Cimeira G7 | Contradições sobre mensagem para Irão e guerra comercial a marcar manhã de hoje Hoje Macau - 25 Ago 2019 [dropcap]A[/dropcap] França disse hoje que os líderes do G7 concordaram em encarregar o Presidente francês, Emmanuel Macron, de conversar com o Irão, para evitar uma escalada de violência na região, mas Donald Trump negou a informação. A presidência francesa disse hoje que os líderes dos países mais industrializados do mundo (G7) concordaram em instruir o Presidente francês para enviar uma mensagem em nome das democracias avançadas ao Irão e manter conversações com as autoridades iranianas. Não foram fornecidos detalhes sobre a mensagem, mas a presidência francesa disse que o objetivo é prevenir que o Irão obtenha armas nucleares e evitar novas tensões no Médio Oriente. Questionado sobre se assinou a mensagem, o Presidente dos Estados Unidos afirmou aos jornalistas: “Eu não discuti isso”. No âmbito de uma reunião bilateral com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, Donald Trump disse que não impede nenhum líder de falar com o Irão, e acrescentou: “Se eles querem conversar podem conversar”. A França está a liderar os esforços europeus para tentar salvar o acordo nuclear iraniano, enfraquecido pela retirada dos Estados Unidos. Os líderes dos sete países mais industrializados do mundo estão reunidos em Biarritz, França, onde hoje começaram as reuniões com uma sessão dedicada às tensões comerciais e a situação global de segurança, duas questões essenciais da cimeira, que começou na noite passada. Numas breves declarações à imprensa esta manhã, depois de tomar o pequeno almoço com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump disse que os demais membros do grupo do G7 não lhe pediram para que pare a guerra comercial com a China, reconhecendo depois que tem “dúvidas sobre tudo” o que faz. “Ninguém me disse isso”, disse Trump, quando questionado sobre se os aliados do G7 o pressionaram para que ponha fim à tensão com a China, que está a diminuir o crescimento económico mundial. Trump insistiu na ideia de que o que a China fez aos Estados Unidos “é indigno”, por ganhar “centenas de milhar de milhões de dólares por ano” através do que considera serem práticas comerciais ilícitas e roubo de propriedade intelectual. Ainda assim reconheceu que tem algumas “dúvidas” sobre as suas decisões em relação à China, já que tem “dúvidas sobre tudo”, e apostou na continuação do diálogo com Pequim. O Presidente francês, Emmanuel Mácron, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, pediram no sábado em Biarritz que haja uma trégua no conflito comercial entre os dos países, perante as consequências negativas para a economia global. O próprio Johnson disse hoje, em frente de Trump, que “em geral” é a favor da paz comercial e referiu opor-se, em princípio, à imposição de novas tarifas. Nas declarações aos jornalistas o Presidente dos Estados Unidos disse ser “possível” que a Rússia regresse ao G7 no próximo ano, depois de ter sido expulsa devido à invasão e anexação da Crimeia, em 2014. O hipotético retorno da Rússia é um dos assuntos que dividem os membros da cimeira de Biarritz, com Trump a defende-lo e alguns líderes europeus a oporem-se. Donald Trump também disse não ter ficado satisfeito com o facto de a Coreia do Norte ter feito mais um teste com mísseis, mas desvalorizou a importância do ocorrido. “Não estou contente, mas mais uma vez ele (o líder norte-coreano) não viola o acordo” sobre esses testes, disse aos jornalistas.
Polícia de Hong Kong anuncia detenção de 29 pessoas no violento protesto de sábado Hoje Macau - 25 Ago 2019 [dropcap]U[/dropcap]m total de 29 pessoas foram detidas em Hong Kong depois de terem participado sábado numa manifestação pró-democracia marcada pela violência entre manifestantes e as forças de segurança, informou hoje a polícia em comunicado. O protesto resultou na detenção de 19 homens e 10 mulheres, com idades entre 17 e 52 anos, por crimes como reunião ilegal e agressão a elementos da polícia. “Alguns manifestantes radicais desviaram-se do percurso original e obstruíram as estradas, danificaram as lâmpadas de rua e atacaram polícias. A polícia condena veementemente o comportamento dos manifestantes”, pode ler-se na mesma nota. Um dos detidos é Ventus Lau, um dos organizadores da marcha que foi autorizada pela polícia, por reunião ilegal, disse seu advogado à agência de notícias Efe. Pelo menos dez pessoas receberam tratamento em hospitais públicos e duas estão “em estado grave”, segundo a autoridade de saúde da cidade. Depois de 10 dias de relativa paz na ex-colónia britânica, a tensão voltou às ruas no sábado, quando milhares de pessoas se manifestaram em Kwun Tong, no leste de Kowloon. De acordo com relatos da polícia, um grande grupo de manifestantes montou barreiras para paralisar o tráfego e “usou serras eléctricas para danificar uma série de postes de luz (…), o que representa uma séria ameaça à segurança das pessoas no local utilizadores das vias”. Os manifestantes, acrescenta-se na mesma nota, também arremessaram objectos e bombas de gasolina aos polícias, causando danos a veículos das forças de segurança e lesões nas pernas de um jornalista. A polícia realizou uma operação com “a força apropriada para anular os actos violentos dos manifestantes”, acrescenta-se. Os protestos maciços de rua, que traduzem a maior crise política em décadas na cidade, acontecem desde o início de Junho, e alguns deles terminaram em confrontos violentos entre a polícia e manifestantes. Quando os protestos começaram, os cidadãos expressaram a sua rejeição a uma lei de extradição apresentada pelas autoridades locais que permitiria a entrega de suspeitos a jurisdições sem acordos prévios como a China continental, algo que os opositores ao texto consideram como o fim das garantias judiciais oferecidas pelo sistema de Hong Kong. No entanto, as manifestações evoluíram nas últimas semanas para reivindicações mais amplas sobre os mecanismos democráticos da cidade e para a rejeição da crescente influência de Pequim nos assuntos locais. Novas marchas são esperadas hoje, especialmente na área de Tsuen Wan.
Amazónia | Macron acusa Bolsonaro de mentir em matéria de compromissos ambientais Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]O[/dropcap] Presidente de França, Emmanuel Macron, acusou hoje o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de mentir em matéria de compromissos ambientais e anunciou que, nestas condições, França vai votar contra o acordo de comércio livre UE-Mercosul. “Tendo em conta a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República não pode se não constatar que o Presidente Bolsonaro lhe mentiu na Cimeira de Osaka”, afirmou a presidência francesa, referindo-se à Cimeira do G20 que se realizou no final de Junho. “O Presidente Bolsonaro decidiu não respeitar os compromissos ambientais e não se empenhar em matéria de biodiversidade. Nestas condições, França opõe-se ao acordo com o Mercosul tal como está”, acrescentou. Emmanuel Macron manifestou na quinta-feira preocupação com os fogos florestais que estão a devastar a Amazónia, a maior floresta tropical do planeta ,evocando uma “crise internacional” e pedindo aos países industrializados do G7 “para falarem desta emergência” na cimeira que os reúne este fim de semana em Biarritz (sudoeste de França). Jair Bolsonaro, respondeu acusando o homólogo francês de ter “uma mentalidade colonialista descabida” ao “instrumentalizar” o assunto propondo que “assuntos amazónicos sejam discutidos no G7, sem a participação dos países da região”. O acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), integrado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, foi fechado a 28 de Junho, depois de 20 anos de negociações. O pacto abrange um universo de 740 milhões de consumidores, que representam um quarto da riqueza mundial. A Irlanda ameaçou também hoje votar contra o acordo comercial se o Brasil não tomar medidas para proteger a floresta amazónica. “Não há qualquer forma de a Irlanda votar a favor do acordo de comércio livre entre a UE e o Mercosul se o Brasil não respeitar os seus compromissos ambientais”, afirmou o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar. “Estou muito preocupado com os níveis recorde de destruição pelo fogo da floresta amazónica este ano”, acrescentou, numa nota à agência France-Presse. Numa entrevista à agência EFE hoje divulgada, o embaixador da UE em Brasília, Ignácio Ybáñez, destacou o empenho do Brasil na aplicação do acordo, mas recordou a Bolsonaro a “aposta clara” do acordo no cumprimento do acordo de Paris sobre alterações climáticas. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro, os incêndios no Brasil aumentaram 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de Agosto, sendo a Amazónia a região mais afectada. A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Segundo o INPE, a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em Julho, em relação ao mesmo mês de 2018.
Consulado do Canadá suspende viagens de funcionário para fora de Hong Kong Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]O[/dropcap] consulado do Canadá em Hong Kong anunciou hoje a suspensão de viagens de funcionários para fora da cidade, incluindo para a China continental. A decisão acontece depois do Governo chinês ter confirmado a detenção de um funcionário do consulado britânico em Shenzhen, zona económica especial chinesa adjacente a Hong Kong. Em comunicado, o consulado do Canadá indicou que, “neste momento, a equipa contratada localmente não realizará viagens (…) oficiais fora de Hong Kong”. O funcionário do consulado britânico em Hong Kong, que desapareceu na China continental no início de Agosto, foi detido por “solicitar prostitutas”, avançou a imprensa estatal chinesa, uma acusação rejeitada pela família do jovem, que considerou “serem fabricadas”. A família disse que Cheng foi a Shenzhen, em 8 de Agosto, para uma reunião de negócios, mas e passou a estar incontactável quando atravessava a fronteira para Hong Kong. O Reino Unido e a China têm trocado algumas acusações, à margem dos quase três meses de protestos na antiga colónia britânica. Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. No início do ano, a China deteve um empresário e um antigo diplomata canadianos, após a directora financeira do grupo de telecomunicações chinês Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver. A detenção, efetuada no Canadá, foi feita a pedido dos Estados Unidos por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, numa violação da lei. Os dois cidadãos canadianos permanecem detidos por “prejudicarem a segurança nacional”.
Novos protestos em Hong Kong com cordão humano e manifestação de contabilistas Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]O[/dropcap]s protestos anti-governamentais e pró-democracia voltaram hoje às ruas de Hong Kong com um cordão humano marcado para junto das estações das três principais linhas de metropolitano e uma manifestação promovida por contabilistas. A manifestação dos contabilistas começou às 12:30, com a previsão de ocorrência de um cordão humano para as 20:00. As duas iniciativas antecedem um protesto convocado para 31 de Agosto para assinalar os cinco anos do veto de Pequim à possibilidade de sufrágio universal na ex-colónia britânica. Por outro lado, acontecem após a manifestação pacífica de domingo – que juntou mais de 1,7 milhões de pessoas, segundo a organização, e 128 mil, de acordo com a polícia – e um tenso protesto esta semana numa das estações de metro que quase resultou em confrontos entre manifestantes e forças de segurança. Os contabilistas vão marchar no centro da cidade, num desfile autorizado pela polícia, para exigir ao Governo de Hong Kong uma resposta às cinco reivindicações da Frente Cívica dos Direitos Humanos, o movimento que tem liderado os maiores protestos. Em causa está a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo. O cordão humano não tem uma liderança conhecida e tem sido promovida nas redes sociais, uma iniciativa para “continuar a dar eco aos apelos das pessoas de maneira pacífica, racional e não-violenta” e, “ao mesmo tempo, elevar a consciência internacional” para as reivindicações da população de Hong Kong. Na quinta-feira, a empresa gestora do metro em Hong Hong anunciou que, daqui em diante, ao mínimo sinal de violência, vai suspender os serviços e fechar as estações sem qualquer aviso. “A polícia pode ter que entrar na estações para tomar as acções necessárias para garantir o cumprimento da lei”, indicou a MTR, num comunicado citado pelo jornal South China Morning Post. Os protestos na região administrativa especial chinesa duram desde 9 de Junho e têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e polícia.
Funcionário consular britânico detido na China por “solicitar prostitutas”, escreve imprensa oficial Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]O[/dropcap] funcionário do consulado britânico em Hong Kong, que desapareceu na China continental no início de Agosto, foi detido por “solicitar prostitutas”, avançou hoje a imprensa estatal chinesa, uma acusação rejeitada pela família do jovem. Segundo o jornal do Partido Comunista Chinês Global Times, que cita a polícia de Shenzhen, Simon Cheng, de 28 anos, esteve com prostitutas na cidade fronteiriça, antes de ser detido, em 08 de Agosto. A família de Cheng considerou, entretanto, que aquelas notícias, difundidas pela versão em inglês do Global Times, são “fabricadas”. “Toda a gente deve perceber que se trata de uma piada”, apontou, em comunicado. O jornal escreveu que a polícia não contactou a família de Simon Cheng a pedido do próprio. “Devido ao ministério dos Negócios Estrangeiro britânico e à imprensa, que montou este caso, agora é do conhecimento de todos”, aponta. A diplomacia chinesa confirmou esta semana que o homem está detido em Shenzhen por ter violado uma lei chinesa de segurança pública. Caso não seja formalizada uma acusação criminal, Cheng deve ser libertado hoje, já que se completam 15 dias desde que foi detido – o período máximo de detenção administrativa, segundo a lei chinesa. Segundo o Global Times, Simon Cheng tem ainda de pagar uma multa de 5.000 yuan (640 euros). A família disse que Cheng foi a Shenzhen em 08 de agosto para uma reunião de negócios, mas que passou a estar incontactável quando atravessava a fronteira para Hong Kong. O Reino Unido e a China têm trocado algumas acusações, à margem dos quase três meses de protestos na antiga colónia britânica. Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. A China criticou já o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, no início do mês, após este ter falado com a líder de Hong Kong, Carrie Lam, sobre os protestos, e pedido uma “investigação totalmente independente” à actuação da polícia, para “reconstruir a confiança”. “É simplesmente errado que o Governo britânico fale directamente com a chefe do Executivo de Hong Kong para exercer pressão”, afirmou então um porta-voz da diplomacia chinesa. Londres disse, na quinta-feira, que procurava com “urgência” informações sobre o funcionário consular. No início do ano, a China deteve um empresário e um antigo diplomata canadianos, após a directora financeira do grupo chinês das telecomunicações Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis. Ambos os cidadãos canadianos permanecem detidos por “prejudicarem a segurança nacional”.
YouTube fecha canais associados a campanha de desinformação sobre Hong Kong Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]O[/dropcap] Google informou hoje que desactivou mais de 200 canais na plataforma de vídeos YouTube que alegadamente conduziam “operações de influência coordenadas” sobre os protestos em Hong Kong, dias depois de Facebook e Twitter tomarem a mesma decisão. O Google suspendeu 210 canais do plataforma de vídeo YouTube após detectar um “comportamento coordenado, ao difundir vídeos relacionados com os protestos em curso em Hong Kong”. A empresa não vinculou directamente a campanha com o regime chinês, mas associou a sua decisão “recentes observações e acções anunciadas pelo Facebook e Twitter”. Esta semana, o Facebook e o Twitter suspenderam também várias contas originárias do continente chinês, que “deliberada e especificamente tentavam semear a discórdia política em Hong Kong, inclusive minando a legitimidade e as posições políticas dos manifestantes”. Ambas as empresas disseram que suspenderam as contas com base em “evidências confiáveis” de que se tratava de uma “operação coordenada pelo Estado” chinês. A decisão levou a acusações de censura pelas autoridades chinesas. O Twitter anunciou ainda que não aceitará mais “propaganda de órgãos de imprensa controlados pelo Estado”, condenando comportamentos “manipuladores”. Pequim, que há muito se queixa que a imprensa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, investiu nos últimos anos milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural. Twitter ou Facebook têm sido parte central dessa estratégia, apesar de estarem bloqueados na China, onde a narrativa é controlada pelo Partido Comunista, cujo Departamento de Propaganda emite directrizes para os órgãos de comunicação ou censura informação difundida nas redes sociais domésticas, como o Wechat ou Weibo. Vários órgãos de comunicação estrangeiros estão também bloqueados na Internet chinesa, a maior do mundo, com cerca de 710 milhões de utilizadores. A antiga colónia britânica vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
Governo chinês quer Macau a traduzir rádio e televisão em português Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas querem que Macau crie um centro de tradução e produção de programas de rádio e televisão em língua portuguesa, disse, na quinta-feira, o “número dois” do regulador chinês do sector audiovisual. O director-adjunto da Administração Nacional de Rádio e Televisão da China (NRTA, na sigla inglesa), Fan Weiping, defendeu ainda o lançamento no território de iniciativas de cooperação e intercâmbio de conteúdo audiovisual entre a China e os países de língua portuguesa. A região administrativa especial chinesa poderá ser uma base de intercâmbio de programas para rádio e televisão entre a China e o mundo lusófono, disse o dirigente chinês, num encontro com uma delegação liderada pelo vice-director do Gabinete de Ligação do Governo central chinês em Macau, Xue Xiaofeng. No ano em que se comemora o 20.º aniversário da transição de administração de Macau, a China quer aproveitar ao máximo a relação próxima entre a cidade e os países de língua portuguesa no campo da rádio e televisão, explicou Fan Weiping, num comunicado divulgado pela NRTA. O regulador prometeu unir esforços com o Gabinete de Ligação, o Governo de Macau, a Teledifusão de Macau (TDM) e das televisões da cidade vizinha de Zhuhai e da província de Guangdong. Segundo o comunicado, a reunião contou com a participação de dirigentes da TDM, que opera um canal de televisão e uma rádio em língua portuguesa.
Vigília | Jason Chao fala de abuso de poder por parte das autoridades Andreia Sofia Silva - 23 Ago 2019 [dropcap]J[/dropcap]ason Chao, activista e membro da Associação Novo Macau (ANM), emitiu ontem um comunicado onde fala de “abuso de poder” levado a cabo pela Polícia de Segurança Pública (PSP) quando decidiu reprovar o pedido de realização da vigília no Leal Senado de apoio aos protestos em Hong Kong. “A reprovação do pedido de vigília é apenas mais um episódio de abuso de poder por parte das autoridades de Macau. Mas muitas outras formas de liberdade de expressão estão sob ameaça. Neste momento, o voto do sufrágio universal para o Chefe do Executivo está sob ataque. Como deputado, Sulu Sou tem vivenciado episódios de intimidação quando colocou cartazes a promover o voto nas ruas.” Para Jason Chao, a “falta de visão” dos residentes de Macau vai fazer com que percam “mais liberdades a longo prazo”. “Quando tiverem consciência da completa rendição de liberdades, será tarde de mais para voltar atrás. Quando vivia e trabalhava em Macau, sempre alertei o público para a rápida erosão dos direitos e liberdades garantidos pela Lei Básica. A rejeição da vigília de apoio a Hong Kong ajuda a motivar algumas pessoas de Macau a reflectir sobre a situação de liberdade de expressão em Macau”, apontou Jason Chao, que defende uma maior luta pela manutenção destes direitos. Outros ataques “Compreendo que a população de Macau, em geral, não aprove os protestos em Hong Kong e aprecio a coragem dos residentes que planearam a organização de uma vigília para condenar os actos brutais da polícia e mostrar solidariedade para com os naturais de Hong Kong”, acrescenta o activista. Jason Chao referiu ainda que a actividade levada a cabo pela ANM, relativa ao referendo civil sobre a eleição do Chefe do Executivo da RAEM, tem sido alvo de diversos ataques informáticos, até agora sem consequências negativas ao nível dos dados pessoais.
Tóquio Lab João Romão - 23 Ago 20195 Mar 2020 [dropcap]É[/dropcap] a maior área metropolitana do mundo, com os seus 38 milhões de pessoas em intenso, acelerado e permanente movimento. Quase metade (48 por cento) desta gigantesca população desloca-se diariamente em transportes ferroviários, comboios e metropolitanos que compõem uma complexa e intrincada rede e substituem com amplas vantagens os modos de transporte rodoviários: apenas 12 por cento das deslocações se fazem em automóvel e mesmo os autocarros só são usados por 3 por cento da população. Numa cidade que parece sempre ultra-congestionada, acaba por haver espaço público suficiente (ou quase) para deslocações em bicicleta (14 por cento) e a pé (23 por cento). Em todo o caso, é a hegemonia da mobilidade ferroviária que marca a singularidade do sistema de transportes desta metrópole, onde se concentram 26 das 50 estações de comboios mais utilizadas no mundo, incluindo as três primeiras deste ranking (Shinjuku, Shibuya e Ikebukuro). Não é isento de problemas, em todo o caso, este padrão de mobilidade urbana: são internacionalmente famosas as imagens de hora de ponta no metropolitano de Tóquio em que se vêem diligentes e eficazes funcionários das estações a empurrar passageiros para dentro das carruagens, uma densa amálgama de gente assustadoramente comprimida na sua deslocação para o trabalho. Não deixa também de ser curiosa esta intensa proximidade e contacto físico – ultrapassando largamente a capacidade oficial das carruagens – num país onde as normas de segurança são levadas ao máximo extremo nas mais variadas actividades quotidianas e os contactos físicos entre pessoas são culturalmente reduzidos ao mínimo – ou a zero – nas relações sociais. Na realidade, mesmo fora das horas de máxima utilização, é frequente as carruagens e estações funcionarem a 200 por cento ou 250 por cento da sua capacidade – chegando mesmo aos 400 por cento em momentos de maior intensidade. A um ano dos Jogos Olímpicos que Tóquio vai acolher em 2020, é intensa e gigantesca a renovação em curso nas estações ferroviárias da cidade – sendo que, na maior parte dos casos, uma estação não é apenas um lugar onde se entra e sai de um transporte público: é um complexo de centros comerciais, com dezenas ou centenas de lojas acumuladas em torres de sofisticada arquitectura e avançadas engenharias que previnem os impactos dos regulares terramotos que caracterizam uma região situada na confluência de três placas tectónicas (Eurásia, Filipinas e Pacífico). Estas gigantescas infraestruturas – cuja utilização requer cuidada e permanente atenção às dezenas de entradas, saídas e acessos a diferentes ruas ou edifícios circundantes – estão hoje em renovação profunda: novas linhas e plataformas, novos painéis informativos (mais digitais e multi-linguísticos) e também novas lojas, novos restaurantes, novos centros comerciais, novos edifícios de escritórios em novas ou renovadas torres de várias partes da cidade. É sobretudo disto que se fazem os grandes eventos globais, culturais ou desportivos, nas metrópoles contemporâneas: uma mobilização massiva e coordenada de recursos para renovar as cidades, transformando-as temporariamente num diversificado e multissectorial centro de negócios, um catalisador de investimentos através das chamadas parcerias público-privadas que vão alimentando o crescimento económico e também a especulação imobiliária e financeira. Neste momento, o impacto deste súbito aumento da oferta de serviços diversos é facilmente visível para quem visita Tóquio e pode, por exemplo, encontrar magníficos novos restaurante com belas vistas panorâmicas, atencioso serviço e deliciosa comida por um preço relativamente modesto, tendo em conta os padrões locais. Outra coisa será o que se vai passar durante os Jogos, nesse Verão muito quente que se avizinha em 2020, em plena época alta das temperaturas e da humidade relativa. A imprensa vai publicando opiniões de especialistas ou resultados de estudos diversos sobre os impactos previstos das Olimpíadas e há relevantes pontos comuns a várias publicações de que vou tendo conhecimento: a rede de transportes – que já opera na maior parte do tempo muito acima da capacidade recomendada – não será suficiente para acolher os movimentos quotidianos dos residentes, os fluxos dos turistas habituais e ainda os dos visitantes dos Jogos, em particular no acesso aos principais eventos; esse super-congestionamento dos transportes coloca particulares problemas no contexto das temperaturas e humidade relativa muito elevadas que caracterizam Tóquio em Agosto; o alojamento hoteleiro, normalmente já muito caro na cidade, será ainda mais caro; a renovada oferta de serviços diversos, incluindo restauração e animação, terá nessa altura a necessária procura. Outra coisa ainda é o que se passará a seguir às Olimpíadas. O Japão já atingiu os 20 milhões de turistas por ano que se tinham definido como objectivo até 2020 – e na cidade de Tóquio já se atingiram os 15 milhões projectados. A menos que após os Jogos haja um aumento muito significativo dos turistas vindos da Europa ou da América, estes fluxos (até agora com origem na Ásia em 85 por cento dos casos) não deverão aumentar muito significativamente. Internamente, o envelhecimento populacional que caracteriza a sociedade japonesa faz com Tóquio seja das raríssimas grandes metrópoles a nível mundial que arrisca perder população nas próximas décadas. Para que servirão então estas mega-infraestruturas actualmente em construção ou renovação – incluindo as novas habitações na zona da Baía onde se vão instalar mais de 5.000 participantes nos Jogos – é uma questão que torna esta metrópole um interessante laboratório para as políticas urbanas do futuro. Até – ou sobretudo – para se discutirem os limites destas mega-operações de requalificação urbanística e especulação imobiliária com base nas internacionalmente famosas “parcerias público-privadas” e na mobilização de capitais financeiros internacionais.
Ser morninho João Luz - 23 Ago 2019 [dropcap]H[/dropcap]á coisas que não se tomam às metades, que não permitem fragmentação, relativização, venda, aluguer, concessão, diluição. Não é possível defender pela rama princípios e conceitos como “Liberdade”, “Estado de Direito”, “Justiça”, entre outros. Estes são absolutos, definitivos, intransigentes, pairam acima de qualquer sentido de pragmatismo. Da mesma forma que não é possível amar um bocadinho, também não se nasce, vive, morre temporariamente e aos poucos, em doses moderadas e de toma regular. Caminhar para o fim não é finar, isso é definitivo, definhar é outro campeonato. Não se pode conceder em coisas absolutas, pensar que isso é possível é não querer admitir a relatividade, a ausência desse bem, valor, princípio inalienável. Não se pode defender a liberdade piscando o olho à tirania, amando secretamente o cárcere. Lutar pela supremacia da lei é incompatível com escancarar a porta ao capricho egoísta da arbitrariedade. Não se pode ser um bocadinho imparcial, ou justo, da mesma forma que nunca existiu neste planeta um gajo ligeiramente filho da puta. Não se pode ser só um bocadinho, ou existir apenas ao fim-de-semana (não falo no sentido figurativo, claro). Não há meios assassinatos, pedaços de concepções, revoluções fragmentadas, ou valores de part-time, vinho com gasosa ou whisky com água. Liberdade, Justiça e Primado da Lei são shots de um trago que nunca deixam de arder nos nossos ventres. São desejos insaciáveis, amores eternos.
Variações – o barbeiro cantor Rui Filipe Torres - 23 Ago 201923 Ago 2019 [dropcap]N[/dropcap]a ante-estreia, Terça-feira, dia 20, na sala Manoel de Oliveira no cinema S. Jorge, com os seus 830 lugares quase ocupados na totalidade, o público convidado aplaudiu de pé a projecção do filme. António Variações viveu a sua vida de cometa, luminosa e auto incendiária, numa Lisboa inventada, também por ele, entre Braga e New York, numa procura de pós-modernidade onde, o sangue e o brilho, a autenticidade do antigo é seiva que alimenta o presente. Fez notar com a sua postura de excesso que a ourivesaria das mulheres de Viana de Castelo que tem a sofisticação e a arte necessária a qualquer capa da Vogue. Ou que na música tradicional de Mirandela vive a pulsão erótica e radical de uma força telúrica capaz de cabeça de cartaz se tocada no MAAT de New York. Viveu numa Lisboa que inventava a sua movida num alinhamento próximo com uma Madrid mi mata, num tempo em que Nova Iorque era a cidade mítica da vanguarda artística. Uma Lisboa ainda distante das rotas do turismo de massa da actualidade, pré-Internet, uma cidade-aldeia onde uma tribo relativamente alargada de gente com pequenas tribos dentro se movia, divertia, delirava, trabalhava, vivia. Um tempo de excesso depois de dezenas anos de uma Europa e de um Portugal com peso excessivo nos corpos e nas vidas pela cinzenta nuvem da guerra que arrasou cidades e de um tempo colonial que findava por cá há pouco. A cidade tinha um centro, chamava-se Frágil, um bar com pista de dança na rua da Atalaia que abriu em 1982, uma espécie de centro do mundo, um mundo de artistas, professores, alunos, cineastas, actores, designers, jornalistas, políticos, bailarinos, cozinheiros, pilotos, escritores. Um mundo pequeno, mas com ramificações ao mundo todo. Apesar dos excessos, na pista, nos balcões e nas casas de banho, era um lugar confortável, onde o desejo tinha no corpo das artes e da matéria do mundo a necessária presença para que os corpos não se separem do pensamento. Outros lugares de excesso mais direccionado, não muitos, davam abrigo a tribos mais específicas em particular na sua orientação sexual, a actualmente conhecida comunidade LGBT. Era o caso do Finalmente Club, no n.º 38 da Rua da Palmeira que abriu a 2 de Maio de 1976, e onde todas as noites havia show de travestis. Talvez um dos mais hard na época fosse o Bric-à-Brac , também na zona do Príncipe Real, onde nas casas de banho, no final da noite, o esperma era visível colado nas paredes. No filme temos o também o célebre Trumps, uma cave na esquina com a Imprensa Nacional, onde os corpos suados se reescrevem em ritmos eléctricos de dança urbana. Foi neste bar que o Variações fez o seu primeiro concerto, e essa é uma das cenas recriadas no filme. Mas o excesso do Variações é de outra natureza. É o excesso de um homem que vive a vontade de ser ele próprio e que encontra na canção a forma da sua expressão. O excesso de quem não cede a conformismos, nem a morais dominantes, nem a códigos normativos do que deve ser a arte ou a vida, não por arrogância, mas por verdade. A verdade da dor, a verdade do medo, a verdade da alegria, a verdade da ausência, a verdade do sangue. Para António Ribeiro, o Variações, a figura icónica, que conheceu e com quem chegou a partilhar o palco, tem um nome e uma voz inesquecível, Amália Rodrigues. Como refere João Maia, o realizador do filme, para Variações, a voz era o instrumento, não fica difícil entender o maravilhamento pela Amália. Este filme é um BIOPIC, a film about the life a real person, e por isso, é também um filme musical. O filme começa em Amares, a aldeia perto de Braga onde o protagonista nasceu, numa celebração Pascal, religiosa e popular, com banda e procissão, onde António ainda criança assiste com os irmãos e a mãe, mas já com o ar ausente de quem sonha. A cena seguinte é numa carpintaria da aldeia onde o jovem António trabalha e que tem como protagonista – a cena – um rádio numa parede que emite e a voz da Amália, os homens e o jovem António imobilizam os movimentos para uma melhor atenção das sonoridades e palavras cantadas. Na cena seguinte continuamos no universo rural e familiar e é-nos dito, pelo próprio jovem António em conversa com a mãe, da sua vontade de sair da aldeia e ir para Lisboa. A elipse temporal para o tempo da narrativa do homem adulto acontece na cena seguinte em que o jovem António, de forma deliberada se corta enfiando a talhadeira na mão. É um momento Luís Buñuel, é em respiração ofegante que António, homem adulto, acorda deste sonho e nos transporta da infância para o tempo da sua vida de músico e barbeiro, em Lisboa, Amsterdão, Nova York, Braga. A composição do personagem pelo actor Sérgio Praia é a todos os títulos brilhante. Ancorado por um guarda roupa e maquilhagem sem falhas, uma fotografia de excelência, e numa realização em que a distância, posições e movimentos de câmara, são de uma eficácia total que nos fazem viver a emoção do actor. Sérgio Praia, transporta-nos ao mundo interior e exterior do personagem que interpreta de tal forma que acreditamos ser ele mesmo o António Variações. Ao longo da narrativa somos transportados aos momentos da criação de temas que foram, e vão ser nestes meses do calendário próximo, icônicos, como: Toma o Comprimido, Teia, Perdi a Memória, Canção do Engate, Quero dar nas vistas. A banda sonora do filme tem direcção musical de Armando Teixeira. João Maia procurou que mais do que uma banda sonora, que o filme desse corpo às ideias musicais que António Variações gravou com músicos amadores nos finais dos anos 70. E tudo correu de tal forma bem, que uma nova banda surgiu e o Sérgio Praia conjuntamente com os Balla lançam agora um disco editado pela Sony Music com os temas tocados e cantados no filme. Variações é um projecto cinematográfico com inicio em 2000, teve apoio para escrita no ICA logo na fase inicial, mas o processo de desenvolvimento para chegar à rodagem foi demorado. A primeira versão do argumento demorou 2 anos a ser concluída, e a partir dessa altura foram perto de 15 anos para os júris e o ICA darem luz verde para a chegada às salas das imagens e dos sons. Diz o João Maia: Interessei-me pelo Variações. Trabalhei durante muitos anos em lojas de discos, mas conhecia mal a obra dele e quando comecei a ouvir fiquei muito impressionado, até pelo facto de ele ter gravado o primeiro disco com 37 anos. E pensei; o que terá feito este homem até aos 37 anos para ter gravado um disco com esta idade e ter morrido aos 39? Em brevíssima conversa com o realizador quisemos saber: João, em quantos concursos de apoio à produção cinematográfica no ICA o filme esteve, até ter sido apoiado? Acho que só ganhei há oitava vez que concorri. Foi útil, no teu processo criativo, os sucessivos adiamentos, quantas versões do argumento escreveste? O guião é praticamente o mesmo desde 2008. Essa era a 3ª versão. Antes disso só tinha concorrido uma vez. Em 2017 antes da rodagem fiz ainda algum trabalho sobre o guião. No filme, não é identificada o HIV como a causa da morte do António Ribeiro? A ideia generalizada é que foi uma das primeiras vítimas em Portugal do vírus HIV, que teve uma expressão aterradora com mais de 25 milhões de mortes no planeta. A tua pesquisa não confirmou o HIV como causa da morte, ou decidiste não falar do assunto? O filme conta a história do António. Na altura ninguém queria usar a palavra HIV. Mas no filme está lá tudo. Durante este tempo longo entre o início do projecto e a chegada a sala, escreveste outros filmes? Qual é o próximo? Uma adaptação de “Nome de Guerra” de Almada Negreiros O filme, teve estreia simultânea em 60 salas no dia 22, esta proeza – é difícil a exibição cinematográfica de filmes portugueses em sala, só aconteceu com o filme Parque Mayer de António Pedro Vasconcelos (escrevi sobre o filme na edição do HM de 13 de Dezembro de 2018, filme que fez 43.045 espectadores), sem querer fazer futurologias é de esperar que Variações se aproxime ou ultrapasse os 100 000. “Variações é uma homenagem a todos os que ainda hoje perseguem os seus sonhos aspirando a transformar as suas vidas.” Sem grande margem para erro, Variações é um dos filmes do ano. https://www.youtube.com/watch?v=-mhKAMTeaec
O estrangeiro dos desaparecidos António de Castro Caeiro - 23 Ago 2019 [dropcap]H[/dropcap]á uma aparente cristalização do outro ausente no sítio onde se encontra. É como se não envelhecesse. Fica na nossa memória como era da última vez que vemos esse alguém. Podemos pensar como se encontram os amigos da escola que também se encontram nesse “estrangeiro” que é a parte incerta ou, se certa, encontra-se oculto num campo de latência, desaparecido. Há várias frequências de encontro, consoante os prazos. Parece imperceptível a transformação do outro como é imperceptível a nossa transformação ao espelho. Há momentos em que percebemos que o outro mudou como percebemos também que nós mudamos: o peso, o cabelo, o aspecto. Há pessoas que não vemos sempre, com maior ou menor frequência. Podemos só ver alguém depois de vinte anos e a pessoa parece que se mantém intacta ou então quase não a reconhecemos. Não há nunca uma correspondência biunívoca entre a percepção da nossa lucidez e a duração da existência da outra pessoa. Talvez do mesmo modo que só por vezes “caímos em nós” e “nos enxergamos”, isto é, só em momentos de qualidade perceptiva importante temos uma a-percepção de nós próprios, quer dizer, o mais das vezes e habitualmente registamos a nossa presença em nós próprios, mas não temos uma auto-apercepção de quem somos, como mudamos ou se estamos sempre cada vez mais na mesma. A duração da percepção é infinitamente inferior à duração da existência de cada um de nós próprios e dos outros nas suas vidas. Um momento de percepção projecta-se para o futuro com os dados das impressões que alguém deixa em nós. Há uma continuidade projectada para o futuro dessas primeiras impressões. Há uma caracterização dogmática de alguém feita pela presente impressão. Mas uma impressão é momentânea e por isso admite uma alteração do objecto que cria essa impressão do mesmo modo que admite uma interpretação diferente e uma história camaleónica nas nossas existências. Há pessoas que só vimos uma vez na vida e outras que vamos vendo. Outras há que vemos em épocas das nossas vidas e depois caem para o campo de latência de onde apareceram, só para desaparecer. Há vidas que têm uma apresentação e uma ausência intermitentes, mais ou menos regular, como os amigos de férias que só víamos quando era verão e literalmente hibernavam como nós também para eles hibernávamos. Os outros resultam de um filme em que há determinações claramente presentes, mas a maior parte delas existem na sua ausência. As ausências dos outros, quando estão desaparecidos, não são absolutas, como se desaparecessem da existência, mas estão a ser compostas por nós, mesmo quando não pensamos neles. A maior parte das pessoas, mesmo as que nos estão tão próximas que vivemos com elas, estão sempre no estrangeiro existencial, desaparecem do horizonte de perceptibilidade, saem da vista para fora, deixamos de as ouvir, de as sentir nas suas fragrâncias, como nos tocam e têm nas suas mãos e nós nos encontramos nas mãos deles. A interrupção do contacto, a sua perda, o desaparecer é o entrar para o campo da latência. O mais das vezes e primariamente o outro encontra-se neste campo de latência, tal como de resto a maior parte das coisas. E, contudo, elevam-se anonimamente teses sobre o seu ser. À luz projectada por essas teses, temos a esperança de que os outros continuem aí no rio das suas existências, mesmo que a baixar para o mar, ainda que essa persistência no fluxo e na corrente do rio da vida, se alterem, transformem, mudem. Tal como cada um de nós, todos nos tornamos diferentes com o tempo. Às vezes nem sequer os outros nos aparecem, pode ser uma canção na rádio, a fragrância de um perfume, uma peça de roupa, uma fotografia. Outras vezes, pressentimos a sua presença como se estivessem de pé atrás de nós ou sentados ao nosso lado, como nos momentos em que não dormimos mas também não estamos acordados e importamos dos nossos sonhos imagens reais dos nossos ou fazemos transitar os nossos fantasmas adoráveis para as fantasias oníricas em que as nossas vidas continuam sem que houvessem sido interrompidas por morte, física ou afectiva.
Gisela Casimiro – Onde os sonhos vão para morrer (III) Gisela Casimiro - 23 Ago 2019 In ‘life,’ I don’t want to be reduced to my work. In ‘work,’ I don’t want to be reduced to my life. My work is too austere. My life is a brutal anecdote. — Susan Sontag (3/15/73) [dropcap]N[/dropcap]o quadro leio END OF LIFE, e desato a rir, tão secretamente e sem ter de dar explicações quanto possível. Não são vocês, sou eu. Acabei de rever Mad Men, o que significa que deixei Nova Iorque e estou a conhecer Baltimore em The Wire. Numa das muitas cenas num bairro social, as personagens conversam, desta feita não no icónico sofá laranja no relvado e sim a uma mesa. Dois jovens jogam damas, supostamente, mas com peças de xadrez pois, como adivinha o terceiro, não sabem jogar xadrez nem têm damas, na verdade. Recorrendo a analogias sobre o tráfico de droga e os gangs, assistimos a uma lição. E eu pergunto-me: o que é que estou a fazer aqui, onde não pertenço? A jogar às damas com peças de xadrez, claramente. Aborrecida, arrastando-me de casa para o trabalho todas as manhãs, tornando-me o meme da moça vestida, pronta, sentada na cama, que diz “Eu esperando a hora de me atrasar.” Dizem que para termos algo que nunca tivemos temos de estar dispostos a fazer algo que nunca fizemos. Reencontro, no Facebook, um testemunho de há uns anos, proveniente de um dos melhores projectos de sempre, Humans of New York: “Parece que quanto mais tentava que ela fosse sobre arte, mais o dinheiro controlava a minha vida: coleccionava prestações de desemprego, lidava com a humilhação de pedir dinheiro emprestado a amigos e familiares, dava voltas na cama à noite tentando perceber como pagar a renda. Para sobreviver tive de trabalhar em dois sítios, e depois de findos os turnos sentia-me demasiado stressado para pintar. É muito difícil criar nestas circunstâncias. A criatividade é um processo delicado. Muitas vezes pergunto-me se deveria ter seguido uma carreira durante a primeira metade da minha vida, obtido algum tipo de segurança financeira, e só então feito a transição para a arte.” Jung explica, os Wu Tang Clan também. Alguém comentara dizendo ter conhecido um talentoso retratista, quando ambos trabalhavam como zeladores. Ao perguntar-lhe o que fazia ali, o outro teria dito: “Por vezes temos de fazer o que temos de fazer, ou seja, fazer o que não queremos fazer, durante oito horas do dia, para podermos fazer o que queremos nas demais dezasseis.” Nas últimas quatro semanas estive em duas empresas, três escritórios, conheci muita gente, aprendi e cansei-me muito. Tive uma esmagadora sensação de déjà vù na primeira, sentindo que voltara atrás no tempo três anos, novamente naquela empresa, novamente com uma hérnia inguinal (na altura noutra função e cidade, na altura ainda sem saber que a tinha ou o que raio era uma hérnia inguinal). Decidir que algo é temporário ajuda-nos a suportá-lo. Como daquela vez em que me despedi e, passados dois meses, engoli o orgulho e voltei para o antigo empregador. Agora, permiti-me tirar uma teima, prevenir-me para não ficar de mãos a abanar, pelo meio fazer tempo para o que me parecia ser a única escolha sensata desta fase, da qual me fartei faz tempo. Deixar de procurar, continuar a receber propostas, agora até exactamente para a função de há três anos, mas não ser preciso. Sentir alívio mas, principalmente, não me sentir asfixiada. Segunda-feira. As semanas chegam e passam. Pouco ou nada fiz a não ser ir trabalhar. É disso que tenho medo? De como o trabalho faz o tempo passar nos primeiros tempos, sobretudo depois do desemprego, tão depressa que nem me vejo? Alguém nos oferece uma maçã e abraça. Alguém traz um bolo de banana caseiro, delicioso, húmido, bonito, com brilhantes na cobertura. Alguém grita e é admoestado. Alguém é despedido. Alguém tem um ataque de pânico e é confortado. Alguém volta para a sua terra. Alguém nos faz rir e elogia e nós a eles. Mais alguém é despedido. Alguém se esquece de desligar um temporizador que apita como uma bomba. Alguém tagarela incessantemente. Alguém tenta ler. Mais alguém também escreve. Alguém joga ping pong, cria um lugar à mesa, vai buscar pela segunda vez uma cadeira para nós. Alguém é ameaçado de despedimento. Alguém nos fala dos seus sonhos, família, datas importantes na sua cultura. Alguém já nos impressiona, intimida, enerva ou surpreende. Alguém é do Brasil, Holanda, Filipinas, Itália, Inglaterra, Moçambique, Índia, Angola, África do Sul, Reino Unido, Paquistão, Alemanha e de mais de dois ou três sítios ao mesmo tempo. Alguém chora, é como nós e nada como nós. Sexta-feira: alguém se despede com um beijo na testa, o que não estranhamos, talvez por já nos tratar pela alcunha quase desde o primeiro dia. Por enquanto parece que o instinto e a espera terão valido a pena. Pelo menos assim me dizem os meus próprios emails, quando deixo de ignorá-los e encontro tantas coisas boas de que fazer parte. Não são os trabalhos-para-pagar-as contas, sou eu. E o #$%&@* do Martin Luther King, Jr. É que os sonhos, na verdade, só morrem connosco, e às vezes nem assim.
Obras de Chen Zhifo do Museu de Nanjing inaugura amanhã Raquel Moz - 23 Ago 2019 [dropcap]Q[/dropcap]uietude e Claridade: Obras de Chen Zhifo da Colecção do Museu de Nanjing” é o título da mostra que é hoje inaugurada às 18h30, no Museu de Arte de Macau (MAM), e abre ao publico amanhã, dia 24, dando a conhecer as obras do mestre da pintura chinesa que fazem parte da colecção do Museu de Nanjing. Chen Zhifo foi um importante artista chinês, “conhecido pelas suas pinturas de flores-e-pássaros de estilo meticuloso, além de ter sido um educador de arte e pioneiro das artes e do artesanato chineses do século XX”, segundo revela o comunicado sobre a exposição. “As suas obras, com representações delicadas e cuidadosas, são elegantes e brilhantes, em tons subtis, exalando um encanto gracioso e majestoso. Ao usar padrões criativos com um toque decorativo, foi um artista inovador que abriu novos caminhos para este género de pintura”. No MAM vão estar expostas 166 obras do artista, que incluem pinturas, esboços, materiais e utensílios utilizados em diferentes períodos, num conjunto que abrange exemplos diversos da evolução da sua arte, com o objectivo de aprofundar a compreensão do público para o estilo do autor, que passou seis anos a estudar a pintura de detalhe em Tóquio, no Japão, no início do século passado. Mestre contemporâneo da pintura de pássaros-e-flores em estilo “gongbi”, Chen Zhifo foi pioneiro nas modernas artes aplicadas chinesas, tendo sido o primeiro bolseiro do governo chinês a frequentar um curso de design de padrões no Japão em 1918. Depois de regressar à China, ensinou na Escola de Artes Orientais de Xangai, na Universidade de Artes de Xangai, na Universidade Nacional Central e no Colégio Nacional de Arte, do qual também foi director. “Profundamente dedicado ao ensino artístico na China, contribuiu decisivamente para a formação de muitos profissionais. A forma como fez uso da cor e da composição para dar brilho, clareza, elegância e delicadeza às suas pinturas de pássaros-e-flores, e ainda o toque decorativo, ajudou a abrir novos caminhos para o progresso desta nobre arte tradicional”, lê-se no texto do MAM. O pintor nasceu em 1896 em Yuyao, província de Ningbo, e viria a falecer em 1962 na cidade de Nanjing, a capital da província de Jiangsu na República Popular da China, onde se encontra hoje grande parte da sua obra. Palestras e workshops A exposição é co-organizada pelo Museu de Arte de Macau do Instituto Cultural e pelo Museu de Nanjing e vai estar patente até 17 de Novembro. A par das obras está previsto um programa educativo que inclui três palestras temáticas, nos dias 1 e 14 de Setembro, e dia 12 de Outubro, dois workshops sobre pintura de pássaros-e-flores, em Outubro e Novembro, e ainda concertos e visitas guiadas através da obra de Chen Zhifo. A primeira palestra, “Entre Figura e Criatividade”, será feita por He Jianping, um premiado designer chinês radicado na Alemanha, que se propõe “apresentar o design de padrões criativo de Chen Zhifo e explicar aos participantes como os temas transmitem mensagens e como se transforma um motivo num fragmento tridimensional criativo”, já a 1 de Setembro, domingo.
Dança | “Flights” chega ao CCM para dois espectáculos no sábado e domingo Raquel Moz - 23 Ago 2019 Um bailado composto por movimentos coreografados, na busca humana de ganhar asas e voar, chega este fim-de-semana ao CCM. “Flights” é para crianças e adultos, trazido pela companhia espanhola “Aracaladanza”, que falou ontem aos jornalistas [dropcap]O[/dropcap] espectáculo “Flights” traz de regresso a Macau a companhia espanhola de dança contemporânea “Aracaladanza”, para duas exibições este fim-de-semana, dia 24 às 19h30 e dia 25 às 15h, no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM). Acabados de chegar ao território, o director e dois bailarinos falaram ontem à tarde à comunicação social sobre o projecto inspirado no legado do pintor italiano Leonardo da Vinci, no ano em que se celebra o 500º aniversário da sua morte. “A inspiração para a coreografia do espectáculo não foi tanto a obra do pintor, mas a sua obsessão pela possibilidade de voar”, revelou Henrique Cabrera, o criador e responsável pela companhia. A ideia de voar está presente em todas as civilizações e culturas, mas também em cada um de nós desde a mais remota infância, comentou. “Eu também sonhava com isso quando era menino”, portanto a coreografia explora essa vontade através das imagens e do movimento. “Queria mostrar esse apelo em diferentes fases do espectáculo, com diversos adereços, com asas e penas, com momentos em que pequenos pássaros pousam nas mãos” e outras surpresas ao longo do bailado. O trabalho da “Aracaladanza” é geralmente concebido para um público mais novo, composto por crianças e famílias, “mas eu acho que todos os nossos espectáculos são para as pessoas de todas as idades”, sublinhou o director. “Não pretendo educar as crianças para a arte e para a dança, nem quero contar uma história, prefiro que eles sintam os movimentos”, disse. A coreografia não obedece a uma narrativa específica, nem existe uma linha condutora. Como defendeu Henrique Cabrera, “desenvolvemos a dramaturgia como se fosse um sonho, confuso na lógica dos acontecimentos, mas fazendo sentido para quem lá está no meio”, explicou. É que “voar para mim significa liberdade e imaginação”. Voos pelo mundo A expectativa do grupo é agradar à audiência, “espero que as pessoas apreciem o espectáculo, que não é só de dança contemporânea, é muito mais. Tem adereços fantásticos, um impressionante trabalho de design e vídeo-projecções, uma banda sonora original, e cinco excelentes bailarinos”. A cenografia, contam, é composta por diferentes tipos de asas, paus, marionetas, cavalos, espelhos, poliedros, e uma mesa para a última ceia, tudo composto nos tons em que Leonardo pintou e desenhou as suas máquinas voadoras, pára-quedas e outros engenhos. “O sépia, o ocre, o vermelho e o negro”, são as cores da performance, a que se juntam as texturas dos figurinos de Elisa Sanz e os sons electrónicos da música original composta por Luis Miguel Cobo. O espectáculo demorou cerca de quatro meses a tomar forma, desde o conceito inicial, passando pelos ensaios com os bailarinos, até à data da estreia que aconteceu em 2015, na cidade de Madrid. A peça tem viajado, entretanto, por todo o mundo e conta já com cerca de 300 exibições. Sobre o trabalho com o director da “Aracaladanza”, os dois bailarinos presentes na conferência de imprensa de ontem – Jonatan de Luis Mazagatos e Elena García Sánchez – confessaram ser, sobretudo, “divertido e lúdico também”. Curiosamente, a companhia nunca passou por Portugal nem pela Argentina, de onde Henrique Cabrera é natural. Porquê? “Não fazemos ideia!”, mas gostariam muito de lá ir. Em Macau, a “Aracaladanza” trouxe em 2014 o espectáculo “Constellations”, concebido a partir do imaginário do pintor espanhol Joan Miró. As quatro exibições no pequeno auditório do CCM esgotaram completamente. Para “Flights”, amanhã e domingo, ainda existem alguns bilhetes à venda. Os preços variam entre 100, 140 e 180 patacas.
Jogo | Fosso salarial entre homens e mulheres aumenta 31% João Luz - 23 Ago 2019 [dropcap]N[/dropcap]o segundo trimestre deste ano, a discrepância de salários entre homens e mulheres que trabalham na indústria do jogo aumentou 31 por cento em relação ao período homólogo do ano transacto. De acordo com dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), a remuneração média auferida por mulheres no período em análise fixou-se em 23.570 patacas, enquanto os homens receberam 25.870 patacas, ou seja, mais 2.300 patacas por mês. Um valor que aumentou face ao segundo trimestre de 2018, quando um funcionário masculino ganhava mais 1.760 patacas do que uma mulher a desempenhar o mesmo trabalho. Feitas as contas, o fosso salarial entre géneros aumentou em quase um terço. Outro dado revelador, em termos de igualdade de género, prende-se com o número dos directores e quadros dirigentes. No segundo trimestre deste ano, num total de 3.129 quadros dirigentes, 1.804 eram ocupados por homens, ou seja, em relação ao número total eram mais 479 do que as dirigentes mulheres. Também neste indicador o fosso entre géneros aumentou em relação ao período homólogo do ano passado. No segundo trimestre de 2018, havia mais 307 homens em cargos de chefia do que mulheres, ou seja, num ano a diferente entre géneros nas posições de topo das empresas de jogo aumentou 56 por cento. No fim do trimestre em análise existiam 904 postos vagos, ou seja, mais 81, face ao fim do segundo trimestre de 2018. A maioria das vagas pertencia aos “empregados administrativos” (79,5 por cento), observando-se que 588 destas vagas se destinavam aos “croupiers”. Em relação aos requisitos de recrutamento, apenas 14,2 por cento das vagas requeriam experiência profissional, 64,7 por cento exigiam habilitações académicas inferiores ou iguais ao ensino secundário complementar, 77,2 por cento requeriam o domínio do mandarim e 21,9 por cento exigiam o do inglês.
ANIMA | Associação quer encerramento do Matadouro Sofia Margarida Mota - 23 Ago 2019 Conseguir com que o Governo encerre o Matadouro e mudar o nome e a estrutura da ANIMA para que tenha uma componente de protecção ambiental, são os objectivos a curto prazo de Albano Martins, presidente da Sociedade Protectora dos Animais [dropcap]D[/dropcap]epois da vitória na luta pelo fecho do canídromo, a Associação Protectora dos Animais – ANIMA – vai tentar por fim ao Matadouro. A ideia foi deixada pelo presidente do organismo, Albano Martins, à TDM. O responsável tenciona dar início a um processo de encontros com o Governo para explicar a inutilidade da empresa Matadouro S. A. de Macau. “Há várias razões para o fecho do Matadouro, tal como existiam para o fecho do canídromo”, começa por dizer em entrevista. A mais evidente tem que ver com o factor financeiro, sendo a Matadouro S.A. “um desastre”, uma vez que desde 2009 mantém “resultados negativos na ordem dos 20 milhões de patacas e não há meio de mudar”. Albano Martins recorda que a companhia já fez duas “operações cosméticas” em termos financeiros”, uma em 2010 reavaliando o cativo “porque o capital social já estava comido em metade e pelas leis de Macau precisa de ser recuperado”. E em 2018, “reavaliando o novo activo com mais 10 milhões de patacas para conseguir ter uma posição financeira aceitável”, explicou. A situação financeira da empresa é também “um desastre para o Governo” por não ter de pagar impostos, devido à actual situação em que se encontra. Espaço precioso A este desastre financeiro acresce o facto de o Matadouro ocupar um espaço “enorme” que é importante que “reverta para a comunidade” e ser transformado. Por último, “não há sentido nenhum em continuarmos a matar animais em Macau quando podemos comprá-los já mortos”, uma vez que os processos de abate no território “já não é dos mais aceitáveis actualmente”. São estas as razões que Albano Martins vai apresentar ao Governo, “e explicar cientificamente”, os motivos que justificam o encerramento do Matadouro. O presidente da ANIMA acredita que a proposta vai ser bem recebida pelo Executivo. “Acho que o Governo vai fazer as contas e verificar que de facto não recebe impostos, que economicamente é um desastre, que está a ocupar um espaço enorme e finalmente se quiser ser honesto, perceber a desactualização do processo de abate”. Novo nome, novo rumo A ANIMA vai ainda mudar de nome e ter uma componente de defesa ambiental. “Em vez de ser Sociedade Protectora dos Animais passa a ser Sociedade Protectora dos Animais e da Natureza”, anunciou o responsável. Para Albano Martins as questões ambientais “são importantes” e o objectivo é “tentar ter um segundo núcleo para observar como as coisas são feitas em Macau e inclusivamente apresentar queixas”. Até Março do próximo ano Albano Martins tenciona deixar a presidência da ANIMA, sendo que a associação já se encontra à procura de um sucessor, “que fale chinês”. “Estou velho demais, tenho 70 anos “ justificou.
Proprietários do ramo imobiliário não concordam com Ho Iat Seng Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]V[/dropcap]ários proprietários do ramo imobiliário disseram ao jornal Ou Mun que não concordam com as ideias de Ho Iat Seng, candidato ao cargo de Chefe do Executivo de Macau, no que diz respeito a matérias de renovação urbana. O actual Governo, liderado por Chui Sai On, pretende realizar uma consulta pública no final do ano que prevê as percentagens relativas ao direito de propriedade para efeitos de reconstrução de edifícios antigos. Ho Iat Seng defendeu que a renovação urbana em Macau não deve seguir o modelo de Hong Kong, pois a possível redução da propriedade de um imóvel ou a realização de um leilão obrigatório podem envolver casos em tribunal e necessitam de tempo. Portanto, Ho Iat Seng propôs que o Executivo possa adiantar o pagamento das despesas relativas à reconstrução, sendo que o proprietário paga apenas pelos custos de construção. Contudo, as figuras ligadas ao sector do imobiliário apontam que a proposta de Ho Iat Seng é diferente face ao que foi discutido em reuniões anteriores sobre renovação urbana. “Mesmo que seja teoricamente viável, a realidade é contrária às expectativas dos patrões, sendo difícil incentivá-los a apoiarem a reconstrução dos edifícios em prol da renovação urbana”, lê-se no jornal. Um agente imobiliário indicou que os problemas relacionados com a renovação urbana são complexos, nomeadamente nos bairros antigos. No bairro do Iao Hon, por exemplo, há imóveis que operam como lojas, quando no registo predial consta o uso para fins residenciais, o que leva a que tenha um valor diferente no mercado. Face à situação do actual do mercado, o custo de construção por cada pé quadrado é de 1.500 patacas, o que significa que as obras numa fracção com mil pés quadrados deverão custar 1,5 milhão de patacas. A maioria dos proprietários de bairros antigos são idosos e não têm a capacidade de assumir essa despesa, sendo também difícil a obtenção de um empréstimo bancário, apontam os entrevistados ao jornal. Por outro lado, tendo em conta os casos de demolição de edifícios no Interior da China, os antigos proprietários acabaram por se mudar para casas provisórias, tendo posteriormente obtido uma nova casa de forma gratuita ou uma compensação igual ao valor do mercado. Por isso, os entrevistados consideram que o facto do Governo querer avançar com o investimento é um bom ponto de partida e uma medida “teoricamente exequível” mas, na prática, vai depender da situação civil de cada propriedade, o que não constitui um incentivo para os proprietários.
EPM | Férias limitam participação da APEP no projecto de ampliação Sofia Margarida Mota - 23 Ago 2019 A Associação de Pais da Escola Portuguesa (APEP) quer dar uma opinião acerca do projecto de ampliação da instituição, mas receia não ter oportunidade durante o período de consulta pública, dado coincidir com as férias. No entanto, o novo projecto de Carlos Marreiros parece ter em conta a necessidade de espaços ao ar livre, o que agrada à APEP, aponta o presidente do organismo Filipe Regêncio Figueiredo [dropcap]O[/dropcap] projecto de ampliação da Escola Portuguesa de Macau (EPM) está em consulta pública até dia 29 e a Associação de Pais da Escola Portuguesa (APEP) quer dar o seu contributo, mas ainda não sabe como. Em causa está o facto deste procedimento ter sido avançado em período de férias. “Nós soubemos de tudo isto através dos jornais, e não fomos informados de nada”, começou por dizer o presidente da APEP, Filipe Regêncio Figueiredo, ao HM. Para já a associação está a tentar comunicar com os associados “até porque muitas das pessoas estão de férias e não é propriamente a melhor altura para avançar”, lamenta. No entanto, é do interesse da APEP participar, estando a “tentar perceber, através de quem está em Macau, “o que é possível fazer num curto espaço de tempo”, acrescentou. A direcção da EPM tem conhecimento de que a APEP está a tentar participar, mas não adianta alternativas caso a associação não dê o seu contributo atempadamente, apontou o director da escola, Manuel Machado. Já no que respeita à sua opinião, Manuel Machado afirma “que a dar, será em sede própria”. Ar para que te quero Relativamente ao projecto em si, a baseado “no que é dito na imprensa relativamente à planta e nas declarações do arquitecto Carlos Marreiros”, Filipe Regêncio Figueiredo considera que “as preocupações apresentadas relativamente ao projecto inicial estão salvaguardadas” Em causa estava a escassez de espaços ao ar livre, que a APEP, considera fundamental. “Parece que agora está assegurada a existência de manter o espaço ao ar livre, de haver sol”, refere. Recorde-se que o projecto de ampliação da Escola Portuguesa de Macau deu entrada no Conselho de Planeamento Urbanístico a 15 de Agosto, estando sujeito a consulta pública até ao próximo dia 29. O arquitecto responsável por este projecto é Carlos Marreiros, que já garantiu ao HM que a adição de mais um edifício não irá por em causa a existência de espaços exteriores. A nova EPM “vai ter espaços para actividades ao ar livre, quer a nível do piso térreo quer ao nível dos terraços”, até porque o projecto preliminar assegura a criação de “espaços abertos para que haja uma ventilação transversal. Os blocos estão pensados para permitir a entrada da luz do sol e do ar”, frisou Carlos Marreiros. Novo pólo, novas oportunidades Já quanto ao novo pólo da escola Portuguesa Filipe Regêncio Figueiredo considera que se abre uma oportunidade para uma reestruturação de instalações. “Obviamente que a escola precisa de mais espaço”, dado o aumento do número de alunos e “sendo instalações que podem ser construídas de raiz, até para os anos mais avançados, se calhar consegue-se construir outro tipo de infra-estruturas, como laboratórios de melhor qualidade”, rematou.
Economia | Excedente na conta corrente de 158 mil milhões em 2018 Hoje Macau - 23 Ago 2019 [dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau anunciou ontem que no final de 2018 o território tinha registado um excedente na conta corrente de 158 mil milhões de patacas. Segundo dados preliminares divulgados pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), “em 2018 as fortes exportações de serviços turísticos determinaram a continuidade de um acentuado ‘superavit’ registado na conta corrente, no valor de 158 mil milhões de patacas”, um aumento de 23,7 mil milhões face aos 134,4 mil milhões de patacas registados em 2017. A balança da conta de serviços registou um excedente de 310,8 mil milhões de patacas devido ao aumento de 12,8 por cento em 2018, “em consequência da ascensão das exportações de serviços turísticos”, segundo a AMCM. No ano passado, apontou a AMCM, os activos financeiros líquidos não reserva, aumentaram para 141,8 mil milhões de patacas, mais 6,1 mil milhões de patacas do que no ano anterior, devido ao “crescimento dos activos financeiros no exterior, quer dos residentes, quer do sector público”. Por outro lado, o défice comercial de mercadorias aumentou para 88,2 mil milhões de patacas, mais 1,6 mil milhões em relação a 2017. Apesar de as exportações de mercadorias terem aumentado 11,7 por cento, as importações de mercadorias também subiram 5,6 por cento.
Jornalistas impedidos de noticiar intervenção policial no Leal Senado Juana Ng Cen - 23 Ago 2019 A Associação de Jornalistas de Macau recebeu queixas dos seus associados de terem sido impedidos de fazer a cobertura noticiosa dos acontecimentos do passado dia 19 de Agosto. Em causa estava a operação policial de recolha de identificação, no dia agendado para a vigília contra a violência policial em Hong Kong, proibida pelas autoridades [dropcap]A[/dropcap] Associação dos Jornalistas de Macau recebeu queixas de vários profissionais por terem sido impedidos, pelos responsáveis dos meios de comunicação de língua chinesa em que trabalham, de fazer a cobertura noticiosa da intervenção policial, na passada segunda-feira, no Largo do Senado. Em comunicado divulgado pela All About Macau, a associação mostra-se preocupada que este tipo de limitações à prática jornalística possa alargar-se “fazendo com que os profissionais da imprensa percam a autonomia”. Se este tipo de comportamento se vier a confirmar, “a credibilidade do sector vai ser fortemente afectada interferindo com o direito da população à informação”, pode ler-se no comunicado. Desde o dia 9 de Junho que a organização tem “ouvido falar” da redução de notícias por parte dos órgãos de comunicação social chineses acerca dos acontecimentos que marcam a actualidade na região vizinha de Hong Kong, mas no passado dia 19, a organização recebeu queixas concretas da proibição indicada aos jornalistas de tirarem fotos e pedirem comentários à intervenção da polícia. Recorde-se que um cidadão anónimo tinha pedido autorização para uma vigília nesse dia, com o intuito de manifestar oposição à violência policial em Hong Kong, e que este pedido tinha sido recusado pelas autoridades. A Associação de Jornalistas recorda ainda a Lei Básica, que prevê que “os residentes de Macau gozam da liberdade de expressão, de imprensa, de edição, de associação, de reunião, de desfile e de manifestação, bem como do direito e liberdade de organizar e participar em associações sindicais e em greves”, sendo que condena “qualquer acção que interfira na divulgação de notícias”. Do básico Para a Associação, os jornalistas têm o dever de fazer a cobertura destas situações e de acompanhar o seu desenvolvimento de modo a que possam passar ao público a informação. “É uma responsabilidade básica do jornalismo”, refere. Esta limitação é um fenómeno de auto-censura dos próprios meios de comunicação e “é cada vez é cada vez mais grave”. “É por esta razão que as pessoas pensam que a liberdade de imprensa no território está ameaçada e é influenciada abusivamente por forças externas”, defende a Associação. Por outro lado, cabe aos órgãos editoriais, respeitar a ética profissional do sector e permitir aos jornalistas que façam o seu trabalho, sublinha. Aliás, só desta forma é possível “alcançar a estabilidade que as pessoas exigem” e evitar que as opiniões pendam para extremos. A Associação pede aos jornalistas que mantenham a sua boa prática profissional e disponibiliza o seu apoio aos profissionais que estejam a ser pressionados.
«Amar a Pátria» | Política patriótica deve ser liderada pelos jovens Juana Ng Cen - 23 Ago 2019 [dropcap]N[/dropcap]o encontro com os membros da Comissão Eleitoral para o quinto Chefe do Executivo, que decorreu esta quarta-feira, Lei Pui Lam, do sector da educação, mencionou que em Hong Kong há casos de “docentes de Direito a sugerir que se viole a lei” e “professores a orientar alunos para fazerem bullying aos familiares da polícia”. O eleitor afirmou que a situação se deve a desvios na educação, desde a infância até à frequência universitária. Ho Iat Seng, em resposta, explicou que é importante reforçar os livros didácticos, o currículo e os trabalhos educativos, acreditando que todas as escolas irão colaborar nesse sentido. O candidato afirmou ainda que os esforços locais em promover o princípio de «Amar a Pátria e amar Macau» são sólidos e devem ser dirigidos por líderes jovens. Kou Kam Fai, do mesmo sector educacional, lembrou que muitos jovens não lêem o jornal, concentrando a sua atenção nas várias plataformas de informação online. Por este motivo, sugeriu a criação de uma plataforma que se adapte mais aos gostos dos adolescentes. Para Ho Iat Seng, “a informação online deve ser adaptada aos interesses dos jovens, devendo ser analisada em conjunto, para poder direccioná-los correctamente”. Mas o futuro Chefe do Executivo não acredita numa imposição do lema “de forma unilateral, ou demasiado acentuada”, porque assim “eles não vão estar interessados na mensagem. Devemos guiá-los com energia positiva”, sublinhou, pedindo o empenho dos intervenientes nos trabalhos relevantes que se avizinham.
Lesados do Pearl Horizon sem acesso a habitação para troca, diz Coutinho Andreia Sofia Silva - 23 Ago 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho inquiriu o Governo, através de uma interpelação escrita, sobre o facto de vários lesados no caso Pearl Horizon não terem acesso a uma habitação para troca devido a um critério adoptado pelo Executivo. “Não obstante ter conhecimento de que mais de uma centena de promitentes-compradores não efectuaram o registo predial, o Governo insiste que o registo predial é o critério adoptado para o requerimento de habitação para troca. Porquê?”, questiona o deputado. Coutinho considera “injusto” que estes lesados fiquem de fora do apoio governamental, pois “o Governo considerou o registo predial como linha de demarcação”. “Perante esta situação, os envolvidos sentem-se desamparados e não sabem o que podem fazer. De que medidas dispõe o Governo para os ajudar a ultrapassar as dificuldades?”, inquiriu. O deputado assegura que, no seu escritório de atendimento aos cidadãos, tem recebido vários pedidos de ajuda sobre este assunto, uma vez que os lesados correm o risco de ficarem sem casa. “Por motivos diversos os lesados não conseguiram concluir o registo predial, contudo, já pagaram o imposto de selo sobre a transmissão de bens imóveis e, por isso, pode ser reconhecido completamente o seu estatuto de compradores das fracções. O artigo 12 do regime jurídico de habitação para alojamento temporário e de habitação para troca no âmbito da renovação urbana deixa de fora esses promitentes-compradores sem ter em consideração a sua situação o que é absolutamente injusto”, defende. A lei em vigor, além de prever os casos em que os moradores tenham de sair das suas habitações por motivo de obras, também admite duas situações especiais para candidatura à compra de habitação para troca, a do proprietário de imóveis demolidos ao abrigo do regime de expropriações por utilidade pública e o comprador de “fracção habitacional em construção afectado pela declaração da caducidade da concessão provisória de terreno”. Esta última condição diz respeito aos lesados do Pearl Horizon.