FSS | Mais de 370 mil pessoas recebem sete mil patacas de bónus Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] Fundo de Segurança Social (FSS) publicou ontem a lista de atribuição de verbas extraordinárias no âmbito do regime de previdência central não obrigatório, verbas essas que saem dos saldos orçamentais. De acordo com um comunicado, há mais de 371 mil pessoas incluídas na lista, sendo que mais de 155 mil pessoas estão excluídas. Será, portanto, acreditado um valor de sete mil patacas às contas individuais, sendo que as pessoas que irão receber este montante não necessitam de tratar de nenhuma formalidade. Além disso, os titulares que têm direito à atribuição de verba pela primeira vez podem ter ao mesmo tempo o direito à atribuição da verba de incentivo básico no valor de 10 mil patacas. Os indivíduos não incluídos na lista vão receber a notificação em caso de terem completado 65 anos de idade ou não sejam incluídos na lista pela primeira vez. Para se estar incluído, é necessário ser residente permanente da RAEM e ter completado 22 anos de idade até 31 de Dezembro de 2018, encontrar-se sobrevivo em 1 de Janeiro de 2019 e ter permanecido, pelo menos, 183 dias na RAEM no ano passado. Os indivíduos excluídos podem reclamar caso considerem ter direito a este montante extraordinário. O direito ao montante atribuído este ano prescreve no prazo de três anos. TUI | Wong Sio Chak perde caso de trabalho ilegal Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância decidiu que o facto de uma mulher de uma empresa de Hong Kong ter vindo cerca de 61 dias, durante dois anos, a Macau prestar apoio e serviços técnicos a uma companhia local não é considerado trabalho ilegal. A decisão confirma a mesma leitura do Tribunal de Segunda Instância, mas é contrária à posição de Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, e do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). O caso foi detectado pela CPSP que considerou que se tratava de trabalho ilegal e revogou a permissão da mulher para estar em Macau. Além disso, aplicou a proibição de entrada durante três anos à mulher. Ao mesmo tempo, a DSAL havia aplicado uma multa de cinco mil patacas. Porém, segundo o TUI, o CPSP e o secretário para a Segurança não tiveram em conta que o regulamento sobre a proibição do trabalho ilegal tem excepções. Assim, as pessoas podem trabalhar nas condições da mulher desde que haja um acordo entre empresas fora de Macau e outras sediadas na RAEM, como acontecia, e desde que o período de trabalho não exceda os 45 dias, no período de seis meses. “A arguida foi destacada para a prestação, ocasional, de serviços técnicos a uma sociedade em Macau, no âmbito de um acordo celebrado, entre uma empresa de Hong Kong e outra de Macau […] sendo a sua permanência na RAEM apenas, em média, de cerca de 2.5 dias por mês e não superior a 45 dias, consecutivos ou interpolados, por cada 6 meses”, destacou o TUI. “Assim, não é de considerar trabalho ilegal essa prestação de serviços técnicos”, foi acrescentado na decisão. Urgente lei que limite idade de consumo de álcool, diz Lam Lon Wai Sofia Margarida Mota - 13 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Lam Lon Wai quer mais controlo do consumo de álcool no território, especialmente por parte dos jovens. Para o efeito, interpela o Governo acerca da calendarização precisa da consulta pública a este respeito, agendada para o segundo semestre deste ano, pois teme que com as eleições para o Chefe do Executivo e com as comemorações dos 20 anos da RAEM e do 70.º aniversário da República Popular da China, a medida venha a ser indefinidamente adiada. Para o tribuno com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), trata-se de uma medida urgente tendo em conta a forte exposição dos jovens ao consumo de bebidas alcoólicas que, considera estará na base de consumos excessivos na idade adulta. Estatística aplicada Para sustentar o pedido, Lam recorre aos dados estatísticos. “Em 2018, um inquérito feito aos jovens levado pelo Governo revelava que 21,75 por cento dos inquiridos já tinham ingerido bebidas alcoólicas, o que representa um aumento de 1,31 por cento em relação aos 20,44 por cento registados em 2016”, lê-se. Uma outra pesquisa acerca do comportamento dos alunos do ensino secundário indicou que “quase 80 por cento dos estudantes já tinham sido expostos a bebidas alcoólicas”, sendo que “cerca de um terço disse que tinha bebido antes dos 13 anos”. Para Lam Lon Wai, os jovens que saem à noite estão mais sujeitos a riscos sendo que “90 por cento destes jovens têm hábitos de abuso de álcool”. Neste contexto, Lam conclui que “os números mostram que a exposição dos jovens ao álcool tem efeitos negativos e é necessário fortalecer o controlo para manter os jovens longe do consumo de bebidas alcoólicas”. Lam recorda que os Serviços de Saúde já têm planos para realizar uma consulta pública sobre o limite mínimo de idade para consumo de álcool e a proibição da promoção de bebidas alcoólicas junto dos mais novos, mas teme que dadas as efemérides deste ano, o processo possa ser adiado. Para o deputado, trata-se de uma medida urgente que que coloca Macau a par de outros países nesta matéria. “Em Hong Kong, a implementação da nova lei de controlo de álcool, no final do ano passado, proíbe qualquer pessoa de vender e fornecer bebidas a menores de 18 anos através de distribuição presencial ou remota, sendo as empresas infractoras condenadas a uma multa de 50.000 yuan”, exemplifica. Já “em Macau, não existem regulamentos relevantes pelo que o trabalho de controlo de álcool tem uma certa urgência, e as autoridades precisam de recuperar o atraso nesta matéria”, lamenta. O aumento do imposto sobre as bebidas alcoólicas é outras das sugestões deixadas por Lam Lon Wai de modo a restringir a sua compra. “A fim de fortalecer o exercício de controlo de bebidas alcoólicas, o Governo vai considerar aumentar o imposto sobre as bebidas alcoólicas e mesmo implementar taxas especiais sobre bebidas alcoólicas?”, questiona. O Brexit e a China Jorge Rodrigues Simão - 13 Jun 2019 “China is ready to take advantage of a divided Europe and weakened UK after Brexit.” China and Brexit: what’s in it for us? François Godement & Angela Stanzel [dropcap]O[/dropcap] polémico político, académico, escritor e poeta britânico, John Enoch Powell, que foi deputado pelo Partido Conservador do Reino Unido de 1950 a 1974, do Partido Unionista do Ulster de 1974 a 1987, e ministro da Saúde do Reino Unido de 1960 a 1963, afirmou que todas as carreiras políticas na Grã-Bretanha terminam em lágrimas. A primeira-ministra demissionária Theresa May, não falhou à regra e as suas palavras mostraram essa verdade não apenas figurativamente, mas literalmente. A primeira-ministra demissionária anunciou em 24 de Maio de 2019 que deixaria o cargo a 7 de Junho de 2019, e viu-se o seu rosto consumido de emoção e lágrimas nos seus olhos. Foi um balde de água fria para terminar um período caótico e, para muitos, inglório. A primeira-ministra demissionária foi derrotada quando sucedeu a David Cameron em 2016, mas jogou de forma notavelmente funesta. Os seus quase três anos no cargo foram consumidos pela questão do Brexit. Apesar disso, deixa ao seu sucessor a questão de como será alcançado. Theresa May cometeu sérios erros estratégicos ao tentar cumprir o resultado do referendo de Junho de 2016 para o Reino Unido sair da União Europeia (UE). A primeira-ministra demissionária tinha um mandato para começar as negociações infames, mas ninguém sabia exactamente qual o caminho a percorrer. A primeira-ministra demissionária descobriu que havia uma enorme gama de opções, e nenhuma delas teve amplo apoio público. Theresa May provou ser uma vendedora pobre para uma forma de Brexit que todos poderiam, até certo ponto, aceitar. Quando Theresa May se tornou primeira-ministra, sem oposição, no verão de 2016, mesmo os que haviam votado para permanecer na UE estavam dispostos a admitir a contragosto, que o enorme exercício democrático havia produzido um resultado que precisava de ser implementado. Naqueles primeiros meses, Theresa May teve a oportunidade de persuadir, e fazer o que os políticos deveriam ter feito, que era promover um resultado político específico através de uma boa comunicação e convicção. O movimento inicial de Theresa May, no entanto, como um eleitor remanescente foi tentar provar ao seu partido que era uma verdadeira convertida à causa do Brexit. Os seus comentários tipo linha dura na conferência do Partido Conservador, no Outono de 2016, foram o “Brexit significa Brexit” e não poderia haver compromissos, sendo o primeiro aviso de que seria uma refém da fortuna. Os eventos deveriam desdobrar-se com uma inevitabilidade trágica quase grega depois disso. Primeiro foi a decisão de accionar o desprezível artigo 50 do Tratado de Lisboa de 2009 que, muito brevemente, estabelece o mecanismo pelo qual os Estados-membros da UE podem sair. A única estipulação é que o processo levaria dois anos, sem detalhes sobre como exactamente seria alcançado. Antes de ter um plano de batalha claro, e em grande parte pressionado pela linha dura do seu partido, Theresa May accionou o artigo 50 em Março de 2017. A partir desse momento, perdeu o controlo de uma das poucas alavancas que tinha, que era o tempo. O seu segundo erro foi subestimar a complexidade da questão da fronteira com a Irlanda do Norte. A Irlanda do Norte, consumida por conflitos sectários durante boa parte de 1969 e anos seguintes, teve o Acordo de Sexta-Feira Santa de 1998, que consolidou uma paz sustentável. Mas dependia de não haver uma fronteira rígida entre a Irlanda do Norte, que permanecia sob domínio britânico, e a República da Irlanda, no sul. O desejo de se separar completamente do mercado comum e da união alfandegária da UE, fizeram os negociadores de Theresa May enfrentar o problema intratável da necessidade de uma fronteira rígida com os controlos alfandegários na Irlanda, ou não ter, mas conseguir algum tipo de adesão ao mercado da UE. Tratava-se de um mecanismo para lidar com tal facto e que se comprometeu com uma fronteira suave, mas em um período de tempo indefinido, sendo um dos muitos aspectos do acordo final que conseguiu negociar com a UE e apresentar ao parlamento no final de 2018. A rejeição pela maior votação de sempre significaria o fim da maioria dos líderes. Mas tão extraordinários foram os tempos em que foi primeira-ministra, tendo efectivamente sido capaz de fazer o mesmo acordo perante a Câmara dos Comuns, o principal órgão legislativo, mais duas vezes. A sua queda final foi devido a uma nova tentativa de tentar aprovar esse acordo, o que tornou inaceitável até para os seus defensores mais fiéis. Apesar do Reino Unido ser uma sociedade dividida, Theresa May demonstrou uma incrível resiliência diante de um parlamento e de um partido muitas vezes em guerra consigo mesmo, com profundas divisões que pareciam piorar em vez de melhorar. O Partido Conservador está dividido desde há muitas décadas entre os que apoiam a UE e os seus membros, e os que consideram uma afronta à soberania por um super-estado liderado por Bruxelas, ao estilo continental, na esperança de reduzir o Reino Unido à servidão. Por um lado, o ónus está no pragmatismo, olhando para os benefícios económicos que a adesão à UE dá e por outro, no entanto, na identidade que é importante. Tais divisões são reflectidas na sociedade em geral. E com efeito, enfrentam-se em dois grupos que simplesmente não falam a mesma língua. Não admira que tenha sido difícil para Theresa May chegar a negociar um compromisso. A sua posição mudou durante o breve período da sua liderança, quando reconheceu os enormes desafios enfrentados pelo Reino Unido no modelo de saída. Longe de se fragmentar, o resto da UE permaneceu consistente no seu conjunto de desafios, dando a Theresa May pouco espaço para negociação. Theresa May não foi ajudada pelos independentes, e muitas vezes com a liderança inútil nos Estados Unidos após 2017 e a chegada do presidente Donald Trump ao poder. As grandes declarações do presidente Trump aconselhando-a de que só necessitava de sair da UE sem medo das consequências não eram os sentimentos da maioria do povo britânico, que mostrou que se importava com a sua prosperidade económica no futuro e a ameaça não é um acordo. Para outros, a sua crença sincera era de que havia oportunidades fora do mercado que a UE oferecia, mas a partir de meados de 2019, estes parecem esquivos. A saída de Theresa May deixará o Brexit mais próximo de uma solução do que há quase três anos. O seu sucessor precisará de encontrar o consenso que não conseguiu, ou lidar com a implementação de algo que não seja tão propenso a antagonizar e irritar quantas pessoas desejar. Ainda pior, há toda a possibilidade de que o resultado final desaponte todo o mundo. Trata-se de uma sucessão espinhosa, mas que fez sair Theresa May no momento certo. Há claramente um enorme acerto de contas para os políticos que são vistos como incompetentes e movidos pelo interesse próprio e não pelo bem da nação. É de considerar no entanto, que a mais profunda raiva talvez seja para aqueles cujas promessas, argumentos e declarações, dados com tanta confiança nos últimos anos, sobre como é fácil deixar a UE e como as negociações acabarão por terminar terão um enorme impacto. Se o Brexit for forçado a não negociar, e houver consequências económicas negativas imediatas, então a era de Theresa May poderá ser vista com alguma nostalgia e, ao contrário de alguns dos seus antecessores, como Tony Blair e David Cameron, pelo menos desfrutará de alguma simpatia, como uma pessoa que tentou fazer o melhor possível em circunstâncias impossíveis. Tal indulgência caritativa quase certamente não será concedida ao seu sucessor e há todas as possibilidades de que o Partido Conservador, depois de três séculos como uma força política no Reino Unido, possa ser consignado ao estatuto de partido minoritário, ou mesmo ao completo esquecimento. Se o sucessor de Theresa May falhar em um Brexit suave, pode significar o fim do Partido Conservador britânico. A Grã-Bretanha sofrerá pesadas perdas económicas com a iminente saída, já que está economicamente e altamente integrada na UE. Embora possa procurar mercados alternativos, o custo será alto e não será realizado imediatamente, sendo que uma das vantagens notáveis da Grã-Bretanha é o estatuto de Londres como centro financeiro internacional. Mas a saída da UE pode diminuir o papel do país nas finanças globais e é provável que afaste os investidores estrangeiros. O Citigroup estimou que o PIB anual da Grã-Bretanha pode diminuir entre 3 a 4 por cento nos próximos três anos devido à saída. O relacionamento da Grã-Bretanha com o resto do mundo também será afectado. Tem de recuperar de alguma forma a voz única e ressonante nos assuntos mundiais, uma vez rompidos os laços com a UE. No que diz respeito aos assuntos europeus, pelo contrário, a Grã-Bretanha terá menos direitos a participar na tomada de decisões no futuro. Os Estados Unidos também perdem um canal para exercer influência na UE por meio da sua estreita parceria com a Grã-Bretanha. A “relação especial” entre os dois países mudará de maneira subtil. A divisão política na sociedade britânica ampliou-se após o referendo. Os eleitores do “Pro-Leave” derrotaram os que apoiaram a campanha do “Remain” por menos de 4 por cento ou seja um milhão e duzentos mil eleitores. Além disso, muitos cidadãos podem enfrentar incertezas quanto à sua vida, emprego e rendimento devido ao referendo, agravando ainda mais os “remanescentes”. O primeiro-ministro escocês afirmou que um segundo referendo sobre a independência da Escócia era “altamente provável”. A Escócia, Irlanda do Norte e Londres são três áreas em que a maioria dos eleitores apoiou a campanha “Remain”. A ameaça à unidade nacional da Grã-Bretanha está a crescer. O Brexit é também um duro golpe para a UE e uma grande conquista da integração regional que os europeus fizeram nas últimas décadas. Dentro da UE, há livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capital, o que muitas vezes é considerado o ápice dos esforços para alcançar a unidade humana no mundo. No entanto, o eurocepticismo tem vindo a aumentar no continente ao longo dos últimos anos. Depois do referendo sobre a adesão da Grã-Bretanha à UE, as pessoas temem que mais Estados-membros sigam o exemplo, embora essa reacção em cadeia pareça improvável, o processo de integração europeia sofreu um revés significativo. Actualmente, tanto a economia europeia como a mundial permanecem frágeis, com o Brexit apenas a aumentar a incerteza global e como uma das maiores economias do mundo, o impacto da Grã-Bretanha permanece perceptível. No dia em que o resultado foi anunciado, a libra esterlina caiu, resultando em flutuações cambiais internacionais e vendas de acções recorde. A China mantém estreitos laços económicos com a Grã-Bretanha e a UE, pelo que o Brexit inevitavelmente terá alguma influência nas relações China-Reino Unido. Se o Reino Unido deixar de fazer parte do mercado único da Europa, deve reforçar os laços comerciais com outras regiões. Nesse contexto, o fortalecimento das relações chinesas seria uma opção lucrativa para a Grã-Bretanha, especialmente se o comércio britânico se desviar significativamente da UE. Além disso, a Grã-Bretanha estaria livre para acordar com a China sobre livre comércio e investimentos bilaterais sem as restrições impostas pelas leis da UE. De acordo com o Tratado de Lisboa, os membros da UE não estão autorizados a firmar acordos de livre comércio ou acordos bilaterais de investimento com terceiros. Todavia, a China perderia a Grã-Bretanha como uma porta de entrada para aceder ao mercado da UE e promover o uso do renminbi na Europa. Além disso, a Grã-Bretanha poderia ser menos atraente para o investimento estrangeiro depois de sair da UE, mas não perderia a sua vantagem competitiva nas indústrias. O investimento directo da China na Grã-Bretanha pode ser influenciado negativamente, mas não deve cair drasticamente. É bastante simples a China interpretar a estratégia da Grã-Bretanha. O Reino Unido pode parecer um local de investimento muito mais aberto para as empresas da China, ainda que desvinculado dos mercados europeus e, muito menos atraente como uma possível porta de entrada para o continente. Além disso, a influência internacional do sector de serviços financeiros de Londres deve ser significativamente reduzida pela perda dos chamados direitos de passaporte, e isso tem o potencial de afectar a ambição da cidade de assumir um papel de liderança na internacionalização da moeda chinesa. Para os cidadãos chineses que desejam estudar ou trabalhar no Reino Unido, a situação mudará. A Grã-Bretanha removida da Europa poderia oferecer mais oportunidades, ou poderia ser menos atraente; sendo menos internacional e mais paroquial. Tendo-se tornado mais isolado diplomaticamente, o Reino Unido será visto no pensamento político chinês como um actor muito menor e menos importante. Infelizmente, essa atitude em particular e o que conduzirá não foi tida em consideração por muitos eleitores britânicos em 23 de Junho de 2016 e se contentarem em viver com as consequências, teremos que esperar e ver, independentemente da situação. Os ingleses defendem que a Grã-Bretanha e a China devem aproveitar oportunidades excepcionais para forjar uma parceria global mais próxima na era pós-Brexit. Os dois países poderiam aumentar ainda mais a sua cooperação nos campos do comércio, investimento, energia limpa e outros, enfrentando desafios globais. A Grã-Bretanha está disposta a renovar o seu entusiasmo pelas relações internacionais, especialmente com a China. O Reino Unido no mundo depois do Brexit, continuará a negociar com a UE e para muitas empresas chinesas e investidores que estão sediados na Grã-Bretanha, ainda é um bom local para fazer parte da Europa. O relacionamento da Grã-Bretanha com a China é um bom exemplo do seu internacionalismo, que entrou em uma nova fase na “era de ouro” e na sua estratégia industrial recém-lançada, tendo o governo britânico identificado a transição energética como um dos principais desafios globais e a melhor solução para os solucionar é quando os países podem trabalhar juntos, sendo de recordar que ambos construíram uma base sólida de cooperação nessa matéria. O projecto Hinkley Point C não é apenas o maior investimento em energia do Reino Unido, mas também o maior projecto de investimento em infra-estrutura na Europa, sendo um bom exemplo de como a cooperação em energia limpa pode funcionar como um pilar da parceria internacional. O projecto de dezoito mil milhões de dólares, com um terço do investimento feito pela China, foi descrito como a primeira nova central nuclear da Grã-Bretanha em uma geração. Através do Acordo de Paris, tanto a Grã-Bretanha quanto a China assumiram compromissos muito significativos sobre as alterações climáticas e um dos desafios é ter certeza de que a Grã-Bretanha pode cumprir os seus compromissos a um custo acessível. O propósito da Grã-Bretanha participar no Diálogo Europeu de Energia é o de procurar oportunidades para a cooperação de energia renovável em uma ampla gama, incluindo a energia eólica offshore, pois estabeleceu uma posição de liderança neste campo, e o custo de energia foi efectivamente reduzido com a aplicação da tecnologia eólica offshore, esperando que a energia limpa seja acessível tanto para os consumidores quanto para as empresas, tendo a ambição de reduzir o custo da energia. A Grã-Bretanha está também interessada na iniciativa Made in China 2025, pois o mundo testemunhou mudanças maciças e empolgantes que ocorrem onde grandes revoluções tecnológicas têm vindo a transformar quase todos os sectores da economia, assim como a vida das pessoas. A China e o Reino Unido têm visões idênticas sobre as tendências globais, como o envelhecimento da população, e ambos elaboraram planos de acção para desenvolver a inteligência artificial, análise de dados e outros sectores para abraçar mudanças tecnológicas e construir forças económicas. Quando me pus a semear lebres Luís Carmelo - 13 Jun 20196 Mar 2020 [dropcap]C[/dropcap]omeço a crónica de hoje com o depoimento de Inácio Crespim, antigo acarretador de São Romão (Vila Viçosa), entrevistado nos anos de 1994-1995 por Luís Silva para um livro que foi publicado em Maio do ano passado, intitulado ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana’*. “O meu pai nunca abalava do moinho, só estando doente é que não dormia lá.” (…) “Tinha uma tarimba lá dentro do moinho” (…) “era ali a tarimba, era ali que ele dormia e encantado da vida. A cama era uma esteira de buinho [com] uma manta ali em cima da esteira. Em ouvindo o chocalho, lá se levantava para encher a moega. Enchia, punha a argola do chocalho na cegonha e, depois, ficava descansado até que se acabasse aquele trigo na moega”. A vida dos seareiros, moleiros, farineiros, atafoneiros e acarretadores (ou maquilões) é hoje totalmente desconhecida. A ignorância avança ao lado dos cultos do saber. Eram vidas muito duras e particularmente solitárias. Antes de a indústria da moagem se ter desenvolvido, era dentro dos moinhos que o cereal se moía, produzindo-se a farinha que é essencial para o pão. A água dos rios era a fonte de energia e o resto equivalia a um intenso episódio braçal, claustrofóbico, quase místico. Em 1786, três anos antes da revolução francesa, um “Código de Posturas” publicado em Mourão dava conta das restrições a que a actividade dos moleiros (e dos atafoneiros) estava sujeita: “Os moleiros e atafoneiros serão examinados com juramento de fazerem verdade, e os moleiros e atafoneiros tomarão também juramento de fazerem verdade e ninguém poderá ver moleiro em moinho ou acenha, ou atafona sua… nem terão suas molheres nas ditas moendas, nem ainda em taes fazendas que tragão arrendadas, nem terão cão, nem galinhas, nem porco, nem cavalgadura sua nas ditas moendas, nem ao redor dellas, nem em suas casas. E terão gato ou gata para os ratos, e terão alqueire de.., meio alqueire de pão, e maquieiro e meio maquieiro e tudo aferido e affillado pello aferidor do Concelho nos primeiros oito dias de Janeiro e Julho de cada anno, de que tirarão sequestro, e terão sempre panais postos nas moendas e… de farinhas, e nas moendas andarão descalços, e no principio de cada anno darão fiança sob pena de pagarem por qualquer desttas couzas não cumpridas quinhentos reis e sob a mesma pena não comprarão vinho aos vinhateiros que forem aos moinhos, e nelles não venderão trigo nem farinha a pessoa alguma com pena de mil reis, e salvo emprazadores e senhorios dos moinhos, que tomem conhecimento do tal trigo e farinha que venderem, e duitamente do seu ganho”. É curioso como esta actividade estava sob juramento. Além do carácter votivo, não havia direito à sexualidade, ao vinho e à companhia de animais. Os gatos eram a excepção, o que se ficava a dever às exigências de higiene (onde se incluía, também, o uso de panos sobre a moenda – ou pedra mó – e a obrigação de não usar calçado). A fiscalização e a vigilância externas incidiam nas medidas a usar, na proibição de venda directa (a não ser com conhecimento dos donos dos moinhos) e ainda na caução a que os moleiros estavam obrigados (e cujos montantes eram subtraídos em caso de incumprimento). É difícil encontrar nos dias de hoje um contrato de trabalho com estas condições, a começar logo pelo juramento. No entanto, o triângulo aqui presente – baseado no cariz solitário da actividade, nas imposições de ‘higiene’ (que definiam o meio) e na vigilância externa – não é assim tão estranho às patologias, passe a metáfora, da vida contemporânea. Pensemos no modo como o mundo em rede, aparentemente um esteio de partilhas, é sobretudo um mundo solitário que se move ao jeito de um vaivém impessoal entre a perdição do olhar e os ecrãs tecnológicos. Trata-se de uma patologia a que ninguém consegue deixar de aderir (e até com a devida pulsão eufórica). Pensemos, por outro lado, na correcção que visa codificar a nossa vida através de regras rígidas (a maior parte não escritas) que liofilizam e ‘veganizam’ a higiene e o meio em que vivemos: nada de fumo, nada de gorduras, nada de touradas, nada de tabernas manhosas que dispensem as asaes. Trata-se de uma patologia a que o ‘mainstream’ tende a aderir com o apego das antigas ‘grandes causas’ (hoje parte das novas arqueologias). Pensemos, por fim, no modo como a tecnologia nos vigia e nos espia, tema, aliás, de uma das últimas crónicas aqui publicadas (“Lavadeiras, privacidade e ameaças”**). Trata-se de uma patologia que tudo e todos tendem a fingir que não existe. Não estamos assim tão longe de Mourão dos idos 1786. As clausuras do nosso tempo pós-Orwell caracterizam-se (vistas de cima com a ajuda de um drone) por uma correria paradoxal: os passeios enchem-se de multidões a correrem desenfreadamente sem saberem bem porquê e para onde. De tal modo assim é que, como dizia o antigo acarretador Inácio Crespim, ninguém parece ficar “descansado até que se acabe todo o trigo na moega”. Só que, hoje em dia, o trigo é imaterial e, quer o pão, quer os hamburguers já completos (e higiénicos até à medula), aparecem nas nossas mesas fresquinhos, como se tivessem acabado de sair da árvore do quintal. Eu, ao pé da minha, até costumo semear lebres – para não ter que as matar com uma boa estocada – e depois misturo-lhes alho, cebola, louro, alecrim, cravinho, chouriço (com muito sangue), nabo, 6 dl de vinho da Pêra-manca e, claro está, um belo arroz carolino, pois o integral – disse-me o senhor Crespim – faz mal às artroses. Bons feriados! *Silva, Luís, ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana – Uma visão antropológica’. Colibri, 2018, Lisboa. [Em linha]. (s/d). Disponível em https://run.unl.pt/bitstream/10362/50442/1/Livro_completo.pdf [Consult. 07-06-2019]. **Carmelo, Luís, ‘Lavadeiras, privacidade e ameaças’ em Hoje Macau. 23/05/2019. [Em linha]. (23-05-2019. Disponível em https://hojemacau.com.mo/2019/05/23/lavadeiras-privacidade-e-ameacas/ [Consult. 07-06-2019]. Quarentena: uma narrativa António Cabrita - 13 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]ascidos a bordo de um navio em quarentena, ao fim de uns anos engolfa-nos a ausência, ansiamos um abraço de sangue. A raros se concedeu – presumo que a suborno – soltura. O navio ficou ao largo por um período a prumo, que não cessa de indeterminar-se e aí a língua é o algeroz de onde pingam a esperança e o alfabeto do inferno. Divisamos de longe as luzes da cidade, adivinhando até ao sabugo os seus perfumes, a desabrida floração dos cometas no peito das raparigas, o rasto de anfetaminas com que os rapazes metem a terceira e repelem os mortos. Enquanto na nossa cabine ou no desabrigado convés tudo se repete, unânime, caliginoso. Dás conta, já não batem os sinos na cidade! Emudece a via láctea nos salmos que tingem o WhatsApp? No dia da boda uma borboleta, das que migra, transatlântica, veio ressacar ao corrimão do tombadilho e depois alumiou as bordas da piscina com a sua valsa imatura. Tudo quanto vislumbrámos das flores da costa. Ocorre o amor entre os convalescentes? Tudo indica que o homem é capaz de amar no próprio inferno, embora a solidão na proa não deixe de lembrar-nos que nunca mergulharemos duas vezes no mesmo vento. Ancorados ao largo da alegria, de quarentena, o capcioso brinde final destinar-te-á um breve toque de clarim, antes de amortalhado numa bandeira o teu cadáver ir lancetar o mar. Mataste o tempo, lendo a Oresteia e conviveste com as deambulações de Ulisses, também ele tardio e como tu enleado nos novelos da idade que ensimesma, e já reconheces na enlanguescida inteligência do antigo amante de Circe o declinar da tua. Estaria tudo bem se não visses que os teus filhos também nasceram a bordo e como se lhes emaranha nas veias uma bilha de gás e uma cabeça de fósforo. Aí revoltas-te! Apontas o canhão da proa e inflamas o horizonte com a tua veia derramada. Alba. O barrete realça, não esconde a cabeça de cachalote do marinheiro que subiu à gávea. Padeceriam igualmente os anjos desse peso transbordante, acima do pescoço rútilo? Um veleiro airosamente descalço adeja ao largo. No rádio passam Zappa, conduzido por Boulez – tudo se desloca nos meridianos aquosos. A quem devemos a quarentena do planeta? É tão escasso o pensamento, nestas anfractuosas tonelagens de ferro, que nos serve de guarida contra o íngreme entenebrecimento, contra a cegarrega que nos atou, é fugaz, mas dactilografa estrelas à superfície das águas, lépida doma dos néones, e aí intuímos: cada palavra é uma ilha e procura arquipélago. Saberá o urso que hiberna? Não tem clímax a noite, só tem ápice na queda. A noite é o seixo que rola no leito da tua vida; rola para a foz ou para a nascente? Alarma-te o enigma do teu corpo e da tua sombra bifurcarem na língua da cobra. Como traduzir a inconciliável corrente que os aparta em amuos incandescentes, não obstante partilharem o que tolda no copo de gim? Solução para o dilema: talvez em terra, mas, entretanto, retido em quarentena, apesar de desconheceres a combustão antropofágica da doença, a dúvida que não cala encapela-te os páramos do sangue. A inocência é que te tramou, enredou-te nas ramagens da noite – embora na orla das escotilhas já a luz da alba se ice, vagarosa, e a algazarra das cores se adiante, esta outra luz é mais um alinhavo frágil na bainha da mesma e idêntica noite que te ofusca, espectral. Contudo, por décadas a fio de quarentena encrespada nos gargalos, pode lá a escassez encaixar-se nas tuas linhas de sombra: basta ouvirmos o latido de um cão na costa e restituímos a pedra que sonha à tepidez da mão que enxagua a sua matéria exausta. Transpira o navio contra a quarentena, ondula. Lês na fornalha de Dante os glóbulos brancos do teu nome. Quanto tempo demora o limbo a fazer-nos compreender que desenhar as letras não nos emenda a escuridão? Tanto que vejo, sem adivinhar o quanto ensejo no que vejo. De quarentena, a vida de nós não se aproxima nem para a despedida. Embora tudo indique que o homem seja capaz de amar no próprio inferno. 08/06/2018 Relicário de sonhos I Gisela Casimiro - 13 Jun 2019 [dropcap]H[/dropcap]á alguns anos a esta parte, enquanto lhe contava um sonho, dos muitos que tenho, ou melhor, dos muitos que recordo, diagnosticou ou melhor, perguntou-me o Rui Zink se eu sabia que era grafomaníaca. Eu não sabia. Nem sabia o que isso era. Mas o Priberam explicou que era uma necessidade patológica de escrever ou de fazer registos gráficos, o hábito de escrever ou de registar graficamente muitas coisas. Poderia dizer que nunca mais fui a mesma mas mentir é feio. Continuei a sonhar e a registar os meus sonhos, e até os sonhos que amigos tiveram comigo, como o faço com os diálogos e peripécias que me acontecem, apenas agora exibindo esta condição incurável como uma curiosidade exótica. Não é muito melhor do que ter um transtorno obsessivo-compulsivo? Eu acho que sim. Mas na verdade, não poderia isto, também, ser considerado como tal? Adiante. A poucos dias do seu aniversário, deixo aqui uma pequena colecção, sem grande organização, análise ou interpretação, clínica ou mística, a este querido amigo e antigo professor meu (que não tem memória dos seus e estará, provavelmente, grato por isso) de alguns sonhos dos últimos anos. Há pessoas mesmo estranhas, não há? 2019 Sonhei que andava a mudar plantas mas, apesar de ter bastante à disposição, constantemente me enganava e colocava cacau em pó em vez de terra nos vasos. 2018 Sonhei que Jesus Cristo me visitava. Era um sonho agradável. Dizia-me o dia da minha morte, mas não do mês ou do ano. Em seguida, tive um sonho muito violento, mas acalmava-me dizendo: não é hoje que eu vou morrer. 2017 A noite passada sonhei que me ofereciam um trabalho de fim de semana como domadora/treinadora de elefantes e a formação consistia em passar tempo com o elefante mas sobretudo via lá no horário yoga yoga yoga yoga. 2016 Sonhei com sonhos. Esta noite sonhei que o meu romance estava terminado. Sonhei que ia passar o verão a Hong Kong. Mas antes estava nas traseiras do prédio dos meus pais a andar de bicicleta. E tinha um saco de viagem que não queria perder, então pensei, vou andar de bicicleta à volta do saco. Nas notícias falavam de um fugitivo. Outra noite sonhei que uma mãe e seu filho queriam ir para minha casa; tinham chaves e tudo, convencidos de que lhes pertencia. Recebia ainda um grupo de Masai em casa, e a minha tia. Discutimos e eu estava preocupada porque não sabia como acomodar tantas visitas inesperadas. E tinha de pensar nas minhas colegas de casa. Só que a minha casa não era a actual. Era a casa de uma ex-amiga minha. Sonhei que estava a vir de onde costumo lanchar às vezes no trabalho mas agora de repente, a meio do caminho, estava grávida, já em estado avançado, e conseguia ver o meu bebé através da barriga e da roupa, como se fosse transparente de algum modo. Sorria para mim. 2015 (Depois de ser operada ao estômago) Sonhei que me via a comer comida normal antes de tempo e ficava com medo de morrer. Tentava avisar-me a mim mesma para parar, mas era como se estivesse a pairar no tecto e não me ouvia. Uma visão do horror. Cheia de medo que me rebentasse o estômago. Sonhei que tinha cancro. Era um sonho muito atribulado. Eu sabia que tinha porque os meus médicos queriam reunir-se comigo e um deles deixou a noiva no altar à espera para ir à reunião. Por algum motivo tinham de me amputar as duas pernas. Eu ia lá para a o fazerem, e quando a médica começava a preparar tudo eu dizia que não queria e que não conseguia lidar com aquilo. E percebia que também não tinha dito a ninguém, porque me imaginava a aparecer em casa dos meus pais, era o dia do aniversário do meu pai,, e a cara da minha mãe ao ver-me com próteses. Sonhei que havia uma pessoas que queriam encomendar rissóis e croquetes à minha mãe. Mas era só uma desculpa para nos fazerem mal. A minha mãe não estava em casa e eu e mais pessoas (?) fazíamos de tudo para afastá-las. Só sei que, quando finalmente mandei mensagem à minha mãe a avisar, de repente a vi a caminho, mas estava careca. Entretanto um miúdo e uma miúda que eu sabia fazerem parte do tal grupo vieram ter comigo, agora sim só comigo, e conversámos muito mas eu continuava sem querer confiar neles. Que sonho parvo. A parte dos miúdos, contudo, era pesada, intensa. Não me lembro da conversa, apenas da sensação. Eventualmente a minha mãe chegava a casa. Não me lembro de mais nada. Sonhei que a minha mãe nunca mais se levantava e o meu pai queria dar-lhe umas prendas. Ele estava sentado à mesa, cabisbaixo. Havia coisas para ela mas também havia um helicóptero dourado, enorme. Ele dava uma boneca que andava e falava à minha irmã. No sonho eu via a minha irmã no escuro, sentada na cama, com a boneca gigante ao lado, do tamanho dela. Apesar de o helicóptero estar lá e ser parecido com um que tive, eu percebia que nada daquilo era para mim. E então ficava muito magoada e ia embora para a Finlândia durante três meses, que passaram em segundos, e depois voltava para dizer que me ia embora novamente por mais tempo e usava um mestrado como desculpa. Sui generis admin - 13 Jun 20199 Jun 2020 [dropcap]Q[/dropcap]uando viu o Sidónio nu à sua frente ficou sem jeito e sem capacidade de reacção. Estava farto de ver homens naquele estado, isso não era o problema, bastava olhar-se ao espelho ou ir ao balneário do ginásio, mas assim naquele registo tão íntimo, pronto-a-comer, nunca tinha acontecido. Deixava-o desconfortável. Esta sua decisão de se tornar homossexual ainda não era cem-por-cento consensual dentro de si, tinha ainda as suas dúvidas. Nem todos os seus genes tinham aprovado essas regras em uníssono, por isso caminhava um pouco a medo, em terreno desprovido de qualquer cor. Não, não era nenhum arco-íris, por enquanto. Sempre gostara de mulheres e, apesar de estar a entrar nos cinquentas, era um homem sexualmente bastante activo. Esteve casado duas vezes, a última quase dez anos, com muitas aventuras nos entretantos, mas chegara a altura de sair do armário, como se costuma dizer. Bom, ele nunca tinha estado a viver numa prateleira, tinha a certeza disso, sempre fizera tudo às claras, não tinha nada a esconder. Mas a heterossexualidade também não fazia o seu género, no sentido em que gostava de dar um passo à frente. Era um experimentalista e apetecia-lhe mudar de ares. A primeira coisa que disse ao Sidónio foi: “vai devagar”. Era um comprimido dos grandes que tinha de engolir. Lembrava-se de quando tinha de tomar coisas assim quando era miúdo. Deitava tudo cá para fora e a sua mãe ficava com os cabelos em pé e gritava com ele. Mas aquele espécime não o atraía minimamente, tinha um ar a dar para o abichanado que o irritava. Sempre o irritou, para ser sincero. Por diversas vezes, em pensamento, tinha troçado um pouco dele, apesar de naquela figura se apresentar com um corpo tonificado e com uma cara laroca. Tratava-se bem, o Sidónio. E até era um gajo porreiro, mas era para ir beber uns copos e apanhar uma grande tosga, não era para estar com o pila dele na boca. Mas tinha de ser e a ideia até tinha sido sua. Trabalhavam juntos há muitos anos e sempre teve um à-vontade extremo com o Sidónio para falar das coisas, vá-se lá saber porquê. Era um facilitador. E quando começaram a trocar ideias sobre o assunto, de como ele não se importava de experimentar “aquilo”, o colega ficou logo de antenas no ar e mostrou-se híper interessado, convencendo-o de que gostaria de ser a cobaia. Até chegarem a esta situação embaraçosa, não demorou muito tempo. Duas semanas? Agora, era preciso relaxar e ultrapassar de uma vez por todas o complexo que se tinha atravessado à sua frente, senão não ia conseguir cumprir os seus objectivos. Dantes, quando precisava de se abstrair pensava em matrículas de automóveis. Estava sem recursos. Precisava de uma mão divina. À medida que o Sidónio fazia tenções de o acarinhar ele afastava-se compulsivamente. Dizia: “espera!”, enquanto colocava uma musiquinha a tocar, na esperança de que aquilo ajudasse, criando um ambiente mais propício, não diria ao romance, mas whatever. Queria era ver-se livre daquela situação e prosseguir com a sua vida. Ele que não era nada esquisito com a comida, comia tudo o que lhe pusessem no prato e gostava sempre de se lançar de estômago alegre para gastronomias desconhecidas. E se as mulheres, de quem ele tanto gostava, o faziam com tanta facilidade, não havia de ser ele que iria agora voltar para trás e desistir. Mas havia ainda a outra parte, o factor essencial para que a contenda desse certo, entre as suas pernas parecia existir uma letargia completa. “49-BO-13”. Na casa-de-banho tinha usado um lubrificante adequado, para não estar a interromper nada mais à frente, o que ainda iria ser pior, e achava que estava preparado, que não ia custar. Já tinha beijado amigos em noites de bebedeira e ali tinha pensado em todos os pormenores, mas estava demasiado tenso, era preciso libertar-se daquele torpor, fosse de que maneira fosse. Então achou que se desse um beijo ao Sidónio, daqueles à antiga, imaginando-se inebriado com uma lufada de vento, talvez tudo se resolvesse. Sim, era isso que iria fazer. Iria abraçá-lo e beijá-lo com estrondo. Depois logo se veria. O que aconteceu, em concreto, não sabemos. O que é certo é que deu o grande salto em frente e com naturalidade enfrentou sem encerros a sua nova condição perante a sociedade. Do modo como os colegas de trabalho o entreolharam nas semanas seguintes, só confirmava que o seu outro eu já não era segredo. Mas ele gostava disso. Gostava da assumpção. Encontramo-lo tempos mais tarde, já com o coração a bater a um ritmo semi-descontrolado. Começara a namorar com um homem, ou era o que ele achava, que aquilo era uma relação à séria. De início, estava confiante que tinha finalmente encontrado o seu primeiro namorado, extremando ainda mais a corda para a sua vida passada. Mas a história tinha outros contornos e revela-se aqui num excerto roubado do seu diário. “Quando conheci o Eddy ele não me contou a verdade, não me disse que afinal não era bem assim. Conhecemo-nos numa noite, num festival de cinema. Ele fazia parte de uma equipa de produção de um documentário premiado, um documentário sobre a extinção do género, e a partir daí fomos falando quase todos os dias. Até que noutra noite mais acalorada, sem câmaras pelo meio, nos envolvemos de modo íntimo. Aconteceu tudo muito rápido. Bem que lhe meti logo a mão entre as pernas, mas ele afastou-me, dizendo que ainda não. Queria primeiro aguçar-me o apetite, pensei. E quando passámos ao acto em si – já não aguentávamos mais! – baixou as calças e virou-se de costas para mim. Tínhamos trocado beijos clamorosos, ficámos agarrados como duas tomadas, em curto circuito, com as nossas línguas derretidas uma na outra. Tudo corria bem. Todo o meu ser efervescia de paixão. Finalmente, estava com os dois pés no caminho que tinha começado a traçar com o palerma do Sidónio. Mas quanto a esse caso, nem me quero lembrar desse momento, aquilo foi um suplício. Nunca tive qualquer dúvida quanto ao Eddy. Vira-o de tronco nu e, apesar de profusamente depilado, é uma mania que não pratico, tinha um bonito peito de homem. Seja lá o que isso quer dizer. Eu sei lá, pelo menos foi o que supus. A minha ideia nunca tinha puxado para o outro lado. Quando se vê uma coisa não se vê a outra e o toldo tapa o horizonte por completo. Mesmo depois de ele engolir o auge do meu prazer e continuarmos com aquilo noite fora, eu gritava: ‘Eddy! Eddy!’ E abraçava-o, como se não houvesse mais mundo. Mas não demorou muito até descobrir a realidade, de que afinal o rapaz por quem me tinha apaixonado era afinal uma mulher. Raios! Não havia como evitá-lo, fiquei estupefacto e chorei. O que me tinha levado a gostar de homens tinha sido uma vontade imensa de experimentalismo e ao dar esse passo queria aprofundar a minha nova postura, assumindo-a. Na verdade, passei a ter uma atracção genuína por pessoas do mesmo sexo, e só por elas, achava eu. Limitava-me a saborear aquela fruta tropical. Agora, parece que me egasguei. Terá sido o caroço? Quando conheci o Eddy, era indiscutível de que ele era um homem. Nem foi tema de que alguma vez tenhamos falado, a dúvida, era tudo claro como a água. Mas a extinção do género tinha ganho um prémio, esse tinha sido o nosso ponto de encontro, e quando deparei com aquilo, não soube como reagir. Uma pessoa ama o indivíduo, para além da inscrição do género, seja ela qual for? O que é isto da sexualidade e do corpo que nos calhou? Depois de tanto esforço, eu não podia andar com uma mulher, ia contra os meus novos desígnios. Ai, Sidónio, eu vi logo que isto não podia dar certo. Mas eu adoro o Eddy. É uma paixão sem fim, como nunca tinha sentido. E quero passar a vida nos braços dele – dela! – para sempre. E se descobrirem, depois de tanto vergar a corda, que afinal eu não sou homossexual? Também o que me havia de calhar na rifa, o Monsieur Butterfly. Não sei o que pensar, mas também não me interessa saber. Dê por onde der, mesmo sem arco-íris, sigo em frente.” Ficamos descansados, não há cenas dos próximos capítulos. Coimbra | Chissano realça papel de Academia nas relações sino-lusófonas Hoje Macau - 13 Jun 2019 O novo organismo, apresentado esta terça-feira em Coimbra, a Academia Sino-Lusófona, visa reforçar as relações entre os países de língua portuguesa e a China. Na apresentação marcaram presença, entre outros, o antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano e o embaixador chinês em Portugal, Cai Run [dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano disse esta terça-feira em Coimbra que a Academia Sino-Lusófona (ASL), agora apresentada, vai contribuir para o fortalecimento das relações entre os países de língua portuguesa e a China. Para Joaquim Chissano, a Academia Sino-Lusófona, apresentada na Universidade de Coimbra (UC), na presença do embaixador da República Popular da China em Portugal, Cai Run, “é uma parte de uma dinâmica” que deve ser aproveitada pelos membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e pela China, no relacionamento entre si. O novo organismo, dirigido por Rui de Figueiredo Marcos, director da Faculdade de Direito da UC, “vai impulsionar” essas relações e o trabalho que vier a desenvolver ajudará a “descobrir novas maneiras” de Portugal, demais parceiros lusófonos e a própria China se “relacionarem também com outros países” no mundo, declarou o ex-presidente moçambicano aos jornalistas. Chissano interveio numa sessão, no auditório do Colégio da Trindade, na Alta de Coimbra, em que a UC apresentou a ASL, com o objectivo de “reforçar os laços” com a China e os países de língua portuguesa. Língua de crescimento No seu discurso, Joaquim Chissano realçou “o papel que a Academia pode jogar no desenvolvimento” dos países envolvidos, com “uma visão inovadora” e com vista “de uma maximização das vantagens para todos”. “O mundo académico pode e deve jogar um papel muito relevante” neste domínio, disse, ao realçar que o Português é quarta língua mais falada “e a terceira com maior crescimento no mundo”. Joaquim Chissano pediu aos doadores para continuarem a ajudar Moçambique, na sequência do ciclone tropical Idai, que atingiu o país em Março, causando centenas de mortos e avultados danos materiais. A ajuda internacional recebida “ainda é insuficiente”, disse depois aos jornalistas. Na cerimónia, em que actuou o coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, usaram também da palavra o professor Rui Marcos, o reitor da Universidade, Amílcar Falcão, e o embaixador Cai Run. O diplomata chinês valorizou o aprofundamento das relações entre a China e os países da CPLP, em geral, vincando que o relacionamento entre Lisboa e Pequim vive “a sua melhor fase”. Inscrições para workshop com Catarina Mourão só até amanhã Raquel Moz - 13 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap]s inscrições para o Workshop de Documentário da cineasta portuguesa Catarina Mourão, que vai decorrer de 22 a 27 de Junho na Casa Garden, estão abertas só até amanhã, sexta-feira, dia 14. A iniciativa é gratuita, para maiores de 16 anos, até um limite de 20 participantes. Organizado pela Fundação Oriente, com o apoio da Casa de Portugal em Macau, o projecto insere-se nas comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e é aberto ao público em geral. Durante seis dias, os interessados vão poder experimentar o processo criativo de filmar um documentário, a partir de filmes que irão introduzir os tópicos de trabalho para cada sessão. Trata-se de uma oficina de produção e realização para iniciantes e amadores, intitulada “A Casa e o Mundo”, onde durante 3 horas diárias os alunos vão desenvolver obras de acordo com a sua inspiração e a orientação da realizadora. Tal como descreve Catarina Mourão, na nota de apresentação, “neste workshop vou partilhar com os estudantes o meu processo criativo na filmagem de documentários. É essencialmente um trabalho que se inicia no microcosmos da família, da casa, da rua. Começamos por viajar por entre aquilo que nos é familiar, e acabamos por encontrar estranheza e novas estórias além da nossa zona de conforto”. E especifica, “cada um dos meus filmes desencadeou um desafio diferente. E cada desafio irá estimular os participantes a trabalhar num determinado projecto de filme, para o qual deverão encontrar o seu ângulo pessoal e a sua solução”. À procura de respostas As oficinas terão um total de 18 horas. A 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, o horário é das 14h às 17h, e nos seguintes dias, de 24 a 27, em horário pós-escolar ou laboral, das 18h às 21h. Cada sessão de workshop terá como ponto de partida a exibição de um filme: “Daguerreótipos” (1976), de Agnès Varda, o “primeiro documentário que teve um verdadeiro impacto na minha forma de filmar”, e “À Flor da Pele” (2006), “Pelas Sombras” (2010) e “A Toca do Lobo” (2015), de Catarina Mourão. O programa procurará respostas à questão sobre o que é o documentário, como género, no actual mundo da imagem. Através de exercícios práticos na escolha dos temas, personagens, localizações, roteiros e pesquisa em arquivos, os alunos irão ensaiar e discutir em conjunto técnicas de filmagem e de edição, antes da apresentação final dos trabalhos. As inscrições deverão ser feitas através do email workshopcatarinamourao@gmail.com. Mais informações podem ser solicitadas à Fundação Oriente e à Casa de Portugal. Artistas contemporâneos mostram obras de luxo no Morpheus Raquel Moz - 13 Jun 2019 A colecção de obras do City of Dreams, assinada por artistas de renome internacional, junta-se à iniciativa Arte Macau e vai surpreender os visitantes do Morpheus até ao final do Verão [dropcap]E[/dropcap]ncontros Inesperados” é o nome do conjunto de peças artísticas que, no âmbito da iniciativa “Arte Macau”, se encontram, a partir de hoje, à disposição dos visitantes do Morpheus, na zona do Cotai. O novo hotel, desenhado pela premiada e já desaparecida arquitecta Zaha Hadid – a primeira mulher a receber o Pritzker de Arquitectura –, está a dias de celebrar o seu 1º ano de actividade, depois de ter aberto as portas a 15 de Junho de 2018. A exposição que está patente pelos diversos espaços da unidade hoteleira, pertencente ao complexo do City of Dreams, tem o seu ponto alto na galeria Art on 23, no 23º andar do edifício envidraçado. É lá que se encontra a grande estátua de KAWS, com a conhecida figura de Companion, a primeira personagem criada pelo jovem e famoso artista norte-americano de cultura pop. A este trabalho foi dado o nome “Good Intentions”, em que a simpática figura, inspirada nos cartoons, representa aqui a relação entre pais e filhos. Esta é uma das peças de destaque, depois do sucesso das estátuas do artista e designer Brian Donnelly – que escolheu o nome KAWS nos seus tempos de graffiter – ter chegado aos grandes museus e galerias internacionais, como o MOMA, em Nova Iorque, ou a praça Museumplein, em Amesterdão. Personalidades do show biz americano, como o produtor musical Swizz Beatz ou o rapper Pharrell Williams, também têm as suas estátuas em casa. No mesmo piso encontra-se ainda a instalação “Cabane Éclatée” (Exploded Hut) de Daniel Buren, o conceituado artista conceptual francês, conhecido por integrar elementos arquitecturais e grafismos coloridos nas suas intervenções. Tem uma vasta obra exposta em museus como o Guggenheim e o MOMA em Nova Iorque, o Palais Royal em Paris, o Templo do Céu em Pequim, a galeria contemporânea da Casa Hermès em Bruxelas ou a Fundação Louis Vuitton em Paris. “A City of Dreams é proprietária de uma impressionante colecção de arte de mestres contemporâneos”, como informa na nota de divulgação, onde “cada peça foi seleccionada porque proporciona um encontro único com o público”. As obras estão dispersas pelo espaço do edifício, à excepção da que foi emprestada ao Museu de Arte de Macau, “Untitled” do pintor alemão Thilo Heinzmann. Peças para descobrir Assim, no Lobby VIP do Morpheus, está “Wild Pansy” do artista contemporâneo francês Jean-Michel Othoniel, uma peça em espiral que apresenta movimentos e metamorfoses, escultura característica da sua conhecida obra, exibida por exemplo no Centre Georges Pompidou, no MOMA ou nos jardins de Versailles. As restantes colecções estão localizadas em diversos pontos, para serem descobertas com surpresa, o que justifica os “Encontros Inesperados” do título. “Continuel Lumiére Au Plafond” é a instalação imersiva, com múltiplos fragmentos espelhados em suspensão, do artista argentino Julio Le Pac, que se dedica desde sempre à arte cinética e à Op Art, fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel e autor de muitas obras premiadas. “9 Seas”, do designer francês Mathieu Lehanneur, é uma homenagem às cores do oceano, com imagens recriadas em cerâmica a partir de fotografias de satélite de alta definição. “Sky”, do artista conceptual chinês Zhau Zhau, é um trabalho nos mesmos tons, desta vez sobre a percepção e memórias que o artista tem do azul do céu. O traumático encontro com um urso polar deu o mote à obra “I’m Busy Today & Look At Me!”, de Paola Pivi, a artista multimédia italiana que vive e trabalha em Anchorage, no Alasca. A peça pretende transformar o medo em afecto, ao mesmo tempo que chama a atenção para a vulnerabilidade destes animais. E “Echoes Infinity”, da artista japonesa Shinji Ohmaki, conhecida pelas suas transformações do espaço, traz coloridas flores imaginárias, inspiradas na Árvore da Vida de Leonardo Da Vinci, que se repetem em padrões e criam uma floresta de fantasia. As peças e instalações da colecção do City of Dreams vão continuar expostas no Morpheus, diariamente das 12h às 18h, até ao dia 31 de Outubro. Alipay | Mais de 10 mil empresas usam o sistema Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]esde que a “Alipay entrou no mercado de Macau, em Setembro de 2015, até agora, cerca de dez mil comerciantes de Macau aderiram ao serviço de pagamento electrónico”. O número foi avançado por Cai Zhiyu, director-geral de relações públicas de Hong Kong, Macau e Taiwan de Ant Financial Service Group. O dirigente do grupo financeiro sublinhou o grande potencial do mercado local, algo que se materializou na abertura recente do Banco Xinghui em Macau, que faz parte da estratégia de expansão na região. O dirigente sublinhou a dimensão da Alipay, que conta actualmente com mais de mil milhões de usuários. AMCM | Quebra nos empréstimos à habitação Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]ados oficiais da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) referentes ao mês de Abril mostram que houve uma quebra dos empréstimos hipotecários para habitação face a Março. Por outro lado, “os empréstimos comerciais para actividades imobiliárias aprovados registaram um crescimento”, sendo que o saldo bruto dos dois tipos de empréstimos aumentou. A queda dos empréstimos à habitação situou-se nos 24,9 por cento, num valor total de 2,54 mil milhões de patacas. Neste âmbito, os empréstimos feitos por residentes representaram 98,6 por cento do total, tendo diminuído em 23,1 por cento, num valor total de 2,5 mil milhões de patacas. No que diz respeito aos não-residentes, registou-se uma diminuição de 72,1 por cento, na ordem das 34,8 milhões de patacas. Os empréstimos à habitação relativos a edifícios em construção, mais especificamente empréstimos hipotecários para alienação de fracções autónomas em edifícios em construção, decresceram 22,9 por cento para 607,9 milhões de patacas em relação ao mês anterior. Destes, 96,3 por cento foram concedidos aos residentes locais. Selecção | Capitão escreve carta à FIFA a pedir oportunidade para jogadores João Santos Filipe - 13 Jun 2019 A oportunidade de uma vida. É desta forma que Nicholas Torrão apela à FIFA para voltar a agendar o jogo da segunda mão com o Sri Lanka com vista ao apuramento para o Mundial 2022. Já o presidente da associação, Chong Coc Veng, disse aos jogadores que os seus amigos no Sri Lanka anteviram a possibilidade da equipa de Macau ser alvo à chegada de um atentado terrorista [dropcap]N[/dropcap]icholas Torrão, capitão da selecção de Macau, escreveu uma carta aberta à FIFA, entidade internacional responsável pelo futebol, a apelar a um novo agendamento da segunda mão frente ao Sri Lanka. A carta está assinada em nome individual e refere que os jogadores “ficaram totalmente devastados” com o cancelamento da segunda mão da eliminatória. “Nós, os jogadores, ficamos totalmente devastados com o cancelamento do jogo da segunda mão frente ao Sri Lanka, que seria jogado no terreno deles, devido à Associação de Futebol de Macau se ter recusado a viajar”, pode ler-se no documento. “O futebol é feito de regras e regulamentos, que compreendemos, mas acima de tudo o futebol é feito pelos jogadores. E os jogadores da selecção de Macau querem mais do que qualquer outra coisa viajar e jogar a segunda mão frente ao Sri Lanka e ter a oportunidade de disputar esta ronda de qualificação”, é acrescentado. O atacante sublinha ainda que os jogos de apuramento são uma oportunidade única. “Sendo de uma região que está num dos lugares mais baixos do Ranking FIFA, estes jogos são uma oportunidade de uma vida de deixar a nossa marca no futebol do nosso País, e acima de tudo dos nossos cidadãos e fãs”, é sublinhado. A Associação de Futebol de Macau (AFM) recusou a viajar para o Sri Lanka, onde tinha jogo agendado para terça-feira, na sequência dos ataques terroristas de Abril. Chong com “espiões” no Sri Lanka Apesar da questão dos seguros ter sido apontada como um dos entraves à viagem, a verdade é que Chong disse ao jogadores, segundo Leong Ka Hang, que havia a possibilidade de haver ataques terroristas. A informação teve por base os relatos de amigos de Chong no Sri Lanka e foi partilhada na reunião de segunda-feira à tarde, e divulgada por Leong Ka Hang, ao portal 01 de Hong Kong. Leong terá também dito que não tenciona representar Macau brevemente e que sente que o facto de ter ligações à AFM é prejudicial para a sua imagem enquanto profissional de futebol. Também na terça-feira, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura comentou o tema e saiu em defesa da AFM. Segundo Alexis Tam, que citou o Instituto do Desporto, ninguém quis assegurar os jogadores e como tal disse compreender a decisão. Tam disse ainda perceber a desilusão dos atletas, mas defendeu a AFM na questão da segurança. Quando assumiu a pasta actual, Alexis Tam prometeu cinco anos “brilhantes” para as áreas sociais e da cultura. Agora corre o risco de ser o responsável pela tutela do desporto quando a selecção contrariou as decisões da FIFA e AFC e corre o risco de ser proibida de competir em provas internacionais. Além desta proibição, que poderá envolver os clubes, a AFM fica sujeita ao pagamento de uma multa monetária que pode chegar aos 40 mil francos (325 mil patacas). Ao HM, a AFC confirmou que já tinha enviado a decisão de falta de comparência para a FIFA, para ser aberto um inquérito, assim como para as suas comissões. Resíduos | DSPA promove separação em pequenos restaurantes Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]P[/dropcap]romover a consciência da comunidade para a recolha correcta de resíduos alimentares é o objectivo do projecto-piloto de recolha de Resíduos Alimentares dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, mais do que focar-se na quantidade de resíduos tratados. A admissão está na resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) a uma interpelação escrita de Zheng Anting. A ideia é “alterar o hábito de abandono de resíduos” e permitir, a longo prazo, preparar a recolha de resíduos alimentares de grande envergadura e alterar os hábitos de funcionários de pequenos restaurantes que não tenham condições para a “própria instalação de equipamentos de tratamento”. A DSPA destaca na resposta a Zheng Anting que participam no projecto-piloto meia centena de pequenos e médios estabelecimentos de restauração e bebidas, desde Junho de 2018, até agora. Relativamente a planos de recolha de desperdícios alimentares, regista-se a participação de cerca de 90 instituições nas acções de recolha de resíduos alimentares. A concepção preliminar das instalações centrais de tratamento de resíduos alimentares, assim como a avaliação de impacto ambiental e prospecção geotécnica estará a cargo de uma empresa de consultoria. Palestra | Guerra comercial pode ser oportunidade para a China Hoje Macau - 13 Jun 2019 A guerra comercial que se vive entre a China e os Estados Unidos pode afirmar a China como capaz de transformar as crises em oportunidades. A ideia foi defendida numa palestra realizada em Macau, no passado 10 de Junho, promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros [dropcap]A[/dropcap] posição da China nas negociações económicas e comerciais com os Estados Unidos” foi a palestra promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau para debater a situação que se vive actualmente entre os dois países e o posicionamento chinês neste contexto. A ideia defendida pelos participantes prendeu-se com a transformação desta “crise” numa oportunidade e afirmação da China no contexto internacional bem como uma demonstração da capacidade de Pequim em transformar momentos difíceis em oportunidades. Para Shen Beili, comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC na RAEM, a experiência chinesa em lidar com pressões tem tornado o país mais forte. “Temos a confiança e a capacidade de tornar a pressão numa força motora”, afirmou, de acordo com o Jornal Ou Mun. A responsável lamentou ainda a posição dos Estados Unidos que tomou medidas “de forma unilateral” quando reforçou as taxas nas trocas comerciais com a China. “O facto de os EUA imporem aumentos nas tarifas de importação, causa danos ao próprio país e aos outros, dificultando a cooperação bilateral no comércio e investimento, e afectando a confiança de ambos os países e do mercado global no funcionamento estável da economia”, apontou. Esta atitude com repercussões no contexto internacional mostra, segundo Shen Beili, que “o acto dos EUA é prejudicial para todo o mundo, danifica o sistema multilateral de comércio, perturba seriamente a cadeia industrial global, desfavorece a confiança do mercado, traz sérios desafios à recuperação económica global e representa uma grande ameaça à tendência de crescimento da economia global”, afirmou. Sem desistir Mas, a atitude da China é clara na medida em que apesar de não querer participar neste conflito, não vai desistir e tem confiança no caminho já percorrido e nas orientações do novo socialismo com características chinesas de Xi Jinping. “O desenvolvimento da China não será afectado facilmente. Os parceiros comerciais no exterior são cada vez mais e mais diversificados e a capacidade de tolerância às pressões comerciais exteriores é maior”, sublinhando a “confiança e capacidade de tornar a pressão numa força motora”. A opinião foi partilhada por outros participantes. Liu Cheng Kun, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau defendeu que “a China tem resistência económica para lidar com as fricções comerciais”. De acordo com o académico, há aspectos essenciais que contribuem para a “força” chinesa. São eles: “a enorme dimensão da sua economia, a optimização contínua da estrutura industrial, o desenvolvimento da economia regional e o aumento de relações comerciais exteriores”. Por outro lado, considera, os Estados Unidos acabam por se prejudicar ao “provocar unilateralmente conflitos comerciais com países importantes”. Já o Pró-reitor da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng, que também participou no evento, defendeu o apoio da RAEM a Pequim tendo como argumento “ a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento nacional, protegendo a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Macau dentro da política ‘um país, dois sistemas’” Autocarros | Ella Lei critica renovações de contratos Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]lla Lei criticou o facto de o Governo estar a aproveitar-se da renovação temporária dos contratos com as duas empresas de autocarros públicos sem anunciar data limite para os novos vínculos permanentes. Em declarações publicadas ontem no Jornal do Cidadão, a deputada alertou para o facti de os contratos actuais com as operadoras terminarem no final de Outubro e do Executivo defender que não há pressa nas renovações. Por este motivo, a membro da Assembleia Legislativa está preocupada com a possibilidade de não haver um novo acordo entre as operadoras e o Governo até ao fim dos contratos temporários, o que poderia causar confusão no sector dos transportes, com danos para o serviço e para os residentes. Ella Lei defendeu ainda que o Governo deve anunciar o novo modelo de subsídio das empresas de autocarros, assim como formular um novo contrato que leve a melhorias no serviço. Outro dos pontos sustentados pela deputada é a necessidade de aumentar os percursos “expresso”, identificados como “X” junto ao número do autocarro, como por exemplo o autocarro 3X, para fazer face à procura. Por outro lado, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) insiste na necessidade de cobrar bilhetes mais caros aos trabalhadores não-residentes, para reduzir os custos dos subsídios às empresas de autocarros. Actualmente, há duas operadoras de autocarros públicos em Macau, a TCM e a Transmac e o Governo gasta cerca de mil milhões de patacas em subsídios. Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
TUI | Wong Sio Chak perde caso de trabalho ilegal Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância decidiu que o facto de uma mulher de uma empresa de Hong Kong ter vindo cerca de 61 dias, durante dois anos, a Macau prestar apoio e serviços técnicos a uma companhia local não é considerado trabalho ilegal. A decisão confirma a mesma leitura do Tribunal de Segunda Instância, mas é contrária à posição de Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, e do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). O caso foi detectado pela CPSP que considerou que se tratava de trabalho ilegal e revogou a permissão da mulher para estar em Macau. Além disso, aplicou a proibição de entrada durante três anos à mulher. Ao mesmo tempo, a DSAL havia aplicado uma multa de cinco mil patacas. Porém, segundo o TUI, o CPSP e o secretário para a Segurança não tiveram em conta que o regulamento sobre a proibição do trabalho ilegal tem excepções. Assim, as pessoas podem trabalhar nas condições da mulher desde que haja um acordo entre empresas fora de Macau e outras sediadas na RAEM, como acontecia, e desde que o período de trabalho não exceda os 45 dias, no período de seis meses. “A arguida foi destacada para a prestação, ocasional, de serviços técnicos a uma sociedade em Macau, no âmbito de um acordo celebrado, entre uma empresa de Hong Kong e outra de Macau […] sendo a sua permanência na RAEM apenas, em média, de cerca de 2.5 dias por mês e não superior a 45 dias, consecutivos ou interpolados, por cada 6 meses”, destacou o TUI. “Assim, não é de considerar trabalho ilegal essa prestação de serviços técnicos”, foi acrescentado na decisão. Urgente lei que limite idade de consumo de álcool, diz Lam Lon Wai Sofia Margarida Mota - 13 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Lam Lon Wai quer mais controlo do consumo de álcool no território, especialmente por parte dos jovens. Para o efeito, interpela o Governo acerca da calendarização precisa da consulta pública a este respeito, agendada para o segundo semestre deste ano, pois teme que com as eleições para o Chefe do Executivo e com as comemorações dos 20 anos da RAEM e do 70.º aniversário da República Popular da China, a medida venha a ser indefinidamente adiada. Para o tribuno com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), trata-se de uma medida urgente tendo em conta a forte exposição dos jovens ao consumo de bebidas alcoólicas que, considera estará na base de consumos excessivos na idade adulta. Estatística aplicada Para sustentar o pedido, Lam recorre aos dados estatísticos. “Em 2018, um inquérito feito aos jovens levado pelo Governo revelava que 21,75 por cento dos inquiridos já tinham ingerido bebidas alcoólicas, o que representa um aumento de 1,31 por cento em relação aos 20,44 por cento registados em 2016”, lê-se. Uma outra pesquisa acerca do comportamento dos alunos do ensino secundário indicou que “quase 80 por cento dos estudantes já tinham sido expostos a bebidas alcoólicas”, sendo que “cerca de um terço disse que tinha bebido antes dos 13 anos”. Para Lam Lon Wai, os jovens que saem à noite estão mais sujeitos a riscos sendo que “90 por cento destes jovens têm hábitos de abuso de álcool”. Neste contexto, Lam conclui que “os números mostram que a exposição dos jovens ao álcool tem efeitos negativos e é necessário fortalecer o controlo para manter os jovens longe do consumo de bebidas alcoólicas”. Lam recorda que os Serviços de Saúde já têm planos para realizar uma consulta pública sobre o limite mínimo de idade para consumo de álcool e a proibição da promoção de bebidas alcoólicas junto dos mais novos, mas teme que dadas as efemérides deste ano, o processo possa ser adiado. Para o deputado, trata-se de uma medida urgente que que coloca Macau a par de outros países nesta matéria. “Em Hong Kong, a implementação da nova lei de controlo de álcool, no final do ano passado, proíbe qualquer pessoa de vender e fornecer bebidas a menores de 18 anos através de distribuição presencial ou remota, sendo as empresas infractoras condenadas a uma multa de 50.000 yuan”, exemplifica. Já “em Macau, não existem regulamentos relevantes pelo que o trabalho de controlo de álcool tem uma certa urgência, e as autoridades precisam de recuperar o atraso nesta matéria”, lamenta. O aumento do imposto sobre as bebidas alcoólicas é outras das sugestões deixadas por Lam Lon Wai de modo a restringir a sua compra. “A fim de fortalecer o exercício de controlo de bebidas alcoólicas, o Governo vai considerar aumentar o imposto sobre as bebidas alcoólicas e mesmo implementar taxas especiais sobre bebidas alcoólicas?”, questiona. O Brexit e a China Jorge Rodrigues Simão - 13 Jun 2019 “China is ready to take advantage of a divided Europe and weakened UK after Brexit.” China and Brexit: what’s in it for us? François Godement & Angela Stanzel [dropcap]O[/dropcap] polémico político, académico, escritor e poeta britânico, John Enoch Powell, que foi deputado pelo Partido Conservador do Reino Unido de 1950 a 1974, do Partido Unionista do Ulster de 1974 a 1987, e ministro da Saúde do Reino Unido de 1960 a 1963, afirmou que todas as carreiras políticas na Grã-Bretanha terminam em lágrimas. A primeira-ministra demissionária Theresa May, não falhou à regra e as suas palavras mostraram essa verdade não apenas figurativamente, mas literalmente. A primeira-ministra demissionária anunciou em 24 de Maio de 2019 que deixaria o cargo a 7 de Junho de 2019, e viu-se o seu rosto consumido de emoção e lágrimas nos seus olhos. Foi um balde de água fria para terminar um período caótico e, para muitos, inglório. A primeira-ministra demissionária foi derrotada quando sucedeu a David Cameron em 2016, mas jogou de forma notavelmente funesta. Os seus quase três anos no cargo foram consumidos pela questão do Brexit. Apesar disso, deixa ao seu sucessor a questão de como será alcançado. Theresa May cometeu sérios erros estratégicos ao tentar cumprir o resultado do referendo de Junho de 2016 para o Reino Unido sair da União Europeia (UE). A primeira-ministra demissionária tinha um mandato para começar as negociações infames, mas ninguém sabia exactamente qual o caminho a percorrer. A primeira-ministra demissionária descobriu que havia uma enorme gama de opções, e nenhuma delas teve amplo apoio público. Theresa May provou ser uma vendedora pobre para uma forma de Brexit que todos poderiam, até certo ponto, aceitar. Quando Theresa May se tornou primeira-ministra, sem oposição, no verão de 2016, mesmo os que haviam votado para permanecer na UE estavam dispostos a admitir a contragosto, que o enorme exercício democrático havia produzido um resultado que precisava de ser implementado. Naqueles primeiros meses, Theresa May teve a oportunidade de persuadir, e fazer o que os políticos deveriam ter feito, que era promover um resultado político específico através de uma boa comunicação e convicção. O movimento inicial de Theresa May, no entanto, como um eleitor remanescente foi tentar provar ao seu partido que era uma verdadeira convertida à causa do Brexit. Os seus comentários tipo linha dura na conferência do Partido Conservador, no Outono de 2016, foram o “Brexit significa Brexit” e não poderia haver compromissos, sendo o primeiro aviso de que seria uma refém da fortuna. Os eventos deveriam desdobrar-se com uma inevitabilidade trágica quase grega depois disso. Primeiro foi a decisão de accionar o desprezível artigo 50 do Tratado de Lisboa de 2009 que, muito brevemente, estabelece o mecanismo pelo qual os Estados-membros da UE podem sair. A única estipulação é que o processo levaria dois anos, sem detalhes sobre como exactamente seria alcançado. Antes de ter um plano de batalha claro, e em grande parte pressionado pela linha dura do seu partido, Theresa May accionou o artigo 50 em Março de 2017. A partir desse momento, perdeu o controlo de uma das poucas alavancas que tinha, que era o tempo. O seu segundo erro foi subestimar a complexidade da questão da fronteira com a Irlanda do Norte. A Irlanda do Norte, consumida por conflitos sectários durante boa parte de 1969 e anos seguintes, teve o Acordo de Sexta-Feira Santa de 1998, que consolidou uma paz sustentável. Mas dependia de não haver uma fronteira rígida entre a Irlanda do Norte, que permanecia sob domínio britânico, e a República da Irlanda, no sul. O desejo de se separar completamente do mercado comum e da união alfandegária da UE, fizeram os negociadores de Theresa May enfrentar o problema intratável da necessidade de uma fronteira rígida com os controlos alfandegários na Irlanda, ou não ter, mas conseguir algum tipo de adesão ao mercado da UE. Tratava-se de um mecanismo para lidar com tal facto e que se comprometeu com uma fronteira suave, mas em um período de tempo indefinido, sendo um dos muitos aspectos do acordo final que conseguiu negociar com a UE e apresentar ao parlamento no final de 2018. A rejeição pela maior votação de sempre significaria o fim da maioria dos líderes. Mas tão extraordinários foram os tempos em que foi primeira-ministra, tendo efectivamente sido capaz de fazer o mesmo acordo perante a Câmara dos Comuns, o principal órgão legislativo, mais duas vezes. A sua queda final foi devido a uma nova tentativa de tentar aprovar esse acordo, o que tornou inaceitável até para os seus defensores mais fiéis. Apesar do Reino Unido ser uma sociedade dividida, Theresa May demonstrou uma incrível resiliência diante de um parlamento e de um partido muitas vezes em guerra consigo mesmo, com profundas divisões que pareciam piorar em vez de melhorar. O Partido Conservador está dividido desde há muitas décadas entre os que apoiam a UE e os seus membros, e os que consideram uma afronta à soberania por um super-estado liderado por Bruxelas, ao estilo continental, na esperança de reduzir o Reino Unido à servidão. Por um lado, o ónus está no pragmatismo, olhando para os benefícios económicos que a adesão à UE dá e por outro, no entanto, na identidade que é importante. Tais divisões são reflectidas na sociedade em geral. E com efeito, enfrentam-se em dois grupos que simplesmente não falam a mesma língua. Não admira que tenha sido difícil para Theresa May chegar a negociar um compromisso. A sua posição mudou durante o breve período da sua liderança, quando reconheceu os enormes desafios enfrentados pelo Reino Unido no modelo de saída. Longe de se fragmentar, o resto da UE permaneceu consistente no seu conjunto de desafios, dando a Theresa May pouco espaço para negociação. Theresa May não foi ajudada pelos independentes, e muitas vezes com a liderança inútil nos Estados Unidos após 2017 e a chegada do presidente Donald Trump ao poder. As grandes declarações do presidente Trump aconselhando-a de que só necessitava de sair da UE sem medo das consequências não eram os sentimentos da maioria do povo britânico, que mostrou que se importava com a sua prosperidade económica no futuro e a ameaça não é um acordo. Para outros, a sua crença sincera era de que havia oportunidades fora do mercado que a UE oferecia, mas a partir de meados de 2019, estes parecem esquivos. A saída de Theresa May deixará o Brexit mais próximo de uma solução do que há quase três anos. O seu sucessor precisará de encontrar o consenso que não conseguiu, ou lidar com a implementação de algo que não seja tão propenso a antagonizar e irritar quantas pessoas desejar. Ainda pior, há toda a possibilidade de que o resultado final desaponte todo o mundo. Trata-se de uma sucessão espinhosa, mas que fez sair Theresa May no momento certo. Há claramente um enorme acerto de contas para os políticos que são vistos como incompetentes e movidos pelo interesse próprio e não pelo bem da nação. É de considerar no entanto, que a mais profunda raiva talvez seja para aqueles cujas promessas, argumentos e declarações, dados com tanta confiança nos últimos anos, sobre como é fácil deixar a UE e como as negociações acabarão por terminar terão um enorme impacto. Se o Brexit for forçado a não negociar, e houver consequências económicas negativas imediatas, então a era de Theresa May poderá ser vista com alguma nostalgia e, ao contrário de alguns dos seus antecessores, como Tony Blair e David Cameron, pelo menos desfrutará de alguma simpatia, como uma pessoa que tentou fazer o melhor possível em circunstâncias impossíveis. Tal indulgência caritativa quase certamente não será concedida ao seu sucessor e há todas as possibilidades de que o Partido Conservador, depois de três séculos como uma força política no Reino Unido, possa ser consignado ao estatuto de partido minoritário, ou mesmo ao completo esquecimento. Se o sucessor de Theresa May falhar em um Brexit suave, pode significar o fim do Partido Conservador britânico. A Grã-Bretanha sofrerá pesadas perdas económicas com a iminente saída, já que está economicamente e altamente integrada na UE. Embora possa procurar mercados alternativos, o custo será alto e não será realizado imediatamente, sendo que uma das vantagens notáveis da Grã-Bretanha é o estatuto de Londres como centro financeiro internacional. Mas a saída da UE pode diminuir o papel do país nas finanças globais e é provável que afaste os investidores estrangeiros. O Citigroup estimou que o PIB anual da Grã-Bretanha pode diminuir entre 3 a 4 por cento nos próximos três anos devido à saída. O relacionamento da Grã-Bretanha com o resto do mundo também será afectado. Tem de recuperar de alguma forma a voz única e ressonante nos assuntos mundiais, uma vez rompidos os laços com a UE. No que diz respeito aos assuntos europeus, pelo contrário, a Grã-Bretanha terá menos direitos a participar na tomada de decisões no futuro. Os Estados Unidos também perdem um canal para exercer influência na UE por meio da sua estreita parceria com a Grã-Bretanha. A “relação especial” entre os dois países mudará de maneira subtil. A divisão política na sociedade britânica ampliou-se após o referendo. Os eleitores do “Pro-Leave” derrotaram os que apoiaram a campanha do “Remain” por menos de 4 por cento ou seja um milhão e duzentos mil eleitores. Além disso, muitos cidadãos podem enfrentar incertezas quanto à sua vida, emprego e rendimento devido ao referendo, agravando ainda mais os “remanescentes”. O primeiro-ministro escocês afirmou que um segundo referendo sobre a independência da Escócia era “altamente provável”. A Escócia, Irlanda do Norte e Londres são três áreas em que a maioria dos eleitores apoiou a campanha “Remain”. A ameaça à unidade nacional da Grã-Bretanha está a crescer. O Brexit é também um duro golpe para a UE e uma grande conquista da integração regional que os europeus fizeram nas últimas décadas. Dentro da UE, há livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capital, o que muitas vezes é considerado o ápice dos esforços para alcançar a unidade humana no mundo. No entanto, o eurocepticismo tem vindo a aumentar no continente ao longo dos últimos anos. Depois do referendo sobre a adesão da Grã-Bretanha à UE, as pessoas temem que mais Estados-membros sigam o exemplo, embora essa reacção em cadeia pareça improvável, o processo de integração europeia sofreu um revés significativo. Actualmente, tanto a economia europeia como a mundial permanecem frágeis, com o Brexit apenas a aumentar a incerteza global e como uma das maiores economias do mundo, o impacto da Grã-Bretanha permanece perceptível. No dia em que o resultado foi anunciado, a libra esterlina caiu, resultando em flutuações cambiais internacionais e vendas de acções recorde. A China mantém estreitos laços económicos com a Grã-Bretanha e a UE, pelo que o Brexit inevitavelmente terá alguma influência nas relações China-Reino Unido. Se o Reino Unido deixar de fazer parte do mercado único da Europa, deve reforçar os laços comerciais com outras regiões. Nesse contexto, o fortalecimento das relações chinesas seria uma opção lucrativa para a Grã-Bretanha, especialmente se o comércio britânico se desviar significativamente da UE. Além disso, a Grã-Bretanha estaria livre para acordar com a China sobre livre comércio e investimentos bilaterais sem as restrições impostas pelas leis da UE. De acordo com o Tratado de Lisboa, os membros da UE não estão autorizados a firmar acordos de livre comércio ou acordos bilaterais de investimento com terceiros. Todavia, a China perderia a Grã-Bretanha como uma porta de entrada para aceder ao mercado da UE e promover o uso do renminbi na Europa. Além disso, a Grã-Bretanha poderia ser menos atraente para o investimento estrangeiro depois de sair da UE, mas não perderia a sua vantagem competitiva nas indústrias. O investimento directo da China na Grã-Bretanha pode ser influenciado negativamente, mas não deve cair drasticamente. É bastante simples a China interpretar a estratégia da Grã-Bretanha. O Reino Unido pode parecer um local de investimento muito mais aberto para as empresas da China, ainda que desvinculado dos mercados europeus e, muito menos atraente como uma possível porta de entrada para o continente. Além disso, a influência internacional do sector de serviços financeiros de Londres deve ser significativamente reduzida pela perda dos chamados direitos de passaporte, e isso tem o potencial de afectar a ambição da cidade de assumir um papel de liderança na internacionalização da moeda chinesa. Para os cidadãos chineses que desejam estudar ou trabalhar no Reino Unido, a situação mudará. A Grã-Bretanha removida da Europa poderia oferecer mais oportunidades, ou poderia ser menos atraente; sendo menos internacional e mais paroquial. Tendo-se tornado mais isolado diplomaticamente, o Reino Unido será visto no pensamento político chinês como um actor muito menor e menos importante. Infelizmente, essa atitude em particular e o que conduzirá não foi tida em consideração por muitos eleitores britânicos em 23 de Junho de 2016 e se contentarem em viver com as consequências, teremos que esperar e ver, independentemente da situação. Os ingleses defendem que a Grã-Bretanha e a China devem aproveitar oportunidades excepcionais para forjar uma parceria global mais próxima na era pós-Brexit. Os dois países poderiam aumentar ainda mais a sua cooperação nos campos do comércio, investimento, energia limpa e outros, enfrentando desafios globais. A Grã-Bretanha está disposta a renovar o seu entusiasmo pelas relações internacionais, especialmente com a China. O Reino Unido no mundo depois do Brexit, continuará a negociar com a UE e para muitas empresas chinesas e investidores que estão sediados na Grã-Bretanha, ainda é um bom local para fazer parte da Europa. O relacionamento da Grã-Bretanha com a China é um bom exemplo do seu internacionalismo, que entrou em uma nova fase na “era de ouro” e na sua estratégia industrial recém-lançada, tendo o governo britânico identificado a transição energética como um dos principais desafios globais e a melhor solução para os solucionar é quando os países podem trabalhar juntos, sendo de recordar que ambos construíram uma base sólida de cooperação nessa matéria. O projecto Hinkley Point C não é apenas o maior investimento em energia do Reino Unido, mas também o maior projecto de investimento em infra-estrutura na Europa, sendo um bom exemplo de como a cooperação em energia limpa pode funcionar como um pilar da parceria internacional. O projecto de dezoito mil milhões de dólares, com um terço do investimento feito pela China, foi descrito como a primeira nova central nuclear da Grã-Bretanha em uma geração. Através do Acordo de Paris, tanto a Grã-Bretanha quanto a China assumiram compromissos muito significativos sobre as alterações climáticas e um dos desafios é ter certeza de que a Grã-Bretanha pode cumprir os seus compromissos a um custo acessível. O propósito da Grã-Bretanha participar no Diálogo Europeu de Energia é o de procurar oportunidades para a cooperação de energia renovável em uma ampla gama, incluindo a energia eólica offshore, pois estabeleceu uma posição de liderança neste campo, e o custo de energia foi efectivamente reduzido com a aplicação da tecnologia eólica offshore, esperando que a energia limpa seja acessível tanto para os consumidores quanto para as empresas, tendo a ambição de reduzir o custo da energia. A Grã-Bretanha está também interessada na iniciativa Made in China 2025, pois o mundo testemunhou mudanças maciças e empolgantes que ocorrem onde grandes revoluções tecnológicas têm vindo a transformar quase todos os sectores da economia, assim como a vida das pessoas. A China e o Reino Unido têm visões idênticas sobre as tendências globais, como o envelhecimento da população, e ambos elaboraram planos de acção para desenvolver a inteligência artificial, análise de dados e outros sectores para abraçar mudanças tecnológicas e construir forças económicas. Quando me pus a semear lebres Luís Carmelo - 13 Jun 20196 Mar 2020 [dropcap]C[/dropcap]omeço a crónica de hoje com o depoimento de Inácio Crespim, antigo acarretador de São Romão (Vila Viçosa), entrevistado nos anos de 1994-1995 por Luís Silva para um livro que foi publicado em Maio do ano passado, intitulado ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana’*. “O meu pai nunca abalava do moinho, só estando doente é que não dormia lá.” (…) “Tinha uma tarimba lá dentro do moinho” (…) “era ali a tarimba, era ali que ele dormia e encantado da vida. A cama era uma esteira de buinho [com] uma manta ali em cima da esteira. Em ouvindo o chocalho, lá se levantava para encher a moega. Enchia, punha a argola do chocalho na cegonha e, depois, ficava descansado até que se acabasse aquele trigo na moega”. A vida dos seareiros, moleiros, farineiros, atafoneiros e acarretadores (ou maquilões) é hoje totalmente desconhecida. A ignorância avança ao lado dos cultos do saber. Eram vidas muito duras e particularmente solitárias. Antes de a indústria da moagem se ter desenvolvido, era dentro dos moinhos que o cereal se moía, produzindo-se a farinha que é essencial para o pão. A água dos rios era a fonte de energia e o resto equivalia a um intenso episódio braçal, claustrofóbico, quase místico. Em 1786, três anos antes da revolução francesa, um “Código de Posturas” publicado em Mourão dava conta das restrições a que a actividade dos moleiros (e dos atafoneiros) estava sujeita: “Os moleiros e atafoneiros serão examinados com juramento de fazerem verdade, e os moleiros e atafoneiros tomarão também juramento de fazerem verdade e ninguém poderá ver moleiro em moinho ou acenha, ou atafona sua… nem terão suas molheres nas ditas moendas, nem ainda em taes fazendas que tragão arrendadas, nem terão cão, nem galinhas, nem porco, nem cavalgadura sua nas ditas moendas, nem ao redor dellas, nem em suas casas. E terão gato ou gata para os ratos, e terão alqueire de.., meio alqueire de pão, e maquieiro e meio maquieiro e tudo aferido e affillado pello aferidor do Concelho nos primeiros oito dias de Janeiro e Julho de cada anno, de que tirarão sequestro, e terão sempre panais postos nas moendas e… de farinhas, e nas moendas andarão descalços, e no principio de cada anno darão fiança sob pena de pagarem por qualquer desttas couzas não cumpridas quinhentos reis e sob a mesma pena não comprarão vinho aos vinhateiros que forem aos moinhos, e nelles não venderão trigo nem farinha a pessoa alguma com pena de mil reis, e salvo emprazadores e senhorios dos moinhos, que tomem conhecimento do tal trigo e farinha que venderem, e duitamente do seu ganho”. É curioso como esta actividade estava sob juramento. Além do carácter votivo, não havia direito à sexualidade, ao vinho e à companhia de animais. Os gatos eram a excepção, o que se ficava a dever às exigências de higiene (onde se incluía, também, o uso de panos sobre a moenda – ou pedra mó – e a obrigação de não usar calçado). A fiscalização e a vigilância externas incidiam nas medidas a usar, na proibição de venda directa (a não ser com conhecimento dos donos dos moinhos) e ainda na caução a que os moleiros estavam obrigados (e cujos montantes eram subtraídos em caso de incumprimento). É difícil encontrar nos dias de hoje um contrato de trabalho com estas condições, a começar logo pelo juramento. No entanto, o triângulo aqui presente – baseado no cariz solitário da actividade, nas imposições de ‘higiene’ (que definiam o meio) e na vigilância externa – não é assim tão estranho às patologias, passe a metáfora, da vida contemporânea. Pensemos no modo como o mundo em rede, aparentemente um esteio de partilhas, é sobretudo um mundo solitário que se move ao jeito de um vaivém impessoal entre a perdição do olhar e os ecrãs tecnológicos. Trata-se de uma patologia a que ninguém consegue deixar de aderir (e até com a devida pulsão eufórica). Pensemos, por outro lado, na correcção que visa codificar a nossa vida através de regras rígidas (a maior parte não escritas) que liofilizam e ‘veganizam’ a higiene e o meio em que vivemos: nada de fumo, nada de gorduras, nada de touradas, nada de tabernas manhosas que dispensem as asaes. Trata-se de uma patologia a que o ‘mainstream’ tende a aderir com o apego das antigas ‘grandes causas’ (hoje parte das novas arqueologias). Pensemos, por fim, no modo como a tecnologia nos vigia e nos espia, tema, aliás, de uma das últimas crónicas aqui publicadas (“Lavadeiras, privacidade e ameaças”**). Trata-se de uma patologia que tudo e todos tendem a fingir que não existe. Não estamos assim tão longe de Mourão dos idos 1786. As clausuras do nosso tempo pós-Orwell caracterizam-se (vistas de cima com a ajuda de um drone) por uma correria paradoxal: os passeios enchem-se de multidões a correrem desenfreadamente sem saberem bem porquê e para onde. De tal modo assim é que, como dizia o antigo acarretador Inácio Crespim, ninguém parece ficar “descansado até que se acabe todo o trigo na moega”. Só que, hoje em dia, o trigo é imaterial e, quer o pão, quer os hamburguers já completos (e higiénicos até à medula), aparecem nas nossas mesas fresquinhos, como se tivessem acabado de sair da árvore do quintal. Eu, ao pé da minha, até costumo semear lebres – para não ter que as matar com uma boa estocada – e depois misturo-lhes alho, cebola, louro, alecrim, cravinho, chouriço (com muito sangue), nabo, 6 dl de vinho da Pêra-manca e, claro está, um belo arroz carolino, pois o integral – disse-me o senhor Crespim – faz mal às artroses. Bons feriados! *Silva, Luís, ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana – Uma visão antropológica’. Colibri, 2018, Lisboa. [Em linha]. (s/d). Disponível em https://run.unl.pt/bitstream/10362/50442/1/Livro_completo.pdf [Consult. 07-06-2019]. **Carmelo, Luís, ‘Lavadeiras, privacidade e ameaças’ em Hoje Macau. 23/05/2019. [Em linha]. (23-05-2019. Disponível em https://hojemacau.com.mo/2019/05/23/lavadeiras-privacidade-e-ameacas/ [Consult. 07-06-2019]. Quarentena: uma narrativa António Cabrita - 13 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]ascidos a bordo de um navio em quarentena, ao fim de uns anos engolfa-nos a ausência, ansiamos um abraço de sangue. A raros se concedeu – presumo que a suborno – soltura. O navio ficou ao largo por um período a prumo, que não cessa de indeterminar-se e aí a língua é o algeroz de onde pingam a esperança e o alfabeto do inferno. Divisamos de longe as luzes da cidade, adivinhando até ao sabugo os seus perfumes, a desabrida floração dos cometas no peito das raparigas, o rasto de anfetaminas com que os rapazes metem a terceira e repelem os mortos. Enquanto na nossa cabine ou no desabrigado convés tudo se repete, unânime, caliginoso. Dás conta, já não batem os sinos na cidade! Emudece a via láctea nos salmos que tingem o WhatsApp? No dia da boda uma borboleta, das que migra, transatlântica, veio ressacar ao corrimão do tombadilho e depois alumiou as bordas da piscina com a sua valsa imatura. Tudo quanto vislumbrámos das flores da costa. Ocorre o amor entre os convalescentes? Tudo indica que o homem é capaz de amar no próprio inferno, embora a solidão na proa não deixe de lembrar-nos que nunca mergulharemos duas vezes no mesmo vento. Ancorados ao largo da alegria, de quarentena, o capcioso brinde final destinar-te-á um breve toque de clarim, antes de amortalhado numa bandeira o teu cadáver ir lancetar o mar. Mataste o tempo, lendo a Oresteia e conviveste com as deambulações de Ulisses, também ele tardio e como tu enleado nos novelos da idade que ensimesma, e já reconheces na enlanguescida inteligência do antigo amante de Circe o declinar da tua. Estaria tudo bem se não visses que os teus filhos também nasceram a bordo e como se lhes emaranha nas veias uma bilha de gás e uma cabeça de fósforo. Aí revoltas-te! Apontas o canhão da proa e inflamas o horizonte com a tua veia derramada. Alba. O barrete realça, não esconde a cabeça de cachalote do marinheiro que subiu à gávea. Padeceriam igualmente os anjos desse peso transbordante, acima do pescoço rútilo? Um veleiro airosamente descalço adeja ao largo. No rádio passam Zappa, conduzido por Boulez – tudo se desloca nos meridianos aquosos. A quem devemos a quarentena do planeta? É tão escasso o pensamento, nestas anfractuosas tonelagens de ferro, que nos serve de guarida contra o íngreme entenebrecimento, contra a cegarrega que nos atou, é fugaz, mas dactilografa estrelas à superfície das águas, lépida doma dos néones, e aí intuímos: cada palavra é uma ilha e procura arquipélago. Saberá o urso que hiberna? Não tem clímax a noite, só tem ápice na queda. A noite é o seixo que rola no leito da tua vida; rola para a foz ou para a nascente? Alarma-te o enigma do teu corpo e da tua sombra bifurcarem na língua da cobra. Como traduzir a inconciliável corrente que os aparta em amuos incandescentes, não obstante partilharem o que tolda no copo de gim? Solução para o dilema: talvez em terra, mas, entretanto, retido em quarentena, apesar de desconheceres a combustão antropofágica da doença, a dúvida que não cala encapela-te os páramos do sangue. A inocência é que te tramou, enredou-te nas ramagens da noite – embora na orla das escotilhas já a luz da alba se ice, vagarosa, e a algazarra das cores se adiante, esta outra luz é mais um alinhavo frágil na bainha da mesma e idêntica noite que te ofusca, espectral. Contudo, por décadas a fio de quarentena encrespada nos gargalos, pode lá a escassez encaixar-se nas tuas linhas de sombra: basta ouvirmos o latido de um cão na costa e restituímos a pedra que sonha à tepidez da mão que enxagua a sua matéria exausta. Transpira o navio contra a quarentena, ondula. Lês na fornalha de Dante os glóbulos brancos do teu nome. Quanto tempo demora o limbo a fazer-nos compreender que desenhar as letras não nos emenda a escuridão? Tanto que vejo, sem adivinhar o quanto ensejo no que vejo. De quarentena, a vida de nós não se aproxima nem para a despedida. Embora tudo indique que o homem seja capaz de amar no próprio inferno. 08/06/2018 Relicário de sonhos I Gisela Casimiro - 13 Jun 2019 [dropcap]H[/dropcap]á alguns anos a esta parte, enquanto lhe contava um sonho, dos muitos que tenho, ou melhor, dos muitos que recordo, diagnosticou ou melhor, perguntou-me o Rui Zink se eu sabia que era grafomaníaca. Eu não sabia. Nem sabia o que isso era. Mas o Priberam explicou que era uma necessidade patológica de escrever ou de fazer registos gráficos, o hábito de escrever ou de registar graficamente muitas coisas. Poderia dizer que nunca mais fui a mesma mas mentir é feio. Continuei a sonhar e a registar os meus sonhos, e até os sonhos que amigos tiveram comigo, como o faço com os diálogos e peripécias que me acontecem, apenas agora exibindo esta condição incurável como uma curiosidade exótica. Não é muito melhor do que ter um transtorno obsessivo-compulsivo? Eu acho que sim. Mas na verdade, não poderia isto, também, ser considerado como tal? Adiante. A poucos dias do seu aniversário, deixo aqui uma pequena colecção, sem grande organização, análise ou interpretação, clínica ou mística, a este querido amigo e antigo professor meu (que não tem memória dos seus e estará, provavelmente, grato por isso) de alguns sonhos dos últimos anos. Há pessoas mesmo estranhas, não há? 2019 Sonhei que andava a mudar plantas mas, apesar de ter bastante à disposição, constantemente me enganava e colocava cacau em pó em vez de terra nos vasos. 2018 Sonhei que Jesus Cristo me visitava. Era um sonho agradável. Dizia-me o dia da minha morte, mas não do mês ou do ano. Em seguida, tive um sonho muito violento, mas acalmava-me dizendo: não é hoje que eu vou morrer. 2017 A noite passada sonhei que me ofereciam um trabalho de fim de semana como domadora/treinadora de elefantes e a formação consistia em passar tempo com o elefante mas sobretudo via lá no horário yoga yoga yoga yoga. 2016 Sonhei com sonhos. Esta noite sonhei que o meu romance estava terminado. Sonhei que ia passar o verão a Hong Kong. Mas antes estava nas traseiras do prédio dos meus pais a andar de bicicleta. E tinha um saco de viagem que não queria perder, então pensei, vou andar de bicicleta à volta do saco. Nas notícias falavam de um fugitivo. Outra noite sonhei que uma mãe e seu filho queriam ir para minha casa; tinham chaves e tudo, convencidos de que lhes pertencia. Recebia ainda um grupo de Masai em casa, e a minha tia. Discutimos e eu estava preocupada porque não sabia como acomodar tantas visitas inesperadas. E tinha de pensar nas minhas colegas de casa. Só que a minha casa não era a actual. Era a casa de uma ex-amiga minha. Sonhei que estava a vir de onde costumo lanchar às vezes no trabalho mas agora de repente, a meio do caminho, estava grávida, já em estado avançado, e conseguia ver o meu bebé através da barriga e da roupa, como se fosse transparente de algum modo. Sorria para mim. 2015 (Depois de ser operada ao estômago) Sonhei que me via a comer comida normal antes de tempo e ficava com medo de morrer. Tentava avisar-me a mim mesma para parar, mas era como se estivesse a pairar no tecto e não me ouvia. Uma visão do horror. Cheia de medo que me rebentasse o estômago. Sonhei que tinha cancro. Era um sonho muito atribulado. Eu sabia que tinha porque os meus médicos queriam reunir-se comigo e um deles deixou a noiva no altar à espera para ir à reunião. Por algum motivo tinham de me amputar as duas pernas. Eu ia lá para a o fazerem, e quando a médica começava a preparar tudo eu dizia que não queria e que não conseguia lidar com aquilo. E percebia que também não tinha dito a ninguém, porque me imaginava a aparecer em casa dos meus pais, era o dia do aniversário do meu pai,, e a cara da minha mãe ao ver-me com próteses. Sonhei que havia uma pessoas que queriam encomendar rissóis e croquetes à minha mãe. Mas era só uma desculpa para nos fazerem mal. A minha mãe não estava em casa e eu e mais pessoas (?) fazíamos de tudo para afastá-las. Só sei que, quando finalmente mandei mensagem à minha mãe a avisar, de repente a vi a caminho, mas estava careca. Entretanto um miúdo e uma miúda que eu sabia fazerem parte do tal grupo vieram ter comigo, agora sim só comigo, e conversámos muito mas eu continuava sem querer confiar neles. Que sonho parvo. A parte dos miúdos, contudo, era pesada, intensa. Não me lembro da conversa, apenas da sensação. Eventualmente a minha mãe chegava a casa. Não me lembro de mais nada. Sonhei que a minha mãe nunca mais se levantava e o meu pai queria dar-lhe umas prendas. Ele estava sentado à mesa, cabisbaixo. Havia coisas para ela mas também havia um helicóptero dourado, enorme. Ele dava uma boneca que andava e falava à minha irmã. No sonho eu via a minha irmã no escuro, sentada na cama, com a boneca gigante ao lado, do tamanho dela. Apesar de o helicóptero estar lá e ser parecido com um que tive, eu percebia que nada daquilo era para mim. E então ficava muito magoada e ia embora para a Finlândia durante três meses, que passaram em segundos, e depois voltava para dizer que me ia embora novamente por mais tempo e usava um mestrado como desculpa. Sui generis admin - 13 Jun 20199 Jun 2020 [dropcap]Q[/dropcap]uando viu o Sidónio nu à sua frente ficou sem jeito e sem capacidade de reacção. Estava farto de ver homens naquele estado, isso não era o problema, bastava olhar-se ao espelho ou ir ao balneário do ginásio, mas assim naquele registo tão íntimo, pronto-a-comer, nunca tinha acontecido. Deixava-o desconfortável. Esta sua decisão de se tornar homossexual ainda não era cem-por-cento consensual dentro de si, tinha ainda as suas dúvidas. Nem todos os seus genes tinham aprovado essas regras em uníssono, por isso caminhava um pouco a medo, em terreno desprovido de qualquer cor. Não, não era nenhum arco-íris, por enquanto. Sempre gostara de mulheres e, apesar de estar a entrar nos cinquentas, era um homem sexualmente bastante activo. Esteve casado duas vezes, a última quase dez anos, com muitas aventuras nos entretantos, mas chegara a altura de sair do armário, como se costuma dizer. Bom, ele nunca tinha estado a viver numa prateleira, tinha a certeza disso, sempre fizera tudo às claras, não tinha nada a esconder. Mas a heterossexualidade também não fazia o seu género, no sentido em que gostava de dar um passo à frente. Era um experimentalista e apetecia-lhe mudar de ares. A primeira coisa que disse ao Sidónio foi: “vai devagar”. Era um comprimido dos grandes que tinha de engolir. Lembrava-se de quando tinha de tomar coisas assim quando era miúdo. Deitava tudo cá para fora e a sua mãe ficava com os cabelos em pé e gritava com ele. Mas aquele espécime não o atraía minimamente, tinha um ar a dar para o abichanado que o irritava. Sempre o irritou, para ser sincero. Por diversas vezes, em pensamento, tinha troçado um pouco dele, apesar de naquela figura se apresentar com um corpo tonificado e com uma cara laroca. Tratava-se bem, o Sidónio. E até era um gajo porreiro, mas era para ir beber uns copos e apanhar uma grande tosga, não era para estar com o pila dele na boca. Mas tinha de ser e a ideia até tinha sido sua. Trabalhavam juntos há muitos anos e sempre teve um à-vontade extremo com o Sidónio para falar das coisas, vá-se lá saber porquê. Era um facilitador. E quando começaram a trocar ideias sobre o assunto, de como ele não se importava de experimentar “aquilo”, o colega ficou logo de antenas no ar e mostrou-se híper interessado, convencendo-o de que gostaria de ser a cobaia. Até chegarem a esta situação embaraçosa, não demorou muito tempo. Duas semanas? Agora, era preciso relaxar e ultrapassar de uma vez por todas o complexo que se tinha atravessado à sua frente, senão não ia conseguir cumprir os seus objectivos. Dantes, quando precisava de se abstrair pensava em matrículas de automóveis. Estava sem recursos. Precisava de uma mão divina. À medida que o Sidónio fazia tenções de o acarinhar ele afastava-se compulsivamente. Dizia: “espera!”, enquanto colocava uma musiquinha a tocar, na esperança de que aquilo ajudasse, criando um ambiente mais propício, não diria ao romance, mas whatever. Queria era ver-se livre daquela situação e prosseguir com a sua vida. Ele que não era nada esquisito com a comida, comia tudo o que lhe pusessem no prato e gostava sempre de se lançar de estômago alegre para gastronomias desconhecidas. E se as mulheres, de quem ele tanto gostava, o faziam com tanta facilidade, não havia de ser ele que iria agora voltar para trás e desistir. Mas havia ainda a outra parte, o factor essencial para que a contenda desse certo, entre as suas pernas parecia existir uma letargia completa. “49-BO-13”. Na casa-de-banho tinha usado um lubrificante adequado, para não estar a interromper nada mais à frente, o que ainda iria ser pior, e achava que estava preparado, que não ia custar. Já tinha beijado amigos em noites de bebedeira e ali tinha pensado em todos os pormenores, mas estava demasiado tenso, era preciso libertar-se daquele torpor, fosse de que maneira fosse. Então achou que se desse um beijo ao Sidónio, daqueles à antiga, imaginando-se inebriado com uma lufada de vento, talvez tudo se resolvesse. Sim, era isso que iria fazer. Iria abraçá-lo e beijá-lo com estrondo. Depois logo se veria. O que aconteceu, em concreto, não sabemos. O que é certo é que deu o grande salto em frente e com naturalidade enfrentou sem encerros a sua nova condição perante a sociedade. Do modo como os colegas de trabalho o entreolharam nas semanas seguintes, só confirmava que o seu outro eu já não era segredo. Mas ele gostava disso. Gostava da assumpção. Encontramo-lo tempos mais tarde, já com o coração a bater a um ritmo semi-descontrolado. Começara a namorar com um homem, ou era o que ele achava, que aquilo era uma relação à séria. De início, estava confiante que tinha finalmente encontrado o seu primeiro namorado, extremando ainda mais a corda para a sua vida passada. Mas a história tinha outros contornos e revela-se aqui num excerto roubado do seu diário. “Quando conheci o Eddy ele não me contou a verdade, não me disse que afinal não era bem assim. Conhecemo-nos numa noite, num festival de cinema. Ele fazia parte de uma equipa de produção de um documentário premiado, um documentário sobre a extinção do género, e a partir daí fomos falando quase todos os dias. Até que noutra noite mais acalorada, sem câmaras pelo meio, nos envolvemos de modo íntimo. Aconteceu tudo muito rápido. Bem que lhe meti logo a mão entre as pernas, mas ele afastou-me, dizendo que ainda não. Queria primeiro aguçar-me o apetite, pensei. E quando passámos ao acto em si – já não aguentávamos mais! – baixou as calças e virou-se de costas para mim. Tínhamos trocado beijos clamorosos, ficámos agarrados como duas tomadas, em curto circuito, com as nossas línguas derretidas uma na outra. Tudo corria bem. Todo o meu ser efervescia de paixão. Finalmente, estava com os dois pés no caminho que tinha começado a traçar com o palerma do Sidónio. Mas quanto a esse caso, nem me quero lembrar desse momento, aquilo foi um suplício. Nunca tive qualquer dúvida quanto ao Eddy. Vira-o de tronco nu e, apesar de profusamente depilado, é uma mania que não pratico, tinha um bonito peito de homem. Seja lá o que isso quer dizer. Eu sei lá, pelo menos foi o que supus. A minha ideia nunca tinha puxado para o outro lado. Quando se vê uma coisa não se vê a outra e o toldo tapa o horizonte por completo. Mesmo depois de ele engolir o auge do meu prazer e continuarmos com aquilo noite fora, eu gritava: ‘Eddy! Eddy!’ E abraçava-o, como se não houvesse mais mundo. Mas não demorou muito até descobrir a realidade, de que afinal o rapaz por quem me tinha apaixonado era afinal uma mulher. Raios! Não havia como evitá-lo, fiquei estupefacto e chorei. O que me tinha levado a gostar de homens tinha sido uma vontade imensa de experimentalismo e ao dar esse passo queria aprofundar a minha nova postura, assumindo-a. Na verdade, passei a ter uma atracção genuína por pessoas do mesmo sexo, e só por elas, achava eu. Limitava-me a saborear aquela fruta tropical. Agora, parece que me egasguei. Terá sido o caroço? Quando conheci o Eddy, era indiscutível de que ele era um homem. Nem foi tema de que alguma vez tenhamos falado, a dúvida, era tudo claro como a água. Mas a extinção do género tinha ganho um prémio, esse tinha sido o nosso ponto de encontro, e quando deparei com aquilo, não soube como reagir. Uma pessoa ama o indivíduo, para além da inscrição do género, seja ela qual for? O que é isto da sexualidade e do corpo que nos calhou? Depois de tanto esforço, eu não podia andar com uma mulher, ia contra os meus novos desígnios. Ai, Sidónio, eu vi logo que isto não podia dar certo. Mas eu adoro o Eddy. É uma paixão sem fim, como nunca tinha sentido. E quero passar a vida nos braços dele – dela! – para sempre. E se descobrirem, depois de tanto vergar a corda, que afinal eu não sou homossexual? Também o que me havia de calhar na rifa, o Monsieur Butterfly. Não sei o que pensar, mas também não me interessa saber. Dê por onde der, mesmo sem arco-íris, sigo em frente.” Ficamos descansados, não há cenas dos próximos capítulos. Coimbra | Chissano realça papel de Academia nas relações sino-lusófonas Hoje Macau - 13 Jun 2019 O novo organismo, apresentado esta terça-feira em Coimbra, a Academia Sino-Lusófona, visa reforçar as relações entre os países de língua portuguesa e a China. Na apresentação marcaram presença, entre outros, o antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano e o embaixador chinês em Portugal, Cai Run [dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano disse esta terça-feira em Coimbra que a Academia Sino-Lusófona (ASL), agora apresentada, vai contribuir para o fortalecimento das relações entre os países de língua portuguesa e a China. Para Joaquim Chissano, a Academia Sino-Lusófona, apresentada na Universidade de Coimbra (UC), na presença do embaixador da República Popular da China em Portugal, Cai Run, “é uma parte de uma dinâmica” que deve ser aproveitada pelos membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e pela China, no relacionamento entre si. O novo organismo, dirigido por Rui de Figueiredo Marcos, director da Faculdade de Direito da UC, “vai impulsionar” essas relações e o trabalho que vier a desenvolver ajudará a “descobrir novas maneiras” de Portugal, demais parceiros lusófonos e a própria China se “relacionarem também com outros países” no mundo, declarou o ex-presidente moçambicano aos jornalistas. Chissano interveio numa sessão, no auditório do Colégio da Trindade, na Alta de Coimbra, em que a UC apresentou a ASL, com o objectivo de “reforçar os laços” com a China e os países de língua portuguesa. Língua de crescimento No seu discurso, Joaquim Chissano realçou “o papel que a Academia pode jogar no desenvolvimento” dos países envolvidos, com “uma visão inovadora” e com vista “de uma maximização das vantagens para todos”. “O mundo académico pode e deve jogar um papel muito relevante” neste domínio, disse, ao realçar que o Português é quarta língua mais falada “e a terceira com maior crescimento no mundo”. Joaquim Chissano pediu aos doadores para continuarem a ajudar Moçambique, na sequência do ciclone tropical Idai, que atingiu o país em Março, causando centenas de mortos e avultados danos materiais. A ajuda internacional recebida “ainda é insuficiente”, disse depois aos jornalistas. Na cerimónia, em que actuou o coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, usaram também da palavra o professor Rui Marcos, o reitor da Universidade, Amílcar Falcão, e o embaixador Cai Run. O diplomata chinês valorizou o aprofundamento das relações entre a China e os países da CPLP, em geral, vincando que o relacionamento entre Lisboa e Pequim vive “a sua melhor fase”. Inscrições para workshop com Catarina Mourão só até amanhã Raquel Moz - 13 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap]s inscrições para o Workshop de Documentário da cineasta portuguesa Catarina Mourão, que vai decorrer de 22 a 27 de Junho na Casa Garden, estão abertas só até amanhã, sexta-feira, dia 14. A iniciativa é gratuita, para maiores de 16 anos, até um limite de 20 participantes. Organizado pela Fundação Oriente, com o apoio da Casa de Portugal em Macau, o projecto insere-se nas comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e é aberto ao público em geral. Durante seis dias, os interessados vão poder experimentar o processo criativo de filmar um documentário, a partir de filmes que irão introduzir os tópicos de trabalho para cada sessão. Trata-se de uma oficina de produção e realização para iniciantes e amadores, intitulada “A Casa e o Mundo”, onde durante 3 horas diárias os alunos vão desenvolver obras de acordo com a sua inspiração e a orientação da realizadora. Tal como descreve Catarina Mourão, na nota de apresentação, “neste workshop vou partilhar com os estudantes o meu processo criativo na filmagem de documentários. É essencialmente um trabalho que se inicia no microcosmos da família, da casa, da rua. Começamos por viajar por entre aquilo que nos é familiar, e acabamos por encontrar estranheza e novas estórias além da nossa zona de conforto”. E especifica, “cada um dos meus filmes desencadeou um desafio diferente. E cada desafio irá estimular os participantes a trabalhar num determinado projecto de filme, para o qual deverão encontrar o seu ângulo pessoal e a sua solução”. À procura de respostas As oficinas terão um total de 18 horas. A 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, o horário é das 14h às 17h, e nos seguintes dias, de 24 a 27, em horário pós-escolar ou laboral, das 18h às 21h. Cada sessão de workshop terá como ponto de partida a exibição de um filme: “Daguerreótipos” (1976), de Agnès Varda, o “primeiro documentário que teve um verdadeiro impacto na minha forma de filmar”, e “À Flor da Pele” (2006), “Pelas Sombras” (2010) e “A Toca do Lobo” (2015), de Catarina Mourão. O programa procurará respostas à questão sobre o que é o documentário, como género, no actual mundo da imagem. Através de exercícios práticos na escolha dos temas, personagens, localizações, roteiros e pesquisa em arquivos, os alunos irão ensaiar e discutir em conjunto técnicas de filmagem e de edição, antes da apresentação final dos trabalhos. As inscrições deverão ser feitas através do email workshopcatarinamourao@gmail.com. Mais informações podem ser solicitadas à Fundação Oriente e à Casa de Portugal. Artistas contemporâneos mostram obras de luxo no Morpheus Raquel Moz - 13 Jun 2019 A colecção de obras do City of Dreams, assinada por artistas de renome internacional, junta-se à iniciativa Arte Macau e vai surpreender os visitantes do Morpheus até ao final do Verão [dropcap]E[/dropcap]ncontros Inesperados” é o nome do conjunto de peças artísticas que, no âmbito da iniciativa “Arte Macau”, se encontram, a partir de hoje, à disposição dos visitantes do Morpheus, na zona do Cotai. O novo hotel, desenhado pela premiada e já desaparecida arquitecta Zaha Hadid – a primeira mulher a receber o Pritzker de Arquitectura –, está a dias de celebrar o seu 1º ano de actividade, depois de ter aberto as portas a 15 de Junho de 2018. A exposição que está patente pelos diversos espaços da unidade hoteleira, pertencente ao complexo do City of Dreams, tem o seu ponto alto na galeria Art on 23, no 23º andar do edifício envidraçado. É lá que se encontra a grande estátua de KAWS, com a conhecida figura de Companion, a primeira personagem criada pelo jovem e famoso artista norte-americano de cultura pop. A este trabalho foi dado o nome “Good Intentions”, em que a simpática figura, inspirada nos cartoons, representa aqui a relação entre pais e filhos. Esta é uma das peças de destaque, depois do sucesso das estátuas do artista e designer Brian Donnelly – que escolheu o nome KAWS nos seus tempos de graffiter – ter chegado aos grandes museus e galerias internacionais, como o MOMA, em Nova Iorque, ou a praça Museumplein, em Amesterdão. Personalidades do show biz americano, como o produtor musical Swizz Beatz ou o rapper Pharrell Williams, também têm as suas estátuas em casa. No mesmo piso encontra-se ainda a instalação “Cabane Éclatée” (Exploded Hut) de Daniel Buren, o conceituado artista conceptual francês, conhecido por integrar elementos arquitecturais e grafismos coloridos nas suas intervenções. Tem uma vasta obra exposta em museus como o Guggenheim e o MOMA em Nova Iorque, o Palais Royal em Paris, o Templo do Céu em Pequim, a galeria contemporânea da Casa Hermès em Bruxelas ou a Fundação Louis Vuitton em Paris. “A City of Dreams é proprietária de uma impressionante colecção de arte de mestres contemporâneos”, como informa na nota de divulgação, onde “cada peça foi seleccionada porque proporciona um encontro único com o público”. As obras estão dispersas pelo espaço do edifício, à excepção da que foi emprestada ao Museu de Arte de Macau, “Untitled” do pintor alemão Thilo Heinzmann. Peças para descobrir Assim, no Lobby VIP do Morpheus, está “Wild Pansy” do artista contemporâneo francês Jean-Michel Othoniel, uma peça em espiral que apresenta movimentos e metamorfoses, escultura característica da sua conhecida obra, exibida por exemplo no Centre Georges Pompidou, no MOMA ou nos jardins de Versailles. As restantes colecções estão localizadas em diversos pontos, para serem descobertas com surpresa, o que justifica os “Encontros Inesperados” do título. “Continuel Lumiére Au Plafond” é a instalação imersiva, com múltiplos fragmentos espelhados em suspensão, do artista argentino Julio Le Pac, que se dedica desde sempre à arte cinética e à Op Art, fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel e autor de muitas obras premiadas. “9 Seas”, do designer francês Mathieu Lehanneur, é uma homenagem às cores do oceano, com imagens recriadas em cerâmica a partir de fotografias de satélite de alta definição. “Sky”, do artista conceptual chinês Zhau Zhau, é um trabalho nos mesmos tons, desta vez sobre a percepção e memórias que o artista tem do azul do céu. O traumático encontro com um urso polar deu o mote à obra “I’m Busy Today & Look At Me!”, de Paola Pivi, a artista multimédia italiana que vive e trabalha em Anchorage, no Alasca. A peça pretende transformar o medo em afecto, ao mesmo tempo que chama a atenção para a vulnerabilidade destes animais. E “Echoes Infinity”, da artista japonesa Shinji Ohmaki, conhecida pelas suas transformações do espaço, traz coloridas flores imaginárias, inspiradas na Árvore da Vida de Leonardo Da Vinci, que se repetem em padrões e criam uma floresta de fantasia. As peças e instalações da colecção do City of Dreams vão continuar expostas no Morpheus, diariamente das 12h às 18h, até ao dia 31 de Outubro. Alipay | Mais de 10 mil empresas usam o sistema Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]esde que a “Alipay entrou no mercado de Macau, em Setembro de 2015, até agora, cerca de dez mil comerciantes de Macau aderiram ao serviço de pagamento electrónico”. O número foi avançado por Cai Zhiyu, director-geral de relações públicas de Hong Kong, Macau e Taiwan de Ant Financial Service Group. O dirigente do grupo financeiro sublinhou o grande potencial do mercado local, algo que se materializou na abertura recente do Banco Xinghui em Macau, que faz parte da estratégia de expansão na região. O dirigente sublinhou a dimensão da Alipay, que conta actualmente com mais de mil milhões de usuários. AMCM | Quebra nos empréstimos à habitação Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]ados oficiais da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) referentes ao mês de Abril mostram que houve uma quebra dos empréstimos hipotecários para habitação face a Março. Por outro lado, “os empréstimos comerciais para actividades imobiliárias aprovados registaram um crescimento”, sendo que o saldo bruto dos dois tipos de empréstimos aumentou. A queda dos empréstimos à habitação situou-se nos 24,9 por cento, num valor total de 2,54 mil milhões de patacas. Neste âmbito, os empréstimos feitos por residentes representaram 98,6 por cento do total, tendo diminuído em 23,1 por cento, num valor total de 2,5 mil milhões de patacas. No que diz respeito aos não-residentes, registou-se uma diminuição de 72,1 por cento, na ordem das 34,8 milhões de patacas. Os empréstimos à habitação relativos a edifícios em construção, mais especificamente empréstimos hipotecários para alienação de fracções autónomas em edifícios em construção, decresceram 22,9 por cento para 607,9 milhões de patacas em relação ao mês anterior. Destes, 96,3 por cento foram concedidos aos residentes locais. Selecção | Capitão escreve carta à FIFA a pedir oportunidade para jogadores João Santos Filipe - 13 Jun 2019 A oportunidade de uma vida. É desta forma que Nicholas Torrão apela à FIFA para voltar a agendar o jogo da segunda mão com o Sri Lanka com vista ao apuramento para o Mundial 2022. Já o presidente da associação, Chong Coc Veng, disse aos jogadores que os seus amigos no Sri Lanka anteviram a possibilidade da equipa de Macau ser alvo à chegada de um atentado terrorista [dropcap]N[/dropcap]icholas Torrão, capitão da selecção de Macau, escreveu uma carta aberta à FIFA, entidade internacional responsável pelo futebol, a apelar a um novo agendamento da segunda mão frente ao Sri Lanka. A carta está assinada em nome individual e refere que os jogadores “ficaram totalmente devastados” com o cancelamento da segunda mão da eliminatória. “Nós, os jogadores, ficamos totalmente devastados com o cancelamento do jogo da segunda mão frente ao Sri Lanka, que seria jogado no terreno deles, devido à Associação de Futebol de Macau se ter recusado a viajar”, pode ler-se no documento. “O futebol é feito de regras e regulamentos, que compreendemos, mas acima de tudo o futebol é feito pelos jogadores. E os jogadores da selecção de Macau querem mais do que qualquer outra coisa viajar e jogar a segunda mão frente ao Sri Lanka e ter a oportunidade de disputar esta ronda de qualificação”, é acrescentado. O atacante sublinha ainda que os jogos de apuramento são uma oportunidade única. “Sendo de uma região que está num dos lugares mais baixos do Ranking FIFA, estes jogos são uma oportunidade de uma vida de deixar a nossa marca no futebol do nosso País, e acima de tudo dos nossos cidadãos e fãs”, é sublinhado. A Associação de Futebol de Macau (AFM) recusou a viajar para o Sri Lanka, onde tinha jogo agendado para terça-feira, na sequência dos ataques terroristas de Abril. Chong com “espiões” no Sri Lanka Apesar da questão dos seguros ter sido apontada como um dos entraves à viagem, a verdade é que Chong disse ao jogadores, segundo Leong Ka Hang, que havia a possibilidade de haver ataques terroristas. A informação teve por base os relatos de amigos de Chong no Sri Lanka e foi partilhada na reunião de segunda-feira à tarde, e divulgada por Leong Ka Hang, ao portal 01 de Hong Kong. Leong terá também dito que não tenciona representar Macau brevemente e que sente que o facto de ter ligações à AFM é prejudicial para a sua imagem enquanto profissional de futebol. Também na terça-feira, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura comentou o tema e saiu em defesa da AFM. Segundo Alexis Tam, que citou o Instituto do Desporto, ninguém quis assegurar os jogadores e como tal disse compreender a decisão. Tam disse ainda perceber a desilusão dos atletas, mas defendeu a AFM na questão da segurança. Quando assumiu a pasta actual, Alexis Tam prometeu cinco anos “brilhantes” para as áreas sociais e da cultura. Agora corre o risco de ser o responsável pela tutela do desporto quando a selecção contrariou as decisões da FIFA e AFC e corre o risco de ser proibida de competir em provas internacionais. Além desta proibição, que poderá envolver os clubes, a AFM fica sujeita ao pagamento de uma multa monetária que pode chegar aos 40 mil francos (325 mil patacas). Ao HM, a AFC confirmou que já tinha enviado a decisão de falta de comparência para a FIFA, para ser aberto um inquérito, assim como para as suas comissões. Resíduos | DSPA promove separação em pequenos restaurantes Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]P[/dropcap]romover a consciência da comunidade para a recolha correcta de resíduos alimentares é o objectivo do projecto-piloto de recolha de Resíduos Alimentares dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, mais do que focar-se na quantidade de resíduos tratados. A admissão está na resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) a uma interpelação escrita de Zheng Anting. A ideia é “alterar o hábito de abandono de resíduos” e permitir, a longo prazo, preparar a recolha de resíduos alimentares de grande envergadura e alterar os hábitos de funcionários de pequenos restaurantes que não tenham condições para a “própria instalação de equipamentos de tratamento”. A DSPA destaca na resposta a Zheng Anting que participam no projecto-piloto meia centena de pequenos e médios estabelecimentos de restauração e bebidas, desde Junho de 2018, até agora. Relativamente a planos de recolha de desperdícios alimentares, regista-se a participação de cerca de 90 instituições nas acções de recolha de resíduos alimentares. A concepção preliminar das instalações centrais de tratamento de resíduos alimentares, assim como a avaliação de impacto ambiental e prospecção geotécnica estará a cargo de uma empresa de consultoria. Palestra | Guerra comercial pode ser oportunidade para a China Hoje Macau - 13 Jun 2019 A guerra comercial que se vive entre a China e os Estados Unidos pode afirmar a China como capaz de transformar as crises em oportunidades. A ideia foi defendida numa palestra realizada em Macau, no passado 10 de Junho, promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros [dropcap]A[/dropcap] posição da China nas negociações económicas e comerciais com os Estados Unidos” foi a palestra promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau para debater a situação que se vive actualmente entre os dois países e o posicionamento chinês neste contexto. A ideia defendida pelos participantes prendeu-se com a transformação desta “crise” numa oportunidade e afirmação da China no contexto internacional bem como uma demonstração da capacidade de Pequim em transformar momentos difíceis em oportunidades. Para Shen Beili, comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC na RAEM, a experiência chinesa em lidar com pressões tem tornado o país mais forte. “Temos a confiança e a capacidade de tornar a pressão numa força motora”, afirmou, de acordo com o Jornal Ou Mun. A responsável lamentou ainda a posição dos Estados Unidos que tomou medidas “de forma unilateral” quando reforçou as taxas nas trocas comerciais com a China. “O facto de os EUA imporem aumentos nas tarifas de importação, causa danos ao próprio país e aos outros, dificultando a cooperação bilateral no comércio e investimento, e afectando a confiança de ambos os países e do mercado global no funcionamento estável da economia”, apontou. Esta atitude com repercussões no contexto internacional mostra, segundo Shen Beili, que “o acto dos EUA é prejudicial para todo o mundo, danifica o sistema multilateral de comércio, perturba seriamente a cadeia industrial global, desfavorece a confiança do mercado, traz sérios desafios à recuperação económica global e representa uma grande ameaça à tendência de crescimento da economia global”, afirmou. Sem desistir Mas, a atitude da China é clara na medida em que apesar de não querer participar neste conflito, não vai desistir e tem confiança no caminho já percorrido e nas orientações do novo socialismo com características chinesas de Xi Jinping. “O desenvolvimento da China não será afectado facilmente. Os parceiros comerciais no exterior são cada vez mais e mais diversificados e a capacidade de tolerância às pressões comerciais exteriores é maior”, sublinhando a “confiança e capacidade de tornar a pressão numa força motora”. A opinião foi partilhada por outros participantes. Liu Cheng Kun, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau defendeu que “a China tem resistência económica para lidar com as fricções comerciais”. De acordo com o académico, há aspectos essenciais que contribuem para a “força” chinesa. São eles: “a enorme dimensão da sua economia, a optimização contínua da estrutura industrial, o desenvolvimento da economia regional e o aumento de relações comerciais exteriores”. Por outro lado, considera, os Estados Unidos acabam por se prejudicar ao “provocar unilateralmente conflitos comerciais com países importantes”. Já o Pró-reitor da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng, que também participou no evento, defendeu o apoio da RAEM a Pequim tendo como argumento “ a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento nacional, protegendo a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Macau dentro da política ‘um país, dois sistemas’” Autocarros | Ella Lei critica renovações de contratos Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]lla Lei criticou o facto de o Governo estar a aproveitar-se da renovação temporária dos contratos com as duas empresas de autocarros públicos sem anunciar data limite para os novos vínculos permanentes. Em declarações publicadas ontem no Jornal do Cidadão, a deputada alertou para o facti de os contratos actuais com as operadoras terminarem no final de Outubro e do Executivo defender que não há pressa nas renovações. Por este motivo, a membro da Assembleia Legislativa está preocupada com a possibilidade de não haver um novo acordo entre as operadoras e o Governo até ao fim dos contratos temporários, o que poderia causar confusão no sector dos transportes, com danos para o serviço e para os residentes. Ella Lei defendeu ainda que o Governo deve anunciar o novo modelo de subsídio das empresas de autocarros, assim como formular um novo contrato que leve a melhorias no serviço. Outro dos pontos sustentados pela deputada é a necessidade de aumentar os percursos “expresso”, identificados como “X” junto ao número do autocarro, como por exemplo o autocarro 3X, para fazer face à procura. Por outro lado, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) insiste na necessidade de cobrar bilhetes mais caros aos trabalhadores não-residentes, para reduzir os custos dos subsídios às empresas de autocarros. Actualmente, há duas operadoras de autocarros públicos em Macau, a TCM e a Transmac e o Governo gasta cerca de mil milhões de patacas em subsídios. Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Urgente lei que limite idade de consumo de álcool, diz Lam Lon Wai Sofia Margarida Mota - 13 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Lam Lon Wai quer mais controlo do consumo de álcool no território, especialmente por parte dos jovens. Para o efeito, interpela o Governo acerca da calendarização precisa da consulta pública a este respeito, agendada para o segundo semestre deste ano, pois teme que com as eleições para o Chefe do Executivo e com as comemorações dos 20 anos da RAEM e do 70.º aniversário da República Popular da China, a medida venha a ser indefinidamente adiada. Para o tribuno com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), trata-se de uma medida urgente tendo em conta a forte exposição dos jovens ao consumo de bebidas alcoólicas que, considera estará na base de consumos excessivos na idade adulta. Estatística aplicada Para sustentar o pedido, Lam recorre aos dados estatísticos. “Em 2018, um inquérito feito aos jovens levado pelo Governo revelava que 21,75 por cento dos inquiridos já tinham ingerido bebidas alcoólicas, o que representa um aumento de 1,31 por cento em relação aos 20,44 por cento registados em 2016”, lê-se. Uma outra pesquisa acerca do comportamento dos alunos do ensino secundário indicou que “quase 80 por cento dos estudantes já tinham sido expostos a bebidas alcoólicas”, sendo que “cerca de um terço disse que tinha bebido antes dos 13 anos”. Para Lam Lon Wai, os jovens que saem à noite estão mais sujeitos a riscos sendo que “90 por cento destes jovens têm hábitos de abuso de álcool”. Neste contexto, Lam conclui que “os números mostram que a exposição dos jovens ao álcool tem efeitos negativos e é necessário fortalecer o controlo para manter os jovens longe do consumo de bebidas alcoólicas”. Lam recorda que os Serviços de Saúde já têm planos para realizar uma consulta pública sobre o limite mínimo de idade para consumo de álcool e a proibição da promoção de bebidas alcoólicas junto dos mais novos, mas teme que dadas as efemérides deste ano, o processo possa ser adiado. Para o deputado, trata-se de uma medida urgente que que coloca Macau a par de outros países nesta matéria. “Em Hong Kong, a implementação da nova lei de controlo de álcool, no final do ano passado, proíbe qualquer pessoa de vender e fornecer bebidas a menores de 18 anos através de distribuição presencial ou remota, sendo as empresas infractoras condenadas a uma multa de 50.000 yuan”, exemplifica. Já “em Macau, não existem regulamentos relevantes pelo que o trabalho de controlo de álcool tem uma certa urgência, e as autoridades precisam de recuperar o atraso nesta matéria”, lamenta. O aumento do imposto sobre as bebidas alcoólicas é outras das sugestões deixadas por Lam Lon Wai de modo a restringir a sua compra. “A fim de fortalecer o exercício de controlo de bebidas alcoólicas, o Governo vai considerar aumentar o imposto sobre as bebidas alcoólicas e mesmo implementar taxas especiais sobre bebidas alcoólicas?”, questiona.
O Brexit e a China Jorge Rodrigues Simão - 13 Jun 2019 “China is ready to take advantage of a divided Europe and weakened UK after Brexit.” China and Brexit: what’s in it for us? François Godement & Angela Stanzel [dropcap]O[/dropcap] polémico político, académico, escritor e poeta britânico, John Enoch Powell, que foi deputado pelo Partido Conservador do Reino Unido de 1950 a 1974, do Partido Unionista do Ulster de 1974 a 1987, e ministro da Saúde do Reino Unido de 1960 a 1963, afirmou que todas as carreiras políticas na Grã-Bretanha terminam em lágrimas. A primeira-ministra demissionária Theresa May, não falhou à regra e as suas palavras mostraram essa verdade não apenas figurativamente, mas literalmente. A primeira-ministra demissionária anunciou em 24 de Maio de 2019 que deixaria o cargo a 7 de Junho de 2019, e viu-se o seu rosto consumido de emoção e lágrimas nos seus olhos. Foi um balde de água fria para terminar um período caótico e, para muitos, inglório. A primeira-ministra demissionária foi derrotada quando sucedeu a David Cameron em 2016, mas jogou de forma notavelmente funesta. Os seus quase três anos no cargo foram consumidos pela questão do Brexit. Apesar disso, deixa ao seu sucessor a questão de como será alcançado. Theresa May cometeu sérios erros estratégicos ao tentar cumprir o resultado do referendo de Junho de 2016 para o Reino Unido sair da União Europeia (UE). A primeira-ministra demissionária tinha um mandato para começar as negociações infames, mas ninguém sabia exactamente qual o caminho a percorrer. A primeira-ministra demissionária descobriu que havia uma enorme gama de opções, e nenhuma delas teve amplo apoio público. Theresa May provou ser uma vendedora pobre para uma forma de Brexit que todos poderiam, até certo ponto, aceitar. Quando Theresa May se tornou primeira-ministra, sem oposição, no verão de 2016, mesmo os que haviam votado para permanecer na UE estavam dispostos a admitir a contragosto, que o enorme exercício democrático havia produzido um resultado que precisava de ser implementado. Naqueles primeiros meses, Theresa May teve a oportunidade de persuadir, e fazer o que os políticos deveriam ter feito, que era promover um resultado político específico através de uma boa comunicação e convicção. O movimento inicial de Theresa May, no entanto, como um eleitor remanescente foi tentar provar ao seu partido que era uma verdadeira convertida à causa do Brexit. Os seus comentários tipo linha dura na conferência do Partido Conservador, no Outono de 2016, foram o “Brexit significa Brexit” e não poderia haver compromissos, sendo o primeiro aviso de que seria uma refém da fortuna. Os eventos deveriam desdobrar-se com uma inevitabilidade trágica quase grega depois disso. Primeiro foi a decisão de accionar o desprezível artigo 50 do Tratado de Lisboa de 2009 que, muito brevemente, estabelece o mecanismo pelo qual os Estados-membros da UE podem sair. A única estipulação é que o processo levaria dois anos, sem detalhes sobre como exactamente seria alcançado. Antes de ter um plano de batalha claro, e em grande parte pressionado pela linha dura do seu partido, Theresa May accionou o artigo 50 em Março de 2017. A partir desse momento, perdeu o controlo de uma das poucas alavancas que tinha, que era o tempo. O seu segundo erro foi subestimar a complexidade da questão da fronteira com a Irlanda do Norte. A Irlanda do Norte, consumida por conflitos sectários durante boa parte de 1969 e anos seguintes, teve o Acordo de Sexta-Feira Santa de 1998, que consolidou uma paz sustentável. Mas dependia de não haver uma fronteira rígida entre a Irlanda do Norte, que permanecia sob domínio britânico, e a República da Irlanda, no sul. O desejo de se separar completamente do mercado comum e da união alfandegária da UE, fizeram os negociadores de Theresa May enfrentar o problema intratável da necessidade de uma fronteira rígida com os controlos alfandegários na Irlanda, ou não ter, mas conseguir algum tipo de adesão ao mercado da UE. Tratava-se de um mecanismo para lidar com tal facto e que se comprometeu com uma fronteira suave, mas em um período de tempo indefinido, sendo um dos muitos aspectos do acordo final que conseguiu negociar com a UE e apresentar ao parlamento no final de 2018. A rejeição pela maior votação de sempre significaria o fim da maioria dos líderes. Mas tão extraordinários foram os tempos em que foi primeira-ministra, tendo efectivamente sido capaz de fazer o mesmo acordo perante a Câmara dos Comuns, o principal órgão legislativo, mais duas vezes. A sua queda final foi devido a uma nova tentativa de tentar aprovar esse acordo, o que tornou inaceitável até para os seus defensores mais fiéis. Apesar do Reino Unido ser uma sociedade dividida, Theresa May demonstrou uma incrível resiliência diante de um parlamento e de um partido muitas vezes em guerra consigo mesmo, com profundas divisões que pareciam piorar em vez de melhorar. O Partido Conservador está dividido desde há muitas décadas entre os que apoiam a UE e os seus membros, e os que consideram uma afronta à soberania por um super-estado liderado por Bruxelas, ao estilo continental, na esperança de reduzir o Reino Unido à servidão. Por um lado, o ónus está no pragmatismo, olhando para os benefícios económicos que a adesão à UE dá e por outro, no entanto, na identidade que é importante. Tais divisões são reflectidas na sociedade em geral. E com efeito, enfrentam-se em dois grupos que simplesmente não falam a mesma língua. Não admira que tenha sido difícil para Theresa May chegar a negociar um compromisso. A sua posição mudou durante o breve período da sua liderança, quando reconheceu os enormes desafios enfrentados pelo Reino Unido no modelo de saída. Longe de se fragmentar, o resto da UE permaneceu consistente no seu conjunto de desafios, dando a Theresa May pouco espaço para negociação. Theresa May não foi ajudada pelos independentes, e muitas vezes com a liderança inútil nos Estados Unidos após 2017 e a chegada do presidente Donald Trump ao poder. As grandes declarações do presidente Trump aconselhando-a de que só necessitava de sair da UE sem medo das consequências não eram os sentimentos da maioria do povo britânico, que mostrou que se importava com a sua prosperidade económica no futuro e a ameaça não é um acordo. Para outros, a sua crença sincera era de que havia oportunidades fora do mercado que a UE oferecia, mas a partir de meados de 2019, estes parecem esquivos. A saída de Theresa May deixará o Brexit mais próximo de uma solução do que há quase três anos. O seu sucessor precisará de encontrar o consenso que não conseguiu, ou lidar com a implementação de algo que não seja tão propenso a antagonizar e irritar quantas pessoas desejar. Ainda pior, há toda a possibilidade de que o resultado final desaponte todo o mundo. Trata-se de uma sucessão espinhosa, mas que fez sair Theresa May no momento certo. Há claramente um enorme acerto de contas para os políticos que são vistos como incompetentes e movidos pelo interesse próprio e não pelo bem da nação. É de considerar no entanto, que a mais profunda raiva talvez seja para aqueles cujas promessas, argumentos e declarações, dados com tanta confiança nos últimos anos, sobre como é fácil deixar a UE e como as negociações acabarão por terminar terão um enorme impacto. Se o Brexit for forçado a não negociar, e houver consequências económicas negativas imediatas, então a era de Theresa May poderá ser vista com alguma nostalgia e, ao contrário de alguns dos seus antecessores, como Tony Blair e David Cameron, pelo menos desfrutará de alguma simpatia, como uma pessoa que tentou fazer o melhor possível em circunstâncias impossíveis. Tal indulgência caritativa quase certamente não será concedida ao seu sucessor e há todas as possibilidades de que o Partido Conservador, depois de três séculos como uma força política no Reino Unido, possa ser consignado ao estatuto de partido minoritário, ou mesmo ao completo esquecimento. Se o sucessor de Theresa May falhar em um Brexit suave, pode significar o fim do Partido Conservador britânico. A Grã-Bretanha sofrerá pesadas perdas económicas com a iminente saída, já que está economicamente e altamente integrada na UE. Embora possa procurar mercados alternativos, o custo será alto e não será realizado imediatamente, sendo que uma das vantagens notáveis da Grã-Bretanha é o estatuto de Londres como centro financeiro internacional. Mas a saída da UE pode diminuir o papel do país nas finanças globais e é provável que afaste os investidores estrangeiros. O Citigroup estimou que o PIB anual da Grã-Bretanha pode diminuir entre 3 a 4 por cento nos próximos três anos devido à saída. O relacionamento da Grã-Bretanha com o resto do mundo também será afectado. Tem de recuperar de alguma forma a voz única e ressonante nos assuntos mundiais, uma vez rompidos os laços com a UE. No que diz respeito aos assuntos europeus, pelo contrário, a Grã-Bretanha terá menos direitos a participar na tomada de decisões no futuro. Os Estados Unidos também perdem um canal para exercer influência na UE por meio da sua estreita parceria com a Grã-Bretanha. A “relação especial” entre os dois países mudará de maneira subtil. A divisão política na sociedade britânica ampliou-se após o referendo. Os eleitores do “Pro-Leave” derrotaram os que apoiaram a campanha do “Remain” por menos de 4 por cento ou seja um milhão e duzentos mil eleitores. Além disso, muitos cidadãos podem enfrentar incertezas quanto à sua vida, emprego e rendimento devido ao referendo, agravando ainda mais os “remanescentes”. O primeiro-ministro escocês afirmou que um segundo referendo sobre a independência da Escócia era “altamente provável”. A Escócia, Irlanda do Norte e Londres são três áreas em que a maioria dos eleitores apoiou a campanha “Remain”. A ameaça à unidade nacional da Grã-Bretanha está a crescer. O Brexit é também um duro golpe para a UE e uma grande conquista da integração regional que os europeus fizeram nas últimas décadas. Dentro da UE, há livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capital, o que muitas vezes é considerado o ápice dos esforços para alcançar a unidade humana no mundo. No entanto, o eurocepticismo tem vindo a aumentar no continente ao longo dos últimos anos. Depois do referendo sobre a adesão da Grã-Bretanha à UE, as pessoas temem que mais Estados-membros sigam o exemplo, embora essa reacção em cadeia pareça improvável, o processo de integração europeia sofreu um revés significativo. Actualmente, tanto a economia europeia como a mundial permanecem frágeis, com o Brexit apenas a aumentar a incerteza global e como uma das maiores economias do mundo, o impacto da Grã-Bretanha permanece perceptível. No dia em que o resultado foi anunciado, a libra esterlina caiu, resultando em flutuações cambiais internacionais e vendas de acções recorde. A China mantém estreitos laços económicos com a Grã-Bretanha e a UE, pelo que o Brexit inevitavelmente terá alguma influência nas relações China-Reino Unido. Se o Reino Unido deixar de fazer parte do mercado único da Europa, deve reforçar os laços comerciais com outras regiões. Nesse contexto, o fortalecimento das relações chinesas seria uma opção lucrativa para a Grã-Bretanha, especialmente se o comércio britânico se desviar significativamente da UE. Além disso, a Grã-Bretanha estaria livre para acordar com a China sobre livre comércio e investimentos bilaterais sem as restrições impostas pelas leis da UE. De acordo com o Tratado de Lisboa, os membros da UE não estão autorizados a firmar acordos de livre comércio ou acordos bilaterais de investimento com terceiros. Todavia, a China perderia a Grã-Bretanha como uma porta de entrada para aceder ao mercado da UE e promover o uso do renminbi na Europa. Além disso, a Grã-Bretanha poderia ser menos atraente para o investimento estrangeiro depois de sair da UE, mas não perderia a sua vantagem competitiva nas indústrias. O investimento directo da China na Grã-Bretanha pode ser influenciado negativamente, mas não deve cair drasticamente. É bastante simples a China interpretar a estratégia da Grã-Bretanha. O Reino Unido pode parecer um local de investimento muito mais aberto para as empresas da China, ainda que desvinculado dos mercados europeus e, muito menos atraente como uma possível porta de entrada para o continente. Além disso, a influência internacional do sector de serviços financeiros de Londres deve ser significativamente reduzida pela perda dos chamados direitos de passaporte, e isso tem o potencial de afectar a ambição da cidade de assumir um papel de liderança na internacionalização da moeda chinesa. Para os cidadãos chineses que desejam estudar ou trabalhar no Reino Unido, a situação mudará. A Grã-Bretanha removida da Europa poderia oferecer mais oportunidades, ou poderia ser menos atraente; sendo menos internacional e mais paroquial. Tendo-se tornado mais isolado diplomaticamente, o Reino Unido será visto no pensamento político chinês como um actor muito menor e menos importante. Infelizmente, essa atitude em particular e o que conduzirá não foi tida em consideração por muitos eleitores britânicos em 23 de Junho de 2016 e se contentarem em viver com as consequências, teremos que esperar e ver, independentemente da situação. Os ingleses defendem que a Grã-Bretanha e a China devem aproveitar oportunidades excepcionais para forjar uma parceria global mais próxima na era pós-Brexit. Os dois países poderiam aumentar ainda mais a sua cooperação nos campos do comércio, investimento, energia limpa e outros, enfrentando desafios globais. A Grã-Bretanha está disposta a renovar o seu entusiasmo pelas relações internacionais, especialmente com a China. O Reino Unido no mundo depois do Brexit, continuará a negociar com a UE e para muitas empresas chinesas e investidores que estão sediados na Grã-Bretanha, ainda é um bom local para fazer parte da Europa. O relacionamento da Grã-Bretanha com a China é um bom exemplo do seu internacionalismo, que entrou em uma nova fase na “era de ouro” e na sua estratégia industrial recém-lançada, tendo o governo britânico identificado a transição energética como um dos principais desafios globais e a melhor solução para os solucionar é quando os países podem trabalhar juntos, sendo de recordar que ambos construíram uma base sólida de cooperação nessa matéria. O projecto Hinkley Point C não é apenas o maior investimento em energia do Reino Unido, mas também o maior projecto de investimento em infra-estrutura na Europa, sendo um bom exemplo de como a cooperação em energia limpa pode funcionar como um pilar da parceria internacional. O projecto de dezoito mil milhões de dólares, com um terço do investimento feito pela China, foi descrito como a primeira nova central nuclear da Grã-Bretanha em uma geração. Através do Acordo de Paris, tanto a Grã-Bretanha quanto a China assumiram compromissos muito significativos sobre as alterações climáticas e um dos desafios é ter certeza de que a Grã-Bretanha pode cumprir os seus compromissos a um custo acessível. O propósito da Grã-Bretanha participar no Diálogo Europeu de Energia é o de procurar oportunidades para a cooperação de energia renovável em uma ampla gama, incluindo a energia eólica offshore, pois estabeleceu uma posição de liderança neste campo, e o custo de energia foi efectivamente reduzido com a aplicação da tecnologia eólica offshore, esperando que a energia limpa seja acessível tanto para os consumidores quanto para as empresas, tendo a ambição de reduzir o custo da energia. A Grã-Bretanha está também interessada na iniciativa Made in China 2025, pois o mundo testemunhou mudanças maciças e empolgantes que ocorrem onde grandes revoluções tecnológicas têm vindo a transformar quase todos os sectores da economia, assim como a vida das pessoas. A China e o Reino Unido têm visões idênticas sobre as tendências globais, como o envelhecimento da população, e ambos elaboraram planos de acção para desenvolver a inteligência artificial, análise de dados e outros sectores para abraçar mudanças tecnológicas e construir forças económicas. Quando me pus a semear lebres Luís Carmelo - 13 Jun 20196 Mar 2020 [dropcap]C[/dropcap]omeço a crónica de hoje com o depoimento de Inácio Crespim, antigo acarretador de São Romão (Vila Viçosa), entrevistado nos anos de 1994-1995 por Luís Silva para um livro que foi publicado em Maio do ano passado, intitulado ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana’*. “O meu pai nunca abalava do moinho, só estando doente é que não dormia lá.” (…) “Tinha uma tarimba lá dentro do moinho” (…) “era ali a tarimba, era ali que ele dormia e encantado da vida. A cama era uma esteira de buinho [com] uma manta ali em cima da esteira. Em ouvindo o chocalho, lá se levantava para encher a moega. Enchia, punha a argola do chocalho na cegonha e, depois, ficava descansado até que se acabasse aquele trigo na moega”. A vida dos seareiros, moleiros, farineiros, atafoneiros e acarretadores (ou maquilões) é hoje totalmente desconhecida. A ignorância avança ao lado dos cultos do saber. Eram vidas muito duras e particularmente solitárias. Antes de a indústria da moagem se ter desenvolvido, era dentro dos moinhos que o cereal se moía, produzindo-se a farinha que é essencial para o pão. A água dos rios era a fonte de energia e o resto equivalia a um intenso episódio braçal, claustrofóbico, quase místico. Em 1786, três anos antes da revolução francesa, um “Código de Posturas” publicado em Mourão dava conta das restrições a que a actividade dos moleiros (e dos atafoneiros) estava sujeita: “Os moleiros e atafoneiros serão examinados com juramento de fazerem verdade, e os moleiros e atafoneiros tomarão também juramento de fazerem verdade e ninguém poderá ver moleiro em moinho ou acenha, ou atafona sua… nem terão suas molheres nas ditas moendas, nem ainda em taes fazendas que tragão arrendadas, nem terão cão, nem galinhas, nem porco, nem cavalgadura sua nas ditas moendas, nem ao redor dellas, nem em suas casas. E terão gato ou gata para os ratos, e terão alqueire de.., meio alqueire de pão, e maquieiro e meio maquieiro e tudo aferido e affillado pello aferidor do Concelho nos primeiros oito dias de Janeiro e Julho de cada anno, de que tirarão sequestro, e terão sempre panais postos nas moendas e… de farinhas, e nas moendas andarão descalços, e no principio de cada anno darão fiança sob pena de pagarem por qualquer desttas couzas não cumpridas quinhentos reis e sob a mesma pena não comprarão vinho aos vinhateiros que forem aos moinhos, e nelles não venderão trigo nem farinha a pessoa alguma com pena de mil reis, e salvo emprazadores e senhorios dos moinhos, que tomem conhecimento do tal trigo e farinha que venderem, e duitamente do seu ganho”. É curioso como esta actividade estava sob juramento. Além do carácter votivo, não havia direito à sexualidade, ao vinho e à companhia de animais. Os gatos eram a excepção, o que se ficava a dever às exigências de higiene (onde se incluía, também, o uso de panos sobre a moenda – ou pedra mó – e a obrigação de não usar calçado). A fiscalização e a vigilância externas incidiam nas medidas a usar, na proibição de venda directa (a não ser com conhecimento dos donos dos moinhos) e ainda na caução a que os moleiros estavam obrigados (e cujos montantes eram subtraídos em caso de incumprimento). É difícil encontrar nos dias de hoje um contrato de trabalho com estas condições, a começar logo pelo juramento. No entanto, o triângulo aqui presente – baseado no cariz solitário da actividade, nas imposições de ‘higiene’ (que definiam o meio) e na vigilância externa – não é assim tão estranho às patologias, passe a metáfora, da vida contemporânea. Pensemos no modo como o mundo em rede, aparentemente um esteio de partilhas, é sobretudo um mundo solitário que se move ao jeito de um vaivém impessoal entre a perdição do olhar e os ecrãs tecnológicos. Trata-se de uma patologia a que ninguém consegue deixar de aderir (e até com a devida pulsão eufórica). Pensemos, por outro lado, na correcção que visa codificar a nossa vida através de regras rígidas (a maior parte não escritas) que liofilizam e ‘veganizam’ a higiene e o meio em que vivemos: nada de fumo, nada de gorduras, nada de touradas, nada de tabernas manhosas que dispensem as asaes. Trata-se de uma patologia a que o ‘mainstream’ tende a aderir com o apego das antigas ‘grandes causas’ (hoje parte das novas arqueologias). Pensemos, por fim, no modo como a tecnologia nos vigia e nos espia, tema, aliás, de uma das últimas crónicas aqui publicadas (“Lavadeiras, privacidade e ameaças”**). Trata-se de uma patologia que tudo e todos tendem a fingir que não existe. Não estamos assim tão longe de Mourão dos idos 1786. As clausuras do nosso tempo pós-Orwell caracterizam-se (vistas de cima com a ajuda de um drone) por uma correria paradoxal: os passeios enchem-se de multidões a correrem desenfreadamente sem saberem bem porquê e para onde. De tal modo assim é que, como dizia o antigo acarretador Inácio Crespim, ninguém parece ficar “descansado até que se acabe todo o trigo na moega”. Só que, hoje em dia, o trigo é imaterial e, quer o pão, quer os hamburguers já completos (e higiénicos até à medula), aparecem nas nossas mesas fresquinhos, como se tivessem acabado de sair da árvore do quintal. Eu, ao pé da minha, até costumo semear lebres – para não ter que as matar com uma boa estocada – e depois misturo-lhes alho, cebola, louro, alecrim, cravinho, chouriço (com muito sangue), nabo, 6 dl de vinho da Pêra-manca e, claro está, um belo arroz carolino, pois o integral – disse-me o senhor Crespim – faz mal às artroses. Bons feriados! *Silva, Luís, ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana – Uma visão antropológica’. Colibri, 2018, Lisboa. [Em linha]. (s/d). Disponível em https://run.unl.pt/bitstream/10362/50442/1/Livro_completo.pdf [Consult. 07-06-2019]. **Carmelo, Luís, ‘Lavadeiras, privacidade e ameaças’ em Hoje Macau. 23/05/2019. [Em linha]. (23-05-2019. Disponível em https://hojemacau.com.mo/2019/05/23/lavadeiras-privacidade-e-ameacas/ [Consult. 07-06-2019]. Quarentena: uma narrativa António Cabrita - 13 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]ascidos a bordo de um navio em quarentena, ao fim de uns anos engolfa-nos a ausência, ansiamos um abraço de sangue. A raros se concedeu – presumo que a suborno – soltura. O navio ficou ao largo por um período a prumo, que não cessa de indeterminar-se e aí a língua é o algeroz de onde pingam a esperança e o alfabeto do inferno. Divisamos de longe as luzes da cidade, adivinhando até ao sabugo os seus perfumes, a desabrida floração dos cometas no peito das raparigas, o rasto de anfetaminas com que os rapazes metem a terceira e repelem os mortos. Enquanto na nossa cabine ou no desabrigado convés tudo se repete, unânime, caliginoso. Dás conta, já não batem os sinos na cidade! Emudece a via láctea nos salmos que tingem o WhatsApp? No dia da boda uma borboleta, das que migra, transatlântica, veio ressacar ao corrimão do tombadilho e depois alumiou as bordas da piscina com a sua valsa imatura. Tudo quanto vislumbrámos das flores da costa. Ocorre o amor entre os convalescentes? Tudo indica que o homem é capaz de amar no próprio inferno, embora a solidão na proa não deixe de lembrar-nos que nunca mergulharemos duas vezes no mesmo vento. Ancorados ao largo da alegria, de quarentena, o capcioso brinde final destinar-te-á um breve toque de clarim, antes de amortalhado numa bandeira o teu cadáver ir lancetar o mar. Mataste o tempo, lendo a Oresteia e conviveste com as deambulações de Ulisses, também ele tardio e como tu enleado nos novelos da idade que ensimesma, e já reconheces na enlanguescida inteligência do antigo amante de Circe o declinar da tua. Estaria tudo bem se não visses que os teus filhos também nasceram a bordo e como se lhes emaranha nas veias uma bilha de gás e uma cabeça de fósforo. Aí revoltas-te! Apontas o canhão da proa e inflamas o horizonte com a tua veia derramada. Alba. O barrete realça, não esconde a cabeça de cachalote do marinheiro que subiu à gávea. Padeceriam igualmente os anjos desse peso transbordante, acima do pescoço rútilo? Um veleiro airosamente descalço adeja ao largo. No rádio passam Zappa, conduzido por Boulez – tudo se desloca nos meridianos aquosos. A quem devemos a quarentena do planeta? É tão escasso o pensamento, nestas anfractuosas tonelagens de ferro, que nos serve de guarida contra o íngreme entenebrecimento, contra a cegarrega que nos atou, é fugaz, mas dactilografa estrelas à superfície das águas, lépida doma dos néones, e aí intuímos: cada palavra é uma ilha e procura arquipélago. Saberá o urso que hiberna? Não tem clímax a noite, só tem ápice na queda. A noite é o seixo que rola no leito da tua vida; rola para a foz ou para a nascente? Alarma-te o enigma do teu corpo e da tua sombra bifurcarem na língua da cobra. Como traduzir a inconciliável corrente que os aparta em amuos incandescentes, não obstante partilharem o que tolda no copo de gim? Solução para o dilema: talvez em terra, mas, entretanto, retido em quarentena, apesar de desconheceres a combustão antropofágica da doença, a dúvida que não cala encapela-te os páramos do sangue. A inocência é que te tramou, enredou-te nas ramagens da noite – embora na orla das escotilhas já a luz da alba se ice, vagarosa, e a algazarra das cores se adiante, esta outra luz é mais um alinhavo frágil na bainha da mesma e idêntica noite que te ofusca, espectral. Contudo, por décadas a fio de quarentena encrespada nos gargalos, pode lá a escassez encaixar-se nas tuas linhas de sombra: basta ouvirmos o latido de um cão na costa e restituímos a pedra que sonha à tepidez da mão que enxagua a sua matéria exausta. Transpira o navio contra a quarentena, ondula. Lês na fornalha de Dante os glóbulos brancos do teu nome. Quanto tempo demora o limbo a fazer-nos compreender que desenhar as letras não nos emenda a escuridão? Tanto que vejo, sem adivinhar o quanto ensejo no que vejo. De quarentena, a vida de nós não se aproxima nem para a despedida. Embora tudo indique que o homem seja capaz de amar no próprio inferno. 08/06/2018 Relicário de sonhos I Gisela Casimiro - 13 Jun 2019 [dropcap]H[/dropcap]á alguns anos a esta parte, enquanto lhe contava um sonho, dos muitos que tenho, ou melhor, dos muitos que recordo, diagnosticou ou melhor, perguntou-me o Rui Zink se eu sabia que era grafomaníaca. Eu não sabia. Nem sabia o que isso era. Mas o Priberam explicou que era uma necessidade patológica de escrever ou de fazer registos gráficos, o hábito de escrever ou de registar graficamente muitas coisas. Poderia dizer que nunca mais fui a mesma mas mentir é feio. Continuei a sonhar e a registar os meus sonhos, e até os sonhos que amigos tiveram comigo, como o faço com os diálogos e peripécias que me acontecem, apenas agora exibindo esta condição incurável como uma curiosidade exótica. Não é muito melhor do que ter um transtorno obsessivo-compulsivo? Eu acho que sim. Mas na verdade, não poderia isto, também, ser considerado como tal? Adiante. A poucos dias do seu aniversário, deixo aqui uma pequena colecção, sem grande organização, análise ou interpretação, clínica ou mística, a este querido amigo e antigo professor meu (que não tem memória dos seus e estará, provavelmente, grato por isso) de alguns sonhos dos últimos anos. Há pessoas mesmo estranhas, não há? 2019 Sonhei que andava a mudar plantas mas, apesar de ter bastante à disposição, constantemente me enganava e colocava cacau em pó em vez de terra nos vasos. 2018 Sonhei que Jesus Cristo me visitava. Era um sonho agradável. Dizia-me o dia da minha morte, mas não do mês ou do ano. Em seguida, tive um sonho muito violento, mas acalmava-me dizendo: não é hoje que eu vou morrer. 2017 A noite passada sonhei que me ofereciam um trabalho de fim de semana como domadora/treinadora de elefantes e a formação consistia em passar tempo com o elefante mas sobretudo via lá no horário yoga yoga yoga yoga. 2016 Sonhei com sonhos. Esta noite sonhei que o meu romance estava terminado. Sonhei que ia passar o verão a Hong Kong. Mas antes estava nas traseiras do prédio dos meus pais a andar de bicicleta. E tinha um saco de viagem que não queria perder, então pensei, vou andar de bicicleta à volta do saco. Nas notícias falavam de um fugitivo. Outra noite sonhei que uma mãe e seu filho queriam ir para minha casa; tinham chaves e tudo, convencidos de que lhes pertencia. Recebia ainda um grupo de Masai em casa, e a minha tia. Discutimos e eu estava preocupada porque não sabia como acomodar tantas visitas inesperadas. E tinha de pensar nas minhas colegas de casa. Só que a minha casa não era a actual. Era a casa de uma ex-amiga minha. Sonhei que estava a vir de onde costumo lanchar às vezes no trabalho mas agora de repente, a meio do caminho, estava grávida, já em estado avançado, e conseguia ver o meu bebé através da barriga e da roupa, como se fosse transparente de algum modo. Sorria para mim. 2015 (Depois de ser operada ao estômago) Sonhei que me via a comer comida normal antes de tempo e ficava com medo de morrer. Tentava avisar-me a mim mesma para parar, mas era como se estivesse a pairar no tecto e não me ouvia. Uma visão do horror. Cheia de medo que me rebentasse o estômago. Sonhei que tinha cancro. Era um sonho muito atribulado. Eu sabia que tinha porque os meus médicos queriam reunir-se comigo e um deles deixou a noiva no altar à espera para ir à reunião. Por algum motivo tinham de me amputar as duas pernas. Eu ia lá para a o fazerem, e quando a médica começava a preparar tudo eu dizia que não queria e que não conseguia lidar com aquilo. E percebia que também não tinha dito a ninguém, porque me imaginava a aparecer em casa dos meus pais, era o dia do aniversário do meu pai,, e a cara da minha mãe ao ver-me com próteses. Sonhei que havia uma pessoas que queriam encomendar rissóis e croquetes à minha mãe. Mas era só uma desculpa para nos fazerem mal. A minha mãe não estava em casa e eu e mais pessoas (?) fazíamos de tudo para afastá-las. Só sei que, quando finalmente mandei mensagem à minha mãe a avisar, de repente a vi a caminho, mas estava careca. Entretanto um miúdo e uma miúda que eu sabia fazerem parte do tal grupo vieram ter comigo, agora sim só comigo, e conversámos muito mas eu continuava sem querer confiar neles. Que sonho parvo. A parte dos miúdos, contudo, era pesada, intensa. Não me lembro da conversa, apenas da sensação. Eventualmente a minha mãe chegava a casa. Não me lembro de mais nada. Sonhei que a minha mãe nunca mais se levantava e o meu pai queria dar-lhe umas prendas. Ele estava sentado à mesa, cabisbaixo. Havia coisas para ela mas também havia um helicóptero dourado, enorme. Ele dava uma boneca que andava e falava à minha irmã. No sonho eu via a minha irmã no escuro, sentada na cama, com a boneca gigante ao lado, do tamanho dela. Apesar de o helicóptero estar lá e ser parecido com um que tive, eu percebia que nada daquilo era para mim. E então ficava muito magoada e ia embora para a Finlândia durante três meses, que passaram em segundos, e depois voltava para dizer que me ia embora novamente por mais tempo e usava um mestrado como desculpa. Sui generis admin - 13 Jun 20199 Jun 2020 [dropcap]Q[/dropcap]uando viu o Sidónio nu à sua frente ficou sem jeito e sem capacidade de reacção. Estava farto de ver homens naquele estado, isso não era o problema, bastava olhar-se ao espelho ou ir ao balneário do ginásio, mas assim naquele registo tão íntimo, pronto-a-comer, nunca tinha acontecido. Deixava-o desconfortável. Esta sua decisão de se tornar homossexual ainda não era cem-por-cento consensual dentro de si, tinha ainda as suas dúvidas. Nem todos os seus genes tinham aprovado essas regras em uníssono, por isso caminhava um pouco a medo, em terreno desprovido de qualquer cor. Não, não era nenhum arco-íris, por enquanto. Sempre gostara de mulheres e, apesar de estar a entrar nos cinquentas, era um homem sexualmente bastante activo. Esteve casado duas vezes, a última quase dez anos, com muitas aventuras nos entretantos, mas chegara a altura de sair do armário, como se costuma dizer. Bom, ele nunca tinha estado a viver numa prateleira, tinha a certeza disso, sempre fizera tudo às claras, não tinha nada a esconder. Mas a heterossexualidade também não fazia o seu género, no sentido em que gostava de dar um passo à frente. Era um experimentalista e apetecia-lhe mudar de ares. A primeira coisa que disse ao Sidónio foi: “vai devagar”. Era um comprimido dos grandes que tinha de engolir. Lembrava-se de quando tinha de tomar coisas assim quando era miúdo. Deitava tudo cá para fora e a sua mãe ficava com os cabelos em pé e gritava com ele. Mas aquele espécime não o atraía minimamente, tinha um ar a dar para o abichanado que o irritava. Sempre o irritou, para ser sincero. Por diversas vezes, em pensamento, tinha troçado um pouco dele, apesar de naquela figura se apresentar com um corpo tonificado e com uma cara laroca. Tratava-se bem, o Sidónio. E até era um gajo porreiro, mas era para ir beber uns copos e apanhar uma grande tosga, não era para estar com o pila dele na boca. Mas tinha de ser e a ideia até tinha sido sua. Trabalhavam juntos há muitos anos e sempre teve um à-vontade extremo com o Sidónio para falar das coisas, vá-se lá saber porquê. Era um facilitador. E quando começaram a trocar ideias sobre o assunto, de como ele não se importava de experimentar “aquilo”, o colega ficou logo de antenas no ar e mostrou-se híper interessado, convencendo-o de que gostaria de ser a cobaia. Até chegarem a esta situação embaraçosa, não demorou muito tempo. Duas semanas? Agora, era preciso relaxar e ultrapassar de uma vez por todas o complexo que se tinha atravessado à sua frente, senão não ia conseguir cumprir os seus objectivos. Dantes, quando precisava de se abstrair pensava em matrículas de automóveis. Estava sem recursos. Precisava de uma mão divina. À medida que o Sidónio fazia tenções de o acarinhar ele afastava-se compulsivamente. Dizia: “espera!”, enquanto colocava uma musiquinha a tocar, na esperança de que aquilo ajudasse, criando um ambiente mais propício, não diria ao romance, mas whatever. Queria era ver-se livre daquela situação e prosseguir com a sua vida. Ele que não era nada esquisito com a comida, comia tudo o que lhe pusessem no prato e gostava sempre de se lançar de estômago alegre para gastronomias desconhecidas. E se as mulheres, de quem ele tanto gostava, o faziam com tanta facilidade, não havia de ser ele que iria agora voltar para trás e desistir. Mas havia ainda a outra parte, o factor essencial para que a contenda desse certo, entre as suas pernas parecia existir uma letargia completa. “49-BO-13”. Na casa-de-banho tinha usado um lubrificante adequado, para não estar a interromper nada mais à frente, o que ainda iria ser pior, e achava que estava preparado, que não ia custar. Já tinha beijado amigos em noites de bebedeira e ali tinha pensado em todos os pormenores, mas estava demasiado tenso, era preciso libertar-se daquele torpor, fosse de que maneira fosse. Então achou que se desse um beijo ao Sidónio, daqueles à antiga, imaginando-se inebriado com uma lufada de vento, talvez tudo se resolvesse. Sim, era isso que iria fazer. Iria abraçá-lo e beijá-lo com estrondo. Depois logo se veria. O que aconteceu, em concreto, não sabemos. O que é certo é que deu o grande salto em frente e com naturalidade enfrentou sem encerros a sua nova condição perante a sociedade. Do modo como os colegas de trabalho o entreolharam nas semanas seguintes, só confirmava que o seu outro eu já não era segredo. Mas ele gostava disso. Gostava da assumpção. Encontramo-lo tempos mais tarde, já com o coração a bater a um ritmo semi-descontrolado. Começara a namorar com um homem, ou era o que ele achava, que aquilo era uma relação à séria. De início, estava confiante que tinha finalmente encontrado o seu primeiro namorado, extremando ainda mais a corda para a sua vida passada. Mas a história tinha outros contornos e revela-se aqui num excerto roubado do seu diário. “Quando conheci o Eddy ele não me contou a verdade, não me disse que afinal não era bem assim. Conhecemo-nos numa noite, num festival de cinema. Ele fazia parte de uma equipa de produção de um documentário premiado, um documentário sobre a extinção do género, e a partir daí fomos falando quase todos os dias. Até que noutra noite mais acalorada, sem câmaras pelo meio, nos envolvemos de modo íntimo. Aconteceu tudo muito rápido. Bem que lhe meti logo a mão entre as pernas, mas ele afastou-me, dizendo que ainda não. Queria primeiro aguçar-me o apetite, pensei. E quando passámos ao acto em si – já não aguentávamos mais! – baixou as calças e virou-se de costas para mim. Tínhamos trocado beijos clamorosos, ficámos agarrados como duas tomadas, em curto circuito, com as nossas línguas derretidas uma na outra. Tudo corria bem. Todo o meu ser efervescia de paixão. Finalmente, estava com os dois pés no caminho que tinha começado a traçar com o palerma do Sidónio. Mas quanto a esse caso, nem me quero lembrar desse momento, aquilo foi um suplício. Nunca tive qualquer dúvida quanto ao Eddy. Vira-o de tronco nu e, apesar de profusamente depilado, é uma mania que não pratico, tinha um bonito peito de homem. Seja lá o que isso quer dizer. Eu sei lá, pelo menos foi o que supus. A minha ideia nunca tinha puxado para o outro lado. Quando se vê uma coisa não se vê a outra e o toldo tapa o horizonte por completo. Mesmo depois de ele engolir o auge do meu prazer e continuarmos com aquilo noite fora, eu gritava: ‘Eddy! Eddy!’ E abraçava-o, como se não houvesse mais mundo. Mas não demorou muito até descobrir a realidade, de que afinal o rapaz por quem me tinha apaixonado era afinal uma mulher. Raios! Não havia como evitá-lo, fiquei estupefacto e chorei. O que me tinha levado a gostar de homens tinha sido uma vontade imensa de experimentalismo e ao dar esse passo queria aprofundar a minha nova postura, assumindo-a. Na verdade, passei a ter uma atracção genuína por pessoas do mesmo sexo, e só por elas, achava eu. Limitava-me a saborear aquela fruta tropical. Agora, parece que me egasguei. Terá sido o caroço? Quando conheci o Eddy, era indiscutível de que ele era um homem. Nem foi tema de que alguma vez tenhamos falado, a dúvida, era tudo claro como a água. Mas a extinção do género tinha ganho um prémio, esse tinha sido o nosso ponto de encontro, e quando deparei com aquilo, não soube como reagir. Uma pessoa ama o indivíduo, para além da inscrição do género, seja ela qual for? O que é isto da sexualidade e do corpo que nos calhou? Depois de tanto esforço, eu não podia andar com uma mulher, ia contra os meus novos desígnios. Ai, Sidónio, eu vi logo que isto não podia dar certo. Mas eu adoro o Eddy. É uma paixão sem fim, como nunca tinha sentido. E quero passar a vida nos braços dele – dela! – para sempre. E se descobrirem, depois de tanto vergar a corda, que afinal eu não sou homossexual? Também o que me havia de calhar na rifa, o Monsieur Butterfly. Não sei o que pensar, mas também não me interessa saber. Dê por onde der, mesmo sem arco-íris, sigo em frente.” Ficamos descansados, não há cenas dos próximos capítulos. Coimbra | Chissano realça papel de Academia nas relações sino-lusófonas Hoje Macau - 13 Jun 2019 O novo organismo, apresentado esta terça-feira em Coimbra, a Academia Sino-Lusófona, visa reforçar as relações entre os países de língua portuguesa e a China. Na apresentação marcaram presença, entre outros, o antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano e o embaixador chinês em Portugal, Cai Run [dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano disse esta terça-feira em Coimbra que a Academia Sino-Lusófona (ASL), agora apresentada, vai contribuir para o fortalecimento das relações entre os países de língua portuguesa e a China. Para Joaquim Chissano, a Academia Sino-Lusófona, apresentada na Universidade de Coimbra (UC), na presença do embaixador da República Popular da China em Portugal, Cai Run, “é uma parte de uma dinâmica” que deve ser aproveitada pelos membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e pela China, no relacionamento entre si. O novo organismo, dirigido por Rui de Figueiredo Marcos, director da Faculdade de Direito da UC, “vai impulsionar” essas relações e o trabalho que vier a desenvolver ajudará a “descobrir novas maneiras” de Portugal, demais parceiros lusófonos e a própria China se “relacionarem também com outros países” no mundo, declarou o ex-presidente moçambicano aos jornalistas. Chissano interveio numa sessão, no auditório do Colégio da Trindade, na Alta de Coimbra, em que a UC apresentou a ASL, com o objectivo de “reforçar os laços” com a China e os países de língua portuguesa. Língua de crescimento No seu discurso, Joaquim Chissano realçou “o papel que a Academia pode jogar no desenvolvimento” dos países envolvidos, com “uma visão inovadora” e com vista “de uma maximização das vantagens para todos”. “O mundo académico pode e deve jogar um papel muito relevante” neste domínio, disse, ao realçar que o Português é quarta língua mais falada “e a terceira com maior crescimento no mundo”. Joaquim Chissano pediu aos doadores para continuarem a ajudar Moçambique, na sequência do ciclone tropical Idai, que atingiu o país em Março, causando centenas de mortos e avultados danos materiais. A ajuda internacional recebida “ainda é insuficiente”, disse depois aos jornalistas. Na cerimónia, em que actuou o coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, usaram também da palavra o professor Rui Marcos, o reitor da Universidade, Amílcar Falcão, e o embaixador Cai Run. O diplomata chinês valorizou o aprofundamento das relações entre a China e os países da CPLP, em geral, vincando que o relacionamento entre Lisboa e Pequim vive “a sua melhor fase”. Inscrições para workshop com Catarina Mourão só até amanhã Raquel Moz - 13 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap]s inscrições para o Workshop de Documentário da cineasta portuguesa Catarina Mourão, que vai decorrer de 22 a 27 de Junho na Casa Garden, estão abertas só até amanhã, sexta-feira, dia 14. A iniciativa é gratuita, para maiores de 16 anos, até um limite de 20 participantes. Organizado pela Fundação Oriente, com o apoio da Casa de Portugal em Macau, o projecto insere-se nas comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e é aberto ao público em geral. Durante seis dias, os interessados vão poder experimentar o processo criativo de filmar um documentário, a partir de filmes que irão introduzir os tópicos de trabalho para cada sessão. Trata-se de uma oficina de produção e realização para iniciantes e amadores, intitulada “A Casa e o Mundo”, onde durante 3 horas diárias os alunos vão desenvolver obras de acordo com a sua inspiração e a orientação da realizadora. Tal como descreve Catarina Mourão, na nota de apresentação, “neste workshop vou partilhar com os estudantes o meu processo criativo na filmagem de documentários. É essencialmente um trabalho que se inicia no microcosmos da família, da casa, da rua. Começamos por viajar por entre aquilo que nos é familiar, e acabamos por encontrar estranheza e novas estórias além da nossa zona de conforto”. E especifica, “cada um dos meus filmes desencadeou um desafio diferente. E cada desafio irá estimular os participantes a trabalhar num determinado projecto de filme, para o qual deverão encontrar o seu ângulo pessoal e a sua solução”. À procura de respostas As oficinas terão um total de 18 horas. A 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, o horário é das 14h às 17h, e nos seguintes dias, de 24 a 27, em horário pós-escolar ou laboral, das 18h às 21h. Cada sessão de workshop terá como ponto de partida a exibição de um filme: “Daguerreótipos” (1976), de Agnès Varda, o “primeiro documentário que teve um verdadeiro impacto na minha forma de filmar”, e “À Flor da Pele” (2006), “Pelas Sombras” (2010) e “A Toca do Lobo” (2015), de Catarina Mourão. O programa procurará respostas à questão sobre o que é o documentário, como género, no actual mundo da imagem. Através de exercícios práticos na escolha dos temas, personagens, localizações, roteiros e pesquisa em arquivos, os alunos irão ensaiar e discutir em conjunto técnicas de filmagem e de edição, antes da apresentação final dos trabalhos. As inscrições deverão ser feitas através do email workshopcatarinamourao@gmail.com. Mais informações podem ser solicitadas à Fundação Oriente e à Casa de Portugal. Artistas contemporâneos mostram obras de luxo no Morpheus Raquel Moz - 13 Jun 2019 A colecção de obras do City of Dreams, assinada por artistas de renome internacional, junta-se à iniciativa Arte Macau e vai surpreender os visitantes do Morpheus até ao final do Verão [dropcap]E[/dropcap]ncontros Inesperados” é o nome do conjunto de peças artísticas que, no âmbito da iniciativa “Arte Macau”, se encontram, a partir de hoje, à disposição dos visitantes do Morpheus, na zona do Cotai. O novo hotel, desenhado pela premiada e já desaparecida arquitecta Zaha Hadid – a primeira mulher a receber o Pritzker de Arquitectura –, está a dias de celebrar o seu 1º ano de actividade, depois de ter aberto as portas a 15 de Junho de 2018. A exposição que está patente pelos diversos espaços da unidade hoteleira, pertencente ao complexo do City of Dreams, tem o seu ponto alto na galeria Art on 23, no 23º andar do edifício envidraçado. É lá que se encontra a grande estátua de KAWS, com a conhecida figura de Companion, a primeira personagem criada pelo jovem e famoso artista norte-americano de cultura pop. A este trabalho foi dado o nome “Good Intentions”, em que a simpática figura, inspirada nos cartoons, representa aqui a relação entre pais e filhos. Esta é uma das peças de destaque, depois do sucesso das estátuas do artista e designer Brian Donnelly – que escolheu o nome KAWS nos seus tempos de graffiter – ter chegado aos grandes museus e galerias internacionais, como o MOMA, em Nova Iorque, ou a praça Museumplein, em Amesterdão. Personalidades do show biz americano, como o produtor musical Swizz Beatz ou o rapper Pharrell Williams, também têm as suas estátuas em casa. No mesmo piso encontra-se ainda a instalação “Cabane Éclatée” (Exploded Hut) de Daniel Buren, o conceituado artista conceptual francês, conhecido por integrar elementos arquitecturais e grafismos coloridos nas suas intervenções. Tem uma vasta obra exposta em museus como o Guggenheim e o MOMA em Nova Iorque, o Palais Royal em Paris, o Templo do Céu em Pequim, a galeria contemporânea da Casa Hermès em Bruxelas ou a Fundação Louis Vuitton em Paris. “A City of Dreams é proprietária de uma impressionante colecção de arte de mestres contemporâneos”, como informa na nota de divulgação, onde “cada peça foi seleccionada porque proporciona um encontro único com o público”. As obras estão dispersas pelo espaço do edifício, à excepção da que foi emprestada ao Museu de Arte de Macau, “Untitled” do pintor alemão Thilo Heinzmann. Peças para descobrir Assim, no Lobby VIP do Morpheus, está “Wild Pansy” do artista contemporâneo francês Jean-Michel Othoniel, uma peça em espiral que apresenta movimentos e metamorfoses, escultura característica da sua conhecida obra, exibida por exemplo no Centre Georges Pompidou, no MOMA ou nos jardins de Versailles. As restantes colecções estão localizadas em diversos pontos, para serem descobertas com surpresa, o que justifica os “Encontros Inesperados” do título. “Continuel Lumiére Au Plafond” é a instalação imersiva, com múltiplos fragmentos espelhados em suspensão, do artista argentino Julio Le Pac, que se dedica desde sempre à arte cinética e à Op Art, fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel e autor de muitas obras premiadas. “9 Seas”, do designer francês Mathieu Lehanneur, é uma homenagem às cores do oceano, com imagens recriadas em cerâmica a partir de fotografias de satélite de alta definição. “Sky”, do artista conceptual chinês Zhau Zhau, é um trabalho nos mesmos tons, desta vez sobre a percepção e memórias que o artista tem do azul do céu. O traumático encontro com um urso polar deu o mote à obra “I’m Busy Today & Look At Me!”, de Paola Pivi, a artista multimédia italiana que vive e trabalha em Anchorage, no Alasca. A peça pretende transformar o medo em afecto, ao mesmo tempo que chama a atenção para a vulnerabilidade destes animais. E “Echoes Infinity”, da artista japonesa Shinji Ohmaki, conhecida pelas suas transformações do espaço, traz coloridas flores imaginárias, inspiradas na Árvore da Vida de Leonardo Da Vinci, que se repetem em padrões e criam uma floresta de fantasia. As peças e instalações da colecção do City of Dreams vão continuar expostas no Morpheus, diariamente das 12h às 18h, até ao dia 31 de Outubro. Alipay | Mais de 10 mil empresas usam o sistema Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]esde que a “Alipay entrou no mercado de Macau, em Setembro de 2015, até agora, cerca de dez mil comerciantes de Macau aderiram ao serviço de pagamento electrónico”. O número foi avançado por Cai Zhiyu, director-geral de relações públicas de Hong Kong, Macau e Taiwan de Ant Financial Service Group. O dirigente do grupo financeiro sublinhou o grande potencial do mercado local, algo que se materializou na abertura recente do Banco Xinghui em Macau, que faz parte da estratégia de expansão na região. O dirigente sublinhou a dimensão da Alipay, que conta actualmente com mais de mil milhões de usuários. AMCM | Quebra nos empréstimos à habitação Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]ados oficiais da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) referentes ao mês de Abril mostram que houve uma quebra dos empréstimos hipotecários para habitação face a Março. Por outro lado, “os empréstimos comerciais para actividades imobiliárias aprovados registaram um crescimento”, sendo que o saldo bruto dos dois tipos de empréstimos aumentou. A queda dos empréstimos à habitação situou-se nos 24,9 por cento, num valor total de 2,54 mil milhões de patacas. Neste âmbito, os empréstimos feitos por residentes representaram 98,6 por cento do total, tendo diminuído em 23,1 por cento, num valor total de 2,5 mil milhões de patacas. No que diz respeito aos não-residentes, registou-se uma diminuição de 72,1 por cento, na ordem das 34,8 milhões de patacas. Os empréstimos à habitação relativos a edifícios em construção, mais especificamente empréstimos hipotecários para alienação de fracções autónomas em edifícios em construção, decresceram 22,9 por cento para 607,9 milhões de patacas em relação ao mês anterior. Destes, 96,3 por cento foram concedidos aos residentes locais. Selecção | Capitão escreve carta à FIFA a pedir oportunidade para jogadores João Santos Filipe - 13 Jun 2019 A oportunidade de uma vida. É desta forma que Nicholas Torrão apela à FIFA para voltar a agendar o jogo da segunda mão com o Sri Lanka com vista ao apuramento para o Mundial 2022. Já o presidente da associação, Chong Coc Veng, disse aos jogadores que os seus amigos no Sri Lanka anteviram a possibilidade da equipa de Macau ser alvo à chegada de um atentado terrorista [dropcap]N[/dropcap]icholas Torrão, capitão da selecção de Macau, escreveu uma carta aberta à FIFA, entidade internacional responsável pelo futebol, a apelar a um novo agendamento da segunda mão frente ao Sri Lanka. A carta está assinada em nome individual e refere que os jogadores “ficaram totalmente devastados” com o cancelamento da segunda mão da eliminatória. “Nós, os jogadores, ficamos totalmente devastados com o cancelamento do jogo da segunda mão frente ao Sri Lanka, que seria jogado no terreno deles, devido à Associação de Futebol de Macau se ter recusado a viajar”, pode ler-se no documento. “O futebol é feito de regras e regulamentos, que compreendemos, mas acima de tudo o futebol é feito pelos jogadores. E os jogadores da selecção de Macau querem mais do que qualquer outra coisa viajar e jogar a segunda mão frente ao Sri Lanka e ter a oportunidade de disputar esta ronda de qualificação”, é acrescentado. O atacante sublinha ainda que os jogos de apuramento são uma oportunidade única. “Sendo de uma região que está num dos lugares mais baixos do Ranking FIFA, estes jogos são uma oportunidade de uma vida de deixar a nossa marca no futebol do nosso País, e acima de tudo dos nossos cidadãos e fãs”, é sublinhado. A Associação de Futebol de Macau (AFM) recusou a viajar para o Sri Lanka, onde tinha jogo agendado para terça-feira, na sequência dos ataques terroristas de Abril. Chong com “espiões” no Sri Lanka Apesar da questão dos seguros ter sido apontada como um dos entraves à viagem, a verdade é que Chong disse ao jogadores, segundo Leong Ka Hang, que havia a possibilidade de haver ataques terroristas. A informação teve por base os relatos de amigos de Chong no Sri Lanka e foi partilhada na reunião de segunda-feira à tarde, e divulgada por Leong Ka Hang, ao portal 01 de Hong Kong. Leong terá também dito que não tenciona representar Macau brevemente e que sente que o facto de ter ligações à AFM é prejudicial para a sua imagem enquanto profissional de futebol. Também na terça-feira, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura comentou o tema e saiu em defesa da AFM. Segundo Alexis Tam, que citou o Instituto do Desporto, ninguém quis assegurar os jogadores e como tal disse compreender a decisão. Tam disse ainda perceber a desilusão dos atletas, mas defendeu a AFM na questão da segurança. Quando assumiu a pasta actual, Alexis Tam prometeu cinco anos “brilhantes” para as áreas sociais e da cultura. Agora corre o risco de ser o responsável pela tutela do desporto quando a selecção contrariou as decisões da FIFA e AFC e corre o risco de ser proibida de competir em provas internacionais. Além desta proibição, que poderá envolver os clubes, a AFM fica sujeita ao pagamento de uma multa monetária que pode chegar aos 40 mil francos (325 mil patacas). Ao HM, a AFC confirmou que já tinha enviado a decisão de falta de comparência para a FIFA, para ser aberto um inquérito, assim como para as suas comissões. Resíduos | DSPA promove separação em pequenos restaurantes Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]P[/dropcap]romover a consciência da comunidade para a recolha correcta de resíduos alimentares é o objectivo do projecto-piloto de recolha de Resíduos Alimentares dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, mais do que focar-se na quantidade de resíduos tratados. A admissão está na resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) a uma interpelação escrita de Zheng Anting. A ideia é “alterar o hábito de abandono de resíduos” e permitir, a longo prazo, preparar a recolha de resíduos alimentares de grande envergadura e alterar os hábitos de funcionários de pequenos restaurantes que não tenham condições para a “própria instalação de equipamentos de tratamento”. A DSPA destaca na resposta a Zheng Anting que participam no projecto-piloto meia centena de pequenos e médios estabelecimentos de restauração e bebidas, desde Junho de 2018, até agora. Relativamente a planos de recolha de desperdícios alimentares, regista-se a participação de cerca de 90 instituições nas acções de recolha de resíduos alimentares. A concepção preliminar das instalações centrais de tratamento de resíduos alimentares, assim como a avaliação de impacto ambiental e prospecção geotécnica estará a cargo de uma empresa de consultoria. Palestra | Guerra comercial pode ser oportunidade para a China Hoje Macau - 13 Jun 2019 A guerra comercial que se vive entre a China e os Estados Unidos pode afirmar a China como capaz de transformar as crises em oportunidades. A ideia foi defendida numa palestra realizada em Macau, no passado 10 de Junho, promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros [dropcap]A[/dropcap] posição da China nas negociações económicas e comerciais com os Estados Unidos” foi a palestra promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau para debater a situação que se vive actualmente entre os dois países e o posicionamento chinês neste contexto. A ideia defendida pelos participantes prendeu-se com a transformação desta “crise” numa oportunidade e afirmação da China no contexto internacional bem como uma demonstração da capacidade de Pequim em transformar momentos difíceis em oportunidades. Para Shen Beili, comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC na RAEM, a experiência chinesa em lidar com pressões tem tornado o país mais forte. “Temos a confiança e a capacidade de tornar a pressão numa força motora”, afirmou, de acordo com o Jornal Ou Mun. A responsável lamentou ainda a posição dos Estados Unidos que tomou medidas “de forma unilateral” quando reforçou as taxas nas trocas comerciais com a China. “O facto de os EUA imporem aumentos nas tarifas de importação, causa danos ao próprio país e aos outros, dificultando a cooperação bilateral no comércio e investimento, e afectando a confiança de ambos os países e do mercado global no funcionamento estável da economia”, apontou. Esta atitude com repercussões no contexto internacional mostra, segundo Shen Beili, que “o acto dos EUA é prejudicial para todo o mundo, danifica o sistema multilateral de comércio, perturba seriamente a cadeia industrial global, desfavorece a confiança do mercado, traz sérios desafios à recuperação económica global e representa uma grande ameaça à tendência de crescimento da economia global”, afirmou. Sem desistir Mas, a atitude da China é clara na medida em que apesar de não querer participar neste conflito, não vai desistir e tem confiança no caminho já percorrido e nas orientações do novo socialismo com características chinesas de Xi Jinping. “O desenvolvimento da China não será afectado facilmente. Os parceiros comerciais no exterior são cada vez mais e mais diversificados e a capacidade de tolerância às pressões comerciais exteriores é maior”, sublinhando a “confiança e capacidade de tornar a pressão numa força motora”. A opinião foi partilhada por outros participantes. Liu Cheng Kun, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau defendeu que “a China tem resistência económica para lidar com as fricções comerciais”. De acordo com o académico, há aspectos essenciais que contribuem para a “força” chinesa. São eles: “a enorme dimensão da sua economia, a optimização contínua da estrutura industrial, o desenvolvimento da economia regional e o aumento de relações comerciais exteriores”. Por outro lado, considera, os Estados Unidos acabam por se prejudicar ao “provocar unilateralmente conflitos comerciais com países importantes”. Já o Pró-reitor da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng, que também participou no evento, defendeu o apoio da RAEM a Pequim tendo como argumento “ a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento nacional, protegendo a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Macau dentro da política ‘um país, dois sistemas’” Autocarros | Ella Lei critica renovações de contratos Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]lla Lei criticou o facto de o Governo estar a aproveitar-se da renovação temporária dos contratos com as duas empresas de autocarros públicos sem anunciar data limite para os novos vínculos permanentes. Em declarações publicadas ontem no Jornal do Cidadão, a deputada alertou para o facti de os contratos actuais com as operadoras terminarem no final de Outubro e do Executivo defender que não há pressa nas renovações. Por este motivo, a membro da Assembleia Legislativa está preocupada com a possibilidade de não haver um novo acordo entre as operadoras e o Governo até ao fim dos contratos temporários, o que poderia causar confusão no sector dos transportes, com danos para o serviço e para os residentes. Ella Lei defendeu ainda que o Governo deve anunciar o novo modelo de subsídio das empresas de autocarros, assim como formular um novo contrato que leve a melhorias no serviço. Outro dos pontos sustentados pela deputada é a necessidade de aumentar os percursos “expresso”, identificados como “X” junto ao número do autocarro, como por exemplo o autocarro 3X, para fazer face à procura. Por outro lado, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) insiste na necessidade de cobrar bilhetes mais caros aos trabalhadores não-residentes, para reduzir os custos dos subsídios às empresas de autocarros. Actualmente, há duas operadoras de autocarros públicos em Macau, a TCM e a Transmac e o Governo gasta cerca de mil milhões de patacas em subsídios. Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Quando me pus a semear lebres Luís Carmelo - 13 Jun 20196 Mar 2020 [dropcap]C[/dropcap]omeço a crónica de hoje com o depoimento de Inácio Crespim, antigo acarretador de São Romão (Vila Viçosa), entrevistado nos anos de 1994-1995 por Luís Silva para um livro que foi publicado em Maio do ano passado, intitulado ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana’*. “O meu pai nunca abalava do moinho, só estando doente é que não dormia lá.” (…) “Tinha uma tarimba lá dentro do moinho” (…) “era ali a tarimba, era ali que ele dormia e encantado da vida. A cama era uma esteira de buinho [com] uma manta ali em cima da esteira. Em ouvindo o chocalho, lá se levantava para encher a moega. Enchia, punha a argola do chocalho na cegonha e, depois, ficava descansado até que se acabasse aquele trigo na moega”. A vida dos seareiros, moleiros, farineiros, atafoneiros e acarretadores (ou maquilões) é hoje totalmente desconhecida. A ignorância avança ao lado dos cultos do saber. Eram vidas muito duras e particularmente solitárias. Antes de a indústria da moagem se ter desenvolvido, era dentro dos moinhos que o cereal se moía, produzindo-se a farinha que é essencial para o pão. A água dos rios era a fonte de energia e o resto equivalia a um intenso episódio braçal, claustrofóbico, quase místico. Em 1786, três anos antes da revolução francesa, um “Código de Posturas” publicado em Mourão dava conta das restrições a que a actividade dos moleiros (e dos atafoneiros) estava sujeita: “Os moleiros e atafoneiros serão examinados com juramento de fazerem verdade, e os moleiros e atafoneiros tomarão também juramento de fazerem verdade e ninguém poderá ver moleiro em moinho ou acenha, ou atafona sua… nem terão suas molheres nas ditas moendas, nem ainda em taes fazendas que tragão arrendadas, nem terão cão, nem galinhas, nem porco, nem cavalgadura sua nas ditas moendas, nem ao redor dellas, nem em suas casas. E terão gato ou gata para os ratos, e terão alqueire de.., meio alqueire de pão, e maquieiro e meio maquieiro e tudo aferido e affillado pello aferidor do Concelho nos primeiros oito dias de Janeiro e Julho de cada anno, de que tirarão sequestro, e terão sempre panais postos nas moendas e… de farinhas, e nas moendas andarão descalços, e no principio de cada anno darão fiança sob pena de pagarem por qualquer desttas couzas não cumpridas quinhentos reis e sob a mesma pena não comprarão vinho aos vinhateiros que forem aos moinhos, e nelles não venderão trigo nem farinha a pessoa alguma com pena de mil reis, e salvo emprazadores e senhorios dos moinhos, que tomem conhecimento do tal trigo e farinha que venderem, e duitamente do seu ganho”. É curioso como esta actividade estava sob juramento. Além do carácter votivo, não havia direito à sexualidade, ao vinho e à companhia de animais. Os gatos eram a excepção, o que se ficava a dever às exigências de higiene (onde se incluía, também, o uso de panos sobre a moenda – ou pedra mó – e a obrigação de não usar calçado). A fiscalização e a vigilância externas incidiam nas medidas a usar, na proibição de venda directa (a não ser com conhecimento dos donos dos moinhos) e ainda na caução a que os moleiros estavam obrigados (e cujos montantes eram subtraídos em caso de incumprimento). É difícil encontrar nos dias de hoje um contrato de trabalho com estas condições, a começar logo pelo juramento. No entanto, o triângulo aqui presente – baseado no cariz solitário da actividade, nas imposições de ‘higiene’ (que definiam o meio) e na vigilância externa – não é assim tão estranho às patologias, passe a metáfora, da vida contemporânea. Pensemos no modo como o mundo em rede, aparentemente um esteio de partilhas, é sobretudo um mundo solitário que se move ao jeito de um vaivém impessoal entre a perdição do olhar e os ecrãs tecnológicos. Trata-se de uma patologia a que ninguém consegue deixar de aderir (e até com a devida pulsão eufórica). Pensemos, por outro lado, na correcção que visa codificar a nossa vida através de regras rígidas (a maior parte não escritas) que liofilizam e ‘veganizam’ a higiene e o meio em que vivemos: nada de fumo, nada de gorduras, nada de touradas, nada de tabernas manhosas que dispensem as asaes. Trata-se de uma patologia a que o ‘mainstream’ tende a aderir com o apego das antigas ‘grandes causas’ (hoje parte das novas arqueologias). Pensemos, por fim, no modo como a tecnologia nos vigia e nos espia, tema, aliás, de uma das últimas crónicas aqui publicadas (“Lavadeiras, privacidade e ameaças”**). Trata-se de uma patologia que tudo e todos tendem a fingir que não existe. Não estamos assim tão longe de Mourão dos idos 1786. As clausuras do nosso tempo pós-Orwell caracterizam-se (vistas de cima com a ajuda de um drone) por uma correria paradoxal: os passeios enchem-se de multidões a correrem desenfreadamente sem saberem bem porquê e para onde. De tal modo assim é que, como dizia o antigo acarretador Inácio Crespim, ninguém parece ficar “descansado até que se acabe todo o trigo na moega”. Só que, hoje em dia, o trigo é imaterial e, quer o pão, quer os hamburguers já completos (e higiénicos até à medula), aparecem nas nossas mesas fresquinhos, como se tivessem acabado de sair da árvore do quintal. Eu, ao pé da minha, até costumo semear lebres – para não ter que as matar com uma boa estocada – e depois misturo-lhes alho, cebola, louro, alecrim, cravinho, chouriço (com muito sangue), nabo, 6 dl de vinho da Pêra-manca e, claro está, um belo arroz carolino, pois o integral – disse-me o senhor Crespim – faz mal às artroses. Bons feriados! *Silva, Luís, ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana – Uma visão antropológica’. Colibri, 2018, Lisboa. [Em linha]. (s/d). Disponível em https://run.unl.pt/bitstream/10362/50442/1/Livro_completo.pdf [Consult. 07-06-2019]. **Carmelo, Luís, ‘Lavadeiras, privacidade e ameaças’ em Hoje Macau. 23/05/2019. [Em linha]. (23-05-2019. Disponível em https://hojemacau.com.mo/2019/05/23/lavadeiras-privacidade-e-ameacas/ [Consult. 07-06-2019].
Quarentena: uma narrativa António Cabrita - 13 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]ascidos a bordo de um navio em quarentena, ao fim de uns anos engolfa-nos a ausência, ansiamos um abraço de sangue. A raros se concedeu – presumo que a suborno – soltura. O navio ficou ao largo por um período a prumo, que não cessa de indeterminar-se e aí a língua é o algeroz de onde pingam a esperança e o alfabeto do inferno. Divisamos de longe as luzes da cidade, adivinhando até ao sabugo os seus perfumes, a desabrida floração dos cometas no peito das raparigas, o rasto de anfetaminas com que os rapazes metem a terceira e repelem os mortos. Enquanto na nossa cabine ou no desabrigado convés tudo se repete, unânime, caliginoso. Dás conta, já não batem os sinos na cidade! Emudece a via láctea nos salmos que tingem o WhatsApp? No dia da boda uma borboleta, das que migra, transatlântica, veio ressacar ao corrimão do tombadilho e depois alumiou as bordas da piscina com a sua valsa imatura. Tudo quanto vislumbrámos das flores da costa. Ocorre o amor entre os convalescentes? Tudo indica que o homem é capaz de amar no próprio inferno, embora a solidão na proa não deixe de lembrar-nos que nunca mergulharemos duas vezes no mesmo vento. Ancorados ao largo da alegria, de quarentena, o capcioso brinde final destinar-te-á um breve toque de clarim, antes de amortalhado numa bandeira o teu cadáver ir lancetar o mar. Mataste o tempo, lendo a Oresteia e conviveste com as deambulações de Ulisses, também ele tardio e como tu enleado nos novelos da idade que ensimesma, e já reconheces na enlanguescida inteligência do antigo amante de Circe o declinar da tua. Estaria tudo bem se não visses que os teus filhos também nasceram a bordo e como se lhes emaranha nas veias uma bilha de gás e uma cabeça de fósforo. Aí revoltas-te! Apontas o canhão da proa e inflamas o horizonte com a tua veia derramada. Alba. O barrete realça, não esconde a cabeça de cachalote do marinheiro que subiu à gávea. Padeceriam igualmente os anjos desse peso transbordante, acima do pescoço rútilo? Um veleiro airosamente descalço adeja ao largo. No rádio passam Zappa, conduzido por Boulez – tudo se desloca nos meridianos aquosos. A quem devemos a quarentena do planeta? É tão escasso o pensamento, nestas anfractuosas tonelagens de ferro, que nos serve de guarida contra o íngreme entenebrecimento, contra a cegarrega que nos atou, é fugaz, mas dactilografa estrelas à superfície das águas, lépida doma dos néones, e aí intuímos: cada palavra é uma ilha e procura arquipélago. Saberá o urso que hiberna? Não tem clímax a noite, só tem ápice na queda. A noite é o seixo que rola no leito da tua vida; rola para a foz ou para a nascente? Alarma-te o enigma do teu corpo e da tua sombra bifurcarem na língua da cobra. Como traduzir a inconciliável corrente que os aparta em amuos incandescentes, não obstante partilharem o que tolda no copo de gim? Solução para o dilema: talvez em terra, mas, entretanto, retido em quarentena, apesar de desconheceres a combustão antropofágica da doença, a dúvida que não cala encapela-te os páramos do sangue. A inocência é que te tramou, enredou-te nas ramagens da noite – embora na orla das escotilhas já a luz da alba se ice, vagarosa, e a algazarra das cores se adiante, esta outra luz é mais um alinhavo frágil na bainha da mesma e idêntica noite que te ofusca, espectral. Contudo, por décadas a fio de quarentena encrespada nos gargalos, pode lá a escassez encaixar-se nas tuas linhas de sombra: basta ouvirmos o latido de um cão na costa e restituímos a pedra que sonha à tepidez da mão que enxagua a sua matéria exausta. Transpira o navio contra a quarentena, ondula. Lês na fornalha de Dante os glóbulos brancos do teu nome. Quanto tempo demora o limbo a fazer-nos compreender que desenhar as letras não nos emenda a escuridão? Tanto que vejo, sem adivinhar o quanto ensejo no que vejo. De quarentena, a vida de nós não se aproxima nem para a despedida. Embora tudo indique que o homem seja capaz de amar no próprio inferno. 08/06/2018
Relicário de sonhos I Gisela Casimiro - 13 Jun 2019 [dropcap]H[/dropcap]á alguns anos a esta parte, enquanto lhe contava um sonho, dos muitos que tenho, ou melhor, dos muitos que recordo, diagnosticou ou melhor, perguntou-me o Rui Zink se eu sabia que era grafomaníaca. Eu não sabia. Nem sabia o que isso era. Mas o Priberam explicou que era uma necessidade patológica de escrever ou de fazer registos gráficos, o hábito de escrever ou de registar graficamente muitas coisas. Poderia dizer que nunca mais fui a mesma mas mentir é feio. Continuei a sonhar e a registar os meus sonhos, e até os sonhos que amigos tiveram comigo, como o faço com os diálogos e peripécias que me acontecem, apenas agora exibindo esta condição incurável como uma curiosidade exótica. Não é muito melhor do que ter um transtorno obsessivo-compulsivo? Eu acho que sim. Mas na verdade, não poderia isto, também, ser considerado como tal? Adiante. A poucos dias do seu aniversário, deixo aqui uma pequena colecção, sem grande organização, análise ou interpretação, clínica ou mística, a este querido amigo e antigo professor meu (que não tem memória dos seus e estará, provavelmente, grato por isso) de alguns sonhos dos últimos anos. Há pessoas mesmo estranhas, não há? 2019 Sonhei que andava a mudar plantas mas, apesar de ter bastante à disposição, constantemente me enganava e colocava cacau em pó em vez de terra nos vasos. 2018 Sonhei que Jesus Cristo me visitava. Era um sonho agradável. Dizia-me o dia da minha morte, mas não do mês ou do ano. Em seguida, tive um sonho muito violento, mas acalmava-me dizendo: não é hoje que eu vou morrer. 2017 A noite passada sonhei que me ofereciam um trabalho de fim de semana como domadora/treinadora de elefantes e a formação consistia em passar tempo com o elefante mas sobretudo via lá no horário yoga yoga yoga yoga. 2016 Sonhei com sonhos. Esta noite sonhei que o meu romance estava terminado. Sonhei que ia passar o verão a Hong Kong. Mas antes estava nas traseiras do prédio dos meus pais a andar de bicicleta. E tinha um saco de viagem que não queria perder, então pensei, vou andar de bicicleta à volta do saco. Nas notícias falavam de um fugitivo. Outra noite sonhei que uma mãe e seu filho queriam ir para minha casa; tinham chaves e tudo, convencidos de que lhes pertencia. Recebia ainda um grupo de Masai em casa, e a minha tia. Discutimos e eu estava preocupada porque não sabia como acomodar tantas visitas inesperadas. E tinha de pensar nas minhas colegas de casa. Só que a minha casa não era a actual. Era a casa de uma ex-amiga minha. Sonhei que estava a vir de onde costumo lanchar às vezes no trabalho mas agora de repente, a meio do caminho, estava grávida, já em estado avançado, e conseguia ver o meu bebé através da barriga e da roupa, como se fosse transparente de algum modo. Sorria para mim. 2015 (Depois de ser operada ao estômago) Sonhei que me via a comer comida normal antes de tempo e ficava com medo de morrer. Tentava avisar-me a mim mesma para parar, mas era como se estivesse a pairar no tecto e não me ouvia. Uma visão do horror. Cheia de medo que me rebentasse o estômago. Sonhei que tinha cancro. Era um sonho muito atribulado. Eu sabia que tinha porque os meus médicos queriam reunir-se comigo e um deles deixou a noiva no altar à espera para ir à reunião. Por algum motivo tinham de me amputar as duas pernas. Eu ia lá para a o fazerem, e quando a médica começava a preparar tudo eu dizia que não queria e que não conseguia lidar com aquilo. E percebia que também não tinha dito a ninguém, porque me imaginava a aparecer em casa dos meus pais, era o dia do aniversário do meu pai,, e a cara da minha mãe ao ver-me com próteses. Sonhei que havia uma pessoas que queriam encomendar rissóis e croquetes à minha mãe. Mas era só uma desculpa para nos fazerem mal. A minha mãe não estava em casa e eu e mais pessoas (?) fazíamos de tudo para afastá-las. Só sei que, quando finalmente mandei mensagem à minha mãe a avisar, de repente a vi a caminho, mas estava careca. Entretanto um miúdo e uma miúda que eu sabia fazerem parte do tal grupo vieram ter comigo, agora sim só comigo, e conversámos muito mas eu continuava sem querer confiar neles. Que sonho parvo. A parte dos miúdos, contudo, era pesada, intensa. Não me lembro da conversa, apenas da sensação. Eventualmente a minha mãe chegava a casa. Não me lembro de mais nada. Sonhei que a minha mãe nunca mais se levantava e o meu pai queria dar-lhe umas prendas. Ele estava sentado à mesa, cabisbaixo. Havia coisas para ela mas também havia um helicóptero dourado, enorme. Ele dava uma boneca que andava e falava à minha irmã. No sonho eu via a minha irmã no escuro, sentada na cama, com a boneca gigante ao lado, do tamanho dela. Apesar de o helicóptero estar lá e ser parecido com um que tive, eu percebia que nada daquilo era para mim. E então ficava muito magoada e ia embora para a Finlândia durante três meses, que passaram em segundos, e depois voltava para dizer que me ia embora novamente por mais tempo e usava um mestrado como desculpa.
Sui generis admin - 13 Jun 20199 Jun 2020 [dropcap]Q[/dropcap]uando viu o Sidónio nu à sua frente ficou sem jeito e sem capacidade de reacção. Estava farto de ver homens naquele estado, isso não era o problema, bastava olhar-se ao espelho ou ir ao balneário do ginásio, mas assim naquele registo tão íntimo, pronto-a-comer, nunca tinha acontecido. Deixava-o desconfortável. Esta sua decisão de se tornar homossexual ainda não era cem-por-cento consensual dentro de si, tinha ainda as suas dúvidas. Nem todos os seus genes tinham aprovado essas regras em uníssono, por isso caminhava um pouco a medo, em terreno desprovido de qualquer cor. Não, não era nenhum arco-íris, por enquanto. Sempre gostara de mulheres e, apesar de estar a entrar nos cinquentas, era um homem sexualmente bastante activo. Esteve casado duas vezes, a última quase dez anos, com muitas aventuras nos entretantos, mas chegara a altura de sair do armário, como se costuma dizer. Bom, ele nunca tinha estado a viver numa prateleira, tinha a certeza disso, sempre fizera tudo às claras, não tinha nada a esconder. Mas a heterossexualidade também não fazia o seu género, no sentido em que gostava de dar um passo à frente. Era um experimentalista e apetecia-lhe mudar de ares. A primeira coisa que disse ao Sidónio foi: “vai devagar”. Era um comprimido dos grandes que tinha de engolir. Lembrava-se de quando tinha de tomar coisas assim quando era miúdo. Deitava tudo cá para fora e a sua mãe ficava com os cabelos em pé e gritava com ele. Mas aquele espécime não o atraía minimamente, tinha um ar a dar para o abichanado que o irritava. Sempre o irritou, para ser sincero. Por diversas vezes, em pensamento, tinha troçado um pouco dele, apesar de naquela figura se apresentar com um corpo tonificado e com uma cara laroca. Tratava-se bem, o Sidónio. E até era um gajo porreiro, mas era para ir beber uns copos e apanhar uma grande tosga, não era para estar com o pila dele na boca. Mas tinha de ser e a ideia até tinha sido sua. Trabalhavam juntos há muitos anos e sempre teve um à-vontade extremo com o Sidónio para falar das coisas, vá-se lá saber porquê. Era um facilitador. E quando começaram a trocar ideias sobre o assunto, de como ele não se importava de experimentar “aquilo”, o colega ficou logo de antenas no ar e mostrou-se híper interessado, convencendo-o de que gostaria de ser a cobaia. Até chegarem a esta situação embaraçosa, não demorou muito tempo. Duas semanas? Agora, era preciso relaxar e ultrapassar de uma vez por todas o complexo que se tinha atravessado à sua frente, senão não ia conseguir cumprir os seus objectivos. Dantes, quando precisava de se abstrair pensava em matrículas de automóveis. Estava sem recursos. Precisava de uma mão divina. À medida que o Sidónio fazia tenções de o acarinhar ele afastava-se compulsivamente. Dizia: “espera!”, enquanto colocava uma musiquinha a tocar, na esperança de que aquilo ajudasse, criando um ambiente mais propício, não diria ao romance, mas whatever. Queria era ver-se livre daquela situação e prosseguir com a sua vida. Ele que não era nada esquisito com a comida, comia tudo o que lhe pusessem no prato e gostava sempre de se lançar de estômago alegre para gastronomias desconhecidas. E se as mulheres, de quem ele tanto gostava, o faziam com tanta facilidade, não havia de ser ele que iria agora voltar para trás e desistir. Mas havia ainda a outra parte, o factor essencial para que a contenda desse certo, entre as suas pernas parecia existir uma letargia completa. “49-BO-13”. Na casa-de-banho tinha usado um lubrificante adequado, para não estar a interromper nada mais à frente, o que ainda iria ser pior, e achava que estava preparado, que não ia custar. Já tinha beijado amigos em noites de bebedeira e ali tinha pensado em todos os pormenores, mas estava demasiado tenso, era preciso libertar-se daquele torpor, fosse de que maneira fosse. Então achou que se desse um beijo ao Sidónio, daqueles à antiga, imaginando-se inebriado com uma lufada de vento, talvez tudo se resolvesse. Sim, era isso que iria fazer. Iria abraçá-lo e beijá-lo com estrondo. Depois logo se veria. O que aconteceu, em concreto, não sabemos. O que é certo é que deu o grande salto em frente e com naturalidade enfrentou sem encerros a sua nova condição perante a sociedade. Do modo como os colegas de trabalho o entreolharam nas semanas seguintes, só confirmava que o seu outro eu já não era segredo. Mas ele gostava disso. Gostava da assumpção. Encontramo-lo tempos mais tarde, já com o coração a bater a um ritmo semi-descontrolado. Começara a namorar com um homem, ou era o que ele achava, que aquilo era uma relação à séria. De início, estava confiante que tinha finalmente encontrado o seu primeiro namorado, extremando ainda mais a corda para a sua vida passada. Mas a história tinha outros contornos e revela-se aqui num excerto roubado do seu diário. “Quando conheci o Eddy ele não me contou a verdade, não me disse que afinal não era bem assim. Conhecemo-nos numa noite, num festival de cinema. Ele fazia parte de uma equipa de produção de um documentário premiado, um documentário sobre a extinção do género, e a partir daí fomos falando quase todos os dias. Até que noutra noite mais acalorada, sem câmaras pelo meio, nos envolvemos de modo íntimo. Aconteceu tudo muito rápido. Bem que lhe meti logo a mão entre as pernas, mas ele afastou-me, dizendo que ainda não. Queria primeiro aguçar-me o apetite, pensei. E quando passámos ao acto em si – já não aguentávamos mais! – baixou as calças e virou-se de costas para mim. Tínhamos trocado beijos clamorosos, ficámos agarrados como duas tomadas, em curto circuito, com as nossas línguas derretidas uma na outra. Tudo corria bem. Todo o meu ser efervescia de paixão. Finalmente, estava com os dois pés no caminho que tinha começado a traçar com o palerma do Sidónio. Mas quanto a esse caso, nem me quero lembrar desse momento, aquilo foi um suplício. Nunca tive qualquer dúvida quanto ao Eddy. Vira-o de tronco nu e, apesar de profusamente depilado, é uma mania que não pratico, tinha um bonito peito de homem. Seja lá o que isso quer dizer. Eu sei lá, pelo menos foi o que supus. A minha ideia nunca tinha puxado para o outro lado. Quando se vê uma coisa não se vê a outra e o toldo tapa o horizonte por completo. Mesmo depois de ele engolir o auge do meu prazer e continuarmos com aquilo noite fora, eu gritava: ‘Eddy! Eddy!’ E abraçava-o, como se não houvesse mais mundo. Mas não demorou muito até descobrir a realidade, de que afinal o rapaz por quem me tinha apaixonado era afinal uma mulher. Raios! Não havia como evitá-lo, fiquei estupefacto e chorei. O que me tinha levado a gostar de homens tinha sido uma vontade imensa de experimentalismo e ao dar esse passo queria aprofundar a minha nova postura, assumindo-a. Na verdade, passei a ter uma atracção genuína por pessoas do mesmo sexo, e só por elas, achava eu. Limitava-me a saborear aquela fruta tropical. Agora, parece que me egasguei. Terá sido o caroço? Quando conheci o Eddy, era indiscutível de que ele era um homem. Nem foi tema de que alguma vez tenhamos falado, a dúvida, era tudo claro como a água. Mas a extinção do género tinha ganho um prémio, esse tinha sido o nosso ponto de encontro, e quando deparei com aquilo, não soube como reagir. Uma pessoa ama o indivíduo, para além da inscrição do género, seja ela qual for? O que é isto da sexualidade e do corpo que nos calhou? Depois de tanto esforço, eu não podia andar com uma mulher, ia contra os meus novos desígnios. Ai, Sidónio, eu vi logo que isto não podia dar certo. Mas eu adoro o Eddy. É uma paixão sem fim, como nunca tinha sentido. E quero passar a vida nos braços dele – dela! – para sempre. E se descobrirem, depois de tanto vergar a corda, que afinal eu não sou homossexual? Também o que me havia de calhar na rifa, o Monsieur Butterfly. Não sei o que pensar, mas também não me interessa saber. Dê por onde der, mesmo sem arco-íris, sigo em frente.” Ficamos descansados, não há cenas dos próximos capítulos.
Coimbra | Chissano realça papel de Academia nas relações sino-lusófonas Hoje Macau - 13 Jun 2019 O novo organismo, apresentado esta terça-feira em Coimbra, a Academia Sino-Lusófona, visa reforçar as relações entre os países de língua portuguesa e a China. Na apresentação marcaram presença, entre outros, o antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano e o embaixador chinês em Portugal, Cai Run [dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano disse esta terça-feira em Coimbra que a Academia Sino-Lusófona (ASL), agora apresentada, vai contribuir para o fortalecimento das relações entre os países de língua portuguesa e a China. Para Joaquim Chissano, a Academia Sino-Lusófona, apresentada na Universidade de Coimbra (UC), na presença do embaixador da República Popular da China em Portugal, Cai Run, “é uma parte de uma dinâmica” que deve ser aproveitada pelos membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e pela China, no relacionamento entre si. O novo organismo, dirigido por Rui de Figueiredo Marcos, director da Faculdade de Direito da UC, “vai impulsionar” essas relações e o trabalho que vier a desenvolver ajudará a “descobrir novas maneiras” de Portugal, demais parceiros lusófonos e a própria China se “relacionarem também com outros países” no mundo, declarou o ex-presidente moçambicano aos jornalistas. Chissano interveio numa sessão, no auditório do Colégio da Trindade, na Alta de Coimbra, em que a UC apresentou a ASL, com o objectivo de “reforçar os laços” com a China e os países de língua portuguesa. Língua de crescimento No seu discurso, Joaquim Chissano realçou “o papel que a Academia pode jogar no desenvolvimento” dos países envolvidos, com “uma visão inovadora” e com vista “de uma maximização das vantagens para todos”. “O mundo académico pode e deve jogar um papel muito relevante” neste domínio, disse, ao realçar que o Português é quarta língua mais falada “e a terceira com maior crescimento no mundo”. Joaquim Chissano pediu aos doadores para continuarem a ajudar Moçambique, na sequência do ciclone tropical Idai, que atingiu o país em Março, causando centenas de mortos e avultados danos materiais. A ajuda internacional recebida “ainda é insuficiente”, disse depois aos jornalistas. Na cerimónia, em que actuou o coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, usaram também da palavra o professor Rui Marcos, o reitor da Universidade, Amílcar Falcão, e o embaixador Cai Run. O diplomata chinês valorizou o aprofundamento das relações entre a China e os países da CPLP, em geral, vincando que o relacionamento entre Lisboa e Pequim vive “a sua melhor fase”.
Inscrições para workshop com Catarina Mourão só até amanhã Raquel Moz - 13 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap]s inscrições para o Workshop de Documentário da cineasta portuguesa Catarina Mourão, que vai decorrer de 22 a 27 de Junho na Casa Garden, estão abertas só até amanhã, sexta-feira, dia 14. A iniciativa é gratuita, para maiores de 16 anos, até um limite de 20 participantes. Organizado pela Fundação Oriente, com o apoio da Casa de Portugal em Macau, o projecto insere-se nas comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e é aberto ao público em geral. Durante seis dias, os interessados vão poder experimentar o processo criativo de filmar um documentário, a partir de filmes que irão introduzir os tópicos de trabalho para cada sessão. Trata-se de uma oficina de produção e realização para iniciantes e amadores, intitulada “A Casa e o Mundo”, onde durante 3 horas diárias os alunos vão desenvolver obras de acordo com a sua inspiração e a orientação da realizadora. Tal como descreve Catarina Mourão, na nota de apresentação, “neste workshop vou partilhar com os estudantes o meu processo criativo na filmagem de documentários. É essencialmente um trabalho que se inicia no microcosmos da família, da casa, da rua. Começamos por viajar por entre aquilo que nos é familiar, e acabamos por encontrar estranheza e novas estórias além da nossa zona de conforto”. E especifica, “cada um dos meus filmes desencadeou um desafio diferente. E cada desafio irá estimular os participantes a trabalhar num determinado projecto de filme, para o qual deverão encontrar o seu ângulo pessoal e a sua solução”. À procura de respostas As oficinas terão um total de 18 horas. A 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, o horário é das 14h às 17h, e nos seguintes dias, de 24 a 27, em horário pós-escolar ou laboral, das 18h às 21h. Cada sessão de workshop terá como ponto de partida a exibição de um filme: “Daguerreótipos” (1976), de Agnès Varda, o “primeiro documentário que teve um verdadeiro impacto na minha forma de filmar”, e “À Flor da Pele” (2006), “Pelas Sombras” (2010) e “A Toca do Lobo” (2015), de Catarina Mourão. O programa procurará respostas à questão sobre o que é o documentário, como género, no actual mundo da imagem. Através de exercícios práticos na escolha dos temas, personagens, localizações, roteiros e pesquisa em arquivos, os alunos irão ensaiar e discutir em conjunto técnicas de filmagem e de edição, antes da apresentação final dos trabalhos. As inscrições deverão ser feitas através do email workshopcatarinamourao@gmail.com. Mais informações podem ser solicitadas à Fundação Oriente e à Casa de Portugal.
Artistas contemporâneos mostram obras de luxo no Morpheus Raquel Moz - 13 Jun 2019 A colecção de obras do City of Dreams, assinada por artistas de renome internacional, junta-se à iniciativa Arte Macau e vai surpreender os visitantes do Morpheus até ao final do Verão [dropcap]E[/dropcap]ncontros Inesperados” é o nome do conjunto de peças artísticas que, no âmbito da iniciativa “Arte Macau”, se encontram, a partir de hoje, à disposição dos visitantes do Morpheus, na zona do Cotai. O novo hotel, desenhado pela premiada e já desaparecida arquitecta Zaha Hadid – a primeira mulher a receber o Pritzker de Arquitectura –, está a dias de celebrar o seu 1º ano de actividade, depois de ter aberto as portas a 15 de Junho de 2018. A exposição que está patente pelos diversos espaços da unidade hoteleira, pertencente ao complexo do City of Dreams, tem o seu ponto alto na galeria Art on 23, no 23º andar do edifício envidraçado. É lá que se encontra a grande estátua de KAWS, com a conhecida figura de Companion, a primeira personagem criada pelo jovem e famoso artista norte-americano de cultura pop. A este trabalho foi dado o nome “Good Intentions”, em que a simpática figura, inspirada nos cartoons, representa aqui a relação entre pais e filhos. Esta é uma das peças de destaque, depois do sucesso das estátuas do artista e designer Brian Donnelly – que escolheu o nome KAWS nos seus tempos de graffiter – ter chegado aos grandes museus e galerias internacionais, como o MOMA, em Nova Iorque, ou a praça Museumplein, em Amesterdão. Personalidades do show biz americano, como o produtor musical Swizz Beatz ou o rapper Pharrell Williams, também têm as suas estátuas em casa. No mesmo piso encontra-se ainda a instalação “Cabane Éclatée” (Exploded Hut) de Daniel Buren, o conceituado artista conceptual francês, conhecido por integrar elementos arquitecturais e grafismos coloridos nas suas intervenções. Tem uma vasta obra exposta em museus como o Guggenheim e o MOMA em Nova Iorque, o Palais Royal em Paris, o Templo do Céu em Pequim, a galeria contemporânea da Casa Hermès em Bruxelas ou a Fundação Louis Vuitton em Paris. “A City of Dreams é proprietária de uma impressionante colecção de arte de mestres contemporâneos”, como informa na nota de divulgação, onde “cada peça foi seleccionada porque proporciona um encontro único com o público”. As obras estão dispersas pelo espaço do edifício, à excepção da que foi emprestada ao Museu de Arte de Macau, “Untitled” do pintor alemão Thilo Heinzmann. Peças para descobrir Assim, no Lobby VIP do Morpheus, está “Wild Pansy” do artista contemporâneo francês Jean-Michel Othoniel, uma peça em espiral que apresenta movimentos e metamorfoses, escultura característica da sua conhecida obra, exibida por exemplo no Centre Georges Pompidou, no MOMA ou nos jardins de Versailles. As restantes colecções estão localizadas em diversos pontos, para serem descobertas com surpresa, o que justifica os “Encontros Inesperados” do título. “Continuel Lumiére Au Plafond” é a instalação imersiva, com múltiplos fragmentos espelhados em suspensão, do artista argentino Julio Le Pac, que se dedica desde sempre à arte cinética e à Op Art, fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel e autor de muitas obras premiadas. “9 Seas”, do designer francês Mathieu Lehanneur, é uma homenagem às cores do oceano, com imagens recriadas em cerâmica a partir de fotografias de satélite de alta definição. “Sky”, do artista conceptual chinês Zhau Zhau, é um trabalho nos mesmos tons, desta vez sobre a percepção e memórias que o artista tem do azul do céu. O traumático encontro com um urso polar deu o mote à obra “I’m Busy Today & Look At Me!”, de Paola Pivi, a artista multimédia italiana que vive e trabalha em Anchorage, no Alasca. A peça pretende transformar o medo em afecto, ao mesmo tempo que chama a atenção para a vulnerabilidade destes animais. E “Echoes Infinity”, da artista japonesa Shinji Ohmaki, conhecida pelas suas transformações do espaço, traz coloridas flores imaginárias, inspiradas na Árvore da Vida de Leonardo Da Vinci, que se repetem em padrões e criam uma floresta de fantasia. As peças e instalações da colecção do City of Dreams vão continuar expostas no Morpheus, diariamente das 12h às 18h, até ao dia 31 de Outubro.
Alipay | Mais de 10 mil empresas usam o sistema Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]esde que a “Alipay entrou no mercado de Macau, em Setembro de 2015, até agora, cerca de dez mil comerciantes de Macau aderiram ao serviço de pagamento electrónico”. O número foi avançado por Cai Zhiyu, director-geral de relações públicas de Hong Kong, Macau e Taiwan de Ant Financial Service Group. O dirigente do grupo financeiro sublinhou o grande potencial do mercado local, algo que se materializou na abertura recente do Banco Xinghui em Macau, que faz parte da estratégia de expansão na região. O dirigente sublinhou a dimensão da Alipay, que conta actualmente com mais de mil milhões de usuários. AMCM | Quebra nos empréstimos à habitação Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]ados oficiais da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) referentes ao mês de Abril mostram que houve uma quebra dos empréstimos hipotecários para habitação face a Março. Por outro lado, “os empréstimos comerciais para actividades imobiliárias aprovados registaram um crescimento”, sendo que o saldo bruto dos dois tipos de empréstimos aumentou. A queda dos empréstimos à habitação situou-se nos 24,9 por cento, num valor total de 2,54 mil milhões de patacas. Neste âmbito, os empréstimos feitos por residentes representaram 98,6 por cento do total, tendo diminuído em 23,1 por cento, num valor total de 2,5 mil milhões de patacas. No que diz respeito aos não-residentes, registou-se uma diminuição de 72,1 por cento, na ordem das 34,8 milhões de patacas. Os empréstimos à habitação relativos a edifícios em construção, mais especificamente empréstimos hipotecários para alienação de fracções autónomas em edifícios em construção, decresceram 22,9 por cento para 607,9 milhões de patacas em relação ao mês anterior. Destes, 96,3 por cento foram concedidos aos residentes locais. Selecção | Capitão escreve carta à FIFA a pedir oportunidade para jogadores João Santos Filipe - 13 Jun 2019 A oportunidade de uma vida. É desta forma que Nicholas Torrão apela à FIFA para voltar a agendar o jogo da segunda mão com o Sri Lanka com vista ao apuramento para o Mundial 2022. Já o presidente da associação, Chong Coc Veng, disse aos jogadores que os seus amigos no Sri Lanka anteviram a possibilidade da equipa de Macau ser alvo à chegada de um atentado terrorista [dropcap]N[/dropcap]icholas Torrão, capitão da selecção de Macau, escreveu uma carta aberta à FIFA, entidade internacional responsável pelo futebol, a apelar a um novo agendamento da segunda mão frente ao Sri Lanka. A carta está assinada em nome individual e refere que os jogadores “ficaram totalmente devastados” com o cancelamento da segunda mão da eliminatória. “Nós, os jogadores, ficamos totalmente devastados com o cancelamento do jogo da segunda mão frente ao Sri Lanka, que seria jogado no terreno deles, devido à Associação de Futebol de Macau se ter recusado a viajar”, pode ler-se no documento. “O futebol é feito de regras e regulamentos, que compreendemos, mas acima de tudo o futebol é feito pelos jogadores. E os jogadores da selecção de Macau querem mais do que qualquer outra coisa viajar e jogar a segunda mão frente ao Sri Lanka e ter a oportunidade de disputar esta ronda de qualificação”, é acrescentado. O atacante sublinha ainda que os jogos de apuramento são uma oportunidade única. “Sendo de uma região que está num dos lugares mais baixos do Ranking FIFA, estes jogos são uma oportunidade de uma vida de deixar a nossa marca no futebol do nosso País, e acima de tudo dos nossos cidadãos e fãs”, é sublinhado. A Associação de Futebol de Macau (AFM) recusou a viajar para o Sri Lanka, onde tinha jogo agendado para terça-feira, na sequência dos ataques terroristas de Abril. Chong com “espiões” no Sri Lanka Apesar da questão dos seguros ter sido apontada como um dos entraves à viagem, a verdade é que Chong disse ao jogadores, segundo Leong Ka Hang, que havia a possibilidade de haver ataques terroristas. A informação teve por base os relatos de amigos de Chong no Sri Lanka e foi partilhada na reunião de segunda-feira à tarde, e divulgada por Leong Ka Hang, ao portal 01 de Hong Kong. Leong terá também dito que não tenciona representar Macau brevemente e que sente que o facto de ter ligações à AFM é prejudicial para a sua imagem enquanto profissional de futebol. Também na terça-feira, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura comentou o tema e saiu em defesa da AFM. Segundo Alexis Tam, que citou o Instituto do Desporto, ninguém quis assegurar os jogadores e como tal disse compreender a decisão. Tam disse ainda perceber a desilusão dos atletas, mas defendeu a AFM na questão da segurança. Quando assumiu a pasta actual, Alexis Tam prometeu cinco anos “brilhantes” para as áreas sociais e da cultura. Agora corre o risco de ser o responsável pela tutela do desporto quando a selecção contrariou as decisões da FIFA e AFC e corre o risco de ser proibida de competir em provas internacionais. Além desta proibição, que poderá envolver os clubes, a AFM fica sujeita ao pagamento de uma multa monetária que pode chegar aos 40 mil francos (325 mil patacas). Ao HM, a AFC confirmou que já tinha enviado a decisão de falta de comparência para a FIFA, para ser aberto um inquérito, assim como para as suas comissões. Resíduos | DSPA promove separação em pequenos restaurantes Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]P[/dropcap]romover a consciência da comunidade para a recolha correcta de resíduos alimentares é o objectivo do projecto-piloto de recolha de Resíduos Alimentares dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, mais do que focar-se na quantidade de resíduos tratados. A admissão está na resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) a uma interpelação escrita de Zheng Anting. A ideia é “alterar o hábito de abandono de resíduos” e permitir, a longo prazo, preparar a recolha de resíduos alimentares de grande envergadura e alterar os hábitos de funcionários de pequenos restaurantes que não tenham condições para a “própria instalação de equipamentos de tratamento”. A DSPA destaca na resposta a Zheng Anting que participam no projecto-piloto meia centena de pequenos e médios estabelecimentos de restauração e bebidas, desde Junho de 2018, até agora. Relativamente a planos de recolha de desperdícios alimentares, regista-se a participação de cerca de 90 instituições nas acções de recolha de resíduos alimentares. A concepção preliminar das instalações centrais de tratamento de resíduos alimentares, assim como a avaliação de impacto ambiental e prospecção geotécnica estará a cargo de uma empresa de consultoria. Palestra | Guerra comercial pode ser oportunidade para a China Hoje Macau - 13 Jun 2019 A guerra comercial que se vive entre a China e os Estados Unidos pode afirmar a China como capaz de transformar as crises em oportunidades. A ideia foi defendida numa palestra realizada em Macau, no passado 10 de Junho, promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros [dropcap]A[/dropcap] posição da China nas negociações económicas e comerciais com os Estados Unidos” foi a palestra promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau para debater a situação que se vive actualmente entre os dois países e o posicionamento chinês neste contexto. A ideia defendida pelos participantes prendeu-se com a transformação desta “crise” numa oportunidade e afirmação da China no contexto internacional bem como uma demonstração da capacidade de Pequim em transformar momentos difíceis em oportunidades. Para Shen Beili, comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC na RAEM, a experiência chinesa em lidar com pressões tem tornado o país mais forte. “Temos a confiança e a capacidade de tornar a pressão numa força motora”, afirmou, de acordo com o Jornal Ou Mun. A responsável lamentou ainda a posição dos Estados Unidos que tomou medidas “de forma unilateral” quando reforçou as taxas nas trocas comerciais com a China. “O facto de os EUA imporem aumentos nas tarifas de importação, causa danos ao próprio país e aos outros, dificultando a cooperação bilateral no comércio e investimento, e afectando a confiança de ambos os países e do mercado global no funcionamento estável da economia”, apontou. Esta atitude com repercussões no contexto internacional mostra, segundo Shen Beili, que “o acto dos EUA é prejudicial para todo o mundo, danifica o sistema multilateral de comércio, perturba seriamente a cadeia industrial global, desfavorece a confiança do mercado, traz sérios desafios à recuperação económica global e representa uma grande ameaça à tendência de crescimento da economia global”, afirmou. Sem desistir Mas, a atitude da China é clara na medida em que apesar de não querer participar neste conflito, não vai desistir e tem confiança no caminho já percorrido e nas orientações do novo socialismo com características chinesas de Xi Jinping. “O desenvolvimento da China não será afectado facilmente. Os parceiros comerciais no exterior são cada vez mais e mais diversificados e a capacidade de tolerância às pressões comerciais exteriores é maior”, sublinhando a “confiança e capacidade de tornar a pressão numa força motora”. A opinião foi partilhada por outros participantes. Liu Cheng Kun, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau defendeu que “a China tem resistência económica para lidar com as fricções comerciais”. De acordo com o académico, há aspectos essenciais que contribuem para a “força” chinesa. São eles: “a enorme dimensão da sua economia, a optimização contínua da estrutura industrial, o desenvolvimento da economia regional e o aumento de relações comerciais exteriores”. Por outro lado, considera, os Estados Unidos acabam por se prejudicar ao “provocar unilateralmente conflitos comerciais com países importantes”. Já o Pró-reitor da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng, que também participou no evento, defendeu o apoio da RAEM a Pequim tendo como argumento “ a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento nacional, protegendo a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Macau dentro da política ‘um país, dois sistemas’” Autocarros | Ella Lei critica renovações de contratos Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]lla Lei criticou o facto de o Governo estar a aproveitar-se da renovação temporária dos contratos com as duas empresas de autocarros públicos sem anunciar data limite para os novos vínculos permanentes. Em declarações publicadas ontem no Jornal do Cidadão, a deputada alertou para o facti de os contratos actuais com as operadoras terminarem no final de Outubro e do Executivo defender que não há pressa nas renovações. Por este motivo, a membro da Assembleia Legislativa está preocupada com a possibilidade de não haver um novo acordo entre as operadoras e o Governo até ao fim dos contratos temporários, o que poderia causar confusão no sector dos transportes, com danos para o serviço e para os residentes. Ella Lei defendeu ainda que o Governo deve anunciar o novo modelo de subsídio das empresas de autocarros, assim como formular um novo contrato que leve a melhorias no serviço. Outro dos pontos sustentados pela deputada é a necessidade de aumentar os percursos “expresso”, identificados como “X” junto ao número do autocarro, como por exemplo o autocarro 3X, para fazer face à procura. Por outro lado, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) insiste na necessidade de cobrar bilhetes mais caros aos trabalhadores não-residentes, para reduzir os custos dos subsídios às empresas de autocarros. Actualmente, há duas operadoras de autocarros públicos em Macau, a TCM e a Transmac e o Governo gasta cerca de mil milhões de patacas em subsídios. Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
AMCM | Quebra nos empréstimos à habitação Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]ados oficiais da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) referentes ao mês de Abril mostram que houve uma quebra dos empréstimos hipotecários para habitação face a Março. Por outro lado, “os empréstimos comerciais para actividades imobiliárias aprovados registaram um crescimento”, sendo que o saldo bruto dos dois tipos de empréstimos aumentou. A queda dos empréstimos à habitação situou-se nos 24,9 por cento, num valor total de 2,54 mil milhões de patacas. Neste âmbito, os empréstimos feitos por residentes representaram 98,6 por cento do total, tendo diminuído em 23,1 por cento, num valor total de 2,5 mil milhões de patacas. No que diz respeito aos não-residentes, registou-se uma diminuição de 72,1 por cento, na ordem das 34,8 milhões de patacas. Os empréstimos à habitação relativos a edifícios em construção, mais especificamente empréstimos hipotecários para alienação de fracções autónomas em edifícios em construção, decresceram 22,9 por cento para 607,9 milhões de patacas em relação ao mês anterior. Destes, 96,3 por cento foram concedidos aos residentes locais. Selecção | Capitão escreve carta à FIFA a pedir oportunidade para jogadores João Santos Filipe - 13 Jun 2019 A oportunidade de uma vida. É desta forma que Nicholas Torrão apela à FIFA para voltar a agendar o jogo da segunda mão com o Sri Lanka com vista ao apuramento para o Mundial 2022. Já o presidente da associação, Chong Coc Veng, disse aos jogadores que os seus amigos no Sri Lanka anteviram a possibilidade da equipa de Macau ser alvo à chegada de um atentado terrorista [dropcap]N[/dropcap]icholas Torrão, capitão da selecção de Macau, escreveu uma carta aberta à FIFA, entidade internacional responsável pelo futebol, a apelar a um novo agendamento da segunda mão frente ao Sri Lanka. A carta está assinada em nome individual e refere que os jogadores “ficaram totalmente devastados” com o cancelamento da segunda mão da eliminatória. “Nós, os jogadores, ficamos totalmente devastados com o cancelamento do jogo da segunda mão frente ao Sri Lanka, que seria jogado no terreno deles, devido à Associação de Futebol de Macau se ter recusado a viajar”, pode ler-se no documento. “O futebol é feito de regras e regulamentos, que compreendemos, mas acima de tudo o futebol é feito pelos jogadores. E os jogadores da selecção de Macau querem mais do que qualquer outra coisa viajar e jogar a segunda mão frente ao Sri Lanka e ter a oportunidade de disputar esta ronda de qualificação”, é acrescentado. O atacante sublinha ainda que os jogos de apuramento são uma oportunidade única. “Sendo de uma região que está num dos lugares mais baixos do Ranking FIFA, estes jogos são uma oportunidade de uma vida de deixar a nossa marca no futebol do nosso País, e acima de tudo dos nossos cidadãos e fãs”, é sublinhado. A Associação de Futebol de Macau (AFM) recusou a viajar para o Sri Lanka, onde tinha jogo agendado para terça-feira, na sequência dos ataques terroristas de Abril. Chong com “espiões” no Sri Lanka Apesar da questão dos seguros ter sido apontada como um dos entraves à viagem, a verdade é que Chong disse ao jogadores, segundo Leong Ka Hang, que havia a possibilidade de haver ataques terroristas. A informação teve por base os relatos de amigos de Chong no Sri Lanka e foi partilhada na reunião de segunda-feira à tarde, e divulgada por Leong Ka Hang, ao portal 01 de Hong Kong. Leong terá também dito que não tenciona representar Macau brevemente e que sente que o facto de ter ligações à AFM é prejudicial para a sua imagem enquanto profissional de futebol. Também na terça-feira, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura comentou o tema e saiu em defesa da AFM. Segundo Alexis Tam, que citou o Instituto do Desporto, ninguém quis assegurar os jogadores e como tal disse compreender a decisão. Tam disse ainda perceber a desilusão dos atletas, mas defendeu a AFM na questão da segurança. Quando assumiu a pasta actual, Alexis Tam prometeu cinco anos “brilhantes” para as áreas sociais e da cultura. Agora corre o risco de ser o responsável pela tutela do desporto quando a selecção contrariou as decisões da FIFA e AFC e corre o risco de ser proibida de competir em provas internacionais. Além desta proibição, que poderá envolver os clubes, a AFM fica sujeita ao pagamento de uma multa monetária que pode chegar aos 40 mil francos (325 mil patacas). Ao HM, a AFC confirmou que já tinha enviado a decisão de falta de comparência para a FIFA, para ser aberto um inquérito, assim como para as suas comissões. Resíduos | DSPA promove separação em pequenos restaurantes Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]P[/dropcap]romover a consciência da comunidade para a recolha correcta de resíduos alimentares é o objectivo do projecto-piloto de recolha de Resíduos Alimentares dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, mais do que focar-se na quantidade de resíduos tratados. A admissão está na resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) a uma interpelação escrita de Zheng Anting. A ideia é “alterar o hábito de abandono de resíduos” e permitir, a longo prazo, preparar a recolha de resíduos alimentares de grande envergadura e alterar os hábitos de funcionários de pequenos restaurantes que não tenham condições para a “própria instalação de equipamentos de tratamento”. A DSPA destaca na resposta a Zheng Anting que participam no projecto-piloto meia centena de pequenos e médios estabelecimentos de restauração e bebidas, desde Junho de 2018, até agora. Relativamente a planos de recolha de desperdícios alimentares, regista-se a participação de cerca de 90 instituições nas acções de recolha de resíduos alimentares. A concepção preliminar das instalações centrais de tratamento de resíduos alimentares, assim como a avaliação de impacto ambiental e prospecção geotécnica estará a cargo de uma empresa de consultoria. Palestra | Guerra comercial pode ser oportunidade para a China Hoje Macau - 13 Jun 2019 A guerra comercial que se vive entre a China e os Estados Unidos pode afirmar a China como capaz de transformar as crises em oportunidades. A ideia foi defendida numa palestra realizada em Macau, no passado 10 de Junho, promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros [dropcap]A[/dropcap] posição da China nas negociações económicas e comerciais com os Estados Unidos” foi a palestra promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau para debater a situação que se vive actualmente entre os dois países e o posicionamento chinês neste contexto. A ideia defendida pelos participantes prendeu-se com a transformação desta “crise” numa oportunidade e afirmação da China no contexto internacional bem como uma demonstração da capacidade de Pequim em transformar momentos difíceis em oportunidades. Para Shen Beili, comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC na RAEM, a experiência chinesa em lidar com pressões tem tornado o país mais forte. “Temos a confiança e a capacidade de tornar a pressão numa força motora”, afirmou, de acordo com o Jornal Ou Mun. A responsável lamentou ainda a posição dos Estados Unidos que tomou medidas “de forma unilateral” quando reforçou as taxas nas trocas comerciais com a China. “O facto de os EUA imporem aumentos nas tarifas de importação, causa danos ao próprio país e aos outros, dificultando a cooperação bilateral no comércio e investimento, e afectando a confiança de ambos os países e do mercado global no funcionamento estável da economia”, apontou. Esta atitude com repercussões no contexto internacional mostra, segundo Shen Beili, que “o acto dos EUA é prejudicial para todo o mundo, danifica o sistema multilateral de comércio, perturba seriamente a cadeia industrial global, desfavorece a confiança do mercado, traz sérios desafios à recuperação económica global e representa uma grande ameaça à tendência de crescimento da economia global”, afirmou. Sem desistir Mas, a atitude da China é clara na medida em que apesar de não querer participar neste conflito, não vai desistir e tem confiança no caminho já percorrido e nas orientações do novo socialismo com características chinesas de Xi Jinping. “O desenvolvimento da China não será afectado facilmente. Os parceiros comerciais no exterior são cada vez mais e mais diversificados e a capacidade de tolerância às pressões comerciais exteriores é maior”, sublinhando a “confiança e capacidade de tornar a pressão numa força motora”. A opinião foi partilhada por outros participantes. Liu Cheng Kun, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau defendeu que “a China tem resistência económica para lidar com as fricções comerciais”. De acordo com o académico, há aspectos essenciais que contribuem para a “força” chinesa. São eles: “a enorme dimensão da sua economia, a optimização contínua da estrutura industrial, o desenvolvimento da economia regional e o aumento de relações comerciais exteriores”. Por outro lado, considera, os Estados Unidos acabam por se prejudicar ao “provocar unilateralmente conflitos comerciais com países importantes”. Já o Pró-reitor da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng, que também participou no evento, defendeu o apoio da RAEM a Pequim tendo como argumento “ a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento nacional, protegendo a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Macau dentro da política ‘um país, dois sistemas’” Autocarros | Ella Lei critica renovações de contratos Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]lla Lei criticou o facto de o Governo estar a aproveitar-se da renovação temporária dos contratos com as duas empresas de autocarros públicos sem anunciar data limite para os novos vínculos permanentes. Em declarações publicadas ontem no Jornal do Cidadão, a deputada alertou para o facti de os contratos actuais com as operadoras terminarem no final de Outubro e do Executivo defender que não há pressa nas renovações. Por este motivo, a membro da Assembleia Legislativa está preocupada com a possibilidade de não haver um novo acordo entre as operadoras e o Governo até ao fim dos contratos temporários, o que poderia causar confusão no sector dos transportes, com danos para o serviço e para os residentes. Ella Lei defendeu ainda que o Governo deve anunciar o novo modelo de subsídio das empresas de autocarros, assim como formular um novo contrato que leve a melhorias no serviço. Outro dos pontos sustentados pela deputada é a necessidade de aumentar os percursos “expresso”, identificados como “X” junto ao número do autocarro, como por exemplo o autocarro 3X, para fazer face à procura. Por outro lado, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) insiste na necessidade de cobrar bilhetes mais caros aos trabalhadores não-residentes, para reduzir os custos dos subsídios às empresas de autocarros. Actualmente, há duas operadoras de autocarros públicos em Macau, a TCM e a Transmac e o Governo gasta cerca de mil milhões de patacas em subsídios. Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Selecção | Capitão escreve carta à FIFA a pedir oportunidade para jogadores João Santos Filipe - 13 Jun 2019 A oportunidade de uma vida. É desta forma que Nicholas Torrão apela à FIFA para voltar a agendar o jogo da segunda mão com o Sri Lanka com vista ao apuramento para o Mundial 2022. Já o presidente da associação, Chong Coc Veng, disse aos jogadores que os seus amigos no Sri Lanka anteviram a possibilidade da equipa de Macau ser alvo à chegada de um atentado terrorista [dropcap]N[/dropcap]icholas Torrão, capitão da selecção de Macau, escreveu uma carta aberta à FIFA, entidade internacional responsável pelo futebol, a apelar a um novo agendamento da segunda mão frente ao Sri Lanka. A carta está assinada em nome individual e refere que os jogadores “ficaram totalmente devastados” com o cancelamento da segunda mão da eliminatória. “Nós, os jogadores, ficamos totalmente devastados com o cancelamento do jogo da segunda mão frente ao Sri Lanka, que seria jogado no terreno deles, devido à Associação de Futebol de Macau se ter recusado a viajar”, pode ler-se no documento. “O futebol é feito de regras e regulamentos, que compreendemos, mas acima de tudo o futebol é feito pelos jogadores. E os jogadores da selecção de Macau querem mais do que qualquer outra coisa viajar e jogar a segunda mão frente ao Sri Lanka e ter a oportunidade de disputar esta ronda de qualificação”, é acrescentado. O atacante sublinha ainda que os jogos de apuramento são uma oportunidade única. “Sendo de uma região que está num dos lugares mais baixos do Ranking FIFA, estes jogos são uma oportunidade de uma vida de deixar a nossa marca no futebol do nosso País, e acima de tudo dos nossos cidadãos e fãs”, é sublinhado. A Associação de Futebol de Macau (AFM) recusou a viajar para o Sri Lanka, onde tinha jogo agendado para terça-feira, na sequência dos ataques terroristas de Abril. Chong com “espiões” no Sri Lanka Apesar da questão dos seguros ter sido apontada como um dos entraves à viagem, a verdade é que Chong disse ao jogadores, segundo Leong Ka Hang, que havia a possibilidade de haver ataques terroristas. A informação teve por base os relatos de amigos de Chong no Sri Lanka e foi partilhada na reunião de segunda-feira à tarde, e divulgada por Leong Ka Hang, ao portal 01 de Hong Kong. Leong terá também dito que não tenciona representar Macau brevemente e que sente que o facto de ter ligações à AFM é prejudicial para a sua imagem enquanto profissional de futebol. Também na terça-feira, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura comentou o tema e saiu em defesa da AFM. Segundo Alexis Tam, que citou o Instituto do Desporto, ninguém quis assegurar os jogadores e como tal disse compreender a decisão. Tam disse ainda perceber a desilusão dos atletas, mas defendeu a AFM na questão da segurança. Quando assumiu a pasta actual, Alexis Tam prometeu cinco anos “brilhantes” para as áreas sociais e da cultura. Agora corre o risco de ser o responsável pela tutela do desporto quando a selecção contrariou as decisões da FIFA e AFC e corre o risco de ser proibida de competir em provas internacionais. Além desta proibição, que poderá envolver os clubes, a AFM fica sujeita ao pagamento de uma multa monetária que pode chegar aos 40 mil francos (325 mil patacas). Ao HM, a AFC confirmou que já tinha enviado a decisão de falta de comparência para a FIFA, para ser aberto um inquérito, assim como para as suas comissões.
Resíduos | DSPA promove separação em pequenos restaurantes Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]P[/dropcap]romover a consciência da comunidade para a recolha correcta de resíduos alimentares é o objectivo do projecto-piloto de recolha de Resíduos Alimentares dos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, mais do que focar-se na quantidade de resíduos tratados. A admissão está na resposta da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) a uma interpelação escrita de Zheng Anting. A ideia é “alterar o hábito de abandono de resíduos” e permitir, a longo prazo, preparar a recolha de resíduos alimentares de grande envergadura e alterar os hábitos de funcionários de pequenos restaurantes que não tenham condições para a “própria instalação de equipamentos de tratamento”. A DSPA destaca na resposta a Zheng Anting que participam no projecto-piloto meia centena de pequenos e médios estabelecimentos de restauração e bebidas, desde Junho de 2018, até agora. Relativamente a planos de recolha de desperdícios alimentares, regista-se a participação de cerca de 90 instituições nas acções de recolha de resíduos alimentares. A concepção preliminar das instalações centrais de tratamento de resíduos alimentares, assim como a avaliação de impacto ambiental e prospecção geotécnica estará a cargo de uma empresa de consultoria. Palestra | Guerra comercial pode ser oportunidade para a China Hoje Macau - 13 Jun 2019 A guerra comercial que se vive entre a China e os Estados Unidos pode afirmar a China como capaz de transformar as crises em oportunidades. A ideia foi defendida numa palestra realizada em Macau, no passado 10 de Junho, promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros [dropcap]A[/dropcap] posição da China nas negociações económicas e comerciais com os Estados Unidos” foi a palestra promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau para debater a situação que se vive actualmente entre os dois países e o posicionamento chinês neste contexto. A ideia defendida pelos participantes prendeu-se com a transformação desta “crise” numa oportunidade e afirmação da China no contexto internacional bem como uma demonstração da capacidade de Pequim em transformar momentos difíceis em oportunidades. Para Shen Beili, comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC na RAEM, a experiência chinesa em lidar com pressões tem tornado o país mais forte. “Temos a confiança e a capacidade de tornar a pressão numa força motora”, afirmou, de acordo com o Jornal Ou Mun. A responsável lamentou ainda a posição dos Estados Unidos que tomou medidas “de forma unilateral” quando reforçou as taxas nas trocas comerciais com a China. “O facto de os EUA imporem aumentos nas tarifas de importação, causa danos ao próprio país e aos outros, dificultando a cooperação bilateral no comércio e investimento, e afectando a confiança de ambos os países e do mercado global no funcionamento estável da economia”, apontou. Esta atitude com repercussões no contexto internacional mostra, segundo Shen Beili, que “o acto dos EUA é prejudicial para todo o mundo, danifica o sistema multilateral de comércio, perturba seriamente a cadeia industrial global, desfavorece a confiança do mercado, traz sérios desafios à recuperação económica global e representa uma grande ameaça à tendência de crescimento da economia global”, afirmou. Sem desistir Mas, a atitude da China é clara na medida em que apesar de não querer participar neste conflito, não vai desistir e tem confiança no caminho já percorrido e nas orientações do novo socialismo com características chinesas de Xi Jinping. “O desenvolvimento da China não será afectado facilmente. Os parceiros comerciais no exterior são cada vez mais e mais diversificados e a capacidade de tolerância às pressões comerciais exteriores é maior”, sublinhando a “confiança e capacidade de tornar a pressão numa força motora”. A opinião foi partilhada por outros participantes. Liu Cheng Kun, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau defendeu que “a China tem resistência económica para lidar com as fricções comerciais”. De acordo com o académico, há aspectos essenciais que contribuem para a “força” chinesa. São eles: “a enorme dimensão da sua economia, a optimização contínua da estrutura industrial, o desenvolvimento da economia regional e o aumento de relações comerciais exteriores”. Por outro lado, considera, os Estados Unidos acabam por se prejudicar ao “provocar unilateralmente conflitos comerciais com países importantes”. Já o Pró-reitor da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng, que também participou no evento, defendeu o apoio da RAEM a Pequim tendo como argumento “ a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento nacional, protegendo a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Macau dentro da política ‘um país, dois sistemas’” Autocarros | Ella Lei critica renovações de contratos Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]lla Lei criticou o facto de o Governo estar a aproveitar-se da renovação temporária dos contratos com as duas empresas de autocarros públicos sem anunciar data limite para os novos vínculos permanentes. Em declarações publicadas ontem no Jornal do Cidadão, a deputada alertou para o facti de os contratos actuais com as operadoras terminarem no final de Outubro e do Executivo defender que não há pressa nas renovações. Por este motivo, a membro da Assembleia Legislativa está preocupada com a possibilidade de não haver um novo acordo entre as operadoras e o Governo até ao fim dos contratos temporários, o que poderia causar confusão no sector dos transportes, com danos para o serviço e para os residentes. Ella Lei defendeu ainda que o Governo deve anunciar o novo modelo de subsídio das empresas de autocarros, assim como formular um novo contrato que leve a melhorias no serviço. Outro dos pontos sustentados pela deputada é a necessidade de aumentar os percursos “expresso”, identificados como “X” junto ao número do autocarro, como por exemplo o autocarro 3X, para fazer face à procura. Por outro lado, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) insiste na necessidade de cobrar bilhetes mais caros aos trabalhadores não-residentes, para reduzir os custos dos subsídios às empresas de autocarros. Actualmente, há duas operadoras de autocarros públicos em Macau, a TCM e a Transmac e o Governo gasta cerca de mil milhões de patacas em subsídios. Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Palestra | Guerra comercial pode ser oportunidade para a China Hoje Macau - 13 Jun 2019 A guerra comercial que se vive entre a China e os Estados Unidos pode afirmar a China como capaz de transformar as crises em oportunidades. A ideia foi defendida numa palestra realizada em Macau, no passado 10 de Junho, promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros [dropcap]A[/dropcap] posição da China nas negociações económicas e comerciais com os Estados Unidos” foi a palestra promovida pelo Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China em Macau para debater a situação que se vive actualmente entre os dois países e o posicionamento chinês neste contexto. A ideia defendida pelos participantes prendeu-se com a transformação desta “crise” numa oportunidade e afirmação da China no contexto internacional bem como uma demonstração da capacidade de Pequim em transformar momentos difíceis em oportunidades. Para Shen Beili, comissária do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RPC na RAEM, a experiência chinesa em lidar com pressões tem tornado o país mais forte. “Temos a confiança e a capacidade de tornar a pressão numa força motora”, afirmou, de acordo com o Jornal Ou Mun. A responsável lamentou ainda a posição dos Estados Unidos que tomou medidas “de forma unilateral” quando reforçou as taxas nas trocas comerciais com a China. “O facto de os EUA imporem aumentos nas tarifas de importação, causa danos ao próprio país e aos outros, dificultando a cooperação bilateral no comércio e investimento, e afectando a confiança de ambos os países e do mercado global no funcionamento estável da economia”, apontou. Esta atitude com repercussões no contexto internacional mostra, segundo Shen Beili, que “o acto dos EUA é prejudicial para todo o mundo, danifica o sistema multilateral de comércio, perturba seriamente a cadeia industrial global, desfavorece a confiança do mercado, traz sérios desafios à recuperação económica global e representa uma grande ameaça à tendência de crescimento da economia global”, afirmou. Sem desistir Mas, a atitude da China é clara na medida em que apesar de não querer participar neste conflito, não vai desistir e tem confiança no caminho já percorrido e nas orientações do novo socialismo com características chinesas de Xi Jinping. “O desenvolvimento da China não será afectado facilmente. Os parceiros comerciais no exterior são cada vez mais e mais diversificados e a capacidade de tolerância às pressões comerciais exteriores é maior”, sublinhando a “confiança e capacidade de tornar a pressão numa força motora”. A opinião foi partilhada por outros participantes. Liu Cheng Kun, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau defendeu que “a China tem resistência económica para lidar com as fricções comerciais”. De acordo com o académico, há aspectos essenciais que contribuem para a “força” chinesa. São eles: “a enorme dimensão da sua economia, a optimização contínua da estrutura industrial, o desenvolvimento da economia regional e o aumento de relações comerciais exteriores”. Por outro lado, considera, os Estados Unidos acabam por se prejudicar ao “provocar unilateralmente conflitos comerciais com países importantes”. Já o Pró-reitor da Universidade da Cidade de Macau, Ip Kuai Peng, que também participou no evento, defendeu o apoio da RAEM a Pequim tendo como argumento “ a defesa da soberania, da segurança e dos interesses do desenvolvimento nacional, protegendo a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Macau dentro da política ‘um país, dois sistemas’”
Autocarros | Ella Lei critica renovações de contratos Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]lla Lei criticou o facto de o Governo estar a aproveitar-se da renovação temporária dos contratos com as duas empresas de autocarros públicos sem anunciar data limite para os novos vínculos permanentes. Em declarações publicadas ontem no Jornal do Cidadão, a deputada alertou para o facti de os contratos actuais com as operadoras terminarem no final de Outubro e do Executivo defender que não há pressa nas renovações. Por este motivo, a membro da Assembleia Legislativa está preocupada com a possibilidade de não haver um novo acordo entre as operadoras e o Governo até ao fim dos contratos temporários, o que poderia causar confusão no sector dos transportes, com danos para o serviço e para os residentes. Ella Lei defendeu ainda que o Governo deve anunciar o novo modelo de subsídio das empresas de autocarros, assim como formular um novo contrato que leve a melhorias no serviço. Outro dos pontos sustentados pela deputada é a necessidade de aumentar os percursos “expresso”, identificados como “X” junto ao número do autocarro, como por exemplo o autocarro 3X, para fazer face à procura. Por outro lado, a deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) insiste na necessidade de cobrar bilhetes mais caros aos trabalhadores não-residentes, para reduzir os custos dos subsídios às empresas de autocarros. Actualmente, há duas operadoras de autocarros públicos em Macau, a TCM e a Transmac e o Governo gasta cerca de mil milhões de patacas em subsídios. Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Arbitragem | Limite máximo de litígios passa para 100 mil patacas Hoje Macau - 13 Jun 2019 [dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que altera os montantes máximos em casos de litígios de consumo com recurso à arbitragem. De acordo com um comunicado, “o valor da causa de litígio de consumo passa a ser até 100 mil patacas, com vista a dar mais um passo na protecção dos direitos e interesses legítimos do consumidor”. Até agora, o montante máximo era de 50 mil patacas. O valor da causa de litígio no Centro de Arbitragem é definido com base na alçada dos tribunais de Primeira Instância. A alteração do montante máximo está relacionada com a revisão da lei de bases da organização judiciária, que ajustou a alçada em matéria civil para 100 mil patacas. O Governo justifica ainda a alteração com o “aumento do poder de consumo dos cidadãos e o posicionamento de Macau como cidade de turismo e compras”. Desde 1998 que o Centro de Arbitragem processou mais de 600 casos, tendo sido feitas “várias alterações ao Regulamento do Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo conforme a evolução do tempo e da sociedade”, além de ter sido lançada a Carta de qualidade, “no sentido de aumentar a eficiência dos serviços prestados”. O mesmo comunicado dá conta de que o Conselho dos Consumidores “lançou o serviço de conciliação e arbitragem transfronteiriço com várias associações de consumidores da Província de Guangdong, estando de convicto que no futuro mais associações homólogas integrarão esta rede de cooperação”. Tudo para que se prestem mais “serviços convenientes aos turistas, de maneira a aumentar a confiança dos turistas no consumo em Macau e promover a boa imagem de Macau como cidade de compras”. Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo. Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Comissão Mista | UE quer mais cooperação no combate ao tráfico humano Andreia Sofia Silva - 13 Jun 2019 Realizou-se esta terça-feira a 17ª reunião da Comissão Mista União Europeia-Macau. Dos vários assuntos abordados em matéria de integração regional com a China e questões fiscais, ficou a garantia de que a União Europeia quer mais cooperação com a RAEM ao nível do tráfico humano [dropcap]A[/dropcap] União Europeia (UE) mostra-se disposta a colaborar com Macau no combate ao tráfico humano. Esta foi uma das conclusões da mais recente reunião da Comissão Mista UE-Macau, e que aconteceu esta terça-feira. De acordo com um comunicado oficial, “a UE e a RAEM esperam continuar a ter uma cooperação bilateral no combate ao tráfico de seres humanos”. Além disso, aquela que foi a 17ª reunião da Comissão Mista UE-Macau desde 1999 serviu também para abordar o projecto político chinês da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. O mesmo comunicado aponta que “a UE manifestou o seu interesse na exploração, em conjunto com Macau, de canais de cooperação do desenvolvimento da Grande Baía”. Do lado da RAEM foi explicado o posicionamento do território a este nível, nomeadamente através da apresentação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM (2016-2020), uma das bandeiras políticas do actual Chefe do Executivo, Chui Sai On. As autoridades de Macau também abordaram “os esforços do Governo para promover a diversificação da economia”, bem como “os últimos desenvolvimentos na cooperação com os países de língua portuguesa”. Nesse sentido, “foram obtidos resultados relevantes da cooperação no âmbito de intercâmbio cultural, formação de educação internacional e de talentos, registo de medicamentos tradicionais chineses e comércio multilateral para a indústria da medicina tradicional chinesa”, aponta o mesmo comunicado. A reunião foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e pela Directora-Executiva Adjunta do Serviço Europeu de Acção Externa para a Ásia-Pacífico, Paola Pampaloni. Diálogo sobre o fisco As duas delegações discutiram também sobre políticas e assuntos de regulação. No que diz respeito às políticas fiscais, os representantes do Executivo referiram a “boa cooperação entre as duas partes nos anos passados para concretizar a boa governação fiscal e que se realizou uma reforma do sistema fiscal em Macau”. Foram também abordados temas como o “combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, assuntos de protecção ambiental e promoção da cooperação multilaterais para apoiar a Organização Mundial do Comércio”. No que diz respeito a questões económicas, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos foi também discutida. Os responsáveis da UE garantiram aos governantes de Macau que “a economia europeia ainda não se encontra afectada pelas condições externas desfavoráveis como a disputa comercial”, prevendo-se inclusivamente crescimento económico, “devido à forte procura interna, ao aumento gradual de postos de trabalho e ao custo de financiamento baixo”. A próxima reunião será realizada em Macau em 2020, já com um novo Executivo.
Polícia controla centro de Hong Kong e manifestantes abandonam local Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] protesto que juntou pelo menos várias dezenas de milhares de jovens em Hong Kong contra as alterações à lei da extradição está reduzido a um corte de estrada promovido por pouco mais de um milhar de jovens. “Estamos a sair por causa da intervenção da polícia, mas não desistimos. Esta noite ou amanhã estamos cá outra vez”, disse um dos manifestantes à Lusa, conformado com o epílogo do protesto, mas fazendo questão em comprovar a resiliência dos jovens. A uma centena de metros, dezenas de outros manifestantes carregavam caixas com água, chapéus de chuva e máscaras de protecção para alguns armazéns, à espera de um novo agendamento do protesto, um par de horas depois de a polícia de Hong Kong ter retomado o controlo do complexo do Conselho Legislativo, com recurso a gás pimenta e balas de borracha. A memória do “movimento dos guarda-chuvas” em 2014, que exigia democracia para a ex-colónia britânica, agora administrada pela China, e a experiência do protesto do último domingo levaram os jovens a adoptar diferentes estratégias de luta, mas o reforço das forças de segurança e a intervenção mais ‘musculada’ terminou com a dispersão dos manifestantes. No final da carga policial, foram emitidas declarações da chefe do Executivo de Hong Kong, na estação televisiva local TVB, gravadas já de manhã, na qual Carrie Lam reafirma a sua intenção de avançar com as emendas à controversa lei que permite a extradição de suspeitos de crimes para países como a China. Emocionada, negou que tivesse traído Hong Kong e sustentou que estava a fazer o quer era melhor para o território. Mais de duas dezenas de manifestantes foram hospitalizados nos confrontos, de acordo com o jornal South China Morning Post, e há também feridos a registar entre a polícia, segundo um porta-voz das forças de segurança. Cerca das 12:30 o Governo da região administrativa especial chinesa anunciou o adiamento do debate das alterações à lei da extradição que motivaram a mobilização. Antes, alguns manifestantes, muitos deles estudantes, disseram à Lusa estarem dispostos a permanecer no local até que o Governo recuasse na intenção de avançar com as alterações à lei. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
Londres apela às autoridades de Hong Kong para “escutarem as inquietações” dos cidadãos Hoje Macau - 12 Jun 201913 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, apelou hoje às autoridades de Hong Kong que “escutem as inquietações” dos seus cidadãos que se manifestam contra um projecto do Governo de autorizar extradições para a China. “Exorto o Governo de Hong Kong a escutar as inquietações da sua população e dos seus amigos da comunidade internacional e que reflectiam sobre estas medidas controversas”, declarou em comunicado. “É essencial que as autoridades promovam um diálogo construtivo e adoptem medidas para preservar os direitos e as liberdades de Hong Kong, e o sue elevado grau de autonomia, que reforça a sua reputação internacional”, prosseguiu o chefe da diplomacia. A primeira-ministra Theresa May, no decurso de uma sessão de perguntas no parlamento que decorreu hoje, também considerou “vital que os acordos relacionados com a extradição estejam em conformidade com os direitos e liberdades que foram estabelecidos na declaração comum sino-britânica”. Esta quarta-feira registaram-se confrontos violentos entre polícias e manifestantes que tentavam irromper no parlamento da cidade, onde milhares de pessoas contestavam o projecto do Governo. Esta proposta sobre as extradições esteve na origem em finais de Abril da mais importante manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos chapéus de chuva” de 2014. A medida suscitou críticas de juristas, dos meios financeiros e de diplomatas ocidentais inquietos pelos seus cidadãos. O Executivo de Hong Kong afirma que esta lei se destina a preencher um vazio jurídico e que é necessária para, designadamente, permitir a extradição para Taiwan de um natural de Hong Kong e procurado pela morte da sua companheira. No entanto, os críticos do texto consideram que o caso deste cidadão procurado por Taiwan é apenas um pretexto para satisfazer Pequim. Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou. A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes
Azulejos portugueses enfeitam Palácio Imperial chinês Hoje Macau - 12 Jun 2019 [dropcap]N[/dropcap]um dos vários ‘siheyuan’ – a tradicional residência chinesa construída em torno de pátios espaçosos – do Antigo Palácio Imperial da China, dezenas de painéis de azulejos exibem nas próximas semanas o carácter “global” da história portuguesa. “É uma plataforma que demonstra o entendimento entre os portugueses e todos os povos com quem estivemos em contacto”, resumiu Alexandre Pais, curador do Museu Nacional do Azulejo, à agência Lusa, em Pequim, sobre a exposição “O País Das Cidades Vidradas”. Inaugurado na presença da ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca, e do seu homólogo chinês, Luo Shugang, a exposição reúne várias épocas daquela manifestação plástica portuguesa – desde a herança do período islâmico à modernidade. O espaço da exibição será igualmente simbólico para os anfitriões chineses: o museu da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é agora a principal atracção turística da capital chinesa. Braços abertos Na manhã de ontem, e apesar de as temperaturas superarem os 30 graus e de a poluição desaconselhar actividades ao ar livre, milhares de turistas enchiam as vielas e pátios daquele complexo. “Tentámos trazer peças que reflectissem não só a relação com a China, mas também a relação com a Índia, a Pérsia, o Islão, com os Países Baixos”, explicou Alexandre Pais. O objectivo é “demonstrar que os portugueses têm uma predisposição global para os outros povos, outras culturas, e que isso é reflectido no azulejo”, acrescentou. Ilustrações de cenas históricas da expansão marítima, peças religiosas e laicas, refletindo o quotidiano, mas também paisagens chinesas, com base em descrições e gravuras que outrora chegavam à Europa, mostram o azulejo como um “lugar de encontro de culturas”, descreveu Graça Fonseca. “Este conjunto seleccionado do Museu Nacional do Azulejo permite contar a história desta arte que admiramos e estimamos, e muito nos honra partilhar com o público chinês esta expressão artística, que nos enriquece enquanto país e cultura”, afirmou a ministra. A exposição insere-se nas celebrações do Festival de Cultura Portuguesa na China. Em declarações à agência Lusa, no início de uma visita oficial de três dias à China, Graça Fonseca lembrou que a cultura é uma das áreas estratégicas da cooperação entre Pequim e Lisboa. A ministra portuguesa previu uma maior presença de agentes culturais portugueses no país asiático, a partir deste ano. “A ideia é integrar, cada vez mais, estruturas” da cultura portuguesa “naquilo que possam ser rotas programadas e calendarizadas na China”, apontou.
A China está empenhada na proteção dos direitos da propriedade intelectual Hoje Macau - 12 Jun 2019 Gong Xin* [dropcap]A[/dropcap] propriedade intelectual é a ponte da globalização comercial e o elo de ligação da cooperação internacional. No entanto, alguns políticos norte-americanos usaram-na como pretexto para provocar fricções comerciais, tecendo críticas em que acusam a China de “roubar os direitos de propriedade intelectual” e de “exigir a transferência forçada de tecnologia”, tentando impor pressão máxima sobre a China. A China não é o ladrão da propriedade intelectual, mas sim um protector e criador dela. Ao fazer uma retrospectiva da protecção chinesa da propriedade intelectual, constata-se que a China de hoje já estabeleceu um sistema jurídico relativamente completo e com alto padrão da protecção dos direitos da propriedade intelectual, enquanto há 40 anos, a China estava ainda nas suas primeiras tentativas de protecção da propriedade intelectual. A jornada chinesa é única do mundo. Actualmente, a China está empenhada na reforma da modernização da governação da propriedade intelectual, que irá conduzir a China de um grande país de propriedade intelectual para um forte país de propriedade intelectual, e irá inspirá-la a participar com mais confiança na cooperação global da inovação. Hoje, a China encontra-se no trilho rápido da inovação científica e tecnológica e já se tornou num grande país inovador com influência global. Novas indústrias, novos modelos e formas de negócios estão a surgir uma após outra, enquanto a inovação se transformou num motor do desenvolvimento económico e social. Não só a China é pioneira na fabricação de aeronaves de grande porte, construção de caminhos-de-ferro de alta velocidade, desenvolvimento de energia nuclear da terceira geração e veículo de energia nova, como também se progrediu na inteligência artificial, Big data, computação em nuvem e outras tecnologias informáticas da nova geração. Uma reportagem do Wall Street Jornal mostrou que já alguns anos atrás a quantidade de teses chinesas sobre inteligência artificial tinha ultrapassado as dos EUA. A China tem agora a maior equipa de pesquisa e desenvolvimento do mundo, e o número de pedidos de patente de invenção fica em primeiro lugar no ranking mundial por oito anos consecutivos. Segundo o Relatório Índice de Inovação Global 2018 emitido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a China ocupa o 17º lugar, sendo pela primeira vez que entrou nos primeiros 20 no ranking. Os esforços da China em matéria de protecção judiciária e administrativa dos direitos da propriedade intelectual têm aumentado. Foi estabelecido o sistema judicial de “Tribunal de Recurso + Tribunal Especializado na área de Propriedade Intelectual”, e foi reestruturada a Administração Nacional de Propriedade Intelectual para realizar uma série de acções especiais contra a violação dos direitos da propriedade intelectual. Em 2018, a China investiu cerca de 2 biliões de RMB em pesquisa e desenvolvimento, correspondendo 2,18 por cento do PIB chinês e ultrapassando a taxa média dos países da OCDE. Ao mesmo tempo, a China tem reforçado a protecção da propriedade intelectual, e tem mantido uma tendência de crescimento elevado do valor de royalties pago aos detentores estrangeiros de propriedade intelectual, que tem registrado um aumento anual de 17 por cento desde o ano de 2001, somando US$ 28,6 mil milhões em 2017. A propriedade intelectual desempenha um papel de ponte no intercâmbio técnico e de cooperação em inovação entre países. Os passos da China na área da protecção da propriedade intelectual só vão avançar e não recuar. A China irá participar com uma postura mais activa na governação global da propriedade intelectual. *Comentador politico
Morte e beleza Nuno Miguel Guedes - 12 Jun 2019 [dropcap]E[/dropcap]m Janeiro de 1811 um jovem francês, à beira de completar o seu vigésimo oitavo aniversário, realizava um sonho: visitar Florença e ver as grandes obras de arte e monumentos que a cidade alberga. O seu nome era Henri Beyle, um autor de biografias musicais de segunda ordem e que mal chegavam para lhe garantir a sobrevivência. Mas naquela cidade Beyle não queria saber da sua pobreza. Em frente à Basílica de Santa Croce hesita, num misto de pausa solene e tontura. Ali estavam (e estão) os túmulos de Miguel Ângelo, Maquiavel e Galileu. Ali estiveram homens como Petrarca, Dante ou Boccacio, outros ilustres toscanos. Beyle sente a grandeza do que vê, e sente-a de uma forma física, quase opressiva. Consegue que uma freira lhe abra a capela de Niccolini e pára, no final do transepto esquerdo. Várias figuras e frescos de uma extrema beleza decoram o espaço relativamente pequeno da capela. Beyle senta-se com a cabeça recostada de modo a admirar o tecto. Está esmagado pelo belo. E então, à saída de Santa Croce, sucumbe: «(…) fui atacado por uma intensa palpitação do coração…A nascente da vida tinha secado em mim e caminhava em constante pavor de cair». Chega quase a desmaiar. Seis anos depois deste incidente Beyle deu-nos o relato do que aconteceu no livro Roma, Nápoles e Florença , já assinado com o pseudónimo que o iria imortalizar na literatura: Stendhal. Mas o seu nom de plume também seria associado a uma condição psicossomática devido ao episódio que descreveu. Em 1979 uma psiquiatra italiana, Graziella Magherini, depois de observar um padrão de sintomas em mais de cem turistas que visitaram os monumentos de Florença, cunhou o termo por que se conhece esta condição: a síndrome de Stendhal. Embora a comunidade médica ainda esteja a debater se estes sintomas são merecedores de validação científica, a verdade é que os guias turísticos da cidade de Florença já alertam os visitantes para essa possibilidade; e, por outro lado, os funcionários dos monumentos estão já preparados para lidarem com turistas que desmaiam ao contemplar o David de Miguel Ângelo ou as centenas de obras de arte que a Galeria Uffizi possui. Não posso, com inteira sinceridade, dizer que alguma vez tenha sofrido da síndrome de Stendhal. Mas lembro-me de alguns episódios em que a contemplação da extrema beleza me afectou fisicamente: a saída da estação de comboios de Veneza, entre canais, depois de uma longa viagem desde Paris; estar perante A Ronda da Noite de Rembrandt no Rijksmuseum de Amesterdão, em que mal contive as lágrimas; ou passear sem destino por Roma e deparar com uma escultura monumental de Bernini. Mesmo em Lisboa ainda por vezes me consigo comover num qualquer recanto, ou ao olhar o Tejo ao final do dia. É um misto de emoção e gratidão por poder viver nesta cidade que amo com todas as minhas forças. Mas infelizmente receio que o perigo de estar sujeito à síndrome de Stendhal esteja em Lisboa cada vez mais erradicado. No rio, durante o dia, barcos com ecrãs gigantes passeiam anunciando aos gritos um qualquer evento. No centro histórico da cidade é impossível ter outra emoção que não seja a claustrofobia e o desejo urgente de solidão. E a descaracterização continua: ainda há menos de uma semana descobri que uma das artérias mais antigas e bonitas de Lisboa – a rua dos Bacalhoeiros – ostenta agora hostels para todos os gostos e uma espécie de loja circense onde se vendem latas de feijão. Eu sei que o tema não é novo, leitores. Mas estou cansado e triste, tenho de desabafar. Quero que quem venha visitar a minha cidade possa sucumbir à extrema beleza que ela possui. Quero – exijo! – o regresso urgente da possibilidade da síndrome de Stendhal em Lisboa. É uma questão de saúde pública. Navegação de artigos Artigos mais antigosArtigos mais recentes