RAEM 25 anos | Xi satisfeito com resultados obtidos em Hengqin

No segundo dia de visita a Macau, Xi Jinping deslocou-se a Hengqin para se inteirar do desenvolvimento dos últimos tempos, tanto ao nível do tecido empresarial como nas condições no Novo Bairro de Macau. O Presidente chinês desejou ainda que Macau ganhe mais visibilidade internacional, com maior abertura ao mundo

 

Depois da chegada apoteótica a Macau e de uma reunião com o Chefe do Executivo ainda em funções, Xi Jinping prosseguiu ontem com a sua agenda marcada por uma visita à Zona de Cooperação Aprofundada de Guangdong e Macau em Hengqin.

Segundo informações oficiais divulgadas pela Xinhua, a visita à Zona de Cooperação ficou marcada por um “intercâmbio caloroso com residentes de Macau” que vivem no Novo Bairro de Macau em Hengqin, ou ainda com comerciantes e empresários que operam na Zona de Cooperação. O Presidente chinês, que teve o objectivo de inspeccionar o andamento deste projecto de integração regional, reuniu ainda com responsáveis pelo planeamento, construção e gestão dos serviços desta zona.

Segundo a Xinhua, Xi Jinping declarou em Hengqin que a cooperação com Macau está a tornar-se “numa nova demonstração do enriquecimento proporcionado pela prática de ‘Um País, Dois Sistemas'”, além de ser uma nova plataforma de promoção “da construção da Grande Baía Guangdon-Hong Kong-Macau e da concretização da abertura de alto nível do país ao exterior”.

Nesse aspecto defendeu que Macau deve procurar ter um papel de maior relevância no mundo e ser mais aberto a pessoas vindas de fora.

“Espero que Macau abrace diversidade e inclusividade”, disse Xi, num discurso proferido no território, em que mencionou também “maior abertura (…) e solidariedade”, assim como a importância de “atrair os melhores talentos”.

O líder chinês disse que Macau teve “a projecção e visibilidade internacionais significativamente aumentadas” nos últimos cinco anos, nomeadamente através da cooperação com os países de língua portuguesa. Mas defendeu que a região “pode também buscar desempenhar um papel maior no palco internacional” e ter “uma visão mais ampla”.

“Qualquer pessoa que apoie ‘Um País, Dois Sistemas’ e ame Macau como o seu lar, é um nativo que ‘tomou água do Lilau’ e uma força positiva que contribui para o desenvolvimento de Macau”, defendeu Xi. A referência diz respeito a um ditado, segundo o qual quem bebe da água da fonte no Lilau, um dos primeiros largos de estilo português da cidade, “cedo ou tarde volta a Macau”.

Cumprir metas

Para o Presidente chinês, a “intenção original do desenvolvimento de Hengqin é alcançar um desenvolvimento moderado e diversificado da economia de Macau”, com “o foco estratégico e persistência na obtenção de resultados a longo prazo”.

Desta forma, o sucesso da Zona de Cooperação Aprofundada “depende da existência de medidas e resultados tangíveis”, declarou o Presidente, a fim de se prosseguir o objectivo de facilitar “a vida e emprego dos residentes de Macau”, bem como a diversificação da economia além do jogo.

Xi Jinping referiu também que a província de Guangdong e as zonas de Zhuhai e Macau “contribuem e são beneficiárias da construção da Zona de Cooperação, devendo trabalhar em conjunto”.

Durante a visita da Hengqin, Xi Jinping assistiu a uma apresentação sobre a construção de uma plataforma de apoio científico e tecnológico para o desenvolvimento da medicina tradicional chinesa. Xi Jinping, na conversa com jovens empreendedores em Hengqin, disse que “as suas histórias de inovação e de empreendedorismo mostram como Macau tem um grupo de jovens com ideias, responsabilidade e coragem para explorar e inovar”.

Desta forma, Xi Jinping entende que a Zona de Cooperação em Hengqin “tornou-se um amplo espaço de oportunidades para que os jovens iniciem o seu próprio negócio”, tendo dito que espera que “mais jovens de Macau possam viver uma vida maravilhosa em Hengqin”.

Seguir as exigências

A visita à Zona de Cooperação Aprofundada foi também marcada por uma passagem pelo Pavilhão de Exposições “Tianmu Qintai”, onde o Presidente chinês visitou a exposição “Harmonia de Qin e Macau – Exposição Temática sobre a Construção da Zona de Cooperação Profunda Hengqin Guangdong-Macau”.

Xi Jinping destacou os “progressos positivos” obtidos desde que foi estabelecida a Zona de Cooperação Profunda Hengqin Guangdong-Macau. “O nível de integração entre Macau e Hengqin melhorou gradualmente, sendo que o apoio ao desenvolvimento da diversificação da economia de Macau tornou-se cada vez mais evidente. Esta iniciativa provou que a decisão do Governo Central de desenvolver Hengqin, bem como de construir uma Zona de Cooperação, foi completamente correcta”, acrescentou.

No âmbito desta visita, o Presidente chinês adiantou também que devem ser seguidas “as exigências do Governo Central” e que todos devem participar no processo de reforma e “trabalhar juntos para enfrentar as dificuldades”.

O líder destacou a necessidade de apostar numa “forte ligação” em matéria de infra-estruturas, uma “ligação mais suave” em termos de regras e mecanismos entre regiões e ainda uma “ligação entre os corações” de Guangdong e Macau.

Neste contexto, “deve-se acelerar o estabelecimento de um sistema institucional com uma elevada coordenação económica” entre as regiões, “melhorar os serviços públicos e o sistema de segurança social”, além de se proporcionar a residentes e demais moradores “um estilo de vida de alta qualidade, com a concessão de comodidades aos compatriotas de Macau para viverem” em Hengqin.

Visita à MUST

Outro ponto na agenda de Xi Jinping no segundo dia de visita a Macau foi a ida à Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST), a fim de conhecer o sistema de ensino superior de Macau. Segundo o jornal Ou Mun, Kong Chi Meng, director dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDT), referiu que Xi Jinping está satisfeito com o desenvolvimento do ensino superior, tendo deixado o desejo de que mais disciplinas sejam criadas a fim de corresponder ao desenvolvimento que Macau precisa.

Kong Chi Meng destacou que Xi Jinping louvou o bom trabalho educativo em matéria de patriotismo, esperando que continue a ser reforçado pelas autoridades locais. O director da DSEDT disse ainda que em Macau há cerca de 60 mil estudantes do ensino superior, número que representa cerca de um décimo da população local, o que mostra a generalidade de acesso às universidades.

Na visita à instituição de ensino superior privada, que durou cerca de duas horas, o director da DSEDJ apresentou as mudanças e o desenvolvimento do ensino superior nos últimos 25 anos, e enumerou as políticas que serão desenvolvidas em Macau para corresponder às necessidades do país e diversificar a economia.

Ainda na área do ensino, destaque para as declarações de Peng Liyuan, primeira-dama do país, que defendeu que os estudantes devem aprender bem a história e a cultura de Macau, no âmbito de uma visita ao Museu de Macau.

No contacto com alunos do ensino primário, que durou cerca de uma hora, Peng Liyuan defendeu que esse estudo vai permitir às novas gerações “melhor servir Macau no futuro”, noticiou o canal chinês da Rádio Macau.

Estas declarações foram avançadas à rádio por Deland Leong Wai Man, presidente do Instituto Cultural que falou com a imprensa. Peng Liyuan terá mostrado interesse pela vida da população de Macau e pelo intercâmbio cultural entre o Oriente e Ocidente. A primeira-dama também terá ficado interessada na evolução registada em Macau ao longo dos séculos, de uma pequena terra de pescadores até aos dias de hoje.

Encontro com John Lee e cinco “extraordinários anos” de Macau

A agenda do Presidente chinês de ontem encerrou com um sarau cultural depois do jantar comemorativo dos 25 anos do estabelecimento da RAEM, que contou com a presença de Ho Iat Seng, que deixa hoje o cargo de Chefe do Executivo.

Segundo a Xinhua, Xi Jinping falou dos ganhos obtidos nos últimos cinco “extraordinários anos” de Macau em matéria de desenvolvimento, tendo referido que os órgãos Executivo, Legislativo e Judicial da RAEM “têm implementado de forma abrangente, exacta e inabalável a política de ‘um país, dois sistemas'”.

“Ao reunir-se com os funcionários dos três órgãos, Xi Jinping disse que estes têm desempenhado as suas funções de forma pragmática e eficaz, liderados pelo Chefe do Executivo da RAEM, Ho Iat Seng, nos últimos cinco anos”, lê-se na mesma nota.

Destaque para o encontro entre Xi Jinping e os anteriores chefes do Executivo da RAEM, Edmund Ho e Chui Sai On. Num discurso proferido ao jantar, Ho Iat Seng referiu-se à visita do Presidente chinês a Macau como um “grande acontecimento e um evento marcante”.

Foi destacado por Ho que “nos últimos cinco anos o V Governo da RAEM implementou plenamente o espírito consagrado nos importantes discursos do Presidente Xi e o princípio ‘Macau governado por patriotas’, criando um novo cenário para os trabalhos da defesa da segurança do Estado”.

Ho Iat Seng declarou também que foram unidos esforços “para enfrentar maiores desafios, impulsionando a diversificação adequada da economia e promovendo o desenvolvimento para alcançar novos resultados”.
Outra conquista política realçada por Ho foi “a reforma da Administração Pública para elevar constantemente a eficiência governativa”.

De resto, sobraram palavras optimistas sobre o novo Executivo que toma hoje posse. “O Sexto Chefe do Executivo certamente liderará o novo Governo da RAEM e os sectores sociais para escreverem em conjunto um novo capítulo da aplicação bem-sucedida do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ com características de Macau.”

Nova fase

Xi Jinping reuniu ainda com o Chefe do Executivo de Hong Kong Joh Lee que está em Macau para as celebrações do 25º aniversário da RAEM. A Xinhua escreveu que o Presidente chinês apelou a que as duas regiões administrativas especiais “se esforcem por alcançar maiores realizações e um melhor desenvolvimento”, tendo em conta que a política de “Um País, Dois Sistemas” “entrou numa nova fase”.

O Presidente destacou que as duas regiões “devem aprender uma com a outra, reforçar o intercâmbio e cooperação”, bem como “criar um futuro mais brilhante”, foi dito pela agência nacional sobre o encontro com John Lee.

Coreia do Sul | Presidente volta a faltar a audição, pela terceira vez

O Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, voltou ontem a faltar a uma audição no âmbito da investigação da controversa lei marcial decretada no início de Dezembro e que levou à sua destituição. Yoon foi convocado para ser ouvido pelos investigadores às 09h de ontem (hora de Macau), mas voltou a não comparecer, o que acontece pela terceira vez, segundo a agência espanhola Europa Press.

O Presidente está a ser investigado simultaneamente pelo Gabinete de Investigação Anticorrupção (CIO), pelo Ministério Público (MP) e pelo Ministério da Defesa.

É suspeito de ter incitado à rebelião ao declarar a lei marcial em 3 de Dezembro, que foi revogada pelo parlamento poucas horas depois de ter entrado em vigor. O Presidente conservador justificou na altura que a lei marcial se devia a uma alegada aproximação da oposição a posições “semelhantes às da Coreia do Norte”.

Cônsul-geral de Portugal vê com “optimismo realista” futuro dos portugueses

O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong disse ver com “optimismo realista” futuro da presença dos portugueses no território, actualmente “bastante evidente” e em “lugares relevantes”.

Perante a presença portuguesa na vida associativa, na advocacia, no ensino, na administração e nos tribunais, “em que há juízes portugueses a julgar”, é preciso “reconhecer que isto é invulgar, que significa um sucesso”, disse à Lusa Alexandre Leitão. Isto “abre portas para um certo optimismo em relação ao futuro. Obviamente, um optimismo realista, de quem sabe que Macau pertence à República Popular de China”, afirmou.

“Se tivermos presente que estamos na China, ainda que com condições especiais e que me parecem muito interessantes para a própria China, creio que […] temos razões para ver perspectivas de sucesso e áreas de crescimento da nossa presença, da nossa participação em projectos como a Grande Baía, como a Plataforma, Centro e Base da relação entre a China e os países de língua portuguesa, e até para o projecto de internacionalizar a economia portuguesa e ajudar à internacionalização da economia chinesa também”, assinalou o diplomata.

Sem esquecer “a competência e o conhecimento absolutamente ímpar que os macaenses têm da China”, tem-se “um ‘cocktail’ no que pode ser muito eficaz para que esta cidade, que é pequena na China, tenha uma relevância maior do que a sua estrita dimensão demográfica ou geográfica”.
“A China dá todos os sinais de querer ter uma relação especial com o universo lusófono. E nós não temos, seriamente, nenhuma condição para pôr em causa aquilo que a China diz. Acreditemos que aquilo que é proclamado é a intenção real e trabalhemos para isso com a China”, sublinhou.

Bir e não voltar

No ano passado, Macau deixou de aceitar novos pedidos de residência para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território. As orientações eliminam uma prática firmada após a transição de Macau, em 1999.
Sobre esta questão, Alexandre Leitão afirmou ser um sinal.

“Obviamente, esta decisão foi um sinal. E é um sinal que tem leituras, como todos os sinais. E uma mudança súbita, depois da [pandemia da] covid-19, numa altura em que se falava da recuperação e da necessidade de diversificação económica, quando isso significa em qualquer cidade do mundo e da própria China, abertura”, considerou.

“Digamos que temos o direito de olhar para este sinal como algo frustrante e contrário às nossas expectativas e sobretudo de difícil compreensão pelo momento e pelo facto de que objectivamente são poucos os portugueses que vêm de Portugal procurar Macau”, salientou.

Alexandre Leitão disse acreditar “ser do interesse da região poder beneficiar do contributo qualificado de mais portugueses”. Este sinal “autoriza leituras diversas”, como a de ser um esforço de normalização: “é evidente que Macau, mais uma vez, pertence à República Popular da China e, portanto, compreendo que seja para alguns discutível que os portugueses tenham um estatuto diferente de outros estrangeiros ou até de pessoas que vêm da China”, afirmou.

“Mas o meu papel aqui é defender os interesses da comunidade portuguesa e de Portugal e pôr em evidência aquilo que acredito ser a capacidade que os portugueses têm de trazer valor para o projecto de crescimento, diversificação de Macau, de integração e de contributo apreciável no projecto da Grande Baía e no projecto de plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”.

Os portugueses que “aqui estão e que não são nascidos aqui não são assim tantos e não são demais”, considerou.

Para o diplomata, trata-se de uma opção soberana de autoridades que têm plena competência para decidirem o que entendem: “não houve violação, na minha opinião, da Lei Básica nem nada disso”. “Temos que separar o que é jurídico do que é político e eu estou aqui a fazer obviamente uma interpretação enviesada pelo facto de ser representante de Portugal e de defender os interesses portugueses”, assinalou.

Cerca de 155 mil pessoas têm nacionalidade portuguesa em Macau e Hong Kong, disse à Lusa. De acordo com os censos de 2021, realizados no território, há mais de 2.200 pessoas nascidas em Portugal a viver em Macau.

A sensibilidade trágica perdida dos Estados Unidos (IV)

“How much evil we must do in order to do good.”
Reinhold Niebuhr

 

Sem a dolorosa possibilidade de ver a vida como caos, a nossa ordem civilizada tornar-se-ia estéril, egocêntrica, solipsista e nós próprios tornar-nos-íamos arrogantes na “hybris” do nosso poder intelectual. Para além das influências mútuas entre o mundo académico e a liderança, o escrutínio histórico mostra o que está realmente em jogo.

Na América, o pensamento, e não apenas o do Estado, é cada vez mais rígido e unilateral. Na Guerra Fria, isto não era um grande problema, pois o inimigo, único e absoluto, disciplinava o espírito; a educação dos estadistas era mais humanista e polvilhada de alta literatura; a experiência pessoal, de guerra ou de catástrofes familiares, completava a educação.

Hoje, estes três factores estão ausentes. Os inimigos são demasiados e não são tão assustadores, por isso não disciplinam (ainda); a história e os clássicos são cada vez mais retirados do currículo; as escolas de serviço diplomático encerram os estudos da área e a aprendizagem de muitas línguas; a geração mais jovem é a mais protegida de sempre.

Como é que um americano pode aprender a tragédia, a transitoriedade da ordem, os compromissos do poder, a comparação de pontos de vista? Como é que este ambiente pode evitar a formação de cruzados prontos para o choque de civilizações? Ou o seu oposto, cidadãos submissos, incapazes de compreender o que está em jogo?

Vejamos dois exemplos, sintomas de outros tantos problemas de fundo. Em primeiro lugar, o ensino universitário incita ao moralismo utópico. O longo casamento entre o mundo académico e o império está a divorciar-se. Os “think tanks” de Washington substituíram as universidades no fornecimento de ideias e pessoal para a burocracia, com o efeito de aumentar o conformismo. Os mandarins da política externa acusam os académicos de instruírem os jovens com ideias impraticáveis e prejudiciais, tais como a redução do papel da América no mundo, sem um conhecimento prático de como o fazer.

O problema é mais vasto e diz respeito à relação com o poder. Os estudantes americanos perderam toda a familiaridade com a razão de Estado. Isto pode ser visto num ensaio recente de Hal Brands na Foreign Affairs. Até que ponto temos de fazer o mal para fazer o bem?, pergunta-se o autor, citando o teólogo Reinhold Niebuhr. Para dizer o óbvio de que a era do conflito que se abriu entre a América e os seus rivais torna-se inevitavelmente uma era de amoralidade, porque a única maneira de proteger um mundo apto para a liberdade é cortejar parceiros impuros e cometer actos imorais.

Não há razão para nos sentirmos demasiado embaraçados por recorrermos ao jogo sujo se não tivermos autoconfiança suficiente para defender os nossos interesses, não teremos sequer a força para fazer grandes coisas. Segue-se um catálogo bastante óbvio de um “ethos” capaz de resistir aos compromissos necessários; a moral é uma bússola, não um colete-de-forças; não caímos em utopias e falsas alternativas; o bem não surge de repente, nem o mal é cometido para sempre; os ganhos marginais contam; os males causados devem ser proporcionais ao objectivo; defender os nossos valores é mais do que intimidar os tiranos.

O baixo nível das recomendações, obra de um professor universitário íntimo dos “apparatchiks”, sugere que o público-alvo é a geração mais jovem, desiludida com o desempenho dos Estados Unidos no mundo. Tão esmagados pela culpa que não estão preparados para as funções mais básicas do poder. A operação pedagógica de Brands não é inteiramente nova. Diz respeito ao eterno e íntimo conflito americano com a razão de Estado. Com a ideia, crucial na cultura americana, pelo menos a partir de Wilson, de que o Estado não pode reivindicar uma moralidade própria.

Cada geração chamada a combater, desde os conflitos mundiais à Guerra Fria e à Grande Guerra actual, tem de renegociar o pacto com a sua própria alma. No entanto, dizer que o Estado deve fazer o mal em busca do bem não é renegociar um pacto. É a base que falta. É o efeito de uma deslegitimação sistemática às mãos da cultura dominante na América, em particular das teorias agora conhecidas como “wokistas”, que desde os anos de 1960 identificaram todas as formas de poder constituído como a fonte da discriminação que deve ser corrigida, uma prioridade máxima para tornar a sociedade americana finalmente justa e moral.

As instituições deram-lhe o seu próprio cunho, deslegitimadas pelas derrotas no estrangeiro e pela falta de consideração pelo sofrimento da classe média. Mas tal como o poder não deve ser idolatrado, também não deve ser demonizado. Corre-se o risco de paralisia. O segundo exemplo da dificuldade americana em cultivar a sensibilidade trágica diz respeito à cultura popular. Com a literatura inteiramente centrada no indivíduo, mesmo quando encena o colapso social, restaria o cinema. Recentemente, foram lançados nos Estados Unidos dois filmes que imaginam um futuro colapso da ordem.

O filme “Leave the World Behind”, produzido pela empresa de Barack e Michelle Obama, conta a perplexidade de duas famílias quando os Estados Unidos são atingidos por um ataque cibernético devastador de potências estrangeiras, completado por uma insurreição interna. O filme “Guerra Civil”, um grande sucesso de audiências, segue uma equipa de reportagem que tenta chegar a Washington no meio de uma guerra entre pelo menos quatro exércitos, desencadeada pela rebelião contra um presidente que procura um terceiro mandato.

Nenhum deles investiga enquanto a catástrofe se abate sobre a América. A remoção é total em “Guerra Civil”. Ao mesmo tempo que mostra cenas terríveis, não assusta, tudo é leve, superficial. Renuncia voluntariamente à reflexão sobre as causas da guerra, que se deduz ser justa por ser dirigida contra um usurpador. No entanto, as razões dos combatentes estão ausentes.

Proibido sentir empatia, proibido compreender. Nas palavras do protagonista, um fotojornalista desiludido diz que não perguntamos. Registamos para que outros perguntem. Mais explícito ainda é o realizador, Alex Garland que afirma que quando as coisas se tornam extremas, as razões pelas quais se tornaram extremas deixam de ser relevantes. É a ponta da faca que permanece relevante. “Guerra Civil” é estéril, emblemático de uma América onde não se pode relacionar os argumentos de um e de outro porque se chocaria com toda a gente. Diz-se que Ronald Reagan foi inspirado a negociar tratados de limitação de armas com a União Soviética por “The Day After”, uma adaptação televisiva do relatório sobre os “Efeitos da Guerra Nuclear” encomendado pelo Senado no final da década de 1970.

O filme “The Day After” era uma obra de ficção. Essa obra de ficção baseou-se nos conhecimentos científicos e estratégicos disponíveis para imaginar a realidade e convidar à acção. Actualmente, o cinema americano cai no niilismo. Não sugere o comportamento para evitar a anarquia. Apenas diz que a América está condenada. O resultado é tetanizante. Não é tragédia, é apocalipse. Mas a tragédia é um aviso, o apocalipse é uma profecia.

Levada pela embriaguez da sua missão, desorientada por teorias que queriam justificar-se, a América violou repetidamente, nas últimas décadas, as antigas lições de bom senso contidas nos clássicos. Contravenção máxima, a de fazer guerras sem fim, sem fim porque sem objectivo. Em vez de inculcar nos cidadãos um medo absoluto da guerra, de modo a convencê-los da sua indispensabilidade quando necessário, abusou dela ao ponto de os convencer do contrário, ou seja, de os tornar relutantes em defender o império e a ordem. Não é de admirar que a pedagogia imperial já não funcione, que o moralismo paralise as gerações mais jovens, que a raiva interna não possa ser descarregada para o exterior.

A perda de sensibilidade trágica, tanto na população como na classe dirigente, é um factor poderoso na atrofia mais geral do pensamento estratégico nos Estados Unidos. No actual momento de confusão, uma contradição emerge do conhecimento dos clássicos.

Os Estados Unidos devem defender a ordem a todo o custo porque é melhor do que a anarquia, mas a imposição da ordem, objecto de contenda com os seus rivais, pode contribuir para a própria anarquia. Poderão os Estados Unidos mudar de atitude com a mesma classe dirigente? Poderão mudar a classe dirigente sem desencadear um terramoto mundial? A margem de manobra para dividir estas questões é cada vez mais estreita. O desafio é encontrar o equilíbrio certo entre redescobrir o medo colectivo e moderar as ambições de cada um. O conceito de tragédia pode ser utilizado para apoiar teses opostas, mas entrar nestes dilemas sem a sua sabedoria pode ser fatal.

RAEM 25 anos | Galeria dos Governadores inaugurada em Lisboa

Durante 25 anos, 41 retratos de governadores portugueses de Macau estiveram fechados ao público. Vindos do Palácio da Praia Grande, foram alvo de restauro e vão agora integrar a Galeria dos Governadores. A mostra permanente, patente no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, é apoiada pela Fundação Jorge Álvares

 

Ferreira do Amaral, Eduardo Augusto Marques, José Carlos da Maia, Garcia Leandro e Rocha Vieira, são alguns dos políticos que governaram Macau ao longo dos séculos de Administração portuguesa e que passam agora a integrar a “Galeria dos Governadores”. A exposição permanente reúne 41 retratos que vieram do Palácio da Praia Grande por altura da transição, em 1999, e que se mantiveram fechados ao público durante 25 anos.

Agora, com o apoio da Fundação Jorge Álvares (FJA), os quadros foram restaurados e serão agora expostos ao público no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, com curadoria e pesquisa histórica de Alfredo Gomes Dias.

Assim, o público poderá conhecer mais informações sobre os governadores portugueses que administraram Macau entre os anos de 1846 e 1999, reagrupados em cinco secções, nomeadamente “A refundação de Macau (1846-1886)”, de João Maria Ferreira do Amaral a Thomaz de Sousa Rosa; “O fim das monarquias imperiais (1886-1910), de Firmino José da Costa a Eduardo Augusto Marques; “Entre duas guerras no mundo (1914-1946), de José Carlos da Maia a Gabriel Maurício Teixeira”, “Os desafios do pós-guerra (1947-1974), de Albano Rodrigues da Fonseca a José Manuel Nobre de Carvalho; e, finalmente, “Os caminhos da Transição (1974-1999), de José Eduardo Garcia Leandro a Vasco Rocha Vieira. Ana Costa e José Ribeiro Tavares são os arquitectos responsáveis pelo novo espaço expositivo.

Maria Celeste Hagatong, presidente da FJA, destaca que visitar esta galeria vai permitir ter “uma perspectiva da história de Macau”. “A galeria era um projecto que estava na mente de todos os nossos curadores, no sentido de termos um sítio para a exposição dos retratos dos governadores que vieram do Palácio da Praia Grande para Lisboa. Pretendemos ter uma história do que é Macau e percorrê-la através desses retratos. Achamos que vai ser uma coisa que vai prestigiar o CCCM”, declarou, lamentando o grande atraso na concretização da iniciativa.

“Tenho pena que o investimento não tenha sido feito há mais anos, sobretudo aquando do começo da fundação, há 25 anos, quando estavam ainda vivos oito governadores. Hoje restam apenas dois. Mas tivemos o cuidado de convidar grande parte dos descendentes dos governadores para estarem presentes na abertura da galeria”, destacou ao HM.

Bom ponto de partida

Ao HM, o académico Alfredo Gomes Dias explica o processo de organização histórica destas imagens, que “dão conta dos traços que caracterizaram a actividade de cada um dos governadores, centrando-se em duas áreas fundamentais: as iniciativas direccionadas para a Administração do território e o contributo para a história das relações luso-chinesas”.

“Trata-se de um período de cerca de um século e meio, a segunda metade do século XIX e o século XX, ao longo do qual a história de Macau conheceu diferentes conjunturas internas e externas. Com esta galeria é possível perceber de que modo evoluiu a presença portuguesa no sul da China, num pequeno território, e o contributo de cada Governador para que a presença portuguesa em Macau se mantivesse até 1999”, destacou ainda.

Para Alfredo Gomes Dias, a galeria representa “um excelente ponto de partida e de chegada para quem a visita”, a fim de “motivar os visitantes a quererem saber mais sobre a actividade dos governadores”, além de oferecer “um retrato global da história de Macau, num período particularmente relevante para quem quer compreender a realidade actual de Macau, marcada por um quadro sociocultural muito singular”.

No que diz respeito aos textos que acompanham os quadros, “tentou-se que tivessem, simultaneamente, uma leitura autónoma e uma leitura transversal, evolutiva, que desse unidade a cada uma das secções e à galeria no seu todo”.

“Optou-se que todos os textos teriam sensivelmente a mesma dimensão, reconhecendo que cada governador, na sua época e independentemente do tempo que durou a sua governação, deu o seu contributo para preservar a presença da Administração Portuguesa em Macau”, acrescentou Alfredo Gomes Dias.

O académico também lamenta que o projecto só agora veja a luz do dia. “Temos de reconhecer que 25 anos foi um longo tempo de espera. Sabemos que as organizações têm as suas dinâmicas, além de que os quadros tiveram de ser recuperados. É, sem dúvida, uma excelente forma de assinalar o 25º aniversário da cerimónia da transferência da Administração de Macau em 20 de Dezembro de 1999”, rematou.

China | Empresa entregas obriga estafetas a descansar após muito trabalho

O gigante chinês das entregas ao domicílio Meituan vai obrigar os motoristas a descansar quando se verificar que trabalharam demasiado tempo, avançou ontem o portal de notícias The Paper.

O portal, que cita uma circular enviada pela Meituan aos estafetas, referiu que a aplicação que utilizam para trabalhar vai encerrar automaticamente a sessão se detectar que o tempo acumulado a fazer entregas excede um determinado limite, que ainda não foi divulgado.

Quando for detectado um excesso de horas, a aplicação apresentará uma mensagem convidando o condutor a fazer uma pausa. Se continuar a aceitar encomendas, o estafeta verá a sessão automaticamente desligada durante o resto do dia. A empresa confirmou que está a testar programas para evitar a fadiga dos condutores.

A medida surgiu na sequência de meses de debate público na China sobre as pressões enfrentadas pelos motoristas, que recebem menos de um euro por entrega e têm pouco tempo para descansar, depois de vários incidentes terem sido notícia no país.

Em Wuhan, no centro da China, um estafeta ameaçou um cliente com uma faca. Outro danificou uma vedação em Hangzhou (leste), quando se apressava a entregar uma encomenda, e foi obrigado a ajoelhar-se como castigo pelos seguranças do local, o que levou dezenas de colegas a convocarem um protesto.

Da vida para o ecrã

Um dos maiores sucessos de bilheteira na China este Verão foi um filme que ilustrava as dificuldades enfrentadas por milhares de pessoas que trabalham como estafetas em empregos temporários, correndo contra o relógio pelas cidades em trotinetas eléctricas, para entregar as encomendas a tempo.

No final de Novembro, as autoridades chinesas exigiram às plataformas digitais uma revisão e e correcção de algoritmos que pudessem prejudicar os condutores, especialmente os que reduzem os prazos de entrega, algo que aumenta a pressão sobre os trabalhadores e resulta frequentemente em infrações de trânsito e acidentes.

Carros eléctricos | Empresa planeia infra-estrutura para troca de baterias

A chinesa CATL, o maior fabricante mundial de baterias para veículos eléctricos, anunciou ontem que vai construir uma vasta rede de estações para troca de baterias na China, a partir do próximo ano

 

O maior fabricante do mundo de baterias para veículos eléctricos, a CATL, anunciou ontem um plano para lançar uma rede de larga escala para troca de baterias. A ideia subjacente à troca de baterias consiste em reabastecer rapidamente, à semelhança do que acontece com o abastecimento de gasolina num automóvel com motor de combustão interna. Em vez de esperar que as baterias sejam recarregadas, os carros são colocados num dispositivo que troca a bateria antiga por uma nova numa estação de serviço. Aquele sistema é já utilizado pelo fabricante de veículos eléctricos chinês NIO.

A CATL, com sede no leste da China, anunciou planos para abrir 1.000 estações de troca de baterias no próximo ano no país asiático, incluindo em Macau e Hong Kong, com o objectivo a longo prazo de ter 10.000 estações construídas com diferentes parceiros. Se a empresa avançar, poderá rivalizar com a NIO, que conta já com mais de 2.700 estações.

Não existe nada a esta escala noutras partes do mundo, embora a NIO tenha cerca de 60 estações no norte da Europa. Um investimento desta envergadura é possível na China, onde o apoio governamental transformou o maior mercado automóvel do mundo num mercado fortemente eléctrico e fez do país líder na tecnologia dos veículos eléctricos.

“Até 2030, a troca de baterias, o carregamento em casa e as estações de carregamento públicas partilharão o mercado”, previu Robin Zeng, director-executivo da CATL, numa apresentação na província de Fujian, onde a CATL está sediada.

O responsável apelou aos parceiros empresariais para que trabalhem em conjunto para “criar serviços mais convenientes, mais económicos e mais seguros para os clientes, promovendo um novo modo de vida”.

A troca de baterias enfrenta obstáculos. Requer uma padronização das baterias para que as estações de troca possam suportar a operação. Mas a maioria dos veículos eléctricos tem a sua própria configuração. Por outro lado, um carro eléctrico pode utilizar qualquer estação de carregamento na China porque todas utilizam uma ficha comum e a tecnologia de carregamento rápido está a reduzir o tempo de recarga.

Jing Yang, director da empresa de notação financeira Fitch Ratings, que se dedica aos sectores automóvel e das energias renováveis na China, afirmou que os fabricantes de automóveis podem estar preocupados com o facto de a adopção de um conjunto de baterias padronizadas poder ceder demasiado controlo da sua cadeia de abastecimento a terceiros. Mas alguns podem querer testar o sistema para ver se a troca de baterias pode melhorar as vendas, e fazê-lo com CATL ou NIO poderia reduzir o custo, argumentou.

Questão de tempo

Lei Xing, analista do mercado automóvel chinês, acredita que a troca de baterias pode complementar a rede de carregamento bem desenvolvida do país. “Não estou a ver que se torne uma tendência dominante, mas vejo-a a tornar-se uma parte fundamental da infra-estrutura”, explicou.

O conceito provou ser mais fácil de implementar com veículos de frota – táxis, autocarros e camiões comerciais – que têm um modelo padrão e, em alguns casos, seguem rotas definidas.

A CATL, que lançou um pequeno projecto-piloto há dois anos destinado a táxis, começará a sua implementação com frotas e expandirá mais tarde para proprietários de automóveis individuais, disse Zhang Kai, vice-presidente da subsidiária de troca de baterias da CATL.

A troca continua a ser mais rápida do que o carregamento rápido. A estação da CATL, com a marca EVOGO, pode trocar uma bateria em 100 segundos, disse Yang Jun, diretor-executivo da filial. “Tempo é dinheiro para os motoristas de táxi e de camiões”, explicou Lei Xing.

Tanto a CATL como a NIO anunciaram acordos com fabricantes de automóveis para a utilização das suas estações de troca. A questão é saber se um número suficiente de fabricantes de automóveis e de condutores adoptam esta prática para que a utilização das estações se torne rentável. Entre Janeiro e Outubro, quase 70 por cento das vendas de veículos eléctricos a nível mundial foram feitas na China, segundo dados do sector.

China | Astronautas fazem passeio mais longo de que há registo no país

Dois astronautas da estação espacial da China realizaram o mais longo passeio espacial na história do programa aeroespacial do país, anunciou ontem a Agência de Missões Espaciais Tripuladas chinesa. Os astronautas Cai Xuzhe e Song Lingdong trabalharam no exterior da estação espacial na terça-feira sob a supervisão do parceiro, Wang Haoshe, que permaneceu no interior da nave espacial.

Cai e Song estiveram fora da estação durante cerca de nove horas, durante as quais instalaram dispositivos de protecção contra detritos espaciais e realizaram trabalhos de inspecção do equipamento, assistidos pelo braço robótico da estação e por uma equipa de controlo na Terra.

Esta foi a primeira missão exterior da actual tripulação da estação espacial Tiangong, cujo nome significa Palácio celestial, em mandarim. No entanto, foi a segunda caminhada espacial de Cai, que já integrou a tripulação da estação durante o segundo semestre de 2022. Song, de 34 anos, tornou-se o primeiro astronauta chinês nascido nos anos de 1990 a efectuar um passeio espacial.

Os três astronautas, que chegaram à estação espacial em Outubro a bordo da nave espacial Shenzhou-19, vão realizar uma série de experiências científicas e testes técnicos no espaço durante a missão de seis meses. A tripulação deverá também efectuar outros trabalhos no exterior da estação durante a estada, acrescentou a agência.

A única sobrevivente

A Shenzhou-19 é a décima nave espacial a visitar a Tiangong, que vai funcionar durante cerca de dez anos e possivelmente a única estação espacial do mundo a partir de 2024, se a Estação Espacial Internacional, uma iniciativa liderada pelos EUA à qual a China está impedida de aceder devido a laços militares do programa espacial, for retirada este ano, como planeado.

A China investiu fortemente no programa espacial e alcançou êxitos como a aterragem da sonda Chang’e 4 no lado mais distante da Lua – a primeira vez que tal foi conseguido – e a colocação de uma sonda em Marte, tornando-se o terceiro país – depois dos Estados Unidos e da antiga União Soviética – a fazê-lo.

Natalidade | Especialista pede apoio face a crise demográfica

Um especialista chinês defende que a China deve focar-se em apoiar a natalidade e reduzir o custo com a educação das crianças, quando o país enfrenta problemas demográficos de dimensão inédita no mundo

 

Num artigo de opinião difundido pelo Study Times, publicação da Escola Central do Partido Comunista Chinês, Du Yang, director do Instituto de Economia da População e do Trabalho da Academia de Ciências Sociais Chinesa afirmou que o apoio às famílias com filhos, incluindo a afectação de mais recursos públicos para a educação pré-escolar, deve ser prioritário, nos esforços para lidar com uma população que está a diminuir e a envelhecer rapidamente.

O apelo surgiu depois de as autoridades chinesas terem prometido a construção de uma “sociedade favorável à natalidade”, uma vez que a população total do país começou a encolher há dois anos e a taxa de natalidade caiu para um mínimo histórico de 6,39 por cada 1.000 pessoas no ano passado.

O número de nascimentos no país asiático caiu de 17,86 milhões, em 2016, ano em que a China aboliu a política de ‘filho único’, para 9,02 milhões, em 2023, uma queda superior a 50 por cento.

A queda acelerada levou já ao encerramento de mais de 20.000 jardins-de-infância, nos últimos dois anos. Mas o verdadeiro impacto na sociedade chinesa só se fará sentir em meados do século, quando muitos dos que nasceram durante a política do ‘filho único’ atingirem a reforma, enquanto continuam a cuidar dos pais idosos. Em 2050, a ONU prevê que 31 por cento dos chineses terão 65 anos ou mais. Em 2100, essa percentagem será de 46 por cento, aproximando-se de metade da população.

“Os vários tipos de custos pagos pelas famílias e pelos indivíduos são os principais factores que impedem o desejo de ter filhos”, lê-se no artigo de opinião de Du Yang. Du salientou a diferença substancial entre a China e os países desenvolvidos, no que respeita à despesa pública com a educação pré-escolar, sublinhando a importância para a melhoria da qualidade da população, uma visão reiterada pelo Presidente chinês, Xi Jinping.

Apelou também para a optimização e expansão do ensino profissional, que ajudará a dotar a mão-de-obra chinesa das competências necessárias para impulsionar a produtividade e sustentar o crescimento económico. A segunda maior economia do mundo enfrenta desafios demográficos únicos que carecem de comparações internacionais directas, sublinhou.

Idade da razão

Ao contrário de muitas nações desenvolvidas que envelheceram gradualmente, a população da China está a envelhecer enquanto a economia permanece numa fase de transição.

De país pobre e isolado, a China converteu-se, em 40 anos, na segunda maior economia mundial, mas o produto interno bruto ‘per capita’ continua muito aquém das nações desenvolvidas. É, por exemplo, metade do de Portugal. Enquanto 2 por cento da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza, de 6,20 euros por dia, esta categoria abrange 25 por cento dos chineses.

A China arrisca assim sofrer um fenómeno que os economistas designam como “envelhecer antes de enriquecer”. “O declínio da população total é uma mudança importante nas condições básicas de desenvolvimento da China, e é uma situação que nunca foi encontrada quando a China fez planos no passado”, escreveu Du.

A China registou um declínio populacional em 2022 e 2023, as primeiras contracções desde 1961, quando o número de habitantes diminuiu devido ao fracasso da política de industrialização do Grande Salto em Frente e à fome que se seguiu. O país foi ultrapassado no ano passado pela Índia como a nação mais populosa do mundo.

Durante o 20.º Congresso em 2022, o Partido Comunista Chinês sublinhou que o país precisa de um sistema que “aumente as taxas de natalidade e reduza os custos da gravidez, do parto, da escolaridade e da parentalidade”.

Identidade, Periferia e Globalização: Duas Narrativas de Macau

Por Fernanda Gil Costa, antiga directora do departamento de português da Universidade de Macau

Apresenta-se de seguida uma breve abordagem da literatura de Macau em língua portuguesa (também em tradução, já que o território tem hoje duas línguas oficiais) publicada nas duas décadas que se seguiram à mudança da soberania portuguesa para a chinesa. Assim se tenta evidenciar uma certa singularidade da vida literária macaense que, sem deixar de se conjugar com práticas modernistas e pós-modernas da cena literária internacional, pode configurar a consciência da sua inevitável periferia face aos circuitos das literaturas nacionais portuguesa e chinesa e aos grandes centros de intercâmbio da chamada Literatura Mundo. As duas narrativas selecionadas, de uma autora chinesa que vive em Macau e em 2010 viu traduzida para português a narrativa curta que tornara pública em 1999 (o ano da transição de soberania) e de um autor português, Carlos Morais José, que dirige um jornal do espaço público de língua portuguesa1constituem uma demonstração da presença de uma vida cultural activa no espaço público de língua portuguesa (jornais e suplementos culturais, festivais literários, actividade editorial) apesar da exiguidade em número de leitores. Além disso, as duas narrativas (um conto e um romance histórico) parecem revelar complexos temáticos e padrões formais que expõem a vida cultural da cidade como experiência de periferia e resistência agregada à sua condição de insularidade e exílio.

Na curta narrativa intitulada As Alucinações de Ao Ge, publicada em 1999, em chinês, por uma autora chinesa de Macau (de origem cambojana), Lio Chi Heng coloca-se numa posição de inesperado desafio face ao leitor português (que pode ler o conto em português depois da tradução, em 2010, patrocinada em edição bilingue pelo IPOR2), ao abordar a questão conflituosa da identidade macaense quase sempre ignorada pelos autores de Macau de ascendência portuguesa.

Assim, pode dizer-se que a intempestiva obra de Lio Chi Heng surgiu no espaço público da cidade como uma das produções literárias mais originais da literatura escrita em Macau nos últimos anos. Apresenta-se também como uma obra reveladora da marca/mancha pós-colonial que de forma insidiosa se manifesta afinal no espaço público macaense e chinês da ex-colónia. Autores de origem macaense (híbridos de origem étnica portuguesa e chinesa) tinham já apresentado o relacionamento entre europeus e chineses como um problema de solução difícil e eventualmente traumática3, sobretudo no contexto do relacionamento amoroso, durante o período colonial do século XX, mas o conflito desloca-se mesta narrativa para o interior do protagonista mestiço que se sente dividido pela origem dupla, numa sociedade de transição em que a agulha da balança do poder começou a oscilar para o lado oposto.

O conto toma como centro da sua observação a personagem Ao Ge, um macaense mestiço (descendente de portugueses e chineses) que durante uma viagem à Europa acaba por revelar numa série de eventos desencadeados em vertiginosa sucessão, os seus ocultos problemas e traumas de identidade. A história é simultaneamente contada na terceira pessoa, por um narrador omnisciente, e na primeira, em versão autodiegética, disposta em capítulos alternados. A tradição modernista está presente nesta indecisão da perspectiva e no carácter aberto que tal processo imprime à sequência dos nódulos narrativos. Sobre o problema, sem solução definitiva óbvia da identidade híbrida, inoportuno porque é ignorado dentro do espaço público português, diz a autora, esclarecendo a sua motivação para o tema: “A crise de identidade macaense não é criação minha. Antigamente muitos macaenses raramente mencionavam os membros da família chinesa.” 4

Veremos que, no final, a relativa aceitação da avó chinesa por Ao Ge não ultrapassa as circunstâncias domésticas e a vida projectada do protagonista que continuará inserido numa sociedade em que os preconceitos raciais perdurarão para além da mudança de equilíbrio e da nova relação na distribuição das forças sociais e culturais dominantes.

O narrador do conto (tal como a autora) conhece o peso da dimensão complexada e oculta da identidade de Ao Ge, o seu mal-estar em relação às marcas fisionómicas asiáticas do rosto, subalternizadas durante o período colonial, que o levam a exacerbar a metade da sua origem europeia. A apreciação do narrador face à personagem, que se situa, naturalmente, num nível mais elevado de conhecimento e consciência que o protagonista, transparece na citação seguinte:

“É preciso voltar ao tempo do avô de Ao Ge. Os portugueses não se contentaram em deixar para trás de si a impressão dos seus passos; eles deixaram também os seus genes! O avô de Ao Ge foi um desses semeadores de genes (AAG:28).

O narrador conhece igualmente o trauma de infância e adolescência da personagem, a violação por rapazes portugueses que o tratavam por “- Meu chinês, filho da puta!” (23), que Ao Ge recorda no presente da história da diegese, durante o encontro com o travesti, em Paris, como uma sequência de imagens de cinema em que se observa à distância: “Contra uma parede amarelada, um jovem era arremessado num vão de escada e, atrás dele, um grande latagão comia-o por detrás” … (id.).

Incapaz de entender as suas emoções e o alcance das suas relações, Ao Ge falha o relacionamento com os colegas portugueses que inveja e deseja por serem de suposto “sangue puro” e superior beleza e evita enfrentar a pulsão inconsciente que o atrai para a homossexualidade. “Como foi possível que um mulherengo como eu tivesse dormido com um homem?” (24) pergunta-se, depois do episódio com o travesti em Paris e do embaraçoso desejo por José, companheiro de viagem, numa praia próxima de Lisboa, cuja beleza “europeia” o excita descontroladamente.

O ressentimento e o complexo sentimento de amor/ódio pelos portugueses são o tema dominante do conto. Ao Ge reflecte sobre o seu destino quase sempre em termos apologéticos, considerando, por exemplo, que o seu nariz “alto e recto” é uma compensação dada pelo “Criador” ao seu rosto asiático. Vale a pena citar as suas palavras:

Para mim a recompensa foi este nariz mágico, cujos poderes me fizeram esquecer as humilhações que me corroíam o coração. Mais tarde foi também graças a Ele que senti orgulho na minha vida, em ser filho desta terra. (AAG: 34)

A mesma superficialidade de observação e valoração se regista no pensamento de Ao Ge quando se gaba de ter um bom posto, “apesar de fazer gazeta a toda a hora, consegui um bom posto, tal como o meu avô.” (ibid.); e o mesmo acontece na relação com as línguas que fala e aprende a falar: “Antigamente falar português chegava para tudo, mas hoje em dia o potunghua é mais popular” (ibid.).

Para Ao Ge a vivência plena da cidade, das suas línguas e culturas contrastivas não é atraente; a língua que usa tem a ver com a utilidade imediata, status social e filiação de moda. A relação com o espaço geográfico é, de facto, como sugeriu Ana Paula Laborinho noutro contexto, permeada por uma sensação de exílio a que não são exteriores a nostalgia, a insularidade e a efemeridade de uma vida sem dificuldades de sobrevivência. Veja-se a reflexão seguinte:

O impacto do potunghua dá-me a impressão de perder Macau. O rosto e a língua são os dois pratos da balança da minha vida e eu equilibro-me entre um e outro. (AAG: 35)

Neste ponto faz sentido reconhecer que Ao Ge acaba por reencontrar a sua matriz identitária chinesa (que parece ser uma decisão desejada pelo narrador omnisciente e, porventura, autoral) quando nas aulas de potunghua (tal como no interesse não inocente pela professora de mandarim, cheia de carácter e personalidade) é levado a reflectir sobre a história da China (e de Macau, enquanto colónia portuguesa) para regressar à memória da avó chinesa, repudiada no início da narrativa devido à sua ascendência, que o protagonista volta a visitar no cemitério da “cidade cristã”, embora ela não descanse junto do avô português, sepultado com a legítima mulher de origem portuguesa.

Mas a sua existência perdida entre etnias, línguas e heranças culturais não parece ser superável: “Eu… eu não consigo localizar a minha identidade, que é também uma alucinação.” (Id: 45), confessa Ao Ge mesmo no final da narrativa, assim expressando com lucidez inesperada a ausência como centro da sua existência, provável sintoma da desorientação e perda de rumo de alguma população macaense mais jovem, na viragem do último século, entre a influência chinesa e a portuguesa /macaense, no momento em que a transição aconteceu.

É também muito revelador que Ao Ge abandone o cemitério depois da visita enquanto acredita ouvir a voz compreensiva da avó chinesa que ele desprezou, dizer: “meu tontinho, meu tontinho…” (Id: 46), num sinal de carinhosa condescendência que dá voz ao novo espírito do lugar. Tal atitude parece configurar uma incarnação ou sinédoque da China pela avó enquanto pátria remota em termos de dominação política, genética e linguística, a que Macau retorna sem entraves no final do século XX.

Na última cena, sintomaticamente, parece insinuar-se no desenho de Ao Ge, feito por uma autora de língua chinesa, a característica que já foi considerada a mais persistente da população macaense, o chamado “Macau Bambu”, sinal simultâneo e paradoxal de instabilidade e permanência.5

Este conto de Lio Chi Heng preenche um vazio na abordagem da questão macaense em primeiro lugar pela perspicácia do olhar, mas também pela flexibilidade feminina e abrangente da análise sobre a situação insular e paradoxal de Macau, o seu plurilinguismo e interculturalidade, e sobretudo a exposta situação pós-colonial da cidade quase sempre ignorada na literatura e na crítica portuguesa.

O desconforto da personagem Ao Ge parece entrelaçar a ambiguidade da opção sexual com a dificuldade de definição da identidade cultural, étnica e linguística e lançar uma ponte para um futuro pacificado – por mais inverosímil que seja (e porventura utópico) – para a redescoberta da China como pátria última (e única). Esse momento ainda não realizado, porém, desejado por muitos como superação possível de um passado de conflito (tão recalcado quanto possível, mas latente) entre a matriz portuguesa/ europeia e a asiática não pertence ao presente do conto, mas está (presume-se) subentendido.

O desconforto do protagonista representa além disso um desafio e um risco para o leitor português. Desafio porque a ambiguidade e superficialidade do problemático perfil de Ao Ge não permitem uma identificação plena com a personagem e risco porque o seu lugar é solitário, imaturo e ambivalente, mesmo que solicite uma explícita cumplicidade com a sua história individual. Citando David Brookshaw: “Esta novela é única na produção literária em Macau, já que se trata da visão de uma chinesa sobre a situação do macaense perante a sua dupla herança… (2010: 22).

O protagonista não encontra, portanto, uma saída pacífica para a identidade macaense como alternativa à herança portuguesa, perante um futuro de forçada integração na China. No desenho imperfeito da sua identidade (não gosta do que é, a sua vida está presa entre o que não sabe definir e o que não pode assumir, quer humana e etnicamente quer sexualmente) perde-se no lugar transitório em que se encontra, a geografia ambivalente e excessiva do pós-colonial. Tem mais do que uma língua, mais do que um género, mais do que uma pertença – daí a imperfeita solidão e a condição de ‘exilado’. Enquanto figura de uma transição que o ultrapassa, coloca mais problemas, perguntas e desafios do que respostas ou soluções. O pós-colonial é precisamente o espaço/tempo insuperável de questões inoportunas, da incerteza e das respostas imperfeitas.

(continua)

Referências:

o jornal Hoje Macau

Lio Chi Heng é referida como Liao Zixin, por David Brookshaw, no que parece ser uma transcrição fonética (incompleta) do nome. Segundo o mesmo autor a autora será de origem cambojana. É também D. B. a informar que a obra teve uma tradução francesa, anterior à portuguesa. A tradução portuguesa será no entanto a mais completa, baseada na versão publicada em chinês na revista Aomen Bihui 14, 1999, 76-91 (D. B., “A Escrita em Macau: uma literatura de circunstância ou as circunstâncias de uma literatura”, Macau na Escrita, Escritas de Macau, 19-30; aqui 21-22.). Mais informação sobre esta autora que foi sub-directora do Jornal Oumun, encontra-se na Revista de Macau de Maio de 2011, na rubrica “As Caras por detrás dos Livros” de Catarina Domingues e Gonçalo Lobo Pinheiro

http://www.revistamacau.com/2011/06/05/as-caras-por-detras-dos-livros/ (consultado em Janeiro de 2019).

Neste estudo é usada a versão bilingue de Lio Chi Heng publicada pelo IPOR em 2010, com tradução de Gustavo Infante e Zhang Yufeng e prefaciada por Ana Paula Paiva Dias e Rui de Sousa Rocha, director do IPOR em 2010.

A novela foi também adaptada ao cinema.

Senna Fernandes e Deolinda da Conceição …

“As Caras por detrás dos Nomes”.

http://www.revistamacau.com/2011/06/05/as-caras-por-detras-dos-livros/
(consultado em Janeiro de 2019).

Esta caracterização do macaense remonta ao estudo sobre a etnicidade da população de Macau por J. Pina Cabral e N. Lourenço: Em Terra de Tufões… (1993): 24.

Macau | Descodificar um milagre económico e social

O sucesso da cidade está ligado à proximidade do continente e a uma forte integração económica

Por WILLIAM XU, China Daily

Foram necessários apenas 25 anos para Macau colocar o seu nome ao lado das cidades mais bem sucedidas do mundo. A Região Administrativa Especial de Macau, com uma área de 33,3 quilómetros quadrados, um pouco mais pequena do que o Aeroporto Internacional de Pequim, está orgulhosamente no topo do ranking mundial do produto interno bruto per capita, da esperança de vida dos seus residentes e da extensão do seu sistema de segurança social.

Desde então, Macau tornou-se um destino turístico de classe mundial, com hotéis boutique, monumentos atractivos e uma grande variedade de gastronomia que apela a quase todos os gostos. Através da sua história e património, a cidade é o ponto de encontro entre o Oriente e o Ocidente, o que lançou as bases para o papel de Macau como plataforma de intercâmbio entre as culturas chinesa e ocidental.

Num quarto de século, Macau transformou-se de um humilde porto num centro cultural e de lazer. Esta evolução é um testemunho do espírito diligente dos residentes de Macau e constitui um apoio convincente ao princípio “um país, dois sistemas”, que integra Macau no projeto de desenvolvimento da nação e garante um elevado grau de autonomia no seu território.

Mais perto, mais forte

A chave do sucesso de Macau começa com os seus laços estreitos com a China continental. Todos os dias, cerca de 320.000 passageiros entram ou saem da cidade através da Porta da Fronteira – uma passagem terrestre que liga Macau à cidade vizinha, Zhuhai, na província de Guangdong.

Nos primeiros tempos do regresso de Macau, o posto de controlo era muito menos movimentado. Em 2003, o governo central introduziu o Programa de Visita Individual, que permitia aos residentes de determinadas cidades do continente visitarem Macau sem se juntarem a grupos turísticos. Esta política, associada à decisão da RAEM de abrir a sua indústria do jogo um ano antes, alterou o panorama económico da cidade.

Entre 2003 e 2019, as chegadas anuais de turistas a Macau aumentaram de 11,9 milhões para 39,4 milhões. A percentagem de visitantes do continente em relação ao número total de turistas aumentou de 48,3 por cento para 70,9 por cento. O afluxo constante de turistas ajudou a criar uma indústria turística lucrativa, trazendo riqueza para restaurantes, lojas de retalho, farmácias, hotéis e casinos.

Pressentindo uma oportunidade de negócio de ouro, Chan Kam-tat, na altura com 27 anos, e a sua mulher, abriram uma farmácia em 2011. Hoje, a Healthy Life transformou-se numa cadeia de seis pontos de venda a retalho e dois centros de distribuição. “Os primeiros tempos coincidiram com uma vaga de turistas do continente, pelo que o nosso negócio prosperou”, diz Chan. Ele também atribui à implementação da política de dois filhos em janeiro de 2016 o aumento das vendas de leite em pó nas suas farmácias. “O curso do crescimento do nosso negócio está intimamente ligado à pátria”, disse Chan.

Para além do impulso dado pelo turismo, em outubro de 2003, a assinatura do Acordo de Parceria Económica Reforçada entre o Interior da China e Macau (CEPA) concedeu aos comerciantes de Macau um acesso preferencial ao vasto mercado do Interior da China e também facilitou o investimento transfronteiriço.

Desde então, foram ratificados 10 suplementos e múltiplos acordos para reforçar o CEPA, aprofundando ainda mais a cooperação no domínio do comércio de bens e serviços e do investimento. Até setembro de 2023, o acordo tinha poupado mais de 90 milhões de patacas (11,3 milhões de dólares) em direitos aduaneiros para as empresas de Macau.

O acordo facilita o acesso ao mercado, o investimento e o intercâmbio cultural entre Macau e o Interior da China e reforça a atração da cidade como centro internacional de negócios, disse Francisco Leandro, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau. “A estratégia também sublinha a importância de Macau para as iniciativas económicas mais amplas do país”, acrescentou Francisco Leandro.

Transformação

A apenas 10 minutos de carro das Portas do Cerco, encontra-se a colorida baixa da cidade, onde as linhas entre o charme mediterrânico e a cultura Lingnan da região se confundem. Centrada em torno da Avenida de Almeida Ribeiro, de 620 metros, ou “avenida nova”, os mercados e templos chineses, bem como as igrejas e edifícios residenciais de estilo europeu do sul, pontilham as ruas e colinas. Esta zona foi durante séculos o coração comercial de Macau.

Adornada com calçadas pretas e brancas de estilo português e com edifícios residenciais e religiosos de baixa altura de design latino e chinês, a baixa de Macau está na lista de desejos da maioria dos turistas. Durante o dia, os visitantes podem provar as iguarias das bancas de comida que servem os favoritos locais, como o pão com porco frito e a carne seca.

A próspera zona cultural e comercial, com 22 edifícios emblemáticos, foi inscrita como Património Mundial da UNESCO em 2005 e é conhecida como o “Centro Histórico de Macau”. Wu Zhiliang, presidente do conselho de administração da Fundação Macau, disse que a inscrição era a afirmação pela comunidade internacional das contribuições da cidade para o diálogo entre as culturas oriental e ocidental.

A fundação de Wu – um organismo semi-oficial destinado a promover vários sectores da cidade – associou-se ao governo da RAEM para levar a cabo projectos educativos e de investigação no centro histórico. No extremo sul da baixa da cidade, situa-se o Templo A-Ma, um local sagrado dedicado à deusa do mar Mazu. Segundo a tradição local, acredita-se que o templo é a raiz etimológica do nome da cidade – Macau.

Em 2023, foi inaugurada uma estação de metro ligeiro perto do templo, oferecendo serviços de trânsito que ligam a Península de Macau à Ilha da Taipa. Numa viagem de comboio de 13 minutos a partir da estação adjacente ao Templo de A-Ma, os passageiros podem ver hotéis opulentos e réplicas da Torre Eiffel e do Big Ben. Este é o novo coração da indústria de lazer de Macau – Cotai.

Há vinte e cinco anos, a extensão de 6,1 quilómetros quadrados de terra recuperada estava vazia e aguardava aprovação de planeamento. Com os benefícios resultantes do programa de visitas individuais e da flexibilização das regras de funcionamento dos casinos, o Cotai transformou-se num conjunto de hotéis internacionais, centros comerciais, casinos, salas de espectáculos e instalações desportivas, proporcionando aos turistas novas e excitantes experiências.

O Cotai é o lar de outro pilar da economia de Macau, a indústria do jogo. Antes da pandemia da COVID-19, as receitas do jogo representavam mais de 60% do PIB de Macau no seu auge e os operadores de casinos pagavam mais de 100 mil milhões de patacas em impostos todos os anos.

O florescimento das indústrias do turismo e do jogo trouxe uma riqueza inimaginável a Macau e aos seus 700 000 habitantes. Esta riqueza permitiu ao governo da RAEM construir um sistema de proteção social abrangente, invejado por muitas outras cidades.

Macau oferece serviços médicos gratuitos a todos os residentes com 65 anos ou mais. A cidade inaugurou um programa de educação gratuita de 15 anos no ano lectivo de 2007-2008, que abrange desde o jardim de infância até ao fim do ensino secundário, e subsidia as pessoas que prosseguem os estudos.

Em 2008, foi iniciado o programa de comparticipação na riqueza, que consiste na distribuição de dinheiro a todos os residentes titulares de bilhetes de identidade permanentes ou não permanentes da RAEM. Em 2024, cada residente permanente recebeu 10 000 patacas, enquanto os residentes não permanentes receberam 6 000 patacas.

Durante mais de duas décadas, Macau manteve uma taxa de desemprego global inferior a 2% e o rendimento médio mensal passou de 4.920 patacas em 1999 para 17.500 patacas em 2023.

Economia em evolução

No entanto, a riqueza substancial não cegou Macau para as potenciais armadilhas da dependência da indústria do jogo. Nos últimos anos, a cidade adoptou diferentes abordagens para diversificar a sua economia de uma forma saudável e sustentável.

Em 2023, o sector não relacionado com o jogo contribuiu com mais de 60% do PIB da cidade, ultrapassando as proporções de há 20 anos. Os principais motores deste aumento foram os sectores imobiliário e dos serviços às empresas, bem como o sector bancário e dos seguros.

Os empresários são pioneiros em modelos de negócio inovadores para se adaptarem à evolução da paisagem económica. Chan, o proprietário da cadeia de farmácias, reconheceu a crescente utilização das compras digitais por parte dos clientes do continente. Isto levou-o a aprender comércio electrónico com os seus pares do continente e a renovar os serviços que oferece.

Em 2023, o governo da RAEM publicou um plano para a diversificação económica, que traçava roteiros para impulsionar quatro sectores emergentes: a grande saúde, os serviços financeiros, a alta tecnologia, bem como as indústrias de convenções, exposições, comércio, cultura e desporto.

Sam Hou-fai, o novo chefe do executivo da cidade, fez da exploração de reformas inovadoras na estrutura económica da cidade uma pedra angular da sua agenda. Outros objectivos incluem a melhoria dos meios de subsistência da população, a integração no desenvolvimento nacional e o reforço da colaboração com os países de língua portuguesa.

Entretanto, Macau intensificou os seus laços económicos e sociais com outras cidades da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, o que foi marcado pela inauguração da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau em 2018. Hengqin, uma zona de desenvolvimento sob a jurisdição de Zhuhai, localizada a apenas 4 quilómetros do distrito de Cotai, é uma nova chave para as ambições de transformação de Macau.

Em 2021, o governo central publicou um plano abrangente para promover o desenvolvimento da Zona de Cooperação em Profundidade Guangdong-Macau em Hengqin, considerando a área de 106 quilómetros quadrados – três vezes o tamanho do território de Macau – uma base indispensável para a segunda transformação da RAEM de um centro de lazer para uma economia moderadamente diversificada.

Incentivar as indústrias

A zona, administrada conjuntamente pelas autoridades de Zhuhai e de Macau, dispõe de recursos fundiários e de políticas favoráveis para fomentar as principais indústrias emergentes, essenciais para a estratégia de diversificação económica de Macau. Estes sectores incluem a indústria transformadora de alta qualidade, a medicina tradicional chinesa e os serviços financeiros modernos.

Em junho, a zona contava com mais de 17.000 empresas activas em sectores emergentes, um aumento de 20,1 por cento em comparação com o final de 2021, tendo estas empresas contribuído com 47,1 por cento para o PIB da zona.

O Novo Bairro de Macau, uma comunidade de 190.000 metros quadrados que integra edifícios residenciais, escolas, instituições de saúde e centros de cuidados a idosos, foi construído na zona de cooperação para proporcionar espaços e serviços de qualidade aos residentes de Macau. Ao incorporar instalações e serviços padrão de Macau, o projeto cria uma transição perfeita para os residentes de Macau que se mudam para Hengqin, disse Duarte Alves, presidente da assembleia geral da Associação da Juventude Macaense.

“O projecto, juntamente com os incentivos fiscais únicos de Hengqin e os procedimentos simplificados para negócios transfronteiriços, atrairá talentos e investimentos, criando comunidades vibrantes que apoiam os esforços de diversificação de Macau”, disse Alves.

O desenvolvimento da zona de cooperação também beneficia o sólido sector do turismo de Macau. Desde 6 de maio, os viajantes do continente que se juntam a grupos turísticos podem fazer várias entradas entre a zona de cooperação e Macau durante um período de sete dias.

Morlin Teng Fong, presidente da Associação de Cultura e Turismo da Área da Grande Baía de Macau, disse que cerca de 1.000 guias turísticos de Macau obtiveram autorizações de trabalho em Hengqin nos últimos anos, o que lhes permite atender mais eficazmente os turistas do continente. Teng disse que o sector do turismo de Macau vai intensificar a formação para aprofundar o conhecimento de toda a indústria sobre as oportunidades de Hengqin no futuro.

Com os avanços dos últimos 25 anos firmemente estabelecidos, Macau olha para o próximo quarto de século com optimismo. Estão já em curso planos ambiciosos para aperfeiçoar a sua estrutura económica e solidificar as suas atracções turísticas e culturais, de modo a garantir a prosperidade e a estabilidade das gerações vindouras.

Assinado contrato de 5,7 milhões para explorar Pousada de Coloane

O Governo assinou um novo contrato de concessão e exploração da Pousada de Coloane com a empresa FAL – Turismo e Hotelaria, no valor de 5,7 milhões de patacas. O acordo entrou em vigor na segunda-feira e prolonga-se até 15 de Dezembro de 2029, de acordo com a informação publicada no Boletim Oficial.

A FAL – Turismo e Hotelaria, cujo objecto social é a prestação de serviços de hotelaria, tem como proprietários as empresas Kingsland Gestão Hoteleira e Ocean Villa Gestão Hoteleira, depois de ter estado durante muito tempo ligada ao empresário Fernando de Almeida Lúcio.

Actualmente, a empresa tem como administradores Leonel Alves, advogado, ex-deputado e membro do Conselho Executivo, além dos empresários da construção civil Cheong Lok e Wong Hio Lai, ambos ligados à Companhia de Desenvolvimento Predial Gold Cove.

Segundo os pagamentos previstos no contrato, durante o próximo ano, o primeiro de vigência do novo contrato, a empresa vai pagar uma renda mensal de 78,3 mil patacas para explorar o espaço, num total de 939,2 mil patacas por ano. No segundo ano, a renda aumenta para 86,1 mil patacas por mês (1 milhão de patacas por ano) e no terceiro para 94,7 mil patacas (1,1 milhão de patacas por ano). Nos últimos dois anos a renda mensal é de 104,2 mil patacas (1,250 milhões de patacas por ano) e 114.617 patacas (1.375.404 patacas por ano).

Seguro de 50 milhões

Como parte das obrigações constantes no contrato, a FAL – Turismo e Hotelaria ficou obrigada a pagar uma caução de 156,6 mil patacas no início do ano e compromete-se a ter um seguro de pelo menos 50 milhões de patacas.

A empresa compromete-se ainda a “manter, durante o período de vigência do contrato, o exercício da actividade hoteleira e assegurar a exploração de, pelo menos, na pousada, um restaurante com ementa de cozinha local de Macau ou de cozinha portuguesa”. Ao mesmo tempo, está previsto que a pousada se torne “num estabelecimento que satisfaça as exigências de um hotel boutique e que ofereça uma experiência cultural local única, baseada no estilo português”.

Jogo | Morgan Stanley revê em baixa receitas para o próximo ano

O banco de investimento está menos optimista face às expectativas de crescimento da indústria do jogo no próximo ano. Apesar da cautela, os casinos devem encaixar mais 4,8 por cento de receita em comparação com 2024

 

O banco Morgan Stanley reviu em baixa a estimativa sobre as receitas do jogo no próximo ano, indicado que em 2025 devem rondar os 238,35 mil milhões de patacas, no que é uma redução de quatro por cento, face ao valor anteriormente estimado.

De acordo com o relatório mais recente sobre a indústria com maior relevo económico em Macau, citado pelo portal GGR Asia, o montante de 238,35 mil milhões de patacas em receitas significa uma expansão de cerca de 4,8 por cento da indústria do jogo no próximo ano, face a 2024.

Até Novembro deste ano, as receitas dos casinos atingiram 208,6 mil milhões de patacas, um crescimento de 26,8 por cento face ao período entre Janeiro e Novembro de 2023, quando as receitas tinham sido de 164,5 mil milhões de patacas. O ano de 2023 começou com o levantamento das medidas de controlo da pandemia e de retoma da circulação de pessoas.

Em relação aos lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) das concessionárias, um indicador para aferir o desempenho das empresas, o banco Morgan Stanley prevê um crescimento de 5,7 por cento face ao ano actual. Porém, também em relação ao EBITDA as previsões mais recentes mostram uma redução de 7,2 por cento, face ao que era anteriormente esperado.

No relatório, Praveen Choudhary, Gareth Leung, e Stephen Grambling admitem que as previsões estão abaixo do nível do consenso entre os analistas, que explicam com um maior conservadorismo na sua análise nas margens de lucro das concessionárias.

Mais investimento

As estimativas sobre o desempenho das empresas foram explicadas com o pressuposto que as receitas brutas do jogo no segmento de massas deverão ultrapassar em 18 por cento os valores registados em 2019. No entanto, parte dessas receitas vai ser canalizada para os maiores investimentos com que as concessionárias se comprometeram.

Apesar da revisão, os analistas esperam um início de 2025 “mais forte”, entre Janeiro e Março, embora apontem que o mês actual, de Dezembro, deva ser “fraco”. Ao longo do ano de 2025, os analistas esperam que as concessionárias que mais vão crescer no mercado de massas sejam a Sands China, Galaxy e SJM. Por outro lado, MGM China, Melco e Wynn deverão ser as mais prejudicadas.

Anteriormente, no âmbito do orçamento da RAEM para 2025, Ho Iat Seng estimou que as receitas do jogo do próximo ano atinjam 240 mil milhões de patacas, o que considerou ser uma estimativa conservadora.

Economia | Retalho com quebra anual de 13% em Outubro

No mês de Outubro, os restaurantes e o comércio a retalho registaram quebras nas vendas que variaram entre 1,8 por cento e 13,3 por cento, respectivamente, em comparação com Outubro do ano passado. Os dados foram revelados ontem no “inquérito de conjuntura à restauração e ao comércio a retalho”, publicado pelos Serviços de Censos e Estatística.

Em geral as quebras da restauração foram de 1,8 por cento, porém, no caso dos restaurantes com comida chinesa a redução das receitas foi de 5,8 por cento. Nas vendas a retalho, as quebras anuais foram de 13,3 por cento, com o sector da joalharia a ter uma quebra nas vendas de 25,1 por cento, enquanto as vendas de produtos cosméticos tiveram uma diminuição das receitas de 12,3 por cento.

Na comparação entrou Outubro e Setembro, a restauração teve um crescimento do negócio de 6,8 por cento, o que foi explicado com a Semana Dourada. As vendas a retalho cresceram mensalmente 28,6 por cento no mesmo período.

Comércio | Grande Prémio do Consumo gerou gastos de 940 milhões

Criado para impulsionar o consumo do comércio local, o “Grande Prémio para o Consumo de Macau” gerou receitas de 940 milhões de patacas entre 30 de Setembro e o passado domingo. A iniciativa contou com a participação de 22 mil comerciantes

 

O “Grande Prémio para o Consumo de Macau” arrancou no dia 30 de Setembro e, até ao último domingo, gerou quase cinco vezes mais consumo do que o habitual, no total de 940 milhões de patacas com o consumo impulsionado pelos cupões fornecidos pelo Governo através de aplicações de pagamento móvel.

A informação foi revelada ontem pelo presidente da Associação Comercial de Macau, Frederico Ma, no programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau, que teve como tema os incentivos criados para impulsionar a economia local. O responsável acrescentou que cerca de 22 mil comerciantes participaram no “Grande Prémio”, e que o Governo distribuiu em cupões 190 milhões de patacas.

Por esta razão, Frederico Ma entende que o programa atingiu os objectivos previstos, tendo encorajado os residentes a permanecerem em Macau aos fins-de-semana e a fazer compras em lojas locais ou a frequentar restaurantes no território.

Questionado no Fórum Macau sobre a possibilidade de o “Grande Prémio” ser prolongado, Frederico Ma disse que é pouco provável. “Depois de terminar este programa, poderemos fazer um estudo sobre a economia de Macau no próximo ano e analisar outros modelos de incentivo ao consumo. Isto porque a tendência é maior para os estímulos à procura interna”, disse.

Menos compras na China

No mesmo programa, o presidente da Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro e Sul Distritos, Lei Cheok Kuan, defendeu que é preciso incentivar a procura interna. “Quando discuto com colegas, todos concordam que o prolongamento do Carnaval de Consumo, ou a apresentação de outra forma, iria constituir um grande apoio às pequenas e médias empresas locais, além de constituir um grande estímulo à procura interna.”

O presidente da Associação Industrial e Comercial da Zona Norte, Ma Kin Cheong, sublinhou que o “Grande Prémio” teve um impacto positivo no consumo em bairros comunitários, duplicando ou mesmo quadruplicado o volume de negócios em diferentes zonas do território.

O responsável disse que o programa cumpriu as expectativas, aliviando o impacto negativo da tendência crescente de residentes saírem de Macau aos fins-de-semana, consumindo mais nas cidades do Interior da China.
Ma Kin Cheong adiantou que durante o programa, os comerciantes criaram também promoções adicionais a fim de impulsionar as vendas.

Por sua vez, o subchefe do conselho económico da União Geral das Associações dos Moradores de Macau, Chan Meng Kei, referiu que alguns idosos não participaram no programa porque não conseguem utilizar os meios de pagamento electrónico. Assim, sugeriu uma nova ronda de cartões de consumo a pensar nesta fatia da população. A iniciativa de apoio ao comércio e restauração termina no próximo dia 29 de Dezembro.

RAEM 25 anos | Xi Jinping diz que Macau é uma “pérola na mão da pátria”

Xi Jinping chegou ontem a Macau para uma visita que termina amanhã com a tomada de posse do novo Governo. Num discurso proferido à chegada ao Aeroporto Internacional de Macau, o Presidente chinês destacou o “sucesso reconhecido internacionalmente” do princípio “Um País, Dois Sistemas” com características de Macau

 

O Presidente da República Popular da China (RPC), Xi Jinping, disse ontem que durante os primeiros 25 anos após a transferência de administração de Macau, de Portugal para a China, o princípio “Um País, Dois Sistemas” com características de Macau é um “sucesso reconhecido internacionalmente”

Xi falou à chegada ao território onde vai estar para uma visita de três dias, que incluem na agenda a tomada de posse do novo Executivo liderado por Sam Hou Fai e as cerimónias celebração dos 25 anos da implementação da RAEM.

Rodeado por centenas de estudantes com ramos de flores e bandeiras da China e de Macau, Xi Jinping defendeu que o território tem “um forte impulso” para o desenvolvimento e disse acreditar que “Macau tem um futuro risonho”.

Nas primeiras palavras proferidas à chegada, Xi estendeu, “em nome do Governo Central e do povo chinês de todos os grupos étnicos”, sinceras saudações e votos de felicidades a todos os residentes de Macau, acrescentando que o desenvolvimento de Macau e o bem-estar dos residentes sempre estiveram na sua mente.

Um lugar feliz

Perante uma audiência recheada por governantes locais e representantes das instituições políticas nacionais no território, Xi Jinping disse que cada vez que vem a Macau sente-se “contente” e apontou ao futuro da região.

“Cada visita a este belo lugar tem sido muito agradável para mim”, afirmou. O governante manifestou a convicção de que Macau irá criar um futuro ainda mais brilhante, aproveitando plenamente as vantagens institucionais de “Um País, Dois Sistemas”, trabalhando arduamente e promovendo activamente a inovação.

“Macau é uma pérola na palma da mão da pátria, presto sempre atenção ao seu desenvolvimento e ao bem-estar da população. Nestes dias vou passear, observar e comunicar bastante com os amigos de todos os sectores a fim de discutir o plano de desenvolvimento para Macau”, frisou. Segundo a Xinhua, Xi Jinping vai “inspeccionar a RAEM” nesta visita.

Reunião a pronto

Depois de chegar a Macau e de se ter dirigido à população ainda no aeroporto, Xi Jinping reuniu com Ho Iat Seng, cujo trabalho elogiou. Segundo a agência Xinhua, o presidente chinês afirmou que as autoridades centrais reconhecem plenamente o trabalho de Ho Iat Seng e do Executivo que liderou nos últimos cinco anos, acrescentando que o político local enfrentou os desafios de uma forma pragmática e produtiva durante o seu mandato como Chefe do Executivo. “Esta não é uma tarefa fácil, mas o senhor Ho alcançou grandes feitos”, afirmou.

epa11783807 Chinese President Xi Jinping meets with Ho Iat Seng, the outgoing chief executive of the Macao Special Administrative Region (SAR), in Macao, south China 18 December 2024. Xi arrived in Macao on Wednesday afternoon to attend a gathering celebrating the 25th anniversary of Macao’s return to China and the inauguration ceremony of the sixth-term government of the Macao Special Administrative Region (SAR). EPA/XINHUA / Yan Yan CHINA OUT / UK AND IRELAND OUT / MANDATORY CREDIT EDITORIAL USE ONLY

Xi Jinping afirmou que o Governo de Ho Iat Seng conseguiu unir todos os sectores da sociedade de Macau, implementar de forma abrangente, precisa e inabalável a política de “Um País, Dois Sistemas”, salvaguardar resolutamente a soberania e a segurança nacional.

Além disso, o presidente chinês realçou o trabalho de Ho Iat Seng na superação do “grave impacto e dos desafios da epidemia de covid-19”, assim como os esforços para promover a diversificação moderada da economia e deixou um recado: “Espero que apoiem activamente o novo Chefe do Executivo e a sua equipa, em conformidade com a lei, e continuem a contribuir para a causa de ‘Um País, Dois Sistemas’ e para o desenvolvimento de Macau e do país”.

Por sua vez, o Chefe do Executivo começou por dar as boas-vindas a Xi Jinping e à sua esposa, Peng Liyuan e expressou gratidão pelo apoio e confiança prestados pelo Governo Central. Ho Iat Seng enalteceu o apoio de Pequim na luta contra a pandemia e comprometeu-se no apoio ao novo Executivo, que irá tomar posse amanhã, e renovou o empenho para ajudar ao desenvolvimento de Macau e do país.

Histórico de viagens

Da última vez que esteve em Macau, em 2019, Xi Jinping presidiu às celebrações do 20º aniversário da RAEM e deu posse ao Executivo de Ho Iat Seng.

Nessa visita, o Presidente declarou que o patriotismo do território constitui a razão mais importante para o sucesso de “Um País, Dois Sistemas”, e destacou a importância da adesão das autoridades e população locais ao princípio definido por Deng Xiaoping.

Em 2014 o Presidente do país fez a sua visita inaugural à RAEM nessa qualidade, dando posse ao segundo Executivo liderado por Chui Sai On, quando se celebrou também o 15º aniversário da transição.

Há dez anos Xi Jinping deixou vários recados a Macau, alertando já nessa altura para a necessidade de diversificação económica e promoção do patriotismo, ao mesmo tempo que chamou a atenção para o perigo que as “interferências de forças externas” representavam para a estabilidade e prosperidade da região.

De modo a evitar os “conflitos profundos e riscos de desenvolvimento que se formaram ao longo dos anos”, Macau deve “promover activamente a diversificação adequada e o desenvolvimento sustentável da economia”, afirmou.

Para isso, disse na altura, seria necessário “melhorar o regulamento da indústria de jogo” com “coragem e sabedoria”, recorrendo a “um plano racional” e a “uma visão abrangente e de longo alcance”. Desde então, o sector do jogo tem sido alvo de diversas revisões no que à jurisdição diz respeito.

Em 2014, Xi Jinping defendeu ainda que o Governo de Macau deveria ser “diligente, honesto, eficiente e justo”, e actuar “segundo as leis, a fim de garantir que o desenvolvimento da Região Administrativa Especial de Macau permanece na trajectória jurídica”.

Da ilha para a península

O Presidente chinês viajou para Macau vindo da ilha de Hainão, onde, na terça-feira, se encontrou com dirigentes locais, de acordo com a agência de notícias oficial chinesa Xinhua. No âmbito desta visita, Xi Jinping exortou Hainão a fazer do Porto de Comércio Livre da região “uma importante porta de entrada para a abertura da China na Nova Era, esforçando-se por escrever o seu próprio capítulo na modernização chinesa”.

 

As reacções à visita

Banco da China | Presidente da sucursal destaca sector financeiro

Por ocasião da chegada de Xi Jinping, a Macau, Jia Tianbing, presidente da sucursal do Banco da China em Macau, disse que o desenvolvimento do sector financeiro será um novo ponto de partida para a estabilidade e prosperidade de Macau, juntamente com outros sectores sociais. A visita do Presidente chinês representa, nas suas palavras, um apoio para que Macau explore a diversificação económica e possa liderar nos avanços do desenvolvimento de uma indústria financeira moderna. O também presidente da Associação de Bancos de Macau garante apoiar o modo de governar do novo Executivo e nunca esquecer das instruções de Xi Jinping. Jia Tianbing disse ainda querer contribuir para um maior impulso na integração de Macau no desenvolvimento nacional e consolidar o papel de Macau na conexão com o conceito de “Um País, Dois Sistemas”.

Arnaldo Ho | Uma visita boa para os jovens

Arnaldo Ho, filho de Angela Leong e do falecido magnata Stanley Ho, declarou que a visita de Xi Jinping contribui para o surgimento de uma nova dinâmica para que os jovens locais se integrem mais nas políticas nacionais. Arnaldo Ho, que presidente à Associação das Elites da Juventude (The Youth Elites Association), disse também esperar que o novo Governo liderado por Sam Hou Fai, que toma posse amanhã, continue a liderar o processo de maior integração de Macau no projecto da Grande Baía, consolidando o lugar dos jovens de elite de Macau e apoiando a formação de mais líderes que têm amor a Macau e à pátria.

UM | Reitor diz que visita de Xi encoraja alunos
O reitor da Universidade de Macau (UM), Song Yonghua, disse que a visita de Xi Jinping a Macau revela uma grande atenção do Governo Central em relação a Macau, além de encorajar alunos e docentes da UM. Song Yonghua disse que a UM vai sempre procurar inovar em prol da excelência do ensino, a fim de formar mais quadros qualificados e construir uma plataforma de inovação tecnológica para a Grande Baía. O reitor disse também que Macau pode dar contributos para que a China seja um país com um papel preponderante na área da educação e tecnologia.

MUST | Pelo desenvolvimento do ensino superior

Joseph Lee, reitor da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa), declarou que a visita de Xi Jinping traz mais confiança e coragem para o desenvolvimento de Macau no futuro. O responsável declarou que, com base nas instruções de Pequim, o ensino superior desenvolveu-se bastante nos últimos anos, sendo que o Governo melhorou o quadro legislativo nesta área. Desta forma, segundo Joseph Lee, houve avanços na formação de talentos, maior inovação tecnológica, transmissão cultural e serviços sociais. O reitor adiantou também que estas práticas beneficiam a integração de Macau no desenvolvimento nacional, tendo em conta o conceito de “Um País, Dois Sistemas”.

Óscares | “Percebes” finalista, “Grand Tour” de Miguel Gomes de fora

O filme de animação “Percebes”, de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires, está entre os finalistas a uma nomeação para os Óscares 2025, enquanto “Grand Tour”, de Miguel Gomes, ficou de fora, revelou ontem a Academia de Cinema dos Estados Unidos.

A academia divulgou a lista de finalistas no processo de selecção dos nomeados para os Óscares, em dez categorias distintas, e entre eles figura o filme de animação “Percebes”, das realizadoras portuguesas Laura Gonçalves e Alexandra Ramires.

Premiado em Junho passado no Festival de Cinema de Annecy, “Percebes” entra, assim, na corrida aos Óscares para Melhor Curta-Metragem de Animação, na mesma categoria para a qual esteve nomeado o filme “Ice Merchants”, de João Gonzalez, em 2023.

De fora do processo de candidatura aos Óscares fica “Grand Tour”, de Miguel Gomes, que tinha sido proposto pela Academia Portuguesa de Cinema na categoria de Melhor Filme Internacional. Na disputa de uma nomeação nesta categoria de Melhor Filme Internacional segue, entre outros, “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, indicado pelo Brasil.

“Percebes” é um documentário, animado em aguarela e digital, sobre o ciclo de vida deste crustáceo no contexto da apanha no Algarve, com as duas realizadoras a abordarem ainda questões sobre a relação dos habitantes locais com o mar, sobre turismo e sobre o desordenamento da costa portuguesa.

Produzido pela cooperativa BAP Animation, com coprodução francesa, o filme venceu o Prémio Cristal de Melhor Curta-Metragem do Festival de Annecy, em França e, de acordo com a Agência da Curta-Metragem, soma mais de uma dezena de outras distinções e 91 selecções em festivais.

A realizadora Laura Gonçalves chegou a fazer parte da lista de finalistas aos Óscares de 2023 com o filme de animação “O homem do lixo”, mas não chegou às nomeações. A 97.ª edição dos Óscares está marcada para 2 de Março, em Los Angeles, sendo os nomeados revelados a 17 de Janeiro.

Fundação Jorge Álvares gastou cinco milhões de euros em 20 anos de actividades

Fundada a 14 de Dezembro de 1999, a Fundação Jorge Álvares (FJA) é fruto da transição e da vontade de “suscitar e promover a cooperação entre Portugal e a RAEM, mantendo vivos os laços multisseculares entre Portugal e a República Popular da China, de que Macau foi a manifestação mais significativa”, lê-se na apresentação oficial da fundação.

Apesar do 25º aniversário celebrado este ano, a FJA preparou um catálogo que assinala os 20 anos de existência, celebrados em 2019, e que será lançado no próximo ano. Nessas páginas desfilam as principais actividades da entidade que esteve envolta em alguma polémica devido ao financiamento, mas que, segundo a presidente da fundação, Celeste Hagatong, há muito que está ultrapassada.
Há 25 anos, o capital inicial necessário foi assegurado “pelo empresário Stanley Ho e, no contexto dos seus fins estatutários, pela Fundação para a Cooperação e Desenvolvimento de Macau”, mais tarde transformada na Fundação Macau.

Houve, assim, segundo se pode ler no catálogo, “a necessidade de criar um fundo ou uma instituição – que acabou por assumir a forma de fundação – com vista a estabelecer uma base sólida de sustentação para assegurar que o CCCM pudesse, no futuro, desenvolver com maior autonomia e meios o seu objectivo principal”.

Celeste Hagatong nunca viveu em Macau, apesar de ser macaense, estando profundamente ligada ao território. Destaca, dos 25 anos da FJA, os “períodos muito difíceis do ponto de vista financeiro, que se reflectiram muito nos rendimentos”.

“Tivemos algumas limitações, porque foi sempre o propósito da FJA geri-la com grande espírito de rigor e conservadorismo. É uma fundação que tem um fundo não reforçável ao longo do tempo, para que o património não seja delapidado”, destacou, referindo que, actualmente, todo o património da FJA está orçamentado em cerca de 20 milhões de euros, incluindo uma moradia em Mafra deixada em herança pelo compositor e pianista Filipe de Sousa.

Só em patrocínios, bolsas de estudo e despesas com actividades, a FJA gastou nos últimos 20 anos cerca de cinco milhões de euros. “Penso que não é uma verba pequena”, rematou.

Múltiplos destinos

A presidente da Fundação Jorge Álvares considera que Portugal devia “agarrar” a oportunidade que Macau oferece de acesso a uma região com 75 milhões de habitantes, como é a Grande Baía, ávida de “novas tecnologias, ciência e universidades”. “A possibilidade de acesso a 75 milhões de habitantes, que é mais ou menos a população da Grande Baía, é um potencial enorme”, sublinhou Celeste Hagatong em declarações à Lusa.

“Macau quer fazer mais coisas do que manter-se como o quarteirão do jogo na região – e nota-se que há hoje um grande interesse pelas novas tecnologias, pelos parques de ciência, pelas universidades – e é uma coisa que devíamos agarrar, entrarmos na China com conhecimento, ciência, voltar a ser esse o nosso passo”, afirmou a gestora. “E isso já está a acontecer, sei que o Instituto Superior Técnico e outras universidades no âmbito das tecnologias estão a desenvolver parcerias”, sublinhou.

Não obstante, reconheceu também, hoje “é mais fácil as pessoas irem para a Europa, onde conhecem os regimes, conhecem tudo melhor, e não vão para Macau”. Macau perdeu muita gente qualificada por altura da transição, segundo Hagatong, “não por razões da transição, propriamente dita, mas porque as pessoas com escolaridade acharam que tinham outras oportunidades noutros lados do mundo”.

“Saíram muitos macaenses naquela altura, o que foi pena. Os filhos já não ficaram lá, muitos tinham já feito cursos superiores em universidades fora de Macau, na Austrália ou em universidades norte-americanas ou do Canadá. Portanto, saíram para outros países e foi uma debandada muito grande”, descreveu.
Em contrapartida, “também chegaram novos portugueses a Macau”, onde “tem havido uma renovação, sobretudo na área do direito”. Com Lusa

Macau 25 anos | Intérprete de Deng Xiaoping realça Macau como exemplo

“Eu diria que, para o Governo Central e para as 1,4 mil milhões de pessoas no continente chinês, Macau tem sido um exemplo de grande sucesso da fórmula ‘Um País, Dois Sistemas'”, disse à agência Lusa Gao Zhikai, que serviu como intérprete do antigo líder chinês Deng Xiaoping e é actualmente um dos mais conhecidos comentadores da televisão chinesa.

Aquela fórmula, que permitiu definir para Macau e Hong Kong um elevado grau de autonomia a nível executivo, legislativo e judiciário, foi originalmente proposta por Deng, no final dos anos 1970, como solução para reunificar Taiwan.

Em Macau, a “melhoria dos índices”, desde a transferência da administração de Portugal para a China, “falam por si”, destacou Gao. “Macau alcançou estabilidade, crescimento, paz e rápido desenvolvimento económico”, disse.

A imprensa estatal chinesa enfatizou igualmente o desenvolvimento da região nos últimos 25 anos.
Num artigo intitulado “A prosperidade de Macau dissipa as dúvidas sobre [o modelo] ‘Um País, Dois Sistemas’” a agência noticiosa oficial Xinhua escreveu que “outrora conhecida como a ‘cidade dos casinos’ e cenário frequente de filmes de ‘gangsters’, [Macau] transformou-se numa cidade dinâmica, celebrada pela sua vitalidade económica, baixas taxas de criminalidade e excepcional bem-estar público”.

Da passagem da administração portuguesa ficou, entre outros, os edifícios coloniais, a calçada portuguesa, os azulejos, mas também património imaterial como a língua portuguesa, que continua a ser oficial nos serviços públicos e o Direito, que é de matriz portuguesa.

Gao Zhikai disse que a China vê como “positiva” a manutenção dessa herança, e estabelece um contraste com a política da Índia para a região de Goa, “onde a influência portuguesa foi eliminada após a integração”. “A China e o seu povo não têm qualquer problema em manter a herança portuguesa em Macau”, sublinhou.

Académica fala da criação de uma “identidade única” em Macau

Uma académica disse que apesar de se observar uma “crescente valorização” da língua e cultura portuguesas em Macau, esta serve mais a “criação de uma identidade única” para o território do que reflecte o “significado do legado luso-macaense”.

“Tem-se assistido a uma crescente valorização da cultura e da língua portuguesa em Macau, mas não necessariamente no sentido de um resgate histórico contextualizado”, disse à Lusa a professora do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa da Universidade Politécnica de Macau (UPM), Vanessa Amaro.

A académica, que se tem dedicado ao estudo da comunidade portuguesa em Macau desde 2012, notou que esta valorização “parece estar mais relacionada com a criação de uma identidade única” para o território, “construída sobre símbolos reconhecíveis da cultura portuguesa”.

Símbolos como o pastel de nata, o galo de Barcelos, a calçada portuguesa ou os arraiais “foram apropriados como ícones culturais” e embora de origem portuguesa, servem agora de “ferramentas de ‘branding’ turístico”.

Esta “apropriação cultural” tem sido recebida de diferentes formas pela comunidade portuguesa local, explica. Alguns residentes observam a prática como “uma forma de preservação e celebração da herança luso-macaense”, que distingue Macau do resto do país e reforça o papel do território como ponte entre a China e os países lusófonos.

Um “parque temático”

Há também quem sinta que esta valorização cultural “corre o risco de transformar Macau num ‘parque temático’, onde a cultura é apresentada de forma superficial, mais como um produto turístico do que como uma vivência autêntica e historicamente enraizada”.

Este sentimento, continua a investigadora, é acentuado pelo “uso estratégico” destes símbolos, seja em campanhas publicitárias ou eventos que se destinam ao turismo e que muitas vezes “ignoram o contexto histórico e sociocultural mais profundo”.

“O resultado é uma narrativa cultural simplificada, que privilegia a estética e o exotismo ao invés de reflectir as complexidades e o verdadeiro significado do legado luso-macaense”, acrescenta. A abordagem, apesar de eficaz no turismo, pode “levar a uma desconexão com as vivências reais da comunidade local e com a história que moldou a identidade única de Macau”, remata.

Vanessa Amaro, com tese de doutoramento sobre as dinâmicas da comunidade no período pré e pós-transição, concentra actualmente a investigação na forma como os símbolos culturais portugueses estão a ser apropriados e reinterpretados no contexto pós-colonial de Macau, explorando o papel destes na construção de uma identidade local e na promoção do ‘branding’ turístico da cidade.

RAEM, 25 anos | Livro com testemunhos sobre transição lançado hoje

Depois de um primeiro lançamento em Lisboa, “Macau entre Portugal e a China: 25 testemunhos” será lançado hoje na Livraria Portuguesa a partir das 18h30. O livro editado pela Âncora Editora reúne testemunhos de personalidades como Rocha Vieira, ou o jornalista António Caeiro

 

A Livraria Portuguesa acolhe hoje o lançamento, a partir das 18h30, do livro “Macau entre Portugal e a China: 25 testemunhos”, com coordenação de Maria do Carmo Figueiredo, antiga jornalista da Teledifusão de Macau (TDM). Segundo a apresentação da Âncora Editora, a obra é um “dicionário de pessoas e factos com 25 testemunhos inéditos”. Na sessão de hoje estarão presentes alguns dos autores de testemunhos, nomeadamente Gilberto Lopes, jornalista; Carlos Cid Álvares, CEO do Banco Nacional Ultramarino; Rui Martins, vice-reitor da Universidade de Macau; e ainda Jorge Silva, jornalista da TDM.

Pretende-se, assim, dar-se a conhecer “o encontro entre o Ocidente e o Oriente, as conversações e as negociações para a transferência de poderes, a gestão de Macau após o 25 de Abril e no período de transição, o impacto na educação, na cultura, na vida económica, financeira e social, na comunicação social em língua portuguesa, na ponte com Portugal-China-Países de língua oficial portuguesa, na preservação do legado luso em Macau, quando se aproxima a celebração dos 450 anos da Diocese em Macau, em 2026”.

Destaque para os testemunhos de algumas figuras-chave do processo de transição de Macau, nomeadamente dos antigos Presidentes da República portuguesa António Ramalho Eanes e Aníbal Cavaco Silva.

A obra foi lançada no passado dia 10 de Dezembro, em Lisboa, tendo contado com apresentação de António Vitorino, figura histórica do Partido Socialista e antigo secretário-adjunto de Macau. Foi também uma figura ligada ao processo de transição.

António Vitorino destacou, nessa sessão, que “não é possível congelar a história”, pelo que olha para o livro em questão com “nostalgia da Macau e da China que conheci”. Há 25 anos, “as tarefas que estavam à frente da Administração de Macau e de Portugal pareciam-me ciclópicas”, salientou, lembrando “uma história de sucesso com vicissitudes de ambos os lados”.

A visão da China

Um dos testemunhos do livro é de António Caeiro, jornalista que chegou a Pequim em 1991 para trabalhar na delegação da agência Lusa, e que por lá ficou muitos anos. Na obra é referida a visão da República Popular da China face a Macau, que na história ensinada no país é descrito desta forma: “Ao Men é o primeiro de muitos territórios chineses ocupados ilegalmente pelos colonialistas ocidentais”.

No testemunho cedido ao HM por António Caeiro, lê-se ainda que, segundo o manual do ensino secundário na China, em 1553 “os portugueses usurparam o direito de residência em Macau” e quatro anos depois “começaram a sua longa ocupação” do território.

“Através do suborno de funcionários locais – diz o compêndio de Bai Shouyi – os portugueses ocuparam parte de Macau alegando que tinham obtido um contrato de aluguer”, descreve Caeiro. Naquilo que descreve como “noite inesquecível”, o jornalista destaca que “nunca se falou tanto de Macau na China continental como nos dias que antecederam a transferência de poderes”.

“Além de reportagens e documentários, a Televisão Central da China (CCTV) exibiu uma telenovela de 27 episódios intitulada ‘A História de Macau’, sobre a vida de uma ‘patriótica família chinesa’ do território. Os personagens portugueses da ficção pareciam simples figurantes, mais ou menos de passagem”, recorda.

Coreia do Sul | Chefe das forças armadas detido devido a rebelião

As autoridades sul-coreanas detiveram ontem o chefe das forças armadas, general Park An-su, acusado de rebelião e abuso de poder na sequência da declaração de lei marcial em 3 de Dezembro.

Park é o quinto alto funcionário a ser detido desde a polémica medida decretada pelo Presidente Yoon Suk-yeol, revogada após algumas horas, que justificou com uma alegada aproximação da oposição a posições “semelhantes às da Coreia do Norte”. Já tinham sido detidos o ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, o chefe dos serviços secretos, Yeo In-Hyung, o chefe do Comando de Guerra Especial, Kwak Jong-keun, e o chefe do Comando de Defesa da Capital, Lee Jin-woo.

O parlamento votou no sábado a destituição do Presidente, que foi ontem intimado pelo gabinete do procurador-geral para depor no âmbito da investigação de rebelião de que é alvo, mas o seu gabinete rejeitou a carta. Trata-se da segunda convocatória enviada a Yoon, de acordo com os meios de comunicação social sul-coreanos citados pela agência espanhola Europa Press. O procurador marcou o testemunho de Yoon para as 10h locais de hoje.

Já no domingo, o Presidente evitou depor, alegando que ainda não dispunha de uma equipa jurídica adequada. “O Presidente não vê as acusações de rebelião como uma questão jurídica, mas como uma questão política”, afirmaram os seus advogados sobre o processo de destituição.

O processo está agora nas mãos do Tribunal Constitucional, que terá agora de se pronunciar sobre a questão.

Os advogados de Yoon disseram que vão contestar em tribunal as acusações de rebelião contra o Presidente. Um dos advogados, Seok Dong-hyeon, considerou que a tentativa de imposição da lei marcial “não se qualifica como rebelião”.

Japão | Governo quer renováveis como principais fontes de energia até 2040

O Japão quer fazer das energias renováveis a principal fonte de energia até 2040, para alcançar a neutralidade carbónica em meados do século XXI, de acordo com um plano divulgado ontem pelo Governo japonês

 

Treze anos depois da catástrofe de Fukushima, a energia nuclear vai também desempenhar um papel importante para satisfazer a procura crescente de energia ligada à inteligência artificial (IA) e à produção de semicondutores.

O arquipélago japonês já estabeleceu o objectivo de atingir a neutralidade carbónica até 2050. Esta versão preliminar do novo plano estratégico energético do país prevê que as energias renováveis, como a solar e a eólica, venham a fornecer 40 a 50 por cento da produção de electricidade até 2040. Isto representa um aumento significativo em relação ao nível do ano passado de 23 por cento e ao objectivo anteriormente publicado de 38 por cento até 2030.

Pobre em recursos naturais, o Japão vai “esforçar-se em maximizar a utilização das energias renováveis como principal fonte de energia”, referiu o projecto de plano, que será examinado por peritos antes de ser apresentado ao Governo para aprovação.

Mas o país tem também como objectivo um cabaz energético que não dependa fortemente de uma única fonte, “com vista a assegurar um abastecimento energético estável e a descarbonização”, acrescentou. Em 2023, quase 70 por cento das necessidades de electricidade do país eram cobertas por centrais térmicas.

Até 2040, o Governo pretende agora que esta percentagem desça para 30 ou 40 por cento. O objectivo anteriormente anunciado para 2030 era de 41 por cento, ou 42 por cento, se for incluído hidrogénio e amoníaco.

Um quinto nuclear

Tóquio prevê um aumento de 10 a 20 por cento da produção de electricidade do país até 2040, em relação a 2023.
O plano publicado pela Agência de Recursos Naturais e Energia do Japão já não inclui a intenção do país de reduzir a dependência da energia nuclear “tanto quanto possível”, objectivo estabelecido na sequência do desastre nuclear de Fukushima em 2011.

O Governo encerrou todas as centrais nucleares do arquipélago depois desta tripla catástrofe: sismo, tsunami e acidente nuclear.

Mas, apesar dos protestos de algumas regiões, as centrais têm sido gradualmente recolocadas em funcionamento, no âmbito da política de redução das emissões. O país planeia ter todos os reatores existentes em funcionamento até 2040, com a possibilidade de acrescentar novos reatores.

De acordo com os objectivos fixados para 2040, a energia atómica representa cerca de 20 por cento das necessidades energéticas do Japão, aproximadamente o mesmo nível que o actual objectivo para 2030. Mas menos do que os níveis anteriores a 2011 de cerca de 30 por cento. Este valor seria mais do dobro dos 8,5 por cento da produção total de electricidade que a energia nuclear forneceu em 2023.

O país, como muitos outros em todo o mundo, registou este ano temperaturas recorde no Verão. As preocupações geopolíticas que afetam o abastecimento de energia, desde a guerra na Ucrânia até à situação no Médio Oriente, são outra razão para a mudança para as energias renováveis e a energia nuclear, de acordo com o projecto.

Timor-Leste | Vice-MNE em visita para reforço da relação bilateral

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Sun Weidong, afirmou que a visita a Timor-Leste visa reforçar a cooperação, depois de no ano passado os dois países terem fortalecido a parceria estratégica.

“A minha visita aqui é para fazer avançar a implementação dos consensos acordados pelos nossos líderes, promover a nossa cooperação e para uma reunião de concertação com a minha homóloga, com quem tive uma discussão bastante produtiva”, afirmou Sun Weidong.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, que iniciou domingo uma visita de 24 horas a Timor-Leste, falava aos jornalistas depois de um encontro com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão. “O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da China veio para falar sobre a cooperação com Timor-Leste. Não discutimos questões detalhadas, mas partilhámos ideias e reafirmámos a vontade de [a China] continuar a apoiar o desenvolvimento de Timor-Leste”, afirmou Xanana Gusmão.

No âmbito da visita, Sun Weidong reuniu-se no domingo com a vice-ministra para os Assuntos da Associação das Nações do Sudeste Asiático, Milena Rangel, tendo também reunido ontem, antes do final da visita, com a presidente do Parlamento, Fernanda Lay.

A China e Timor-Leste elevaram em Setembro de 2023 as relações bilaterais para uma “parceria estratégica abrangente”, o segundo nível mais alto no protocolo da diplomacia chinesa, em linha com a iniciativa “Faixa e Rota”.

O acordo foi assinado, no ano passado, entre o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, e o Presidente chinês, Xi Jinping, à margem da cerimónia de abertura dos Jogos Asiáticos, evento que se realiza a cada quatro anos.

O documento destaca quatro prioritárias, nomeadamente indústria, infra-estruturas, agricultura e melhoria de vida dos cidadãos timorenses.