Bienal Internacional de Arte arranca a 15 de Julho em toda a cidade

A segunda Bienal Internacional de Arte de Macau está à porta, com a cidade inteira a transformar-se numa galeria. Além dos espaços expositores normais, a arte vai invadir locais como a Praça do Tap Seac, as Casas-museu da Taipa, Anim’Arte Nam Van ou o Largo da Barra. A partir de 15 de Julho, até ao final de Outubro, podem ser visitadas 30 exposições espalhadas por 25 locais

 

A segunda edição da Bienal Internacional de Arte de Macau está prestes a começar, com o dia 15 de Julho a colocar a RAEM no calendário da arte contemporânea asiática. Até ao final de Outubro, Macau irá mergulhar num oceano de cultura, transfigurar-se numa galeria e jardim de arte, aberto a residentes e turistas e gratuito para quem quiser desfrutar das exposições.

“A nossa intenção, alicerçada na participação colectiva de entidades públicas, empresas, artistas e público geral, é estimular diálogos sobre tópicos relacionados com a cidade”, afirmou ontem Mok Ian Ian, presidente do Instituto Cultural (IC) durante a apresentação da bienal.

A responsável adiantou que o Governo vai entrar com oito milhões de patacas para o orçamento global da bienal, “para a exposição principal e divulgação do evento”. O financiamento da mostra internacional será da responsabilidade das operadoras Galaxy Entertainment Group, Melco Resorts & Entertainment, MGM, Sands China Ltd., SJM RESORTS, Wynn Macau, e do grupo empresarial Nam Kwong.

As empresas, além de financiarem exposições públicas, incluindo a mostra de trabalhos de artistas locais, atribuem prémios e cedem as instalações. Questionada sobre o orçamento global do evento, Mok Ian Ian confessou não saber, “porque as empresas não revelaram ao Governo quanto investiram”, mas garantiu que apesar do reduzido orçamento público, a dedicação do pessoal do IC será total.

O tema da bienal é “criar para o bem-estar”, respondendo às naturais aspirações e metas na busca pela felicidade.
“Muitos países e regiões mergulham ainda no sofrimento provocado pela conjuntura pandémica. Por isso, um intercâmbio de nível espiritual entre pessoas de diferentes origens, estabelecido através da beleza criada pela sua arte, torna-se particularmente significativo”, afirmou Mok Ian Ian.

Nesse aspecto, Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo, aproveitar a oportunidade para convidar turistas a visitar Macau durante os meses da bienal, algo que considera possível devido ao trabalho de promoção da RAEM enquanto cidade saudável e segura. Convém recordar que Macau continua com severas restrições fronteiriças.

“Entre Junho a Outubro é o momento ideal, temos as férias de Verão e semana dourada de Outubro. Espero que um evento desta envergadura possa atrair mais turistas e disponibilizar experiências culturais à população de Macau”, projectou a presidente do IC.

O que aí vem

A bienal deste ano vai estar dividida entre várias secções. O ex-líbris será a exposição principal, terá mostras espalhadas pelos espaços das operadoras de jogo, o Pavilhão de Cidade Criativa (que une Macau a outras cidades), exposições em espaços públicos, mostras de artistas locais e colaborações experimentais de docentes e alunos do ensino superior.

O foco principal desta bienal está dividido em três sessões de exposição: “O Sonho de Mazu”, “Labirinto da Memória de Matteo Ricci” e “Avanços e Recuos da Globalização”. No total, vão estar patentes, a partir de dia 16 de Julho, no Museu de Arte de Macau, mais de 100 trabalhos da autoria de mais de 40 artistas do Interior da China e estrangeiros oriundos de mais de 20 países e regiões.

Em “O Sonho de Mazu”, artistas portugueses, chineses, coreanos e do Médio Oriente reinterpretam com um olhar contemporâneo porcelana chinesa das dinastias Ming e Qing, combinando as tradicionais cores azuis e branca e materiais onde se incluem azulejos lusos. Esta exposição vai estar patente ao público até 15 de Agosto no Museu de Arte de Macau.

Outro dos focos das mostras principais é “Labirinto da Memória de Matteo Ricci”, uma secção que “descreve o olhar do Ocidente sobre a China, escrito, reescrito e subvertido ao longo de 500 anos”, com destaque para um trabalho do artista Vasco Araújo composto por uma mesa de madeira, 15 fotografias digitais enquadradas em molduras de madeira e metal.

O terceiro vector das mostras principais intitula-se “Avanços e Recuos da Globalização”, que procura reflectir a forma como a pandemia forçou o mundo a parar, apesar do caracter irreversível da globalização. Neste capítulo, será exibido entre 16 de Julho e 17 de Outubro, no Museu de Arte de Macau, um trabalho da colecção Tate em vídeo de autoria da franco-argelina Zineb Sedira intitulado “Língua Materna”.

A obra centra-se nas trocas de memórias de infância da artista, da sua mãe e da sua filha em três diferentes línguas nativas: francês, árabe e inglês. O trabalho reflecte a narração de histórias como forma de preservar a identidade cultural através das gerações e sublinha a dificuldade de manter um património partilhado através das divisões nacionais e linguísticas e reconhece a complexidade da identidade.

A prata da casa

A Arte Macau 2021 irá exibir também trabalhos de artistas locais, cuja escolha resultou da selecção de 12 peças de criadores de Macau, entre pintura, instalações tridimensionais, escultura e fotografia. O local que irá reunir estes trabalhos, entre 29 de Agosto e 24 de Outubro, será o Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino.

Entre os artistas locais estão João Miguel Barros, Konstantin Bessmertny, Cheong I Kuan, Fok Hoi Seng, Ieong Man Pan, Kun Wang Tou, Leong Lam Po, Mak Kuong Weng, Sit Ka Kit, Wong Soi Lon e Wong Weng Io.
Nesta segunda edição, a bienal vai extravasar para as ruas com a exibição de seis obras de artistas do Interior da China, Tailândia, Argentina, Egipto e Itália.

A Praça do Tap Seac recebe “Chacra”, uma obra do italiano Riccardo Cordero. Feito em aço, a escultura forma um círculo (como uma praça dentro de uma praça), proporcionando a sua apreciação a partir de diversas perspectivas. A criação de “Chacra” teve como objectivo guardar a memória de um mercado público de alimentos, que foi transferido para dar lugar à Aldeia Olímpica na cidade de Turim e representar o centro do espírito humano.

“Encontro” é outra escultura de grande dimensão que irá trazer uma nova vida à Praceta da Arte do Centro Cultural de Macau. Da autoria do chinês Su Xinping, esta obra em cobre representa enormes mãos numa combinação de expressão figurativa com dimensões surreais evocando uma imagem de montanha.

“Cidade Global” estará na zona das Casas Museu da Taipa. A obra do argentino Leandro Erlich, feita de aço e resina, transmite o conceito da aldeia global, da indivisibilidade da vida humana e de partilha. Visualmente, “Cidade Global” materializa-se numa esfera de onde despontam formas geográficas de diversas alturas, que se assemelham a prédios.

O homem e o conceito

A segunda edição da bienal de Macau conta com a curadoria de Qiu Zhijie, um dos artistas contemporâneos chineses mais influentes, director da Faculdade de Arte Experimental da Academia Central de Belas Artes, que durante a sua estadia na RAEM irá apresentar duas palestras temáticas, “trazendo a inspiração ao pensamento curatorial e explorando as manifestações da “Ásia” na arte”, informa o IC.

Apesar de ainda não estar em Macau, Qiu Zhijie demonstrou em vídeo a felicidade pela missão curatorial e explicou as ideias que formaram o fio condutor da Arte de Macau 2021, naturalmente influenciada pela pandemia em termos artísticos.

“Devido ao surto da epidemia, fomos forçados a isolar-nos uns dos outros, ficamos em casa e mantemos distância social”, cenário que o curador encarou como desafio à globalização e incentivo ao nativismo tribalista e ao isolacionismo. Porém, por detrás da integração global, Qiu Zhijie encontra a tecnologia como fonte de ferramentas para fazer avançar o mundo. “Há 500 anos, a bússola e a tecnologia naval iniciaram as grandes navegações e trouxeram uma onda de globalização; 200 anos atrás, as ferrovias promoveram a comunicação das pessoas, e 50 anos atrás, os aviões a jacto e depois a Internet trouxeram a conectividade global.”

Além das obras já mencionadas nas exposições principais, o curador destacou “pinturas a óleo do pintor Liu Xiaodong quando esteve preso na Nova Iorque durante a epidemia, a obra sobre a logística global “Aeroporto” dos artistas suíços Peter Fischli e David Weiss” e o vídeo “Kids” do suíço Michael Frei, uma animação superficialmente simples que explora a relação entre indivíduos e grupos”.

Por esses resorts fora

No capítulo das exposições organizadas pelas operadoras de jogo, nos seus espaços, importa referir que a mostra “Justapor”, que reúne esculturas em varão de aço da autoria de malaio Tang Mun Kian, Com a coordenação do Galaxy Entertainment Group, esta exposição retrata detalhes de arquitectura, do comércio de outros tempos e festivais de Macau. A visão de Tang Mun Kian contem laivos de cartoon e, imbuída de espirituosidade e humor, faz um esboço do cenário histórico e cultural de Macau.

“O MAR”é a exposição que estará a cargo da Melco Resorts & Entertainment, que utiliza o cenário de um teatro aquático (onde era exibido o espectáculo “The House of Dancing Water”) que pretende criar uma experiência sensorial através de uma série de instalações que incluem vídeos, música, inteligência artificial e efeitos à base de água.

Com a imagem do despertar do Leão, a MGM expõe “Despertar”, um conjunto de obras dos artistas Xue Song, Liu Guofu e Hung Yi inspiradas na figura desse animal rei da selva.

Como o nome indica, o “Projecto Sands X: Para Além do Azul – Uma Exposição de Cerâmica Extraordinária” é a mostra coordenada pela Sands China Ltd. Sob a curadoria de Caroline Cheng, obras de arte de mais de 20 artistas e instituições internacionais exploram a ligação entre tecnologia e arte de cerâmica, com uma apresentação inovadora.

A SJM RESORTS terá a seu cargo a série de exposições sob o tema de “Arte · Criação · Nova Ambiência – Pensamento Transformador, Entre numa Era de Extraordinária Inovação” e “Harmonia do Oriente e Ocidente – Exposição de Famosos Artistas Locais” e a “Reformulação do Império – Exposição Individual de Heidi Lau”. As mostras centram-se “na fusão de elementos chineses e ocidentais, por artistas locais, dando a continuidade a obras clássicas intemporais”.

A exposição do Wynn Macau Limited, intitulada “Ilusões e Reflexões – Através do Olhar dos Mestres”, é constituída por dois tesouros artísticos nacionais: “A Morada das Ilusões: O Jardim de Zhang Daqian” e “Reflexão da Vida: Cerâmica Contemporânea de Zhu Legeng”.

Por fim, a exposição coordenada pela Nam Kwong (Group) Company Limited, “Exposição de Arte do Bordado Shen da China”, tem o bordado no papel principal com o intuito de difundir a cultura tradicional chinesa. Ao longo de três meses não vão faltar ofertas culturais gratuitas para todos os gostos, espalhadas um pouco por toda a cidade.

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