Violência doméstica | Três em cada dez casos têm menores como vítimas

Macau sinalizou 32 casos de violência doméstica entre Janeiro e Junho, quase um terço dos quais praticados contra menores de idade, revelam dados oficiais

 

[dropcap]S[/dropcap]ensivelmente três em cada dez casos de violência doméstica registados em Macau na primeira metade do ano tiveram menores de idade como vítimas. Apesar de, em termos gerais, o número de casos confirmados ter diminuído, em termos anuais homólogos, a proporção de crianças alvo de violência doméstica reflecte, em sentido inverso, uma tendência crescente. Isto apesar de se ter verificado menos uma ocorrência.

Segundo dados disponibilizados pelo Instituto de Acção Social (IAS), na primeira metade do ano passado, foram confirmados 57 casos de violência doméstica, dos quais 11 contra crianças, ou seja, 19,3 por cento do total. Entre Janeiro a Junho foram confirmados dez num universo de 32, ocupando um peso de 31,3 por cento.

Seis das dez crianças tinham entre 7 e 12 anos, enquanto as restantes quatro eram mais novas. A maioria (seis) era do sexo feminino e natural de Macau (nove). A violência física foi o acto mais recorrente (sete ocorrências), seguindo-se a sexual (dois) e ofensas múltiplas (um).

Mais de mil denúncias

Os 32 casos são os dados como confirmados pelas autoridades, correspondendo assim a uma fracção ínfima das 1.139 denúncias recebidas (um caso pode envolver mais do que uma comunicação), mais cinco do que as contabilizadas no primeiro semestre do ano passado.

A maior parte dos 32 casos diz respeito a casos de violência conjugal (19 ou 59,4 por cento). Todas as vítimas são mulheres, sendo que sete em cada dez têm entre 25 e 44 anos. Dois terços das mulheres trabalhavam a tempo inteiro e, deste universo, oito em cada dez dispunham de rendimentos mensais inferiores a 25 mil patacas. Cinco das vítimas não tinham qualquer rendimento mensal, de acordo com os dados do Sistema Central de Registo de Casos de Violência Doméstica. Além dos casos de violência conjugal (19) e contra crianças (10) foram confirmados três entre membros da mesma família. Do total de vítimas, 15 são naturais do interior da China e 12 de Macau, enquanto as restantes das Filipinas (2), Indonésia (1) e Hong Kong (1). Há ainda uma vítima, cuja proveniência é desconhecida, de acordo com o relatório.
Tipologia das ofensas

Vinte e dois dos 32 casos registados foram de violência física (ocupando um peso de 68,8 por cento), enquanto cinco caíram na esfera da violência psicológica. Já três casos dizem respeito a ofensas múltiplas, ao passo que os restantes dois foram de violência sexual (os referidos dois contra menores). Apenas três casos tiveram como origem um pedido de ajuda feito por iniciativa própria, de acordo com o documento, publicado recentemente no portal do IAS.

A zona norte da cidade, em concreto, a freguesia de Nossa Senhora de Fátima, é a mais afectada pelo fenómeno, dado que ali residem quatro em cada dez vítimas de violência doméstica.

Perfil dos agressores

O relatório do IAS traça ainda um perfil dos agressores, dois dos quais são do sexo feminino (ambas implicadas em casos de violência contra menores). Já a faixa etária predominante situa-se entre os 25 e 34 anos (nove em 32 casos), embora haja registo de agressores com menos de 24 anos e com mais de 65 anos (dois cada). A esmagadora maioria é residente da RAEM (27). Em termos de naturalidade, oito são de Macau, 19 do interior da China, um das Filipinas e outro da Tailândia, desconhecendo-se a origem dos três remanescentes.

Três dos 32 agressores tinham o grau de licenciatura, enquanto 15 tinham habilitações literárias inferiores. Não foram, no entanto, apuradas informações relativamente a 13 agressores.

A maioria dos agressores trabalha a tempo inteiro (21), havendo ainda dois desempregados, tantos quantos os estudantes. Entre o universo de agressores os serviços registaram três aposentados. Relativamente ao tipo de profissão exercida por quem integra o mercado laboral destaca-se os trabalhadores ao serviço da indústria do jogo. São pelo menos oito, incluindo quatro ‘croupiers’ e um ‘junket’.

Do ponto de vista financeiro, o relatório refere que há seis agressores sem rendimentos mensais. No patamar mais elevado – entre 30 mil e 35 mil patacas – encontram-se dois. Com efeito, desconhece-se – mais uma vez – a situação relativa a um total de 11 agressores.

Das causas

O relatório do IAS também se debruça sobre as causas da violência doméstica. Entre os principais factores que contribuem para esta realidade figuram, grosso modo, distúrbios/descontrolo de emoções, embriaguez ou mesmo problemas de vício de jogo, existindo a ideia da legitimidade de recurso à violência doméstica.

Nos casos de violência contra crianças, por exemplo, o IAS assinala que o principal factor tem que ver com o aparecimento de dificuldades relacionadas com a educação dos filhos. Já nos casos de violência conjugal surgem à cabeça obstáculos na comunicação entre cônjuges, mas também o adultério (tanto a prática efectiva como a suspeita).

Segundo o IAS, após a ocorrência dos casos de violência contra crianças, o aconselhamento individual/familiar, o aconselhamento na escola e o acolhimento das crianças e jovens foram as principais necessidades, serviços prestados em oito casos, ou seja, 80 por cento.

O aconselhamento individual/familiar também foi a principal necessidade nos casos da violência conjugal (18 ou 94,7 por cento), seguida do serviço de acolhimento urgente (11 ou 57,9 por cento).
Os números integram o Sistema Central de Registo de Casos de Violência Doméstica, que contabiliza as ocorrências registadas desde a entrada em vigor da Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica, a 5 de Outubro de 2016.

A legislação veio tipificar a violência doméstica como crime público, ao invés de semipúblico, uma alteração que fez com que se deixasse de estar dependente de queixa por parte da vítima. Por violência doméstica entende-se “quaisquer maus tratos físicos, psíquicos ou sexuais que sejam cometidos no âmbito de uma relação familiar ou equiparada”.

No cômputo do 2017, ou seja, no primeiro ano após a entrada em vigor da lei, foram dados como confirmados 96 casos de violência doméstica, a maior parte dos quais entre cônjuges (73). Já os casos de violência contra crianças foram 20, entre membros da mesma família sinalizaram-se dois e contra idosos um. A violência física dominou, com 64 ocorrências, num ano em que foram confirmados também seis casos de abuso sexual e dois de duas crianças indevidamente cuidadas.

 

Casos de violência doméstica entre Janeiro e Junho de 2018

Tipo – Número de casos – %

Violência contra crianças – 10 – 31,3
Violência conjugal – 19 – 59,4
Violência entre membros da família – 3 – 9,4

Espectáculo com ‘robertos’, viola campaniça e fado representa Portugal na China

[dropcap]O[/dropcap] espectáculo de marionetas “Uma Tourada dos Diabos”, que combina os tradicionais “robertos”, a viola campaniça e o fado, da autoria de uma companhia de Évora, vai representar Portugal num festival na China, a partir de sábado.

“É um espectáculo em que juntámos três tradições numa só. Temos a tradição dos ‘robertos’ e, a estas marionetas tipicamente portuguesas, juntámos a viola campaniça, que é tradicional do Alentejo, e o fado, característico de Lisboa e do país”, realçou hoje à agência Lusa Manuel Costa Dias, da companhia TRULÉ.

A peça “Uma Tourada dos Diabos”, que junta a companhia TRULÉ e a associação cultural É Neste País, de Évora, vai ser a representante de Portugal, a partir de sábado e até ao dia 24 deste mês, num festival promocional de teatro de marionetas para grupos chineses, na cidade de Langzhong.

Segundo Manuel Costa Dias, trata-se da sétima edição do National Puppetry and Shadow Art Inheritance Showcase by Young and Mid-aged Puppeteers and International Forum on Inheritance and Contemporary Development of Puppetry and Shadow Art.

“É um festival que promove os grupos de teatro de marionetas de sombras da China e, este ano, apenas foram convidados a participar cinco grupos estrangeiros”, dos quais o TRULÉ “é um deles”, acompanhado pela associação É Neste País, explicou.

O marionetista alentejano referiu que os grupos chineses “são muito bons” nas marionetas “de sombras, de luva e de varão”, mas “não têm muita experiência” em relação “ao que se faz fora do país”.

Por isso, continuou, a organização pretende mostrar a esses grupos, “alguns dos quais estão agora a iniciar-se nesta actividade, gente de outras partes do mundo que também faz marionetas, mas de formas diferentes e proveniente de culturas diferentes”.

No espectáculo escolhido para mostrar na China, Manuel Costa Dias contou que vai “estar dentro de uma barraquinha” a manipular os “robertos”, tradicionais marionetas portuguesas de luva, mas, fora do “palco”, há duas inovações.

“Cá fora, vão estar dois músicos, o António Bexiga, a tocar a viola campaniça, e o Nuno do Ó, a tocar viola e a cantar fado”, assinalou, referindo tratar-se de um espetáculo relativamente novo, mas que “já anda por aí”, a ser também promovido por Portugal.

Segundo a companhia alentejana, esta vai ser a sexta deslocação do TRULÉ a festivais internacionais realizados em território chinês. Esta participação tem apoios da Fundação Oriente, Fundação Stanley Ho, Embaixada de Portugal em Pequim, Direção Regional de Cultura do Alentejo – Ministério da Cultura e União de Freguesias de Évora.

Reactor nuclear na China atinge temperatura sete vezes superior à do Sol

[dropcap]U[/dropcap]m reactor nuclear experimental localizado no leste da China atingiu uma temperatura do plasma superior a 100 milhões graus celsius, quase sete vezes superior ao centro do Sol e capaz de realizar a fusão do núcleo dos átomos.

O reactor manteve aquela temperatura durante quase dez segundos, informou hoje o portal de notícias China.org.cn, acrescentando que é a primeira vez que o reator de fusão termonuclear EAST (sigla em inglês para Tokamak Supercondutor Experimental Avançado), conhecido como “Sol artificial”, atinge aquela temperatura.

O Instituto de Física de Hefei, que está sob alçada da Academia de Ciências da China, afirmou que o feito “lança as bases para o desenvolvimento de energia nuclear limpa”, devido ao uso de deutério e trítio, dois isótopos radioactivos que existem em grande quantidade nos oceanos.

A fusão nuclear é o processo de geração de calor das estrelas, e é considerada a forma mais eficiente e limpa de gerar energia, não produzido material radioactivo.

Este avanço contribuirá para a construção do Reator Experimental Termonuclear Internacional (ITER, sigla em inglês), no sul de França, e que conta com a colaboração de 35 países, incluindo China, Estados Unidos e Rússia, e da União Europeia.

Por agora, o EAST é um dos poucos dispositivos no mundo capazes de levar a cabo experiências relacionadas com a fusão do núcleo atómico.

A fusão é uma reação química que consiste na união de dois átomos, para formar um superior, um processo que liberta uma enorme quantidade de energia, maior inclusive do que a fissão realizada em centrais nucleares, onde se rompem átomos grandes em partículas mais pequenas.

Há dois anos, cientistas da Academia de Ciências da China conseguiram manter estável a fusão do núcleo durante 102 segundos, um recorde até à data, após elevarem a temperatura do hidrogénio até 50 milhões de graus celsius.

Após o aumento térmico, o hidrogénio passou de gás a plasma, o quarto estado da matéria – além do sólido, líquido e gasoso -, em que as partículas se movem a tal velocidade e chocam com tanta força que os electrões se separam do núcleo dos átomos, formando um conjunto ionizado.

O desafio actual é prolongar ao máximo o tempo de fusão, de forma estável e controlada, um esforço que poderá levar ainda vários anos ou décadas, segundo especialistas.

Tailândia quer proibir muay thai a menores de 12 anos depois da morte de jovem

[dropcap]A[/dropcap] Tailândia quer proibir a prática da arte marcial mais popular naquele país a menores de 12 anos e obrigar ao uso de protecções até aos 15, depois da morte de um jovem de 13 anos no sábado.

De acordo com os ‘media’ locais, o ministro do Desporto está a preparar a reforma da lei que incide sobre o boxe tailandês, o muay thai. “O ministério vai acelerar o processo para ser apresentado ao Governo o mais rápido possível”, disse Weerasak Kowsurat, citado pelo jornal Bangkok Post.

Actualmente a lei tailandesa não estabelece nenhuma idade mínima para a participação de crianças e jovens em lutas de boxe e apenas recomenda que os menores de 15 anos devem combater com protecções.

Anucha Thasako, de 13 anos, morreu de uma hemorragia cerebral durante uma luta no sábado, um evento de caridade dentro do templo de Samut Prakan, nos arredores de Banguecoque.

O menor foi atingido por um soco na terceira ronda e foi levado para o hospital, onde acabou por morrer.

De acordo com a imprensa local, Anucha treinava boxe tailandês desde os oito anos e já tinha participado em de cerca de 170 lutas. O boxe tailandês é um dos desportos mais populares na Tailândia, praticado por milhares de crianças, a maioria delas oriundas de famílias pobres que lutam para obterem mais rendimentos.

CNN processa Trump e exige regresso de repórter à Casa Branca

[dropcap]A[/dropcap] cadeia de televisão norte-americana CNN anunciou que vai processar a administração Trump, exigindo a restituição da acreditação para a Casa Branca ao jornalista Jim Acosta. A acreditação de Jim Acosta como correspondente da CNN na Casa Branca foi revogada na semana passada na sequência de um confronto verbal entre o Presidente Donald Trump e o repórter.

“A indevida revogação das acreditações da CNN e de Acosta viola os seus direitos de liberdade de imprensa e de um processo justo”, consagrados na primeira e quinta emendas da Constituição norte-americana, adiantou a própria CNN em antena.

O processo visa o Presidente norte-americano e cinco membros da sua equipa, nomeadamente o chefe de Gabinete, John Kelly; a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders; o chefe adjunto de Comunicação, Bill Shine; o diretor dos Serviços Secretos, Joseph Clancy, e um agente anónimo do mesmo serviço.

O processo foi intentado na jurisdição de Washington, segundo a CNN, que exige “a restituição imediata da acreditação” ao jornalista.

A administração Trump revogou, na semana passada, no rescaldo das eleições intercalares norte-americanas, a acreditação do correspondente da CNN após uma tensa conferência de imprensa em que Acosta recusou devolver o microfone quando o Presidente norte-americano o mandou calar.

Trump chamou a Acosta “rude e mal-educado” e um agente dos Serviços Secretos pediu a acreditação ao repórter quando este deixou a Casa Branca. A Casa Branca justificou, na altura, a retirada da acreditação com o facto de Acosta ter tocado numa das estagiárias durante a disputa pelo microfone. A administração Trump não comentou até ao momento o anúncio da CNN.

O Presidente Donald Trump tem uma relação conflituosa com a cadeia de televisão, que acusa constantemente de ser a encarnação do fenómeno ‘fake news’.

A Associação de Correspondentes da Casa Branca emitiu um comunicado a expressar “forte apoio” à acção judicial da CNN, denunciando a decisão do Governo como uma “reação desproporcionada aos factos” que ocorreram na passada quarta-feira.

AL recusa debater localização de depósitos de produtos inflamáveis

[dropcap]O[/dropcap]s deputados da Assembleia Legislativa (AL) rejeitaram esta tarde, com 22 votos contra e apenas cinco a favor, debater a localização do futuro depósito de produtos inflamáveis, uma proposta que tinha sido apresentada pelo deputado José Pereira Coutinho.

Um dos argumentos apresentados pelo hemiciclo para a recusa do debate foi o facto do Chefe do Executivo, Chui Sai On, já ter apresentado alternativas sobre a localização desse depósito.
“O Chefe do Executivo respondeu que uma das decisões é transferir o depósito para Zhuhai, ou outro local junto à costa marginal, ou ainda vir a construir um depósito na zona E1 dos novos aterros. O Chefe do Executivo já deu uma resposta quanto aos locais escolhidos para o depósito de combustíveis, por isso não concordo em debater este tema”, disse o deputado nomeado Wu Chou Kit.

A proposta mereceu, por outro lado, apoio dos deputados que compõem a bancada pró-democrata. “Este é o local ideal para discutir questões de interesse público”, apontou Au Kam San. “Devemos fazer algo para prevenir o perigo e temos de escolher bem o local para albergar este tipo de depósito. Os residentes de Seac Pai Van não se focam nos produtos inflamáveis, mas na localização do depósito.”

Os pró-democratas lembraram ainda que há ainda muitas questões por responder relativamente a esta matéria, uma vez que o estudo de impacto ambiental pedido pelo Chefe do Executivo ainda não está concluído.

“O Governo tem de dizer quais os factores que devem ser tidos em conta na escolha deste tipo de locais e não tem mantido contacto com os moradores. Há que criar oportunidades para discutir este assunto”, referiu Sulu Sou.

Futuro do Circuito da Guia é tema de várias palestras

O arquitecto Rui Leão e os historiadores João Guedes e Vicent Ho vão realizar na quarta e na quinta-feira, em Macau, palestras sobre o futuro do circuito da Guia, onde decorre o Grande Prémio.

Organizadas pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau (APDCGM), por ocasião do segundo aniversário, as palestras vão ser apresentadas em português, chinês e inglês, estando previstas mais sessões no dia 19 e 20 de Novembro.

O piloto de Macau André Couto vai também marcar presença no evento, estando prevista uma sessão de autógrafos. Na segunda-feira, a APDCGM inaugurou a segunda edição da exposição colectiva “O Circuito da Guia como Património Mundial da UNESCO”, que apresenta trabalhos de 20 artistas e que estará patente ao público até 21 de novembro próximo.

A 65.ª edição do Grande Prémio de Macau vai decorrer entre quinta-feira e domingo próximos e inclui três corridas de carros, as taças do mundo de Fórmula 3, GT e de carros de turismo (WTCR), bem como o 52.º grande prémio de motos, além da taça de carros de turismo de Macau e a taça da Grande Baía.

Novo processo para a adjudicação das obras em Mong Há vai levar meses

[dropcap]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas reconheceu que a anulação do concurso público da empreitada de construção da Habitação Social de Mong Há (fase 2) e de reconstrução do pavilhão desportivo vai resultar num atraso de meses para as obras.

Em declarações exclusivas ao HM, Raimundo do Rosário explicou que os trabalhos já estão parados e que agora vai ser necessária uma nova análise por parte do Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) das propostas que tinham sido apresentadas.

“Como houve duas propostas que não deviam ter sido aceites, e uma delas foi a do adjudicatário, tivemos que mandar parar as obras. Agora vamos reavaliar as propostas que foram apresentadas no concurso público e propor a obra a quem ficar em primeiro lugar”, disse Raimundo do Rosário, ontem, após o final da sessão da Assembleia Legislativa.

“A reavaliação demora pouco tempo. Mas o processo vai levar alguns meses. Após a reavaliação haverá uma nova adjudicação e teremos de celebrar um novo contrato. Esta parte burocrática é capaz de levar uns meses”, acrescentou.

Ao HM, Raimundo do Rosário admitiu que não é capaz de prever o tempo necessário, mas deixou a promessa de que tudo vai ser feito para que o processo da nova adjudicação da obra leve “o menor tempo possível”.

Concorrência desleal

Com a suspensão das obras, o Governo cumpre uma decisão do Tribunal de Última Instância (TUI), que determinou a exclusão do concurso público da adjudicatária, ou sejam o consórcio Companhia de Construção de Obras Portuárias Zhen Hwa, Limitada/Companhia de Construção & Engenharia Shing Lung.

Na origem da decisão do TUI está o facto de um dos accionistas da empresa Shing Lung, com o nome Long Kuok Keong, ser igualmente o único accionista de uma outra empresa, a Long Cheong, que também participou no mesmo concurso público e que terminou no terceiro lugar. Por esta razão, o TUI considerou que o facto do accionista surgir em duas propostas diferentes constitui acto susceptível de “falsear as condições normais de concorrência”, o que de acordo com a lei das obras públicas obriga a que sejam rejeitadas as candidaturas apresentadas.

Pra lá do sexo

[dropcap]S[/dropcap]exo é sexo. E há alturas que o sexo não é só sexo. Isto claramente reflecte a minha posição não binária de que a cabeça e o corpo não são duas entidades separadas. A verdade é que tudo afecta tudo, para ser assustadoramente generalista. O sexo leva com os nossos desejos, anseios, capacidades íntimas, medos e terrores. Se há gente que não vê isso talvez seja porque não lhe presta a devida atenção, porque gosto de acreditar que isto faz sentido para alguns, ou talvez para muitos.

O corpo que carregamos não deve ser visto como um simples organismo biológico. A vida tem-me ensinado que corpo reage às ameaças do corpo e às da mente também. Apesar de alguma investigação apontar para a complicada relação corpo e mente, há outra que diz que não está cientificamente provado que o stress, por exemplo, afecte negativamente a saúde física. Com as dificuldades pela libertação do sexo das amarras de (tantas) sociedades até ditas progressivas, apercebo-me que a libertação sexual – como uma actividade não demonizada e de satisfação e prazer pessoal e/ou colectivo – põe em causa o que as sociedades modernas muito forçosamente querem manter: a exaltação do físico, biológico, mensurável e real em detrimento da mente, do pensamento, da sensação ou da emoção. Parece que estou a colocar isto de forma simplista para insinuar uma resposta simplista também, mas não é esse o objectivo. Não estou a defender a recusa total da procura do que é real. Se tento simplificar certas ideias é só porque quero torná-las inteligíveis.

Já aqui referi como há estudos que mostram que a disfunção sexual masculina pode ser tratada com terapia, e este é só um exemplo. Esta ideia de que a mente precisa de atenção também, é de alguma forma polémica, mesmo que não seja visível. Isto porque o legado do iluminismo e da era da razão arrasou com qualquer forma mais experiencial dos fenómenos. Virámos a atenção para aquilo que é cientificamente relevante para a nossa existência – como se nos regêssemos por forças e vectores energéticos como os da Física (não sei se estarão cientes que há quem diga que a psicologia é ciência e há quem diga que não). Contudo, esta não é uma atenção descabida, principalmente nos dias que correm de ‘pós-verdade’, em que não há nada que nos valha senão a procura incessante pelos factos e pelas medições objectivas. Só que essa obsessão traz outros problemas: como é que medimos, resolvemos e compreendemos aquilo que não vemos? Será que a invisibilidade reduz-se à pura inexistência? Claro que me farto de falar do sexo e do prazer sem limites que só é atingido quando alinhamos o nosso corpo, a nossa mente, e o nosso espírito, se quiserem. Porque o sexo serve de metáfora para tudo, o sexo como produção biológica, cultural e social é uma dimensão entre muitas que nos torna absolutamente humanos. A humanidade que pressupõe aceitação, amor e tolerância, características essas impossíveis de medir com régua e esquadro.

Estou a usar o sexo como pretexto para falar da saúde mental porque, na verdade, vejo mais incentivos à não-aceitação do que à aceitação. Quando queremos carregar um corpo sexual ele não precisa de ser só um corpo, precisa de disponibilidade para aceitar tudo aquilo que o sexo quer ensinar-nos. E frequentemente esbarramos com as caixinhas definidoras do que é aceitável. Ai os pêlos, ai as celulites, ai as vulvas, ai os pénis, ai as expectativas heteronormativas. Não precisamos só de um corpo – precisamos de coragem para mostrar um corpo. Precisamos de coragem para abrir a possibilidade de criar e ser intimidade. Já que foi o dia da saúde mental e eu não opinei atempadamente, aqui vai tardiamente. O sexo já foi a cura dos males neuróticos mas também pode ser a causa e processo dos mesmos males. Já que o sexo nos despe, literal e simbolicamente, só espero que comece a ser óbvia a ligação que o nosso corpo precisa de prazer, e a nossa profundidade psicológica também.

O sexo é só mais um pretexto, entre muitos, para escrever e reflectir acerca da saúde mental e do bem que nos fazia se tivéssemos mais espaço para cuidar do nosso íntimo ser.

GP Macau | Dan Ticktum quer entrar no clube restrito

[dropcap]D[/dropcap]an Ticknum encara com muita tranquilidade este seu regresso ao Circuito da Guia. O piloto da Red Bull Junior Team vai tentar igualar o feito de Edoardo Mortara (2009/10), António Félix da Costa (2012/16) e Felix Rosenqvist (2014/15). Para isso, terá de vencer pela segunda vez o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3.

Nesta sua terceira visita à RAEM, o piloto inglês da equipa Motopark sacode a pressão e o favoritismo que lhe é naturalmente atribuído. “Claro que podem dizer que tenho pressão sobre mim, porque estou a regressar como vencedor, mas eu não olho para isso assim”, diz o jovem de 19 anos. “Estou de mente tranquila. Sei o que esperar. É o meu terceiro ano aqui e tenho que encarar (o GP) como um plano e cumpri-lo por partes. Se tentares apressá-lo, o mais provável é que faças alguma coisa tonta”.

Ticknum não teve um fim-de-semana particularmente fácil na Taça do Mundo FIA de Fórmula 3 em 2017 e o triunfo caiu-lhe do céu na última volta quando o arquiduque austríaco Ferdinand Habsburg e o brasileiro Sérgio Sette Câmara colidiram na última curva da corrida. “O ano passado foi tudo um pouco desastroso até à última corrida”, relembra Ticknum, que salienta nunca ter baixado os braços: “Quando se trata de Macau, tudo pode mudar muito rapidamente e nunca podemos desistir.”

Depois de ter sido temporariamente considerado este ano pela Red Bill para um volante na Toro Rosso no mundial de Fórmula 1, Ticknum vai tentar em Macau desforrar-se de uma temporada no europeu de Fórmula 3 onde, contra as expectativas, perdeu o título para Mick Schumacher.

Red Bull dá-te dois

A Red Bull estreia este fim-de-semana entre nós um novo piloto. O estónio Juri Vips de 18 anos junta-se à academia de pilotos da marca de bebidas energéticas que possui duas equipas de Fórmula 1 e fará a sua primeira corrida com a Red Bull na sua primeira visita ao Circuito da Guia.

“De certa forma, eu vou um pouco às cegas porque nunca cá estive”, admite Vips que também conduzirá um monolugar Dallara-Volkswagen da equipa Motopark.

Vips nunca esteve em Macau antes, mas é um especialista em circuitos citadinos e conquistou a sua primeira vitória na categoria no circuito citadino alemão de Norisring, no mês de Junho passado.

“Não há nada melhor que ter um bom companheiro de equipa. Com a vitória do Dan o ano passado e a experiência da equipa em Macau, devo ter tudo que preciso”, conclui confiante o quarto classificado do europeu de F3.

O tempo: modos de usar

[dropcap]S[/dropcap]abemos isto: o tempo é uma invenção humana. É uma medida de mortalidade e esperança, de legado e exemplo. Precisamos dele porque a memória que o alimenta é a nossa maior e melhor característica civilizacional, o que realmente nos distingue dos outros animais. A arte, a cultura, o progresso – nada seria possível sem essa consciência do que foi e como foi.

Tantas vezes o desprezamos, mesmo assim. Tantas vezes o culpamos, clamando como o personagem de Shakespeare que a vida é apenas sua escrava e que por isso o tempo tem de parar. E então inventamos modos de usar que nos dão essa ilusão de um tempo circular e perfeito. Isso é particularmente visível nestes dias, em que o ritmo da nossa existência é frenético, bombardeado por informação e miríades de estímulos do exterior que ninguém consegue controlar a menos que se converta a um qualquer tipo de ascetismo. O tempo tornou-se o nosso maior luxo.

A celebração de efemérides – da passagem redonda dos dias – é a resposta laica e quotidiana às antigas festas religiosas que existem desde o nascer da Humanidade. Começa pelo nosso próprio aniversário, passando por datas históricas universais ou dirigidas a um grupo particular de pessoas. São feitas de pretextos grandiosos e importantes – como aconteceu há dias com a celebração dos cem anos do Armistício – e de outros mais triviais, como o aniversário da edição de um livro ou disco que amamos e que os anos pouparam. E por vezes – tantas vezes – isso é o que verdadeiramente nos comove.

É pouco? Não. Uma história próxima, recente e verdadeira para o justificar: imaginem um inveterado hedonista, uma daquelas pessoas que acredita sinceramente que a vida foi inventada para ele e flutua graciosamente pelas agruras com um sorriso nos lábios. Conheço alguém assim. Chamemos-lhe António e estaremos a fazer bem. António nunca tinha conhecido grandes dores, nem sequer aquelas que advêm das inevitáveis perdas que viver sempre traz. Até há pouco: encontrei-o sorumbático, à beira da apatia. A aura de felicidade que sempre exibia sem pudor tinha-se apagado misteriosamente. Como bom amigo perguntei o que tinha acontecido, como poderia ajudar. «A X. saiu de casa. Ontem». Para que o leitor possa continuar a seguir esta pequena narrativa convirá dizer que “X” era o amor deste meu amigo. E sobretudo que a perda desse amor nunca lhe tinha passado pela cabeça. António sofria como todos sofremos: sozinho.

Como desconfio bastante da minha sabedoria nestes affaires du coeur, sugeri-lhe quase a medo: «Vai ouvir o Only The Lonely do Sinatra. Comigo resultou. Ainda resulta. Não resolve mas ajuda». António olhou-me perplexo mas prometeu que iria fazê-lo.

Aqui chegados preciso confessar o meu estatuto de inveterado sinatrófilo. O homem conhece-me melhor do que qualquer indivíduo, graças ao que cantou e como cantou. Mas isso seria assunto para outra crónica (ou um livro, ou vários). O disco que António foi ouvir pela primeira vez é uma das obras-primas da música popular. Trata apenas de solidão, melancolia e tristeza. De perda de quem mais amamos, de amores chorados ao fundo do balcão e confessados ao barman que quer fechar o bar. Sinatra conheceu bem essas matizes de azul de que é feita a solidão amorosa. E aqui canta-a magnificamente, numa voz de fumo que nos embala e ajuda a compreender. Sempre com uma extraordinária dignidade e em algumas canções com um humor triste e auto-depreciativo. Nos momentos mais escuros emerge triunfante do próprio desespero. E isto é possível porque Sinatra viveu tudo, ganhou e perdeu tudo e a sua arte é feita dessa matéria-prima indizível mas que qualquer um reconhece.

Dias depois voltei a falar com António. Disse-me que tinha ouvido o disco e que ficou espantado com a sua verdade e actualidade. Que ainda chorava a perda de X. mas que já não estava sozinho. Agradeceu-me e informou-me da efeméride: Only The Lonely faz sessenta anos em 2018. O tempo pode ser tão bom quando se deixa usar.

Vestir de negro

Fundação Eugénio de Almeida, Évora, 13 Outubro

[dropcap]C[/dropcap]onvive com o a do Pedro [Proença], esta exposição dedicada ao «Grupo 8», conjunto artístico dos anos 1970 que projectava a sua identidade a partir do Alentejo. António Palolo foi membro e dele, Joaquim Tavares, o curador, escolheu telas cinza, talvez reverso iluminado das cores primitivas que o tornaram dos pintores mais imitados. Anunciava-se tempestade, mas não ali, no conforto climatizado do museu, parede negra e luz baixa de acentuar mistérios, obscuridades. Aquele cinzento magnetizou-me, logo deixou de ser apenas cor, ganhou textura, uma pele áspera e cortes a desenhar meridianos, cicatrizes que a fornecem de carnes. Estamos nisto: extrair da cor uma qualquer razão. Nem que seja para vestir.

Clube Estefânia, Lisboa, 1 Novembro

Certo e sabido: a vida não se deixa prender nos calendários. Ou seja, o espírito fin de siècle está a explodir-nos agora nas mãos. A religião feita refém da loucura sanguinária. A economia feita máscara dos meta-estados corporativos. A política entregue à violência da estupidez. A arte virada do avesso a patinhar nas tripas. Em fundo, o desespero que atira gente ao nada, ao nada feito mar ou muro. Gente que se atira ao nada, entorpecente e narcótico. «Três actores, três músicos, uma personagem discreta, mas omnipresente: a morte», assim se apresenta na «inútil» folha de sala do «Cabaret Macabro», que o Valério [Romão] escreveu para a Marta [Lapa] encenar. Com excepção da senhora da gadanha, que usa cabeleira, e apesar atração inevitável pela perfeição do triângulo, a afirmação não se confirma. O autor do texto começa cedo a ser invocado, contrariado, maltratado, fazendo-se afinal benquisto do princípio ao fim, ou não tivesse esculpido o texto durante os ensaios. Também a encenadora se faz personagem, primeiro interpretada pela Carla Galvão, para depois sair mesmo da sombra para fazer o que faz bem: questionar tudo, baralhar e voltar a dar. Estamos, pois, em plena desconstrução, essa noção tão cara à nouvelle cuisine. Iniciada na folha de sala, não mais útil que pastilha elástica sob a cadeira, diz ele. O autor-a-fingir-que-não-o-quer-ser usa bem a bisnaga vira-bicos, e põe a Margarida Cardeal e o Vitor Alves da Silva a questionarem o «processo», a discutir tudo e mais alguma coisa, acompanhados, como se de fado se tratasse (e trata!), pelo [Carlos] Bica, pelo Lucius Omnibus e o Pedro Moura. «Como é que a arte contemporânea reflecte o actual sistema de labirintos simultâneos a que parece corresponder o mundo actual?» O meio artístico – por ideal romântico? – vê-se sobejamente maltratado e logo curado, como agora se diz das exposições, para sinónimo de escolha e arrumação. Nem escaparam os abysmados, esses que praticam activamente e para desconhecimento geral a subtil arte do cabaret e o encantatório tratamento por mano. Não tanto desconhecido, que passa amiúde alguéns mais alheios em busca de encosto. A girândola vai rodando sobre si própria, e nem precisa parar para deixar entrar assuntos sérios, íntimos até. Para nos chamar à voragem. Só que as expectativas, se não a esperança, parecem mortas e enterradas no negro do fundo-cenário (até das fotos que autor também assina, algures nesta página). O Valério, que usa cartola, desenha a luz com o negro. E nem as canções nos salvarão. Ou salvam?
No dia da estreia, o cabaret agudizou-se em seguida, prolongando a «proceça», e confirmando a realidade: «what could permitting some prophet of doom/ To wipe every smile away/ Life is a cabaret, old chum/ So come to the cabaret.»

Lisboa, 3 Novembro

Se quisermos ter exemplo na ponta da língua de que o 25 de Abril acabou sendo revolução, apesar de não ter começado por sê-lo, basta aduzir a rede nacional de bibliotecas de leitura pública. São mais de 300 corações espalhados pelo país mais obscuro a bombar sangue, a trocá-lo por oxigénio, a produzir palavras, imagens, pensamentos. Nalguns destes lugares, a vida mudou, a morte cedeu. Sou testemunha, disso e do facto de muito devermos à força de vontade da Maria José Moura (1937-2018) este aumento das possibilidades. A morte toca menos quem soube espalhar vida.

Barraca, Lisboa, 7 Novembro

Andam por aí vozes que, de tão doutas ficam burras. Sabem tudo sobre tudo, mas sobretudo sobre edição. Sabem bem o que deve ser feito e até como. Cospem cânones na vez de expectoração. Por serem do contra, agora que é fácil e custa pouco, ganham automática razão. Costume de largo espectro, não fazem, basta-lhes escrever sobre. As enormidades do que dizem procurando fátuos likes, além do pressuposto ideológico e moral que querem impôr, resulta da ignorância, além de endémica má-fé. Livro simples, como este que agora lançamos, «As Constituições Perdidas de Aristóteles», esconde processo – próximo do cabaret . Mas interessa? Começa logo pela vontade e horas investidas na tradução pelo mano – olha outro… – António [de Castro Caeiro]. E na paciência: há muito que estava pronto a sofrer os tratos do prelo, mas circunstâncias várias retardaram-no. Até que um trabalho de outra natureza iluminou a colecção que, afinal, se quer bífida, traduções de um lado, ensaios sobre os clássicos, do outro. Depois, já que o primeiro esforço resulta informe, sobretudo devido ao carácter fragmentário e científico da obra, houve que arrumá-lo em partes, pensar em apêndices e notas, enfim, decidir se a colecção cresce no sentido da divulgação ou dos circuitos especializados. A revisão merece, também por isto, revisão. Desembocamos, então, nas conversas com o Miguel [Macedo], das quais resultará objecto, no caso com meia sobrecapa, sobrepondo apenas em metade da capa cor forte e outra tipologia, mais carregada. Este jogo, que se prolonga no miolo e no logótipo com outros expedientes gráficos, propõe esta ideia de fenda, que resulta de cruzamento abrupto entre o passado e o presente, entre elegância e arrojo. O essencial do trabalho de arqueologia destes textos reside na urgência de sentidos que escapam aos tempos. O futuro, tal como se nos apresenta hoje, precisa de se atirar de cabeça aos clássicos. Neste caso, além de questões fundadoras do nosso direito, que estão ameaçadas, também pelas de identidade. O que faz de nós comunidade? Como manter-nos comunidade viva e convivial, na vez de moribunda e despedaçada por cegos antagonismos? Nas apresentações, manda o protocolo, não se fala destes assuntos. O livro existe para além da forma e os processos, estamos aqui para congregar leitores. O Carlos [Querido], em Óbidos, e agora o Ricardo Araújo Pereira, não fizeram outra coisa se não ensinar cavalos a tocar flauta. «Contava-se que os Sibaritas chegaram a um tal ponto de devassidão que até traziam os próprios cavalos para os jantares. Estes, mal ouviam entoar a flauta, erguiam-se apoiados nas patas traseiras e com as dianteiras dançavam como quem marca o ritmo com as mãos.»

Casa da Cultura, Setúbal, 9 Novembro

Esta «filosofia a pés juntos» faz-se no terreno pesado da educação. De súbito, o António [de Castro Caeiro], mesmo após dia inteiro de aulas na escola, que não significa «tempo livre» como outrora, consegue atingir a leveza e inspirar uma plateia. Como os atletas para o combate, procuremos a disciplina de um treino, por via do estudo e da conversa. Para acrescentar cor no arco-íris das possibilidades. A vida toda feita brincadeira de crianças, outro modo de dizer paideia.

Júlio

“It has been a beautiful fight. Still is.” – Bukowski
Em memória de Júlio Ávila

[dropcap]A[/dropcap] mercearia chinesa da minha rua fechou. Não aceitavam cartão, nem de pagamento nem de desconto. Mas sorriam sempre, embora nunca perguntassem pelo contribuinte na factura. É verdade que, nos últimos tempos, já só lá ia para comprar melancia, quartos de, a noventa e nove cêntimos o quilo e todo o sabor do mundo. Um sabor rosa-vivo simples, a única coisa que me apetecia, por vezes, comer. Melancia que levei para casa, para o trabalho, para a praia. Que comi sozinha e partilhei. Triângulos e triângulos de consolo e doçura. Arestas, faces e vértices que não magoavam, e de que era segura a repetição. Não sei o que dizer mais do que sei o nome da tua avó, que te ofereceu melancia cortada aos cubos no que agora lhe deve parecer ter sido ainda outro dia. Não tenho avós há muito tempo, e pergunto-me se a tua terá ouvido falar da Björk, que também sabe uma ou outra coisa sobre melancias. E lágrimas.

Conseguiste. Que o carro passasse na inspecção. Conseguiste. Que a vida deixasse de passar por ti e te magoasse. Tu tentaste e não falhaste. Aprendeste o nó que desfez os teus, não importa se nos deixou um permanente. Ninguém deveria poder dizer que nos desapontaste.

Os pêsames pesam. Os meus sentimentos também. Seremos sempre demasiado novos para estas coisas. Ser millennial não nos dá um certificado de saber lidar consigo mesmo ou com os outros, com o quão pouco sabemos uns dos outros e sobre nós mesmos. Vivemos em excesso de informação não relevante e em carência de quase tudo o resto

Contigo fui turista e visitei uma igreja, partilhei a mesa do almoço, a vista do miradouro do Outeiro da Memória, a melhor amiga, uma grande moca, gargalhadas, o teatro, a escrita, o peso da vida. Trazias uma t-shirt azul no dia em que te conheci. Letras em degradê laranja e amarelo, calções e chinelos. Éramos quatro. Mesmo nessas fotografias desfocadas, continuamos a ser quatro. Eu estou do lado de cá, mas senti-me em casa convosco. Lembro-me de não estar bem, de ser a única desabituada à altitude. Lembro-me de que, no último ano, todos quiseram deixar de estar aqui, tentaram e quase conseguiram. E pergunto-me se algum dia vocês, desculpa – se eles se vão habituar à vida. Pergunto-me se alguém mais vai conseguir. E dou por mim a rever conversas e a enviar mensagens e a querer marcar viagens. Quem me dera ter voltado aí. Agora sei que nunca vou sair.

Os pêsames pesam. Os meus sentimentos também. Seremos sempre demasiado novos para estas coisas. Ser millennial não nos dá um certificado de saber lidar consigo mesmo ou com os outros, com o quão pouco sabemos uns dos outros e sobre nós mesmos. Vivemos em excesso de informação não relevante e em carência de quase tudo o resto. Vivemos em estado de depressão e de distracção, mas tu sabias estas coisas. Tu sabias de ti. Tu prestavas atenção.

Saber muito pouco de alguém e ainda assim ser de repente a pessoa em quem mais pensamos, e isto servir para nós e para os outros. Ir de casa para o trabalho, da terapia para os medicamentos, de mal a pior, de millennial a memorial. Deixar de ter um nome para passarmos a ser também um evento, uma descrição, uma memória. Fazer um testamento real para a persona virtual. Estar sempre a um ecrã de distância das nossas pessoas preferidas, até de nós mesmos. Sim, porque deveríamos saber ser uma das nossas pessoas preferidas. Tu certamente o és, serás para muitos, serás para sempre.

Onze, catorze, quinze, dezasseis. Um dia para nascer e três para morrer. Mil novecentos e oitenta e seis. Dois mil e dezoito. Abril, Outubro e trinta e dois anos e meio entre eles. Nasceste, cresceste, viveste, morreste. Tu estiveste aqui. Tu estavas, realmente, vivo. Ficaste mais quando foste embora, tu que já eras tão grande. Tu não desapareceste. Obrigada por tudo o que escreveste.

Esperarmos que as pessoas que gostam de Júlio encontrem algum conforto ao visitar o seu perfil, para relembrar e celebrar a sua vida.

It has been a beautiful life. Still is.

Suspensa medida que permitia comércio de animais em vias de extinção

Depois de muitos protestos de organizações de defesa dos direitos dos animais, o Governo voltou atrás e decidiu suspender para análise a alteração que iria permitir que caçadores furtivos e contrabandistas comercializassem partes de tigres e rinocerontes

 

[dropcap]A[/dropcap] China suspendeu a alteração à lei que permitiria o comércio de produtos feitos à base de partes de tigres e rinocerontes em perigo de extinção, após o protesto de vários grupos de defesa dos animais.

A agência noticiosa oficial Xinhua citou ontem Ding Xuedong, funcionário do Conselho de Estado, que informa que a alteração que permitiria o comércio de chifres de rinoceronte e ossos de tigre, sob “circunstâncias especiais”, foi “suspensa para análise”.

“Os departamentos relevantes do Governo chinês vão em breve continuar a organizar campanhas especiais de combate focadas em travar o comércio ilegal de rinocerontes, tigres ou produtos derivadas destes animais”, afirmou Ding, citado pela agência. “Vamos lidar com acções ilegais de forma rigorosa”, acrescentou.

A agência detalha que a interdição total da importação e exportação de partes daqueles animais, que estão em perigo de extinção, ou o seu uso na medicina tradicional chinesa, vão-se manter.
Ding não esclareceu se a suspensão significa que a decisão pode ser revogada.

Questão de imagem

Ossos de tigre e chifres de rinoceronte são usados na medicina tradicional chinesa, apesar da falta de evidência sobre a sua eficácia no tratamento de doenças e do impacto na vida selvagem.

No mês passado, as autoridades afirmaram que iriam permitir o comércio à base de partes do corpo de tigres e rinocerontes, sob “circunstâncias especiais”, levando a protestos de grupos de defesa dos animais.
O Fundo Mundial para a Natureza considerou que a decisão de Pequim iria ter “consequências devastadoras a nível global”, ao permitir que caçadores furtivos e contrabandistas se ocultassem por detrás do comércio legal.

O Partido Comunista Chinês raramente responde à pressão internacional, e a decisão parece reflectir preocupações sobre a reputação do país como apoiante da preservação do ambiente. A China é já um dos principais destinos para partes de animais em risco de extinção, incluindo marfim e pele de elefante, ou carne e escalas de pangolim.

Em 2016, o Fundo Mundial para a Natureza e o Global Tiger Forum contabilizaram cerca de 3.890 tigres, em todo o mundo. Estimativas apontam para menos de 30.000 rinocerontes.

TIMC | Weng Wen e Pet Conspiracy em Macau

[dropcap]W[/dropcap]ang Wen, o conhecido grupo chinês de pós-rock, e Pet Conspiracy, a banda do continente conhecida pela sua sonoridade electro-punk, juntam-se ao cartaz da edição deste ano do This is My City Festival (TIMC) que acontece entre os dia 22 e 25 de Novembro.

Weng tem concerto marcado em Macau a 24 e Pet Conspitracy a 25, ambos nas Oficinas Navais 2. Estes nomes juntam-se a Re-TROS, Celeste Mariposa, Dj Kitten e Wu Tiao Rien, num cartaz que se estende por Zhuhai, Shenzhen e Macau.

Livro | Duarte Drumond Braga desvenda o orientalismo de Fernando Pessoa

O académico Duarte Drumond Braga é o autor de “As Índias espirituais. Fernando Pessoa e o Orientalismo português”, obra que traz à luz do dia o oriente pessoano. Uma manifestação intelectual, difusa, desprovida de espaço, ao contrário do Oriente de Pessanha. O livro tem lançamento previsto ainda antes do Natal, com a chancela da Tinta da China

 

[dropcap]“E[/dropcap] eu vou buscar ao ópio que consola, um Oriente ao oriente do Oriente.” Este verso, que abre “Opiário”, é uma das referências orientais mais explícitas na obra de Fernando Pessoa. Ainda assim, não falta levante à longitude do poeta, apesar do carácter abstracto e mental do Oriente de Pessoa. Este é o epicentro de “As Índias espirituais. Fernando Pessoa e o Orientalismo português”, livro de autoria de Duarte Drumond Braga, que será lançado antes do Natal com a chancela da Tinta da China. A obra, versão simplificada da tese de doutoramento do académico, reflecte uma multiplicidade de orientalismos, obedecendo à pluralidade de vozes do universo pessoano.

“Há momentos em que Pessoa recorre a um imaginário oriental, por exemplo, quando fala da cultura árabe em textos fragmentários. Ele usa isso como argumento para defender um certo espírito peninsular, ibérico”, explica o autor. Noutros momentos, fala da Índia, da novidade e da descoberta que encerra o subcontinente. Nessa acepção, Pessoa revela outro tipo de orientalismo de “tradição mais imperial, colonial portuguesa, algo que também transparece em Álvaro de Campos nalguns poemas como o Opiário”.

Seguindo a linha pessoana, e de acordo com Duarte Drumond Braga, é difícil dar unidade às várias referências orientalistas na obra do poeta, excepto o facto de ser um tema que este descobre em segundo grau e de ter uma condição interior, intelectual, desligada do espaço.

Ao contrário do Oriente de Camilo Pessanha, experimentado pessoalmente na Ásia, o de Pessoa é interiorizado através da literatura. “Ao longo do Livro do Desassossego é dito muitas vezes que a viagem, antes demais, é interior. O acto de viajar, ver paisagens é uma actividade que para este Pessoa é um tanto ao quanto secundária”, teoriza o autor. Duarte Drumond Braga entende que o autor de “Tabacaria” sempre esteve mais interessado na capacidade de criar paisagens, em vez de as percepcionar no exterior. “Mas isto é um dos Pessoas, não é o Pessoa”.

Plano imaginado

“Este orientalismo é sempre muito cerebral, muito irónico, não é uma necessidade literal de um exotismo. Por exemplo, no “Livro do Desassossego” há pequenas passagens sobre a China, em que fala de porcelanas chinesas e da ideia da paisagem perfeita chinesa.” Este tipo de referências são entendidas pelo autor como ironização da forma exótica com que o ocidente via tradicionalmente o oriente. Um dos exemplos que o académico destaca nesta “espécie de paródia de exotismo” é a repetição três vezes da palavra oriente no “Opiário”.

Apesar das visões díspares entre o oriente de Pessanha (decadente e presente) e o de Pessoa (fragmentado e ausente), existiram pontos de contacto entre os dois grandes vultos da poesia portuguesa. Camilo Pessanha foi convidado por Pessoa para colaborar na revista Orpheu, facto comprovado com uma carta enviada para Macau e que espelha o imenso respeito que os modernistas sentiam por Pessanha.

Apesar do contacto, o orientalismo de Pessanha passa muito pela cultura chinesa, “mais na prosa, até nos ensaios, do que propriamente nos poemas”. Por outro lado, “o orientalismo do Pessoa é mais abstracto, mental, não está inscrito num espaço, é mais fragmentado e heterogéneo”, desvenda Duarte Drumond Braga.
Não obstante as diferentes naturezas, o académico encara os poetas como “os dois grandes nomes de uma tradição portuguesa que se vai sempre colhendo coisas à Ásia. Apesar de no Pessoa ser um interesse entre muitos outros e no Camilo Pessanha ser central”.

Duarte Drumond Braga está a fazer um pós-doutoramento na Universidade de Macau e amanhã apresenta na Universidade de São José, às 18h, uma palestra intitulada “Literaturas em rede: a produção literária de língua portuguesa de Goa em contacto”.

Infra-estruturas | Apresentada planta de canalizações subterrâneas

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro (DSCC) anunciou ontem ter lançado, no mês passado, a planta de canalizações subterrâneas, em linha com o anunciado nas Linhas de Acção Governativa para 2018 no âmbito da área de Transportes e Obras Públicas.

Desde ontem os serviços podem utilizar o sistema das informações geográficas de canalizações subterrâneas urbanas, que contém nove tipos de dados de canalizações, designadamente da electricidade, de gás natural, de água canalizada, de água reciclada, de telecomunicações, da TV cabo, de instalações ambientais e equipamentos de fiscalização do tráfego.

Ponte HKZM | Documentário exibido pela primeira vez na MUST

[dropcap]“P[/dropcap]onte Hong Kong-Zhuhai-Macau” é o titulo do documentário, de aproximadamente 70 minutos, que estreou ontem na Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST, na sigla inglesa).

A exibição do filme, para uma audiência de cerca de 400 estudantes, contou com a presença do subdirector do Gabinete de Ligação da China em Macau, Xue Xiaofeng, e com o vice-director da Autoridade da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, Yu Lie. Segundo um comunicado da MUST, após a estreia, o documentário vai ser mostrado nas escolas primárias e secundárias de Macau.

As filmagens para o documentário, produzido por uma série de canais televisivos, incluindo o Discovery, começaram em Fevereiro do ano passado, acompanhando as empresas e os operários da linha da frente da infra-estrutura inaugurada a 22 de Outubro.

Jogo | Protesto contra a substituição de feriados este domingo

Está agendada para o próximo domingo uma manifestação dos trabalhadores do jogo contra o regime de substituição de feriados. No mesmo dia, vai ser entregue na sede do Governo uma petição a apelar ao aumento salarial entre os cinco e os seis por cento

 

[dropcap]A[/dropcap] Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, presidida por Cloee Chao, está a organizar um protesto para o próximo domingo. Em causa está a legislação que regula o trabalho nos dias de feriado obrigatório e que permite a troca destes dias de folga por outros.

De acordo com o vice-presidente da associação, Jeremy Lei, a selecção de feriados que podem ser gozados pelos trabalhadores é um recuo nos direitos de quem trabalha.

O desagrado com esta medida é manifestado pela maioria dos funcionários do jogo, apontou o responsável, até porque não podem sequer pedir folga nessas datas. “As operadoras reservam-se o direito de planear o seu funcionamento nestas alturas e os trabalhadores não podem solicitar qualquer folga nestes dias”, disse Lei ao HM.

Por outro lado, a substituição de feriados pode ainda prejudicar o salário dos funcionários visto que não vão ser pagos a triplicar, como seria previsto nestas situações. A alternativa de pagamento, e caso não substituam o feriado obrigatório por um outro dia de folga, será o pagamento a duplicar, esclareceu Lei.

Da discriminação

Outra questão que preocupa os funcionários do sector é a proibição de entrada dos trabalhadores do sector nos casinos fora do horário de trabalho. Para Jeremy Lei trata-se de “uma medida discriminatória para com estas pessoas”.

A proibição é baseada num relatório do Instituto de Acção Social (IAS) que, para o responsável, não apresenta dados objectivos acerca dos malefícios do jogo para os trabalhadores do sector. Lei justifica a subjectividade dos dados do IAS com a reduzida amostra em que se basearam. “ O IAS recolheu apenas os dados de cerca de 100 pessoas o que não é suficiente”, disse.

A Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores de Jogo sugere que os funcionários sejam impedidos de entrar nas áreas de apostas mas que possam frequentar o espaço dos casinos dedicados ao comércio.

No próximo domingo será ainda entregue no edifício da Sede do Governo uma petição com cerca de 1000 assinaturas em que é pedido o aumento dos salários dos trabalhadores dos casinos. Este ano as operadoras aumentaram os salários dos seus funcionários em cerca de 2,5 por cento, mas não é suficiente, considera Lei. O objectivo da associação é conseguir aumentos entre os cinco e os seis por cento.

Para o protesto do próximo domingo, Jeremy Lei prevê que o número de participantes supere as expectativas, esperando cerca de duzentos manifestantes.

CCAC | Wong Kit Cheng diz que relatórios são ignorados

[dropcap]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng acusou ontem os serviços públicos de ignorarem os relatórios do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) e Comissariado de Auditoria (CA), principalmente na altura de assumirem responsabilidades.

“Muitos serviços públicos não dão importância aos problemas apontados nos relatórios, não os resolvem. Limitam-se a responder que ‘concordam’ e que ‘vão acompanhá-los’, e não tomam medidas para os resolver, afectando directamente a concretização dos resultados dos relatórios do CCAC e do CA e, pior ainda, a credibilidade do Governo”, afirmou a legisladora.

Uma das secretarias visadas pelas crítica foi a da Economia e Finanças, que tem à frente o secretário Lionel Leong. Wong entende que faltam mecanismos para obrigar os políticos a corrigirem os erros, o que faz com que os serviços façam “o que bem entendem e não assumam as suas responsabilidades”.

Pearl Horizon | Polytex contesta arresto de bens

[dropcap]A[/dropcap] Polytex vai contestar o arresto de bens, decretado recentemente pelo Tribunal Judicial de Base (TJB), afirmou ao HM o advogado da promotora do complexo habitacional “Pearl Horizon”. “A Polytex está agora processualmente a deduzir oposição, a aduzir argumentos para confirmar que não existe o chamado justo receio de dissipação de bens”, realçou Leonel Alves.

“Estranhamente” o TJB acolheu o pedido de arresto sem audiência prévia, ou seja, sem o contraditório, apontou o advogado, sublinhando que “será agora exercido dentro do prazo processual previsto por lei”. “É claro como água que se [a Polytex] quisesse dissipar os bens tê-lo-ia feito já há anos”, sustentou.

De recordar que o TJB aprovou um pedido de 70 lesados do Pearl Horizon e ordenou a aplicação da medida cautelar de arresto, envolvendo quatro lojas e 200 lugares de estacionamento no condomínio “La Baie Du Noble”, na Areia Preta. A medida encontra-se relacionada com o processo de restituição do montante pago para aquisição de fracções do complexo habitacional que nunca chegou a ser erguido.

A informação foi avançada na sexta-feira num encontro entre o grupo de investidores e seis deputados à Assembleia Legislativa (Si Ka Lon, Chan Hong, Ella Lei, Wong Kit Cheng, Ho Ion Sang e Song Pek Kei).

TDM | Portal da estação vítima da Grande Firewall no Interior da China

Está a tentar aceder a “conteúdos que violam as leis e regulamentos nacionais”. É esta a explicação do Centro de Segurança da Baidu para quem tenta ligar-se no portal da TDM no Interior da China. Quando o acesso é feito com outras plataformas, a ligação simplesmente é rejeitada

 

[dropcap]O[/dropcap] portal da Teledifusão de Macau (TDM) está bloqueado no Interior da China por ter “conteúdos que violam as leis e regulamentos nacionais”. É esta a razão apresentada quando um utilizador recorre ao motor de busca chinês Baidu para aceder ao site da empresa que é detido maioritariamente pelo Governo de Macau.

De acordo com o relato de duas pessoas ao HM, ontem de manhã, quer através do portal de busca Baidu ou do browser Safari não era possível fazer a ligação ao site. No último caso, ou seja utilizando o safari, o utilizador é apenas confrontado com a informação que “não é possível fazer a ligação”.

Mas quando a tentativa de estabelecer a ligação é feita através da plataforma chinesa surge mesmo um aviso que alerta o utilizador para o facto de estar a tentar aceder a um portal que dissemina informação ilegal.
“Esta página pode ter conteúdos que violam as leis e regulamentos nacionais. Há o risco de divulgar informação ilegal ou de enganar os consumidores através de publicidade falsa”, pode ler-se no aviso do Centro de Segurança da Baidu. “Para evitar perdas pessoais, recomendamos que visite o portal de forma cuidadosa”, é acrescentado. 

No mesmo aviso do Centro de Segurança da Baidu surge depois uma opção que permite ao utilizador ligar-se à TDM, o que acaba por não ser possível para quem se encontra no Interior da China. O mesmo aviso está também disponível para os internautas em Macau que tentem aceder à TDM através do Baidu. Mas nesta situação, quando o utilizador faz a ligação não recomendada pelo Centro de Segurança da empresa chinesa, a ligação é concretizada e os conteúdos aparecem disponíveis.
Por outro lado, o acesso aos jornais de Macau em língua portuguesa está disponível sem qualquer restrição.

“Uma novidade”

Confrontado com esta realidade, o presidente da Comissão Executiva da TDM, Manuel Pires, admitiu não ter conhecimento da situação: “Está a dar-me uma novidade. Fiquei algo surpreendido”, afirmou. “Mas sabemos que cada local tem os suas critérios e directrizes”, acrescentou.

Em relação à mensagem que consta no Centro de Segurança do Baidu, Manuel Pires negou que a TDM emita informação falsa e atirou a responsabilidade da mensagem inteiramente para a plataforma chinesa. “O que os portais fazem não é da nossa responsabilidade. Se eles optam por colocar essa mensagem quando se tenta aceder… a verdade é que o operador nunca nos deu qualquer satisfação para isso”, justificou.

Por outro lado, Manuel Pires clarificou que a aplicação móvel da TDM não está disponível no Interior da China, assim como o sinal dos canais de televisão da emissora pública de Macau.

A Grande Firewall da China é uma ferramenta de censura para controlar a informação que as pessoas no Interior do país podem aceder ou partilhar online.

AL | Número de funcionários públicos aumentou 11 por cento

[dropcap]O[/dropcap] número de funcionários públicos cresceu 11 por cento desde o ano de 2010 até 2018. A informação foi dada ontem pelo presidente da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa Chan Chak Mo, depois da reunião de análise da proposta de execução orçamental de 2017.

Os deputados da comissão estão preocupados com os gastos com salários da função pública e pediram justificações ao Governo para o aumento de trabalhadores no sector.

O Executivo afirmou, de acordo com Chan, que a abertura do novo posto fronteiriço e a melhoria dos Serviços de Saúde implicaram a contratação de funcionários. Em custos, o aumento médio anual de despesas com a função pública no período considerado foi de 1600 milhões de patacas.

Direito | Aprovados 56 advogados no curso de notários

[dropcap]F[/dropcap]oram aprovados 56 candidatos que frequentaram o curso de notários que terminou em Julho, de acordo com o canal de rádio da TDM. A formação de notários teve a participação de 126, sendo que houve desistências, candidatos excluídos por excesso de faltas e outros que não compareceram nas duas provas exigidas.

A lista dos candidatos aprovados deve ser publicada hoje, em Boletim Oficial, aponta a mesma fonte, sendo que no anúncio de abertura do concurso o Governo indicou que seriam atribuídas 40 licenças. Este foi o sexto curso, desde a criação dos notários privados, nos anos de 1990. Actualmente, há 57 advogados que exercem as funções de notário.