Seis propostas para o próximo milénio Amélia Vieira - 7 Jul 2020 [dropcap]E[/dropcap]stávamos em 1984 quando Italo Calvino reuniu um conjunto de textos ensaísticos para um ciclo de conferências na Universidade de Harvard. Seis lições, um conjunto a que procurou ser coeso, metódico e analítico face ao futuro da literatura e do livro, da criação literária, dos seus propósitos e formas, bem como ao subtil articular destas componentes. Disserta sobre o objecto-livro, das línguas ao longo do século vinte e das suas vertentes imaginativas que deram origem a formas cognitivas fazendo da linguagem uma pura plasticidade criativa. Se para tanto pensarmos que o século vinte foi o da propagação do livro, e que para trás a faixa reduzida da sua utilização foi uma constante, e que no postulado da tecnologia ele se recolhe cada vez mais, digamos que a sua existência como grande expressão tem neste século o máximo significado. Nas línguas Ocidentais, ele não só é soberano, como vai dar origem a infindáveis formas de leitura como elemento puro de práticas combinatórias. Leveza, Rapidez, Exactidão, Visibilidade, Multiplicidade, na verdade cinco, estando na dissertação a sexta, que é do autor a sua própria voz, talvez o Peso, em contraste com a primeira com que abre a sessão. Ao agrupar estes fundamentos ele dá corpo a uma constância onde nada deve por isso ficar de fora, e joga-as na fluidez que requer certamente o exercício de uma vida inteira. Nem sempre estas prerrogativas vistas do lado de quem não se associa à vertente imaginária e treino constante saem em simultâneo, ou saindo uma, pode não ter o suporte da outra, daí a linguagem ser de facto o mais agreste elemento face ao entendimento quando as suas componentes não se encontram devidamente filtradas, sobretudo, quando se trata de linguagem tangível, na outra, bem formulada pelos elementos indicados, os campos abrem-se de forma clara e quase sempre iluminam. É com tais recursos que a intertextualidade foi uma prática ao longo do século vinte, ampliando o texto literário até às malhas da quase composição de signos gráficos alinhados numa complexa rede de significados, ele transmite-nos isto sem retórica de permeio e uma incrível visão temática. Fala da poesia como uma tensão para a exactidão a partir de Paul Valéry, e ela só tem paralelo com o grau de maravilha alcançado na Leveza que atravessa a manifestação, e já nela, olhar de maneira nova de um outro ponto de vista pode ser uma sua marca, e não uma dissolvência onírica para fugas presenciais. Para a Visibilidade, invoca uma tendência perdida: o poder de focar visões de olhos fechados, passando a lembrar os caracteres alfabéticos negros da página, o que faz lembrar um belo poema árabe que diz assim “minha pupila só resgata o que da página está cativo, o branco na margem certa e da palavra o negro vivo” o amor pelo desenho gráfico está bem patente nesta forma de olhar os caracteres, o que inspira e atrai. Rapidez é também neste caso uma alegórica associação entre Vulcano e Mercúrio, onde a paciência mineral indicará a inspirada força para o impulso imediato num reflexo de ajustamento de ambas, amadurecer e libertar da contingência efémera o reflexo sombrio da impaciência e da angústia da página em branco. Na Multiplicidade, há no entanto que defendê-la da arbitrariedade, o puzzle do nosso enredo interior não deve ser labiríntico e dever-se-á conectar com as imensas ressonâncias dos fluídos captados por esferas associativas que façam da estranheza do pensamento a divulgação de um acréscimo do ritmo construtivo, um teste com os recursos ao nosso dispor no treino inventivo que se sedimenta ao longo de um processo que trará uma liberdade maior e uma harmonia constante. Este trabalho foi o último de Italo Calvino que viria a morrer um ano depois, o que denota um apuramento quase no fim arremessando o essencial e pondo a funcionar elementos que se juntaram para coroar uma vida, e quando pensamos nisso, queremos atrasar o nosso próprio reservatório de capacidades não vão elas soltarem-se ficando nós a sentir que esta maravilha esconde a breve finitude dos nossos dias. Muitas vezes acontece isso, e se a vida continua para lá de um ajustamento destes, parece então que as funções caem ou tendem a repetir-se retirando-lhes o vigor, o que não raro acontece quando não se dá conta de uma certa decadência. Foi para ele uma fixação que levou tempo a elaborar, este trabalho, já atento aos sinais futuros e ao grau de dissolvência do contributo do objecto-livro como fonte de propagação de leitura. Creio que todas as etapas nos satisfazem pelo brilhantismo demonstrado e capacidade de recorrer a formas inovadoras. O milénio chegou, e indo até aqui num passado recente, conseguimos ler melhor a etapa seguinte de um livro sempre inacabado que é a criação humana e a sua flutuação nos tempos que nos impelem a recriar sempre fórmulas de entendimento, e mais, conhecimento acrescido das nossas potencialidades, onde só as distâncias dão o espaço necessário para abordagens mais vastas. “…. talvez só então eu estivesse a descobrir o peso, a inércia, a opacidade do mundo: aspectos que se agarram logo à escrita se não descobrirmos a maneira de lhes fugir”
A afinadora de perguntas Paulo José Miranda - 7 Jul 2020 [dropcap]N[/dropcap]a semana passada vimos aqui o segundo e último livro da escritora irlandesa Jane Mcgrade, «Desde Que Morrem Os Homens», mas o seu primeiro livro, «Aquele que Vai Para Escritor», de 1949, não é menos arrebatador. Neste seu livro, a escritora começa de um modo «mcgradiana» a destruição da literatura: «À minha volta, quase ninguém lê os livros que me interessam. Não importa que sejam as pessoas com quem falo num jantar ou aquelas com quem converso na universidade. Os livros que me importam não importam a ninguém. E do mesmo modo que acontece comigo, assim imagino que aconteça com outros. Assim, antes de se pensar em tornar-se escritor, deve ter-se consciência de quem ninguém se importa com isso. “Isso” é o que se escreve. Porque a escrita tal como a entendo não é natural. É natural o relato de acontecimentos, o testemunho de episódios, a criação de vidas tão longe da vida que nos fascina ou ainda a cópia dos dias que de tão perto e tão vazios são como os nossos. Isso, sim, é natural. Mas a escrita que abre feridas na superfície da consciência, que mostra falhas da existência, que põe em causa o próprio acto de escrever e de pensar não é natural e não importa às pessoas. Talvez um dia se consiga provar que ou esses livros são os fundamentais ou esses livros são perniciosos, não apenas contra-natura, mas que nos afastam do melhor de nós. Até lá, continuemos a escrever com a crença que melhor nos couber, sem tirar os olhos do horizonte do desinteresse alheio.» Logo de início Jane Mcgrade larga as redes do seu brilhante pessimismo sem qualquer contemplação com o leitor. Põe não só a si mesma em causa, mas também o livro que começa a escrever. No fundo, e ao longo do livro, soa omnipresente o não se saber nada do que estamos a fazer quando escrevemos. E este não saber nada não é apenas em relação à arte da escrita, mas a relação da escrita com o mais profundo da existência. Escreve à página 18: «De onde vem a ideia de que a literatura é algo de bom para a existência? Como sabemos isso? Ou talvez mais correctamente, como podemos saber isso? Será a literatura melhor para a existência do que nadar todos os dias ou correr atrás de uma bola num campo verde junto com outras pessoas?» Aquilo que importa a Mcgrade – já o tínhamos visto na semana passada com a questão da origem e do impulso para o suicídio – não é dar respostas, mas formular perguntas o mais certeiro que lhe for capaz. Escreve: «Afinar perguntas não é a mais nobre das actividades, mas é a mais nobre das minhas.» (p. 29) Estamos diante de um texto pequeno, 78 páginas, bem menor que «Desde Que Morrem Os Homens». E na página 32 surge esta frase enigmática: «Todo aquele que escreve faz o quê? Imagine-se que uma criança pergunta a uma escritora o que é que ela faz na vida e que a escritora lhe responde que escreve livros. Não satisfeita, e não o poderia estar, a criança insiste em querer saber o que é isso de escrever livros. Ela, a criança, não quer saber o que é um livro, mas o que é escrever um. Isto é, ela quer saber o que é que eu faço. E não lhe sei responder. Posso dizer muitas coisas. E digo muitas coisas. Mas não lhe sei responder.» Por conseguinte, para Jane Mcgrade a actividade de escrever não é apenas obscura em relação aos efeitos na existência, mas também é obscura na sua compreensão. «Não é só aquele que vai para escritor que desconhece ao que vai, também o escritor desconhece onde está.» (p. 33) Jane Mcgrade tinha um fascínio enorme por Nietzsche, e faz uma citação à página 40, de uma passagem de «Acerca da Verdade e da Mentira no Sentido Extramoral»: «O descurar do individual e do real dá-nos o conceito, do mesmo modo que nos dá a forma, enquanto a natureza não conhece quaisquer formas e conceitos e, portanto, quaisquer géneros, mas apenas um X para nós inacessível e indefinível. Portanto, também a nossa posição entre indivíduo e género é antropomórfica e não provém da essência das coisas […].» O que pretende Mcgrade ao trazer este texto de Nietzsche, se há nele um elogio da metáfora e uma negação do conceito? Há em todo este texto um desprezo pela verdade. Neste texto, o filósofo alemão propõe a metáfora como caminho, não para o conhecimento mas para a nossa relação com a vida, ao invés do conceito, que nunca pode abraçar a vida. Mas veja-se aonde Mcgrade nos quer levar, à página 42: «Ver o conceito como uma grosa que apara diferenças, quando tudo na natureza é desigual, talvez seja a maior evidência de que a literatura nos pode servir bem a existência.» Ou seja, a escritora irlandesa recorre a esse texto de Nietzsche não como «prova» de defesa da literatura, mas como «possibilidade» de defesa. Uma vez mais, não há respostas, apenas uma contínua afinação da pergunta. Termino esta viagem ao primeiro livro de Jane Mcgrade com a última frase do livro, absolutamente luminosa: «Antes de caminhardes para escritor, lembrai-vos de que quando se escreve não se lê.”
Poesia | António Mil-homens lança “Poemografias” este sábado na Casa Garden Andreia Sofia Silva - 7 Jul 2020 É já no próximo sábado, dia 11, que o fotógrafo António Mil-homens lança o seu novo livro de poesia “Poemografia”, que surge numa versão trilingue, português, chinês e inglês. A obra, que conta com apresentação do ex-embaixador Carlos Frota, contém também fotografias e espelha a vivência muito própria do autor com a Macau que habita há vários anos [dropcap]A[/dropcap]proveitando a viagem da sua primeira exposição de pintura, intitulada “Monochrome”, António Mil-homens prepara-se para lançar um novo livro de poesia no mesmo local onde estão expostas as obras, a Casa Garden. O evento de apresentação de “Poemografia” acontece no sábado por volta das 16h e terá como convidados o ex-embaixador Carlos Frota, além de personalidades que vão ler os poemas nas suas versões em português, chinês e inglês. A música de Fabrizio Croce irá acompanhar a leitura dos poemas. A edição do livro está a cargo do Instituto Cultural (IC). “Poemografias” é o resultado das vivências de António Mil-homens com Macau. “É no fundo uma súmula daquilo que tenho escrito sobre Macau ao sabor da inspiração e daquilo que vou sentindo e vivenciando”, contou ao HM. Um dos poemas retrata, por exemplo, o primeiro momento em que António Mil-homens chegou a Macau, decorria o ano de 1996. Desde aí que houve alterações na forma de escrita, precisamente devido a uma forte ligação com a cultura chinesa. “De repente ganhei consciência de que o estilo [de escrita] é mais configurativo. Se calhar o estilo de escrita dos poemas reflecte muito daquilo que em mim foi sendo inculcado pela cultura chinesa. Diria que são poemas meus, mas se calhar são muito chineses na forma como foram naturalmente escritos, sem ter tido consciência ou intenção disso.” O autor não domina a língua chinesa, mas diz sentir-se muito ligado à cultura, sobretudo ao confucionismo e à arte chinesa. “Tenho uma enorme admiração e um profundo respeito. Não ignoro as diferenças e procuro entendê-las. É a minha postura normal relativamente a outras culturas: procurar e analisá-las sem grandes pré-concepções, porque essa é a única forma. Prefiro ter um olhar mais transparente sobre aquilo que me rodeia.” Há uma naturalidade e sobretudo uma espontaneidade na escrita de António Mil-homens que surgiu quase sem o autor perceber como. “De repente as coisas acontecem e eu tenho necessidade de pegar numa folha de papel para registar o que me está a ocorrer. É raríssimo fazer qualquer rasura ou substituição de palavras.” Projecto antigo “Poemografias” começou a ser pensado em 2014, ainda Yao Jingming era vice-presidente do IC. Até que António Mil-homens decidiu que este “não seria mais um livro de poesia em português” e pagou a tradução dos poemas para chinês e inglês. A edição aconteceu o ano passado, a propósito da celebração dos 20 anos da RAEM, mas o lançamento acabou por ser adiado. Fotógrafo há vários anos, António Mil-homens enveredou recentemente pela pintura, tendo já inclusivamente algumas ideias para uma nova exposição com quadros de maior dimensão. Sobre a escrita, diz ter recebido comentários positivos, o que lhe dá força para continuar a trabalhar em várias vertentes artísticas. “Além de pessoalmente estar satisfeito com o projecto, sinto-me auto-gratificado. Nunca me passou pela cabeça, quando comecei a pintar, que ia sair com esta força. O retorno ou as opiniões que tenho recebido é de apreciação e de encorajamento, de pessoas a quem não perguntei nada. Ganhei uma força que não me passaria pela cabeça que acontecesse. É mesmo para continuar”, rematou.
Crime | Rouba a filha para pagar dívidas de jogo e simula rapto João Luz - 7 Jul 2020 [dropcap]U[/dropcap]ma mulher foi detida pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeita de ter roubado um relógio à filha, no valor de 100 mil patacas, para alegadamente pagar dívidas de jogo. Uma história, digna de filme, que começou com o telefonema de Chou, uma residente desempregada de 51 anos, para a filha (Lau), estudante de 25 anos. Na passada quarta-feira, Lau ligou à mãe para perguntar se esta lhe tinha subtraído o valioso relógio, que desapareceu no dia anterior, probabilidade equacionada devido ao conhecido vício de jogo de Chou. A mãe confirmou a suspeita da filha e acrescentou que o relógio serviria para pagar dívidas de jogo, o mesmo motivo pelo qual estava presa num apartamento na Areia Preta, depois de ter sido raptada. Na sequência do alarmante telefonema, a filha preocupada reportou o caso às autoridades policiais. Desde quarta-feira, Lau perdeu o contacto com a mãe, até que na sexta-feira a PJ encontrou Chou no casino na península de Macau. Em declarações às autoridades, a mãe admitiu ter roubado o relógio e mentido em relação ao rapto. A mulher admitiu que desde então tinha estado a jogar em casinos no NAPE. Em sua posse, a PJ encontrou 1100 patacas em fichas. Segundo a PJ, Chou recusou dizer onde está o relógio da filha. A mulher foi detida e transferida para o Ministério Público suspeita de furto agravado.
Caso IPIM | Kevin Ho é sócio de arguido acusado de associação criminosa João Santos Filipe - 7 Jul 2020 O delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional é sócio dos arguidos Ng Kuok Sao e Tang Zhang Lu numa empresa que prestou falsas declarações dizendo ter participado nas obras de construção do Metro Ligeiro e na Segunda Fase do casino Galaxy [dropcap]K[/dropcap]evin Ho é parceiro de negócios de Ng Kuok Sao, empresário acusado de ter criado uma associação criminosa para vender de autorizações de residência, no âmbito do caso do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). A empresa em causa é a Companhia de Engenharia de Instalação de Equipamentos Hunan (Macau) Limitada e foi utilizada em pelo menos dois pedidos de fixação de residência com informação que a acusação acredita ser falsa. A revelação foi feita ontem em tribunal, quando um investigador do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC), identificado como CS Wu, apresentou o registo comercial da Hunan. O nome de Kevin Ho nunca foi mencionado no tribunal, mas o sobrinho de Edmund Ho surge como accionista da empresa com uma participação de 30 por cento, enquanto os arguidos do processo Ng Kuok Sao e Tang Zhang Lu são os restantes proprietários, cada um com um participação de 35 por cento. A empresa foi criada a 28 de Agosto de 2009 com um capital social de 200 mil patacas e Kevin Ho é igualmente apresentado como gestor, assim como Ng e Tang. Contudo, o sobrinho do ex-Chefe do Executivo Edmund Ho afirmou ter sido apanhado de surpresa com a ligação. “Foi há muito muito tempo que a empresa foi criada e para ser sincero nem me recordo em que condições. Fiquei surpreendido com a ligação, porque não tenho nada a ver com o caso que está em tribunal”, afirmou o também delegado de Macau à Assembleia Popular Nacional, ao HM. Ho admitiu também conhecer Ng Kuok Sao, com quem diz, no entanto, ter perdido contacto. O arguido encontra-se fora de Macau, após ter sido condenado pela prática do crime de burla. “Do que me lembro foi uma empresa foi criada há 11 ou 12 anos, sem grande actividade comercial. Eu era accionista, mas nunca estive envolvido em qualquer negócio ou nas suas actividades. Nós conhecemo-nos porque o escritório dele era debaixo do meu. Mas não temos contacto há alguns anos. Foi um contacto que se perdeu”, clarificou. O sobrinho do ex-Chefe do Executivo revelou ainda não ir ser testemunha no caso e excluiu o cenário da empresa ser encerrada, uma vez que não consegue entrar em contacto com Ng nem Tang. Actividades “fachada” Segundo a informação apresentada ontem pela acusação, a empresa Hunan tinha cerca de uma dúzia de trabalhadores até 2013, com a maior parte das saídas a acontecer em 2011. Entre 2014 e 2017, os registos mostram que não houve qualquer contratação. Todavia, a Hunan foi utilizada como empregadora “fachada” para os pedidos de fixação de residência de duas pessoas, Lin Hui Kang e Iu Mei Lee. Quando os pedidos de fixação de residência entraram no IPIM, o CCAC mostrou que foram transferidos para a conta de Ng Kuok Sao 200 mil yuan, por parte de Lin, e 400 mil yuan, de Iu Mei Lee. Na documentação para a fixação de residência é indicado que Lin iria assumir o papel de gerente na Hunan, enquanto Iu iria ficar com o cargo de gerente-geral dos recursos humanos. Também nos dois processos de fixação de residência é indicado ao IPIM que a Hunan tinha sido uma das partes envolvidas no Metro Ligeiro de Macau e na segunda fase do casino Galaxy. Este documento está assinado pelo accionista Tang, o que faz com que seja arguido. No entanto, a acusação recusa que a empresa tivesse capacidade para desempenhar tais trabalhos: “Fomos analisar os formulários M3 e M4 para sabermos os rendimentos e acedermos ao registo dos trabalhos e verificamos que a companhia não conseguia ter capacidade para fazer as obras mencionadas”, considerou CS Wu, do CCAC. Como os processos de residência acabariam por ser recusados pelo IPIM, com parecer negativo do Conselho de Administração, presidido por Jackson Chang, o arguido mais mediático do processo, o montante de 600 mil yuan acabou por ser devolvido. Ng Kuok Sao, sócio de Kevin Ho, e a mulher Wu Shu Hua são os principais arguidos do julgamento do caso do IPIM e estão acusados de terem criado uma associação criminosa para venderem fixações de residência em Macau.
AMCM | Depósitos de Maio continuam tendência de ligeira subida João Luz - 7 Jul 2020 [dropcap]D[/dropcap]urante o mês de Maio, os depósitos feitos por residentes aumentaram 0,7 por cento em comparação com o dinheiro depositado em Abril, atingindo os 668,6 mil milhões de patacas, de acordo com um comunicado divulgado ontem pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM). O crescimento dos depósitos feitos por não-residentes foi mais acentuado, com uma subida em Maio de 1,7 por cento em relação ao mês anterior, para um total de 286,1 mil milhões de patacas. O sector público registou no mês em análise um crescimento de depósitos de 3,3 por cento, equivalente a 264,9 mil milhões de patacas. Na globalidade, o total dos depósitos da actividade bancária aumentou 1,5 por cento quando comparado com o mês anterior, e chegou aos 1.219,6 mil milhões de patacas. Destes depósitos, a maior proporção foi feita em dólares de HK foi de 46,5 por cento, seguido de dólares norte-americanos com 27,2 por cento, só depois surge a pataca 18,7 por cento dos depósitos feitos na moeda local e, finalmente, os depósitos em renminbis representaram 5 por cento do total, segundo a AMCM. Em sentido inverso, os empréstimos internos ao sector privado caíram 0,2 por cento em relação ao mês anterior, totalizando 541,8 mil milhões de patacas. Por outro lado, os empréstimos ao exterior cresceram 1,9 por cento, tendo atingido 647,6 mil milhões de patacas. Feitas as contas os empréstimos ao sector privado cresceram 1 por cento, em relação ao mês anterior, para um total de 1.189,4 mil milhões de patacas.
Sin Fong Garden | Associação de Mak Soi Kun refugia-se em mudanças económicas Salomé Fernandes e Nunu Wu - 7 Jul 2020 Para não pagar as 100 milhões de patacas prometidas para a reconstrução do edifício Sin Fong Garden, a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen justifica que as condições económicas e o ambiente social mudaram. Em alternativa, sugere dar oito milhões de patacas de uma só vez ou suportar juros de empréstimos [dropcap]A[/dropcap] Associação dos Conterrâneos de Jiangmen justifica o não pagamento dos 100 milhões de patacas prometidos para ajudar à reconstrução do edifício Sin Fong Garden com as mudanças que houve ao longo dos anos em que o projecto foi adiado, noticiou o jornal Cidadão. O caso data de 2012, altura em que foi dada ordem para a evacuação do prédio. De acordo com a Associação dos Conterrâneos de Jiangmen, as condições económicas e o ambiente social “sofreram mudanças tremendas”. O principal responsável da entidade esclareceu que com a recessão económica nos anos recentes, bem como a emergência da epidemia do novo tipo de coronavírus este ano, as indústrias encontraram dificuldades sem precedentes. A associação diz que apresentou explicações à comissão de gestão do condomínio do edifício Sin Fong Garden através de cartas oficiais que não foram aceites. E defendeu que a sua actuação “não foi perfeita”, mas que há “soluções práticas para as dificuldades”. As opções deixadas No comunicado, a associação apresentou opções para viabilizar o fundo de reconstrução do edifício. Por um lado, sugere que o financiamento seja feito pelos proprietários, com a associação a responsabilizar-se pelo pagamento dos juros do empréstimo bancário. Dadas as dificuldades financeiras de alguns pequenos proprietários, a associação diz estar disposta a suportar os juros de empréstimos de 100 milhões de patacas durante o período de construção, remetendo a responsabilidade do capital do empréstimo para a comissão de gestão do condomínio do edifício e os proprietários. Em alternativa, a associação diz que pode alocar oito milhões de patacas à reconstrução do edifício de uma só vez, mas os restantes défices têm de ser financiados pela comissão de gestão do condomínio do edifício e os proprietários.
Jogo | Morgan Stanley espera pior trimestre de sempre João Santos Filipe - 7 Jul 2020 [dropcap]E[/dropcap]ntre Abril e Junho as concessionárias do jogo reduziram as despesas diárias de funcionamento em cerca de 5 por cento, para 119,3 milhões de patacas. No primeiro trimestre do ano, os gastos diários tinham sido de 125,3 milhões de patacas. A informação foi divulgada pelo banco de investimento Morgan Stanley Asia, e citada ontem pelo portal GGR Asia. “As despesas diárias de operação parecem ter sido reduzidas para 119,7 milhões de patacas, uma quebra de cinco por cento face ao trimestre anterior e uma redução de 21 por cento face ao período homólogo”, escreveram os analistas Praveen Choudhary e Gareth Leung. Nos próximos dias as operadoras devem anunciar os resultados do segundo trimestre do ano, assim como da primeira metade de 2020. Face a este período, os analistas esperam “os piores” resultados desde que o mercado foi liberalizado, devido às restrições nas viagens relacionadas com a pandemia da covid-19. No mesmo relatório, a Morgan apresenta igualmente uma previsão para as perdas no segundo trimestre do ano das operadoras. A principal afectada é a Sands China, com perdas de 286 milhões de dólares norte-americanos, com a Melco no segundo lugar (perdas de 205 milhões de dólares) e Wynn (172 milhões). As empresas com menores perdas são a Galaxy (154,8 milhões norte-americanos), MGM China (116,9 milhões) e SJM (99,9 milhões).
Ensino Superior | Mais bolsas de estudo no próximo ano lectivo Pedro Arede - 7 Jul 2020 [dropcap]N[/dropcap]o próximo ano lectivo, o Governo vai atribuir 510 bolsas de mérito e 510 bolsas especiais, um aumento de 20 e 10 bolsas, respectivamente, em relação ao ano passado. Num despacho publicado ontem em Boletim Oficial (BO), o Gabinete da Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura revelou ainda que foram alargados os limites máximos de rendimento mensal, consoante o número de pessoas do agregado familiar. Desta forma, o valor máximo de rendimento mensal total do agregado dos candidatos às bolsas aumentou para 17.400 patacas (um elemento), 32.960 patacas (dois elementos), 44.088 patacas (três elementos) e 53.560 patacas (quatro elementos). O valor máximo para os agregados compostos por cinco, seis e sete pessoas aumentou para 60.480, 67.400 e 74.320 patacas. Para os agregados compostos por oito ou mais elementos, o limite de rendimento mensal passa a ser de 81.080 patacas. No despacho é também revelado que o montante mensal a conceder aos estudantes foi aumentado. O valor a atribuir aos bolseiros a estudar na RAEM e no Interior da China aumentou para 4,230 patacas, ao passo que o montante das bolsas dos estudantes que rumem a Hong Kong e Taiwan, cresceu, respectivamente, para 6.390 e 4.230 patacas. Quem for estudar para “outros países ou regiões” no próximo ano lectivo, passa a contar com uma bolsa mensal de 6.390 patacas.
AL | Escola dos Operários suspende inquérito com questões parlamentares João Luz e Nunu Wu - 7 Jul 2020 A finalidade dos inquéritos distribuídos aos alunos da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários era aprofundar a educação cívica dos encarregados de educação. Depois de comentários negativos, o inquérito acabou por ser cancelado, de acordo com o reitor da instituição [dropcap]“N[/dropcap]o passado fizemos estudos semelhantes sobre governação, sobre o trabalho dos deputados na Assembleia Legislativa, para apurarmos os conhecimentos sobre estes assuntos. São temas de educação cívica.” Foi assim que Zheng Jiezhao, reitor da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, justificou o envio de um questionário para encarregados de educação da instituição que dirige. O inquérito foi cancelado, segundo o reitor, depois de ter sido alvo de comentários negativos. O questionário, cujo título e primeiras cinco perguntas indicavam ser sobre a resposta à pandemia da covid-19, terminavam com duas questões sobre a popularidade dos deputados da Assembleia Legislativa (AL), ao jeito de sondagem. Importa recordar que o deputado Lam Lon Wai, ligado à FAOM, é subdirector da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários. O HM tentou contactar o deputado, mas até ao fecho da edição não obteve resposta. Segundo Zheng Jiezhao, os questionários foram distribuídos apenas a alunos do ensino secundário-complementar e não havia qualquer obrigatoriedade de os devolver respondidos. AL pop-quiz Enquadrado no contexto do combate à covid-19 e do trabalho do Governo durante esse período, o questionário, composto por sete perguntas, pede aos inquiridos que indiquem “o nome dos três deputados que melhor conhecem” e, na última, para assinalar com uma cruz “três deputados cujo trabalho considera mais satisfatório”. Esta última questão tem 14 opções, onde estão incluídos todos os deputados eleitos por sufrágio directo. Nas eleições legislativas de 2017, pelo menos, um trio de estabelecimentos de ensino privado apoiaram a candidatura de Wong Kit Chen a deputada, incluindo a Escola Secundária Pui Va. As próximas eleições para a Assembleia Legislativa realizam-se em 2021.
Wong Kit Cheng quer mais apoios à renovação de edifícios Salomé Fernandes - 7 Jul 2020 [dropcap]U[/dropcap]m novo plano de apoio financeiro para renovar escadas de prédios ou alargar o apoio actual, para ajudar os idosos que residem em casas antigas – é um dos principais pedidos de Wong Kit Cheng numa interpelação escrita sobre o Fundo de Reparação Predial. A deputada explica que há várias zonas, como por exemplo janelas, esgotos e escadas, que estão fora do plano provisório de apoio financeiro para reparação das instalações comuns de edifícios baixos. Wong Kit Cheng focou-se no envelhecimento dos edifícios na zona antiga de Macau, que considera “grave”, especialmente os que não têm elevador, comentando que têm infiltração de água, esgotos entupidos, queda de janelas e alguns também problemas estruturais. E frisou as dificuldades em reconstruir edifícios antigos num curto espaço de tempo, quando Macau não tem um sistema de renovação urbana. Para além disso, a deputada explica que muitos edifícios antigos não têm empresas de gestão e têm proprietários idosos com “dificuldade em compreender claramente o processo de candidatura”, para além da necessidade de reunirem o apoio de mais de metade dos proprietários para fazer as reparações e prepararem documentação. Dado que “o problema do envelhecimento dos edifícios só vai aumentar”, a deputada quer um reforço do Fundo para apoiar melhor os proprietários, cooperar com associações e simplificar formalidades. Baixa execução “O Instituto de Habitação (IH) tem um fundo de reparação predial, que disponibiliza sete programas de apoio financeiro ou empréstimos para reparação. Contudo, a taxa de execução do programa tem sido baixa desde há muito tempo”, disse Wong Kit Cheng. De acordo com os dados que apresentou, a taxa de execução dos três maiores planos do fundo de 2018 variaram entre 16,2 por cento e 52,4 por cento, e dos juros foi de apenas 4,4 por cento. Vale a pena notar que, de acordo com o IH, entre Janeiro e Maio deste ano, foram aprovadas 101 candidaturas pelo Fundo de Reparação Predial e intervencionados 93 edifícios. O montante envolvido é superior a 9,3 milhões de patacas.
Segurança | Comissão quer saber quantos trabalham mais de 44h Salomé Fernandes - 7 Jul 2020 Apesar de a 1ª Comissão Permanente da AL classificar como “simples” a proposta de alteração à lei das remunerações acessórias das forças e serviços de segurança, são várias as dúvidas levantadas, desde quantas pessoas trabalham mais de 44 horas à forma de calcular a remuneração acessória [dropcap]H[/dropcap]o Ion Sang, presidente da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, descreve a proposta de alteração à lei das remunerações acessórias das forças e serviços de segurança como “simples”. Ainda assim, a comissão vai elaborar uma lista de questões com vista a “reunir brevemente” com o Governo. O deputado frisou que a proposta não trata “matérias novas” por já existirem normas semelhantes em diplomas legais de serviços públicos, como a Polícia Judiciária e o Corpo de Bombeiros, regulamentos administrativos e ordens executivas. Um dos documentos legais mencionados foi o Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM), que já prevê a duração normal do trabalho e o direito a remuneração suplementar nos casos de períodos de trabalho superiores a 44 horas semanais. “Vamos perguntar ao Governo o ponto de situação da prestação de trabalho, nomeadamente sobre o número de trabalhadores que trabalham mais de 44 horas semanais. É uma informação importante”, disse Ho Ion Sang. O deputado confessou não saber se os encargos do Governo vão aumentar, mas reiterou que actualmente já é paga uma remuneração complementar e que a proposta tem “como intenção juntar algumas das regras dispersas”. Para já, a comissão recusa assumir uma posição. Só depois dos esclarecimentos do Executivo vai manifestar opiniões. Calendário laboral A remuneração suplementar aparece associada a agentes da Polícia Judiciária, pessoal alfandegário, do Corpo de Guardas Prisionais, Polícia de Segurança Pública e Bombeiros. A comissão quer saber se a medida “se aplica apenas a este tipo de pessoal” e “se no futuro o âmbito de aplicação vai ser ou não alargado”. Para além disso, o cálculo da remuneração levantou dúvidas entre os membros da comissão. A proposta sugere a divisão do total de horas de trabalho mensal pelo número de dias úteis no mês, multiplicado por cinco dias úteis de trabalho semanal. Os deputados querem saber se o método vai ser ajustado tendo em conta o pessoal dos diferentes serviços e se há quem trabalhe mais de cinco dias úteis por semana. De acordo com o presidente, alguns deputados colocaram a hipótese de o cálculo ser trimestral, por exemplo, “tendo em conta as festividades do ano”. Isto porque em semanas de maior festividade, como na semana dourada, o volume de trabalho pode alterar-se. Na lista de dúvidas também está o que motiva a inclusão da remuneração complementar no índice 100 da tabela indiciária.
Jenny Guan e Sandy Sio, académicas: “Casinos estão a estender apoio às PME” Andreia Sofia Silva - 7 Jul 2020 A liberalização do jogo mudou a forma como empresas e a sociedade olham para a responsabilidade social corporativa. Com a renovação das licenças de jogo no horizonte, as académicas Jenny Guan e Sandy Sio, do Instituto para a Responsabilidade Social das Organizações na Grande China em Macau, defendem que a responsabilidade social vai assumir maior peso nos concursos públicos. As académicas do Instituto para a Responsabilidade Social das Organizações na Grande China em Macau destacam que com a pandemia as empresas alteraram o paradigma de actuação na sociedade [dropcap]Q[/dropcap]ue análise fazem à responsabilidade social corporativa (RSC) das empresas de Macau, em termos históricos? Sandy Sio (SS) – As empresas têm-se focado na maximização de lucros e na responsabilidade de manter estabilidade de emprego para atingirem os seus objectivos. Depois da liberalização do jogo, Macau passou a atrair muito investimento estrangeiro com a introdução de operadoras de jogo internacionais e outras operações nas áreas financeira, construção civil, imobiliário e turismo. Com os negócios veio também uma grande comunidade de expatriados. A diversidade demográfica e das estruturas dos negócios fez com que as empresas de Macau tivessem de preencher necessidades de uma população maior e mais variada. A actual geração de gestores está mais sensibilizada para as medidas internacionais de RSC, e as empresas procuram promover os esforços socioeconómicos que fazem junto da sociedade de uma maneira mais eficiente e visível. Como funcionavam as empresas, ao nível da RSC, antes da liberalização do jogo? SS – Devido à restrição de recursos públicos no tempo da Administração portuguesa, o Governo estava dependente da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) e de algumas empresas estatais chinesas para assumir responsabilidades nos cuidados providenciados à comunidade de Macau e no investimento em várias infra-estruturas públicas e serviços. Esse foi o padrão até agora. Quando as empresas de Macau possuem recursos relativamente abundantes, nomeadamente os casinos e empresas estatais chinesas, partilham responsabilidades sociais com o Governo. É uma consequência dessa ligação histórica. A chegada dos casinos norte-americanos mudou o panorama da RSC em Macau? SS – As empresas americanas introduziram novos modelos de negócio como reuniões integradas, convenções, centros comerciais e entretenimento nas operações dos casinos, o que levou ao investimento de larga-escala. Além disso, as seis operadoras de jogo listaram-se na bolsa de Hong Kong em finais do ano 2000 para procurar mais capital para a construção e operação dos resorts integrados. A transformação da indústria do jogo, de casinos satélite para resorts integrados, constituiu uma enorme mudança na economia de Macau e no ambiente social. Com a presença em bolsa, estas empresas passaram a estar sujeitos a regras mais rigorosas em termos ambientais, sociais e de governança por parte de órgãos reguladores exteriores a Macau. As empresas americanas adoptaram padrões internacionais de RSC que também foram implementados nos seus negócios em Macau, o que resultou no aumento da consciência face às dimensões económica, ambiental e social da RSC. A RSC é importante para haver maior aceitação social do jogo em Macau? Jenny Guan (JG) – Mais do que afirmar que a sociedade deveria aceitar mais a indústria do jogo graças à adopção da RSC, e independentemente das expectativas do Governo ou da questão da legitimidade, a RSC deveria ser um requisito assegurado pela indústria do jogo. Isto para manter o “contrato social” que prova que as suas operações são legítimas e que trazem um novo e positivo impacto à sociedade. Além disso, algumas acções de RSC são determinadas, em grande parte, pelas características de operação das empresas, estando mais alinhadas com as práticas sociais das empresas do que com a responsabilidade dessas para obter uma identidade social. Como por exemplo? JG – Em termos de recursos humanos está implementado um sistema de protecção dos trabalhadores locais e as empresas de jogo providenciam mais formação e educação contínua para os residentes empregados. Isto contribui para a melhoria do nível de educação em Macau. Além disso, uma vez que as empresas de jogo adoptam padrões internacionais de qualidade, muitos seminários e formações dados aos locais ajudam as pequenas e médias empresas (PME) a melhorar a qualidade geral do seu produto e serviço. A pandemia alterou os padrões da RSC nas empresas de Macau nos últimos meses? SS – Antes da pandemia, muitos gestores viam a RCS como instrumento de relações públicas ou marketing para “decorar” uma imagem positiva das empresas. Contudo, em tempos de crise, muitos líderes têm apelado a respostas socialmente responsáveis do sector privado para ajudar a recuperar a economia e as actividades sociais junto da comunidade. O Governo de Macau também adoptou medidas, incluindo o encerramento dos casinos durante 15 dias e apoios à economia local. O Chefe do Executivo defendeu, numa conferência de imprensa, que os operadores de jogo deveriam contribuir para a sociedade. Notamos que as empresas e os casinos estão a responder mais aos apelos do Governo para aumentar as medidas de RSC. Qual deve ser o papel do Governo no que diz respeito à RSC de empresas e casinos? JG – Pode assumir a liderança da promoção de medidas de RSC nas empresas públicas e privadas, incluindo criar um quadro regulatório para alguns sectores, tal como a indústria do jogo e os serviços que operam sob concessões públicas. O Governo acaba por promover indirectamente o conceito e as medidas da RSC, que são, em primeiro lugar, inseridas nas funções governamentais e que depois se estendem às comunidades locais e aos sectores económicos. A garantia da saúde e do bem-estar em todas as idades e da educação de qualidade, bem como a promoção da aprendizagem ao longo da vida, são disso exemplos. As medidas de RSC nos casinos podem mudar no futuro, com maior aposta nas PME, por exemplo? SS – Vemos que há tendência dos operadores de jogo de aumentar a proporção de adjudicações a PME locais e a fomentar parcerias. Os casinos estão a esforçar-se para estender o apoio às PME através de colaborações intensivas, que tenham impacto económico positivo. Acreditam que a RSC pode assumir um papel importante na revisão dos contratos de jogo? JG – Sem dúvida [que vai ter um papel importante]. Especialmente quando Ho Iat Seng defendeu que as operadoras de jogo devem assumir acções de RSC “genuínas”. Depois desse alerta vários académicos e associações não governamentais defenderam que as acções de RSC deveriam estar estipuladas nos futuros contratos de concessão. Também é defendido que as acções das operadoras sejam tidas em conta aquando da realização dos concursos públicos para as novas licenças. Como se espera que o jogo seja o maior sector económico depois da revisão dos contratos, pensamos que o Governo, enquanto regulador, e os casinos, enquanto agentes do sector, devem colocar a RSC como uma grande prioridade na revisão dos contratos. De que forma isso pode ser feito? JG – A fim de maximizar a segurança social dos residentes e os custos sociais das operações de jogo, o Governo deve considerar o histórico da performance de RSC das operadoras que concorrerem a novas licenças. Entretanto, o Governo pode ter um papel proactivo para definir futuras obrigações. É possível comparar o panorama de RSC das empresas de Macau e de Hong Kong? SS – Desde 2000 que em Hong Kong se promove a RSC enquanto prática regular das empresas. Foi implementada, em 2014, uma nova ordem que decreta que devem incluir nos relatórios anuais as políticas ambientais adoptadas, bem como as relações com empregados, clientes ou fornecedores. Além disso o Hang Seng Índex lançou o Hang Seng Corporate Sustainability Index em 2010, além de ter sido lançado o Environmental, Social and Governance Reporting Guide em 2016. Neste sentido, as empresas de Hong Kong estão sujeitas a maiores obrigações em termos de performance e de divulgação dos resultados das medidas de RSC. Em Macau há, portanto, menos regulação? SS – Comparando com Hong Kong, o reconhecimento do público das medidas de RSC para as empresas de Macau parece estar num nível inferior. Além disso, as empresas de Macau devem melhorar a forma de comunicar as regulações a que estão sujeitas. Com estas medidas acreditamos que as contribuições de RSC das empresas locais podem ser mais reconhecidas e satisfaçam duplamente a entidade reguladora e a comunidade. Macau faz parte do projecto da Grande Baía. Isso vai ter impacto ao nível da RSC? JG – Nesse âmbito, o posicionamento de Macau é diferente de Hong Kong. As responsabilidades sociais das empresas de Macau não devem apenas estar de acordo com os requisitos legais do continente, mas também respeitar a direcção do desenvolvimento de Macau, tal como a diversificação económica ou a construção de um centro mundial de turismo e lazer. Além disso, as empresas de Macau necessitam de reforçar a consciência em matéria de RSC a fim de respeitar padrões internacionais em termos de fornecimento e procura de produtos e serviços para países inseridos no projecto “Uma Faixa, Uma Rota.
Compositor Ennio Morricone morreu aos 91 anos Hoje Macau - 6 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] compositor italiano Ennio Morricone, autor de inúmeras bandas sonoras de filmes, morreu na noite de domingo para segunda-feira, noticia hoje a imprensa de Itália. Ennio Morricone, 91 anos, agraciado com um Óscar em 2016, morreu numa clínica em Roma onde se encontrava hospitalizado após uma fratura de fémur na sequência de uma queda, referem as fontes citadas pelos jornais italianos. Morricone é autor das músicas dos filmes “Era uma vez no Oeste”, “Era uma vez na América”, “Por um Punhado de Dólares”, “A Missão” e “Cinema Paraíso”, entre outros. O “maestro” italiano foi autor de mais de 500 músicas para cinema, entre as quais melodias como a que criou para o filme “O Bom, o Mau e o Vilão” (1966), do realizador Sergeo Leone, com o ator Clint Eastwood. Ennio Morricone “morreu ao amanhecer de 06 de julho no conforto da fé”, indica o comunicado do advogado e amigo da família, Giorgio Assuma, citado pelos vários jornais italianos hoje de manhã. “Esteve totalmente lúcido e manteve uma grande dignidade até ao último momento”, acrescenta o mesmo comunicado. “Adeus ‘maestro’ e obrigado pelas emoções que nos ofereceste”, disse Roberto Speranza, ministro da Saúde do governo de Roma, através de uma mensagem difundida pela rede social Twitter”. Ennio Morricone foi distinguido em 2016 com o Óscar de melhor banda sonora para o filme “Hateful Eight” de Quentin Tarantino.
Hong Kong | Activista Joshua Wong apela à solidariedade internacional Hoje Macau - 6 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] activista pró-democracia Joshua Wong pediu hoje ao mundo que “seja solidário com Hong Kong”, depois de Pequim ter imposto uma lei da segurança nacional que faz temer o fim das liberdades no território. “Temos de continuar a fazer saber ao mundo que chegou o momento de apoiar Hong Kong”, disse Wong aos jornalistas, em frente ao tribunal onde deverá comparecer, com outros activistas, por causa da sua participação nos protestos pró-democracia do ano passado. Promulgada em 30 de Junho pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a nova lei permite punir quatro tipos de crimes contra a segurança do Estado: atividades subversivas, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras que ponham em risco a segurança nacional em Hong Kong. Os crimes contra a segurança nacional passam a ser passíveis de prisão perpétua no território. A comunidade internacional, com os Estados Unidos e a União Europeia em destaque, além de diversas organizações não-governamentais (ONG), expressaram mais de uma vez o receio de que a lei sirva para silenciar vozes críticas em Hong Kong, após um ano de protestos que levaram a nove mil detenções na ex-colónia britânica. Um clima de medo já desceu sobre a cidade, com a lei a criminalizar, entre outros, o popular slogan dos protestos “Libertem Hong Kong, revolução do nosso tempo”, por ter conotações separatistas, ou os apelos a uma maior autonomia para Hong Kong. Nas bibliotecas públicas do território, também foram retirados livros de figuras pró-democracia, incluindo da autoria de Joshua Wong e da política Tanya Chan. A autoridade que dirige as bibliotecas disse estar a rever os livros à luz da nova legislação. Para Joshua Wong, de 23 anos, figura de proa do movimento pró-democracia, que chegou a ser indicado para o prémio Nobel da Paz em 2018, as autoridades chinesas “não podem ignorar e silenciar a voz do povo de Hong Kong”. “Com a convicção do povo de Hong Kong de lutar pela liberdade, nunca desistiremos e nunca nos renderemos a Pequim”, disse Wong. Há cerca de um mês, numa altura em que a lei de segurança nacional ainda não tinha saído do papel, Joshua Wong disse à Lusa que pensava ser “o principal alvo da nova lei”. O activista compareceu em tribunal na terça-feira, mas não foi ouvido. Joshua Wong passou três meses na prisão em 2019 e está acusado de organizar uma manifestação ilegal em frente ao quartel da Polícia de Hong Kong, em 21 de junho do ano passado. Na quinta-feira, outro ativista proeminente do movimento pró-democracia, Nathan Law, anunciou que tinha abandonado Hong Kong, por temer perseguições, um dia depois de ter participado remotamente numa comissão do Congresso dos Estados Unidos, presidida pela líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. Os apelos à solidariedade internacional têm-se sucedido entre os líderes do antigo partido pró-democracia Demosisto, organização que os seus membros decidiram dissolver, horas depois da entrada em vigor da lei da segurança. Em entrevista à Lusa em 3 de Julho, Isaac Cheng, de 20 anos, membro da organização política fundada em 2016 pelos líderes estudantis que se destacaram na chamada “Revolução dos Guarda-Chuvas”, em 2014, justificou a decisão “devido aos riscos e ameaças potenciais da lei”. “Ainda esperamos que o mundo possa falar mais alto e defender a democracia com esforços mais concretos e vigorosos”, apelou então Cheng.
A Covid-19 e as alterações climáticas Jorge Rodrigues Simão - 6 Jul 2020 “We believed, in our ignorance and arrogance, that we can be invincible, that we are superior to any other living being on the face of the earth. Is it nature? I broke it down and raped her, in the name of the god of money, convinced that Mother Earth did not suffer the blow, to exploit it forever. I took, stole, with outstretched hands, torn, cut, shattered, breaking down everything that appeared in our path. We have sickened the Earth and now its screams of pain are resounding in the global reach of a pandemic that, for us, people have the taste of catastrophe.” Corina Abdulahm Negura [dropcap]A[/dropcap]s duas frases mais comuns nos comentários diários dos meios de comunicação social e nas publicações da rede de comentadores selvagens, mais ou menos em série são de que “Tudo ficará bem”, e imediatamente a seguir de que “Nada será igual como antes”. Para o senso comum médio, as duas situações não convivem juntas. Quando um empresário vê o seu negócio em risco de falência, quando um trabalhador estável ou precário vê as actividades que lhe mantém a vida encerradas, quando um rapaz fechado em casa não pode jogar futebol ou comer um aperitivo com os amigos, espera com cada vez menos convicção que tudo corra bem, pensa na vida de antes e lamenta pelo mundo como era. As mesmas injustiças, stress e tudo o que envenenou a sua vida parecem-lhe pouco em comparação com a possibilidade de recuperar a liberdade de se mover, falar cara a cara e de viver dentro das terríveis incertezas e do xadrez quotidiano do passado. O “nada será como antes” surge-lhe como uma ameaça, uma profecia de infortúnio. Devemos comprometer-nos, com as armas da razão e da imaginação, porque a razão por si só tem sido a causa da maioria das nossas catástrofes, a manter as duas situações unidas. Tentar explicar que para tudo correr bem é necessária uma mudança profunda na nossa maneira de pensar e de imaginar o mundo e a nossa vida futura. É por isso que precisamos de desmantelar a forma como os meios de comunicação social e os governos nos falam do mundo actual e do que está para vir. Os principais meios de comunicação social, quer no papel ou na Internet, em noticiários e programas de televisão, as notícias sobre a crescente pandemia e a necessidade de sacrifícios para tentar travá-la são intercalados com carrinhos de publicidade para os bens de consumo mais frívolos e inúteis. Os últimos modelos de automóveis, híbridos ou não, relógios de marca, perfumes e moda masculina e feminina são preparados para o dia seguinte, pois seria bom, para não ficar demasiado deprimido, continuar a estar na moda em casa. A publicidade de novos milagres à prova de vírus encontrados para a higienização dos ambientes acompanha a dos supermercados cintilantes prontos a reabrir as suas portas e a colocar à nossa disposição, sem limites de tempo e de atendimento, tudo de bom. A liberdade redescoberta é celebrada. A necessária moral do presente é algo a superar rapidamente, em nome da liberdade de fazer, e sobretudo de comprar, o que quisermos. A mensagem em síntese extrema é esta. “Não se preocupe, a responsabilidade para consigo e para com os outros está no fim em si”. Uma mensagem terrível, porque deita fora o mais importante que estamos a viver no quotidiano que é o de apenas tentar conter a pandemia. O papel do Estado, considerado cada vez mais importante e necessário, vai de par com a assunção de responsabilidades pelos cidadãos, sob uma forma individual e com um sentido de comunidade redescoberto. Duas coisas que estão a anos-luz do que foram os dois modelos fundamentais do neoliberalismo deste milénio. “O Estado não resolve os problemas. O problema é o Estado”, e “a sociedade não existe, só existem indivíduos”. Os dois modelos que levaram a uma redução drástica da sociedade na vida económica e social e ao individualismo exasperado do consumismo dominante. As pessoas pedem ao Estado que funcione cada vez mais e melhor, e lamentam ter permitido que a saúde pública e a investigação fossem reduzidas, e tenham possibilitado que uma grande parte, quase toda, das suas vidas fosse confiada ao mercado e acham impossível salvarem-se. Ser responsável perante os outros, ajudá-los a salvarem-se, é a condição para se salvar a si próprio. A ideia de que precisamos de uma resposta unificada aos problemas que nos afligem e aos que nos angustiarão no futuro está a ganhar terreno. Que as soluções e especialização, são de pernas curtas e, sobretudo, entram em jogo após a ocorrência de uma catástrofe, e que, para enfrentarmos as pandemias presentes e futuras, precisaremos de uma reflexão global que reúna a nossa relação com a natureza, ideia de economia e progresso, formas de trabalho e de vida. À escala territorial, nacional, europeia e mundial a Covid-19 não é um “cisne negro”. Não é um acontecimento imprevisível e anómalo que tenha posto em causa a nossa normalidade. O perigo de uma possível, ou mesmo provável, epidemia foi amplamente descrito no início dos anos 2000. A OMS propôs mesmo simulações precisas do que poderia causar. O Fórum Económico Mundial, em 2018, tentou alertar para uma possível pandemia para a qual não estávamos preparados. O escritor e divulgador científico americano David Quammen, no seu livro profético “Spillover: Animal Infections and the Next Human Pandemic”, publicado em 2013 descreveu um mundo infestado por um vírus passado do morcego para o homem num mercado chinês húmido, cuja rápida propagação seria facilitada pela destruição e alteração dos ecossistemas causada por um crescimento sem limites, independentemente dos equilíbrios naturais. Sair da Covid-19, se não o interpretarmos como um cisne negro ocasional, reunirá o que foi separado e porá em ordem as hierarquias entre os problemas. “Antes de mais, a saúde”, palavras que se repetem como um paradigma, deve ser o ponto fixo não só para recomeçar, mas também para não cair rapidamente nas mesmas catástrofes de que estamos ansiosos por sair. E a seguir o ambiente, a batalha para controlar o aquecimento global. Depois, a educação, investigação, cultura, trabalho e economia. Estamos a afastar-nos do esquema simplista que a maioria dos economistas e funcionários governamentais têm em comum, que medem as crises e reiniciam com base no PIB e, pior ainda, no desempenho dos mercados bolsistas. Quanto à saúde descobrimos duas coisas. Ter em alguns países europeus dos melhores sistemas de saúde do mundo, e tê-lo empobrecido ao longo dos anos com lógica e acções que desafiaram os seus princípios fundamentais, publicidade, universalidade e gratuidade. Os Estados Unidos na liderança, que têm um sistema privado de cuidados de saúde baseado no sistema de seguros, que escalona as prestações com base no que o seguro de cada um prevê. E deixa aqueles que não têm seguro sem respostas, ou com respostas completamente insuficientes. Descobrimos também que as despesas de saúde de um país como um todo, quanto o Estado gasta e quanto os cidadãos gastam em tratamento, são inferiores onde prevalece o público. Mas, quando as políticas de austeridade impõem uma redução da dívida pública, é nos cuidados de saúde e com os cuidados de saúde e a educação que se concentram as reduções das despesas. Assim, deparámo-nos com a pandemia e depois de termos reduzido fortemente as despesas com o pessoal de saúde, interrompido o volume de negócios, reduzido camas, encerrado unidades hospitalares e fundidas compulsivamente as autoridades locais de saúde, que foram diminuídas drasticamente. E tudo isto numa altura em que a Europa estava a envelhecer, e a procura de cuidados e tratamentos estava a aumentar. É nesta situação, de procura crescente e de retracção da oferta pública, que o congelamento das contratações no sistema público gera precariedade e externalização das funções sociais e de saúde para empresas e cooperativas, o que aumenta os custos dos mesmos serviços. A ideologia que tem acompanhado este processo de reestruturação é a da corporatização, da superioridade do mercado sobre o público, que transformou o cidadão com direitos num cliente. Felizmente, ainda não estamos no sector da saúde americano, onde a posse ou não de uma apólice de seguro é o requisito fundamental para o acesso a cuidados de qualidade, mas a contracção dos cuidados de saúde públicos, os seus atrasos na garantia dos serviços essenciais, levou-nos a fazer uma distinção cada vez mais clara entre aqueles que podem ter acesso ao mercado privado dos serviços e aqueles que não o podem pagar, até aos muitos que desistem do seu tratamento porque nem sequer podem pagar os recibos que o próprio sistema público exige para os serviços especializados. Tal é coerente com o darwinismo social que dominou a cultura económica em tempos de neo-liberalismo triunfante, em que ser pobre é uma culpa que os ricos estão isentos de assumir. Em tempos de pandemia, a cidade rica de Nova Iorque descobre que o vírus aumenta rapidamente dos pobres de Queens e Brooklyn, entre os quais explodiu vertiginosamente, para os ricos de Manhattan, e que a saúde dos pobres é decisiva para a saúde de toda a população. É necessário, a partir de agora, planear a defesa da nossa saúde e das nossas vidas à luz desta terrível experiência e em antecipação de um futuro em que os riscos e as incertezas aumentarão. Haverá então necessidade de uma política de saúde que reforce certamente os hospitais, dotando-os das pessoas e ferramentas necessárias para fazer face aos acontecimentos mais extremos, trazendo de volta e para dentro deles tudo aquilo que subitamente externalizámos, desde serviços especializados até aos que descobrimos serem decisivos, como os de limpeza, desinfecção e assistência, mas teremos também de repensar os cuidados na região e os cuidados no país, a fim de contrariar os factores de nocividade e risco no trabalho e na vida das pessoas. Há muitos epidemiologistas que compreenderam a relação entre a elevada percentagem de mortes nas regiões setentrionais de Itália e o facto de o Vale do Pó ser uma das regiões mais poluídas da Europa, com a mais elevada taxa de doenças respiratórias entre a população, mesmo antes do aparecimento da Covid-19. Mas a dimensão territorial da saúde tem sido a vítima mais óbvia dos processos de corporatização, com consequências dramáticas na gestão da actual epidemia. Os médicos generalistas, numa situação dramática como a da Lombardia, foram deixados à sua sorte. O seu bom senso tem sido a única arma de qualquer eficácia no combate ao mal na sua origem, em casas e bairros. O desaparecimento da dimensão territorial, a afirmação de uma ideia puramente reparadora na medicina hospitalar e especializada, que é também praticamente a única em instalações privadas, levou à falta de uma cultura de prevenção e à difusão de uma cultura de saúde. E, ao mesmo tempo, a ideia de participação popular para combater os factores de risco no local de trabalho e na vida. O Papa Francisco disse muito claramente sobre a corporatização e as suas consequências na reunião de Maio de 2020 com a “Associação Católica de Trabalhadores da Saúde” – “A corporatização colocou em primeiro plano a redução de custos e a racionalização de serviços, mudou fundamentalmente a abordagem à doença e ao próprio doente, com uma preferência pela eficiência que não raro pôs em segundo plano a atenção à pessoa… E” continua Francisco “onde um doente se torna um número que também corre o risco de ser “queimado” por turnos demasiado duros, pelo stress das urgências e pelo impacto emocional”. O “heroísmo” a que o pessoal de saúde foi obrigado tem a sua origem nas más escolhas de um passado recente. E para deixarmos de precisar de heróis, para estarmos preparados para governar as incertezas do futuro, precisaríamos de um sistema público nacional maior e mais alargado, não fragmentado e diferenciado em termos de desempenho a nível regional que fosse capaz de colaborar com os sistemas de saúde em todo o mundo, porque as pandemias não conhecem fronteiras, e de contribuir para a reafirmação das autoridades internacionais desde a OMS, enfraquecida pelas reduções de fundos e pelo descrédito dos países, em primeiro lugar dos Estados Unidos. E sobretudo para rever os processos de corporatização e recuperar a dimensão territorial e participativa que o sistema nacional de saúde tinha no seu nascimento. E perguntarmo-nos se a transformação das unidades locais de saúde em agências de saúde fez sentido. Porque esta pandemia não vai acabar em breve e pode voltar, e se continuarmos a destruir a biodiversidade do nosso planeta, para alterar a forma como a natureza se regenera, outras catástrofes, talvez mais graves, virão. A Covid-19 é o último sinal que nos foi dado para tentar revertê-lo. Quanto ao ambiente tendo privilegiado acima de tudo uma ideia de progresso como crescimento infinito, custando o que sabemos em comparação com as mesmas condições que tornam possível a vida no planeta, apresenta-nos um relato dramático de vidas humanas. Dezenas de estudos realizados por biólogos e epidemiologistas explicam como a criação intensiva e os mercados de vida selvagem são o terreno fértil para todas as epidemias com que tivemos de lidar no passado como a gripe SARS, gripe aviaria, gripe suína, doença das vacas loucas. Existe uma convicção crescente de que o respeito pela natureza na forma como cultivamos e reproduzimos é uma condição para manter as epidemias à distância, e que o bem-estar dos animais tão terrivelmente violado na agricultura intensiva e nos matadouros de animais mais ou menos selvagens é uma condição para o bem-estar humano. A taxa de poluição e consolidação de muitas regiões do mundo, a poluição da água, ar e terra, é um dos factores fundamentais que transformam a infecção pela Covid-19 em uma pneumonia mortal. E talvez seja necessário considerar as catástrofes naturais como inundações, secas, maremotos, epidemias de uma forma unificada, se quisermos tentar evitá-las e não apenas dar-lhes resposta caso a caso, catástrofe por catástrofe, tendo sempre em conta que a prevenção custaria menos do que a reparação, cada vez com custos crescentes e com uma eficácia cada vez menor. Mas a prevenção póstuma, como é bem sabido, não existe. As alterações climáticas são a consequência dramática e, ao mesmo tempo, a razão unificadora das catástrofes que se aproximam sobre a espécie humana. Combatê-la é a forma prioritária de prevenção e cura. A Covid-19 e o consequente abrandamento do crescimento económico, o consumo de carvão e petróleo, a circulação de automóveis, navios e aviões reduziram a poluição e o buraco de ozono nos últimos meses. Deveríamos demonstrar que ao sair da Covid-19 somos capazes de planear um desenvolvimento que preserve as actuais taxas de limpeza, ou seja, que somos capazes de fazer por amor aquilo que a Covid-19 nos obrigou a fazer. Encontrar uma forma de deslocar, produzir e consumir sem alterar irreversivelmente o equilíbrio natural, para travar não só as possíveis epidemias, mas também os desertos que estão a avançar e vão empurrar ainda mais, milhões de pessoas a fugir de África para zonas mais temperadas, em busca de vida para si e para os seus filhos, bem como o possível desaparecimento sob as águas crescentes de dezenas de países no litoral. Os cientistas são quase unânimes em prever cenários deste tipo se não formos capazes de inverter o rumo nos próximos dez anos. Clamamos aos cientistas que encontrem uma cura e uma vacina para a Covid-19, mas deveriam ser ouvidos quando nos falam das consequências desastrosas do aquecimento global. A forma como nos comportaremos quando a Covid-19 aliviar de intensidade será decisiva para o futuro da espécie humana. Há aqueles que se estão a preparar para uma utilização ainda maior dos combustíveis fósseis, aproveitando a queda do seu preço, e os que, em nome da emergência, recomendam a inclusão entre parênteses de projectos de conversão ecológica da economia. Há os que pensam em como aproveitar o derretimento dos pólos para conceber novas rotas comerciais, mais rápidas e mais baratas, e antecipam a possibilidade de explorar os depósitos minerais sob as calotes polares, e os que, mais modestamente, pensam em pôr em marcha processos de cimentação ainda mais rápidos do território através das mega estruturas e de uma retoma da construção removida de quaisquer constrangimentos paisagísticos. Seria, diz-nos a ciência, o princípio do fim do mundo. A recuperação será verdadeiramente assim se conseguirmos dar e respeitar algumas regras simples e claras. É preciso terminar de cimentar tanta terra e produzir energia com o sol e o vento, preservando os grandes pulmões das florestas, plantando árvores e respeitando outros seres, animais e árvores, que vivem connosco no planeta e aprender a circular no mundo sem poluir a água, ar e a terra.
Parte do corpo Anabela Canas - 6 Jul 2020 [dropcap]C[/dropcap]omo uma parábola. O braço e a omoplata. Depois da arquitectura do betão e do aço e muito depois do ferro e do vidro. A omoplata e o braço. Uma arquitectura do corpo. O local do corpo e o sentimento de lugar. Passo uma carícia pela pele grossa e macia do lugar de costas voltadas. O lugar da omoplata. Naquele ponto, sei que podem nascer asas para voo. Às vezes, mesmo o que é arrepiante se move para uma emoção estética. Quando Stelarc implantou uma orelha de cultura biológica no braço, fiquei sem fala. A sua profunda noção da obsolescência do corpo. O fascínio pela robótica. A ambição sensorial de terminais ligados em rede a possibilitar a interacção de terceiros. Esta solidão excessiva do humano no humano e face ao puramente humano. E estamos a chegar lá, com este enorme abanão à ilusória proximidade do outro. Qualquer coisa de profundamente metafórico na imposição a essa extensão das mãos, os órgãos do tacto, do sentido figurado do ouvido. Ouvimos o que é próximo e se nos aproxima em ondas de sensação. Aproximamos as costas da mão – o braço agora que não se pode tocar – de um rosto para ouvir melhor. Mesmo talvez, o que não é dito. Mas foi na primeira década deste milénio. Quando de cartilagens da costela, da jovem soldado S. B., como em gesto bíblico, se constrói um órgão que vai crescer debaixo da pele do antebraço, enervar-se e ter circulação, provocar sensações, e subir ao seu lugar antes do rosto, pode-se pensar que tudo é possível e que a arte é o imaginário que conduz a ciência à realização de sonhos. Ou, pelo contrário, a ciência a ajudar a arte a exprimir utopias. As pessoas são apaixonadas – ou estão – ou passionais, ou emocionais ou frias ou distraídas ou sentem-se indiferentes. Fazem as coisas que fazem, sob o signo de um estado. Mais cerebral ou mais emotivo. Ou de uma alquimia irrepetível, porque instantânea, entre os dois lados. E isso, que diz da pessoa? Que é, ou que fez? As coisas fazem-se de uma maneira, Nem sempre a mesma e cada coisa nem sempre igual. Coisas são lugares pontuais. Somos colhidos na arena, pelo momento e sem pensar. Somos o braço, somos a capa, ou somos o touro. Mas que dizer daquilo que tanto tempo nos toma – esses enormes intervalos do fazer e que são o ser em todo o desamparo e estado puro – e em que estacionamos num modo que, esse sim, pode tornar-se, por prolongado esforço, dorido, insuportável? A sós connosco e sem as coisas que fazer ou a ter que encetar, ou terminar, ou viver, ou passar nelas, ou passar por elas. Nesses intervalos que são como silêncios entre notas musicais, esses, os mais difíceis de levar. Essa pode ser a escolha mais relevante. A de como estar nos tempos prolongados que nos acolhem sem a euforia e o esquecimento do fazer. E com as mesmas dúvidas. Podemos escolher o sentir, nesse território envolvente, estrutural. Penso: ou vejo magenta ou vejo o touro. Ver o interior da capa, ou o crepúsculo sereno. Que lhe serve de fundo. Sento-me com vista para o infinito. E vejo-o chegar. Todos podemos ser salvos. Por quem faz crescer uma asa naquele ponto exacto da omoplata que parece ter sido criado para isso. Ou duas. E o simples adejar que refresca, parte do corpo e torna-se voo. Como numa animação 3D. Porque são dois e iguais os ossos largos que unem os braços. E planos, como um território propício a levantar voo. Semelhantes no corpo mapa a aeródromos de brincar. E depois, ouvindo melhor, percebe-se de quem era a omoplata, ali, numa pulsação recente. Uma pequena dor de crescimento. Cada um salva através do outro. Essa magia íntegra do olhar. Oiço o trote volumoso do monstro, lá do fundo do corredor e do tempo. Os monstros não são bons ou maus. Somente assustadores. Quando lhe abraçar o ouvido ao lugar a que me encosto, espero não ouvir a asa partida. Dúvida legítima: quem se anuncia é a trote sonoro, como coisa, ou denso silêncio, como lugar? Depois fico quieta, entretanto. A pensar com que parte do corpo devo ouvir. E de que lado.
André Pires já tem o convite para GP Macau 2020 Sérgio Fonseca - 6 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] piloto português André Pires aceitou o convite da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau e vai participar no 54º Grande Prémio de Motos de Macau, que está agendado de 19 a 22 de Novembro, no programa do 67º Grande Prémio de Macau. “Já recebemos o convite e estamos ansiosos para ir…”, confirmou Pires ao HM na passada sexta-feira. O piloto de Vila Pouca de Aguiar encontra-se a disputar o Campeonato Nacional de Velocidade de Superbike, competição que arrancou logo após o desconfinamento em Portugal, com uma prova no Autódromo do Estoril e outra no Autódromo Internacional do Algarve. “Estou com a mesma mota e com a mesma equipa, por isso iremos os mesmos”, explicou o piloto da Beauty Machines Racing Team que tripula uma Yamaha R1 afinada pelos técnicos portugueses. “O campeonato aqui já começou e estamos a treinar e a ganhar ritmo para podermos ir bem preparados a Macau”. A lista de inscritos da prova será com certeza dada a conhecer mais tarde no ano, mas deverá contar com diversas caras conhecidas do evento. O incontornável britânico Michael Rutter, vencedor por nove vezes desta prova, e o espanhol Raul Torras, foram alguns dos pilotos que publicamente mostraram predisposição para viajarem até nós no final do ano. Pires estreou-se na prova da RAEM em 2013, no sexagésimo aniversário do evento, com um 13º lugar da geral, sendo desde aí uma presença assídua no Circuito da Guia e, nos últimos anos, o único representante do motociclismo português na “Clássica do Oriente”. O ano passado, numa corrida atribulada que teve duas bandeiras vermelhas e apenas duas voltas competitivas, Pires foi obrigado a abandonar devido a uma queda na Curva Melco, sem consequências físicas para o piloto luso. Satisfação pelo esforço local Devido à pandemia da COVID-19, as mais relevantes competições de motociclismo de estrada têm sido praticamente todas canceladas este ano. Para além da Ilha de Man TT, também a North West 200, o Grande Prémio do Ulster, a Classic TT e o Manx GP, não irão acontecer em 2020. Para a grande parte dos pilotos profissionais da disciplina de “road racing”, o Grande Prémio de Motos de Macau irá figurar como a prova mais importante desta encurtada temporada e para alguns, talvez seja mesmo a sua única corrida de um ano para esquecer. O programa oficial do 67º Grande Prémio de Macau ainda não foi dado a conhecer ao grande público, mas as entidades oficiais têm sido peremptórias em realçar o seu apoio ao maior cartaz desportivo de carácter anual da RAEM. O piloto português já tinha sublinhado aqui no HM a importância da deslocação ao Oriente pela maior parte dos pilotos da categoria este ano, mas não deixou de referir que no caso da sua equipa “estamos muito contentes por, mesmo com esta situação, as entidades responsáveis em Macau estarem a tentar realizar o Grande Prémio. Espero que seja mesmo possível, pois é sinal que as coisas estão a melhorar”. Devido à conjectura actual, Pires poderá ser mesmo o único piloto, de carros e motos, a deslocar-se de Portugal para a prova, o que a acontecer, será o número mais baixo de sempre desde 1985. A primeira representação portuguesa vinda da metrópole, no que respeita a provas de motociclismo do Grande Prémio, aconteceu apenas em 1986.
“Soft and Weak Companions of Life” | Exposição de Zheng Bo em Portugal aborda relações entre o homem e as plantas Andreia Sofia Silva - 6 Jul 2020 Zheng Bo, nascido na China, com formação académica feita nos EUA e actualmente a residir em Hong Kong, é um artista que olha para lugar que as plantas ocupam na sociedade, criando nos seus trabalhos uma relação com o ser humano, onde o sexo e a intimidade desempenham um papel importante. Pela primeira vez Zheng Bo expõe em Lisboa, Portugal, numa mostra intitulada “The Soft and Weak are Companions of Life 柔弱者生之” [dropcap]A[/dropcap] galeria Kunsthalle Lissabon, em Lisboa, apresenta, até 29 de Agosto, a primeira exposição de Zheng Bo, artista natural da China actualmente a residir em Hong Kong. A mostra tem como nome “The Soft and Weak Are Companions of Life” e é composta por desenhos e vídeos que expressam o lugar das plantas nas sociedades contemporâneas e a sua relação com os seres humanos. Zheng Bo trabalha muito com a ideia de que o ser humano desconhece quase por completo os habitats naturais que existem à sua volta, o que leva ao conceito de “plantas marginalizadas”. Além disso, “insistindo na ideia de intimidade, o artista dá-nos um exemplo de uma possível relação entre humanos e o mundo vegetal, derrubando, nesse processo, a visão antropocêntrica que temos da natureza”. Nesta relação entram temáticas como a sexualidade e a intimidade, como se corpos humanos se pudessem fundir com as plantas, uma vez que estas “representam também o negligenciado e o queer num entendimento estandardizado do binário natureza-cultura, apontando, dessa maneira, a necessidade urgente de expandir as nossas noções de relações interespécies, comunidades e contra- públicos”. Em Lisboa, o público poderá ver desenhos, uma das primeiras paixões de Zheng Bo, numa colecção intitulada “Drawing Life”. “Quando era criança interessava-me em desenhar pessoas. Depois, quando fui para os EUA, comecei a estudar arte de forma mais séria e comecei a pintar retratos”, contou ao HM. A exposição contém também uma série de vídeos, intitulada “Pteridophilia”, que retrata corpos de jovens nus numa floresta em Taiwan, onde se espelha essa relação mais íntima que o ser humano pode ter com as plantas. “Os homens criam e mantêm relações emocionais e físicas com as plantas: lambem-nas, envolvem-nas, acariciam-nas, mordem-nas, comem-nas e têm relações sexuais com elas, mostrando-nos um número infinito de possibilidades de intimidade vegetal-humana.” Aqui entra a questão da ética, da controvérsia. Em “Pteridophilia”, o artista revela que “estava interessado na ideia de intimidade”. “A maior parte das pessoas não são muito próximas de plantas, então ter sexo com elas é uma das formas para levar as pessoas a estarem mais próximas das plantas. Claro que também levanta questões éticas e morais, porque quando falamos de sexo estas questões surgem sempre”, contou. Não que isso o preocupe, conforme revelou ao HM. “Não penso sobre isso, sou um artista, e o meu papel é olhar para o mundo e encontrar maneiras de experimentar e de me expressar. Não antecipo a controvérsia. Mas claro que o trabalho foi controverso há alguns anos, mas não perco tempo a pensar nisso. Não é um problema para mim.” O nome da exposição é uma frase do capítulo 76 do Dao De Jing, o texto taoísta escrito no século IV ac em chinês clássico e que, dada a sua complexidade, está aberto a uma infinidade de interpretações. “Neste vasto horizonte de alternativas, Zheng Bo, com os seus vídeos, as suas taxonomias e a sua filosofia, apresenta-nos a possibilidade de repensar todo o sistema humano que visa a categorização do conhecimento sobre a natureza, convidando-nos a articular todos os elementos que temos ao nosso redor, encontrando todas as diferentes combinações e optimizando todas as potencialidades inerentes a plantas e humanos.” A bela Hong Kong Zheng Bo saiu de Pequim para estudar arte nos EUA, e quando foi para Hong Kong começou por ter um trabalho antes de se tornar artista a tempo inteiro. A paixão pelo desenho sempre lá esteve, até que o convite para realizar um projecto em Xangai o fez perceber o dinamismo e a beleza das plantas. Desde aí, que estas constituem o foco principal do seu trabalho. O artista olha para as questões ambientais contemporâneas e reflecte sobre elas. “Interessa-me a política no sentido de perceber como é a nossa relação com o planeta. Sou menos interessado na natureza da política, e penso que estamos a vivenciar uma crise ecológica, com alterações climáticas extremas e com uma pandemia, que é parte desta crise. A residir em Lantau, Zheng Bo lamenta que a sociedade de Hong Kong esteja, muitas vezes, divorciada do seu próprio meio-ambiente. “Há uma grande área de natureza preservada, Hong Kong é um bom exemplo em termos da preservação de plantas. Há mais de três mil espécies, mas, pela minha experiência, muitas das pessoas não percebem que Hong Kong é um sítio muito bonito. A maior parte das pessoas pensam no território como sendo um centro financeiro e um sítio para fazer compras, e fico surpreendido quando vejo que muitas pessoas não sabem sequer onde nadar, uma vez que estamos junto ao mar. Há mais pessoas a fazer caminhadas e a ir à praia, mas em termos culturais podemos mudar e começar a ver Hong Kong como um sítio onde se podem observar plantas.” Parte da exposição em Lisboa resulta de passeios diários por Lantau, uma vez que Zheng Bo se dedica a olhar as plantas que rodeiam a sua casa e a dar-lhes um nome, além de as desenhar. Numa altura em que está impedido de viajar, devido à pandemia da covid-19, esse tem sido o seu trabalho mais regular. Influência ocidental Zheng Bo, que nunca esteve em Lisboa ou em Portugal, confessa que gostaria de visitar a sua própria exposição, uma vez que essa viagem iria constituir “uma boa oportunidade para conhecer os artistas locais, porque sei que há muitos artistas europeus a mudarem-se para Lisboa, de Berlim e outros locais”. O artista diz-se muito mais próximo da cultura ocidental, devido à sua experiência de vida. “Estudei nos EUA e, na verdade, estou mais familiarizado com o meio artístico ocidental do que com o chinês. Só agora é que gradualmente vou aprendendo mais sobre o panorama cultural chinês porque tenho interesse nisso. Fiz uma residência artística em Paris durante três meses, em 2016, e este ano deveria ter estado 9 meses em Berlim. Penso que recebo mais convites da Europa do que de outras partes do mundo, pelo menos neste momento.” Expor em Lisboa é, para Zheng Bo “uma experiência muito diferente”. Questionado sobre Macau, Zheng Bo diz nunca ter feito nenhuma exposição no território. “Nunca recebi convites, e normalmente trabalho mais por convite”, disse apenas.
Sin Fong Garden | Conclusão das obras de reconstrução em risco Andreia Sofia Silva e Nunu Wu - 6 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] conclusão das obras de reconstrução do edifício Sin Fong Garden pode estar em risco por falta de fundos. Segundo o jornal All About Macau, a Associação de Conterrâneos de Kong Mun, cujo vice-presidente é o deputado Mak Soi Kun, havia prometido um donativo de 100 milhões de patacas para a reconstrução do edifício em risco de queda, mas anunciou recentemente que não vai conceder mais fundos além das cerca de 50 milhões de patacas já atribuídas. O aviso de que a associação não vai conceder todo o montante prometido já foi comunicado à comissão de gestão do condomínio do edifício Sin Fong Garden. No total, estima-se que o projecto de reconstrução possa custar cerca de 5,12 milhões de patacas, sendo que os pequenos proprietários também contribuíram para o financiamento das obras. No entanto, a comissão de gestão de condomínio assegura que, neste momento, muitos dos proprietários não conseguem pagar o restante montante para a reconstrução do edifício por estarem em situação de desemprego ou com licenças sem vencimento. Segundo a TDM, Chan Pou Sam, vice-presidente executivo da Associação de Conterrâneos de Kong Mun, assegurou que as 100 milhões de patacas sempre constituíram um “adiantamento” e que foi a comissão de gestão de condomínio que se referiu a este montante como sendo um “donativo” para as obras.
Covid-19 | Residentes isentos de isolamento podem ir a outras oito cidades Salomé Fernandes - 6 Jul 2020 Os residentes a quem for dada isenção para entrar em Zhuhai vão ter 14 dias para poder circular em mais oito cidades da Grande Baía. A medida entra hoje em vigor [dropcap]A[/dropcap] partir das 8h de hoje, as pessoas isentas de quarentena à entrada em Zhuhai vão poder deslocar-se a outras oito cidades da Grande Baía. Estes residentes passam assim a poder circular também em Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing. A informação foi avançada ontem pelo Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. A extensão da isenção continua a aplicar-se apenas aos indivíduos “que a solicitem por motivo oficial, comercial ou outros motivos específicos”, existindo três mil quotas diárias para esse efeito. Depois de entrarem em Zhuhai no âmbito das actividades declaradas, as pessoas podem ficar um máximo de 14 dias entre estas cidades. Os residentes que já tenham obtido quota de isenção de isolamento e entrado em Zhuhai também podem usufruir da medida. “Caso as barreiras geográficas sejam ultrapassadas, as autoridades podem implementar a observação médica de isolamento centralizado no âmbito de controlo da epidemia dessas cidades. Aqueles que ultrapassem o âmbito sem autorização e violem as disposições relacionadas à prevenção e controlo de epidemia, serão desqualificados da implementação temporária da observação médica de isolamento centralizado”, alerta o Centro de Coordenação. Recorde-se que os requerentes de isenção devem ser portadores do código de saúde verde, certificado válido do teste de ácido nucleico, não se terem deslocado fora de Macau ou do Interior da China e não apresentarem sintomas. Na conferência de imprensa de sexta-feira, o médico Alvis Lo reiterou que a prioridade para atribuição das quotas diárias é dada às pessoas elegíveis que apresentam o pedido pela primeira vez, embora nos dois dias anteriores o volume desses pedidos tivesse diminuído “significativamente”, comunicou o Centro de Coordenação. Por esse motivo, quem recebeu isenção passou a poder apresentar novo pedido após as 18h, todos os dias. Ajustes desnecessários Relativamente ao corredor especial entre o aeroporto de Hong Kong e o terminal marítimo do Pac On, desde 17 Junho até sexta-feira foram registados 1.021 indivíduos a regressar a Macau por via marítima. Apenas um residente de Macau testou positivo. Cerca de 30 por cento das pessoas registadas para usar o barco especial é proveniente dos EUA. “Presentemente, ainda há 106 pessoas registadas em regresso a Macau dos EUA, mas as autoridades consideram que não há necessidade urgente a proceder ao ajuste relativo à apresentação de um certificado com resultado negativo do teste de ácido nucleico para estas pessoas”, diz a nota do Centro de Contingência. Ao nível do tempo de espera nos postos de testes de ácido nucleico, Alvis Lo explicou que a procura aumentou e estão a ser feitos mais de quatro mil testes diariamente. “Por hora estão a ser verificadas cerca de 500 pessoas, motivo pelo qual o tempo de espera na hora de pico é inevitável. Contudo, o Governo continuará a cooperar e negociar com as instituições parceiras dos testes para criar mais postos”.
MPay | AMCM aponta o dedo à Macau Pass e pede melhorias Pedro Arede - 6 Jul 2020 A AMCM entende que a Macau Pass não testou adequadamente os efeitos que uma actualização do sistema de pagamento electrónico teria e exige que seja recrutada uma entidade externa para melhorar a rede informática. Em causa, está uma falha que impediu vários utilizadores de efectuar pagamentos no início de Junho [dropcap]A[/dropcap] Autoridade Monetária de Macau (AMCM) considera que os problemas registados no início de Junho e que impediram vários utilizadores de efectuar pagamentos através do sistema Mpay da Macau Pass, se devem ao não cumprimento de requisitos de ensaio do sistema. “A ‘Macau Pass’ não cumpriu os requisitos especificados nas directivas relativas à realização de ensaios ao sistema de forma suficiente e completa”, pode ler-se no comunicado da AMCM divulgado ontem. Perante a falha, a AMCM revela ter enviado um ofício à Macau Pass, pedindo que a empresa realize uma análise prudente e o “aperfeiçoamento global do sistema”. Segundo o comunicado, na base do problema, está o facto da actualização do sistema no final de Maio e início de Junho ter acontecido em simultâneo com o envio de mensagens de promoção relativas ao programa de pontos da Macau Pass. As duas ocorrências resultaram “numa sobrecarga do sistema e na consequente interrupção dos serviços”. Recorde-se que no dia em que ocorreram as falhas, a Macau Pass referiu, em comunicado, que os problemas foram resolvidos em menos de uma hora, afastando a ideia de que o caso estaria relacionado com um ataque informático e justificando as falhas com a utilização excessiva dos cartões de consumo. De acordo com a AMCM, antes da actualização do sistema, a Macau Pass não “procedeu a um ensaio global nem elaborou um plano de trabalho razoável”, indo assim contra os requisitos do organismo sobre a supervisão contínua em termos de capacidade de suporte do sistema. Outra das questões apontadas pela AMCM diz respeito à instalação tardia de hardware adquirido pela Macau Pass para reforçar o sistema. “A ‘Macau Pass’ adquiriu vários hardwares para reforçar os seus recursos em termos de sistema, estes foram contudo apenas entregues após a ocorrência do problema em causa devido à epidemia, tendo sido entretanto concluída a sua instalação e respectiva actualização”, referiu a AMCM. A mesma nota sublinha que a Macau Pass já procedeu ao reembolso dos utilizadores e empresas afectadas. Perante o caso, e na busca de “aperfeiçoamento na gestão do sistema”, a AMCM exige também a contratação de uma entidade externa para analisar a rede informática que está na base do serviço. “A AMCM enviou um ofício à ‘Macau Pass’ (…) exigindo-se o recrutamento imediato de uma terceira entidade de reconhecido mérito profissional, no sentido de avaliar detalhadamente a rede e o sistema informático, estabelecendo um plano de aperfeiçoamento a ser implementado de forma rigorosa”, consta no comunicado. Preparar o futuro Numa entrevista concedida à Macau Business na passada quarta-feira, o director da Macau Pass, Joe Liu, apontou acreditar que Macau tem o potencial necessário para ficar “cashless”, ou seja, prescindir da utilização de dinheiro físico, dentro de cinco anos. A vontade do responsável baseia-se no sucesso que a adopção do serviço digital tem tido em Macau. Só no ano passado, as transações que recorreram à Macau Pass, incluindo MPay e o cartão Macau Pass, totalizaram 10 mil milhões de patacas, tendo alcançado cerca de 400 mil residentes, ou seja, mais de metade da população. No mesmo sentido das previsões de Joe Liu está a própria AMCM. Referindo que a popularização da utilização de tecnologia financeira irá trazer responsabilidade acrescida às instituições que providenciam este tipo de serviços, o organismo sublinha que a gestão de recursos deve ser fortalecida de forma a “responder à procura e às expectativas da sociedade”.
IAS | Primeiro trimestre com seis casos de violência doméstica Salomé Fernandes e Nunu Wu - 6 Jul 2020 [dropcap]O[/dropcap] Instituto de Acção Social (IAS) indicou que no primeiro trimestre deste ano, depois de excluídas algumas denúncias repetidas, se registaram 445 casos a envolver disputas familiares, o que representa um aumento anual de três por cento. Destes, 320 casos foram definidos como casos relevantes sobre disputas familiares, sendo que seis acabaram por ser definidos como violência doméstica, noticiou o Ou Mun. De entre estes seis casos, 67 por cento envolveram violência de cônjuge, 25 por cento violência infantil, 6 por cento foi entre familiares e 2,4 por cento contra idosos. Tang Yuk Wa, vice-presidente do IAS, afirmou que apesar de as denúncias aumentarem, os casos suspeitos de violência doméstica diminuíram. O responsável acredita que isto se deve a uma maior consciência da população. Também Wong Kit Cheng acredita que o aumento de denúncias revela maior consciência da sociedade em relação à violência doméstica, noticiou o mesmo meio de comunicação. A responsável da Associação de Construção Conjunta de Um Bom Lar sugere que o Governo indique aos agentes que analisam casos de violência doméstica formas como lidar com crises, acompanhar de perto a situação das vítimas, avaliar se estão num ambiente seguro e melhorar as suas técnicas de auto-protecção, para evitar que sofram uma segunda vitimização. No seu entender, os dados da autoridade mostram que a violência de cônjuge ocupa a maioria dos casos de violência doméstica. Assim, Wong Kit Cheng espera que o Governo intensifique o apoio às associações de serviços sociais não governamentais, promovendo e realizando mais trabalhos de aconselhamento sobre relacionamentos antes e depois do casamento, com vista a melhorar a relação dos casais e o conceito correcto de família.
Emprego | DSAL apela a “mente aberta” para construção e limpeza Salomé Fernandes - 6 Jul 2020 [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) destacou que na sua base de dados para conjugação de emprego ainda há “uma grande quantidade de ofertas” nos sectores da construção, limpeza, administração de propriedades, hoteleiro, restauração e venda a retalho. O organismo indica que toma a iniciativa de conjugar candidatos com cargos de natureza semelhante ou que exigem capacidade de trabalho do mesmo nível, mas apela à “mudança de mentalidade” de quem procura emprego. “Os candidatos esperam encontrar um emprego que lhes interessa, mas também devem ter a mente aberta para novas experiências e aceitar tipos de trabalho diferentes, para que possam encontrar um emprego de longo prazo”, diz a nota. De acordo com a DSAL, a eficácia profissional depende tanto do esforço dos empregadores, como dos trabalhadores, os quais entende que devem colaborar com o encaminhamento feito, “dando importância a todas as entrevistas e mostrando o seu valor, a fim de aumentar a oportunidade de contratação”. A recomendação surgiu no âmbito dos serviços de apoio ao emprego da DSAL. Para além dos habituais apoios, o organismo reiterou que perante os desafios devido à covid-19 lançou programas como a “formação subsidiada” e o “plano de experiência no local de trabalho”. Está prevista para meados ou finais de Agosto uma feira de emprego direcionada aos jovens.