Restrições deixam menina de 11 anos sozinha em Zhuhai Nunu Wu e João Santos Filipe - 10 Out 2021 Uma família retida em Macau apelou à ajuda do Governo para poder fazer quarentena na casa em Zhuhai, onde está uma filha de 11 anos sozinha. De acordo com um artigo publicado ontem no jornal Ou Mun, em causa está um agregado familiar com seis membros, residentes de Macau a viver no outro lado da fronteira. Como os pais trabalham em Macau, e os avós vieram acompanhar o neto no regresso às aulas, acabaram todos por ficar retidos na RAEM, com o surgimento do surto da semana passada, a 4 de Outubro. Para regressarem, os cinco membros precisam de cumprir um período de quarentena de 14 dias. Ao mesmo tempo, o agregado tem uma criança de 11 anos a viver sozinha, no outro lado da fronteira. A situação foi relatada pelo avô, um homem de apelido Chan, com 73 anos, que se mostrou muito preocupado com toda a situação. Quando falou ao jornal, Chan contou que estavam a ser tratadas as formalidades, através de um mecanismo entre a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude e as autoridades do Interior, para que alguém do agregado familiar pudesse passar a fronteira e tomar conta da criança. Contudo, as declarações foram prestadas numa situação em que não havia a certeza se o mecanismo ia ser aplicado. Além disso, Chan queixou-se de sofrer de uma doença crónica e não encontrar em Macau uma clínica que lhe forneça os tratamentos adequados. Nesta situação, a família espera que haja flexibilidade das autoridades para poder cumprir a quarentena na casa em Zhuhai. Retenção colectiva Além da família com a filha retida, o Ou Mun relatou igualmente o caso de um agregado familiar de quatro membros, que pretende enviar os dois filhos para Zhuhai, onde têm familiares para tomar conta deles. De acordo com a versão da família Chang, os filhos estão retidos em Macau, assim como os pais, mas estes não têm possibilidade de tomar conta das crianças, porque precisam de trabalhar. Além de terem sido obrigados a arrendar uma casa com um único quarto e cama à última da hora, os Chang pretendem enviar os filhos para fazerem quarentena na casa de Zhuhai, onde têm familiares à espera para tomarem conta deles. A família espera assim que o mecanismo entre a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude e as autoridades do Interior se mostre eficaz nesta situação. Até ontem, o mecanismo não estava em vigor e Wong Ka Ki, chefe do Departamento de Ensino da DSEDJ, informou que as negociações entre as duas partes ainda estavam a ser feitas e que Macau precisava de fornecer mais informações.
Relatório questiona controlo de dividendos das operadoras do jogo João Santos Filipe - 10 Out 202110 Out 2021 Advogados da MdME consideram que o Governo tem objectivos legítimos com a medida que não tem paralelo na legislação local, mas apontam alternativas. A questão da interferência na distribuição de dividendos das operadoras é das mais polémicas no processo de revisão da lei do jogo Um relatório elaborado pelo escritório de advogados MdME questiona a eficácia do mecanismo do Governo para vetar a distribuição de dividendos das concessionárias do jogo. De acordo com o documento assinado pelos advogados Rui Pinto Proença e Rui Filipe de Oliveira, a proposta “não tem paralelo” na legislação de Macau e existem melhores formas de alcançar os objectivos da medida. Segundo a análise dos juristas, a política de controlo dos dividendos tem três objectivos: garantir investimento contínuo na diversificação económica do território; maximizar benefícios do jogo para a comunidade local e assegurar que as concessionárias se mantêm solventes. As intenções são vistas como “legítimas”, mas a análise aponta para alternativas. “A eficácia da medida proposta para alcançar os objectivos é discutível, particularmente no que diz respeito a desvantagens tão evidentes”, é considerado. “A proposta cria um desincentivo significante ao investimento privado e não garante que os lucros retidos são usados para aumentar os investimentos”, é acrescentado. O mecanismo é encarado como causador de implicações profundas na indústria. “No limite, a medida gera incerteza no ambiente de negócios (como ficou reflectido no sentimento recente do mercado) que pode comprometer a capacidade das concessionárias se manterem competitivas, e assim afectar a sua capacidade para seguirem os objectivos que a proposta pretende alcançar”, é sublinhado. Metas de investimento Rui Pinto Proença e Rui Filipe de Oliveira sugerem, como alternativa, que sejam definidas metas de investimento nos contratos de concessões, através da cobrança extra de impostos ou a obrigação contratual de cumprir determinados rácios de solvência. “É claro que os objectivos, sendo legítimos, potencialmente, são alcançados com maior eficácia através de outros mecanismos legais disponíveis no sistema legal de Macau que não interferem com o, não menos legítimo, direito dos accionistas distribuírem dividendos”, é defendido. No documento é ainda notado que o mecanismo proposto na consulta pública não tem paralelo em Macau, nem na concessão de serviços essenciais públicos, como a distribuição de água, electricidade ou a importação de gás natural. Por outro lado, é destacado que o lucro é a objectivo final de todas as empresas privadas e que esse princípio está protegido pelo Código Civil de Macau. Por isso, segundo a leitura dos autores, de acordo com a legislação vigente, nenhuma accionista pode ficar sem o direito de aceder aos lucros da empresa.
Macau passa a exigir vacinação a quem chega de avião João Luz - 7 Out 2021 Quem embarcar num voo directo para a RAEM ou num voo de ligação que tenha como destino final Macau terá de apresentar certificado de vacinação contra a covid-19 completa, pelo menos, há 14 dias. Não estão abrangidas na deliberação menores de 12 anos, ou pessoas detentoras de documento que certifique que não são adequadas a tomar a vacina por questões médicas. A medida, anunciada pelo centro de coordenação de contingência, entrou em vigor às 00:00 de hoje. Além das provas de vacinação, é também exigida a apresentação de certificado negativo do teste de ácido nucleico com amostragem recolhida nas últimas 48 horas antes do voo. No que diz respeito a indivíduos de países de extremo/alto risco, as exigências são mais apertadas. De acordo com as autoridades, pessoas provenientes do Bangladesh, Brasil, Camboja, Índia, Indonésia, Irão, Nepal, Paquistão, Filipinas, Rússia, África do Sul, Sri Lanka, Tanzânia e Turquia têm de apresentar três certificados negativos do teste de ácido nucleico realizados nos últimos sete dias. Estes três testes têm de ser recolhidos com pelo menos 24 horas de intervalo entre cada amostragem, sendo que o último deve ser realizado até 48 horas antes do embarque. O centro de contingência acrescenta que os referidos certificados devem ser emitidos por uma agência de testes reconhecida pela embaixada ou consulado da China na área local. Quem apresentar certificados falsos pode assumir responsabilidades criminais.
UNESCO | Gravações de Amália Rodrigues candidatas a “Memória do Mundo” Hoje Macau - 7 Out 20217 Out 2021 O Ministério da Cultura vai candidatar as gravações de Amália Rodrigues ao programa da UNESCO “Memória do Mundo”, pelo “valor universal excepcional do registo da sua voz e da sua música” [dropcap]“N[/dropcap]o ano em que se celebra o centenário de Amália Rodrigues, queremos sublinhar a importância e o valor universal excepcional do registo da sua voz e da sua música, fazendo jus à sua carreira de dimensão mundial, através do reconhecimento pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) das gravações da cantora como “Memória do Mundo””, afirmou ontem a ministra Graça Fonseca, em comunicado. A candidatura será promovida através da equipa do Arquivo Nacional do Som, em colaboração com a empresa Edições Valentim de Carvalho, proprietários da colecção de fitas-magnéticas gravadas pela intérprete entre 1951 e 1990 e de outras gravações, algumas nunca publicadas, como ensaios, diferentes ‘takes’, experiências de gravação, gravações informais, entre outras. Segundo a tutela, a candidatura surge na sequência do trabalho há muito desenvolvido pela Valentim de Carvalho na preservação e divulgação deste fundo documental, e do início de um trabalho conjunto com a equipa do Arquivo Nacional do Som. O ministério sublinha que esta candidatura não só afirma a importância do fundo documental como reforça, na prática, a visibilidade destes documentos. Amália Rodrigues, intérprete associada a um repertório português como é o Fado, foi responsável pelo conhecimento e projecção deste género além-fronteiras, sem ter deixado de se preocupar com a sua renovação. Quando fala em fronteiras, o Governo refere-se a “todas as fronteiras”, ultrapassando as meramente territoriais, que ficaram marcadas pela apresentação da cantora “ao vivo” e pela publicação dos seus discos “praticamente em todo o mundo, da Austrália ao Azerbaijão”, com actuações tanto em palcos de pequenas aldeias italianas, como no Lincoln Center de Nova Iorque. Linguagem universal Amália Rodrigues ultrapassou também as fronteiras linguísticas, interpretando repertório em diversas línguas, como português, castelhano, italiano, francês, ou inglês, mas sobretudo as fronteiras do género musical, “afirmando-se como intérprete do fado, mas também das rancheras mexicanas, do flamenco ou da canção italiana, entre outros repertórios, inspirando autores como Charles Aznavour ou Vinicius de Moraes que para ela compuseram”. Graças a uma capacidade musical “fora de série”, a cantora “revolucionou o género nas suas múltiplas dimensões: musical, poética, estilo interpretativo”. A candidatura das gravações de Amália Rodrigues à UNESCO tem uma forte vertente patrimonial, de reconhecer a importância universal destes documentos, de os preservar e divulgar. Mas o Ministério da Cultura pretende também “reafirmar inequivocamente o compromisso nacional de desenhar, implementar e fortalecer uma política consolidada para o património sonoro”. “Estamos a trabalhar para instalar as infraestruturas tecnológicas do Arquivo Nacional de Som, encerrando definitivamente uma história já com 85 anos. E estamos a fazê-lo e vamos sempre fazê-lo com todos os agentes detentores de património sonoro”, destaca o comunicado. O programa “Memória do Mundo” é uma iniciativa da UNESCO que visa realçar e preservar documentos ou conjuntos de documentos com especial significado e valor para a humanidade, documentos (também fonográficos) com “importância mundial e valor universal excepcional”. Passado preservado As primeiras inscrições tiveram lugar em 1997, e até hoje já foram inscritos como “Memória do Mundo” mais de 400 documentos ou conjuntos de documentos, da Magna Carta, à Bíblia de Gutenberg. Portugal inscreveu até hoje 10 documentos, entre os quais o Tratado de Tordesilhas, o Diário da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, a Carta de Pêro Vaz de Caminha, ou o registo de vistos atribuídos pelo cônsul português Aristides Sousa Mendes. No domínio do património documental sonoro, são vários os documentos inscritos: o disco com a gravação do apelo à resistência francesa na II Guerra Mundial pelo General de Gaulle; as colecções históricas dos arquivos de som de Viena, de Berlim e de São Petersburgo; as 103 fitas-magnéticas com a gravação do julgamento de Frankfurt – Auschwitz; ou uma colecção de discos comerciais de Carlos Gardel. A candidatura das gravações de Amália Rodrigues será a primeira candidatura portuguesa de um documento audiovisual.
Governo surpreende e encerra postos de testagem antes do previsto João Santos Filipe - 7 Out 2021 O médico Tai Wa Hou afirmou que o objectivo dos SSM não passa só pelas necessidades da população, mas também por “poupar esforços” do pessoal de saúde. Ontem, foi reconhecida pela primeira vez a existência de casos de infecção local Apesar de ter anunciado que a testagem à população ia ter a duração de três dias, os Serviços de Saúde de Macau (SSM) fecharam ontem quase todos os postos, ao fim do segundo dia, com um pré-aviso de seis horas. A decisão apanhou a população de surpresa, porque foi tomada sem indicação prévia e durante várias horas não houve informações sobre que postos ficariam a operar, dizendo-se unicamente que “manter-se-á aberta apenas uma pequena parte dos postos”. Durante a conferência de imprensa sobre a pandemia, o médico Tai Wa Hou foi questionado sobre se o encerramento dos postos não era uma medida “desonesta”. Porém, Tai recusou essa ideia, e sublinhou que o importante é proteger o pessoal médico para “outras batalhas”. “Logo no início tínhamos dito que gostaríamos de finalizar todos os testes em dois dias, portanto ficámos sempre a monitorizar a situação de todos os postos, a avaliar a distribuição e das recolhas das amostragens”, começou por explicar, o médico para depois justificar a “surpresa”. “Para a população pode parecer que o sistema está cada vez melhor, com base nesta terceira ronda de testes, mas, na verdade, o nosso trabalho é muito pesado […] E o nosso objectivo não é só satisfazer as necessidades da população, mas cuidar do nosso pessoal e poupar esforços para outras batalhas”, acrescentou. Apesar do encerramento, as pessoas podem fazer as marcações desde as 21h de ontem para os postos de Centro Cultural, Fórum Macau, Centro de Actividades do Patane, Centro Desportivo de Mong Há, Campo da Federação dos Operários e Estádio Olímpico da Taipa. Por outro lado, nos testes feitos até às 21h de ontem tinham sido efectuados 673.881 testes, dos quais 540.813 tiveram resultados negativos. Entre estes, houve duas amostras positivas, reconheceu Tai, mas depois de terem sido feitos testes individuais, todos os resultados foram negativos: “Houve dois casos de testes de mistura que acusaram positivo. Foram cerca de 20 amostras, mas depois fizemos um teste individual e conseguimos resultados negativos”, explicou. Zona de alto risco Apesar de na terça-feira os SSM terem recusado que Macau fosse um lugar de médio e alto risco de contágio por covid-19, a cidade de Doumen não se deixou convencer. Logo pela manhã, o distrito de Zhuhai lançou uma directiva a classificar a RAEM como zona de alto e médio risco. Sobre a classificação, Leong Iek Hou atirou responsabilidades para a capacidade de Doumen lidar com a pandemia: “As cidades e províncias do Interior podem ter diferentes capacidades para assumir os riscos […] respeitamos a decisão”, afirmou. Durante a conferência, os SSM ainda não sabiam se havia outras províncias ou cidades a adoptarem a mesma classificação para a RAEM. Contudo, o momento de ontem ficou marcado pelo reconhecimento de que também há casos locais de infecção. Quando questionado se Macau recusava admitir casos de infecção local para que os números não aparecessem nos dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Executivo recusou esse cenário. Pela primeira vez foram reconhecidos casos locais. “Na verdade, temos dois tipos de casos: importado e local. […] os casos locais podem ter origem numa infecção local ou num caso conexo a caso importado”, afirmou Tai. “Todos os conhecidos recentemente são casos locais conexos a importados”, acrescentou. Vacina eficaz Os casos mais recentes em Macau tinham em comum o facto de as pessoas infectadas terem sido inoculadas com a vacina da Sinopharm. Perante isto, os SSM foram questionados sobre a eficácia da vacina proveniente do Interior e se a sua qualidade seria inferior à da BioNTech. Na resposta, Tai Wa Hou respondeu com a diferente proporção de vacinados: “Afirmar que poderá haver uma relação nas infecções e na vacina Sinopharm é um desentendimento. A maior parte da população está vacinada com a Sinopharm, a minoria é que recorreu à BioNTech, apenas 14 por cento”, afirmou”. Não é verdade que só as pessoas que apanharam a vacina da Sinopharm é que ficam infectadas”, frisou. No mesmo sentido, Tai recusou também a possibilidade de a vacina fazer com que haja mais casos, pelo contrário. Segundo o médico, se não fosse a vacinação, em vez de “quatro ou cinco casos” poderia haver “mais de mil”.
Diplomacia | EUA e China concordam respeitar acordo sobre Taiwan Hoje Macau - 7 Out 20217 Out 2021 Joe Biden e Xi Jinping falaram por telefone e concordaram em respeitar o acordo entre os dois países, datado de 1979, que reconhece Pequim como o único Governo chinês de Taiwan [dropcap]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos disse ter falado com o homólogo chinês sobre Taiwan e que tinham concordado em respeitar o ‘status quo’, quando as tensões entre Pequim e Taipé estão a aumentar. “Falei com Xi [Jinping] sobre Taiwan. Concordámos… em cumprir o acordo sobre Taiwan. Deixámos claro que não creio que [ele] deva fazer outra coisa que não seja cumprir o acordo”, disse Joe Biden aos jornalistas, na terça-feira, em Washington, de acordo com a agência de notícias EFE. Biden parecia referir-se ao ‘status quo’ entre os EUA e a China, no qual Washington reconhece, desde 1979, Pequim como o único Governo chinês, com o entendimento de que Taiwan terá um futuro pacífico. Esta política é conhecida como “uma só China” e foi adoptada pelo antigo Presidente Jimmy Carter. Ao abrigo desta política, os Estados Unidos garantem apoio político e militar a Taiwan, mas não prometem explicitamente defender a ilha de um ataque da China, de acordo com a agência de notícias Associated Press (AP). A chamada entre Biden e Xi surgiu depois de Taiwan ter afirmado que as relações com Pequim atravessam “o pior momento em 40 anos” e denunciado que 150 caças chineses entraram na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ) da ilha, nos últimos dias. O ministro da Defesa taiwanês, Chiu Kuo-cheng, afirmou que a China será “capaz de encenar uma invasão em grande escala” da ilha até 2025. Franceses na ilha Taiwan recebe também desde ontem uma delegação de quatro senadores franceses chefiada pelo antigo ministro francês da Defesa Alain Richard, apesar dos fortes protestos da embaixada de Pequim em Paris. A delegação francesa tem, entre outros encontros, uma reunião marcada com a chefe de Estado de Taiwan, Tsai Ing-wen. O ministro francês dos Negócios Estrangeiros já rejeitou os protestos da República Popular da China afirmando que os senadores são livres de se deslocarem para onde entenderem. Taiwan já felicitou a delegação francesa por ter resistido às pressões de Pequim. “Saúdo com sinceridade e dou as boas vindas a Taiwan à delegação francesa chefiada pelo senador Alain Richard. Estou ansiosa por me encontrar com vocês e de trabalharmos juntos no sentido de reforçar as ligações entre Taiwan e a França”, disse Tsai Ing-wen através de uma mensagem que foi divulgada através da rede social Twitter. “Os senadores efectuam esta visita apesar das ameaças do embaixador da República Popular da China em França, mostrando um empenhamento indefetível em relação ao espírito da liberdade e da democracia”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan em comunicado publicado na terça-feira. A embaixada da República Popular da China avisou ontem, no portal oficial da embaixada em Paris, que esta visita pode afectar “a imagem de França”, os interesses de Pequim e as relações sino-francesas. Em Fevereiro, o embaixador chinês em Paris enviou uma carta ao antigo ministro francês da Defesa, Alain Richard, declarando que a visita é “uma violação clara do princípio de uma só China” e que a deslocação “iria transmitir um mau sinal às forças independentistas de Taiwan”. Membro da maioria presidencial, Alain Richard preside o Grupo de Informação entre o Senado de Paris e Taiwan e já visitou Taipé em 2015 e em 2018. Richard recusa estar a pôr em causa o princípio de “uma só China”.
A Arquitectura e o Jogo Hoje Macau - 7 Out 20217 Out 2021 Guy-Ernest Debord (1931-1994) (tradução de Emanuel Cameira) Johan Huizinga, no seu Ensaio sobre a Função Social do Jogo, declara que “… a cultura, nas suas fases primitivas, contém as características de um jogo, desenvolvendo-se segundo as formas e na atmosfera do jogo”. O idealismo latente do autor, e a sua apreciação estritamente sociológica das formas superiores do jogo, não desvalorizam a contribuição inaugural da sua obra. Em contrapartida, é inútil buscar nas nossas teorias sobre a arquitectura ou a deriva outros motivos que não a paixão pelo jogo. Por mais que o espectáculo de quase tudo o que acontece no mundo desperte a nossa raiva e repulsa, sabemos, cada vez mais, como nos divertir com tudo. Aqueles que disto depreendem sermos ironistas são demasiado ingénuos. A vida à nossa volta é feita para obedecer a necessidades absurdas e, inconscientemente, tende a satisfazer as suas verdadeiras necessidades. Essas necessidades e suas satisfações, compreensões parciais confirmam, por toda a parte, as nossas hipóteses. Por exemplo, um bar chamado Au bout du monde [Nos confins do mundo], no extremo de uma das unidades mais icónicas de Paris (o bairro das ruas Mouffetard-Tournefort-Lhomond), não está lá por acaso. Os acontecimentos não pertencem ao acaso senão quando conhecemos as leis gerais da sua categoria. É necessário um esforço de consciencialização, tão amplo quanto possível, dos elementos que determinam uma situação, à parte dos imperativos utilitários cujo poder sempre diminuirá. Queremos, para a arquitectura, uma organização muito parecida à que desejamos para a nossa vida. Como é costume dizer-se, as belas aventuras só podem ter por cenário e origem os bairros elegantes. A noção de bairros elegantes mudará. Actualmente já podemos apreciar a atmosfera de algumas áreas desoladas, tão propícias para a deriva quanto escandalosamente impróprias para habitação, onde, ainda assim, o regime aprisiona as massas trabalhadoras. O próprio Le Corbusier reconhece, em O urbanismo é uma chave, que se tivermos em conta o miserável individualismo anárquico da construção nos países altamente industrializados, “… o sub-desenvolvimento pode ser tanto a consequência de um excedente quanto de uma escassez”. Esta observação pode naturalmente voltar-se contra o promotor neo-medieval da «comunidade vertical». Indivíduos bastante diferentes esboçaram, mediante abordagens aparentemente similares, algumas arquitecturas intencionalmente desconcertantes, que vão desde os célebres castelos do rei Luís da Baviera a essa casa de Hanôver que, ao que parece, o dadaísta Kurt Schwitters perfurou com túneis e complexificou com uma floresta de colunas de objectos aglomerados. Todas essas construções recuperam um carácter barroco, tal como se encontra evidenciado nos ensaios de uma arte integral, que seria absolutamente determinante. A este respeito, importa assinalar as relações entre Luís da Baviera e Wagner, que deveria, ele próprio, buscar uma síntese estética, da maneira mais penosa e, no fim de contas, mais vã. Convém deixar claro que se as manifestações arquitectorais, às quais somos levados a atribuir valor, estão de algum modo relacionadas com a arte naïf, estimamo-las por algo bem diferente, a saber, a concretização de forças futuras inexploradas de uma disciplina economicamente pouco acessível às «vanguardas». Na exploração dos valores mercantis estranhamente ligados à maioria dos modos de expressão da ingenuidade, é impossível não reconhecer a exibição de uma mentalidade formalmente reaccionária, bastante parecida à atitude social do paternalismo. Mais do que nunca, acreditamos que os homens merecedores de alguma estima devem ter sabido como responder a tudo. Os riscos e os poderes do urbanismo, que actualmente nos contentamos em utilizar, não porão fim ao nosso objectivo de participar, tanto quanto possível, na sua construção real. Sabemos bem que o domínio provisório e livre da actividade lúdica, que Huizinga acredita poder opor enquanto tal à «vida quotidiana» caracterizada pelo sentido do dever, é o único campo, fraudulentamente limitado por tabus de pretensão duradoura, da vida verdadeira. Os comportamentos de que gostamos tendem a estabelecer todas as condições favoráveis ao seu pleno desenvolvimento. Trata-se agora de alterar as regras do jogo, de uma convenção arbitrária para um fundamento moral. Tradução de: Debord, Guy-Ernest, “L’Architecture et le Jeu” [1955], in Potlatch 1954-57, Paris, Éditions Gérard Lebovici, 1985, pp. 137-140.
Deputado preocupado com filhos que ficam no lar sem os pais João Santos Filipe - 7 Out 202111 Out 2021 O Governo determinou o fecho das escolas devido à pandemia, obrigando alguns pais a deixarem os filhos sozinhos. Segundo o deputado Lam Lon Wai, a situação faz com que haja pais que não têm forma de cuidar das crianças O deputado dos Operários, Lam Lon Wai, está preocupado com os funcionários públicos e trabalhadores que precisam de se apresentar nos locais de trabalho e não têm com quem deixar os filhos. A opinião foi expressa ontem através de um comunicado, em que o legislador elogiou os funcionários e trabalhadores que “correm riscos” ao irem trabalhar devido à situação da pandemia. Desde terça-feira que o Governo decretou que os serviços públicos devem deixar os trabalhadores não-essenciais desempenharem funções a partir de casa. No entanto, alguns funcionários têm de comparecer no local de trabalho. Com escolas fechadas e pais a trabalhar, não sobra ninguém para tomar conta dos filhos. Por isso, o deputado mostrou-se preocupado: “Em conjunto com a suspensão das escolas, muitas famílias têm dificuldades para tomar conta das crianças”, informou. “É recomendável que o Governo crie medidas mais próximas dos trabalhadores, para responder às necessidades, e fazer com que empresas e organizações tenham uma postura mais flexível, como autorizarem o trabalho a partir de casa”, sugeriu Lam. “Medidas mais flexíveis vão permitir que as famílias escolham os métodos mais convenientes, de acordo com as condições familiares e de trabalho”, acrescentou. E o ensino? Lam Lon Wai abordou também o impacto da política “pára e arranca” no ensino da RAEM, desde que surgiu a covid-19. “Os pais estão preocupados com a qualidade do ensino. Apesar de Macau ter experiência e planos para a implementação rápida de aulas online, a diferença no ambiente de aprendizagem das aulas online faz com que os resultados fiquem aquém dos alcançados com o ensino presencial”, considerou. Lam defende a optimização das aulas online: “O Governo tem de continuar a apostar na diversificação dos métodos do ensino online e promover a diversificação e inovação no modelo adoptado em Macau. Assim, seria possível reduzir o impacto de não ser possível ter ensino presencial”, indicou. Ao mesmo tempo, o deputado ligado à FAOM acredita que a situação de os pais terem de acompanhar o ensino das crianças acrescenta pressão à situação familiar, e defende a disponibilização de aconselhamento psicológico, para lidar com eventuais problemas.
Implicações das Alterações Climáticas no Leste Asiático Olavo Rasquinho - 7 Out 2021 Uma pergunta que grande parte dos habitantes do nosso planeta faz é seguramente “será que as alterações climáticas são uma realidade e, no caso de o serem, em que medida irão afetar a região que habito?” Eu próprio pergunto o que irá acontecer na região onde vivo, nas Azenhas do Mar, a cerca de 40 km de Lisboa. A moradia que habito situa-se no declive de uma pequena colina, a cerca de 300 metros de distância da linha de costa, a algumas dezenas de metros de altitude, o que me deixa tranquilo no que se refere à subida do nível do mar. Também o local não é suscetível de ser afetado por cheias rápidas, fenómeno que tem vindo a acentuar-se à escala global. Caso haja episódios de precipitação intensa, a água escoará facilmente para o mar. O mesmo não pensará o proprietário de um pequeno estabelecimento que existia na Praia Pequena, há algumas dezenas de anos, hoje completamente destruído pela fúria do mar. Esta praia é adjacente à Praia Grande, onde por vezes os pequenos quiosques nesta existentes são danificados quando há marés vivas, cujas consequências são agravadas quando coincidem com tempestades. Quem me está a ler (espero que mais alguém para além do revisor deste texto), decerto leitor do jornal “Hoje Macau”, poderá perguntar “onde é que este tipo quer chegar? Será que as Azenhas do Mar e as Praias Pequena e Grande ficam no Leste Asiático?”. A realidade é que as alterações climáticas estão a afetar o nosso planeta, e vão continuar a fazê-lo, praticamente à escala global. Para podermos seguir as consequências do evoluir do clima já estão ao nosso alcance ferramentas que nos permitem ter uma ideia do que poderá acontecer no futuro. Uma delas é o Atlas Interativo do IPCC[i], que faz parte do sexto Relatório de Avaliação (AR6)[ii] deste órgão das Nações Unidas, publicado parcialmente em 9 de agosto do corrente ano. Trata-se de uma nova e poderosa ferramenta que nos permite analisar a evolução espacial e temporal (a curto, médio e longo prazo) de alguns dos parâmetros que caracterizam os possíveis tipos de clima suscetíveis de virem a ocorrer, com base em cenários estabelecidos em função da quantidade de gases de efeito de estufa (GEE) devido, principalmente, às atividades antropogénicas. Entre estes parâmetros salientam-se a subida do nível do mar, o aumento da temperatura máxima do ar, o aumento da temperatura da superfície do mar, o número de dias com temperatura superior a 35 ºC ou 40 ºC, etc. Através deste Atlas (que pode ser acedido em https://interactive-atlas.ipcc.ch/) pode-se estimar o que poderá acontecer, em termos climáticos, em diferentes regiões do globo, colocando o cursor num determinado local dos mapas digitais nele contidos. Poder-se-á constatar que as consequências das alterações climáticas, numa determinada região, serão tanto mais gravosas quanto maior for o período abrangido e maior a injeção de GEE. Como é sabido, a Região Administrativa Especial de Macau está situada no Leste Asiático (ou Extremo Oriente), numa zona de monções, em que predominam os ventos húmidos do quadrante sul durante os meses mais quentes e ventos do quadrante norte, mais secos, durante os meses menos quentes. A RAEM é também afetada pelo tempo associado a ciclones tropicais (tempestades tropicais e tufões), em média cerca de seis vezes por ano. Quando a aproximação destas depressões coincide com as marés astronómicas altas, os seus efeitos podem ser agravados no que se refere à ocorrência de inundações nas zonas mais baixas, nomeadamente no Porto Interior. Tendo estes fenómenos ocorrido no passado, o que tem causado graves prejuízos à população, facilmente se pode imaginar o que poderá acontecer no futuro, atendendo à subida do nível do mar e à muito provável maior intensidade dos ciclones tropicais. Tufões intensos estão associados a um fenómeno designado por “efeito barométrico inverso”, que consiste no facto de, quando a pressão atmosférica é muito baixa, haver uma sobre-elevação do nível do mar de cerca de 1 cm por hectopascal (hPa[i]), na região afetada pela tempestade, i.e., o nível do mar sobe cerca de 1 cm quando a pressão desce 1 hPa. Assim, por exemplo, numa situação em que a pressão sobre o mar seja cerca de 1013 hPa antes da aproximação de um tufão com a pressão no centro de 950 hPa, haverá uma subida do nível do mar de aproximadamente 63 cm. A superfície do mar, assim sobre-elevada, que acompanha o tufão, só por si poderia causar inundações em terra. Acontece, porém, que ao efeito de elevação do nível do mar se junta a ação do vento forte que, arrastando a água, dá origem ao que se designa por maré de tempestade. Em 23 de agosto de 2017, aconteceu algo semelhante, na RAEM, durante a passagem do tufão Hato, cujo o valor mais baixo da pressão medida em Macau foi cerca de 945 hPa. O facto de ter atingido terra sensivelmente à mesma hora do máximo da maré barométrica fez com que os três efeitos (pressão extremamente baixa, ventos muito fortes e maré alta) se conjugassem, provocando uma maré de tempestade que causou inundações com graves consequências, causando a perda de vidas e graves prejuízos materiais. A acumulação de água da chuva com a do mar fez com que, em alguns locais, o nível da água atingisse cerca de 5 m acima do solo, conforme medição por instrumentos dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau. Observações via satélite têm confirmado que o nível do mar, à escala global, tem vindo a aumentar cerca de 3,1 mm por ano, o que implica que, dentro de algumas dezenas de anos (a manter-se, ou a aumentar esta tendência) as consequências dos ciclones tropicais em Macau serão tendencialmente mais gravosas. Consultando o Atlas Interativo, aparece-nos um globo terrestre em rotação, com uma legenda indicando as variáveis “temperatura” e “precipitação”. Clicando na primeira, pode-se observar o aumento das extensões geográficas abrangidas pelos incrementos da temperatura média de 1,5 ºC, 2 ºC, 3 ºC e 4 ºC, tendo como referência o período 1850-1900. Analogamente, clicando em “precipitação”, pode-se também estimar o aumento das extensões abrangidas pelo incremento desta variável, a nível global, correspondentes a esses diferentes acréscimos de temperatura. É facilmente compreensível esta última constatação, na medida em que, quanto maior for o aquecimento global, maior será a evaporação e, consequentemente, maior a concentração de vapor de água na atmosfera. Este vapor, ao condensar, provocará uma cobertura de nuvens tanto mais extensa e compacta quanto maior a concentração de vapor de água na atmosfera. Estarão, assim, criadas as condições para forte precipitação, reforçando o que já está a acontecer no que se refere à tendência de aumento de frequência e intensidade das chamadas cheias rápidas, que apanham de surpresa os habitantes das regiões onde esses fenómenos ocorrem, como o que aconteceu no verão de 2021, na Europa e na China, onde houve centenas de vítimas provocadas por fenómenos deste tipo. Para construir este Atlas, o IPCC recorreu ao acoplamento de vários modelos climáticos, tendo em consideração as constantes interações entre as diferentes componentes do sistema climático (atmosfera, hidrosfera, criosfera, litosfera e biosfera). Com este intuito, o IPCC desenvolveu representações gráficas, através das quais se pode extrair informação climática regional que poderá servir de base à tomada de medidas, a nível governamental, no sentido de diminuir o impacto das alterações climáticas. Por exemplo, se pretendermos estimar qual o aumento do nível do mar na região de Macau, acedemos ao sítio do Atlas Interativo do IPCC, clicamos no quadro “Regional Information”, aparece-nos um mapa-múndi sobre o qual clicamos em “Variable”, escolhemos “Sea level rise” e colocamos o cursor no ponto do mapa correspondente à região “East Asia”. Na parte inferior do ecrã aparece-nos um gráfico no qual é possível extrair o valor da subida do nível do mar a curto, médio e longo prazo. Poder-se-á estimar que a subida nessa região seria de cerca de 1 m em 2100. Procedendo analogamente para outras variáveis, como, por exemplo, o aumento da temperatura máxima anual, podemos concluir que seria de aproximadamente 3 ºC em 2100. Isto para o cenário designado por SSP5-8.5, que corresponde a altas emissões de GEE. O Atlas Interativo constitui, assim, uma ferramenta a que os assessores técnicos dos governos poderão usar no sentido aconselhar os decisores políticos sobre a tomada de medidas, no sentido de atenuar a vulnerabilidade dos respetivos territórios, adaptando as estruturas de modo a melhor enfrentarem as alterações climáticas. [i] hPa (Hectopascal) – unidade de pressão correspondente a 100 Newton por metro quadrado. Antigamente designava-se por milibar (mb).
Au Kam San defende que verbas destinadas a Hengqin devem ficar em Macau Pedro Arede - 7 Out 20217 Out 2021 O ainda deputado e candidato desqualificado às últimas eleições legislativas, Au Kam San receia que a alocação de verbas para a zona de cooperação aprofundada entre Macau e Guangdong em Hengqin (Ilha da Montanha) pode colocar em risco a diversificação económica de Macau. “Se as reservas acumuladas nos últimos 20 anos vão ser alocadas tanto quanto possível em Hengqin, como é que Macau será capaz de promover a sua diversificação económica? Macau é uma sociedade capitalista e, por isso, a economia não é controlada, está dependente da vontade dos investidores. Como é possível diversificar a economia de Macau, se os potenciais investimentos forem absorvidos pela Ilha da Montanha?”, questionou ontem o deputado numa publicação de Facebook. Au Kam San vai mais longe e diz mesmo “não ser aceitável” que o Governo Central “absorva todos os recursos de Macau” para desenvolver a zona de cooperação, dado que esta é uma forma de “abafar as oportunidades de desenvolvimento local”. Chefe injustiçado Além disso, tendo em conta que a diversificação económica de Macau é um desígnio antigo do Governo Central, o deputado considera que a situação não é justa para Ho Iat Seng, dado que considera o Chefe do Executivo um governante “capaz, experiente e ambicioso”. Porém, desde que assumiu o mandato como líder do Governo, não teve oportunidade de colocar essa vontade em prática. Sobretudo quando, além de ter lidado com a pandemia de covid-19 mal chegou ao cargo, pode ver-se sem as verbas necessárias para concretizar as perspectivas económicas que teria para Macau. “Se dermos 10 anos a Ho Iat Seng é possível que o Chefe do Executivo assuma a liderança de Macau rumo a novas perspectivas sociais e económicas. No entanto, como o Governo Central está actualmente a absorver o investimento de Macau para Hengqin, a situação é injusta para Ho Iat Seng e para Macau”, partilhou. Contrapondo a situação de Ho Iat Seng com os mandatos dos anteriores Chefes do Executivos, Au Kam San alega que Edmund Ho, apesar de ser “capaz” albergava “conflitos de interesse” e que Chui Sai On “não tinha ambição, nem objectivos”. Por seu turno, lembra Au Kam San, o actual Chefe do Executivo, mal chegou ao cargo, cumpriu a promessa antiga de iniciar a construção de 28 mil fracções de habitação pública na Zona A dos Novos Aterros.
Pedofilia | Papa Francisco manifesta vergonha pela “longa incapacidade da igreja” Hoje Macau - 7 Out 2021 [dropcap]O[/dropcap] Papa Francisco expressou ontem a sua “vergonha” pela “longa incapacidade da Igreja” para lidar com casos de padres pedófilos, após a publicação do relatório sobre os 330.000 casos de abuso ou violência sexual por parte do clero francês. “É um momento de vergonha”, disse o Papa Francisco durante a audiência geral ao saudar os fiéis franceses, expressando às vítimas a sua “tristeza e dor pelos traumas que sofreram”. De acordo com o relatório publicado na terça-feira por uma comissão independente, desde 1950 houve pelo menos 330.000 casos de abuso ou violência sexual contra menores ou pessoas vulneráveis e foram identificados entre 2.900 e 3.200 pedófilos religiosos. De acordo com o relatório, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram abusados ou agredidos sexualmente por clérigos católicos ou religiosos. O número de vítimas sobe para 330 mil quando considerados “agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica”, nomeadamente nas capelanias, professores nas escolas católicas ou em movimentos juvenis. “Infelizmente são números enormes”, disse o Papa, referindo-se ao relatório em que emergia um panorama desolador para a Igreja Católica, “muito acima do esperado”, como reconheceu o presidente da Conferência Episcopal Francesa, Éric de Moulins-Beaufort . “Desejo exprimir às suas vítimas a minha tristeza e a minha dor e pelos traumas que sofreram, a minha vergonha, a nossa vergonha, pela longa incapacidade da Igreja em colocá-los no centro das suas preocupações”, sublinhou o Papa. E acrescentou: “Rezemos, Senhor, a Ti a glória e a nós a vergonha”. Feridas e coragem Francisco também encorajou “os bispos, fiéis, superiores e religiosos a continuarem todos os esforços para que dramas semelhantes não se repitam” e expressou apoio aos religiosos franceses para superar “esta provação”. O Papa Francisco convidou também os católicos franceses a assumirem “suas responsabilidades para que a Igreja seja um lar seguro para todos”. Após a publicação do relatório, a assessoria de imprensa do Vaticano publicou uma nota na qual o Papa expressava sua “dor” e se dizia que os seus pensamentos se dirigiam “em primeiro lugar às vítimas, com grande dor, pelas suas feridas”, agradecendo pela coragem de denunciar os factos. Francisco foi informado da publicação do relatório pelos bispos franceses, que recebeu nos últimos dias durante as visitas ‘ad limina’ (que se realizam a cada cinco anos). “O seu pensamento dirige-se em primeiro lugar às vítimas, com grande dor, pelas suas feridas, e gratidão, pela sua coragem na denúncia, e à Igreja da França, porque, na consciência desta terrível realidade, (…) é possível embarcar num caminho de redenção “, referia o comunicado. O relatório surge depois do escândalo que envolveu o agora ex-padre Bernard Preynat, condenado, no ano passado, por abuso sexual a uma pena de prisão de cinco anos, por ter abusado de mais de 75 rapazes durante décadas.
Coutinho quer injecção de 10 mil patacas e abertura de fronteiras Pedro Arede - 7 Out 2021 Face aos novos casos de covid-19, Pereira Coutinho defende a injecção de mais 10 mil patacas nos cartões de consumo até ao final de 2021. A pensar nas minorias, estrangeiros e na recuperação económica, o deputado quer que o Governo elabore uma estratégia de abertura de fronteiras mais ambiciosa [dropcap]À[/dropcap] luz do impacto que os novos surtos de covid-19 estão a provocar na economia e no tecido social de Macau, Pereira Coutinho defende que o Governo deve atribuir mais 10 mil patacas a cada residente e apresentar “com precisão” uma estratégia de abertura ao exterior. O deputado considera “fundamental” recarregar os cartões de consumo dos residentes até ao final do ano, dado que os montantes já estão “esgotados” devido à necessidade de saldar despesas individuais e familiares, e para ajudar as Pequenas e Médias Empresas (PME), que continuam a sofrer com a falta de turistas. “O Governo deve (…) proceder, de imediato, à injecção de verbas nos cartões de consumo. Esta é a única forma directa para resolver os problemas familiares e sociais dos cidadãos de Macau e dar um pouco de fôlego às PME. Há um mês tínhamos proposto a injecção de 5 mil patacas ao Chefe do Executivo, mas, neste momento, sugerimos 10 mil patacas, pois com a evolução da pandemia, o encerramento de espaços e as restrições de entradas e saídas dos residentes [é preciso mais]”, apontou ao HM. Contudo, Pereira Coutinho considera que, “mais importante”, é o Governo resolver, a médio e longo prazo, a questão da abertura das fronteiras de Macau ao exterior. Para isso, o deputado defende a elaboração de um plano de abertura, a partir do momento em que a taxa de vacinação do território atinja os 80-85 por cento, que não deixe de fora os “direitos das minorias” e dos estrangeiros. “O Governo tem de dizer, com precisão, qual o caminho e qual a estratégia de abertura de Macau ao exterior. Ou seja, definir em que condições a sociedade civil deve colaborar para que Macau volte à normalidade. Não podemos estar fechados eternamente. Se não morremos de covid-19, vamos morrer dos problemas financeiros. Há muita gente que está sob pressão, nomeadamente jovens, famílias, pessoas que perderam o emprego e outros que estão a meio-gás e só trabalham 15 dias por mês”, vincou o deputado. Ir mais longe Apontando que, à luz da actual política nas fronteiras, “estamos a viver uma situação dramática e caótica”, tanto os residentes como o Governo têm de se “consciencializar” de que “vamos viver com a covid-19 durante muito tempo” e a única solução passa pela vacinação. Por isso, Pereira Coutinho é da opinião de que, ao abrigo do princípio “Um País, Dois Sistemas” e das especificidades de Macau, o Governo deve ponderar “abrir um pouco mais” ao exterior do que a China. Isto, quando, do lado de lá, a criação de uma barreira imunológica não garante a abertura das fronteiras. “Ao abrigo do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, temos de trabalhar por nós próprios e fazer valer a nossa circunstância, de que há situações em que teremos de abrir um pouco mais do que o Interior da China”, começou por sublinhar ao HM. “Se seguirmos a perspectiva do Interior da China, mesmo que os cidadãos de Macau estejam todos vacinados, podemos não abrir as fronteiras. Em Macau temos minorias, há estrangeiros que não têm facilidade de entrar na China ou que nem conseguem entrar em Macau. Isto prejudica muito, além de que os 21 dias de quarentena actualmente em vigor (…) são um grande obstáculo”, rematou. Sobre a alteração repentina das medidas nas fronteiras que deixou mais de um milhar de estudantes e trabalhadores desalojados em Macau e sem a possibilidade de regressar a Zhuhai, o deputado fala em “drama social”. Assim sendo, pede maior clarificação da população acerca das implicações de viver do outro lado da fronteira. Sobretudo quando está em marcha a promoção da cooperação entre Macau e Guangdong em Hengqin. “O Governo tem de dizer, com toda a honestidade e seriedade, que as pessoas ao fazerem a mudança da sua residência habitual além das fronteiras de Macau, podem ter esses problemas [nas fronteiras] que depois afectam o seu dia a dia”, referiu.
Cruzeiro Seixas em destaque na feira de arte internacional Frieze Hoje Macau - 6 Out 2021 O percurso e obra do mestre do surrealismo português, falecido há cerca de um ano, voltam a ser objecto de homenagem numa prestigiada feira de arte intenacional [dropcap]A[/dropcap] obra de Cruzeiro Seixas vai estar em destaque na feira de arte internacional Frieze, em Londres, entre 13 e 17 de Outubro, enquanto trabalhos dos portugueses Hugo Lami e Pedro Sousa Louro vão ser expostos em eventos paralelos. Documentos, cartas, desenhos, poesia e desaforismos, alguns dos quais inéditos, do surrealista português, que morreu no ano passado aos 99 anos, vão estar entre trabalhos raramente vistos de figuras pouco conhecidas mas consideradas pioneiras da arte de vanguarda do século XX. A exposição chega pela mão da Perve Galeria, que fez a selecção de trabalhos produzidos ao longo de cinco décadas, com especial ênfase no trabalho desenvolvido pelo artista enquanto viveu em Angola, ao longo de 12 anos, entre 1952 e 1964. O período em Angola destaca-se não só pelo uso de materiais nativos que na altura causaram fricções com o regime e a polícia política de Salazar, mas também por ter sido quando “descobriu a poesia”, influenciando a sua produção artística posterior, disse à agência Lusa o diretor artístico da Perve Galeria, Carlos Cabral Nunes. A mostra é a segunda exposição internacional do Ciclo de Celebração do Centenário de Cruzeiro Seixas, que a Perve tem vindo a promover desde 2020. “Cruzeiro Seixas não é só um artista português, é um extraordinário artista internacional. A sua obra transcende a nossa própria condição de país periférico. Ele é o artista português na história que mais obra realizou, com uma linguagem própria, muito multifacetada e surpreendente”, defende. A Secção Spotlight tem curadoria da norte-americana Laura Hoptman, actual diretora do museu Drawing Center em Nova Iorque, e que durante anos dirigiu o Museu de Arte Moderna da mesma cidade (MoMA), e é dedicada a artistas vanguardistas do século XX. Este ano vai incluir obras de artistas como Woody Vasulka, Franca Sonnino, Obiora Udechukwu, Feliciano Centurión, Santi Alleruzzo, entre muitos outros. A galeria de Lisboa é a única portuguesa entre 130 galerias internacionais na Frieze Masters, a parte da feira internacional dedicada a artistas anteriores ao século XXI. Ouras presenças O evento “irmão”, Frieze London, dedica-se à arte contemporânea e artistas ainda vivos, com obra posterior ao ano 2000. Juntas, atraem anualmente cerca de 60 mil visitantes, como programadores, artistas, coleccionadores, galeristas e críticos, bem como o público em geral, mas em 2020 realizou-se num formato digital devido à pandemia covid-19. Aproveitando a presença de especialistas internacionais em Londres, muitas galerias realizam exposições paralelas para coincidir com a Frieze, como é o caso da Neon Art Gallery, que vai promover uma exposição individual do português Hugo Lami. Intitulada “Life Found on the Moon” (“Encontrada Vida na Lua”, em tradução do inglês), a exposição decorre entre 11 e 17 de Outubro. Lami vive entre Lisboa, onde estudou Pintura na Escola Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, e Londres, onde concluiu um mestrado em Escultura no Royal College of Art. Também residente e formado em Londres, no Chelsea College of Arts, o português Pedro Sousa Louro participa numa exposição colectiva de mais de 70 artistas de 25 países na Saatchi Gallery. A StART Fair pretende marcar o lançamento da StART.art, uma plataforma de comércio electrónico para artistas. Já no âmbito da Frieze Sculpture, uma das maiores exposições de escultura ao ar livre de Londres, que decorre até 31 de Outubro, expõe o português José Pedro Croft. A exposição tem curadoria, pelo nono ano consecutivo, de Clare Lilley, directora do programa no Parque de Esculturas de Yorkshire, e apresentará também trabalhos das artistas brasileiras Solange Pessoa e Vanessa da Silva.
Taiwan | 56 caças chineses entram na Zona de Identificação da Defesa Aérea Hoje Macau - 6 Out 2021 A China volta a fazer uma demonstração de força em resposta às declarações dos Estados Unidos e ao reforço da cooperação militar entre o país norte-americano e a ilha Um total de 56 caças chineses entraram na segunda-feira à noite na Zona de Identificação da Defesa Aérea (ADIZ) de Taiwan, informou o Ministério da Defesa da ilha num comunicado. Segundo o Ministério da Defesa, duas incursões separadas na parte sudoeste da ADIZ envolveram caças J-16, J-11 e Su-30, bombardeiros H-6, aviões de radar KJ-500 e aviões de reconhecimento Y-8. A força aérea da ilha emitiu avisos de rádio e mobilizou unidades até que as aeronaves chinesas deixassem a ADIZ de Taiwan, que não está definida ou regulamentada por nenhum tratado internacional e não é equivalente ao seu espaço aéreo, mas abrange uma área maior que inclui áreas da China continental. Os 56 aviões são um número recorde para as cada vez mais frequentes incursões de aviões chineses na ADIZ de Taiwan, e seguem duas outras incursões em 3 e 1 de Outubro. Tal acontece um dia depois de os Estados Unidos terem instado a China a parar esta prática, que descreveu como “provocadora” e “desestabilizadora”. Em resposta a Washington, a China afirmou na segunda-feira à noite que “os Estados Unidos deveriam deixar de apoiar as forças que são a favor da ‘independência de Taiwan’ e, em vez disso, tomar medidas concretas para manter a paz e a estabilidade no Estreito”. “Os Estados Unidos fizeram mal ao vender armas a Taiwan e ao reforçar os laços oficiais e militares com a ilha, incluindo uma venda de armas planeada de 750 milhões de dólares a Taiwan, aterrando aviões militares norte-americanos em Taiwan e navegando em navios de guerra através do Estreito”, disse uma porta-voz chinesa. “A China opõe-se firmemente a tudo isto e tomou medidas que considera necessárias”, acrescentou a porta-voz. Segundo os peritos citados pelo jornal chinês Global Times, esta última incursão é “um forte aviso tanto aos secessionistas taiwaneses como às forças estrangeiras que os apoiam”. Analistas taiwaneses disseram na segunda-feira que a China pretende “aumentar a pressão sobre Taiwan e mostrar o seu poder militar aos países vizinhos, bem como aos Estados Unidos e ao Reino Unido”. Fricções antigas O número de aviões militares chineses que entram na ADIZ de Taiwan aumentou nos últimos meses. A 24 de Setembro, Taiwan informou que 24 caças chineses realizaram incursões semelhantes depois de a ilha se ter candidatado a aderir ao Acordo Global e Progressivo para a Parceria Trans-Pacífico (CPTPP), ao qual Pequim “categoricamente” se opõe. Taiwan tem-se considerado um território soberano com o seu próprio governo e sistema político sob o nome da República da China desde o fim da guerra civil nacionalista-comunista em 1949, mas Pequim mantém que é uma província rebelde e insiste em regressar àquilo a que chama a pátria comum. A ilha é também um importante ponto de discórdia entre a China e os Estados Unidos, especialmente porque Washington é o principal fornecedor de armas de Taiwan e seria o seu maior aliado militar no caso de um conflito com a China. Em 1979, depois de quebrar os laços diplomáticos com Taipé e de os estabelecer com Pequim, os Estados Unidos adoptaram o ‘Taiwan Relations Act’, no qual se comprometia com a defesa da ilha e o fornecimento de equipamento militar, um compromisso que gerou numerosas fricções entre as duas potências.
Mundial2022 | Selecção portuguesa em preparação para Qatar e Luxemburgo Hoje Macau - 6 Out 2021 A selecção portuguesa de futebol arrancou ontem a preparação para os jogos de sábado, com o Qatar, e 12 de Outubro, com o Luxemburgo, o último a contar para a qualificação para o Mundial2022. Os eleitos para a equipa das ‘quinas’ treinaram ontem na Cidade do Futebol, em Oeiras, distrito de Lisboa, com um jogador a falar à comunicação social para lançar o duplo desafio. Entre os 24 convocados por Fernando Santos, a grande novidade é o médio Matheus Nunes, do Sporting, com dois regressos em relação à lista de setembro, casos do defesa Diogo Dalot (Manchester United) e do médio William Carvalho (Bétis). Portugal jogará duas vezes no Estádio Algarve, a começar pelo segundo particular com o anfitrião do próximo campeonato do mundo, já no sábado, após uma primeira vitória por 3-1 em Debrecen (Hungria). André Silva, o ausente Otávio e Bruno Fernandes marcaram na Hungria, altura em que a selecção ‘folgou’ no grupo A de qualificação, que lidera com 13 pontos, contra 11 da Sérvia, segunda e em posição de ‘play-off’. Nos primeiros cinco encontros de apuramento, de oito, Portugal venceu o Azerbaijão (1-0, na casa emprestada de Turim), empatou na Sérvia (2-2), ganhou no Luxemburgo (3-1), venceu na receção à República da Irlanda (2-1) e ganhou no Azerbaijão (3-0). Os luxemburgueses são terceiros com seis pontos, mas menos um jogo, e ainda ‘sonham’ com o lugar de ‘play-off’. A fase de grupos da qualificação europeia para o Mundial2022 termina em Novembro e os vencedores dos 10 grupos apuram-se diretamente para a fase final, enquanto os segundos classificados seguem para os ‘play-offs’.
Frederico Rosário prometeu cobrir perdas em criptomoedas de familiares e amigos João Santos Filipe - 6 Out 2021 [dropcap]F[/dropcap]rederico Rosário, filho de Rita Santos, prometeu pagar à família e amigos mais próximos o dinheiro perdido no esquema de investimento de minerização de criptomoeda. A versão foi relatada, ontem, por Mirtilia Lameiras, prima de Rosário, em mais uma sessão do julgamento, em que o arguido e Dennis Lau, empresário de Hong Kong, são acusados da prática de 48 crimes de burla. Segundo a testemunha, após os investidores terem deixado de receber os pagamentos prometidos foi organizada uma reunião para Frederico Rosário explicar à família e amigos mais próximos a razão dos problemas. O encontro foi agendado, entre Junho e Julho, para casa de Mirtilia Lameiras e contou com a participação de mais de 15 pessoas. “Ele imprimiu uns documentos e explicou-nos que tinha sido enganado, disse-nos que o Dennis Lau tinha tirado o dinheiro todo das contas”, relatou Mirtilia. “Também no início da reunião, ele comprometeu-se a pagar o dinheiro perdido. Mas, eu optei por desistir [de receber], porque o montante que tinha investido não era elevado e achei que ele devia pagar antes a outras pessoas”, acrescentou. Mirilia foi ainda questionada sobre se o pagamento das dívidas ia ser feito com os fundos pessoais do arguido ou com o montante das empresas Genesis e Forgetech, que geriam o programa de minerização, mas não soube responder. Segundo as contas apresentadas, a testemunha terá investido 100 mil dólares de Hong Kong e ficou sem 75 mil dólares, além de não ter recebido o retorno prometido de 20 por cento. Apesar das perdas, Mirtilia defendeu o primo. “Não acredito que ele alguma vez me tenha tentado enganar”, contou em tribunal. “Se houve intenção de enganar alguém, foi do Dennis Lau e não do Frederico Rosário”, reiterou. Acreditando na boa-fé do primo, Mirtilia afirmou que não queria ver Rosário responsabilizado criminalmente nem obrigado a pagar-lhe os 75 mil dólares de Hong Kong Tudo recuperado A sessão de ontem do julgamento foi encurtada, após as orientações do Chefe do Executivo para que os funcionários públicos ficassem em casa, de forma a evitar a propagação da covid-19. Antes da interrupção foi ainda ouvida outra testemunha, Jocelino Santos. Este fez um investimento de 100 mil dólares de Hong Kong na minerização de criptomoeda. No entanto, quando os pagamentos foram interrompidos, Jocelino já tinha recuperado o montante inicialmente investido, pelo que apenas foi lesado nos retornos. A testemunha explicou ter feito o investimento em conjunto com amigos, por insistência destes, e no final afirmou que não pretendia ser ressarcida, porque não tinha perdido dinheiro.
Automobilismo | Taça Porsche Ásia regressa ao GP de Macau e traz novidades Sérgio Fonseca - 6 Out 2021 A 68.ª edição do Grande Prémio de Macau voltará a ter no seu programa seis corridas, tendo na pretérita quarta-feira a Porsche Motorsport Ásia-Pacific confirmado que a Taça Porsche Carrera Ásia (PCCA na sigla inglesa) voltará ao Circuito da Guia em Novembro [dropcap]P[/dropcap]ara a Taça Porsche Carrera Ásia, competição que contou com a presença do piloto do território André Couto nas duas primeiras provas deste ano, este será um evento extra campeonato. E para além das habituais três classes da PCCA – Pro, Pro-Am e Am – que usam o novo modelo 911 GT3 Cup (992), será introduzida uma categoria para a geração 991 de carros germânicos, permitindo que as duas gerações de modelos da Porsche corram juntas pela primeira vez na Ásia. Sobre o regresso da competição regional da Porsche a Macau, Alexandre Gibot, o director da Porsche Motorsport Asia Pacific, disse que “a Taça Porsche Carrera Ásia teve uma excelente temporada em 2021 e com o novo carro 992 um grande sucesso. Correr em Macau é uma grande honra e estou muito contente por ver o campeonato regressar ao incrível Circuito da Guia. O Grande Prémio de Macau é sempre um evento fantástico e sei que este ano vai ser fantástico mais uma vez”. Única alternativa Se o Grande Prémio queria mesmo voltar a ter um programa de seis corridas diferentes depois do cancelamento expectável das três Taças do Mundo da FIA, a Taça Porsche era a única alternativa de valor possível. Os riscos de colocar de pé uma prova de duas rodas seriam demasiado elevados dada a inexistência de provas de motociclismo de estrada no continente asiático e não há mais nenhum outro campeonato de automobilismo no Interior na China que se diferenciasse da oferta existente no evento da RAEM. Devido à pandemia, todos os grandes construtores cancelaram os seus troféus monomarca na Ásia em 2020 e 2021, com a excepção da Porsche que conseguiu realizar a sua competição inteiramente na China com dezanove concorrentes permanentes. Esta corrida por convite marca o regresso do troféu monomarca da Porsche e da própria marca de Estugarda a Macau. A RAEM recebeu por cinco vezes a Taça Porsche Carrera Ásia entre 2003 e 2007, para além da visita pontual em 2013 integrada no fim de semana duplo da celebração do 60º aniversário do maior evento desportivo do território. Para além da corrida para os concorrentes da Taça Porsche Carrera Ásia, o 68.º Grande Prémio de Macau deverá ser composto ainda pelas corridas de Fórmula 4, Taça GT, Taça de Carros de Turismo, Taça GT – Corrida da Grande Baía e ainda pela Corrida da Guia que celebra cinquenta anos.
Traurig Nuno Miguel Guedes - 6 Out 2021 Talvez pudesse ter avistado antes os sinais. Talvez. São estradas antigas, caminhos familiares, encruzilhadas já percorridas. Mas agora é tarde: o disco já toca, a canção de alerta que soa sempre que chego a este lugar: “This is the crisis I knew had to come / destroying the balance I kept”. Estranhamente é um mau presságio quase bem-vindo mas negro, negro. Gostaria que estas palavras que a custo aqui vou deixando não passassem de artifício, ilusão efémera para prender o leitor. Não é assim. É verdade que ninguém consegue escrever quando está muito triste ou muito contente: é preferível viver esses momentos e não entregá-los a estas convenções e regras que fazem a escrita e que, por definição, ao utilizá-la afastam-se da pureza do que se está a sentir. Mas aqui o território é outro. Não se trata da grande dor, da grande tristeza. Apenas algo mais insidioso, ronceiro. Tem mil nomes e mil causas e ainda assim quem por aqui anda não as consegue identificar – só os sintomas. Recorro a uma carta escrita por um especialista neste mal estar, o poeta John Keats, que assim descrevia este ser ausente e presente em simultâneo: “Estou nesse estado em que se estivesse debaixo de água mal conseguiria chegar à superfície”. É isto, leitor. Reconhece? Reconhece-se? Assim, eis-me aqui a tentar vestir de palavras este negro suave, este odor dulcíssimo de flores que definham. É um combate inútil mas uma catarse necessária. A resignação triste pode ser uma armadilha terrível ou até um pecado mortal – a acedia, uma renúncia à vida e a Deus – para quem como eu é crente. Mas mesmo assim, que farei destas ruínas em que me encontro? Que outra coisa poderei fazer senão admirá-las, tentar descrevê-las? Um dia, espero, serão uma paisagem antiga. Agora são reais, o meu mundo. Chamemos-lhe melancolia, então. Mas não de afectação, não de bric-à-brac. O poeta, como o escritor, pode ser o tal fingidor. Com a verdade me enganas, lembra-me a minha inoportuna memória. E é a mesma memória que prontamente me aponta para três dos mais bonitos versos da língua portuguesa, escritos a propósito do amor mas que agora me assentam perfeitamente na alma: “Que dias há que na alma me tem posto / Um não sei quê, que nasce não sei onde, /Vem não sei como e dói não sei porquê”. O que fazem, leitores, quando esta “dor mansa e vegetal” vos invade? Digam-me, digam-me: alguma vez estiveram aqui? Por onde devo ir? O que devo evitar? Aguardo, aguardo qualquer luz. Mais não poderei fazer. O título desta crónica é a palavra alemã que significa tristeza, triste. E é também uma anotação musical utilizada para indicar o sentimento do andamento ou frase onde aparece colocada. Assim estamos, assim estou: um andamento da minha vida longo, sedutor, lento, traurig.
CEO da MGM confia que racionalidade irá prevalecer na revisão da lei do jogo João Luz - 6 Out 2021 O CEO da MGM Resorts International relativizou as preocupações do sector em relação às ideias do Executivo para a revisão da lei do jogo. Bill Hornbuckle não vê um “grande desafio” na reforma legal, realça a boa relação com o Governo e o papel preponderante da indústria na região “Até prova em contrário, não vamos reagir exageradamente a cenários hipotéticos. Esperamos que a racionalidade impere no final, porque é a economia de Macau que está em causa”. Foi desta forma que o CEO da MGM Resorts International, Bill Hornbuckle, respondeu ao hipotético aperto regulatório que pode surgir com a revisão da lei do jogo, em entrevista ao portal Yahoo Finance. O presidente da MGM China afastou as preocupações originadas pela divulgação do documento da consulta pública sobre a revisão da lei do jogo, que inclusivamente levou a perdas bilionárias na bolsa de valores de Hong Kong, com os prejuízos a chegarem perto dos 18 mil milhões de dólares num só dia. Aliás, ao invés de embarcar em cenários apocalípticos, o responsável mostrou-se confiante nas oportunidades de crescimento proporcionadas pela reforma legal. Um dos pontos controversos é à constituição de delegados do Governo nas concessionárias. Segundo a explicação do secretário para a Economia e Finanças, aquando da apresentação do documento que está em consulta pública, a intenção “é aumentar as competências da fiscalização de forma directa nos casinos, para que o trabalho diário seja assegurado com maior competência e seja possível acompanhar a situação da operação e exploração por parte das concessionárias, eliminando assim todas as irregularidades que possam acontecer neste quadro”. Neste aspecto, Bill Hornbuckle afirmou que a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos já mantem uma supervisão significativa sobre as operadoras e que pessoal do regulador marca presença constante no MGM Macau e MGM Cotai. Questão de pragmatismo Apesar das promessas de aperto regulatório, o presidente da MGM China está optimista de que as autoridades vão ter uma abordagem pragmática aos mecanismos de supervisão, tendo em conta que os casinos contribuem com cerca de 80 por cento das receitas dos cofres públicos. “A supervisão não é algo estranho na nossa indústria. Obviamente que a fiscalização do Governo Central implica, por vezes, algo diferente. Mas as autoridades, locais e nacionais, reconhecem o valor do sector e as receitas que as operadoras trazem à sociedade. Temos um papel muito activo na comunidade, que vai além de sermos grandes empregadores, claro. Portanto, acho que estamos numa boa posição”, afirmou. O MGM Resorts International deu um passo significativo em direcção ao mercado japonês, com a escolha da prefeitura de Osaka para a abertura de um resort integrado a recair numa joint-venture encabeçada pela operadora. A proposta da MGM contempla 10 mil milhões de dólares para construir um resort com 2.500 quartos e instalações para conferências e exposições.
Pais de alunos transfronteiriços queixam-se do caos Nunu Wu - 6 Out 20216 Out 2021 [dropcap]O[/dropcap] surto de covid-19 desta semana deixou retidos em Macau mais de 1.000 alunos transfronteiriços e alguns pais. Chao foi um dos progenitores que passou a fronteira para levar o filho à escola na segunda-feira, e que foi apanhado pela retirada da isenção da quarentena para regressar a Zhuhai e por todas as restrições impostas na sequência dos novos casos de covid-19. “Parece que o Governo está a brincar connosco”, afirmou ao jornal Ou Mun, indignado com a forma repentina e em cima da hora como o Executivo anunciou a suspensão das actividades lectivas, quando estas estavam prestes a ser retomadas. Por sua vez, Hong, mãe de outro aluno transfronteiriço também retido em Macau, queixou-se de que o anúncio do cancelamento do regresso às aulas foi emitido apenas às 7h30, quando a maioria dos alunos transfronteiriços já tinham entrado na RAEM. A angústia de mãe agravou-se com a impossibilidade de regressar a Zhuhai para cuidar de outro filho. O jornal Ou Mun citou ontem outra mãe nas mesmas condições, de apelido Lao, que retratou o panorama das pessoas apanhadas de surpresa com a continuidade da obrigação de quarentena à entrada em Zhuhai como uma situação caótica. A encarregada de educação contactou a polícia, sem que lhe fossem dadas as informações que havia requerido e caracterizou como precipitada a decisão de reabrir as escolas. O director da Escola Hoi Nong Chi Tai pediu ao Executivo mais atenção para evitar que no futuro se repitam situações semelhantes. Em declarações ao jornal Cidadão, Vong Kuoc Ieng apelou às autoridades de Macau e Zhuhai para que encontrem uma solução para que os estudantes e os seus progenitores possam regressar a casa. O responsável sugeriu a possibilidade de cumprirem quarentena nas suas habitações.
As circunstâncias e o seu homem João Paulo Cotrim - 6 Out 20216 Out 2021 Luís António Verney, Oeiras, sábado, 18 Setembro De frase impressa nestas páginas nasceu conversa com a Catarina [Sobral] e o Nuno [Saraiva] no «II Encontro de Culturas: Multiculturalismo e Identidades». «Sob a Minha Desatenção, Uma Curiosa Troca de Olhares» fez-se em modo despenteado, sob grande ventania. Estes terrenos, bem o sabemos, contêm qualquer de pantanoso, qualquer passo pode contribuir para nos enterrarmos abraçando bandeiras em confuso vórtice. Não foi o caso, que, interlocutores e moderador, não desafinaremos por aí além. Ou mais ou menos, que para o Nuno o humor deve ter limites, por exemplo, no que diz respeito à fé dos outros. Enquanto isso, não creio que se possa retirar a ofensa da equação. Respiramos um ar dos tempos em que a ofensa virou veneno viral. A Catarina, das nossas autoras mais traduzidas, falou da experiência de leitura e interpretação afinal singelamente comum nas mais variadas culturas. Do outro lado do espelho deu para reflectir, se isso fosse feito a propósito da obra fragmentária e dispersa do ilustrador, na atenção com que Saraiva vem, há que tempos, descobrindo na ponta do lápis Lisboa, e os seus bairros, sobretudo Alfama ou Mouraria, que nunca sei, tornando-o grande especialista em identidades. O pretexto era, relembremos, a bela ideia lançada pelas Bibliotecas de Oeiras de interpretações desenhadas da obra de Neves e Sousa, com o Nuno a meter-se na dança dos corpos femininos e a Catarina a desenvolver pequenas narrativas, desfazendo o humano na paisagem, com cor incluída. Horta Seca, Lisboa, terça, 28 Setembro Os últimos dias, semanas até, começam e acabam sob o signo de Jean Moulin. Hoje, mal acabado terno reencontro com o Fernando [Alves] à sombra dos microfones da TSF, tive que recuar a séculos passados atravessando loja tradicional em esquina da Baixa para procurar fita que sustentasse os painéis que, do salão nobre da Casa da Imprensa, extravasaram para a rua. Um rosto, não mais que isso, mas com densidade tal que tem hipnotizado os transeuntes sempre incautos da cidade maior. Nas paragens e nas esquinas, no verso de anúncios, por exemplo, ao mais recente 007, perguntam quem terá sido este Jean Moulin que por aqui passou há oitenta anos com o desejo de resistir mais e melhor à noite que se abatia sobre a Europa. Daqui a pouco lutaremos com a corrente de ar para colocar os painéis, rígidos e frágeis, na longa montra que vocifera sobre negro: «Artista boémio, funcionário rigoroso, político eficiente, resistente determinado, herói improvável: o rosto da França». Ontem começámos com um postal inteiro, na estação dos correios do Camões, dizendo que a mensagem escrita rasgou e continuará a rasgar fronteiras. Dissemos com a pompa dos discursos dos familiares e autoridades, da assinatura de mitos presentes, devidamente carimbado o conjunto. A Quinzena Jean Moulin, ao longe, parecerá um postal, atirado ao ar, lançado ao rio. Agora ansiamos pela chegada do catálogo que reúne, sob a batuta sempre vivaz do Jorge [Silva], as pistas e os vestígios que fomos conseguindo recolher, com a determinação bem-humorada do João [Soares], a infinita e gargalhada paciência da Manuela [Rêgo], além da atenta vigilância do «exilado» no Luxemburgo, José Manuel Saraiva, sólido construtor de histórias da História. A sala enche-se para lá do possível ou do provável para ler e comentar a figura e nisso nos comprazemos. Os primos, que responderam com extrema generosidade aos nossos inquéritos e inquietações, comovem-se. O presidente da associação de amigos de Jean Moulin, Jean-Paul Grasset diz-nos que esta era a primeira vez fora de França que alguém homenageava o resistente. E logo desta maneira. Alguém indica uma figura, talvez secundária, outro deixa-se fascinar por detalhe amoroso na vida aventurosa, aquele sublinha o documento e a sua circunstância, e mil pequenos debates daqui partem. E o rosto brilhando omnipresente. A embaixadora da França, Florence Mangin, visivelmente impressionada, pergunta-me qual seria, entre os nossos, personalidade equivalente. Rabisquei hesitante umas hipóteses, que não nos faltaram resistentes, mas nenhuma me pareceu exacta por incompleta. As circunstâncias que fizeram Jean Moulin foram únicas e essencialmente resultado da experiência francesa, entalada entre o miserável colaboracionismo e «l’attentism», o tristonho esperar de braços cruzados, entre a cobardia generalizada e uns actos soltos de quixotesca coragem. O homem comum tornou-se extraordinário no momento em que disse: não! Horta Seca, Lisboa, quinta, 30 Setembro O outro lado de Moulin, o menos conhecido até entre os seus conterrâneos, revela-se na abysmo Galeria, que não podia escolher melhor maneira de recomeçar. A atribuladíssima última exposição com as suspensas paisagens geométricas do Simão Palmeirim, acabou sendo premonitória. O trabalho que a fechava atraía-nos para uma voragem de negro. A realidade imitou-a logo a seguir. Está na hora, portanto, de recomeçar, de «Dançar sobre as ruínas». «Como não ler os detalhes de uma vida (intensa) a partir do retrato final no qual se tenta encerrar qualquer biografia? Jean Moulin (1899-1943) foi funcionário público que levou ao limite o seu dever cívico de resistência à catástrofe da guerra, à ocupação do seu país por exército estrangeiro, ao ataque directo e persistente aos seus valores. De um golpe (com vidro) passou de Prefeito a resistente e daí, na sequência do modo como soube erguer forças dispersas, a herói. A certa altura sonhou uma vida distinta, talvez entregue ao desenho, ao comentário político, tão só à arte. Escolheu então, e para ela, um «nom de guerre», ele que acabou tendo tantos nomes: Romanin, as ruínas de um castelo na sua Provença natal. Não abandonou mais o desenho livre e rápido, com que foi tomando nota de lugares e paisagens. Arrumámos o que sobrou dessa vida que poderia ter sido em duas áreas, a da relação com o texto poético, notável em «Armor» e a do desenho de costumes e de humor, afinal celebração da festa, da boémia artística. Isto com uma leveza de traço, a cor líquida e singela, a composição bem orquestrada prenhe de detalhe e movimento. Não será difícil neles encontrar o agridoce perfume da suave melancolia, talvez em resultado da duração. Nenhuma vida se gasta apenas em festa, todas as noites acabam. Mas são os olhos em cada uma das figuras que se mostram ricos em ensinamentos, quando nos olham, quando se entrecruzam, quando se perdem. Anunciariam as ruínas, a morte?»
Pensões e anuidades David Chan - 6 Out 2021 O Secretário do Trabalho e Segurança Social de Hong Kong, Law Chi-kwong, anunciou recentemente que estava a ser considerada a fusão do Fundo de Previdência Obrigatório de Hong Kong com o Esquema de Anuidades. A razão principal desta vontade de fusão é a incapacidade do Fundo de Previdência para garantir protecção suficiente à população de Hong Kong na reforma. O Fundo de Previdência entrou em vigor em Hong Kong a 1 de Dezembro de 2000. Empregadores e empregados devem contribuir com 5 por cento do valor dos salários e estes 10 por cento de contribuições são utilizados na forma de investimento. O trabalhador pode levantar o valor acumulado ao atingir a idade de 65 anos. Segundo os dados da Autoridade de Hong Kong que regula este Fundo, em Dezembro de 2020, existiam 10,32 milhões de contas, 4,54 milhões de subscritores deste plano detinham 4,36 milhões de contas contributivas e 5,92 milhões de contas pessoais, que no total excediam o valor de 110 mil milhões de dólares de Hong Kong. Em média, cada subscritor do plano tem uma conta previdência no valor de 251.000 dólares de Hong Kong; partindo do princípio que cada um deles se reforma aos 65 anos e morre aos 85, nesses 252 meses de esperança de vida, só pode gastar 996 dólares de Hong Kong por mês. Este valor é suficiente para sobreviver? Para além do Fundo de Previdência, em Hong Kong, a protecção na reforma passa também pelo Esquema de Anuidades, activado através da Hong Kong Mortgage Corporation Limited, e implementado a 10 de Abril de 2017. Os clientes alvo são pessoas a partir dos 60 anos e o valor segurado varia entre os 50.000 e os 3 milhões de dólares de Hong Kong. Este seguro permite que as pessoas recebem uma quantia fixa mensal até ao final das suas vidas. Actualmente, uma pessoa de 60 anos que faça um seguro no valor de 1 milhão pode receber 5,100 mensais. Esse valor aumenta para os 5,800 dólares de Hong Kong depois dos 65 anos. Em Macau a protecção social está dividida em dois níveis. O primeiro tem diferentes tipos de pensões, sendo que um deles é a pensão de reforma. Foi implementado a 1 de Janeiro de 2017. Os contribuintes descontam 900 patacas por mês. Ao cabo de trinta anos, ficam a receber 3,740 patacas mensais. O Fundo de Previdência Central Não Obrigatório é o segundo nível contributivo, e destina-se a fortalecer a protecção na reforma aos residentes. Este Fundo foi implementado a 1 de Janeiro de 2018. Os trabalhadores devem descontar 5 por cento dos seus salários entre os 18 e os 65 anos, e o empregador outros 5 por cento. Estas contribuições voluntárias são usadas como um investimento que o trabalhador pode reaver após atingir a idade de 65 anos. O método é semelhante ao Fundo de Previdência Obrigatório de Hong Kong. Segundo os dados dos Serviços de Estatística de Macau, relativos ao segundo trimestre de 2021, o rendimento mensal médio da população de Macau é de 15.500 patacas. Se o trabalhador começar a descontar aos 25 anos, ao fim de 20 anos de trabalho, acumulou 390.600 patacas. Após 40 anos de descontos, quando atingir a idade da reforma, terá acumulado 781.200 patacas. Se este valor será suficiente para assegurar uma reforma confortável é uma questão que pode ter várias respostas, na medida em que nem todas as pessoas têm as mesmas necessidades nem os mesmos padrões de vida. Não podemos portanto generalizar. Sem estes Fundos de Hong Kong e de Macau, o trabalhador só pode contar com uma pensão a partir dos 65 anos e não terá mais qualquer complemento. Quem vier a depender das reformas para viver terá de pensar duas vezes antes de fazer qualquer gasto, com medo que o dinheiro não lhe chegue. O mérito dos fundos de pensão na forma de anuidades é os reformados poderem usufruir de um rendimento extra. Este rendimento é diferente de um salário ou de juros de investimentos, porque quer um quer outro são afectados pela economia, mas a anuidade transforma-se num rendimento fixo que não sofre alterações. Este rendimento vai reduzir as preocupações financeiras dos reformados que ficam mais à vontade para efectuar gastos extra. O maior problema que esta situação levanta é as pessoas não puderem adquirir bens de maior monta, como por exemplo uma propriedadde. No caso de haver investimentos em fundos com anuidades, o dinheiro disponível fica bastante reduzido, e quem quiser comprar uma propriedade terá de pagar as prestações. Embora as pessoas possam receber um rendimento fixo até ao fim das suas vidas, a questão passa por quanto tempo irão viver. Esta incógnita vai alterar o valor da prestação, que será naturalmente a segunda incógnita. Se esta anuidade for usada para pagar a renda, é muito provável que não vá ao encontro do plano que a pessoa fez para a sua reforma. Desfrutar a reforma depende da qualidade da protecção que se recebe, e esta protecção deriva do sistema de segurança social do Governo e dos preparativos de cada um. Actualmente o Fundo de Previdência Não Obrigatório de Macau está a ser revisto e ainda não se sabe que alterações vai sofrer. Como a actual situação económica não é muito boa, se este Fundo passar a ser compulsivo, obrigando os empregados e os empregadores a contibuições extras, as opiniões vão dividir-se. Nestas circunstâncias irá o Governo ponderar, a implementação de um plano de anuidades voluntário como forma de reforçar a protecção na reforma? Como foi dito, a protecção na reforma depende do sistema de segurança social do Governo e dos preparativos que cada um fizer para o efeito. Quanto mais cedo fizermos um plano de reforma e explorarmos as múltiplas possibilidade de virmos a usufruir de rendimentos adicionais, maior será a nossa protecção na idade da reforma. Quanto mais cedo ponderarmos os gastos que teremos com vestuário, alimentação, habitação e transportes durante a reforma, maior será a possibilidade de virmos a ter uma reforma mais descansada.
Falta de informações e ausência de aulas online preocupam pais da Escola Portuguesa de Macau João Santos Filipe - 6 Out 20216 Out 2021 A falta de informação quanto a planos lectivos e aulas online preocuparam alguns pais de alunos da Escola Portuguesa de Macau. Após contactada pelo HM, a direcção da escola comunicou aos pais que as aulas online arrancam na sexta-feira [dropcap]A[/dropcap]lguns encarregados de educação da Escola Portuguesa de Macau (EPM) ficaram agastados com a falta de informações e planeamento sobre o decorrer das aulas. A situação foi explicada, ao HM, por pais que pediram para não ser identificados e pelo presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Portuguesa de Macau (APEEEP), numa altura em que ainda não tinha sido comunicado que as aulas são retomadas na sexta-feira, no formato online. Segundo foi relatado ao HM, desde que as escolas foram encerradas, e durante a Semana Dourada, estava previsto que até ontem não houvesse aulas presenciais, mesmo sem novos casos de covid-19. Os planos iniciais apontavam o dia de hoje como a data de regresso à escola. No entanto, ontem antes das 19h a direcção da escola ainda não tinha comunicado com os pais. Nessa altura, já tinham sido publicados os despachos do Chefe do Executivo a encerrar serviços públicos e espaços de entretenimento. “É inconcebível que ainda não haja aulas online a decorrer e que não tenhamos informações sobre como vão decorrer as aulas a partir de amanhã [hoje]”, relatou um pai, ao HM. “É inconcebível voltarmos a estar nesta situação [depois de se ter verificado o mesmo no ano lectivo passado]. Já devia haver um plano para que quando houvesse suspensão das aulas presenciais o ensino online pudesse arrancar logo”, acrescentou. O encarregado de educação comparou ainda a EPM com outras escolas internacionais, como a Escola das Nações, The International School e o Colégio Anglicanos de Macau, onde afirmou que as aulas online arrancaram na semana passada. “Nas outras escolas vimos que as aulas arrancaram imediatamente, como já tinha acontecido no ano lectivo passado. Só a EPM é que não adoptou logo o sistema de ensino online”, lamentou. “A EPM tem de começar a dar prioridade aos alunos, que não podem ficar prejudicados”, frisou. Atrasos preocupam Ao HM, também o presidente da APEEEP se mostrou preocupado com a falta de informações. “Confirmo que não está a haver aulas online e apenas alguns professores têm enviado trabalhos de casa. Não há uma rotina comum a todos os professores e efectivamente estamos preocupados”, começou por explicar Filipe Regêncio Figueiredo. O responsável apontou que a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) deixou ao critério das escolas encontrarem uma solução para as aulas. Nessas orientações foi recomendado que as aulas só fossem retomadas após o fim do teste a toda a população, marcado para amanhã. No entanto, o presidente da APEEEP lamentou que ontem os pais ainda não soubessem o que estava a ser planeado pela direcção. “Era bom que os planos [sobre as aulas] fossem comunicados aos encarregados de educação, para sabermos o que estão a pensar fazer”, indicou. “Até as orientações que têm sido recebidas têm vindo apenas dos directores de turma. Nem essas informações são uniformes”, destacou. Apesar da falta de informação, Filipe Regêncio Figueiredo considerou que a situação mais preocupante é dos alunos que têm exames nacionais: “Se em Portugal não há suspensão de aulas, e os exames vão ser iguais para todos, temos um problema grave que afecta os alunos de Macau, porque há o risco de as matérias avaliadas não serem todas leccionadas”, explicou. Informação aos pais Confrontado com as queixas dos pais, o director da EPM, Manuel Peres Machado, considerou que a escola tem seguido as orientações Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ). “As queixas não têm fundamento porque seguimos as orientações da DSEDJ”, considerou. Ainda assim, o director da EPM prometeu que até ao final de ontem seria emitido um comunicado. “Posteriormente, sairá uma comunicação sobre esse assunto. Não vou acrescentar informação, porque quero que sejam os pais a saber primeiro”, afirmou. Horas depois, por volta das 19h, a EPM enviou um comunicado aos pais a informar que, salvo indicações em contrário, as aulas começam online na sexta-feira, com os horários a serem facultados pelos docentes directores de turma.
Filipinas | Filho de Ferdinand Marcos candidato à presidência Hoje Macau - 6 Out 2021 Ferdinand “Bongbong” Marcos, filho do ditador filipino Ferdinand Marcos, anunciou ontem que se candidatará à presidência em 2022, 35 anos após o seu pai ter sido deposto por uma revolução popular pacífica. “Anuncio hoje a minha intenção de concorrer à presidência das Filipinas nas eleições de Maio de 2022. Trarei essa forma de liderança unificadora ao nosso país”, anunciou Marcos num vídeo gravado na sua página do Facebook. Marcos, que foi senador e perdeu a vice-presidência em 2016 por alguns milhares de votos, especulava há meses sobre a candidatura ao tão esperado regresso ao poder da sua família, que teve de se exilar no Havai após a deposição do seu pai em 1986. Num discurso de três minutos em inglês e tagalo, que se centrou na devastação da pandemia da covida-19, Marcos salientou a necessidade de unidade nacional e “uma visão partilhada” para que o país saia da crise. “Junta-te a mim na mais nobre das causas e teremos sucesso”, disse Marcos “Bongbong” diante de um grupo de apoiantes no final do vídeo, gravado em Manila. A candidatura surge após meses de rumores na imprensa e nas redes sociais, sobre a possível escolha de Sara Duterte, a filha do actual presidente, que também está a considerar concorrer à presidência, como sua companheira de candidatura à vice-presidência. Desafio maior Aos 64 anos, o filho do ditador que governou as Filipinas durante mais de duas décadas enfrenta o seu maior desafio político numa eleição em que defrontará, entre outros, o doze vezes campeão mundial de boxe, Manny Pacquiao, e o actual presidente da câmara de Manila, Isko Moreno. Segundo as últimas sondagens, os seus índices de popularidade permitem-lhe sonhar em imitar o seu pai, cuja figura permanece controversa e atrai um número crescente de nostálgicos. Marcos fez a sua estreia política em 1980 quando, aos 23 anos de idade, se tornou vice-governador da província de Ilocos Norte, o feudo dos Marcos, onde também serviu como governador antes de se tornar senador de 2010 a 2016. A recuperação do poder, que consideram usurpado após a revolução pacífica do povo apoiada pela Igreja Católica e algumas elites em 1986, tem sido desde então uma obsessão da dinastia, cuja matriarca, Imelda Marcos, também concorreu à presidência em 1992. Agora, com 92 anos e reformada da política, depois de ter ocupado o seu lugar no Congresso até 2019, a chamada “Borboleta de Ferro” tem sido a defensora mais tenaz do legado do seu marido, que morreu no exílio no Havai em 1989. O revisionismo sobre o ditador Ferdinand Marcos, que impôs uma Lei Marcial com mão de ferro em 1972 e suprimiu qualquer indício de dissidência, foi impulsionado nos últimos anos pelo actual presidente, Rodrigo Duterte, que autorizou a transferência dos seus restos mortais para o Cemitério dos Heróis em Manila, em 2016, e chamou a Bongbong um “sucessor adequado”. Bongbong e a sua irmã Imee também sugeriram que se retirassem dos livros de história as referências aos abusos dos direitos humanos durante o governo do seu pai, um período de estabilidade e prosperidade de acordo com eles, e encorajaram os seus detratores a “virar a página”.