Nam Kwong | Companhia de Gás Natural perde mais de 17 milhões

A Companhia de Gás Natural do grupo Nam Kwong registou em 2020 prejuízos superiores a 17 milhões de patacas, tendo em conta que, devido à pandemia, “as vendas de gás a natural estiveram aquém das expectativas”, com apenas 14.656 metro cúbicos vendidos em 2020.

A empresa diz ter gerado receitas de quase 88 milhões de patacas, enquanto que o custo de venda foi superior a 40 milhões. No ano passado a empresa fez ainda investimentos de quase 450 milhões de patacas em activos fixos e obras de construção.

A empresa emitiu um comunicado a dar conta do “impacto enorme” devido à pandemia. “Organizamos alojamentos para o pessoal da nossa empresa que tinha necessidade de residir temporariamente no território”, lê-se no relatório.

Este ano a empresa pretende “realizar as obras de passagem de tubagem por perfuração horizontal dirigida entre a Península de Macau e a Taipa”, instalar a tubagem principal na Península de Macau, para “permitir que os cidadãos, os estabelecimentos comerciais e industriais da Península de Macau utilizem o gás natural o mais rapidamente possível”.

1 Jul 2021

Metro Ligeiro | Linha da Ilha da Montanha entregue à Nam Kwong

O GDI prevê que linha de Hengqin do Metro Ligeiro comece a funcionar de forma experimental no espaço de quatro anos. A obra foi adjudicada à Nam Kwong, e a deputada Song Pek Kei defendeu que esta deve cooperar com empresas de engenharia locais no projecto

 

A obra da linha de Hengqin do Metro Ligeiro foi adjudicada à Nam Kwong União Comercial e Industrial, e a construção vai implicar um investimento global de cerca de 3,5 mil milhões de patacas, avançou o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) em comunicado. A escolha da empresa estatal foi justificada com o facto de se tratar de um “projecto de infra-estruturas fronteiriças entre Macau e Zhuhai”.

O Governo estima que esta linha entre comece a funcionar em modo experimental no espaço de quatro anos. “Vai-se proceder, posteriormente, aos trâmites relativos à adjudicação do sistema e material circulante, visando a conclusão do projecto e a sua operação experimental dentro de quatro anos”, indica o GDI.

A estrutura principal da linha da Ilha da Montanha, que terá um comprimento de cerca de 2,2 quilómetros e um troço em túnel que ronda os 900 metros, inclui um viaduto, um túnel subaquático e duas estações. Uma das estações é elevada, localizada junto da Ponte Flor de Lótus, enquanto a outra é subterrânea, no posto fronteiriço de Hengqin.

O GDI acrescentou ainda que o Governo “irá reforçar a passagem de correspondência entre o Metro Ligeiro e os autocarros mediante um plano geral em articulação com a construção das estações do Metro Ligeiro”.

Por outro lado, o serviço de assessoria de revisão independente do projecto fica a cargo da PAL Ásia Consultores, Limitada, a quem foi adjudicado por 10,45 milhões de patacas.

Velocidade reduzida

A deputada Song Pek Kei reagiu à adjudicação da obra à Nam Kwong indicando que compreende a escolha mas que o Governo deve requerer à empresa para cooperar com pequenas e médias empresas de engenharia locais para promover o emprego e a indústria da construção no território, noticiou o Jornal do Cidadão.

Song Pek Kei também apelou a uma supervisão do projecto da linha de Hengqin, para evitar atrasos sérios ou derrapagens. Em causa está o seu entendimento de que no passado a supervisão governamental de alguns projectos foi “negligenciada”. Para a deputada, o empreiteiro deve ser multado caso haja atrasos nas obras por sua culpa. E alertou para preocupações da população com a abertura e transparência do método de adjudicação directa, nomeadamente sobre como é que a empresa escolhida pode assegurar a qualidade e cumprir o período de construção sem excessos nos gastos.

Por outro lado, observou que não houve novidades relativamente à linha de Seac Pai Van, pedindo explicações ao Executivo sobre os motivos do atraso. Note-se que nas Linhas de Acção Governativa para este ano, o Governo apontou que as obras da Linha de Seac Pai Van e da ligação do metro à Ilha da Montanha avançavam “em breve”.

Na altura, previa-se que a construção da Linha de Seac Pai Van, que vai ter um comprimento de 1,6 quilómetros, começasse até ao final de 2020. No entanto, na página electrónica do GDI ainda não é apresentado o resultado da adjudicação, de entre as dez empresas admitidas a concurso.

O Governo já assegurou que a expansão da linha do metro vai continuar, apesar do número reduzido de passageiros. No mês passado, registou-se uma média de 1.700 passageiros por dia. Dados do GDI apontam ainda que a epidemia da covid-19 teve impacto nas obras da estação da Barra do Metro Ligeiro, causando um atraso de 45 dias.

22 Fev 2021

Nam Kwong | António Graça de Abreu recorda encontro em Macau como membro do PCP-ml

No pós-25 de Abril o Partido Comunista Português marxista-leninista era o único que mantinha relações com a China. Revelamos partes do diário de António Graça de Abreu que relatam a viagem que este fez a Macau, em 1980, para reunir, a mando do partido, com dirigentes da Nam Kwong

 

Macau, 20 de Novembro de 1980

[dropcap]O[/dropcap] Heduíno Gomes (Vilar), ainda como secretário-geral do PCP (m-l), recomendou-me em 1978 que eu, como membro e militante do PCP (m-l) na capital chinesa, quando viesse a Macau, apresentasse cumprimentos aos representantes do Partido Comunista da China em Macau, os camaradas que estavam à frente da companhia Nam Kwong. Era a fachada comercial do forte, mal conhecido pelos portugueses, do poder comunista na terra macaense.

O PCP (m-l), na altura já sem linha política bem definida, começava a estrebuchar. De qualquer modo, eis-me aqui, o ano passado e agora, como o rapazinho lusitano a trabalhar em Pequim na propaganda oficial chinesa, a encontrar os poderosos do PCC em Macau. Bem recebido, eis-me à conversa com um senhor simpatiquíssimo de que só agora, na segunda visita fixei o nome, o camarada O Cheng Peng, o dirigente máximo da Nam Kwong.

O competente intérprete do diálogo foi, de ambas as vezes, um tal senhor Lou Kói, que acabei de saber ser amigo de peito de uns tantos camaradas chineses que comigo trabalham na secção portuguesa das Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. Afinal estamos todos ligados.

Desta última vez, foram simples cumprimentos de circunstância, diálogos quase banais, mas fixei uma pergunta sibilina e inteligente que o camarada O Cheng Peng (Ke Chenping em mandarim) me fez. “O que é que acha dos portugueses de Macau?” E eu, tão ignorante, a responder-lhe, patrioticamente, mais ou menos o seguinte:

“Não sei muito sobre os portugueses daqui, mas parecem-me boa gente, vivem bem em Macau, conhecem mal a grande China, mas vão dando o seu contributo para Macau crescer e a cidade é fascinante.”

Nesses anos de 1979 e 1980 eu desconhecia a importância política de O Chen Peng e os entendimentos fundamentais que mantinha com os homens mais poderosos da China. A ligação entre o PCP (m-l) e a companhia Nam Kwong, que se estendia de O Chen Peng a Ma Mankei e a Ho Yin, era feita sobretudo, nas visitas a Macau, por José António Gusmão da Siva, funcionário do PCP (m-l) e, não por acaso, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa. Nessa altura, a preocupação principal do Departamento de Relações Internacionais do Partido Comunista da China, em Pequim, transmitida aos seus homens de confiança em Macau, era que nenhum português do Partido Comunista Português, de Álvaro Cunhal, ocupasse qualquer cargo de poder em Macau, e também nos governos em Portugal.

O Cheng Peng era natural de Haifeng, na província de Guangdong, e grande amigo do marechal Ye Jianying, nascido em Meixian, um pouco mais a norte, mas no mesmo Guangdong. Ye Jianying, um dos braços direitos de Mao Zedong em tudo o que às coisas da guerra dizia respeito (não nos esqueçamos, como afirmou Mao que “o poder está na ponta da espingarda”), era um velho militar que havia feito a Longa Marcha, chegou a comandante supremo do exército e seria o principal responsável, em 1976, pela prisão e aniquilamento do chamado “Bando dos Quatro”. Durante os tempos mais atribulados da Revolução Cultural, em 1966/1969, O Cheng Peng e Ye Jianying, de Macau para Pequim, de Pequim para Macau, mantiveram permanente contacto. Nesses anos, O Cheng Peng garantiu aos altos dirigentes chineses no poder em Pequim o total apoio do Partido, em Macau, no caso de ser necessário ajudar quadros superiores do PCC, se fossem perseguidos pelas hostes radicais maoistas. Macau podia ser o lugar de saída da China, ou de refúgio clandestino desses quadros, incluindo o próprio marechal.

Estes dois homens haviam-se conhecido em Hong Kong no início dos anos 40 do século passado. Ye Jianying, fugido então às perseguições dos nacionalistas de Chiang Kai-shek, fez várias visitas a Macau, conhecia a cidade desde 1943. Para além de opções políticas e entendimentos do mundo aparentemente semelhantes, algo muito forte e poderoso unia O Cheng Peng e o marechal Ye Jiangying. Falavam o mesmo dialecto e eram ambos da etnia hakka.

Para que este encontro acontecesse, António Graça de Abreu contou com o apoio do advogado Jorge Neto Valente, que já na altura contava com 10 anos de Macau. “Ele era advogado e tinha as suas ligações. Fiquei em casa dele e ajudou-me bastante”, confessa o agora tradutor e professor universitário que nunca viveu em Macau. No período do pós-25 de Abril, “Neto Valente também era amigo do Heduíno Gomes (Vilar)”.

“Disse-me: ‘vai falar com estes tipos’, e era preciso eu fazer isso porque tinha recebido ordens do PCP-ml para fazer o contacto.”

Quando visitou Macau, António Graça de Abreu nada sabia sobre o território, pois vinha directamente de Pequim, onde trabalhava, desde 1977, nas Edições Estrangeiras, além de dar aulas de português.

“A partir de 1976 andava próximo do PCP-ml. Em 1975 o Heduíno Gomes (Vilar) foi à China e os chineses pediram ao PCP-ml pessoas para trabalharem em Pequim, e eu fui”, recordou Graça Abreu, para quem o maoísmo deixou de fazer sentido pouco tempo depois.

O encontro com a Nam Kwong fez António Graça de Abreu perceber o mundo em que se encontrava. “Havia ligações muito fortes entre estas pessoas [da Nam Kwong] e figuras de Macau como o senhor Ho Yin ou Ma Man Kei. O Cheng Peng mandava mais do que todos os outros porque tinha as relações todas com Pequim.

Apercebi-me disso. Os portugueses praticamente não entravam dentro desta área”, rematou. À época, a Nam Kwong “tinha uma fachada comercial, a ideia era apostar na importação e exportação”. Mas, na prática, “eram eles que controlavam Macau e a comunidade chinesa”.

2 Jun 2020

Nam Kwong | A história da empresa estatal que fez muito mais do que comércio

Fundada em Agosto de 1949, a companhia estatal Nam Kwong sempre desempenhou um papel activo na representação do Partido Comunista Chinês em Macau. Além das actividades comerciais, a empresa tinha funções oficiais de cariz político, como comprovam documentos oficiais da CIA

 

[dropcap]A[/dropcap] história do grupo estatal Nam Kwong entrelaça-se com a história da República Popular da China (RPC) e as duas não sobrevivem uma sem a outra. Depois da implementação da RPC, em 1949, foi criada, em Agosto do mesmo ano, a Nam Kwong Trading Company.

O seu papel consistia em representar o Partido Comunista Chinês (PCC) num território que, à época, era administrado por portugueses, quando o país não mantinha relações diplomáticas com Portugal. A Nam Kwong assumia funções como empresa importadora e exportadora, operando com outras pequenas empresas que operavam como agentes ou subsidiárias.

No perfil histórico da empresa, consultado no website oficial, pode ler-se que a Nam Kwong é “a empresa mais antiga financiada pelos chineses de Macau”. O Cheng Peng [Ke Chenping em mandarim] foi o fundador e terá movimentado uma “geração mais velha de empresários” que com ele mantinham uma relação próxima.

A Nam Kwong começou a operar “num sótão alugado na San Ma Lo”, ou seja, avenida Almeida Ribeiro, em “condições difíceis e com um número de pessoal limitado”. Apesar disso, a empresa tinha “tarefas políticas e económicas extremamente importantes”. A primeira “era o fornecimento de produtos como grãos, óleo comestível, carvão e sal, entre outros bens necessários, de modo a assegurar a libertação final em todo o país”. De frisar que, depois de uma guerra civil com os nacionalistas do partido Kuomitang, a RPC participou na Guerra da Coreia, que durou entre 1950 e 1953.

“Por causa das condições históricas a empresa lidou com mais cargas do que Hong Kong, e muitas cargas de Hong Kong precisavam ser transportadas através de Macau. A rota estabelecida pela Nam Kwong deu grandes contributos para a guerra de libertação da China entre 1945 e 1949 e a guerra para resistir à agressão dos EUA e ajuda à Coreia do Norte”, lê-se no website.

Era um tempo em que “muitas encomendas eram transportadas”, pelo que houve uma necessidade crescente de expansão. “Os terminais e armazéns disponíveis não eram suficientes e as cargas tiveram de ser colocadas de forma temporária em armazéns alugados. Nos tempos difíceis, o senhor Ke [O Cheng Peng] liderou os membros fundadores da Nam Kwong para trabalharem dia e noite, tendo passado muitas noites sem dormir.”

As operações da Nam Kwong eram acompanhadas pela Central Intelligence Agency (CIA), dos Estados Unidos, como comprovam vários documentos confidenciais, entretanto tornados públicos, consultados pelo HM.

No início da década de 50, o comércio de bens e produtos operado pela Nam Kwong para a RPC era uma constante. A 24 de Janeiro de 1952, num relatório que só foi tornado público em Setembro de 1999, a CIA reportava o seguinte: “Em meados de Novembro de 1951 a companhia Nam Kwong adquiriu 7,000 placas de ferro e 3,000 de ferro branco em Hong Kong. A 10 de Novembro esses materiais foram contrabandeados em juncos de pesca para armazéns em T’ai P’ing em Macau. A companhia Wan Yuan, agente da companhia Nam Kwong, enviou os materiais para Cantão em juncos a motor.”

No mesmo relatório da CIA, comprova-se a tentativa de compra de armas a um negociante filipino. “Em meados de Novembro, Cruz e o seu filho, de Manila, voltaram a fazer a sua oferta para vender armas de combate a porta-aviões, espingardas e 30 milhões de munições para os comunistas chineses. Estas armas foram adquiridas antes por um comprador ao serviço dos comunistas chineses, mas Cruz e o seu filho recusaram fazer a entrega quando o comprador não cumpriu o que estava disposto no contrato.”

Do 1-2-3 aos anos 80

Com a implementação da RPC, a Nam Kwong “adaptou-se às mudanças das condições económicas, políticas e sociais e continuou a avançar”, lê-se no perfil histórico da empresa. Na década de 60 e no início dos anos 70, “a Nam Kwong focou os seus negócios nos terminais, armazéns, transporte de mercadorias e o comércio”. Foi nessa altura que foi criada a subsidiária China Travel Service (Macau) Ltd.

Até que, em 1966, acontece em Macau o motim 1-2-3, como sinal da Revolução Cultural que se vivia na China. Este motim levou a uma mudança interna na Nam Kwong, que “passa a estar sozinha em campo, já que as organizações nacionalistas congéneres, ou que se movimentavam na mesma área, são expulsas ou absorvidas pela própria Nam Kwong”, destaca João Guedes, jornalista e autor de vários livros sobre a história de Macau.

No período da Revolução Cultural, a Nam Kwong diz ter contribuído para a resolução da “escassez de alimentos em Macau”. “A Nam Kwong canalizou de imediato arroz de áreas vizinhas transportando-o para Macau. A empresa ajudou a estabilizar o mercado e a conter o aumento dos preços ao alugar mais armazéns e assegurando uma maior reserva de alimentos.”

Na década de 80, as coisas voltam a mudar. Num relatório da CIA de 15 de Julho de 1985, e que só foi tornado público em 2009, com o título “China-Macao: current status and prospects”, lê-se que “a China exerce a sua influência em Macau através de importantes personalidades e organizações”.

“A companhia Nam Kwong serve como organização representativa da China, emitindo vistos e tratando de outras funções oficiais. Tal como a New China News Agency em Hong Kong, a Nam Kwong recentemente dividiu-se em duas partes. Uma das partes destina-se ao cumprimento de deveres mais formais e representativos e outra parte destina-se ao comércio. A Nam Kwong anunciou que vai criar um departamento que se destina a recolher as visões dos residentes de Macau quando as negociações [para a entrega de Macau] começarem com a China”, pode ler-se.

Ligadas à Nam Kwong estavam também a agência de notícias Xinhua e o banco Nam Tung. “Lembro-me que, a certa altura, a Xinhua passou a encarregar-se oficiosamente da representação diplomática da RPC em países e regiões com os quais a RPC não tinha relações diplomáticas, ou em casos particulares como eram Macau e Hong Kong.”

João Guedes dá mais detalhes da separação interna ocorrida em 1984. “O Banco Nam Tung passou a assumir-se com o seu próprio nome Banco da China. A Agência de notícias Xinhua passou a dedicar-se às notícias. A Nam Kwong manteve o nome mas perdeu as suas componentes políticas, passando a dedicar-se exclusivamente ao comércio, continuando a pertencer ao Ministério do Comércio Externo da RPC.”

À época, “todas estas entidades passaram a exercer actividades em edifícios próprios diferentes. Antes estavam concentradas no edifício fronteiro ao BNU na Almeida Ribeiro que hoje alberga apenas uma agência do Banco da China”, aponta João Guedes. No perfil histórico da empresa descreve-se o que foi uma separação “das funções governamentais da sua gestão”, pelo que a empresa “passou a dedicar-se unicamente às actividades comerciais”.

O crescimento

A escolha de dirigentes da Nam Kwong nunca recaiu em figuras locais, pois os seus quadros vinham sempre do Ministério do Comércio Externo da China para assuntos comerciais. “A Nam Kwong nunca teve pessoas de Macau de confiança, pelo menos no que respeitava a quadros dirigentes e intermédios. As pessoas de Macau de confiança estavam na Associação Comercial, como Ho Yin, Ma Man Kei ou Chui Tai Kei”, aponta João Guedes.

Com o programa de reforma e abertura levado a cabo por Deng Xiaoping, Presidente da RPC entre 1978 e 1992, o próprio grupo Nam Kwong expandiu-se. Em Agosto de 1985 o Governo Central aprovou a inclusão da Nam Kwong Company Limited no grupo Nam Kwong, tendo-se iniciado “uma nova fase”. “No início da década de 1990, a Nam Kwong cresceu para uma empresa com mais de 30 subsidiárias e mais de 1000 funcionários”, lê-se ainda.

Com escritórios sediados em vários países, a empresa olha hoje para os projectos nacionais Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e “Uma Faixa, Uma Rota”. Para João Guedes, não se esperam grandes mudanças no seu modus operandi. “Enquanto o regime da RPC se mantiver não prevejo qualquer alteração importante na estrutura e objectivos estratégicos da Nam Kwong. Apenas eventuais alterações pontuais de políticas decorrentes de exigências comerciais, ou politico-comerciais.”

A relação com a comunidade chinesa, essa, está de pedra e cal, como sempre foi. “É boa porque foi cimentada durante décadas de cooperação mútua, principalmente com a elite da classe empresarial local. Continua a ser umas das empresas que emprega a quantidade mais significativa de trabalhadores em Macau e além disso estando ligada aos campos mais diversos da economia”, aponta João Guedes.

Mesmo sem a componente política, o grupo Nam Kwong “continua a ser visto como a generalidade das pessoas como uma empresa do Estado, com todo o peso que essa percepção acarreta em Macau”.

Albano Martins, economista que chegou a Macau no início dos anos 80, revela que já na altura a Nam Kwong dominava o circuito de importação de produtos da grande China. “Sei que a Nam Kwong dominava supermercados e o circuito de importação. Havia uma explicação teórica de que a Administração não tinha a capacidade para dominar todo este circuito e assim só tinha um grande importador que, como empresa estatal, lhe facilitava a vida.”

Numa economia onde existe o problema da inflação, muitos analistas defendem a liberalização do mercado de importação, mas Albano Martins acredita que será difícil mudar este cenário. “A Nam Kwong tem um peso relativamente grande na economia mas ninguém sabe mais porque as contas não são divulgadas. É difícil falar da Nam Kwong. Não é bom uma sociedade que se diz livre no sentido da economia de mercado ter circuitos que estão completamente dominados pela Nam Kwong. Há muita hipocrisia no meio disto tudo, quando se fala de uma economia de mercado livre”, rematou.

Comércio | Movimentações em tempo de guerra

Se a Nam Kwong tem hoje o peso importante de uma empresa estatal ligada ao comércio, houve tempos em que o seu posicionamento político em Macau era muito forte, cumprindo ordens do Partido Comunista Chinês (PCC), como comprovam documentos outrora confidenciais da Central Intelligence Agency (CIA).

Num relatório de 17 de Outubro de 1950, em plena Guerra da Coreia, na qual a China participou, revela-se que a Nam Kwong deveria estar atenta às decisões de Mao Tse-tung. “Ku Ta-tsun, presidente do município de Cantão, chegou a Macau para cumprir as suas tarefas como director do departamento do sul da China do PCC. No dia da sua chegada ele promoveu uma conferência secreta para todo o pessoal da Comissão Especial Comunista de Macau na Nam Kwong.”

Nesse encontro, foi decretado que os membros dessa comissão que “não revelaram as suas identidades estão proibidas de o fazer nas actividades seguintes”. “O comércio de bens por via terrestre e o seu envio vai aumentar. Deve haver uma preparação para uma mudança repentina da situação em Setembro e Outubro. Os membros do grupo foram alertados caso as forças americanas abrirem uma segunda frente na Coreia, Mao Tse-tung irá invadir o Vietname e provavelmente atacar Taiwan ao mesmo tempo.”

Contudo, nem tudo correu bem. Em 1951, havia suspeitas de corrupção nas transacções comerciais. O relatório intitulado “Proposed closure of Chinese communist trading organizations in Macao”, apenas tornado público em 2001, revela que o “encerramento de uma das organizações de comércio em Macau foi ordenada pelas autoridades de Pequim depois de uma investigação do partido, enviada para Macau em Setembro de 1951”. Esta “veio confirmar os relatos de que os agentes comunistas chineses em Hong Kong e Macau eram extremamente corruptos, aumentando os preços nas importações e baixando os preços nas exportação para ganho pessoal”.

2 Jun 2020

Pedido fim de monopólio da Nam Kwong na gestão de combustíveis

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação da Sinergia de Macau, Lam U Tou, apontou o dedo à Nam Kwong como parte do problema do preço elevado dos combustíveis em Macau. Num texto partilhado no Facebook da associação, e no jornal Ou Mun, Lam começa por destacar a forma como a acentuada queda do preço do barril de petróleo não se reflectiu no custo da gasolina, gasóleo e gás.

A razão que leva os residentes a pagarem mais pelo abastecimento do carro, na visão de Lam U Tou, é a posição de vantagem no mercado da Companhia de Produtos Químicos e Petrolíferos Nam Kwong. Segundo o dirigente associativo, o monopólio da empresa estatal impede o mercado livre, situação que só pode ser combatida através da gestão pública do Depósito de Combustíveis de Ká-Hó e da reforma regulamentar dos concursos para bombas de gasolina.

De acordo com os dados da Direcção dos Serviços de Economia, em Abril o preço médio de importação de gasolina sem chumbo foi de 3,68 patacas por litro, com um preço máximo de venda na bomba de 11,58 patacas e mínimo de 11,17 patacas. A diferença de preços do gasóleo ainda foi mais acentuada, com o litro importado deste combustível a custar em média 3,42 patacas, preço que subia nas bombas para valores entre 13,13 e 12,12 patacas.

Face a este cenário, Lam U Tou entende que o preço pago pelo consumidor é “irrazoável e inconsistente com a lógica comercial”, o que levanta dúvidas quanto à possibilidade de manipulação de preços.

Pobre negócio

Uma outra situação que incomoda o presidente da Sinergia de Macau é o facto de o contrato de concessão do terreno onde está situado o depósito de combustíveis ter chegado ao fim em 2018 e da promessa não cumprida de o Governo rever o contrato.

Lam U Tou criticou a posição de pouca força negocial e falta de responsabilidade a tratar do contrato, nomeadamente ao não publicar os detalhes dos termos de utilização e os custos de operação do depósito de combustíveis.

Elementos que, quando somados, convencem o dirigente associativo de que não existe em Macau um mercado livre de combustíveis, e que colocam óbvios entraves à entrada de novos operadores no mercado.

15 Mai 2020

Nam Kwong | Doação de quatro mil litros de álcool desinfectante

[dropcap]O[/dropcap] Grupo Nam Kwong decidiu doar 3,4 toneladas de álcool desinfectante, ou seja, quatro mil litros, ao Governo para “apoiar os trabalhos de prevenção e combate à epidemia” do coronavírus. A remessa foi ontem entregue ao secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, pelo presidente do conselho de administração do Grupo Nam Kwong, Fu Jianguo.
De acordo com um comunicado ontem emitido, esta doação faz com que o Governo fique com mais de dez toneladas de álcool desinfectante, pelo que “existe actualmente no território uma quantidade suficiente de álcool desinfectante a ser aproveitado como matéria-prima para a fabricação de produtos de desinfecção para a população em prol dos trabalhos de prevenção e combate à epidemia”.
Quem também participou nesta operação foi o deputado à Assembleia Legislativa Si Ka Lon, que coordenou o serviço de embalagem de garrafas de desinfectante levado a cabo pela Fábrica de Produtos Farmacêuticos Macau-União, Limitada.
Esta não é a primeira vez que o Grupo Nam Kwong, um dos mais importantes grupos comerciais e empresariais do território, faz donativos ou concede ajudas no âmbito do coronavírus. Isto porque “o Grupo Nam Kwong não só ajudou o Governo na aquisição urgente, nos períodos antes e depois do ano novo lunar, de grande volume de materiais para a prevenção de epidemia (tais como máscaras), mas também desempenhou os trabalhos como transporte e declaração alfandegária para esses materiais”.

10 Fev 2020

Nam Kwong | Doação de quatro mil litros de álcool desinfectante

[dropcap]O[/dropcap] Grupo Nam Kwong decidiu doar 3,4 toneladas de álcool desinfectante, ou seja, quatro mil litros, ao Governo para “apoiar os trabalhos de prevenção e combate à epidemia” do coronavírus. A remessa foi ontem entregue ao secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, pelo presidente do conselho de administração do Grupo Nam Kwong, Fu Jianguo.

De acordo com um comunicado ontem emitido, esta doação faz com que o Governo fique com mais de dez toneladas de álcool desinfectante, pelo que “existe actualmente no território uma quantidade suficiente de álcool desinfectante a ser aproveitado como matéria-prima para a fabricação de produtos de desinfecção para a população em prol dos trabalhos de prevenção e combate à epidemia”.

Quem também participou nesta operação foi o deputado à Assembleia Legislativa Si Ka Lon, que coordenou o serviço de embalagem de garrafas de desinfectante levado a cabo pela Fábrica de Produtos Farmacêuticos Macau-União, Limitada.

Esta não é a primeira vez que o Grupo Nam Kwong, um dos mais importantes grupos comerciais e empresariais do território, faz donativos ou concede ajudas no âmbito do coronavírus. Isto porque “o Grupo Nam Kwong não só ajudou o Governo na aquisição urgente, nos períodos antes e depois do ano novo lunar, de grande volume de materiais para a prevenção de epidemia (tais como máscaras), mas também desempenhou os trabalhos como transporte e declaração alfandegária para esses materiais”.

10 Fev 2020