Covid-19 | Anunciada vacinação para não residentes com autorização de permanência

A partir de amanhã os estudantes do exterior e trabalhadores não residentes autorizados a permanecer em Macau podem agendar uma data para ser vacinados contra a covid-19. A taxa de vacinação em Macau está actualmente nos 6,0 por cento. Ainda não há conclusões sobre a forma como será concretizado o passaporte de vacinação para cruzar fronteiras

 

A partir das 10 horas de amanhã, os estudantes e trabalhadores não residentes autorizados a permanecer em Macau podem começar a fazer marcações para receber a vacina contra a covid-19 no território. A informação foi avançada ontem pelo coordenador do plano de vacinação no território, Tai Wa Hou.

“Como sabemos, no dia 9 de Março anunciámos a vacinação dos trabalhadores não residentes [TNR] e, até à data, não há muitas marcações. No dia 9 de Abril, a partir das 10 horas, vamos disponibilizar a vacinação para os estudantes e trabalhadores não residentes que foram autorizados a permanecer em Macau”, anunciou o responsável.

Segundo explicou a Coordenadora do Núcleo de Prevenção da doença Leong Iek Hou, para além dos estudantes, a medida é essencialmente destinada a quem viu o seu bluecard cancelado, pessoas legalmente habilitadas a ficar em Macau por outros motivos e a familiares de trabalhadores não residentes (TNR). A vacina da Sinopharm começa a ser ministrada no sábado, enquanto a da BioNtech começa a ser inoculada na próxima segunda-feira.

Para serem elegíveis, tanto os estudantes como os não residentes autorizados a ficar em Macau, devem, nos últimos seis meses, ter permanecido no território durante, pelo menos, metade desse tempo. Os estudantes do exterior não terão de suportar os custos inerentes à vacinação, ao passo que os restantes não residentes terão de pagar 500 patacas pela administração das duas doses da vacina.

Durante a conferência de imprensa, Tai Wa Hou revelou ainda que a taxa de vacinação contra a covid-19 em Macau é “baixa”, situando-se actualmente nos 6,0 por cento. Sobre os motivos que justificam a baixa adesão da população, o responsável apontou a normalização da situação epidémica e afirmou que há medidas a caminho.

“Com a normalização da situação epidémica, a população não sente tanta necessidade de ser vacinada. Temos pensado em vários métodos para encorajar as pessoas a tomar a vacina. Por exemplo, temos vindo a comunicar [sobre a vacinação] junto das autoridades e associações. Além disso, temos planos para que as associações e as empresas avancem com marcações e vacinação em larga escala”, vincou.

Questionado sobre se existem planos para isentar as pessoas vacinadas de realizar testes de ácido nucleico para entrar no território, Tai Wa Hou afirmou que os Serviços de Saúde de Macau (SSM) “estão em discussão com várias partes”, mas que, mesmo após a vacinação, “não existem garantias de não haver infecção”, pelo que será necessário “que as pessoas continuem a fazer o teste”.

Passaporte miragem

Sobre o passaporte de vacinação, Tai Wa Hou considera que o tema merece “consideração”, apesar de “ainda não haver nenhuma conclusão”. Nas palavras do responsável, certo é que, quanto maior for a taxa de vacinação em Macau, maior será a probabilidade do passaporte se tornar uma realidade.

“A taxa de vacinação vai ou não afectar o passaporte de vacinação? Claro que sim. Quanto mais alta a taxa, mais fácil será negociar com o Interior da China e outros países”, referiu.

Evento sobre Lusofonia promove-se com referência ao Fórum Macau

A Companhia Portugueza Oriental promoveu um evento online com referência ao Fórum Macau, ao lado da entidade promotora, no cartaz de divulgação. No entanto, o Fórum Macau negou ao HM ter qualquer tipo de ligação ao evento que anuncia contar com a participação de Miguel Relvas, ex-ministro português, ou Carlos Álvares, presidente do Conselho de Administração do Banco Nacional Ultramarino (BNU).

A iniciativa foi promovida no Facebook por Vitório Cardoso, que se apresenta como o CEO da Companhia Portugueza Oriental e que, pelo menos até 2020, era presidente da secção de Macau do Partido Social Democrata. O evento que conta com outro nome dos Sociais Democratas, Miguel Relvas, foi ainda divulgado na página de Facebook de várias secções regionais do PSD por Vitório, como a secção de Lisboa, Norte e Sul.

Após ver a referência no topo do cartaz ao Fórum Macau, o HM entrou em contacto com a entidade, que não só negou existir qualquer ligação, como ainda perguntou por informações sobre o espaço onde a imagem se encontrava a circular.

Contudo, ao HM Vitório Cardoso negou ter havido qualquer intenção de utilizar de forma indevida a imagem do Fórum Macau: “Não há um apoio do Fórum Macau. Aquilo é o tema que vai ser debatido”, afirmou Vitório. “Aquilo é apenas uma imagem estilizada. É uma fotografia da sede e é uma estilização… É uma imagem não perfeita”, acrescentou.

Em destaque

Cardoso explicou ainda que o Fórum vai ser um dos temas abordados. “O tema vai ser o Fórum de Macau. O tema vai ser as ligações dos portugueses pelo mundo no sentido do Fórum de Macau, porque vai haver a sexta conferência ministerial”, justificou. “Não há apoio do Fórum Macau. O Fórum Macau é o tema em si”, frisou.

Quando questionado sobre se o cartaz não poderia passar uma imagem errada, o CEO da Companhia Portugueza Oriental recusou o cenário: “Não, não, é uma imagem estilizada, as pessoas percebem isso”, disse.

Por sua vez, Carlos Álvares, um dos oradores, afirmou ao HM que o Fórum Macau não estaria envolvido, mas que mais explicações deviam ser pedidas à entidade organizadora.

Finanças | Saldo orçamental positivo sem recorrer a reserva

Nos primeiros dois meses do ano o Governo registou um “superavit” de 9,3 mil milhões de patacas, quando são consideradas todas as receitas. Porém, mesmo sem a reserva, o montante foi positivo em 2,5 mil milhões de patacas

 

Até ao final de Fevereiro, a RAEM registou um saldo positivo de 9,30 mil milhões de patacas, de acordo com os dados publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF). Nos primeiros dois meses do ano, a RAEM registou receitas de 16 mil milhões de patacas e despesas de 6,70 mil milhões de patacas.

Os números apresentados têm em conta uma injecção de capitais da reserva financeira no valor de aproximadamente 6,65 mil milhões de patacas. Contudo, mesmo que esse montante não tivesse sido injectado, o orçamento continuava a ter um balanço positivo. Neste caso, sem a injecção, a RAEM estaria a registar um superavit superior a 2,5 mil milhões de patacas.

Em termos das receitas apresentadas, o jogo é a fonte mais relevante. Em Janeiro, o principal sector económico tinha feito entrar 3,21 mil milhões de patacas nos cofres da RAEM. Em Fevereiro, mês com menos dias, o montante baixou para 3,11 mil milhões de patacas, o que reflecte a quebra das receitas brutas do jogo entre os dois primeiros dois meses do ano, de 8,02 mil milhões, em Janeiro, para 7,31 mil milhões, em Fevereiro.

Em termos das despesas, os principais gastos envolveram o campo das “transferências, apoios e abonos”, com um montante de 3,90 mil milhões patacas. Em Janeiro deste ano, o montante para os apoios sociais tinha sido de 2,75 mil milhões de patacas, o que significa que em Fevereiro o montante caiu para 1,15 mil milhões de patacas.

Mais caro

As “despesas com pessoal” foram o segundo gasto mais elevado do orçamento da RAEM com um valor de 2,26 mil milhões de patacas. Apesar de Fevereiro ter menos dias do que Janeiro, tal não impediu que esta rúbrica registasse um aumento de 1,12 mil milhões para 1,13 mil milhões de pataca. Também em comparação com o ano anterior, o Governo gastou mais dinheiro com o pessoal. Até Fevereiro de 2021, os gastos tinham sido de 2,26 mil milhões, o que contrasta com 2020, quando tinham gasto 2,20 mil milhões de patacas.

Outro capítulo onde se gastou mais dinheiro de Janeiro para Fevereiro foi ao nível da execução do Plano de Investimentos e Despesas da Administração, conhecido pelas iniciais PIDDA. Em Janeiro, a execução deste investimento tinha sido de zero, mas em Fevereiro o montante subiu para 227,5 milhões de patacas. No entanto, este montante, que é sempre debatido em sede de comissão da Assembleia Legislativa, não vai além de uma execução de 1,2 por cento do montante orçamentado para o todo o ano.

Cupões electrónicos | Ng Kuok Cheong pede implementação rápida de melhorias

Através de uma interpelação escrita, Ng Kuok Cheong quer que o Governo concretize, com celeridade, as melhorias prometidas para o plano de benefícios ao consumo por meios electrónicos.

Recordando que o próprio Chefe do Executivo veio a público pedir desculpa pelo plano de cupões electrónicos que foi genericamente mal acolhido pela população, o deputado quer garantias por parte do Executivo de que o modelo a aplicar terá por base o mesmo princípio dos cartões de consumo, “vai abranger toda a população” e que o apoio a conceder a cada residente não será inferior a 5.000 patacas.

“O Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) tem vindo a divulgar através de vários canais, propostas de alteração mas, até ao momento, não houve qualquer comunicação completa”, pode ler-se na interpelação. Recorde-se que no passado dia 28 de Março estava agendada uma manifestação contra o plano de apoios anunciado pelo Governo que acabou cancelada pelos Serviços de Saúde (SS), alegando não estarem reunidas as condições para cumprir as orientações de prevenção epidémica.

Os promotores do evento entendiam que o plano de apoio ao consumo, que contemplava cupões electrónicos de desconto, não respondia às necessidades dos mais idosos e das pessoas com menos recursos económicos.

Para usufruir do programa de cupões de consumo, os residentes, trabalhadores não-residentes e estudantes do Interior em Macau poderiam acumular um máximo de 4.800 patacas em vales, caso gastassem, entre Maio e Dezembro, 14.400 patacas.

O secretário para a Economia e Finanças Lei Wai Nong assegurou que, após a recolha de opiniões sobre o plano, este receberá melhoramentos para ir mais ao encontro do modelo de utilização do cartão de consumo.

Governo transmitiu acções que detinha no Centro Incubador

Sónia Chan, coordenadora do Gabinete para o planeamento da supervisão dos activos públicos da RAEM, garantiu ao deputado Leong Sun Iok que o Governo não só não voltou a injectar novo capital no Centro Incubador de Novas Tecnologias de Macau SA (MANETIC) como transmitiu as acções que detinha nesta empresa de capitais públicos, criada em 2001.

Nesta altura, o Executivo avançou com uma participação de 1.5 milhões de patacas, correspondentes a 15 por cento do capital social. “Desde a injecção inicial de capital até ao desinvestimento no ano de 2019 não houve nenhuma injecção [adicional] nem redução da detenção do mesmo”, disse Sónia Chan em resposta à interpelação escrita apresentada pelo deputado.

Em 2019 o MANETIC realizou uma assembleia-geral onde foi feito um “ajustamento das directrizes futuras” do Centro, tendo sido deliberado que “a RAEM transmite plenamente todas as acções detidas (desinvestimento), sendo estas reembolsadas de acordo com o valor inicial de capital”.

“De acordo com os relatórios de auditoria externa do MANETIC, entre 2015 e 2019, a companhia tem alcançado um balanço entre receitas e perdas, aliás, sem lucros. Os activos líquidos, ou seja, o capital próprio da mesma, mantém-se num valor de 10 milhões de patacas”, disse ainda, na mesma resposta, a coordenadora.

A ex-secretária para a Administração e Justiça frisou que o MANETIC tem por objectivos “a promoção e o apoio à formação de sociedades com projectos inovadores nas áreas das novas tecnologias”, entre outros.

Rever as leis

A coordenadora do Gabinete voltou a falar da necessidade de rever a legislação que regula o funcionamento das empresas de capitais públicos, uma vez que “há falta de diplomas legais que regulamentem o funcionamento das empresas”, além de que “não foram estabelecidos serviços especializados para proceder à supervisão deste tipo de empresa”.

Pretende-se alterar os “mecanismos como a supervisão das decisões sobre a exploração, avaliação da eficácia e o provimento de pessoal” destas entidades. Um estudo preliminar está ainda a ser feito, não tendo Sónia Chan avançado para um calendário sobre a sua conclusão. Será posteriormente realizada uma consulta pública sobre este assunto.

ONU | CPSP sem orientações para decidir que manifestações têm fins contrários à lei

As autoridades não têm directrizes internas para definir o que são “fins contrários à lei” em reuniões ou manifestações que não são permitidas. É o que consta de um relatório enviado por Macau à ONU, no qual o Governo reitera o risco da organização de manifestações para a saúde pública em contexto de pandemia

 

Num relatório enviado à Organização das Nações Unidas (ONU), sobre a aplicação no território do Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos, o Governo de Macau não conseguiu esclarecer como se decide que uma reunião ou manifestação é para “fins contrários à lei”.

“A lei 2/93/M (…) não providencia uma definição estatutária de ‘fins contrários à lei’ e o Corpo de Polícia de Segurança Pública também não tem orientações internas relevantes”, diz o documento. No entanto, a RAEM frisa que, por interesse do público, “é necessário a polícia adoptar medidas para assegurar que as reuniões e manifestações decorrem de forma legal e ordeira, para não terem um impacto sério na ordem e segurança públicas”.

A Comissão dos Direitos Humanos da ONU tinha questionado Macau sobre a interpretação da expressão, no seguimento de as autoridades terem banido um protesto contra a brutalidade policial em Hong Kong, em 2019, por esse motivo.

O Governo explicou que foi proibida uma reunião contra o abuso de poder e brutalidade das autoridades porque “a polícia acreditava que o propósito da reunião era claramente ilegal e suspeitava que os direitos de reunião e manifestação foram abusados”, acrescentando que o Tribunal de Última Instância não deu razão ao recurso apresentado. Já a intervenção na “Lennon Wall”, que surgiu numa parede junto ao Lago Nam Van, no verão de 2019, foi justificada com infracções ao regulamento geral dos espaços públicos.

A ONU também queria explicações sobre se houve abuso das medidas de saúde pública associadas à covid-19 para proibir reuniões, nomeadamente a vigília de homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen. Sem referir situações em particular, o relatório apresentado por Macau refere que “devido à influência da pneumonia pelo novo tipo de coronavírus, a organização de reuniões e manifestações pode representar um risco grave para a saúde e segurança pública e danificar a eficácia das medidas de prevenção epidémica, por isso tem de ser seriamente ponderado e decidido por interesse público”.

Perguntas sem resposta

Algumas perguntas foram deixadas sem resposta. O relatório, submetido em finais de Março, não indica quantos jornalistas viram a sua entrada no território vedada por motivos de segurança ao longo dos últimos cinco anos, uma informação pedida no seguimento de relatos de um aumento do número de rejeição de entrada a jornalistas vindos de Hong Kong e de “ameaças” experienciadas por jornalistas locais.

O Governo aponta que há legislação a permitir que a polícia recuse a entrada de não-residentes na RAEM ou expulse quem seja considerado “inadmissível” ou possa ser “uma ameaça à estabilidade da segurança interna ou seja visto como um suspeito relacionado com um crime transnacional, incluindo terrorismo”. “As provisões aplicam-se a todos os não-residentes, não especificamente a pessoas envolvidas em certas ocupações”, afirma no relatório.

Afastadas interferências

O Governo responde também a críticas de que a alteração à Lei de Bases de Organização Judiciária – que determina que a competência dos crimes relacionados com a defesa da segurança do Estado cabe a juízes que sejam cidadãos chineses, designados pelo Conselho dos Magistrados Judiciais – viola os princípios de independência e imparcialidade judicial. “A distribuição de casos ainda é feita de forma aleatória; por isso não equivale à criação de um tribunal especial para certos tipos de crimes”, defende a RAEM.

A Lei da Protecção Civil também foi incluída no relatório. “Para evitar perturbar as operações de resgate, causando ansiedade e alarme na sociedade, houve um consenso geral de que era necessário formular legislação para prevenir a disseminação de informação falsa ou rumores durante desastres”, pode ler-se. Recorde-se, porém, que na altura se registaram vozes discordantes. Quatro deputados votaram contra e a Associação Novo Macau reuniu cerca de 1500 assinaturas numa petição contra a criminalização de rumores.

Nos esclarecimentos prestados à ONU, fica também explícito que o crime de ultraje aos símbolos e representações nacionais veio para ficar. “A RAEM não tem intenção de remover as provisões que criminalizam tais crimes”, escreveu o Governo.

Sobre o despedimento dos académicos Bill Chou e Éric Sautedé das respectivas universidades, o Governo descreve que “foi parte da operação interna das instituições de educação superior” e garante que “não interfere com a sua autonomia académica e operações administrativas”.

Liberdade de imprensa | Parlamento português descarta pretensões de signatários da carta sobre Macau

Durante um debate em sede de comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas no seguimento do caso TDM, deputados do PS, PSD e PCP defenderam que há liberdade de imprensa em Macau, recusando criar um “caso”

 

O parlamento português considera que a China tem cumprido “com boa-fé” os seus compromissos no âmbito da transição de Macau, disse o presidente da comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.

A liberdade de imprensa em Macau foi discutida na terça-feira pelos deputados portugueses em sede de comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, na sequência de uma carta de 150 cidadãos portugueses, todos residentes em Portugal, que apelaram ao parlamento português para que manifestasse preocupações relativas à limitação da liberdade de imprensa em Macau e monitorizasse o cumprimento do acordo entre Portugal e a China sobre o território.

A comissão, afirmou Sérgio Sousa Pinto no final do debate, demonstrou um “entendimento bastante generalizado” de que “os compromissos assumidos com Portugal, que já levam 20 anos, têm sido cumpridos com boa-fé pela parte chinesa”. Da Assembleia da República portuguesa não deverá sair uma posição, como era pedido na carta.

Não empolar a questão

“O parlamento não tem de tomar posição sobre todos os temas. O parlamento discute os temas, e foi isso que hoje aconteceu. Foi uma discussão aberta, aberta inclusivamente à comunicação social, e livre sobre a situação alegadamente vivida em Macau”, referiu.

“Consideramos que empolar e dramatizar esta questão neste momento não serve nem Macau nem os portugueses em Macau nem as relações entre Portugal e a República Popular da China”, comentou.

Durante o debate, deputados do PS, PSD e PCP defenderam que há liberdade de imprensa em Macau, recusando criar um “caso”. Recorde-se que a carta, encabeçada por ex-jornalistas, surgiu após a posição da administração da emissora pública Teledifusão de Macau (TDM), que terá dito aos jornalistas dos serviços de televisão e rádio em língua portuguesa, numa reunião no passado dia 9 de Março, que estes estariam proibidos de divulgar informação e opiniões contrárias às políticas da China e do Governo de Macau. Contudo, tal nunca chegou a ser confirmado por uma fonte independente.

Na carta, os ex-jornalistas denunciavam a existência de um “ataque à liberdade de imprensa em Macau” e exigiam que o “Estado português, enquanto parte contratante da Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre a Questão de Macau”, exerça os seus deveres. Nenhum jornalista ou ex-jornalista, actualmente em Macau, assinou a referida carta.

Principais partidos de acordo

Pelo PS, o deputado Paulo Pisco considerou que “não vale a pena estar a criar um problema onde ele não existe”. “A imprensa portuguesa exerce a profissão com toda a liberdade, inclusivamente contrariando posições oficiais da China, sem qualquer problema. [Este] é um problema que existe mais aqui em Portugal do que lá”, sustentou o socialista. Para Paulo Pisco, houve um “excesso de zelo” de “alguém da administração” da TDM, mas depois houve “um nítido recuo” e “as coisas foram depois postas no seu lugar”.

Também o deputado social-democrata José Cesário afirmou que há 20 anos visita anualmente a região e nunca verificou limitações à liberdade de expressão. “Há uma polémica criada mas, se há razões para existir, em Macau, não me parece”, comentou, após recordar que a China financia vários órgãos de comunicação social em língua portuguesa sem interferir nas questões editoriais.

Para Cesário, “este não é o momento de criar um facto político, porque não é correto nem justo pelo modo quase exemplar como a China tem cumprido” as suas obrigações previstas na Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre a transição de Macau para a administração chinesa, concretizada em dezembro de 1999.

João Oliveira, do PCP, declarou estar em causa uma “tentativa de desestabilização da situação em Macau, com transposição da situação de Hong Kong e alguma mimetização de processos e expedientes” e alertou para “as consequências que podem advir para a comunidade portuguesa residente em Macau, que pode ser apanhada num fogo cruzado”. “O Estado português não deve acompanhar a acção de outros Estados no sentido de exacerbar esses elementos de desestabilização”, salientou.

BE, polícia do mundo

Só o deputado do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, assumiu uma posição diferente, recordando que a denúncia dos ex-jornalistas foi secundada pela organização Repórteres sem Fronteiras, “pelo que merece uma atenção em particular”. “Faz sentido que o Governo português indague sobre o que aconteceu e que a Assembleia da República tome uma posição rejeitando qualquer intromissão na liberdade de imprensa, seja em Macau seja em qualquer parte do mundo”, acrescentou, questionando que neste caso “haja tantos paninhos quentes para gerir este processo”.

Telmo Correia (CDS-PP) transmitiu preocupação sobre o caso e defendeu a necessidade de se perceber “o que está o Governo português” a fazer sobre esta matéria.

O chefe do Governo de Macau, Ho Iat Seng, negou que o território esteja a impor restrições à liberdade de imprensa e que acredita que os ‘media’ são patrióticos e amam a região administrativa especial chinesa.

Demolir paredes demolindo a História Chinesa de Macau – De Ferreira do Amaral ao Instituto Cultural de Macau

Análise de António V. de Saldanha 薩安東, professor da Universidade de Macau

 

Há poucos dias, com mais repercussões nos media de língua chinesa do que nos portugueses, uma notícia agitou o meio dos que cuidam e se preocupam com o património histórico-cultural de Macau. O caso conta-se em poucas palavras: após alguma discussão, o Conselho de Planeamento Urbano de Macau, baseado em parecer do Instituto Cultural de Macau, considerou a irrelevância arqueológica do lote de 563 metros quadrados localizados no Pátio do Amparo nos.5-7, e autorizou a edificação no local, sujeita às habituais restrições de altura, etc. A decisão suscitou a oposição imediata de um dos membros desse Conselho, o Arq. André Lui (呂澤強 Lǚ Zeqiang) — destacado especialista em questões de património cultural e membro da Chinese Association for the Protection of Historic Sites — invocando o facto de o Conselho de Planeamento Urbano de Macau ter decidido apressadamente sobre um parecer erróneo do ICM. Ou seja, um parecer emitido pelo Instituto Cultural onde se avaliou deficientemente o facto facilmente provado de o terreno em causa estar sobre o local do antigo Guanbu Xingtai關部行臺, desde 1688 a antiga sede da delegação alfandegária imperial de Macau (a “Alfândega Grande da Praia Pequena”), encerrada pelo Governador Ferreira do Amaral em 1849. Para Lǚ Zeqiang, o local do Guanbu Xingtai não deveria ser já considerado como “uma relíquia cultural de Macau mas um autêntico tesouro nacional”. Mais: a decisão do Conselho redundaria num atentado ao património histórico de Macau inviabilizando uma rara oportunidade de pedagogia histórico-cultural e de carácter “patriótico”.

A posição de Lǚ Zeqiang não pode deixar de merecer o maior apoio e solidariedade de todos aqueles que têm interesse pelo património histórico de Macau pois há um risco sério de uma página da história chinesa de Macau ser rasgada sem remissão. Contudo, o problema é bem mais sério do que o denunciado pelo Arq. Lǚ e merece ser abordado aqui em toda a sua extensão.

Os 500 e tal metros quadrados vazios e os restos do que poderá ter sido a fachada nobre da antiga Alfândega imperial de Macau valem pouco por si mas (e é isto que se esquece) valem muitíssimo se devidamente incluídos no conjunto dos cinco locais mais simbolicamente representativos da autoridade imperial Chinesa que durante trezentos anos prevaleceu em Macau. A saber: 1) a porta fortificada do istmo com competências de fiscalização aduaneira, chamada depois de Porta do Cerco, no local onde está hoje a bem conhecida Kwan Chap, Guanzha關閘.

2) a residência (documentada desde os anos 70’s do sec.XVI) do chamado “mandarim de Macau”, o famoso Zuotang 佐堂ou Xiancheng县丞, responsável pela gestão dos assuntos dos chineses e dos estrangeiros de Macau. Esse edifício, pela sua utilidade não apenas residencial, mas também pela finalidade cerimonial, de secretariado e de tribunal judicial, podia ser classificado verdadeiramente como o yamen do Zuotang de Macau. 3) o edifício central da administração alfandegária de Macau, o Niangmajiao shuiguan娘妈角税馆, a primeira delegação da Alfândega imperial Cantão em Macau, o “Hopu da Barra”, fundado em 1684/1685 e chefiada por outro mandarim ou magistrado, o Guanaoweiyuan關澳委員, o chamado “Hopu da Praia Pequena”. 4) a residência deste magistrado e de outros mandarins de visita a Macau, construída nos anos 70 do século XVIII, não longe do corpo da grande alfândega. 5) o átrio do Senado de Macau onde estavam erectas as duas grandes lápides de pedra com os decretos dos Imperadores Wanli (1614) e Qianlong (1749) que enunciavam o complexo normativo pelo qual até ao séc. XIX se pautou a existência da comunidade Portuguesa de Macau no interior do sistema imperial de governança da cidade.

É de notar que muitas das tão famosas ”chapas sínicas”, documentos oficiais chineses de contacto com as autoridades portuguesas de Macau, custodiadas pelo Arquivo Nacional de Portugal e recentemente classificadas como património mundial pela UNESCO, foram produzidas e emitidas em Macau pelo gabinete dos Mandarins Zuotang de Macau e Guanaoweiyuan da Alfândega Grande sediados nos precisos locais que acabamos de referir!

É por demais conhecido como esta lógica e esta logística do poder imperial chinês foi totalmente pulverizada entre os anos de 1846 e 1849 por acção do Governador Ferreira do Amaral. O Procurador do Senado, o Yimu 夷目, o “olho dos bárbaros”, detentor de um ínfimo grau mandarínico, perdeu então o seu papel de liaison officer junto dos magistrados chineses e as lápides com os decretos imperiais existentes no Senado foram destruídas ou remetidas para Lisboa. A Porta do Istmo foi alterada e redenominada como “Porta do Limite” para significar a extensão territorial da cidade para lá das velhas e depois derribadas muralhas e portas da cidade até à garganta do istmo. Os mandarins Zuotang e Hopu foram expulsos de Macau, as residências confiscadas e vendidas, a Alfândega Grande da Praia Pequena encerrada e esventrada, e o mastro fronteiro com as flâmulas imperiais derrubado à machadada na manhã do dia 13 de Março de 1849 perante uma atónita população chinesa.

É hoje possível compreender que o objectivo da estratégia do Governador Ferreira do Amaral foi não só político mas também psicológico. Expulsando os mandarins e, simultaneamente, arrasando, esvaziando e “dessacralizando” a logística do poder imperial chinês em Macau, Amaral arrancou-o do coração da cidade chinesa à beira do Porto Interior e tirou-o da vista da sua comunidade original, apagando a sua memória. De imediato, criou um espaço alternativo para um novo centro de poder, político, judicial e administrativo, agora Português, na outra ponta da cidade, à beira da Praia Grande, onde, por sinal, ainda hoje se conserva como sede do Governo da RAEM.

Pergunta-se, o que resta de tudo? Resta mais do que se pensa nesta cidade patrimonialmente martirizada, o suficiente para servir de sustento e amparo à divulgação da história de Macau pré-colonial, à história chinesa de Macau que ainda tem tanto para explorar e trazer ao grande caudal da história moderna da China.

Neste como noutros campos, são as fontes históricas portuguesas que continuam a suprir as deficiências informativas ou mesmo a inexistência das fontes chinesas pertinentes. Foi aliás o próprio arquitecto Lǚ Zeqiang que no seu apelo e para efeitos de prova sublinhou a importância da utilização de um largo mapa de Macau traçado em 1831 e actualizado em 1838 pelo cartógrafo da Marinha Portuguesa Cândido António Osório existente em Lisboa nos arquivos do Exército, agora digitalizado e incluído na muito útil e bem organizada colecção especial de cartografia de Macau, desenvolvida pela Biblioteca da Macau University of Science and Technology. A consulta do mapa de Osório pode ser ainda mais alargada e o traçado sobreposto a um simples mapa Google. Os resultados são surpreendentes e de uma exactidão que facilita a compreensão do que resta deste antigo centro histórico : numa área de algumas centenas de metros que correm para baixo da fachada lateral poente da Igreja de S. Paulo até à Rua de N. Sra. do Amparo (a bem conhecida rua dos quase desaparecidos tin-tins) concentram-se os sítios e as ruínas do que foram as sedes das autoridades Chinesas de duas dinastias que, indisputadas, governaram Macau e as duas comunidades, Chinesa e Portuguesa, até meados do século XIX. Junto a S. Paulo e à travessa de S. Francisco Xavier, o palacete mourisco que abriga a Associação Hó-Song-I-Tong 何族崇義堂聯誼會 assenta no que foi o yamen do Zuotang, o mandarim de Macau. Mais uns metros abaixo, na grande área compreendida entre o Pátio do Amparo 顯榮圍e o Pátio da Mina李家圍, limitada a poente pelo R. de N. Senhora do Amparo關前後街 (referida na documentação portuguesa dos finais do século XIX como sendo a “Tai-kuan-háu-cae” 大關後街 Da Guan Hou Jie, isto é, a “Rua de trás da Grande Alfândega”), está o local da Alfândega Grande da Praia Pequena que o Instituto Cultural veio agora negar a prova que ali se localizasse. Ainda na R. de N. Sra. do Amparo, umas centenas de metros para norte está o pórtico do Pátio das Calhandras山蔴雀 圍; logo à entrada, à esquerda, um edifício pesado que contém os restos ou assenta sobre a antiga residência dos mandarins da alfândega e magistrados visitantes (hoje ao que parece propriedade da associação Tung Sin Tong); à esquerda do pórtico está o bloco compacto de uma antiga casa de penhores que no mapa de 1831 já era referida como tal, fronteira a casa dos Mandarins.

É neste contexto de riquíssimo e profundo significado histórico para Macau e, consequentemente, para a história da Grande Baía e moderna da China que nos surge a iniciativa do arquitecto Lǚ Zeqiang e o seu apelo para que as autoridades de Macau entendessem o que estava em jogo e que se respeitasse uma memória da história da cidade; isto é, uma memória agonizante que, por um esforço pedagógico e patriótico, deveria ser elevada a memória colectiva da comunidade de Macau.

É verdadeiramente chocante que esse apelo tenha sido rejeitado, aparentemente baseado num parecer produzido pelo Instituto Cultural de Macau que avança o argumento pueril da inexistência de vestígios arqueológicos probatórios da existência do Guanbu Xingtai, a Grande Alfândega da Praia Pequena, no local. Ignora-se que restos arqueológicos se esperaria encontrar no local provando a existência de uma repartição burocrática como a alfândega cujos armazéns e guarda marítima se situavam noutro local, mais abaixo sobre a Praia Pequena, como o prova o mapa de Osório (“Opu da Praia Pequena”) Aliás, um outro documento oficial português de 1877, revela-nos que nesta data já só existiam neste mesmo espaço do Pátio do Amparo as fortes paredes da Alfândega e um amontado de casario miserável.

O Instituto Cultural de Macau já nos vem habituando de há muito a uma impressão de incapacidade no que respeita a uma política racional e informada de salvaguarda do património histórico de Macau, limitado pelo que parece ser uma noção impressionística e de vistas curtas mais voltada para o “turismo de massas” do que para os interesses e formação cultural da comunidade que aqui vive há várias gerações. Desta feita, a questão não parece ser o turismo de massas mas o interesse vulgar de viabilizar mais uma construção de raiz nos 563 metros quadrados cravados num centro histórico da cidade. Claro que não se questiona o indisputado mérito dos arquitectos e dos arqueólogos do ICM; questionam-se sim as noções e conhecimentos que o ICM tem (se é que tem) da secular história política, social, económica e cultural de Macau e das responsabilidades inerentes da sua preservação e do seu desenvolvimento para os quais uma bem orientada contribuição dos arquitectos e dos arqueólogos é fundamental.

Porque não é certamente aos responsáveis pelas Obras Públicas de Macau que essas mesmas responsabilidades cabem: é ao Instituto Cultural, como a outros institutos culturais do mundo civilizado. Nesse campo — o da sabedoria, o da inovação e o do critério de valorização e potencialização do património – devem pôr-se os olhos na China, mesmo aqui ao lado, que tem dado e continua a dar exemplos absolutamente notáveis.

Entendamo-nos: o que parece esconder-se por detrás da manifesta incapacidade do ICM para lutar pela preservação do sítio da antiga alfândega imperial, não é a indiferença mas a pura e simples ignorância da História de Macau e a menoridade cultural de quem crê que o “património” urbano se reduz à unidade que se vê, ao que se palpa e ao que eventualmente serve de pano de fundo a mais uma selfie. Numa cultura riquíssima como a Chinesa onde o símbolo, e sobretudo o símbolo transcendente do poder, teve e continua a ter um lugar privilegiado, é verdadeiramente inacreditável que isso não aconteça em Macau RAE. É, de facto, espantoso que a superior instituição local em matéria de Cultura não tenha compreendido que ao proteger e acarinhar um elemento do núcleo simbólico de trezentos anos de pleno exercício de uma Autoridade Imperial — que também foi Governo Central da China — esteja a cometer um erro cultural e, sobretudo um erro pedagógico. Num momento em que as mais altas instancias da R.P. da China apelam ao reavivar, ou mesmo à reconstrução, de uma história nacional para a qual devem fluir as histórias locais numa lógica de legitimidade, de unidade e de continuidade, é, de facto, inacreditável que em Macau se ignore e desperdice a oportunidade de, para lá da cultura livresca e erudita, ensinar à sua comunidade através de um itinerário marcado na malha urbana e pela exibição dos restos simbólicos ainda existentes no seu espaço, que houve um Macau pré-colonial gerido com competências específicas por autoridades delegadas de um Poder Central, com assento em Macau e com uma logística própria e adequada ao seu estatuto. Foi isso que o Governador Ferreira do Amaral atacou com precisão, selecionando os alvos de maior carga simbólica para fazer esquecer um passado que lhe era impossível deixar coexistir com a nova legitimidade colonial.

Ironicamente, parece que assim e por este caminho o Instituto Cultural de Macau arrisca ganhar o título dúbio de facilitador do remate final da obra de Ferreira do Amaral. Por isso, razão e muita tem o arquitecto Lǚ Zeqiang ao sugerir que a questão já não deveria estar a correr ao nível local da preservação do património mas sim que deveria ser transportado para uma instância superior onde os tesouros nacionais da cultura chinesa são devidamente considerados e protegidos.


Nota:
Este artigo de opinião é fundado em resultados de um projecto de pesquisa que o autor lidera com o título “Logics and Logistics of Power, Commerce and Religion in Pre-Colonial Macau”.

André Lui, arquitecto e especialista em património, sobre edifício da Alfândega: Um marco da soberania chinesa

Que motivos o levaram a considerar o edifício importante para a educação patriótica?

André Lui: O edifício da Alfândega em Macau era uma das representações da soberania chinesa, durante a Dinastia Qing. Pode ver-se que nos dias de hoje, a nível do património de Macau, encontramos muitos edifícios com influências europeias, principalmente relacionadas com a administração portuguesa. Mas, para encontrarmos edifícios que representem a soberania chinesa em Macau relacionados com a Dinastia Qing é muito difícil, para não dizer que não há.

Qual a razão desse cenário?

Foi porque durante o século XIX o governo português adoptou políticas diferentes… Mas, se forem feitos estudos arqueológicos naquele local […], é possível encontrar vestígios desse edifício. Só que a importância não se esgota no edifício da alfândega.

Este edifício pode ter um interesse além de Macau, mas antes nacional?

Sem dúvida! Na China não é normal encontrar vestígios de edifícios alfandegários desta data. E se tivermos em conta o contexto político nos dias de hoje, pode ser uma forma de ensinar o patriotismo.

Quais são os outros motivos de interesse?

Antes de ser construída a alfândega existia naquele local um edifício religioso, a Igreja de Nossa Senhora do Amparo. É esse o nome da rua naquele local. As pessoas que anteriormente participaram nos estudos arqueológicos naquela zona encontraram vestígios de três épocas distintas. Uma das épocas é o início da Dinastia Qing, ou seja, no século XVII. Existem também vestígios do século XIX, nomeadamente com as fundações da alfândega chinesa. Depois há vestígios do século XIX, porque houve ali um edifício mais recente, que era uma construção azul. Actualmente já não existe, mas em termos de arqueologia e valor histórico aquela zona é muito importante.

Considera que o Governo devia tentar ficar com o terreno e construir um museu sobre a importância do edifício?

Era uma boa opção. Se olharmos para aquela zona, nunca vai permitir que seja construído um bom projecto, em termos de edifícios residenciais ou comerciais, porque os acessos são muito difíceis. Por outro lado, aquele terreno tem um valor histórico e arqueológico para Macau. Há uns anos, o Governo comprou o terreno da farmácia de medicamentos ocidentais Chong Sai, de Sun Yat Sen, e construiu um museu. Gostava de ver o Governo fazer algo semelhante neste local, com um museu ou um museu arqueológico. Um pouco à imagem do que foi feito em Lisboa, com a Casa dos Bicos, em Lisboa.

Pode dizer-se que além do valor histórico seria também outra atracção turística…

Exactamente, e que se integra muito bem como zona de interesse para quem gostava de visitar as Ruínas de São Paulo. Seria bom para promover o turismo em Macau.

Timor-Leste/Cheias | Entre danos e o voluntarismo, portugueses também afectados pelas cheias

Por António Sampaio, da agência Lusa

André Simões está desde domingo a contabilizar perdas que ultrapassam os 120 mil dólares, causadas pelas águas de uma ribeira que saltaram o leito e destruíram parte do complexo em Tibar, perto de Díli. “Isto está demais. Vamos abrindo caixas e gavetas, com coisas electrónicas e outro material e não se aproveita nada”, conta à Lusa por contacto telefónico em Tibar, município de Liquiçá, ao lado de Díli, mas onde não se pode ter acesso devido à cerca sanitária na capital.

Nos últimos anos, Simões e a família foram-se progressivamente instalando em Tibar, construindo uma casa e as bases das empresas, a Tua Simões (que importa produtos alimentares e vinhos portugueses) e a Clima Simões (de refrigeração e ar condicionado). Agora, grande parte do material está destruído, ficaram danificadas duas carrinhas, uma mota e todos os muros do complexo que ruíram com o peso das águas.

“Na madrugada de domingo estávamos a dormir. Acordámos com a chuva e com os cães que não paravam de ladrar. Vim à rua e já tinha o terreno todo alagado”, conta.

“Ao lado passa uma ribeira e há uma ponte nova que ficou muito obstruída e fez dique, levando a que a água saltasse as margens, deitasse abaixo o muro traseiro e depois entrasse em enxurrada pelo terreno”, explica.

As águas alagaram tudo, chegando a 1,70 metros de altura, com tanta intensidade que deitaram abaixo os muros do complexo. A água foi saindo mas ficaram toneladas de lama.

“Somando tudo, para já, carrinhas de carga e de distribuição, um gerador, bombas de água, computadores e equipamentos eletrónicos, além dos muros, eu acho que ultrapassa os 120 mil dólares”, contabiliza.

“É um impacto brutal. Não sei se haverá algum fundo para apoiar estas coisas, uma linha de apoio. Temos que ter cuidado para não ir totalmente abaixo”, frisa.

João Paulo Esperança, professor e tradutor, que já nas cheias de 13 de março de 2020 tinha perdido parte da sua coleção de livros e sofrido sérios danos em casa, voltou no domingo a ter a casa cheia de água.

“As inundações foram piores que há um ano. Em 2020 as águas subiram 70 centímetros, agora foi mais de um metro. Voltei a perder livros e muitas coisas ficaram estragadas”, explica, dando conta à Lusa do impacto no seu bairro, Bidau Santana, no centro da capital.

“Aqui há muitas casas que estão inundadas. A casa em frente da minha, a água da ribeira partiu-lhes o muro e entrou pela casa adentro. Houve pessoas a tentar que nadar contra a corrente para salvar a família”, descreve.

“Depois de dois anos de inundações, as paredes estão totalmente podres. Vamos ter que encontrar outro sítio enquanto reconstruímos”, lamenta.

Também a delegação da Lusa em Díli foi afetada pelas inundações com danos no chão, parte do sistema elétrico e em mobiliário e outro equipamento. As histórias são apenas algumas de relatos que se cruzam, com maior ou menor gravidade, um pouco por todo o país.

As águas não escolheram nacionalidade ou a riqueza da casa: tanto ficaram afetadas casas rudimentares, ao lado das ribeiras, como apartamentos em complexos caros usados por estrangeiros.

Duas portuguesas, que vivem num desses complexos e que aceitaram falar à Lusa, contam que acordaram com a casa cheia de água, as tomadas a deitar fumo. Uma delas acordou mesmo com o colchão a flutuar.

“Tivemos água acima do joelho. E, depois da água, agora temos a lama. E ainda não sabemos quais são as nossas perdas”, explica, contando que estiveram horas em conseguir sair do local.

Vários portugueses, que tiveram que sair a correr de casa, em alguns casos com água pela cintura, acomodaram-se em casas de amigos ou hotéis, como alguns que foram para o Hotel Timor, onde horas depois se montou uma operação de preparação de comida para centenas de famílias afetadas.

Muitos da comunidade portuguesa, como muitos do resto da comunidade estrangeira, começaram a mobilizar-se ainda no domingo, ajudando directamente famílias, reunindo comida e roupa para os mais afectados e iniciando campanhas de recolha.

As campanhas continuam, algumas com visibilidade mediática, mas muitas outras de cariz individual, com pessoas a fazer refeições quentes, a distribuírem material e comida, a ajudarem vizinhos ou amigos.

De fora de Timor-Leste também se mobilizaram ajudas, com o fluxo noticioso a servir como ponta de lançamento, em vários países, para ofertas de ajuda, incluindo grupos que na Austrália querem mobilizar apoios para enviar para o país.

Tiago Barata, director da unidade hoteleira e veterano de Timor-Leste diz que não se lembra de coisa igual, pela quantidade de chuva e por “tanta desgraça que causou no país interior ao mesmo tempo”. “Houve pessoas que chegaram aqui muito traumatizadas. Achavam que estavam em casas seguras, mas que não resistiram às inundações e à enxurrada”, conta à Lusa.

Mas destaca a onda de solidariedade que se evidencia, com as mesmas pessoas que chegaram depois de deixar a casa, parcialmente danificada, a saírem dos quartos para vir ajudar a preparar refeições para ir entregar a populações deslocadas.

“Impressionante. Só tínhamos dois empregados, porque muitos também tiveram problemas em casa. E para responder a pedidos de ajuda das refeições teve que ser com a ajuda de todo a gente. Pessoas que nunca tinham visto a telefonarem e perguntar se podiam vir ajudar”, sublinha.

“O que vejo com o meu pessoal é que está toda a gente a querer ajudar, incluindo casos peculiares, de timorenses que perderam as casas, mas estão a trabalhar, muito mais horas do que o normal”, explica.

Tiago Barata nota a motivação que muitos mostram, incluindo a de um trabalhador que teve um acidente e enfiou um ferro no pé: “Foi ao hospital tratar-se e voltou para trabalhar e ajudar a fazer as refeições” para quem está deslocado.

SAFP | Assessores do Governo têm licenciatura

“Os assessores actualmente em exercício de funções estão habilitados com o grau académico de licenciatura ou superior e têm determinada experiência de trabalho nas áreas profissionais em que são colocados”, declarou o director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), Kou Peng Kuan. A informação foi avançada em resposta a uma interpelação escrita do deputado Sulu Sou, que questionou a transparência na contratação de assessores pelo Governo.

No entanto, nem todas as perguntas de Sulu Sou tiveram resposta, nomeadamente se o Governo vai alterar as normas actuais para o despacho de nomeação de assessores ter de ser publicado juntamente com uma nota relativa ao seu currículo.

Sobre o alargamento do número de assessores no gabinete de secretários, que pode exceder os cinco a título excepcional por despacho do Chefe do Executivo, o director dos SAFP responde que já há mecanismos de controlo.

“É de frisar que com a política da gestão de quotas dos trabalhadores implementada pelo Governo da RAEM, a contratação de trabalhadores pelo gabinete do Chefe do Executivo ou dos secretários também está sujeita ao controlo do número total de pessoal estabelecido para o próprio Governo e para as diversas áreas subordinadas”, refere o documento.

Aumento da procura de vistos ‘gold’ com aproximação da mudança de lei

Representantes de escritórios de advogados com actividade em Macau e em Portugal disseram à Lusa que a procura asiática por vistos ‘gold’ aumentou. A nova lei sobre o programa entra em vigor no próximo ano.

Um dos sócios do escritório Rato, Ling, Lei & Cortés – Advogados disse que nos últimos meses e no ano passado, até ao início da pandemia, se sentiu uma maior procura por parte dos investidores. “Isso faz parte da estratégia de termos um escritório em Macau que nos dá acesso ao mercado chinês, de Hong Kong e ao mercado aqui do sul da Ásia, e sentimos da parte desses mercados um apetite maior para investir em Portugal”, sublinhou Pedro Cortés.

Até Março do ano passado, o seu escritório registou um crescimento de solicitações que decresceu significativamente depois da pandemia, verificando-se agora um novo aumento. “Não voltámos ainda aos níveis [anteriores] dos vistos ‘gold’, mas temos sentido muito interesse para outros vistos e uns acabam por compensar os outros”, observou. Além disso, explicou também à agência noticiosa que “os investidores começam a perceber melhor o mercado” e a existência de outras opções.

“Desde a aprovação da Lei do Orçamento do Estado de 2020 que permitiu uma revisão por parte do Governo da lei dos vistos ‘gold’ começámos a ter solicitações por parte de clientes”, explicou por sua vez uma consultora especial da MdME Lawyers. Segundo a Lusa, Un I Wong descreveu que o interesse se foca sobretudo no mercado imobiliário, mas também em fundos de investimento, para além da transferência de capital para contas bancárias em Portugal, com o investimento médio individual entre os 350 e os 500 mil euros.

Casa nas ilhas

O novo regime dos vistos ‘gold’ passa apenas a permitir autorizações de residência em Portugal a quem investir em imóveis para habitação nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira ou nas regiões do interior. O diploma inclui também alterações quanto a valores de investimento exigidos.

A Lusa calculou que o investimento captado através dos vistos ‘gold’ aumentou 13 por cento em Fevereiro, face a igual mês de 2020, para 52,3 milhões de euros, com base em estatísticas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Entre Outubro de 2012 e Fevereiro deste ano, o programa de concessão de Autorização de Residência para Investimento registou um investimento acumulado de cerca de 5,7 mil milhões de euros.

Tufão de Setembro

A Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau declarou que este ano a época dos tufões se vai estender até finais de Outubro, durante a qual tempestades tropicais de grau 3 a 8 vão atingir a cidade. No entanto, em Setembro, vai ocorrer de certeza um tufão político.

O Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional da RPC vai discutir esta semana a forma de aperfeiçoar o sistema eleitoral da RAEHK. Através da análise das várias fontes de informação, conjectura-se que as eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong, inicialmente agendadas para 5 de Setembro, voltem a ser adiadas, para dar mais tempo à constituição do Comité Eleitoral, e também para impedir que coincidam com as eleições para a Assembleia Legislativa de Macau. A simultaneidade das duas eleições poderia criar um ambiente favorável ao campo não governamental de Macau.

Os aspirantes a candidatos à eleição para a Assembleia Legislativa de Macau estão actualmente a recolher assinaturas para submeterem as suas pretensões junto da comissão de candidatura. Este processo está a ser mais tenso do que nas eleições anteriores. Algumas instituições de serviço social estão inclusivamente a usar os recursos públicos para obterem assinaturas que os apoiem a formar uma comissão de candidatura, e já receberam um aviso do Instituto de Acção Social.

Faltam poucos meses para as eleições de Setembro. O Governo da RAEM anunciou recentemente o lançamento do “Programa de Benefícios do Consumo por Meios Electrónicos”, e recebeu muitas críticas, mesmo algumas do campo pró-governamental. Na verdade, Macau já há muito tempo que implementou o princípio “Macau governado por patriotas”. Todas as posições importantes e todos os altos cargos nas organizações de consultoria, são ocupados por patriotas. Neste contexto, tudo deveria correr sobre rodas, então qual é o problema?

Tian Feilong, um académico da China continental, escreveu um artigo, publicado no jornal Ming Pao de Hong Kong, onde afirmava o seguinte “O campo pró-governamental, Hong Kong governado por patriotas não só irá criar mais assentos (no Conselho Legislativo) e mais empregos, como também vai elevar o nível de exigência da competência das pessoas (que vão ocupar os assentos do Parlamento e os cargos profissionais) de forma a servir Hong Kong e o país. E em particular, as posições de liderança, devem ser ocupadas por “patriotas acérrimos”, o que é o último dos requisitos. O Governo Central quer promover os patriotas com capacidades e valor, e não os subservientes e os idiotas leais.”

O Chefe do Executivo de Macau, Ho Iat-Seng, falou sobre a controvérsia provocada pelo “Programa de Benefícios do Consumo por Meios Electrónicos” num evento público na passada terça-feira, 23 de Março. Pediu desculpas à população e prometeu aperfeiçoar o Programa, lançando um outro, tendo em consideração a sociedade e o consenso. Estas declarações demonstram que se assume como o responsável do plano, no entanto foi ele próprio que causou o problema.

Antes de se anunciar o lançamento do “Programa de Benefícios do Consumo por Meios Electrónicos”, deveria ter havido um estudo em profundidade e uma consulta abrangente aos diversos departamentos sob a alçada do Secretário para a Economia e Finanças e aos assessores do Secretário para a Economia e Finanças. E como o Programa implica que se gastem vários milhares de milhões do erário público, deveria ter sido discutido pelo Chefe do Executivo e pelo Conselho Executivo, cujos membros são pessoas de relevo do campo pró-governamental.

Infelizmente, este Programa, que foi originalmente concebido para ajudar o sector comercial, não foi aceite pela maior parte dos consumidores. Transformou-se na depressão tropical que vai provocar o tufão em Setembro. No seio da controvérsia sobre o Programa, congratulei-me por o sector comercial não se ter posto ao lado dos que atacam a implementação destas medidas com objectivos meramente eleitorais, mas que pelo contrário se tenha tornado “apoiante firme” do Governo da RAEM. Também gostei que o Chefe do Executivo tenha tomado a iniciativa de assumir a responsabilidade pela elaboração do Programa. No fim de contas, um chefe de equipa, como é o caso do Chefe do Executivo, não pode ignorar os erros dos membros da sua equipa.

Para lidar com os problemas, para além de ter um plano, é preciso possuir suficientes capacidades, e não depender apenas da proclamação pública de “patriotismo”. Estes episódios relacionados com o lançamento do Programa serviram para avaliar a equipa do Governo da RAEM. Depois da passagem do tufão de Setembro, o que vai ficar de pé? Idiotas leais, patriotas capazes, grupos de oposição leais ou grupos de oposição firmes? Tudo vai depender das mudanças no clima político durante os próximos meses.

Vil e apagada tristeza

Santa Bárbara, Lisboa, segunda, 6 Abril

Lisboa – que nunca foi de se esplanar ou jardinar e perdeu aquela maneira de se viver cidade nas praças-catedrais que são os grandes cafés – está sentada no meio da rua a celebrar a Primavera do seu descontentamento. Os indicadores postos em gráficos e nas opiniões médicas que governam as nossas vidas de doentes por acontecer mandaram entreabrir. A impaciência empurrou portas, janelas e postigos, afinal forma de abrir no fechado. Dizem que seremos salvos pelo tamanho do intervalo, da interrupção do toque e da conspiração. O mundo parece disco riscado e o mais provável será o regresso à casa de partida que arrisca coincidir com a prisão. Exagero, claro, excepto para os mais velhos, que perderam as migalhas de autonomia e estão arrumadinhos em casas-forte de acrílico. E a da Gadanha anda em azáfama tamanha que arrisca esquecer-se de um ou outro que a chama em tonitruante silêncio deixando de comer. Queima esta coisificação dos nossos queridos velhos.

«Atentava naquele turvamento de palha-de-aço pousado em mãos ambas: curiosas formas têm as nuvens de arder. Tivera sucedido em papel desenhado e o aludido ganharia o desconchavo que as partículas em suspensão assumem quando se dá a ver o pensado. Naqueles espelhos enxertados em céu são sempre múltiplos os estratos, o roçagar das quase esferas expandindo-se em inquieta imperfeição, com rugas e refêgos a cambiarem de lugar, o ténue brincando com o sombrio. Atravessam as configurações das coisas como se fossem atalho. Brotam das paredes e acorrem a colhê-las com a palavra salitre. Se o azul perdura no lápis-lazúli, as nuvens reencarnam nas trufas: assim se deixam alcançar. Está em vias de extinção a arte que reivindicava a sua captura e domesticação, que parece sobreviver tão só na prerrogativa dos zangados. Vil e apagada tristeza, esta do bom tempo estar condenado a ser sem nuvens.»

Por causa do «Diário das Nuvens», tenho tido os dias contados. Com este acabado de passar pelos seus olhos, leitor, faz oitenta que começámos a brincadeira do toma lá nuvem, mete-lhe partículas dentro e vai estendê-las na rede a corar. Tal o cão com o seu invejável afinco atrás da causa, pus-me atrás das palavras. As leves soltam-se, as pesadas estrumam. Muitos destes poemas em prosa brotaram, pétala e espinho, copa e raiz, das tonalidades que cada palavrinha de nada pode conter. Atentemos na palavra coisa: parece nuvem de tanto lhe caber. O desgaste da oralidade, mas também as fendas que suscita, deram uma ajuda neste trabalho oficinal. Ficam por arrumar várias ferramentas como a repetição ou o neologismo metido a martelo. Tenho que lhes pintar a sombra na parede para que conheçam o sítio de repouso. Por falar em genética, a cidade e a casa cruzaram-se nas atenções. Certa canção diz que a casa é onde dói mais. Esta cidade dói-me no peito. Devia dizer como alguém próximo nos diz: não te metas na minha vida, não entres em mim. Já vai tarde. Outras criaturas suscitadas ficam por ora em sossego, por junto com mais obsessões de trazer por casa. A proximidade forçada não significará ossatura de domésticos frankensteins, colagem de avulsos. Valeu pontos também o ensaio, aquilo que se dá quando alguém pega no objecto procurado com energia e inteligência repetidamente treinadas, evita as investidas de cada um para lho roubar ou impedir progressão, e passa o risco. Em outra disciplina cumpre-se na tentativa de atirar projéctil de peso bem medido além da linha, o conjunto circunscrito à secção de uma circunferência por completar. Jamais pensei que a geometria, mais ou menos descritiva, se tornaria companheira. Passei a vida a traçar linhas de terra invariavelmente sujas, portanto dignas de punição.

Falando sério, devo obrigadar o João [Francisco Vilhena], por me ter oferecido este esbelto álibi para o torpor em que me fui deixando cair. Leituras prementes, projectos exaltantes, afazeres solenes, nada brilha no nevoeiro. Para cumprir a regra do jogo, ele mais comprido, que eu cumpridor, interrompemos hoje a cadência jornaleira.

Continuaremos ao sabor de apetites e com mais uns quantos filmes (os quatro já atirados ao ar pulsam em https://abysmo.pt/diario-das-nuvens-de-joao-francisco-vilhena-e-joao-paulo-cotrim/) e manda o inevitável que, além de prolongamento expositivo, pensemos em livro. Para variar, o chão está cheio de ideias, mas na neblina anda-se meneando as mil cautelas como a centopeia. É enorme a tentação, aliás costumeira, de erguer castelos nas nuvens.

Não foi desta que escrevi sobre as perspectivas, os enquadramentos, as sequências significativas e os acentuados agravamentos que o João foi fazendo, mas troquem, na penúltima, escultor por fotógrafo e temos um dia feito.

«Houve tempo. Houve tempo em que os escultures eram errabundos, passageiros até da passagem. A vida por inteiro em estaleiro, palácio agora, catedral na passada, palheiro e serrania, aqui como ali. Pegavam no barro, davam rosto ao medo e partiam. Assim com o mármore e o prazer, o lioz e a alegria, o bronze e a fúria, o ouro e o amor, a água e o espírito. Enfim, a matéria e a mão, puxada da mente. Esculpiam em movimento o que fica, mas sem reduzir fatalmente essas formas à estatuária. Ou desconsiderando os fins últimos: as altitudes se certas na determinação fazem-se portáteis e os bolsos armam-se casa. O atrito estica os homens que andam com as suas dedadas até se tornarem coordenadas condenadas ao enleio. De compridos, cumpriram o seu tempo. Cumpre agora o teu. Perplexo.”

GP F3 | Prestígio da prova aguenta um segundo cancelamento

O anúncio da pretérita semana dos organizadores do Campeonato da China de Fórmula 4, em que se revelou que o Grande Prémio de Macau faz parte do calendário para 2021, relembra-nos que se a evolução da pandemia não melhorar, uma tradição com quase quarentena anos poderá novamente não se repetir este ano: o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3

 

Como dizia Trevor Carlin, o fundador da equipa de Fórmula 3 Carlin, “Novembro não é Novembro, sem a ida a Macau”. Sem surpresas, portanto, o último Conselho Mundial da Federação Internacional do Automóvel (FIA) decidiu colocar a Taça do Mundo de Fórmula 3 da FIA no calendário internacional, mas esta acção não é vinculativa.

A última palavra, sobre a realização da prova, está sempre do lado da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau e das autoridades de saúde. Recorde-se que no ano passado a prova de Fórmula 3 não se realizou, pois os catorze dias de quarentena obrigatórios à chegada não eram viáveis para as equipas provenientes do estrangeiro.

O macaense Mário Sin, ex-membro da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, acredita que hoje as prioridades são outras. “O Grande Prémio de Macau é propriedade do Governo, não tem um problema de sobrevivência, daí a prioridade que o Governo tem agora é evitar ao máximo o contágio da COVID-19. Sendo assim, é muito provável que não vá baixar a guarda que tem tido até agora”, afirma esta figura incontornável do automobilismo local, acrescentando que “possivelmente não vamos receber a corrida de Fórmula 3 e outras se [o Governo] achar que a situação não é aconselhável. Veja que a China, por causa da pandemia, também abdicou da sua corrida de Fórmula 1. Por isso, se Macau tiver que desistir [da corrida de F3], está apenas a seguir os ‘bons’ conselhos de segurança da China em relação ao novo coronavírus”.

O piloto português Álvaro Parente, campeão britânico de Fórmula 3 em 2005 e que correu no Circuito da Guia tanto na prova de Fórmula 3, como na Taça do Mundo de GT da FIA, reconheceu ao HM que “é evidente que não é a situação ideal, dado que seria já o segundo ano sem competições internacionais em Macau. Mas atendendo à situação actual, é compreensível, dado que vão muitos pilotos e equipas da Europa e existem riscos na presente conjectura. Contudo, penso que o Grande Prémio de Macau é um nome muito forte no mundo do automobilismo e acredito que conseguirá manter o seu estatuto depois de dois anos sem provas internacionais”.

Estatuto intacto

O rumo que a FIA escolheu para a Fórmula 3 não é consensual. O que em tempos era uma competição que colocava frente a frente diversos construtores de chassis e motores é hoje uma competição monomarca Dallara-Mecachrome, o que tem sido alvo de várias críticas de alguns sectores.

“A F3 real perdeu a sua tradição quando a FIA passou de uma fórmula livre com competições em vários países para uma competição única, a FIA F3. Infelizmente, [Gerhard] Berger não ajudou enquanto presidente da Comissão de Monolugares da FIA, pois quis fechar os campeonatos nacionais para tornar a F3 europeia mais forte”, explicou ao HM Peter Briggs, ex-presidente da FOTA – Formula Three Association.

O inglês e ex-chefe de equipa que em tempos colaborou com Barry Bland, quando este último co-organizava a corrida de Fórmula 3 no território, afirma que “infelizmente, com o GP a tornar-se um evento de uma competição só (FIA F3), perdeu o seu sabor internacional de quando as equipas japonesas podiam encontrar as equipas europeias”.

Contudo, nem todos partilham da mesma opinião, como esclarece Álvaro Parente: “É um evento em que muitos pilotos gostam e querem participar. Estou seguro de que quando voltar a ter provas internacionais, Macau voltará a ser um evento com a projecção de que gozou até ao ano passado.”

Mesmo que não se realize a prova de Fórmula 3 nas ruas da RAEM este ano, tudo indica que isto não quererá dizer que a prova vai perder fôlego. Aliás, enquanto Macau conseguiu manter o seu evento de pé em 2020, outros, como o Grande Prémio de Pau, em França, ou até mesmo o Grande Prémio do Mónaco, não foram capazes de o fazer.

“O circuito da Guia não tem outro igual para uma prova de Fórmula 3 e a FIA há-de voltar com a Taça do Mundo”, sustenta Mário Sin. “Precisamos é manter a ‘nossa tradição’ de continuamente organizar o Grande Prémio de Macau, todos os anos e sem interrupção quaisquer que sejam as circunstâncias. É o único circuito que correu 65 anos sem parar, isto é uma mais valia que temos no nosso Grande Prémio de Macau e não deve haver um outro circuito das mesmas condições”.

A escolha possível

A escolha do campeonato chinês de Fórmula 4, como prova de substituição da corrida de Fórmula 3, fez franzir alguns sobrolhos, mas a realidade é que esta foi a única alternativa à disposição da organização do evento, visto que nenhuma outra competição de monolugares estava disposta a cumprir as zelosas imposições das autoridades de saúde locais. Para Peter Briggs, a solução encontrada “foi boa para os locais, mas para mais ninguém”.

“Caso o Governo consiga eliminar a situação obrigatória da quarentena para entrar em Macau, todo o problema ficará resolvido”, realça Mário Sin, no entanto, “quem sabe, um dia, um dos pilotos chineses que correram em Macau aparece nos campeonatos internacionais e possivelmente chegue até à F1. Daqui a alguns anos podemos orgulhosamente mencionar que este ou aquele piloto chinês correu aqui no Circuito da Guia”.

O Grande Prémio de Macau está agendado provisoriamente de 18 a 21 de Novembro, pendendo ainda de uma decisão final do Governo sobre se o evento avança e se sim, em que moldes. Para além de estar no calendário internacional como Taça do Mundo FIA de Fórmula 3 e aparecer no Campeonato da China de Fórmula 4, o Grande Prémio também faz parte dos calendários da Taça do Mundo de Carros de Turismo da FIA – WTCR e do Campeonato da China de GT.

Plásticas | Actriz chinesa sofre de necrose nasal

Após uma actriz chinesa ter exposto a sua cirurgia plástica falhada, que lhe provocou uma necrose no nariz, a autoridade médica decidiu suspender o médico da prática durante seis meses e o hospital foi multado em 49.000 yuans. A actriz Gao Liu escreveu na sua conta no Weibo que foi operada num hospital de cirurgia plástica em Guangzhou, capital da província de Guangdong. No entanto, a cirurgia não teve sucesso e ela sofreu repetidas infecções, bem como necrose nasal. “Mais tarde descobri que o hospital de cirurgia plástica não estava qualificado para realizar a cirurgia ao nariz”, escreveu Gao.

A experiência de Gao desencadeou uma ampla discussão sobre a segurança da cirurgia plástica na internet chinesa. O departamento de saúde local respondeu após dois dias e declarou que tinham iniciado uma investigação sobre o assunto.

Agora a Comissão Municipal de Saúde de Guangzhou publicou uma declaração, afirmando que o médico que realizou a cirurgia para Gao não tinha a qualificação correcta para realizar cirurgia estética de forma independente, pelo que será suspenso da prática durante seis meses. O hospital também foi punido por permitir que o médico não qualificado realizasse a cirurgia, em violação do Regulamento de Tratamento de Beleza Médica.

Alguns cidadãos chineses ficaram insatisfeitos com estas punições, considerando que a pena é demasiado leve para avisar eficazmente a indústria da cirurgia plástica e evitar que casos semelhantes voltem a acontecer. Lu Xiaoquan, uma advogada de direitos das mulheres baseada em Pequim, também entende que a pena é leve considerando a perda da actriz, quer financeira, física ou mental. “O caso demonstra que o regulamento para a indústria da beleza médica deve continuar a ser alterado de acordo com a situação actual e as sugestões do público”, disse a advogada.

A indústria da cirurgia estética na China tem vindo a expandir-se. A Associação Chinesa de Plásticas e Estética previu que o mercado de cirurgia plástica deverá atingir 300 mil milhões de yuans até 2022, com a forte procura a impulsionar o rápido desenvolvimento de produtos e indústrias, informou a Televisão Central da China.

Vacinas | Cidade na China pede desculpa por aviso controverso

Uma cidade do sul da China cancelou o seu controverso aviso de vacinação COVID-19 na quarta-feira, que alegava “colocar na lista negra” a população local não vacinada e proibi-la de apanhar transportes públicos e entrar em locais públicos, tais como restaurantes e supermercados. Numa declaração divulgada online, as autoridades da cidade de Wancheng, província de Hainão, no sul da China, disseram que cancelariam todas as penalidades possíveis que o aviso mencionava. “Pedimos sinceras desculpas pela forma imprópria como mobilizámos a vacinação”, lê-se na declaração.

Os residentes de Wancheng confirmaram que o governo local havia retirado o aviso. “Os avisos foram recentemente afixados em comunidades residenciais, mas eu não os vi hoje”, disse um proprietário de uma loja local. Outro residente, que recebeu a vacinação na semana passada, disse que não havia funcionários do governo que o obrigassem a fazê-lo. “A decisão de ser vacinado foi minha”, disse.

O aviso provocou um debate acalorado nos meios de comunicação social chineses, com alguns cidadãos a criticarem a indelicadeza e o abuso de poder de alguns governos regionais no lançamento da vacina. Mas outros disseram que era aceitável que os funcionários de base utilizassem alguns “meios especiais” para persuadir as pessoas a serem vacinadas, o que é uma das coisas mais urgentes na China neste momento. “Ser vacinado e proteger-se do coronavírus é bom para todos nós”, escreveu um utilizador do Weibo na quinta-feira. “Acho que não há nada de errado em o governo fazer isto”.

Actualmente, na China, os cidadãos recebem a vacina COVID-19 numa base voluntária e gratuita. O pessoal médico nos locais de inoculação informa as pessoas sobre a vacina, e não a dá àqueles que têm condições de saúde que não são adequadas para a vacinação.

A China só tem uma taxa de vacinação de 4%, disse recentemente o principal conselheiro médico da China, Zhong Nanshan, apelando para que as pessoas sejam vacinadas. “Só a vacina nos pode proporcionar uma melhor protecção”, observou Zhong.

Forças chinesas respondem a presença militar americana junto à sua costa

China e Estados Unidos enviaram, nos últimos dias, porta-aviões para águas disputadas nos mares do Leste e do Sul da China, numa altura de renovadas tensões entre os países da região e Pequim. No domingo, um grupo ofensivo de porta-aviões dos EUA, liderado pelo USS Theodore Roosevelt, entrou no Mar do Sul da China pelo Estreito de Malaca, segundo a unidade de análise Sondagem da Situação Estratégica do Mar do Sul da China, que tem base em Pequim. A mesma fonte disse que o destruidor de mísseis teleguiados USS Mustin também está a operar no Mar do Leste da China e se aproximou do rio Yangtsé, no leste chinês, no sábado.

A China estava ontem também a realizar exercícios navais com porta-aviões, perto de Taiwan, visando “salvaguardar a soberania chinesa”. A Marinha chinesa disse que os exercícios que envolvem o Liaoning, um dos seus dois porta-aviões, são rotineiros e agendados anualmente. No sábado, o Liaoning passou pelo Estreito de Miyako, no sudoeste do Japão, dias depois de o ministério da Defesa da China ter instado o Japão a “parar todos os movimentos provocativos” nas contestadas Ilhas Diaoyu, no Mar do Leste da China.

Analistas consideram que a presença naval no Indo-Pacífico destaca o risco de conflito militar entre China e Estados Unidos, à medida que Pequim afirma as suas reivindicações marítimas na região e Washington concentra a sua estratégia de Defesa na contenção da China.

Na última semana, a China e as Filipinas, país tradicionalmente aliado dos EUA, enfrentaram renovadas tensões, provocadas pela presença de navios chineses no Recife Whitsun, no Mar do Sul da China. Na segunda-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros das Filipinas disse que as alegações da China, de que os barcos estavam no recife para se protegerem do mau tempo, são “falsidades gritantes” e “claramente [uma] narrativa falsa das reivindicações expansivas e ilegítimas da China no Mar Ocidental das Filipinas”.

Manila também rejeitou a afirmação de Pequim de que o recife nas disputadas Ilhas Spratly é uma área de pesca tradicional chinesa e novamente exigiu que os barcos deixassem a área da sua zona económica exclusiva.

Os EUA, o Japão e a Indonésia também aumentaram a pressão sobre a China, na semana passada. O Japão expressou preocupação com a nova lei para a guarda costeira da China, que permite que a sua força quase militar use armas contra navios estrangeiros, em águas reivindicadas pela China, e com o aumento da presença da guarda costeira da China em águas próximas às ilhas contestadas.

China adverte Japão

Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, advertiu ontem o Japão para que não se coligue com os Estados Unidos contra a China, nas vésperas de uma cimeira entre Washington e Tóquio. Wang disse ao homólogo japonês, Toshimitsu Motegi, numa conversa por telefone, que os dois países devem garantir que as relações bilaterais “não se envolvem no chamado confronto entre os grandes poderes”, segundo o comunicado do ministério chinês.

Wang acrescentou que Pequim “espera que o Japão, como país independente, olhe para o desenvolvimento da China de forma objectiva e racional, em vez de ser enganado por alguns países que têm uma visão tendenciosa contra a China”. “O desenvolvimento da China não apenas permitiu ao povo chinês viver uma vida melhor, como contribuiu positivamente para a promoção da estabilidade e prosperidade regional”, referiu Wang.

O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, viaja para Washington, para se encontrar com o Presidente, Joe Biden, a 16 de abril, na primeira cimeira presencial do líder dos EUA, desde que assumiu o cargo em janeiro. Biden, em contraste com Donald Trump, enfatizou a reconstrução dos laços com aliados europeus e asiáticos.

Fotografia | Taipa Village acolhe exposição “Trapped x Escape”

Entre 14 de Abril e 2 de Julho, o Taipa Village Art Space vai receber a exposição “Trapped x Escape – An Eternal Theme”, da autoria das cineastas locais Tracy Choi e Simmy Cheong. Para Choi a mostra aborda “um novo conceito”, que possibilita ao público fabricar as suas próprias histórias a partir de fotografias narrativas. Subjacente está a temática de estar “encurralado”

 

A partir de 14 Abril, o Taipa Village Art Space acolhe a exposição fotográfica “Trapped x Escape – An Eternal Theme: Narrative Stills by Tracy Choi & Simmy Cheong”, da autoria das duas cineastas locais e que parte em busca de explorar, de forma interactiva, as temáticas da fuga e sentimento de estar encurralado.

Na base do projecto, explicou Tracy Choi ao HM, estão cerca de 20 imagens inspiradas no universo da ficção científica e que colocam uma mulher no centro da acção e, cuja ordem pela qual estão expostas, pode ser alterada pelos visitantes, com objectivo de criar novas histórias.

“Normalmente o nosso trabalho é filmar obras de ficção mas, desta vez, quisemos tentar algo novo, que não dependa só de nós. A partir de algumas imagens estáticas narrativas, o público pode interagir com o nosso trabalho, de forma a organizar a história da maneira que entender. O lugar onde estão as fotografias pode ser alterado pelos visitantes e, por isso, a forma como a história é contada não é apenas decidida por nós, mas também pelo público”, apontou Choi.

Sobre a forma como nasceu a ideia, Tracy Choi admite que a exposição tem um “cunho pessoal muito forte”, até porque acaba, de certa forma, por materializar, não só a colaboração de mais de 10 anos que vem mantendo com Simmy Cheong, com quem trabalhou, por exemplo, no galardoado “Sisterhood”, mas também a capacidade de desenvolver um “entendimento tácito” entre as duas.

“Trabalhamos juntas há mais de 10 anos e, às vezes, nem precisamos de dizer nada por termos desenvolvido um entendimento tácito. No entanto, por haver tanto entendimento tácito, as ideias são tão consistentes que acabam por criar restrições. Esperamos com esta exposição regressar ao ponto de partida e contar uma história simples, a partir de imagens estáticas. Além disso, apesar de a forma não ser um elemento maior que a essência do conteúdo, a forma acaba por ser, algumas vezes, a própria essência. Como é que a mesma história pode variar nas suas diferentes formas?”, questiona Choi, numa nota oficial da exposição divulgada pela Associação Cultural da Vila da Taipa.

Em busca de saídas

Mostrando-se “satisfeita” por ter a oportunidade de “trabalhar num novo conceito de exposição”, ao lado Simmy Cheong, Tracy Choi sublinha ainda que foi difícil escapar à tentação de voltar a abordar o sentimento de estar encurralado, muito presente na sua obra.

“O tema subjacente à história patente nas fotografias é o conceito de estar encurralado e de querer fugir. Acho que pelo facto de a maioria dos meus filmes estar relacionado com estes tópicos e com problemáticas no feminino, estes foram naturalmente também os temas escolhidos para esta exposição. Em traços gerais, podemos ver a história de uma mulher, ou rapariga, que está de alguma forma encurralada ou aprisionada de alguma e que quer fugir dessa situação”, contou Tracy Choi ao HM.

A exposição “Trapped x Escape – An Eternal Theme: Narrative Stills by Tracy Choi & Simmy Cheong pode ser vista entre 14 de Abril e 2 de Julho no Taipa Village Art Space.

Polícia prende 68 pessoas em esquema com ligações a Wan Kuok Koi

A polícia da Malásia anunciou a detenção 68 pessoas por ligações ao crime organizado, que afirma estarem relacionadas com o ex-líder da 14 quilates e empresário Wan Kuok Koi, também conhecido como Dente Partido. A informação foi revelada pelo jornal Straits Times. Dos 68 detidos, 30 tinham nacionalidade malaia e 18 nacionalidade chinesa. A origem dos restantes detidos 20 não foi adiantada.

Segundo a informação da publicação de Singapura, além das detenções, foram apreendidos 16 veículos de luxo, alguns da marca Rolls Royce, e congeladas várias contas bancárias. As apreensões e as contas congeladas foram avaliadas num total de 25,2 milhões de patacas.

A operação foi desencadeada numa altura em que as autoridades da Malásia procuram o empresário Nicky Liow Soon Hee, de Hong Kong, que terá ligações a Wan Kuok Koi, através da empresa Winner Dynasty Group. Nicky Liow tem 33 anos e é procurado pela prática de crimes de lavagem de dinheiro e criminalidade organizada.

De acordo com o chefe da polícia da Malásia, Abdul Hamid Bador, Liow está igualmente ligado à associação bandeira de Wan Kuok Koi, a Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen. “As nossas informações permitem-nos saber que Liow foi nomeado vice-presidente da Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen, que pertence a Wan Kuok Koi, a 4 de Janeiro de 2019”, afirmou, Hamid, citado pelo Straits Times.

Associação sancionada

A Associação Mundial de História e Cultura de Hongmen e ainda a associação de Wan foi sancionada pelo governo dos Estados Unidos, por haver suspeitas de estar envolvida em várias ilegalidades.

No entanto, a investigação das autoridades malaias não se ficou pelos detidos e há também operações a decorrer que visam os próprios agentes. Segundo a versão oficial, acredita-se que a rede de Nicky Liow conseguiu infiltrar-se recrutando alguns agentes da polícia. “Um dos nossos agentes está envolvido numa fuga de informação, que permitiu a Liow preparar-se com muito tempo para transferir uma grande quantia da sua riqueza. O dinheiro foi movimentado para um local que não conhecemos”, reconheceu Hamid. “Mas já identificamos os envolvidos e vamos fazer as nossas investigações. Não vamos permitir que fujam”, acrescentou.

Receitas mensais dos casinos crescem para 8,30 mil milhões em Março

Março foi o melhor mês desde o início da pandemia com as receitas brutas dos casinos de Macau a registarem uma subida mensal de quase mil milhões de patacas relativamente a Fevereiro. Em relação ao período homólogo do ano passado, a subida foi de 58 por cento. No entanto, há ainda um longo caminho pela frente

 

Desde Janeiro de 2020 que não se registavam resultados tão animadores na indústria do jogo em Macau. Apesar disso, há ainda um longo caminho pela frente e, segundo alguns analistas, os resultados ficaram aquém do esperado.

De acordo com dados divulgados na passada quinta-feira, pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), em Março de 2021, as receitas brutas dos casinos de Macau registaram uma subida para 8,30 mil milhões de patacas em termos mensais, ou seja, mais 994 milhões relativamente a Fevereiro, altura em que as receitas se fixaram em 7,31 mil milhões.

Em relação a Março de 2020, registou-se um aumento de 58 por cento, altura em que as receitas foram de 5,25 mil milhões de patacas. No entanto, apesar dos resultados animadores, o registo está ainda muito longe das receitas alcançadas em Março de 2019, quando foram alcançadas 25,84 mil milhões de patacas.

Ainda assim, as 8,30 mil milhões de patacas alcançadas no mês passado, consagram Março como o melhor mês desde o início da pandemia, que é o mesmo que dizer, desde Janeiro de 2020, altura em que as receitas se fixaram em 22,12 mil milhões de patacas.

Recorde-se que, sem contar com o mês de Janeiro, 2020 foi um ano marcado por fortes quebras para as concessionárias de jogo devido a restrições e medidas de prevenção contra a covid-19, que tiveram um impacto sem precedentes no sector. Ao final dos 12 meses do ano passado, a receita bruta acumulada traduz quebras de 79,3 por cento. Isto, dado que o montante global gerado entre Janeiro e Dezembro de 2020 foi de 60,44 mil milhões de patacas, ou seja, menos 232,01 mil milhões de patacas do total acumulado em 2019 (292,45 mil milhões).

Quanto à receita bruta acumulada dos primeiros três meses de 2021, segundo os dados da DICJ, registaram-se perdas de 22,5 por cento, dado que o montante total gerado entre Janeiro e Março de 2021 foi de 23,64 mil milhões de patacas, ou seja menos 6,84 mil milhões de patacas do total acumulado nos primeiros três meses de 2020 (30,48 mil milhões).

Recuperação lenta

De acordo com analistas citados pelo portal GGR Asia, apesar de Março de 2021 se assumir categoricamente como o melhor mês para a indústria do jogo em Macau desde o início da pandemia, “revelando uma consistência ao nível da recuperação das receitas diárias, de 250 milhões para 260 milhões nos últimos três meses”, os resultados ficaram abaixo das expectativas.

Para os analistas da JP Morgan, o crescimento traduz “as melhorias registadas ao nível da vontade de viajar e no potencial de procura”, bem como o “modesto” relaxamento das restrições locais, tais como a suspensão da obrigatoriedade de apresentar um teste de ácido nucleico para entrar nos casinos e a retoma das apostas em pé.

Já os correctores da Sanford C. Bernstein, apontaram que em Março “os resultados ficaram abaixo do esperado, devido à manutenção da fraca afluência” aos casinos.

Alvis Lo assumiu funções como director dos Serviços de Saúde

Alvis Lo, novo director dos Serviços de Saúde, tomou posse no dia 1 de Abril e traçou como prioridade a luta contra a pandemia da covid-19. “A população está sempre a pensar que pode ser vacinada mais tarde. Mas, na óptica dos Serviços de Saúde, e numa perspectiva de cuidar da saúde pública, temos de apelar aos residentes de Macau a que se vacinem”, afirmou o médico, no final da cerimónia, de acordo com o Canal Macau.

Já no discurso, o responsável apontou que “a principal tarefa é consolidar os resultados obtidos na prevenção e controlo da epidemia” e que os SSM “não irão baixar a guarda na realização dos trabalhos de prevenção e controlo da epidemia e continuarão a envidar todos os esforços”.

Alvis Lo substitui Lei Chin Ion, vai cumprir um mandato inicial com a duração de um ano, e prometeu deixar de fazer parte de várias associações, por motivos de neutralidade. Contudo, recusou abdicar das participações na Federação da Juventude de Macau e na Federação da Juventude da China, assim como da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês da Província de Henan.

O novo director dos SSM foi também confrontado com a decisão de proibição da manifestação contra os cupões de consumo, na qual participou, mas recusou ter havido motivações políticas. “Qualquer decisão tem de ter por base a saúde pública”, sublinhou.

Bilhete de identidade

Alvis Lo tem uma licenciatura em Medicina Clínica pela Universidade de Medicina de Chong San, mestrado em Medicina Clínica pela Universidade de Pequim, outro mestrado em Medicina Geriátrica pela Universidade de Hong Kong e ainda doutoramento em Medicina (Medicina Interna) pela Universidade Sun Yat-Sen. É trabalhador da Função Pública de Macau desde 2003, e começou como interno do internato geral e do internato complementar, passando a médico assistente e médico consultor. Em 2015, assumiu as funções de Responsável do Serviço de Geriatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário, até que em 2016 foi nomeado para Coordenador do Centro de Avaliação e Tratamento da Demência. Antes de se tornar director dos SSM, era médico-adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário.

Comissão de Fiscalização e Disciplina das Forças de Segurança recebeu menos queixas

O número de queixas contra as forças de segurança junto da CFD baixou para 108, com a lei do trânsito a ser uma das principais razões do descontentamento. A PJ foi alvo de quatro queixas por abuso de poder

 

O número de queixas recebidas pela Comissão de Fiscalização e Disciplina das Forças e Serviços de Segurança de Macau (CFD) registou uma redução para 108 reclamações, em 2020, quando no ano anterior tinham sido recebidas 114. Os números foram publicados no relatório da entidade presidida por Leonel Alves, divulgado na semana passada, e são justificados, em parte, com a redução do número de turistas.

“Houve um significativo abrandamento do volume da casuística quando comparamos os resultados em análise com os do ano 2019, o que se pode imputar, não só à diminuição dos fluxos fronteiriços, mas também a uma maior consciencialização e adequação do comportamento dos agentes, das corporações e dos serviços ao princípio de prossecução do interesse público”, é explicado no relatório.

Entre as 108 queixas, 89 visaram o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), 11 a Polícia Judiciária (PJ), 6 os Serviços de Alfândega (SA) e 2 o Corpo de Bombeiros (CB). No entanto, o CFD informa que duas destas queixas não se enquadravam nas suas competências, pelo que não foram acompanhadas.

O CPSP voltou a ser a polícia mais visada pelas queixas e 48 das 89 apresentadas visaram a aplicação da lei de trânsito.

Apesar de ter havido uma redução ao nível das reclamações, cresceram as denúncias contra a PJ, que tinham sido 8 em 2019 e que subiram para 11. A PJ foi mesmo visada em quatro das seis queixas por abuso de poder. Também as queixas contra os SA e o CB aumentaram de duas para seis e de uma para duas, respectivamente.

Contudo, a CFD diz que a maioria não mereceu censura. “Na sua maioria a averiguação destas queixas conduziu a CFD à convicção da ausência de fundamento para censura, antes concluindo que as mesmas se ficaram a dever à dificuldade de compreensão, por parte dos queixosos, do papel da autoridade policial, muito especialmente nos casos em que a actuação desta teve lugar em ambientes de tensão entre particulares”, é defendido.

Numa altura em que ainda há 12 queixas que estão a ser avaliadas, devido à “complexidade”, as denúncias contra os agentes feitas junto do CFD resultaram na punição de 2 agentes, através de processos disciplinares. O número é uma redução face aos 7 agentes punidos em 2019, na sequência das queixas.

As 12 recomendações

No relatório constam ainda 12 recomendações sobre a actuação das autoridades. Entre estas, é recomendado aos agentes que aplicação multas relativas à lei de trânsito que expliquem os fundamentos da multa. A recomendação é feita depois de um agente ter recusado explicar verbalmente ao autuado os fundamentos e ter-lhe pedido que fizesse scan com o telemóvel do código QR na multa. “Não obstante ser de louvar a agilização dos procedimentos com recurso à informação digital, a polícia não pode deixar de prestar verbalmente ou por escrito os esclarecimentos pedidos por quem para tal tiver legitimidade” é indicado. A comissão recomenda também aos agentes que não devem “ignorar que nem todos os cidadãos dominam as novas tecnologias”.

Outra recomendação, passa pela gravação de todas as conversas entre agente e cidadão, de forma a que o CFD possa avaliar futuras queixas, uma tarefa dificultada por falta destes registos. “CFD sugere que sejam gravados todos os contactos de cidadãos com os agentes policiais, incluindo os ocorridos fora das instalações policiais, desde que os sistemas o permitam”, é sublinhado.

A retenção de pessoas nas esquadras por motivos de identificação ou por suspeitas dos veículos terem sido alterados de forma ilegal, também merece recomendações da CFD. A comissão aconselha a que sejam adoptados procedimentos para que que tudo decorra da forma mais rápida possível e com princípios de urbanidade. Nesta recomendação, é recomendado aos agentes que não adoptem uma atitude hostil face aos cidadãos, para evitar que estes se sintam inseguros.

Covid-19 | Vacinação da BioNTech retomada após chegada de novo lote

Desde segunda-feira que o programa de vacinação com produtos da BioNTech foi retomado. Até às 16h00 de 5 de Abril já tinham sido administradas 56.630 vacinas

Os Serviços de Saúde retomaram na segunda-feira a vacinação com os produtos da BioNTech, depois do novo lote de vacinas ter chegado a Macau na sexta-feira. Segundo a informação dos Serviços de Saúde (SSM), os residentes com marcações para uma data posterior a 5 de Abril não são afectados, ou seja, não precisam de fazer qualquer reagendamento e devem cumprir os planos iniciais para serem vacinados.

Quanto às pessoas que tinham agendada a vacinação para o período da suspensão, as autoridades apelam para que façam uma nova marcação, para depois poderem ser vacinados. A vacinação com os produtos da BioNTech esteve suspensa entre 24 de Março e 4 de Abril e as pessoas que inicialmente tinham previsto serem vacinadas nestas datas têm de fazer um reagendamento.

O reinício da vacinação ficou igualmente marcado por um problema com a emissão dos cartões que certificam a inoculação com as duas doses da vacina BioNTech, que não afectou a vacinação em si. “Com o reinício da vacinação mRNA o novo lote veio identificado com um novo formato de numeração razão pela qual o sistema informático não estava a conseguir assumir o número e não estava a ser possível emitir o certificado após a vacinação e também foi impossível emitir o registo da vacinação após a conclusão das 2 doses de vacina de mRNA”, explicaram os SSM, em comunicado.

“Não houve nenhuma falha no sistema informático. […] Após intervenção do departamento de informática, [o sistema informático] já consegue identificar o formato do número do segundo lote de mRNA. O certificado e o registo de vacinação já podem ser obtidos imediatamente após a vacinação”, foi acrescentado.

Mais de 50 mil vacinas

Até às 16h00 de 5 de Abril tinham sido administradas 56.630 vacinas e havia 103.794 agendamentos. Além disso, entre as 16h00 de 4 e 5 de Abril houve quatro reacções adversas ligeiras.

A retoma da vacinação acontece depois de os novos produtos terem chegado a Macau vindos da Alemanha, num percurso com paragem no Aeroporto de Hong Kong. O lote da BioNTech que está agora a ser utilizado é diferente do anterior e chegou no sábado.

Segundo os SSM, o novo lote “foi produzido e embalado num diferente laboratório germânico, tendo passado por repetidos testes de pressão de ar, antes de ser transportado, e não foi encontrado nenhum defeito na embalagem semelhante ao encontrado no lote anterior”. Também antes da utilização das vacinas os SSM dizem que “descongelaram algumas doses para inspecção detalhada”.