Pequim pede a Irão e Israel que recorram à diplomacia para evitar escalada

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês apelou ontem ao recurso da diplomacia para evitar nova escalada do conflito no Médio Oriente, em telefonemas com os homólogos iraniano e israelita, numa altura em que a China tenta reduzir tensões.

Numa conversa telefónica com o seu homólogo iraniano, Abbas Araghchi, Wang Yi sublinhou o dever da China de acalmar as tensões e promover o diálogo, de acordo com um comunicado divulgado pela diplomacia chinesa.

“A China sempre defendeu a resolução dos conflitos através do diálogo e da consulta”, apontou o ministro, sublinhando ainda que Pequim continuará a reforçar a comunicação entre as partes envolvidas para construir um consenso internacional mais alargado. “Opomo-nos à exacerbação das tensões e à expansão dos conflitos”, acrescentou.

Araghchi manifestou a preocupação do Irão com o risco de nova escalada e sublinhou o valor da influência da China nos assuntos internacionais, salientando a disponibilidade de Teerão para trabalhar com Pequim na procura de soluções diplomáticas.

“O Irão não quer assistir a uma nova expansão do conflito”, afirmou, exortando Israel a ser cauteloso.

O ministro iraniano sublinhou igualmente a importância de uma coordenação estreita com a China, o seu principal parceiro comercial e aliado estratégico, para resolver a situação, enquanto aguarda a resposta de Israel ao ataque iraniano com 180 mísseis balísticos contra o Estado hebreu, a 1 de Outubro.

Travão na violência

Numa outra chamada telefónica com o seu homólogo israelita, Israel Katz, Wang sublinhou que “os desastres humanitários em Gaza não devem continuar” e que “combater a violência com violência não responde verdadeiramente às preocupações legítimas de todas as partes”.

Katz informou Wang sobre os combates no norte de Israel contra o grupo xiita libanês Hezbollah, que faz parte do “Eixo de Resistência” liderado por Teerão e pelo Hamas palestiniano.

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros sublinhou que a China exige “um cessar-fogo imediato, completo e permanente em Gaza e a libertação de todos os reféns israelitas” raptados pelo Hamas.

Pequim tem reiterado em várias ocasiões o apoio à “solução dos dois Estados”, manifestando a sua “consternação” perante os ataques israelitas contra civis em Gaza, e mantém um papel cada vez mais activo como mediador nos conflitos do Médio Oriente, que surge em paralelo com os seus crescentes interesses económicos e energéticos enquanto maior importador mundial de petróleo.

Em Julho passado, foi assinado em Pequim um acordo entre o grupo islâmico Hamas, o partido secular Fatah e uma dúzia de outros grupos palestinianos e, no ano passado, a China mediou o restabelecimento das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita.

Astronomia | Pequim revela plano para se tornar líder mundial em ciências espaciais até 2050

Os passos dados nos últimos anos, e o plano em marcha no domínio da ciência espacial, visam transportar o país para a liderança internacional no estudo do universo

 

A China revelou ontem um plano para se tornar líder mundial em ciências espaciais até 2050, aproveitando o seu progresso na exploração do espaço, que inclui já a construção de uma estação espacial e trazer rochas da lua.

“A investigação em ciências espaciais do nosso país está ainda numa fase inicial”, afirmou Ding Chibiao, vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências, o principal instituto científico do país, em conferência de imprensa.

O plano, publicado conjuntamente com a Administração Espacial Nacional da China e o Gabinete de Engenharia Espacial Tripulada da China, visa realizar feitos marcantes “com uma influência internacional significativa”, que impulsionem avanços na inovação e transformem a China numa potência no estudo do espaço.

O Plano Nacional de Médio e Longo Prazo para o Desenvolvimento das Ciências Espaciais (2024-2050), dividido em três fases, prevê que a China realize entre cinco e oito missões científicas até 2027, com o objectivo de fazer descobertas significativas no domínio da astronomia de alta energia e da exploração de Marte e da Lua.

Entre 2028 e 2035, vão ser efectuadas 15 missões, incluindo algumas de especial relevância, na procura de planetas habitáveis e no estudo das ondas gravitacionais.

Na fase 2036-2050, o país aspira a realizar mais de 30 missões espaciais, com o objectivo de fazer progressos em domínios como a origem do universo e a exploração tripulada.

Entre as áreas prioritárias do plano está a investigação sobre a origem e a evolução do cosmos, o estudo das ondas gravitacionais para explorar fenómenos como a formação de buracos negros e a natureza do espaço-tempo e a ligação Sol-Terra, centrada na análise do impacto da actividade solar no clima espacial e na tecnologia da Terra.

Será dada ainda prioridade à procura de planetas habitáveis dentro e fora do sistema solar, investigando o seu potencial para albergar vida.

Rivais “extraterrestres”

Além de colocar em órbita uma estação espacial, a China já aterrou uma sonda em Marte. O seu objectivo é colocar uma pessoa na Lua antes de 2030, o que faria da China a segunda nação a fazê-lo, depois dos Estados Unidos. O país também planeia construir uma estação de investigação na Lua.

O programa lunar faz parte de uma rivalidade crescente com os Estados Unidos – ainda líder na exploração espacial – e outros países, incluindo o Japão e a Índia. Os Estados Unidos estão a planear colocar astronautas na Lua pela primeira vez em mais de 50 anos, embora a NASA tenha adiado a data prevista para 2026, no início deste ano.

Os EUA lançaram esta semana uma nave espacial numa viagem de cinco anos e meio com destino a Júpiter, onde tentará estudar uma das luas do planeta para ver se o seu vasto oceano oculto contém vida.

A história triste de Liang Shanbo e Zhu Yintai

Em 1959 foi composto por He Zanbao e Chen Gang um belo concerto para violino e orquestra onde a música sinfónica ocidental se combina com os sons da ópera tradicional chinesa, obtendo-se um fabuloso efeito de suavidade e ritmo, do trinar do violino ao ressoar dos gongos, do alarido cavernoso das trompas ao martelar cadenciado das castanholas de bambu, do ímpeto galopante dos tambores ao rendilhado esfuziante do dedilhar da pipa, uma espécie de alaúde.

O concerto intitula-se Liang Shanbo e Zhu Yingtai 梁山伯 祝英台, e em língua inglesa tem o subtítulo The Butterfly Lovers. Além da espectacularidade da música, o nome inglês desperta a curiosidade de descobrir quem seriam estes amantes borboletas. Não é difícil, trata-se de uma das mais famosas lendas chinesas.

Há 1600 anos nasceu na China a história trágica de dois jovens apaixonados chamados Liang Shanbo e Zhu Yingtai cujo enredo resistiu a todas as investidas dos séculos e continua hoje — interligando o real, o maravilhoso e o fantástico –, a passar de pais para filhos, inspirando não só músicos, mas também poetas, bailarinos, dramaturgos e pintores da China moderna.

No século IV da nossa era, Zhu Yingtai, uma jovem bonita e talentosa, vivia com os seus pais, algures nas margens sul do rio Yangtsé. Zhu estava desesperada porque queria estudar, mas as dificuldades pareciam insuperáveis dado que o acesso de uma mulher a qualquer escola era, na época, rigorosamente vedado. Zhu Yingtai elabora então um plano para cuja execução obtém a concordância do pai. Irá estudar na clássica cidade de Hangzhou, disfarçada de rapaz. Durante a viagem para Hangzhou encontra Liang Shanbo, um moço simpático que se dirige para a mesma escola. Serão companheiros de estudo, ao longo de três anos e tornam-se grandes amigos. Liang Shanbo nunca suspeita que Zhu Yingtai é uma rapariga e ela não lho diz, embora esteja profundamente apaixonada por ele.

Um dia chega uma carta do pai de Zhu, pedindo-lhe que regresse imediatamente ao lar. Liang acompanha-a durante parte da viagem e a moça, através de subtis insinuações, belas metáforas e trocadilhos, tenta fazer compreender ao jovem que o ama, e sugerir-lhe qual é o seu verdadeiro sexo. Mas o ingénuo Liang acha o seu amigo (amiga!) demasiado romântico e sentimental, e não suspeita de nada.

De novo em Hangzhou, Liang Shanbo encontra a esposa de um dos mestres da escola de ambos que lhe conta, numa longa conversa, que Zhu Yingtai é afinal uma bela e inteligente rapariga que, disfarçada de rapaz para poder estudar, acabou por se apaixonar pelo seu melhor amigo. Louco de alegria, Liang Shanbo decide ir, outra vez, ao encontro de Zhu Yingtai mas, chegado à cidade onde ela vivia, tem a surpresa de saber que o pai da moça já a havia destinado a esposa de um rico comerciante local. Por isso, a mandara regressar com tanta urgência. Zhu Yingtai, lacrimosa, afundada em tristeza, pede ao pai que não pense em negócios, que respeite antes o amor e a felicidade da sua filha. Em vão! O pai não cede.

Na varanda da casa, uma varanda semelhante àquela onde Shakespeare, doze séculos mais tarde, colocaria Romeu e Julieta, os dois jovens despedem-se, jurando amor e fidelidade na vida e na morte.

Liang Shanbo adoece gravemente e morre pouco depois.

No dia aprazado para o casamento de Zhu Yingtai com o rico mercador, ela recusa o vestido de noiva, veste-se de luto e no meio de uma tempestade, dirige-se para o túmulo do seu amado Liang. Cai soluçando sobre a sua sepultura. A natureza em fúria partilha a sua dor e revolta, chove intensamente, os trovões atroam os ares, as faíscas rasgam o céu. Abre-se a tumba de Liang Shanbo que recolhe o corpo de Zhu Yingtai.

A tempestade passou. No horizonte surge um esplendoroso arco-íris e o sol começa a brilhar num céu agora azul.

Do túmulo, onde jazem para sempre os corpos dos amantes, saem duas lindas borboletas que esvoaçam alegremente entre as flores e brincam, beijando-se no ar. Liang Shanbo e Zhu Yingtai estão, por fim, unidos.

A nós portugueses, esta lenda não nos faz recordar, embora com um ainda mais tétrico desenlace, o poema O Noivado do Sepulcro, do ultra-romântico Soares de Passos que, por sua vez, foi buscar o tema à Leonore do alemão Gottfried August Burger (1747-1794)? Já no século XII, em plena Idade Média, encontramos o mesmo tipo de amores e paixões desventuradas na famosíssima história de Tristão e Isolda. É possível a extensão ou continuidade de lendas orientais para enredos medievais europeus. E existirão, com certeza, coincidências: as gentes são iguais em toda a parte, Liang Shanbo e Zhu Yingtai não nos são estranhos.

“Voices of the World” | Associação 10 Marias apresenta novo cabaré

A Associação 10 Marias apresenta, este sábado, um novo espectáculo de cabaré intitulado “Voices of the World”, naquela que promete ser “a noite mais electrizante do ano”, descreve um comunicado. O espectáculo começa às 23h, com porta aberta uma hora antes, na discoteca DD3, na Doca dos Pescadores, com os bilhetes a custarem 250 patacas.

Segundo a mesma nota, esta será “uma espectacular extravagância de cabaré que apresenta muitas actuações internacionais ao vivo para deslumbrar e surpreender”, apresentando-se participantes que trazem ao palco “danças de tirar o fôlego, cantos hipnotizantes, músicos sensacionais e acrobacias de cair o queixo”.

Haverá ainda “muita representação, provocação e reacção, sensualidade e sensatez, rodopios e arrepios, suor e agitação”, sendo que “cada acto apresenta talentos notáveis de todo o mundo, fazendo deste evento uma verdadeira celebração da expressão artística”, é referido.

Segundo Mónica Coteriano, co-fundadora da associação e coordenadora do espectáculo, “esta não é apenas uma performance; é uma experiência que vos vai deixar maravilhados”. “Estamos entusiasmados por reunir alguns dos melhores talentos do mundo, e alguns inspirados estreantes locais, para uma noite que promete ser inesquecível. E sempre muito divertida”, declarou.

FRC | “Passeios com História” voltam a realizar-se no fim do mês

Cândido Azevedo, professor, volta a ser o orientador da iniciativa “Passeios com História” promovida pela Fundação Rui Cunha (FRC) para os próximos dias 26 e 27 deste mês. A ideia é descobrir mais sobre a história e o património das zonas antigas de Macau em visitas guiadas em português, nos dias 26 e 27, e também no dia 3 de Novembro, mas desta vez em inglês. As visitas decorrem entre as 10h e as 12h30.

Segundo uma nota, desde 2017 que a área dos apoios sócio-culturais e filantrópicos da FRC oferece aos interessados um programa gratuito de visitas guiadas à História e Património da “Cidade de Macau dos séculos XVI a XIX”. Ao longo de duas horas e meia terão os participantes oportunidade de conhecer as memórias, crenças, práticas quotidianas e saberes das gentes desse tempo, das duas partes da cidade: a cristã e a chinesa.

Este ano decorre, assim, a quinta edição, sendo que o objectivo é descobrir mais informações sobre as ruas becos, santuários e núcleos museológicos. O passeio intitula-se “Circuito das cidades cristã e chinesa, na Macau dos séculos XVI a XIX”. O ponto de encontro será na galeria da FRC a partir das 9h45. As inscrições fazem-se junto da FRC.

Literatura | Odes de Luís de Camões traduzidas para chinês

Foi recentemente lançado o livro “Odes de Camões” que reúne 14 odes de Luís de Camões traduzidas por Zhang Weimin. Este é um projecto editorial da plataforma académica “Rede Camões em Ásia e África”, da qual faz parte o tradutor e Filipe Saavedra, coordenador da obra. A tradução dos escritos de Camões para chinês promete não ficar por aqui

 

Nasceu há 500 anos o intérprete maior da língua portuguesa, Luís de Camões, e muitas têm sido as actividades que celebram o poeta que terá passado algum tempo da sua vida em Macau. Um dos últimos projectos realizados, foi o lançamento, no último sábado, de uma obra que revela em chinês todas as odes, ou poemas, da sua autoria.

“Odes de Camões” nasce da iniciativa da “Rede Camões na Ásia e África” (Rede), dedicada a estudar a vida e obra do poeta português, e que tem coordenação de Filipe Saavedra e tradução de Zhang Weimin. Filipe Saveedra é doutor em Estudos Portugueses e História, sendo actualmente docente da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau. Zhang Weimin, por sua vez, é formado em língua portuguesa pelo Bureau de Publicações em Línguas Estrangeiras de Pequim, sendo tradutor de Camões para chinês simplificado.

Numa nota da autoria de Filipe Saveedra sobre o projecto, explica-se que “Camões não se limita ao milagre de ‘Os Lusíadas'”, a sua obra mais conhecida.

“Para valorizar outros géneros que ele soberbamente cultivou, iniciámos, em 2022, a publicação do epistolário camoniano em moldes críticos, com uma edição já considerada indispensável por muitos estudiosos, que é a inédita ‘Carta que um amigo a outro manda novas de Lisboa'”.

Depois seguiu-se o estudo e tradução das Odes de Camões. Este tipo de texto poético vem do período da Grécia Antiga, sendo “uma das mais antigas tradições poéticas do mundo e das poucas que rivalizam com a chinesa em termos de antiguidade”. Terão sido os gregos que, segundo Filipe Saveedra, criaram os primeiros poemas de amor, textos autobiográficos ou confessionais “há quase três mil anos”.

As odes, enquanto género da escrita, constituem “uma revolução na temática dos poetas, até aí ocupados com heróis guerreiros e os seus feitos como fez Homero, ou com amplas questões da vida social e da justiça, como Hesíodo”. Nomes como Alceu e Safo começaram então a escrever poemas centrados “na própria vida e emoções do poeta, que se torna no centro da mundividência a que chamamos lírica”.

No caso das odes escritas por Camões, elas não se centram apenas “no herói em si, mas sim nos contrastes que se estabelecem entre a vida deste e a do poeta, ou pessoas do seu círculo”.

Outro exemplo conhecido da escrita de odes, vem do poeta Horácio, já no período romano, que “retomou temas e formas da ode grega para nos contar a sua própria vida de forma poética”. Após um período de menor produção na Idade Média, as odes voltaram a ter alguma expressão no período do Renascimento, primeiro em Itália, depois em Espanha e Portugal.

Assim, segundo Filipe Saveedra, “é possível que tenha sido Camões o criador da ode portuguesa, inspirado pelas recriações de Bernardo Tasso e de Garcilaso de la Vega”.

A obra lançada no passado dia 12 na Casa Garden inclui, assim, 14 odes da autoria do poeta português, que “homenageiam Orfeu, Safo, Alceu, Píndaro, Horácio, Tasso e Garcilaso”.

Traduções em curso

A Rede da qual faz parte Filipe de Saveedra organizou em Macau, este ano, a primeira celebração a nível mundial dos 500 anos do nascimento de Camões, até porque Macau terá sido o lugar “onde o poeta continuou a composição de ‘Os Lusíadas'”.

Para Junho de 2025, está a ser organizado um próximo congresso que deverá decorrer em Moçambique, local onde “Camões esteve dois anos a aperfeiçoar o seu manuscrito de ‘Os Lusíadas'”. “Se Camões era português, a sua obra é mais abrangente, e ‘Os Lusíadas’ não são apenas a maior obra da literatura portuguesa, mas parte importante das literaturas moçambicana, indiana, indonésia e, claro, de Macau, que se têm apropriado com sucesso, de uma forma ou de outra, deste riquíssimo património”, é referido.

A tradução das odes é “um passo inicial na edição e tradução da lírica completa de Camões”, sendo que o leitor “é auxiliado por paráfrases em prosa poética para a plena compreensão das alusões eruditas”, incluindo ainda notas explicativas em chinês da autoria do tradutor. Zhang Weimin está já a trabalhar na tradução das canções e éclogas de Camões.

Entretanto, os 500 anos do nascimento de Camões continua a ser celebrado em Portugal. Um dos eventos programados, um ciclo de mesas-redondas sobre Camões, acontece na Biblioteca Nacional, em Lisboa, a partir do dia 24 deste mês e estende-se até ao próximo ano.

Filipe Saveedra será um dos convidados para a sessão de 23 de Abril de 2025, intitulada “De Lisboa a Goa: o que contam as cartas de Camões”, ao lado de Maria do Céu Fraga. Rui Loureiro irá moderar a sessão de 22 de Janeiro, intitulada “Camões e o Oriente”.

Gastronomia lusófona mostra-se entre sustentabilidade e tradições

Entre um super-alimento vindo de Angola e tradições nascidas em Timor-Leste, da resistência à ocupação indonésia, arranca na sexta-feira uma mostra que durante cinco dias vai promover em Macau a gastronomia lusófona.

“Uma super-comida do futuro”, foi como o ‘chef’ angolano Nário Tala descreveu o catato, numa apresentação à imprensa do menu da Mostra Gastronómica Lusófona, que vai decorrer na Doca dos Pescadores de Macau, até 22 de Outubro.

A surpresa fica reservada para a chegada do prato à mesa do Restaurante Vic’s, com o catato – um tipo de lagarta, típico da cozinha angolana – salteado com beringela, azeite, cebola e alho. “É um alimento muito proteico, tem vitamina C, ferro, zinco, e podes encontrar com facilidade. Não engorda, é anticancerígeno, e pode ser feito de várias maneiras”, explicou Tala à Lusa.

As sementes de linhaça, cânhamo e chia, a maca, a espirulina, o açaí e as bagas goji são alguns dos chamados superalimentos, caracterizados por uma elevada concentração de nutrientes como vitaminas, ómega 3 e proteínas.

O catato “é um alimento comum, faz parte da cultura, principalmente na parte do norte de Angola”, mas Nala admitiu que ainda “há uma resistência” a comer esta lagarta da palmeira-de-dendé. O ‘chef’ sublinhou que a lagarta “não precisa de ser cultivada” e que o seu consumo até pode encorajar a população a plantar mais palmeiras. “Acabamos por consumir o que a palmeira nos oferece, mas sem destruí-la”, explicou Tala.

A importância da sustentabilidade foi também sublinhada por Maria das Dores, que saiu pela primeira vez da Ilha de Príncipe para apresentar em Macau um ‘abobó’, com feijão, farinha de mandioca e peixe grelhado. “Nós usamos aquilo que é nosso. Por isso, o que é nosso é bom e também fica mais barato”, disse à Lusa a ‘chef’ santomense.

Tradições de Timor

Para a timorense Delfina Maria Baptista Guterres, usar ingredientes autóctones como o milho e a batata doce é também uma forma de preservar tradições de Timor-Leste. “O milho em pó, por exemplo, depois de frito, dura meses e essa era a comida que a gente levava quando vivíamos no mato, por vezes até anos, durante a ocupação, quando o inimigo vinha atacar”, recordou a ‘chef’ timorense.

A Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) levou a cabo uma resistência armada nas matas timorenses durante décadas, após a invasão por parte da Indonésia, em 7 de Dezembro de 1975. “Mas essa malta nova já não faz muito disso, querem coisas mais instantâneas”, lamentou Guterres.

A Mostra Gastronómica Lusófona inclui ainda Martinho Moniz, um ‘chef’ português radicado em Macau, e a macaense Ana Manhão. Manhão disse que, mais do uma ‘chef’, se identifica como uma defensora das “tradições culinárias” dos macaenses, uma comunidade euro-asiática, composta sobretudo por luso-descendentes, com raízes no território.

Estudo | Turistas pouco satisfeitos com itens culturais portugueses

Não é um aspecto assim tão importante para os visitantes, mas o contacto com a cultura portuguesa fica aquém das expectativas dos turistas. O mesmo acontece com o centro histórico de Macau, face à imagem criada pelas redes sociais

 

Os elementos da cultura portuguesa no Centro Histórico de Macau são um dos aspectos que menos satisfazem os turistas face às expectativas iniciais. A conclusão faz parte de um artigo que integra a revista do Simpósio Internacional de Design Ecológico 2023, que decorreu na cidade de Cantão e que contou com a participação de académicos da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.

O trabalho publicado na revista do simpósio, que identifica como autores Chen Xin, Xie Lu, Gao Mingcan e Ren Xinmun, resultou da realização de 300 questionários junto de turistas falantes de cantonês para avaliar a satisfação com 15 aspectos, como o contacto com a cultura portuguesa, a rede de transportes, as dificuldades no planeamento inteligente das deslocações, o ambiente de consumo, qualidade dos hotéis ou dos serviços do turismo.

O aspecto que menos agrada aos turistas, tendo em conta as expectativas antes da visita, é a rede de transportes e as dificuldades de deslocação, seguido pelas dificuldades de “planeamento inteligente dos itinerários” da visita. Após estas duas dimensões, os inquiridos admitiram terem ficado menos satisfeitos com os elementos da cultura portuguesa, face às expectativas iniciais.

Os autores consideram assim haver necessidade de o sector do turismo responder para alterar a situação face estes aspectos, embora reconheçam que, com base nos questionários, os elementos não são tidos como muito importantes para os visitantes. “Os clientes têm um baixo grau de satisfação em termos de viagens e transportes, planeamento inteligente de itinerários, cultura e serviços portugueses e serviços do pessoal de viagens e turismo”, é indicado pelos autores. “Para aumentarem o grau de satisfação dos clientes, as agências responsáveis pela organização de visitas ao centro histórico de Macau precisam de melhorar os aspectos indicados”, é sugerido.

No pólo oposto, os turistas mostraram-se mais agradados com as “características regionais” que o turismo local apresenta, embora este critério não seja explicado no estudo, com a passagem nas fronteiras e com o que consideraram a diversidade da oferta turística.

Realidades distintas

As conclusões do artigo indicam ainda que a maior parte dos inquiridos visitou o centro histórico da região devido à promoção nas redes sociais, mas que a realidade ficou aquém das expectativas. “No inquérito, verificou-se que a maioria dos visitantes de outros locais foi atraída para Macau pela publicidade positiva das redes sociais ou da Internet”, foi indicado. “Os resultados do inquérito também revelam que a percepção da maioria dos visitantes sobre a zona histórica de Macau é inferior ao esperado, e os visitantes têm geralmente a sensação de que ‘não é tão boa como imaginavam’, o que mostra que existe um certo desfasamento entre o ambiente turístico real da zona histórica da cidade de Macau e a promoção dos meios de comunicação social na Internet”, foi acrescentado.

Os autores alertam o sector para estes factores que podem constituir-se como um risco a longo prazo, se não forem resolvidos, uma vez que podem afectar a imagem turística do território.

Wai Hung | Rita Santos demite-se de cargos na empresa

O Grupo Wai Hung justificou a saída com a vontade de Rita Santos se dedicar a outros “compromissos sociais”. A demissão de directora independente não-executiva e de presidente da Comissão de Auditoria entrou em vigor na segunda-feira, mas foi divulgada na mesma semana em que a macaense suspendeu também o mandato como Conselheira das Comunidades Portuguesas

 

Desde segunda-feira, que Rita Santos deixou de ser directora independente não-executiva do Grupo Wai Hung, assim como presidente da Comissão de Auditoria, para “dedicar mais tempo a outros compromissos sociais”. O anúncio foi feito pelo grupo que está a ser alvo de uma investigação pela Comissão Independente Contra a Corrupção de Hong Kong (ICAC, no acrónimo em inglês) por suspeitas de fraude e falsificação de documentos.

“O Conselho de Administração da Wai Hung Group Holdings Limited informa que a Sra. Rita Botelho dos Santos apresentou a sua demissão do cargo de directora não-executiva independente e de presidente da Comissão de Auditoria da empresa, com efeitos a partir de 14 de Outubro de 2024, devido à sua decisão de dedicar mais tempo a outros compromissos sociais”, pode ler-se no comunicado da empresa, emitido a 9 de Outubro.

De acordo com o Grupo Wai Hong, Rita Santos “confirmou que não tem qualquer desacordo com o Conselho de Administração e que não existem questões relacionadas com a sua demissão que devam ser comunicadas dos accionistas”. No comunicado, o Conselho de Administração do grupo agradeceu a Rita Santos “pela contribuição […] para o grupo durante o mandato”.

A investigação ao Grupo Wai Hong decorre em Hong Kong e Macau, e, para já, não são conhecidos os impactos na RAEM, dado que a Polícia Judiciária não se mostra disponível para comentar o caso. Contudo, Rita Santos é a segunda baixa em Macau do grupo, depois de no início do mês também o deputado Wu Chou Kit, que era director independente não-executivo, ter deixado a Wai Hung.

Candidata às eleições

A apresentação da demissão por Rita Santos aconteceu dois dias após ter sido tornado público que a também conselheira das Comunidades Portuguesas tinha suspendido o seu mandato.

A suspensão foi justificada com o foco nas eleições do novo Chefe do Executivo e com a intenção de participar nas eleições legislativas do próximo ano, num lugar elegível na lista apoiada pela Associação dos Trabalhadores da Função Publica de Macau (ATFPM).

De acordo com a informação publicada pelo Jornal Plataforma, a opção de Rita Santos foi tomada já depois de ter sido confirmada a sua presença na Reunião Plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas, que decorreu na semana passada, em Lisboa.

Rita Santos acabou por não se deslocar a Portugal, e, de acordo com o jornal Plataforma, as autoridades portuguesas aguardavam pela deslocação da conselheira para notificá-la sobre a investigação que decorre a uma possível fraude eleitoral, cometida em Macau, em Março, no âmbito das eleições legislativas de Portugal. Este caso está a ser investigado no país no seguimento de uma queixa do Partido Socialista.

Metro Ligeiro | Sociedade responsabiliza fornecedor por avarias

A Sociedade do Metro Ligeiro de Macau (MLM) revelou ter exigido ao fornecedor do sistema do metro ligeiro explicações sobre a ocorrência de duas avarias na Linha da Taipa, em menos de um mês. A reunião foi divulgada pela empresa através de um comunicado, em que também consta que foram pedidos esclarecimentos e soluções para os problemas.

“A MLM exigiu ao fornecedor do sistema para averiguar e esclarecer as causas das avarias, e apresentar as medidas e sugestões de melhoria, a fim de evitar que os mesmos problemas voltem a acontecer”, foi revelado.

No encontro, a empresa terá ainda considerado que “o valor do serviço nuclear do Metro Ligeiro de Macau” passa por “proporcionar aos passageiros uma experiência de viagem segura e boa”. No entanto, a empresa reconhece que este objectivo está limitado, devido às “avarias que afectaram o funcionamento do sistema e a prestação do serviço”.

Com o fornecedor a ser responsabilidade pelas falhas, a MLM promete “continuar a melhorar os trabalhos da sua competência e a proporcionar aos passageiros uma experiência de viagem de alta qualidade”.

Além disso, a mensagem da MLM agradece aos passageiros pela “paciência e tolerância, bem como pela suficiente colaboração” durante as avarias, que permitiram aos funcionários da empresa “aliviar imediatamente o fluxo de pessoas, tratar os metros ligeiros avariados, concluir a investigação urgente e recuperar a prestação do serviço o mais rápido possível”.

Ponte Macau | Desviado 10 a 15% do trânsito da Ponte da Amizade

Aberta à população desde 1 de Outubro, nos primeiros dias de operação a Ponte Macau desviou entre 10 e 15 por cento do trânsito da Ponte da Amizade, durante as horas de ponta

 

Nos primeiros dias de funcionamento, a Ponte Macau levou a uma redução de cerca de 10 por cento do trânsito na Ponte da Amizade, durante as horas de ponta da parte da tarde. Segundo o jornal Cheng Pou, os dados foram revelados por representantes da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), durante uma reunião com o Conselho Consultivo de Trânsito.

De acordo com os dados apresentados, nos dias da semana o volume médio de tráfego na Ponte da Amizade durante as horas de ponta da tarde, no sentidos Macau-Taipa e Taipa-Macau, teve uma redução de 10 por cento em Outubro, face a Setembro. Quando a análise é limitada às horas de ponta da tarde no sentido Macau-Taipa, a DSAT indicou aos conselheiros que a redução atingiu os 15 por cento, em comparação com Setembro.

Os números citados referem que o volume do trânsito da Ponte Macau na hora de ponta matinal foi de 1.200 carros de passageiro por hora, mas que nas horas de ponta da tarde se verifica um aumento, com uma circulação média de 1.500 carros de passageiros por hora.

A Ponte Macau abriu ao trânsito a 1 de Outubro, no âmbito das celebrações do estabelecimento da República Popular da China, e faz a ligação entre Macau e a Taipa, através da Zona A dos Novos Aterros. Face à utilização dos primeiros dias, a DSAT indicou ao Conselho Consultivo de Trânsito que houve uma redução de 93 por cento dos veículos a circular na Ponte da Amizade que se deslocavam da Zona A para a Taipa.

Ao mesmo tempo, a DSAT terá associada a circulação na nova ponte a uma redução da sinistralidade na Ponte da Amizade, mas não terá adiantado números sobre o sucedido.

Rotunda congestionada

Apesar da redução do número de veículos na Ponte da Amizade, as autoridades reconheceram que a abertura da Ponte Macau levou a um aumento do trânsito na Rotunda da Amizade.

Esta é considerada uma zona crítica, com vários congestionamentos, dado que actualmente é a única ligação directa da Península com a Zona A dos Novos Aterros e com a Ilha Artificial da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, além de absorver muito do trânsito proveniente das Portas do Cerco, principalmente ao nível dos autocarros de turismo.

No entanto, as autoridades têm a esperança que a situação vá melhorar brevemente com a abertura do Viaduto A2, que vai ligar a Avenida 1.º de Maio, junto da Estação de Tratamento de Águas Residuais, e o lado oeste da Zona A dos Novos Aterros Urbanos. O fim das obras deste viaduto está previsto para este mês.

Assinados primeiros contratos de arrendamento na Residência para Idosos

Foram ontem assinados os primeiros 26 contratos de arrendamento dos apartamentos da Residência para Idosos, um tipo de habitação pública, construído a pensar nas pessoas independentes com mais de 65 anos. As assinaturas dos contratos começaram ontem a ser formalizadas, promovidas pelo Instituto de Acção Social (IAS).

Ao jornal Ou Mun, o presidente do IAS, Hon Wai, considerou que as primeiras assinaturas de contratos correram “bem” e que está previsto que todas as terças, quartas e quintas-feiras se concretizem mais assinaturas de contratos.

Hon explicou também que, actualmente, cerca de 900 agregados familiares escolheram os apartamentos que desejam ocupar na Residência para Idosos, e que, entre estes, 600 devem mudar-se para a nova casa até ao final deste ano. Os restantes 300 só deverão mudar-se a partir de Janeiro.

Obras a decorrer

Em relação aos trabalhos nos diferentes apartamentos, Hon Wai indicou que a decoração de todos os apartamentos residenciais está praticamente acabada. As supervisões dos equipamentos vão ser feitas de forma gradual, de acordo com o responsável, e só depois estarão reunidas as condições para os espaços serem ocupados.

Além disso, o presidente do IAS explicou que as instalações do Clubhouse já entram em funcionamento e que foi atribuído um espaço aos Serviços de Saúde, para poderes disponibilizar consultas neste tipo de habitação.

Sobre o restaurante previsto para o edifício, ainda faltam terminar as obras de decoração, o que deverá acontecer no início de Novembro.

Hon Wai observou ainda ao jornal Ou Mun que alguns idosos têm medo de se esquecer como utilizar os equipamentos do apartamento. Por esse motivo, vão ser organizadas todas as segundas e sextas-feiras sessões de apresentação e esclarecimento de dúvidas para os idosos.

Segundo a apresentação do IAS, a Residência para Idosos, que se situa no lote P, na Areia Preta, tem 37 andares e oferece 1.815 apartamentos residenciais, em forma de apartamento estúdio.

Eleição CE | TUI proclamou Sam Hou Fai

Uma vez que não houve contestação do acto eleitoral nem dos resultados junto dos tribunais, o TUI confirmou ontem a condição de Sam como vencedor e “candidato a aguardar a nomeação para o cargo do Chefe do Executivo”

 

O Tribunal de Última Instância (TUI) reconheceu ontem os resultados da eleição de Sam Hou Fai como Chefe do Executivo, depois de não ter sido interposto qualquer recurso contencioso no prazo legal. O reconhecimento foi anunciado na manhã de ontem, através de um comunicado emitido pelo gabinete do Presidente do Tribunal de Última Instância, que até há meses era dirigido precisamente por Sam Hou Fai.

“O Tribunal de Última Instância reconheceu, no dia 15 de Outubro de 2024, o resultado de apuramento geral, enviado pela Assembleia de Apuramento Geral, da Eleição para o cargo do Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau, que foi realizada no dia 13 de Outubro de 2024, e proclamou o Sr. Sam Hou Fai como candidato a aguardar a nomeação para o cargo do Chefe do Executivo”, pode ler-se na decisão do TUI.

O comunicado do GPTUI esclarece também que a confirmação dos resultados das eleições foi feita pelo juiz Choi Mou Pan, em substituição das funções do presidente do TUI. O TUI está sem juiz presidente desde que Sam Hou Fai anunciou a intenção de se candidatar a Chefe do Executivo.

Dos impedimentos

Face à saída de Sam Hou Fai, as funções de presidente têm sido desempenhadas pela juíza Song Man Lei, que estava impedida de desempenhar as funções de presidente do TUI neste caso concreto, dado que é igualmente a presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo, o organismo responsável pelo acto eleitoral. O comunicado do GPTUI esclarece que foi a própria juíza a pedir escusa do processo.

Com Song Man Lei afastada do processo, restava entre os dois juízes do TUI o macaense José Maria Dias Azedo. Contudo, o comunicado indica que o magistrado está “em missão oficial de serviço fora de Macau”, embora não seja esclarecida qual o tipo de missão.

O comunicado indica ainda que “a proclamação do resultado da eleição” vai ser publicada, na próxima segunda-feira no Boletim Oficial.

Sam Hou Fai foi eleito futuro Chefe do Executivo no domingo, tendo sido o único candidato admitido às eleições. O ex-presidente do TUI obteve 394 dos 400 votos da comissão eleitoral, num acto que durou cerca de uma hora. Além dos votantes em Sam, registaram-se quatro abstenções e dois eleitores que optaram por não comparecer na eleição.

A tomada de posse do futuro Chefe do Executivo deve acontecer a 20 de Dezembro, dia em que se assinala o 25.º aniversário do estabelecimento da RAEM.

Orçamento de ping-pong

Há meses que não se fala em outra coisa que não seja sobre o Orçamento de Estado para 2025. Um Orçamento definido pelo governo da AD sob a batuta do primeiro-ministro Luís Montenegro.

Um Orçamento de Estado que tem merecido as críticas do Chega, da IL, do PS, do PCP, do Livre, do Bloco de Esquerda e até do PAN. Ou seja, toda a oposição ao Governo entende que este Orçamento de Estado não favorece a vida dos portugueses. Trata-se de um documento que tem sido alvo das maiores discórdias, especialmente nas áreas da saúde, educação, economia e habitação.

O primeiro-ministro começou por afirmar que estava aberto a negociações com os partidos da oposição no sentido de se viabilizar a aprovação das pretensões direitistas da AD. E as negociações começaram e as mais mediáticas foram, sem dúvida, as que decorreram entre Montenegro e o líder dos socialistas, Pedro Nuno Santos. Proposta para lá, proposta para cá, contra- proposta para lá, contra-proposta para cá e assim sucessivamente. Um autêntico jogo de ping-pong sem resultado final porque as raquetas têm-se partido…

Até ao dia de hoje não existe entendimento. O Governo cedeu um pouco às propostas dos socialistas, mas o insuficiente para haver um acordo. Os socialistas entendem que existem decisões orçamentais, tal como a descida do IRC para as empresas, que não têm qualquer lógica que possa melhorar a situação das empresas e dos trabalhadores. No entanto, entre os socialistas há uma divisão de opinião.

Alguns nomes sonantes do Partido Socialista, incluindo o próprio presidente Carlos César, entendem que o partido deve viabilizar o Orçamento para que o país não entre em crise política e não se vá para eleições legislativas antecipadas. E o núcleo duro de Pedro Nuno Santos entende que o partido deve votar contra o Orçamento. Em breve a Comissão Política socialista definirá uma decisão final em simultaneidade com a decisão do grupo parlamentar.

Vários políticos afectos ao Governo têm afirmado que estamos perante um bom Orçamento que baixa impostos e aumenta a qualidade de vida dos portugueses. A oposição responde que a baixa de impostos está bem à vista, quando o Orçamento insere uma subida na taxa de carbono dos combustíveis e consequentemente o aumento do preço dos combustíveis.

Isto, quando o preço do barril de petróleo tem vindo paulatinamente a baixar. Outra incongruência, anunciada na conferência de imprensa do ministro das Finanças para explicar as particularidades do Orçamento, prende-se com o facto de o governante ter anunciado que os pensionistas iriam ser aumentados. Qual aumento? O que se lê no Orçamento neste aspecto é desolador para todos os pensionistas. O aumento governamental não ultrapassa os 3 por cento, sendo assim vejam que um reformado com uma pensão de 300 euros irá ser aumentado em 9 euros. Nove euros que dão para comer, uma vez, uma tosta mista e um galão…

Por seu turno, temos assistido a outro ping-pong muito mais desolador, o que tem acontecido entre o Governo e o Chega. Montenegro salientou que André Ventura é um “catavento” e que nada quer com o Chega. Os radicais de direita mudam de opinião quase de dia para dia. Não têm credibilidade nem confiança de ninguém, excepto daqueles fascistas que agora se disfarçam de democratas. O Chega já chegou a dizer que pretende um novo Orçamento e assim aprovaria o documento na votação parlamentar. Depois afirmou que votaria contra o Orçamento.

No dia seguinte apareceu André Ventura a dizer que enviou uma carta ao primeiro-ministro a mostrar a disponibilidade do Chega em aprovar o Orçamento, caso o documento na discussão da especialidade no parlamento introduzisse as pretensões do partido radical de extrema direita. E o pior foi surpreendente. André Ventura veio a público divulgar encontros secretos com o primeiro-ministro e sublinhando que Montenegro é um “mentiroso” porque lhe propôs um acordo com o Chega. Montenegro desmentiu de imediato Ventura.

Ao referirmos a conferência de imprensa do ministro das Finanças há que realçar que ficou bem patente que o primeiro-ministro e os seus ministros evitam de todo o modo as perguntas incómodas dos jornalistas. O ministro das Finanças decidiu surpreendentemente pela negativa que apenas 10 órgãos de comunicação social podiam efectuar perguntas e cada jornalista somente duas perguntas. A polémica entre os profissionais da rádio, televisão e imprensa instalou-se. No entanto, mais uma vez os jornalistas mostraram uma falta de coragem incrível. No tempo de Raul Rego, Ruella Ramos, Assis Pacheco, Cáceres Monteiro e Baptista-Bastos a conferência de imprensa terminava ali e ninguém faria perguntas. Bons tempos do jornalismo com dignidade. De salientar, que nenhuma estação de rádio conseguiu confrontar o ministro com qualquer pergunta.

O Orçamento aguarda agora a decisão global dos deputados da Assembleia da República. Estamos na expectativa de saber se o Orçamento de Estado será aprovado ou chumbado. No caso de ser inviabilizado, Luís Montenegro já afirmou que não governará em duodécimos. Então, restará a solução de Montenegro se demitir e o Presidente da República marcar eleições legislativas antecipadas.

Sobre eleições antecipadas muitos políticos têm mentido descaradamente ao afirmarem que os portugueses não desejam ir para eleições. Algo de mais errado depois de ter sido divulgada uma sondagem nesse vector que deu 52 por cento dos portugueses a desejar eleições antecipadas, caso o Orçamento seja inviabilizado.

Por fim, dizer-vos que, infelizmente, o ping-pong vai continuar e que as divergências entre o Governo e a oposição será um circo triste de assistir, porquanto ninguém parece interessado na estabilidade do país e que o Governo se compenetre que o país não é só o TGV, o novo aeroporto de Lisboa e a privatização da TAP e da RTP.

China | Dívida oculta regional resgatada em títulos do Tesouro

O plano da China para trocar “dívida oculta” dos governos locais e regionais por títulos do Tesouro ultrapassará os 2,2 biliões de yuan, segundo estimativas divulgadas pela agência noticiosa oficial Xinhua.

O ministro das Finanças chinês, Lan Fo’an, anunciou no fim de semana o aumento extraordinário “numa escala relativamente grande” do limite máximo da dívida, com o objectivo de trocar estes passivos ocultos para ajudar as administrações locais a reduzir os riscos de endividamento e a limpar os seus balanços.

Enquanto Lan se limitou a referir que os pormenores do plano seriam conhecidos quando os respectivos procedimentos legais estivessem resolvidos, a Xinhua detalhou que o ministro também garantiu que seria “o mais forte dos últimos anos”, e recorda que o montante do ano passado foi de 2,2 biliões de yuan, pelo que as novas medidas “vão definitivamente ultrapassar” esse valor.

Há anos que “dívida oculta” dos governos regionais preocupa Pequim: em 2018, já tinha apelado às administrações locais para que deixassem de acumular dívida através de canais de financiamento informais conhecidos como “veículos financeiros da administração local” (LGFV).

Os LGFV são entidades semipúblicas que foram criadas para contornar as restrições ao endividamento das autoridades regionais e que se espalharam por toda a China após a crise financeira de 2008, acumulando uma dívida total de cerca de 66 biliões de yuans, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional. Até 2024, o ministério das Finanças atribuiu cerca de 1,2 biliões de yuan para apoiar os governos locais na resolução da “dívida oculta”.

O académico He Daxin, citado pela Xinhua, afirmou que o plano de redução da dívida visa não só reduzir os riscos, mas também libertar as administrações locais para aumentarem novamente as despesas públicas, expandindo o investimento e promovendo o consumo. “Isto encorajará os governos locais a desempenhar um papel mais activo no desenvolvimento económico e ajudará a melhorar ainda mais o ambiente empresarial local, aumentando a confiança nos mercados e produzindo um efeito de amplificação”, disse He.

O plano envolverá a troca de dívida extraorçamental com taxas de juro elevadas por obrigações do Tesouro a mais longo prazo e de baixo custo.

Wang Tao, da UBS, escreveu numa nota que este novo programa será muito maior do que o realizado em 2023 e 2024, e será mais comparável ao realizado entre 2015 e 2018, que totalizou cerca de 12 biliões de yuans.

De acordo com Julian Evans-Pritchard, da Capital Economics, embora “os esforços para fazer face aos riscos da dívida da administração local (…) sejam positivos para a estabilidade financeira a longo prazo, envolvem principalmente a transferência de dívida de uma bolsa do Estado para outra, pelo que terão relativamente pouco impacto na procura a curto prazo”.

Taiwan | Tropas chinesas cercam ilha em exercício militar

Na sequência do discurso do líder de Taiwan, no dia 10 de Outubro, entendido como uma provocação, Pequim lançou um exercício militar abrangente destinado a provar que exerce controlo sobre a ilha, entre outros objectivos.

Na segunda-feira, o Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular (PLA) enviou as suas tropas do exército, da marinha, da força aérea e da força de foguetões para realizar exercícios militares conjuntos com o nome de código Joint Sword-2024B no Estreito de Taiwan e nas áreas a norte, sul e leste da ilha de Taiwan. “O exercício serve como um aviso severo aos actos separatistas das forças da ‘independência de Taiwan’. É uma operação legítima e necessária para salvaguardar a soberania do Estado e a unidade nacional”, afirmou o capitão Li Xi, porta-voz do Comando do Teatro Oriental do PLA, num comunicado divulgado na manhã de segunda-feira.

Com navios e aviões a aproximarem-se de Taiwan a partir de diferentes direcções, “as tropas de vários serviços participam em exercícios conjuntos, centrados em temas como a patrulha de prontidão de combate marítimo e aéreo, o bloqueio de portos e áreas importantes, o assalto a alvos marítimos e terrestres, bem como a tomada conjunta de superioridade abrangente, de modo a testar as capacidades de operações conjuntas das tropas do comando do teatro”, disse Li.

O âmbito da dissuasão no exercício de segunda-feira expandiu-se, e o exercício está a aproximar-se de Taiwan em comparação com os anteriores, especialmente com os navios da Guarda Costeira da China a realizar operações de patrulha e controlo em torno da ilha, alcançando novos avanços sucessivos, disse Zhang Chi, professor da Universidade de Defesa Nacional do PLA, na segunda-feira.

Zhang disse que o exercício de segunda-feira, “com força avassaladora e profundidade estratégica”, reduziu significativamente o “espaço operacional e de defesa” das forças armadas de Taiwan. As forças navais e aéreas do ELP, juntamente com o CCG, estão a avançar em direção a Taiwan a partir de várias direcções, impondo um bloqueio total à ilha. “É como se uma espada afiada estivesse a atravessar o chamado espaço de defesa das autoridades de Taiwan, aproximando-se cada vez mais da ilha, demonstrando plenamente as capacidades operacionais conjuntas do ELP em vários domínios operacionais em torno da ilha de Taiwan”, disse Zhang.

Após uma análise mais aprofundada das áreas designadas para este exercício, Zhang disse que o ELP estabeleceu seis zonas: duas no Estreito de Taiwan, duas a leste da ilha, uma no norte e uma no sul. Zhang referiu que os exercícios no mar e no espaço aéreo do norte servem de aviso directo às principais figuras da ‘independência de Taiwan’. Em comparação com os exercícios anteriores do ELP em torno da ilha de Taiwan nos últimos anos, o âmbito de dissuasão do atual exercício aumentou significativamente e a localização do exercício está a aproximar-se da ilha. “Em resposta às provocações das forças separatistas em conluio com potências externas, o ELP desenvolveu uma postura proactiva de combate para lidar com estes desafios”, disse Zhang.

Provocações e respostas

“Quanto mais agressivamente os separatistas fizerem avançar a sua agenda, maiores serão as contramedidas que terão de enfrentar. O exercício também transmite um forte sinal de oposição firme à ‘independência de Taiwan’ e um compromisso inabalável de salvaguardar a reunificação nacional, dissipando a ilusão entre as forças separatistas de que o continente se absterá de tomar medidas militares”, disse Wang Wenjuan, um especialista da Academia de Ciências Militares do PLA.

Wang disse que o exercício também mostra o espírito inabalável dos militares chineses, a preparação de alto nível e as fortes capacidades de combate. “Como uma espada pendurada no alto ou um martelo pronto para atacar a qualquer momento, ele força Lai a sentir a dissuasão da guerra em primeira mão, transmitindo uma mensagem clara em uma linguagem que elas entendem – que secessão significa guerra”, disse Wang.

Wang observou que este exercício mostrará a Lai e às forças separatistas da “independência de Taiwan” a determinação e a confiança do continente em defender a unidade nacional e a integridade territorial. “Quanto maior for a provocação, mais forte será a resposta”.

Taipé | Lidar com o assunto

O Gabinete Presidencial de Taiwan apelou à China para “cessar as provocações militares que prejudicam a paz e a estabilidade regionais e deixar de ameaçar a democracia e a liberdade de Taiwan”. “As nossas forças armadas irão definitivamente lidar com a ameaça da China de forma adequada”, disse Joseph Wu, secretário-geral do conselho de segurança de Taiwan, num fórum em Taipé, a capital de Taiwan. O ministério da Defesa de Taiwan informou que enviou navios de guerra para pontos designados, para efectuar a vigilância. Também colocou grupos móveis de mísseis e radares em terra para seguir os navios no mar.

A ação de hoje é a quinta vez que a China recorre a este tipo de manobras desde 2022, altura em que levou a cabo a primeira deste calibre em resposta à visita da então Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan, que elevou as tensões entre os dois lados do estreito a níveis nunca vistos em décadas.

Japão e EUA acompanham situação

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, assegurou que Tóquio está a acompanhar as manobras militares chinesas em torno de Taiwan e que o Japão está preparado para “qualquer evolução”. “A paz e a segurança no Estreito de Taiwan e nas suas imediações são extremamente importantes para a região. O Japão está a acompanhar de perto a situação”, declarou Ishiba aos meios de comunicação locais. “Estaremos preparados para qualquer evolução”, acrescentou, citado pela agência espanhola EFE.

O ministro da Defesa japonês, general Nakatani, também disse que Tóquio está a observar as manobras com grande atenção. Nakatani referiu que as tropas japonesas tomaram as precauções necessárias para o caso de um míssil utilizado pela China durante as manobras cair em águas territoriais do Japão.

Os Estados Unidos, o principal fornecedor de armas a Taiwan, descreveu os exercícios como uma reação “militarmente provocadora” de Pequim a um “discurso anual de rotina” de Lai.

“Apelamos à República Popular da China para que actue com moderação e evite qualquer acção que possa prejudicar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e em toda a região, o que é essencial para a paz e a prosperidade regionais e uma preocupação internacional”, advertiu o Departamento de Estado.

Em resposta, o Ministério dos Negócios Estrangeiros reiterou que a independência de Taiwan é incompatível com a paz. “Se os EUA estão interessados na paz entre os dois lados do Estreito de Taiwan, devem respeitar o princípio ‘uma só China’, não enviar sinais errados às forças pró-independência e deixar de fornecer armamento a Taiwan”, declarou a porta-voz da diplomacia de Pequim Mao Ning.

D. Pedro V | “Fado Nosso”, o espectáculo que celebra Amália

“Fado Nosso” já tem alguns anos de existência no leque de produções da companhia de dança Amálgama, mas chega agora a Macau apresentando-se amanhã no Teatro D. Pedro V. Alexandra Battaglia, criadora e directora artística, fala de uma produção que celebra a voz maior do Fado, Amália Rodrigues

 

Desde 2003 que a companhia de dança Amálgama sobe aos palcos para dançar o Fado, a música portuguesa por excelência. “Fado Nosso” não é excepção – nasceu primeiro para ser apresentado no Panteão Nacional, onde repousa o corpo de Amália Rodrigues, considerada a maior fadista portuguesa, mas depois deixou de ser apresentado.

No ano em que se celebra o 25.º aniversário da sua morte, que ocorreu a 6 de Outubro de 1999, o Instituto Português do Oriente (IPOR) decidiu reavivar esta produção da Amálgama, trazendo-a de Portugal para o Teatro D. Pedro V. Alexandra Battaglia, directora artística da companhia e criativa do espectáculo, disse ao HM estar muito satisfeita com esta oportunidade.

“Desde o ano 2000, quando fomos criados, que a fusão entre o Oriente e Ocidente, a espiritualidade natural, o património físico e imaterial são os nossos princípios. Em 2003 começámos a trabalhar o Fado e fomos talvez a primeira companhia de dança a mergulhar numa casa de fados”, contou.

Para a criadora de “Fado Nosso”, o Fado “é um património não só de Portugal, pois quando o sentimos de forma diferente é um património universal da alma, e é já nesse estado que o sentimos e criamos”.

“Temos um percurso de quase 15 anos a dançar o Fado em várias criações. A última criação, pioneira, partiu do convite para criarmos, no Panteão Nacional, um espectáculo focado no tributo à voz do Fado, a Amália. Tem sido um sucesso enorme e só parou com a mudança na direcção do Panteão, e depois apareceu a pandemia. Tudo ficou em suspenso. Era um espectáculo que poderia ficar no Panteão eternamente, que seria sempre um sucesso certamente.”

Agora, em Macau, “Fado Nosso” apresenta-se com diferentes fados que vão contando o percurso de Amália Rodrigues, artista que nasceu pobre, mas que acabou por ter uma carreira de sucesso, também a nível internacional.

“No espectáculo do Panteão tínhamos a música ‘Fado Meu’, mas fizemos a mudança para ‘Fado Nosso’ dada a adaptação a outros espaços. Fazemos um percurso pelas diferentes etapas de Amália. Começa com um fado que é ícone nela, e que para nós permite olhar para a fase mais conhecida da fadista, e vamos depois entrando numa espiral de diferentes fases, que passa pelas paixões, os fados mais sensíveis.”

Depois é a vez de se ouvir e dança “os fados mais populares, como o ‘Barco Negro’, ‘Uma Casa Portuguesa’, entrando depois noutra fase com ‘Foi Deus’ ou ‘Com que Voz’. Temos depois fados que representam a fase da carreira dela mais internacional.”

Acima de tudo, “Fado Nosso” surge “do percurso das criações da Amálgama e dos seus cruzamentos com o património material e imaterial português e da humanidade, nomeadamente com o Fado”. Foi um projecto nascido “da vontade de criar um espaço mais informal, numa espécie de desgarrada e improvisos sobre o Fado que ofereça um encontro entre artistas de diferentes percursos e estéticas no dançar e sentir o Fado”, lê-se na descrição oficial do espectáculo.

Influências orientais

Na Amálgama não se começa a dançar com base num conceito ou numa mera ideia, procurando-se estabelecer uma conexão com o corpo, o espírito, o mundo que rodeia os criadores e os bailarinos. Dentro dos princípios da companhia reside uma conexão com o Oriente, e importa lembrar que a companhia nasceu na Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa.

“Passámos cerca de nove anos a partilhar metodologias entre a nossa formação em dança, com foco na dança contemporânea, com práticas energéticas e criativas que cruzavam o nosso conceito de dança e identidade artística, numa ligação com princípios taoístas e a relação com a natureza.”

Para Alexandra Battaglia, já aí se denotava que a Amálgama, como companhia de dança, “era muito diferente”. “Procurávamos identidade onde a alma estivesse envolvida, para não serem apenas corpos virtuosos com domínio técnico que executavam coisas. Primeiro fazemos uma busca sobre nós, quem somos e onde está a nossa raiz cultural, aquilo que nos toca como seres humanos e portugueses. Esse conhecimento geral partilhado numa companhia de dança vai depois para a essência do que é ser português. Tínhamos bailarinos a cantar Fado e íamos ao sentir o que era isso, o que era essa ‘coisa portuguesa’.”

Mas Alexandra Battaglia tem também uma forte ligação ao território, quando foi convidada em 2011, pelo Instituto Cultural, para criar a Parada Internacional de Macau. “Precisavam de alguém que soubesse trabalhar com a multiculturalidade e que conseguisse juntar o que está em Macau em caixinhas, desde brasileiros, portugueses, macaenses e chineses. Achava que esta miscelânea cultural e magia que Macau me parecia ter estava fundida, mas não. Procuravam então alguém que criasse identidade e desenhasse a parada.”

Primeiro foi realizado um espectáculo para o Festival das Artes em conjugação com todas as associações artísticas do território, num total de 700 artistas, e depois foi criada a parada. “Com isso quis colocar em cada rua de Macau a arte que se faz, o que o grupo tinha para oferecer, para que olhassem para a arte de uma outra maneira, saída do espaço tradicional e colocar na rua, nos jardins, nas esquinas. Queria criar uma viagem em que o público entrava e se encantava por momentos da arte que iam emergindo.”

A Amálgama esteve também ligada à plataforma UnityGate “que visava fazer fluir, a partir de 2011, artistas entre Macau e Portugal”, projecto que tem estado suspenso.

PJ | Dois homens detidos por roubo e sequestro

A Polícia Judiciária (PJ) deteve dois homens, cidadãos chineses, suspeitos de roubar, sequestrar e violar uma mulher, num caso ligado a um esquema de câmbio de dinheiro.

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, a mulher terá conhecido os dois suspeitos em Setembro numa troca de dinheiro, embora a notícia não especifique se a mulher se dedicava a essa actividade. No sábado passado, os homens abordaram a mulher dizendo que lhe queriam oferecer um presente, pelo que esta foi ao quarto de hotel onde estavam hospedados. Aí foi amarrada com o cinto de um robe e foram-lhe roubados 11 mil dólares de Hong Kong e fichas de jogo. Além disso, a mulher viu-se obrigada a transferir, pelo telemóvel, 24 mil renminbis. Um dos homens terá violado a vítima quando o seu parceiro do crime saiu do quarto. A mulher só conseguiu escapar do quarto no dia seguinte, quando os homens estavam a dormir, e denunciou então o caso às autoridades.

Os suspeitos negaram colaborar com a PJ, que está ainda a investigar o paradeiro do dinheiro e se existem mais pessoas envolvidas no crime.

Bairros Comunitários | Governo recusa promoções de casinos

O alargamento dos programas de descontos dos casinos ao comércio local e à zona norte é visto como uma forma de promover a recuperação económica. No entanto, o Governo afasta, por agora, a possibilidade de aoi iniciativa por temer os efeitos negativos para a sociedade

 

O Governo afastou a possibilidade de os programas de descontos e promoções dos casinos poderem ser utilizados nos bairros comunitários, como forma de promover o comércio local. A posição, ainda que temporária, foi comunicada por Adriano Marques Ho, dirigente da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), na resposta a uma interpelação escrita.

Com o comércio local a sofrer com a competição do Interior, a deputada Lo Chio In questionou o Executivo sobre a possibilidade de os pontos acumulados pelos jogadores para obterem descontos nas lojas dos casinos poderem ser gastos em outros locais, como a zona norte.

Segundo a legisladora ligada à comunidade Jiangmen, esta seria uma forma de revitalizar o comércio e promover um maior consumo pelos turistas, em zonas que actualmente atravessam dificuldades.

No entanto, o Governo teme que a opção leve a uma “promoção excessiva” do jogo. “Quanto ao assunto de pontos ganhos pelos jogadores nos casinos poderem ser utilizados nos bairros comunitários, a medida pode resultar numa divulgação ou promoção excessiva, sendo por isso fácil prever que tenha um impacto negativo. Por isso, é preciso tratarmos o assunto de forma prudente,” realçou o director da DICJ, Adriano Marques Ho.

Apesar da nega às pretensões da deputada, Adriano Ho garantiu que o Governo vai continuar a incentivar as concessionárias do jogo a cooperar com as pequenas e médias empresas.

Outras alternativas

Como forma de promover a economia dos bairros comunitários, o director da DICJ acredita que o melhor caminho passa pela aposta nos “elementos não jogo”, com o apoio das concessionárias, e pela atracção de mais turistas para essas zonas, como está previsto nos contratos de concessão do jogo.

“Devemos frisar que as concessionárias do jogo estão a lançar, de forma ordenada, os projectos de investimento e a cumprir as suas promessas segundo os contratos de concessão,” respondeu o responsável.

Marques Ho adiantou também que a DICJ vai cumprir o seu papel e supervisionar rigorosamente as concessionárias do jogo, para assegurar que concretizam as promessas dos contratos de concessão.

Na interpelação, foi ainda abordada a possibilidade de os promotores de jogo operarem nas zonas do mercado de massas e slot machines. Sobre este aspecto, o responsável da DICJ afirmou que tal depende das negociações entre os promotores as concessionárias.

“Actualmente a lei tem definido o papel dos promotores de jogo, esclarecendo que só podem cobrar comissão quando fazem actividades de promoção do jogo para as concessionárias. Contudo, a lei não regula claramente o espaço de operação nos casinos”, justificou o dirigente. “Desde que assegurem um nível de vigilância adequado, as concessionárias e os promotores de jogo podem negociar as condições de colaboração e as zonas nos casinos onde exercem as actividades”, acrescentou.

GIF | Registadas mais transacções suspeitas

Dados do Gabinete de Informação Financeira (GIF) revelam que se registaram mais transacções suspeitas no espaço de um ano, nomeadamente entre os meses de Janeiro a Setembro.

Em primeiro lugar, surgem as transacções suspeitas ligadas às instituições financeiras e companhias de seguros, que este ano foram 843, representando 20,5 por cento do total, quando no ano passado tinham sido 617.

Em segundo lugar, aparecem as transacções suspeitas associadas às operadoras de jogo, que neste ano foram 3,041, 73,8 por cento do total, enquanto no ano passado foram 2,335, representando uma percentagem semelhante, 73,5 por cento.

Segundo informação oficial do GIF, o total de transacções financeiras, cujos dados foram fornecidos pelos Serviços de Polícia Unitários, foi de 4,118 nos três primeiros trimestres do ano, “o que significa um aumento de 29,6 por cento em relação ao mesmo período de 2023”. O GIF justifica este cenário com “o aumento do número de STR [transacções financeiras suspeitas] reportados pelo sector financeiro e do jogo”.

AL | Orçamento vai crescer 7 milhões

A mesa da Assembleia Legislativa pretende que o orçamento do hemiciclo para o próximo ano tenha um crescimento de 7 milhões de patacas, face ao que aconteceu este ano.

A proposta do orçamento foi divulgada ontem no portal da AL e ainda vai ter de ser votada amanhã no Plenário, onde se espera que seja aprovada. Segundo a proposta de Kou Hoi In, Chui Sai Cheong, Ho Ion Sang e Si Ka Long, o hemiciclo vai ter gastos na ordem dos 217,87 milhões de patacas, um crescimento de 3,58 por cento face ao valor orçamentado de 210,35 milhões de patacas deste ano.

A maior parte das despesas prendem-se com os gastos com pessoal, que vão crescer 5,66 milhões de patacas, passando dos actuais 180,98 milhões para 186,65 milhões de patacas. O aumento foi justificado com a “contratação, promoção, acesso e progressão do pessoal”. As despesas com o funcionamento vão custar 24,28 milhões, enquanto os gastos com as instalações e equipamentos vão ser reduzidos de 1,12 milhões para cerca de 900 mil patacas, depois de terem ficado acima do previsto ao longo deste ano.

Estudo | Residentes pedem mais certificações profissionais

Um inquérito realizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) sobre formação profissional, apresentado ontem, conclui que existe uma grande procura por certificação de cursos.

Isto porque cerca de 70 por cento dos entrevistados disse esperar pela criação de plataformas oficiais que certifiquem formações profissionais, tendo estes números sido apresentados por Fong Ka Fai, vice-presidente da FAOM.

Além disso, mais de 20 por cento dos entrevistados considera que as actuais plataformas e mecanismos de certificação são insuficientes. Fong Ka Fai sugeriu que o Governo crie um sítio de base para a formação profissional que concentre todos os dados e informações sobre cursos. Esta base deve ter critérios uniformes estabelecidos a fim de dar resposta à procura pela certificação profissional existente no contexto da região da Grande Baía.

Leong Sun Iok, também vice-presidente da FAOM e deputado à Assembleia Legislativa, apontou que 72 por cento dos entrevistados confirmaram que os cursos trazem um impacto positivo no desenvolvimento da carreira, enquanto 55 por cento dos inquiridos pretende obter um certificado depois de terminar essas mesmas formações. O inquérito foi realizado entre Abril e Setembro deste ano, tendo sido realizados 1.100 questionários válidos.

Contas Públicas | Excedente de 13,04 mil milhões até Setembro

Com as receitas do jogo a subirem, os impostos da principal indústria do território ganham maior relevância no âmbito do orçamento da RAEM. Por cada 10 patacas de receitas, mais de 8 vêm dos casinos

 

Nos primeiros nove meses do ano, o orçamento da RAEM apresentou um resultado positivo de 13,04 mil milhões de patacas, de acordo com os dados publicados pela Direcção de Serviços de Finanças (DSF). Para este registo, contribuíram as receitas de 80,35 mil milhões de patacas, face às despesas de 53,79 mil milhões de patacas.

A maior fonte de receitas da RAEM foram os impostos com os jogos de fortuna ou azar que contribuíram com um encaixe de aproximadamente 66,40 mil milhões de patacas, ou seja, uma proporção de 82,6 por cento do total dos 80,35 mil milhões em receitas. Esta percentagem significa que por cada 10 patacas que a RAEM arrecada em receitas, mais de 8 patacas são provenientes do jogo.

Apesar dos esforços de diversificação da economia, as contas mostram que em termos do financiamento da Administração, e em comparação com o ano passado, o jogo está a assumir uma importância maior. Nos primeiros nove meses de 2023, as receitas com os jogos de fortuna e azar tinham chegado aos 45,78 mil milhões de patacas, num total de receitas 58,96 mil milhões de patacas da RAEM, o que representava uma proporção de 77,6 por cento.

Entre Janeiro e Setembro deste ano, as receitas com o jogo foram de 169,36 mil milhões de patacas, em comparação com os 128,94 mil milhões arrecadados pelos casinos em 2023.

A segunda maior fonte de receita até Setembro foram os impostos directos na ordem dos 6,64 mil milhões de patacas. Este número não deixa de representar uma redução em comparação com o ano passado, quando os impostos directos tinham gerado receitas de 7,15 mil milhões de patacas. Os impostos directos são constituídos pelo imposto profissional, contribuição predial urbana, imposto complementar e imposto de circulação de veículos.

Menos investimento

Em termos das despesas, os apoios sociais representam os maiores gastos da Administração, com um valor de 37,94 mil milhões de patacas, um aumento de 4,61 mil milhões, face aos gastos de 33,33 mil milhões de patacas do período homólogo.

As despesas com o pessoal estão igualmente a subir, o que também resulta da actualização salarial implementada no início do ano. Até Setembro, a Administração gastou 11,69 mil milhões com os trabalhadores, quando no ano passado o número era de 11,20 mil milhões de patacas, um diferença de cerca de 490 milhões de patacas.

No entanto, o investimento em instalações e equipamentos, onde se inclui a execução do Plano de Investimentos e de Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA), mostra uma tendência de redução. Até Setembro deste ano, foram gastos 12,91 mil milhões de patacas, entre os quais 12,81 mil milhões no âmbito do PIDDA. No ano passado, os gastos até Setembro eram de 14,00 mil milhões de patacas, dos quais 13,88 mil milhões de patacas estavam ligados ao PIDDA.

Governo | Sam Hou Fai deverá mexer em toda a equipa de secretários

As hipóteses de nomes para integrar o novo Executivo liderado por Sam Hou Fai, eleito Chefe do Executivo no domingo, começam a surgir. Sonny Lo acredita que poderá ir buscar figuras ao sector privado, enquanto Jorge Fão defende que apenas Wong Sio Chak se irá manter na pasta da Segurança

 

Que rostos farão parte do novo Executivo liderado por Sam Hou Fai, candidato eleito para o cargo de Chefe do Executivo e que tomará posse no dia 20 de Dezembro? Dois analistas fazem as suas previsões para uma equipa que, à partida, deverá ser totalmente renovada.

“Acredito que irá substituir toda a equipa, com a excepção, talvez, do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak”, começou por dizer Jorge Fão, dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), e antigo deputado.

Relativamente à área da Economia e Finanças, Fão estima que seja uma personalidade do sector empresarial, “que esteja fora do circuito da Função Pública e que consiga criar riqueza em Macau”, pois o dirigente associativo entende que será necessário alguém que “entenda de economia” para um sector primordial para o território.

“Trata-se do ponto essencial neste momento, não só em Macau, mas também em Hong Kong e na China. A economia chinesa não está num bom momento e em Hong Kong também não. Em Macau, a economia está bem e não está, pois temos os casinos, mas como existe a ideia de diversificar a indústria, as receitas vão baixar, tendo em conta essa diversificação”, explicou.

Jorge Fão estima que haverá mais desemprego com o encerramento dos casinos-satélite, pelo que o novo secretário terá de dar resposta a essa questão sócio-económica. “O Governo vai ter de assegurar novos postos de trabalho, pelo que serão importantes as áreas do emprego e das receitas públicas”, declarou.

Equipa dá o sinal

No caso do analista político Sonny Lo, Sam Hou Fai deverá trazer para a equipa governativa “profissionais do sector privado, a julgar pelos gestores da sua equipa de campanha”.

O deputado Ip Sio Kai, ligado ao sector bancário, foi chefe da sede de candidatura de Sam Hou Fai. Eleito pela via indirecta, através do sector profissional, Ip Sio Kai é, actualmente, vice-director-geral da sucursal de Macau do Banco da China, sendo ainda administrador dos bancos Tai Fung e China Internacional. Lei Wun Kong, que representou Sam Hou Fai, é advogado no escritório Lektou, co-fundado por Frederico Rato.

Acima de tudo, espera-se dos novos secretários “competência e que possam implementar o plano [do futuro Chefe do Executivo] com medidas e mecanismos concretos”, acrescentou Sonny Lo.

O analista entende que não existe no sistema político um problema de liderança pelo facto de muitos nomes oriundos da China continental nos anos 90, e formados na RAEM, ocuparem cargos de funcionalismo público há algum tempo, como é o caso de André Cheong, entre outros.

“Há talentos em Macau que se podem preparar assim que forem identificados como secretários escolhidos”, frisou.

O mesmo não entende Jorge Fão, que considera que ser chefe de direcção é hoje uma tarefa bastante desafiante. “As pessoas que transitaram dos anos 90 para os anos 2000 estão na Administração há mais de 25 anos, alguns saíram e estou convencido de que muitos estão para sair ou não vão ficar muito mais tempo. Hoje em dia estar na Função Pública não é fácil, porque as exigências são muitas e as lideranças são fracas, pelo que as chefias intermédias têm uma responsabilidade acrescida.”

O dirigente da APOMAC destaca que como Sam Hou Fai foi presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) nos últimos 25 anos, conhece bem os meandros da Administração, sendo factor preponderante na hora de decidir nomes para governar consigo. “Já viu muita coisa nestes anos e sabe a situação em que se encontra toda a máquina administrativa, que não está oleada.”

Raimundo de saída

Um dos nomes que deverá deixar o Governo será Raimundo do Rosário, que entrou para a equipa de Chui Sai On em 2014, quando este assumiu um segundo mandato. O macaense, formado em engenharia, vinha da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa e Bruxelas e tinha nos ombros a responsabilidade de re-organizar os projectos de obras públicas, nomeadamente o do metro ligeiro e habitação pública.

Há quatro anos, o governante admitiu, em pleno hemiciclo, que nunca quis ser secretário por uma segunda vez, já no período de Ho Iat Seng. “Não queria ser secretário há cinco anos e não queria continuar agora, mas em tudo o que faço dou o meu máximo e é o que vou fazer”, assegurou.

Jorge Fão defende que este “vai sair” do Executivo, não conseguindo afirmar se o sector das obras públicas registou uma verdadeira melhoria. “Parece que ele tem dificuldades. Começou bem no Governo, mas agora vejo a área com problemas, pois há projectos que estão fora daquilo que esperávamos. O metro ligeiro é um elefante branco, mas a sorte é termos dinheiro para darmos dinheiro a esse elefante.”

Na área social, Jorge Fão espera um novo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura que dê respostas ao envelhecimento populacional, com o aumento das pensões, defendendo a criação de um modelo de habitação intergeracional.

“Ao invés de se construírem apenas casas para idosos, devem construir casas maiores, sejam sociais ou económicas para várias gerações de uma família, devido à cultura chinesa. As famílias ocidentais não vivem juntas, mas as dos chineses sim.”

Além disso, Jorge Fão diz que essa medida poderia ajudar muitos dos idosos que vivem sozinhos.