Taiwaneses dizem não ao casamento ‘gay’ em referendo

[dropcap]O[/dropcap]s taiwaneses aprovaram este sábado um referendo contra o casamento ‘gay’, um passo atrás que pode dificultar a ordem do Supremo Tribunal para legalizar a união entre pessoas do mesmo sexo em 2019.

A votação vai contra a decisão histórica tomada pela Justiça taiwanesa em Maio do ano passado, que deu luz verde ao reconhecimento entre pessoas do mesmo sexo e estabeleceu o prazo de dois anos para que fosse aprovada uma legislação.

Os taiwaneses também rejeitaram alterar o nome da ilha em competições desportivas. Propunha-se adoptar “Taiwan” em vez da actual “Taipé chinesa”, um claro desafio a Pequim.

No mesmo dia, em que se realizaram dez referendos, o partido no poder, pró-independência, sofreu uma pesada derrota nas eleições locais, levando a presidente Tsai Ing-wen a deixar a direcção da formação. A China já saudou os resultados.

O Kuomintang, principal partido da oposição, mais aberto a compromissos com a China, disse ter conquistado a presidência de 15 dos 22 municípios, quando no anterior escrutínio tinha obtido apenas seis. O Partido Progressista Democrático (PPD), que tinha 13, indicou ter conseguido seis.

Tsai e o PPD são assim penalizados pela deterioração dos laços com a China, que continua a considerar Taiwan como parte integrante do seu território.

“Enquanto dirigente do partido no poder, assumirei a total responsabilidade pelo resultado das eleições locais de hoje. Demito-me do meu cargo de presidente do PPD”, anunciou Tsai à imprensa.

“Os nossos esforços não foram suficientes e desiludimos os nossos apoiantes”, adiantou a Presidente, apresentando as suas “sinceras desculpas”.

Tsai Ing-Wen, eleita em 2016, tinha apresentado as eleições como um referendo à vontade da sua administração em manter a independência da ilha face a Pequim.

Tsai Ing-wen sofre derrota pesada em Taiwan e abandona liderança do partido

[dropcap]O[/dropcap] partido no poder em Taiwan sofreu no sábado uma pesada derrota nas eleições locais, levando a presidente Tsai Ing-wen a deixar a direção da formação, num contexto de crescente pressão económica e política da China.

O Kuomintang, principal partido da oposição, mais aberto a compromissos com a China, disse ter conquistado a presidência de 15 dos 22 municípios, quando no anterior escrutínio tinha obtido apenas seis. O Partido Progressista Democrático (PPD), que tinha 13, indicou ter conseguido seis.

Tsai e o PPD são assim penalizados pela deterioração dos laços com a China, que continua a considerar Taiwan como parte integrante do seu território.

“Enquanto dirigente do partido no poder, assumirei a total responsabilidade pelo resultado das eleições locais de hoje. Demito-me do meu cargo de presidente do PPD”, anunciou Tsai à imprensa.

“Os nossos esforços não foram suficientes e desiludimos os nossos apoiantes”, adiantou a presidente, apresentando as suas “sinceras desculpas”.

Tsai Ing-Wen, eleita em 2016, tinha apresentado as eleições como um referendo à vontade da sua administração em manter a independência da ilha face a Pequim.

Presidente da Comissão Eleitoral de Taiwan demitiu-se

O presidente da Comissão Eleitoral de Taiwan, Chin In-chin, demitiu-se após numerosas críticas, um dia depois de eleições locais, que representaram uma pesada derrota para o partido no poder. “A demissão foi aceite pelo primeiro-ministro, La Ching-te”, disse o porta-voz do Governo, Kolas Yotaka, numa conferência de imprensa.

A Comissão Eleitoral foi muito criticada por ter começado a dar informações sobre os resultados da eleição quando muitos eleitores ainda não tinham votado. O candidato do partido da oposição Kuomintang (KMT) à câmara de Taipé, Ting Shou-chung, pediu a anulação do resultado das eleições, que perdeu para o independente Ko Wen-je por menos de 0,3%, por considerar que o anúncio de resultados pode ter afetado a votação.

Na sua carta de demissão, Chin In-chin disse que os muitos referendos, 10, ao mesmo tempo da escolha dos representantes locais, representaram um peso acrescido para as assembleias de voto dados os recursos disponíveis, pedindo desculpa e responsabilizando-se pelas longas filas e atrasos.

Salário Mínimo | Sulu Sou entrega projecto de lei no hemiciclo

O deputado Sulu Sou vai entregar hoje na Assembleia Legislativa um projecto de lei para fixar um salário mínimo em 38 patacas por hora. O diploma não contempla empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência

 

[dropcap]S[/dropcap]ulu Sou entrega hoje ao presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, um projecto de lei para implementação do salário mínimo. Para o deputado, esta é uma forma de pressionar o Executivo a avançar com legislação, uma vez que o processo de “consulta pública acerca desta matéria terminou no final do ano passado e durante este ano não houve progressos”, disse.

O legislador recordou ainda que numa reunião da AL, em 2015, o Governo comprometeu-se a finalizar uma proposta sobre para fixar o salário mínimo até a fim de 2019.

Segundo o pró-democrata, a legislação em vigor desde Janeiro de 2016 que estabelece o salário mínimo para trabalhadores de limpeza e pessoal de segurança na actividade da administração predial ajudou 4650 trabalhadores. No entanto, existem ainda mais de 20 mil pessoas – este número não inclui empregadas domésticas e trabalhadores portadores de deficiência – não abrangidos pelo diploma e que auferem “salários extremamente baixos”.

De acordo com o diploma de 2016, o salário mínimo para estas duas profissões foi de 30 patacas por hora, 240 patacas por dia ou 6.240 por mês.

O valor proposto por Sulu Sou deve ser fixado em 38 patacas por hora, 304 patacas por dia, 1824 por semana e 7904 patacas por mês.

Para chegar a estes valores o deputado considerou a situação nas regiões vizinhas e em alguns países da Europa. “Em Hong Kong, o salário mínimo é de 37,5 dólares por hora. Em Taiwan, são 150 dólares taiwaneses. Na Alemanha, determinam o salário mínimo como metade da mediana dos rendimentos. Por isso, proponho 38 patacas para Macau”, apontou.

Sempre excluídos

No entanto, empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência continuam de fora da proposta do deputado pró-democrata.

A razão apontada por Sulu Sou foi “a falta de consenso entre as opiniões da população”.
Recorde-se que na consulta pública do ano passado, 90,4 por cento da população concordou com o estabelecimento do regime mas com excepções: empregadas domésticas, deficientes e não residentes.

Na altura, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) concordou com a exclusão do diploma dos dois primeiros grupos, tendo mantido a sua abrangência aos trabalhadores não residentes.
Em 2016, existiam em Macau 25.300 empregadas domésticas, 100 das quais residentes e as restantes 24.200 estrangeiras. Destas, 23.700 auferiam menos de 30 patacas por hora.

A luta continua

Sou adiantou ainda que tem a intenção de continuar a lutar pela não discriminação de trabalhadores e que esta proposta é “apenas uma fase” nesse sentido. Entretanto, sublinhou ainda que para as empregadas domésticas e pessoas com deficiência, avançará com a apresentação de um mecanismo que as proteja e que tenha em conta o valor mínimo de sobrevivência no território, que neste momento se situa nas 4.050 patacas.

O deputado sublinhou que o diploma deve ser revisto anualmente e determina um período para esse processo, que deve decorrer entre 1 de Maio e 31 de Outubro. Sulu Sou defendeu ainda que a actualização de valores deve ter em conta critérios fixos, como a inflação ou o índice mínimo de subsistência.

José Pereira Coutinho revelou ao HM o apoio ao projecto de lei de Sulu Sou. “Tudo o que seja a favor dos trabalhadores conta sempre com o meu apoio, não há margem para dúvidas”, disse.

Maquete de expansão da Escola Portuguesa de Díli apresentada ao público

[dropcap]A[/dropcap] maquete do projecto de expansão da Escola Portuguesa de Díli (EPD), que prevê 25 novas salas e um pavilhão multi-usos, foi apresentada esta semana na unidade escolar, devendo as obras arrancar já em 2019.

O processo de expansão, que terá um custo total de cerca de 5 milhões de dólares, permitirá aumentar significativamente a capacidade de acolhimento de alunos, disse à Lusa o director da escola, Acácio Brito.

Está prevista a construção de mais um piso no edifício principal, a construção de uma sala multi-usos que servirá como auditório e ginásio e ainda a instalação de dois campos desportivos, entre outras melhorias e alterações.

Este ano a EPD tem 1.032 alunos, com 270 no ensino pré-escolar, 376 no 1.º ciclo, 131 no 2.º ciclo, 144 no 3.º ciclo e 121 no ensino secundário. Intervindo na apresentação da maquete, o embaixador de Portugal em Díli, José Pedro Machado Vieira, recordou as longas listas de espera que a EPD já tem atualmente.

As obras são, disse, “mais um passo deste processo de melhorar as condições que permitem a esta Escola proporcionar uma educação de qualidade e manter-se como referência, na oferta educativa em Timor-Leste”.

“O projecto de ampliação das instalações da escola torna-se essencial para o cumprimento dos objetivos base desta instituição, quer de garantia da qualidade do ensino, quer na melhoria dos resultados dos alunos, quer de alargamento do número de admissões, para incluir todos os que, anualmente, se candidatam e ficam de fora, por falta de capacidade física de os integrar na escola”, referiu.

“Este alargamento permitirá, igualmente, expandir a oferta formativa para os docentes, através do Centro de Formação, que, até ao momento, se tem ocupado exclusivamente da formação dos docentes da EPRC, e que pretende colocar-se ao serviço da formação de professores em funções no sistema educativo timorense”, notou ainda.

A EPD integra-se no programa de cooperação bilateral entre Portugal e Timor-Leste que em 2017, e que segundo valores da Ajuda Pública para o Desenvolvimento (APD) ultrapassou os 13 milhões de euros.

Da cooperação portuguesa fazem ainda parte, entre outros programas, o projecto dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar (CAFE), que abrange a educação pré-escolar e do ensino básico em 13 municípios e que, no próximo ano letivo, se alargará ao ensino secundário.

Fazem ainda parte o projecto Formar Mais, para a formação contínua de professores e apoio à gestão escolar, o projeto de Capacitação da Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL) em Língua Portuguesa e formação, entre outros, a jornalistas e Forças de Defesa.

No âmbito da cooperação portuguesa na área educativa são atribuídas anualmente bolsas de estudo no ensino público em Portugal para os graus de licenciatura, mestrado e doutoramento e bolsas de estudo internas para frequência do ensino superior em Timor-Leste.

Pequim condena ataque contra consulado chinês no Paquistão

[dropcap]P[/dropcap]equim condenou hoje o ataque esta manhã contra o consulado chinês em Karachi, cidade portuária no sul do Paquistão, no qual morreram pelo menos sete pessoas, já reivindicado por um movimento separatista paquistanês.

“A China condena veementemente qualquer ataque violento contra as agências consulares diplomáticas e pede ao Paquistão que tome medidas concretas para garantir a segurança dos cidadãos e instituições chineses no Paquistão”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shang, durante uma conferência de imprensa. Dos sete mortos, pelo menos dois são civis e outros dois são policiais

“Três ou quatro homens armados entraram no consulado chinês e quando foram interceptados começaram a disparar sobre a polícia que protegia o complexo”, disse à agência Efe o porta-voz da polícia, Mohamed Ishfaq.

A televisão loca emitiu imagens de fumo a sair do complexo consular, que também é residência de diplomatas e outros funcionários chineses. O Exército de Libertação do Baluchistão (ALB), já reivindicou o ataque, de acordo com a agência France-Presse (AFP).

“Lideramos o ataque e a nossa acção continua”, disse ao telefone o porta-voz do movimento separatista, Geand Baloch. O ALB é um dos grupos que operam no Baluchistão, uma província que é palco de ataques de grupos armados islâmicos, mas também de ataques de rebeldes locais que defendem a autonomia ou até a independência da região.

O Baluchistão é a maior, mas também a mais pobre província do Paquistão, apesar dos vastos depósitos minerais e de gás. A China, um dos aliados mais próximos do Paquistão, investiu mais de mil milhões de dólares no Corredor Económico China-Paquistão (CPEC).

Muitas infra-estruturas, rodovias, centrais elétricas e hospitais devem ser construídos neste contexto, além de um porto em Gwadar, no Baluquistão, que dará acesso direto dos produtos chineses ao mar arábico.

Karachi, a maior cidade do Paquistão, com mais de 15 milhões de habitantes, viveu anos de violência política, sectária ou étnica perpetrada por grupos armados ou criminosos.

Pelo menos 12 jornalistas foram mortos nas Filipinas na actual Presidência

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 12 jornalistas foram mortos nas Filipinas durante a Presidência de Rodrigo Duterte e centenas foram submetidos a assédio e ameaças, de acordo com um relatório divulgado hoje por vários grupos que defendem a liberdade de imprensa.

“Estes casos mostram o perigo do exercício do jornalismo independente nas Filipinas, cuja imprensa é considerada uma das mais livres e pluralistas da Ásia”, lamentaram hoje a Freedom for Media, o Sindicato Nacional de Jornalistas das Filipinas e o Centro Filipino de Jornalismo Investigativo.

Estas entidades relataram que os casos de assédio e intimidação contra jornalistas aumentaram durante o Governo do Presidente filipino, que começou a 30 de junho de 2016, e têm piorado nos últimos seis meses, especialmente na Internet. No mesmo período, ocorreram três assassínios e uma tentativa de assassínio, concluem as organizações.

O relatório sublinhou que 44% dos actos foram cometidos por “agentes do Estado ou funcionários públicos” e que as formas de intimidação variam desde o ‘cyberbullying’, insultos, ameaças verbais, a prisão temporária e a remoção de artigos da internet.

“As perspectivas de liberdade de imprensa e apoio dos cidadãos aos jornalistas estão em perigo num período de crescente autoritarismo”, lamentaram os grupos mencionados.

O sindicato de jornalistas nas Filipinas considerou que “os cidadãos têm sido enganados para apoiar o surgimento de líderes autocráticos que prometem soluções rápidas para os males incrustados”, usando o pretexto de que “a democracia fracassou para minar as liberdades inalienáveis”.

O relatório foi publicado hoje por ocasião do nono aniversário do massacre de Ampatuan, em que 58 civis foram mortos – entre os quais 32 jornalistas – por homens armados a mando de um poderoso clã num dia de eleição na província de maioria muçulmana de Maguindanao, na ilha sul de Mindanau.

Nove anos depois, ninguém ainda foi condenado pelo massacre, embora o secretário da Justiça, Menardo Guevarra, tenha dito hoje que o processo judicial terminará em breve e que espera uma sentença para o próximo ano.

Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês fala da agenda de Xi Jinping na visita a Lisboa

[dropcap]A[/dropcap] China enalteceu hoje a “cooperação activa” com Portugal em países terceiros, em África e na América Latina, nas vésperas da visita do Presidente Xi Jinping, visando “elevar a parceria estratégica para um novo nível”. Xi Jinping vai estar em Portugal a 4 e 5 de Dezembro, após participar na cimeira do G20 e visitar o Panamá.

Trata-se da primeira deslocação oficial de um chefe de Estado chinês a Lisboa, desde 2010, e ocorre a cerca de três meses do 40.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Lisboa e Pequim.

Xi vai reunir-se, em Lisboa, com o homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa. Em conferência de imprensa, o vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros Wang Chao lembrou que as duas partes têm cooperado “activamente” na América Latina e África, através do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, estabelecido em Macau, em 2003.

Portugal é um “membro importante” da União Europeia (UE) e tem “tradicionalmente influência” na América Latina e África, notou Wang Chao.

O vice-ministro chinês para os Assuntos Europeus revelou que os líderes dos dois países vão “trocar opiniões” sobre as relações bilaterais, as relações entre a China e a UE e questões internacionais e regionais de “interesse comum”.

“O Presidente Xi vai com os líderes portugueses elevar para um novo nível o futuro desenvolvimento da Parceria Estratégica Global China e Portugal”, previu. Aquele documento foi assinado em 2005, para reforçar o diálogo político e a cooperação nas áreas economia, língua, cultura e educação, ciência e tecnologia, justiça e saúde.

Lembrando que as visitas de alto nível se intensificaram nos últimos anos, o vice-ministro chinês considerou que a cooperação nas áreas economia, comércio ou cultura produziram “resultados frutíferos”.

“As duas partes responderam juntas à crise financeira e aos desafios internacionais; a cooperação no campo do investimento alcançou grandes progressos, com benefícios tangíveis para ambos os países”, disse.

Wang Chao lembrou ainda que Portugal foi o primeiro país da UE com que a China estabeleceu uma “parceria azul”.

Os dois países assinaram, em 2017, um plano de acção, visando colaborarem na investigação e em projectos comerciais, no âmbito da economia do mar.

Wang Chao considerou ainda que Portugal tem “respondido positivamente” à iniciativa chinesa ‘uma faixa, uma rota’, projeto de infra-estruturas internacional que inclui a construção de uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos ou centrais eléctricas, visando reforçar a conectividade entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

Lisboa tem insistido na inclusão de uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria ao porto de Sines conectar as rotas do Extremo Oriente ao Oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

Wang Chao revelou que os dois países vão emitir um comunicado conjunto com os “resultados da visita e consensos importantes”, e que serão assinados acordos de cooperação no domínio da cultura, educação, infraestruturas, tecnologia, Recursos Hídricos, finanças e energia.

A delegação de Xi Jinping, que terá em Lisboa a sua última visita de Estado deste ano, inclui Yang Jiechi, membro do Gabinete Político do Comité Central do Partido Comunista Chinês, o ministro dos Negócios Estrangeiros e Conselheiro de Estado, Wang Yi, e o presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o órgão máximo de planeamento económico do país, He Lifeng, revelou à agência Lusa fonte do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.

Desde a crise financeira global, em 2008, enquanto as economias desenvolvidas estagnaram, a China manteve altas taxas de crescimento económico, aumentando a quota no Produto Interno Bruto global de 6% para quase 16%.

O país asiático tornou-se, no mesmo período, um dos principais investidores em Portugal, ao comprar participações em grandes empresas das áreas da energia, seguros, saúde e banca, enquanto centenas de particulares chineses compraram casa em Portugal à boleia dos vistos ‘gold’.

Administração e justiça | Tutela terá aumento efectivo de 60 funcionários públicos em 2019

[dropcap]F[/dropcap]oi referido no debate das Linhas de Acção Governativa (LAG) de hoje, na área da Administração e Justiça, que esta tutela deverá contar com um aumento de uma centena de funcionários públicos no próximo ano, sendo que o aumento efectivo, excluindo baixas médicas e licenças sem vencimento, será de 60 pessoas.

“Prevemos um aumento de 100 efectivos para 2019, mas de facto poderá haver uma discrepância entre cinco a seis por cento, porque, para efeitos de orçamento, há pessoas que regressam de uma baixa médica ou licença sem vencimento, e temos de prever também as pessoas que se vão desligar do serviço. Todos esses números têm de ser contabilizados, então o aumento será inferior a 100”, explicou Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP).

O responsável deu ainda mais detalhes sobre os serviços que contarão com mais trabalhadores. “Temos de reforçar o número de efectivos para os Serviços de Identificação e Instituto para os Assuntos Municipais, tendo em conta a abertura do centro de serviços das ilhas. Cada secretário vai controlar o aumento do número de efectivos tendo em conta a saída e o volume de trabalho”, rematou o director dos SAFP.

Emilio Tuñón Álvarez cita Lorca: “As ideias não são de ninguém”

[dropcap]A[/dropcap]o HM, Emilio Tuñón Álvarez, um dos arquitectos do Auditório da Cidade de León, a par de Luís Moreno Mansilla, afirmou não estar “minimamente preocupado” com um eventual plágio. O arquitecto espanhol de 59 anos citou também o compatriota Frederico García Lorca.

“Tenho de confessar que não estou preocupado com todo este tipo de questões de cópia de trabalhos”, disse Emilio Tuñón Álvarez, ao HM. “Frederico García Lorca, o famoso poeta espanhol, costumava dizer: ‘as ideias não são de ninguém… estão a flutuar no ar à espera que alguém as apanhe’”, citou.

O também vencedor do prémio Mies van der Rohe de Arquitectura Contemporânea da União Europeia, em 2007, com o Museu de Arte Contemporânea de Castela e León, deu ainda exemplos de “edifícios bizarros”, na União Europeia e nos Estados Unidos inspirados no auditório que concebeu, nomeadamente o edifício Mission Bay Parking Structure, em São Francisco, e a Escola Burntwood, em Londres.

A China no turismo mundial

[dropcap]S[/dropcap]ugerem as projecções estatísticas da especialidade que em 2030 a China vai ser o país a receber mais visitantes internacionais e que também ocupará o primeiro lugar enquanto “mercado emissor” global, como se diz na gíria do sector turístico, reflectindo as profundas transformações económicas, sociais e culturais em curso no país.

O significativo aumento de rendimentos de que tem beneficiado grande parte da população chinesa nas últimas décadas tem implicações directas e significativas sobre as dinâmicas turísticas, como é conhecido de outras paragens: os gastos com actividades recreativas, de lazer ou em viagens tendem a aumentar significativamente quando o rendimento disponível ultrapassa o mínimo necessário para as despesas essenciais e, inversamente, também tendem a decrescer substancialmente quando há perdas súbitas de rendimentos.

Foi neste contexto de optimismo generalizadamente partilhado que tive oportunidade de assistir à 12ª edição do Fórum de Turismo da China, na magnífica cidade de Hangzhou, um palco particularmente adequado para se observarem estas transformações da China contemporânea. O Fórum foi organizado pela escola de hotelaria e turismo da Universidade Politécnica de Hong Kong (que lidera nos últimos anos os rankings mundiais de formação universitária no sector) e por uma gigantesca empresa de comércio e serviços em plataformas digitais, que tem em Hangzhou o seu “campus” e a sua base operacional – e também a sua sucursal para o turismo e viagens. Aliás, o sistema de pagamentos online desenvolvido por esta empresa atingiu na cidade uma popularidade e um nível de convergência tão profundo com os serviços offline que é possível aos residentes viverem sem carteira, notas, moedas ou cartões bancários: basta o telemóvel (com o adequado leitor de códigos de barras) para fazer qualquer tipo de pagamento (transportes públicos, cinemas, supermercados, mercearias, restaurantes, lojas de conveniência, pequenos ou grandes estabelecimentos dos mais variados sectores públicos e privados estão devidamente apetrechados para um quotidiano sem notas nem moedas).

A inovação, o papel das plataformas digitais, a convergência necessária entre os universos imateriais do ciberespaço e a realidade física dos produtores e consumidores de produtos e serviços, a transformação das gigantescas quantidades de informação associadas a estas transações em processos de personalização de serviços cada vez mais especificamente adequados às necessidades e motivações de cada pessoa, ou o papel da inteligência artificial e outras formas de aprendizagem baseada no processamento de quantidades massivas de informação, foram os temas centrais de um Fórum que mobilizou algumas centenas de pessoas dos meios académicos e empresariais ligados ao turismo na China, com forte presença de jovens dirigentes e gestores empresariais altamente qualificados e escassa presença de gravatas. Esta preocupação com conteúdos de discussão que assinalam e promovem uma certa liderança na capacidade de formulação de estratégias de inovação para economias globais tecnologicamente avançadas teve também a sua contrapartida em aspectos mais formais – e que na realidade acabam por reforçar os conteúdos: o Fórum foi suportado por uma impressionante parafernália multimedia com projeções simultâneas em ecrãs gigantescos baseadas em muito avançadas tecnologias de audio e video e por diversas possibilidades de interacção entre a audiência e os oradores através de reacções e comentários enviados por telemóvel e projectados em tempo real.

A modernidade dos processos de comunicação e interacção com suporte de tecnologias avançadas também é visível para quem visita esta fantástica cidade: além do avançado sistema dos mais variados pagamentos de despesas quotidianas, a cidade combina com extrema eficácia e elegância as características culturais, arquitectónicas e paisagísticas da tradição histórica da região, com zonas modernas onde é visível o avanço tecnológico, a sofisticação do comércio ou os graciosos espaços de lazer com uma presença constante de uma população bastante jovem. O grandioso Lago Oeste, recentemente classificado como património mundial da humanidade, com os magníficos jardins, monumentos e espaços museológicos que o rodeiam, ou a bela rua Hefang, onde se encontram as lojas dos produtos mais tradicionais da região, incluindo a comida e os artesãos de várias especialidades, são casos exemplares de preservação do património histórico, que interagem com facilidade e harmonia com a modernidade das ruas do centro ou da “Midtwon”. Não terá sido acidental a escolha desta cidade para acolher o Fórum, tal como não parece acidental a decisão de realizar o Fórum de Turismo da China do próximo ano nos Estados Unidos: em tempo de “guerra comercial” atabalhoadamente decretada, o turismo da China lança-se à liderança dos processos de internacionalização em território “inimigo”.

F1| Robert Kubica regressa em 2019 pela mão da Williams

[dropcap]O[/dropcap] polaco Roberto Kubica vai regressar à Fórmula 1 em 2019. O polaco foi oficializado esta quinta-feira na Williams, 8 anos depois de ter sofrido um grave acidente num rali, que hipotecou a sua promissora carreira na mais importante competição automobilística mundial.

Kubica foi considerado um dos grandes talentos da F1 (chegou a falar-se que ia para a Ferrari) mas em 2011 sofreu um acidente que mudou completamente a sua vida, tendo chegado a colocar-se a possibilidade de amputação do braço direito.

O polaco, que nunca perdeu o amor pelo desporto automóvel, regressou aos ralis, mas nunca perdeu o foco da F1, onde voltou na temporada passada, mas como piloto de testes. Agora a Williams abre-lhe a porta da competição. Kubica, de 33 anos, terá como companheiro de equipa o jovem inglês George Russel, de 20, vencedor do GP3 em 2017 e actual líder do Mundial de F2.

Guia mantém WTCR mas deverá deixar de ser palco da finalissima

[dropcap]O[/dropcap] calendário de 2019 do Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR) ainda não foi anunciado, mas este deverá contar novamente com a presença do Circuito da Guia que, no entanto, desta vez não será a prova de encerramento de temporada.

Segundo o calendário provisório para a próxima temporada que tem circulado pelas equipas do mundial e a que o HM teve acesso, a última prova de 2019 deverá ser disputada na Malásia, no Circuito Internacional de Sepang. O evento será realizado no último fim-de-semana de Dezembro em concomitância com o Campeonato do Mundo de Endurance de Motociclismo e poderá ser realizado à noite, aproveitando o novo sistema de luzes instalado pelo ex-circuito malaio de Fórmula 1 este ano. A competição de duas rodas é também promovida pelo Eurosport Events, o promotor do WTCR.

Depois do sucesso da edição de 2018, a continuidade do WTCR no Circuito da Guia não parece estar em questão, tendo François Ribeiro, o CEO do Eurosport Events, garantido que “nós vamos voltar (a Macau) com uma grelha ainda mais competitiva”.

O calendário do WTCR deverá ser dado a conhecer depois do próximo Conselho Mundial da FIA que está agendado para o dia 5 de Dezembro, em São Petersburgo, na Rússia. Para além de Macau, o campeonato deverá manter as duas provas no interior da China, uma no circuito de Ningbo, e outra em Suzhou, no lugar do circuito citadino de Wuhan. Esta última prova é uma incógnita, visto que não há qualquer circuito permanente na cidade da província de Jingsu.

Portugal irá manter-se também no calendário, com a habitual jornada no Circuito de Vila Real, no mês de Julho e como última prova no continente europeu. O 66º Grande Prémio de Macau deverá ser disputado de 14 a 17 de Novembro.

Regresso de Farfus

Augusto Farfus, que no fim-de-semana passado conquistou a Taça do Mundo FIA de GT pela BMW, deverá ser um dos rostos do WTCR em 2019. Durante o Grande Prémio de Macau, a BMW Motorsport anunciou que o brasileiro irá deixar o campeonato alemão DTM. Segundo rumores do paddock, Farfus está de malas feitas para a Hyundai.

O construtor coreano que venceu o campeonato de pilotos com Gabriele Tarquini vai deixar de contar com Yvan Muller e Thed Bjork. A Cyan Racing aproveitou o Grande Prémio para anunciar que Muller vai acompanhar Björk na primeira campanha dos Lynk & Co 03 TCR no WTCR. O carro chinês desenvolvido pela Geely Group Motorsport na Suécia foi apanhado recentemente a testar no Circuito do Estoril, já com Muller ao volante. A marca chinesa ainda não confirmou quantas viaturas colocará no terreno no WTCR de 2019, mas Yann Ehrlacher, sobrinho de Muller, é um dos nomes apontados a um terceiro carro.

O poeta e o seu tempo

[dropcap]O[/dropcap] poeta e a poesia não pode ser comparado apenas com as pessoas normais, as suas possibilidades, exigências, precisões, necessidades e precariedades. A poesia como expressão tem de ser comparada com uma expressão que depende de uma possibilidade existencial absolutamente antagónica. Uma tal possibilidade extrema da vida poderia desfazer todos os seus mal entendidos e anular a ambiguidade de que a vida humana está imbuída.

“há pessoas a viver numa atmosfera que está alagada por um espaço infinito e frio como o gelo.” (es Menschen gibt, die zu leben vermögen in einer Luft, die von der Eiseskälte des unendlichen Raumes beleckt wird).”

Ao mesmo tempo, e isso é um enigma,

“há espíritos a conseguir viver continuamente submetidos à pressão monstruosa da totalidade das existências reunidas. Tal como acontece com os poetas (es Geister gibt, die unter dem ungeheueren Druck des ganzen angesammelten Daseins zu leben vermögen – wie ja die Dichter tun.)

Se ser poeta é estar submetido a esta possibilidade ele não deixa de estar no meio da vida.

“A ciência tomada no seu sentido mais puro como exacta, mais do que rigorosa, a existência no horizonte frio como o gelo do rigor da exactidão científicos não reconduzem à vida. (“aus der Wissenschaft, in ihrem reinen, strengen Sinn genommen, führt kein Weg ins Leben zurück. ”)”

Nem nunca o poderiam fazer.

“Mas, então, se a palavra poeta, se a manifestação do poeta, têm ainda algum relevo na atmosfera do nosso tempo, não é de modo algum agradável. (“Wofern das Wort Dichter, die Erscheinung des Dichters in der Atmosphäre unserer Zeit irgendein Relief nimmt, so ist es kein angenehmes.”)

A que corresponde o ponto de vista do poeta nesta atmosfera do nosso tempo sem cotovelo? Hugo von Hofmannsthal diz que o poeta está onde aparentemente não aparece e de resto encontra-se sempre num sítio diferente de onde ele julga estar.

“O poeta habita estranhamente a morada do tempo, a morada do tempo encontra-se no vão de escadas da existência por onde toda a gente passa mas ninguém dá conta dele. (So ist der Dichter da, wo er nicht da zu sein scheint, und ist immer an einer anderen Stelle, als er vermeint wird. Seltsam wohnt er im Haus der Zeit, unter der Stiege, wo alle an ihm vorüber müssen und keiner ihn achtet.)”

Mas não são apenas as pessoas desconhecidas que passam por ele, por cima dele, ao subirem e descerem as escadas do edifício da vida, ao passarem por ele na rua, nas esplanadas, nas casas de espectáculo, na praia e no campo, nos sítios públicos, mas também nos recessos privados.

Os outros que passam por ele não são os desconhecidos, o mar de toda a gente que é toda a gente e ninguém.

Quem passa por ele são os seus, aqueles a quem está ligado por laços indissociáveis mas aparentemente metamorfoseados.

“Onde mora o poeta ele ouve e vê a sua mulher, os seus irmãos, os seus filhos: ele ouve e vê como eles sobem e descem, e ouve como falam dele como se falassem de alguém num paradeiro desconhecido, desaparecido, na verdade falam dele como se fosse um defunto e choram-no como se tivesse morrido. (“Dort haust er und hört und sieht seine Frau und seine Brüder und seine Kinder, wie sie die Treppe auf und nieder steigen, wie sie von ihm als einem Verschwundenen, wohl gar einem Toten sprechen und um ihn trauern.”)

“E contudo é assim que as coisas são e é assim por isso que ele não se dá a conhecer nem a reconhecer e vive como um desconhecido no vão das escadas da sua própria casa” (“Aber ihm ist auferlegt, sich nicht zu erkennen zu geben, und so wohnt er unerkannt unter der Stiege seines eigenen Hauses.”)”

É no vão das escadas do tempo por onde as vidas dos outros passam nas suas vidas. Cada ser humano com as suas próprias atmosferas. E acham que tudo e todos e o próprio existem a céu aberto, às claras, como se o mundo e a vida fossem sempre o mesmo para toda a gente. Apenas o inquilino do vão de escadas do tempo é o portador do abismo dos tempos e do abismo sem apoio nem fundamento nem sequer medida da existência. Só ele se apercebe que cada pessoa é um mundo com uma vida e uma verdade.

O poeta é um desaparecido que olha a partir do ponto de vista de nenhures, impermeável à vida dos outros que por ele passam como rios para o mar. O poeta é esse alguém que é referido como desaparecido, de quem ninguém sabe como é nem onde está. O horizonte da poesia está tão completamente metamorfoseado que é como se tivesse já percorrido toda a vida e a antecipasse do ponto de vista da chegada, do esgotamento do tempo, da asfixia do sentido.

Mas não se trata apenas do pensamento de ninguém que pensa o outro nas suas vidas impermeáveis a si e que reconhece nos outros alguém que dá conta da sua própria perspectiva. A abominação do seu desolamento é o reconhecimento da abominação do desolamento dos outros que não são outros apenas: da mulher, dos pais, dos irmãos, dos filhos, dos amigos, tal como de todos os outros, de cada um dos outros, nas suas atmosferas e no transcurso mudo ou silencioso das suas vidas.

Mas não apenas isto. E esta é a característica mais paradoxal do ser poeta: Também o poeta se assiste a si como um outro. É ele que passa sobre si, sobre o seu si que está no vão de escadas. É o poeta que se assiste a si a descer e a subir escadas, como um outro, não único, mas como todos os outros e ninguém. Sem apego a si, na incompreensão da tarefa de se amar a si próprio como pode amar outro. Os outros que são toda a gente e ninguém sobem as escadas e descem as escadas. Mas o próprio é outro para si, incompreensível, alheio, estranho, estrangeiro, alienado da sua própria existência no horizonte específico em que se metamorfoseia a poesia.

Brasil brasileiro

[dropcap]T[/dropcap]em causado estupefacção e não pouca ansiedade a nomeação de Ernesto Araújo para Ministro das Relações Exteriores do Governo de Bolsonaro do Brasil.

Ao longo dos anos Araújo não se coibiu de expedir pensamento sobre a ordem mundial contemporânea. Se é flagrante a coerência das suas opiniões, pode-se também dizer delas que parecem diminutas, crassas, formulaicas e mais apropriadas ao enredo de uma space ópera ou de uma banda desenhada da Marvel. Tragam-se à colação duas citações exemplares:

“Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão.”

Estriba-se tão magno desiderato no seguinte bosquejo histórico da globalização:

“Ao instalar-se a globalização dos anos 90, os programadores do sistema (não sei se eles existem enquanto indivíduos, ou se o sistema se autoprograma) refletiram e disseram: ‘Bom, já acabamos com a Nação. Será que precisamos ainda do Estado?’ Ali, a globalização econômica, que ansiava pelo fim de quaisquer barreiras, inclusive estatais, à livre alocação mundial de recursos, convergiu com o velho objetivo marxista de empurrar o mundo para o último estágio da ‘evolução’ da humanidade, o comunismo, definido como a sociedade sem Estado. Imagine there’s no countries: essa canção assombrosa de John Lennon tanto pode ser pode ser o hino da hiperglobalização econômica quanto o hino do marxismo em seu ‘sonho’ comunista.”

Deixando embasbacada boa parte dos analistas, há um aspecto nestas apreciações que não tem sido muito realçado e que talvez explique tamanha perplexidade: a lógica de Araújo é congenitamente brasileira, no sentido em que tão extravagantes argumentos só poderiam ter origem na extrema singularidade da economia e da mentalidade brasileira.

É possível contar o Brasil entre os países mais anti-liberais do planeta.

Em nome da independência e da protecção à economia nacional os cartéis oligárquicos que a conduzem sempre souberam proteger-se das turbulências do capitalismo internacional. À circulação fluida de capitais ou à atracção e captura de investimento externo, contrapuseram um sem número de barreiras alfandegárias e legislativas para que não fosse desacatada a repartição dos recursos nacionais entre os incumbentes nativos. O livre comércio, promotor da competição e consequentemente de disputa e alargamento do mercado interno, foi diligentemente refreado para bloquear o acesso à praça de novos concorrentes além dos que já a controlavam, todos concordando em verberar a influência deletéria do consumismo.

Entre conglomerados impolutamente nacionais e um vasto aparelho de empresas nacionalizadas, assim se reparte a produção de riqueza no Brasil a bem de um punhado de famílias extremamente milionárias e corruptoras e de uma corte de políticos corruptos. Este dispositivo remete mais para uma ordem feudal do que para a modernidade e perpetua-se porque decorre e reproduz um sentimento que no Brasil parece ser hegemónico: uma espécie de ultra-nacionalismo que talvez só tenha paralelo numa Arábia Saudita.

Na verdade uma explicação possível para a virulência da batalha entre Bolsonaro e o PT passa por verificar que não contrapuseram visões diferentes ou mesmo antagónicas do mundo (Trump=isolacionismo vs. Clinton=cosmopolitismo; Macron=UE vs. Le Pen=chauvinismo) mas ambos disputaram a primazia pela aversão ao globalismo, cada um prometendo que o seu Brasil seria mais impermeável a influxos externos do que o do outro. Se Bolsonaro jurou que acabaria com as nacionalizações para entregar o que falta à oligarquia, o PT deseja nacionalizar os monopólios tal como estão. De modo que conforme as inclinações tanto se acusa com orgulho patriótico o neo-colonialismo económico, como se combatem as teias do imperialismo capitalista – les beaux esprits se rencontrent…

Neste estrume ideológico nascem fantasias estranhas como as de Araújo. Se as suas lucubrações se nos afiguram esdrúxulas e baralhadas, no contexto brasileiro não serão de todo excêntricas. Ele não é lunático, apenas idiossincrático.

E tanto assim que se dá o caso de estarmos perante um insólito, e de certo modo burlesco, curto-circuito político, que é ver um nacionalista ultramontano a roubar e agitar a bandeira, até aqui ciosamente brandida pela esquerda altermundialista, do combate à globalização. Trata-se apenas de uma transferência da culpa pelas suas supostas. Afinal estas já não são obra da cupidez e da crueza dos desalmados banqueiros da Goldman Sachs mas das conspirações de pérfidos agentes do marxismo-leninismo mundial – quem sabe se não andarão conluiados…

Os esforços amargos e o seu tráfico

[dropcap]E[/dropcap]m 1533, o Governador da Índia Nuno da Cunha criou o cargo de Pai dos Cristãos, para cuidar dos libertados da escravidão por se terem convertido ao Cristianismo.

Influenciado de forma decisiva pelos jesuítas, o Rei de Portugal D. Sebastião em 1570 decretou a abolição da escravatura de ameríndios sob o domínio português, aceitando-se a sua servidão e em Março do ano seguinte, proibia “a aquisição de escravos japoneses, sob pena de confiscação dos bens dos culpados”, segundo o Padre Manuel Teixeira. No período filipino, em 1595 o Vice-Rei de Goa aboliu o tráfico de escravos chineses. “Havia legislação portuguesa de 1625, comunicada ao Ouvidor de Macau e recordada pelo Vice-Rei da Índia, Conde da Ega (1758-1765), proibindo a escravatura chinesa”, como lembra Beatriz Basto da Silva. Em 1761, o Marquês do Pombal, no reinado de D. José, decretou o fim da importação de escravos das colónias para a metrópole e terminou com a escravidão de indianos tanto na Índia, como em Portugal. Beatriz Basto da Silva refere ter sido abolida a escravatura em Portugal em 1836 por Sá da Bandeira, mas só entrou em vigor em Macau em 1856.

A abolição da escravidão está directamente relacionada com a Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII na Inglaterra, segundo Ana Luíza Mello S. de Andrade. A Dinamarca foi o primeiro país em 1792 a criar uma lei para terminar com a escravatura, mas esta só entrou em vigor em 1803. Em 1833, o Parlamento do Reino Unido pôs fim à escravidão para os africanos nas colónias do Império Britânico e a França em 1848 para os negros, com a Proclamação da II República. Nos Estados Unidos da América foi abolida a escravatura em Dezembro de 1865, na XIII Emenda à Constituição. Entre 1807 e 1808, sete Estados do Norte libertaram os escravos, tornando-os homens livres. O Congresso em 1808 proibira a importação de escravos e para libertar 4 milhões de escravos negros entrou em vigor a 1 de Janeiro de 1863 a Proclamação de Emancipação assinado pelo Presidente Abraham Lincoln.

Sobre este tema, aflorado superficialmente, quase tudo fica por dizer e as datas, que não são as definitivas, escondem histórias, muitas não propriamente de teor humanitário.

Tráfico de cules

Em cantonense, os cules têm o nome de fu-lek, que significa esforço amargo. Os chineses sentiam-se “atraídos por promessas de trabalho, como colonos, por esse mundo fora, sonhando voltar ao torrão natal com um bom pé-de-meia. Ingénuos, pacientes e trabalhadores como ninguém (quando motivados) concentraram-se e ofereceram-se, como ‘ovelhas para o sacrifício’, no porto de Amoy (que foi o primeiro) e depois em Cantão, Wampu, Caminh e Swatow, dos laboriosos agricultores Hakkas …”, segundo Beatriz Basto da Silva, que cita o “Conde Earl Gray.

De início nem eram precisos engajadores. Os aspirantes a colonos entregavam-se directamente aos especuladores que os esperavam a bordo, com um contrato que aumentava em ganância e desonestidade à medida que a oferta crescia.”

Após a I Guerra do Ópio, a emigração chinesa iniciada desde Amoy (Xiamen) foi feita abertamente, com a conivência de corruptos oficiais chineses locais e oficiais consulares britânicos, através de agências da Companhia de Londres. Era francês o primeiro barco que partiu de Amoy (actual Xiamen) em 1845 levando 180 emigrantes chineses para a Ilha de Bourbon (Reunião, ilha francesa a Leste de Madagáscar). Beatriz Basto da Silva refere, “Em 1850 a Firma inglesa Tait y Company enviava de Amoy para Havana os primeiros cules contratados.”

De Amoy, até Agosto de 1852, saiu a maioria dos emigrantes chineses e desses 6255, embarcaram em barcos britânicos 73% e os restantes partiram em embarcações espanholas, francesas, americanas e peruanas, segundo Ng Chin-Keong. Muitos raptados nas suas terras pelos corretores chineses, eram entregues aos agentes britânicos, sendo vítimas de um tratamento desumano durante a espera do transporte, na viagem e no destino, quantos escravizados. Os culis, sabendo da sinistra situação dos seus conterrâneos emigrados, revoltaram-se em Amoy a 21 de Novembro de 1852. Segundo o Taotai (Intendente) Chao Lin, o mais alto oficial civil em Amoy, tudo ocorreu quando três ingleses (sendo um, o escrivão da Firma Tait) embriagados caminhavam pelas ruas da cidade à noite e em frente a uma esquadra da polícia entraram numa discussão com alguns soldados e com a multidão de culis, adquiridos pelos ingleses, que no exterior se encontrava. Iniciada com o arremesso de pedras, essa revolta durou uma semana e os ingleses pediram a protecção dos seus marinheiros, que aí desembarcaram. Com medo da sua segurança e dos seus hongs, os mercadores britânicos mudaram esse negócio para outras paragens. De referir estar a China de novo a viver em guerra, desta vez civil, devido à Revolta Taiping (1850-64).

Depósitos para os contratados

Segundo Arnold J. Meagher, citado por Liu Cong e Leonor Diaz de Seabra, “a emigração através de Macau para as Américas desenvolveu-se lentamente, numa fase inicial, visto que os carregadores preferiam os portos de Xiamen, Shantou, Jinxingmen (Cumsingmoon) e Cantão, que ficavam mais perto das fontes de provisão. E, quando se tornou cada vez mais difícil operar o tráfico nesses portos, a emigração chinesa para a Califórnia e a Austrália foi confinada a Hong Kong, e o tráfico para a América Latina concentrou-se em Macau.” Segundo Fernando Figueiredo, “A saída de trabalhadores chineses para a América a partir de Macau tivera início em 1851 e destinava-se sobretudo a Cuba. Nela passavam a estar envolvidos agentes nacionais e estrangeiros (europeus e chineses).”

Em “1852, Hong Kong começa a sua própria emigração, embora já anteriormente canalizasse essa actividade desencadeada de portos da China, onde a Inglaterra tinha interesses, assim como a França”, segundo Beatriz Basto da Silva. O Padre Manuel Teixeira salienta, “O agente da emigração chinesa Mr. White sugeriu ao Governo de Hong Kong e este concordou que se abrisse nessa colónia um depósito para recolha de emigrantes; o mesmo se fez em Macau.”

Os cules, trazidos pelos corretores das terras chinesas, eram também transportados nos vapores das companhias de navegação, recentemente criadas a ligar Hong Kong, Macau, Cantão e seus arredores, para do porto de Macau embarcarem e enquanto isso não acontecia, ficavam albergados em barracões, que em 1851 eram cinco e em 1866 chegavam aos trinta depósitos.

Grupo português investe 150 milhões num mega-shopping chinês

O maior investimento de uma empresa portuguesa em Paris, nos últimos anos, junta os interesses de Portugal, da China e de França num gigantesco centro comercial, com cerca de 1000 lojas de retalho e outros serviços como hotéis e restauração

[dropcap]C[/dropcap]om 400 lojas, uma área equivalente a 10 campos de futebol e um investimento de cerca de 150 milhões de euros, a construtora Alves Ribeiro inaugurou ontem o Silk Road Paris, o seu centro de venda a retalho nas imediações da capital francesa dedicado especialmente a produtos chineses.

O Silk Road Paris, que se situa junto ao aeroporto Charles de Gaulle, quer ser o centro de retalho de paragem obrigatória para os negócios da Europa com a China na área do vestuário, acessórios de moda e decoração, colocando retalhistas, maioritariamente de origem chinesa e radicados em França, em contacto directo com os compradores europeus.

Este é o primeiro investimento da Alves Ribeiro em França e a inauguração contou com a presença de altas figuras da política francesa, incluindo o antigo primeiro-ministro francês, Jean-Pierre Raffarin.

Raffarin é o actual conselheiro especial do Governo francês para os assuntos chineses e é apelidado “Monsieur Chine” pela sua vasta experiência nas relações com este país.

“O comércio é a melhor maneira de as pessoas se entenderem. E é por isto que este centro faz sentido. Este é um investimento português significativo porque se trata de um povo de comerciantes. E, tal como os chineses, são também bons interlocutores e bons trabalhadores. Estas são capacidades que nem sempre temos aqui em França”, afirmou o antigo primeiro-ministro.

Na inauguração esteve também presente o embaixador de Portugal em Paris, Jorge Torres Pereira, relembrando que, antes de assumir o posto em Paris, foi diplomata em Pequim, tendo acompanhado de perto o interesse da China em construir uma nova Rota da Seda e uma nova Rota Marítima da Seda no século XXI – ideia lançada pelo Presidente chinês Xi Jinping.

“Este investimento faz todo o sentido no laço comercial entre a China e a Europa. Portugal foi o primeiro país a fazer a rota marítima da porcelana e, por isso, esta é a continuação da nossa tradição de ligar os dois continentes”, disse Jorge Torres Pereira, reforçando que se trata de “um dos investimentos mais importantes dos últimos anos” de uma empresa portuguesa em França.

Yuanyuan Gao, conselheira económica da Embaixada da China em França, acompanha este investimento desde o primeiro momento e não faltou à cerimónia.

“Segui sempre este investimento porque se encaixa na construção conjunta desta nova rota da Seda, acabando por ser um projecto trilateral entre a França, a China e Portugal”, sublinhou a diplomata chinesa em declarações à Lusa.

Centro ocupado

O centro conta já com cerca de 30% das lojas ocupadas, maioritariamente pela comunidade chinesa. Segurança e melhores condições são as principais razões da mudança para este novo centro logístico.

“Antes estávamos em Aubervilliers e viemos aqui para investir e também porque onde estávamos era cada vez mais caro. As condições aqui são melhores, é mais agradável, é mais seguro e há melhores acessos para os nossos clientes”, referiu Julian, retalhista de origem chinesa de lingerie que já tem a sua loja instalada no Silk Road Paris.

Mas também as empresas portuguesas estão interessadas neste novo espaço. O Crédito Agrícola já tem um espaço neste centro para ceder às empresas portuguesas que queiram expor os seus produtos na capital francesa e apostar na internacionalização.

“Adquirimos aqui um espaço e vamos disponibilizar este espaço para os nossos clientes virem aqui expor os seus produtos e dinamizarem a sua actividade internacional”, disse João Barata Lima, director de Negócio Internacional do Crédito Agrícola.

Esta é a primeira fase do empreendimento da Alvez Ribeiro, que conta com mais duas parcelas de terreno adquiridas à volta do aeroporto Charles de Gaulle.

Mediante o sucesso do complexo Silk Road, a empresa portuguesa quer acrescentar mais lojas – num total de 1000 lojas de retalho – e outros serviços como hotéis e mais restauração.

Ponte HKZM | Média de 64 mil passageiros por dia desde a abertura

Desde que a Ponte HKZM entrou em funcionamento, a média diária de circulação de pessoas foi de 64 mil, cerca de metade do previsto para o ano de 2030. Mas Si Ka Lon considera que a opção de entrada em Macau pelo posto fronteiriço da Ilha artificial ainda não se reflecte na redução de visitantes que continuam a optar pelas Portas do Cerco

 

[dropcap]A[/dropcap] Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau recebeu uma média de 64 mil passageiros por dia desde que entrou em funcionamento, há um mês. Segundo os dados, divulgados ontem pelo Ministério dos Transportes da China, o número total de passageiros ascendeu a 1,79 milhões. O recorde na maior travessia sobre o mar do mundo foi registado no domingo, coincidindo com o Grande Prémio, dia em que foram contabilizados 103 mil passageiros.

Nove em cada dez veículos que cruzaram a ponte são ligeiros, entre os quais figuram os ‘shuttle’ que representaram quase metade do total.

A Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, com uma extensão total de 55 quilómetros, foi oficialmente inaugurada a 23 de Outubro e entrou em funcionamento no dia seguinte, ou seja, nove anos depois do lançamento da primeira pedra e mais de três décadas após ter sido idealizada.

De acordo com estimativas oficiais avançadas antes da abertura da Ponte do Delta, o volume diário de tráfego deve atingir os 29.100 veículos em 2030 e 42.000 em 2037, enquanto o volume diário de passageiros pode vir a rondar os 126.000 e os 175.000, respectivamente.

Desvio de turistas

Apesar dos números, o deputado Si Ka Lon considera que a alternativa da ponte para atravessar a fronteira com Zhuhai não se reflecte numa redução visível do número de pessoas que continua a optar pelo posto fronteiriço das Portas do Cerco. Em comunicado, o deputado considera que devem ser tomadas medidas para motivar os turistas a utilizar a Ponte HKZM.

Si Ka Lon sugere que os Governos de Zhuhai e de Macau coordenem políticas com o sector de turismo no sentido de orientar os visitantes para a travessia da Ponte HKZM e, desta forma, afastar os turistas do posto fronteiriço das Portas do cerco.

Paralelamente o deputado solicita ao Governo o aumento o número de transportes públicos que façam a ligação entre várias zonas do território a outros postos fronteiriços que não as Portas do Cerco, de modo a dar outras opções aos turistas que visitam Macau.

Saúde | Estudo da MUST diz que Macau se encontra bem posicionado a nível mundial

Os indicadores de saúde de Macau encontram-se num nível elevado comparativamente a outros países do mundo. É o que diz um estudo levado a cabo pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla em inglês) apresentado ontem

 

[dropcap]A[/dropcap] esperança média de vida dos residentes é de 84,6 anos, a quarta maior a nível mundial. Um número que figura como exemplo paradigmático de que Macau se encontra bem posicionado a nível mundial no plano dos principais indicadores de saúde, mas não é o único. É o que diz um estudo conduzido pela MUST, divulgado ontem.

Em conferência de imprensa, Zhang Jinghua, autora da investigação, destacou nomeadamente as baixas taxas de mortalidade do cancro ou das doenças cerebrovasculares e cardíacas, comparativamente a países como o Japão, Inglaterra ou Estados Unidos. Um feito que a académica atribui ao bom desempenho dos serviços de urgência e ao acompanhamento posterior, bem como à eficiência da prevenção.

Relativamente ao tempo de espera por tratamento, o estudo comparou Macau com o Canadá que, apesar de haver ricos recursos na área da saúde, tem um desempenho inferior à RAEM no tocante à demora pelos serviços médicos especializados nas instituições públicas.

Mais transparência no privado

Zhang Jinghua observou, porém, que há pouca transparência relativamente aos dados no âmbito dos cuidados de saúde prestados por entidades privadas, algo que, a seu ver, pode afectar a confiança da população nos cuidados oferecidos.

“Nos Estados Unidos, os hospitais privados são obrigados a divulgar dados para serem fiscalizados. Por isso, se no futuro o mercado for mais transparente, acredito que a qualidade dos serviços será melhor garantida”. Além disso, sinalizou Zhang Jinghu, a falta de transparência pode dificultar o processo de responsabilização em caso de disputa entre médicos e pacientes.

Saúde | Detectados 27 novos casos de VIH até Setembro

[dropcap]M[/dropcap]acau sinalizou, nos primeiros nove meses do ano, 27 novos casos de VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana), indicam dados disponibilizados no portal dos Serviços de Saúde.

A Comissão da Luta Contra a SIDA realizou ontem a segunda reunião plenária do ano, mas no comunicado divulgado a propósito apenas são referidos os casos relativos aos residentes (15). Já os casos declarados como SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) entre Janeiro e Setembro foram nove – todos relativos a residentes de Macau.

O sexo masculino mantém-se como o mais afectado: 23 dos 27 novos casos de VIH e todos os nove que evoluíram para SIDA. A faixa etária mais atingida foi a compreendida entre os 20 e os 39 anos. Entre as infecções por VIH sinalizadas entre Janeiro e Setembro há registo de um homem com mais de 70 anos.

A via de transmissão predominante continuou a ser a sexual – com 14 dos novos casos de VIH adquiridos por contacto homossexual, seis por heterossexual e dois por bissexual. Desconhece-se a via de transmissão nos restantes cinco.

Relativamente à forma como foram detectados, os dados disponíveis no ‘site’ dos Serviços de Saúde indicam que a maioria foi revelada por entidades médicas (18). Sete casos foram descobertos após a realização voluntária de exames, enquanto um no Centro de Prevenção e Tratamento de Tuberculose e no Estabelecimento Prisional.

No cômputo do ano passado foram sinalizados 33 casos de VIH e nove de SIDA.

Segundo o comunicado a respeito da reunião da Comissão de Luta Contra a SIDA, a secretária-geral, Leong Iek Hou, anunciou que a rede de serviços de testes rápidos de VIH gratuitos vai ser alargada, bem como uma maior promoção do sexo seguro junto das diversas comunidades, designadamente através da introdução de preservativos nos quiosques automáticos.

Deputados querem trocar a palavra “vigiar” por “fiscalizar” para descrever actuação da PSP

[dropcap]N[/dropcap]a actual versão da proposta de lei do Corpo da Polícia de Segurança Pública (CPSP) define que cabe aos agentes “vigiar comportamentos susceptíveis de perturbar a tranquilidade e o normal quotidiano das pessoas”.

Um tipo de linguagem que não agrada aos deputados da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, que pediram a substituição da palavra “vigiar” por “fiscalizar”. Os tribunos entendem que o termo pode ser mal interpretado e mostraram preferência pelo uso de uma expressão “mais neutra”.

A informação foi avançada pelo presidente da comissão, Vong Hin Fai, após a reunião de ontem que contou com a presença do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.

De acordo com Vong Hin Fai, apesar da maioria dos deputados concordarem com a nova norma, houve quem sugerisse que o articulado fosse melhorado semanticamente. Neste sentido, apontaram a substituição da palavra “vigiar” por “fiscalizar” para “evitar diferentes interpretações sobre esta norma”, disse Vong, até porque “podem surgir dúvidas sobre os comportamentos alvo de vigilância”.

A proposta, no entanto, não define que comportamentos podem ser considerados como sendo “susceptíveis de perturbar a tranquilidade normal quotidiano das pessoas”.

De acordo com Wong Sio Chak, trata-se de situações que implicam a concentração de pessoa na via pública. “O secretário citou três exemplos: no Grande Prémio, os concertos, ou nos casos em que associações civis organizam eventos, como a distribuição de arroz, nos espaços públicos”, disse Vong Hin Fai. “Os tipo de comportamentos não estão definidos na lei mas vai caber à policia determinar quais são”, acrescentou.

Sem alterações

Os deputados pediram ainda esclarecimentos acerca das medidas cautelares que, actualmente, têm de ser comunicadas à autoridade judiciária de imediato para que possam ser executadas e que passam a ser feitas apenas quando se tratarem de casos de crimes que exijam a intervenção da polícia criminal.

O secretário para a Segurança entende que o articulado se deve manter. “Segundo a lei actual, a PSP quando recorre às medidas cautelares tem de observar os princípios da legalidade e da proporcionalidade e segundo a resposta do secretário, o Código do Procedimento Administrativo (CPA) também já prevê estes princípios.

Portanto, o secretário entende que há que manter a redacção desta norma”, referiu o deputado que preside à comissão.

Alguns membros questionaram ainda se as pessoas, a título particular, devem colaborar com o CPSP quando solicitadas, mas o “secretário salientou que esta colaboração tem que ser solicitada nos termos legais: segundo as disposições do código de procedimento penal ou outros. Só aqui a PSP pode solicitar a colaboração dos particulares”, disse Vong.

Chegou ontem ao fim a discussão na especialidade do articulado da proposta que define as competências e organização do CPSP. O parecer deve ser emitido no mês de Janeiro, tal como foi solicitado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng.

Função Pública | Sugerida reorganização do pessoal da área jurídica

[dropcap]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, foi ontem confrontada com sugestões de dois deputados quanto à necessidade de reestruturação dos serviços da Administração para uma eficaz distribuição de juristas.

O deputado José Chui Sai Peng defendeu a divisão de todos os juristas por vários departamentos. “Uma parte dos juristas estaria nos serviços públicos e outra parte na Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça e secretários. Quando fosse necessário, os serviços públicos poderiam requerer o destacamento de pessoal para uma melhor eficiência dos trabalhos. É como comprar um livro, depois de o ler posso emprestá-lo a outra pessoa”, disse.

Sónia Chan admitiu estar aberta a esta possibilidade de reorganização. “Vamos pensar sobre isso, é uma boa ideia. No entanto, os serviços públicos nem sempre querem destacar os seus bons juristas para outros serviços. São poucos os profissionais que têm pouco ou nenhum trabalho, pois temos muitos procedimentos administrativos e acções em tribunal”, explicou.

Também Ho Ion Sang defendeu uma concentração dos juristas “num só serviço, para que haja uma menor divergência em termos de produção legislativa”. O deputado criticou também o facto do Governo não ter cumprido o seu plano legislativo anunciado o ano passado.

“Um total de sete propostas de lei ainda estão em processo de elaboração. Este ano muitas propostas de lei foram-nos apresentadas e outras já foram submetidas a consulta pública há muitos anos e ainda não chegaram a este hemiciclo, como é o caso da lei de protecção dos consumidores. Parece que o actual mecanismo de coordenação da produção legislativa não está a surtir os devidos efeitos”, frisou o deputado.

Titulares de principais cargos | Coutinho questiona regalias em cartaz

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho levou ontem um cartaz para a sessão plenária onde criticou a disparidade de regalias atribuídas no seio da Função Pública. Os caracteres chineses diziam que “os trabalhadores da primeira classe têm vilas para viver, pensões de aposentação, subsídio de residência, despesas de representação, viagens em primeira classe, cozinheiros e pessoal auxiliar para as tarefas domésticas”.

Por outro lado, “os trabalhadores de segunda classe não têm pensões de aposentação, habitação. Não têm, na sua maioria, o que têm os outros”. No caso dos “trabalhadores de terceira classe, trabalham por hora, com contratos de tarefa e de aquisição de serviços”.

A secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, refutou estas acusações. “Não há diferentes níveis, cada um tem o seu trabalho e responsabilidades”, rematou.

IACM | Urso Bobo vai mesmo ser embalsamado, apesar das críticas de Sulu Sou

[dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou levou ontem a plenário a questão da morte do urso Bobo, que vivia no jardim da Flora e que faleceu esta semana com 35 anos de idade. Sulu Sou questionou a decisão das autoridades de proceder ao embalsamento do animal, tendo mostrado à secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, um cartaz que tem circulado nas redes sociais.

“Depois da questão das más condições dos galgos no Canídromo, as pessoas estão contra o embalsamento do urso”, apontou. Contudo, esta acção vai mesmo avançar, revelou José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).

“Nas regiões vizinhas os animais são embalsamados, e esperamos que a história se possa manter. Isto também ajuda a uma maior consciência por parte da população sobre a importância da preservação dos animais, espero que possam compreender”, frisou.

Sufrágio Universal | Sónia Chan justifica-se com novos membros do IAM

[dropcap]S[/dropcap]ulu Sou, Au Kam San e Ng Kuok Cheong, os três deputados do hemiciclo do campo pró-democrata, questionaram ontem a secretária para a Administração e Justiça sobre a falta de referência do desenvolvimento democrático no relatório das LAG. Sónia Chan justificou-se com a introdução dos dois novos membros na comissão eleitoral do Chefe do Executivo, oriundos do futuro Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), além de ter falado das alterações já feitas às leis eleitorais.

“O Governo presta muita atenção aos elementos democráticos do sistema político”, começou por dizer. “Na alteração da lei eleitoral para a Assembleia Legislativa reforçámos o combate à ilegalidade nas campanhas eleitorais, o que correspondeu aos princípios da transparência pedidos pela população. O IAM vai ter dois membros que vão integrar a comissão eleitoral. No futuro vamos continuar a fazer estudos e a ouvir a sociedade para aperfeiçoamento do sistema político”, rematou.

Au Kam San questionou mesmo se a eleição do Chefe do Executivo por uma comissão eleitoral de 400 pessoas irá manter-se para sempre. “Não houve nenhum avanço democrático com essa alteração. A eleição num pequeno círculo vai ser permanente? Temos de pensar nesta questão”, frisou o deputado.