Chefe do Executivo | Comunidade chinesa em Portugal satisfeita com eleição 

Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, está contente com a eleição de Ho Iat Seng para o lugar de Chefe do Executivo e defende que este saberá lidar com a situação em Hong Kong, tendo em conta a sua experiência. Lam Peng San, ligado ao grupo Estoril-Sol, defende que Ho Iat Seng é a pessoa certa para estar no cargo, e que terá pulso firme para manter a estabilidade em Macau

 

[dropcap]D[/dropcap]ois dirigentes associativos ligados à comunidade chinesa em Portugal mostram-se satisfeitos com a eleição de Ho Iat Seng como o novo Chefe do Executivo da RAEM e garantem que ele é o candidato ideal para governar Macau com estabilidade.

Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal e residente no país desde criança, é próximo de Ho Iat Seng e disse ao HM estar contente com esta vitória.

“A eleição correu bem, (Ho Iat Seng) obteve uma grande votação, mas também não havia concorrência. Ninguém se atrevia a concorrer contra ele. Fico contente com isso e desejo muitas felicidades no exercício das suas funções.”

Apesar de ser natural de Macau, a família de Ho Iat Seng tem raízes em Zhejiang, província chinesa de onde é oriunda grande parte dos emigrantes chineses a residir em Portugal. Daí que Ho Iat Seng sempre tenha sido um nome favorito no seio desta comunidade chinesa, como Y Ping Chow já tinha dito em entrevista ao HM, em Abril.

Durante a campanha eleitoral, os contactos entre o candidato e os membros da comunidade chinesa em Portugal foram feitos informalmente. “Não falamos directamente porque os chineses em Portugal não têm direito de voto (em Macau), mas abordámos o assunto de forma informal.

Falámos pouco de política, e apenas fiz uma proposta no sentido de existir uma maior ligação entre Portugal, onde vivo, e Macau, que ele vai dirigir. Gostaria que Macau pudesse ter um maior peso nas relações entre Portugal e a China”, defendeu Y Ping Chow.

Ai Hong Kong

Lam Peng San, dirigente máximo do Casino da Póvoa, do grupo Estoril-Sol em Portugal, é também presidente da Associação Industrial e de Comércio para a Europa e Cantão. Ao HM, o empresário assegura que Ho Iat Seng é a pessoa certa para administrar os destinos de Macau, numa altura em que a vizinha Hong Kong vive conturbados tempos políticos.

“Macau necessita de ter planeamento e um grupo de políticos próximo da China, com capacidade para gerir quaisquer situações especiais, como é o caso de Hong Kong neste momento. O território necessita de ter uma situação estável porque a estabilidade é boa para o futuro da economia. Nesta estabilidade e crescimento é preciso ter cuidado com os políticos estrangeiros ou figuras externas que querem causar problemas em Macau”, defendeu ao HM.

O empresário, próximo de Edmund Ho e que esteve durante anos ligado à STDM, recorda que Ho Iat Seng “tem a confiança da China porque esteve na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês durante muitos anos antes de ser candidato. A sua família também tem a confiança da China e há muito que ele (Ho Iat Seng) tem vindo a trabalhar no planeamento de Macau e a fazer trabalho como político”.

Y Ping Chow, por sua vez, assegura que as sociedades de Macau e Hong Kong são diferentes. “O senhor Ho, com a sua experiência, sabe como lidar com este assunto. Acho que a situação em Hong Kong não vai ter consequências em Macau porque em Macau existe uma cultura diferente.”

26 Ago 2019

Grupo português investe 150 milhões num mega-shopping chinês

O maior investimento de uma empresa portuguesa em Paris, nos últimos anos, junta os interesses de Portugal, da China e de França num gigantesco centro comercial, com cerca de 1000 lojas de retalho e outros serviços como hotéis e restauração

[dropcap]C[/dropcap]om 400 lojas, uma área equivalente a 10 campos de futebol e um investimento de cerca de 150 milhões de euros, a construtora Alves Ribeiro inaugurou ontem o Silk Road Paris, o seu centro de venda a retalho nas imediações da capital francesa dedicado especialmente a produtos chineses.

O Silk Road Paris, que se situa junto ao aeroporto Charles de Gaulle, quer ser o centro de retalho de paragem obrigatória para os negócios da Europa com a China na área do vestuário, acessórios de moda e decoração, colocando retalhistas, maioritariamente de origem chinesa e radicados em França, em contacto directo com os compradores europeus.

Este é o primeiro investimento da Alves Ribeiro em França e a inauguração contou com a presença de altas figuras da política francesa, incluindo o antigo primeiro-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin.

Raffarin é o actual conselheiro especial do Governo francês para os assuntos chineses e é apelidado “Monsieur Chine” pela sua vasta experiência nas relações com este país.

“O comércio é a melhor maneira de as pessoas se entenderem. E é por isto que este centro faz sentido. Este é um investimento português significativo porque se trata de um povo de comerciantes. E, tal como os chineses, são também bons interlocutores e bons trabalhadores. Estas são capacidades que nem sempre temos aqui em França”, afirmou o antigo primeiro-ministro.

Na inauguração esteve também presente o embaixador de Portugal em Paris, Jorge Torres Pereira, relembrando que, antes de assumir o posto em Paris, foi diplomata em Pequim, tendo acompanhado de perto o interesse da China em construir uma nova Rota da Seda e uma nova Rota Marítima da Seda no século XXI – ideia lançada pelo Presidente chinês Xi Jinping.

“Este investimento faz todo o sentido no laço comercial entre a China e a Europa. Portugal foi o primeiro país a fazer a rota marítima da porcelana e, por isso, esta é a continuação da nossa tradição de ligar os dois continentes”, disse Jorge Torres Pereira, reforçando que se trata de “um dos investimentos mais importantes dos últimos anos” de uma empresa portuguesa em França.

Yuanyuan Gao, conselheira económica da Embaixada da China em França, acompanha este investimento desde o primeiro momento e não faltou à cerimónia.

“Segui sempre este investimento porque se encaixa na construção conjunta desta nova rota da Seda, acabando por ser um projecto trilateral entre a França, a China e Portugal”, sublinhou a diplomata chinesa em declarações à Lusa.

Centro ocupado

O centro conta já com cerca de 30% das lojas ocupadas, maioritariamente pela comunidade chinesa. Segurança e melhores condições são as principais razões da mudança para este novo centro logístico.

“Antes estávamos em Aubervilliers e viemos aqui para investir e também porque onde estávamos era cada vez mais caro. As condições aqui são melhores, é mais agradável, é mais seguro e há melhores acessos para os nossos clientes”, referiu Julian, retalhista de origem chinesa de lingerie que já tem a sua loja instalada no Silk Road Paris.

Mas também as empresas portuguesas estão interessadas neste novo espaço. O Crédito Agrícola já tem um espaço neste centro para ceder às empresas portuguesas que queiram expor os seus produtos na capital francesa e apostar na internacionalização.

“Adquirimos aqui um espaço e vamos disponibilizar este espaço para os nossos clientes virem aqui expor os seus produtos e dinamizarem a sua actividade internacional”, disse João Barata Lima, director de Negócio Internacional do Crédito Agrícola.

Esta é a primeira fase do empreendimento da Alvez Ribeiro, que conta com mais duas parcelas de terreno adquiridas à volta do aeroporto Charles de Gaulle.

Mediante o sucesso do complexo Silk Road, a empresa portuguesa quer acrescentar mais lojas – num total de 1000 lojas de retalho – e outros serviços como hotéis e mais restauração.

23 Nov 2018

Especial 24 de Junho | Comunidade chinesa, um mundo à parte

Em modo vox populi, o HM foi à rua falar com elementos da comunidade chinesa residente no território. A intenção de saber o que pensam de ser macaense e do que resta do 24 de Junho enquanto dia da cidade foi acompanhada de um desconhecimento quase geral. A história, que terminou há cerca de 16 anos, parece ser, para a maioria dos chineses, inexistente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] desconhecimento do que é ser Macaense poderá ter raízes na palavra dita em chinês que significa literalmente “filho português da terra”, ou seja, partindo da palavra conhecida pela comunidade chinesa o ser macaense é nascer cá e ser filho de português. É esta também a resposta da maioria dos cerca de 20 inquiridos. Sangue luso ou língua de Camões são os parâmetros que podem definir o Macaense. Ieong, de 22 anos, fala dos “portugueses que nasceram e cresceram em Macau” ou Wan, de 60 anos, que “são os portugueses que tiveram filhos em cá”. Poucos são os que referem a miscigenação, à excepção da Sra. Chan de 55 anos que define macaense como “o mestiço de pai ou mãe de nacionalidade portuguesa”. No entanto, o elemento comum é a presença portuguesa, que poderá também ser referente à língua como afirma Kit, de 23 anos. Filha de família da China continental nasceu em Macau e para ela macaenses “são as pessoas que falam português.” Já o Sr. Han, de 63 anos, que veio há cerca de 30 do interior de Cantão, nada sabe do conceito.

Vizinhos que não se falam

A ausência de contacto real entre as comunidades residentes na terra é mote comum em praticamente todas as pessoas que se disponibilizaram a falar de sua justiça. “Nós somos chineses e nunca tivemos contacto com macaenses”, são as palavras de Wang. Sublinha que não tem nenhuma forma de fazer este contacto. Para ele, a comunidade macaense é muito reduzida ao contrário da chinesa, sendo esta última a “principal da terra”, sendo que é “muito difícil a comunidade mais pequena integrar-se na comunidade maior”.
Por outro lado, refere que os macaenses, antigamente, estudavam em escolas exclusivas enquanto que os chineses também, mas só para chineses, não tendo qualquer contacto desde pequenos. Pensa na língua que os separa e lembra tempos em que não podia nem queria aprender o português. Afirma ainda que em trabalho poderá existir algum contacto com a comunidade macaense, mas a proporção é reduzida. “Agora há mais estrangeiros, mesmo de outras nacionalidades, que também têm as suas próprias comunidades, ficando todas separadas”, remata, não antevendo qualquer futuro diferente neste sentido.
Com 65 anos, o sr. Yu veio do interior da China e vive na RAEM há mais de 30. O contacto com a comunidade macaense é igualmente raro, enquanto alerta para a barreira da língua. “Nós nunca vamos convidar os portugueses a pertencer à nossa comunidade”, argumentando que não há qualquer identificação cultural.
Há ainda quem refira que os eventuais contactos são essencialmente devido a questões de trabalho: “é em trabalho que nos cruzamos”. A excepção cabe a John, de Hong Kong mas que vive e trabalha em Macau desde os anos 90: depois de partilhar experiências profissionais com os “filhos da terra” tem agora alguns como amigos.
Há ainda quem considere que a falta de convívio com os macaenses é devida à arrogância com que tratam os chineses. A opinião é de um jovem de 22 anos. Na geração mais nova, que terá já estudado com macaenses, a opinião também é unânime. Estão “na mesma escola mas não nos damos”. Não têm amigos macaenses, não desenvolvem relações e “pertencemos todos a comunidades diferentes” diz Song, de 23 anos.

Não aquece nem arrefece

Igual ao 23 ou ao 25, o 24 de Junho é um dia como outro qualquer para as pessoas que falaram ao HM. Não recordam sequer o feriado nem sabem do que se trata. Sem nunca ter vivido a data, ninguém a tem em mente. No eco comum do desconhecido, os inquiridos foram informados do significado do dia. A história parece passar aquém do interesse, mas a possibilidade de feriado nem tanto, sendo que “é bom ter mais um feriado, mas não sinto nada especial”, diz Ip de 23 anos.” A opinião é partilhada pelos cerca de 20 interpelados. Uma excepção foi a sra. Fong, de 49 anos, que casada com um português, associa o 24 de Junho ao dia de Portugal, numa celebração de Camões, salientando que “por isso mesmo, deveria ser dia de comemorações para não deixar morrer a História”. Mesmo que mal contada não deixa de ser um dia especial.
Já Wong, de 22 anos, considera que voltando a ser feriado seria um dia diferente e com isso poderia haver a possibilidade de se voltar a saber a que se refere.

Com Angela Ka
24 Jun 2016

Literatura | Médico local apresenta obra sobre cultura chinesa

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]hee Vá nasceu em Moçambique e é português, mas tem, desde cedo, uma relação íntima com Macau e a China. Foi nessa perspectiva que decidiu escrever a obra “Uma ponte para a China”, com lançamento marcado para as 18h30 de hoje, na Fundação Rui Cunha. A obra fala sobre a comunidade chinesa e o seu conteúdo foi beber à experiência pessoal do autor, em tempos de aprendizagem do Mandarim, em Lisboa.
“O primeiro capítulo fala sobre a aprendizagem do Mandarim, com a descrição dos caracteres e outras coisas, mas também passa pela cultura chinesa e por elementos como o nascimento, a morte e a vida para além da morte”, começa Shee Vá por explicar ao HM. Escrita em jeito de romance, a obra é conduzida por um só narrador e é de natureza ficcional, embora baseada em factos verídicos. Isto porque, segundo o médico gastrenterologista, podem ferir-se susceptibilidades ao falar de casos reais.
Pode dizer-se que este romance começou numa sala de aulas. “A obra tem uma narradora inventada por mim que vai tomando conhecimento destas coisas à medida que contacta com os outros alunos que também estão a aprender Mandarim”, continua. “A ponte faz-se através de um casal [de estudantes] em que ele é chinês e trabalha em Portugal e ela é portuguesa”, destaca Shee Vá.

Espalhar conhecimento pelo mundo

A ideia principal não é a de somente cingir o gosto por “Uma Ponte para a China” a Macau, mas sim aos quatro cantos do mundo ou, pelo menos, a todas as comunidades por aí espalhadas que falam Português e que contactam com a comunidade chinesa.
“A ponte que se quer criar é com a comunidade lusa, nomeadamente o Brasil e os países africanos que estão neste momento em profundos contactos com a China”, informa. É que, de acordo com o autor, o conhecimento destas pessoas em relação ao tema é superficial, paralelo até.
“A comunidade local que cá está tem, provavelmente, algum contacto com a cultura chinesa, mas este não é muito profundo. O livro explica várias coisas, como a origem dos nomes chineses, algo que à comunidade portuguesa não diz nada”, argumenta o médico especialista. “Mesmo durante a Administração portuguesa, as pessoas tinham conhecimentos das coisas, mas de forma paralela e esta é a tal ponte para perceber como é que os chineses são, como é que gostam de ser tratados e quais são as hierarquias chinesas”, acrescentou, em conversa com o HM.
A obra é inteiramente escrita em Língua Portuguesa, mas compreende uma série de caracteres e frases em Chinês, como são provérbios. Shee Vá aterrou em Macau pela primeira vez em 1982, onde trabalhou até 85. Um interregno de seis anos em Portugal valeu-lhe a especialidade em Gastrenterologia e alguma experiência, para em 1991 voltar ao território. No entanto, o médico esteve outro par de anos fora para voltar recentemente, com a bagagem da experiência na área da Medicina e pronto para lançar um novo livro, que orgulhosamente apelida de romance.

9 Set 2015