Covid-19 | Detectados quatro casos positivos locais depois de viagem ao Interior

Viagem de “intercâmbio” da Escola Hou Kong resultou em infecção de quatro pessoas em Macau, onde estiveram 10 dias, antes de serem diagnosticadas. Ontem, o Governo declarou Estado de Prevenção Imediata, os esforços foram canalizados para a testagem e os infectados apresentam a variante Delta

 

[dropcap]O[/dropcap] Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus anunciou ontem a detecção de quatro casos de infecção com a variante Delta da covid-19, que estiveram em contacto com a comunidade durante dez dias. A situação foi revelada ontem às 15h30 e o Chefe do Executivo declarou o Estado de Prevenção Imediata.
Os infectados são um casal e os respectivos filhos, que habitam no edifício Mei Lin, na Rua de Coelho do Amaral, o que levou as autoridades a deslocarem-se ao local e a criar uma cerca sanitária, para testar moradores.
O caso foi detectado depois de o homem de 51 anos, que é motorista nos Serviços de Saúde, e a mulher, de 43 anos e empregada numa loja de fruta, terem feito testes de ácido nucleico, na segunda-feira, em Zhuhai, cujos resultados confirmaram as infecções.
O casal conseguiu regressar a Macau, antes do resultado positivo ser conhecido, porque tinham outros testes de ácido nucleico válidos, em vias de expirar. Contudo, não foram os únicos infectados, uma vez que o filho e a filha foram igualmente identificados como casos confirmados.
Após a divulgação do contágio, as equipas de desinfecção deslocaram-se ao local de trabalho da mulher e ao mercado dos Três Candeeiros, que foram isolados. O mesmo aconteceu com o Centro de Saúde de Seac Pai Van e o Posto de Saúde de Coloane, onde o homem trabalha.

Visita de estudo

As autoridades acreditam que uma visita de estudo da Escola Hou Kong, que se deslocou a Xi’an entre 19 e 24 de Julho, está na origem da infecção de Macau. A visita teve como objectivo realizar actividades de intercâmbio.
A filha do casal, assim como um grupo de 30 alunos da escola, viajaram nos voos CZ3761, entre Zhuhai e Xi’an, e regressaram no CZ3762, entre Xi’an e Zhuhai, onde estiveram em contacto com dois casos ligados ao surto de da Nanjing.
“A filha passou por uma zona de alto risco, uma vez que a 19 de Junho partiu de Zhuhai para Xi’an para participar em actividades de intercâmbio e verificámos que o percurso coincide com os casos conexos a Nanjing e Zhongshan. A filha esteve no mesmo voo que envolveu as pessoas infectadas que partiram de Nanjing para Zhongshan e Zhuhai”, afirmou Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde. “Esta é a possibilidade de infecção que achamos mais provável”, acrescentou. A médica Leong Iek Hou foi mais assertiva: “Concluímos que a infecção partiu da filha”, vincou.
Leong explicou também que a infectada apresentou sintomas logo no dia 22 de Julho, quando estava em Xi’an com os 30 colegas da escola de Macau. “Apresentou sintomas como tosse, perda de paladar, até que a 27 de Julho finalmente apresentou melhorias”, revelou a médica.
Foi com sintomas que a aluna da Escola Hou Kong entrou em Macau, a 25 de Julho, e terá levado a infectar o irmão, que teve sintomas como febre e nariz entupido, a 28 de Julho.
Finalmente, a 1 de Agosto, o pai apresentou um quadro clínico que incluiu dores de garganta, assim como a mãe, apesar dos casos só terem sido detectados dois dias depois.

Perguntas sem resposta

A questão de a filha ter entrado em Macau com sintomas de covid-19, levantou questões sobre a declaração de saúde. Além disso, os voos em causa tinham sido anteriormente referidos pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus como um trajecto de risco, por estarem ligados a duas infecções.
Apesar destes aspectos, e de nos voos estarem 30 alunos da escola Hou Kong, a situação de risco dos estudantes também não terá sido comunicada às entidades de saúde para monitorização.
Neste cenário, a questão da responsabilização foi levantada na conferência de imprensa sobre a pandemia da covid-19. Como a aluna infectada é menor de idade, levanta-se a possibilidade de a escolar ser responsável por um eventual comportamento negligente. A pergunta ficou sem uma resposta concreta: “No dia 22 de Julho começou a ter tosse, mas os sintomas foram muito ligeiros. Nunca teve febre, mas vamos ver o código de saúde que declarou… As pessoas quando entram em Macau e têm sintomas têm de os declarar correctamente”, afirmou Leong. “Quanto à escola, vamos apurar se a aluna falou com os professores e directores. Quando tivermos informações vamos declarar”, acrescentou.

Oito dias em comunidade

À hora de fecho do HM ainda não era conhecido na totalidade o percurso dos infectados nos dias em que estiveram em Macau antes do diagnóstico e em livre contacto com a comunidade.
As informações preliminares da médica Leong Iok Hou indicam que os infectados, além dos locais de trabalho, frequentaram os restaurantes Federal, entre as 13h e as 14h de 25 de Julho, e Nga Kai, a 27 de Julho, entre as 18h e as 19h30.
No dia 26 de Julho, o filho esteve ainda entre as 13h e as 15h na Biblioteca do Jardim Luís de Camões. Por sua vez, o pai foi ainda vários vezes a Zhuhai às compras, e passou pelo menos cinco vezes a fronteira, antes de ser identificado como caso confirmado.
Ontem, as autoridades não conseguiram confirmar o número de casos de contacto próximo e de contacto próximo secundário, apesar de a prioridade ser “perseguir os contactos próximos”. Todavia, foi anunciado que três colegas da mãe tinham sido levados para o Hospital Conde São Januário para serem testados e isolados. O mesmo aconteceu com as pessoas que trabalham nos centros de saúde com o homem de 51 anos. Também os 30 colegas da aluna iam ser testados, mas à noite as autoridades só tinham identificado 19, sem que houvesse confirmação de infecções. Contudo, uma das pessoas está em quarentena, depois de ter apresentado sintomas de febre.

Cidade dividida por zonas

Apesar das dúvidas, Alvis Lo, director dos SSM, deu uma certeza: a cidade vai ser dividida por zonas com cercas sanitárias, tal como já tinha sido anunciado anteriormente pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U. A primeira zona vermelha foi instalada no edifício Mei Lin e prolongada para dois edifícios vizinhos. Estas pessoas não podem sair de casa e são testadas no local. Na mesma rua foram ainda classificados outros edifícios como zona de código de saúde de cor amarela. Já na Rua da Emenda, e até a Rua Horta e Costa, também foram classificados edifícios na zona amarela.
Além disso, a secretária diz que está tudo preparado para a eventualidade de fazer testagem da população em massa, uma medida que ontem às 22h ainda não estava decidida.
Nas imediações dos prédios assinalados a vermelho, as autoridades perguntaram sobre o paradeiro de membros do agregado familiar que não estavam em casa, para efeitos de testagem, e disponibilizaram alimentos aos afectados. A secretária deixou ainda um apelo à população para ficar na RAEM. “Esperamos que a população de Macau que tenha estado exposta ou em contacto próximo se dirija imediatamente ao hospital e que as pessoas utilizem sempre máscara”, apelou.

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