“Parque Oceanis” | TSI mantém anulação da concessão do terreno

[dropcap]N[/dropcap]a passada quinta-feira o Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão ao Executivo na declaração de caducidade de concessão do terreno outrora destinado à construção do parque temático “Parque Oceanis”.

A decisão foi ontem tornada pública, em comunicado. O colectivo de juízes diz concordar com as posições do Ministério Público e adiantou que “a obra de aterro fora basicamente concluída, mas as outras obras de aproveitamento do terreno e obras de construção de infra-estruturas nunca haviam sido sequer iniciadas”.

Neste contexto, “a concessionária apresentou, somente após o prazo de aproveitamento, uma solicitação de alteração da finalidade da concessão para comércio e habitação, firmado nas novas estratégias de Macau em matéria de economia e por motivos de mudança das circunstâncias atinentes à exploração de um parque temático”.

Situado na Taipa, junto à Estrada Almirante Marques Esparteiro, em frente ao actual Hotel Regency Hotel, o terreno foi concessionado, sob regime de arrendamento, à sociedade Chang Va – Entretenimento, Limitada, por um prazo de 25 anos, “contados a partir da data da publicação do despacho, ou seja, até 11 de Março de 2022”.

No entanto, o contrato de concessão determinou o aproveitamento do espaço para a construção de um parque temático em 36 meses “contados a partir da data da publicação do despacho, ou seja, até 11 de Março de 2000”.

Piquenique na praia e chá

[dropcap]H[/dropcap]oje o senhor que mede a temperatura não sorria como de costume. Perguntou, como habitualmente, se estava bem, enquanto me mostrava os números no termómetro. Mas parecia cabisbaixo.

“Está bem?”, perguntei. Fechou os olhos, franziu as sobrancelhas na testa morena e encolheu os ombros altos. “Estou um bocadinho preocupado. Já sabe do caso da pessoa que esteve em Macau e que acusou positivo?” Sim. Percebi-lhe a preocupação. “Mantenha-se protegido” consegui dizer, antes do “Até logo e obrigada”. Mais tarde, ao trazer-me o almoço, insistiu no bater da porta. Já tinha pendurado o saco na maçaneta, para a refeição não arrefecer no chão. “Insisti porque não quero que o almoço fique frio. É melhor quente” justificou. A refeição de hoje não vai arrefecer, vai estar sempre morna com a intenção deste anónimo, de tez escurinha, olhos negros e rasgados, que traz sempre uma palavra de ânimo por detrás da máscara. Às vezes imagino-lhe as feições. Podem ser tantas.

O Pedro morreu. Recordo os meus primeiros dias em Macau em que ao pesquisar na net por um espaço independente dei de caras com o “Che Che”. Nos comentários online não faltavam referências às particularidades do seu proprietário: “caricato”, “especial”, “com o seu feitio”, etc. Depois de conhecer o dito espaço ao som de Portishead e Laurie Anderson, conheci o Pedro. Tricas e tréguas, whiskey japonês e sempre boa música. Bem-haja.

Tenho que comprar um cesto de vime. Já está combinado. O António teve a ideia com uma recordação de outros tempos, mais felizes, e mostrou-ma numa fotografia. Quando for possível, vamos fazer um piquenique.

No cesto levamos uma toalha aos quadradinhos brancos e vermelhos, copos de vidro e uma garrafa de vinho branco num pequeno saco térmico. A praia vai ter um mar azul, nem que seja só na nossa imaginação. Qualquer Hac Sá ou Cheok Wan servem mesmo com as águas que teimam em manter tons terra. Mas nesse dia, vai estar tudo azul. O céu também.

Mudei a disposição do tapete. Agora o Yoga é de frente para a janela e para a montanha que é mais mágica do que a do Thomas Mann. Depois aqueci água. Deixo-a pousar. Não se deve queimar o chá, ensinaram-me um dia. Com a água mais calma, misturo-lhe as folhas que trouxe da última vez que fui a Zhuhai. Lá o chá é sempre melhor. Fica ali até ver a cor verde, ainda clara, aparecer. É nessa altura que se bebe. Quente e fresco.

Até amanhã

M.M.

Guilherme Pegado, um ilustre macaense

[dropcap]O[/dropcap] Professor Guilherme José António Dias Pegado nasceu em Macau em 1803. Além de académico (lente de Física e Matemática da Escola Politécnica de Lisboa e professor de Matemática na Universidade de Coimbra), foi também deputado às Cortes pelo círculo de Macau, em sucessivas legislaturas a partir de 1834. Era irmão de outro ilustre macaense, Manuel Maria Dias Pegado, fundador de três jornais em Macau: “Gazeta de Macau” (semanário), “O Portuguez na China” e “Procurador dos Macaístas”, que se publicaram sequencialmente entre 1839 e 1845”.

Professor Guilherme Pegado, fundador da meteorologia do Estado em Portugal

Na sequência da Conferência Marítima de Bruxelas que se realizou no verão de 1853, Guilherme Pegado divulgou em Portugal os critérios para a uniformização dos procedimentos referentes às observações meteorológicas no mar, tendo preparado, para esse efeito, a publicação “Notas explicativas para compor os extratos do diário náutico, conforme o plano aprovado e recomendado pela conferência marítima de Bruxelas”. Foi na viagem entre Lisboa e Macau da corveta D.João I, em 1853, que estas instruções foram postas pela primeira vez em prática em navios portugueses.

Deve-se aos seus conhecimentos e perseverança a criação da primeira estrutura em Portugal que se pode classificar como meteorologia do Estado. Foi sob sua proposta, numa reunião do Conselho da Escola Politécnica de Lisboa, em 21 de julho de 1853, que foi criado o Observatório Meteorológico do Infante D. Luís (OMIDL), numa torre junto do que restava daquela Escola após um violento incêndio, dez anos antes. O Observatório começou a funcionar em 1 de outubro de 1854, data a partir da qual se passaram a registar séries ininterruptas de observações meteorológicas em Lisboa.

Segundo Mário Calado, diretor dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau em 1967-1970, na sua publicação “A Meteorologia em Portugal antes do Serviço Meteorológico Nacional”, “o célebre médico higienista Dr. Ricardo Jorge (1858-1939) refere no seu estudo Demografia e Higiene da Cidade do Porto que em 1854 o Estado decidiu cortar o vergonhoso atraso da Meteorologia nacional pela criação em Lisboa do Observatório do Infante D. Luís”.

Observatório Meteorológico do Infante D. Luís, em 1854

Por falta de pessoal, Guilherme Pegado exerceu sozinho durante quase um ano múltiplas tarefas, entre as quais zelar pelo edifício, calibrar os instrumentos e proceder às observações do meio dia. Em agosto de 1855, ajudado por dois oficiais da marinha, passaram-se a fazer quatro observações diárias, às 9, 12, 15 e 21 horas.

Pouco depois da inauguração do OMIDL, um acontecimento relacionado com a guerra da Crimeia alertou a comunidade científica para a necessidade de os vários observatórios meteorológicos já existentes na Europa estarem ligados por telégrafo elétrico. Em 14 de novembro de 1854, uma forte tempestade afundou cerca de quarenta navios da esquadra franco-anglo-turca, que combatia as forças do Império Russo no mar Negro.

Este acontecimento contribuiu para reforçar a ideia de se criar um serviço meteorológico internacional, através do qual passaria a ser possível a troca de dados meteorológicos observados simultaneamente em vários países. Nessa altura já se sabia que as tempestades eram precedidas por uma descida acentuada da pressão atmosférica e da rotação significativa da direção do vento. Atendendo a que o deslocamento dos fenómenos meteorológicos na Europa se processam, em geral, com forte componente de oeste para leste, se fosse possível comunicar aos países mais a leste os dados observados, por exemplo, nos Açores e em Lisboa, esses países poderiam acompanhar a evolução do tempo e precaverem-se em caso de tempestades.

Após o desaire da esquadra franco-anglo-turca, o matemático e astrónomo francês Urbain Le Verrier (1811-1877), diretor do Observatório Astronómico de Paris, procedeu, em 1855, à recolha de dados de observações meteorológicas de outros observatórios europeus então existentes, referentes a alguns dias antes da data do naufrágio, o que lhe permitiu fazer uma análise post mortem. Assim, Le Verrier pôde verificar que a depressão que originou o naufrágio da esquadra já existia dois dias antes, em 12 de novembro de 1854, no noroeste da Europa, e que se deslocou para sueste durante os dois dias posteriores.

Feito o balanço deste desastre, concluiu-se que poderia ter sido evitado, se se conhecesse antecipadamente a localização e desenvolvimento do fenómeno meteorológico que lhe deu origem. Este acontecimento serviu de motivação para o governo francês incumbir Le Verrier de contactar os outros observatórios meteorológicos europeus que já possuíam telégrafo elétrico (nessa altura ainda não havia sido inventado o telégrafo sem fios), tendo-se estabelecido uma rede que permitiu a troca diária dos valores dos parâmetros meteorológicos medidos às 9 horas, constituindo assim, o que se denominou o primeiro serviço de meteorologia internacional.

Logo após a instalação do telégrafo no OMIDL, em 1857, os dados referentes às observações meteorológicas das 9 horas passaram a ser enviados para o Observatório de Paris. Em troca, o OMIDL passou a receber diariamente informação sobre a probabilidade do tempo que iria fazer em Lisboa no dia seguinte, informação esta que era difundida pelos jornais diários.

Faltava ainda a ligação telegráfica entre os Açores e Lisboa para que as previsões do tempo na Europa tivessem maior fiabilidade, o que só veio a concretizar-se com a instalação de um cabo submarino. Assim, a partir de 1893, os Açores passaram a estar ligados ao serviço de meteorologia internacional, o que foi muito apreciado pela comunidade meteorológica europeia, na medida em que as informações vindas de oeste eram imprescindíveis para uma maior fiabilidade das previsões nos países europeus.

A ação do Professor Guilherme Pegado constituiu um passo importante para a criação de um serviço meteorológico verdadeiramente nacional, o que só veio a concretizar-se em 1946, com a criação do Serviço Meteorológico Nacional, antecessor dos Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, Instituto de Meteorologia e Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Novos ventos

[dropcap]N[/dropcap]a semana passada houve reunião na Assembleia Legislativa para debater um orçamento rectificativo. Se alguém estivesse à espera de uma discussão séria sobre as medidas com previsões sobre o impacto para a economia, ficou desiludido.

O principal ponto de interesse acabou por ser uma intervenção de Chan Wa Keong, também em nome Davis Fong e Pang Chuan, que defendeu uma purga de associações políticas e civis. Para contextualizar, a intervenção surge na sequência de uma reunião da comissão da segurança do Estado. A mensagem dos legisladores foi algo críptica e nem tudo foi muito claro.

Porém, uma das certezas é que os deputados acham que é necessário tratar de problemas conhecidos, mas ignorados, como certas associações. A forma como os legisladores se referiram “à defesa” do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ dá ainda a entender que visões democráticas do Segundo Sistema em Macau não são legais e violam esse princípio. Os tempos mudam e com eles a China. E as interpretações de ontem já não são válidas nos dias hoje.

Os ventos deixam antever que vêm aí alterações legislativas para proibir certas associações. E nestes dias, os movimentos pró-democracia em Macau, que se resumem à Novo Macau, vão ser cada vez menos tolerados, mesmo que tenham uma representatividade praticamente nula e que estejam longe de ser um desafio à soberania…

Demis Roussos em livro

[dropcap]A[/dropcap]dam Aagaard foi um escritor dinamarquês que morreu no ano passado com 77 anos. Nasceu e viveu quase toda a vida em Copenhaga. Escreveu fundamentalmente peças de teatro e apenas um romance, ainda sem tradução em Portugal, cujo título é Aldrig Verden (1991), que podemos traduzir por «Nunca O Mundo». Este romance que na altura foi muito criticado na Dinamarca e na Alemanha tem uma passagem que podemos considerar como a que melhor descreve o jovem protagonista e celibatário, que é também o narrador: «Depois de ter lido os romances de Thomas Bernhard deixei de conseguir ler os de outros autores, por me parecerem todos uma espécie de Demis Roussos em livro.» A acção passa-se na Copenhaga de finais dos anos 80, poucos anos depois da edição de Extinção de Bernhard, e o narrador vive sozinho num pequeno apartamento, de onde quase nunca sai, evitando ao máximo o contacto com as pessoas – «Os outros não são o Inferno, mas lembram-nos que ele existe» – tentando escrever uma tese de doutoramento sobre o filme de Carl Theodor Dreyer, A Palavra.

Curiosamente, ou talvez não, porque a vida é profícua em grandes desajustes, Aagaard era protestante, assim como o seu protagonista. «Nunca O Mundo» é o título da tese do jovem Erik. Todos viram o filme de Dreyer, não precisamos de lembrar aqui, apenas dizer que o jovem vê o filme do seu compatriota como uma tentativa de fazer reset ao mundo. Escreve: «Só a vivência da fé no seu limite pode salvar o mundo.» E este salvar o mundo era evidentemente uma espécie de começar de novo, como se até aqui estivéssemos errados, o mundo estivesse errado. «Nunca O Mundo», então, encontra um evidente eco nas palavras de Jesus no Evangelho de São João «O meu reino não é deste mundo». A esta altura, já nos perguntamos como é que Bernhard faz sentido, não só no livro, mas nesta personagem. Leia, então, esta passagem que nos elucida o modo como Erik conecta o que nos parece inconectável: «Temos de conseguir odiar o mundo como nos romances de Bernhard. Só assim será possível dar o passo seguinte, em que nos libertaremos desta vida sem sentido.»

Estamos perante um romance de trincheira. Um romance que tem como objectivo, não o entretenimento, não o conhecimento ou a reflexão, mas um projecto político, uma Weltanchauung, uma visão do mundo. No fundo, embora em pele de romance, o livro era um manifesto. A páginas tantas, lê-se: «Deve-se escrever apenas para destruir ou para construir o mundo. O resto é conversa de café, e lá deveria ficar.» À medida que o romance vai avançando, e com ele a tese de Erik, vamos entendendo melhor como ela se liga aos romances de Bernhard e estes ao filme de Dreyer. Ao longo de todo o romance, como um fantasma, vai surgindo a figura de Kieerkegaard, outro dos heróis do jovem protagonista-narrador. Semanalmente, Erik escreve uma carta a Kierkegaard, contando o desastre em que vai o mundo, que não melhorou nada desde a morte do amigo, pelo contrário vai muito pior. Leia-se um excerto de uma das cartas: «Meu querido amigo, como encontrar palavras para descrever este mundo em que vivemos? Desistimos de escrever. O que hoje se faz passar por escrita é pior que os jornais que você lia há mais de cem anos nesta cidade. A fé, essa, é um negócio. Maior ainda do que acontecia no catolicismo ao tempo das bulas papais. […] A filosofia está entregue aos números, às estatísticas, às análises de linguagem. Alegra-me tanto saber que você não está a ver isto! […]»

Não posso contar aqui o final do livro, pois é muito surpreendente, mas devo dizer que até ao final o leitor vai sendo sempre surpreendido, ao ponto de tanto nos identificarmos com Erik como de termos vontade de abandonar o livro, do mesmo modo que ele abandonou o mundo. Como escreveu a também escritora dinamarquesa Karen Madsen a propósito deste romance: «Um livro quase sempre incompreendido, muitas vezes treslido, e raramente confrontado com os seus verdadeiros fantasmas: o de uma sociedade dinamarquesa enclausurada entre a fé e o esquecimento, entre os seus heróis radicais e um povo que os esquece.» De brinde, julgo eu, temos ainda análises certeiras ao sentido do romance em Thomas Bernhard. Deixo aqui apenas um excerto: «A escrita de Bernhard é profundamente ética. Nos nossos dias, entre o colapso da fé e multiplicação da corrupção é um dever odiar o mundo.»

A verdade é que, ainda que não sejamos dinamarqueses, ainda que não sejamos crentes, sentimos a angústia e o desespero de Erik como nossos. Para nós aqui e agora, mais do que «nunca o mundo», mas que não difere do ponto de vista de Erik durante o romance, é «para quando o mundo?”

A obra mais íntima

[dropcap]A[/dropcap]ssociar Samuel Barber exclusivamente ao seu famoso Adagio for Strings, Op. 11 é ignorar tantas outras composições suas. Em The Lovers, Op. 43, o grande compositor americano musica tão magistralmente excertos do ciclo poético Vinte Poemas de Amor e uma Canção de Desespero do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), que eleva a sensualidade e a poesia do texto a novas alturas. A poesia de Neruda é amplamente considerada como alguma da poesia mais romântica alguma vez escrita, embora o seu erotismo permaneça controverso.

Em 1971, no auge do período serialista da música clássica norte-americana, Barber aceitou uma encomenda do Girard Bank of Philadelphia de uma grande composição. Essa instituição financeira adoptou um programa pelo qual esperava contribuir “construtivamente para aspectos socialmente orientados e culturais da comunidade e da nação”. Parece que Barber se havia recuperado da sua depressão anterior após o fracasso que foi a estreia da sua ópera Antony and Cleopatra. O compositor tinha recusado uma encomenda monumental de Eugene Ormandy apenas dois anos antes. No entanto, criou uma peça maravilhosa para a comissão do Girard Bank, a sua última grande obra, composta por um prelúdio e nove andamentos que traçam a progressão de um caso de amor desde o começo alegre até ao fim doloroso. A oratória The Lovers, Op. 43 foi escrita para barítono solo, coro misto de 200 vozes e orquestra completa. A facto do texto ser considerado bastante erótico, juntamente com a associação de Neruda com o Partido Comunista, fez com que a obra fosse criticada pelos funcionários do Girard Bank. Barber respondeu da seguinte forma: “Meu Deus! Não há love affairs em Filadélfia?”

O compositor trabalhou diligentemente em meados de 1971 na composição de The Lovers, certamente o seu trabalho mais íntimo. A maior parte da peça foi composta em Capricorn, local onde vivia na época. De facto, um canto de pássaro ouvido aí inspirou o motivo de abertura do Prelúdio, que atravessa todo o trabalho. O compositor levou dois meses para compor a música e dois meses para orquestrar a peça. The Lovers foi estreada em 22 de Setembro de 1971 pela Philadelphia Orchestra, o barítono finlandês Tom Krause e o Temple University Chorus, dirigidos por Robert Page. Barber, sempre duvidando, enviou um amigo para a plateia no intervalo para julgar as suas reacções. Mas o público, juntamente com a crítica musical, apreciou muito o trabalho.

Barber compôs The Lovers no seu estilo mais pessoal e lírico. Devido ao erotismo sem rodeios das letras assim como à extrema dificuldade das partes corais e orquestrais, a obra raramente é executada. A escrita vocal é baseada nos ideais do Lied Romântico Alemão. O Prelude, apenas para orquestra, abre com o motivo de três notas da chamada de pássaro na flauta. De seguida, um tema sensual é apresentado. A música cada vez mais dramática, leva ao primeiro andamento, “Body of a Woman” (Corpo de uma mulher). O solo de barítono entra no início desta música apressada. Essa emoção reflecte a antecipação presente no início de um caso de amor. “Lithe Girl, Brown Girl” é o título do segundo andamento, principalmente para vozes masculinas e orquestra. O próximo andamento, “In the Hot Depth of this Summer” (Na profundidade quente deste Verão), é para vozes femininas e orquestra. O coro e a orquestra completos são usados ​​em “Close your Eyes” (Fecha os olhos), o quarto andamento. O caso de amor cresce através desses andamentos e atinge o seu auge no quinto andamento, “The Fortunate Isles” (As Ilhas Afortunadas). O relacionamento começa a desfaz-se no sexto andamento, “Sometimes” (Às vezes), no qual o solo de barítono retorna e, no oitavo andamento, “Tonite I Can Write” (Hoje à Noite Eu Posso Escrever), os amantes são separados.

Sugestão de audição:
Samuel Barber: The Lovers, for baritone, chorus and orchestra, Op. 43
Dale Duesing, baritone, The Chicago Symphony Orchestra & Chorus, Andrew Schenck (World Premiere Recording) – Koch International Classics, 1991

Covid-19 | Pequim qualifica críticas de França sobre ajuda como “cínicas”

A secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus classificou as acções chinesas de apoio a vários países como encenações com vista a promover a imagem do país. Pequim diz que as fábricas continuam a produzir materiais hospitalares sem parar, para dar resposta aos muitos pedidos que chegam de todo lado, inclusive da França, que encomendou “mais de mil milhões de máscaras” e que este esforço deve ser enaltecido e não denegrido

 

[dropcap]A[/dropcap] China considerou ontem “cínicas” as declarações da secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, que acusou Pequim de estar “a instrumentalizar” a ajuda chinesa que dá a outros países contra a pandemia de covid-19.

A pandemia está, em termos gerais, suprimida no território chinês, com apenas um ou nenhum novo caso de origem local anunciados nos últimos dias.

Nas últimas semanas, o Governo chinês ofereceu máscaras, roupas de protecção e luvas a países atingidos pela covid-19, além de enviar especialistas médicos, principalmente para a Itália.

“Às vezes é mais fácil fazer propaganda, [passar] imagens bonitas e instrumentalizar o que está a acontecer”, disse Amélie de Montchalin no domingo, no programa “Questions politiques”, da France Inter, do jornal Le Monde e da France Télévisions.

“Estou a falar sobre a China e sobre a Rússia, que encenam as coisas”, disse, sem, no entanto, dar exemplos concretos.

A China foi acusada por alguns críticos de querer tirar proveito da ajuda que fornece, particularmente aos países europeus, para exaltar o seu modelo político.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China respondeu, entretanto, sublinhando que o país não percebe a razão das críticas.

“Ouvi, várias vezes, ocidentais mencionarem a palavra ‘propaganda’ em relação à China. Gostaria de lhes perguntar: exactamente a que é que se estão a referir?”, questionou o porta-voz do ministério, Hua Chunying.

“O que é que querem? Que a China fique de braços cruzados face a esta grave epidemia que está a afectar os outros países? Que se mantenha indiferente?”, referiu numa conferência de imprensa, ontem realizada.

Os funcionários das fábricas chinesas de máscaras e de outros materiais de proteção estão actualmente a trabalhar em pleno para responder aos pedidos de países onde esses equipamentos estão em falta.

“Os esforços [desses trabalhadores] devem ser respeitados e não denegridos”, disse Hua Chunying.
A própria França encomendou “mais de mil milhões de máscaras”, sobretudo à China, segundo o ministro da Saúde, Olivier Véran.

“Gostava de perguntar às pessoas que fazem comentários cínicos o que é que estão a fazer contra a pandemia?”, afirmou ainda Hua, acrescentando que a China espera que a pessoa em causa ofereça, por palavras e acções, benefícios à cooperação internacional (contra a covid-19)”.

Com defeito

A França ofereceu, em Fevereiro, à China várias toneladas de equipamentos médicos, incluindo fatos de protecção, máscaras, luvas e desinfectantes.

Entretanto, a embaixada chinesa em Haia garantiu ontem que “não há qualquer consideração geopolítica” no seu apoio a outros países para combater o coronavírus e enfatizou que é “normal que alguns problemas surjam”, como aconteceu com o lote de 600.000 máscaras defeituosas recebidas para a Holanda.

O embaixador, Xu Hong, afirmou, em comunicado ontem divulgado, só ter tido conhecimento pela comunicação social do problema com “algumas máscaras compradas” à China pelo Governo holandês e assegurou que tem estado a acompanhar de perto a investigação nos Países Baixos, esperando que “este incidente isolado” não afecte a cooperação entre os dois países.

Metade de um lote de 1,3 milhões de máscaras usadas por profissionais de saúde para tratar doentes críticos infectados com a covid-19 foram consideradas defeituosas, colocando em risco médicos e enfermeiros.

A maioria deste material não se encaixa bem no rosto ou tem membranas – os filtros que devem travar as partículas virais – que não funcionam corretamente.

Segundo o Ministério da Saúde, o lote foi entregue com urgência pela China, já que o país estava, na semana passada, em estado de “grande escassez” relativamente a este tipo de material.

Todas as máscaras defeituosas distribuídas pelos hospitais já foram recuperadas, garantiu o ministério.
Xu Hong não confirmou a qualidade defeituosa das máscaras compradas pelo Governo holandês a um fabricante chinês autorizado, mas oferece ajuda das autoridades de Pequim na investigação e pediu para que estes problemas sejam “resolvidos objectivamente”, sublinhando que “não devem ser politizados”.

Trágicos números

“O vírus não conhece fronteiras e só fortalecendo a solidariedade e a assistência mútua é que a comunidade internacional conseguirá vencer a batalha contra a pandemia”, lembrou Xu Hong.

“A China continuará a apoiar plenamente os esforços holandeses para combater a pandemia e a trabalhar em conjunto para derrotar o novo coronavírus, que é o inimigo comum”, acrescentou.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil. Dos casos de infecção, pelo menos 142.300 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

O continente europeu, com mais de 396 mil infectados e perto de 25 mil mortos, é aquele onde se regista actualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 10.779 mortos em 97.689 casos confirmados até domingo.

Fundação Macau | Deputados com dúvidas sobre atribuição de apoios

[dropcap]“A[/dropcap] Fundação Macau é um organismo público e todos os seus actos administrativos devem ter uma base legal. Se for fixado um valor pelo Órgão Executivo, a Fundação Macau vai cumprir o disposto na lei”, disse um representante da entidade na Assembleia Legislativa. Em resposta a uma interpelação oral do deputado Sulu Sou, que apontou falhas à concretização da lei sobre o direito de associação, nomeadamente à publicação caso as associações beneficiem de apoios superiores a um valor a fixar pelo Chefe do Executivo.

No âmbito dos problemas apontados pelo Comissariado da Auditoria, a Fundação Macau reconheceu que “há margem de melhoria”.

Quanto às questões colocadas pelo deputado Pereira Coutinho sobre o aumento de transparência, o representante da Fundação apontou para a falta de um regime de contabilidade para entidades sem fins lucrativos em Macau.

Já Pang Chuan quis saber em que situações é concedido ou recusado subsídio a organizações e associações, enquanto Mak Soi Kun frisou que a população quer saber “qual o destino do dinheiro” utilizado para tentar perceber se os beneficiários conseguiram chegar aos resultados previstos. Em resposta, o representante da Fundação frisou que “a taxa de indeferimento (de pedidos) é cada vez maior”.

Pereira Coutinho perguntou ainda se alguém vive na residência adquirida pela Fundação Macau em Portugal há alguns anos. Neste ponto, o representante da entidade indicou que se ponderou destinar a fracção comprada ao delegado do Governo da RAEM em Lisboa. Mas apontando tratar-se de um “monumento”, explicou que o projecto só foi aprovado recentemente e ainda não se conhece quando podem começar as obras.

Hengqin | “Novo Bairro de Macau” sem fundos públicos

Sem capital público envolvido, o projecto “Novo Bairro de Macau” vai incluir cerca de quatro mil fracções habitacionais para residentes em 27 torres residenciais. Mas o deputado Sulu Sou reiterou as dúvidas sobre o envolvimento da Macau Renovação Urbana S.A num projecto que se localiza em Hengqin

 

[dropcap]O[/dropcap] projecto “Novo Bairro de Macau” destinado a residentes da RAEM e a ser desenvolvido em Hengqin, não vai mobilizar fundos do Governo. Na Assembleia Legislativa, o presidente do Conselho de Administração da Macau Renovação Urbana S.A., Peter Lam, declarou que serão angariados capitais “através de empréstimos bancários”. A informação foi avançada em resposta a uma interpelação oral do deputado Leong Sun Iok, que pediu mais informações sobre o projecto anunciado no ano passado.

De acordo com Peter Lam, haverá 27 torres residenciais, que terão entre 22 e 26 andares, providenciando cerca de quatro mil unidades residenciais. Destas, 200 são destinadas a “pessoas talentosas”. Os requisitos do Governo Municipal de Zhuhai implicam que pelo menos 80 por cento das fracções sejam T2 e prevê-se que as restantes sejam T3.

Sabe-se agora que podem comprar apartamento os portadores de Bilhete de Identidade de Residente da RAEM, maiores de idade. Haverá ainda outros critérios, nomeadamente sobre a posse de outras propriedades, e a venda também só vai poder ser feita a residentes.

“Para evitar a especulação, só têm direito de adquirir uma única fracção”, indicou ontem o representante. Mas ainda estão a ser ultimados detalhes.

A Macau Renovação Urbana já deu início ao estudo preliminar sobre o projecto, incluindo uma estimativa do orçamento, mas os valores não foram adiantados. Peter Lam disse, porém, que nas unidades residenciais “o preço de venda vai ser perto do custo do projecto”, por ser um plano conjunto entre os Governos de Zhuhai e de Macau. Não haverá pré-venda.

No terreno, vai aplicar-se a lei do Interior da China. Os futuros moradores vão poder requerer matrícula única para circular entre Macau e Hengqin, e deverão ter benefícios fiscais.

Ao nível dos serviços públicos, prevê-se que o projecto inclua 18 escolas primárias e 12 creches, usufruindo os estudantes de ensino gratuito. Além disso, haverá um centro de saúde com cerca de mil metros quadrados, explorado segundo o sistema adoptado actualmente em Macau, um centro para idosos com cerca de 800 metros quadrados, e centros familiares e instalações desportivas. Depois da aquisição dos direitos de utilização do terreno, o projecto tem de ficar concluído no espaço de 48 meses.

Entre dois lados

O envolvimento da Macau Renovação Urbana voltou a ser questionado pelo deputado Sulu Sou, reiterando que o objectivo quando a sociedade foi constituída era tratar dos assuntos de renovação locais. “Tenho aqui uma grande dúvida: esta sociedade anónima passa a tratar dos assuntos do Interior da China e não da renovação urbana de Macau?”. Além disto, o pró-democrata quis saber como é possível fiscalizar o âmbito de investimento, apontando parecer não existirem limitações.

Sulu Sou disse ainda que parece não haver calendário para a renovação da habitação na zona do Iao Hon, e afirmou que os moradores querem permanecer na sua área, considerando que morar em Hengqin é apenas uma “segunda escolha”. Neste sentido, perguntou ainda quantas pessoas da sociedade estão a tratar do projecto “Novo Bairro de Macau”, e quantas se dedicam ao projecto principal. Uma pergunta que ficou sem resposta.

Por sua vez, o responsável pela Macau Renovação Urbana garantiu que os trabalhos nunca pararam e que enquanto empresa de capital público o dinheiro é usado “com toda a cautela e rigor”, e que vai haver “fiscalização de vários níveis”. “Posso dizer que cumprimos todos os diplomas legais, mas não posso facultar mais pormenores”, rematou.

PJ | Remuneração suplementar não inclui tecto máximo de horas

[dropcap]V[/dropcap]ai ser concedida uma remuneração suplementar para o pessoal das carreiras especiais da Polícia Judiciária (PJ) que trabalhe, pelo menos, 44 horas semanais. No entanto, não existe um limite máximo, nem serão contempladas outras compensações. Foi esta a conclusão a que chegaram ontem os deputados da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), após uma reunião com membros do Governo.

“Esta remuneração suplementar corresponde ao índice 100 da tabela indiciária da Administração Pública, mas há um requisito. Este trabalhador tem de ultrapassar, semanalmente, as 44 horas de trabalho para receber a remuneração suplementar. Isto é, até pode atingir 80 ou 100 horas semanais, que continua sempre a receber o mesmo índice”, explicou Ho Ion Sang, que preside à comissão.

O deputado esclareceu ainda que esta remuneração suplementar inclui o dever de disponibilidade permanente e as contingências específicas inerentes a um trabalho de investigação e que, por isso, outros subsídios contemplados na Administração Pública, nomeadamente, o subsídio de disponibilidade, subsídio por turnos ou até a compensação por trabalho extraordinário, têm de ser postos de lado neste caso.

“O ingresso na PJ é mais exigente e isso reflecte-se na sua remuneração e também nas suas horas de trabalho. Na carreira geral da Administração Pública trabalha-se 36 horas, mas na PJ são 44 horas”, apontou Ho Ion Sang.

Em causa na proposta de lei está a criação de novas carreiras no âmbito da ciência forense, a introdução de alterações à carreira de investigador criminal, com a adição das categorias profissionais de inspector chefe e investigador criminal chefe e ainda, alterações ao índice salarial.

Fronteira | Secretário admite dificuldades e anuncia linha aberta

Para esclarecer as dúvidas em torno das novas restrições fronteiriças com a província de Guangdong foi criada uma linha de contacto em Zhuhai. Wong Sio Chak admite dificuldades de execução, mas garante que tudo está a ser feito para assegurar os interesses dos cidadãos de Macau, a quem pede compreensão

 

[dropcap]A[/dropcap]o final de três dias da entrada em vigor das novas medidas, 21 residentes de Macau foram submetidos a observação médica em Zhuhai. O anúncio foi feito ontem pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, que assumiu ser “natural” existirem ainda dúvidas e dificuldades na execução das novas regras, em funcionamento desde sexta-feira. Sobretudo, tendo em conta a situação epidémica global, que obriga à tomada de medidas excepcionais.

“Todas as regiões ou países têm implementado as suas estratégias. Estas medidas não têm precedentes e por isso é preciso tempo e pessoal para concretizar todos os pormenores. Também percebemos que os cidadãos têm preocupações, queixas e dúvidas. É natural”, apontou Wong Sio Chak, à margem de uma reunião na Assembleia Legislativa.

Recorde-se que desde as seis da manhã de sexta-feira os visitantes chegados à Província de Guangdong vindos de Macau, Hong Kong e Taiwan passaram a fazer o teste da covid-19 e a ficar 14 dias de quarentena. A decisão foi transmitida ao Governo de Macau algumas horas antes do anúncio oficial.

Colocando a tónica das decisões na administração de Zhuhai e do Interior da China, Wong Sio Chak referiu que o Governo “tem mantido contactos estreitos (…) para transmitir as opiniões dos cidadãos de Macau” e que esse é precisamente o seu papel, em termos de coordenação.

No seguimento de uma reunião entre representantes do Governo e o vice-presidente do município de Zhuhai, Zhang Yisheng, para discutir as questões que preocupam os cidadãos de Macau, o secretário anunciou que foi criada uma linha aberta em Zhuhai para esclarecer de forma directa os pormenores relacionados com a execução das novas medidas de entrada. “Esta é uma linha aberta de Zhuhai e para os cidadãos é melhor, pois permite que compreendam a implementação das medidas. A linha aberta é de Zhuhai e está disponível para todos, quer sejam residentes do Interior da China, quer de Macau”, explicou Wong Sio Chak.

Apelo à compreensão

Numa altura em que as excepções à quarentena obrigatória de 14 dias levantam muitas dúvidas, Wong Sio Chak referiu que estas são da competência de Zhuhai, ficando o Governo de Macau apenas responsável pela sua divulgação. Dirigindo-se aos residentes de Macau, o secretário pediu, por isso, compreensão.

“Quero pedir a compreensão de todos os cidadãos, pois estas medidas foram implementadas à pressa e na sua execução vão existir desvios e dificuldades. Mas para a protecção de ambos os governos, continuamos a recolher as opiniões dos cidadãos e a transmiti-la”, partilhou.

As excepções anteriormente anunciadas são vistas caso a caso pelas autoridades do Interior e incluem menores de 14 anos, idosos com mais de 70, comerciantes, transportadores de bens essenciais e condutores de carros com matrículas duplas.

Hospital das Ilhas | Edifício recebe Centro Temporário de Isolamento

Contra as expectativas e devido à pandemia da covid-19, o edifício do Instituto de Enfermagem do Kiang Wu no Hospital das Ilhas foi estreado para receber pessoas que se encontram em quarentena

 

[dropcap]O[/dropcap] único edifício do Hospital das Ilhas já construído foi transformado num Centro Temporário de Isolamento. O prédio, que vai ser o Instituto de Enfermagem do Kiang Wu, tem capacidade para 192 camas e passou a receber recuperados em quarentena e pessoas de alto risco ou de contacto próximo com os infectados.

As camas para os casos suspeitos vão ficar entre os andares 11.º e 15.º, num total de 96 quartos. Além disso, o 10.º andar tem capacidade para receber material médico necessário para os tratamentos e isolamentos.

“Como este é um edifício do Governo podemos ocupá-lo durante um período prolongado […] Todas as pessoas de contacto próximo estão a ser transferidas para este centro temporário, o que permite que o Centro do Alto de Coloane seja utilizado apenas para receber os casos confirmados com sintomas leves”, afirmou Lo Iek Leong, médico-adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ), sobre a medida.

“Esta alteração não foi feita com base numa revisão das estimativas sobre o número de infectados. Mas temos de ter capacidade de olhar para o futuro. Não nos podemos limitar a responder, caso haja um aumento repentino, temos de nos preparar”, sublinhou.

Numa altura em que Macau regista 39 casos, 21 dos quais ainda a receber tratamento, já há 26 pessoas no centro temporário. Ainda de acordo com Lo Iek Leong, o facto de o edifício não ter sido entregue à instituição ligada à família de Chui Sai On, e estar na posse do Executivo, faz com que não haja direito a qualquer pagamento.

Perigo de vida

Ontem foi igualmente feito um ponto da situação da saúde do paciente de 50 anos, que se encontra a lutar pela vida, após ter sido identificado como o 18.º caso. Segundo Lo Iek Leong, médico-adjunto da Direcção do Centro Hospitalar Conde São Januário (CHCSJ), os níveis de oxigénio no sangue do homem continuaram a diminuir, o que levou a que houvesse necessidade de intubação.

“Houve um agravamento do estado de saúde do paciente em estado grave devido à falta de oxigénio”, anunciou Lo Iek Leong. “Normalmente quando respiramos, a proporção de oxigénio no ar que entra no nosso corpo é de 21 por cento. Com o ventilador começamos a aplicar uma proporção de 40 por cento de oxigénio ao paciente, ontem [no domingo] já aumentámos para 80 por cento, mas mesmo assim apresenta falta de oxigénio. Tivemos de fazer uma intubação”, explicou o médico.

Quanto às hipóteses do homem sobreviver, Lo recusou fazer um prognóstico na conferência de imprensa: “Não fazemos esse tipo de avaliação”, respondeu, quando questionado.

Sobre as medidas que levam a que o paciente se encontre em estado grave, Lo apontou que neste caso se deve principalmente à idade de 50 anos, o que faz com que esteja exposto a mais riscos.

Fim-de-semana turístico

Também ontem foi tornado público o percurso da residente de Hong Kong, com nacionalidade filipina, que foi identificada como infectada, após uma visita a Macau, entre 22 e 27 de Março.

A mulher de 40 anos esteve no Bar Roadhouse, no hotel Galaxy Broadway, na noite de 26 de Março, além das deslocações já conhecidas ao Mercado de São Domingos e ao restaurante Jollibee, a 25 de Março.

Além destes espaços, a mulher visitou a gelataria Haagen Dazs, a loja da Fortress, ambas no Leal Senado, e o Edifício Kwong Heng, Rua da Ribeira do Patane n.º 137, onde cozinhou e jantou com amigos. A viagem para Macau e a partida foram feitas através dos autocarros dourados, que atravessam a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.

A passagem da residente de Hong Kong resultou em que oito pessoas fossem consideradas de contacto próximo e colocadas em isolamento. O Executivo coloca a hipótese de que o número de contactos próximos seja maior, mas admite que não consegue identificar todas as pessoas. No entanto, Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção e Doenças Infecciosas e Vigilância de Doença, apelou à calma: “Não estamos a falar da existência de mais casos, mas de pessoas de contacto próximo, que não são doentes e não contam como risco de propagação”, apontou.

CPSP | Mais dois casos de quarentena violada

De acordo com o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) houve mais dois casos de quarentenas domiciliárias violadas, que fizeram com que os infractores fossem levados para hotéis. “Duas pessoas viviam em casa, mas vinham sempre ao lóbi de entrada do edifício buscar os artigos que eram entregues pelos seus familiares”, afirmou Ma Chio Hong, chefe da Divisão de Operações e Comunicações. “Como estas duas pessoas violaram a lei, no dia 28 de Março, foram submetidas aos hotéis designados para fazerem quarentena obrigatória”, acrescentou. Face ao casos crescentes, as autoridades apelam a quem esteja em casa de quarentena que respeite as suas obrigações.

Sem testes polémicos

Após a empresa Shenzhen Bioeasy Biotechnology ter estado debaixo de polémica devido à qualidade dos testes rápidos vendidos para Espanha, que terão de ser devolvidos, Lo Iek Leong, médico adjunto da Direcção do CHCSJ, explicou que o material vindo para Macau foi adquirido em Xangai. “Segundo a informação que domino, os teste que temos são provenientes de uma empresa com sede em Xangai e não de Shenzhen”, explicou. Já em relação ao stock de testes, Lo afirmou que a RAEM tem material suficiente para três meses, embora sem dizer um número concreto.

Economia | China prepara estímulo, enquanto zona Euro tem recessão no horizonte

Além da crise de saúde pública, a pandemia do novo coronavírus lançou a economia global num novo precipício. Enquanto a China se prepara para apresentar um plano de estímulos económicos, um pouco à semelhança dos Estados Unidos, a Europa actua de forma descoordenada com cada país a procurar mitigar a crise à sua maneira. O FMI já prevê um cenário de recessão semelhante à crise de 2009

 

[dropcap]A[/dropcap]s repercussões da pandemia que varre o mundo inteiro vão muito além da trágica situação de saúde pública. Além de deixar a descoberto muitos dos pontos fracos de instituições e governos, terá consequências económicas que já se começam a vislumbrar.

O Governo Central da República Popular da China comprometeu-se com medidas que deixam antever que Pequim se prepara para lançar um pacote de estímulos económicos de larga escala, para contrariar o impacto económico da pandemia.

Assim sendo, Pequim deverá aumentar o défice orçamental e colocar à venda dívida soberana, o que permite aos governos locais vender obrigações de financiamento de infra-estruturas. De acordo com a Xinhua, na semana passada o Politburo do Partido Comunista Chinês reuniu e aprovou as medidas com o objectivo de estabilizar a economia.

A agência oficial chinesa não deu mais detalhes quanto a possíveis estímulos fiscais. Importa recordar que a China ainda não divulgou o orçamento para 2020 devido à crise pandémica que forçou ao adiamento das anuais reuniões políticas e parlamentares de Pequim e que o défice orçamental não excede os 3 por cento há mais de uma década.

A capacidade produtiva da China tem sido fortemente afectada neste trimestre pelo encerramento de fábricas e paralisia de transportes. Além disso, com o mercado global também a sofrer com a pandemia, a procura externa de produtos chineses caiu igualmente.

De acordo com a Xinhua, o relatório da reunião do Politburo acrescentou que “o desenvolvimento económico, especialmente o retorno das cadeias de abastecimento, enfrentam novos desafios à medida que os casos de infecções importadas aumentam”. Com a economia global paralisada, Pequim vira-se para dentro. “São precisas fortes medidas macro-económicas para reduzir o impacto e expandir a procura doméstica”, projecta o relatório.

Outro ponto fundamental foi a manutenção dos objectivos de crescimento económico, que já eram algo contidos, para a “construção de uma sociedade moderadamente próspera” em 2020.

Num comunicado diferente, também divulgado na sexta-feira passada, o Banco Popular da China apelou a uma melhor coordenação das políticas macro-económicas, ao mesmo tempo que sublinhou que irá garantir a liquidez necessária para ajudar a economia real e evitar riscos de inflação.

Mundo parado

A consultora Oxford Economics divulgou ontem um relatório onde estima que a economia da zona Euro vai enfrentar uma recessão de 2,2 por cento enquanto a economia mundial vai estagnar este ano devido à pandemia da covid-19.

“A pandemia do novo coronavírus vai infligir uma profunda recessão na economia mundial, e em muitas das principais economias, durante a primeira metade deste ano”, lê-se numa nota enviada aos investidores, e que a agência Lusa cita, na qual se prevê que a zona euro caia 2,2 por cento, os Estados Unidos 0,2 por cento e a China cresça apenas 1 por cento.

No relatório, que já vai na segunda actualização devido à progressão da pandemia, os analistas desta consultora britânica escrevem que “para o conjunto do ano o crescimento global deve descer para zero” e acrescentam que “no primeiro trimestre, a economia mundial deve contrair-se a um ritmo mais rápido do que durante a crise financeira de 2009, caindo cerca de 2 por cento e sendo provável uma nova queda de 0,4 por cento no segundo trimestre”.

A estagnação prevista para o total do ano na economia mundial “marca o segundo valor mais baixo dos últimos 50 anos, só superado pela severidade da crise financeira de 2009”, apontam os analistas, que lembram que a previsão anterior à pandemia, para o crescimento mundial, era de 2,5 por cento.

Apesar do panorama sombrio para a primeira metade do ano, esta consultora estima que a recuperação económica seja “muito forte, segundo a experiência histórica”, antevendo que uma forte recuperação da actividade económica no final do ano. “A perspectiva de evolução a curto prazo é extremamente desafiante, mas a actividade vai recuperar depois das medidas de distanciamento social” e beneficiando também com a combinação dos estímulos monetários e orçamentais e da despesa discricionária”, lê-se no documento, que antecipa um crescimento de 5,3 por cento da economia mundial no último trimestre deste ano e uma média de 4,4 por cento em 2021.

As previsões, alertam, são particularmente incertas neste período, mas os analistas apontam ainda que num cenário de agravamento da pandemia, imposição de mais restrições sociais e mais stress nos mercados financeiros, a economia mundial poderia ter um crescimento negativo de 1,3 por cento, com a zona Euro a cair 3,2 por cento, os EUA 2,6 por cento e até a China poderia ver o PIB retrair 0,9 por cento.

Recordar 2009

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, afirmou que “já está claro” que a economia mundial entrou “numa recessão, igual ou pior que a de 2009” devido à pandemia de covid-19. “Já está claro que estamos numa recessão igual ou pior que a de 2009”, afirmou Georgieva, numa conferência de imprensa por vídeo na sede da instituição financeira internacional, para avaliar o impacto económico da expansão global do coronavírus.

A líder do FMI disse esperar uma recuperação em 2021 desde que os governos adoptem medidas adequadas e “coordenadas”.

Mais de 80 países solicitaram já assistência financeira à instituição, segundo Georgieva. “Exortamos os países a intensificarem agressivamente as medidas de confinamento”, afirmou. “Podemos reduzir a duração desta crise”, acrescentou.

Georgieva também se congratulou com a aprovação de um pacote de apoio à economia norte-americana num montante de cerca de 2 milhões de milhões de dólares, sublinhando a necessidade de atenuar o impacto da pandemia na maior economia do mundo, obrigada a suspender a sua actividade como aconteceu em muitos outros países. “É importante para o povo norte-americano. É também importante para o resto do mundo, dada a importância dos Estados Unidos”, considerou.

A título de exemplo

A economista chefe da OCDE, Laurence Boone, considerou ontem “pertinente” a emissão de dívida comum na zona Euro alertando que falta coordenação entre os planos dos vários estados membros que estão a agir de forma unilateral. Em entrevista à publicação francesa Les Echos, Boone explica que “é pertinente a ideia sobre instrumentos comuns capazes de financiar – de forma solidária – os gastos de saúde ou relacionados com a gestão por causa do coronavírus”.

Trata-se de um mecanismo “importante porque na União Europeia fazem-se poucas transferências numa altura em que o vírus afecta todos sendo que os países não têm todos os mesmos meios de enfrentar” o problema, assinalou a responsável da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).

Para Laurence Boone, os países da União Europeia podem vir a utilizar o mecanismo sobretudo porque o Banco Central Europeu (BCE) já “cumpriu a sua parte” oferecendo condições de financiamento o que, afirmou, “tranquilizou” os mercados permitindo absorver as novas emissões de dívida que se prevêem.

A economista francesa sublinha que a disparidade entre os planos apresentados pelos vários países europeus faz com que seja complicado fazer uma avaliação. “Outro exemplo da falta de coordenação na Europa relaciona-se com as ideias sobre as paralisações laborais (a tempo parcial), mas ninguém o está a fazer da mesma forma fazendo com que as empresas estejam a tomar medidas diferentes nos vários países”, acrescentou.

Em termos gerais, Boone insiste que a “evidente falta de coordenação na gestão da crise” tem de ser corrigida.

Covid-19 | Itália com mais 1.648 casos e 812 mortes, ritmo dos contágios em baixa

[dropcap]A[/dropcap] Itália registou nas últimas 24 horas 1.648 novos casos de infecção pelo novo coronavírus e 812 mortes adicionais, números que traduzem uma clara redução dos contágios, segundo dados divulgados hoje pela Protecção Civil.

O aumento de casos de infecção de domingo para hoje, 1.648, representa menos de metade do aumento dos dias anteriores, tendo passado de 8,3% de novos casos em média nos últimos quatro dias para 4% nas últimas 24 horas, segundo as autoridades. O número de novos casos é por outro lado quatro vezes mais baixo que há 15 dias.

Desde que foi detectado o primeiro caso em Itália, a 20 de fevereiro, 101.739 pessoa foram infectadas pelo vírus que provoca a covid-19. Desse total, 11.591 morreram, 14.620 já recuperaram da doença e 75.528 permanecem infectadas.

A maioria dos infectados, 58%, recupera isolada em casa, apresentando sintomas ligeiros ou mesmo ausência de sintomas, e cerca de 4.000 estão internadas em unidades de cuidados intensivos. Outro sinal positivo, apontam, é o aumento do número de pessoas consideradas curadas em todo o país, 1.590 de domingo para hoje, número que nunca foi tão alto num só balanço diário.

“Podemos esperar atingir o pico em sete ou 10 dias e, depois, razoavelmente, uma descida do contágio”, estimou o vice-ministro da Saúde, Pierpaolo Sileri. As autoridades destacam também que, pela primeira vez desde o início da pandemia em Itália, o número de novos casos na Lombardia (norte), a região mais atingida do país, baixou de 25.392 no domingo para 25.006 hoje.

“Na Lombardia observamos uma diminuição do número de casos, mas sobretudo pressão nas urgências e na atividade das ambulâncias. Nestes últimos quatro dias mudou muita coisa. É o sinal de que o enorme esforço que estamos afazer está a funcionar”, disse por seu lado Giulio Gallera, o ministro da Saúde da região lombarda.

O continente europeu, com mais de 396 mil infectados e perto de 25 mil mortos, é aquele onde se regista actualmente o maior número de casos de infeção pelo novo coronavírus, com Itália, Espanha e França como países mais afectados.

Covid-19 | Quase 34 mil mortos e mais de 715 mil infectados em todo o mundo

[dropcap]A[/dropcap] pandemia de covid-19 matou pelo menos 33.568 pessoas no mundo inteiro desde que a doença surgiu em Dezembro na China, segundo um balanço da AFP às 08:00 desta segunda-feira, a partir de dados oficiais.

De acordo com a agência de notícias francesa, já foram diagnosticados pelo menos 715.204 casos de infecção pelo novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, e a pandemia espalhou-se por 183 países ou territórios.

A Itália continua a ser o país mais afetado em número de mortes (10.779), seguido da China (3.304 mortes), o foco inicial do contágio. Os Estados Unidos registam 143.025 casos e 2.514 mortes.

A AFP alerta que o número de casos diagnosticados reflete apenas uma fração do número real de infecções, já que um grande número de países está agora a testar apenas os casos que requerem atendimento hospitalar.

Covid-19 | Mais de mil mortes no estado de Nova Iorque, há nove dias eram 35

[dropcap]O[/dropcap] estado norte-americano de Nova Iorque superou no domingo as mil mortes de infectados com a covid-19, um mês após se detetar o primeiro caso e quando há nove dias se registavam apenas 35 mortos. Só a cidade de Nova Iorque informou na noite de domingo que o número subira para os 776 mortos. O surto da covid-19 espalhou-se por Nova Iorque a uma velocidade assustadora.

O primeiro caso de infecção conhecido no estado foi descoberto a 1 de Março num profissional de saúde, que regressara recentemente do Irão. Dois dias depois, o estado anunciou o segundo caso, um advogado do subúrbio de New Rochelle.

A 10 de Março, o governador Andrew Cuomo declarou uma “área de contenção” em New Rochelle que obrigou ao fecho de escolas e espaços de culto. Nesse mesmo dia, a região metropolitana registou a sua primeira fatalidade: um homem que trabalhava em Yonkers e morava em Nova Jersey.

A 12 de Março, o estado proibiu todas as reuniões de mais de 500 pessoas e encerrou os teatros da Broadway e as arenas desportivas. O prefeito da cidade de Nova Iorque, Bill De Blasio, ordenou o fecho das escolas a 15 de Março.

Restrições mais severas ocorreram cinco dias depois, quando Cuomo ordenou que todos os trabalhadores não essenciais ficassem em casa, barrou reuniões de qualquer dimensão e instruiu qualquer pessoa no espaço público a ficar a pelo menos um metro de distância das outras pessoas.

Por essa altura, somente 35 nova-iorquinos infectados com a covid-19 tinham morrido. Ou seja, apenas nove dias antes destes últimos números.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 697 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 33.200. A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, registando 6.528, entre 78.747 casos de infeção confirmados até hoje, enquanto os Estados Unidos são o que tem maior número de infectados (mais de 124 mil). Dos casos de infecção, pelo menos 137.900 são considerados curados.

Covid-19 | China regista 31 novos casos de infecção

[dropcap]A[/dropcap] China anunciou hoje 31 novos casos da Covid-19, quase todos oriundos do exterior, numa altura em que o país suspendeu temporariamente a entrada no país de cidadãos estrangeiros, incluindo residentes. As autoridades de saúde chinesas indicaram que 30 casos são importados, ou seja, pessoas que estão a regressar do exterior, e apenas um caso de contágio local, na província de Gansu, no noroeste da China.

A Comissão de Saúde da China indicou que, até à meia-noite na China, morreram mais quatro pessoas no país, devido à infeção pelo novo coronavírus, o que fixa em 3.304 o número de vítimas mortais.

Segundo os dados oficiais, o número de casos diagnosticados na China continental – que exclui Macau e Hong Kong -, desde o início da pandemia, é de 81.470, entre os quais 75.700 pessoas receberam alta, fixando o número de pacientes em 2.396.

Desde o início do surto, em Dezembro passado, 704.190 pessoas em contacto próximo com infectados estiveram sob vigilância médica, incluindo 16.235 ainda sob observação, de acordo com dados oficiais.

Quando a doença começou a atingir o resto do mundo, muitos chineses regressaram ao país, que passou assim a registar centenas de casos oriundos do exterior.

A partir de sábado, a China suspendeu temporariamente a entrada no país de cidadãos estrangeiros, incluindo quem possui visto ou autorização de residência, como medida de prevenção contra a propagação do novo coronavírus.

Para impedir uma segunda vaga de contágios no país, o Governo chinês impôs ainda uma quarentena rigorosa de 14 dias a quem entrar na China.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 697 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 33.200. Dos casos de infeção, pelo menos 137.900 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Covid-19 | Macau anuncia mais um caso de infecção e eleva total para 38

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau anunciaram mais um caso de contágio da covid-19, elevando o número de infectados para 38 desde o início do surto do novo coronavírus.

Trata-se de um homem, residente de Macau, de 44 anos, que no dia 18 de Março chegou a Hong Kong vindo do Reino Unido, entrando no território através do transporte institucionalizado para apoio aos residentes, informou em comunicado o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.

“No dia 21 de março foram recolhidas amostras de saliva do doente e no dia 22 de março a amostra de zaragatoa nasofaríngea foi negativa para teste de novo tipo de coronavírus”, detalharam.

Só que do domingo as autoridades realizaram um novo teste e “os resultados foram positivos para a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus, confirmando a pneumonia causada pelo novo tipo de coronavírus”, apontaram.

Após Macau ter estado 40 dias sem identificar qualquer infecção, nas últimas duas semanas foram identificados 28 novos casos, todos importados.

Em Fevereiro, Macau registou uma primeira vaga de 10 casos da covid-19, já todos com alta hospitalar. Após a deteção de novos casos, as autoridades reforçaram as medidas de controlo e restrições fronteiriças, assim como a obrigatoriedade de quarentena de 14 dias imposta a praticamente todos aqueles que entrem no território.

Trilogia

Aqua

[dropcap]C[/dropcap]ustei a encontrar aquele desenho antigo, recuar quatro décadas de pastas e memórias. Sou a figura sentada. Não essa, a outra mais atrás e que não se vê.
Como agora, enquanto caminho ao seu encontro.

Não há nada tão profundo e misterioso como uma figura densamente de costas. Quieta numa impressão de imutabilidade. Absolutamente desconhecida, mesmo se no recorte em desenho sobre a tela limpa do céu, é única e ímpar. De quem se vai ao encontro e que chega sempre antes e está ali. De mãos nos bolsos a um metro da vedação à beira do perigo da arriba e, inevitavelmente com o olhar na lonjura. E de frente para o todo. Seria sempre diferente se eu viesse ao longo do carreiro que debrua a falésia e o apanhasse de perfil.

Não há nada mais distante do que um perfil. Não se revela a quem vê, nem revela o que vê. E, no entanto, contém como se inevitável, a possibilidade do movimento. De o rosto se voltar num olhar que nos vê chegar.

Uma coisa estranhamente desconfortável, penso.

Eu tinha aquela paixão antiga. Uma pintura de Magritte. O homem em grande plano, de olhar invisível e costas estanques para o observador e aquela rosa enorme e evidente. Onde só ela se expõe num olhar luxuriante de exorbitância e desafio. Um recorte nítido frio e cortante de rigor. Ali, naqueles ombros que escondem o olhar invisível do homem, o observador vê-se a olhar-se a si próprio. Ultrapassa-os numa paradoxal dificuldade em simultaneamente se ver e ser visto. Tudo numa única figura. E a imagem, de um absoluto congelamento, torna-se inquietante lugar dessa substituição que se sucede sem parar.

E a rosa, quase esboça um sorriso enigmático. Às vezes – muito raramente – surpreende-se numa pessoa esse rigor frio num olhar furtivo e nu, apressado e real, que de outras vezes se protege. Momentos fugazes de uma nitidez aleatória no meio de outras fugas. Mas naquela rosa, a abertura de todos os mistérios. A crua incisão do que pode ser um olhar de dentro para fora, ou a dura perspectiva que da paisagem se intromete olhos a dentro. O perigo que reside escondido no olhar de cada um, ela denuncia e repõe. O enigma que é o olhar do outro, o risco sem erro. Quanto muito coberto de desconhecimento mas sempre num desenho que é uma forma alternativa de realidade. O olhar do outro sobre o nosso olhar de nós. Esse o mais lancinante de hermetismo à beira da desconstrução. Como na falésia ali, a subtil erosão.

Avanço lentamente em silêncio, a prolongar a eternidade contida nos sinais que fazem o momento. Nestas costas voltadas para mim, a oferecer a vista ampla do lugar. E do olhar como se tornado o meu. Eu via o que me era dado ver naquele reverso de outro olhar. E nada pode ser mais completo e entendido do que ver o que o outro vê. Caminho devagar e nunca amei tanto. Tamanho desconhecido à minha frente e tamanha paisagem em frente a nós.

Tive medo de que ao aproximar-me acontecesse tornar-me numa daquelas personagens de Borges numa noite à beira rio – num conto que já não sei – talvez o rio da prata. Que se encontram no mistério da sua deambulação solitária. E um deles desencanta perante a perplexidade do olhar do outro o misterioso e irreprimível livro de areia. Numa imagem poética a lembrar similitudes de Foucault. O abismo incomensurável presente em cada microcosmos, o abismo de eternidade num segundo. O de profundidade numa ínfima paragem de tempo. Enquanto avanço tudo isto me vem à memória e tenho medo de ver mais do que me é mostrado neste olhar que não vejo mas aponta ao horizonte.

O que é grande torna-nos ínfimos e calmos e faz sentido. Chega aqui, longínquo o estampido espumoso das ondas em baixo. Mas ao longe e olhando adiante, o mar é calmo, uniforme, enorme. Protege inúmeros e infinitos segredos subaquáticos. Como se nada mais do que uma manta turquesa ou esmeralda consoante a luz. E isso dá-lhe uma espessura quase quente, mesmo nesta manhã fria de primavera.

É tudo uma questão de escala e acuidade do olhar na textura complexa que se nos apresenta. O que é grande permanece imutável. Só as circunstâncias se movem. O imponderável persiste.
Da próxima vez, o meu lugar. Aquele lugar estranho que ando para te mostrar. Mas tenho que tentar entendê-lo. E chegar antes, para que o vejas.

Fachadas

[dropcap]U[/dropcap]m vírus não discrimina. Não pede um extracto bancário antes de afectar uma pessoa. Não liga a títulos académicos. Não vê a cor da pele, nem o género ou a idade. Mas as circunstâncias em que as pessoas vivem a epidemia não estão isentas de diferenças económicas, sociais, ou mesmo geográficas.

Só ficam escondidas atrás das fachadas dos edifícios. Quem ficou a fazer quarentena no domicílio em Macau dificilmente o fez numa vivenda, com um pequeno quintal onde se pudessem gastar energias a fazer exercício ou, por exemplo, a estudar o melhor pedaço de terra para plantar os vegetais da época, aproveitando o isolamento para se reconectar com a natureza.

O mais provável é que tenha ficado num apartamento, com vista para outros apartamentos, onde pode espreitar o céu apenas pela janela e vídeos num qualquer ecrã. O que também pode ser confortável. Mas há quem tenha uma casa preparada para viver, e quem tenha uma casa onde ir dormir.

Se o dinheiro não representa imunidade, talvez se possa repensar um pouco a sua redistribuição para que todos possam passar pela ansiedade de um período de quarentena com um colchão igualmente ergonómico.

Reflexão perdida

[dropcap]O[/dropcap] mundo é um bêbedo agarrado a um poste de electricidade a tentar perceber porque razão a gravidade o odeia tanto. Não acredito que algum dia a clarividência ganhe terreno à boçalidade, a ponderação à estupidez. Mas creio que nunca estivemos tão perto de um acontecimento catalisador de reflexão global, que impulsione ponderação, que leve a um balanço, a avaliação da forma como organizamos as sociedades.

A mais básica reflexão é tentar entender quanto vale uma vida. Meter um preço neste item que jamais deveria estar à venda deveria ser abjecto por si só, mas pertinente face ao que se passa.

De que vale uma economia se ela não só não funcionar para as pessoas, quão assassino é um sistema que prefere a morte à destabilização dos mercados?

Não estou a inferir que a covid-19 começou esta mórbida dialéctica. Já não existem muitos segredos quanto à economia de guerra de lucros perpétuos através do conflito, à discrepância de poder entre o consumo dos países ricos e a produção dos países pobres que cria novas formas de escravidão, ao luxo que se sustenta na miséria, à economia que defende crimes bancários com o sangue dos pobres. Tudo isto é bem real e aceite com complacência de todos.

Mas esta crise é diferente, a microbiologia não discrimina entre pobres e ricos e isso une-nos no sofrimento ao mesmo tempo que nos separa para reduzir a propagação.

Esta pode também ser uma boa oportunidade para pensarmos enquanto espécie, e anteciparmos o que aí vem em termos de crises climáticas. Uma boa oportunidade que não tenho qualquer dúvida será desperdiçada.

Outra área que merece reflexão é a verdadeira força e integridade das uniões e projectos que integram nações ou territórios. Começo pelo local.

O novo coronavírus deixou à mostra as fraquezas que já se adivinhavam no projecto da Grande Baía. Sempre que se faz um estudo sobre mobilidade de jovens entre Guangdong, Macau e Hong Kong, os resultados são invariavelmente negativos para o projecto de integração, principalmente nas regiões administrativas especiais. Fracturas que antes ficavam na esfera individual tornaram-se visíveis agora, com os respectivos governos a impor restrições uns aos outros sem aviso prévio, ou com poucas horas de antecedência.

Mesmo que a política obrigue aos paninhos quentes posteriores, estas respostas unilaterais não são bons pronúncios de entendimento, além de que as pessoas conseguem ver a milhas a mitigação política que clama que tudo está bem e em harmonia, enquanto multidões correm para as Portas do Cerco, ou enquanto polícias de duas províncias do Interior trocam murros e pontapés devido à discriminação a que os habitantes de Hubei são sujeitos.

Na Europa a desunião é ainda mais gritante, com a total ausência de voz de comando centralizado e as velhas retóricas de povos inferiores versus povos superiores em crescendo, numa altura em que solidariedade é sinónimo de sobrevivência. Além disso, um dos pilares constitutivos da União Europeia (livre circulação de pessoas e bens) implica fronteiras abertas, ou seja, gasolina e vento no fogo descontrolado da propagação do novo coronavírus.

Infelizmente, isto dá força aos isolacionistas que temem tudo o que lhes é externo. Calcifica os vários tipos de nacionalismos, numa altura em que o amparo mútuo é essencial.

Tantas oportunidades de reflexão que serão desperdiçadas, ou que vão ficar contidas em círculos académicos e conversas de iluminados.

Sei que vou meter este texto na página e lembrar-me de mais gritantes exemplos de necessidade de ponderação e balanço sobre quem somos. Mas aqui vai mais um motivo para reflectirmos, antes que a frustração se instale.

Até que ponto vivemos afastados do essencial e damos primazia ao supérfluo. Para já, não experimentamos escassez de bens a um nível global, além dos golpes desferidos aos sistemas de saúde de todo o mundo.

Mas, quando começarmos a sentir a falta de água, um cenário que vai muito para lá do provável, veremos o quão afastados vivemos do essencial.

Quando faltar arroz não vamos matar a fome com telemóveis, não vamos guardar legumes na cloud, nem vamos saciar a sede com apps. Na vertiginosa velocidade tecnológica, que marca o avançar da história pela capacidade de processamento, parece que deixámos de processar o essencial.

Faleceu Pedro Ascenção, ex-director do jardim de infância D.José da Costa Nunes

Ex-director do jardim de infância D. José da Costa Nunes, Pedro Ascensão morreu este domingo vítima de cancro. Depois de vários anos dedicado à educação de corpo e alma, primeiro em Portugal e depois em Macau, Pedro dedicou-se à vida de empresário, sempre com duas paixões: a culinária, no café Xina, e a música, com os bares Che Che e Mico

 

[dropcap]P[/dropcap]ara beber um copo fora do ambiente de jogo, havia os bares do Pedro. Primeiro o Che Che, atrás das ruínas de São Paulo, onde se fumaram vários cigarros na calada da noite à porta e se ouviu boa música lá dentro. Depois apareceu o Mico, na mesma rua, mas uns metros mais acima. O Che Che continuou de portas abertas, com outra gerência e o mesmo espírito independente. Pelo meio funcionou o Café Xina onde Pedro Ascensão revelou a sua paixão pela cozinha. Uma vida numa rua.

Empresário e ex-director do jardim de infância D. José da Costa Nunes, Pedro Ascenção morreu este domingo vítima de cancro. Discreto mas frontal, será pouco conhecido da nova geração da comunidade portuguesa, mas para quem vive em Macau desde os anos 90 era uma figura incontornável.

Sempre esteve ligado ao mundo da noite, primeiro no antigo bar Rio, nas docas, e depois no bar do Jazz Clube de Macau, do qual foi presidente. Mas Pedro Ascensão foi também, durante anos, educador de infância; primeiro em Portugal e depois em Macau, no Costa Nunes, logo a seguir à transferência de soberania.

Um papel importante no Costa Nunes

Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), entidade gestora do Costa Nunes, destaca o papel que Pedro Ascensão teve na gestão da escola. “Reconheço-lhe um papel importante nos primeiros anos do Costa Nunes na RAEM em termos da estabilização do funcionamento do estabelecimento de ensino pré-primário. Não o cheguei a conhecer a nível profissional, mas como pessoa sempre foi muito discreto com ideias fortes. Foi um bom amigo de quem lamento a morte”, disse ao HM.

Cristina Ferreira, uma amiga de longa data, recorda-se do período em que Pedro Ascensão esteve à frente do Costa Nunes. “Como educador sempre teve uma atitude muito profissional, e também gostava muito do cargo de gestão. O Pedro tinha a sua profissão mas depois tinha a outra parte, pois sempre gostou muito de cozinhar e de música.”

O bar do canto

Tanto o Che Che como o Mico sempre foram bares de circulação restrita, com clientes das comunidades portuguesa, macaense e chinesa. Pedro Ascensão não fazia questão que o seu espaço fosse muito conhecido e chegava a rejeitar alguns clientes a altas horas da noite.

“Há muitas pessoas que acham que ele tinha mau feitio, mas também era uma pessoa muito generosa e muito amigo do seu amigo. A verdade é que depois as pessoas ultrapassavam essas coisas”, acrescentou Cristina Ferreira, que considera Pedro Ascenção “uma figura de Macau”.

Como empresário sempre manteve espaços diferentes e marcantes na vida nocturna do território.  “Os bares dele sempre tiveram excelente música. Ele tinha um gosto musical muito bom e não gostava que as pessoas colocassem música no bar”, frisou Cristina Ferreira.

A amiga recorda o Che Che, um “bar mais mediterrâneo”, e depois o Mico, com “um conceito mais urbano”. Num território onde todos os espaços nocturnos foram fechando portas à mercê da abertura dos casinos, Pedro Ascensão “foi um resistente”. “Encontrou um espaço que era o único alternativo em Macau. Manteve o seu cantinho, à sua medida, com a sua clientela”, aponta Cristina Ferreira.

“O que fez foi mágico”

Gabriel Yung, actual gerente do bar Che Che, assume que Pedro foi uma pessoa importante na sua vida. Gabriel começou por ser cliente e não conseguiu ver um dos seus bares preferidos fechar portas.

“Quando tinha cerca de 25 anos costumava ir ao Che Che com alguns amigos. Sempre falámos muito. Ele era uma pessoa muito interessante que contava muitas histórias. O que ele viveu, a forma como tratou as pessoas, mudou a minha vida.”

A abertura do bar Che Che foi uma lufada de ar fresco na vida nocturna do território. “Ainda hoje não há muitos bares onde possamos ir, ouvir boa música. O mais importante é o espírito das pessoas, um sítio onde possam comunicar. É parte importante da história dos bares de Macau, e foi uma das razões pelas quais eu quis ficar com a gerência do Che Che. O que ele fez foi mágico para esta cidade”, contou ao HM.

Agora, aos 54 anos, finou-se essa magia, que fazia de Pedro Ascenção um personagem único da comunidade portuguesa de Macau. O que nos fica, além da sua memória e da sua obra, é uma profunda saudade.

Por debaixo da porta

[dropcap]N[/dropcap]o fim de semana recebi, por debaixo da porta, uma carta da gerência do hotel. “Agradecemos a sua colaboração e estamos a fazer o que podemos para tornar a sua estadia o melhor possível”. Gostava de poder agradecer pessoalmente o gesto. Os gestos todos de quem está a tentar tornar melhor a existência, não minha, mas nossa.

“Bom dia vizinha” cumprimenta-me diariamente o Faustino. No quarto ao lado, tem visto “O Atirador” e fala-me do quotidiano. Reviu o “Ébola”, “mas agora é pior”. Recorda estes tempos que temos vivido. Recordamos juntos.

A Dona Adelina falou-me do choro das hienas que se tinha perdido na memória e que agora volta a situar ali, num tempo de infância por terras de África. Gosto de ouvir as suas histórias. Dentro, tem uma vida delas.

O Sr. Virgílio hoje está mais bem-disposto. Tem estado um bocadinho cansado. O telefone que nos une aqui dentro tem mais do que uma linha. Tem muitas. Cruzam-nos as existências e confortam-nos os receios.

Vi “The Legend of 1900”, recomendado pelo Mário. Tornattore conta a história de um homem que nasceu num navio cruzeiro onde cabia a vida toda. O mundo lá fora era demasiado infinito e assustador.

Quando saí de Lisboa, um dos funcionários do aeroporto perguntou-me para onde ia. “Vou voar para Hong Kong” respondi. “Isso é longe. Boa sorte”. “Protejam-se por aqui”, acrescentei. “Vou aproveitar para estar mais com a minha filha. Tem 4 anos. Agora só posso pensar nisso. Já recebi a carta de despedimento e tenho trabalho até ao final do mês” disse-me a sorrir, a tentar disfarçar a angústia que se avizinhava. Calei-me. Recordo a situação e olho lá para fora. Um mundo parado, num silêncio assustador.

Outros mundos

Há um ano atravessava a pé a pequena estrada entre Mae Sai, nas montanhas verdes do norte da Tailândia, e Tachilek, pequena cidade fronteiriça da Birmânia e de todo um outro mundo. Uma fronteira que esteve anos fechada. Agora está outra vez. Voltei a ver o posto de emigração birmanês. As paredes azuis claras com muitas falhas na pintura. As janelas abertas para afugentar o calor com alguma corrente de ar. As cadeiras eram brancas, de plástico, e o computador, sem ninguém que lhe soubesse mexer estava coberto para estar protegido. Recordei a espera por uma agente da emigração enquanto admirava o altar que misturava Budas e Ganeshas, todos com flores. O agente chegou. Leu o papel que tinha nas mãos e carimbou-me o passaporte.

Um dia, levo a Sara comigo, e vamos ver Bagan de balão. De manhã cedo, que é mais fresco. Depois vamos pedalar as aldeias que abraçam o lago Inle e no final de um dia, cansadas e felizes, pomos as bicicletas numa canoa que nos vai levar a comer um caril de amendoins ou de folhas de tamarindo.

Os meus pais seguem religiosamente os exercícios da Rita e sentem-se bem, apesar do corpo estalar. “É bom sinal”, digo, contente. Já o meu irmão, na sua sala airosa em Lisboa, trabalha mais que o normal, para ajudar o mundo a comunicar.

A Sónia mandou-me um poema, a Fátima fez o jantar comigo e o Pedro continua a sair de bicicleta para espantar os males. Tenho saudades. A Carla encontrou lugar para o quadro que tinha guardado. Mandou-me uma fotografia e entrei em casa dela. A Vera precisa de descansar e a Cristina também.

Até amanhã
Macau, 29 de Março de 2020

WTCR | Melhores condições para os pilotos locais

A Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCR) está a atravessar um calvário que começou mesmo do início do surto do novo tipo de coronavírus. Com metade do calendário decepado e dúvidas sobre se este irá mesmo arrancar, o promotor da competição, a Eurosport Events, tenta encontrar soluções para vários os problemas, como oferecer melhores condições aos pilotos e equipas

 

[dropcap]D[/dropcap]epois de ter perdido o maior patrocinador do campeonato, a Oscaro, a WTCR viu Marrocos cancelar o seu evento porque a sua estrela, o piloto marroquino Mehdi Bennani, não conseguiu reunir apoios para agarrar um volante a tempo inteiro. Depois, com a propagação do novo coronavírus, perderam-se as provas da Hungria, Alemanha, enquanto que as viagens à Eslováquia e a Portugal estão em sério risco de não se concretizarem.

“Estamos a monitorizar de perto a situação em cada um dos nossos eventos da WTCR e estamos em contacto com os organizadores para recebermos actualizações sobre as decisões das autoridades nacionais e locais”, disse Xavier Gavory, Director da WTCR, quando questionado pelo portal SportMotores.com.

Com um cenário de recessão a assombrar a economia mundial, a Eurosport Events tomou uma série de medidas. Em vez de três corridas, a WTCR terá, como tinha o WTCC, duas corridas por fim-de-semana, ambas a serem realizadas no domingo de cada evento. Contudo, devido à anulação de provas, a organização do campeonato tem procurado encaixar as corridas perdidas em eventos posteriores. As provas passam agora a ser de apenas dois dias, em vez de três, podendo haver excepções, como será o caso de Macau. Sábado fica para as sessões de treinos-livres e qualificação, sendo que no domingo realizam-se as corridas. A qualificação única terá três fases.

“Temos que actuar decisivamente e de forma responsável para proteger a WTCR, mantendo-a forte para as partes interessados, apelativa junto dos fãs e da imprensa e assegurar que continua atractiva e acessível a novas equipas privadas”, explicou François Ribeiro, o CEO da Eurosport Events, sobre as providências implementadas.

Outras medidas introduzidas em Fevereiro, com o objectivo de cortar nas despesas, ditaram uma redução no pessoal por equipa a trabalhar nas provas e no número de pneus “slicks” novos a usar por fim-de-semana.

Tiago Monteiro confirmado

Antes mesmo da crise causada pela pandemia em curso, a Taça Mundial já estava com dificuldades quanto ao número de inscritos. A Volkswagen e Audi retiraram o apoio às suas equipas no campeonato e a formação que tomava conta dos Alfa Romeo irá concentrar-se num outro projecto, decisões que totalizaram oito baixas. Sendo assim, apenas estão confirmadas as presenças de quatro Lynk & Co, de quatro Hyundai, de quatro Honda e de dois Audi.

Este os pilotos confirmados está o português Tiago Monteiro. O portuense que venceu no Circuito da Guia em 2016 vai regressar este ano ao campeonato com a equipa Munnich Motorsport, visto que a equipa KCMG de Hong Kong abandonou o campeonato para se focar noutras categorias. A estrutura alemã irá ocupar-se dos quatro Honda Civic Type-R inscritos na WTCR e Monteiro terá como companheiros de equipa os argentinos Esteban Guerrieri e Néstor Girolami e o húngaro Attila Tassi.

Atrair os locais

Como ninguém acredita que as grelhas de partida irão ter números nem sequer próximos aos obtidos nos dois primeiros anos, a organização do campeonato decidiu melhorar as condições para os pilotos convidados, aqueles que não participam no campeonato, mas que gostam de fazer uma ou outra prova, como acontece habitualmente no Circuito da Guia, onde alguns pilotos locais aproveitam para medir forças com os melhores do mundo.

Os “wildcards” terão agora uma inscrição mais acessível, passando esta a custar 5,000 euros/evento, um montante inferior em metade ao preço praticado em 2019. Por outro lado, estes “convidados” terão apenas que carregar 10kg de lastro suplementar nas suas viaturas, em vez dos 20kg obrigatórios anteriormente e que os tornava muito pouco competitivos logo à partida.

Recorde-se que na primeira vez que a WTCR visitou Macau, a prova contou com seis representantes do território, incluindo três de matriz portuguesa – André Couto, Filipe Souza e Rui Valente – mas o ano passado, devido aos elevados custos da participação e às limitações que têm os pequenos concorrentes privados, apenas um piloto da RAEM alinhou na prova.