Poluição | Acordo global sobre plásticos falhou

Mais de 170 países procuraram, durante cerca de uma semana, na Coreia do Sul, chegar a um acordo para a redução do plástico no planeta. As negociações acabaram por fracassar completamente e desconhece-se, para já, se haverá lugar a uma nova tentativa em 2025

 

As negociações para um tratado global contra a poluição de plásticos fracassaram domingo ao fim de uma semana de discussão em Busan, na Coreia do Sul, perante a oposição de um grupo de países produtores de petróleo.

“Várias questões críticas ainda nos impedem de chegar a um acordo geral. Estas questões não resolvidas continuam espinhosas e será necessário mais tempo para resolvê-las de forma eficaz”, declarou o embaixador equatoriano Luis Vayas Valdivieso, que preside os debates.

Durante uma semana, representantes de mais de 170 países tentaram encontrar uma solução para reduzir a poluição de plásticos que invade os oceanos, os solos e se infiltra no corpo humano.

Se nada for feito, a poluição por plástico poderá triplicar em todo o mundo até 2060, depois de a produção global ter triplicado para 1,2 mil milhões de toneladas, em comparação com as 460 milhões de toneladas em 2019, segundo um cálculo da OCDE.

Ao abrir a última sessão plenária das negociações, o diplomata apontou três pontos de bloqueio e de divergência: um princípio de redução da produção global de plástico, o estabelecimento de uma lista de produtos ou moléculas consideradas perigosas para a saúde e o financiamento da ajuda aos países em desenvolvimento.

Após dois anos de conversações, os delegados representados na quinta e supostamente última reunião do Comité Intergovernamental de Negociação para um Tratado Contra a Poluição Plástica (INC-5) tinham até domingo para chegar a um acordo.

Mas, desde que os debates começaram em 25 de Novembro, as discussões transformaram-se num diálogo inconsequente entre uma maioria de países que querem um acordo ambicioso e um grupo de Estados produtores de petróleo liderados pela Rússia, Arábia Saudita e Irão.

Um diplomata europeu que participou nas negociações descreveu à agência AFP intermináveis reuniões dentro dos vários grupos de contacto, que se prolongaram até às primeiras horas da manhã sem o mínimo progresso.

“Vimos até 60 intervenções de cinco minutos cada para alterar uma simples frase”, lamentou o diplomata, para quem é preferível “sair sem acordo do que com um mau acordo”.

Sem solução

A frustração cresceu, ao longo da semana, no seio da “Coligação de Altas Ambições”, que reúne países a favor de um tratado forte que aborde todo o “ciclo de vida” do plástico, desde a produção de polímeros à base de produtos petrolíferos até à recolha, triagem e reciclagem.

Esta coligação opôs-se aos países produtores de petróleo, que defendem que o futuro acordo deve apenas dizer respeito à gestão de resíduos e à reciclagem de resíduos plásticos. “O problema é a poluição, não o plástico em si”, justificou o delegado saudita, Abdulrahmane Al Gwaiz, durante a última conferência plenária.

Este atraso está a ter “consequências desastrosas para as pessoas e para o planeta, sacrificando implacavelmente aqueles que estão na linha da frente desta crise”, alertou o delegado da organização ambientalista Greenpeace, Graham Forbes. A data e o local da próxima ronda de negociações, em 2025, ainda não foram anunciados.

3 Dez 2024

Estudo conclui que nanoplásticos afectam células da pele de seres humanos e de peixes

A exposição a nanoplásticos afecta as células da pele de seres humanos e de peixes, concluiu um estudo realizado por investigadores do Centro de Ciência do Mar (CCMAR) e da Universidade do Algarve (UAlg), hoje divulgado.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores “desenvolveram uma abordagem inovadora ‘in vitro’” para estudar os efeitos da absorção das minúsculas partículas de plástico nas principais células que compõem a derme, designadas por fibroblastos, explicou a academia em comunicado.

O estudo, publicado na revista Science of the Total Environment, pretendeu compreender “como é que os nanoplásticos interagem com a pele”, um dos primeiros pontos de contacto com as partículas que estão em crescente presença no ambiente.

De acordo com o investigador do CCMAR e da UAlg, Maoxiao Peng, citado na nota, “esta nova abordagem permite a utilização de linhas celulares da pele em ambiente laboratorial para recolher informação consistente e robusta sobre os efeitos dos nanoplásticos”.

Esta utilização, refere o investigador, torna-a “mais ética e mais rápida porque evita a utilização de animais para o mesmo efeito”.

A nova abordagem revelou que os nanoplásticos desencadeiam diferentes respostas fisiológicas nos vários tipos de células de fibroblastos, “acumulando-se de forma consistente em redor do núcleo e das membranas das células”.

Segundo a investigadora Rute Félix, também citada na nota, foi constatado que os efeitos negativos nas células da pele variam conforme as características dos nanoplásticos, tais como o seu tamanho e a concentração. “Estes resultados sugerem que os nanoplásticos podem comprometer a saúde da pele”, alerta.

Por seu turno, a investigadora Deborah Power realça que “este estudo abre caminho para uma melhor avaliação dos riscos e efeitos dos nanoplásticos a nível biológico e ecossistémico”.

Face às conclusões do estudo, Deborah Power alerta para a “necessidade urgente” de se reduzir a presença de plásticos no ambiente, “dado o seu potencial para afetar a saúde humana e o biossistema em geral”.

Os investigadores concluem que o estudo no contexto do Plastifish, um projecto com Macau e a China apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, representa “um importante avanço na compreensão dos impactos dos nanoplásticos na saúde da pele”.

15 Mai 2024

Plástico importado | Ambientalistas e académicos aplaudem proibição

A partir de 1 de Janeiro de 2024 será proibido importar plástico não biodegradável usado em produtos como bandejas de esferovite, copos ou pratos. A medida agrada a ambientalistas e académicos, mas o activista Joe Chan alerta para os problemas relacionados com o plástico biodegradável, que não pode ser reciclado

 

O Governo proibiu, a partir de Janeiro do próximo ano, a importação de plástico não biodegradável, usado em produtos como copos ou talheres descartáveis, ou em bandejas de esferovite utilizadas nos supermercados para embalar vegetais e fruta.

A medida, anunciada esta semana e publicada em Boletim Oficial (BO), vinha sendo prometida pelo Executivo há algum tempo, com o responsável máximo da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Raymond Tam, a afirmar, em Janeiro deste ano, que a proposta ia mesmo avançar.

De frisar que a importação de alguns produtos feitos com plástico descartável tem sido progressivamente proibida. Desde 1 de Janeiro de 2022 é proibido importar palhinhas e agitadores de bebidas em plástico, enquanto desde 1 de Janeiro de 2021 é proibido importar caixas de refeição, taças e copos descartáveis de esferovite.

David Gonçalves, biólogo e director do Instituto de Ciências e Ambiente da Universidade de São José (USJ), considera que a medida é “um bom primeiro passo, alinhado com medidas que têm vindo a ser tomadas um pouco por todo o mundo”.

Acima de tudo, o académico entende que, ao proibir o plástico não biodegradável, o Executivo assume que existe um problema a resolver. “Mais vale tarde do que nunca”, disse, quando questionado se esta é uma medida que peca por tardia. “Saliento o reconhecimento do Governo de que este é um problema sério que precisa de uma abordagem a vários níveis. Creio que a solução terá de ser sempre multivariada, incluindo uma aposta na redução do consumo de plástico, uma economia circular, a substituição por alternativas ambientalmente mais adequadas, nomeadamente bioplásticos, a melhoria do sistema de reciclagem e o tratamento dos resíduos finais.”

David Gonçalves entende ser ainda necessário “alocar mais recursos para projectos inovadores de investigação que possam trazer novas soluções para o problema”.

Gilberto Camacho, conselheiro das comunidades portuguesas e fundador da plataforma Macau ECOnscious nas redes sociais, dinamizadora de um debate sobre as questões ambientais em Macau, defendeu que o Governo tomou uma boa decisão ao proibir materiais descartáveis. “Sabemos que os mesmos ficam eternamente no meio ambiente. Parte deste plástico que se perde vai parar ao mar, por exemplo. Há tanto lixo no mar que se têm formado ‘ilhas’ flutuantes de plástico nos oceanos, algumas delas maiores do que a área territorial de França.”

No entanto, Gilberto Camacho chama a atenção para a pegada ecológica inerente à produção do plástico biodegradável. “Como é obtido esse material? Qual é a sua pegada ecológica? É muito bonito termos nas mãos um saco cem por cento biodegradável, mas se para o produzir a fábrica recorreu a electricidade produzida numa central eléctrica movida a carvão, o transporte do saco até Macau foi feito através de um veículo movido a gasolina, mais vale usarmos sacos de plástico que sejam reutilizados o maior número de vezes possível.”

Carta consciente

Em 2018, o excessivo uso de plástico em Macau, nomeadamente nos supermercados, levou Annie Lao a lançar uma petição e a reunir com a DSPA. Foi mesmo criado um grupo no Facebook intitulado “Sem plástico, por favor”, que espoletou a campanha com o mote “Compro fruta, não compro plástico”. Cada participante foi convidado a publicar nas redes sociais uma fotografia junto a estantes de supermercados, ou outras situações em que o plástico fosse usado excessivamente, acompanhado do slogan da campanha e o logotipo criado para esse propósito.

Desta vez a activista ambiental mostrou-se satisfeita com a medida do Executivo. “É bom vermos progressos e [a política] é melhor do que nada. O mais importante é que devemos sempre optar por materiais reutilizáveis ao invés de descartáveis e biodegradáveis. Não é necessário mudar o plástico descartável para opções biodegradáveis para se ser amigo do ambiente.”

Annie Lao considera que o passo adicional tomado pelo Governo em matéria ambiental “é um bom ponto de partida para as pessoas repensarem a melhor forma para reduzir os seus resíduos, quer do público, quer dos sectores e das empresas”, adiantou, pedindo medidas adicionais relacionadas com o pagamento de impostos. “Em última análise, o Governo deveria tributar as empresas e aqueles que geram resíduos que não podem ser reciclados, para que as pessoas comecem a reduzir os resíduos e evitem a produção desnecessária.”

Biodegradável ainda preocupa

Joe Chan, educador ambiental e activista entende que o plástico biodegradável acarreta ainda algumas “preocupações”, embora concorde que “a proibição do plástico de utilização única é o início da redução da poluição por plásticos”.

Para o presidente da Macau Green Student Union e vice-presidente da Green Future, entidades criadas em 2008 e 2012, respectivamente, o que está em causa é o facto de “o padrão do chamado material biodegradável não estar ainda normalizado”. “A maioria desses materiais é feita do polímero PLA (poliácido láctico) vendido na China, que só se degrada em determinadas condições, acima de 60 graus centígrados e dos 60 por cento de humidade, além de poder exigir um tipo especial de bactérias para o digerir.” Assim, tal significa que “o material biodegradável não é realmente degradado naturalmente”, o que leva a questionar como se pode definir o que é ou não biodegradável.

“O plástico biodegradável não é reciclável. Se os chamados plásticos biodegradáveis que chegam a Macau não têm condições para se degradarem, então também não podem ser reciclados. Como vai o Governo lidar com todos estes tipos de plástico?”, questionou.

Nos últimos anos, várias investigações científicas revelaram ser possível decompor o plástico biodegradável usando micróbios que convertem o material em biomassa, água e dióxido de carbono. No entanto, apenas uma parte desses plásticos é passível de ser decomposta domesticamente, implicando, na maior parte dos casos, a um processo de decomposição feito industrialmente.

Desta forma, Joe Chan recomenda que o Governo “encoraje as pessoas a utilizarem materiais à base de plantas para substituir o plástico em vez do PLA”. “O PLA é bom desde que tenhamos as instalações adequadas para digerir os resíduos. Caso contrário, a proibição do plástico de utilização única no próximo ano irá levantar problemas ao aumentar o peso da incineração”, frisou.

O PLA é fabricado a partir de recursos renováveis como é o caso do amido de milho, bagaço de cana-de-açúcar, entre outros produtos, prometendo não deixar resíduos no final do ciclo de uso e decomposição. O plástico PLA é tido como um produto versátil com algumas vantagens, sendo que os produtos feitos com este material não apresentam sinais de humidade, odores ou sabores.

Ao jornal Ou Mun, Wong Chi Choi, membro do Conselho Consultivo do Ambiente, disse concordar com a nova medida que “demonstra a determinação do Governo na redução do uso do plástico”. O responsável espera que as autoridades “continuem a promover a educação sobre a redução do uso e a reciclagem dos plásticos”, a fim de se eliminar gradualmente o uso de produtos feitos com este material e aumentar a consciencialização da população para comportamentos mais sustentáveis.

Wong Chi Choi disse que é necessário continuar a apostar em alternativas ecológicas ao uso de plástico, a fim de atingir o objectivo do uso de resíduos a partir da fonte. Desta forma, as autoridades “devem apresentar mais estratégias e calendarização clara para a redução do uso do plástico, a fim de transmitir aos residentes a ideia clara da direcção do trabalho das autoridades”, rematou.

11 Set 2023

Ambiente | Importação de pratos e copos de plástico proibida

A partir do próximo ano a importação para o território de “pratos descartáveis, de plástico” e “copos descartáveis, de plástico” está proibida. A informação consta de um despacho assinado pelo Chefe do Executivo e publicado ontem no Boletim Oficial.

“O Governo da RAEM promove, progressivamente, medidas de restrição ao uso de plástico, para garantir a qualidade do ambiente em Macau”, apontou o Executivo, em comunicado. De acordo com a mesma mensagem, foi indicado que a proibição foi implementada depois de ter sido “feita uma análise extensiva à situação real em Macau” e de ter sido estudada a “situação das regiões” mais próximas.

Também a importação de “bandejas descartáveis de esferovite para produtos alimentares” passa a estar proibida, de acordo com o despacho de ontem.

Esta não é a primeira importação de produtos de plástico descartáveis a ser proibida. Desde 2022 que o Governo proíbe a importação de palhinhas descartáveis de plástico não-biodegradável e de misturadores de plástico, ou seja, os “pauzinhos” utilizado para mexer as bebidas.

No início deste ano, a proibição de importação passou a abranger talheres descartáveis. Nos dois casos, as proibições foram anunciadas no Verão anterior a entrarem em vigor.

Como parte do acompanhamento da medida, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) prometeu fazer uma sessão de apresentação das alterações, para explicar o impacto dos novos regulamentos às associações comerciais. Estas sessões, apontou o Governo, vão “garantir a implementação sem problemas das medidas de controlo” do plástico.

5 Set 2023

Plástico | Proibida importação de facas, garfos e colheres

A partir do próximo ano estão proibidas as importações de facas, garfos e colheres não-biodegradáveis e descartáveis de plástico. O anúncio foi feito ontem pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), através de um comunicado.

Na justificação da medida, o Governo assegurou que tem como “finalidade de garantir a qualidade do ambiente em Macau”, o que vai fazer com que “progressivamente” tome mais “medidas de restrição ao uso de plástico”, o que deixa antever mais restrições no futuro.

Esta movimentação surge um ano depois da interdição da importação de outros utensílios de mesa feitos de plástico, como palhinhas e agitadores de bebidas não-biodegradáveis e descartáveis.

Antes de ser imposta a proibição, a DSPA garante que foi “feita uma análise extensiva à situação real” e que foram “tomadas como referência as experiências de outras regiões”. Além disso, foram também ouvidas “associações comerciais e sectores relevantes”.

A medida entra em vigor a 1 de Janeiro do próximo ano, e a DSPA promete fazer “uma sessão de apresentação” para explicar as implicações, “de modo a garantir a implementação efectiva das medidas de controlo”.

6 Set 2022

Proibida importação de palhinhas e misturadores descartáveis

O Governo anunciou ontem a proibição da importação de palhinhas descartáveis de plástico não-biodegradável e de misturadores de plástico, ou seja, os “pauzinhos” utilizado para mexer as bebidas. Segundo o despacho do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, a medida entra em vigor a partir do próximo ano.
A opção política foi bem recebida entre os ambientalistas locais, como é o caso de Joe Chan, presidente da Macau Green Student Union.

Segundo Chan, apesar de Macau ser um território atrasado ao nível das políticas do ambiente, em comparação com o União Europeia, o passo é bem-vindo e abre boas perspectivas: “O significado é mais importante do que a medida em si, se tivermos em conta os resultados na redução em termos de produção de massa poluente”, afirmou Joe Chan. “Mas, concordamos com a medida, apoiamos e esperamos que haja outras políticas semelhantes mais eficazes, com maior impacto na redução da utilização de plásticos descartáveis”, acrescentou.

Para o representante da associação ambientalista, a proibição de garrafas, copos e caixas das garrafas takeaway seria mais importante porque teria uma redução da poluição muito maior. “O Governo tem mostrado determinação em controlar o problema da utilização do plástico descartável. Mas, começou com os passos mais fáceis […] as garrafas, os copos de takeaway, e também as caixas, são o maior desafio no panorama actual”, justificou.

Boa nova

Também Capricorn Leong, responsável pelo grupo Macau for Waste Reduction, elogiou a proibição. “São excelentes notícias para as pessoas eco-conscientes e um grande passo para os regulamentos de Macau”, considerou, ao HM.

Apesar dos elogios, o grupo não deixa de se mostrar preocupado com as alternativas, que passam por materiais compósitos. Este tipo de equipamentos mistura materiais com naturezas diferentes, o que faz com que o processo de reciclagem seja mais complicado.

“Como resposta à medida, o mercado talvez opte por substituir o plástico com papel ou poliácido láctido (PLA), que são os materiais compósitos. No entanto, em Macau não existe capacidade para produzir esses materiais, o que faz que em vez de serem reciclados vão acabar na incineradora”, explicou Capricorn Leong.

No entanto, no que diz respeito à redução da utilização de materiais descartáveis a associação acredita que o melhor é apostar em acções de consciencialização da população: “O Governo deve fazer um esforço maior a nível da educação pública e mudar a mentalidade de recorrer a materiais descartáveis. Assim é que se resolve o problema na raiz”, apontou. “Com mais acções, em vez de as pessoas pensarem com que materiais vão substituir o plástico descartável iriam pensar em como mudar os hábitos”, complementou.

31 Ago 2021

Deputada Ella Lei declara “guerra” às garrafas de plástico

A legisladora dos Operários de Macau está preocupada com os resíduos sólidos de plástico e quer saber se além de medidas para palhinhas e pauzinhos para misturar bebidas, se há espaço para “combater” garrafas de plástico

 

Ella Lei perguntou ao Governo se tem planos para combater o fenómeno das garras de plástico não recicladas. A questão faz parte de uma interpelação escrita, divulgada ontem pela legisladora.

De acordo com a explicação de Ella Lei, o plástico representa mais de 20 por cento de todos os resíduos sólidos em Macau, o que faz com que seja o segundo resíduo mais prevalente. Apenas o lixo orgânico, como comida, ultrapassa o plástico em termos quantitativos.

Apesar de reconhecer que o Executivo tem adoptado restrições para reduzir a utilização de sacos de plástico, caixas de esferovite, e que prepara medidas para controlar o uso de palhinhas e os pauzinhos de plástico para mexer bebidas, Ella Lei defende mais pró-actividade. Por isso, diz que é necessário resolver o problema das garrafas de plástico, não só aumentando a capacidade de reciclagem, mas também da diminuição do uso.

Ella Lei está preocupada com a taxa de reciclagem de plástico e diz que se pode fazer mais: “De acordo com as informações de 2019, nesse ano os resíduos sólidos atingiram 555.000 toneladas métricas, entre as quais mais de 129.000 toneladas métricas eram plástico”, aponta. “No entanto, a reciclagem de plástico não foi além das 304 toneladas métricas, o que significa que a taxa de reciclagem de plástico não tenha foi além de 0,3 por cento”, sublinhou.

Contudo, o problema também deve ser “atacado” a partir da produção das garrafas de plástico e da indústria de bebidas. “Os residentes têm de começar a reduzir a utilização de plástico na fonte, para diminuir a quantidade de resíduos sólidos”, indica.

“O Governo também deve adoptar medidas práticas para encorajar e promover essa redução”, considera.
Neste cenário, Ella Lei pergunta ao Executivo o que vai ser feito: “Será que sabem a percentagem de garrafas de plástico que são efectivamente deitadas no lixo? E além das máquinas que permitem devolver garrafas a troco de dinheiro […] há medidas para limitar legalmente a utilização de garrafas de plástico?”, questiona.

A deputada quer ainda saber se no âmbito da redução das garrafas de plástico se vão ser adoptadas metas para limitar a utilização pela indústria que vende garrafas de águas para máquinas domiciliárias e outras. Outra pergunta foca a existência de planos para instalar mais bebedouros públicos e menos máquinas de venda de garrafas de plástico.

8 Jun 2021

Menos 31% de sacos de plásticos encontrados em resíduos, diz DSPA

Em declaração ao jornal All About Macau, o director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Tam Vai Man, apontou que depois da cobrança pelos sacos de plástico ter entrado em vigor, se verifica que a medida surtiu efeito devido à cooperação da sociedade. De acordo com Tam Vai Man, os dados mostram uma redução de 31 por cento dos sacos de plástico, em comparação a relatórios de 2018 sobre resíduos.

Além disso, observou que o maior declínio se deu no sector da venda a retalho, tal como supermercados e lojas de lembranças, em que a redução do uso de sacos de plástico foi entre 60 a 80 por cento.

Por outro lado, Tam Vai Man indicou que este ano os trabalhos sobre eficiência energética e redução de emissões, sobretudo da utilização do gás, vai estar em foco. Está previsto o arranque da obra de canais do gás que liga a Taipa a Macau no primeiro trimestre, devendo o projecto ficar concluído dentro de um ano. O director da DSPA frisou que o organismo está a tentar acabar as alterações ao regulamento técnico das instalações de abastecimento de gás canalizado em edifícios, para no futuro os edifícios novos poderem usar o gás.

Por outro lado, a DSPA lançou novas actividades para a recolha de envelopes vermelhos durante o ano novo chinês, apontando que ao fim de quatro anos se observa um menor volume de envelopes reciclados porque os residentes já os costumam reutilizar.

1 Fev 2021

Ambiente | DSPA não define metas para reduzir uso de plástico

O Governo não se compromete com metas ou medidas restritivas para prevenir o uso de plástico. A resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, à interpelação de Sulu Sou, esbarra no pedido de acção de activistas de defesa do ambiente e na urgência de travar o poluente que está em todo o lado

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo não vai estabelecer metas, nem prazos, para a redução do uso de plástico, é a principal conclusão que se retira da resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSAP) a uma interpelação escrita de Sulu Sou. Posição que esbarra não só no pedido do deputado, mas também na expectativa de activistas ambientais, como Annie Lao da Macau for Waste Reduction.

“Acho que o Governo é muito lento a agir. Para mim, não são sérios em relação ao ambiente, por isso só conseguem dar passinhos pequenos”, reagiu a activista que tem movido uma cruzada contra o plástico de uso único.

A resposta assinada por Raymond Tam refere que está “previsto um novo estudo no 4º trimestre do corrente ano, com vista a comparar a tendência da variação dos sacos de compra abandonados, incluindo os sacos de plástico”. O director da DSAP acrescenta que será feita uma avaliação regular, mas, “por enquanto, não há uma meta de redução”.

Posição que não surpreende Annie Lao, mas que testa a paciência. “Dizem que vão continuar a estudar e estudar. De quantos estudos precisam para perceberem o problema ambiental que existe há tantos anos? O mundo está cheio de plástico, o tempo de fazer estudos acabou, é preciso passar à acção imediata, agir.

Façam algo. Apelo ao Governo para agir com coragem, ambição, para ser ousado”, desabafa a ambientalista.
Ainda no capítulo dos estudos, importa referir que todos os anos, cada pessoa consome, pelo menos, 50 mil partículas de microplásticos e respira a mesma quantidade, indicou um relatório publicado em 2019 na revista científica Environmental Science and Technology. No mês passado, outro estudo científico demonstrou que se pode encontrar plástico em órgãos vitais como pulmões e fígado, mas também nos rins e baço.

Fim da esferovite

A resposta de DSPA refere ainda que “existem diferentes opiniões na sociedade sobre a implementação de medidas restritivas” e que o Governo “deve ponderar a sua operacionalidade” e eficácia.

Entretanto, a entidade liderada por Raymond Tam garante que vai continuar a apostar na sensibilização da sociedade para “promover práticas mais amigas do ambiente”. Uma atitude louvável, na óptica de Annie Lao, que reconhece o papel pedagógico do Executivo. Porém, considera que “sem regulamentação é impossível consciencializar as pessoas.”

Fica o compromisso de restringir, de forma faseada, o uso de utensílios de mesa de plástico descartáveis” e no próximo ano o plano é “proibir a importação de utensílios de mesa de esferovite”. Medida aplaudida pela activista, principalmente porque as embalagens de esferovite não podem ser recicladas em Macau, ao contrário das de plástico. Mas que peca pelo impacto menor, por não ser tão utilizado por restaurantes como o plástico.

Uma outra questão que Annie Lao gostaria de ver respondida é o impacto da pandemia na questão ambiental. “Neste momento, devido à pandemia, as pessoas têm a tendência para pedir mais takeaway. Portanto, presumo que o uso de plástico vai aumentar ainda mais”.

23 Set 2020

Ambiente | DSPA pondera proibir a importação de embalagens de esferovite

Numa reunião com activistas ambientais e a Associação Novo Macau, o Governo disse estar a estudar proibir a importação de caixas de esferovite para refeições em 2021. Annie Lao, da Macau for Waste Reduction, defende que o Governo tem de tomar medidas imediatas

 

[dropcap]A[/dropcap] Direcção de Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) reuniu com activistas ambientais e a Associação Novo Macau (ANM) para discutir a legislação sobre o limite ao uso de plástico, reciclagem e protecção marinha. Questionado sobre a necessidade de aumentar restrições para uso de plástico, o director da DSPA, Raymond Tam, explicou que está a ser estudada a proibição de importação de caixas de esferovite para refeições no próximo ano.

“Como ainda há embalagens de [esferovite] a ser usadas para transportar marisco vivo e fresco vindo da [China Continental], a DSPA vai cooperar com o Instituto para os Assuntos Municipais para promover a reutilização dessas embalagens até haver alternativas viáveis no mercado”, indicou um comunicado da ANM.

À agência Lusa, Annie Lao, da Macau for Waste Reduction, disse que “a resolução da deterioração do ambiente não pode esperar mais e o Governo precisa de tomar medidas imediatas”. “Ainda me sinto desapontada com os trabalhos lentos feitos pelo Governo em termos de limitar a utilização de plásticos de uso único na cidade, tais como os casos dos supermercados”, frisou.

Face às preocupações com a poluição causada pelos supermercados pelo uso de plástico de uso único para embalar fruta e vegetais, a nota da ANM indica que a DSPA respondeu que vai continuar com o plano de reconhecimento “supermercado ecológico” e a investigar com a indústria por um substituto com materiais reutilizáveis. Estiveram também presentes na reunião representantes da Green Student Union e da Macau ECOnscious.

Exportar resíduos

A reciclagem foi outro dos focos. O director da DSPA disse que o papel recolhido em Macau não vai ser afectado por Hong Kong ter proibido a sua importação. De acordo com Raymond Tam, os resíduos de papel actualmente são transportados directamente do Terminal de Ká-Hó para a China Continental. Já os plásticos são enviados para a Tailândia.

De acordo com a ANM, o organismo disse que vai alocar uma parcela de 15.000 metros quadrados do aterro de resíduos de construção, através de concurso público, ao sector da reciclagem. Uma promessa que data de Novembro de 2018.

Por outro lado, Raymond Tam explicou que a principal causa de poluição da água próxima à costa é a conexão incorrecta dos drenos de águas pluviais aos esgotos, reconhecendo que “a qualidade da água do Porto Interior deteriorou significativamente em anos recentes”. Mas apontou que se fizeram projectos de intercepção em zonas como a costa da Areia Preta, para a água passar a ser descarregada numa nova saída ao sul da Zona A.

16 Set 2020

Glockenwise – “Plástico”

Plástico

Fazem um ar zangado
De quem não quer falar
Cruzam os olhos de lado
Com medo de espreitar
Tem cuidado no passo
Graça de artista só
Muitas manias no trato
A mim só me dá dó

E oh!
É tão fácil ver
Que é só plástico
Oh, eu também quero ser
Só de plástico

Vesti a indumentária
Que hoje vou aparecer
A crítica é binária
Quase tudo para esquecer
É festa, não presta, não tem valor
Focado, ao lado, só causa dor

Porque, oh!
É tão fácil ver
Que é só plástico
Oh, eu também quero ser
Só de plástico

E eu sei que é difícil de aceitar
Que eu tenho a minha arte no falhar
E ando à toa
E oh!

É tão fácil ver
Que é só plástico
Oh, eu também quero ser
Só de plástico

Glockenwise

NUNO RODRIGUES, RAFAEL FERREIRA e RUI FIUSA

30 Jul 2020

A poluição plástica

“Around 12.7 million tonnes of plastic are entering the ocean every year, killing over 1 million seabirds and 100,000 marine mammals. By 2050 there could be more plastic in the ocean than fish by weight. Plastic pollution is the environmental scourge of our age.”
How to Give Up Plastic: A Guide to Changing the World, One Plastic Bottle at a Time
Will McCallum

 
[dropcap]O[/dropcap]s nossos belos oceanos estão a ser transformados em uma sopa de plástico, pois cerca de oito milhões de toneladas de plástico entram no mar todos os anos e, a continuar a este ritmo, enfrentamos um futuro com mais plástico nos oceanos do que peixes até 2050. O nosso vício pelo plástico e má gestão de resíduos está a condenar incontável número de espécies de ​​aves e animais marinhos à morte por emaranhamento ou envenenamento e levando à contaminação química dos peixes que comemos.

Os vastos redemoinhos de lixo plástico visíveis na superfície do mar por mais apavorantes que sejam representam apenas a ponta do iceberg.  O que está por baixo são as massas de microesferas e partículas quebradas de plástico que são facilmente ingeridas por criaturas do mar e impossíveis de as remover.  A solução urgente e necessária exige uma combinação de maior conscientização, menor uso de plástico e melhoria massiva da gestão de resíduos. O plástico envolve os nossos alimentos, casas e tecnologia.

O plástico é uma substância notável que contribuiu para os avanços nos cuidados de saúde e ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza, mas os bens de consumo descartáveis ​​acabam, muitas vezes depois de um único uso fugaz em aterros sanitários, conspurcando as paisagens e poluindo os oceanos, sendo que 80 por cento da poluição por plástico marinho é originária de fontes terrestres. O plástico é definitivamente a propaganda de tudo o que está errado com os oceanos, e as palhinhas de plástico são talvez o exemplo mais comovente da cultura descartável que criámos.

Os americanos usam quinhentos milhões de palhinhas de plástico todos os dias, o suficiente para cobrir o mundo duas vezes e nem todas terminam nos aterros, pois enchem os canais, rios, lagos e oceanos. Os cento e noventa e dois países com costa nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, ou Mar Negro e Mediterrâneo, produziram dois mil milhões e quinhentos milhões de toneladas de resíduos e prevê-se que duzentos e setenta e cinco milhões de toneladas foram de plástico e trinta e um milhões e novecentas mil toneladas de resíduos plásticos costeiros.

O consumo global de plásticos deve crescer dramaticamente, chegando a quase quatrocentos milhões de toneladas por ano até 2025. Se a taxa na qual os detritos plásticos entram no Oceano não for controlada, é possível que os oceanos possam conter um quilograma de plástico para cada três quilogramas de peixe até 2025. A gestão inadequada de resíduos é um desafio significativo no mundo em desenvolvimento, particularmente em países com populações em rápido crescimento em áreas costeiras. Os estudos revelam que cinco países (China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname) são responsáveis por cerca de 60 por cento dos resíduos plásticos que entram no oceano. A África e a América do Sul permanecem relativamente desconhecidas em termos da sua contribuição geral para os resíduos plásticos nos oceanos.

As pesquisas recentes indicam que, dada a expansão urbana projectada e o crescimento económico, a África tem o potencial de seguir o mesmo caminho que a Ásia. As pesquisas mostram que a cada minuto um camião de resíduos de plástico é despejado no mar, e que 90 por cento de todo plástico dos oceanos é proveniente de apenas dez sistemas fluviais. Os rios são as artérias do planeta e de pequenos riachos caudalosos a vastos deltas, os rios são o elo entre a atmosfera, a terra e os oceanos. Desde tempos imemoriais, as pessoas aglomeram-se perto dos rios, aproveitando a água fresca, terra fértil, ligações de transporte e os peixes abundantes.

Os rios são excelentes meios transportadores de remoção do lixo. Ao analisar a quantidade de plástico transportado por diferentes rios em todo o mundo e avaliar a quantidade de lixo nas áreas circundantes, os estudos concluíram que os grandes sistemas fluviais actuam como super estradas no transporte de plástico para o mar. Os dez sistemas fluviais, estão localizados em regiões densamente povoadas, onde o lixo é comum, sendo que dois se encontram na África (Nilo e Níger), enquanto os outros oito estão na Ásia (Ganges, Indo, Amarelo, Yangtze, Haihe, Pearl, Mekong e o Amur).

Se for reduzido pela metade a entrada de plástico das áreas de captação desses rios seria um grande sucesso, sendo de investigar a velocidade a que o plástico viaja da terra para o mar. Os detritos de plástico flutuando na superfície dos oceanos são responsáveis ​​por apenas 5 por cento de todo o plástico despejado no mar;  os outros 95 por cento estão submersos sob a superfície.

Os detritos de plástico foram encontrados no Árctico e na Antárctida, incluindo os milhares de milhões de minúsculos pedaços de plástico, chamados microesferas, que são frequentemente adicionados a produtos como pastas de dentes, produtos de limpeza facial e abrasivos, e são suficientemente pequenos para passar facilmente pelos sistemas de filtração de água e tratamento de esgoto e poluir.

A contaminação por microplásticos foi encontrada na água da torneira em países de todo o mundo, levando o pedido de cientistas para pesquisas urgentes sobre as implicações para a saúde. Os cientistas analisaram dezenas de amostras de água da torneira de mais de uma dúzia de países, sendo que 83 por cento das mesmas estavam contaminadas com fibras plásticas. Os Estados Unidos apresentaram a maior taxa de contaminação, de 94 por cento, com fibras plásticas encontradas na água da torneira amostrada em locais como os edifícios do Congresso, a sede da Agência de Protecção Ambiental e a Trump Tower em Nova Iorque. O Líbano e a Índia tiveram as taxas mais altas seguintes. Os países europeus, incluindo o Reino Unido, a Alemanha e a França, tiveram a menor taxa de contaminação, que era de 72 por cento.

O número médio de fibras encontradas em cada amostra de 500ml variou de 4,8 nos Estados Unidos a 1,9 na Europa. As novas análises indicam a extensão omnipresente da contaminação por microplásticos no ambiente global. Trabalhos anteriores têm sido amplamente focados na poluição de plásticos nos oceanos, o que sugere que as pessoas estão a ingerir microplásticos através de frutos do mar contaminados. Um pequeno estudo separado na República da Irlanda, também encontrou contaminação por microplásticos em uma série de amostras de água da torneira e de poços não sendo possível saber qual o impacto na saúde, pelo que se deve seguir o princípio da precaução e descobrir o mais rápido possível os seus riscos.

Assim, existem duas preocupações, o das partículas muito pequenas de plástico e os produtos químicos ou patógenos que os microplásticos podem abrigar. Se as fibras existem, é possível que as nanopartículas também se encontrem e não se possam medir, uma vez que estão na faixa nanométrica e podem penetrar em uma célula o que significa que podem invadir os órgãos o que seria preocupante. As análises capturaram partículas de mais de 2,5 mícron, duas mil e quinhentas vezes maiores que um nanómetro. Os microplásticos podem atrair bactérias encontradas no esgoto. Alguns estudos mostraram que há mais patógenos nocivos em microplásticos a jusante de estações de tratamento de águas residuais.

Os microplásticos também são conhecidos por conter e absorver produtos químicos tóxicos e a pesquisa em animais selvagens mostrou que são libertados no corpo. Ficou claro desde o início, que o plástico libertaria essas substâncias químicas e que, na verdade, as condições no intestino facilitariam uma libertação rápida, facto encontrado em um terço dos peixes capturados no Reino Unido. A escala global de contaminação por microplásticos está apenas a ser esclarecida com estudos na Alemanha que descobriu fibras e fragmentos em todas as vinte e quatro marcas de cerveja testadas, bem como em mel e açúcar.

Os pesquisadores, em 2015, descobriram em Paris, que o microplástico caía do ar, prevendo a existência de depósitos de três a dez toneladas de fibras na cidade cada ano, e que também estava presente no ar e nas habitações. A pesquisa determina que a ingestão de partículas de plástico é um risco para a saúde, pois ao respirar poderiam entrar substâncias químicas nas partes inferiores dos pulmões e talvez até na circulação sanguínea. Os microplásticos acabam por ser usados ​​na água potável o que constitui um mistério, mas a atmosfera é uma fonte óbvia, com fibras libertadas pelo desgaste diário de roupas e carpetes. Os secadores de roupa são outra fonte potencial, com quase 80 por cento das habitações americanas com secadores que normalmente têm saída para o exterior.

É de acreditar que os lagos e outras massas de água podem ser contaminados por elementos atmosféricos cumulativos. O que se observa em Paris tende a demonstrar que uma enorme quantidade de fibras está presente na precipitação atmosférica. As fibras plásticas também podem ser lavadas em sistemas de água, com um estudo recente a descobrir que cada ciclo de uma máquina de lavar roupa poderia libertar setecentas mil fibras para o meio ambiente. As chuvas também poderiam dispersar a poluição por microplásticos, o que poderia explicar o motivo pela qual os poços domésticos usados ​​na Indonésia foram contaminados.

O abastecimento de água, em Beirute, no Líbano, provêm de fontes naturais, mas 94 por cento das amostras estavam contaminadas. Os actuais sistemas de tratamento de água não filtram todos os microplásticos, não existindo algum local onde se possa afirmar que são capturados 100 por cento. Em termos de fibras, o diâmetro é de 10 mícron e seria muito incomum encontrar esse nível de filtragem nos sistemas de água potável. A água engarrafada pode não fornecer uma alternativa isenta de microplásticos para a água da torneira, uma vez que também foram encontradas em algumas amostras de água engarrafada comercial testada nos Estados Unidos.

Quase trezentos de toneladas de plástico são produzidas a cada ano e, com apenas 20 por cento de material reciclado ou incinerado, muitas delas acabam envolvendo o ar, terra e mar. Prevê-se que oito mil milhões e trezentos milhões de toneladas de plástico foram produzidas desde a década de 1950, e que os resíduos de plástico tornaram-se omnipresentes no meio ambiente e a sufocar os ecossistemas. Os plásticos são muito úteis, mas a gestão dos resíduos deve ser drasticamente melhorado. O plástico é um bem necessário, mas o ser humano é o criador do prejuízo ao descartar da forma mais descuidada e irresponsável.

Os plásticos biodegradáveis ​​(particularmente os feitos de plantas) são promissores sob certas condições, que geralmente não são encontradas no ambiente natural, e especialmente nos oceanos sendo energeticamente intensivos, caros e têm o potencial de tornar o problema do lixo ainda pior, encorajando as pessoas a pensarem que não existe qualquer tipo de problema ao descartar recursos valiosos.  Além disso, mesmo em condições ideais, a biodegradabilidade não resolve questões críticas como o entrelaçamento ou a ingestão por animais marinhos.  Mesmo que a sociedade banisse todos os sacos de plástico, por exemplo, isso representaria apenas cerca de 1 por cento da produção total de plásticos.

É de lembrar que existe uma consciência crescente acerca da epidemia de plástico no planeta, que levou a crescentes compromissos e acções globais para combater a poluição por plásticos marinhos, tanto a nível nacional, como internacional e por exemplo, em 2017, a ONU lançou a “Campanha Clean Seas: Turn the tide on plastic” para transformar a maré em plástico. Em Dezembro de 2017, duzentos países da Assembleia Ambiental da ONU, que é o maior órgão de decisão do mundo em termos de meio ambiente, adoptaram uma resolução pedindo que muito mais fosse feito sobre os resíduos plásticos, e alguns países afirmaram que querem que a acção conduza a um compromisso legal sob a forma de tratados.

A União Europeia (UE) travou uma guerra contra os resíduos de plástico como parte do seu plano de limpeza e garantir que todas as embalagens produzidas na Europa sejam reutilizáveis ​​ou recicláveis ​​até 2030. Em Junho de 2018, os líderes do G7 também adoptaram a “Carta dos Plásticos nos Oceanos”.  O Japão está a pressionar pela adopção de uma estrutura de acção obrigatória para combater a poluição marinha por plástico na “Cimeira do G20” que se realizará em Osaka, a 28 e 29 de Junho de 2019.

É de te der em conta que um número crescente de cento e cinquenta países e cidades proibiram o uso de sacos plásticos em todos os continentes e microesferas ou que estão a planear fazer. O mundo dos negócios também está a começar a agir, como parte do “Compromisso Global da Nova Economia de Plásticos”, e as empresas que são colectivamente responsáveis ​​por produzir 20 por cento de todas as embalagens plásticas, globalmente, comprometeram-se a erradicar os resíduos de plástico e a poluição. As limpezas do litoral estão a ser organizadas em todo o mundo e filmes de conscientização pública no “YouTube” com a denominação “Plastic Change” estão a ajudar a levar a mensagem.

As consequências são muito sérias pois o plástico nos oceanos tem um impacto desproporcionalmente grande na sua vida selvagem e pequenos pedaços de plástico são ingeridos por peixes, tartarugas e aves marinhas, muitas vezes resultando na sua morte.  Os animais e pássaros também podem ficar aprisionados em detritos plásticos, sofrendo sérios ferimentos e com o tempo, o material plástico não se biodegrada, mas decompõe-se em minúsculas partículas conhecidas como microplásticos, que podem ser comidos por pequenos animais marinhos e entrar na cadeia alimentar. Os microplásticos nos oceanos são comummente definidos como tendo menos de 5 mm.

Os detritos de plástico contêm frequentemente produtos químicos adicionados durante o fabrico que podem absorver e concentrar contaminantes, tais como pesticidas, metais pesados ​​e poluentes orgânicos persistentes (por exemplo, bifenilos policlorados ou PCB). Esta poluição é extremamente difícil de remover do meio ambiente. Um crescente corpo de pesquisa científica e de evidências, sugere que essas substâncias nocivas podem ser transferidas para o tecido de espécies aquáticas, como peixes que são consumidos.

Torna-se necessário assumir que a maré de plásticos que entram nos oceanos exigirá uma combinação de abordagens, incluindo, a mais importante, que é reduzir e limitar a quantidade de plástico que usamos, melhorando a recolha, infra-estrutura e gestão de resíduos, e expandindo a reciclagem, particularmente nos países onde a maior parte do lixo de plástico é criada. Deve-se fazer a transição de uma economia linear (fazer, usar, descartar) para uma economia circular em que os recursos, como os plásticos, são usados, recuperados e reutilizados vários vezes, ao invés de irem directamente para o aterro. A forma mais eficaz de ter menos plástico nos oceanos é usar menos plástico. A acção corporativa é importante pois é necessário reduzir urgentemente o plástico de uso único e, embora o apoio das empresas a iniciativas que ajudam a reciclar e limpar plásticos seja importante, a solução é introduzir com urgência embalagens alternativas e sustentáveis.

A liderança dos governos é fundamental, pois mais esforços são necessários para assumir a liderança na política ambiental e para cooperar no combate a este flagelo global.  A acção é necessária actualmente, não daqui a dez anos. Uma medida imediata e necessária é a redução de barreiras ao financiamento de uma melhor gestão de resíduos, particularmente na China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname. A responsabilidade pessoal é de ter em conta, pois todos nós precisamos de limitar significativamente o uso do plástico.  Por exemplo, podemos levar uma garrafa de água ou copo de café reutilizável, trazer a nossa sacola de pão ou outra reutilizável nas compras, reduzir drasticamente o nosso consumo de plástico de uso único, como alimentos contidos em embalagens plásticas ou palhinhas de plástico nas bebidas “take-away”, e certificar de que são recicladas sempre.

A educação e conscientização pública são essenciais pois alguns governos incorporaram a educação sobre plásticos, gestão de resíduos e reciclagem nos seus currículos escolares.  Esta é uma estratégia útil e os esforços de educação pública devem ser alargados, mas precisam de ir mais longe e rápido para incentivar as empresas a mudar e adoptar políticas de aquisição que reduzam a sua pegada de plástico.

20 Jun 2019

Plástico | Chui Sai Peng alerta para extremismos

[dropcap]O[/dropcap] deputado Chui Sai Peng, primo do Chefe do Executivo, alerta que no combate ao plástico se deve evitar cair em extremismos para que as medidas não sejam contraproducentes.

Numa intervenção antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa, Chui não negou a existência do problema, mas sublinhou que as alternativas podem igualmente resultar em poluição pelo que considerou que é necessário estudar muito bem o assunto e escolher os materiais alternativos.

“Segundo um estudo estrangeiro do ano passado, se os refrigerantes forem vendidos em garrafas de vidro, o seu transporte gastará mais 40 por cento de energia e o custo será 5 vezes maior”, justificou.

Por outro lado, defendeu que a utilização do plástico permite aumentar a higiene dos alimentos e prolongar a vida dos mesmos. “Os produtos agrícolas nos supermercados são embalados com plástico, o que pode aumentar a sua higiene e prolongar o prazo de conservação. Segundo um estudo, isto pode reduzir 75 por cento do desperdício alimentar. O ‘corte radical’ não se aplica à proibição e limitação do plástico. Outros produtos de substituição também podem gerar desperdício de energia, portanto, o Governo deve identificar os objectivos, elaborando um plano geral para o desenvolvimento ambiental”, apontou.

Ao mesmo tempo, o deputado apelou também para que se continue a apostar na consciencialização para o problema no âmbito da educação e que se ensinem hábitos de reutilização, dando o exemplo dos sacos de plástico. O legislador eleito pela via indirecta defendeu também a aposta na ciência para que se desenvolvam materiais biodegradáveis, que possam substituir o plástico.

24 Abr 2019

MGM põe fim ao plástico de uso único em todos os restaurantes

A operadora de hotéis e casinos MGM anunciou ontem que eliminou o plástico de utilização única em todos os seus restaurantes em Macau, prevendo poupar mais de quatro milhões de peças de plástico todos os anos

 

[dropcap]”O[/dropcap] MGM anuncia com orgulho que a empresa removeu com sucesso todos os plásticos de utilização única e substituiu-os por alternativas amigas do ambiente em todos os seus restaurantes”, lê-se num comunicado enviado às redacções. O grupo tinha prometido avançar com esta medida no primeiro trimestre do ano.

“Como um dos principais resorts integrados de Macau (…) temos a responsabilidade de usar a nossa escala para o bem e liderar a indústria hoteleira local num movimento livre de plástico”, afirmou, em comunicado, o director-executivo da MGM China, Grant Bowie.

Segundo Bowie, a medida traduz um “passo significativo para a redução das embalagens de plástico em Macau”, evitando o despejo para o ambiente de 4,5 milhões de peças de plástico descartável todos os anos.

No primeiro dia de 2019, também o grupo hoteleiro e operadora de jogo Sands China anunciou a proibição do uso de palhinhas de plástico, prevendo economizar 2,2 milhões de palhinhas por ano, ou seja, uma tonelada de plástico.

Combate ao problema

O uso excessivo de plástico descartável tem sido alvo de duras críticas, com activistas a exigir ao Governo medidas legislativas para combater o problema.

No mês passado, o Executivo anunciou a intenção de aplicar taxas sobre os sacos de plástico e prometeu avançar com a restrição de outros materiais.

O Governo propõe que “o fornecimento de sacos de plástico nos actos de venda a retalho seja efectuado obrigatoriamente a título oneroso”, ou seja, através de “um preço a fixar por despacho do chefe do executivo”.

De acordo com o Executivo, a maioria dos participantes de uma consulta pública considerou o “uso excessivo” de sacos de plástico “uma situação crítica” no território, que em 2017 registava mais lixo ‘per capita’ do que Pequim, Xangai ou Hong Kong.

No final de Agosto, uma petição contra o uso do plástico descartável reuniu milhares de assinaturas.

2 Abr 2019

Ambiente | Proposta de lei prevê cobrança de taxa sobre sacos de plástico

O Governo avançou com uma proposta de lei que vai obrigar o comércio a cobrar pelo fornecimento de sacos de plástico, uma medida há muito exigida por activistas ambientais. O valor da taxa vai ser determinado por despacho do Chefe do Executivo

[dropcap]T[/dropcap]rês anos depois de uma consulta pública sobre a introdução de restrições ao uso de sacos de plástico, o Governo elaborou uma proposta de lei que prevê que os estabelecimentos comerciais cobrem obrigatoriamente uma taxa na hora de fornecer sacos de plástico aos clientes. Os principais contornos do diploma, que segue agora para a Assembleia Legislativa, foram apresentados ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo.

Leong Heng Teng escusou-se, porém, a adiantar o valor a cobrar pelo fornecimento de cada saco de plástico nos actos de venda a retalho, a fixar por despacho do Chefe do Executivo. Não obstante, sinalizou que a proposta de uma pataca, “basicamente, recolheu concordância” aquando da auscultação pública.

As verbas resultantes do pagamento da taxa vão reverter a favor dos estabelecimentos comerciais, modelo definido como “o mais apto” para Macau. Estes são, contudo, livres, à luz da lei, de cobrarem um valor acima do fixado, embora o director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Raymond Tam, não o recomende: “Não há uma pena [se cobrarem mais], mas isso vai prejudicar a sua imagem”.

Das excepções

O diploma, que “visa estabelecer normas sobre as restrições ao fornecimento de sacos de plástico em actos de venda a retalho”, prevê, no entanto, uma série de “situações excepcionais” que beneficiam de isenção de pagamento da taxa. À luz da proposta de lei, “designadamente por razões de higiene e segurança”, os sacos de plástico vão continuar a ser distribuídos gratuitamente quando em causa estiverem, por exemplo, produtos alimentares e medicamentos não embalados.

Os estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas ou até bancas de mercados, que infrinjam as restrições ao fornecimento de sacos de plástico incorrem numa multa de mil patacas. Já caso violem o dever de colaboração com as autoridades arriscam uma multa dez vezes superior: dez mil patacas. A fiscalização compete à DSPA que pode solicitar a colaboração de outras entidades públicas, nomeadamente dos Serviços de Alfândega, da PSP ou dos Serviços de Finanças, se necessário.

“É o primeiro passo para reduzir o impacto negativo dos sacos de plástico no meio ambiente”, afirmou o director da DSPA, realçando que o Governo tem vindo a “empenhar-se nos trabalhos de redução do plástico”, incluindo dentro da própria Administração, com o incentivo, por exemplo, do uso de máquinas de água em detrimento da distribuição de garrafas. Não há, no entanto, actualmente, alternativa à vista para as saquetas de plástico que são distribuídas pelos Serviços de Saúde quando os pacientes aviam medicamentos.

Para metade

Segundo dados facultados pelo director da DSPA, 23 por cento das 1.400 toneladas de lixo produzidas diariamente em 2017 eram plástico, dos quais 13 por cento eram sacos e dois por cento garrafas. Já 1,5 por cento dizia respeito a caixas de ‘take-away’. A cobrança de uma taxa pelo fornecimento de sacos de plástico tem produzido “resultados muito salientes” nos territórios vizinhos, com reduções no uso na ordem dos 80 por cento na fase de arranque da medida, realçou o director da DSPA que, adoptando uma estimativa “mais conservadora”, espera um corte, pelo menos, para metade no início da aplicação da medida.

 

 

15 Mar 2019

AL | Pereira Coutinho quer lei que proíba a importação de produtos descartáveis

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho solicita ao Governo que avance com legislação para proibir a importação e comercialização de produtos embrulhados em plástico descartáveis.

O pedido é feito em interpelação escrita onde Pereira Coutinho solicita esclarecimentos acerca das medidas a tomar para a redução doméstica e empresarial deste tipo de material. Em causa estão produtos como sacos de plástico, garrafas de água, palhinhas, “utensílios descartáveis, caixas de esferovite para comidas, pauzinhos de cotonetes, talheres, pratos, agitadores de bebida, copos para café ou água, ou taças”.

A par da proibição deste tipo de produtos, Pereira Coutinho quer que a legislação contemple ainda o incentivo do “uso de materiais biodegradáveis” ou a substituição dos produtos plásticos por outros feitos de “fibras vegetais naturais” e o “uso de louça reutilizáveis”, lê-se.

Em causa está o que considera ser fundamental para a protecção ambiental, matéria quanto à qual entende que Macau está ainda muito atrasada. O deputado dá exemplos de países que têm liderado em termos de reciclagem: “A Alemanha é a líder mundial em tecnologias e políticas de reaproveitamento de resíduos sólidos e desde 2005 que é proibida a remessa de lixo doméstico e industrial sem tratamento quer para os aterros quer às incineradoras diminuindo drasticamente o volume de lixo doméstico e industrial” refere.

Mais perto está o Japão, “outro dos países mais desenvolvidos na redução do volume de resíduos sólidos vigorando desde 1970 a Lei de Gestão de Resíduos que regulamenta e controla toda a cadeia de produção e destino final do lixo baseados nos conceitos de reduzir, reciclar e reaproveitar e com objectivo de reduzir as emissões de dioxinas”.

De acordo com Pereira Coutinho, o plástico é um produto que está, neste momento, a ameaçar o ambiente e mesmo a sobrevivência de animais e pessoas. “O plástico acumula-se vários anos nos oceanos e deteriora-se dando origem a pequenas partículas que são ingeridas pelos animais e peixes e podem levar à sua morte.

Através da ingestão dos plásticos pelos peixes os micro-plásticos chegam a cadeia alimentar dos seres humanos potenciando doenças graves e cancerígenas”, refere o deputado.

23 Jan 2019

Sands China anuncia fim de palhinhas nos seus casinos

[dropcap]O[/dropcap] grupo hoteleiro e operadora de jogo Sands China anunciou ontem a proibição do uso de palhinhas de plástico em todos os seus espaços, prevendo poupar uma tonelada deste material, descartável, todos os anos.

A medida entrou em vigor na terça-feira e vai permitir economizar 2,2 milhões de palhinhas por ano, ou seja, uma tonelada de plástico, segundo a empresa, cujas propriedades receberam mais de 97 milhões de visitantes em 2017.

“Colocadas de ponta a ponta na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, são palhinhas suficientes para se estenderem de Macau a Hong Kong dez vezes”, exemplificou o grupo, em comunicado, comprometendo-se a avançar com outras medidas sustentáveis.

Macau tem mais lixo ‘per capita’ que cidades como Pequim, Xangai ou Hong Kong. O abuso do plástico descartável na região tem mobilizado activistas e já deu azo a uma petição que reuniu milhares de assinaturas.

O Governo prometeu entretanto avançar com medidas para combater o plástico, mas defensores ambientais continuam a exigir do Executivo medidas legislativas.

Em Outubro, um dos rostos da petição disse à Lusa que vai continuar a recolher assinaturas até o Governo avançar com leis.

“Concordaram com o que estamos a fazer, mostraram-se preocupados, o que é bom, mas não mencionaram quando é que vão avançar com medidas legislativas para proibir o plástico descartável, alegando que terá de ser dado ‘um passo de cada vez'”, disse Annie Lao, após uma reunião com a Direcção dos Serviços de Proteção Ambiental.

3 Jan 2019

Especial 2018 | Sociedade: Avançar ou talvez não

[dropcap]E[/dropcap]m Macau nunca se sabe muito bem no que contar quando se trata de medidas do Governo que possam ou não avançar. Hoje é uma coisa, amanhã outra, depois logo se vê. Tudo depende de alguns interesses capazes de apressar ou não o processo decisório, e quando não há interesses na mesa os veredictos são adiados, dependem da opinião da população, ou são dados de forma que parece ser aleatória. O ano de 2018 foi mais um ano rico em contradições nesta matéria.

Exemplo disso são as políticas acerca do uso de plástico. As linhas gerais para a proposta legislativa nesta matéria já foram alvo de uma consulta pública que terminou em 2016. O diploma está a ser produzido desde Março deste ano, e nem com a pressão da população para o seu avanço, a legislação é apresentada.

Este ano, o controlo do uso de plástico veio à praça pública quando a residente Annie Lau tomou as rédeas da situação e lançou, no mês de Agosto, uma petição a exigir medidas ao Governo que levassem à redução do seu uso. Lau conseguiu arrecadar 5.180 assinaturas. No entanto, apesar do interesse mostrado por parte dos residentes na implementação de taxas que dissuadissem a utilização deste material – que figura entre os mais ameaçadores do meio ambiente nos dias de hoje – o Governo continua a não avançar com acções, argumentando a necessidade de legislação nesta matéria, tendo, no entanto, adiantado que é sua intenção implementar uma taxa ao uso de sacos de plástico entre os 50 avos e uma pataca.

Entretanto, este mês, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) já afirmou que afinal a cobrança pelo uso de sacos de plástico não é o mais importante no combate à sua utilização, sendo que o que importa é a sensibilização para o assunto.

Há boa maneira local, a sensibilização passa pelo prémio aos “bem-comportados”. Para o efeito, a DSPA dá como exemplo o programa “reduzir o uso de sacos de plástico poderá dar prémios” que pretende promover o uso de sacos ecológicos em compras e que na edição deste ano contou com a participação de mais 80 lojas do que no ano passado. Uau, que parece um bom slogan. Ainda de acordo com o Governo, após seis edições do concurso para reduzir a utilização de sacos de plástico, foram poupados 26 mil sacos, o que equivale a aproximadamente 4.400 sacos por ano. Os dados de 2015 indicava que Macau utilizava 450 milhões de sacos por ano.

Resta esperar que haja algum “interessado” que repare nos números, para que a protecção ambiental nesta matéria ganhe forma, que aqui, está visto, não é com a vontade dos residentes nem com o argumento de um mundo mais habitável que se vai longe.

O urso Bo Bo também tem lugar de destaque entre as decisões do Governo que causaram polémica. Trata-se agora do embalsamamento do urso-preto asiático que habitava o jardim da Flora, depois de ter morrido, a 20 de Novembro, com 35 anos. O deputado Sulu Sou mostrou no hemiciclo um cartaz que corria nas redes sociais e que mostrava o desagrado da população relativamente ao processo de embalsamamento, mas a operação avançou e Bo Bo vai, depois de embalsamado, ser colocado numa casa-museu em Coloane.

Já no espectro oposto, em que afinal o que conta é o que os residentes acham, está a suspensão da construção do crematório no cemitério de Ko Snag. Depois da população pedir a estrutura com urgência, durante anos, o Governo decidiu avançar. Comunicada a decisão e a sua localização, afinal o lugar escolhido não era o melhor. Toca de vir para a rua, toca de protestar. Isto de ter os defuntos a arder perto de casa pode ser mau agoiro, especialmente para o mercado imobiliário que se desenvolve nas redondezas. Afinal a urgência do crematório não era assim tanta e um cemitério não era o local mais adequado.

Protestos feitos o Governo volta atrás. Depois de anos à espera de um crematório, outros tantos a aguardar uma legislação que permita a construção da valência fora de um cemitério não fazem mal nenhum e é isso mesmo que o Executivo vai fazer para não ferir “susceptibilidades”.

Um volte de face também foi o que sofreu a construção do depósito para substâncias perigosas. Em Julho, foi aprovada pelo Conselho de Planeamento Urbanístico a Planta de Condições Urbanísticas para o depósito e armazém provisórios de substâncias perigosas em dois terrenos na zona de aterro entre a Taipa e Coloane, mais propriamente junto à Avenida Marginal Flor de Lótus e junto à Estrada do Dique. A população que mora nas imediações não gostou. Mais uma vez, saiu à rua, pegou na caneta, assinou petições tendo conseguido juntar 7000 assinaturas dos moradores de Seac Pai Van.

Apesar das garantias dadas por Wong Sio Chak relativamente à segurança das instalações, esta petição parece ser mais forte do que a que moveu os defensores do controlo do plástico, e o Governo acabou por voltar atrás. No final de Agosto anunciava a realização de um estudo ambiental acerca do projecto já aprovado. Os próximos anos ditarão o que será ou não será feito nesta metéria.

Já os galgos, continuaram a ser as estrelas do ano sem serem vistos nem achados para o assunto. Nesta pasta que se poderia chamar de “história interminável resumida em alguns pontos” estão os vários e turbulentos acontecimentos que envolvem os cães.

Ora, em 2018 o canídromo fechou, as corridas acabaram e os cães ficaram sem donos e praticamente sem casa. O Instituto para os Assuntos Municipais (IACM) ficou responsável, mas Angela Leong, depois de abandonar os mais de 500 cães, descobriu que “gostava muito deles”. Juntou-se finalmente a Albano Martins que sempre mostrou interesse em zelar pelos interesses dos animais.

Os dois, que até ali não se entendiam, acabaram por se unir por um bem maior e anunciaram um parque internacional dedicado aos galgos. O primeiro e único no mundo. Arranjaram a terra e tinham até um projecto. Mas o terreno não servia: tinha outra finalidade e ninguém pediu a sua mudança. Muda tudo, vão para Coloane. Mas ali havia um lar de idosos, e o latir incomodava.

Por fim, o IACM assume a sua tutela, Albano Martins continua a gerir os processos de adopção dos animais e a Yat Yuen, responsável pela exploração do canídromo, é multada em 25,450 milhões de patacas pelo abandono de 509 galgos. O IACM já disse que espera ter a totalidade dos cães adoptados até Maio do próximo ano. Parece resolvido para já, mas nunca se sabe o que 2019 vai reservar nesta matéria que parece ser infindável.

2 Jan 2019

Plástico | Governo respondeu que não vai haver conferência

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stamos extremamente desapontados” – foi assim que Annie Lao, autora da petição que pede a redução do uso de sacos de plástico, reagiu ontem à resposta do Governo de que não vai haver nenhuma conferência de imprensa a respeito .

Aquando da entrega da petição na sede do Governo, a 30 de Agosto, a activista pediu ao Governo para responder até 13 de Setembro, em público, numa conferência de imprensa, sobre as medidas propostas para acabar com o uso excessivo de plástico em Macau.

“Sentimos que as nossas vozes não estão a ser ouvidas e não estão a ser tratadas com respeito”, lamentou Annie Lao, em comunicado.

Numa nota anterior, também enviada às redacções, Annie Lao tinha explicado que, na terça-feira, enviaram um email a exigir uma resposta, seguido de um telefonema, tendo o Governo afirmado que a carta tinha sido entregue ao secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, a 7 de Setembro, significando que os serviços demoraram uma semana a transferir a petição.

“Não devem existir desculpas para deixar 5.180 pessoas sem uma explicação.” Além das assinaturas recolhidas online, foram recolhidas mais 52 assinaturas na versão em papel, graças ao contacto com empresas e residentes, indicou a mesma responsável.

14 Set 2018

Plástico | Governo prepara taxa entre 50 avos a 1 pataca para sacos

Já se vislumbra o dia em que será cobrada uma taxa por cada saco de plástico adquirido nas superfícies comerciais de Macau de forma a desincentivar o seu uso. O valor da taxa, entre 50 avos e uma pataca, foi revelado por Raymond Tam

 
[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]taxa a pagar por saco de plástico vai-se fixar entre os 50 avos e uma pataca, de forma reduzir a utilização. O valor, que ainda não está definido, foi avançado, na sexta-feira, pelo director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Raymond Tam, à margem de um evento do Governo sobre o programa para reduzir a utilização de sacos de plástico com a entrega de prémios.

Quando questionado sobre o assunto e a falta de legislação neste sentido, Raymond Tam, segundo o canal chinês da Rádio Macau, explicou que a restrição à utilização dos sacos vai ser feita através de uma lei própria e não de um regulamento. Assim, será uma lei a definir o montante que vai ser cobrado.

O valor de cada saco de plástico vai ser definido posteriormente mas ficará situado no intervalo entre os 50 avos e uma pataca. Um montante que o governante considerou ser aceitável para a população. Segundo a consulta pública feita anteriormente, chegou-se à conclusão que o valor da taxa deveria reverter para os próprios supermercados.

Ainda de acordo com o responsável da DSPA, neste momento, o Governo está a finalizar a proposta de lei, com o documento a ser analisado pelos assuntos jurídicos, antes de ser enviado para a Assembleia Legislativa.

Na gaveta desde 2016

Recorde-se que a consulta pública sobre esta lei foi realizada entre Dezembro de 2015 e Fevereiro de 2016. Na altura, após um estudo encomendado pelo Executivo, concluiu-se que em média cada residente utilizava por dia 2,2 sacos de plástico, o que totalizava um valor de 450 milhões de sacos por ano.

Apesar da demora em implementar a medida, que motivou petições com origem na sociedade civil, Raymond Tam preferiu valorizar o facto do objectivo do Governo e da população ter sido sempre o mesmo.

As declarações do director da DSPA surgem depois de no final de Agosto ter sido entregue uma petição a pedir o fim do uso excessivo do plástico em Macau. Na altura, a petição online recolheu 4.700 assinaturas em cerca de duas semanas.

Já em relação ao balanço do programa “reduzir o uso de sacos de plástico poderá dar prémios”, iniciativa que pretende promover o uso de sacos ecológicos em compras, a DSPA revelou que na edição deste ano participaram mais 80 lojas do que no ano passado. No total, o número de espaços comerciais foi superior a 300. Ainda de acordo com o Governo, após seis edições do concurso para reduzir a utilização de sacos de plástico, foram poupados 26 mil sacos, o equivale a aproximadamente 4.400 sacos por ano. Os dados de 2015 indicavam que Macau utilizava 450 milhões de sacos por ano.

10 Set 2018

Ciência | Criado plástico que se decompõe em água do mar

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ientistas chineses desenvolveram um tipo de plástico que se decompõe em águas do mar, sem deixar resíduos, visando combater a poluição dos oceanos, informou a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. A decomposição do material, composto por poliéster, em água marinha, pode demorar entre alguns dias a vários meses, gerando pequenas moléculas que não causam poluição, segundo Wang Gexia, engenheiro do Instituto Técnico de Física e Química da Academia Chinesa de Ciências, citado pela Xinhua. “Durante muito tempo, as pessoas preocuparam-se com a contaminação do plástico apenas nos solos. A poluição dos mares apenas teve a atenção das pessoas nos últimos anos, com as notícias de animais marinhos mortos”, afirmou. Os cientistas combinaram hidrólise não enzimática, dissolução na água e processos biodegradáveis para gerar o novo material.

6 Set 2018

Poluição |Entregue petição com 4.700 assinaturas contra plástico descartável

Foi entregue ontem a petição com 4.700 assinaturas a exigir medidas para banir o uso de plástico descartável. Os promotores da iniciativa querem agora que o Governo responda publicamente até 13 de Setembro

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]petição, posta a circular há duas semanas, a pedir medidas para acabar com o uso excessivo de plástico em Macau, recolheu 4.700 assinaturas. A missiva foi entregue ontem na sede do Governo, com os promotores da iniciativa a exigir respostas concretas e em público até ao próximo dia 13 de Setembro.

“Queremos que o Governo responda à petição dentro de duas semanas, antes de 13 de Setembro, em público, numa conferência de imprensa”, afirmou Annie Lao, uma das promotoras da iniciativa. “É um assunto muito urgente, por isso, queremos que o Governo responda de uma forma adequada. É muito importante que nos dê uma resposta e um calendário”, complementou, rejeitando a hipótese de um encontro privado.

“Nós criamos muito lixo”, a maior parte de plástico, que “é tóxico para a saúde e ambiente”, sublinhou Annie Lao, qualificando de “chocante” a quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados por dia ‘per capita’ em Macau: 2,16 quilogramas em 2017. Um valor que, como notou, é bastante mais elevado do que em regiões vizinhas. “Muitos países têm falado sobre isto e tomado medidas”, mas “Macau não está a fazer nada”, lamentou a mesma responsável.

Dado o “impressionante” uso excessivo de plástico em Macau, Annie Lao entende que “a única solução” passa pela intervenção do Governo. Os promotores da iniciativa defendem, em concreto, legislação para banir o uso de plástico descartável e a cobrança de taxas, de modo a levar os residentes a procurar alternativas amigas do ambiente. Annie Lao não avançou eventuais valores, apenas apontou que devem ser “capazes de convencer”, advertindo, porém, que se a taxa for demasiado baixa pode não surtir efeito. “O Governo tem de explicar o objectivo e os benefícios da taxa que visa “tornar Macau mais sustentável”.

Escolhas verdes

Annie Lao reconhece que “a responsabilidade social é de todos” e que “tem de ser levada a sério”, mas que, para tal, o papel do Executivo é fundamental: “O Governo precisa de nos dar opções para termos zero plástico nas nossas vidas”.

Existem alternativas ao plástico em Macau, mas Annie Lao entende que “não estão ainda amplamente disponíveis”, pelo que “o Governo deve ajudar indivíduos e empresas a providenciar este tipo de escolha”. Em paralelo, dado que “os materiais biodegradáveis são mais caros”, Annie Lao defende incentivos, chamando ainda a atenção para a importância de “instalações para os reciclar porque, caso contrário, vão parar à incineradora e é inútil”.

A consciência necessária

Outra vertente essencial é a sensibilização para o problema. “A educação também é importante para elevar a consciencialização relativamente à poluição causada pelo plástico”, complementou a mesma responsável, sinalizando atitudes positivas tanto por parte de indivíduos como de empresas.

“As pessoas levam sacos reutilizáveis para o supermercado, recipientes [como termos] para o café e “também vejo alguns estabelecimentos que não facultam palhinhas de plástico a menos que seja pedida”, exemplificou.

A petição, disponível na plataforma change.org, vai continuar ‘online’ pelo menos até que o Governo responda, indicou.

31 Ago 2018

Ambiente | Petição que exige redução do uso do plástico entregue amanhã

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]residente Annie Lao entrega amanhã a “Petição sobre o Desperdício de Plástico e Poluição em Macau”, que chegou às cinco mil assinaturas nos últimos dias. O documento, que exige medidas para reduzir o uso de sacos de plásticos, é endereçada a Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental, e a Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas.

Na petição, Annie Lao defende a acção “imediata” do Executivo. Uma das propostas é a proibição “dos sacos de plástico, do plástico descartável e das embalagens desnecessárias de produtos nos supermercados, incluindo frutos e legumes”. Tudo para que “seja implementada uma taxa ou que esse tipo de plásticos passe a ser cobrado, como forma de dissuadir as pessoas do seu uso, levando-as a procurar alternativas mais amigas do ambiente”.

A petição pede também “regras rigorosas e multas para o uso do plástico descartável”. “É importante que as empresas, os restaurantes, os cafés, as lojas e os supermercados assumam a responsabilidade social que têm. Reciclagem e incineração não são a solução. O caminho tem de ser feito no sentido da redução do desperdício”, reforçou.
Ao invés do recurso aos plásticos, Annie Lao considera que a DSPA deve “encontrar melhores alternativas, como o papel ou outros materiais biodegradáveis, assim como sensibilizar o público para o não-desperdício”.

29 Ago 2018

Ambiente | Exemplos de quem reduz o consumo de plástico no dia-a-dia

Julho é o mês livre de plástico. A iniciativa acontece um pouco por todo o mundo e em Macau tem sido promovida nas redes sociais por Hio Kam Pun na esperança de consciencializar mais pessoas. Numa altura em que o Governo pretende avançar para a restrição do uso de sacos de plástico, há cada vez mais pessoas a levar termos e lancheiras para o trabalho e há até estabelecimentos que recorrem a produtos biodegradáveis

 

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om o hashtag #freeplasticjuly Hio Kam Pun acredita que pode, lentamente, começar a mudar mentalidades relativamente ao excessivo uso de produtos de plástico no território. O evento, que tem o nome de “Macau Plastic Free July Challenge”, foi criado no Facebook e já conta com algumas dezenas de participantes que, diariamente, vão partilhando fotografias da sua experiência diária sem plástico.

Numa altura em que são cada vez mais comuns a partilha de imagens de animais marinhos que morrem depois de engolir a imensidão de plástico que repousa nos oceanos, Hio Kam Pun, que abriu uma loja online de embalagens reutilizáveis, intitulada “Stuffbox Online Store”, decidiu apostar na criação do evento porque queria promover o conceito do não uso do plástico junto de mais pessoas. “Como vi o mesmo evento acontecer na Austrália, quis trazê-lo para Macau, para encorajar mais pessoas a partilharem a experiência ao usar menos plástico”, contou ao HM.

O grupo onde este evento foi criado tem cerca de dois mil membros, o que revela que as questões ambientais são cada vez mais um problema de muitos. “Penso que esta iniciativa pode inspirar alguém que não pense na possibilidade de usar menos produtos feitos com plástico, ou pode ajudar alguém a começar. Mas como não tenho qualquer orçamento para fazer a promoção deste evento, só posso tentar o meu melhor para encorajar mais pessoas a terem consciência do problema dos plásticos nos oceanos”, adiantou.

Flora Fong, funcionária pública, sempre esteve atenta à necessidade de proteger o meio ambiente com pequenas acções no dia-a-dia. Como membro deste grupo, também ela aderiu ao desafio “Macau Plastic Free July Challenge”.

“Todas as manhãs, quando compro o meu pequeno-almoço, não peço saco plástico, pois normalmente compro um pão. Depois prefiro beber o café ou chá no escritório em vez de comprar nos restaurantes. Uso o meu próprio copo ou termo”, frisou.

Apesar de tudo, Flora Fong ainda não conseguiu alterar a mentalidade da sua família. “É difícil mudar quando os familiares continuam a usar o plástico, e com eles só consigo mesmo reciclar as garrafas de plástico vazias. Quando faço compras no supermercado não levo os sacos, e é a única altura em que consigo convencer um pouco o meu marido. Ele não tem a mesma consciência [em relação à protecção do meio ambiente] que eu”, referiu.

Apesar de ter uma empresa online de venda de embalagens, Hio Kam Pun acredita que há pessoas que usam ainda menos plástico do que ele. “Normalmente, uso dois grupos de utensílios, com uma garrafa, uma lancheira, um guardanapo e um saco reutilizável. Só isso previne o uso de cerca de 90 por cento de produtos de plástico da minha parte. Outro método que uso é jantar em casa para substituir a embalagem caso não tenha comigo nenhuma lancheira. Mas sei que há pessoas que estão a fazer o mesmo que eu e até melhor do que eu”, apontou.

De referir que, em todo o mundo, se consomem dez milhões de sacos de plástico por minuto, e 60 mil por segundo.

Café mais consciente

A funcionar há dez anos no coração da Taipa, o estabelecimento Cuppa Coffee resolveu apostar agora em produtos biodegradáveis para servir café e comida aos clientes. Cristina Figueiredo, proprietária, explicou ao HM porque é que decidiu apostar nesta medida.

“Não são só palhinhas biodegradáveis que o Cuppa Coffee está a usar mas também copos e contentores plásticos biodegradáveis e compostáveis. São compostos por PLA (Polylactic Acid), feitos a partir de milho ou cana de açúcar. Não é a solução perfeita (o perfeito seria não existir nada descartável) mas é a que de momento acreditamos ser a melhor possível”, frisou.

Adquirir produtos biodegradáveis aumentou o orçamento do estabelecimento comercial em 28 por cento, mas nem isso fez Cristiana Figueiredo desistir. “A adopção de materiais que não beneficiam de produção em enorme escala tem custos associados, mas acreditamos que cabe a cada um de nós, enquanto habitantes deste planeta, [a responsabilidade] pelo impacto das suas acções, sejam elas individuais, sociais ou profissionais.”

“Apesar de sermos uma pequena empresa faz parte desta nossa responsabilidade minimizar o impacto ambiental e contribuir para a consciencialização dos nossos clientes acerca deste grave problema e da necessidade de eles próprios reflectirem sobre as consequências dos seus hábitos de consumo”, acrescentou. 

O factor financeiro poderá explicar o facto do Cuppa Coffee ser um dos poucos estabelecimentos que aposta em produtos biodegradáveis, uma vez, que de acordo com Cristiana Figueiredo, “os estabelecimentos isolados não têm capacidade de fazer muito”. “Primeiro é preciso educar os donos destes estabelecimentos, porque ninguém nasce ensinado e muitos estão ocupados a gerir o dia-a-dia dos seus negócios. Há um dever de o Governo educar os seus cidadãos em questões que têm um impacto profundo no tipo de cidade que é Macau. Neste momento, é uma cidade onde o descartável reina. É necessário ensinar aos cidadãos os princípios da redução e reciclagem para que desenvolvam hábitos de consumo consciente e práticas de gestão dos seus lixos.”

Quem usa produtos biodegradáveis deve também cumprir uma série de regras práticas aquando da recolha do lixo. “Os estabelecimentos licenciados, como é o caso do Cuppa Coffee, que são obrigados a contratar empresas de recolha de lixos, deveriam receber sacos com cores distintas para os diferentes tipos de lixos e este lixo deveria ser processado adequadamente.” Isto porque “incinerar lixo tem consequências na saúde humana e no ambiente e deve ser parte de um sistema de gestão de resíduos urbanos mais amplo, que inclua reciclagem e compostagem”, defendeu a proprietária.

Saco que poucos querem

Em 2016, Gilberto Camacho estava confiante de que podia contribuir para a redução de sacos de plástico. Acabava de criar a empresa Macau ECOnscious, que é também um grupo no Facebook, e a ideia era incentivar restaurantes e supermercados a comprarem sacos biodegradáveis que depois venderiam aos clientes pelo valor de uma pataca por saco. Dois anos depois, o balanço não é muito satisfatório. “O projecto não é só meu, é de várias pessoas. Vamos partindo pedra e avançando aos poucos, está a crescer, mas muito devagarinho.”

Neste âmbito, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) anunciou que ainda este ano deverá avançar com a elaboração de um regime que restrinja o uso de sacos de plástico nas compras, depois de ter sido realizada uma consulta pública sobre esse assunto. A restrição deverá abranger supermercados, lojas de conveniência, farmácias, armazéns de venda ao público, lojas de prendas de produtos alimentares, padarias e pastelarias e lojas de produtos de maquilhagem, beleza e higiene. Estão também previstas multas de 600 a 1000 patacas para os estabelecimentos que não cumprirem as regras.

Um estudo encomendado pela DSPA, referente a 2015, revelou que cada residente de Macau usa uma média de dois sacos de plástico por dia, atingindo, no total, os 450 milhões de sacos de plástico por ano. Mais de 70 por cento dos entrevistados consideraram que, quando vão às compras, são utilizados demasiados sacos de plástico.

Na visão de Hio Kam Pun, a população deverá aceitar uma pataca por saco de plástico. “Acho que as pessoas estão dispostas a pagar por isso, porque é a responsabilidade do cidadão. Nas regiões vizinhas já implementaram esta política, então penso que em Macau as pessoas também vão querer proteger o ambiente.”

David Gonçalves, director do Instituto de Ciências e Ambiente da Universidade de São José (USJ), defende que o Governo tem de ponderar uma série de factores até implementar medidas em prol da redução do plástico, e acredita que as pessoas vão, aos poucos, mudando a sua mentalidade.

“Esta iniciativa do Facebook é uma das evidências de que as mentalidades estão a mudar e que as pessoas se começam a preocupar com este assunto, ainda que haja alguma distância em relação ao que se está a fazer noutros locais do mundo. Acho que Macau deveria acelerar não só a parte de desenvolvimento da consciência cívica sobre este assunto como ter práticas que levem à redução da produção e do consumo do plástico.”

Os números que David Gonçalves referiu ao HM, sobre a produção do plástico no mundo, assustam qualquer um. “Em 1950, em todo o mundo, produziam-se 1.7 milhões de toneladas de plásticos, hoje em dia passamos para 350 milhões e estima-se que em 2050 passemos aos mil milhões de toneladas de produção de plástico. Se houver uma equivalência em termos de saída destes plásticos para o ambiente, que saem por várias vias, mas sobretudo através dos rios (que levam 80 a 90 por cento do plástico para os oceanos) vemos que é um problema agudo mundialmente e que tem tendência a agravar-se.”

11 Jul 2018