Guantánamo | China considera prisão como “ferida aberta” pelos EUA em Cuba Hoje Macau - 21 Dez 202421 Dez 2024 A China considerou ontem a existência da prisão da Base Naval de Guantánamo como uma “ferida aberta” para Cuba e “prova irrefutável de mais de um século de ingerência ilegal” dos Estados Unidos na ilha. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, respondeu assim a perguntas sobre a recente libertação de dois prisioneiros malaios detidos nas instalações. Lin classificou a ocupação norte-americana da Baía de Guantánamo, na ponta leste de Cuba, como uma “grave violação do direito internacional e da soberania cubana”. O responsável afirmou que “a detenção arbitrária e a tortura têm sido uma constante” na prisão, descrevendo-a como um “campo de concentração dos Estados Unidos” que não respeita as normas norte-americanas em matéria de direitos humanos. “A comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas, apelou repetidamente ao encerramento de Guantánamo e à justiça para os detidos, mas os EUA não cumpriram estas exigências nem as suas próprias promessas”, afirmou Lin. O porta-voz também criticou a duplicidade de critérios de Washington ao manter Cuba na “Lista de Estados Patrocinadores do Terrorismo” enquanto perpetua estas práticas. “A comunidade internacional vê claramente esta hipocrisia”, sublinhou. A China reafirmou o seu apoio à soberania de Cuba e condenou as “acções de intimidação” dos EUA, incluindo o embargo económico e financeiro. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros instou Washington a “devolver o território de Guantánamo ao povo cubano, encerrar o centro de detenção e retirar Cuba da lista de patrocinadores do terrorismo”. Os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira o repatriamento para a Malásia de dois reclusos da prisão de Guantánamo que cooperaram com as autoridades norte-americanas, Mohammed Farik bin Amin e Mohammed Nazir bin Lep, elevando para 27 o número de detidos na prisão, 15 dos quais são elegíveis para transferência, segundo o Departamento da Defesa. Os primeiros prisioneiros chegaram a Guantánamo no âmbito da “guerra contra o terrorismo” lançada pelo então Presidente republicano George W. Bush (2001-2009) após os atentados de 11 de Setembro de 2001, em que morreram cerca de 3.000 pessoas. A base chegou a albergar cerca de 780 prisioneiros e os que restam estão agora divididos em dois campos: o primeiro para os presos considerados de “alto perfil”, como os acusados dos atentados de 11 de Setembro de 2001, e o segundo para os presos de menor importância.
RAEM 25 anos | Vitalino Canas destaca figura de Sam Hou Fai como CE Andreia Sofia Silva - 21 Dez 202421 Dez 2024 Vitalino Canas, advogado e figura ligada ao processo de transição de Macau, da parte portuguesa, destacou, esta quinta-feira, a tomada de posse do VI Governo da RAEM, liderado por Sam Hou Fai. “Sam Hou Fai é uma figura que, do ponto de vista português, nos interessa muito, por ser alguém que domina o português e exerceu altas funções no sistema judiciário de Macau. Estou seguro de que será uma figura a contribuir para o acentuar das relações entre Portugal e Macau”, disse. Vitalino Canas salientou também a presença de Xi Jinping em Macau para esta tomada de posse, o que “revela indícios da importância que a China continua a atribuir à RAEM”. Referindo-se ao actual sistema político da RAEM, Vitalino Canas declarou que Portugal deixou “um legado” nas instituições políticas existentes, à excepção da figura do governador que passou a Chefe do Executivo. “Conseguimos identificar as instituições políticas actuais e encontrar alguma similitude com as entidades e sistema de governo praticado em Macau antes da transferência da administração do território”, rematou. Vitalino Canas destacou também o Direito de Macau como “um dos legados portugueses”, falando da importância de atrair novos académicos e interessados para o seu estudo e divulgação. “Falamos que há dificuldades em garantir a sua continuidade, e isso de facto existe. Mas uma das primeiras condições para ultrapassar isso é olhar esse legado, dizer em que consiste e promovê-lo. Isso faz-se com as pessoas que conhecem Macau, mas é necessário fazer com que pessoas que não estiveram em Macau possam ser atraídos para esta área do conhecimento.”
Novo campus da Universidade de Macau abre em Hengqin em 2028 Andreia Sofia Silva - 21 Dez 2024 Rui Martins, vice-reitor da Universidade de Macau (UM), anunciou esta quinta-feira novos dados sobre o segundo campus da UM em Hengqin, na zona oeste, que é, portanto, território chinês. Na sessão sobre os 25 anos da transição de Macau no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, o responsável avançou que o novo campus terá a primeira faculdade de medicina pública do território. “O novo campus deverá aparecer na zona oeste da Ilha de Hengqin, tendo cerca de metade da superfície do actual campus. Terá quatro faculdades, nomeadamente a primeira faculdade de medicina pública de Macau, concretizada em associação com a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Teremos ainda uma faculdade de ciências da informação, de engenharia e outra de design, que inclui o curso de arquitectura.” Segundo Rui Martins, estes cursos serão ministrados em parceria com outras universidades, sendo que os conteúdos programáticos serão aprovados pelas autoridades da RAEM, apesar do segundo campus estar já na China, o que suscitou a curiosidade de universidades de Hong Kong. “Apesar dos cursos serem oferecidos na China serão aprovados por Macau, e este é um aspecto importante, porque as universidades de Hong Kong que abriram pólos na Grande Baía têm cursos aprovados pelo Ministério da Educação chinês. Esse não será o caso da UM, que terá dois campus diferentes, em Macau e na China. Os dirigentes das universidades de HK ficaram muito admirados e, neste momento, estão a solicitar reuniões com o nosso reitor para perceber como é que isto foi feito.” A inauguração do segundo campus deverá acontecer em 2028 e reunir oito mil alunos, o que fará da UM uma entidade com um total de 25 mil alunos até ao final da década. “Neste momento estamos a fazer os preparativos para o lançamento dos programas”, declarou. Nova dinâmica Rui Martins espera que com o segundo campus da UM, construído numa zona de Hengqin ainda “deserta”, haverá uma nova dinâmica social. “Prevê-se que com o aparecimento da universidade haja uma dinâmica diferente em Hengqin, com a movimentação de alunos e professores, a fim de se dar um maior desenvolvimento à ilha.” Além disso, outras instituições do ensino superior poderão construir pólos nesta zona de Hengqin. “Há a previsão de que outras universidades de Macau poderão aí [zona oeste] construir pólos”, disse Rui Martins. Para Jorge Rangel, Macau tem a mais valia da educação na cooperação com a China e toda a zona da Grande Baía. “A questão é como é que Macau, com uma realidade tão exígua, vai enfrentar o desafio deste crescimento tão grande. Cabe às autoridades e às pessoas de Macau estarem preparadas para este grande desafio, que será o desafio do século para Macau, e penso que as universidades vão ter um papel essencial a desempenhar. Se quisermos liberdade de expressão ou académica, Macau pode usufruir de tudo isso.”
EPM | Neto Valente diz que FEPM pode ficar sem dinheiro Andreia Sofia Silva - 21 Dez 2024 Jorge Neto Valente, presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau, disse esta quinta-feira que a entidade corre o risco de ficar sem dinheiro a “médio prazo” se o Estado português não contribuir mais para o seu financiamento. O advogado falou ainda da necessidade de flexibilizar a contratação de docentes. Neto Valente foi um dos convidados da sessão sobre os 25 anos da transição de Macau no CCCM O presidente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM), Jorge Neto Valente, disse esta quinta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, que a entidade corre o risco de ver esgotar os fundos a “médio prazo”. “Os défices [orçamentais] que se vêm verificando nos últimos anos têm sido cobertos pela FEPM, e se não forem estancados corre-se o risco de ver exauridos os seus capitais a médio prazo.” Neto Valente disse ainda que no ano lectivo anterior e no actual poderá não haver défice, sendo que os custos para este ano lectivo, de 2024/2025, serão de oito milhões de euros, com o Estado português a financiar apenas dez por cento. “A EPM é diferente das escolas portuguesas no estrangeiro, pois aí o Estado português sustenta as escolas integralmente. Seria bom que o Estado português pagasse mais [no caso da EPM], porque poderiam fazer-se muitas coisas que sem dinheiro não se fazem.” Jorge Neto Valente foi orador da sessão “O Legado Português em Macau – 25 Anos de Retrocessão”, que decorreu esta quinta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa. O presidente da FEPM disse que a EPM tem, actualmente, cerca de 780 alunos, 40 turmas e 80 docentes, referindo também que cabe ao Ministério da Educação de Portugal flexibilizar mais a contratação de professores. “A EPM precisa de um outro pilar, que é o apoio do Ministério da Educação no que respeita ao contributo financeiro que lhe cabe assegurar, e na facilitação e agilização do recrutamento de professores qualificados para prestar serviço em Macau. O Ministério da Educação tem o poder de enfraquecer a escola e lhe causar dificuldades, mas não consegue, por si só, manter a escola, que vive, sobretudo, dos apoios do Governo de Macau, sem quaisquer interferências.” É preciso mais Jorge Neto Valente falou ainda da necessidade de rever os estatutos da FEPM tendo em conta a nova legislação sobre as escolas privadas em Macau e ainda a realização de obras de um edifício dos anos 60. Quanto às obras de ampliação da escola, o processo ainda está a decorrer. “Falta regularizar a situação do imóvel para o que foi fixado um prazo de 18 meses para cumprimento das formalidades relativas à emissão de uma licença de obra para a ampliação do edifício realizado em 1999. Tal não andou e foi a nova administração que foi instar o Governo da RAEM a regularizar a situação.” Neto Valente destacou que hoje a EPM não recruta mais alunos de língua materna não portuguesa por falta de espaço e que o “Governo da RAEM tem mostrado disponibilidade para financiamentos, inclusivamente a ampliação da EPM”. Porém, deixo o repto: a EPM tem de se modernizar. “O quadro normativo não chega. A EPM foi criada para ser uma escola de referência na aprendizagem da cultura e língua portuguesas e para o ser tem de ter ao seu serviço profissionais de excelência com elevadas qualificações e experiências nas áreas de ensino. Com a concorrência que existe, a escola tem de se modernizar e superar vantagens que as novas escolas possam oferecer. A EPM tem de gerir melhor os recursos materiais e humanos e adoptar uma gestão rigorosa dos fundos postos à disposição. Há que fazer obras de renovação profundas.” No mesmo tom Também Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau e antigo secretário adjunto, afirmou que a “EPM é o instrumento mais importante para a afirmação dos portugueses em Macau” e sem ela “seria impossível os portugueses estarem em Macau”. “Continuo a defender que está ainda aberto caminho para que a EPM, não esteja apenas virada para o ensino curricular português, pois pode prestar à RAEM um grande serviço. A EPM deve ter um estatuto especial e precisa muito do apoio do Ministério da Educação. Não a podemos olhar apenas como a escola dos filhos dos portugueses ou das crianças que querem fazer a sua escolaridade em português. A EPM deve ser olhada pelo Estado português como sendo diferente de todas as outras portuguesas no estrangeiro”, rematou.
Imprensa | Ron Lam defende papel de meios de comunicação Hoje Macau - 21 Dez 2024 O deputado Ron Lam defende que a função supervisora dos meios de comunicação não deve ser enfraquecida, sob pena de resultar no afastamento entre a governação e a população, tornando cada vez mais difícil tomar o pulso ao “sentimento público” e responder “às queixas da sociedade”. A opinião foi expressa através de um texto no jornal Son Pou. O também ex-jornalista destacou a importância da supervisão ao Governo pelos meios de comunicação e sociedade, porém, lamentou que o papel dos meios de comunicação tradicionais seja cada vez mais difícil, enquanto órgão de supervisão, porque os governantes tendem a evitar falar com a imprensa. Ron Lam apontou igualmente que para implementar o princípio “Um País, Dois Sistemas” com características de Macau é importante melhorar a capacidade da governação e de resposta às opiniões e anseios da população, bem como não temer e respeitar a supervisão independente dos meios de comunicação.
Comércio | China destaca relação forte com Macau Hoje Macau - 21 Dez 2024 O Governo Central afirmou que as relações económicas e comerciais com Macau estão a fortalecer-se, num comunicado divulgado no dia do 25.º aniversário da transferência da administração. O Ministério do Comércio informou que o comércio entre o Interior da China e a RAEM atingiu os 3,84 mil milhões de dólares em 2023, um aumento de mais de quatro vezes em relação a 1999. O comércio de serviços também registou um crescimento, marcado pelo afluxo de turistas da China continental para a região administrativa especial, segundo os dados do ministério do Comércio. Entre 2004 e 2023, Macau recebeu cerca de 310 milhões de visitantes do continente, detalhou. “O aumento do turismo impulsionou os sectores locais do comércio a retalho, da hotelaria e da restauração”, destacou. O Governo Central aumentou, em Julho, a isenção de taxas alfandegárias para os viajantes que entram na China oriundos de Macau, de 5.000 yuan para 12.000 yuan, visando aumentar as despesas na RAEM. Entre Janeiro e Outubro, o Interior atraiu 23,93 mil milhões de dólares em investimento directo de Macau e investiu 14,19 mil milhões de dólares na região. O ministério assegurou que vai continuar a promover a colaboração económica entre o Interior e Macau, a apoiar o rápido desenvolvimento económico da região e a contribuir para a modernização da China, no âmbito da construção da área da Grande Baía.
Governo | Ex-secretário Lei Wai Nong nomeado para Fundação Macau João Santos Filipe - 21 Dez 2024 Ho Iat Seng vai continuar a “servir” o país e a RAEM, o que significa que vai ter escritório, motorista, segurança e assistência médica pagas do orçamento da RAEM durante os próximos anos O ex-secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, vai desempenhar funções como membro do Conselho de Administração da Fundação Macau. A informação foi divulgada ontem, através de um despacho publicado no Boletim Oficial. “É nomeado, em comissão de serviço, Lei Wai Nong, a tempo inteiro, como membro do Conselho de Administração da Fundação Macau, pelo período de um ano, e é atribuída a remuneração mensal correspondente ao índice 905 da tabela indiciária da função pública”, pode ler-se no documento. O índice 905 da tabela indiciária da função pública significa um vencimento de cerca de 85 mil patacas por mês. “O despacho produz efeitos imediatamente e Lei Wai Nong vai beneficiar das regalias previstas no regime jurídico da função pública para o cargo de direcção”, foi acrescentado. Nos passos mais recente na carreira profissional, Lei Wai Nong foi escolhido por Ho Iat Seng para secretário da Economia e Finanças, depois de ter desempenhado as funções de vice-presidente do Instituto para os Assuntos Municipais. Na edição especial de ontem do Boletim Oficial foi igualmente tornado público que Sónia Chan, antiga secretária da Administração e Justiça, vai manter-se como directora dos Serviços da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos (DSSGAP), cargo que desempenha desde o início do corrente ano, altura em que o então gabinete da Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos foi transformado em direcção de serviço. Regalias para Ho Iat Seng Também ontem foi revelado que Ho Iat Seng, na condição de ex-Chefe do Executivo, vai continuar a “servir o país e a RAEM”, o que significa que vai te direito a um local de trabalho, motorista, vigilância e tratamento médico. “O Senhor Ho Iat Seng, após o exercício das suas funções como Chefe do Executivo, continuará a servir o país e a Região Administrativa Especial de Macau para o exercício de missões ou actividades favoráveis aos interesses do país e da Região Administrativa Especial de Macau”, foi anunciado. “Ao Senhor Ho Iat Seng é assegurado todo o apoio logístico e administrativo necessário, incluindo local de trabalho e pessoal de apoio, viatura com motorista, vigilância pessoal, assistência médica e tratamento protocolar, bem como as despesas associadas”, foi acrescentado. Estas despesas são pagas pelo orçamento da RAEM, através dos orçamentos destinados ao Gabinete do Chefe do Executivo e da Direcção dos Serviços para os Assuntos da Sede do Governo.
Hong Kong | John Lee saúda novo Governo e promete desenvolver cooperação com Macau Hoje Macau - 21 Dez 2024 O Chefe do Executivo de Hong Kong saudou ontem a tomada de posse do líder do Governo do Macau e prometeu continuar a trabalhar em conjunto com a região vizinha, “aproveitando os pontos fortes das duas cidades para servir as necessidades” da China. “Desejo que Sam [Hou Fai] e o Governo da Região Administrativa Especial de Macau, no seu sexto mandato, levem Macau a atingir novos patamares de desenvolvimento”, assinalou John Lee, que chefiou uma delegação que se deslocou ao território para participar nas cerimónias do 25.º aniversário do estabelecimento da RAEM. Para o líder de Hong Kong, as duas cidades “beneficiam das vantagens de ‘um país, dois sistemas’ (…) e partilham uma forte ligação, com intercâmbios frequentes e anos de cooperação contínua em domínios como economia, infra-estruturas transfronteiriças, turismo e cultura, criando uma base sólida”. “Hong Kong vai continuar a trabalhar com Macau para alcançar a complementaridade, contribuindo conjuntamente para promover o desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e esforçando-se por construir uma baía de classe mundial”, indicou, numa declaração oficial divulgada no site do Governo de Hong Kong. Lee acrescentou que vai trabalhar com Sam Hou Fai “para reforçar ainda mais os intercâmbios e a cooperação entre Hong Kong e Macau, aproveitando os pontos fortes das cidades para servir as necessidades do país, demonstrando a vitalidade e a superioridade de ‘um país, dois sistemas’ e dando novos e maiores contributos para a construção de um grande país e para o rejuvenescimento nacional através da modernização chinesa”.
Transferência de Soberania | Marcelo diz que Portugal e China “concretizaram parceria estratégica” Hoje Macau - 21 Dez 2024 Marcelo Rebelo de Sousa assinalou ontem os 25 anos da transferência de administração de Macau de Portugal para a China e considera que os dois países “concretizaram uma parceria estratégica”. O Presidente de Portugal publicou ontem uma mensagem escrita no sítio oficial da Presidência da República na Internet, no dia em que se cumprem “os 25 anos da transferência da soberania de Macau para a República Popular da China”. “Baseada na Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre o Futuro de Macau, de 1987, que estabeleceu os termos desta transferência e constituiu o princípio da construção de uma relação sólida e profícua entre Portugal e a República Popular da China, abriu um novo ciclo nas relações diplomáticas entre os dois Estados”, refere-se na nota. Segundo o chefe de Estado português, os dois países têm-se “empenhado em garantir as melhores condições para a transição em Macau e concretizaram uma parceria estratégica entre Portugal e a China, assente num passado histórico comum, em benefício dos dois povos e das suas relações no século XXI”. Marcelo Rebelo de Sousa realizou uma visita de Estado à República Popular da China entre Abril e Maio de 2019, que começou em Pequim, onde foi recebido pelo Presidente Xi Jinping, passou por Xangai e terminou na RAEM Durante essa visita, as autoridades de Portugal e da China assinaram um memorando de entendimento que previa um novo patamar nas relações bilaterais: a passagem da parceria estabelecida em 2005 para um “diálogo estratégico”, com contactos políticos mais regulares.
RAEM 25 anos | Sam Hou Fai quer atrair “talentos internacionais” João Luz e Nunu Wu - 21 Dez 202421 Dez 2024 O novo Chefe do Executivo disse ontem, após tomar posse, que o território deve atrair mais profissionais qualificados do exterior para ajudar a diversificar a economia. Sam Hou Fai salientou também a importância de responder aos desequilíbrios económicos e de fortalecer a educação patriótica e a segurança nacional Macau tem oficialmente um novo Governo, depois da cerimónia de tomada de posse, que foi ontem presidida por Xi Jinping. No primeiro discurso enquanto líder do Executivo da RAEM, Sam Hou Fai começou por agradecer a Xi Jinping e à sua esposa e afirmou sentir “profundamente o peso da responsabilidade e a honra da missão” que começou ontem. “Irei liderar o novo Governo, com o forte apoio do Governo Central, unindo todos os sectores da sociedade, trabalhando juntos com determinação e inovando com integridade, implementando integral e firmemente a política ‘Um País, Dois Sistemas’”, prometeu Sam Hou Fai. O governante garantiu que o novo Executivo irá defender “intransigentemente a soberania, a segurança e o desenvolvimento do país”, “fortalecendo continuamente a educação patriótica, apoiando o desenvolvimento e o fortalecimento das forças com amor à pátria e a Macau”. No discurso que proferiu na cerimónia de tomada de posse enquanto Chefe do Executivo, Sam Hou Fai não esqueceu os múltiplos apelos de deputados e líderes associativos para responder aos problemas suscitados pela recuperação desequilibrada da economia na ressaca da crise nascida da pandemia. “A par de fomentar e desenvolver as indústrias emergentes, apoiaremos fortemente a reconversão e valorização das indústrias tradicionais e o desenvolvimento de pequenas e médias empresas, resolvendo problemas do desenvolvimento económico” desequilibrado e descoordenado. Quadros e bem-estar Além das promessas de fortalecer associações e forças nacionalistas, Sam Hou Fai comprometeu-se com a resolução dos “problemas concretos que preocupam os cidadãos, como a segurança social, cuidados de saúde, protecção dos idosos, educação infantil, transporte e renovação urbana”. O antigo magistrado que presidiu ao Tribunal de Última Instância prometeu também acelerar “a criação de uma área de aglomeração de talentos internacionais de alta qualidade” na RAEM. Sam Hou Fai prometeu no discurso melhorar “os sistemas e mecanismos de educação, ciência e tecnologia, e talentos”. O novo líder de Macau garantiu ainda que a região vai ligar-se “proactivamente com o mundo [e] desempenhar plenamente o papel da plataforma sinolusófona”. Durante a campanha, o então candidato chegou mesmo a dizer que os casinos tiveram um desenvolvimento desequilibrado, atraindo demasiados recursos humanos, “o que é desvantajoso para o desenvolvimento a longo prazo de Macau”. Com Lusa Conselho Executivo | Sam Hou Fai preside a primeira reunião O Conselho Executivo realizou ontem de manhã a primeira reunião, presidida pelo Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, logo após a tomada de posse. O novo líder do Governo agradeceu a todos os membros por terem aceite o convite para integrarem o Conselho Executivo, e fez uma breve apresentação sobre o regimento do Conselho e as responsabilidades dos seus membros. Sam Hou Fai deixou ainda esperanças de que os membros “apresentem opiniões valiosas e sirvam de forma empenhada a RAEM”. O Chefe do Executivo e os membros do Conselho Executivo trocaram ideias sobre a “aprendizagem séria e a compreensão profunda do espírito consagrado nos importantes discursos do Presidente Xi Jinping, proferidos durante a sua visita a Macau”.
RAEM 25 anos | Xi pediu abertura e maior ligação a países de língua portuguesa João Luz - 21 Dez 2024 Xi Jinping salientou a singularidade de Macau por ser o único local no mundo em que o português e o chinês são as línguas oficiais e pediu uma cooperação abrangente com os países de língua portuguesa. O Presidente chinês desafiou o próximo Governo a melhorar o ambiente de negócios para atrair investidores estrangeiros Na tomada de posse do novo Governo liderado por Sam Hou Fai e dos titulares dos principais cargos da RAEM, o Presidente Xi Jinping, que presidiu à cerimónia, sublinhou quatro expectativas que tem para o novo Executivo: A diversificação adequada da economia, a elevação da eficácia governativa, a abertura ao exterior, que inclui o reforço das relações com os países de língua portuguesa, e a defesa da estabilidade da sociedade. As características únicas de Macau foram a tónica do discurso do Presidente da República Popular da China (RPC), que salientou que a RAEM deve “continuar a cooperar em todos os aspectos com os países de língua portuguesa”. Xi Jinping sublinhou que Macau é “o único local do mundo que tem como línguas oficiais o português e o chinês” e defendeu que a cidade tem de aproveitar “a sua singularidade” para desempenhar “o papel de plataforma entre a China” e os países lusófonos. Macau tem “desempenhado um papel muito importante ao longo da história” da China, como “uma janela para o exterior”, “aproveitando a sua vantagem única de ser a mistura de diferentes culturas”, disse o líder chinês. Neste aspecto, Xi sublinhou que Macau precisa assumir “uma atitude mais tolerante, mais aberta, de estabelecer mais laços de cooperação com o exterior”, para “projectar a imagem” da região a nível global e ter “o seu lugar no palco internacional”. Para conseguir elevar o relevo internacional, o Presidente da RPC defendeu a necessidade de “optimizar o ambiente de negócios” e “renovar as leis que têm a ver com o comércio” de forma a “atrair mais recursos e investidores internacionais”. Recorde-se que a Assembleia Legislativa está actualmente a discutir uma proposta de lei para encorajar a criação de fundos de investimento que possam atrair investidores do estrangeiro, incluindo dos países lusófonos. Redes sociais No discurso que marcou a cerimónia da tomada de posse do novo Governo da RAEM, Xi Jinping apelou ao próximo Executivo para “alargar a rede de amigos”, “continuar a ser aberto ao exterior”, “fomentar o intercâmbio entre os chineses e os estrangeiros”. O líder chinês deu como exemplo a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, o enorme programa estratégico de infra-estruturas internacionais lançado em 2013. De acordo com o Presidente chinês, Macau precisa de “fazer reformas” para diversificar a economia, altamente dependente do turismo e dos casinos. Nos primeiros nove meses do ano, os serviços turísticos representaram 79,7 por cento da economia da cidade. Xi Jinping lembrou que “o Governo Central decidiu desenvolver Hengqin com o objectivo de diversificar a economia de Macau, de facilitar a vida e o emprego dos cidadãos de Macau”. O líder chinês alertou que a aposta na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau “é para persistir” e que “não podem desenvolver indústrias fora desta iniciativa”, defendendo também que a RAEM deve, “de uma forma proactiva, participar no desenvolvimento da Grande Baía” Guangdong–Hong Kong–Macau. Milagre Macau Os históricos progresso alcançados por Macau desde o retorno à pátria foram também mencionados ontem pelo Presidente chinês, que afirmou que a felicidade e sentimento de segurança da população aumentaram significativamente nos últimos 25 anos. Xi Jinping realçou o fortalecimento da economia e das condições de vida, nomeadamente no que diz respeito ao emprego, habitação, educação, cuidados de saúde e qualidade de vida no geral. O crescimento do produto interno bruto (PIB) da região, que foi multiplicado por sete desde a transição de administração, também foi referido pelo Presidente chinês, em particular o PIB per capita que está entre os mais elevados do mundo. A defesa da segurança nacional foi outro tópico sublinhado entre os objectivos que Macau deve salvaguardar de forma inabalável. Xi Jinping salientou também que o Governo Central respeita as diferenças entre os “Dois Sistemas”, garantindo o elevado grau de autonomia de Macau governado pelas suas gentes. Moradores | Ng Sio Lai destaca necessidades económicas A deputada por Macau da Assembleia Popular Nacional e presidente da Associação dos Moradores, Ng Sio Lai, considera que a prioridade da RAEM para os próximos anos tem de passar pela melhoria da situação económica do território e o aproveitamento das vantagens do princípio “Um País, Dois Sistemas”. As declarações foram prestadas ontem pela presidente da associação tradicional ao canal chinês da Rádio Macau, em relação aos discursos de Xi Jinping. Ng Sio Lai prometeu também que a associação vai assumir o papel de contribuir para o desenvolvimento de Macau, ao fazer a ligação entre as aspirações da população e o Governo. A associação conta actualmente com três deputados na Assembleia Legislativa, Ho Ion Sang, Leong Hon Sai e Ngan Iek Hang. Cooperação | Chui Sai Peng promete colaborar com Governo Chui Sai Peng, deputado de Macau na Assembleia Popular Nacional e na Assembleia Legislativa, prometeu fazer todos os esforços para ajudar o Governo a tornar Macau melhor. As declarações foram prestadas à Rádio Macau, em reacção ao discurso de quinta-feira à noite de Xi Jinping. Segundo Chui Sai Peng, o discurso do Presidente chinês ajudou-o a perceber melhor a grandeza de Macau, e a sentir-se mais feliz com os feitos alcançados nos últimos 25 anos. Além disso, o deputado afirmou que é necessário continuar a trabalhar para que os residentes de Macau tenham um maior sentimento de felicidade e segurança. Patriotismo | Chan Hong espera que população aprenda com Xi A deputada por Macau na Assembleia Popular Nacional Chan Hong quer que a população aprenda as esperanças e expectativas que o Presidente Xi Jinping apresentou nos seus discursos e que as ponha em prática, para contribuir para o “grande rejuvenescimento da nação chinesa”. Foi desta forma que a deputada e vice-directora da Escola Hou Kong reagiu ao discurso de Xi Jinping, indicando a necessidade do Governo e da sociedade, em conjunto, “consolidarem a base social do patriotismo e amor por Macau”, “construírem uma plataforma para os jovens” e “reforçarem as forças de Macau”, para aprofundar os contributos para o país. Economia | Wong Kit Cheng quer mais inovação A deputada Wong Kit Cheng acredita que no futuro a RAEM precisa de continuar a inovar para se desenvolver. Em reacção às palavras de Xi Jinping, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau, a deputada ligada à Associação das Mulheres indicou que Macau tem de fazer “um bom trabalho como plataforma” e assumir o papel que lhe foi atribuído pelo Governo Central. Além disso, Wong Kit Cheng insistiu que é necessário continuar a trabalhar no âmbito da diversificação “moderada” da economia. Estudantes | Associação quer mais jovens em Hengqin A secretária-geral da Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, Si Nei Na, afirmou que face aos discursos de Xi Jinping, o Governo de Macau deve focar-se em promover o desenvolvimento dos jovens e incentivá-los a integrarem-se no desenvolvimento nacional, principalmente através da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Si Nei Na defendeu que Macau deve apostar em fazer um bom trabalho a nível das relações internas e externas, e no desenvolvimento do papel da RAEM como plataforma. Fórum Macau | Palestra vai estudar discursos de Xi Jinping O Governo vai organizar hoje, pelas 15h, uma sessão para estudar os discursos proferidos por Xi Jinping durante a visita a Macau. O evento com o nome “palestra sobre a aprendizagem, difusão e implementação do espírito dos discursos importantes do Presidente Xi Jinping no âmbito da visita a Macau destinada a todos os sectores da sociedade de Macau” vai decorrer no Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e é fechado à população. Com Lusa
Identidade, Periferia e Globalização: Duas Narrativas de Macau (continuação) Hoje Macau - 20 Dez 2024 Por Fernanda Gil Costa, ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau Ao ler-se na “Advertência ao leitor” de Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja (publicado em Macau em 2016) que: “A história que se segue não pretende rigor histórico ou justeza, na descrição dos factos, hábitos ou comportamentos de antanho. As datas referidas e os intervenientes querem-se, obviamente, tão ficcionais quanto a realidade” – é expectável entender-se, apesar de tudo, que a encenação histórica das figuras, dos discursos e dos acontecimentos mantêm uma indisfarçável ligação com o presente do leitor português contemporâneo que, por isso, tenderá a interrogar-se sobre as reais condições do alegado passado da efabulação e sobre o sentido do cenário montado sobre factos históricos conhecidos. Neste sentido o leitor modelo de Carlos Morais José é não só o que frequenta o espaço público da cidade de Macau mas também o leitor habitual da literatura portuguesa. A viagem, o trânsito entre mundos é o espaço da narrativa dentro e fora do relato do narrador. Todas as personagens estão em viagem – viagem por mar, deambulação por impérios e cantos remotos do mundo de quinhentos. Por isso, encontrar a relação com e história e a memória de Macau desde o seu achamento e estabelecimento como feitoria entre ocidente e oriente até ao presente pós-colonial, depois das negociações que conduziram à actual administração chinesa do território, é uma necessidade da leitura. A orientação do leitor é difícil, pois só a viagem que decorre no presente da narrativa (o enquadramento – a viagem do padre protestante inglês) está escorada por eventos com substância histórica; as outras duas, a do padre irlandês possuidor do documento que é foco do romance, a confissão de Bernardo Vasques em Macau e a leitura da mesma são relatos escritos/lidos por terceiros, pertencendo, portanto, ao tempo suposto-passado da intriga. A variedade e arbitrariedade das referências, citações e ecos da tradição literária filiam-se claramente numa tradição textual pós-moderna especialmente próxima de muita narrativa contemporânea, especialmente de carácter parodístico. A viagem do padre protestante decorre entre Singapura e Macau (simbolicamente entre o império inglês e o império português); este aporta à chamada Cidade do Santo Nome de Deus em vésperas do incêndio do Colégio de S. Paulo, a primeira universidade católica da Ásia. Tal viagem está, por isso, carregada de sentido simbólico e iniciático já que o protestante vai encontrar em Macau os jesuítas acossados pelos ventos de fim de ciclo que o iminente desaparecimento do colégio vem sublinhar de forma inevitável. Ainda mais importante é o facto de a viagem entre Singapura e Macau ver falhar a missão do protestante, já que apesar dos esforços que aí empreende não encontra prova que confirme a existência do Arquivo das Confissões dos Jesuítas devido quer ao silêncio das fontes contactadas quer ao incêndio do Colégio de S. Paulo, cujo desejado recheio (onde supostamente as provas se encontrariam) vê arder impotente diante dos olhos. Voltando a Arquivo das Confissões, um romance histórico publicado em Macau em 2016, o inusitado assunto poderá não ser surpreendente se considerarmos que o território tem uma história razoavelmente desconhecida do grande público no que diz respeito a episódios, memórias e fontes (a par de lendas e mitos de raiz popular luso-chinesa). A isso acresce o facto de nos últimos anos algumas investigações históricas terem contribuído para reforçar a ideia (que se tornara lenda) de que Camões teria vivido e trabalhado em Macau, o que voltou a colocar o poeta e a sua rota do Oriente no centro de indagações e investigações. Sendo o ponto de partida do romance um assumido desafio a todo o propósito ‘sensatamente’ realista, a sua organização retoma as melhores tradições do género da narrativa enquadrada – gavetas de histórias que se abrem e esvaziam a partir de outras, articuladas em móveis geometrias de eventos misteriosos, de segredos e tesouros perdidos, dando origem à variedade das vozes e ‘fantasmas’ que lenta e intencionalmente desenrolam um imbricado novelo de histórias apenas sustentado por uma teia onírica. Como foi já referido, o narrador principal é um padre inglês protestante que recebe por mero acaso um segredo perdido e de origem desconhecida, cedendo a voz, na recepção do inesperado tesouro, a um padre católico irlandês, o depositário do tesouro, em trânsito entre mundos. Este possui o manuscrito da confissão feita a um jesuíta português, que a terá ouvido e registado em Macau, de um patético bandido e viajante /navegante português, de neopícaro recorte, o qual durante uma viagem ao oriente teve e gulosamente aproveitou a oportunidade de se apropriar, por roubo premeditado durante uma longa congeminação de inveja, de nem mais nem menos que uma obra desconhecida e autobiográfica (espécie de autografia de recorte epopeico) de Luís de Camões. Dois registos estilísticos são, assim, fundamentais nesta obra: primeiro, o da literatura de viagem que colhe variações na tradição vastíssima do género (pícaro, aventura, viagem iniciática, literatura de desastre e naufrágio); segundo, o registo da reflexão filosófica que invade a perspectiva e a narrativa através da voz do narrador principal, um padre culto, devoto e inclinado para a dialéctica dos fenómenos humanos e mundanos. A pergunta que se impõe é – como é que esta estratégia literária se conjuga com o lugar e o tempo reais da obra questionada? A viagem enquadrada que é a intriga central da narrativa e o seu mais remoto passado é a de Bernardo Vasques, narrada em confissão, na primeira pessoa, entre os capítulos sexto e vigésimo sexto. Nela se recupera a história e o ambiente de relatos vários das navegações portuguesas, retirados quer dos cronistas quer das ficções do tempo, como as de Peregrinação. A história é a de um homem de estudos e esmerada educação humanística a quem a obsessão narcisista de ser o melhor poeta de sempre, desenvolvida durante os tempos de passagem pela universidade de Coimbra, onde se confronta com a já vasta sombra de Camões, exacerba o desejo neurótico e mitómano de o ultrapassar em fama e glória. É curioso notar que Bernardo compõe, com excelência, o perfil tradicional do português apanhado pelo fatal emaranhado de ressentimento, queixume e inveja que o filósofo José Gil descreveu em Portugal, Hoje. O Medo de Existir (2004). Ao comentar as emoções e sentimentos negativos presentes no perfil do “invejoso”, o filósofo destaca sobretudo o ressentimento e o queixume, a que chama um “processo de captura” da consciência em estado geral de vulnerabilidade. Ora, Bernardo Vasques lamenta a sua condição de irmão do meio, embora não deseje a sorte nem do primogénito nem do irmão mais novo e acaba por confessar o esmero da educação que lhe foi dada pelo pai, que o destinava ao estudo das leis. O ressentido e generalizado queixume perpassa as suas palavras desde o início da sua narrativa: Calhava-me ser humilhado pelo mais velho, aturar-lhe as ordens e a arrogância, garantidas pela sua força física; e obrigado a proteger o mais novo, suportar-lhe as birras, satisfazer-lhe as manias e embarcar na adulação geral. (AC: 41) Sobre a inveja escreve José Gil, como se descrevesse Bernardo Vasques: É dentro de um banho de ressentimento que melhor se desenvolve a inveja. É no queixume implícito de se achar a si mesmo pequeno que se inveja alguém que pretende ser maior (SE: 93) O empolamento mitómano dos sentimentos de Bernardo V. levam-no a aspirar à fama e glória de poeta maior, lugar ensombrado e ocupado pelo vulto gigante de Camões. Incapaz de obter o reconhecimento almejado e cada vez mais colhido pela humilhação e seu “processo de captura”, embarca para a Índia com o intuito de encontrar o poeta e roubar-lhe a obra que o elevou ao trono das letras que para si deseja. Sabia muito bem o que fazer: ele sofreria. Não como eu. Mas por uma perda irreparável. Não o mataria, não lhe roubaria a vida, mas sim a obra, (AC: 86) Tal projecto neurótico e alucinado será executado no capítulo décimo quarto, depois de encontrado e reconhecido o velho poeta com a involuntária (e irónica) ajuda de uma figura criada pelo próprio, n’ Os Lusíadas – o soldado que desceu o outeiro mais depressa do que subira (AC: 76-77); a esse episódio segue-se uma série atormentada e criminosa de episódios de bíblica maldade, a par de tragédias encadeadas na tradição tenebrosa dos relatos de naufrágios, que terminam com a perda do pretenso manuscrito por Bernardo, depois de o ter aprendido de cor, de tanto repetir a leitura. O pecador arrependido que em Macau se confessa no final da vida, ostenta igualmente sinais claros de desequilíbrio mental e paranóia esquizofrénica. O desaparecimento misterioso, terminada a confissão, empresta à figura de Bernardo traços alegóricos (a marca do procedimento alegórico está patente no facto de Bernardo não lograr que a mão lhe obedeça para escrever e assinar a obra como sua, apesar de a saber de cor), embora na narrativa arraste o humilhante destino de um ser capturado entre a mediocridade e o desejo de grandeza e vanglória. Pode um homem transformar-se num livro? Assim parecia. (…) todas as minhas acções se enfeitavam dos seus versos, os pensamentos ferviam de rimas, nada de novo havia que não coubesse ou não estivesse previsto na grandeza desta obra. (AC: 134) Em conclusão, o registo escrito do delírio paranóico sobre a viagem fracassada de Bernardo Vasques, o transe de recitação (do suposto poema camoniano) depois do qual a personagem desaparece como por osmose entre carne e verbo, ainda antes da absolvição, tal como um pesadelo que cede ao aparecimento da madrugada, levam-nos igualmente à sua pergunta (já citada) entre a retórica e a angústia: “pode um homem transformar-se num livro?” (AC: id.) e ao desespero do impreparado, estarrecido confessor, quanto à justiça da retribuição do perdão divino: “O espírito humano não é um tratado científico e eu sou um pobre leitor cheio de dúvidas e de mísero talento.” (AC: 158). É também a altura de inquirir em que medida Bernardo Vasques se relaciona com o presente do leitor e a que presente pode de facto aludir. A sua história é alucinada e paranóica, projecção de uma mente configurada pela distorção dos mapas da realidade e da psicótica apreciação do lugar dos outros, aliados ou oponentes dos seus objectivos, a par dos obstáculos que enfrenta (seja a fome e a sede depois de um naufrágio, a solidão absoluta ou a inserção numa comunidade desconhecida e crescentemente hostil). A ausência de escrúpulos, o aventureirismo inócuo e sempre aguerrido, cruel, invejoso e oportunista de um português que demanda o mundo em busca do rasto de Camões para se apoderar da sua (pretensa) obra constitui o inverso da epopeia, o avesso do Gama de Os Lusíadas, a paródia do sujeito lírico de Sonetos e restante lírica amorosa. Bernardo Vasques parece expor, de facto, um presente alheio à memória de grandeza, universalidade e vocação descobridora e inspiradora da história portuguesa de quinhentos. O leitor poderá ainda questionar-se sobre a verosimilhança do artificioso relato que reúne tanto o temeroso confessor como o penitente Bernardo Vasques. Poderá tratar-se de mais uma variação sobre o sonho obscuro e polémico de que encontramos testemunho nas letras e nas artes desde a Modernidade, pelo menos desde que Goethe (e antes dele Marlowe) criou um inesquecível Fausto, mundano e humano, que através de singular, simbólico pacto com o demónio, plasmou no ser humano o desejo indelével de mais-querer e ir-mais-além, a porfia e o esforço de conhecimento e acção (streben, diz-se em alemão), que é afinal a medida estética e ética em que a verdadeira, exigente dimensão humana modernamente se reconhece, pelo menos desde o Renascimento. O relato, porém, não cessa de empurrar o leitor para longe da rememoração dos tempos de anseios de valor e grandeza. Na moldura da história ressoa a sobriedade do padre protestante que vai a Macau assistir ao incêndio do mais elevado símbolo do império no oriente, o Colégio de São Paulo, a sua análise implacável da inveja, a mola impulsionadora da mediocridade. Para Carlos Morais José, que afirma sentir-se em Macau um autor português no exílio e deixa voluntárias marcas dessa vivência em toda a sua obra em prosa e verso, onde a língua portuguesa, quase silenciosa nas ruas, é apesar de tudo ainda oficial, a odisseia inversa de Bernardo Vasques é apenas o último testemunho de uma condição de carência e alienação, de teor ontológico, que parece contagiar os poetas e intelectuais que a viagem real (e iniciática) levou para longe dos púlpitos e dos palcos da rotina estético-literária da chamada pátria. Essa condição de carência (e consciência de ser e devir) pode talvez aproximar-se da recente noção de “Exiliance” criada por Alexis Nouss1 que a considera uma “condição de consciência” comum aos exilados e migrantes de todos os tempos e espaços. Embora se deva assinalar a probabilidade de uma definição que se alheia voluntariamente dos traços materiais do tempo e do espaço poder aproximar-se de uma visão essencialista do exílio (aliás, sensível na formação do termo exil[iência]), a sua delimitação como “condição de consciência” parece reintroduzir o papel formador e reformulador do tempo e da circunstância. No caso de Carlos Morais José trata-se de uma condição de consciência (mas também de resistência e devir) que se evidenciará igualmente em outras das suas obras, fazendo parte da visão especial de Macau como singularidade radical na sua condição periférica. Em As Alucinações de Ao Ge e Arquivo das Confissões, um conto e um romance histórico publicados no espaço público de língua portuguesa de Macau posterior à mudança de soberania e consequente emergência de um espaço pós-colonial, encontramos traços de resistência aos monopólios temáticos e discursivos das últimas décadas de narrativas premiadas internacionalmente, navegando os largos mares da chamada Literatura Mundo. Também o denominado grupo de Warwick (WReC), na esteira dos artigos publicados por Franco Moretti em 2000 e 2003 na New Left Review, desenvolve uma ideia de “Literatura Mundial”2 sobretudo entendida como relação dinâmica e dialéctica entre centro e periferia do sistema mundial da literatura, insistindo no valor de resistência atribuído à literatura de regiões periféricas face aos grandes centros de difusão de literatura, ideia que Paulo Medeiros designa também por “imaginação do centro”, sublinhando o interesse “… em obras que resistem, de variadas maneiras, à hegemonia vigente” (Dialética da Periferia: Formas de Resistência na Literatura Mundial: 2021, 221). Posição semelhante é defendida por Cosima Bruno (Bruno: 2014), que propõe o abandono de uma epistemologia essencialista relacionada com nacionalidade e língua e com origem geográfica estrita (Bruno: 2014, 753). Em seu entender, o caso de Macau, apesar da exiguidade do território (que pode não ser sinónimo de insignificância) apresenta condições para alterar a tradicional divisão do mundo em três domínios conhecidos: centro, periferia e semi-periferia (divisões ligadas, por sua vez, à ideologia colonial e seus avatares no período da globalização). Em seu entender a cultura periférica de Macau pode vir a ser reconhecida como um caso específico de ponte natural entre global e local, permitindo viabilizar uma “candidatura” relevante à categoria de Literatura Mundo. No final do seu artigo, C. Bruno faz um apelo à tradução da literatura de Macau e acrescenta que isso é essencial: …not only to contribute to the postcolonial library and to broaden understanding of the ‘literary world’, but also to enable (..) the field of comparative literature together with other literatures (for example Spanish, Portuguese or French) that present global/local structure (Bruno, 2014: 67). Tal interesse pela literatura de Macau, obviamente marginal no contexto actual da Literatura Mundo, é o que melhor pode dar testemunho do legado intranquilo patente na história e na memória da cidade e apelar à herança mal escrutinada do seu passado colonial e marginal. O facto incontornável de esta literatura ter contornos e fronteiras incertas (expressão de várias línguas e pertenças) projeta e sublinha o papel intermediário da tradução e pode alterar, a mais curto ou longo prazo, o perfil e a representatividade cultural deste território simultaneamente indefinível, insular e plataforma de globalização. Referências: Alexis Nouss 2015. A expressão “Literatura-Mundial” é utilizada por Paulo Medeiros em português (membro do grupo WReC) e é, em meu entender muito semelhante à “Literatura-Mundo” (semelhante à expressão francesa Littérature-Monde), utilizada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa.
China opõe-se à inclusão de chineses nas sanções contra a Rússia Hoje Macau - 20 Dez 2024 “A China lamenta e opõe-se firmemente à inclusão de indivíduos e entidades chinesas na ‘lista completa’ da União Europeia (UE) no seu 15º pacote de sanções contra a Rússia”, disse um porta-voz do Ministério do Comércio na quinta-feira. O porta-voz afirmou que a UE fez orelhas moucas às repetidas representações e oposições da China e agiu deliberadamente, dizendo que a China sempre se opôs às sanções unilaterais que não têm base no direito internacional ou na autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O porta-voz referiu ainda que as acções da parte europeia são contrárias ao consenso alcançado pelos líderes chineses e europeus, tendo um impacto negativo nas relações económicas e comerciais entre a China e a UE. A China insta a parte europeia a actuar em conformidade com a manutenção da parceria estratégica global China-UE e a salvaguardar a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais, a pôr imediatamente termo à sua prática errónea de inclusão de empresas chinesas na lista negra e a deixar de prejudicar os interesses legítimos das empresas chinesas. “A China tomará as medidas necessárias para proteger resolutamente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, concluiu o porta-voz.
EUA | Congresso vota lei que restringe investimento na China Hoje Macau - 20 Dez 2024 A Reuters noticiou na terça-feira que o Congresso dos EUA deverá votar nos próximos dias uma legislação que restringe os investimentos dos EUA na China, como parte de um projecto de lei para financiar as operações do governo até meados de Março. O projecto de lei alarga as restrições emitidas pelo Departamento do Tesouro dos EUA em Outubro sobre os investimentos dos EUA em inteligência artificial e outros sectores tecnológicos na China que considera uma ameaça à segurança nacional dos EUA. O projecto de lei também exige os chamados estudos de risco de segurança nacional sobre os routers e modems de consumo fabricados na China e análises das compras de bens imobiliários chineses, segundo a Reuters. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lin Jian, afirmou na quarta-feira que a cooperação económica e comercial entre a China e os Estados Unidos beneficia os dois países e os seus cidadãos. “Exagerar o conceito de segurança nacional e obstruir deliberadamente o intercâmbio económico e comercial normal por razões políticas é contrário aos princípios da economia de mercado, da concorrência leal e do comércio livre, que os EUA afirmam defender. Tais acções também desestabilizam as cadeias industriais e de abastecimento mundiais e não servem os interesses de nenhuma das partes”, afirmou Lin. “A China exorta os políticos norte-americanos relevantes a deixarem de politizar e de transformar em armas as questões económicas e comerciais e a promoverem as condições necessárias para a cooperação económica e comercial entre os dois países”, afirmou o porta-voz. Espaço para a cooperação Embora alguns políticos norte-americanos continuem provavelmente a insistir na adopção de mais medidas repressivas contra as empresas chinesas, existem também áreas em que a China e os EUA podem cooperar, de acordo com Chen Fengying, antigo director do Instituto de Estudos Económicos Mundiais do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China. “Os EUA também se apercebem de que, sem a China, não podem resolver muitas questões globais. Por isso, mesmo que alguns políticos continuem a insistir em mais medidas de repressão contra a China, também haverá áreas em que os EUA querem cooperar com a China”, disse Chen na quarta-feira. A China tem mantido uma abordagem coerente em relação aos EUA, em que o lado chinês permanece aberto ao diálogo e à cooperação, ao mesmo tempo que responde às medidas repressivas dos EUA. Reflectindo esta abordagem, na semana passada, os grupos de trabalho económicos e financeiros da China e dos EUA realizaram reuniões separadas, durante as quais as duas partes trocaram pontos de vista sobre uma vasta gama de questões, incluindo as políticas macroeconómicas. Mas a parte chinesa também manifestou a sua preocupação com as restrições económicas e comerciais impostas pelos EUA. Chen afirmou que, embora seja improvável que a tentativa geral de Washington de conter a China mude em breve, as tácticas sob diferentes administrações dos EUA podem mudar e as áreas de foco para a cooperação podem ser diferentes. “A China irá provavelmente analisar a questão com base nos seus méritos e prosseguir o diálogo e a cooperação sempre que possível, ao mesmo tempo que responderá com firmeza às medidas de repressão dos EUA no domínio da alta tecnologia e noutros domínios”, afirmou. AMEC retirada da lista negra do Pentágono Entretanto, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) retirou a empresa chinesa Advanced Micro-Fabrication Equipment Inc. (AMEC) de sua lista de empresas militares chinesas (EMC), depois que a empresa processou os EUA, informou a Bloomberg na quarta-feira. A retirada da AMEC da lista negra fez com que o preço das acções da empresa no mercado chinês de acções A subisse 1,78% no fecho do mercado. “A medida não só retira a AMEC da designação incorrecta, como também constitui um sinal positivo para outras empresas chinesas que enfrentam as medidas de repressão dos EUA, que podem recorrer a meios legais para defender os seus direitos e interesses legítimos contra as alegações infundadas dos EUA”, afirmou um perito do sector. “Sob o pretexto de proteger a segurança nacional, vários departamentos governamentais dos EUA criaram listas negras de empresas chinesas, embora as acusações contra as empresas chinesas sejam infundadas”, disse Ma Jihua, um veterano observador do sector das telecomunicações. “Influenciados pelo sentimento político actual nos EUA, adicionam arbitrariamente empresas chinesas a várias listas negras, apesar de não poderem apresentar quaisquer provas concretas”, disse Ma na quarta-feira, acrescentando que as empresas chinesas podem tomar medidas legais para proteger os seus próprios direitos e interesses. “O caso da AMEC é um sinal positivo de que existem meios legais para as empresas chinesas defenderem os seus direitos e interesses contra alegações infundadas dos EUA”. Em janeiro de 2024, o DoD dos EUA adicionou a empresa chinesa à sua lista de EMC. Depois de “extensos esforços para se envolver com o DoD a fim de esclarecer os factos e demonstrar que não cumpre nenhum dos critérios de EMC” não terem conseguido alterar a designação do DoD dos EUA, a AMEC anunciou a 16 de Agosto que tinha formalmente apresentado uma acção judicial contra o DoD dos EUA no Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito de Columbia por designar “ilegalmente” a AMEC como uma EMC, disse a empresa num comunicado na altura. Esta é a segunda vez que a AMEC foi adicionada à lista negra do DoD dos EUA e posteriormente removida. Em Janeiro de 2021, a empresa foi designada como EMC, mas após uma petição ao DoD dos EUA com fatos e evidências suficientes, a empresa foi removida com sucesso dessa lista em Junho de 2021, de acordo com a empresa. Para além da AMEC, o Departamento de Defesa dos EUA também retirou outra empresa, a IDG Capital, da sua lista EMC. A inclusão na lista de EMC não implica sanções específicas ou penalidades directas, mas a inclusão na lista pode causar danos à reputação e desencorajar outras empresas a trabalhar com as empresas listadas, de acordo com a Bloomberg.
Antigo líder de Taiwan pede oposição à “independência” Hoje Macau - 20 Dez 2024 O antigo líder taiwanês Ma Ying-jeou pediu mais intercâmbio e cooperação entre os dois lados do estreito de Taiwan, durante uma reunião com o chefe do gabinete do Governo chinês para os assuntos de Taiwan. No início de uma visita à China, o antigo líder da ilha (2008-2016) sublinhou a importância da “oposição à independência de Taiwan” e da cooperação para “promover o desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados do estreito”. Ma, do partido Kuomintang (KMT, na oposição), apelou também para a defesa do “Consenso de 1992”, um acordo tácito entre Taipé e Pequim que reconhece que “só existe uma China”, embora cada parte o interprete de maneira diferente. Aquele princípio é negado pelo atual partido no poder em Taiwan, o Partido Democrático Progressista. Song Tao, responsável pelo gabinete do Governo chinês encarregue dos assuntos de Taiwan, transmitiu a Ma, e à delegação que lidera, “calorosas saudações” do Presidente chinês, Xi Jinping, apelando ao povo “de ambos os lados do estreito de Taiwan” para que dê “prioridade aos interesses da nação e ao futuro do país”, noticiou a televisão estatal chinesa CCTV. Song Tao pediu à população para que “trabalhe em conjunto para melhorar as relações entre as duas margens do estreito, manter a paz e a estabilidade na região e prosseguir o rejuvenescimento nacional”. Ma lidera uma delegação de estudantes numa viajem pelas províncias de Heilongjiang, no nordeste da China, e Sichuan, no centro, onde vão visitar locais históricos e participar em atividades culturais. A visita decorre até 26 de dezembro. China e Taiwan viveram um grande momento de aproximação durante a presidência de Ma, a ponto de ter realizado uma reunião histórica em Singapura com Xi, no final de 2015, a primeira entre líderes de ambos os lados do estreito em mais de 60 anos. Ma e Xi voltaram a encontrar-se em Abril deste ano, em Pequim, durante a anterior visita do antigo líder taiwanês à República Popular da China. Nessa ocasião, o Presidente chinês insistiu que “não há forças que possam separar Taiwan da China”.
Primeiro navio do porto peruano de Chancay chega a Xangai Hoje Macau - 20 Dez 2024 O “Xin Shanghai”, um navio operado pela China COSCO Shipping Corporation Limited, chegou ao porto de Yangshan, em Xangai, por volta das 15h30 de quarta-feira, após uma viagem de 23 dias do porto peruano de Chancay, tornando-se o primeiro navio a chegar a Xangai vindo de Chancay após a abertura oficial do porto peruano em novembro. A viagem também marcou a abertura da ligação marítima operacional bidirecional entre Xangai e o Porto de Chancay, um projeto emblemático recém-inaugurado da cooperação da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” entre a China e o Peru. A carga da viagem inclui uma variedade de produtos peruanos, como mirtilos, abacates e produtos minerais. De acordo com Wu Jianzhong, gerente regional da Joy Wing Mau Fruit Technologies Corporation Limited (JWM), proprietária dos mirtilos peruanos no navio, metade dos mirtilos será distribuída em Xangai, visando mercados e supermercados no leste da China, enquanto o restante será enviado para o norte da China. Antes da abertura do porto de Chancay, o comércio entre o Peru e a China era feito principalmente através do porto peruano de Callao. Com a entrada em funcionamento do porto de Chancay, foram introduzidos mais serviços de transporte de contentores ao longo da costa ocidental da América do Sul, reduzindo o tempo de transporte entre o Peru e a China para cerca de 23 dias – muito mais rápido do que a média atual do mercado. Espera-se que o lançamento da nova rota aumente a entrada de frutas frescas e outros produtos do Peru nos mercados chinês e da Ásia-Pacífico. Para garantir a qualidade dos produtos perecíveis durante o transporte, a China COSCO Shipping Corporation Limited integrou tecnologia de ponta e soluções digitais. Estas inovações permitem a monitorização em tempo real da temperatura e da humidade, garantindo um processo seguro e eficiente da cadeia de frio. Ponto de expansão Olhando para o futuro, a empresa planeia expandir as suas rotas de transporte marítimo com base no desenvolvimento do Porto de Chancay e contribuir para o estabelecimento de um novo corredor de transporte marítimo-terrestre entre a América Latina e a Ásia. “Esta nova rota directa entre o Porto de Chancay e Xangai contribuirá para uma rede comercial mais eficiente e interligada que liga as regiões costeiras do Peru às zonas interiores, bem como a outros países da América Latina”, afirmou Chen Xiaochen, diretor comercial para a América Latina da COSCO Shipping Lines Co. “A rota é um marco significativo na estratégia mais ampla da China de aumentar a conetividade marítima global, demonstrando o papel crescente do país na construção de uma rede de comércio internacional mais integrada e eficiente”, acrescentou Chen. Sendo o primeiro porto inteligente e verde da América do Sul, o Porto de Chancay, inaugurado em Novembro, está localizado a cerca de 78 km a norte de Lima, a capital peruana. Com um comprimento total de 1.500 metros e quatro cais, o porto, alimentado pelas tecnologias inteligentes da China, pode lidar com navios com uma capacidade de 18.000 TEUs (unidades equivalentes a vinte pés) e está projectado para processar 1 milhão de TEUs anualmente, com capacidade para escalar até 1,5 milhão de TEUs a longo prazo.
RAEM 25 anos | Portugueses e malteses, às vezes Carlos Morais José - 19 Dez 2024 Um quarto de século escorreu desde a transferência de soberania de Macau para a China. E, antes e durante estes cinco lustros, também alguma tinta escorreu na lusa língua e em lusas páginas sobre o destino desta cidade, traçando previsões e apresentando opiniões cuja acuidade, no mínimo, deixou muito a desejar e fazem até surgir um sorriso complacente 25 anos depois. Os portugueses seriam corridos. Os jornais em língua portuguesa desapareceriam, bem como o uso da própria língua. Macau perderia a sua relativa importância enquanto cidade-casino. A cidade tornar-se-ia em apenas mais uma cidade chinesa, como qualquer outra (como se cada cidade chinesa não tivesse a sua identidade própria), engolida por Zhuhai. Uma mão-de-ferro esmagaria as liberdades dos cidadãos. Mas o coro das velhas (da Praia Grande) falhou redondamente nas suas previsões. É que, 25 anos depois, contra numerosas expectativas, a comunidade portuguesa aqui permanece e prospera. Isto é, no mínimo, estranho para muitos. E essa estranheza cresceu sobretudo nos que, tendo aqui vivido, nunca realmente se interessaram por conhecer esta cidade, a sua cultura e o povo que nela habita. A ignorância é, como se sabe, a raiz da maior parte do mal. A capacidade de não ver, de não querer compreender, de apressadamente julgar com base em valores exportados, e com isso adquirir um sentimento de superioridade, marcou decisivamente a postura de alguns portugueses e poderia ter colocado em risco a nossa presença não fosse a China ser o que é: na sua grandeza, ouvir alguns espirros e não os confundir com uma doença. Ainda agora, observando o modo como Macau é referido nos media de Portugal que resolveram fazer uma espécie de balanço destes 25 anos, é espantoso como alguns dos momentos mais importantes para a nossa comunidade são, pura e simplesmente, ignorados. Refiro-me, por exemplo, à criação do Fórum Macau e na designação da RAEM como ponte entre a China e os países lusófonos em 2003. Este acontecimento, por si só, justificou a presença ilimitada no tempo da nossa comunidade e atribuiu-nos um papel relevante. Por outro lado, algumas das características portuguesas de Macau (gastronomia, danças, músicas, etc.) foram realçadas por motivos identitários e turísticos, no sentido de marcar a diferença “europeia e latina” de Macau e criar pólos de atracção. É por isso que temos assistido ao aparecimento de cada vez mais restaurantes portugueses, por exemplo, e de produtos lusitanos nos escaparates de lojas e mercados, que hoje existem em número muito superior ao que existia no tempo em que Portugal administrava este território. E só não haverá mais porque os nossos empresários são algo monos quando apreciam a possibilidade de expandir as fronteiras dos seus negócios. No entanto, em Macau é difícil lembrar um produto português que não exista: do Queijo da Serra ao bacalhau, passando pelo azeite, o vinho, o porco preto, a ginjinha e, claro, o pastel de nata (este produzido localmente), entre muitos outros. Aliás, é reconhecido que apresentam, em geral, mais qualidade que os produtos símiles que são vendidos em Portugal, acrescentando que o seu preço pouco cresce com a viagem já que aqui não lhe são aplicados impostos. Por outro lado, o Fórum Macau e os programas de cooperação têm trazido para Macau numerosos estudantes de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé, Timor e Brasil, o que modificou a paisagem humana da cidade e a sua própria cultura. Além de estudantes, é de registar a presença de professores lusófonos nas diversas universidades e escolas de Macau. E isto não é coisa pouca, porque a chegada destas gentes fortifica a presença da nossa comunidade, cria mais espaços de convívio, expande os horizontes dos seus protagonistas, solidificando e melhorando uma relação de cinco séculos entre a China e a lusofonia. Apesar do governo português ter tomado recentemente atitudes incompreensivelmente agressivas em relação à China, como a proibição total da Huawei no 5G (terá valido a amizade americana e o lugar europeu a António Costa?) e nisso incorrer em perdas de mais de cem milhões de euros, entre outros disparates anunciados, os chineses continuam a manifestar uma enorme paciência para com o nosso país e, por extensão, com a presença da comunidade portuguesa em Macau. A nossa amizade secular devia ser acarinhada, respeitada, impulsionada por novos actores, mas só parcialmente assistimos a isso quando é realizado por gente comum, na medida em que os responsáveis políticos parecem colocar interesses pessoais e partidários acima dos interesses do país e do seu povo. Esquecem também o modo extraordinário como Macau acolheu cerca de dois mil portugueses que aqui desembarcaram à procura de melhor vida, quando o país mergulhou na crise económica de 2011. Pela RAEM, nestes 25 anos, o tecido social mudou radicalmente e para muito melhor, na medida em que o nível de vida da maior parte da população subiu em flecha. Este ponto tão importante, que também nunca é referido nas reportagens lusas, foi fundamental para a manutenção da harmonia social, mesmo quando se tentou criar dissensão e sentimentos de rejeição ao poder central chinês (lá iremos). Mas a verdade é que a população de Macau atingiu um grau de riqueza e satisfação incomparável com o tempo da administração portuguesa. Os jovens vêem abrir-se incontáveis oportunidades de futuro, pelo que têm contado com o apoio sólido (também financeiro) dos sucessivos governos. Foram criadas várias universidades, incluindo a Universidade de São José, filiada da portuguesa Universidade Católica, que contou com generosos subsídios governamentais para a sua instalação. Se não desapareceu totalmente, a corrupção foi combatida e hoje vivemos um ambiente muito diferente dos “loucos anos 90”, quando a impunidade reinava e tudo parecia permitido e em cima das mesas. Muitos dos que nessa altura vieram do “país da cunha”, por Macau reproduziram e exacerbaram os seus comportamentos. Quando o último governador civil de Macau foi acusado de corrupção em 1990, chegámos ao ponto extremo e estúpido de colocar militares no governo, talvez por se considerar ser o único modo de lidar com o assunto. Foi pior a emenda que o soneto. Entretanto, neste período de 25 anos da RAEM se a corrupção não foi extirpada, foi pelo menos combatida: foram presos e severamente punidos (28 e 18 anos, respectivamente) um Secretário das Obras Públicas e um Procurador, o que criou um ambiente de dissuasão e diminuiu o grau de corrupção existente. Também em termos securitários, a presença das tríades na cidade e em redor dos casinos recuou consideravelmente, tornando-se invisível, ao contrário do que acontecia dantes. Quando cheguei em 1990, avisaram-me que a vida humana aqui era barata, que não me devia sentar de costas para a porta nos restaurantes ou nos bares, para ter cuidado com os elementos das tríades que dominavam uma noite onde a prostituição era rex, etc… Talvez exagerassem… Mas hoje Macau é uma das cidades mais seguras do mundo. Também isso mudou. Em termos políticos, é preciso primeiro esclarecer um aspecto que muitos gostam de varrer para debaixo do tapete e que esclarece o que se entende por “um país, dois sistemas”. O que ficou acordado é que Macau manteria, em termos económicos, o mesmo regime “capitalista” durante 50 anos, e em termos políticos também o mesmo, com base na Lei Básica, a mini-Constituição da RAEM, na qual está consagrada a liberdade de expressão, de reunião, de manifestação, etc. Então que regime político existia em Macau antes da transferência de soberania e que deveria manter-se pelo menos por mais 50 anos? Uma democracia liberal? Representantes eleitos pelo povo em maioria na Assembleia Legislativa? Havia eleições para escolher o governo? Havia liberdade económica, mas coexistiria esta com a liberdade política? Claro que não. Existia um regime colonial em que os membros do governo eram todos portugueses e designados pelo Presidente da República Portuguesa, completamente à revelia da população de Macau, que não era tida nem achada. Existia liberdade de expressão? Sim, porque a Constituição portuguesa de 1975 a garantia, mas quem a exercesse contra o governo ou qualquer dos seus elementos era na prática ferozmente perseguido e a sua vida tornava-se muito difícil para não dizer insuportável. Ocorreram numerosos despedimentos na comunicação social pública, isto é, na TDM, por motivos assumidamente políticos. Outros, simplesmente, por não caírem no goto dos detentores do poder, como acontece em sociedades pequenas, dirigidas por mentalidades diminutas. Curiosamente, foi esta semana lançado um livro sobre os 25 anos de Macau, coordenado pela então presidente da TDM, a mesma que despediu uma série de jornalistas incómodos e manifestou grande intolerância enquanto sentada esteve na cadeira do poder, funcionando como um apparatchik de um regime totalitário, na defesa cerrada e cega dos desmandos da administração lusitana, mostrando que, de facto, é difícil ultrapassar tiques herdados de 48 anos de fascismo. Se o governo chinês, em Pequim, quisesse reproduzir o regime político tal qual existia antes de 1999, teria enviado um Chefe do Executivo e Secretários directamente de Pequim. Contudo, a opção foi “Macau governado pelas suas gentes”, pela primeira vez na História. Imaginem como se terão sentido as pessoas locais que, pela primeira vez, tiveram nas mãos as rédeas da sua cidade. E isto nunca é sublinhado nas reportagens dos media portugueses, vá-se lá saber porquê… Contudo, em termos políticos, teremos que considerar duas fases nestes 25 anos. Durante a primeira, assistiu-se a uma maior representatividade popular nos órgãos de soberania, nomeadamente na Assembleia Legislativa, tendo aumentado o número de deputados eleitos directamente, incluindo elementos extremamente críticos, não apenas do governo local, mas também do Governo Central e das políticas nacionais chinesas. O Chefe do Executivo passou a ser eleito por uma comissão de 400 notáveis locais, com o óbvio assentimento de Pequim. Os membros do governo foram sempre pessoas de Macau, com laços fortíssimos na sociedade, ao contrário do que sucedia anteriormente. O crescimento do Jogo, com o fim do monopólio da STDM, enriqueceu definitivamente a cidade para além dos mais ousados sonhos e criou milhares de postos de trabalho bem remunerados, aumentando assim o nível de vida da população. A segunda fase é desencadeada pela agitação político-social que ocorreu em Hong Kong. Ali, na cidade fundada pelos ingleses, graças à vergonhosa Guerra do Ópio, as potências ocidentais, nomeadamente os EUA e a Inglaterra (cujos consulados albergavam mais de mil pessoas cada!), procuraram por todos os meios criar uma situação em que era entendido que o “segundo sistema” serviria para atacar o “primeiro”, ou seja, o país e o seu regime político. Hong Kong seria, para estas mentes neo-colonialistas e imperialistas, um ponta de lança, em pleno território chinês, para atacar a China. Estudantes manipulados, burgueses assanhados, manifestações bem orquestradas, bem financiadas e dotadas de todos os gadgets possíveis e imaginários, foram permitidas e toleradas meses a fio, um período de tempo insuportável para qualquer país (em Wall Street, os manifestantes pacíficos, ao contrário de Hong Kong, foram removidos após 28 dias!), até que a cidade se encontrou totalmente paralisada e dividida. Nas ruas, sugeria-se a independência e a intervenção de Donald Trump, até de tropas estrangeiras. Outros pugnavam, com bandeiras, pelo regresso dos colonizadores ingleses. Chegou-se ao ponto de dezenas de elementos estranhos ocuparem uma universidade e dela quererem fazer um castelo inexpugnável às autoridades. Enfim, tudo foi feito para provocar uma reacção violenta de Pequim, do género mandar entrar o exército para acabar de vez e com sangue com a balbúrdia. Contudo, os governantes chineses foram mais espertos que isso. Ao invés do exército, enviaram uma lei: a Lei da Segurança Nacional e a partir daí muito mudou em Hong Kong e por extensão em Macau. Para a China, era claro que não podia admitir que o “segundo sistema” fosse aproveitado para atacar o “primeiro”, e como tal passou a ser considerado traição à Pátria pugnar pela independência de qualquer das duas regiões especiais. Assim, os “independentistas”, os que pediam a intervenção de tropa estrangeira, foram presos, julgados e condenados. Com a Lei da Segurança Nacional, a balbúrdia acabou e Hong Kong regressou à normalidade, não sem ter sofrido importantes golpes no seu prestígio enquanto centro financeiro da Ásia, devido a anos de paralisia e insegurança, motivados pelos protestos. Uma importante mudança política também ocorreu quando se definiu “Hong Kong governado por patriotas”. Tal decisão excluiu imediatamente da vida política uma série de actores cujo desempenho passava basicamente por servir os interesses estrangeiros em Hong Kong, nomeadamente para atacar o governo do país. Infelizmente, na enxurrada terão ido outros cujos objectivos não eram esses, mas que se viram misturados no bolo, talvez por se terem, inocentemente ou não, prestado a um lamentável papel. E, também infelizmente, esta política estendeu-se a Macau, embora por aqui nunca tenha ocorrido nada de semelhante. Tal facto limitou a eleição para a Assembleia Legislativa de vozes incómodas, não porque, na maior parte dos casos, defendessem interesses estrangeiros ou atacassem o Governo Central, mas porque se referiam às políticas dos governos locais, que nem sempre corresponderam às aspirações populares. Ou seja, por causa do que se passou em Hong Kong, Macau levou por tabela, embora nunca na RAEM tenham acontecido desmandos como os da ex-colónia britânica. Assim, agora também a RAEM é “governada por patriotas” e, por causa da Lei de Segurança Nacional, está fora de questão assumir quaisquer veleidades separatistas. Aliás, Macau, ao contrário de Hong Kong, havia aprovado uma lei de segurança nacional em 2009, cumprindo assim o artigo 23º da Lei Básica. Curiosamente, ninguém foi até hoje acusado em Macau de ter violado essa lei de 2009, nem a lei que a substituiu. Ou seja, nunca foram detectados pelas autoridades em Macau crimes de traição, sedição, etc., contra o estado chinês, que tenham chegado a tribunal. E, no entanto, um caso concreto motivou muito barulho e uma série de reacções em cadeia, nomeadamente na área da comunicação social, com repercussões sobretudo na comunidade portuguesa: a mudança editorial na TDM. Convém, desde já, lembrar que a TDM pertence ao governo de Macau, que paga na totalidade as suas despesas. A TDM nunca deu qualquer lucro, sendo pelo contrário um sorvedouro de muitas dezenas de milhões anuais. Os seus jornalistas são, de longe, os mais bem pagos de Macau e desfrutam de regalias inexistentes para os seus colegas de profissão que trabalham na privada. Ora durante os protestos de Hong Kong, sobretudo na sua fase final, os telejornais da TDM estavam, claramente e sem pudor, do lado manifestantes, ignorando completamente as posições governamentais locais ou do país. Obnubilados e delambidos pela defesa da “liberdade”, repórteres enviados para Hong Kong cobriam unicamente um dos lados da questão, nunca se preocupando em ouvir a outra parte, fosse ela o governo ou a parte da população que não estava com os manifestantes. Depois, durante meia-hora, surgia sempre o mesmo comentador: um advogado português, cujo principal cliente era uma empresa de Taiwan com ligações ao exército, desbundava acusações feéricas, afirmando que em Hong Kong estávamos perante “a maior violação dos direitos humanos desde a II Guerra Mundial” (!). Isto entre numerosas tiradas contra o governo chinês, reproduzindo a mais banal e rasca propaganda anti-China, ao nível de uma qualquer Fox News, entrecortadas por expressões de ódio e esgares alucinados. Nisto se transformou, durante um ano ou mais, a informação que era debitada diariamente pelo telejornal da TDM, uma estação de televisão pública. Nas redes sociais, as mesmas criaturas insultavam ad hominem quem não seguia a sua cartilha, quem não rezava pelas contas do mesmo rosário. Eu nunca tinha ouvido falar de um órgão de comunicação estatal que ataca, em primeiro lugar e sem peias, o mesmo estado que o sustenta, na prática defendendo a subversão e a queda do regime. Durante a administração portuguesa, por exemplo, em muito menor grau, tal não foi tolerado, como já vimos. Mas é claro que isto não podia durar para sempre e o Conselho de Administração da TDM viu-se obrigado a intervir, estabelecendo uma nova política editorial. Ora isto foi mal recebido por alguns jornalistas portugueses da TDM (10, entre rádio e televisão, num total de 34) que, sem terem sido despedidos, recusaram aceitar as novas regras e abandonaram pelo seu pé a empresa, tendo na maior parte dos casos regressado a Portugal onde, com uma ou duas excepções, parece que se dedicam a fazer suplementos sobre empresas ou trabalham em OCS neo-liberais ou de extrema-direita, exercendo certamente assim, a seu ver, uma total liberdade jornalística e a sua sinofobia. Fizeram bem, pois não haviam reparado que estavam na China e trabalhavam para uma empresa estatal. Acontece… Quanto à comunicação social privada em língua portuguesa, nada de relevante se passou. Os donos dos jornais em língua portuguesa são jornalistas e não empresários, por isso estão dependentes unicamente das suas próprias linhas editoriais e nunca houve queixas de intervenção ou ameaças por parte do governo local. Enfim, pela pena pesada de alguns destes ressabiados, surgiu em Portugal uma maledicência constante contra os jornalistas que ficaram em Macau, o que se traduziu em reportagens ignóbeis, recheadas de segundos sentidos e mentiras óbvias sobre os seus colegas de profissão e o estado dos órgãos de comunicação social (OCS) em Macau. Algo muito raro no mundo do jornalismo e que só OCS sem dignidade, nem sentido de classe profissional, são capazes de publicar. Foi o caso do Expresso, por exemplo, que escancarou as pernas a esta ignomínia. Não faço ideia se este OCS terá sido bafejado com parte da verba que os EUA destinam à propaganda anti-China, talvez através da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), uma das máscaras da CIA em Portugal, mas ainda que seja esse o caso, nada justifica ataques soezes a colegas de profissão. Por Macau, os jornais em língua portuguesa, ao invés de desparecerem, não só continuam a existir, como surgiu, entretanto, um novo semanário bilingue. As suas linhas editoriais são distintas e, amiúde, críticas das acções do governo local, denunciando falta de transparência, carências e/ou arbitrariedades. Ouvi também numa reportagem recente da TVI que sobrevivemos à conta de subsídios do governo. De facto, é certo que a ignorância é atrevida e a mentira não custa bolçar, tem é perna curta, cujo passo apenas encontra eco na maledicência frustrada de café. Basta consultar o Diário do Governo para ficar com a noção de que o subsídio anual atribuído pelo governo aos OCS paga pouco mais que um mês de despesas e não é a sua existência que nos permite a sobrevivência. Este subsídio foi criado pela administração portuguesa, baseada no facto que o mercado é muito pequeno e tal dificulta obviamente a sobrevivência dos OCS. Chamavam-lhe o “subsídio do papel”, pois acreditava-se que pagaria a impressão dos jornais. Tinha direito a ele quem publicasse, pelo menos, durante cinco anos. De 2001 a 2006, o Hoje Macau não recebeu quaisquer subsídios governamentais e isso não impediu a nossa existência. Após 1999, a administração chinesa manteve-o e é isto. Mas isto parece que causa raiva a muita gente, inveja noutras, o que explica o fedor exalado dessas mentes pouco limpas. Basicamente, os jornais são sustentados, com grande esforço da nossa parte e rigor orçamental, pela publicidade e por edições especiais sobre diversos temas, consoante o OCS em questão. De uma vez por todas, perceberam? Ou será preciso fazer um desenho, a três dimensões e cores garridas, para perceberem melhor? A verdade é que a comunidade portuguesa é altamente apoiada e protegida em Macau. A nível de associativismo, a Casa de Portugal existe e funciona porque recebe um subsídio anual do governo de alguns milhões de patacas, o que lhe tem permitido desenvolver numerosas actividades educativas, artísticas e lúdicas, dispondo de excelentes instalações, em vários pontos da cidade, e de um restaurante. Isto além de fornecer empregos a muita gente. E, sendo a principal, não é a única associação de portugueses que desfruta de apoios governamentais. Entendamo-nos: nos últimos anos de administração portuguesa a palavra de ordem era “levar” e não “deixar”. Os nossos governantes estiveram preocupados em sacar o que puderam (o número de contentores foi astronómico) e não em deixar bases concretas para a permanência da comunidade portuguesa em Macau. Diziam-me: “isto agora é para os chineses”, não entendendo o que significava uma presença de cinco séculos e a existência da comunidade macaense, com raízes seculares nesta terra e que, naturalmente, não desejava abandonar. A propósito, uma última palavra: é graças à comunidade macaense que os portugueses puderam permanecer em Macau durante tanto tempo. Foi sempre essa comunidade que soube encontrar os equilíbrios necessários entre dois povos culturalmente tão diferentes, de modo a diminuir potenciais conflitos e servindo de intermediária na comunicação. Este foi um trabalho de séculos que hoje nos colocaria numa situação de vantagem em relação aos outros países europeus nas relações com a China, assim soubessem os nossos governantes respeitar e aproveitar a situação que a História nos outorgou. Portugal tem uma dívida enorme para com esta comunidade. São contas ainda por saldar.
Cotai | COD apresenta mostra “Lótus Eterno 25” Hoje Macau - 19 Dez 2024 O empreendimento City of Dreams, no Cotai, acolhe na White Gallery a exposição “Lótus Eterno 25”, uma exposição com instalações temáticas em torno da flor de lótus, o símbolo de Macau. A mostra serve também para celebrar os 25 anos da RAEM, proporcionando uma “viagem imersiva à essência da cultura chinesa”. Construindo-se uma metáfora em torno do ciclo de crescimento da flor de lótus, a mostra contém instalações criadas em parceria com uma empresa local. A iniciativa pretende ser uma “exposição de arte cativante onde o património se encontra com o luxo, numa sinfonia de beleza e contemplação”, mas também uma “viagem cultural”. Assim, a exposição divide-se em três partes, com os nomes de “Awakening Buds”, “Blooming Dialogue” e “Seeds of Eternity”. Cada visitante “poderá desfrutar de uma experiência personalizada”, explorando “a beleza serena do lótus”. Na “Eternal Lotus 25”, todas as instalações “foram criadas com recurso à tecnologia de ponta, sendo concebidas e desenhadas com iluminação e projecções que revelam caminhos” percorridos por novas áreas de tecnologia como a “big data” e detecção de movimentos. Desta forma, promove-se “uma experiência interactiva única”.
RAEM 25 anos | Fotos de Rui Ochoa expostas em Lisboa no CCCM Andreia Sofia Silva - 19 Dez 2024 “Macau, os últimos dias da administração portuguesa” é o nome da mostra de Rui Ochoa, fotógrafo oficial da Presidência da República portuguesa, patente no Centro Científico e Cultural de Macau. A exposição, com curadoria da filha, Elisa Ochoa, mostra os últimos momentos da administração portuguesa e o recomeço de uma nova Macau que nasceu no dia 20 de Dezembro de 1999 Há 25 anos Rui Ochoa dedicou-se a eternizar sentimentos, emoções e vivências que estavam prestes a ser uma outra coisa a partir de 20 de Dezembro de 1999. Ao serviço do jornal Expresso, o fotógrafo captou o último mês da governação de Rocha Vieira em Macau, e acompanhou as visitas de diversos Presidentes da República à China e a Macau, na qualidade de fotógrafo oficial da Presidência. Rui Ochoa viu de perto a assinatura da Declaração Conjunta em Pequim, em 1987, e foi desbravando os segredos dos últimos momentos da administração portuguesa em Macau. Estes retratos podem agora ser vistos numa exposição patente no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) e promovida pela Fundação Jorge Álvares (FJA). A mostra intitulada “Macau, os últimos dias da administração portuguesa” vai estar patente nas próximas semanas ao lado da recém-inaugurada Galeria dos Governadores. Ao HM, Rui Ochoa recordou o mês que passou ao lado de Rocha Vieira, de quem é amigo. “Acompanhei-o nos últimos eventos que foram ocorrendo quanto ao fim de um ciclo, fui a casa dele, em Santa Sancha, cobri todas as actividades no Palácio do Governador, todo o trabalho feito à noite. Foi uma reportagem muito sentimental, porque sou um grande fã do Oriente, mais do que do Ocidente.” Mas na exposição patente no CCCM há também imagens das Ruínas de São Paulo ainda sem as enchentes dos dias de hoje ou a visão do fotógrafo sobre uma população tão peculiar. “Já fui à China umas dez vezes, a primeira das quais foi para a assinatura da Declaração Conjunta, em 1987, quando trabalhava com o primeiro-ministro Cavaco Silva. Fizemos várias visitas e fiquei apaixonado pelo território desde essa altura. Fui a Macau cerca de cinco vezes. Faço esta exposição, portanto, com grande emoção.” Rui Ochoa, que acaba de lançar um livro sobre o centenário do nascimento de Mário Soares, mostra aqui parte do seu espólio sobre estes anos. “Espero que as pessoas gostem, porque é, tanto quanto possível, um conjunto de imagens que retratam a parte institucional, da cerimónia que decorreu no dia 19, como também o sentir da cidade nos últimos dias [da administração portuguesa]. Gostava que as novas gerações viessem cá porque acaba por ser uma boa lição de história, para compreenderem a importância que foi, e que é, Portugal no mundo.” Sobre o mês que passou perto de Rocha Vieira, Rui Ochoa acredita que este teria algum sentimento de orgulho pelos dossiers que foi concretizando relativamente a Macau. “Foram tempos de muita tensão, com inaugurações. Penso que ele [Rocha Vieira] também estava orgulhoso, não só na qualidade de executor de tudo aquilo, como na condição de português. Viemos embora conforme estava programado, sem precipitações, com tudo bem feito por parte de Portugal e da China, e todos nós, portugueses, saímos orgulhosos e de cara levantada.” “Obra feita” Tendo acompanhado o trabalho de Rocha Vieira e dos secretários-adjuntos naquele último mês de administração portuguesa, Rui Ochoa foi percepcionando “a obra feita” deixada pelos portugueses e o desenvolvimento que a zona norte foi tendo. “Quando fui a primeira vez a Macau, em 1987, através de Cantão, de carros, chegámos às Portas do Cerco e havia todo um terreno baldio completamente vazio, e a cidade lá ao fundo, com todos os prédios. Demorava-se algum tempo a chegar à cidade. Quando fui a segunda vez, em 1992, a cidade já estava a apanhar todo aquele terreno, estava mais perto da fronteira. Com o decorrer dos tempos, a cidade ficou junto às Portas do Cerco. A cidade era todo um núcleo, com um crescimento brutal.” Para Rui Ochoa, “os portugueses deixaram obra” num território que parecia “pobre e pouco desenvolvido”. “Os vários governadores que se seguiram foram fazendo obra, deixando um território a que valia a pena vir. Construíram-se pontes, o aeroporto. A própria viagem para Hong Kong, feita num cacilheiro, passou a ser feita em barcos mais rápidos e confortáveis. Ficou uma grande obra e tenho orgulho nisso.” Questionado sobre a sua percepção face à opinião pública no território sobre a transição, Rui Ochoa declarou que “os macaenses tinham um espírito muito português”, com os chineses a serem “muito reservados, sem uma opinião [propriamente formada], pois [a questão de Macau] era uma questão dos dois Estados”. “Havia muitos jornais portugueses em Macau, e restaurantes também. A ideia que tenho é que a maioria dos jornais e dos jornalistas não gostava do governador. Mas a comunicação social faz o seu trabalho e não tem de concordar com os agentes políticos, tem é de levar aos seus leitores aquilo que se faz bem e mal.” Segundo Rui Ochoa, Rocha Vieira “não tinha boa imprensa, como os políticos não têm”. “Nesse último mês, era um ambiente de fechar as malas. Uns ficaram porque assim decidiram, e outros vieram porque achavam que o futuro fosse complicado, mas não me consta que tenha sido assim. Penso que os chineses cumpriram a sua palavra.” 25 anos depois, Rui Ochoa confessa a sua enorme vontade de regressar a Macau, sabendo que hoje vai encontrar um território bastante diferente.
Economia | Taxas de juro descem pela terceira vez em três meses João Santos Filipe - 19 Dez 2024 A medida foi adoptada pela Autoridade Monetária de Macau e segue a tendência da Reserva Federal norte-americana, consequência inevitável face à indexação da pataca ao dólar de Hong Kong A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) aprovou ontem um corte de 0,25 pontos percentuais da principal taxa de juro de referência, a terceira descida em três meses, seguindo a Reserva Federal (Fed) norte-americana. A AMCM fixou em 4,75 por cento a taxa de redesconto, valor cobrado aos bancos por injecções de capital de curta duração, com efeito imediato, de acordo com um comunicado. O regulador financeiro da região administrativa especial chinesa seguiu assim o corte anunciado na quarta-feira pela Fed. A AMCM disse que a descida era inevitável, dado a pataca, estar indexada ao dólar de Hong Kong, pelo que “a taxa de juros em Macau é consistente com a taxa de juros em Hong Kong”. A decisão da AMCM surgiu pouco depois de a Autoridade Monetária de Hong Kong ter anunciado a descida da taxa de juro de referência, devido ao corte imposto pelo banco central dos EUA. O dólar de Hong Kong está indexado ao dólar norte-americano. Na quarta-feira, a Fed, o banco central dos Estados Unidos, decidiu voltar a cortar os juros, em 25 pontos base, naquela que foi a terceira vez que reduziu as taxas directoras este ano. Crédito malparado em alta A descida da taxa de juro surge numa altura em que o crédito malparado quase triplicou em Macau nos últimos 12 meses, atingindo 54,9 mil milhões de patacas no final de Outubro. O crédito bancário malparado tem atingido novos recordes há 20 meses consecutivos, de acordo com a AMCM, cujos dados remontam a 1990, ainda durante a administração portuguesa do território. O crédito vencido representa 5,4 por cento dos empréstimos dos bancos de Macau, também mais do dobro do registado no final de Outubro de 2023. Uma percentagem que atinge 6,8 por cento no caso do crédito a instituições ou indivíduos fora da região chinesa. Ainda assim, a percentagem de crédito bancário vencido em Macau está longe do recorde de 25,3 por cento alcançado em meados de 2001, em plena crise económica mundial causada pelo rebentar da bolha especulativa das empresas ligadas à Internet. A Autoridade Bancária Europeia, a agência reguladora da União Europeia, por exemplo, considera que os bancos com pelo menos 5 por cento dos empréstimos malparados têm “elevada exposição” ao risco e devem estabelecer uma estratégia para resolver o problema.
Turismo | Número de visitantes sobe 26,2% em 11 meses Andreia Sofia Silva - 19 Dez 2024 O número de visitantes nos primeiros 11 meses do ano foi de 31.888.313, o que representa um aumento de 26,2 por cento face ao mesmo período do ano passado. Segundo dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) divulgados ontem, verifica-se, assim, “uma recuperação de 87,8 por cento em relação ao número de entradas de visitantes nos onze primeiros meses de 2019”. Além disso, nos últimos meses, incluindo Novembro, o número de entradas de visitantes internacionais fixou-se em 2.130.891, um aumento anual de 74,5 por cento, e ainda uma recuperação na ordem dos 75,8 por cento do número registado nos 11 meses de 2019. No que diz respeito apenas ao mês de Novembro, o número de entradas de visitantes em Macau atingiu 2.832.041, mais 9,6 por cento em termos anuais, registando-se uma recuperação de 97,3 por cento do número de entradas de visitantes no mesmo mês de 2019. Realça-se que o número de entradas de excursionistas (1.548.454) e o de turistas (1.283.587) subiram 14,1 e 4,6 por cento, respectivamente, face a Novembro de 2023. Em Novembro, os turistas oriundos do Interior da China foram 1.965.651, mais 11 por cento, sendo que deste grupo 927.890 eram de visitantes com visto individual, um aumento de 6 por cento. Ainda em Novembro, o número de entradas de visitantes internacionais totalizou 241.057, crescendo 20,9 por cento em termos anuais e sete por cento face ao mês homólogo de 2019. Destaque para a subida de 61,1 por cento dos turistas da Coreia do Sul, que foram 48.594.
DSOP | Nam Kwong recebe obra de 566 milhões de patacas Hoje Macau - 19 Dez 2024 A empresa Nam Kwong União Comercial e Industrial, uma das várias controladas pelo grupo estatal Nam Kwong, recebeu do Governo da RAEM a adjudicação para realizar as obras de protecção contra inundações e de drenagem da zona Marginal Do Lado Oeste de Coloane, um contrato avaliado em cerca de 566 milhões de patacas. A informação foi divulgada pela Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP). Segundo o organismo, os trabalhos têm como objectivo “atenuar os problemas de inundações” no lado oeste de Coloane. Além dos diques de protecção, vão ser reordenados os sistemas de drenagem de água nos diques e no canal de Shizimen para “resistir aos impactos das inundações causados pelas marés de tempestade e pelas chuvas intensas”. A obra vai estender-se da Estrada de Lai Chi Vun de Coloane até à zona a jusante do Templo Tam Kong, abrangendo as imediações da Avenida de Cinco de Outubro de Coloane, da Rua dos Navegantes, dos Cais de Coloane e dos Estaleiros Navais de Lai Chi Vun.
Táxis | Empresas ligadas à comunidade de Fujian controlam novas licenças João Santos Filipe e Nunu Wu - 19 Dez 2024 Entre as empresas escolhidas pelo Governo para explorar as novas licenças de táxis surgem os nomes de vários dirigentes da Aliança de Povo de Instituição de Macau e da Fundação de Chan Meng Kam. Também o grupo estatal Nam Kwong, que controla a empresa de autocarros públicos TCM, recebeu autorização para explorar 50 táxis Em Maio deste ano, a Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) atribuiu 10 licenças de táxis. O concurso foi apenas aberto a empresas e cada uma das escolhidas teve autorização para operar 50 táxis regulares, num total de 500 táxis dos que têm a cor preta. Um artigo publicado pela Revista Macau Business mostra que várias das licenças acabaram nas mãos de empresários ligados à comunidade de Fujian e a Chan Meng Kam, empresário e ex-membro do Conselho do Executivo, que controla o serviço de táxis por telefone, da empresa Macau Rádio Taxi Services Ltd, além de ser um dos membros mais influentes da Aliança de Povo de Instituição de Macau, uma das plataformas da comunidade de Fujian em Macau, nomeadamente na Assembleia Legislativa. Entre as empresas escolhidas no concurso público consta a Macau Io Pou Tong Taxi Ltd, que de acordo com o registo comercial, citado pela Macau Business, indica ter como accionistas Chan Meng Pak e Chu Ha Wai, dois membros da associação. Chan Meng Pak é presidente honorário e Chu Ha Wai surge identificado como um dos vice-supervisores. Também na empresa Macau Fast Mobility Co Ltd há ligações à associação. Lei Sio Kuan, um dos conselheiros do movimento associativo ligado à comunidade Fujian, surge identificado como accionista da empresa. Entre os accionistas da Macau Fast Mobility Co Ltd surge ainda o nome de Cai Pengdong, um dos administradores da empresa Molecular State (Hengqin, Zhuhai) Traditional Chinese Medicine Health Industry Development Co, ligada ao grupo Golden Dragon de Chan Meng Kam. Rede intensa Mais uma empresa e mais uma ligação. Também a Macau Cheng Io Taxi Ltd, outra das escolhidas do concurso, tem como accionista Lin Zhihong, que é vice-presidente da Aliança de Povo de Instituição de Macau. Ao mesmo tempo, outro accionista é Lin Wai Ha, que está na direcção da Fundação Chan Meng Kam e serve como um dos administradores da Macau Rádio Táxi Services Ltd, a empresa de táxis por telefone. Entre os novos operadores de táxis de Macau aparece a Macau Yaodu Mobility Co que tem como accionista Ieong Tat Fu, igualmente presidente honorário da Aliança de Povo de Instituição de Macau. Também Chan Meng, antigo administrador da Macau Rádio Taxi Services Ltd surge como um dos accionistas da Yaodu. Em relação à empresa Macau Wai Tai Taxi Limited, um dos seus accionistas é Li Wenqu, outro antigo administrador da empresa de táxis por telefone. Na companhia Macau Yip Kai Kou Taxi Ltd, as ligações com Chan Meng Kam surgem através do accionista Lin Yangyang, administrador da Fundação Chan Meng Kam. Ligação estatal Entre as empresas escolhidas pelo Governo no âmbito do concurso público surge ainda a Macau Nova Era Táxi, que de acordo com a revista está ligada à agência de viagens China Travel Service (Macao) Ltd, que presta serviços como a intermediação na emissão de vistos para as deslocações ao Interior. A agência tem como presidente da direcção Cheung Kin Chung, deputado nomeado por Ho Iat Seng. Por sua vez, a agência de viagens tem ligações com o grupo estatal Nam Kwong, com investimentos em áreas tão diferentes como o petróleo, hotelaria, electricidade, convenções ou transportes públicos. A Nam Kwong controla também a Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM), responsável pelos autocarros públicos com a cor amarela.
Interior da China e Macau exploram potencial de cooperação em novos sectores Hoje Macau - 19 Dez 2024 O Jogo contribui para o crescimento de Macau mas, por outro lado, também pode limitar o desenvolvimento de outros sectores da economia. Novas medidas do CEPA criam novas oportunidades para as empresas de Macau Ao abrir novos caminhos para as empresas de Macau, “o governo central está a dar à cidade a possibilidade de prosseguir uma via de desenvolvimento mais diversificada e sustentável, para além dos seus pontos fortes tradicionais no jogo”, afirmaram analistas ouvidos pelo China Daily. “A China continental tem utilizado uma série de medidas para abrir ainda mais os seus sectores de serviços a Macau, em conformidade com as necessidades de desenvolvimento em mutação da região administrativa especial, e para proporcionar às empresas de ambos os lados uma maior margem de cooperação e crescimento”, acrescentaram. O último passo foi dado quando o Ministério do Comércio assinou, em Outubro, alterações com Macau para reforçar a liberalização do comércio de serviços no âmbito do Acordo de Parceria Económica Reforçada (CEPA). O Interior da China e Macau assinaram o CEPA, um acordo semelhante a um acordo de comércio livre que é estabelecido entre dois territórios aduaneiros separados de um único Estado soberano, em 2003, com o objetivo de promover a prosperidade económica conjunta do Interior da China e de Macau. No centro da mais recente revisão está um vasto pacote de iniciativas de abertura destinadas a reduzir ou a eliminar o limiar de entrada no mercado para os prestadores de serviços sediados em Macau numa série de sectores, incluindo as finanças, as telecomunicações e a construção. Algumas das medidas serão testadas na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau para facilitar a conectividade institucional regional antes de serem postas em prática em todo o país. Serviços em destaque “O sector dos serviços é responsável por uma componente significativa do desenvolvimento económico de Macau, que pode ser alcançado eficazmente dentro da limitada área terrestre da cidade”, disse Qi Pengfei, director do centro de investigação de Taiwan, Hong Kong e Macau da Universidade Renmin da China. “As novas medidas trarão enormes oportunidades às empresas de Macau, especialmente em áreas como as finanças, o entretenimento e os serviços culturais, para acederem ao vasto mercado do continente – um passo fundamental nos esforços sustentados de Macau para diversificar a sua economia”, disse Qi. “Apesar de a indústria do jogo de Macau ter impulsionado o rápido crescimento económico e a criação de emprego, a influência excessiva do sector pode excluir o desenvolvimento de outros sectores e limita a resiliência económica global de Macau e a sua capacidade de resistir a períodos de recessão”, acrescentou Qi. De acordo com o plano de diversificação económica de Macau para o período de 2024 a 2028, publicado em Novembro do ano passado, o objectivo é aumentar a percentagem do valor acrescentado das actividades não relacionadas com o jogo para cerca de 60 por cento até 2028. No passado, as empresas de Macau do sector dos serviços enfrentaram várias barreiras, como os elevados limiares de acesso ao mercado e as restrições à duração das operações comerciais, quando tentaram entrar no mercado do continente, disse Liang Haiming, presidente do China Silk Road iValley Research Institute, com sede em Hong Kong. “Ao entrar no vasto mercado do Interior da China, as empresas de serviços de Macau podem agora aproveitar os seus pontos fortes únicos para cultivar novas vantagens competitivas para além das indústrias tradicionais”, acrescentou Liang. Novas medidas, benefícios comuns Como parte das novas iniciativas, as alterações delinearam várias medidas para abrir o sector financeiro, um dos novos motores de crescimento de Macau. A indústria de serviços financeiros de Macau tem registado um aumento na sua contribuição para as receitas fiscais globais da cidade, com a sua quota a aumentar de cerca de 6,9 por cento em 2019 para cerca de 16 por cento em 2023 – tornando-se a segunda maior fonte de receitas fiscais depois do sector do jogo, de acordo com os Serviços de Estatística e Censos de Macau. Para catalisar o crescimento do sector financeiro de Macau, as alterações incluíram medidas para alargar o âmbito de actividade dos bancos sedeados em Macau que operam no Interior da China e para promover a interconectividade do mercado obrigacionista. Para a China continental, o maior acesso concedido às empresas de serviços de Macau também trará benefícios substanciais, disse Xu Hongcai, diretor-adjunto do comité de política económica da Associação Chinesa de Ciência Política. A entrada dos prestadores de serviços de Macau introduzirá conceitos de gestão avançados, produtos de serviços de alta qualidade e modelos de negócio inovadores, contribuindo para melhorar e desenvolver o sector dos serviços na China continental, acrescentou Xu. Wang Keju, China Daily