Ao de leve

Há dias em que. E há aqueles em que não só. Dias em que eu. E de todos os dias há ainda aqueles que nem se sabe se são ou são piores. Posso até ter a dúvida. Parecem ou são de facto maiores porque cheios ou porque vazios e indecisos. E ainda os outros. E nem sempre sei se. Ou de que lado me desfiar, como os dias

Qualquer coisa sobre reticências. Sobre brasas.

Esboçar o gesto de abrir o tal caderno. Inquietações pendentes. E as fora de prazo. Voltar ao verso interior como um confronto com o reverso escondido por trás da nuca como uma sombra atenta e inseparável. E aos olhos plenos de ilusórias imagens reflectidas mesmo se não estão em frente, resta esse caminho por dentro. Dizem ou voltam mais tarde, como se anuncia num letreiro pequeno escrito à mão e à pressa de tal modo que ninguém repara.

O caderno, repentinas exclamações. Pontos da memória que não se fazem adivinhar previamente. Não na veemência. Somente vêm com uma espécie de força gravítica e o caderno porta custosa que já não se fecha. Resquícios da Pandora diária – mau é saber-lhe o nome.

Ele dizia pára de cantar para dentro. Irritava-o mas não era eu. O siamês mais velho que me doía à mesa. Ele, que era de si tão reservado, cantar e ser calado. Pelos cantos a ler. Uma concentração feroz como um sono profundo.

Tinha que se dizer três vezes. Aprendi que era uma coisa boa. Mas nem era cantar, mais do que um gemido que se escapava sem querer do interior da cabeça. Nem da garganta onde retido tropeçava nas cordas vocais, lento e custoso, nem do estômago. Talvez do nariz, no intervalo entre garfadas. Uma mistura de respiração e uma ideia de música que nem chegava a modelar-se. Por fora. Mais tarde entendi que nem sequer seria música, sei lá. Era tensão, o que sustinha a respiração e porque tudo era difícil de antever e ela escapava-se mesmo assim da força que queria retê-la na barriga. Por debaixo da mesa para ninguém dar por existir, talvez. E eu a olhar por debaixo das sobrancelhas. O queixo um pouco descaído a apertar as palavras. Um pouco triste em cada um em que, também sem querer que se visse, apontava os olhos. Um porque calou e o outro porque mandou calar. A mesa quadrada de lados equidistantes que se ligavam por linhas esticadas como elásticos em risco. Mas o ruído do motor do aquário gigante podia ser. Pela noite adiante. Enfio o queixo na gola da blusa das riscas. Não a dele mas igual, quase. Feita com as mesmas lãs e as mesmas mãos. Tudo quente.

Vêm sem saber como, imagens que queria assim ao de leve. Mas poisam como mantas fortes e pesadas que paralisam tudo por minutos. Ondas. E como um relógio parado, ficam nesse tudo trazido de longe pungente e quase insuportável.

Nenhum tinha culpa daquele encontro à hora errada entre o som que nem era para sair e a irritação trazida de mais cedo. Coisas encobertas e que saíam como aquele som e as que eram desviadas de intenção no alvo errado que se colocava ante os olhos, num dos lados da mesa quadrada. Há uma cadeia alimentar, com a infância na base mais inadvertida, mas há acima dos que estão acima, algo que os consome também. Às vezes invisível.

Queria folhear ao de leve o caderno mas cada página é um poço a mergulhar a pique o instante para longe. Um poço estreito com atrito e dor na queda provocada. Impossível voltar atrás. Mas é antes um túnel de que com a mesma verdade com que se entrou, se sai para outra luz por mais que de melancólica tonalidade se tenha colorido. E cobre-se com a tampa pesada do que não se pode esquecer nem quer lembrar. Um ponto de água subterrânea no logradouro do prédio. A produzir luminescências, erupções e salitres nas paredes.

Pensar nesses que se somam como periferias, sem os saber diferentes de outros dias. Outros como vulcões, terraços em ruínas e balaustradas em risco e um chão que não se tem em si para passos indecisos á beira. E aqueles que não. Em que se flutua na superfície e tudo chega sem aprofundar. Ao de leve.

Era talvez uma araucária gigante que procurei até hoje reconhecer em cada beira de caminho. Uma forma, a densidade das ramagens quase rentes ao solo e uma sombra. Porque tudo se distingue pela sombra. Que produz nas superfícies numa relação privada com a luz. Um abrigo pouco acima da franja da criança solitária, que brinca não sei a quê em silêncio quando a outra criança surge do portão esquecido aberto. Uma extensão de relva impecável e numa extremidade somente a árvore imponente. Uma memória de ficção como o são todas, de um filme, e da infância. A doer de tripla fantasia. Uma criança, paradigma do estar em si solitário na alienação de um mundo repleto de outros e cercada por um muro alto.

Não sei porque isto venceu na memória tanto de esquecimento. A pior coisa que se pode deixar avançar na memória, é a memória de sentimentos. Da infância porque é difícil, sobram árvores de pé quando os adultos falham. E tudo o resto. O acaso de um portão esquecido. Talvez a árvore impressionante. Ou só aquela linha de sombra.

EUA | Tarifas impostas à China não devem ser levantadas a curto prazo

Os Estados Unidos não estão preparados para levantar as tarifas a importações chinesas a curto prazo, mas estão abertos a negociações comerciais com Pequim, disse a nova representante para o Comércio, Katherine Tai. Na sua primeira entrevista desde que foi confirmada pelo Senado, Tai disse ao The Wall Street Journal que eliminar rapidamente essas medidas poderia prejudicar a economia, a menos que a mudança se faça de forma a permitir às empresas planear e fazer ajustamentos.

A responsável norte-americana apontou ainda razões táticas, alegando que “nenhum negociador abre mão das vantagens” tendo em vista possíveis negociações. Em Dezembro passado, antes de assumir o cargo de Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden tinha afirmado que não iria retirar no imediato as taxas alfandegárias impostas à China pelo seu antecessor, Donald Trump, mas depois da sua chegada à Casa Branca não voltou abordar o assunto em profundidade.

Durante a administração Trump, os Estados Unidos impuseram tarifas a produtos chineses no valor de 370 mil milhões de dólares anuais, tendo Pequim respondido com a adopção de medidas contra as exportações dos Estados Unidos.

As taxas alfandegárias continuam em vigor apesar de as duas partes terem chegado a acordo para pôr fim à guerra comercial e Washington vê essas medidas como uma garantia de que Pequim cumpre os compromissos assumidos, o que até agora “não fez totalmente”. Na entrevista, Tai manifestou-se disposta a negociar com a China, mas não deu detalhes sobre possíveis contactos, adiantando que serão dados “no momento oportuno”.

ONU | Negociações para enviar representantes a Xinjiang

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, anunciou ontem o início de “sérias negociações” com a China para enviar representantes a Xinjiang.

“Sérias negociações estão em andamento entre o escritório do Alto Comissariado [para os direitos humanos] e as autoridades chinesas”, disse António Guterres, em entrevista ao canal CBC, do Canadá, acrescentando: “Espero que, em breve, cheguem a um acordo e que o Alto Comissariado para os Direitos Humanos possa visitar a China sem restrições ou limitações”.

“A China tem-me dito repetidamente que deseja que esta missão aconteça”, sublinhou Guterres, indicando que, para a ONU, o mais importante é a missão decorrer com “acesso ilimitado ao que o Alto-Comissário queira visitar”.

Ministro da Defesa chinês lança aviso à NATO

De visita à Sérvia, Wei Fenghe deixou um aviso à NATO: se intervierem no Pacífico, a China também poderá intervir na Europa.

“Os militares chineses nunca permitirão que a história se repita na medida em que a China for capaz e determinada a defender os seus interesses nacionais”, disse o Conselheiro de Estado e Ministro da Defesa Wei Fenghe ao prestar homenagem aos mártires em Belgrado, no local da Embaixada chinesa na ex-Jugoslávia que foi bombardeada pela NATO em 1999.

“Prestar homenagem aos mártires no local da embaixada chinesa bombardeada na ex-Jugoslávia foi uma viagem especial”, salientou Wei, dizendo que os militares chineses nunca permitirão que este tipo de história se repita e que a China é plenamente capaz e determinada a defender a sua soberania nacional, segurança e interesses de desenvolvimento. Antes da visita, Wei encontrou-se com o Presidente sérvio Aleksandar Vučić.

As visitas de Wei à Hungria, Sérvia, Grécia e Macedónia do Norte, de quarta-feira até 31 de Março, decorreram no momento em que alguns membros da NATO se deslocaram para o Mar do Sul da China ou anunciaram planos para o destacamento de navios de guerra, com a desculpa das chamadas operações de Liberdade de Navegação. Estes países incluem a França, a Alemanha e o Reino Unido.

Segundo uma fonte chinesa, citada pelo Global Times, “alguns membros da NATO estão a tentar desempenhar certos papéis de segurança na região do Indo-Pacífico. A China pode responder, envolvendo-se em assuntos de segurança na Europa e permitir à NATO compreender melhor a China como um actor de segurança global”.

“Quando a reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos membros da NATO chamou à China um ‘desafio’ há alguns dias, temos de recordar à NATO que ela tem uma dívida de sangue para com o povo chinês”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.

Hua disse que não deve ser esquecido que a NATO, liderada pelos EUA, bombardeou a Jugoslávia em 1999, numa grave violação das convenções internacionais e das normas básicas das relações internacionais. No processo, “mataram muitos civis inocentes, incluindo três jornalistas chineses”.

O Presidente sérvio Vučić recordou também como os países da NATO “atacaram um país soberano, sem a aprovação das Nações Unidas”, e condenou-o como um “acto horrendo de crime, e um acto de agressão”.

Direitos humanos | Wang Yi critica conceito ocidental

Wang Yi, ministro dos Negócios Estrangeiros da China, manteve uma conversa no domingo com o seu homólogo dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Abdullah bin Zayed al-Nahyan, em Abu Dhabi. Ao abordar questões de direitos humanos, Wang Yi disse que a situação de cada país deve ser julgada por seu povo, e não pelas opiniões de outros países.

“As visões de direitos humanos de alguns países ocidentais não representam as da comunidade internacional. O mundo deve ouvir e interiorizar as opiniões dos países em desenvolvimento para que a definição dos direitos humanos seja mais abrangente, diversa e equilibrada”, disse Wang.
o MNE chinês sublinhou que “o direito à vida e ao desenvolvimento são tão importantes quanto os direitos políticos e sociais, e que a equidade e a justiça devem ser respeitadas da mesma forma que a democracia e a liberdade”.

“É normal que diferentes civilizações e tradições em diferentes fases de desenvolvimento levem a diferentes entendimentos e ênfases. É por isso que defendemos a comunicação igualitária e o aprendizado mútuo na questão dos direitos humanos”, disse Wang.

Wang reiterou ainda que a China se opõe a qualquer forma de ingerência nos assuntos internos de outros países sob o pretexto de proteger os direitos humanos e se opõe a caluniar outros países usando os direitos humanos como ferramenta política.

“Nenhum país é superior a outro neste mundo, sendo que o padrão de um único país não deve ser considerado o padrão internacional”, disse Wang, observando que seria a maior injustiça na história da humanidade se alguns países ocidentais continuassem a usar os direitos humanos como pretexto para suprimir e conter os países em desenvolvimento e privar os países não ocidentais do seu direito ao desenvolvimento.

História | Premiado livro que “reescreve” guerra da resistência contra a agressão japonesa

O livro “Guerra de Resistência das Pessoas de Macau”, publicado pelo Instituto Politécnico de Macau, foi premiado pelo Ministério da Educação da China. O IPM assume que a obra “reescreve” algumas posições históricas já conhecidas sobre este conflito, reafirmando, por exemplo, que a neutralidade de Macau na Guerra da Resistência contra a Agressão Japonesa era uma posição do Governo português e não da sociedade

 

O Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais do Instituto Politécnico de Macau (IPM) acaba de ver uma publicação sua reconhecida pelo Ministério da Educação chinês. Trata-se do livro “Guerra de Resistência das Pessoas de Macau”, que venceu o “Prémio de Leitura Popular” durante os trabalhos de avaliação para a 8.ª Edição dos Prémios de Excelência na Investigação Científica da Escola Superior (Ciências Humanas e Sociais) organizados pelo Ministério da Educação da China.

O livro foi compilado pelo director da Escola Superior de Ciências Humanas e Sociais do IPM, Lam Fat Iam, reunindo trabalhos dos investigadores do Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais, Jiang Chun, Wang Xi, Wan Hok Kun, entre outros.

Para a edição deste livro foi feita uma colaboração com órgãos de comunicação social locais, tais como o jornal Macao Daily, Lotus TV, MASTV e outros, que disponibilizaram álbuns de fotografias e outros documentos históricos.

Em comunicado, o IPM descreve que, “com base nos dados comprovados, o livro reescrever a história da Guerra da Resistência contra a Agressão Japonesa das gentes de Macau”. Um dos novos argumentos apresentados prende-se com a neutralidade do território neste conflito.

“De acordo com os estudos históricos tradicionais, Macau [era] considerado um território ‘neutro’ durante a Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa. Contudo, este livro indica que a posição ‘neutra’ era do Governo Português mas não era a posição da sociedade de Macau.”

Esta acreditava que “o povo chinês resistia à invasão japonesa a um preço elevado” e “nunca se deixou neutralizar”, acrescenta o comunicado.

O livro faz também outra abordagem à ideia de que “as forças japonesas não ocuparam Macau” e que o território “não resistiu ao Japão”. Na obra, “os compatriotas de Macau tiveram uma participação importante, através da propaganda, do auxílio, da prestação de socorros na linha da frente e do alistamento nas forças armadas, pelo que o povo chinês nunca esteve ausente dos movimentos anti-japoneses e sacrificou a sua vida e a sua sociedade”.

Um projecto desde 2014

Desde 2014 que o Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais do IPM tem vindo a realizar o estudo sobre a história da guerra em Macau. Desde então que o IPM já efectuou uma compilação de publicações chinesas divulgadas durante a Guerra da Resistência contra a Agressão Japonesa, bem como uma história oral de dezenas de idosos de Macau sobre a sua própria experiência naquela época.

Foram também elaborados mapas e sumários de Macau na época do conflito, além de terem sido recolhidas referências concretas como o “Catálogo de Documentos e Relíquias Culturais sobre a Guerra da Resistência contra a Agressão Japonesa”, ou o “Sumário de Macau na Época de Guerra da Resistência”.

O Prémio de Excelência na Investigação Científica da Escola Superior (Ciências Humanas e Sociais) do Ministério da Educação da China, ao qual o IPM se candidatou, foi criado em 1995 e é atribuído de três em três anos. Até à presente data, foram organizadas 8 edições com um total de 5667 obras.

Vendidos mais de metade dos bilhetes para a próxima edição do FAM

Os bilhetes para a 31ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) foram colocados à venda no domingo e, até às 19h desse dia, foram vendidos 63 por cento de todos os ingressos disponíveis, num total de 4.700. Aliás, entre as propostas do cartaz deste ano, 34 espectáculos já estão esgotados.

Segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), “A Grande Abertura Cobra Branca” e o “Tirando Licença” foram “muito procurados pelo público”, tendo esgotado bilhetes para “Guia da Propriedade na Casa de Lou Kau” e algumas sessões de “O Jogo Coloane”, “Pequeno Escape”, “Vejo-te através de Memórias” e “Dança do Dragão Embriagado”.

Além disso, os espectáculos “O Sonho da Câmara Vermelha”, “Duo de Dança” e “Patrám pa unga Dia (Patrão por um Dia)” também se revelaram “muito populares”.

“A Grande Abertura Cobra Branca”, apresentado pelo Estúdio de Teatro Lin Zhaohua, de Pequim, redesenha os personagens do popular conto chinês “A Lenda da Cobra Branca” de forma artística e imaginativa, combinando teatro, música, dança e arte multimédia. O Teatro de Ópera Huangmei de Anhui apresenta uma nova produção da peça clássica “O Sonho da Câmara Vermelha”. Nos anos 90 do século passado, com Yu Qiuyu e Chen Xiting como o núcleo da equipa criativa, a ópera foi protagonizada por Ma Lan, entre outros artistas, que inovaram os clássicos sob uma nova perspectiva. No palco do FAM, a peça será representada pela nova geração de actores da ópera de Huangmei, transmitindo tradição e inovação.

Artistas de Macau em palco

O concerto “Diálogo entre o Oriente e o Ocidente”, protagonizado pela Orquestra Chinesa de Macau, apresenta um intercâmbio cultural através dae um trio musical que tocam diferentes instrumentos chineses e ocidentais, incluindo o sheng de Weng Zhenfa e a flauta de Weng Sibei, sem esquecer o violoncelista Mo Mo. Para comemorar o 230º aniversário da morte de Mozart, no concerto “Uma Digressão Europeia com Mozart”, a Orquestra de Macau apresentará três das suas sinfonias, Paris, Linz e Praga.

O cartaz do FAM apresenta também espectáculos produzidos por companhias de Macau. Baseado no trabalho original “O Prazer do Fracasso”, da companhia suíça Theatre HORA, “A Tarefa Interminável da Luxúria pelo Fracasso”, apresentada pela associação Comuna de Pedra, é um trabalho de improvisação, oferecendo uma experiência de teatro inédito e inovador.

“Dança do Dragão Embriagado”, apresentada pelo grupo Four Dimension Spatial na forma de um teatro de dança, integra a dança do dragão embriagado, que é uma actividade tradicional do festival, com dança contemporânea. Em “Duo de Dança”, a dançarina de Macau Kam Hiu Lam colaborou com a coreógrafa de Taiwan Chou Shu-Yi e o coreógrafo de Pequim Wang Yuanqing, apresentando dois trabalhos com estilos muito diferentes.

Covid-19 | Código de saúde mostra vacinação

Os Serviços de Saúde anunciaram ontem que o código de saúde vai mostrar se as pessoas já foram inoculadas com as duas doses da vacina contra a covid-19.

As autoridades acreditam também que os problemas com a vacina da BioNTech, que levaram à suspensão da vacinação na semana passada, podem estar relacionados com o transporte. “Não se afasta a possibilidade de os problemas estarem relacionados com os factores ambientais no transporte é a primeira conclusão intercalar. A segunda conclusão é que a Fosun e a BioNTech também não têm provas que as vacinas apresentem riscos. Quem tomou a vacina ficar descansada”, afirmou Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença.

Quanto aos problemas das tampas dos produtos só foram detectados em 30 embalagens. Por esse motivo, as empresas “vão continuar com a investigação e esperam concluir o relatório esta semana”.

Por outro lado, as autoridades de saúde preparam os residentes para que quando a vacinação prosseguir que os lotes vão ser os mesmos que estavam a ser utilizados. “Com a investigação que está em curso, e com a comunicação que temos com o fornecedor, já podemos confirmar que os lotes que tinham chegado a Macau são seguros e não influenciaram o efeito da vacina”, foi defendido. “Numa fase inicial achamos que foram factores ambientes no percurso de transporte que causaram os defeitos. Esperamos mais investigações”, concluiu.

Cupões electrónicos | Cloee Chao entrega petição com mais de 30 mil assinaturas

Cloee Chao, presidente da Associação dos Direitos dos Trabalhadores de Jogo, entregou ontem uma petição ao Governo, com mais de 30 mil assinaturas, contra o programa de cupões electrónicos de consumo apresentado pelo Governo e sobre o plano de comparticipação pecuniária deste ano. A petição clama pelo regresso de uma nova ronda de cartões de consumo, além de exigir um cheque pecuniário adicional para reforçar o apoio financeiro à população em altura de pandemia.

Questionada sobre os dois residentes que foram detidos depois de marcarem presença na praça do Tap Siac, Cloee Chao explicou que estes poderiam não ter conhecimento do cancelamento da manifestação. “O nosso grupo só soube do cancelamento às 19h [do último sábado], e usámos todos os meios disponíveis para informar a população sobre isto. Como sabemos muitas das pessoas que estavam na praça eram idosos e talvez não soubessem como usar as aplicações de telemóvel e tivessem de ser avisados por outras pessoas.”

Cloee Chao deixou claro que a petição não surge por causa das eleições legislativas deste ano. “Desde que foi proposto o regresso dos cartões de consumo que a nossa equipa nunca discutiu sobre as eleições. Temos estado ocupados sobre este assunto”, rematou

Manifestações | Autoridades negam critérios políticos em autorizações

O CPSP recusa a existência de critérios políticos na aprovação de eventos, apesar de impedir manifestações. Macau está há um ano sem casos de infecção comunitária de covid-19, apesar de ter “importado” o primeiro caso da variante inglesa

 

A polícia nega ter em conta considerações políticas nas decisões de proibir manifestações, ao mesmo tempo que permite eventos desportivos de grande dimensão, reuniões de associações pró-Governo e de eventos de caridade. A questão foi levantada na conferência de imprensa dos Serviços de Saúde, após o Governo ter proibido a manifestação contra o apoio por cupões electrónicos e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) ter fechado a Praça do Tap Siac à população durante cerca de duas horas.

“Em relação às entidades que realizam os eventos, temos um único critério que é as garantias que as partes vão cumprir todos as nossas exigências de segurança, como a utilização de máscara, medição da temperatura, distância social e também existência de pessoas em número suficiente para controlar a acumulação de pessoas”, afirmou Ma Chio Hong, chefe de Divisão de Operações e Comunicações do CPSP.

Apesar de ter sido anunciado no sábado à noite que a manifestação tinha sido proibida, no dia seguinte o CPSP compareceu no local, deteve 12 pessoas e procedeu à evacuação da Praça do Tap Siac. Também o trânsito na zona foi desviado e durante cerca de duas horas as pessoas não puderem passar naquele local, nem aceder à Biblioteca Central. Ontem, Ma Chio Hong desvalorizou o impacto para a população: “Tenho de explicar que a operação teve apenas o objectivo de garantir a ordem pública […] Não impedimos as crianças de escolherem outros lugares para brincarem […] não impedimos as actividades das pessoas de Macau”, sustentou.

Um ano sem covid-19

A conferência de imprensa de ontem do Serviços de Saúde de Macau (SSM) começou com um auto-elogio de Tai Wa Hou, Coordenador do Plano de Vacinação Contra a Covid-19, para o facto de se ter atingido a meta de um ano sem casos de infecções comunitárias. “Uma boa notícia, durante um ano inteiro não foram detectados casos locais. É um resultado que merece o elogio e que apreciamos. Isto significa que as medidas de prevenção são muito eficazes em Macau”, atirou Tai. “A situação pandémica no mundo ainda é grave e não podemos ficar relaxados”, avisou. Macau está há 365 dias sem casos de contágio comunitário.

Por outro lado, foi avançado ontem o primeiro caso da variante inglesa da covid-19 em Macau. A infectada é uma residente com 24 anos, que chegou a Macau a 7 de Março.

A residente tinha sido diagnosticada em Janeiro no Reino Unido, recuperou e depois fez dois testes com resultados negativos. No entanto, quando estava na quarentena foi diagnosticada novamente. “A 26 de Março o resultado do teste deu positivo à variante N501Y, que é uma mutação do Reino Unido, detectada pela primeira vez em Macau”, anunciou Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença.

“Depois de ter chegado a Macau esteve sempre num circuito fechado e nunca teve contacto com a comunidade. Por isso, o risco de infecção é baixo”, frisou.

Polícia admite acção judicial

A polícia anunciou ontem que as 12 pessoas detidas no domingo no âmbito de um protesto proibido pelas autoridades não foram acusadas, mas não descartou que venham a ser alvo de uma acção judicial. A informação foi avançada pela Lusa. O representante do Corpo da Polícia de Segurança Pública explicou que o caso ainda está sob investigação, e que não se exclui a possibilidade de acção judicial contra as seis mulheres e seis homens detidos, que podem vir a responder por reunião ilegal.

TDM | Sulu Sou pede fiscalização para garantir liberdade de imprensa

Através de uma interpelação escrita Sulu Sou quer que o Governo confirme junto da comissão executiva da Teledifusão de Macau (TDM) que foram efectivamente dadas novas orientações aos jornalistas da estação pública.

Por escrito, o deputado questiona ainda se existem garantias de que as orientações avançadas serão retiradas e que os jornalistas que apresentaram demissão possam ser reintegrados. Apontando que a liberdade de imprensa é um direito garantido pelo artigo 27 da Lei Básica, Sulu Sou pede também ao Governo que assegure que esses princípios são “escrupulosamente” respeitados, garantindo um exercício independente da profissão jornalística.

Por último, o deputado quer saber quando será criado “um mecanismo rigoroso de responsabilização pública e fiscalização”, tendo em conta que a TDM é uma empresa 100 por cento detida pelo Governo que utiliza “milhares de milhões” do erário público.

Eleições | IAS diz-se “neutro” perante uso de linha verde pelos Kaifong para angariar assinaturas

Apesar de garantir supervisão, o Instituto de Acção Social assumiu neutralidade perante o caso de utilização indevida de erário público pelos Kaifong para angariar assinaturas para a candidatura às eleições legislativas. O caso envolve o serviço de tele-assistência “Peng On Tung”

 

O presidente do Institudo de Acção Social (IAS), Hon Wai afirmou que, de acordo com as regras definidas pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) e enquanto organismo público, se vai manter “neutro” relativamente ao caso de utilização indevida de erário público pelos Kaifong, para angariar assinaturas para uma comissão de candidatura para as próximas eleições, envolvendo o serviço de Tele-assitência “Peng On Tung”.

No entanto, garantiu fiscalizar a utilização correcta do erário público. O caso, que veio a lume na semana passada, envolve o serviço de Tele-assistência “Peng On Tung”, destinado a beneficiários do subsídio regular do IAS, que é subsidiado pelo organismo.

“O IAS está em comunicação com a CAEAL e [naturalmente que] as instituições subsidiadas pelo IAS devem gastar o dinheiro de forma apropriada e não tendo em vista as eleições. O IAS vai supervisionar este caso, porque as instituições têm de entregar o valor referente ao montante gasto, pois estamos a falar de erário público. Por isso, o IAS vai assegurar que cada despesa do erário público é feita de acordo com o que foi estipulado”, apontou ontem Hon Wai à margem da sessão de partilha sobre avaliação intercalar do “Planeamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio (2016-2025)”.

O presidente do IAS sublinhou ainda que as instituições “devem fazer propaganda de acordo com as regras da CAEAL” e que “apropriadas ou não”, elas não são definidas pelo IAS.

“O IAS mantém-se neutro, de acordo com as instrucções da CAEAL. Não vamos comentar nada sobre este caso relacionado com as eleições, até porque não está confirmada a infracção. O que o IAS vai fazer é verificar, no final, se as contas batem certo”, sublinhou.

Segundo o jornal Exmoo, confrontado na semana passada sobre o facto de os contactos estabelecidos por mensagem através do serviço “Peng On Tung” poder constituir infracção eleitoral, o presidente dos Kaifong, Chan Ka Leong, garantiu que está tudo dentro da legalidade e que “apenas foi feito um apelo”, não tendo havido “qualquer transferência de benefícios”.

Cuidadores em progresso

Quanto ao projecto-piloto do subsídio para cuidadores iniciado em Dezembro de 2020, Hon Wai revelou que já foram recebidos 196 pedidos, dos quais 51 satisfizeram as condições de atribuição do apoio. O presidente do IAS diz ainda que “tem sido muito difícil fazer a avaliação dos pedidos” porque é necessário enviar trabalhadores para verificar, caso a caso, a situação dos portadores de deficiência.

DICJ | André Cheong reconhece falta de fiscais

André Cheong reconheceu ontem que o número actual de fiscais dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) “não é suficiente” e que são necessários mais trabalhadores. O secretário para a Administração e Justiça disse que o quadro de pessoal destes serviços está a ser reformado sob a premissa de “controlo adequado”.

A informação foi avançada em resposta a perguntas de Ho Ion Sang sobre a reorganização das funções e estrutura dos serviços públicos. Ao nível da reforma administrativa, André Cheong defendeu que aspectos como recursos humanos não devem ser analisados de forma vaga. “Temos de identificar as questões ou problemas em concreto que têm de ser resolvidos primeiro”, descreveu, acrescentando que não se deve tentar resolver tudo “de uma assentada”.

Quanto à constituição dos conselhos consultivos do Instituto para os Assuntos Municipais e os conselhos comunitários, o secretário disse que a intenção é “aumentar a representatividade” dos membros desses órgãos consultivos.

Ensino | Governo aponta Internet como factor de perturbação

O Governo duvida dos motivos que levam alunos a desenvolver problemas emocionais. “Sabemos e também concordamos que os nossos alunos sentem pressão nos estudos. Isso também é natural. Mas será que essa pressão de trabalhos de casa e dos estudos é a causa principal para os seus problemas emocionais? É [algo] que questionamos”, apontou Elsie Ao Ieong U.

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura apontou que “a educação através dos encarregados de educação e também a informação que recebem da internet podem também constituir factores que perturbam emocionalmente os jovens”.

Em causa estava uma interpelação oral de Sulu Sou sobre mecanismos para reduzir a “pressão excessiva” dos alunos e a promoção de um “crescimento feliz”. A secretária da tutela defendeu que a ausência de regimes de exame geral de acesso ao ensino secundário ou ao ensino superior, bem como de exame unificado do secundário complementar, leva a que a pressão seja “relativamente menor, em comparação com os alunos de outras regiões”.

Voluntariado | Governo afasta hipótese de fazer lei

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura afirmou ontem que não será feita uma lei para gerir o voluntariado. “A idade e o contexto dos voluntários são muito amplos. Caso sejam reguladas condições ou barreiras rígidas fora da estrutura de protecção civil sobre os voluntários, pode reduzir a vontade dos residentes de participar”, disse ontem Elsie Ao Ieong U.

O tema foi levantado por Lei Chan U, numa interpelação oral em que defendeu a criação de um mecanismo de coordenação para as diferentes organizações de voluntariado. Durante o debate, o deputado Lam Lon Wai sugeriu a criação de uma plataforma de inscrição e registo, observando que de momento “cada entidade faz o trabalho de forma separada”.

O papel dos trabalhadores não residentes (TNR) esteve também em discussão, com Mak Soi Kun a observar que se o Governo permitir que se voluntariem poderiam constituir uma ajuda grande.
O deputado sugeriu que a participação em acções de voluntariado seja factor a considerar para o pedido de fixação de residência em Macau.

Apesar dos apelos dos deputados, Elsie Ao Ieong U defende que “o trabalho de voluntariado em Macau está a desenvolver-se a bom ritmo”, receando que se forem exigidas “muitas formalidades” isso constitua um entrave. Foi ainda garantido um seguro aos estudantes que se envolvem em voluntariado.

Obras Públicas | Secretário rejeita problemas com derrapagens orçamentais

Raimundo do Rosário afirmou na Assembleia Legislativa que não tem problemas com derrapagens abaixo de 5 por cento nos orçamentos de obras, que os serviços se tornaram mais rigorosos no cumprimento orçamental. Ao nível da habitação, inquéritos revelaram que a maioria dos idosos é a favor de residências

 

O secretário para os Transportes e Obras Públicas frisou ontem em Plenário foram implementadas medidas para evitar derrapagens, dar prioridade ao rigor orçamental e assegurar a qualidade das obras. “Não sei porque é que ainda me estão a chatear com esse problema. Porque isso é injusto para os meus colegas, que melhoraram muito o seu trabalho”, disse Raimundo do Rosário, acrescentando que não acredita que existam derrapagens orçamentais.

Reconheceu que não é de “zero por cento”, mas apontou dificuldades mesmo em obras realizadas em casa. “Quem consegue seguir totalmente o seu orçamento e o prazo? Para mim, menos de 5 por cento está tudo bem”, observou.

As afirmações foram proferidas após uma intervenção de Agnes Lam, quando a deputada questionou sobre discrepâncias orçamentais e atrasos de obras públicas de maior dimensão, como o Hospital das Ilhas e a nova prisão em Coloane, questionando se existe um plano de revisão.

“Vou então continuar a chatear o senhor secretário por mais algum tempo. Porque é que a situação não é ainda satisfatória? Enquanto deputados, quando a população tem dúvidas (…), temos a responsabilidade de levantar questões e colocar perguntas”, respondeu Agnes Lam.

A deputada insistiu na persistência de falhas. “Disse que houve bastantes melhorias, nomeadamente no que diz respeito às derrapagens orçamentais. Mas quanto aos atrasos e à qualidade das obras não vejo grandes melhorias”, observou.

Raimundo do Rosário defendeu que o papel dos deputados passa não apenas por transmitir as dúvidas existentes ao Governo, mas também de “esclarecer a população” sobre o trabalho feito pelo Executivo. “Claro que não quero fazer aqui propaganda e publicidade”, acrescentou. As declarações não foram bem recebidas por alguns deputados, que quiseram vincar a sua função. “Se há problemas, temos de fiscalizar o trabalho do Governo”, frisou Au Kam San, apontando que os atrasos continuam. Também Sulu Sou interveio nesse sentido, ao afirmar que “colocar perguntas ao Governo é uma responsabilidade dos deputados”.

Idosos a favor de residência

De acordo com um representante do Instituto da Habitação, foram realizados 549 inquéritos destinados a idosos. Os resultados apontam que mais de 60 por cento dos inquiridos querem morar no projecto destinado a habitação para idosos, que será construído no lote destinado à construção do Pearl Horizon, que e mais de metade mostraram intenção de se candidatarem.

No âmbito da habitação pública, Raimundo do Rosário reiterou que existem terrenos disponíveis. “Estamos a planear com todos os esforços na Zona A”, apontou. O secretário espera indicar até 2024 quais as zonas a desenvolver. O Governo adiantou ainda que o relatório da consulta pública sobre a classe “sanduíche” deverá ser publicado no final de Abril.

TNR | Desemprego e falta de apoio do Governo aumenta filas de distribuição de comida da Caritas

Apesar de Macau não ter novos casos de covid-19 há um ano, a pandemia continua a causar enorme impacto social. Paul Pun, secretário-geral da Caritas, relata o aumento de trabalhadores migrantes, todas as semanas, nas campanhas de distribuição de comida. Dirigentes de associações que representam TNR esperam que o Governo os inclua no próximo plano de apoios financeiros

 

Paul Pun, secretário-geral da Caritas, acredita que os próximos meses vão trazer ao de cima um volume crescente de casos de vulnerabilidade social entre trabalhadores não residentes (TNR). Com as fronteiras praticamente fechadas, sem trabalho ou dinheiro, haverá cada vez mais TNR a depender de assistência social para sobreviver.

Actualmente, a Caritas tem um programa semanal de distribuição alimentar destinado apenas a trabalhadores migrantes, intitulado “Partilha de Alimentos – Food Sharing”, para o qual o Governo não contribui com qualquer apoio financeiro. Independentemente, da logística e apoios oficiais, Paul Pun testemunha o aumento dos pedidos de ajuda.

“Só ontem [última campanha de distribuição de alimentos e produtos] tivemos aqui 400 pessoas e 60 novos casos”, contou ao HM. “São pessoas que estão sem emprego e presas em Macau. Distribuímos embalagens de arroz e produtos de higiene, e demos vouchers de 100 patacas. Com a ajuda de 10 voluntários trabalhamos cerca de sete horas para dar algum apoio a estas pessoas. Também foi dado leite em pó para a alimentação das crianças. Temos feito isto desde Setembro.”

“Sempre que organizamos estas acções, aparecem novos casos”, adiantou. A braços também com escassez de recursos humanos, a Caritas apenas pode organizar uma campanha de “Partilha de Alimentos – Food Sharing” por semana.

“Estimo que o número de pessoas a precisar de ajuda nos próximos meses venha a aumentar. Continuam a lutar pelo trabalho dos residentes e penso que quando os contratos de trabalho dos não residentes terminarem não serão renovados. Acredito que mais pessoas peçam ajuda. Mas não creio que os voos regressem à normalidade nos próximos meses”, projectou Paul Pun, que alertou também para casos escondidos.

“Creio que existem pessoas a precisar de ajuda, mas que não pedem”, frisou. O programa da Caritas é destinado também a quem fica retido no território sem bluecard e apenas com o passaporte. “Estas pessoas não têm voz, mas também merecem a nossa atenção. É por isso que insisto em fazer este trabalho, porque estas pessoas contribuem para a sociedade de Macau e sem o seu apoio a nossa comunidade não teria oportunidades de se desenvolver. Não têm forma de voltar a casa e estão a sofrer constrangimentos, então temos de cuidar destas pessoas.”

Porquê os TNR?

Sem financiamento do Governo, Paul Pun vê-se muitas vezes obrigado a pedir ajuda a amigos para adquirir bens alimentares ou produtos de higiene, incluindo máscaras. Alguns hotéis, casinos e instituições privadas, como a Escola Portuguesa de Macau, dão uma mão na angariação de bens.

“Há uns dias pedi a uma amiga ajuda para comprar embalagens de arroz, e ela fez um donativo de arroz. Essa quantidade deu para três campanhas de distribuição. Alguns hotéis encorajam os funcionários a darem-nos comida.”

Manter o programa de assistência custa à Caritas entre 100 a 150 mil patacas por mês. “Temos conseguido manter este programa, mas espero que os trabalhadores migrantes também se consigam aguentar. Precisamos de tempo para comunicar com pessoas que possam fazer donativos. Alguns perguntam-me porque é que eu não ajudo os residentes de Macau, porque eles também não têm trabalho ou salário. E eu tenho de explicar-lhes que os residentes têm programas de apoio. Mas os não residentes não têm financiamento adicional e precisam da caridade”, adiantou.

Grito de alerta

Jassy Santos, trabalhadora doméstica filipina e dirigente da associação Progressive Labor Union of Domestic Worker, não tem dúvidas de que o número de pessoas a necessitar de ajuda irá disparar nos próximos meses.

“Todos os dias há trabalhadores migrantes a perder o emprego. E há algum tempo que estas pessoas precisam de ajuda. O Governo deve abrir os olhos para estes trabalhadores migrantes que precisam de ajuda”, referiu ao HM.

A dirigente gostaria de ver a rede de apoio social a esta franja da comunidade alargada para além dos programas de distribuição de víveres organizados pela Caritas. “Os trabalhadores migrantes também contribuem para a sociedade de Macau e e precisam de ajuda, especialmente os que perderam o trabalho. A maior parte destas pessoas não tem estabilidade financeira.”

Jassy Santos estima que haverá cerca de mil cidadãos filipinos à espera de repatriamento. O HM tentou obter dados junto do consulado-geral das Filipinas em Macau e Hong Kong, bem como o número de pedidos de ajuda apresentados, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Também não foi possível apurar dados relativos a trabalhadores migrantes de outras nacionalidades.

Quando foi anunciado o plano de apoio financeiro com cupões electrónicos os TNR estavam contemplados. Porém, o Governo vai rever o programa, sem que haja detalhes concretos quando aos destinatários do apoio.

“Espero que nos possam incluir, porque como trabalhadores migrantes também somos consumidores. Mas de qualquer das formas os trabalhadores migrantes necessitam de uma política especial enquanto estiverem no território.”

Benedicta Palcon, porta-voz da associação Green Philippines Migrant Workers Union, não consegue quantificar, mas confirma que “há ainda muitos” TNR a necessitar de ajuda. “Estão à espera de serem repatriados e alguns não têm dinheiro para pagar o voo que o consulado disponibiliza todos os meses, então estão à espera da repatriação gratuita.”

A dirigente associativa, que também trabalha no território como empregada doméstica, não sabe como os trabalhadores migrantes conseguem lidar com as dificuldades que enfrentam no dia-a-dia. “Têm sorte se conseguirem encontrar um grupo de pessoas que os apoie e que aceite partilhar com eles uma cama num beliche.”

A perda da esperança

Eric Lestari, representante em Macau da Overseas Worker Entities (OWE), confessa que na comunidade indonésia também há casos de pessoas desesperadas. “Estão há três ou quatro meses à espera do bilhete de regresso para a Indonésia, outros procuram soluções por eles próprios.”

Também ela prevê o aumento de pedidos de ajuda nos próximos meses. “Os serviços de migração não vão estender o visto de trabalho e eles têm de regressar rapidamente, mas não acredito que as agências consigam providenciar tão rapidamente bilhetes de avião.”

A OWE dá aconselhamento a estes trabalhadores, mas pouco pode fazer em termos práticos. “Todos os meses há um voo para a Indonésia e pode custar até cinco mil patacas, sem bagagem. Uma grande parte dos trabalhadores não consegue pagar este valor e pede dinheiro às famílias ou aos amigos. Alguns não sabem o que fazer, digo para se dirigirem à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) ou para falarem amigavelmente com os patrões e lhes peçam auxílio para comprar o bilhete de avião.”

Eric Lestari trabalha há cerca de 14 anos para o mesmo patrão e o seu salário não foi reduzido. Mas conhece muitos casos de pessoas que enfrentam enormes dificuldades e que têm vergonha de falar publicamente. “Perderam a esperança porque o Governo não dá qualquer ajuda, nem os serviços de migração ou a DSAL”, rematou.

DSEC | Taxa de desemprego de 2,9% no último trimestre

A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) anunciaram que a taxa de desemprego foi de 2,9 por cento no último trimestre, com o desemprego dos residentes a fixar-se em 3,9 por cento, um aumento de 0,2 pontos percentuais face ao período anterior.

No período em análise, de Dezembro de 2020 a Fevereiro deste ano, “a população desempregada era composta por 11.500 pessoas, mais 600 face ao período transato”. Segundo a nota da DSEC, “o número de empregados dos hotéis e similares decresceu”, tendo, no entanto, aumentado “o de empregados das lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos”. A maioria dos desempregados à procura de novo emprego “trabalhou anteriormente no ramo de actividade económica das lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos, assim como no ramo da construção”, apontou a DSEC.

As operadoras de casinos de Macau contrataram menos 86,6 por cento para o sector das lotarias e outros jogos de aposta, no último trimestre de 2020, devido ao impacto da pandemia, indicou a DSEC no início deste mês.

Barragens não sabem nadar

António Costa não tem dormido bem. As insónias são muito mais que muitas e todas sobre o mesmo assunto. É água a cair-lhe em cima, cimento a desmoronar, barragens a entornar… barragens são as insónias do primeiro-ministro. Agora veio á baila um assunto de uma seriedade gravíssima e em primeiro lugar, confirmando que António Mexia nunca deveria ter dirigido os destinos da EDP. Este homem era conhecido internacionalmente pelos especialistas em finanças pelo “cambalacheiro” e a confirmação está aí em todos os órgãos de comunicação social, nos corredores ministeriáveis e nos passos perdidos da Assembleia da República. O caso é gravíssimo porque está em causa a corrupção moral do governo, deputados e dirigentes da EDP. É muito dinheiro que está em causa, mais de 100 milhões de euros que “voaram” e que a EDP não pagou ao Estado quando “vendeu” várias barragens.

Portugal está repleto de barragens e tem das electricidades ao consumo das mais caras do mundo. O ministro do Ambiente Matos Fernandes tem passados os últimos dias a perguntar-se como é que se salva desta bronca.

O Bloco de Esquerda acusou o governo de ter permitido “um esquema da EDP para fugir aos impostos” da venda de barragens e chamou ao parlamento os ministros das Finanças e do Ambiente. Esta posição refere-se ao contrato de concessão de seis centrais hidroeléctricas do Douro Internacional. O BE insistiu que que foi acrescentada uma adenda para “dar a forma de reestruturação empresarial – cisão e fusão – a um negócio que é uma venda pura e simples” da EDP aos franceses da Engie, com recurso a “uma empresa veículo”.

Vejam bem que o cambalacho até meteu a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que às ordens do governo até permitiu um esquema da EDP para fugir aos impostos, ao imposto de selo no valor de 100 milhões de euros, abdicou de exercer os seus poderes de forma a proteger o interesse público.

Por seu lado o ministro do Ambiente meteu os pés pelas mãos quando teve a desfaçatez de afirmar na Assembleia da República “que nem os contratos conhecia”, apesar de ser obrigação do ministro conhecer este processo de ponta a ponta. E a maior vergonha é que actualmente a concessão das seis barragens é detida por uma empresa que tem apenas um trabalhador e que é apenas um veículo no negócio. Ai, Portugal, como tua andas. Este caso é dos mais escandalosos porque a EDP arranjou um estratagema, com a conivência do governo, para não pagar impostos de mais de 100 milhões de euros. E o caso até tem enquadramento mafioso quando a EDP realizou o negócio a 17 de Dezembro do ano passado e no dia anterior, imagine-se, a EDP constituiu a tal nova sociedade, empresa veículo, a que chamou Camirengia Hidroeléctricos, S.A.

Lamentável foi o governo ter aceitado a trapaça da EDP como uma concessão e não como uma venda. O governo conhecia o negocia e tinha poder para alterar as condições em que este negócio foi feito, e não o fez. O negócio ainda está em curso e o governo tem a obrigação de ainda travar uma ilegalidade que só prejudica os portugueses. Para já, pelo menos, o fisco anunciou que já está a investigar a venda das seis barragens e a questão do não pagamento de imposto de selo. Já o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, tinha que vir com uma desculpa de lana-caprina dizendo que a Agência Portuguesa do Ambiente, a inútil APA, acompanhou a operação de cedência das seis barragens nos termos das suas competências. Matos Fernandes lembrou que a avaliação de pagamento de impostos e as condições de transmissão das barragens não são da competência do Ministério do Ambiente, tirando a água do capote como não é digno num governante. É mesmo caso para dizer que as barragens não sabem nadar…

Este texto foi escrito com a antiga grafia

Mudam-se os tempos

Passamos de moda como esta casa, este casaco, nada resiste à mudança do tempo.
E estas mortes todas em nosso pensamento!?
São páginas de livros e não malha de ferro, e quando o vento sopra vão voando
Da mesma fonte que a malha do guerreiro se contraiu no fogo estranho
Rebuscamos a casa e está tudo mudado- do ciclo de outrora nem um marco-
E assim os dias se fazem outros
Com todos aqueles votados ao abandono
Verticais como as colinas, os que se elevam partem cedo. São deles as mudanças e todas as vitórias
Por eles se alcançam
Desenlaçar, mudar de rumo… sede, sempre do mundo
Não ter o dever de amar, que amor não há no vale profundo.
No entanto, saber vingar o mal, e depois mais lúcido, não mais importar
O destino inútil do sepulcro.
Trajar o manto viajante, que em cada jornada o tempo muda
Deixando as vozes castigadas no desaire de falar ao submundo
Não há chão que a raiz não rebente, e onde há explosão
Chove ternura, que o tempo frio de gastar o solo, secou, e as áridas paragens são de lume.
Deixar os sentidos em paz, tomar outras dianteiras
Não vestir o amor para se ter somente o reflexo de quem o nomeia
Vamos embarcar! Rosários de contas não há, o destino mudou,
Na telepatia das fontes
É um país novo a Terra inteira. Passámos de moda a projectar o novo.
Gastámos as línguas – litúrgicas boas-vindas – nos velhos andrajos das modas
Há gente que passou o tempo de se conservar em nós como ideia, terno efeito, consciência, são os equívocos da grande teia.
Não há comoção que interprete tanto desaire breve na languidez de uma era extinta de promessas.
Que a liberdade é sentir de maneira vária em tons regrados, e mesmo assim não ter receio de ser vermelha e ter os lábios molhados.
Nenhum arco-íris se desfez na sua imprecisão, e as grandes coisas são ainda aquelas que nos fabricam o pão.
Passamos todos de moda, passados de mão em mão, e o tempo gera memórias, mas não há certeza que dite que são a nossa história
Ronda insolente o destino, que ficar na vida em espelho vestido para um tempo fechado é acto tributário, e ninguém se veste da época do seu instante banal, se a si se consentir ser divino e animal.
Nesta abertura do acaso somos das modas, vencidos, que moda rege e renega as contingências dos mitos.
Do amor que não há fizemos coagulações, somos derivados de enfartes, fartos das mesmas pulsões.
É um chão macio este que muda- muda a seiva, muda o sítio – e não há lugar para as vestes dos fantasmas indistintos. Que as vontades mudam, desnudam, o que a moda tapara.
São as conclusões douradas! Ciclos abstratos, e a nossa longa cauda de símios disfarçados.
«E se o mundo é composto de mudança» toda a água se disfarça quando nos banhamos, numa luz, que em nós algures nos dança. A água gela nas veias. E não há quase minério, tão só a moda de andar de pé no cimo das ideias
Bípedes a motor, consagrámos a corrida, mas ninguém nos diz da moda dos quatro membros por terra, quando forjarem a nossa saída
Depois da queda do mais recente Adão, não voltaremos a colher às árvores, mas a subir a elas, nós que a moda desfez e refez em modos vários, iremos como os animais utilizar as manobras de ir ao topo dos ciclos vegetais. Talvez como os felinos
E mudam-se os tempos nas feras vontades, e muda-se o estar aqui e não estar mais, e o que esquecêramos nos trará um recomeço quando muitos de nós forem arrebatados pelas vogais da Aurora.
«Do mal ficam as mágoas…» mas não na lembrança, que recordar os males é não ter esperança, e movidos e sem defeito atravessaremos as trevas só para lhes dizer adeus.
Também não houve bem, nem há saudade, a missão governou o governado, e se amor bastar, é certo o lenho da nossa sua imensidade

( Camões no coração até morrer)
Máquina do Mundo.
Eis-te revisitada.
Mudando.
Mudada.

Fernão de Magalhães em Goa e Malaca

A nomeação do estratega e génio militar Afonso de Albuquerque para Governador da Índia permitiu assentar, ente 1509 e 1515, supremacia política, militar e comercial portuguesa no Índico, mais à base das armas e não como o seu antecessor, por diálogo e tratados de cooperação comercial. As reprimendas que o Vice-Rei D. Francisco de Almeida lhe dera quando ainda estava sob o seu comando, levaram-no como Governador a temperar o carácter e agressividade.

Devido à escassez de portugueses, surgiu-lhe a ideia de criar um sistema em rede formando um império por portos com feitorias e fortalezas espalhados estrategicamente pelo Oceano Índico e tornar vassalos os soberanos, dividindo com eles os lucros. Para minimizar a pouca população portuguesa necessária para ocupar esses lugares, Albuquerque fomentou o casamento dos seus homens com nativas locais. Já o sistema de Cartaz provinha de 1502 e o mare clausum, que, “segundo parece, já vigorava antes da hegemonia portuguesa naquele oceano, impedia o trânsito de qualquer embarcação não cristã que não fosse portadora de um salvo-conduto, passado e autenticado pelas autoridades portuguesas”, refere Joaquim Candeias Silva.

Escapando de Malaca, Fernão de Magalhães e Francisco Serrão chegaram a Cochim, já o Governador Afonso de Albuquerque tomara posse a 29 de Outubro de 1509 e preparava-se para ir conquistar Goa aos muçulmanos de Bijapur. Ambos participaram nessa expedição e o êxito inicial em Fevereiro de 1510 só foi total a 25 de Novembro, dia de Santa Catarina, padroeira dos marinheiros. Goa era a primeira conquista territorial na Índia feita pelos portugueses e logo se tornou a capital do Estado Português do Oriente.

Após Goa tomada, seguiram os dois amigos na armada de Albuquerque com seiscentos portugueses para Malaca, onde, resgatados os companheiros aprisionados desde 1509 e recebido o pagamento das compensações, dizimaram os navios ali ancorados, conquistando o porto de Malaca a 10 de Agosto de 1511. Afonso de Albuquerque aí mandou erguer o forte ‘A Famosa’, deixando nele trezentos portugueses.

Em Malaca, Magalhães comprou o escravo Henrique (o malaio Panglima Awang, que traduzido significa chefe dos moços, segundo Luís Filipe Thomaz), com quem passou a viajar, seguindo ambos com Albuquerque para a Índia, pretendendo regressar ao reino.

AS MALUCO

Em 1511, o Oceano Pacífico abria-se assim aos portugueses pelo Estreito de Malaca e se a atracção material no comércio seria ir à China, mais importante era realizar uma “expedição destinada ao descobrimento das Molucas, ou ilhas da especiaria. António de Abreu, que a comandava [partiu em Dezembro de 1511 de Malaca com Francisco Serrão], esteve primeiro num porto de Java, depois em Amboina, e visitou em seguida as ilhas de Banda, donde regressou a Malaca. O seu companheiro Francisco Serrão foi mandado prosseguir na mesma empresa; naufragou numa das ilhas do arquipélago de Banda; tendo salvo, porém, as armas, conseguiu intimidar os naturais, e fazendo-se à vela numa embarcação indígena, chegou finalmente a Ternati e a Tidor, das Molucas propriamente ditas, onde pouco depois os Portugueses se estabeleceram”, segundo António Sérgio. Já C. R. Boxer refere, a exploração que os portugueses “souberam fazer da inimizade endémica entre os sultões de Ternate e de Tidore lhes permitiu alcançar uma posição dominante no comércio de cravo-da-índia das Molucas.”

Maluco, como na altura os portugueses chamavam às Molucas, era a fonte do cravo e da noz-moscada e em Ternate, uma das suas cinco ilhas principais, Francisco Serrão fez residência e tornou-se feitor. Daí enviava missivas ao amigo Magalhães dizendo ser esta uma viagem de muitos proveitos. Adiantava, pelos seus cálculos, estarem estas ilhas das Especiarias na parte de Castela. António Sérgio complementa, “Das viagens contínuas entre Malaca e as Molucas, resultou o conhecimento de numerosas ilhas. Foram assim conhecidas Bornéu, Celebes, (Gomes de Sequeira, 1518), e Papuásia (D. Jorge de Meneses, 1527). Em 1518 mandou o Governador da Índia a D. João da Silveira que visitasse a costa de Coromandel, seguindo para o Norte, chegou às bocas do Rio Ganges; de aí desceu pela contracosta, tocando em vários dos seus portos.” Era o reconhecimento do Mar de Bengala, no Oceano Índico.

Com lugar comprado num junco de mercadores chineses em Pegu (hoje em Myanmar, na costa do Mar de Bengala), o feitor Jorge Álvares saiu de Malaca em Junho de 1513 para os mares da China até Lin Tin, ilha no delta do Rio das Pérolas. Do outro lado do Oceano Pacífico, no já baptizado continente Americano, a imensidão de água foi visualizada a 25 de Setembro desse ano por Nuñez de Balboa ao subir ao cume de uma montanha em terras do actual Panamá. Dias depois molhava os pés nessas águas que baptizou de Mar do Sul. Faltava encontrar a passagem marítima a ligá-lo ao Atlântico.

INVEJAS E CALÚNIAS

Fernão de Magalhães recebia mil réis por mês como escudeiro de D. Manuel antes de embarcar para o Oriente, onde entre 1505 e 1512 se revelara um valente soldado e marinheiro exemplar, e “regressado à metrópole, conquistou um lugar na corte, andando no livro dos moradores da casa de El-Rei [D. Manuel] com bons foros”, segundo António Sérgio.

Pouco depois de chegar a Portugal, alistou-se na armada do IV Duque de Bragança D. Jaime, que pretendia no Norte de África conquistar Azamor e custeava a expedição para se penitenciar de em 1512, num acesso de ciúmes, ter apunhalado a esposa Dona Leonor de Gusmão. Para ser representada à partida, Gil Vicente escreveu a tragicomédia Exortação da Guerra e a batalha ocorreu a 3 de Setembro de 1513, saindo vitoriosos os portugueses que aí construíram uma fortaleza.

Em Marrocos, numa das constantes e diárias escaramuças, Magalhães foi ferido numa perna, ficando coxo para o resto da vida. Nomeado quadrilheiro-mor, caiu em desgraça devido à distribuição em Março de 1514 de despojos, sendo acusado de se apropriar de parte do gado e o vender aos mouros. Regressou a Portugal e apresentou-se em 1515 a D. Manuel, acompanhado por o escravo malaio Henrique, pedindo um aumento da pensão por os serviços prestados. Na audiência, o rei, rodeado por delatores a espalhar falsidades sobre o íntegro e leal soldado marinheiro, tratou-o mal, sem consideração alguma e despediu-o do serviço de Portugal.

Sem reconhecimento e despeitado por D. Manuel e sua corte, Fernão de Magalhães a 20 de Outubro de 1517 chegou a Castela zangado e magoado com o seu país. Após anos ao serviço na Índia Portuguesa, vinha oferecer a sua experiência e conhecimento a Espanha com o projecto de navegar pelo Oeste até às ilhas das Especiarias. Era regente de Castela o Cardeal Jiménez de Cisneros, cuja idade e sabedoria o colocaram à frente dos assuntos de Espanha.

Fernão de Magalhães resumia a sua vida até então com duas frases: desde miúdo andei perto de corvos com plumagem de pomba e sempre tive ao meu lado a honra e a miséria, mais que a desonra e o luxo.

Vinte aviões rondaram espaço aéreo de Taiwan após acordo com EUA

Um número recorde de 20 aviões de combate chineses rondou sexta-feira o espaço aéreo de Taiwan, depois de assinado em Washington um acordo de cooperação marítima entre os Governos norte-americano e taiwanês. Segundo o Ministério da Defesa Nacional de Taiwan, os aparelhos do Exército de Libertação do Povo, da República Popular da China, envolvidos nas manobras foram dez caças J-16, dois caças J-10, quatro bombardeiros H-6K, dois Y-8 anti-submarino, um KJ-500 de vigilância e um Y-8 de reconhecimento tático.  

A Força Aérea de Taiwan respondeu colocando no ar caças para seguir os movimentos dos aviões chineses, lançando alertas através da rádio e mobilizando defesas aéreas. 

Na quinta-feira, Taiwan e Estados Unidos assinaram um memorando de entendimento para criação de um Grupo de Trabalho da Guarda Costeira, na sequência da recente aprovação pela China de uma Lei da Guarda Costeira que autoriza o uso de força contra navios estrangeiros em águas em que é reclamada a soberania chinesa, como é o caso de Taiwan.

A 19 de Fevereiro, quando legisladores norte-americanos apresentaram no Senado e na Câmara dos Representantes uma proposta de lei para contrariar o uso de força pela China contra Taiwan, nove aviões chineses rondaram o espaço aéreo de Taiwan, e no dia seguinte 11.

Num debate no Parlamento taiwanês na quinta-feira, o ministro da Defesa Chiu Kuo-cheng afirmou que o desenvolvimento de capacidade balística de longo alcance se mantém uma prioridade e que o desenvolvimento, a cargo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Chung-Shan, “nunca parou”. Leng Chin-hsu, diretor-adjunto do Instituto, revelou que um míssil terrestre de longo alcance está em produção e outros três em desenvolvimento.

Numa inversão na tradicional política de primazia à capacidade de defesa de Taiwan face a uma possível invasão da China – que reclama a soberania do território e nunca excluiu o uso de força militar para “reunificar” a ilha – a presidente taiwanesa Tsai Ing-wen estabeleceu como prioridade o desenvolvimento de capacidade dissuasora “assimétrica”. O desenvolvimento de mísseis de longo alcance dá a Taiwan a capacidade de atingir alvos no interior da China.

Ásia-Pacífico | China prevê zona de livre comércio até fim de 2021

O Ministério do Comércio chinês afirmou que a ratificação do Acordo Regional de Parceria Económica com a região Ásia-Pacífico, que estabelecerá a maior zona de livre comércio do mundo, estará concluída até final de 2021. “Para a China, aderir ao RCEP (sigla em inglês do Acordo de Parceria) e fazer com que o RCEP entre em vigor o mais rápido possível abrirá ainda mais a economia chinesa ao mundo exterior e permitirá que as empresas chinesas se adaptem mais a uma concorrência de mercado mais ampla”, disse o vice-ministro Wang Shouwen.

“A entrada em vigor do RCEP é muito benéfica para o desenvolvimento da cadeia de aprovisionamento industrial regional e é propícia para a resposta da região a possíveis choques externos à cadeia industrial”, adiantou o governante chinês.

O acordo, cuja negociação foi concluída em novembro de 2020, junta a China a 15 países da região Ásia-Pacífico, incluindo Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, e ainda os 10 membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). No seu conjunto, estas economias representam cerca de um terço da população e 30 por cento da economia global.

Negociações para um acordo semelhante entre os Estados Unidos e os países Ásia-Pacífico – a Parceria Trans-Pacífico (TPP) – foram abandonadas pela Administração norte-americana em 2017. “A China assumiu a liderança na ratificação do RCEP, sublinhando a grande importância e total apoio do Governo chinês para a implementação antecipada do acordo”, disse Wang. O RCEP entrará em vigor após a ratificação por pelo menos 6 países ASEAN e 3 não-ASEAN.

Irão e China assinam acordo de cooperação para 25 anos

O Irão e a China assinaram, em Teerão, um acordo de cooperação estratégica e comercial para 25 anos e em análise há vários anos, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano. Este “roteiro completo”, que contém “cláusulas políticas, estratégicas e económicas”, foi concluído durante a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, desde sexta-feira à noite em Teerão, acrescentou Said Khatibzadeh, em declarações à televisão estatal iraniana.

“Este documento pode ser muito eficaz para aprofundar” as relações sino-iranianas, indicou o porta-voz, ao lembrar que o projecto foi iniciado por ocasião da visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a Teerão, em Janeiro de 2016. Na altura, Xi e o homólogo iraniano Hassan Rohani decidiram reforçar os laços entre os dois países.

Teerão e Pequim comprometeram-se “a realizar negociações para a assinatura de um acordo de cooperação alargada para 25 anos” e “cooperar e desenvolver investimentos recíprocos em diferentes domínios, nomeadamente, transportes, portos, energia, indústria e serviços”, de acordo com um comunicado publicado por ocasião da visita.

“Não importa como a situação mundial mude, a vontade da China de desenvolver as relações China-Irão não mudará”, disse no sábado o Conselheiro de Estado chinês e Ministro dos Negócios Estrangeiros Wang Yi durante o seu encontro com o Presidente iraniano Hassan Rouhani.

Notando que este ano marca o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, Wang disse que o documento de cooperação global assinado pelas duas partes no sábado irá traçar um plano global para impulsionar a parceria estratégica global China-Irão, que não só beneficiará os dois povos, mas também fará contribuições China-Irão para a manutenção da paz regional e mundial.

“A China”, referiu Wang, “apoia firmemente o Irão na defesa da sua soberania e dignidade nacional, e na salvaguarda da sua via de desenvolvimento escolhida. Não importa no passado, no presente ou no futuro, a China é coerente em opor-se às sanções unilaterais pouco razoáveis impostas ao Irão por outros países, porque estas violam o direito internacional, especialmente as baseadas em mentiras e informações falsas, que são imorais e impopulares e constituem uma afronta à consciência humana”.

“A China está pronta a trabalhar com o Irão e outros países para se oporem conjuntamente aos actos de intimidação por parte dos poderes, defender a equidade e a justiça internacionais e defender as normas básicas das relações internacionais”, disse o diplomata chinês.

Wang salientou ainda que é tempo de reflectir seriamente sobre as más consequências infligidas à região por interferências externas, e trabalhar em conjunto para explorar formas eficazes de manter a segurança e a estabilidade regionais a longo prazo.

Por seu lado, Rouhani pediu a Wang que transmitisse as suas “sinceras saudações e os seus melhores votos” ao Presidente Xi e “que todos os sectores da vida no seu país consideram a China como o parceiro mais importante do Irão”.

Recordando a “bem sucedida” visita de Xi ao Irão em 2016, Rouhani disse que “promoveu o notável desenvolvimento das relações Irão-China”. “A assinatura do documento de cooperação entre os dois países irá clarificar ainda mais o roteiro para a futura cooperação “, disse Rouhani.

“O Irão”, disse, “espera reforçar a sua cooperação com a China na luta contra a pandemia da COVID-19, aprofundar a cooperação mutuamente benéfica em vários campos, e reforçar a cooperação anti-terrorismo”.

Notando que o Irão e a China partilham as mesmas posições ou posições semelhantes sobre questões regionais e globais, o presidente iraniano disse que o Irão defende a resolução de problemas através do diálogo e espera reforçar ainda mais a sua coordenação com a China na manutenção da segurança regional.

Para Rouhani, “o Plano de Acção Global Conjunto (JCPOA) é um acordo multilateral, e os Estados Unidos não deveriam impor quaisquer condições prévias para retomar a sua implementação do acordo nuclear e deveriam tomar medidas primeiro”. “O Irão aprecia o importante papel da China na manutenção do acordo e está pronto a reforçar a sua comunicação e coordenação com a China sobre este assunto”, acrescentou.

Sobre o acordo nuclear, Wang disse que foi “uma importante e duramente conquistada conquista do multilateralismo” e que “a retirada unilateral da antiga administração dos EUA do acordo estabeleceu um mau precedente de não cumprimento dos acordos internacionais e foi condenada unanimemente pela comunidade internacional”.

“A China congratula-se com o desejo do novo governo dos EUA de regressar ao acordo”, disse Wang, acrescentando que a China “acredita que a salvaguarda do acordo significa defender o multilateralismo e a autoridade do Conselho de Segurança da ONU”.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês apelou a Washington para reflectir sobre os danos causados pela sua retirada do acordo para a paz regional e a estabilidade internacional, bem como sobre as perdas causadas aos países relevantes. “As sanções unilaterais contra o Irão e as medidas de longo prazo da jurisdição contra outros países, incluindo a China, deveriam ser levantadas o mais rapidamente possível”, afirmou.