Sin Fong Garden | Moradores desmentem Zheng Anting Hoje Macau - 17 Set 2020 [dropcap]A[/dropcap] Comissão da Gestão do Condomínio do Sin Fong Garden disse ontem que ainda não recebeu os juros por parte da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, dos deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting. Em comunicado, a comissão afirma que as declarações de Zheng Anting não correspondem à verdade, porque “continua a pagar os juros relativos à verba destinada à reconstrução [do edifício]”. O fundo para a reconstrução do Sin Fong Garden está quase a zeros depois do pagamento da verba relativa ao mês de Agosto, aponta o mesmo comunicado. O orçamento total para a reconstrução do edifício é 210 milhões de patacas, sendo que os moradores avançaram 70 milhões de patacas em Julho, sem contar com o apoio da Associação de Beneficência Tung Sin Tong. Até ao final de Julho foram usadas 62 milhões de patacas. Os moradores alegam ainda que a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen ainda não reagiu ao pedido de reunião feito a 8 de Julho. Este encontro iria servir para debater a questão do fundo financeiro prometido para a reconstrução, onde estariam presentes os meios de comunicação social.
FDCT investiu mais de 10 milhões em projectos de combate à covid-19 Salomé Fernandes - 17 Set 2020 [dropcap]O[/dropcap] Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT) criou em Fevereiro um programa de apoio financeiro sobre o combate à covid-19. Depois de uma avaliação, foram aprovadas 35 por cento das candidaturas. Passaram assim 26 projectos, dos quais 22 são de instituições de ensino superior e quatro de empresas de ciência e tecnologia, que envolvem um montante total de investimento superior a 10 milhões de patacas. Numa conferência sobre o programa, Cheang Kun Wai, do Conselho de Administração do FDCT, avançou que até 10 de Setembro foram publicadas 27 dissertações, estão a ser solicitadas oito patentes e já foram criados 16 produtos. O programa tinha recebido 74 candidaturas, com períodos de investigação que variavam entre três meses a um ano. O montante máximo do apoio para cada projecto era de 500 mil patacas. Seis dos planos que receberam luz verde foram ontem apresentados. Sobre o valor económico das iniciativas, Cheang Kun Wai salientou que o projecto de desinfectante bacteriano à base de nano prata, da Macau Nanometals Technology, “em muito curto prazo já conseguiu produzir um valor 300 mil patacas”. O responsável destacou ainda um projecto da MUST que usa inteligência artificial para o diagnóstico da infecção pelo novo tipo de coronavírus. A tecnologia permite distinguir a pneumonia de covid-19 dentro de 20 segundos e “saber muito rapidamente o grau de gravidade”. Febre dos dados Um dos projectos financiados pela FDCT envolve reconhecimento facial. Foi apresentado por Wong Man Kit, da Habitat Multimedia, e é focado na detecção de febre para prevenção da epidemia. O produto usa tecnologia de detecção por infravermelhos para verificar a temperatura das pessoas. Mas cumpre um duplo propósito: durante a medição capta informações do rosto, que são armazenadas. “Usando tecnologia de reconhecimento facial e análise de fusão de dados, pode rastrear o fluxo de pessoas específicas rapidamente”, explica um documento sobre o projecto. Wong Man Kit disse que já há 20 destes aparelhos em Macau e 180 na China Continental. A tecnologia está em locais como o Centro de Ciência de Macau e a clínica da Associação Beneficência Tung Sin Tong. Recorde-se que a MUST submeteu um pedido de subsídio no mês de Fevereiro para a investigação de uma vacina contra a covid-19, que foi rejeitado. Questionado sobre a decisão, Cheang Kun Wai disse que o programa de apoio é aberto ao público e os projectos são avaliados por um júri profissional. “Acho que é muito justo, é preciso passar a competição”, declarou.
Ensino superior | Católica cria plataforma online para alunos de Macau Andreia Sofia Silva - 17 Set 2020 A Universidade Católica Portuguesa vai criar uma plataforma online para que os alunos de Macau impossibilitados de viajar para Portugal possam acompanhar as aulas à distância. O Governo continua a descartar a hipótese de criar um novo corredor especial de ligação ao Aeroporto Internacional de Hong Kong [dropcap]O[/dropcap]s alunos de Macau que estudam na Universidade Católica Portuguesa (UCP) vão poder acompanhar as aulas à distância, uma vez que a instituição de ensino superior privada vai criar uma plataforma a pensar nos estudantes que não conseguem viajar para Portugal nesta fase. A informação consta numa resposta da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES) a uma interpelação escrita do deputado Leong Sun Iok. “A UCP vai providenciar uma plataforma de ensino on-line aos seus estudantes que ainda estão em Macau para que possam continuar a estudar”, adianta Chan Kun Hong, director substituto da DSES. Além disso, esta direcção de serviços promete “continuar a comunicar com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos sobre o novo desenvolvimento de outras instituições do ensino superior”. “Desta forma, e através de associações de estudantes e grupos de comunicação, podem ser conhecidas as necessidades dos estudantes de Macau sobre o prosseguimento dos estudos nas outras regiões”, acrescenta a DSES. O HM tentou saber junto da UCP como vai funcionar esta plataforma e quantos alunos estão abrangidos pelo programa, mas até ao fecho desta edição não foi possível obter uma resposta. Terceira via de fora Na resposta ao deputado, o Executivo volta a descartar a possibilidade de criar um terceiro corredor especial de ligação entre Macau e o Aeroporto Internacional de Hong Kong. “De modo a apoiar os residentes de Macau que necessitam de regressar através do Aeroporto Internacional de Hong Kong, o Governo da RAEM organizou, em Março e entre Junho e Julho, os autocarros e embarcações especiais para transportes os residentes e estudantes. No entanto, tendo em consideração a relação custos-eficácia e a coordenação com as autoridades de Hong Kong, o Governo não contempla uma terceira operação especial.” Como alternativas, continuam a ser apresentadas as opções de viagem pelo Interior da China, Japão, Coreia do Sul ou Taiwan. Nesta fase, a DSES diz ter criado 17 grupos de comunicação com os estudantes de Macau que estão matriculados em universidades no exterior através da aplicação Telegram, onde se incluem 2700 alunos. Além disso, foram criados vários serviços financeiros e de seguros de emergência “em cooperação com os bancos e companhias de seguros”. A DSES lançou também um sistema de registo para recolher informações sobre a situação dos estudantes de Macau que se deslocam a Portugal para o regresso às aulas, “a fim de prestar um apoio adequado”.
OMC diz que tarifas de Washington impostas à China violam regras internacionais João Luz - 17 Set 2020 A Organização Mundial de Comércio decidiu que as tarifas impostas pelos Estados Unidos à China violam regras de comércio internacional. A entidade refere que Washington não fundamentou adequadamente a alegação de que os produtos chineses atingidos com as taxas extras teriam beneficiado de práticas ilegais. A Administração Trump considerou a decisão “totalmente inadequada”, enquanto Pequim diz que é “justa e objectiva” [dropcap]C[/dropcap]om as eleições norte-americanas em pano de fundo, o painel de juízes da Organização Mundial de Comércio (OMC) decidiu na terça-feira que os Estados Unidos violaram as regras internacionais ao impor tarifas à China em 2018, em plena guerra comercial entre Washington e Pequim. O painel de especialistas em comércio internacional deu razão à queixa apresentada pela China há mais de dois anos, que argumentava que as tarifas impostas por Donald Trump violavam diversas regras de comércio. Uma das violações mais óbvias recaiu sobre as provisões que exigem que todos os membros da Organização Mundial de Comércio ofereçam taxas alfandegárias iguais entre si. A OMC alega que a Administração de Donald Trump quebrou essa tradição de igualdade fiscal no fluxo internacional de bens e serviços. Convém recordar que, durante a guerra comercial com a China, os Estados Unidos impuseram taxas alfandegárias de mais de 360 mil milhões de dólares a produtos chineses, numa tentativa de convencer Pequim a reforçar protecções de propriedade intelectual. Essa foi uma das principais exigências da Casa Branca, mas que se alargaram a outras reformas de comércio internacional que Donald Trump exigiu à China alegando quer inverter a posição de desvantagem dos trabalhadores norte-americanos. A Casa Branca recorreu a uma lei de 1974, assinada por Gerald Ford, para permitir ao Presidente negociar acordos comerciais, e impor tarifas, sem necessidade de aprovação do Congresso. A lei foi aprovada precisamente com o intuito de tornar a economia norte-americana mais competitiva antes de uma ronda de negociações internacionais. A legislação permite à Casa Branca impor restrições comerciais a países, sem passar pelo poder legislativo. Para já, o efeito da decisão da OMS ainda não é claro, principalmente porque a matéria analisada refere-se a 2018 e em Janeiro as duas maiores potências económicas assinaram um acordo comercial. Porém, a grande fatia das taxas alfandegárias impostas por Washington mantiveram-se, afectando mais de metade das exportações chinesas para os Estados Unidos. Ruptura internacional Um comunicado do representante norte-americano do departamento do Comércio, Robert E. Lighthizer, arrasou a OMS pela decisão que descreveu como uma tentativa para evitar que os Estados Unidos lutem pelos seus trabalhadores. “O relatório deste painel confirma aquilo que a Administração Trump vem dizendo nos últimos quatro anos: a Organização Mundial de Comércio é completamente desadequada para impedir que a China continue práticas tecnologicamente danosas. Apesar do painel não colocar em causa o vasto leque de provas apresentado pelos Estados Unidos sobre roubos de propriedade intelectual cometidos pela China, a decisão demonstra que a OMC não oferece qualquer tipo de solução para este tipo de conduta irregular”. “Deve ser permitido aos Estados Unidos defenderem-se contra práticas comerciais injustas e a Administração Trump não vai permitir que a China continue a usar a OMC para tirar partido dos trabalhadores, empresários e agricultores norte-americanos”, acrescentou Lighthizer. Washington tem, desde a divulgação da decisão, 60 dias para contestar o parecer. Porém, a “sentença” pode ter poucas implicações práticas, uma vez que os Estados Unidos diminuíram consideravelmente a capacidade do painel da OMC que trata recursos de disputas comerciais ao recusar nomear novos membros. No fundo, se Washington decidir recorrer da decisão da entidade internacional, é muito provável que o caso termine numa espécie de limbo legal, sem perspectiva de resolução. Touro em loja de louça Depois de 24 anos a servir como derradeiro árbitro em termos de disputas comerciais internacionais, a OMC atravessa actualmente uma fase complicada com a progressiva desvinculação dos Estados Unidos que conduz à paralisia da entidade. O órgão de recurso da OMC, composto por sete membros, perdeu o quórum mínimo de três elementos. O sistema de nomeação exige a unanimidade dos 164 países-membros. Como Donald Trump insiste na via proteccionista como abordagem a assuntos internacionais, com particular ênfase para os últimos dois anos, tornou-se impossível preencher os lugares vagos no órgão de recurso. Não sobram sinais de alerta para o perigo que a OMC enfrenta, com analistas a apontarem a incapacidade da entidade como ameaça existencial, algo que deveria despertar a comunidade internacional para acções resolutas. “Antes da Administração Trump ter dizimado o órgão de recurso da OMC, uma decisão num caso como este seria imediatamente recorrida”, analisa Chad P. Brown, do Peterson Institute for International Economics, citado pelo The New York Times. Se o painel de recurso tivesse membros suficientes para funcionar e se mantivessem a decisão, a OMC poderia autorizar a China a retaliar com taxas alfandegárias adicionais, se Washington não mudasse de política, ou se entre as duas potências não fosse acordado forma para compensar o Estado vencedor da acção. “Uma vez que a Administração Trump recusou nomear novos membros para o órgão de recurso, os Estados Unidos podem apenas recorrer desta decisão para o vazio”, acrescentou o analista ao The New York Times. O outro lado da questão é que a China respondeu às tarifas impostas por Washington na mesma moeda, também sem autorização da OMC, e retaliou aumentando taxas alfandegárias a produtos oriundos dos Estados Unidos. No fundo, a resposta também viola as regras internacionais de comércio. Outro mundo Apesar das muitas críticas e decisões políticas indiferentes às normas e directrizes da OMS, no passado dia 7 de Setembro, o Presidente norte-americano prestou declarações que destoaram do seu normal tom. “A OMC tem sido muito boa para nós ultimamente, digo isto surpreendido. Nunca ganhávamos nada na OMS. Agora, de repente, começámos a ganhar muitos casos. Acabámos de ganhar um caso de 7 mil milhões de dólares e estão a falar connosco de uma forma muito diferente do que costumavam falar”. Porém, desde do anúncio da OMS, Trump referiu que teria de examinar o caso, mas que não era “um grande fã” da organização. A reacção do Ministério do Comércio chinês, como não poderia deixar de ser, foi oposta, adjectivando a decisão da entidade internacional como justa e objectiva. “A OMS é nuclear para o sistema multilateral de comércio internacional. A China sempre apoiou firmemente e defendeu a importância de respeitar as regras e decisões da OMS”, apontou um porta-voz do Ministério do Comércio chinês, citado pelo China Daily. O representante acrescentou que Pequim espera que os Estados Unidos respeitem as decisões do painel de especialistas e as regras do sistema de comércio internacional e implementem medidas práticas que promovam o desenvolvimento estável e saudável da economia global. Há praticamente um ano, num discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, Donald Trump apontou o dedo à OMC referindo que a entidade precisava de “mudanças dramáticas” para responder à “batota” da China e de outros países. “Durante muitos anos estes abusos foram tolerados, ignorados e até encorajados”, apontava Trump em Setembro de 2019. O discurso do Presidente norte-americano vincou que não iria aceitar “maus negócios” nas reuniões para resolver as disputas comerciais com a China e que não precisava de ter um acordo antes das eleições de Novembro deste ano, em que enfrenta Joe Biden. A declaração de Trump não originou qualquer reacção por parte da delegação chinesa.
Burla | Residente gastou mais de 13 milhões com falsa prostituta Andreia Sofia Silva e Nunu Wu - 16 Set 2020 [dropcap]U[/dropcap]m residente foi burlado em mais de 13 milhões de patacas num caso de falsa prostituição. Segundo o jornal Ou Mun, a Polícia Judiciária (PJ) deteve, na sexta-feira, dois suspeitos de transaccionarem 1,18 milhões de patacas pagos pela vítima, estando os mesmos suspeitos da prática do crime de burla e branqueamento de capitais. O caso remonta a 2017, quando a vítima conheceu uma mulher na Internet que alegou disponibilizar serviços sexuais a troco de dinheiro, pago através de cartões de carregamento. O indivíduo transferiu cinco milhões de patacas sem nunca ter visto a mulher pessoalmente. Mais tarde, recebeu uma chamada telefónica de alguém que se fez passar pelo “patrão” da mulher, e que lhe pediu para fazer o pagamento em bitcoins. O “patrão” alegou ainda que a mulher estava doente e tinha sido presa, sendo necessário o pagamento de 7 milhões de patacas para a libertar sob fiança. A vítima adquiriu então moeda virtual nesse valor, em meados do ano passado em Hong Kong, mas continuava sem se encontrar com a mulher. Meses mais tarde, devido à pandemia, a vítima não conseguiu adquirir mais bitcoins, tendo recebido a ajuda dos dois suspeitos detidos pela PJ para a compra de moeda virtual no valor de 1,18 milhões de patacas. Estes ligaram depois à vítima alegando que não tinham conseguido comprar bitcoins e que o dinheiro estava numa esquadra no NAPE. Quando a vítima se deslocou à esquadra, percebeu que o dinheiro não estava lá e que tinha sido burlado. Os suspeitos são uma mulher, de 27 anos, residente, e um homem de 31 anos, também residente. Ambos recusaram cooperar. A PJ crê que os dois suspeitos são culpados de associação criminosa, vai continuar a investigar o fluxo do montante e se há mais pessoas envolvidas na história. O caso continua a ser investigado pelo Ministério Público, podendo os dois suspeitos serem acusados do crime de burla de valor elevado e crime de branqueamento de capitais.
“Noul” | Sinal 1 de tempestade tropical pode ser içado amanhã de manhã Hoje Macau - 16 Set 2020 [dropcap]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) emitiram hoje uma nota onde dão conta da possibilidade de ser içado o sinal 1 de tempestade amanhã de manhã devido à passagem do ciclone tropical “Noul”. O comunicado informa que o “Noul” vai “atravessar a parte central do Mar do Sul da China e intensificar-se, progressivamente, movendo-se para a parte central do Vietname”. Nesse sentido, “espera-se que amanhã de manhã o ciclone tropical entre a menos de 800 quilómetros de Macau. Nesta altura, esta Direcção vai considerar emitir o sinal número 1 de tempestade tropical”. Entre amanhã e sexta-feira prevê-se que o vento fique mais forte, podendo ocorrer, ocasionalmente, aguaceiros fortes acompanhados de trovoadas. Os SMG referem também que, “sob influência da maré astronómica, nos dias 17 e 18 de manhã podem ocorrer inundações em zonas baixas do Porto Interior”.
Covid-19 | China soma 31 dias sem novos casos Hoje Macau - 16 Set 2020 [dropcap]A[/dropcap] China atingiu hoje 31 dias consecutivos sem registar infeções locais de covid-19, já que os 12 casos diagnosticados nas últimas 24 horas são todos oriundos do exterior, anunciaram as autoridades. A Comissão de Saúde da China indicou que os casos importados foram diagnosticados no município de Xangai (leste), e nas províncias de Guangdong (sul), Zhejiang (leste), Sichuan (sudoeste), Fujian (leste), Yunnan (sudoeste) e Shaanxi (noroeste). As autoridades disseram que, nas últimas 24 horas, 11 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infetadas ativas no país asiático se fixou em 143, incluindo um doente em estado considerado grave. Desde o início da pandemia, a China registou 85.212 infetados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2. As autoridades chinesas referiram que 824.092 pessoas que tiveram contacto próximo com infetados estiveram sob vigilância médica na China, das quais 6.576 permanecem sob observação. A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 929.391 mortos e mais de 29,3 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Parlamento designa Yoshihide Suga novo primeiro-ministro do Japão Hoje Macau - 16 Set 2020 [dropcap]O[/dropcap] parlamento do Japão designou hoje como novo primeiro-ministro Yoshihide Suga em substituição de Shinzo Abe, que apresentou a demissão por questões de saúde, após quase oito anos como líder do Governo. Suga, de 71 anos, que foi chefe de Gabinete e ministro porta-voz do Governo de Abe, obteve 314 dos 462 votos, numa sessão extraordinária do parlamento japonês (Dieta), convocada para ratificar a escolha, na sequência da proposta do partido no poder e com maioria parlamentar. Na segunda-feira, o Partido Liberal Democrata (PLD) escolheu Suga como novo líder, para completar o mandato que Abe também não cumpriu, até setembro do próximo ano. Antes da confirmação parlamentar, Shinzo Abe, o primeiro-ministro japonês que mais tempo ocupou o cargo, e os membros do Governo tinham apresentado a renúncia. Suga foi um apoiante leal de Abe desde a primeira passagem deste último pelo cargo de primeiro-ministro, de 2006 a 2007. O mandato de Abe terminou então abruptamente por causa de uma doença e Suga ajudou-o a regressar como primeiro-ministro em 2012. Abe, de 65 anos, que sofre de colite ulcerosa, explicou no mês passado que era obrigado a renunciar, uma vez que tinha pela frente um tratamento contínuo com óbvio impacto físico, apesar de se sentir melhor. O novo primeiro-ministro vai herdar uma série de desafios, incluindo as relações diplomáticas e económicas com a China e os Estados Unidos, bem como o que fazer com os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para o próximo verão devido à pandemia.
Grupo Tak Chun adquire 20,65 por cento da Macau Legend Development Andreia Sofia Silva - 16 Set 2020 [dropcap]L[/dropcap]evo Chan Weng Lin, CEO de um dos maiores grupos junket de Macau, o Tak Chun Group, adquiriu 20,65 por cento da Macau Legend Development, informou a empresa esta terça-feira à bolsa de valores de Hong Kong. Segundo o comunicado, citado pelo portal GGRAsia, a transacção foi de 1,34 mil milhões de dólares de Hong Kong e concretizada através de uma empresa offshore detida a 100 por cento por Levo Chan Weng Lin sediada nas Ilhas Virgens Britânicas. Antes desta transacção, o empresário já tinha adquirido, a título individual, 0,11 por cento da Macau Legend Development, ficando assim com 20,75 por cento do capital, o que faz dele o segundo maior accionista. O primeiro continua a ser David Chow, ex-CEO da empresa, que detém 29,9 por cento do capital. As negociações das acções da Macau Legend na Bolsa de Valores de Hong Kong foram suspensas às 9h da manhã de segunda-feira, por estar para breve a divulgação de informação privilegiada relacionada com fusões e aquisições. Ano de mudanças A aquisição por parte do grupo Tak Chun surge num ano atípico para a maior parte das operadoras de jogo. A Macau Legend Development, que opera três casinos ao abrigo da concessão da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), registou perdas de 569,47 milhões dólares de Hong Kong no primeiro semestre de 2020, devido à crise económica gerada pela pandemia da covid-19. Em Março, David Chow foi substituído no cargo de CEO pela mulher, Melinda Chan. O empresário mantém-se como co-presidente da direcção e responsável pela definição de políticas do grupo, que detém também o empreendimento Doca dos Pescadores. Actualmente, a Macau Legend Development leva a cabo vários projectos de investimento na área do jogo e do turismo em Cabo Verde e Portugal, entre outros. Questionado, em 2018, sobre o processo de revisão das licenças de jogo, David Chow confessou ao HM que não é o número de licenças que importa, mas sim “a criação de mais oportunidades de promoção para os locais que estão há vários anos na indústria a aprender”.
A Revolução Liberal de 1820 & Macau – 200 anos da primeira revolução contemporânea Manuel de Almeida - 16 Set 2020 [dropcap]A[/dropcap]s Invasões Francesas – Junot, Soult, Massena (a mais destrutiva) e até a de Marmont – a Guerra Peninsular – que coincide com a Guerra da Indepêndencia Espanhola (factos que ocorrem entre 1807 e 1814) – a fuga da rainha D.Maria I, do príncipe regente D. João – proclamado rei D. João VI a 6 de Fevereiro de 1816 – e, parte da corte, da nobreza e alguma alta magistratura – à volta de 15 mil pessoas –, “Cofres vazios, moeda sem valor e juros proibitivos” – vivia-se numa iminente suspensão de pagamentos, a bancarrota. Um país arruinado e exausto, que vivia sob a alçada da tortura, censura, repressão e miséria. Foi a 24 de Agosto de 1820 – fez 200 anos – que um grupo de patriotas se pronunciou no Porto, em favor da “regeneração da pátria”, do “regresso do rei”, pela “salvação da Pátria através da razão e da justiça”. Afastaram a “Regência”. Morreu o Portugal velho (poder absoluto), nasceu o Portugal novo (começou a era da cidadania, das liberdades cívicas e da igualdade perante a lei). A 21 de Novembro de 1806, a França decreta o “Bloqueio Continental”. Em finais de Novembro de 1807, o Príncipe Regente, a Rainha, a Corte e grande parte da administração portuguesa, fogem para o Brasil, para escapar às tropas napoleónicas, que já invadiam Portugal. O País ficou entregue a um conselho de “Regência”, com a protecção da Grã-Bretanha, que configurou o País como um simples protectorado, e que não queria perder o controlo de uma rota comercial que lhe era extremamente vantajosa, útil – a do vinho do Porto, que dominava desde o princípio do século XVIII. A Grã- Bretanha vinha da (1812 – 1815), tinha um grande “poder” mercantilista, era já uma grande “potência” mundial, mas precisava de equilibrar a sua economia. Portugal tornou-se “uma possessão comercial inglesa arruinada” A “ordem” do bloqueio era isolar economicamente as Ilhas Britânicas, sufocando as suas relações internacionais. Junot entra em Lisboa sem resistência uns dias após a partida da “corte”. Entretanto, Napoleão e a Espanha assinam um tratado para “retalhar” Portugal. A Espanha ocupou o Norte e o Sul e o exército francês o Centro. O acordo foi “Sol de pouca dura”, já que, em Maio de 1808, uma insurreição em Espanha leva à retirada dos exércitos espanhóis e a declarar a França como inimigo. Este exemplo inspirou os portugueses. No princípio do século XIX, o Estado português vivia do comércio entre o Brasil e a Europa – era pouco, mas já era um passo na nossa autonomia económica, já que, no século XVIII, Portugal “só” vivia do ouro do Brasil, abandonou-se a agricultura e não se apostou numa industrialização do País. Com invasões e guerras, aumentaram as despesas, diminuíram as receitas, e o País cai numa situação económica precária – a falência. De 1808 (da passividade) a 1820 (à revolta) sopram ideais da Revolução Francesa e rupturas das cortes de Cádiz. Errâncias que inspiram “um desejo absurdo de sofrer” – fome, violações, miséria, violência, pânico, rebeliões. Era insustentável viver sob o domínio inglês. Os escombros das invasões. O pronunciamento militar em Espanha, em Abril de 1820, a tortura/assassínio dos “grandes que oprimiam” os colaboracionistas da “Regência”, a criação de milícias para combater inimigos, o aparecimento de uma nova elite letrada, tudo se viveu, tudo se aprendeu, tudo deu azo a um mau estar constante que levou o povo a dizer “Basta!”. Como dizia Agustina Bessa-Luís, uma “Revolução há-de ser também uma revelação”. Em 1815, enquanto os vencedores de Napoleão discutiam o futuro da Europa, em Viena, após a decapitação do , depois de vitórias sucessivas, esbarrando apenas na Rússia e em Portugal (com o auxílio inglês) – , a 16 de Dezembro, D. João VI “decretava a elevação do Brasil a reino, equiparando-o a Portugal”. Chamou ao Brasil as melhores tropas portuguesas (5 000 soldados, pagos por Lisboa), com a ambição de conquistar a “Banda Oriental”, do que é hoje o Uruguai. Começa uma nova fase da “nossa” presença no mundo, aquilo a que mais tarde se viria a designar como a “americanização” da monarquia portuguesa, tornar o Brasil no “grande império da América do Sul”. Já em 1817, houve uma conspiração frustada a favor de um governo constitucional contra a regência inglesa que governava em nome do rei D. João VI, no Brasil. No dia 18 de Outubro desse mesmo ano, no campo que desde 1755 se chamava de Santana, o povo assistiu ao espectáculo, que durou 9 horas – do meio-dia às nove da noite -, do enforcamento, por traição à pátria, de onze desses sublevados. Só não assistiram à execução do cabecilha – o general Gomes Freire de Andrade (herói de quinze campanhas napoleónicas), que foi sacrificado nessa mesma manhã, mas fora de Lisboa – para não haver distúrbios – no campo de Alqueidão, junto a São Julião da Barra. “Tu, que deste aos homens tudo o que tinhas e viveste de mãos abertas acabas enforcado com o rótulo de traidor” – lamenta Matilde de Melo, mulher de Gomes de Freire d’Andrade. A partir de 1879, este campo passou a designar-se Mártires da Pátria. Para este “episódio” da História convém ter presente o livro “Felizmente Há Luar”, de Luís de Sttau Monteiro. Recriada em dois actos, a história relatada na obra é baseada na tentativa falhada da “revolta” de 1817. O tema central do livro é a figura do General Gomes Freire de Andrade e a sua condenação à morte, levada a cabo pelo regime do marechal William Beresford, com o apoio da Igreja. A malícia, o humor, a ironia, a crítica mordaz, trocista, sarcástica, o escárnio, de tudo um pouco Sttau Monteiro deita mão para enobrecer/empobrecer a triste “sina” dos portugueses: “Vê-se a gente livre dos Franceses, e zás! Cai na mão dos Ingleses! E agora? Se acabarmos com os Ingleses, ficamos nas mãos dos Reis do Rossio” (Conselho de Regência); o desprezo de Beresford por Portugal – “E as àrvores… quem não viu as àrvores da minha terra, nunca viu árvores”; o substituir a monarquia absoluta pela constitucional – “a conspiração destina-se a implantar neste Reino o sistema de Cortes”. Denominada por Sttau Monteiro como apoteose trágica, nela o autor “Recorre à distanciação histórica para projectar uma luz reveladora sobre o presente”, uma espécie de dissertação ética, em que um facto histórico serve para denunciar as repressões políticas, perseguições e injustiças em Portugal na década de 60 – um incentivo à revolta. O livro foi publicado em 1961 e foi, desde logo, censurado pelo Estado Novo. Macau não ficou indiferente à partida do Príncipe Regente para o Brasil. “Entendeu, então, o Senado (…) ser da sua obrigação, enviar, nessa ocasião, um representante seu ao Rio de Janeiro, para apresentar, em seu nome e no da cidade, ao Príncipe Regente, efusivas congratulações pela sua chegada ao Rio de Janeiro” – Luís Gonzaga Gomes, em <Páginas da História de Macau>. O escolhido para representar a cidade foi o vereador António Joaquim de Oliveira Ramos, mas por impedimento deste foi nomeado o morador Raimundo Vieira Pereira, no entanto, quem finalmente desaguou na capital brasileira foi um comendador, de seu nome Domingos Pio Marques. 26 de Dezembro de 1818 foi a data marcada para a celebração da aclamação de D.João VI. Do cartaz das festas, o “número” mais importante das comemorações foi o acto solene de aclamação de D. João VI, que se efectuou pelas 15H00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, atestado de nobreza, clero e povo. A cerimónia, que se prolongou durante a tarde, viria a terminar com a subida ao palco do capitão mor, que clamou: “Real, real, real, pelo mui alto e poderoso senhor D. João VI, nosso Senhor. Imediatamente, o Governador (Castro Cabral) repetiu, em voz alta, por três vezes:” – em <Páginas da História de Macau> de Luís Gonzaga Gomes. Durante três dias, três, a cidade viveu em grande regozijo. As iluminações eram deslumbrantes. Uma banda deliciava os ouvidos da população em . Em 1820, no Porto, dá-se finalmente o golpe de misericórdia. O exército revoltou-se, tomou e deu o poder aos burocratas e magistrados (os liberais). As ideias iniciais eram criar um sistema representativo (fez-se por sufrágio indirecto e universal), que desse voz ao povo – em oposição ao que até aí se passava, o poder dos reis portugueses era absoluto: “o rei fazia a lei, executava a lei, e interpretava a lei, julgando-a em susprema instância” -, controlar despesas, legislar, entregar o poder judiciário aos juízes e o executivo ao rei e aos ministros, e voltar a submeter o Brasil aos superiores interesses de Portugal. “Havia mil maneiras de adiar, distorcer ou simplesmente não cumprir o que as cortes determinavam”, como os dependiam do exército, não se atreveram a cortar despesas. Pretendia-se a transferência do poder do monarca para o povo. A 3 de Agosto de 1821 – após treze anos de ausência – “uma nau, duas fragatas e seis outras embarcações provenientes do Brasil”, ancoram no rio Tejo, frota que transportava o rei D. João VI, o seu séquito de 400 pessoas e os seus bens. O Rei só pode desembarcar depois de se ter comprometido a jurar as bases da Constituição, resultantes do movimento iniciado no Porto, em 24 de Agosto de 1820. Após os actos públicos oficiais, D. João VI partiu para o convento das Necessidades, onde o aguardavam os deputados às Cortes Constituintes. Houve eleições para as Cortes Constituintes. Estas reúnem-se regularmente a partir de Janeiro de 1821 e, a 23 de Setembro de 1822, é jurada a primeira Constituição Portuguesa – é a primeira Revolução Contemporânea. Nasce uma nova ordem, a da “vontade da nação, do exercício da cidadania e do sistema parlamentarista”. O Rei deixou de ter o poder de veto ou dissolução e deixou de ser o chefe do Estado. Um novo “credo político” instala-se em Portugal, o liberalismo. Nada voltou a ser como dantes, Portugal mudou de face. Após 1822, o Rei dissolveu as Cortes, aboliu a Constituição, numeou o seu filho D. Miguel generalíssimo do exército português e D. Pedro, no Brasil, entra em rebelião aberta com Portugal. A 7 de Setembro de 1822, o Brasil, que não queria voltar ao seu estatuto colonial, revolta-se nas margens do rio Ipiranga, em S.Paulo, e dá o toque final, o “Grito do Ipiranga”, a Independência do Brasil. Já a estava prestes a ser aprovada, é que chegam a Macau os “ecos” da “Revolução” Liberal. O Leal Senado reúne-se a 19 de Agosto de 1822, para, “em assembleia-geral e por sufrágio popular, eleger os novos membros da Câmara. No dia 24 o novo regime demócratico foi consagrado por um Te Deum cantado pelo Bispo D. Fr. Francisco de N. Senhora da Luz Chacim (1804 – 1828), em que foi pregador o dominicano Padre António de S. Gonçalo de Amarante (fundador do periódico Abelha na China)” – Beatriz Basto da Silva, na Os liberais substituem os conservadores. O Ouvidor de Arriaga demite-se, figura enigmática “tão turtuoso quanto astucioso”. É ordenado o novo governo municipal, sendo restaurada a independência do Leal Senado, perdida pelas “Providências” de 1783. Isto porque, com elas, e uma vez mais cito a autora da , “o Ministro das Colónias, Martinho de Melo e Castro por instigação do ex-Governador das Índias, Salema e Saldanha, reformou o poder do Governador”. Vivia-se então no reinado de D. Maria I. O Governador poderia, a partir daí, impor o seu veto sobre qualquer moção senatorial, só com o seu voto. Foi a 4 de Abril de 1783 que apareceram essas “Providências”, emanadas de Lisboa, por ordem da Rainha, que “cerceavam o poder do Senado em favor do Governador e, ordenava ainda que se tomassem contas ao Senado e que este não tomasse qualquer decisão sem que fosse ouvido o Governador” – Padre Manuel Teixeira, na <Topomínia de Macau>. A 22 de Janeiro de 1822, José Baptista de Miranda e Lima escreve uma carta, em nome dos liberais, ao Rei e às Cortes, pedindo a restauração do Senado à situação anterior a 1873 – “Um Senado que a tudo era Superior”. Macau passa a ser, entre 1 de Julho a 23 de Setembro de 1823, governado pelo Senado. O “poder” governativo português em Macau – salvo algumas excepções -, sempre lutou/apoiou as instituições e princípios democráticos. Assim sendo, o Senado (o poder/assembleia do povo) recuperou o antigo sistema municipal: os poderes legislativo, excutivo e judicial, tendo sido retirado ao Governador (Castro Cabral) toda a responsabilidade administrativa. O Senado governou Macau até 9 de Janeiro de 1834, data em que foi publicada a “Nova Reforma Administrativa Colonial”. A “22 de Fevereiro de 1835, o Senado foi dissolvido pelo novo Governador – Bernardo José de Sousa Soares Andrea, investido de plenos poderes como Governador Civil. Daí em diante, apenas competiriam ao Senado os assuntos municipais, embora ainda fosse chamado de Leal Senado” – em de Montalto de Jesus. Essa tendência revolucionária e liberal veio a ter repercussões em todas as colónias portuguesas. Sob uma “nova” ordem liberal, Macau exigiu, desde logo, a “dissolução do batalhão do Príncipe Regente (que tinha sido criado a 13 de Maio de 1810) e a sua substituição por uma guarda municipal, a isenção de Macau do pagamento de subsídios a Goa e a Timor, o direito para os cidadãos nascidos em Macau usufruírem do privilégio de ocuparem cargos civis e militares e não menos importante, o levantamento das restrições sobre a imprensa” – em de Geoffrey C.Gunn. Nasce a uma quinta-feira, no dia 12 de Setembro de 1822, “A Abelha na China”, periódico liberal, o primeiro jornal de Macau, com a finalidade de informar e orientar a opinião pública sobre a nova ordem Constitucional. O seu último número seria a 23 de Setembro de 1823, num total de 67 edições. O levantamento das restrições à lei de imprensa era de 1821. São dos anos mais cinzentos – será que o cinzento nivela todas as diferenças – e intensos vividos em Macau, nessa época de ruptura. Há o golpe e o contra-golpe de Arriaga. O Governador e o Ouvidor (Arriaga) são detidos e encarcerados. Há a condenação e fecho da “Abelha na China”. Vive-se um mau estar permanente entre conservadores e liberais. A partir de 23 de Setembro de 1823 “forma-se um Governo de salvação” – um “Governo de Triunvirato”: o Bispo (D. Fr. Francisco), o Ouvidor, (demitido/ausente) – que é substituído por um vereador, e o Sargento-mor João Cabral (o militar de maior patente). Este Governo dura até 28 de Julho de 1825. Só em 1825 é que foi jurada, em Macau, a . D. João VI morre a 10 de Março de 1826 (58 anos), envenenado. Nasce uma “nova” era num já longo caminho da identidade e da cultura democrática em Macau – a preservação da “Memória”. Tempos próximos, mas já tão abandonados na “Memória” – desenraizamento (?). Sussuros de outras vozes adulteradas por “novos” ventos, inacreditáveis estes “novos” ventos, ventos de mudança. Dúvidas (?) Temos de tresler o sentimento da ausência, o sobressalto da razão. Restam-nos dúvidas, interrogações, perplexidades – um regresso ao passado -, um reencontro com a História.
O legado de Shere Hite Tânia dos Santos - 16 Set 2020 [dropcap]M[/dropcap]orreu Shere Hite. Pode ser desconhecida por muitos, mas o seu legado não é. Foi a impulsionadora de um estudo à escala nacional para explorar o sexo no feminino. O que é que as mulheres querem? Como é que as mulheres se vêm? Publicou o que se popularizou como o Relatório Hite, – ao que o Hugh Hefner, da Playboy, alcunhou de relatório Hate. Nos anos 70, sugeriu, depois de uma análise de 3000 relatos escritos por mulheres de toda a América, que o que as mulheres querem na cama, não é necessariamente o que os homens querem. Os orgasmos não são facilmente alcançáveis com penetração, e que o clitóris é a rainha do orgasmo e do prazer. Todas as suas conclusões e ideias foram recebidas com muita contestação. Muitos assumiram que era uma ode ao ódio. Ódio contra os homens, claro. O sentido de ameaça era tal que a norte-americana renunciou à sua nacionalidade e passou a viver na Europa. As ameaças de morte não paravam, pelo correio e pelo telefone. A Europa foi o único lugar receptivo às suas ideias do sexo, da vagina, do clitóris e do orgasmo. Chegaram a acusá-la de destruidora de lares quando, numa outra obra, reflectiu acerca do papel desigual das mulheres na relação heterossexual. Ao reflectir sobre as desigualdades do sexo e do género, a sociedade em geral achou que ela estava a pedi-las. O mundo da investigação também não se acanhou em acusar todo o seu trabalho como não científico e inválido. A sua amostra podia ter limitações. Mas 3000 participantes é um número muito mais generoso do que as três mulheres Vienesas que serviram de exemplo e inspiração para a teorização de Freud – era a comparação que ela costumava usar. Para piorar tudo, era muito gira, e fazia uso disso. Tinha aquele ar de Marilyn Monroe, com cabelos loiros e lábios pintados de vermelho. Só que não era uma tonta, como a maioria das personagens da Marilyn, era uma intelectual. Uma combinação que poucos esperavam. Até para pagar as exuberantes propinas da Universidade de Columbia trabalhou como modelo para fazer face às despesas. Posou para a Playboy. Também foi fotografada para anunciar as famosas máquinas de escrever Olivetti, que se aproveitavam do machismo da altura para as publicitar. ‘A máquina é tão inteligente que elas não precisam de o ser’, era o slogan usual. A Shere, ao perceber que a sua imagem estava associada a tamanha parvoíce, juntou-se às manifestações que criticavam o anúncio em que ela própria aparecia. Foram esses encontros que moldaram a sua perspectiva intelectual ao assumir-se como feminista. Foi aí que começou a querer dar primazia às vozes e experiências das mulheres de baixo para cima, elevando a mundanidade do orgasmo e do prazer. Foi decisiva no desenvolvimento do pensamento feminista quando se quis preocupar com quando e como é que as mulheres têm um orgasmo. Li algures que o seu legado já nos está tão enraizado no pensamento que dificilmente conseguimos perceber o choque e a reverberação das suas ideias na altura. Os desafios agora até podem ser outros, mas lá no fundo continuam a ser os mesmos. No sexo há uma falta de legitimação naquilo que se sente – e tal como na história (e luta) do orgasmo feminino, a tentativa de elevar a arte da entrega, da sensação e do prazer é tão contemporânea como há 40 anos atrás.
Os cometas da amizade Nuno Miguel Guedes - 16 Set 2020 [dropcap]A[/dropcap]té ao momento em que escrevo estas linhas não existe, ao que eu saiba, uma bolsa financeira das palavras. Nenhuma delas, numa lógica meramente materialista, estará mais bem cotada do que outra qualquer. E bem, até porque mesmo para isso seria difícil encontrar um critério objectivo que ajudasse a valorizar cada vocábulo. Por exemplo, para mim um belíssimo palavrão dito na ocasião certa vale um milhão de vezes mais do que a palavra “implementar”. Ou de outra forma, pagaria muito mais por ver escrita a palavra “dependência” em vez do que agora passa pelo seu sinónimo – “adição” -, que para mim se resume a uma operação aritmética. Mas enfim, é por esta e por outras que não tenho um gabinete em Wall Street. O que é verdade é que na nossa língua existe uma expressão idiomática, em regra aplicada em tom depreciativo, e que é “palavras caras”. Significa, como todos sabemos e mesmo assim aqui estou a explicá-la, um conjunto de vocábulos utlizados de forma rebuscada, eruditos ou não, mas que normalmente não ajudam à compreensão da mensagem. A expressão foi muito popular aquando dos discursos do antigo Presidente Jorge Sampaio ou, para quem gosta e se interessa pelo futebol português, sempre que o treinador Manuel Machado resolve dizer seja o que for. É de facto um mal menor, trivial, assunto evanescente. Mas, e agora se me permitem, abandono por um momento a leviandade para tentar dizer ao que venho. Se de facto não vejo uma hierarquia das palavras percebo nesta expressão outro sentido e provavelmente mais próximo da origem: aquele em que o adjectivo “caras” não se refere a um valor material mas sim àquilo que ao início queria dizer: algo querido, estimado, único. Algo que ainda sobrevive, apesar de tudo, nas formas epistolares de cortesia: “caro senhor, caro senhora”. Já dizê-la em conversação hoje em dia pode denotar arrogância: “Meu caro, não é bem assim” não demonstra a estima pelo interlocutor mas geralmente um prelúdio de massacre. Fiquemos então pelas palavras queridas. E uma há, que aqui utilizo como artificio de escrita e convite para o leitor se sentar à mesa que é “amigo”. Como “amizade”, é-me de facto uma palavra cara e que utilizo com parcimónia nos meus dias. Nem sempre terá sido assim e ainda bem: a idade é um filtro. Isto para dizer que já não me é fácil chamar “amigo” a um mero conhecido: a palavra ganhou gravitas, sentido e raridade. Necessita de tempo e constante cultivo para que se substantive em alguém. O que não precisa é de assiduidade. Existem amigos que infelizmente só os notamos quando desaparecem, deixando uma espécie de rasto luminoso. Nessa altura, quando a perda nos abre os olhos e o coração, percebemos o cometa que passou pelas nossas vidas, tantas vezes de forma discreta e quase sempre nunca devidamente apreciada. Uma conversa breve, uma palavra no tempo certo, uma disponibilidade imediata aquando de uma crise qualquer: isso, parece-me, cabe na amizade. E depois, quando enfim e de repente a noite os leva para sempre, fica-se apenas com uma mão-cheia de palavras por dizer e quase todas soam a obrigado. Eu sei: passou-se comigo há pouco tempo. A única redenção e gratidão possível é fazer que isso nunca mais aconteça e apanhemos estes cometas ainda em pleno voo, a tempo de os abraçar.
FRC | Identidade macaense em debate na próxima quarta-feira Hoje Macau - 16 Set 2020 [dropcap]A[/dropcap] identidade macaense é o mote de conversa para o debate que vai ter lugar na próxima quarta-feira, dia 23, na Fundação Rui Cunha (FRC) por volta das 18h30. A palestra “Como definir um macaense” é organizada pela FRC e pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial “Pedro Nolasco” (AAAEC), contando com a presença do historiador Jorge Forjaz. A definição de um macaense é um dos temas mais comuns no seio da comunidade, conforme denota Jorge Forjaz. “Todos têm alguma razão e todos acham que os outros não têm totalmente razão. Eu serei mais um deles, mas 20 anos a estudar as famílias macaenses dão-me direito a ter uma opinião que não será, certamente, consensual, nem definitiva”, referiu, citado por um comunicado da FRC. Esta palestra insere-se na série “Serões com História”, promovida pela FRC, e conta com moderação de José Basto da Silva, presidente da AAAEC. Jorge Forjaz é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, possuindo também o curso de bibliotecário-arquivista. Foi director do Museu e Conservador da Biblioteca Pública de Angra do Heroísmo e director regional dos Assuntos Culturais da Região Autónoma dos Açores. Entre 1989 e 1992, Jorge Forjaz foi secretário-geral do Festival Internacional de Música de Macau. Durante esse tempo pesquisou as genealogias dos macaenses. O resultado desse exaustivo trabalho deu origem à obra “Famílias Macaenses”, publicada pela primeira vez em 1996 e com uma segunda edição revista e actualizada, com mais 80 capítulos, levada à estampa em 2017.
Teatro físico | Jenny Mok regressa a solo para reflectir sobre uma sociedade em mudança Andreia Sofia Silva - 16 Set 2020 A Comuna de Pedra regressa aos palcos com o espectáculo “Nothing and Everything”, que acontece este fim-de-semana no Black Box Theatre do edifício do antigo tribunal. Jenny Mok é a protagonista de um espectáculo de teatro físico contemporâneo onde as mudanças na sociedade são o mote. As metáforas utilizadas revelam como essas mudanças e restrições afectam o corpo e a mente humana [dropcap]“N[/dropcap]othing and Everything” [Nada e Tudo] é o novo espectáculo da companhia Comuna de Pedra e sobe ao palco este fim-de-semana, sábado e domingo, no espaço Black Box Theatre do edifício do antigo tribunal. Jenny Mok, directora da companhia, assume também o papel de protagonista neste espectáculo a solo de teatro físico contemporâneo, além de ser coreógrafa do projecto. Ao HM, a responsável adiantou que “Nothing and Everything” não é mais do que uma série de metáforas sobre as mudanças profundas que as sociedades dos tempos modernos enfrentam, sobretudo em Macau e Hong Kong. Jenny Mok não constrói metáforas apenas sobre a pandemia e o confinamento, mas também sobre os acontecimentos políticos em Hong Kong. Nada é literal, mas a ideia é reflectir sobre os efeitos de tudo isto no corpo e na mente humana. “Este é um espectáculo sobre a vida e a morte e a forma como se altera a idade natural dos nossos corpos. Há uma metáfora sobre a morte e o nosso espírito e todas as mudanças que ocorrem. Hoje em dia a sociedade enfrenta muitas mudanças e isso tem um grande impacto na existência”, contou. Jenny Mok assume reflectir, sobretudo, na liberdade “que ainda nos resta”. “[Penso] na nossa liberdade de expressão e de pensamento e até quando a teremos. Estamos a viver com cada vez mais restrições. Como seres humanos, como nos vamos enquadrar em tudo isto? O tempo passa e como vamos viver com todas estas restrições? Como é que isso vai afectar os nossos corpos?”, questiona. Os medos Jenny Mok está satisfeita por poder voltar aos palcos depois do período de confinamento, esperando que, com “Nothing and Everything”, o público “possa fazer uma reflexão sobre aquilo que vai ver”. “O que podemos fazer enquanto artistas é provocar. Não sei que reacções o público terá, mas pelo menos terá a capacidade de pensar sobre estas coisas. Há muitos medos na sociedade de Macau e as pessoas têm receio de falar. Têm medo de expressar as suas ideias sobre determinadas coisas, e penso que isso se deve também devido a essas restrições. Mas será que nos vamos calar? Como vamos viver desta forma?”, frisou. Para Jenny Mok, acabamos por assistir quase a uma mudança de mentalidade, o que faz com que a população se adapte às novas restrições, algo que “é triste”. “Este será um espectáculo muito poético. Vou ficar no palco sozinha e vou dançar. É a história de uma rapariga que está restrita num quarto. Penso que se não olharmos para essa conotação [política e social], podemos continuar a ver o lado poético do espectáculo”, rematou. “Nothing and Everything” acontece às 20h e os bilhetes têm o custo de 180 patacas.
Associações de Protecção dos animais entregam carta a Ho Iat Seng Nunu Wu - 16 Set 2020 [dropcap]D[/dropcap]epois de o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciar que não é possível implementar o programa de recolha e esterilização de animais vadios, um grupo de associações de protecção animal, acompanhados pelo deputado Sulu Sou, entregou ontem uma carta ao Chefe do Executivo a pedir que a concretização do plano em vias, ironicamente, de ser abandonado. Outra das exigências do activistas é a revisão da lei de protecção dos animais. Depois de terem reunido com o IAM em Outubro do ano passado, as associações argumentam ter-lhe sido garantido que seriam escolhidas zonas-piloto para experimentar o programa de recolha e esterilização, daí a surpresa. A responsável da Associação Macau Animal Welfare, Lai Mok Ka Lin, criticou ainda a posição do IAM ao equiparar alimentar animais de rua a abandono, alertando para a possibilidade de ataques a pessoas devido à falta de alimento. Em declarações aos jornalistas que acompanharam a entrega da carta ao Governo, a vice-presidente da Associação de Protecção aos Animais Abandonados de Macau, Josephine Lau, sugeriu que as autoridades permitam a voluntários, devidamente licenciados, alimentarem animais de rua e monitorizar o seu estado de saúde. “Caso alguém deixe um local sujo depois de alimentar um animal, o Governo teria o direito que o penalizar. Porque é que não se tenta primeiro, em vez de se desistir logo?”, sugeriu a activista. Papel sem uso Foram também pedidas alterações à legislação de protecção dos animais. Sulu Sou lamentou a falta de eficácia da lei para casos suspeitos de maus-tratos, tortura e até morte de animais. O deputado exemplificou com casos que aconteceram este ano, como o gato que foi decepado, um cão que foi atirado de um prédio, entre casos de envenenamento de animais. Segundo Sulu Sou, a polícia limita-se a dizer que os casos foram encaminhados para o Ministério Público, sem qualquer acompanhamento. Lai Mok Ka Lin acrescentou que, pelo contrário, a legislação parece apenas penalizar donos responsáveis.
Ambiente | DSPA pondera proibir a importação de embalagens de esferovite Salomé Fernandes - 16 Set 2020 Numa reunião com activistas ambientais e a Associação Novo Macau, o Governo disse estar a estudar proibir a importação de caixas de esferovite para refeições em 2021. Annie Lao, da Macau for Waste Reduction, defende que o Governo tem de tomar medidas imediatas [dropcap]A[/dropcap] Direcção de Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) reuniu com activistas ambientais e a Associação Novo Macau (ANM) para discutir a legislação sobre o limite ao uso de plástico, reciclagem e protecção marinha. Questionado sobre a necessidade de aumentar restrições para uso de plástico, o director da DSPA, Raymond Tam, explicou que está a ser estudada a proibição de importação de caixas de esferovite para refeições no próximo ano. “Como ainda há embalagens de [esferovite] a ser usadas para transportar marisco vivo e fresco vindo da [China Continental], a DSPA vai cooperar com o Instituto para os Assuntos Municipais para promover a reutilização dessas embalagens até haver alternativas viáveis no mercado”, indicou um comunicado da ANM. À agência Lusa, Annie Lao, da Macau for Waste Reduction, disse que “a resolução da deterioração do ambiente não pode esperar mais e o Governo precisa de tomar medidas imediatas”. “Ainda me sinto desapontada com os trabalhos lentos feitos pelo Governo em termos de limitar a utilização de plásticos de uso único na cidade, tais como os casos dos supermercados”, frisou. Face às preocupações com a poluição causada pelos supermercados pelo uso de plástico de uso único para embalar fruta e vegetais, a nota da ANM indica que a DSPA respondeu que vai continuar com o plano de reconhecimento “supermercado ecológico” e a investigar com a indústria por um substituto com materiais reutilizáveis. Estiveram também presentes na reunião representantes da Green Student Union e da Macau ECOnscious. Exportar resíduos A reciclagem foi outro dos focos. O director da DSPA disse que o papel recolhido em Macau não vai ser afectado por Hong Kong ter proibido a sua importação. De acordo com Raymond Tam, os resíduos de papel actualmente são transportados directamente do Terminal de Ká-Hó para a China Continental. Já os plásticos são enviados para a Tailândia. De acordo com a ANM, o organismo disse que vai alocar uma parcela de 15.000 metros quadrados do aterro de resíduos de construção, através de concurso público, ao sector da reciclagem. Uma promessa que data de Novembro de 2018. Por outro lado, Raymond Tam explicou que a principal causa de poluição da água próxima à costa é a conexão incorrecta dos drenos de águas pluviais aos esgotos, reconhecendo que “a qualidade da água do Porto Interior deteriorou significativamente em anos recentes”. Mas apontou que se fizeram projectos de intercepção em zonas como a costa da Areia Preta, para a água passar a ser descarregada numa nova saída ao sul da Zona A.
Politécnicos portugueses sem candidatos a pós-graduações apoiadas por Macau Hoje Macau - 16 Set 2020 [dropcap]O[/dropcap]s programas de apoio financeiro de Macau para frequência de pós-graduações nos politécnicos portugueses e na Universidade de Coimbra para o ano lectivo 2020/2021 ficaram ‘desertos’, anunciaram ontem as autoridades da região administrativa especial chinesa. Este ano foram seleccionados oito candidatos à frequência de mestrados em universidades portuguesas, o único programa a receber candidaturas e cujo apoio individual tem o valor máximo de 61 mil patacas, segundo a informação disponível no ‘site’ da Comissão de Desenvolvimento de Talentos. Outro dos programas para promover a formação de quadros qualificados, é aquele que incentiva os residentes de Macau a frequentarem cursos de mestrado ministrados pelos politécnicos portugueses, mas para este não foi recebida qualquer candidatura. Este programa é co-organizado pela Comissão de Desenvolvimento de Talentos e pelo Fundo do Ensino Superior, com oito vagas anuais, sendo que a cada um dos alunos é também concedido um subsídio anual de 61 mil patacas. O mesmo valor é atribuído pelas autoridades a cada um dos estudantes seleccionados no programa para a frequência de mestrados na Universidade de Coimbra, mas também este ficou ‘deserto’. Bom entendedor A funcionar desde 2017, lançado pela Comissão de Desenvolvimento de Talentos, Fundo do Ensino Superior e Fundação Macau, visa formar quadros qualificados bilingues em chinês-português e conta com três vagas anuais. Os programas fazem parte dos cinco mecanismos de longo prazo criados pelo Governo de Macau para promover a formação de quadros qualificados, tendo mesmo sido criada em 2014 a Comissão de Desenvolvimento de Talentos. Após a assinatura de um memorando de entendimento, Portugal passou a reconhecer automaticamente, a partir de 8 de Outubro do ano passado, licenciaturas, mestrados e doutoramentos concluídos em Macau. As autoridades classificaram a decisão como “um dos grandes resultados da cooperação” entre os dois territórios na área do ensino superior, o que poderia “atrair mais estudantes a frequentar cursos de ensino superior em Portugal, promovendo assim a mobilidade e o intercâmbio entre os estudantes das duas regiões”.
Fundação Macau | Anunciada reforma “profunda” na concessão de apoios João Luz - 16 Set 2020 Seis meses depois de o Comissariado de Auditoria ter criticado a insuficiente fiscalização da Fundação Macau às contas de beneficiários, a entidade anuncia uma reforma “profunda” na concessão de subsídios. Apoios superiores a 500 mil patacas devem ser acompanhados por um relatório financeiro elaborado por um contabilista ou auditor registado [dropcap]N[/dropcap]a passada segunda-feira, a Fundação Macau (FM) deu a conhecer o programa de apoio financeiro para actividades e projectos culturais a associações, e anunciou “a reforma profunda do seu regime de concessão de apoio financeiro”. O presidente do conselho de administração da (FM), Wu Zhiliang, fez questão de frisar que a entidade vai “deixar de estar ‘aberta’ todo o tempo” a pedidos “e proceder de imediato à sua análise, passando a tomar a iniciativa de definir os temas de apoio e lançar programas para determinadas áreas”. A ideia é controlar a quantidade de candidaturas a subsídios. Recorde-se que no passado dia 23 de Março, o Comissariado de Auditoria (CA) conclui haver “uma flagrante insuficiência” no acompanhamento e fiscalização da FM aos subsídios atribuídos. A Auditoria exemplificou a falta de controlo na atribuição de fundos com atrasos na entrega dos relatórios de actividades de beneficiários, bem como a garantia da integridade das informações declaradas. Wu Zhiliang salientou que depois das “sugestões” do relatório de auditoria, a FM “tinha já reforçado a fiscalização das contas relativas à aplicação dos apoios atribuídos e aplicado medidas sancionatórias aos incumpridores”. Porém, passa a ser obrigatório para apoios iguais ou inferiores a 500 mil patacas a entrega de “um mapa da conta das actividades subsidiadas e os seus títulos”. Para subsídios superiores a meio milhão de patacas, “deve ser entregue um relatório financeiro elaborado por contabilista ou auditor registado”. O montante atribuído é cortado em 5 por cento se os relatórios forem entregues depois do prazo estabelecido. Mundo novo O “Programa de Apoio Financeiro para Actividades / Projectos Culturais, 2021” foi apresentado como a primeira medida de reforma. Destinado a projectos de artes visuais, criação literária, património cultural imaterial”, implica que o Instituto Cultural deixe de aceitar candidaturas a apoios nestas áreas. Uma das ideias da reforma é centralizar procedimentos, “através da repartição coordenada de tarefas com outros serviços públicos” para evitar repetir atribuição de subsídios por diversos serviços. Para assegurar a credibilidade e imparcialidade na avaliação dos pedidos de apoio, vão ser convidados peritos do sector cultural para analisar e avaliar candidaturas e estabelecidos critérios padronizados que garantem a competição sã. Wu Zhiliang afirmou que a reforma poderá afectar o planeamento de algumas associações e que será inevitável que todos tenham de alterar o modo como funcionam. Porém, como a Fundação Macau usa recursos públicos, “os projectos subsidiados são, de certo modo, produtos públicos”, portanto, devem ir ao encontro das necessidades reais dos cidadãos e ser objecto de fiscalização”.
Normas da UIA desrespeitadas na escolha de novo local da Biblioteca Central Andreia Sofia Silva - 16 Set 2020 [dropcap]A[/dropcap] Associação dos Arquitectos de Macau (AAM) não foi ouvida pelo Governo antes da tomada de decisão sobre a nova localização da biblioteca central no edifício do Hotel Estoril. A prática, que não é ilegal, vai, no entanto, contra as regras da União Internacional de Arquitectos (UAI), da qual a AAM faz parte. Só esta segunda-feira, 14, é que representantes do Instituto Cultural (IC) reuniram com a direcção da AAM. Christine Choi, presidente da AAM, confirmou ao HM, antes da reunião, que associação “não foi consultada, desta vez, sobre a nova localização da Biblioteca Central”, embora exista disponibilidade para “continuar a trabalhar em conjunto com departamentos do Governo para que os arquitectos locais tenham mais oportunidades.” “Existirão razões que explicam porque é que o Governo decidiu alterar os seus planos conhecendo o estado dos projectos”, adiantou Christine Choi. “Acredito que houve diferentes reflexões e que os resultados foram tidos em consideração para uma sustentabilidade da cidade a longo prazo”, frisou. Em comunicado emitido após a reunião com o IC, a associação expressou “o desejo dos arquitectos locais de participar no projecto da Biblioteca Central de Macau e nos projectos públicos”. Além da suspensão do projecto de arquitectura para o centro juvenil que iria nascer no edifício do Hotel Estoril, o arquitecto Carlos Marreiros, que venceu o segundo concurso público para a biblioteca central, terá de alterar o projecto de arquitectura. Segundo a AAM, o Governo admitiu que o novo projecto da Biblioteca Central “está ainda numa fase inicial e que haverá mais desenvolvimentos num futuro próximo” nos novos aterros, o que “dará oportunidades aos arquitectos locais e outros profissionais”. O IC emitiu também uma nota onde afirma que “gostaria de obter propostas de projecto conceptual por parte de arquitectos relevantes que tenham experiência no planeamento e construção de grandes instalações culturais, e que tenham obtido reconhecimento internacional”. Medida “deselegante” Nuno Soares, arquitecto que faz parte da direcção da AAM, assegurou ao HM que, em primeiro lugar, o Executivo deveria ter avisado previamente os autores dos projectos de arquitectura alterados. “Foi deselegante por parte do Governo não informar, previamente, os autores dos dois projectos desta mudança. É algo revelador do que se tem passado em termos dos concursos.” “O que mais garante a equidade, transparência e qualidade é existirem concursos de ideias para a maior parte dos projectos públicos. O facto de terem sido anulados dois concursos e ter sido feito um novo processo de consulta internacional não me parece um bom princípio”, acrescentou Nuno Soares.
Biblioteca Central | Iniciativa aberta à participação de designers locais Salomé Fernandes - 16 Set 202017 Set 2020 Na Assembleia Legislativa, o Governo deixou a garantia de que as empresas locais, seja qual for o projecto escolhido, vão poder participar na construção da nova Biblioteca Central. Os problemas da piscina do Estoril vão ser resolvidos apenas com reparações e manutenção [dropcap]N[/dropcap]uma sessão de apresentação destinada aos deputados sobre o projecto da nova Biblioteca Central – no terreno do Hotel Estoril – o Governo indicou que os profissionais locais vão ter oportunidade de participar na iniciativa. Questionada sobre a possível participação de designers lda RAEM no projecto, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, foi peremptória: “Sim. Vão participar, seja qual for o projecto escolhido”, declarou. A responsável explicou que quando a equipa de concepção chegar a Macau terá de colaborar com profissionais locais e que o Governo vai transmitir informações sobre as associações de designers. “No futuro pode haver um espaço maior de colaboração”, acrescentou Elsie Ao Ieong. A ideia foi reforçada por Leong Wai Man, vice-presidente do Instituto Cultural (IC). “De certeza que as nossas companhias e especialistas locais vão poder participar”, declarou. Já a presidente do IC apontou que pode ser uma “boa oportunidade” para as empresas locais ganharem experiência. MokIan Ian considera que a nova biblioteca é “uma sala de estar da cidade” e que não se deve desperdiçar o erário público para os recursos serem investidos em transformar o local “num edifício icónico”. Recorde-se que o Governo convidou quatro equipas internacionais que mostraram interesse em participar no projecto da biblioteca a apresentarem propostas. As equipas de arquitectos são a Mecanoo (Holanda), ALA (Finlândia), Grafton Architects (Irlanda) e Herzog & de Meuron (Suíça). Piscina com reparações Alguns deputados manifestaram preocupações com a piscina do Estoril. “As paredes que vedam aquela piscina já são antigas”, atirou Zheng Anting, sugerindo o reordenamento da zona circundante à futura biblioteca central. O legislador salientou que a estrutura da piscina está desactualizada, mas reconheceu a necessidade de manter as instalações desportivas. Por sua vez, Wu Chou Kit quis saber se “o Governo chegou a solicitar às equipas para procederem à nova concepção da piscina”, tendo em conta a ligação que os projectos sugerem entre esta e a biblioteca. A secretária comentou que se pretende manter a piscina e que o Instituto do Desporto (ID) também defende que o local actual é o mais adequado. “Agora a piscina já está velha, antiga, mas através de reparações e da manutenção podemos resolver alguns problemas. (…) A opinião do ID também é nesse sentido”, disse Elsie Ao Ieong. O deputado Au Kam San declarou-se “muito desapontado” com esta opção, lamentando ainda que a psicina funcione apenas oito meses por ano. Em resposta, Elsie Ao Ieong revelou que o objetivo é passe a funcionar “durante as quatro estações”. Novas contas Afinal, a desistência do plano de ter a biblioteca central no antigo tribunal vai permitir poupar 1100 milhões de patacas, em vez dos dois mil milhões referidos pelo Instituto Cultural na semana passada. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura disse que o valor de poupança avançado anteriormente excluía os custos para a academia de arte e centro de jovens. Calculados os custos dos três edifícios, mais os custos de design já dispendidos, a mudança vai permitir poupar 1100 milhões. A ideia preliminar é que a construção das instalações da academia e do centro de jovens aconteça na zona A.
Wong Sio Chak | Liberdade de expressão respeitada, mas secundária face à ordem pública João Luz - 16 Set 2020 [dropcap]E[/dropcap]ntrou ontem em vigor a lei da protecção civil, diploma que deu muito que falar durante o processo legislativo devido à criminalização de rumores e disseminação de informação falsa. O gabinete do secretário para a Segurança emitiu ontem um comunicado a garantir que a aplicação do diploma não afecta “o máximo respeito pela liberdade de expressão das pessoas, embora num contexto de não preterição de salvaguarda da segurança e ordem públicas, bem como da tranquilidade da sociedade”. Trocado por miúdos, se for entendido que a liberdade de expressão coloca em perigo a segurança e ordem pública o direito fundamental pode passar para segundo plano, “enquanto se mantiver o estado de prevenção imediata, socorro ou calamidade”. O comunicado argumenta que as autoridades melhoraram sistematicamente o diploma, com o objectivo de melhor reflectir a opinião do público. Recorde-se que durante o processo legislativo, a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau e a Associação dos Jornalistas de Macau opuseram-se à criminalização de rumores e notícias falsas e a Associação Novo Macau recolheu 1500 assinaturas numa petição que exigia a retirada do artigo em questão. A petição foi entregue à comissão da Assembleia Legislativa que analisou o diploma na especialidade, que a arquivou. A comissão do órgão legislativo, à altura presidido por Ho Iat Seng, sublinhou que a “lei pretende criminalizar apenas a publicação de notícias com um conteúdo falso, de modo propositado enquanto vigorar o estado de prevenção. Não se pretende punir o erro na apuração da notícia”. Dar uma mãozinha Outro dos destaques da mensagem de Wong Sio Chak foi o estatuto do “voluntário interveniente na protecção civil”. Reafirmando a ideia de que o Hato foi um momento de aprendizagem, a lei que entrou ontem em vigor pretende captar e organizar a força social que se mobilizou para ajudar na limpeza da cidade depois da passagem do tufão. Assim sendo, os voluntários serão acreditados e registados pelos Serviços de Polícia Unitários (SPU), e equiparados a “auxiliares externos do sistema de protecção civil”, sob coordenação das autoridades. Wong Sio Chak revelou ainda que as autoridades estão a planear a forma como vão gerir o voluntariado e preparar a sua actuação. Os voluntários vão ter seguro obrigatório e serão dotados de “protecção penal quando intervêm em trabalhos específicos”.
Aterros | Desenvolvimento da Zona D ainda em cima da mesa João Santos Filipe - 16 Set 2020 Ho Iat Seng afirmou ontem que a troca da Zona D dos Novos Aterros por um aterro a ligar a Península à Zona A não é um dado adquirido. A troca tem como objectivo criar zonas verdes para os 90 mil habitantes do novo mega aterro [dropcap]N[/dropcap]a apresentação da consulta pública sobre o Plano Director foi revelado que o Governo tinha a intenção de fazer um novo aterro que ligasse a Península à Zona A. Como moeda de troca, o Executivo disponibilizou-se a abdicar da Zona D dos aterros. No entanto, ontem, o Chefe do Executivo negou que haja uma decisão final tomada. A questão prende-se não só com a necessidade de obter autorização por parte do Governo Central para a construção de aterros, mas também porque a questão da troca ainda está a ser avaliada no seio do Governo. “Ainda não eliminámos completamente a Zona D. Temos de estudar se é conveniente desenvolver a Zona D ao lado da C. Na Zona C já conseguimos ver a terra a surgir e temos de equacionar o que vamos fazer a seguir […] Se começarmos a Zona D depois não podemos voltar atrás, não podemos ir buscar a areia ao mar. Temos de ponderar bem”, afirmou Ho Iat Seng. “Em relação aos aterros, temos de agir de acordo com a supervisão do Governo Central. Eu não posso decidir que vou fazer um aterro sozinho. É preciso pedir autorização ao Governo Central”, acrescentou. Por outro lado, o Chefe do Executivo explicou a preferência pelo aterro junto à Zona A. “Queremos aterrar nessa área porque na Zona A vamos ter cerca de 32 mil famílias a viver e temos de ponderar os equipamentos e instalações de lazer complementares”, indicou. “Se olharmos para a Zona A não temos qualquer área verde. Só temos arruamentos numa área onde vão viver 32 mil famílias. Será que isso é conveniente a longo prazo para o desenvolvimento sustentável de Macau? Vamos pensar, mas não é nada concretizado, não é uma decisão final, é uma ideia”, completou. Caso a Zona D não avance, Ho Iat Seng garantiu ainda que pelo menos nos próximos 20 anos não haverá falta de terrenos para a construção de habitação pública. Abertura gradual O Chefe do Executivo falou aos jornalistas à margem da Cerimónia do Início das Obras do Novo Edifício Complexo de Biblioteca e de Expediente na Sede do Instituto Politécnico de Macau. Na mesma ocasião foi Ho Iat Seng foi ainda questionado ainda sobre a proibição dos estrangeiros entrarem na RAEM, o que tem contribuído para separar famílias de alguns residentes locais. A resposta à questão foi dada pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultural, Elsie Ao Ieong U, que prometeu uma abertura das fronteiras de forma “gradual”. “Estamos a seguir um plano para garantir que a situação epidémica é controlada […] percebemos que há famílias separadas, mas vamos tomar medidas [de levantamento das restrições de entrada] passo a passo”, apontou. Já sobre uma eventual recuperação da indústria do jogo, Ho Iat Seng mostrou-se cauteloso e, apesar de reconhecer que os números estão melhores do que no mês passado, disse que é necessário esperar pela Semana Dourada, no início de Outubro, para fazer um balanço.
UM | Processo de contratação de director de faculdade levanta dúvidas João Santos Filipe - 16 Set 2020 O director interino na Faculdade de Letras e Humanidades da Universidade de Macau foi escolhido para liderar a entidade responsável pela selecção do seu substituto. Porém, Xu Jie demitiu-se da presidência da Comissão de Recrutamento e concorreu ao cargo com um salário bruto anual superior a 1,3 milhão de patacas. A instituição mantém-se em silêncio desde quinta-feira [dropcap]A[/dropcap]pós ter liderado a Comissão de Recrutamento do futuro director da Faculdade de Letras e Humanidades (FLH) da Universidade de Macau (UM), Xu Jie abandonou o cargo e candidatou-se ao concurso para ocupar a posição. O caso foi relatado ao HM por pessoas conhecedoras de todo o processo, que pediram anonimato. Em Junho do ano passado, ficou-se a saber que a então directora da FLH, Hong Gang Jin, ia deixar o cargo. Na sequência da decisão, passados dois meses, a UM lançou um concurso para escolher um sucessor. Como a faculdade não podia ficar sem “líder” durante o concurso, Xu Jie foi promovido para director da FLH de forma interina, cargo que ainda hoje ocupa uma vez que o desfecho do processo internacional de contratação ainda não é conhecido. Além disso, Xu Jie foi escolhido para presidir à Comissão de Recrutamento do novo director da FLH, cuja nomeação, segundo o regulamento da Estrutura Organizacional da UM, terá partido da Comissão Permanente da UM. Esta comissão tem vários poderes, como interpretar regulamentos internos, e faz parte do Conselho da Universidade, órgão da hierarquia que está acima do reitor, responsável pela nomeação do mesmo, e que por sua vez responde ao Chefe do Executivo. Ao longo de mais de um ano, e apesar de uma fonte conhecedora do processo ter garantido ao HM que desde Agosto do ano passado foram entregues várias candidaturas, o concurso ainda não teve desfecho. Também o anúncio para a contratação do futuro director, a quem é prometido um salário anual superior a 1,3 milhões de patacas, ainda se encontra disponível no portal da instituição. Face ao facto de nenhum nome ter sido escolhido para director da faculdade, e com mais de um ano passado desde o início do concurso, Xu Jie renunciou ao cargo de presidente da comissão e apresentou a candidatura para director. “Conflito de interesses” A movimentação Xu Jie foi relatada ao HM por pessoas conhecedoras do processo que referiram ter caído mal em alguns sectores da UM. Segundo uma fonte, que pediu para permanecer anónima, a situação é desprestigiante: “Estamos a falar de um homem que foi responsável pela escolha dos professores que fazem parte da Comissão de Recrutamento. Depois, demite-se e candidata-se à posição. Mas algum dos membros que foi escolhido por ele vai ter coragem de recusar a candidatura?”, questionou. “Há aqui um claro conflito de interesses que em nada dignifica o nome da instituição e o meio académico. Estas coisas não se fazem assim”, foi acrescentado. Nenhuma das fontes ouvidas colocou em causa a competência de Xu Jie, considerando que o que levanta dúvidas é o procedimento de escolha. “Não vou falar das competências para o cargo, porque não é isso que está em causa. Estamos a falar de uma pessoa que escolheu o júri, recusou os outros candidatos e que se demite para ficar com a posição… Isto não é correcto”, atirou a mesma fonte anteriormente citada. A entrevista de candidatura de Xu Jie estava agendada para a última sexta-feira, dia 11 de Setembro, às 14h15 no edifício administrativo. O local tem o nome de código “N6-G010”, que designa o edifício e a sala. O HM não conseguiu confirmar a realização da entrevista, nem se esta foi, entretanto, suspensa para “averiguações”. Os primeiros contactos com a UM sobre o assunto foram feitos na tarde de quinta-feira, antes da “entrevista”, e até à hora de fecho não tinha sido recebida qualquer resposta. Apesar de eventuais reservas sobre o procedimento, os documentos legais sobre o funcionamento da UM, disponíveis no portal da universidade, não preveem o caso em que o presidente de uma comissão de recrutamento se demite para concorrer à posição em aberto, nem são mencionados conflitos de interesses. O “Estatuto do Pessoal da Universidade de Macau” define de forma geral que os recrutamentos têm de responder aos princípios de “igualdade de condições e de oportunidades para todos os candidatos” e de “aplicação de métodos e critérios objectivos de selecção”. No entanto, a definição do procedimento e os métodos de selecção de júris são remetidos para regulamentos internos. Sobre regulamentos internos, o portal da UM apresenta o “Regulamento Relativo à Estrutura Orgânica da Universidade de Macau”. Mas, neste documento apenas se define que os vice-reitores e os directores da faculdade são escolhidos pela Comissão de Recrutamento, que por sua vez é nomeada pela Comissão Permanente da UM. Não há mais nenhuma informação sobre os procedimentos internos. Também no portal do Conselho da Universidade, que apenas tem versões em inglês e chinês, os regulamentos internos disponíveis não divulgam os procedimentos de contratação. Muro de silêncio Após ter recebido a informação sobre o andamento do processo de contratação do novo director, o HM tentou contactar a Universidade de Macau e pedir esclarecimentos sobre o processo, assim como posição sobre um possível conflito de interesses da candidatura de Xu Jie. Entre quinta-feira e ontem à noite foram enviados cinco emails, um dos quais para o email geral do departamento de comunicação, e feitos mais de 20 telefonemas para a instituição. Entre as assessoras contactadas, apenas a secretária de Katrina Cheong, directora do Gabinete de Comunicações, atendeu o telefone. Ao HM foi sempre dito que Cheong se encontrava em reuniões ou indisponível. Os três recados deixados com número de contacto nunca foram devolvidos, nem quando foi pedido para que “apenas” se confirmasse a recepção do email. O HM tentou entrar igualmente em contacto com o director interino da FLH através correio electrónico com dois emails, o último enviado ontem por volta do meio-dia. Estes contactos não produziram qualquer resposta, assim como os vários telefonemas para o número de Xu Jie apresentado no portal, que ficaram por atender. Por volta das 13h de ontem, o HM abordou igualmente na rua o presidente do Conselho da Universidade, Peter Lam, que remeteu explicações para a directora do Gabinete de Comunicações. O HM sublinhou a Peter Lam, que também é presidente da Comissão Permanente da UM, a importância dos esclarecimentos sobre o caso, mas até ao final do dia continuou sem receber resposta. No sentimento de obter esclarecimentos foi também contactada a secretaria dos Assuntos Sociais e Cultura. Os primeiros contactos foram feitos na quinta-feira da semana passada e ao HM foi dito que as respostas tinham de ser dadas pela Universidade de Macau. No âmbito deste processo, o HM contactou o Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) para saber se tinha havido alguma denúncia, mas até ao final do dia de ontem não recebeu qualquer resposta. Linguista de topo Procedimentos à parte, Xu Jie, actual director interino na Faculdade de Letras e Humanidades da Universidade de Macau, tem um currículo composto e ocupa igualmente várias posições no Instituto Confúcio na Universidade de Macau, entre as quais a de director interino. Ao mesmo tempo, o académico é ainda apresentado no portal da universidade como Chefe de Departamento de Chinês. A nível da formação académica, Xu Jie é doutorado em linguística pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Em termos de mestrados, completou dois, um na Universidade do Havai, em Linguística Comparada dos Leste Asiático e outro na Universidade Central da China, em Wuhan, em linguística chinesa. Já a licenciatura foi concluída em 1981 na Universidade de Henang, em Língua e Literatura Chinesa. Em termos do ensino, no portal da universidade é declarado que Xu Jie lecciona principalmente aulas de Linguística Chinesa e Estudos de Gramática Chinesa. Formar funcionários A Universidade de Macau inaugurou na segunda-feira o Centro de Formação para a Administração e Função Pública, numa cerimónia que contou com a presença do Chefe do Executivo. O dia coincidiu igualmente com o arranque do primeiro curso para trabalhadores da função pública, que na primeira edição vai dar formação a 30 funcionários ao longo de três meses. Por esse motivo, no discurso Ho Iat Seng apelou os escolhidos para aproveitarem a oportunidade, “cultivarem uma perspectiva holística do funcionamento de Macau” e “apoiarem a reforma da administração pública do Governo” através da “apresentação de opiniões construtivas”. Ainda de acordo com a informação divulgada pela UM, em conjunto com a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, a segunda edição do curso de formação arranca no primeiro semestre do próximo ano.
Carta a um refém Amélia Vieira - 15 Set 2020 [dropcap]N[/dropcap]o ano de todas as clausuras é normal que nos recordemos de certas leituras que o tempo foi deixando para trás e que são quase sempre aqueles pequenos grandes livros que não raro ocupam a obra invencível de um autor. Dividido em momentos, confidencialmente narrativo, esta Carta para todos, tem um remetente único, Saint- Exupéry. Nós que passamos a vida a receber missivas, lixo de todo o lado, imagens, exasperações, teorias, sentimos uma pena profunda de não podermos nunca mais receber cartas, e mais pena nos invade quando sabemos que nunca iremos receber uma como esta. E estas coisas quase esquecidas que emergem servem sobretudo para nos advertirem do essencial e mudar o conceito do que é o não imprescindível. Tal como os comportamentos perante o limite das coisas e o cada um representa diante dos perigos comuns. 1940 e Exupéry chega a Lisboa em trânsito para os Estados Unidos, fica um tempo, tempo para ainda ver a Exposição do Mundo Português. Não tem lugar na cidade e vai hospedar-se no Estoril, e vamos em busca do que sentiu e presenciou: “… Lisboa surgiu-me como uma espécie de paraíso claro e triste…” Sim, Lisboa no seu discurso era a imagem da negação de tudo o que se passava na Europa onde achava as cidades bombardeadas e a noite sem luz de uma beleza mais real que esta, e de acordo com a maré negra do instante político onde não faltava a coragem dos que davam as mãos e lutavam nas trevas das cidades desfeitas, Lisboa, pareceu-lhe assim um artifício, um postal que branqueava de uma alegria vazia este momento em que todos tinham de tomar posições, parecia-lhe uma forma alienada de perfeccionista (a descrição da Exposição: não temos nada, haja o passado, e enganar e entreter o instante) e remeti-a então para aquelas famílias excêntricas que guardam à mesa o lugar do morto em casas sem remissão onde as dores são mais prolongadas que o desgosto. Os refugiados, esses, eram aqui os que se expatriavam virando costas aos seus e pondo em segurança aparente os bens de que usufruíam, mudos à sorte das coisas e mudanças do momento. É com profunda lucidez que tece um discurso curto e que vai dar aos longos caminhos de um grave adormecimento colectivo. A Europa sofria, o Estoril para onde se dirigia para dormir, estava cheio de “cadillacs” vestidos para o jantar, jogos, numa tentativa de fazer parar o tempo ou mesmo não o estar a sentir, e creio que aqui nos dá a tónica do seu discurso formidável daquilo que pode realmente ser uma estranha desgraça no contexto destas circunstâncias; enjoado provavelmente desta bizarra atitude, passeava-se à beira mar onde por desprazer já tomado achava também as ondas moles. Este aprendizado pelo olhar de um homem absolutamente poético e sem cargas de viciação, devia ter-nos merecido alguma sincera atenção de grupo, mas creio que não foi nem lida, mencionada, muito menos proposta. Estamos à distância de quase um século, é certo, mas, a visão de um bem-estar forçado não é compatível com a infelicidade que hoje se lhe vê, nem se lhe reserva um escudo protector que mitigue um continente inteiro que pesa outra vez sobre o país: «achava Lisboa, sob o seu sorriso, mais triste que as minhas cidades apagadas». Depois deste preambular pelo país, Exupéry parte para o Sahara, ele que era um homem do deserto pois que o amava, e este seu amor pelas areias reporta-o ele para domínios essenciais que estão paradoxalmente, e aí sim, cheios de vida, e porque tem as estrelas e as tribos calmas pelas noites, vai convocar amorosamente o amigo numa comunhão telepática. – Tem cinquenta anos. Está doente. E é judeu.- Tudo isto ao invés de nos entristecer enche-nos de uma súbita alegria, uma comunhão tamanha…« só então, deambulando ao longo do império da sua amizade… Pois o deserto não está onde cremos. O Sahara tem mais vida que uma capital e a cidade mais efervescente esvazia-se, se os pólos essenciais da vida forem desmagnetizados». Percorre talvez o limite da sua resistência sempre de olhos postos naqueles que lhe são queridos, percorre as estradas dos Magos, e a rede de apoio que disponibiliza é a sua vida atenta e as missões aéreas que desempenha, descreve-nos episódios da guerra civil de Espanha e a emboscada anarquista numa deliciosa visão daquilo que constitui o equívoco das inimizades dos homens, e no seu cárcere, vê então que o milagre e a salvação são afinal gestos tão simples como pedir um cigarro, e em todas as paragens que a sua valentia não menos grandiosa que a sua ternura se apresentaram, manteve-se de pé como um ilustre soldado. Ninguém aqui deve estar por isso confinado a si mesmo ou a laboral maquinalmente para uma vida extemporânea, e nos momentos excepcionais teremos ainda de responder à altura dos acontecimentos e não ter medo do que possa advir de imprevisto. Não consentir que nos “queiram bem” subtraindo a vida a um estar. Creio que neste caso é evidente que devemos ser comprometidos e que nada é mais desolador que manter modelos alienados no tempo em que soam as Trombetas. Aprendemos assim que o Fado é bonito, sim, mas amaldiçoado. E foi preciso o improvável para sabê-lo explicá-lo tão bem. «Não há termo de comparação entre o combate livre e o esmagamento na noite. Não há termo de comparação entre o ofício de soldado e o ofício de refém».