Você tem máquina lava-louça

[dropcap]F[/dropcap]lávia e Yara eram amigas há quase trinta anos, desde os tempos da universidade, e viviam ambas no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Apesar do lugar privilegiado e de viverem de rendimentos consideravam-se pessoas de esquerda. No tempo da ditadura militar estavam do lado dos estudantes, do lado do Chico – que era uma espécie de santo – do lado do Caetano e do Gil. No final do ano de 1968, sentiram profundamente a dor desses jovens músicos, que foram presos por mais de dois meses por alegado desrespeito à bandeira e ao hino nacional, num show no Rio, junto com os Mutantes (banda onde cantava Rita Lee). Mais tarde tiveram de partir para Londres para não serem presos novamente. Foi-lhes dado a escolher: ou o exílio ou a prisão. Ficou também claro de uma vez por todas, para elas, que o país tinha sido sequestrado pelos militares, que tinham assaltado o poder em 1964.

E Flávia e Yara, apesar de patricinhas, filhinhas de papai, choraram junto com os jovens estudantes e com os músicos. As patricinhas apesar de privilegiadas, ou talvez mesmo por isso, entendiam que a liberdade acabava ali. O país deixava as suas cores tropicais e passava ao cinzento militar.

Os anos passaram e o Brasil viu um pé rapado virar presidente do país, nas urnas. Flávia e Yara viviam a euforia de uma liberdade, de uma procura de justiça e igualdade apenas sonhada nos tempos de estudantes. Encontravam-se com frequência num boteco do bairro e falavam com alegria. Conheciam tudo de música brasileira, a boa música brasileira, como é apanágio de um bom carioca, e não poucas vezes se punham a cantar este e aquele samba, esta e aquela música do Chico e do Caetano ou alguma bossa nova, que lhes lembrava a infância. Evidentemente, criticavam abertamente o crescimento do funk nas favelas e da violência da cidade maravilhosa.

Mas a música doía-lhes mais. Flávia dizia: “Imagine que deixávamos de aprender música e que só se ouvia no mundo funk e sertanejo!” Yara concordava que o mundo caminhava para a fealdade. O fim da música era o fim do mundo, fim do universo. Era preciso ir às favelas ensinar música às crianças, pagar-lhes para isso, se preciso fosse. O dinheiro deveria ser usado para promover a beleza, o bem-estar, a igualdade. “Aconteceu o mesmo nos Estates com o jazz”, voltava Flávia. “Você lembra do filme de Tim Burton, “Marte Ataca”?”, perguntava Yara e continuava sem esperar resposta, “Então, você lembra que os marcianos morriam todos com a música de Tom Jones? Um dia, os humanos vão morrer todos com a música feia que hoje se faz.”

Entre estas conversas e a recordação de algumas canções, passavam as tardes de Inverno. Depois pediam a conta e ia cada uma para as suas casas. Conversavam pela internet com amigos, viam alguns sites, ouviam música, assistiam a algum filme e iam dormir. Na tarde seguinte, voltavam ao boteco para conversar sobre música, a decadência do mundo e de como o novo presidente era uma lufada de ar fresco em toda esta podridão.

Mas nem só de revoluções e de teorias para uma mudança do mundo viviam aqueles encontros. Muitas vezes as conversas aconteciam pela berma da vida, pelo quotidiano. O preço das coisas no mercado, o custo das empregadas, as novas dietas. Tanto Yara quanto Flávia tinham empregada interna, a tempo inteiro, em casa. Eram elas que faziam tudo, desde preparar o café da manhã (pequeno almoço), o almoço e o jantar, arrumar a casa, lavar a roupa, estender, passar a ferro, levar o cachorro a passear, etc.. Tratavam as empregadas como se fossem da família. Um familiar que faz tudo o que é preciso fazer para que elas nada façam. E este familiar, embora tivesse direito a um dia por semana dormir na sua casa, na favela, nem sempre assim acontecia, pois poderia dar-se o caso de precisamente nessa noite haver um jantar lá em casa e o familiar ficava a trabalhar sem ir ver a família, os filhos. O salário? Era pouco, mas justo. E depois se o familiar precisasse de medicamentos, podia usar os lá de casa. Não faltava nada ao familiar. Afinal de contas, não podemos esquecer que Flávia e Yara eram de esquerda.

Nessa tarde de Inverno, num Agosto chuvoso e 20°, Flávia queixa-se de que a sua máquina lava-louças quebrou e vai ter de gastar uma nota preta noutra. Yara ficou um pouco quieta, incrédula e pergunta: “Você tem máquina lava-loiça?” Agora foi a vez de Flávia ficar surpresa: “Ué, você não?” Yara pede mais uma dose de pão de queijo e responde: “Eu não! Imagina! Então, o que é que a minha empregada depois fazia o dia todo? Assistia novela?”

Saint-John Perse

[dropcap]F[/dropcap]oi precisamente em Pau que tive conhecimento da sua poesia vai para muitos anos. John Perse frequentou o liceu da cidade, porque veio com os seus pais ainda pequeno de Guadalupe, onde nascera em 1887. Hoje há um liceu que tem o seu nome, e diz quem sabe, um distinto lugar de ensino. Chegou com doze anos e aí se manteve até ir para Bordéus para a Universidade de Direito, regressando a Pau para o serviço militar mas, como todos os habitantes das ex-colónias, o seu sentimento de expatriado fê-lo aventureiro, audaz na esgrima e no velejar, por que sem dúvida a vida nessas terras distantes teria para uma criança um brilho e liberdade que marcam sempre uma mente em formação. E vamos ao que dele interessa para além de muitos outros méritos que lhe foram reconhecidos, como a de uma brilhante carreira diplomática, à sua poesia, onde chega a receber um Prémio Nobel em 1960.

Muito cedo toma contacto com o meio literário, conhece Francis Jammes, Paul Claudel e André Gide, e é exactamente Gide que lhe faculta a publicação dos primeiros poemas. O seu primeiro livro saiu em 1911 com o título de «Éloges». É conhecida a dificuldade de acesso ao seu vocabulário, estamos nos avanços da Modernidade e ele imprime aspectos arcaicos à linguagem poética, o que faz que André Breton o apelide de um “surrealista à distância”. Este primeiro livro tem ainda aspectos simbolistas, em «Anabase», no entanto, ele está pronto para um reconhecimento que em tom declamatório fará a bela rapsódia do seu estilo fundamental. É uma obra de coerência e grande riqueza estilística em que uma análise semântica mais apurada fundamentará como uma unidade brilhante, dado que as imagens são muito fortes e nem sempre fáceis de manejar com recurso a linguagem descritiva. Nesta linguagem rara, os elementos tomam assento como se convidados pela exaltação das suas presenças em nós estando muito perto de um tributo às fontes inaugurais.

Referi «Anabase» dado que foi a primeira edição em língua portuguesa em 1961 pela Guimarães Editora, e bem poucas mais se lhe seguiram, é certo, pois que há poesia que não é de transporte fácil e contorno mediático, o que não nos importa absolutamente nada uma vez que a qualidade dela relevará certamente muito mais que toda a forma de popularidade que será sempre de desconfiar em termos gerais.

De mencionar que entre 1916 e 1921 enquanto diplomata no Ministério dos Negócios Estrangeiros se encontra na China onde muito provavelmente escrevera « Anabase» que seria mais tarde publicado pela Gallimard. Nesta sua actividade política, foi castigado pelo Governo de Vichy que lhe retira a nacionalidade tendo que se exilar nos Estados Unidos. Publica então« Exílio», «Chuvas» e «Poema a uma estrangeira». Em 1954 o mesmo «Anabase» foi musicado por Alan Hovhannes um compositor americano. Aqui vamos encontrar o poema em prosa quando a prosa consegue falar assim todos os poemas e continuar prosando como o mais difícil e memorável acto de escrita poética. É impressionantemente solitária, e a solidão tem uma voz desértica de finas areias, é como se a novidade trouxe-se outras lembranças mais velhas assim de incomparável “l´éternité qui baîlle sur les sables”.

O poder de recriar através da língua será composto por uma nova linguagem cujo mérito pertence inteiro a uma rara capacidade, e é na poesia que ela pode atingir a reserva e a distância na forma inventada que a incita a outra coisa que nunca fora experienciada. A estranheza deve-lhe ser subjacente, pois que na marcha atingirá um nível de beleza que de tão inusitado nos ajuda a experienciá-la como manifestação maior. Mas, e depois de muito esforço, quem pode ou deve julgar o domínio de uma língua que arrasta na sua composição a natureza do seu próprio mistério? Todos aqueles para quem a linguagem é um dom subtil e preciso que não tolera o escavar da sua própria métrica. O tratamento da linguagem forma-se com o rigor de um pensamento bem estruturado, que não pensando se escreve com a confiança das várias partes que se juntam ao processo. Perse, não quis misturar a carreira e a poesia, pondo-lhe mesmo fim durante uma época da sua carreira diplomática, o que é entendível, pois nestas coisas não devemos acumular nem facilitar. Esta sua lucidez só pode ser coroada com algo de muito bom que é este bem de sabê-la pensada assim.

Saint-John Perse e também Saint-Leger Leger, eram afinal pseudónimos de Alex Leger, o tal menino nascido a 31 de Maio de 1887, e não fosse esta actividade a de um neófito, e os nomes naturais manter-se-iam como um incidente de percurso da estrada da vida, e muito bem, pois que aqui se é outro na continuidade de cada um. O poeta é filho de si mesmo e tem o nome que entender quando outro tipo de natureza nele se manifesta. Não se tratará de pura originalidade, mas de uma assinatura que deu as páginas mais relevantes da poesia francesa do século vinte.

Países do G7 pedem respeito pelo estatuto de autonomia de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap]s países do G7 pediram esta segunda-feira o respeito pelo estatuto de autonomia de Hong Kong, para evitar mais violência, após dois meses de manifestações por reformas diplomáticas na antiga colónia britânica.

Num comunicado emitido no final da cimeira do G7, na cidade francesa de Biarritz, os países do G7 reafirmam “a existência e importância da Declaração Sino-Britânica, de 1984, sobre Hong Kong e apelam a que se evite a violência”.

Na conferência de Imprensa no final da cimeira do G7, o Presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião do encontro, disse que houve consenso entre os países para o apelo à estabilidade social em Hong Kong, no respeito dos acordos estabelecidos entre o Reino Unido e a China.

“A mensagem que se quis transmitir é que é fundamental travar a violência que se tem verificado nas ruas de Hong Kong, apelando ao Governo chinês para encontrar soluções”, explicou Emmanuel Macron.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Iniciada em Junho, a partir da recusa do polémico projecto de lei, a mobilização tem alargado as suas reivindicações, para exigir um sufrágio universal, com receio da crescente interferência de Pequim.

Hong Kong | Polícia justifica disparo para o ar e canhões de água

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong justificou ontem o uso de canhões de água e um disparo para o ar, no domingo, em mais um dia de protestos violentos na região administrativa especial chinesa, que terminou com dezenas de detenções.

Os confrontos de domingo nos subúrbios de Tsuen Wan estão entre os mais violentos desde Junho, quando se iniciaram as manifestações pró-democracia contra o Governo da antiga colónia britânica.

“Cercados, sob ataque e enfrentando perigo de vida, seis polícias retiraram as suas pistolas (…) A fim de proteger a própria segurança e de outros polícias, um agente disparou um tiro de advertência para o céu”, lê-se num comunicado da polícia.

A polícia também confirmou o uso, pela primeira vez, de dois veículos equipados com canhões de água para dispersar os manifestantes.

De acordo com o mesmo comunicado, pelo menos quinze agentes da polícia ficaram feridos durante os confrontos de domingo e dezenas de manifestantes, incluindo um menor de 12 anos, foram detidos por reunião ilegal, posse de armas e agressão.

“A polícia apela ao público que se dissocie dos manifestantes violentos”, acrescentou a polícia, prometendo “medidas implacáveis” para levar estes manifestantes à justiça.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

G7 | EUA retomarão “muito em breve” negociações com a China

[dropcap]O[/dropcap] Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou ontem que os Estados Unidos retomarão “muito em breve” as negociações comerciais com a China, depois de uma nova escalada de tensão nos últimos dias entre os dois gigantes económicos.

Trump disse que o seu Governo recebeu uma comunicação das autoridades chinesas indicando o desejo de voltar à mesa das negociações para discutir um acordo comercial.

“A China ligou ontem à noite (…). Disse: ‘vamos voltar para a mesa de negociação’, logo, voltaremos (…). Vamos começar a negociar novamente muito em breve”, disse Trump à margem da cimeira do G7, em Biarritz, no sudoeste da França.

“Acho que vamos ter um acordo, porque agora estamos a lidar nos termos adequados. Eles entendem e nós entendemos”, disse Trump, acrescentando: “Esta é a primeira vez que eu os vejo a querer realmente fazer um acordo. E eu acho que é um passo muito positivo”.

Trump e o Presidente chinês concordaram em Junho retomar as negociações. Contudo, as negociações terminaram em Julho em Xangai sem indicação de progressos. Os negociadores conversaram por telefone este mês e devem encontrar-se novamente em Washington no próximo mês.

A cimeira do G7, que junta os dirigentes da França, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Itália, Canadá e Japão, terminou ontem.

Yuan | Moeda cai para nível mais baixo desde 2008 em relação ao dólar

[dropcap]A[/dropcap] moeda chinesa desvalorizou-se ontem para o nível mais baixo face ao dólar norte-americano desde 2008, numa altura em que a guerra comercial com os Estados Unidos se agrava, afectando também as praças financeiras chinesas.

A meio do dia de ontem na China, um dólar norte-americano valia 7,15 yuan no mercado interno – o valor mais baixo da moeda chinesa em 11 anos. Nos mercados internacionais, que inclui Hong Kong, o valor do yuan face ao dólar fixou-se nos 7.1355.

O yuan não é inteiramente convertível, sendo que o seu valor face a um pacote de moedas internacionais pode variar até 2 por cento por dia.

No início do mês, as praças financeiras em todo o mundo registaram fortes perdas depois de Pequim permitir que o yuan caísse para o valor mais baixo em onze anos, em relação ao dólar, no que foi interpretado como uma retaliação pelo anúncio de novas taxas alfandegárias sobre importações oriundas da China pelos Estados Unidos.

Nas últimas semanas, o Banco do Povo Chinês (banco central) tem tentado estabilizar o valor do yuan, mas as disputas comerciais entre Pequim e Washington voltaram a agravar-se nos últimos dias.

Na sexta-feira, Pequim anunciou que vai impor novas taxas alfandegárias, de 5 por cento e 10 por cento, sobre 75 mil milhões de dólares de importações oriundas dos EUA, a partir de Setembro.

Trump anunciou que vai elevar as taxas de 25 por cento para 30 por cento, sobre 250 mil milhões de dólares de bens importados da China, e 15 por cento, sobre os restantes 350 mil milhões de dólares em produtos chineses.

As bolsas de Xangai e Shenzhen fecharam ontem a cair 1,17 por cento e 0,98 por cento, respectivamente. A bolsa de Hong Kong recuou 2,79 por cento.

Ao ataque

Os governos dos dois países disputam há mais de um ano uma guerra comercial, com ambos os lados a subirem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de bens importados um do outro.

No cerne das disputas está a política de Pequim para o sector tecnológico, que visa transformar as firmas estatais do país em importantes actores globais em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.

Os EUA consideraram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

Gonçalo Lobo Pinheiro ganha menção honrosa em festival no Brasil

[dropcap]O[/dropcap] fotojornalista português Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau desde 2010, arrecadou uma menção honrosa na Convocatória Portfólio do XV Festival Internacional de Fotografia Paraty em Foco (PEF) com a foto “Hope and belief”.

A fotografia, já premiada anteriormente por diversas ocasiões em concursos e festivais, é o retrato da migrante indonésia Ratna Khaleesy que trabalha em Macau em condições consideradas precárias. Gonçalo Lobo Pinheiro é, uma vez mais, o único português a conseguir um lugar na principal exposição do certame, considerado o melhor festival de fotografia da América do Sul e um dos mais conceituados do mundo.

“Que felicidade. Estou sem palavras. Este tem sido um ano fantástico e esta presença em Paraty é um sonho tornado realidade. Trata-se de um festival que dá visibilidade no mundo da fotografia e, após três participações, vejo finalmente um trabalho meu merecer destaque do júri, desta vez nos 15 anos do PEF. Como se costuma dizer: à terceira é de vez. Muito obrigado ao júri pela Menção Honrosa. E claro, um enorme obrigado a Ratna Khaleesy”, disse, citado por um comunicado.

Na categoria Ensaio, a vencedora foi Gabriela Vivacqua, pelo trabalho intitulado “Dukhan — Entre fumaça e fogo”, que retrata um ritual afrodisíaco milenar que persiste até aos dias de hoje no Sudão. A grande vencedora da categoria Foto Única, onde Gonçalo Lobo Pinheiro participou, foi Reiko Otake, com a imagem “Sem Título” repleta de potencial simbólico, que mostra um barco lotado de viajantes e rodeado por gaivotas.

A Convocatória Portfólio em Foco 2019 recebeu um total de 1.014 inscrições, 511 na categoria Ensaio e 503 na categoria Foto Única. O Festival Paraty em Foco agradece a participação de todos e convida à exposição, que reunirá vencedores, finalistas e menções honrosas e será realizada durante o evento, de 18 a 22 de Setembro, em Paraty-Rio de Janeiro, no Brasil.

Ópera | “Paradise Interrupted” de Jennifer Wen Ma no MGM Theatre do Cotai

Uma instalação operática é a proposta vanguardista da premiada artista Jennifer Wen Ma, que sobe ao palco do MGM Theatre a 29 e a 31 de Agosto. “Paradise Interrupted” revisita sonhos de amor e jardins simbólicos na adaptação da antiga ópera chinesa “O Pavilhão das Peónias”

 

[dropcap]O[/dropcap] espectáculo visual e musical de “Paradise Interrupted” chega ao território este fim-de-semana, anos depois da aclamada tournée nos Estados Unidos da América em 2016, onde recebeu o entusiasmo do público e rasgados elogios de jornais como o New York Times ou o Wall Street Journal. Sob a direcção da premiada artista visual chinesa, Jennifer Wen Ma, esta instalação operática é uma adaptação livre de um excerto da obra-prima de Tang Xianzu, “O Pavilhão das Peónias”, composta no século XVI, que vai buscar sugestões também ao mito do Jardim do Éden.

A originalidade da peça parte de um conceito artístico criado pela directora e encenadora, onde esta combina os géneros presentes na ópera – música, teatro, dança, poesia – com efeitos visuais extraordinários inspirados nos origami de papel, nos jogos de luz e sombra, nas aguarelas e na caligrafia chinesa. E tudo isto potenciado por gráficos e projecções multimédia.

Não é por acaso que Jennifer Wen Ma foi uma das artistas responsáveis pelas cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e viria a receber um Emmy norte-americano pela transmissão internacional do espectáculo.

A banda-sonora dramática é recriada pelo compositor sino-americano Huang Ruo, combinando elementos da tradicional ópera chinesa (Kunqu) com modernas técnicas inspiradas na música clássica ocidental. E o que podia ter resultado num estranho cliché de fusão de sonoridades, tem sido amplamente aclamado por públicos e imprensa especializada.

Huang Ruo é também reconhecido pela classe como um dos jovens compositores mundiais de destaque, que nas suas obras vai buscar influências à música tradicional e ao folclore chinês, para as fazer conviver com sons de vanguarda, rock e jazz mais ocidentais, numa técnica a que o próprio chama de “dimensionalismo”. O compositor tem peças escritas para orquestra, música de câmara, ópera, teatro, dança moderna, instalações sonoras e cinema. Foi recentemente nomeado como compositor-residente do Royal Concertgebuow em Amesterdão e é membro da Mannes College of Music em Nova Iorque.

A mulher em palco

A interpretação e a voz da soprano Qian Yi, que foi apelidada pelo The New York Times de “princesa soberana da ópera chinesa”, é também um dos trunfos desta ópera especial. A intensa performance no papel da protagonista – uma mulher em busca de amor e de sentido na vida – é um projecto exigente e ambicioso ao longo dos 90 minutos de espectáculo, onde canta, dança e interpreta quase sempre presente em palco.

Qian Yi estudou ópera chinesa clássica (Kunqu) na Escola de Ópera de Xangai desde os dez anos de idade. Mais tarde, como membro da Companhia de Ópera de Xangai percorreu o mundo e ficou conhecida pelo imenso repertório de obras a que emprestou a voz como cantora principal.

Além da carreira artística em palco, a cantora ensinou também ópera chinesa na Barnard College, da Columbia University, nos Estados Unidos, e deu inúmeras palestras em universidades e museus. Foi também reconhecida pelo Ministro da Cultura chinês como uma das melhores intérpretes de Kunqu do país.

“Paradise Interrupted” começa com uma mulher sozinha em palco. Esta sonha com um encontro amoroso e com o seu amante ideal, iniciando “uma viagem psicológica através de um jardim simbólico, estranho e surreal, feito de dinâmicas esculturas de papel”, que interagem com a protagonista respondendo aos registos da sua voz, como se todo o palco fosse uma nova personagem, descreve a produção do espectáculo.

O palco, que começa envolto em branco e com uma linha horizontal de luz, transforma-se num jardim abstracto e meditativo à medida que o ponto de vista da protagonista muda, contraindo e expandindo até acabar num lago de tinta negra, onde ela finalmente entende que pode escrever a sua realidade conforme bem quiser.

Contracenam com a soprano Qian Yi o contratenor John Holiday, como a poderosa voz do vento, e o tenor Joshua Dennis como o seu amante de sonho, com quem contracena num “tocante dueto”, sob a batuta do maestro Chien Wen-Pin na condução da orquestra Hong Kong New Music Ensemble.

O espectáculo sobe ao palco do MGM Theatre a 29 e a 31 de Agosto, quinta e sábado, às 19h e às 20h respectivamente. A entrada é livre.

Drogas | Hipótese de crimes não chegarem a tribunal em estudo

[dropcap]C[/dropcap]heong Iok Ieng, chefe de gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, garantiu à deputada Wong Kit Cheng que a lei de combate à droga já prevê a desintoxicação dos consumidores. Neste sentido, as pessoas têm o direito de optar pela suspensão da pena de prisão decretada pelo tribunal, para que possam participar num programa de desintoxicação voluntário. A mesma responsável explicou ainda que aqueles que optem por cumprir a pena de prisão estão também sujeitos a um programa de prevenção e tratamento da toxicodependência.

Na resposta à interpelação escrita da deputada, Cheong Iok Ieng garantiu que a Comissão de Luta contra a Droga está a estudar novas matérias ligadas à penalização dos crimes de estupefacientes, nomeadamente a possibilidade da suspensão da instância, ou seja, para que os casos não cheguem, sequer, a tribunal.

Além disso, Cheong Iok Ieng adiantou que, nos últimos anos, houve um aumento de casos de droga protagonizados por residentes de Hong Kong, uma vez que o preço das drogas no mercado negro em Macau é quase três vezes superior ao da região vizinha. Neste sentido, a chefe de gabinete de Wong Sio Chak assegura que as redes criminosas ligadas ao tráfico de droga contratam pessoas em Macau para a prática de crime, estando, por isso, previsto um reforço de cooperação policial de combate a esse tipo de acções.

Hong Kong | Morgan Stanley aponta pouco impacto de protestos no jogo

Analistas da Morgan Stanley Asia Ltd entendem que os protestos e o caos político de Hong Kong não afectou a indústria do jogo em Macau. Tanto em número de entrada de turistas, como nas receitas das concessionárias, a indústria mantém-se impermeável à situação vivida na região vizinha

 

[dropcap]A[/dropcap]s previsões para as receitas no sector de massas apontam para um crescimento de 15 por cento em Julho, com destaque para os apostadores chineses que pernoitam em Macau que aumentaram 9 por cento, algo que é positivo na nossa pespectiva. Isto parece confirmar a nossa expectativa de impacto mínimo em Macau, até agora, face ao que se passa em Hong Kong”. As declarações são de Praveen Choudhary, analista da Morgan Stanley Asia Ltd, numa nota da consultora citada pelo portal GGRAsia.

O documento da gigante financeira multinacional, que em 2016 foi condenada por contribuir para a crise global de 2008, traça um cenário optimista para Macau. A nota destaca a óbvia evidência de que a esmagadora maioria dos turistas que chega a Macau para jogar são do interior da China, e uma parte chega via Hong Kong. Neste sentido, a Morgan Stanley sublinha os dados do turismo divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos revelaram que, em Julho, perto de 2,6 milhões de visitantes chineses entraram em Macau, o que representou uma subida de 18,5 por cento comparado com o mesmo período de 2018. Ainda assim, Praveen Choudhary sublinha que este número representa um desaceleramento em relação à taxa de crescimento registada nos primeiros sete meses deste ano, que foi de 21,7 por cento.

Confirmar a regra

Outro dado incontornável na análise são os 24,45 mil milhões de patacas de receitas brutas apuradas pelo sector do jogo durante o mês de Julho, representando uma queda de 3,5 pontos percentuais em relação ao período homólogo de 2018. Número que não permite uma análise pormenorizada por não diferenciar entre receitas provenientes do sector VIP e de massas.

A Morgan Stanley já havia menorizado o possível impacto da turbulência política de Hong Kong na indústria do jogo ao referir que apenas dois por cento de todos os visitantes do Interior da China chega a Macau através de transportes que partem do centro de Hong Kong, onde os protestos são frequentes.

Aliás, esta situação já havia sido reportada pela JP Morgan, outro gigante financeiro também condenado por práticas ilegais que contribuíram para a crise global de 2008. “Cerca de 60 por cento do número total de visitantes chega a Macau através de Zhuhai, enquanto os serviços de ferries transportam de Hong Kong e Shenzhen 17 por cento. Pela Ponte HKZM chegam 15 por cento dos visitantes e no aeroporto de Macau aterram 9 por cento. No que diz respeito a turistas oriundos da China, 75 por cento chega através das fronteiras com Zhuhai”, enquadrou a consultora do banco de investimento.

“Estimamos que os protestos em Hong Kong afectem as receitas do jogo cerca de 0,5 por cento, impacto que se deve desvanecer gradualmente à medida que as pessoas encontram alternativas para visitar Macau”, escreveram Jeremy An e Christine Wang, analistas da DS Kim, afiliados da JP Morgan. Outro dos factores que dificulta a correlação entre os protestos e receitas do jogo prende-se com a dificuldade em relacionar o número de visitantes e quanto é gasto nos casinos.

Aliás, pequenos grupos de apostadores de grandes quantias, que representam uma percentagem ínfima do volume de visitantes, são importantes componentes no sector.

Chefe do Executivo redefine prazos para conservação de documentos

[dropcap]O[/dropcap] Governo decidiu instituir novas medidas sobre a preservação de documentos oficiais da Função Pública. A ordem executiva ontem publicada em Boletim Oficial (BO), assinada pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, determina vários prazos – alguns deles vão até 50 anos – para a preservação de documentos, sem esquecer o local onde ficam armazenados.

Diz a ordem executiva que esta medida se aplica “aos órgãos e serviços da Administração Pública, incluindo o Gabinete do Chefe do Executivo, os Gabinetes e serviços administrativos de apoio aos titulares dos principais cargos, os fundos autónomos e os institutos públicos”. Além disso, as delegações da RAEM sediadas no exterior também devem cumprir estes novos prazos e regras.

Cabe ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, assinar um despacho que irá determinar “os procedimentos e formalidades necessários ao cumprimento da presente ordem executiva”, mediante parecer do Arquivo de Macau. São mantidas algumas disposições já constantes em diplomas orgânicos ou estatutos dos serviços.

Diploma não chega

Os prazos a cumprir são vários e dependem da natureza e da importância dos documentos em si. A título de exemplo, os projectos legislativos, ou seja, “documentos relativos à elaboração e alteração de leis, regulamentos, ordens executivas, despachos do Chefe do Executivo e dos secretários, incluindo consultas internas e externas”, são conservados de forma permanente e mantidos no Arquivo de Macau, tal como os documentos relativos à criação das estruturas orgânicas do Governo.

As revisões e propostas das Linhas de Acção Governativa, ou seja, o programa político anual e respectivo orçamento, serão eliminadas ao fim de 15 anos, tal como os planos anuais de trabalho do Executivo. As interpelações dos deputados feitas na Assembleia Legislativa serão eliminadas ao fim de dez anos.

Questionado pelo HM sobre esta nova ordem executiva, o deputado José Pereira Coutinho assegurou que não é suficiente.

“Deveria haver um arquivamento centralizado sob responsabilidade do Instituto Cultural”, começou por dizer. “Será preciso legislar sobre a matéria, implementando um sistema universal de arquivamento de documentos históricos.”

Neste sentido, José Pereira Coutinho considera que esta ordem executiva “é deitar poeira nos olhos das pessoas, uma vez que não resolve o cerne da questão”. Isto porque “hoje em dia reina a anarquia nos serviços públicos e judiciais no âmbito do arquivamento e digitalização de documentos históricos”, acusa.

O deputado lamenta ainda que a documentação judicial careça de uma melhor preservação. “Há tempos fiz várias interpelações escritas sobre a importante questão do arquivamento de documentos de elevado valor histórico, como a necessidade de duplicação digital para consulta de estudantes e professores universitários. Os processos judiciais e todos outros documentos dos últimos quinhentos anos deveriam ser devidamente protegidos por via legal e duma forma sistemática e uniformizada”, relatou.

Macau é caso de sucesso do princípio ‘um país, dois sistemas’, diz analista Gao Zhikai

O famoso comentador da televisão chinesa e antigo tradutor de Deng Xiaoping, Gao Zhikai, traça um retrato animador da realidade de Macau e do relacionamento com o mundo português, em contraponto com a situação que se vive em Hong Kong

 

[dropcap]U[/dropcap]m conhecido analista chinês considerou ontem Macau um “caso de sucesso com largas implicações para além do território”, numa altura em que a região vizinha de Hong Kong é palco de protestos anti-governamentais.

“Eu diria que, para o Governo central, e para as 1,4 mil milhões de pessoas no continente chinês, Macau tem sido um exemplo de grande sucesso da fórmula ‘um país, dois sistemas'”, disse à Lusa Gao Zhikai, que serviu como intérprete do antigo líder chinês Deng Xiaoping e é actualmente um dos mais conhecidos comentadores da televisão chinesa.

Aquele princípio permitiu definir para Macau e Hong Kong um elevado grau de autonomia a nível executivo, legislativo e judiciário por um período de 50 anos, após a transferência dos dois territórios para a República Popular da China.

Gao Zhikai referiu que, desde a transferência da administração de Portugal para a China, a “melhoria dos índices” em Macau “falam por si”. “Nos últimos 20 anos, Macau alcançou estabilidade, crescimento, paz e rápido desenvolvimento económico”, considerou.

Aqui ao lado

Numa comparação com a vizinha região administrativa especial chinesa de Hong Kong, Gao considerou que Macau conseguiu manter um “bom equilíbrio entre desenvolvimento económico e percurso político”.

Em apenas uma geração, Macau tornou-se no maior centro de jogo do mundo, com o PIB ‘per capita’ a fixar-se, no ano passado, nas 666.893 patacas, um dos mais altos do mundo e quase o dobro de Hong Kong.

Gao Zhikai considerou a situação na ex-colónia britânica “muito mais complicada”. Hong Kong é palco, há quase três meses, de protestos, desencadeados pela apresentação de uma proposta de alteração à lei de extradição, que permitiria extraditar criminosos para países sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Para o analista chinês, a ligação aos países anglo-saxónicos e uma economia diversificada tornam Hong Kong mais susceptível “a turbulência” política. “Há certas forças políticas que acreditam que uma maior independência de Hong Kong, ou mesmo voltar ao domínio britânico, ou a chamada independência de Hong Kong, seria melhor”, notou.

Gao Zhikai apontou a proeminência de não chineses no sistema jurídico de Hong Kong, onde continuam a existir muitos britânicos, australianos ou canadianos, parte do acordo de transferência de soberania que permitiu à região manter a Lei Básica [a mini Constituição de Hong Kong].

“Esse arranjo, feito com toda a boa intenção, parece agora assombrar Hong Kong, gerando uma paralisia entre o sistema judiciário e o Executivo e o sistema eleitoral também não está a funcionar”, destacou. “Existem muitos cozinheiros na cozinha, o que torna toda a situação mais complicada”, acrescentou.

Laços vitais

Já em Macau, “sente-se que a ligação à China continental é de extrema importância” e que “manter relações muito próximas com o Governo central e com a China continental como um todo é absolutamente do seu interesse”, comparou Gao Zhikai, lembrando que a economia da região dependente do fluxo de turistas do continente para os casinos.
“Todos estão a aprender com a região, inclusive o Governo central”, disse.

Gao Zhikai lembrou ainda que o jogo de azar é uma herança da administração portuguesa, que Macau deve aproveitar. “Tendo em conta as limitações de território e população, e a ausência de um centro financeiro importante, não vejo nada de mal em que Macau continue a desenvolver um sector do jogo robusto”, sublinhou o analista.

Sobre o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, conhecido como Fórum Macau, Gao enalteceu o papel da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) como ponte entre Pequim e os países lusófonos, mas rejeitou a intenção de estabelecer uma plataforma equivalente à Commonwealth [organização que integra Estados e territórios que no passado pertenceram ao império colonial britânico].

“Não penso que a China deva ser o agente integrador dos países e regiões que falam português, mas Portugal e Macau têm uma ligação de centenas de anos, e acontece que Macau é agora parte da China, país que provavelmente é o maior parceiro comercial de todos os países que falam português, com excepção de Portugal”, afirmou.

Em 2018, as trocas comerciais entre a China e o bloco lusófono atingiram 147,4 mil milhões de dólares, um aumento de 25,31 por cento em termos homólogos, de acordo com dados divulgados pelo Fórum de Macau.

“Penso que Portugal deve estar satisfeito com o papel integrador desenvolvido por Macau e pela China, visto ser um trabalho que não poderia desenvolver, até porque não tem recursos financeiros para isso”, disse.

O analista indicou que a China vê como “positiva” a manutenção da herança portuguesa em Macau, e estabeleceu um contraste com a política da Índia para a região de Goa, “onde a influência portuguesa foi eliminada após a integração”.

“A China e o povo chinês não têm qualquer problema em manter a herança portuguesa em Macau”, sublinhou Gao Zhikai. Em 20 de Dezembro próximo, Macau comemora os 20 anos da transferência do exercício da soberania de Portugal para a China, em 1999.

Novo Macau | 94 por cento de apoio ao sufrágio universal apesar dos ataques

A Associação Novo Macau divulgou ontem os resultados positivos do atribulado referendo online, com 94 por cento dos participantes a dizerem sim ao sufrágio universal do Chefe do Executivo da RAEM. Os pró-democratas denunciaram também os ataques informáticos de que foram alvo

 

[dropcap]F[/dropcap]oram 5.351 pessoas a reagir favoravelmente à reforma do sistema eleitoral para o sufrágio universal do Chefe do Executivo da RAEM, o que correspondeu a 93,9 por cento dos 5.698 votantes da consulta online, lançada no passado dia 11 de Agosto pela Associação Novo Macau (ANM). Os votos contra ficaram pelos 236, ou 4,1 por cento, e as abstenções foram contabilizadas em 111, ou 2 por cento.

O processo decorreu de forma atribulada, segundo a ANM, desde o início da votação online até ao encerramento prematuro das urnas virtuais, que deveriam ter permanecido abertas até às 12h do dia 25 de Agosto, mas que acabaram por fechar na tarde de 24 de Agosto, véspera da eleição efectiva, sob fortes pressões e ameaças, revelaram ontem os pró-democratas em comunicado.

“Desde 15 de Agosto, a plataforma electrónica de voto sofreu continuamente ataques cibernéticos, maioritariamente do Interior da China. No entanto, o suporte tecnológico conseguiu evitar que os ataques constituíssem uma ameaça à eficiente operação do servidor. A segurança e a integridade dos dados referentes à votação estão 100 por cento assegurados”, referiram.

Logo no dia 14 de Agosto, os voluntários das equipas de rua que promoviam a consulta online à pergunta “Concorda que o Chefe do Executivo de Macau deve ser eleito por sufrágio universal?”, foram “interrompidos, insultados e até atacados fisicamente por pessoas desconhecidas”, numa tentativa de disrupção do processo que a ANM já denunciou junto das autoridades policiais.

Mas houve pior, acusou a Novo Macau, que afirma ter recebido “informação específica a indicar que a situação acima descrita iria intensificar-se ainda mais, o que poderia colocar em risco a segurança dos membros da organização envolvidos. Ocorrências anormais também se verificaram na página electrónica da votação, no dia 23 de Agosto, impossibilitando qualquer voto nesse dia. Após uma prudente análise dos riscos, a ANM decidiu encerrar a votação ao final da tarde de 24 de Agosto”.

Obra profissional

No passado dia 22 de Agosto, já o activista Jason Chau havia enviado para as redacções uma carta onde acusava os mesmos ataques cibernéticos, na qualidade de fornecedor da tecnologia do voto digital. “O que eu posso dizer é que a plataforma enfrentou graves ataques informáticos na semana passada. Embora eu não tenha evidências concretas de que se tratou de ataques promovidos por entidades estatais, posso garantir que os atacantes eram profissionais”.

“Vestígios destas actividades sugerem que a origem é o Interior da China. E o objectivo técnico dos ataques informáticos foi paralisar a página electrónica da votação, criando falsos registos de voto ou roubando os dados protegidos”, escreveu ainda Jason Chau, aludindo à tentativa de intimidação e de interferência no direito legítimo de a população se manifestar. O responsável acrescentou ainda que, ao longo destes dias, teve continuamente que “monitorizar e analisar os padrões dos ataques” para os despistar.

Dentro do esperado

Segundo a Novo Macau, os participantes responderam ao apelo da votação de forma pacífica e de acordo com a lei, apesar de os ataques à iniciativa terem sido uma “clara violação do exercício das liberdades fundamentais dos cidadãos”. O número de votantes, apesar da falta de meios para uma divulgação mais abrangente, esteve “em linha com as expectativas”, pelo que agradeceram a participação de todos, “independentemente do sentido do voto”.

E apesar dos resultados da consulta não serem vinculativos, a Novo Macau enfatizou a sua esperança de que esta amostra de opiniões “seja uma referência importante para o próximo Governo da RAEM, que deveria tentar reiniciar a reforma política durante o seu mandato”, e marcar no calendário os próximos passos para implementar a eleição universal dos órgãos dirigentes.

Jogo | Ambrose So recomenda que não se aumente número de licenças

Depois da eleição de Ho Iat Seng como Chefe do Executivo, as recomendações de políticas não se fizeram esperar. Ambrose So pede que não seja aumentado o número de licenças de jogo em nome da diversificação económica, enquanto a presidente da associação das mulheres reclama mais igualdade

 

[dropcap]A[/dropcap]inda não tinham passado 24 horas da eleição de Ho Iat Seng como Chefe do Executivo, e já as sugestões de governação se multiplicavam pelos diversos sectores sociais e empresariais da sociedade de Macau. Entre eles, destaque para o director executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Ambrose So, que em declarações ao jornal do Cidadão, deixou a esperança de que Ho Iat Seng tenha a clarividência necessária para ouvir a opinião pública. O homem forte da SJM deixou ainda a receita para um dos objectivos traçados para Macau nas Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento da Grande Baía. “Se Macau quiser desenvolver a diversificação adequada da economia, não deve aumentar o número de licenças de jogo, sob pena de absorver mais mão-de-obra e terrenos. Além disso, a dimensão económica da indústria de jogo já é suficiente para sustentar as despesas financeiras do Governo”, sublinhou Ambrose So, citado pelo Jornal do Cidadão.

O CEO da SJM destacou ainda o elevado número de votos que Ho Iat Seng mereceu, “reflectindo o amplo apoio dos vários sectores sociais” que facilitará a implementação de acções governativas no futuro.

Em declarações ao jornal Ou Mun, o advogado Miguel de Senna Fernandes, que fez parte da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, sugeriu que, em termos económicos, o próximo Governo deixe o mercado actuar com interferências mínimas. Além disso, o jurista espera equilíbrio entre mercados e acção executiva. Como tal, deseja que Ho Iat Seng seja um líder “mais forte” e com coragem para implementar políticas definitivas, como, por exemplo em matéria de habitação, onde não deve deixar o mercado imobiliário fazer o que bem entender.

Bairros, mulheres e trabalho

Uma relação mais próxima entre residentes e Governo é a exigência de Leong Heng Kao, presidente da União Geral das Associações de Moradores de Macau. O dirigente associativo espera que Ho Iat Seng reforce a proximidade com os bairros e a cooperação com associações de serviço social de forma a optimizar o aproveitamento dos recursos sociais. Além disso, Leong Heng Kao disse ao Jornal do Cidadão que espera que o novo Chefe do Executivo resolva o problema constante das inundações.

Outra voz ouvida pelo Jornal do Cidadão foi a presidente da direcção da Associação Geral das Mulheres de Macau, Lam Un Mui, que tem esperança que Ho Iat Seng promova a igualdade de género e harmonia familiar, defendo os direitos das mulheres e crianças. A dirigente sugeriu ainda que o próximo Governo utilize as redes sociais para aumentar a interacção com a geração mais jovem com respostas pessoais.

Por parte do sector laboral, Lei Chan U, deputado ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, disse ao jornal Ou Mun que Ho Iat Seng deve fazer o possível para resolver as questões mais prementes no mercado de trabalho. Aperfeiçoar as leis laborais, salvaguardar os direitos e interesses dos trabalhadores, aumentar a qualidade do emprego dos residentes e partilhar razoavelmente os resultados do desenvolvimento são as prioridades que o deputado aponta ao próximo Executivo.

Medidas de apoio para a população mais idosa e aposta na melhoria do panorama empresarial foram os temas fortes nas sugestões da vice-presidente da Associação dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau, Lo Choi In. Em declarações ao Jornal Ou Mun, a dirigente pediu prioridade nas questões que afectam os grupos vulneráveis da sociedade, nomeadamente os idosos. De resto, Lo Choi In gostaria de ver maior celeridade na construção de habitações públicas, e no plano económico, a promoção das pequenas e médias empresas, aproveitando as oportunidades da Grande Baía.

Efeméride | Paris foi libertada da ocupação nazi há 75 anos

Domingo celebrou-se o 75º aniversário da entrada triunfante das forças aliadas em Paris e da libertação da capital francesa. Depois de quase uma semana de batalha sanguinária, que custou a vida a 1600 membros da resistência francesa, 130 soldados da 2.ª divisão blindada e mais de 3 mil militares germânicos, terminava a ocupação de mais de quatro anos da cidade das luzes. Entre os libertadores de Paris estiveram portugueses

 

Com agências

[dropcap]P[/dropcap]aris ultrajada! Paris destruída! Paris martirizada! Mas Paris libertada! Libertada por si mesma, libertada pelo seu povo, em sintonia com o exército francês, com o apoio e a corroboração de toda a França, da França que luta, da única França, da verdadeira França, da eterna França!” As palavras do General Charles de Gaulle, pronunciadas na tarde de 25 de Agosto de 1944 no Hôtel de Ville marcaram o fim de uma Era de trevas na cidade das luzes. Além disso, o militar e futuro estadista francês puxou para o exército francês e forças aliadas o mérito da libertação de Paris, minimizando os esforços dos resistentes que contavam nas suas fileiras muitos combatentes comunistas.

No dia seguinte, as forças aliadas entraram triunfantes e desfilaram pelos Campos Elísios, colocando ponto final a mais de quatro anos de ocupação nazi. Ontem marcou-se o 75.º aniversário desse dia que anunciava a queda do regime de Adolf Hitler.

Entre os libertadores da cidade das luzes, incluídos na coluna de republicanos espanhóis que emprestaram músculo à resistência, estiveram alguns portugueses. Aliás, presume-se que um livro sobre os portugueses que participaram na resistência francesa possibilite a sua homenagem formal em Paris, segundo um vereador lusodescendente na câmara, que espera ver a iniciativa alargada a outras cidades francesas.

“Precisamos de fazer uma verificação nos nossos serviços aqui e essa é uma prioridade para nós. Já estamos a homenagear os espanhóis que participaram na ‘La Nueve’ por já ter sido amplamente investigado. Depois de termos a absoluta certeza do nível de participação e os nomes de quem participou, partiremos para a homenagem”, disse Hermano Sanches Ruivo, vereador na Câmara de Paris, em declarações à agência Lusa.

Da sombra à luz

O livro em causa é “A sombra dos Heróis – A História Desconhecida dos Resistentes Portugueses que Lutaram contra o Nazismo”, da autoria do jornalista José Manuel Barata-Feyo, editado este ano pelo Clube do Autor em Portugal e no qual são conhecidos os nomes de quase 300 portugueses que participaram activamente na resistência francesa.

“Não houve, por parte da França, uma vontade deliberada de esquecer os portugueses. Cada um, individualmente viu reconhecidos os seus méritos. E os portugueses nunca estiveram juntos numa associação”, explicou José Manuel Barata-Feyo quando questionado pela falta de reconhecimento desta participação, embora o autor admita haver “um trauma” sobre este período na sociedade francesa.

Nos últimos anos, a participação de resistentes de outras nacionalidades na resistência francesa tem vindo a ser reconhecida formalmente pela França, com o Presidente Macron a afirmar no 75.º aniversário do desembarque de tropa na região de Provence que muitas cidades francesas deveriam ter nomes de ruas de soldados africanos que lutaram lado a lado com os soldados livres franceses. “Os nomes, as caras e as vidas destes heróis de África deviam fazer parte das nossas vidas de cidadãos livres porque, sem eles, não o seríamos”, disse Emmanuel Macron no início deste mês.

Já o papel dos espanhóis, especificamente da companhia “La Nueve”, que chegou a Paris para apoiar a libertação da cidade mesmo antes das tropas francesas, foi negligenciada até há poucos anos. “Durante muitos anos não se falou quase nos espanhóis, que foram muito importantes, e falou-se pouco do número importantíssimo de soldados africanos, como argelinos e marroquinos, que participaram na guerra a partir de 1943. A imagem que a França queria dar é que foram os próprios franceses que combateram e libertaram o país da Alemanha e que não tinham sido estrangeiros, como os espanhóis”, disse Vítor Pereira, professor de História Contemporânea na Universidade Pau e investigador da imigração portuguesa em França.

Mesmo a “La Nueve”, segundo José Manuel Barata-Feyo, tinha integrantes portugueses, que se apresentavam com nacionalidade espanhola por já terem estado ao serviço do exército republicano na Guerra Civil espanhola.

Questão de identidade

Apesar da participação confirmada dos 253 casos de homens e mulheres oriundos de Portugal que combateram o nazismo em território francês durante a Segunda Guerra Mundial, revelados pelo livro de José Manuel Barata-Feyo, muitos fizeram-no na província e não em Paris, onde há apenas alguns portugueses identificados.

O número de casos continua a crescer depois da publicação do livro, já que o autor continua a descobrir documentos que dão conta de mais participações. “Havia uma imigração portuguesa em França, até na região parisiense, mas os portugueses que participaram na resistência viviam muito mais na província, onde toda a gente se conhecia bem, já que na resistência as pessoas precisavam confiar umas nas outras”, indicou Vítor Pereira.

Em França, a possível homenagem deverá começar com uma conferência sobre o livro “A sombra dos Heróis”, a sua tradução em francês e outras iniciativas até ao final de 2019. Hermano Sanches Ruivo espera que outras cidades também procedam ao reconhecimento destes integrantes da resistência francesa que, muitas vezes, já viviam em França e continuaram as suas vidas no país após a II Guerra Mundial.

O vereador lembrou o caso de Aristides de Sousa Mendes, que, sendo cônsul em Bordéus, salvou a vida de franceses por todo o país.

José Manuel Barata-Feyo considera que também seria adequada uma homenagem em Portugal: “Morreram, pelo menos, uma centena de portugueses às mãos das milícias de extrema direita francesa e da Gestapo e sobre esses nós não dizemos nada. Temos combatentes pela liberdade de primeira, que lutaram contra Salazar e de segunda que lutaram contra nazis. E isso não tem lógica”.

O salvador de Paris

Após a queda da ocupação, a maioria dos 20 mil soldados alemães renderam-se ou fugiram de Paris antes da entrada das tropas do General Leclerc pela cidade. Nessa tarde, a mais alta patente das forças armadas alemãs em Paris, o General Dietrich von Choltitz, foi preso e forçado a assinar um documento que oficializava a rendição.

Choltitz confessou às forças francesas que havia sido instruído por Hitler para transformar Paris num monte de entulho antes que caísse nas mãos dos aliados. A ordem foi recusada, mas a execução esteve em marcha. Debaixo das muitas pontes da cidade e junto aos principais e mais emblemáticos monumentos parisienses foram colocadas cargas explosivas que nunca chegaram a ser detonadas. Aparentemente, Dietrich von Choltitz não desejava ficar para a História como o homem responsável pela destruição de uma das mais amadas cidades europeias. Aliás, nas memórias que escreveu em 1951, o ex-militar alemão confessou que à altura duvidava da sanidade mental do Führer. “Daquela vez desobedeci, porque achava que Hitler estava louco”, escreveu.

Apelidado por muitos como o salvador de Paris, com a fama de ser mais um militar de carreira do que um fervoroso nazi, uma vez que lutou pelo Exército Real da Saxónia na Primeira Guerra Mundial, Choltitz continua a ser uma figura que divide opiniões.

Numa entrevista, em 2004, ao jornal The Telegraph, o seu filho Timo referiu que “se ele tivesse salvo apenas a Notre Dame já seria razão suficiente para merecer a gratidão francesa. A França recusa oficialmente até hoje aceitar tal facto e insiste na tese de que a resistência libertou Paris com duas mil espingardas contra o exército alemão. Para o Governo francês, o meu pai foi um porco, mas a elite intelectual francesa sabe o que ele fez por eles. Tenho muito orgulho da sua memória.” A capital francesa foi libertada, após quatro anos de ocupação nazi, desde 14 de Junho de 1940.

Sarar as feridas

A população de Paris estava esfomeada, subnutrida, apesar da cidade não estar reduzida a uma pilha de destroços, como Hitler ordenara. Mais de 43 mil judeus parisienses, perto de metade da população judaica da cidade, foram deportados para campos de concentração, onde se estima que 34 mil tenham morrido.

Nos meses que se seguiram à libertação da cidade, 10 mil parisienses foram julgados por colaboração com os nazis, oito mil foram condenados e 116 executados.

A 29 de Abril e 13 de Maio de 1945, foram realizadas as primeiras eleições locais do pós-guerra, nas quais foi permitido o voto a mulheres.

O General De Gaulle permaneceu ao leme dos destinos políticos franceses durante dois governos provisórios até 1946, quando se demitiu, argumentando desentendimentos constitucionais. De Gaulle viria a ser eleito o quinto Presidente da República, cargo que ocupou entre 1958 e 1969.

O outro protagonista entre as altas patentes da libertação de Paris, o General von Choltitz, permaneceu preso durante o resto da guerra, primeiro em Londres e mais tarde no Mississippi. Não chegou a ser acusado de qualquer crime, foi libertado em 1947 e morreu em 1966 em Baden-Baden, na Alemanha, devido a um enfisema.

Hong Kong | Polícia usa armas de fogo pela primeira vez em protesto

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong disparou este domingo pelo menos um tiro depois de manifestantes pró-democracia terem atacado agentes com paus e varas, e usou gás lacrimogéneo para dispersar um grupo em protesto numa rua central do território. Esta é a primeira vez, em três meses de protestos no território, que as autoridades usam armas de fogo contra os manifestantes.

“Pelo que entendi, um colega acabou de disparar a sua arma. O que me apercebi é que foi um agente fardado que disparou o tiro”, declarou um elemento da polícia de Hong Kong aos jornalistas, citado pela agência de notícias AFP, falando em violentos confrontos entre manifestantes e forças policiais.

Segundo um jornalista da estação de rádio e televisão pública RTHK, o único tiro foi disparado para o ar. De acordo com as agências noticiosas internacionais, a polícia também recorreu neste domingo, pela primeira vez, a canhões de água, apesar de não os terem utilizado directamente nos manifestantes.

O maior confronto teve lugar na zona de Tsuen Wan, a cerca de 10 quilómetros do centro da cidade. Enquanto uma multidão protestava num parque, um grupo invadiu uma rua principal, espalhou paus de bambu no chão e alinhou barreiras de tráfego e cones para tentar bloquear a passagem às autoridades.

Depois de fazer avisos, a polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, mas os manifestantes responderam atirando tijolos e artefactos explosivos artesanais contra os agentes de segurança.

Após este episódio, os manifestantes acabaram por recuar. Dois canhões de água e veículos da polícia juntaram-se aos elementos da polícia de choque que avançaram pela rua, tendo encontrado pouca resistência.

Imagens televisivas mostram que um dos canhões de água foi usado uma vez, mas não pareceu ter alcançado os manifestantes que se retiravam. Alguns manifestantes afirmaram ter recorrido à violência porque o Governo não respondeu às iniciativas pacíficas.

“A escalada a que se assiste agora é apenas resultado da indiferença do nosso Governo perante as pessoas de Hong Kong”, disse Rory Wong, que se encontrava no confronto.

Centenas de manifestantes pró-democracia reuniram-se ontem num estádio, debaixo de chuva, e começaram a desfilar pelas ruas de Hong Kong, onde outros ajuntamentos se preparam, após os violentos confrontos na cidade no sábado, depois de 10 dias de calmaria.

DST atenta ao número de visitantes que pode vir a decair

[dropcap]O[/dropcap]s incidentes de Hong Kong ainda não interferiram nos números do turismo em Macau, que continuam a registar crescimento, mas já existem sinais de algum nervosismo por parte dos agentes de pacotes em grupo, que por cautela começam a alterar os percursos dos viajantes nesta região do Delta do Rio das Pérolas.

O turismo em Macau registou até ao mês de Junho um aumento acumulado de 20 por centro, face ao primeiro semestre de 2018. Apesar da situação instável que se vive na vizinha ex-colónia britânica, o efeito ainda não se reflecte em Macau.

“Em termos de impacto, temos acompanhado os dados estatísticos e, até Junho, os números são muito positivos. E os dados preliminares do mês de Julho, a que tivemos acesso, ainda nos dão um aumento além dos 10 por cento, o que é bastante forte”, revelou ontem a directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes.

No entanto, “durante este mês de Agosto, já tenho ouvido muitas opiniões da indústria, através das agências e guias turísticos, de que os grupos de turistas oriundos da China, sobretudo, que normalmente fazem um trajecto por Hong Kong e Macau, já começaram a cancelar viagens”, acrescentou a responsável.

Os operadores turísticos começam também a dar sinais de alteração dos destinos em oferta, deixando cair Hong Kong, mas incluindo Macau e outras cidades da Grande Baía. Os que têm voos directos para o território estão a equacionar estas mudanças, segundo a monitorização “quase diária” da DST. Os efeitos ainda não se podem avaliar, disse, porque na organização de grandes eventos e conferências, feitas a médio e longo prazo, Macau pode vir a sofrer consequências que só se repercutirão mais tarde.

A informação foi avançada ontem pela directora da DST, à margem da conferência de imprensa do 30º CIFAM, que se realiza em Macau nos meses de Setembro e Outubro, e onde são esperados muitos turistas com as festividades do Bolo Lunar e a semana dourada do 1 de Outubro.

O futuro

[dropcap]H[/dropcap]oje é um novo dia. Como a naturalidade do crepúsculo e da noite que antecede o nascer do sol, a sucessão de poder aconteceu. O candidato abençoado pelos deuses desceu à terra para se apresentar à cidade. Ho Iat Seng ficou a conhecer mercados, Porto Interior, Iao Hon, a Areia Preta, as instituições de apoio social e os eternamente esquecidos pela política e ficou a ter uma ideia de como se vive em Macau. Outro avanço substancial desde que desceu do trono da Assembleia Legislativa foi ter aprendido a sorrir.

Agora um pouco mais a sério e sem fazer juízos precipitados, porque não houve, nem é necessário, qualquer compromisso político com os governados, espero, do fundo do coração, que o próximo Executivo governe com justiça, transparência, integridade, profissionalismo e que dê prioridade ao gritante fosso económico entre milionários e desfavorecidos. Compreendo o distanciamento provocado por um sistema político sem qualquer contrato social entre Governo e governados, mas com um dos maiores PIB per capita do mundo, é vergonhoso que em Macau as mesmas estradas sejam partilhadas por Lamborghinis e catadores de papelão vergados pelo peso dos carros que empurram.

Durante a campanha, o novo Chefe do Executivo prometeu dar ao território a tão almejada Lei Sindical, fazendo a preocupante ressalva para a existência de legislação semelhante no resto da China. Bem… no Norte não há propriamente sindicatos, o poder económico e político, qual monstro siamês, não permite espaço à reivindicação laboral. O trabalhador é unidade de produção sem voto, literalmente, na matéria que é a sua vida. Que o digam os bravos que tombam na batalha operária mesmo aqui ao lado em Shenzhen.

Outro dos temas preferidos durante o período de metamorfose, antes da saída do casulo, foi a habitação para a classe média. A ideia é boa, apesar de limitada pela escassez natural de terrenos.

Em termos habitacionais, grande parte da zona A dos novos aterros está destinada à habitação social e económica e, a manter-se a procura deste segmento da população, pode haver excedente para a classe média. Esta ideia assenta na projecção optimista de bons e estáveis ventos económicos, numa altura em que a instabilidade é a brisa dominante. Mas é preciso esperar para ver.

Uma ideia que pareceu dominante durante a campanha, e mesmo no dia da coroação, foi a ausência de real compromisso com medidas concretas. Em demasiadas áreas fundamentais da governação nada de substancial foi dito, circunstâncias em que não havia uma opinião formada (como o caso da licença de maternidade) e que noutra realidade política seriam violentamente escrutinadas. Mas essa não é a realidade de Macau. Aqui só há um requisito para se ascender ao topo da pirâmide política e não é um programa político não é esse requisito.

Além disso, a quantidade de gafes e o desfasamento com a realidade que Ho Iat Seng demonstrou teria constituído uma montanha de motivos para desqualificação imediata. Confessar nunca ter ido a um mercado, não conhecer o Iao Hon, achar natural que uma mulher não tenha tantas oportunidades profissionais por ter de cuidar dos filhos, tratar da casa, revela não só distanciamento face a uma parte substancial dos residentes, como à época que vivemos… há bastante tempo.

Assumir esta dissonância com a realidade da cidade que vai governar (porque a cidade não é composta de sociedades anónimas cotadas em bolsa, por estranho que pareça) é de uma candura e inocência assinaláveis. Deu, a tempos, a ideia de que simplesmente não sabia que lá em baixo viviam pessoas.

Uma coisa é certa. Vai haver muito amor, ainda para mais face ao que se passa ali ao lado em Hong Kong. A lavagem nacionalista vai sobrepor-se ainda mais à educação e ao ensino, porque a docilidade canina da população é bem mais importante que a partilha do conhecimento que não conhece cor ideológica. A sabedoria e a instrução não cabem nesta Nárnia académica onde o El Dourado é o “Talento”. Além disso, o conhecimento liberta e a sapiência é uma amante que o Amor não permite.

Mas estas são contas para um rosário futuro. O mais importante é que Macau ande para a frente, que encare com sabedoria, coragem e discernimento os desafios que se avizinham. Espero que o “segundo sistema” seja muito mais do que um mantra vazio e que sejam salvaguardados os direitos fundamentais que fazem de Macau uma jurisdição com condições excepcionais. Confesso não ter muita fé neste ponto.

Espero também que o sorriso de Ho Iat Seng não se extinga a partir de hoje e que nos dê a todos razões para também sorrir.

Até já camaradas

[dropcap]H[/dropcap]oje é o meu último dia ao serviço do Hoje Macau. Despedidas nunca me agradaram, muito menos de um lugar que cedo se transformou em “casa”. Ninguém se despede de uma casa. O Hoje Macau deu-me uma “família” e desde logo me ensinou a tentar entender o mundo, este daqui, que me era tão estranho à chegada. Em três anos vivi aqui uma vida inteira e ganhei asas.

Esta “Vida de cão” não é uma despedida, é sim um grande obrigada. Em modo aleatório, obrigada à dupla Paulo e Rómulo por tornarem a paginação num quotidiano delirante, ao José por ser um “mano velho” e doce desde o primeiro dia. Obrigada João por teres sido uma surpresa que agora me enche o coração. E a ti, outro João, que do outro lado do computador consegues sempre dar o mimo parvo e essencial para continuar. Andreia e esse humor entre extremos, por se ter tornado tão familiar é agora um aconchego. Obrigada Madalena pelo contacto com a realidade macaense e Richard por não falhares com nada. Juana por essa alegria saltitante e Vitor que nos deixaste há pouco e contigo foi uma bondade que se guarda.

Obrigada Diana, que ainda é como se cá estivesses, sem nunca esqueceres de dar uma mãozinha. Filipa, sempre pela sociedade, Flora e Thomas por me terem acolhido. Obrigada Eloy, por seres prévio, durante e póstumo a esta experiência. Vincent por nunca te esqueceres de nós quando regressas dos teus barcos do dragão. Obrigada Carlos, por tudo e mais umas coisas. Até já camaradas e um grande bem hajam.

Hong Kong | Instabilidade não inquieta actores internacionais do Grande Prémio

[dropcap]O[/dropcap] clima de desassossego social por que está a passar Hong Kong não preocupa os actores internacionais do Grande Prémio de Macau. Entre nós os preparativos para o evento do mês de Novembro decorrem dentro da normalidade e, entre os agentes estrangeiros, ninguém acredita que a agitação na região vizinha vá ter um reflexo negativo no bom desenrolar do maior acontecimento desportivo de carácter anual da RAEM.

“Não há qualquer tipo de inquietude nesta altura”, esclareceu François Ribeiro, o CEO da Eurosport Events, a empresa que tem os direitos de promoção da Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR), à revista semanal francesa Auto Hebdo. Este ano a prova do Circuito da Guia não é a última da temporada do WTCR, que terminará na Malásia em Dezembro. Antes de Macau a caravana do mundial de carros de turismo compete em Suzuka, no Japão, no último fim-de-semana de Outubro. Os carros e o material deverão ser encaminhados por via marítima para a RAEM e por agora não existe qualquer plano de contingência.

Com o período de inscrições a terminar a 31 de Agosto, do lado dos participantes da Taça do Mundo FIA de GT, também não há qualquer tipo de desassossego quanto à regular organização do evento do território. Ainda na pretérita semana as equipas receberam informações quanto ao regulamento desportivo da prova e outras instruções, como por exemplo reservarem os pneus Pirelli para o fim-de-semana.

“É um grande evento que gostámos muito”, afirmou recentemente Stéphane Ratel, o CEO da SRO Motorsport Organization, a empresa que co-coordena a Taça do Mundo FIA de GT com a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC). O empresário francês está optimista para o evento deste ano, mesmo admitindo que “este não é dos (eventos) mais fáceis e tivemos alguns anos turbulentos. O ano passado correu bem. Os anos turbulentos resultaram em apenas 15 carros em 2018. O ano passado foi mais calmo e estamos a ter mais interesse para este ano. Esperamos 16 ou 17 carros e talvez chegar 20 ou 21 carros em Novembro.”

Segundo pode apurar o HM junto de vários outros protagonistas, de igual serena forma também prosseguem paulatinamente os preparativos da Taça do Mundo FIA de Fórmula 3, que este ano terá uma grelha de partida com 30 monolugares da última geração, mais dois que o ano passado.

Os monolugares deverão chegar a Macau por via aérea este ano. Por seu lado, os concorrentes do Grande Prémio de Motos de Macau aguardam ansiosamente pelos convites para participarem na “Clássica do Extremo Oriente”. A 66ª edição do Grande Prémio de Macau disputa-se de 14 a 17 de Novembro.

Fracasso das embaixadas portuguesas à China

[dropcap]J[/dropcap]orge Álvares chegou num junco de mercadores chineses à ilha de Lin Tin em Junho de 1513, sendo oficialmente o primeiro português a entrar na China. No Delta do Rio das Pérolas, a ilha de Lin Tin (Tamão) era o porto chinês de trato e para as embaixadas tributárias, de espera pela permissão de poder seguir no Rio de Cantão, a levar à cidade. Pela Boca do Tigre, estuário do Rio Zhu (das Pérolas), dependendo do país da embaixada aportava-se em diferentes locais, fazendo os do Sião porto em Lantao.

Notícia dada a D. Manuel, logo o Rei para iniciar relações diplomáticas com a China enviou uma grande armada de dezassete barcos, que partiu de Lisboa a 7 de Abril de 1515, sendo capitão-mor Fernão Peres de Andrade. A missão era de passar à China e conduzir lá um embaixador português, escolhido por ele na Ásia. Seguia uma carta do Rei de Portugal para manifestar amizade e desejo de com os chineses estabelecer relações comerciais. Em Cochim foi Tomé Pires nomeado Embaixador.

A armada de oito navios chegou a Lin Tin a 15 de Agosto de 1517 e uma esquadra chinesa, cruzando ao largo da ilha como protecção contra os piratas, fez “uns tiros contra os portugueses, sem contudo lhes produzir qualquer dano, e Andrade, em vez de retorquir ao fogo, deu todos os sinais de amizade, com os navios embandeirados e soando trombetas.” Assustou os chineses ao realizar uma salva de canhões. “Logo que lançou ferro em Tamão, . Respondeu o capitão chinês que fosse bem-vindo, pois pelos chineses que iam a Malaca já tinha conhecimento , mas se dirigisse ao Pio de Nantó, . Andrade enviou então recado ao Pio – que ao mesmo tempo mandara um mensageiro saber o que os portugueses desejavam – informando-o dos motivos da sua vinda e pedindo pilotos para conduzir a esquadra à cidade de Cantão. O Pio respondeu com palavras muito amáveis, mas que, para o efeito, teria de vir licença das autoridades de Cantão”, segundo Armando Cortesão.

Em Setembro de 1517 estavam finalmente em Cantão e no ano seguinte os mandarins comunicavam a Fernão Peres de Andrade ter sido a embaixada aceite pela Corte Imperial, no entanto, só a 23 de Janeiro de 1520 Tomé Pires iniciou viagem até Beijing. A meio, em Nanjing esteve a embaixada com o Imperador Zhengde, mas oficialmente o encontro só poderia ocorrer na capital, onde chegou antes deste. O Imperador Ming vinha doente e morreu a 20 de Abril de 1521, sendo a embaixada cancelada e mandada regressar a Cantão, onde foi presa por apresentar documentos falsos, pois para a realizar usara direitos dos malaios.

Nova tentativa falhada

Fernão de Magalhães estava nas Filipinas quando a 5 de Abril de 1521 a segunda embaixada à China saiu de Lisboa levando Martim Afonso de Melo como embaixador do Rei D. Manuel. Em Malaca foi aconselhado em Julho de 1522 a não prosseguir devido ao confronto naval ocorrido em 1521, quando em Lin Tin a 8 de Julho morreu Jorge Álvares, e resultou os chineses proibirem actividades marítimas em Guandong. Mal a frota de Martim de Melo chegou ao porto de Tamão em Agosto de 1522, logo foi atacada pela armada chinesa, que de novo ganhou no confronto naval, perdendo os portugueses dois barcos, fugindo os restantes para Malaca.

Num memorial ao trono jishizhong Wang Xiwen escreveu, “Durante o reinado de Zhengde (Imperador Ming entre 1505-21), os Folangji, disfarçando a sua nacionalidade, conseguiram entrar de maneira enganosa na China. Apareceram subitamente na Capital Provincial sem cumprirem os devidos trâmites e em contravenção intencional das nossas leis. Recusaram pagar o choufeng (taxa percentual). Chegaram a comer crianças cozidas e a raptar moços e moças. Construíram uma paliçada para se defenderem. Armados com armas de fogo, andavam a fazer e a desfazer. Estes bárbaros são tão numerosos como o rebanho e a alcateia. A sua ambição, tão vil como a de tigres e lobos, é imprevisível. Pelos esforços de Wang Hong, que então era o haidao, e de outros, os Folangji acabaram por ser expulsos”, Breve Monografia de Macau de Yin Guangren e Zhang Rulin.

Relata o comportamento de Simão de Andrade, que viera buscar a embaixada de Tomé Pires e a encontrou a partir só então para Beijing. Em Lin Tin juntou-se aos alevantados portugueses, mercadores por iniciativa própria que deixavam o mar do cartaz e comerciavam pelo Mar de Bengala, Estreito de Malaca e Sudoeste do Oceano Pacífico, e provocou a batalha naval de 1521.

O Papa Paulo III em 1534 criou o Bispado de Goa a que ficavam subordinadas todas as ilhas e terras descobertas, ou a descobrir, desde o Cabo da Boa Esperança. Por Direito, o Padroado Português do Oriente obrigava todos os padres a embarcar de Lisboa se quisessem missionar no seu território. Andavam já franciscanos e dominicanos quando em 1540 foi criada, com a bênção da Santa Sé e dos Reis de Portugal, a Companhia de Jesus. Logo o padre espanhol Francisco Xavier foi nomeado núncio apostólico para todo o Oriente. Primeiro jesuíta a partir de Lisboa, foi dele a ideia de realizar uma nova embaixada à China. Passavam trinta anos da desastrosa segunda embaixada, bem pior que a primeira.

Terceiro fracasso

O padre Francisco Xavier, após missionar pelo Japão, desejou fazer o mesmo na China e durante a viagem para Goa desafiou o amigo Diogo Pereira, com quem seguia desde Shanchoão, a conseguir uma embaixada à corte de Pequim; única forma de um estrangeiro entrar no Celeste Império e poder comerciar.

Em Goa, onde chegaram a 15 de Fevereiro de 1552, Diogo Pereira falou com o Vice-rei da Índia Afonso de Noronha (1550-54) e como era rico pagou todas as despesas para realizar a embaixada, comprando à sua custa os presentes para em nome do Rei D. João III (1521-1557) entregar ao Imperador. Em Abril de 1552 partia a caminho da China o jesuíta e como capitão-mor da armada, composta por vários barcos e quinhentos homens, seguiu Diogo Pereira, nomeado pelo Vice-rei da Índia embaixador à corte de Pequim.

Mas em Malaca, a armada não saiu do porto por inveja do governador da praça D. Álvaro de Ataíde da Gama (um dos filhos de Vasco da Gama), que se opôs à partida de Diogo Pereira e entregou a capitania da nau Santa Cruz a Luís de Almeida, reduzindo a vinte e cinco homens a tripulação por ele escolhida. O jesuíta bem tentou chamar à razão Álvaro da Gama, mas este ressabiado com Diogo Pereira não mudou a decisão e já sem nada poder fazer, o padre excomungou-o.

Sem embaixada à corte da China, Francisco Xavier S.J. seguiu com o capitão Luís de Almeida na nau Santa Cruz, pertença de Diogo Pereira, e ainda em Dezembro de 1552 esperava na ilha de Sanchuang, para ser introduzido clandestinamente na China, quando morreu.

Pyongyang | Novos testes de mísseis em dia de reunião do G7

Os mísseis norte-coreanos continuam a cruzar o céu asiático. O último lançamento aconteceu este sábado, enquanto o G7 se reunia em Biarritz, e foi comandado por Kim Jong-Un que considerou estar perante uma grande arma

 

[dropcap]A[/dropcap] Coreia do Norte realizou sábado o sétimo ensaio, em menos de um mês, com mísseis de curto alcance no mar do Japão, quando se espera o reinício das negociações com Washington para a desnuclearização do país asiático.

O novo lançamento, que sucede ao de 16 de Agosto, acontece no dia em que a cimeira do G7 começou na cidade de Biarritz (França) e quatro dias após a conclusão de manobras militares conjuntas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, contra as quais Pyongyang protestou insistentemente.

Num comunicado, o gabinete presidencial sul-coreano expressou “forte preocupação” com a continuidade dos lançamentos após os exercícios militares e pediu a intensificação dos esforços diplomáticos para reconduzir o país vizinho a negociações.

Seul acredita que a Coreia do Norte usou todos esses testes para ajustar uma nova variedade de projécteis balísticos de curto alcance, enquanto Pyongyang observou, em testes anteriores, que havia testado “um múltiplo lançador de foguetes de controlo remoto” definido como “um novo tipo de arma táctica”.

O regime liderado por Kim Jong-un acompanhou a sua sucessão de testes de armas com uma série de ameaças contra Seul e Washington, numa aparente tentativa de mostrar o poder militar e fortalecer a sua posição diante do esperado recomeço das negociações com os EUA sobre o desarmamento nuclear.

Diálogo azedo

Na sexta-feira, Pyongyang criticou a política de sanções dos EUA e o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, numa declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte, Ri Yong-ho, emitida pela agência estatal KCNA.

“Estamos prontos, tanto para o diálogo quanto para o confronto”, disse Ri, que também afirmou que a Coreia do Norte continuará a ser “a maior ameaça aos EUA” se as sanções forem mantidas, acusando Pompeo de colocar à frente do diálogo a sua “ambição política”, em consonância com ataques anteriores do regime contra o chefe da diplomacia norte-americana.

A divulgação destes comentários coincide com o fim da viagem a Seul do enviado especial de Washington para o diálogo com Pyongyang, Stephen Biegun, que pretendia discutir a retomada das negociações com o regime.

As negociações, em tom neutro desde a fracassada cimeira de Hanói, em Fevereiro, deveriam ser retomadas depois que os líderes de ambos os países se terem comprometido a reactivá-las, numa reunião improvisada no final de Junho.

Os recentes gestos beligerantes do regime da Coreia do Norte contrastam com a confiança mostrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em que ambas as partes retomarão os contactos em breve.

Trump minimizou os testes de mísseis norte-coreanos e, no início deste mês, afirmou ter recebido uma carta de Kim Jong-un, na qual o líder norte-coreano lhe apresentou “um pequeno pedido de desculpas” pelos ensaios e transmitiu vontade de dialogar.

Os líderes do G7 poderão abordar, entre outros assuntos, a situação na península coreana na reunião em Biarritz. Pyongyang tem o hábito de realizar testes de armas em datas próximas a eventos internacionais relevantes, neste caso uma cimeira com a presença de Trump e do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que expressou o seu desejo de discutir durante o encontro o estado do diálogo com o regime norte-coreano.

“Grande arma”

O dirigente norte-coreano, Kim Jong-Un, liderou sábado o ensaio de mísseis de curto alcance e considerou estar em causa “uma grande arma”, noticiou ontem a agência de notícias oficial norte-coreana KCNA. De acordo com agência, Kim Jong-Un liderou o ensaio de “lançamento de múltiplos mísseis de larga escala”.

Após este teste, o mais recente ensaio de mísseis de curto alcance realizado em Agosto pela Coreia do Norte, Kim Jong-Un afirmou que o sistema “recém-desenvolvido” era “uma grande arma”, segundo a KCNA. O país deve continuar a fortalecer o desenvolvimento de armas para combater “as ameaças militares e a crescente pressão das forças hostis”, salientou o responsável.

PSP desmantela mais três pensões ilegais no ZAPE e Taipa

[dropcap]A[/dropcap] Polícia de Segurança Pública (PSP) divulgou ter desmantelado três novas pensões ilegais, duas na Taipa e uma no ZAPE, tendo sido levados para investigação 23 indivíduos provenientes do Interior da China, noticiou ontem o jornal Ou Mun em língua chinesa.

Nos dias 19 e 20 de Agosto, a PSP realizou duas operações a unidades residenciais na Avenida de Kwong Tung e na Rua de Tai Lin, ambas na Taipa, após a recepção de denúncias relativas a duas supostas pensões para acomodação ilegal. Os agentes policiais, que foram enviados para os locais referidos, encontraram um total de 15 pessoas ali instaladas oriundas do Interior da China, 10 homens e 5 mulheres.

Após investigação, os hóspedes alegaram ter solicitado a habitação através de uma pessoa não identificada, por uma renda diária de 50 a 150 dólares de Hong Kong. As duas residências envolvidas foram confiscadas pelos agentes da Direcção dos Serviços de Turismo.

No dia seguinte, a 21 de Agosto, a PSP enviou também agentes para um apartamento na Rua de Nagasaki, no ZAPE, onde foram encontrados oito homens do Interior da China. Um dos homens foi acusado de gerir o alojamento ilegal e acabaria por ser levado para investigação. Durante o apuramento dos factos, os inquilinos declararam que os valores do aluguer ali praticados eram entre 100 e 300 dólares de Hong Kong. A fracção envolvida também acabou por ser encerrada pela DST.

Queixas da UGAMM

Entretanto, conforme noticiou também o jornal Ou Mun, a União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM) voltou a insistir para que o Governo acelere os trabalhos de reforço da criminalização do alojamento ilícito.

O subdirector da Delegação do Bairro das Ilhas, Cheong Iok Man, reiterou a urgência de o Governo apressar os trabalhos com vista a criminalizar esta prática ilegal, além de incentivar os moradores a denunciarem os casos suspeitos para aumentar a eficácia das operações, com vista a salvaguardar a segurança de edifícios.

Cheong Iok Man afirmou ainda que, nos últimos anos, a situação já se espalhou por todo o território, com o modelo de negócio a tornar-se cada vez mais oculto, através da substituição de panfletos pela divulgação online, o que dificulta cada vez mais o combate das autoridades.

O responsável comentou que, além de alojamento para visitantes, a polícia tem interceptado também locais utilizados para sequestro, usura, pornografia e estações emissoras de spam. “É óbvio que os problemas começam a ser um perigo para a segurança comunitária, podendo transformar-se em locais de crimes graves”, sublinhou.

Jogo | Mais jovens procuram ajuda devido a dependência

Durante o primeiro semestre do ano, a faixa etária entre os 18 e os 29 anos foi a que mais procurou ajuda junto do Instituto de Acção Social devido a dependência do jogo. Até ao final de Junho, havia 61 registos de pessoas afectadas pelo vício. O bacará continua a ser o jogo preferido

 

[dropcap]A[/dropcap]o longo dos primeiros seis meses de 2019, a faixa etária que mais pediu auxílio ao Instituto de Acção Social (IAS) foi a mais nova de entre os que têm idade para jogar. Os dados divulgados são do sistema de registo central dos indivíduos afectados pelo vício do jogo que faz a comparação percentual do primeiro semestre deste ano com os anos desde 2011.

Assim sendo, o número total de indivíduos registados com problemas de vício do jogo até final de Junho situava-se nos 61 casos. Destes, a faixa etária mais afectada foi a dos 18 aos 29 anos com 27,87 por cento dos casos, a percentagem mais elevada desde que se recolhem estes dados (2011).

Outro dado que bateu recordes no primeiro semestre de 2019 foi a proporção entre géneros. Tirando 2013, ao longo dos meses deste ano, as percentagens de homens e mulheres com problemas de jogo estiveram mais perto, ainda assim discrepantes, com 63,93 por cento de homens e 36,07 mulheres. Aliás, a percentagem de mulheres com problemas de jogo praticamente duplicou face a 2018. Do universo total de jogadores problemáticos, a idade média situou-se nos 41,02 anos, quase mais 24 meses que no ano passado.

Dívidas e Bacará

Do universo de 61 jogadores problemáticos sinalizados pelo IAS no primeiro semestre deste ano, três quartos (75,4 por cento) enfrentam dificuldades devido a dívidas contraídas. Uma percentagem, desde 2011, apenas ultrapassada em 2013, que representou uma subida de 10 pontos percentuais em comparação com o ano passado.

Outro número que salta à vista nos dados divulgados pelo IAS é a percentagem recorde de indivíduos afligidos pelo distúrbio que não têm bilhete de identidade de residente. Desde que é feita esta contabilidade, o primeiro semestre de 2019 registou a menor percentagem de residentes afectados pelo vício: 78,69 por cento.

Mais uma vez, o jogo predilecto entre aqueles que se viciam foi o bacará, registando 50 por cento das preferências. Além disso, importa referir que as apostas desportivas (futebol e basquetebol) baterem o recorde nestes primeiros seis meses, ascendendo aos 10,87 por cento do total.

Entre as actividades profissionais mais afectadas pelo vício, o primeiro semestre de 2019 teve a percentagem mais elevada, desde que há registo, em trabalhos relacionados com a indústria do jogo (que não inclui croupiers), atingindo os 18,52 por cento.

Outro dado que reforça a ideia de novos apostadores com problemas de jogo é o item que mede os jogadores com membros da família que costumam apostar. Durante os meses analisados deste ano, registou-se a mais baixa percentagem, desde que há registo, com 50,82 por cento de viciados provenientes de famílias com apostadores.