercado e respeita a leis portuguesas”. Voos unidos José Augusto Duarte defendeu ainda a importância das negociações do acordo bilateral de investimento entre a China e a União Europeia (UE), considerando que deveriam ficar concluídas ainda durante a presidência alemã da UE, que antecede a portuguesa. “Era um passo muito importante devido ao desgaste que a pandemia tem causado e iria estimular muito a produtividade e as trocas comerciais”, disse o diplomata, lembrando também que o transporte aéreo regular, de passageiros e mercadorias, é da “maior importância” na conectividade com a China. Neste domínio, disse que o “ideal era haver todos os dias” ligações aéreas entre os dois países e defendeu que Portugal deve apostar nos turistas chineses, pois são “ordeiros e não conflituosos, gostam de consumir e pertencem ao segmento de turismo de alta gama”.
Fronteiras | Alargada quota diária de veículos com dupla matrícula Hoje Macau - 3 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau e Zhuhai vão aumentar para 1400 o número de quotas de circulação de veículos privados com dupla matrícula e alargar a área de acesso. A medida entra hoje em vigor e a quota terá validade de sete dias, permitindo o acesso a nove cidades (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing) e agora a toda a província de Guangdong. Foi também adoptado um modelo de triagem “segundo o qual os veículos autorizados só poderão passar pelo posto fronteiriço definido”. O Centro de Coordenação das quotas da inscrição continua a aceitar marcações prévias para o dia 9 de Agosto, com a quota a manter-se nas 700 inscrições diárias. No entanto, desde as 10h de hoje estão abertas 700 inscrições adicionais para as marcações prévias entre amanhã e quinta-feira, perfazendo um total de 2100 inscrições nos três dias. Quando as inscrições esgotarem serão abertas mais 700 para o período entre 7 a 9 de Agosto.
DSAT | Medidas adoptadas para reduzir frequência dos autocarros João Santos Filipe e Nunu Wu - 3 Ago 2020 As alterações foram alvo de várias críticas e forçaram o Governo a fazer uma conferência de imprensa de urgência para esclarecer o tema. A directora do GCS nega que os cortes na frequência dos autocarros estejam relacionados com a austeridade prometida por Ho Iat Seng [dropcap]A[/dropcap] Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) lançou novos horários para a circulação dos autocarros, que vão levar os utentes a esperar mais tempo, à excepção das horas de ponta e fins-de-semana. A “novidade” tinha sido avançada num comunicado, que apenas foi publicado em língua chinesa, na quinta-feira. O que não constava na informação publicada é que vários percursos têm os tempos de partida aumentados de oito, 10 e 30 minutos para períodos de 15, 30 e 60 minutos. As alterações só foram tornadas públicas pela Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM) e Transportes Urbanos de Macau (Transmac), momentos antes da entrada em vigor dos novos horários. No entanto, as medidas foram fortemente criticadas nas plataformas online e por alguns deputados. A contestação levou o Governo a organizar uma conferência de imprensa, onde a directora do Gabinete de Comunicação Social, Inês Chan, negou haver relação com os cortes orçamentais previstos pelo Chefe do Executivo. “O Governo salienta que o ajustamento não tem nada a ver com a austeridade das despesas públicas. O ajustamento só se justifica por haver menos passageiros durante o Verão”, começou por sublinhar Inês Chan, antes de passar a palavra a Lam Hin San. Cortes de Verão Por sua vez, o director da DSAT justificou os cortes nas frequências com as férias escolas e prometeu que quando regressarem as aulas a situação volta à normalidade. “O ajustamento é realizado de acordo com os dados recolhidos no passado, com a situação da epidemia e as férias escolares. Estamos numa altura em que também há menos turistas vindos da China e trabalhadores não-residentes”, explicou. “No ano passado, nas férias de Verão, também reduzimos a frequência de partida de algumas carreiras. No início do ano lectivo vamos retomar a frequência anterior […] É um ajustamento que só tem a ver com as férias de Verão”, garantiu. Ainda de acordo com os dados apresentados, a medida vai permitir poupar dois milhões de patacas no orçamento da DSAT, ao mesmo tempo que se vão reduzir 200 partidas de autocarro das cerca de 1.250 partidas diárias antes da entrada em vigor da medida. Lam Hin San respondeu igualmente às várias críticas que surgiram online e reconheceu o erro: “Peço desculpa por termos comunicado muito tarde. Nos próximos anos, se tivermos estas medidas, vamos anunciar com maior antecedência”, indicou. O director da DSAT afirmou ainda que os autocarros vão estão mais cheios, mas que serão em número suficiente. No caso de sobrelotação, apontou que as companhias de autocarros têm 100 autocarros preparados para entrar ao serviço nas horas mais complicadas. Críticas dos deputados Horas antes da conferência de imprensa, também o deputado José Pereira Coutinho defendeu que deveria ter havido maior cuidado com as alterações, porque mexam no quotidiano das pessoas. “O Governo quando toma uma decisão com um impacto social tão grande tem de explicar a razão de permitir que as concessionárias dos autocarros procedam a esta alteração dos horários”, começou por considerar José Pereira Coutinho, deputado ligado à Associação dos Trabalhadores a Função Pública de Macau (ATFPM), ao HM. “Isto causa grandes complicações às pessoas que têm de se deslocar para o trabalho. Não nos podemos esquecer que Macau é uma sociedade que trabalha 24 horas por dia”, acrescentou. José Pereira Coutinho apontou ainda a falta de coerência do Executivo quando, por um lado, toma medidas contra o transporte individual, mas, por outro, reduz a frequência e qualidade dos transportes públicos. Por isso, o legislador entende que os autocarros não fazem face às necessidades da população. Agnes Lam mostrou-se igualmente contra a falta de explicações sobre a medida. Ao jornal Ou Mun, a deputada considerou a medida repentina e destacou que os gastos sociais não devem ser alvo de cortes, nomeadamente o subsídio às empresas de autocarros, mesmo que haja a vontade de poupar nas despesas públicas. Sulu Sou foi outra da vozes críticas e acusou o Governo de ter deixado os cidadãos sem informação. Por outro lado, atacou a redução das frequências, principalmente as partidas durante a noite, que passam a acontecer a cada hora, em vez de acontecerem de meia em meia hora. O deputado democrata atacou o Executivo por ignorar as pessoas que trabalham por turnos. Contratos a 90 por cento Anteriormente, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, prometeu que os novos contratos de concessão dos autocarros ficam resolvidos até 15 de Agosto. Lam Hin San, director da DSAT, comentou ontem o assunto, sem entrar em detalhes, mas disse que entre 80 e 90 por cento dos contratos já estão negociados.
Apoios | Afastada nova ronda de subsídios e isenções de tarifas Pedro Arede - 3 Ago 2020 [dropcap]O[/dropcap] director dos Serviços de Finanças (DSF), Iong Kong Leong, afirmou que não está prevista uma nova ronda de apoios à população, destinada a diminuir o impacto da pandemia. Em resposta às interpelações orais de Au Kam San e José Pereira Coutinho, o director da DSF revelou que não serão dados mais apoios pecuniários, nem estendida a isenção da cobrança das tarifas de electricidade e água até ao final do ano. “O crescimento económico do mundo está a ser afectado pelo impacto da pandemia. Por isso, temos de ser cautelosos com as medidas de apoio a atribuir e ter em conta de que forma podem contribuir para dinamizar a economia de Macau. Além disso, temos outras medidas em vigor como a formação subsídiada e apoios aos desempregados ”, justificou o responsável. Na mesma ronda de intervenções, o Director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), Wong Chi Hong, apontou que foram acrescentadas 10 mil vagas na formação subsidiada para pessoas com necessidade de emprego.
TNR | Locais “não estão destinados” a trabalho doméstico, diz Song Pek Kei Pedro Arede - 3 Ago 2020 [dropcap]“A[/dropcap]lguns tipos de trabalhos não são destinados aos residentes”, como, por exemplo, empregada doméstica. Esta é a leitura que Song Pek Kei faz do mercado de trabalho local em resposta ao argumento apresentado pelo sub-director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), Chan Un Tong, quanto à substituição de TNR por locais. “De Janeiro a 24 de Julho, conseguimos transferir 2049 residentes para novos postos de trabalho e isto é também devido à saída de 10 mil TNR”, referiu o responsável da DSAL. Perante os números Song Pek Kei argumentou que a leitura não pode ser feita de forma tão directa, pois há empresas que extinguiram postos de trabalho e não vão voltar a ocupá-los, simplesmente porque “não têm condições para contratar mais trabalhadores”. Chan Un Tong voltou a sublinhar que o Governo pode cancelar quotas para trabalhadores não residentes (TNR) caso se verifique a existência de trabalhadores locais disponíveis para o emprego. “Se há trabalhadores locais em lay off ou em subemprego, enquanto há TNR a trabalhar, sugiro a esses residentes que se queixem à DSAL. Se conseguirmos provar que a empresa, directa ou indirectamente, está a afectar os residentes, vamos aplicar a lei e é provavel que possamos cancelar as quotas de TNR dessas empresas”, revelou o sub-director da DSAL após uma intervenção de Sulu Sou. Chan Un Tong defendeu ainda que a política de saída de TNR tem contribuído para colmatar as preocupações relativas à taxa de desemprego ascendente entre os residentes.
Seguro universal de fora dos planos do Governo Pedro Arede - 3 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U, revelou que a criação de um seguro universal de saúde para os residentes de Macau não faz parte da agenda do Governo. A posição foi assumida após uma interpelação oral de Song Pek Kei ter dado o mote para o debate. Apesar do relatório académico que resultou do estudo do sistema de saúde de Macau sugerir a atribuição de vales de seguro aos residentes, Ao Leong U justificou que a estratégia não faz parte dos planos do Governo, pois implica “o ajustamento de todo o sistema de saúde”, sendo necessário realizar um “estudo e avaliação aprofundados da articulação da legislação” e ter em conta o ambiente socio-económico. “O Governo não tomou nenhuma posição ou definiu um rumo sobre o seguro médico universal. Vamos continuar a recolher opiniões de todos os sectores sociais para fazer a avaliação“, apontou a secretária. Em resposta, Song Pek Kei alertou que é urgente que o Governo defina um rumo e uma calendarização. “A maioria concorda com o seguro de saúde e o Governo, que está a analisar a situação há bastante tempo, vai aprofundar ainda mais o estudo. Vamos ter que estudar até quando? Vamos ter um rumo? Precisamos de uma calendarização e ouvir a vontade das pessoas. Qual é a posição do Governo?”, questionou a deputada. Sobre a opinião de vários deputados de que a aposta no seguro de saúde, não só permitiria aliviar os encargos do Executivo em tempos de contenção de custos devido à covid-19, mas também dinamizar o mercado privado, Ao Leong U apontou que a situação não é bem assim. Sobretudo, depois da experência acumulada na utilização dos vales de consumo. “Se de facto [o seguro] consegue diminuir a pressão dos serviços de saúde pública? Nem sempre, porque quando implementámos o regime dos vales de saúde durante todos estes anos, não se diminuiu a pressão de trabalho do hospital público”, defendeu a secretária. Apoios sobem Ao Leong U revelou ainda que o montante destinado a instituições privadas que prestam cuidados de saúde tem crescido. “Para a aquisição de serviços médicos, desde 2016, o Governo já pagou entre mil milhões e 12 mil milhões, destinados ao número de utentes a quem prestámos esses serviços, que passaram de 720 mil para 780 mil”, apontou. Perante as críticas de que o sistema de saúde de Macau falha na prestação de cuidados em tempo útil, Ao Leong U lembrou que em Macau “ninguém deixa de ser curado por uma questão de dinheiro”.
Turismo | Continuidade das excursões locais dependente de vistos Pedro Arede - 3 Ago 2020 O Governo não prevê estender o programa de excursões locais além de 30 de Setembro. Contudo, a secretária Ao Leong U admitiu um eventual prolongamento, caso a evolução da epidemia e da política de emissão de vistos assim o permitam. O itinerário Hengqin-Macau deve ser lançado este mês e serão criadas ofertas turísticas em hotéis até quatro estrelas [dropcap]A[/dropcap] continuidade do programa de excursões locais “Vamos! Macau!” além de 30 de Setembro está dependente da evolução pandémica e da política de emissão de vistos da China. O cenário foi traçado na sexta-feira pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Leong U, em resposta a interpelação oral apresentada pela deputada Wong Kit Cheng. “O programa das excursões locais irá decorrer até 30 de Setembro e, nesta fase, não está previsto nenhum prolongamento do prazo. Apesar do plano ter sido muito bem aceite, a sua extensão depende da epidemia e da política de emissão de vistos do nosso país e por isso vamos ter em consideração todos estes factores”, explicou Ao Leong U na Assembleia Legislativa (AL). Também os deputados Leong Sun Iok e Pereira Coutinho questionaram a secretária acerca da continuidade do plano ou da implementação de novas estratégias para gerar receitas no sector do turismo, nomeadamente sobre aquilo que está a ser feito para atrair visitantes estrangeiros. Leong Sun Iok lembrou que “mesmo com a abertura das fronteiras de Guangdong as excursões caíram mais de 95 por cento”, enquanto Coutinho apontou baterias à necessidade de optimizar as infra-estruturas de transportes para captar mais turistas do sudeste asiático. Em resposta, a secretária lembrou a situação incerta que se vive a nível internacional devido à covid-19 , sublinhado que, em primeiro lugar, está sempre a saúde dos residentes de Macau. “Agora, Macau está a conseguir controlar bem a epidemia, mas há várias regiões que estão em dificuldades. Neste momento, não temos condições para a vinda de visitantes do exterior, apesar de estarem abertas linhas aéreas e terrestres. Temos de assegurar a saúde da população e controlar primeiro a epidemia e só depois pensar abrir aos visitantes do exterior”, apontou Ao Leong U. Equilibrar a balança Song Pek Kei, depois de tecer elogios ao plano de excursões subsídiadas, apontou que, ao contrário das unidades hoteleiras de grande dimensão que lançaram campanhas com adesão de muitos residentes, os hotéis com quatro e menos estrelas “têm ficado às moscas”, porque não têm os mesmos equipamentos. A directora dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes admitiu que o problema existe e revelou que está a ser estudada a criação de pacotes de oferta turística que envolvem estes hotéis. “Temos entrado em contacto com os hotéis de menor dimensão, porque eles não têm equipamentos ao nível dos grandes resorts. Estamos ainda a estudar como planear estes pacotes, de acordo com as necessidades das pessoas interessadas, para não gorar expectativas”, disse a directora da DST. Depois de Ao Leong U ter referido na resposta a Wong Kit Cheng, que a DST iniciou contactos com a Ilha da Montanha para a organização do itinerário Hengqin-Macau, Senna Fernandes revelou que, possivelmente, este será uma realidade durante o mês de Agosto. “Estamos a pensar em meados de Agosto lançar esse itinerários para Hengqin, porque implica fazer o teste nucleico e, nesta fase, não podemos esgotar a capacidade de fazer testes a quem mais precisa”, justificou.
Receitas do jogo caem 94,5 por cento em Julho Hoje Macau - 2 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap]s receitas do jogo em Macau caíram 94,5 por cento em Julho, em relação a igual período de 2019, dados divulgados este sábado pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Os números apontam ainda que nos primeiros sete meses do ano as perdas dos casinos em relação ao ano anterior foram de 79,8%, um resultado que se justifica pelo impacto da pandemia do novo coronavírus, num território com fortes restrições nas fronteiras para conter a covid-19. Se em Julho de 2019 as operadoras que exploram o jogo no antigo território administrado por Portugal tinham arrecadado 134,4 mil milhões de patacas, agora a receita bruta ficou-se pelos 24,4 mil milhões de patacas. De acordo com a DICJ, contudo, o mês de Julho não foi o pior do ano. No mês anterior os casinos já haviam registado uma queda de 97% das receitas, angariando apenas 716 milhões de patacas, menos cerca de 23 mil milhões de patacas do que em Junho de 2019. Os casinos de Macau fecharam 2019 com receitas de 292,4 mil milhões de patacas. Com os vistos turísticos da China para Macau suspensos, o número de visitantes provenientes do interior da China chegou a cair em maio 99,4%, em termos anuais.
Covid-19 | China detecta 49 casos nas últimas 24 horas, 33 são contágios locais Hoje Macau - 2 Ago 2020 [dropcap]A[/dropcap] China registou 49 novos casos confirmados de coronavírus no sábado, 33 deles contágios locais na região oeste de Xinjiang e na província nordeste de Liaoning, informou hoje a Comissão Nacional de Saúde. Os números das últimas 24 horas dados representam um aumento de quatro casos em relação a sexta-feira, mas bem abaixo daqueles registados nos três dias anteriores, sempre acima de 100 contágios diários. Entre os 33 contágios locais, 30 foram detetados em Xinjiang e três em Liaoning. Dois dos casos importados foram identificados em Cantão, na província de Guangdong, vizinha de Macau. A pandemia de covid-19 já provocou mais de 680 mil mortos e infetou mais de 17,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP). Casos aumentam na Índia No que diz respeito à Índia, o número total de infectados no país já é superior a 1,75 milhões após outro pico de contágios de 54.735 registados nas últimas 24 horas, anunciados hoje pelas autoridades de saúde. O Ministério da Saúde também registou 853 mortes num só dia, totalizando 37.364 desde o início da pandemia. Somente o mês de julho foi responsável por mais de 1,1 milhão de casos na Índia.
Covid-19 | China detecta mais de 100 casos pelo terceiro dia consecutivo Hoje Macau - 31 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] China identificou, nas últimas 24 horas, 127 casos de covid-19, o terceiro dia consecutivo com mais de 100 casos, a grande maioria em Xinjiang, no noroeste do país, informou hoje a Comissão Nacional de Saúde. A região autónoma de Xinjiang contou 112 novos casos. Na província de Liaoning, no nordeste da China, foram diagnosticados mais 11. Todos estes casos ocorreram por contágio local. O país detectou ainda quatro casos entre viajantes oriundos do exterior, os chamados casos “importados”. O número representa uma tendência crescente nos últimos dias: 105 casos na quarta-feira, 101 na terça-feira e 68 na segunda-feira. A mesma fonte detalhou que, até à meia-noite, 17 pacientes receberam alta e oito deram entrada em estado grave. O número total de casos activos na China continental fixou-se em 684, entre os quais 41 estão em estado grave. A Comissão não anunciou novas mortes por covid-19, pelo que o número permaneceu em 4.634, entre um total de 84.292 pacientes diagnosticados oficialmente na China desde o início da pandemia. Mais de 78.974 superaram a doença e receberam alta. A pandemia de covid-19 já provocou mais de 667 mil mortos e infectou mais de 17 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).
Morreu o antigo Presidente de Taiwan, o “senhor Democracia” Lee Teng-hui Hoje Macau - 31 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente de Taiwan Lee Teng-hui, também conhecido como o “senhor Democracia” devido ao papel que desempenhou na transição política do país após uma ditadura nacionalista, morreu esta quinta-feira aos 97 anos, divulgou uma fonte hospitalar. Reconhecido como um dos “arquitectos” da transformação de Taiwan num país livre e moderno após várias décadas de ditadura, Lee Teng-hui foi responsável pela realização das primeiras eleições directas nesta ilha, que a China continua a considerar uma província rebelde, tendo assumido a Presidência taiwanesa entre 1988 e 2000. Segundo informou o hospital geral dos veteranos de Taipé, o antigo Presidente, que estava internado desde fevereiro, morreu na sequência de infeções, problemas cardíacos e da falência de órgãos vitais. Lee Teng-hui morreu “por um choque septicémico e uma falência de vários órgãos, apesar dos esforços da equipa médica para o reanimar”, disse o vice-presidente da unidade hospitalar, em declarações aos jornalistas. Lee Teng-hui tornou-se numa figura de destaque do movimento que defende o reconhecimento da ilha de Taiwan como um Estado soberano na cena internacional. China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Taiwan, formalmente chamada República da China, tornou-se, entretanto, numa democracia com uma forte sociedade civil, mas Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação pela força. Como consequência da pressão chinesa, menos de duas dezenas de países mantêm relações diplomáticas com Taipé.
Relações China-Reino Unido “envenenadas” por Hong Kong, diz embaixador chinês Hoje Macau - 31 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] embaixador da China em Londres classificou como “tendenciosa” uma reportagem da BBC sobre os direitos humanos dos muçulmanos uigures, na província de Xinjiang, e afirmou que o dossiê de Hong Kong está a “envenenar” as relações bilaterais. Liu Xiaoming apresentou uma série de vídeos aos jornalistas com o objectivo de enfatizar que as acções da China nessa província são destinadas a combater o terrorismo e as imagens granuladas incluíam cenas sangrentas como consequência dos ataques. Os vídeos pretendiam contrariar uma recente entrevista da BBC, na qual o apresentador Andrew Marr desafiou o diplomata a explicar as imagens de ‘drones’ [aparelhos aéreos não tripulados] que aparentemente mostravam prisioneiros uigures sob custódia e transferidos por comboio pelas autoridades chinesas. Liu negou que os uigures estivessem maltratados e publicou capturas de ecrã que desafiavam, entre outras coisas, se os prisioneiros estavam ajoelhados ou sentados no chão. Ele descreveu as “chamadas vítimas” de violações de direitos humanos como separatistas ou “actores treinados por forças anti China nos Estados Unidos (EUA) e noutros países ocidentais”. Liu acrescentou que as disputas sobre direitos humanos, a imposição da nova lei de segurança nacional em Hong Kong e a decisão do Reino Unido de proibir a gigante chinesa de tecnologia Huawei de participar na construção da nova rede telefónica de alta velocidade “envenenaram seriamente a atmosfera” das relações entre a China e o Reino Unido. As tensões crescentes acontecem ao mesmo tempo em que o Presidente norte-americano, Donald Trump, e a sua administração empurram Washington e Pequim para uma nova era ascendente de confronto. “A China e o Reino Unido deveriam ter capacidade e sabedoria suficiente para lidar e gerir estas diferenças, em vez de permitir que forças anti China e os guerreiros da Guerra Fria sequestrem o relacionamento Reino Unido-China”, continuou o diplomata. Momento crítico Nas últimas semanas, a Grã-Bretanha suspendeu um tratado de extradição com Hong Kong e ofereceu refúgio a milhões de cidadãos elegíveis desse território que se sentem ameaçados pelo crescente aperto de Pequim. Liu reiterou que o Reino Unido devia parar de se intrometer em Hong Kong. “A China respeita a soberania do Reino Unido e nunca interferiu nos assuntos internos do Reino Unido. É importante que o Reino Unido faça o mesmo – ou seja, respeite a soberania da China e pare de interferir nos assuntos de Hong Kong, que são assuntos internos da China, para evitar mais danos no relacionamento entre o Reino Unido e a China”, sublinhou. Liu vincou ainda que o Reino Unido e os seus cidadãos precisavam de pensar independentemente dos sinais agressivos vindos do Governo de Trump e disse que a Grã-Bretanha estava num “momento histórico crítico” sobre como quer tratar a China. “É nossa esperança que o Reino Unido resista à pressão e à coerção de um certo país e forneça um ambiente aberto, transparente, justo e não discriminatório para o investimento chinês, de forma a recuperar a confiança das empresas chinesas no Reino Unido”, finalizou.
Levar o navio a bom porto Paul Chan Wai Chi - 31 Jul 2020 [dropcap]H[/dropcap]avia uma canção muito popular no tempo da Revolução Cultural, cujos primeiros versos diziam mais ou menos o seguinte, “A boa navegação depende do piloto e o crescimento dos seres vivos depende do Sol”. Mas, para além do Sol, também é necessário que haja água; de outra forma os seres vivos morrem de desidratação. No que respeita à navegação, o piloto é sem dúvida importante, mas o capitão e a restante tripulação também são indispensáveis, porque impedem que o piloto siga na direcção errada e que choque com um iceberg ou que encalhe nas rochas. Mas se o capitão pilotar o navio e cometer um erro, todos sofrem as consequências. Vou recorrer ao enredo de um filme para me explicar melhor. Um grupo de pessoas apanhou numa carrinha vermelha, à noite, em Mong Kok, Hong Kong. O condutor muito exaltado, conduz a toda a velocidade. Se os passageiros não conseguirem travar o condutor, o deus da morte esperará por eles na próxima curva. No mundo em que vivemos, os países estão constantemente a disputar um jogo de xadrez. A proliferação do populismo e do nacionalismo, associada aos efeitos da COVID-19, está mergulhar o mundo em águas turbulentas. Depender apenas do piloto para garantir uma navegação segura, vai conduzir-nos a um grande desastre. Quando Ho Iat Seng se candidatou às eleições para Chefe do Executivo de Macau, nunca imaginou que teria de vir a lidar com uma das situações mais desafiantes dos últimos 100 anos. Enquanto piloto da RAE de Macau, como é que irá abordar o futuro da cidade? Com o aparecimento de uma terceira vaga de COVID-19, e sabendo nós que antes do final do ano não estar disponível uma vacina, é muito pouco provável que a economia de Macau se comece a erguer nesta segunda metade do ano. De acordo com os dados do Inquérito ao Emprego, a taxa de desemprego dos residentes subiu 3.5% e a taxa de subemprego também cresceu entre 0.5% e 2.6%. Todos os peritos na matéria afirmam que estes valores vão continuara a aumentar. Para já, é impossível prever quando é que esta tendência se começará a inverter. A única esperança é que o Governo Central retome a política de “Vistos Individuais”. O Governo de Macau sustém a economia doméstica através do plano de subsídio de consumo, das excursões locais e da formação subsidiada, finaciados pela reserva financeira acumulada aos longo de anos. O objectivo é apoiar a economia até que a epidemia acabe. Mas que rumo vai tomar Macau a seguir à pandemia? Tanto Hong Kong como Macau adoptaram o sistema político executivo, liderado pelo Chefe do Executivo. Qualquer decisão errada que o Chefe do Executivo tome vai reflectir-se em todos os sectores da sociedade. Este problema agrava-se quando a equipa administrativa é incompetente, ou quando é composta por alguns elementos de extrema-esquerda. As sugestões de que Macau deveria ter uma lei como a Lei da República Popular da China sobre a Salvaguarda da Segurança Nacional na Região Administrativa Especial de Hong Kong, e ver os nomes portugueses das suas ruas alterados, partem precisamente desses elementos extremistas. Quando um navio se inclina só para um lado, é certo que vai ao fundo. Ninguém nega a importância de salvaguardar a segurança nacional, no entanto é preciso ter em conta a eficácia da lei que a deve assegurar. Depois da Lei da República Popular da China sobre a Salvaguarda da Segurança Nacional na Região Administrativa Especial de Hong Kong ter sido introduzida em Hong Kong, as reacções locais e internacionais serviram de barómetro para medir essa mesma eficácia. Pilotar um navio é uma honra e uma responsabilidade. Mas se o piloto não for hábil, e apenas se mantiver no leme por amor ao poder, quer os passageiros quer a tripulação serão as suas vítimas. Deng Xiaoping disse certo dia, “A China tem de manter a vigilância contra as tendências de “Direita”, mas antes de tudo deve combater as tendências de “Esquerda”; as tendências de “Direita” podem arruinar o socialismo, mas as de “Esquerda” também. Quando a extrema-esquerda se cruza com a extrema-direita, o resultado é sempre conflituoso. A COVID-19 é um novo tipo de vírus, que pode ser combatido com vacinas. Mas os virus politicos matam silenciosamente e é muito difícil encontrar uma cura definitiva. Para levar um navio a bom porto, para além do piloto e do capitão, toda a tripulação tem de participar sempre que necessário; caso contrário o navio naufraga e para os seus ocupantes não haverá mais nada para além da morte.
As Mães que são Pomares Sara F. Costa - 31 Jul 2020 “As mulheres aspiram para dentro E geram continuamente. Transformam-se em pomares.” Daniel Faria, Homens Que São Como Lugares Mal Situados(1998) [dropcap]A[/dropcap]s mães são árvores com enxadas nas várias mãos. Para se auto-enxertarem. Ninguém espera que as mães descansem. Ninguém espera que durmam. Ninguém espera que escrevam. Ninguém espera que não trabalhem sem estarem simultaneamente a trabalhar e presentes a qualquer momento. Ninguém espera que estejam gordas. As mães desdobram-se em várias pessoas, aguentam o peso de vários ramos que a vão tornando corcunda. Ninguém espera que tratem das costas, que encomendem comida, que contratem alguém para limpar a casa. Que não ponham a mesa. Ninguém espera que façam pausa na vida. Ninguém espera que não amem por vezes, mas que não se amem permanentemente – isso não há problema. Mães esgotadas são fracas. Mães que pedem ajuda são fracas. Que não se ajudem a si mesmas – isso não há problema. Que se anulem – isso não há problema. Toda a gente sabe mais que as mães, toda a gente sabe o que é melhor para os filhos que pariram. Ninguém espera que se queixem, muito menos metaforicamente. As mães que não sabem pegar num carro e parir contra os sonhos. Objetos de vindima, crisântemos imediatos. A arte de se ser puro até se ser paisagem. Uma primavera imóvel ao ritmo das ondas. Então, lá vão elas iniciar uma nova jornada. Vão até às esquinas dos silêncios parir sozinhas. Lá estão elas, incansáveis, infinitas, absolutas sem autorização para pausas. Ouvem vozes na zona dos mamilos, é leite. O tal ofício da carne. Uma cabeça e o resto do corpo em cima, ao contrário de estar de pé. Órgãos desorganizados para acolher outros mais pequeninos, quase-órgãos, tendões e músculos que quase o são, pequeninos de idade zero. Um médico espanta-se com tamanho rastejo, gordo e delicado. As mães ficam em dívida, trazem uma figueira interna com conceptáculos carnudos, sicónios domesticados até ao Monte de Vénus. Muita prática em defloramento doméstico até à concepção-intersecção de bocas penduradas em árvores, cansadas da sua mudez. Brotam forças no limite do orgânico e do psíquico, pulsões documentadas na botânica. Um lago forma-se com mucosas respiratórias e digestivas que enchem o balão líquido, visível em ecografias. Uma rotura de membrana expõe a folhagem, é o ser quase-ser quase a sê-lo. Imperatriz-criadora com membros de chumbo. Deusa húmida humilde porque reduzida ao seu ofício primário. Só ela sabe rebentar a própria pele para iniciar o mundo. Braços alheios inteiros pela vagina até ao cérvix, até ao centro do universo. Feto danado a esmurrar a alavanca. Subserviência soberana perante o ser que está quase novo. Vagina rasgada até ao altifalante, guinchos viscosos pontuados com sangue na alcatifa das pernas abertas em edifício. Gabinete de formação para a maternidade. E o parasita na cabine, quanto dela é ela e quanto dela é ele, a administração reune-se e continua a identificar uma identidade só, embora aos ziguezagues com nódulos e deformações fluorescentes mas ainda assim uma só. Tudo bem. É externa esta dupla existência, confirma-se, em breve será nova, única, diferente, separada. Vem da carne e é humano mas diverso.