Cinema | Documentário “SOM TAM” retrata residentes tailandeses em Macau

Volta a ser exibido este sábado, na Casa Garden, o novo documentário de Vanessa Pimentel, “SOM TAM”, que retrata a comunidade tailandesa de Macau. A realizadora quis abordar as particularidades de um dos grupos étnicos de menor dimensão a residir no território, mas que, ainda assim, consegue ter bastante visibilidade

 

A comunidade tailandesa de Macau surge como pano de fundo no novo documentário de Vanessa Pimentel, realizadora portuguesa e ex-residente no território. “SOM TAM”, exibido pela primeira vez no passado dia 1, no âmbito do festival “Macau Films & Videos Panorama”, promovido pela Associação CUT, volta a ser mostrado ao público este sábado na Casa Garden, às 18h30.

Ao HM, Vanessa Pimentel conta que este projecto nasceu da vontade de explorar a temática das populações migrantes que residem em Macau, “um tema tão vasto”.

“SOM TAM” foca-se na comunidade tailandesa de Macau por esta ser “muito pequena, talvez das mais pequenas” do território, em comparação com as comunidades filipina, indonésia ou vietnamita, embora consiga “marcar uma presença tão forte”.

“Isso deixou-me sempre bastante curiosa e sempre quis perceber como é que isto acontece, além de querer conhecer estas pessoas. Não sei se respondo a essas questões no filme, mas é essa a motivação. Fascinava-me, de facto, o tamanho da comunidade e a diferença que eles fazem. Só o festival tailandês é um evento que fecha uma rua inteira durante três dias para que se possa ver, provar e ouvir a cultura tailandesa em Macau, e acho fascinante que consigam fazer isso.”

A realizadora destaca também o facto de a comunidade tailandesa ter “particularidades diferentes face a outras comunidades estrangeiras de Macau, que têm a ver com um diferente enraizamento”.

“Há muitas pessoas da comunidade que foram para Macau há 20 ou 30 anos e não pretendem sair. Continuam a visitar a família na Tailândia, mas firmaram família em Macau e não querem morar noutro lugar. Fizeram de Macau a sua casa, e é interessante, pois não é a regra de outras comunidades estrangeiras, mesmo que sejam em maior número”, frisou.

Lugar de pertença?

Vanessa Pimentel começou a trabalhar melhor a ideia original de “SOM TAM” quando a realizadora portuguesa Catarina Mourão realizou um workshop sobre o género documentário em Macau, em 2019. Seguiram-se mais duas formações com o Instituto de Cinema de São Paulo, no Brasil, com Maria Clara Escobar, e um workshop na Universidade Nova de Lisboa com Raquel Rato.

Sendo financiado pelo Instituto Cultural e falado em tailandês, inglês e cantonês, o documentário foi rodado com uma equipa “bastante reduzida” de Macau. “Nem o projecto se faria de outra forma, pois os documentários vivem muito de intimidade e isso é fundamental na relação com as personagens e os espaços. Não há necessidade técnica, muitas vezes, de ter uma equipa maior.”

Outra vertente que Vanessa Pimentel quis explorar, prende-se com a questão de Macau ser um território que, economicamente, vive de mão-de-obra estrangeira. “Interessava-me falar disso. As operadoras dos casinos vão buscar mão-de-obra ao Ministério do Trabalho à Tailândia por considerarem que este é um dos países que melhor forma as pessoas na área do turismo. Isto é bastante interessante, e duas das personagens vieram para Macau no âmbito desses programas e ainda estão no território.”

Para a realizadora, este aspecto “é interessante tendo em conta a forma como os estrangeiros são tratados em Macau” e a existência de “campanhas meio proteccionistas que acontecem um pouco pelo mundo inteiro, relativamente à ilusão de se achar que a mão-de-obra estrangeira tira trabalho à mão-de-obra local”. “Talvez não seja assim”, frisou.

“SOM TAM” remete ainda para a ideia de definição de casa ou do lugar de pertença, uma característica tão presente nas vidas dos tailandeses que escolheram Macau para viver.

“No filme aparece uma personagem que resulta do casamento entre um local e uma tailandesa. Ela própria vive esta dualidade de não saber muito bem onde pertence, se é mais a Macau ou à Tailândia. Também queria trabalhar esta dualidade, a questão do sítio com o qual nos identificamos mais e quais os ambientes que preferimos, que nos fazem sentir em casa. O título do documentário tem a ver com essa sensação de estar em casa.”

Depois da estreia mundial em Macau, Vanessa Pimentel pretende mostrar o documentário noutros festivais da Europa e EUA no próximo ano. “Estou a enviar o filme para outros festivais que me parecem adequados. Um filme nunca é um filme se não for visto, tem de ser mostrado para que exista, para que se complete”, rematou.

7 Dez 2023

Documentário | Comuna de Han Ian organiza primeiro festival de produções locais 

Penny Lam, da associação Comuna de Han Ian, é o curador da primeira edição de um festival inteiramente dedicado ao documentário produzido sobre e em Macau e, acima de tudo, por quem é do território. O objectivo é revelar histórias que estão por contar e mostrar o trabalho de jovens realizadores

 

A associação Comuna de Han Ian está a organizar a primeira edição de um festival inteiramente dedicado ao género documentário mas com produções sobre o território e feitas por realizadores locais. A primeira edição da Competição do Documentário de Macau, que, além da exibição dos filmes irá incluir uma exposição, decorre em Julho, sendo que as submissões de projectos podem ser feitas até à próxima segunda-feira, dia 16. A organização não tem ainda um local definido para a realização do evento.

“Como uma das maiores associações que promove o cinema documental na cidade, a Comuna de Han-Ian tem providenciado uma plataforma para mostrar os trabalhos que são feitos em todo o mundo, procurando uma liberdade criativa nos últimos anos. Esperamos poder estabelecer a primeira competição que se foca apenas nos documentários de Macau, a fim de apresentarmos o trabalho dos realizadores locais de forma profissional”, lê-se numa nota.

O júri será composto por realizadores e representantes da indústria do cinema da China, sendo que o documentário seleccionado como “Melhor Filme” irá obter um certificado e um prémio de dez mil patacas, além de ser exibido publicamente.

Ao HM, o curador do evento, Penny Lam, explicou que quaisquer residentes de Macau, mesmo os que vivam no estrangeiro, podem concorrer. De frisar que a Comuna de Han-Ian tem vindo a organizar, desde 2016, um outro evento dedicado ao género documentário, o Festival Internacional do Documentário de Macau, que irá também decorrer em Julho.

“Organizamos, desde 2016, este festival, mas este não se foca muito nos documentários produzidos em Macau, porque existem outros eventos nos quais os realizadores participam. Pensei que, com a minha experiência, poderia promover mais os documentários que são realizados em Macau para um nível mais profissional, uma vez que tenho contacto com curadores de outros festivais a nível internacional.”

Segundo Penny Lam, a ideia sempre foi “fazer uma competição focada apenas nos realizadores locais, juntamente com um ciclo de exibição de filmes e uma exposição, para mostrar os trabalhos dos participantes junto do público”.

O objectivo é atrair “uma grande quantidade de submissões”, incluindo projectos que normalmente são candidatos às competições organizadas pelo Instituto Cultural. “Também espero muitas submissões de realizadores de Macau que vivam fora do território, em Portugal por exemplo, porque não necessitamos que o filme seja filmado em Macau.

Podem ser realizadores com ligações a Macau ou então co-realizadores, por exemplo. Estou algo ansioso pelas submissões que serão apresentadas e que tenham sido filmadas noutros países.”

Números “muito bons”

Penny Lam acredita que Macau é, acima de tudo, um território onde há muitas histórias por contar, daí um novo festival fazer todo o sentido. “Há temas de Macau que são bons para explorar no género documentário, tal como elementos culturais que estão a desaparecer. Mas o que espero no futuro é que possa existir maior criatividade na produção de documentários e essa é uma das razões pelas quais eu estou a promover esta competição, porque queremos ver e descobrir até que ponto vai essa criatividade junto dos realizadores locais.”

O curador diz ainda que os jovens realizadores têm prestado cada vez mais atenção a este género cinematográfico. “Todos os anos os números relativos ao público [dos nossos eventos] são muito bons. Acredito que o género documentário tem um impacto positivo não apenas junto do público mas também por parte dos realizadores. Os realizadores de Macau são muito focados neste género e revelam muito entusiasmo, e penso que muitos jovens optam por fazer documentários, porque Macau está a mudar muito rapidamente, mesmo que seja uma cidade pequena.”

Desta forma, “o documentário constitui um bom começo para muitos realizadores locais, porque a produção é mais barata e existe maior liberdade em matéria de conteúdos e filmagens”. “Muitas pessoas estão de facto a começar a sua carreira por este género”, frisou Penny Lam.

Ainda assim, o responsável da associação Comuna de Han-Ian alerta para os desafios constantes em organizar festivais deste género. “Há o patrocínio do IC mas existem muitas dificuldades em organizar estes eventos porque não há uma grande indústria cinematográfica e não existe, a nível local, uma mentalidade para a realização de um festival de cinema. É difícil para nós encontrar bons parceiros e a equipa para este evento é muito nova, tudo é novo. Temos de fazer muitas tentativas e discutir muitas coisas porque não temos um modelo de evento semelhante que possamos copiar. Não temos experiência e profissionais”, conclui.

12 Mai 2022

Documentário | Universo de Ruby Yang em destaque na Cinemateca Paixão 

Arranca dia 19 um novo ciclo de cinema na Cinemateca Paixão, desta vez dedicado a Ruby Yang, cineasta de Hong Kong mais conhecida pelo género documentário e que ganhou mesmo um Óscar com “The Blood of YingZhou District”, tendo sido a primeira cineasta chinesa a consegui-lo

 

Foi em 2006 que Ruby Yang, cineasta nascida em Hong Kong, se tornou na primeira chinesa da sua área a ganhar um Óscar. E consegui-o ao concorrer, na 79.ª edição de um dos eventos mais importantes da indústria do cinema, com um documentário que é um murro no estômago. “The Blood of Yingzhou District” retrata um ano na vida das crianças que vivem nas aldeias remotas da província de Anhui, na China, e que perderam os pais vítimas da Sida. O filme gira em torno do contraste entre as obrigações familiares tradicionais e o medo da doença.

Produzido por Thomas Lennon, este documentário pode agora ser revisto na Cinemateca Paixão, no ciclo especialmente dedicado a Ruby Yang e que tem início no dia 19. Nesse dia, será feita a primeira exibição deste multipremiado documentário, que poderá ser visto também nos dias 27 e 30 deste mês.

Até ao dia 8 de Maio, o público de Macau poderá ver um programa que conta com a curadoria da própria Ruby Yang, uma cineasta que tem abordado temáticas relacionadas com a pobreza em cidades chinesas, entre outros temas marcantes.

“A Moment in Time”, documentário realizado em 2010, também consta no programa, tendo sido realizado em parceria com o seu marido, Lambert Yam, produtor. Na película, com uma hora de duração, poderão ser conhecidas as experiências de vida dos chineses emigrados na cidade norte-americana de São Francisco, que vivem na Chinatown.

O documentário foi exibido nos canais públicos de televisão nos EUA e ganhou inúmeros prémios em festivais de cinema, nomeadamente no Festival do Documentário Chinês de Hong Kong. “A Moment in Time” foi ainda nomeado para a categoria de Melhor Documentário no Festival Internacional de Cinema de Pequim, em 2010, e Festival de TV de Sichuan, no mesmo ano. De frisar que este documentário será também exibido nos dias 19, 27 e 30 de Abril.

Cineasta premiada

Para os dias 23 e 27 de Abril, e para o dia 3 de Maio, estão agendados os documentários “Ritoma” e “In Search of Perfect Consonance”. “Ritoma”, realizado em 2018, conta a histórias dos nómadas do Tibete que descobriram uma nova paixão, o basquetebol. Ao mesmo tempo que lutam para manter a sua cultura e deixam para trás a sua vida, estas pessoas tentam abraçar laivos de modernidade.

“In Search of Perfect Consonance”, datado de 2016, recua 22 anos para o período em que a história da diplomacia estava marcada pela intervenção chinesa na guerra do Vietname e quando as relações no estreito de Taiwan eram tensas. O foco deste documentário é a Asian Youth Orchestra [Orquestra Jovem Asiática], que tentou apelar à união das pessoas através da música.

Este documentário obteve dois prémios, um deles em 2017 no Festival Internacional de Realizadores da Ásia-Pacífico e em 2018, no Festival Internacional de Cinema de Sedona.

Relativamente ao documentário vencedor de um Óscar, o primeiro contacto que Ruby Yang teve com a realidade do HIV na China foi em 2003, quando, juntamente com Thomas F. Lennon, fundou o projecto Chang Ai Media, a fim de aumentar a consciência das populações sobre a doença.

“The Blood of Yingzhou District” faz parte de uma trilogia de documentários focados sobre a realidade na China, complementado com “Tongzhi in Love” e “The Warriors of Qiugang”.

Depois de ter vivido um longo período em São Francisco, Ruby Yang mudou-se para Pequim em 2004, residindo actualmente em Hong Kong. Em 2019, recebeu a distinção de “Artista do Ano em Cinema” nos Prémios de Desenvolvimento das Artes de Hong Kong.

No programa da Cinemateca Paixão inclui-se ainda um debate sobre o género documentário via Zoom, agendado para o dia 7 de Maio, às 17h, que terá a própria Ruby Yang como moderadora e que conta com a participação de Rintu Thomas e Sushmit Ghosh, realizadores de “Writing with Fire”. As inscrições podem ser feitas através deste formulário: https://forms.gle/jm2GSinvU2VwYu1G7

13 Abr 2022

Investigador conta ‘pegada’ portuguesa na Tanzânia através da diáspora goesa

[dropcap]U[/dropcap]m projecto de investigação que vai resultar num documentário pretende contar a ‘pegada’ portuguesa na Tanzânia, através da diáspora goesa, sobretudo em Dar es Salaam e Zanzibar, disse ontem à Lusa o investigador Pedro Pombo.

“Por um lado, queremos centramo-nos nas celebrações do centenário do clube de Dar es Salaam, que vai reunir grande parte da diáspora goesa que tem uma relação forte com a Tanzânia e é muito importante para a África oriental, e, por outro, mostrar como estas comunidade se espalhou naquele território depois das independências” africanas e indianas, explicou o docente português à margem de uma palestra em Macau.

“Interessa-nos muito essa memória, essa geração que viveu períodos históricos marcantes e cujas memórias não estão registadas, na sua maioria”, sublinhou o professor na Universidade de Goa, cujo trabalho cobre as áreas de arte e linguística antropológica, no que concerne as influências cruzadas entre Moçambique, Tanzânia, a costa ocidental da Índia (especialmente Goa e Diu) e a Ásia Oriental.

O trabalho de campo está agendado para final de dezembro, prevê-se que demore três semanas, e vai resultar num documentário para a RTP, um projeto conjunto com a realizadora Nalini Elvino de Sousa, portuguesa de origem goesa que é também diretora de uma organização não-governamental que se dedica ao intercâmbio cultural e linguístico.

Os vestígios da ‘pegada’ portuguesa, em especial a partir do final do século XIX, não deixa dúvidas, frisou Pedro Pombo de que os goeses “tinham uma grande facilidade de se moverem entre os territórios portugueses e britânicos”, muito pelo facto de dominarem as línguas dos dois países e pela sua qualificação cultural, pelo acesso ao ensino superior.

“Muitos trabalhavam na administração, muitos eram advogados, em empresas de construção de estradas ou do caminho de ferro, muitas famílias dedicavam-se ao comércio e há casos também muito interessantes de músicos, arquitetos e fotógrafos”, acrescentou.

As declarações foram prestadas numa palestra promovida pela Fundação Rui Cunha, em parceria com a Universidade de Macau – Centro de Investigação e Estudos Luso-Asiáticos (CIELA) do Departamento de Português.

A iniciativa intitulada de Diálogos Interculturais – Goa, Diu e Sri Lanka consistiu em duas apresentações que se centraram no diálogo entre influências culturais múltiplas no Índico, especificamente em Goa, Diu e no Sri Lanka, desde o património imaterial (sistemas sociais, canção e dança), e património material (arquitetura, arte e artesanato).

Mahesh Radhakrishnan, etnomusicólogo e antropólogo linguístico, professor da Faculdade de Arqueologia e Antropologia da Universidade Nacional da Austrália, a equipa de pesquisa da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi outro dos convidados, tendo abordado o tema dos vestígios da tradição luso-asiática nos domínios da dança, música e letras ainda mantidas pelas comunidades descendentes de portugueses na costa leste do Sri Lanka.

A palestra conjunta fez parte da promoção do CIELA de temas relacionados com a língua portuguesa e as culturas influenciadas por uma matriz portuguesa na Ásia.

26 Nov 2019

“Uma Faixa, Uma Rota” | Carlos Fraga quer filmar a Macau do futuro 

Esta sexta-feira estreia no território o mais recente projecto do realizador Carlos Fraga que conta a história de Macau nos últimos 20 anos. O documentário “Macau, 20 anos depois” é o resultado de muitas viagens a descobrir as várias comunidades do território, mas o futuro marcado pelo projecto “Uma Faixa, Uma Rota” poderá dar origem a novas filmagens

 

[dropcap]P[/dropcap]oucos filmaram Macau e as suas vicissitudes como Carlos Fraga. Depois de realizar um documentário sobre a comunidade macaense a residir em Lisboa, e outro sobre a comunidade portuguesa em Macau, o realizador compilou seis produções no documentário “Macau, 20 anos”. Esta sexta-feira é a estreia, desta vez em formato de longa-metragem, no auditório do Consulado-geral de Portugal em Macau e com o apoio do Instituto Português do Oriente (IPOR).

Em declarações ao HM a minutos antes de embarcar para o Oriente, Carlos Fraga falou de um projecto sempre feito em parceria com antropólogos e pessoas intimamente ligadas a Macau, como é o caso de Carlos Piteira.

“Não é que tenhamos ficado a conhecer Macau profundamente, mas vamos tendo a ideia de como é e penso que transmitimos isso nos documentários”, contou.

Carlos Fraga, que apenas conhece o território no período pós-1999, destaca o facto de co-existirem tantas comunidades diferentes em Macau. “Surpreende-me a multiculturalidade e a existência de uma diversidade com bastante tranquilidade. Depois também há outro aspecto, muito interessante, que é o facto de (Macau) ter uma superfície tão pequena onde se junta tanta coisa, tantas culturas e estilos arquitectónicos. É um sítio muito peculiar”, acrescentou.

O projecto arrancou em 2013, altura em que foi feita uma produção que espelha as vivencias da comunidade chinesa em Lisboa. Depois, Carlos Fraga e a sua equipa avançaram para as filmagens da comunidade macaense que se mudou para a capital portuguesa.

Seguiu-se o desfilar de histórias que precisavam de ser contadas. “Para ilustrar todos os depoimentos de macaenses que falavam de Macau fomos lá filmar. Aí percebemos que tínhamos muita matéria e que havia a possibilidade de fazer mais coisas, e assim nasce os portugueses em Macau, que era o outro lado da história. Houve uma altura em que a série ia em cinco partes, e faltava a parte da comunidade chinesa.”

Aí Carlos Fraga percebeu que fazia falta uma peça para completar o puzzle. “Chegámos à conclusão de que tinham de ser seis partes, porque a série ia ficar coxa se não tivesse também um programa dedicado aos chineses, que é o último. Temos um outro filme sobre a lusofonia e outro sobre os macaenses de Macau”, frisou.

O futuro

Concluído este projecto, Carlos Fraga já tem em mente outra iniciativa, mas desta vez em parceria com a economista Fernanda Ilhéu, professora universitária e também presidente da Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda. Depois de filmar o passado e o presente de Macau, o realizador português pretende debruçar-se sobre o futuro.

“Depois desta série de seis documentários provavelmente haverá uma próxima abordagem a Macau, em que o território será protagonista no projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e na importância que tem nessa iniciativa.”

Até porque a história dos macaenses está contada, assume Carlos Fraga. “Sobre a comunidade macaense penso que já fizemos bastante. Macau continua na nossa mente e objectivo, mas já a outro nível”, concluiu.

12 Nov 2019

“Uma Faixa, Uma Rota” | Carlos Fraga quer filmar a Macau do futuro 

Esta sexta-feira estreia no território o mais recente projecto do realizador Carlos Fraga que conta a história de Macau nos últimos 20 anos. O documentário “Macau, 20 anos depois” é o resultado de muitas viagens a descobrir as várias comunidades do território, mas o futuro marcado pelo projecto “Uma Faixa, Uma Rota” poderá dar origem a novas filmagens

 
[dropcap]P[/dropcap]oucos filmaram Macau e as suas vicissitudes como Carlos Fraga. Depois de realizar um documentário sobre a comunidade macaense a residir em Lisboa, e outro sobre a comunidade portuguesa em Macau, o realizador compilou seis produções no documentário “Macau, 20 anos”. Esta sexta-feira é a estreia, desta vez em formato de longa-metragem, no auditório do Consulado-geral de Portugal em Macau e com o apoio do Instituto Português do Oriente (IPOR).
Em declarações ao HM a minutos antes de embarcar para o Oriente, Carlos Fraga falou de um projecto sempre feito em parceria com antropólogos e pessoas intimamente ligadas a Macau, como é o caso de Carlos Piteira.
“Não é que tenhamos ficado a conhecer Macau profundamente, mas vamos tendo a ideia de como é e penso que transmitimos isso nos documentários”, contou.
Carlos Fraga, que apenas conhece o território no período pós-1999, destaca o facto de co-existirem tantas comunidades diferentes em Macau. “Surpreende-me a multiculturalidade e a existência de uma diversidade com bastante tranquilidade. Depois também há outro aspecto, muito interessante, que é o facto de (Macau) ter uma superfície tão pequena onde se junta tanta coisa, tantas culturas e estilos arquitectónicos. É um sítio muito peculiar”, acrescentou.
O projecto arrancou em 2013, altura em que foi feita uma produção que espelha as vivencias da comunidade chinesa em Lisboa. Depois, Carlos Fraga e a sua equipa avançaram para as filmagens da comunidade macaense que se mudou para a capital portuguesa.
Seguiu-se o desfilar de histórias que precisavam de ser contadas. “Para ilustrar todos os depoimentos de macaenses que falavam de Macau fomos lá filmar. Aí percebemos que tínhamos muita matéria e que havia a possibilidade de fazer mais coisas, e assim nasce os portugueses em Macau, que era o outro lado da história. Houve uma altura em que a série ia em cinco partes, e faltava a parte da comunidade chinesa.”
Aí Carlos Fraga percebeu que fazia falta uma peça para completar o puzzle. “Chegámos à conclusão de que tinham de ser seis partes, porque a série ia ficar coxa se não tivesse também um programa dedicado aos chineses, que é o último. Temos um outro filme sobre a lusofonia e outro sobre os macaenses de Macau”, frisou.

O futuro

Concluído este projecto, Carlos Fraga já tem em mente outra iniciativa, mas desta vez em parceria com a economista Fernanda Ilhéu, professora universitária e também presidente da Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda. Depois de filmar o passado e o presente de Macau, o realizador português pretende debruçar-se sobre o futuro.
“Depois desta série de seis documentários provavelmente haverá uma próxima abordagem a Macau, em que o território será protagonista no projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e na importância que tem nessa iniciativa.”
Até porque a história dos macaenses está contada, assume Carlos Fraga. “Sobre a comunidade macaense penso que já fizemos bastante. Macau continua na nossa mente e objectivo, mas já a outro nível”, concluiu.

12 Nov 2019

Documentário | “Macau, 20 anos depois” em ante-estreia sexta-feira

[dropcap]É[/dropcap] já esta sexta-feira que acontece a ante-estreia do novo documentário de Carlos Fraga sobre Macau, uma produção da LIVREMEIO e MACAODOC em parceria com o Instituto Português do Oriente (IPOR). O documentário, com o nome “Macau, 20 anos depois”, será exibido no auditório do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong às 19h30.

De acordo com uma nota oficial do IPOR, este trabalho “é um olhar sobre uma Macau chinesa onde a cultura portuguesa se faz sentir e continua a marcar presença”, constituindo “um filme que dá voz às diversas comunidades”.

Nesse sentido, o projecto de Carlos Fraga espelha uma partilha de “sentimentos e perspectivas de portugueses, macaenses e dos lusófonos que ajudaram a construir Macau (Angola, Brasil, Cabo Verde, Goa, Damão e Diu, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor Leste) assim como dos Chineses de Macau (sobre o modo como nos olham, acolhem e nos integram na sociedade chinesa) numa convivência multisecular e multicultural que se enraizou na tipificação do próprio lugar que é Macau”.

“Macau, 20 anos depois” representa “uma viagem de 96 minutos pela fascinante multiculturalidade que a define e diferencia de todas as demais cidades chinesas”. Esta longa-metragem é o resultado de cinco anos de filmagens e produção de uma série composta por seis documentários sobre a era da RAEM. O projecto volta a ser exibido a 29 de Novembro no Museu do Oriente, em Lisboa.

11 Nov 2019

Documentário | “Macau, 20 anos depois” em ante-estreia sexta-feira

[dropcap]É[/dropcap] já esta sexta-feira que acontece a ante-estreia do novo documentário de Carlos Fraga sobre Macau, uma produção da LIVREMEIO e MACAODOC em parceria com o Instituto Português do Oriente (IPOR). O documentário, com o nome “Macau, 20 anos depois”, será exibido no auditório do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong-Kong às 19h30.
De acordo com uma nota oficial do IPOR, este trabalho “é um olhar sobre uma Macau chinesa onde a cultura portuguesa se faz sentir e continua a marcar presença”, constituindo “um filme que dá voz às diversas comunidades”.
Nesse sentido, o projecto de Carlos Fraga espelha uma partilha de “sentimentos e perspectivas de portugueses, macaenses e dos lusófonos que ajudaram a construir Macau (Angola, Brasil, Cabo Verde, Goa, Damão e Diu, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor Leste) assim como dos Chineses de Macau (sobre o modo como nos olham, acolhem e nos integram na sociedade chinesa) numa convivência multisecular e multicultural que se enraizou na tipificação do próprio lugar que é Macau”.
“Macau, 20 anos depois” representa “uma viagem de 96 minutos pela fascinante multiculturalidade que a define e diferencia de todas as demais cidades chinesas”. Esta longa-metragem é o resultado de cinco anos de filmagens e produção de uma série composta por seis documentários sobre a era da RAEM. O projecto volta a ser exibido a 29 de Novembro no Museu do Oriente, em Lisboa.

11 Nov 2019

Óbito | Morreu o realizador D.A. Pennebaker, mestre do documentário

[dropcap]O[/dropcap] cineasta norte-americano D.A. Pennebaker, considerado um mestre do género documental e muito atento à música popular, morreu na quinta-feira aos 94 anos, informou ontem a revista especializada Variety.

O realizador, que filmou documentários sobre Bob Dylan, David Bowie ou o Festival de Monterrey de 1968 foi uma figura central do designado “Direct Cinema”, um subgénero do documental que na década de 1960 tentou reflectir a realidade da forma mais objectiva possível, incluindo a espontaneidade e sem omitir no resultado final os erros técnicos ou as imperfeições.

Em 2012, Pennebaker, natural de Evanston (Illinois), recebeu um Óscar honorífico pelo seu longo percurso, onde sobressaem documentários não ficcionais como “Bob Dylan: Dont Look Back” (1967), “Monterey Pop” (1968), “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1973), “The War Room” (1993), “Down from the Mountain” (2000), “Elaine Stritch at Liberty” (2002) ou “Kings of Pastry” (2009).

Após os seus primeiros passos no cinema e na direcção de várias “curtas”, participou em “Primary” (1960), um influente documentário sobre o confronto entre dois políticos norte-americanos, John F. Kennedy e Hubert H. Humphrey, para a nomeação democrata na corrida à Casa Branca.

6 Ago 2019

Julgar a arte pelo artista

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso é conhecido. No passado dia 3 estreou um documentário realizado por  Dan Reed que está a causar sensação e a desencadear opiniões apaixonadas : Leaving Neverland.  Não que seja necessário muito para que isso aconteça, nestes dias em que o mundo está transformado numa caixa de comentários. Mas o que Reed apresentou tinha tudo para que as emoções mais profundas se soltassem de onde cada vez menos parecem estar presas. Leaving Neverland é, aparentemente, um documentário sobre Michael Jackson; mas não é, como o próprio realizador afirmou: é um panfleto, uma denúncia. “Não é um filme sobre Michael”, disse o cineasta ao site Hollywood Reporter, “É um relato de abuso sexual, de como esse abuso acontece e como as suas consequências estão presentes na vida adulta das vítimas”. O que o documentário de quatro horas ilustra é difícil de ver: dois depoimentos de homens adultos ( Wade Robson e James Safechuck) que revelam em detalhe os abusos que Jackson lhes terá imposto enquanto crianças – e a forma como essa memória afectou as suas vidas a partir daí.

Os rumores sobre a pedofilia de Jackson circulavam desde há muito, assim como outras excentricidades bem menos graves que o cantor parecia cultivar: o branqueamento da sua pele, o comportamento infantil, a sua relação com Elizabeth Taylor, a crença de que se entregava à criogenia numa tentativa desesperada de não envelhecer. Durante a sua vida e sobretudo a partir do momento em que alcançou fama planetária os tablóides nunca mais largaram as canelas de Jackson.

Mas agora é diferente. O ídolo está morto e não se pode defender. Estão cavadas as trincheiras entre os que acreditam nas graves acusações e os fiéis defensores de Jackson, muito organizados e que lhe dedicam uma lealdade canina. A estreia do documentário teve revistas policiais e cães à procura de bombas. Os herdeiros de Jackson processaram a produtora HBO em cem milhões de dólares ao mesmo tempo que produziam um contra-documentário.

Aqui chegamos ao que queria hoje conversar convosco. Entre as reacções mais imediatas ao documentário sobressaíram as muitas estações de rádio e televisão que a partir de agora se recusam a passar a música do homem. E naturalmente, como sempre acontece em tempos à beira do totalitarismo, ouviu-se de imediato a palavra tenebrosa: proibir.

As decisões de entidades privadas começam e acabam nessas entidades. Estão no seu direito, por mais erradas que possam estar. Mas proibir é perigoso porque universal. É uma imposição, o que deveria ser um último recurso. Neste caso cai numa armadilha comum na arte: confundir a obra com o artista. Eu sei que é um exercício difícil; mas tem que ser feito, sob pena de alienarmos muito do que muitos génios nos ofereceram. O facto de Leni Riefenstahl ter sido uma apoiante de um dos mais sórdidos ideais não retira um milímetro ao seu génio. O mesmo, no espectro oposto, se poderá aplicar a Eisenstein. Rimbaud foi traficante de armas, Pound defendeu convictamente o fascismo de Mussolini. Vamos proibi-los? Céline, simpatias nazis. Colette, anti-semita (apesar de casada com um judeu…). Picasso, um orgulhoso e notório misógino.

A arte é para ser apreciada, não para ser julgada em função das imperfeições dos seus autores: não é boa ou má em função das características dos artistas.  Existem em planos separados embora sempre ligadas pela sua singularidade, que é dada pela presença da autoria. A arte vive do artista mas não tem de ser necessariamente uma literal interpretação biográfica. A vida está sempre lá, por definição. É uma mediação, uma verdade que é criada – é a isso que nos devemos ater. Se a música de Michael Jackson me irá soar ao mesmo caso sejam provadas as alegações de pedofilia? Não, nunca. De facto, já não soa, a audição foi maculada. Se as canções se tornaram piores? Impossível.

A arte precisa por vezes de se libertar dos seus autores. Mais ainda: de se libertar de quem os admira, como é sempre o nosso caso.

13 Mar 2019

Documentário de tributo aos macaenses em competição no festival Sound&Image

[dropcap]S[/dropcap]essenta anos separam as imagens documentadas em “Caminhos Longos”, uma “história de amor e encontros” e um tributo “a todos os macaenses”, em competição no festival Sound&Image de Macau, que arranca hoje.

Com imagens de Macau, em 1957 e em 2017, o documentário, um dos 13 em competição na 9.ª edição do Sound&Image, é uma “história baseada na infância” do realizador António Lemos Ferreira, filho de pai português e mãe macaense, que voltou no ano passado à terra onde nasceu, mas onde “tudo está diferente”, declarou.

“O nome é baseado no título de um filme de longa-metragem que o meu pai fez naquela altura, em Macau, quando eu tinha quatro anos. O primeiro e único durante muito tempo filmado a oito milímetros (8mm)”, lembrou, à margem da conferência de imprensa que antecedeu a inauguração do festival, já a decorrer no teatro D. Pedro V.

Depois de anos emigrado em Moçambique e Portugal, o realizador voltou no ano passado a Macau e filmou “exactamente os mesmos sítios”, moldados pelo tempo e pelo próprio olhar. “É uma história de uma família de Macau, o encontro de várias culturas, uma história de amor, ao fim ao cabo” e é “dedicado a todos os macaenses”, descreveu.

Sem apoios ou patrocínios, o documentário foi “feito em termos familiares” e filmado entre Portugal, com a camada mais “jovem da família”, e Macau com a “mais idosa”, detalhou.

Um dia antes, é exibida a animação “Rácio entre dois volumes”, da portuguesa Catarina Sobral, um dos 84 trabalhos finalistas entre mais de quatro mil candidaturas.

Com duas personagens verdadeiramente opostas, o filme é um “retrato irónico” de “dois extremos no modo de sentir e agir perante o mundo”, disse, na mesma ocasião, a artista portuguesa, com dez livros infantis publicados em 13 línguas.

Trazer o filme a Macau é uma mistura daquilo que a própria sentiu ao visitar pela primeira vez o território: a presença portuguesa chegar tão longe e ser “tão profunda ainda”, afirmou, “é bom e simbólico”.

Portugal é um dos países com maior representação no festival, que vai apresentar também trabalhos da Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Irão, Malásia, República Checa, Rússia, Síria, entre outros.

O festival de curtas-metragens, que arrancou com o documentário “A vida aqui, está vista?”, do português Filipe Carvalho, termina no domingo, com a entrega dos prémios.

O grande júri será presidido por Miguel Dias, um dos directores do Festival Internacional de Curtas de Vila do Conde, pelo diretor de informação e programas dos canais portugueses da TDM, João Francisco Pinto, e pelo realizador e produtor Detsky Graffam.

4 Dez 2018

Sound & Image | Festival revela programa dedicado aos documentários

São 13 as curtas documentais que vão preencher as tardes dos próximos dias 7 e 8 no Teatro D. Pedro V e que integram mais uma parte do programa da 9ª edição do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau

 

[dropcap]D[/dropcap]e 4 a 9 de Dezembro, o Festival Internacional de Curtas-Metragens – Sound & Image Challenge – traz ao Teatro Dom Pedro V 34 ficções, 13 documentários, 25 animações e 10 videoclips. A apresentação dos filmes documentais do programa desta edição do festival de curtas divide-se em três sessões nos próximos dias 7 e 8.

A primeira sessão de projecções é dedicada aos temas biográficos, na sexta-feira pelas 14h e abre com o filme, “A piece for two hands” da Lituânia. Realizado por Akvilė Žilionytė, o documentário desdobra-se em 23 fragmentos da memória narrados por um homem e uma mulher conversando entre si e com eles mesmos.

“Lembro-me da primeira vez que beijei alguém cujos lábios eram tão grandes quanto os meus. A sensação foi tão intensa, como encontrar alguém que tivesse lido todos os meus livros favoritos” , dizem.

Segue-se “Fighting Two Wars: The story of Thalia Jane Ainsley” do americano Aaron Curtis. O filme foca-se na história de um veterano de guerra Thalia Jane Ainsley que opta por se transformar numa mulher.

“Midas” é a curta russa de Victoria Babkina e traz ao ecrã a temática da fama e das suas vantagens e maldições. O documentário trata a história do produtor musical Rostov-on-Don que ao conhecer um jovem rapper afro-russo num gueto lhe promete fama e sucesso.

A película iraquiana “Raven” de Shukri Mahmod Raven encerra a sessão. O argumento relata a história do pintor Yizidean que, em 2014, escapou ao ISIS refugiando-se em Duhok. O filme revela as constantes ameaças da organização terrorista ao artista e os ataques que destroem a coexistência pacífica entre diferentes religiões e crenças.

Longe de tudo

A segunda sessão dedicada ao filme documental tem início no mesmo dia às 15h30 e é dedicada à temática da emigração.

As projecções começam com uma película local. “Good bye again, Macau” de Cheang Chi Leong explora as áreas menos conhecidas do território vistas e interpretadas pelo realizador.

Macau continua a ser o palco do filme seguinte com a curta portuguesa “Long Paths” de António José de Lemos Ferreira que traz o realizador de regresso ao território anos depois de aqui ter vivido. O que encontra? A surpresa causada pelas transformações brutais que Macau sofreu. O filme inclui ainda imagens inéditas guardadas durante sessenta anos.

A história de uma jovem imigrante polaca, que se muda, após o divórcio, para Greenpoint onde conhece diferentes gerações de polacos e as suas histórias longe de casa é o argumento de “Past States” realizado por Olga Blumczyńska.

Do argentino Martín Miguel Pereira vai ser exibido “What wouldn’t I give for the memory” que trata a história de um grupo de mineiros expulso da sua aldeia depois do fecho das minas. Mas é ali que permanecem as suas memórias e antepassados.

Aos desafortunados

Os documentários continuam no sábado, dia 8 de Dezembro às 14h no Teatro D. Pedro V.
Anderson é um brasileiro de meia idade com paralisia cerebral e a figura central deste documentário homónimo dedicado ao futebol. O protagonista aceitou participar no filme com uma condição: que não se tratasse de um drama.

“La Cumbre” de Dana Romanoff revela a dura realidade da vida de um amputado num mundo em desenvolvimento numa película feita em parceria com o Projecto Range of Motion e que conta a histópria do alpinista Chad Jukes.

Segue-se “The Fight” de Violeta Ayala. Uma co-produção da Austrália e da Bolívia que traz à tela o drama das pessoas portadoras de deficiência naquele país latino americano. Um grupo de deficientes que se sente descriminado organiza uma excursão e após percorrerem 380 quilómetros pelas montanhas em cadeiras de rodas, para conseguirem falar com o presidente do país Evo Morales, são impedidos de o fazer por se confrontarem com uma carga policial que os atinge com gás lacrimogéneo e canhões de água.

O luta é outra em “The Good Fight” de Ben Holman que narra a história de Alan Duarte. Duarte, depois de ter perdido nove familiares devido à violência armada das favelas brasileiras, resolve criar um clube de boxe para envolver a comunidade e dar um futuro melhor ao filho.

Os documentários terminam com a exibição de mais um filme local: de “The Last Ride” de Vong Kuan Chak que traz a história de A Mo, um amante de escaladas que se cansou de as fazer e resolve organizar uma última aventura nas montanhas com amigos.

3 Dez 2018

Documentário português abre festival Sound & Image Challenge

[dropcap]O[/dropcap] documentário “A vida aqui, está vista?”, do português Filipe Carvalho, vai abrir o festival internacional de música e curtas-metragens Sound & Image, que arranca em Macau no dia 4 de Dezembro.

“Observando o desenrolar da vida na mina São Domingos (Alentejo), o filme propõe um caminho utópico em direção ao futuro daquele território e da sua comunidade”, lê-se na página do evento, que avança para a nona edição com 72 curtas-metragens e dez vídeos musicais.

O documentário, que já passou pelo festival Indie Lisboa, vai ser apresentado na secção “Cinema Expandido”, que inclui também oito curtas-metragens do Festival de Cinema do Douro, o único festival de super oito milímetros realizado em Portugal.

As 72 curtas-metragens desdobram-se em 34 ficções, 13 documentários, 25 animações. Há filmes provenientes da Bélgica, Brasil, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Irão, Malásia, República Checa, Rússia, Síria, entre outros.

Há duas animações assinadas por portugueses: “Porque este é o meu ofício”, de Paulo Monteiro, e “Rácio entre dois volumes”, de Catarina Sobral.

O grande júri será presidido Miguel Dias, um dos diretores do Festival Internacional de Curtas de Vila do Conde, pelo director de informação e programas dos canais portugueses da TDM e pelo realizado e produtor Detsky Graffam.

O festival, organizado pelo Creative Macau, arranca no dia 4 e estende-se até dia 9 de Dezembro no Teatro Dom Pedro V. No ano passado, o filme “Bitchboy” do realizador sueco Mans Berthas conquistou os prémios de melhor filme e de melhor ficção da oitava edição.

29 Nov 2018

Ponte HKZM | Documentário exibido pela primeira vez na MUST

[dropcap]“P[/dropcap]onte Hong Kong-Zhuhai-Macau” é o titulo do documentário, de aproximadamente 70 minutos, que estreou ontem na Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST, na sigla inglesa).

A exibição do filme, para uma audiência de cerca de 400 estudantes, contou com a presença do subdirector do Gabinete de Ligação da China em Macau, Xue Xiaofeng, e com o vice-director da Autoridade da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, Yu Lie. Segundo um comunicado da MUST, após a estreia, o documentário vai ser mostrado nas escolas primárias e secundárias de Macau.

As filmagens para o documentário, produzido por uma série de canais televisivos, incluindo o Discovery, começaram em Fevereiro do ano passado, acompanhando as empresas e os operários da linha da frente da infra-estrutura inaugurada a 22 de Outubro.

14 Nov 2018

Documentário sobre Aretha Franklin estreia-se hoje em Nova Iorque 46 anos após filmagens

[dropcap]“A[/dropcap]mazing Grace”, um documentário sobre o álbum de gospel de Aretha Franklin, realizado por Sydney Pollack, estreia-se hoje, em Nova Iorque, no festival de cinema documental da cidade DOC NYC, 46 anos depois de ter sido filmado e abandonado.

Rodado em Janeiro de 1972, na Igreja Batista de New Temple Missionary, em Los Angeles, durante dois concertos de gospel da cantora norte-americana Aretha Franklin, “Amazing Grace”, o filme, ficou retido na produtora Warner Brothers, devido a problemas de sincronização de áudio e som, que a tecnologia da altura não permitiu resolver.

O documentário de Sidney Pollack documenta os espectáculos e a gravação do duplo álbum ao vivo da cantora, igualmente intitulado “Amazing Grace”, que liderou o ‘top’ de vendas, após a publicação, em Junho de 1972, nos Estados Unidos, tendo conquistado a certificação de dupla platina, segundo o histórico da Billboard.

O álbum deu um prémio Grammy a Aretha Franklin, em 1973, mantém-se entre os mais vendidos da carreira da cantora e também entre os mais vendidos de música gospel.

A revista Variety, que primeiro noticiou a estreia do filme, recordou que esta se verifica três anos depois de os advogados da cantora terem impedido o produtor Alan Elliott de o lançar, alegando que, apesar de Franklin ter gostado do resultado, os direitos de imagem estavam exclusivamente reservados a Sydney Pollack, que falecera em 2008.

Alan Elliott comprou o filme em 2007 e tencionava estreá-lo em 2015, nos festivais de Telluride e Toronto. A sobrinha de Aretha Franklin, Sabrina Owens, contou à Variety que Elliott apresentou, nas últimas semanas, o filme à família da cantora, que “adorou” o trabalho “apaixonado” do produtor, permitindo que se avançasse com a estreia.

Para Owens, o filme “mostra uma Aretha com uma luz diferente”, sendo “uma oportunidade para aqueles que não a viram num contexto gospel, perceberem como a sua música é diversificada”.

Elliott considera que o filme, que já entrou no ‘site’ de votação dos Óscares de 2019, “vale por si só, por isso teria sucesso tanto no próximo ano como há dois ou três anos”. “Aretha sempre quis ser uma estrela de cinema, e sentimos que esta é a oportunidade de o ser”, disse o produtor, concluindo que, de facto, “ela é uma estrela de cinema”.

“Amazing Grace”, o documentário, é exibido hoje, no Teatro SVA (School of Visual Arts), de Manhattan, às 18:45 (23:45, em Portugal Continental e Madeira), e às 21:30 (hora local), conforme a programação do DOC NYC. As duas sessões estão esgotadas. A cantora norte-americana Aretha Franklin, conhecida pela “Rainha da Soul”, morreu no dia 16 de Agosto, aos 76 anos.

12 Nov 2018

Cinemateca Paixão | 3º Festival do Documentário começa este mês

“Imagina o Mundo” é o tema da terceira edição do Festival Internacional de Documentário de Macau, que começa no próximo dia 14 e termina a 4 de Agosto. O público poderá assistir a um total de 28 documentários, no evento que conta com a parceria com a associação local Comuna de Han-Ian. Hara Kazuo será o “realizador em foco” desta iniciativa

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de apresentar uma série de filmes que mostram como a China e os Países de Língua Portuguesa podem andar de mãos dadas, a Cinemateca Paixão prepara-se para apresentar este mês uma programação dedicada ao género documentário.

Em parceria com a associação local Comuna de Han-Ian, o terceiro Festival Internacional de Documentário de Macau (FIDM) começa este mês, com o tema “Imagina o Mundo”. A ideia é que os 28 documentários europeus, americanos ou japoneses, entre outros, mostrem como “não nos sujeitaremos às dificuldades da realidade”, mas sim “deixar que a imaginação se torne numa nova visão do mundo, usando-a como um sólido bloco de construção da nossa cidade”, aponta um comunicado.

Hara Kazuo, realizador japonês independente, será o rosto principal deste evento, sendo considerado o mais importante documentarista asiático contemporâneo. Kazuo irá partilhar as suas experiências com o público, além de que os seus cinco documentários farão também parte do programa, com os nomes “Goodbye CP”, “Eros Extremamente Privado: Canção de Amor 1974”, “O Exército Nu do Imperador Continua a Marchar”, “Uma Vida Dedicada” e “O Desastre de Amianto de Sennan”.

Coreia a abrir

O filme de abertura será o “Dia da Libertação”, que é “uma obra sobre a famosa banda arte rock ex-jugoslava Laibach e a sua viagem a Pyongyang para tocar no concerto de celebração do Dia da Libertação da Coreia do Norte”.

O primeiro dia do festival vai também contar com dois convidados de Hong Kong, de nome Yuen Chi-Chung e Dennis Wong, que irão protagonizar um espectáculo musical e uma conversa sobre a banda Laibach. Este evento começa às 16h30, tendo entrada livre.

O festival conta ainda com outros filmes como “A Vida É Frutada”, “Os Van Goghs da China”, “Kedi”, “Morrer Amanhã”, “Comunhão”, “Light Up”, “Rostos Lugares” e “Ryuichi Sakamoto: CODA”.

“A Vida É Frutada” (realizado por Kenshi Fushihara), é sobre as vidas e filosofia do arquitecto japonês Shuichi Tsubata e sua esposa Hideko e a sua busca de harmonia entre a humanidade e a natureza.

“Os Van Goghs da China” (realizado pela parceria pai-filha de Yu Haibo e Yu Tianqi) retrata a vida de Zhao Xiaoyong, um camponês tornado pintor em Dafen, uma das “aldeias de pintura a óleo” de Shenzhen, que produziu réplicas de Van Gogh durante toda a vida e finalmente realiza o seu sonho de viajar até à Holanda para seguir as pisadas do mestre.

“Light Up” (realizado por Deniece Law, uma conhecida investigadora social de Hong Kong) regista quatro pessoas deficientes que perseguem os seus sonho através do teatro. O realizador encontrar-se-á com o público depois da sessão.

“Rostos Lugares” é um encantador e interessante documentário sobre Agnès Varda, a madrinha da Nova Vaga francesa, que se junta a JR, um artista contemporâneo, para viajar por aldeias francesas numa missão de ligar o público e a comunidade artística através da fotografia. O filme ganhou o Prémio Golden Eye (Melhor Documentário) no Festival de Cinema de Cannes 2017.

“Ryuichi Sakamoto: CODA” é o primeiro documentário sobre Ryuichi Sakamoto, o compositor premiado pela Academia e um dos mais importantes músicos japoneses.

Continuaremos também a contar com a “Secção Portuguesa” este ano e alargamos o horizonte para incluir mais filmes de países lusófonos, tais como o Brasil e Cabo Verde. Vamos olhar mais longe em busca da visão criativa do universo lusófono.

O “Realizador em Foco” HARA Kazuo dará uma master class, passando em revista mais de quatro décadas de prática documental. O próprio mestre explicará o seu método de “documentário de acção” e o seu entendimento da genealogia do “extremamente privado” no cinema documental asiático e mundial.

O festival encerra com um espectáculo musical da banda Cicada, de Taiwan, que vai tocar uma banda sonora ao vivo. De acordo com o mesmo comunicado, os Cicada são conhecidos por “dedicarem a sua música ao retrato da relação entre a humanidade e o ambiente. O concerto decorre dia 4 de Agosto no Teatro D. Pedro V.

Os bilhetes para este festival estão à venda na bilheteira da Cinemateca Paixão e também no website. Cada bilhete custa 60 patacas.

2 Jul 2018

Entrevista | Eduardo Lourenço marca 95º aniversário com o documentário “O labirinto da saudade”

“O labirinto da saudade” é o filme de Miguel Gonçalves Mendes baseado na obra homónima do ensaísta português que celebrou, na passada quarta-feira, o 95º aniversário. Em entrevista à agência LUSA, Eduardo Lourenço fala do filme em que participou inadvertidamente, da vida e da morte, e do que é ser português. Além disso, o ensaísta sublinha que o passado colonizador do país não é motivo para que o país seja “crucificado”

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ensaísta Eduardo Lourenço, actor dele próprio no filme “O Labirinto da Saudade”, que teve ante-estreia na quarta-feira na RTP1, no dia em que fez 95 anos, afirma-se feliz com esta homenagem, mas confessa que lhe é “difícil assumir” este aniversário.

“O Labirinto da Saudade”, de Miguel Gonçalves Mendes, adapta a obra homónima de Eduardo Lourenço e transporta os espectadores por uma viagem através da cabeça do pensador português, com o próprio como protagonista e narrador da história, percorrendo os caminhos da memória e cruzando-se com personalidades da cultura, com quem troca breves diálogos em busca da resposta à questão “o que é ser português”.

No entanto, Eduardo Lourenço admitiu, em entrevista à Lusa, que “entrou no filme sem saber que estava a entrar num filme” e considera haver uma “tal incompatibilidade” entre ele e ser actor, que não se vê nesse papel, embora ainda não tenha visto o resultado final e nem tenha “vontade particular” de se “mirar nesse espelho”.

“Aquilo era uma espécie de visita ao Buçaco [ambiente onde é filmado], sem programa propriamente dito, e a gente tinha que inventar umas situações e umas falas com muitas personagens, meus amigos ou não, quase todos eles meus amigos, e eu não podia adivinhar o que é que saía dali e continuo na mesma porque ainda não o vi”, disse.

Desses diálogos, gostou particularmente do que teve com Álvaro Siza Vieira, que faz de empregado do “Bar Eternidade”, por este ser “um criador no sentido forte do termo”.

“É um criador em si e isso impõe um respeito absoluto, eu estava a falar com alguém que a gente tem impressão que o que ele está, o que ele faz, o que ele propõe, o que ele fará ainda é qualquer coisa que merece atenção e que nós temos a certeza que são coisas que o futuro olhará e guardará como dignas do tempo presente que estamos vivendo”, afirmou.

Relações bem dispostas

Outro diálogo que achou particularmente curioso foi o que teve com o actor e humorista brasileiro Gregório Duvivier sobre a relação de Portugal com o Brasil.

Eduardo Lourenço teve de responder à questão “como é que a perda do Brasil não nos tinha traumatizado”, uma pergunta que o obrigou a admitir que de facto a perda do Brasil não representou “um traumatismo no sentido forte do termo”. “Mas também nós não perdemos o Brasil, não perdemos nenhum sítio onde estivemos, perdemos o que devíamos perder, em relação a actos que cometemos enquanto colonizadores ao longo dos séculos”, disse, sublinhando a relação que existe com aquele país, para onde os portugueses emigravam em busca de fortuna.

Sobre a ante-estreia do filme no mesmo dia em que faz 95 anos, Eduardo Lourenço considera que “será uma coincidência, que as pessoas diriam uma coincidência festiva”. “[É também] uma gentileza da parte do cineasta, de se lembrar disso, e eu parti para isso sem saber o que estava ali a fazer, pensando que fazia parte de uma leitura específica de um cineasta a respeito de uma pessoa que não é um ícone cultural propriamente dito, mas tive de me resignar a envergar esse facto durante algum tempo”, acrescentou.

Eduardo Lourenço admite que é “um bom presente de aniversário”, ainda para mais tendo a ideia do filme partido de um grupo de amigos, mas confessa que, para ele, fazer 95 anos é uma “coisa sempre rara e difícil de assumir, porque é o princípio do fim”.

“Todos nós estamos confrontados com essa exigência, não encaro isso como uma coisa trágica, era só o que faltava. A tragédia já é em si nós não podermos escapar àquilo que nos espera, seria uma injustiça para todas as outras pessoas, que eram os nossos, que já morreram, que nós não fossemos capazes de suportar aquilo que eles suportaram quando chegou o fim deles. É ir para a morte como se todos aqueles que nos conheceram e nós amámos estivessem connosco”.

Não é preciso “crucificar” Portugal

Relativamente ao país, o ensaísta afirma não compreender a necessidade de “crucificar” Portugal por causa do seu passado de colonizador, sublinhando que não houve maldade na génese e que o mal feito já não pode ser reparado.

Eduardo Lourenço comentava, em entrevista à agência Lusa, a polémica relacionada com um possível “Museu das Descobertas”, em Lisboa, que motivou uma carta aberta, publicada em Abril no jornal Expresso, de dezenas de historiadores que se opõem ao conceito por trás da designação, e teve já várias outras – a favor e contra – desde então.

“Não sei por que é que neste momento parece haver uma necessidade de crucificar este velho país em função de uma intenção louvável, mas que ainda não redime aqueles que querem realmente a redenção, aqueles que foram objecto de uma pressão forte como o do nosso domínio enquanto colonizadores, de uma certa época”, afirmou.

O filósofo confessou ainda não entender este movimento, quando, independentemente das consequências negativas, como a escravidão, as descobertas tiveram na génese uma motivação “louvável” e quando tantos outros países da Europa cometeram “crueldades” muito maiores.

“Já não podemos reparar nada, que essas coisas não têm reparação, mas podia ser [este movimento] um gesto que se justificasse por uma espécie de maldade particular e única que nos afastasse da consideração de país civilizado, de um continente civilizado chamado Europa, mas não”, afirmou.

Na opinião de Eduardo Lourenço, as “crueldades” de Portugal não podem ser queimadas “na mesma fogueira” de outros, para salvar o país ‘a posteriori’ daquilo que já não se pode emendar.

“Uma parte desses senhores que subscrevem esse documento têm as suas razões, são historiadores, conhecem, mas houve tragédias na Europa que não são da nossa alçada, que fomos os mais pacíficos, dos povos do sul da Europa”, disse, lembrando “outras nações, outras culturas, que fizeram passar a Europa por períodos de facto muito difíceis de aprovar nas suas intenções, caso da Alemanha, da França e de outros países”.

O ensaísta, que comemora 95 anos, no mesmo dia em que se deu a ante-estreia de um documentário inspirado na aua obra “O Labirinto da Saudade”, acrescentou ainda nunca ter visto “um grande discurso a autojustificar aquilo que se passou no Leste durante mais de 100 anos e que também não foi nada de que [se possam gloriar] enquanto europeus, ou simplesmente enquanto seres humanos”.

“Mas enfim, cada um faz a penitência que julga mais adequada à visão que tem da História. Eles são historiadores, terão as suas razões, eu tenho a minha: acho extraordinário, num momento em que a Europa é quase toda ela democrática, que, de facto, um país com menos problemas graves e de difícil resolução no mundo seja objecto desta espécie de penitência pública”, afirmou.

Evocando ainda colonizações mais violentas, como a dos espanhóis no México ou no Peru, disse: “nunca vi este acto quase de tribunal de inquisição ser convocado metaforicamente para pôr na pira a história do nosso pequeno país, que não o merece”.

27 Mai 2018

Cinema | “Plastic China” vai ser exibido em Hong Kong

Fez parte da selecção oficial do Sundance Film Festival no ano passado e foi premiado em alguns dos mais importantes festivais de cinema documental. O documentário “Plastic China” de Wang Jiuliang vai ser agora exibido em Hong Kong, a 17 de Maio

[dropcap style≠‘circle’]G[/dropcap]alardoado no estrangeiro, o documentário do realizador chinês Wang Jiuliang, que traz à tela o problema do plástico e da sua reciclagem na China, tem exibição marcada para o próximo dia 17 de Maio na Garage Academy em Hong Kong. Depois de ter sido apresentado pela primeira vez no Sundance Film Festival, o filme tornou-se viral na internet e levou as autoridades chinesas a bani-lo.
“Plastic China” traz uma realidade por muitos desconhecida: o negócio, nem sempre limpo ou respeitador dos direitos humanos, que é a reciclagem deste material no continente. A China é o maior importador mundial de resíduos plásticos e recebe dez milhões de toneladas por ano da maioria dos países desenvolvidos. Esta condição tem trazido ao país um preço a pagar: um elevado impacto ambiental com consequências para a saúde de quem trabalha no sector. O filme retrata as pessoas que transformam o lixo oriundo do primeiro mundo e que o preparam para voltar a ser exportados.

Uma oficina entre muitas

A personagem principal da “Plastic China”, Yi-Jie, é uma menina de 11 anos que vive com a família numa típica oficina de reciclagem de resíduos de plástico. Sem poder ir à escola por falta de dinheiro, Yi-Jie apreende o mundo exterior a partir do lugar onde vive e trabalha. São os restos de pacotes de café que lhe dizem que ele existe, são os cartões de identificação das escolas inglesas que lhe ensinam as primeiras palavras naquela língua, e as bonecas partidas que usa, servem para brincar. O pai prometeu mandá-la para a escola há cinco anos, mas ainda não o fez e gasta o pouco que ganha em álcool. Kun, o dono da oficina de reciclagem doméstica, representa o dinheiro, o poder e a classe instruída e ao mesmo tempo que despreza a família de Yi-Jie, que mantém numa posição de dependência. O sonho de Kun é um dia ter um automóvel sedan e ascender socialmente.
O filme retrata a pobreza, a doença, a poluição e morte através da vida quotidiana destas personagens.

China frágil

Por outro lado, e de acordo com a apresentação oficial da película, “Plastic China”, alerta para a superficialidade do que se chama hoje de prosperidade chinesa, um conceito que o autor do documentário entende ser uma “cirurgia plástica – falsa e frágil, com consequências incertas”.
Enquanto isso, no outro lado do mundo – longe das oficinas de reciclagem de plásticos da China, a tendência é ignorar as consequências do uso excessivo dos plásticos.
Entretanto, a China proibiu a importação de lixo plástico no início do ano.

1 Mai 2018

“Interculturalidade – A lusofonia em Macau” com antestreia na próxima quinta-feira

O auditório do Consulado-Geral de Portugal vai ser o palco da antestreia do documentário “Interculturalidade – A lusofonia em Macau”, inserido na série “Macau, 20 anos depois”, do realizador Carlos Fraga. A sessão está marcada para as 18h30 da próxima quinta-feira

 

[dropcap style≠‘circle’]”I[/dropcap]nterculturalidade – A lusofonia em Macau”, com antestreia marcada para a próxima quinta-feira, figura como o quarto de seis filmes da série documental “Macau, 20 anos depois”. A série deve ser exibida na íntegra em Macau e em Portugal por ocasião do 20.º aniversário da transferência do exercício de soberania.

“No quarto documentário reunimos todos os presidentes das associações, das várias comunidades lusófonas e tivemos uma aproximação ao que é a convivência desta multiculturalidade”, explicou ao HM Carlos Fraga, para quem “os testemunhos de cada um dos representantes das diferentes comunidades” vão permitir aos espectadores “perceber que vivem aqui em harmonia”. O Festival da Lusofonia, que teve a sua 20.ª edição em 2017, “é realmente o momento auge de união que motiva muito a que se vão relacionando durante o ano precisamente para a festa”, sublinhou Carlos Fraga. O cineasta realça que “fica muito claro que é realmente um motor de movimentos e de contactos entre as diferentes comunidades”.

“Por outro lado, do que percebi e acho que as pessoas vão perceber também, a festa da lusofonia também motivou que as comunidades se organizassem, neste caso como associações. Isso fez com que se constituíssem como comunidades diferenciadas, embora depois se interrelacionem”, sustentou.

O documentário também capta “as experiências pessoais de cada um”. Na perspectiva de Carlos Fraga, “são igualmente interessantes”, na medida em que ilustram como “vivem precisamente essa multiculturalidade, a mistura, o cruzamento de pessoas de diferentes comunidades, inclusive no seio da família”.

Esta antestreia – à semelhança das anteriores – tem como objectivo dar a conhecer o documentário particularmente a quem dele participou. “Parece-nos justo vir aqui mostrar o documentário, principalmente às pessoas que estiveram envolvidas, mas também, claro, a todos os que quiserem ir assistir. É uma forma de agradecimento às pessoas que colaboraram”, salientou o realizador.

 

Documentário a rodar

 

Enquanto “Interculturalidade – A lusofonia em Macau” conhece a antestreia, Carlos Fraga ultima as filmagens do quinto e penúltimo filme da série documental intitulado “Macaenses em Macau” que figura como o “outro lado” do documentário inicial “Macaenses em Lisboa”. “Este surge porque tínhamos esse primeiro. Pensámos que seria importante ter os macaenses de Macau, porque é uma realidade diferente”, explicou o realizador que prevê regressar novamente ao território, desta feita para filmar o sexto e último documentário em Outubro/Novembro.

“A série estará terminada no início do próximo ano, devendo ser emitida na íntegra mais perto da data da transferência” do exercício de soberania de Macau de Portugal para a China, dado que se pretende que “faça parte das comemorações em Macau e em Portugal”.

Carlos Fraga deu conta de que há já um acordo com a TDM para a transmissão da série. “Primeiro, pensou-se em ir emitindo à medida que íamos fazendo os documentários, mas nós propusemos, porque achamos que seria mais interessante, esperar até terminar a série para ser transmitida toda num ciclo em 2019”, especificou. Em paralelo, adiantou, também estão a ser negociadas com a RTP datas para a emissão. Não obstante, no passado, ambas as televisões deram um cheirinho da série: a RTP exibiu os primeiros dois documentários, enquanto a TDM o inaugural.

“Também vai haver um ciclo na Cinemateca Paixão, que estamos a negociar mas que, logicamente, será anterior à emissão na TDM”, revela Carlos Fraga, indicando que o conjunto dos seis documentários também vai estar disponível para venda em formato físico.

A série “Macau, 20 anos depois”, da LivreMeio Produções, conta com seis filmes com a duração aproximada de uma hora. Os primeiros quatro (“Macaenses em Lisboa”, “Portugueses em Macau”, “Dar e Receber a Portugalidade”, “Interculturalidade – A lusofonia em Macau”) estão prontos. A faltar fica apenas “Macaenses em Macau”, que entrou então na fase final de filmagens, e “Uns e outros”, dedicado ao que pensam os chineses sobre a presença portuguesa em Macau.

Macau despertou o interesse de Carlos Fraga depois do documentário que realizou, em 2013, sobre a comunidade chinesa na capital portuguesa, projectado na Universidade de Lisboa e exibido na RTP “por três vezes”, que veio abrir caminho à realização de “Macaenses em Lisboa”, na sequência de uma recepção entusiástica nomeadamente por parte de académicos, como o investigador macaense Carlos Piteira.

“Decidi que tinha que vir a Macau, porque eles falam, como é natural, da sua terra, da sua origem, das suas saudades, dos seus cheiros, sabores e experiências. Tinha que vir a Macau filmar para ilustrar isso mesmo”, sublinhou Carlos Fraga que quando cá chegou concluiu que o conjunto precisava “do outro lado”, o que fez então crescer a série de cinco para um total de seis documentários, contou o realizador.

10 Abr 2018

Chavela Vargas – Santa Pecadora

[dropcap style=’circle’] C [/dropcap] hega esta quinta-feira às salas de cinema em Portugal, distribuído por Paulo Branco, o filme documentário de 93 minutos que teve estreia no festival de Berlim de 2017 na secção Panorama.

Foram muitas as noites que terminaram no anexo da moradia em Stª Cruz de Benfica onde vivia o escritor/poeta José Agostinho Batista, para quem o México tem uma mística e um encanto muitíssimo particular, com a voz da Chavela, já antes de ali chegados ouvida no El Salsero na Rua de Buenos Aires à Lapa e, anos mais tarde, no Mezcal, na travessa da Água da Flor no Bairro Alto. Foi numa outra vida, num quotidiano de noites tequila e whisky.

O filme de Catherine Gund e Daresha Kyi, são 93 minutos com esta mulher santa e pagã, e as suas muitas vidas, e em todas elas sempre essa luminosidade telúrica incandescente, dolorosa e ardente de quem em nenhum momento nega a alma que consigo transporta em paixão ardente e solitária, mesmo quando em amor acompanhada.

Chavela Vargas pertence aquela qualidade especialíssima de seres dotados de talento e beleza inatos, capazes de surpreender o mundo, de arrastar e seduzir quem com eles se cruza. A sua voz quando canta abre rasgos no peito de quem ouve, os olhos molham-se perante a força e singularidade única de uma respiração intensa e habitada a sangue de tragédia e a paixão.

Chavela Vargas nasceu na Costa Rica em 1919, o nome de registo é Maria Isabel Anita Carmen de Jesus Vargas Lizano , morreu no México em 2012. A sua vida atravessa um século, conheceu e viveu a época clássica do cinema do México e de Hollywood, é ela que no filme nos diz que no casamento da Elizabeth Taylor, num dos primeiros porque foram oito no total, quando a noite deu lugar à privacidade da cama, foi com Ava Gardner que dormiu.

Chavela Vargas é, foi, uma amante predadora, e muitas foram as mulheres de políticos e da elite artística do México que se renderam à sua paixão. A carreira deste ser telúrico deve-se em parte ao compositor e cantor José Alfredo Jiménez, com quem estabelece uma relação pessoal e artística total. O filme é uma entrevista em que Chavela Vargas nos fala em voz própria montada com depoimentos de quem com ela se cruzou e viveu, e momentos de palco.

A vida desta mulher ícone da música Mexicana não foi uma viagem pacífica nas luzes do palco. Ainda em criança era escondida dos olhares de terceiros pela sua mãe por não corresponder à imagem da menina criança esperada e desejada. Na família em que nasceu o que os outros pensam ou possam pensar determinava os comportamentos e afectos que entre si se estabeleciam. Com o divórcio dos pais foi viver com uns tios. Aos 17 anos estava sozinha na cidade do México.

Era bela, era diferente, era única, a sua singularidade levou-a a outras representações da mulher, foi ela quem pela primeira vez cantou vestida calças e poncho e não com os vestidos de folhos e rendas como era uso na época.

Os palcos dos grandes teatros só se abriram para ela na segunda fase da sua carreira, depois de uma dezena de anos sem cantar nem editar discos. Esta fase terrível, deve-se ao excesso de álcool e também à perseguição do poderoso empresário Emilio Azcárraga por lhe ter seduzido a namorada.

É Pedro Almodovar quem a resgata e conduz aos palcos de Madrid e Paris. O cineasta tem por ela um amor espelho, adora-a. A qualidade humana e artística Chavela Vargas prendem-no por inteiro.

Este filme mostra-nos a mulher de corpo inteiro, que viveu com e sem tequila, de pistola por perto, solitária e apaixonada, que com a voz inteira diz sem tremer frases pouco apaziguadoras e radicais: “Eu sempre soube. Não existe ninguém que suporte a liberdade alheia; ninguém gosta de viver com uma pessoa livre. Se você for livre, esse é o preço a ser pago: a solidão”; “Ninguém morre de amor, nem por falta nem por excesso”; “O amor não existe, é um invento de noites de bebedeira”.

São várias os personalidades intervenientes neste documentário, o já referido Pedro Almodóvar, Laura Garcia Lorca, Miguel Bosé, entre outros. Um filme que faz permanecer viva a grande diva da canção rancheira Mexicana.

 

 

 

6 Abr 2018

DOC  2017, O mundo quase todo em Lisboa

Purge This Land – Lee Anne Schmitt  – 2017, EUA, 80’

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e 19 a 29 de Outubro, as salas do magnífico S. Jorge na Av. Da Liberdade, da Cinemateca Portuguesa na Rua Barata Salgueiro, Auditórios no edifício sede da Caixa Geral de Depósitos na rua do Arco Cego,  e/ou do cinema Ideal na rua do Loreto ( largo do Camões), iluminadas pela luz reflectida no grande ecrã, transportam o muito público a revelações, partilhas, a representações do mundo conhecido, pressentido, inesperado, à experiência imersiva do cinema partilhado em sala escura.

Mais significante do que uma enumeração quantitativa para uma aproximação a esta edição, são as palavras dos directores Cíntia Gil e Davide Oberto , dizem eles:

“A motivação mais profunda para programar filmes nasce de uma certa curiosidade, mesmo fascinação pelo que os filmes nos podem fazer. Encontrar um estranho corpo, poroso e instável, que esteja entre o que os filmes são, o que somos capazes de receber deles, e o que eles nos fazem ver e sentir quanto às vidas que vivemos e ao mundo que habitamos. Se o cinema pode ser útil, é apenas na medida em que, com os filmes, as coisas aparecem com novas cargas de sentidos que nos permitem enfrentá-las com um pouco mais de coragem, de fé ou de amor. O cinema do real só o é na medida em que os filmes nos ligam às coisas – independentemente dos métodos utilizados para tal. É-o na medida em que o real é partilhado enquanto virtualidade, fantasma e matéria, conjunto ilimitado de imagens que nos devolvem à nossa finitude.

Decidimos abrir com Ramiro, de Manuel Mozos, e encerrar com Era uma vez Brasília, de Adirley Queirós. Da comédia popular ao filme performático, abrimos e fechamos com dois filmes que desafiam e abrem a programação do festival, sugerindo caminhos e leituras possíveis do todo da programação.

Programar este festival é para nós muito longínquo de trabalhar na eficácia, no paternalismo e no esquematismo a que a ordenação fácil dos filmes por géneros nos habituou. Os festivais não servem para confirmar as categorias em que os filmes são encaixados, mas para as inquietar e revolver.

Os festivais não canonizam nem idolatram, não organizam nem explicam, antes questionam, provocam, põem lado a lado e frente a frente os filmes uns com os outros e as pessoas com os filmes.

As retrospectivas são de certa forma experiências dessa espécie de filia que nasce nos e com os filmes.”

Vera Chytilová

É a cineasta a que é consagrada uma das retrospectivas nesta edição. Figura central da Nova Vaga Checa, foi a mais radical do movimento. Os seus filmes são abordagens cheias de ironia e ruptura com os códigos de representação vigentes no realismo social. Mulher lutadora e obstinada, criou uma obra provocadora e plena de atenção aos detalhes dos humanos, aos pequenos gestos, aos pequenos assuntos, trazendo-os para o lado das questões aparentemente maiores da ordem política, do trabalho, do feminismo. Outros festivais a reconheceram, Veneza, Oberhausen, Moscovo, Chicago.  Foi condecorada com a medalha de mérito da República Checa e da ordem das Artes e Letras do governo francês. Em 2017 o doc. Lisboa dá a ver o seu cinema numa extensa retrospectiva.

Uma outra América – O singular cinema do Quebec

É assim titulada a retrospectiva do cinema que me muito é resultado das políticas do National Filme  Board, entre 1960 e 1970.  Boris Nelepo acompanhar-nos-á na descoberta desta filmografia. Em parceria com a Cinemateca Portuguesa, traz um conjunto de cinco filmes que nascem de encontros entre cineastas, em que cada filme parece trazer uma pulsão de vida ou morte – como em La Bête Lumineuse, de Pierre Perrault, em que a poesia convive com a dor, a violência, o confronto entre almas.

O ‘Velho Mundo’ e o ‘Novo Mundo’ surgem nestas duas viagens, ajudando-nos a ver melhor de onde vimos e de onde vêm as nossas interrogações contemporâneas.

“Nas competições, entre a total diversidade de formas, temáticas, linguagens, países, todos os filmes são gestos de intensidade afirmativa, procurando a justeza sem fazer justiça, experimentando de forma comprometida o universo que se propuseram, inventando para si e para nós o desejo de cinema.

É também esse movimento que anima os filmes mostrados na secção Verdes Anos – um espaço em que, mais do que apresentar novos realizadores, queremos reconhecer a importância e a seriedade dos primeiros filmes e gestos.

A secção Passagens foi este ano desenhada por Pedro Lapa, num diálogo com a equipa do Museu Berardo, tem como convidada Sharon Lockhart, que trabalha entre a fotografia, o filme, a instalação, convocando permanentemente os laços afectivos que vamos criando nas situações do quotidiano.”

Heart Beat – Grace Jones: Bloodlight and Bami – 2017, Irlanda, Reino Unido, 120’

A enorme sala Manuel de Oliveira estava esgotada.  O bilhete foi comprado fora da bilheteira, como nos grandes jogos de futebol, felizmente sem acréscimo ao custo na bilheteira. É sempre magnifico esta grande sala cheia de gente à procura de novos encontros com a vida no ecrã. Para mim é uma sala especial, recebi aqui a minha única medalha por ser um aluno a distinguir, e ainda hoje não sei se foi porque nesse dia foi à escola ( estava no 1º ano do ciclo preparatório na Francisco de Arruda – Alto de Stº Amaro) , e faltava alguém a quem medalhar, ou se lá estive porque me tinham convocado, nesse tempo tudo era novo e estava sempre em descoberta e aproximação, mas aconteceu ou seja, a tal medalha que não sei onde se perdeu e vinha numa encadernação dos Lusíadas, foi para mim. Também foi neste S. Jorge, que programei o 1º Festival Internacional de Cinema Chinês e Lusófono ,  que se tornou edição única, mas que serviu para que outros avançassem, com novo festival nesta relevante direção.

A luz da sala desce, e Grace Jones surge no ecrã, como a recordava, de quando no final do séc. XX a ouvia e dançava nas noites quentes e eróticas de Lisboa a testar a sua movida, ao lado da de “ Madrid Me Mata”.

Com ela o filme leva-nos à Jamaica, uma Jamaica de verdade, longe do marketing turístico. É à sua à família com origem étnica Africana, onde nasceu, que chegamos. Uma família onde matriarcado, patriarcado, amor, submissão, religião, tem especificidades concretas cozidas a sangue, a amores ilícitos e vínculos que ultrapassam a espuma e o efémero dos dias. É um filme com uma verdade  que nos questiona sobre as configurações da dominação e o lugar sempre inesperado da emancipação. Grace Jones, é esse lugar, um corpo território poderosamente habitado pela memória afectiva e pela rebeldia lugar de emancipação. Um corpo performativo poderoso, uma voz, um som, que enche um palco, incendia a noite.

Selvagem e andrógina – Grace Jones, dá-se a ver também como amante, filha, mãe, irmã e até avó, sujeita-se sem defesas ao nosso olhar e permite compreender de que é feita , a tecida a amor, dor, e prazer, a sua máscara.

23 Out 2017

Documentário de Miguel Gonçalves Mendes na recta final

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]igantones, um coro, a banda filarmónica e algumas dezenas de figurantes participaram no sábado em Viana do Castelo na rodagem final do documentário “O Sentido da Vida”, que Miguel Gonçalves Mendes conclui ao fim de quatro anos.

Neste período, o cineasta viajou até Macau para filmar algumas cenas do documentário.

Na movimentada Praça da República, com as esplanadas cheias de turistas, Miguel Gonçalves Mendes gravou a cena que encerra o documentário, um projecto que o levou a percorrer vários países com uma demanda quase filosófica sobre a ligação das pessoas ao mundo e que só deverá chegar aos cinemas em Janeiro de 2019.

“O Sentido da Vida” conta a história real de Giovane Brisotto, um jovem brasileiro portador de paramiloidose familiar, uma doença degenerativa, de origem portuguesa, conhecida como “doença dos pezinhos”.

Giovane Brisotto, que fez um transplante de fígado em 2015, decide fazer uma viagem pelo mundo, cruzando-se com várias personalidades que o ajudarão a entender o significado da vida. E é essa viagem de Miguel Gonçalves Mendes filma.

Volta ao mundo

Juntos, fizeram mais de 50 mil quilómetros pelo mundo, passaram por países onde existem ainda casos da “doença dos pezinhos”, como o Japão e o Brasil, gravaram imagens no espaço e concluem agora o périplo em Portugal.

“Pessoalmente, é mais importante a sua procura [o sentido da vida] e o questionamento do que a resposta. Eu, como descrente e muito pouco optimista em relação a este mundo, acho que nós somos fruto do acaso. O sentido da vida é vivermos e sermos felizes com a máxima dignidade que nos é permitida”, disse o realizador à agência Lusa momentos antes da rodagem final.

Entre as personalidades que Giovane Brisotto e o realizador encontraram no caminho estão a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, o astronauta Andreas Mogensen, o escritor Valter Hugo Mãe, o juiz espanhol Baltasar Garzón e o músico islandês Hilmar Örn Hilmarsson, todos eles retratados agora em gigantones para a cena final do documentário e que tanta curiosidade causaram em Viana do Castelo.

“Ao acompanharmos a vida de sete figuras públicas de diferentes culturas, países profissões – justiça, política, ciência, musica, literatura – qualquer pessoa se pode espelhar nas dinâmicas distintas do mundo na forma como lidamos com os problemas”, opinou.

A última cena filmada em Viana do Castelo é, no entender de Miguel Gonçalves Mendes, “uma espécie de mensagem para que as pessoas tomem as rédeas das suas vidas e que sejam felizes”.

“Era o meu maior desejo: que as pessoas saíssem do filme com necessidade de mudar as suas vidas e mudar o mundo. E terem consciência real de que infelizmente o tempo está a contar. Ou somos felizes agora e lutamos por aquilo em que acreditamos ou não”, disse.

“O Sentido da Vida” conta com co-produção do Brasil e de Espanha, e apoio das produtoras dos realizadores Fernando Meirelles e Pedro Almodóvar, e seguirá nos próximos meses para montagem e pós-produção.

28 Ago 2017

Pelin Esmer | A cineasta de Istambul 

Pelin Esmer (1972, Istambul) estudou Antropologia e é uma conceituada realizadora turca, galardoada com vários prémios.

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]azes filmes documentários e filmes ficcionais, e és cineasta premiada em ambos. O que diferencia uns dos outros? Para mim, os teus filmes documentários não se diferenciam dos filmes ficcionais.
Há vários tipos de filmes documentários, de facto. Hoje o filme documentário já não se restringe a sua função informativa, embora ainda seja assim que a maioria das pessoas entendem o documentário. O que faz com que os meus filmes documentários não sejam filmes ficcionais, mas filmes documentários, é que os personagens são reais. Se eu não filmasse aquelas pessoas, ainda assim elas continuavam vivas e a terem a mesma vida que eu retrato. Este é, para mim, o argumento maior para dizer que os meus filmes documentários são filmes documentários e não filmes ficcionais. Evidentemente, os meus filmes documentários não são filmes informativos, não tem essa missão, como por exemplo os filmes documentários que se pode assistir em vários canais da TV cabo. Mas o que hoje em dia determina a diferença entre o ficcional e o documentário é precisamente a não criação de uma realidade. Eu não crio uma realidade nos meus filmes. A realidade já existe, mesmo que eu a não filme; mesmo que eu não existisse.

Nos teus filmes ficcionais não crias uma realidade, mas crias um modo de ver. Se preferires, mostras o que estava escondido.
Isso, sim. Pelo menos, é o que pretendo fazer com os meus filmes documentários. Pretendo mostrar sentimentos e condições das estruturas do humano que muitas vezes nos estão vedadas no nosso quotidiano. Por outro lado, mais do que dar respostas, os meus filmes são modos de fazer perguntas.

E essa é precisamente a razão pela qual eu julgo os teus filmes, a que chamas de documentários, como não documentários.
Entendo, mas não posso esquecer que a existência dos meus personagens não dependem da minha criação ou da criação de um escritor, eles existem. Há ainda uma outra diferença, que faz com que esses meus filmes sejam determinantemente filmes documentários: nos filmes de ficção, primeiro escreve-se o roteiro (script) e só depois se filma; no modo como trabalho o documentário há apenas um roteiro imaginado por mim, que é mais uma espécie de índice do que um roteiro, e quando vou filmar não forço a realidade que vou filmar para que actue de acordo com o meu roteiro imaginário. Só escrevo o roteiro no final, depois de ter tudo filmado, na montagem e usando o material filmado, isto é, usando o real e não o imaginário.

Depois de Oyun (A Peça de Teatro), que saiu em 2005, nunca mais filmaste documentários. E Koleksiyoncu (O Coleccionador), o teu primeiro filme, saira em 2002. Quer isso dizer que abandonaste os filmes documentários e que eles foram apenas um modo de chegar ao filmes de ficção, 11’e 10 kala (Das 10 às 11), em 2009, Gözetleme Kulesi (A Torre de Vigia), em 2012 e mais recentemente Ise yarar bir sey (Uma Coisa Útil), em 2017?
Não, de maneira nenhuma. Não deixarei de filmar documentários, aliás estou neste preciso momento a filmar um novo documentário, fora de Istambul, e nem vejo este tipo de filmes como algo para chegar aos filmes de ficção. Não penso que o filme documentário seja inferior ou superior ao filme de ficção. Fiz filmes de ficção, porque há já um tempo que tinha a ideia de os fazer. Agora, que encontrei novamente um bom assunto para fazer um documentário, regresso a esse tipo de filme. O que me interessa não é o filme documentário ou o filme de ficção, o que me interessa é o filme. Se existir algum personagem ou alguma história reais que me interessem bastante, filmo como documentário; se encontrar histórias ou personagens, quer seja eu que invente ou quer sejam outros que inventem, e que me interessem, filmo como ficção. Para além das questões técnicas, que não podem ser esquecidas, não faço distinções entre filmes documentários e filmes de ficção. Interessa-me fazer filmes.

E o que é isso “fazer filmes”?
Para mim, fazer filmes é fazer perguntas. Só faz sentido fazer um filme se tiver uma pergunta para fazer. Mas essa pergunta não vem apenas em palavras, já que se trata de usar uma câmara que capta imagens e sons. Posso até fazer essa pergunta ou perguntas sem qualquer palavra, ou com muito poucas palavras, mas sem imagens não será nunca um filme.

Depois de tantos prémios internacionais e nacionais, e em especial o de Tribeca, em Nova Iorque, que foi entregue pelo próprio director do festival, Robert de Niro, que mudou na tua vida profissional?
Deu mais visibilidade ao meu trabalho, mais oportunidades de encontrar outros directores e actores. Por outro lado, tornou-se um pouco mais fácil arranjar dinheiro para os outros filmes. E, também por causa disso, desse primeiro prémio em Tribeca, Oyun foi o primeiro filme documentário turco a ser exibido nos cinemas comerciais na Turquia.

Podes adiantar algo acerca deste novo filme documentário que estás a filmar?
Há 14 anos filmei “A Peça de Teatro”, que era um filme acerca de um grupo de mulheres numa aldeia no leste da Turquia, que resolveram fazer uma peça de teatro e com isso falar dos seus maridos, como elas os viam. A sociedade nestes lugares é demasiado fechada e esta peça constituí uma verdadeira revolução na aldeia e, por causa do filme, na sociedade turca. Agora regressei à aldeia e estou a filmar uma digressão que eles foram convidadas a fazer, por toda a região de Mersin. Por exemplo, amanhã elas irão actuar nas montanhas, para os nómadas.

Estás familiarizada com o cinema português ou brasileiro?
Do cinema português, do que conheço, o que mais me interessa são os filmes de João Rodrigues e o Tabu, de Miguel Gomes. Mas não conheço assim tanto dos novos realizadores. Quanto ao Brasil, embora não possa dizer que estou familiarizada, conheço alguns filmes. Gostei muito de Cidade de Deus, os filmes documentários de Eduardo Coutinho, o documentário Ônibus 174, o Estamira, de Marcos Prado, o Che Guevara e a Central do Brasil, de Walter Salles. Haverá mais que me estarei a esquecer… De resto, é muito difícil os bons filmes, que não tenham uma grande produtora, chegarem às salas de cinema, seja onde for. Esse é o problema do cinema, hoje, em qualquer parte do mundo.

Excerto de Gözetleme Kulesi (A Torre de Vigia)
31 Jul 2017

Joel Brandão está a realizar um documentário sobre comunidades locais

Natural do Porto, o mestrando em cinema quis fazer diferente e propôs-se filmar Macau e as suas gentes. O documentário estreia em Setembro no território, mas o objectivo de Joel Brandão é levá-lo a festivais de cinema por esse mundo fora

Veio para Macau terminar o mestrado na Universidade Católica do Porto. Como surgiu o interesse em retratar as diferentes comunidades do território? 

Terminei agora o mestrado em Cinema, que inclui o estágio. Quis fazer uma coisa diferente e propus à faculdade vir para Macau para fazer um documentário. Aceitaram e eu vim, sendo que o financiamento é meu. Foi uma aventura e um projecto pessoal. O tema foi discutido com o meu orientador, o José Manuel Simões da Universidade de São José. Tinha conhecimento de que ele já tinha abordado os temas relacionados com as ligações entre as comunidades de Macau. Ele, melhor do que eu, conhece o território e, após algumas conversas, achei que seria um tema com interesse.

Do trabalho que desenvolveu até agora neste projecto, o que é que mais o surpreendeu?

O que mais me impressionou foram as condições. Filmei num estabelecimento de comidas chinês e não fazia ideia de que aquele lugar tinha aquelas condições. Outra coisa que, de alguma maneira, também me surpreendeu foi a dificuldade de interacção entre a comunidade chinesa e as restantes. Penso que a comunidade chinesa tem uma mentalidade muito mais fechada e não se dá tanto a conhecer. Têm uma cultura muito intrínseca, em que vivem muito para eles e para as suas famílias. Também aprendi que é uma comunidade que, depois de ganhar alguma confiança em nós e se sentir mais à vontade, é capaz de nos ter como bons amigos. Talvez a parte mais fechada desta cultura seja mais visível nas gerações mais antigas. As gerações mais novas já têm outros recursos, sabem inglês e têm mais formas de comunicar.

Estava à espera de que as comunidades comunicassem mais entre elas? 

Sem dúvida. Existem muitas comunidades diferentes no território. A comunidade filipina é muito grande. Mesmo assim, sinto que, antes do documentário e depois das gravações, há ainda muito a trabalhar no que respeita à ligação e aos pontos de comunicação entre as diferentes comunidades que convivem aqui.

O que é que este documentário pode vir a transmitir? 

Faço um documentário muito aberto. A ideia é que o espectador, ao ver o filme, crie a mensagem que posso querer transmitir. Filmei de uma forma diferente. Filmei três comunidades através do acompanhamento de apenas uma pessoa. Escolhi uma pessoa chinesa, uma filipina e uma portuguesa. Foquei-me na forma como estas pessoas interagem com as outras no seu dia-a-dia, na forma como interagem com a cidade e com o que lhes é próximo. No caso do português e do filipino quis saber como se relacionavam, por exemplo, com as mulheres. Com o protagonista chinês quis saber como é que interage com os clientes no café. Os locais foram escolhidos por estas pessoas. O espectador vai ver nestas imagens como estas pessoas falam, se relacionam e como lidam com o quotidiano e vai criar, internamente, a ligação entre estas pessoas. Apesar de aberto, é um filme em que é possível perceber a opinião de cada uma destas personagens reais e a opinião que têm de Macau quanto ao seu passado, presente e futuro.

Têm sido feitos vários documentários sobre Macau. Acha que este filme vai trazer alguma coisa de diferente e dar uma imagem do território contemporânea? 

Penso que tenho uma forma diferente de fazer os meus documentários, que é visível no tipo de linguagem e de composição que faço. Coloco-me na intimidade das pessoas mesmo estando do lado de fora. É quase como estar na berma da estrada a filmar para dentro de um café e deixar as coisas acontecerem naturalmente. O que posso trazer de novo é a temática, que é sempre diferente. A nossa forma de ver as coisas é sempre diferente da dos outros. Depois, é a forma como filmo e edito, que penso que também é só minha.

Tem sentido dificuldades em fazer o seu trabalho aqui em Macau? É fácil produzir um filme no território? 

Nesta área é preciso muito trabalho de campo. É necessário andar muito pelas ruas e o material é pesado. Este clima que agora se sente, abafado e húmido, é uma das grandes dificuldades. Em termos artísticos e narrativos é fácil conseguir um retrato de Macau. É um espaço muito interessante e não há muitos locais em que isto se possa fazer. Só o facto de estar a fazer um trabalho na Ásia, com uma cultura completamente diferente e ainda ter esta mistura de comunidades, é excelente e muito diferente.

Há ainda um grande desconhecimento de Macau por parte dos portugueses. Acha que este documentário vai ajudar na divulgação de Macau junto do público português?

Sim, sem dúvida. Neste filme não retrato apenas as comunidades. Tenho imagens da cidade, de paisagens e de locais característicos do território. Os portugueses que vão ver este documentário vão ter uma percepção completamente diferente do que é Macau. Concordo quando fala que há muito desconhecimento em Portugal acerca do território.

Estava à espera de encontrar esta herança portuguesa aqui, nomeadamente ao nível do património?

Da primeira vez que cá vim, não contava nada com esta presença. Já tinha lido acerca de Macau e sabia que havia edifícios com características idênticas aos de Portugal. Mas chegar aqui e ver a calçada portuguesa e esta arquitectura, ver as ruas com o nome em português e tantos portugueses, foi uma surpresa.

Como foi a escolha dos protagonistas deste documentário? 

Primeiro escolhi as comunidades que queria retratar. Só tinha dois meses de trabalho pela frente e tinha de ser objectivo. Peguei naquelas que me pareceram as comunidades mais óbvias aqui. Depois foi muito simples, o protagonista chinês, o William Chen, era o dono do café onde eu ia todos os dias tomar o pequeno-almoço e criei uma empatia com ele, já da primeira vez que cá estive. Quando regressei, voltei ao estabelecimento para comer e ele lembrava-se de mim. Fomos conversando, acabei por convidá-lo e ele mostrou-se muito receptivo. O protagonista português apareceu porque estava a filmar pela rua e cruzei-me com a mulher dele. Ela perguntou-me o que é que estava aqui a fazer. Expliquei-lhe e disse que precisava de conhecer pessoas portuguesas. Ela sugeriu o marido que já cá está há 25 anos. E assim foi.

Este documentário é, portanto, um resultado de vários acasos?

Sim, quase lhe chamava fragmentos. São pequenas peças que vou encontrando e vou juntando. Mas este também é o segredo do documentário, o de registar o que se vai vendo e o que vai aparecendo. Tinha uma ideia diferente do documentário antes da sua produção e, depois de começar a filmar e de ver as imagens, vamos ter um resultado muito diferente dessa ideia. No documentário estamos sempre sujeitos a alterações.

É o género de que mais gosta? 

Gosto de contar histórias, quer seja em documentário, ficção ou animação. Penso que, para qualquer realizador, o segredo é contar uma história em que de alguma forma, acredite. Acredito nas histórias que faço. Se são bem ou mal contadas, cabe aos críticos dar essas opiniões.

27 Jun 2017