A rua era nossa, foi minha Andreia Sofia Silva - 1 Abr 2020 [dropcap]H[/dropcap]ouve tempos em que morei ao pé do jardim Luís de Camões numa casa inteira, mas pequena, só para mim. A localização era perfeita: estava ao pé da biblioteca do Tap Seac, do café Honolulu, da Cinemateca Paixão, do restaurante Afonso e dos bares Che Che e Mico. Durante o dia frequentava os três primeiros lugares, à noite os restantes. Aquela rua quieta, aonde não ia vivalma, era nossa. Primeiro jantávamos no Afonso, depois passávamos para o Che Che, cigarro atrás de cigarro, e depois terminávamos a noite no Mico. Às vezes começávamos a noite no Mico e bebíamos whisky japonês. Durante a semana ou aos fins-de-semana, conforme a disposição e a vontade de qualquer coisa. Aos meus poucos leitores, peço que me desculpem esta onda de saudosismo, mas quando soube da morte do Pedro Ascensão, este domingo, recordei-me destes tempos em que subia aquela rua que fazia as minhas noites. Dono de um feitio muito particular, Pedro era capaz de pôr pessoas no olho da rua como também contava as histórias fascinantes dos tempos em que deu aulas no Alentejo e dormia ao relento, depois de andar quilómetros de motorizada. Aconteceu comigo. A minha casa foi vendida, saí. Pedro morreu e o Afonso fechou o restaurante. Aquela rua, que era nossa, e que foi minha, terá agora outra forma.
A hora das pequenas coisas Nuno Miguel Guedes - 1 Abr 2020 [dropcap]E[/dropcap]nfim, nem tudo pode ser mau, embora pareça. Este tempo deu-me oportunidade para fazer algo que já pratico regularmente com algum prazer: reler. Mas as escolhas agora são feitas em função destes dias e portanto não é por acaso que regressei a um dos meus livros mais acarinhados e que carrega o maior número de notas nas margens (sim, sou desses. E a caneta). Trata-se de Cartas A Lucílio, de Lúcio Aneu Séneca (4 a.C- 65 d.C.). É uma demonstração prática da filosofia estóica sob forma epistolar e que ao longo dos anos em que o tenho lido me ajudou a criar a minha visão do mundo e da vida. E mais uma vez não me falhou. Eis a abertura da primeira carta: “Procede deste modo, caro Lucílio: reclama o direito de dispores de ti, concentra e aproveita todo o tempo que até agora te era roubado, te era subtraído, que te fugia das mãos”. E mais à frente: “Nada nos pertence, Lucílio, só o tempo é nosso”. Aqui está então um dos maiores desafios destes estranhos dias: o que fazer com o que sempre foi nosso? Descobrimos com surpresa que não estamos preparados para o ócio no seu sentido mais nobre. Há uma proporção e uma hierarquia diferente de coisas e sentimentos, perspectivas que se modificam, pontos de fuga que se esvaem. Redescobrimos a profunda importância das pequenas coisas e acarinhamo-las. Recuperámos por exemplo a noção de ausência. Para nós, portugueses, recuperámos da pior maneira um atavismo nacional: a saudade. E felizmente que o estamos a usar. Recuperámos a vontade de um sorriso, de um passeio, de uma paisagem, de um abraço. Há o sentimento real de que a nossa vida nos foi tirada em vida. As emoções surgem com um altíssimo grau de pureza que assustaria até o mais veterano dos toxicodependentes. Não ficarei insultado se alguém me disser que o aqui escrevo não passam de truísmos. São-no, de facto; e se os uso é porque também eu preciso deles para me reassegurar e encontrar alguma ordem num labirinto construído à revelia da minha vontade. Provavelmente será sempre assim quando somos confrontados com o tanto que temos por garantido, os ínfimos pormenores essenciais que sustêm a nossa fragilidade que se passeia pelos dias. Vivemos no mundo da Alice de Lewis Caroll, onde tudo é certo e nada é certo. Ferem-me agora uns versos que fiz para um fado baseado nessa personagem extraordinária e que reflecte alguém perdido dentro da sua vida: “Todas as coisas são estranhas / Todas as dores são tamanhas/ E eu o seu inventário”. Não gosto de profecias e muito menos quando sou eu que as faço. Mas nestas horas turvas reparai na beleza possível, amigos. Acarinhai-a. Que grandes ficam as pequenas coisas. Recebo agora de um amigo-irmão uma versão apressada, hesitante, ansiosa do Suzanne de Leonard Cohen. Este meu querido amigo, músico e autor extraordinaire, alimenta o meu isolamento com o dele. E isto é tão simples e tão pequeno e portanto, na nova matemática dos dias, é igual a infinito.
Cumprir a mão João Paulo Cotrim - 1 Abr 2020 Palhavã, Lisboa, segunda 3 Fevereiro [dropcap]A[/dropcap] notícia da morte de George Steiner (1929-2020) apanha-me prostrado, tentando afastar do pensamento por razões práticas a sempre próxima. Tão próxima que se fez querida. Na arrumação dos dias, agigantou-se a mesa de cabeceira, ou talvez a estante se tenha aproximado ainda mais do lugar onde tombo a cabeça. Estendo a mão e puxo o robusto introito à obra e figura do mestre, composto e interpretado a quatro mãos por José Pedro [Serra] e Ricardo [Gil Soeiro], «George Steiner, Das cinzas do silêncio à palavra de fogo» (ed. Exclamação). A poesia e o programa do título cumpre-se em vários ensaios dos queridos organizadores, além do «elogio» e resposta aquando do doutoramento Honoris Causa, em 2009, de uma entrevista e de utilíssimas bibliografias. Atenho-me em «Steiner ou Palavra Viva», no qual José Pedro desenha o perfil do pensador a partir das suas entrevistas e que se resume na frase que sublinho a lápis, que devia aprender de cor: «o seu humanismo consiste, com a ajuda dos melhores, em colocar o homem perante os múltiplos cantos de todas as Esfinges, em procurar olhar os abismos da alma, em lançar o pensamento até ao limite do compreensível, em proclamar a superioridade do Bem, em aludir à misteriosa e inefável experiência do Belo.» Parêntesis longo: as páginas iniciais desenvolvem notáveis argumentos para a instituição da entrevista enquanto género literário e dos mais radicais elogios que me foi dado ler sobre tão menosprezada prática (mais ou menos) jornalística. «A entrevista é lugar único e inimitável para uma característica formulação de um pensamento, para a experiência de um sentimento, de um entusiasmo poético, para o eco do pulsar cardíaco de uma revelação ou de uma inquietação.» O essencial está na «visão encarnada» das ideias a habitarem o tempo daquele individuo, tendo invariavelmente por perto a Senhora Morte, dada a nudez radical que se exige aquele que se joga na entrevista. «Esta coloca-nos não apenas perante a ideia, mas perante o homem que pensa a ideia, não apenas perante o sentido de um caminho sugerido, mas perante o homem que arrisca o caminho, que o trilha e o desbrava». Parêntesis fechado. O Steiner que aqui se desbrava, feito percurso e planeta resulta de um magma de alta cultura europeia, com andantes raízes no judaísmo, assombrado pelo Mal impensável entrevisto no Holocausto, em busca incessante pelo Sentido e pelo Absoluto em diálogo com o Transcendente, talvez Deus. Interpela-me o «cancro do pensamento», a «patologia do absoluto» que Deus, incandescente até na sua ausência, nos terá inoculado de modo a que qualquer interpretação seja uma interpelação. Encontro estranho conforto nesta tessitura entre a questão de Deus, em mim adiada, e o mergulho em apneia no texto. Sem esquecer o desencanto das construções políticas, a tragédia do aparente falhanço das utopias. Em frutuoso diálogo, José Pedro discorda de Steiner quanto à «tragédia absoluta», espécie de buraco negro, pois encontra no coração das trevas «sempre um resistente traço de luz que se recusa a extinguir, rebelde traço oposto ao negro traço deixado pela tragédia.» Quero crer em uma rebeldia de luz, com raiz na palavra. Que outra forma teríamos de desenhar chão ou céu? Palhavã, Lisboa, quarta 18 Março A máscara no rosto faz com que a respiração me embacie os óculos, e a limpeza das lentes a cada passo parece apropriada para o que de explosivo contém este número 87, 88 e 89 d’«A Ideia», a revista de cultura libertária, companheira de há muito, que me fez chegar o velho e querido amigo António [Cândido Franco], seu director (que digo? alma). Não se encontrará hoje, entre nós, publicação mais desafiante, capaz de propor pensamento nas mais díspares direcções, de recolher pistas das mais distintas tradições de resistência e produção de paisagens outras. Este número entusiasma de tão exemplar, na sábia mistura de dossiers (escrita automática e surrealismo, com texto notável de síntese e potência do António, além de interessante inquérito, mas também em torno de Agostinho da Silva ou sobre anarquismo), de poemas e contributos artísticos (de que o trabalho de Maria João Vasconcelos nesta página é marcante exemplo, uma ilustração para estas horas difusas, em que não sabemos se subimos ou descemos, em que deixámos de ver o chão, mas não sabemos onde colocar os pés), de textos literários e reflexões (Schwob, Tolstoi, Zweig, Verlaine, Anselm Jappe, José Manuel Martins), de atenção às efemérides (A Batalha), de evocações afectivas (Bruno da Ponte, Alexandre Vargas), de traduções inéditas de documentos, como este «Ruptura inaugural», de 1947, e que acaba por contaminar tudo nas páginas seguintes. É que o surrealismo não se afirmava «apenas» enquanto movimento literário, mas revolução interior, gesto capaz de radical «resolução de conflitos que bloqueiam o acesso a toda a liberdade, estejam eles entre o sonho e a acção, o maravilhoso e o contingente, o imaginário e o real, o exprimível e o indizível, a candura e a ironia, o fortuito e o determinado, a reflexão e o impulso, a razão e a paixão, exemplos particulares de uma antinomia mais vasta, contrapondo, no mais profundo da natureza humana, o desejo e a necessidade.» Esse relâmpago rasga a diversidade do volume, que se desmultiplica em tantas outras leituras, se cristaliza e dispersa, que interroga e consola, que perturba e apazigua: a poesia enquanto o princípio e a fonte de todo o conhecimento. Santa Bárbara, Lisboa, sexta 20 Março Este parêntesis (não será antes movediças reticências?) em que mergulhámos dá-nos a falsa sensação de que a vida se suspendeu, mas ela continua sob todas as suas formas. Até a habitual morte. Deixa-nos Rogério Petinga (1935-2020) que, sobretudo na Quetzal da prometedora origem, desenhou livros com cuidados de barroca filigrana aproximando leitores de autores fundamentais. Santa Bárbara, Lisboa, domingo 22 Março Recebo uma folha, que parece tombada de árvore outonal, portanto desalinhada com as estações, com marca das hastes e restos de seiva. Diz a Sara: «eu por aqui, vou-me podando. E às plantas também. Observo, espero por notícias que a mão vai cumprindo, sem a turvez e a hesitação que cá dentro acontece. Identifico as ervas daninhas que na sua característica persistência invadem com teimosia e arranco-as com suavidade, na esperança de que cá dentro se lhe copie o modo. Olho para aquelas que já não darão frutos, apesar de todos os cuidados e atenção e com uma coragem muda assumo o seu fim honrando-as numa nova existência.» Deixo divagar com as notícias que a mão vai cumprindo.
Ensino Superior | Exame de Acesso realizado este mês Hoje Macau - 1 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] Exame Unificado de Acesso ao Ensino Superior de Macau para o próximo ano lectivo vai decorrer entre 16 e 19 de Abril. As datas foram acordadas depois de um encontro entre os representantes da Universidade de Macau, Instituto Politécnico de Macau, Instituto de Formação Turística de Macau e Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Os exames avaliam as disciplinas de Português, Chinês, Inglês e Matemática e servem para aceder às instituições em causa. Face à pandemia da covid-19, há medidas especiais para a realização das provas que passam pela utilização de máscaras, reforço de limpeza e desinfecção das salas de exame, maior distância entre as cadeiras e o preenchimento da declaração de saúde.
Fluxo de passageiros no aeroporto internacional de Macau desce 45% Hoje Macau - 1 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] número de passageiros no Aeroporto Internacional de Macau caiu 45 por cento, entre o início do ano e 30 de Março, enquanto os voos caíram 55 por cento, em relação ao período homólogo em 2019, de acordo com dados divulgados ontem pela CAM, a sociedade que gere o aeroporto. “Devido à epidemia desencadeada pela covid-19 desde o início deste ano, a procura pela indústria da aviação caiu drasticamente”, apontou em comunicado a entidade. A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, que também divulgou dados ontem, especificou que em Fevereiro houve um total de 1.138 voos comerciais, o que representou uma quebra de 79,6 por cento em relação a Fevereiro de 2019, com particular destaque para os voos entre Macau e o Interior da China que diminuíram 88,4 por cento.
IAM | Proibida circulação de bicicletas nos trilhos de Macau João Santos Filipe - 1 Abr 2020 O Governo está a impedir a circulação nos trilhos, o que faz com que os praticantes do ciclismo todo-o-terreno fiquem sem qualquer lugar para a modalidade. Segundo o IAM, os ciclistas podem utilizar as ciclovias alcatroadas [dropcap]O[/dropcap] Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) está a impedir a circulação de bicicletas nos trilhos, o que faz com que os fãs da modalidade todo-o-terreno (BTT), ou seja de ciclismo fora de estrada, fiquem sem locais para praticar desporto. O IAM justifica a medida com a necessidade de garantir a segurança das pessoas que caminham nos trilhos. Porém, para os praticantes ouvidos pelo HM nada impede que se criem vias especiais só para as bicicletas, ou que estas estejam autorizadas a circular em determinadas horas. O que é visto como incompreensível é o facto de se ter optado pela proibição sem alternativas. “Os praticantes da modalidade sentem uma enorme frustração e preocupação ao verem as autoridades de Macau impedirem, de forma sistemática e activa, a prática deste desporto. […] O Governo utiliza como argumento a segurança. E só tenho a dizer que concordo, respeito e até acompanho a preocupação”, começou por ressalvar Ricardo Lopes, residente que pratica BTT há mais de 30 anos. “Mas a forma de resolver este assunto não é escorraçar os ciclistas, atirá-los para debaixo do tapete, como se fossem um não-assunto. Não quero enviar farpas, mas é abusivo agir desta forma porque a proibição torna-nos completamente discriminados em relação aos outros desportos. Com a proibição não temos um único local para praticar este desporto”, explicou. A mesma opinião é partilhada por Sérgio Guiu, que também defende alternativas para a circulação das bicicletas em condições de todo-o-terreno. Praticante há mais de 20 anos, admite que já foi por várias vezes expulso dos trilhos pelos trabalhadores do IAM: “O Governo deveria de forma clara criar condições e autorizar a prática do BTT. Não vejo uma razão para que não se criem estas condições”, considerou. “Os trilhos onde as pessoas fazem caminhadas teriam sempre que exigir que houvesse prioridade para quem está a pé. Também tem de haver uma moderação da velocidade por parte dos ciclistas. Aceitamos isso. Mas, paralelamente nada impede que se criem trilhos que possam ser utilizados para a prática de BTT. Não vejo razão para o Governo não o fazer”, apontou. Lugares recomendados Ao HM, o IAM justificou a proibição com a segurança das pessoas que caminham nos trilhos. Por outro lado, defendeu que o Regulamento Geral de Espaços Públicos permite proibir a circulação das bicicletas, apesar do Despacho do Chefe Executivo n.º 432/2005, que complementa o regulamento, abrir uma excepção para a entrada de bicicletas nos trilhos. “Circular de bicicleta nos trilhos pode representar um perigo para o condutor e para as pessoas que caminham neste espaço público. A proibição de utilizar a bicicleta nos trilhos está devidamente assinalada em todas as entradas e saídas dos trilhos, sendo que o infractor pode ser punido nos termos do Regulamento Geral de Espaços Públicos”, sustentou o organismo ao HM. “Para a sua segurança e dos utilizadores dos trilhos, os ciclistas devem usar a ciclovia da Marginal da Taipa ou a ciclovia Flor de Lótus”, foi acrescentado pelo HM. Estes espaços são alcatroados, o que impede a prática de BTT. No entanto, Ricardo Lopes, praticante e advogado, faz uma leitura diferente do IAM, uma vez que entende que o despacho assinado por Edmund Ho, que complementa o Regulamento Geral de Espaços Públicos, permite mesmo a circulação de bicicletas nos trilhos. Quanto à Associação Geral de Ciclismo de Macau, contactada pelo HM, através do representante e deputado Chan Chak Mo, apontou que houve conversas anteriores com o Governo sobre o assunto. Na altura, o IAM terá escutado opiniões da associação sobre a criação de um espaço temporário só para bicicletas BTT. “Concordamos com a sugestão e esperamos que essa zona seja criada. Segundo o Executivo, deverá ser complicado ter uma zona permanente, mas uma temporária pode ser mesmo criada. E estamos de acordo”, afirmou Chan Chak Mo, ao HM. Questionado sobre este projecto e uma possível data de arranque, o IAM não respondeu.
Segurança | PJ fica com vagas de contratação dos Bombeiros e PSP João Santos Filipe - 1 Abr 2020 Com poderes reforçados para combater as ameaças ao Estado, a Polícia Judiciária vai precisar de contratar mais agentes. Só na área forense está prevista a contratação de 58 técnicos e técnicos superiores [dropcap]A[/dropcap] execução das Lei de Defesa do Estado, Cibersegurança e Criminalidade Informática carece de reforço dos quadros da Polícia Judiciária (PJ). Para o efeito, vão ser disponibilizadas vagas de contratação de pessoal do Corpo de Bombeiros (CB) e Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). A informação foi transmitida por Wong Sio Chak, após uma reunião na Assembleia Legislativa para discutir o regime de carreiras especiais da PJ. “Tendo em conta que foram aprovadas várias leis, nomeadamente a Lei da Segurança do Estado, Cibersegurança, entre outras, é necessário aumentar o número do quadro de pessoal da Polícia Judiciária”, afirmou Ho Ion Sang, presidente da 1.ª Comissão da AL. “Sabemos que há falta de pessoal na PJ, que vai enfrentar cada vez mais trabalho, devido a essas leis. Por isso, é necessário contratar mais talentos para esta área, também de forma a satisfazer as necessidades de investigação criminal”, acrescentou. A transferência das vagas, em vez do aumento do número de pessoal da tutela, tem em conta a política prometida por Ho Iat Seng no programa de candidatura a Chefe do Executivo. Segundo essas linhas de orientação, o Governo ia evitar ao máximo aumentar os seus quadros e proceder a contratações de forma muito rigorosa. “No novo mandato o governo da RAEM tinha referido que ia ser mais exigente na contratação de trabalhadores. Portanto, o secretário referiu que em vez de aumentar o número de vagas para contratação na sua tutela que iria transferi-las para a Polícia Judiciária”, apontou o deputado. Ainda de acordo com Ho Ion Sang, os deputados presentes na reunião da 1.ª comissão não mostraram qualquer reserva perante a medida. Mais 58 contratações O conjunto de leis mencionado anteriormente explica a necessidade de proceder a 58 novas contratações. Assim sendo, o número de técnicos superiores de ciências forenses vai crescer dos actuais 23 para 56 profissionais. Já o número de técnicos forenses vai quase triplicar, de 13 para 38. O presidente da comissão explicou ainda que as vagas serão ocupadas por pessoal altamente especializadas para a recolha de provas materiais. Por exemplo, vão ser contratados técnicos especializados em química, a pensar nos crimes de droga, biologia, para análise de ADN, ou em engenharias e física, a pensar na balística.
Operadoras | Diversificação não deve atropelar PME, defendem deputados Pedro Arede - 1 Abr 2020 Os deputados querem que o Governo exija às operadoras uma aposta maior em actividades fora do âmbito do jogo e deram mesmo ideias a ser incluídas nos futuros contratos de concessão. No entanto, estas não devem entrar no raio de acção das pequenas e médias empresas [dropcap]P[/dropcap]ara muitos deputados, a crise provocada pelo surto do novo tipo de coronavírus veio pôr a nu a necessidade de apostar na diversificação económica de Macau e, por isso mesmo, foram inúmeras as ideias lançadas ontem pelos próprios sobre o que deve ser exigido às operadoras de jogo, nos futuros contratos de concessão, depois de 2022. Contudo, numa sessão plenária dedicada a interpelações orais, os deputados alertaram o Governo que estas actividades além-jogo não devem colidir com os negócios tradicionais das pequenas e médias empresas (PME), como a restauração e o retalho. As intervenções surgiram na sequência de uma interpelação oral de Si Ka Lon sobre a necessidade de se investir noutras indústrias além do jogo, para se promover Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer A organização de eventos desportivos e culturais foram desde logo as actividades além-jogo apontadas pelos deputados Mai Chi Seng e Mak Soi Kun, nas quais as concessionárias deviam apostar. “É necessário entender bem a definição de actividades além-jogo. Por exemplo, penso que podemos pensar em competições desportivas e eventos de grande dimensão que impliquem convidar cantores de renome e para os quais o Governo não tem capacidade de investir. Já se a competitividade além-jogo for só no sector da restauração, isso não é realista, porque vai contribuir para criar maior concorrência”, expôs Mak Soi Kun. Já o deputado Wang Sai Man sugeriu que sejam atribuídas às concessionárias a responsabilidade de revitalizar um determinado espaço geográfico dentro da cidade, para “evitar que o consumo da população seja desviado para os grandes complexos em detrimento dos sectores tradicionais”. Para proteger as PME, o deputado Zheng Anting sugeriu ainda que as operadoras pudessem assumir alguns dos negócios do sector tradicional. Outros deputados como Chui Sai Peng ou Pang Chuan sublinharam que a indústria do jogo contribui para impulsionar outros sectores de actividade, com o último a sugerir que seja desenvolvida em Macau “uma indústria da produção de cartas e slot machines”. Na resposta, o director dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), Paulo Martins Chan considerou “preciosas” as opiniões dos deputados e assegurou que serão tidas em conta pelo o Governo, quando chegar a hora de assinar os novos contratos com as operadoras. Turistas, precisam-se Sobre o desenvolvimento de Macau como Centro Mundial de Turismo e Lazer, a Directora dos Serviços de Turismo, Maria Helena de Senna Fernandes afirmou que apesar de o objectivo ser o de “atrair cada vez mais turistas internacionais”, a situação provocada pela covid-19 obriga a apostar, no imediato, no mercado do Interior da China por ser mais “prático” e pelo actual contexto internacional. Defendendo que “atrair turistas para Macau é trabalho do Governo”, a deputada Song Pek Kei questionou as autoridades sobre a estratégia a adoptar. Em resposta, o Governo afirmou estar a desenvolver novos produtos turísticos assentes em vectores como a gastronomia e roteiros marítimos, assegurando que está a “fazer todos os esforços para apoiar os sectores que estão a sofrer com a epidemia”.
Indemnização em caso de morte vai ser actualizada até 10% Pedro Arede - 1 Abr 2020 [dropcap]O[/dropcap] Governo admitiu ontem vir a aumentar o tecto máximo das indemnizações resultantes de acidentes de trabalho, sendo que para os casos de morte a actualização deverá ser entre os oito e os 10 por cento. O anúncio foi feito ontem por Ng Wai Han, subdirectora dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), em resposta a uma interpelação oral levada ao plenário pelo deputado Lam Lon Wai. “Tendo em contas as partes patronal e laboral e o diálogo com as associações das companhias seguradoras, em Novembro do ano passado, na reunião geral do Conselho Permanente de Concertação Social, concordámos com a actualização dos valores através de uma ordem executiva. Estamos a proceder à actualização das normas”, afirmou Ng Wai Han. Apesar da luz verde em matéria compensações resultantes de acidentes de trabalho, foram vários deputados a mostrar preocupação com os atrasos do Governo na actualização de diplomas relacionados com questões laborais. Isto porque a lei prevê, por exemplo, que seja feita uma revisão anual do salário mínimo ou uma revisão bianual do montante mensal que serve de base para calcular as indemnizações em caso de despedimento por justa causa, mas na realidade isso não tem acontecido. A deputada Ella Lei, lamentou mesmo a “lentidão de trabalho, a falta de transparência e a revisão não atempada das leis”. “O limite máximo das prestações por morte, em caso de acidente laboral ou doença profissional não é alterado desde 2011. O salário mínimo até pode não ser actualizado, mas o Governo tem de analisar os dados, ouvir as opiniões da população e divulgar a sua decisão”, apontou Ella Lei. Feridas recentes O deputado Sulu Sou considerou “inaceitável” o facto de a taxa de inflação não ter sido tida em conta para o cálculo da actualização de montantes relacionados com as questões laborais e relembrou o recente acidente no estaleiro de obras de construção da terceira fase de expansão do Cotai Galaxy Resort que provocou três mortos e quatro feridos. O legislador alertou ainda para a necessidade de se alargar o leque de membros do Conselho Permanente de Concertação Social, de modo a elevar a representatividade do órgão.
SSM | Registados 41 casos. Menina de 9 anos “em recuperação” Andreia Sofia Silva - 1 Abr 2020 [dropcap]E[/dropcap]sta terça-feira foram registadas mais duas ocorrências de covid-19, registados como 40.º e 41.º casos confirmados. O 40º caso, a doente é uma mulher de 47 anos de idade, residente de Macau, doméstica, que regressou a Macau proveniente do Reino Unido, enquanto o 41º caso foi diagnosticado num homem de 20 anos de idade, estudante no Reino Unido, filho do 40º caso. A mãe e o filho chegaram a Hong Kong na tarde do dia 27 de Março, vindos de Londres, e foram transportados até Macau pelo transporte exclusivo do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. Foram encaminhados ao Hotel Dragão Royal para observação médica, tendo realizado ontem testes de zaragatoa nasofaríngea cujos resultados foram positivos confirmando a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus. Já o 39º caso de infecção com o novo coronavírus, é o de uma menina de 9 anos filha do 34º infectado. A menina terá contraído a covid-19 nas Filipinas, para onde viajou a 17 de Janeiro com o pai e o irmão para visitar a mãe. Ao início não apresentava sintomas, tendo sido feitos testes a 26 de Janeiro, com resultado negativo, e mais dois testes no dia seguinte, em que um deles deu positivo. “Achamos que contraiu a doença nas Filipinas, a criança não sentiu nada, mas já apresentava sintomas. Os resultados dos testes deram primeiro negativo e depois positivo. Achamos que não é um caso muito especial, porque a criança apanhou a doença naquele país e não se sentiu mal”, disse o médico Alvis Lo. O profissional de saúde acrescentou que não se trata de uma nova infecção e que o facto de ter apresentado sintomas depois de quatro semanas está relacionado com o desenvolvimento do vírus no corpo humano. “Normalmente, após uma primeira infecção, há casos em que pode aparecer novamente o resultado positivo. Ela está na fase de recuperação, estamos a fazer um tratamento anti-viral e não consideramos que é uma nova infecção”, concluiu Alvis Lo.
Covid-19 | Termina transporte especial de residentes para Macau Andreia Sofia Silva - 1 Abr 2020 Acabou a segunda e última fase da medida de transporte especial de residentes do aeroporto internacional de Hong Kong para o território. Até ontem existiam ainda 129 pessoas inscritas para esse apoio. Governo sugere a residentes para ponderarem bem o regresso [dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau deixa de prestar, a partir de hoje, o apoio na concessão de transporte especial para residentes que regressem de países estrangeiros para o aeroporto internacional de Hong Kong. A medida teve duas fases, compreendidas entre os dias 17 e 22 e entre 22 e 31 de Março, e não será prolongada, disse ontem Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). “Esta medida foi adoptada há 15 dias e em todo o mundo estão a ser adoptadas diferentes medidas de prevenção e há muitas limitações, como o fecho das fronteiras. Devido a este desenvolvimento mundial não teremos mais a operação para ir buscar residentes ao aeroporto de Hong Kong”, explicou. Até ontem existiam ainda 129 pessoas inscritas junto do Gabinete de Gestão de Crises de Turismo para terem acesso a este apoio, mas podem ainda surgir constrangimentos a muitas pessoas que estão em trânsito ou a pensar voltar a Macau. “Hoje [ontem, 31 de Março] vamos buscar mais 129 pessoas. Será que todas essas pessoas vão conseguir apanhar os voos para regressarem a Hong Kong? Estamos a contactar com os residentes que fizeram o check-in, mas podem existir situações em que os voos internos tenham sido cancelados, podendo existir obstáculos para apanhar depois o voo para Hong Kong”, adiantou Inês Chan. Até esta segunda-feira, 30, o Governo de Macau transportou um total de 2007 residentes no âmbito desta medida, tendo recebido mais dois pedidos adicionais de consulta relativos ao regresso à RAEM. “Não podemos pedir apoio a Hong Kong sem limites só para ir buscar os residentes de Macau. Também temos de respeitar as regras do Governo vizinho.” Que alternativas? Quem não for residente de Hong Kong não tem sequer oportunidade para fazer check-in, mesmo que esteja ainda na Europa ou noutro país estrangeiro. Inês Chan falou ainda de outras alternativas. “Quem tem salvo conduto e pode viajar para a China pode depois voltar por essa via, é uma possibilidade, mas quem não tem não há hipótese. Alguns são residentes de Macau e também portadores do BIR de Hong Kong. Há dias fomos contactados por um estudante que se encontra em Portugal e que, primeiro, decidiu ficar no país, mas só hoje quis voltar a Macau, mas já não há bilhetes”, exemplificou a responsável da DST. Inês Chan disse não poder dar resposta relativamente a todos os residentes que se encontrem no exterior, tendo alertado para que estes ponderem bem o seu regresso. “Fazemos um apelo porque é necessário tomar uma decisão com prudência. Se os residentes quiserem voltar a Macau podem consultar outros meios mas têm de ter em conta as medidas de contenção, porque a sua deslocação pode ser impedida”, rematou. Zhuhai | TNR voltam a poder fazer quarentena Passa a estar activo, a partir de hoje, o local, em Zhuhai, destinado à quarentena de trabalhadores não residentes (TNR) que visitaram ou estiveram no Interior da China e que pretendam entrar em Macau. Ontem, na habitual conferência de imprensa do centro de coordenação e contingência do novo coronavírus, o agente da Polícia de Segurança Pública (PSP) declarou que o local anteriormente designado para a quarentena deixa, assim, de estar suspenso, sendo que os TNR devem munir-se de uma declaração médica que comprove que não estão infectados antes de entrarem no território.
Stephen Morgan, futuro reitor da Universidade de São José: “Somos uma instituição de confiança” Salomé Fernandes - 1 Abr 2020 Nomeado para reitor da Universidade de São José (USJ), o diácono galês Stephen Morgan antevê desafios no rescaldo do novo coronavírus. Quer ouvir antes de traçar objectivos específicos, mas salienta o papel da USJ como ponte entre os mundos chinês e lusófono, e defende que a liberdade de expressão acarreta responsabilidades [dropcap]C[/dropcap]omo se sente depois de ter sido nomeado como reitor? Há dois sentimentos avassaladores. Um é um grande sentido de honra, e o outro uma sensação de gratidão à Fundação Católica por me nomear e gratidão ao meu predecessor, o padre Peter Stilwell, que tem sido notavelmente eficiente e um firme reitor da universidade. Estou um pouco intimidado pelo desafio, mas isso é em parte aliviado pelo facto de a equipa na universidade ser de primeira classe. São pessoas boas e com um sentido de propósito. Como é que a fé despertou em si? Não tenho consciência de nunca ter tido um sentido de confiança em Deus. Pensamos frequentemente em fé enquanto ascensão intelectual a uma série de proposições, e é isso, mas é mais, é um sentimento de confiança. Tenho muita sorte de vir de uma família amorosa e estável. Era um ambiente acolhedor, onde a fé era tida por garantida. Não era algo que uma pessoa se sentisse forçada a fazer – tenho dois irmãos que, tanto quanto sei, não têm qualquer crença religiosa explícita, mas eu cresci com isso. Sou o filho mais velho, e os filhos mais velhos tendem a ser bastante respeitadores e obedientes. Era muito chegado à minha avó, uma mulher católica muito devota. Não fui criado católico, mas protestante, e era muito próximo da minha avó. Quando ficava com ela íamos juntos à missa. Tornou-se uma coisa natural. Mas não houve um momento em que subitamente algo me transformou em crente. Sobre o seu novo papel, o que imagina para a instituição? A universidade tem um número de aspectos que quando colocados em conjunto são uma proposta interessante. Somos a única universidade Católica da China, e isso significa que temos uma responsabilidade para com Macau e a China no sentido de sermos um local de testemunho de uma série de valores que são adquiridos na nossa fé. Mas que podemos reconhecer vastamente como valores humanos sobre a importância da dignidade da pessoa humana e das responsabilidades desta em relação à família e à sociedade. Somos também uma comunidade muito internacional, com mais de 40 nacionalidades no corpo estudantil da universidade, esse lugar de diálogo intercultural é muito importante, abre a visão de uma pessoa. Em terceiro, somos uma comunidade que tenta aprender e ensinar e trabalhar numa língua que não é primeira língua de ninguém na universidade. Temos muito poucos falantes de inglês como primeira língua. Penso que é uma combinação atractiva. Tem objectivos específicos que queira atingir? Acho que é demasiado cedo para dizer. Quero que a Universidade viva, prospere, cresça, seja consciente de, e apreciada pelo seu serviço à comunidade de Macau. À comunidade Católica de Macau em primeira instância, mas também de forma mais vasta. Penso que está na natureza do que uma universidade Católica deve ser: nascida do coração da Igreja, mas ao serviço da sociedade. Acho que antes de começar a traçar objectivos concretos tenho de ouvir muito. Ouvir a universidade, a Igreja, o Governo e a comunidade de Macau. Foi-me dito uma vez que temos uma boca e dois ouvidos, e que o melhor é usá-los nessa proporção. Quais os principais desafios que espera encontrar? Teria tido uma lista diferente se me tivesse feito esta pergunta há seis meses, apesar de nessa altura não ter expectativa de ser reitor da universidade. Acho que no rescaldo do coronavírus o primeiro desafio que a universidade e toda a Macau terá de enfrentar é como voltar à vida normal. E será a vida normal depois do coronavírus igual ao que era antes? Inevitavelmente, não. Uma das coisas que me impressiona mais no novo Governo de Macau é como cuidadosamente, decididamente e sabiamente actuou. Não pode ter sido fácil lidar com isso. (…) Acho que vai afectar, por exemplo, o recrutamento internacional. A probabilidade de os estudantes virem este ano vai descer, isso pode fazer parte do desafio. Sinto que o Governo de Macau vai responder ao período pós-vírus com o mesmo grau de certeza com que actuou durante esta fase. São muito sérios em relação à diversificação da economia e a educação superior tem um papel a desempenhar nisso. Penso que será um desafio para mim. Ponho isso quase acima de tudo o resto. Antes de isso estar na agenda havia todo o tipo de coisas, a maioria delas técnicas em relação ao funcionamento interno da Universidade, porque as decisões grandes e estratégicas, como a mudança para o Campus da Ilha Verde, por exemplo, foram parte do que o actual reitor atingiu (…). O seu predecessor a dada altura fechou cerca de 30 cursos. De momento, como estão as finanças da Universidade? Estáveis. Acho que [foi] uma das maiores conquistas na sua vida na universidade. Não somos uma universidade com enormes reservas, por isso as decisões sempre tiveram de ser feitas com um olhar cuidadoso em relação ao impacto financeiro. Em alguns aspectos tive sorte, com o meu tempo em Hong Kong e depois os 14 anos na diocese. O trabalho que fiz aí foi de director operacional e por isso tinha uma diocese com 73 escolas com 4500 professores, 27 mil crianças e 160 igrejas. Por isso, gestão financeira é algo que passei muito tempo da minha vida a fazer, estou confortável nesse mundo. O facto de o Padre Peter ter conseguido estabilizar e melhorar as finanças da universidade de tal forma que nos últimos quatro anos teve excedente é extraordinário, tendo em conta que é um académico teólogo sem experiência nesse mundo. Mas as finanças estão estáveis. A primeira tarefa nesse processo é demonstrar às pessoas o valor daquilo que temos a oferecer. E se fizermos isso de forma eficiente, acho que a situação financeira ao longo dos próximos anos vai gradualmente melhorar. Nunca vamos estar na situação das universidades de financiamento público, isso está na natureza de ser uma universidade privada. Um estudo da rede “Scholars at Risk” do ano passado concluiu que há uma erosão na autonomia das universidades em Macau. Como é que esta pressão na liberdade académica é sentida na USJ? Não tenho qualquer sensação de pressão na liberdade académica. Não estou ciente de que qualquer dos meus colegas sinta que esteja sob maior pressão do que poderia estar se ensinasse em Portugal ou no Reino Unido. Eu, certamente, não sinto. Fiz algumas conferências aqui, uma delas co-organizada com a Renmin University of China, e não senti qualquer sugestão de que tinha de ter cuidado com o que dissesse. Há algo de que talvez tenhamos perdido a visão, sob a influência do entendimento americano da liberdade de expressão, mas o direito a exprimir opiniões vem com uma responsabilidade. A responsabilidade dessas opiniões. A sensação que tenho, do que vi da nossa interação com o Governo de Macau, não é de estar sob pressão governamental para ser cuidadosos com o que dizemos e fazemos, de todo. É algo à volta de responsabilidade e carinho da parte deles. Claramente, quando estão a gastar o seu próprio dinheiro têm o direito de decidir para onde esse dinheiro vai. Uma vantagem de ser uma universidade privada é que não estamos tão dependentes disso. Vi o relatório do Scholars at Risk, e outro da Human Rights Watch. É muito interessante, mas não é o que se sente em Macau. Qual a sua posição em relação a professores da universidade expressarem a sua opinião política pessoal em público ou nos meios de comunicação? Depende da forma como a pessoa o faz. Estou ciente que há alguns anos, um professor expressou opiniões de uma forma que a universidade teve de lhe dizer adeus. Esta é a interacção entre direitos e responsabilidades. Tivemos um grande caso de tribunal no Reino Unido há alguns anos, sobre a responsabilidade da Igreja e as acções dos padres. Um dos juízes colocou a situação da seguinte forma: se a Igreja puser alguém num púlpito, tem responsabilidade pelo que a pessoa diz, e essa pessoa tem responsabilidade para com a instituição, para garantir que não abusam da sua posição. As pessoas não costumam pedir a opinião do Stephen Morgan porque é o Stephen Morgan, pedem-me a minha opinião porque sou o director de uma faculdade. Quando expresso as minhas opiniões tenho de ter um sentido de responsabilidade por essa razão. Penso que é algo difícil de assimilar para europeus e norte-americanos, porque estamos muito habituados a um sentido de liberdade de expressão que é quase ao nível da permissão completa, sem consideração por consequências do que se diz. Para além disso, temos de reconhecer que enquanto estrangeiros temos o dever de compreender e respeitar a comunidade onde vivemos. Trazer as nossas próprias noções de como a sociedade deve funcionar e ser governada, e assumir que são normativas para toda a gente parece-me neocolonialismo. Quais as expectativas de a USJ receber estudantes da China Continental? Não sabemos porque é que não podemos receber estudantes da China Continental. Mas uma das coisas que aprendi quando estive nesta parte do mundo, há 25 ou mais anos, é que o importante é construir relações de confiança. Não se pode forçar a velocidade a que se constrói uma relação de confiança. Só se pode ganhar a confiança de alguém depois de um período de tempo em que há exposição mútua. Estive em Pequim em Janeiro com o reitor e um dos nossos vice-reitores e fomos recebidos aberta e graciosamente pelo United Front Work Department e pelos presidente e vice-presidente da Conferência Episcopal Católica. Vamos demonstrar que somos uma instituição em que se pode confiar, e com tempo isso pode abrir a nossa universidade a receber estudantes da China Continental. Mas a estratégia da universidade não depende disso.
Covid-19 | Portugal com 160 mortes e mais de 7.400 infectados Hoje Macau - 31 Mar 2020 [dropcap]P[/dropcap]ortugal regista hoje 160 mortes associadas à covid-19, mais 20 do que na segunda-feira, e 7.443 infectados (mais 1.035), segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). O relatório da situação epidemiológica em Portugal, com dados atualizados até às 24:00 de segunda-feira, indica que a região Norte é a que regista o maior número de mortes (83), seguida da região Centro (40), da região de Lisboa e Vale do Tejo (35) e do Algarve, que hoje regista dois mortos. Relativamente a segunda-feira, em que se registavam 140 mortes, hoje observou-se um aumento de 14,1% (mais 20). De acordo com dados da DGS, há 7.443 casos confirmados, mais 1.035 (um aumento de 16,1%) face a segunda-feira. Das 140 mortes registadas, 97 tinham mais de 80 anos, 38 tinham idades entre os 70 e os 79 anos, 17 entre os 60 e os 69 anos, seis entre os 50 e os 59 anos e dois óbitos entre os 40 aos 49 anos. Das 7.443 pessoas infectadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), a grande maioria (5.837) está a recuperar em casa, 627 (mais 56, +9,8%) estão internadas, 188 (mais 24, +14,6%) dos quais em Unidades de Cuidados Intensivos. Os dados da DGS, que se referem a 75% dos casos confirmados, precisam que Lisboa é o concelho que regista o maior número de casos de infeção pelo coronavírus SARSCov2 (505), seguida do Porto (462 casos), Vila Nova de Gaia (338), Gondomar (298), Maia (293), Matosinhos (273), Braga (220), Valongo (210), Sintra (167) e Ovar (159). Desde o dia 1 de Janeiro, registaram-se 52.086 casos suspeitos, dos quais 4.610 aguardam resultado das análises. O boletim epidemiológico indica também que há 40.033 casos em que o resultado dos testes foi negativo e que 43 doentes recuperaram. A região Norte continua a registar o maior número de infeções, totalizando 4.452, seguida da região de Lisboa e Vale do Tejo, com 1.799 casos, da região Centro (911), do Algarve (137) e do Alentejo, que hoje apresenta 50 casos. Há ainda 48 pessoas infectadas com covid-19 nos Açores e 46 na Madeira. A DGS regista ainda 19.260 contactos em vigilância pelas autoridades (mais 7.778). A faixa etária mais afetada é a dos 40 aos 49 anos (1.383), seguida dos 50 aos 59 anos (1.346), dos 30 aos 39 anos (1.115) e dos 60 aos 69 anos (1.028). Há ainda 94 casos de crianças com idades até aos nove anos, 184 de jovens com idades entre os 10 e os 19 anos e 755 com idades entre os 20 e os 29 anos. Os dados indicam também que há 758 casos de pessoas com idades entre os 70 e os 79 anos e 780 com mais de 80 anos. Segundo o relatório da DGS, 134 casos resultam da importação do vírus de Espanha, 98 de França, 49 do Reino Unido, 28 de Itália, 32 da Suíça, 38 dos Emirados Árabes Unidos, 18 de Andorra, 14 da Austrália, 11 do Brasil, 11 Países Baixos, oito da Bélgica, sete da Alemanha, sete da Argentina, seis dos EUA, quatro da Áustria, quatro em Cabo Verde e quatro no Canadá. O boletim dá ainda conta de três casos importados da Índia e outros três de Israel e dois casos do Egito, dois da Irlanda, dois da Jamaica e outros dois da Tailândia. Foram ainda importados um caso da Áustria/Alemanha, Chile, Cuba, Dinamarca, Indonésia, Irão, Luxemburgo, Malta, Maldivas, Noruega, Paquistão, Polónia, Qatar, República Checa, Venezuela, Ucrânia e Suécia. Segundo a DGS, 62% dos doentes positivos ao novo coronavírus apresentam como sintomas tosse, 50% febre, 34% dores musculares, 29% cefaleias, 24% fraqueza generalizada e 19% dificuldade respiratória. Esta informação refere-se a 76% dos casos.
Covid-19 | China regista 48 novos casos de infecção vindos do exterior Hoje Macau - 31 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap] China continuou a registar dezenas de novos casos de contágio pelo novo coronavírus oriundos do exterior, apesar de ter interditado, no sábado passado, a entrada de estrangeiros no país. Foram detectadas no país 48 pessoas infectadas com a covid-19, todas vindas do exterior, até à meia-noite na China, segundo as autoridades de saúde chinesas. A Comissão Nacional de Saúde da China informou ainda que morreu uma pessoa devido à infeção pelo novo coronavírus, na cidade chinesa de Wuhan, epicentro da epidemia. Wuhan conta com 528 pacientes em estado grave, a maioria a nível nacional. O número total de infectados diagnosticados na China, desde o início da pandemia, é de 81.518, entre os quais 3.305 morreram e 76.052 tiveram alta após superarem a doença. O número de pacientes infectados fixou-se assim nos 2.161. Quando a doença começou a atingir o resto do mundo, muitos chineses regressaram ao país, que passou assim a registar centenas de casos oriundos do exterior. A partir de sábado, a China suspendeu temporariamente a entrada no país de cidadãos estrangeiros, incluindo quem possui visto ou autorização de residência, como medida de prevenção contra a propagação do novo coronavírus. Desde o início do surto, em dezembro passado, 704.190 pessoas em contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica na China, incluindo 19.853 ainda sob observação, de acordo com dados oficiais. Para impedir uma segunda vaga de contágios no país, o Governo chinês impôs uma quarentena rigorosa de 14 dias em centros designados pelas autoridades a quem entrar na China. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 750 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 36 mil. Dos casos de infecção, pelo menos 148.500 são considerados curados.
Covid-19 | Mais um caso em Macau eleva total de infectados para 39 Hoje Macau - 31 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau anunciaram hoje mais um caso de contágio da covid-19, elevando o número de infectados para 39 desde o início do surto do novo coronavírus. Trata-se de uma criança de nove anos, residente em Macau, filha de um dos casos confirmados. A 18 de Março regressou de Manila, Filipinas, via Hong Kong, acompanhada do pai e do irmão. À chegada a Macau os três não apresentaram quaisquer sintomas e ficaram em quarentena domiciliária de 14 dias. Depois de a 26 e a 27 de março os testes à criança terem dado negativo, um último exame efetuado na segunda-feira resultou positivo, confirmando a pneumonia causada pela covid-19. Após Macau ter estado 40 dias sem identificar qualquer infecção, a partir de meados deste mês foram identificados 29 novos casos, todos importados. Em Fevereiro, Macau registou uma primeira vaga de 10 casos da covid-19, já todos com alta hospitalar. Após a deteção de novos casos, as autoridades reforçaram as medidas de controlo e restrições fronteiriças, assim como a obrigatoriedade de quarentena de 14 dias imposta a praticamente todos aqueles que entrem no território. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 750 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 36 mil. Dos casos de infecção, pelo menos 148.500 são considerados curados. Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
SMG | Previstas quatro a seis tempestades tropicais este ano Hoje Macau - 31 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau prevêem quatro a seis tempestades tropicais no território este ano, com possibilidade de algumas atingirem “nível de tufão severo ou super tufão”, foi ontem divulgado. “O primeiro ciclone tropical a afectar Macau pode ocorrer em meados de Junho ou mais tarde, e toda a época de tufões termina no final de Setembro”, informou a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG). Quanto à previsão de precipitação no território (entre Abril e Setembro), as autoridades apontam que será normal. A temperatura, “será no intervalo de normal e relativamente alta”. As autoridades aconselham que se “tomem medidas preparatórias para prevenir e/ou reduzir o impacto de tempestade tropical, chuva forte e inundações”, visto que o território está a poucos dias de entrar na época das chuvas.
“Parque Oceanis” | TSI mantém anulação da concessão do terreno Andreia Sofia Silva - 31 Mar 2020 [dropcap]N[/dropcap]a passada quinta-feira o Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão ao Executivo na declaração de caducidade de concessão do terreno outrora destinado à construção do parque temático “Parque Oceanis”. A decisão foi ontem tornada pública, em comunicado. O colectivo de juízes diz concordar com as posições do Ministério Público e adiantou que “a obra de aterro fora basicamente concluída, mas as outras obras de aproveitamento do terreno e obras de construção de infra-estruturas nunca haviam sido sequer iniciadas”. Neste contexto, “a concessionária apresentou, somente após o prazo de aproveitamento, uma solicitação de alteração da finalidade da concessão para comércio e habitação, firmado nas novas estratégias de Macau em matéria de economia e por motivos de mudança das circunstâncias atinentes à exploração de um parque temático”. Situado na Taipa, junto à Estrada Almirante Marques Esparteiro, em frente ao actual Hotel Regency Hotel, o terreno foi concessionado, sob regime de arrendamento, à sociedade Chang Va – Entretenimento, Limitada, por um prazo de 25 anos, “contados a partir da data da publicação do despacho, ou seja, até 11 de Março de 2022”. No entanto, o contrato de concessão determinou o aproveitamento do espaço para a construção de um parque temático em 36 meses “contados a partir da data da publicação do despacho, ou seja, até 11 de Março de 2000”.
Piquenique na praia e chá Hoje Macau - 31 Mar 2020 [dropcap]H[/dropcap]oje o senhor que mede a temperatura não sorria como de costume. Perguntou, como habitualmente, se estava bem, enquanto me mostrava os números no termómetro. Mas parecia cabisbaixo. “Está bem?”, perguntei. Fechou os olhos, franziu as sobrancelhas na testa morena e encolheu os ombros altos. “Estou um bocadinho preocupado. Já sabe do caso da pessoa que esteve em Macau e que acusou positivo?” Sim. Percebi-lhe a preocupação. “Mantenha-se protegido” consegui dizer, antes do “Até logo e obrigada”. Mais tarde, ao trazer-me o almoço, insistiu no bater da porta. Já tinha pendurado o saco na maçaneta, para a refeição não arrefecer no chão. “Insisti porque não quero que o almoço fique frio. É melhor quente” justificou. A refeição de hoje não vai arrefecer, vai estar sempre morna com a intenção deste anónimo, de tez escurinha, olhos negros e rasgados, que traz sempre uma palavra de ânimo por detrás da máscara. Às vezes imagino-lhe as feições. Podem ser tantas. O Pedro morreu. Recordo os meus primeiros dias em Macau em que ao pesquisar na net por um espaço independente dei de caras com o “Che Che”. Nos comentários online não faltavam referências às particularidades do seu proprietário: “caricato”, “especial”, “com o seu feitio”, etc. Depois de conhecer o dito espaço ao som de Portishead e Laurie Anderson, conheci o Pedro. Tricas e tréguas, whiskey japonês e sempre boa música. Bem-haja. Tenho que comprar um cesto de vime. Já está combinado. O António teve a ideia com uma recordação de outros tempos, mais felizes, e mostrou-ma numa fotografia. Quando for possível, vamos fazer um piquenique. No cesto levamos uma toalha aos quadradinhos brancos e vermelhos, copos de vidro e uma garrafa de vinho branco num pequeno saco térmico. A praia vai ter um mar azul, nem que seja só na nossa imaginação. Qualquer Hac Sá ou Cheok Wan servem mesmo com as águas que teimam em manter tons terra. Mas nesse dia, vai estar tudo azul. O céu também. Mudei a disposição do tapete. Agora o Yoga é de frente para a janela e para a montanha que é mais mágica do que a do Thomas Mann. Depois aqueci água. Deixo-a pousar. Não se deve queimar o chá, ensinaram-me um dia. Com a água mais calma, misturo-lhe as folhas que trouxe da última vez que fui a Zhuhai. Lá o chá é sempre melhor. Fica ali até ver a cor verde, ainda clara, aparecer. É nessa altura que se bebe. Quente e fresco. Até amanhã M.M.
Guilherme Pegado, um ilustre macaense Olavo Rasquinho - 31 Mar 202031 Mar 2020 [dropcap]O[/dropcap] Professor Guilherme José António Dias Pegado nasceu em Macau em 1803. Além de académico (lente de Física e Matemática da Escola Politécnica de Lisboa e professor de Matemática na Universidade de Coimbra), foi também deputado às Cortes pelo círculo de Macau, em sucessivas legislaturas a partir de 1834. Era irmão de outro ilustre macaense, Manuel Maria Dias Pegado, fundador de três jornais em Macau: “Gazeta de Macau” (semanário), “O Portuguez na China” e “Procurador dos Macaístas”, que se publicaram sequencialmente entre 1839 e 1845”. Professor Guilherme Pegado, fundador da meteorologia do Estado em Portugal Na sequência da Conferência Marítima de Bruxelas que se realizou no verão de 1853, Guilherme Pegado divulgou em Portugal os critérios para a uniformização dos procedimentos referentes às observações meteorológicas no mar, tendo preparado, para esse efeito, a publicação “Notas explicativas para compor os extratos do diário náutico, conforme o plano aprovado e recomendado pela conferência marítima de Bruxelas”. Foi na viagem entre Lisboa e Macau da corveta D.João I, em 1853, que estas instruções foram postas pela primeira vez em prática em navios portugueses. Deve-se aos seus conhecimentos e perseverança a criação da primeira estrutura em Portugal que se pode classificar como meteorologia do Estado. Foi sob sua proposta, numa reunião do Conselho da Escola Politécnica de Lisboa, em 21 de julho de 1853, que foi criado o Observatório Meteorológico do Infante D. Luís (OMIDL), numa torre junto do que restava daquela Escola após um violento incêndio, dez anos antes. O Observatório começou a funcionar em 1 de outubro de 1854, data a partir da qual se passaram a registar séries ininterruptas de observações meteorológicas em Lisboa. Segundo Mário Calado, diretor dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau em 1967-1970, na sua publicação “A Meteorologia em Portugal antes do Serviço Meteorológico Nacional”, “o célebre médico higienista Dr. Ricardo Jorge (1858-1939) refere no seu estudo Demografia e Higiene da Cidade do Porto que em 1854 o Estado decidiu cortar o vergonhoso atraso da Meteorologia nacional pela criação em Lisboa do Observatório do Infante D. Luís”. Observatório Meteorológico do Infante D. Luís, em 1854 Por falta de pessoal, Guilherme Pegado exerceu sozinho durante quase um ano múltiplas tarefas, entre as quais zelar pelo edifício, calibrar os instrumentos e proceder às observações do meio dia. Em agosto de 1855, ajudado por dois oficiais da marinha, passaram-se a fazer quatro observações diárias, às 9, 12, 15 e 21 horas. Pouco depois da inauguração do OMIDL, um acontecimento relacionado com a guerra da Crimeia alertou a comunidade científica para a necessidade de os vários observatórios meteorológicos já existentes na Europa estarem ligados por telégrafo elétrico. Em 14 de novembro de 1854, uma forte tempestade afundou cerca de quarenta navios da esquadra franco-anglo-turca, que combatia as forças do Império Russo no mar Negro. Este acontecimento contribuiu para reforçar a ideia de se criar um serviço meteorológico internacional, através do qual passaria a ser possível a troca de dados meteorológicos observados simultaneamente em vários países. Nessa altura já se sabia que as tempestades eram precedidas por uma descida acentuada da pressão atmosférica e da rotação significativa da direção do vento. Atendendo a que o deslocamento dos fenómenos meteorológicos na Europa se processam, em geral, com forte componente de oeste para leste, se fosse possível comunicar aos países mais a leste os dados observados, por exemplo, nos Açores e em Lisboa, esses países poderiam acompanhar a evolução do tempo e precaverem-se em caso de tempestades. Após o desaire da esquadra franco-anglo-turca, o matemático e astrónomo francês Urbain Le Verrier (1811-1877), diretor do Observatório Astronómico de Paris, procedeu, em 1855, à recolha de dados de observações meteorológicas de outros observatórios europeus então existentes, referentes a alguns dias antes da data do naufrágio, o que lhe permitiu fazer uma análise post mortem. Assim, Le Verrier pôde verificar que a depressão que originou o naufrágio da esquadra já existia dois dias antes, em 12 de novembro de 1854, no noroeste da Europa, e que se deslocou para sueste durante os dois dias posteriores. Feito o balanço deste desastre, concluiu-se que poderia ter sido evitado, se se conhecesse antecipadamente a localização e desenvolvimento do fenómeno meteorológico que lhe deu origem. Este acontecimento serviu de motivação para o governo francês incumbir Le Verrier de contactar os outros observatórios meteorológicos europeus que já possuíam telégrafo elétrico (nessa altura ainda não havia sido inventado o telégrafo sem fios), tendo-se estabelecido uma rede que permitiu a troca diária dos valores dos parâmetros meteorológicos medidos às 9 horas, constituindo assim, o que se denominou o primeiro serviço de meteorologia internacional. Logo após a instalação do telégrafo no OMIDL, em 1857, os dados referentes às observações meteorológicas das 9 horas passaram a ser enviados para o Observatório de Paris. Em troca, o OMIDL passou a receber diariamente informação sobre a probabilidade do tempo que iria fazer em Lisboa no dia seguinte, informação esta que era difundida pelos jornais diários. Faltava ainda a ligação telegráfica entre os Açores e Lisboa para que as previsões do tempo na Europa tivessem maior fiabilidade, o que só veio a concretizar-se com a instalação de um cabo submarino. Assim, a partir de 1893, os Açores passaram a estar ligados ao serviço de meteorologia internacional, o que foi muito apreciado pela comunidade meteorológica europeia, na medida em que as informações vindas de oeste eram imprescindíveis para uma maior fiabilidade das previsões nos países europeus. A ação do Professor Guilherme Pegado constituiu um passo importante para a criação de um serviço meteorológico verdadeiramente nacional, o que só veio a concretizar-se em 1946, com a criação do Serviço Meteorológico Nacional, antecessor dos Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, Instituto de Meteorologia e Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
Novos ventos João Santos Filipe - 31 Mar 2020 [dropcap]N[/dropcap]a semana passada houve reunião na Assembleia Legislativa para debater um orçamento rectificativo. Se alguém estivesse à espera de uma discussão séria sobre as medidas com previsões sobre o impacto para a economia, ficou desiludido. O principal ponto de interesse acabou por ser uma intervenção de Chan Wa Keong, também em nome Davis Fong e Pang Chuan, que defendeu uma purga de associações políticas e civis. Para contextualizar, a intervenção surge na sequência de uma reunião da comissão da segurança do Estado. A mensagem dos legisladores foi algo críptica e nem tudo foi muito claro. Porém, uma das certezas é que os deputados acham que é necessário tratar de problemas conhecidos, mas ignorados, como certas associações. A forma como os legisladores se referiram “à defesa” do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ dá ainda a entender que visões democráticas do Segundo Sistema em Macau não são legais e violam esse princípio. Os tempos mudam e com eles a China. E as interpretações de ontem já não são válidas nos dias hoje. Os ventos deixam antever que vêm aí alterações legislativas para proibir certas associações. E nestes dias, os movimentos pró-democracia em Macau, que se resumem à Novo Macau, vão ser cada vez menos tolerados, mesmo que tenham uma representatividade praticamente nula e que estejam longe de ser um desafio à soberania…
Demis Roussos em livro Paulo José Miranda - 31 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap]dam Aagaard foi um escritor dinamarquês que morreu no ano passado com 77 anos. Nasceu e viveu quase toda a vida em Copenhaga. Escreveu fundamentalmente peças de teatro e apenas um romance, ainda sem tradução em Portugal, cujo título é Aldrig Verden (1991), que podemos traduzir por «Nunca O Mundo». Este romance que na altura foi muito criticado na Dinamarca e na Alemanha tem uma passagem que podemos considerar como a que melhor descreve o jovem protagonista e celibatário, que é também o narrador: «Depois de ter lido os romances de Thomas Bernhard deixei de conseguir ler os de outros autores, por me parecerem todos uma espécie de Demis Roussos em livro.» A acção passa-se na Copenhaga de finais dos anos 80, poucos anos depois da edição de Extinção de Bernhard, e o narrador vive sozinho num pequeno apartamento, de onde quase nunca sai, evitando ao máximo o contacto com as pessoas – «Os outros não são o Inferno, mas lembram-nos que ele existe» – tentando escrever uma tese de doutoramento sobre o filme de Carl Theodor Dreyer, A Palavra. Curiosamente, ou talvez não, porque a vida é profícua em grandes desajustes, Aagaard era protestante, assim como o seu protagonista. «Nunca O Mundo» é o título da tese do jovem Erik. Todos viram o filme de Dreyer, não precisamos de lembrar aqui, apenas dizer que o jovem vê o filme do seu compatriota como uma tentativa de fazer reset ao mundo. Escreve: «Só a vivência da fé no seu limite pode salvar o mundo.» E este salvar o mundo era evidentemente uma espécie de começar de novo, como se até aqui estivéssemos errados, o mundo estivesse errado. «Nunca O Mundo», então, encontra um evidente eco nas palavras de Jesus no Evangelho de São João «O meu reino não é deste mundo». A esta altura, já nos perguntamos como é que Bernhard faz sentido, não só no livro, mas nesta personagem. Leia, então, esta passagem que nos elucida o modo como Erik conecta o que nos parece inconectável: «Temos de conseguir odiar o mundo como nos romances de Bernhard. Só assim será possível dar o passo seguinte, em que nos libertaremos desta vida sem sentido.» Estamos perante um romance de trincheira. Um romance que tem como objectivo, não o entretenimento, não o conhecimento ou a reflexão, mas um projecto político, uma Weltanchauung, uma visão do mundo. No fundo, embora em pele de romance, o livro era um manifesto. A páginas tantas, lê-se: «Deve-se escrever apenas para destruir ou para construir o mundo. O resto é conversa de café, e lá deveria ficar.» À medida que o romance vai avançando, e com ele a tese de Erik, vamos entendendo melhor como ela se liga aos romances de Bernhard e estes ao filme de Dreyer. Ao longo de todo o romance, como um fantasma, vai surgindo a figura de Kieerkegaard, outro dos heróis do jovem protagonista-narrador. Semanalmente, Erik escreve uma carta a Kierkegaard, contando o desastre em que vai o mundo, que não melhorou nada desde a morte do amigo, pelo contrário vai muito pior. Leia-se um excerto de uma das cartas: «Meu querido amigo, como encontrar palavras para descrever este mundo em que vivemos? Desistimos de escrever. O que hoje se faz passar por escrita é pior que os jornais que você lia há mais de cem anos nesta cidade. A fé, essa, é um negócio. Maior ainda do que acontecia no catolicismo ao tempo das bulas papais. […] A filosofia está entregue aos números, às estatísticas, às análises de linguagem. Alegra-me tanto saber que você não está a ver isto! […]» Não posso contar aqui o final do livro, pois é muito surpreendente, mas devo dizer que até ao final o leitor vai sendo sempre surpreendido, ao ponto de tanto nos identificarmos com Erik como de termos vontade de abandonar o livro, do mesmo modo que ele abandonou o mundo. Como escreveu a também escritora dinamarquesa Karen Madsen a propósito deste romance: «Um livro quase sempre incompreendido, muitas vezes treslido, e raramente confrontado com os seus verdadeiros fantasmas: o de uma sociedade dinamarquesa enclausurada entre a fé e o esquecimento, entre os seus heróis radicais e um povo que os esquece.» De brinde, julgo eu, temos ainda análises certeiras ao sentido do romance em Thomas Bernhard. Deixo aqui apenas um excerto: «A escrita de Bernhard é profundamente ética. Nos nossos dias, entre o colapso da fé e multiplicação da corrupção é um dever odiar o mundo.» A verdade é que, ainda que não sejamos dinamarqueses, ainda que não sejamos crentes, sentimos a angústia e o desespero de Erik como nossos. Para nós aqui e agora, mais do que «nunca o mundo», mas que não difere do ponto de vista de Erik durante o romance, é «para quando o mundo?”
A obra mais íntima Michel Reis - 31 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap]ssociar Samuel Barber exclusivamente ao seu famoso Adagio for Strings, Op. 11 é ignorar tantas outras composições suas. Em The Lovers, Op. 43, o grande compositor americano musica tão magistralmente excertos do ciclo poético Vinte Poemas de Amor e uma Canção de Desespero do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), que eleva a sensualidade e a poesia do texto a novas alturas. A poesia de Neruda é amplamente considerada como alguma da poesia mais romântica alguma vez escrita, embora o seu erotismo permaneça controverso. Em 1971, no auge do período serialista da música clássica norte-americana, Barber aceitou uma encomenda do Girard Bank of Philadelphia de uma grande composição. Essa instituição financeira adoptou um programa pelo qual esperava contribuir “construtivamente para aspectos socialmente orientados e culturais da comunidade e da nação”. Parece que Barber se havia recuperado da sua depressão anterior após o fracasso que foi a estreia da sua ópera Antony and Cleopatra. O compositor tinha recusado uma encomenda monumental de Eugene Ormandy apenas dois anos antes. No entanto, criou uma peça maravilhosa para a comissão do Girard Bank, a sua última grande obra, composta por um prelúdio e nove andamentos que traçam a progressão de um caso de amor desde o começo alegre até ao fim doloroso. A oratória The Lovers, Op. 43 foi escrita para barítono solo, coro misto de 200 vozes e orquestra completa. A facto do texto ser considerado bastante erótico, juntamente com a associação de Neruda com o Partido Comunista, fez com que a obra fosse criticada pelos funcionários do Girard Bank. Barber respondeu da seguinte forma: “Meu Deus! Não há love affairs em Filadélfia?” O compositor trabalhou diligentemente em meados de 1971 na composição de The Lovers, certamente o seu trabalho mais íntimo. A maior parte da peça foi composta em Capricorn, local onde vivia na época. De facto, um canto de pássaro ouvido aí inspirou o motivo de abertura do Prelúdio, que atravessa todo o trabalho. O compositor levou dois meses para compor a música e dois meses para orquestrar a peça. The Lovers foi estreada em 22 de Setembro de 1971 pela Philadelphia Orchestra, o barítono finlandês Tom Krause e o Temple University Chorus, dirigidos por Robert Page. Barber, sempre duvidando, enviou um amigo para a plateia no intervalo para julgar as suas reacções. Mas o público, juntamente com a crítica musical, apreciou muito o trabalho. Barber compôs The Lovers no seu estilo mais pessoal e lírico. Devido ao erotismo sem rodeios das letras assim como à extrema dificuldade das partes corais e orquestrais, a obra raramente é executada. A escrita vocal é baseada nos ideais do Lied Romântico Alemão. O Prelude, apenas para orquestra, abre com o motivo de três notas da chamada de pássaro na flauta. De seguida, um tema sensual é apresentado. A música cada vez mais dramática, leva ao primeiro andamento, “Body of a Woman” (Corpo de uma mulher). O solo de barítono entra no início desta música apressada. Essa emoção reflecte a antecipação presente no início de um caso de amor. “Lithe Girl, Brown Girl” é o título do segundo andamento, principalmente para vozes masculinas e orquestra. O próximo andamento, “In the Hot Depth of this Summer” (Na profundidade quente deste Verão), é para vozes femininas e orquestra. O coro e a orquestra completos são usados em “Close your Eyes” (Fecha os olhos), o quarto andamento. O caso de amor cresce através desses andamentos e atinge o seu auge no quinto andamento, “The Fortunate Isles” (As Ilhas Afortunadas). O relacionamento começa a desfaz-se no sexto andamento, “Sometimes” (Às vezes), no qual o solo de barítono retorna e, no oitavo andamento, “Tonite I Can Write” (Hoje à Noite Eu Posso Escrever), os amantes são separados. Sugestão de audição: Samuel Barber: The Lovers, for baritone, chorus and orchestra, Op. 43 Dale Duesing, baritone, The Chicago Symphony Orchestra & Chorus, Andrew Schenck (World Premiere Recording) – Koch International Classics, 1991
Covid-19 | Pequim qualifica críticas de França sobre ajuda como “cínicas” Hoje Macau - 31 Mar 2020 A secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus classificou as acções chinesas de apoio a vários países como encenações com vista a promover a imagem do país. Pequim diz que as fábricas continuam a produzir materiais hospitalares sem parar, para dar resposta aos muitos pedidos que chegam de todo lado, inclusive da França, que encomendou “mais de mil milhões de máscaras” e que este esforço deve ser enaltecido e não denegrido [dropcap]A[/dropcap] China considerou ontem “cínicas” as declarações da secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, que acusou Pequim de estar “a instrumentalizar” a ajuda chinesa que dá a outros países contra a pandemia de covid-19. A pandemia está, em termos gerais, suprimida no território chinês, com apenas um ou nenhum novo caso de origem local anunciados nos últimos dias. Nas últimas semanas, o Governo chinês ofereceu máscaras, roupas de protecção e luvas a países atingidos pela covid-19, além de enviar especialistas médicos, principalmente para a Itália. “Às vezes é mais fácil fazer propaganda, [passar] imagens bonitas e instrumentalizar o que está a acontecer”, disse Amélie de Montchalin no domingo, no programa “Questions politiques”, da France Inter, do jornal Le Monde e da France Télévisions. “Estou a falar sobre a China e sobre a Rússia, que encenam as coisas”, disse, sem, no entanto, dar exemplos concretos. A China foi acusada por alguns críticos de querer tirar proveito da ajuda que fornece, particularmente aos países europeus, para exaltar o seu modelo político. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China respondeu, entretanto, sublinhando que o país não percebe a razão das críticas. “Ouvi, várias vezes, ocidentais mencionarem a palavra ‘propaganda’ em relação à China. Gostaria de lhes perguntar: exactamente a que é que se estão a referir?”, questionou o porta-voz do ministério, Hua Chunying. “O que é que querem? Que a China fique de braços cruzados face a esta grave epidemia que está a afectar os outros países? Que se mantenha indiferente?”, referiu numa conferência de imprensa, ontem realizada. Os funcionários das fábricas chinesas de máscaras e de outros materiais de proteção estão actualmente a trabalhar em pleno para responder aos pedidos de países onde esses equipamentos estão em falta. “Os esforços [desses trabalhadores] devem ser respeitados e não denegridos”, disse Hua Chunying. A própria França encomendou “mais de mil milhões de máscaras”, sobretudo à China, segundo o ministro da Saúde, Olivier Véran. “Gostava de perguntar às pessoas que fazem comentários cínicos o que é que estão a fazer contra a pandemia?”, afirmou ainda Hua, acrescentando que a China espera que a pessoa em causa ofereça, por palavras e acções, benefícios à cooperação internacional (contra a covid-19)”. Com defeito A França ofereceu, em Fevereiro, à China várias toneladas de equipamentos médicos, incluindo fatos de protecção, máscaras, luvas e desinfectantes. Entretanto, a embaixada chinesa em Haia garantiu ontem que “não há qualquer consideração geopolítica” no seu apoio a outros países para combater o coronavírus e enfatizou que é “normal que alguns problemas surjam”, como aconteceu com o lote de 600.000 máscaras defeituosas recebidas para a Holanda. O embaixador, Xu Hong, afirmou, em comunicado ontem divulgado, só ter tido conhecimento pela comunicação social do problema com “algumas máscaras compradas” à China pelo Governo holandês e assegurou que tem estado a acompanhar de perto a investigação nos Países Baixos, esperando que “este incidente isolado” não afecte a cooperação entre os dois países. Metade de um lote de 1,3 milhões de máscaras usadas por profissionais de saúde para tratar doentes críticos infectados com a covid-19 foram consideradas defeituosas, colocando em risco médicos e enfermeiros. A maioria deste material não se encaixa bem no rosto ou tem membranas – os filtros que devem travar as partículas virais – que não funcionam corretamente. Segundo o Ministério da Saúde, o lote foi entregue com urgência pela China, já que o país estava, na semana passada, em estado de “grande escassez” relativamente a este tipo de material. Todas as máscaras defeituosas distribuídas pelos hospitais já foram recuperadas, garantiu o ministério. Xu Hong não confirmou a qualidade defeituosa das máscaras compradas pelo Governo holandês a um fabricante chinês autorizado, mas oferece ajuda das autoridades de Pequim na investigação e pediu para que estes problemas sejam “resolvidos objectivamente”, sublinhando que “não devem ser politizados”. Trágicos números “O vírus não conhece fronteiras e só fortalecendo a solidariedade e a assistência mútua é que a comunidade internacional conseguirá vencer a batalha contra a pandemia”, lembrou Xu Hong. “A China continuará a apoiar plenamente os esforços holandeses para combater a pandemia e a trabalhar em conjunto para derrotar o novo coronavírus, que é o inimigo comum”, acrescentou. O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil. Dos casos de infecção, pelo menos 142.300 são considerados curados. Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia. O continente europeu, com mais de 396 mil infectados e perto de 25 mil mortos, é aquele onde se regista actualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 10.779 mortos em 97.689 casos confirmados até domingo.
Fundação Macau | Deputados com dúvidas sobre atribuição de apoios Salomé Fernandes - 31 Mar 2020 [dropcap]“A[/dropcap] Fundação Macau é um organismo público e todos os seus actos administrativos devem ter uma base legal. Se for fixado um valor pelo Órgão Executivo, a Fundação Macau vai cumprir o disposto na lei”, disse um representante da entidade na Assembleia Legislativa. Em resposta a uma interpelação oral do deputado Sulu Sou, que apontou falhas à concretização da lei sobre o direito de associação, nomeadamente à publicação caso as associações beneficiem de apoios superiores a um valor a fixar pelo Chefe do Executivo. No âmbito dos problemas apontados pelo Comissariado da Auditoria, a Fundação Macau reconheceu que “há margem de melhoria”. Quanto às questões colocadas pelo deputado Pereira Coutinho sobre o aumento de transparência, o representante da Fundação apontou para a falta de um regime de contabilidade para entidades sem fins lucrativos em Macau. Já Pang Chuan quis saber em que situações é concedido ou recusado subsídio a organizações e associações, enquanto Mak Soi Kun frisou que a população quer saber “qual o destino do dinheiro” utilizado para tentar perceber se os beneficiários conseguiram chegar aos resultados previstos. Em resposta, o representante da Fundação frisou que “a taxa de indeferimento (de pedidos) é cada vez maior”. Pereira Coutinho perguntou ainda se alguém vive na residência adquirida pela Fundação Macau em Portugal há alguns anos. Neste ponto, o representante da entidade indicou que se ponderou destinar a fracção comprada ao delegado do Governo da RAEM em Lisboa. Mas apontando tratar-se de um “monumento”, explicou que o projecto só foi aprovado recentemente e ainda não se conhece quando podem começar as obras.