Universidade Estadual da Califórnia terá dois cursos de português

[dropcap]A[/dropcap]Universidade Estadual da Califórnia, Fresno vai lançar dois cursos em Língua Portuguesa e Estudos Portugueses no próximo ano lectivo, disse à Lusa a professora Inês Lima, responsável pela criação dos novos cursos.

“Estamos à espera da aprovação das disciplinas novas”, adiantou a docente, que foi contratada em 2018 para leccionar Língua e Cultura Portuguesa no Departamento de Línguas e Literaturas Modernas e Clássicas da Faculdade de Artes e Humanidades.

A professora falava à margem da inauguração do novo Instituto Português Além-Fronteiras na Universidade Estadual da Califórnia, Fresno, que teve a presença de uma comitiva portuguesa liderada pelo presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro.

A “minor” em Português irá focar-se na literatura e “num nível de língua portuguesa mais avançado”, enquanto a “minor” em Estudos Portugueses “será mais abrangente” e terá opções lectivas ensinadas em inglês, para que alunos de qualquer área de ensino possam “aprender sobre a cultura portuguesa e países lusófonos”.

De acordo com Inês Lima, o objectivo é começar com quatro disciplinas e mais tarde, ainda sem horizonte temporal concreto, avançar para uma “Major” em Português e Estudos Portugueses.
“Há de facto muito interesse”, adiantou a professora, que neste momento tem 50 alunos nas cadeiras de língua e cultura portuguesa.

“Tenho alunos que estão sempre a perguntar se já vão poder escolher as novas disciplinas para Setembro e quando é que temos disponíveis cursos de nível mais avançado de língua”, revela a professora.

Além dos estudantes com ascendência portuguesa, Inês Lima refere que muitos dos interessados pretendem estudar português “porque tem um ponto de contacto com as suas áreas”.

É o caso dos alunos de enfermagem e de segurança pública, que querem comunicar melhor com a população luso-americana da região do vale central da Califórnia, onde há elementos da comunidade que “não falam bem inglês”.

Há também alunos de Agricultura “que querem fazer um período de estudos ou mestrado em Portugal”.

Inês Lima lecciona actualmente Língua Portuguesa e Culturas dos Países de Língua Portuguesa, que abrange Portugal, Brasil, Moçambique, Angola e Cabo Verde e se debruça sobre “aquilo que partilham em termos de história, em termos de património cultural, e aquilo que é específico”.

As disciplinas eram leccionadas por uma professora da área de espanhol. “Agora viram que havia potencial para avançar e desenvolver os estudos portugueses”, afirmou Inês Lima.

A professora, natural do Porto, estava a dar aulas na Universidade de Massachusetts, Darmouth, e trocou a Nova Inglaterra pela Califórnia devido à “possibilidade de criar os cursos” numa universidade com potencial de crescimento.

As “Minor” serão leccionadas por Inês Lima e Diniz Borges, director do recém-criado Instituto Português Além-Fronteiras (Portuguese Beyond Borders Institute) na Universidade Estadual da Califórnia, Fresno, que vai iniciar um projecto de recolha das histórias orais da imigração portuguesa na região. No futuro, Inês Lima considera que “serão precisos mais professores” de português.

OPA/EDP | Fundo americano Elliot avisa que oferta chinesa enfraquece a eléctrica

[dropcap]O[/dropcap]fundo de investimento norte-americano Elliot, que detém 2,9% do capital da EDP, considera que o preço da Oferta Pública de Aquisição (OPA) da China Three Gorges (CTG) sobre a eléctrica é “excessivamente baixo” e “subavalia significativamente” a empresa.

“A oferta da CTG, tal como se encontra actualmente, não favorece os melhores interesses dos ‘stakeholders’ [accionistas] da EDP e, em última análise, conduzirá a um enfraquecimento da EDP que será uma empresa mais volátil, com um conjunto de activos menos atractivo e com poucas oportunidades de crescimento”, lê-se numa carta enviada pela Elliot Advisors ao Conselho de Administração Executivo e ao Conselho Geral de Supervisão da EDP, ontem divulgada.

Para o fundo norte-americano, a oferta anunciada pela CTG é mesmo “a maior fonte de incerteza que a empresa enfrenta actualmente” e a estagnação do negócio teve “como efeito prático impedir o crescimento da EDP, o que originou má performance do valor das acções da EDP relativamente às outras empresas do sector”.

“O preço da oferta actual da CTG [que é o maior accionista da EDP, com uma participação de 23%] é excessivamente baixo e subavalia significativamente” a empresa, sustenta, apontando como “o problema mais evidente da oferta o prémio inaceitável de 4,8%”.

Afirmando a sua concordância com o Conselho de Administração Executivo da EDP, que assumiu que “o preço oferecido não reflecte adequadamente o valor da EDP e o prémio implícito na oferta é baixo considerando a prática seguida no mercado europeu das ‘utilities’”, a Elliot afirma que, “caso não exista um aumento da contrapartida, não se antevê qualquer possibilidade de os accionistas virem a apoiar uma oferta que não valoriza adequadamente o seu investimento”.

Segundo destaca, “além de uma avaliação justa e razoável da EDP, para que a oferta seja bem-sucedida também é necessário eliminar vários obstáculos regulatórios”, sendo que actualmente “continuam por verificar 16 das 17 principais condições suspensivas referidas no anúncio preliminar da oferta, tendo sido apenas obtida uma aprovação jusconcorrencial no decurso de nove meses”.

A este propósito, a Elliot aponta o caso dos activos de energia renovável que a EDP detém nos EUA, descritos como “as jóias da coroa” da empresa, mas cuja manutenção avisa que o Committee on Foreign Investment in the Unitede States (CFIUS) não aprovará caso a CTG venha a deter a maioria do capital social da eléctrica.

“Na nossa opinião, se a oferta da CTG prosseguisse teriam de ser efectuados desinvestimentos relevantes como reacção/resposta às imposições dos reguladores”, designadamente nos EUA e na Península Ibérica, sendo que esses desinvestimentos “deixariam a EDP mais fraca”.

Convicta de que a EDP “é uma empresa atractiva, com um potencial de desenvolvimento substancial”, a Elliot adverte que “a continuação da existência de uma oferta que se considera impossível concluir com êxito, na sua forma actual, está a dificultar o crescimento” da eléctrica, pelo que esta “deve ultrapassar rapidamente a oferta e a definição de um novo rumo é urgente”.

“Embora o ‘portfólio’ da EDP inclua áreas de grande potencial, quando a consideramos como uma única empresa, falta-lhe foco”, diz, considerando “difícil para os investidores avaliar o portfólio de forma justa, uma vez que os negócios da EDP com múltiplos elevados são diluídos por divisões com múltiplos baixos, resultando num desconto do conglomerado”.

Para o fundo de investimento, “a EDP encontra-se também excessivamente alavancada”, com uma “consideravelmente reduzida” capacidade “para encontrar oportunidades de crescimento”, o que a tem privado “da possibilidade de acelerar o investimento em oportunidades de alto retorno que se encontram disponíveis nos principais mercados” onde opera.

A posição da Elliot é que “uma EDP fortalecida deve dar prioridade a dois pilares fundamentais para o crescimento sustentável: uma optimização do ‘portfólio’ focada nas principais áreas de negócio e uma redução da excessiva alavancagem; e um investimento no crescimento através de oportunidades no setor das energias renováveis com taxas actrativas de retorno”.

Para o fundo, “esta nova EDP seria mais focada, mais empenhada no crescimento e menos alavancada”, com “um ‘portfolio’ de activos líder de mercado, métricas financeiras actrativas e uma história de crescimento clara e convincente” que “provavelmente impulsionariam uma revisão do ‘rating’ e proporcionariam uma vantagem significativa para todos os ‘stakeholders’”.

“Desinvestimentos indiferenciados, tais como aqueles que seriam provavelmente exigidos pela oferta da CTG, poderiam colocar em risco postos de trabalho. A manutenção de um ‘status quo’ de baixo desempenho pode ter o mesmo efeito. Uma abordagem que priorize o investimento e o crescimento oferece perspectivas mais encorajadoras aos trabalhadores da EDP”, considera.

As “sugestões” avançadas pela Elliot passam pelo investimento da EDP em energias renováveis, a redução da dívida e diminuição do custo da dívida, o reinvestimento na EDP e a venda da participação na EDP Brasil, de 49% da participação na Distribuição Eléctrica Ibérica e dos activos térmicos ibéricos antigos.

“A EDP pode optar por três caminhos distintos quanto ao seu futuro: o ‘status quo’, a oferta da CTG ou a ‘Nova EDP’ – O Plano de Investimento e Optimização”, conclui o fundo norte-americano, defendendo como “próximos passos fundamentais” uma “avaliação realista” da oferta chinesa que leva à sua retirada, uma reflexão dos accionistas sobre novos “caminhos futuros” e a implementação de um “plano ambicioso de investimento e otimização” do ‘portfolio’ da empresa.

Em 11 de Maio passado, a CTG anunciou a intenção de lançar uma OPA voluntária sobre o capital da EDP, oferecendo uma contrapartida de 3,26 euros por cada acção, cujo pedido foi registado junto do regulador, sem alterações ao preço oferecido inicialmente.

John Mo considerado inocente do caso de violação

Juízes consideraram que vítima nunca procurou socorro, não mostrou vontade de abandonar local e até se sentou no colo de John Mo, quando poderia ter fugido. O tribunal não afastou a hipótese da queixa ter sido motivada pelo facto da ofendida ser casada e temer que a sua relação extraconjugal fosse descoberta

 

[dropcap]O[/dropcap] ex-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, John Mo, foi absolvido da prática de um crime de violação pelo Tribunal Judicial de Base, na passada sexta-feira. Na leitura da sentença, o colectivo de juízes justificou a decisão com o facto da ofendida nunca ter procurado auxílio, nem ter deixado o karaoke, onde se deu o incidente que motivou o processo.

A situação aconteceu entre as 23h de 23 de Junho do ano passado e as primeiras horas do dia seguinte. Para o tribunal, ao longo das cerca de duas horas em que as partes trocaram beijos, abraços e contactos mais íntimos, nunca houve qualquer tipo de resistência da queixosa ou utilização de violência, por parte de John Mo.

“Não há dúvidas que o arguido introduziu o dedo na vagina [da ofendida] e, por momentos, fez um movimento de vai e vem”, foi uma das frases da sentença proferida pelo colectivo liderado pela juíza Lou Ieng Ha. “Ficou deitada [na sala de karaoke], mas o indivíduo não a prendeu [quando avançou]. A ofendida podia movimentar os braços. E ela mexeu-se, aparentemente para facilitar a introdução [do dedo]. Tinha as mãos livres, mas não bateu no arguido. Bastava que tivesse feito qualquer gesto de oposição como, por exemplo, puxar os cabelos do arguido, para mostrar que recusava. Não o fez”, foi sustentado.

No entendimento do Tribunal Judicial de Base, a ofendida teve também vários momentos para sair do local e fugir, ou pedir ajuda. Mas tal nunca se verificou. “A pessoa ofendida foi ao WC com a terceira arguida [Yang Manman]. Mas depois regressou para a sala do karaoke. Se não queria beijos porque não fugiu quando foi à casa-de-banho? Não havia uma relação de poder entre os dois. Ela poderia ter deixado o local. Mas regressou e sentou-se ao colo do arguido”, foi explicado.

Ofendida era casada

Outro dos factores tido em consideração pelo tribunal foi o facto da ofendida, que era casada, estar em vias de deixar Macau e ter marcas na face causadas pelos longos beijos. Por isso, o colectivo não afastou a hipótese de a ofendida ter feito queixa por violação para impedir que a família tivesse conhecimento do adultério.

A posição do tribunal teve por base imagens de videovigilância, que captaram as cerca de duas horas em que tudo terá acontecido, dentro da sala de karaoke. O testemunho do patrão do espaço de karaoke no NAPE também contribuiu para absolver John Mo. Segundo a testemunha houve clientes que se queixaram dos barulhos na sala onde acontece a relação. O patrão foi chamado a intervir por um empregado, uma vez que o subordinado não queria interromper o envolvimento entre o professor e a aluna de mestrado. É de salientar que a queixosa não frequentava a Universidade de Macau. Nessa altura, o patrão disse aos dois para irem para um hotel, ou espaço semelhante. Ao tribunal, a testemunha relatou ter ficado com a impressão de que os dois eram um casal, não tendo visto sinais de violência ou resistência.

Segundo o tribunal ficou também provado que, apesar de terem ingerido bebidas alcoólicas, ambos estavam na posse de capacidades que lhes permitisse ser responsáveis pelas decisões tomadas.

John Mo “agradecido”

A leitura da sentença contou com a presença do principal arguido, John Mo, que segundo a advogada, Oriana Pun, ficou “contente, satisfeito e agradecido” com o desfecho. A absolvição foi recebida com um sentido abraço à advogada. Porém, o ex-director da UMAC, que esteve em prisão preventiva durante seis meses, até sexta-feira, aparentou estar bastante debilitado, envelhecido e magro.

Também Oriana Pun se mostrou feliz com a decisão do tribunal: “Ficámos muito satisfeitos porque os juízes vieram muito bem preparados. Aquilo que foi dito [durante a leitura da sentença] é verdade. Embora o julgamento só tenha demorado um dia, todos nós tínhamos visualizado o vídeo e por isso foi um julgamento rápido e eficaz”, considerou.

MP sem posição

Sobre a possibilidade de John Mo pedir uma indemnização face ao despedimento da UMAC, que surgiu na sequência do caso, e à ofendida, a causídica não afastou os cenários, mas admitiu não terem sido discutidos.
Oriana Pun também não conseguiu responder ao que teria estado por trás da queixa. “Não sabemos [o que motivou a queixa]. A ofendida prestou declarações e ausentou-se. Não tivemos oportunidade de falar com ela nem de contactá-la. Ela não estava representada na sala, foi só o Ministério Público”, apontou.

Também os arguidos Lei Iok Pui e Yang Manman, que enfrentavam acusações de violação, em co-autoria com o primeiro arguido, e omissão de auxílio, foram absolvidos.

Após a decisão, foi dado ao Ministério Público o prazo de 20 dias para recorrer da sentença. O HM entrou em contacto com o MP na sexta-feira, mas até à hora de fecho da edição não tinha recebido qualquer resposta.
O HM também procurou perceber se a Universidade de Macau ia contratar de novo John Mo, também sem resposta.

Acusado de violência doméstica com pena suspensa de 10 meses

[dropcap]U[/dropcap]m homem que enfrentava uma acusação do crime de violência doméstica, por bater na mulher, foi punido com uma pena de 10 meses, suspensa durante dois anos, segundo o portal All About Macau. De acordo com a decisão do colectivo liderado pela juíza Leong Fong Meng, não foi possível dar como provado a prática do crime de violência doméstica, pelo que a acusação foi alterada e o homem acabou condenado pela prática dos crimes de ofensa simples à integridade física e ameaça.

O tribunal considerou que estes dois crimes foram dados como provados. No caso da prática da ofensa simples à integridade física, a punição foi de sete meses de prisão, sendo que a pena máxima era de três anos. No que diz respeito ao crime de ameaça, o homem poderia ter enfrentado uma pena máxima de dois anos de prisão, mas foi condenado com cinco meses. No entanto, o cúmulo jurídico da condenação pelos dois crimes resultou numa condenação a 10 meses de pena de prisão suspensa, durante um período de dois anos.

Segundo a acusação, o homem agredia a mulher de forma constante desde 2004 até ao ano passado, altura em que o caso foi denunciado. Além das agressões, a acusação acreditava haver ainda abusos físicos, mentais e sexuais. Contudo, alguns dos factos não foram dados como provados em tribunal.

Durante a leitura da sentença, segundo o portal All About Macau, a juíza sublinhou que todas as pessoas têm de ser respeitadas, principalmente os membros da família. Leong Fong Meng frisou também que o marido não tem o direito de agredir a sua esposa.

“Não foi o ideal”

A assistir ao julgamento esteve a presidente da Novo Macau, Kam Sut Leng. No final da sessão, num comentário numa rede social, a líder da associação pró-Democracia mostrava-se desiludida com o resultado. “Estive a acompanhar a leitura da sentença e o resultado não foi o ideal”, escreveu. “Hoje [ontem] sinto-me um pouco deprimida”, acrescentou.

Segundo a lei aprovada em 2016, o crime de violência doméstica é punido com uma pena de 1 a 5 anos de prisão, em condições agravadas a punição é de 2 a 8 anos de prisão. Nos casos em que a vítima morre, a pena aplicável varia entre os 5 a 15 anos de prisão.

Um brinde à saúde de todos os porquinhos

[dropcap]O[/dropcap]s ocidentais, tal como os chineses, têm 12 signos do Zodíaco, mas enquanto os signos ocidentais são baseados nas constelações, os signos chineses são representados por animais. Este ano, o Zodíaco chinês é representado pelo porco. O meu primeiro desejo de Ano Novo é que todos os porcos estejam de boa saúde, já que ultimamente tem havido surtos de gripe suína africana a nível global.

Os chineses têm-se dedicado à criação de porcos nos últimos setecentos ou oitocentos anos. Desde que os antepassados dos porcos foram domesticados, estes animais tornaram-se a principal fonte de abastecimento de carne. Os porcos têm como objectivo principal ingerir a maior quantidade possível de comida até ao dia em que entram no matadouro. A contribuição prioritária destas doces criaturas tem sido a sua carne, mas o seu património genético tem sido desvalorizado. Se os porcos tivessem o poder de escolha e tivessem tido oportunidade de correr livremente pelo mato, como os javalis, os seus familiares mais chegados, imagino o que iria nas suas mentes no dia em que estivessem no matadouro à espera de ser abatidos.

Há quem tenha porcos como animais de estimação, porque são muito inteligentes e limpos. É o caso das pessoas que moram na Aldeia de Ka Ho, em Coloane, Macau, que têm uma série de adoráveis porquinhos de estimação. Quem quiser porcos de estimação, tem de impedi-los de comer a toda a hora, porque estes animais não percebem quando devem parar. Podem comer até se transformarem numa enorme bola de carne e isso só traz vantagens a quem os quiser usar para fins alimentares.

No famoso filme de animação japonês, “A Viagem de Chihiro”, realizado por Hayao Miyazaki, mostra-se de forma metafórica os elos de ligação entre humanos e porcos. A história fala de Chihiro, uma menina de dez anos, que subitamente se apercebe que os pais foram transformados em porcos, depois terem devorado grandes quantidades de comida num restaurante. A nossa pequena heroína passa por muitas tormentas até descobrir a maneira de voltar a dar forma humana aos seus progenitores. Muitas pessoas não compreenderam porque é que esta história era sobre humanos que se tinham transformado em porcos. Um jovem japonês chegou a enviar uma carta para o Hayao Miyazaki’s Studio a expôr as suas dúvidas. Uns meses depois o estúdio respondeu à carta.

Na carta de resposta podia ler-se, “Os pais de Chihiro não se transformaram em porcos logo a seguir a terem devorado toda aquela comida, foram-se transformando gradualmente ao longo de um certo período de tempo”. Por isso, o que os transformou em porcos não foi terem comido muito, mas sim a vontade com que ficaram de “continuar a comer cada vez mais, mesmo depois de já terem ingerido mais do que o suficiente”. O Hayao Miyazaki’s Studio deixou bem claro que o enredo é uma metáfora sobre o mundo em que vivemos. A transformação de humanos em porcos é uma alegoria à ganância, como parte da natureza humana. A ganância faz com que as pessoas percam as suas virtudes e o seu sentido de moralidade e, uma vez que se transfomam em porcos, é quase impossível voltarem a ser humanos. Esta história nasceu como uma ideia sarcástica às bolhas especulativas do Japão dos anos 80. Nessa época, os japoneses eram gananciosos e insaciáveis, assemelhando-se a porcos, embora não tivessem consciência do facto. Quando a economia entrou em recessão, a única coisa que souberam fazer foi queixar-se das condições económicas negativas. O realizador Hayao Miyazaki usou este filme como uma forma de alertar as pessoas contra os perigos da ganância e, possivelmente, para os pôr perante uma imagem de si próprios que desconheciam.

Durante os feriados do Ano Novo, que duraram desde a véspera do Ano Novo Chinês até ao seu 7º dia, 1,4 milhões de turistas visitaram Hong Kong e 1,21 milhões visitaram Macau. É do consenso geral que este enorme afluxo se ficou a dever à abertura da Ponte Hong Kong–Zhuhai–Macau e espera-se que o número venha a aumentar no próximo ano. Durante estes sete dias, as maiores atracções turísticas, como as Ruínas da São Paulo, estiveram sujeitas a medidas de controlo de multidões. Os transportes e as ruas estavam apinhados de pessoas, dificultando enormenente a deslocações dos residentes de Macau. Mas nem tudo são histórias de sucesso económico. Não nos devemos esquecer das lojas situadas fora dos circuitos turísticos que se viram obrigadas a fechar devido ao enorme inflacionamento das rendas. Será este cenário a manifestação de uma economia moderadamente diversificada? Para Hong Kong, que possui uma área de 1.106 Km2, 1,4 milhões de visitantes numa semana, ultrapassa largamente a sua capacidade de acolhimento. No caso de Macau, que tem uma área de apenas 30,8 Km2, a grande preocupação foi fazer chegar o milhão e duzentos mil visitantes a todos os diferentes distritos turísticos em vez de os deixar concentrados apenas nos principais.

Para criar porcos saudáveis, é preciso controlar-lhes a dieta e deixá-los fazer exercício. Se o porquinho se dedicar apenas a devorar alimentos tem como único destino o matadouro.

Pontapés nos impostos

[dropcap]C[/dropcap]om escassos dias de diferença, duas das maiores e mais mediáticas figuras do desporto português e mundial foram condenados por tribunais do estado espanhol pela prática reiterada de crimes de evasão fiscal. Primeiro foi Cristiano Ronaldo, exímio avançado, várias vezes galardoado como melhor goleador do continente europeu e reiteradamente reconhecido como melhor futebolista do mundo: quase 19 milhões de euros teve que pagar ao fisco o prodigioso atleta, após perpetrar o maior crime fiscal da história do futebol mundial, um recorde agora devidamente homologado por competentes instâncias judiciais. Depois foi o treinador José Mourinho, temporariamente dedicado ao comentário televisivo e à patinagem acidental, condenado pelos tribunais ao pagamento de mais pequena – mas nem por isso modesta – verba, a rondar os 2 milhões de euros.

Com o seu magnífico desempenho a driblar autoridades tributárias, Ronaldo ultrapassou com clareza o anterior recordista da fraude fiscal no universo futebolístico, o astro argentino Leonel Messi, cujo crime de evasão ao fisco espanhol tinha sido reconhecido por tribunal adequado no valor de 15 milhões de euros, quase quatro milhões abaixo do impressionante registo do goleador português. Com performances de nível nitidamente inferior – mas ainda assim num elevadíssimo patamar – outras reconhecidas personalidades do universo futebolístico contribuíram com cerca de 90 milhões de euros para as receitas do fisco no Reino de Espanha nos últimos anos. James Rodrigues com 11 milhões, Neymar e Sandro Rosell (ex-Presidente do Barcelona) com cerca de 5 milhões (e o que mais se verá, que o assunto continua em investigação, com Rosell a ser objecto de cerrada marcação individual em cela prisional) e ainda Luca Modric, Marcelo, Di Maria, Mascherano, Falcão, Alexis Sanchez, Casillas, David Villa, Diego Costa, Dani Alves, Fábio Coentrão ou Figo, todos eles com valores em torno de um ou dois milhões de euros. Xabi Alonso tem o seu caso em julgamento e é o primeiro futebolista que corre o risco de ser condenado por crime fiscal a uma pena de prisão superior a dois anos, o que inviabilizaria a suspensão da pena (de que beneficiaram todos os outros atletas referidos) e obrigaria a detenção efectiva.

Não deixa de ser curioso que só em Espanha haja futebolistas que não apreciam particularmente o pagamento de impostos. É verdade que há casos pontuais julgados noutros países mas os tribunais espanhóis têm-se notabilizado internacionalmente pela regularidade com que condenam famosos e consagrados jogadores pela prática sistemática de crimes fiscais, que normalmente decorrem ao longo de vários anos, utilizando circuitos financeiros mais ou menos obscuros e tendencialmente dirigidos a paraísos fiscais internacionais, geralmente procurando tratar rendimentos regulares inerentes aos contratos de trabalho para a prática do futebol como se fosses rendimentos ocasionais relacionados com a exploração de direitos de imagem para os circuitos mediáticos globais. Certamente que semelhantes ardilosas habilidades processuais se desenvolvem com sabedoria noutras partes do mundo, mas pelos vistos o fisco espanhol teve a sensatez de apertar o cerco fiscalizador às transações financeiras dos milionários da bola, em vez dos trabalhadores “independentes” (“autónomos”, no caso), que com o mesmo trabalho de investigação renderiam meia dúzia de euros aos cofres do Estado.

Não serão só os futebolistas, naturalmente, a fintar autoridades fiscais por esse mundo fora. Na realidade, o processo generalizado de globalização e desregulação de movimentos financeiros a que temos assistido nas últimas décadas abre novas e mundialmente distribuídas oportunidades para a ocultação de rendimentos e para a evasão fiscal. Resulta daqui uma evidente dupla injustiça: por um lado, os Estados perdem recursos que deveriam ser aplicados em políticas públicas supostamente benéficas para toda a população; por outro lado, só os milionários têm acesso a este tipo de fuga, que requer a utilização de sofisticados meios jurídicos e financeiros, devidamente suportados por técnicos de elevadíssima reputação e não menos elevados honorários.

O processo de globalização económica que facilita o crime fiscal dos milionários tem também sido marcado por sistemáticas limitações nos orçamentos dos Estados em grande parte do mundo, impondo sucessivos mecanismos de austeridade, redução de gastos e limitação de investimentos em serviços públicos. Ao mesmo tempo – e certamente também por isso – aumentam todos os anos os índices de desigualdade social, com uma parte cada vez menor da população mundial a concentrar uma parte cada vez maior da riqueza. A evasão fiscal é um dos mais poderosos instrumentos para alimentar esta ganância e determinar esta obscena e insustentável evolução das sociedades em que vivemos. O problema merece, em todo o caso, escassa indignação pública. Já os golos magníficos concretizados por exímios futebolistas merecem ampla celebração em todo o mundo. Talvez não fosse má ideia equilibrar um bocadinho as coisas, digo eu, que até gosto de bola.

Da Meca turística ao gueto turístico

“Any city however small, is in fact divided into two, one the city of the poor, the other of the rich. These are at war with one another.”
The Republic – Plato

 

[dropcap]H[/dropcap]á um consenso geral e crescente de que o turismo tem sido considerado um elemento insignificante no processo de desenvolvimento urbano e económico no debate académico; e só recentemente foi considerado como um importante domínio da mudança urbana.

O turismo urbano ainda é um campo de pesquisa imaturo, que muitas vezes parece atrasar a prática do seu desenvolvimento em vez de o orientar. Essa imaturidade levou a pontos de vista tendenciosos, que promovem descrições simplistas do turismo, como uma panaceia para todos os problemas de desenvolvimento ou interpretações extremamente críticas do fenómeno do turismo.

A necessidade de uma mudança de paradigma na pesquisa e na prática do turismo na cidade, foi afirmada na “3.ª Cúpula Global sobre Turismo da Cidade” que se realizou em Barcelona, entre 9 e 10 de Dezembro de 2014, intitulada de “Novos Paradigmas no Desenvolvimento do Turismo Urbano”. A cúpula destacou a necessidade de uma mudança de paradigma e uma conexão forte entre o turismo e a construção de uma “cidade inteligente, sustentável e inclusiva”. Foram convidados profissionais do sector e académicos a aceitar o desafio e superar as fraquezas das abordagens actuais para estudar e praticar o turismo na cidade.

A mudança de caminho no desenvolvimento do turismo da cidade é necessária também à luz do rápido crescimento dos movimentos anti-turismo em várias cidades. Esses movimentos, enfatizam e dão voz a problemas e assimetrias que o turismo urbano cria em detrimento das comunidades locais, que reclamam o direito dos moradores à cidade, chamando a atenção para a necessária construção e gestão da relação entre moradores e turistas, que desempenham um papel crucial no desenvolvimento do turismo. Muitas vezes este aspecto foi negligenciado, com a consequência de uma explosão do fenómeno do turismo que, em certos contextos, está fora de controlo e reduz a multifuncionalidade dos centros urbanos, como é o caso de Veneza e o desenvolvimento massificado do turismo urbano em Praga.

Ao invés de limitar a observação do turismo urbano à sua estigmatização como grande inimigo da cidade habitável, há a necessidade de produzir estruturas analíticas capazes de apoiar o planeamento, gestão e até mesmo a engenharia do turismo da cidade. Para este fim, a pesquisa académica pode desempenhar um primeiro papel, ao identificar o “carácter” do turismo urbano, distinguindo-o de qualquer outro tipo de turismo, colocando o “urbano” no centro do conceito de turismo. Os pesquisadores em segundo lugar, podem fornecer aos analistas, modelos analíticos, informando e orientando as políticas, não apenas por meio da promoção e comercialização do destino, mas também através da regulamentação do desenvolvimento do turismo e da sua integração no planeamento urbano mais amplo e no quadro de desenvolvimento económico, em que se destaca o surgimento de domínios analíticos que, além de abordagens consolidadas, estão a ampliar a arena de pesquisa, e fornecem evidências de uma mudança de perspectiva no campo.

Tais domínios contribuem para reafirmar o turismo além da agenda pós-industrial da cidade turística, e chamam a atenção para a complexidade das cidades onde o turismo dá forma ao espaço urbano e, inversamente, é moldada por ele e pelas dinâmicas sociais e económicas que nele ocorrem. As contínuas revoluções urbanas e de viagens criam uma oportunidade única para tornar o turismo na cidade, um forte impulsionador de cidades mais inteligentes, sustentáveis ​​e inclusivas.

O turismo urbano deve abordar questões chave como o engajamento da comunidade, melhores pesquisas e dados para orientar o planeamento e a gestão, parcerias privadas, criação de “clusters” e a modernização da tecnologia, inovação e sustentabilidade. O turismo tornou-se um componente central da economia, da vida social e da geografia de muitas cidades no mundo, e está idealmente posicionado a contribuir para o aproveitamento das oportunidades decorrentes da urbanização. É necessário construir novos paradigmas no turismo urbano que passam por quatro áreas principais, como o ambiente em mutação, o conhecimento e a tecnologia, a medição e como tornar o turismo na cidade um benefício para si e suas áreas adjacentes.

É de ressaltar a necessidade de desenvolver produtos orientados para o mercado e baseados em pesquisa, alertando para a falta de estudos para medir adequadamente o turismo urbano, os seus impactos e tendências. Além disso, é importante destacar a necessidade de tornar a cidade agradável a todos, quer sejam cidadãos e turistas, quer sejam investidores e distribuir os benefícios do turismo da cidade fomentando o seu progresso, multiplicando assim o seu impacto e gerindo o congestionamento.

O desenvolvimento de “clusters” que envolvem actores públicos e privados de todos os sectores é apontado como central para o novo paradigma do desenvolvimento do turismo na cidade; um desenvolvimento que precisa de estar atento ao facto de que o turismo é um instrumento de política de coesão social e preservação cultural, além da sua contribuição fundamental como actividade económica, sendo necessário discutir os novos modelos de negócios emergentes da chamada economia compartilhada e avaliar a sua integração no planeamento e desenvolvimento do turismo.

É importante entrosar a população local em todo o processo de desenvolvimento do turismo urbano, devendo ter sempre em mente que o turismo acontece em uma comunidade e o que não é bom para a cidade não é para os cidadãos, pelo que nunca será um bom destino turístico. Uma cidade que é boa para os seus cidadãos é boa para os turistas; uma cidade que é amada pelos seus cidadãos será amada pelos seus visitantes. O turismo de cidade é uma prioridade, pois é capaz de cumprir dois principais objectivos estratégicos, como o de superar outras indústrias e aumentar os gastos médios. As cidades são também alguns dos maiores destinos do turismo do mundo. Os turistas são atraídos, em número crescentes pela vibração, excitação e diversidade que oferecem as cidades.

O impacto socioeconómico desses visitantes é extraordinário, sejam visitas de lazer, negócios ou para encontrar amigos e familiares. Os turistas contribuem para a economia local e empregos em toda a cidade. As preferências dos turistas e expectativas mudam, o mesmo acontecendo com as cidades, com o turismo e investimento constante em infra-estrutura, promoção e conservação, beneficiando turistas e moradores locais. A metade da população mundial vive em vilas e cidades e este número deverá atingir quase cinco mil milhões até 2030. O turismo urbano, em termos económicos, cria oportunidades de emprego e tornou-se um factor chave no planeamento urbano global e aumento do bem-estar de milhares de milhões de pessoas que vivem nas cidades.

À medida que as áreas metropolitanas se expandem rapidamente, tanto o sector público quanto o privado enfrentam mudanças radicais, bem como oportunidades significativas. A gestão de forma sustentável do aumento do número de turistas no meio de uma paisagem urbana em constante mudança, garantindo que a cidade seja desenvolvida para atender às necessidades dos visitantes e das comunidades locais é essencial. A cidade é material, social e política, ou seja, é o produto cultural mais sofisticado para a convivência civilizada, de acordo com os clássicos.

A cidade é parte da nossa cultura e história sendo o epicentro de muitas das nossas tradições. Todos vivemos e trabalhamos nas cidades e ainda assim visitamos outras cidades durante o nosso tempo livre. Como a sociedade está em constante mudança, as cidades estão a tentar adaptar-se e atender às necessidades dos moradores e visitantes, além de se tornarem atraentes. Sendo destino para os futuros visitantes, esta é uma oportunidade económica e social única, que traz dinamismo e vitalidade, crescimento e desenvolvimento, e se torna um elemento importante na vida das pessoas.

O crescimento da cidade e o objectivo final do planeamento urbano devem ser a resposta lógica às necessidades dos seus moradores para aumentar sua qualidade de vida, bem-estar, qualidade ambiental e identidade cultural. As cidades estão a mudar constantemente e são construídas, transformadas e em contínuo crescimento. As cidades são também ocupadas por diferentes tipos de grupos e cada um usa a cidade de uma forma diferente, gerando uma organização espacial, alguns tipos de diferenciação residencial que também criam fronteiras invisíveis reflectindo como essa sociedade é estruturada.

As cidades oferecem novas oportunidades e têm um grande impacto no crescimento económico local, por exemplo, tornando-se um elemento-chave para reduzir a pobreza. A urbanização de facto desempenha um papel positivo na redução geral da pobreza, particularmente quando apoiada por políticas bem adaptadas. É nesse processo complexo e interminável que devemos esforçar para construir a cidade o mais integrada e coesa possível. As cidades também podem ajudar a reduzir os custos de transacção, como infra-estrutura e serviços; comportando-se como redes sociais, fornecendo informações e facilitando a difusão do conhecimento. Desde a sua primeira formação, as cidades serviram como pontes entre culturas.

As cidades têm sido motores de inovação desde o tempo em que os grandes filósofos discutiam no mercado ateniense. As cidades realmente unem seus cidadãos mais inteligentes e são centros de transmissão de ideias, informação e conhecimento; e as ideias e a força que emanam da colaboração humana constituem a última fonte de criação de riqueza. A necessidade de entender e estudar mais de perto a cidade como um elemento dinâmico e orgânico na vida das pessoas torna-se crucial não apenas para fins de marketing ou de produtos, mas também para ser capaz de organizar a sua sociedade, infra-estrutura e instituições da forma mais eficaz e económica.

É importante realçar que não apenas vivemos ou visitamos as cidades, mas evoluímos conjuntamente com elas. Tem sido justamente assinalado que uma maneira apropriada de enfrentar a crise global é a abordagem de baixo para cima, tentando alcançar o crescimento ao nível local. Muitos países prosperam porque existem duas ou três cidades que são os motores do progresso geral. É de argumentar que o paradoxo central da metrópole moderna é que a proximidade se tornou cada vez mais valiosa, à medida que o custo de se conectar através das distâncias diminuiu. As cidades representam proximidade e densidade populacional, mas também privacidade ao mesmo tempo. Em um mundo cada vez mais globalizado, as cidades são laços interconectados.

O turismo é um elemento muito importante em todas as políticas relacionadas com o desenvolvimento urbano, não sendo apenas uma estratégia para fornecer um produto competitivo e atender às expectativas dos visitantes, mas uma forma de desenvolver a cidade e fornecer mais e melhores infra-estruturas. A “Organização Mundial do Turismo (OMT)” refere-se ao turismo urbano como sendo as viagens feitas por viajantes a cidades ou locais de alta densidade populacional. A duração destas viagens é geralmente curta (um a três dias), podendo-se dizer que o turismo urbano está intimamente ligado ao mercado de férias por períodos curtos.

As grandes áreas metropolitanas são, em geral, mais produtivas e em todos os países há uma correlação quase perfeita entre urbanização e prosperidade. Mas as cidades também prosperam como centros de consumo, prazer e lazer. O turismo urbano, de uma forma ou de outra, esteve presente desde a Mesopotâmia à Suméria, gerando o fenómeno de urbanização. As pessoas com os meios e propensão para o fazer foram atraídas para cidades e vilas apenas para visitar e tentar uma multiplicidade situações e estas foram os caldeirões da cultura nacional, arte, música, literatura, magnífica arquitectura e design urbano. Foi a concentração, variedade e qualidade dessas actividades e atributos que criaram a sua atracção e colocaram certas cidades no mapa do turismo.

O turismo urbano sempre foi uma tarefa difícil tanto para o sector público quanto para o sector privado. A sua natureza multifuncional torna complicado planear e gerir. As áreas metropolitanas estão a crescer rapidamente e novas questões e desafios estão a surgir. A literatura insuficiente também contribuiu para a falta de compreensão do turismo e seus efeitos no desenvolvimento das cidades, daí a necessidade de examinar e identificar os novos desafios e oportunidades colocados pelo turismo de cidade.

As cidades no início do século XX, começaram a conhecer-se como atracções turísticas; e as que reagiram a esse fenómeno desfrutaram de um impulso económico graças às actividades que proporcionaram aos visitantes. O turismo nos Estados Unidos, por exemplo, cresceu rapidamente, e todas as grandes cidades atraíram o turismo, o que significou uma mudança na forma como as pessoas viviam, mas também percebiam as cidades. Viajar tornou-se um elemento importante na vida das pessoas; pois queriam visitar e conhecer outras cidades.

O turismo urbano torna-se uma área de interesse durante a década de 1980; e as pesquisas e publicações a partir dessa data identificam como um complexo fenómeno que afecta muitas partes interessadas na cadeia de valor. O nascimento de companhias aéreas de baixo custo, também trouxe um interesse crescente nas cidades e seu desenvolvimento em termos de turismo, por exemplo, as cidades europeias tiveram que adaptar as suas actividades de marketing para atrair um novo tipo de produto que são os curtos feriados em uma grande cidade.

As cidades apelam para um mercado mais amplo, são fáceis de alcançar e têm muito a oferecer, o que também traz um novo padrão de gastos que pode ir dos que ficam em hotéis económicos ao cliente de hotéis de cinco estrelas, mas todos têm algo em mente, que é a vontade de descobrir e visitar outras cidades. As cidades precisam avaliar os seus produtos e entender quais das suas ofertas de produtos atraem o mercado. A grande questão é a de saber se o turismo urbano pugna pelo turismo de massa ou prefere o turismo sustentável ou se serão compatíveis.

Liga de Elite | Ching Fung bateu Hang Sai por 4-0

[dropcap]O[/dropcap]Ching Fung venceu Hang Sai por 4-0, na quarta-feira à noite no Canídromo, e colocou fim na crise de resultados, com a primeira vitória nesta Liga de Elite. Os comandados de João Rosa entraram melhor na partida e Alex Sampaio inaugurou o marcador, ainda no primeiro minuto.

Em vantagem, o Hang Sai, equipa que se reforçou para a temporada, conseguiu aguentar até aos 52 minutos sem sofrer qualquer golo. No entanto, William Gomes fez o 2-0 nessa altura, e 29 minutos depois, quando o relógio indicava os 81, dilatou o resultado para o 3-0. O último golo do Ching Fung chegou quase no final do encontro, aos 90 minutos, através de Li Meng Ho.

No outro encontro de quarta-feira, o Ka I e o Tim Iec empataram 2-2. O resultado tem um sabor amargo para a equipa orientada por Josecler, uma vez que o Ka I estevem em vantagem por 2-0 até aos 77 minutos. Até essa altura, Thiago Silva foi o jogador em destaque com golos para o Ka I aos 27 minutos, ainda na primeira parte, e aos 52 minutos. Contudo, a reacção do Tim Iec surgiu aos 77 minutos por Hun Seng Kai e aos 87, por Lei Chi Seng.

Paris blues

[dropcap]P[/dropcap]ara o jazz, Paris era uma constante Primavera. Um sentimento de aconchego e desprendimento insuflava nos músicos ali chegados em digressão, fosse do bulício dos boulevards, da joie de vivre que pairava na atmosfera, da comida mais sápida e das refeições demoradas, da elegância blasé efluída de todas as coisas, ou mesmo das francesas, que olhavam sem subterfúgios e galanteavam sem acanhamento.

O céu dos outros é sempre menos turvo do que nosso, mas esta sensação de limpidez e desafogo tinha causa tangíveis.

Em Paris os músicos de jazz apanhavam-se longe da pressão em partes iguais de dealers, agentes, promotores e editores. Usufruíam por uma vez de um abrandamento que lhes instilava o gosto raro da liberdade – tudo ali lhes corria com folga e gentileza. Outra razão mais incisiva e pungente os encantava em Paris; resumiu-a Miles Davis. “Aqui não me tratam como um grande artista negro, apenas como um grande artista.”

Aos 22 anos e ainda com tudo por fazer, porque toda a criação que o perpetuaria veio depois, Miles Davis já impressionava quem o escutasse e ninguém duvidou que era estelar o seu brilho. Foi em 1949 que pela primeira vez levantou voo de solo americano e pela primeira vez abriu asas em Paris.

Ao cabo de um par de concertos de sala cheia Miles foi acolhido por Boris Vian e Jean-Paul Sartre que nele exultaram o artista informal porém veemente, sofisticado mas livre de sofismas, que se afirmava a contracorrente sem ser adversativo, desmarcado do sistema contudo isento das complacências da marginalidade. Estigmatizados por uma espécie de complexo de Caim viram em Miles um alter-ego. Vian e Sartre professavam o inconformismo como norma, todavia em vez de se verem expulsos do Éden académico, assim legitimando a sua rebeldia, tão-só haviam arrombado uma porta aberta e ficaram com as chaves do meio intelectual na mão. Miles Davis ostentava, portanto, uma integridade original que eles haviam institucionalizado e da qual tinham saudades. E se Miles nunca ouvira falar de Sartre e Vian de imediato percebeu a envergadura e o alcance deles. Arrastaram-no para os círculos da boémia de Saint Germain e apresentaram-no, por exemplo, a Picasso, também ele interessado em conhecê-lo. Nas longas e animadas conversas até altas horas da madrugada Miles escutava e era ouvido sem que por uma vez se lembrasse, ou alguém o lembrasse, que era um negro entre brancos.

Em 1949 as úlceras da ocupação ainda segregavam pus, a França oscilava entre a vingança e o recalcamento, numa espécie de guerra civil em banho-maria. Mal supurada a cicatriz ficaria para sempre, mas na Paris desse tempo ninguém sabendo que cartas se escondiam em que mãos, o jogo estava em aberto e tudo era possível.

Que mais poderia acontecer a Miles Davis em Paris senão apaixonar-se?Mesmo que só mais tarde o cognominassem de “Prince of darkness” já então Miles irradiava reputação de bera e mercurial. A velha história: arreganha os dentes para que não te ponham o pé em cima. E já entendia, por experiência própria, que vida e a música, o génio e o valor, o reconhecimento e o respeito, não cresciam juntos. Na sua atitude, porém, não havia máscara mas armadura. De modo que na Paris fervilhante de 1949 o existencialismo que então pulsava nos espíritos e corações acometeu Miles de modo subcutâneo e não apenas como uma volúptia epidérmica.

E por quem haveria este príncipe das trevas de se apaixonar senão pela musa dos caveaux, a feiticeira da nova chanson, sempre de vestida preto, Juliette Greco?

Arrebatadamente usufruíram de todas as prendas que os amantes cobram de Paris: passeios de mão dada ao entardecer pela margem esquerda do Sena, jantares íntimos num bistrot à luz das velas, confidências e beijos num banco do Jardim do Luxemburgo. Haveria nisto a puerilidade e a diminuição do cliché se não estivessem eles precisamente a instaurá-lo (a célebre foto de Doisneau, “Le Baiser de l’Hôtel de Ville” é de 1950) e sobretudo se fosse minimizado que ninguém virava a cara ao ver um negro retinto e uma branca muito pálida a trocarem carícias em público. Quanto ao resto que é sólito verificar-se entre namorados, Greco, que jurou em canção de tudo se lembrar, admitiu numa entrevista, guardando recato nas palavras mas escapando-lhe um sorriso de plenitude, que ambos estiveram à altura das tórridas promessas.

Revelando uma insólita vocação para padrinho Sartre perguntou-lhes de boa-fé porque não se casavam. Miles poderia ter redarguido com escrúpulo: “porque nos EUA vivo com Irene Cawthon de quem tenho dois filhos” ou respondido com lucidez: “o que se passa em Paris fica em Paris.” Preferiu a verdade: “Se casássemos Juliette nunca seria considerada nos EUA uma grande artista, mas apenas a minha ‘white bitch’”.

E assim foi que Miles Davis provou o travo amaro da renúncia, que nem a graça do altruísmo mitiga. Quem sabe se desta inacabada paixão, agora lendária, remanesceram os indícios de cepticismo e retraimento que ecoam no timbre da sua música.

Do trabalho

[dropcap]P[/dropcap]ermitam-me dizer que ao fim de vinte e tal anos de trabalho percebi finalmente que as coisas não têm qualquer tendência para melhorar. Eu nunca gostei da ideia de trabalho, isto é, de posto-com-horário-para-ser-cumprido-ao-modo-de-um-castigo, até porque sempre achei que a vida era demasiado curta para que aceitássemos a ideia de lhe amputar um terço sob mando alheio apenas para não morrer de fome. A maior parte das chefias que conheci estava inebriada com o poder – mesmo que pouquíssimo – de que dispunha sobre os outros. Muitos dos colegas que tive davam infinitamente mais importância ao aspecto formal do trabalho (pontualidade, absoluto respeito pela hierarquia e aspecto) do que ao conteúdo do mesmo (produtividade, inovação e competência). O trabalho é um local e um modo de vida odioso onde prolifera e se premeia sobretudo a incompetência e irrelevância. Um chefe cretino e inseguro fará de tudo para proteger a sua posição periclitante e não hesitará em rodear-se de cretinos e de bajuladores. Um chefe competente dificilmente será levado a sério pelas restantes chefias, até porque imprime uma marca e um ritmo pouco condizentes com a mediocridade geral e põe a nu, por contraste, a incompetência alheia. No trabalho quase tudo é mau, ou não derivasse o nome de um antigo instrumento de tortura do tempo dos romanos, o tripalium. Um tridente de madeira usado primeiramente na agricultura e logo convertido em acessório sado-maso com tónica exclusiva no sado.

Percebo a utilidade social do trabalho. Não fosse o trabalho e as pessoas teriam de encontrar um sentido para a vida ou pelo menos buscá-lo com um resíduo que fosse de avidez. Não fosse o trabalho e as pessoas teriam de ficar com os putos o dia todo – pelo menos nas férias escolares –, ou deixariam de ter desculpa para faltar à festa de final de ano, à quermesse da páscoa ou ao teatrinho do sexto ano. Não fosse o trabalho e as pessoas teriam tempo para fazer todas aquelas coisas que dizem querer fazer – e que, na verdade, não querem – e cujo tempo escasseia para as fazerem. O trabalho, em certo sentido salva. Ou pelo menos ajuda a manter um estado-de-coisas, sejam estas uma paternidade sem acidentes domésticos ou uma relação que sempre ajudar a pagar a casa e a compor o frigorífico. Mas no mesmo período de tempo em que estamos a trabalhar podíamos estar a fazer coisas muito mais interessantes. Ou menos, mas ainda assim a escolha seria nossa.

Nos países maximamente capitalistas a cultura do trabalho atinge proporções religiosas. Lembro-me de ler uma entrevista a um daqueles magnatas do petróleo que por cupidez ou tédio resolvem se candidatar a um lugar de congressista ou de senador, na qual o entrevistador perguntava ao bilionário o que pensava este das consequências da automação e da inteligência artificial na vida dos seus trabalhadores num futuro não muito distante. O entrevistado, pelos vistos, não só nunca pensara seriamente no assunto (bilionário old school, pré Silicon Valley) como não conseguia sequer conceber a possibilidade de um mundo no qual as pessoas não tivessem que trabalhar.

Acabou por atirar, tão enojada como contrariadamente, qualquer coisa como “it would be a godless world”. Não só o trabalho ocupa as mãos que, como se sabe, são o recreio do demo quando desocupadas, como escalona o tecido social: quem ganha mais tem uma posição moralmente relevante e quem ganha menos tem de se ater à sua própria insignificância. No limite, os pobres são-no porque estão pejados de vícios morais. O seu sofrimento na terra é já ele um o primeiro prato de um castigo divino de que não se antecipa o fim. Sem a bússola do trabalho, como destrinçaríamos o bem do mal, a excelência da mediocridade, o necessário do supérfluo?

Mais a mais, que faríamos com todo esse tempo recuperado das nossas vidas? Em relação à abundância de tempo e de dinheiro sempre tive como certa a frase de um reclame da saudosa Vox: “dá Deus vozes a quem não tem implantes”.

Alzheimer

in memoriam patris, José Augusto Caeiro

[dropcap]A[/dropcap]demência está na minha família. É herança do lado do pai. A minha avó morreu com demência senil em estado avançado. Vivi com o meu avô nos últimos oito anos da sua vida e também o vivi degenerar, mas não ao ponto a que a avó chegou. Portanto, é dos dois lados que vem o testamento. Lembro-me de que se falava de arterioesclerose, mas era demência, loucura. Cedo o meu pai teve medo de que lhe pudesse caber o mesmo destino. Com “cedo” quero dizer logo após a morte de sua mãe. Tinha à época a minha idade, pouco mais de cinquenta anos. Decorava páginas e páginas do dicionário, que depois invocava em passeios a pé de Alvalade, até onde ia de meio de transporte, até casa, na Junqueira em Alcântara. Punha-se sempre desafios à memória a que sempre respondia com sucesso. Eu nunca tive a memória do pai. Para ele, cada pessoa tinha um nome de que se lembrava. Conhecia as ruas de Lisboa por tu e os nomes próprios ou pelos quais são conhecidas. Ia diariamente à Cinemateca ver filmes, sem nunca descurar a ficha técnica, que lia e aprendia de cor. Lia os jornais diários, sempre dois. Mania que deve ter preservado do tempo em que havia jornal de manhã e à tarde. Por mais que ficasse comprovado que a memória dele era excelente, o medo de ficar como a mãe não atenuara. Houve sempre uma sombra que aumentou de volume e de negrura. Era com horror que sentia a loucura já dentro de si, a demência, o Alzheimer, seja lá como for designado o eclipse do espírito, o esquecimento, a perda de identidade que resulta da lembrança das pequenas coisas: como alguém se chama, qual o nome da rua, quem dá nome a uma rua.

O esforço de preservar a memória não era cognitivo apenas, nem resultava de uma resistência a um quotidiano com buracos, furos, lacunas, para que fosse preenchido. Era outra coisa. Era o medo de perder identidade pessoal. O desconforto de não se lembrar de um nome depressa se espalhou como um fogo exposto ao vento. Passa a ser um déficit de diversas ordens: cognitivo, sim, mas também com deficit de acuidade de atenção, desorientação no espaço e também no tempo.

Numa das saídas do Corte-Inglês de Lisboa para o Metro, revelou um desnorteamento total. É difícil perceber qual a entrada do Metro, mas não para alguém que estava habituado a ir lá ao cinema durante tantos anos e também a apanhar o Metro. A partir de determinada altura, era difícil dar com locais habituais, como restaurantes. Dava-se o caso de se lembrar das zonas de Lisboa percorridas por Eléctricos, já desactivados. Queria saber onde era a paragem de Eléctrico, quando já não existiam sequer carris. Chegou sempre, mas não conseguia reconstituir o caminho, nem sabia há quanto tempo tinha saído de casa. A hora da saída estava envolvida numa nebulosa que invadia também o local por onde passava. Tudo era como um sonho. Não sabia mesmo como chegava.

Houve um dia que fui envolvido pela atmosfera pessoal do meu pai. Era um nevoeiro espesso. A presença desse clima era amplamente justificada ou assim me parecia. Às sextas-feiras o pai juntava-se a um grupo de amigos para jantar. Daquela vez, eu também ia. Era em Alvalade num restaurante conhecido. Fomos de autocarro até à praça de Londres e depois fomos a pé, porque não conseguíamos apanhar nenhum táxi ou outro meio de transporte. Chovia e já estava escuro. Lá fomos até Alvalade. Quando me dirigia para o interior do bairro, o meu pai disse que não era aquele, mas outro, também de dois irmãos. Subi a norte de Alvalade. Fui dar a bairros onde nunca tinha estado na vida. Acreditei piamente no pai. Segui-o. Depois de uma boa hora, achei que devia ligar para os amigos, coisa que não tinha feito ainda, porque estava absolutamente convencido de que o pai sabia o que estava a fazer e para onde ir. Percebi logo, à conversa com um dos amigos, que estávamos muito longe e que o sítio era onde eu inicialmente achava que era. O surto tinha durado muito tempo, tempo demasiado para não dar conta de que havia uma clara deterioração das condições mentais. As perdas e o desnorteamento em Lisboa eram por demais evidentes para não serem percebidas com alarme. Nunca mais as coisas foram diferentes e tudo se precipitou em pouco tempo, muito pouco tempo, em direcção à ruína. Um dia mais tarde, saiu às 17h00 para fazer tempo até ao jantar, ia à Mexicana. Pelas 21h00, recebo um telefonema de um amigo do pai à procura dele. Sai em pânico, para o ir buscar, calcorreando o que achava que podia ter sido o seu caminho. Em direcção à Mexicana, como se ele ainda lá estivesse. De casa, recebo um telefonema a dizer que o pai tinha aparecido. Procurar um pai em Lisboa, andar à pergunta de uma pessoa cujo paradeiro é desconhecido é qualquer coisa. Tudo é resistente, nenhum sítio é o que nos permite encontrar alguém e todos os sítios são sem esse alguém, sem ninguém, sem aquela pessoa que queremos encontrar. Se uma casa ficar revirada à procura de chaves e de óculos, a cidade fica inerte, nada diz na sua mudez, onde alguém se encontra. Ninguém nos ajuda.

Tudo é vazio. É um vazio cheio de um nada insuportável. Não sei como conseguiu chegar a casa por sua alta recriação. Não consegue explicar como se perdeu ou não se lembrava de que tinha um jantar ou onde era o restaurante do jantar. Um segundo episódio, ainda mais complexo, ocorreu. Os meus pais viviam a pouco menos de mil metros da CUF de Belém. A mãe manda-o para casa, enquanto ia aviar uma receita à farmácia. O pai foi numa direcção completamente diferente. Apareceu nas Docas de Alcântara sem saber como ou o que lá terá ido fazer. Ainda conseguiu dizer a um polícia que estava perdido. O polícia chama um táxi que o leva à morada que entretanto estava à vista na carteira. Foi o pânico enquanto não aparecia. A mãe não se apercebia do estado em que estava, mas eu sabia perfeitamente que o pai não podia ser deixado só em nenhuma circunstância, nem mesmo a pouco menos de um Km de casa.

Tomei a minha decisão de não o deixar andar só e de lhe cercear a sua liberdade individual. Ainda me dói. Não o fiz só por ele. Fi-lo para o ter debaixo de olho, sob a minha alçada. Um dia a minha mãe pergunta-me onde estava o pai, porque não estava em casa. Tinha ido à CGD actualizar a caderneta. Nem tempo tive para me angustiar. Era sempre assim: medo de que se perca, medo que seja roubado ou espancado ou atropelado, medo indefinido, um medo indeterminado: o medo.

Vivia em casa dos pais, para o que desse e viesse. Senti-a o pai atrás de mim, à espera para irmos passear. Parecia um menino de colégio com um bibe e uma pasta à tiracolo. Não dizia nada para não perturbar o que quer que eu estivesse a fazer ao computador. Depois, olhava para ele e dizia-lhe: “vamos embora?”. Comprava-lhe dois jornais a meio caminho entre casa e o café onde íamos. Íamos e vínhamos a pé, para ele andar. Era assim que gastávamos a manhã. Depois de almoço, ia dar aulas. Encontrava o pai sempre sereno, excepto no último ano umas duas vezes, em que esteva “com a neura”. Íamos ver o rio Tejo, o sol a pôr-se, adivinhar o Atlântico. Depois era jantar e recolher para a cama. Esperava sempre que fosse tranquila. Vezes sem conta acordava, tomava duche e fazia a barba, tudo na mesma noite. Dizia-me: “sabes que gosto sempre de tomar banho e de fazer a barba”. Pressentia-o sempre atrás de mim. Ficava sem dizer nada, para não me desconcentrar. Depois pedia-me para pesquisar qualquer coisa na internet: o nome de uma canção ou de um actor. Ouvíamos Andy Williams ou Sinatra de quem ele tanto gostava.

Lembro-me de ver o meu pai a caminhar na avenida da Índia. Estava sozinho. A figura de um velhinho pouco agasalhado a andar por ali sozinho num sábado de manhã, assola-me. Eu passava de carro também para ir para casa, porque não fui eu ter com ele, naquele dia? Eram só mais umas horas de convívio. Ah! que falta me fazes, ainda que nunca te apagues, enquanto eu for vivo.

Espectáculo “The House of Dancing Water” suspenso por dois meses

[dropcap]O[/dropcap]espectáculo “The House of Dancing Water” será suspenso por um período de pelo menos dois meses. A informação foi avançada na passada quarta-feira pela GGR Asia que adianta razões ligadas à necessidade de requalificação do espaço.

“Para continuar a proporcionar a produção de entretenimento de classe mundial, vamos suspender temporariamente o espectáculo após as celebrações do Ano Novo Lunar e até ao final de Abril de modo a requalificar e actualizar as nossas instalações. Regressaremos para repor o melhor entretenimento ao nosso público em breve” aponta um porta-voz da Melco Resorts, citado pelo GGR Asia.

O espectáculo não deverá regressar antes de 25 de Abril. “The House of Dancing Water”, encenado por Franco Dragone já foi visto por mais de cinco milhões de pessoas desde a sua estreia, sendo o evento residente que registou maior permanência no território.

Segundo a mesma fonte, o director Executivo da Malco Resots, Lawrence Ho, afirmou no mês passado que o novo espectáculo promovido pela operadora, “Elektron”, seria “menos susceptível de atingir sensibilidades culturais do que outros eventos de entretenimento que têm tido lugar no território.

Exposição | ”Little Paradise” de James Wong inaugura dia 23 na Casa Garden

“Little Paradise” é o trabalho que representa as memórias de infância de James Wong e que vai estar patente na Casa Garden a partir de dia 23. Para o artista, trata-se de uma exposição singular visto ser uma homenagem aos seus pais. Esta é também uma oportunidade de ver obras que nunca foram expostos no território

 

[dropcap]É[/dropcap]a primeira vez que as obras da exposição “Little Paradise” de James Wong vão estar patentes em Macau. A mostra vai ser inaugurada no próximo dia 23 na Casa Garden pelas 17h30.

“Little Paradise” foi criada, em primeiro lugar, para ser uma homenagem do artista aos pais. “Foi para honrar os meus pais e agradecer o apoio que me deram em apostar na carreira artística que reuni estas obras”, começa  por dizer Wong ao HM. “Tenho agora o meu pai doente com Alzheimer, está de cama e não sorri, e poucas vezes se lembra de quem eu sou”, acrescenta.

Esta condição do pai fez com que o artista reflectisse no ciclo da própria vida através do regresso às memórias de infância. “Provavelmente quando envelhecemos acabamos por regressar ao estado de infância e é como se voltássemos a um momento em que vivíamos numa espécie de céu para pequeninos”, aponta Wong, justificando a escolha do tema da exposição.

Macau perdida

Além de expressar a vertente afectiva ligadas aos seus parentes, James Wong quis ainda recordar uma Macau desaparecida, até porque foi ao longo da criação de “’Little Paradise’ que a ideia de que “o território está muito diferente do que era antigamente” se acentuou.

Para trazer à tona as memórias que acompanharam o seu crescimento, James Wong foi buscar uma série de imagens antigas que fazem parte das suas colecções e “de coisas velhas” que teima em guardar, e procedeu à sua recriação. A elas juntou o que a memória e a imaginação lhe ditaram. “Pensei em brinquedos que tive e que imaginei ter, cenários reais e outros que fui recriando quando me isolo do stress do dia a dia e dos problemas da condição humana. Nestes momentos vou para um canto especial do meu cérebro onde imagino vários cenários”, referiu.

Casa de estreia

O facto de “Little Paradise” ser exibida na Casa Garden também tem um significado especial para o artista. “Foi ali que fiz a minhas primeiras duas exposições” conta. A segunda mostra da sua carreira teve um significado especial até porque foi o momento em que recebeu a aprovação da família pela escolha da carreira artística. “Foi a primeira vez que vi a minha mãe feliz com o meu trabalho porque até essa altura ela era a única que de alguma forma apoiava o que fazia. Este foi também o momento de reconhecimento pela minha família”, revela.

Trinta anos depois da estreia no espaço da Fundação do Oriente, Wong regressa com uma terceira exposição àquele local em que vai apresentar 16 peças com imagens em metal, sete esculturas, quatro pinturas e 12 gravuras.

James Wong representou Macau na 57ª Bienal de Arte de Veneza em 2017. O artista, que nasceu no território em 1960, foi assistente de investigação honorário da Escola de Belas Artes Slade, do University College of London. Em 2010, recebeu o Prémio “Sovereign Asian Art”, e no mesmo ano foi reconhecido como um dos 30 artistas de topo da Ásia.

Além da criação artística, Wong tem estado envolvido na área da educação e actualmente é presidente do Centro de Pesquisa de Gravura de Macau Wong Cheng sendo ainda o fundador da Trienal de Gravura de Macau.

China | Suécia abre inquérito a embaixadora por reunião sobre editor detido

[dropcap]A[/dropcap]Suécia abriu um inquérito interno à embaixadora daquele país na China, depois da representante ter organizado, sem autorização, uma reunião relacionada com o caso de um editor sueco de origem chinesa detido por Pequim, foi ontem divulgado.

“Devido a informações que recebemos sobre acções inapropriadas relacionadas com certos acontecimentos ocorridos em Janeiro, um inquérito interno foi aberto”, avançou, em declarações citadas pelas agências internacionais, Rasmus Eljanskog, um assessor de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco.

O mesmo representante precisou que a embaixadora Anna Lindstedt foi chamada a Estocolmo para consultas, no âmbito deste inquérito.

“Temos uma ideia do que terá ocorrido, vamos investigar o seu desempenho. Mas podemos afirmar já que a embaixadora se comportou de forma errónea”, afirmou, por sua vez, um porta-voz da diplomacia sueca, Patric Nilsson, em declarações à televisão pública sueca Patric Nilsson.

As relações entre a Suécia e a China têm sido perturbadas ao longo dos últimos anos pelo caso de Gui Minhai, um editor e livreiro sueco de origem chinesa de 54 anos que vendeu em Hong Kong obras críticas do regime chinês.

Em 2015, Gui Minhai desapareceu durante umas férias na Tailândia. O livreiro reapareceu numa prisão chinesa, tendo afirmando então, em declarações transmitidas na televisão, que se tinha entregado às autoridades por causa do seu envolvimento num acidente de trânsito na China em 2003.

As autoridades chinesas libertaram Gui Minhai em Outubro de 2017. O editor e livreiro seria detido mais tarde pela polícia chinesa, em Janeiro de 2018, quando seguia com dois diplomatas suecos num comboio para Pequim, onde tinha marcada uma consulta.

Ligações perigosas

A filha do editor, Angela Gui, que tem sido muito activa nos ‘media’ e na Internet para tentar conseguir a libertação do pai, revelou no seu ‘blog’ que tinha sido convidada pela embaixadora Anna Lindstedt a deslocar-se a Estocolmo, em finais de Janeiro, para uma reunião com empresários chineses que alegadamente poderia ajudar na libertação de Gui Minhai.

Durante a conversa, que decorreu num hotel da capital sueca e na presença da embaixadora, os presumíveis empresários afirmaram que tinham “ligações no seio do Partido Comunista”, no poder na China, e asseguraram que podiam a ajudar na libertação de Gui Minhai.

Em troca, segundo relatou Angela Gui, os homens pediram à jovem que “ficasse tranquila” e que deixasse de falar com a comunicação social.

A diplomacia sueca assegurou que não sabia deste encontro, nem tinha conhecimento da presença da embaixadora Anna Lindstedt em Estocolmo. Depois das primeiras declarações de Angela Gui, a embaixada da China em Estocolmo informou, num comunicado, que Pequim “nunca autorizou e nunca irá autorizar” contactos com a filha do livreiro sueco.

Maré vermelha afecta praia de Hac Sá

[dropcap]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Águas (DSAMA) apela aos residentes que evitem a água da Praia de Hác Sá devido a uma maré vermelha.

A informação foi colocada, ontem, no portal DSAMA e foram afixados avisos na praia. “As pessoas devem evitar correr, nadar e entrar na água durante este período de maré vermelha.

Este departamento vai continuar a acompanhar a situação e actualizar as informações necessária junto do público”, consta no comunicado da DSAMA.

Melinda Chan apresentou planos de expansão da Doca dos Pescadores

[dropcap]I[/dropcap]naugurado em 2017, o Legend Palace Hotel, o mais recente empreendimento hoteleiro da Doca dos Pescadores, deverá passar a ter mais 100 quartos, disse ontem a ex-deputada e presidente da Macau Fisherman’s Wharf International Investment Ltd à Macau News Agency.

“O Legend Palace tem apenas 200 quartos. Estamos a planear ter mais, mas ainda não submetemos o projecto, pois estamos a fazer a concepção. Planeamos ter entre 90 a 96 quartos no nosso edifício. Há alguns anos, a área do hotel recebeu aprovação [por parte do Governo], então estamos apenas a alterar algumas funcionalidades dentro do edifício”, disse.

Além desta mudança, Melinda Chan apresentou planos de expansão das ofertas do complexo turístico, como a zona de exposições e convenções e de retalho. Além disso, um dos planos é fomentar o segmento não jogo, sendo que este ano deverá ser aberto um espaço de realidade virtual desenvolvido por uma empresa japonesa ligada ao sector do jogo e cinema, que deverá incluir um museu de cera.

Todos estes projectos estão ainda, contudo, na fase de concepção, sujeitos à aprovação da Direcção de Solos, Obras Públicas e Transportes, uma vez que serão desenvolvidos num terreno em frente do casino Sands.

“Não temos ainda um número definido de quartos, estamos a fazer os cálculos sobre quantas infra-estruturas, restaurantes e lojas queremos incluir [no projecto]. Teremos de pensar se haverá uma ligação ao Harbourview Hotel e a dimensão das salas de eventos. Penso que as salas de eventos são muito pequenas. Precisamos de uma melhoria nesse aspecto”, acrescentou.

Interesse no jogo

Melinda Chan garantiu também que a Macau Legend Development, que opera também os casinos Babyloon e Legend Palace, em parceria com a Sociedade de Jogos de Macau (SJM), está interessada em concorrer a uma licença de jogo, intenção que o seu marido e CEO da empresa, David Chow, já tinha revelado em Maio do ano passado.

“Não sabemos ainda se o Governo está a planear atribuir mais licenças ou se vai permitir que novas empresas participem no concurso. Somos uma empresa com algum poder em Macau, tendo em conta o que já construímos. Se as condições [do concurso das licenças] forem conhecidas vamos tentar o nosso melhor”, disse, à margem de um almoço de Ano Novo Chinês com os meios de comunicação social.

A licença de jogo da SJM e da sua subconcessionária MGM China termina em 2020, o que levou David Chow a ponderar alternativas. “Temos um contrato com a SJM e, se não tivermos a concessão, claro que a minha empresa vai tentar concorrer para ter a sua própria licença de jogo”, disse em 2018 o empresário e ex-deputado.

Melinda Chan salientou também o bom desempenho dos espaços do empreendimento turístico durante o Ano Novo Chinês, destacando o contributo da nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.

Património | Santa Casa e Capela da Penha em restauro

[dropcap]A[/dropcap]Santa Casa da Misericórdia e Capela da Nossa Senhora da Penha vão ser alvo de restauro a partir da próxima segunda-feira, anunciou ontem o Instituto Cultural (IC).

Em comunicado, o organismo ressalva, no entanto, que os edifícios estarão abertos no horário habitual durante as obras.

Na Santa Casa da Misericórdia vão ser realizadas obras de restauro das fachadas, que se estima concluídas em 30 de Abril, enquanto as da Capela da Nossa Senhora da Penha devem estar terminadas um mês antes, ou seja, em 31 de Março.

Arquitectos expressam apoio a hotéis em edifícios classificados

Carlos Marreiros e Francisco Vizeu Pinheiro defendem que Macau sairia a ganhar com a conversão de mais edifícios classificados em hotéis. Uma “prática corrente” em todo o mundo que, para os dois arquitectos, permitiria dar “nova vida” ao património

 

[dropcap]A[/dropcap]possibilidade de edifícios classificados como património acolherem hotéis já existia, como atesta, por exemplo, a Pousada de S. Tiago, mas ganhou novo fôlego com a apresentação da proposta de lei da actividade dos estabelecimentos hoteleiros que, entre os pontos principais, destacou o facto de o diploma o permitir, desde que reunidos requisitos, como o parecer vinculativo do Instituto Cultural (IC).

Em declarações ao HM, Carlos Marreiros e Francisco Vizeu Pinheiro não têm dúvidas de que Macau sairia a ganhar, como prova a experiência um pouco por todo o mundo. “É uma prática mundial e foi, de resto, fortemente recomendada pela PATA [Associação de Turismo da Ásia-Pacífico]”, apontou Carlos Marreiros.

“Quem me dera que edifícios classificados fossem reabilitados tendo em vista a integrar hotéis de qualidade, respeitando naturalmente a pré-existência patrimonial, bem como a legislação sobre o património”, complementou. “Teria muito gosto em fazer” um projecto, afirmou.

“Esta é uma possibilidade feita em muitos outros países. Pode ser até uma oportunidade para revitalizar [esses edifícios], dar-lhes vida”, subscreveu Francisco Vizeu Pinheiro, dando o exemplo da Blue Mansion, em Penang, na Malásia, antiga casa de um mandarim transformada num hotel boutique. “Há, de facto, em Macau, edifícios classificados que podem abarcar esse tipo de instalações”, salientou.

Dado que “a tendência em Macau é fazer hotéis de grande envergadura, o que “torna mais complicado integrá-los em edifícios classificados”, Carlos Marreiros propõe, por exemplo, “a utilização de edifícios patrimoniais para as zonas sociais do hotel, como recepção, restaurantes, biblioteca ou zonas de estar” e “a construção de um edifício integrado, sempre respeitando o espírito e a letra da lei [sobre o património]”. “Que bom seria se assim fosse”, afirmou.

“Se for monumento não se podem alterar os interiores, mas os edifícios de interesse patrimonial e, mesmo nos classificados, pode preservar-se integralmente a peça patrimonial e desenvolver nas suas adjacências”, observou Carlos Marreiros.

Sem receios

A possibilidade de haver uma vaga de projectos para o efeito, dado que os terrenos escasseiam não preocupa Carlos Marreiros: “Ficaria cheio de alegria se o património fosse bem utilizado para instalações hoteleiras. Não só não receio, como apoio e até exalto”. Para o arquitecto, seria uma oportunidade não só para vitalizar o património e torná-lo vistoso, como podia ser uma “alternativa interessante” para os turistas. “Quem não vem para os hotéis de luxo e vai para [unidades] economicamente aceitáveis, portanto, mais modestas, fica sempre muito desiludido porque a oferta é de péssima qualidade” e deixa “más recordações”, apontou. “Não faz sentido que Macau tenha edifícios patrimoniais de cinco estrelas. Podem albergar hotéis com qualidade apenas ligeiramente inferior”, concretizou Carlos Marreiros.

A possibilidade de existirem mais edifícios classificados a acolherem hotéis também não traz preocupações de maior relativamente à preservação, dado que, para ambos os arquitectos, o princípio ‘número um’ assenta no respeito pelo património. No entanto, como sustentou Francisco Vizeu Pinheiro, “cada caso é um caso e depende do tipo de projecto”. “O projecto tem de respeitar o máximo possível o ‘layout’, a planta, a forma e função do edifício”, complementou.

Ideias à solta

Dado que os imóveis classificados que acolhem ou acolheram hotéis (como a Pousada de S. Tiago e o Bela Vista) têm traça portuguesa, Carlos Marreiros não esconde que “ficaria muito feliz em ver uma unidade hoteleira integrada numa arquitectura patrimonial de traça estritamente chinesa”, avançando mesmo com ideias. “Um sítio que dava um hotel de grande qualidade era o Templo de Kun Iam Tong – onde estão a construir coisas ilegais – preservando todo o arvoredo, porque há terrenos ali”, exemplificou o arquitecto que, no passado, a par com Francisco Figueira, chegou a imaginar um hotel pousada na Fortaleza do Monte.

O próprio Governo aventou, em 2007, a possibilidade de construir um hotel-boutique nas imediações da Casa do Mandarim, à semelhança de outro projecto do género (Pousada de Mong-Há), mas o plano nunca avançou. “Essa era uma hipótese que teria melhor correspondência com a versão original do edifício e que, por outro lado, permitia manter vivas zonas com funções anteriores, como salas de jantar ou quartos”, realçou.

Para o arquitecto, uma hipótese interessante seria, por exemplo, a casa amarela no Largo do Lilau que figura como “uma das poucas de arquitectura higienista”: “É um edifício com características únicas em Macau, que tem as zonas da cozinha e serventes separadas da casa principal por ponte e que podia ser utilizado como hotel”. Francisco Vizeu Pinheiro referiu ainda duas mansões, do princípio do século XX, localizadas perto do Albergue, que estão a ser utilizadas para escritórios do IC, e até o próprio edifício do Conservatório de Música, igualmente no bairro de S. Lázaro, entre outros bens imóveis, nem todos classificados como património.

Aliás, para o arquitecto, quartéis como o de S. Francisco podiam também ser adaptados, a par com outros edifícios que acolhem serviços governamentais, para fins culturais e turísticos. “Macau ganhava bastante em abrir mais edifícios ao público. Não necessariamente para hotéis, mas para várias funções, porque são edifícios grandes, com capacidade para o efeito”, argumentou.

Ambiente | Dois em cada dez ‘shuttles’ movidos a energias verdes

[dropcap]D[/dropcap]os 430 ‘shuttles’ das seis operadoras de jogo, 99 são eléctricos ou movidos a energias renováveis, o que representa 23 por cento da frota de autocarros dos casinos. Os dados foram divulgados pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), em resposta a uma interpelação escrita de Leong Sun Iok.

Se, por um lado, os ‘shuttles’ permitiram aliviar os transportes públicos, por outro, têm exercido pressão sobre o trânsito, observou o deputado, indicando que em 2017 a frequência das carreiras dos casinos foi de 8.500 por dia.

Um cenário que o levou a questionar a DSAT sobre a possibilidade de serem introduzidos autocarros de dois andares, dado que o transporte de um maior número de passageiros possibilitaria reorganizar e cortar na frequência das carreiras e, por conseguinte, resultar na diminuição do tráfego.

Na réplica, o director da DSAT, Lam Hin San, adiantou que a viabilidade dessa opção está a ser discutida com as operadoras de jogo.

Lista Forbes | Milionários do jogo de Macau em queda

[dropcap]Q[/dropcap]uase todos os milionários ligados ao jogo de Macau que constam na lista das 50 pessoas mais ricas de Hong Kong perderam lugares no ranking, durante o ano passado.

Segundo o portal GGR Asia, que cita a lista da revista, apenas Henry Kar Shun Cheng, presidente das empresas Chow Tai Fook e New World Devemploment, ganhou posições na tabela, subindo da 49.ª posição para a 46.ª com riqueza avaliada em 1,4 mil milhões de dólares norte-americanos.

Lui Che Woo, fundador do grupo Galaxy, é o que se encontra em melhor posição (sexto lugar), com a fortuna avaliada em 14,8 mil milhões de dólares. Pansy Ho está na 15.ª posição, com 4,62 mil milhões dólares, Angela Leong surge em 22.ª, com 4,1 mil milhões de dólares, e Pollyanna Chu, investidora nos casinos Casa Real e Grandview, está no 28.º lugar, com 3,3 mil milhões de dólares.

Finalmente, Lawrence Ho é o penúltimo empresário ligado a Macau, ocupando o 34.º posto, com a fortuna avaliada em 2,3 mil milhões de dólares.

MGM China registou ganhos em 2018 de 4,83 mil milhões de dólares de Hong Kong

Operadora viu os ganhos em Macau crescerem 5,4 por cento durante o ano passado. O novo casino MGM Cotai trouxe receitas de 5,7 mil milhões de dólares de HK, mas afectou o montante gerado pelo casino da Península

 

[dropcap]O[/dropcap]s ganhos da operadora MGM China, ajustadas e antes de impostos e outras despesas, cresceram 5,4 por cento no ano passado para os 4,83 mil milhões dos dólares de Hong Kong (HKD). Em 2017, o valor amealhado pela empresa que gere os casinos MGM Macau e MGM Cotai tinha sido de 4,59 mil milhões de HKD. Os números foram avançados, ontem, pela empresa na apresentação dos resultados.

Em relação às receitas registou-se um aumento de cerca de 32,6 por cento no ano passado para os 19,2 mil milhões de HKD, o que se justifica com a abertura do casino MGM Cotai, que começou a operar em Fevereiro de 2018. Em 2017, as receitas tinham sido de 14,5 mil milhões HKD.

Os números revelados mostram ainda que o MGM Cotai fez com que as receitas da MGM na Península registasse tendência negativa. Em 2017, o casino MGM Macau gerou 14,5 mil milhões de HKD em receitas. Mas no ano passado, o número caiu para 13,5 mil milhões de HKD. Porém, ao nível do montante total, as receitas foram compensadas pelos 5,7 mil milhões de HKD gerados pelo MGM Cotai nos primeiros quase 11 meses de operação.

Já no que diz respeito à estratégia da operadora para o território, o caminho passa por aumentar a quota do mercado. “Macau é o mercado número um no mundo, mas todos sabemos que pode ser muito volátil. Por isso, estamos focados em fazer crescer a nossa quota do mercado, uma vez que toda os elementos que temos para oferecer no MGM Cotai já estão disponíveis”, afirmou James Murren, presidente da MGM Resorts, empresa que controla a MGM China.

“Estamos muito satisfeitos porque as áreas do jogo VIP para os promotores de jogo, ou seja a zona de luxo Mansão, está finalmente operacional e vai poder começar a receber convidados”, acrescentou.

Turismo mais generalista

O período do Ano Novo Chinês, época alta do turismo, foi também comentado pelo CEO da MGM China, Grant Bowie, durante a apresentação dos resultados. Segundo o responsável da empresa, a festividade foi positiva com mais gente a ir aos casinos, mas isso não significa que o jogo saia beneficiado.

“Acho que o número de visitantes durante o Ano Novo Chinês foi provavelmente muito sólido. Houve um tráfego de pessoas muito grande, mas não estou à espera de um pico nas receitas do jogo”, explicou Bowie. “Começamos a perceber que do ponto de vista do jogo, as grandes épocas de festividade estão mais relacionadas com visitantes que vêm para um turismo mais generalista, do que propriamente com pessoas que vêm apenas para um turismo de jogo”, acrescentou.

Neste sentido, o gestor da MGM China admitiu que a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau trouxe mais pessoas ao território, mas que esses números ainda não se reflectem nas receitas do jogo.

Trânsito| Coutinho quer medidas para evitar congestionamentos

[dropcap]O[/dropcap]deputado José Pereira Coutinho pede ao Governo esclarecimentos acerca das medidas a tomar para evitar o impacto no trânsito causado pela realização de obras públicas.

Em interpelação escrita, Coutinho recorda o fecho da ponte Sai Van no passado mês de Dezembro, salientando a ineficácia do Executivo em comunicar à população a alteração de tráfego e em implementar medidas alternativas de circulação.

Neste sentido o deputado pretende a garantia de que os transtornos registados não se repitam e solicita “medidas preventivas para evitar que um congestionamento de trânsito semelhante volte a acontecer devido ao encerramento das vias públicas”.

A necessidade de criar canais de comunicação eficazes para a divulgação de informação também é sublinhada pelo tribuno.

Ho Ion Sang quer mais lojas e autocarros na Ilha Artificial da ponte HKZM

Legislador ligado aos Moradores quer que o Governo explique as medidas que tenciona implementar para criar mais espaços comerciais na Ilha Artificial da Ponte HKZM, assim como para aumentar o número de autocarros

 

[dropcap]O[/dropcap]deputado Ho Ion Sang, ligado aos Moradores, quer saber que medidas vão ser implementadas para aumentar o número de ligações entre o território e a Ilha Artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Numa interpelação divulgada ontem, o legislador questiona igualmente o Executivo sobre a falta de autocarros que passem em mais zonas.

“Actualmente são apenas duas carreiras que fazem a ligação entre Macau e a Ilhar Artificial, os autocarros número 101X e 102X. Apesar do Governo ter aumentado as horas de circulação e o número de paragens nestes dois percursos, a verdade é que a zona centro e sul da Península, assim como a maior parte do Cotai, não têm ligações para a Ilha”, começa por destacar Ho Ion Sang.

“Também para aqueles que querem viajar para o aeroporto de Macau, vindos de Hong Kong, não há ligações com a conveniência necessária […] por isso a Direcção de Serviços dos Assuntos de Tráfego precisa de melhorar este aspecto”, acrescentou.

“Como é que o Governo vai melhorar as ligações e o trânsito entre as várias partes do território e a Ilha Artificial? Como é que a política de trânsito inteligente vai ser utilizada para analisar as necessidades de utilizar a ponte e as infra-estruturas de apoio?”, pergunta.

Falta de lojas

Outro dos aspectos focado foi a falta de instalações comerciais na Ilha Artificial, para as pessoas comparem alguns produtos como água, revistas, comida, entre outros. “A falta de elementos comerciais, como restaurantes, lojas sem imposto, farmácias, entre outros […] faz com que não se responda às necessidades mais básicas dos residentes e dos passageiros, o que pode fazer com a utilização seja inferior à prevista”, argumenta. Assim, Ho Ion Sang quer saber o que vai ser feito para melhorar a situação. “É evidente que os espaços comerciais da instalações de apoio ao funcionamento da Ilha Artificial da Ponte são insuficientes. O que é que vai ser feito para melhorar as instalações? E como vão ser acelerados os procedimentos e responder às necessidades dos cidadãos?”, questiona.

Finalmente, Ho foca a questão dos dois parques de estacionamento na Ilha Artificial. O legislador quer informações sobre a taxa de utilização dos dois espaços, tanto ao nível dos carros que atravessam a ponte e que ficam na Ilha Artificial como dos utentes que circulam até à ponte, para depois apanharem o transporte público com destino a Hong Kong.

TSI | Ponderada redução de número de processos por juíz

[dropcap]O[/dropcap]Governo defendeu a redução do número de processos atribuído a cada juíz do Tribunal de Segunda Instância (TSI), que actualmente é “muito elevado”.

De acordo com o parecer que resultou da análise na especialidade da lei de bases da organização judiciária, cada juíz do TSI tem, em média, 115 a 120 processos, volume “bastante superior ao valor entendido como sendo recomendável, que é de 70 a 75 processos para cada magistrado de segunda instância, em processos cíveis, e de 75 a 80 processos, para processos criminais”.

Nas reuniões com os deputados, o Governo disse que “poderia ser considerado recomendável que cada juíz de segunda instância proferisse, anualmente e em média, 70 a 80 decisões”, sem que tenha sido apontada uma medida para atingir este objectivo.

O Executivo decidiu manter o mesmo número de magistrados no Tribunal de Última Instância e Tribunal Administrativo, o que desagradou à Associação dos Advogados de Macau.