Cheque Pecuniário | Executivo ouve grupo restrito de associações e académicos

As duas sessões foram realizadas à porta fechada, e as opiniões de associações e académicos partilhadas em comunicado fazem eco das ponderações e hipóteses avançadas por Sam Hou Fai nas Linhas de Acção Governativa

 

Com o objectivo de alterar o plano de comparticipação pecuniária no desenvolvimento económico, também conhecido como ‘cheque pecuniário’, o Governo realizou, à porta fechada, duas sessões para ouvir algumas associações e académicos. Entre as opiniões, não identificadas, citadas pelo comunicado dos gabinetes do secretário para a Economia e Finanças e da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, foi defendida a necessidade de instaurar um sistema de dias mínimos de permanência no território, mas com excepções, a pensar em quem vive no Interior da China.

A definição do número mínimo de dias em Macau para ter acesso ao cheque foi a primeira a ser destacada pelo Governo no comunicado conjunto, sendo ainda acrescentado que se deve seguir o modelo do regime de previdência central. Esta opinião não é diferente da possibilidade avançada anteriormente por Sam Hou Fai, durante a apresentação das Linhas de Acção Governativa deste ano, quando abordou a opção de rever todo o programa. O número sugerido passou por uma permanência em Macau durante 183 dias.

Estas “opiniões” também indicam que a contagem do número de dias deve permitir uma certa flexibilidade, a pensar nas pessoas a “estudar no exterior” ou a passar a velhice ou trabalhar no Interior da China”. No comunicado, não é indicada a possibilidade de as pessoas passarem a velhice em Hong Kong, ou noutros locais, como em Portugal.

Poupança de recursos

Houve ainda quem defendesse que as alterações ao cheque poderiam resultar na poupança de “recursos”, que poderiam ser “utilizados para ajudar os grupos mais vulneráveis”, o que mais uma vez fez eco das ponderações anteriores do líder do Governo.

A primeira reunião foi realizada a 15 de Maio, pela secretaria para a Economia e Finanças, na sala de conferências da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), e foi presidida pelo secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. O dirigente da DSEDT afirmou que o Governo propõe a “optimização” do plano, no entanto, os moldes dessas alterações não foram divulgados.

A segunda sessão de consulta a associações e académicos, convidados pelo próprio Governo, aconteceu no dia seguinte, tendo sido liderada pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultural, O Lam. De acordo com as declarações citadas pelo comunicado, a alteração ao modelo do cheque pecuniário é “uma das prioridades” das LAG da tutela dos assuntos sociais e cultura.

Macau e Hong Kong interessadas em colaborar com portos portugueses

A directora-geral de Política do Mar, Marisa Lameiras da Silva, disse na sexta-feira que as autoridades de Macau e de Hong Kong expressaram interesse em explorar potenciais colaborações com portos em Portugal.

A dirigente encontrou-se na sexta-feira com a directora dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong Soi Man, e o director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Ip Kuong Lam. Na quinta-feira, Lameiras da Silva já tinha sido recebida, na vizinha cidade de Hong Kong, pela nova secretária para os Transportes e Logística, Mable Chan, que tomou posse em Dezembro.

Encontros em que a directora-geral apresentou a Estratégia Nacional para o Mar até 2030 e “os últimos investimentos” que Portugal tem feito no transporte marítimo, portos, energias renováveis oceânicas, biotecnologia e bio-economia azul.

Lameiras da Silva disse que as autoridades dos dois territórios “realmente demonstraram interesse nestas matérias, nomeadamente no que Portugal tem feito na área dos portos”.

Não foi firmado qualquer acordo em concreto, até “porque esta é uma missão quase relâmpago, de três dias”, mas há “interesse em continuarmos a conversar”, referiu a dirigente.

Pensar em oportunidades

Lameiras da Silva sublinhou a importância de “perceber onde há sinergias e onde há oportunidades de colaboração e parcerias”, não apenas com instituições públicas, mas também com empresas privadas. Na sexta-feira, a directora-geral falou igualmente sobre economia azul sustentável no Instituto Internacional de Macau e durante o jantar de gala anual da Câmara de Comércio Europeia em Macau.

Lameiras da Silva, também presidente do Conselho de Gestão Estratégica da Rede Hub Azul, falava aos jornalistas após um diálogo com alunos da Escola Portuguesa de Macau sobre o futuro dos oceanos. O objectivo foi “trazer um pouco de consciência para a camada mais jovem, para a comunidade escolar, da importância do mar na nossa vida, bem como do impacto que nós temos no nosso dia-a-dia perante o oceano”, explicou.

Referindo-se às eleições legislativas de ontem em Portugal, antes de se conhecerem quaisquer resultados, Marisa Lameiras da Silva disse que seja qual for o novo Governo, tem esperança de que a aposta no mar continue a ser uma aposta transversal à política portuguesa.

“Acho que é mais do que óbvio que o desígnio de Portugal também passa pelo mar e, portanto, há claramente a intenção de continuarmos aqui a trabalhar para a economia azul, respeitando sempre o que é a sustentabilidade ambiental e o crescimento económico”, referiu a directora-geral.

Dona do primeiro modelo IA da China focado no português prepara entrada em bolsa

A empresa que desenvolveu o primeiro modelo linguístico da China que usa inteligência artificial (IA) para o português está a planear listar-se em bolsa e expandir-se nos mercados lusófonos, disse o fundador à Lusa.

Lin Yuchu disse que a Deeptranx, com sede em Zhuhai, tem planos para entrar na bolsa de valores de Hong Kong ou na vizinha metrópole de Shenzhen.

Mais de dez empresas de Portugal e do Brasil já investiram três milhões de yuan (mais de 371 mil euros) para poderem usar o DeeCo-model, um modelo linguístico de grande dimensão especializado em conteúdos em língua portuguesa. Mas o presidente-executivo da Deeptranx sublinhou que a empresa quer ir mais longe. “No futuro, vamos aproveitar Macau como porta de entrada através da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ para nos expandirmos para os mercados lusófonos”, referiu Lin.

Lin começou a trabalhar na tradução automática entre chinês, português e inglês em 2012, quando ainda era estudante na Universidade de Macau.

Já após fundar a Deeptranx, em 2018, o empresário identificou oportunidades no mercado lusófono e criou o primeiro grande modelo de IA da China focado no português, “uma vez que os sectores de IA em chinês e inglês já estavam saturados”.

“Em 2022, axtualizámos para um modelo linguístico completo e de grande dimensão após avanços nos algoritmos de IA”, acrescentou.

O DeeCo-model suporta processamento de texto, imagem, áudio e vídeo, abrangendo 17 sectores, incluindo finanças, tecnologia e cultura. “É mais especializado e profissional do que outros modelos tradicionais para conteúdos locais”, sublinhou Lin, dando como exemplo “consultas sobre as leis de Macau ou a história e cultura lusófonas”.

O sistema também consegue diferenciar entre o português europeu e o português brasileiro, identificando variações gramaticais, lexicais e fonéticas.

É a falar

A Deeptranx emprega 40 trabalhadores a tempo inteiro e 3.800 linguistas em regime ‘freelance’, especializados em variantes do português e 100 mil colaboradores de dados multilingues em todo o mundo.

“Até à data, obtivemos 30 milhões de yuan [3,7 milhões de euros] em financiamento”, disse Lin. O investimento veio de empresas como as gigantes tecnológicas chinesas Tencent e Baidu e a dona da maior plataforma chinesa de literatura na Internet, China Literature Ltd, “além de pequenas e médias empresas em Zhuhai”, acrescentou o líder da Deeptranx.

O interesse pela língua portuguesa na China cresceu de forma acelerada nos últimos 25 anos, alimentado pela evolução das trocas comerciais entre a China e a lusofonia, que só em 2024 ultrapassaram 225 mil milhões de dólares.

Estudo | Alunos de línguas estrangeiras usam cada vez mais a IA

Um estudo de académicos da Universidade Politécnica de Macau conclui que 80 por cento de uma amostra de 25 alunos de português “usa regularmente” a inteligência artificial como ferramenta de estudo. Os autores do estudo alertam para a necessidade de conjugação com métodos tradicionais de ensino e de formação de docentes

 

Até que ponto a inteligência artificial (IA) está a ser usada por alunos chineses para aprender idiomas estrangeiros, e de que forma é feita esse uso? Um estudo desenvolvido pelos académicos e docentes da Universidade Politécnica de Macau (UPM) Vanessa Amaro e Manuel Pires conclui que o uso é crescente.

O trabalho, intitulado “Artificial e Natural: Interligências e Equilíbrios em PLE”, publicado na revista científica “Millenium – Journal of Education, Technologies and Health”, conclui que, de uma amostra de 25 estudantes da licenciatura em português da UPM, “80 por cento utiliza regularmente à IA. Os restantes recorrem a estas ferramentas de forma pontual, como para preparar apresentações ou na pesquisa de informações culturais sobre países lusófonos”.

Os estudantes em causa frequentam o terceiro e quarto ano do curso e foram escolhidos por possuírem “um nível mais avançado de domínio da língua portuguesa e maior experiência com diferentes abordagens pedagógicas, incluindo o uso de tecnologias no ensino”.

Além disso, “a maioria dos participantes tinha idades compreendidas entre 21 e 24 anos, oriunda de diversas províncias do Interior da China (cerca de 70 por cento) e de Macau”, sendo que “possuíam experiência prévia no uso de ferramentas de IA para a aprendizagem linguística”.

Em termos gerais, o trabalho destaca que a IA é cada vez mais importante “na aprendizagem de PLE [português como língua estrangeira]”, e que “a análise das interacções dos estudantes com a IA para a aprendizagem de línguas estrangeira é fundamental para garantir que as soluções tecnológicas sejam trabalhadas com base nas suas necessidades e expectativas”.

Refere-se ainda que os 25 alunos entrevistados assumem “uma atitude positiva em relação à integração da IA na aprendizagem do português, reconhecendo tanto as suas vantagens significativas quanto as suas limitações”. “Um tema recorrente foi a necessidade de manter o equilíbrio entre a utilização da IA e a interacção humana, destacando-se a vontade de um ensino de línguas aberto às novas tecnologias, mas sem comprometer os benefícios das relações interpessoais”, apontam os autores.

Dar à língua

Se 80 por cento dos alunos recorre frequentemente à IA, quais as finalidades desse uso? O estudo destaca que a IA consegue dar apoio “ao treino da pronúncia, especialmente no contexto da aprendizagem autónoma”. “Muitos destacaram a neutralidade das vozes geradas, que evita influências regionais, como um recurso eficaz para desenvolver hábitos correctos na produção oral.” Um estudante referiu aos autores do estudo que “a voz da IA é ajustada, não tem sotaque de qualquer região e, por isso, é bom para os alunos treinarem a compreensão oral com diversos tipos de textos para além dos materiais dados pelo professor na aula”.

Além do treino da pronúncia, as ferramentas de IA são também bastante utilizadas para a pesquisa de informações sobre os países de língua portuguesa. “Os estudantes reconheceram que estas ferramentas poupam tempo e permitem um acesso mais directo a conteúdos relevantes”, refere o trabalho, que destaca a resposta de um aluno: “ajuda-me a buscar informações sobre as tendências actuais no Brasil ou em Portugal, porque os livros e informações na internet estão dispersas e requerem várias buscas e muito mais tempo dispensado.”

Porém, é salientado, com base na experiência dos dois docentes, “que o uso excessivo de ferramentas de IA tem contribuído para a redução significativa no desenvolvimento de competências críticas entre os estudantes”.

“Cada vez mais trabalhos, tanto escritos como orais, carecem de profundidade analítica, apresentando estruturas lexicais e gramaticais avançadas que não correspondem ao nível real de proficiência dos alunos. Este desfasamento sugere uma relação superficial com os materiais de estudo, onde o esforço reflexivo e o pensamento autónomo são frequentemente substituídos pelas respostas geradas automaticamente pela IA”, conclui-se.

Complementaridade precisa-se

Segundo Vanessa Amaro e Manuel Pires, o estudo permite concluir que “a integração da IA no ensino de línguas estrangeiras é uma tendência irreversível, mas que requer uma abordagem pedagógica estruturada e cuidadosa”.

“A maioria dos estudantes [entrevistados] reconheceu a importância de adaptar o ensino de línguas à realidade tecnológica actual, salientando a necessidade de incorporar a IA de forma planeada nos currículos. O equilíbrio entre os métodos tradicionais e o uso das novas tecnologias é fundamental para garantir uma aprendizagem eficaz”, é concluído.

Um dos alunos defendeu mesmo ser “necessário haver um equilíbrio entre a IA e os métodos tradicionais”, pois “a aprendizagem de línguas pode ser melhor e mais interessante através da IA, mas falta-lhe a capacidade de criar ideias e imaginação, além dos aspectos interculturais da aprendizagem de línguas”.

Assim, para os alunos inquiridos, “a presença do professor, enquanto mediador do conhecimento, é vista como essencial, sobretudo no contexto específico de Macau, onde não ocorre uma imersão linguística durante o processo de aprendizagem do português”.

Por interacção humana entende-se, além da “transmissão de conteúdos linguísticos, a capacidade de interpretar aspectos culturais, sociais e emocionais, algo que a IA, apesar da sua eficiência técnica, não consegue replicar”.

Vanessa Amaro e Manuel Pires destacam ainda o facto de “os desafios éticos e pedagógicos da IA no ensino serem complexos e multifacetados”. Isto porque “a privacidade dos dados é uma preocupação central, pois muitas ferramentas de IA coleccionam informações pessoais que poderão ser utilizadas para fins que os usuários desconhecem”. Além disso, “o risco de viés algorítmico pode ser uma questão pertinente, pois se os algoritmos produzirem resultados que são sistematicamente incorrectos, tendenciosos ou injustos, tal pode acentuar dificuldades e desigualdades na aprendizagem e requerer redobrados cuidados na sua utilização e regulação”, é indicado.

Os autores consideram ainda que “a dependência excessiva da IA pode comprometer a interação humana, essencial para o desenvolvimento de competências sociais e culturais presentes nos processos educativos”.

Tendo em conta que “no ensino de línguas estrangeiras parecem existir diversas velocidades na integração da IA, havendo instituições de ensino superior que o fazem mais paulatinamente e ainda com bastantes reservas, assim como as que são mais desenvoltas e proactivas na forma como abraçam estas tecnologias”, cabe “fomentar o diálogo e a cooperação entre os diversos agentes de ensino para compreender o potencial da IA”.

Índia exige vigilância das armas do Paquistão

A Índia exigiu ontem que as armas nucleares do Paquistão sejam colocadas “sob vigilância” da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), dias depois do mais grave confronto entre os dois exércitos das últimas duas décadas.

“O arsenal nuclear do Paquistão deve ser colocado sob a supervisão da AIEA. Quero dizer isto muito claramente”, declarou o ministro da Defesa indiano, Rajnath Singh, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Durante uma visita ao quartel-general das forças armadas em Srinagar, a principal cidade da Caxemira indiana, o ministro questionou se as armas nucleares estarão seguras “nas mãos de uma nação incontrolável e irresponsável”. O Paquistão não reagiu de imediato. Os dois países com armas nucleares envolveram-se na semana passada no confronto militar mais mortífero desde a guerra de 1999.

Na noite de 06 para 07 de Maio, a Índia disparou mísseis contra locais no Paquistão que, segundo Nova Deli, abrigavam membros do grupo ‘jihadista’ suspeito do atentado que matou 26 pessoas em 22 de Abril na Caxemira indiana.

O Paquistão, que negou qualquer responsabilidade pelo ataque, retaliou imediatamente. Durante quatro dias, os dois exércitos trocaram tiros de artilharia e ataques com mísseis e ‘drones’, alimentando sérios receios de um conflito em grande escala. Para surpresa geral, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou um cessar-fogo imediato no sábado, que foi imediatamente confirmado por ambas as partes.

Não, obrigado

O grupo de antigas personalidades conhecido como os “Anciãos” defendeu ontem em Tóquio a não-proliferação nuclear. O ex-secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, lançou o alerta para o sul da Ásia.

“Existe a possibilidade de o sistema de segurança internacional ser completamente destruído se a Índia ou o Paquistão utilizarem armas nucleares”, advertiu. O ex-presidente colombiano, Juan Manuel Santos, questionou onde esteve a ONU, liderada pelo português António Guterres, durante o conflito.

As tréguas têm sido respeitadas na fronteira entre os dois países, mas a retórica continua a ser muito agressiva. “A Índia não vai tolerar a chantagem nuclear”, afirmou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na segunda-feira à noite.

A Índia negou categoricamente notícias de um ataque a uma instalação nuclear paquistanesa situada a cerca de 200 quilómetros das várias cidades recentemente atingidas por mísseis indianos. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Randhir Jaiswal, assegurou na terça-feira que a operação militar da Índia “permaneceu convencional”. Durante toda a crise, o Paquistão repetiu que a opção nuclear nunca foi considerada. “Seria inconcebível e estúpido porque colocaria em risco 1,6 mil milhões de pessoas”, afirmou o porta-voz do exército, general Ahmed Chaudhry.

Contas à morte

A Índia dispõe de armas atómicas desde a década de 1990, transportadas por mísseis terra-terra de alcance intermédio. O Paquistão possui mísseis nucleares terra-terra e ar-terra de curto e médio alcance, e efectuou os primeiros testes em 1998.

O exército paquistanês disse que os ataques indianos mataram 40 civis e que perdeu 13 soldados. Já Nova Deli, deu conta da morte de 16 civis e cinco soldados em território indiano. Apesar do desanuviamento no terreno, a Índia e o Paquistão são inflexíveis e afirmam que não vão baixar a guarda. “Se outro ataque terrorista tiver como alvo a Índia, responderemos com firmeza”, avisou Modi.

Numa conversa telefónica com Guterres na quarta-feira, o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, afirmou estar “preocupado com as declarações provocatórias e inflamatórias da Índia”.

A Índia e o Paquistão disputam a soberania de Caxemira desde a sangrenta divisão aquando da independência em 1947. O destino do território dos Himalaias, povoado maioritariamente por muçulmanos, deu origem a várias guerras entre os dois países. Desde 1989, o lado indiano tem sido palco de uma insurreição separatista que já causou dezenas de milhares de mortos.

A Grande América (III)

(continuação da edição de 15 de Maio)

E depois, disseram, demasiadas vezes, que a Europa está nas leis da história, mas quem conhece essas leis da história? E quem é que alguma vez impediu os homens, especialmente os grandes homens, de irem contra as leis da história? Estávamos em 1966. Sumantra Maitra tem razão quando lhes pergunta “o que é que vos aconteceu? para os exortar, com alguma ênfase, ao papel de um “país ocidental chave”.

A sua tese atravessa a geopolítica da periferia marítima da memória quarentona, actualizada para as crises actuais, como as tensões entre turcos, gregos e franceses, aliados atlânticos de facto alinhados com eles próprios. O que acontece se rebentar um conflito? A Itália poderia concentrar-se na criação de dispositivos locais em algumas áreas-chave, assumindo a tarefa de fornecer apoio logístico e estrutural.

Os italianos têm uma marinha bem estruturada. Este é um domínio em que poderiam dar um contributo considerável, tratando da formação e da segurança nas costas sul e norte. Trump e o Pentágono estão correctos, pois nós os Europeus fornecemos a logística, juntamente com os serviços secretos, a cibernética e tudo o que for útil. Mas são os italianos que põem as botas no terreno.

Uma ideia que rejeitaram quando o Trump 1.0 os convidou a recuperar a Líbia. Não se tratava de imitar o malogrado desembarque concebido pelo então Presidente do Conselho de Ministros Giovanni Giolitti (1903-1914) em Trípoli, em 1911, a faísca da I Guerra Mundial, o golpe para as comunidades do Norte de África e levantinas italianas de que hoje tanto precisam.

A questão era saber se deveriam admitir um forte grau de controlo turco sobre a Tripolitânia, depois o controlo russo sobre a Cirenaica, ou cuidar do seu próprio quintal. Recusaram. Um erro que deve servir de lição para o futuro. O estigma da nossa época é a consciência de que o homem pode acabar com o mundo. Um privilégio até agora reservado a Deus para os cristãos, que tem a última palavra sobre como e quando. Um segredo que se opõe até Cristo, pelo menos segundo Mateus de que “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não.

Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai” (24,35-36). “Se o dono da casa soubesse a que horas da noite vem o ladrão, vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, estai vós também preparados, porque o Filho do Homem virá à hora em que menos esperais” (24,43-44). Se este Evangelho se aplica, temos a certeza de que o ladrão está longe de casa, pois nunca antes o homem pensou no Fim.

Resta-nos esperar que a misteriosa “Katechon” da segunda carta de Paulo aos Tessalonicenses, a suposta força de contenção que prevalece sobre o caos, atrase o apocalipse e a vinda de Jesus. Se os filósofos e os teólogos discutem sobre o “Katechon” é porque vivemos o apocalipse como presente, não como futuro. Imersos no caos, desfigurados pelo anomos iníquo que o Senhor esmagará “com o sopro da sua boca” (2,8).

Será um sinal dos tempos que a Igreja Católica, durante séculos empenhada em infligir-nos “memento mori”, tenha suavizado essa ladainha depois de Hiroshima? Talvez receie perder o monopólio do mistério último, secularizado em conversa de café. Não entremos na diatribe apaixonada de quem, o quê, como é o “Katechon”. Hermenêutica inatingível. O que importa é observar como a percepção de viver dentro do apocalipse, a morte viva, exacerba o desespero do caos que nos paralisa. Ilude-nos a pensar que podemos escapar aos constrangimentos da política, ao modo da razão, à arte do simpósio. Uma tentação que gera terríveis simplificadores de todo o género.

Produtores de anomia que pretendem executar com o sopro da sua boca. Trump é o poder que abranda ou acelera a crise americana? Uma pergunta muito europeia. Para um americano, a questão não se coloca. Aqueles que estão convencidos de que pertencem, por graça de mandato divino, à entidade suprema benevolente, super ordenada ao resto dos humanos, tendem a imaginar a sua trajectória como uma sequência de ciclos em constante evolução ascendente. Desenhando círculos sem fim, apenas inícios. Nas fases mais baixas, o americano crente empurra para o topo porque o melhor ainda está para vir.

“Flashmobs” este fim-de-semana nos bairros comunitários

Decorre este fim-de-semana a iniciativa “Cultura à Sua Porta”, com a realização de 16 “flashmobs” em 12 bairros comunitários locais, um evento com organização do Instituto Cultural (IC).

Segundo uma nota do IC, as “flashmobs” têm cinco temas, nomeadamente teatro, ópera cantonense, artes marciais, cinema e leitura, pretendendo-se “levar ricos recursos culturais aos bairros comunitários, nutrindo os residentes culturalmente na sua vida quotidiana e reforçando a sua sensação de felicidade”.

Na área do teatro, com o tema “Teatro em Mais Locais”, apresenta-se “Uma Viagem Mágica aos Palcos”, em que se pretende que o público explore “diferentes espaços de actuação, como o anfiteatro grego antigo, o tradicional teatro de bambu de Macau e teatros modernos, através do formato de teatro interactivo”.

Com o tema “Ópera Cantonense em Mais Locais” pretende-se que “os residentes experimentarem esta preciosa arte do património cultural intangível”, enquanto que com “Artes Marcias em Mais Locais”, se apresenta os “movimentos clássicos de Wing Chun no local, onde os residentes poderão também experimentar os movimentos básicos sob a orientação de instrutores e compreender os conceitos da cultura das artes marciais chinesas”.

Cinema e leitura

Já com “Cinema em Mais Locais”, a “flashmob” irá “transformar a comunidade numa sala de cinema ao ar livre, onde o público poderá apreciar o documentário sobre o sector da exibição cinematográfica de Macau ‘Interpretação das Imagens’, conhecer a história centenária da indústria e o desenvolvimento do cinema”.

Por sua vez, através do tema “Ler em Mais Locais”, realiza-se a actividade “Trocar um Livro por Outro”, que também faz parte do “Mês de Leitura Conjunta em Toda a Cidade de Macau 2025”. Os residentes poderão levar livros que cumpram as regras no local, seleccionando os seus preferidos e trocando-os por um número igual ao dos seus próprios livros, realizando a circulação e a partilha dos recursos de leitura nos bairros comunitários.

A actividade “Cultura à Sua Porta” realiza-se em vários períodos da manhã e tarde amanhã e domingo, em bairros comunitários ou locais como o Centro de Actividades de S. Lourenço – Terraço Ajardinado, Parque Central da Taipa, Zona de Lazer da Rua Quatro do Bairro Iao Hon, Zona de Lazer da Praça das Orquídeas, Terraço do Edifício Ip Heng de Seac Pai Van, Jardim de Lou Lim Ioc – Corredor dos Cem Passos, Zona de Lazer da Rotunda de Carlos da Maia, Zona de Lazer da Praceta de Venceslau de Morais, Parque Urbano da Areia Preta, Zona de Lazer contígua ao Edif. Wang Hoi e Wang Kin, Zona de Lazer do Bairro Social de Tamagnini Barbosa e Zona de Lazer de Edf. Lok Yeong Fa Yuen.

Clockenflap | Festival traz Franz Ferdinand e Beth Gibbons ex-vocalista dos Portishead

Está aí mais cartaz do Clokenflap, festival que durante três dias traz muita música a Hong Kong, ao Central Harbourfront. As primeiras presenças já são conhecidas e incluem nomes como Franz Ferdinand ou Beth Gibbons, ex-vocalista dos Portishead. A oferta musical compõe-se ainda com Rich Brian, Jacob Collier e Yoga Lin, entre muitos outros

 

Para quem quer desfrutar de uma enorme variedade musical naquele que é considerado o mês natalício por excelência, o festival Clockenflap em Hong Kong está de regresso este ano para uma nova edição entre os dias 5 e 7 de Dezembro no lugar do costume, o Central Harbourfront. Os bilhetes começaram a ser vendidos esta semana e já se conhecem alguns nomes que sobem ao palco: Rich Brian, Jacob Collier, Franz Ferdinand, Yoga Lin, Panther Chan, e Beth Gibbons, ex-vocalista dos Portishead, os escoceses que revolucionaram o mundo musical com o seu álbum homónimo de 2004 e com êxitos como “Take me Out” ou “This Fire”.

O cartaz integra ainda Rich Brian, conhecido como “a estrela do rap indonésio”, que actua no sábado, 6 de Dezembro, Yoga Lin, a grande “estrela pop mandarim”, agendada para domingo, 7, e Panther Chan, conhecido cantor e compositor local, agendado para o primeiro dia do festival, 5 de Dezembro.

Também na sexta-feira, decorrem as actuações do cantor e compositor britânico Passenger, bem como um dj set com os alemães Digitalism. Destaque ainda para a presença em Hong Kong de Soccer Mommy, “o favorito do alt-indie americano”, ou os Chilli Beans, os “indie-pops japoneses”. Ainda no reino Indie, a organização do festival traz Phum Viphurit, “o querido indie tailandês”, ou os TV Girl, considerados os “heróis indie californianos”.

Do Japão, chega também ao Clockenflap o vocalista e compositor Akasaki, que actua no dia 6, ou ainda a Dj Riria, que nasceu no Japão, mas está radicada no Reino Unido. No que diz respeito aos talentos da música local, o Clockenflap traz de novo aos palcos os Bitter Tea of General Yeng, “de regresso após um longo hiato”. Estes são considerados “lendas míticas do pós-punk de Hong Kong”.

Arte à mistura

Faltam ainda muitos meses para se fechar o cartaz do Clockenflap e muitas surpresas podem ainda aparecer. A organização destaca o espaço icónico onde o festival se realiza, “com o espectacular cenário ao ar livre entre os imponentes arranha-céus de Central e as vistas épicas do icónico porto de Hong Kong”, apresentando-se novamente este ano “a experiência completa de um festival de classe mundial que fez do evento uma ocasião imperdível para os fãs de música de toda a cidade e não só”.

Além da música, o festival inclui ainda “uma série de instalações artísticas de encher o olho, de workshops e espectáculos para toda a família e de uma selecção de estabelecimentos de comida e bebida de fazer crescer água na boca, incluindo petiscos únicos de alguns dos restaurantes mais apreciados da cidade”.

Uma das novidades artísticas que o festival traz para esta edição é o projecto “Minimax – A Mobile & Modular Theatrical Experience”, entendido pela organização como “um novo conceito para todos os amantes das artes”, actualmente na fase de recrutamento de “talentos locais”.

A venda antecipada de bilhetes decorre apenas até ao dia 23 de Maio, com descontos, sendo que a partir dessa data os ingressos passam a estar a um preço mais elevado. A compra antecipada para os três dias, para a admissão geral, fica a 1.790 dólares de Hong Kong (HKD), enquanto que os bilhetes antecipados de um dia, na admissão geral, custam 1.150 HKD.

APEC prevê paralisação do comércio e abrandamento drástico na região

A organização para a Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês) prevê uma estagnação virtual do comércio e um abrandamento económico drástico na região em 2025 devido à escalada das tarifas, de acordo com previsões divulgadas ontem.

A APEC reúne 21 economias (Austrália, Vietname, Tailândia, Japão, Estados Unidos, Canadá, México, etc.), incluindo países asiáticos que dependem do comércio e que foram duramente atingidos pela guerra aduaneira lançada por Washington.

Os economistas da organização preveem que as exportações na região Ásia-Pacífico cresçam apenas 0,4 por cento em 2025, em comparação com um registo de 5,7 por cento no ano passado. As importações deverão estagnar (+0,1 por cento).

Consequentemente, os países da APEC deverão registar um crescimento do produto interno bruto (PIB) de apenas 2,6 por cento em 2025, estimativa que compara com 3,3 por cento na previsão anterior da organização. Para 2026, prevê-se agora um crescimento de 2,7 por cento, muito abaixo do desempenho esperado para o resto do mundo (+3,3 por cento).

Perdas gerais

Embora a organização abranja um vasto leque de economias, todas estão a sofrer: a escalada das retaliações aduaneiras “está a levar a uma perda de confiança dos investidores e a um enfraquecimento da procura”, afirmou à comunicação social Carlos Kuriyama, director do departamento de políticas públicas da APEC, citado pela agência France Presse, em declarações à margem de uma reunião dos ministros do Comércio da organização, que se iniciou ontem na Coreia do Sul.

Para além das tarifas de 25 por cento sobre os automóveis e o aço, a Administração norte-americana do Presidente Donald Trump anunciou, no início de Abril, sobretaxas aduaneiras “recíprocas” proibitivas, actualmente suspensas até Julho.

Os direitos aduaneiros mais elevados penalizarão as cadeias de abastecimento, aumentarão os custos de produção, que serão transferidos para o consumidor final, e, por conseguinte, diminuirão a procura de bens”, explicou Kuriyama. Na opinião do economista, a incerteza é o pior risco: “É essencial garantir que as políticas sejam estáveis e, se houver mudanças, que sejam permanentes e não temporárias”, sugeriu.

Pontos de partida

A reunião da APEC desta semana constitui-se como uma ocasião para uma série de discussões bilaterais entre o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, que está na Coreia do Sul, e representantes dos parceiros dos Estados Unidos, incluindo o representante comercial chinês, Li Chenggang.

Pequim e Washington selaram recentemente uma pausa parcial nas pesadas sobretaxas aduaneiras recíprocas. “Isto é positivo, mas não nos leva de volta ao ponto em que estávamos antes de Abril”, considerou Carlos Kuriyama.

No seio da APEC, “muitos governos estão a tentar aplicar medidas para facilitar o comércio, com o objectivo de compensar o efeito negativo das medidas norte-americanas”, acrescentou, estimando, no entanto, que essas iniciativas terão um impacto limitado, porque “os Estados Unidos são a maior economia do mundo”.

MNE | Brasil e quatro países latino-americanos isentos de visto de entrada

A China afirmou ontem que, a partir de 01 de Junho, cidadãos do Brasil, Argentina, Chile, Peru e Uruguai podem entrar na China sem visto para estadias até 30 dias.

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, confirmou ontem os pormenores da medida, anunciada pelo Presidente, Xi Jinping, durante a recente cimeira ministerial China-Comunidade dos Estados Latino-Americanos e das Caraíbas (CELAC).

De acordo com Lin, a política estará em vigor até 31 de Maio de 2026 e permitirá aos titulares de passaportes comuns viajar para a China para fins de turismo, negócios, visitas familiares, intercâmbios culturais ou trânsito.

O objectivo é “facilitar ainda mais os intercâmbios entre as pessoas e promover uma cooperação amigável”. Lin garantiu que a China “continuará a expandir a sua política de abertura” e deu as boas-vindas a mais cidadãos latino-americanos para “visitar, explorar e experimentar a vitalidade e a diversidade” do país.

A iniciativa faz parte de uma série de medidas que Pequim tem tomado desde 2023 para reavivar o turismo e os laços internacionais após o prolongado encerramento das fronteiras devido à pandemia de covid-19. A China já tinha alargado o período de isenção de vistos para países como Portugal e Espanha de 15 para 30 dias e assinou acordos de isenção recíproca com 20 outros Estados.

A China é actualmente o principal parceiro comercial de países como o Brasil, o Chile e o Peru, tendo aumentado a sua presença na América Latina através de projectos de infraestruturas e de comércio ligados à sua iniciativa Novas Rotas da Seda.

Cooperação | Militares chineses dispostos a expandir ligações com a Rússia

A China indicou ontem que quer expandir a cooperação pragmática com os militares russos, após a recente visita do Presidente Xi Jinping a Moscovo para as comemorações do 80.º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial na semana passada.

“Os militares chineses estão dispostos a trabalhar com o lado russo para aumentar ainda mais a confiança mútua estratégica, intensificar a comunicação estratégica e expandir a cooperação prática”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Jiang Bin, em comunicado, sem se referir diretamente à guerra na Ucrânia.

A China e o seu vizinho russo reforçaram a cooperação económica, política e militar na última década. Esta tendência acelerou ainda mais após a invasão do território ucraniano por Moscovo, em 2022. Xi Jinping assistiu às comemorações do 80.º aniversário da vitória na Segunda Guerra Mundial na Praça Vermelha de Moscovo, na semana passada.

Questionado sobre a visita de Xi a Moscovo, o Ministério da Defesa chinês disse ontem, em comunicado, que as relações militares bilaterais estão a um alto nível nos últimos anos.

A China tem afirmado ser uma parte neutra no conflito russo-ucraniano e tem oferecido os seus serviços como mediadora, apesar de regularmente acusada pelo Ocidente de prestar a Moscovo um apoio económico e político crucial para executar a sua operação militar.

HK / Bolsa | Maior farmacêutica chinesa lança oferta pública

A Jiangsu Hengrui Pharmaceuticals quer alcançar investimentos de mais de mil milhões de euros destinados a financiar acções de investigação e desenvolvimento na área da farmácia

 

A maior farmacêutica da China, Jiangsu Hengrui Pharmaceuticals, lançou ontem uma oferta pública inicial na bolsa de valores de Hong Kong, para atrair até 1,13 mil milhões de euros em investimento.

Num comunicado enviado à bolsa da região semiautónoma chinesa, a Hengrui disse que pretende vender 224,5 milhões de acções, por um valor que pode atingir 9,89 mil milhões de dólares de Hong Kong. O documento explica que a maioria deste dinheiro iria para projectos de investigação e desenvolvimento e à construção de novas unidades de produção e investigação farmcêutica tanto na China como no estrangeiro.

A Hengrui, com sede na província de Jiangsu (leste), foi criada em 1970 como uma empresa estatal de fabrico de medicamentos génericos. Após ser privatizada, na década de 90, o grupo passou a dedicar-se ao desenvolvimento de novos medicamentos.

Sete investidores institucionais, incluindo o fundo soberano de Singapura GIC e a empresa de investimento dos Estados Unidos Invesco Advisers, já se tinham comprometido a investir 533 milhões de dólares norte-americanos na oferta. A Hengrui, que já está cotada na bolsa de valores de Xangai, considerada a capital financeira da China, deverá começar a ser listada na bolsa de Hong Kong em 23 de Maio.

Soma e segue

A oferta pública inicial da Hengrui surge dois dias depois da maior fabricante de baterias para veículos eléctricos do mundo, Contemporary Amperex Technology (CATL), ter feito o mesmo. A CATL, já listada na bolsa da vizinha cidade de Shenzhen, pretende arrecadar pelo menos 31 mil milhões de dólares de Hong Kong na sua estreia na bolsa de Hong Kong, que está prevista para 20 de Maio.

A empresa disse que 90 por cento dos fundos angariados serão utilizados para financiar a expansão das operações da CATL na Hungria, bem como na Alemanha, Espanha e Indonésia.

DSAL | Feiras de emprego oferecem 77 vagas em lojas e hotelaria

Abrem hoje as inscrições para três sessões de feiras de emprego, que se vão realizar nos dias 22 e 23 de Maio para os sectores da hotelaria e comércio a retalho, segundo informação divulgada ontem pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Os interessados podem inscrever-se até ao meio-dia da próxima quarta-feira e candidatar-se às 77 vagas de emprego.

A primeira sessão, marcada para a manhã de 22 de Maio, irá disponibilizar 11 empregos para “Hotel W Macau – Studio City”, para os cargos de agente do centro de contactos com clientes, agente de atendimento a clientes, hóspede, cozinheiro de nível elementar e recepcionista de spa.

Na parte da tarde do mesmo dia, é a vez do sector da venda a retalho de luxo, com 16 vagas para a “Giorgio Armani Macau Limited” e a “Gucci” para os cargos de chefe assistente de loja, supervisor de loja, consultor de vendas e empregado de armazém.

Na manhã de 23 de Maio, serão oferecidas 50 vagas para os cargos de empregado de loja, empregado de armazém e empregado de atendimento a clientes nas lojas “ISA Boutique Limited” e “iSport Sporting Goods”.

Economia | Prevista estabilidade no segundo trimestre

O Índice de Prosperidade Económica de Macau para o segundo trimestre aponta para estabilidade, mas apresenta desequilíbrios em alguns indicadores, como a baixa confiança dos consumidores chineses e o baixo valor das acções das concessionárias de jogo

 

De acordo com as mais recentes previsões do Índice de Prosperidade Económica de Macau, a economia local irá continuar estável no segundo trimestre, perspectiva que os analistas da Associação Económica de Macau arriscam apenas estimar para um período de curto-prazo.

O relatório divulgado na quarta-feira continua a revelar assimetrias na evolução dos vários indicadores avaliados. Seguindo a tendências dos últimos relatórios, a diminuição do poder de compra dos turistas chineses que visitam Macau e a fraca confiança dos consumidores do Interior da China, continuam a fazer pairar nuvens negras por cima das perspectivas económicas da RAEM. Outro indicador negativo, realçado pela Associação Económica de Macau, é a continuação do valor das acções das concessionarias de jogo “pairar no nível baixo durante muito tempo”.

O Índice de Prosperidade salienta também a fraca procura por crédito na economia local. O rácio de empréstimos/depósitos de residentes da banca de Macau caiu de 62,4 por cento para 51,1 por cento entre o final de 2022 e o passado mês de Março, é indicado.

Os analistas concluem que a menor vontade dos residentes e empresas em contrair empréstimos “reflecte uma atitude cautelosa face à actual situação e perspectivas económicas”. Embora o sistema bancário da RAEM disponha “de ampla liquidez”, os fundos não foram efectivamente convertidos em apoio ao crédito na economia real, o que indica falta de eficiência na afectação de capital e confiança no investimento.

A associação liderada pelo ex-deputado Joey Lao vinca também o arrefecimento verificado nos últimos anos nos projectos imobiliários e de investimento em grande escala, assim como os valores elevados do crédito malparado, factores que reduziram ainda mais a procura por empréstimos bancários.

Os dois lados

A associação indica também, por outro lado, que o volume da massa monetária bateu um novo recorde histórico, ultrapassando pela primeira vez 810 mil milhões de patacas, um aumento anual 8,8 por cento em termos anuais.

Outro indicador positivo, diz respeito ao número de visitantes e de hóspedes em hotéis que se mantém num nível “quente”. Depois de ter alertado para o impacto da guerra comercial lançada por Donald Trump, os analistas da Associação Económica de Macau voltaram a realçar o ambiente externo enquanto factor desestabilizador.

“Num contexto de fraca procura global, de insuficiente dinâmica de crescimento económico e com um ambiente financeiro restritivo e de riscos relacionados com disputas geopolíticas e tarifárias, Macau, enquanto economia orientada para a micro-exportação, tem de estar muito atento a potenciais riscos de queda nas suas tendências económicas a curto e médio prazo”, é indicado.

Ponte Macau | Instalados radares para controlar velocidade

A partir de amanhã, 22 sistemas fixos de detecção de excesso de velocidade e quatro sistemas de detecção de velocidade média vão começar a funcionar na Ponte Macau. A medida visa “combater as infracções por excesso de velocidade”.

Estes sistemas permitem detectar não só a velocidade instantânea, mas também fazer a média do tempo que os veículos demoraram a percorrer a ponte, e se for abaixo de um certo número, haverá multa por excesso de velocidade.

De acordo com o comunicado do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), os radares vão ser instalados junto aos lados de Macau e da Taipa da ponte principal, nas rampas de Pac On perto à entrada e à saída da ponte principal e no corredor exclusivo para motociclos e ciclomotores.

A Ponte Macau tem como limites de velocidade máxima de 80 km/h, 60 km/h e 40 km/h, consoante os troços. Em algumas rampas de acesso, e nos túneis do corredor exclusivo para motociclos e ciclomotores, o limite máximo é de 40 km/h.

Os condutores que violarem os limites de velocidade na Ponte Macau incorrem numa multa de 600 patacas a 20.000 patacas, podendo ainda ficar sem carta de condução, no caso de reincidência ou de excesso de velocidade grave.

Execução Orçamental | Receitas públicas com redução de 5%

Nos primeiros quatro meses do ano, registou-se uma queda de 0,06 por cento, para 29,8 mil milhões de patacas, das receitas dos impostos sobre o jogo. Além disso, houve uma despesa de 874,7 milhões de patacas em “acções e outras participações”

 

A receita corrente do orçamento da RAEM apresentou uma redução de 4,95 por cento nos primeiros quatro meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2024, sobretudo devido a uma queda nas receitas financeiras, foi ontem anunciado.

A receita corrente entre Janeiro e Abril foi de 34 mil milhões de patacas, de acordo com dados publicados ‘online’ pela Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) do território. A principal razão para a diminuição foram as receitas financeiras, que passaram de mil milhões de patacas nos primeiros quatro meses de 2024 para apenas seis mil patacas este ano.

Esta rubrica corresponde aos resultados da Autoridade Monetária de Macau, o regulador financeiro da região, e inclui receitas de investimentos e de juros e dividendos. Além disso, os dados também revelam uma queda de 0,06 por cento, para 29,8 mil milhões de patacas nas receitas dos impostos sobre o jogo, que, ainda assim, representaram 84,7 por cento do total.

As seis operadoras de jogo da cidade pagam um imposto directo de 35 por cento sobre as receitas do jogo, 2,4 por cento destinado ao Fundo de Segurança Social de Macau e ao desenvolvimento urbano e turístico, e 1,6 por cento entregue à Fundação Macau para fins culturais, educacionais, científicos, académicos e filantrópicos.

Gastos por explicar

Os impostos sobre o jogo caíram, apesar de os casinos de Macau terem registado receitas totais de 76,5 mil milhões de patacas nos primeiros quatro meses do ano, mais 0,8 por cento do que no mesmo período de 2024. Entre Janeiro e Abril, Macau recolheu 30,2 por cento da receita corrente projectada para 2025 no orçamento da região, que é de 112,6 mil milhões de patacas.

Pelo contrário, a despesa pública subiu 2,6 por cento nos primeiros quatro meses, para 24 mil milhões de patacas, devido a uma despesa de 874,7 milhões de patacas em “acções e outras participações”. A Lusa pediu à DSF mais informação sobre esta rubrica, mas não recebeu até ao momento qualquer resposta.

Em 15 de Abril, o novo líder do Governo, Sam Hou Fai, admitiu recear um défice orçamental em 2025, devido à desaceleração nas receitas do jogo. Macau terminou Abril com um excedente nas contas públicas de 10,3 mil milhões de patacas, menos 18,5 por cento do que no mesmo período do ano passado.

Ainda assim, este valor já é maior do que a previsão do Governo para todo o ano de 2025: 6,83 mil milhões de patacas. Macau fechou 2024 com um excedente de 15,8 mil milhões de patacas, mais do dobro do registado no ano anterior.

O último exercício foi o primeiro desde 2020, no início da pandemia, em que o território conseguiu manter as contas em terreno positivo, algo exigido pela Lei Básica, sem efectuar transferências da reserva financeira.

CCAC | Prometido ambiente empresarial íntegro e estável

A Comissária contra a Corrupção, Ao Ieong Seong, garantiu que a instituição vai contribuir para “um ambiente empresarial íntegro, justo, estável e previsível” para permitir que “as empresas possam investir e desenvolver-se sem preocupações”. Foi desta forma que a comissária reagiu à visita a Macau de Xia Baolong, director do Gabinete de Trabalho de Hong Kong e Macau do Comité Central do Partido Comunista da China e do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado.

A comissária, através de comunicado, afirmou que o discurso do director Xia Baolong apresentou “exigências claras sobre o futuro desenvolvimento de Macau e sobre o contributo para a construção do país e que, ao mesmo tempo, teve um significado orientador para os trabalhos do CCAC”.

Segundo o relato de Ao Ieong Seong, Xia Baolong deixou como expectativas para o sector empresarial a promoção do “espírito de luta” e “união da pátria, de Hong Kong e Macau”. Além disso, Xia indicou aos empresários que têm de “manter uma firme confiança no desenvolvimento, consolidando e expandindo os negócios em Hong Kong e Macau”, ao mesmo tempo que se espera que aproveitem “as próprias vantagens para superar os desafios e alargar a abertura ao exterior e para se afirmarem no panorama internacional”.

De acordo com Ao Ieong Seong, o governante do Interior também espera que os empresários locais contem “ao mundo a história de Hong Kong, Macau e China, com uma posição firme”.

Segurança Nacional | Alerta para riscos ligados a EUA e “países ocidentais”

O secretário para a Segurança avisou a população que a defesa da segurança nacional é uma obrigação de todos, e que é preciso manter a atenção para “actos hegemónicos” e difamações dos Estados Unidos da América e de países ocidentais

 

O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, considera que a população tem de manter o “espírito de luta” e “não ceder”, face ao que considera “actos hegemónicos” e difamações dos Estados Unidos da América e de países ocidentais. A mensagem foi deixada na quarta-feira, no portal do secretário, e surge na sequência da visita a Macau de Xia Baolong, director do Gabinete de Trabalho de Hong Kong e Macau do Comité Central do Partido Comunista da China e director do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado.

“Actualmente, face à evolução acelerada das mudanças centenárias no mundo e à competição estratégica mais intensa entre a China e os Estados Unidos da América, os riscos que afectam a segurança nacional e a estabilidade social de Macau tornam-se cada vez mais graves”, foi escrito no portal do secretário.

A mensagem identifica os riscos como os “actos hegemónicos dos EUA e dos países ocidentais” assim como “palavras e as acções que destroem, difamam e perturbam Macau”, considerando que “a sociedade de Macau deve identificar a situação, manter a posição com firmeza, cultivar o espírito de luta, e não pode ceder”.

Wong Sio Chak avisa ainda que é esperado que todos os residentes actuem como guardiões da segurança nacional. “A defesa da segurança nacional é da responsabilidade de todos. Todos os residentes de Macau são os beneficiários e guardiões da segurança nacional, ninguém fica de fora”, é vincado. “A sociedade de Macau deve permanecer unida, ter uma confiança firme, transmitir a boa tradição do amor à pátria e a Macau, potenciar as próprias vantagens, contribuir para a construção de um país forte e para a revitalização da nação chinesa, e contar bem a história de ‘Um País, Dois Sistemas’”, foi acrescentado.

Forças hostis e criminosos

Ao mesmo tempo, o governante destaca a necessidade de actuar em tempos de paz contra “forças hostis e criminosos”, porque mais vale prevenir do que remediar. “Devemos prever possíveis perigos em tempos de paz, pois mais vale prevenir do que remediar”, foi escrito. “A sociedade de Macau deve valorizar mais a actual situação favorável de estabilidade e prosperidade, deve ter consciência das crises, dar elevada importância aos problemas que enfrentamos no âmbito do desenvolvimento e segurança de Macau, apoiar o Governo da RAEM no reforço do desenvolvimento do sistema, resolver adequadamente os riscos, prevenir e combater resolutamente a interferência e a destruição das forças hostis e dos criminosos”, foi adicionado.

O texto destaca também que a tutela da segurança de Macau vai cumprir as “exigências feitas por” Xi Jinping e “cumprir dinamicamente a missão sagrada de salvaguardar a segurança nacional, criando uma segurança de alto nível para garantir um desenvolvimento de alta qualidade”.

Formação profissional | Fim da pandemia leva a quebra de cursos e alunos

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que, no ano passado, houve menos pessoas a frequentar cursos de formação profissional face a 2023. A quebra registou-se logo no número de cursos, 1.777, menos 7,2 por cento em termos anuais.

Já em relação aos formandos, a quebra foi de 21,8 por cento, atingindo um total de 76.385 participantes. Segundo a DSEC, esta quebra deveu-se ao facto de “alguns planos de formação temporários, implementados como resposta à pandemia, terem terminado”.

Além disso, o número de cursos destinados ao público foi de 896, menos 12,5 por cento, sendo que também aqui o número de formandos caiu 30,6 por cento, para um total de 35.140 pessoas. Por sua vez, o número de formações destinadas a empresas ou instituições foi de 881, menos 1,1 por cento face a 2023, sendo que também neste segmento o número de formandos caiu 12,3 por cento em termos anuais, com 41.245 inscrições.

Os cursos mais procurados foram o de “comércio e administração”, com 17.898 alunos, representando 23,4 por cento de todos os formandos; e o curso de “saúde”, com 10.343 alunos, possuindo a fatia de 13,5 por cento do número total de formandos.

Em termos globais, no ano passado havia 67 instituições a realizar cursos de formação profissional, apenas mais uma em relação a 2023, sendo que, em 2024, existiam mais 51 funcionários, num total de 1.885 pessoas. Desses, 1.138 eram docentes, registando-se um aumento de 54 professores a tempo inteiro ou parcial.

Hengqin | Dirigente demite-se após investigação por corrupção

O Governo da RAEM anunciou que um vice-director do Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada se demitiu “por motivos pessoais”. O comunicado não menciona que Su Kun apresentou demissão horas depois de ter sido divulgada uma investigação por corrupção a uma empresa estatal responsável pelo desenvolvimento de Hengqin

 

Com Lusa

“A pedido de Su Kun, as suas funções de assessor do gabinete do secretário para a Economia e Finanças e subchefe da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada cessam a partir de 15 de Maio de 2025, por motivos pessoais.” Foi desta forma, em apenas uma frase, que o Governo da RAEM reagiu, através do gabinete do secretário para a Economia e Finanças, a um comunicado emitido horas antes pela comissão anticorrupção da província de Guangdong a anunciar a investigação a um caso de corrupção que envolve uma empresa estatal responsável pelo desenvolvimento de Hengqin.

Su Kun é um dos seis coordenadores-adjuntos da Comissão Executiva da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau. Segundo o portal do Governo de Macau, esta comissão “assume as funções de promoção da divulgação a nível internacional, captação de negócios e investimentos, introdução de indústrias, exploração de terrenos, construção de projectos específicos e gestão dos assuntos respeitantes à vida da população”.

Coisas da vida

A demissão de Su Kun acontece horas depois da comissão anticorrupção da vizinha província de Guangdong anunciar o início de uma investigação ao antigo presidente da empresa estatal responsável pelo desenvolvimento da zona especial de Hengqin.

Num comunicado, a Comissão Provincial de Inspecção Disciplinar de Guangdong disse que o antigo presidente do grupo Zhuhai Da Hengqin, Hu Jia, “é suspeito de graves violações disciplinares”, uma frase que normalmente se refere a corrupção.

A nota, também com apenas uma frase, diz que Hu está a ser alvo de “revisão e investigação disciplinar” por parte da Comissão Municipal de Inspecção e Supervisão Disciplinar de Zhuhai.

O grupo Zhuhai Da Hengqin foi criado em 2009 pelo município de Zhuhai para a construção e desenvolvimento da zona económica especial de Hengqin e é responsável pelo investimento, financiamento, construção, operação e gestão de infra-estruturas.

No website do grupo empresarial é indicado que Hu Jia é o presidente da Da Heng Qin Investment desde Dezembro de 2013, e foi director-geral de Maio de 2012 a Dezembro de 2013. É ainda referido que Hu ocupou “cargos de gestão numa série de empresas públicas, possui profundos conhecimentos financeiros e uma vasta experiência no funcionamento e gestão de empresas”. Além disso, “tem conhecimentos únicos no que diz respeito à inovação de modelos de finanças empresariais, conceitos de conceção urbana, gestão de grupos de empresas e introdução de talentos empresariais”.

É preciso integrar

A Lusa perguntou ontem ao Governo de Macau se a demissão de Su Kun está relacionada com a investigação por corrupção contra Hu Jia, mas até ao fecho desta edição não recebeu qualquer resposta.

Sam Hou Fai, que tomou posse em Dezembro como Chefe do Executivo, tem defendido uma maior aposta na integração com Hengqin. O desenvolvimento da ilha vizinha “é a nossa principal tarefa”, disse o líder do Governo da RAEM aos jornalistas, na terça-feira.

Sam falava numa conferência de imprensa de balanço de uma visita de seis dias a Macau do principal responsável do Partido Comunista Chinês para os assuntos das duas regiões semiautónomas, Xia Baolong. Na segunda-feira, o director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau, sob a tutela do Conselho de Estado, afirmou que “a construção de Hengqin deve ser tratada como uma prioridade de Macau”.

Rui Leão, arquitecto e co-autor de “Layering the City” | Uma cidade a quatro mãos

Os arquitectos Rui Leão e Carlotta Bruni têm acumulado muitos desenhos ao longo dos anos, que foram agora materializados em “Layering the City”, obra que foi lançada na semana passada na Bienal de Arquitectura de Veneza. O livro resulta de duas vidas dedicadas à arquitectura e de duas teses de doutoramento defendidas no Royal Melbourne Institute of Technology

 

Como surge a iniciativa de publicar “Layering the City”, que faz um pouco a retrospectiva do vosso trabalho?

Este projecto nasce de um diálogo entre a minha tese de dissertação e a tese de dissertação da Carlotta [Carlotta Bruni], que ambas pegam em aspectos diferentes do nosso contributo como arquitectos para Macau, para a cidade. E, portanto, o projecto deste livro é o encontro dessas duas teses.

O título do livro remete para a ideia de uma cidade em camadas.

Não, o que acontece é que no caso dos nossos pontos de vista, meu e da Carlotta, há um trabalho trazido por cada um para o projecto, e que passa por dar uma resposta ao pedido programado, aquilo que o cliente pede, ao que vive na planta de alinhamento [do projecto], ou uma série de questões a nível cívico, do espaço público ou do direito à qualidade de vida. Há uma série de dimensões sociais [a ter em conta para] fazer espaços para as pessoas, mesmo quando são impossíveis [em termos] de política e na cidade. São essas camadas que vão entrando nos projectos e que, no fundo, passam por criar oportunidades para qualificar a vida da cidade, da pessoa, da rua. E isso não tem nada a ver com quem paga, tem a ver com o gerenciamento que o arquitecto faz na cidade através do projecto. São estas camadas, os “layers”, em que o arquitecto vai enriquecendo o que é a oferta do projecto para a cidade e cria vários micro-projectos dentro desse projecto maior, e que qualificam o passeio, os espaços sociais e o espaço público de uma maneira que não era pedida.

Portanto, num projecto de arquitectura persiste sempre a ideia das pessoas e dos espaços que habitam.

No caso de Macau há esta situação extrema em que o espaço público é sempre o mínimo, com um passeio estreitinho, e onde tudo se tem de resolver. Por haver falta de mais perfil de espaço público na cidade, este gerenciamento feito pelo arquitecto através do projecto acaba por ser uma forma de compensar a cidade, de reconciliar as pessoas com ela, ou o contrário.

A capa do livro remete para o projecto de habitação pública do Fai Chi Kei. Presumo que considerem o projecto um dos grandes marcos do vosso atelier.

Sem dúvida. Este foi o primeiro grande edifício de habitação em termos colectivos, em que tivemos oportunidade de aplicar ideias que tínhamos desenvolvidas para o espaço público, na praça do lago, ou mesmo no parque que está ao lado. Todos estes projectos têm muito envolvimento com o espaço público e esta foi a nossa primeira iniciativa com um programa de habitação. Fizemos uma série de experiências super importantes que nos permitiram demonstrar que era possível qualificar a habitação pública. Produzimos uma série de jardins, pracetas, jardins aéreos em vários pisos [do edifício]. Fomos coleccionando os pisos dois a dois e quatro a quatro para criar comunidades dentro do edifício, quase como se fosse uma farmácia chinesa que tem gavetas, sítios de interacção social desde o andar de baixo, e por aí fora. Tudo isso foi trabalhado com pequenos terraços públicos presentes ao longo do projecto, e nesse aspecto, ele é muito inovador. É, de facto, uma demonstração que, quer se trate de um edifício de habitação ou um museu, ele pode, de facto, contribuir para a qualificação de vida das pessoas. Qualquer programa [de arquitectura, no sentido de encomenda ou contrato] serve para o arquitecto agenciar isso no projecto.

Que outros projectos constam neste livro?

Temos a estação da Barra e a zona Intermodal [relacionadas com o Metro Ligeiro]. São dois projectos, para nós, muito importantes, porque também vêm reconfirmar a capacidade de sobrepor muitas e muitas camadas. No caso da estação da Barra, existe também um parque público em cima, além de se ligarem as duas marginais, a histórica e a nova. É um projecto todo em vidro, transparente, que me permite estar do lado do Matadouro e ver o rio e os barquinhos através do vidro. O edifício acaba por ser também uma espécie de polvo que faz ligações ao nível do chão, com os jardins à volta da estação que se conectam com a cobertura. Há uma certa complexidade, em que se cria quase um novo sistema de cidade e existe, ao mesmo tempo, uma sobreposição tentacular do comboio, dos autocarros e das pessoas que passam. O livro tem também projectos que não estão ainda construídos.

Como foi conjugar o conteúdo da sua tese de doutoramento com a de Carlotta Bruni?

O livro é composto por textos de alguns críticos sobre a nossa obra. Tem um texto do Jorge Figueira, por exemplo, e uma grande entrevista conduzida pela Ana Vaz Milheiro [académica] e tem depois os nossos textos.

Há uma presença do arquitecto Manuel Vicente nesta obra?

O Manuel Vicente está muito presente, até porque alguns destes projectos foram feitos em parceria com ele. Portanto, há uma continuidade destes primeiros projectos para os que vieram a seguir, já sem o Manuel Vicente, e que para nós é muito polida. No fundo, tem a ver com o que não só herdamos, mas o que trouxemos connosco do Manuel.

Apresentar esta obra na Bienal de Arquitectura de Veneza, e tendo em conta que a RAEM está também representada com uma exposição, é importante para o vosso trabalho e visibilidade do atelier?

Sim. A ideia de fazer a publicação, com a Actar Books, de Barcelona, tem a ver com o colocar a obra, e mais do que isso, a sua mensagem, que é muito específica a Macau e à nossa maneira de trabalhar, na comunidade internacional e de arquitectos, e isso passa muito pela Bienal. Foi também na Europa que se construiu um consenso ao nível das descrições [na arquitectura] desde há alguns séculos, e em que há uma discussão, nacional e internacional, em torno das questões da profissão. Queremos que a nossa obra esteja presente, quer através do livro, quer através da Actar Books, nessa comunidade internacional, para que faça parte do mundo.

Folhas e camadas

“Layering the City” pretende estabelecer com a comunidade internacional de arquitectos e apaixonados pela profissão um diálogo mostrando os últimos anos de trabalho e a visão do LBA – Arquitectura e Planeamento, de Rui Leão e Carlotta Bruni. A obra nasce da intersecção entre duas teses de doutoramente dos dois arquitectos: “Designing by Increments: opportunistic planning as urban strategy for Macau” (de Rui Leão) e “Shaping Macau’s Unpurposed Space: Design in Context” (de Carlotta Bruni).

Segundo uma nota de apresentação do livro, “as contribuições intelectuais do LBA evidenciam-se através das narrativas espaciais que integram contextos urbanos complexos com estratégias de design culturalmente sensíveis”.

Os dois arquitectos e a sua equipa “enfatizam a importância de criar espaços que se harmonizem com a sua envolvente, ao mesmo tempo que respondem às necessidades funcionais da vida urbana moderna”. Trata-se, assim, de uma “abordagem particularmente relevante em Macau, onde a justaposição do antigo e do novo é uma característica definidora da cidade”, lê-se.

Consulado | Directora da Política do Mar em Macau e HK

Marisa Lameiras da Silva, directora-geral da Direcção-geral da Política do Mar, entidade ligada ao Ministério da Economia do Governo português, vai estar em Macau e Hong Kong hoje e amanhã para uma série de actividades e encontros com governantes. Hoje, a representante do Governo português reúne, às 16h30, com a secretária para os Transportes e Logística do Executivo de Hong Kong, Mable Chan.

Amanhã, é a vez de decorrerem reuniões com governantes da RAEM, nomeadamente Susana Wong, directora dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, bem como Ip Kuong Lam, director dos Serviços de Proteção Ambiental.

Também amanhã, a partir das 11h40, decorre o fórum “Oceanos – Que Futuro”, na Escola Portuguesa de Macau, que conta também com a presença de Marisa da Silva, do cônsul, Alexandre Leitão, e Hidy Yu, presidente e fundadora da Bling Bling Ocean Foundation de Hong Kong, Hidy Yu. O Instituto Internacional de Macau acolhe amanhã, a partir das 15h, o debate “Blue Talk” sobre “Economia Azul Sustentável – Um Oceano de Oportunidades”, com o cônsul, e os académicos Cristina Calheiros, Yanan Song e Jorge Rangel, presidente do IIM.

A iniciativa “Blue Talks” nasceu da vontade do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong de “retomar o conceito e lançar o ciclo” de debates juntando os dois territórios, e que amanhã se inicia.

Leão XIV oferece mediação do Vaticano para “silenciar as armas”

O Papa Leão XIV exortou ontem os líderes mundiais a sentarem-se e a negociarem para “silenciar as armas” e ofereceu a mediação do Vaticano a todas as partes beligerantes. “A Santa Sé está disponível para que os inimigos se encontrem e se olhem nos olhos”, afirmou Leão XIV, ao discursar na audiência no Vaticano aos representantes das 23 Igrejas Católicas do Oriente.

O Papa disse ser necessário que “os povos possam redescobrir a esperança e a dignidade a que têm direito”, a dignidade da paz. “O povo quer a paz e eu, com o coração na mão, digo aos dirigentes do povo: encontremo-nos, falemos, negociemos! A guerra nunca é inevitável, as armas podem e devem ser silenciadas, porque não resolvem os problemas, mas aumentam-nos”, afirmou.

O apelo do Papa norte-americano surge na véspera de possíveis negociações na cidade turca de Istambul sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Desconhece-se ainda se as conversações de hoje poderão incluir um encontro entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Volodymyr Zelensky. Outras guerras têm causado sofrimento noutras latitudes, como no Médio Oriente, em África ou na Ásia.

Em primeira mão

Leão XIV disse na Sala Paulo VI, perante milhares de pessoas que se deslocaram para o Jubileu de países como a Síria, a Ucrânia, o Líbano e o Iraque, que as Igrejas Orientais conhecem “em primeira mão os horrores da guerra”.

“Ao ponto de o Papa Francisco ter chamado mártires às vossas Igrejas”, afirmou, citado pela agência de notícias espanhola EFE. “É verdade: da Terra Santa à Ucrânia, do Líbano à Síria, do Médio Oriente a Tigray [Etiópia] e ao Cáucaso, tanta violência”, lamentou.

O Papa, aplaudido pela audiência, disse que o horror da guerra e “dos massacres de tantas vidas jovens” deviam provocar indignação, “porque em nome da conquista militar morrem pessoas”.

Pediu que se rezasse pela paz, que descreveu como “reconciliação, perdão, coragem para virar a página e começar de novo”. “Para que esta paz se difunda, farei tudo o que estiver ao meu alcance”, prometeu. “A Igreja não se cansará de repetir: ‘Que as armas se calem’”, afirmou.

Leão XIV disse que os outros não são inimigos, mas seres humanos, “não são pessoas más a odiar, mas pessoas com quem dialogar”. O Papa pediu que se fuja “das visões maniqueístas típicas das narrativas violentas, que dividem o mundo entre bons e maus”.

Leão XIV rezou pelos cristãos, orientais e latinos, que, especialmente no Médio Oriente, “resistem nas suas terras, mais fortes do que a tentação de as abandonar”. Lançou ainda um novo apelo para que seja dada aos cristãos a oportunidade de permanecerem onde vivem “com todos os direitos necessários para uma existência segura”.

Robert Prevost, 69 anos, nascido nos Estados Unidos, mas com dupla nacionalidade norte-americana e peruana, lidera a Igreja Católica desde 08 de Maio, sob o nome de Leão XIV. Sucedeu ao Papa argentino Francisco, que morreu em 21 de Abril, com 88 anos.

A Grande América (III)

“We are going through a bad stage in the cold war-all wars have their bad stages. But in all wars when one is going through a bad stage one should concentrate first and foremost on the core of the problem; and the core for us is what is left of Western Europe.”

Weaknesses of Western Society

Pietro Quaroni

Nos últimos anos, temos assistido a um interesse sem precedentes dos americanos pela Europa. Inicialmente era “O que querem de nós?”. Uma mistura de condescendência e de desprezo simpático, que suscita respostas embaraçosas ou simplesmente o silêncio, uma vez que não estamos habituados a estabelecer o que podemos querer. Depois, a viragem brusca para “O que fariam no nosso lugar?”. Até ao contra-ataque de Trump. Com ele não há perguntas, apenas acordos pré-cozinhados ou improvisados. Tudo extremamente informal na base de que “Queremos isto, podem ajudar-nos assim, em troca recebem aquele outro. Boa sorte”. Claro que o poder de fogo é totalmente desproporcionado. Mortal é a retaliação em caso de insubordinação. O exemplo pode ser que se fizermos comércio de tecnologias de ponta com os chineses, no mínimo devemos esperar represálias em matéria de direitos aduaneiros e de regime de vistos, por cima da mesa, com passos acompanhados por baixo.

O que nos obriga a saber de antemão o que podemos querer do líder e a que preço. Nada de extraordinário. Variantes tácticas de uma estratégia. Esta deveria assentar nos nossos rendimentos geoestratégicos, que não só negligenciamos como até minamos. O sul do continente é mediterrânico em primeiro lugar, europeu em segundo. Mas vive-se este privilégio como uma vergonha. Não aproveitaram a vantagem da viragem médio-oceânica de que desfrutavam desde a abertura do Suez, que hoje corre o risco de fechar desastrosamente devido à crise do Mar Vermelho. O seu olhar marítimo vê as suas águas interiores como um limite e não como uma fonte que os empurra para o mundo e o mundo para eles.

Entre as heranças nefastas do seu europeísmo e do complexo de inferioridade que lhe está associado em relação às nações continentais, a hidrofobia é a mais prejudicial. A figura secreta da sua estratégia escapa-lhes pois são ocidentais porque são médio-oceânicos, não porque são europeus. Os seus vizinhos continentais, a começar pelos germânicos, são por vocação anti-médio-oceânicos. Desde tempos imemoriais. Como afirma a “Escola dos Annales”, o conceito de Europa nasceu contra Roma, quando a maré islâmica partiu o mare nostrum em dois, entre os séculos VII e VIII. Uma fractura que continua por resolver e a agravar-se. Continuam os italianos a ser o centro passivo, na melhor das hipóteses reactivo, do Médio Oceano, depois de terem sido o seu pivot decisivo.

Ridículo disfarçarem-se de pivots. É urgente voltar a dar sentido à sua geografia de posto avançado ocidental no meio do oceano. E que isso conte mais em relação à Alemanha e à França, que estão viradas directamente para o Oceano Mundial, enquanto eles têm de defender com unhas e dentes a saída pelo Suez e pelo Bab-el-Mandeb (O Estreito de Bab-el-Mandeb, em árabe, “porta da lamentação” é o epicentro da vasta região marítima que se estende desde o Mar Vermelho até às porções ocidentais do Oceano Índico, englobando também o Golfo de Aden e parte do Mar Arábico. Este estrangulamento, que tem apenas vinte e sete quilómetros de largura no seu ponto mais estreito, perto da ilha de Perim, separa o Corno de África do Médio Oriente e serve de antecâmara ao Canal do Suez, a passagem artificial que, desde a segunda metade do século XIX, liga o Indo-Pacífico sem limites ao sistema atlântico através do Mediterrâneo).

Juntamente com aqueles que estarão dispostos a trata-los como parceiros do meio do oceano. Em primeiro lugar, e certamente não só, os Estados Unidos. Eles sentem-se aqui em dívida para com o grande diplomata italiano Pietro Quaroni (os seus pensamentos e acções vêm descritas em “Pietro Quaroni, Italian Diplomacy and the Libyan Issue (1945-1949)” de Luciano Monzali) que pertencia a essa raça de servidores do Estado que entendiam esse privilégio como uma contribuição para a política externa. Mesmo contrariando as modas intelectuais, resistindo à tentação da burocracia e da politicagem. O seu opúsculo de ouro sobre o “Pacto Atlântico e Segurança na Liberdade”, publicado há sessenta anos, é de uma actualidade fulminante. Pietro Quaroni sugeria que se “enquadrassem numa política americana periférica” no seio da OTAN, evoluindo de uma “potência do mar” para uma “potência marítima”. O teatro talassocrático distingue-os dos seus parceiros continentais e dá-lhes maior liberdade de movimentos do que a França e a Alemanha.

Expresso na “defesa periférica baseada na cintura externa da Europa, Inglaterra, Península Ibérica, Itália e Grécia”. Não sendo uma potência naval, é capital para lhes reavivar o entendimento bilateral com a América como primeira potência mediterrânica, tal como aconteceu com a Inglaterra quando ainda dominava as ondas. Enquanto a sua política externa se manteve firme no princípio de que podiam tomar todas as liberdades excepto a de se voltarem contra a Inglaterra, qualquer tolice que tivessem feito tinha consequências graves; no dia em que esquecessem este princípio, as consequências seriam tais que ainda agora as recordariam. Hoje, em vez da Inglaterra, estão os Estados Unidos, e é a primeira necessidade de a política italiana entender-se com os Estados Unidos como pretende Giorgia Meloni. Não devem deixar-se arrastar, em nome de uma pretensa Europa, para uma política europeia que é de facto-anti-americana.

(Continua)