Venezuela | Possibilidade de intervenção militar norte-americana no horizonte Hoje Macau - 1 Fev 20191 Fev 2019 Uma nota no caderno de Conselheiro para a Segurança Nacional norte-americano, John Bolton, onde se lê “5000 tropas para a Colômbia”, voltou a trazer para a ordem-do-dia a possibilidade de intervenção militar para mudança do regime de Nicolás Maduro. Entretanto, falando de negócios, Pequim tenta pôr água na fervura ao mesmo tempo que encara o petróleo venezuelano como uma alternativa viável ao crude iraniano [dropcap]O[/dropcap] ambiente de caos continua a ser o prato-do-dia na Venezuela. Enquanto a comunidade internacional se divide entre quem manda no país, uma nota do Conselheiro para a Segurança Nacional norte-americano, John Bolton, acrescentou gasolina ao fogo diplomático. John Bolton, que tem um percurso político extremamente belicista e próximo de lobbies do armamento, já havia ventilado que na questão da Venezuela “todas as opções estavam em cima da mesa”. Uma expressão utilizada para dizer que a intervenção militar é uma possibilidade a considerar. Entretanto, a forma como Bolton “revelou” a frase “5000 tropas para a Colômbia” tem dividido analistas. Há quem diga que se trata de um descuido que pode enunciar um bluff, ou um aviso a Nicolás Maduro, há quem ache que o conflito é uma possibilidade credível. Independentemente da intervenção norte-americana em mais uma operação de mudança de regime na América Latina, Maduro denunciou a possibilidade de haver forças em território colombiano com intenção de invadir a Venezuela. Nomeadamente, militares que desertaram e se tornaram “mercenários”, estando em curso uma conspiração contra Maduro, a partir Colômbia, com o objectivo de dividir o exército venezuelano. “Um grupo de militares desertores, que se tornaram mercenários ao serviço da oligarquia colombiana, conspira a partir da Colômbia para dividir as forças armadas (…). E onde aparecer um traidor, justiça!”, disse Maduro antes de começar uma marcha ao lado de 2.500 militares. Toque de reunião Em cenas transmitidas pela televisão estatal, Nicolás Maduro pode ser visto a andar pela base militar do Forte Tiuna, em Caracas, com os principais comandantes e dezenas de soldados. “Amam a vossa pátria? Defenderão a constituição? Defenderão o seu comandante em chefe?”, perguntou Maduro às tropas, que responderam com gritos: “sim, comandante em chefe!”. Desde que o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se declarou Presidente interino na semana passada, Maduro apareceu quase diariamente na televisão estatal com os seus militares, projectando uma imagem de invencibilidade, mesmo quando a pressão internacional aumenta contra o seu Governo. O Presidente da Venezuela disse à agência de notícias russa RIA Novosti que está disposto a sentar-se com a oposição para dialogar com uma agenda aberta, sobre a “paz e o futuro” do país. As declarações de Nicolás Maduro à RIA Novosti surgem em plena crise política, que se agravou em 23 de Janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional autoproclamou-se Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Maduro. E o petróleo? Com tem vindo a ser frequente nos conflitos armados desde a segunda metade do século passado, a presença de petróleo num país torna-o inevitavelmente mais apetecível em termos de intervenção militar. Se por um lado os recursos energéticos da Venezuela fazem salivar empresas como a Exxon Mobil, que teve como antigo CEO Rex Tillerson, ex-secretário de Estado da Administração Trump, também Pequim está atenta à possibilidade que a Venezuela representa. Como tal, não é de espantar que os importadores chineses de crude olhem com atenção para Caracas, vendo aí uma oportunidade para comprarem petróleo a preços apetecíveis, beneficiando das sanções dos EUA e de menos exportações do Irão, afirmam analistas contactados ontem pela agência Lusa. As sanções impostas pelos EUA às exportações de petróleo do Irão deixaram, temporariamente, a China com um regime de excepção, o que fez com que as petrolíferas iranianas privilegiassem o país asiático nas suas vendas. Mas, os analistas dizem que o clima de crescimento das importações a partir do Irão deverá terminar em 2019 e a China olha para a Venezuela como o país alternativo à sua necessidade energética, antecipando que podem ali comprar petróleo a preços baixos, devido à crise que o país atravessa. “É expectável que o interesse chinês na América do Sul faça aumentar as exportações de crude venezuelano para a Ásia até aos 500 mil barris por dia”, afirmou ontem Lim Jit Yang, director de análise de mercado petrolífero da S&P Global Analytics. Diplomacia oleosa Por outro lado, uma visita do Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, à China, em 2018, abriu caminho a mais intensas relações comerciais na área petrolífera. Em 2018, devido ao regime de excepção à China nas sanções norte-americanas ao Irão, este país tornou-se o sétimo cliente mais importante das refinarias chinesas, que registaram aumentos de importações na ordem dos 30 por cento relativamente ao ano anterior, atingindo números recorde de 506 mil barris de petróleo por dia, segundo dados da S&P Global. Contudo, os analistas consideram que 2019 será um ano de inversão desta tendência, depois de o Irão ter anunciado, em Dezembro passado, que vai diminuir a sua produção, deixando as refinarias chinesas, sobretudo as do nordeste e sudoeste (as principais clientes de crude iraniano) particularmente preocupadas. Ao mesmo tempo, a China não esconde a preocupação com o facto de o Governo norte-americano poder terminar a qualquer momento o regime de excepção permitido à China, nas sanções impostas ao Irão, que abrangem a proibição de venda de petróleo. Perante este cenário, as empresas chinesas importadoras de crude começaram a olhar com muita atenção a capacidade de exportação de petróleo por parte da Venezuela. O interesse cresceu, nas últimas semanas, após o anúncio, de sanções do Governo norte-americano para as importações de crude oriundo da Venezuela, que obrigará a empresa estatal, a PDVSA, a procurar novos mercado, oferecendo preços competitivos. Outros interesses Até ao momento, os principais importadores asiáticos de crude venezuelano encontram-se na Índia, mas as empresas chinesas têm já fortes relações com o país sul-americano e podem intensificar o seu interesse. Contudo, analistas chamam a atenção para o facto de algumas refinarias chinesas não estarem preparadas tecnologicamente para o tipo de crude exportado pela Venezuela, o que poderá arrefecer este interesse. Em contrapartida, a PDVSA aceita pagamentos em euros e em dólares, o que facilita as contas-correntes dos importadores. “A flexibilidade de pagamento e os baixos preços que a empresa estatal venezuelana pode permitir são variáveis importantes para um redirecionamento das exportações em direcção à China”, explica Oceana Zhou, analista sénior da S&P Global Analytics. Para tornar este cenário ainda mais complexo, o interesse chinês pelo crude venezuelano pode ser mal visto pela Rússia, que é o maior exportador de crude para a China e pretende manter, e aumentar, as suas quotas de mercado na segunda maior economia mundial. Em 2018, a Rússia aumentou as exportações para a China em 20 por cento, para 1,44 milhões de barris de crude por dia, reforçando a sua posição de maior cliente energético. As empresas de análise dizem que as expectativas para 2019 são para um crescimento das importações desde a Rússia pelo quarto ano consecutivo, mas referem que a China pode querer diversificar os seus mercados, nomeadamente na Venezuela, beneficiando de preços mais competitivos do que os russos. Em Setembro de 2018, o Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, fez uma visita de quatro dias a Pequim e regressou com 28 acordos bilaterais, incluindo um empréstimo de cerca de cinco mil milhões de euros, para fortalecer a indústria petrolífera venezuelana. O empréstimo, segundo foi anunciado na altura, destina-se a melhorar e a aumentar a capacidade de produção de 300 furos petrolíferos na região de Ayachucho, onde são produzidos milhares de milhões de barris de crude. O acordo previa também que a empresa petrolífera estatal venezuelana PDVSA cedesse 9,9 por cento das suas acções na empresa chino-venezuelana Sinovensa à empresa petrolífera estatal chinesa CNPC (que já detinha 40 por cento das acções).
Crime | Segunda Instância dá razão a Scott Chiang Diana do Mar e João Santos Filipe - 31 Jan 20191 Fev 2019 O Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu ontem razão ao activista Scott Chiang que recorreu da condenação por manifestação ilegal. A decisão em causa versa sobre o processo que envolvia Sulu Sou que decidiu abdicar do recurso para poder retomar funções como deputado [dropcap]O[/dropcap]activista pró-democracia Scott Chiang conquistou ontem uma “vitória” ao ver o Tribunal de Segunda Instância (TSI) dar provimento ao recurso que interpôs da sentença do Tribunal Judicial de Base (TJB) que o condenou, no ano passado, a pena de multa pelo crime de manifestação ilegal. Sulu Sou foi igualmente condenado na primeira instância, mas decidiu prescindir do recurso para regressar à Assembleia Legislativa. “É uma vitória… Foi-nos dado mais um dia para continuar a lutar”, afirmou o activista, numa primeira reacção ao HM. “Vamos esperar para ver o que acontece a seguir, mas mantemos uma atitude positiva”, complementou, referindo-se ao facto de ainda não ser conhecido o conteúdo da decisão. Em cima da mesa há duas hipóteses, segundo explicou ao HM o advogado de Scott Chiang: a nulidade do acórdão do TJB e, por conseguinte, a repetição do julgamento, ou a absolvição do activista. “Como ainda não fui notificado do acórdão não sei qual foi a linha que o tribunal seguiu”, mas “evidentemente que eu queria a absolvição”, afirmou Pedro Leal, sem esconder o “agrado” pela “boa notícia” de que o recurso foi provido. Scott Chiang está preparado para o que der e vier: “Quando decidimos recorrer fizemo-lo porque achávamos que o processo era mais importante do que as pessoas nele envolvidas. Se for preciso repetir o julgamento não há qualquer razão para desistir agora”. O início de tudo Sulu Sou e Scott Chiang foram condenados, a 29 de Maio do ano passado, a uma pena de multa de 120 dias, correspondente a 40.800 patacas e 27.600 patacas, respectivamente. Ambos foram condenados pela prática de um crime de manifestação ilegal no âmbito do processo em que estavam acusados de desobediência qualificada. Em causa estava a deslocação dos activistas a Santa Sancha, onde atiraram aviões de papel, no final de um protesto contra a atribuição, por parte da Fundação Macau, de um subsídio de 100 milhões de yuan à Universidade de Jinan, na China. O protesto, ocorrido dois anos antes, em Maio de 2016, foi convocado pela Novo Macau (da qual Scott Chiang era presidente) que entendia haver conflito de interesses por o Chefe do executivo, Chui Sai On, presidir ao Conselho de Curadores da Fundação Macau e ser, em simultâneo, vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan. Vitória a dois Após a condenação, na primeira instância, Sulu Sou e Scott Chiang recorreram para o TSI. No entanto, mais tarde, o deputado decidiu abdicar do recurso, aceitando a condenação, para poder antecipar o regresso ao hemiciclo. Tal aconteceu no início do Julho, ou seja, mais de 200 dias depois de a Assembleia Legislativa ter deliberado suspender o mandato do deputado, um acto inédito desde 1997. Uma opção que, na perspectiva de Scott Chiang, poderá ter sido “precipitada”, mas que deve ser louvada. “Apesar de Sulu Sou não beneficiar do resultado não deixa de poder reivindicar esta vitória. É um resultado que gostava de partilhar com ele”, afirmou Scott Chiang. “A única razão que o levou a aceitar ficar com registo criminal foi porque colocou a missão de servir a população de Macau à frente dos seus interesses pessoais, abdicando do direito de recorrer para voltar mais cedo à Assembleia Legislativa. Acho que merece todo o respeito por se ter sacrificado para servir os cidadãos”, destacou. Jorge Menezes, advogado de defesa de Sulu Sou, subscreveu: “Sulu Sou foi duas vezes vítima das ilegalidades grosseiras do processo de suspensão na AL: ter ficado meses destituído das suas funções e ter sido praticamente forçado a desistir de um direito fundamental – o direito ao recurso – para servir os interesses da população para que foi eleito”. “Os deputados que votaram a sua suspensão prestaram um péssimo serviço ao Estado de Direito e à justiça”, complementou ao HM. Apesar de se desconhecer ainda o teor do acórdão, o advogado entende que o facto de terem vencido é, em si, “muito positivo”. “Antes de tudo, é a afirmação da coragem e independência do TSI e, portanto, do princípio da separação de poderes”, sustentou Jorge Menezes, apontando que, num processo desta relevância política ter um tribunal a tomar uma decisão favorável a Scott Chiang é um sinal gratificante de saúde e motivo para se estar optimistas quanto à justiça em Macau”. Já Scott Chiang entende ser complicado avaliar se a decisão do TSI transmite um sinal positivo relativamente à independência dos tribunais: “É muito difícil comentar o estado do Inverno a partir de uma única folha, mas é algo que deve ser apreciado”. Independentemente do desfecho em concreto, da decisão do TSI não cabe recurso para o Tribunal de Última Instância.
Segundo romance do músico Sérgio Godinho chega esta semana às livrarias Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]O[/dropcap] cantor e compositor Sérgio Godinho edita esta semana um novo romance, dois anos depois de se ter aventurado neste género literário, desta vez um ‘thriller’, envolvendo desejo e sexo, em torno de uma história de sequestro. Editado pela Quetzal, “Estocolmo” é o segundo romance da autoria de Sérgio Godinho, que em 2017 se estreou com “Coração mais que perfeito”, a primeira incursão na área da ficção longa, depois de ter já publicado um conjunto de contos sob o título “Vidadupla”. Recorde-se que Sérgio Godinho esteve em Macau em 2017, onde foi convidado do festival literário Rota das Letras, tendo apresentado ao público do território o seu primeiro romance. Ao contrário do que se passa na música “Balada da Rita”, ninguém disse um dia à personagem desta história, escrita também por Sérgio Godinho, “Vicente, põe-te em guarda”, mas “é desse ritmo tão próprio” do autor “que nasce o seu novo romance”, descreve a editora. Com chegada prevista às livrarias portuguesas esta sexta-feira, “Estocolmo” é um ‘thriller’ “envolvente e carregado de desejo e sexo” em torno de uma história de “dominação e perversidade, um retrato duro de sujeição e prazer, e de todas as ambiguidades que quase sempre comportam as relações amorosas”, acrescenta. Esta é a história de uma vítima de sequestro que se apaixona pela sequestradora, um fenómeno conhecido como Síndrome de Estocolmo, a que o título da obra alude. Quanto ao enredo, a Quetzal releva que ao responder ao anúncio de um quarto para alugar, o jovem estudante Vicente descobre que a senhoria é Diana Albuquerque, a célebre pivô do telejornal das oito. A estupefacção inicial do estudante rapidamente se transforma numa forte atração mútua. Vicente muda-se para casa de Diana, ocupando o quarto no sótão, e Diana ocupa-lhe a cama, mas um dia o jovem acorda para a estranha realidade de estar trancado no seu novo quarto.
Arábia Saudita executa filipina condenada por homicídio Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]U[/dropcap]ma filipina de 39 anos foi executada terça-feira na Arábia Saudita depois de ter sido considerada culpada de homicídio sob a ‘sharia’, ou lei islâmica, informou hoje o Departamento de Relações Exteriores das Filipinas. “Lamentamos não termos conseguido salvar a vida desta filipina depois do Supremo Conselho Judicial ter classificado o seu caso como um em que não se aplica a fórmula do ‘dinheiro de sangue’ contemplado pela ‘sharia'”, pode ler-se numa nota. De acordo com a lei islâmica, a fórmula conhecida como “dinheiro de sangue” permite a comutação de uma pena capital se a família da vítima for indemnizada. A filipina trabalhava como trabalhadora doméstica na Arábia Saudita, onde há cerca de um milhão de trabalhadores migrantes filipinos que frequentemente sofrem exploração, abuso e assédio às mãos dos seus empregadores. Durante o processo judicial, a embaixada filipina em Riade forneceu à ré assistência legal, enviou representantes para a visitarem em prisões e manteve a sua família regularmente informada sobre o andamento do caso. O Departamento de Relações Exteriores não forneceu, contudo, informações sobre quem foi a vítima do homicídio, nem sobre as circunstâncias do crime, alegando o pedido de privacidade da família. Em Novembro, as Filipinas repatriaram Jennifer Dalquez, que trabalhava como empregada doméstica nos Emirados Árabes Unidos (EAU), após ser absolvida da acusação de homicídio contra seu empregador, num julgamento em que arriscava também a pena de morte. Dalquez tinha matado o seu empregador em legítima defesa, quando este a tentou violar, ameaçando-a com uma arma branca. A filipina passou quatro anos na prisão. De acordo com as autoridades, cerca de três mil filipinos saem do seu país todos os dias com contratos de trabalho temporários no exterior, muitos deles em países árabes, onde as mulheres geralmente trabalham como trabalhadoras domésticas e homens no setor de construção. Cerca de dez milhões de filipinos são trabalhadores migrantes no exterior e o envio de contas de remessas contribuiu para mais de 10% do PIB filipino.
Lucros do BNU descem 17% em 2018 para mais de 500 milhões de patacas Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]O[/dropcap]s lucros do Banco Nacional Ultramarino (BNU) desceram 17% em 2018, para 585 milhões de patacas, indica o balancete ontem publicado no Boletim Oficial. Em 2017, o banco, do grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), tinha registado lucros de 706 milhões de patacas. De acordo com o balancete, a 31 de Dezembro passado, o BNU registou proveitos de 1,7 mil milhões de patacas e custos de 1,1 mil milhões de patacas. No primeiro semestre de 2018, os lucros do BNU registaram uma descida de 3,15% para 311 milhões de patacas, em relação ao mesmo período de 2017.
Segurança nacional | “Dois sistemas” não condiciona responsabilidade de “um país” Diana do Mar - 31 Jan 2019 [dropcap]N[/dropcap]o âmbito da defesa da segurança nacional, “a RAEM assume a sua responsabilidade de ‘um país’, não ficando este condicionada pela parte dos ‘dois sistemas’”. Foi o que afirmou o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, citando instruções do Chefe do Executivo, de acordo com um comunicado oficial. A declaração foi proferida num encontro recente, em Santa Sancha, entre Fernando Chui Sai On e o vice-ministro permanente do Ministério da Segurança Pública da China, Wang Xiaohong, em que Wong Sio Chak marcou presença, segundo uma nota do gabinete de Fernando Chui Sai On, divulgada ontem, que não especifica, porém, quando teve lugar. O secretário para a Segurança garantiu ainda que “os serviços da sua tutela vão proceder adequadamente aos trabalhos e prestar plena colaboração” no âmbito dos preparativos da “dupla celebração”, ou seja, dos 70 anos da implantação da República Popular da China e dos 20 anos da RAEM. O Chefe do Executivo realçou, por seu turno, que, além da “dupla celebração”, “torna-se indispensável o apoio do Ministério da Segurança Pública”, dado que, no final do ano, também haverá mudança de Governo. Já Wang Xiaohong mostrou-se “satisfeito” por trocar impressões com o Chefe do Executivo, segundo a mesma nota, tendo observado que a RAEM “vem alcançando grandes avanços e sucesso em todas as vertentes desde que regressou à pátria há 20 anos”.
A confiabilidade da inteligência artificial (II) Jorge Rodrigues Simão - 31 Jan 2019 “A robot can acquire thousands of pieces of information about its environment through its sensors in a second—more accurate and detailed information than you or I ever could—and it will still drive off a cliff or into a wall unless you tell it not to. Robots are not really stopping at a wall. They are stopping (if you remember to tell them to) when they sense something using a very particular sensor” Sensors and the Environment (Robotics) Ian Chow-Miller [dropcap]A[/dropcap] quarta área-chave contende com a localização e rotulagem tendo em vista ensinar as máquinas. A IA responde à grande questão sobre os dados, que foram definidos em 2018, ou seja como transformá-los em valor. A principal prioridade de dados relacionados à IA para 2019, é integrar os sistemas de IA e de análise para obter informações de negócios a partir dos dados, o que constitui um objectivo realista. A IA pode ser usada com dados e análises para gerir melhor os riscos, ajudar os trabalhadores a tomar decisões mais eficientes e automatizar as operações dos clientes. Todavia existe uma grande dificuldade, pois as pesquisas indicam que as empresas não estão a fornecer a base que a IA precisa para ter sucesso. É de considerar que menos de um terço dos líderes empresariais afirmam que os dados de rotulagem são uma prioridade para os seus negócios em 2019. A grande questão é de saber como a IA aprende. A aprendizagem de máquina para detectar padrões significativos no presente e prever o futuro, deve passar por um processo de ensino e mostrar dados históricos suficientes sobre o comportamento do consumidor, por exemplo, se eventualmente será capaz de prever como esses consumidores se comportarão no futuro. Mas, para criar conjuntos de dados necessários para o treino é necessário rotular os dados, e um exemplo simplificado é determinar se um consumidor está satisfeito ou não. É de atender que para que esses conjuntos de dados possam ajudar a suportar a IA em toda a empresa (os consumidores podem interagir com mais de uma linha de negócios) é preciso criar padrões para rotulá-los de forma consistente. Um AI CoE pode criar e monitorizar padrões de dados, bem como desenvolver sistemas e processos que facilitam os trabalhadores a criar conjuntos de dados rotulados e úteis para uso futuro. A questão de novas ferramentas para preencher as lacunas passa pelo facto de que mesmo com uma melhor governança de dados, haverá desafios. Alguns problemas de negócios têm soluções de IA que exigem dados de treino que as empresas podem não ter disponíveis, mas novas técnicas de aprendizagem de máquinas simples e alargadas podem permitir que a IA produza os seus próprios dados com base em algumas amostras. e também podem transferir modelos de uma tarefa com muitos dados para outra que não tenha dados. Às vezes, a IA pode sintetizar os seus dados de treino usando técnicas como aprendizagem por reforço, aprendizagem activa, redes geradoras de adversários e gémeos digitais. As simulações baseadas em probabilidades, também podem criar dados “sintéticos” que podem ser usados para treinar a IA. Há que dar atenção à política, pois o cenário da política da IA ainda está a dar os primeiros passos e muitos formuladores de políticas, vêem esse momento como o início de uma corrida armamentista da IA que precisa de financiamento público e desregulamentação, enquanto outros estão a pedir directrizes abrangentes que abordem algoritmos éticos. O Regulamento Geral sobre a Protecção de Dados (RGPD) (UE) 2016/679, é um regulamento de direito europeu sobre a privacidade e protecção de dados pessoais, aplicável a todos os indivíduos na EU e Espaço Económico Europeu (EEE). Regulamenta também a exportação de dados pessoais para o exterior da UE e EEE. O RGPD tem como objectivo dar aos cidadãos e residentes, formas de controlar os seus dados pessoais e unificar o quadro regulamentar europeu e a Lei de Privacidade do Consumidor da Califórnia (CCPA na sigla em língua inglesa) são legislações diferenciadas, mas dão aos indivíduos o direito de ver e controlar como as organizações recolhem e usam os seus dados pessoais, bem como reclamarem, recorrerem ou demandarem caso sofram danos devido a violações da segurança cibernética. As empresas devem adoptar uma abordagem global para questões reguladoras, harmonizando equipas que estão a ajudar a moldar políticas em diferentes jurisdições e a abordar a conformidade, aplicando as práticas recomendadas globalmente e de acordo com o GDPR, por exemplo, mesmo que sua empresa não tenha operações na Europa, estará disposto a fazer uso de práticas do CCPA e outras regulamentações futuras. A quinta área-chave diz respeito à reinvenção, monitorizando a IA através da personalização e maior qualidade. O aumento do limite superior e inferior do conhecimento e produtividade com a IA não é um sonho distante e muitas empresas estão a usar a IA para melhorar as operações e aperfeiçoar a experiência do cliente, mas em 2019, vários deles planearão ou desenvolverão novos modelos de negócios baseados em IA e investigarão novas oportunidades de rendimento, bem como muitos cultivarão esses novos negócios em partes separadas da sua organização, distintos dos CoEs que são mais focados internamente. Os maiores ganhos da IA, vêm de melhorias na produtividade, pois as empresas usam a IA para automatizar processos e ajudam os trabalhadores a tomarem melhores decisões. A maioria do impacto económico da IA virá do lado do consumo, através de produtos e serviços de alta qualidade, mais personalizados e mais orientados a dados. A saúde, venda a retalho e indústria automobilística podem ter benefícios imediatos. A IA na saúde, por exemplo, poderá permitir novos modelos de acordos baseados na monitorização de dados de estilo de vida do paciente; diagnósticos mais rápidos e precisos de cancro e outras doenças, bem como seguro de saúde personalizado e adaptativo. Os vendedores a retalho estão a usar a IA para antecipar tendências e orientar os negócios com o fim de atingir os seus objectivos. A próxima fase é a venda a retalho hiper-personalizada, pois a IA e a automação tornam viável aos vendedores a retalho oferecer um número crescente de produtos ou serviços feitos especificamente para um indivíduo. A partir do terceiro trimestre de 2018, existiam novecentas e quarenta empresas de IA nos Estados Unidos. O investimento em capital de risco nos Estados Unidos, que é privado, abrange setecentas e noventa empresas, representando seis mil milhões e seiscentos milhões de dólares nos três primeiros trimestres de 2018, comparados com os três mil milhões e novecentos milhões de dólares no mesmo período de 2017, e nem todo esse dinheiro está a fluir da estrada arterial no oeste do Vale do Silício, Califórnia, e das empresas de capital privado, pois os valores recordes vêm de corporações, seja através de recursos de capital de risco ou investimentos directos. É de considerar que em 2018, cerca de novecentos e trinta e oito milhões de dólares foram investidos por empresas que procuram investir fora do desenvolvimento da IA. O investimento, para desenvolver a IA, é uma tendência que se prevê de aceleramento, mas não o suficiente. Apenas 8 por cento das empresas americanas estavam a fazer investimentos directos e significativos em IA e outras 52 por cento das empresas americanas procuravam aquisições ou alianças, em 2018. A sexta área-chave refere-se à convergência que combina a IA com a Inteligência Analítica e a IoT. O poder da IA cresce ainda mais quando é integrado a outras tecnologias, como a Inteligência Analítica, Planeamento de Recurso Corporativo (ERP na sigla em língua inglesa), (IoT), Protocolo da Confiança e até eventualmente, Computação Quântica. Os benefícios dessa tendência de convergência não se limitam à IA, que é de onde os maiores ganhos de todas as oito tecnologias essenciais virão, sem descurar que 36 por cento dos líderes empresariais afirmam que gerir a convergência da IA com outras tecnologias é um dos principais desafios da IA para 2019, colocando-a em pé de igualdade com a reciclagem de trabalhadores, abaixo da garantia da confiança na IA. Ajudar a análise avançada, preditiva e de fluxo de média a evoluir ainda mais com IA é uma prioridade comum. A convergência pode tornar os novos modelos de negócios baseados em dados mais poderosos. A IoT também pode colher grandes benefícios quando combinada com a IA. Uma grande empresa pode em breve ter milhões de sensores de IoT, reunindo informações de equipamentos comerciais e dispositivos de consumo. A IA e a análise desempenharão um papel crítico na localização de padrões nessa onda de dados para suportar tudo, desde a manutenção de sistemas até à penetração de marketing. A IA incorporada contém os conjuntos de componentes electrónicos da IA directamente ligados aos dispositivos de IoT para criar inteligência local, ajudará a enfrentar esse desafio. A integração bem-sucedida da IA com outras tecnologias começa com os dados. As organizações que investiram na identificação, agregação, padronização e rotulagem de dados, com a infra-estrutura de dados e o seu armazenamento como respaldo estarão bem posicionadas para combinar IA com análises, o IoT e outras tecnologias. No entanto, para integrar a IA a outros sistemas corporativos, os especialistas terão que convergir também. Em vez de cientistas de dados concluírem um algoritmo e depois entregá-lo a um especialista em TI para codificar uma Interface de Programação de Aplicações (API na sigla em língua inglesa) ou enviá-lo para alguém da empresa que o aplicará, devem trabalhar juntos desde o início do processo. A grande parte da resposta envolve técnicas de Desenvolvimento e Operações (DevOps), que colocam equipas de desenvolvimento e operações em um ciclo de retorno da informação ou processo para colaboração constante e mudanças interactivas para novos produtos. A outra parte envolverá a criação de novas funções para os trabalhadores servirem como tradutores e contactos entre as várias equipas. É importante considerar como é a IA integrada a tecnologias e sistemas avançados que funcionam ininterruptamente, em que os seus algoritmos precisarão de um fluxo contínuo de novos dados para aprender. Caso contrário, os modelos de IA estarão a trabalhar com dados desactualizados, o que prejudicará o desempenho da IA. Os modelos também precisarão de testes, actualizações e substituições regulares. O presente ano é o tempo de se pensar em ocupar e estabelecer a estratégia da IA. A IA precisará da sua estrutura organizacional e planos de força de trabalho; algoritmos confiáveis e dados correctos para treinar esses algoritmos; um plano para reinventar o negócio e aumentar a receita e os lucros; e convergência com outras tecnologias existentes e emergentes. É uma lista de tarefas ambiciosa. Mas as empresas que estabelecem as suas prioridades também se diferenciam.
Uma gota de glitter (continuação) Gisela Casimiro - 31 Jan 2019 [dropcap]C[/dropcap]arey tem sentido de humor e como tal teve gémeos, tem um alter ego, dois álbuns a lutar pelo primeiro lugar e será das artistas com maior número de colaborações de sempre, o que demonstra a sua generosidade e adaptabilidade não apenas social mas também musical. De Luther Vandross a Boyz II Men, de Skrillex a Slick Rick (a quem todo e qualquer rapper terá ido buscar alguma coisa) e Ty Dollar Sign (no mais recente e delicioso álbum, Caution) a Pharrell Williams, Sean “Puffy” Combs, Jermaine Dupri e Mobb Deep nos primórdios da sua carreira, sem esquecer a mítica e disruptiva colaboração com Ol’ Dirty Bastard, Mariah fez e cantou de tudo e com todos, destacando sempre o seu amor por Wu Tang Clan e o quanto aprendeu com Bone Thugs-n-Harmony. Anitta, a actual mandante do funk brasileiro, inspirou-se no look de Carey que agracia a capa de Rainbow para sua fantasia do Carnaval que aí vem, à guisa do que Beyoncé tem feito com as suas homenagens a Lil’ Kim ou Toni Braxton no Instagram. Beyoncé, que será talvez a única das cantoras actuais que Carey menciona em entrevistas, afirma, “Diva is a female version of a hustler”. Quando lhe perguntaram sobre Jennifer Lopez, Carey respondeu “I don’t know her”, o que ao longo do tempo se tornou uma piada e até merchandising, tomando agora a forma de “I still don’t know her”, cortesia de antigas disputas causadas por supostos roubos de ideias para canções da Columbia Records já depois da saída de Carey, e para beneficiar Lopez. A eterna rainha do Natal, talvez tudo o que Carey queira este ano seja esse reconhecimento como autora/escritora. Cantora de origens mistas, filha de um casal em que o pai era negro com raízes venezuelanas e a mãe branca, com origens irlandesas, Mariah (a terceira filha de um casamento mal visto pela sociedade da altura, cujo preconceito criaria tensões que levariam ao divórcio) nunca se considerou branca, embora tenha lidado, nem sempre bem, com essa one drop de sangue negro, e embora tivesse lutado para aceitar-se e ser aceite, quando a sua aparência branca com voz negra foi usada para mass appeal. Quando se libertou finalmente, a borboleta de Nova Iorque pôde mostrar as suas influências, que iam desde Jimmy Hendrix a Def Leppard ou à sua mãe, cantora de ópera. O que é um ídolo? Pode Mariah, a cantora que mais me ensinou sobre gangster music, que chegou a alguns número um primeiro nos tops de R&B, antes das demais tabelas, ser definida como um ídolo pop, quando tem canções para todos os sentimentos e situações possíveis, abrangendo uma miríade de géneros? Definitivamente, não. Receamos sempre o dia em que os nossos ídolos vão deixar-nos. Tal como outros, também chorei Cohen, Bowie, Prince. Mas quando desapareceram Jackson e Houston, foi pela obsessivamente perfeccionista Carey que temi. Se estivermos vivos tempo suficiente, tudo pode, eventualmente, acontecer-nos. Carey não falhou as polémicas do playback, dos colapsos nervosos em público, dos casamentos falhados, dos dramas familiares, das cirurgias e flutuações de peso, dos excessos que um sucesso fora de série parece sempre acarretar, numa proporção assustadora de tão directa. Mas também não falhou a redenção que We belong together ou seu aclamado papel em Precious ou lhe trouxeram. A par de Britney, com a devida salvaguarda do que as diferencia, mas que continua a ter fãs eternos e também passou por um escrutínio que quebraria o mais forte de nós, Mariah será talvez um dos poucos casos de real morte e ressurreição nesta indústria que esquece, permite e perdoa tão mais e mais rapidamente a homens, geralmente com agravantes bem mais negros do que os que estas duas figuras alguma vez poderão ter (veja-se Chris Brown ou R. Kelly e os recentes comportamentos preocupantes de Drake em relação a menores). Falando em comparações, recordemos o que disse a saudosa Houston (com quem poderíamos fazer um paralelismo com Amy Winehouse ou Lady Gaga): “Mariah is Mariah”, e talvez isso seja a única e a melhor coisa que alguém pode esperar de si mesmo e dos outros. Haverá luta mais dura, importante e recompensadora do que a de nos conhecermos e superarmos? Talvez a humanidade e a imperfeição sejam, a par do carisma e da centelha divina das suas vozes, o que faz um ícone. Como diz o ditado, it takes one to know one e, se Houston é The Voice, Carey é The most. Agora, se me dão licença, vou voltar a João Barrento, um outro tipo de ícone, pois ainda tenho muito que aprender.
A ilusão e as asas da perdiz Luís Carmelo - 31 Jan 20197 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap] brincadeira de excelência da minha gata tem o nome dos predadores: coloca as patas da frente em posição de recolher a presa e depois marca os dentes. Não magoa nada, mas passa o tempo nesta ribaldaria. Ela sabe quem é (e ao que vem) e raramente se ilude, mesmo quando anda atrás de um lápis e o coloca em imparável movimento sobre o soalho. Nós, humanos, somos diferentes. Gostamos mais daquilo que não somos e andamos uma vida inteira a tentar perceber quem somos. O desejo profundo de nos iludirmos, o afinco pelo ‘trompe l’oeil’, a entrega àquilo que não somos ficam-se sobretudo a dever ao facto de conhecermos a nossa condição de mortais, facto que inexoravelmente escapa à minha gatinha. Da ilusão provém quase tudo o que carregamos no nosso marsúpio existencial: deus, cinema, net, televisão, futebol, literatura, games, fantasias, meta-ocorrências e, às vezes, até as amizades. Estas astúcias que adoram misturar ‘aquilo que é’ com ‘aquilo que não é’ fazem os embriões mais profundos da nossa espécie rejubilar. Nascemos convencidos de que uma árvore pode ser uma ideia e de que o bater de asas de uma perdiz pode ser um sinal. Curiosamente, no mundo pré-moderno, as sociedades viam-se ao espelho através de uma única imagem. As palavras de ordem convergiam e o altar das nações providenciava deveres estritos e claros. A ilusão gravava o rosto do imperador, a crucificação de cristo ou uma imagem da “História” muito bem cimentada e o sentido das coisas ficava assim inscrito. Todos nós provimos deste tipo de mundos. As genealogias ficam registadas na pele. Em criança foi nestas atmosferas que vivi e não foi assim há tanto tempo. Por lá habitava quase tudo o que hoje condenamos e consideramos desprezível, enquanto comunidade. Nas sociedades abertas da actualidade não há mais espaço para diagnósticos únicos. A visão que uma sociedade tem de si baseia-se em inúmeras imagens não sobreponíveis, por vezes incongruentes, e não numa uniformidade ideal. O que resultará desta liberdade é fabuloso, mas o que decorre da imprecisão remete, por vezes, para o teor da fábula (entendendo-se por fábula uma história possível que apenas existe na minha cabeça em estado volátil, contrapondo-se à ideia de uma narrativa bem definida que poderíamos designar por enredo). Nesta transição de mundos, a idealidade foi perdendo espaço, mas o mundo da fábula e da errância ganhou terreno (os meus alunos, em fim de licenciatura bolonhesa, mal sabem distinguir a primeira da segunda grande guerra mundial). Em alternativa, também se poderá dizer que a idealidade foi adquirindo novas formas, transpondo-se da imagem única que antes era dada a partir do vértice (damos como exemplo a exposição do mundo português de 1940) para uma espécie de ziguezague, ou de zapping, que tenta preencher os muitos vazios deixados pelo caminho. É por isso que, nas últimas três décadas, surgiram formas de agir totalmente novas que passaram a integrar o mundo quase como uma norma (ou seja; surgiram e trouxeram consigo uma adenda de ‘dever ser’): o mundo dos ginásios, os corpos perfeitos, as utopias ecologistas, os hábitos alimentares, o culto do património, as correcções do género e dos costumes, a perdição da instantaneidade, o mito da interacção, o consumo pelo consumo, os caprichos do chamado “tempo real”, etc., etc. Neste volte-face em que se perderam referências (os media passaram a reduzir as escalas de tempo à medida dos acontecimentos frugais) e formas de dever rigorosas, ganhou-se em pluralidade e em individualidade, mas nem sempre em subjectividade, pois a formatação e o fluxo permaneceram enquanto medida. Se lermos os romances que integram a Tetralogia Lusitana de Almeida Faria, escritos entre o início dos anos sessenta e o início dos anos oitenta (Paixão, Cortes, Lusitânia e Cavaleiro Andante), percebemos como os grandes acontecimentos nunca saíam de cena (eram realmente referências), apesar de serem sempre desafiados pelos pequenos acontecimentos do dia-a-dia. Esta tensão, no nosso tempo, quase se eclipsou, apesar de o acesso (aparente) aos acontecimentos que escapam à nossa experiência pessoal ter aumentado imenso no último século. Em contrapartida, a natureza dos acontecimentos pouco variou em proporção. Ainda que, felizmente, as nossas sociedades tenham desistido de caminhar no sentido de um clímax ou de um ponto ómega da “História”, o desejo profundo de nos iludirmos terá praticamente atingido o seu auge. A nossa condição de mortais, a tal condição que escapará à minha gatinha, parece hoje viver apenas na net e na televisão, lá onde têm lugar as guerras, seja noutras áreas reais do planeta real, seja sobretudo nas séries ficcionais mais aplaudidas. Como se tudo fosse feito da mesma massa. A felicidade é, muitas vezes, uma ilusão generosa que é vivida até aos limites sem que estes se dêem claramente a ver. Antes isso, pois a felicidade absoluta, tal como os gatos com asas de perdiz, é coisa que não existe. Nem nunca existirá.
A inocência e a plenitude António Cabrita - 31 Jan 2019 27/01/2019 [dropcap]U[/dropcap]ma rede de olhares mantém unido o mundo, não o deixa cair. As palavras são forcas onde aos poucos penduro a razão. Pago em goles de sangue pela respiração. Temos sede, pressa e golpeamos com o osso de uma flor na treva. O cervo vai a beber e na água aparece o reflexo de um tigre: o cervo bebe a água e a imagem e torna-se igual ao seu inimigo; só damos vida ao que odiamos. Todos os que têm pontos de referência no espírito, quero dizer de certo lado da cabeça, em zonas bem delimitadas do cérebro, todos os que dominam a sua linguagem, todos aqueles para quem as palavras têm sentido, quantos crêem que existem alturas na alma e correntes no pensamento, os que são o espírito da época e assim designaram essas correntes de pensamento, penso nos seus trabalhos precisos e nesses guinchos de autómato que a todos os ventos empresta o seu espírito – são uns porcos. Esta rede de versos e estrofes de diversos poetas que traduzi e que montei acima é a minha rede de caboclo que não deixa cair o meu mundo. Durante dois ou três anos traduzi dezenas de poetas e várias línguas, só para não me exasperar e recuperar o humor nas flutuações da minha vida em Maputo: os poemas funcionam como respiradores. Um terço deles, num volume de quase duzentas páginas, onde antologio vários dos meus poetas hispânicos, vai conhecer edição, pela Letra Livre, que agora me propôs isso. Foi um bom convite. Aqui deixo dois poemas transcriados por mim e de que gosto muito. O primeiro é de José Ángel Valente: ÚLTIMA REPRESENTAÇÃO A parlar d’ira, a ragionar di morte. Rime:CCCXXXII Os deuses/ desta Primavera/ não me foram propícios/ e cautelosamente os execro, mãe/ incógnita, blasfémia, fonte do rogo.// Dispuseram os seus praticáveis negros/ sobre o tablado./ Começa o espectáculo,/ mas só um final se representa. // Ao centro da cena, um homem/ ou a figura de um homem/ de macilentos zigomas ostenta/ uma pesada cornadura./ Por cada um dos cornos/ faz beber sujos detritos líquidos/ à sua exânime estirpe.// Excremental o homem./ Nada / com ele nem nele podia/ crescer, multiplicar-se./ Nem sequer o pranto./ Povoai a terra./ Oh deuses,/ desatino sem fim, sem fundo, o deste sonho. // Fita as lamparinas, deslumbrada,/ a mulher nua que alumia/ com uns límpidos e ofuscados olhos o nada. // Começa a cair o pano./ A sombra/ ameaça cair outra vez sobre a sombra. // Só eu aplaudo, na sala apinhada/ de espectadores mortos. O segundo é de um tremendo poeta flamengo, Hugo Claus: Sexta, 14 de Novembro, aniversário de Dante,/ laureava no meu jardim, o crepúsculo estava clemente,/ e cismava em Dante. /Sou assim feito, penso em Dante sem parar./ Tenho qualquer coisa dele, acho. Em moderado.// Então chegaram os dogues voadores numa nuvem de enxofre/ penas e ganidos, mesmo aos meus pés. /Vazados, como num fragmento de Canto, / essa corja abateu-se sobre o meu relvado / e pôs-se a esgaravatar e a gralhar num chavascal / odioso, um verdadeiro pesadelo,/ as penas espalhavam-se ao quintal dos vizinhos/ entre os seus moinhos miniatura e os seus gnomos./ Depois, de repente, eclipsaram-se. Uma verdadeira visão de Dante.// Escutem, eles deviam evidentemente ter-se contido./ Acreditem-me, uma fúria daquelas,/ aquela crepitação de garras e asas, mais a berraria / e o pivete que se entranhou por semanas no vestuário,/ não, como erudito, aquilo agradou-me pouco.// Sobretudo, e é disso que se trata, que o meu móbil / tenha passado por um momento tão indigno, que digo eu,/ eles chamaram-lhe um figo – tragaram-no.// Tinha-o construído eu mesmo, à Calder, airosa e / ingenuamente suspenso em cores primárias,/ um triângulo, um círculo e um quadrado: eis tudo,/ que era também, por acaso, o tudo/ a que eu chamava o meu “Universo”, /pois não simboliza o triângulo o corpo/ físico, oral e mental, / e não é o quadrado a água o ar e o fogo e a terra, / e não é o círculo, digo bem, o círculo, unicamente / a realidade terminal? / Aos três elementos, ligados por um esvoaçante fio de ferro,/ tinha-os pintado de rosa, a dar para o salmão, /com o seu quê de elegante.// Como eu disse aos polícias: «Essa bicheza / comezinha e irresponsável não apenas demoliu / e se empanturrou com uma obra onde eu in-ves-ti / anos de trabalho manual, mas também com a projecção da minha alma e da minha ética./ E quem, meus Senhores, me poderá alguma vez indemnizar?»// «Caro Senhor», disseram os polícias, «o infinito / contém em si múltiplos elementos informes».// Eles anotaram a minha queixa. Queixa /contra uma grandeza desconhecida /de digestão infinita. / Odeio a minha mulher e os meus rebentos./ Dante é a minha única consolação. 28/01/2019 Escreveu Paul Auster: «Aquilo que admiro em Perec é a rara combinação, na sua obra, de inocência e de plenitude. É raro encontrar estas duas qualidades juntas num mesmo autor. Cervantes possuía-as, Swift e Poe também; e há vislumbres delas em Dickens e Kafka. Por inocência entendo uma pureza de intenção absoluta. A plenitude traduzo-a por uma fé absoluta na imaginação. É uma literatura caracterizada pela efervescência, um riso demoníaco, a alegria. Não é a única experiência que podemos obter com os livros, mas é a experiência fundamental, aquela que rende possível todas as outras», e eis, aliás, o que eu gosto nos dois. E é o sentimento de termos logrado esta feliz combinação que pode tornar jubilosa a conclusão de um romance. Foi o que me aconteceu agora com A Porta Entornada, o romance que dei por terminado, onde pela segunda vez julgo ter conseguido criar um mundo autónomo, com personagens à altura dessa dimensão “marciana”. Estou um pouco arrombado, mas feliz.
Venda de porcos portugueses para a China deve atingir 100 milhões de euros Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]O[/dropcap]s produtores portugueses começam ontem a exportar carne de porco para a China, através de três matadouros, um negócio que deverá movimentar 100 milhões de euros, com cerca de dez mil animais abatidos por semana. “Esta primeira encomenda é de dez contentores. Em termos anuais, estamos a falar de um volume de negócios de 100 milhões de euros e cerca de dez mil animais, por semana, abatidos e transformados”, disse à Lusa, na segunda-feira, um dos membros da direção da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), Nuno Correia. No total, através do Porto de Sines, distrito de Setúbal, os dez contentores vão transportar 270 toneladas de carne, no valor de um milhão de euros, para província chinesa de Hunan. Porém, “é muito provável que haja uma actualização destes valores, a partir de Setembro, já que a China está a dar indicações de querer antecipar os números em vista para 2020”, prevendo-se assim uma movimentação de 200 milhões de euros. Inicialmente, o arranque das exportações estava previsto para Dezembro. No entanto, o tráfego de contentores provocado pela greve dos estivadores eventuais de Setúbal acabou por atrasar o processo. “Foi um caminho difícil, mas, finalmente, vamos dar início à exportação de carne de porco portuguesa para a China. Portugal tem que exportar para crescer e para chegar à auto-suficiência e a China vai [contribuir] para esta estratégia de internacionalização do país”, vincou, na altura. O acordo em causa foi celebrado com o ACME Group, ficando o ICM, a Agmeat e a Montalva responsáveis pela exportação. “Para já, queremos também que estes matadouros possam exportar outras partes do porco, nomeadamente, as unhas, as orelhas e as miudezas”, acrescentou. Adicionalmente, até Setembro, vai ocorrer uma nova vistoria para tentar homologar mais três matadouros em Alcanede, Montijo e Lisboa. O bom mercado O início das exportações de suínos portugueses para a China vai ser assinalado numa cerimónia oficial que vai contar com a presença do ministro da Agricultura, Capoulas Santos, e do embaixador da China em Portugal, Cai Run. Nuno Correia adiantou ainda à Lusa que, na sequência do recente encontro entre a FPAS e o Governo de Hunan, ficou acordado que Portugal vai ter um centro de demonstração e degustação dos produtos portugueses, como o vinho, a fruta e também a carne de porco. “Tenho a certeza de que este é um passo de gigante. Dá alternativa aos produtores portugueses para venderem os seus produtos num mercado bastante apetecível, com volume e com preços muito interessantes de venda”, afirmou. A conclusão deste centro está prevista até ao final de 2019, a partir daí, “a própria província dará todo o apoio ao desenvolvimento e promoção da entrada dos produtos portugueses”. Fundada em 1981, a FPAS é uma associação sem fins lucrativos que visa o estudo e acompanhamento dos problemas relativos à suinicultura.
Xangai | Polícia encerra clube privado de acompanhantes masculinos Hoje Macau - 31 Jan 2019 O Perfect Space operava num dos bairros mais luxuosos da capital financeira chinesa. Oferecia serviços de acompanhantes masculinos a uma clientela exclusivamente feminina. Imagens, que se tornaram virais na internet, de uma festa de aniversário de um dos acompanhantes, levaram a polícia a encerrar o local [dropcap]A[/dropcap] polícia chinesa encerrou um clube privado para mulheres em Xangai, depois de fotos de um dos acompanhantes masculinos, com prendas de luxo, se terem tornado virais nas redes sociais, avançou ontem a imprensa local. “O clube foi encerrado pela polícia no sábado”, confirmou ontem a esquadra local, citada pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post. O encerramento surge depois de uma mensagem, partilhada na conta oficial do clube, designado Perfect Space, se ter tornado viral na Internet chinesa. A mensagem inclui fotos da celebração do 28.º aniversário de um dos acompanhantes, com 28 prendas, oferecidas por uma das mulheres que frequentam o clube. Entre as prendas, destaca-se um carro da Audi, um copo em ouro e 280.000 yuans em dinheiro. A ostentação despertou a curiosidade de vários internautas, que acabaram por expor mais informações sobre o espaço, que no portal oficial se apresenta como um “clube privado para mulheres, localizado no bairro mais próspero do centro de Xangai”. O portal detalha que o espaço tem 1.600 metros quadrados e 19 “quartos VIP”. “Prometemos estar ao nível do seu status”, pode ler-se na página electrónica. Fotos no portal mostram a palavra “amor”, escrita em luzes de néon cor-de-rosa, num dos salões do clube, com balões e buquês, e uma estátua de um cavalo branco na entrada. Em chinês, o nome do clube significa “cavalo branco”. Em inglês, o espaço chama-se Perfect Space. Junta-te à festa Os internautas revelaram ainda um anúncio de recrutamento, publicado na conta oficial do clube, em 2016, para “modelos masculinos comerciais”. O anúncio oferece 1.000 yuan em gorjetas sempre que um dos modelos “entretiver” uma mulher, para além de um salário base mensal de 80.000 yuan. O salário mínimo em Xangai, a “capital” económica da China, está fixado em 2.420 yuan, o mais alto do país. Para trabalhar no Perfect Space era preciso “ter mais de 180 centímetros de altura, ser bonito, elegante, limpo e bem-disposto”. “O trabalho é fácil e relaxante, simplesmente consiste em acompanhar as convidadas a beber e conversar, sem nenhuma actividade ilegal envolvida”, lê-se num dos anúncios, difundidos nas redes sociais chinesas. Uma foto com duas filas de homens em tronco nu, no corredor do clube, ilustra o anúncio. Uma das mulheres citadas pelo SCMP explicou que “as pessoas frequentam aqueles clubes por necessidade emocional”. “Não é algo tão flagrante como sexo”, afirmou. Registos públicos revelam que o Perfect Space foi registado com o nome Shanghai Wangzhongde Dining Services, em 2012, com um capital social de 200.000 yuan. O mesmo documento classifica o espaço como um “espaço de restauração” e para “karaoke”. O proprietário, Shen Jian, tem outras 10 empresas, incluindo um bar em Nanjing, sudeste da China, e um café na província de Shandong, no norte do país. Citado pelo jornal Beijing Youth Daily, um homem chamado Bai, que afirmou ser um ex-funcionário, revelou que aquele aniversário não foi das festas mais ostensivas que se realizaram no clube. Segundo a mesma fonte, todos os funcionários do clube eram homens e a clientela exclusivamente feminina. O Perfect Space apagou a maioria das suas mensagens divulgadas anteriormente nas redes sociais chinesas Weibo e WeChat, desde que a história se tornou pública.
Guerra comercial | Washington espera progressos significativos nas negociações com a China Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]O[/dropcap] secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, assegurou esta terça-feira que espera “progressos significativos” nas negociações comerciais com a China e considerou que as acusações dos Estados Unidos ao grupo tecnológico chinês Huawei estão “separadas” da disputa comercial. “Os temas fundamentais de que temos falado são: acesso ao mercado, garantir que não há obrigação de empresas conjuntas, que não há transferência forçada de tecnologia e ter um mecanismo para controlar um acordo, quando houver um acordo”, indicou Mnuchin numa entrevista à Fox Business News. “Espero que sejam alcançados progressos significativos esta semana nesses assuntos”, assinalou, numa altura em que uma delegação chinesa liderada pelo vice-primeiro-ministro Liu He iniciou ontem dois dias de negociações com a administração norte-americana. Questionado sobre as acusações do Departamento de Justiça ao grupo chinês Huawei, Mnuchin separou o assunto. “Esse tema não faz parte das negociações comerciais (…) qualquer questão que esteja relacionada com a violação de leis dos Estados Unidos ou sanções norte-americanas segue um caminho separado”, afirmou.
ANP | Projecto de lei sobre investimento estrangeiro vai a votos Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]O[/dropcap] Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular (ANP) aprovou ontem a votação, na próxima sessão, de um novo projecto de lei, que abolirá restrições ao investimento estrangeiro, noticiou ontem a imprensa estatal, numa altura de disputas comerciais com Washington. O novo texto foi debatido, nos últimos dois dias, pelo órgão máximo legislativo da China, e será votado pelos cerca de três mil delegados, durante a próxima sessão, em Março. Caso seja aprovado, os investidores estrangeiros passam a receber quase o mesmo tratamento que os concorrentes chineses. As autoridades só poderão restringir o acesso ao mercado doméstico, de empresas estrangeiras, “em circunstâncias especiais” ou que envolvam o “interesse público”, indicou a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua. Os governos locais vão deixar também de poder confiscar propriedade estrangeira, sem que o processo passe pelas instâncias judiciais. Uma das cláusulas exige ainda ao Estado chinês que dê tratamento igual, ao dado às firmas domésticas, às empresas estrangeiras que operem em sectores fora da lista negativa de acesso ao mercado por capital externo. E estipula igual acesso a políticas favoráveis às empresas. O novo texto inclui ainda regras para fusões e aquisições por companhias estrangeiras, no âmbito do direito da concorrência, e multas, caso as empresas falhem em detalhar as informações sobre o investimento às autoridades. O projecto de lei deverá substituir três leis para as ‘joint-ventures’ entre firmas estrangeiras e chinesas, ou empresas totalmente constituídas por capital estrangeiro.
Concertos inéditos de José Afonso editados com livro em Abril Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]D[/dropcap]ois concertos de José Afonso, gravados em 1968 em Coimbra e em 1980 em Carreço, em Viana do Castelo, vão ser editados pela primeira vez, numa edição que inclui um vinil e um livro do jornalista Adelino Gomes. A apresentação “deste documento” – que inclui em vinil o concerto realizado em Maio de 1968, no Teatro Avenida, em Coimbra, e um livro de autoria do jornalista Adelino Gomes, que contextualiza os dois concertos – é no dia 6 de Abril, em Carreço, nos arredores de Viana do Castelo, disse à agência Lusa José Moças, editor da Tradisom, que publica o trabalho. “Carreço é o ambiente do Zeca [Afonso], e foi uma decisão da família”, disse. O concerto realizado em Carreço, a 23 de Fevereiro de 1980, no salão da Sociedade de Instrução e Recreio local, contou com a participação dos músicos Júlio Pereira, Guilherme Inês e Henrique Tabot, e concretizou-se pela “teimosia” de um fã de José Afonso, Manuel Mina. “Manuel Mina gostava muito do Zeca e queria apresentá-lo na sua terra, e antecipadamente andou pela freguesia com uma folha de papel a assentar os nomes de quem viria a um espetáculo” do criador de “Grândola, Vila Morena”, de forma a garantir bilheteira, sem sequer ter uma data. O editor discográfico José Moças disse à Lusa que “foi um acaso” ter encontrado o concerto realizado em Carreço, numa viagem com amigos, em que começaram a ouvir José Afonso, num concerto do qual não se supunha haver registo, tendo encetado em seguida uma investigação sobre a possibilidade de haver outras gravações amadoras e encontrado uma realizada a 4 de Maio de 1968, no Teatro Avenida, em Coimbra. Moças referiu-se ao ambiente de então no teatro conimbricense como “pesado, com muitos agentes da PIDE, tendo José Afonso atuado acompanhado apenas por José Pato”. A gravação de Coimbra é em bobina, “estava em perfeitas condições”, e foi cedida pelo catedrático jubilado de Aveiro, Jorge Rino, colecionador de discos antigos e grafonolas. A escolha de Adelino Gomes deveu-se ao facto de ter sido o primeiro que entrevistou o autor de “Índios da Meia Praia” quando este regressou de Moçambique em 1967. A bobina desta entrevista ter-se-á perdido, pois não se encontra nos arquivos da ex-Emissora Nacional, na RTP. José Moças salientou “o trabalho sério de investigação sobre os dois concertos e a ligação entre eles, tendo nesse período o país evoluído muito”. Moças contactou a viúva do músico, Zélia Afonso, e os filhos dos dois, Joana e Pedro, que lhe deram “carta branca, estando tudo contratualizado”. “Quis fazer disto um documento, os dois concertos estão em CD, o de Carreço a partir das cassetes que foram gravadas, o de Coimbra decidi editar juntamente um vinil, porque era a época do vinil”, afirmou. Depois da apresentação no dia 6 de Abril em Carreço, José Moças conta fazer “várias apresentações em todos o país, há já datas, até porque este ano celebram-se os 90 anos do nascimento de José Afonso”.
História de Portugal | Irene Pimentel tem novo livro sobre a PIDE Hoje Macau - 31 Jan 2019 A historiadora portuguesa, conhecida pelo seu extenso trabalho de investigação sobre o período do Estado Novo (1933-1974) em Portugal, lançou esta semana um novo livro sobre a Polícia de Intervenção e Defesa do Estado, intitulado “Os Cinco Pilares da PIDE” [dropcap]I[/dropcap]rene Flunser Pimentel regressou à história da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) para a contar através de cinco das figuras mais marcantes da polícia política da ditadura do Estado Novo, no livro “Os Cinco Pilares da PIDE”. Colocado à venda na terça-feira pela editora portuguesa Esfera dos Livros, o livro vê a autora de “A História da PIDE” acompanhar a evolução daquela estrutura com um enfoque particular sobre o “número 2” da PIDE/DGS e “para alguns o verdadeiro chefe dessa polícia”, Agostinho Barbieri Cardoso, o director dos Serviços de Informação Álvaro Pereira de Carvalho, o “tarimbeiro” António Rosa Casaco, que atravessou vários cargos e várias eras na polícia política, o operacional Casimiro Monteiro e o director dos Serviços de Investigação José Barreto Ferraz Sacchetti Malheiro. “Acho que é fundamental falarmos das pessoas, de que forma é que elas marcaram e foram marcadas pelo seu próprio trabalho na polícia política”, disse à Lusa Irene Pimentel, lembrando as críticas de que foi alvo quando publicou, em 2008, “Biografia de um Inspector da PIDE: Fernando Gouveia e o Partido Comunista”. A historiadora classifica a obra como o seu “livro maldito” por ter havido muitas pessoas a considerarem errada a opção de publicar uma biografia de um membro da polícia política: “A argumentação era a de que alguém que cometeu actos de violência ou crimes de tortura sobre presos políticos deveria ser remetido ao total silêncio”, pode ler-se na introdução do livro que agora criou. “Fazer a biografia de alguém, com o máximo da verdade possível de ser apreendida, não ‘elogia’ o biografado, nem lhe dá imerecida importância. Pelo contrário, no caso de um perpetrador ou torturador, contribui para denunciá-lo, bem como para revelar os meios violentos que utilizou enquanto elemento de um órgão do poder ditatorial”, responde a vencedora do Prémio Pessoa em 2007. Falar “até ao final” Irene Pimentel justificou a escolha dos cinco elementos com o facto de querer falar da PIDE “até ao final”, ou seja, para lá do 25 de Abril de 1974: Barbieri Cardoso por ser considerado “a principal figura da PIDE”, Sacchetti e Pereira de Carvalho por estarem à frente, respectivamente, dos serviços de Investigação e de Informação, Rosa Casaco por não só ter estado “em todos os sectores da PIDE”, mas também por ter chefiado a brigada que foi a Espanha matar o General Humberto Delgado e a sua secretária Arajaryr Campos, e Casimiro Monteiro, condenado pelo assassinato dos dois últimos e responsável pelo envio da bomba que matou o presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, em Dar-es-Salam. Dos cinco retratados, apenas Sacchetti não está ligado às mortes de Humberto Delgado e Arajaryr Campos, pelo que foi necessário “revisitar” o crime. Como é sublinhado no livro, a PIDE/DGS foi “um instrumento central de um regime político oligárquico, longamente assente na chefia ultracentralizada de um ditador”, tratando-se de uma “polícia que sempre defendeu o regime, cujos directores funcionaram enquanto correias de transmissão de Salazar, que conhecia a sua actuação e confiava nela”. Questionada sobre a importância de trazer para o presente o conhecimento acerca de acontecimentos e figuras do Estado Novo, cada vez mais distantes no tempo, Irene Pimentel respondeu que o que pode fazer, perante “negacionismo, revisionismo e sobretudo confusões” sobre o passado, “é contribuir para diminuir as confusões e explicar através da investigação com um pouco mais de complexidade o que é que aconteceu”. “Se a história não ensina, até porque não se repete da mesma forma, ou se não ensina o que gostaríamos que ensinasse, pelo menos tenho a certeza de que será muito pior se desconhecermos o passado porque aí repetimos mesmo [os erros]”, afirmou a historiadora.
Turismo | Mais de 14 milhões de pessoas em hotéis e pensões em 2018 Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]M[/dropcap]ais de 14 milhões de pessoas alojaram-se nos hotéis e pensões de Macau no ano passado, um aumento de 7,2 por cento em relação a 2017, indicaram ontem dados oficiais. De acordo com a Direção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), do total de 14.107.000 milhões hóspedes, o número proveniente do interior da China foi de 9,7 milhões, tendo aumentado 12,5 por cento. Em contrapartida, o número de hóspedes provenientes da Coreia do Sul (484 mil), de Hong Kong (1,5 milhões) e de Taiwan (477 mil) desceu 3,4 por cento, 5,9 por cento e 3,2 por cento, respectivamente. O período médio de permanência em Macau situou-se em 1,5 noites, sendo idêntico ao de 2017. No mesmo comunicado, a DSEC indicou que a taxa de ocupação média dos hotéis e pensões atingiu 91,1 por cento no ano passado, ou mais 3,9 pontos percentuais, em termos anuais. A taxa de ocupação média dos hotéis de cinco estrelas (92,4 por cento) foi a mais elevada, tendo subido 4,6 pontos percentuais. No final de Dezembro existiam em Macau 116 hotéis e pensões, mais cinco em termos anuais, num total de 39 mil quartos (mais 5,8 por cento). A oferta nos hotéis de cinco estrelas foi de 25 mil, 63,1 por cento do total, registando-se um crescimento de 9,6 por cento. De acordo com os dados da DSEC, em 2018 visitaram Macau em excursões 9,09 milhões de pessoas, o que representa um aumento de 5,5% em relação ao ano anterior. Em 2018, O número de visitantes em excursões do interior da China (7,1 milhões) aumentou 2,6 por cento, da Coreia do Sul (616 mil) e de Taiwan (696 mil) subiram 28,3 por cento e 53,8 por cento, respectivamente, em relação a 2017, informaram os mesmos serviços. No ano passado, Macau registou mais de 35,8 milhões de turistas, um aumento de 9,8 por cento em relação a 2017, quando recebeu mais de 32,6 milhões. A designação de visitante refere-se a qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (aquele que passa pelo menos uma noite) e excursionista (aquele que não pernoita).
Jogo | Número de ‘junkets’ em queda pelo sexto ano consecutivo Diana do Mar - 31 Jan 2019 [dropcap]A[/dropcap] lista de ‘junkets’ encolheu pelo sexto ano consecutivo. De acordo com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), existem 100 operadores licenciados para exercer a actividade de promoção de jogos de fortuna ou azar em casino – 90 empresas 10 indivíduos –, ou seja, menos nove do que o total de angariadores de grandes apostadores autorizados a operar no ano anterior. Embora o filão dos ‘junkets’ tenha vindo a recuar, trata-se do mais baixo número registado desde 2006, ano em que eram 78, de acordo com os dados compilados pelo HM com base na lista publicada anualmente pela entidade reguladora. No ano passado, Macau contava com 109 ‘junkets’, contra 126 em 2018, 141 em 2016 e 183 em 2015 e 216 em 2014. Este foi, aliás, o ano a partir do qual o universo de promotores de jogo começou a encolher, após ter atingido o pico (235) em 2013, quando o jogo VIP representava dois terços de toda a receita angariada pelos casinos de Macau. Em 2018, o jogo VIP continuou a deter a fatia de leão no bolo das receitas arrecadadas pelos casinos, mas o peso que ocupou diminuiu. As receitas angariadas nas salas de grandes apostas atingiram 166.097 milhões de patacas – mais 10,6 por cento face a 2017 –, contribuindo com 54,8 por cento para o total arrecadado pelos casinos, ou seja, menos 1,8 pontos percentuais comparativamente a 2017. O segmento VIP tem visto o peso que representa nas receitas totais da indústria do jogo sofrer altos e baixos nos últimos anos: em 2017 foi de 56,6 por cento; em 2016 correspondeu a 53,2 por cento e em 2015 a 55,3 por cento – isto quando em tempos idos chegou a ser superior a 70 por cento.
Canadiano suspeito de defraudar empresa em prisão preventiva Diana do Mar - 31 Jan 2019 O canadiano detido na sexta-feira pela Polícia Judiciária (PJ), após ter alegadamente tentado defraudar uma empresa de entretenimento em 249 milhões de euros, foi colocado em prisão preventiva. O ministério dos negócios estrangeiros canadiano está a tentar entrar em contacto com o sujeito e afasta a hipótese de retaliação na sequência da detenção da directora financeira da Huawei [dropcap]E[/dropcap]ncontra-se em prisão preventiva o canadiano detido pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeita de fraude e falsificação de documentos. A informação foi revelada ao HM pelo Ministério Público (MP). Desconhecem-se, no entanto, as razões que levaram o juiz de instrução a aplicar ao suspeito a mais grave medida de coacção. A ministra dos negócios estrangeiros do Canadá, Chrystia Freeland, não acredita que este caso esteja ligado às detenções de dois cidadãos canadianos que terão, alegadamente, resultado de retaliação contra a detenção da directora financeira da Huawei. As autoridades canadianas estão proceder a contactos diplomáticos para chegar à fala com o detido. O canadiano, de origem chinesa, de 61 anos, foi detido na sexta-feira nas Portas do Cerco, quando se preparava para deixar o território, após ter alegadamente tentado transferir 249 milhões de euros da conta bancária de uma empresa de entretenimento para a de uma empresa em Hong Kong. No dia seguinte, no sábado, o homem, de apelido Liao, foi presente ao MP, mas só ontem o MP confirmou a medida de coacção aplicada. O caso remonta ao passado dia 21, quando o sino-canadiano se dirigiu a um banco local para transferir os fundos. Uma pretensão que viu ser-lhe negada após a descoberta por parte de um funcionário que a assinatura dos documentos de autorização que apresentou não correspondia à da conta bancária da empresa de entretenimento, segundo explicou então a PJ. Na sequência do incidente, o banco contactou a empresa em causa, que garantiu não ter dado luz verde para nenhuma transferência de fundos, e na sexta-feira decidiu reportar o caso à Polícia Judiciária. Na tarde do mesmo dia, o homem acabou então por ser detido na fronteira. Segundo a investigação preliminar da PJ, o sino-canadiano terá utilizado um documento de autorização forjado para tentar defraudar a empresa (cujo nome não foi divulgado pelas autoridades), recaindo sobre ele a suspeita da prática dos crimes de fraude e de falsificação de documentos, de acordo com a PJ. Canadá atento O Consulado Geral do Canadá em Hong Kong afirmou, esta semana, em declarações à Lusa, estar em contacto com as autoridades de Macau, mas ressalvou que, à luz das leis de privacidade do Canadá, “informações adicionais sobre este assunto não poderão ser reveladas”. De momento, não há qualquer indício que aponte para a possibilidade de o caso estar relacionado com a crescente tensão entre Pequim e Otava. A China e o Canadá vivem uma crise diplomática desde que, em 1 de Dezembro, a directora financeira da Huawei, Meng Wanzhou foi detida em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que o grupo chinês das telecomunicações tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.
Taxista que enfrenta 39.ª acusação foi suspenso João Santos Filipe - 31 Jan 201931 Jan 2019 À 39.ª infracção, um taxista do território foi suspenso pelo Juiz de Instrução Criminal como medida de coacção. O homem vai ter de responder pelo crime de denúncia caluniosa, depois de ter acusado quatro clientes do roubo do cartão profissional e 1.000 yuan [dropcap]O[/dropcap] taxista que tentou cobrar 300 patacas por uma corrida entre o Cotai e as Portas do Cerco foi suspenso pelo Juiz de Instrução Criminal para “prevenir o possível perigo de perturbar continuamente a ordem social”. A decisão sobre o caso que aconteceu no dia 25 de Janeiro foi divulgada ontem e o condutor, que conta no currículo com outras 38 infracções, viu ainda serem-lhe aplicadas também como medidas de coacção o termo de identidade e residência e apresentação periódica. O taxista está acusado da prática do crime de denuncia caluniosa, uma vez que ligou às autoridades a denunciar quatro residentes do Interior da China pelo roubo 1.000 yuan e o cartão de profissional. Esta foi uma acusação que surgiu depois dos quatro se terem negado a pagar 300 patacas pela corrida e de terem mostrado intenção de apresentar queixa contra o taxista. “Tendo em conta a gravidade dos factos participados e as circunstâncias concretas do respectivo inquérito, nomeadamente, o facto de o arguido ter já as circunstâncias de diversos registos de violação do Regulamento do Transporte de Passageiros em Táxis, no sentido de prevenir o possível perigo de perturbar continuamente a ordem social, o Juiz de Instrução Criminal, aceitou a promoção da Delegada do Procurador e ordenou a aplicação ao arguido das medidas de coacção do termo de identidade e residência, apresentação periódica e suspensão do exercício da profissão de taxista”, anunciou o Ministério Público, em comunicado. Segundo a informação das autoridades, antes do caso do dia 25 de Janeiro, o motorista já tinha no currículo outras 38 infracções, entre elas recusa de transporte de clientes e cobranças excessivas. Caso seja considerado culpado, o homem enfrenta uma pena de prisão que pode chegar até aos três anos. Corridas douradas Foi no dia 25 de Janeiro que o caso ocorreu, quando o taxista pediu a quatro turistas que lhe pagassem 300 patacas por uma viagem entre o Cotai e as Portas do Cerco. Como os turistas não quiseram pagar o montante exigido, o homem fez com que saíssem do carro, com a desculpa e que tinha de ir à casa-de-banho, o que acabou por fazer. Quando regressou à viatura, que não tinha ficado trancada, o taxista reparou que os indivíduos do Interior da China tinham mexido no seu cartão profissional, para apresentarem queixa sobre o que tinha acontecido. Face à situação, o condutor pegou no telefone e também ele ligou para as autoridades e acusou os quatro de terem roubado não só o cartão profissional, como também 1.000 yuan. Mais tarde, depois da polícia ter ouvido as duas versões, as autoridades chegaram à conclusão que o taxista, também devido ao seu historial, estava a mentir.
CCPPC | Proposto acesso de residentes de Macau a sistema social do interior Hoje Macau - 31 Jan 2019 [dropcap]L[/dropcap]ee Chong Cheng, membro de Macau da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) da província de Guangdong, defende que se deve equacionar a possibilidade dos residentes de Macau, Hong Kong e Taiwan poderem ter acesso ao sistema social do Interior da China. Segundo Lee, ex-deputado em Macau com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), o facto destes residentes estarem afastados do sistema de seguros sociais faz com que não tenham garantias no interior do país. Por esta razão, Lee Chong Cheng entende que é necessária a recolha de opiniões junto das associações que tenham como foco o amor à pátria. A sugestão foi feita durante as reuniões do 12º comité da província de Guangdong para o CCPPC. Por outro lado, Ian Soi Kun, juntamente com outros membros do CCPPC de Guangdong em Macau, inclusive Zheng Anting e Mok Chi Wai, fizeram uma proposta que pretende tornar a cidade Jiangmen numa base de inovação e criação de negócios para os jovens de Macau ao abrigo do projecto da Grande Baía. O trio composto por Chan Wa Keong, Zheng Anting e Leong Chong In sugeriram a criação de um centro de resolução de disputas na Grande Baía, com o objectivo de integrar instituições de arbitragem.
Portugal | Presidente da República vem à RAEM depois de visitar Pequim João Luz - 31 Jan 2019 O Presidente da República portuguesa tem na agenda uma visita a Macau para o final de Abril. A passagem de Marcelo Rebelo de Sousa pelo território acontece depois da visita a Pequim, onde está previsto chegar depois das comemorações do 25 de Abril em Lisboa [dropcap]C[/dropcap]onfirma-se o que se esperava. Marcelo Rebelo de Sousa vem a Macau depois da visita de Estado a Pequim, de acordo com fonte da Presidência da República Portuguesa. No passado dia 4 de Dezembro, na sequência da visita de Xi Jinping a Portugal, o Presidente português anunciou que iria retribuir na mesma moeda e visitar Pequim em Abril. O HM confirmou junto da Presidência da República que a partida de Marcelo Rebelo de Sousa para a capital chinesa acontecerá depois da sessão solene comemorativa dos 45 anos do 25 de Abril e Macau é a paragem que se segue. Para já, ainda não há uma data concreta e continua em aberto a possibilidade de uma terceira paragem, ainda igualmente desconhecida, durante a “tour” asiática de Marcelo Rebelo de Sousa. Segundo informação apurada pelo HM, está marcada para meados de Fevereiro uma viagem preparatória à República Popular da China para acertar todos os detalhes logísticos e a agenda da visita oficial. Tradição presidencial A vinda de Marcelo Rebelo de Sousa a Macau marca a continuidade de uma tradição diplomática de visitas presidenciais. Aliás, não é a primeira vez que vem ao território oficialmente, depois de ter integrado a comitiva de Mário Soares aquando da visita que começou a 27 de Fevereiro de 1989. Neste ponto, importa referir que o PS regressaria mais duas vezes ao longo da sua presidência. Sensivelmente quatro anos antes da primeira visita de Mário Soares, Ramalho Eanes visitava a China e Macau, no final de Maio de 1985, altura em que o Chefe de Estado português se encontra com Deng Xiaoping para acertar agulhas sobre a futura transferência de soberania. Jorge Sampaio viria a Macau, enquanto Presidente da República, quatro vezes. A primeira vez em 1997. Em 1999, Jorge Sampaio passou pelo território em Março de 1999 e em Dezembro para as cerimónias da transferência de soberania. A última vez que passou por Macau foi pela ocasião da sua última visita oficial à China, em Janeiro de 2005. Finalmente, Cavaco Silva visita a RAEM em Maio de 2014, data que marcaria o regresso depois de o ter feito enquanto Primeiro-Ministro em 1987, na viagem que fez para assinar em Pequim a Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau.
Caso John Mo | Si Ka Lon sublinha que todas as pessoas têm de cumprir a lei João Santos Filipe, Victor Ng e Diana do Mar - 31 Jan 201931 Jan 2019 O número seis da lista de Si Ka Lon é um dos arguidos no caso de violação. Antes, Lei Iok Pui tinha sido nomeado para o cargo de vogal do Conselho da Juventude, o que aconteceu, segundo Alexis Tam, por ter sido recomendado pela Federação de Juventude de Macau, onde é vice-presidente. A demissão de Lei Iok Pui foi anunciada ontem [dropcap]O[/dropcap] deputado Si Ka Lon acredita que o tribunal vai tomar uma decisão justa e que todos os cidadãos têm de cumprir a lei. Foi desta forma que o legislador reagiu ao facto de Lei Iok Pui, candidato número seis na sua lista à Assembleia Legislativa, estar entre os três acusados do caso John Mo. “Quero salientar que todas as pessoas têm de cumprir as leis. E acredito que os tribunais vão tomar uma decisão justa”, começou por dizer Si Ka Lon, quando questionado sobre o assunto pelo HM. “Como o processo judicial ainda está a decorrer acho que não é pertinente fazer qualquer comentário. Também devo admitir que não conheço o processo nem me informei sobre o sucedido”, acrescentou. Sobre a possibilidade de poder ver a sua imagem afectada pelo processo judicial, Si Ka Lon acredita que não é líquido que tal situação se verifique. “Vai depender sempre da forma como a sociedade encarar o caso. Mas acredito que [a minha imagem] não vá ser afectada. Mesmo que o caso seja dado como provado em tribunal, estamos a falar de um comportamento individual [de Lei Iok Pui]”, apontou. “Mas não vou assumir nada até que haja uma decisão final”, frisou. Além de ter sido o número seis na lista de Si Ka Lon, Lei Iok Pui é igualmente vice-presidente da Federação de Juventude de Macau. Foi nessa condição que mereceu a confiança do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, a 30 de Maio do ano passado, quando foi nomeado vogal do Conselho de Juventude. O caso com John Mo só aconteceu semanas depois, no final de Junho. Ontem, a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) anunciou a demissão de Lei por “motivos pessoais”. Escolha da DSEJ “Na altura, ainda não sabíamos deste caso”, disse Alexis Tam, ao HM. “Eu sou o presidente do Conselho, mas foi a DSEJ que tratou da nomeação. Ele foi recomendado pela associação [Federação de Juventude de Macau] e ficou com o lugar por recomendação, como também acontece com outras associações, que recomendam um representante”, explicou. O secretário abordou depois o pedido de demissão: “Ontem [terça-feira] ele pediu autorização para se demitir da posição de vogal do Conselho de Juventude e eu autorizei”, apontou. O comunicado da DSEJ explica que a renúncia ao cargo foi aceite “em respeito pela vontade pessoal do Sr. Lei Iok Pui”. Anteriormente, o arguido já tinha desempenhado o cargo de membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Norte, posição que ocupou até 2015. No processo que decorre no Tribunal Judicial de Base (TJB), Lei Iok Pui tem como defensor o advogado Mak Heng Ip, que também constava na lista de Si Ka Lon à Assembleia Legislativa. Enquanto Lei ocupava o lugar número seis, Mak ocupava o lugar número sete. Omissão de auxílio No processo cuja sentença vai ser lida a 15 de Fevereiro, Lei Iok Pui responde pela acusação de violação e omissão de auxílio. Em causa está o ataque de John Mo, ex-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, a uma estudante numa sala de karaoke. Segundo a acusação, citada pelo Macao Daily, Lei Iok Pui terá feito um gesto “ok” a Mo para que avançasse para a alegada agressão sexual. Lei reponde, desta forma, pelo crime de violação, punido com uma pena entre 3 e 12 anos, e ainda pela prática de um crime de omissão de auxílio. O último crime é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias, para os casos em que o indivíduo não auxilia uma vítima. No entanto, nos casos em que a situação de ameaça à vítima tenha sido criada pelo próprio acusado que não prestou auxílio, a pena pode ir até aos 2 anos de prisão ou multa de 240 dias.
AL / Lei Sindical | Deputados criticam ausência de Lionel Leong Diana do Mar - 31 Jan 2019 O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, foi criticado ontem na Assembleia Legislativa por ter enviado o director da DSAL para responder a uma interpelação oral sobre a lei sindical. Uma ausência momentânea, dado que apareceu depois para falar sobre o futuro do jogo [dropcap]“O[/dropcap]nde está o secretário?” A pergunta foi feita por Sulu Sou e por Pereira Coutinho ao director dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) que foi à Assembleia Legislativa responder a uma interpelação oral sobre a lei sindical no lugar do secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que, mais tarde, marcou presença no hemiciclo para prestar esclarecimentos relativos a uma outra interpelação oral, desta feita, sobre o jogo. “Não sei se sabe onde é que o secretário foi. Este assunto é muito importante para os cidadãos [e] está consagrado na Lei Básica. Faz parte dos direitos fundamentais”, afirmou Sulu Sou, que pretendia saber se o Governo encara ou não a regulamentação do artigo 27.º da Lei Básica como uma “responsabilidade muito importante”. “Parece que está a menosprezar o assunto”, criticou o deputado. Pereira Coutinho lamentou também a ausência de Lionel Leong. “Pode contar-nos por que razão não pode estar presente?”, questionou, apontando que “é o Governo que está sempre a dizer que cumpre rigorosamente a Lei Básica”, mas “não dá o exemplo” no que toca à lei sindical. Na réplica, e sem esclarecer a razão da ausência de Lionel Leong, o director da DSAL, Wong Chi Hong, argumentou que “existe já uma série de diplomas que garantem os direitos e interesses dos cidadãos” e que “o Governo nunca negou a possibilidade do estabelecimento da lei sindical”, embora acredite, contudo, “que tudo se processa de forma gradual”. Isto depois de, em Novembro, aquando da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG), o próprio Chefe do Executivo ter dito que “o Governo não intenção de tomar a iniciativa para apresentar uma proposta de lei sindical”. Um ponto que nunca foi uma prioridade, como prova a ausência de qualquer menção nas LAG dos últimos nove anos. Apesar de Fernando Chui Sai On ter sido peremptório ao afirmar que não vai avançar com uma proposta de lei, falhando em cumprir uma responsabilidade prevista na Lei Básica e em pactos internacionais, o Governo aguarda o resultado do estudo para medir o pulso à sociedade sobre a lei sindical, adjudicado por mais de 800 mil patacas à Associação de Estudo de Economia Política de Macau, ligada ao empresário Kevin Ho, que, segundo revelou o director da DSAL, está atrasado. “A conclusão do estudo está prevista para o segundo trimestre”, afirmou Wong Chi Hong, justificando o adiamento com a necessidade de ajustes ao inquérito social, exigido no caderno de encargos: “Em Julho, na reunião do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS), a entidade adjudicatária descreveu o processo de estudo e apresentou o exemplar do questionário (…) que precisa de ser ajustado para assegurar que a qualidade do estudo será coerente com o seu objectivo”. Enfrentar o “monstro” Os quatros deputados dos Operários juntaram-se ao coro, com Ella Lei a lamentar que a lei sindical seja “um trabalho sem fim”. “Vinte anos após a transferência a única coisa que conseguimos ter é um relatório de um estudo no segundo trimestre”, lamentou, sublinhando que as regiões vizinhas também têm diplomas que versam sobre a negociação colectiva. “Não entrem em pânico”, realçou. “Muitos empresários acham que a lei sindical é um monstro, mas não é”, afirmou, por seu turno, Leong Sun Iok, recordando que, apesar de todos os nove projectos de lei apresentados desde o estabelecimento da RAEM terem sido chumbados, a existência de uma lei sindical é “necessária”. “Espero que o Governo não recorra a estudos com pretexto para arrastar a sua legislação”, vincou. “Os direitos dos trabalhadores não vão ser diminuídos pela falta da lei sindical”, insistiu o subdirector da DSAL, Chan Un Tong, reiterando que, após entregue o estudo, será apresentado para discussão no seio do CPCS. Incógnita do jogo Em destaque no plenário de ontem esteve também a interpelação oral de Leong Sun Iok sobre a indústria do jogo e que contou com a presença de Lionel Leong que, quando se apresentou ao hemiciclo, não esclareceu por que delegou na DSAL a resposta à interpelação oral de Sulu Sou sobre a lei sindical. Não obstante, Lionel Leong pouco ou nada adiantou sobre o futuro da principal indústria de Macau, isto quando falta pouco mais de um ano para o fim dos contratos da SJM e da MGM, que expiram em Março de 2020. “Em relação ao trabalho ligado ao futuro concurso a ser aberto na sequência do expirar dos contratos, o Governo da RAEM está a acelerar os trabalhos preparatórios preliminares e o respectivo estudo jurídico, nomeadamente a revisão das leis e regulamentos vigentes e o estudo sobre a eventual introdução de melhoramentos”, afirmou Lionel Leong, sublinhando que o Governo tem vindo a recolher opiniões da sociedade. Pang Chuan foi mais longe, questionando em concreto o secretário sobre a possibilidade de prorrogar os contratos da SJM e da MGM por dois anos, até 2022, para que todos se alinhem e terminem no mesmo ano para se fazer o concurso público como exige a lei, um cenário dado como o mais provável por analistas. Iau Teng Pio, também deputado nomeado, insistiu: “O Governo pode, o mais tardar em Setembro, prorrogar o prazo [dos dois contratos] até ao final de 2022 e depois tratar de todas as concessões de uma só vez”. “Vamos analisar a sugestão”, respondeu Lionel Leong. À luz da lei, a duração da concessão pode, a título excepcional, ser prorrogada, mediante despacho fundamentado do Chefe do Executivo, por uma ou mais vezes, até um máximo de cinco anos, “a qualquer momento e até seis meses antes do fim da concessão”.