FIC | Deputados e académicos dominam Comissão de Candidaturas a Prémios

Ip Sio Kai, Wang Sang Man e Dominic Sio são alguns dos membros escolhidos pela secretária Ao Ieong U para a Comissão de Avaliação das Candidaturas a Prémios do FIC. Ao contrário do normal, a publicação no Boletim Oficial revela que os nomeados vão receber mil patacas por cada hora que estejam reunidos

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo anunciou ontem a composição da Comissão de Avaliação das Candidaturas a Prémios do Fundo das Indústrias Culturais (FIC), uma lista dominada por deputados e académicos. Entre os onze nomes, constam figuras da Assembleia Legislativa, mas também especialistas de Pequim e Hong Kong. Os membros vão receber mil patacas por cada hora que estejam reunidos.

Entre o grupo dos deputados, destacam-se Ip Sio Kai e Wang Sai Man, ambos eleitos pela via indirecta e ligados ao sector empresarial. Segundo o currículo de Ip, que é vice-presidente do Banco da China, esta é uma estreia na área da cultura. O mesmo não acontece com Wang Sai Man, uma vez que o deputado e empresário é membro do Conselho de Curadores do FIC.

No campo dos ex-deputados surgem dois nomeas nomeados por Chui Sai On. O primeiro é o empresário Dominic Sio, e o outro é a ex-deputada Ho Sio Kam, ligada ao sector da educação e que chegou a ocupar o cargo de presidente da Associação de Educação Chinesa.

Na lista destaca-se também Lok Po, director do jornal Ou Mun e vice-director do Conselho Geral dos Instituto Politécnico de Macau (IPM). Ainda com ligações ao IPM surge Hsu Hsiu Chu, que desempenha as tarefas de directora da Escola Superior de Artes.

Por sua vez, a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, em inglês) está representada por Samantha Chiang Siu Ling que é vice-reitora da Faculdade de Humanidades e Artes e ainda directora da Academia de Cinema.

Peritos vindos de fora

A Comissão de Avaliação das Candidaturas a Prémios tem como objectivo escolher os indivíduos e companhias que serão distinguidos com os prémios de excelência ao nível de projectos e empresas na área das indústrias culturais. Segundo o regulamento, cada prémio está limitado a 500 mil patacas e tem de ser utilizado para desenvolver mais projectos ou promover as empresas ou indivíduos premiados, no espaço de dois anos.

As distinções só podem ser atribuídas a residentes da RAEM ou a empresas que têm mais de 50 por cento do capital na posse de residentes.

No entanto, podem ser nomeados para júris peritos de fora. Este ano, a comissão vai contar com a participação dos académicos Xiang Yong, professor na área das indústrias culturais da Faculdade de Artes da Universidade de Pequim, Mok Kin Wai, professor de design de artes na Universidade Hang Seng de Hong Kong, e Fu Yuet Mai, distinguida com o doutoramento honoris causa pela Academia de Artes Performativas de Hong Kong.

Finalmente, importa referir que Wilfred Wong Ying Wai, presidente da operadora Sands China, também será um dos elementos do júri.

Defesa | Pentágono diz que China vai duplicar arsenal nuclear em 10 anos

Pequim tem planos para duplicar o número de ogivas nucleares na próxima década, de acordo com um relatório do Pentágono. Além disso, o documento realça os consideráveis avanços em áreas como a construção naval, o desenvolvimento de mísseis e sistema de defesa antiaérea. Ainda assim, no ano passado, o orçamento militar norte-americano foi mais do triplo do chinês e o país apresenta um arsenal nuclear sete vezes maior

 

[dropcap]A[/dropcap]s tensões a vários níveis entre China e Estados Unidos têm sido muitas vezes equiparadas aos tempos da Guerra Fria. É óbvio que conflitos diplomáticos, comerciais e políticos estão longe de serem equivalentes ao pavor global de aniquilação nuclear, quando bunkers eram só mais uma divisão da casa.

Porém, a agenda geopolítica avançou esta semana para o tema nuclear com a divulgação do relatório do Pentágono “Desenvolvimento militar e de defesa da República Popular da China 2020”, um documento da responsabilidade do departamento de Defesa, entregue ao Congresso todos os anos.

Um dos destaques do relatório, é a sugestão de que Pequim planeia duplicar o número de ogivas nucleares na próxima década.

Segundo a estimativa do Pentágono, o arsenal nuclear chinês, neste momento, conta com cerca de duas centenas de ogivas nucleares, contabilidade que varia de acordo com quem a faz, e que pode chegar às 320 ogivas.

“A força nuclear chinesa vai evoluir significativamente na próxima década, à medida que se moderniza, diversifica e aumenta o número de plataformas de distribuição nuclear em terra, mar e ar. A China está a tentar atingir a ‘tríade nuclear’ com o desenvolvimento de mísseis balísticos disparados do ar e que podem ser equipados com armas nucleares, e a melhorar as capacidades nucleares em terra e mar”, refere o documento.

No início do ano, o Global Times, jornal oficial chinês, escrevia que Pequim deveria aumentar, a curto-prazo, a sua capacidade nuclear para 1000 ogivas.

Importa referir que, segundo o Center for Arms Control and Non-Proliferation, o arsenal norte-americano conta actualmente com 5.800 ogivas. Além disso, mais de 90 por cento de todas as armas nucleares existentes no mundo pertencem aos Estados Unidos e à Rússia, os dois históricos adversários na Guerra Fria.

Também para dar contexto quanto ao registo da administração Trump nesta matéria, recorde-se a abrupta saída de Washington do acordo nuclear com o Irão, na tentativa de romper com o legado internacional de Obama, e do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1987 entre Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev. Além disso, Donald Trump disse a Vladimir Putin que caso seja reeleito não tem interesse em renovar o New START (Strategic Arms Reduction Treaty), um tratado que expira em 2021 e que impõe limites estratégicos aos arsenais nucleares americanos e russos.

Heróis do mar

O relatório sobre as capacidades militares chinesas é publicado numa altura de tensões militares entre Pequim e Washington, como as disputas do Mar do Sul da China e o apoio norte-americano a Taiwan. Além disso, surge em plena campanha eleitoral, num momento em que um dos trunfos eleitorais de Donald Trump é a posição de força contra Pequim.

Nesse sentido, o Global Times publicou um artigo na segunda-feira a alertar para a possibilidade de Washington estar a apostar na provocação para ver se Pequim dispara o primeiro tiro. O artigo cita analistas que afirmam que um avião militar norte-americano sobrevoou os céus de Taiwan no passado domingo, suspeitando que a aeronave poderá ter descolado de uma base na Formosa em direcção ao Japão. As autoridades de Taiwan negaram que tal tivesse acontecido.

Apesar da tensão, a Administração Trump tem tentado incluir a China nas conversações com a Rússia sobre controlo de armamento nuclear, convite que Pequim tem reiteradamente negado.

“A China conseguiu paridade com os Estados Unidos em várias áreas de modernização militar”, refere o documento do Pentágono, acrescentando que em algumas áreas a capacidade chinesa excedeu a americana.

O departamento de Defesa destaca a construção naval, sistemas de defesa antiaérea e bases mísseis balísticos convencionais e de cruzeiro.

Outro dos destaques do documento é a Marinha chinesa, descrita como “a maior do mundo”. Com cerca de 350 navios e submarinos, incluindo mais de 130 vasos de guerra, a China ultrapassou a capacidade norte-americana para lutar no mar, uma vez que a Marinha norte-americana tinha no início do ano 293 navios.

Quanto à capacidade de disparo, o Pentágono escreve que a China “tem mais de 1250 mísseis cruzeiro e balísticos lançados de terra, com alcance entre 500 e 5500 quilómetros”. Neste domínio, o departamento de Defesa realça que no ano passado Pequim “fez mais testes com mísseis balísticos do que o resto do mundo no seu conjunto”.

O poder do dinheiro

Outro elemento de contexto fundamental quando se fala em investimento militar é a crise socioeconómica que praticamente todo o mundo enfrenta devido à pandemia da covid-19. O relatório destaca que se a China mantiver o grau de despesa com defesa, excedendo o crescimento económico, irá em breve tornar insignificante a capacidade militar dos países da região. Apesar do contexto regional, o orçamento oficial de defesa da China em 2019, fixou-se em 174 mil milhões de dólares, uma migalha comparada com o orçamento americano que foi de 685 mil milhões.

Contudo, o relatório do Pentágono aponta que o orçamento militar de Pequim “omite várias categorias de despesas”, incluindo pesquisa e desenvolvimento e aquisição de armas ao estrangeiro, e que deve ser muito maior do que é oficialmente admitido. O documento estima que o orçamento total deverá ultrapassar os 200 mil milhões de dólares.

Na região, destaque para o orçamento de defesa do Japão que se fixou no ano passado em 54 mil milhões de dólares, da Coreia do Sul chegou aos 40 mil milhões de dólares e de Taiwan que foi 10,9 mil milhões de dólares.

Nem todos os aspectos relatados apontam no sentido de modernização, em particular no que toca às unidades de infantaria que usam material militar que o Pentágono descreveu como obsoleto. Algumas relíquias datam dos tempos em que Mao governava a China.

Segura e Formosa

Como em relatórios anteriores sobre a capacidade militar chinesa, este ano é repetido que a China ultrapassou obstáculos que poderia ter pela frente para organizar a invasão de Taiwan, ao mesmo tempo que declarou que Taipé também procurou melhorar a capacidade de defesa para repelir ataques. Neste aspecto, o Pentágono não esquece os recentes exercícios militares chineses realizados no Estreito de Taiwan que coincidiram com a visita do secretário da Saúde, Alex Azar, à ilha.

A luta pelo protagonismo no plano geoestratégico é outro dos destaques do departamento de Defesa, apesar do pendor marcadamente isolacionista da Administração Trump no panorama global, em particular a desconsideração do papel da NATO. Nesse contexto, é mencionado que a China tem uma vasta lista de países que representam possíveis locais para instalar bases logísticas militares. Nomeadamente, Birmânia, Tailândia, Singapura, Indonésia, Paquistão, Sri Lanka, Emirados Árabes Unidos, Quénia, Seicheles, Tanzânia, Angola e Tajiquistão.

No contexto global, o progressivo crescimento militar da China é mencionado no relatório do Pentágono numa perspectiva temporal. “É provável que Pequim procure desenvolver a sua capacidade militar ao ponto de a meio deste século equiparar, ou ultrapassar, as forças armadas norte-americanas”, lê-se no documento.

Se a China conseguir atingir os seus objectivos, e Washington falhar na resposta, o Pentágono considera que isso “terá sérias implicações para os interesses nacionais norte-americanos e para a segurança e o direito internacional”.

Covid-19 | China regista 8 casos nas últimas 24 horas, todos oriundos do exterior

[dropcap]A[/dropcap] China atingiu hoje 17 dias consecutivos sem registar casos locais da covid-19, já que os oito novos casos diagnosticados nas últimas 24 horas são todos oriundos do exterior, informaram as autoridades.

A Comissão de Saúde da China detalhou que os casos importados foram diagnosticados na cidade de Xangai e nas províncias de Guangdong, Liaoning e Sichuan.

As autoridades informaram ainda que, nas últimas 24 horas, 26 pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infectadas activas no país asiático se fixou em 198, incluindo três em estado considerado grave.

Desde o início da pandemia, a China registou 85.066 infectados e 4.634 mortos devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

As autoridades chinesas referiram que 816.307 pessoas que tiveram contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, entre as quais 7.587 permanecem sob observação.

A pandemia do coronavírus que provoca a covid-19 já fez pelo menos 851.071 mortos e infectou mais de 25,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Morreu primeiro homem condenado pelos crimes dos Khmer Vermelhos no Camboja

[dropcap]O[/dropcap] antigo carcereiro Kaing Guek Eav, primeiro homem condenado pelos crimes dos Khmer Vermelhos por um tribunal internacional, em 2010, morreu hoje, aos 77 anos, na capital do Camboja.

Conhecido por “camarada Duch”, o chefe da prisão de segurança S-21 do regime de Pol Pot, responsável pela morte e tortura de mais de 15 mil prisioneiros, morreu no Hospital da Amizade Khmer-Soviética de Nom Pen às 00:52, enquanto cumpria uma pena de prisão perpétua por crimes contra a humanidade, disse um porta-voz do tribunal na rede social Twitter, Neth Pheaktra.

O homem condenado por crimes contra a humanidade tinha dado entrada no hospital na segunda-feira, depois de desenvolver dificuldades respiratórias, na prisão de Kandal, disse o responsável do estabelecimento prisional para onde Duch tinha sido transferido, em 2013. A mesma fonte acrescentou que será feita uma autópsia para determinar a causa da morte, antes de o corpo ser entregue à família.

Antigo professor de matemática, Duch documentou meticulosamente os prisioneiros que entravam na prisão, convertido mais tarde num museu da memória, com fotografias das vítimas e das celas onde foram torturadas.

O antigo comandante da prisão ultra-secreta Tuol Sleng, com o nome de código S-21, foi um dos poucos Khmer Vermelhos que reconheceu a responsabilidade, ainda que parcial, pelos seus atos, durante o julgamento.

Homens, mulheres e crianças vistos como inimigos do regime foram encarcerados e torturados às suas ordens, e apenas uma mão cheia sobreviveu.

“Todos os que eram presos e enviados para [a prisão] S-21 já se presumiam mortos”, testemunhou Duch, durante o julgamento.

Os descendentes dos detidos foram assassinados para garantir que a geração seguinte não se pudesse vingar.

As torturas e execuções em Tuol Sleng foram registadas e fotografadas de forma meticulosa, e quando os Khmer Vermelhos foram forçados a abandonar o poder, em 1979, os milhares de documentos deixados na prisão tornaram-se prova das atrocidades do regime.

Duch fugiu, desaparecendo durante quase duas décadas no noroeste do Camboja, convertendo-se ao cristianismo, até ser descoberto por um fotógrafo irlandês, Nic Dunlop, em 1999, levando à sua prisão.

Foi condenado a 35 anos de prisão em julho de 2010, uma pena prolongada em prisão perpétua em 2012.

Os Khmer Vermelhos, um grupo maoísta que queria abolir a propriedade privada e converter o Camboja num país rural, tomaram o poder em 1975 e impuseram um regime repressivo, até serem expulsos em 1979 pelas tropas vietnamitas, também comunistas.

Cerca de 1,7 milhões de pessoas morreram devido a purgas, fome e abusos às mãos dos Khmer Vermelhos, liderados por Pol Pot, que morreu em 1998.

Além de Duch, o tribunal internacional condenou a prisão perpétua dois líderes dos Khmer Vermelhos, Nuon Chea e Khieu Samphan, em 2014 e 2018.

Na segunda condenação contra Nuon Chea, o braço direito de Pol Pot, e Khieu Samphan, antigo chefe de Estado, o tribunal reconheceu pela primeira vez o genocídio cometido pelos Khmer Vermelhos contra as minorias vietnamitas e os muçulmanos cham.

Nuon Chea morreu no ano passado, enquanto outros líderes do regime, Ieng Sary e Ieng Thirith, morreram em 2013 e 2015, antes de serem condenados.

Pol Pot morreu em abril de 1998 na base guerrilheira de Amlong Veng, no noroeste do Camboja, assassinado pelas suas próprias forças.

Tailândia cumpre 100 dias sem casos locais de covid-19

[dropcap]A[/dropcap] Tailândia cumpre hoje 100 dias sem registar contágios locais de covid-19, depois de instaurar medidas estritas para combater a pandemia, incluindo o encerramento das fronteiras.

As autoridades tailandesas anunciaram hoje mais oito casos do novo coronavírus, todos importados, de países como os Estados Unidos, Austrália e Japão, elevando o total acumulado desde janeiro para 3.425 infeções, além de 58 mortes. Estes números fazem da Tailândia um dos países menos afetados no mundo pela pandemia.

A Tailândia foi o primeiro país a detectar, em Janeiro, uma infeção de covid-19 fora da China. Apesar da sua proximidade com o gigante asiático e de ser o principal destino dos turistas chineses, a Tailândia escapou ao grande número de infeções de países próximos, como a Indonésia (com 178.000 casos) ou as Filipinas (com 224.000).

Em Março, o Governo ordenou o recolher obrigatório, o uso obrigatório de máscaras em supermercados e transportes públicos e o encerramento das fronteiras e da maioria das empresas, embora não tenha decretado o confinamento rigoroso.

As medidas foram aligeiradas a partir de junho, apesar de as fronteiras continuarem fechadas aos turistas. Em 21 de Agosto, as autoridades decidiram prorrogar o estado de emergência pela quinta vez, até 31 de setembro.

O encerramento das fronteiras e a queda da procura externa infligiram um duro golpe à economia tailandesa, que entrou em recessão, com o produto interno bruto (PIB) a cair 12,2% no segundo trimestre do ano, após uma contração de 2% nos primeiros três meses.

Segundo as previsões do Banco da Tailândia, o PIB perderá 8,1% este ano em relação ao ano anterior, o pior valor desde a crise financeira que devastou o país e grande parte do Sudeste Asiático em 1998.

As autoridades aprovaram pacotes de ajuda multimilionários para aliviar os efeitos económicos da pandemia, em setores como o turismo. O país deverá receber este ano menos 80% de visitantes que em 2019, quando acolheu 40 milhões de turistas.

Berlim exige a Pequim respeito pelos direitos humanos

[dropcap]A[/dropcap] Alemanha interpelou ontem a República Popular da China apelando ao respeito pelos direitos humanos nomeadamente ao povo uigur e aos cidadãos de Hong Kong, enquanto manifestantes em Berlim exigiam pressão política sobre Pequim.

“Você sabe que as nossas preocupações no que diz respeito à lei sobre a segurança [em Hong Kong não estão dissipadas”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Mass, numa conferência de imprensa conjunta com o homólogo da República Popular da China, Wang Yi, em Berlim.

“Queremos que o princípio ‘um país dois sistemas’ seja totalmente aplicado”, acrescentou o ministro da Alemanha, atualmente o país com a presidência rotativa da União Europeia.

Heiko Mass referia-se à Região Administrativa Especial de Hong Kong onde Pequim implementou a lei de segurança nacional, que constitui uma limitação aos direitos, liberdades e garantias de mais de sete milhões de pessoas que residem na ex-colónia britânica.

Em relação à minoria muçulmana reprimida na República Popular da China, Mass reiterou o pedido da Alemanha para que Pequim autorize uma missão de observação independente das Nações Unidas aos campos de prisioneiros uigurs.

Várias organizações de defesa de Direitos Humanos acusam a República Popular da China de promover a detenção e trabalhos forçados a milhares de muçulmanos na província de Xinjiang, no noroeste do país.

“Como é que tantos chineses estão tão contentes com o trabalho do governo [de Pequim], se o trabalho é assim tão mau”, respondeu o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China.

Enquanto decorria a conferência de imprensa, centenas de manifestantes, incluindo dissidentes políticos de Hong Kong e membros da comunidade uigur na Alemanha, demonstravam em Berlim desagrado pelas políticas de Pequim.

A visita do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês a Berlim é a última etapa da deslocação a cinco países europeus – Holanda, França, Noruega e Itália – no quadro do reforço das relações diplomáticas e económicas.

A obsessão da solidão

[dropcap]U[/dropcap]m dos meus ídolos – Nelson Rodrigues – celebraria o seu aniversário no passado dia 23 de Agosto. Fui lê-lo. E lembrou-me que só os imbecis não são obsessivos. O génio, o santo, o pulha, o herói: segundo ele terá de sempre haver obsessão na vida. Ele sabia e quem leu as suas magníficas crónicas – e vamos deixar de fora o resto – percebe a mesma nota que ecoa nos mais variados acordes. A escrita é formulaica na forma, livre e convicta no conteúdo. Um génio de várias notas só.

Todas as semanas, caso não exista um acontecimento extraordinário que justifique uma epifania e a legitimidade de maçar os leitores há para quem vos escreve um exercício que não pode passar da cortina: o tema, os artigos, a disposição – isso é com quem está deste lado. Mas e quando acontece que o assunto aparece fluido, natural, com tanto para dizer que as palavras encolhem ainda mais? Bom, isso é porque nessa altura quem escreve choca de frente com a vida ou no mínimo com algo que há muito tempo acha que a vida é ou necessita. Não se trata de urgências confessionais – o que provavelmente não seria mau para a conta bancária mas péssimo para o estilo e para vós – mas sim de algo que nunca nos deixou e só quando nos desafiam a regressar às cavernas da alma pode aparecer. Uma obsessão, uma ideia fixa. Como isto da solidão.

Por questões profissionais fui levado a escarafunchar a definição de soidão, algo que para mim seria tão pacífico. Mas não é e nunca foi. Apenas um visionamento da pomposa France Culture ajudou – por uma vez que seja – a discernir em modo contemporâneo algumas nuances do que aqui não queria saber. Num pequeno clip tantas conjugações. O grande Omar Sharif, como belíssimo jogador de bridge que foi, esconde o jogo com uma quase tautolgia : “Não sei se gosto se não gosto – mas sei que quando não a tenho me faz falta”

Juliette Gréco, musa existencialista do seu tempo e com a força da flor da idade faz o que qualquer musa existencialista francesa na flor da idade faria: tergiversa e não diz nada, contando com as pestanas filosóficas para falarem por ela, o que nessa altura, sim, a deixam sozinha.

Nesta antologia de pretensiosismo só Renoir e Cocteau escapam. Renoir : a nossa época tem inconvenientes- a solidão é uma delas. E a forma de lutar contra isso é a arte – o que não deixa de ser contraditório, já que a criação é uma actividade solitária.

Cocteau prefere os aforismos, território que lhe é mais familiar e que domina com prazer e razão. “A falsa solidão é a torre de marfim”, para a logo a seguir completar: “A torre de marfim é sempre um desejo de espectáculo”. Tudo não passaria de exercícios de paradoxos elegantes se não rematasse com um lugar-comum – logo, verdadeiro: “A verdadeira solidão está no meio de muita gente”.

De facto: a solidão é não estar sozinho. Muitas vezes nem sequer é ser solitário, porque esta ontologia da solidão pode existir derivada a uma escolha do individuo. Melhor ainda: a sua ostentação é muito sedutora.

Como descobri por mim próprio e de forma involuntária, o tipo sozinho no fundo do balcão desperta mais curiosidade do que o rei da pista de dança. Mas não quero falar outra vez de Sinatra.

Está tudo registado, felizmente. Desde os tempos bíblicos até agora são tantas as declinações que é impossível aferir uma definição – e por extensão, uma qualquer pureza – do que é a solidão. Eu e o leitor temos sorte. A nossa solidão, qualquer ela que seja, é feita de costas quentes, de família, amizades, escolhas. Mesmo quando confundimos estar só com ser livre – e agora falo por mim – sabemos balizar a geografia da ausência do Outro, isso sim comum a todas solidões. Estes dias pandémicos ofereceram-nos violentamente a verdade desta proposição. E também a forma como fugimos desse espelho como o diabo da cruz.

Gosto de estar sozinho mas a verdadeira solidão, para mim, parte de uma vocação mística, desejada. Ou ainda mais difícil, aceitada. Escrevo não só pela obsessão, que a tenho – nascemos sós, morremos sós etc – mas que é uma afectação trivial quando comparada com a vida que nos atiram à cara. Explico: li a história de um cidadão nonagenário que perdeu a mulher que amou e com quem partilhou os dias até ao fim. Agora não tem nada. Arrasta-se pelos lugares que lhe são familiares com um vazio irreversível. Quando perguntado diz que já nada lhe interessa, mesmo rodeado de quem o estima. À excepção de um momento ritual e ansiado: aqueles instantes diários em que com um ramo de flores se dirige à campa da mulher e com ela fala. Sem ninguém a rodeá-lo, absolutamente sozinho e sim, repito: todos os dias.

É uma história que parece triste mas não conheço uma solidão que desejasse tanto, que tanto me obceca. Esta vontade de estar perto da ausência do Outro que amamos ou louvamos, sem ruído, sem mundo. Saber enfim que a solidão nunca estará sozinha.

Há os homens

Santa Bárbara, Lisboa, quinta, 13 Agosto

 

[dropcap]O[/dropcap] mundo não acabou para a Notre Dame de Paris, mas algo se perdeu nas chamas. Assim o mundo rural não acabará, apesar de morrer a cada verão incendiado. Se nas ondas revoltas se naufraga, que palavra espelha o afogamento em mar de chamas? Ardência? Nem todos os finais são abruptos, há formas de ir soltando ser, deixar pele nas silvas, aguentar o amargo do fracasso, o fel da injustiça, a banalidade da desorientação. A Notre Dame não perdeu o seu anjo, aquele que sopra trompa como continuação do corpo, seta disparada ao chão na vez de atirada aos céus, e assim se toca anunciando, a graça ou o fim. Aquando do incêndio do ano passado circularam fotos nas quais com olhar se infantil se vislumbrava anjo de fumo abraçando o pináculo em chamas, figura interpretando o tema derradeiro do instrumento. Blaise Cendrars não desdenharia a potência da imagem, a profecia do gesto. Afinal, já no final de outro século, em 1917 (o século extingiu-se na Grande Guerra e não na folha do calendário) nos dava a ver «O Fim do Mundo Filmado pelo Anjo N(otre) – D(ame)» (edição da Assírio & Alvim, com tradução de Aníbal Fernandes). Os desenhos de Fernand Leger no original fazem paisagem com corpos e letras, palavras, fazendo com elas catedral, cidade, caos. Desfazendo o cima e o baixo, as orientações e os sentidos, brotando em cores básicas do vale das páginas. As letras são estilhaços do fim do mundo. E o Anjo ergue-se sobre o seu sopro, desloca-se empurrado pelo som. Blaise intuiu que o cinema havia acabado de se criar para registar o epílogo, como a revolução foi televisionada e este apocalipse quedo brotou das redes e do santo algoritmo. Mas aquele mundo de antanho havia de ser superprodução com figurantes sem conta e a natureza a recriar-se perante os olhos dos espectadores por haver. No tradicional lugar comum do finamento a vida de cada um passa-lhe em filme, revisão da matéria vivida. Neste do Anjo N.-D. tratou a natureza de se rever em jogo de formas geométricas e orgânicas. «Tudo espirra. Tudo se mistura. Pan. Demónio. O mar oleoso, pesado como asfalto. A terra enegrecida, sangrenta, a liquefazer-se. As ondas transformam-se em montanhas e os continentes afundam-se. Torvelinho.» O crescendo termina quando «o último raio de luz corta o espaço caótico como a barbatana de um tubarão…» Cabe à luz, parceira do verbo nos inícios bíblicos, o papel de ultimar. Um fogo largado à aparelhagem põe o filme a correr às arrecuas. E o Deus-pai de todos os princípios e também deste fim do mundo regressa, capitalista de charuto e automóvel de luxo que havia espoletado tudo com uma grande feira de religiões em Marte. Retrato dos dias nossos nos dai hoje, veja o leitor se não somos de Marte. «A multidão dos Marcianos comprime-se à frente da cavalgada. Vemo-los nas bolas de sabão que lhes servem de habitáculo, como imponderáveis fetos metidos em frascos. Matizam-se como camaleões e adquirem cores, de acordo com os sentimentos que os agitam.» Só que Deus excedeu-se e a feira apresenta-se «demasiado vulgar», uma orgia de anúncios e música em altos berros, o horror dos espectáculos, de certas cenas, dos sacrifícios dos animais, a repugnante exposição dos mártires, a fixidez das máscaras, a crueldade das danças, «todos os meios ferozmente sensuais explorados nesta grande parada das religiões» assustam os marcianos que fervem e explodem empurrando Deus para o deserto onde resolve concretizar as profecias. O homem certo para o «trabalhinho» é o da câmara de filmar, que assim começa a descrever-erguer a cidade-mundo . Aliás, as cidades ajuntam-se frente a Notre Dame de Paris até que o Anjo incha as bochechas. «Tudo o que os homens construiram desaba imediatamente sobre os vivos e soterra-os. Só que ainda tem um resto de vida mecânica resiste mais dois segundos. Vemos comboios andar sem comando, maquinas rodar em vazio, aviões cair como folhas mortas.» Depois o cinema, «acelerado e ao retardador», o da natureza. São frases curtas, lâminas em torvelinho. Descrições exactas, que me fazem hesitar entre Godard e Malick para assistentes de realização. Desnecessários, que o texto revela-se bem, boa companhia neste deserto atravessado a nada. Blaise pariu-o de jacto, «a minha mais bela noite de escrita», sem emenda nem remédio, para nunca se desfazer em luz projectada. Além do brilho próprio, claro. Tinha 30 anos, era editor e estava a fazer contas à vida.

«Hoje, que já não acredito em nada, a vida não me suscita mais horror do que a morte, e vice-versa.
Fiz a pergunta a todos os meus amigos: “Estás pronto a morrer agora mesmo?” Nunca nenhum deles me respondeu. Eu estou pronto; mas também estou pronto a viver mais cem mil anos. Não será a mesma coisa? (…)

Há os homens. Não nos devemos levar muito a sério.»

Santa Bárbara, Lisboa, quinta, 27 Agosto

Homens há que semeiam no deserto. Dia 8 de Setembro nascerá, ali para Alvalade, novo lugar de cultura, sobretudo fotográfica, com foco e desfoque no fotojornalismo. Francisco Leong, Luís Filipe Catarino, Jérôme Pin e o Bruno [Portela] são as almas penadas que assombrarão o CC11, começando com a exposição «Diário de uma pandemia». Pediram a este escriba que olhasse para dúzia e meia de (façanhudas) capas de jornais e revistas tugas.

«A coreografia revela confrontos, ou melhor, idas e vindas, aproximações e cruzamentos, enfim, dança entre drama e quotidiano, apelos tonitruantes ao épico e a voz baixa do trivial, o dentro e o fora, a vista de longe e o íntimo, heróis e líderes, o tudo na mesma no miolo da excepção.

Torna-se fascinante acompanhar os olhares dos fotógrafos sobre o vazio. Os viadutos, lugar de passagem, canal para o sangue que alimenta a grande máquina em movimento contínuo, tornaram-se traços na paisagem. O homem só em plano próximo repete-se à exaustão. Não apenas como metáfora brilhando sobre a humana condição, mas ligando-o ao acontecimento, essa notável mestria do fotojornalismo. O primeiro plano daquele que passa tem como fundo um santuário das multidões. Que lugar para a fé neste instante? O indivíduo que cruza infindável passeio sob viadutos e prédios altos de cidade futurista leva de sacos de compras, a única razão de saída, e, está bem de se ver, máscara.»

Mouriscas, Abrantes, sábado, 30 Agosto

Alguém passa na estrada e o Cão Tinhoso, depois de coçar com a pata de trás a pulga das obsessões, estica ao máximo a coleira da ignorância e rosna a quem passa, a tudo o que mexe. Baba-se no gesto que lhe parece absoluto e vocacional, ao serviço da mais alta missão moral. Meio cego com a febre da carraça, não distingue a motoreta velha do assaltante ágil, cospe latidos que ecoam pestilentos no quintal a que chama mundo. Há sempre uma alma caridosa que lhe atira restos, não tanto para lhe matar, mas por apreciar o grande circo do patético. Que bem fica a cambalhota da dissonância no deserto!

EPM | Escola pede a pais que declarem o saldo do cartão interno

[dropcap]A[/dropcap]pós o ataque informático à Escola Portuguesa de Macau (EPM) em Abril, a direcção enviou, esta segunda-feira, o primeiro comunicado sobre o assunto aos pais dos alunos. Na mensagem, é sublinhado que os dados que foram encriptados não contêm informações sobre contas bancárias, cópias de assinaturas ou documentos de identificação e é pedido aos encarregados de educação que declarem à instituição o montante que os filhos tinham no cartão electrónico interno.

Foi em Abril do ano passado que a base de dados do programa informático GIAE da EPM foi vítima de um ataque informático, que impediu o acesso aos dados. Face à incapacidade de descodificar a informação, os dados sobre os alunos ficaram inacessíveis e tiveram de voltar a ser colocados numa nova plataforma. Um aspecto reconhecido na missiva enviada aos encarregados de educação. “Com o objectivo de desbloquear a referida base e aceder aos dados ali armazenados, têm sido desenvolvidos esforços por empresas especializadas, contudo, até ao momento, sem sucesso”, é reconhecido, na carta a que o HM teve acesso.

“Por esta razão, foram de novo introduzidos os dados referentes à aplicação do aluno, designadamente identificação, turmas, disciplinas, docentes, horários, transferências e avaliações”, é acrescentado.

Além dos vários desafios práticos, a EPM reconhece que não tem meios para saber o montante que os alunos tinham nos cartões electrónicos e que são utilizados para os pagamentos internos. Neste sentido foi pedido aos encarregados de educação que declarem o montante: “Enquanto os dados se mantiverem encriptados não nos é possível conhecer os respectivos saldos [dos cartões electrónicos]. Por este motivo, solicitamos a V. Exa. que, até ao dia 11 de Setembro, declare nos serviços administrativos da EPM o saldo do cartão do seu educando ou, caso o desconheça, o montante referente ao último carregamento”, é requerido.

Com tranquilidade

Apesar de o ataque ter acontecido em Abril, e sido comunicado às autoridades apenas meses depois, em Agosto, a carta datada de 31 de Agosto é a primeira comunicação directa da direcção da EPM com os encarregados de educação.

Neste documento, o ataque informático é explicado com um programa “ransomware” que fez com que a base de dados fosse encriptada. Normalmente, este tipo de programas informáticos é acedido através de mensagens de correio electrónico ou portais online e faz com a informação seja encriptada e escondida com uma palavra passe. No entanto, para aceder à palavra de acesso o utilizador tem de pagar aos criadores do ransomware.

Face à situação, a escola optou por pagar a especialistas para tentarem decifrar a encriptação, mas até agora sem sucesso. Porém, a direcção tenta deixar os encarregados tranquilizados em relação às informações que foram envolvidas no ataque: “Aproveitamos para informar que a base de dados do programa GIAE não contém dados de contas bancárias, nem cópia de assinaturas ou documentos de identificação”, é afirmado.

Betchy Barros, cantora e uma das criadoras do evento “Rootz”: “A música em Macau está incrível”

A pandemia da covid-19 fê-la regressar de Londres mais depressa do que estava à espera. Depois de um curso em ciências biomédicas que ficou por terminar, Betchy Barros deu ouvidos à sua paixão de sempre e foi estudar música no Reino Unido. De regresso à sua Macau, a cantora e compositora está a dar os primeiros passos nos palcos, estando também envolvida na criação do evento “Rootz”

 

[dropcap]D[/dropcap]a música de Cesária Évora, cantada à capella com 16 anos, até aos palcos mais profissionais foi um longo passo, mas que fez e que continua a fazer todo o sentido. Betchy Barros, guineense que vive em Macau desde bebé, regressou há pouco de Londres onde estudou música. Assume-se como cantora neo-soul, mas não só, apostando na diversidade.

O nome Betchy Barros tem surgido em vários eventos com artistas locais nos últimos tempos. Primeiro, foi a convite do colectivo Dark Perfume, agora é com o evento “Rootz”, que acontece esta sexta-feira no espaço Live Music Association. Um evento que ela própria ajudou a criar em parceria com o seu irmão, o rapper Tony Barros, e outros artistas de Macau.

“Estamos a tentar incorporar noites que sejam divertidas para as pessoas saírem da rotina e conhecerem novos artistas. Em Macau faltava muito o valor dado aos artistas locais, porque normalmente eram sempre bandas que vinham de fora. Agora estamos a focar-nos no que temos em casa. Está a ser uma experiência fantástica porque isso está a abrir portas para outros eventos”, confessou ao HM.

Com as fronteiras praticamente fechadas, Macau olha então para si própria no que ao mundo da música diz respeito. “Não tínhamos valor e as pessoas vão começar a dar-nos uma maior oportunidade. Está a haver uma grande mudança no meio artístico de Macau para melhor. Todos devem ter o seu devido valor, tanto os artistas locais como os de fora”, disse Betchy Barros.

A cantora não tem dúvidas ao afirmar que a música em Macau “está boa, está incrível”. Com o “Rootz”, Betchy Barros e os restantes organizadores querem também apostar na música africana, um estilo musical “que as pessoas de todo o mundo têm estado à procura”.

“Queremos fazer uma noite de hip-hop, o que vai atrair estudantes e muitas pessoas com um background lusófono”, frisou.

Aretha, Eta, Alicia

Muito antes de interpretar temas de Cesária Évora, a diva de Cabo Verde, já Betchy Barros cantava de forma amadora. Aos 18 anos, cantou com o músico local Fabriccio Croce. Quando chegou a altura de entrar para a universidade ignorou a sua paixão e entrou no curso de ciências biomédicas em Portugal. Mas foi sol de pouca dura. Acabou por abandonar o curso e foi estudar música para o Reino Unido.

“Escrevo as minhas próprias músicas, mas também canto músicas de outros artistas. Tenho mais influência do soul, algum jazz, mas comecei por cantar músicas tradicionais de Cabo Verde e da Guiné-Bissau”, adiantou.

As suas influências passam por nomes como Alicia Keys, Eta James ou Aretha Franklin, mas Betchy assume não querer assumir-se exclusivamente como uma cantora de neo-soul. “Gosto muito de pop jazz também.

Oiço um pouco de tudo e por isso não gosto de me meter numa só categoria, de que sou uma artista de neo-soul. Sou mais influenciada por isso, e a maior parte das músicas que canto são desse género, mas estou sempre disposta a cantar todo o tipo de estilos de música.”

Betchy Barros tem vindo a ser convidada para vários espectáculos e confessa que está a ter “uma experiência interessante”. “É algo que me deixa extremamente feliz porque achei que não ia ter oportunidade de cantar, por estar tudo parado. Mas as coisas têm corrido bem e conto cantar na Lusofonia, que é uma coisa que me deixa muito entusiasmada, porque sempre foi um sonho meu”, adiantou.

Com um EP gravado no âmbito do curso e com uma música disponível na plataforma Spotify, Betchy Barros quer ter a sua própria banda. “Torna-se difícil cantar ao vivo todas as minhas músicas porque acho que elas ficam melhor com uma banda. Faço alguns covers, mas também canto algumas músicas minhas. No futuro quero fazer as duas coisas, porque também gosto de cantar as músicas de outras pessoas. Mas o que mais interessa é que eu sinta a música e que o público goste”, acrescentou.

Para Betchy Barros, estar em Macau constitui uma oportunidade de construir uma carreira como cantora. “Estou a sentir o valor que Macau me está a dar, e sabe bem. Em Londres e em Portugal competimos com muitas pessoas ao mesmo tempo. Aqui, devido ao coronavírus, tenho tido imensas oportunidades e sinto-me valorizada. Sinto-me como se estivesse a fazer algo que não há muitas pessoas a fazer.”

O irmão rapper

Tony Barros é irmão de Betchy e outro dos criadores do evento “Rootz”, estando a sua actuação prevista para o evento de sexta-feira. No entanto, o artista é peremptório ao afirmar que o rap é apenas uma forma de “alívio”, “uma forma de terapia”. “Se der, deu, mas não olho para o rap como sendo o meu caminho. O meu caminho é ser actor”, aponta.

As suas composições são também algo muito pessoal. “Escrevo sobre o que estou a sentir no momento, e geralmente relaciona-se com as coisas que pesquiso. Gosto muito de psicologia do inconsciente, as reacções humanas. Os meus tópicos preferidos são a família, o self-improvement e a psicologia.”

Com o evento “Rootz”, Tony Barros pretende “re-introduzir a música africana em Macau”. “Quando era mais novo os meus pais saíam à noite para o New Century, onde havia festas de música africana. Hoje em dia as pessoas estão a ouvir mais o afrobeat e acho que vai ser um bom começo para nós”, rematou.

Casinos registam quebra de 94,5% em Agosto

Apesar da retoma na emissão de vistos turísticos, primeiro de Zhuhai e depois de Guangdong, as receitas brutas dos casinos de Macau totalizaram em Agosto 1.330 milhões de patacas, o terceiro pior registo do ano até agora

 

[dropcap]É[/dropcap] mais um capítulo do lento e penoso caminho rumo à recuperação. De acordo com dados divulgados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), em Agosto de 2020, as receitas brutas dos casinos de Macau registaram uma queda de 94,5 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado, totalizando cerca de 1.330 milhões de patacas. Isto, dado que em Agosto de 2019, as receitas brutas mensais foram de 24.262 milhões.

O registo de Agosto de 2020, apesar de semelhante em termos percentuais quando comparado com Julho, é ainda assim, ligeiramente pior ao nível da receita bruta mensal, já que a facturação do mês anterior foi de 1.344 milhões de patacas. Feitas as contas, Agosto assume-se até agora como o terceiro pior mês de 2020, depois de Abril, quando as receitas foram de 754 milhões de patacas e Junho, quando os resultados indicaram 716 milhões de Patacas.

Quanto à receita bruta acumulada de 2020, segundo os dados da DICJ, registaram-se perdas de 81,6 por cento, nos primeiros oito meses do ano. Isto, dado que o montante global gerado de Janeiro a Agosto de 2020 foi de 36.394 milhões de patacas, ou seja menos 161,824 milhões de patacas do total acumulado nos primeiros oito meses de 2019 (198,218 milhões).

De notar que o impacto da retoma de emissão de vistos turísticos, individuais e de grupo, a 12 de Agosto desde Zhuhai e a 26 de Agosto desde a província de Guangdong, não se reflectiu nas receitas de jogo do mês passado, tal como previram alguns especialistas do sector. Recorde-se ainda que a China está a planear autorizar a emissão de vistos turísticos para Macau a todo o país, a partir de 23 de Setembro.

Na altura dos anúncios, feitos no início de Agosto, analistas citados pela agência Lusa disseram que apesar de ser “uma grande notícia” para o sector, avisaram que a recuperação ainda vai demorar.

“Vai ser uma grande ajuda para Macau. É uma grande notícia, mas vai ser um longo caminho para chegar ao nível dos resultados de 2019”, antes da pandemia do novo coronavírus, sublinhou na altura Ben Lee, analista da consultora de jogo IGamix.

Ano perdido

De acordo com dados divulgados na segunda-feira por analistas da Sanford C. Bernstein Ltd e citados pela TDM-Rádio Macau, no final de 2020, as receitas brutas de jogo dos casinos de Macau devem registar perdas anuais de 71 por cento.

A previsão corrobora também as perspectivas mais conservadoras relativamente ao impacto para o sector da abertura das fronteiras e da retoma da concessão de vistos turísticos, sobretudo quanto à recuperação do segmento de massas e premium, que será feito a um ritmo lento

Até chegar ao ponto em que a emissão de vistos turísticos passou a ser uma realidade, Macau sofreu uma quebra sem precedentes, tanto na exploração dos casinos como na entrada de visitantes desde final de Janeiro, quando se verificou a primeira vaga de casos de covid-19 detectados no território.

IAS admite fechar creche caso se confirmem maus tratos em crianças

O presidente do IAS, Hon Wai admitiu ontem encerrar a creche Sun Child Care Centre, na Praia Grande, se a investigação policial confirmar que os três casos reportados na instituição estão relacionados com maus tratos em crianças. Desde o início do ano, foram registadas, no total, quatro queixas de maus tratos em creches

 

[dropcap]A[/dropcap] creche Sun Child Care Centre, na Praia Grande, pode vir a fechar portas, caso venha a ser confirmado que os três casos reportados na instituição desde o início de Julho estão relacionados com maus tratos, ficando assim provada a negligência, falta de experiência ou intenção de magoar as crianças.

A garantia foi dada ontem pelo presidente do Instituto de Acção Social (IAS), Hon Wai, à margem da cerimónia de abertura do centro de dia, Ji Cing do Povo.

“A instituição ainda está em funcionamento, porque aguardamos os resultados da investigação que está a ser levada a cabo pela polícia. Caso se confirme que existe erro do pessoal da creche, vamos aplicar uma suspensão preventiva, mas precisamos de ter provas suficientes que confirmem ser esse o caso”, referiu Hon Wai.

Recorde-se que desde o passado fim-de-semana que circula nas redes sociais o caso de uma criança alegadamente ferida na creche Sun Child Care Centre, sendo que os maus tratos foram revelados pela própria mãe, através de uma fotografia onde podem ser vistas várias nódoas negras nos braços da criança.

Na sequência do eco provocado pela situação nas redes sociais, veio a confirmar-se que se trata do terceiro caso a ser reportado no mesmo estabelecimento de ensino, que pertence ao Grupo Sun City, sendo que as primeiras queixas foram feitas no início de Julho.

Seguir o padrão

Aos jornalistas Hon Wai revelou ainda que, desde o início do ano, o IAS recebeu, no total, sete queixas relacionadas com creches. Destas, quatro dizem respeito a suspeitas de maus tratos em crianças, sendo que já veio, entretanto, a ser confirmado que uma das situações está relacionada com “a queda de uma criança no chão”.

As outras três queixas estão ainda a ser investigadas e dizem respeito à Sun Child Care Centre. “Ainda precisamos de avaliar se as queixas têm fundamento. Não somos a polícia e, por isso, só podemos analisar as situações sob o nosso âmbito de trabalho. Como a polícia ainda está a investigar os casos, não é apropriado fazer mais comentários”, acrescentou o presidente do IAS.

Hon Wai disse ainda que, no presente ano lectivo, as atenções estão sobretudo viradas para as creches privadas, dado que as creches subsidiadas estão parcialmente abertas, desde que foi anunciado que as crianças com menos de três anos não podem frequentar estas instituições.

Recorde-se que na passada segunda-feira Melody Lu, professora do departamento de sociologia da Universidade de Macau (UM) disse ao HM considerar a situação “alarmante” por terem aparecido vários casos na mesma creche, sem que nada tivesse sido feito, defendendo que devia ser implementado um mecanismo centralizado para lidar com este tipo de situações.

Cinemateca | Experiência passada continua a ser tabu em dia de reabertura

A Cinemateca Paixão voltou ontem a abrir portas com uma programação dedicada aos clássicos. “Singin’ in the Rain” fez as honras, numa reabertura onde a falta de informação sobre a nova gestão na área do cinema continuou a ser tabu. Cineastas presentes no evento consideram que é preciso “dar o benefício da dúvida” e que o mistério faz parte de Macau

 

[dropcap]”N[/dropcap]ão sei se já viram o Casablanca? Macau tem uma história de 500 anos de relações entre Portugal e a China, com intervenções holandesas, inglesas e vários períodos de guerra. Esta é a cidade do mistério, por isso temos de ver o que vai acontecer”. As palavras são do realizador Maxim Bessmertny, após ter sido questionado sobre as expectativas que tem para “o filme que aí vem”, tendo em conta os primeiros “minutos” misteriosos da nova gestora da Cinemateca Paixão, a Companhia de Produção de Entretenimento e Cultura In Limitada.

Apesar das dúvidas, o realizador espera que a In Limitada exiba uma programação de qualidade, capaz de unir o público que gosta de cinema, sobretudo num contexto difícil, marcado pela pandemia.

“Esperamos ver cinema e filmes que nos juntem a todos. Nestas alturas é que as gentes precisam de algo que as junte, porque o cinema sempre foi uma força. Em tempos difíceis, como aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, o cinema consegue mostrar o que temos em comum”, referiu Bessmertny.

Intitulado “Uma carta de amor ao Cinema: Produção cinematográfica nos grandes ecrãs”, o primeiro evento desde que a In Limitada assumiu as rédeas da Cinemateca Paixão, inclui uma selecção de clássicos e obras-primas de diferentes países e Eras. O primeiro dia do festival começou com a versão remasterizada de “Singin’ in the Rain” e inclui também obras de Fellini (“Otto e Mezzo”) e Woody Allen (“The Purple Rose of Cairo”).

Esperanças e ausências

Sobre a experiência da nova equipa na área do cinema, Jenny Ip, a nova gestora de operações da Cinemateca voltou a frisar que a confidencialidade dos clientes é a principal razão para não se saber mais sobre o passado da empresa.

“Gostávamos de revelar mais mas, como o público está a prestar muita atenção à nossa experiência passada e projectos, os nossos clientes pediram confidencialidade. Esperamos que o público vire o foco para a nossa nova equipa, porque agora somos nós os responsáveis pela Cinemateca Paixão. Esperamos trazer uma nova energia e uma boa programação para o público”, afirmou Jenny Ip.

Sobre o que esperar da actuação da In Limitada e as críticas acerca da falta produções locais e independentes, o produtor Jorge Santos, que também marcou presença no evento de reabertura, afirma que é preciso “dar o benefício da dúvida” e que ficou curioso com o facto de a programação de Setembro ser dedicada ao cinema clássico.

“Não sei se falta cinema independente ou local, isto começou hoje [ontem], portanto não faço ideia qual será a programação para o futuro. Suponho que a dada altura vão passar cinema local, não vejo razão para não passar”, apontou.

Sobre o trabalho da anterior gestão, Jorge Santos não tem dúvidas que a CUT “fez um trabalho muito interessante”, com ciclos originais “de todo o mundo”.

Já Bessmertny lembra que a CUT “continua a fazer bons eventos para a comunidade” e espera que a nova gestora apresente bons e novos filmes para oferecer “aos amantes do cinema de Macau”.

Questionada sobre se os proprietários da In Limitada marcaram presença na reabertura da Cinemateca, Jenny Ip referiu que não vieram “porque têm outros negócios a tratar”, apesar de “terem apoiado muito a reabertura”.

IPIM não aprovou nenhum pedido de residência no primeiro trimestre

[dropcap]D[/dropcap]urante os primeiros três meses de 2020, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) não aprovou qualquer pedido de fixação de residência de investidores, quadros dirigentes e técnicos especializados. Além disso, dados do IPIM, mencionados numa interpelação escrita de Chan Hong, revelam que no primeiro trimestre foram submetidos 131 pedidos de renovação, sem informação quanto ao número de pessoas autorizadas a permanecer.

O IPIM não aprovou 15 pedidos de residência, dois deles submetidos por investimento considerável, uma rejeição de quadros dirigentes ou técnicos especializados, 11 de renovação de pedido e dois de extensão de residência para familiares. Ao longo do primeiro trimestre todos os pedidos aprovados, 34, foram respeitantes a renovações.

Em interpelação, Chan Hong destacou a “falta de clareza na regulamentação relativa a importação de talentos do exterior e de rigor na apreciação e autorização dos pedidos”, e questionou como o Executivo reduzir irregularidades.

O IPIM referiu que para os casos de investimento relevante serão realizadas inspecções ao local onde a empresa labora, para verificar se estará efectivamente activa e a funcionar de forma correspondente ao processo.

Em relação aos quadros especializados, a fiscalização será feita em cooperação com a entidade patronal.
Uma das preocupações demonstradas pela deputada é relativa aos requerentes de renovação que submeteram documentos que já passaram do prazo, sem terem sido notificados da decisão do IPIM. Chan Hong alerta para a possibilidade de Macau se arriscar a perder talentos por deixar estas pessoas numa situação indefinida, sem saberem se podem permanecer no território.

Com os próprios olhos

Por outro lado, o IPIM vai permitir que os candidatos acompanhem o processo de candidatura pela internet. Em resposta à interpelação do deputado Pang Chuan, o organismo que se encontra debaixo de fogo num dos processos judiciais mais polémicos do momento referiu que o sistema vai ser refinado, permitindo ao candidato saber se tem de submeter documentos adicionais e entrega-los pela internet.

O deputado interpelou o Executivo para a necessidade de acelerar a renovação de bilhetes de identidade, lamentando que se “descure a importância dos quadros já importados” e “deixando preocupados os que podem pensar vir a contribuir para o desenvolvimento de Macau”.

Restauração | Deputados querem senhorios com poder para cancelar licenças

Chan Chak Mo afirma que muitos arrendatários de restaurantes e bares exigem dinheiro aos senhorios para permitirem que os espaços possam ser arrendados a outras pessoas

 

[dropcap]O[/dropcap]s deputados querem aproveitar a nova lei da actividade dos estabelecimentos hoteleiros para reforçar os poderes dos senhorios dos espaços onde funcionam os restaurantes e bares. O desejo foi revelado pelo presidente da 2.ª Comissão da Assembleia Legislativa, Chan Chak Mo, que aponta que é necessária uma solução para lidar com os “arrendatários trapaceiros”.

Em causa está a morada da licença dos restaurantes e bares que faz com que os espaços não possam ser arrendados para outros negócios, sem que a morada da licença seja alterada ou cancelada.

“A questão dos arrendatários trapaceiros afecta muito os senhorios, porque uma vez findo o contrato de arrendamento, se a licença continuar em vigor e se o titular da licença não pedir o cancelamento, o proprietário não pode arrendar o estabelecimento a outra pessoa”, defendeu Chan Chak Mo. “Por este motivo, o proprietário acaba por ter de negociar com o arrendatário, a quem pede para cancelar a licença […]

O proprietário acabam sempre por ter de pagar algum [dinheiro ao arrendatário para poder arrendar o espaço a outra pessoa], acrescentou.

O deputado considerou ainda que este problema tem uma dimensão muito maior do que aquela que é conhecida porque “muitos [senhorios] nem notificam o Governo” sobre a situação uma vez que já sabem que o Executivo “não consegue resolver a situação”.

Recuo do Executivo

Na versão votada na generalidade da lei actividade dos estabelecimentos hoteleiros, o Governo tinha incluído uma alínea que permita ao proprietário cancelar a licença do restaurante. Para este efeito, tinha de ser provado que o contrato de arrendamento tinha chegado ao fim e que o dono do restaurante já não podia usufruir do espaço.

Porém houve um recuo do Executivo por motivos burocráticos. Segundo a explicação do Governo ao deputados, as licenças dos restaurantes não podem ser canceladas a pedido do senhorio sem que os donos da licença sejam avisados, para poderem contestar. Ao mesmo tempo, o Governo admitiu que não consegue notificar os donos das licenças em tempo útil, principalmente quando se tratam de empresas ou pessoas no exterior. Foi por este motivo que deixou cair esta proposta.

Face a este cenário, os deputados da comissão insistem que o Governo tem de arranjar uma solução e o Executivo comprometeu-se a ponderar uma alternativa. “O Governo disse que vai ponderar e que talvez na próxima versão apresente uma solução”, indicou Chan.

Terapia da fala | Governo admite contratar TNR perante falta de terapeutas

[dropcap]O[/dropcap] Governo admite contratar terapeutas da fala não residentes para fazer face à insuficiência destes profissionais no território, ao mesmo tempo que desenvolve sistemas de inteligência artificial para auxiliar crianças com transtornos da linguagem.

O anúncio foi feito em resposta a uma interpelação escrita apresentada pela deputada Ella Lei Cheng I, questionando o Executivo sobre a escassez de terapeutas da fala. Isto numa altura em que os profissionais residentes em Hong Kong, contratados “para atenuar a carência”, “não podem deslocar-se a Macau” por causa das restrições instauradas para combater a propagação da pandemia de covid-19.

A deputada também questionou “a oferta e a procura” de terapeutas para os próximos cinco anos. Na resposta, o Governo admitiu que, “para fazer face a essa insuficiência de terapeutas”, o Instituto de Acção Social (IAS) “permite que, caso seja necessário, os equipamentos sociais possam solicitar e recrutar um número adequado de trabalhadores não residentes”.

O executivo sublinhou, no entanto, que se trata apenas de “uma solução de curto prazo”, na “condição de salvaguardar as oportunidades e os benefícios de emprego dos residentes locais”.

O Governo confirmou igualmente que, “devido ao impacto da pandemia do novo coronavírus”, os terapeutas recrutados em Hong Kong “não podem temporariamente vir prestar serviços no território”. Por essa razão, o IAS encaminhou os “utentes afetados para receber tratamentos em entidades apropriadas no território”.

Até 31 de Julho havia 230 utentes, com idade igual ou inferior a três anos, “a receber os serviços do IAS e das instituições de intervenção precoce, não se encontrando de momento ninguém na lista de espera”. De acordo com dados do Governo, o território contava no último ano lectivo com 18 terapeutas da fala, além de 23 fisioterapeutas e 46 terapeutas ocupacionais, que prestaram serviços em escolas oficiais e particulares com turmas do ensino especial. O número de terapeutas da fala caiu este ano para metade, com apenas nove a prestar serviços até Abril.

O Governo recordou que o Instituto Politécnico de Macau tem um curso de licenciatura em Ciências de Terapia da Fala e da Linguagem, “com o objectivo de formar quadros profissionais locais nesta área, aliviando a procura” em Macau. “Actualmente, o número de estudantes inscritos é de 68”, informou o Governo, que prevê que os primeiros 16 licenciados concluam o curso em 2021.

Residente de Hong Kong com passaporte português detido em Shenzhen

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades portuguesas disseram hoje à Lusa que um residente de Hong Kong, detentor de passaporte português, estará detido em Shenzhen “por travessia ilegal da fronteira”.

“O Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong foi informado que o sr. Tsz Lun Kok, natural e residente na RAEHK [Região Administrativa Especial de Hong Kong], detentor de passaporte português, se encontrará detido em Shenzhen por travessia ilegal da fronteira ao sair de Hong Kong, por via marítima, com destino a Taiwan”, de acordo com uma nota enviada à Lusa.

O consulado português lembrou que a China reconhece “o passaporte português apenas enquanto documento de viagem não atributivo da nacionalidade”, o que limita a intervenção das autoridades portuguesas “ao domínio humanitário, procurando assegurar que o detido se encontra bem, que lhe seja dispensado um tratamento digno e que possa ser defendido por um advogado”.

Por outro lado, as regras internacionais que “regem as relações consulares entre os Estados no que respeita à proteção consular de cidadãos detentores de dupla nacionalidade, a assistência consular por parte deste Consulado Geral fica formalmente excluída nos casos em que os indivíduos em questão se encontrem no país da sua outra nacionalidade”.

O cônsul geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, indicou que “em coordenação com a Embaixada de Portugal em Pequim e com o Consulado Geral de Portugal em Cantão, estão em curso contactos com as autoridades competentes da República Popular da China”.

Na segunda-feira, a polícia de Hong Kong afirmou ter intercetado 12 pessoas no mar, envolvidas em “vários casos” na antiga colónia britânica, incluindo tentativa de fogo posto, posse de armas ofensivas, conluio com país estrangeiro, motins e posse de explosivos, de acordo com uma declaração citada pelo jornal norte-americano Washington Post.

Os tribunais de Hong Kong tinham proibido 11 daquelas pessoas de saírem da cidade e três eram procuradas, acrescentou a polícia.

O grupo de 11 homens e uma mulher, com idades entre os 16 e os 33 anos, pretendia chegar a Taiwan, tendo iniciado a viagem em 23 de agosto. Horas depois de terem partido, a embarcação foi apresada pela guarda costeira da província chinesa de Guangdong, a 50 milhas a sudeste da península de Sai Kung, noticiou o Washington Post.

De acordo com a polícia de Hong Kong, as 12 pessoas foram acusadas de entrarem ilegalmente em território chinês, encontrando-se detidas na China continental.

Entre os detidos e passageiros da embarcação, conta-se Tsz Lun Kok, de 19 anos, cidadão com passaporte português e estudante da Universidade de Hong Kong, segundo o diário.

O caso surge quase um mês depois da entrada em vigor, em 30 de junho, da lei de segurança nacional imposta ao território por Pequim.

Antigo Presidente da Índia Pranab Mukherjee morreu aos 84 anos após contrair covid-19

[dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente indiano Pranab Mukherjee, um veterano da política com grande reputação de negociador, morreu esta segunda-feira aos 84 anos, depois de ter contraído covid-19, informou a sua família. O antigo Presidente indiano estava hospitalizado há várias semanas após contrair covid-19 e morreu por falência geral dos órgãos.

Originário de Bengala, no nordeste da Índia, Pranab Mukherjee era um protegido da ex-primeira-ministra Indira Gandhi, que foi assassinada em 1984.

Pranab Mukherjee, do Partido do Congresso, tornou-se o braço direito do primeiro-ministro Manhoman Singh (2004-2014), servindo sucessivamente como ministro da Defesa, Negócios Estrangeiros e depois Finanças, ganhando a reputação de negociador de destaque.

Em 2012, Mukherjee assumiu a Presidência da Índia, permanecendo no cargo até 2017. O actual primeiro-ministro Narendra Modi, do rival partido nacionalista Bharatia Janaty, disse no Twitter que Pranab Mukherjee era “admirado por toda a classe política” e que deixou “uma marca indelével na trajectória de desenvolvimento” da Índia.

A Índia é o quarto país do mundo com mais caos de covid-19 registados, contando mais de 3,6 milhões infectados e 64.469 mortos.

Futebol | Shanghai SIPG, de Vítor Pereira, vence Tianjin Teda e consolida liderança

[dropcap]O[/dropcap] Shanghai SIPG, treinado pelo português Vítor Pereira, venceu esta segunda-feira por 4-1 o Tianjin Teda, para a oitava jornada do campeonato chinês de futebol, e consolidou a liderança do Grupo B da fase regular.

Os golos do Shanghai SIPG foram marcados pelo uzbeque Odil Akhmedov, aos 29 minutos, pelo brasileiro ex-FC Porto Hulk, aos 45, pelo austríaco Marko Arnautovic, aos 72, e pelo também brasileiro Óscar, aos 82, de grande penalidade. O Tianjin Teda atenuou a goleada com um golo de Zhao Honglüe, aos 90+3 minutos.

O Shanghai SIPG passa a somar 20 pontos na liderança do Grupo B, com seis de vantagem e mais um jogo do que o Beijing Guoan (segundo posicionado), que na terça-feira recebe o Chongping Dangdai Lifan (sétimo) para a oitava jornada.

O Tianjin Teda, que na jornada inaugural da primeira volta tinha perdido em casa por 3-1 com o Shanghai SIPG, somou nova derrota frente à equipa orientada pelo português Vítor Pereira e segue na oitava e última posição, apenas com um ponto.

O Shanghai SIPG desloca-se no sábado a casa do Hebei CFFC (quarto classificado, com 11 pontos), para a nona jornada, enquanto o Tianjin Teda recebe no domingo o Chongping Dangdai Lifan.

No limiar da vacina I

[dropcap]R[/dropcap]ecentemente, ficámos a saber que as pesquisas que decorrem em vários países para encontrar uma vacina contra a covid-19 atingiram um novo patamar. O Presidente russo Vladimir Putin afirmou que a vacina desenvolvida no país é eficaz e cria imunidade permanente. A filha de Putin foi vacinada e está a reagir bem; os responsáveis dos serviços sanitários russos adiantam que o próximo passo é a vacinação dos profissionais de saúde, dos professores e das pessoas pertencentes a grupos de risco.

O Presidente filipino Rodrigo Duterte congratulou os russos e expressou o seu desejo de cooperação. Declarou: “Direi ao Presidente Putin: confio bastante na vossa investigação ao nível da prevenção contra as epidemias e acredito que uma vacina produzida pelos russos será benéfica para os seres humanos.” Duterte acredita que a vacina russa vai estar disponível nas Filipinas em Dezembro próximo.

A Universidade de Queensland, na Austrália, também declarou já ter encontrado uma vacina. Na fase experimental a vacina foi testada em hamsters que desenvolveram uma quantidade maior de anti-corpos do que aqueles que recuperaram da infecção. Depois de expostos ao vírus, metade dos hamsters vacinados não contrairam a doença. No entanto, os que adoeceram apresentaram apenas sintomas ligeiros.

Segundo os dados da Organização Mundial de Saúde, no início de Agosto, havia 165 vacinas em fase de teste, das quais 26 em de ensaios clínicos, e 6 na fase III destes ensaios. As vacinas antes de serem comercializadas têm de passar pela fase III dos ensaios clínicos, para garantir a sua segurança; ou seja, quando os ensaios entram nesta fase, significa que as vacinas estão a ser testadas em humanos, mas não quer necessariamente dizer que estejam prontas para serem colocadas no mercado.

Estamos, portanto, numa fase em que os estudos estão avançados, mas em que ainda não existem certezas quanto à possibilidade de surgir uma vacina em breve. Contudo, a questão que reside por detrás do desenvolvimento das vacinas merece-nos uma análise mais cuidada.

Tomemos o exemplo do primeiro-ministro britânico que afirmou que a descoberta desta vacina é o objectivo número um de todos os seres humanos. Esta frase revela tudo. Se não for descoberta uma vacina o mais rapidamente possível, o número de pessoas infectadas vai crescer exponencialmente e as mortes também.

Assim, o desenvolvimento da vacina não é uma preocupação de apenas alguns países, é uma preocupação da humanidade no seu todo. As vacinas têm assegurado a saúde de todos nós. A sua descoberta confere sucesso e glória aos investigadores e aos seus países.

As vacinas previnem a infecção, não curam quem já foi infectado. Precisamos também de encontrar medicamentos para curar quem adoece com este vírus. Só com a descoberta da vacina e de tratamentos eficazes poderemos afirmar que a situação está sob controlo. Enquanto isso não acontecer, temos de continuar a usar máscara e a testar a população para reduzir o risco de contágio.

Mas, após a descoberta da vacina, vai levantar-se outra dúvida; a sua comercialização. Recentemente, Donald Trump comprou a totalidade da produção de um medicamento, produzido por laboratórios americanos, que comprovadamente tem efeitos positivos no tratamento do vírus. Irá esta situação repetir-se quando aparecer uma vacina? A Johnson & Johnson (JNJ-US) tem laboratórios que estão a trabalhar no desenvolvimento de uma vacina e, em Setembro, vai proceder a testes clínicos em 60.000 voluntários. Mas, no início de Agosto, o US Department of Health and Human Services fez um acordo com a Janssen, uma subsidiária da Johnson & Johnson, para garantir a aquisição de 100 milhões de doses e o direito de vir a comprar mais 200 milhões, por cerca de mil milhões de dólares. É normal que os Governos adquiram medicamentos para combater as doenças, mas quando se trata de um problema universal como a covid-19, será aceitável “preocuparmo-nos apenas connosco próprios”? Se o resto do mundo ficar doente, mesmo que os americanos estejam imunes, as suas vidas serão muito afectadas também.

A Organização Mundial de Saúde avançou com o “Plano de Emergência para Aquisição de Equipamentos de Combate à covid-19 ” para acelerar o diagnóstico e tratar o vírus e para regulamentar o desenvolvimento, a produção e a aquisição de vacinas. Além disso, a OMS implementou o “Covax – Programa Global de Vacinação Contra a Covid-19”. O objectivo é a produção 2 mil milhões de doses até ao final de 2021, das quais mil milhões serão oferecidas a países pobres. O Covax contempla um sistema partilhado de aquisição e de risco. Após a descoberta da vacina, os países membros obtêm as doses da vacina de acordo com o investimento feito.

Se um país for membro da OMS tem obrigação de respeitar esta decisão; no entanto, os países que sairam da Organização não são obrigados a respeitá-la; por isso, vamos ter países que acatarão esta directriz e outros que não o irão fazer. Perante este cenário, como é que a Organização Mundial de Saúde se irá posicionar?

Continua na próxima semana.

 

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

Tresler o mundo

[dropcap]O[/dropcap] escritor chileno Jaime Cruz criou uma desconcertante personagem em «Tresler o Mundo»: Carlos García. Cruz começa a sua narrativa assim: «Desde muito novo, Carlos García mostrava um talento ímpar para tresler o mundo. Nada do que via parecia ser aquilo que estava a acontecer na realidade. E as pessoas com quem estabelecia relações pareciam ser todas elas muito diferentes do que ele pensava que eram. O que para muitos poderia ser uma aprendizagem, ao dar-se conta de que erraram no seu juízo acerca dos outros e dos factos mudavam ou precaviam-se no futuro, para Carlos isso não só não acontecia como parecia acentuar-se. Como se tresler fosse o seu destino.» Faça-se aqui um parêntesis para clarificarmos o que está em causa subterraneamente. Em «Os Hinos de Hölderlin», Heidegger escreve: «O que se passa com o dizer “poético”, acontece de forma análoga – e não igual – com o dizer “pensante” da Filosofia. Numa verdadeira aula de Filosofia, não importa realmente o que é dito de uma forma imediata, mas sim o que é calado nesse dizer. Por conseguinte, podemos escutar e apontar aulas de Filosofia sem dificuldade, e mesmo assim podemos passar o tempo a ouvir mal – e isso não no sentido aleatório de compreendermos de modo incorrecto certas palavras e certos termos isolados, mas no sentido fundamental de ouvirmos mal na essência, de nunca repararmos de quê e para quem realmente se fala.» Ora, isto a que Heidegger se refere como acontecimento numa sala de aulas de Filosofia é o que acontecia com a vida de Carlos García, sempre e de cada vez que lia – ou escutava – os acontecimentos ou se aproximava de alguém de modo a estabelecer uma amizade. Ao longo do livro, nenhuma das pessoas com quem Carlos tenta estabelecer amizade se tornam amigos dele, pelo contrário, alguns até sentiam prazer em desprezá-lo, ou através de nunca lhe responder aos telefonemas ou aceitar os seus convites. E das poucas vezes que alguém se aproximava dele com sinceridade, Carlos dizia para consigo mesmo «Este deve pensar que me engana! Por acaso julga que sou parvo?» Talvez o mais trágico desta existência não seja o desprezo com que os outros o tratam, mas a necessidade lírica de que aquelas pessoas gostem dele. Aquelas pessoas que precisamente não gostam. E isto aconteceu desde a escola até ao emprego nos correios e aos «amigos» que encontrava nos cafés. Este «tresler o mundo», como escreve o autor, e que encontra eco nas palavras de Heidegger acerca de uma aula de Filosofia, não é apenas algo que acontece a Carlos García, mas a todos nós, de um modo mais ou menos acentuado. Escreve Jaime Cruz: «Talvez seja preciso não sentirmos os outros e os acontecimentos tão perto do coração, para que o acto de tresler não tome completamente conta de nós.» O que está em causa, para Jaime Cruz, através desta personagem trágica, não é apenas a característica humana universal para não nos darmos conta dos acontecimentos e dos outros, mas a vontade de querer que os outros e os acontecimentos sejam como nós os vemos. Carlos quer que gostem dele, não porque se sente só ou ache que merece, mas porque gosta dos outros. Gosta genuinamente dos outros. E gosta do mundo. Por isso «lê» determinados acontecimentos como ele gostaria que fossem, no fundo do modo como ele gosta do mundo.

Numa entrevista a um jornal francês, Jaime Cruz responde acerca do que o levou a criar Carlos García: «Eu e os outros. Eu, porque tenho medo que não gostem de mim. Quando deixam de me responder ou de atender o telefone entro em depressão, por vezes profunda. Apesar de tudo, não tenho as defesas de Carlos, que continua a pensar que o modo como o tratam não deriva de o desprezarem, mas porque estão ocupados ou estão tristes e não querem que ele os veja assim. Eu não. Eu vejo claramente que não gostam de mim e sofro profundamente. Os outros também me influenciaram, pois muitos também sofrem pelo meu silêncio. Carlos é este desencontro que acontece entre os humanos. Este desencontro define mais a nossa existência do que o caminhar para a morte.»

Carlos García continua a caminhar pelos dias, acreditando que «lê» os acontecimentos e os outros, não suspeitando que está cabalmente enganado. Mas o que seria o contrário disso? O que seria estar cabalmente certo acerca dos acontecimentos e dos outros? Seja como for, aquilo que salva Carlos é a sua forte crença em si mesmo, na sua capacidade de se dar conta do «à sua volta», contrariamente ao escritor que criou a sua personagem, como disse numa entrevista. Como em tantas coisas da vida, neste caso haverá um meio termo? Será que o caminho certo para nós é entre o autor e a sua personagem? Não o podemos saber. Mas Carlos García continua a perturbar-nos, mesmo vinte depois da morte do seu criador. Continuamos a ver no comportamento dele, que sabemos muito pouco não só acerca de nós e dos outros, mas principalmente do efeito que causamos uns nos outros.

A conhecida crítica literária argentina Cristina Massa conduziu a sua reflexão por um caminho radical, afirmando que se alguma coisa o livro nos ensina é a de que temos de partir do princípio de que não podemos esperar nada de ninguém. Escreveu: «No livro, o erro dos outros é semelhante ao de Carlos, com a única diferença que este sofre mais com isso. Aquilo que o livro mais nos ensina, acima de tudo, é ficarmos a ver que não é só no momento de morrer que estamos sozinhos, também somos sós na vida. Mesmo quando julgamos que alguém nos compreende ou que alguém nos estima, esses juízos não passam de erros semelhantes ao de Carlos García.» Independentemente do modo como se possa ler o livro, a verdade é que a sua leitura não nos deixa indiferentes. Apetece terminar com uma passagem de Georg Steiner, do seu Linguagem e Silêncio, que se aplica exemplarmente a este livro de Jaime Cruz: «Ler bem é assumir riscos. É tornarmos vulnerável a nossa identidade, a nossa posse de nós próprios. […] Quem tenha lido a “Metamorfose” de Kafka e possa a seguir olhar para o espelho sem inquietação talvez seja capaz de ler caracteres impressos, mas é analfabeto no único sentido que conta.”

Início do regime de exclusivos

[dropcap]O[/dropcap] jogo estava proibido em Macau, como o Mandarim da Casa Branca chamara a atenção dos portugueses por edital de 20-11-1829. Devido à carência económica que a colónia atravessava, causada por o estabelecimento em 1841 dos ingleses em Hong Kong, o Governador-Geral da Província de Macau, Timor e Solor, João Ferreira do Amaral (1846-49), aprovou em 1847 “a primeira legislação relacionada com o jogo e respectivos impostos”, segundo Victor F. S. Sit, que refere, “Na altura predominavam os jogos chineses, incluindo uma lotaria e jogos de mesa”.

No entanto, ainda a 1 de Fevereiro de 1849 o Governador ordenava a aplicação duma multa de dois taéis (duas onça de prata = 75,44 gramas) a todo o chinês encontrado a jogar nas ruas da cidade, quer como jogador ambulante, quer com banca fixa.

Segundo Carlos José Caldeira, “Depois da extinção da Alfândega, única fonte de receita desde a origem do Estabelecimento, as rendas públicas derivam das décimas e impostos; de alguns foros, licenças, e outras pequenas verbas; e dos exclusivos.”

“Com a administração de Ferreira do Amaral introduziu-se a política de atribuição da venda de alguns produtos em forma de exclusividade. Deste modo, eram subtraídos à iniciativa privada alguns ramos de negócio sendo concedidos, quase sempre por arrematação, a indivíduos ou a empresas instaladas no território”, refere Fernando Figueiredo, que complementa, “Em 1849 a concessão, em regime de exclusivo, começou com a venda da carne de vaca”, atribuindo o Governador a primeira licença em Macau para o jogo Fantan, que serviu, a par das lotarias chinesas Vae-seng e Pacapio, para ajudar financeiramente Macau.

“Este jogo [fantan] arremata-se em hasta pública, e o arrematante, que é de ordinário agente de uma sociedade, estabelece várias casas, onde concorrem os chineses, que em geral têm paixão pelo jogo de parar, e ao que se costumam desde crianças; porque os vendilhões de diferentes acepipes ou guloseimas, as jogam ao dado por todas as praças e ruas de Macau, e os rapazinhos ali vão arriscar as sapecas [moedas redondas de cobre de uso diário, com um buraco quadrado no meio] que podem adquirir, em lugar de comprarem logo o que desejam”, relata Carlos Caldeira, que explica, o latão (fantan) é um jogo muito usado entre os chineses “e consiste em separar de um montão de sapecas uma porção ao acaso, e depois de feitas as paradas a favor dos números 1, 2, 3 ou 4, a arbítrio dos que apontam, são contadas quatro a quatro as sapecas separadas até à última parcela, que tem de ser uma, duas, três ou quatro sapecas, e que determina o só número em que ganham os pontos duas ou três vezes a parada, sendo perdidas a favor do banqueiro as outras apostas sobre os três números restantes.” No primeiro ano, entre 1849/50, o rendimento da arrematação do Fantan foi de 1310$400 e no biénio seguinte chegava a 8568$000, segundo Fernando Figueiredo, e “a partir de 1851/52 a sua arrematação era efectuada em leilão público, como acontecia a todos os exclusivos.”

Conservar o Tribunal da Procuratura

Com a administração chinesa fora dos domínios da governação de Macau, a jurisdição sobre os chineses em 1849 passou para o Procurador, já na dependência do Governador.

“Toda a vida da população chinesa de Macau, nos litígios entre si e nas suas relações connosco, se agitava no limiar da repartição do tribunal da Procuradoria. Uma reforma prematura ou impensada, cujos ditames as circunstâncias, o tempo e o estudo não amadurecessem, podia prejudicar os interesses da mesma população, que eram também nossos, e o sossego da colónia. Durante este período preparatório a necessidade fez pois da Procuratura, em grande parte das suas atribuições, um anexo da secretária do governo, a qual tomava nelas a verdadeira responsabilidade; e as poucas medidas que houve com respeito ao assunto quase que tenderam só, e muito justamente, a obrigar mais à vigilância directa do governo ao multiplicado expediente daquela repartição”, refere o relatório de 1867 da Comissão para regular as atribuições do tribunal da Procuratura e com o qual prosseguimos: “A conservação do tribunal da Procuratura depois de 1849 mostra que se atendeu, com respeito a Macau, à verdade desses princípios. Numa colónia onde se dava a circunstância de uma população indígena mais que em todas especial nos costumes, era força existir um tribunal especial, que lhe fizesse justiça sem promover embaraços à administração. Havia, contudo, mais a fazer do que simplesmente conservar a Procuratura. Era dar-lhe leis e regulamentos, que não tinha; completar-lhe a feição de tribunal, peculiar sim, mas português; desafrontá-la da demasia de funções variadas, que, em vez de lhe aumentarem a respeitabilidade e a eficácia de acção, lhe alienavam a confiança pública por lhe estorvarem para tudo o bom desempenho; desatá-la enfim da câmara municipal, que a nenhum assunto devia ser tão estranha como à boa administração de justiça aos chineses. Não se fez isto logo, e passaram-se anos sem se fazer.”

Procurador e a emigração

Por Carta de Lei de 2-3-1844, o Ministro da Marinha e do Ultramar Joaquim José Falcão, reinava D. Maria II, decretou a criação da Província de Macau, Timor e Solor, com o seu governo independente do Estado da Índia. Reduzir o Leal Senado a uma simples Câmara Municipal e junto ao Governador haver um Conselho de Governo composto dos Chefes das Repartições Judicial, Militar, Fiscal e Eclesiástica, e mais dois conselheiros, o Presidente e o Procurador da Cidade. O Conselho de Governo interinamente governou Macau por morte de Ferreira do Amaral e do governador seguinte, Pedro Alexandrino da Cunha e daí para diante, sempre que Macau ficava sem Governador.

Após a I Guerra do Ópio (1839-42), com a abertura forçada de cinco portos da China aos estrangeiros, Macau perdeu muitos dos que aqui permaneciam depois de terminada a época comercial em Cantão. Para reanimar a cidade e atrair estrangeiros, o Governador Isidoro Francisco de Guimarães (1851-63) licenciou a exploração dos jogos de apostas de fantan e pacapio em forma de concessões por leilão público. Com este Governador, em 19-11-1852 foram pela primeira vez reguladas as funções do Procurador da cidade, funcionário perante o qual serão tratados todos os negócios chineses, ficando a resolução final dependente do Governador. Nenhuma outra autoridade pode interferir nos negócios chineses além do Governador e Procurador.” Esta portaria fez da Procuratura, que adquiria grande importância pelos inúmeros pleitos aí tratados, um anexo da Secretaria-Geral.

Do porto de Macau desde 1851 emigravam muitos chineses, mas a Procuratura só passou a estar ligada a eles em Novembro de 1855, quando o Governador publicou uma portaria a determinar que . O Procurador ficava obrigado a procurar no depósito de emigrantes se havia algum chinês iludido ou forçado a embarcar contra a sua vontade.

Automobilismo | Macaenses deixam boas indicações em Zhaoqing

A pandemia global da covid-19 colocou de joelhos o automobilismo no continente asiático. Com as diversas competições a arrancarem muito timidamente, um pouco por todo o continente asiático, nesta segunda parte do ano, a três meses do 67º Grande Prémio de Macau, para muitos pilotos do território as corridas do passado fim-de-semana no Circuito Internacional de Guangdong (GIC) foram as primeiras desde Novembro do ano passado

[dropcap]A[/dropcap]o contrário de anos anteriores, em que estas provas serviam para o apuramento dos pilotos locais para o Grande Prémio de Macau, dadas as circunstâncias, as corridas do pretérito fim-de-semana serviram acima de tudo para pilotos e máquinas “desenferrujarem”. Este evento teve corridas para as três categorias locais da actualidade – “1600cc Turbo”, “1950cc e Superior” e GT. Com dezassete inscritos, os concorrentes da categoria “1950cc e Acima” tiveram as suas corridas, enquanto os participantes das categorias “1600cc Turbo” e GT realizaram as suas corridas em conjunto, permitindo assim uma grelha de partida com um total de dezanove carros.

Num fim-de-semana bastante quente, por si só bastante duro para as mecânicas das viaturas, e sem grande importância em termos desportivos, muito pilotos optaram por alinhar à partida com carros que habitualmente não são os seus “cavalos de batalha”. Entre eles, Filipe Souza, que como não tem ainda o seu Audi RS3 LMS TCR preparado, optou por alinhar com um Volkswagen Golf GTi, também da equipa T.A. Motorsport, e após ter largado do segundo lugar da grelha de partida, foi o vencedor destacado da primeira corrida da categoria “1950cc e Acima”, à frente de dois velhos conhecidos destas andanças: Kevin Wong (SEAT Leon TCR) e Ng Kin Veng (Audi RS 3 LMS).

Ainda na corrida da tarde de sábado, Rui Valente esteve em destaque, ao levar o seu decano Honda Integra DC5 ao sexto lugar da geral, ele que também optou por poupar o seu MINI “1600cc Turbo” para outras aventuras. Delfim Mendonça Choi, que trocou o seu Mitsubishi EVO7 por um mais modesto Honda FD2, foi o sétimo classificado, seguido dos Mitsubishi de Jerónimo Badaraco e Luciano Lameiras, dois pilotos que viram as suas corridas comprometidas por motivos diversos. Já Eurico de Jesus não terminou, enquanto Célio Alves Dias não arrancou.

Ainda entre os concorrentes da categoria “1950cc e Acima”, na segunda corrida do fim-de-semana, no domingo, Wong Wan Long efectivou o seu superior andamento em pista para vencer, mas o seu Mitsubishi EVO10 só cortou linha de meta com pouco mais de meio segundo de avanço para Filipe Souza. Numa corrida em que Kevin Wong completou as posições do pódio, Rui Valente voltou a estar em evidência, ao terminar no quinto posto, uma posição à frente de Eurico de Jesus, em carro igual. Luciano Lameiras foi oitavo, já com uma volta de atraso e Célio Alves Dias (Honda DC5) finalizou a corrida no 11º posto. “Nóni” Badaraco e Delfim Mendonça Choi cedo ficaram de fora da corrida.

Seis vencedores

No que respeito diz respeito à corrida dos carros de Grande Turismo e da categoria “1600cc Turbo”, Billy Lo, que utilizou um Audi R8 LMS da categoria GT3, um carro muito superior à concorrência, visto o ano passada na Taça do Mundo de GT da FIA, não teve qualquer oposição para vencer destacado à geral em ambas as corridas. Também um certo à-vontade, o muito experiente Leong Ian Veng, em BMW M4 GT4, venceu nas duas corridas entre os concorrentes que irão muito provavelmente competir novamente no Circuito da Guia em Novembro na Taça GT – Corrida Grande Baía.

Com onze carros “1600cc Turbo” e a correrem no meio dos oito GT, Ip Tak Meng (Peugeot RCZ) venceu na primeira contenda e foi segundo na segunda, perdendo apenas para o companheiro de equipa Cheong Chi On (Ford Fiesta). Sabino Osório Lei, num Ford Fiesta da equipa SLM Racing Team, foi o terceiro classificado na primeira corrida e foi forçado a abandonar à sétima volta na segunda. Os pilotos da RAEM voltarão a reunir-se no circuito permanente dos arredores da cidade continental chinesa de Zhaoqing no fim-de-semana de 12 e 13 de Setembro.

Bailado | Leão desperta em Outubro no CCM

[dropcap]C[/dropcap]omeçam a ser vendidos na quinta-feira os bilhetes para o espectáculo “O Despertar do Leão”. O bailado, que comemora o 71º aniversário da Implantação da República Popular da China e celebra o festival do bolo lunar, sobe a palco dia 1 de Outubro, pelas 19h30, no grande auditório do Centro Cultural de Macau.

De acordo com o Instituto Cultural (IC), o bailado é centrado na história de dois jovens artistas de dança do leão, cujas escolhas de vida levam a um processo de auto-descoberta e transformação, “manifestando assim o espírito da nação chinesa através da luta corajosa pela honra e pela força”. O espectáculo foi produzido ao longo de três anos e será apresentado pelo Teatro de Danças e Cantares de Guangzhou. Recebeu vários prémios, incluindo na categoria de bailado do 11º Prémio Lótus para a Dança Chinesa em 2018.

É uma junção de dança, cenografia, iluminação, música e guarda-roupa. A cultura de Lingnan está presente com artes marciais “Punhos do Sul” (Nanquan), acrobacias da dança do leão do sul (Nanshi) e canções narrativas acompanhadas de blocos de madeira na percussão, para promover o património cultural intangível da região.

O evento é organizado conjuntamente pelo Instituto Cultural do Governo da RAEM e pelo Departamento de Propaganda e Cultura do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM. O preço dos bilhetes varia entre 100 e 200 patacas.