Fios invisíveis

Biblioteca, Grândola, sexta, 16 Julho

O Luís [Cardoso] lá foi contar ainda uma vez das mulheres da sua vida – a mãe que se desdobrou em mais mãe de onze além dos onze iniciais, a namorada que foi ao encontro das balas assassinas – afirmando assim e sem quebrar o mistério a força das vozes femininas no seu romance-poema, romance-rio. Omnipresentes, quase invisíveis, comme d’habitude. Acabo de saber que quem lhe lança a pergunta, em acto de apresentação, e há muito o lê daquele modo íntimo como só a tradução, a Catherine Dumas assinará recensão para a Colóquio Letras.

Dá-se a reunião bem acompanhada em dia quente, neste espaço novo, que contém rios no coração dos muros, por haver ali uma belamente desarrumada exposição da Ana [Jacinto Nunes], na qual se incluem as ilustrações que abrem aquela «sonata para uma neblina». Esquecendo as salas, exemplo de uma arquitectura fechada sobre si, ignorante de funções e destinos, ali se encontram dezenas de rostos em pose. Gosto do jornal que diz ao que se pode ir, sujando as mãos, com singeleza, sem contar em demasia. A pintura da Ana, para captar a vida, surge sempre irrequieta, como que inacabada, a caminho de outra coisa, o gesto do pincel em busca da forma exacta das suas personagens, esculpidas na cor e respectivos movimento e temperatura, mulheres e animais, abraçando-se, quebrando fronteiras, celebrando nevoeiros. Um jazz no qual o tecido pode ser instrumento. Invariavelmente, os rostos olham-nos, desafiam-nos para diálogo em fluxo, fonte brotando da fronte. Oiço dos vários quadrantes que só somos na mistura com o natural. Nasceste da cor e a ela voltarás. Aqui e ali, as peças de cerâmica sublinham isso mesmo pois abrigam raízes, fazendo nascer do barro cortinas de verde, bambus onde se escondem os ventos, outros verdes esguios que podem bem dar pássaros. «Entre nuvens e papiros», assim se chama a mostra e no nome se (des)arruma o assunto.

 

Santa Bárbara, Lisboa, sábado, 17 Julho

A propósito: a SOS Racismo lançou um «Dicionário da Invisibilidade» contendo, além de belos retratos do André [Carrilho], uns bons milhares de entradas, com proveniências e autorias diversas, para «abrir uma brecha para a discussão e alargamento de horizontes sobre a questão da invisibilidade». Podem discutir-se os critérios, talvez demasiado abrangentes, e em qualquer lista sobra (não digo) ou falta sempre alguém (aqui sim, Natália Correia, exemplo exemplar). De qualquer modo, fica apresentada uma multidão de ladrões de fogo, que nas várias áreas e geografias, se entregaram, se entregam a uma causa, alargando horizontes. Seiscentas e tal páginas que dão bom princípio de conversa. Gosto de encontrar, logo abaixo de Tina Modotti, uma entrada para o Maçarico (1960-2014), nome que vestia o Vitor Ribeiro de nascimento. Era, fica escrito, traficante de sonhos.

 

Paço da Rainha, Lisboa, terça, 27 Julho

No diário fingido, que o são todos, esfregam-se mãos cuspidas para decidir caminhos nesta «rua da estrada»: enfrentar os mortos que nos interrompem os dias ou fugir pelo não. Folgo em ter amigos entre os que escavam obituários nos jornais e entre os que possuem as chaves dos portões de cemitério. Acabaremos todos por sair impressos naquelas páginas, em certo sentido, uma folha vibrante do quotidiano, a outra lençol de amargura na bainha da cidade.

Assim de atraso levo meses, mas que fique escrito que não pode passar sem lágrima o Vasco, o Otelo [Saraiva de Carvalho], o [Roberto] Calasso e o Pedro Tamen, assim por junto e sem sentido. Começando pelo fim, o poeta que foi, sem deixar de o ser, tradutor, editor e até administrador, vai faltar-me como orquídea cuja morte não apagará a culpa. Deixar de regar, de puxar o sol, talvez de soletrar em direcção da suprema elegância merece castigo. Falhei por não o ler mais, apesar do inevitável. Ergo mão que nem pelo gesto atingirá o leitor dos mitos e assim. Calasso contém o movimento das rochas, também no lugar de boas vistas do editor. Celebrando sem parar o movimento líquido do pensamento que se ergue das linhas correndo para o mar. Levantar a mão não arranca raiz. E nisto me encontro no dizer em desenho do Vasco, que compunha corpos explodindo. Dizer pelo nariz é bufar e por aí vai o comentador de ideias despenteadas, a quererem deixar a invisibilidade. Vai onde? Vai de encontro. Lá longe, pá, ergue-se o Otelo. Eu que sou das margens, apesar dos geómetras-vigilantes de algibeira se enganarem nas medições míopes, vou directamente ancorar no destruidor das âncoras. O que nos aproxima de casa não impede o voo. Ele foi quem apontou, por momentos, maneira de fazer do cais uma nuvem. Ou melhor, disse apenas que, para lá do aparente, o impossível estava ali: tomai e comei. Os quatro que partiram agora ajudariam a explicar. Ou a perguntar, que não há melhor maneira. Apontador de mitos, um, a desfazer a lápis no minuto pelo outro, se fosse caso disso, enquanto aquele gizava a logística do golpe e o poeta consertava sapatos e a luz. «Por cave deserta/ entram hábitos e ruídos/ verdes montanhosos, cascata/ um rio de água de Verão.// Estou só eu e o martelo/ e a minha mão opressa/ ou estará não sei que mundo/ com a palavra ou sem ela?// E eis-me então adivinho/ dos mistérios que atravessam/ a janela onde perpassa/ a luz que mal me ilumina/ e é o sal do meu pão.»

 

Santa Bárbara, Lisboa, domingo, 31 Agosto

A Patrícia Mamona voando fecha de boa maneira este dia pontado de intensidades. Resolvi entrar em «Pústula», outro perturbador filme de filmes da Bárbara [Fonte], exposto na Galeria da Casa Molder. Pendurado na parede velha, que a Bárbara pinta com a câmara, dando a ver sucessivos nascimentos, na ligação com a figuração clássica, a da dor sobretudo e à volta do religioso, essa encenação do essencial. A artista desenvolve uma liturgia em torno da natureza, da natureza das coisas. Nos interstícios do que passa e do que fica, do que se fixa e do que mexe, no corpo, na paisagem, na mescla líquida de um e outra. Vem depois o peso e as maneiras de o vencer. O vento que contém os fios que erguem o volúvel, o insustentável. A mulher voa («paralítico» do filme, algures na página e a sair dela). Vai acontecendo o arfar denso da lentidão ao limite, que cose os fragmentos da quase narrativa. Cada livro contendo pinturas faz-se espaço do sagrado. São momentos duros, rasgados e agrestes, beleza em carne viva, imagens fortes que ecoam em nós, por muito tempo e nos vários tempos do desperto e do sonhado. A cada um importa voltar e revoltar, como missal para nos explicar as cicatrizes de cada dia, o tule que se faz fumo, um fio de sangue branco leitoso que se puxa das chagas, dos mamilos antes de correr pelo negro, desperdiçando alimento, talvez vida. A casa é ruína, lugar de repouso das próteses, arrumo das naturezas mortas, o deitado que pode ser morte, raiz, mas também antena procurando céus. As lágrimas que foram areia, são agora fitas, fitas que não escorrem, para sempre brilhando esvoaçantes. E depois, ainda prolongamento de si, um enxoval de vestidos-prisão, a banheira e a água feita roupagem. A vida é crosta na nossa pele. A terra, lá fora, enxovalha. Há que a sentir com o corpo todo. Só com o corpo todo se penetra neste fascinante trabalho de inquietações. Daqui ninguém sai vivo. Da mesma maneira.

4 Ago 2021

Piménio Ferreira: “A retórica anti-cigana sempre funcionou em Portugal”

Piménio Ferreira, mais conhecido por Gitelles Ferreira, militante anti-racista, 34 anos, engenheiro físico, nacional romani. É um homem com um discurso provocador, um humor corrosivo, gentil e com um sorriso que não deixa ninguém indiferente

Gitelles, nós vivemos numa terra intercultural e os ciganos – em particular – vivem há cerca de cinco séculos em Portugal. O que se passa para as comunidades ciganas continuarem “à margem” da dita sociedade?


Falta mudar o modelo de sociedade. Este é extremamente estratificado, colocando pessoas em lugares subalternos para privilegiar uma minoria violenta. A estrutura social branca é patriarcal e racista. O que se chama de ‘margem’ da sociedade é na verdade um lugar intrínseco à mesma, que lhe pertence. Dito de outra forma, as pessoas ciganas foram incluídas neste modelo de sociedade desde que descobriram a Europa e seus reinos. O problema é o modelo de sociedade que se mantém e o lugar para onde foram relegados e como foram relegados: com violência, em estatuto de inferioridade face aos brancos, sem direito à dignidade humana, a constituir família, a escolher a própria língua e religião, expropriados de todo e qualquer direito cultural e material. Um lugar construído e mantido até hoje por violências e perseguições genocidas e etnicidas. Em 1463, a um Vasco Gitano era-lhe aforada uma herdade. Em 1521, os gitanos, ou ciganos, eram já usados como referência para tudo o que é considerado mau no modelo de sociedade. O “contra-exemplo” face ao branco que se destacaria pela positiva. O ‘anjo’ e o ‘demónio’; o ‘outro’, o inimigo; aquele contra quem todo e qualquer ataque e perseguição é legítimo. Incluindo a proibição de se defender, de ter armas, qualquer tipo de bens, e direito de permanência.

E é por lhes ser negado esse direito à permanência que ainda hoje temos comunidades ciganas nómadas dentro do país?

Sim, sem dúvida. Há muitas formas de forçar o nomadismo: directamente, proibindo a permanência e expulsando com força policial ou militar; indirectamente, recusando habitação pública ou privada a pessoas ciganas, por serem ciganas; e ainda através do processo de gentrificação.

Eu li o resultado de um inquérito da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia, onde se diz que aproximadamente 80% dos ciganos inquiridos vivem abaixo do limiar de risco de pobreza do seu país; um em cada três ciganos vive numa habitação sem água canalizada; um em cada três ciganos pertence a uma família em que alguém se deitou com fome pelo menos uma vez no mês anterior; e 50% dos ciganos com idades entre os 6 e os 24 anos não frequentam a escola. Por que é que isto acontece assim?


É a perseguição histórica, que continua. Não há empobrecimento que não tenha causa externa. No caso, um sistema político de expropriação total e imposto na base da violência. Já em 1648, D João IV, o Restaurador, proibia ‘dar-se ou alugar-se casas a ciganos’. O mesmo D João IV que conseguiu o reino de Portugal graças a D. Jerónimo da Costa e aos seus 250 Cavaleiros. O mesmo D. Jerónimo da Costa que morrera a defender a independência de Portugal face a Castela. Cigano, tal como sua mulher e filhos. Entre proibições de permanência, “que não entrem ciganos no reino e saiam os que nele estiverem” (D João III, 1526), com expulsões, degredos para as galés, expropriação de bens e propriedades, impostas com penas de açoites, mutilação e morte, sistematicamente realizadas até aos dias de hoje (ainda em 2011 a Câmara Municipal de Faro queria proibir ciganos no concelho).

A proibição de trabalharem por conta de outrem (ninguém emprega trabalhadores ciganos, e os que aceitam fazem-no em total precariedade, para cargos mal remunerados e sem direitos e condições dignas). Não conseguem ficar dependentes de trabalho por conta própria, não conseguem meios de investimento, devido à extrema expropriação. Ficam dependentes da precariedade. Se quiserem saber como é viver em neoliberalismo puro, conheçam a vida dos ciganos. A realidade destes é paradigmática da agressão e desprotecção a que os “senhores” estão dispostos a ir, para seu proveito.

Os senhores de que falas, é o poder económico e político?

O grupo do poder político, social, cultural e económico. O proprietário, o colonizador. Esse grupo que está no poder desde que instituiu o sistema de dominação actual. E que só tem sentido dentro do modelo sociopolítico hierarquicamente estratificado em que vivemos. Daí a necessidade de acabar com ‘senhores’ e instituir um novo modelo de sociedade, saudável, livre, sem hierarquias nem estratos, sejam de raça, classe ou género.

O modelo em que vivemos leva a comunidade cigana (e não só) à exclusão económica, afastando-a do acesso ao consumo de produtos ou excluindo-as do seu processo de produção; à exclusão política associada à falta de acesso a informação; à educação e consequentemente a exclusão social que se vê na desigualdade de acesso a áreas comunitárias de qualidade como restaurantes, bibliotecas, teatro, cinema, concertos, cuidados de saúde, etc. Como se sente uma criança cigana ao perceber que não faz parte de um todo? Crianças que nunca se vêm representadas, nem em filmes, nem em livros, nem em desenhos animados, nem sequer num anúncio a comer cereais, por exemplo? Isso é um desastre para a auto-estima, é uma condenação à priori?

A questão é mesmo essa. As pessoas ciganas não estão “excluídas da sociedade”, ao contrário, estão incluídas nela. O problema é a existência do que cinicamente é chamado de ‘exclusão social’, qual termo orwelliano, e aí estarem sob coacção, as pessoas. Qual campo de concentração e extermínio. Aliás, os campos de concentração nazis são uma concretização mais visual do que se chama ‘exclusão social’ e, tal como aqui, não eram uma parte ‘excluída’ da sociedade nazi, mas antes a sua estrutura fundamental e caracterizadora. É um lugar de violência, onde as pessoas são mantidas pela violência, dedicado ao seu extermínio, e desenhado para que pouca gente consiga sair. E mesmo assim resistem. Tal como nos campos de concentração nazis.

E o que elencaste como exemplo de ‘consequência’ dessa ‘exclusão’, é na verdade o meio pelo qual essa exclusão também acontece e se mantém. Pessoas ciganas estão fora dos cinemas, quer como consumidoras quer produtoras (mas vão ao cinema). Estão fora da escola, da educação e da Academia. Quer como ‘utentes’ quer como produtoras (mas vão à escola e estão na base da construção de conhecimento e de debates académicos e científicos).

Até no ataque à autoconfiança da criança cigana, falamos de um mecanismo de manutenção desta situação. Mas as pessoas ciganas respondem muito bem: com o orgulho cigano. Outra resistência, a mais uma agressão. As pessoas ciganas estão assim incluídas na sociedade. Num lugar que pertence a este modelo de sociedade moderno. E resistem e contrariam o poder de dominação e fazem questão de estar na cidade, no cinema, no teatro, na Academia, em todos os espaços. Com muita luta e sempre resistindo, mas estão lá. A exclusão social, mais do que um “lugar fora da sociedade”, é parte da sua estrutura social.

Queres dizer que há uma resistência colectiva?

No trabalho, já num contexto de precariedade absoluta, durante a pandemia, as pessoas ciganas arregaçaram mangas e mostraram mais uma vez, proactividade e criatividade na adversidade. Aprenderam vendo fazer e fazendo. E aqui, são novamente as mulheres quem salta para a linha da frente, dão a cara, aprendem a usar as ferramentas digitais com as suas filhas ou filhos, e lançam-se na rede. E assim exploram as vendas online bem como os trabalhos por aplicativo (transporte ou estafetas). Na habitação, num contexto de pandemia em que os despejos não foram travados – como deviam e dita a própria lei – moradores não deixaram de se organizar e lutar contra despejos injustos e reclamar a dignidade na habitação; associações de moradores aliadas na sua ação a outras organizações de luta pela habitação e anti-racistas.

De notar também como se reinventaram e intensificaram para angariar e distribuir bens alimentares e kits de máscaras/álcool gel para as pessoas mais expropriadas. Ciganas e não ciganas. Na luta anti-racista, novos movimentos surgiram e as suas acções intensificaram-se pelas redes sociais. Pessoas que nunca antes se tinham organizado ou militado, iniciaram os seus primeiros passos no activismo, engrossando esta via da organização e acção popular cigana e anti-racista. As pessoas esquecem, ou não querem valorizar, mas a acção cigana tem ajudado a determinar resultados na disputa política. Munícipes ciganos mobilizaram-se em grande e determinaram resultados eleitorais nas autárquicas de 2017, quer no Alentejo, quer na Área Metropolitana de Lisboa, causando inclusive terremotos eleitorais.

E mesmo nas Presidenciais, o segundo lugar foi resolvido por um valor equivalente ao número estimado de eleitores ciganos. Fora os votos não ciganos que foram mobilizados pela acção de eleitores ciganos. Pessoas ciganas estão inclusive a co-construir poder nos espaços de opinião, nos media local, nas redes sociais e na disputa política partidária e institucional. E mais importante ainda, na açcão popular e em alianças com outros movimentos sociais. Nunca parámos de lutar por todos os meios e continuamos a resistir.

Em contrapartida há cada vez mais discursos de ódio, da extrema direita em particular. Que tens a dizer sobre isso?

Para começar esses discursos são históricos e europeus. Não sendo nem actuais e menos ainda “da extrema-direita”. Esses discursos são adoptados e proferidos há muito tempo, mesmo em ‘democracia e liberdade’, por vários representantes do centro-direita, conservadores, centro esquerda, liberais, esquerda liberal, até representantes do PCP. A retórica anti-cigana sempre funcionou em Portugal, por ser a retórica mais brancogénica [de génese branca]. Isto é, que permita criar e dar o “branco” como o superior de todos. E assim agradar ao eleitorado branco que, ao sentir-se bem, compensa com o seu voto. Mesmo que as políticas implementadas pelos seus eleitos o prejudiquem ainda mais.

Para terminar gostava que falasses um pouco da tua experiência pessoal e como chegaste a activista?

Estudei, lutei pelos estudos, fiz alianças, formei-me, enveredei no mercado de trabalho da “precariedade formal”. Iniciei a minha acção militante e aqui estou hoje. Nós podemos transformar esta sociedade numa melhor. Essa certeza aliada ao facto da actual ter tanto sofrimento, faz qualquer pessoa querer ter uma atitude transformista. Eu quis ser ‘inventor’ (engenheiro físico) e militante antirracista. E através do estudo (não necessariamente escolarização) e da organização com outras pessoas, por sua vez, com outros estudos, formações e visões, fui aprendendo como o mundo funciona e como pode ser mudado. Mas antes de transformar, precisamos sobreviver.

Daí surgem dois tipos de acções: transformativas e de sobrevivência. A luta contra o discurso de ódio surge como sobrevivência, mas a sua derrota será uma vitória transformativa. Há muita coisa que – como pessoas que querem um mundo melhor – temos de fazer, nomeadamente trabalhar para criminalizar o discurso de ódio; condenar e proibir organizações com discursos e práticas racistas; denunciar a estrutura e lógicas institucionais racistas que organizam o Poder e gerem os recursos comunitários. E nesse sentido, têm havido vários tipos de ações, de petições, a manifestações. E precisamos de mais.

Eu, além de militar no movimento SOS RACISMO, participo no Podcast “Viemos Para Ficar”, com Mamadou Ba e Joseph da Silva. E se tudo correr bem, iremos em breve iniciar um novo projecto. Com pessoas amigas, temos também o projecto “Iniciativa Cigana”, dedicado a refletir e promover movimentos transformativos. Focado essencialmente em educar contra o anti-ciganismo, denunciando o genocídio histórico e continuado e trabalhando para um novo projeto de sociedade. Também com novos projectos na calha. E por fim, há sempre as acções voluntárias, sem uma organização, onde procuro partilhar o que descobri sobre o Anti-ciganismo e a história Romani em escolas e com pessoas interessadas. Além disto, há ainda a luta pela habitação, porque os despejos não pararam durante a pandemia. Devido à precariedade habitacional e laboral, os sujeitos racializados especialmente os nacionais Roma, são os que mais vulneráveis ficaram ao Covid-19. É fundamental haver acções nesta área; de todas as lutas, esta é a mais estrutural, pois vai contra um dos principais inimigos de uma sociedade saudável: a especulação imobiliária deste sistema capitalista, que coloca o lucro e os bens acima das pessoas e sua humanização.

26 Abr 2021