Adriano Ho toma posse como director da DICJ a 10 de Junho

Paulo Martins Chan regressa ao Ministério Público a 9 de Junho, e no dia seguinte Adriano Marques Ho toma posse como director da Inspecção de Coordenação de Jogos. O secretário para a Economia e Finanças rejeitou que a mudança esteja relacionada com o “caso das campas”

 

[dropcap]A[/dropcap]driano Marques Ho vai tomar posse como director da Inspecção de Coordenação de Jogos (DICJ) dia 10 de Junho. A informação foi avançada pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, à margem do plenário da Assembleia Legislativa de sexta-feira. O secretário defendeu que o substituto de Paulo Martins Chan “tem uma vasta experiência” no âmbito da área do jogo e que “vai empenhar-se para o bom desenvolvimento do sector”.

Recorde-se que Adriano Ho ocupou o cargo de chefe do Departamento de Investigação de Crimes relacionados com o Jogo e Económicos. De acordo com Lei Wai Nong, a alteração da mudança de director da DICJ não vai afectar a continuidade dos trabalhos da revisão da lei do jogo.

Paulo Chan vai regressar ao Ministério Público a 9 de Junho. Em 2014, antes de assumir o cargo de director na DICJ, Paulo Chan foi procurador-adjunto no Ministério Público durante o “caso das campas”, no qual foram deduzidas acusações contra Lei Wai Nong, na altura vice-presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. No ano seguinte, foi absolvido das acusações. Em declarações aos jornalistas, o secretário rejeitou que a saída de Paulo Chan esteja relacionada com esse caso, algo que descreveu como “rumores”, declarando que “não é preciso complicarem”. E explicou que na altura o tribunal já tomou uma decisão definitiva.

Além disso, o secretário para a Economia e Finanças explicou que Paulo Chan já tinha manifestado vontade de regressar ao MP no anterior Governo, mas que lhe pediu para ficar mais tempo de forma a ajudar a tratar de assuntos relacionados com o sector do jogo. Sobre o trabalho entre os dois, observou que “especialmente durante a época do surto epidémico, trabalhámos muito proactivamente e tivemos uma cooperação muito boa”.

De saída

Paulo Chan também prestou declarações, reforçando a ideia da existência boas relações entre as duas partes. “Trabalhar com o secretário Lei nos últimos seis meses foi um prazer. Sempre que o secretário Lei me deu instruções, dei o meu melhor para as seguir. Ele confiou muito em mim e a nossa cooperação nos últimos seis meses foi óptima”, disse, segundo noticiou a TDM Canal Macau. Ficaram também agradecimentos “ao actual Governo, ao Chefe do Executivo e aos secretários pela confiança que depositaram em mim, bem como aos meus colegas pelo apoio que me deram”.

Por outro lado, ao falar sobre as receitas de jogo, Paulo Chan mostrou-se optimista em relação ao futuro, esperando que o esquema de vistos de turismo individuais possa ser retomado “o mais rápido possível” para as receitas normalizarem. “Acredito que era nesse caminho que o secretário estava a pensar quando reajustou a estimativa de receita de jogo no orçamento deste ano”.

Zhuhai | Macau aguarda resposta sobre alegada venda de certificados falsos 

Começaram ontem a circular nas redes sociais e na imprensa chinesa informações que remetem para a alegada venda de certificados falsos de saúde em Zhuhai. Alvis Lo, médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, confirmou que as autoridades de Zhuhai já foram contactadas sobre este assunto

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau está atento às informações que circulam nas redes sociais e nos media em língua chinesa sobre a alegada venda de falsos certificados de saúde em Zhuhai junto aos locais onde são realizados os testes à covid-19. Estes certificados são obrigatórios para cruzar a fronteira com Macau.

“Estamos a acompanhar estas informações sobre a compra de testes [com resultados] negativos. Damos muita importância à situação e por isso já notificamos as autoridades de Zhuhai. Estamos a aguardar as suas informações”, disse ontem Alvis Lo, médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, na habitual conferência de imprensa do Centro de Coordenação e Contigência do Novo Coronavírus.

Ainda assim, o responsável assegurou que a veracidade de todos os certificados é sempre verificada. “Se um comprovativo consegue enganar os responsáveis não conseguimos fazer nada, mas temos conseguido verificar todos os certificados que as pessoas trazem”, acrescentou.

As autoridades de Zhuhai determinaram este fim-de-semana as datas de validade e de entrada em vigor dos certificados de saúde. Este documento só entra em vigor 24 horas depois da pessoa realizar o teste à covid-19, tendo um prazo de validade de sete dias. Os mesmos prazos são seguidos pelas autoridades de Macau.

Entre as 6h e 16h de domingo 147 pessoas, de um total de 161, tiveram de esperar pelo cumprimento do prazo de 24 horas para poder cruzar a fronteira, tendo declarado um local para a observação médica. Quem não indicou qualquer local teve de esperar no posto fronteiriço do Pac On.

Deixem-nos voltar

Inês Chan, responsável da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), adiantou que estão ainda pendentes 79 pedidos de ajuda, relativos a 161 residentes espalhados pelo mundo, para regressar a Macau. No entanto, o Governo está a avaliar a forma como esta ajuda poderá ser concedida, uma vez que o corredor especial para transporte de residentes desde o Aeroporto Internacional de Hong Kong deixou de funcionar a 31 de Março.

“Algumas pessoas manifestaram a vontade de só regressar em Junho. Ainda faltam duas semanas e estamos a acompanhar a evolução da epidemia. Em relação aos restantes, queriam voltar já na segunda quinzena de Maio. Vamos prestar apoio a estas pessoas, mas dependendo das suas necessidades.”

Em relação aos estudantes do ensino superior, “cerca de 80 por cento pediu para voltar nos meses de Julho ou Agosto, durante as férias de Verão”, disse Inês Chan. “Temos de estar a par das alterações dos voos.

Praticamente 90 por cento das companhias aéreas têm os seus voos suspensos, pelo que para os voos de Julho e Agosto ainda não sabemos quais são as políticas seguidas pelas companhias aéreas e quais as medidas que os países vão adoptar”, concluiu a responsável.

De momento, resta apenas um doente com covid-19 internado, considerado “um caso ligeiro, encontrando-se em situação estável e sem dificuldades respiratórias, não necessitando de oxigénio”. No sábado, foi concedida alta a uma paciente sul-coreana, de 27 anos, que foi o primeiro caso registado da segunda vaga de infecções importadas. A jovem foi internada com o diagnóstico de covid-19 a 15 de Março, depois de ter visitado a cidade do Porto, em Portugal, com o namorado. Uma vez que se trata de uma trabalhadora não residente, a doente recuperada terá de pagar 18 mil patacas relativas a despesas médicas, noticiou a TDM Rádio Macau.

APN | Tratamento igual

Realiza-se sexta-feira, dia 22, a sessão anual da Assembleia Popular Nacional em Pequim, o que vai obrigar à deslocação dos delegados de Macau à capital chinesa. Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Coronavírus, assegurou que estas personalidades terão de realizar testes e de possuir toda a documentação necessária para sair e entrar em Macau. “Todos são tratados da mesma forma. Quando voltarem para Macau têm de apresentar o certificado da realização do teste de ácido nucleico e quando embarcarem no avião também têm de ter este certificado.”

Tiananmen | Joey Lao diz que exposições violam “Um País, Dois Sistemas”

Reagindo às intervenções antes da ordem do dia de Au Kam San, Sulu Sou e Ng Kuok Cheong, Joey Lao abandonou o discurso que tinha preparado para afirmar que a exposição sobre o massacre de Tiananmen é o tipo de educação “que não é necessária” e que viola a parte “Um País” do princípio “Um País, Dois Sistemas”

 

[dropcap]A[/dropcap] proibição da exposição fotográfica sobre o 4 de Junho agitou águas na Assembleia Legislativa (AL), na passada sexta-feira, durante o período destinado às intervenções antes da ordem do dia.

Tudo começou depois de o deputado Joey Lao ter considerado que a exposição sobre o massacre de Tiananmen viola a Constituição da República Popular da China, a Lei Básica e a primeira parte do princípio “Um País, Dois Sistemas”. A intervenção do deputado nomeado pelo Governo surgiu após os deputados da ala democrata terem abordado o tema nas suas intervenções.

“Como os meus colegas falaram sobre a decisão tomada pelo IAM e eu tenho uma opinião diferente, vou alterar a minha intervenção. Da minha parte quero deixar bem claro o meu apoio à decisão do IAM”, começou por dizer Joey Lao. Para o deputado, a exposição do 4 de Junho viola o princípio “Um País, Dois Sistemas” e “é o tipo de educação que não é precisa”.

Seguindo a linha de justificação do IAM, Joey Lao disse ainda que deve ser dada prioridade ao combate à pandemia. “Tenho reservas que isto não viole a constituição. A situação epidémica está atenuada, mas não podemos ficar conformados. Este incidente não pode ser uma oportunidade para aqueles que têm uma intenção política. Toda a sociedade deve estar alerta”, acrescentou.

Mak Soi Kun, que até apoiou a decisão do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e sugeriu que a exposição fosse feita online, interveio logo de seguida, começando por dizer que Joey Lao tinha proferido palavras que mereciam explicação. Au Kam San invocou depois o regimento da AL para aconselhar Joey Lao a retirar o que disse. “Manifesto o meu protesto contra a intervenção do deputado Joey Lao. Não percebo quando diz que o evento viola o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’. Isso é uma acusação grave. Espero que retire as palavras que proferiu”, disse o democrata.

Sulu Sou e Ng Kuok Cheong também invocaram o regimento da AL para protestar contra as palavras de Joey Lao. Sulu Sou pediu igualmente que o deputado retirasse o que tinha acabado de dizer e sublinhou que o evento em questão é “apenas de uma exposição fotográfica”. “Como é que [a exposição] consegue violar a Lei Básica e a Constituição? Como economista, espero que explique”, pediu Sulu Sou.

Já Ng Kuok Cheong voltou a frisar que não concorda com a justificação apresentada pelo IAM e insistiu que o evento se insere no âmbito do amor à pátria. “Não estou conformado com a justificação do IAM, mas isso não tem nada a ver com a exposição, que serve para mostrar o que pensamos pelo país e está abrangida no âmbito do amor à pátria”, sublinhou Ng Kuok Cheong.

Deputado irredutível

Sem ceder, Joey Lao recusou-se a retirar o que tinha dito momentos antes, reafirmando a sua posição e esperando que “a sociedade possa parar com as discussões” sobre o caso.

Au Kam San pediu mais esclarecimentos ao deputado nomeado pelo Executivo e insistiu novamente que o deputado voltasse atrás com a sua palavra. Joey Lao recusou uma vez mais, e na resposta referiu que apenas pretendeu visar a primeira parte do princípio “Um País, Dois Sistemas”. “Relativamente às palavras de Au Kam San, reconheço que afirmei o que ele enunciou de que a exposição fotográfica viola o princípio ‘Um País’. Esta é a minha opinião. Por isso não vou retirar o que disse”, afirmou.

Acerca das intervenções da ala democrata que motivaram as palavras de Joye Lao, a posição dos deputados Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Sulu Sou foram no sentido de reforçar que a decisão de cancelar a exposição sobre o 4 de Junho por parte do IAM teve motivações políticas e que alegar tratar-se de medidas de prevenção contra a covid-19 “é ridículo”.

Na sua intervenção antes da ordem do dia, Ng Kuok Cheong apontou que a decisão do IAM de revogar a autorização concedida anteriormente é “um acto suspeito de abuso de poder e de repressão” que prejudica “directamente os direitos fundamentais dos residentes da RAEM”.

Já Sulu Sou considerou que depois da imagem positiva que Macau deu no combate à pandemia, este caso pode mudar essa percepção. “O IAM tomou esta decisão política, nada necessária e bastante estúpida. Esta decisão demonstra falta de inteligência política e uma notícia negativa, que fez com que Macau, depois de ser aplaudida pelo combate à epidemia, voltasse a aparecer nos jornais internacionais”

Por seu turno, Au Kam San afirmou que o IAM não devia rever “as regras de apreciação e autorização às escondidas”. “O IAM cancelou a autorização, alegando que a referida exposição, que é ao ar livre, podia levar à concentração de pessoas. Isto é completamente retrógrado e inaceitável (…) trata-se de um acto praticado “sem rei nem roque”, afirmou o deputado.

T-shirt polémica

Em plena troca de argumentos em torno da proibição da exposição sobre o 4 de Junho, Chan Chak Mo pediu a palavra para criticar a forma como Sulu Sou estava vestido. Em causa uma t-shirt com uma mensagem em chinês alusiva ao massacre de Tiananmen. “O deputado Sulu Sou vem vestido com roupa de Verão e no peito está escrito ‘Não deve esquecer.. etc e tal’. Quanto às regras do vestuário, um homem pode vestir-se dessa maneira, sem gola?”, questionou Chan Chak Mo, dirigindo-se ao presidente da Assembleia Legislativa (AL), Kou Hoi In.

Na resposta “ao experiente deputado Chan Chack Mo”, Sulu Sou afirmou não existir nada no regimento da AL que indique como é que os deputados devem vir vestidos. Kou Hoi In, confirmou as palavras de Sulu Sou mas pediu a cooperação de todos para se vestirem ”de acordo com uma ocasião solene”. “Pelo menos uma camisa, ou roupa com gola”, acrescentou o presidente da AL ainda durante o espaço destinado às intervenções antes da ordem do dia.

Cartões de consumo | Pedidas sanções mais pesadas para lojas desonestas

[dropcap]O[/dropcap] aumento súbito dos preços nas superfícies comerciais, motivado pela utilização dos cartões de consumo, continua a preocupar os deputados.

Na ronda de intervenções antes da ordem do dia, Song Pek Kei insistiu que “a população continua a ter de suportar os elevados preços dos produtos” e que o Governo deve rever a lei de forma a aplicar “um regime sancionatório aplicável às lojas desonestas” que permita excluí-las do plano de apoio ao consumo.

Apontando que o curto período de utilização do cartão de consumo é dos factores que mais contribuiu para o aumento dos preços, pois provoca um desequilíbrio entre a oferta e procura, a deputada espera que o Governo prolongue o período de utilização do plano para que haja tempo “para suprir as falhas no fornecimento de produtos”. Agnes Lam na sua exposição acrescentou que “existem sectores negligenciados”, tais como o sector turístico, da cultura e dos táxis.

Magistratura | Luz verde para mais exigências no acesso à profissão

[dropcap]F[/dropcap]oi aprovada na generalidade, na passada sexta-feira, a proposta de lei que regula o acesso à magistratura. De acordo com o diploma aprovado por unanimidade, para além da licenciatura em Direito, quem quiser ingressar no curso e estágio nas magistraturas judicial e do Ministério Público está obrigado a ter também experiência profissional em Macau há pelo menos dois anos.

Em resposta aos deputados que pediram justificações para aumentar as exigências de acesso à profissão, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, apontou a necessidade de os aspirantes terem maior experiência de vida.

“Tivemos como referência as experiências de cursos anteriores, em que houve candidatos que logo após o termo da licenciatura em Direito acabaram por ficar aptos nas provas e entrar nos cursos, sem a vivência em sociedade, quando os magistrados têm de tomar uma decisão, de julgar, tendo em conta as circunstâncias reais”, afirmou.

André Cheong revelou ainda que o Governo está a planear abrir um novo curso e estágio de formação para ingresso na magistratura. No entanto, explicou o secretário, não será a vacina contra o elevado volume de trabalho que existe nos tribunais, devendo a solução passar “por outras vias”, como a arbitragem.

Licença de maternidade continua a dividir deputados

[dropcap]O[/dropcap] alargamento de 56 para 70 dias de licença de maternidade remunerados continua a não gerar consenso entre os deputados da Assembleia Legislativa (AL), que aprovaram na passada sexta-feira, na especialidade, a proposta de alteração à lei laboral.

Além de terem sido aumentados apenas 14 dias na revisão da lei em mais de uma década, outros pontos de ruptura prendem-se com o facto de não existir alinhamento com os 90 dias de licença previstos para a função pública e os 98 dias aconselhados pela Organização Mundial do Trabalho (OMT).

Justificando a decisão com o “ponto de equilíbrio” actualmente possível para tentar agradar simultaneamente a patrões e empregados, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong admitiu que é possível fazer mais. “Agradeço aos deputados a luz verde para dar mais um passo em frente. Não há perfeição, mas há sempre melhor”. Estamos a procurar um ponto de equilíbrio. Por um lado, temos de proteger os trabalhadores, e, por outro, temos de sustentar as empresas”, frisou Lei Wai Nong.

Quanto à divulgação da calendarização concreta para o aumento dos dias de licença de maternidade, pedida pelos deputados da ala mais tradicional ligados aos Operários, como Leong Sun Iok, ou Wong Kit Cheng da Associação das Mulheres, Lei Wai Nong recusou-se a fazer promessas. “Não consigo responder sobre a calendarização. O que eu espero é que, com esta base cimentada, consigamos agir para chegar à meta. Se tiver capacidade e for possível vou tentar fazer; se não conseguir vou explicar”, afirmou o secretário.

Já o deputado Ip Sio Kai refere que o aumento para 70 dias é um contributo de louvar e que “é suficiente para uma mulher recuperar do parto”, sublinhando, contudo, nada ter contra o alargamento futuro para 90 dias pagos, desde que os encargos não sobrem para o sector empresarial.

Apoio a prazo

Sobre o artigo que prevê que os 14 dias agora acrescentados sejam suportados pelo Governo apenas durante os três primeiros anos a partir da entrada em vigor da lei, Lei Wai Nong esclareceu que “os 70 dias têm de ser suportados pelo empregador” e que o apoio concedido tem como objectivo evitar que as empresas tenham de suportar os custos de um dia para o outro.

Após o debate sobre o artigo, o deputado Wang Sai Man pediu que a votação fosse feita em separado, acabando por se abster.

Hong Kong | Gelataria oferece sabor a gás lacrimogéneo para recordar protestos

[dropcap]O[/dropcap] gás lacrimogéneo está entre os novos sabores de uma gelataria de Hong Kong, com grãos de pimenta preta como ingrediente principal, para recordar os confrontos nos meses de protestos pró-democracia em 2019.

“Sabe a gás lacrimogéneo. Parece difícil de respirar ao princípio, e é realmente pungente e irritante. Faz-me querer beber muita água imediatamente”, diz uma cliente, Anita Wong, que foi vítima do gás lacrimogéneo num dos muitos protestos que paralisaram o território. “É um ‘flashback’ [recordação] que me lembra a dor que senti e que não devo esquecer”, acrescentou.

O sabor criado é um sinal de apoio ao movimento pró-democracia, que procura recuperar o seu ímpeto ainda durante a pandemia da covid-19, explica o proprietário da loja, que fala somente na condição de não ser identificado para evitar repercussões do governo pró-Pequim.

“Queríamos criar um sabor que lembre as pessoas de que é preciso persistir no movimento de protesto e não perder a paixão”, salientou.

Para isso, experimentou diferentes ingredientes, incluindo wasabi e mostarda, num esforço para reproduzir o sabor do gás lacrimogéneo. A pimenta preta, frisa, foi aquele que mais se aproximou do gás lacrimogéneo e dos seus efeitos irritantes na garganta.

“Torrámos e moemos grãos de pimenta pretos inteiros que transformámos em ‘gelato’, ao estilo italiano. Está um pouco picante, mas enfatizámos o seu travo, que é uma sensação de irritação na garganta. É como respirar gás lacrimogéneo”, resume o proprietário, de 31 anos.

Mais de 16 mil latas de gás lacrimogéneo foram disparadas durante os protestos, segundo as autoridades de Hong Kong, muitas em distritos densamente povoados, onde as ruas estreitas estão cheias de pequenos restaurantes e blocos de apartamentos.

Os protestos começaram com a proposta de legislação que permitiria que suspeitos de crimes fossem extraditados para a China continental para serem acusados, entretanto abandonada, mas evoluiu para exigências de reformas democráticas.

Os protestos realizaram-se regularmente em 2019, com os manifestantes a alegarem que Pequim estava a corroer as liberdades civis concedidas à ex-colônia britânica quando regressou à soberania chinesa em 1997.

A gelataria também oferece um espaço para as pessoas expressarem opiniões sobre o movimento, incluindo o uso de notas adesivas iguais às qua apareceram espalhadas por todo o território no auge das manifestações e que remonta já aos outros grandes protestos de 2014.

Com cada porção a custar cerca de 4,6 euros, o gelado de gás lacrimogéneo tem sido um sucesso entre os clientes: o dono da gelataria diz que antes dos regulamentos de distanciamento social devido à covid-19 vendia entre 20 a 30 doses por dia com aquele sabor.

As manifestações quase desapareceram com a pandemia da covid-19, mas episódios mais recentes, com detenções, manifestações em centros comerciais e confrontos no parlamento local, levam a pensar que ações maiores possam surgir durante o verão, caso o surto do novo coronavírus esteja controlado.

Isto num momento em que as forças de segurança procuram impedir grandes concentrações e o Governo está a avançar com uma legislação para criminalizar eventuais abusos ao hino nacional chinês.

IC | Monumentos e espaços públicos abrem portas 

[dropcap]D[/dropcap]epois de um longo período de encerramento devido à covid-19, o Instituto Cultural (IC) decidiu abrir hoje portas de vários locais do património, espaços museológicos e bibliotecas públicas.

Incluem-se nesta lista, o Posto do Guarda-Nocturno no Patane, a Sala de Exposições do Templo de Na Tcha, a Capela de N.ª Sr.ª das Neves, a Antiga Residência do General Ye Ting, o Espaço Patrimonial “Uma Casa de Penhores Tradicional”, a Antiga Residência de Zheng Guanying, o Tesouro de Arte Sacra do Seminário de S. José, a Antiga Farmácia Chong Sai, a Academia Jao Tsung-I, o 2.º piso da Casa do Mandarim e os “Pontos de Busking” Casas da Taipa e Espaço Anim’Arte NAM VAN.

A partir de hoje abrem também ao público 16 bibliotecas, sendo ajustados os prazos de empréstimo e recolha de livros para evitar aglomerados de pessoas. O IC dá ainda conta de que “alguns recintos culturais permanecem encerrados devido às condições dos seus espaços, devendo a respectiva data de reabertura ser posteriormente anunciada”.

Isabel Allende anuncia novo livro em videoconferência com leitores 

[dropcap]A[/dropcap] escritora Isabel Allende falou esta quarta-feira sobre a sua vida e o processo criativo, a covid-19 e a governação Trump, a situação da América Latina e os refugiados, durante uma conferência ‘online’, em que também anunciou um novo livro.

A escritora chilena Isabel Allende, residente nos Estados Unidos, foi a convidada para o painel de abertura da 14.ª edição do Festival Literário LEV – Literatura em Viagem, que se realiza em Matosinhos, Portugal, e que este ano decorre por videoconferência, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.

Numa conversa moderada por Hélder Gomes, a autora de “A Casa dos Espíritos” falou do próximo projecto em que está a trabalhar, e que deverá ser publicado em Espanha e em Portugal em Novembro, é um livro de não-ficção, é um livro de memórias da sua vida, como mulher e feminista, e chama-se “Que queremos las mujeres”, revelou a autora.

Questionada sobre a importância da espiritualidade na sua vida, uma vez que está tão presente na obra, Isabel Allende afirmou que não é uma pessoa religiosa. Confessou mesmo que lhe dão “horror todas as instituições religiosas, porque são dogmáticas, machistas e procuram o poder”.

A sua espiritualidade é aquela “parte que todo o ser humano tem, que se busca transcender, que busca a ética”, e isso “há que cultivar”. E é o que cultiva “na vida e na literatura”.

Trump e a covid-19

Sobre a sua perspectiva, ainda enquanto residente nos Estados Unidos, da situação da pandemia de covid-19 naquele país, Isabel Allende foi peremptória: “Muito mal, porque não há um governo competente”. “Há um governo dirigido por Trump, que se caracteriza por inconsistência, incompetência e mentira. Já há mais de 80 mil mortos, muito mais do que na guerra do Vietname, há mais mortos pelo vírus do que por todas as guerras que os Estados Unidos tiveram”, afirmou.

Numa referência ao peso da família em alguns dos seus livros, como “A casa dos espíritos”, e respondendo à questão se a família se sobrepõe sempre à política, Isabel Allende afirmou que depende da família, lembrando que, na época do governo socialista de Allende, e depois do golpe militar, na ditadura, houve famílias que se dividiram e nunca se reconciliaram, mas também houve as que permaneceram unidas, mesmo com divergências ideológicas e políticas.

“O mesmo se passa hoje nos Estados Unidos com a polarização entre democratas e republicanos, a ideologia e a raiva política às vezes é tanta que altera a família”, disse.

Facetas múltiplas

Em “A Casa dos Espíritos”, “há o micromundo da família e o macromundo de um país que parece o Chile, e o que se passa dentro da família é um reflexo do que se passa fora também, a situação política e histórica do país”, acrescentou.

Aludindo às suas várias facetas – mulher, feminista, filantropa e escritora – e sobre o facto de certa vez ter afirmado que o seu maior feito não era escrever, mas amar, Isabel Allende foi questionada sobre o que era mais importante na sua vida. “Ser escritora é a minha vida pública, amor é o que sinto pela família. A acção não é o mesmo que o sentimento. Não tenho de escolher. Posso ser escritora, mulher, feminista e filantropa e viver o amor intensamente”.

LMA | Projecto None of Your Business reúne músicos e djs esta noite 

Manuel Correia da Silva e Rui Simões estão juntos num novo projecto ligado à música intitulado None Of Your Business (NOYB) que apresenta esta noite, pela primeira vez, um pouco daquilo que poderá ser visto e ouvido daqui para a frente. O evento de hoje no Live Music Association é uma tentativa de regresso à normalidade em tempos de pandemia e conta com a presença de Burnie, Rui Rasquinho e outros djs

 

[dropcap]O[/dropcap] espaço Live Music Association (LMA) abre portas esta noite com um evento cheio de música mas, acima de tudo, de experimentação de sons. O novo projecto de Manuel Correia da Silva e Rui Simões, intitulado None Of Your Business (NOYB), leva ao palco uma série de músicos e djs, uns mais profissionais do que outros, com o objectivo de pôr todos a dançar e esquecer um pouco os tempos de confinamento.

“Sentimos que ainda falta algum tempo para estarmos descontraídos e esta festa pode contribuir, de alguma maneira, para que haja um espírito mais positivo”, disse Manuel Correia da Silva ao HM. “Vamos ter a presença de um grupo muito diversificado de convidados que vão fazer desta a primeira de futuras acções daquilo que vai ser o projecto NOYB em Macau. Vamos ter um grupo muito diferenciado de pessoas que não são necessariamente todas profissionais. São todos amantes de música e vamos querer promover uma noite com um leque de músicas muito diferente”, frisou.

Actuações inéditas

A noite promete arrancar com BURNIE, natural de Macau e ligado à música electrónica. BURNIE conta com 5 EPS no currículo, gravados no Reino Unido. Em 2013 gravou “Lotus City” com a editora local 4daz-le Records. Segue-se a actuação de Rui Rasquinho, artista plástico, designer e ilustrador que, pela primeira vez, vai pisar um palco como músico.

Será “uma apresentação inédita, num formato quase de música experimental”, descreve Manuel Correia da Silva. “A música do BURNIE é mais dançante, quase pop, mas no caso do Rui Rasquinho apresentamos algo muito experimental, com ambientes e paisagens sonoras, em que ele toca ao vivo com a sua guitarra a solo.”

Seguem-se os djs, alguns que já fazem parte da casa. José Carlos Matias, jornalista, transforma-se em DJ Soneca e leva ao público sons mais punk-rock, algo “muito old school mas com muita energia e festa”. A DJ Minchi é Patricia Neves que promete abraçar outros registos musicais.

A noite encerra com Manuel Correia da Silva e Rui Simões, ou seja, os NOYB. “Cada um de nós tem abordagens da música bastante diferentes, e gostamos disso. Vamos apresentar coisas que não são tão habituais e queremos mostrar algumas das músicas que andamos a explorar aqui da região, das cidades à nossa volta como Cantão e Pequim. É música feita na China, bandas novas.”

Os NOYB vão também passar sons de “artistas conhecidos e com quem trabalhamos muito em Portugal”. “Esse é o início daquilo que está por detrás da NOYB e que queremos que o público perceba”, rematou Manuel Correia da Silva. As portas abrem hoje às 21h30 e a entrada tem o valor de 150 patacas.

A esperteza dos bichos

[dropcap]N[/dropcap]os anos oitenta e noventa o golfinho era o maior. A comunicação social, hiperbólica no seu entusiasmo, garantia-nos que os golfinhos só não nos tinham suplantando no domínio do planeta porque viviam no oceano e tinham corpos desprovidos da anatomia necessária para fabricar e manejar utensílios (a falta que um polegar oponível faz).

É verdade que os golfinhos têm um cérebro maior que o nosso, que são bichos extremamente sociais e capazes de empatia até para com animais de espécies diferentes e que, até ver, são os únicos animais – para além dos humanos – a ingerir drogas de forma recreativa (os golfinhos em grupo entretêm-se a mordiscar um peixe extremamente venenoso chamado baiacu, ingerindo apenas a quantidade de veneno suficiente para ficarem pedrados e passando-o depois a outro golfinho – nem é preciso substituir o peixe por uma ganza para a comparação ser estupidamente óbvia).

Para além disso, têm um sistema de comunicação extremamente complexo e, treinados, são capazes de escolher, através do uso da ecolocação e de um painel capaz de interpretar esses sinais, o que querem comer. “Hoje tem sido carapaus”, dizia uma bióloga numa entrevista, “mas há dias em que só pede polvo”. Dias de polvo. Quem nunca?

Hoje em dia, porém, os golfinhos deixaram de estar na moda. Nos anos noventa, eu achava – cavalgando a vaga de entusiasmo à volta dos golfinhos e da sua inteligência – que no dia em que conseguíssemos decifrar a linguagem deles, novos mundos se iriam abrir e muita coisa se resolveria. Em surdina garantiam-nos que os golfinhos eram portadores das peças do saber que nos faltavam para completar o puzzle da nossa interpretação do mundo. No divertido Hitchhiker’s guide to the galaxy do Douglas Adams, os golfinhos estão no segundo lugar do pódio dos animais mais inteligentes da terra (os ratos estão em primeiro; nós, em terceiro). Há filmes sobre a inteligência e empatia dos golfinhos. Há documentários suficientes para encher meia dúzia de discos rígidos. O que aconteceu então aos golfinhos para no séc. XXI deixarem de ser sexys?

A explicação mais imediata (e também a mais desinteressante) é a de que a ciência – e sobretudo a ciência extremamente promissora mas ainda imberbe – não é imune a modas. Os golfinhos tinham um potencial tremendo à primeira vista. As observações preliminares permitiam tecer toda a sorte de conjecturas sobre a amplitude das suas capacidades. Um pouco com as pessoas que vamos encontrando e que nos parecem gigantes até se revelarem modestamente humanas por via do contacto prolongado. Na óptica desta explicação, os golfinhos são apenas mais um mamífero giro que prometia muito.

Eu acho, no entanto, que a queda dos golfinhos do pedestal do nosso interesse não deriva propriamente da nossa avaliação errada das suas capacidades mas da inveja. Não da nossa inveja, atenção. Mas da inveja do restante mundo animal do interesse que nutrimos quase em exclusivo pelos golfinhos durante uma larga dezena de anos. Os bichos perceberam que tinham tudo a ganhar se demonstrassem competências capazes de despertar o nosso interesse. Os primatas já há muito o faziam, mas sofriam da síndrome de familiar menos dotado. Os golfinhos, por outra parte, são-nos tão distantes que qualquer manifestação de similaridade com as nossas competências (que julgamos sempre tão naturais quanto exclusivas) nos faz imediatamente verter uma pinguinha.

Então e os corvos, mentalmente equiparáveis ao uma criança de sete anos na sua habilidade para resolver problemas? E os polvos, peritos no uso instrumental de diversos objectos? E os papagaios, capazes de para além de falar, de aritmética simples?

Parece-me óbvio que esta bicharada se reuniu e, remodelando por completo o departamento de marketing, acabou por arranjar forma de dividir melhor o pódio. O segredo dos golfinhos continua a salvo.

Memória de cão

[dropcap]S[/dropcap]abem aquela sensação que ultrapassa o déjà vu, quando temos impressão não só que já vimos este filme, mas que já o vivemos? Pois, foi assim que me senti ao voltar a ver o IAM a trocar os pés pelas mãos para impedir a livre expressão de algo sensível politicamente. Sim, ainda a exposição fotográfica sobre o massacre de Tiananmen.

Meus amigos, os direitos fundamentais não são circunstanciais, não se suspendem para atender a sensibilidades políticas nem para consolar medos de sombras. Ou vivemos num Estado de Direito, ou não.

Não existe aqui meio termo. O facto é que este é o estado actual da política em Macau. O poder faz o que bem entende, não responde perante a lei, ou os cidadãos e só atende à extrema sensibilidade de cima. Aliás, não consigo contabilizar as vezes que ouvi “tens de compreender, este é um momento particularmente sensível” desde que cá cheguei em 2016.

Ok, não é um grande lapso temporal, mas, nestes 4 anos e tal, a vulnerabilidade e o melindre do colosso foram constantes. É por isso que em Macau, aquilo que é mais sagrado em termos legais, cai por terra à mera sugestão de melindre. Falando a linguagem da terra, e esquecendo valores e princípios consagrados em leis fundamentais, isto é mau para o negócio.

O Estado de Direito dá garantias de estabilidade ao investimento, é uma salvaguarda contra a volatilidade imprevisível da política. Protege os residentes e também o poder contra si próprio. Temo que Macau se vai arrepender de abrir mão de algo tão importante, e que se deixe moldar e desaparecer, à semelhança do que estão a fazer com a história.

Coloane | Encontrado golfinho branco morto

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem encontrado um corpo de um golfinho branco na costa de Coloane, em frente ao Templo Tam Kong. O alerta foi dado por um cidadão que contactou a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA).

Segundo o comunicado desta autoridade, a zona onde se encontrava o cadáver do animal era altamente rochosa pelo que foi preciso recorrer a mergulhadores. Já na quarta-feira tinha sido encontrado outro golfinho na costa de Macau, neste caso com vida, e após alguns momentos o animal acabou por abandonar as águas da RAEM.

Porém, em relação ao cadáver encontrado ontem, a DSAMA recordou que já no ano passado, em Julho, tinham sido encontrados dois cadáveres de golfinhos brancos. Face a estas ocorrências, cada vez mais frequentes, a DSAMA mostrou-se preocupada com as obras que decorrem nas zonas marítimas, assim como com o aumento dos níveis de poluição e da circulação de embarcações, que afectam os habitats dos golfinhos brancos.

Meia vida, meio triste

[dropcap]À[/dropcap]s vezes há disto: cai um gelo espesso e irreparável sobre um entusiasmo até então crescente, o optimismo torna-se mais baço, o futuro mais espesso, o quotidiano mais incerto e sobretudo mais triste. São assim os dias agora em terras nipónicas, com o ritmo ainda marcado pelos caprichos do portentoso vírus que mantém a humanidade refém da sua própria segurança mais fundamental, a da integridade do corpo, da preservação da elementar saúde física. Depois se tratará, mal ou bem, da sanidade mental.

No Japão os dias já foram de optimismo, o país foi cedo afectado pela presença do indesejável intruso, mas também foi aparentemente rápida a reacção, a disciplinada mobilização colectiva em defesa da saúde pública, o esforço dedicado de protecção de cada um e de todos os outros, como é costume, aliás, em terras de delicada atenção a todos os riscos possíveis e à integridade do corpo e do espírito.

Não foram convocadas desnecessárias formas de coacção e intimidação e ninguém foi detido por vir à rua: uma certa reorganização nas formas de trabalhar, eliminação de saídas desnecessárias, redução ao mínimo da mobilidade, evitar a proximidade e o contacto ainda mais do que e habitual nestas paragens, isolamento absoluto de quem estivesse infectado e de quem os tivesse contactado, foram medidas suficientes para que parecessem amplamente controladas as estatísticas da propagação e do contágio.

Só que não: estamos perante um formidável adversário, que mesmo quando parece reduzido a uma quase insignificância e a uma extinção quase certa, reaparece, afinal, retoma inesperado fulgor ofensivo, instala de novo o medo e as decorrentes precauções, que até há pouco tomávamos como excessivas e hoje nos parecem inevitáveis.

Quiseram as coincidências da cronologia que mudasse de trabalho e de cidade numa certa fase de acalmia pandémica, por assim dizer. Instalei-me numa região com quase 3 milhões de habitantes e que chegou a finais de Março com três casos contabilizados, três (entretanto recuperados, já agora). Mas ao dia em que escrevo são quase 150, não parece muito quando se compara com outras realidades mais dramáticas no planeta, mas ainda assim foi o suficiente para reinstalar os alarmes e as cautelas, que pode vir aí crescimento exponencial como testemunhado com terror noutras paragens.

Na realidade, este recomeço do processo de propagação aconteceu em quase todo o país e trouxe à discussão publica a ausência de uma estratégia sistemática de massificação de testes, que terá evitado que se conhecesse melhor a realidade oculta da propagação viral. Veio então o estado de emergência a todo o país, pela primeira vez desde que apareceram os primeiros casos, mas ainda assim sem confinamentos obrigatórios nem significativas paragens laborais. Veremos no que dá.

Mudaram, no entanto, os métodos e as formas de trabalhar. No magnífico campus onde trabalho, a modernidade e a eficiência arquitectónicas graciosamente enquadradas nas paisagens natural e urbana da periferia de Hiroshima evidenciam o vazio: não há estudantes, grande parte dos serviços estão fechados e as presenças reduzem-se a professores e funcionários administrativos.

O entusiasmo que trazíamos pelos novos encontros com estudantes – e que para mim seria o primeiro e por isso mais especial – foi sendo substituído pela percepção do isolamento, numa primeira fase, e pelo isolamento efectivo, depois, quando se confirmou, após dois adiamentos do início ano lectivo, que afinal íamos dar aulas à distância. Toda uma nova aprendizagem de técnicas e processos, frios e digitais, com os quais teremos que aprender a criar algum calor, com relações intensas e produtivas com quem nos segue do outro lado.

Vive-se a meias, sem fazer nem deixar de fazer, cumprindo com esforço máximo o mínimo dos objectivos, que as circunstâncias não permitem mais do que voos muito rasos. Reaprende-se o trabalho e o convívio sob novas formas, condições e restrições. Vive-se com receio de sair de casa e de encontrar o inimigo insuspeito e invisível, que as máscaras não nos tornam imunes nem invencíveis. Vive-se a tristeza dos espaços esvaziados pela insegurança e pelo medo. Os transportes quase vazios, felizmente. Os restaurantes onde não vamos, também vazios. As ruas quase vazias, de pessoas e veículos. O receio, as cautelas, a desconfiança em cada olhar, visível no que sobre do rosto mascarado. Vive-se a meias, com pouco sentido, à espera. Vive-se triste. Vive-se o medo de não se viver. Não se vive, afinal.

Reabertura de infantários e jardins-de-infância divide pais

Os Serviços de Educação e Juventude receberam seis queixas de professores despedidos que se consideram lesados, uma vez que não lhes foi entregue o montante descontado para os fundos de previdência das escolas privadas. O Tribunal de Segunda Instância considerou a prática ilegal

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo admite reabrir as creches e os jardins-de-infância até ao final do ano lectivo, mas sublinha que não há consenso entre os encarregados de educação. As afirmações foram feitas ontem pelo director da Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Lou Pak Seng, em declarações à imprensa.

“Ouvimos as opiniões dos encarregados de educação, que esperam que depois do reinício das aulas do ensino secundário e primário que as creches e os jardins-de-infância sigam o mesmo caminho”, reconheceu o responsável.

“Nós não afastamos que o reinício das creches e dos jardins-de-infância aconteça ainda este ano lectivo, mas também ouvimos opiniões de encarregados de educação que são contra o reinício durante este ano lectivo. Por isso, vamos continuar a comunicar com os diferentes sectores para encontrar um equilíbrio”, acrescentou.

Lou explicou igualmente que, ao contrário do que acontece com o ensino primário e secundário, não existem pressões para que se regresse às salas neste ano lectivo porque não há retenções, o que permite uma maior flexibilidade.

Outro dos assuntos abordados ontem pelo director da DSEJ, foi a possibilidade de não haver vagas para todos os alunos para o próximo ano lectivo, no que diz respeito ao ensino primário.

Contudo, Lou Pak Seng afastou o cenário e garantiu um número de vagas suficientes para o ano lectivo de 2020/2021. “Se calhar os pais estão muito preocupados com o acesso ao ensino primário dos alunos. Mas, há vagas suficientes para o ensino primário, por isso não se preocupem”, apontou.

Segundo os dados avançados por Lou, neste momento há cerca de 6.400 interessados em ingressar no ensino primário do próximo ano para cerca de 7.400 vagas.

Queixas de docentes

Em Março deste ano, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) proferiu uma decisão em que obrigou uma escola privada a pagar uma compensação a um docente despedido sem justa causa, assim como a devolver ao professor o dinheiro que este tinha descontado para o fundo de previdência privado.

De acordo com entendimentos anteriores das escolas, muitas vezes reflectidos nos contratos de trabalho, os estabelecimentos de ensino, desde que pagassem as compensações pelo despedimento, não tinham de devolver o dinheiro dos descontos dos próprios professores. A DSEJ manteve-se sempre distanciada dos diferendos, mas com a decisão dos tribunais foi obrigada a defender os professores.

Além do caso ganho pelo docente nos tribunais, que vai assim receber 80 mil patacas da Escola Kao Yip, existem seis queixas pelo mesmo motivo, que chegaram aos Serviços de Educação e Juventude, desde Setembro de 2013.

O responsável confessou igualmente que a DSEJ vai agora investigar se existem mais casos de professores que possam ter sido prejudicados e enviar orientações às escolas a informar que, em caso de despedimento sem justa causa, estas são obrigadas a pagar uma compensação e ainda os descontos para o fundo de previdência privado do docente em causa.

Consulta no fim do ano

O Governo vai realizar a consulta pública sobre a Política de Juventude de Macau para o período de 2021 a 2030 no quarto trimestre deste ano. A revelação foi feita ontem, depois de ter sido realizado uma reunião plenária do Conselho de Juventude. “Espera-se a apresentação activa de opiniões por parte dos sectores sociais, no sentido de sugerirem, em conjunto, estratégias e soluções para a Política de Juventude”, afirmou uma porta-voz no final da reunião. Já em relação às actividades de Verão para os jovens de Macau, os moldes vão ser revistos, mas todos os intercâmbios devem ser cancelados.

Pedido fim de monopólio da Nam Kwong na gestão de combustíveis

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação da Sinergia de Macau, Lam U Tou, apontou o dedo à Nam Kwong como parte do problema do preço elevado dos combustíveis em Macau. Num texto partilhado no Facebook da associação, e no jornal Ou Mun, Lam começa por destacar a forma como a acentuada queda do preço do barril de petróleo não se reflectiu no custo da gasolina, gasóleo e gás.

A razão que leva os residentes a pagarem mais pelo abastecimento do carro, na visão de Lam U Tou, é a posição de vantagem no mercado da Companhia de Produtos Químicos e Petrolíferos Nam Kwong. Segundo o dirigente associativo, o monopólio da empresa estatal impede o mercado livre, situação que só pode ser combatida através da gestão pública do Depósito de Combustíveis de Ká-Hó e da reforma regulamentar dos concursos para bombas de gasolina.

De acordo com os dados da Direcção dos Serviços de Economia, em Abril o preço médio de importação de gasolina sem chumbo foi de 3,68 patacas por litro, com um preço máximo de venda na bomba de 11,58 patacas e mínimo de 11,17 patacas. A diferença de preços do gasóleo ainda foi mais acentuada, com o litro importado deste combustível a custar em média 3,42 patacas, preço que subia nas bombas para valores entre 13,13 e 12,12 patacas.

Face a este cenário, Lam U Tou entende que o preço pago pelo consumidor é “irrazoável e inconsistente com a lógica comercial”, o que levanta dúvidas quanto à possibilidade de manipulação de preços.

Pobre negócio

Uma outra situação que incomoda o presidente da Sinergia de Macau é o facto de o contrato de concessão do terreno onde está situado o depósito de combustíveis ter chegado ao fim em 2018 e da promessa não cumprida de o Governo rever o contrato.

Lam U Tou criticou a posição de pouca força negocial e falta de responsabilidade a tratar do contrato, nomeadamente ao não publicar os detalhes dos termos de utilização e os custos de operação do depósito de combustíveis.

Elementos que, quando somados, convencem o dirigente associativo de que não existe em Macau um mercado livre de combustíveis, e que colocam óbvios entraves à entrada de novos operadores no mercado.

Gastroentrite | Bolos da Padaria New Mario na origem do caso da SJM

[dropcap]B[/dropcap]olos da Padaria New Mario, onde foram detectadas salmonelas, terão estado na origem da gastroentrite colectiva detectada em 56 trabalhadores vínculados à Sociedade de Jogos de Macau (SJM). A informação foi avançada ontem pelo Instituto dos Assuntos Municipais (IAM), segundo o canal chinês da TDM Rádio Macau.

De acordo com a mesma fonte, depois de confirmar que a contaminação ocorreu na cantina dos trabalhadores de um dos casinos da SJM, no dia 4 de Maio, o IAM deu ordem aos responsáveis da Padaria New Mario para suspender o fornecimento de bolos, tendo enviado uma equipa ao estabelecimento para investigar a qualidade alimentar dos produtos. Os resultados das análises das amostras revelaram a presença de salmonelas.

O IAM solicitou ainda à cadeia New Mario que proceda à limpeza e desinfecção completa dos ambientes e equipamentos de produção dos seus espaços e que deixem de ser utilizados ovos crus na produção de cremes de pastelaria. Além disso, os trabalhadores terão ainda de frequentar cursos de segurança alimentar.

Turismo | Professor da UM defende parcerias entre Governo e privados para recuperar da crise

Glenn Mccartney, professor da Faculdade de Gestão de Empresas da Universidade de Macau, acaba de publicar um novo estudo onde defende que são necessárias mais parcerias público-privadas para a recuperação do sector do turismo e do jogo. O académico defende que esta pode ser uma boa oportunidade para a diversificação, mas alerta para a necessidade de um desconfinamento gradual

 

[dropcap]C[/dropcap]om os sectores do jogo e do turismo a sofrerem uma crise sem precedentes devido ao surto causado pelo novo coronavírus, é importante olhar para novas estratégias e apostar nas parcerias entre o sector público e privado. São estas as ideias defendidas por Glenn Mccartney, professor da Faculdade de Gestão de Empresas da Universidade de Macau (UM), no seu mais recente estudo intitulado “The impact of the coronavirus outbreak on Macao. From tourism lockdown to tourism recovery”.

O académico distingue três fases nesta crise. A fase 1 diz respeito à implementação das medidas de confinamento e ao encerramento dos casinos e fronteiras. A fase 2 foi marcada pelo surgimento dos casos importados de infecção, enquanto que a fase 3 é a de aceitação e de resposta. E é nesta última fase que importa apostar numa maior parceria público-privada, com foco na responsabilidade social dos casinos.

“A diversificação do sector [do turismo] além do jogo tem sido pouco diversificada desde a liberalização dos casinos. Poder-se-ia utilizar a fase 3 como uma oportunidade para estabelecer um compromisso com a indústria e uma aproximação de forma mais colaborativa com o sector privado”, defende o autor do estudo.

Glenn Mccartney acredita que chegou a altura de “discutir cenários de recuperação”. “Mudar para uma terceira fase de recuperação da crise deveria envolver o sector público e privado de um ponto de vista colaborativo, ao invés de manter uma estratégia ‘de cima para baixo’, providenciando uma oportunidade de diversificação do turismo”, frisou.

Neste sentido, para que não se voltem às mesmas estratégias do passado, o académico defende que se deve analisar o mercado chinês de visitantes e o foco principal do sector do turismo e do jogo em Macau.

Glenn Mccartney destaca o facto de muitas das medidas restritivas para combater o surto terem sido adoptadas sem uma prévia consulta ao sector privado. As medidas foram implementadas “de forma rápida, com uma consulta limitada ou inexistente às comunidades e ao sector privado, nomeadamente os casinos ou às pequenas e médias empresas (PME)”. A pouca colaboração entre o sector público e privado já foi referida como tendo contribuído para “uma maior dependência dos casinos”. Caso não haja esta parceria público-privada, poderão existir “mudanças limitadas em relação à trajectória do sector do turismo e do jogo antes de Janeiro”, defendeu o autor.

Desconfinar, mas devagar

Depois do surgimento de casos importados, Macau tem agora a situação novamente controlada, restando poucos pacientes internados. Glenn Mccartney defende que está na altura de avançar para um desconfinamento gradual, uma vez que o impacto do confinamento “vai além das questões sócio-económicas”. Estão em causa “milhares de trabalhadores do sector do turismo e hotelaria”, que permanecem em espaços quase vazios.

O professor da UM frisa que se devem ter em conta “os impactos económicos crescentes no sector privado, tanto nos casinos como nas pequenas e médias empresas, e os possíveis impactos sociais na comunidade com um confinamento prolongado”.

Apesar disso, o académico acredita que este desconfinamento não deve ser feito de forma repentina. “As proibições de viagem necessitam de ser reduzidas gradualmente por parte dos governos da China e de Macau para recuperar o sector do turismo, com a consciência de que não se pode reiniciar o relógio caso surjam novos casos de infecções com o novo coronavírus”, conclui.

DSAL | Detectados 23 casos de falsas relações de trabalho em 2019

No ano passado as autoridades encontraram 23 casos de empresas que declararam falsas relações de trabalho com residentes. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais alerta que estas acções podem levar à perda de autorização para contratar “blue cards” e responsabilidades legais

 

[dropcap]E[/dropcap]m 2019, foram descobertas 23 situações de falsificação de relações de trabalho entre empresas e residentes locais, incluindo de contribuições do regime da Segurança Social. Foram também revogadas 55 autorizações de contratação. A informação foi avançada por Wong Chi Hong, director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), em resposta a uma interpelação escrita de Leong Sun Iok.

“Não importa se outros serviços encaminham [os casos para nós] ou se descobrimos por competência própria a situação da relação laboral falsificada, também acompanhamos e investigamos. Se a situação ficar provada depois da investigação, vamos resolvê-la segundo a nossa competência, incluindo através da revogação de todas ou parte das autorizações de contratação de trabalhadores não residentes (TNR), encaminhando para os serviços com competências se o caso envolver actos penais como declaração falsa ou falsificação de documento”, lê-se na resposta.

O problema foi levantado por Leong Sun Iok, que denunciou a existência de empregadores que obtêm quotas para TNR através de falsas declarações de contribuições para o Fundo de Segurança Social (FSS) sobre a contratação de trabalhadores locais. Um fenómeno que indicou ser mais comum na construção civil e no sector dos serviços.

Na resposta, explica-se ainda que o FSS revê o estado das contribuições dos empregadores e criou mecanismos de verificações internas e interdepartamentais para monitorizar a situação, dando seguimento a qualquer anormalidade encontrada. São canceladas as contribuições consideradas impróprias.

Mecanismos de defesa

Wong Chi Hong garante que o Governo “sempre deu grande importância a irregularidades que envolvam empregar trabalhadores estrangeiros”. Quando as candidaturas são processadas, a DSAL indica que não se limita a rever a informação submetida e a requer dados sobre a entidade empregadora, mas também envia pessoal ao local de trabalho declarado.

Além disso, são apontados mecanismos que “ajudam o trabalhador a verificar as suas informações de emprego, para evitar falsas declarações de empregadores”. Entre elas a possibilidade de se registarem para aceder à informação dos seus impostos profissionais através da internet.

Consumo | Poder do Povo sugere eleição de fiscais

[dropcap]A[/dropcap] Associação Poder do Povo exige ao Governo de Ho Iat Seng que reforce a inspecção à escalada dos preços dos alimentos, sugere eleições directas para o cargo de inspector e que os supermercados que manifestem condutas pouco éticas quanto aos preços fiquem de fora da segunda fase do cartão de consumo. A petição entregue ontem pela associação liderada por Iam Weng Hong expressou preocupação com o facto de o cartão de consumo ter contribuído para o aumento dos preços.

Face ao que diz ser um falhanço do Executivo na fiscalização, a Associação Poder do Povo avança a possibilidade de ser realizado um sufrágio universal para escolher os inspectores. Segundo o plano sugerido, estes seriam pagos pelo Executivo para desempenhar as tarefas, que actualmente fazem parte do Conselho de Consumidores.

“Que problemas não podem ser resolvidos com poder e dinheiro? São muito raros. O Governo concentra os dois aspectos, por isso é incompreensível que não consiga resolver esta questão”, desabafou Iam Weng Hong.

Por outro lado, a associação sugeriu ao Executivo que o montante correspondente à segunda fase do cartão de consumo, de 5 mil patacas, seja entregue directamente à população. “Se o Governo não ceder à sugestão de entregar o dinheiro aos cidadãos, em vez de ser no cartão, sugeriu que apenas possa ser gasto nas pequenas lojas e com as Pequenas e Médias Empresas”, afirmou Iam.

IPM | Coutinho questiona redução de vagas em tradução 

[dropcap]O[/dropcap] deputado Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre a redução do número de vagas por parte do Instituto Politécnico de Macau (IPM) no curso de Tradução e Interpretação Chinês-Português/Português-Chinês (ensino pós-laboral) e Tradução e Interpretação Chinês-Português/Português-Chinês, no regime diurno.

Neste último caso, “só foram abertas vagas para uma turma, impedindo-se a criação de vagas para uma segunda turma”. Coutinho questiona a medida por considerar que existe “uma elevada procura local para a aprendizagem das línguas oficiais”.

No que diz respeito ao ensino da língua chinesa como língua estrangeira “o curso tinha duas vertentes, uma para estudantes de língua nativa chinesa e outra para nativos de língua materna não chinesa”. Mas, “por razões desconhecidas, no ano lectivo 2019/2020, não foram abertas vagas para o ramo destinado a não nativos de língua chinesa, prejudicando muitos cidadãos da oportunidade na aprendizagem das línguas oficiais”, destaca.

O deputado denota ainda que, em 2019, o IPM não apresentou candidaturas ao financiamento para a elaboração de materiais pedagógicos e científicos, o que mostra “confusões na sua gestão interna, situações essas consideradas repetitivas e outrora (2011) objecto de investigações por parte do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC)”. O deputado deseja saber as razões para a redução do número de vagas e qual o acompanhamento que está a ser dado no âmbito do referido relatório do CCAC.

Covid-19 | Idas às urgências diminuem cerca de 45 por cento

Desde que a epidemia do novo tipo de coronavírus começou a afectar Macau, o número diário de pacientes que recorrem aos serviços de urgência do hospital público reduziu quase para metade

 

[dropcap]O[/dropcap] volume de pacientes nas consultas externas do Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ) manteve-se, mas houve uma quebra no número diário de pessoas a recorrer ao serviço de urgência durante os meses em que a covid-19 afectou o território. A informação foi dada ontem na habitual conferência de imprensa sobre a situação da pandemia. “Os doentes com doenças crónicas têm de receber consultas externas periodicamente. (…) Ou seja, não há assim um número [mais] baixo”, explicou Alvis Lo Iek Long, médico adjunto da direcção do CHCSJ. No entanto, as pessoas que têm doenças como gripes ou constipações, “se calhar, já não vêm ao serviço de urgência”.

“Antigamente, tínhamos 900 doentes por dia. E agora só temos 500 diariamente. Verificámos uma queda do número de pacientes na urgência”, avançou Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infeciosas e Vigilância da Doença. Contas feitas, a diminuição é de cerca de 44,5 por cento.

As autoridades de saúde foram ontem questionadas sobre as declarações de um especialista da Organização Mundial de Saúde que sugeriu que a covid-19 pode nunca desaparecer, tornando-se endémica nas comunidades. Neste ponto, Alvis Lo Iek Long indicou que não se detém conhecimento total sobre o vírus, e que pode vir a passar, como uma gripe ou constipação. Mas defendeu que o mais importante é elaborar planos de contingência e tomar medidas tendo por base os desafios do vírus a enfrentar. “Antes de termos uma vacina eficaz para combater a epidemia, temos de contar com o esforço e contributo da nossa população”, disse o médico, acrescentando que “a epidemia está muito grave em todo o mundo, não podemos baixar a guarda”.

Macau assinalou ontem 36 dias consecutivos sem novos casos de pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus. Mantinham-se internados apenas dois doentes, tendo os restantes 43 recebido alta hospitalar. E registavam-se 220 pessoas em quarentena nos hotéis designados para observação médica, dos quais 136 eram residentes e 28 trabalhadores não residentes.

Corredor para estudantes

Sobre a aproximação do recomeço das aulas do ensino primário, Leong I On, da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) disse que os alunos transfronteiriços devem registar-se na DSEJ, bem como o encarregado de educação que vai acompanhar a sua entrada em Macau. Para além dos documentos de identificação, precisam de uma declaração de teste de ácido nucleico.

Já Lei Tak Fai, representante do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), observou que o Governo de Zhuhai disponibilizou um corredor exclusivo de estudantes nos postos fronteiriços, para facilitar as deslocações entre a escola e casa. Com a previsão do aumento de estudantes a cruzar diariamente a fronteira, haverá mais agentes a ajudar a reduzir pressão nas vias públicas.

Relativamente à validade do teste de ácido nucleico, que se faz a cada sete dias, no caso de quem cumpre os requisitos para passar a fronteira com Zhuhai, Alvis Lo Iek Long observou que quando se faz um teste este “revela a situação real daquele momento”. “Em relação aos sete dias, acho que é razoável porque tem de se definir um determinado período. Se não temos estes sete dias, se calhar, a pessoa tem de fazer todos os dias e essa não é uma boa forma. (…) Catorze dias é demais, porque já é o período de incubação”, explicou.

 

Argélia | “Honra” associada a missão médica

Lo Iek Long, médico adjunto da direcção do hospital público, disse ontem que os cinco profissionais da área da saúde de Macau que integraram a equipa de emergência médica que partiu na quarta-feira para a Argélia, não vão causar escassez de recursos humanos na RAEM, na eventualidade de uma nova ronda de epidemia. E salientou que foram feitos vários trabalhos de preparação. “É uma honra podermos ter profissionais de Macau a ir a África transmitir as nossas experiências”, expressou.

Ana Correia, directora da Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da USJ: “A educação não precisa da sala de aula”

O ensino pode nunca mais voltar a ser como era. Depois da paragem de meses devido à pandemia, as aulas regressaram a Macau para um período escolar atípico. Ao HM, Ana Correia diz acreditar que a pressão está agora mais do lado dos professores e que o ensino online veio para ficar. Quanto à matéria que ficou por dar, a académica acha que “não haverá prejuízos”

 

[dropcap]Q[/dropcap]uais os principais desafios pedagógicos, que se colocam neste período escolar tão atípico?

São muitos os desafios e dizem respeito a professores, alunos, pais e às próprias instituições. Há muitos aspectos que estão aqui envolvidos e as pessoas não tiveram tempo para se preparar. Por isso, muitas das soluções encontradas acabam por ser apressadas ou encontradas por intuição para responder a problemas imediatos. Ou seja, devíamos ter sido preparados com muito mais tempo para entrarmos nesta viagem, que tem muitas surpresas e que não podemos evitar porque estamos todos nela. Falando dos alunos mais pequenos, é uma situação difícil porque não é possível mantê-los distanciados uns dos outros. Depois, os mais crescidos têm já uns meses de atraso porque houve indicações para não se introduzirem conteúdos novos. Portanto, os alunos estiveram ocupados a aprender, mas há espaços do programa curricular que não foram ensinados e isso vai ter consequências. Não digo que sejam insuperáveis, mas com certeza que no próximo ano, e nos anos seguintes, o currículo vai ter que ser repensado para colmatar este período em que andámos todos a marcar passo.

Quanto aos alunos que vão ser avaliados, existe pressão acrescida?

Isso está a ser discutido pelos responsáveis e aqui o princípio mais importante é não prejudicar os alunos, porque o que aconteceu não lhes é imputável, como também não é imputável às escolas. É necessário encontrar soluções que assegurem que os alunos não são de modo nenhum penalizados em termos de avaliação devido ao que está a acontecer. Não há soluções milagrosas. Penso que os professores, por exemplo, sentem essa pressão porque querem cumprir o programa o mais possível, mas não vai dar e, por isso, tem de haver compreensão de todas as partes e encontrar soluções que sejam o meio caminho entre o que é a perfeição e aquilo que é possível.

De que forma esta paragem forçada, onde deixou de haver rotina escolar, afectou os alunos, tanto a nível curricular como psicológico? 

Penso que os alunos devem estar muito contentes por regressar porque eles costumam gostar das férias, mas quando têm tempo limitado. Quando as férias são forçadas, os alunos costumam sentir saudades do convívio, da escola e daquela energia toda que anda ali à solta e, por isso, do ponto de vista da rotina, não haverá problema. Agora, não sei se do lado dos professores e dos pais será uma retoma total porque continua a haver receio de uma nova contaminação. Ou seja, há aqui um clima que é, por um lado, de alegria das crianças, mas por outro, um retorno à normalidade que, na verdade, é uma “nova normalidade”. Estamos todos mais ou menos em suspenso.

De que forma este período escolar atípico pode afectar os professores?

Para algumas escolas, as aulas vão terminar mais tarde e isso vai ter um preço. Não é por acaso que os anos lectivos têm paragens periódicas, a profissão docente é muito desgastante e intensiva. Por isso, os professores precisam de interrupções, precisam muitíssimo daquele período de Verão e agora, embora não tenham estado a trabalhar tão intensamente durante estes meses, não existiu uma paragem da actividade. Portanto, a sensação de recuperação de energias não existe. Acho que os professores vão chegar mais tarde desgastados ao Verão, porque há escolas que vão terminar no final de Junho e algumas até meio de Julho e receio que os professores não tenham tempo para recuperar, porque depois disso ainda há exames nacionais e a preparação do ano lectivo seguinte. Se não se decidir começar o próximo ano lectivo mais tarde, os professores vão ter um período muito pequeno de férias.

Que consequências antevê para o próximo ano lectivo?

As consequências vão existir para próximo ano lectivo, mas não só. Isto vai ter consequências para toda a educação, que não vai ser a mesma depois deste período. Há muita coisa que vai mudar. Estou convencida que o que nos está a acontecer é tão grave e tão profundo que vai ter implicações a todos os níveis. Até a própria arquitectura, as casas das pessoas vão ter que encontrar um modelo diferente porque a educação, percebeu-se agora, não precisa de acontecer numa sala de aula, numa escola. Há modelos de educação que já existiam e dos quais já se falava, mas que não eram levados a sério. Tenho a certeza que agora vão entrar no sistema com reconhecimento formal. Ou seja, vão deixar de ser só o trabalho de um grupo de professores carolas que gostam de ir ao encontro do que motiva os alunos, para fazer parte do sistema formal de educação. O uso das tecnologias digitais vai ganhar um peso muito maior na próxima reforma curricular.

Na sua opinião como tem corrido a aposta forçada no ensino online?

Temos aqui o exemplo da USJ, os alunos aprendem mais, estão mais motivados, estão mais presentes quando o ensino é online do que quando estavam nas salas de aula tradicionais. A diferença é incrível. Acredito completamente na integração entre diferentes tipos de aprendizagem, a todos os níveis. Desde a escola primária até à universidade penso que é possível. Não falo tanto do ensino infantil, mas acredito que a integração das tecnologias digitais vai acontecer muito mais rapidamente por causa da covid-19.

Na sua opinião que consequências podem resultar do ensino online? Os professores estavam preparados para esse desafio?   

O ensino online é complexo, interessante e variado. Temos aulas síncronas e aprendizagem assíncrona. Nas aulas síncronas, o professor está online directamente com os alunos. Temos softwares que nos permitem construir aulas interessantíssimas, como por exemplo o “Mentimeter” que permite fazer slides interactivos e outros que, entretanto, foram desenvolvidos e que vêm a enriquecer muito este novo tipo de ensino baseado na tecnologia. Depois temos a aprendizagem assíncrona, em que há tempo para a realização de tarefas autónomas que são carregadas através de uma plataforma digital. O factor tempo entra aqui como um elemento de controlo fundamental. Nas aulas tradicionais, muitos professores tendem a falar demais e a ocupar grande parte do tempo da aula e agora isso torna-se mais difícil, porque não há quórum. Como os alunos não estão lá fisicamente, o professor já sabe que na sua planificação tem que reservar um tempo para a aprendizagem centrada no professor e um segundo período da aula em que os alunos aprendem autonomamente. O factor tempo permite maior participação dos alunos, porque no ensino tradicional, outra tentação que por vezes existe é dar mais tempo aos alunos que aprendem mais rapidamente. Ou seja, são eles que falam, participam e os outros vão ficando na sombra.

De que forma a tecnologia pode estar mais presente no ensino?

As tecnologias digitais estão connosco há décadas, mas em segundo plano do sistema educativo, não estão integradas no currículo de forma transversal. Nós temos, por exemplo, a língua portuguesa que é transversal a todas as disciplinas do currículo, mas as tecnologias digitais, as chamadas TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação), não. Os alunos aprendem tecnologia na aula de tecnologia. Ora, isto é errado. As tecnologias deviam ser transversais, até porque é possível introduzi-las em todas as disciplinas. Para isso, é preciso formar professores. Penso que a situação vai mudar em relação a isso e mesmo as universidades e todas as instituições que têm a seu cargo a formação de professores, neste momento, estão com certeza a pensar em fazer uma reforma curricular e dar mais valor e reconhecimento às tecnologias digitais.

Que competências devem passar a ser privilegiadas pelos professores?

A primeira é a literacia digital. Os professores têm de saber trabalhar com os softwares que existem e têm de saber, pelo menos, tanto quanto os alunos. Depois os professores têm de ter consciência dos perigos que podem vir associados, por exemplo, à produção de vídeos, ou seja a questão da integridade académica. Sabemos que um vídeo pode facilmente ser carregado online e circular quase sem limite e num curtíssimo espaço de tempo. A usurpação de autoria de materiais e a circulação de materiais sem autorização é algo a que se deve prestar também atenção. Além da literacia digital e da questão deontológica da integridade académica diria que a terceira competência que um professor necessita é criatividade. Mais do que nunca os professores têm de ser criativos, têm de ir à procura e fazer auto-aprendizagem porque há milhares de ideias fantásticas online que podem ser adaptadas e, portanto, há uma parte que cabe a cada um. Deve haver desenvolvimento profissional organizado pelas escolas, pelas universidades e pela DSEJ, mas depois os professores também têm de fazer a sua parte.

Com tantas mudanças que pressão é colocada nos pais?

Os pais que têm crianças em casa vivem uma situação muito difícil por muitas razões. Porque as crianças não gostam de estar em casa, gostam de correr, têm uma necessidade enorme de gastar energia e em casa não o podem fazer. Por vezes, não existe um computador para cada membro da família, só existe um e isso pode gerar conflitos e porque os pais de facto não têm disponibilidade de assistir as crianças na realização dos trabalhos que os professores lhes pedem para eles fazerem. Felizmente, parece que estamos a chegar ao fim desse período, excepto nos casos do ensino especial e do ensino infantil. Em Macau, contudo, ao contrário de outros países, quase todas as famílias com crianças têm a ajuda de uma empregada doméstica.

Durante quanto tempo vamos correr contra o prejuízo curricular destes meses? O próximo ano lectivo será suficiente?

Tenho uma visão da educação que é por princípios e não por conteúdos. Penso que muito do que as crianças e os jovens aprendem nas escolas são pretextos para aprenderem a aprender e durante este período ficaram sem esses pretextos. Por isso, vão continuar o seu percurso e penso que não será um grande prejuízo. O que importa é que aprendam a aprender. Se não deram o conteúdo A ou o conteúdo B, terão as ferramentas que os habilitarão a ir à procura desses conteúdos e vão recuperá-los. Não estou convencida que seja um grande problema. Eu andava na escola secundária quando se deu o 25 de Abril em Portugal e também perdi muitos conteúdos e não penso que me tenham feito falta. Isso aconteceu desde Abril até Junho, por isso foi mais ou menos o mesmo período de tempo. Hoje em dia, se me perguntar se me prejudicou, respondo que não creio, porque a educação é algo maior que os conteúdos disciplinares cobertos num semestre, é um processo que começa quando entramos no jardim escola e que não termina enquanto estamos vivos. Porque o que nós queremos é que eles aprendam para a vida e o nosso modelo de ensino deve ser esse. A educação passa por criar-lhes a motivação. Se sabem os rios ou as montanhas, isso não interessa. Eles depois vão lá se quiserem.

ONU pede ao Governo de Hong Kong que retire as acusações a 15 activistas

[dropcap]E[/dropcap]specialistas em direitos humanos das Nações Unidas (ONU) pediram esta quarta-feira ao Governo de Hong Kong que retirem imediatamente o processo criminal a 15 activistas e ex-deputados pró-democráticos que participaram nas manifestações no território o ano passado.

“Ninguém deve ser submetido a sanções administrativas ou criminais por participar num protesto pacífico, mesmo que o regime que rege os protestos exija autorização”, apontaram os especialistas, segundo um comunicado de quarta-feira da ONU.

Milhões de pessoas protestaram em Hong Kong no ano passado em demonstrações que frequentemente terminavam em confrontos entre alguns dos manifestantes e a polícia, marcados pelo atirar de bombas incendiárias, pelo gás lacrimogéneo e pelo disparo de projécteis, a esmagadora maioria não letais.

As manifestações resultaram em milhares de detenções, entre elas proeminentes activistas e deputados, e de feridos, registando-se mortes associadas aos confrontos.

Na mesma nota, a ONU contextualiza que os 15 activistas pró-democracia foram detidos em Abril e foram acusados de ajudar na organização de concentrações “não autorizadas” ou pela participação nas manifestações. O julgamento deverá começar na segunda-feira.

“As acusações foram feitas num momento em que os protestos são restritos devido à prevenção da covid-19. As pessoas acusadas são todas figuras importantes no movimento pró-democracia. Tememos o efeito assustador que essas detenções pretendem ter em protestos pacíficos em Hong Kong”, disseram os especialistas.

O comunicado das Nações Unidas aconteceu no mesmo dia em que manifestantes pró-democracia voltaram a concentrar-se em centros comerciais da antiga colónia britânica, para celebrar de forma irónica o aniversário da líder de Hong Kong, Carrie Lam, que fez quarta-feira 63 anos e ainda para exigir quatro reivindicações.

A libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não fossem identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong, são as reivindicações.