Da coragem Nuno Miguel Guedes - 3 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] que é ter coragem? O medo de ter medo? Uma reacção determinada biologicamente (fugir ou lutar)? E para que servirá agora? A coragem aplica-se apenas a momentos grandiosos ou pode servir para o dia a dia? Não significa necessariamente desobedecer ou ir contra as circunstâncias – apenas uma fidelidade a algo a que não podemos fugir e que de repente se torna irreversível e urgente. Não existe um determinismo biológico em quem se lança para o meio das chamas para salvar um desconhecido, por exemplo. Do combatente heroico ao salvador voluntário que se lança para o perigo sem motivo nem conhecimento, passando pelo indivíduo que levanta a voz contra o que não deveria dizer a razão, a causa, parece-me, é igual: uma lealdade ao que se é, sem fugas e levada ao extremo. As viagens a regiões inóspitas, as lutas contra o que se acha injusto, alguém que confronta os seus para afirmar o que é. Sim, vou dizer outra vez a palavra que me parece que tudo reúne: honra. Ao que parece a palavra assusta por si só. Julgam-na anacrónica, medieva, gasta. A sua etimologia remete para o latim honos, que entre outras coisas significa dignidade. Não me surpreende, infelizmente, que haja poucos a praticá-la ou até a louvá-la. Pela minha parte lamento. É um atributo que vejo desaparecer em tudo o que é relação humana, com maior gravidade quando diz respeito a quem é mandatado para tomar decisões públicas. A honra é a verdadeira coragem. O que nos faz superar o que achamos que somos pelo bem do outro. A coragem nunca será solitária porque sempre reportará a alguém. Se ficar no espelho é vaidade e fanfarronice. A coragem não é ter: tantas vezes é desistir, o que a pode expor ao que se julga que a opõe: a cobardia. Deixar ir o que se amou ou acreditou sem luta ou resistência está em muitas ocasiões na vontade de um bem maior que no limite terá de prescindir de nós para acontecer, por mais sofrimento que isso nos possa causar. Estes dias, mais do que outros, lembram-nos que a grande coragem começa pela simples existência. O que torna a urgência de nos honrarmos – a nós e aos outros – ainda maior. Que não nos faltem as forças.
Moda | Katty Xiomara e Pé de Chumbo procuram mais oportunidades a Oriente Andreia Sofia Silva - 3 Nov 20204 Dez 2020 Katty Xiomara e Pé de Chumbo, fundada pela designer Alexandra Oliveira, são duas de três marcas portuguesas que se apresentam em Hong Kong e Macau na próxima semana. A presença a Oriente é ainda mais importante em contexto de pandemia, asseguram. Enquanto que Katty Xiomara traz peças “sob um conceito femininamente desportivo”, Alexandra Oliveira traz peças quase tricotadas sobre o corpo, sem recorrer ao habitual tecido [dropcap]C[/dropcap]hegam pela mão da Moda Nova Global, empresa sediada em Hong Kong que quer mostrar o que de melhor se faz na moda portuguesa. Susana Bettencourt, Katty Xiomara e Pé de Chumbo, marca da designer Alexandra Oliveira, pretendem desbravar novos caminhos no mercado de moda a Oriente com a realização de um desfile em Hong Kong na próxima semana, dia 11. Ao HM, Katty Xiomara revelou mais detalhes da colecção “Be Bold”, que assenta nos conceitos da moda desportiva feminina. “É uma escolha de peças específicas para testar o mercado e a reacção do público. A paleta de cores é ampla, mas o preto está sempre presente como uma linha de contorno que une as peças.” Katty Xiomara, estilista portuguesa nascida na Venezuela, mas radicada no Porto, espera que esta mostra em Hong Kong “seja uma boa forma de dar a conhecer a marca e que consiga estabelecer alguns laços representativos que sirvam como porta de entrada neste mercado”. Em contexto de pandemia, Hong Kong pode tornar-se uma espécie de boia de salvação, num ano em que não se realizaram feiras e em que houve “uma diminuição drástica das vendas”. “Hong Kong traça uma linha de esperança. É agora um ponto mais estável e com maior controlo sobre a pandemia, onde parece existir mais normalidade na rotina diária das pessoas”, frisou Katty Xiomara. Esta não é a primeira vez que a marca Katty Xiomara chega à Ásia, pois já realizou desfiles em Tóquio e Xangai. “Temos uma grande afinidade pelo mercado asiático”, assegura a designer. Estão também previstas apresentações em Macau e na China, ainda sem data marcada. “A nossa marca não é massiva, por isso a dimensão do mercado não é o mais importante. Macau possui uma magia diferente da qual podemos beneficiar”, disse. Esperar para ver No caso da Pé de Chumbo, serão mostradas peças da colecção “Planet Earth”, mais viradas para o Verão e para um Inverno com algum tempo quente. Com a Pé de Chumbo Alexandra Oliveira introduziu um novo conceito de fazer moda, em que as linhas se vão construindo em torno do corpo, sem tecidos. Cada peça tem, portanto, o seu tempo próprio de confecção. “Como é a primeira vez que estamos em Hong Kong e como se trata de uma colecção para venda directa, estamos a pôr peças de Verão e mais leves para o Inverno, pois em Hong Kong faz um tempo mais quente”, explicou ao HM. Para a Pé de Chumbo, estar em Hong Kong é uma total novidade e também uma oportunidade para escapar à crise. “Tivemos esta oportunidade e aproveitámos. Mas é também uma porta de entrada para o mercado asiático, algo que é difícil de conseguir. Já vendemos em Pequim, mas como vendemos através de feiras e não com uma representação local, se o cliente não vai à feira perdemos o cliente”, assegura. Alexandra Oliveira assume que não conhece nada do pequeno mercado de moda em Macau. A Pé de Chumbo tem algumas colecções inspiradas nos trajes japoneses ou chineses, mas o mercado é, para a marca, algo inatingível. Para chegar ao cliente chinês, a marca apenas costuma fazer uma alteração dos tamanhos. “Em todos os contactos que tivemos com clientes chineses eles seleccionaram a mesma colecção que estamos a vender. Não varia muito em relação ao que vendemos para a Europa. Mas é um contacto muito lento, nunca tivemos muita experiência [com estes clientes]”, acrescentou. No caso de Katty Xiomara, “poderão existir pequenos ajustes” ao cliente asiático. No entanto, a marca promete “manter sempre o espírito e conceito europeu que nos caracteriza”. “Não pretendemos ser uma marca estrangeira que mimetiza aquilo que já é feito pelas marcas locais”, frisou a designer. “Estar atenta” Para Katty Xiomara, é importante olhar a forma como os chineses e os asiáticos no geral “observam e vivem a moda”. “Já existe um punhado de nomes reconhecidos, mesmo no Ocidente. Por um lado, isso dificulta a nossa entrada, pois existirá uma maior concorrência. Mas, por outro lado, facilita porque denota-se uma maior abertura para marcas novas que surgem fora dos grandes aglomerados e grupos de luxo. Até há bem pouco tempo eram as que geravam maior procura por parte do mercado asiático”, adiantou a estilista. Alexandra Oliveira quer, sobretudo, chegar às lojas e ao grande público. “Temos muita coisa em stock. Nestes meses vendemos muito para Itália e EUA, e quando tudo isto fechou ficámos com algumas encomendas paradas. Isto [a vinda a Hong Kong] veio abrir um pouco a possibilidade de vendermos”, rematou. O HM tentou também chegar à fala com a designer Susana Bettencourt, mas a marca nunca respondeu ao nosso pedido de entrevista.
Português suspeito de tentativa de violação durante aula de fitness João Santos Filipe - 3 Nov 20204 Dez 2020 Um homem com 50 anos está a ser acusado por uma aluna portuguesa, com cerca de 17 anos, de tentativa de violação. O caso está agora em fase de investigação e o alegado agressor já foi ouvido pelo MP tendo ficado obrigado a apresentações periódicas [dropcap]U[/dropcap]m residente com nacionalidade portuguesa está a ser investigado pelas autoridades por alegadamente ter tentado violar uma jovem, com cerca de 17 anos. O caso não foi trazido a público, mas segundo o HM apurou, o homem já prestou declarações no Ministério Público (MP) e ficou sujeito a várias medidas de coacção. Após ser ouvido, o alegado agressor, que tem cerca de 50 anos, saiu em liberdade, mas ficou sujeito a obrigação de apresentação periódica e proibição de ausência e de contactos, como medidas de coacção. O caso terá acontecido durante uma aula de fitness, uma vez que o alegado agressor era o personal trainer da aluna. Durante uma aula particular o suspeito terá feito os avanços indesejados, que inclusive terão deixado marcas físicas na jovem, também ela com nacionalidade portuguesa. Por sua vez, a vítima manteve-se em silêncio após o ataque e só alguns dias depois contou a um familiar o que tinha acontecido na aula. Na sequência da revelação, a família da vítima apresentou a denúncia junto da polícia. O facto de a queixa ter sido apresentada apenas alguns dias após o alegado ataque poderá sido um dos factores que pesou na decisão do juiz contra a aplicação da medida coacção mais grave, a prisão preventiva. Outro factor, trata-se do facto de o homem ter família em Macau e nacionalidade portuguesa, o que faz com que não possa entrar de todo no Interior e que obriga ao cumprimento de uma quarentena para entrar em Hong Kong. O HM contactou a PJ sobre o caso, que recusou revelar qualquer tipo de informação devido a pedido dos pais da vítima. Esta foi uma postura explicada com a intenção de evitar “danos secundários”. O crime de violação é punido com uma pena que pode chegar aos 12 anos de prisão, que pode ser agravada por mais seis anos, num total de 18 anos. No entanto, uma vez que o ataque não foi consumado, e como a alegada vítima tem uma idade superior a 16 anos, o homem poderá ser acusado de coacção sexual. Nesse caso, a moldura penal vai dos dois a oito anos de prisão, mas pode ser agravada por mais dois anos e oito meses, dependendo das condições do crime, como o facto de este poder ter resultado de uma “dependência hierárquica”. Mais um… Este é o segundo caso que envolve a comunidade portuguesa nos últimos dias, depois de a 30 de Outubro a Polícia Judiciária ter anunciado a detenção de um homem, por assédio sexual de menor. Neste caso, o homem de 52 anos, residente, terá perseguido uma menina com oito anos, à hora de almoço, inclusive no percurso do autocarro, até ter conseguido encurralado a vítima, tocando-a de forma imprópria e forçando a menor à troca de beijos. Na altura, a menina de 8 anos gritou por socorro, o que levou à fuga do atacante. Na sequência da queixa, e com recurso às imagens do sistema de vigilância Olhos no Céu, a PJ conseguiu identificar e deter o atacante, que negou qualquer ataque. O alegado agressor ficou em prisão preventiva e arrisca uma pena que pode chegar aos oito anos de prisão.
CEAM | Grupo que discutia Macau em português faz nove anos e mantém-se no limbo João Santos Filipe - 3 Nov 20204 Dez 2020 Hugo Silva, também conhecido pelo nome satírico de Falamau da Silva, era o principal dinamizador da “Conversa Entre a Malta”. Com a sua morte, perdeu-se a password do grupo que se tornou conhecido por discutir os assuntos de Macau, de forma mordaz. Porém, para os outros administradores a suspensão é mesmo uma forma de homenagear o falecido [dropcap]D[/dropcap]urante anos o grupo Conversa Entre a Malta (CEAM) foi uma referência para discutir o quotidiano de Macau em língua portuguesa. E hoje faz nove anos. No entanto, desde Fevereiro que o grupo está suspenso. Já antes, em Outubro do ano passado, a publicação de novas mensagens tinha sido bloqueada, de forma temporária. O principal motivo que faz com que o CEAM, que no pico da participação chegou a ter mais de 2 mil membros, ainda esteja bloqueado prende-se com o facto de o administrador e amigo dos utilizadores mais activos ter falecido. Hugo Silva Junior, que também utilizava o perfil “Falamau” da Silva, faleceu em Abril deste ano, vítima de doença inesperada, e levou consigo a password da CEAM. Face a este desfecho, a restante administração em vez de criar um novo grupo, decidiu que a melhor forma de homenagear Hugo Silva Junior seria deixar o CEAM nesta situação de limbo. Foi o que explicou ao HM, Fernando Gomes, utilizador e comentador frequente. “O Hugo Silva foi um dos grandes impulsionares do Conversa Entre a Malta, que era um grupo que tinha muitos utilizadores, mas em que a maior parte se limitava a ver o conteúdo. No entanto, ele partilhava sempre as notícias, informações e tinha um jeito de deixar certas ‘provocações’ saudáveis que faziam com que mais pessoas participassem”, recorda Fernando Gomes. “Como ele morreu em Abril, de forma inesperada, acabou por levar com ele a password do grupo, o que faz com que também não possa ser reactivado”, acrescentou. Esta versão é corroborada pelo administrador Arnaldo Martins. “Por respeito à memória do Hugo Silva deixámos o grupo parado. Ele era sempre um dos elementos mais dinamizadores”, disse Martins, em declarações ao HM. Hong Kong e o futuro Porém, antes do falecimento de Hugo Silva, o grupo CEAM já estava suspenso, por decisão do elemento que era visto como a “alma” do grupo. Na altura, a interrupção era para ser temporária e foi motivada por duas razões. Por um lado, para acalmar os ânimos devido às discussões sobre as manifestações em Hong Kong, e, por outro, para tentar recentrar as discussões em Macau, o objectivo inicial da criação. “O grupo foi suspenso devido ao que se estava a passar em Hong Kong. Havia demasiada discussão pouco saudável, o que fazia com que ficasse um ambiente pesado entre pessoas amigas. E esse não era de todo o objectivo da Conversa Entre a Malta. Nós não somos assim tantos para nos andarmos a zangar”, justificou Arnaldo Martins. “Ali o objectivo era discutir Macau e os assuntos do quotidiano, mas já só se falava de Hong Kong. Não era o que se queria para o grupo”, acrescentou. Para Arnaldo Martins a ausência de um grupo como o CEAM acaba por fazer falta à comunidade que domina a língua portuguesa. “É um grupo que faz falta para falar de Macau, porque não existem muitos grupos para discutir o quotidiano em português”, considerou. Também Fernando Gomes recorda com saudades a interacção do grupo: “Era um grupo sobre a actualidade e as pessoas falavam sobre as informações, com opiniões e um pendor sempre mais satírico”, lembra. Por este motivo, não é afastado o cenário de no futuro ser lançado um grupo semelhante, para que a “malta” volte a discutir Macau. Mas, não só, além da actividade “online” da CEAM, ao longo dos anos foram também feitos alguns eventos de convívio de jantar ou mesmo de prática desportiva. E os encontros podem voltar, assim que se ultrapasse esta situação de pandemia. “Se no próximo ano terminar a pandemia, espero que possamos retomar as actividades do grupo […] A pandemia trouxe muitas dificuldades, mas espero que no futuro possamos voltar ao convívio. E também com o tempo, acho que se não for a CEAM haverá uma outra página para se discutir Macau”, deixou no ar Arnaldo Martins.
Fronteiras | “Não podemos ter algo como em Hong Kong”, diz director dos Serviços de Saúde Pedro Arede - 3 Nov 20204 Dez 2020 O director dos Serviços de Saúde afastou a possibilidade de criar uma “bolha de viagem” com Hong Kong por considerar perigoso que a China veja Macau como lugar de risco e volte a encerrar fronteiras. O Governo prevê gastar 420 milhões de patacas com a aquisição de 1,4 milhões de vacinas contra a covid-19 [dropcap]O[/dropcap] director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion, considerou arriscada a criação de uma “bolha de viagem” entre Macau e Hong Kong por temer que a China volte a fechar as fronteiras com Macau, devido ao risco elevado de propagação epidémica. “Hong Kong não é uma região de baixo risco e, por isso, não queremos, por enquanto, restabelecer contactos com Hong Kong nem retomar as ligações de barco. Se o fizermos, a China pode considerar Macau como Hong Kong e aí fechar as fronteiras ou as ligações com Macau, algo que nos prejudicaria”, explicou ontem Lei Chin Ion, à margem da inauguração Centro de Saúde da Praia do Manduco. Lembrando que Hong Kong tem registado esporadicamente casos de covid-19 e surtos comunitários e que já foram restabelecidas as ligações aéreas com todo o território chinês, o responsável afirmou que Macau tem de ser “realista” e que, apenas quando a região vizinha for considerada de baixo risco, as ligações poderão ser restabelecidas. “Não queremos arriscar a saúde da população. Macau não consegue dar conta de um surto comunitário, não seríamos capazes de responder a esse incidente. Sinceramente, não podemos ter algo como em Hong Kong”, acrescentou o director dos SS. Lei Chin Ion afastou ainda a possibilidade de vir a relaxar a curto prazo algumas medidas de prevenção epidémica, nomeadamente, a permissão de entrada a portadores de passaporte estrangeiro. “Não temos definida uma data a partir da qual os estrangeiros vão poder entrar. Ainda estamos a ver qual o plano mais eficaz, porque quando permitirmos a entrada temos que alterar o despacho do Chefe do Executivo. Temos de ponderar cautelosamente (…) que pessoas vão poder entrar”, reiterou. Além disso, o responsável referiu ainda que, o facto de a situação pandémica ser actualmente “muito grave”, especialmente na Europa, não permite “baixar a fasquia” das medidas de prevenção em Macau, relativas ao uso da máscara e ao distanciamento social. Ainda sobre as máscaras, Lei Chin Ion revelou que já foram vendidas 200 milhões de unidades, que permitiram recuperar 100 milhões de patacas ao montante inicial de 300 milhões de patacas destinado para o efeito. Dividir para conquistar Quanto à aquisição de vacinas contra a covid-19, Lei Chin Ion revelou que, até ao momento, o Governo entrou em contacto com seis laboratórios, chineses e estrangeiros, para comprar 1,4 milhões de doses. O objectivo, segundo o responsável, e numa altura em que as autoridades sanitárias aguardam ainda os resultados da terceira fase dos testes laboratoriais é “distribuir o risco”. “Se um laboratório não conseguir proporcionar uma vacina eficaz podemos pelo menos ter outra como alternativa”, acrescentou. Quanto ao preço que o Governo irá pagar por dose, Lei Chin Ion adiantou que o valor deverá ser 300 patacas, ou seja, pelas 1,4 milhões de doses o Executivo deve gastar 420 milhões de patacas. O director dos SS revelou ainda que a redução de despesas do organismo de tutela foi “apenas de 3,0 por cento”. “Tentámos, mas não conseguimos reduzir muito (…) isto porque não podemos reduzir medicamentos de pacientes, vencimentos de trabalhadores, médicos e profissionais”, explicou Lei Chin Ion. Praia do Manduco | Centro de Saúde custou 399 milhões O novo Centro de Saúde da Praia do Manduco custou 399 milhões de patacas. A informação foi revelada por Lei Chin Ion à margem da cerimónia de inauguração das novas instalações e contou com a presença do Chefe do Executivo Ho Iat Seng e a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U. Segundo Lei Chin Ion, em 2021 não está prevista a entrada em funcionamento de novos centros de saúde, prevendo-se que em 2022 seja inaugurado o novo centro de saúde de Seac Pai Van. Sobre o novo Hospital das Ilhas, o director dos Serviços de Saúde reiterou que as obras deverão estar concluídas no final de 2022, estando a entrada em funcionamento prevista para 2023. Vacina contra gripe Sobre a vacina contra a gripe sazonal produzida em França e que está em investigação após terem sido registadas mortes na Coreia do Sul, o director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion lembrou que o lote adquirido por Macau é diferente e espera, por isso, que a população seja vacinada “o mais cedo possível”. O responsável referiu ainda que não existem provas de que as mortes estejam relacionadas com a vacina em si, mas não descartou a hipótese de suspender a vacinação em Macau caso seja provado o contrário. “A verdade é que não afastamos esta eventualidade [de suspender a vacinação], mas quando vacinamos os idosos eles já são, por si, um grupo vulnerável e podem ter, de antemão, alguma doença mortal”, referiu Lei Chin Ion.
SAFP | Governo prepara base de dados sobre estudos Hoje Macau - 3 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap]té ao final do ano, o Governo espera concluir uma base de dados centralizada sobre estudos encomendados pelos diferentes serviços. A revelação foi feita por Kou Peng Kuan, director da Direcção de Serviços de Administração e Função Pública (DSAFP), em resposta a interpelação do deputado Pereira Coutinho. “Tendo em conta que, no passado o Governo não conseguiu concretizar a partilha interna de recursos sobre os resultados dos projectos de investigação e estudo adjudicados, o actual Governo vai dar início à criação de uma base de dados investigação e estudo, com vista a centralizar o armazenamento e coordenar a utilização dos resultados de investigação e estudos desenvolvidos,” reconheceu Kou Peng Kuan. O director dos SAFP traçou o fim do ano como meta para concluir os trabalhos e considerou que a medida aumenta a eficácia e reduz a utilização do erário público, no que diz respeito à repetição dos estudos. No entanto, não é indicado se vão ser disponibilizados online. O deputado ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) havia demonstrado preocupação com a repetição de estudos sob o mesmo assunto. Coutinho também criticou o facto de 90 por cento dos estudos encomendados não serem relevados, algo a que Kou se limitou a sublinhar que os SAFP actuam de acordo com a lei.
Dados pessoais | Wong Sio Chak reconhece falhas de fiscalização na polícia Salomé Fernandes - 3 Nov 20204 Dez 2020 Wong Sio Chak reconheceu falhas de fiscalização no caso de um agente suspeito de aceder a dados de migração sem autorização. A polícia precisa agora de autorização prévia dos serviços de migração para aceder aos registos de entrada e saída de cidadãos [dropcap]W[/dropcap]ong Sio Chak reconheceu ontem falhas de fiscalização dentro da polícia no que diz respeito ao acesso a dados de migração, mas esclareceu que foram implementadas normas para preencher lacunas de segurança. As declarações do secretário surgiram no seguimento de questões sobre o caso divulgado pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) sobre um agente suspeito de aceder, sem autorização, a dados de migração de um homem e uma mulher. O agente é suspeito do crime de abuso de poder por acesso indevido a dados pessoais. Wong Sio Chak indicou que há um sistema para verificar se alguém acedeu a dados sem necessidade ou competência para tal. “Iremos aumentar a nossa fiscalização interna. Esta é uma falha da nossa parte”, admitiu à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa. Depois da situação ter sido identificada, a tutela mudou os procedimentos. O secretário indicou que, a partir de agora, qualquer agente da Polícia Judiciária (PJ) terá de solicitar aos serviços de migração uma autorização prévia para aceder aos registos de entrada e saída de cidadãos. Além disso, apontou que a fiscalização pode ser melhorada tecnologicamente. Wong Sio Chak recordou que quando era director da PJ foi detectado que uma chefia consultou dados, e que depois da fiscalização interna a pessoa deixou de ter essa posição. Frisou assim que há medidas de fiscalização que permitem verificar se as consultas de informações foram feitas de acordo com a lei. “Muitas chefias podem até verificar sobre esses dados, mas temos uma fiscalização para ver se é ou não legal”. Para impedir o acesso indevido a dados, Wong Sio Chak disse também que as autoridades estão ainda a avaliar como intervir. Sem objecções O secretário para a Segurança esteve ontem na Assembleia Legislativa para reunir com a 2ª Comissão Permanente, que está a debater na especialidade alterações à Lei de Bases da Segurança Interna da RAEM. “Não temos grandes objecções em relação aos artigos desta lei”, disse o presidente da Comissão, Chan Chak Mo. Entre os temas abordado esteve a actualização de expressões e referências, como a mudança de capitania dos portos para Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, ou a necessidade de voltar a publicar a lei. Prevê-se que na próxima etapa as assessorias reúnam e que o Governo apresente uma nova versão da proposta aos deputados. À espera de terra Wong Sio Chak foi ontem questionado sobre o ponto de situação da legislação sobre substâncias perigosas. O Governo pretende lançar uma consulta pública este ano, mas o momento vai depender do processo dos tribunais. Em causa está o terreno para a localização do armazém, já que de acordo com o secretário para a Segurança, os documentos estão todos preparados. “Basta ter uma localização e iremos avançar para consulta pública”, avançou. Recorde-se que, em Janeiro, Wong Sio Chak defendeu que criar legislação neste âmbito era “uma tarefa urgente”.
Estudo | Robots podem roubar empregos ao sector do jogo e do turismo Andreia Sofia Silva - 3 Nov 20204 Dez 2020 Glenn Mccartney, professor da Universidade de Macau, acaba de publicar um estudo em parceria com Andrew Mccartney sobre o uso de robots na indústria hoteleira. Glenn Mccartney não tem dúvidas de que Macau pode ser um exemplo na aplicação deste tipo de tecnologia, que pode colocar em perigo empregos ao sector do jogo e do turismo. No entanto, falta definir estratégias de recursos humanos e criar legislação adequada [dropcap]D[/dropcap]epois da ficção científica nos ter avisado, múltiplas vezes, para o perigo existencial que representam os avanços em robótica, as ciências sociais partem da certeza do progresso tecnológico para criar respostas aos desafios que nos esperam. O mais recente exemplo é o estudo de Glenn Mccartney, professor da Universidade de Macau (UM) e especialista na área do turismo, que analisou o uso da robótica no sector. O académico acaba de publicar o estudo “Rise of the machines: towards a conceptual service-robot research framework for the hospitality and tourism industry”, em colaboração com Andrew Mccartney, co-fundador da empresa londrina White Space, que opera na área das tecnologias da informação. O trabalho, publicado pela editora Emerald Publishing, analisa o impacto que os robots vão ter na indústria hoteleira em todo o mundo do ponto de vista dos clientes, empregadores e trabalhadores, mas também de quem implementa políticas nesta área. No caso de Macau, os robots poderiam substituir croupiers ou funcionários que trabalham nas recepções de hotéis. “Os robots vão ser como nós. Podem falar, aceder à internet 24 horas por dia. Não se cansam, não precisam de fazer pausas. No futuro, poderemos ter um robot para assumir funções em casinos”, disse Glenn Mccartney ao HM. “Muitos funcionários da linha da frente poderão ser substituídos por estes robots que desempenham funções na área dos serviços. Um robot pode lançar cartas, recolher fichas de jogo, fazer o check-in dos jogadores, verificar passaportes na fronteira. É um mundo fascinante no qual iremos entrar”, frisou. No entanto, o académico considera que o território não está, de todo, preparado para receber este tipo de tecnologia. “Não há sequer legislação que permita o uso de robots no sector. Falamos muito da cidade inteligente, mas a legislação tem de ser alterada para permitir que isso aconteça. Deve haver protecção de dados, o seu armazenamento em nuvem.” Uma lei desse género deveria definir, por exemplo, o que é um robot e quais são os seus direitos laborais e civis. “Deve haver uma legislação clara nesta área, incluindo a inteligência artificial. O robot pode ter direitos.” Além da ausência de legislação específica, o académico da UM destaca o facto de Macau ainda não ter este tipo de tecnologia, embora possa ser uma realidade em menos de 20 anos. “Temos de olhar para a questão do custo-benefício, e os robots vão tornar a mão-de-obra mais barata. Caberá à indústria determinar se a tecnologia é fiável e se custa demasiado ou não. Actualmente, este tipo de tecnologia é ainda muito caro, mas pode tornar-se mais barato – hoje utilizamos smartphones, não é?”, exemplifica. Lugar experimental Glenn Mccartney dá como exemplo o robot Sophia, criado em Hong Kong em 2015 e que tem nacionalidade da Arábia Saudita. Em 2019, foi uma das estrelas da Websummit, que decorreu em Lisboa. “Os robots podem entender a nossa língua. Os humanos fazem erros, mas os robots funcionam com algoritmos. Será possível um robot funcionar na recepção de um hotel, mas não vamos querer que um robot tome conta dos nossos filhos, por exemplo. Há um nível de confiança que temos de atingir e todas estas questões têm de ser ponderadas.” O académico não tem dúvidas de que Macau, apesar de não estar preparado para esta realidade, seria um bom lugar para experimentar a aplicação da tecnologia, por ser um território pequeno. “Estas experiências podem ser feitas no Cotai. Por exemplo, fazer check-in nos hotéis recorrendo a um robot. Quanto aos croupiers, não sei, será algo curioso.” Uma das conclusões do estudo prende-se com o sentimento de medo que esta tecnologia gera nos seres humanos. “O uso de um robot no lugar de um croupier será o futuro. Há o medo da tecnologia, que se traduz no receio do desemprego. Esse será um grande desafio em Macau, porque temos mais de 20 mil croupiers, todos locais.” Para Glenn McCartney, o Governo “deveria sentar-se com as operadoras de jogo e analisar esta questão”. “Macau pode ser um sítio onde esta tecnologia é adoptada mas sem que tenha de ser uma ameaça. A minha preocupação prende-se com o facto de termos muitas pessoas a trabalhar na linha da frente. Se forem substituídas por robots, o que vai acontecer, o que podemos fazer com elas? Esse é o desafio.” O autor do estudo referiu ainda que é essencial apostar na formação profissional e em estratégias de recursos humanos. “Precisamos de uma estratégia para estas pessoas no futuro, de apoiar o desenvolvimento de talentos.” O estudo aponta para a necessidade de “um quadro conceptual que considere a aceitação da robótica com base nas diferentes perspectivas de empregados, clientes e entidades governamentais”. Glenn e Andrew Mccartney destacam o facto de os receios da classe laboral “não serem infundados”, uma vez que um estudo desenvolvido pela consultora KPMG, em 2016, dá conta da perda de 100 milhões de empregos em todo o mundo até 2025 devido a avanços tecnológicos na robótica. Sem covid-19 Em tempos de pandemia, quando a indústria hoteleira em todo o mundo sofre com a redução drástica de viagens e turistas, o uso de robots poderia constituir solução. Segundo os autores do estudo, a pandemia “pode actuar como catalisador para a introdução de mais robots de serviços”, uma vez que “os funcionários podem ser substituídos para reduzir a interacção entre trabalhador-hóspede”. “A integração de robots no sector hoteleiro após a pandemia da covid-19 pode reduzir custos e gerar uma economia de escala relacionada com a introdução de robots”, lê-se. Porém, alterar o paradigma do atendimento ao cliente, eliminando o elemento humano da equação terá de ser um passa dado com bastante cálculo. “A análise do custo-benefício deve ter em conta a aceitação dos robots de serviços por parte de clientes e empregados, incluindo políticas governamentais, com o predomínio dos avanços tecnológicos”, aponta o estudo. Questões éticas e morais devem ser tidas em conta na aplicação da tecnologia ao mercado de trabalho, uma vez que “os clientes podem recusar o uso de robots de serviços, preferindo o contacto humano e o seu serviço”. Há também “um lado positivo”, uma vez que os robots “podem desempenhar papéis mais atractivos e até engraçados, ou realizar tarefas perigosas que possam levar à prevenção de acidentes e infecções nos humanos”. Os autores citam também investigações recentes que chamam a atenção para a necessidade de contabilizar o número de clientes que podem ser atendidos por um robot, aqueles que se podem adaptar a um serviço desempenhado desta forma e também à possibilidade de taxar os robots. O hotel FlyZoo, do grupo chinês AliBaba, é um exemplo de uma unidade hoteleira que funciona, quase na sua maioria, com robots. O trabalho de Glenn e Andrew Mccartney destaca também o exemplo de uma cadeia de hotéis no Japão que, em 2015, começou a substituir funcionários da recepção e de limpeza por robots de serviços. No entanto, em 2019, “mais de metade dos 243 robots de serviços foram retirados porque não conseguiam responder a todos os pedidos feitos pelos hóspedes e não tinham um bom funcionamento devido à lentidão da tecnologia”. Um sinal de que há ainda muito a fazer até que esta seja uma realidade no nosso dia-a-dia.
Norte-americanos escolhem hoje o próximo Presidente dos EUA Hoje Macau - 3 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap]s norte-americanos escolhem hoje o próximo Presidente, numa altura em que mais de 80 milhões de eleitores já votaram antecipadamente e sem certezas de quando haverá um resultado final. Depois de um dia intenso de comícios por parte dos dois principais candidatos eleitorais, o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump, espera-se hoje uma das mais baixas taxas de abstenção na história recente das eleições presidenciais dos Estados Unidos. As autoridades estão preocupadas com a possibilidade de incidentes em algumas cidades, especialmente depois de grupos organizados de cidadãos terem anunciado manifestações de apelo ao voto ou operações de vigilância das mesas eleitorais, que podem ser confundidas com manobras de intimidação de eleitores. As sondagens mais recentes dão uma confortável vitória a Joe Biden, com cerca de 10 pontos de vantagem no voto popular nacional, mas na análise aos resultados dos Estados considerados essenciais para determinar uma vitória (como é o caso da Pensilvânia, Florida, Wisconsin, Michigan e Texas) as diferenças de intenção de voto são mais próximas (em alguns casos caem na margem de erro) pelo que o desfecho é ainda imprevisível. Para além de Biden e Trump, na maioria dos Estados, aparecem ainda no boletim de voto os nomes de Jo Jorgensen, pelo Partido Libertário, e de Howie Hawkins, do Partido Verde, para além de um leque de candidatos de pequenas organizações cívicas, que apenas concorrem em alguns círculos. O elevado número de votos antecipados (presenciais e por correspondência) pode atrasar a contagem dos votos, especialmente depois de o Supremo Tribunal ter permitido a aceitação de boletins até sexta-feira, em alguns Estados, fazendo com que o vencedor oficial apenas possa vir a ser conhecido dentro de alguns dias ou semanas. Com o Presidente em exercício, Donald Trump, a lançar a suspeita de “fraude eleitoral” na contagem de votos antecipados, as autoridades eleitorais antecipam mesmo a possibilidade de litígios legais sobre os resultados, que podem atrasar o anúncio do vencedor das eleições. Em último caso, e depois de eventualmente o Supremo Tribunal se ter pronunciado sobre as possibilidades de recontagem de votos em alguns estados, o processo pode transitar para o Congresso, onde o número de Grandes Eleitores (a figura abstrata que representa o peso de cada Estado no resultado final) pode ser disputado pelos membros da câmara de representantes, até haver um resultado final. Num caso extremo, a líder da câmara de representantes, a democrata Nancy Pelosi, pode ser chamada a assumir o cargo de Presidente, interinamente, no dia 20 de janeiro (data em que um novo líder deve, pela Constituição, tomar posse), até que se processem todas as decisões, onde o senado terá uma palavra final.
A Fábula do Humano e do Tigre Paulo José Miranda - 3 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]E[/dropcap]m Um Tigre À Porta Da Sé, Mónia Camacho começa a sua narrativa contrariando o ponto de vista usual em que nos encontramos. Maria Al-Malik, princesa de Marrocos, chega à Estação de Campanhã e quer fazer daquele espaço a sua residência. Logo de imediato, o Chefe da Estação diz: «Minha senhora, isto é uma estação de comboios… […] Isto é um sítio onde se chega e de onde se parte. Não é para ficar. Percebe?» (p. 11) É também este o argumento que Heidegger dá para que o tédio de primeira forma se instale em nós. O exemplo de Heidegger, contudo, refere uma situação do nosso quotidiano e não uma situação inusitada como aquela com que Camacho começa a sua narrativa: chegar 5 minutos atrasado ao comboio e o próximo terá lugar várias horas depois. O tédio instala-se precisamente porque estamos num lugar que não era para estarmos, isto é, para ser mais preciso, o lugar onde estamos não é um lugar para se estar, mas um lugar para chegar e partir. Por conseguinte, as horas seguintes, de espera do próximo comboio vai fazer com que o tédio se instale. O que Mónia Camacho nos mostra com este exemplo da estação de comboios é que uma narrativa começa precisamente por um dar-se conta da ruptura com o nosso ponto de vista usual. Sem esta ruptura não haveria escrita, pois ela pretende iluminar os espaços, ou de incompreensão ou inusitados, daquilo que se apresenta, que tanto pode ser a nossa vida quanto uma situação que acontece no mundo, como é o caso de uma princesa de Marrocos ir instalar-se na Estação de Campanhã: «Esta será a minha casa até ser recebida pelo senhor Ministro.» (10) Perante esta perplexidade, de alguém a querer instalar-se na estação de comboios, o Chefe da Estação não sabe o que fazer e chama a polícia e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. A situação, apesar de inusitada, só tem capacidade narrativa porque a pessoa em questão é uma princesa de Marrocos e muito conhecida em Portugal. De tal modo que, quando o agente da polícia chega «Ficou sem saber se pedia um autógrafo ou a identificação. Na verdade, sabia bem quem ela era: uma espécie de “Madona” moura.» (12) Assim, logo desde o início da narrativa somos convocados para aceitar uma situação inusitada. Evidentemente, dar-se conta de uma ruptura com o nosso ponto de vista usual não é o mesmo que apresentar logo de início uma situação inusitada. Aqui tornam-se uma e a mesma coisa, porque aquilo que leva à situação inusitada do início do livro conecta-se com o que produz a ruptura com o nosso ponto de vista usual: tornar-se outro. A heroína de Um Tigre Às Portas Da Sé pretende deixar de ser quem é para passar a ser outra pessoa. Leia-se, aquilo que ela responde ao polícia quando lhe pergunta se vem dar um concerto: «Venho ser daqui.» (12) Ou, mais adiante: «Esta é aquela vida em que vou ser portuguesa – disse em voz alta.» (20) Por conseguinte, estamos diante de uma espécie de conversão. Alguém que está prestes a deixar de ser quem é para passar a ser outra pessoa. E, como é comum em todas as conversões, aquele que se converte – que passa a ser outro – começa a ver o seu passado como um peso morto, como algo que o afastou de ter sido quem é, mais cedo. A meio do livro, perante a pergunta – «Mas, afinal, o que precisa de ser perdoado?» (26) – do seu interlocutor, que pretende ser seu biógrafo, a princesa responde: «A minha vida inteira. É por isso que quero ser outra.» (26) Ou, adiante: «Às vezes, sinto que o tempo passou por mim sem me dar importância. Sem me conquistar.» (30) Estamos, por conseguinte, perante uma narrativa de conversão, de alguém que se dá conta de que não quer mais ser quem é, que se desperdiçou, que desperdiçou a sua vida e quer recuperá-la, quer reconquistar-se. Assim, Um Tigre À Porta Da Sé é também um livro acerca de deixar de se ser, isto é, um livro que nos faz ver como podemos passar uma vida sendo outro que não nós, à nossa revelia, como se nunca chegássemos a ser quem somos ou como se pudéssemos deixar de ser quem somos através de uma espécie de desistência de nós mesmos. Que devemos entender por conversão? Leiam-se duas passagens da escritora às páginas 27 e 28-29: «Há sempre um momento “clic”; um momento revelação em que todas as peças se movem para o seu lugar.» (27) «Não precisava de mais nada: mudar o mundo. Todo, de preferência. Ou, pelo menos, a parte que importava, se conseguisse saber qual era. Era para isso que ali estava. Embora só agora se apercebesse.» Ou seja, a conversão, o tornar-se uma outra diferente da que tinha vindo a ser, dá-se naquele momento, como um «clic», como São Paulo na estrada de Damasco. A princesa dá-se conta de que a parte que importa mudar no mundo é ela. Quem é esta mulher que quer ser quem até aqui não foi, que sente que em algum momento da sua vida desistiu dela? Somos nós. Mas se por um lado se trata de um livro ontológico, existencial, de alguém que procura por si mesmo e para isso precisa de deixar de ser quem sempre foi, essa ilusão de si, também se trata de um livro que aborda o problema da ética em geral e da ética da escrita em particular através da personagem Biógrafo. À página 15 opera-se uma alteração na narrativa ou, melhor seria dizer, a narrativa é acrescentada com a introdução de mais um elemento: o Biógrafo. Leia-se: «O Biógrafo ensaiava a melhor forma de dizer ao editor que não podia escrever o livro. Não queria ser infiel ao morto. Demasiados segredos. Cada fio que puxava ameaçava meia cidade. E a outra meia escapava por mero acaso. Um terramoto. E lisboa não poderia ter mais nenhum. Seria possível escrever a biografia de alguém que odiamos sem fugir à verdade? Alguém que, se não estivesse morto, mataríamos? […] Este trabalho estava a acabar com o bom senso que lhe restava. Não o devia ter aceitado. A burrice paga-se quando só se quer dinheiro. O problema era já ter gastado mais de metade do adiantamento que recebera.» (continua)
Hong Kong | Chefe do Executivo viaja até Pequim em busca de apoio para recuperação económica Hoje Macau - 3 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong viaja hoje para Pequim, onde se vai reunir com as autoridades chinesas, para revitalizar a economia da região semi-autónoma e discutir a reabertura das fronteiras com a China. Carrie Lam disse que as reuniões, entre quarta-feira e sexta-feira, incluem discussões sobre como Hong Kong se pode integrar nos planos de desenvolvimento da China, e como o território pode cooperar com Shenzhen, adjacente à região administrativa, no âmbito do plano de integração regional da Grande Baía. Shenzhen, uma das mais prósperas cidades chinesas, foi usada como laboratório da abertura do país à economia de mercado, nos anos 1980, tornando-se num centro global para a indústria eletrónica e sede das principais firmas tecnológicas da China. A responsável também disse aos jornalistas que planeia abordar quando é que Hong Kong e a China podem retomar o fluxo de pessoas, sem a necessidade de realizar quarentena. Desde março passado, devido à pandemia do novo coronavírus, os residentes da China e de Hong Kong são obrigados a ficar em quarentena, por duas semanas, sempre que cruzam a fronteira. “Isto é muito importante para retomar a atividade económica, desde a prestação de serviços profissionais, visitas a familiares e idas à escola”, disse. A viagem de Lam a Pequim acontece depois do adiamento do discurso anual sobre o futuro da cidade, alegando que o apoio de Pequim vai permitir um discurso capaz de aumentar a confiança no futuro económico de Hong Kong. Questionada sobre a eleição presidencial nos Estados Unidos, Lam disse esperar que o próximo Presidente considere a importância de Hong Kong nas relações entre a China e os Estados Unidos. “Espero que a nova administração dos EUA lide com as relações com Hong Kong de forma abrangente, tendo em consideração os interesses de muitas empresas norte-americanas em Hong Kong, que empregam muitas pessoas, e que não permita irrefletidamente que considerações políticas tenham um efeito injustificado sob Hong Kong”, disse.
Acordo entre CEE e Macau foi “peça fundamental” para a transição, diz Vítor Martins Hoje Macau - 3 Nov 20204 Dez 2020 Ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus do Governo de Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro português, recorda à Lusa que o primeiro acordo entre a CEE e Macau foi uma “peça fundamental para a entrega do território à China e de todo o processo de transição que veio a fazer-se” [dropcap]D[/dropcap]epois de ter assumido a presidência da UE em 1992, 2000 e 2007, Portugal fá-lo, a partir de 1 de janeiro de 2021, pela quarta vez, a primeira desde que o Tratado de Lisboa foi assinado. Em entrevista à agência Lusa, Vítor Martins, ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus do Governo de Cavaco Silva, ex-primeiro-ministro português, recorda à Lusa que o primeiro acordo entre a CEE e Macau foi uma “peça fundamental para a entrega do território à China e de todo o processo de transição que veio a fazer-se”. A primeira presidência portuguesa da ainda Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1982, foi “um teste à maturidade” do país, seis anos depois da adesão de Portugal, assinalou o responsável. “A presidência portuguesa do primeiro semestre de 1992 foi assumida um pouco como uma espécie de teste à maturidade da nossa adesão e à nossa capacidade dos nos afirmarmos como membro de corpo inteiro do projeto de construção europeia”, recorda o na altura secretário de Estado dos Assuntos Europeus, do XII Governo Constitucional, o terceiro liderado por Cavaco Silva. No âmbito de uma série de entrevistas com os principais responsáveis pela coordenação das presidências portuguesas de 1992, 2000 e 2007, Vítor Martins reconhece que a primeira “teve um significado especial”, tendo resultado de uma preparação prévia de “anos”, porque “não existe uma segunda oportunidade para dar uma boa primeira impressão”. Com apenas 12 Estados-membros na altura, “a possibilidade de concertação era muito mais fácil” do que actualmente, concede o ex-governante, que foi depois consultor para assuntos europeus de Cavaco Silva na Presidência da República, admitindo que foi “talvez um pouco mais fácil dar uma marca da presidência” portuguesa em 1992. O “espírito de família” ajudava. “Sentíamos isso, que havia ali uma vontade de convergência entre todos, não sei se hoje será assim”, duvida. Além disso, “a Comissão Europeia interagia de uma forma muito direta e pragmática com os Estados-membros e as presidências”, acrescenta. Houve uma “articulação intensíssima” com a Comissão Europeia. “Hoje admito que também haja, com certeza, essa concertação, mas é já objeto de um ruído de fundo político e institucional que pode limitar um bocadinho essa boa concertação”, distingue. Recordando que, em 1986, quando Portugal entrou para a CEE, vivia-se um tempo de “aceleração da integração europeia”, o que exigiu uma adaptação rápida para “acompanhar o ritmo”, Vítor Martins assinalou que “a rotação das presidências pelos Estados-membros era total” e “todas as áreas do Conselho eram assumidas pela presidência em exercício na altura”. Sendo certo que 1992 teve como pano de fundo um “contexto de conflitualidade” na ex-Jugoslávia, tal “não impactou negativamente” a presidência portuguesa, porque esse era também o tempo do pós-queda do Muro de Berlim e da unificação da Alemanha, que “significava, em certa medida, uma vitória do próprio projeto europeu”, realça Vítor Martins. O conflito nos Balcãs foi acompanhado directamente pela área de cooperação política do Ministério dos Negócios Estrangeiros, nomeadamente pelo recentemente falecido embaixador José Cutileiro, que “teve um papel fundamental”, sublinha o ex-secretário de Estado. Ou seja, o conflito “esteve presente”, mas “não foi dominante, nem constrangedor ou perturbador da dinâmica da presidência”, atesta. A presidência de 1992 “foi preparadíssima, planeadíssima e, naturalmente, teve que se integrar naquilo que era a agenda das questões europeias”, frisa Vítor Martins. Recorda, desde logo, a assinatura do Tratado de Maastricht, que acabou por acontecer em fevereiro de 1992, na cidade com o mesmo nome, em homenagem ao trabalho anterior da presidência holandesa. Porém, “muitos técnicos e diplomatas portugueses” intervieram na sua redação final durante o mês de janeiro, lembra. Os “avanços decisivos do mercado interno” nesse semestre são também de assinalar, tal como a criação, em junho, do fundo de coesão, que “ainda hoje vigora e é extremamente importante”, adita. No domínio das relações externas, “Portugal entendeu que devia usar o tempo da presidência para aproximar a Europa de alguns espaços” que lhe eram próximos, com os quais tem “afinidades e proximidades”.
Reguladores chineses convocam Jack Ma antes de Ant Group entrar em bolsa Hoje Macau - 3 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap]s reguladores chineses convocaram hoje Jack Ma, fundador do Ant Group e o homem mais rico da China, para uma reunião, poucos dias antes das acções da empresa começarem a ser negociadas em bolsa. Em comunicado, o Banco do Povo da China (banco central), a Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China, a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários e a Administração Estatal de Câmbio informaram terem realizado “entrevistas regulatórias” com Ma, com o presidente do conselho da administração do Ant Group, Eric Jing, e o diretor da empresa, Hu Xiaoming. O comunicado não avança detalhes, embora estas chamadas dos reguladores sejam vistas como um alerta ou uma espécie de repreensão. “Houve uma troca de opiniões sobre a saúde e a estabilidade do sector financeiro”, disse o Ant Group, em comunicado. O grupo “está empenhado em implementar as opiniões recolhidas durante a reunião em profundidade e continuar no rumo, com base nos princípios de inovação estável, cumprimento da regulação, servir a economia real e cooperação com ganhos para todas as partes”, disse. “Continuaremos a melhorar as nossas capacidades para fornecer serviços inclusivos e promover o desenvolvimento económico, visando melhorar a vida dos cidadãos comuns”, acrescentou a empresa. Jack Ma foi convocado pelos reguladores poucos dias depois de ter afirmado que os regulamentos financeiros estão desatualizados, referindo-se aos acordos de supervisão bancária de Basileia como obra de um “clube de velhos”. Ma questionou se o sistema financeiro chinês se deve submeter a esses regulamentos. “Os acordos de Basileia são usados para tratar as doenças de um sistema bancário envelhecido, são remédios para idosos (…), mas o sistema bancário chinês é jovem”, disse o empresário, citado pela imprensa local. O empresário defendeu que a China precisa de canais de financiamento alternativos, além dos grandes bancos estatais, fortemente dominantes no país. “Os grandes bancos são como rios, mas precisamos de lagoas, riachos e canais no sistema. Sem eles, vai haver sempre enchentes ou secas”, descreveu. Ma garantiu que os bancos tradicionais funcionam como “casas de penhores” e garantiu que as futuras decisões de crédito terão que ser feitas por meio de ‘big data’ (análise maciça de dados) e históricos de crédito, em vez de solicitar grandes garantias para conceder empréstimos, ao mesmo tempo que criticou a excessiva burocracia do sistema financeiro chinês. O Ant Group opera a Alipay, a maior e mais valiosa empresa de tecnologia financeira (‘fintech’) do mundo e uma das duas carteiras digitais dominantes na China, país onde o dinheiro físico praticamente desapareceu. Jack Ma fundou o gigante do comércio eletrónico Alibaba, em 1999. O Alipay foi introduzido como método de pagamento, para aumentar a confiança dos utilizadores na plataforma. As ações do Ant Group devem começar a ser negociadas em Hong Kong e em Xangai na quinta-feira, na que se espera ser a maior entrada em bolsa de sempre. A empresa enfrenta crescente escrutínio e regulamentação mais rígida, à medida que amplia a gama de serviços que oferece. Entre as novas regulamentações estão limites para o uso de títulos garantidos por ativos para financiar empréstimos ao consumidor, novos requisitos de capital e licenciamento e limites para as taxas de empréstimos. Na segunda-feira, o banco central aumentou a exigência de capital registado para credores como o Ant para um mínimo de cinco mil milhões de yuan.
Sobe para 20 número de mortos nas Filipinas na sequência do tufão Goni Hoje Macau - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades das Filipinas elevaram ontem para 20 o número de pessoas mortas na sequência da passagem do tufão Goni, considerado o mais forte deste ano e que deixou um rasto de destruição naquele arquipélago. O anterior balanço das autoridades dava conta de 16 mortos. Acompanhado por vento forte com rajadas na ordem dos 225 quilómetros por hora e por chuvas torrenciais, o tufão Goni destruiu nas Filipinas dezenas de milhares de casas, fez danos nas redes eléctrica e de telecomunicações e provocou deslizamentos de terras. As comunicações com as áreas afetadas pela intempérie permanecem cortadas. A ilha de Catanduanes e a província insular de Albay, na ilha de Luçon, a maior e a mais populosa das Filipinas, foram as áreas mais afetadas pelas condições meteorológicas extremas que atingiram o território filipino no domingo. O tufão, que seguiu uma trajetória em direção a oeste, perdeu intensidade ao atingir a área metropolitana de Manila (capital), antes de progredir no Mar da China do Sul em direção ao Vietname. “Estamos horrorizados com os danos provocados por este tufão em muitas áreas, incluindo na ilha de Catanduanes e na província insular de Albay”, disse o chefe da Cruz Vermelha nas Filipinas, Richard Gordon, num comunicado. “Em algumas áreas, até 90% das casas ficaram gravemente danificadas ou destruídas”, reforçou o representante. Os serviços de proteção civil filipinos contabilizaram mais de 20 mil casas destruídas e outras 58 mil que ficaram parcialmente danificadas. Várias áreas agrícolas também sofreram danos significativos. Antes da passagem do tufão, centenas de milhares de pessoas foram retiradas das zonas de risco. O chefe dos serviços de prevenção de catástrofes da província de Albay, Cedric Daep, destacou que “milhares de pessoas poderiam ter morrido” caso as autoridades não tivessem acionado este plano de evacuação. “Infraestruturas e habitações sofreram danos significativos”, prosseguiu Cedric Daep, relatando ainda que esta intempérie veio agravar ainda mais a situação social de muitos filipinos. “Muitas pessoas estão a passar fome. Já estavam a sofrer com a (pandemia) covid-19, por causa da perda de emprego. Algumas nem têm utensílios de cozinha”, reforçou Cedric Daep, citado pelas agências internacionais. O Goni, que se formou no Oceano Pacífico, foi descrito pelos meteorologistas como o tufão mais forte deste ano e classificado inicialmente na categoria de “super-tufão”. As Filipinas são afetadas anualmente, em média, por duas dezenas de tempestades tropicais e tufões, que destroem culturas, casas frágeis e infraestruturas, mantendo populações inteiras em situação de pobreza permanente. O pior da história recente foi, em 2013, o super-tufão Haiyan, que matou mais de 7.300 pessoas, particularmente na cidade central de Tacloban, que foi submersa por ondas gigantes.
Xu Jie escolhido para director da Faculdade de Letras e Humanidades da UM Hoje Macau - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]X[/dropcap]u Jie vai ser o novo director da Faculdade de Letras e Humanidades da Universidade de Macau (UM) e a sua nomeação deverá ser formalmente efectivada em breve, avançou a TDM Rádio Macau. A selecção do director substituto da Faculdade de Letras e Humanidades (FLH) terá sido feita depois de uma entrevista e de uma aula. De acordo com a TDM Rádio Macau, uma centena de pessoas assistiu à aula. O concurso para o cargo de director da FLH da Universidade de Macau foi lançado em Agosto do ano passado e oferece uma remuneração anual superior a 1,3 milhões de patacas por ano. Recorde-se que, em Setembro, o HM noticiou que Xu Jie foi escolhido para liderar a Comissão de Recrutamento do futuro director da FLH, mas mais de um ano depois do início do concurso abandonou a função e apresentou a sua candidatura ao cargo de director. A Universidade de Macau negou que Xu Jie tenha sido presidente da Comissão de Recrutamento e escolhido os membros que avaliam as candidaturas a concurso, sem esclarecer qual a entidade que os escolheu. No entanto, não negou que Xu Jie tenha sido membro da comissão, nem que a abandonou para se candidatar ao cargo e que já tinha sido ouvido enquanto candidato. Processo de escolha Nenhuma das fontes ouvidas na altura pelo HM pôs em causa a competência de Xu Jie, apontando que o que levantou dúvidas foi o procedimento de escolha. Sobre um possível “conflito de interesses”, a instituição de ensino superior afirmou que tudo foi feito dentro da normalidade. Xu Jie é doutorado em linguística pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. O académico concluiu a sua licenciatura em 1981 na Universidade de Henan, em Língua e Literatura Chinesa, e completou também dois mestrados. Assume também o cargo de director interino do Instituto Confúcio, na UM.
Conselho de amigo luis-sa-cunha - 2 Nov 20204 Dez 2020 “Conheço homens e mulheres que desde Março quase não voltaram a sair de casa, não foram almoçar ou jantar a um restaurante, não foram a um espectáculo, não deram sequer uma volta na rua. Sei de pessoas apavoradas que não saem de frente do televisor a ver as notícias sobre a pandemia. Há pais e mães que deixaram de ver os filhos, avós que deixaram de ver os netos. Ora, será isto viver?” José António Saraiva [dropcap]E[/dropcap]ste é o Portugal amedrontado. Há milhares que nunca mais viram o sol desde Março e alguns entraram na loucura. O confinamento não é solução para nada quando nem sequer sabemos o que é que está perante nós. Um vírus que mata? Parece que sim. Uma pandemia generalizada? Decretada. Brasil, EUA e Índia com milhares de mortos? Uma realidade. Um jantar nos arredores de Lisboa com mais de 100 pessoas e que deixou 10 infectados? Um facto. Uma corrida de Fórmula 1 num autódromo, construído mal e incompetentemente para corridas de motas, cheia de mais de 40 mil espectadores em tempo de calamidade e com tudo mal organizado, deixou já cerca de 20 presentes infectados com a covid-19? Uma tristeza que já retirou Portugal do calendário de Fórmula 1 de 2021 e levou o governo a decidir que as corridas de MOTO GP não terão público. E o surf voltou à Nazaré e encheu a colina adjacente à costa com milhares de adeptos sem máscara e sem distanciamento físico? Bem, ao chegarmos a este ponto já temos que salientar a incompetência das autoridades oficiais. A inconsciência do pessoal já é conhecida desde que realiza festas todas as semanas com mais de 200 pessoas e nos dão a certeza que a propagação do vírus não vai parar tão certo. Desde que grupos de jovens se juntam ao redor de uma árvore de um jardim e bebem até às cinco da madrugada. No caso da Nazaré toda a gente sabia, incluindo os técnicos da Meteorologia, que vinham aí ondas gigantes e que os melhores surfistas da Austrália, Japão, Hawai, Brasil e Indonésia já estavam a caminho de Portugal. Ora, se o espectáculo era inevitável, então, as medidas oficiais tinham de ser tomadas. As estradas em direcção ao canhão da Nazaré tinham de ser encerradas, brigadas da Saúde tinham de obrigar o uso de máscara a todos os presentes e os agentes policiais deviam obrigar ao distanciamento físico. Não acontecendo nada disto e continuando a existir eventos com milhares de pessoas, tais como, corridas de toiros, transportes públicos a abarrotar, corridas de carros ilegais nocturnas, assim, ninguém pense que a covid-19 vai terminar. A semana que terminou deixou, pela primeira vez, os portugueses muito preocupados. O número de infectados em 24 horas ultrapassou os 4500 e já se prevê que chegue aos 7000 com o número recorde de 40 mortos. O Conselho de Ministros reuniu extraordinariamente depois de proibir a mobilidade entre concelhos apenas para que a tradição da ida aos cemitérios não se cumprisse. Proíbem a ida aos cemitérios, mas mantêm as fronteiras abertas quando sabemos que a situação em Espanha é 10 vezes pior que no nosso país. A situação está a ficar preocupante. Há especialistas que reportam hospitais completamente esgotados. Dos centros de saúde e dos departamentos da função pública ninguém atende os telefonemas. Os lares continuam diariamente a sinalizar mais surtos. Governantes que em vez de se preocuparem com uma pandemia que poderá matar milhares de portugueses no próximo Dezembro, e por esse facto, anuncia-se a possibilidade de um novo estado de emergência para as duas primeiras semanas do último mês do ano. Assim não se deve governar porque estiveram simplesmente preocupados com o Orçamento do Estado e com as eleições nos Açores. Quanto ao Orçamento do Estado foi um circo de chorar por nunca mais. O Partido Socialista para se manter no poleiro do poder precisou de umas abstenções de deputados que nem pertencem a qualquer partido. Nesta tristeza política assistiu-se ao inesperado. O Bloco de Esquerda, ao fim de tanto amor pelo PS, resolveu juntar-se à direita e à extrema-direita votando contra o Orçamento. Pouca gente percebeu a atitude do Bloco. Irá perder o apoio de milhares de eleitores ou pensa que sendo mais radical, e vendo um PCP mole e pouco activo, que terá um êxito eleitoral? Duvido que o Bloco venha a ter alguma coisa a ganhar com um comportamento que mais parece uma loja de costureiras… Nos Açores, deixem-me dizer-vos que nunca esperei que o PCP ficasse fora do parlamento regional e que o PS ao fim de tantos anos perdesse a maioria absoluta. Com uma agravante: os ultras do Chega elegeram dois deputados, o que, no absurdo, toda a direita junta poderá formar governo nas ilhas açorianas. Todavia, é um prenúncio para o nível nacional político. No continente o PSD anda de rastos a querer igualar o comportamento do CDS. O Iniciativa Liberal, o PAN e o Chega têm angariado cada vez mais apoiante e as últimas sondagens apontam que os extremistas do Chega são um género da antiga maioria silenciosa. Parece que não existem, mas na altura do voto podem surpreender. Portugal, anda ao Deus dará. O povo anda revoltado, triste e pobre. O confinamento de milhares de infectados com a covid-19 está a deixar as pessoas sem alma, sem forças e sem dinheiro. Quem nos ler em Macau que se compenetre de uma certeza: deixem-se estar e nunca saiam da RAEM, um conselho de amigo. *Texto escrito com a ANTIGA GRAFIA
Macau, um mediador privilegiado David Chan - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap] Associação de Arbitragem de Macau participou na Mostra Internacional de Comércio e Investimento de Macau, a convite da Associação dos Empresários de Língua Portuguesa. A Associação de Arbitragem de Macau declarou que o objectivo desta Mostra é a promoção dos serviços de arbitragem de Macau às empresas e Câmaras de Comércio sediadas na Área da Grande Baía, bem como nos países de língua portuguesa. Macau será um mediador privilegiado para a resolução de conflitos comerciais entre empresas chinesas e empresas de países de língua portuguesa. A arbitragem, ou mediação, é um método que permite resolver conflitos sem recurso à litigação. A litigação tem de ser feita em Tribunal e é regulada pela lei local. Se as partes em conflito tiverem nacionalidades diferentes, terão de se submeter à legislação que vigora na área do Tribunal. Além disso, os juízes são peritos em matéria de leis não são peritos em assuntos comerciais e só se podem pronunciar do ponto de vista legal. O papel dos mediadores é diferente do dos juízes. Na arbitragem, o queixoso e o réu podem escolher o mediador, avalizado por ambas as partes após negociação, para promover a resolução do conflito. O mediador possui por regra, para além das habilitações jurídicas, outro tipo de qualificações. Um exemplo típico desta situação é a secretária para a Justiça de Hong Kong, Zheng Ruohua, que além da formação jurídica, tem um doutoramento em Engenharia Civil. Estas habilitações académicas e profissionais tornam Zheng Ruohua numa excelente mediadora de conflitos que envolvam empresas de construção civil. Estas vantagens aumentaram a confiança na arbitragem de conflitos comerciais. Por coincidência, a comunicação social de Hong Kong publicou alguns artigos sobre esta matéria. Zheng Ruohua declarou que o Governo de Hong Kong está a estudar a implementação do princípio “Investimentos de Hong Kong, Lei de Hong Kong e Arbitragem de Hong Kong ” na Área da Grande Baía. Na ausência de conflitos internacionais, o princípio pode ser implementado na Área da Grande Baía em questões civis e comerciais que envolvam investimento de capitais de Hong Kong. Nestas circunstâncias, a lei de Hong Kong deverá prevalecer e, em caso de disputa, a arbitragem deverá ter lugar em Hong Kong. O Governo da RAEHK espera que, através destas medidas, mais empresas de Hong Kong estejam dispostas a investir na Área da Grande Baía. Se duas empresas de Hong Kong envolvidas em projectos comerciais na área da Grande Baía tiverem um conflito contratual, estarão sempre sujeitas à lei chinesa. Como os dois empresários são cidadãos de Hong Kong, a possibilidade aberta pela arbitragem de vir a aplicar a lei de Hong Kong a dissidências que envolvam contratos comerciais na zona da Grande Baía, torna-se sem dúvida atractiva. À partida, a opinião de Zheng Ruohua tem um valor de ordem prática. Os empresários de Hong Kong estão familiarizados com a legislação comercial da cidade. Mesmo que estejam a operar na Área da Grande Baía, não significa que conheçam a fundo a lei chinesa. A arbitragem permitirá que estes empresários recorram à lei de Hong Kong para resolver os seus conflitos. Esta possibilidade vai sem dúvida encorajar o investimento de capitais de Hong Kong na área da Grande Baía. Algumas pessoas podem interrogar-se sobre a validade do veredicto da arbitragem, visto não ser proferido em Tribunal. Será que é legalmente vinculativo? Hoje em dia, muitas zonas já criaram uma legislação especial para a arbitragem, e as suas decisões são não só reconhecidas localmente como também a nível internacional. Desde que a “Convenção de Nova Iorque” seja garantida, as decisões da arbitragem proferidas em qualquer lado podem ser reconhecidas em 163 países e terão de ser aplicadas por força da lei, quer localmente quer internacionalmente. Cada vez mais países reconhecem os veredictos dos mediadores, o que promove a internacionalização da arbitragem, alargando cada vez mais o seu espectro de acção. Desta forma, se o princípio “Investimentos de Hong Kong, Lei de Hong Kong e Arbitragem de Hong Kong” for implementado, a lei de Hong Kong pode ser usada para arbitrar conflitos na China, e o veredicto poderá ser reconhecido em muitos países. Esta proposta é sem dúvida magnífica. A Convenção de Nova Iorque vai aplicar-se à China, a Hong Kong e a Macau. isto significa que os veredictos dos seus mediadores são reconhecidos em 163 países. Macau acaba de implementar a nova revisão da lei da arbitragem. Se o princípio “Investimentos de Hong Kong, Lei de Hong Kong e Arbitragem de Hong Kong” for bem-sucedido, poderá Macau estudar a possibilidade de vir a implementar o princípio “Capitais de Macau, Lei de Macau e Arbitragem de Macau” aos contratos civis e comerciais da Área da Grande Baía? Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
Abandono Amélia Vieira - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]R[/dropcap]espiras e pões-te a caminhar. Embalam-te ventos e novas auroras, mas na realeza da vida há um mar que galga a costa das seguranças impostas e com passos hesitantes a tua rota treme e a Terra toda arqueja… Neste Hemisfério não supomos como o abismo nos olha, e como nós, os caminhantes, andamos no vento sem sustentação, e o medo de findar é um tormento, mas só finda quem não faz de si conforme o espírito da flor levado pela leveza dos seus polens. Rodopiamos no asfalto como se fosse a nossa dança, e se nada lá estiver a tarde cala, e a noite sossega o corpo que cansado está em súplica pela porta do desaparecimento total. Absoluto, que amiúde desejamos sem retorno. Mas quando acorda, o corpo galga de uma estrela ainda andante, ferem-se-nos os flancos e a busca dos caminhos continua, sempre mais estreita- passada a Hora de ser erguido- começa-se a girar na roda mais fechada de um medo antigo. A vida, essa, já não nos quer viver, os muros acontecem, tornam-se esguias catedrais, e tudo se ergue e se fecha ao redor ainda mais… Gastos os sentidos, sabe quem não vê, olhar agora o esgoto derretido é tristeza que não veleja quando se deseja o Abandono que consiste em atirar para o fundo do mar todos os remos. Não queremos ser os guias, nem guiar, nem ser guiados, apenas este instante dado, para não regressar ao tempo movido mas sempre parado. Nascemos para nos dar, o que trajamos cobre a máscara mais audaz, e toda a inspecção se faz atrás de uma viseira vazia que as lágrimas já não podem alcançar, o vírus vira a ausência que nos habita, viemos de que coisa que não se sabe? E como chegar até nós na Hora Aflita?! E não há nenhuma antevisão, nem o tempo se reveste de memória morta, nem os dias de antanho são agora este chão. Reneguemos os ídolos, os vencedores e os vencidos, a esteira do valor que cada um a si se dá, pois não cumprimos nenhum instante doutrinário e cada urgência nos amplia a sede de abandonar a orla desta praia sem costa alguma para onde voltar. Saltámos da Roda e o tempo se desfez, mudados os desígnios, morre quem fôramos, e futuro inominado é tudo quanto agora somos. Há um ponto fixo, porém, à nossa espera, volvido na mudança- eixo astral- e tudo o que nos veste é claro acaso, este ser que morre em mim cruxificado é fresca nortada, um deserto conseguido…salvamo-nos ou não por estranhos caminhos, pois o “lugar do morto” será agora ao vosso lado, sempre que me sento num espaço fechado. Agora todos dias são de abandono, para deixar os dias da vigília, quem vai embarca para o que tem guardado no seu mundo novo, que sendo enfim, feito de tudo o que a massa gera, não mais arrancará sombras onde só estamos à espera… Quem nada queira, nada saiba do que ficou, pois que o Abismo nos olha e é inútil fugir-lhe. Passá-lo, como a mais bela caminhada. Deus que está em mim não oprime esta viagem. Levar a alba lembrada que nós dormimos enquanto… E se no começo tudo tardou, a nossa marcha irromperá onde o longo embuste findou. Unidade que só lembra outrora… que estando dentro de nós, em nós foi ficando de fora. E todos os espectros nos chamaram para núpcias e encontros, um Baile de máscaras montado nos confins galácticos deste escombro, uma antevisão do Inferno, tão cheio, que sobrou para alimento da esfera do meio. Move e é movido quem se quer sem o eixo do recente mundo antigo. Que novo é o Amor, tão novo, que ainda não nasceu, começa sem nada e apenas se dá, morre esquecido e tenta voltar. Mas ele, para aqui não voltará. Os braços que se erguem estão sujeitos a abraçar coisas impensáveis, e nessas alturas os frágeis membros se abandonam, que braços asas são, e nesse encontro passam sempre os grandes braços que se dão.
A encomenda de Yehudi Menuhin Michel Reis - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]N[/dropcap]os seus últimos anos de vida, depois de ter emigrado para os Estados Unidos e de desempenhar brevemente o cargo de professor nas universidades de Columbia e Harvard, Béla Bartók sofreu de problemas de saúde e de pobreza crescentes que as condições de exílio em tempo de guerra pouco ou nada podiam fazer para aliviar. O compositor faleceu em 1945 em circunstâncias difíceis, deixando um novo Concerto para Viola incompleto e o Terceiro Concerto para Piano quase concluído. Os anos na América, quaisquer que fossem as dificuldades que suscitaram, também deram origem a outras composições importantes, incluindo o Concerto para Orquestra, encomendado pela Fundação Koussevitzky, uma Sonata para Violino Solo para o famoso violinista Yehudi Menuhin, considerado um dos maiores violinistas do séc. XX e, no ano anterior à sua saída da Hungria, Contrastes, para o violinista húngaro Joseph Szigeti e o clarinetista de jazz norte americano Benny Goodman, conhecido como o “rei” do swing. A Sonata para Violino Solo, em quatro andamentos, foi encomendada a Bartók por Yehudi Menuhin em Novembro de 1943, a quem foi dedicada e que fez a sua primeira apresentação em Nova Iorque no dia 26 de Novembro de 1944. Foi composta em Nova Iorque e em Ashville, na Carolina do Norte, onde Bartók se submeteu a tratamentos para a leucemia, e concluída em Março de 1944. É um trabalho tremendamente desafiador, exigindo muito do intérprete e do ouvinte. O primeiro andamento, marcado Tempo di ciaccona, é essencialmente um andamento na forma-sonata, com algo do carácter de uma chacona – ou seja que utiliza a forma musical baseada na variação de uma pequena progressão harmónica repetida -, mas não a sua forma. O acorde de abertura pode sugerir a Sonata em Sol menor de Bach para violino solo, embora o que se segue seja muito diferente, com a sua exploração de intervalos geralmente associados à música folclórica húngara e exploração das possibilidades variadas do instrumento. O segundo andamento, Fuga, começa com uma fuga de quatro vozes numa melodia pulsante em staccato mas não é uma fuga estrita, pois o sujeito sofre modificações e episódios introduzem novos materiais. O terceiro andamento, Melodia, começa com uma melodia lírica, enunciada isoladamente e em todos os diferentes registos do instrumento. Prossegue em sextas, oitavas e décimas, acompanhado por trilos e tremolos. O último andamento, Presto, alterna entre uma passagem muito silenciosa, rápida e semelhante a um abelhão, tocada em surdina, e uma melodia alegre. Três temas contrastantes aparecem ao longo deste andamento, os quais reaparecem todos na coda final. A Sonata apresenta muitas dificuldades aos violinistas e usa toda a gama de técnicas de violino: várias notas tocadas simultaneamente (cordas duplas múltiplas), harmonias artificiais, pizzicato para a mão esquerda executado simultaneamente com uma melodia tocada com o arco e grandes saltos entre as notas. Sugestão de audição: Béla Bartók: Sonata for Violin Solo, Sz. 117 Gidon Kremer, violin – EMI Classics, 2009
TCR China | Duelo de gigantes será decidido no Circuito da Guia Sérgio Fonseca - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap] Corrida da Guia do Grande Prémio de Macau vai este ano celebrar a sua 49ª edição. Quando o Automóvel Clube de Portugal e a Hong Kong Automobile Association decidiram introduzir esta corrida para carros de Turismo, em 1972, certamente estavam longe de imaginar que passado quase meio século esta seria o palco do maior confronto desportivo entre construtores automóveis chineses num palco internacional até à data. Esta circunstância só foi possível devido à resiliência do piloto de Macau Rodolfo Ávila. Nas quatro corridas da jornada dupla do passado fim-de-semana no Circuito Internacional Jiangsu Wantrack, Ávila venceu a segunda corrida e terminou no pódio nas restantes, numa performance que no início do ano seria pouco plausível dada a falta de evolução dos MG 6 XPower TCR. Ávila ainda passou por um susto na terceira corrida, onde uma carambola, em que foi inocente, quase provocava a sua desistência. Quem desistiu nesse acidente foi o favorito Ma Qing Hua, que lidera as contas do campeonato de pilotos e que venceu o primeiro embate. Numa pista que desconhecia, Ávila recuperou 22 pontos a Ma Qing Hua, quando ainda estão em jogo 36 pontos a atribuir em duas corridas no Circuito da Guia. A vantagem do ex-piloto de testes da Fórmula 1 sobre o vice-campeão do TCR Asia de 2015 poderia ser ainda menor, mas por razões que só a MG XPower Racing saberá explicar, Ávila não teve “luz verde” para ultrapassar o seu companheiro de equipa Sun Chao na última corrida do fim-de-semana passado. “Após estas duas últimas provas estamos mais confiantes, mas Macau será uma história diferente, pois é uma pista onde tudo pode acontecer e trata-se de um circuito em que a MG nunca correu, ao contrário dos nossos maiores adversários, cujo carro venceu as três corridas da WTCR no ano passado”, reconheceu o piloto de nacionalidade portuguesa da MG XPower Racing, em comunicado, ele que tem sido o maior contribuinte para o facto da MG liderar folgadamente sobre a Lynk&Co na classificação de marcas. No fim-de-semana de 21 e 22 de Novembro, a Lynk&Co, com um carro construído pelas mesmas pessoas que fizeram os Volvo do WTCC, e a MG, com um automóvel produzido em Xangai com assessoria europeia, vão medir forças pela primeira vez num palco internacional, com vantagem teórica para a Lynk&Co que já escreveu o seu nome na galeria dos vencedores da Corrida da Guia. Souza fez a primeira parte Presente também no circuito de Jiangsu Wantrack esteve o macaense Filipe Souza. Após a jornada menos feliz em Tianma, em que uma miriade de problems técnicos impediram um resultado melhor, Filipe Souza aproveitou esta jornada nos arredores de Nanjing para preparar o Grande Prémio. O piloto do território apenas disputou as duas corridas de sábado, rumando propositadamente mais cedo a casa. Na primeira corrida do programa, Souza foi nono classificado, mas na segunda contenda de 28 voltas, o piloto da RAEM terminou num animador quinto lugar, tendo sido o melhor dos pilotos privados. Filipe Souza será certamente um dos mais fortes representantes de Macau na Corrida da Guia dentro de três semanas. Huff esperado Apesar de não estar oficialmente confirmado, tudo indica que Rob Huff poderá estar à partida da Corrida da Guia este ano, o que lhe dará automaticamente o estatuto de favorito. O ex-campeão do mundo, e por nove vezes vencedor no Circuito da Guia, tinha planos para realizar esta corrida desde o início do ano, tendo mostrado as suas intenções ao HM no início do ano. A quarentena obrigatória não terá demovido o britânico de 41 anos que este ano se sagrou campeão sueco de carros de Turismo. “Huffy” ainda não revelou os seus planos para a prova, mas muito provavelmente deverá alinhar ou com um Volkswagen Golf TCR ou num dos carros oficiais da MG. Ávila encerra época do CTCC Num fim-de-semana em que disputou oito corridas de dois campeonatos diferentes, Rodolfo Ávila encerrou a temporada 2020 do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) no exíguo Circuito Internacional de Jiangsu Wanchi, voltando a subir ao pódio e cumprindo o objectivo de ajudar a equipa oficial da SAIC Volkswagen a renovar um dos títulos do campeonato, neste caso o de pilotos. Depois do acidente, quando seguia em primeiro e um disco de travão literalmente explodiu, na última corrida de Zhuhou, que Ávila ficou relegado a segunda opção dentro da equipa, tendo que abdicar de resultados para dar espaço ao seu chefe de fila, Zhang Zhen Dong, que acabaria por se sagrar campeão. Mesmo assim, Ávila, que foi novamente o piloto mais rápido da equipa este fim-de-semana nos arredores de Nanjing, ficou em quinto no campeonato.
Cinemateca Paixão | Cartaz de Novembro “espreita” Festival de Cinema de Hong Kong João Luz - 2 Nov 20204 Dez 2020 O mês de Novembro da Cinemateca Paixão é fortemente influenciado pela edição deste ano do Festival Internacional de Cinema de Hong Kong, em particular com a exibição do filme de abertura do evento “Keep Rolling”, documentário sobre a cineasta Ann Hui. Os restantes sete filmes dividem-se entre autores de Taiwan, Turquia, Palestina, Estados Unidos e França [dropcap]O[/dropcap] cartaz de Novembro da Cinemateca Paixão é composto por oito filmes de várias proveniências e estilos. Três das obras que vão ser exibidas na Travessa da Paixão integram o programa da edição deste ano do Festival Internacional de Cinema de Hong Kong. A começar pelo documentário de abertura do evento na região vizinha, “Keep Rolling”, focado na vida e obra da cineasta Ann Hui, um dos nomes cimeiros da sétima arte produzida em Hong Kong. O documentário, realizado por Man Lim Chung, será exibido na Cinemateca Paixão nos dias 13 e 15, às 19h, e 21, 24 e 28 às 21h30. O cinema de Taiwan continua bem representado na programação, com duas películas “i WEiR DO” e “Dear Tenant”, esta última também integrada no cartaz do festival de cinema da região vizinha. “Dear Tenant” é um drama familiar, realizado e escrito por Yu-Chieh Cheng, que começa e acaba com mortes no papel de catalisador da acção. O personagem principal (Lin), depois do falecimento do namorado, fica a tomar conta do filho e da mãe do falecido (Sr.ª Chou), num misto de prolongamento da relação através de terceiros e solidariedade. Depois da morte da Srª Chou, um outro filho enlutado regressa do exterior e apercebe-se que a mãe deixou a casa onde habitava a Lin. Disputas de herança e suspeitas de homicídio adensam o drama de “Dear Tenant”. As quatro sessões previstas para a exibição da obra de Yu-Chieh Cheng estão todas esgotadas. Também realizado em Taiwan, e igualmente com as sessões esgotadas na Cinemateca Paixão, “I WeirDO” representa uma dupla estreia. É o primeiro filme asiático filmado com um iPhone e a primeira longa-metragem realizada por Ming-Yi Liao. A narrativa de “I WeirDO” assenta na relação entre duas pessoas cujo dia-a-dia é mercado por perturbações obsessivo-compulsivas. Paraíso e pereiras Também tirado do cartaz do Festival Internacional de Cinema de Hong Kong chega “It Must Be Heaven”, do mestre palestiniano Elia Suleiman, que venceu o prémio do júri do Festival de Cannes em 2002 com “Divine Intervention”. Na linha do autor, “It Must Be Heaven” é uma comédia que segue as pisadas conceptuais de Jacques Tati, com um toque de Buster Keaton, com o próprio Suleiman a lançar-se numa viagem, com paragens em Paris e Nova Iorque, em busca de pontos comuns com a Palestina. O elenco conta ainda com François Girard e Gael García Bernal. “It Must Be Heaven” será exibido amanhã, sexta-feira, e nos dias 11, 13 e 19, às 21h30. As sessões das 19h estão agendadas para os dias 10, 12 e 17 de Novembro, estando disponíveis bilhetes para todas as exibições. O cartaz de Novembro da Cinemateca Paixão é completado pelos filmes “Last Letter”, uma produção chinesa realizada pelo japonês Shunji Iwai, por “Light of My Life”, o mais recente filme realizado pelo norte-americano Casey Affleck e “The Wild Pear Tree”, um drama da autoria do turco Nuri Bilge Ceylan. Finalmente, a programação deste mês da cinemateca tem como destaque “O Mágico”, uma animação francesa de 2010 que arrebatou uma série de prémios internacionais. Realizado por Sylvain Chomet, “O Mágico” é baseado num guião de Jacques Tati que nunca chegou a sair do papel, que tem como base a vida de um ilusionista que tenta sobreviver num mundo artístico que vota a sua a magia ao esquecimento. “O Mágico” é exibido no sábado e no dia 22 às 19h30, e no dia 14 de Novembro às 21h.
Apresentação periódica para suspeito de tirar fotografias ilícitas Salomé Fernandes - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]O[/dropcap] homem que alegadamente fotografou estudantes em segredo terá de apresentar-se periodicamente a autoridade judiciária ou a órgão de polícia criminal, de acordo com medida de prevenção decretada por um juiz de Instrução Criminal. Segundo avançou o Ministério Público (MP) na sexta-feira, a decisão foi tomada depois do primeiro interrogatório judicial, tendo em conta “a gravidade dos factos de ofensa a interesses de alunas e menores”. O indivíduo é suspeito da prática do crime de gravações e fotografias ilícitas. O caso foi identificado pela polícia, que recebeu a queixa de uma aluna que declarou ter sido perseguida e fotografada várias vezes por um homem, ao sair da escola. As autoridades detiveram um homem com milhares de fotografias de alunas no telemóvel, alegadamente tiradas em segredo. A situação foi comunicada a escolas. “Mais tarde, várias alunas declararam à polícia que pretendiam procedimento criminal contra o arguido por suspeita de terem sido fotografadas em segredo por ele”, indicou o MP. A nota indicava que o inquérito vai ser devolvido ao Ministério Público para continuar a investigação, que deverá analisar as imagens no telemóvel do arguido para verificar se existem mais vítimas. De acordo com o Código Penal, o crime de gravações e fotografias ilícitas é punido com pena de prisão até dois anos, ou multa até 240 dias. Duas dúzias de acusações Recorde-se que no mês passado, foi detido um indivíduo suspeito do crime de gravações e fotografias ilícitas, no seguimento de uma queixa de uma estudante do ensino secundário. A Polícia Judiciária indicou na altura que o homem admitiu o crime e que costumava captar imagens de raparigas em uniforme desde 2018. Após a detenção, a PJ encontrou no telemóvel do suspeito cerca de 3.000 imagens, nenhuma a revelar partes íntimas. Entre Janeiro do ano passado e 20 de Outubro de 2020, foram deduzidas acusações a 24 indivíduos resultantes de inquéritos relacionados com fotografias ou filmagens em segredo. Por enquanto, o tribunal condenou oito arguidos.
Covid-19 | Testes mais baratos a partir de quinta-feira Pedro Arede - 2 Nov 20204 Dez 2020 A partir de quinta-feira os testes de ácido nucleico passam a custar 100 patacas. Segundo os Serviços de Saúde, a redução de 20 patacas é possível devido ao aumento do número de testes. Ao todo, 37 pilotos e profissionais vão fazer quarentena para participar no Grande Prémio de Macau. Alargamento do prazo de validade dos testes foi, para já, afastado [dropcap]O[/dropcap] preço do teste de despistagem à covid-19 será reduzido de 120 para 100 patacas em todos os postos de criados para o efeito. Ou seja, a partir da próxima quinta-feira, a taxa de realização do teste de ácido nucleico será reduzida em 20 patacas nos postos do Fórum de Macau, Pac On, Hospital Kiang Wu e no Hospital Universitário (MUST). De acordo com Alvis Lo Iek Long, Médico Adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, a redução é justificada com a possibilidade de reduzir encargos dos cidadãos e aproximar os preços praticados em Macau e no Interior da China, onde a taxa é 75 renminbis. “Quanto mais baixo for o preço, mais favorável é para a população. O Governo tem cooperado com as instituições onde se realizam os testes e, neste momento, além do número de testes disponíveis, também aumentámos as quantidades de substâncias [reagentes] e, por isso, baixando os custos, podemos oferecer um preço mais benéfico”, explicou ontem o responsável. “No Interior da China o preço é de 75 renminbis, que são cerca de 100 patacas”, explicou. Quem pagou antecipadamente pela realização do teste e agendou exame para data a partir de quinta-feira será reembolsado, quer a marcação tenha sido feita online ou de forma presencial. “Quando a pessoa já procedeu ao pagamento digital através de MPay ou do Banco da China, as duas instituições vão devolver directamente o dinheiro para os cidadãos não terem de fazer outras acções. Para quem pagou em numerário no hospital, será preciso mais algum tempo para proceder à devolução”, referiu Alvis Lo Iek Long. A coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças, Leong Iek Hou revelou ainda que, no total, existem 37 participantes do Grande Prémio de Macau que já fizeram, estão a fazer ou irão fazer quarentena. Sem adiantar a proveniência dos pilotos e profissionais nesta situação, a responsável revelou que quatro pessoas já concluíram a observação, 10 estão actualmente isoladas e 12 anunciaram que pretendem fazer quarentena. Talvez um dia Questionados sobre a possibilidade, avançada por deputados e académicos, de o prazo de validade dos testes de ácido nucleico ser alargado de sete para catorze dias e o processo de emissão de vistos da China simplificado, Alvis Lo afastou, para já, qualquer relaxamento nesse sentido, em nome da segurança. “Temos mantido comunicação estreita com as autoridades do Interior. Para já, o número de dias previstos é uma forma muito viável de prevenção e não existe experiência sobre efeitos de um alargamento para 14 dias. Mas, no futuro podemos alterar estas medidas”, acabou por admitir. Também durante a conferência foi anunciado que, desde ontem, passou a ser obrigatória quarentena de 14 dias para quem queira entrar em Macau e tenha estado nos 14 dias anteriores na prefeitura chinesa de Kazilsu Kirgiz, na província de Xinjiang.
Covid-19 | Bancos emprestaram cerca de 8 mil milhões em crédito Hoje Macau - 2 Nov 20204 Dez 2020 [dropcap]A[/dropcap]té finais de Agosto, foram concedidos mais de cinco mil créditos relacionados com o combate à epidemia pelos bancos de Macau. Estão em causa cerca de 8 mil milhões de patacas, indicou a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) em comunicado. A AMCM explica que deu apoio aos bancos para proporcionar financiamento e crédito aos residentes e empresas, através do aumento da afectação de fundos das reservas no sistema bancário e aliviar as pressões financeiras decorrentes da epidemia. A AMCM adoptou estratégias de investimento “mais prudentes e defensivas”, incluindo a diminuição de investimento em carteiras de acções de alto risco e o aumento da afectação dos fundos nos produtos do mercado monetário e de títulos, para diminuir o impacto da flutuação do mercado. “A Reserva Financeira registou contrapartidas positivas na atmosfera de investimento adversa, evidenciando no programa de investimento uma certa resiliência face aos riscos”, pode ler-se. Além disso, foi indicado que este ano serão finalizados o “Sistema de liquidação imediata em tempo real em HKD de Macau” e o “Sistema de Pagamento Directo das Operações Electrónicas e Transfronteiriças Guangdong-Macau”.