Bahrein, de Hélio Sousa, goleou Hong Kong por 4-0

O Bahrein, treinado pelo português Hélio Sousa, despediu-se na terça-feira da fase de qualificação asiática para o Mundial de futebol de 2022 com uma vitória por 4-0 sobre Hong Kong, fechando o grupo C no terceiro lugar.

Avançam no torneio o Irão e previsivelmente o Iraque, respetivamente primeiro e segundo do grupo, depois de os iranianos, na terça-feira, terem derrotado os seus ‘vizinhos’ por 1-0, num jogo em que o portista Taremi foi titular.

O Irão ganha o grupo, com 18 pontos, mais um que o Iraque e três que o Bahrein. Para a terceira fase da qualificação asiática seguem diretamente os iranianos, enquanto os iraquianos ficam muito próximos de passarem como um dos quatro melhores segundos classificados, sendo que ainda há grupos por fechar.

Em Riffa, foi fácil a goleada dos comandados de Hélio Sousa, com golos de Dhiya (49), Sayed Hashim (54, de grande penalidade e 70) e Abdullatif (90, de grande penalidade).

O Qatar vai receber em 2022 o primeiro Mundial a disputar no Médio Oriente, a partir de 21 de novembro, enquanto a final está prevista para 18 de dezembro. O torneio será disputado em 28 dias, em vez dos 32 em que decorreu o Mundial da Rússia, em 2018, para minimizar a interrupção da temporada europeia.

China envia esta semana primeiros astronautas para a sua nova estação espacial

A China planeia enviar na quinta-feira os três primeiros membros de uma tripulação para a nova estação espacial construída pelo país, revelou hoje a agência espacial chinesa.

Dois dos astronautas participaram em missões anteriores, enquanto o terceiro vai para o espaço pela primeira vez, revelou aos jornalistas o diretor assistente da Agência Espacial Tripulada da China, Ji Qiming, no Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no noroeste da China.

A secção principal da estação Tianhe, ou Harmonia Celestial, foi lançada em órbita em 29 de abril.

Os três homens que vão partir para a estação espacial na quinta-feira planeiam permanecer por um período de três meses, para realizarem caminhadas no espaço, trabalho de manutenção e experiências científicas.

Os astronautas vão viajar na nave Shenzhou-12, lançada pelo foguete Longa Marcha-2F Y12.

Trata-se da terceira de 11 missões planeadas até ao final do próximo ano pela China, para construir e manter a estação espacial e enviar tripulantes e suprimentos. Os outros dois módulos da estação devem ser lançados no próximo ano.

Trata-se da primeira missão chinesa tripulada em cinco anos. A China enviou 11 astronautas para o espaço desde que se tornou o terceiro país a fazê-lo, em 2003.

Todos eles eram pilotos do Exército de Libertação Popular, o braço militar do Partido Comunista Chinês.

Embora a primeira tripulação do Tianhe seja toda masculina, as mulheres vão integrar futuras tripulações, disseram as autoridades.

O Tianhe baseia-se na experiência adquirida pela China ao operar duas estações espaciais experimentais no início do seu programa espacial.

Astronautas chineses passaram 33 dias na segunda das estações anteriores, realizaram uma caminhada no espaço e deram aulas de ciência que foram transmitidas para estudantes de todo o país.

A China pousou uma sonda, a Tianwen-1, em Marte, no mês passado, que transportava um ‘rover’, um veículo de exploração espacial.

Nos últimos anos, a China também trouxe de volta amostras lunares, as primeiras do programa espacial de qualquer país desde os anos 1970, e pousou uma sonda e um ‘rover’ no lado oculto da lua.

Pequim não participa da Estação Espacial Internacional, em grande parte devido às preocupações dos EUA com a opacidade do programa chinês e às suas relações com as Forças Armadas.

Espera-se que missões científicas estrangeiras e possivelmente astronautas estrangeiros visitem a estação chinesa no futuro. Depois de concluído, o Tianhe vai permitir estadias de até seis meses, semelhante à muito maior Estação Espacial Internacional.

A estação chinesa deverá ter uma durabilidade de 15 anos, enquanto a Estação Espacial Internacional está a chegar ao fim do seu período útil.

Junta militar do Myanmar critica posição de países do G7 contra golpe de Estado

A junta militar de Myanmar (antiga Birmânia) criticou a posição dos países do G7 contra o golpe militar, qualificando-a de “parcial” e assegurou que “se baseia em informações fabricadas”, noticiou hoje a imprensa oficial.

Os líderes políticos do G7, reunidos em Londres, no domingo, “condenaram veementemente” a tomada do poder pelo exército birmanês e a subsequente violência das forças de segurança contra a população civil, e apelaram para a “libertação imediata” de todos os detidos, incluindo a líder deposta, Aung San Suu Kyi.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros birmanês, por seu lado, afirmou que “os desenvolvimentos políticos internos (…) baseiam-se em “informação fabricada e tendenciosa de fontes não verificadas”, noticiou o diário pró-governamental The Global New Light of Myanmar.

A junta militar afirmou que “é errado” falar de um golpe de Estado militar quando o exército “assumiu responsabilidades estatais” através de um mecanismo que consta da Constituição de 2008.

“O Exército e quem aplica a lei desempenham as funções estritamente dentro do quadro legislativo e regulamentos existentes. Em ocasiões em que o uso da força é necessário, as forças de segurança exercem uma utilização de máxima contenção para garantir a segurança pública”, observaram.

Mais de quatro meses após a revolta que pôs fim à jovem democracia em Myanmar, o exército não conseguiu tomar o controlo de todo o país, apesar da repressão contra a oposição ao domínio militar.

As forças de segurança dispararam a matar sobre manifestantes pacíficos que exigiam a restauração da democracia e a libertação dos líderes eleitos.

Pelo menos 864 pessoas foram mortas na violência desencadeada pelas forças de segurança, de acordo com os dados da Associação para a Assistência aos Presos Políticos.

Alguns dos manifestantes decidiram pegar em armas contra o exército, cansados do pouco progresso dos protestos pacíficos.

O exército birmanês justificou o golpe com uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro, que o partido liderado por Suu Kyi venceu, tal como em 2015. Observadores internacionais consideraram o escrutínio legítimo.

Covid-19 | China soma 21 novos casos, todos oriundos do exterior

A Comissão de Saúde da China anunciou hoje que foram diagnosticados 21 casos do novo coronavírus, nas últimas 24 horas, todos oriundos do exterior.

As autoridades não relataram nenhum novo caso local na província de Guangdong, que registou um surto que resultou em mais de uma centena de infeções desde 21 de maio.

Os 21 casos foram detetados em viajantes oriundos do exterior na cidade de Xangai (leste) e nas províncias de Sichuan (centro), Jiangsu (leste) e Guangdong (sudeste).

As autoridades de saúde também informaram hoje sobre a deteção de 36 novas infeções assintomáticas, todas importadas, embora Pequim não as inclua como casos confirmados, a menos que manifestem sintomas.

A Comissão Nacional de Saúde detalhou que, até à última meia-noite local, 17 pacientes tiveram alta, após superarem com sucesso a doença. O número total de infetados ativos na China continental fixou-se assim em 487, entre os quais 14 encontram-se em estado grave.

Desde o início da pandemia, 91.492 pessoas ficaram infetadas na China, tendo morrido 4.636 doentes.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.813.994 mortos no mundo, resultantes de mais de 176,1 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

O fascismo está sempre atrás da porta

Em Portugal gerou-se um fenómeno político no dia 25 de Abril de 1974 que poucos antifascistas se deram conta do sucedido. Aconteceu que a grande maioria dos funcionários da PIDE/DGS e altas patentes da administração pública passou-se logo para o Partido Socialista (PS), para o Partido Popular Democrático (PPD), para o Centro Democrático-Cristão (CDS) e até para o Partido Comunista. Bem disfarçados e escondidinhos foram caminhando por esta pseudo democracia até aos dias de hoje. Mas, entretanto, já o gato foi às filhoses, porque mais de cinquenta por cento desses “fascistas-democratas” já mudaram de partido político várias vezes. Uns, que estavam como militantes e até membros do PS já se passaram para o Partido Comunista e para o PPD/PSD. E o mais espampanante é que alguns desses já estão ao lado do neofascista do Chega. Outros deixaram o PPD/PSD e foram para o CDS de onde já saíram para o Chega. Há ainda outros que conseguiram vestir a pele de cordeiro de tal forma que são hoje funcionários da Polícia Judiciária e dos serviços secretos da República.

E afinal, há ou não fascistas em Portugal? Há e não são poucos. Voltámos a ter uma maioria silenciosa que começa a despontar no tal fenómeno fascizante chamado Chega, que está a ser financiado por quase toda a extrema-direita europeia. O Chega não é nada e é tudo. Há quem não dê valor nenhum ao antigo social-democrata André Ventura e simplesmente o definem como populista e demagogo. Estão errados. André Ventura sabe muitíssimo bem o que está a fazer e para onde quer ir. Por exemplo, há dias teve até o desplante de afirmar que o Chega queria ser governo.

Estão a ver a jogada? Como os sociais-democratas e os democratas-cristãos se habituaram a ser governo e a ter de imediato um lugar numa autarquia, no executivo ou na Assembleia da República têm assistido às quedas na adesão dos portugueses aos seus partidos e nessa conformidade estão a ser ludibriados por André Ventura que lhes acena com a ida para o governo, o que se traduz na possibilidade de um “tacho” aqui ou acolá. O Chega não tem programa de uma mudança credível, moderna, democrática para o país. O Chega está apostado em captar o maior número de latifundiários, empresários e saudosistas do antigo regime para se transformar numa organização ditatorial que pudesse governar Portugal com mão de ferro e com leis, cuja maioria coartaria a liberdade de informação e outras.

Os portugueses eleitores em partidos ditos democráticos não se estão a aperceber do avanço que está a ser gerado pela demagogia e aldrabice anunciadas por Ventura. Mas, ele tem levado a água ao seu moinho. Todos os meses as empresas de sondagens realizam inquéritos a nível nacional e já chegámos a um ponto em que os inquiridores ficaram de boca aberta porque o Chega estava praticamente com a mesma percentagem do PPD/PSD, não do Bloco de Esquerda ou de outro partido, mas sim do PPD/PSD que sempre foi o mais votado ou o segundo com mais preferência do eleitorado.

O Partido Socialista está a governar o país, anda distraído com uma terceira ponte que quer construir entre Lisboa e a Margem Sul sobre o rio Tejo; com um comboio de alta velocidade entre o Porto e Vigo, sem pensar que o mais importante seria entre o Porto e Lisboa ou entre as capitais portuguesa e espanhola; com as patetices do ministro Pedro Nuno Santos e do agora governante João Galamba; com as injecções de milhões de euros no Novo Banco; com os refugiados que acomoda em estabelecimentos turísticos sem sequer avisar ou indemnizar os proprietários; com a luta interna no governo e no interior do partido onde muitas figuras (já) públicas não querem deixar o poder ou, se possível, subir ao lugar de António Costa, enfim, um partido de importância vital para impedir o avanço da maioria silenciosa e que nada faz por isso. O PS assiste ao André Ventura a enganar os portugueses e chama-lhe “sonhador”, “populista” ou “demagogo” e nada faz para esclarecer os portugueses que por trás daquela falácia está uma espécie de fascismo disfarçado de salvador do povo, tipo Hitler.

Por seu turno, o PCP e BE não têm força política para travar um avanço politicamente a rondar uma ditadura. As forças que se dizem democráticas têm de olhar para Espanha e ver o que aconteceu com o partido de extrema-direita, o VOX, que paulatinamente foi andando até chegar à meia centena de deputados no Congresso de Espanha, sendo já a terceira força política. A nossa nova geração que sempre viveu em liberdade nem sabe o que é não poder estar a uma esquina a conversar com amigos, só quer copos pelo meio das ruas, noitadas sem máscara e sem distanciamento físico, pergunta aos pais o que foi isso do 25 de Abril e acha uma imensa piada aos gritos de André Ventura quando se põe no Parlamento a insultar tudo e todos. Os jovens deviam ter um papel importantíssimo nas universidades, onde deveria ser obrigatório o ensino de uma disciplina sobre política que lhes ensinasse o que tem sido o seu país desde que terminou a monarquia. Infelizmente, em política a juventude está apenas activa nas minorcas associações juvenis que pertencem aos principais partidos. Mesmo assim, há dias, perguntei a um jovem da Juventude Comunista quem foi Salazar e ele respondeu-me que foi “o fascista que matou Álvaro Cunhal”… Não brinquemos mais com coisas muito sérias porque o fascismo está sempre atrás da porta.

*Texto escrito com a grafia antiga

Morreu investidor que ficou conhecido como “Primeiro Accionista da China”

Um antigo operário fabril que ficou conhecido como o “Primeiro Accionista da China”, depois de acumular uma fortuna a negociar nos incipientes mercados financeiros do país a partir da década de 1980, morreu no domingo, segundo a imprensa local.

Yang Huaiding morreu com 71 anos, segundo o jornal estatal Securities Times e outras publicações da área financeira, que citaram uma declaração da sua família.

Yang pediu demissão do armazém de uma fábrica em Xangai, a “capital” económica do país, em 1988, e usou as suas poupanças de 20.000 yuan para comprar e vender obrigações emitidas pelo Estado chinês, depois de o Partido Comunista ter permitido a transferência de propriedade, como parte das reformas económicas orientadas para o mercado.

Yang tornou-se conhecido publicamente depois de pedir à polícia que o protegesse enquanto carregava caixas de dinheiro e títulos entre províncias. Foi então apelidado de “Yang Milhão”, depois de ganhar um milhão de yuans (165.000 euros, na época), no espaço de um ano.

No início da década de 1990, Yang aumentou a sua fortuna ao negociar nas recém-abertas bolsas chinesas. A imprensa escreveu que o último grande feito de Yang foi em 2008, quando previu correctamente a queda dos preços das acções, que gerou a crise financeira global.

Yang tornou-se a primeira pessoa na China a contratar um guarda-costas e um advogado particular e a processar uma companhia de valores mobiliários, de acordo com o Securities Times.

O mesmo jornal escreveu que Yang foi o primeiro particular a actuar como consultor de bancos e autoridades fiscais. “Como uma das testemunhas da ‘era do despertar’ do mercado de valores mobiliários da China, a sua morte é lamentável”, descreveu o jornal.

É assim!

Camões, Lisboa, quinta, 27 Maio

Se perto, com visão por sobre os louros de um poeta e a inclinação de outro, descontando os que passam que há sempre passeantes de verso portátil, inaugura exposição, no caso colectiva, anunciando-se «Diários», é de ir. Aconteceu-me a surpresa de ver as fotos e os desenhos de Carlota Mantero, João Rebolo, Margarida Cunha Belém, Pedro Noronha e Rita Draper Frazão assentes na profunda leveza das palavras da Rita [Taborda Duarte]. Aliás, a relação com a palavra e até com a letra resulta comum, tornando-a matéria de composição. «Toda a escrita, toda a arte, é metamorfose. E cada palavra escrita, impressa, pintada, grafada no papel, assim na página como na tela, é antes de tudo imagem pura. Traz consigo m significado primeiro, inaugural, emprestado pelos sentidos, antes ainda de sabermos o seu sentido.» Que diálogo se poderia inscrever aqui, a imagem no lugar do primeiro toque de realidade no corpo talvez mente! E a palavra na busca de uma fixação que interprete, que arrume, que explique. Esta colectiva no Espaço Camões, de velha editora, agora Sá da Costa Arte, está feita de instantes. A Rita propõe poema para legenda de outra Rita, que busca identidade no modo como as extremidades, as mãos e os pés, afinal o olhar, tocam as coisas. E os dias. «É pelo olhar perdido na solidão do mundo/ perdidão profunda/ que limitamos os corpos à retina que o circunda// Mas é a mão a intensa mão criadora imaginante/ que te devolve hesitante a mim». O outro e o seu olhar hão-de ser sempre espanto?

Na Rua da Emenda, inaugura a This is not a white cube, que põe na sua primeira montra transparente o santomense, René Tavares, e promete mais África nas redondezas. Muitas camadas por aqui se encontram, mas tenho que voltar com outros olhos. O dia estava gasto e o convívio social ainda me é custoso. Temo que vai sendo cada vez mais, que não se limite a este momento. E que o outro e o seu olhar me canse mais do que espante.

Alto bairro, Lisboa, terça, 2 Julho

Alguns encontros chegam vestidos com pretextos de trabalho, leves e coloridos, assim pede o tempo e a moda. A Vanessa vinha toda sorrisos, mas sacudia contos de lâmina na sacola. O Fernando traz razões de sobra. O Francisco chama-me à esplanada para falar de estudo. O Massimo anuncia convite e logo projecto. A Sara passa e rasga-me com um sorriso. O Nuno carrega sempre ideias que dispõe na mesa para debate e prova. Aliás, com o Bruno arrasta-se há muito abstracções que tardam em concretizar-se, mas à mesa nasce invariável outra, por exemplo, revista. A Margarida tem prazos e comentários, além de mundo e histórias. O Zé Carlos, entre caracóis, põe o passado em dia. E nem o calor afasta o João e a Susana da comida de tacho e do estar em partilha. O Miguel veio comprar chapéus e falar de vagas cousas mas esmagou-me com alegria tal que se tornou transparente e revejo agora naqueloutros e mais uns quantos. É assim: certos abraços valem dias, valem vida.

Horta Seca, Lisboa, quinta, 3 Julho

A gentileza do Andrea [Ragusa] da Valeria [Tocco] não impediu que me sentisse corpo estranho na evocação dos 150 anos das Conferências do Casino, «Uma aurora à qual não se seguiu dia», distribuída por dois ciclos, este agora e aquele que se seguirá em Outubro. Os convidados são ilustríssimos cultores das Letras, especialistas em Antero e outros visionários, apresentando-se este vosso criado na qualidade híbrida de personagem de banda desenhada e leitor difuso. Com as devidas distâncias e dissemelhanças, um pouco à maneira de Rafael Bordalo Pinheiro, que se fez convidado para aquele plural a que não pertencia até o ter desenhado: «nós tivemos uma visão redentora e de endereita» (assim com ligeiríssimo erro). Falo da extraordinária 7.ª Página «d’um Album humorístico, ao correr do lápis», extraordinário todo ele, momento fundador da narrativa gráfica nacional, logo nas primeiras entregas e com extrema inventividade. O jovem comentador começa como que exclamando no modo de hoje, irritante por se querer definitivo: É assim! Isto é, dá-se logo a dizer, pois desenha-se de punhos na mesa, enfrentando o leitor com um Senhores: a que se segue na linha do desenho dois pontos. Adiante colocará cena entre parêntesis e tratará de pôr, em imagem indelével, um historiador crítico a arrastar gigantescos pontos de interrogação e exclamação, objectos pesados e ao mesmo tempo sustentados no ar. Para o jovem artista, em 1870, a narrativa gráfica era óbvia continuação do texto e o seu comentário, entre o professoral e o humorístico, fixou como poucos o momento das Conferências Democráticas, as que, mesmo interrompidas, não mais deixariam de nos atormentar com o retrato da «purulenta e burguesa physionomia do paiz». Questões volúveis e pesadas. Com as devidas distâncias e dissemelhanças, ainda nos podemos rever nas avaliações daqueles oftalmologistas da civilização que se propunham, apesar da ordem, curar a cegueira com a liberdade. Foi com prazer que regressei a tais páginas e momentos, que estão disponíveis em edições da Biblioteca Nacional. Ao subir para est’A Berlinda, Rafael dava enorme impulso à sua viagem vertiginosa de performer (avant la lettre) definindo programa, temas, estilo e personagens, grupo variado em cujo centro brilhará sempre ele mesmo, em auto-retrato de corpo inteiro. Senhores: jogando-se.

São Bento, Lisboa, terça, 8 Julho

Meia dúzia de insistentes assistem, no Centro Cultural de Cabo Verde, ao Jerónimo [Pizarro] explicando do alto do seu farol quanto de brilho e originalidade contém esta Ode Marítima, por si e no contexto (histórico e assim) das múltiplas partidas do mundo, com as suas ondas e vales, gritos e visões, o seu percurso arrastado e veloz por entre viagens que abrem portos e navios no coração dos homens e dos marinheiros. E a saudar a sua partida para a paisagem de outras línguas, no caso a cabo-verdiana, pela mão do José Luiz Tavares, ufano face à vaga de elogios, mas atento à defesa política e afectiva, partir das palavras de José Luís Hopffer Almada, de um activo bilinguismo. Quantas línguas cabem em um corpo? E marés?

Capitão da vida

Um dia, mais um 12 de Junho na vida de Simon Skjaer. Nessa manhã de sábado o dinamarquês acordou com um sorriso nos lábios. Estava calmo apesar de excitado; concentrado apesar de ansioso. Eram sensações contraditórias que lhe eram familiares mas, mais importante, desejadas. É provável – nunca o saberemos – que Skjaer tenha reservado uns segundos para agradecer a vida que lhe era oferecida: aos 32 anos o seu trabalho foi um sonho realizado: futebolista profissional e como se isso não bastasse, um defesa-central considerado e que jogava num dos clubes de topo europeu, o A.C. Milan. Melhor ainda: era capitão da sua selecção nacional, uma honra e responsabilidade atribuída a muito poucos.

Terá feito alguns exercícios ligeiros com os colegas, trocado piadas, ouvido a última palestra do treinador antes do jogo que se avizinhava: a estreia da Dinamarca frente à Finlândia para um campeonato europeu que por circunstâncias do universo se iria realizar em diferido, um atraso de um ano em relação à data marcada. Pouco importava: a ansiedade, a vontade, os silêncios eram os mesmos das grandes competições, dos jogos em que tudo tem de ser entregue.

No túnel de entrada do estádio, o nervosismo de Skjaer era o mesmo dos colegas: uma emoção presente mas discreta, quase anónima. Um capitão é um líder e o seu rosto tem de o mostrar em permanência. Assim foi na tradicional moeda ao ar, no sorriso amável que trocou com o árbitro e com o capitão adversário, “bom jogo” talvez tenha dito.

Um 12 de Junho, capitão. Mais um 12 de Junho e o som de um apito e uma bola a rolar e milhões a ver, e corpos, e olhares e velocidade, não os deixar passar e retomar a posse de bola, liderar, dar ordens para os colegas se posicionarem melhor, gritar, não falhar, não falhar, não falhar, este jogo é a nossa vida.

Aos 42 minutos de jogo o capitão da selecção dinamarquesa de futebol profissional percebeu o que era a vida. E não era o jogo, nunca é o jogo. Ao longe, do lado esquerdo, o número 10 da sua equipa cai desamparado, sem razão nem remédio. Não há tempo para pensar, para nada. Isto é a vida, isto é a morte, poderá ter lembrado Skjaer enquanto corria como um louco da sua posição habitual até ao companheiro entregue aos caprichos dos deuses perante um estádio de Copenhaga em choque, perante os colegas e adversários petrificados, perante todos os que viam e estavam arrasados pela violência da fragilidade de flor que é a vida humana.

Simon Skjaer aproximou-se do companheiro Christian Eriksen, reconheceu a situação e agiu, a única forma de existir naquele momento. Protegeu o pescoço do jogador caído, colocando-o de lado e abrindo a sua boca de forma a libertar as vias respiratórias caso viesse a sofrer de convulsões. Passaram 23 segundos até que a equipa médica da selecção adversária, mais próxima do acidente, pudesse chegar e tomar conta da situação. Vinte. E. Três. Segundos.

«Que tempo é este que não é o meu, que não é o de Christian, que não é o da sua namorada Sabrina que vejo daqui em lágrimas? Que segundos eternos me oferecem a mim, a nós, ao meu amigo a um segundo de distância de todos os segundos finais ? De que nos vale?», não terá pensado Simon Skjaer.

Com os médicos já a prestarem a assistência necessária, o capitão teve tempo para fazer o ainda mais belo: ordenar uma cortina humana de pudor. Porque a vida não pode ser escancarada mesmo quando existe a possibilidade iminente de chegar ao fim. Em lágrimas, os companheiros obedeceram.

O resto sabemos. O resto ganhámos. O capitão mostrou-nos como podemos enfrentar a brisa que é a nossa vida. Nenhum 12 de Junho será igual a um 12 de Junho. Assim nos preparemos.

FRC | Obra de André Lévy sobre literatura chinesa apresentada hoje

A Fundação Rui Cunha (FRC) acolhe hoje a apresentação do livro “A Literatura Chinesa Antiga e Clássica”, uma obra de André Lévy, traduzida por Raul Pissarra e da editora Livros do Meio. A apresentação decorre pelas 18h30, e conta com a participação de Raul Pissarra, Yao Jingming e Carlos Morais José.

“O livro de André Lévy proporciona-nos uma fundamental introdução a uma literatura, cuja influência é patente no Oriente, que urge ser descoberta e entendida pelos falantes de língua portuguesa”, descreve a FRC em comunicado. A obra parte das origens da literatura chinesa e acompanha o seu percurso até aos primeiros anos do século XX.

“Pelo caminho, encontramos alguns dos mais belos textos que a humanidade produziu, pela pena de escritores de excelência, reflexos de uma civilização complexa, de uma História acidentada e de uma cultura caracterizada pela sua profundidade e erudição”, acrescenta a nota. A entrada no evento é livre, com limitações de capacidade.

DD3 Verandah transmite na sexta-feira djset do espaço Maus Hábitos, no Porto

Na próxima sexta-feira, o clube DD3 Verandah terá uma janela aberta para os sons ecléticos de uma das principais casas da noite portuense, o espaço Maus Hábitos. A partir das 23h, os pratos vão estar a cargo do DJ OTSOA, até às 00h30, hora em que passa o testemunho ao DJ BENT.

O primeiro DJ, também conhecido como João Soares, é um artista multidisciplinar, com provas dadas em vários espaços culturais do Porto, como o Passos Manuel, Café Au Lait, Maus Hábitos e Ferro Bar. No currículo conta também com colaborações com as produtoras Lovers & Lollypops, Favela Discos, Arena Spa Superiora e Olec

O segundo DJ da noite será BENT, artista portuense que se move nos mundos do grafitti e da música. Com uma forte veia experimentalista, o DJ é considerado um pioneiro de future beats na noite do Porto, as suas playlists têm influências de hip hop, future beats, UK funky e soul.

Em 2013, integrado no seu colectivo Limbless Step, participou na Red Bull Music Academy, para além de ser DJ residente no Maus Hábitos- Espaço de Intervenção Cultural há seis anos com a noite intitulada “DOWNTEMPO, todas as quintas-feiras.

Semifusas em fusão

A entrada no DD3 Verandah é grátis entre as 18h e as 23h, mas acesso a bar aberto pelo preço de 200 patacas. A partir das 23h, a entrada custa 180 patacas com direito a duas bebidas.

A noite de sexta-feira resulta da parceria entre a None Of Your Business e o festival This Is My City e é segundo episódio de uma série de noites de djsets em directo com performances em simultâneo em Portugal e Macau.

Os parceiros da iniciativa são a Casa das Artes Bissaya Barreto, em Coimbra, Maus Hábitos – Espaço de intervenção Cultural, no Porto e o Musicbox, em Lisboa.

Importa frisar que o “Maus Hábitos é um espaço urbano de vanguarda, marcante da vida cultural e entretenimento do Porto há mais de duas décadas”, situado no edifício em frente ao Coliseu.

Euro 2020 | Espanha empata com Suécia em jogo marcado pelas oportunidades falhadas

Em jogo de estreia frente à Suécia, os espanhóis deixaram a pontaria em casa, desperdiçando uma mão cheia de oportunidades de golo. Espanha é um dos candidatos a conquistar o Euro 2020, tendo pela frente uma fase de grupos teoricamente fácil. Mas o futebol não é uma ciência exacta e apresenta muitas surpresas e variáveis. A Suécia não apresentou muitos argumentos ofensivos, mas foi capaz de segurar o nulo frente a uma selecção espanhola cheia de talento

 

Por Martim Silva

 

O favoritismo não ganha jogos. Espanha provou deste lema ao empatar com a Suécia a zero, na passada meia-noite, em Sevilha, a contar para o Grupo E do Euro 2020. O palco era o Olimpico de La Cartuja, estádio onde José Mourinho sagrou-se pela primeira vez campeão europeu com o FC Porto em 2003, mas as condições do relvado não faziam jus ao nome Olimpico. A Espanha é das poucas selecções que mantém a mesma identidade ao longo de décadas. Muita posse de bola e boa reacção à perda da mesma. Mas esta equipa de Luis Enrique, seleccionador de La Roja, é mais previsível que os conjuntos espanhóis vencedores do Euro em 2008 e 2012.

Já esta Suécia, sem Zlatan Ibrahimović, não tem também muitos argumentos para fazer mais do que se viu. A Espanha tinha bola, rodando-a de um lado para o outro, procurando espaço do lado contrário, mas a Suécia, sempre fechada no seu 4-4-2 em bloco baixo, não deixava grandes espaços por cobrir. E ainda assim a selecção espanhola criou chances de golo com o guarda-redes sueco, Robin Olsen, em grande plano.

Apesar das oportunidades criadas na primeira parte, os espanhóis tinham movimentos ofensivos pouco adaptados à realidade do encontro. Desta maneira, a Suécia não sofria golos, mas também mal conseguia passar do seu meio-campo. Alexander Isak, um jovem sueco de 21 anos, foi o único ponto de luz na escuridão nórdica. O avançado da Real Sociedad mostrava-se ao jogo como ninguém e foi o único protagonista ofensivo da selecção orientada por Janne Andersson. Isak foi quem mais trabalho deu a Aymeric Laporte, defesa central que se estreou em competições oficiais ao serviço de Espanha. Outra estreia marcante para os espanhóis foi a de Pedri González, jogador do Barcelona de apenas 18 anos, que frente à Suécia formou uma parceria letal com Jordi Alba, lateral esquerdo. Mas a primeira parte viu ainda Álvaro Morata, avançado espanhol da Juventus, falhar, novamente, um golo onde só tinha pela frente o guarda-redes. A inépcia de Morata em frente à baliza é chocante, e este tema é recorrente desde que se transferiu do Real Madrid para o Chelsea em 2017. Dani Olmo e Koke foram também responsáveis por não concretizarem as respectivas oportunidades de golo.

Mais do mesmo

A segunda parte foi o espelho da primeira. A pressão espanhola era constante sempre que perdia a posse de bola, com os suecos a não serem capazes de se organizar ofensivamente. Porém, à medida que o tempo passava, o bloco baixo da Suécia começava a quebrar. A concentração mental e física dos suecos estava nos limites. As tabelas entre Jordi Alba, um lateral que é um autêntico extremo, e Pedri começavam a criar espaços na última linha dos nórdicos e as oportunidades começavam a aparecer. Com Gerard Moreno em campo e Morata no banco, a equipa rematava mais à baliza e com mais perigo. Robin Olsen foi posto à prova por Moreno, Alba e Pedri, tendo sido responsável por 5 defesas no total da partida. A Suécia depositou toda a sua esperança em Olsen nos últimos minutos da partida, visto não conseguir ter posse de bola alguma: Espanha teve 85% da posse de bola.

Estando bem patente a incapacidade ofensiva sueca, notou-se a falta de Dejan Kulusevski, avançado sueco da Juventus, que estava indisponível para o jogo de ontem devido à covid-19. O jovem de 21 anos é o novo talento sueco, tendo sido aposta recorrente para jogar ao lado de Cristiano Ronaldo na Vecchia Signora. Os talentos suecos estão todos no ataque. Emil Forsberg, Isak e Kulusevski são as peças fundamentais de uma selecção minada com falta de talento. Apesar de tanta adversidade, a Suécia foi capaz de não sofrer golos contra um dos favoritos a vencer este Euro. Espanha tem um seleccionador melhor, jogadores melhores e uma cultura vencedora superior e não foi além do nulo. Isto não é nada de novo em competições internacionais. O Euro, e o Mundial, são palcos representativos de oportunidades únicas para treinadores e jogadores mostrarem o seu valor. Não há equipas a jogar a meio gás, sendo cada vez mais difícil dominar por completo mesmo os adversários, teoricamente, mais fracos. Com isto em mente, o novo líder do Grupo E, onde Espanha perfila, é agora a selecção da Eslováquia, provando a velha afirmação de João Pinto de que prognósticos só no fim do jogo.

 

Eslováquia vence Polónia por 2-1 em jogo disputado

Em jogo de estreia do Grupo E do Euro 2020, Polónia e Eslováquia deram um espectáculo que poucos esperavam. A Polónia, orientada pelo português Paulo Sousa, começou a primeira parte a dominar e a tentar criar ligações exteriores para depois efectuar movimentos de ataque à profundidade, mas a Eslováquia manteve-se concentrada. Quando recuperava a posse de bola, contra-atacava usando Ondrej Duda e Marek Hamsik como elos de ligação para libertar os alas Robert Mak e Lukas Haraslin.

E ao minuto 18, o próprio Mak através de uma jogada individual, onde ultrapassa dois adversários, remata ao poste da baliza de Wojciech Szczesny mas a bola bate nas costas do guarda-redes da Juventus, entrando. Szczesny tornou-se no primeiro guarda-redes a marcar um golo na própria baliza na história do Euro. O autogolo premiou o plano estratégico irrepreensível de Stefan Tarkovic, seleccionador eslovaco, na primeira parte.

Golpe fatal

Se nos primeiros 45 minutos o plano de Paulo Sousa não resultou, foram apenas necessários os 15 minutos de intervalo para o ataque polaco começar a ter mais fluidez. As ligações eram mais recorrentes e funcionavam com outra regularidade, levando a Polónia a marcar logo ao minuto 46 por Karol Linetty. Contudo, a mostragem do segundo cartão amarelo, e subsequente expulsão, ao minuto 62 a Grzegorz Krychowiak ditou o fim de uma segunda parte promissora. Imediatamente após a expulsão do médio polaco, a Eslováquia, através do central Milan Skriniar adianta-se no marcador. O defesa fez aquilo que Robert Lewandowski não conseguiu fazer durante a partida inteira: golo.

A Eslováquia não é uma selecção muito competente em organização ofensiva, mas consegue ser compacta em bloco baixo, tendo jogadores mais do que capazes para criar perigo na área adversária. Hamsik tem 33 anos e Duda 26 anos e ambos foram dos melhores em campo. Por vezes, a idade não é um mau trunfo.

 

Patrick Schik bate recorde de 41 anos com golo do meio-campo

A primeira parte do jogo entre Escócia e República Checa, correspondente ao Grupo D do Euro 2020, foi um típico jogo inglês. Muita bola longa, muitos duelos aéreos e pouca bola rente ao chão. A organização ofensiva de Escócia e República Checa roçou o rudimentar. A principal fonte de ataque escocesa residia nos pés de Andy Robertson, jogador do Liverpool, que se limitava a bombardear bolas para a área sem grande estratégia. A República Checa pouco fez também, mas saiu para o intervalo por cima, com um golo de cabeça de Patrik Schik aos 42 minutos. A Schik já voltamos mais adiante.

Contudo, e após uma primeira parte murcha, o segundo tempo mudou de feição, trazendo mais oportunidades de golos, especialmente para a Escócia. Houve um remate à trave e duas oportunidades de golo que levaram o guardião checo, Tomas Vaclík, a defesas impressionantes. Mas a Escócia sempre com uma organização ofensiva incapaz de solucionar os diversos problemas que a defesa checa lhe colocava. Ryan Gauld, jogador escocês do Farense, foi dos jogadores que mais oportunidades flagrantes criou na Liga NOS na época 2020/2021, e teria sido uma ajuda bem-vinda a esta selecção.

A juntar ao desperdício da Escócia, veio o momento alto da partida e talvez do Euro. Ao minuto 52, Patrik Schik volta a marcar. Um golo do meio-campo com uma curva notável que bateu o recorde de distância de um golo na história do Euro. O recorde perdurava desde 1980 e o remate do ponta de lança checo percorreu 45.4 metros até chegar à baliza do guarda-redes, David Marshall. É talvez o golo da competição e com este estrondo, Schik junta-se a Lukaku na lista dos melhores marcadores do Euro e a República Checa sobe ao 1.º lugar do Grupo D.

PJ | Detido casal que cultivou planta de canábis em casa

A Polícia Judiciária (PJ) deteve ontem uma residente de Macau, de 29 anos, e um de Taiwan, de 35, por cultivo em casa de uma planta de canábis, com altura de um metro.

O casal tinha em casa uma estufa pequena com a planta de canábis, que a polícia apreendeu, bem como óleos de canábis, utensílios para fumar e uma balança electrónica, disse um responsável da PJ, em conferência de imprensa. Durante o interrogatório, o suspeito, que trabalhava como relações públicas de um casino, confessou ter comprado, há cerca de dois meses, dez sementes de canábis a um desconhecido por 1.500 patacas numa discoteca do território, tendo depois adquirido ‘online’ equipamento de cultivo.

Os dois foram presentes ao Ministério Público acusados de produção, de tráfico e de consumo ilícitos de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, bem como de detenção indevida de utensílio ou equipamento.

Macau com radiação normal após suposta fuga da central nuclear de Taishan

Os níveis de radiação registados em Macau e Hong Kong são normais, informaram ontem as respectivas autoridades, após notícias de uma possível fuga na central nuclear de Taishan, a cerca de 80 quilómetros da RAEM. Os serviços de polícia sublinharam o contacto próximo com a entidade nacional que monitoriza a central

 

Após a notícia avançada na segunda-feira pela CNN de um aviso de “ameaça radiológica iminente”, as autoridades locais anunciaram que os níveis de radiação registados em Macau são normais, seguindo as suas congéneres nacionais e de Hong Kong.

“A partir das 4h do dia 15 de Junho, de acordo com os dados das últimas 24 horas publicados pelo Gabinete Geofísico e Meteorológico (…), as medições de raios gama em Macau são normais”, informaram ontem os Serviços de Polícia Unitários (SPU), num comunicado divulgado apenas em chinês.

Os SPU sublinharam que estão em contacto com as autoridades da província de Guangdong, que prometeram notificar Macau “da ocorrência em tempo oportuno, de acordo com a classificação internacional de incidente nuclear e o estado de emergência nuclear nacional de quatro níveis”. A comunicação é mantida ao abrigo do “Acordo de cooperação no âmbito da gestão de emergência de acidentes nucleares da Central Nuclear de Guangdong”.

Contudo, em conferência de imprensa, a líder de Hong Kong, Carrie Lam, disse ontem que o seu Governo está “muito preocupado”, apesar de ter salientando que desde segunda-feira à noite que os níveis de radiação na cidade eram normais.

As reacções de Hong Kong e de Macau surgem um dia depois de a operadora da Central Nuclear de Taishan, na província de Guangdong, ter dito que estava a acompanhar uma “questão de desempenho” na central, mas que esta estava a funcionar dentro dos parâmetros de segurança.

A declaração da empresa foi feita após alguns ‘media’ noticiarem que a central poderia estar a sofrer uma fuga.
Num comunicado, citado pelo jornal oficial em língua inglesa Global Times, a firma estatal China General Nuclear Power Corporation (CGN) afirmou que os indicadores de operação dos dois reactores do tipo EPR (Reactor Pressurizado Europeu, na sigla em inglês) permaneceram dentro dos limites estabelecidos pelos regulamentos de segurança nuclear do país.

De grau zero

A central situa-se a cerca de 80 e 135 quilómetros de Macau e Hong Kong, respectivamente, o que significa que uma potencial fuga poderia ter impacto nas regiões administrativas especiais.

“No que diz respeito às notícias dos meios de comunicação social estrangeiros sobre uma central nuclear em Taishan, Guangdong, o Governo de Hong Kong está muito preocupado”, disse Lam.

A central de Taishan é propriedade conjunta do Grupo de Energia Nuclear de Guangdong da China e da multinacional francesa Électricité de France (EDF), a principal proprietária da Framotome, que é sócio minoritário (30 por cento) da sociedade conjunta que opera a central de Taishan, na qual a CGN detém os 70 por cento restantes.

Em comunicado, divulgado na segunda-feira, a EDF afirmou ter sido informada do “aumento da concentração de determinados gases no circuito primário do reactor número 1 da central nuclear de Taishan”, embora esta presença fosse um “fenómeno conhecido, estudado e previsto nos procedimentos operacionais dos reactores”.

A cadeia de televisão CNN informou na segunda-feira que a Framotome tinha escrito ao Departamento de Energia dos EUA sobre um aviso de “ameaça radiológica iminente” e acusado as autoridades chinesas de aumentar os limites aceitáveis de radiação fora da central para evitar o seu encerramento.

A CNN disse que os funcionários norte-americanos acreditavam que a situação actual na central não representava uma grave ameaça à segurança.

Os SPU acrescentaram ainda que ao longo deste ano receberam duas notificações de incidentes sem gravidade nos dias 21 de Fevereiro e 5 de Abril, sem impacto na segurança das operações, na saúde dos funcionários, nem no ambiente e saúde pública.

O reactor Taishan No.1 foi o primeiro EPR – uma tecnologia desenvolvida pela Framatome – a entrar em serviço no mundo, em Dezembro de 2018, enquanto o segundo está activo desde Setembro de 2019.

Covid-19 | 10 mil vacinas da BioNTech chegam no fim-de-semana 

O coordenador do plano de vacinação assegura que haverá vacinas suficientes para quem necessita tomar a segunda dose da mRNA/BioNTech, com a chegada da Alemanha de 10 milhares de vacinas. Quanto à testagem em massa, pode não abranger toda a população, mas apenas em zonas específicas onde se registem infecções

 

Tai Wa Hou, coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, garantiu ontem que o território recebe este fim-de-semana cerca de 10 mil vacinas da mRNA/BioNTech vindas da Alemanha. O mesmo responsável assegurou que haverá vacinas suficientes para quem ainda não levou a segunda dose.

“Temos marcada uma quantidade suficiente para que todas as pessoas sejam vacinadas com a segunda dose”, frisou. “Da vacina mRNA estamos quase a terminar as doses, restam 15 mil e todos os dias usamos cerca de mil doses. O prazo de validade das vacinas é de seis meses e não vale a pena encomendar muitas vacinas de uma vez só”, apontou. Macau aguarda ainda a chegada de 200 mil doses da vacina Sinopharm.

Relativamente ao plano de proximidade de vacinação, dos seis casinos participantes, quatro já concluíram o programa, estando seis mil pessoas vacinadas. Ontem arrancou o plano de vacinação em parceria com a operadora Wynn, que termina amanhã, iniciando-se depois o plano com a STDM, concluído em quatro dias.

“Quando acabarmos este plano, cerca de dez mil pessoas estarão vacinadas. Não temos estatísticas da taxa de inoculação dos trabalhadores dos casinos porque muitos já estiveram nas instituições de saúde para a inoculação, e não temos um número exacto”, explicou Tai Wa Hou.

Testagem sim, mas não em massa

As autoridades de saúde anunciaram ontem que foram testadas 400 pessoas que estiveram num restaurante onde trabalha um não residente identificado como contacto próximo, pela via secundária, de um caso de covid-19 em Cantão. “Cerca de 400 pessoas marcaram o teste de ácido nucleico, que será gratuito e feito hoje e amanhã. Serão necessárias seis a oito horas para ter o resultado”, que será reflectido no códido de saúde das pessoas testadas, adiantou Leong Iek Hou, coordenadora do centro de contingência.

Sobre a possibilidade de a população ser testada em massa, a responsável frisou que não é certo que os testes cheguem a todos. “Esta testagem pode não ser para toda a população, depende se sabemos o percurso das pessoas.

Podemos fazer a testagem só em determinado local. Neste momento, é difícil responder como e quando vamos fazer, depende da situação das regiões vizinhas. Temos de fazer uma avaliação global para ver se há ou não alto risco de transmissão em Macau.” Para já, estão a ser avaliados os locais ideais para realizar os testes em massa.

Leong Iek Hou adiantou ainda que foram enviadas mensagens a mais de 2800 pessoas que estiveram nas zonas de Foshan e Cantão nos dias 10 e 11 deste mês para fazerem testes de despistagem à covid-19. “Uma grande parte destas pessoas já concluíram os testes, mas ainda faltam 1400, por isso alterámos os códigos de saúde destas pessoas para vermelho. Há ainda 700 pessoas com este código, sendo que a maior parte não está em Macau. Vamos depois encaminhar a lista destas pessoas para o CPSP, para verificar onde estão”, concluiu.

Media | TDM afirma ter removido conteúdos de programa e telejornal

A emissora pública considerou que o tema do 4 de Junho não devia ser discutido enquanto se aguardava a decisão do Tribunal de Última Instância. Porém, sublinhou que a discussão foi feita depois da divulgação do acórdão do tribunal superior

 

A TDM – Teledifusão de Macau afirma ter cortado opiniões do programa “Contraponto” e removido da internet uma reportagem emitida no telejornal. Ambos os conteúdos estavam relacionados com os acontecimentos de 4 de Junho e a informação foi publicada no site da empresa, depois das perguntas de “um órgão de comunicação social”, não identificado.

No caso do programa de debate, a TDM entendeu que devia eliminar conteúdo por considerar inoportuno, enquanto não havia uma decisão do Tribunal de Última Instância. “No dia 28 de Maio, durante a gravação do programa semanal Contraponto, os comentadores opinaram sobre um processo que decorria no âmbito do Tribunal de Última Instância e, do qual, não havia ainda uma decisão final”, foi revelado. “Assim, tendo a TDM em consideração que não é conveniente fazer quaisquer comentários ou emitir opiniões sobre casos cujo processo judicial ainda se encontre em curso, foi decidido remover o comentário sobre a possível decisão do Tribunal de Última Instância do programa Contraponto que foi emitido nesse fim-de-semana”, foi acrescentado.

No entanto, a emissora pública informou igualmente que o tema foi comentado, depois da decisão judicial. “Aliás, no programa seguinte, emitido na Rádio Macau no dia 5 de Junho e no Canal Macau no dia 6 de Junho, os comentadores presentes foram convidados a emitir a sua opinião sobre o acordão do Tribunal de Última Instância que tinha sido tornado público no dia 3 de Junho”, foi vincado.

“Nada acrescentaria”

A TDM admitiu também ter removido conteúdos da versão em língua portuguesa do portal online. No caso, o conteúdo removido fazia menção à proibição da vigília de 4 de Junho. A TDM diz que a reportagem foi feita devido ao não cumprimento do “procedimento normal”. “Relativamente ao Telejornal do dia 4 de Junho, foi retirada uma reportagem da versão final disponível no website. Esta reportagem não tinha sido previamente visionada pelo editor, procedimento normal em qualquer órgão de comunicação social, sendo que a jornalista também não tinha seguido as instruções que lhe tinham sido dadas pelo editor do Telejornal”, foi sustentado.

Porém, a direcção da TDM acredita que a peça não teria valor extra para os telespectadores: “Finalmente, a inclusão da reportagem nada acrescentaria em termos de informação ao telespectador”, foi considerado.

Eleições | Zheng Anting relativiza distribuição de vales de desconto

O deputado e vice-presidente da Associação dos Conterrâneos de Jiangmen de Macau, Zheng Anting, negou que a distribuição de vales de consumo (no valor de 100 patacas) e máscaras tenha tido propósitos eleitorais. Na segunda-feira, a associação distribuiu cupões de desconto no supermercado Royal, o que levou à concentração de pessoas e à intervenção do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), para garantir as distâncias de segurança em tempos de pandemia. Questionado se a iniciativa tinha tido propósitos eleitorais, uma vez o sufrágio está marcado para Setembro, Zheng Anting recusou a ideia e disse que a iniciativa esteve apenas relacionada com as actividades da associação.

O deputado da lista mais votada de 2017 afirmou também que todas as medidas de prevenção da pandemia foram asseguradas na fila que no ponto mais concorrido ultrapassou os 200 metros de distância.

Apesar das explicações, a Associação de Força do Povo e dos Operários, presidida por Lee Sio Kuan, avançou ontem com uma queixa junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) para analisar se o caso envolveu uma infracção à lei eleitoral. Lee também é candidato às eleições, através da comissão de candidatura Ou Mun Kong I, e anteriormente prometeu agitar as eleições com a estratégia do “Cão Louco”, expressão que se escusou a explicar, apenas afirmando: “esperem e vão ver”.

Euro 2020 | Portugal entra com o pé direito e vence Hungria por 3-0

Com a pressão natural de um campeão a defender o seu estatuto, Portugal entrou da melhor maneira em território hostil. Em Budapeste, e em clara desvantagem numérica nas bancadas, a selecção deu conta do recado, tendo sido superior à Hungria em todos os sentidos. O que parecia, inicialmente, um sonho desmedido de revalidação de título, tem agora pernas para andar

Por Martim Silva

 

No primeiro jogo do Euro 2020 com estádio cheio, a selecção das quinas não tremeu. Para todos os efeitos, Portugal é campeão europeu em título e tem um estatuto a defender. O adversário era o mais fraco dos três oponentes do Grupo F, mas a consistência na grandeza é reservada apenas para os melhores deste mundo. A vitória de Portugal sobre a Hungria dá esperança de que o tabaco que Fernando Santos levou para estágio acabe mesmo no dia 11 de Julho.

O primeiro encontro do Euro 2020 a ser jogado com um estádio cheio não podia ter um nome qualquer. O campo Ferenc Puskás em Budapeste tem o nome de um dos melhores jogadores da história do futebol e do Real Madrid. O estádio do Major Galopante, alcunha de Puskás, serviu de palco para o início da caminhada europeia de Portugal. Em plena capital do ex-Império Austro-Húngaro, Cristiano Ronaldo comandou as tropas para um jogo inicialmente tremido, nervoso e com diversos tiros ao lado. Portugal derrotou a Hungria por 3-0, mas o jogo não é só o resultado.

A equipa das quinas começou com muita bola e com os húngaros a não se importarem muito com isso. Fernando Santos apostou em Danilo Pereira e William Carvalho de início no meio-campo, mas a criação de jogo parecia inconsistente. Danilo é bom nos duelos e na cobertura de espaços, mas não se enquadra na construção de jogo da selecção. Na primeira parte, Bruno Fernandes teve pouca bola e Portugal sofreu com isso. A proximidade que o médio do Manchester United tem com o esférico deve ser mais vezes aproveitada. Além destes pormenores, Portugal não podia ter feito um jogo melhor. Dominou a Hungria, subiu as linhas até ao meio-campo e começou a tentar passar o 5-3-2 do italiano Marco Rossi, seleccionador húngaro. As oportunidades foram caindo nos pés de Diogo Jota, avançado do Liverpool, mas o guarda-redes Peter Gulasci estava atento à pontaria do jogador luso. Cristiano Ronaldo também falhou um remate mesmo em frente da baliza, numa primeira parte que parecia agoirada.

Já a Hungria, com uma estratégia de bloco baixo e aposta no contra-ataque, estava confiante nos processos defensivos. O central Endre Botka e o lateral esquerdo Attila Fiola foram autênticos guerreiros na paragem das investidas portuguesas. Apesar das dificuldades incutidas pelo adversário, na primeira parte, Fernando Santos enalteceu a qualidade da sua equipa

‘Uma primeira parte muito bem conseguida em, praticamente, todos os momentos do jogo. Em posse de posse de bola, a procurar a variação, a procurar entrar.’

Aposta certeira

Ao intervalo, e com o seleccionador luso a pedir aos jogadores para manterem o ‘coração e a cabeça a funcionar’, o jogo continuava igual. A Hungria usava Adam Szalai, ponta de lança do Mainz, como referência de jogo mais directo com o apoio de Rolland Sallai, jogador do Friburgo, o mais habilidoso da equipa de Marco Rossi com a bola nos pés.

Contudo, e à medida que o tempo ia passando, Portugal parecia caminhar para um novo empate na caminhada europeia. Por volta dos 70 minutos, Fernando Santos lançou Rafa Silva, extremo do Benfica, que foi determinante nas suas arrancadas para a baliza adversária. Apesar de uma entrada atribulada, aos 84 minutos assiste para o primeiro golo da selecção, marcado por Raphaël Guerreiro numa jogada com vários ressaltos à mistura. Minutos depois com uma boa arrancada de Renato Sanches, jogador do Lille que entrou para o lugar de William Carvalho, Rafa Silva recebe a bola do ex-Benfica e ao entrar na grande área da equipa húngara sofre uma falta do central Willi Orban. Cristiano Ronaldo converteu a grande penalidade, marcando o seu primeiro tento nesta competição. Porém, o jogador do Benfica não ficaria por aqui. O terceiro golo português foi um recital de bom futebol com 33 passes que culminaram no 11.º golo do capitão luso em Euros, tornando-se, desta maneira, no melhor marcador de sempre da competição. Rafa Silva fez, novamente, a assistência.

Fernando Santos apelidou a vitória como justa e não podia ter mais razão. Portugal foi superior em todos os momentos da partida. Para vencer os tubarões, Alemanha e França, precisará de exibições idênticas.

Com mais de 60 mil adeptos num estádio em plena Hungria, Ronaldo e a selecção não sentiram a pressão. Pelo contrário, deram-lhe as boas-vindas. Sob os ombros de Ronaldo e com a convicção de Fernando Santos de que ‘Portugal está preparado para jogar com qualquer adversário’, serão poucas as selecções que conseguirão dificultar a caminhada portuguesa rumo à reconquista.

Em Roma, sê romano

Itália e Suíça não se defrontam desde o ano de 2010, mas volvidos 11 anos muito mudou. A Itália foi vice-campeã europeia em 2012, chegando aos quartos de final em 2016. A Suíça, em 2016, alcançou os oitavos de final do Euro, a sua melhor classificação de sempre. Em 2021, porém, a Itália é de caras um dos favoritos a conquistar o troféu de campeão europeu de selecções, enquanto a Suíça, com algum talento à mistura, consegue impor dificuldades a qualquer equipa. O embate entre ambas ocorre na madrugada de quarta para quinta-feira (03:00), no que se avizinha ser o jogo da jornada. A selecção italiana demoliu, no resultado pelo menos, a Turquia de forma evidente e não podendo contar com o seu melhor jogador, Marco Verratti. Verratti é, facilmente, dos melhores médios do Mundo. Tem a facilidade de jogar como 6 ou como 8, com uma percentagem de passe por jogo a rondar os 92% e consegue ser astuto quando defende. Saber-se que já treina com a selecção, só dará alegrias aos adeptos italianos.

A Suíça estará em território inimigo porque este será o segundo de três jogos que a Itália disputará em solo romano. A cerimónia de abertura do Euro 2020 deu-se no Estádio Olimpico em Roma e a seleção azzurri completará a fase de grupos sem ter de sair de casa. Para a Suíça, esta será a batalha mais difícil de travar. Os helvéticos são inferiores aos italianos e superando esta pressão e hostilidade inicial de jogarem em casa do adversário, podem abrir caminho para um jogo mais disputado do que, em teoria, é esperado.

Daquilo que se viu da Suíça contra o País de Gales, Itália não terá muitas dificuldades em vencer a selecção de Vladimir Petkovic, treinador suíço que já orientou a Lazio.

O lateral Alessandro Florenzi está em dúvida para o encontro. Saiu no intervalo do jogo inaugural contra a Turquia devido a uma lesão muscular, sendo substituído no onze por Giovanni Di Lorenzo.

França domina Alemanha e reforça favoritismo

Sendo o primeiro jogo entre dois gigantes europeus, esperava-se alguma paridade. A França venceu a Alemanha apenas por 1-0, com um autogolo de Mats Hummels aos 20 minutos de jogo após um cruzamento do lateral francês, Lucas Hernández, mas a diferença entre as duas equipas não podia ser mais gritante. A Alemanha não tem grandes referências a não ser no meio-campo, a zona onde o jogo ficou decidido. Ilkay Gündoğan, que já frequentou o Club Cubic em Macau, e Toni Kroos tiveram desempenhos notáveis nas respectivas equipas esta temporada, mas eram as únicas unidades à frente da linha defensiva alemã, com a difícil tarefa de controlar os três médios franceses: Adrien Rabiot, N’Golo Kanté e Paul Pogba.

A desvantagem numérica germânica fez com que a França tivesse sempre espaço nas costas dos médios da Mannschaft. Enquanto Rabiot e Pogba controlavam a zona média do terreno, Benzema fazia de médio ofensivo, Kylian Mbappé descaía para a esquerda e Antoine Griezmann procurava movimentos de ruptura.

Apesar do meio-campo francês ter sido uma das chaves da vitória do campeão mundial de 2018, a organização defensiva gaulesa foi determinante. Presnel Kimpembe e Raphael Varane, com o apoio de Benjamin Pavard na lateral direita e Lucas Hernández na lateral esquerda, formam a melhor linha defensiva deste Euro. Por muito que a Alemanha controlasse o esférico, acabou o jogo com 62% de posse de bola, a defesa dos bleus mantinha-se tranquila e cómoda. O grande segredo da equipa francesa está neste aspecto, por muito que se foque, e com razão, na frente de ataque. Depois de Portugal dominar a Hungria e a França esmagar a Alemanha, o confronto entre os dois finalistas de 2016 será impróprio para cardíacos.

Segurança nacional | Alunos incitados a não divulgar “informações negativas”

Em resposta a interpelação escrita de Mak Soi Kun sobre segurança nacional, o Governo refere que implementou um quadro de organização curricular e exigências de competências académicas básicas para incentivar os alunos a “aproveitarem bem” a internet e “saberem resistir à influência de informações nocivas”. O objectivo é promover “a criação de uma atitude correcta na utilização da Internet e capacidade de discernimento da veracidade das informações, nos alunos, recusando-se a receber, transmitir e divulgar informações negativas e falsas”.

A subdirectora dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Iun Pui Iun, diz que todos os anos são disponibilizadas orientações às escolas para ajudar os alunos a usar a internet. Quanto a materiais didáticos, a DSEDJ deixou promessas para o futuro: vai lançar material suplementar sobre a Constituição da República Popular da China nos ensinos primários e secundário e rever as informações complementares sobre a Lei Básica.

Além disso, Iun Pun Iun afirmou que no ano passado o Corpo de Polícia de Segurança Pública realizou 11 demonstrações da cerimónia do hastear da bandeira nacional e cinco sessões de música em escolas, que contaram com a participação de mais de quatro mil professores e estudantes.

Mak Soi Kun defendeu na interpelação o lançamento de uma série de livros sobre a segurança nacional para “orientar os residentes na criação de autoconsciência sobre a sua obrigação de defesa” e incutir a noção de segurança nacional “desde pequenos” à nova geração.

Cibersegurança | Governo destaca ataques “em grande escala” este ano

O gabinete de Wong Sio Chak afirma que ao longo de 2021 serviços públicos e privados foram alvo de ataques cibernéticos, e apela a empresas e indivíduos reforcem a cibersegurança

 

Num contexto de ataques cibernéticos cada vez mais frequentes um pouco por todo o mundo, “Macau não pode ficar imune”. Esta ideia que serve de mote para o alerta do gabinete do secretário para a Segurança, em que se recordam ataques ao fornecedor de serviços de internet belga “Belnet Network” e ao sistema “Health Service Executive”, da Irlanda.

“Ao longo deste ano, os sistemas informáticos das infra-estruturas críticas de alguns serviços públicos e privados, em Macau, sofreram ataques de DDoS em grande escala e alguns sistemas até pararam de funcionar. Estes incidentes deram a possibilidade de perceber que a cibersegurança não somente está relacionada com a segurança nacional e local, como também com a nossa vida quotidiana”, observa o gabinete do secretário Wong Sio Chak.

Os ataques DDoS tentam tornar um sistema indisponível aos utilizadores, no caso de servidores de internet os hackers fecham o acesso a páginas hospedadas na rede.

Em resposta ao HM, as autoridades revelaram que, de acordo com os dados do Centro de Alerta e Resposta a Incidentes de Cibersegurança, até 15 de Junho deste ano foram reportados três casos de ataque DDoS, que totalizaram oito ataques a operadores públicos e privados de Macau. “O DDoS pode provir de todos os países e regiões do mundo; os ataques a que se referem estes três casos são originários principalmente de países europeus, do continente americano e do Médio Oriente”, explicaram.

Entre Janeiro e Março, foram detectados 49 casos de acesso ilegítimo a sistemas informáticos, mais 37 que no mesmo período de 2020.

De acordo com os dados do balanço da criminalidade, não se registou qualquer obstrução de sistema informático ou exposição ilegítima de vulnerabilidade grave de segurança informática. Já em Maio, foram conhecidos sucessivos ataques aos Serviços de Saúde de Macau.

Vírus cibernético

A nota frisa que dada a maior integração entre a internet e a sociedade, os riscos de cibersegurança estão “a aumentar gradualmente, e a espalhar-se rapidamente por diversas áreas de segurança da sociedade, país e regiões”.

Como tal, o gabinete de Wong Sio Chak afirma que a salvaguarda da cibersegurança não pode “depender apenas do esforço do Governo”, frisando que as empresas e indivíduos têm responsabilidades a assumir.

O Governo aponta que “em todos os lugares da internet há ‘manipuladores do mal nos bastidores’ e ‘vírus’”, pelo que considera necessária a participação “de outras organizações da sociedade e dos numerosos internautas”, nomeadamente através da aprendizagem de técnicas de identificação e protecção contra riscos.

Negócios | China pode perder talentos estrangeiros conquistados nos últimos anos 

O Inquérito de Confiança nos Negócios 2021, publicado pela Câmara de Comércio da União Europeia na China, conclui que a rápida recuperação da economia chinesa da crise gerada pela pandemia da covid-19 deu às multinacionais oportunidades de expandir lucros por oposição a outros mercados. No entanto, as restrições de viagem trouxeram problemas a mais de 70 por cento das empresas e há um grande risco da perda de talentos estrangeiros

 

A economia chinesa foi uma das primeiras a recuperar da enorme crise gerada pela pandemia da covid-19 e isso permitiu às empresas europeias encontrarem um tubo de escape num ano atípico. No entanto, as restrições de viagens impostas pelas autoridades chinesas devido à covid-19 podem levar a uma perda de talentos estrangeiros que o país demorou anos a ganhar com a abertura da sua economia ao mundo.

São estas as principais conclusões do Inquérito de Confiança nos Negócios 2021, publicado recentemente pela Câmara de Comércio da União Europeia na China.

Apesar de as empresas europeias terem vindo a “navegar no escuro”, o mercado chinês constituiu, em 2020, o único espaço onde houve crescimento económico, ao contrário das expectativas iniciais.

“Num inquérito em separado realizado em Fevereiro de 2020, apenas para os membros das câmaras de comércio da Europa e Alemanha na China, metade dos inquiridos falou da expectativa de quebras anuais em termos de lucros, com uns insignificantes 0,5 por cento de expectativas de aumento”, pode ler-se.

No entanto, “as empresas europeias na China viram-se num mercado renascido após depois da produção ter-se virado para o online mais depressa do que inicialmente tinham antecipado”.

As receitas anuais destas multinacionais “foram as piores da década”, mas “42 por cento dos inquiridos registou, na verdade, um aumento das receitas em 2020, sobretudo nas indústrias ligadas ao consumo, como o retalho e a indústria automóvel”.

Segundo o relatório, estes números deveram-se “aos clientes chineses que, impedidos de viajar, usaram as suas poupanças para adquirir carros, produtos de cosmética e roupas”. Pelo contrário, as indústrias de serviços, como a aviação ou a área jurídica, tiveram uma enorme quebra nos lucros, com um quarto dos inquiridos a registar perdas.

O inquérito conclui também que “apesar de uma notável quebra das receitas anuais, três em cada quatro empresas terminaram o ano com ganhos positivos EBITDA [lucros antes de impostos e amortizações], que tem registado lucros nos últimos cinco anos”.

Em suma, “a China tornou-se um pilar fundamental para as operações globais de muitas multinacionais europeias, com 51 por cento das empresas a reportar que as suas margens de lucro EBITDA no país foram maiores do que a nível global”.

Nesse campo registou-se “um aumento de 13 por cento em relação ao ano anterior”, sendo que “68 por cento das empresas estão agora optimistas em relação a um crescimento”.

Em perda

Infelizmente, as multinacionais europeias com presença na China depararam-se com o enorme desafio que constituíram as restrições de viagem devido à covid-19. Um total de 73 por cento dos inquiridos disse ter sofrido um impacto negativo nos negócios, uma vez que muitas das empresas continuam a ter muitos funcionários fora da China sem possibilidade de regresso. Enquanto isso, 68 por cento das empresas inquiridas colocaram as restrições de viagem no topo das suas preocupações.

“A Câmara de Comércio tem conhecimento, infelizmente, por parte de muitos dos seus membros, de que muitos destes especialistas impedidos de viajar estão simplesmente a desistir de voltar às suas vidas aqui, optando por se instalar em outros locais. Isto representa um desafio de longo termo para as empresas, com a possibilidade de a China não recuperar os especialistas que ganhou nos últimos anos”, conclui-se.

“Arranjar as permissões necessárias para a entrada de estrangeiros na China tornou-se num longo e árduo processo. As regras e regulamentos não estão alinhadas e não são consistentes em todo o país, mudando muitas vezes sem aviso prévio. Enquanto que alguns funcionários estão a tentar regressar, muitos simplesmente desistiram e seguiram em frente. Os membros também reportaram que há uma preocupação de que um grande número de funcionários estrangeiros acabe por ‘sucumbir’ à fadiga depois de estarem tanto tempo sem poderem visitar as suas famílias e amigos que estão noutros países.”

A vacinação contra a covid-19 assume, novamente, um papel fundamental. “Há alguma esperança de que o regresso à China seja mais fácil se os trabalhadores estrangeiros tomem a vacina aprovada pelas autoridades de saúde chinesas. No entanto, se não houver um mecanismo para facilitar o regresso dos trabalhadores estrangeiros depois das visitas ao estrangeiro, as empresas europeias temem que estes simplesmente se vão embora.”

Neste sentido, a Câmara de Comércio defende que as autoridades chinesas deveriam “estabelecer de forma clara” as regras para o regresso destes trabalhadores.

O tempo agora é de resiliência e de olhar o futuro, asseguraram os inquiridos. Aponta o relatório que muitas empresas pretendem agora “assegurar a sua presença de mercado na China” e que estão a preparar “estratégias alternativas para lidar com as próximas tempestades”. Nos inquéritos realizados no primeiro trimestre de 2020, as palavras de ordem eram o oposto, uma vez que as empresas pretendiam reforçar as suas posições fora da China e com outros fornecedores a nível global, bem como “diversificar [o seu negócio] para outros mercados”.

O relatório afirma também que as multinacionais europeias estão a “explorar novas oportunidades”, sobretudo na área do ambiente e das alterações climáticas. Um total de 55 por cento das empresas pretendem o nível de neutralidade nas emissões de dióxido de carbono em 2030 ou antes.

Novos desafios

Este relatório surge depois de a União Europeia ter recuado no acordo de investimentos com a China, e há tensões políticas que podem, de facto, ter um impacto nas multinacionais europeias presentes no mercado chinês.

“Enquanto que a importância do mercado chinês talvez nunca tenha sido tão clara como agora, vai tornar-se cada vez mais difícil para as empresas gerirem a sua permanência [no mercado] a longo prazo, os desafios das regulações internas com os limites restritos de uma economia dirigida para o Estado, em conjunto com os riscos externos que emanam de indesejados confrontos políticos”, destaca a Câmara de Comércio.

O caminho será feito de “precauções”, sendo referida a importância de apostar numa “agenda que complete a abertura completa do mercado chinês e providencie às empresas europeias um nível de actuação” segundo essa realidade.

O acordo com entre a China e a UE visava uma maior igualdade de oportunidades para as empresas europeias no acesso ao mercado, e, segundo os dados contidos no relatório, essa igualdade parece estar longe de ser uma realidade.

“O acesso ao mercado continua a melhorar, mas apenas de forma marginal. Foram reportadas barreiras por parte de 45 por cento dos membros, com 12 por cento a afirmar que estas barreiras são directas, tal como listas negativas, e 33 por cento a reportar que são indirectas, como procedimentos de licenciamento opacos e aprovações administrativas.”

Um total de 44 por cento dos inquiridos garantiu ter sofrido um tratamento desigual, enquanto que “uma pequena proporção de membros acredita que as empresas estrangeiras recebem um melhor tratamento do que as empresas locais”. Além disso, “um terço dos inquiridos nunca esperou um nível de actuação materializado na China”.

A “reforma” das empresas estatais “continuou a desapontar”, uma vez que apenas 15 por cento dos participantes neste inquérito “espera que o sector privado ganhe oportunidades de expansão em relação ao sector estatal, com 48 por cento a esperar o oposto”.

“A reforma das regulações estagnou de forma geral, e algumas regras e directrizes emergentes constituem desafios crescentes. Um terço dos inquiridos sofreu um impacto negativo com os requisitos regulatórios vagos”, enquanto que as infracções em termos de direitos de propriedade intelectual “tornaram-se vagamente mais comuns do que nos últimos dois anos”, embora mantendo-se “mais baixos do que as médias históricas”.

Este inquérito foi realizado em Fevereiro deste ano a 1262 entidades elegíveis. Um total de 585 inquiridos completou o questionário, tendo este obtido uma taxa de respostas de 46.4 por cento.

Covid-19 | Residente vindo de Hong Kong com “resultado positivo fraco”

Um residente que regressou a Macau este domingo testou positivo à covid-19, mas foi um resultado “positivo fraco”. Segundo uma nota divulgada hoje pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, será necessária a realização de mais testes “para determinar se o caso pertence a uma recaída ou reinfecção”. Neste momento o caso não está ainda classificado como importado.

O homem, de 18 anos, foi diagnosticado em Dezembro do ano passado com covid-19 em Hong Kong. Este manifestou “sintomas como febre e tosse”, tendo sido submetido a isolamento no centro de convenções e exposições Asia World-Expo, em Hong Kong.

Segundo a mesma nota, “o doente afirmou que não foi vacinado contra a covid-19”. No domingo, o teste deu negativo, tendo o homem apanhado um táxi desde a sua residência, em Hong Kong, até ao posto fronteiriço da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, em Hong Kong, tendo apanhado o autocarro das 18h para o efeito.

Quando entrou em Macau, o residente foi sujeito ao período de quarentena na Pousada Marina Infante, tendo sido depois encaminhado para o Centro Clínico da Saúde Pública de Coloane “para uma observação mais aprofundada”. Nesta fase o homem não apresenta sintomas.

Termina primeira sessão do julgamento de Aung San Suu Kyi

A primeira sessão do julgamento da líder birmanesa Aung San Suu Kyi chegou ao fim no Tribunal de Naypidaw, a capital administrativa do país, noticiou a estação Channel News Asia.

Se for considerada culpada, a líder da Liga Nacional para a Democracia, detida desde o golpe de Estado de 01 de fevereiro, enfrenta uma pena de 10 a 15 anos de prisão e proibição de se candidatar nas eleições que a Junta Militar prometeu organizar, ainda sem data marcada.

Aung San Suu Kyi, 75 anos, além do processo sobre divulgação e venda de documentos secretos, enfrenta um outro processo por violação das normas contra a propagação do novo coronavírus, importação de aparelhos de comunicações (rádios telefone) e violação da lei das Telecomunicações.

A sessão do julgamento está encerrada, mas fontes judiciais ligadas à líder deposta disseram à Associated Press que os procuradores ainda não acabaram de expor o caso que começou hoje a ser julgado.

A organização não-governamental Human Rights Watch considera “pouco provável” que o julgamento Aung San Suu Kyi seja justo e pede a libertação imediata da líder birmanesa deposta.

Phil Robertson, subdiretor da Human Rights Watch (HRW) para a Ásia criticou através de um comunicado que as restrições impostas fazem com que Aung San Suu Kyi seja impedida de aceder aos advogados num tribunal controlado pela Junta Militar.

“É pouco provável que tenha um julgamento justo”, disse Robertson.

“As acusações contra Aung San Suu Kyi são falsas e têm motivação política com vista a anular os resultados eleitorais alcançados em novembro de 2020 impedindo-a de se apresentar outra vez. Todas as acusações deveriam ser retiradas”, afirmou acrescentando que a dirigente política deve ser libertada “imediatamente e incondicionalmente”.

Além de Aung San Suu Kyi, 75 anos, vão também ser julgados o ex-presidente da Birmânia, Win Myin, e o ex-governador da capital, Myo Aung.

Sobe para 25 o número de mortos em explosão de conduta de gás na China

O número de mortos na sequência de explosão de uma conduta de gás num bairro residencial na província de Hubei, no centro da China, subiu para 25, continuando a decorrer os trabalhos de resgate. Segundo o canal oficial daquela região, o número de vítimas mortais subiu para 25, mais do dobro do número divulgado anteriormente.

Vários prédios ficaram danificados e cerca de 100 pessoas feridas após a explosão que destruiu um prédio de dois andares e um mercado movimentado na cidade de Shiyan, província de Hubei. A explosão atingiu comerciantes e moradores e para o local foram destacados dois mil elementos das equipas de resgate, que evacuaram cerca de 900 pessoas de edifícios vizinhos que começaram a desabar, explicou a autarquia.

O prédio onde ocorreu a explosão era uma antiga fábrica de chassis de automóveis e diversos sobreviventes relataram que houve uma suspeita de fuga de gás quando a empresa mudou de instalações no ano passado. “Em março, funcionários da empresa de fornecimento de gás vieram e perguntaram-me se sentia cheiro de gás”, destacou um dos sobreviventes a um órgão de comunicação local.

Na China, estes acidentes são relativamente comuns e são geralmente atribuídos à fraca adesão às normas de segurança e manutenção deficiente. Este incidente aconteceu um dia depois da morte de oito pessoas, após um produto tóxico ter sido derramado numa fábrica de produtos químicos em Guiyang, no sudoeste da China.

Entre os piores acidentes, registou-se uma explosão em 2015 num armazém químico na cidade portuária de Tianjin que matou 173 pessoas, a maioria das quais bombeiros e agentes da polícia. A explosão foi atribuída à construção ilegal e ao armazenamento de materiais inflamáveis.

“A morte de um apicultor” – Parte 2

Mas para além da linguagem há outros centros gravíticos neste livro de Lars Gustaffson, sendo eles a esperança e as perguntas impensáveis, que é um modo de nos fazer ver para além do que estamos habituados a ver. Um modo peculiar de nos forçar a pôr tudo em causa. Mas gostaria agora de abordar a mecânica da esperança, que surge logo no início do livro, através desta passagem: «[Referindo-se à carta que recebera do posto de saúde] Ou a carta anuncia-me que não se trata de nada de grave. Ou vem dizer-me que tenho um cancro e que vou morrer. O mais provável, claro, é o cancro. // A atitude mais sensata é não a abrir, pois assim ficarei para sempre com uma réstia de esperança. // E esta esperança deixa-me uma margem de manobra.» (29) Para quem conhece a poesia de Konstantinos Kafavis, não pode deixar de lembrar o poema «No porto». Leia-se o poema, numa versão minha:
«
Jovem, vinte e oito anos, desembarcou
no porto sírio de Emes, vindo de Tinos,
com a intenção de ser perfumista.
Mas adoeceu no mar e morreu
assim que desembarcou. O seu enterro, muito pobre,
aconteceu aqui. Horas antes de morrer
balbuciou as palavras “casa”, “pais muito velhos”.
Mas ninguém sabia onde isso seria
ou quem eles eram, no vasto mundo helénico.
Melhor assim. Embora esteja morto
aqui neste porto, os seus pais têm
esperança de que ele esteja vivo.»

Este poema mostra-nos claramente, à semelhança da passagem de Lars Gustaffson, como a ignorância dos factos nos dá alento, nos dá esperança. Tanto o poema quanto a passagem do livro de Gustaffson, que se estende além da citação que reproduzi, nos coloca a pensar que a esperança enraíza no desconhecimento dos factos. Não está aqui em causa saber o que é melhor ou pior, até porque a esperança não tem a ver com saber. O que está em causa é que o não saber abre a clareira do possível, isto é, de que tudo pode ser possível, até não se ir morrer ou não se ter um filho morto. Por isso se diz que a esperança é a última a morrer. É a última a morrer, porque ela cai para o derradeiro facto, isto é, a morte dela é o fim das possibilidades em aberto, é o fechar-se das possibilidades ou, se preferirem, é a transformação radical da possibilidade em determinação. Na esperança, o humano vive como se tivesse 20 anos e a vida toda pela frente com a totalidade das possibilidades inerentes. Esperança enraíza em dois solos fundamentais: a ignorância dos factos e a abertura ao futuro. Mas esta abertura ao futuro não quer dizer «um futuro melhor» ou «dias melhores virão». Não é este futuro que está em causa. Por exemplo, o narrador de Gustaffson não precisa de um futuro melhor do que o presente, só precisa que o futuro não piore em relação ao presente, que se mantenha, isto é, que a doença não se faça sentir de um modo insuportável. E a relação com o futuro dos pais mencionados no poema de Kavafis também não é diferente, pois a ausência de notícias do filho abre-lhes uma clareira de esperança que mais do que quererem ter notícias dele, querem que ele se mantenha como o viram pela última vez, isto é, vivo.

A esperança não tem como horizonte de sentido um futuro melhor, mas um presente alargado ou um passado alargado. A esperança é acima de tudo a expressão de uma vontade de que as coisas voltem ao normal. E voltar não é para a frente, é para trás. Quando alguém diz «tenho esperança que a minha mãe melhore» mais do que reportar-se a um futuro, está a reportar-se a um passado, a um tempo em que as coisas eram normais, a um tempo em que não havia doença. Parece haver uma ideia de futuro, mas na verdade é uma esperança de que tudo volte a ser como era.

No fundo, a esperança é um mecanismo que transforma um adulto em criança. O medo da criança não é o medo do adulto. O medo da criança, a mais das vezes é imaginário; o medo dos adultos é concreto, enraizado em factos. A esperança ao transformar o adulto em criança, altera-lhe também os medos. Um cancro já não é mais um conjunto de tecidos a degradar-se a matar-nos por dentro, passa a ser uma coisa desconhecida que assim como apareceu, pode desaparecer. Escrever um livro pode fazer desaparecer essa coisa desconhecida, Deus pode fazer desaparecer essa coisa desconhecida. O desconhecido, para desaparecer, só precisa de imaginação. Repare-se como quase no final do livro Gustaffson define o humano como um ser que balança entre a animalidade e a esperança. (168) Não é entre a animalidade e o espírito, porque espírito não sabemos bem o que é. É entre a animalidade e a esperança. Ou, se preferirem, entre a animalidade e o anseio de transformação do tempo. Aliás, não podemos esquecer a última frase do livro: «Podemos sempre esperar.»

E de que modo é que podemos analisar o estribilho que percorre todo o livro: «Recomeçamos, não nos rendemos.» De outro modo, podemos ligar este refrão à esperança ou há algum modo em que se ligue este refrão e a esperança? Não se liga. Ou, pelo menos, não se liga de imediato, sem que antes mostremos os outros centros gravíticos desta obra.

E um desses centros gravíticos, que melhor nos pode iluminar o refrão do livro, é precisamente aquilo a que podemos chamar «a máquina de fazer perguntas inusitadas». Gustafssonn mostra-nos que escrever é, acima de tudo, arriscar o pensar. Pôr o pensamento em risco, ir além daquilo que pode ser feito em filosofia ou em ensaio.

Pois, nem tudo o que pode ser pensado, pode ser racionalmente acompanhado. Assim, A Morte de um Apicultor é um livro que nos obriga a pensar, não para procurar soluções ou resolver enigmas existenciais, mas para nos alargar o sentido de ver e nos aperfeiçoar o mecanismo de perguntar. Como exemplo, veja-se o modo como aceitamos tacitamente as regras que nos impuseram, mesmo aquelas que só a nós dizem respeito, como o caso do casamento ou das relações monogâmicas. Continuamos a viver como na idade média. Não devemos esquecer que nem os gregos e nem os romanos viviam assim, este modo de vida é uma herança cristã. E o cristianismo, como se sabe desde Nietzsche, é contra a vida. Mas mesmo sem acreditarmos em Deus, continuamos a viver como se o cristianismo governasse as nossa vidas. O segundo capítulo chama-se «Casamento» e é acerca de todas as convenções que aceitamos tacitamente. Em perguntarmos a razão pelo que fazemos. Espera-se que casemos e que entreguemos o nosso corpo, a nossa alma e o nosso espírito apenas a essa pessoa. Ou, pelo menos, o nosso corpo. Várias são as perguntas pertinentes que o narrador nos mostra. Vejamos algumas: «Quando amamos alguém, ou melhor, quando nos apaixonamos por alguém, pelo que é que nos apaixonamos realmente?» (39) Veja-se como o narrador corrige de amor para paixão, para que a pergunta faça o sentido que pretende. Depois deste esclarecimento, já pode adoptar a palavra amor, pois o leitor agora sabe que ele se refere a paixão. Veja-se, como continua: «Será pela ideia que criamos da pessoa amada ou pela pessoa tal como ela é? // Talvez só saibamos viver com as nossas ideias. Talvez passemos o tempo a amar unicamente as nossas próprias ideias.» (Ibidem) É evidente que o que o narrador quer dizer não é referente às ideias platónicas ou às ideias que um Newton tem. Aqui, «amar as nossas próprias ideias» quer tão somente dizer «amar-se a si próprio», «amar aquilo que diz e aquilo que julga que pensa, mas que não passa de coisas que lhe puseram na cabeça e que ele adopta mais ou menos à sua maneira». Faz-nos também pensar na relação entre amor e distância geográfica. E, é sabido, a distância é um grande amplificador da paixão. Aliás, o desejo é, em si mesmo, a interiorização da distância. «Até que distância podemos amar alguém», pergunta o narrador, brilhantemente, como se não nos tivesse antes feito pensar em todas as variantes do amor e da distância.

Mas toda esta passagem acerca da paixão ou do amor enquanto eros e a distância tem um sentido maior: porque continuamos a viver como se pudéssemos viver assim? É este o sentido do apego, do desejo que o narrador sentiu por Anna, de uma cidade vizinha. Escreve o narrador acerca do encontro com essa mulher: «Queria provar a mim mesmo que existia. E isto só acontece quando exercemos efeito noutra pessoa.» (49)

(Continua na próxima semana)