Mongólia Interior | Antigo dirigente condenado a pena de morte por corrupção

Um tribunal da região da Mongólia Interior, no norte da China, manteve ontem a condenação à pena de morte de Li Jianping, antigo funcionário público condenado por corrupção, desvio de fundos públicos e conivência com organizações criminosas.

A decisão seguiu-se a uma revisão e aprovação da sentença pelo Supremo Tribunal Popular da China, disse o mais alto órgão judicial do país, na conta oficial na rede social chinesa Wechat.

Li, antigo secretário do Comité do Partido Comunista na Zona de Desenvolvimento Económico e Tecnológico da capital regional Hohhot, foi condenado em primeira instância em Setembro de 2022 pelo Tribunal Intermédio de Xingan, que lhe impôs a pena de morte, a privação dos direitos políticos para toda a vida e a confiscação total dos bens pessoais.

Depois de o arguido ter recorrido da sentença, o Tribunal Superior da Mongólia Interior confirmou o veredicto em Agosto passado e remeteu a decisão para revisão pelo Supremo Tribunal. O mais alto órgão judicial concluiu que, durante o mandato como funcionário público, Li aproveitou-se da posição para desviar ilegalmente fundos estatais no valor de mais de 1,437 mil milhões de yuan.

Também aceitou subornos no valor de 577 milhões de yuan em troca de favores e desviou mais 1,055 mil milhões de yuan de fundos públicos.

O Supremo Tribunal considerou também que Li violou os deveres de funcionário público ao ser cúmplice da actividade ilegal de uma organização criminosa. O acórdão sublinhou que as acções de Li causaram “prejuízos extraordinários” aos interesses do Estado e da população, com um impacto social “particularmente negativo”. Devido à gravidade dos crimes, a pena de morte foi considerada “legal e adequada”.

Antes da execução, foi dada ao preso a oportunidade de se encontrar com os familiares mais próximos, referiu o comunicado do tribunal.

UE | Pequim critica sanções contra empresas por alegado apoio à Rússia

A China manifestou ontem forte insatisfação e oposição às “sanções irracionais” impostas pela União Europeia contra algumas empresas chinesas, pelo seu alegado apoio à Rússia na guerra na Ucrânia

 

“A China sempre se opôs a sanções unilaterais que não têm base no direito internacional e não são autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU”, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, em conferência de imprensa.

Lin Jian afirmou que o seu país “sempre tentou facilitar as negociações de paz na Ucrânia” e “nunca forneceu armas às partes em conflito”. “A China controla rigorosamente a exportação de produtos de dupla utilização”, acrescentou o porta-voz, assegurando que o controlo das exportações de veículos aéreos não tripulados (‘drones’) é “o mais rigoroso do mundo”.

De acordo com o porta-voz, “os contactos e a cooperação normais entre as empresas chinesas e russas não devem ser interferidos”, acrescentando que “a maior parte dos países, incluindo a Europa e os Estados Unidos, mantêm actualmente relações comerciais com a Rússia”.

Lin instou a União Europeia (UE) a “não aplicar dois pesos e duas medidas na questão da cooperação económica e comercial com a Rússia”, “deixar de difamar e culpar a parte chinesa de forma infundada” e “deixar de prejudicar os interesses legítimos das empresas chinesas”.

No congelador

Na segunda-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE apoiaram a inclusão de 84 nomes na lista de entidades penalizadas: 54 pessoas e 30 empresas consideradas responsáveis por acções que comprometem ou ameaçam a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia. As entidades são principalmente empresas de defesa russas e companhias de navegação responsáveis pelo transporte marítimo de petróleo bruto e produtos petrolíferos, que “proporcionam receitas significativas ao governo russo”, de acordo com a UE.

Pela primeira vez foram impostas sanções (proibição de viajar, congelamento de bens e proibição de disponibilizar recursos económicos) a uma série de entidades chinesas que fornecem ‘drones’ e componentes microelectrónicos para apoiar a guerra.

Desde o início do conflito na Europa, a China tem mantido uma posição ambígua, apelando ao respeito pela “integridade territorial de todos os países”, incluindo a Ucrânia, e à atenção às “preocupações legítimas de todos os países”, em referência à Rússia, com a qual intensificou os seus laços nos últimos anos.

IC | Escolhidas seis propostas de espectáculos para apoios

O Instituto Cultural (IC) escolheu seis propostas de espectáculos de palco submetidas no âmbito do programa “Comissionamento de Produções de Artes Performativas”, sendo que estes podem ser apresentados ao público entre o próximo ano e 2026.

Assim, foram seleccionados uma obra de dança de autoria do Lam Dance Theater; um musical da Stage Evolution Produção Lda.; uma peça de teatro para bebés da Companhia Cultural e Criativa Milagre Lab Limitada; uma peça de teatro do Estúdio de Arte de PO; uma peça de teatro infantil do Rolling Puppet Alternative Theatre; e uma peça de teatro da Dirks Theatre Arts Association.

As candidaturas decorreram entre os meses de Junho e Setembro deste ano, período durante o qual o IC recebeu 35 propostas.

O financiamento concedido pelo IC visa apoiar “custos de produção ocorridos na materialização dos conceitos criativos”, além de que está previsto o suporte na estreia e concessão de recursos para novas apresentações em palco, a fim de “impulsionar o desenvolvimento das artes performativas e das indústrias culturais de Macau”.

Imobiliário | Vendas aumentam pelo segundo mês consecutivo

Em Novembro o número de transacções imóveis para habitação cresceu em comparação com o mês anterior e com Novembro do ano passado. Contudo, os preços das fracções caíram

 

No último mês o número de transacções de imóveis para habitação registou uma subida de 18 por cento face ao mês anterior, naquele que foi o segundo mês consecutivo de crescimento. Os números foram actualizados na segunda-feira, no portal da Direcção de Serviços de Finanças (DSF).

No mês passado, foram registadas 299 compras e vendas de habitação no território, mais 46 do que em Outubro, quando o número de transacções tinha sido de 253.

Em comparação com o ano anterior, o aumento é mais significativo. Em Novembro de 2023, o número de compras e vendas de habitação tinha sido de 157, pelo que os valores mais recentes representam um aumento de 142 transacções, equivalente a 90,4 por cento.

Apesar do que aparenta ser uma ligeira recuperação, face aos anos anteriores, o mercado ainda está muito longe dos níveis praticados antes da pandemia. Em Novembro de 2019, o número total de compras e vendas de habitação tinha sido de 590, praticamente o dobro do que aconteceu no mês mais recente. Se por um lado, o número de transacções mostrou uma ligeira recuperação, por outro, as casas estão a ser vendidas ou compradas a preços mais reduzidos.

Preços a caírem

Os dados mais recentes indicam que a médio do preço do metro quadrado em Novembro foi de 74.364 patacas, uma redução de 6,6 por cento, em comparação com Outubro, quando o metro quadrado foi comercializado a 79.641 patacas. Em comparação com o período homólogo, a redução do preço é mais acentuada, dado que nessa altura, o metro quadrado custava em média 86.021 patacas, uma diferença de 13,6 por cento.

Também no que diz respeito ao preço, em comparação com 2019 o cenário está bastante diferente. Em Novembro de 2019, o preço médio do metro quadrado era de 111.539 patacas, o que significa uma desvalorização de um terço. Por exemplo, se em Novembro de 2019 uma casa custava 9 milhões de patacas, actualmente o preço estará nos 6 milhões de patacas.

Os dados da DSF mostram também que a zona com mais transacções foi a Península de Macau, com 208 compras e vendas de habitação, com um custo médio de 70.562 patacas por metro quadrado. Na Taipa houve 68 transacções, com um custo de 78.144 patacas por metro quadrado, enquanto em Coloane houve 23 compras e vendas de habitação, com uma média de 93.970 patacas por metro quadrado.

RAEM 25 Anos | Comunidade olha para diferenças antes e depois da transferência

Os portugueses Rui Furtado e Alexandra Veredas aterraram em Macau com três décadas de distância e olham para a cidade e as mudanças pós-transição de forma distinta

 

A viver há mais de 30 anos em Macau, Rui Furtado, cirurgião, considera-se hoje tanto da região chinesa como de Portugal. Chegou no início dos anos 1990, entrava o território na última década sob domínio português. Para trás, ficou Lisboa e o Hospital de Santa Maria. “O salário e as condições de vida permitiam que as pessoas tivessem uma vida mais sossegada [em Macau]”, começa por dizer o médico à Lusa.

Trabalhou no hospital público local mais de 20 anos, transitando, em 2013, para o sector privado. Mas de lá para cá, o que levava tantos clínicos a atravessarem mundo perdeu-se, na perspectiva deste açoriano, natural de Ponta Delgada. Se tivesse hoje os 46 anos que tinha quando aterrou em Macau, não faria a mesma escolha: “Não oferece garantias de estabilidade para quem começa uma vida aqui a trabalhar como médico”.

Macau não aceita desde o ano passado novos pedidos de residência para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território.

As orientações eliminam uma prática firmada após a transição de Macau, em 1999. A alternativa para um português garantir o bilhete de identidade de residente (BIR) passa por uma candidatura aos recentes programas de captação de quadros qualificados.

Outra hipótese é a emissão de um ‘blue card’, autorização limitada ao vínculo laboral, sem os benefícios dos residentes, nomeadamente ao nível da saúde ou da educação.

A um médico português que chegue hoje ao território é atribuído este estatuto, diz Furtado. “É discriminatória a maneira como são tratados os ‘blue cards’, quando ao fim e ao cabo são a base da vida em Macau”, declara. No final de Outubro, Macau contava com cerca de 182 mil trabalhadores não-residentes, num total de pouco mais de 686 mil habitantes na cidade (números de Setembro), indicam dados oficiais.

Mais burocracia

A académica da Universidade Politécnica de Macau (UPM) Vanessa Amaro, que se tem dedicado ao estudo da comunidade portuguesa em Macau , nota que quem chega ao território depara-se agora com um contexto socioeconómico e político diferente, “marcado por mais restrições e desafios burocráticos, como a dificuldade em obter residência e contratos de trabalho com menos regalias”.

Esta limitação na residência “desmotiva muitos a considerar Macau como uma opção de longo prazo, limitando a estabilidade e o sentimento de pertença”, analisa.

Outros factores pesam na altura de escolher esta cidade no sul da China, nomeadamente a “crescente reputação nos meios de comunicação portugueses como uma região” que “está a perder algumas das liberdades e características que anteriormente a distinguiam”, diz.

Nos últimos anos, ecos das mudanças políticas em Hong Kong, em resposta às gigantes manifestações anti-governamentais, chegaram a Macau. A deterioração das liberdades tem sido abordada por várias instituições, incluindo UE e ONU, que expressaram preocupação com decisões como a desqualificação de candidatos pró-democracia às legislativas. Críticas repudiadas pelo Governo local.

Aposta satisfatória

Alexandra Veredas, professora de Matemática e Ciências, chegou a Macau em Agosto de 2023, tendo-lhe sido atribuído um ‘blue card’. Nada que tenha assustado esta natural de Moura, que, depois de leccionar em várias cidades portuguesas e diferentes países, assume viver “em constante descoberta”.

“Vim, pelo menos, por um ano, depois vai-se ficando ou não. Para mim, nada é definitivo”, refere a professora da Escola Portuguesa de Macau. Para Alexandra Veredas, de 53 anos, segurança e finanças são vantagens: “é um sítio muitíssimo seguro, onde realmente o vencimento que temos é perfeitamente ajustável às necessidades e é possível fazer uma poupança, o que nos tempos actuais é difícil na Europa”.

Os censos de 2021 indicam mais de 2.200 pessoas nascidas em Portugal a viver em Macau. A última estimativa dada à Lusa pelo Consulado-geral de Portugal apontava para mais de 100 mil portadores de passaporte português entre os residentes de Macau e Hong Kong.

“Muitos dos novos residentes vêm com contratos de trabalho temporários ou como parte de missões específicas, enquanto a comunidade pré-transição era composta por indivíduos e famílias que geralmente tinham uma ligação mais permanente ao território, em parte devido às condições de estabilidade e maior abertura política e social da época”, avalia a professora.

No entanto, salienta Amaro, muitos jovens que chegaram após a transição e com uma perspectiva temporária de Macau, acabaram por constituir família. Um fenómeno que “tem contribuído para a revitalização da comunidade”, com o nascimento de crianças portuguesas, “fortalecendo laços locais e ampliando a presença de uma nova geração luso-descendente”.

À Lusa, a académica lembra outro episódio com impacto na presença portuguesa: as rigorosas restrições adoptadas durante a pandemia da covid-19. Apesar disso, observa que “muitas pessoas que partiram decidiram regressar”.

“A experiência de viver num território com uma dinâmica multicultural única, combinada com a forte ligação emocional e social estabelecida ao longo dos anos, fez com que o regresso a Macau se tornasse uma escolha natural para aqueles que não se sentiram plenamente integrados no seu país de origem ou noutros destinos”, realça.

No que diz respeito à relação com as autoridades, esta varia. A comunidade sente-se valorizada, especialmente no que diz respeito à preservação da língua portuguesa e papel de Macau como plataforma entre a China e os países lusófonos, diz. Mas salienta: existe uma “percepção crescente de perda de visibilidade e de apoio”, nomeadamente em relação à participação em decisões locais. “Tem a ver com o facto de cada vez haver menos portugueses em cargos de decisão e de chefia, por isso as opiniões dos portugueses são cada vez menos levadas em consideração”, explica.

Adolescentes | Inquérito revela pouco desporto e horas de sono

Um inquérito realizado pela Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau sobre a saúde e estilo de vida de adolescentes conclui que os jovens dormem menos do que deviam e praticam pouco desporto. O tempo para a prática desportiva é, em média, 4,97 horas por semana, segundo as respostas, enquanto que o tempo médio de sono é de 6,8 horas.

As recomendações internacionais para uma boa noite de sono e prática de desporto é de 8 a 10 horas diárias, pelo que Macau está abaixo desses níveis. A equipa que realizou o inquérito sugere que escolas e famílias disponibilizem mais apoios aos jovens, com a criação de iniciativas de acompanhamento destes e que fomentem um sono de maior qualidade e aumento da prática desportiva.

O inquérito foi realizado entre os meses de Outubro e Novembro, tendo sido recolhidas 1185 respostas válidas de estudantes de nove escolas secundárias, além de que foram realizadas 19 entrevistas com alunos.

Bilinguismo | Apontada falta de quadros 25 anos depois da transição

Pereira Coutinho denuncia a falta de quadros bilingues que verdadeiramente assegurem o papel de Macau como interlocutor entre a China e os países de língua portuguesa. Por outro lado, uma residente de Macau lamenta que os salários de quadros desta área tenham diminuído na última década

 

Macau tem ainda dificuldades em assumir o papel de interlocutor entre a China e os países de língua portuguesa devido, sobretudo, à falta de quadros bilingues. Esta foi a ideia deixada num artigo publicado no portal HK01, sobre os 25 anos da RAEM, onde é citada Belinda, uma residente que aprendeu português, e o deputado José Pereira Coutinho.

Recorde-se que Sam Hou Fai, que toma posse como Chefe do Executivo na sexta-feira, declarou durante a campanha eleitoral a necessidade de consolidar o papel de Macau como “um interlocutor preciso entre a China e os países lusófonos”. Porém, Belinda, licenciada em tradução e interpretação de chinês e português, diz que os quadros qualificados enfrentam dificuldades laborais, sobretudo no que diz respeito a salários e regalias.

Com 25 anos de idade, a residente estudou português durante três anos no ensino secundário, fez um período de estudos em Portugal e actualmente dá aulas em várias escolas e centros educativos privados.

“Muitos alunos perguntam-me se é útil estudar português e se é fácil depois encontrar emprego. No passado dizia-se que quem estudava português tinha emprego garantido, mas hoje a situação está bastante diferente”, disse.
Belinda terminou a licenciatura em 2021, em plena pandemia, e descreve que a economia está ainda em recuperação, sendo oferecidos salários mais baixos do que antes para funções de tradução ou ensino. Para um trabalho que antes era remunerado em 1.000 patacas, hoje é oferecido metade do montante, exemplificou.

“Os preços subiram, mas os salários não. Os preços mudaram imensas vezes em comparação com há dez anos atrás”, adiantou.

É certo que as autoridades locais investem no português com a criação de cursos e subsídios para estudos, mas, segundo a docente, muitos alunos olham para o português como um idioma pouco importante e apenas lúdico, pelo que o seu domínio da língua não evolui.

Belinda apontou ainda que os docentes receiam ensinar conteúdos da língua demasiado difíceis. “Fui confrontada por colegas que consideram que os alunos são muito pressionados. Não concordo e disse que há dez anos, no ensino secundário complementar de três anos, aprendia sempre a dizer ‘Olá, bom dia’. Só comecei a aprender a língua a sério na universidade. Ora, isso não pode acontecer”, destacou.

Desta forma, a residente espera que o novo Chefe do Executivo implemente políticas que mudem este cenário e que melhorem a situação de emprego. “Com a experiência que o novo Chefe do Executivo tem, acho que o novo Governo vai promover mais políticas de ensino”, afirmou.

Problema não resolvido

Pereira Coutinho, o único deputado macaense no hemiciclo, disse estar preocupado com a falta de quadros qualificados bilingues, afirmando que espera meses por traduções de acórdãos de tribunais ou outros conteúdos da Assembleia Legislativa.

“Durante a era de Chui Sai On, já se falava da falta dos tradutores, e naquele tempo faltavam duzentos tradutores. Porém, a situação não melhorou.” Neste sentido, José Pereira Coutinho espera que o Governo disponibilize subsídios para a formação de talentos bilingues, além de melhorar as regalias profissionais para que mais pessoas se sintam atraídas pela profissão.

CGA | Jorge Fão pede processos rápidos para evitar tributação

O presidente da Assembleia Geral da Associação dos Aposentados de Macau (APOMAC), Jorge Fão, defende a necessidade de agilizar o processo de emissão da declaração de residência em Macau, que permite evitar o pagamento de impostos em Portugal, por parte dos aposentados que recebem pensão através da Caixa Geral de Aposentações (CGA).

Em declarações à Rádio Macau, Jorge Fão desvalorizou o facto de os aposentados terem de passar metade do ano em Macau para obter a declaração do não pagamento de impostos em Portugal, como decorre do Código Fiscal.

Segundo as explicações do dirigente da APOMAC, a alteração acaba por não ser relevante porque existe um acordo entre Portugal e Macau que já prevê o não pagamento de impostos e a emissão da declaração necessária.

No entanto, o dirigente indicou a necessidade de acelerar os procedimentos na emissão da declaração, dado que, de acordo com os procedimentos actuais, o director dos Serviços de Finanças tem de assinar à mão cerca de 1.800 declarações.

As declarações só podem ser apresentadas à DSF em Janeiro e têm de ser enviadas para Portugal até 10 de Janeiro, para evitar a tributação. O tempo é considerado curto, e o procedimento desadequado, o que levou Jorge Fão a pedir alternativas mais rápidas e convenientes.

Função Pública | Lei dos juramentos aprovada sem qualquer questão

As alterações que vão obrigar funcionários públicos a jurar lealdade à Lei Básica e à RAEM, e que podem levar a despedimentos devido a conversas no café ou nas redes sociais, foram aprovadas sem questões dos deputados

 

Os deputados da Assembleia Legislativa aprovaram ontem por unanimidade, na generalidade, as alterações ao Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM) que vão obrigar funcionários a prestar juramento de fidelidade à Lei Básica e à RAEM e permite aceder ao conteúdo de conversas privadas, ou comentários nas redes sociais, para despedir quem age de forma contrário ao juramento.

O diploma foi apresentado ontem pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, e o assunto não levantou qualquer questão dos deputados. No entanto, a deputada Lo Choi In, ligada à comunidade de Jiangmen criticou a demora na implementação do juramento. “Eu apoio a alteração, porque tem um juramento, e temos de defender a Lei Básica e ser fieis à RAEM. É uma alteração que chega tarde, mas mais vale tarde do que nunca”, afirmou a deputada, numa das raras abordagens à questão durante a sessão plenária de ontem.

Em comparação, a medida foi implementada em Hong Kong no ano de 2021, embora esse aspecto não tenha sido apontado pela legisladora. Após a votação, Ma Chi Seng, deputado nomeado pelo Governo, elogiou a aprovação, por considerar que reforça o “patriotismo” e a educação do “amor pela pátria e por Macau”.

Com as alterações, que ainda têm de ser aprovadas na especialidade, até os trabalhadores portugueses têm de jurar fidelidade à RAEM da República Popular da China. O juramento é feito por assinatura de uma declaração. No caso de ser assinada uma declaração alterada, desde que se prove que a assinatura foi intencional, os trabalhadores são despedidos.

Faltas por baixa médica

No âmbito das alterações ao estatuto da função pública, os deputados mostraram-se mais preocupados com o mecanismo de fiscalização de baixas médicas. Segundo a proposta do Governo, os trabalhadores de baixa devem ficar em casa e se tiverem necessidade de sair do território têm de avisar os respectivos serviços onde trabalham.

Che Sai Wang, ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), alertou o Executivo para o facto de muitos trabalhadores viverem na Ilha da Montanha ou Zhuhai. No entanto, André Cheong garantiu que o diploma está feito a pensar também na maior integração de Macau no Interior da China, como acontece com os residentes a viverem no outro lado da fronteira.

Por sua vez, Song Pek Kei mostrou-se preocupada com o facto de os trabalhadores de baixa terem de ficar em casa. Segundo a deputada, as pessoas doentes precisam sair, muitas vezes até de passar a fronteira, para fazer compras. Song atirou também que a demissão nestes casos pode ser demasiado gravosa, porque os trabalhadores podem arriscar a fonte de rendimentos. Face à questão, o secretário esclareceu que a proposta foi apresentada porque houve abusos no passado, e que os trabalhadores têm sempre de apresentar a fundamentação para as deslocações, que poderá ser considerada legítima.

Administração | AL aprova alterações ao estatuto das chefias

A Assembleia Legislativa aprovou ontem na generalidade a alteração ao Estatuto do Pessoal de Direcção e Chefia, que vai facilitar a suspensão do cargo das chefias, quando estão envolvidos em casos criminais, e também prevê o afastamento de quem ocupa cargos de chefias por incompetência. As alterações foram votadas ontem e aprovadas por unanimidade.

Além disso, a proposta prevê a alteração do juramento das chefias, que o Governo explicou com a necessidade de adequar o texto e as formalidades à exigência da Lei Relativa à Defesa Segurança do Estado. Se for considerado que as chefias cometeram algum acto que contraria o juramento, vai ser aplicada a pena de demissão.

RAEM 25 anos | John Lee vem a Macau na sexta-feira

O Chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, irá chefiar uma delegação de governantes que se desloca a Macau na sexta-feira por ocasião da cerimónia de celebração do 25º aniversário da RAEM e da tomada de posse do VI Governo da RAEM, liderado por Sam Hou Fai.

Numa nota do Governo da região vizinha, foi referido que a delegação da RAEHK chega a Macau amanhã, partindo logo na sexta-feira. Além de John Lee, o Executivo de Hong Kong será representado pelo secretário das Finanças Paul Chan, o secretário da Justiça Paul Lam, o secretário para os Assuntos Constitucionais e do Interior Erick Tsang Kwok-wai e a directora do Gabinete do Chefe do Executivo Carol Yip.

Na sua ausência, John Lee será substituído pelo Secretário-Chefe da Administração, Chan Kwok-ki. Na mesma nota, John Lee declarou que vem a Macau “felicitar Sam Hou Fai”, tendo descrito a relação de Macau e Hong Kong como “de irmãos, com um frequente intercâmbio” e prometido uma comunicação próxima nos próximos anos.

John Lee disse ainda esperar dialogar com o novo Chefe do Executivo de Macau sobre as possibilidades de cooperação em várias áreas no futuro, tendo em conta que ambos os territórios fazem parte do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

A confirmação da vinda de uma delegação governamental de Hong Kong a Macau foi feita ontem numa sessão com jornalistas antes de uma reunião do Conselho Executivo.

Área da Grande Baía: Integração transforma fronteiras em pontes de oportunidades

A Área da Grande Baía (AGB) Guangdong-Hong Kong-Macau é mais do que uma visão para a cooperação económica – é uma realidade próspera que demonstra o poder transformador da integração. Embora o termo “AGB” seja relativamente recente, os princípios que lhe estão subjacentes – combinar inovação, recursos e culturas além fronteiras – têm vindo a moldar a região há décadas.

 

Inovação de alta tecnologia: Materiais para o futuro

A parceria entre Macau e a ilha de Hengqin está a impulsionar avanços tecnológicos. Lei Zhen, fundador da Nanometals Technology, está na vanguarda com o seu “fio de prata nanométrico”, um material revolucionário para ecrãs tácteis e ecrãs dobráveis. “A inteligência artificial é o futuro, onde a interação homem-máquina em dispositivos inteligentes será generalizada. O fio de prata nanométrico é o material fundamental para esse futuro”, explica Lei.

Os amplos recursos, o espaço e o próspero ecossistema industrial de Hengqin proporcionam o que a paisagem urbana compacta de Macau não consegue, enquanto a reputação de Macau como centro de investigação e porta de entrada global atrai talento e financiamento internacionais.

Desde 2015, esta parceria tem transformado as ideias de ponta de Lei em sucessos comerciais. “A substituição de materiais estrangeiros permite às empresas controlar as cadeias de abastecimento, reduzir os custos e aumentar o desempenho dos produtos”, acrescenta Lei.

Esta colaboração realça a força da AGB: combinar os conhecimentos de investigação de Macau com o poder de fabrico de Guangdong. Trata-se de uma fórmula que mantém o talento local no terreno e atrai inovadores globais. O Centro de Incubação de Jovens Empreendedores de Macau é um excelente exemplo – mais de 600 empresas iniciantes floresceram desde 2015, com um número crescente de empreendimentos de alta tecnologia.

Reformas financeiras: Dar poder aos sonhos das empresas

A AGB está também a redefinir os serviços financeiros, proporcionando novas oportunidades tanto para as empresas como para os residentes. Os programas financeiros inovadores da Hengqin são uma tábua de salvação para os empresários de Macau. Amy Wat, uma empresária de Macau que transferiu o seu restaurante para Hengqin, elogia o apoio: “Confiaram-me um empréstimo, apesar de eu nunca ter trabalhado aqui. A ajuda tem sido incrível”.

Ao sincronizar os registos de crédito com os sistemas financeiros de Macau, a sucursal de Hengqin do Banco da China oferece agora empréstimos a empresas em fase de arranque até 30 milhões de yuans (cerca de 4 milhões de dólares) sem exigir activos no continente. “Sob a orientação do Banco Popular da China, lançámos também a liquidação de hipotecas transfronteiriças e empréstimos digitais em RMB”, diz Liu Xianghong, Governador da sucursal. “Estas medidas estão a ajudar os residentes de Macau a integrarem-se na economia do continente.”

Até à data, foi aprovado um total de 460 milhões de yuans (cerca de 73 milhões de dólares) em empréstimos ao abrigo do regime, beneficiando mais de 100 empresas.

As comodidades quotidianas também melhoraram. Os sistemas de pagamento em duas moedas permitem agora aos residentes de Macau fazer compras na sua moeda local, a Pataca de Macau, nos supermercados, cafés e lojas de Hengqin.

O poder das estrelas: Os concertos impulsionam o boom económico de Macau

A integração regional também reforçou o estatuto de Macau como “Cidade das Artes do Espetáculo”. Só no ano passado, a cidade acolheu mais de 240 concertos de música pop, atraindo multidões que bateram recordes. As novas ligações de transporte e a alfândega aberta 24 horas por dia na fronteira de Hengqin conduziram a um afluxo de visitantes do continente.

Jeffrey Jiang, Vice-Presidente Sénior dos Serviços de Entretenimento da Galaxy Entertainment, realça o impacto económico surpreendente destes eventos: “Cada concerto atrai mais de 10.000 participantes, com cada visitante a gastar uma média de 5.600 patacas – a mais elevada entre todos os segmentos de visitantes”, explica Jiang.

A arena coberta Galaxy, com 16.000 lugares, pode ser a joia da coroa de Macau, mas a cidade já está de olho em prémios maiores. Os convites para a construção de recintos maiores, com capacidade para 50 000 espectadores, prometem atrair super-estrelas mundiais e audiências internacionais de maior dimensão. Os concertos provaram ser um investimento lucrativo, impulsionando as reservas de hotéis, restaurantes, comércio e desenvolvimento de infra-estruturas no âmbito da Área da Grande Baía (AGB).

Reforma e resiliência: Um modelo para o futuro

A Área da Grande Baía (AGB) é mais do que uma estratégia regional – incorpora o compromisso inabalável da China com a reforma e a abertura económica em tempos de incerteza. Durante décadas, as empresas de Macau e Guangdong colaboraram naturalmente, capitalizando os pontos fortes únicos de cada região. “O conceito de AGB não é novo – já o fazemos há anos”, diz Charles Choy, presidente da Câmara de Comércio Americana em Macau e copresidente da Macao Beer.

Desde os anos 90, a Macao Beer evoluiu de uma pequena fábrica de cerveja de garagem na Ilha de Coloane para umas instalações de ponta e uma joint-venture internacional em Zhuhai. Ao importar lúpulo de cerveja dos Estados Unidos através de um sistema de aprovisionamento internacional resiliente, a empresa tem conseguido ultrapassar as perturbações tarifárias.

O papel de Zhuhai como pioneira na reforma económica da China, com a sua mão de obra qualificada, recursos abundantes e políticas favoráveis aos investidores, complementou o espírito empresarial de Macau. Choy acrescenta que a cerveja de Macau, enquanto “produto de destino”, beneficia diretamente do boom turístico da AGB.

As parcerias transfronteiriças permitiram às empresas expandir as suas operações, mantendo as suas identidades distintas. Numa altura em que Macau se encontra numa encruzilhada histórica, a AGB demonstra o poder transformador da integração – uma convergência dinâmica de recursos, talento e inovação que promove o crescimento sustentável.

Desde as descobertas de alta tecnologia até aos avanços culturais e financeiros, esta sinergia também constitui um exemplo global de como a cooperação regional pode impulsionar a resiliência, a inovação e a prosperidade num mundo interligado.

Por Huang Fei, CGTN

A sensibilidade trágica perdida dos Estados Unidos – III

O implacável Paul Nitze, decano dos “apparatchiks” diria que quase tudo o que tem sido escrito e ensinado sob a bandeira da ciência política na América desde a II Guerra Mundial tem sido contrário à experiência e ao senso comum. Também tem sido de pouco valor, se não mesmo contraproducente, como guia concreto para a política. Ainda mais abrasivo é o historiador Bruce Kuklick que diria que os intelectuais serviram para legitimar as políticas, não para as impulsionar.

A função básica, embora não a única, das ideias estratégicas era fornecer aos políticos ficções que dessem sentido à opinião pública. A crítica do filósofo britânico Mark Bevir era de que a história da ciência política é menos uma história de estudiosos que testam e melhoram teorias referindo-se a dados e mais uma história de apropriação e transformação de ideias, muitas vezes obscurecendo ou obliterando significados anteriores, para servir novos objectivos em diferentes contextos políticos.

A questão é que não foram as ciências sociais que informaram o poder, foi o poder que seleccionou as teorias que justificavam o que ele achava que tinha de fazer. Vemos isto em acção quando os Estados Unidos, no final da Guerra Fria, se convencem de que é tempo de alargar o sistema internacional criado em 1945 a todo o mundo, de globalizar.

Uma ambição partilhada por duas administrações, a de Clinton e a de Bush filho. Mesmo com as suas inegáveis e radicais diferenças, partilharam a ideia de que o poder tecnológico, económico, cultural e militar permitiria à América estender a sua influência centrada na democratização, na interdependência comercial e no primado do direito. A ser alargada pela persuasão ou imposta pela força. As teorias nascidas na esfera económica ou social ganham assim popularidade, estendida aos assuntos internacionais devido ao súbito desaparecimento do elemento conflitual, devido à ausência de antagonistas ao modelo liberal-democrático.

É o caso da escolha racional, da maximização do interesse (económico) ou do funcionalismo institucional. Difundem-se determinismos políticos como a teoria da paz democrática, segundo a qual o tipo de regime determina uma política externa plácida e centrada na procura do bem-estar económico.

Com origem na década de 1980, com o influente artigo de Michael Doyle em Kant, foi defendida pelos governos Reagan e Clinton, acabando por ser incluída em documentos oficiais como a Estratégia de Segurança Nacional de 1994, defendendo que todos os interesses estratégicos americanos, desde a promoção da prosperidade a nível interno até ao controlo das ameaças globais antes de atingirem o território americano, baseiam-se no alargamento da comunidade das democracias e dos mercados livres entre as nações.

A falta de utilidade destas teorias reside, em grande medida, na atribuição de uma racionalidade abstracta e absoluta aos sujeitos históricos. Muitas vezes, entende-se a racionalidade económica, embora as escolhas geopolíticas quase nunca sejam feitas com base num cálculo material de custo-benefício. Ou então é entendida como uma racionalidade ocidental, ignorando o peso das diferentes culturas nas decisões relativas a factores intangíveis como o custo e a honra nacional. Ou então, os factores irracionais, emocionais, sentimentais, difíceis de medir e, no entanto, ponderáveis, são completamente eliminados. Aqueles que secam tudo à pura racionalidade nunca leram as “Memórias do subsolo”, de Fiodor Dostoievski, um hino ao livre arbítrio da auto-destruição.

Qualquer disciplina corre o risco de uma racionalização excessiva. Mesmo a geopolítica, se cair no erro de atribuir um carácter determinista as observações deveriam ser casuísticas e dinâmicas, ou seja, sujeitas ao inevitável desgaste do tempo. Em suma, as ciências sociais sofrem de uma falta de consideração pelos pontos de vista dos outros. É um outro ponto de contacto com a ideia de que a América tem de si própria e da sua missão universal.

De que serve o vosso ponto de vista se eu sou o melhor a que podem aspirar? Paralelamente, se eu tiver a teoria certa e os dados que seleccionei a provarem, ela funcionará independentemente da sua vontade. Vejamos novamente Kaplan, quando cita o ilustre classicista Charles Segal de que a tragédia existe como uma forma de arte para que não esqueçamos as dimensões da vida que existem para além das estruturas da civilização.

Mediação em Hong Kong

Lam Ting-kwok, Secretário da Justiça de Hong Kong, tinha anunciado a criação do “Hong Kong International Legal Talent Training Institute” a 8 de Novembro do corrente ano e ainda a revisão abrangente das qualificações profissionais e dos procedimentos disciplinares do sistema de mediação de Hong Kong, até ao final de 2024. Além disso, esperava que viessem a ser introduzidas clausulas de mediação nos contratos celebrados pelo Governo de Hong Kong durante o primeiro trimestre de 2025, encorajando assim as empresas privadas a recorrer à mediação para solucionar litígios.

Hong Kong irá criar simultaneamente o “Tribunal Internacional de Mediação”, uma “Organização Internacional Inter-governamental” especializada em lidar com litígios internacionais através da mediação e que estará sediada em Hong Kong. Os quadros que vão estar ao serviço neste tribunal vão receber formação e entrarão em funções em 2025. Todas estas medidas ajudarão Hong Kong a tornar-se a “Cidade da Mediação”.

A promoção da mediação pelo Governo de Hong Kong não aconteceu de um dia para o outro. Já em 2012, Hong Kong tinha promulgado a “Portaria de Mediação”, e na secção 4 estipulava-se que a mediação é um procedimento no qual um ou mais mediadores certificados e imparciais identificam os motivos do conflito procurando vias de entendimento, formulando soluções e fortalecendo a comunicação entre as partes em litígio e obtendo finalmente um acordo total ou parcial.

Outro acto legislativo que promove em larga escala a mediação é a “Portaria de Desculpas”, promulgada em Hong Kong em 2017. Esta Portaria incentiva as partes desavindas a desculparem-se, impede que os conflitos se agravem e ajuda a resolver as disputas amigavelmente. A secção 7 prevê que, na maioria dos processos cíveis, um pedido de desculpas não é uma admissão de culpa ou de responsabilidade legal. Quando o tribunal analisa um caso de disputas, não considera que quem apresenta este pedido se ache culpado. A secção 8 estipula que a apresentação de um pedido de desculpas não deve por norma ser considerada como prova contra a parte que o efectuou.

Em termos de cooperação regional, o Governo de Hong Kong e o Ministério do Comércio da China continental assinaram, a 28 de Junho de 2017, um “Acordo de Investimento” ao abrigo da “Acordo de Parceria Económica Para o Estreitamento entre o Interior da China e Hong Kong”. O mecanismo de mediação de litígios em matéria de investimento entre a China continental e Hong Kong ficou assim clarificado. Tanto o Governo de Hong Kong como o Ministério do Comércio da China continental designaram instituições de mediação e mediadores responsáveis para a resolução de litígios relacionados com investimentos e, a 14 de Dezembro de 2018, a lista dessas instituições e mediadores foi anunciada.

A partir de então, na segunda reunião conjunta dos departamentos jurídicos da Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, realizada em 2020, foi adoptado por todos eles um plano de trabalho para a criação de uma plataforma de mediação nesta zona e foram formulados critérios de qualificação unificados, revisão de certificados e os padrões de mediação para que a Área da Grande Baía promovesse o estabelecimento de listas de mediadores locais qualificados em cada uma das três regiões. Na terceira reunião conjunta, realizada a 10 de Dezembro de 2021, foram adoptadas as “Normas de Avaliação da Autonomia de Mediadores da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” bem como o “Melhor Código de Conduta Profissional para Mediadores da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”, que entraram em vigor a 30 de Março de 2022.

Segundo as “Normas de Avaliação da Qualificação dos Mediadores da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”, os departamentos jurídicos de Guangdong, Hong Kong e Macau devem formular regulamentos locais de avaliação de qualificações baseados nas condições concretas de cada região e todas elas devem avaliar e aprovar os seus próprios mediadores e formar uma equipa aprovada pelas três. A lista de mediadores deve ser apresentada à Comissão de Trabalho para a Mediação da Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau para aprovação. A lista aprovada de mediadores da Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau será finalmente formada.

Todas estas medidas demonstram que o Governo de Hong Kong não está a poupar esforços para promover a mediação. O Governo de Hong Kong tomou em consideração todos os detalhes, em termos de instalações, de políticas adoptadas, de sistemas, da legislação, da formação de quadros, quer ao nível internacional quer ao nível do interior da China. As perspectivas do desenvolvimento do sistema de mediação em Hong Kong são radiantes.

Mas para as partes em litígio qual é a mais valia de um mediador? O facto de os mediadores receberem uma formação credenciada é sem dúvida uma condição que inspira confiança às partes em litígio. Mas ainda mais importante é a vontade de ambas as partes se sentarem à mesa e aceitarem a mediação porque acreditam que o mediador pode ajudar a resolver o litígio entre elas, por conseguinte, ganhar a confiança de ambas as partes é um factor chave para a aceitação da mediação.

Para a mediação ser bem-sucedida, o Governo de Hong Kong deve esforçar-se para aperfeiçoar os sistemas que a suportam e os mediadores devem dar o seu melhor para esmerar as suas capacidades mediadoras de forma a conquistarem a confiança das partes em litígio. Desta forma, o sistema de mediação de Hong Kong será definitivamente capaz de alcançar um nível mais elevado.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Blog: http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

Um milhão de palestinianos enfrenta Inverno sem refúgio em Gaza

Cerca de um milhão de palestinianos enfrenta o Inverno na Faixa de Gaza sem abrigo adequado, devido à destruição provocada pela ofensiva militar do exército israelita, alertou ontem o Conselho Norueguês para os Refugiados (CNR). Segundo a organização não-governamental (ONG) norueguesa, na Faixa de Gaza, alvo dos ataques israelitas depois de Israel ter sido atingida a 7 de Outubro de 2023 por um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas, apenas 23 por cento das necessidades de abrigo foram cobertas no Outono.

A ONG afirmou que, em Setembro, eram necessários 2.000 camiões de tendas ou 200 camiões de ‘kits’ de impermeabilização para fornecer protecção básica de Inverno a 1,13 milhões de palestinianos, mas até ao final de Novembro apenas 285.000 pessoas tinham recebido estes materiais.

O CNR sublinhou também que, desde o início de Outubro, a “ofensiva e o cerco” do exército israelita no norte de Gaza deslocou mais 100.000 palestinianos, deixando um total de 945.000 a necessitar de assistência e de abrigos, sublinhando que a entrega destes materiais diminuiu, uma vez que foi dada prioridade à entrega de farinha devido ao risco de fome.

“Recebemos apenas uma fracção da ajuda necessária para resolver a crise dos abrigos”, afirmou Jeroen Quanjer, presidente do Grupo Refúgio para a Palestina.

A ONG criticou as restrições de Israel à entrada de materiais essenciais face às novas vagas de deslocados no norte da Faixa de Gaza “Centenas de milhares de famílias deslocadas estão a suportar o frio e a chuva do inverno sem uma protecção significativa. A repetida recusa das autoridades israelitas em fornecer materiais de abrigo essenciais está a impedir-nos de aumentar a nossa resposta para construir abrigos de emergência que possam resistir às condições de Inverno em Gaza”, afirmou.

A este respeito, a organização recordou que a tempestade do final de Novembro inundou vários campos de deslocados internos, destruindo tendas e abrigos e obrigando muitas famílias a deslocarem-se novamente. Segundo Quanjer, pelo menos 101 locais de deslocados internos no sul de Wadi Gaza, onde vivem mais de 450.000 palestinianos, são propensos a inundações.

Em movimento

Mahmud, um palestiniano deslocado na cidade de Deir al-Bala’a (centro), disse que durante a tempestade de Novembro se levantou porque a água estava a inundar as tendas. “Os nossos filhos estavam a dormir quando a água os atingiu. Os nossos cobertores e roupas ficaram estragados. Agora não resta nada, apenas um lago. Estou a tentar salvar o que resta, mas sinto-me abandonado. Ninguém parece importar-se, nem o mundo árabe, nem os decisores políticos. Fomos deixados sozinhos”, afirmou.

As repetidas deslocações provocadas pela ofensiva israelita obrigaram as famílias a deixar para trás materiais de abrigo essenciais, fugindo muitas vezes apenas com o que conseguiram transportar, segundo o NRC, que observou que muitas tendas e provisões entregues ao longo do último ano por organizações de ajuda humanitária estão inutilizáveis devido ao desgaste, não chegando provisões suficientes para as substituir.

RAEM 25 anos | Fotografias de António Mil-Homens expostas no Consulado

“RAEM 25 anos – Memórias de António Duarte Mil-Homens” foi inaugurada ontem no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A mostra reúne um conjunto de imagens da transição captadas pelo fotojornalista que viveu muitos anos em Macau. Oportunidade para rever momentos como a cerimónia da transição ou a entrada do exército chinês no território

 

António Mil-Homens, fotojornalista que viveu em Macau durante largos anos, está de regresso ao território para mais uma exposição, desta vez patente no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, inaugurada ontem. “RAEM 25 anos – Memórias de António Duarte Mil-Homens” mostra, como o próprio fotógrafo indica, imagens “do regresso de Macau à grande China”, com destaque para momentos especiais como a cerimónia da transição, a entrada do exército chinês em Macau e a parada que decorreu depois.

Como o próprio recorda, em 1999 o fotógrafo fez a cobertura de todo o processo para a Revista Macau. As suas imagens acabaram por integrar também o livro do jornalista José Pedro Castanheira, “Macau: Os últimos 100 dias do Império”, editado pela Livros do Oriente e D. Quixote.

Segundo o autor das imagens, esta foi a oportunidade para “captar imagens da fase final da Administração portuguesa, como a última reunião do Conselho Consultivo do governador Rocha Vieira, ou a última sessão solene do Leal Senado de Macau, em que participaram, além do Governador, o Secretário para a Administração Pública, Educação e Juventude, Jorge Rangel e o Presidente do Leal Senado, José Luís de Sales Marques”.

Foram ainda captados momentos como a apresentação à comunidade do primeiro cônsul-geral de Portugal para Macau e Hong Kong, o embaixador Carlos Frota, que contou com a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, e Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Lello.

Depois, num pavilhão montado para o efeito, “teve lugar a cerimónia da transferência, marcada simbolicamente pelo arrear das bandeiras de Portugal e do Leal Senado de Macau e pelo hastear das da nova RAEM e da República Popular da China (RPC)”, descreve o fotojornalista, que destaca como “momentos altos” os discursos de figuras políticas ligadas ao processo de transição, nomeadamente Jorge Sampaio, então Presidente da República portuguesa, e Jiang Zemin, então Presidente da RPC.

Uma nova era

“Com a entrada no território do contingente do Exército Popular de Libertação e a parada popular que se seguiu, iniciava-se em Macau uma nova era, com a criação da RAEM. As fotografias que constituem esta mostra visam tão somente relembrar os acontecimentos atrás sumariamente descritos. São documentos históricos, irrepetíveis, originados ainda em formato analógico, portanto, em filme, com as contingências técnicas da fotografia ‘pré digital'”, destaca Mil-Homens.

Olhar para estas imagens, tantos anos depois, e vê-las impressas e expostas “tem a importância do partilhar de memórias que sempre estiveram vivas, alimentadas pela permanência em Macau e por tudo o que aqui tenho podido concretizar”, referiu o fotógrafo. A exposição, que estará patente até 17 de Janeiro, é organizada pelo Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong em colaboração com o IPOR e o apoio institucional da Casa de Portugal em Macau.

CURB | Conhecidos vencedores de concurso de urbanismo

O CURB – Centro de Arquitetura e Urbanismo anunciou ontem os vencedores do concurso “Placeable City | Placemaking no Porto Interior de Macau 2024”, destinado a apresentar soluções de renovação nas áreas de arquitectura e urbanismo para três zonas comunitárias no Porto Interior: a Travessa do Bazar Novo e Travessa do Auto Novo, o Largo do Aquino e Escada do Quebra-Costas até à Travessa do Abreu, junto ao Pátio das Seis Casas.

Em primeiro lugar, ficou o projecto para a Travessa do Bazar Novo e Travessa do Auto Novo da autoria de Sun Ruipu, Xie Borui e Chen Zhiyu. Em segundo lugar, foi distinguido o trabalho “Ephemeral Dreams”, de Chan Hoi Wang, proposta feita para a mesma localização do projecto anterior.

Em terceiro lugar ficou o projecto desenvolvido pelo arquitecto Sérgio Proença em parceria com Guoliang Chen, com o nome “Camadas da Vida Comunitária”, pensado para a Escada do Quebra-Costas à Travessa do Abreu. Foram ainda atribuídas algumas menções honrosas.

Os vencedores foram escolhidos de um total de 24 propostas apresentadas por indivíduos e grupos, que foram avaliados “por um painel de juízes experientes que selecionaram os melhores para o tema do concurso, tendo em conta a sua qualidade artística e técnica e a originalidade da sua visão”, destaca uma nota de imprensa do CURB.

A exposição com os projectos a concurso estará patente no espaço do CURB, na Ponte 9 – Plataforma Criativa, situada no Porto Interior, a partir das 18h de quinta-feira.

Teatro MGM apresenta “Macau 2049”, de Zhang Yimou até Fevereiro

Pode ser visto até 2 de Fevereiro o espectáculo “Macau 2049”, realizado por Zhang Yimou, que nasce de uma parceria com a MGM. O espectáculo, que estreou no domingo, sobe aos palcos em várias datas no Teatro MGM.

Este é o primeiro espectáculo no formato residência a surgir no sétimo aniversário de existência do Teatro MGM, e logo para celebrar os 25 anos da RAEM, com o cunho do famoso realizador chinês Zhang Yimou.

O “Macau 2049” tem 80 minutos de duração e é composto por oito partes: “Drumming-Shadows”, “Khoomei-Ethereal”, “Miao Songs-Transcendent”, “The Crossroads Inn-Masks”, “Yangge – Robots”, “Yi Song-Ocean”, “Lion Dance-Radiance” e “Storytelling-Origin”.

O espectáculo funde, segundo uma nota de imprensa da MGM, “tecnologias avançadas de 20 países e regiões, trazendo novas interpretações do património cultural intangível chinês, nomeadamente Hua’er, Khoomei, Canção e Dança do Povo Miao, Ópera de Pequim, Yangge, Canção Yi, Dança do Leão e Narração de Histórias no Norte de Shaanxi”.

Uma espécie de fusão

Para a MGM, “a fusão dá forma a uma expressão ideológica profunda e sem precedentes em palco”, permitindo que o público “aprecie e compreenda melhor as culturas tradicionais chinesas”, graças à interpretação em oito idiomas.

“Se virmos a progresso da civilização através de uma lente linear, uma extremidade representa os 5.000 anos da civilização antiga, enquanto a outra significa um futuro impulsionado pelo rápido avanço tecnológico. ‘Macau 2049’ junta as duas extremidades do tempo e do espaço neste momento, convergindo os horizontes do Oriente e do Ocidente neste local. Procuramos a harmonia sem uniformidade, celebrando assim a diversidade das civilizações de todo o mundo. Espero que este espectáculo em Macau crie uma performance inigualável para todos”, disse, citado pela mesma nota, Zhang Yimou.

O espectáculo apresenta-se como uma “produção pioneira que redefine a expressão artística ao fundir a arte tradicional com a tecnologia moderna, criando uma linguagem de palco inovadora”. Com a produção, explora-se “a rica herança cultural de diversos grupos étnicos, incorporando esses tesouros numa narrativa artística unificada, e mostrando o apelo distintivo de Macau como um centro cultural global”.

Coreia do Sul | Presidente destituído rejeita convocatórias da Justiça

O Presidente deposto da Coreia do Sul rejeitou citações judiciais para o interrogar sobre a breve imposição da lei marcial, enquanto o Tribunal Constitucional começou a examinar a moção de destituição aprovada pelo parlamento. China espera relação estável após destituição de Yoon Suk-yeol

 

Suspenso desde a votação parlamentar de sábado à noite, Yoon Suk-yeol é objecto de dois inquéritos por rebelião, além do processo aberto na manhã de ontem pelo Tribunal Constitucional. A 3 de Dezembro, Yoon surpreendeu o país ao declarar a lei marcial e enviar o exército para o parlamento, antes de ter de recuar pouco antes do amanhecer, sob pressão da Assembleia Nacional e dos manifestantes.

O antigo procurador, de 63 anos, tal como os aliados que também estiveram envolvidos no golpe de Estado, enfrenta a prisão perpétua e, teoricamente, a pena de morte se for considerado culpado de rebelião. Está proibido de sair do país. O Ministério Público, que dirige uma das duas investigações, voltou a enviar uma nova convocatória, depois de Yoon se “ter recusado” a comparecer no dia anterior.

A equipa da segunda investigação também pediu autorização para interrogar Yoon, mas o pedido foi rejeitado pelo gabinete presidencial, informou a agência de notícias sul-coreana Yonhap. Se Yoon continuar a recusar, os investigadores poderão solicitar aos tribunais a emissão de um mandado de captura contra o Presidente destituído.

O Tribunal Constitucional deverá pronunciar-se sobre a validade da moção de destituição dentro de cerca de seis meses. Se o Tribunal der provimento à moção, Yoon será deposto e terá de se realizar uma eleição presidencial no prazo de dois meses. O vencedor tomará posse no dia seguinte ao resultado, sem o período de transição habitual.

Durante este período, que poderá ir até oito meses, o primeiro-ministro sul-coreano, Han Duck-soo, vai assumir as funções presidenciais interinamente e garantir “uma governação estável”.

Estabilidade chinesa

O Tribunal agendou uma audiência preliminar para 27 de Dezembro, à qual Yoon não será obrigado a comparecer, disse aos jornalistas a porta-voz Lee Jean. “Este caso será considerado de alta prioridade”, assegurou Lee Jean aos jornalistas.

De acordo com a maioria dos peritos, existem poucas dúvidas quanto ao resultado do processo, tendo em conta as violações flagrantes da Constituição e da lei de que Yoon Suk-yeol é acusado.

Desde o golpe de Estado, têm-se multiplicado as manifestações em grande escala contra Yoon Suk-yeol, bem como as manifestações mais pequenas de apoio, com manifestantes de ambos os lados a afirmar que vão continuar a protestar até que o Tribunal dê o veredicto.

Em resposta à turbulência política no país, a China disse ontem que espera manter uma relação estável com a Coreia do Sul. “Promover o desenvolvimento saudável e estável das relações entre a China e a Coreia do Sul é do interesse comum de ambas as partes”, afirmou Lin Jian, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa conferência de imprensa, em Pequim.

“A Coreia do Sul é um vizinho próximo e um parceiro de cooperação importante e amigável para a China. A promoção de um desenvolvimento saudável e estável das relações sino – sul-coreanas é do interesse comum de ambas as partes”, afirmou Lin Jean.

“A política da China em relação à Coreia do Sul é coerente e estável”, disse o porta-voz, acrescentando que a “manutenção da paz e da estabilidade na península coreana é do interesse de todas as partes e exige esforços activos de todos”. No entanto, quando questionado directamente sobre a demissão do Presidente Yoon, o porta-voz recusou-se a comentar, dizendo que se tratava de “um assunto interno da Coreia do Sul”.

China | Produção industrial cresce 5,4% em Novembro

A produção industrial na China cresceu 5,4 por cento, em Novembro, em termos homólogos, um valor 0,1 por cento acima da marca registada no mês anterior, indicam dados oficiais divulgados pelo Gabinete Nacional de Estatística (GNE).

O valor do penúltimo mês do ano é também ligeiramente superior ao esperado pelos analistas, que previam que se mantivesse nos mesmos 5,3 por cento de Outubro. Os dados mostram ainda que a produção industrial acumulou um crescimento de 5,8 por cento até agora em 2024.

Entre os três grandes sectores em que o GNE dividiu este indicador, o que mais aumentou a produção em Outubro foi a indústria transformadora (+6 por cento), superando a indústria extractiva (+4,2 por cento) e a produção e fornecimento de electricidade, aquecimento, gás e água (+1,6 por cento). A instituição destacou ainda o aumento da produção de bens específicos, como veículos eléctricos (+51,1 por cento), robôs industriais (+29,3 por cento) e semicondutores (+8,7 por cento).

O GNE também divulgou outros dados estatísticos, como as vendas a retalho, cujo ritmo de crescimento abrandou fortemente de 4,8 por cento em Outubro para 3 por cento em Novembro, enquanto os especialistas previam um ligeiro abrandamento para 4,6 por cento.

A taxa oficial de desemprego nas zonas urbanas manteve-se ao mesmo nível do mês anterior, em 5 por cento, e está a caminho de terminar o ano dentro do limite oficial de 5,5 por cento, fixado para este ano por Pequim.

O crescimento do investimento em activos fixos caiu para 3,3 por cento no acumulado até Novembro, menos 0,1 por cento do que nos primeiros dez meses do ano, apesar das expectativas dos analistas de que não sofreria tal queda.

Na análise por sector, o investimento na indústria transformadora cresceu 9,3 por cento e nas infra-estruturas 4,2 por cento.

Anhui | Cinco detidos por envolvimento em rede de barrigas de aluguer

As autoridades da província de Anhui, no leste da China, detiveram cinco pessoas, este fim-de-semana, depois de terem desmantelado uma rede de gestação de substituição, prática conhecida como barrigas de aluguer e ilegal no país.

Os investigadores detectaram o envolvimento de uma empresa de tecnologia médica em actividades ilegais de gestação de substituição, entre outras irregularidades, na sequência de uma queixa apresentada por um utilizador nas redes sociais, informou o jornal estatal Global Times.

O cidadão denunciou a existência de uma agência de gestação de substituição na cidade de Hefei que, alegadamente, colaborava ilegalmente com pessoal médico e funcionários locais para efectuar recuperações clandestinas de óvulos e falsificar certidões de nascimento.

Na sequência da denúncia, foi formada uma equipa de investigação composta pelos departamentos de segurança pública, saúde, inspecção disciplinar, supervisão e regulação do mercado, para dar início às investigações. As autoridades estão também a investigar possíveis violações disciplinares ou actividades ilegais por parte dos funcionários, acrescentou o jornal.

A gestação de substituição é proibida na China, tal como o acesso de mulheres solteiras a tecnologias de reprodução assistida, como o congelamento de óvulos, devido aos “riscos para a saúde”, à “falta de provas que apoiem a prática da tecnologia de congelamento de óvulos para adiar a fertilidade” e ao potencial “abuso da tecnologia para fins lucrativos”, tinha afirmado, em 2020, a Comissão Nacional de Saúde do país.

Em 2023, a China registou 1.409 milhões de habitantes, menos 0,14 por cento do que em 2022, ano em que a população já tinha diminuído em 850.000, marcando o primeiro declínio desde 1961, quando o Grande Salto em Frente resultou em fome em grande escala.

Imobiliário | Preços de casas novas caem pelo 18º mês consecutivo

Os preços das casas novas na China caíram pelo 18º mês consecutivo, em Novembro, embora a queda ocorra a um ritmo mais lento do que no mês anterior, face às medidas governamentais de apoio ao sector

 

Os preços em 70 cidades selecionadas caíram 0,2 por cento em relação ao mês anterior, de acordo com os cálculos feitos com base nos números divulgados pelo Gabinete Nacional de Estatística (GNE) chinês, que reflectiram uma contracção de 0,51 por cento em Outubro.

Entre as localidades mencionadas, 49 registaram reduções nos preços das casas, em comparação com 63 em Outubro, e 17 – incluindo algumas grandes cidades como Xangai e Shenzhen – registaram aumentos, um salto significativo em relação ao mês anterior (sete).

Os cálculos feitos com base nos dados do GNE também reflectem uma redução de 0,35 por cento no preço das casas em segunda mão em Novembro, depois de terem caído 0,48 por cento no mês anterior. No caso deste tipo de imóveis, 58 das 70 cidades registaram descidas, dois mantiveram-se ao mesmo nível de Outubro e 10 registaram subidas.

A instituição estatística também anunciou os dados sobre o investimento em promoção imobiliária entre Janeiro e Novembro, que mostram uma queda de 10,4 por cento, uma descida 0,1 por ceto, mais profunda do que a registada até Outubro.

O GNE indicou que as vendas de propriedades comerciais medidas pela área útil caíram 14,3 por cento entre Janeiro e Novembro. Embora se trate ainda de uma queda significativa, reflecte também novamente uma tendência de recuperação relativa: as duas leituras anteriores tinham sido de 17,1 e 15,8 por cento.

Mangas arregaçadas

Nas últimas semanas, as autoridades chinesas continuaram a anunciar medidas para travar a queda do mercado imobiliário, uma questão que preocupa Pequim devido às implicações para a estabilidade social, uma vez que a habitação é um dos principais veículos de investimento das famílias chinesas. Em Novembro, o Governo anunciou novas políticas fiscais para estabilizar o mercado imobiliário, e as principais cidades, como Pequim e Xangai, tomaram a iniciativa de anunciar reduções de impostos sobre as habitações de luxo para impulsionar o mercado.

Uma das principais causas do recente abrandamento da economia chinesa é a crise do sector imobiliário, cujo peso no produto interno bruto (PIB) chinês, somando os factores indirectos, foi estimado em cerca de 30 por cento, segundo alguns analistas.

Pode um historiador prever o futuro?

Uma leitura sobre a vidência em Sima Qian

Por André Bueno

No Shiji de Sima Qian, há uma passagem que adoro citar. É retirada da biografia de Zhang Liang [Shiji, 55], um dos grandes heróis que lutou contra Qinshi Huangdi e ajudou a fundar a dinastia Han. Ela nos conta que Zhang era um espécie de ‘predestinado’ a ajudar na elevação de Liu Bang [primeiro imperador de Han] ao poder, e a revelação de seu potencial se dá em um encontro de contornos místicos, que reproduzo nessa longa passagem adaptada:

“Um jovem nobre decadente, chamado Zhang Liang, andava perdido pela China, pensando num meio de acabar com o imperador Qinshi Huangdi. Ele já havia realizado uma tentativa anterior, inteiramente fracassada, e estava totalmente desolado. Qinshi parecia ser inexpugnável, e nada indicava que a situação pudesse mudar. Foi então que, num belo dia, depois de muito vagar, Zhang Liang foi atravessar uma ponte, e deparou-se com um velho, que havia deixado cair seu sapato no rio. Zhang, educadamente, prontificou-se a buscá- lo. Quando trouxe o sapato, o velho chutou-o pra longe e pediu novamente Zhang para pegar. Zhang ficou irritado, mas controlou-se e foi atrás do sapato de novo. Quando o trouxe, o velho simplesmente fez voar o calçado para ainda mais longe, e insistiu que Zhang fosse atrás do dito. Numa história normal, Zhang, ou qualquer outra pessoa, achariam que aquele senhor estava fazendo uma brincadeira de mau gosto ou debochando de sua cara. Mas, como Zhang era um predestinado, de características especiais – e contra a lógica usual destas situações – ele foi atrás do sapato do velhinho, pegou-o e o trouxe de volta. Ele estava de cabeça quente, mas controlado; foi o que permitiu que ele reparasse que o velho estava com uma aura estranha de autoridade, um brilho incomum, e de pronto modificou sua atitude. O ancião agradeceu a gentileza, e disse a Zhang que ele era uma pessoa especial. Pediu que dali a cinco dias o encontrasse num lugar convencionado, para dar-lhe um presente. Zhang ficou atiçado e curioso, e foi ao encontro do senhor dias depois. Quando lá chegou, o velho o esperava e gritou com ele: “Porque se atrasou tanto? Você é um grosseiro mal educado. Deixou um velho esperando! Volte daqui a cinco dias!” Zhang quase saiu do esquadro de novo, mas segurou-se. Voltou cinco dias depois, bem mais cedo do que antes, e encontrou o velho lá apenas para apanhar outra bronca e ouvir: “volte daqui a cinco dias!”. Devem ser nestes momentos que os heróis mostram sua obstinação. Talvez por curiosidade, ou por que não tinha nada melhor, Zhang decidiu fazer diferente. Foi quase um dia antes no lugar marcado e ficou esperando. O velho chegou, sorriu-lhe e disse: “paciência e disciplina, agora sim. Este é o caminho”. Deu-lhe um livro e continuou: “Você será o mestre do novo imperador daqui a dez anos. Daqui a treze anos, nos encontraremos de novo perto da margem norte do rio Chi. No pé do monte Guqian haverá uma pedra amarela: serei eu”, e desapareceu. Ele nunca mais foi visto. Quando terminou este encontro estranhíssimo, Zhang Liang olhou o livro que havia ganhado, e percebeu que se tratava de um tratado militar desconhecido. O livro parecia ser simples, e aparentemente combinava os textos de Taigong com os de Sunzi e de outros autores. Ele dividia-se em três partes apenas: as estratégias superiores, medianas e inferiores. Por causa disso, ele acabaria sendo chamado de ‘As três estratégias’, e para evitar confusões, a tradição chinesa o salvou como As três estratégias do duque da pedra amarela” [Bueno, 2011: 111-113].

No melhor estilo Ariano Suassuna – “não sei como foi, só sei que foi assim” – Sima Qian nos conta toda essa história sem enfatizar qualquer crença especial em sua veracidade. Como historiador, ele reproduzia uma narrativa conhecida; afinal, Zhang foi um personagem real, e se não foi ele a difundir essa lorota, não fez nada para desmenti-la. Mas ao mesmo tempo, Sima precisava defender – até certo ponto – que os especialistas no passado conseguiam, de alguma maneira, explicar o presente e determinar o futuro por meio do seu conhecimento. Isso implicava dizer que os historiadores tinham que lidar com a ideia de que algumas pessoas eram especiais, dotadas de uma tendência, propensão ou destino que lhes garantiria um papel especial na história. Ao mesmo tempo, os especialistas em história deveriam saber ler essas tendências e inferir o desfecho de certos acontecimentos. Não é preciso muito para entender que sustentar essa ideia sempre foi um problema. Como explicar, por exemplo, que Qinshi Huangdi era uma pessoa especial, se seu governo foi marcado pela crueldade? E como ainda explicar que a natureza [Tian, o Céu] o entronizou? Do mesmo modo, Liu Bang, o futuro fundador de Han, se destacava por qualidades bastante peculiares. Ele olhava torto, era displicente com a aparência, andava mal ajambrado, mas tinha uma barba bonita, nariz a testa grande, e setenta e duas verrugas na perna. Dava esmolas e tinha a mente aberta. Quando ia pra taverna, ela enchia de gente, todos ficavam felizes e pararam de cobrar fiado dele. Depois que casou, durante um ano inteiro, todos os dias, ele procurava sua esposa, e a fazia ter orgasmos antes de sair pra beber. Essas eram algumas de suas qualidades notáveis. Sim, isso tudo está na biografia de Liu Bang [Shiji, 8] descrita por Sima Qian. Seguem-se uma série de sinais auspiciosos como voos de dragão, emanações de energia, entre outras coisas fantásticas. Como inferir que Liu Bang era um predestinado, senão por sinais celestes misteriosos, que só seriam compreendidos depois?

Obviamente, isso é a reprodução de uma narrativa do passado. Contudo, como dissemos, os historiadores chineses antigos tinham que opinar sobre as tendências do mundo, sobre os acontecimentos e as questões de governança. Ainda que essas descrições fossem esvaziadas de uma carga de realidade [algo como ‘acredite se quiser’], por outro lado, elas serviam de escopo para comprovar a autoridade daqueles que alcançaram o poder [quer dizer, às vezes seria preciso acreditar nelas…]. Zhang Huawei [2017], em um instigante ensaio sobre a visão de destino em Sima Qian, mostra como esse conceito tornou-se objeto de uma complexa discussão acerca do papel previdente do historiador. Em retrospectiva, a ideia de ‘destino’ [Tianming 天命, empregada aqui de forma sinonímica com a nomeação imperial cosmoecológica dos soberanos chineses antigos] foi eventualmente usada para justificar as impressões do passado, bem como de seus personagens. Isso poderia significar que haveria algum tipo de justiça deontológica, uma ordenação natural das coisas ou ainda, uma fundamentação moral para a existência de uma trajetória de vida previamente definida.

Os chineses, no entanto, sempre buscaram escapar de uma visão pré-fixada das coisas. Existiam três razões para supor isso:

A primeira estava fundamentada no ciclo da mutação, apresentada no Yijing [o Tratado das Mutações], o primeiro livro de ciências da história chinesa. O Yijing explicava simbolicamente o ciclo perene da natureza e suas tendências, e por essa razão, tornou-se também [no imaginário chinês] um oráculo capaz de predizer, sugerir ou aconselhar sobre o desfecho das coisas. Mas – e justamente por isso – os chineses acreditavam que se o livro podia oferecer explicações sobre o curso de determinados acontecimentos, então, eles não seriam fatais, e consequentemente, poderiam ser modificados. A predição do Yijing indicava se algo era favorável ou não; então, o consulente poderia mudar de opinião e investir em uma atitude ou conduta diferente, alterando o curso da situação. De forma paradigmática o Yijing, portanto, tornou-se o primeiro oráculo do mundo que apenas aconselhava, mas que também deixava claro que o desfecho do futuro cabia ao indivíduo [Bueno, 2015]. Veremos que isso será crucial na interpretação de Sima Qian.

O segundo aspecto é a genealogia da cultura, proposta por Confúcio desde o Lunyu [Diálogos]. Em uma de suas passagens, ele afirma que ‘Shang sucedeu Xia, assim como Zhou sucedeu Shang. Sabemos o que se perdeu e o que foi acrescido. Quem suceder Zhou fará o mesmo, já sabemos como será’. A partir desse ponto de vista, o movimento de sucessão das coisas na mutação seria gerido por regras éticas e históricas, ligadas a reprodução e transformação da cultura. Visto assim, haveria algo que se preserva [essencial] e o que se transforma diante das necessidades do tempo [Bueno, 2011b].

É aqui que Sima Qian insere um terceiro elemento, a razão ecológica. Em sua visão, os movimentos sociais e políticos acompanhavam a ciclo da mutação em suas variações e movimentos naturais – como anteriormente apregoado pelo Yijing e por Confúcio – mas reinterpretado pela teoria dos cinco elementos, associação essa defendida por seu mestre Dong Zhongshu. Assim, ‘Xia foi madeira; Shang foi metal; Zhou foi fogo; Qin foi água; Han é terra’. As transformações do mundo seguiriam o movimento Wuxing, e por conseguinte, poderiam ser previstas em escala macrocósmica. Isso atendia ao seu propósito de ‘estudar a relação entre o céu e o homem, e compreender as mudanças nos tempos antigos e modernos’ [Shiji 130]. Assim, os movimentos da natureza – e de forma correlata, da humanidade – poderiam ser previstos e determinados em suas tendências fundamentais.

A articulação desses elementos na formulação de uma teoria de presciência revela o quão problemática era a tarefa de Sima Qian. A redação do Shiji estava envolta em compromissos políticos e ideológicos, com os quais ele teve que lidar amargamente ao longo da vida. Embora estivesse claro que sua proposta era valorizar a trajetória histórica de sua civilização, Sima era obrigado também a lidar com as tensões da escrita que envolvia as disputas de poder e as vaidades da corte [Jiang, 2018]. Nesse sentido, é possível que os personagens notáveis do passado possam ter sido moldados, na escrita das narrativas, para serem figuras prescientes; mas admitir isso significava, igualmente, reconhecer a possibilidade da previsão histórica no presente.

Isso deslizava para outro problema: a relação entre os tempos antigos e hodiernos. Li Bo [2014] analisa como Sima Qian estava plenamente ciente de que era um autor do presente falando sobre o passado, e reinterpretando-o dentro das possibilidades das fontes e das orientações ideológicas de sua época. Segundo Li, Sima fazia história do tempo presente, mas desejava entender e reconstruir as camadas da civilização chinesa em uma genealogia, fundando sua cultura no passado. Neste sentido, a presciência seria uma faculdade inviável de ser realizada, já que só poderia ser inferida a posteriori.

Após listar uma série de exemplos pinçados do Shiji, Zhang Huawei, afirma que ‘Resumindo, os pensamentos de Sima Qian sobre o destino incluem tanto a sua crença no destino como as suas dúvidas sobre a justiça do destino. Sima Qian duvidou da justiça do destino, mas não negou a sua existência. Quanto aos acontecimentos que podem ser explicados pela ação pessoal, Sima Qian também atribuiu grande importância ao papel do pessoal e opôs-se a confundir destino com pessoal. Estes estão de acordo com a intenção criativa de Sima Qian de “estudar a relação entre o céu e o homem” sob diferentes aspectos e refletem a sua crença no destino’. Essa conclusão aponta opiniões, mas parece ficar em cima do muro. Ou seja; Sima Qian não deixara de acreditar que poderia haver predestinados ou prescientes; e por tabela, não desejava abrir mão da faculdade de poder ‘inferir o futuro’ por meio dos estudos eruditos, mas precisava lidar com os perigos de errar as predições e conselhos. Melhor seria deixar isso nas mãos dos oráculos; mas esses mesmos oráculos, assim como as pessoas, podiam mudar de opinião!

Uma leitura que pode nos ajudar a compreender as intrincadas reflexões sobre esse problema é o seminal texto de François Jullien sobre ‘situação e tendência na história’ [Jullien, 2017]. Na interpretação de Jullien – alicerçada por comentaristas chineses – a questão central é como a situação ou contexto de uma narrativa são determinadas por suas ‘tendências’, ou seja, pelas forças que atuam para o andamento do episódio em questão. Isso significa que a predição sobre um acontecimento pode ser aferida, em um complexo jogo de espelhos teóricos, a partir de ressignificação de um evento histórico, de acordo com alguma das grades de leitura filosóficas defendidas pelo historiador. Posto de outro modo: um confucionista pode defender que um dado episódio foi bem sucedido pela presença de agentes morais que conduziram as coisas á um desfecho adequado – e nesse caso, a presciência invoca o uso da tradição como guia para afastar-se dos erros. Já um legalista poderia arguir que o mesmo episódio não teria sido bem sucedido, já que uma decisão calcada no passado pode simplesmente não ser adequada para os dias de hoje. Teremos um então uma infindável diatribe de exemplos e contraexemplos que irão colocar em julgamento se alguém era predestinado ou não, e se o historiador foi capaz de perceber isso ou não. A história, assim, não é conclusiva.

Talvez por isso Sima Qian tomasse cuidado em defender a vidência histórica como uma condição sine qua non do historiador. Perturbados constantemente pelas ingerências de figuras do poder, e agenciados com fundos imperiais, os historiadores chineses viviam na delicada corda bamba entre falar a verdade, aconselhar com juízo, e correr o risco de perderem suas cabeças se não atendessem as vontades de seus financiadores. Visto assim, a escolha de personagens especiais do passado poderia ser tão arbitrária [e seus atributos tão fantasiosos] quanto às inferências sobre o futuro poderiam ser carregadas de erros estratégicos quando o historiador estava cerceado de sua liberdade de pensamento. Esse conflito iria fazer com que uma rica tradição de histórias privadas [ou, histórias alternativas aos discursos estabelecidos pela agência imperial] surgisse, provendo a China de uma valiosíssima e diversa tradição historiográfica [Richter, 1987; Beja,1997]. Quanto aos historiadores chineses, esses aprenderiam a duras penas [depois de observarem a indigna condenação de Sima Qian] que se eles podiam prever algo, deviam primeiro observar a própria sorte, antes de emitirem juízos sobre o passado, o presente e inferir algo sobre o futuro.

Referências

Os textos do Lunyu e Shiji foram retirados do livro Textos da China Antiga. Rio de Janeiro: Projeto Orientalismo/UERJ, 2023. Essas fontes estão disponíveis em: https://chines-classico.blogspot.com/p/biblioteca-textos-da-china- antiga.html

Beja, Flora B. ‘El precio de la rectitud. El intelectual como crítico en la China tradicional’ in Los intelectuales y el poder en China / Taciana Fisac (comp.), Madrid: Trotta, 1997: 27-44.

Bueno, André. A arte da guerra chinesa. Projeto Orientalismo, 2011a:111-113.Bueno, André. ‘Não invento, apenas transmito’: Re-interpretando a escrita historiográfica de Confúcio. In: X Semana de História Política da UERJ. Rio de Janeiro: UERJ, 2015. v. 1. p. 251-261.

Bueno, André. ‘O tempo das dinastias’ in Ensaios de Oito Partes. Projeto Orientalismo, 2011b:23-25.

Jiang Tianyue 姜天越. 《司马迁政治思想探究》. 神州·中旬刊, n.12, 2018.

Jullien, François. A propensão das coisas: por uma história da eficácia na China. São Paulo: UNESP, 2017: 223-281.

Li Bo李波. 《司马迁的古今观》. 渭南师范学院学报n.6, 2014.

Richter, Ursula. ‘La tradition de l’antitraditionalisme dans l’historiographie chinoise’. In: Extrême-Orient, Extrême-Occident, 1987, n°9. La référence à l’histoire. pp. 55-89.

Zhang Huawei张华伟. 《浅议司马迁的天命观》. 青年文学家 n.9, 2017.

André Bueno é Prof. Ass. História Oriental da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Este artigo saiu na revista Oriente 24 – Estudos Chineses

Liu Jun, reitor da Universidade Cidade de Macau: “Paisagem cultural diversificada de Macau pode dotar os estudantes de valiosas competências”

O Reitor da CityU de Macau, Liu Jun, considera que a RAEM tem um “futuro brilhante para o ensino superior”, aproveitando o quadro “um país, dois sistemas”, a diversificação económica adequada e tornando a cidade um local favorável para os estudos superiores dos estudantes. Aqui se fará, segundo o reitor, a “universidade do futuro”

Aproveitando os pontos fortes do princípio “um país, dois sistemas”, Macau está preparado para se tornar um centro de intercâmbio de talentos de classe mundial, com o ensino superior como uma marca brilhante. É esta a opinião de Liu Jun, professor e académico de renome internacional, reitor da Universidade da Cidade de Macau, numa altura em que a região administrativa especial se prepara para comemorar o 25º aniversário do regresso da cidade à pátria.

Liu diz que vê a RAEM a tornar-se uma base de talentos glamorosa dentro de um quarto de século – um local que não só forma profissionais, mas também serve de plataforma para o intercâmbio e colaboração de talentos internacionais. Nessa altura, prevê Liu, terá sido estabelecido um novo modelo de ensino – uma “universidade do futuro” – que dará aos estudantes uma liberdade sem paralelo para escolherem os seus cursos e áreas, orientados por especialistas globais e capacitados por tecnologia avançada, para perseguirem o conhecimento e os seus sonhos.

Para concretizar esta visão, para além de maximizar os pontos fortes inerentes a Macau, “o sector da educação deve utilizar plenamente as suas ligações com as cidades vizinhas do continente chinês, aproveitar as oportunidades criadas pela diversificação económica da RAEM e abraçar activamente a tecnologia e a colaboração interdisciplinar”, afirma.

Aproveitar a Grande Baía e Hengqin

Chamando ao espaço limitado da cidade um constrangimento fundamental para o desenvolvimento de instituições de ensino superior, Liu diz que há uma necessidade premente de aproveitar as opções oferecidas pelo progresso integrado das nove cidades do continente na Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, especialmente o desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada Guangdong-Macau em Hengqin.

O reitor diz esperar que todas as universidades de Macau possam criar uma instituição conjunta em Hengqin que permita aos licenciados do ensino secundário do continente frequentar cursos de educação geral que abranjam estudos liberais como línguas, cultura, humanidades e inteligência artificial durante os primeiros dois anos.

No terceiro e quarto anos, com base nos seus pontos fortes e preferências, os estudantes podem ingressar numa das 10 universidades de Macau para prosseguirem os seus estudos. Neste contexto, Hengqin poderá tornar-se mais dinâmica com o aumento das actividades educativas e o sector educativo da cidade poderá também acolher mais estudantes, criando uma base sólida para o desenvolvimento futuro.

A presença de estudantes estrangeiros

Além disso, existe uma vasta rede de comunicação entre a nação e os países envolvidos na Iniciativa Faixa e Rota, especialmente os 10 estados membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, que constituem um recurso crucial para o desenvolvimento educacional de Macau.

Na opinião de Liu, há uma procura crescente entre os estudantes destas nações para estudar no estrangeiro. Na CityU Macau, são concedidas bolsas de estudo completas a estudantes excepcionais destes países para prosseguirem os seus estudos na cidade, incluindo 30 estudantes do ensino secundário da Malásia que se vão inscrever no próximo ano.

Além disso, Macau pode ser uma opção atractiva para estudantes de países de língua portuguesa como o Brasil e Timor-Leste. O reitor acredita que, para além dos estudantes que frequentam os tradicionais cursos de quatro anos, os intercâmbios, mesmo que breves, permitirão que estes levem as suas experiências em Macau para os seus países de origem, gerando mais interesse em Macau entre os estudantes. “Com o apoio inabalável da nação, Macau está a avançar vigorosamente para a diversificação económica, o que criará um novo impulso para o ensino superior”, diz Liu.

Confiança no futuro

Para além da sua indústria tradicional de jogo, Macau está a promover o crescimento em áreas emergentes com um vigor sem precedentes, incluindo a tecnologia, as finanças, a biomedicina e as exposições. A mudança não só atribuirá mais recursos à educação, como também estimulará o aumento dos intercâmbios académicos, apresentando uma oportunidade vital para os estudantes que pretendem seguir carreiras nestas indústrias em evolução.

Liu acredita que o governo da RAEM poderia adoptar políticas em matéria de vistos e outros aspectos para ajudar os licenciados excepcionais a permanecer e a trabalhar na cidade, dando um impulso significativo à educação.

Com esta multiplicidade de condições externas favoráveis, Liu está confiante no desenvolvimento futuro da educação, especialmente tendo em conta as vantagens inerentes a Macau – o seu ambiente multicultural e as fortes ligações internacionais ao abrigo da política “um país, dois sistemas”.

Como centro de convergência de académicos e de informação de todo o mundo, Liu acredita que a paisagem cultural diversificada de Macau pode dotar os estudantes de valiosas competências interpessoais e alargar as suas perspectivas, tornando-a uma alternativa atraente e rentável para mais estudantes.

Em três anos, a população estudantil da CityU Macau cresceu de 7.000, durante a pandemia da COVID-19, para 12.000. A rede de intercâmbio internacional da instituição tem continuado a expandir-se através de intercâmbios nacionais e internacionais, com o número de estudantes e académicos estrangeiros a continuar a aumentar.

Liu sublinha que a chave para manter este desempenho é proporcionar aos estudantes um ensino de elevada qualidade e um percurso educativo mais rico para garantir que possam alcançar um verdadeiro sucesso. Isto aplica-se não só à CityU Macau, mas também a todo o sector da educação.

Para a CityU Macau, a promoção de indivíduos com conhecimentos interdisciplinares através da integração de disciplinas é a sua principal prioridade.

Universidade na era da IA

Liu aponta para a infusão contínua da escola de IA e de grandes volumes de dados noutras disciplinas. Entre as suas 10 faculdades, a Faculdade de Ciências de Dados não só cumpriu os seus deveres académicos, como também contribuiu para o desenvolvimento de outras disciplinas no campus, com a integração da IA a remodelar todos os campos de estudo. Atualmente, os cursos na grande indústria da saúde abrangem os cuidados de saúde inteligentes e os serviços de vida sénior, e os estudantes que frequentam cursos de finanças são obrigados a explorar também a tecnologia financeira.

Na era da IA, os rápidos avanços tecnológicos estão a revelar as limitações das disciplinas tradicionais, diz Liu, acrescentando que o sector da educação deve adotar uma abordagem mais orientada para o futuro na conceção das disciplinas, equipando melhor os estudantes para as exigências da sociedade e do mercado de trabalho.

Além disso, as disciplinas nucleares tradicionais de Macau, como a língua portuguesa e o turismo, devem também adoptar conhecimentos interdisciplinares. Com uma vasta experiência no ensino de línguas, Liu afirma que a língua é apenas um instrumento de comunicação. A CityU Macau incentiva os estudantes de língua portuguesa a seguirem diversos cursos de dupla especialização, como marketing, análise, operações logísticas e ciências informáticas.

Salientando a importância do inglês na promoção do turismo, Liu observa que, à medida que Macau se esforça por se tornar um centro mundial de turismo e lazer, muitos gestores de nível médio a superior no sector do turismo são proficientes em inglês, facilitando as interações com turistas de todas as partes do mundo. Esta proficiência é também um requisito que estabelece para os seus alunos.

Para ajudar a geração mais jovem de Macau a contar as boas histórias da China ao mundo, Liu diz que cabe ao sector da educação equipar os jovens com uma ampla visão internacional para além das fronteiras.

A educação de Macau está a desenvolver rapidamente um grupo crescente de talentos versáteis com competências práticas e uma perspectiva global e, quando a RAEM celebrar o seu jubileu de ouro, os seus futuros líderes serão os pilares e os facilitadores do desenvolvimento nacional.

Entrevista por Wu Kunling, China Daily

BNU | Cobradas taxas de manutenção a contas inactivas

O Banco Nacional Ultramarino (BNU) vai começar a cobrar taxas de manutenção de contas que estão inactivas, ou seja, se durante um ano não for feita qualquer transacção.

A nova regra entra em vigor a partir do dia 17 de Fevereiro, e implica a cobrança de 100 patacas por cada semestre, para contas que estejam há quatro anos, ou mais, sem transacções e movimentos.