LAG 2019 | Alexis Tam justifica aumento de orçamento de 35 mil milhões Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, justificou na semana passada o aumento de orçamento na sua tutela para o próximo ano, estimado em 35 mil milhões de patacas. De acordo com um comunicado oficial do seu gabinete, Alexis Tam declarou que “assegura serviços numa área muito vasta que se relacionam com a vida da população, onde se destacam a saúde, a educação e a segurança social”, sendo que o aumento se justifica com a actualização dos montantes da pensão para idosos, da pensão de invalidez e vários subsídios no âmbito da acção social. Nas áreas da saúde e educação o orçamento será de cerca de 13 mil milhões de patacas. Alexis Tam garantiu que, apesar dos gastos elevados, tem existido uma fiscalização “com muito rigor”, tendo sido garantido o “cumprimento escrupuloso do princípio de transparência por parte dos serviços, com vista a garantir que o erário público é bem aplicado”. No que diz respeito ao projecto do novo hospital público, no Cotai, Alexis Tam disse que é “muito diferente de um edifício normal devido à sua complexidade e às muitas exigências”, uma vez que cada alteração do projecto exige o diálogo com dez serviços públicos.
A literatura lusófona é afectada pela periferia linguística, diz Ondjaki Hoje Macau - 10 Dez 201811 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap] literatura lusófona está “numa certa periferia linguística” a nível internacional, apesar de o português ser uma das línguas mais faladas do mundo, considera Ondjaki, um dos escritores angolanos mais conhecidos em Portugal. “Nós, os do mundo da língua portuguesa, lemo-nos”, mas as traduções do português não são suficientes para saírem desse universo, comparadas com a dimensão de outras expressões linguísticas, como inglês ou o francês, reflecte o escritor. Ondjaki, nascido sob o nome Ndalu de Almeida, deu uma entrevista à agência Lusa, em Nova Iorque, poucos dias depois de ter visitado a Feira do Livro de Guadalajara, que decorreu no México, entre 24 de Novembro e 2 de Dezembro, e que tinha Portugal como convidado de honra. Apesar do pouco conhecimento que os autores actuais têm fora “do mundo da língua portuguesa”, Ondjaki afirma que é inegável a qualidade que existe e que deve continuar a existir. Na visão do escritor, “temos de continuar a batalha” explorando as traduções para mercados que têm mais força, como o inglês, francês ou alemão, e “continuar a gerir a nossa literatura com qualidade”, para que a literatura lusófona seja fortalecida a nível internacional. Em Guadalajara, o ficcionista, poeta e autor de livros infantis, inseridos no Programa Nacional de Leitura, participou numa mesa de debate com Pilar del Rio e Gonçalo M. Tavares, sobre o escritor José Saramago, que dá o nome ao prémio que ganhou em 2013 pelo romance “Os Transparentes”. Nesse mesmo festival, fez parte de uma performance artística com o artista plástico António Jorge Gonçalves e o pianista Filipe Raposo, dando continuidade a uma vasta lista de apresentações ao vivo que o autor tem realizado em várias partes do mundo. Ondjaki tem explorado a performance artística e não hesita em participar em actividades de improvisação em frente ao público, sendo estas “oportunidades de estar com outros artistas” e de rever amigos, diz o escritor à Lusa. Além de leituras ao público, o autor participa em projeções de textos escritos ao vivo, com improvisação musical ou improvisação imagética (pintura) por outros artistas – uma “oportunidade de experimentar outras sensações, para depois voltar à escrita”, resume. Com uma vasta obra editada em vários países, Ondjaki diz que “a performance é uma reescrita, uma oportunidade para escrever de outra maneira”, mas também “tem um grau de risco, porque não tem tempo para editar, não tem tempo para rever”. “Um momento que vive e morre aqui”, assegura o autor à Lusa. Sobre os temas literários com que se costuma relacionar, Ondjaki diz que “qualquer tipo de literatura, incluindo aquela que às vezes pensamos ser para crianças, deve abordar qualquer tipo de temática social, (…), mas, sobretudo, se isso se acasalar com o objectivo literário do escritor”. Ondjaki defende também que todos os leitores devem ser habituados à reflexão sobre os grandes problemas da actualidade, de forma “urgente”. Homossexualidade, desigualdade, exclusão social ou ecologia são alguns dos temas que o autor e sociólogo defende que devem ser introduzidos na educação das crianças, em tenra idade, para que sejam discutidos e debatidos. “Para que a criança não tenha de lidar com o racismo quando esse racismo já está profundamente incorporado na pessoa”, exemplifica Ondjaki. “Quando se trata do meu universo infantil”, diz o escritor, “tento descobrir que parte do labirinto da infância se pode tornar labirinto da literatura. Porque a literatura também é um labirinto. E a nossa vida também. E os nossos sonhos também”.
Embaixada de Portugal em Díli clarifica dúvidas sobre pedidos de nacionalidade Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap] Embaixada de Portugal em Díli divulgou um folheto para clarificar alguns aspectos relacionados com o processo de obtenção de nacionalidade, procurando responder a dúvidas que têm provocado protestos regulares à frente da missão diplomática. O folheto inclui respostas ao que a missão diplomática considera serem as onze perguntas mais frequentes relativamente aos pedidos de nacionalidade, centradas em particular na fase já depois da apresentação dos documentos. Em média, a embaixada recebe entre 30 e 60 pedidos de nacionalidade por dia, com um volume significativo de processos que continuam sem uma decisão de Lisboa. A demora na resolução nos casos – que se pode arrastar dois ou três anos – tem suscitado manifestações regulares em frente à embaixada, com timorenses a impedirem, em várias ocasiões, entradas e saídas naquele posto diplomático. Apesar de posturas agressivas, incluindo pancadas aos vidros da embaixada, o bloqueio da estrada – com alguns jovens a sentarem-se no chão – e da pressão sobre funcionários do edifício, a polícia demora várias horas a aparecer. Os protestos são convocados por mensagens partilhadas nas plataformas Facebook e WhatsApp, muitas com informação falsa que dava conta de que estariam concluídos processos para ser levantados. Neste folheto a embaixada explica que cada processo é tratado individualmente, obriga uma comprovação dos documentos nas paróquias respetivas ou no Registo Civil e pode suscitar ainda esclarecimentos adicionais. Isso implica que um pedido que tenha entrado em 2017 “seja decidido antes de outro que tenha sido feito em 2015” ou que dois pedidos entrados no mesmo dia, “e ainda que digam respeito a dois irmãos, possam ter datas de desfecho diferentes”. A lista clarifica que a análise sobre os pedidos não é feita pela embaixada – que se limita a receber, legalizar e enviar os documentos para Portugal – para a Conservatória dos Registos Centrais em Lisboa, que tem competência exclusiva para conceder a nacionalidade. A embaixada também aplica em Timor-Leste, desde 2015, um conjunto de procedimentos para tentar “controlar a fraude documental”, incluindo a obrigatoriedade de verificar as certidões de batismo junto das paróquias ou os assentos de nascimento no Registo Civil. “Na prática trata-se de confirmar, no livro dos assentos, os dados que constam da certidão apresentada”, refere a nota, sublinhando que o procedimento é o mesmo quer os pedidos sejam feitos na embaixada, diretamente na Conservatória dos Registos Centrais em Lisboa ou através de procurador. Um processo que estica ao máximo os recursos humanos da embaixada, que tem que visitar cada uma das mais de 50 paróquias do país – os registos da Igreja são, em muitos casos, os únicos que sobreviveram à destruição depois do referendo de 1999. Há ainda casos em que pedidos chegam já depois de uma visita à paróquia – por outros processos – ou em que não foi possível encontrar o registo, por erro na identificação da certidão ou porque o registo original se tenha perdido ou sido destruído. “Tudo será devidamente explicado à Conservatória dos Registos Centrais e continuaremos a tentar encontrar uma solução”, explica o documento. Em caso de divergências nos dados, a embaixada pode pedir clarificações ou documentos adicionais ao requerente. A embaixada recorda que quem pretende saber dados sobre o seu processo deve contactar a missão diplomática, admitindo que “podem passar muitos meses” sem avanços no caso que continuará “em análise” até “uma decisão final”. Cada um dos requerentes será notificado “individualmente por email ou telefone, de cada vez que há um avanço no processo”, pelo que “não vale a pena deslocar-se à embaixada se não tiver sido convocado”. Por fim, o texto clarifica que as listas de nomes que começaram agora a ser afixadas na porta da embaixada respondem a protestos de alguns utentes. Trata-se apenas de “listas de atendimento” agendadas para o dia com nome de utentes que tenham sido convocados para esclarecimento ou para iniciar o processo, sendo que “ninguém nas listas adquiriu ainda a nacionalidade portuguesa”. A nacionalidade portuguesa é acessível a qualquer timorense nascido até 19 de Maio de 2002, véspera da data em que Timor-Leste restaurou a sua independência e deixou, formalmente, de ser um “território não autogovernado sob administração portuguesa”.
Ministério Público japonês acusa ex-presidente da Nissan de ocultar rendimentos Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]O[/dropcap] Ministério Público japonês acusou oficialmente o antigo presidente da Nissan, Carlos Ghosn, de ocultar rendimentos da empresa durante um período de cinco anos, informou hoje a agência oficial Kyodo. De acordo com a agência nipónica e o canal público NHK, o Ministério Público responsabiliza também a Nissan, uma vez que foi a empresa a apresentar os relatórios às autoridades. Ghosn, detido em Tóquio há três semanas, foi entretanto demitido como presidente da Nissan e também das mesmas funções na empresa japonesa Mitsubishi. Além de Ghosn foi também detido o seu principal colaborador, o norte-americano Greg Kelly.
Nicholas Cage, actor: “Queria ser o James Dean” Sofia Margarida Mota - 10 Dez 201811 Dez 2018 Nicholas Cage é o embaixador da 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau e um nome incontornável no mundo da sétima arte. Cage falou do que considera especial no cinema chinês e da sua preferência pelos filmes independentes É conhecido por trabalhar com cineastas em início de carreira. Acha que tem a responsabilidade de ajudar a criar novas gerações de realizadores? [dropcap]N[/dropcap]ão vejo as coisas nesses termos. Não considero que esteja, de facto, a ajudar estes realizadores. Sinto nos trabalhos que faço com novos realizadores, que se trata de um movimento comum em que, talvez eles sendo mais novos, e que cresceram a ver-me têm algo mais a descobrir em mim. Por isso é mais uma troca entre iguais em que nos ajudamos mutuamente. Mas não penso nunca: “olha ali está um jovem cineasta que vou ajudar”. São realizadores apaixonados e entusiastas e que têm uma visão, que têm um ponto de vista diferente e que me dão uma perspetiva que eu não tinha visto antes. Já trabalhou com realizadores chineses. Que aspectos particulares destacaria no cinema da China? Tenho trabalhado com o realizador John Woo e não sei se posso, com esta referência, dizer que se trata de expressão chinesa, mas sendo que ele é desta parte do mundo posso assumir que há um estilo e um carisma particular que se sente no cinema de cá. Isso sente-se na música, na dinâmica, na dança, e mesmo na violência. É um cinema muito poderoso. Não posso dizer que todo o cinema chinês tem este estilo, mas da minha experiência a trabalhar com John Woo e com os irmãos Pang, penso que existe em ambos um sentido de ritmo muito particular. No filme “Bangkok dangerous” com os irmãos Pang , por exemplo, quando o Danny Pang me mostrou como disparar uma arma, disse-me que tinha que o fazer num determinado ritmo. Eles vão a este nível de detalhe quase como se o disparo de uma arma tivesse que ser em sincope ou mesmo musical. Também gosto muito a emoção e da profundidade das relações que o cinema chinês aborda e que é identificada em filmes como “Raise the Red Lantern” ou “Hero” de Zhang Yimou. Há uma paixão que penso que é única a esta parte do mundo do cinema. Houve uma altura da sua carreira em que fez uma mudança abrupta no tipo de filmes em que participou e em que passou dos filmes dramáticos para filmes de acção mais comerciais. Depois acabou por deixar este género e voltar ao drama. O que é que se passou? Houve muita gente que se chateou comigo na altura em que passei a participar em filmes de acção e por ter deixado aqueles que tinham um espírito mais independente. A razão da mudança foi essencialmente por ser um desafio em que queria provar a mim mesmo que conseguia fazer outras coisas. Todos me diziam que não conseguia porque não tinha a aparência certa ou a condição física adequada e não tinha os músculos necessários. Fi-lo por diversão. Pensei nisso como uma experiência e um desafio. Mas as minhas raízes estão no drama e no cinema independente. Eu surgi do “Vampire´s kiss” e do “Raising Arizona”. Vim de uma série de pequenos filmes provocadores. Mas os filmes de aventura – prefiro chamar assim aos filmes de acção – foram uma oportunidade para interpretar num formato diferente. Quando se está a fazer um filme de aventura existe pouco tempo para construir o personagem e contar a história antes de dar inicio à acção. Nestes filmes o actor tem muito pouco tempo para conseguir vender o que a personagem é de facto. Este é o desafio. Faz filmes há cerca de 40 anos. A relação entre actores e público tem mudado drasticamente com o fenómeno das redes sociais. Como é que esta transformação na relação que tem com o público? Houve uma mudança incrível na evolução da relação entre o actor e os seus fans e com a qual nunca me senti muito familiar. Quando me confronto com uma situação que possa requerer esse contacto pergunto-me: o que faria o Prince? E isso inspira-me. Não sei se o Prince aderiria ou não às redes sociais, mas na minha imaginação não o faria por ser um artista enigmático e misterioso. No minha abordagem às redes sociais prefiro permanecer um pouco mais na idade dourada, nos anos 30 e 40, um pouco mais Prince. Prefiro não estar conectado com os fans dessa forma tão imediata porque isso rouba, a eles e a mim, a possibilidade de imaginar e de sonhar. Se estivermos lá, ligados ao nosso público, deixa de existir mistério, que é o que, de alguma forma, nos une. O contacto mediático pode funcionar para muitas estrelas. Por outro lado, penso que a cultura da fama está um pouco sem rumo. Qualquer um pode ter uma cara bonita, beber uma garrafa de tequila e fazer uma cena numa cerimónia do tapete vermelho, e com isso ter uma fama imediata. Tudo devido às redes sociais que permitem gravações que acabam por correr o mundo. Estas pessoas acabam por ser famosas, de facto, mas têm uma fama que não tem nada que ver com talento ou com o fazer qualquer esforço a desenvolver um tipo de trabalho, seja ele uma grande canção, uma grande performance ou um bom filme. Isto é um fenómeno que acontece com a transformação que se vive actualmente. É o que é. Não o julgo. Mas não quero ser, de todo, parte disso. Escolhi ser actor porque queria ser o James Dean. Nunca poderei ser o James Dean mas isso foi a minha inspiração, e não foi porque queria acompanhar o meu número de seguidores no twitter. O que mais o interessa nas pequenas produções? As pequenas produções acontecem muito rapidamente quando são bem feitas. Não há muito tempo e temos que saber os nossos diálogos e ter gestos bem definidos cotemos que saber o que queremos fazer com a personagem porque uma vez que entremos no set temos apenas três ou quatro semanas para trabalhar, um financiamento limitado. Não há tempo a perder. É por isso que quando faço um filme mais independente faço questão de ter uma relação muito próxima com o realizador para poder perceber exactamente o que é que ele quer. O meu trabalho enquanto actor é, em primeiro lugar e acima de tudo, facilitar a visão do realizador. Tenho que entender bem o que ele quer para que possamos estar em harmonia numa situação em que ponho no papel a minha marca única mas que está ali para servir o cineasta. Por outro lado, as pequenas produções estão a chegar cada vez mais ao público. Não nas salas de cinema, mas em casa. As pessoas vão pouco ao cinema porque é muito dispendioso quando se calcula o preço dos bilhetes para a família, das pipocas e dos doces. As pessoas começam a pensar que podem rapidamente poupar esse dinheiro e comprar um sistema de cinema ara ver em casa. Aliás a maioria dos filmes em que participei é visto em casa. Estes filmes mais pequenos acabam por estar acessíveis no sistema de aluguer de filmes que no fundo me permitido permanecer no ecrã com filmes fora do vulgar e com argumentos menos comerciais. Penso que há uma boa relação entre as pequenas produções e esta modificação na forma de ver filmes. Gostaria de participar mais em filmes asiáticos? Absolutamente. Quero experimentar o cinema em todos os lugares. Adoraria fazer um filme na Índia, alias já quase fiz, com o “The Darjeeling Limited”, mas não o fiz e teria sido uma experiência fascinante. Acabei de filmar “Outcast” nos arredores de Pequim e gostaria de fazer um filme no Japão e em Xangai. Penso que as nossas interpretações são influenciadas com o lugar onde que estamos. O facto de estarmos num sítio novo, com novos estímulos, com nova comida e em que podemos passar o serão com desconhecidos acaba por transformar a forma como interagimos. O contacto com uma nova cultura influencia o nosso desemprenho em frente às câmaras. Que conselho daria aos que querem enveredar por uma carreira na sétima arte? O meu conselho é muito simples: não deixar que outros ataquem os seus sonhos e as suas crenças. No mundo do cinema vão conhecer pessoas que vão dizer que não podem ser uma estrela ou que não podem ser um realizador. Não gosto do termo “não poder”. O que estas pessoas têm que ter em mente é que no seu caminho vão encontrar muita gente que os quer tirar de lá e que não podem ceder ou desistir. Têm que, pelo menos, dar-se um tempo. Quase não consegui ser actor de cinema e tinha um plano B que seria ser pescador. Iria pegar num barco, escrever contos e pescar. Podia ter sido um grande plano, mas o plano A, de ser actor, finalmente aconteceu. Fui rejeitado repetidamente. Ninguém queria fazer um filme comigo.
Air Macau reduz taxas de combustíveis em Janeiro Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap] Air Macau anunciou hoje que vai reduzir as taxas de combustíveis a partir do próximo dia 1 de Janeiro. De acordo com um comunicado, as taxas baixam dos actuais 32 dólares por voo para 28 dólares. Com esta medida, a Air Macau decidiu voltar atrás no aumento que tinha sido decretado em Novembro último. A actualização vai ser aplicada em todos os bilhetes de avião emitidos para o dia 1 de Janeiro ou depois dessa data para viagens de Macau com destino à China, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia e Vietname.
Guterres apela à assinatura “sem demora” da Convenção contra o genocídio Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]O[/dropcap] secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou ontem à assinatura “sem demora” da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio pelos países que ainda não o fizeram, quando se completa 70 anos deste documento. Setenta anos depois, “a prevenção do genocídio é uma tarefa fundamental do nosso tempo”, afirmou Guterres, num comunicado onde pediu para que se unam a este convénio. “Exorto os 45 Estados (dos 193 que integram a ONU) que ainda não o fizeram que o façam sem demora”, sublinhou o secretário-geral das Nações Unidas. Além disso, pediu a todos os Estados para traduzirem “as palavras da Convenção em actos” para prevenir o sofrimento massivo de seres humanos. “Em momentos de aumento de anti-semitismo, de intolerância contra os muçulmanos e outras formas de ódio, racismo e xenofobia, reafirmemos o nosso compromisso de manter a igualdade e dignidade para todos”, apontou Guterres. A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio foi adoptada e aberta para assinatura e ratificação, ou adesão, pela assembleia-geral da ONU em 09 de dezembro de 1948. Tornou-se o primeiro tratado de Direitos Humanos aprovado pela assembleia-geral, seguido no dia seguinte para adopção da Declaração dos Direitos Humanos. Nova vida precisa-se António Guterres disse ontem que chegou o momento de “dar vida” ao pacto global para a migração e mostrar a utilidade deste documento, que é o resultado de “muitos meses de diálogo inclusivo”. “Muitos meses de diálogo inclusivo produziram um documento impressionante sobre um dos desafios globais mais prementes dos nossos tempos”, disse António Guterres numa cerimónia em Marraquexe, cidade marroquina que acolhe, até amanhã, uma conferência intergovernamental que será marcada pela adopção formal do Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular (GCM, na sigla em inglês), o primeiro documento deste género que foi promovido e negociado sob os auspícios das Nações Unidas. “Agora, é altura de dar vida ao que concordámos e demonstrar a utilidade do pacto: aos governos à medida que estabelecem e aplicam as suas próprias políticas de migração; às comunidades de origem, de trânsito e destino; e aos próprios migrantes”, prosseguiu o representante. Na mesma intervenção, o secretário-geral da ONU salientou que uma das características mais significativas do pacto global para a migração é o reconhecimento do papel essencial que muitos actores assumem na gestão desta temática. A par dos governos e dos próprios migrantes, “também a sociedade civil, os académicos, os sindicatos, o setor privado, os grupos da diáspora, as comunidades locais, os parlamentares, as instituições nacionais de direitos humanos e os meios de comunicação social” assumem um papel essencial, enumerou António Guterres. “O sistema das Nações Unidas também fará parte dessa constelação de parceiros”, referiu o ex-primeiro-ministro português, numa referência à rede de coordenação para a migração criada e designada pela ONU como “Rede para a Migração”. Esta rede irá assegurar o processo de acompanhamento e de monitorização do pacto global para a migração, trabalho esse que vai consistir, por exemplo, na partilha de experiências, em ajudar os Estados-membros a superar as dificuldades e a procurar soluções. Entre as várias características desta rede que foram mencionadas pelo secretário-geral da ONU está o “papel central” que será desempenhado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), liderada desde outubro pelo também português António Vitorino. A presença de António Vitorino na cerimónia foi saudada por António Guterres, que se dirigiu ao director-geral da OIM como “um velho amigo”. Em tom de conclusão, António Guterres afirmou que a criação desta rede, que “irá mobilizar toda a extensão das capacidades e dos conhecimentos [da ONU] para apoiar os Estados-membros”, é um “sinal visível do compromisso do sistema das Nações Unidas para trabalhar com os países na aplicação deste histórico pacto global”. Em que consiste o pacto? Mais de 150 governos internacionais representados por chefes de Estado, chefes de Governo ou altos funcionários estão em Marraquexe para formalizar a adoção do pacto global para a migração e para debater o fenómeno das migrações. Fruto de 18 meses de consultas e negociações, o pacto global tem como base um conjunto de princípios, como a defesa dos direitos humanos, dos direitos das crianças migrantes ou o reconhecimento da soberania nacional O texto também enumera 23 objectivos e medidas concretas para ajudar os países a lidarem com as migrações, nomeadamente ao nível das fronteiras, da informação e da integração, e para promover “uma migração segura, regular e ordenada”. Mesmo não tendo uma natureza vinculativa, o documento dividiu opiniões e suscitou críticas de forças nacionalistas e anti-migração em vários países. Estados Unidos, Israel, Polónia, Áustria e República Checa estão entre os países que rejeitam o pacto global e anunciaram que não vão assinar o texto. O número de migrantes no mundo está actualmente estimado em 258 milhões, o que representa 3,4% da população mundial.
Mia Couto prepara livro sobre a sua infância Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]O[/dropcap] escritor Mia Couto disse à agência Lusa que o seu novo livro tem como foco a infância na Beira, em Moçambique, admitindo que é uma mudança na sua escrita, como que a contrariar que só se nasce uma vez. “Visitei a minha cidade, no princípio deste ano, de uma maneira que reencontrei os lugares de infância e tive tempo, que é uma coisa que deixamos de ter num certo período da vida. Não só revisitei, fui de maneira a ser ocupado por esse espaço, por essas vozes e isso foi muito importante para mim, percebi que estava tudo vivo, esse passado não tinha passado”, justificou Mia Couto. Na calha está o novo livro do escritor moçambicano que tem como foco a sua infância e, neste sentido, admitiu que quando visitou a Beira, uma vez que vive em Maputo, ia com vontade de se “deixar ser assaltado por esse sentimento” de reviver o passado e o tempo da sua juventude. “Para dizer a verdade acho que precisava disso, desse regresso, precisava de me sentir, como se a ideia de que nascemos num só momento tivesse que ser contrariada e eu precisasse de continuar a nascer e aquele é o melhor lugar”, confidenciou à agência Lusa, ao mesmo tempo em que admitiu que “há uma mudança na escrita” no próximo livro. “Há uma mudança sim, porque também me interessa. Se eu sinto que estou a escrever a mesma coisa e da mesma maneira não me interessa mais escrever, eu quero batalhar contra mim mesmo, contra aquilo que me parece que já está estabelecido, uma zona de conforto que me apetece desafiar, não me apetece mais escrever se não me surpreender”, admitiu. O novo livro que tem em mãos terá “uma escrita fragmentada a partir de papéis e de documentos e de registos escritos” que permitem ao autor “fazer uma visita ao que são até mais os esquecimentos do que as memórias, é uma espécie de invenção de esquecimentos a partir do que outros dizem que foi” esse passado, “Principalmente os meus próprios irmãos que me contam histórias de família como se eu nunca estivesse lá, como se fosse uma ausência, uma distração e isso para mim é muito bom, porque estou a visitar o meu próprio tempo, a minha própria infância, como se a sentisse ao mesmo tempo familiar e estranha”, revelou. Apesar do foco ser a sua infância, Mia Couto avisou que o livro não é sobre ele ou sobre a sua família, porque não deseja falar disso, mas interessa-lhe “muito falar desse tempo, porque é um tempo que é importante não esquecer e esses aparentes esquecimentos e esse registo de uma memória que nunca quer ser verdadeira, servem para relembrar um tempo que foi um tempo que tem ensinamentos, que não se podem esquecer”. Mia Couto falava à agência Lusa, depois de ter participado numa das conversas literárias, programada pelo Festival Tinto no Branco, que decorreu em Viseu e que contou com mais de 30 convidados, e onde partilhou o palco com o seu primo Tito Couto com quem falou de si, da família e da escrita. Um momento que “correu bem, foi caloroso”, mas que Mia Couto confessou que, esta dimensão, com centenas de pessoas e a falar em cima de um palco, “passa a ser mais uma coisa facilmente convertida num espetáculo” do que uma conversa sobre escrita. “Talvez o lugar do escritor e da escrita seja numa coisa mais pequena, mais familiar, numa sala onde se possa olhar as pessoas nos olhos e conversar como se conversa na vida real”, admitiu o escritor que reconheceu que não é uma opinião com base nas suas idiossincrasias, mas porque entende que “a escrita é uma coisa mais familiar, mais próxima, mais íntima”.
Exposição “Arte de Ilustração: Amesterdão x Macau” inaugurada hoje na FRC Hoje Macau - 10 Dez 201831 Dez 2018 [dropcap]C[/dropcap]hama-se “Arte de Ilustração: Amesterdão x Macau” e é hoje inaugurada, por volta das 18h30, na Fundação Rui Cunha (FRC). Promovida pela Associação YunYi and Cultural Communication, a mostra reúne trabalhos de 20 ilustradores de Macau e da Holanda, que já tiveram expostos em Barcelona. Na FRC o público poderá ver 40 obras de sete artistas holandeses, bem como obras de artistas de Macau tal como Sandy Ieong, Joana Borges, Rui Abreu ou Bruno Kuan, entre outros. De acordo com um comunicado da FRC, a exposição “tem como objectivo de criar uma rede entre a comunidade de artistas conhecidos e emergentes, proporcionando-lhes uma plataforma de intercâmbio sobre novos desenvolvimentos no seu campo de trabalho e promover uns aos outros”. A exposição ficará patente na FRC até 5 de Janeiro de 2019.
Toyota recolhe 13 mil carros na China devido a defeitos no software dos faróis Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap] fabricante japonesa Toyota vai recolher mais de 13 mil carros na China devido a defeitos no software da unidade de controle electrónico (ECU) para faróis, de acordo com o órgão regulador do mercado chinês. Em causa estão os modelos Corolla GL-i fabricados entre 19 de Março e 16 de Outubro pela subsidiária da Toyota na China, Tianjin FAW Toyota Motor, detalhou a Administração Geral de Supervisão de Qualidade num comunicado citado pela agência de notícias estatal Xinhua, avança a EFE. O módulo de software deste modelo mostrou algumas falhas nos faróis dos veículos que causavam distorção em determinadas situações, disseram as autoridades. A empresa comprometeu-se a corrigir os problemas identificados gratuitamente.
IFFAM | Os dez filmes imprescindíveis Sofia Margarida Mota - 10 Dez 2018 A 3ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau acaba esta sexta-feira. A organização seleccionou dez filmes a não perder, distribuídos por entre as várias categorias da programação Green Book, de Peter Farrelly [dropcap]E[/dropcap]m primeiro lugar, o destaque vai para “Green Book”, o filme de abertura do evento, que é apresentado já amanhã, às 20h30 no Centro Cultural de Macau. Realizado por Peter Farrelly e protagonizado por Viggo Mortensen, Mahershala Ali e Linda Cardellini “Green Book” traz ao ecrã a história de Frank Vallelonga conhecido por “Tony Lip” e do pianista de renome internacional Don Shirley. Quando Tony Lip (Viggo Mortensen), um segurança ítalo-americano, é contratado como motorista do Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), para uma digressão pelo sul dos Estados Unidos, os dois servem-se de um guia para encontrar os locais que acolhem em segurança afro-americanos. Com o decorrer da viagem e confrontados com vários perigos e ameaças, apesar de oriundos de mundos diferentes, Lip e Shirley acabam por se aliar para superar as adversidades. Shadow, de Zhang Yimou Em segundo lugar a organização destaca o filme de encerramento, a última produção do realizador chinês Zhang Yimou, “Shadow”. Depois de ter passado por Veneza, Toronto e Londres, e de ter sido galardoado com o “Golden Horse” para a melhor realização, o drama histórico do também realizador de “To Live”, aparece como um “must see”. rotagonizado por Deng Chao e Sun Li, o filme é uma reinterpretação do argumento original de Zhu Sujin, de “Three Kingdoms”. Deng Chao interpreta os papéis de Ziyu e Jingzhou. O primeiro é um heróico comandante, enquanto o segundo a sua “sombra” que aparece em tempos de guerra. A sombra gradualmente quer tomar o lugar do comandante e conseguir a sua liberdade, mas apaixona-se pela sua esposa, Xiao’ai interpretada por Sun Li. Hotel Império, de Ivo Ferreira Em terceiro lugar o festival destaca o filme do português Ivo Ferreira “Hotel Império” Mandy, de Panos Cosmatos Já a película de terror protagonizada por Nicholas Cage é a quarta grande recomendação da 3ª edição do maior evento dedicado ao cinema no território. Além de Cage, o filme realizado por Panos Cosmatos, conta ainda nos principais papéis com Andrea Riseborough e Linus Roache. Nas montanhas do noroeste americano, nos anos de 1980, Red Miller (Nicolas Cage) e Mandy Bloom (Andrea Riseborough) são um casal apaixonado que vive pacificamente numa cabana. Tudo parece correr bem até que o líder de um culto sádico, Jeremiah Sand, se apaixona por Mandy acabando ordenar o seu rapto. Quando a tenta seduzir é rejeitado e assassina Bloom. Com a perda do amor de uma vida, Red é catapultado para uma viagem fantasmagórica numa caça ao assassino e aos membros do culto que dirige. Mandy é exibido sábado, às 21h na Torre de Macau. In Fabric, de Peter Strickland O quinto lugar entre os filmes a não perder vai para o filme britânico “In Fabric” de Peter Strickland a ser exibido dia 11, às 21h15 na Cinemateca Paixão. A película traz a história de uma empregada bancária de meia idade que vê a sua vida transformada depois de comprar um vestido vermelho. Mas a peça de roupa parece estar amaldiçoada. O elenco de “In Fabric” conta com Gwendoline Christie, Marianne Jean-Baptiste, Hayley Squires e Leo Bill. Roma, de Alfonso Cuaron Um dos filmes que está a causar furor no panorama cinematográfico internacional e que é a oitava recomendação do festival é a co-produção dos Estados Unidos e do México, “Roma” de Alfonso Cuaron. Roma é o nome do bairro dos patrões de uma empregada doméstica, na Cidade do México, que acaba por se tornar a responsável pelas quatro crianças daquela família quando o pai parte em viaja por tempo indeterminado. “Roma” é apresentado a 10 de Dezembro na Torre de Macau às 15h e conta, nos principais papéis, com Abhimanyu Dassani e Radhika Madan. The man who feels no pain, de Vasan Bala Na oitava posição está o filme em competição “The man who feels no pain” de Vasan Bala . A película indiana conta a história de um jovem que sofre de uma doença rara que o impossibilita de sentir qualquer dor, o que representa uma ameaça para a própria vida. O filme pode ser visto a 11 de Dezembro, às 10h no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau. White Blood, de Barbara Sarasola-Day Segue-se “White Blood”, o filme argentino que também integra a secção de competição e traz o drama de Martina e Manuel, dois traficantes de droga entre a Bolívia e a Argentina. Manuel morre, vítima de overdose provocada pelas cápsulas ingeridas e Martina só pode recorrer ao pai que nunca conheceu para a ajudar. “White Blood” tem projecção marcada pera o dia 11 às 21h45 no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau.
China convoca embaixador norte-americano após detenção de directora da Huawei Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap] China convocou ontem o embaixador dos Estados Unidos em Pequim para protestar contra a detenção da directora financeira da operadora de telecomunicações chinesa Huawei e pediu a Washington que abandone o pedido de extradição. Pequim já tinha convocado no sábado o embaixador do Canadá, na sequência da detenção de Meng Wanzhou naquele país, a pedido dos Estados Unidos, em 1 de Dezembro. A justiça norte-americana pede a extradição da directora financeira, também vice-presidente da administração e filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei, por suspeita de ter violado sanções de Washington impostas ao Irão. Pequim manifestou já a sua “oposição firme” face à detenção da executiva e “exorta os Estados Unidos a darem mais importância à posição solene e justa da China”, refere o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado, publicado após um telefonema do vice-ministro da diplomacia chinesa, Le Yucheng, ao embaixador norte-americano, Terry Branstad. “Le Yuncheng sublinhou que os Estados Unidos violaram os direitos legítimos e os interesses dos cidadãos chineses, e a natureza desta violação é extremamente grave”, indicou o ministério. A China exigiu também que os Estados Unidos “tomem medidas imediatas para rectificar as más práticas e levantar o mandato de prisão contra esta cidadã chinesa”, prossegue o comunicado, advertindo para uma possível “resposta adicional” da parte de Pequim. Também ontem , o conselheiro económico da Casa Branca, Larry Kudlow, afirmou que Donald Trump desconhecia a detenção de Meng Wanzhou na altura em que jantava com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, na semana passada. Meng Wanzhou, 46 anos, foi detida em Vancouver, Canadá. A directora financeira é suspeita pela justiça norte-americana de ter mentido a vários bancos sobre uma subsidiária da Huawei com o objectivo de obter acesso ao mercado iraniano entre 2009 e 2014, violando as sanções dos Estados Unidos. O principal negociador dos Estados Unidos com a China disse ontem que a detenção da directora financeira da operadora de telecomunicações chinesa Huawei não deverá afectar muito as negociações comerciais, apesar dos fortes protestos de Pequim a exigir a sua libertação. Além disso, Robert Lighthizer deu a entender que os Estados Unidos não pretendem prolongar a trégua de 90 dias da guerra comercial, decretada na semana passada entre Donald Trump e o Presidente chinês. “Para mim, trata-se de uma data limite”, afirmou Robert Lighthizer, o representante norte-americano do Comércio dos Estados Unidos (USTR). “Quando falo com o Presidente dos Estados Unidos, ele não fala além de Março. Ele fala sobre a obtenção de um acordo, se há acordo, nos próximos 90 dias”, insistiu.
“A Drowning Man” vence melhor filme do festival Sound&Image de Macau Hoje Macau - 10 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap] curta-metragem “A Drowning Man”, do realizador dinamarquês-palestiniano Mahdi Fleifel, conquistou o prémio de melhor filme da 9.ª edição do festival internacional Sound&Image Challenge, foi ontem anunciado no teatro D. Pedro V, em Macau. Nas palavras do grande júri, “Drowning Man” é um “retrato oportuno e intemporal do desespero e isolamento sem esperança num país estranho”, uma “pequena obra-prima” que se destaca da “recente onda de curtas-metragens sobre refugiados”. O filme esteve em competição no festival de Cannes, no ano passado. Já “Silent Campine”, do belga Steffen Geypen, venceu o prémio de “melhor ficção” ao levar o “espetador a um mundo obscuro desprovido de valores e regras”. O júri descreveu a ‘curta’ como uma “representação poderosa de um complicado relacionamento entre pai e filho”. Um dos grandes vencedores da noite foi o jovem de Macau Kin Kuan Lam, ao arrecadar três prémios com “Illegalist”: melhor realizador, melhor filme local e identidade cultural de Macau. O melhor documentário foi atribuído ao brasileiro Rodrigo Meireles, com “Anderson”, um homem de meia-idade com paralisia cerebral. Anderson aceitou ser filmado “se o documentário não fosse um drama”, lê-se na sinopse. Na categoria de animação, destacou-se o alemão Malte Stein, que recebeu o galardão com surpresa. “Flood”, simultaneamente “explicável e inexplicável”, conquistou o júri com a sua “visão criativa singular que se desenrola num fundo sinistro e apocalíptico”. Também de Macau, Sam Lam e Tiago Lei venceram o prémio Volume, que distingue o melhor vídeo musical. A menção honrosa foi para o realizador de Macau Chao Ut Ieng, com “Livestreaming”, e a escolha do público recaiu sobre “Who am I”, uma co-produção Macau/Filipinas, de Mark Aguillon. O realizador frisou o baixo orçamento da ficção e disse esperar regressar para o ano. O festival de curtas-metragens, que arrancou com o documentário “A vida aqui, está vista?”, do português Filipe Carvalho, Expandido”, terminou ontem, com uma cerimónia no teatro D. Pedro V. Organizado pela Creative Macau, espaço cultural que celebrou este ano o 15.º aniversário, o festival recebeu na nona edição mais de 4.000 candidaturas.
“Hotel Império” | A cidade imaginária de Ivo Ferreira em destaque no MIFF Sofia Margarida Mota - 10 Dez 201814 Dez 2018 “Hotel Império” não é um filme sobre uma Macau real, mas sim o resultado da percepção do realizador, Ivo Ferreira, acerca da cidade onde vive há mais de 20 anos. Esta é premissa deixada pelo cineasta ao HM acerca da película que está entre os dez filmes recomendados pela 3a edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. “Hotel Império” é apresentado dia 11 de Dezembro, às 21h30 na Torre de Macau [dropcap]D[/dropcap]epois da estreia mundial no Festival de Cinema de Pingyao, em Outubro, e de ter sido apontado como um filme “excepcional que dá uma visão única de Macau” pelo director artístico do Festival Internacional de Cinema de Macau, Mike Goodridge, “Hotel Império” de Ivo Ferreira está em destaque no programa da 3.ª edição do maior evento local dedicado à sétima arte a decorrer a partir de amanhã, até dia 14, e que tem projecção marcada para a próxima terça-feira, na Torre de Macau, pelas 21h30. O filme é uma produção portuguesa e chinesa que traz ao grande ecrã “a cidade e as relações que nela se estabelecem”, começa por dizer Ivo Ferreira ao HM. Mas não se trata de uma Macau comum e capaz de ser identificada por todos, é antes um território que aparece como resultado de uma interpretação imaginária que o realizador foi construindo. “É uma visão, uma espécie de ideia possível de Macau. Eu não sei o que é Macau, não sei quem são as pessoas. Tenho apenas ideias sobre isso”, aponta. Em “Hotel Império”, a cidade é “uma espécie de colecção destas ideias que tenho desde os 18 anos, altura em que cheguei cá pela primeira vez”, refere. Duas décadas a viver em Macau permitiram a Ivo Ferreira assistir às transformações do território, e como tal, o filme apresenta também “a forma como o olhar foi mudando ao longo dos anos. É um mundo inventado, uma Macau fora do tempo ancorada em ideias dos anos 90 e em ideias de futuro”. “[Macau] Tem uma atmosfera muito especial e apesar de tudo há uma espécie de fragrância a melancolia que será, talvez, uma coisa deixada pelos portugueses e que às vezes parece contaminar os espaços.” IVO FERREIRA REALIZADOR IDENTIFICAÇÕES DE LADO O objectivo do realizador em “Hotel Império” não é uma aproximação do real até porque as pessoas que vivem em Macau não vão, na sua grande parte, identificar-se com o que poderão ver, considera. O que Ivo Ferreira pretende é que o público se “entretenha, em vez de ir à pro- cura dos pontos de contacto com a realidade, ou que tente procurar uma pureza dessa Macau que cada um pensa que conhece”, aponta. De acordo com o realizador português, o cinema não é para ser feito como retrato da verdade, “e mal do cinema se fosse”, até porque “para esse efeito existem géneros muito específicos como o documentário ou determinadas ficções”, aponta. “‘Hotel Império’ retrata uma Macau que se desenha muito na possibilidade ou da impossibilidade das personagens que habitam aquele espaço e das suas relações”, sublinha Ivo Ferreira. PALCO DE POUCO CINEMA Imaginado ou real, o território é um espaço apelativo para fazer cinema. “Tem uma atmosfera muito especial e apesar e tudo há uma espécie de fragrância a melancolia que será, talvez, uma coisa deixada pelos portugueses e que às vezes parece contaminar os espaços”, diz o realizador. No entanto, não é fácil fazer filmes por cá, e talvez por isso as películas que têm o território como pano de fundo ainda sejam poucas. “A quantidade de vezes que Macau aparece em filmes é irrisória se com- pararmos com outras cidades como Hong Kong, com Lisboa ou com Pequim”, sendo que esta ausência da sétima arte “não é por acaso, com certeza”, aponta. As dificuldades em produzir cinema no território sentem-se em vários aspectos, e reflectem que Macau é “uma cidade pouco habituada a ser filmada”, o que se vê “nas questões ligadas a autorizações de filmagens com as questões que têm que ver com o próprio tráfego da cidade, por exemplo”, lamenta o realizador. Mas as circunstâncias podem mudar e o Festival Internacional de Cinema, que teve início em 2016, pode representar uma alavanca nesse sentido. “Aliás, Macau começa a ser falada por causa do festival a já está no mapa da sétima arte. Trata-se de um marco importantíssimo para a imagem do território no exterior e para os realizadores locais”, sublinha. Por outro lado, a promoção do cinema feito localmente “é uma forma de dar uma imagem da cida- de que vai para além do jogo e dos casinos. Uma imagem que esteja mais ligada à identidade do lugar e que passa pela cultura”, acrescenta Ivo Ferreira. Não menos importante é o contributo que este tipo de eventos pode trazer para a formação dos próprios residentes, sendo que “contribui para a sua formação intelectual e estabelece um maior contacto com o que se passa no resto do mundo e até dentro do próprio território”, remata.
Autarca de Paris lamenta “cenas de caos” e aponta “danos incomensuráveis” na capital Hoje Macau - 9 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap]presidente de câmara socialista de Paris, Anne Hidalgo, lamentou ontem “as cenas de caos” na capital francesa e os “danos incomensuráveis” para a economia e a imagem da cidade, depois dos protestos do movimento “coletes amarelos”. “Ao lado dos parisienses que viveram ao longo do dia estas cenas de caos”, escreveu a autarca num ‘tweet’, na rede social Twitter. “Dezenas de comerciantes foram vítimas de desordeiros em muitos bairros… Mais uma vez… É deplorável”, afirmou. Num outro ‘tweet’ acrescentou: “Centenas de lojas e instalações públicas foram impedidas de abrir, a degradação em muitos distritos, uma vida cultural e económica paralisada, uma imagem internacional para restaurar: os danos são incomensuráveis. É inimaginável que revivamos isto”. Anne Hidalgo agradeceu às forças de ordem, “que asseguraram a segurança dos parisienses e dos manifestantes” em condições difíceis. Os confrontos com a polícia ocorreram em várias partes da capital, nomeadamente nos Campos Elísios e na praça da República. No início da noite, o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, pediu a manutenção da “vigilância” em Paris e em algumas cidades do interior. Os protestos dos “coletes amarelos” reuniram ontem 125.000 pessoas em toda a França, dos quais 10.000 em Paris, e as autoridades fizeram 1.385 detenções, de acordo com o ministro do Interior. Ainda segundo o ministro do Interior, 135 pessoas ficaram feridas nos protestos, incluindo 17 polícias.
China lança nave espacial para aterrar no lado oculto da Lua Hoje Macau - 9 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap]China lançou ontem uma nave espacial para aterrar no lado menos explorado da Lua e leva consigo, entre outras coisas, sementes de batata para plantar. De acordo com a Administração Espacial Nacional da China, a missão Chang’e 4 realizará observação astronómica de rádio de baixa frequência, análise de relevo, detecção de composição mineral e da estrutura superficial da lua e medição de radiação de neutrões e de átomos neutros. Com a sua missão Chang’e 4, a China espera ser o primeiro país a realizar uma aterragem com sucesso do lado oculto da Lua. A bordo da nave espacial estão também ovos de bicho-da-seda com o objectivo de estudar a sua evolução, que será gravada para ser controlada a partir da Terra. Pequim demonstra, desta forma, a sua crescente ambição espacial, para concorrer com a Rússia, a União Europeia e os Estados Unidos. Se for bem-sucedida, a missão a bordo de um foguete Longa Marcha 3B impulsionará o programa espacial chinês para uma posição de liderança numa das áreas mais importantes da exploração lunar.
USJ | Eric Sautedé perde acção em tribunal Andreia Sofia Silva - 7 Dez 2018 [dropcap]O[/dropcap]Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu ontem a favor da Universidade de São José (USJ) no caso interposto pelo antigo docente da instituição, Eric Sautedé. O caso diz respeito ao pedido de indemnização por parte do professor no valor de 1,3 milhões de patacas após o despedimento ocorrido em 2014. O HM tentou obter um comentário por parte de Sautedé, no sentido de perceber se este vai recorrer da decisão do TSI, mas este não quis comentar por não estar ainda inteirado dos detalhes desta fase mais recente do processo.
Ho Iat Seng está de baixa, mas recebeu associação de Fujian em dia de LAG João Santos Filipe e Victor Ng - 7 Dez 2018 [dropcap]A[/dropcap]pesar de estar de baixa, de ter falhado todas as sessões das Linhas de Acção Governativa (LAG), à excepção do dia em que o Chefe do Executivo esteve no hemiciclo, o presidente da Assembleia Legislativa (AL) recebeu na passada segunda-feira a visita de uma comitiva da Associação de Beneficência dos Naturais de Fukien (Fujian). A data do encontro foi revelada ao HM pela própria associação. Segundo a explicação oficial, Ho Iat Seng sofre de uma inflamação aguda no nervo ciático e está de baixa. Contudo, no mesmo dia em que Alexis Tam esteve na AL a apresentar as LAG para a área dos Assuntos Sociais e Cultura, sessão a que Ho Iat Seng não presidiu, o presidente recebeu uma associação de Fujian. A visita foi revelada pelo jornal Ou Mun Iat Pou, que se escusou a revelar o dia da mesma. No artigo de quarta-feira apenas se refere que o evento tinha acontecido “recentemente”. Porém, ao HM, a Associação de Beneficência dos Naturais de Fukien (Fujian) revelou que o encontro aconteceu na passada segunda-feira. O HM tentou igualmente perceber com que tipo de baixa se encontra Ho Iat Seng, mas ontem, até à hora do fecho da edição, não tinha sido recebida qualquer resposta. Já anteriormente, o HM tinha questionado a AL para saber até quando a baixa ia durar, mas sem resposta. Além do nome da patologia que afecta Ho Iat Seng, o que se sabe da condição do presidente de 61 anos foi revelado por Chui Sai Cheong, vice-presidente da AL. Aos meios de comunicação em língua chinesa, o também irmão do Chefe do Executivo revelou que Ho não consegue estar sentado durante longos períodos, pelo que estaria de baixa, cerca de duas semanas. As estimativas apontavam para que o presidente da AL só regressasse na próxima semana. Anteriormente um especialista ouvido pelo HM explicou que uma inflamação aguda no nervo ciático é “uma situação temporária que se pode resolver com cirurgia ou fisioterapia”. O mesmo especialista clarificou ainda que a nível profissional uma pessoa afectada por esta patologia “continua activa” para fazer o que for necessário.
Aquecimento global João Romão - 7 Dez 20185 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap]meio desta semana a neve e o frio chegaram com persistência a Sapporo: as temperaturas desceram até perto dos 10 graus negativos e as ruas a tornaram-se brancas e silenciosas, com muito menos carros e os respectivos sons abafados e absorvidos pelo suave manto branco que cobre o asfalto das estradas e também o cimento dos passeios. Seria coisa normal se acontecesse bastante mais cedo: normalmente os primeiros nevões chegam em meados de Outubro e as temperaturas negativas instalam-se no início de Novembro, assim ficando por largos meses, até uma tardia Primavera cujos sinais não são visíveis antes do final de Abril. Sapporo, com quase dois milhões de habitantes, é a maior cidade de Hokkaido, uma ilha no norte do Japão, com uma área semelhante à de Portugal e uma geografia muito particular: ainda que a latitude seja semelhante à da França (Sapporo está a 43 graus norte e Bordéus está a 44 graus norte), é a região mais a sul do planeta onde se fazem sentir os efeitos dos ventos e correntes marítimas do Ártico. O resultado é um longo e intenso Inverno, com a neve a ocupar a cidade de Sapporo por quase seis meses e a permanecer ainda mais tempo nas zonas de montanha. Aliás, a região é destino privilegiado de praticantes de ski e outros desportos invernais e Sapporo já acolheu Jogos Olímpicos de Inverno (em 1972), preparando-se agora para nova candidatura. Com uma ocupação tardia pela população japonesa, que chegou a este território de clima hostil em finais do século XIX, Sapporo é uma cidade moderna, com vias e avenidas largas, onde não se encontram as ruas estreitas e os encantos da tradição arquitectónica do Japão antigo, e que se tornou uma das maiores metrópoles do país (é hoje a quinta maior cidade do Japão). Essa modernidade e as adversas condições climatéricas obrigam a uma impressionante infraestrutura urbana que inclui, por exemplo, longos passeios subterrâneos a ligar várias zonas do centro da cidade sem que seja necessário caminhar ao ar livre. Igualmente impressionante é o funcionamento do aeroporto internacional, que além das ligações directas às maiores cidades da Ásia, oferece 32(!) voos diários para Tóquio (a ligação com maior frequência no mundo), sem que os quase 6 meses de neve (e ocasionais ventanias) afectem significativamente as operações. Em tempo de aceleradas transformações climatéricas no planeta – cuja emergência é uma vez mais reiterada na cimeira das Nações Unidas sobre o Clima que se realiza por estes dias na cidade polaca de Katowice – é nos polos que são mais evidentes os sinais da mudança. Exemplos bastantes conhecidos são os dos canais navegáveis nos mares da região do Ártico, cujos períodos de navegabilidade têm vindo a aumentar sistematicamente, em alguns casos passando de duas ou três semanas no pico do verão para quatro ou cinco meses. Ainda assim – apesar dos apelos e declarações que assinalam a agenda mediática em ocasiões como a realização das cimeiras do clima (António Guterres declarou mesmo que este é o maior problema da humanidade actualmente) – nem sempre parecem sensatas as reacções ao fenómeno: na realidade, o alargamento do período de navegabilidade de partes significativas do Ártico está a ser usado para aumentar o tráfego marítimo e intensificar a exploração de recursos (como o gás natural e o petróleo), sempre com licenças (e eventual apoio) governamental e frequentemente com suporte científico, envolvendo Universidades e centros de investigação que, mais do que procurar estratégias de mitigação de impactos negativos, se dedicam à exploração de novas oportunidades comerciais e de financiamento. O capitalismo, já se sabe, é um sistema particularmente hábil na transformação de crises em oportunidades. As declarações e documentos que se vão apresentando na cimeira do clima mostram que pouco caminho se fez para contrariar a tendência do aquecimento global: as medidas vão-se revelando insuficientes e, na realidade, está longe de se ter concretizado o que se acordou em Paris em 2015. Pior do que isso, parte dos países que subscreveram o acordo expressaram a intenção de o abandonar, na sequência das mudanças nas respectivas lideranças políticas (Estados Unidos e Brasil, pelo menos), e alegando que a maior urgência é preservar empregos. Já o aquecimento do planeta, vai fazendo o seu caminho, implacável. Não sei se o atípico Inverno que estou a viver em Hokkaido é fruto dessa alteração lenta e estrutural do clima na Terra ou apenas o fruto de circunstâncias ocasionais. Em todo o caso, tamanha transformação não deixa de ser impressionante e intimidativa, mesmo que torne muito menos desconfortáveis os longos meses de neve e frio nestas paragens.
Torneio da Soberania vai contar com Hélio Sousa, um dos heróis de Riade Diana do Mar - 7 Dez 2018 O “fininho” de Setúbal, como ficou conhecido Hélio de Sousa, campeão do mundo de sub-20 em 1989, em Riade, vai marcar presença no Torneio da Soberania [dropcap]O[/dropcap]s veteranos do Vitória de Setúbal vão voltar a representar Portugal no Torneio da Soberania, a disputar nos próximos dias 14 a 16. No regresso a Macau, os sadinos trazem Hélio Sousa, um histórico do clube, campeão do mundo de sub-20 em Riade, 1989, (Arábia Saudita) e actual seleccionador nacional de sub-19. “Se bem que é a segunda vez que o Vitória de Setúbal participa no nosso torneio, este ano traz uma referência muito especial para o torneio: o Hélio Sousa. É o cartaz mais importante da equipa”, realçou Francisco Manhão, fundador e antigo presidente da Associação dos Veteranos de Futebol de Macau, a entidade que organiza o evento e ontem deu ontem a conhecer as equipas que vão integrar a 18.ª edição da prova. Além de Portugal, representado pelo Vitória de Setúbal, bem como de Macau, Hong Kong, Taipé, participa a China (representada pela província de Sichuan), a Coreia do Sul e o Vietname. Francisco Manhão não arrisca avançar com um favorito, embora destaque em particular o potencial de três das oito formações de antigos futebolistas. É o caso da Coreia do Sul, cuja hegemonia no Torneio da Soberania – onde se sagrou campeã por oito vezes, a última das quais na competição do ano passado – não deixa ninguém indiferente. “Penso que é a equipa mais disciplinada e, portanto, tem uma grande vantagem”, apontou. Para Francisco Manhão, o Vietname também desperta grande interesse desde logo porque, desta vez, traz mesmo a selecção nacional de veteranos, sendo de esperar que também tenha “uma palavra a dizer no torneio”. Olhar atento também para o Vitória de Setúbal e não só porque conta com Hélio Sousa. “Este ano parece que vem mais bem preparado, começaram os preparativos com bastante antecedência e tiveram muitas competições em que participaram”, realçou Francisco Manhão, dando o exemplo de uma conquista recente dos sadinos num torneio em Angola. Já da China vem uma equipa da província de Sichuan, que fará a sua estreia. “É sempre bom [ter] uma equipa nova”, apontou Francisco Manhão. E a RAEM? “O mais importante é a equipa da RAEM ter ganhado a primeira edição. É dar oportunidade para as outras equipas também, não é? Macau não pode ganhar sempre”, gracejou. O torneio divide-se em dois grupos: o primeiro, de equipas por convite, junta Portugal, Coreia do Sul, Malásia e Vietname, enquanto o segundo as restantes quatro formações (Macau, Hong Kong, China e Taiwan), cuja ordem vai ser definida por sorteio na próxima quinta-feira. A final realiza-se domingo, dia 16, no relvado do Canídromo. Sonhos antigos Francisco Manhão faz um balanço positivo da prova, que entra no 18.º ano, enaltecendo o crescente interesse de muitas equipas em alinharem, nomeadamente de Portugal, dando o exemplo do Estoril. “Isto é bom sinal”, observou Francisco Manhão, para quem o torneio tem sido “bem promovido” por via de elementos do Vitória de Setúbal, do Marítimo e do Sporting. “Acho que isso ajudou bastante a promover o interesse desses clubes” pela prova. Francisco Manhão não esconde que gostaria de contar com o Benfica ou o FC Porto, mas reconhece as limitações. “É muito difícil [trazê-los], porque têm muitas exigências e somos uma associação sem fins lucrativos que está sempre dependente de subsídios” para organizar o evento desportivo de cariz anual, orçado em aproximadamente um milhão de patacas. Em paralelo, apontou, não seria “justo”: “Se conseguíssemos oferecer aquilo que eles pedem, como seria com as restantes equipas?” “Eu bem gostaria que viesse o Benfica ou o Porto porque, de facto, têm equipas de veteranos muito poderosas, com estrelas antigas e seria um bom cartaz para o torneio”, admitiu. A pensar em 2019 Para 2019, “ano especial”, dado que se assinalam os 20 anos da RAEM e da Associação dos Veteranos de Futebol de Macau, Francisco Manhão gostaria de fazer mais: “Em vez de ser só quatro dias de torneio penso que deve fazer mais alguma coisa, como uma exposição fotográfica desde a primeira edição [do Torneio da Soberania] e outras actividades desportivas para ter mais impacto e despertar o interesse do público em geral”.
GP Macau | Taças do Mundo de Turismos e GT continuam no cartaz Sérgio Fonseca - 7 Dez 2018 [dropcap]E[/dropcap]speravam-se algumas decisões importantes do último Conselho Mundial da FIA de 2018 no que respeitava ao futuro das três Taças do Mundo da Federação Internacional do Automóvel que fazem parte do programa do Grande Prémio de Macau. De São Petersburgo, na Rússia, veio a esperada confirmação da continuidade da Taça do Mundo de Carros de Turismo, o voto de confiança de como o Circuito da Guia é o palco certo para a Taça do Mundo FIA de GT e uma nebulosa incerteza em relação à prova de Fórmula 3. Como anunciado aqui há duas semanas, o circuito citadino da RAEM acolherá a nona das dez jornadas triplas da Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR) de 2019. Todavia, Macau deixa de ser prova de fim de época, rumando o campeonato à Malásia, em data a determinar, para a prova de encerramento de temporada. Em declarações à imprensa francesa, François Ribeiro, o CEO da Eurosport Events, empresa que tem os direitos de promoção do campeonato, referiu que a maioria dos pilotos do WTCR mostraram-se a favor que o Circuito da Guia, pela sua natureza, não fosse palco da última e decisiva prova do campeonato. Para além de ter anunciado também algumas alterações no sistema de pontuação e o limite de dois carros por equipa e quatro carros por construtor no campeonato, o número máximo de inscritos para a temporada completa passa de 28 para 32. A FIA confirmou também que aceitará a participação de “wild cards”, ou pilotos convidados, no campeonato, mas estes não marcarão pontos. Recorde-se que foi através de “wild cards” que Macau esteve representado este ano na Corrida da Guia com seis concorrentes. O número de “wild cards” do WTCR estava limitado a dois por prova, mas Macau quebrou essa limitação, permitindo a participação de André Couto, Filipe Souza ou Rui Valente. Luz verde aos GT Apesar do número de inscritos ter ficado aquém das expectativas na edição do passado mês de Novembro, a Comissão de GT da FIA deu o seu aval para que a próxima edição da Taça do Mundo FIA de GT seja realizada no território, decisão “sujeita à homologação do circuito e acordo com o promotor”. O comunicado da federação internacional também refere que uma “classe dedicada a pilotos Prata será introduzida”. Em 2017, a própria FIA exigiu que a prova realizada dentro da Taça GT Macau fosse apenas para pilotos Ouro e Platina de acordo com o sistema de categorização do órgão máximo que regula o desporto automóvel a nível mundial. Esta decisão terá afastado a participação de alguns pilotos, principalmente privados que são essenciais para construir uma grelha de partida com mais de duas dezenas de participantes. Stéphane Ratel, cuja empresa SRO Motorsport Group coordena esta corrida em parceria com a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC), afirmou que as duas corridas sem incidentes da pretérita edição vão ajudar à reabilitação da Taça do Mundo FIA de GT, esperando cativar o interesse de mais construtores e pilotos privados em 2019. Incerteza na F3 No país dos czares, a FIA anunciou o calendário do seu novo campeonato de Fórmula 3, organizado pelas mesmas pessoas que fazem o mundial de Fórmula 1, mas não se pronunciou sobre o Grande Prémio de Macau. Notícias que vieram a lume na imprensa internacional especializada na quarta-feira deram conta da possibilidade do Grande Prémio manter a aposta nos monolugares actuais, que têm homologação até ao final de 2019, para a corrida de Fórmula 3 do próximo ano, em vez de dar as boas-vindas aos mais modernos, mais seguros e mais rápidos monolugares da última geração. Contudo, a FIA deixou a porta aberta a estes monolugares da última geração no Grande Prémio, visto que a última ronda da temporada do novo campeonato de Fórmula 3 está marcada para o mês de Setembro na Rússia, dando tempo mais que suficiente para preparar a viagem de final de ano à RAEM. As negociações entre a FIA e a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau sobre este assunto deverão decorrer nas próximas semanas. Todavia, há uma dúvida que sobressai caso a opção recaia sobre os monolugares vistos este ano a competir na prova de Fórmula 3. É que a FIA não permite o uso da nomenclatura “Fórmula 3” em qualquer campeonato que não utilize os Fórmula 3 da última geração. Isto é, campeonatos de Fórmula 3 que usam monolugares das gerações anteriores não podem usar a nomenclatura “Fórmula 3”. O defunto Campeonato Europeu FIA de F3 chamar-se-á a partir do próximo ano Formula European Masters e o ex-campeonato espanhol da especialidade, que usa os mesmos carros, é designado de Euroformula Open. Se o entendimento das entidades responsáveis ditar a manutenção dos chassis Dallara F317 e se a FIA mantiver a coerência, a possibilidade do Grande Prémio de Macau outorgar a Taça do Mundo de Fórmula 3 pelo quarto ano consecutivo poderá ficar comprometida. Por outro lado, esta opção adiará apenas por um ano uma decisão mais importante que é o próprio futuro da corrida que atribui o título de vencedor do Grande Prémio de Macau.
A lapiseira amarela António de Castro Caeiro - 7 Dez 201814 Dez 2018 [dropcap]L[/dropcap]apiseiras era o que eu mais perdia na infância. Sempre as achei fascinantes. Eram lápis sofisticados. Não requeriam aparo. As minas eram substituídas. Eram mais grossas do que as que eu agora uso. As lapiseiras tinham uma estrutura metálica em forma de garra para prender as minas. Havia de muitas cores. Lembro-me em particular de uma amarela. Transportava-a dentro do estojo em forma de chuteira de futebol com borracha Rotring, que ia dentro da mochila. Houve alturas que sublinhava a vermelho e a azul, a lápis e depois a tinta, mas prefiro os livros sublinhados de leve. Ainda não consigo fazer como em Oxford. Não sublinhar os livros não é ainda para mim uma opção. Uso, não minto, os PDF’s para buscar palavras e ocorrências e as ler em contexto, mas cada vez mais estou dependente do papel, seja em livro seja em fotocópia. Vejo mal ao longe e ao perto, mas as letras em tamanho máximo no ecrã não são tão cómodas como as palavras no papel. Lapiseiras era o que mais perdia na infância. Mas perdia muitas outras coisas. Não sei se eram roubadas as coisas ou não. Quero acreditar que não. Desapareciam. Estavam ao pé de mim. Depois, sem me aperceber de como desapareciam completamente. Como é que a única coisa de que damos falta, que está ausente, em paradeiro desconhecido, passa a ser a única coisa em que pensamos, a que damos consistência. Li mais tarde a formulação latina praesentia in absentia. Quando perdemos uma coisa, não sabemos onde ela está. É o advérbio interrogativo que faz a pergunta. Onde está a lapiseira? Onde deixei a lapiseira? Onde está X? Sabemos ou julgamos saber onde estão todas as coisas ou não nos importa saber onde elas estão. Não é por precisarmos dela necessariamente que perguntamos onde estará a lapiseira. Pode ser só para saber onde está, para sossegarmos, porque não lidamos bem com a perda de objectos que são nossos. Não lidamos bem com a perda. É simbólica esta perda? Ou não será porque damos valor ao que temos. Damos o valor ao dinheiro que resulta do esforço do trabalho para podermos comprar coisas. Damos valor afectivo às coisas. “As nossas coisas” dizemos. Queremos saber da sua disponibilidade. Queremos saber onde estão as coisas, as nossas coisas. Mas aquela única coisa que julgamos perdida é interrogada a respeito do seu lugar. Não achamos que evaporou, mas é como se se tivesse evaporado. Abre-se um campo de latência mais ou menos definido dos sítios onde pode estar. Debaixo das peças de mobiliário da sala de aula, das cadeiras e das secretárias. Revolvo a mochila, procuro em todos os cantos e recantos. Lembro-me de ter tido a lapiseira na mão e depois sobre a secretária. Não pode não estar senão ali. E nada. Em casa, procuro-a por toda a parte. Afinal, posso ter-me confundido. Não não posso ter-me confundido. E a mãe diz que sou desleixado e distraído. A distração sempre foi uma maleita confesso. Depois mais tarde foi objecto de trabalho aturado, mas está sempre à coca. Mal sinta que baixo a guarda, aí vem ela. Tantas lapiseiras que tive. “Agora, vê lá se a perdes”. “A” é a nova lapiseira. É amarela e preta como alguns lápis antigos. Mas onde é que raio foi parar a lapiseira amarela? Assaltou-me agora essa memória da infância. A memória da lapiseira, a memória da perda de objectos do passado. Sou transportado para o Santa Maria de Belém, numa rua onde fui há pouco tempo jantar com o João Paulo Cotrim. Uma rua que tem um externato, onde eu andei. Foi há mais de 40 anos. As ruas são engolidas pelos bairros que não frequentamos e desaparecem da vista e do quotidiano. Onde estará a lapiseira amarela e a minha infância e tudo o que havia?
Apresentação de um livro perdido e actual Paulo José Miranda - 7 Dez 2018 [dropcap]V[/dropcap]em agora a lume As Constituições Perdidas de Aristóteles, com tradução do filósofo António de Castro Caeiro. Trata-se de um livro envolto em mistério e polémica. Logo na introdução, Caeiro escreve “Os fragmentos são citações de livros perdidos, imputados a Aristóteles. (…) Os fragmentos foram coligidos a partir de obras de outros autores e cobrem um período de mais de mil anos.” Adiante, o filósofo que aqui faz de tradutor acrescenta: “Aristóteles não escapou ao processo de falsificação.” Estamos, por conseguinte, diante de um livro que levanta inúmeros problemas, mesmo antes de analisarmos o seu conteúdo. Mas os olhares que mais me interessam salientar neste livro são outros e dois: o literário e o político, ambos extremamente contemporâneos, actuais. E começo pelo sentido político que grassa as páginas deste livro. Ao lermos estas Constituições não podemos deixar de ser invadidos pelo sentimento de estranheza que habitava estes povos, que no seu conjunto constituíam a Hélade. Ao lermos o livro vemos bem que o mundo é todo ele constituído de diferenças, de estranhezas. O mundo é um lugar estranho. E é este o ponto de vista que grassa os fragmentos. As palavras mostram esta estranheza que é a verdadeira dimensão do humano. Só quando está a sós e sem pensar é que um humano não é estranho para si próprio. Fora desse momento a estranheza invade-o e tudo para quanto olha aparece como não sendo familiar. Ao se agrupar num mesmo texto estes fragmentos sobre “outros povos”, pois é disto que se trata, está-se a promover a visualização da diferença numa tentativa de compreensão do outro. O tom do livro não é o da crítica ou repulsa do hábito do estrangeiro, mas do espanto e da tentativa de aproximação, de querer entender, de querer ver para além da evidente distância que há entre esse hábito e o nosso. Num dos fragmentos, o 611, III parte, Constituição de Creta, 15, ficamos a ver que a hospitalidade aos estrangeiros não era comum, fazendo dos cretenses um povo à parte. Escute-se esta passagem: “Todos os cretenses costumavam-se sentar em cadeiras. Foram eles os primeiros a partilhar alimentos com os hóspedes. Depois de terem dado uma parte do rendimento aos hóspedes, davam quatro porções ao rei: uma tal como deram aos outros, a segunda para o seu reinado, a terceira para a sua casa e a quarta para as suas peças de mobiliário. Em geral, em Creta há uma enorme boa vontade para com os estrangeiros. Também lhe chamavam o lugar de honra” Há aqui de algum modo, com o elemento que nos parece estranho de mostrar terem sido os cretenses os primeiros a sentarem-se em cadeiras, um elogio aos cretenses, mostrando que eram um povo evoluído, civilizado, e que isso se mostrava também ou principalmente pelo modo como tratavam os estrangeiros. Como se a atenção ao diferente fosse uma marca de civilização, uma marca de evolução, fazendo da aproximação entre os humanos uma mais-valia, um universal desejado e ambicionado. Quero, contudo, deixar claro que este esforço pela anulação da distância não vai promover a anulação da estranheza. Veja-se como exemplo o fragmento 611, Constituição de Esparta, 13: “As mulheres espartanas não tinham nenhum adorno, nem sequer podiam trazer o cabelo comprido ou andar com ouro. Alimentavam os filhos de tal sorte que nunca ficassem saciados, para que se habituassem a ser capazes de suportar a fome. Também os ensinavam a roubar e castigavam com açoites quem fosse apanhado a roubar, para que fossem capazes, como resultado deste treino, a sofrer e a permanecerem acordados se caíssem em mãos inimigas. Começavam logo desde crianças a falar de forma breve e a serem comedidos tanto a gozarem com os outros como a serem gozados pelos outros. As suas sepulturas são simples e iguais para todos. Entre eles ninguém coze pão, pois não têm farinha de trigo, mas apenas cevada.” Mas talvez os fragmentos em que este esforço de entender a diferença, o estranho, apareçam de modo mais claro sejam os fragmento 538 e 539. Vejamos primeiro o 538: “A krypteia era chamada a agência secreta dos lacedemónios – se é que se tratava de um dos órgãos de governação de entre os que foram incluídos na constituição de Licurgo, como nos informa Aristóteles. Como quer que tenha sido, permitiu a Platão formar uma opinião sobre a Constituição dos Lacedemónios e Licurgo. A krypteia agia assim: os comandantes jovens enviavam, de tempos a tempos, aqueles que lhes pareciam ser os mais inteligentes para o campo, apenas com um punhal e ração de sobrevivência. Mais nada. Escondiam-se durante o dia, espalhados por locais desconhecidos, e descansavam. Mas, de noite, faziam-se a caminho e assassinavam todos os Helotas que apanhassem. Aristóteles diz ter sido sobretudo quando os Éforos chegaram ao poder que decidiram declarar logo guerra aos Helotas, para o massacre poder ser praticado sem violação de escrúpulo religioso.” Percebemos claramente, no final, o esforço de Aristóteles em incutir racionalidade a um acto que em si mesmo parece falido de razão. E iremos ver o mesmo no fragmento 539: “Como diz Aristóteles, quando chegaram ao poder, os Éforos mandaram anunciar aos cidadãos que deviam cortar o bigode e obedecer às leis, para não terem de ser duros com eles. Eu acho que propuseram a coisa do bigode para que os mais novos se acostumassem a obedecer, mesmo a respeito dos mínimos detalhes.” Embora este último fragmento tenha um carácter cómico, à luz dos nossos dias, se em comparação com o primeiro, a verdade é que estamos diante da mesma espécie de fenómenos: por um lado a prepotência e irracionalidade dos actos perpetrados e, por outro, uma tentativa de compreensão, de conferir racionalidade ao que nos é estranho. Mas voltando ainda ao espectro da estranheza e da diferença, e neste caso em relação a nós aqui e agora, leia-se o fragmento 542: “Aristóteles diz que na Constituição dos Lacedemónios que estes usavam para os combates um uniforme cor de púrpura e isto por dois motivos. Primeiro, por causa da virilidade da cor. Depois, porque o sangue é dessa cor e assim ajuda a fazer pouco caso do sangue derramado.” Esta ligação da cor púrpura à virilidade soa-nos claramente estranha. Mas imbuídos do espírito do livro, deste exercício de aproximação ao estranho e distante, ficamos presos ao segundo argumento, o de ser duma cor semelhante à do sangue e por isso ter ou poder ter efeitos práticos e úteis. Esta aproximação contínua ao estranho e diferente faz deste livro um livro actual. Actual, porque necessário aqui e agora. Falta-nos hoje, e cada vez mais, este exercitar-nos na aproximação ao diferente e estranho. Aliás, o que temos visto recentemente é o nosso mundo a caminhar cada vez mais para uma anulação do diferente. Caminhamos perigosamente, e na contramão deste livro de Aristóteles, não num conferir racionalidade ao que nos parece carecer dela, mas conferir irracionalidade ao que nos escapa por falta de exercício racional. Isto só por si faz deste livro um livro urgente, um livro que tem um uso actual e necessário. Um livro político, na melhor acessão da palavra. Do ponto de vista literário, estes fragmentos estão repletos de pequenas pérolas narrativas, como se se tratassem de micro-contos, que, no seu conjunto, acabam por nos dar um retrato panorâmico da Antiga Grécia e da sua enorme diversidade. Relatos que nos instiga a querer ver mais do que nos é contado, a imaginar, a fazermos nós uma continuação daquilo que nos é contado, que é a função da grande literatura. E apenas como exemplo disto, vou ler-vos o fragmento 609: “Aristóteles, o filósofo, relata que alguns dos Gregos, quando regressavam de Tróia, foram surpreendidos, ao contornar o cabo Maleia, por uma tempestade violenta. Arrastados pelos ventos durante tanto tempo, vaguearam por muitos mares, acabando por ir dar a um local de Ópica, chamado Lácio, e que fica no mar Tirreno. Contentes por verem terra, puxaram os barcos para aí mesmo passarem a estação das tempestades, preparando-se para partir quando chegasse a Primavera. Então, numa noite depois de o fogo lhes ter destruído as embarcações, sem saber o que fazer para prepararem a partida, a inevitabilidade inesperada obrigou-os a fazerem vida justamente no local onde tinham ido dar. Isto aconteceu-lhes por causa das mulheres cativas que traziam de Tróia. Foram elas quem incendiou as embarcações, com medo da partida para a casa dos Aqueus, porque uma vez lá chegadas iriam para a escravidão.” Estamos assim perante uma versão da fundação da cidade de Roma, mais literária e mais humana do que a versão mitológica conhecida. E ao longo deste livro temos várias pérolas literárias semelhantes a esta. Terminava esta apresentação voltando à estranheza que percorre as páginas deste livro e que não vos deve ter passado despercebido ao escutarem os fragmentos que vos li. De facto, a estranheza está não só no conteúdo, para nós agora e para os povos da Hélade, confrontados uns com os outros nos seus hábitos, mas também na forma, neste confronto entre as línguas gregas que falam nos textos originais e a nossa língua portuguesa. Resta agradecer ao António de Castro Caeiro este livro fazer agora parte da nossa língua.
De cavalo para burro José Navarro de Andrade - 7 Dez 201814 Dez 2018 [dropcap]Q[/dropcap]uando no outro dia acabei de ver “Broken Lance” (“A lança quebrada”) na TV reforçou-se-me a convicção de que dar atenção aos filmes pela assinatura do realizador, segundo o vigente e peremptório dogma do “cinéma d’auteur”, traz menos benefícios do que prejuízos a quem quiser ver o cinema sem os óculos escuros dos estereótipos. Quase ignoto, pode-se considerar “Broken Lance” como um anódino produto saído em 1954 da linha de montagem de Hollywood. Edward Dmytryk, o seu realizador, nunca se fez digno do pendão e caldeira dos “auteurs.” E se David Thomson, sumo pontífice da história do cinema, o despacha como um que de tanto lhes puxar o lustro as suas fitas redundavam embaciadas e pomposas, também Pauline Kael a insurgente da crítica clássica, além de não ligar pevas ao filme, nunca isenta Dmytryk da sua mordacidade nas escassas referências que lhe faz em 5001 noites de cinema. Estaríamos conversados não fosse “Broken Lance” uma caubóiada lauta e suculenta como um bacalhau com todos. Ora aqui está um belo exemplo de que para percebermos como as coisas resultam convém perceber como são feitas. No período exuberante de Hollywood as obras tanto poderiam surdir da ambição de um produtor em haurir a popularidade de um elenco, como despontar de um argumentista que trouxesse um guião promissor. Normalmente estas e outras mil intenções, em concordando, transitavam para a produção. De modo que realizadores com influência e arbítrio para convencerem os produtores a investirem nos seus projectos eram apenas um punhado, aqueles que tinham o “nome acima do título” – e mesmo estes, as guerras que tiveram para conseguirem, quando conseguiam, meter a unha na montagem final… Há filmes bons e filmes maus e é aqui que tudo vem ter antes e depois de qualquer “ideia de cinema.” E se amiúde um filão de filmes notáveis confere com o nome de um autor, raro é que um determinado autor rubrique sempre filmes relevantes. Ora observar o todo pelos seus particulares e a partir das excepções, dar-nos-á dele o melhor, mas bastante peixe graúdo passa pela malha larga dessa rede. Os eloquentes méritos de “Broken Lance”, que a ele nos prendem, promanam em primeiro lugar do cativante argumento. Veio ele de Philip Yordan, que apesar de vender histórias avulsas, mormente a companhias de 2.ª, o seu estro era sobejamente respeitado pelos pares. Que tenha ganho um Oscar depois de três vezes nomeado, valerá talvez menos hoje do que ter escrito o idolatrado “Johnny Guitar”. “Broken Lance” é um filme com ”mensagem” e está cosido de referências cultas – gato de rabo de fora é a alusão a Rei Lear e seus herdeiros. Mas à boa maneira clássica isto é exposto sem levantar a voz; quem quiser ou puder, vê, e quem não vir não se perde no enredo. Por esta altura já o western não elidia a sua maior inclinação para o trágico do que para o épico. Fanada a suposta superioridade moral da conquista do Oeste o foco assestava agora nos dilemas e nos conflitos impiedosos que aquela terra sem barreiras acicatava. Portanto o argumento de “Broken lance” não poupa esforços para nos inquietar. Merecedor de apreço paralelo ao da história é o elenco. Spencer Tracy, ciente do seu Outono, investe na personagem a altivez e a fúria que ela exige, mas também a convicção e o denodo que a tornam respeitável, traços de só um actor sazonado seria capaz. Com ele contrasta um Robert Wagner a filar o osso da sua crescente celebridade e um Robert Wydmark que por esta altura nunca deixava por mãos alheias os seus créditos como vilão. Com balas deste calibre no revólver Edward Dmytryk tem o tento de não as desperdiçar. Ou seja, não estraga com temperos de “autor” os óptimos ingredientes que lhe deram. E nesta discrição manifesta-se a sua competência. Artefacto de confecção industrial, comparado com os filmes de hoje “Broken Lance” dá-nos boa medida do quanto cinema se desvigorou. Todo o cinema. Quer o de cariz industrial, tributário dos planos de marketing, quer o que se diz independente ou auto-intitula de cultural, inflamado de propósitos ou afectado de estilo, mas que só ocasionalmente se desonera da falta de polimento e da parcimónia do artesanato.