Espaços de diversão e serviços públicos encerrados devido a surto de covid-19

No seguimento do novo surto de covid-19, os espaços de diversão estão encerrados desde a meia-noite por tempo indeterminado. Também os SAFP anunciaram que os trabalhadores dos serviços públicos estão dispensados de comparecer ao serviço até ao final do dia de amanhã

 

 

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo emitiu ontem um despacho a decretar, por tempo indeterminado, o encerramento de espaços de diversão. A medida está em vigor desde a meia-noite de hoje.

“A partir das 00h00 do dia 6 de Outubro de 2021, são encerrados os cinemas, teatros, parques de diversão em recintos fechados, salas de máquinas de diversão e jogos em vídeo, cibercafés, salas de jogos de bilhar e de bowling, estabelecimentos de saunas e de massagens, salões de beleza, ginásios de musculação, estabelecimentos de health club e karaoke, bares, night-clubs, discotecas, salas de dança e cabaret”, pode ler-se no despacho publicado ontem.

Por seu turno, a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) anunciou que, até ao final do dia de amanhã, os trabalhadores dos serviços públicos estão dispensados de comparecer nos locais de trabalho.

A decisão, tomada ao abrigo de um outro despacho do Chefe do Executivo emitido na sequência do mais recente surto de covid-19 em Macau, tem como objectivo “reduzir o risco da sua propagação”, mas sublinha, contudo, que os dirigentes dos serviços públicos devem tomar medidas adequadas para “assegurar o normal funcionamento dos serviços”, dado que pela sua natureza devem estar “permanentemente à disposição da comunidade”.

Em comunicado, os SAFP reiteraram ainda que os funcionários públicos só devem sair de casa, “salvo em situação urgente”.

“A dispensa de serviço tem como objectivo reduzir o risco da propagação da epidemia, pelo que, salvo em situação urgente e necessária, os trabalhadores a quem for concedida a dispensa de serviço devem evitar sair, permanecendo em casa sempre que possível, para cumprir os seus deveres”, pode ler-se na mesma nota.

A meio-gás

Uma vez divulgadas as orientações, vários departamentos anunciaram a suspensão de serviços, como a Direcção dos Serviços de Identificação (DSI), a Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), o Instituto de Habitação (IH), Direcção dos Serviços Correccionais, Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSET), a Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).

Relativamente à DSI, mantêm-se todos os serviços online e os serviços de auto-atendimento de 24 horas. Deixaram de estar disponíveis pedido urgentes e a entrega dos documentos foi adiada.

Em sintonia com a evolução epidémica, também a DSAJ suspendeu desde as 13h de ontem, todos os serviços públicos (incluindo serviços de registo e notariado, de apostilha e de apoio judiciário), excepto os serviços relativos ao registo de óbitos.

O Conselho dos Magistrados Judiciais decidiu também que os tribunais das diferentes instâncias manterão “um funcionamento limitado” e julgarão apenas os processos com carácter “urgente”.

A Direcção dos Serviços Correccionais suspendeu todos os serviços externos, sendo possível requerer pedidos de visita online a reclusos.

Quanto ao IH, os serviços externos estão suspensos, mantendo-se apenas os serviços online. As candidaturas online de habitação económica mantêm-se em funcionamento.

A Direcção dos Serviços de Finanças suspendeu também a sua sede e subestações, mantendo-se em funcionamento normal, contudo, os quiosques de auto-atendimento, os serviços electrónicos e a aplicação móvel “Macau Tax”.

Quanto à DSAL, está suspensa até ao final de amanhã, a realização de todos os cursos de formação, exames, testes e acções de técnicas profissionais, incluindo os cursos de formação para obtenção do Cartão de Segurança Ocupacional na Construção Civil.

Também o Fundo de Segurança Social (FSS) suspendeu o atendimento ao público. Por seu turno, a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos apenas prestará previsão e alerta antecipado de meteorologia.

 

 

Bancos com alguns balcões abertos

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) solicitou aos bancos e às instituições de seguros para manter algumas sucursais e agências abertas durante o período de prevenção gerado pelo último surto de covid-19 de Macau. Além de reforçar as medidas anti-epidémicas, a AMCM exige que os bancos e as seguradoras publiquem “com a maior brevidade possível” a lista das agências ou balcões que disponibilizam serviços e o respectivo horário de expediente. A AMCM aconselha ainda a população a recorrer a serviços online e multibancos sempre que possível.

 

Aulas online após testes

O chefe do departamento do Ensino Não Superior da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), Wong Ka Ki, esclareceu ontem que, após a concretização do plano de testagem em massa, as aulas serão iniciadas online “gradualmente e de forma adequada”. “Sabemos que algumas escolas já o estão a fazer e a enviar trabalhos de casa online. Depois de concluída a testagem em massa vamos iniciar gradualmente e de forma adequada as aulas online”, avançou Wong Ka Ki.

 

Casinos permanecem abertos

Questionada sobre os critérios que permitem manter os casinos abertos enquanto outros espaços de diversão e os serviços públicos encerraram, a médica Leong Iek Hou apontou que tal se deve à “natureza” das actividades praticadas nos diferentes espaços e à propensão para utilizar máscaras. “[Ao contrário dos casinos], devido à natureza das actividades, muitas vezes, durante o funcionamento e operação de espaços como saunas, karaokes e salões de beleza nem sempre os clientes utilizam máscara. Isto apresenta um risco para a comunidade”, explicou a responsável. Relativamente aos serviços públicos, Hou apontou que a suspensão serve de “exemplo” para a população permanecer em casa. Foi ainda anunciado que o Casino Oceanus foi encerrado para desinfecção, por ter feito parte do itinerário de um infectado.

 

Visitas a lares suspensas

O Instituto de Acção Social (IAS) suspendeu desde ontem as visitas de familiares e amigos aos utentes de todos os lares, subsidiados e não subsidiados, que estão sob a gestão do organismo. Contudo, será possível agendar visitas online. “Os familiares com necessidades particulares podem contactar os lares a que pertencem. Se as circunstâncias e condições o permitirem, poderá ser disponibilizado vídeo visita”, informou ontem o IAS.

 

IC fecha instalações

Até ao final do dia de amanhã, todas as instalações culturais subordinadas ao Instituto Cultural (IC) encontram-se encerradas ao público e os serviços externos estão suspensos. De acordo com uma nota oficial, durante o período de encerramento o prazo de devolução dos livros das bibliotecas públicas será prolongado, enquanto os prazos de candidaturas para programas de apoio financeiro e de formação serão adiados.

 

Consulado de Portugal encerrado

O Consulado de Portugal vai estar encerrado até amanhã devido à pandemia, segundo aviso deixado ontem nas redes sociais. “Em correspondência ao apelo e às medidas tomadas pelo Governo da RAEM, tendo em conta a evolução da epidemia da pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus e a fim de reduzir o risco da sua propagação, o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong encontrar-se-á encerrado entre os dias 6 e 7 de Outubro”, foi comunicado. As pessoas afectadas pelo encerramento vão ser contactadas para o reagendamento das marcações para a renovação de Bilhetes de Identidade e Passaportes, e outros assuntos”.

 

Detectada recaída com baixa carga viral

O médico Tai Wa Hou revelou que durante os testes em massa da população, foi detectada uma amostra mista com resultado positivo para a covid-19. No entanto, explicou que dada a carga viral “muito baixa” o caso foi classificado como “recaída” e a pessoa em questão não irá receber tratamento. “Segundo a nossa análise à sequência genética, existe um risco muito baixo de transmissão e na maioria dos países estes casos não são considerados. Mas, para sermos rigorosos, vamos colocar esta pessoas em observação médica”, partilhou Tai Wa Hou.

 

Pequim2022 | China testa instalações para os Jogos Olímpicos de Inverno

A quatro meses dos Jogos Olímpicos de Inverno, a decorrer em Pequim de 4 a 20 de Fevereiro de 2022, mais de 2.000 atletas e oficiais estrangeiros participarão esta semana numa série de eventos-teste, anunciou ontem a organização.

Integrado nesses vários eventos de teste a Pequim2022, o China Speed Skating Open decorrerá de sexta-feira a domingo, com a participação de atletas da Coreia do Sul e dos Países Baixos no National Speed Skating Stadium, apelidado de ‘fita branca’.

Para além do teste à pista de velocidade do National Stadium, que servirá igualmente para os atletas contactarem com esta nova estrutura, também serão realizados eventos nas modalidades de luge, bobsleigh, hóquei no gelo, esqui e snowboard.

Estas competições, que permitem aos organizadores aferir das condições das instalações e do seu correcto funcionamento, são tradicionalmente agendadas para decorrer um ano antes dos Jogos, mas a pandemia de covid-19 obrigou ao seu adiamento.

As medidas pandémicas, nomeadamente as restrições nas viagens, levaram ao cancelamento das etapas da Taça do Mundo de esqui alpino, cross-country, saltos e dos Mundiais de esqui livre e snowboard, que deveriam servir como eventos de teste.

Tal como nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, os participantes nos Jogos Olímpicos de Inverno Pequim2022 serão testados ao novo coronavírus diariamente e obrigados a fornecer testes de triagem negativos ao entrar na China.

Na bolha

O Comité Olímpico Internacional (COI) anunciou na semana passada que os espectadores de fora da China não poderão assistir ao evento.

Apenas os participantes totalmente vacinados, incluindo representantes dos órgãos de comunicação social e funcionários, estarão isentos de quarentena de 21 dias e poderão entrar na ‘bolha olímpica’, da qual não poderão sair durante os Jogos.

“Neste circuito fechado, todos os participantes do evento só podem deslocar-se entre os locais de competição e participar em actividades relacionadas com o seu trabalho, competição e treino. Outras actividades não são permitidas”, disse Huang Chun, gestor do controlo de epidemias do comité organizador de Pequim2022.

A surpresa

O Partido Socialista venceu as eleições autárquicas realizadas em Portugal, mas teve uma surpresa. Uma surpresa directamente ligada a todos os jornais, revistas, televisões, empresas de sondagens, comentadores, cronistas, fazedores de opinião nos cafés, enfim, todo e qualquer cidadão que acompanhou a campanha eleitoral anunciou que em Lisboa o candidato Fernando Medina seria reeleito. Foi a grande surpresa na noite eleitoral quando se concluiu que Carlos Moedas tinha ganho por dois mil votos e que Fernando Medina tinha perdido cerca de vinte e cinco mil eleitores relativamente às eleições anteriores.

As empresas de sondagens nem quiseram acreditar, porque os números retirados dos inquéritos que realizaram nunca lhes deram Moedas próximo de Medina. Todos os cidadãos já aceitaram que a surpresa foi enorme, que estiveram errados, que confiaram nas sondagens anunciadas e já aceitaram que Fernando Medina não soube conduzir a campanha ou alguém por ele, como o primeiro-ministro António Costa apenas o prejudicou. A grande surpresa para todos até teve repercussões além-fronteiras. Já me informaram que um nojo de jornalismo que sempre foi praticado em Macau teve a rastejante veleidade de sujar o meu nome com uma citação maldosa e sem ética em jornalismo, porque eu na última crónica limitei-me a escrever o que todos fizeram. Inclusivamente tivemos um exemplo que bradou aos céus e, no entanto, nenhum outro jornal se lembrou de o criticar. Aconteceu com o semanário NOVO que tem uma linha editorial apoiante do PSD e do CDS e publicou na primeira página o possível resultado eleitoral em Lisboa, dando a Medina 46,6% e a Moedas 25,7% dos votos do povo lisboeta. Errar é humano. Sempre esteve imbuído na normalidade humana. O que nunca foi normal foram a existência de citações de jornais sem credibilidade a outros jornais cujos conteúdos lhes provocam inveja.

As eleições autárquicas tiveram um grande vencedor, o qual já começa a ser tristemente uma realidade. O vencedor foi a abstenção. O povo já não acredita nos actuais políticos, nas suas promessas. O povo está cada vez mais pobre, vive com as maiores dificuldades, os jovens não conseguem habitação nem emprego. E metade do povo resolveu ficar em casa ou ir passear para o jardim, mas longe de qualquer mesa de voto. E este facto devia levar os políticos a analisar e a modificar o comportamento político, tomando em conta que a maioria do povo não pode pagar por um almoço mais que cinco euros, incluindo a bebida e o café. Os políticos que estiveram dois mandatos no Parlamento Europeu sem fazer nada, cheios de mordomias, viagens de borla todas as semanas e que têm reformas vitalícias de 10 mil ou mais euros deviam anunciar a sua desistência. Deviam dar o exemplo a um povo pobre que ao constatar exemplos desses resolve não votar. A abstenção tem um significado infinito e não vemos ninguém nas televisões a ir ao âmago da questão e ter a coragem de indicar as verdadeiras razões, incluindo os falecimentos de milhares de pessoas que continuam a constar dos cadernos eleitorais.

Quanto aos resultados em si foi o que já se esperava com algumas pequenas surpresas. A surpresa pertenceu sempre ao confinamento de qualquer eleição. E daí, tivemos o líder do PSD a manter-se no lugar devido às suas escolhas Carlos Moedas e José Manuel Silva, este para Coimbra que foi sempre um bastião socialista. Surpresa também para o CDS, denominado o partido do táxi, e que conseguiu manter as seis câmaras que já tinha. Surpresa para a perda da maioria absoluta de Rui Moreira, no Porto. Surpresa no Bloco de Esquerda que elegeu um vereador pela primeira vez na câmara portuense. Surpresa pelo Partido Comunista não ter conseguido reaver a sua amada Almada e ter perdido o amante da Coreia do Norte, Bernardino Soares, da Câmara de Loures. Surpresa no Alentejo, onde na zona de Évora, o PSD conquistou quatro edilidades.  As surpresas foram muitas, mas o mais importante continua a situar-se no que escrevi na semana passada: a falta de tudo no interior do país, especialmente nas aldeias das montanhas. Ainda agora vi essa confirmação numa reportagem excelente na SIC onde mostra ao mundo como a miséria é grande no interior do país. A reportagem mostrou que há dezenas de idosos acamados sem apoio de ninguém, aldeias onde não vai um médico ou enfermeiro, onde os medicamentos não chegam, onde a comida é baseada nos víveres que conseguem ter no quintal, as habitações sem condições algumas de humanidade. Uma reportagem de Débora Henriques que deve ser premiada porque se tratou de jornalismo de qualidade, sério, digno e não de se preocupou em citar outros colegas por ódio e inveja. Surpresa também no resultado do neofascista do Chega que conseguiu eleger 19 vereadores. Surpresa em Faro onde os socialistas cada vez perdem mais para os sociais-democratas. Esperemos que todas estas surpresas contribuam para a redução da corrupção e do compadrio no poder local. Que a qualidade de vida das populações possa melhorar de forma vistosa. Dois pequenos exemplos. Que os autarcas se preocupem em forçar o Governo na instalação de médicos nos centros de saúde e que o autarca que tem a responsabilidade do maior lago artificial da Europa, o Alqueva, proíba nas suas águas barcos a motor e que só possam navegar embarcações a energia solar.

A partir de agora a política portuguesa vai entrar num período certamente de luta entre facções dentro dos partidos políticos para que nas próximas eleições hajam, ou não, as tais surpresas que pelos vistos só surpreenderam os infames pseudojornalistas que produzem um pasquim em Macau.

 

*Texto escrito com a antiga grafia

Pushkine e o diário secreto

Nunca perdemos este hábito de deambular pela intimidade alheia, sobretudo agora, que a moral atinge as raias da indecência contra a liberdade de cada um. Que isto de se ser indecente, acontece tanto por excesso como por escassez: não há muito tempo, ainda, o excesso devia servir de norma, hoje, porém, a variedade deve ser uma imposição numa atenta vigília para uma eventual mudança de género. Com tantas transformações do «orgão» o mundo finalmente pode dormir sossegado pois que não parirá com dor durante muito mais, sendo substituída a função por mecanismos externos de multiplicação e fecundidade. – [Aí sim, eu estarei aqui já diante a um outro plasma, que de forma poderosamente subtil, lerá então as minhas ideias num clima telepático e fará o resto daquilo que nunca vi]. E todo aquele que tiver ideias obscenas será lido em pensamento para a máquina do tempo que se encarregará de deitar no fosso cósmico a porcaria que por «pensamentos, palavras e actos» os viciosos andaram manifestando. – Falta menos para este tempo, que tempo houve para que conseguissem pôr-se de pé! Mas, escrevera ou não, Pushkine, um Diário Secreto?

Numa trama bem urdida que os limbos tecem, pensa-se finalmente que sim. Diário escatológico, amoral, vadio, radical, instintivo, que supera em tudo os desgarrados provocadores da matéria exposta, e que se pensa ter sido escrito nos dois últimos anos da sua vida: dois últimos anos de uma vida muito viva que baralhará os vivos e os mortos-vivos do hedonismo crente, aparente, do nosso prosaico tempo genital que tem o dom de enfadar muito mais do que provocar. Da negação à proscrição, da tradução à entoação, o que é certo é que ficará sendo ele o autor reverberado por formas várias e actualizado em todos os efeitos; seu pois, na matéria de facto.

Pushkine morreu num duelo bem por causa da sua vida amorosa, e é mais pela eloquente demonstração do seu carácter que nos parece ser dele, deste “alguém” e não apenas de um fazedor: este homem demonstra a falta de paciência que o ódio lhe traz, as inimizades lhes dão, bem como a compreensão face à inutilidade da vingança, e isso, claro, não passará despercebido nesta linguagem de grande fôlego pois que uma personalidade qualquer não descreveria tão bem este seu desprezo. Por demais, ele é munido de uma sensibilidade de premonição, uma componente rara, típica dos melhores, e não deixa de associar factos e números a um desfecho fatal que a sua descontracção insiste no entanto em tentar superar. Um certo desleixo com a autopreservação, tão cara aos inúteis.

Redige então em prosa com a embriaguez de um quebrador de estátuas um ditirambo lascivo que certamente estará perto do êxtase da morte, e não se crê nem maior nem menor que um outro qualquer desgraçado. No entanto, nada disto belisca o seu nome nem porá em causa a sua alma gigante de grande perdulário perante a adversidade. Conseguiu não matar! Mas nestas coisas, com homens comuns do outro lado da trincheira, é sempre, como bem sabemos, um atributo fatal. A ninguém faria certamente falta o seu oponente, mas, a falta que nos fazem os que foram mortos é até da concordância dos próprios assassinos. Um duelo por amor, ou honra masculina, seja lá o que for, parece-nos incrivelmente displicente, sobretudo num mundo onde as vivas mulheres pouco são defendidas. Os homens inventaram no entanto estas coisas para não terem de suportar a falta de talento que se esperava deles na resolução de factos simples.

Um dado severo encontrado para tão estranho assunto é a marca mortuária na raiz da própria sexualidade, e esse tema, angustiante, frenético, intempestivo, ficará como uma lembrança bela e terrível destes fins que sustentam os meios. Não vibramos todos ao mesmo nível na condição deste trilho sonoro e quando uma coisa destas nos é dada a ler, averiguamos por fim o grau de desfaçatez do lúdico estado actual em sua própria insolvência. – Maníacos somos todos nós por alguma frecha que não sara, mas contemporizamos com o desnecessário, contemplamos evacuações orgânicas como espectadores em morgues, satisfeitos, e creio mesmo, que muitos até já perderam os sentidos.

Terá Pushkine sorrido perante aquele homem louro que lhe estava anunciado? É bem provável que sim. Um ser como ele fará de tudo para não desmerecer o desdém que sente por esta coisa bizarra que se intitula humana. Vida, é coisa afinal, que jamais faltará aos imortais.

                    « Em toda a minha vida não encontrei forças para matar um homem. Em todos os meus duelos deixei que os meus

                    adversários disparassem primeiro e então ou recusava os meus tiros ou apontava para o céu.

                     A minha magnanimidade e sentido de perdão são mais doces do que matar segundo as regras.»

                              In- Diário Secreto

E com eles estaremos, com estes seres, a lutar contra o novo nazismo mundial. Que o nazismo é muito velho, formado pelo ADN ensanguentado da triste Humanidade. De facto, poucos escaparam a tão mau registo ( não falando dos ardores de alma de cada um sempre em rota de colisão com a ternura).

Hong Kong | Evergrande suspende comércio na bolsa

O gigante imobiliário da China Evergrande suspendeu ontem o comércio na bolsa de Hong Kong, sem explicar quais os motivos desta decisão. O preço das acções da empresa caiu cerca de 80 por cento desde o início do ano. Estrangulado por uma dívida de 260 mil milhões de euros, o grupo privado tem vindo a lutar há várias semanas para cumprir os pagamentos.

“A negociação das acções do Grupo Evergrande na China será interrompida”, disse a empresa à bolsa de valores. “Como resultado, o comércio de todos os produtos estruturados relacionados com a empresa será interrompido ao mesmo tempo”.

O colosso chinês permanece à beira do colapso e a sua potencial falência pode abalar o sector imobiliário chinês e mesmo a economia nacional e global.

As acções da sua subsidiária de veículos eléctricos, que na semana passada se afastaram de uma proposta de cotação em Xangai, não foram suspensas, embora tenham caído 6 por cento no início da negociação. Evergrande já começou a desinvestir alguns bens. Na semana passada, o grupo anunciou que iria vender uma participação de 1,5 mil milhões de dólares (num banco regional para angariar o capital necessário. Confrontado com o risco de agitação social se o Evergrande falhar, o Governo chinês ainda não indicou se irá intervir para ajudar ou reestruturar o gigante imobiliário.

As autoridades pediram aos Governos locais para se prepararem para o potencial colapso de Evergrande, sugerindo que é improvável um grande salvamento estatal. O grupo admitiu que enfrenta “desafios sem precedentes” e advertiu que poderá não ser capaz de cumprir os seus compromissos.

SSM | Testagem em massa é “dinâmica” e pode ser ajustada

O director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo Iek Long admitiu ontem que uma nova ronda de testagem em massa poderá sofrer ajustes, de acordo com o nível de risco. Questionado se era sustentável avançar com a testagem da população sempre que surgem novos casos, o responsável disse que é necessário avaliar a situação a cada momento.

“Há diferentes opiniões sobre isso. Existem pessoas que acham que (…) podemos fazer a testagem várias vezes, tornando a comunidade mais segura. No entanto, (…) não é por termos recursos que temos de gastar tudo, mas sim avaliar o nível de risco para implementar medidas adequadas. Tudo isso é muito dinâmico. Quanto ao teste em massa e outras medidas [como testes rápidos], tudo é implementado de acordo com o nível de risco, pelo que pode haver sempre pequenos ajustamentos”, apontou ontem Alvis Lo.

Segundo Alvis Lo, a decisão de avançar um plano de testagem em massa não depende do número de casos diagnosticados, mas da existência ou não de “casos ocultos”.

“Temos de verificar o objectivo do teste em massa, nomeadamente se haverá ou não casos ocultos na comunidade. Uma vez confirmados novos casos (…) e não podendo confirmar zero casos de infecção [tomamos a decisão]. São estes os principais padrões”.

O director dos Serviços de Saúde alertou ainda para a possibilidade de surgirem casos positivos no decorrer da nova ronda de testes.

“Há cidadãos que acham que, como já fizemos dois testes em massa e todos os resultados deram negativo, os resultados vão ser todos negativos. Mas, na verdade, podem haver resultados positivos (…) e, por isso, os cidadãos devem tomar medidas adequadas contra a covid-19”.

Covid-19 | Iniciada testagem em massa após três novos casos

Após a confirmação do 72º e do 73º caso de covid-19 em Macau, começou ontem à noite a 3ª ronda de testes à população. Alvis Lo quer que a testagem seja feita em 48 horas e apela à população para ficar em casa para diminuir o risco de contágio

Seis dias depois do fim do 2º plano de testagem massiva, começou ontem às 21h a 3ª ronda de testagem em massa da população. A medida foi tomada no seguimento da confirmação de um novo caso de covid-19 em Macau e anunciada pelo director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo Iek Long. Horas mais tarde foram confirmados dois outros casos conexos.

O primeiro caso diagnosticado ontem de manhã obrigou ao cancelamento de medidas que iam ser implementadas no mesmo dia, incluindo a possibilidade de deslocação para Zhuhai de pessoas inoculadas contra a covid-19, pelo menos uma dose, e com um teste negativo nas últimas 48 horas. As aulas, que deveriam ter recomeçado ontem, depois de canceladas após o último surto, também continuam suspensas.

“Vamos arrancar com uma nova ronda de testes em massa, para concluir em três dias, ou, se possível, em 48 horas. Vamos aperfeiçoar algumas medidas, nomeadamente reduzir o número de postos para 41 (…) porque [na última vez] houve postos com poucos atendimentos”, começou por dizer ontem Alvis Lo, na conferência de imprensa do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.

“Mais de 40 mil pessoas fizeram ontem [domingo] o teste de ácido nucleico para poderem passar a fronteira. Mas, com o novo caso confirmado, suspendemos a medida [de isenção de quarentena] para permitir a deslocação entre Macau e Zhuhai”, acrescentou.

Ao contrário da última ronda, desta vez haverá 41 postos de testagem em vez de 52, sem isenções para quem tenha realizado o teste de ácido nucleico por sua iniciativa nas 24 horas anteriores. De forma inédita, foi também deixada a nota de que as pessoas vacinadas contra a covid-19, apenas devem ser testadas após 24 horas a contar a partir da saída do local de inoculação.

À semelhança das rondas anteriores, a população de Macau tem três dias para, após prévia marcação online, se dirigir a um dos postos de testagem espalhados pelo território. Desta feita, além de 41 postos de testagem abertos 24 horas por dia e vias especiais para pessoas com necessidades, existem três postos de testes pagos destinados a quem pretende atravessar a fronteira

O novo plano de testagem começou às 21h de ontem e termina às 21h de quinta-feira. Quem não realizar o teste até ao limite estabelecido, terá o código de saúde com cor amarela.

Percurso por traçar

O 72º caso de covid-19 em Macau é referente a um homem de 46 anos, trabalhador não residente proveniente de Zhuhai, que faz remodelações do interior de habitações.

Antes de ficar retido em Macau devido à imposição de quarentena a quem entra em Zhuhai, fazia diariamente deslocações entre Macau e o território vizinho e utilizava um motociclo para circular em Macau.

Após entrar no território no dia 26 de Setembro, o paciente, vacinado com duas doses da vacina da Sinopharm, ficou alojado no “The Emperor Hotel”, no “Hotel Sands” e no “Hotel Victoria”. O teste acusou positivo ontem, após o paciente ter testado negativo a 28 e 30 de Setembro.

Alvis Lo Iek Long apontou que está neste momento a decorrer uma investigação para determinar a origem do contágio, os contactos próximos e se existe alguma relação com o surto anterior, que resultou na confirmação de sete casos de covid-19.

Tal como tem sido habitual, foram ainda definidas áreas de controlo e confinamento, distribuídas por “zonas vermelhas” e “zonas amarelas”.

Classificadas como zonas vermelhas estão o Grand Emperor Hotel (Avenida Comercial de Macau), o Hotel Victoria (Estrada do Arco) e o edifício Kam Do Lei (Rua de Pedro Coutinho). De fora das zonas de código vermelho ficou o Hotel Sands [ver caixa].

Definidas como zonas de código amarelo estão os números 40-40A do Edifício Hang Lei e os números 42-42A e 46 situados na Rua de Pedro Coutinho e os edifícios Kai Keng (nº13), Kou Wang (nº11-11E), Lei Kuan (15-15C), San Hou (21-21A) da Avenida Horta e Costa.

Do percurso conhecido, revelou a médica Lou Iek Hou, sabe-se apenas que o paciente esteve num café na Avenida da Longevidade, que tomou várias refeições em restaurantes na Rua da Barca e na Rua Sacadura Cabral e que frequentou o casino Oceanus.

Horas mais tarde, o Centro de Coordenação confirmou um novo caso de covid-19 em Macau (caso 73). O paciente é um homem de 52 anos, colega de profissão do primeiro caso, com quem trabalhou numa obra num edifício do Iao Hon. À semelhança do colega, o caso 73 foi inoculado com as duas doses da vacina da Sinopharm.

Ao início da noite de ontem o Centro de Coordenação revelou também as zonas vermelhas e amarelas relacionadas com o caso 73. As novas zonas de código vermelho situam-se no nº50 da Rua Dois e no Edifício Son Lei na Rua Três do Bairro Iao Hon.

Das zonas amarelas fazem agora parte o nº52 da Rua Dois e os números 2, 3 e 4 da Rua Três do Bairro Iao Hon, o Edifício Son Lei situado entre os números 49 e 51 da Avenida da Longevidade e as lojas de vendedores ambulantes aí localizadas.

Quando já decorriam os testes em massa, foi anunciado o 74º caso, relativo a um homem de 40 anos, oriundo do Vietname, que terá trabalhado nas mesmas fracções dos dois casos anteriores. Após ter sido identificado como um contacto próximo do 73º caso, foi levado a fazer teste de ácido nucleico que testou positivo. O centro de contingência adiantou que este paciente foi inoculado com uma dose da vacina da Sinopharm no dia 15 de Setembro.

Recorde-se que os códigos de saúde dos moradores das zonas vermelhas passaram a ter a mesma cor e estão obrigados a fazer quarentena no local de residência ou outro indicado pelas autoridades e ainda, testes de ácido nucleico regulares. Apenas os funcionários dos Serviços de Saúde estão autorizados a entrar nestas áreas. Por seu turno, nas zonas amarelas, apenas os moradores estão autorizados a entrar, estando também sujeitos a testes de ácido nucleico no local.

Risco comunitário

Durante a conferência de imprensa, o director dos Serviços de Saúde admitiu que, desta vez o risco para a comunidade é maior e apelou à população para ficar em casa o mais possível.

“Os residentes de Macau devem ter muito cuidado e permanecer em casa. Estamos a identificar as pessoas de contacto próximo e a fazer o nosso trabalho de prevenção. Nesta fase só podemos apelar aos residentes para não saírem de casa e respeitarem as medidas de prevenção da pandemia”, frisou Alvis Lo.

Fecho de casinos em cima da mesa

Alvis Lo Iek Long referiu que a decisão de fechar casinos e outros espaços de diversão está em cima da mesa, mas depende dos resultados da testagem em massa da população. “A 3 de Agosto não fechámos os casinos e, desta vez, ainda estamos a recolher dados relacionados (…) com o novo caso. Além disso, queremos acabar a testagem em massa dentro de 48 horas. De acordo com o resultado vamos tomar a decisão de fechar ou não os casinos, bem como os estabelecimentos de diversão”, apontou. Sobre as razões para não classificar o Hotel Sands como zona vermelha, a médica Leong Iek Hou explicou que quando o paciente visitou o estabelecimento tinha testado negativo para a covid-19 e que a prioridade é “tratar dos hotéis com mais risco” e onde o homem esteve mais recentemente, ou seja, o Hotel Emperor e o Hotel Victoria.

 

Vacinação | Serviços de Saúde suspenderam programa

Após terem sido detectados mais dois casos de covid-19, os Serviços de Saúde anunciaram que os 18 postos de vacinação ficaram suspensos, para serem utilizados para testagem. O serviço só deverá ser retomado posteriormente, quando acabar a testagem em massa da população, o que deverá ocorrer a 7 de Outubro. Ao mesmo tempo, os Serviços de Consulta Externa de especialidade, cirurgia programada não-urgente e serviços de diálise peritoneal do Hospital Conde São Januário são igualmente suspensos, regressando à actividade a partir de 8 de Outubro.

 

SAFP | Suspensa exigência de certificado de teste ou vacina

Face ao programa de testes em massa, que arrancou ontem à noite, os Serviços de Administração e Função Pública suspenderam a medida que exigia a apresentação semanal de certificado de teste de ácido nucleico ou comprovativo de vacinação. “Durante o período entre 4 e 10 de Outubro, está suspensa a apresentação do certificado do resultado de ácido nucleico por parte dos trabalhadores da Administração Pública que ainda não foram vacinados aquando da comparência ao serviço”, lê-se no comunicado emitido ontem.

 

IAM | Centros de serviços Toi San e Fai Chi Kei suspensos

O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciou ontem a suspensão dos centros de prestação de serviços ao público do Toi San e do Fai Chi Kei, devido ao surgimento de mais dois casos de covid-19. A medida tem efeitos a partir desta manhã e, segundo o IAM, os centros “passam a estar encerrados […] até data a ser comunicada posteriormente”. Face a esta situação, o IAM pediu a “atenção e compreensão dos cidadãos” e ainda que a população se coordene com os trabalhos mais recentes do Governo.

DSEDJ | Mais de 300 alunos transfronteiriços retidos em Macau

Mais de um milhar de alunos que estudam em Macau e vivem em Zhuhai foram afectados pelo cancelamento do ajuste de medidas transfronteiriças que estava previsto para as 12h de ontem. Sem poderem regressar a casa, o Governo instalou em pousadas os alunos que não têm família em Macau. Entretanto, o reinício das aulas voltou a ser suspenso

As aulas em Macau deviam ter recomeçado ontem, retomando o vai-e-vem de alunos transfronteiriços que vivem em Zhuhai, possibilitado pelo ajuste das medidas na fronteira que estava planeado para as 12h de ontem. A medida permitiria a entrada em Zhuhai de pessoas munidas de teste de ácido nucleico negativo com 48 horas e, pelo menos, de uma dose da vacina contra a covid-19.

O anúncio das autoridades do Interior ficou sem efeito a partir do momento em que foi divulgada a descoberta do 72.º caso positivo, deixando numa posição complicada mais de 1.000 alunos transfronteiriços que entraram em Macau para o regresso à escola. Sem aulas, ou possibilidade de regressarem, os alunos foram distribuídos por casas de familiares, as pousadas da juventude de Hác-Sá e Cheoc Van e o Centro de Actividades de Seac Pai Van.

Depois da notificação das autoridades de saúde sobre o novo caso, a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude anunciou a “suspensão do reinício das actividades lectivas até novo aviso e enviou, imediatamente, pessoal às escolas e a todos os postos fronteiriços para apoiar os alunos transfronteiriços”.

Pouco depois de se conhecer o caso positivo revelado ontem, circularam nas redes sociais imagens de jovens estudantes retidos nos postos fronteiriços, e foi mesmo revelado que alguns teriam ficado entre os dois territórios, ou seja, atravessaram o lado de Zhuhai e antes de entrar em Macau tentaram regressar ao Interior. Retorno que não foi autorizado, tornando a entrada na RAEM inevitável.

Depois de apelar a que não permanecessem nas proximidades dos postos fronteiriços, a DSEDJ sugeriu aos alunos que fossem para casa de familiares e, caso não tivessem qualquer domicílio em Macau, que voltassem às escolas onde estudam.

Albergues estudantis

Quanto ao acolhimento de jovens impossibilitados de regressar a Zhuhai, o vice-director da DSEDJ Kong Chi Meng garantiu ontem que Macau tem alternativas suficientes para garantir a estadia segura dos alunos. “Temos postos suficientes para estes alunos”, assegurou Kong Chi Meng, acrescentando a disponibilidade de mais de duas centenas de lugares. Além disso, pessoal da DSEDJ foi encarregado de cuidar dos alunos, nomeadamente adquirindo bens essenciais para não passarem privações.

“Os pais não precisam de ficar preocupados”, afirmou o responsável da DSEDJ, apelando ao contacto dos encarregados de educação caso os alunos tenham necessidades específicas.

Face à nova suspensão das actividades lectivas, Kong Chi Meng afastou a hipótese de arrancar com aulas online durante a fase de testagem universal. “Durante o período de teste em massa não achamos adequado iniciar o ensino online porque tantos os docentes como os funcionários escolares estão a apoiar as operações de testes”, disse. Porém, finda a testagem e caso as aulas presenciais não sejam uma realidade fiável, o responsável da DSEDJ adiantou que o ensino online pode ser uma solução. Hipótese que não entende ser viável para alunos até ao 3.º ano de escolaridade, que devem continuar a cumprir trabalhos de casa e exercícios pedagógicos, “para manter o ritmo de aprendizagem”.

Pandora Papers | Vitalino Canas recebeu procuração para abrir contas em Macau

O ex-deputado do Partido Socialista surge identificado nos documentos acedidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação. Vitalino Canas não é proprietário de qualquer empresa offshore, apenas recebeu uma procuração para abrir e operar contas em Macau

O português Vitalino Canas é o responsável pela ligação entre Macau e a mais recente investigação às empresas offshores do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, conhecida como Pandora Papers.

De acordo com o jornal Expresso, o ex-deputado português não é beneficiário de uma empresa do género, mas foi autorizado por uma offshore a abrir contas bancárias em Macau e assinar contratos para a instalação de linhas de comunicação.

A empresa em causa é a Secucom International Holding Limited, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, e a procuração foi passada ao político e a um cidadão russo a 27 de Fevereiro de 2012. O documento está assinado por Anatol Weinstein, que surge como o único administrador da Secucom International.

De acordo com o texto da procuração, a Vitalino Canas foram conferidos poderes para “abrir e operar contas em dólares, ou qualquer outra moeda, em quaisquer bancos ou outras instituições financeiras em qualquer parte do mundo, nomeadamente China, Macau e o resto da área do Pacífico, em nome da empresa”.

Além de actuar junto dos bancos, a empresa autorizou igualmente Vitalino Canas e o cidadão russo, que nunca é identificado, com a procuração a conferir poderes para que fossem assinados documentos e formulários em nome da empresa, incluindo para contratar uma linha [telefónica] à Companhia de Telecomunicações de Macau [CTM] e serviços dos Correios de Macau.

“De acordo com a lei”

Questionado sobre esta relação, o também antigo secretário de Estado disse, ao Expresso, que não tinha encontrado a procuração no seu arquivo: “O mais próximo que encontramos é uma procuração em língua estrangeira, deficientemente traduzida, não minutada por nós e que não encontramos registo de ter sido utilizada (ao que me recordo por a termos considerado tecnicamente incorreta, porventura inválida, e por nunca ter sido necessário)”, respondeu.

Segundo Vitaliano Canas, no caso de o escritório ter prestado serviços terá sido tudo declarado “de acordo com a lei portuguesa”. “Os honorários e as despesas praticadas por conta da cliente pelos advogados da VCA [Vitalino Canas e Associados] foram facturados e declarados nos termos da lei portuguesa. A possibilidade de qualquer pessoa singular ou colectiva, qualquer que seja a sua condição ou origem, recorrer a advogados, técnicos juristas ou consultores jurídicos no contexto de processo judicial, particularmente quando são a parte mais frágil, é um pilar insuprível do Estado de Direito”, foi respondido.

Escândalo de corrupção

De acordo com a informação avançada pelo Expresso, a Secucom International Holding Limited era uma empresa de produtos e sistemas de segurança. A pouca informação online aponta que a companhia ganhou um concurso de 100 milhões de dólares com o Governo de Malawi “para a venda de cartões de identidade nacional”.

Contudo, em 2012, mais de 10 anos após o contrato ter sido assinado, havia em tribunal um diferendo entre a Secucom e o Governo do Malawi. O caso é mencionado num relatório de 2004 do Banco Mundial face ao país africano como um dos “grandes casos de corrupção” no país. Segundo a acusação contra a empresa, o contrato tinha sido aparentemente inflaccionado por pagamentos de grandes comissões e não satisfazia os requisitos de aquisição e pagamento. Foi cancelado na sequência de uma decisão judicial contra um recurso interposto pela Secucom para anular uma restrição do ACB [Gabinete Anti-Corrupção] sobre a venda.

Após ter deixado o cargo de deputado, em 2019, Vitaliano Canas candidatou-se ao lugar de juiz no Tribunal Constitucional. Foi chumbado pelo Parlamento, inclusive com oposição dentro do PS, de políticos como Manuel Alegre e Ana Gomes.

Jogo | Setembro foi o segundo pior mês do ano

Apesar da subida mensal de 32 por cento, as receitas brutas dos casinos registaram, em Setembro, o segundo pior resultado do ano. Ainda assim, as 5,87 mil milhões de patacas de receitas representam uma subida anual de 165 por cento. Lei Wai Nong diz que a quebra de receitas vai gerar mudanças “óbvias” no orçamento, mas não avança previsões

 

De acordo com dados divulgados na passada sexta-feira pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), em Setembro de 2021 as receitas brutas dos casinos de Macau registaram uma subida para 5,87 mil milhões de patacas em termos mensais, ou seja mais 1,45 mil milhões relativamente a Agosto, altura em que as receitas se fixaram em 4,42 mil milhões.

Apesar da subida de 32,2 por cento, o resultado continua a reflectir o momento pouco auspicioso para o sector, adensado pelos surtos de covid-19 em Macau registados no início de Agosto e a 24 de Setembro, que levaram à imposição de medidas mais rígidas nas fronteiras e à testagem em massa da população. Isto, tendo em conta que o registo de Setembro é o segundo pior do ano.

Em relação ao período homólogo de 2020, registou-se um aumento de 165,9 por cento. O valor está, ainda assim, longe dos 22,08 mil milhões de patacas arrecadados em Setembro de 2019, antes da pandemia de covid-19, o que representa uma queda de 73,4 por cento.

Quanto à receita bruta acumulada desde o início do ano, segundo os dados da DICJ, registaram-se ganhos de 75,6 por cento, dado que o montante total gerado entre Janeiro e Setembro de 2021 foi de 67,78 mil milhões de patacas, ou seja mais 29,18 mil milhões de patacas do total acumulado ao final dos primeiros nove meses de 2020 (38,60 mil milhões).

Recorde-se ainda, que os novos casos de covid-19 foram diagnosticados nas vésperas da Semana Dourada do Dia Nacional, frustrando as ambições elevadas que o sector do jogo, e não só, tinham na vinda a Macau de turistas do Interior da China nesta altura.

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, lembrou recentemente que a estimativa inicial dos impostos sobre as receitas dos casinos de Macau para este ano “já tinha sido conservadora”, mas que a detecção de casos em Agosto e Setembro acabou por frustrar a recuperação daquele que é o motor da economia do território.

 

Sem previsões

 

Também o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong vincou que as mudanças ao orçamento são “óbvias”, mas não avançou projecções sobre as alterações a implementar ou acerca das receitas de jogo estimadas para o mês de Outubro.

De acordo com a TDM-Rádio Macau, o secretário apontou que importa agora prestar atenção ao que acontece nos próximos meses.

“As receitas de jogo ocupam mais de 80 por cento das receitas e esta é uma indústria única de Macau. Os casos de dia 3 de Agosto e 24 de Setembro obviamente que causaram impacto à nossa sociedade e iremos analisar as nossas quebras de receitas. Portanto, iremos, mais uma vez, rever o nosso orçamento. Temos que estar atentos aos meses de Outubro e Novembro. As mudanças no orçamento vão ser óbvias e vamos ter de ir novamente à Assembleia para fazer uma revisão orçamental e só depois de obter a concordância é que se vai avançar”, disse à margem das celebrações do dia Nacional da China, na passada sexta-feira.

Para este ano, o Governo de Macau previa arrecadar em impostos sobre o jogo cerca de 130 mil milhões de patacas, o que representa, mesmo assim, metade do orçamento estimado para 2020.

Cantão faz cair promessa de Ho Iat Seng

O dia do aniversário da República Popular da China ficou marcado pelo incidente que levou a que milhares de pessoas ficassem retidas na fronteira. Na conferência de imprensa de 29 de Setembro, Ho Iat Seng tinha prometido que se não houvesse mais casos confirmados até 1 de Outubro que as pessoas poderiam regressar a Zhuhai, sem quarentena, a tempo da Semana Dourada.

Contudo, minutos antes da meia-noite da data de “abertura” das fronteiras, o Governo da RAEM emitiu um comunicado a revelar que a promessa do Chefe do Executivo não ia ser cumprida. A situação levou a uma grande concentração de pessoas nas Portas do Cerco, principalmente de trabalhadores não-residentes, que tinham a expectativa de regressar ao Interior.

A situação criou um embaraço ao Governo, e Ho Iat Seng explicou a “promessa” não cumprida com a aleatoriedade das autoridades do outro lado da fronteira. “Os dirigentes da província de Cantão respeitam as ideias dos especialistas, daí que a opinião dos especialistas é quase uma tomada de decisão. Quando falámos com o Governo Central, no ano passado, sobre as definições das zonas amarelas e das zonas vermelhas, só as pessoas destas zonas não podiam passar as fronteiras. É uma situação em que o Governo Central e a Comissão Nacional de Saúde estão sempre de acordo”, indicou. “Nós tivemos em conta todo os procedimentos, mas estas novas instruções, orientações e exigências [da Comissão de Saúde Provincial de Cantão] foram elevadas”, revelou. “Nunca comunicaram connosco a tempo de nos prepararmos [para as exigências mais elevadas]. Daí que não há margem de manobra”, desabafou.

 

Pedido de desculpas

 

Face às consequências para a vida da população, Ho Iat Seng apresentou desculpas. “Estamos a pedir novas orientações para saber o que fazer quando houver novos casos. Peço desculpa à população, mas fizemos o máximo”, destacou. “Estivemos, eu e todos os secretários, na reunião com as autoridades de Zhuhai. A reunião durou quase até às duas da manhã. Fizemos o nosso melhor, mas eles insistiram [nas quarentenas de 14 dias]”, acrescentou.

Ho Iat Seng confessou ainda sentir-se “desiludido” e lamentou o impacto para uma parte da população: “Num dia de festa, é claro que estamos à espera de que possa haver uma passagem fronteiriça. Mesmo no ano passado não tivemos essas restrições, mas agora, muitas pessoas querem ir para a China ou querem viajar, ou mesmo regressar ao domicílio. Não é só desilusão minha, mas é de toda a população”, afirmou Ho Iat Seng.

Aniversário | Ho Iat Seng promete “recuperação ordenada” do emprego

Na mensagem de aniversário da República Popular da China, Ho Iat Seng reconheceu que a situação económica não é ideal e apontou Hengqin e a Segurança Nacional como as melhores soluções para a “estabilidade e prosperidade” do território

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo reconheceu que a pandemia está a afectar a situação económica do território e prometeu trabalhar para realizar uma “recuperação ordenada do emprego”. A mensagem foi deixada na sexta-feira, durante a Cerimónia do 72.º Aniversário da Implantação da República Popular da China, que serviu também para reiterar o cariz essencial da segurança nacional.
“A epidemia está a afectar repetida e seriamente o ritmo de recuperação da economia de Macau, tendo os diversos sectores de actividade sido profundamente afectados e a população vivido sob grande pressão no emprego e na vida quotidiana”, admitiu Ho Iat Seng, antes de terem sido reveladas as amostras de covid-19 positivas de ontem. “No entanto, continuaremos a acompanhar de perto a evolução da epidemia, a estudar e avaliar as questões económicas e outros problemas, a impulsionar activamente a revitalização económica e a recuperação ordenada do emprego e do quotidiano dos residentes”, prometeu.
Ho Iat Seng não explicou o conceito de “recuperação ordenada do emprego”, mas afirmou que a população e o Governo vão “criar, em conjunto, novas perspectivas de desenvolvimento para Macau”.
Ainda no que diz respeito ao futuro económico, o Chefe do Executivo apontou como caminho a Zona de Cooperação Aprofundada entre Cantão e Macau, na Ilha da Montanha, e sublinhou que esta é uma iniciativa “promovida pelo Presidente Xi Jinping”. Ho elogiou igualmente a cooperação entre Macau e Zhuhai e Cantão, regiões que deram “um forte apoio” à RAEM.

Mais segurança

Num discurso marcado pelos elogios aos feitos dos 72 anos de História da República Popular da China, o Chefe do Executivo frisou também a necessidade de mais segurança, numa pátria vista como o “mais forte suporte da prosperidade”.
“Os factos e a realidade demonstram que a Pátria é o mais forte suporte da prosperidade e estabilidade de Macau, é uma fonte inesgotável de força motriz do desenvolvimento de Macau. O futuro de Macau e o destino de cada um de nós estão intimamente associados ao apogeu e declínio da Pátria”, considerou.
Vincadas as virtudes nacionais, Ho Iat Seng deixou um aviso à navegação:“A RAEM defenderá sempre o ‘conceito geral da segurança nacional’, continuará a elevar a sua consciência de perigo e a reforçar, de forma abrangente, as suas acções de defesa da segurança nacional; permanecerá sempre inabalável na salvaguarda da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento do País, aperfeiçoará constantemente o regime jurídico da defesa da segurança nacional e o respectivo mecanismo de implementação e implementará firmemente o princípio fundamental ‘Macau governado por patriotas’”, determinou.
A mensagem do líder do Governo ficou ainda marcada pelo facto de a referência ao princípio fundamental “Macau Governado por Patriotas” ter surgido antes dos princípios “Um País, Dois Sistemas”, e “Macau Governado pelas suas Gentes”.
No sentido de elogiar o triunfo do “patriotismo”, Ho destacou o “sucesso” das eleições para a Assembleia Legislativa, que pela primeira vez tiveram candidatos excluídos e contaram com a maior abstenção desde 1992.

Bestiário

27/09/2021

Todos os dias há pequenos sinais da sua presença. Não é algo que se insinua mas algo que já lá está. Como o novo costume de numa tremura involutária derrubar a chávena, entornando a bica, o que me tem acontecido demasiado frequentemente; escaparem-se-me os nomes e ter dificuldade em concentrar-me, ou sentir-me prensado num silêncio sem bordos. E o pior talvez seja a sensação de uma agonia subcutânea, que de vez em quando aflora, como se houvesse um complot da carne contra a mansuetude dos dias. A covid continua a rondar-me e dois meses e meio depois de ter alta é-me mais fácil namorar sem tibiezas nem receios do que escrever cinco páginas seguidas.

Talvez por isso me tenha tocado tanto aquele poema breve de Louise Gluck: «Tal como tínhamos sido todos carne/ éramos agora névoa./ Tal como antes tínhamos sido objectos com sombras,/ éramos agora substância sem forma, como químicos destilados./ Cedo, cedo, dizia-me o tropel do coração,/ ou talvez medo, medo – era difícil de perceber.» (in Noite Virtuosa e Fiel, pág. 15)

28/09/2021

Das escassas duas horas que passei na Feira do Livro de Lisboa, uma delas em “função”, fazendo de conta que alguém queria que eu assinasse o meu livro (vá lá, tive dois leitores devotados), pareceu-me que ao contrário do que seria espectável, as pequenas e médias editoras estão quase, quase, a engolir os grandes grupos editoriais e que estes estão condenados às fugazes leis do entretenimento, reféns dos youtubers, e de sucessos feitos por medida. Mas, fora alguns grandes nomes que mantém em carteira, o que há hoje de mais vivo nas letras não lhes pertence, o que a prazo as condena, porque a espuma momentânea não faz os catálogos.

É como já não entrar sequer na Bertrand ou na FNAC, se pouco acima existe A Travessa – e nunca tal desafecto me passou pela cabeça.

Leio num caderno meu (e não sei de onde tirei isto): «quis expôr as bochechas de Louis Armstrong e Gizzy Gillespic – não se pode querer vitrificar uma paisagem e crer que ela esteja viva!», e julgo que a imagem se apropria.

29/09/2021

O meu amigo Filipe Branquinho, artista e fotógrafo moçambicano, participou numa grande exposição interacional em Basileia, a Art Basel (fechou a semana passada), e escrevi para ele um texto de que divulgo um excerto:
«(…) A forma do anjo foi a última tentativa encontrar no corpo do homem uma medida que fosse articuladamente universal. (…) S. Jorge e o Dragão mais não simboliza que o combate para conter em si, em cada um de nós, a ameaça da poliformia. O monstro é o que é incontrolável no desejo em sermos outro, em fundirmo-nos num corpo estranho, e emerge como um sintoma da patologia do infinito. (…)

O classicismo ainda tentou contrariar de novo essas energias arcanas. Mas o romantismo reforçou-as e um século mais tarde a descoberta do inconsciente, como continente psíquico, revestiu por dentro as manifestações polifórmicas que a pintura havia figurado por fora: os bestiários de seres imaginários passam a ser um espelho do homem, que desde então é Pi, a partilhar o mesmo bote que a fera.

Também a fotografia, duzentos anos depois de Joseph Niépce, parece ter esgotado a missão aristotélica com que devolvia ao real o que nele parecia escondido. O realismo mais não seguia que o príncipio da arte que Elias Canetti definiu como poucos: encontrar mais que foi perdido.

Ao depararmos com esta nova linha de trabalho de Filipe Branquinho encontramos algo que a arte já sondara mas agora num novo formato e expondo uma inquietação latente, que aviva com claridade a tensão do observador com a obra.

O que se realça neste bestiário é que “os retratos” nele não parecem “montados”, encenados. Há uma unidade orgânica – sem costuras nem descontinuidades – entre os corpos, a cabeça, e a sua gestualidade.

Não é tanto a memória de outras grafias corporais que nos instiga (e lembremos que o monstro era, por definição, a criatura que resultava da fusão anamórfica entre dois géneros diferentes de criaturas) como a suspeita de que estas figuras constituem o “novo normal”.

A rudeza, o primitivismo de carácter destas fotos, é magnificamente contrariada pela unidade biomórfica, como a que se verifica na criatura de três faces, onde é muito nítido um inconsutíl acordo de texturas.

Como prevenia Valéry: “O novo é a parte permissível das coisas. O perigo do novo é que ele cessa automaticamente de ser e que acaba em pura perda. Como a juventude e a vida” (Tel Quel, pag. 150) Permissível deve, por conseguinte, ler-se como: o que é contigente e mais facilmente se extingue.

A inquietação para que estas fotos nos alertam, em época de pandemia (e devemos considerar que nenhuma imagem é inocente, no sentido em que revela sempre uma força indicial), é que talvez o humano – o antropomórfico − seja, ao contrário do que gostaríamos, a parte “périssable” das coisas, o que o mundo tem de passageiro. Daí que noutra magnífica foto desta sequência haja um monstro que tapa a cara, num gesto de vergonha, adivinha-se, pelo que ainda haja nele de homem.

O Filipe Branquinho apresenta-nos as criaturas de um Novo Éden, aquelas que se prefiguram antes das palavras e da traição emocional com que a razão as emudece. Se não nos esquecermos que “a tranquilidade é um estado não-humano porque é uma forma de instalação no tempo em que se lhe reconhecem, sem sentimentos de perda, dano ou revolta, todos os poderes” (Manuel Maria Carrilho), então só nos resta agradecer-lhe por ter rompido com a clausura das simetrias.”

As escarpas

Existe nas casas uma certa conformidade. Aqueles dois sofás sempre ali estiveram encostados um ao outro. O espaço que ocupam foi o mesmo em muitas casas, dando a ver os seus braços metálicos recurvados sobre a ondulação suave da pele onde recebiam os corpos. Reentras na sala e observa-los agora completamente nus, sem o resfolegar das molas que é próprio dos animais sem couraça, nem cascos. São dois deuses inertes que prefiguram na tua frente o cansaço, a repetição do cansaço. Estás de pé em cima do tapete, no momento em que desvias o olhar para a varanda e, logo a seguir, para o ajardinado.
 
Sobre a relva, evitando as roseiras que caem pelas traves de madeira, vês um homem e uma mulher. Estão ao longe, mas desarmam os gestos e as palavras com relativa facilidade. Dois seres físicos que recebem centelhas de luz, moléculas que lhes sulcam os ouvidos e as extremidades dos membros. Respondem espalhando círculos de ar que se entranham na paisagem, geometrias flutuantes que sobem lá de baixo até à varanda onde já te encostaste, de costas para os dois sofás. Ela relembra a roupa demasiadamente branca da cama naquele verão. Ele diz que há sentimentos que não são captados pela acção da consciência. Como que provêm de uma atmosfera longínqua e, de um momento para o outro, habitam-nos sem pedir qualquer licença.
 
Ficas combalido ao olhar para os teus dois sofás. O que eles sabem excede-te. Muitas gerações e talvez provações. E, no entanto, silenciam tudo na sua forma cristalina, igual a si mesma. Os objectos percorrem a alma do mundo e atam-se aos factos em bruto que são parte íntima do tempo irreversível. Lembras-te do dia de Setembro em que foi pela primeira vez. O tapete é azul, um azul vulcânico saído do mar. Uma frase arrastada pela lava nocturna que acende nos teus olhos a impaciência de não esquecer. Voltas a encarar o homem e a mulher. Eles sabem que não é o desejo que os explica, talvez a tristeza, talvez a grande música.
 
As roseiras que pendem sobre o cenário são também elas secretas como o rumor que vem do fundo da voz dela. Avisa que o amor é apenas uma palavra, uma palavra que não tem parte de trás. Ele discorda e imita as asas de um avião sem mexer uma única parte do seu corpo. Fica imóvel, mas a voar. Ela adoraria penetrar nessa turbulência, embora o faça sem dar por isso. Quando sorriem revêem a sonoridade dos sinos da igreja que agita esta área ascendente da cidade. Nessa altura dão as mãos, ainda que se toquem apenas no olhar para que aquilo que se esconde possa aparecer. Tudo é qualquer coisa antes de uma palavra. Apesar de o pronome indefinido não ser rigorosamente sinónimo de amor. 
 
Os objectos da casa interrompem o dia-a-dia. Não é o caso apenas do tapete e dos sofás. São as mesas, as cristaleiras, os candeeiros, os armários, a ventoinha, os espelhos, as fotografias, as estantes e os livros. Sim, os livros. Todo o recheio entre paredes parece conspirar contra ti nessa manhã de início de Outono. Continuas de pé sem saber se já é hora para sair de casa. O relógio é um daqueles livros fechados, impenetrável. Um bálsamo secreto. Nada na vida é imune a interrupções, sabe-lo bem. No famoso Banquete de Platão, entre as intervenções de Pausânias e do médico Erixímaco, Aristófanes tem um ataque soluços e interrompe toda a discussão sobre o Eros que estava em curso. A sua intervenção – que colocará no debate a espécie dos andróginos – é adiada. Por que motivo terá Platão interrompido a narrativa com o registo de um simples ataque de soluços? Ninguém sabe.
 
Lá fora, o recheio é construído por canteiros geométricos, uma fonte minúscula, vestígios de um parque infantil. E rosas, muitas rosas que interrompem toda a superfície do dia. Ele ama-a no fundo dos seus rios mais duradouros. Ama-a desesperadamente, tal como ela o ama. Continuam a perguntar por aquele verão de que ela relembrara a roupa demasiadamente branca. Uma única flor é qualquer coisa antes de todas as palavras. Apenas tu os observas como quem admira duas ilhas geladas muito ao longe, no meio da densidade negra do oceano. A esperança vive nas camadas mais finas daquelas escarpas.

Mais de 700 residentes não participaram na testagem em massa

Um total de 746 residentes continua sem realizar o teste à covid-19 no âmbito da medida de testagem em massa após a ocorrência de novos casos no território. Número reduzido face às 10.190 pessoas, na maioria turistas e trabalhadores não residentes (TNR), que também não foram testadas.

“Muitos dos TNR e turistas já saíram de Macau”, disse a médica Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus. “Uma pequena parte continua a recusar fazer o teste e estamos a acompanhar estes casos. Daremos um prazo de tolerância, mas se até às 21h horas de amanhã [hoje] não realizarem o teste a polícia irá a casa exigi-lo. Caso contrário, terão de fazer uma quarentena de 14 dias”, apontou a responsável.

Relativamente à transferência das mais de 150 pessoas em quarentena nos hotéis onde foram registadas as infecções, 132 foram para o hotel Sheraton, enquanto que os restantes irão para o hotel Treasure. Será ainda feita uma desinfecção geral ao hotel China Golden Crown.

“Até agora a transmissão é apenas entre os agentes de segurança, não há um meio de transmissão com as pessoas que estão no hotel. Apenas queremos transferi-los para satisfazer as suas necessidades psicológicas”, foi referido.

Entretanto, cerca de 600 pessoas, na maioria TNR do Interior da China, estão no centro de acolhimento da Ilha Verde por estarem retidas no território.

Faltas justificadas

Relativamente a quem tem de realizar quarentena em hotéis devido a contacto próximo com os novos casos de infecção, Leong Iek Hou garantiu que a lei os protege de eventuais despedimentos.

“Os Serviços de Saúde vão emitir um certificado para estas pessoas que estão em quarentena. As empresas privadas podem ter regras diferentes, mas segundo a lei [Lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis], não podem despedir as pessoas por causa da quarentena.”

Ontem foram também revelados dados sobre o caso de infecção número 71, relativo a um homem de 38 anos, oriundo de Zhongshan. O indivíduo, que não reside em Macau e foi vacinado, partilhou balneário com os seguranças do hotel Golden Crown e efectuou o mesmo trajecto dos casos 65 e 66. O Centro de Coordenação partilhou as suas informações com as autoridades de Zhongshan.

“O risco de transmissão é baixo porque no dia 24 [o homem] fez um teste negativo, mas estava em isolamento, e só no dia 28 teve resultado positivo.”

Sobre o facto de os seguranças terem partilhado o mesmo balneário, foram dadas explicações adicionais. “Estes dois hotéis trabalham com a mesma empresa de segurança, mas nesse vestiário quem tinha tarefas de alto risco frequentou um espaço, e quem tinha tarefas com menos riscos ia para outros espaços. Vamos rever se estas medidas são boas ou más, dependendo dos recursos disponibilizados por cada hotel”, explicou Leong Iek Hou.

Testes | Resultados da segunda ronda são todos negativos

Os resultados das amostras recolhidas por durante o segundo plano de testagem em massa da população deram todos negativo. De acordo com o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus entre as 15h de 24 de Setembro e as 15h horas de 25 de Setembro foram recolhidas, no total, 689.766 amostras, das quais 44.536 dizem respeito a testes de ácido nucleico pagos.

“O Centro de Coordenação (…) manifesta agradecimento pela cooperação e apoio dos residentes de Macau. Agradece ainda em particular aos 2.500 participantes dos vários serviços públicos e profissionais de saúde de instituições médicas, 100 voluntários no âmbito de medicina, bem como aproximadamente 2.000 pessoas das escolas e jovens voluntários”, pode ler-se em comunicado.

Ho Iat Seng | Elevada taxa de vacinação não garante abertura de fronteiras

Apelando à população que assuma responsabilidades, o Chefe do Executivo afirmou que só quando a vacinação chegar aos 80 por cento serão iniciadas negociações com o Governo Central. No entanto, mesmo com taxa de 100 por cento, não é certo que Macau abra ao exterior. Se não houver novos casos, a quarentena para entrar em Zhuhai será cancelada amanhã

 

O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, lamentou ontem que Macau tenha a taxa de vacinação mais baixa da China e pediu que a população assuma “as suas responsabilidades”. Isto, partindo do pressuposto que a economia do território só pode recuperar se forem aliviadas as restrições fronteiriças e que, para isso, é necessário criar uma barreira imunológica contra a covid-19 através da vacinação.

No entanto, Ho Iat Seng apontou que, mesmo com barreira imunológica e taxa de vacinação de 100 por cento, não é garantido que Macau abra ao exterior. Segundo o Chefe do Executivo, a primeira etapa é alcançar uma taxa de vacinação de “pelo menos” 80 por cento, para discutir com o Governo Central o retorno das excursões e dos pedidos de visto electrónico a partir do Interior da China.

“Não existe um padrão fixo [para criar a barreira imunológica]. A taxa de vacinação de 100 por cento é o ideal (…) mas tem de ser de, pelo menos, 80 por cento para eu começar a discutir medidas [com o Governo Central]. Só com uma taxa de 80 por cento temos fundamentos e base para discutir com as respectivas entidades (…) e, passo a passo, voltar ao normal. Actualmente, quando me perguntam sobre a taxa de vacinação de Macau, não tenho resposta para dar porque é a mais baixa da China”, começou por dizer ontem Ho Iat Seng em conferência de imprensa.

“Será que depois de vacinar toda a população podemos levantar as restrições de entrada? É muito difícil dizer, porque sabemos que mesmo que as pessoas estejam vacinadas (…) há a possibilidade de serem infectadas. Corremos esse risco. Nesta fase, sabemos apenas que a gravidade da infecção é menor após a vacinação. Por isso temos de estudar, nomeadamente a variante Delta, que é uma estirpe muito forte”, acrescentou.

A parte pelo todo

Ho Iat Seng sublinhou que a taxa de vacinação de Macau é de cerca de 50 por cento e referiu Portugal como bom exemplo em termos de esforço de vacinação contra a covid-19. Contudo, questionado se estão previstas novas medidas de incentivo à vacinação como a imposição de restrições a não vacinados, o Chefe do Executivo disse que é preciso encontrar uma forma “equilibrada” de promover a vacinação, mas que, ao mesmo tempo, não obrigue os residentes a ser inoculados.

Por isso, apontando à recuperação económica, Ho Iat Seng pediu aos residentes de Macau que assumam as suas responsabilidades, de forma a “ajudar o Governo e a si próprios”.

“Não posso dizer ao Governo Central que a nossa taxa de vacinação é de apenas 50 ou 60 por cento. Somos uma cidade turística e queremos atrair mais turistas. Entretanto, os cidadãos não estão a assumir as suas responsabilidades. Quando vamos ao exterior é muito difícil divulgar Macau. Por exemplo, na Europa e em Portugal, a taxa de vacinação é muito elevada, por isso já poucas pessoas estão nos cuidados intensivos”, referiu Ho Iat Seng.

Relativamente à reabertura de fronteiras com Zhuhai, Ho Iat Seng admitiu que, caso não sejam diagnosticados novos casos de covid-19 nos próximos dias, a quarentena de 14 dias para quem entra no território vizinho será cancelada.

A culpa é minha

Questionado sobre as falhas ocorridas num hotel destinado a quarentenas, na origem do contágio de seis seguranças, o Chefe do Executivo garantiu o reforço das medidas de fiscalização daqueles espaços [ver caixa] e sublinhou que não é hora de apontar o dedo aos funcionários que ultimamente têm estado debaixo de fogo. Ho vai mais longe e diz mesmo que, seguindo esse raciocínio, no limite, a culpa é dele.

“Caso pensem que é preciso culpar alguém sempre que surjam incidentes, culpem-me a mim. Há certamente uma falha, mas primeiro temos de ter sentido de responsabilidade. Isso não quer dizer que é preciso atirar a culpa para determinado director ou para os seguranças. Todos nós temos de assumir a nossa responsabilidade”, referiu.

Ho Iat Seng considerou ainda os seguranças “inocentes”, argumentando que estes “também não queriam ser contaminados” e que tem dúvidas “se algum residente de Macau quer assumir a tarefa”. “O trabalho deles não é fácil. Têm de utilizar fatos de protecção e há mais de um ano que fazem este trabalho”, rematou.

PME | Governo estuda apoios e afasta novo cartão de consumo

O Chefe do Executivo admitiu ontem que estão a ser estudadas novas medidas de apoio às pequenas e médias empresas (PME), no seguimento do mais recente surto de covid-19 em Macau. Isto, quando as restrições impostas para conter os novos casos levaram muitos visitantes a cancelar a sua entrada em Macau por ocasião da Semana Dourada do Dia Nacional.

“Sabemos que as PME estão a viver um momento muito árduo. Quando estava no exterior, pedi ao secretário Lei Wai Nong para estudar as medidas de apoio”, referiu Ho, acrescentando que, para já, é preciso avaliar a actual taxa de desemprego e o impacto para as empresas.

Sobre a atribuição de um novo cartão de consumo, o Chefe do Executivo apontou que está em vigor, até ao final do ano, uma ronda de apoios população, e sublinhou que as verbas do Governo devem ser gastas com critério.

“Em comparação com outros locais, as nossas bases tributárias são fracas. Ainda não sabemos quando vai acabar a pandemia. Três anos, quatro anos? Neste momento, não sabemos quanto dinheiro mais podemos distribuir. Se este ano distribuirmos o dinheiro, no futuro, como vai ser?”.

Ho Iat Seng confirmou ainda que o orçamento será revisto, tendo em conta o impacto dos novos surtos nas receitas do jogo.

De guarda

O Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) anunciou ontem que irá fiscalizar os hotéis usados para quarentena. Caso sejam detectadas irregularidades, os agentes destacados irão relatar o caso ao Ministério Público (MP) ou exigir o cumprimento das normas.

“Se vamos trabalhar nos hotéis é para fiscalizar se estão a respeitar as instruções dos Serviços de Saúde. [Se verificarem infracções], os policias vão denunciar o caso ao MP. O CPSP vai também fiscalizar se os agentes de segurança e os trabalhadores estão a seguir essas instruções. Caso contrário, vamos fazer essa exigência”, anunciou ontem o CPSP.

Justiça | AAM recorre de decisão que decretou processo disciplinar à direcção 

A Associação de Advogados de Macau vai recorrer da decisão do Tribunal Administrativo que decretou ao Conselho Superior de Advocacia a abertura de um processo disciplinar para apurar eventuais responsabilidades na suspensão de um estágio de advocacia

 

O Tribunal Administrativo (TA) decidiu, no passado dia 3 de Setembro, que o Conselho Superior de Advocacia (CSA) deveria abrir um processo disciplinar à direcção da Associação dos Advogados de Macau (AAM) por alegados atrasos na execução de uma sentença, relativa à suspensão de um estágio de advocacia. No entanto, segundo apurou o HM, a direcção da AAM recorreu da sentença.

O advogado estagiário, que voltou a estagiar e cujo patrono é João Soares, não vai, para já, interpor novo processo a pedir indemnização de 60 mil patacas por danos patrimoniais e não patrimoniais, optando por esperar pela decisão judicial do recurso.

O HM tentou obter reacção da direcção da AAM, presidida por Jorge Neto Valente, mas até ao fecho desta edição não recebeu resposta.

Recorde-se que a sentença do TA determinava a extracção “da certidão para remeter ao CSA depois do trânsito em julgado desta decisão”, com base no Código do Processo Administrativo Contencioso, pelo facto de se suspeitar que a direcção da AAM não executou a sentença dentro do prazo, atrasando formalidades no regresso do advogado ao seu estágio.

Segundo o acórdão do TA, a direcção da AAM “fundamentou o atraso na sua execução com a falta de pessoal (…) além das funções administrativas da AAM”, e que teria feito também acompanhado vários processos judiciais”.

Caso de Fevereiro

O caso remonta a 3 de Fevereiro deste ano, quando a AAM suspendeu a inscrição do advogado estagiário que tem João Soares como patrono, tendo comunicado a decisão no dia 8 desse mês aos tribunais e à Comissão de Apoio Judiciário. A AAM foi também informada deste acto através de circular interna.

O advogado estagiário decidiu colocar a direcção da AAM em tribunal e ganhou a acção a 15 de Março. No dia 18 do mesmo mês, a AAM “informou o advogado estagiário para se apresentar de modo a realizar as provas escritas ao 29º exame final de estágio marcadas para os dias 20 e 27 do mesmo mês”.

O advogado estagiário colocaria a direcção da AAM novamente em tribunal, a 20 de Abril, alegando “a falta do cumprimento espontâneo da decisão judicial”, que incluía a informação, a diversas entidades judiciais, do fim da suspensão do estágio. Só no dia 30 de Abril a AAM informou os associados e a 4 de Maio os organismos públicos e judiciais.

Covid-19 | Song Pek Kei quer “militarização” de normas nos hotéis de quarentena

Após considerar que o novo surto de covid-19 teve por base “negligência grave” do Governo, Song Pek Kei defende a introdução de normas de gestão militares nos hotéis de quarentena. A deputada pede ainda a revisão dos mecanismos de prevenção baseada nas práticas do Interior da China

 

No rescaldo das falhas nos hotéis de quarentena que deram origem ao novo surto de covid-19, Song Pek Kei, quer que o Governo introduza regras mais rígidas nos locais de isolamento, que tenham por base critérios de gestão militares e paramilitares.

Para a deputada reeleita, o facto de, entre sexta-feira e sábado, dois seguranças do Golden Crown China Hotel terem sido diagnosticados com covid-19 após utilizarem incorrectamente máscaras ao contactar um paciente em observação médica, constitui uma “negligência grave” dos trabalhos de prevenção “na fonte”, por parte do Governo.

Com o objectivo de conter a pandemia de forma eficaz e assegurar a recuperação estável da economia de Macau, aponta Song Pek Kei, “deve ser feita uma revisão global das insuficiências identificadas” e dos mecanismos de trabalho, tendo como referência as “sólidas” práticas de prevenção do Interior da China.

“Actualmente, as cidades do Interior da China têm regras de isolamento rígidas dedicadas aos hotéis de observação médica e toda a cadeia de gestão é fechada. Através da implementação de critérios militares, paramilitares e de gestão quase hospitalar, é aplicada um sistema completo de gestão em circuito fechado, nomeadamente quanto ao regime de turnos, evitando que os trabalhadores circulem livremente pela comunidade”, pode ler-se numa interpelação escrita da deputada.

Reforçando a ideia, Song Pek Kei sublinha ainda que, em Macau, os trabalhadores dos hotéis de quarentena colocam em risco a população porque “não têm conhecimentos básicos sobre as medidas de prevenção da pandemia”.

“O sistema de quarentenas em Macau carece de consciência de risco e aumenta a probabilidade do surgimento de potenciais surtos comunitários. O Governo vai considerar rever o sistema de gestão dos hotéis de quarentena, alinhando-o assim com as normas nacionais e assegurando o risco de novos surtos de covid-19?”, questionou a deputada.

E a tecnologia?

À luz do novo surto, que resultou, até ao momento, na confirmação de sete novos casos, entre os quais seis seguranças dos hotéis, e no encerramento de várias zonas da cidade, Song Pek Kei quer ainda saber qual o andamento da aplicação de telemóvel que está a ser desenvolvida pelo Governo, com o intuito de registar o paradeiro de residentes para controlar um eventual surto de covid-19.

Para a deputada, os novos surtos demonstraram que existe “um certo atraso” na identificação de contactos próximos e secundários relacionados com os casos confirmados, e que a introdução deste tipo de tecnologia iria facilitar o rastreamento de potenciais infectados e o anúncio de novas medidas.

Teatro D. Pedro V | Descendentes de fundadores negam legitimidade de presidente

Um grupo de descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V levanta dúvidas sobre a legalidade das mudanças de estatutos feitas à sua margem. Por sua vez, o presidente da associação dos proprietários do teatro, Ma Lin Chong, defende-se e diz que tudo foi executado de forma legal. O caso está em tribunal

 

Um grupo de descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V contesta a legitimidade de Ma Lin Chong como presidente da Direcção da Associação dos Proprietários do Theatro D. Pedro V. Ao HM, Henrique Nolasco da Silva e José Gonçalo Basto da Silva, em nome de um grupo de seis descendentes, questionam a entrada de Ma na associação. Além disso, contestam as alterações estatutárias levadas a cabo, das quais se dizem afastados de forma ilegítima e que conduziram à perda de controlo dos destinos do teatro. Um dos receios prende-se com a possibilidade da actual direcção tentar vender o espaço.

Fundada em 1896, a Associação dos Proprietários do Theatro D. Pedro V tornou-se formalmente proprietária do teatro em 1912. De acordo com os estatutos originais, os sócios eram detentores de acções, que lhes permitiam participar nas decisões sobre o futuro da associação e do teatro.

Segundo as versões ouvidas pelo HM, as acções da associação eram transmissíveis de forma livre apenas entre os membros e para os descendentes dos fundadores, em caso de morte. Porém, para haver transmissão para um terceiro, ou seja, uma pessoa que estivesse fora da associação, a mudança das acções tinha de ser aprovada pela direcção. Se a direcção chumbasse o processo, o interessado podia recorrer para a assembleia-geral, que tinha a última palavra. A transmissão podia ser vetada.

Era este o modelo estatutário da associação em vigor em 2004, quando foi assinado com o Instituto Cultural o protocolo de recuperação e gestão do teatro, que ainda está em vigor.

Alterações surpresa

O acordo que garante que o IC gere o espaço tem a assinatura de João Souza Sales, como representante da associação. Foi também a partir dessa data e até 2016 que terá sido feita a alteração dos estatutos que apanhou de surpresa o grupo de descendentes e alterou as condições para o controlo da entrada de associados. A situação foi relatada por Henrique Nolasco da Silva, ao HM.

“O grupo de descendentes dos fundadores acolheu no seu seio o Sr. João Sales, essencialmente por motivo de amizade com um deles, o meu pai, Frederico Nolasco da Silva, que era reconhecido como o presidente da direcção.

Quando o meu pai se retirou para Portugal, o Sr. João Sales ficou com uma procuração que lhe conferia poderes específicos para lidar com os assuntos do teatro”, contou o descendente. “O Sr. João Sales assumiu-se como presidente interino e, por morte do meu pai, passou a autointitular-se presidente. Pedimos-lhe que convocasse eleições e ele foi dizendo que tratava disso assim que pudesse. Esta era a situação quando fizemos o Protocolo com o IC”, indicou.

Com o protocolo em vigor, o grupo de fundadores apercebeu-se em 2016 que os estatutos tinham sido alterados à sua margem, com uma alegada tentativa de venda do teatro ao Instituto Cultural. A tentativa de venda do teatro foi relatada, ao HM, em duas ocasiões diferentes, não só pelo grupo de fundadores, mas também por Eugénio Novikoff Sales, descendente de João Souza Sales.

A nova presidência

A tentativa de venda fez com que os fundadores voltassem a focar as atenções nas questões do teatro. Foi nessa altura que se aperceberam da entrada na associação de Ma Li Chong, que não conheciam. “Não sabemos como é que entraram o Sr. Ma Lin Chong e as outras pessoas. Aliás, temos informação de que entre essas pessoas [que entraram para a associação] estarão a mulher e os dois filhos dele”, explicou Henrique Nolasco da Silva.

Estas mudanças levantaram várias questões, que os descendentes dizem que ainda hoje não têm resposta. “Quem decidiu a admissão do Sr. Ma e dos outros? Não sabemos. Entraram todos ao mesmo tempo ou em vagas sucessivas?

Não sabemos. Quanto são? Não sabemos. Chamaram direcção ou membros da direcção às pessoas que possivelmente se reuniram para decidir sobre essa admissão? Não sabemos. Há actas ou outros papéis a relatar isso? Não sabemos. Onde estão os livros de actas que ficaram à guarda do Sr. João Sales? Não sabemos. Desapareceram? Não sabemos”, questiona Henrique Nolasco da Silva.

Em declarações ao HM, Eugénio Novikoff Sales, descendente de João Souza Sales e herdeiro das acções deste, questionou igualmente a legitimidade de Ma à frente da associação. Novikoff Sales admite que terá sido o pai a colocar Ma dentro da associação, mas desconhece os moldes e levanta dúvidas sobre as alterações dos estatutos. O pintor confirmou também que os associados tinham de ser descendentes dos fundadores ou aprovados pelos outros membros da direcção.

O gosto pelas artes

Além da entrada para a presidência de Ma, a alteração dos estatutos passou a permitir que qualquer pessoa seja membro da Associação dos Proprietários do Theatro D. Pedro V. A admissão de associados deixou assim de ser controlada, como no passado. “Agora, para se ser sócio, basta escrever a dizer que se quer ver o teatro conservado e se gosta de cultura, música, artes e teatro para se entrar, desde que o Sr. Ma e outras pessoas que aparecem no registo dos Serviços de Identificação como elementos da direcção digam que sim”, relatou Henrique Nolasco.

O HM questionou Ma Lin Chong, que se assume como presidente da associação, sobre as acusações de falta de legitimidade. Contudo, o presidente mostrou-se perplexo com a posição do grupo de descendentes. “É difícil reagir porque ninguém me acusou [cara a cara] […] Também não sei quem me está a acusar [de falta de legitimidade]. Para ser honesto, todos os procedimentos foram feitos de forma legítima pelo Governo”, afirmou Ma.

O nosso jornal tentou igualmente perceber junto de Ma em que ano tinha sido eleito pela primeira vez presidente e os moldes da relação com João Souza Sales. Na resposta, Ma Lin Chong indicou ter problemas de memória: “Já não me lembro, porque tenho uma idade avançada, tenho demência, não sei essas coisas de forma clara.”

Tribunais e venda

Enquanto as dúvidas sobre os procedimentos dentro da associação persistem, o grupo de descendentes dos fundadores decidiu levar a questão para tribunal. Foi o que relatou ao HM José Basto da Silva, também descendente dos fundadores. “Não estamos de braços cruzados. Há um procedimento judicial em curso sobre o qual não nos podemos alongar porque está em segredo de justiça. Esperamos que os desenvolvimentos desse procedimento nos ajudem a encontrar o caminho”, afirmou.

No entanto, e num momento em que os descendentes estão afastados das decisões sobre o teatro, existe o receio que possa haver uma tentativa de venda. “O que impulsionou essa [primeira] tentativa [de venda] foi uma perspectiva de fazer dinheiro. Não temos qualquer razão para acreditar que se desistiu da ideia. Pelo contrário, na nossa análise, a ambição está viva, à espera duma oportunidade para se concretizar”, sustentou José Basto da Silva.

Caso surja um interessado privado na compra do teatro, a RAEM tem direito de preferência, pelo que pode adquirir o espaço, se igualar a proposta privada. Ao HM, Ma diz que a associação não comenta uma potencial venda: “Não temos qualquer opinião [sobre esse assunto]”, respondeu.

A entrega à RAEM

Com a gestão do teatro entregue ao IC até 2024, o grupo de descendentes considera que a melhor solução para o futuro seria manter o espaço sob a alçada da RAEM. Este objectivo é encarado pelo grupo como prioritário, não afastando mesmo uma doação ao IC. “Não queremos e nunca quisemos fazer dinheiro com o teatro e achamos que ele tem de continuar confiado à RAEM, mas sem sobressaltos e com interlocutores legítimos e responsáveis”, disse José Basto da Silva. “Qual é o caminho para chegar lá, vamos ver”, acrescentou. O descendente sublinhou ainda que, como património da Humanidade, o teatro “é uma questão de interesse público” e que a reflexão sobre os seus destinos “cabe também às entidades competentes e aos amigos da cultura de todos os quadrantes”.

Mesmo no cenário em que propriedade se mantenha com a associação é defendida a renovação do protocolo do IC: “Os motivos que nos levaram a propor o Protocolo que, aliás, até fomos nós que minutámos, embora depois a minuta tenha sido trabalhada pelo IC, continuam actuais”, afirmou Nolasco da Silva. “Nós não temos condições financeiras para manter o teatro. É o IC quem tem os recursos, o saber e a experiência de dinamização cultural que são necessários”, completou.

Também Eugénio  Novikoff Sales afirmou ao HM que considera viável a hipótese de doação ao Instituto Cultural. Porém, no seu caso diz que devido à situação financeira pessoal tem necessidade de uma compensação. Ao HM, diz que aceita transferir o teatro a troco de o arrendamento de uma habitação pública, ou seja, uma casa com renda acessível.

No entanto, para o presidente da Associação dos Proprietários do Theatro D. Pedro V o futuro do protocolo ainda não está a ser equacionado nem se compromete com a renovação. “Nunca pensei neste assunto [do futuro do protocolo]”, respondeu. “Não sabemos como vão ser as coisas no futuro, sobretudo nesta fase de pandemia, em que é difícil cuidar de muitas coisas. Não estamos a pensar no dia de amanhã, mas a viver um dia de cada vez”, sublinhou. “Se calhar nesse próximo dia até eu estarei morto, quem sabe?”, concluiu.

China exibiu em Zhuhai novo armamento da Força Aérea

A China apresentou esta terça-feira o novo equipamento da Força Aérea, que inclui veículos aéreos não tripulados (“drones”) de vigilância ou ataque e aviões de guerra eletrónica, numa altura de crescentes tensões com os Estados Unidos.

A apresentação do armamento, durante a maior exibição aeroespacial da China, a “AirShow China”, que decorre em Zhuhai, cidade que faz fronteira com Macau, ocorre numa altura em que Pequim avança com o programa de modernização do exército, que espera concluir até 2035.

A China continua longe de ter o poderio militar dos Estados Unidos, que têm um orçamento de Defesa três vezes maior, mas está, aos poucos, a diminuir a lacuna, segundo observadores.

Um recente relatório produzido pelos serviços de informações norte-americanos expressou preocupação com a crescente influência de Pequim, que vê como a maior ameaça dos Estados Unidos.

Entre as principais novidades exibidas em Zhuhai está o drone WZ-7, com 14 metros de comprimento e destinado a missões de reconhecimento e patrulha marítima.

O país apresentou ainda o J-16D, um caça dedicado à “guerra eletrónica” – a deteção e destruição de transmissões de rádio e sistemas de comunicação.

Segundo especialistas citados pela imprensa chinesa, este avião pode atacar instalações de radar ou sistemas de deteção e comando aerotransportados.

Ambos os aparelhos estão já a ser utilizados pelo exército chinês e “desempenharão um papel importante no Estreito de Taiwan e no Mar do Sul da China”, afirmou o analista militar chinês Song Zhongping, citado pela agência France Presse.

As reivindicações territoriais da China nestes territórios são regularmente frustradas pela passagem de navios de guerra norte-americanos.

Outra máquina apresentada hoje foi um protótipo do versátil “drone” de reconhecimento e ataque CH-6. Com 15 metros de comprimento e uma envergadura de mais de 20 metros, o veículo aéreo não tripulado deve realizar voos de teste em 2023.

Os construtores do “drone” estimam que possa operar a grande altitude (10.000 metros) e em alta velocidade (500-700 quilómetros por hora), durante 20 horas.

O aparelho pode transportar radares, sistemas de reconhecimento, mísseis ou mesmo bombas ar – terra.

Estes novos veículos aéreos permitem que as forças armadas chinesas observem e conduzam ataques em locais antes inacessíveis.

Perante a relutância dos países ocidentais em vender “drones” mais avançados a países que não sejam os aliados mais próximos, a China também se posiciona como um “fornecedor alternativo”, a preços acessíveis, apontou Kelvin Wong, da empresa britânica Janes, especializada em assuntos de Defesa.

“Drones” chineses já são usados por vários exércitos estrangeiros, incluindo a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

O caça J-16D demonstra uma “melhoria geral” nas capacidades de combate da China, segundo James Char, especialista da Universidade Tecnológica de Nanyang, de Singapura.

“Podemos falar de um avanço significativo, porque dá aos militares chineses uma vantagem em termos de guerra eletrónica aérea, contra alvos que têm capacidade de defesa aérea significativa”, descreveu.

De acordo com muitos especialistas, no entanto, a China ainda está atrás dos Estados Unidos, especialmente na qualidade dos motores dos seus aviões militares e no número de satélites de comunicação necessários para realizar operações.

Mas, mesmo que Pequim continue a ser incapaz de projetar verdadeiramente o seu poder para além do continente chinês, vai ter um sistema de defesa marítima e aérea capaz de conter uma potencial ofensiva norte-americana, descreveu Justin Bronk, analista da firma britânica Royal United Services Institute.

Além de fabricantes de equipamentos militares, a exposição de Zhuhai reúne os principais grupos da aviação civil chinesa e mundial, como as construtoras Boeing e Airbus.

Originalmente agendada para o final de 2020, a reunião, que se realiza a cada dois anos, foi adiada devido à pandemia.

Pugilista filipino Manny Pacquiao anuncia fim da carreira

O famoso pugilista filipino Manny Pacquiao anunciou hoje o fim da carreira após décadas no ringue, classificando a decisão como a “mais difícil” da sua vida.

“É-me difícil aceitar que a minha carreira no boxe tenha terminado”, disse Pacquiao, de 42 anos, numa mensagem de vídeo publicada na rede social Twitter. “Hoje anúncio a minha reforma”, acrescentou.

Esta declaração surge dez dias após o lendário pugilista, que se tornou um herói nacional, ter anunciado a candidatura às eleições presidenciais de maio de 2022 nas Filipinas.

Manny Pacquiao, que cresceu nas ruas antes de se tornar uma estrela internacional, afirmou ser candidato algumas semanas depois a sua última luta profissional, uma derrota a 22 de agosto em Las Vegas contra o cubano Yordenis Ugas.

O filipino começou a sua carreira profissional em janeiro de 1995 com uma bolsa de 1.000 pesos antes de acumular uma fortuna estimada em mais de 500 milhões de dólares.

O pugilista, casado e com cinco filhos, agradeceu aos milhões de fãs em todo o mundo e prestou uma homenagem especial ao treinador de longa data, Freddie Roach, dizendo que o considera um membro da “família, um irmão, um amigo”.

Manny Pacquiao entrou para a política em 2010, quando foi eleito deputado, antes de se tornar senador em 2016. Por vezes, suscitou controvérsia com as suas declarações anty-gay ou a favor da pena de morte.

Ainda assim, é muito popular no arquipélago de 110 milhões de pessoas, onde, apesar de ter nascido em extrema pobreza, a generosidade e o sucesso alcançado são profundamente admirados.

China | Evergrande vende parte da participação em banco comercial a grupo estatal

A construtora chinesa Evergrande anunciou hoje a venda de 19,93% das ações do banco comercial Shengjing Bank a um conglomerado estatal, por 9.993 milhões de yuans (1.322 milhões de euros), numa altura em que regista falta de liquidez.

Em comunicado, enviado à Bolsa de Valores de Hong Kong, a Evergrande indicou que, após a transação, a sua participação no Shengjing Bank caiu de 34,5% para 14,57%. A Evergrande vai transferir 1.753 milhões de ações um preço unitário de 5,7 yuans.

O dinheiro provavelmente não vai para a tesouraria da construtora, já que o Shengjing Bank exigiu que o lucro líquido que a Evergrande obtiver com a operação pague as dívidas que tem com o banco.

O conglomerado que adquiriu a participação é identificado no documento como Shenyang Shengjing Finance Investment Group, um grupo estatal, formado por diferentes instituições da cidade de Shenyang – onde o banco tem sede – e da província de Liaoning.

O motivo dado para a transação são os “problemas de liquidez” da Evergrande, que “afetaram material e adversamente o Shengjing Bank”.

Em maio, o portal de notícias económicas Caixin informou que os reguladores bancários chineses estavam a investigar mais de 100 mil milhões de yuans em transações entre a Evergrande e o Shengjing Bank, que detém “grande quantia” de títulos da, até agora, sua principal acionista.

Embora a Evergrande tenha assegurado que todas as operações com o Banco Shengjing cumpriram os regulamentos estabelecidos, o vice-presidente da câmara de Shenyang pediu às empresas públicas da região que aumentassem “gradualmente” a sua participação na entidade, para “acelerar a sua conversão para um bom banco”.

No comunicado emitido desta manhã, a Evergrande garantiu que a entrada do grupo estatal vai “ajudar a estabilizar as operações do banco” e “aumentar e manter o valor” da participação que a imobiliária manteve.

A notícia foi bem recebida pelos investidores na Bolsa de Valores de Hong Kong, com as ações da Evergrande a subir mais de 13,1%, na sessão da manhã.

A Evergrande, com um passivo total de cerca de 256.000 milhões de euros, tem de enfrentar hoje o pagamento de 47,5 milhões de dólares de juros sobre obrigações emitidas fora da China.

Na passada quinta-feira, terminou o prazo para o pagamento de 84 milhões de dólares de obrigações também emitidas no estrangeiro.

Fumio Kishida ganha as primárias do partido para se tornar o primeiro-ministro do Japão

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa japonês Fumio Kishida venceu hoje as primárias do Partido Liberal Democrático (LDP) do Japão e será nomeado primeiro-ministro e candidato às eleições gerais nos próximos meses.

Kishida, de 64 anos, venceu Taro Kono, o atual ministro da Reforma Administrativa e Regulamentar no gabinete do primeiro-ministro cessante Yoshihide Suga, por 257 votos contra 170, num segundo turno em que o apoio dos deputados do LDP foi decisivo.

Ambos atingiram a segunda ronda depois de registarem margens estreitas de 256 (Kishida) e 255 (Kono) na primeira ronda, onde nenhum dos dois teve uma maioria suficiente.

Os outros dois candidatos que participaram nas eleições internas, Sanae Takaichi e Seiko Noda, obtiveram 188 e 63 votos.

Kishida substitui o líder do partido cessante Yoshihide Suga, que se demite após um ano desde que tomou posse em setembro passado.

Como novo líder do Partido Liberal Democrático, Kishida deverá ser eleito o próximo primeiro-ministro na segunda-feira no parlamento, onde o seu partido e parceiro de coligação têm maioria.

O Jogo das Escondidas – Capítulos 81 ao 90

81

Um ligeiro ruído despertou-a. Olhou para a porta. Percebeu quem se aproximava, antes dele entrar.
Benedito Augusto penetrou na sala. Aparentava estar bem disposto:
– Está muito bem instalada, menina Palha.
– Vou tentar. Tenho de viver.
– Eu sei. E por isso decidi vir visitá-la.
Sofia não disse que pressentira que ele surgiria, para vasculhar entre os despojos e as cinzas algo que fosse valioso. Ou seja, ela.
– Conheço-o, padre Benedito. Sei dos seus jogos. Duplos, triplos. Jogando às escondidas com Deus e com o Diabo, na mesma mesa. Não sei como ainda não perdeu.
– Há sempre um quando, não tenho dúvidas sobre isso. Mas, até lá…
Ela deu uma gargalhada. Depois disse:
– Somos ambos sobreviventes, não é verdade?
– É verdade. E estes tendem a unir forças.
– Sim, este é um tempo de tristeza. Mas também de esperança. Só que podemos partilhar muita coisa, menos…
– Menos o quê?
– O essencial.
– Não quero o seu corpo, menina Sofia. Posso tratá-la agora assim, não?
– Como preferir. Eu também não tenho o meu corpo à venda. Mas, aqui, ninguém pertence a ninguém. É bom que perceba isso, padre.
– Não se iluda. Não é isso que quero partilhar.
– O que quer é um quinhão dos negócios futuros.
– Sim. É mais ou menos isso. Mas tenho uma proposta que a vai seduzir. E eu sei que gosta da sedução…
Ela franziu as sobrancelhas:
– Qual?
– Uma percentagem do negócio da heroína.
– Não percebo. Esse é o negócio de Max Wolf.
– Ainda é. Mas não será. Neste momento o senhor Max Wolf deve estar a nadar para se salvar. Mas isso será difícil no meio do mar.
– Como?
– Foi o que me disseram. Os amigos de Fu Xian pensam que Wolf o traíu. E querem vingança.
Sofia olhou para Benedito. Subestimara o homem que, de vez em quando, vendia informações ao seu marido. Incluindo algumas sobre os movimentos do tenente Félix Amoroso e da chinesa Ding Ling.
– Resolvido esse assunto, sei quem é o representante dos senhores que dominam o negócio da heroína em Xangai.
As sombras do horizonte escureciam cada vez mais. E Sofia Palha sentia-se, naquele momento, incapaz de vislumbrar o futuro. Mas sabia que não lhe agradava.

(continua)