Eleições | Campanha eleitoral arrancou oficialmente no sábado

Nos próximos 14 dias, as listas candidatas às eleições legislativas vão dar tudo por tudo para apresentar as suas ideias ao eleitorado. Temas sociais, como a habitação, são os mais prementes. Coutinho apelou ao voto para manter a única voz em língua portuguesa no hemiciclo

 

O período de campanha eleitoral arrancou oficialmente às 00h de sábado e estende-se até 10 de Setembro, antes das eleições marcadas para 12 de Setembro.

Na sexta-feira a Comissão para os Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) e elementos do Corpo de Polícia de Segurança Pública visitaram os locais públicos onde serão feitas as actividades de campanha.
Tong Hio Fong, presidente da CAEAL, referiu que, durante a campanha, as listas “devem proceder de acordo com a lei” e “realizar as suas actividades nos locais públicos designados”, além de seguirem as recomendações de prevenção da pandemia.

A lista Ou Mun Kong I, liderada por Lee Sio Kuan, é aquela que promete o maior número de actividades, 64 no total, enquanto que a lista da União Promotora para o Progresso, dos candidatos e deputados Ella Lei e Leong Sun Iok, deverá realizar apenas cinco acções de campanha. No total, estão programadas 241 acções das listas candidatas pelo sufrágio directo e indirecto nos 18 lugares elegíveis pela CAEAL.

No sábado, a lista ligada à Associação Geral dos Operários de Macau apresentou o programa político, cujas principais bandeiras vão da aposta em mais medidas de apoio à economia, prioridade de locais no acesso a emprego e aumento da oferta de casas públicas. Segundo o jornal Ou Mun, Ella Lei e Leong Sun Iok pedem também a preservação dos direitos laborais.

No caso da lista da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, de Song Pek Kei e Si Ka Lon, o programa foi apresentado no centro de actividades da Aliança do Povo de Instituição de Macau. Os candidatos defendem a criação de um projecto piloto para o seguro universal destinado a pessoas entre os 50 e 60 aos, bem como o regresso da distribuição de sete mil patacas nas contas de previdência. Sobre a pandemia, Song Pek Kei defendeu uma nova ronda de apoios para residentes e empresas.

Coutinho “conservador”

Com um programa político com nove capítulos, a lista Ou Mun Kong I contém ideias como o aumento dos impostos sobre o jogo em dez por cento, para construir mais habitação e providenciar assistência médica universal. É também pedida uma nova ronda do cheque pecuniário e o aumento dos subsídios para portadores de deficiência e idosos.

A lista Nova Esperança, liderada por Pereira Coutinho, renovou o pedido de aumento do valor do cheque pecuniário para 12 mil patacas, bem como a restituição das sete mil patacas nas contas do fundo de previdência central dos idosos. É ainda defendida a instituição de um “sistema de cuidados de saúde gratuitos” para “elevar a qualidade de vida da população”.

Coutinho parte para a campanha com uma “atitude conservadora” em relação aos resultados das eleições, pois espera “uma forte concorrência devido à diminuição das listas” e necessidade de somar mais de 14 mil votos para ser eleito.

Ontem, numa acção de campanha no jardim do Iao Hon, Pereira Coutinho apelou ao voto. “Temos de votar em força para garantir que a nossa voz é ouvida. Caso contrário não há língua portuguesa na AL, não há pensamento democrático e não há a diferença na coragem de dizer coisas que, para os outros, são muito incómodas”, disse, segundo a TDM – Rádio Macau.

Observatório Cívico | Agnes Lam quer mais transparência

Caso seja reeleita, Agnes Lam, cabeça de lista do Observatório Cívico, prometeu lutar para que o Governo seja mais transparente. Segundo a TDM – Rádio Macau, a deputada deu como exemplo a atribuição da gestão do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas à “Peking Union Medical College Hospital”, empresa privada do Interior da China.

Apesar da boa reputação da empresa, Agnes Lam considera que a forma como o processo de selecção está a ser tratado pelo Executivo não é ideal. Outra das frentes de batalha referidas por Agnes Lam numa acção de campanha realizada ontem no Jardim Cidade das Flores, na Taipa, prende-se com o apoio às pequenas e médias empresas (PME). Para a candidata, os apoios que têm sido dados à população através de cartão de consumo devem ser revistos, com o objectivo de alocar mais ajuda às PME que estão a sofrer as consequências económicas da pandemia.

Sufrágio indirecto | Angela Leong acredita ter o “apoio de todos”

A concorrer pela primeira vez às eleições pela via indirecta, Angela Leong considera ter “o apoio de todos”, inclusivamente das associações da cultura e do desporto, Colégio Eleitoral pelo qual concorre juntamente com Chan Chak Mo.

“Já fui deputada eleita pelo sufrágio directo durante quatro mandatos e, em relação ao desporto e à cultura, sabem que eu fui bailarina”, começou por dizer, segundo a TDM-Rádio Macau. “Acredito ter o apoio de todos, incluindo das associações do sector de cultura e desporto. É por isso que me candidato ao sufrágio indirecto”, justificou.

Declaração Conjunta | Portugal atento à execução de acordo com China

Marcelo Rebelo de Sousa disse a Xi Jinping que Portugal está atento ao cumprimento da Declaração Conjunta luso-Chinesa em relação a Macau. Durante uma “longa conversa telefónica”, foram ainda abordados temas como a situação do Afeganistão, o relacionamento bilateral e o “reforço de sinergias” em matéria de estratégias de desenvolvimento

Com Lusa

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na passada sexta-feira ao Presidente chinês, Xi Jinping que Portugal acompanha “atentamente” a execução do acordo entre os dois países, nomeadamente quanto a Macau.

Marcelo referiu que “Portugal acompanha atentamente a execução daquilo que foi acordado e que é importante para a comunidade portuguesa que vive lá [em Macau], mas também é importante em geral para aquilo que é um longo diálogo entre China e Portugal”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa segundo a agência Lusa. As declarações foram proferidas à margem de uma visita à Feira do Livro do Porto, depois de questionado sobre a conversa telefónica que os dois chefes de Estado tiveram, por iniciativa Presidente da República Popular da China, Xi Jinping.

De acordo com uma nota publicada no website da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa teve “uma longa conversa telefónica com Xi Jinping onde, para além de Macau, foram abordados temas como o relacionamento bilateral e a situação internacional, em particular, no Afeganistão.

“Os dois chefes de Estado tiveram a oportunidade de abordar diferentes temas do relacionamento bilateral, Macau, as relações da União Europeia com a República Popular da China, a pandemia, a situação internacional, e, em particular, o Afeganistão”, lê-se na mesma nota.

Estreitar laços antigos

Por seu turno, de acordo com a agência noticiosa oficial Xinhua, o Presidente Xi Jinping, apontou que a China está pronta para trabalhar com Portugal para “reforçar sinergias” entre as estratégias de desenvolvimento de ambos os países.

Segundo a Xinhua, Xi afirmou que Pequim quer “promover a cooperação” em áreas como a energia, finanças e construção de infra-estruturas.

O Presidente chinês e secretário-geral do Partido Comunista da China apontou ainda para a cooperação em países terceiros, apelando à participação portuguesa na Iniciativa Parceria para o Desenvolvimento de África.

Apontando que o mundo atravessa um período “histórico” e desafiante devido à pandemia de covid-19, Xi Jinping referiu que tanto “a China e Portugal são civilizações antigas” e que, por isso, devem “intensificar a comunicação e dar as mãos” para enfrentar desafios comuns.

“O facto de todos os países estarem a enfrentar desafios comuns como a pandemia de covid-19, a recuperação económica e as alterações climáticas, exige solidariedade e cooperação”, disse Xi segundo a Xinhua.

Xi Jinping terá ainda dito que a China está determinada em trabalhar com todos os países que “amam a paz” como Portugal e expressou ter esperança de que Portugal desempenhe “um papel positivo” no desenvolvimento das relações entre a China e a União Europeia.

Segundo a Xinhua, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que Portugal “está pronto” para trabalhar com a China no reforço do papel das Nações Unidas e outras plataformas multilaterais como o G-20.

Moção em Portimão

Três militantes apresentaram ontem no Congresso do Partido Socialista (PS), em Portimão, uma moção na qual pedem aos dirigentes socialistas que denunciem quaisquer violações da declaração luso-chinesa sobre Macau e que zelem pelo seu cumprimento. Na moção propõe-se, por um lado, que seja manifestada pelo PS, “preocupação pela forma como alguns dos mais importantes princípios, direitos e liberdades, designadamente os de reunião, manifestação e desfile, salvaguardados na Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre a Questão de Macau e na própria Lei Básica, estão a ser colocados em causa na RAEM da República Popular da China”.

Moradores de edifício pedem investigação a estacionamento

Residentes da Torre 8 do Edifício San Seng Si Fa Un pediram ontem ao Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) que investigue a legalidade do estacionamento que dizem bloquear o acesso à porta principal. O grupo de moradores do prédio da Avenida de Artur Tamagnini Barbosa, no Toi San, entregou uma carta no CCAC.

Segundo o representante, de apelido Wong, os moradores acreditam que a aprovação dos lugares de estacionamento no pódio, local onde fica o acesso principal do edifício, envolveu “um processo administrativo irregular”.

Wong revelou que os lugares de estacionamento foram marcados no chão por uma empresa de nome Xiecheng – Sociedade de Gestão de Obras, há cerca dois anos. Logo na altura, os moradores ficaram insatisfeitos com a situação e chamaram a polícia. Porém, a empresa terá argumentado que tinha registado aqueles lugares como seus, logo em 1999, ou seja, ainda antes da transição. Os habitantes do Edifício San Seng Si Fa Un entraram depois em contacto com o Instituto de Habitação (IH) para resolver o assunto, mas o órgão do Governo recusou qualquer responsabilidade no caso que envolve um prédio para habitação económica, construído em 1989.

Questão de segurança

Ao contrário do habitual, o prédio tem a entrada no pódio, onde está o estacionamento. Por isso, Wong afirmou que há a preocupação que os carros estacionados sejam um problema para os bombeiros, caso seja necessário fazer operações de salvamento. Contudo, também a queixa feita junto do Corpo de Bombeiros, não teve qualquer desenvolvimento.

Face à situação, os envolvidos esperam que o CCAC possa analisar o processo da criação do parque de estacionamento e eventuais irregularidades.

A entrega da carta foi acompanhada pelo deputado Leong Sun Iok, da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Leong deixou o desejo de que o CCAC dê uma resposta clara às questões levantadas e que apoie os residentes clarificando totalmente esta situação.

Testes covid-19 | Governo anuncia plano melhorado com mais postos e novas regras 

O Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus anunciou ontem um plano de melhoria do sistema de testagem em massa da população, com três categorias distintas, a fim de evitar a concentração de pessoas e as longas filas de espera que se verificaram na primeira ronda de testes.

Haverá postos destinados à população, sujeitos a marcação prévia, postos para testes pagos e ainda para idosos e pessoas com necessidades especiais, num total de 52 locais.

Além disso, foi estabelecido um grupo de trabalho apenas para este fim, dividido em cinco subgrupos. A fim de evitar falhas no sistema informático de marcação, como as que ocorreram na primeira testagem, foi criado um sistema de base de dados.

“Construímos uma base de dados sobre marcação e registo [para os testes], em conjunto com os Serviços de Administração e Função Pública e com a CTM. Em caso de falhas conseguiremos, em 15 minutos, mudar para esse sistema”, explicou Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM).

Este plano garante “uma optimização do fluxo de pessoas”, ao serem divulgadas informações sobre filas de espera nos locais de testagem quatro vezes por hora. Será criado um website para esse efeito.

Em relação ao tempo de espera, as autoridades vão criar ainda três categorias. A verde corresponde a um tempo de espera inferior a 30 minutos, amarelo de 59 minutos e vermelho superior a uma hora.

Divulgação atempada

Alvis Lo garantiu ainda que, com este plano, o anúncio de uma nova ronda de testes em massa poderá ser feito com dez horas de antecedência, e os resultados divulgados no prazo de três dias. “Estamos confiantes de que teremos uma melhor preparação se, no futuro, tivermos uma nova ronda de testes”, frisou.

Outra das mudanças, prende-se com o facto de os resultados dos testes feitos nos postos destinados à população deixarem de ser carregados para os códigos de saúde. “Na primeira testagem em massa havia pessoas que tinham de passar a fronteira e que se concentraram no primeiro dia [para fazer os testes]. Mas agora teremos postos de testes pagos para estas pessoas.”

Tai Wa Hou, responsável pelo programa de vacinação, adiantou ainda que a partir do dia 1 de Setembro arranca um serviço de proximidade com as escolas a fim de aumentar a taxa de vacinação dos jovens. Também neste dia, a validade do teste de ácido nucleico para quem viaja para Macau de avião passa das actuais 48 horas para sete dias.

Cinemateca Paixão | Filmes de acção asiática preenchem cartaz de Setembro

As artes marciais vão continuar a dominar o cartaz da Cinemateca Paixão ao longo de Setembro, com uma variedade de filmes de realizadores de todo o mundo, com particular incidência nos cineastas asiáticos. Hoje é exibido “The Master”, de Xu Haofeng, amanhã é a vez de “Zu: Warriors from the Magic Mountain”, do realizador Tsui Hark

 

O ciclo “A sombra da katana, armas, espadas – Festival das Artes Marciais, Samurai e Filme Ocidental” continua a ser a tónica cinematográfica do cartaz da Cinemateca Paixão, enchendo o ecrã da casa dos filmes de acção e violência ao longo do mês de Setembro.

No meio de um vasto cartaz, com muitos filmes já esgotados, o HM divulga as sessões para as quais ainda há bilhetes à venda.

Hoje, às 19h, é exibido “The Master”, uma megaprodução de 2015, da autoria do chinês Xu Haofeng. A narrativa gira em torno da longa e sangrenta ascensão de um homem à posição de mestre de artes marciais de wing chun, um conceito moderno baseado no tradicional wushu originário do Sul da China.

Até conseguir permissão para abrir uma escola de artes marciais, o protagonista, interpretado pelo aclamado actor Liao Fan, terá de treinar um aprendiz capaz de derrotar nove mestres de outras escolas.

Amanhã, às 15h, é a vez de “Zu: Warriors from the Magic Mountain” tomar conta do ecrã da Cinemateca Paixão, sessão que é repetida a 8 de Setembro, às 19h, para quem não gostar de filmes de kung fu à hora de matiné. Lançado em 1983, esta pérola do cinema de Hong Kong, realizada por Tsui Hark, foi uma influência enorme para John Carpenter conceber o clássico “Big Trouble in Little China”, com Kurt Russell, Kim Cattrall, Dennis Dun e James Hong no elenco.

“Zu: Warriors from the Magic Mountain” é um filme difícil de caracterizar, com elementos sobrenaturais, fantasia, artes marciais e comédia transversais a toda a narrativa, que se centra nas desventuras de um desertor do exército que tenta escapar da Montanha de Zu que, por acaso, está cheia de vampiros que encaram o militar como um banquete com pernas.

A sobrevivência do protagonista, interpretado por Yuen Biao, é garantida pela intervenção do mestre Ding Yan, desempenhado por Adam Cheng, a conhecida estrela do canto pop e actor da TVB.

Do Japão à Indonésia

Como um cocktail feito apenas com bebidas com mais de 40.º graus de álcool, “Sukiyaki Western Django” é um cruzamento bombástico entre Quentin Tarantino, Sergio Leone e Akira Kurosawa. A película, realizada pelo japonês Takashi Miike, que chegou às salas de cinema em 2007 é exibida no dia 5 de Setembro, às 15h.

O filme começa com a chegada de um pistoleiro a Yuta, uma cidade dividida por dois gangues em guerra. Depois de ignorar os convites de ambos os clãs, o pistoleiro acaba em casa de uma mulher que lhe conta como a cidade, em tempos próspera, se degradou com o embate violento dos dois gangues. A partir daqui “Sukiyaki Western Django” transforma-se num misto entre “Cães Danados” e “Os Sete Samurais”.

Nos dias 7 e 15 de Setembro, sempre às 19h, a Cinemateca Paixão exibe “The Fate of Lee Khan”, um clássico de Hong Kong, realizado por King Hu, que alia artes marciais a narrativas repletas de magia e fantasia. A acção desenrola-se durante os anos de declínio da Dinastia Yuan, quando Lee Khan, um general mongol, e a sua irmã Wan’er tentam obter informações tácticas das forças rebeldes que combatem. É com essa missão que chegam a uma estalagem na província de Shaanxi.

Seguindo uma toada mais calma do que “Sukiyaki Western Django”, “The Fate of Lee Khan” desenrola-se ao ritmo muito próprio, com cenas de luta a surpreenderem o espectador e a terminarem tão rapidamente como começaram, dando espaço a intriga e crescimento das personagens pelo meio.

Filme sobre filmes

Finalmente, destaque para um filme distinguido em festivais de cinema asiáticos como o Festival de Cinema Asiático Vesoul, Festival de Cinema Asiático de Hong Kong, Festival de Cinema de Taipei e no Festival Internacional de Cinema de Busan, para nomear alguns. No dia 8 de Setembro, às 21h, e às 16h30 de 18 de Setembro, é exibido “Garuda Power: The Spirit Within”, um documentário que explora a história pouco conhecida do cinema de acção indonésio.

Desde o nascimento da indústria cinematográfica na Indonésia, entre os anos 20 e 30 do século passado, o documentário do realizador Bastian Meiresonne atravessa os altos e baixos do sector, até chegar a “The Raid”, um filme de acção que mereceu aclamação global.

O cartaz da Cinemateca Paixão inclui outros filmes, muitos deles com sessões esgotadas, com este tipo de filmes em exibição a ocupar a programação de Setembro.

Jogo | Operadoras com prejuízos de quase 10 mil milhões em seis meses

Antes da pandemia, as concessionárias somavam lucros superiores a 22 mil milhões de dólares de Hong Kong. No entanto, a covid-19 deitou tudo a perder, e os anos têm sido particularmente difíceis com prejuízos acumulados de 30 mil milhões

 

Na primeira metade do ano, as concessionárias do jogo registaram um prejuízo de 9.449 milhões de dólares de Hong Kong, devido à situação pandémica. Os resultados contrastam com 2019, o último ano sem pandemia, quando nos primeiros seis meses o somatório das operadoras representou um lucro de 22.189 milhões de dólares de Hong Kong.

Se no período de 2019 todas as operadoras apresentavam lucros, a situação nos últimos seis meses foi bastante diferente. À excepção da Galaxy, que conseguiu resultados positivos de 960 milhões de dólares de Hong Kong, todas as outras empresas registaram perdas.

A concessionária mais afectada na primeira metade do ano foi a Melco Resorts com prejuízos de 3.261 milhões de dólares de Hong Kong. Contudo, os resultados da empresa de Lawrence Ho têm em conta os investimentos fora de Macau, ao contrário das outras concessionárias analisadas. Entre os investimentos, está a construção do casino City of Dreams Mediterrâneo, no Chipre, que deve abrir em meados do próximo ano.

As americanas Sands China e Wynn Macau foram as outras operadoras mais prejudicadas com a pandemia, ao apresentarem perdas de 2.475 milhões e 2.157 milhões de dólares de Hong Kong, respectivamente. Finalmente, a SJM Resorts espera ter começado uma nova época para a empresa com a abertura informal do casino Grand Lisboa Palace, mas perdeu 1.466 milhões de dólares de Hong Kong.

Fraco consolo

À excepção da Galaxy, poucas serão as concessionárias que estarão felizes com os resultados, uma vez que continuam a perder dinheiro. No entanto, a comparação com 2020 demonstra que já está a haver uma adaptação ao novo normal.

Se olharmos para os primeiros seis meses do ano passado, e tendo em conta que em Janeiro os efeitos da pandemia ainda não se faziam sentir, houve prejuízos totais de 22.321 milhões de dólares de Hong Kong. Com as perdas deste ano, percebe-se que no primeiro semestre dos dois anos as operadoras perderam mais de 30 mil milhões.

Mas, no ano passado a Melco já era a campeã das perdas com um prejuízo de 5.698 milhões de dólares de Hong Kong. Não muito longe, estava a Sands China, com prejuízos de 5.573 milhões, que não deixam de estar ligados ao investimento feito nas remodelação do espaço agora denominado Londrino, no Cotai.

Ainda em relação ao ano passado, o top três das perdas foi encerrado pela Wynn, com prejuízos de 3.918 milhões de dólares de Hong Kong.

Com a adaptação em curso, percebemos que entre 2020 e 2021, apenas a SJM viu os resultados piorarem. Porém, a operadora esteve focada na abertura do novo casino.

Do outro mundo

A comparação entre os três anos analisados mostra que a pandemia e as restrições de circulação estão a ser um autêntico rombo para as operadoras. Antes da pandemia, as concessionárias registaram nos primeiros seis meses de 2019 lucros de 22.189 milhões de dólares de Hong Kong. A Sands China, do então magnata Sheldon Adelson, foi aquela que mais ganhou com 8.305 milhões de dólares. Contudo, a empresa de Lui Che Woo não ficou muito longe e conseguiu lucros de 6.680 milhões de dólares de Hong Kong.

No período analisado de 2019, não houve qualquer empresa com resultados negativos. Quem menos ganhou foi a MGM China, com um lucro de 1.022 milhões de dólares de Hong Kong. Mas, esse lucro que parece mínimo na comparação com as outras operadoras, não deixa de ser maior do que aquele registado nos últimos meses pela Galaxy e certamente invejado pelas outras concessionárias.

António Guterres agradece apoio de conselheiros, incluindo Coutinho

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, considera Pereira Coutinho membro do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas da Ásia e Oceânia. Apesar de o deputado ter deixado o cargo em Fevereiro, aparece identificado por Guterres numa carta enviada a Rita Santos, que preside ao organismo.

O HM tentou contactar Rita Santos para perceber o contexto da missiva, as condições em que o conselho contactou António Guterres e se Coutinho tinha sido identificado como conselheiro. Até à hora do fecho da edição, não foi possível contactar a responsável.

A carta divulgada ontem deixa a entender ter sido resposta a outra enviada para dar os parabéns a Guterres, assinada pelos membros do conselho, Rita Santos, Armando de Jesus e Gilberto Camacho. “Muito obrigado pela vossa carta conjunta e amáveis palavras de apoio à minha renomeação como Secretário-Geral das Nações Unidades”, pode ler-se no texto, assinado por Guterres. No final, o secretário-geral diz ainda à “Exma. Senhora Santos”: “Queira partilhar esta carta com o Sr. Armando de Jesus, o Sr. Gilberto Camacho e o Sr. Coutinho do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas na Ásia e Oceânia”.

A mensagem de António Guterres é datada de 11 de Agosto e Rita Santos apontou ter sido recebida a 26 de Agosto. A recondução do português à frente da ONU aconteceu a 18 de Junho. Todas as datas são posteriores à saída de Pereira Coutinho de conselho das comunidades, que ocorreu em Fevereiro.

Apelo à união

Na mensagem dirigida a Rita Santos, o secretário-geral da ONU apela à união. “Se há uma lição que retiramos dos últimos anos é que apenas unidos podemos resolver os nossos maiores desafios. A pandemia da covid-19 é o mais recente exemplo da nossa vulnerabilidade e da necessidade de uma acção multilateral para restaurar a confiança e promover a esperança”, considera Guterres.

“Estou convicto de que podemos, e devemos fazer muito mais, para combater as fragilidades globais, superar as divisões, combater as desigualdades e curar o nosso planeta”, acrescentou o líder da ONU.

Eleições | Exclusão de deputados segue lógica da Revolução Cultural, diz Ng Kuok Cheong

Ng Kuok Cheong considera que as acusações que levaram à desqualificação de candidatos às eleições seguem a mesma lógica da Revolução Cultural e que Macau deixou de ser o “bom aluno”. Para Scott Chiang, o sistema judicial de Macau perdeu a “castidade” por não ser imune a decisões políticas

 

O deputado e candidato excluído às eleições de Setembro, Ng Kuok Cheong considera que as acusações de não ser fiel à Lei Básica e a Macau, na base da sua desqualificação, seguem a mesma lógica de perseguições feitas durante a Revolução Cultural.

Isto, quando Ho Iat Seng se recusou a responder directamente aos pedidos de explicação do deputado e as entidades responsáveis por tecer a acusação ficaram isentas de consequências.

“A acusação que foi feita contra mim segue a mesma lógica da Revolução Cultural, ou seja, a lógica de avançar com acusações forçadas, que isentam quem acusa de qualquer tipo de consequências. Tentei perguntar se o Governo concorda com este tipo de acusações e, na resposta, o Chefe do Executivo recusa-se a responder e diz não ter desempenhado qualquer papel no processo de desqualificação. Além disso, ficou por responder à questão de estarmos ou não perante uma questão política”, apontou ontem Ng Kuok Cheong numa conferência de imprensa sobre a desqualificação da candidatura da Associação de Próspero Macau Democrático (APMD).

Recorde-se que do caderno de acusações emitido pela Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) para excluir Ng Kuok Cheong das eleições está, a promoção ilegal do sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo e o apoio a actividades como o “4 de Junho”, a “Carta Constitucional 08” ou “Revolução de Jasmim”.

Ng Kuok Cheong referiu ainda não ter dúvidas que estamos perante uma “uniformização” de tratamento entre Hong Kong e Macau, não havendo já vantagens para o território, que chegou a ser apelidado de “bom aluno”.
“Antes, havia a ideia do “bom aluno” e do “mau aluno”, com Macau a merecer um tratamento melhor por ser o território bem-comportado. Mas isso acabou. Hong Kong e Macau são tratados da mesma forma, de acordo com a vontade do Governo Central”, vincou Ng Kuok Cheong.

Quantificar a justiça

Questionado sobre a independência do sistema judicial, após o TUI ter mantido a decisão da CAEAL de excluir três listas das eleições, Ng Kuok Cheong defende que a liberdade está dependente de o tema estar ou não relacionado com decisões políticas.

Contudo, para o histórico deputado, esta “não é uma situação nova” já que, mesmo antes da transferência de soberania em 1999, se criaram condições “para haver um esquema de cooperação entre os tribunais e o Governo”, através do envio de jovens do Interior da China para ocupar cargos importantes em departamentos governamentais e judiciais.

Por seu turno, Scott Chiang, também excluído das eleições, discorda da ideia de Ng Kuok Cheong, porque considera não ser “possível deixar de ter castidade num dia e recuperá-la no dia seguinte”.

“Um dos elementos fundamentais da liberdade do sistema judicial é que tem de ser consistentemente imune às influências políticas externas. Os tribunais têm concordado de forma muito conveniente com qualquer decisão do Executivo, especialmente se estivermos a falar de direitos civis e outras questões políticas”, acrescentou.

Obras | Mak Soi Kun com preço mais caro para mastros de bandeira

A empresa gerida por Mak Soi Kun apresentou o preço mais alto para fazer as obras de instalação dos mastros das bandeiras no Centro Desportivo Lin Fong. A proposta foi a única acima de 100 mil patacas

 

A empresa gerida por Mak Soi Kun apresentou a proposta mais elevada para instalar mastros de bandeiras no Centro Desportivo Lin Fong. Segundo a informação publicada pela Direcção de Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, a Sociedade de Engenharia Soi Kun Limitada apresentou o valor mais elevado entre todas as candidatas. No total, exige 155 mil patacas para instalar mastros para bandeiras para o centro desportivo em 30 dias. Entre as seis empresas consideradas para a obra, é a única cujo preço ultrapassa as 100 mil patacas.

A proposta que mais se aproxima da empresa de Mak Soi Kun foi apresentada pela TNT Design e Construção, que cobra 92,2 mil patacas. A empresa de Mak exige quase mais 62 por cento do que a TNT. Porém, a companhia que exigia 92,2 mil patacas fazia os trabalhos em 21 dias, ou seja, menos 9 do que a concorrente.

Com valor acima de 68 mil patacas só existe mais uma proposta da Jun Lei Construção e Engenharia Civil, que diz fazer as obras por 88 mil patacas. Por sua vez a Companhia de Construção Civil San Wo Heng, e os empreiteiros Lei Chan Seng e Lei Ka Chi apresentaram preços de 68 mil patacas, 62,8 mil e 60 mil patacas, todas com prazo de execução de 30 dias.

Deputado patriota

Mak Soi Kun tem sido um dos maiores defensores do patriotismo na Assembleia Legislativa. Entre os muitos discursos que proferiu no hemiciclo, o deputado pautou o discurso por alguns erros factuais na defesa do patriotismo.

Um exemplo aconteceu em Abril de 2018, quando Mak Soi Kun argumentou não haver referência à República Popular da China no BIR. Contudo, essa referência existe no verso, e em chinês dentro do emblema da RAEM. Ao contrário do que acontece com o português, onde apenas consta “Macau” no emblema, o texto em chinês apresenta “RAE de Macau da República Popular da China”.

Apesar do erro factual, Mak não desistiu da ideia, e este ano convenceu o Governo a comprometer-se no futuro a dar maior relevo aos símbolos nacionais no BIR.

Obras | Construção pré-fabricada promove rapidez e menos necessidade de TNR

A construção pré-fabricada tem potencial para ser o próximo capítulo em termos habitacionais em Macau, reduzindo custos e necessidade de mão-de-obra importada. Arquitectos defendem que a solução pode transformar o sector, mas duvidam da viabilidade para a renovação urbana

 

O futuro da construção civil em Macau pode passar pela aposta em modelos pré-fabricados, uma solução com menores custos e exigência de recursos humanos do exterior, e que poderá mudar por completo o sector da construção civil local. Recentemente, os responsáveis da Macau Renovação Urbana SA anunciaram que as casas pré-fabricadas serão usadas nos novos projectos, e mesmo no hemiciclo alguns deputados, como Wu Chou Kit, engenheiro civil de profissão, argumentaram a favor deste método.

Profissionais ouvidos pelo HM defendem que a construção pré-fabricada é, de facto, mais indicada para novos projectos. Além da zona A dos Novos Aterros, que terá casas pré-fabricadas, também o “Novo Bairro de Macau”, na Ilha de Hengqin, será edificado desta forma. A empresa Macau Renovação Urbana anunciou esta semana a criação de dois centros de formação sobre casas pré-fabricadas em Hengqin, destinados a estudantes de engenharia da Universidade de Macau.

A arquitecta Maria José de Freitas é uma das vozes que defende casas pré-fabricadas para novos projectos habitacionais. “O parque [habitacional] construído em Macau é bastante grande e há muitos edifícios industriais que estão desocupados e que precisam de reabilitação. Nesse caso, não me parece que a construção com painéis pré-fabricados seja a mais indicada, porque é preciso aproveitar a estrutura dos edifícios pré-existentes. Mas para construção nova, sim. Temos os novos aterros, onde essa situação poderá ser encarada.”

No entanto, Maria José de Freitas defende a necessidade de se fixar critérios ambientais através de leis. “Mais do que a construção com painéis pré-fabricados, que permite alguma rapidez, o que me parece importante é que exista em Macau um código de protecção ambiental. Refiro-me a fichas de protecção térmica relativamente ao interior do edifício que demonstrem que a construção permite economizar energia.”

Mais uma vez, Macau revela algum atraso na adopção de novos conceitos. “Em Hong Kong esses requisitos já existem, tal como em Zhuhai e Shenzhen, mas em Macau ainda se espera por um estudo. Esta opção tem de estar válida para a nova construção e para a já existente”, defendeu Maria José de Freitas.

Em 2012, a arquitecta participou em grupos de discussão sobre a possibilidade de fazer construção pré-fabricada nos países de língua portuguesa, numa acção conjunta com o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM). No entanto, essas iniciativas não deram frutos.

“Não houve muita viabilidade, os painéis tinham garantias, mas desenvolver as acções no terreno revelou-se um pouco mais complicado, talvez porque na altura fosse muito pioneiro. Mas agora, passados muitos anos, talvez faça sentido avançar em Macau.”

A arquitecta não tem dúvidas de que a construção pré-fabricada “é um futuro a explorar, mas em conjugação com outras metodologias”, algo que pode “produzir um maior resultado”. “Cada vez mais se percebe que a construção tradicional contém virtualidades que hoje em dia estão a ser descobertas. Há cada vez mais que aperfeiçoar códigos de conduta e ter a legislação térmica.”

Também o arquitecto Mário Duque considera que o método de construção deve ser usado em novas edificações. “Nas novas zonas previstas, e que podem ser planeadas de raiz, pode ser uma solução. [Para a parte da cidade já construída] têm de ser situações ajustadas caso a caso. A pré-fabricação serve uma realização nova, mas dificilmente serve uma recuperação”, apontou.

Um novo sistema

Outro alerta dado por Mário Duque é o facto de, caso se aposte na construção pré-fabricada, isso alterar por completo o sector, levando à necessidade de “formação local para que os profissionais de projecto passem a trabalhar tendo em vista a pré-fabricação”.

“A mão-de-obra de estaleiro passa a ser exclusivamente de montagem [e não de construção]. O acompanhamento técnico será depois uma área de especialização, e também na definição e construção das peças e na sua planificação em projecto. Essa tradição não existe em Macau, pelo que se isso acontecer, à margem de formação específica para técnicos locais, acaba por ser um sector que se extingue, porque a concepção é toda feita fora”, acrescentou o arquitecto.

Com peças produzidas em fábrica e montadas no local da obra, “a parte ligada à mão-de-obra deixa de ser tão necessária e passam a ser necessárias pessoas que saibam projectar dentro do tema.”
“Há o risco de o sector da construção se reduzir. É um sector da economia que se extingue, em termos de projecto e mão-de-obra”, frisou Mário Duque.

Um dos exemplos de construção pré-fabricada em Macau é o edifício do Hotel Regency, na Taipa, ou os antigos projectos residenciais no Iao Hon. Neste sentido, Mário Duque considera que “a pré-fabricação não está associada à má qualidade, porque a qualidade é colocada logo na concepção e nas peças”.

Menos TNR

Ouvido esta semana pelo portal Macau News Agency, Ao Peng Kong, presidente da direcção do Laboratório de Engenharia Civil de Macau (LECM), defendeu que a aposta em casas pré-fabricadas vai reduzir a necessidade de contratar trabalhadores não-residentes (TNR), além de tornar os projectos de construção pública mais eficientes, sustentáveis e rápidos na execução.

“Quanto queremos construir um edifício há um trabalho de reforço, fixação e de fundações. É um trabalho muito duro que exige muita mão-de-obra. Hoje em dia há poucos residentes dispostos a fazê-lo, então este tipo de trabalho exige muita mão-de-obra não-residente, a maior parte da China”, explicou.

Lee Hay Ip, presidente da Associação das Empresas Consultoras de Engenharia de Macau, defendeu em declarações ao HM que este tipo de construção “oferece mais vantagens tal como um melhor controlo de qualidade, maior rapidez na construção e, o mais importante, menores impactos ambientais” em relação ao modelo tradicional de construção.

Na visão do profissional, a tendência geral deverá levar ao “desenvolvimento dos padrões de construção para coincidirem com os padrões da China e das zonas da Grande Baía”.

“O Governo está a ir na direcção certa ao promover esta tendência”, referiu Lee Hay Ip, que acredita que a construção pré-fabricada pode ser aplicada também em projectos como estradas ou pavimentos no aeroporto, entre outros.

Tendência de crescimento, apesar da pandemia

O mercado da construção pré-fabricada poderá crescer seis por cento até 2026. É o que aponta o estudo “O mercado global de habitação pré-fabricada – crescimento, tendências, o impacto da covid-19 e previsões (2021-2026)” [Global prefabricated housing market – growth, trends, covid-19 impact and forecasts (2021-2026)], publicado pelo portal Mordor Intelligence. “O mercado está a ser conduzido pelo aumento da consciência face à alta customização e períodos curtos de construção que as casas pré-fabricadas oferecem”, pode ler-se.

Da parte das empresas de construção a procura também é elevada, refere o estudo, uma vez que pretendem “aumentar a segurança, produtividade, qualidade, custo e sustentabilidade”. Em todo o mundo estas companhias “enfrentam desafios em termos de recursos humanos e incertezas de custos”. Dados citados no documento revelam que “o custo relacionado com os trabalhadores das casas pré-fabricadas é menor”, uma vez que as habitações “custam 20 a 25 por cento menos” do que as construídas de forma tradicional.

O estudo aponta também que devido à “elevada popularidade na América do Norte e Ásia”, a tendência de crescimento da procura por este modelo de construção nos últimos anos pode alavancar este mercado alternativo.

O mercado norte-americano é apontado como o maior do mundo neste segmento, enquanto que a Europa é tido como o mercado com maiores possibilidades de crescimento, sem esquecer o Brasil e Japão.

A memória de Yokohama – I

Lembrava-se do labirinto de veredas e caminhos, dos vales profundos e das sombras avermelhadas da poeira que se iam instilando nos chapéus quase brancos dos músicos da banda. A paisagem era pele macia de mulher vivida, cheia de sulcos e sedas, cheia de vestígios e volúpia de noites intemporais. A paisagem era música ágil e ondulante que tanto soava e calava cada despique mais impetuoso como fazia delirar o mais bizarro dezedor de versos e pragas. Enfim, a paisagem era de grão puro, luzidio, uma verdadeira obra de glaciares.

Lembrava-se das árvores do terreiro da antiga fundição, uma alfarrobeira deitada ao vento, uma folhagem de feição talhada pelo esquecimento, uma copa desenhada pelos anjos a pensar na futura melancolia dos guindastes e de outros corpos de aço. E ao pé do poço de águas férreas havia ainda o cedro gigante, uma ramagem de estiletes densos, uma vassoura de bruxas a acenar na direcção das nuvens, um lamento de invernias envolto por trepadeiras selvagens e pelo uivo sem eco dos lobos.

Lembrava-se de ver, há muitos anos, a imensa calote de betão a crescer entre penhascos e a massa húmida dos pinheiros. Parecia uma esfera de luz apoiada sobre ogivas metálicas com a magia daqueles arco-íris de trezentos e sessenta graus que se formam nos desfiladeiros da serra. À volta havia bandos de jovens vestidos de gabardina amarela, ramos de flor na mão, letras inflamadas e violas adormecidas nas mochilas que faziam coro grego de protesto face a este soberbo leviatã onde, um dia, os núcleos dos átomos haviam de ser cotejados. A imensa construção projectava-se para além da barragem e dava à região um raro vigor de alma material, um rosto porventura excessivo e uma panóplia variadíssima de habitações pré-fabricadas onde centenas de operários vindos de muito longe entravam e saíam do formigueiro da terra.

Lembrava-se da falésia de xisto escuro que descia a pique entre nascentes e juncos. Era um precipício criado por blocos de granito tão soltos quanto a velada gaguez da mulher que o avistara, há dias, no check-in do aeroporto. Tinha sobrancelhas grossas, o rosto esguio, cabelos encaracolados, os dedos finos e não deixava de evocar estas fragas desenhadas pelo abismo onde luziam os sinais mais simples dos deuses.

Lembrava-se de ouvir os sinos ao vento, eram campainhas que estavam presas aos ramos da indolente alfarrobeira e do espesso cedro libanês e que ressoavam ante a presença da lua nova e dos vendavais que redemoinhavam entre os muros do átrio onde havia argolas para burros, restos de um torno metálico coberto por uma camada de ferrugem esverdeada e uns tantos vasos esvaziados, embora pejados pela memória dos gerânios e das folhas enroscadas dos gladíolos.

Lembrava-se das águas escurecidas da barragem, desse verde vago de correntes brevíssimas onde o ofício dos remos e os braços abertos dos remadores limavam a sede do tempo. Visto do alto do precipício, era um movimento lento, vagaroso, bastante sincopado. Era como a miniatura de um limbo que progredia do paraíso esquecido até à sombria mansidão que rodeava o pequeno cais da aldeia. Aí, sobre o que sobrava do velho coreto, estava perfilada a banda de uniformes brancos como se fosse um insecto minúsculo cheio de tentáculos esponjosos e envolvido pela espessa poeira avermelhada do fundo da terra.

Lembrava-se ainda da história que a mulher lhe contara. Era um homem que tinha mandado matar o próprio filho, depois de ter feito o mesmo à mãe, uma médica ruiva que pouco exercera e que vivia há alguns anos numa ilha meio despovoada do Fleuve Saint Laurent. Parece que a amante desse homem sem nome sobreviveu a toda esta mortandade mitológica e acabou por se isolar no sul de Marrocos onde inventou, talvez por expiação, uma novíssima vida. E parece que o homem sem nome ainda continua a monte no planeta, talvez em Kandaar, algures no Golfo Pérsico ou no Sudão. Talvez mesmo no inferno. Talvez, quem sabe, diluído nas letras secretas de uma cartilha que terá no altíssimo um presumido autor de luxo.

Lembrava-se tão bem da mulher de sobrancelhas grossas, rosto esguio, cabelos muito encaracolados e dedos tingidos pelo sigilo dos antigos gelos. Depois do avião levantar, a mulher sentou-se a seu lado por mero acaso e contou-lhe a história toda, porque, dizia, não era capaz de calar o que a vida nela decidira guardar. Eram coisas a mais e, desse por onde desse, alguém teria que as ouvir. E Laurentino foi à casa de banho e pensou que estava nos fogos do Arsenal veneziano onde Dante sonhou o seu abnegado inferno, mas viu-se foi quase acossado pela perseguição da amazona que entrou no cubículo e trancou a porta por dentro atrás de si. Garantiu-lhe que era tudo verdade verdadinha e que estivera mesmo com a amante do homem sem nome, no sul de Marrocos, num antigo hotel colonial onde se preparavam coisas muito estranhas. E que, logo que o avião aterrasse, ela mesmo seria alvejada.

Lembrava-se tão bem de ver a mulher a beber uísque e mais uísque no resto das horas da viagem e de alguma santa turbulência aeronáutica. De vez em quando, interrompia o olhar de Nefertiti alheada e tensa para repetir ao ouvido de Laurentino que teria já poucas horas de vida, a não ser que alguém, fosse quem fosse, se dispusesse a ajudá-la. A agitação aumentou, logo que a aterragem foi anunciada e as luzinhas de emergência obrigaram a recolocar os cintos de segurança.

Educação | Pensamento de Xi Jinping nos currículos escolares

O Ministério da Educação da China anunciou ontem que escolas e universidades devem incorporar nos seus currículos conteúdo sobre o pensamento político do Presidente chinês e secretário-geral do Partido Comunista da China (PCC), Xi Jinping.

A directriz visa “ajudar os adolescentes a acreditar no marxismo” e cultivá-los com uma “forte base moral, intelectual, física e estética” que lhes permita “formar os seus próprios julgamentos e opiniões políticas”.

“As escolas primárias vão ter como foco a promoção do amor ao país, ao PCC e ao socialismo. As escolas secundárias combinarão o estudo com a experiência perceptiva, enquanto as universidades enfatizarão o pensamento teórico”, destacou o texto.

O ministério acrescentou que “estudar o pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era é a tarefa mais importante que o PCC e o país têm” e que “é necessário armar as mentes dos estudantes” com essa doutrina.

“Deve ser sintetizado e esclarecido. Devemos também fornecer aos alunos ferramentas para desenvolver o seu espírito de sacrifício, bem como noções para que aprendam tudo relacionado ao conceito de segurança nacional”, sublinhou o texto.

Solicita-se também o reforço das “tradições revolucionárias” para “continuar a desenvolver o socialismo com características chinesas”, que Xi considerou, em 2021, um “caminho único para a civilização chinesa”, que “criou um novo modelo de progresso humano”.

Homem do leme

Desde que assumiu a liderança da China, em 2013, Xi Jinping tornou-se o centro da política chinesa e é hoje considerado um dos líderes mais fortes da história recente do país, comparável ao fundador da República Popular, Mao Zedong.

O pensamento político de Xi foi incluído nos estatutos do Partido e na Constituição do país, durante o Congresso do PCC, em Outubro de 2017.

Grand Lisboa Palace | Abraço entre Oriente e Ocidente através da arte

Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny, Ung Vai Meng, Eric Fok, Denis Murrell e Cai Guo Jie foram os artistas locais escolhidos para embelezar os principais espaços públicos do novo Grand Lisboa Palace, no Cotai. Trabalhos de grandes dimensões dão o toque final no resort, constituindo a maior colecção de obras de arte comissionadas a criadores de Macau

 

Os espaços amplos e sumptuosos que constituem as artérias principais do novo Grand Lisboa Palace estão repletos de quadros de grandes dimensões da autoria de artistas locais, naquela que é a maior colecção de arte comissariada a criadores de Macau por uma concessionária de jogo.

Simbolicamente, entre o lobby Este e Oeste, a fluidez entre espaços é composta por peças dos artistas locais Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny, Ung Vai Meng, Eric Fok, Denis Murrell, Cai Guo Jie e ainda uma peça de 3,6 metros por 4,5 metros da autoria de Ambrose So, o vice-presidente da administração da SJM Holdings Ltd.

O executivo, que abriu recentemente a joia da coroa do grupo no Cotai faz parte do grupo de ilustres locais que através da arte cruzam civilizações, culturas e épocas no Grand Lisboa Palace, com a peça “Humility Scroll”. O trabalho combina influências portuguesas e chinesas, através da caligrafia e azulejo pintado à mão à moda lusa. Ambrose So debruçou-se sobre o 15.º capítulo do Yi Jing, o Livro das Mutações, um texto clássico considerado um dos mais antigos e importantes livros de filosofia chinesa. O trecho escolhido é um tratado sobre a essência da virtude e humildade e está simbolicamente situado no centro dos dois lobbys .

Atrás do balcão de check-in do lobby Oeste, um painel de gravura em metal da autoria de Eric Fok dá as boas-vindas aos hóspedes. “Paradise – Grand Lisboa Palace” retrata um jardim movimentado, repleto de figuras singulares num cenário de fantasia, com uma composição arquitectónica que evoca o Grand Trianon, incorporado no Palácio de Versailles. O uso do metal como veículo para a inspiração de Eric Fok é uma referência temática ao antigo papel de Macau no comércio da prata.

O jovem criador de Macau foi comissariado também para uma peça que se encontra exposta defronte para o balcão de check-in do lobby Este, intitulado “Paradise – Ships on the Oriental Coast”, um painel tríptico composto por azulejos de porcelana portuguesa pintados a azul. Dividido em três partes, a obra retrata com bastante detalhe, a era das descobertas, quando Macau se posicionou no centro do mundo, como um importante porto de trocas comerciais e culturais entre Oriente e Ocidente.

No centro do tríptico, Eric Fok desenhou o Grand Lisboa Palace, ladeado por representações que evocam tempos idos, com o Rio das Pérolas repleto de embarcações de um lado, e do outro a alegre azáfama da Macau antiga, onde estão retratadas pessoas nas ruas, perto da igreja e com a aparição misteriosa de um elefante e uma girafa, com o casario ao fundo.

Encontros nas telas

Um dos traços característicos dos trabalhos de Konstantin Bessmertny é a profusão representações iconográficas e a atenção dada ao detalhe. As duas telas do artista local, expostas frente a frente na entrada para os elevadores lobby Este, chamam-se “E. meets W.” e “W. meets E.”.

Especialmente concebidas para o Grand Lisboa Palace, as duas obras comunicam entre si as formas como o Oriente é visto pelo Ocidente e vice-versa, num diálogo marcado pelas cores vivas, pelas representações conceptuais com o traço bem-humorado de Bessmertny e pela profusão de detalhes que, à primeira vista, podem escapar ao olhar menos atento. Exemplo disso, é o retrato de Homer Simpson que só fica perceptível a quem vê a obra do lado esquerdo do quadro, numa alusão a “The Ambassadors” de Hans Holbein, um clássico quadro do período renascentista.

A tela que representa a forma como o Oriente é percepcionado pelo Ocidente tem no centro um colorido festival fantasmagórico de templos luxuriantes, jardins plenos de exotismo, padrões e paisagens que evoca requinte, espiritualismo, calma meditativa e cerimónia. O reverso da medalha, é um labirinto de vinhas, castelos, evocações monárquicas, personagens históricas e iconografia pop.

A tarefa de absorver todos os detalhes das telas de Konstantin Bessmertny parece requerer um ou dois dias de férias para que nada escape no magnífico puzzle visual que contrapõe os dois postos cardeais, onde o sol nasce e se põe.

Glória e serenidade

Os trabalhos comissariados a Carlos Marreiros tocam-se no tema/conceito, mas distanciam-se nas formas de expressão que o artista escolheu para se expressar. “Glória” é composta por dois paneis de azulejos tradicionais portugueses que ilustram a fantástica viagem de Macau entre o século XVI e os dias de hoje. O primeiro painel retrata o encontro inicial entre chineses e portugueses, a curiosidade e o mistério que a confluência trouxe às duas partes, com a representação onírica da troca de prendas entre os dois lados a acontecer no ar, com a rural e velha Macau em pano de fundo.

O segundo painel, celebra o contínuo aprofundar dos laços entre as comunidades em Macau, com simbolismos culturais, jurídicos e um retrato surrealista de Stanley Ho a andar de bicicleta.

Todos os personagens e elementos simbólicos pairam sobre uma cidade cosmopolita, com uma narrativa urbana detalhada que retrata a evolução de Macau ao longo de quase 500 anos.

Atrás do balcão de check-in do lobby Este do Grand Lisboa Palace, a visão é dominada pela explosão de cores de “Sereno Amanhecer de Amanhã”, um quadro que é um hino à união entre a arquitectura portuguesa e a arquitectura do Sul da China. As duas matrizes que formam o núcleo da obra são as influências que moldaram Macau enquanto cidade orgânica que funde as duas concepções numa vibrante e, ainda assim, serena e natural paisagem.

Contrariando a normal noção de equilíbrios, Carlos Marreiros retrata elementos naturais como montanhas, borboletas e vegetação, em cima de edifícios num lado do painel. Enquanto que no outro, os elementos misturam-se numa paisagem idílica onde ficam eternizados marcos arquitectónicos da cidade como o antigo e carismático Hotel Lisboa, simbolizando o início da prosperidade de Macau; a Torre de Macau, a trazer o desenvolvimento e transição a REAM; e o Grand Lisboa, erguendo-se entre montanhas douradas no centro distante.

Na recepção do Lobby VIP do Grand Lisboa Palace figuram duas imponentes telas abstractas de autoria de Cai Guo Jie. A arte abstracta também domina a entrada e interior do lounge do lobby oriente com duas peças de Denis Murrell.

Outro dos destaques artísticos da colecção que acrescenta brilha ao novo resort é o painel intitulado “Auspicious Stars Shining Over Macao” de autoria de Ung Vai Meng. A obra tridimensional, composta por folha metálica recortada na forma das Ruínas de São Paulo assente em calçada portuguesa e elementos de azulejo simbolizando conchas do mar, forma um mosaico que evoca as restantes obras presentes nos balcões de check-in, tornando as entradas auspiciosas e as despedidas memoráveis.

Sem-abrigo | Dez pessoas a viverem na rua após pico pandémico

Em resposta enviada ao HM, o Instituto de Acção Social revelou estar a acompanhar a situação de dez sem-abrigo que vivem nas ruas de Macau. Entre Janeiro e Julho de 2021, 42 pessoas recorreram à Casa Corcel para pernoitar. Em 2020, devido à pandemia, o número de utentes subiu para 101, um recorde desde que há registos

 

Até 31 de Julho de 2021, havia 10 sem-abrigo a viver nas ruas de Macau. Segundo uma resposta enviada ao HM pelo Instituto de Acção Social (IAS), além do acompanhamento destas 10 pessoas, entre Janeiro e Julho de 2021, registaram-se 42 utentes a viver na Casa Corcel, estrutura gerida pela Cáritas de Macau que visa prestar serviços de alojamento temporário e de acompanhamento a sem-abrigo.

Dessas 42 pessoas, 27 continuam actualmente a pernoitar e a utilizar os serviços da Casa Corcel, detalhou também o IAS.

Os dados partilhados pelo IAS reflectem, contudo, uma melhoria no panorama, dada a tendência decrescente do número de pessoas que tem recorrido ao alojamento temporário nos últimos meses, após o pico de utentes registado em 2020, a reboque da pandemia. Isto, quando o número de utentes da Casa Corcel subiu de 75, em 2019, para 101, em 2020.

“Em 2019, 75 pessoas utilizaram o serviço de alojamento temporário na Casa Corcel. No início de 2020, devido ao impacto da pandemia do novo coronavírus, às restrições fronteiriças e às medidas de prevenção epidémica, subiu para 101 o número de utentes. Actualmente, o número voltou a diminuir, registando-se um total de 27 utentes até ao dia 31 de Julho de 2021”, pode ler-se na resposta enviada ao HM.

De frisar ainda que 2020 fixou mesmo um recorde desde que há registos (2014). Se 2020 foi o ano em que se registaram mais utentes nos serviços de alojamento temporário (101), 2018 e 2017 completam o pódio dos anos em que a Casa Corcel registou mais utentes, com 88 e 87 pessoas, respectivamente.

Pelos pingos da chuva

Segundo o IAS, a tipologia dos sem-abrigo de Macau tem vindo a alterar-se desde os anos 90, sendo que actualmente os casos são “mais ocultos”, já que há mais pessoas a pernoitar nos restaurantes ou casinos abertos 24 horas.

“O antigo Centro para Desalojados, criado em 1994, acolhia pessoas sem abrigo do sexo masculino e de meia idade, que eram na sua maioria mendigos, catadores de lixo ou indocumentadas. Actualmente, os sem-abrigo são pessoas que têm problemas familiares ou estão desalojados por motivo de, por exemplo, desalojamento forçado. Em comparação com a situação dos anos 90, os casos actuais têm tendência a ser mais ocultos, como permanecem nos restaurantes que funcionam 24 horas ou em casinos, em vez de estarem nas ruas”, explicou o IAS.

Através da rede de acompanhamento de assistentes sociais, o IAS espera apoiar os sem-abrigo a estabelecer “novos hábitos e relacionamentos”, a reintegrar-se na sociedade e a construir “confiança para a vida”, de forma a deixarem de ser sem-abrigo.

Sobre o trabalho da Casa Corcel, o organismo detalhou que, para além de aconselhamento individual, os assistentes sociais integram também equipas de serviço extensivo ao exterior que mantêm “contacto regular” com os sem-abrigo. O objectivo das entrevistas passa por proporcionar o “apoio social necessário”, através da recolha de dados sobre a sua situação e necessidades do dia-a-dia.

Aqui é diferente

Recorde-se que, por ocasião do novo surto local de covid-19 e da alteração repentina das medidas epidémicas, várias pessoas acabaram por dormir ao relento na madrugada de 4 de Agosto. Reagindo às críticas, o assunto levou o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, a apontar que em Macau ninguém precisa de dormir na rua e que o cenário não trazia “má imagem” ao território, bastando olhar para a situação dos sem-abrigo nos Estados Unidos da América, para provar isso mesmo.

“Graças à situação de Macau não temos ninguém que precise de dormir na rua. Nos EUA conseguimos ver muitos sem-abrigo e, mesmo assim (…) a imagem dos EUA não foi afectada. Claro que não queremos que os nossos residentes ou TNR fiquem como os sem-abrigo a dormir na rua”, apontou Ho Iat Seng na altura.

IAS | Apoios no segundo trimestre superiores a 355,3 milhões

Em comparação com o ano anterior, o Instituto de Acção Social distribuiu às instituições locais que prestam serviços mais três milhões de patacas. A Cruz Vermelha recebeu o subsídio mais elevado, no valor de 13,4 milhões de patacas

 

No segundo trimestre do ano o Instituto de Acção Social (IAS) atribuiu mais de 355,3 milhões de patacas em subsídios às instituições locais. Os números publicados ontem, no Boletim Oficial, representam um aumento de quase três milhões de patacas, face ao ano anterior, quando tinham sido distribuídos 352,0 milhões de patacas.

De acordo com os dados, a Cruz Vermelha de Macau foi a instituição que recebeu o maior subsídio individual no valor 13,4 milhões de patacas. Descrito como “subsídio do 2.º trimestre”, o valor é praticamente o dobro daquele que tinha sido recebido no ano anterior pela mesma altura, 6,7 milhões de patacas.

A instituição presidida por Eddie Wong recebeu um outro subsídio do IAS, para “serviços de transladação médica” no montante de 5,2 milhões de patacas. Também neste caso, houve uma subida face ao mesmo período do ano anterior, quando o apoio tinha sido de 2,1 milhões de patacas.

O segundo maior montante atribuído foi para o Complexo de Serviços de Apoio ao Cidadão Sénior Pou Tai com quase 11,6 milhões de patacas. Este complexo pertence ao Governo, mas está a ser gerido pelo Mosteiro de Pou Tai, fica localizado na Taipa, e tem como responsável Hung Oi Ming. O valor em relação ao ano anterior não sofreu alterações.

O top três dos maiores subsídios no segundo trimestre foi para o Complexo de Serviços de Apoio ao Cidadão Sénior “Retribuição”, gerido pela Cáritas Macau. O valor foi de cerca de 8,1 milhões de patacas para o espaço localizado na Avenida do Vale das Borboletas, em Seac Pai Van, que opera desde 2017.

Outros números

As instituições apoiadas financeiramente desempenham serviços junto de crianças, idosos ou pessoas com outras dificuldades. Além dos subsídios do segundo trimestre, o IAS distribuiu montantes devido à adesão das instituições ao Regime de Previdência Central Não Obrigatório.

Entre as instituições contempladas com apoios, constam vários serviços disponibilizados por associações tradicionais, como os Moradores, as Mulheres ou a Tung Sing Tong. Contudo, é também possível encontrar na lista a Santa Casa da Misericórdia de Macau. A instituição liderada por António Freitas recebeu um subsídio de cerca de 262 mil patacas.

Também a Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), recebeu vários apoios, que somados representaram cerca de 6,72 milhões de patacas. Os subsídios abrangeram o Centro de Reabilitação da instituição, os serviços aos jovens consumidores de drogas, serviços para o exterior da instituição, a secção feminina e ainda o projecto B Cool.

Protesto | Sulu Sou recusou fazer pergunta a Ho Iat Seng

O democrata Sulu Sou não fez qualquer questão na sessão de perguntas e respostas por escrito com o Chefe do Executivo, em protesto com a intransigência governativa na coordenação com a Assembleia Legislativa.

Numa nota partilhada nas redes sociais, o deputado recordou que em Abril, quando diz que a situação pandémica era mais grave, Ho Iat Seng esteve no hemiciclo. Porém, segundo Sulu Sou desta vez não houve qualquer esforço para que as perguntas fossem feitas face-a-face, mesmo que com menos governantes e pessoas no plenário. Também não terá havido abertura para fazer a sessão de perguntas e respostas online, como alternativa.

Depois de cancelada a presença a 10 de Agosto para responder aos legisladores, Ho Iat Seng anunciou que iria replicar por escrito. As respostas foram publicadas na terça-feira, apenas em chinês, e ontem ainda estavam a ser traduzidas para português.

Face ao que acusou ser falta de coerência, Sulu Sou optou por não participar: “Não fiz qualquer questão, por não concordar com a organização e porque os deputados podem comunicar por escrito com o Chefe do Executivo sempre que necessário, durante 365 dias por ano”.

Em relação às respostas, o democrata não deixou de fazer críticas: “Demoraram meio mês a responder por escrito aos deputados. Depositaram as respostas todas ao final da tarde no portal da Assembleia Legislativa […] Nos documentos faltam as assinaturas e nem é possível fazer copy paste das respostas”, apontou.

“Se olharmos para o passado, a Assembleia Legislativa diz que gosta sempre muito de ‘respeitar e cooperar com o trabalho dos órgãos de comunicação’. O Governo também diz que dá prioridade ao desenvolvimento das plataformas electrónicas’. Talvez devesse analisar bem o que andam a fazer todos os dias”, apontou.

CAEAL | Ho Iat Seng define o que é ser patriota e garante independência

Em resposta a duas interpelações de Chan Wa Keong e Ng Kuok Cheong, o Chefe do Executivo definiu três critérios que compõem o conceito de “patriota”. Além disso, Ho Iat Seng garantiu que nenhuma entidade, nem ele próprio, pode interferir nas decisões da Comissão para os Assuntos Eleitorais

 

Para o Chefe do Executivo, existem três critérios que definem o que é um patriota. A defesa dos “interesses nacionais em matéria de segurança e de desenvolvimento”, não “praticar actos que prejudiquem a segurança nacionais” e “respeitar e defender o regime do país e os procedimentos constitucionais de Macau”. Neste último critério, Ho Iat Seng destaca o artigo 1º da Constituição chinesa que estipula que a liderança do Partido Comunista Chinês é fundamental para o socialismo com características chinesas.

Além destes, o governante entende que um patriota deve também “defender a estabilidade e a prosperidade de Macau”.

Estas noções constam nas respostas a duas interpelações escritas de Chan Wa Keong e Ng Kuok Cheong apresentadas no passado dia 10 e que não foram respondidas de forma presencial, pelo Chefe do Executivo, na Assembleia Legislativa (AL).

Ho Iat Seng respondeu ainda que o princípio de “Macau governado por patriotas” já consta na lei dos juramentos por ocasião do acto de posse, mas o Governo está a estudar possíveis mudanças neste âmbito para “aperfeiçoar o regime da garantia do princípio”.

O governante defendeu que o hemiciclo “usa da sua competência, definida pela Lei Básica, para garantir que a AL é constituída por patriotas, sendo esta uma condição essencial para implementar correctamente o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”.

Total independência

Em relação à desqualificação de candidatos às eleições legislativas, Ho Iat Seng frisou que nenhuma entidade interfere nas decisões da Comissão para os Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), nem tem competência para o fazer, nem o próprio Chefe do Executivo.

“A CAEAL recusou a candidatura das listas segundo a lei, defendendo os princípios constitucionais estabelecidos pela Constituição e pela Lei Básica. A decisão foi confirmada pelo Tribunal de Última Instância (TUI).”

Na mesma resposta a Ng Kuok Cheong, um dos candidatos desqualificados, Ho Iat Seng adiantou que o Governo sempre apoiou as decisões do TUI e da CAEAL, prometendo continuar a cooperar com a comissão, para que a realização das eleições seja bem-sucedida.

Ambiente | Coutinho preocupado com impacto de máscaras

O deputado Pereira Coutinho entende que o Governo tem de impedir o impacto ambiental da utilização de máscaras. Numa interpelação escrita, o legislador apoiado pela Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) perguntou ao Executivo as medidas que estão a ser tomadas.

“O Governo da RAEM deve aplicar a estas máscaras o método de tratamento usado para as máscaras nas instalações médicas, instalando caixotes específicos na comunidade e nos edifícios, para facilitar a recolha de máscaras descartadas e prevenir o seu abandono arbitrário, para não se afectar a higiene ambiental”, considerou José Pereira Coutinho.

Além do impacto ambiental, o membro da Assembleia Legislativa está igualmente preocupado com a segurança do processo de descartar as máscaras, em termos da transmissão do vírus. Por isso, Coutinho quer saber como vai ser o tratamento.

“Os serviços competentes devem considerar que todas as máscaras descartadas são iguais às das instalações médicas, ou seja, são substâncias perigosas”, sublinhou. “Devem ser tratadas de forma segura e transportadas para a Estação de Tratamento de Resíduos Especiais e Perigosos de Macau, no sentido de eliminar, o mais possível os mais de transmissão do vírus”, acrescentou. “Já o fizeram?”, perguntou.

Segurança Nacional | Estudo da UM conclui boa implementação sem lei nova

Um artigo dos académicos Ieong Meng U e Wu Xiangning, da Universidade de Macau, indica que, apesar de a Lei de Segurança Nacional não ter sido actualizada na RAEM outros instrumentos legais garantiram a sua implementação

 

Apesar de existir uma Lei de Segurança Nacional em Macau, esta nunca foi utilizada não só por ter natureza preventiva, mas também porque o ordenamento jurídico da RAEM está apetrechado com diplomas legais que evitam “desafios” e garantem o controlo social. A conclusão faz parte de um estudo sobre a política de Segurança Nacional em Macau, realizado pelos académicos Ieong Meng U e Wu Xiangning da Universidade de Macau, publicado na revista Asian Studies, com o título “Deriva Securitária do princípio ‘Um País, Dois Sistemas? Lei enquanto controlo social em Macau”.

No que respeita à comparação entre a Lei de Segurança Nacional de Macau e de Hong Kong, a análise aponta que embora os crimes sejam essencialmente os mesmos, o documento para Hong Kong é mais detalhado, não só na forma como define as responsabilidades das autoridades, mas é também mais abrangente na aplicação da lei a diferentes situações. A diferença é justificada com o facto de a lei de Hong Kong ter sido feita com alvos identificados, como o campo democrata e entidades ou indivíduos que adoptem posições antagónicas ao Governo Central.

No entanto, os autores defendem que é um erro desvalorizar o impacto preventivo da Lei de Segurança Nacional na governação da RAEM, que tem sido complementada com outros instrumentos, como a actualização de documentos legais antigos.

A nova Lei de Protecção Civil, alterada depois da passagem do Tufão Hato, é um dos exemplos dados por Ieong Meng U e Wu Xiangning. Na comparação entre o novo documento e o antigo, o Decreto-Lei 72/92/M, é explicado que as autoridades têm agora poder para suspender actividades políticas através de meios coercivos, desde que declarem que as actividades são “incidentes de natureza súbita” que atentam à “ordem social”. A alteração é considerada substancial uma vez que a lei antiga limitava a acção do mecanismo de protecção civil a desastres naturais ou humanos.

O artigo da lei de protecção sobre rumores é igualmente utilizado como exemplo, uma vez que para os autores o documento apresenta definições vagas, com um nível elevado de discricionariedade para os tribunais. Face às dúvidas de como a lei vai ser interpretada, Ieong e Wu indicam que a sociedade é encorajada a evitar qualquer risco.

Direito de Manifestação

No que diz respeito à legislação como forma de controlo social em Macau, os académicos comparam ainda entre dois casos em que pedidos de reunião e manifestação foram recusados pelo Tribunal de Última Instância.

O primeiro caso analisado foca o referendo que a Associação Novo Macau pretendia fazer, em 2014, sobre o sufrágio universal para o Chefe do Executivo. Na altura a associação propôs realizar três reuniões na rua. As reuniões foram impedidas porque o Tribunal de Última Instância considerou que um referendo não é uma reunião nem manifestação. Os autores sublinham que a justificação dos juízes do TUI foi “altamente sofisticada” e que, apesar de apoiar a decisão do Governo, evitou ter de escolher entre o controlo social e a liberdade de expressão.

No entanto, o segundo caso, de 2019, mereceu uma postura diferente do tribunal. Quando o activista Jason Chao fez um pedido para realizar uma manifestação a condenar a violência da polícia nos protestos de Hong Kong, o TUI recusou, argumentando que seriam uma ingerência nos assuntos de Hong Kong, tal como tinha defendido o Corpo de Polícia de Segurança Pública.

“Vale a pena sublinhar que a nova interpretação da Lei do Direito de Reunião e Manifestação foi realizada para apoiar o CPSP. Depois de ter sido mencionado que as liberdades de expressão e reunião eram protegidas em Macau, o TUI mesmo assim considerou que estavam numa hierarquia inferior aos princípios que constam na Constituição Chinesa e na Lei Básica de Macau”, escreveram os autores. Ao contrário do [outro] caso […] o TUI não evitou estrategicamente a controvérsia política, em vez disso forneceu uma justificação logicamente pouco persuasiva para manter a decisão da polícia”, é acrescentado.

Face aos argumentos apresentados, os académicos da Universidade de Macau concluem que a Lei de Segurança Nacional nunca foi aplicada porque não há oposições directas a Pequim, mas também porque esses resultados foram alcançados através da revisão e de novas interpretações de leis que permitem maior controlo social.

Covid-19 | Pandemia empurra até 80 milhões de pessoas para a pobreza extrema na Ásia

Entre 70 milhões a 80 milhões de pessoas na Ásia-Pacífico atingiram níveis de pobreza extrema em 2020 devido à pandemia de covid-19, situação que ameaça o cumprimento das metas de desenvolvimento sustentável da região, foi hoje divulgado.

O alerta é dado pelo Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB, na sigla em inglês) que mostra este aumento da pobreza extrema – cenário em que cada pessoa vive com menos de 1,90 dólares (1,62 euros) por dia – num relatório sobre os indicadores económicos de 49 países da região, incluindo China, Índia, Japão, Indonésia e Bangladesh, entre outros.

Num comunicado, o banco multilateral destacou que, em 2017, a pobreza extrema afetava cerca de 203 milhões de pessoas na Ásia, ou seja, 5,2% da população dos países em desenvolvimento, e que sem a crise pandémica as projeções apontavam para uma redução na ordem dos 2,6% em 2020.

Os países da Ásia-Pacífico “fizeram progressos impressionantes, mas a covid-19 expôs fissuras sociais e económicas que podem minar o desenvolvimento sustentável e inclusivo na região”, assinalou o economista-chefe do ADB, o japonês Yasuyuki Sawada.

No mesmo relatório, o organismo advertiu que a pandemia ameaça os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável acordados pelas Nações Unidas para 2030, a conhecida Agenda 2030, em especial nesta região.

Eliminação da pobreza e da fome e melhores sistemas de saúde e de educação são alguns dos 17 objetivos estabelecidos na Agenda 2030.

“Para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável para 2030, os decisores políticos precisam de estar munidos de dados atualizados e de qualidade para tomarem decisões sustentadas que assegurem que a recuperação não deixa ninguém para trás, especialmente os pobres e vulneráveis”, frisou Yasuyuki Sawada.

Durante uma parte da atual crise pandémica, a Ásia constou entre as regiões menos afetadas, quando comparada com a Europa ou com o continente americano, mas as restrições impostas devido à propagação do coronavírus SARS-CoV-2 causaram sérios danos às economias mais frágeis.

Também foi nesta região que foi detetada inicialmente, na Índia, a variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2, identificada como mais transmissível e mais resistente, o que acabou por ter fortes repercussões na zona.

Outro dado importante é que o ritmo da vacinação contra a covid-19 na região continua muito lento, salvo algumas exceções como Singapura (com 74% da população já com o esquema vacinal completo) e o Japão (40%).

Duas pessoas sofreram queimaduras em ataque no metro de Tóquio

Duas pessoas sofreram queimaduras, na terça-feira à noite, num ataque com ácido sulfúrico numa estação do metropolitano de Tóquio e o atacante continua a ser procurado, anunciou hoje a polícia.

Um homem de 22 anos ficou queimado no rosto por um líquido lançado por um indivíduo nas escadas rolantes da estação, disse um porta-voz da polícia. O atacante fugiu, acrescentou.

De acordo com a cadeia de televisão pública japonesa, a NHK, o líquido era ácido sulfúrico. Uma mulher de 34 anos escorregou e ficou ligeiramente queimada nas pernas por causa do líquido.

Este ataque, muito raro no país, na estação de metro de Shirokane-Takanawa, no centro de Tóquio, ocorreu no mesmo dia da abertura dos Jogos Paralímpicos Tóquio2020, sob fortes medidas de segurança.

Os Paralímpicos vão decorrer até 05 de setembro, sem público devido à covid-19. No início de agosto, enquanto decorriam os Jogos Olímpicos, um ataque com faca num comboio suburbano de Tóquio causou dez feridos. O atacantes, um japonês com cerca de 30 anos, foi rapidamente detido.

DSAT | Transmac advertida devido a abastecimento irregular

A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) confirmou ter feito uma advertência à empresa de transportes públicos Transmac, devido a um abastecimento no terminal subterrâneo das Portas do Cerco. A situação foi denunciada por alguns cidadãos nas redes sociais, que assistiram ao abastecimento de um autocarro durante uma paragem na estação em causa.

Em declarações ao jornal Ou Mun, a DSAT afirmou ter avisado a empresa e deixado muito claro que são proibidos abastecimentos de combustíveis nas paragens de autocarros. Segundo a mesma fonte, o Governo afirmou ainda ir acompanhar o caso de acordo com as cláusulas do contrato assinado com a transportadora.

O autocarro em causa faz o percurso MT4 e a operação foi confirmada pela empresa. De acordo com as explicações, a situação foi excepcional, uma vez que um dos autocarros teve uma avaria e foi necessário fazer o abastecimento no local. No entanto, a empresa comprometeu-se, no futuro, a corrigir os procedimentos e tomar medidas para evitar este tipo de operações.

A Transmac insistiu ainda na formação do pessoal, e sublinhou a necessidade de as operações de emergência serem feitas respeitando as normas vigentes e as distâncias de segurança nos abastecimentos.

Desfalcado em 50 mil patacas em quarto de hotel

A Polícia Judiciária (PJ) deteve na passada segunda-feira uma residente de Macau de 40 anos suspeita de roubar 50 mil dólares de Hong Kong (HKD) a um cidadão de Hong Kong de 82 anos, que veio jogar aos casinos do território pela segunda vez no espaço de dois meses.

Segundo informações reveladas ontem em conferência de imprensa, a PJ tomou conhecimento do caso através da queixa apresentada no passado dia 11 de Agosto pelo próprio homem, após este se ter apercebido que acabara de perder 50 mil HKD num quarto de hotel.

De acordo com o relato da vítima, foi quando veio jogar a Macau no mês passado que conheceu a mulher de 40 anos que terá sido responsável pelo desfalque e com quem, desde logo, apalavrou um novo encontro para Agosto.

Feita a quarentena pela segunda vez, o octogenário encontrou-se com a suspeita e acabaram por ir juntos para um quarto de hotel localizado no centro da cidade, por volta das 21h00. Vencido pelo cansaço, o homem viria a adormecer, dando oportunidade à suspeita para pegar nos 50 mil HKD e fugir sem que este se apercebesse.

Por volta das 22h00, ao acordar da sesta, o homem verificou que o dinheiro tinha sido roubado e que a mulher que o acompanhava já não se encontrava no quarto.

Azar ao jogo

Iniciada a investigação, a PJ conseguiu comprovar que, após sair do hotel, a mulher apanhou um táxi para sair de Macau no passado domingo, pelo posto fronteiriço das Portas do Cerco. Contudo, viria a ser detida no dia seguinte, ao tentar voltar ao território pelo mesmo local.

A polícia averiguou ainda que após roubar os 50 mil HKD, a suspeita apostou a totalidade do montante num casino, acabando por perder tudo.

O caso seguiu ontem para o Ministério Público (MP), onde a mulher irá responder pela prática do crime de furto qualificado. A provar-se a acusação, a residente de Macau pode vir a ser punida com uma pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias.

Tropeçar parado

Foto de João Francisco Vilhena

Horta Seca, sexta, 6 Agosto

 

São que nem moscas, as coincidências. De pouco serve sacudi-las (saudades dos verões em que me perdia a vê-las em nuvem no centro das assoalhadas). No exacto momento do reencontro com o Mário [Gomes], o frigorífico que me acompanha desde o século passado resolve resolver-se, como quem diz, desistir. Ora na sequência de uma das conversas com que atravessamos densas planícies e afastadas geografias, lamentando-me eu de não ter atingido a compreensão leitora com o alemão escolar, impedindo-me, portanto, de mergulhar nos seus romances e outras experiências, o Mário propôs-me primeiríssima e prometedora versão de uma «Elegia do Frigorífico». Cruzando ensaio a mostrar costuras e autobiografia a escondê-las, com mestria e ritmo alucinante, interroga-se sobre «o coração da casa», o mais importante dos electrodomésticos da vida moderna (estou confuso, com tanta treva: moderno é hoje?). Será ficção, mas o real exige-nos que os planos se cruzem. São que nem abelhas, as metáforas.

Úteis e quase sempre amistosas. Ou me engano muito ou estará bem conservada em «no frost» esta do frigorífico enquanto modernidade, extensão da habitação, a técnica que conserva a natureza, elemento unificador, termómetro de muitas saúdes. O texto pensa e transpira, o texto ri e dá prazer. O texto desmultiplica-se em micro-histórias, pequenos cubos refrescantes, sonhos. «(Sonho muitas vezes com textos, mas nunca é fácil reconstituí-los depois de acordar. Se me treinasse em sonhos lúcidos, talvez pudesse escrever livros inteiros plagiando os autores imaginários e menos imaginários que escrevem os livros que leio nos sonhos. Seria o crime perfeito.)» A língua resistirá aos ataques de links e hiperlinks? E que uso dá a arte aos móveis do gelo? De que modo vivemos o que habitamos?

«Argumentos contra o frigorífico há muitos, embora não me venha à cabeça nenhum que seja estritamente de ordem estética. Achar que o frigorífico é um objecto pouco bonito, afirmar que não há drama humano no frigorífico, ou suster que antes do frigorífico também nunca houve nenhuma grande obra de arte em que o protagonista fosse um baú ou um lavatório: nada disso são argumentos estéticos, mas apenas o reflexo de falta de sensibilidade. Objecto estético pode ser tudo. Deve ser tudo. Se não andamos sempre às voltas com as mesmas coisas.»

Dei-me por mim, uma noite destas, a lamentar não me ter despedido devidamente – o que quer que isso pudesse ter sido – do Zanussi antes da chegada deste Samsung, redondo a roçar o sensual e sem precisar de produzir massas de gelo para manter o fresco essencial.

Europa, Lisboa, terça, 17 Agosto

O projecto que me riscou o segundo fechamento, o «Diário das Nuvens» (https://abysmo.pt/diario-das-nuvens-de-joao-francisco-vilhena-e-joao-paulo-cotrim/), se por um lado me obrigou a um exercício nunca antes praticado de escrita diária, acabou sendo álibi para o crime exemplar de adiar as tarefas que, apesar do fim do mundo, floresciam assim ervas daninhas. No final daquelas voltas aos 80 dias, sobravam malas por desfazer e roupa para arejar, pdf para carregar e filmes por terminar, de modo a fazer a ligação ao que se seguiria: livro e exposição. A abertura foi depois fissura na barragem e não pararam mais de fluir afazeres em cima da apatia que se erguia montanha rochosa.

Passaram-se meses sem me atrever a voltar ao assunto, aliás, os meses passaram pelos assuntos todos expondo-os em ferida. Até que. Os braços dos moradores de quintos andares estreitaram-se ali a Campo de Ourique, sem batalha nem milagre. Resolvemos resistir à tentação de redefinir o conjunto, limpando arestas, mas com isso perdendo espontaneidade. Dobra aqui, dobra ali, logo o livro e depois a exposição – com primeira e entusiasmante paragem na Livraria de Santiago, em pleno Fólio – ganharam as formas de origami. Para não variar com o João [Francisco Vilhena], lançou-se sobre a mesa cubo de ideias capazes de quebrarem o quebranto, ainda que os planos não parem de brotar em pantagruélico excesso. São mais os olhos que a barriga.

Tomei balanço e fui, então, saltar de nenúfar em nenúfar a ver até onde me mantinha em andamento e para dedicar, já agora, leituras aos objectos capturados e ao que continham de olhar do artista, pois o propósito foi sempre o de entrar na pele e perspectiva das nuvens (estranho não se terem queixado do atrevimento em horas de «cancel culture»). O telefone vibra em descontrolo, ignoro-o com assustadora facilidade e teimo em fixar-me no retrato #70 (algures na página). Que dizer?

«Continua sem prazo de validade a ideia peregrina de que a fotografia se limita a mostrar a bruta realidade, mais real que o real. Tanto nos dá acesso ao que não descortinávamos, no caso do instante pertencer à própria substância do movimento, aquele entre-gestos de que o olho preguiçoso não carece para interpretar a coreografia. E ainda aquela fixidez marmórea permitirá doravante detectar em autópsia os detalhes que nos abrem acesso de corpo inteiro ao que acontece. Pois finge tão completamente que chega a fingir a realidade que deveras vai sendo. Estes tons outonais de souto a celebrar a luz parecem indicar aquele precioso momento do pôr-do-sol. Um dia de cada vez, outra vez. A luz que tomba esvai-se, não indo no real que se esconde no real. Não deixa de conter artimanhas de começos que sobem da raiz do negro aos azuis, os quais, por sua vez, parecem querer dobrar-se sobre andrajos amarelos que fogem, que se soltam, que se desfazem. Que esconde tal comércio das cores entre si e com a luz?

Depois os confins surgem líquidos, indefinidos, insistindo na imaterialidade do conjunto. Alguma vez a pintura se acaba? Se fosse quadro tinha fronteira. Há metafísica bastante e portanto nenhuma em sacrificar a agitação dos afazeres à réstia sublime do desperdício.”