Economia | PIB contraiu 1,8 por cento no segundo trimestre de 2019

O Governo admitiu poder haver retracção económica na segunda metade do ano, após uma quebra no crescimento do PIB de 3,2 por cento no 1º trimestre e de 1,8 por cento no 2º trimestre, mas sublinha que a RAEM tem capacidade de resistir às adversidades

 

[dropcap]T[/dropcap]endo em conta o aumento incessante de factores de incerteza de origem externa, é de prever que a economia local continue a deparar-se com uma pressão de recessão durante a segunda metade do corrente ano”, refere o comunicado enviado pelo Gabinete do Secretário para a Economia e Finanças, no final da passada sexta-feira, após o conhecimento dos dados oficiais relativos ao segundo trimestre de 2019.

De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Produto Interno Bruto (PIB) de Macau registou uma contracção de 1,8 por cento no segundo trimestre no ano, em relação a igual período no ano passado, depois de um decréscimo de 3,2 por cento no 1º trimestre. O Governo atribui esta quebra no desempenho das contas locais “à redução das obras de construção e à diminuição contínua do investimento em activos fixos”.

De forma a combater esta tendência, o Governo de Macau vai “acompanhar, de perto, o impacto do ajustamento económico”, adoptando medidas relativas ao “mercado de emprego” e promovendo a “realização de grandes projectos de construção pública”.

O arrefecimento do 2º trimestre deveu-se também, em grande parte, ao decréscimo de investimento do sector público no sector da construção, de menos 51,6 por cento, face aos valores excepcionalmente elevados, em igual período de 2018, referentes aos trabalhos na ilha fronteiriça artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, justificou a DSEC na sua divulgação.

Como lembrou o gabinete de Lionel Leong, não obstante os desafios provocados pelas incertezas económicas, a taxa de desemprego no 2º trimestre do ano situou-se nos 1,7 por cento, menos 0,1 por cento do que em 2018, tendo a mediana do rendimento mensal do emprego em Macau sido de 16.300 patacas, o que corresponde a um acréscimo homólogo de 1,9 por cento.

A par destes números, os dados estatísticos do turismo revelaram-se igualmente positivos. No primeiro semestre do ano chegaram a Macau 20 284 633 visitantes, o que representou um acréscimo de 20,6 por cento, em termos anuais. A abertura da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau também foi responsável pela vinda de mais visitantes, e é uma aposta do território na dinamização do sector.

Contas sólidas

Macau vai aproveitar “o forte alicerce das finanças públicas já solidificado e tirar proveitos da situação estável de pagamento externo, do regime de indexação confiável e do sistema financeiro consolidado, para fazer face às mutações da conjuntura económica externa, assegurando que as despesas públicas dedicadas ao bem-estar da população não sejam afectadas”, referiu o comunicado do Gabinete do Secretário.

O Executivo e os diversos sectores sociais preparam-se para “adoptar uma postura proactiva, redobrando esforços para responder às mudanças, mediante a manutenção da estabilidade e a adaptação conjuntural”, transformando em oportunidades as vantagens resultantes dos acordos da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

O desenvolvimento adequado das indústrias “reforçará a capacidade da RAEM na luta contra as adversidades” e, só neste primeiro semestre, foram constituídas 3.278 sociedades, mais 105 do que em idêntico período do ano passado. “O capital social destas sociedades cifrou-se em 3,40 mil milhões de patacas, representando um aumento substancial de 6,5 vezes”, o que revela que “o desempenho económico de Macau tem atraído mais investidores locais e estrangeiros”.

Sem dívidas

Além disso, o Governo da RAEM não tem “nenhuma dívida nem encargos, continuando a registar saldos financeiros positivos”. No primeiro semestre registaram-se saldos de “cerca de 30,5 mil milhões de patacas nas contas públicas” e, até ao final de Junho de 2019, o valor total dos activos da reserva financeira era de 569,3 mil milhões de patacas, correspondendo a uma subida homóloga de 10,9 por cento.

Os depósitos dos residentes também atingiram 654,65 mil milhões de patacas, até final de Junho de 2019, com um aumento homólogo de 11,1 por cento. Já os empréstimos internos ao sector privado cresceram 7,6 por cento, em termos anuais, atingindo 514,9 mil milhões de patacas, o que parece indicar, mais uma vez, a confiança na robustez das finanças locais.

Post-its no Lago Nam Van levam a intervenção policial

[dropcap]N[/dropcap]o sábado de manhã, apareceu uma pequena “Lennon Wall” numa parede no passeio que ladeia o Lago Nam Van. De acordo com o portal All About Macau, a aparição levou ao destacamento de agentes da Polícia de Segurança Pública para o local, onde foram interceptados quatro estudantes do ensino secundário, que recusaram a autoria do “mural” de protesto.

Uma aluna terá dito que escreveu palavras de motivação, e quando estava sentada perto do local foi interceptada pelas autoridades. A jovem apontou a existência de papéis com palavras insultuosas na parede, que terá rasgado. Outro aluno interceptado pela polícia salientou que era apenas um jovem, que não queria o caos para Macau e que acreditou que a parede era uma oportunidade para apoiar a região vizinha.

Depois de interrogados durante uma hora, os jovens foram autorizados a seguir as suas vidas. Além dos estudantes, havia um repórter no local a quem foi pedida identificação, processo que levou cerca de 20 minutos.

Na sequência do incidente, ninguém foi detido e o local foi limpo. Na parede constavam frases como “as cinco exigências” dos manifestantes de Hong Kong, “Força Gente de Macau, Força Gente de Hong Kong” e “Não queremos um pequeno círculo eleitoral”. Além destas mensagens, a parede do passeio em redor do Lago Nam Van tinha colados vários post-its, à semelhança dos recados afixados na “Lennon Wall” na Harcourt Road em Admiralty.

Diplomacia | Chui Sai On encontra-se com congressistas norte-americanos

No sábado, Chui Sai On recebeu uma comitiva de membros do Congresso dos Estados Unidos, numa altura de escalada na relação entre Pequim e Washington. O Chefe do Executivo deu as boas-vindas ao investimento norte-americano, enquanto a congressista Dina Titus referiu que na guerra comercial “ambos os lados irão perder”

 

Com Lusa 

[dropcap]E[/dropcap]nquanto a China e os Estados Unidos aumentam as hostilidades na guerra comercial, Chui Sai On recebeu uma delegação de congressistas norte-americanos em visita oficial.

A um dia de ver eleito o seu sucessor, Chui Sai On estendeu a passadeira vermelha aos representantes do órgão legislativo de Washington e referiu que as empresas norte-americanas são bem-vindas a expandirem os seus negócios em Macau. O actual Chefe do Executivo sublinhou que, nos últimos dez anos, as empresas norte-americanas registaram em Macau “um desenvolvimento positivo com receitas favoráveis”. Por outro lado, destacou, que essas empresas “colaboraram nas políticas do Governo local, promovendo a economia adequada e diversificada de Macau”.

Por sua vez, a congressista, também citada na mesma nota, disse que a guerra comercial entre a China e os EUA é uma situação em que ambos os lados irão perder. Como tal, Dina Titus espera que termine o mais breve possível, não só por afectar a economia, mas também a interacção entre as culturas e povos.

De acordo com a nota do gabinete do Chefe do Executivo, outros dois membros da comitiva de congressistas, Ann Kirkpatrick e Alan Lowenthal referiram que o desenvolvimento da economia local e do comércio entre a China e EUA é mutuamente favorável ao impulso do comércio entre os dois países, assim como entre Washington e Macau. Importa salientar que os três congressistas citados pelo gabinete do Chefe do Executivo são democratas, e estão do lado oposto da barricada política de Donald Trump.

Entretanto, a guerra comercial entre os EUA e a China voltou a conhecer um novo episódio esta semana, com o Presidente norte-americano, Donald Trump, a anunciar na sexta-feira um aumento das taxas aduaneiras para os produtos chineses de 10 para 15 por cento e que os actualmente taxados a 25 por cento subirão para 30 por cento em Outubro. Estes anúncios do Presidente Trump, feitos no Twitter, surgiram no mesmo dia em que a China anunciou que aumentaria as tarifas para produtos norte-americanos no valor de 75 mil milhões de dólares e em que a bolsa de Nova Iorque caiu cerca de 3 por cento, a maior queda desta semana.

Encontro com Alexis

A comitiva de congressistas encontrou-se também com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. Durante o encontro Dina Titus, elogiou o abundante recurso cultural de Macau e mostrou-se profundamente impressionada pela arquitectura tradicional e pelas características culturais da cidade. De igual modo, Ann Kirkpatrick considera possível reforçar a cooperação, nomeadamente, na articulação de eventos de promoção de turismo e cultura.

Por seu lado, Alexis Tam destacou os vários eventos que marcam o calendário cultural do território, com especial destaque para “Arte Macau” e “Encontro de Mestres de Wushu”. O secretário referiu ainda que o poder político de Macau está receptivo a receber exposições culturais e eventos turísticos realizadas por representantes dos Estados Unidos.

Vigília no Largo do Senado | Neto Valente defende legalidade da actuação policial

[dropcap]O[/dropcap] advogado Jorge Neto Valente disse ontem que “não se pode dizer que há limitações à liberdade de manifestação, de reunião e de expressão em Macau”, e que “a prova todos os dias é dada pelos órgãos de comunicação social”.

O presidente da Associação dos Advogados de Macau comentou, à margem das eleições para o futuro Chefe do Executivo, as críticas à acção policial no Largo do Senado na noite da proibida vigília, a 19 de Agosto, contra a violência da polícia em Hong Kong.

“Divergências há, opiniões diferentes ainda bem que há. Porque a liberdade significa exactamente isso, a liberdade de discordar” e “os OCS são um bom testemunho de que é possível dizer-se o que se quer em Macau”, tal como “estou convencido de que em Hong Kong também é assim”.

O deputado criticou ainda as declarações dos advogados portugueses que condenaram a conduta das autoridades policiais, e os atropelos à lei, aquando do processo de identificação das pessoas na rua.

“Eu lamento que certos OCS recorram sempre aos mesmos comentadores” e “é bom que toda a gente tenha presente que há 430 advogados em Macau, dos quais cento e tal são portugueses”, disse, acrescentando que na sua opinião “foi tudo legal”, apesar de considerar “que houve um excessivo aparato, já tive oportunidade de dizer isso”.

E acrescentou que “a mim não me faz qualquer espécie que haja manifestações, desde que sejam pacíficas, e não vejo que houvesse ali grande problema. Agora, que a polícia tem o direito de identificar pessoas, tem. E não tem só agora, já tinha no tempo da Administração Portuguesa e fê-lo muitas vezes”, recordou, desde os tempos pré-1999, em que foi deputado na AL. “Lembro-me precisamente que se discutiu se seria razoável que as pessoas pudessem estar detidas seis horas, ou cinco ou três, porque havia abusos e não eram menores dos que há hoje”.

Chefe do Executivo | Novo Macau lamenta exclusão de 310 mil eleitores 

A Associação Novo Macau diz lamentar que um universo de 310 mil eleitores tenha ficado de fora da eleição do Chefe do Executivo e afirma que a eleição de Ho Iat Seng mostra que a população de Macau não passa de “crianças do imperador com novas roupas”. Jason Chao, membro da associação, lamenta atraso na divulgação dos resultados do referendo

 

[dropcap]S[/dropcap]em surpresas, Ho Iat Seng foi eleito o novo Chefe do Executivo da RAEM com 98 por cento dos votos, um total de 392 de entre os 400 membros do Colégio Eleitoral. A Associação Novo Macau (ANM) emitiu ontem um comunicado onde diz lamentar estes resultados e o facto de o novo Chefe do Governo ter sido escolhido por uma pequena fatia da população.

“Os 310 mil eleitores de Macau estão excluídos da eleição, e as pessoas que supostamente deveriam ser os actores principais tornam-se um mero público. Isto não passa de uma piada”, apontam os activistas.

O acto eleitoral que “nos vai afectar nos próximos cinco anos” é, para a ANM, “a história do imperador com novas roupas, onde apenas uma criança inocente se atreve a dizer a verdade no seio de uma multidão silenciosa”. “Nesta eleição completamente anti-democrática e incompleta, esperamos que mais cidadãos de Macau se possam tornar nessa criança”, apontam ainda.

Para a ANM, “sem democracia, nunca vai existir uma Administração que responda e defenda o interesse público de forma sincera”. No que diz respeito aos jovens de Macau, “não encontram um sentido de pertença”. Desta forma, “como pode a promessa do candidato de levar a cabo uma boa governação ser cumprida?”, questionam os activistas.

No comunicado, a ANM diz ainda esperar que “o próximo Governo leve a cabo uma reforma política e implemente o sistema democrático de uma pessoa, um voto, para o futuro. Deve existir um plano e um calendário neste sentido”.

Críticas internas

Entretanto, a ANM ainda não anunciou os resultados do referendo civil sobre a eleição do Chefe do Executivo devido a questões técnicas, uma decisão que não agrada a Jason Chao, activista e membro da associação do campo pró-democrata.

“Estou chocado com a decisão da ANM de anunciar os resultados com atraso e de por um fim prematuro ao referendo. Não estou envolvido no processo, pelo que não posso comentar a decisão, mas posso clarificar as chamadas ‘anormalidades’ que são apontadas como a razão para a interrupção do website.”

Jason Chao, que esteve ligado ao funcionamento técnico do website, assegura que “nenhuma tecnologia por mim operacionalizada registou qualquer questão técnica que poderia levar ao fim prematuro dos votos ou a um atraso no anúncio dos resultados. Não recebi qualquer relato de falta de segurança ou de integridade nos dados recolhidos”.

Neste sentido, Jason Chao diz “não compreender a referência a ‘anormalidades’ no comunicado da ANM”. O HM tentou obter uma reacção junto do deputado Sulu Sou, ligado à ANM, mas até ao fecho da edição não foi possível obter um esclarecimento.

Membros do Colégio Eleitoral com altas expectativas face ao novo Chefe do Executivo 

[dropcap]T[/dropcap]erminada a votação que deu a vitória a Ho Iat Seng, com 98 por cento dos votos do Colégio Eleitoral, alguns membros mostraram grandes expectativas face ao futuro. Jorge Neto Valente, presidente da Associação de Advogados de Macau, destacou a “votação expressiva” obtida pelo candidato.

“Não deixa de ser impressionante que haja uma votação tão expressiva e isso significa que não serão certamente apenas os membros do colégio eleitoral que apreciam esta mudança. Creio que isto significa que também a população alimenta expectativas de que haja alguma coisa de novo e para melhor. O que as pessoas esperam é que o futuro seja melhor.”

Neto Valente acredita que Ho Iat Seng vai cumprir o que prometeu, e que haverá “uma mudança de estilo” face a Chui Sai On, o actual Chefe do Executivo. “Creio que é um homem do mundo, que conhece bem Macau e a China, e que estará à altura de fazer muito daquilo que prometeu. Agora, não espero milagres.”

O presidente da AAM salienta o facto de Macau viver hoje um tempo “crucial”, pois “é necessário haver alterações na sociedade, uma transformação social e económica”. “Isso não se faz só pela diluição de Macau na Grande Baía, mas pela afirmação de Macau como entidade independente do resto, governada pelas pessoas de cá, sem ilusões quanto às ligações ao interior da China e ao Governo Central.”

Nesse sentido, o causídico acredita que é preciso “afirmar o segundo sistema de Macau, porque o primeiro, todos sabemos qual é”, além de ser necessário “evitar divisões na sociedade e não deixar que aconteça em Macau aquilo que está acontecer em Hong Kong, e que é de facto muito desfavorável para Hong Kong”.

Fátima Santos Ferreira, ligada à associação Fu Hong, disse que “98 por cento é um bom resultado”, esperando que Ho Iat Seng “continue a saber ouvir, pois é importante para qualquer dirigente ouvir os anseios da população”. A responsável, ligada à área social, voltou a defender uma lei respeitante aos acessos sem barreiras para portadores de deficiência, pois tem 36 anos de existência. “Acho que este Chefe do Executivo terá sensibilidade (para mudar), mas é um bocado cedo (para comparar face a Chui Sai On).”

Olhar a habitação

Ho Ion Sang, também deputado à Assembleia Legislativa, considera que Ho Iat Seng sabe quais são os problemas que a sociedade enfrenta, mas pede um calendário e medidas concretas. “Uma grande parte das queixas dos residentes está relacionada com a falta de um plano futuro na área da habitação.”

Defendendo que Ho Iat Seng é capaz de uma “execução forte e eficiente”, tendo em conta os anos na AL, Ho Ion Sang espera, no futuro, uma melhoria no “sistema governamental, com mais eficiência administrativa e transparência”, apostando “no combate à corrupção”.

Chefe do Executivo | Comunidade chinesa em Portugal satisfeita com eleição 

Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, está contente com a eleição de Ho Iat Seng para o lugar de Chefe do Executivo e defende que este saberá lidar com a situação em Hong Kong, tendo em conta a sua experiência. Lam Peng San, ligado ao grupo Estoril-Sol, defende que Ho Iat Seng é a pessoa certa para estar no cargo, e que terá pulso firme para manter a estabilidade em Macau

 

[dropcap]D[/dropcap]ois dirigentes associativos ligados à comunidade chinesa em Portugal mostram-se satisfeitos com a eleição de Ho Iat Seng como o novo Chefe do Executivo da RAEM e garantem que ele é o candidato ideal para governar Macau com estabilidade.

Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e residente no país desde criança, é próximo de Ho Iat Seng e disse ao HM estar contente com esta vitória.

“A eleição correu bem, (Ho Iat Seng) obteve uma grande votação, mas também não havia concorrência. Ninguém se atrevia a concorrer contra ele. Fico contente com isso e desejo muitas felicidades no exercício das suas funções.”

Apesar de ser natural de Macau, a família de Ho Iat Seng tem raízes em Zhejiang, província chinesa de onde é oriunda grande parte dos emigrantes chineses a residir em Portugal. Daí que Ho Iat Seng sempre tenha sido um nome favorito no seio desta comunidade chinesa, como Y Ping Chow já tinha dito em entrevista ao HM, em Abril.

Durante a campanha eleitoral, os contactos entre o candidato e os membros da comunidade chinesa em Portugal foram feitos informalmente. “Não falamos directamente porque os chineses em Portugal não têm direito de voto (em Macau), mas abordámos o assunto de forma informal.

Falámos pouco de política, e apenas fiz uma proposta no sentido de existir uma maior ligação entre Portugal, onde vivo, e Macau, que ele vai dirigir. Gostaria que Macau pudesse ter um maior peso nas relações entre Portugal e a China”, defendeu Y Ping Chow.

Ai Hong Kong

Lam Peng San, dirigente máximo do Casino da Póvoa, do grupo Estoril-Sol em Portugal, é também presidente da Associação Industrial e de Comércio para a Europa e Cantão. Ao HM, o empresário assegura que Ho Iat Seng é a pessoa certa para administrar os destinos de Macau, numa altura em que a vizinha Hong Kong vive conturbados tempos políticos.

“Macau necessita de ter planeamento e um grupo de políticos próximo da China, com capacidade para gerir quaisquer situações especiais, como é o caso de Hong Kong neste momento. O território necessita de ter uma situação estável porque a estabilidade é boa para o futuro da economia. Nesta estabilidade e crescimento é preciso ter cuidado com os políticos estrangeiros ou figuras externas que querem causar problemas em Macau”, defendeu ao HM.

O empresário, próximo de Edmund Ho e que esteve durante anos ligado à STDM, recorda que Ho Iat Seng “tem a confiança da China porque esteve na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês durante muitos anos antes de ser candidato. A sua família também tem a confiança da China e há muito que ele (Ho Iat Seng) tem vindo a trabalhar no planeamento de Macau e a fazer trabalho como político”.

Y Ping Chow, por sua vez, assegura que as sociedades de Macau e Hong Kong são diferentes. “O senhor Ho, com a sua experiência, sabe como lidar com este assunto. Acho que a situação em Hong Kong não vai ter consequências em Macau porque em Macau existe uma cultura diferente.”

Chefe do Executivo | Chui Sai On, Governo Central e Carrie Lam parabenizam Ho Iat Seng pela vitória na eleição

[dropcap]A[/dropcap] eleição de Ho Iat Seng foi motivo de votos de congratulação de vários sectores. Chui Sai On “expressou os seus mais sinceros votos de congratulação ao Senhor Ho Iat Seng” ainda na manhã de ontem, segundo um comunicado do Gabinete do Chefe do Executivo.

“Foi uma manifestação plena da implementação na RAEM dos princípios ‘Um País, dois sistemas’ e ‘Macau governado pelas suas gentes’ com alto grau de autonomia”, lê-se. De acordo com o actual chefe do Executivo, o seu sucessor “corresponde aos requisitos do Governo Central” e “continuará a promover com sucesso o princípio de ‘Um País, dois sistemas’ e a impulsionar o desenvolvimento da RAEM para um novo patamar”.

Também o presidente da Assembleia Legislativa que sucede a Ho Iat Seng, Kou Hoi In anunciou que os 392 votos que elegeram Ho Iat Seng demonstram “a esperança nele depositada pela população”, pelo que manifesta “as mais sinceras felicitações pela sua eleição”. “A sua eleição para o cargo de Chefe do Executivo irá promover, seguramente, a colaboração entre a Assembleia Legislativa e o Governo da RAEM”, apontou.

A eleição mereceu também os parabéns de Carrie Lam, Chefe do Governo de Hong Kong, e das autoridades de Pequim. O Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau e o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado felicitaram Ho Iat Seng pela vitória, tendo destacado o elevado número de votos, ou seja, 98 por cento. Os dois órgãos afirmaram, em comunicado, que o acto eleitoral decorreu de acordo com o princípio de imparcialidade e justiça.

Foi também dito que Ho Iat Seng concorda com os princípios patrióticos de “Amar a Pátria e Amar Macau” e merece a confiança do Governo Central, além de ter capacidade de governação e o reconhecimento da sociedade de Macau. Já o Gabinete de Ligação acredita que Ho Iat Seng vai unir o Governo aos cidadãos, além de promover a inovação e a construção de uma nova era de Macau. Yang Guang, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau, disse que o Governo Central irá cumprir o processo de nomeação de acordo com a lei depois de receber o relatório oficial das eleições.

Por sua vez, Carrie Lam disse que Ho Iat Seng sempre mostrou entusiasmo por servir o território, tendo contribuído nas áreas social, educação e cultura, além de ocupar cargos importantes na política.

A Chefe do Executivo de Hong Kong disse que tanto Macau como Hong Kong partilham o princípio “Um País, Dois Sistemas”, possuindo um grande intercâmbio. Além disso, os dois territórios desempenham um papel importante no processo de reforma e abertura nacional, sendo centrais no desenvolvimento do projecto da Grande Baía. Nesse sentido, Carrie Lam espera poder trabalhar em estreita colaboração com Ho Iat Seng no futuro, para promover o desenvolvimento dos dois lugares.

Ho Iat Seng eleito Chefe do Executivo com 392 votos

Ho Iat Seng é o Chefe do Executivo da 5º Governo de Macau. Ho foi ontem eleito pelos membros do colégio eleitoral, tendo conseguido 392, dos 400 votos em causa. Para o futuro, ficam as promessas de reforma administrativa, o esforço para resolver os problemas de habitação e a manutenção do número de secretários. O futuro Chefe do Governo toma posse a 20 de Dezembro, e admite ter “trabalhos duros” à sua espera

 

[dropcap]O[/dropcap] processo eleitoral teve início às 10 da manhã de ontem na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental. As cadeiras destinadas aos elementos do colégio eleitoral estavam totalmente preenchidas com os 400 membros que compõem o organismo. O Candidato era único, e provou ser consensual. Nas oito urnas disponíveis, Ho Iat Seng teve 392 votos a seu favor.

Houve ainda 7 votos em branco e um voto nulo, anunciava, cerca de uma hora depois, a presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), Song Man Lei.

Os resultados das eleições de ontem seguem agora para o Tribunal de Última Instância onde vão ser verificados. Depois do reconhecimento pelo Governo Central , Ho será nomeado o Chefe do Executivo do 5º Governo da RAEM, a 20 de Dezembro.

Ho Iat Seng é assim o 3º Chefe do Executivo, sucedendo a Edmund Ho que assumiu os primeiros dois mandatos à frente do território, e de Chui Sai On, que estará de saída após ter cumprido, igualmente dois mandatos. Recorde-se que Edmund Ho foi eleito o primeiro Chefe do Executivo da RAEM, em 15 de Maio de 1999, em que obteve 82 por cento dos votos. Em 2004, foi reeleito para um segundo mandato com 296 votos entre 299 expressos pelos membros do Colégio Eleitoral.

Já em 2009, Chui Sai On foi eleito pela primeira vez com 282 dos 296 votos efectuados, num colégio composto por 300 membros e em 2014, foi reeleito com 380 votos, de entre 396 votantes do colégio já constituído por 400 elementos.

Ho Iat Seng tinha já conseguido o apoio de 379 membros do colégio eleitoral para a formalização da sua candidatura ao mais alto cargo do Governo, o que desde logo lhe assegurou ser o único candidato. Para que seja considerado, cada candidato precisava de arrecadar pelo menos 66 apoios.

Promessas abertas

O Chefe do Executivo agora indigitado não poupou agradecimentos no discurso que proferiu após a vitória anunciada, admitindo ainda que tem pela frente “uma grande responsabilidade” que “exige trabalhos duros”.

Já em conferência de impressa, Ho começou por dizer que não vai aumentar o número de secretários. Depois de anunciar que o próximo passo é “descansar uns dias e depois começar a pensar em nomes para os secretários”, o futuro líder do Governo revelou que o seu aumento não será uma boa iniciativa por poder “gerar complicações” na sociedade. “Na altura da Administração Portuguesa eram sete secretários-adjuntos e depois havia muitos directores de serviço. Depois da transferência de soberania temos cinco secretários. Acho que não vou alterar porque pode provocar complicações”, disse aos jornalistas.

Ainda sem nomes revelados, Ho Iat Seng afirma que as suas escolhas vão ter como base dois critérios fundamentais. “Capacidade de execução” e vontade de “comunicar com os cidadãos”. “É necessário ter estas condições”, reiterou. Para já é “preciso ouvir mais opiniões”, até porque “há quem diga que alguns secretários se devem manter e outros devem mudar”. O obejctivo é constituir uma equipa de “alta eficácia” governativa. “Quero uma equipa integra honesta e com capacidade de execução”, acrescentou.

Ho Iat Seng mantém ainda a promessa de reforma administrativa, de modo a desburocratizar os procedimentos públicos. Esta medida não irá implicar despedimentos na função pública, no entanto, também não contempla um aumento do número de funcionários. “Temos que aprofundar a reforma da administração pública, agora se vamos promover reduções ainda não posso responder porque tenho que analisar bem. Não podemos fazer uma decisão arbitrária, mas sim aprofundada”, apontou, acrescentando que, contas feitas, a máquina administrativa poderá contar com cerca de 38 mil ou 40 mil trabalhadores. “Acho que é um número mais ou menos adequado, não há necessidade de aumentar mais e por enquanto o número vai ser mantido”, disse.

Para todos

A aposta na resolução dos problemas de habitação foi também reiterada depois da eleição de ontem. “Sabemos que as casas do mercado privado são muito caras. Há uma camada da sociedade que não consegue adquirir habitação”, voltou a referir aos jornalistas, reiterando a necessidade de encontrar soluções para os jovens e para a classe média, uma vez que as classes mais desfavorecidas têm a situação atenuada com os avanços na construção de habitação social e económica.

Também a saúde é uma preocupação para o futuro governante. Apesar de elogiar os serviços gratuitos para os jovens até aos 18 anos e para os idosos, estes últimos continuam a ter que passar por longos períodos de espera de consultas na especialidade. “Muitos idosos precisam de muitas especialidades e o tempo de espera é muito prolongado, pelo que poderemos ter que aumentar o número de médicos especializados para esta população sénior”, disse. Quanto à restante faixa da população que tem que pagar pelos serviços médicos, Ho sublinhou a importância de analisar a possibilidade de um seguro universal.

Questionado acerca das medidas na área da protecção ambiental, Ho Iat Seng sugeriu que os residentes fizessem menos compras através da plataforma electrónica chinesa Tao Bao. “Quando alguém encomenda um produto por Tao Bao compra um produto com várias embalagens”, disse, argumentando que depois, Macau não tem condições para tratar desses resíduos. “Já temos a triagem dos resíduos. Não temos espaço suficiente para os colocar. Macau é um território muito pequenino, vamos transportar todo esse plástico para outros territórios do sudeste asiático?”, questionou apontando que não seria uma medida justa. “Muitos países que se dizem ambientalistas não o são”, acrescentou, falando das regiões que recolhem resíduos para enviar para outras administrações para serem tratados. Segundo Ho, este não deve ser um exemplo a ser seguido no território.

Tranquilidade financeira

Com as últimas notícias que apontam para a recessão económica do território e a possibilidade de cortes nos gastos públicos, Ho Iat Seng avançou que as contenções não devem abranger os cheques pecuniários. “A compensação pecuniária é uma partilha dos frutos e do sucesso da RAEM e tem surtido bom efeito”, apontou, salvaguardando, no entanto, que a medida pode ser alvo de reestruturação. “Mas a questão reside não na atribuição dos cheques mas se, por exemplo, para a classe média este dinheiro não faz muita diferença”, disse afastando de seguida uma possível categorização da ajuda financeira anual na medida em que seria um processo que requer “gastar muito tempo e muito dinheiro”. “As medidas boas serão continuadas”, rematou.

Quanto à diversificação da economia, a aposta de Ho vai para a tecnologia, revelando que tem protagonizado algumas viagens ao Japão para ver equipamentos capazes de serem adaptados ao sector da segurança alimentar, visto Macau albergar pouca variedade de indústrias. Para Ho, a alta tecnologia aplicada ao sector alimentar pode ser uma possibilidade a explorar. A tecnologia é também a área para investir em talentos, apontou.

Transportes a andar

A linha de Metro Ligeiro que vai fazer a ligação entre o Terminal Marítimo do Pac On, à zona A dos novos aterros e à Ponte Hong Kong -Zhuhai-Macau, vai estar concluída até 2030, garantiu Ho Iat Seng. Trata-se de uma obra prioritária, admitiu. Já a passagem do Metro do Lago Nam Van, ainda não é uma certeza. “De acordo com os estudos do actual Governo, apostamos na construção da linha do Leste, mas em relação ao Lago Nam Van, e ao traçado inicialmente pensado para o sul da península, temos de pensar muito melhor, porque mexe com os trabalhos de escavação do solo e de abertura dos túneis. Por isso vai ser muito problemático. Por outro lado, também pode provocar ruído e a população não vai gostar”, sublinhou aos jornalistas.

Questionado acerca das derrapagens orçamentais protagonizadas pela construção do Metro Ligeiro, o futuro Chefe do Governo garantiu que agora já se conhecem os valores certos, pelo que não se justificam gastos acima do calculado. “Neste momento, cada quilómetro de caminho de ferro está orçado em 500 milhões de patacas. Também não precisamos adquirir muito mais equipamentos”, disse.

 

Da liberdade

O Chefe do Executivo eleito defendeu ontem que a liberdade de expressão no território aumentou após a transferência de administração de Portugal para a China, há vinte anos, e negou existir actualmente “qualquer restrição”. “Penso que temos mais liberdade de expressão depois da transferência de administração de Portugal para a China. Com o princípio ‘um país, dois sistemas’ temos toda a liberdade. É uma liberdade máxima, não há qualquer restrição”, disse em conferência de imprensa. As declarações surgem em resposta à proibição da vigília para condenar a violência policial nos protestos de Hong Kong. Ho Iat Seng afirmou que a Lei Básica prevê o direito à manifestação, sublinhando que os cidadãos podem recorrer da decisão das autoridades. “Em relação ao protesto, a Lei Básica prevê que os cidadãos se possam manifestar (…) Os cidadãos podem apresentar recursos judiciários [depois da proibição da polícia]”, referiu o futuro Chefe do Governo.

Trump diz que Johnson é “o homem certo” e promete acordo comercial rápido

[dropcap]O[/dropcap] Presidente norte-americano considerou hoje o actual primeiro ministro britânico, Boris Johnson, “o homem certo” para liderar o ‘Brexit’ e prometeu um acordo bilateral comercial rápido, assim que o Reino Unido deixar a União Europeia.

Donald Trump e Boris Johnson reuniram-se hoje de manhã à margem do G7 de Biarritz pela primeira vez desde a chegada ao poder do primeiro-ministro britânico.

“É o homem certo para o trabalho”, disse Trump, enquanto Boris Johnson afirmou que os dois países vão concluir “um fantástico acordo comercial assim que as barreiras forem removidas”, segundo imagens oficiais do encontro.

Donald Trump prometeu ao primeiro-ministro britânico um acordo bilateral de comércio “bastante rápido”, assim que o Reino Unido abandonar a União Europeia (UE).

O acordo chegará “bastante rápido”, já que “não prevemos nenhum problema”, assegurou Donald Trump, em breves declarações à imprensa, durante um pequeno-almoço de trabalho com Boris Johnson.

Para Trump, Johnson “é o homem certo” para levar a cabo a saída do Reino Unido da UE, prevista para o próximo dia 31 de Outubro.

Durante este encontro, o Presidente norte-americano admitiu também que é “possível” que venha a convidar a Rússia para se juntar novamente ao encontro anual das economias mais avançadas do mundo, que em 2020 se realiza nos Estados Unidos.

Donald Trump afirmou que está a considerar convidar o presidente russo, Vladimir Putin. A Rússia foi membro do que era então o Grupo dos Oito (G8), mas foi expulsa pela maioria dos outros países em 2014 devido à invasão da Ucrânia.

As nações europeias insistiram para que a Rússia cumpra primeiro os acordos de Minsk antes de ser autorizada a voltar. Trump não especificou sob que critérios iria convidar novamente Putin.

Cimeira G7 | Contradições sobre mensagem para Irão e guerra comercial a marcar manhã de hoje

[dropcap]A[/dropcap] França disse hoje que os líderes do G7 concordaram em encarregar o Presidente francês, Emmanuel Macron, de conversar com o Irão, para evitar uma escalada de violência na região, mas Donald Trump negou a informação.

A presidência francesa disse hoje que os líderes dos países mais industrializados do mundo (G7) concordaram em instruir o Presidente francês para enviar uma mensagem em nome das democracias avançadas ao Irão e manter conversações com as autoridades iranianas.

Não foram fornecidos detalhes sobre a mensagem, mas a presidência francesa disse que o objetivo é prevenir que o Irão obtenha armas nucleares e evitar novas tensões no Médio Oriente.
Questionado sobre se assinou a mensagem, o Presidente dos Estados Unidos afirmou aos jornalistas: “Eu não discuti isso”.

No âmbito de uma reunião bilateral com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, Donald Trump disse que não impede nenhum líder de falar com o Irão, e acrescentou: “Se eles querem conversar podem conversar”. A França está a liderar os esforços europeus para tentar salvar o acordo nuclear iraniano, enfraquecido pela retirada dos Estados Unidos.

Os líderes dos sete países mais industrializados do mundo estão reunidos em Biarritz, França, onde hoje começaram as reuniões com uma sessão dedicada às tensões comerciais e a situação global de segurança, duas questões essenciais da cimeira, que começou na noite passada.

Numas breves declarações à imprensa esta manhã, depois de tomar o pequeno almoço com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump disse que os demais membros do grupo do G7 não lhe pediram para que pare a guerra comercial com a China, reconhecendo depois que tem “dúvidas sobre tudo” o que faz.

“Ninguém me disse isso”, disse Trump, quando questionado sobre se os aliados do G7 o pressionaram para que ponha fim à tensão com a China, que está a diminuir o crescimento económico mundial.

Trump insistiu na ideia de que o que a China fez aos Estados Unidos “é indigno”, por ganhar “centenas de milhar de milhões de dólares por ano” através do que considera serem práticas comerciais ilícitas e roubo de propriedade intelectual.

Ainda assim reconheceu que tem algumas “dúvidas” sobre as suas decisões em relação à China, já que tem “dúvidas sobre tudo”, e apostou na continuação do diálogo com Pequim.

O Presidente francês, Emmanuel Mácron, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediram no sábado em Biarritz que haja uma trégua no conflito comercial entre os dos países, perante as consequências negativas para a economia global.

O próprio Johnson disse hoje, em frente de Trump, que “em geral” é a favor da paz comercial e referiu opor-se, em princípio, à imposição de novas tarifas.

Nas declarações aos jornalistas o Presidente dos Estados Unidos disse ser “possível” que a Rússia regresse ao G7 no próximo ano, depois de ter sido expulsa devido à invasão e anexação da Crimeia, em 2014.

O hipotético retorno da Rússia é um dos assuntos que dividem os membros da cimeira de Biarritz, com Trump a defende-lo e alguns líderes europeus a oporem-se.

Donald Trump também disse não ter ficado satisfeito com o facto de a Coreia do Norte ter feito mais um teste com mísseis, mas desvalorizou a importância do ocorrido.

“Não estou contente, mas mais uma vez ele (o líder norte-coreano) não viola o acordo” sobre esses testes, disse aos jornalistas.

Polícia de Hong Kong anuncia detenção de 29 pessoas no violento protesto de sábado

[dropcap]U[/dropcap]m total de 29 pessoas foram detidas em Hong Kong depois de terem participado sábado numa manifestação pró-democracia marcada pela violência entre manifestantes e as forças de segurança, informou hoje a polícia em comunicado.

O protesto resultou na detenção de 19 homens e 10 mulheres, com idades entre 17 e 52 anos, por crimes como reunião ilegal e agressão a elementos da polícia. “Alguns manifestantes radicais desviaram-se do percurso original e obstruíram as estradas, danificaram as lâmpadas de rua e atacaram polícias. A polícia condena veementemente o comportamento dos manifestantes”, pode ler-se na mesma nota.

Um dos detidos é Ventus Lau, um dos organizadores da marcha que foi autorizada pela polícia, por reunião ilegal, disse seu advogado à agência de notícias Efe. Pelo menos dez pessoas receberam tratamento em hospitais públicos e duas estão “em estado grave”, segundo a autoridade de saúde da cidade.

Depois de 10 dias de relativa paz na ex-colónia britânica, a tensão voltou às ruas no sábado, quando milhares de pessoas se manifestaram em Kwun Tong, no leste de Kowloon.

De acordo com relatos da polícia, um grande grupo de manifestantes montou barreiras para paralisar o tráfego e “usou serras eléctricas para danificar uma série de postes de luz (…), o que representa uma séria ameaça à segurança das pessoas no local utilizadores das vias”.

Os manifestantes, acrescenta-se na mesma nota, também arremessaram objectos e bombas de gasolina aos polícias, causando danos a veículos das forças de segurança e lesões nas pernas de um jornalista.

A polícia realizou uma operação com “a força apropriada para anular os actos violentos dos manifestantes”, acrescenta-se. Os protestos maciços de rua, que traduzem a maior crise política em décadas na cidade, acontecem desde o início de Junho, e alguns deles terminaram em confrontos violentos entre a polícia e manifestantes.

Quando os protestos começaram, os cidadãos expressaram a sua rejeição a uma lei de extradição apresentada pelas autoridades locais que permitiria a entrega de suspeitos a jurisdições sem acordos prévios como a China continental, algo que os opositores ao texto consideram como o fim das garantias judiciais oferecidas pelo sistema de Hong Kong.

No entanto, as manifestações evoluíram nas últimas semanas para reivindicações mais amplas sobre os mecanismos democráticos da cidade e para a rejeição da crescente influência de Pequim nos assuntos locais. Novas marchas são esperadas hoje, especialmente na área de Tsuen Wan.

Amazónia | Macron acusa Bolsonaro de mentir em matéria de compromissos ambientais

[dropcap]O[/dropcap] Presidente de França, Emmanuel Macron, acusou hoje o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de mentir em matéria de compromissos ambientais e anunciou que, nestas condições, França vai votar contra o acordo de comércio livre UE-Mercosul.

“Tendo em conta a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República não pode se não constatar que o Presidente Bolsonaro lhe mentiu na Cimeira de Osaka”, afirmou a presidência francesa, referindo-se à Cimeira do G20 que se realizou no final de Junho.

“O Presidente Bolsonaro decidiu não respeitar os compromissos ambientais e não se empenhar em matéria de biodiversidade. Nestas condições, França opõe-se ao acordo com o Mercosul tal como está”, acrescentou.

Emmanuel Macron manifestou na quinta-feira preocupação com os fogos florestais que estão a devastar a Amazónia, a maior floresta tropical do planeta ,evocando uma “crise internacional” e pedindo aos países industrializados do G7 “para falarem desta emergência” na cimeira que os reúne este fim de semana em Biarritz (sudoeste de França).

Jair Bolsonaro, respondeu acusando o homólogo francês de ter “uma mentalidade colonialista descabida” ao “instrumentalizar” o assunto propondo que “assuntos amazónicos sejam discutidos no G7, sem a participação dos países da região”.

O acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), integrado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, foi fechado a 28 de Junho, depois de 20 anos de negociações.

O pacto abrange um universo de 740 milhões de consumidores, que representam um quarto da riqueza mundial.

A Irlanda ameaçou também hoje votar contra o acordo comercial se o Brasil não tomar medidas para proteger a floresta amazónica. “Não há qualquer forma de a Irlanda votar a favor do acordo de comércio livre entre a UE e o Mercosul se o Brasil não respeitar os seus compromissos ambientais”, afirmou o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.

“Estou muito preocupado com os níveis recorde de destruição pelo fogo da floresta amazónica este ano”, acrescentou, numa nota à agência France-Presse.

Numa entrevista à agência EFE hoje divulgada, o embaixador da UE em Brasília, Ignácio Ybáñez, destacou o empenho do Brasil na aplicação do acordo, mas recordou a Bolsonaro a “aposta clara” do acordo no cumprimento do acordo de Paris sobre alterações climáticas.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro, os incêndios no Brasil aumentaram 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de Agosto, sendo a Amazónia a região mais afectada.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Segundo o INPE, a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em Julho, em relação ao mesmo mês de 2018.

Consulado do Canadá suspende viagens de funcionário para fora de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] consulado do Canadá em Hong Kong anunciou hoje a suspensão de viagens de funcionários para fora da cidade, incluindo para a China continental.

A decisão acontece depois do Governo chinês ter confirmado a detenção de um funcionário do consulado britânico em Shenzhen, zona económica especial chinesa adjacente a Hong Kong.
Em comunicado, o consulado do Canadá indicou que, “neste momento, a equipa contratada localmente não realizará viagens (…) oficiais fora de Hong Kong”.

O funcionário do consulado britânico em Hong Kong, que desapareceu na China continental no início de Agosto, foi detido por “solicitar prostitutas”, avançou a imprensa estatal chinesa, uma acusação rejeitada pela família do jovem, que considerou “serem fabricadas”.

A família disse que Cheng foi a Shenzhen, em 8 de Agosto, para uma reunião de negócios, mas e passou a estar incontactável quando atravessava a fronteira para Hong Kong. O Reino Unido e a China têm trocado algumas acusações, à margem dos quase três meses de protestos na antiga colónia britânica.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

No início do ano, a China deteve um empresário e um antigo diplomata canadianos, após a directora financeira do grupo de telecomunicações chinês Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver.

A detenção, efetuada no Canadá, foi feita a pedido dos Estados Unidos por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, numa violação da lei. Os dois cidadãos canadianos permanecem detidos por “prejudicarem a segurança nacional”.

Novos protestos em Hong Kong com cordão humano e manifestação de contabilistas

[dropcap]O[/dropcap]s protestos anti-governamentais e pró-democracia voltaram hoje às ruas de Hong Kong com um cordão humano marcado para junto das estações das três principais linhas de metropolitano e uma manifestação promovida por contabilistas. A manifestação dos contabilistas começou às 12:30, com a previsão de ocorrência de um cordão humano para as 20:00.

As duas iniciativas antecedem um protesto convocado para 31 de Agosto para assinalar os cinco anos do veto de Pequim à possibilidade de sufrágio universal na ex-colónia britânica.

Por outro lado, acontecem após a manifestação pacífica de domingo – que juntou mais de 1,7 milhões de pessoas, segundo a organização, e 128 mil, de acordo com a polícia – e um tenso protesto esta semana numa das estações de metro que quase resultou em confrontos entre manifestantes e forças de segurança.

Os contabilistas vão marchar no centro da cidade, num desfile autorizado pela polícia, para exigir ao Governo de Hong Kong uma resposta às cinco reivindicações da Frente Cívica dos Direitos Humanos, o movimento que tem liderado os maiores protestos.

Em causa está a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo.

O cordão humano não tem uma liderança conhecida e tem sido promovida nas redes sociais, uma iniciativa para “continuar a dar eco aos apelos das pessoas de maneira pacífica, racional e não-violenta” e, “ao mesmo tempo, elevar a consciência internacional” para as reivindicações da população de Hong Kong.

Na quinta-feira, a empresa gestora do metro em Hong Hong anunciou que, daqui em diante, ao mínimo sinal de violência, vai suspender os serviços e fechar as estações sem qualquer aviso. “A polícia pode ter que entrar na estações para tomar as acções necessárias para garantir o cumprimento da lei”, indicou a MTR, num comunicado citado pelo jornal South China Morning Post.

Os protestos na região administrativa especial chinesa duram desde 9 de Junho e têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e polícia.

Funcionário consular britânico detido na China por “solicitar prostitutas”, escreve imprensa oficial

[dropcap]O[/dropcap] funcionário do consulado britânico em Hong Kong, que desapareceu na China continental no início de Agosto, foi detido por “solicitar prostitutas”, avançou hoje a imprensa estatal chinesa, uma acusação rejeitada pela família do jovem.

Segundo o jornal do Partido Comunista Chinês Global Times, que cita a polícia de Shenzhen, Simon Cheng, de 28 anos, esteve com prostitutas na cidade fronteiriça, antes de ser detido, em 08 de Agosto. A família de Cheng considerou, entretanto, que aquelas notícias, difundidas pela versão em inglês do Global Times, são “fabricadas”. “Toda a gente deve perceber que se trata de uma piada”, apontou, em comunicado.

O jornal escreveu que a polícia não contactou a família de Simon Cheng a pedido do próprio. “Devido ao ministério dos Negócios Estrangeiro britânico e à imprensa, que montou este caso, agora é do conhecimento de todos”, aponta.

A diplomacia chinesa confirmou esta semana que o homem está detido em Shenzhen por ter violado uma lei chinesa de segurança pública. Caso não seja formalizada uma acusação criminal, Cheng deve ser libertado hoje, já que se completam 15 dias desde que foi detido – o período máximo de detenção administrativa, segundo a lei chinesa.

Segundo o Global Times, Simon Cheng tem ainda de pagar uma multa de 5.000 yuan (640 euros).
A família disse que Cheng foi a Shenzhen em 08 de agosto para uma reunião de negócios, mas que passou a estar incontactável quando atravessava a fronteira para Hong Kong.
O Reino Unido e a China têm trocado algumas acusações, à margem dos quase três meses de protestos na antiga colónia britânica.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A China criticou já o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, no início do mês, após este ter falado com a líder de Hong Kong, Carrie Lam, sobre os protestos, e pedido uma “investigação totalmente independente” à actuação da polícia, para “reconstruir a confiança”.

“É simplesmente errado que o Governo britânico fale directamente com a chefe do Executivo de Hong Kong para exercer pressão”, afirmou então um porta-voz da diplomacia chinesa.
Londres disse, na quinta-feira, que procurava com “urgência” informações sobre o funcionário consular.

No início do ano, a China deteve um empresário e um antigo diplomata canadianos, após a directora financeira do grupo chinês das telecomunicações Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis. Ambos os cidadãos canadianos permanecem detidos por “prejudicarem a segurança nacional”.

YouTube fecha canais associados a campanha de desinformação sobre Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Google informou hoje que desactivou mais de 200 canais na plataforma de vídeos YouTube que alegadamente conduziam “operações de influência coordenadas” sobre os protestos em Hong Kong, dias depois de Facebook e Twitter tomarem a mesma decisão.

O Google suspendeu 210 canais do plataforma de vídeo YouTube após detectar um “comportamento coordenado, ao difundir vídeos relacionados com os protestos em curso em Hong Kong”. A empresa não vinculou directamente a campanha com o regime chinês, mas associou a sua decisão “recentes observações e acções anunciadas pelo Facebook e Twitter”.

Esta semana, o Facebook e o Twitter suspenderam também várias contas originárias do continente chinês, que “deliberada e especificamente tentavam semear a discórdia política em Hong Kong, inclusive minando a legitimidade e as posições políticas dos manifestantes”.

Ambas as empresas disseram que suspenderam as contas com base em “evidências confiáveis” de que se tratava de uma “operação coordenada pelo Estado” chinês. A decisão levou a acusações de censura pelas autoridades chinesas.

O Twitter anunciou ainda que não aceitará mais “propaganda de órgãos de imprensa controlados pelo Estado”, condenando comportamentos “manipuladores”. Pequim, que há muito se queixa que a imprensa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, investiu nos últimos anos milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.

Twitter ou Facebook têm sido parte central dessa estratégia, apesar de estarem bloqueados na China, onde a narrativa é controlada pelo Partido Comunista, cujo Departamento de Propaganda emite directrizes para os órgãos de comunicação ou censura informação difundida nas redes sociais domésticas, como o Wechat ou Weibo.

Vários órgãos de comunicação estrangeiros estão também bloqueados na Internet chinesa, a maior do mundo, com cerca de 710 milhões de utilizadores. A antiga colónia britânica vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Governo chinês quer Macau a traduzir rádio e televisão em português

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas querem que Macau crie um centro de tradução e produção de programas de rádio e televisão em língua portuguesa, disse, na quinta-feira, o “número dois” do regulador chinês do sector audiovisual.

O director-adjunto da Administração Nacional de Rádio e Televisão da China (NRTA, na sigla inglesa), Fan Weiping, defendeu ainda o lançamento no território de iniciativas de cooperação e intercâmbio de conteúdo audiovisual entre a China e os países de língua portuguesa.

A região administrativa especial chinesa poderá ser uma base de intercâmbio de programas para rádio e televisão entre a China e o mundo lusófono, disse o dirigente chinês, num encontro com uma delegação liderada pelo vice-director do Gabinete de Ligação do Governo central chinês em Macau, Xue Xiaofeng.

No ano em que se comemora o 20.º aniversário da transição de administração de Macau, a China quer aproveitar ao máximo a relação próxima entre a cidade e os países de língua portuguesa no campo da rádio e televisão, explicou Fan Weiping, num comunicado divulgado pela NRTA.

O regulador prometeu unir esforços com o Gabinete de Ligação, o Governo de Macau, a Teledifusão de Macau (TDM) e das televisões da cidade vizinha de Zhuhai e da província de Guangdong.

Segundo o comunicado, a reunião contou com a participação de dirigentes da TDM, que opera um canal de televisão e uma rádio em língua portuguesa.

Vigília | Jason Chao fala de abuso de poder por parte das autoridades 

[dropcap]J[/dropcap]ason Chao, activista e membro da Associação Novo Macau (ANM), emitiu ontem um comunicado onde fala de “abuso de poder” levado a cabo pela Polícia de Segurança Pública (PSP) quando decidiu reprovar o pedido de realização da vigília no Leal Senado de apoio aos protestos em Hong Kong.

“A reprovação do pedido de vigília é apenas mais um episódio de abuso de poder por parte das autoridades de Macau. Mas muitas outras formas de liberdade de expressão estão sob ameaça. Neste momento, o voto do sufrágio universal para o Chefe do Executivo está sob ataque. Como deputado, Sulu Sou tem vivenciado episódios de intimidação quando colocou cartazes a promover o voto nas ruas.”

Para Jason Chao, a “falta de visão” dos residentes de Macau vai fazer com que percam “mais liberdades a longo prazo”. “Quando tiverem consciência da completa rendição de liberdades, será tarde de mais para voltar atrás. Quando vivia e trabalhava em Macau, sempre alertei o público para a rápida erosão dos direitos e liberdades garantidos pela Lei Básica. A rejeição da vigília de apoio a Hong Kong ajuda a motivar algumas pessoas de Macau a reflectir sobre a situação de liberdade de expressão em Macau”, apontou Jason Chao, que defende uma maior luta pela manutenção destes direitos.

Outros ataques

“Compreendo que a população de Macau, em geral, não aprove os protestos em Hong Kong e aprecio a coragem dos residentes que planearam a organização de uma vigília para condenar os actos brutais da polícia e mostrar solidariedade para com os naturais de Hong Kong”, acrescenta o activista.

Jason Chao referiu ainda que a actividade levada a cabo pela ANM, relativa ao referendo civil sobre a eleição do Chefe do Executivo da RAEM, tem sido alvo de diversos ataques informáticos, até agora sem consequências negativas ao nível dos dados pessoais.

Tóquio Lab

[dropcap]É[/dropcap] a maior área metropolitana do mundo, com os seus 38 milhões de pessoas em intenso, acelerado e permanente movimento. Quase metade (48 por cento) desta gigantesca população desloca-se diariamente em transportes ferroviários, comboios e metropolitanos que compõem uma complexa e intrincada rede e substituem com amplas vantagens os modos de transporte rodoviários: apenas 12 por cento das deslocações se fazem em automóvel e mesmo os autocarros só são usados por 3 por cento da população. Numa cidade que parece sempre ultra-congestionada, acaba por haver espaço público suficiente (ou quase) para deslocações em bicicleta (14 por cento) e a pé (23 por cento). Em todo o caso, é a hegemonia da mobilidade ferroviária que marca a singularidade do sistema de transportes desta metrópole, onde se concentram 26 das 50 estações de comboios mais utilizadas no mundo, incluindo as três primeiras deste ranking (Shinjuku, Shibuya e Ikebukuro).

Não é isento de problemas, em todo o caso, este padrão de mobilidade urbana: são internacionalmente famosas as imagens de hora de ponta no metropolitano de Tóquio em que se vêem diligentes e eficazes funcionários das estações a empurrar passageiros para dentro das carruagens, uma densa amálgama de gente assustadoramente comprimida na sua deslocação para o trabalho. Não deixa também de ser curiosa esta intensa proximidade e contacto físico – ultrapassando largamente a capacidade oficial das carruagens – num país onde as normas de segurança são levadas ao máximo extremo nas mais variadas actividades quotidianas e os contactos físicos entre pessoas são culturalmente reduzidos ao mínimo – ou a zero – nas relações sociais. Na realidade, mesmo fora das horas de máxima utilização, é frequente as carruagens e estações funcionarem a 200 por cento ou 250 por cento da sua capacidade – chegando mesmo aos 400 por cento em momentos de maior intensidade.

A um ano dos Jogos Olímpicos que Tóquio vai acolher em 2020, é intensa e gigantesca a renovação em curso nas estações ferroviárias da cidade – sendo que, na maior parte dos casos, uma estação não é apenas um lugar onde se entra e sai de um transporte público: é um complexo de centros comerciais, com dezenas ou centenas de lojas acumuladas em torres de sofisticada arquitectura e avançadas engenharias que previnem os impactos dos regulares terramotos que caracterizam uma região situada na confluência de três placas tectónicas (Eurásia, Filipinas e Pacífico). Estas gigantescas infraestruturas – cuja utilização requer cuidada e permanente atenção às dezenas de entradas, saídas e acessos a diferentes ruas ou edifícios circundantes – estão hoje em renovação profunda: novas linhas e plataformas, novos painéis informativos (mais digitais e multi-linguísticos) e também novas lojas, novos restaurantes, novos centros comerciais, novos edifícios de escritórios em novas ou renovadas torres de várias partes da cidade.

É sobretudo disto que se fazem os grandes eventos globais, culturais ou desportivos, nas metrópoles contemporâneas: uma mobilização massiva e coordenada de recursos para renovar as cidades, transformando-as temporariamente num diversificado e multissectorial centro de negócios, um catalisador de investimentos através das chamadas parcerias público-privadas que vão alimentando o crescimento económico e também a especulação imobiliária e financeira.

Neste momento, o impacto deste súbito aumento da oferta de serviços diversos é facilmente visível para quem visita Tóquio e pode, por exemplo, encontrar magníficos novos restaurante com belas vistas panorâmicas, atencioso serviço e deliciosa comida por um preço relativamente modesto, tendo em conta os padrões locais.

Outra coisa será o que se vai passar durante os Jogos, nesse Verão muito quente que se avizinha em 2020, em plena época alta das temperaturas e da humidade relativa. A imprensa vai publicando opiniões de especialistas ou resultados de estudos diversos sobre os impactos previstos das Olimpíadas e há relevantes pontos comuns a várias publicações de que vou tendo conhecimento: a rede de transportes – que já opera na maior parte do tempo muito acima da capacidade recomendada – não será suficiente para acolher os movimentos quotidianos dos residentes, os fluxos dos turistas habituais e ainda os dos visitantes dos Jogos, em particular no acesso aos principais eventos; esse super-congestionamento dos transportes coloca particulares problemas no contexto das temperaturas e humidade relativa muito elevadas que caracterizam Tóquio em Agosto; o alojamento hoteleiro, normalmente já muito caro na cidade, será ainda mais caro; a renovada oferta de serviços diversos, incluindo restauração e animação, terá nessa altura a necessária procura.

Outra coisa ainda é o que se passará a seguir às Olimpíadas. O Japão já atingiu os 20 milhões de turistas por ano que se tinham definido como objectivo até 2020 – e na cidade de Tóquio já se atingiram os 15 milhões projectados. A menos que após os Jogos haja um aumento muito significativo dos turistas vindos da Europa ou da América, estes fluxos (até agora com origem na Ásia em 85 por cento dos casos) não deverão aumentar muito significativamente. Internamente, o envelhecimento populacional que caracteriza a sociedade japonesa faz com Tóquio seja das raríssimas grandes metrópoles a nível mundial que arrisca perder população nas próximas décadas. Para que servirão então estas mega-infraestruturas actualmente em construção ou renovação – incluindo as novas habitações na zona da Baía onde se vão instalar mais de 5.000 participantes nos Jogos – é uma questão que torna esta metrópole um interessante laboratório para as políticas urbanas do futuro. Até – ou sobretudo – para se discutirem os limites destas mega-operações de requalificação urbanística e especulação imobiliária com base nas internacionalmente famosas “parcerias público-privadas” e na mobilização de capitais financeiros internacionais.

Ser morninho

[dropcap]H[/dropcap]á coisas que não se tomam às metades, que não permitem fragmentação, relativização, venda, aluguer, concessão, diluição. Não é possível defender pela rama princípios e conceitos como “Liberdade”, “Estado de Direito”, “Justiça”, entre outros. Estes são absolutos, definitivos, intransigentes, pairam acima de qualquer sentido de pragmatismo.

Da mesma forma que não é possível amar um bocadinho, também não se nasce, vive, morre temporariamente e aos poucos, em doses moderadas e de toma regular. Caminhar para o fim não é finar, isso é definitivo, definhar é outro campeonato.

Não se pode conceder em coisas absolutas, pensar que isso é possível é não querer admitir a relatividade, a ausência desse bem, valor, princípio inalienável. Não se pode defender a liberdade piscando o olho à tirania, amando secretamente o cárcere. Lutar pela supremacia da lei é incompatível com escancarar a porta ao capricho egoísta da arbitrariedade.

Não se pode ser um bocadinho imparcial, ou justo, da mesma forma que nunca existiu neste planeta um gajo ligeiramente filho da puta. Não se pode ser só um bocadinho, ou existir apenas ao fim-de-semana (não falo no sentido figurativo, claro). Não há meios assassinatos, pedaços de concepções, revoluções fragmentadas, ou valores de part-time, vinho com gasosa ou whisky com água. Liberdade, Justiça e Primado da Lei são shots de um trago que nunca deixam de arder nos nossos ventres. São desejos insaciáveis, amores eternos.

Variações – o barbeiro cantor

[dropcap]N[/dropcap]a ante-estreia, Terça-feira, dia 20, na sala Manoel de Oliveira no cinema S. Jorge, com os seus 830 lugares quase ocupados na totalidade, o público convidado aplaudiu de pé a projecção do filme.

António Variações viveu a sua vida de cometa, luminosa e auto incendiária, numa Lisboa inventada, também por ele, entre Braga e New York, numa procura de pós-modernidade onde, o sangue e o brilho, a autenticidade do antigo é seiva que alimenta o presente. Fez notar com a sua postura de excesso que a ourivesaria das mulheres de Viana de Castelo que tem a sofisticação e a arte necessária a qualquer capa da Vogue. Ou que na música tradicional de Mirandela vive a pulsão erótica e radical de uma força telúrica capaz de cabeça de cartaz se tocada no MAAT de New York.

Viveu numa Lisboa que inventava a sua movida num alinhamento próximo com uma Madrid mi mata, num tempo em que Nova Iorque era a cidade mítica da vanguarda artística. Uma Lisboa ainda distante das rotas do turismo de massa da actualidade, pré-Internet, uma cidade-aldeia onde uma tribo relativamente alargada de gente com pequenas tribos dentro se movia, divertia, delirava, trabalhava, vivia.

Um tempo de excesso depois de dezenas anos de uma Europa e de um Portugal com peso excessivo nos corpos e nas vidas pela cinzenta nuvem da guerra que arrasou cidades e de um tempo colonial que findava por cá há pouco.

A cidade tinha um centro, chamava-se Frágil, um bar com pista de dança na rua da Atalaia que abriu em 1982, uma espécie de centro do mundo, um mundo de artistas, professores, alunos, cineastas, actores, designers, jornalistas, políticos, bailarinos, cozinheiros, pilotos, escritores. Um mundo pequeno, mas com ramificações ao mundo todo. Apesar dos excessos, na pista, nos balcões e nas casas de banho, era um lugar confortável, onde o desejo tinha no corpo das artes e da matéria do mundo a necessária presença para que os corpos não se separem do pensamento.

Outros lugares de excesso mais direccionado, não muitos, davam abrigo a tribos mais específicas em particular na sua orientação sexual, a actualmente conhecida comunidade LGBT. Era o caso do Finalmente Club, no n.º 38 da Rua da Palmeira que abriu a 2 de Maio de 1976, e onde todas as noites havia show de travestis. Talvez um dos mais hard na época fosse o Bric-à-Brac , também na zona do Príncipe Real, onde nas casas de banho, no final da noite, o esperma era visível colado nas paredes.

No filme temos o também o célebre Trumps, uma cave na esquina com a Imprensa Nacional, onde os corpos suados se reescrevem em ritmos eléctricos de dança urbana.

Foi neste bar que o Variações fez o seu primeiro concerto, e essa é uma das cenas recriadas no filme.

Mas o excesso do Variações é de outra natureza. É o excesso de um homem que vive a vontade de ser ele próprio e que encontra na canção a forma da sua expressão. O excesso de quem não cede a conformismos, nem a morais dominantes, nem a códigos normativos do que deve ser a arte ou a vida, não por arrogância, mas por verdade. A verdade da dor, a verdade do medo, a verdade da alegria, a verdade da ausência, a verdade do sangue.

Para António Ribeiro, o Variações, a figura icónica, que conheceu e com quem chegou a partilhar o palco, tem um nome e uma voz inesquecível, Amália Rodrigues.

Como refere João Maia, o realizador do filme, para Variações, a voz era o instrumento, não fica difícil entender o maravilhamento pela Amália.

Este filme é um BIOPIC, a film about the life a real person, e por isso, é também um filme musical.
O filme começa em Amares, a aldeia perto de Braga onde o protagonista nasceu, numa celebração Pascal, religiosa e popular, com banda e procissão, onde António ainda criança assiste com os irmãos e a mãe, mas já com o ar ausente de quem sonha. A cena seguinte é numa carpintaria da aldeia onde o jovem António trabalha e que tem como protagonista – a cena – um rádio numa parede que emite e a voz da Amália, os homens e o jovem António imobilizam os movimentos para uma melhor atenção das sonoridades e palavras cantadas. Na cena seguinte continuamos no universo rural e familiar e é-nos dito, pelo próprio jovem António em conversa com a mãe, da sua vontade de sair da aldeia e ir para Lisboa. A elipse temporal para o tempo da narrativa do homem adulto acontece na cena seguinte em que o jovem António, de forma deliberada se corta enfiando a talhadeira na mão. É um momento Luís Buñuel, é em respiração ofegante que António, homem adulto, acorda deste sonho e nos transporta da infância para o tempo da sua vida de músico e barbeiro, em Lisboa, Amsterdão, Nova York, Braga.

A composição do personagem pelo actor Sérgio Praia é a todos os títulos brilhante. Ancorado por um guarda roupa e maquilhagem sem falhas, uma fotografia de excelência, e numa realização em que a distância, posições e movimentos de câmara, são de uma eficácia total que nos fazem viver a emoção do actor. Sérgio Praia, transporta-nos ao mundo interior e exterior do personagem que interpreta de tal forma que acreditamos ser ele mesmo o António Variações.

Ao longo da narrativa somos transportados aos momentos da criação de temas que foram, e vão ser nestes meses do calendário próximo, icônicos, como: Toma o Comprimido, Teia, Perdi a Memória, Canção do Engate, Quero dar nas vistas.

A banda sonora do filme tem direcção musical de Armando Teixeira. João Maia procurou que mais do que uma banda sonora, que o filme desse corpo às ideias musicais que António Variações gravou com músicos amadores nos finais dos anos 70. E tudo correu de tal forma bem, que uma nova banda surgiu e o Sérgio Praia conjuntamente com os Balla lançam agora um disco editado pela Sony Music com os temas tocados e cantados no filme.

Variações é um projecto cinematográfico com inicio em 2000, teve apoio para escrita no ICA logo na fase inicial, mas o processo de desenvolvimento para chegar à rodagem foi demorado. A primeira versão do argumento demorou 2 anos a ser concluída, e a partir dessa altura foram perto de 15 anos para os júris e o ICA darem luz verde para a chegada às salas das imagens e dos sons.

Diz o João Maia: Interessei-me pelo Variações. Trabalhei durante muitos anos em lojas de discos, mas conhecia mal a obra dele e quando comecei a ouvir fiquei muito impressionado, até pelo facto de ele ter gravado o primeiro disco com 37 anos. E pensei; o que terá feito este homem até aos 37 anos para ter gravado um disco com esta idade e ter morrido aos 39?

Em brevíssima conversa com o realizador quisemos saber:

João, em quantos concursos de apoio à produção cinematográfica no ICA o filme esteve, até ter sido apoiado?
Acho que só ganhei há oitava vez que concorri.

Foi útil, no teu processo criativo, os sucessivos adiamentos, quantas versões do argumento escreveste?
O guião é praticamente o mesmo desde 2008. Essa era a 3ª versão. Antes disso só tinha concorrido uma vez. Em 2017 antes da rodagem fiz ainda algum trabalho sobre o guião.

No filme, não é identificada o HIV como a causa da morte do António Ribeiro?  A ideia generalizada é que foi uma das primeiras vítimas em Portugal do vírus HIV, que teve uma expressão aterradora com mais de 25 milhões de mortes no planeta.  A tua pesquisa não confirmou o HIV como causa da morte, ou decidiste não falar do assunto?
O filme conta a história do António. Na altura ninguém queria usar a palavra HIV. Mas no filme está lá tudo.

Durante este tempo longo entre o início do projecto e a chegada a sala, escreveste outros filmes? Qual é o próximo?
Uma adaptação de “Nome de Guerra” de Almada Negreiros

O filme, teve estreia simultânea em 60 salas no dia 22, esta proeza – é difícil a exibição cinematográfica de filmes portugueses em sala, só aconteceu com o filme Parque Mayer de António Pedro Vasconcelos (escrevi sobre o filme na edição do HM de 13 de Dezembro de 2018, filme que fez 43.045 espectadores), sem querer fazer futurologias é de esperar que Variações se aproxime ou ultrapasse os 100 000.

“Variações é uma homenagem a todos os que ainda hoje perseguem os seus sonhos aspirando a transformar as suas vidas.”

Sem grande margem para erro, Variações é um dos filmes do ano.

O estrangeiro dos desaparecidos

[dropcap]H[/dropcap]á uma aparente cristalização do outro ausente no sítio onde se encontra. É como se não envelhecesse. Fica na nossa memória como era da última vez que vemos esse alguém. Podemos pensar como se encontram os amigos da escola que também se encontram nesse “estrangeiro” que é a parte incerta ou, se certa, encontra-se oculto num campo de latência, desaparecido. Há várias frequências de encontro, consoante os prazos. Parece imperceptível a transformação do outro como é imperceptível a nossa transformação ao espelho. Há momentos em que percebemos que o outro mudou como percebemos também que nós mudamos: o peso, o cabelo, o aspecto. Há pessoas que não vemos sempre, com maior ou menor frequência. Podemos só ver alguém depois de vinte anos e a pessoa parece que se mantém intacta ou então quase não a reconhecemos.

Não há nunca uma correspondência biunívoca entre a percepção da nossa lucidez e a duração da existência da outra pessoa. Talvez do mesmo modo que só por vezes “caímos em nós” e “nos enxergamos”, isto é, só em momentos de qualidade perceptiva importante temos uma a-percepção de nós próprios, quer dizer, o mais das vezes e habitualmente registamos a nossa presença em nós próprios, mas não temos uma auto-apercepção de quem somos, como mudamos ou se estamos sempre cada vez mais na mesma.

A duração da percepção é infinitamente inferior à duração da existência de cada um de nós próprios e dos outros nas suas vidas. Um momento de percepção projecta-se para o futuro com os dados das impressões que alguém deixa em nós. Há uma continuidade projectada para o futuro dessas primeiras impressões. Há uma caracterização dogmática de alguém feita pela presente impressão. Mas uma impressão é momentânea e por isso admite uma alteração do objecto que cria essa impressão do mesmo modo que admite uma interpretação diferente e uma história camaleónica nas nossas existências.

Há pessoas que só vimos uma vez na vida e outras que vamos vendo. Outras há que vemos em épocas das nossas vidas e depois caem para o campo de latência de onde apareceram, só para desaparecer. Há vidas que têm uma apresentação e uma ausência intermitentes, mais ou menos regular, como os amigos de férias que só víamos quando era verão e literalmente hibernavam como nós também para eles hibernávamos.

Os outros resultam de um filme em que há determinações claramente presentes, mas a maior parte delas existem na sua ausência. As ausências dos outros, quando estão desaparecidos, não são absolutas, como se desaparecessem da existência, mas estão a ser compostas por nós, mesmo quando não pensamos neles.

A maior parte das pessoas, mesmo as que nos estão tão próximas que vivemos com elas, estão sempre no estrangeiro existencial, desaparecem do horizonte de perceptibilidade, saem da vista para fora, deixamos de as ouvir, de as sentir nas suas fragrâncias, como nos tocam e têm nas suas mãos e nós nos encontramos nas mãos deles. A interrupção do contacto, a sua perda, o desaparecer é o entrar para o campo da latência. O mais das vezes e primariamente o outro encontra-se neste campo de latência, tal como de resto a maior parte das coisas.

E, contudo, elevam-se anonimamente teses sobre o seu ser. À luz projectada por essas teses, temos a esperança de que os outros continuem aí no rio das suas existências, mesmo que a baixar para o mar, ainda que essa persistência no fluxo e na corrente do rio da vida, se alterem, transformem, mudem. Tal como cada um de nós, todos nos tornamos diferentes com o tempo.

Às vezes nem sequer os outros nos aparecem, pode ser uma canção na rádio, a fragrância de um perfume, uma peça de roupa, uma fotografia.

Outras vezes, pressentimos a sua presença como se estivessem de pé atrás de nós ou sentados ao nosso lado, como nos momentos em que não dormimos mas também não estamos acordados e importamos dos nossos sonhos imagens reais dos nossos ou fazemos transitar os nossos fantasmas adoráveis para as fantasias oníricas em que as nossas vidas continuam sem que houvessem sido interrompidas por morte, física ou afectiva.

Gisela Casimiro – Onde os sonhos vão para morrer (III)

In ‘life,’ I don’t want to be reduced to my work.
In ‘work,’ I don’t want to be reduced to my life.
My work is too austere.
My life is a brutal anecdote.
— Susan Sontag (3/15/73)

 

[dropcap]N[/dropcap]o quadro leio END OF LIFE, e desato a rir, tão secretamente e sem ter de dar explicações quanto possível. Não são vocês, sou eu.

Acabei de rever Mad Men, o que significa que deixei Nova Iorque e estou a conhecer Baltimore em The Wire. Numa das muitas cenas num bairro social, as personagens conversam, desta feita não no icónico sofá laranja no relvado e sim a uma mesa. Dois jovens jogam damas, supostamente, mas com peças de xadrez pois, como adivinha o terceiro, não sabem jogar xadrez nem têm damas, na verdade. Recorrendo a analogias sobre o tráfico de droga e os gangs, assistimos a uma lição. E eu pergunto-me: o que é que estou a fazer aqui, onde não pertenço? A jogar às damas com peças de xadrez, claramente. Aborrecida, arrastando-me de casa para o trabalho todas as manhãs, tornando-me o meme da moça vestida, pronta, sentada na cama, que diz “Eu esperando a hora de me atrasar.”

Dizem que para termos algo que nunca tivemos temos de estar dispostos a fazer algo que nunca fizemos. Reencontro, no Facebook, um testemunho de há uns anos, proveniente de um dos melhores projectos de sempre, Humans of New York: “Parece que quanto mais tentava que ela fosse sobre arte, mais o dinheiro controlava a minha vida: coleccionava prestações de desemprego, lidava com a humilhação de pedir dinheiro emprestado a amigos e familiares, dava voltas na cama à noite tentando perceber como pagar a renda. Para sobreviver tive de trabalhar em dois sítios, e depois de findos os turnos sentia-me demasiado stressado para pintar. É muito difícil criar nestas circunstâncias. A criatividade é um processo delicado. Muitas vezes pergunto-me se deveria ter seguido uma carreira durante a primeira metade da minha vida, obtido algum tipo de segurança financeira, e só então feito a transição para a arte.” Jung explica, os Wu Tang Clan também. Alguém comentara dizendo ter conhecido um talentoso retratista, quando ambos trabalhavam como zeladores. Ao perguntar-lhe o que fazia ali, o outro teria dito: “Por vezes temos de fazer o que temos de fazer, ou seja, fazer o que não queremos fazer, durante oito horas do dia, para podermos fazer o que queremos nas demais dezasseis.”

Nas últimas quatro semanas estive em duas empresas, três escritórios, conheci muita gente, aprendi e cansei-me muito. Tive uma esmagadora sensação de déjà vù na primeira, sentindo que voltara atrás no tempo três anos, novamente naquela empresa, novamente com uma hérnia inguinal (na altura noutra função e cidade, na altura ainda sem saber que a tinha ou o que raio era uma hérnia inguinal). Decidir que algo é temporário ajuda-nos a suportá-lo. Como daquela vez em que me despedi e, passados dois meses, engoli o orgulho e voltei para o antigo empregador.

Agora, permiti-me tirar uma teima, prevenir-me para não ficar de mãos a abanar, pelo meio fazer tempo para o que me parecia ser a única escolha sensata desta fase, da qual me fartei faz tempo. Deixar de procurar, continuar a receber propostas, agora até exactamente para a função de há três anos, mas não ser preciso. Sentir alívio mas, principalmente, não me sentir asfixiada.
Segunda-feira. As semanas chegam e passam. Pouco ou nada fiz a não ser ir trabalhar. É disso que tenho medo? De como o trabalho faz o tempo passar nos primeiros tempos, sobretudo depois do desemprego, tão depressa que nem me vejo?

Alguém nos oferece uma maçã e abraça. Alguém traz um bolo de banana caseiro, delicioso, húmido, bonito, com brilhantes na cobertura. Alguém grita e é admoestado. Alguém é despedido.

Alguém tem um ataque de pânico e é confortado. Alguém volta para a sua terra. Alguém nos faz rir e elogia e nós a eles. Mais alguém é despedido. Alguém se esquece de desligar um temporizador que apita como uma bomba. Alguém tagarela incessantemente. Alguém tenta ler.

Mais alguém também escreve. Alguém joga ping pong, cria um lugar à mesa, vai buscar pela segunda vez uma cadeira para nós. Alguém é ameaçado de despedimento. Alguém nos fala dos seus sonhos, família, datas importantes na sua cultura. Alguém já nos impressiona, intimida, enerva ou surpreende. Alguém é do Brasil, Holanda, Filipinas, Itália, Inglaterra, Moçambique, Índia, Angola, África do Sul, Reino Unido, Paquistão, Alemanha e de mais de dois ou três sítios ao mesmo tempo. Alguém chora, é como nós e nada como nós. Sexta-feira: alguém se despede com um beijo na testa, o que não estranhamos, talvez por já nos tratar pela alcunha quase desde o primeiro dia.

Por enquanto parece que o instinto e a espera terão valido a pena. Pelo menos assim me dizem os meus próprios emails, quando deixo de ignorá-los e encontro tantas coisas boas de que fazer parte. Não são os trabalhos-para-pagar-as contas, sou eu. E o #$%&@* do Martin Luther King, Jr. É que os sonhos, na verdade, só morrem connosco, e às vezes nem assim.