Encontros e desencontros proverbiais em torno das noções de abertura e fechamento Ana Cristina Alves - 11 Dez 2024 Coordenadora do Serviço Educativo do Centro Científico e Cultural de Macau A filosofia comparativa pode usufruir de vasta colheita caso se dedique ao campo proverbial. Aqui se encontram pontos de vista que podem contribuir não apenas para a filosofia como para os estudos de imagologia e os de psicologia social, através da observação atenta das mentalidades. É interessante notar a semelhança de perceção tanto por parte dos portugueses como dos chineses relativamente ao modo como são aproveitados os talentos de ambas as terras. Muitos em Portugal queixam-se de serem mal aproveitados, de verem os seus filhos partirem rumo à emigração por falta de oportunidades no país, já que “santos de casa não fazem milagres” e, por isso, é bem melhor ser-se profeta em terra alheia, porque “nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4,21-30), sendo que a expressão remonta aos tempos bíblicos e à explicação oferecida por Jesus por não fazer milagres em Nazaré. Coincidentemente, os chineses possuem uma expressão proverbial de 4 caracteres e longa história, um chengyu, (成语chéngyǔ), que remete para os Anais da Primavera e do Outono (春秋), um dos cinco clássicos da filosofia confucionista, especificamente ao mais conhecido dos seus comentários, Comentário de Zuo e ao 26º ano do Duque de Xiang《左传 襄公二十六年》(Zuǒ chuán xiānggōng èrshíliù nián), no qual se diz literalmente que “Os talentos de Chu são criados neste reino, mas aproveitados por um outro reino, o de Jin” ( 楚材晋用chǔ cái jìn yòng). Fica a ideia de que os oficiais de Jin não são tão talentosos como os de Chu, mas talvez sejam mais espertos, porque pelo menos são capazes de tirar partido dos de fora. Coloca-se aqui uma questão interessante, em termos de certas categorias espaciais com as quais estruturamos o nosso pensamento e nos posicionamos no mundo, são estas as de “dentro” e “fora”, bem como as correlativas de “proximidade” e “distância”, que conduzem às noções de “abertura” e “fechamento”. Parece mais fácil compreender e aceitar, no que respeita ao talento, o que é exterior, está mais longe e, de algum modo, interpela e incomoda menos. Mas se estes pares conceptuais funcionam bem quando aplicados a seres especiais, talentos, profetas, gente fora de série, a verdade é que sofrem uma grande alteração de sentido se a coletividade passar a ser perspetivada como norma ou padrão. Aí há uma tendência para proteger os “de dentro” contra os “de fora”, que são muitas vezes encarados como perigosos e disruptivos, na cultura e civilização chinesas, a atender à abundância de provérbios relativos aos “de fora”. Já nos Ritos de Zhou 《周礼》, obra datada de meados do século II a.C, se chama a atenção para a necessidade de questionar sobre os perigos para o país, as migrações e o governante no poder, mas especialmente para o cuidado com “as migrações e necessidades de planeamento” (询迁询谋xún qiān xún móu), nem todas as mexidas e movimentações relativas ao “dentro” ao status quo, ou ordem estabelecida, são boas, mas podem ser proveitosas se no relacionamento do “dentro” com o “fora”, os primeiros não se deixarem contaminar pelos segundos e retirarem o melhor partido destes. E aqui mais uma vez portugueses e chineses concordam, em termos proverbiais, no que se refere a lisonjear ou enganar os estrangeiros em proveito próprio, por exemplo, nós portugueses e brasileiros ludibriando os nossos mais antigos aliados na Europa, o que ficaria retido numa interpretação possível da expressão “para Inglês ver”, a propósito do comércio de escravos com o Brasil, por volta de 1830, já então proibido, com o nosso próprio consentimento, mas imediatamente contornado1, por estarem em jogo valores comerciais de grande peso; assim como os chineses da dinastia Qing na expressão retirada ao escritor Wu Jianren (吴趼人, 1866-1910), em História da Dor 《痛史》(tòng shǐ), que poderá ser traduzida pela paráfrase “lisonjear os estrangeiros para proveito próprio” (媚外求荣mèi wài qiú róng), significando numa tradução literal “lisonja para a glória”. Na opinião de alguma desta sabedoria proverbial, em que não há fronteiras claras entre o senso comum e o saber propriamente dito, segundo muitos portugueses e chineses dos tempos antigos (e talvez alguns atuais) os “de fora” são bons para ser fintados, ludibriados ou então claramente mantidos à distância, porque quando os deixamos penetrar no espaço interno, ou até íntimo, as coisas podem correr mal, como se indica no dito “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento” ou, de um modo menos particularizante e mais sistemático e generalista nos provérbios chineses, nos quais se condena, relativamente à dinastia Qing, ela própria alienígena, a bajulação sistemática dos estrangeiros, por exemplo, através de um dito célebre de um grande escritor chinês Mao Dun (茅盾, 1896-1981) em Aprender com Luxun 《向鲁迅学习》(Xiàng Lǔxùn Xuéxí) : “venerar e bajular o estrangeiro ( 崇洋媚外chóng yáng mèi wài). Neste se condena claramente a bajulação ao outro e a xenofilia, que caracterizou alguns momentos importantes da história cultural chinesa na sequência das Guerras do Ópio (1839-42; 1856-1860), ou da implantação da primeira república chinesa (1912- 1949), a que corresponderia o mesmo tipo de tendência em Portugal, nomeadamente até meados do século XX em relação à cultura francesa. Assim, a literatura estava pejada de francesismos, (como hoje o está de anglicismos) e as meninas educadas deviam todas saber “tocar piano e falar francês”. As tendências de adesão camaleónica aos “de fora” são comuns aos dois povos e prendem-se com momentos históricos específicos, nos quais existe mais proximidade a determinado país por razões dinásticas, em tempos de monarquia, ou políticas, em tempos de república. Não são menos evidentes as tendências de fechamento ao outro étnico, que pode ocorrer no interior do espaço nacional, diversificando-se de acordo com as paisagens étnicas e geográficas. Quem não recorda expressões no nosso país como “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”, ou “abaixo do Douro, tudo mouro”? Neste sentido, recorde-se a respeito dos chineses mais um aforismo de Mao Dun, incorporado na sapiência proverbial, a propósito da cidade de Xangai, que significa, numa tradução pelo sentido, “em redor é tudo estrangeiro” 十里洋场 (shí lǐ yáng chǎng), mas ao pé da letra se traduz por “dez milhas de mercado estrangeiro”. Este pode ser aplicado em sentido positivo como referindo-se a um mercado próspero, mas também negativo, aludindo a uma cidade repleta de gente “de fora”, como era Xangai para muitos chineses que a viam como uma colónia capitalista. É preciso remontar à “invasão dos estrangeiros”, na sequência das duas Guerras do Ópio para entender a aceção negativa, a que foi empregue por Mao Dun. O auge da xenofobia sucede no mundo proverbial quando o estrangeiro é identificado como o inimigo, o que se converte numa apologia do fechamento, memorizada e repetida em frases rítmicas e rimadas ao longo de gerações, pense-se no mundo proverbial português em “mantenha os amigos por perto e os inimigos quanto mais longe, melhor”, cuja correspondência em chinês poderá ser, numa tradução literal, “os inimigos devem manter-se afastados das fronteiras do país” 御敌于国门之外 (yù dí yú guó mén zhī wài), tornando-se o mais distantes e estranhos possível, como sugere este dito da época dos Reinos combatentes, sendo um aforismo atribuído a Mâncio (孟子), retirado do capítulo Wan Zhang 《孟子·万章》da obra homónima, mesmo que o afastamento possa ser apenas de um dos reinos chinês para o outro, como era o caso à época em que o filósofo e/ou os seus discípulos escreveram. Quando o pensamento fechado impera, torna-se notório, por um lado, o enaltecimento das políticas nacionalistas, com o consequente afastamento dos países estrangeiros e de todas as redes intelectuais e político-comerciais “de fora”, por outro, o louvor daqueles que revelam amor à pátria até ao sacrifício extremo, como bem denotam as expressões portuguesa e chinesa, de sentido idêntico, “sacrificar-se pela pátria” (徇国忘己 xùn guó wàng jǐ). Este dito chinês surge no Livro dos Song, Biografia de Xiehui (389-426)《宋书·谢晦传》(“Sòng shū·xièhuìchuán”), encontrando eco na expressão do poeta Bai Juyi (白居易, 772-846) da dinastia Tang em “sacrificar o corpo pelo país” (徇国忘身 xùn guó wàng shēn). Há ainda um outro provérbio chinês que de um modo não tão radical, pois não exige o sacrifício extremo, afasta, no entanto, os laços com o exterior, sendo atribuído a Hu Qi da dinastia Song (宋·胡锜), “Cultiva o interior, resiste ao exterior” (内修外攘 nèi xiū wai rǎng), numa interpretação possível “olha para dentro, não olhes para fora”. Para terminar com uma nota de esperança no diálogo e na comunicação civilizacionais, oposta e complementar à tendência de fechamento existe outra de abertura para a qual também se encontram ditos quer em português quer em chinês. Assim, em Portugal empregamos expressões que denotam a vontade de entendimento do outro e a aceitação de práticas culturais e costumes diferentes: “em Roma sê romano” e “à terra onde fores ter, faz como vires fazer”. Já na China há aforismos relativos a figuras políticas distintas dos tempos republicanos, a Liang Qichao (梁启超, 1873-1929 ), um importante intelectual chinês dos tempos modernos, muito ligado à defesa de uma China mais aberta e comunicativa, como era proposto pelo Movimento da Nova Cultura (1915-1925) ao qual aderiu. Posto isto, não surpreende o seguinte dito, coletivamente apropriado, “portas abertas” (门户开放mén hù kāi fàng), já que só com uma política de abertura de portas para o mundo pode o país prosperar, no entender daquele que foi ministro da justiça da República Chinesa, como explicaria em Breve História da Evolução dos Meios de Subsistência 《生计学说沿革小史》 (“shēngjì xuéshuō yángé xiǎoshǐ”) , pela exposição, contacto e absorção de novas ideias, recebidas do Ocidente, como as da promoção de um pensamento diferente da tradição confucionista, com as características do individualismo, da crítica, da independência e da autonomia para as mulheres. Uma outra expressão que ficou incrustada no pensamento contemporâneo chinês surgiu já no contexto da segunda república chinesa, estabelecida em 1949 pelo partido comunista chinês, e numa segunda onda de pensamento, passada a primeira vaga dos furores revolucionários. Os novos ventos pediam então “reforma e abertura” (改革开放Gǎigé kāifàng), após o fechamento revolucionário que culminaria no Maoísmo (毛主义Máozhǔyì). Esta expressão viria a ser empregue por Deng Xiaoping (邓小平), a 18 de dezembro 1978, na terceira sessão plenária do décimo primeiro Comité Central do PCC. Após o período caótico da Revolução cultural (1966-1976), era preciso pensar noutros termos, serenar os ânimos e abrir a China ao exterior, de modo a que os estrangeiros fossem vistos não como estranhos, ou no pior dos cenários, inimigos, mas sendo suscetíveis de dialogar e contribuir para o desenvolvimento e prosperidade da China, através da compreensão de modos de vida distintos e, sobretudo, da organização económica e científica de que dispunham. “Abertura” e “fechamento” ligados a “distância” e “proximidade”, “fora” e “dentro”, definidos à maneira das fronteiras, podem apresentar-se como muros, portas fechadas ou abertas, mudando consoante os tempos, a educação das gentes e a mentalidade de quem ocupa o poder. Referências Bibliográficas Cai Xiqin 蔡希勤 (Trad.).(1999). 《孟子》北京:华语教学出版社. Gushiju .(2024). “关于外国人的成语 (12个)” (Provérbios sobre estrangeiros) 《 古诗句网 ©2024 京ICP备22222222号-1》 https://ww.gushiju.net/chengyu/k/%E5%A4%96%E5%9B%BD%E4%BA%BA, acedido a 19 de novembro de 2024. Ngan, António André. (1998). Concordância Sino-Portuguesa de Provérbios e Frases Idiomáticas. 中葡對照成語集Macau: Associação de Educação de Adultos de Macau. Rocha, Hélio. (2024). “Há duas versões para a origem da expressão ‘para inglês ver’” .Jornal Opção. 26/11/2024. https://www.jornalopcao.com.br/colunas-geral/memorando/ha-duas-versoes-para-a-origem-da-expressao-para-ingles-ver-259029/, acedido a 26 de novembro de 2024. Torga, Miguel. (1967). Portugal. Coimbra: Coimbra Editora. Portugal proibiu, por pressão da Grã-Bretanha, o comércio de escravos no início do século XIX, mas apenas em teoria, já que o tráfico clandestino continuou até 25 de fevereiro de 1869.
50 anos de carreira do cartoonista António revistos hoje na FRC Hoje Macau - 11 Dez 2024 A Fundação Rui Cunha (FRC) recebe hoje a sessão “António: 50 anos de cartoons”, que aborda a carreira de António Antunes, um dos mais importantes cartoonistas portugueses, colaborador de longa data do semanário Expresso. A conversa, moderada pelo jornalista Gilberto Lopes, começa às 18h30. António iniciou a carreira como cartoonista no vespertino “República”, na mesma data em que ocorreu a tentativa de golpe de Estado a partir das Caldas da Rainha, onde se desenhou uma antevisão da Revolução de Abril. António começou a sua jornada na imprensa como uma “brincadeira”, tendo colaborado com publicações como “Diário de Notícias”, “A Capital”, “A Vida Mundial” e “O Jornal”, antes de se tornar colaborador do “Expresso”, onde permanece até hoje. A sua habilidade inegável de comunicar com humor – muitas vezes mordaz – provoca emoções complexas e gera diálogos construtivos, resultando em uma carreira repleta de prémios e distinções, destaca uma nota de imprensa. Desenhos ou terramotos? Na sessão de hoje pretende-se analisar também se a “arte de um cartoon pode realmente provocar terramotos políticos e sociais à escala global”, dando-se o exemplo do cartoon, de 1993, com a imagem do então Papa João Paulo II com um preservativo no nariz, uma reacção às suas declarações durante a epidemia de sida em África. Este cartoon levou a discussões no Parlamento, após a reunião de 29 mil assinaturas por parte da comunidade católica contra o cartoon. Mais recentemente, o cartoon “Pax Canina”, publicado no jornal New York Times, retratou o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, gerando acusações de antissemitismo e levando o jornal a abandonar a publicação de cartoons na sua edição internacional. Outro exemplo marcante, é o cartoon “O gueto Varsóvia em Shatila”, que recebeu o Grande Prémio do Salão Internacional de Cartoon de Montreal em 1983, mas também provocou a ira da comunidade judaica. A imagem foi inspirada numa fotografia de um jovem do gueto de Varsóvia, retratando um campo de refugiados palestinianos em Shatila. Assim, segundo uma nota da “Somos!”, a associação que promove o encontro, o debate de hoje pretende encontrar respostas para questões em torno do papel do cartoon, nomeadamente se este deve “ter limites na forma de expressão artística e satírica”. Actualmente, existe “uma pressão sobre a liberdade de expressão, que cria um clima desfavorável para o cartoon”, tendo “muitos cartoonistas sido despedidos, censurados, presos ou exilados”, destaca a mesma nota. Nascido em Vila Franca de Xira em 1953, António Antunes sempre assinou os seus cartoons como António, tendo-se formado em Pintura na Escola Artística António Arroio, de Lisboa. Começou a publicar cartoons a 16 de Março de 1974 no jornal República, sendo colaborador permanente do semanário Expresso desde o final de 1974. É um cartoonista premiado internacionalmente.
Albergue SCM | Taoísmo expresso em nova mostra de Gao Shiqiang Hoje Macau - 11 Dez 2024 É hoje inaugurada uma nova exposição no Albergue da Santa Casa da Misericórdia. Trata-se de “Teatro Shanshi – Exposição Individual de Arte de Gao Shiqiang: Comemoração do 25.º Aniversário da Transferência da Administração de Macau para a China”, com obras em vídeo ligadas ao universo e paisagens taoistas O Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM) acolhe hoje, a partir das 18h30, a mostra de Gao Shiqiang intitulada “Teatro Shanshi – Exposição Individual de Arte de Gao Shiqiang: Comemoração do 25.º Aniversário da Transferência da Administração de Macau para a China”, uma exposição onde o público local poderá ver trabalhos de vídeos relacionados com o conceito de “Sanshi”, ligado ao espírito e corpos humanos, mas mantendo igualmente uma conexão ao taoísmo e à cultura chinesa. Podem ser vistas obras que “têm como pano de fundo montanhas e águas”, revelando-se “a paisagem do desenvolvimento da China”, transmitindo-se “a diversidade de consciências e a profundidade do tempo e do espaço no mundo das montanhas e águas”. Patente no Albergue SCM até ao dia 5 de Janeiro, esta mostra é organizada pelo Círculo de Amigos da Cultura (CAC) do Albergue SCM, e conta com curadoria de Noah Ng, ligado à direcção do CAC, e de Wu Qiong, vice-presidente do departamento de Arte Experimental da School of Intermedia Art [Escola de Arte Intermédia] da Academia Chinesa das Artes. Segundo o manifesto apresentado pelos curadores, esta exposição nasce de um projecto desenvolvido na Escola de Arte Intermédia intitulado “Shanshi, a Cosmotechnic”. No âmbito desta iniciativa, foram desenvolvidas actividades por um colectivo de criadores coordenado por Gao Shiqiang. “Entendemos o ‘Teatro Shanshi’ como o esforço de um colectivo criativo para recriar uma performance em torno da ‘cena Shanshi'”, levando as paisagens e tradições taoistas para “ambientes urbanos e espaços de exposição” através do trabalho criativo. Desta forma, a ideia de “Teatro Sanshi” remete para a apresentação “de um contexto de desenvolvimento completo de ‘Shanshi’ que transita da ideia de ‘oculto’ para um lado ‘visível’ através da justaposição das obras dos artistas de diferentes fases”. O chamado “espírito shanshi”, que está “enraizado nas tradições filosóficas taoistas, há muito que está impresso nos genes culturais do povo chinês, manifestando-se como uma forma holística única de percepcionar, compreender e ligar com o mundo”. Há, depois, uma interligação com a arte contemporânea, com a ideia de “Shanshi” a ser “constantemente objecto de uma viagem de ‘partida – regresso’ para a maioria dos artistas chineses”. Para os curadores, esta mostra no Albergue SCM constitui “uma prova deste fenómeno”. Seis partes Na galeria do Albergue SCM podem ser vistas seis obras de Gao Shiqiang realizadas entre os anos de 2007 e 2022. São elas “Butterfly Lovers”, uma peça inspirada “na pungente história de amor popular chinesa de Liang Zhu”, em que “duas figuras históricas que não existem no mesmo espaço-tempo são fundidas num contexto narrativo especial”. Para este trabalho, o artista recorreu ao “reflexo mútuo de três casais para restaurar o amor e a história retratados na lenda”. Segue-se a peça “The Other There”, que “observa com frieza as aldeias ao longo da fronteira entre a China e a Rússia, as fábricas em Mudanjiang e as paisagens urbanas em Hangzhou”. Neste caso, há uma “exploração de temas populares, como a modernização e o consumismo que parecem ser meramente superficiais”, sendo que, aqui, “o artista procura um outro olhar que consiga transcender” uma certa lógica causal. “Spring” e “QingBang”, duas instalações-vídeo em Zhoushan, uma cidade costeira em Zhejiang, foram criadas simultaneamente. Gao refere-se a estes dois trabalhos de forma humorística, descrevendo “QingBang” como o cenário de “Spring”. “QingBang” é, assim, descrito como um vídeo que “desperta sentimentos de nostalgia através do sonho de amor de dois jovens, reflectindo ainda mais a contemplação do artista” sobre esse tal olhar próprio. No caso de “Spring”, revela-se “o desenvolvimento de Zhoushan, uma cidade situada na vanguarda da costa sudeste”, um dos símbolos do movimento económico de Reforma e Abertura vivido na China a partir de meados dos anos 80. As restantes peças, nomeadamente “Shanshi, a Cosmotechnic” e “Dawn”, pertencem à “Série Shanshui” de Gao. O primeiro inaugura a série, enquanto “Dawn” apresenta “uma vista panorâmica da ‘paisagem de mil milhas’ das montanhas Taihang através de um único take longo sob a forma de um rolo longo”. Em termos gerais, a “Série Shanshi” visa “revitalizar a tradição, partilhando a experiência de ‘Shanshi’ e a visão do mundo que lhe está subjacente, criando um novo ‘caminho para a compreensão contemporânea do mundo”. Ainda segundo os curadores, todos os trabalhos expostos nesta mostra permitem uma observação de “múltiplas camadas de ligações ou contrastes”, sob os conceitos de “tempo – espaço, narrativa – não narrativa, tradição – modernidade, templo – floresta de montanha, natureza – civilização”. Gao Shiqiang nasceu em Shandong em 1971, estando ligado à criação e investigação de escultura situacional, instalação e vídeo experimental desde meados dos anos 90. No início da década de 2000, os seus trabalhos de investigação e ensino começaram a centrar-se na arte da imagem em movimento, dedicando-se também à investigação narrativa.
Cotai | Zona de espectáculos com renda diária até 375 mil patacas João Luz e Nunu Wu - 11 Dez 202411 Dez 2024 O Governo publicou ontem os valores das taxas de utilização do local de espectáculos ao ar livre, que vão variar entre 500 mil patacas em dia de evento e 250 mil em dia de ensaio ou montagem quando a capacidade máxima for superior a 30 mil espectadores. No primeiro ano de actividade, 2025, as taxas vão ter 25 por cento de desconto A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, assinou um despacho que fixou os valores das taxas diárias cobradas a organizadores de eventos no novo espaço para espectáculos ao ar livre no Cotai. Os preços diários dependem do volume de espectadores e se no dia em apreço se realizam eventos ou se apenas se procedem a ensaios e montagem. Assim sendo, para espectáculos em que a capacidade ultrapassa 30 mil espectadores a taxa no dia do evento é de 500 mil patacas, enquanto nos dias para montagem e ensaios a taxa diária é 250 mil patacas. Para eventos, com plateias com menos de 30 mil espectadores, um dia de evento vai custar 350 mil patacas, enquanto a taxa diária para dias de ensaio ou montagem terá um preço de 175 mil patacas. O valor das taxas diárias durante 2025 terá um desconto de 25 por cento uma vez que o próximo ano será um “período experimental”, é indicado no despacho publicado ontem no Boletim Oficial. Feitas as contas, no próximo ano, um espectáculo com mais de 30 mil pessoas terá uma taxa no dia do evento de 375 mil patacas, e 187 mil patacas em dias para montar estruturas e ensaios. Para eventos com menos de 30 mil espectadores, a taxa cobrada para a utilização do espaço no dia do espectáculo será de 262,5 mil patacas, enquanto em dias de montagem e ensaios a taxa diária será de 131.250 patacas. O Governo ressalva que se for “realizado mais do que um espectáculo por dia promovido pela mesma entidade, é cobrada a taxa correspondente à maior lotação”. Para aquecer A zona de espectáculos está situada num terreno do Governo, com uma área de 94 mil metros quadrados, na intersecção entre a Avenida do Aeroporto e Rua de Ténis, virada a norte para a Rua de Ténis e a nordeste para a Avenida do Aeroporto, perto do Grand Lisboa Palace. A construção do recinto implicou gastos superiores a 90 milhões de patacas, mas segundo a directora do Instituto Cultural (IC), Deland Leong Wai Man, o Governo não espera recuperar o investimento despendido na construção ao longo do primeiro ano de actividade. Entretanto, o IC abriu o período de candidaturas para a utilização do espaço a empresas locais e internacionais de organização de espectáculos. O evento inaugural está marcado para 28 de Dezembro e terá lotação máxima de 15 mil pessoas, cerca de um terço da capacidade total do recinto. Entre os primeiros profissionais que vão pisar o palco, contam-se artistas como Hins Cheung, Julian Cheung, Pakho Chau e Janice M. Vidal. Os bilhetes vão custar 480, 780 e 1080 patacas, mas haverá um sorteio para residentes com ingressos que vão custar 50 patacas. Empresas entusiasmadas A inauguração do novo recinto para espectáculos ao ar livre no Cotai pode trazer novas oportunidades de negócio para empresas locais dedicadas à produção de efeitos e decoração de palco, como iluminação e pirotecnia. James Si Tou, gerente de uma empresa de pirotecnia, afirmou ao canal chinês da Rádio Macau que nos concertos dos Seventeen, no Estádio da Taipa, foram contratadas empresas locais, entre as quais a sua, para a produção do evento. Esses concertos serviram para promover as empresas locais entre organizadores de eventos de grande dimensão e, segundo James Si Tou, a abertura do recinto no Cotai pode significar uma oportunidade para desenvolver o sector. O responsável pela empresa que organiza espectáculo Chessman, Alexandre Carvalho Lou, afirmou que gostaria de ver o Governo a ter um papel mais interventivo, dando como exemplo Singapura. O representante da Chessman indicou que Singapura assume a liderança em espectáculos com estrelas internacionais com a ajuda do Governo local que subsidia os eventos. Alexandre Carvalho Lou acrescenta que a aposta poderia beneficiar as empresas de produção, estimular o turismo e a indústria do espectáculos musicais.
Zonas antigas | Demolidos dois edifícios em estado de ruína Hoje Macau - 11 Dez 2024 A Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSSCU) procedeu à demolição de dois edifícios em estado de ruína na Rua dos Ervanários e Pátio do Espinho, duas zonas antigas na península. Segundo uma nota da DSSCU, “as despesas e multas [com as demolições] serão cobrados aos proprietários”, sendo que, nos dois casos, os donos foram notificados previamente sobre a necessidade de obras de restauro e ignoraram os avisos. A DSSCU aponta que “até finais de Novembro deste ano registaram-se 404 casos de realização de acções de inspecção devido à falta de conservação dos edifícios”, com a ocorrência de 235 notificações dos proprietários para a realização de inspecções e reparações. Foram ainda registados 12 casos em que os donos foram notificados para apresentar relatórios sobre o estado dos edifícios, e mais 13 casos de vistoria a prédios privados. A ausência do relatório entregue ao Governo pode originar uma multa de 2.500 a 50.000 patacas para uma pessoa singular, com valores a ascenderem entre 5.000 e 100.000 para entidades colectivas. A não realização de obras pode levar a multas que variam de 5.000 a 200.000 patacas para individualidades ou entre 15.000 a 500.000 para entidades.
IH | Edifício D. Julieta Nobre de Carvalho sem data de demolição Andreia Sofia Silva - 11 Dez 2024 O Instituto da Habitação (IH) não tem ainda uma data concreta para iniciar os trabalhos de demolição dos blocos B e C do Edifício D. Julieta Nobre de Carvalho, inaugurado na década de 70 e que se encontra actualmente degradado. Segundo a resposta assinada por Iam Lei Leng, presidente do IH, a uma interpelação escrita do deputado Ngan Iek Hang, “resta apenas uma entidade de serviço social que ainda não confirmou a data concreta para a desocupação”, tendo o IH feito o pedido para a “desocupação e devolução do espaço comercial o mais brevemente possível”. Depois da demolição, “o terreno será entregue ao Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) para aproveitamento”, lê-se na mesma resposta. O deputado, na sua interpelação, lembrou que “o Governo mencionou que os blocos B e C estão em mau estado, estando a planear a sua reconstrução”, pelo que não existia, até então, “novidades sobre a demolição destes blocos”, referiu. Entretanto, o IAM está a planear obras de optimização de zonas de lazer no bairro de Toi San, nomeadamente na Rua Central de Toi Sán, Bairro Social de Tamagnini Barbosa, Rua da Missão de Fátima e Rua de Lei Pou Chôn, segundo a mesma resposta.
Aeroporto | Construção do terminal de carga arranca em 2025 João Luz e Nunu Wu - 11 Dez 2024 A construção do terminal de carga do Aeroporto Internacional de Macau vai ter início no primeiro trimestre de 2025. Na segunda-feira, as autoridades de Macau e Hengqin assinaram um memorando para avançar com as obras. O terminal terá capacidade para despachar 300 mil toneladas por ano e vai custar perto de 420 milhões de renminbis A construção do terminal de carga de Aeroporto Internacional de Macau, que irá nascer em Hengqin, tornou-se uma projecto em andamento com a assinatura na segunda-feira do memorando de garantia da construção e do funcionamento do projecto do terminal de mercadorias do Aeroporto Internacional de Macau em Hengqin. A cerimónia, que contou com a presença de Ho Iat Seng e Lei Wai Nong, elegeu a empresa Guangdong Hengqin Macau International Airport Logistics. A entidade que irá tornar o projecto uma realidade nasceu da colaboração entre a empresa que gere o Aeroporto de Macau e uma subsidiária do China Cosco Shipping Group. A construção da projecto tem data prevista para arrancar já no primeiro trimestre de 2025 e terá um custo de 420 milhões renminbis. No total, somando ao custo de aquisição do terreno onde será erigido o terminal, no valor de cerca de 129 milhões de renminbis, a estrutura irá custar quase 540 milhões de renminbis. No terreno, com cerca de 66.700 metros quadrados, será construído um edifício com três pisos, que vão incluir um armazém para a logística, uma garagem subterrânea, assim como instalações para os serviços alfandegários, processamento de dados e para o pessoal. Novos tempos As autoridades estimam que o novo terminal terá capacidade para processar anualmente cerca de 300 mil toneladas de mercadorias. O presidente da comissão executiva da empresa que gere o Aeroporto de Macau, a CAM, Chan Weng Hong, destacou que o rápido desenvolvimento do comércio electrónico veio aumentar continuamente a procura no sector do transporte aéreo de mercadorias. O responsável afirmou ainda, citado por um comunicado da CAM, que a criação da Guangdong Hengqin Macau International Airport Logistics surgiu depois de um estudo aprofundado, e que o novo terminal irá melhorar as capacidades logísticas do sector da aviação de Macau.
SA | Alerta para carros abandonados em Henqgin Hoje Macau - 11 Dez 2024 Os Serviços de Alfândega (SA) de Macau lançaram ontem um apelo aos condutores de veículos com matrícula única que podem circular na Ilha da Montanha para não excederem três meses de permanência em Hengqin. As autoridades referem ter contactado os proprietários dos veículos, mas que quatro veículos permaneceram em Henqgin devido ao insucesso em contactar os donos, ou por motivos de avaria mecânica. Além de violar os regulamentos da permissão para circular em Hengqin, os SA afirmam que o abandono de veículos ou excesso de permanência aumenta os custos de gestão e afecta o desenvolvimento da zona de cooperação aprofundada. Porém, as autoridades sublinham que a grande maioria dos condutores advertidos retiraram as viaturas em excesso de permanência.
Grande Baía | Kou Hoi In espera integração de taxas e moeda João Luz e Nunu Wu - 11 Dez 2024 Numa entrevista a órgãos de comunicação nacionais, o presidente da Assembleia Legislativa afirmou esperar que Macau aprofunde a integração no desenvolvimento nacional, em termos de leis, taxas alfandegárias e moeda. Kou Hoi In fez um balanço dos trabalhos legislativos desde a transição e afirmou que as prioridades são a segurança nacional e o bem-estar da população Apesar dos projectos da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, a integração da RAEM no desenvolvimento nacional deve ser acelerada, segundo o presidente da Assembleia Legislativa (AL), Kou Hoi In. Numa entrevista colectiva a órgãos de comunicação nacionais, como a Xinhua e Diário do Povo, e alguns órgãos seleccionados de Macau, Kou Hoi In fez um balanço da sua carreira de mais de três décadas enquanto deputado e dos trabalhos da AL. O legislador sublinhou que com os rápidos avanços sociais é natural que os ordenamentos jurídicos não consigam acompanhar o ritmo da sociedade. Como tal, defendeu a integração com o Interior da China em termos de leis, taxas alfandegárias e moedas. “A manutenção da segurança nacional é uma das responsabilidades mais importantes da Assembleia Legislativa”, afirmou o político, citado pela agência Xinhua. A agência estatal recordou a desqualificação de 21 candidatos das eleições legislativas de 2021, na sequência da aplicação do princípio “Macau governando por patriotas”. Kou Hoi In clarificou a natureza do órgão legislativo da RAEM. “A Assembleia Legislativa não é um órgão da oposição. De acordo com a Lei Básica, Macau segue um sistema liderado pelo Executivo. Os nossos deputados oferecem principalmente críticas construtivas, sugestões e feedback ao Governo.” “Mesmo que surjam discórdias no hemiciclo, os deputados chegam sempre a um consenso rapidamente quando os assuntos legislativos envolvem a segurança nacional. O que beneficia o país, beneficia Macau”, acrescentou. Olhar para dentro Reflectindo sobre os últimos 25 anos, Kou Hoi In referiu que a AL e o Governo da RAEM têm mantido uma relação estreita de cooperação, e desempenhado um papel crucial no sucesso constante e sustentado da política de “Um País, Dois Sistemas” em Macau. O político afirmou ter bem presente na memória a histórica sessão legislativa da “meia-noite” de 20 de Dezembro de 1999. “Após a cerimónia de transferência de poderes à meia-noite, reunimo-nos imediatamente no novo edifício da Assembleia Legislativa para a nossa primeira sessão plenária”, disse Kou. “Aprovámos 11 leis fundamentais que estabeleceram as bases legais para o funcionamento do Governo, do poder legislativo e do poder judicial da RAEM”, recordou. Desde a transferência de soberania, Macau promulgou ou alterou 404 leis. O legislador garantiu ainda que a AL tem sempre como prioridade as leis relacionadas com o bem-estar da população, destacando a construção de uma rede de segurança social básica, através dos regimes da segurança social e subsídio de invalidez e cuidados de saúde gratuitos. Kou Hoi In realçou também as leis de habitação económica e habitação social que procuraram endereçar as necessidades da população, mas também as leis de segurança alimentar e o enquadramento jurídico que permitiu adicionar o Metro Ligeiro à rede de transportes da região.
Zona A | Exigido planeamento dos lotes C4 e C5 Hoje Macau - 11 Dez 2024 O deputado Leong Sun Iok defende, numa interpelação escrita, que o Governo deve anunciar o mais cedo possível o planeamento dos lotes C4 e C5 da Zona A dos novos aterros, que terão finalidade educativa. Ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau, o deputado lembrou que foi lançado um concurso público para a construção no lote B1 na mesma Zona A, o que significa que o projecto de uma “Vila Escolar” está na agenda. Assim, o deputado deseja que o Governo dê mais informações sobre o planeamento dos dois lotes em questão, para que a sociedade saiba mais dados sobre a futura “Vila Escolar”, pois está previsto o seu funcionamento a partir do ano lectivo de 2027/2028. Na mesma interpelação, é explicado que os lotes terão um terreno para fins desportivos partilhados por oito escolas, com uma área de 29 mil metros quadrados. Porém, Leong Sun Iok referiu que existem preocupações por parte dos residentes de que o terreno não consiga dar resposta à procura, pelo que apelou a resoluções governamentais.
RAEM, 25 anos | António Vitorino destaca fracasso na diversificação Andreia Sofia Silva - 11 Dez 2024 O antigo secretário-adjunto do Governo de Macau entre 1986 e 1987, destacou esta segunda-feira os pontos mais difíceis na negociação da transição de Macau com a China. No que respeita à autonomia, “talvez o sector onde tal foi menos conseguido tenha sido o da economia”, defendeu António Vitorino na apresentação do livro que reúne 25 testemunhos sobre a transição António Vitorino, antigo secretário-adjunto do Governo de Macau nos anos de 1986 e 1987 e figura ligada ao processo de transição de Macau, defendeu esta segunda-feira, em Lisboa, no lançamento do livro “Macau entre Portugal e a China – 25 testemunhos”, que o ponto menos conseguido foi a garantia de autonomia económica do território. “Talvez o sector onde isso tenha sido menos conseguido tenha sido o da economia. Já se falava, na altura, na necessidade de diversificação, dada a extrema dependência da economia em relação ao jogo, um facto de força, mas também de vulnerabilidade. Hoje, em Macau, continua-se a debater a necessidade de diversificar a economia. Mas conseguimos salvaguardar o estatuto emissor do BNU [Banco Nacional Ultramarino] e a subsistência da pataca como moeda da RAEM”, apontou. António Vitorino, personalidade histórica do Partido Socialista (PS), referiu ainda o dossier em torno da nacionalidade dos residentes de Macau como um dos processos mais “difíceis”. “Verificou-se uma diferença substancial entre Macau e Hong Kong, que foi objecto de grande crítica por parte da opinião pública ao Governo de Hong Kong e inglês. Engendramos um sistema engenhoso da troca de memorandos, em que consideramos portugueses os cidadãos nascidos em Macau até 1981 e cuja nacionalidade era depois transmitida, mas foi uma negociação muito difícil.” Vitorino destacou também a necessidade de preservar “o património construído” de matriz portuguesa, pois “foi muito difícil fazer compreender à parte chinesa que havia esse património construído em Macau que tinha de ser preservado”. “Portugal queria ter garantias que não seria subvertido pela RAEM. O nosso grande argumento é que não podíamos ser punidos pelo facto de os ingleses não terem deixado património construído em Hong Kong”, lembrou. A manutenção do estatuto da Igreja Católica em Macau foi outro dos pontos sensíveis na discussão com os chineses. “Foi possível negociar com a China o estatuto da Igreja Católica em Macau que não era apenas ligado ao culto, mas tratava-se também de uma importante presença no ensino. Isso marca uma interessante diferença histórica em relação a Hong Kong, com um modelo inglês de matriz pública. Mas Macau sempre teve um ensino feito por instituições ligadas à Igreja, e o ensino público só surge depois de 1910.” Tarefas “ciclópicas” Vitorino, hoje um nome falado em Portugal como potencial candidato à Presidência da República, lembrou que “não é possível congelar a história”, pelo que olha para o livro editado pela Âncora Editora com “nostalgia da Macau e da China que conheci”. Há 25 anos, “as tarefas que estavam à frente da Administração de Macau e de Portugal pareciam-me ciclópicas”, salientou, lembrando “uma história de sucesso com vicissitudes de ambos os lados”. Do lado chinês, estas eram Tiananmen, cuja tensão em 1989 foi “um momento muito difícil e delicado deste percurso”. “Tivemos, nestes 25 anos, a afirmação da China como potência global, com tudo o que isso significa em termos de assertividade, afirmação, pujança económica e ambição política. Houve vicissitudes em Macau e Portugal, mas manda-me a prudência que não as especifique.” Acima de tudo, António Vitorino destacou que sempre se procurou “um bom entendimento entre Portugal e a China”, sendo que havia, para começar, “diferentes interpretações sobre as razões da nossa presença multisecular no território de Macau”. No tocante à transição de Hong Kong, o histórico socialista referiu que o Reino Unido “optou por uma estratégia mais adversária, de constante tensão”. “Achamos sempre que a estratégia a seguir devia ser o de procurar o melhor entendimento com a República Popular da China, porque era isso que iria garantir o melhor resultado para Macau e as suas populações. Seria interessante fazer o relato daquilo que o Reino Unido tentou criar de problemas ao nosso bom relacionamento entre Portugal e a China. A nossa estratégia provou funcionar e criou condições para que falemos de uma história de sucesso”, rematou.
Ouro | Retomadas compras apesar dos preços recorde Hoje Macau - 10 Dez 2024 O banco central da China aumentou as suas reservas de ouro em Novembro, pela primeira vez em meio ano, depois de o preço do metal precioso ter atingido um máximo histórico no mês anterior, de acordo com dados oficiais. Os números divulgados ontem pela Administração Estatal de Câmbio (SAFE) do país asiático mostram que as reservas de ouro da China aumentaram em 160.000 onças para um total de 72,96 milhões, depois de se manterem estáveis em 72,8 milhões desde Abril. De acordo com a agência noticiosa Bloomberg, na sequência da divulgação dos dados, os preços do ouro subiram 0,6 por cento para serem negociados perto dos 2.650 dólares por onça, ainda abaixo do máximo histórico de quase 2.800 dólares no final de Outubro, face às tensões no Médio Oriente e na Ucrânia e à incerteza sobre as eleições nos EUA e a redução das taxas de juro. A China foi o maior comprador mundial de ouro em 2023 e também no primeiro trimestre deste ano. O facto de estar a aumentar novamente as suas participações indica que o Banco Popular da China continua interessado em diversificar as suas reservas e em proteger-se contra uma possível depreciação do yuan, mesmo a preços elevados. “Isto reflecte provavelmente as expectativas de que os preços internacionais do ouro possam manter uma tendência ascendente durante um período considerável, face às mudanças no panorama político e económico mundial após as eleições presidenciais nos Estados Unidos”, afirmou Wang Qing, analista da Golden Credit Rating, citado pelo jornal estatal China Daily. Perante a volatilidade dos mercados, a fraqueza da moeda e a prolongada crise imobiliária, os investidores chineses voltaram-se para activos considerados como portos seguros: embora a procura por joias tenha diminuído, as compras de moedas e metais preciosos mantiveram-se firmes nos três primeiros trimestres.
Justiça sul-coreana proíbe Presidente de sair do país Hoje Macau - 10 Dez 2024 O Ministério da Justiça da Coreia do Sul disse ontem que proibiu o Presidente Yoon Suk-yeol de viajar para o estrangeiro enquanto estiver sob investigação devido à imposição da lei marcial, na semana passada. Durante uma audiência parlamentar, um funcionário dos serviços de imigração do Ministério da Justiça, Bae Sang-up, disse que a proibição já tinha sido emitida. Pouco antes, na mesma sessão, o procurador-chefe do Gabinete de Investigação de Corrupção para Funcionários de Alto Nível, Oh Dong-woon, disse que tinha solicitado esta proibição. O gabinete, conhecido como CIO, é um dos vários organismos de segurança e judiciais, incluindo o Ministério Público e a polícia, a investigar as circunstâncias em torno da imposição da lei marcial por parte de Yoon. Horas antes, a imprensa local tinha avançado que também a polícia sul-coreana estava a considerar proibir o Presidente de viajar para o estrangeiro, enquanto investiga possíveis suspeitas acusação de traição, rebelião e abuso de poder. O principal partido da oposição da Coreia do Sul classificou a imposição da lei marcial por parte de Yoon como “rebelião inconstitucional e ilegal ou golpe”. O Partido Democrático (PD) apresentou queixas junto da polícia contra pelo menos nove pessoas, incluindo Yoon e o ex-ministro da Defesa. Os procuradores sul-coreanos detiveram no domingo o ex-ministro da Defesa Kim Yong-hyun, que terá recomendado que Yoon declarasse a lei marcial. Embora o Presidente tenha imunidade contra processos judiciais enquanto estiver em funções, tal não se estende a alegações de rebelião ou traição. Segunda tentativa Também ontem, a oposição criticou o Partido Popular do Povo (PPP), no poder, por se recusar a destituir Yoon. “Por mais que tentem justificar (…) este é um segundo acto de rebelião e um segundo golpe, ilegal e inconstitucional”, disse Park Chan-dae, líder parlamentar do PD. No sábado, Yoon escapou por pouco a uma primeira moção de destituição, submetida ao Parlamento. O PPP boicotou e invalidou a votação por falta de quórum. Em comunicado, o PPP afirmou ter obtido, em troca do bloqueio da moção, a promessa de que Yoon se retiraria para deixar a governação do país à sua formação e ao primeiro-ministro. “Mesmo antes da sua retirada, o Presidente não interferirá nos assuntos de Estado, nem nos assuntos externos”, certificou o líder do PPP, Han Dong-hoon, no domingo. O presidente do Parlamento sul-coreano, Won Woo-shik, disse que “o exercício conjunto da autoridade presidencial pelo primeiro-ministro e pelo partido no poder (…) é uma clara violação da Constituição”. Para Kim Hae-won, professor de direito constitucional na Escola Nacional de Direito de Busan, este acordo é semelhante a um “golpe de Estado silencioso”. No domingo, o PD anunciou que vai tentar novamente destituir o Presidente, no dia 14 de Dezembro. Yoon proclamou a lei marcial em 3 de Dezembro, uma medida que foi forçado a suspender apenas seis horas depois.
Pequim promete flexibilização da política monetária e mais apoio orçamental Hoje Macau - 10 Dez 2024 O Partido Comunista Chinês (PCC) comprometeu-se ontem a prosseguir políticas orçamentais “mais proactivas” e uma “flexibilização moderada” da política monetária, visando “impulsionar vigorosamente o consumo” doméstico, numa altura em que a economia chinesa enfrenta pressões deflacionárias. Segundo a imprensa local, esta é a primeira vez desde 2011 que as autoridades chinesas alteram a sua posição relativamente à política monetária, depois de um período de flexibilização, entre 2009 e 2010, seguido por um período “estável e firme”, nos últimos 14 anos. O documento, divulgado pela agência noticiosa oficial Xinhua, refere que o PCC almeja “expandir a procura interna em todas as direcções” e “melhorar a eficiência do investimento”. “Vamos enriquecer e melhorar o nosso conjunto de instrumentos políticos, reforçar os ajustamentos contracíclicos extraordinários e oferecer uma boa combinação de ferramentas para tornar o controlo macroeconómico mais preciso e eficaz no futuro”, lê-se no documento. A decisão, que surge semanas antes do regresso de Donald Trump à Casa Branca e do agravamento expectável da guerra comercial com os Estados Unidos, animou os investidores, que ficaram desiludidos após um anúncio de estímulo que se centrou mais na troca da “dívida oculta” dos governos regionais do que no aumento do consumo. O Hang Seng, índice de referência da Bolsa de Valores de Hong Kong, encerrou ontem com ganhos de 2,76 por cento, num dia de perdas até aos últimos minutos, altura em que recuperou após Pequim ter prometido uma “flexibilização moderada” da sua política monetária. As autoridades chinesas ressalvaram que manterão a sua posição de “procurar o progresso mantendo a estabilidade”, com ênfase na redução e prevenção de riscos em áreas-chave da economia: “Devemos […] manter firmemente a linha vermelha de não permitir riscos sistémicos”. O documento apelou igualmente a que “se faça um bom trabalho na protecção dos meios de subsistência, da segurança e da estabilidade das pessoas, para proteger a estabilidade da situação social global”, com vista a melhorar as perspetivas dos chineses. “Devemos envidar mais esforços para melhorar o sentimento de realização, felicidade e segurança das pessoas”, refere. Bases a fortalecer Sobre a crise imobiliária que se arrasta há três anos, o Politburo do PCC está a avançar com esforços para “estabilizar o mercado”, bem como os mercados bolsistas, lê-se no documento. O imobiliário representou em tempos quase um terço do PIB chinês e é o veículo de investimento mais popular para as famílias chinesas. Sobre os laços económicos com o resto do mundo, os dirigentes chineses apelaram a “uma abertura de alto nível ao resto do mundo e à estabilização do comércio externo e do investimento estrangeiro”.
Xi Jinping pede esforços para atingir objectivos económicos Hoje Macau - 10 Dez 2024 O Presidente chinês, Xi Jinping, reconheceu ontem que a economia chinesa “enfrenta muitas incertezas e desafios”, mas apelou a “esforços incessantes” para atingir os objectivos oficiais fixados para 2025. Durante um simpósio económico com líderes de organizações patronais, Xi Jinping, que é também secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), disse que os desafios “devem ser analisados com atenção e tratados de forma adequada”. “Todos os anos há dificuldades, mas sempre alcançámos o desenvolvimento apesar das provações e tribulações. Devemos fazer todos os preparativos para atingir os objectivos de desenvolvimento económico e social do próximo ano, através de esforços incessantes”, afirmou Xi, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua. Com vista a “fazer um bom trabalho” nesta área em 2025, Xi apelou a uma “firme confiança na vitória” e reiterou que as bases da segunda maior economia do mundo “são estáveis, com muitas vantagens, forte resiliência e grande potencial”. “As condições favoráveis e as tendências globais a longo prazo não se alteraram. Temos de manter o nosso foco estratégico, moldar activamente um ambiente externo favorável […] e transformar os factores positivos em resultados de desenvolvimento”, afirmou o chefe de Estado chinês. “Todo o Partido e a sociedade terão de trabalhar arduamente em conjunto”, disse, sublinhando que a China enfrentou “um ambiente internacional e interno ainda mais complexo” em 2024, o que não impediu o país de alcançar “com sucesso” os objectivos definidos pelas autoridades para o ano. Este facto, continuou Xi, deve-se à capacidade do Partido e do povo de “resistir à pressão, ultrapassar as dificuldades, responder com calma e tomar medidas abrangentes”. Objectivos e desafios Embora o simpósio tenha tido lugar na passada sexta-feira, as declarações de Xi surgem no mesmo dia em que o próprio Presidente presidiu a uma reunião do Politburo – a cúpula do poder na China -, que apelou a uma posição flexível da política monetária pela primeira vez desde 2011, bem como a um maior apoio fiscal e a iniciativas para impulsionar novamente o consumo. Além disso, os líderes chineses deverão iniciar esta quarta-feira a Conferência Central de Trabalho Económico, uma cimeira anual onde discutirão, à porta fechada e durante dois dias, os objectivos económicos para o próximo ano, em que a China terá provavelmente também de enfrentar uma intensificação da guerra comercial com os Estados Unidos após o regresso de Donald Trump à Casa Branca. A economia chinesa permanece à beira da deflação há mais de um ano, indicando que a recuperação nos gastos não se materializou, depois de as autoridades terem abolido a política de ‘zero’ casos de covid-19, no início de 2023. A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida (inflação). O fenómeno reflecte debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente gravoso, já que uma queda no preço dos activos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias.
A deusa que dançava na margem do rio Luo Paulo Maia e Carmo - 10 Dez 2024 Cao Pi (c.187-226), que seria imperador de Cao Wei no tempo dos Três Reinos e foi o segundo filho do brilhante estratega, general e poeta Cao Cao (c.155-220), após este derrotar o seu rival Yuan Shao na batalha de Guandu, esse seu filho tomou como esposa uma senhora já casada com um general do Estado derrotado chamado Yuan Xi, quando este ainda vivia. Essa senhora conhecida apenas como Zhen furen, a «Senhora Zhen» possuia tais exemplares qualidades de bondade e amor filial que a brandura do seu carácter generoso não seria apenas cantada por sucessivas gerações, mas também objecto de uma suspeita envolvendo o irmão de Cao Pi, o ilustre poeta de carácter rebelde e insubmisso Cao Zhi (192-232), que fora derrotado pelo irmão na disputa pelo poder depois da morte de Cao Cao. Essa suspeição baseia-se num poema escrito por Cao Zhi, que partilhava claras afinidades com a Senhora Zhen ao contrário do seu cru irmão, conhecido como Rapsódia sobre a deusa do rio Luo (Luoshen fu). Segundo alguns relatos o nome original do poema porém, seria Gan Zhen fu, «Rapsódia ao ser tocado pela Senhora Zhen» mas foi modificado pelo filho dela, o herdeiro do reino, Cao Rui, quando leu o poema. Segundo uma nota de Li Shan da dinastia Tang, o fantasma da recém-falecida Senhora Zhen teria aparecido em sonhos a Cao Zhi, dançando à beira das águas, de uma forma que ele interpretou como uma reincarnação da lendária deusa do rio Luo (Luo he), uma senhora ligada ao mitológico herói cultural Fuxi, designada Fufei que, ao atravessá-lo, se afogara nesse afluente do rio Amarelo que passa em Luoyang, capital de Cao Wei. Uma flor odorífera oriunda da distante Península Ibérica que se pode desenvolver em devesas nas orlas dos rios, levada ao longo da extensa Rota da Seda provavelmente por mercadores árabes durante a dinastia Tang, ficaria ligada a essa lenda da deusa do rio Luo. A flor do narciso na subspécie narcissus tazetta chinensis seria designada shuixian hua, a «flor da imortal do rio» ou lingbo xianzi, a «ninfa levantada sobre as ondas». Pintores observarando a flor com as suas compridas folhas verticais entenderam a sua significante beleza. Wang Guxiang (1501-1568), calígrafo e pintor de Changzhou (Jiangsu), tal como fizera o pintor dos Song Zhao Mengjian, dedicou uma particular atenção a essas flores que desabrocham no início da Primavera, prometendo um ano bom. No rolo horizontal Flores das quatro estações (tinta e cor sobre seda, 24 x 545 cm, no Museu de Arte de Cleveland) em que ao lado de cada flor colocou um comentário, junto ao narciso escreveu: «a faixa de jade deixada no rio Luo». Diz-se que um outro objecto que pertencia à Senhora Zhen, uma almofada bordada a jade e ouro, foi mostrada por Cao Pi ao seu irmão. Reparando no olhar flébil de Cao Zhi, logo desfeito em lágrimas, o irmão compreendeu e ofereceu-lha.
Inquérito | 80% dos jovens ignora actualidade internacional Hoje Macau - 10 Dez 2024 Um inquérito sobre a perspectiva internacional de quadros qualificados jovens de Macau conduzido pela Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau revelou que cerca de 60 por cento dos entrevistados pensa que apenas tem conhecimentos básicos sobre a actualidade internacional, nomeadamente sobre as relações entre países. Por outro lado, 19 por cento admite não ter qualquer conhecimento que confira perspectiva internacional, enquanto 21 por cento dos entrevistados disseram conhecer suficientemente os assuntos internacionais. Os entrevistados do sexo masculino com habilitações académicas de pós-graduação contaram-se entre os grupos demográficos com melhores conhecimentos do panorama político e socioeconómico mundial. A associação responsável pelo inquérito sugeriu ao Governo que aposte num programa de estágios em entidades internacionais, assim como em actividades de voluntariado, mas que também organize cursos de formação sobre o desenvolvimento da China contemporânea.
Habitação | Preços voltam a cair entre Agosto e Outubro Hoje Macau - 10 Dez 2024 O índice global de preços da habitação caiu 0,4 por cento no período entre Agosto e Outubro, face ao período anterior (entre Julho e Setembro), revelou a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Os dados indicam que os preços na Península de Macau desceram 0,9 por cento, mas aumentaram na Taipa e Coloane (1,2 por cento). As quebras são mais abruptas face ao ano anterior, com a DSEC a referir que no período em análise os preços da habitação decresceram 12,4 por cento, em comparação com o período de Agosto a Outubro de 2023, com os preços na Península a caírem 13,6 por cento e na Taipa e em Coloane a descerem 8,2 por cento. Em termos de área útil, os preços de habitações do escalão dos 75 aos 99,9 metros quadrados registaram a maior quebra face ao período anterior, com a descida dos preços a atingir 3,6 por cento. Os preços de apartamentos mais pequenos, com área útil inferior a 50 metros quadrados, caíram 0,8 por cento entre Agosto de Outubro. Contudo, o índice do escalão dos 50 aos 74,9 metros quadrados subiu 0,9 por cento.
EPM | Grupo parlamentar do PS acusa Governo de desinteresse João Santos Filipe - 10 Dez 202410 Dez 2024 Um grupo de 14 deputados do PS reagiu à carta da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Portuguesa de Macau (APEP) devido à falta aprovação de licenças especiais de docentes e exige explicações do Ministério da Educação O Grupo Parlamentar do Partido Socialista (PS) acusou o Governo de Portugal, constituído pelos Partido Social Democrata (PSD) e Partido do Centro Democrático e Social (CDS), de desinteresse por Macau e pela comunidade portuguesa no território. A posição consta de uma pergunta enviada ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), após a carta enviada pela Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Portuguesa de Macau (APEP) ao Presidente de Portugal, com queixas sobre o impasse na aprovação de licenças especiais de docentes. “A postura do actual Executivo demonstra não só uma evidente falta de atenção da situação da Escola Portuguesa de Macau, que não tem, localmente professores habilitados para leccionar em língua portuguesa, como também um desinteresse do Governo de Portugal por Macau e pela comunidade portuguesa aí residente”, acusa o Grupo Parlamentar do PS. “Para a Escola Portuguesa de Macau poder continuar a ministrar o ensino em português e contribuir para preservar a língua e a cultura portuguesas na Região Administração Especial de Macau, necessita, logicamente, de professores portugueses e tal só é possível com a autorização de licenças especiais do Ministério da Educação, Ciência e Inovação”, é indicado. “Não considera que a ausência de uma estratégia clara para atentar às questões da Escola Portuguesa de Macau indica um desinteresse e uma falha no cumprimento das responsabilidades legais e culturais do Estado Português?”, é questionado. Erro de planeamento? Nas perguntas enviadas ao MECI, os deputados do PS indicam que no âmbito do plano do Governo “Mais Aulas, Mais Sucesso”, que visa reduzir o número de alunos sem professores de forma prolongada, uma das metas passa por reduzir em 25 por cento os destacamentos de professores. A medida terá entrado em vigor a Julho de 2024 e os socialistas pretendem que o Governo explique se o indeferimento das licenças especiais de docentes está relacionado com a medida e se houve falhas de planeamento. “O indeferimento de licenças especiais de profissionais do quadro do Ministério da Educação para leccionarem em Macau está relacionado com a medida ‘reduzir as mobilidades estatutárias” apresentada no plano ‘Mais Aulas, Mais Sucesso?’. Se sim, não deveria o Sr. Ministro ter antecipado o problema aqui apresentado?”, é questionado. O PS pretende ainda que o ministro explique a razão de não ter “acautelado” que “os alunos poderiam ficar sem professores” dado que “não há capacidade de contratação local de professores em língua portuguesa”. “Como é que pretende resolver esta questão e assegurar a qualidade educativa oferecida pela Escola Portuguesa de Macau?”, é perguntado. As questões enviadas ao ministério estão assinadas pelos deputados: Isabel Ferreira, João Paulo Rebelo, Rosário Gambôa, Gilberto Anjos, Eduardo Pinheiro, Mara Lagriminha Coelho, Miguel Matos, Palmira Maciel, Sofia Canha, Ana Abrunhosa, Clarisse Campos, Elza Pais, Miguel Cabrita e Patrícia Caixinha. Situação “delicada” O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, admitiu que a Escola Portuguesa de Macau vive um período conturbado, mas garante que o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, está atento ao desenrolar da situação. “A Escola Portuguesa está a atravessar uma fase delicada, que requer um acompanhamento muito atento por parte das nossas autoridades. É uma matéria específica do Ministro da Educação, eu sei que ele está muito atento ao que se passa”, afirmou José Cesário, em declarações prestadas ao Canal Macau. “E nós estamos a articular-nos com ele e a informá-lo sobre o modo como a situação vai evoluindo”, acrescentou. Os pais na EPM queixam-se de falta de professores na instituição, e de dificuldades de recrutamento em Portugal, depois de em Maio vários professores terem sido dispensados.
Governo | Rosário diz que jornalistas e AL foram o mais difícil Hoje Macau - 10 Dez 2024 Na hora da despedida, o secretário para os Transportes e Obras Pública, Raimundo do Rosário, afirmou que a parte mais difícil do seu trabalho foi lidar com os jornalistas e com os deputados. “Vocês e a Assembleia Legislativa. Vocês são a parte mais difícil”, afirmou Raimundo do Rosário, à comunicação social, numa altura em que se prepara para deixar Macau. “Têm sempre críticas contra mim, críticas irracionais. Os órgãos da comunicação social e a Assembleia Legislativa são as partes mais difíceis”, frisou. A postura do secretário não é surpreendente, dado que ao longo dos últimos 10 anos, mostrou-se várias vezes agastado com críticas de deputados e perguntas de jornalistas. Chegou inclusive a afirmar algumas vezes no hemiciclo que os deputados só sabiam criticar. “Ao longo destes dez anos, quando andava sozinho na rua, nunca fui criticado por um residente ou tratado de forma agressiva. Fui sempre recebido com simpatia ou então com silêncio. Portanto, o que quero dizer é que aquilo que encontrei na rua é completamente diferente do que vejo referido nos jornais”, contou. “Nunca recebi queixas dos residentes na rua”, acrescentou. O governante revelou também estar a “fazer as malas” e agradeceu a colaboração das pessoas com quem trabalhou nos últimos 10 anos. “A coisa mais feliz é que estamos quase a terminar todas as coisas importantes. Estou muito feliz e tenho de agradecer aos meus 3.000 colegas pela ajuda e cooperação em diferentes tarefas, incluindo o 5G, habitação económica e social, Metro Ligeiro, pontes, hospital e outras obras. Mais de 90 por cento das construções já foram feitas”, defendeu.
MP | Ip Son Sang afirma que vai continuar “na área judicial” Hoje Macau - 10 Dez 2024 O ainda Procurador da RAEM, Ip Son Sang, afirma que vai “continuar na área judicial”, apesar de ter o futuro desconhecido. As declarações foram prestadas à margem da Marcha por Um Milhão. “A minha profissão é magistrado. Fui Procurador do Ministério Público nos últimos 10 anos, portanto, continuo a ser magistrado. Após deixar o cargo vou continuar na área judicial”, disse o responsável. Sem revelar o seu futuro, que poderá passar pelo Tribunal de Última Instância, de forma a evitar a despromoção, Ip fez ainda um resumo do trabalho feito nos últimos 10 anos e que começou com um dos casos mais mediáticos da RAEM, as investigações contra o ex-superior Ho Chio Meng. “Durante estes dez anos, os trabalhos no MP foram pesados, porque houve vários casos e julgamentos, como é conhecido pelos residentes. Houve até alguns casos que chocaram toda a sociedade, incluindo o caso que envolveu a gestão interna do MP”, reconheceu. “Portanto, reforçámos a fiscalização sobre os magistrados, o prosseguimento e a consulta dos casos bem como o arquivamento das investigações. Tomámos uma série de medidas para fazer estes trabalhos”, realçou. Por outro lado, Ip Son Sang deu uma prova de confiança ao sucessor, Chan Tsz King: “O próximo Procurador trabalhou anteriormente no Ministério Público e mudou-se para o CCAC. Com o regresso de Chan Tsz King ao MP, acredito que vai haver uma mudança necessária no organismo”, destacou.
CCAC | Arquivada investigação à construção de estátua de Kun Iam João Santos Filipe - 10 Dez 2024 O CCAC concluiu não ter poderes para realizar a investigação que tinha anunciado em Outubro de 2023. O recuo foi admitido por Chan Tsz King, sem que se saiba quanto foi pago em compensações pelo não cumprimento do contrato para entregar a gigantesca estátua Chan Tsz King admitiu que o Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) encerrou a investigação à polémica em torno da construção de uma estátua gigante da deusa Kun Iam em Coloane. As declarações foram prestadas pelo futuro Procurador da RAEM, à margem da iniciativa de caridade Marcha por um Milhão. “O caso envolve uma questão relacionada com a tomada de decisões políticas. As investigações abertas pelo CCAC, sobre a estátua, já foram arquivadas, uma vez que a questão teve como base as opiniões da sociedade face ao assunto”, afirmou Chan Tsz King, comissário do CCAC, aos órgãos de comunicação social. “Sobre este tipo de opiniões, após a análise, achamos que o CCAC não tem competências legais para tratá-las”, acrescentou. A estátua da deusa Kun Iam em Coloane foi uma das maiores polémicas a envolver o Governo de Ho Iat Seng, e decorreu no Verão do ano passado, depois de o Executivo ter anunciado os planos para construir uma estátua gigante rodeada por betão numa das poucas zonas verdes do território. Além disso, o projecto, que também incluía a reconstrução de várias zonas perto da Praia de Hac Sá, tinha um custo previsto de 1,6 mil milhões de patacas. Valores não conhecidos Na altura em que o Governo apresentou o projecto, circulou uma petição online que em poucos dias reuniu mais de sete mil assinaturas, ao mesmo tempo que vários “memes” a satirizar a estátua se tornaram virais. Meses mais tarde, em Outubro, o CCAC, pela voz de Chan Tsz King, confirmou ter iniciado uma investigação sobre o orçamento e a forma como todo o projecto foi coordenado pelas autoridades locais. No entanto, aos órgãos de comunicação social, Chan não explicou o motivo para abrir uma investigação a um assunto para o qual considerou meses mais tarde não ter poderes de investigação, nem justificou o desperdício de recursos numa investigação que nesta perspectiva estava condenada a nunca avançar. Além disso, o arquivamento do caso foi anunciado sem que o Governo alguma vez tenha anunciado o custo que teve de ser pago ao autor da estátua, dado que tinha sido assinado um contrato para a prestação do serviço.
Comunidades | Lisboa está a acompanhar mudanças na RAEM Hoje Macau - 10 Dez 2024 O Governo português está a acompanhar as mudanças em Macau e preparado para apoiar os portugueses, disse à Lusa José Cesário. “Sabemos que o território está a passar por mudanças”, sublinhou o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. O novo chefe do Executivo, Sam Hou Fai, irá tomar posse a 20 de Dezembro, dia em que se assinala o 25.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau. “É um momento muito especial”, disse José Cesário, de celebração “de uma forma muito significativa” da transferência da administração da região, de Portugal para a China. “É fundamental que as autoridades portuguesas não deixem de estar presentes (…) para acompanhar estas dinâmicas e, de alguma forma, para darmos algum apoio à comunidade portuguesa que aqui existe em número tão significativo”, disse o secretário de Estado. A última estimativa dada à Lusa pelo Consulado-geral de Portugal em Macau apontava para mais de 100 mil portadores de passaporte português entre os residentes nas duas regiões chinesas de Macau e Hong Kong. Cesário sublinhou que pretende “ouvir muito daquilo é o sentimento” da comunidade, mas confirmou que a passagem “muito breve” pelas duas cidades, que terminou no domingo, não inclui encontros oficiais com dirigentes locais. O secretário de Estado acrescentou que “não há desenvolvimentos” sobre as restrições à autorização de residência para portugueses em Macau. Desde Agosto de 2023 que o território não está a aceitar novos pedidos fundamentados com o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação a Macau.
Função Pública | Juramento e lealdade não preocupa Coutinho Hoje Macau - 10 Dez 2024 A exigência de juramento de lealdade de funcionários públicos, incluindo por portugueses, é matéria do foro da China e de Macau que o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, não comenta. Já Pereira Coutinho, não está preocupado com implicações da proposta que, por exemplo, castiga com despedimento quem caluniar leis aprovadas pela APN A proposta de exigir um juramento de lealdade aos funcionários públicos de Macau, incluindo os de nacionalidade portuguesa, é uma matéria exclusiva da China, disse à Lusa o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. “Essa é uma questão que eu não comento, é uma questão do foro da República Popular da China e das autoridades de Macau”, sublinhou José Cesário. “É uma matéria que nos transcende completamente”, acrescentou o secretário de Estado, que se encontrou no sábado com a direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). O presidente da ATFPM disse à televisão pública de Macau TDM não ter quaisquer preocupações com a proposta apresentada pelo Conselho Executivo. José Pereira Coutinho recordou que desde 2005, quando se tornou deputado, que tem de fazer um juramento semelhante. “Nunca tive algum problema ou que isto viesse causar alguma pressão à minha actividade”, garantiu o português. Pereira Coutinho disse que as mudanças propostas pelo Governo são positivas, uma vez que “não há dúvidas que as alterações introduzidas (…) vêm exigir mais responsabilidade”. Tudo bons rapazes De acordo com as propostas, apresentadas a 15 de Novembro pelo Conselho Executivo, os funcionários públicos de Macau poderão ser demitidos caso pratiquem “actos contrários” a um juramento de lealdade à China e ao território. O porta-voz do Conselho Executivo, André Cheong Weng Chon, alertou na altura que os funcionários públicos podem ser despedidos devido a conversas privadas ou comentários publicados em redes sociais. Por outro lado, a proposta de lei entregue à Assembleia Legislativa elenca vagamente uma série de actos, como “não respeitar o sistema político consagrado na Constituição da República Popular da China (RPC) e na Lei Básica, atacando com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando a RPC ou a RAEM”. O funcionário público será também punido se “não respeitar as competências da Assembleia Popular Nacional e do seu Comité Permanente”, nomeadamente se “atacar com má-fé, denegrindo, caluniando ou ultrajando as leis, interpretações e decisões aprovadas pela APN”. Em 17 de Novembro, Jorge Fão, antigo presidente da ATFPM e deputado, disse à TDM que a proposta pode abrir a porta a demissões sumárias, algo que considerou como excessivo. Na quinta-feira, o deputado Leong Sun Iok, eleito pela Federação das Associações dos Operários de Macau, disse à imprensa local que as alterações devem ter em atenção a presença de funcionários macaenses e portugueses. O papel da ATFPM De acordo com o último Relatório de Recursos Humanos da Administração Pública, em 2023 Macau tinha 34.311 funcionários. O documento não refere quantos têm nacionalidade portuguesa, mencionando apenas que 257 nasceram em Portugal. No sábado, José Cesário entregou a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas à ATFPM. A associação desempenha “um papel muito importante, sobretudo no plano social”, a apoiar “muita gente que trabalhou na função pública de Macau”, sublinhou o secretário de Estado. Na sexta-feira, Cesário entregou também a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas ao Conselho das Comunidades Macaenses e ao grupo de teatro Dóci Papiaçám di Macau, em cujas peças sobrevive o patuá.