Literatura | José Luís Peixoto entre hoje e quinta-feira na UM Sofia Margarida Mota - 11 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap]escritor português José Luís Peixoto vai estar entre hoje e quinta-feira na Universidade de Macau para conduzir um oficina de escrita no Centro Bilingue Chinês-Português daquela instituição. A iniciativa é dirigida à promoção da escrita de ficção literária e está estruturada em quatro sessões a decorrer das 15h às 17h30. O objectivo é “divulgar a língua e cultura portuguesa” e “fazer com que cada um dos participantes produza um texto literário, percebendo a estrutura, criatividade e métodos envolvidos no processo de criação”, aponta a organização em comunicado. José Luís Peixoto, recebeu em 1997, aos 23 anos, o Prémio Jovens Criadores atribuído pelo Instituto Português da Juventude, com a obra de ficção “Morreste-me”, dedicada ao pai. Em 2001, o autor começa a destacar-se no panorama da literatura portuguesa ao receber o Prémio Literário José Saramago, da Fundação Círculo de Leitores com o romance “Nenhum Olhar”. Da sua obra, que se encontra traduzida em mais de 25 línguas, fazem parte seis romances, seis livros de ficção, três séries de poesia e dois livros infantis.
Religião | Procissão do Senhor dos Passos juntou centenas Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]L[/dropcap]argas centenas de pessoas integraram ontem a procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos em Macau, entre a Sé catedral e a igreja de Santo Agostinho, numa das mais importantes tradições católicas da cidade. Ontem à tarde, a procissão, que contou com a participação do bispo de Macau, Stephen Lee, percorreu algumas das ruas mais movimentadas do centro da cidade, para cumprir sete estações da via-sacra, representativas do percurso feito por Jesus Cristo até ser crucificado no monte Calvário, em Jerusalém. Em cada estação, algumas dezenas de pessoas esperavam a imagem. Cânticos e orações foram entoados em português, chinês e latim, tal como nas cerimónias que antecederam e concluíram a procissão, acompanhada pela banda de música das Forças de Segurança. Esta tradição religiosa está repartida por dois dias. No dia anterior, ao final da tarde de sábado, decorreu a procissão da Cruz, que juntou igualmente algumas centenas de fiéis. A imagem do Senhor dos Passos saiu da igreja de Santo Agostinho com destino à Sé, onde ficou durante a noite. Esta cerimónia assinala também o primeiro domingo de Quaresma, período de oração, penintência, jejum e abstinência para os católicos. Com uma longa história, que remonta a 1708, a procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos realiza-se todos os anos em Macau, no primeiro sábado e domingo de Quaresma. Em Setembro de 2017, esta procissão e a de Nossa Senhora de Fátima entraram para a lista de património intangível de Macau, publicada pelo Instituto Cultural de Macau.
Especialista de jogo pouco optimista relativamente ao desempenho dos casinos em 2019 Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]D[/dropcap]avid Green, fundador da Newpage Consulting, consultora especializada em regulação de jogos, mostrou-se pouco optimista em relação aos resultados dos casinos em 2019, devido à entrada do Japão nas apostas, do crescimento do Camboja e da guerra comercial EUA/China. Os casinos de Macau fecharam 2018 com receitas 303 mil milhões de patacas, traduzindo um aumento de 14 por cento face a 2017. Contudo, na opinião de David Green, face a vários factores externos a Macau, a tendência de crescimento que se tem verificado nos últimos anos pode ter chegado ao fim. “O Japão será uma grande distracção para os grupos interessados em ganhar uma concessão de jogo”, afirmou, em declarações à Lusa. Cinco das seis operadoras de jogo (MGM, Sands, Wynn, Melco e Galaxy) “manifestaram publicamente interesse” em garantir uma licença no Japão, depois de o parlamento nipónico ter aprovado a abertura de três casinos a partir de meados de 2020. Na opinião do fundador da Newpage Consulting, a entrada em força de outros países asiáticos no jogo, como o Camboja e o Vietname, pode levar os turistas chineses que visitam Macau (25 milhões dos 35,8 milhões de turistas em 2018) para essas paragens. “O Camboja tem potencial para conseguir alguns dos jogos de massa e VIP de Macau, tanto em Naga, como no aglomerado de casinos em Sihanoukville”, já o “desenvolvimento de Hoi An, no Vietname” poderá “afastar os jogadores” VIP de Macau, considerou. Guerra comercial Já sobre a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, apesar de estimar que “será resolvida”, David Green entende que Pequim “terá de fazer concessões que preferiria não fazer (…) e vai perder a face”. “Isso poderá prejudicar os operadores norte-americanos (MGM, Sands e Wynn) que estarão mais vulneráveis a qualquer acto de retaliação”. “A retaliação provavelmente será subtil, mas significativa”, frisou. O ‘fraco optimismo’ de David Green é também suportado pelas estimativas do Fundo Monetário Internacional que estima que a economia de Macau cresça 5,3 por cento em 2019. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,7 por cento, em termos reais, reflectindo um forte abrandamento de cinco pontos percentuais face a 2017.
A olvidada paisagem sonora Jorge Rodrigues Simão - 11 Mar 2019 [dropcap]S[/dropcap]e fechar os olhos por um momento e escutar o espaço que me rodeia dou conta que da minha cadeira, ouço a agitação rítmica do ciclo de centrifugação da máquina de lavar, abafada apenas levemente por uma porta fechada. Na sala ao lado, ouço uma melodia cadenciada de bandolim. Ainda mais longe, a sugestão de um zumbido baixo, como o de um raro jacto cruzando o céu, que me faz lembrar a presença do frigorífico no espaço contíguo à cozinha. Se eu me concentrar mais, posso ouvir o gemido distante de sopradores de folhas na rua, embora o que poderiam estar a soprar no meio do inverno esteja além de mim. E ao lado do “click clack” da minha digitação, ao enviar estas palavras à página, está o ronronar de um disco rígido externo, um som reconfortante da era digital. Estes são os sons da minha e da nossa vida diária. Os sons possuem muitas universalizações compartilhadas pelos povos do mundo como lembretes sonoros de electricidade, canalização interna e motor de combustão. No entanto, são simultaneamente e totalmente exclusivos do local onde ocorrem e podem incluir o clamor longínquo de um raro galo ou um chamado árabe à oração. Ao ler a passagem acima, provavelmente ouviu os sons descritos na sua mente, em um processo chamado de audição. Ainda que a minha audição possa ser diferente de outra pessoa, a imagem sonora mental vívida ilustra o poder do som como meio de comunicação. Pode transmitir significado, emoção, memória e factos por meio de linguagem, música e gravações. O som, quando entendido como um ambiente, é uma paisagem sonora; uma ferramenta poderosa que ajuda os seres humanos a se relacionarem com o ambiente. Os sons podem ser conscientemente projectados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, ou o subproduto de circunstâncias históricas, políticas e culturais. Podem ser composições musicais, gravações de campo antropológicas etnográficas ou de uma floresta tropical tomadas por um ecologista, ou ainda imaginações de um projectista de som/historiador ruminando os sons do passado. As paisagens sonoras definem comunidades e os seus limites, actores, complexidades geográficas e indústrias. Os sons surgem através das interacções entre forças externas e internas dentro de uma comunidade. O que torna a paisagem sonora de um lugar diferente de qualquer outro local no mundo são as marcas sonoras. A marca sonora da nossa casa pode ser uma pequena fonte borbulhando no canto da sala de estar, ou o tilintar de um carrilhão de vento no seu quintal, se o urbanismo tresloucado ainda o permitir. Por certo gosta desses sons porque o fazem sentir-se de alguma forma feliz, e coloram a impressão de todos os outros sobre o ambiente sonoro do seu espaço pessoal. A marca sonora do local onde mora pode ser a piscina local, quiçá metida no meio dos arranha-céus dos prédios que constituem as edificações da utilização de um lote urbano, pensado para engaiolar gente que não merece ter o mínimo de qualidade de vida, com o som de salpicos e gente rindo dominando a paisagem sonora, sempre que a temperatura sobe acima dos vinte e cinco graus centígrados. Mas durante os Outonos e Invernos que se misturaram selvaticamente com as outras estações, por força das alterações climáticas que os seres humanos irresponsavelmente tiveram a ousadia de atiçar, talvez a paisagem sonora da sua cidade seja dominada pela marca sonora do fole diário dos apitos e ronronar de motores de carros e motociclos, altamente causadores das maiores poluições atmosféricas e sonoras que o mundo conhece e que a boas e más governanças nacionais não querem ou não podem resolver. Talvez tenha adicionado a fonte e o som do vento na sua casa se não viver enjaulado para combater a estética desagradável desses sons, pois criamos a nossa paisagem sonora em diálogo com a comunidade e como sua reacção. Tais escolhas iluminam aspectos da nossa sensibilidade estética e formação pessoal e cultural. A resposta do vizinho ao som que medido virou ruído, pode ser cultivar um jardim atraente para os pássaros na marquise improvisada da minúscula varanda, de modo que a nossa paisagem sonora pessoal fosse constantemente preenchida com o canto dos pássaros. Todos os membros da comunidade podem ter reacções individuais à paisagem sonora, e o contraste entre a paisagem sonora aos níveis micro e macro, ajuda a pintar uma imagem da composição diversificada de uma comunidade. Este é o poder da paisagem sonora. Se fecharmos os olhos novamente, podemos imaginar um espaço que não seja diferente do descrito e o ronronar baixo do frigorífico lentamente desaparece e o gemido distante do soprador de folhas foi substituído pelos cascos rítmicos dos cavalos. O ciclo de centrifugação da máquina de lavar roupa foi substituído por roupas batendo em um estendal no quintal. Escutamos passos barulhentos e o rangido de um cesto de vime pressionado contra um corpo. É mais fácil ouvir o seu batimento cardíaco, respiração, suspiros ecoando e o vento assobiando pelas rachaduras na janela. É uma paisagem sonora de um tempo passado. Esta poderia ser a paisagem sonora de uma casa do século XIX, até mesmo de uma casa singular do século XX. Em um contexto ambiental, a paisagem sonora ajuda-nos a entender a ecologia acústica de um lugar. A floresta repleta de muitos tipos de pássaros e outras actividades animais indicaria um ecossistema saudável, diversificado e resiliente. Por outro lado, um ecossistema dominado por uma única fonte sonora, como o canto da cigarra, ilustra uma possível falta de diversidade e resiliência. Quanto mais resiliente for um ambiente, maior será a sua capacidade de resistir a um distúrbio significativo sem danos e mudanças irreparáveis. Também são importantes as maneiras pelas quais os sons interagem entre si. A hipótese do “nicho acústico” desenvolvido por Bernard Krause, músico americano e ecologista de paisagem sonora, que afirma que todos os organismos ocupam uma faixa de frequência funcionalmente específica dentro de um ecossistema. Por exemplo, se em um pasto houver grilos e pássaros, a chamada de críquete estará em uma faixa de frequência diferente ou ocorrerá em um horário distinto do canto dos pássaros, de modo que cada grupo de comunicação dos organismos sobreviva, tais como chamadas de emparelhamento, podem ser mais facilmente ouvidas. Os ruídos conflituantes decorrentes da actividade humana forçam os organismos a alterar o seu comportamento para se adaptarem a novas frequências, como o tráfego automóvel e os nichos acústicos nítidos tornam-se confusos, à medida que os modos naturais de comunicação dos organismos se tornam ineficazes face às mudanças, comprometendo a aptidão e a sobrevivência das espécies. As comunidades humanas não são diferentes. A distinção entre as facetas sónicas das comunidades é cada vez mais difícil de discernir no nível superficial. Muito parecido com uma nota à cigarra, é o clamor da música pop ocidental em restaurantes e táxis que dominam as paisagens sonoras de todo o mundo. É de considerar que milhares de quilómetros quadrados da floresta tropical brasileira deram lugar a herdades de gado e pastagens, trazendo consigo paisagens e marcas sonoras completamente novas. No entanto, mesmo entre essa mudança, é importante lembrar que, sob a superfície aparentemente homogénea, ainda existem ricos recantos culturais na forma de música de fundo, narrativa e industrial. Tudo isso requer uma pequena amplificação para ser ouvida. A experiência humana é altamente sonora e como uma das propriedades centrais do som é sua efemeridade, não perdura muito além da sua produção, e até mesmo uma gravação é apenas uma representação subjectiva da realidade, fácil de esquecer, embora seja um dos nossos principais sentidos. É fundamental que não nos esqueçamos do som, por causa do seu papel decididamente cultural dentro da nossa ecologia acústica. Lembrar os sons do passado pode-nos fornecer indícios da evolução de uma comunidade, proporcionando às pessoas as ferramentas para olhar o futuro. Uma comunidade costeira pode mobilizar as memórias dos sons do martelo em madeira de um estaleiro, como uma força motriz para revitalizar uma indústria. A promoção da diversidade cultural global ajuda a incutir nas pessoas um senso de lugar e pertença. Os sons dão-nos uma representação do mundo ao nosso redor tão vívido e evocativo das paisagens visuais que competem pela nossa atenção. A geografia preocupou-se sempre e principalmente com a compreensão do mundo através de termos inerentemente visuais. As obsessões geográficas com mapas e cartografia, actividade que tem sido intrinsecamente ligada à conquista e construção de impérios, dependiam muito do olhar visual para quantificar, entender e, finalmente, ordenar o mundo. O mundo foi estruturado a partir de uma perspectiva ocidental e foi o resultado pretendido e não uma consequência imprevista. As estreitas ligações que a geografia compartilha com os militares continuam na actualidade, e quem viu a magistral peça de teatro “Translations” do dramaturgo irlandês Brian Friel, escrita em 1980, tem a noção de que é uma peça apenas sobre linguagem, mas lida com uma ampla gama de conteúdos, que se estende da linguagem e comunicação à história irlandesa e ao imperialismo cultural. As relações uniram-se durante o período em que a peça é adaptada, e foi a primeira pesquisa completa em qualquer país do mundo. O mapeamento, limites e o controlo definem essa actividade, e o visual foi usado para o codificar e validar. O papel desempenhado pelos sons na paisagem, pelo contrário, só recentemente começou a receber a atenção que merece. Assim como as pistas visuais, os sons combinam-se para formar sistemas de significado que podem servir para transmitir, reificar, desafiar ou reinventar simultaneamente normas e valores socioculturais. O termo paisagem sonora está a começar a desafiar o domínio da paisagem na escrita geográfica e no pensamento. As paisagens sonoras são o som entendido como um ambiente. Se alguém fechar os olhos, se estiver de pé na beira de uma rua movimentada ou sentado em uma mesa de um escritório, o fluxo de barulhos concorrentes orienta o ouvinte ao seu ambiente imediato da mesma forma que as dicas visuais o fazem. Se o fizer por tempo suficiente, os sons começarão a assumir ressonâncias espaciais maiores à medida que o ouvinte distingue as distâncias dos ruídos individuais, o nível de ameaça que o objecto que os produz, ou os tipos de respostas emocionais que provocam e tudo se combina, para nos dar uma representação do mundo ao nosso redor, tão vívida e evocativa das paisagens visuais que competem pela nossa atenção. O poder dos sons afecta-nos de várias maneiras. Só se tem que assistir a uma cena de um filme de terror, com o volume baixo para se aperceber de uma diferença na nossa percepção do que pode ser uma ameaça. Uma figura sombria que se aproxima da tela, geralmente, não parece tão ameaçadora sem as pistas de áudio que sinalizam o perigo. As paisagens sonoras e as marcas sonoras que os compõem contribuem e informam os conhecimentos que experimentamos ao longo da vida. Por exemplo, os povos aborígenes australianos usavam mapas mentais audiovisuais, esboçados em sons através de canções que ajudavam os iniciados a navegar pelo vasto continente australiano. Cantando versos na sequência correcta, foram capazes de usar marcadores visuais identificáveis na paisagem, como rios ou cordilheiras, para observar quais as áreas seguras para viajar. Ainda que sejam mais frequentemente ignorados até desaparecerem, as marcas de som em uma paisagem sonora são tão importantes quantos os pontos de referência visuais para identificar ou lembrar um lugar. Os cantos icónicos das cigarras evocam imagens de um verão japonês para os ouvintes que lá passaram. O cinema japonês abunda com esses cantos, especialmente quando retrata uma cena de verão. O codornizão, na Irlanda, foi a omnipresente ave campestre de verão que se encontrava em todo o país. O seu canto, agora ausente e em perigo de extinção na Irlanda, excepto em algumas concavidades vulneráveis ao longo dos rios, costumava ocupar um espaço semelhante no folclore irlandês como a cigarra no Japão. As ligações muito próximas que os sons têm em contextos específicos de tempo e lugar, tornaram-se um crescente campo de interesse em todas as disciplinas desde a década de 1940. Os estudiosos de música, antropologia, cinema e ecologia reconheceram a importância cultural e ecológica do som em ambientes humanos e naturais. É de recordar que Bernard Krause tem vindo a coleccionar gravações do mundo natural desde 1968. Nesse período, demonstrou como os ambientes naturais são profundamente afectados pelos seres humanos, mesmo quando realizam actividades relativamente ecológicas em uma determinada área, e no seu livro “Great Animal Orchestra”, descreve algumas das paisagens sonoras bioacústicas mais atraentes do planeta, e como podem ter ajudado a contribuir para o desenvolvimento da música e da fala humana. O músico e ecologista americano divide os sons em três categorias, que são a biofania (sons feitos por animais e plantas); geofania (sons naturais como os produzidos pelo vento e chuva) e antropania (ruídos induzidos pelo homem que impactam desproporcionalmente os ecossistemas que os sofrem) e formula a hipótese de que, quanto mais saudável e estável for o habitat, maior a complexidade e o alcance da musicalidade expressa pelas criaturas que o ocupam. Essencialmente, reduções na biodiversidade levam à desertificação do sinal de acústica de um habitat. O livro de Bernard Krause fornece um exemplo de uma floresta antiga no oeste dos Estados Unidos, onde registou a biofania da área antes e depois da extracção selectiva de madeira. O entendimento convencional, sugeriu que as práticas de exploração selectiva teriam um impacto mínimo sobre a biodiversidade da floresta, especialmente quando comparadas ao desmatamento que geralmente ocorre. Quanto mais saudável e estável for o habitat, maior será a complexidade e variedade de musicalidade expressas pelas criaturas que o ocupam. Mas através das suas gravações, Bernard Krause foi capaz de demonstrar que a paisagem sonora bioacústica tinha mudado dramaticamente, embora a floresta parecesse ser intocada em termos visuais. O impacto real da exploração madeireira, mesmo práticas ambientalmente sensíveis, como neste caso, só pode realmente ser entendido medindo-se a paisagem sonora. Com efeito, a sinalética bioacústica foi devastada após a extracção tendo sido registada a ausência da maioria das espécies de pássaros e insectos capturados durante a primeira gravação. É de considerar que vivemos uma era de extinção em massa de espécies animais e compreender a importância da paisagem sonora de um habitat como um indicador de um bioma saudável é profundamente importante, especialmente se fizermos uma tentativa realista de verificar o colapso da biodiversidade.
Infantilidade João Luz - 11 Mar 2019 [dropcap]M[/dropcap]acau tem todas as idades. É velha, cheia de fantasmas, com um passado sofrido. Debaixo das suas ruas acumulam-se séculos em camadas geológicas de vidas perdidas e pirataria. É maior e vacinada, aglomera todos os vícios oferecidos pelo mafarrico e vende todos os pecados capitais que o capital consegue comprar. É uma cidade calejada pela violência, palco de sucessivas gerações de piratas, ladrões, corruptos e poetas, porto de abrigo para desesperados, berço confortável de tríades várias, local onde a lei é apenas um slogan que vende uma realidade pintada a rosa por cima de um mar de cinzas. Ao mesmo tempo, Macau é uma criança renovada a cada passo, em crescimento disforme e com dentes de leite a despontar de uma velha e seca gengiva. É uma cidade que vive em perpétua idade da inocência. A primeira manifestação de infantilidade que salta à vista para quem acaba de cá chegar é a publicidade institucional. O poder fala com o povo como a Ana Malhoa se dirigia ao público do Buéréré, com um aberto e sorridente “olá, amiguinhos”. Seja qual for o departamento do Governo, usa-se um tom adequado para comunicar com uma criança de seis anos, sempre com cores vivas, desenhos animados, banda sonora a evocar memórias de Teletubbies e um sentimento grotesco de Terra do Nunca com um design que, ironicamente, faz lembrar os sanguinários “cartoons” de Joan Cornellà. Em Macau, o complexo de Peter Pan é uma política basilar. Por exemplo, se a mensagem for a divulgação de uma linha telefónica para receber informações sobre a perigosidade de um destino de férias, as imagens são um desenho animado, como é óbvio. A publicidade institucional que tenho em mente retrata aquilo que só pode ser interpretado como um menino a fazer turismo, de máquina fotográfica em riste, num cenário de guerra ao estilo da Síria. Entre duas fotos, aparece um tanque de guerra que dispara contra o menino. O resultado não é morte, vísceras de fora e o horror consequência da guerra, algo que também seria completamente despropositado mostrar num anúncio de alerta. Em vez disso, o incauto turista fica com a cara tisnada de fuligem, cabelo de pé a fumegar e um ar confuso de quem esperava morrer depois de levar com munição de tanque. As forças de segurança ganham o óscar para melhor filme de animação, com vários exemplos de assuntos sérios e aterradores retratados como um episódio da Rua Sésamo. Do pequeno furto de carteiristas em autocarros até à ameaça de terrorismo, os prevaricadores têm sempre o aspecto de um Playmobil sorridente. Apetece pegar no Playmobil que se assemelha ao Bin Laden e pô-lo a jogar à bola com o Rato Mickey, ou numa festa de chá com a Barbie. Será que ainda assim, o terrorista animado iria detonar os palitos de dinamite atados a laço com um relógio em cima? Por um imperativo de falta de pachorra e espaço de página abstenho-me de elencar mais exemplos de como o poder fala com os residentes com cutchicutchis e apertões nas bochechas. Quem é o residente mais lindo, em conformidade com a harmoniazinha fofa do papá?! Quem é, quem é? É tu! Uma fórmula semelhante é usada na ligação entre Governo e comunicação social. Nos discursos oficiais, somos sempre representados como os melhores amigos, camaradas do peito que andaram na escola e que já choraram no ombro um do outro. Depois, no quotidiano, quando buscamos informação que descodifiquem a realidade, somos empatados ou, simplesmente, atiram-nos com uma resposta que pouca relação tem com a pergunta. Mas o pior mesmo é repetirem, até à náusea, que a função do jornalismo é transmitir as mensagens do Governo, ser o seu megafone, com a missão lateral de fazer sugestões de governação. É possível que o livro oficial do Executivo e a sua filosofia central seja “O Segredo”. Parece que ao poder basta pensamento positivo e desejar muito que a realidade se adeque aos seus desígnios em vez do contrário.
Taça do Mundo de Fórmula 3 continua em Macau Sérgio Fonseca - 11 Mar 2019 O Conselho Mundial da Federação Internacional do Automóvel (FIA), que teve lugar na pretérita semana em Genebra, confirmou que o 66º Grande Prémio de Macau, a realizar de 14 a 17 de Novembro, vai ser novamente o palco da Taça do Mundo FIA de Fórmula 3. [dropcap]A[/dropcap]comunicação da FIA foi curta e não detalhou em que moldes será disputada este ano a prova que habitualmente encerra o programa de corridas do evento automobilístico da RAEM. Contudo, visto que a FIA só autoriza o uso da designação “Fórmula 3” a campeonatos que cumpram com a última regulamentação do órgão máximo que rege o automobilismo mundial, é expectável que sejam os mais recentes monolugares da disciplina, apenas usados no novo Campeonato FIA de Fórmula 3, a darem corpo à grelha de partida da corrida. A utilização dos novos monolugares de Fórmula 3, construídos pela Dallara e com um motor único fornecido pela Mecachrome, poderá requerer alterações ao Circuito da Guia, principalmente a nível de segurança, alterações essas que poderão ter sido já discutidas superficialmente com a Comissão do Grande Prémio e com a Associação Geral Automóvel Macau-China. Nenhuma das duas entidades ainda se pronunciou oficialmente sobre o assunto. Com uma potência de 380 cv, os novos carros da Fórmula 3 fizeram o primeiro “shakedown” no dia 1 de Março no circuito de Magny-Cours, em França, e segundo apurou o HM, rodaram com o peso mínimo de 692 kg. Para atender aos requisitos actuais do Circuito da Guia (FIA Grau 3), estes monolugares, com a actual potência, teriam que correr com 760 kg, algo que poderá não ser viável, sendo que a subida do Grau do circuito a solução provável para ultrapassar este obstáculo. Com a confirmação da continuidade da Taça do Mundo de Fórmula 3 em Macau, a 66ª edição do Grande Prémio vai voltar a contar com três Taças do Mundo da FIA, pois tanto a Taça do Mundo de GT e uma das provas da Taça do Mundo de Carros de Turismo (WTCR) já tinham sido anteriormente confirmadas. Sophia em análise A FIA também aproveitou também o primeiro Conselho Mundial da 2019 para dar conta dos últimos desenvolvimentos do impressionante acidente de Sophia Floersch no Circuito da Guia. É possível ler no comunicado de imprensa enviado na passada quinta-feira que: “Um relatório na investigação sobre o acidente durante a Taça do Mundo FIA de F3 em Macau, a 18 de Novembro, foi apresentado ao Conselho. As Comissões relevantes vão agora avaliar as conclusões do relatório.” Entretanto, na passada semana, Sophia Floersch voltou ao volante de um Fórmula 3 igual ao que tripulou em Macau num teste particular. Sem sequelas do acidente, a jovem de 18 anos cumpriu mais de 200 voltas ao circuito italiano de Monza e foi a mais rápida em pista.
Fórmula E | Sam Bird vence na pista, Mortara na secretaria admin - 11 Mar 201918 Mar 2019 Final electrizante em Hong Kong, com o piloto inglês da Virgin, Sam Bird, a ser penalizado em cinco segundos após um toque em Andre Lotterer, que comandou grande parte da corrida, deixando-o fora de prova com um furo no seu DS Teecheetah. A vitória acabaria por sorrir a Edoardo Mortara. António Félix da Costa não foi além do 10.º lugar O circuito temporário de Hong Kong ocupa os novos aterros em Central. [dropcap]H[/dropcap]ong Kong recebeu pela terceira vez o campeonato de automobilismo do futuro, com monolugares totalmente eléctricos, organizando a quinta prova da época 2018/2019. Dada a estratégia envolvida, há quem diga que a Fórmula E está mais próxima de uma consola de jogos do que de uma corrida de automóveis tradicional. Mas nesta época, em que foram introduzidos os carros da segunda geração, mais rápidos e com maior autonomia, a emoção e a imprevisibilidade têm durado até à última curva. Foi o que aconteceu este ano no território vizinho. Stoffel Vandoorne (ex-piloto McLaren F1) saiu da pole mas foi surpreendido pelos seus adversários, com Oliver Rowland (Nissan) a assumir o comando, com Bird logo atrás. Mas um acidente envolvendo Filipe Nasr (Dragon Racing) e os dois homens da Mahindra, Jerome d’Ambrosio e Pascal Wehrlein, a equipa com melhor performance até aqui, accionou uma bandeira vermelha e interrompeu a corrida durante 15 minutos. Sam Bird não conseguiu repetir o triunfo de 2018, sofrendo uma penalização de cinco segundos que o relegou para a sexta posição. No reinício, Bird ultrapassa Rowland, que cai para décimo, e Lotterer não perde tempo e repete a operação ao britânico, quando este alarga demasiado a trajectória, ocupando assim o topo da classificação. Num circuito exíguo, construído no porto marítimo junto ao centro financeiro da RAEHK, não há lugar para erros, e Sebastien Buemi, o outro piloto da Nissan e eterno candidato ao título, conseguiu percebê-lo a meio da prova ao destruir uma roda numa das chicanes do percurso, trazendo o safety car de volta para a pista. Vandoorne também parava, continuando a sua série de maus resultados. Até ao fim A prova realiza-se apenas durante um dia, com treinos e qualificação durante a manhã e a corrida durante a tarde. Com 11 minutos de prova por cumprir, a luta continuou nas garras de Bird e do alemão da Teecheetah, que comandava pela primeira vez na sua carreira uma corrida de Fórmula E. Mas nunca se desiste e cada milímetro da pista conta. Forçando a ultrapassagem, o piloto inglês recupera a primeira posição, deixando um rasto de fumo no carro de Lotterer, com um dos pneus traseiros furado, não conseguindo completar a última volta. Já fora de horas, a manobra seria penalizada pelos comissários de pista, elevando Eduardo Mortara (Venturi), o segundo a passar a linha de meta, ao topo do pódio, seguido de Di Grassi (Audi) e Frinjs (Virgin). Bird foi relegado para o sexto posto, o que equilibrou bastante as contas do campeonato. Quanto a António Félix da Costa, vencedor do Grande Prémio de Macau, pela primeira vez esta época não conseguiu dar nas vistas. Partindo de 20.º lugar, cedo se queixou de falta de velocidade e aderência no seu BMW iFE.18, não conseguindo recuperar para além da décima posição, apesar de ter efectuado um excelente arranque. O piloto português ocupa agora o quinto lugar no campeonato, com 47 pontos. A competição é comandada por Sam Bird (54), seguido por d’Ambrosio (53) e Di Grassi e Mortara (ambos com 52), o que deixa tudo em aberto quando ainda faltam oito corridas até ao final. A próxima prova realiza-se na estância turística de Sanya na ilha chinesa de Hainão, no dia 23 de Março. O QUE MUDOU NA ÉPOCA 2018/2019 • São introduzidos os veículos Gen2, agora com 250kW de potência, atingindo 280km/h; • Novas baterias desenvolvidas pela McLaren; • Corridas apenas com um carro por piloto, com a duração de 45min + 1 volta; • Attack Mode: Área designada da pista que activa mais 25kw durante oito minutos; • Introdução do “halo” nos cockpits como medida de segurança; • A BMW torna-se construtor oficial em parceria com a Andretti; • A HWA entra no campeonato preparando terreno para a Mercedes; • A Renault passa o testemunho à sua irmã Nissan; • Felipe Massa e Stoffel Vandoorne juntam-se aos pilotos que transitaram da F1 para esta disciplina. Resumo da Prova https://www.youtube.com/watch?v=oEVcCWnufCI • SITE OFICIAL
Os nüzhen e o início dos Qing José Simões Morais - 11 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap]s manchus, nome que só apareceu em 1635, eram até então conhecidos por nüzhen e já tinham governado na China como Dinastia Jin (1115-1234). Os seus antepassados, provenientes das Montanhas do Altai, foram a tribo sushen que durante a Dinastia Zhou se encontrava a Norte das Montanhas Changbai. Dela se originaram as tribos tunguzes (yilou, huji, mohe e nüzhen) a viver há muitos séculos no Nordeste da China como criadores de cavalos e caçadores nas florestas siberianas do vale de Amur. Nessa zona, hoje a província de Heilongjiang, a 23 de Janeiro de 1115 foi criada pela família Wanyan dos nüzhen a Dinastia Jin, com a capital em Harbin. A dourada dinastia, pois Jin significa ouro, daí iniciou ataques contra os seus vizinhos khitan (mongóis descendentes dos xianbei), na época a reinar uma vasta área pelo Norte da China como Dinastia Liao (916-1125) e em 938 tinham capturado aos Song a cidade de Youzhou (Beijing), fazendo aí a sua segunda capital com o nome de Nanjing (Capital do Sul). Os Jin aliando-se com a Dinastia Song (960-1127) conseguiram em 1125 pôr fim a esse império, transferido para o Oeste, no actual Xinjiang, onde em conjunto com os uigures fundaram o Reino Liao Ocidental, que terminará em 1227 às mãos de Gengis Khan. Vencidos os mongóis khitan, os Jin voltaram-se contra a Dinastia Song e conquistaram-lhe em 1126 a capital Bianjing (Kaifeng). Daí levaram presas quase três mil pessoas da corte Song para a sua capital Harbin e as restantes retiraram-se para Sul, fugindo das contínuas investidas dos nüzhen (conhecidos no ocidente por jürchen, ou tungusic). Em 1153 a Dinastia Jin fez a sua nova capital em Beijing, mudando-lhe o nome para Zhongdu (Capital Central), mas em 1214 transferiram-na para Kaifeng, devido à invasão pelo Norte dos mongóis chefiados por Gengis Khan (1162-1227, Gengiscão, o unificador das tribos mongóis), que no ano seguinte conquistou Beijing. Acossado tanto pela Dinastia Song do Sul, como pelos mongóis (estes, descendentes dos xiong-nu), e já sem ter para onde fugir, o imperador suicidou-se em 1234, terminando assim a Dinastia Jin. Com uma língua própria ligada à mongol, tinham interagido com a população han na sua governação e decalcado muita da organização chinesa, encontrando-se já sinizados. A chegada ao trono da China da dinastia mongol Yuan (1271-1368) levou esses nüzhen de volta ao Nordeste onde, em conjunto com as restantes tribos que aí tinham permanecido, se dedicaram ao comércio. Se nesse território de estepes os khitan tinham instalado prefeituras à maneira chinesa, com a chegada da Dinastia Ming foram aí colocadas guarnições militares. Encontravam-se os nüchen, onde hoje são as províncias de Jilin e Liaoning, divididos em três grupos: jianzhou, haixi e donghai. Os ming chamaram-lhes dongyi (estrangeiros do Leste) e sendo bons guerreiros e cavaleiros, colocaram-nos a proteger as suas fronteiras do Nordeste, contra possíveis incursões mongóis. Devido aos jianzhou comercializarem a Norte com os mongóis, a Leste com os coreanos e a Sul com chineses han, trocando cavalos, gado, peles, pérolas e ginseng, por ferramentas de ferro e outros bens de necessidade diária, desenvolveram a sua tecnologia e economia, tornando-se dentro dos nüzhen os mais evoluídos. Dinastia Jin Tardia Em 1583, os Jianzhou elegeram como chefe Nurhachi (1559-1626), do clã Aisin Gioro. Nascido em Hetuala (赫图阿拉, lugar hoje adstrito a Yongling, na região autónoma manchu de Xinbin, província de Liaoning), era o filho mais velho de Taksi, o qual tinha morrido no ano anterior em circunstâncias com diferentes versões na História. Para uns, fora morto por engano pelos ming, mas outras fontes referem, às mãos de uma facção nüzhen rival. Em 1588 casou-se com a filha de um príncipe nüzhen da família Nala. Fazendo a sua base de operações em Hetuala, Nurhachi foi anexando ao longo de dez anos as tribos vizinhas, mas em 1593 seria atacado por uma aliança de outras tribos tunguzes e mongóis. Vitorioso, Nurhachi tornou-se ainda mais poderoso e nos vinte anos seguintes passou a controlar praticamente todo o território do Nordeste. Em 1616 completou a organização das tribos nüzhen e com elas unificadas estabeleceu a Dinastia Dajin (1616-1636, Grande Jin, que ficou na História com o nome de Hou Jin, Jin Tardio), com capital em Hetuala, cujo nome passou a ser Xingjing. O Khan Nurhachi (1616-1626) foi o seu primeiro soberano, com o título de reinado Tianming e nome-templo Taizu. Trazia um sistema político, económico e militar completamente independente da Dinastia Ming, com quem por vezes os nüzhen tinham colaborado no passado. Formou então o sistema das oito bandeiras (baqi), uma organização multifuncional, tanto administrativa, como militar e de produção, em que cada bandeira consistia em várias unidades básicas, chamadas niulu, de 300 pessoas que funcionavam em conjunto. Estruturada para em tempo de paz trabalharem na agricultura e na caça e em guerra constituírem-se em milícias. Cinco niulu continham 1500 pessoas e formavam uma jiala e cinco jiala, com 7500 pessoas, formavam uma bandeira, sendo cada uma das oito bandeiras identificadas por uma cor, ficando à frente de cada os filhos e sobrinhos de Nurhachi. Com a população civil registada e organizada, o povo nüzhen ganhou uma forte unidade e eficiência, desenvolvendo-se tanto económica como socialmente, tornando-se mais estreitas as relações entre os membros, o que favoreceu a liderança de Nurhachi. Este ordenou também a criação da língua man, escrita baseada nas palavras mongóis e pronúncia nüzhen. Em 1618 começou a atacar os territórios do Norte da Dinastia Ming, derrotando-a em várias batalhas. O mesmo ocorreu no ano seguinte, quando o Imperador Chongzhen enviou para cima de cem mil homens, morrendo mais de metade desse exército ming. Conquistou em 1621 Shenyang e Liaoyang, onde fez a capital e em 1625 foi esta mudada para Shengjing (Shenyang), mandando ainda nesse ano erguer aí o Palácio Imperial; uma réplica mais pequena da Cidade Proibida de Beijing. Em 1626, à frente de um enorme exército marchou para Sul atacando o exército ming, comandado pelo General Yuan Chonghuan. Mas saiu derrotado, tendo Nurhachi morrido, segundo parece, não na batalha, mas oito meses depois. Tal derrota deveu-se ao canhão enviado de Macau, que o Imperador ming Tianqi (1620-27) pedira aos portugueses para conter o avanço do exército nüzhen. Os tiros do canhão provocaram tantas baixas, que levou o invasor a ser mais cauteloso nos ataques. Sucedeu como segundo khan da Dinastia Da Jin o oitavo filho de Nurhachi, Huang Taiji (1592-1643), que governou como Tiancong de 1627 a 1636, sendo na língua local conhecido por Abahai. Quando o Palácio Imperial em Shengjing (Mukden) ficou completo em 1636, Huang Taiji mudou o nome da dinastia para Qing (puro), preparando um corpo militar forte para invadir a China.
Crime | Detidas 562 pessoas por troca ilegal de moeda Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]N[/dropcap]o passado mês de Fevereiro foram detidas 562 pessoas por troca ilegal de moeda no território. As detenções foram o resultado de 208 operações levadas a cabo pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), revela um comunicado emitido pelas autoridades que adianta que todos os detidos foram expatriados, sendo que 407 foram sujeitos à medida de proibição de reentrada em Macau. Já no mês de Janeiro foram efectuadas 246 acções policiais de fiscalização, tendo sido interceptados 545 indivíduos envolvidos em “burlas de troca de dinheiro”, tendo os mesmos sido repatriados. Destes, 411 foram sujeitos à medida de proibição de reentrada. As autoridades recordam ainda que durante o ano 2018, foram repatriados 3050 indivíduos, dos quais 2269 ficaram impedidos de voltar a entrar em Macau. As autoridades recordam ainda que vão continuar a investir no combate a este crime de modo a “reduzir os riscos de segurança para a sociedade, procurando assegurar um bom ambiente para Macau”. Habitação | Índice de preços cai 1,3% entre Novembro e Janeiro Entre Novembro de 2018 e Janeiro de 2019 o índice global de preços da habitação diminuiu 1,3 por cento, em comparação com o período entre Outubro a Dezembro de 2018. De acordo com um comunicado emitido pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, o índice de preços de habitações construídas baixou 1,0 por cento, em relação ao período anterior, destacando-se que na Península de Macau desceram 1,1 por cento e na Taipa e Coloane 0,9 por cento. Em comparação com o período de Novembro de 2017 a Janeiro de 2018, o índice global de preços da habitação e o índice de preços de habitações construídas subiram 3,2 por cento e 6,0 por cento, respectivamente, enquanto o índice de preços de habitações em construção desceu 3,1 por cento.
O desenvolvimento de uma exclamação Rita Taborda Duarte - 11 Mar 20197 Ago 2019 [dropcap]V[/dropcap]inde cá, meu tão certo secretário. Podemos tratar-nos por tu? Não? Compreendo…Perdoai, então. E perdoai por tudo: pela insolência e atrevimento, claro, mas também pelo logro. Prometi pedradas em livros de versos, a ver a mossa que lhes faria, calhando em acertar-lhes, mas aponto já para outros alvos, pousando o olho lírico noutras gaiolas, outras janelas. «Um Bailarino na Batalha», de Hélia Correia, não parece um poema, mas é-o, em certa medida. Percorro definições de poesia que o atestem, que isto da teoria literária pouco diferente será da água benta, cada qual toma de quanta quer e como lhe convém. Benzo-me, com uns salpicos abençoados por Valèry, para dizer ao que venho. Se bem não faz, também não prejudica: «A poesia é o desenvolvimento de uma exclamação». E por aqui se comprova o lirismo de Hélia Correia, ainda que numa novela que não descuida todas as categorias da narrativa: os vários tempos e ritmos a atravessar a temporalidade ficcional que manipula, por sua vez, os cordéis da acção, as personagens, o espaço e o narrador a um canto, afadigado, gerindo pontos de vista. Tudo isto ao serviço de uma inquietação aguda, de uma exclamação crescente: espécie de ponto luminoso que se acende, brilha até à sua intensidade máxima, quase cegando, e que depois se apaga. A luz fere, desaparece, fugaz, mas o golpe de luz permitiu ver, mesmo por breves instantes, uma imagem que persiste como emoção exclamativa, um brado que se ouve, apesar de embutido na garganta. Meu tão certo secretário, já que cá viestes, dando-vos a esta maçada, permiti-me continuar, que as metáforas são como as cerejas… Assim se pode distribuir a literatura: De um lado, temos as narrativas, espécie de ampla paisagem por onde se caminha; o leitor pára, cuida de pormenores, e ora os olhos se alongam lá para dos horizontes, ora se demoram na minúcia de um formigueiro, mesmo ali, ao cair do pé. O leitor deixa-se ficar no cenário da ficção, vê o nascer do sol, vislumbra o ocaso ao fundo; depois anoitece, e tudo se queda de seguida num repouso sossegado. Por outro lado, há também a poesia, que se mede por diferentes bitolas: aí, o leitor permanece como numa noite de tempestade: fica à janela, só olhando, que o tempo não convida a caminhadas. Tudo escuro, lá fora. Mas, de repente, cai um relâmpago. E então, num eis, toda a floresta se acha iluminada: bela e tenebrosa, como nunca se vira. O leitor já nem consegue mais dormir e, no dia seguinte, de manhã, olhando pela mesma janela, sabe que a floresta do dia anterior, vista à luz breve do relâmpago, sequer se aproxima daquelas árvores desfiladas, que sempre avistara no conforto da vida: assim é um poema. Depois, para lá da poesia e da prosa, ou enlaçando-as, até, há os livros de Hélia Correia: um constante caminhar na tempestade. O leitor anda à chuva, molha-se, por evidência, e a cada momento um relâmpago lhe mostra outra paisagem na paisagem, muito mais dura, exclamação breve, vislumbre assombroso à luz do relâmpago. «Bailarino na Batalha» é a graciosidade de um esgar, de um movimento que se liberta (o movimento do cavalo na batalha, não do combatente), terrível, mas belo, um movimento não previsível que se levanta em dolorosa elegância, na improbabilidade dos escombros. Este simbólico cavalo (literal e metafórico) não aparece na novela, só no poema final, belíssimo, que lhe serve de epílogo (sim, há um poema, neste texto, mas nem só por isso o podemos considerar, no seu todo, um poema também). Só um poema poderia resumir, como conclusão, o relâmpago de perplexidade e espanto, que ilumina o mundo, o nosso mundo, na novela: […] Oh, os cavalos do Mediterrâneo, leves como vapor, filhos das águas dourados como o mar quando entardece. Inalcançáveis criaturas mesmo quando delas fazem montadas, mesmo quando as conduzem para a linha do abate […] Da guerra, só acedemos aos estilhaços, somente ao eco daquilo que foi, aos resíduos, às sobras do que para trás se abandonou; uma memória física que se carrega aos ombros, na dura travessia deste deserto, também simultaneamente metafórica e literal, encetada por uma mole desgarrada de migrantes. Toda a novela, em capítulos curtos, alguns curtíssimos, como breves poemas em prosa, se socorre de um tom alegórico para expor uma reflexão profunda sobre o mito da terra prometida: essa Europa-miragem, que com uma mão acena, pungente, e com outra repele, altiva. Assim começa o livro, uma página em branco, só com um parágrafo, talvez um poema: Aquilo que voa nem espessura tem para projectar sombra. Passa e apenas entristece um pouco a já cinzenta areia. É a memória. A lívida memória, descolada dos cérebros, tão fina, tão doente, que não pode tocar-se, que, ao mínimo contacto, cairá, desfeita em pó. E o seu nome mudará para esquecimento. E o esquecimento tudo esquecerá. Um bando de migrantes juntos, mas desgarrados e sem pertença, foge da guerra rumo ao mar. Pretendem chegar à Europa. Estão famintos, desolados, mantendo só os mínimos resquícios de humanidade e traços vagos, soltos da sua civilização não nomeada, mas reconhecível, pelos modos de trajar, códigos de honra, uma clivagem entre os homens e as mulheres, de cara tapada pelos farrapos sobrantes, revelando um estatuto de submissão e inferioridade que se vai refigurando ao longo do livro. Não se trata de sobreviventes, são antes morrentes. A palavra não existe, mas ajustar-se-ia bem ao tom de todo o texto, que mostra o que as palavras não saberiam dizer. Um velho cego, um homem sem braço, desprezado do grupo, por traidor, uma criança visionária, uma mulher-fera, uma velha e mortos, muitos mortos, que vão largando o corpo pelos caminhos, são algumas personagens-símbolo deste povo cercado, sitiado, a reinventar-se nos escombros. Mais do que uma reflexão, «Um Bailarino na Batalha» é um livro que faz sentir a feridas profundas do confronto mundo ocidental/médio oriente. A urgência reflexiva, terrível, da novela funda-se, afinal, na força da linguagem, das imagens, que se vão sobrepondo com um vigor doloroso: desde a travessia do deserto, à transformação do rio em lodo quase inerte, ao conforto de um bosque, com frutos e animais, que logo se esgotam, até se alcançar o fim da jornada, quando ainda a meio do percurso se estava: o limite é, afinal, a cidade em nove círculos que lhes veda a progressão adiante, até ao mar, porque — adverte-se–a Europa não os quer: «Porque é que te pões tu à nossa frente? Tem dono este caminho?» «Ora, os caminhos têm sempre dono», disse o homem. «Tudo tem dono. Tu também tens homem. O teu homem? Escondeu-se atrás de ti?» Estendeu a mão para a agarrar e ela furtou-se. O homem desistiu. Aquele não era o jogo que ele jogava. «Existem nove círculos na cidade», repetiu ele. «O de fora pertence aos miseráveis, o do centro aos magníficos. Pode apenas passar-se de um círculo para o círculo imediato para fazer as limpezas e a comida. Ninguém sobe das caves e dos túneis, ninguém vê algo que não deva ver. Da cidade não se entra, não se sai. Ela é perfeita. Levou séculos a afinar. Imaginaram que seriam recebidos?» «Nós não queremos a tua cidade», disse Awa. «Queremos a Europa. Queremos chegar ao mar, pegar num barco e partir para a Europa.» O homem riu: «A Europa não vos quer. Sabes que mais? Nós somos a Europa. Nós somos a primeira instância da Europa. Estamos aqui para impedirmos o avanço.» Uma novela belíssima, que não só termina num poema, como é um poema: o tal relâmpago que mostra o mundo em torno e mostra-no-lo como não o conhecíamos ainda. Hélia Correia, Um Bailarino na Batalha, Lisboa, Relógio d’Água, 2018
Tribunais | Ministério Público recorreu de sentença que absolveu John Mo João Santos Filipe - 11 Mar 2019 O Tribunal de Segunda Instância vai ter de decidir sobre a inocência do ex-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, após o MP ter interposto recurso sobre a decisão que ilibou o académico da acusação de violação [dropcap]O[/dropcap] Ministério Público recorreu da decisão do Tribunal Judicial de Base (TJB) que absolveu John Mo, ex-director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau, da prática de um crime de violação. A informação foi revelada pelo MP, ao HM, na sexta-feira, ou seja no dia seguinte à data limite para a contestação. “Vimos por este meio informar que o Ministério Público interpôs recurso da sentença do processo que envolve John Mo”, informou a instituição liderada por Ip Son Sang. O caso aconteceu a 23 de Junho do ano passado e envolveu John Mo e uma estudante do ensino superior, casada, de outra instituição de ensino local, que não a Universidade de Macau. Foi por volta das 23h00 e as primeiras horas do dia seguinte, num bar de karaoke, que o académico terá beijado, abraçado e inserido um dedo na vagina da queixosa. Mais tarde a mulher, do Interior da China, que já tinha terminado os estudos e ia regressar, nos dias seguintes, ao local de origem acabou por apresentar queixa por violação. No entanto, o colectivo de juízes do TJB, liderado por Lou Ieng Ha, considerou que não havia provas para considerar John Mo culpado. A situação ficou toda registada em vídeo, que foi o principal meio de prova do julgamento. Consciente ou inconsciente? Uma das grandes questões que esteve em causa na primeira instância foi decidir se a alegada vítima estava em condições de tomar decisões ou se o álcool ingerido fazia com que tivesse perdido o discernimento. O tribunal acabou por considerar que a ofendida estava na posse de capacidades suficientes para ter consciência do que estava a fazer. Além disso, para o tribunal, não houve qualquer acto de resistência ao avanços do académico: “Não há dúvidas que o arguido introduziu o dedo na vagina [da ofendida] e, por momentos, fez um movimento de vai e vem”, foi uma das frases da sentença proferida pela juíza Lou Ieng Ha. “[Ela] Ficou deitada [na sala de karaoke], mas o indivíduo não a prendeu [quando avançou]. A ofendida podia movimentar os braços. E ela mexeu-se, aparentemente para facilitar a introdução [do dedo]. Tinha as mãos livres, mas não bateu no arguido. Bastava que tivesse feito qualquer gesto de oposição como, por exemplo, puxar os cabelos do arguido, para mostrar que recusava. Não o fez”, foi sustentado, na altura. Além do académico, o caso envolve também Lei Iok Pui e Yang Manman, que enfrentavam acusações da prática do crime de violação e omissão de auxílio. Ambos foram absolvidos. A decisão segue agora para o Tribunal de Segunda Instância, que vai ter de se pronunciar sobre o caso.
Preços | Inflação desacelera pelo 4.º mês consecutivo Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]A[/dropcap]inflação na China desacelerou pelo quarto mês consecutivo em Fevereiro ao subir 1,5 por cento em termos homólogos, face aos 1,7 por cento registados em Janeiro, de acordo com os dados oficiais divulgados sábado. De acordo com o instituto nacional de estatística chinês, o índice de preços no consumidor (IPC) registou o seu ponto mais baixo desde Janeiro de 2018, embora esteja ainda longe de uma possível deflação. Em Fevereiro, os preços dos alimentos subiram 0,7 por cento em termos homólogos, o que representa uma descida de 1,2 pontos percentuais face a Janeiro e que esteve ligada à queda de 4,8 por cento da carne de porco, que em Janeiro já tinha sofrido uma descida de 3,2 por cento. Em relação aos produtos não alimentares, os preços cresceram 1,7 por cento em Fevereiro, o mesmo aumento do que o registado no mês anterior. O aumento dos preços no sector da saúde, educação, entretenimento e arrendamento habitacional também contribuiu em 1,34 pontos percentuais para a taxa de inflação geral. O índice de preços na produção, por sua vez, subiu 0,1 por cento em termos homólogos no mesmo mês, mantendo-se inalterado face a Janeiro, depois de ter desacelerado sete meses consecutivos.
Protecção Civil | Simulacro de grande escala no próximo mês Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, revelou ontem estar programado, para o final do próximo mês, um simulacro integrado de protecção civil de grande escala. Um exercício para o qual os residentes interessados podem inscrever-se, a título individual, para participarem e onde as funções da plataforma de comando de emergência proposta pela Universidade Tsinghua serão também testadas. O objectivo passa por elevar a eficácia dos trabalhos de comando da estrutura de protecção civil, indicou o secretário para a Segurança, à margem da cerimónia de inauguração do Dia de Convívio entre a Polícia e o Cidadão. Questionado sobre os planos de criação de uma estação de rádio no âmbito da protecção civil, o secretário explicou que, em breve, vai ser iniciada a segunda fase das obras de remodelação do Centro de Operações de Protecção Civil, prevendo-se a sua conclusão em Setembro, estando já reservado espaço para a sua instalação. Não obstante, como reconheceu, a emissora não deve entrar em funcionamento antes da época de tufões – com início normalmente em Maio – até porque envolve recursos humanos, equipamentos, bem como a definição de mecanismos e de modelos de funcionamento, carecendo de uma “ponderação minuciosa”. Em paralelo, os Serviços de Polícia Unitários (SPU) estão ainda a finalizar o estudo a respeito, que se espera concluído este ano, o qual irá preceder um plano preliminar, indicou Wong Sio Chak.
Economia | Prometidas medidas para melhorar competitividade Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap]ministro do Comércio da China, Zhong Shan, prometeu sábado implementar políticas para manter estável o crescimento do comércio e melhorar a competitividade, numa altura de fricções com os Estados Unidos. Em declarações à imprensa, à margem da sessão anual do legislativo chinês, Zhong disse que o Governo vai facilitar o comércio através de seguros de crédito à exportação, financiamento, entre outras acções, para reduzir encargos e melhorar a eficiência empresarial. “Em geral, o comércio da China é enorme em escala, mas não suficientemente competitivo”, disse, citado pela agência de notícias estatal Xinhua. Para melhorar a competitividade do comércio externo, o gigante asiático vai incentivar as exportações de produtos de alta tecnologia, alta qualidade e alto valor agregado. Questionado sobre o impacto, nos próximos meses, da guerra comercial com os Estados Unidos, o ministro disse apenas esperar manter um “crescimento estável” do comércio externo em 2019. Além disso, Pequim planeia aumentar as importações, explorar os mercados emergentes e continuar a promover a cooperação internacional através da Nova Rota da Seda.
Nam Van | Casa de Portugal recorre de exclusão de concurso público Diana do Mar e João Santos Filipe - 11 Mar 2019 A Casa de Portugal pretendia transferir o restaurante “Lusitanus”, mas foi excluída do concurso público para a exploração de espaço em Nam Van por falta de carimbos. Inconformada, recorreu para o Tribunal de Segunda Instância e perdeu a primeira batalha na quinta-feira, ao ver indeferido o pedido de suspensão do concurso público [dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) indeferiu um pedido de suspensão de eficácia interposto pela Casa de Portugal (CPM) para interromper a execução do procedimento de um dos concursos públicos para a exploração de espaços no Anim’Arte Nam Van, da qual foi excluída logo na fase inicial. Perdida a primeira batalha, a CPM aguarda agora por uma decisão sobre o conteúdo da acção principal. A informação foi revelada pela presidente da Casa de Portugal, Maria Amélia António, ao HM, dado que, no portal dos tribunais, encontra-se apenas disponível o resultado do pedido de suspensão de eficácia do acto administrativo do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. Um resultado que, na verdade, “já não tem efeito prático”, atendendo a que o concurso público prosseguiu. “Fizemos o pedido por descargo de consciência. Sabíamos que a suspensão não ia ser aceite porque o recorrido não tem que justificar. Basta dizer que existe interesse público em que o concurso prossiga”, pelo que “já sabíamos qual era a decisão”, explicou Amélia António, enfatizando que falta julgar ainda “a questão de fundo”. O recurso interposto para o TSI tem como objecto um dos mais recentes concursos públicos a serem lançados pelo Instituto de Formação Turística para a exploração de espaços para restauração junto ao Lago Nam Van. A Casa de Portugal concorreu apenas a um dos espaços colocados a concurso, com a intenção de transferir o “Lusitanus”, actualmente “mal instalado” na sede para o novo espaço. Contudo, a Casa de Portugal foi eliminada logo na abertura do concurso público por falhar em cumprir um requisito formal: carimbos em todos os documentos que constituíam a proposta. “Exigiam que o concorrente tivesse todas as folhas carimbadas. Tínhamos carimbos onde se assinava, onde se terminava a apresentação e carimbámos para evitar chatices”, relatou Amélia António, criticando a falta de senso, até porque “os carimbos em Macau não têm qualquer valor”. “Na lei o que tem valor é a assinatura – é o que representa a entidade ou o próprio. Os carimbos não valem nada”, realçou a também advogada. Outras lacunas Acresce, porém, que a falta de carimbos em todas as folhas, mesmo que assumida, era uma razão que “não podia ser ultrapassada”, indicou a presidente da Casa de Portugal, dando conta de lacunas mais relevantes que, por contraste, podiam ser suprimidas: “Coisas importantes, como a proposta de rendas e os compromissos que tinham de ser com assinatura reconhecida [por um notário], tinham 24 horas para suprir a deficiência. Havia coisas que exigiam uma certa responsabilidade que podiam ser supridas, mas a falta de um carimbo em cada folha não podia…”, pelo que resultou na “exclusão imediata” da proposta. Esta não foi a primeira vez que a Casa de Portugal foi previamente excluída de concursos públicos, mas no passado tal ficou a dever-se ao facto de não serem uma empresa, como exigido. “Nos primeiros concursos em que participamos não tínhamos a noção de que a Casa de Portugal por si não podia concorrer porque não é uma empresa, mas depois aprendemos a lição e constituímos uma sociedade unipessoal que tem como único sócio a Casa de Portugal”, indicou Amélia António, referindo-se então à CPM Artes e Ofícios.
Hong Kong | Filipina despedida por ter cancro contesta decisão junto do Governo Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]D[/dropcap]espedida após lhe ter sido diagnosticado um cancro no colo do útero, Baby Jane Allas, perdeu o acesso ao sistema de saúde e recebeu a indicação de que tinha duas semanas para deixar a RAEK A empregada doméstica filipina, despedida por ter cancro e privada de acesso ao sistema de saúde de Hong Kong, recorreu ao Departamento de Trabalho do Governo local para contestar o despedimento. De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), além de perder o acesso ao sistema de saúde, o despedimento de Baby Jane Allas implica a saída, no prazo de 15 dias, da antiga colónia britânica. O departamento de Trabalho indicou que ia prestar “uma ajuda apropriada” a Baby Jane Allas, que em Janeiro passado foi diagnosticada com cancro no colo de útero, estádio III. Na sequência deste diagnóstico, a empregada doméstica foi despedida pouco tempo depois pela família de origem paquistanesa que a empregava. “Razões para o despedimento (se existirem): diagnóstico de cancro do colo do útero”, de acordo com a carta recebida, a que a AFP teve acesso, sem ter conseguido entrar em contacto com a família empregadora. Allas recorreu também à Comissão para Igualdade de Oportunidades. Este organismo governamental escusou-se a comentar o caso, mas sublinhou ser ilegal despedir um funcionário devido a uma situação considerada de desvantagem, seja ela qual for. A comissão reconheceu ainda que este tipo de “discriminação continua a existir” na antiga colónia britânica, cuja transferência de soberania para a China ocorreu em 1997. A filipina afirmou que pretende terminar o contrato. “Tenho cinco filhos e só eu os sustento, sou mãe solteira”, contou Allas, que foi acolhida pela família norte-americana para a qual trabalha a irmã. Esta família está a ajudar a Allas a contestar o despedimento, tendo organizado uma campanha de recolha de fundos ‘online’ para pagar as despesas médicas. Até agora, juntaram o equivalente a 30 mil euros. Base do sistema As empregadas domésticas são consideradas um pilar da economia deste centro financeiro mundial, por permitirem aos pais trabalharem enquanto elas se ocupam das crianças e da casa. Mais de 340 mil empregadas domésticas, denominadas publicamente como “helpers” ou assistentes, na maioria indonésias e filipinas imigrantes, trabalham em Hong Kong. A maior parte recebe uma pequena remuneração pela realização de algumas tarefas classificadas como ingratas e em condições difíceis. As autoridades de Hong Kong afirmam que o sistema é justo e os abusos raros. Para defensores dos direitos humanos locais, uma em cada seis empregadas domésticas é frequentemente vítima de exploração e a lei oferece uma protecção sumária. No ano passado, o departamento de Estado norte-americano colocou Hong Kong ao mesmo nível da Tailândia e do Afeganistão em relação ao tráfico de seres humanos, em parte devido à protecção insuficiente para as empregadas domésticas. Os elevados custos cobrados por agências de recrutamento, a obrigação de viver na casa do empregador, um salário mínimo de 4.520 dólares de Hong Kong e a saída, em poucos dias, do território caso percam o emprego, explicam porque dificilmente se conseguem defender de patrões pouco honestos ou agressores.
SJM | Filha de Stanley Ho está grávida e quer casar em Portugal Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]A[/dropcap] filha mais velha da relação de Stanley Ho com a deputada Angela Leong está grávida e quer casar em Portugal, onde pretende arrendar um castelo para o efeito. A notícia foi avançada, na sexta-feira, pelo jornal Apple Daily. Sabrina Ho, que nos últimos tempos se tem dedicado ao negócio dos leilões de arte, está noiva do namorado Thomas Xin desde Setembro e grávida de três meses. O casamento deverá acontecer já em 2020, não sendo ainda certo que o pai, Stanley, actualmente com 97 anos, possa viajar devido aos problemas de saúde que tem enfrentado. Quando o bebé nascer, Angela Leong, que tem quatro filhos de Stanley Ho, vai tornar-se avó pela primeira vez.
Moeda | Acordo com EUA para não usar depreciação com objectivos concorrenciais Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap]governador do Banco Popular da China, Yi Gang, assegurou ontem que Pequim e Washington comprometeram-se a não utilizar a depreciação da moeda com objectivos concorrenciais, deixando que seja o mercado a determinar as taxas de juro. Numa conferência de imprensa realizada em Pequim durante a Assembleia Popular Nacional (APN), Yi Gang explicou que, na última ronda de negociações comerciais, as duas partes abordaram o tema das taxas de juro, a autonomia das autoridades monetárias e a necessidade de manter uma comunicação estreita sobre o mercado de divisas. A este respeito, adiantou que ambas as partes conseguiram acordos sobre “muitas questões-chaves importantes”, mas escusou-se a divulgar mais detalhes, noticia a agência Efe. Também mostrou o compromisso da China de não utilizar o câmbio monetário como ferramenta para aumentar a produção ou resolver questões comerciais, depois do Presidente dos EUA, Donald Trump, ter acusado no ano passado Pequim e Moscovo de jogar “o jogo da depreciação monetária”. Sobre as negociações para encontrar una saída para a guerra comercial, o vice-ministro do comércio chinês, Wang Shouwen, também assegurou no sábado que as negociações estão a decorrer e mostrou-se “optimista” perante um possível pacto para pôr fim à imposição mútua de tarifas. Perante os riscos e desafios actuais que enfrenta o gigante asiático, o Banco Popular da China também assegurou que manterá uma política “prudente” para guiar o crescimento razoável de crédito e financiamento em 2019, que incluirá um maior apoio para as pequenas empresas e para as privadas. A política monetária da China, desenhada principalmente para adaptar-se à situação económica interna, também irá considerar os factores globais e os sectores orientados para a exportação, acrescentou.
Sarampo | Registado terceiro caso importado João Santos Filipe - 11 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde confirmaram na sexta-feira um caso de sarampo importado, elevando para três o número de ocorrências do tipo desde o início do ano. O paciente é um residente, de 38 anos, actualmente hospitalizado na enfermaria de isolamento do Hospital Kiang Wu devido ao facto de ainda ter febre. O homem apresentou os primeiros sintomas a 1 de Março, altura em que recorreu à clínica da empresa onde trabalhava. Dois dias depois, face ao surgimento de erupção cutânea na face e no pescoço dirigiu-se ao Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Conde de S. Januário. A 6 de Março, os sintomas agravaram-se, com a erupção cutânea a espalhar-se para o tronco e membros, levando-o a dirigir-se ao Serviço de Urgência do Hospital Kiang Wu. O diagnóstico foi confirmado na sexta-feira, dia 8, com o residente a testar positivo sarampo. O paciente nasceu na China e, segundo os Serviços de Saúde, não estava vacinado contra o sarampo. De acordo com os Serviços de Saúde, o paciente deslocou-se duas vezes em Zhongshan, onde permaneceu uma noite, durante o período de incubação. O historial de viagem e o tempo de início dos sintomas levou os Serviços de Saúde a concluir tratar-se de um caso importado.
Saúde | Governo propõe idade mínima de 18 anos para comprar álcool João Santos Filipe - 11 Mar 2019 O Executivo vai fazer uma consulta pública relativa à idade mínima, 18 anos, para se poder comprar bebidas com álcool. Sanções para consumidores não estão em cima da mesa, mas os impostos das bebidas alcoólicas podem sofrer um aumento, como aconteceu com os produtos do tabaco [dropcap]O[/dropcap] Governo vai lançar uma consulta pública em que propõe que a idade mínima para a compra de bebidas alcoólicas seja de 18 anos. O objectivo da proposta é controlar o consumo de álcool entre os menores e responder a um apelo da “comunidade”, segundo Lam Chong, Chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos Serviços de Saúde. A consulta pública só deverá começar na segunda metade do ano corrente. “A comunidade de Macau apelou a uma regulamentação para limitar o consumo de álcool por menores. Macau tem regulamentos rígidos sobre condução de veículos em estado de embriaguez, mas ainda não existem disposições legais para a prevenção e controlo do consumo nocivo de álcool”, começou por explicar Lam. Sobre o critério dos 18 anos de idade, Lam justificou que foi tida como referência a legislação de vários países vizinhos e também europeus. No entanto, admite que poderá haver alterações à idade mínima: “Vai haver uma consulta pública e não há uma decisão final. Queremos ouvir as opiniões da população antes de tomarmos uma decisão”, explicou. O consumo de álcool por parte de menores foi apontado como um problema em Macau por um estudo que contou com cerca de 7.000 inquéritos a alunos do secundário. A investigação académica revelou que 80 por cento dos alunos experimentaram bebidas alcoólicas antes dos 13 anos. “É um número um bocado alto se compararmos com as regiões vizinhas, como Hong Kong ou o Interior da China, e outros países, em que as percentagens variam entre os 50 e 70 por cento”, defendeu Chefe do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças Serviços de Saúde. Por outro lado, o membro do Governo apontou que existe uma correlação forte “entre o consumo de álcool na juventude e o uso nocivo na idade adulta” e que o consumo de álcool potencializa outras doenças. Mesmo assim, o estudo de referência dos Serviços de Saúde apontou que 8 por cento dos estudantes beberam em excesso e 1,6 por cento ficou em estado de embriaguez. Uso sem penalização Além da idade de venda, o diploma vai abranger outros aspectos como a publicidade de bebidas alcoólicas, assim como os incentivos na sociedade para o consumo deste tipo de produtos. Neste momento, está afastada a possibilidade de punir os menores que consumam álcool: “Aplicar sanções a menores não é viável. Se podemos aplicar aos pais por negligência, é um assunto que vamos discutir. Mas em termos dos menores não é viável, nem são situações fáceis de detectar. Vamos antes apostar na educação e em campanhas de prevenção”, opinou Lam. O que não está afasto é um aumento dos impostos sobre as bebidas alcoólicas. Neste aspecto, foi revelado que a actual legislação de controlo do tabaco vai ser tida como referência. Outro capítulo em que o mesmo diploma também vai ser utilizado como modelo é nas sanções para os infractores da venda de bebidas, em que os valores das multas poderão variar entre as 20 mil e 200 mil patacas.
Visita | Bolsonaro na China no segundo semestre deste ano Hoje Macau - 11 Mar 2019 O Presidente brasileiro, que tem agendadas a curto-prazo visitas aos Estados Unidos, Chile e Israel, anunciou agora uma deslocação à China, na segunda metade do ano [dropcap]O[/dropcap]Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, anunciou sexta-feira que vai visitar a China, maior parceira comercial do país, durante o segundo semestre deste ano. Bolsonaro referiu-se à realização dessa viagem durante uma cerimónia em que recebeu as credenciais do novo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, e reiterou que a intenção do seu Governo, em termos de política externa, é ampliar as relações comerciais com “todo” o mundo. “Vamos melhorar a relação. Queremos aproximar-nos (…) expandir os nossos negócios, abrir novas fronteiras”, declarou o chefe de Estado, acrescentando que essa é a “directriz” que passou a todos os seus ministros. Embora não tenha indicado quando realizará essa visita, o Presidente disse aos jornalistas que a viagem à China será “durante o segundo semestre”, já que a sua agenda externa estará “muito carregada” nos próximos meses. A China tem sido o principal parceiro comercial do Brasil no mundo nos últimos cinco anos e o destino da maioria das exportações brasileiras de matérias-primas, além de manter investimentos substanciais no país sul-americano, especialmente em matéria de energia. Após vencer as eleições, o chefe de Estado brasileiro mostrou-se comprometido em manter os laços com a China, independentemente das diferenças ideológicas, declarações que agradaram ao Presidente chinês, Xi Jinping. No entanto, durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro lançou ataques ao investimento chinês: “A China não está a comprar no Brasil, ela está a comprar o Brasil”, afirmou. Bolsonaro acusou o país asiático de ter uma atitude predatória nos investimentos realizados no Brasil e tornou-se, em Fevereiro do ano passado, o primeiro candidato presidencial brasileiro a visitar Taiwan, desde que o Brasil reconheceu Pequim como o único Governo chinês, em 1979. Em Novembro de 2018, logo após a vitória de Bolsonaro nas presidenciais, o jornal China Daily lembrou, no seu editorial, Jair Bolsonaro “não tem motivos” para perturbar as relações com a China, lembrando o peso do país asiático para a economia brasileira. O jornal oficial em língua inglesa China Daily afirmou que “virar as costas à China talvez sirva algum propósito político”, mas que os “custos para a economia brasileira podem ser duríssimos”. “Temos a sincera esperança de que, após assumir a liderança da oitava maior economia do mundo, Bolsonaro vai olhar de forma objectiva e racional para o estado das relações China-Brasil”, escreveu o jornal, referindo-se a Bolsonaro como o “Trump Tropical”. Encontro de irmãos Bolsonaro assumiu que, no comércio exterior, investirá esforços numa relação com os Estados Unidos, país que visitará no final da próxima semana, naquele que será o seu primeiro encontro com o Presidente norte-americano, Donald Trump, de quem Bolsonaro é um confesso admirador. Este mês, o chefe de Estado brasileiro também pretende fazer uma visita oficial ao Chile, no âmbito da sua participação numa cimeira convocada pelo Presidente chileno, Sebastián Piñera, para discutir a constituição do Prosul, um novo mecanismo de integração que poderá substituir a União de Nações da América do Sul (Unasul). Além disso, Bolsonaro anunciou uma visita a Israel até ao final de Março, um país que também está entre as prioridades da sua política externa. Embora ainda não tenha confirmado oficialmente desde que tomou posse, no dia 1 de Janeiro, Bolsonaro expressou, durante a campanha para as eleições de 2018, a sua intenção de mudar a embaixada brasileira em Israel, transferindo-a da sua actual sede em Telavive para Jerusalém. Esta possível mudança gerou mal-estar em muitos países árabes, que estão entre os principais importadores de frango do Brasil, um dos maiores produtores de aves do mundo.
Literatura | Rota das Letras arranca quinta-feira com a poesia como tema Sofia Margarida Mota - 11 Mar 2019 A oitava edição do festival literário, Rota das Letras, está à porta com datas marcadas entre 14 e 24 de Março. Este ano a programação será compactada em menos dias e pela primeira vez terá um tema: a poesia. Miguel Sousa Tavares e José Luís Peixoto são dois dos principais convidados portugueses, num ano em que se celebram Sophia de Mello Breyner, Adé dos Santos Ferreira, Herman Melville, Walt Whitman e Jorge de Sena [dropcap]“A[/dropcap] poesia é o início de tudo, a primeira interpretação do mundo.” Foi assim que Carlos Morais José, director de programação do festival literário Rota das Letras apresentou a oitava edição subordinada ao tema da poesia. É para mostrar a universalidade desta arte que o Rota das Letras de 2019 propõe uma programação que trespassa o género literário na multiplicidade de formas que pode apresentar. “Queremos mostrar às pessoas que há muitas formas diferentes de apresentar poesia, podemos fazê-lo simplesmente através do recitar, podemos fazer através do teatro, do cinema ou através da pintura”, acrescenta o director de programação. Um dos destaques do cartaz deste ano vai para a celebração do 100º aniversário de Sophia de Mello Breyner. A efeméride vai ser assinalada com a presença do jornalista e escritor Miguel de Sousa Tavares, filho da poetisa, no dia 15 pelas 19h, nas Oficinas Navais. Durante a palestra, intitulada “O percurso literário de Sophia”, o filho da poetisa irá recitar alguns poemas da mãe. A Associação Cultural D´as Entranhas também vai assinalar o aniversário da autora portuguesa com a performance “Sophia”, no mesmo dia e local, às 21h. O grupo vai partir da poesia de Sophia de Mello Breyner, e reinterpreta-la, num formato que em nada se assemelha a um recital. “Pegar nos monstros é sempre complicado, ainda por cima tratando-se da Sophia”, revelou Vera Paz, responsável pela associação. Também Jorge de Sena terá destaque nesta 8ª edição do festival literário. “Vamos apresentar um documentário sobre o Jorge de Sena realizado por um professor de uma universidade e South Lake City, nos Estados Unidos”, desvenda Ricardo Pinto. O director do festival explica que o académico, além de ter trabalhado com o poeta, fez também várias antologias poéticas de Angola e de Moçambique, destacando-se como um grande promotor da poesia em português. Poemas de cá Adé Ferreira dos Santos será outro dos destaques da edição deste ano do Rota das Letras. O poeta macaense vai ser recordado com um recital inteiramente feito em patuá. Será um raro momento de leitura de poesia, apontou ontem Carlos Morais José. Durante o evento será ainda publicado um dicionário de Crioulo de Macau. Também Camilo Pessanha vai ser recordado na 8.ª edição do festival literário de Macau, desta feita com a apresentação do filme “Pe San Ié” de Rosa Coutinho Cabral que tem Carlos Morais José como protagonista. Clássicos de sempre Os 200º aniversários de Herman Melville, autor de “Moby Dick” e de Walt Whitman vão ser assinalados na edição deste ano do Rota das Letras com a apresentação de dois documentários sobre a vida dos incontornáveis escritores norte-americanos. Outra das datas assinaladas pelo Rota das Letras é o centenário do movimento do 4 de Maio, que marca a Nova Literatura na China. O festival vai trazer alguns dos escritos de autores que marcaram esta altura, entre eles, Lu Xun, Hu Shi e Zhu Ziqing. O grupo de teatro de Macau Rolling Puppets vai levar à cena, a peça de teatro de marionetas “Droga”, uma adaptação do romance homónimo de Lu Xun publicado em 1919. A peça será representada durante os últimos três dias do festival, nas antigas Oficinas Navais. Ode nunca vista O Rota das Letras apresentará ainda o espectáculo de Pedro Lamares “Ode Marítima”, baseado no poema de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Vai ser a primeira vez que a “Ode Marítima” é declamada integralmente num palco de Macau. “A forma dos sentimentos – quando a poesia inspira a arte” é o nome da exposição que vai estar patente nas Oficinas Navais, a partir de dia 23, e que reúne trabalhos de artistas locais baseados em excertos de poemas dos autores celebrados na edição 2019 do Rota das Letras. Rui Rasquinho, Carlos Marreiros, Fortes Pakeong Sequeira, Joaquim Franco, Konstantin Bessmertny, Cherry Tsang são alguns dos autores que aceitaram o desafio. Sons da festa Na música o destaque vai para o cantor português Salvador Sobral, vencedor do Festival Eurovisão da Canção em 2017, que fará a sua primeira visita a Macau para um concerto marcado para o dia 17 de Março no Teatro Broadway. A festa de encerramento do festival vai estar a cargo da banda de Taiwan Wednesday & Bad to the Bone. O concerto está marcado para as 22h30, do dia 24 de Março, no LMA. Depois da performance da banda de Taiwan, a noite prossegue em festa. Apesar de mais curta, a edição deste ano é mais condensada, apontou Carlos Morais José. “Esta edição encurtou-se mas concentrou-se no tempo que existe, em termos de quantidade é a mesma coisa. O tempo é que é mais curto, porque entendemos que duas semanas era muito tempo. Dez dias é uma coisa mais concentrada e permite uma acção mais eficaz”, disse. O director do festival, Ricardo Pinto, salienta neste aspecto o “período de transição” que o Rota das Letras atravessa, mas confessou estar “muito feliz” com a programação final.
Universidade de Lisboa | Alexis Tam recebe hoje Honoris Causa pela dedicação à língua portuguesa Hoje Macau - 11 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, é distinguido hoje com o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, reconhecendo o seu “empenho” no desenvolvimento do ensino e da língua portuguesa em Macau. “É uma escolha que se deve à excepcionalidade do seu percurso e forte perfil cívico e político na área da educação”, disse à Lusa o director do Instituto da Educação da Universidade de Lisboa, Luís Miguel Carvalho, a propósito da atribuição desta distinção. A proposta de atribuição das insígnias Honoris Causa partiu do Instituto de Educação, da Faculdade de Letras e do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, unidades orgânicas da Universidade de Lisboa. António Sampaio da Nóvoa, embaixador de Portugal na UNESCO e antigo reitor da Universidade de Lisboa, será o padrinho. Luís Miguel Carvalho sublinhou que Alexis Tam “tem sido uma pessoa particularmente empenhada no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem da língua portuguesa em Macau” e destacou o seu envolvimento na causa da educação, em especial na reforma das políticas educativas, com incidência no ensino superior em Macau. Entre as contribuições que considerou mais “relevantes”, apontou a criação de um curso de licenciatura em Português no Instituto Politécnico de Macau, onde se faz formação de professores de português a nativos da língua chinesa, acções de apoio à criação e desenvolvimento de cursos de graduação e pós-graduação que envolvem a Universidade de Lisboa e instituições de ensino superior de Macau e da China e um laboratório de tradução automática chinês-português.
Saúde | Sulu Sou pede a divulgação de lista de doenças raras Sofia Margarida Mota - 11 Mar 201911 Mar 2019 [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou quer que os Serviços de Saúde (SS) tornem pública a lista de doenças consideradas raras pelo organismo, bem como a sua taxa de incidência na população. Para o deputado, publicar esta informação é uma forma de alertar a comunidade para diagnósticos de doenças raras que, sendo conhecidos, “podem salvar vidas”, aponta em interpelação escrita. Sulu Sou quer ainda saber de que meios dispõem os SS para formação de diagnósticos pré-natais, uma vez que muitas das doenças consideradas raras pela Organização Mundial de Saúde têm origem em mutações genéticas precoces. O pedido de esclarecimento, diz Sou, é motivado pelas preocupações do deputado acerca da precariedade de especialistas na área genética em Macau, o que pode colidir com um diagnóstico feito em tempo útil acerca de doenças raras que necessitem de tratamentos específicos, também estes, muitas vezes não disponíveis no território. Por esta razão, o deputado questiona: “Diante das limitações quanto a especialistas em genética clínica em Macau e das muitas doenças raras associadas a mutações genéticas, que estratégias têm as autoridades para lidar com esses desafios?” Entretanto, o deputado aponta o dedo aos SS que continuam com uma base de dados especializada nesta matéria “aparentemente vazia”.