Fronteira de Qingmao só para pessoas com passaportes chineses

[dropcap]A[/dropcap] futura fronteira de Qingmao, que permite o acesso ao Interior da China a partir da Ilha Verde, só vai poder ser utilizada por cidadãos com passaporte chinês. A revelação foi feita, ontem, pelo secretário Raimundo do Rosário, na Assembleia Legislativa, que negou a existência de discriminação face aos residentes de Macau com passaporte português.

“Não há discriminação. Isto vai funcionar como um desdobramento da fronteira existente, não é uma nova. E, de facto, os nacionais chineses são em maioria”, começou por defender, em declarações aos jornalistas. “Se quiser, também pode dizer que há discriminação em relação aos carros porque esta fronteira é só pedonal, não há carros: os carros vão continuar a usar a fronteira antiga. A única coisa que fizemos foi desdobrar a fronteira para os peões”, acrescentou.

Raimundo do Rosário disse também que não houve indicações do Governo Central para implementar esta política e que a nova fronteira não permite entrar directamente em Zhuhai, mas antes chegar a Gongbei, como se se tivesse atravessado as Portas do Cerco.

O trabalho de construção das estacas na zona da Ilha Verde deverá ficar concluído dentro de dois meses e depois será construída a estrutura.

Revolução nos transportes

Durante a sessão de ontem, o Terminal Marítimo da Taipa, o Aeroporto Internacional de Macau e o Heliporto do Pac On foram outros dos assuntos abordados na área dos transportes. Em relação ao terminal marítimo, que recebeu muitas críticas devido à dimensão e falta de manutenção, ficou-se a saber que poderá ter no futuro ligações para Dongguan, uma das cidades da Grande Baía.

A existência de contactos nesse sentido foi revelada pela Directora de Direcção de Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), Susana Wong, que admitiu a hipótese do mesmo acontecer com mais cidades. Sobre o aeroporto, Simon Chan, presidente da Autoridade de Aviação Civil, explicou que nesta altura a maior limitação é o espaço para estacionar os aviões.

Há projectos para alargar as instalações, contudo, como envolvem aterros, é necessária a aprovação de Pequim, que está a analisar uma proposta. Finalmente a mudança do heliporto, que actualmente está no Porto Exterior de Macau e vai ser transferido para o Pac On, deve ser terminada até ao final do corrente ano.

Ponte HKZM | Secretário acusa Hong Kong de deixar RAEM pendurada

O Governo quer estacionamento para carros de Macau na fronteira de Hong Kong, mas as autoridades congéneres não se decidem. Mak Soi Kun diz que os locais estão a ser injustiçados e questionou o trabalho de Raimundo do Rosário. O secretário não se ficou, recusou ser parvo e acusou Mak de dizer uma coisa à imprensa e outra na Assembleia Legislativa

 

[dropcap]O[/dropcap] facto dos carros de Macau não terem uma zona de estacionamento na fronteira com Hong Kong aqueceu o debate de ontem, na Assembleia Legislativa. Em causa esteve uma interpelação do deputado Mak Soi Kun em que sublinhou haver um tratamento injusto, uma vez que os carros de Hong Kong têm um lugar para estacionar no lado da RAEM, mesmo que não entrem no território, mas o mesmo tratamento não é dado aos carros e residentes de Macau, no lado de lá.

No entanto, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, recusou responsabilidades e deixou muito claro que o assunto foi abordado desde o início, e por mais do que uma vez, com as autoridades de Hong Kong, que não tomam decisões para construir o estacionamento.

“Os deputados, se calhar, entendem que somos todos parvos ou preguiçosos. Antes de ser construída a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau falámos com eles [responsáveis de Hong Kong].

Explicámos que do nosso lado há auto-silo, mas do deles não… A resposta é que a construção do auto-silo está a ser estudada…” começou por revelar o secretário. “Perguntámos e disseram-nos que estão a estudar criar um espaço para que as pessoas de Macau estacionem os carros, para que possam do lado de lá, apanhar passageiros, se for o caso, e regressar. Temos questionado os responsáveis sobre este assunto, mas não obtemos resposta”, acrescentou.

Raimundo do Rosário revelou que a ausência de um compromisso também afecta a melhoria do funcionamento dos autocarros dourados, ou seja os shuttles que atravessam a ponte, uma vez que não há resposta de Hong Kong. Situação que se repete com os planos para implementação de autocarros privados que circulem entre Zhuhai, Macau e Hong Kong.

“Têm de perceber só pagámos 12 por cento do valor da ponte. Cerca de 80 por cento foi pago pelo Interior da China e Hong Kong. Por isso, na tomada de decisões somos uma minoria”, apontou também Rosário.

Dois discursos

Após o secretário ter negado ser parvo, Mak Soi Kun afirmou não ter tido a intenção de criticar o trabalho feito: “Não me entenda mal, eu sempre o elogiei por ser uma pessoa inteligente. Se não fosse inteligente, o senhor não teria sido convidado para vir para Macau para o Governo. Vocês não são parvos”, respondeu o vencedor das eleições de 2017. “Com o seu carisma sei que é mais fácil para Macau negociar [com Hong Kong], e de forma mais rápida”, frisou o legislador.

As palavras não convenceram o macaense, que indicou que o deputado tem tido um discurso diferente aos jornais: “Parece que entre o que disse hoje [ontem] e ontem [quarta-feira] adoptou um discurso diferente. Não sei ler chinês, mas o que vem nos jornais de ontem são críticas e não é isso que disse hoje”, acusou o secretário. Depois, introduziu um momento de humor na resposta.

“Estou próximo do fim do meu mandato. Mas, acho que o deputado Mak deveria ser o próximo secretário”, atirou.

Já em tom mais sério, sobre as negociações com Hong Kong, Raimundo do Rosário admitiu que foram “um fracasso” e deixou um desabafo: “É muito difícil alcançar os nossos objectivos. Fiz todos os esforços, mas não consegui”, concluiu.

Teresa Nogueira, da Amnistia Internacional em Portugal, sobre a China: “Há ofensivas culturais e de sedução”

Teresa Nogueira coordena o co-grupo sobre direitos humanos na China da Amnistia Internacional em Portugal e defende que o estabelecimento de Institutos Confúcio no país serve para a propagação da ideologia do Partido Comunista Chinês. A responsável alerta também para a vontade de Xi Jinping de mudar o sistema de direitos humanos dentro da ONU

 

Na última visita que fez a Macau, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, disse que Portugal e China não convergem em matéria de direitos humanos. Considera que o discurso político tem feito a devida referência a esta questão?

[dropcap]N[/dropcap]ão. Não só o discurso político, como os próprios media portugueses não transmitem nada do que se passa em relação aos direitos humanos na China. Não sei até que ponto isso resulta, ou não, de alguma pressão económica indirectamente ligada à China, mas a verdade é que não fazem eco de nada. Já desistimos de fazer manifestações sobre os direitos humanos na China, porque são tantos os polícias que parece que estamos em território chinês. Estou a referir-me à última visita…

Do presidente Xi Jinping?

Não. Aí resolvemos não fazer nada porque já tínhamos tido uma má experiência. Quando veio cá o presidente da Assembleia Popular Nacional (Zhang Dejiang, em 2017) pedimos, com imensa antecedência, uma manifestação a ser feita junto ao Palácio de Belém. Quando lá chegamos havia também uma manifestação de chineses pró-Governo da China, além de uma manifestação dos Falun Gong. A polícia mandou-nos afastar um pouco da entrada do palácio e quando o presidente chegou os chineses avançaram a desfraldaram uma bandeira de apoio ao Governo da República Popular da China (RPC) e ficámos confinados a um canto.

Nota então uma diferença de actuação das autoridades.

Noto que há uma certa protecção dos interesses chineses por parte do Governo português e uma condescendência face ao tema dos direitos humanos. Algo que está relacionado com a compra dos interesses vitais de empresas portuguesas e da obtenção de financiamento chinês.

Como explica o nascimento do movimento pró-China em Portugal?

São chineses que estão cá estabelecidos ou que são da embaixada. Agem com uma certa liberdade. Fui informada que quando veio cá o presidente Xi Jinping, os Falun Gong organizaram uma manifestação e foram empurrados com violência por grupos de chineses. Aí, a polícia actuou, separou as pessoas, não houve confrontos violentos, mas houve uma tentativa.

A visita do presidente Marcelo Rebelo de Sousa à China está agendada para Abril. Que expectativas coloca no seu discurso político relativamente aos direitos humanos?

Temos provas de que o presidente Marcelo é sensível a essa matéria. Tivemos prova disso quando ele fazia comentário político na televisão. Mas, sendo ele presidente, e estando Portugal tão dependente, e cada vez mais, de financiamentos chineses, acho que vai ter muita dificuldade ou não vai mesmo levantar questões relacionadas com os direitos humanos. Não acredito que o presidente se sinta à vontade para falar dessas questões sensíveis.

A China admitiu a existência de campos de detenção de uigures e disse que existirão até serem necessários. Tendo em conta as últimas reuniões na ONU sobre este assunto, a resposta de Pequim fica aquém daquilo que a comunidade internacional esperava?

A AI sempre pediu visitas a Xinjiang para estudar a situação dos direitos humanos, mas isso tem sido sempre recusado pela China. Quando a China diz que vai manter os campos até estes serem necessários, quer dizer que estes se vão manter até conseguir transformar os habitantes de Xinjiang em pessoas obedientes ao Governo chinês.

E falantes de mandarim.

Claro. Esta tem sido a política em relação ao Tibete, continua a ser, e agora em Xinjiang. Há cerca de um milhão de pessoas em campos de concentração que os chineses chamam de transformação pela educação.

Foi tornado público que os detidos são usados como mão-de-obra barata para a produção têxtil em fábricas norte-americanas sediadas em Xinjiang.

Também sabemos que, apesar de extremamente explorados, e de as pessoas terem condições muito penosas de trabalho, mesmo assim sentem um alívio face ao que sofriam nos campos de concentração. Temos declarações de pessoas nesse sentido.

A ONU deveria ter um papel mais activo nesta matéria?

Devia, mas a China, ao pertencer ao Conselho de Segurança, tem o poder de veto, e opõe-se às decisões mandatórias da ONU. Aliás, opôs-se uma moção de condenação do Myanmar e da Síria, e, portanto, com esse poder de veto, o poder da ONU é relativo. A ONU fez várias declarações, nomeadamente através do comité para a erradicação da pobreza extrema, quando se deslocou a Xinjiang e ao Tibete, e verificou que a pobreza nestas regiões é grande.

Em que sentido?

Houve diminuição da pobreza na China, mas no Tibete e em Xinjiang a pobreza é imensa. Isso resulta de uma política colonialista da China, que coloca pessoas de etnia Han nas regiões que passam a deter as principais actividades económicas e que só empregam Han. Os tibetanos e uigures limitam-se a actividades marginais. Esses colonos também exploram as matérias-primas destas duas regiões, que são muitas. O Tibete tem a maior mina de ferro do mundo, que está a ser explorada pelos chineses Han sem qualquer benefício para o Tibete. Há também a questão das florestas, pois metade do Tibete está desflorestado.

Passa-se fome nestas regiões ou estamos a falar de outro tipo de pobreza?

Há baixos salários, dificuldade em encontrar emprego, mas também fome.

Poderemos ver desaparecer a cultura uigur ou tibetana no prazo de dez anos, vinte anos?

Acho que voltará a ressurgir clandestinamente. Além de haver sempre resistentes, que são torturados e enclausurados, há uma transmissão que se faz de pais para filhos, e um dia mais tarde as coisas renascem. São etnias diferentes, com as suas tradições, língua e escrita próprias, é algo que demora muito séculos a desaparecer.

A política “Uma Faixa, Uma Rota” é muito abordada do ponto de vista económico, mas decerto terá também implicações em termos de direitos humanos. O que preocupa a AI relativamente a esta política?

Devo dizer que esta política representa uma viragem de 180 graus na política chinesa, porque durante 30 anos a China andou a dizer que era um país em desenvolvimento e que o que tinha era de conquistar tempo e esconder as suas capacidades. De repente, Xi Jinping começou a afirmar que queria construir uma comunidade com um destino comum para a humanidade, liderada pela China. Ele vai tão longe que quer dominar e moldar as mentalidades, e mudar o sistema de direitos humanos da ONU, substituindo o conceito de direitos humanos pelo conceito de “ganhar-ganhar”. Este baseia-se nos acordos, geralmente comerciais, que a China estabelece com os Estados, em que, de acordo com Xi Jinping, todos ganharão. Mas quem ganha? São os Governos porque, na realidade, a população não ganha.

São casos de exploração laboral?

Sim. No Quénia, na construção de um caminho-de-ferro, os quenianos que lá trabalharam sofreram abusos e foram discriminados por supervisores chineses. Em Moçambique, a exploração de zircónio e titânio, numa aldeia próxima de Nampula, deu origem à quase total destruição da aldeia costeira, graças a cheias que nunca sucediam. Outro exemplo de violação dos direitos humanos é a exploração de cobalto na República Democrática do Congo, feita através de subsidiárias chinesas. A extracção do minério é feita em condições terríveis de salubridade, debaixo da terra e com imensa poeira, utilizando também trabalho infantil. O cobalto é depois exportado para a China para fazer as baterias de telemóveis e carros eléctricos. Se é isto que a China pretende substituir na ONU, está provado que quem ganha são os políticos, mas que não há a mínima preocupação de quem faz os acordos.

Teme que venham a ocorrer casos de exploração laboral na Europa relacionados com esta política, ainda que com outra dimensão?

As consequências são de condicionamento de certos países em relação a votações, nomeadamente na comissão de direitos humanos. Lembro o caso da Grécia que, em 2017, se opôs a uma resolução da União Europeia condenando a China por violação de direitos humanos. Porquê? Porque estava dependente da China em relação à exploração do Porto de Pireu. É isso que poderá vir a acontecer em Portugal. Há pouco tempo o primeiro-ministro António Costa disse que a cooperação com a China tem corrido muito bem e não tem afectado em nada o procedimento de Portugal, mas a verdade é que há uma ausência de condenação dos direitos humanos na China. Mas queria acrescentar que, associada à Rota da Seda, há também a construção de várias infra-estruturas. A posição da AI é que, em alguns casos, essas infra-estruturas, apesar de terem melhorado as condições das populações, mostram o reverso da medalha, de que já dei alguns exemplos. Há depois as ofensivas culturais, e diria de sedução por parte da China.

Em que sentido?

As ofensivas culturais fazem-se através dos Institutos Confúcio.

Considera então que há aí uma tentativa de controlo por parte da China.

É a ideologia. Pode parecer que os institutos são como a Alliance Francaise ou o British Council, mas não são, porque se implantam nas universidades e tentam propagar o pensamento dominante na China aos académicos.

Não há então apenas a aprendizagem do mandarim.

Sim. Houve uma tentativa de censura de um artigo sobre a China apresentado numa conferência por parte de uma pessoa do Instituto Confúcio. Foi censura de alguém, mas que não resultou. Além disso, estes institutos, juntamente com a aprendizagem do mandarim, ensinam a cultura chinesa e dão bolsas de estudo para os alunos estudarem na China, para se integrarem no país, para lhes impregnar o pensamento chinês. A sedução é também feita em relação a muitos políticos e autarcas, e não só. Até pessoas proeminentes em certos sectores.

Pode dar exemplos?

Lembro-me de um caso recente de uma pessoa portuguesa ligada à segurança alimentar que foi convidada para ir à China com tudo pago, mas que não se deixou enganar e viu o que se estava a passar e as restrições que lhe davam. Viu a tentativa que foi feita para lhe tirarem o passaporte quando chegou. Recordo-me também do presidente da Câmara Municipal de Lisboa que foi convidado para ir à China e que já fez acusações muito abonatórias sobre o país. E como ele outros políticos são convidados, há geminação de cidades portuguesas com cidades chinesas, há visitas pagas em que são mostradas maravilhas chinesas. Essas pessoas tornam-se depois cavalos de Tróia da China nos respectivos países.

Que perfil traça do presidente Xi Jinping? É visto por muitos analistas como o novo Mao Zedong.

E podemos estar perante um novo Mao. Estas medidas de colocação dos uigures em campos de aprendizagem pela educação, que são, no fundo, campos de concentração, replicam bastante bem o que o Mao fez com a Revolução Cultural, mas agora com a tecnologia e a Internet. Em Xinjiang há câmaras de vídeo em todo o lado e reconhecimento facial. Em toda a China está a implantar-se o sistema de crédito social em relação ao comportamento das pessoas.

É um perigo real de controlo de mentalidades?

Sim, há um controlo e um auto-controlo. Isso leva as pessoas a pensarem duas vezes antes de terem contactos com pessoas que não estão afectas ao regime.

Investigador português analisou revistas literárias de Macau do início do século XX

[dropcap]D[/dropcap]uarte Drummond Braga, investigador, apresentou esta quinta-feira em Lisboa, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), um trabalho intitulado “Revistas literárias de Macau do início do século XX”.

Ao HM, o investigador falou de um trabalho que surge no seguimento de pesquisas já realizadas sobre as revistas literárias em língua portuguesa publicadas em Goa. Duarte Drummond Braga optou por analisar três publicações da primeira década do século XX, nomeadamente a Revista Oriente, dirigida pelo bispo José da Costa Nunes, a Revista Macau, dirigida por Humberto Avelar, e o Boletim Eclesiástico, uma publicação da Diocese de Macau.

“Queria saber como estas revistas se comportavam em termos de produção literária ou de crónicas e como desenvolviam essa parte mais cultural. Já havia um trabalho desenvolvido pelo Daniel Pires sobre os jornais do século XIX, que são bastante políticos, e parece-me que esta dimensão literária tarda em aparecer, só surge mais nos anos 60 ou 70 do século XIX”, contou.

Nas bancas existiam “revistas mais culturais, políticas mas também literárias, com várias rubricas”. “No caso da Revista Macau, esta tinha uma posição mais anarquizante, à esquerda, enquanto que outras têm uma posição mais conservadora. Há diferentes posicionamentos políticos”, adiantou o académico.

A Revista Oriente era uma publicação “cultural católica e não tanto um órgão da Igreja, como era o caso do Boletim Eclesiástico”, sendo “notória” a diferença de conteúdos face ao que era escrito na Revista Macau.

Esta era “mais próxima de uma esquerda republicana, com questões ideologicamente diferentes da Revista Oriente, que por vezes tinha uma posição um pouco mais conservadora, mas não necessariamente”. “Talvez em confronto com a outra ela pareça um pouco mais conservadora”, frisou.

O facto de não dominar a língua chinesa fez com que Duarte Drummond Braga se tenha debruçado apenas sobre estas publicações. Mas havia outras, não apenas escritas em português e chinês.

A questão dos pseudónimos

Questionado sobre a ligação que estas revistas tinham com a imprensa da época, Duarte Drummond Braga garantiu que ainda lhe falta desenvolver mais investigação nessa área. “Havia jornais católicos que já se publicavam, como A Voz do Crente, que é do século XIX, e havia também jornais católicos do mesmo período.”

Duarte Drummond Braga denota também as dificuldades em investigar o jornalismo de Macau dos primórdios do século XX, pelo facto da maioria dos artigos publicados não serem assinados. Daí que não possa garantir se as revistas literárias da primeira década mostraram ou não novos autores macaenses.

“Não posso garantir que não haja colaboradores macaenses, até porque no jornalismo desta época há muito a questão do pseudónimo e das iniciais, e isso torna bastante complicada a investigação com o jornalismo desta época. Mas parece-me que a produção literária de macaenses é uma coisa que aparece mais tarde”, frisou.

O tema da palestra de ontem, inserida no Seminário Permanente de Estudos sobre Macau, ciclo de conferências da FCSH-UNL, poderá um dia dar origem a um livro. “Havendo interesse de alguma instituição em apoiar esse tipo de obra, porque não?”, questionou Duarte Drummond Braga.

Esta não é a primeira vez que o académico se debruça sobre os escritos do Oriente. Duarte Drummond Braga estudou a relação entre Goa e Macau na literatura portuguesa ao abrigo de uma bolsa de pós-doutoramento da Universidade de São Paulo, o projecto “Pensando Goa (Fapesp)”. Além disso, é autor da obra “As Índias espirituais. Fernando Pessoa e o Orientalismo português”.

Comissão Eleitoral tailandesa atribui vitória nas legislativas a partido pró-militar

[dropcap]A[/dropcap] Comissão Eleitoral (CE) tailandesa anunciou ontem em conferência de imprensa os resultados preliminares das eleições gerais de domingo passado, em que o partido pró-militar Phalang Pracharat se impôs com 8,4 milhões de votos.

Em segundo lugar ficou o Pheu Thai, do antigo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, deposto pelos militares, com 7,9 milhões de votos, enquanto o recém-formado partido Anakot Mai ficou em terceiro lugar, com 6,2 milhões.

Cerca de 38,2 milhões de tailandeses (74,69%) votaram nas eleições, as primeiras desde golpe de estado de 2014.

Na distribuição dos 350 lugares eleitos pelos círculos eleitorais, o Pheu Thai conseguiu eleger 137, seguido do Phalang Pracharat (97), Bhumjaithai (39), Partido Demócrata (33) e o emergente Anakot Mai (30).

Faltam atribuir os 150 lugares restantes reservados segundo a legislação eleitoral tailandesa aos partidos concorrentes.

Não há anda data para este anúncio final do resultado das eleições. A Comissão Eleitoral, nomeada pela junta militar que governa o país desde 2014, estava sob forte pressão para acelerar a contagem da votação de domingo e responder às preocupações sobre possíveis irregularidades.

Os Estados Unidos, a União Europeia, a Austrália e outros países pediram que a comissão eleitoral abordasse essas preocupações.

Os utilizadores das redes sociais foram menos diplomáticos e criaram ‘hashtags’ como ‘CheatingElection19’ (‘Fraudeeleitoral19’) e ‘ECBusted’ (‘CEapanhada’).

Idai: Buzi, em Moçambique, secou e renasce das cheias anunciadas por uma corrente de bois e cabritos

Por Fernando Peixeiro, da agência Lusa

 

[dropcap]A[/dropcap] vila de Buzi, centro de Moçambique, inundada e cercada pelas águas na sequência do ciclone Idai, está seca e os habitantes estão a refazer as vidas, embora se lembrem que tudo começou com bois e cabritos no rio.

Um dia antes de as águas chegarem e inundarem a vila, deixando-a isolada do resto do país, como conta à Lusa um habitante de Buzi, começou a ver-se na corrente do rio bois e cabritos, uns mortos e outros vivos.

O que é isso? A corrente está a puxar boi? Alguns meteram-se à água, conseguiram levar os animais para terra. Conta o mesmo habitante que o fenómeno deixou algumas pessoas alerta, que nessa noite já não dormiram.

O resto já é conhecido, a chegada das águas, depois do ciclone que destruiu quase tudo, as pessoas refugiadas em locais altos, nos telhados das casas. Toda a gente de Buzi tem uma história assim para contar.

A de Joana Francisco, agora calmamente a lavar roupa num alguidar, é assim, a de alguém que não tem casa, não tem comida e não tem “panela para cozinhar”.

A de alguém também vários dias em cima de um telhado, à espera que a água descesse e que chegasse ajuda.
Desde o final da semana passada essa ajuda também se faz em português, pela mão da Força de Reacção Imediata, constituída por militares dos três ramos, Marinha, Força Aérea e Exército.

Na tarde de quarta-feira em seis botes, a maior parte com fuzileiros, fizeram-se ao mar para, por um lado ir levar alimentos a aldeias na região de Buzi e por outro providenciarem água potável.

O tenente Santos Moreira, que comandou a força, explicou à Lusa que a Força de Reacção Imediata está a trabalhar desde sexta-feira passada para “dar o apoio, com géneros alimentares e farmacêuticos, e apoio médico-sanitário, às comunidades isoladas na região de Buzi”.

No cais da vila sede de Buzi, no rio com o mesmo nome, para carregar os botes com alimentos e medicamentos, o responsável explicou que os fuzileiros transportaram os alimentos para Buzi numa primeira fase e que agora é dali que partem carregados para chegar a pessoas que estão a passar necessidades, “que estão sem água e sem alimentos”. Desde a semana passada este vaivém é diário.

Uma pequena parte da força de fuzileiros, com dois elementos de engenharia e um farmacêutico, já tinha ficado num ramal do rio Buzi com uma bomba de purificação de água, para conseguir dar de beber a uma aldeia que também ficou isolada devido às cheias.

“Temos encontrado populações ainda isoladas, com muita carência alimentar, e problemas de saúde graves, e temos tentado suprimir com o pouco que temos. Ainda não conseguimos ver grandes melhorias, infelizmente, mas estamos cá para tentar melhorar isso”, disse Santos Moreira à Lusa.

Neste vaivém o que mais o marcou? Santos Moreira pensa um pouco, mas acaba por dizer que o que marca é a destruição das aldeias, as necessidades das populações, e especialmente as crianças, “que perderam os pais, irmãos, crianças com sete anos a tomar conta de irmãos de três”.

São de facto as crianças que caracterizam a vila, agora seca, de Buzi, dezenas e dezenas, de todas as idades, enchendo as ruas, caminhando ao lado dos visitantes, dando-lhes a mão, pedindo uma fotografia. Dos seus rostos e sorrisos não transparece o drama que terão vivido há pouco mais de uma semana.

Ele está marcado nas paredes, das casas, dos bancos, do hospital, a mostrar que a água subiu meio metro, um metro, mais e mais.

Está marcado nas palavras de Ibraimo Hassan Abdulla, dono de uma loja que diz estar “completamente vazia”, mas que está cheia: a água destruiu 80% da mercadoria.

O drama está marcado no gesto de alguém que se baloiça agarrado a um quase caído cabo de alta tensão, no sorriso triste de uma mulher do Bairro Massane, a secar o arroz que ficou debaixo de água e que agora cheira mal. Dá para comer? “Dá, com sofrimento”.

E marcado ainda nas mãos do homem que lava um colchão ou na cara da jovem que seca dezenas de caixas de fósforos numa esteira.

Ou nas palavras de Luís Fernando, um jovem que vive com a mãe na aldeia de Muchenesse, a poucos quilómetros de Buzi, onde também se dormiu nas árvores, onde há diarreia e malária, e onde há pessoas, muitas pessoas, que dormem em taludes abrigadas por dois paus espetados no chão e um pedaço de plástico.

Elton Americano, médico chefe distrital de Buzi, também mandou colocar na rua muitos aparelhos do hospital para secarem. Nunca se sabe, um dia que volte a luz pode ser que trabalhem.

No hospital, depois do ciclone, “entrou água em todas as enfermarias”, subiu mais de 60 centímetros e a maior parte dos aparelhos “ficou submersa”.

Mas diz com orgulho: “Sempre tivemos doentes internados e assistimo-los, dentro das nossas possibilidades. Em nenhum momento o hospital fechou, podia não ter assistência regular, mas havia visita para doentes e sempre um enfermeiro para medicar os pacientes”.

Tranquilo, diz que os casos que mais têm aparecido, antes de barco e agora por terra, são mais relacionados com traumatismos e feridas. “Trabalhávamos de forma improvisada”, diz.
E também de forma tranquila conta o que se passou há duas semanas.

A água chegou à vila já de noite, pelas 21:00, as pessoas foram para zonas altas e terraços, não chovia (a água vinha do rio que transbordou), as pessoas comeram “o que tinham de reserva”, não havia comunicações, e na manhã seguinte as águas começaram a descer.

“Praticamente foi uma noite que Buzi ficou cheio de água”, depois água começou a descer todos os dias. Americano não dramatiza e diz que a cidade está a refazer-se.

Três jovens a carregar sacos de arroz, uma menina a vender tomates e cebolas, uma mulher a vender panelas de alumínio de todos os tamanhos, um homem a vender baldes com pregos à beira da estrada, um barco a chegar da Beira, o cheiro a bolos fritos. Parece que está.

Ministro timorense é o novo presidente do Fórum da região Ásia-Pacifico

[dropcap]O[/dropcap] ministro para a Reforma Legislativa e Assuntos parlamentares de Timor-Leste, Fidelis Manuel Magalhães, foi ontem eleito presidente do Fórum Ásia-Pacífico para o Desenvolvimento Sustentável.

O Fórum está reunido em Banguecoque, na Tailândia, até amanhã para analisar o progresso da região Ásia-Pacífico nos objectivos de desenvolvimento sustentável propostos na Agenda 2030, com altos funcionários dos governos, funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) e de representantes da sociedade civil e do sector privado.

Fidelis Manuel Magalhães considerou, em entrevista à ONU, que a eleição para presidente do Fórum Ásia-Pacífico para o Desenvolvimento Sustentável é “um reconhecimento da liderança de Timor-Leste e um reconhecimento do compromisso” do país “em atingir os objectivos de desenvolvimento sustentável”.

O ministro timorense considerou ainda o Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030 como exemplo do empenho de Timor-Leste em ir ao encontro de objectivos de desenvolvimento e compromissos com a comunidade internacional.

Fidelis Manuel Magalhães adiantou que no próximo ano serão conduzidas negociações entre a ONU e Timor-Leste para preparar um novo quadro de assistência da ONU ao desenvolvimento (UNDAF, na sigla em inglês) até 2025, com o objectivo de que o país asiático de língua portuguesa saia da lista de países subdesenvolvidos.

A lista conhecida como LDC (Least Developed Countries) e adoptada anualmente pela ONU nomeia um grupo de países que têm baixo Produto Interno Bruto (PIB), activos humanos baixos e que enfrentam grande vulnerabilidade económica.

O presente quadro UNDAF para Timor-Leste indica que até 2020 Timor-Leste “será uma sociedade justa, onde a dignidade humana e direitos humanos são valorizados, protegidos e promovidos por leis e cultura”.

O mesmo documento indica que, até 2030, “Timor-Leste será uma nação forte, coesiva e progressiva, onde os direitos e interesses dos cidadãos mais vulneráveis são protegidos”.

O UNDAF é uma base de dados de indicadores e taxas que o país deve melhorar (seja no acesso à educação, cuidados de saúde, água potável e electricidade, entre outros), para proporcionar condições de vida ao nível dos países desenvolvidos.

Segundo a organização do Fórum Ásia-Pacífico, os participantes farão, durante três dias, uma análise profunda do progresso da região sobre vários objectivos de desenvolvimento sustentável, sobretudo na área da educação, trabalho, desigualdades, acção climática, paz e parcerias.

No discurso de abertura a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, assinalou que nota uma “liderança decisiva” dos governos da região Ásia-Pacífico com a Agenda 2030 e elogiou os investimentos e parcerias dos países no desenho de estratégias e políticas para um desenvolvimento progressivo, com maior cobertura de dados e estatísticas.

Este encontro serve para preparar o Fórum Político de Alto Nível, que se realiza de 09 a 18 de Julho em Nova Iorque, Estados Unidos, com o tema “Capacitar pessoas e assegurar inclusividade e igualdade”.

Tiago Monteiro ovacionado no regresso ao WTCR, ambiciona lutar pelo título

[dropcap]O[/dropcap] português Tiago Monteiro recebeu ontem a maior ovação da noite, na cerimónia de apresentação da Taça do Mundo de Carros de Turismo (WTCR), durante a qual foram apresentadas as três principais novidades do campeonato.

Tiago Monteiro, que este ano vai defender as cores da equipa KCMG com um Honda Civic, está de volta ao campeonato ano e meio após um grave acidente sofrido precisamente em Barcelona, numa sessão de testes, em Setembro de 2017.

“Não esperava. Senti um calor muito grande dentro do peito. É por este sentimento de família que quis regressar à competição. Havia algumas pessoas que não acreditavam que seria possível, mas muitos destes que aqui estavam nunca duvidaram”, declarou à agência Lusa o piloto portuense, ovacionado de pé no momento em que subiu ao palco.

Tiago Monteiro disse acreditar poder “lutar pelo título” em 2019, apesar de saber que “será difícil”, pois “a concorrência é grande”.

O WTCR, que arranca no dia 7 de Abril em Marrocos, terá este ano uma nova corrida, no circuito de Sepang, na Malásia, nos dias 14 e 15 de Dezembro, que servirá de encerramento.

“O título deixa de ser discutido na lotaria que é o circuito de Macau”, explicou o director da competição, François Ribeiro.

Pela primeira vez haverá também uma corrida nocturna, precisamente no traçado malaio, uma vez que o fim de semana será repartido com uma prova do Campeonato do Mundo de resistência em motas. “Será um desafio muito grande, mas era preciso arriscar e trazer novidades”, apontou Ribeiro, que conduziu a cerimónia no Centro de Memória de Barcelona.

Outra alteração prende-se com o sistema de pontuação, que foi alargado a mais cinco pilotos. Se até 2018 apenas pontuavam os 10 primeiros de cada corrida, agora pontuam os 15 melhores.

Haverá ainda cinco pontos suplementares a distribuir pelas duas sessões de qualificação, a de sábado e a de domingo. A pontuação foi, também, uniformizada em todas as provas, deixando de haver circuitos que valiam mais do que outros.

Além de Tiago Monteiro, regressam ainda o francês Yvan Muller, antigo campeão, bem como o britânico Andy Priaulx ou o brasileiro Augusto Farfus (ex-campeão mundial de GT). O sueco Johan Kristoffersson, bicampeão mundial de ralicrosse, também se juntou à grelha do WTCR, que reúne sete campeões mundiais da Federação Internacional do Automóvel (FIA).

Pela primeira vez, haverá ainda um construtor chinês, o Lynk & Co, com quatro carros.
Ao todo, serão 26 os pilotos titulares com 15 marcas diferentes, aos quais se juntarão até um máximo de seis ‘wild cards’ (convidados).

Portugal acolhe a sexta jornada, de 5 a 7 de Julho, em Vila Real, tendo a possibilidade de juntar a Tiago Monteiro mais dois pilotos locais. Bruno Correia continua a ser o ‘dono’ do ‘safety car’ (carro de segurança) na maioria das provas, à excepção de duas, em que será substituído por outro português, Pedro Couceiro.

Aos 57 anos, Gabriele Tarquini é o mais velho campeão em título e este ano procura “renovar o objectivo”. Os pilotos iniciam esta quinta-feira uma jornada de dois dias de testes no circuito de Barcelona, a última antes do início da competição.

Ballet Nacional da China apresenta-se no Porto e em Lisboa

[dropcap]O[/dropcap] Ballet Nacional da China apresentou-se ontem no Porto, e sábado e domingo, em Lisboa, com três peças do seu repertório, no ano em que comemora 60 anos, anunciou a Companhia Nacional de Bailado.

A apresentação dos espectáculos está integrada nas comemorações do 40.º aniversário das relações diplomáticas entre Portugal e a China, do 20.º aniversário da transferência da administração de Macau para a China, e do Festival de Cultura Chinesa em Portugal.

O Ballet Nacional da China apresenta-se em Portugal com três peças do seu repertório: o segundo ato de “Giselle”, uma obra do Romantismo, “The Yellow River”, de Chen Zemei, bailado que combina a dança clássica e a dança chinesa, com música inspirada na Yellow River Cantata, composta durante a Segunda Guerra Mundial, pelo músico chinês Xian Xinghai, e “Carmen,” do coreógrafo francês Roland Petit.

Paralelamente, está prevista a extensão do intercâmbio cultural entre os dois países, com a apresentação da Companhia Nacional de Bailado nos dias 11 e 12 de Junho, em Pequim, com o espectáculo “Quinze Bailarinos e Tempo Incerto”, com direcção, cenários e figurinos de João Penalva e coreografia de Rui Lopes Graça.

O Ballet Nacional da China foi fundado em Dezembro de 1959, e o seu repertório inclui ainda “O Lago dos Cisnes”, “Dom Quixote”, “Onegin”, “A Pequena Sereia”, “La Bayadère” e “Cinderella”, assim como criações originais como “The Red Detachment of Women”, “The New Year Sacrifice”, e “The Yellow River”.

A companhia, dirigida pela bailarina e ensaiadora Feng Ying, tem um repertório de mais de duzentas peças.

Pequim enfatiza progresso do Tibete e critica antigos dirigentes

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades chinesas responsáveis pelo Tibete, umas das regiões da China mais vulneráveis ao separatismo, elogiaram ontem o desenvolvimento do território, e acusaram a antiga classe dominante de manter o povo tibetano sob servidão feudal.

Quando se celebram 60 anos desde uma frustrada rebelião contra o domínio de Pequim, o vice-governador do Tibete Norbu Dondrup enfatizou o progresso na economia, saúde e educação desde 1959, e criticou o autoproclamado governo no exílio, estabelecido pelo líder político e espiritual dos tibetanos, o Dalai Lama.

Dondrup falava à margem da apresentação de um documento difundido pelo Conselho de Estado chinês, que acusa a antiga classe dominante do Tibete de manter o povo tibetano sob “servidão feudal através de uma teocracia”.

“Milhões de servos foram submetidos à exploração e opressão cruéis, até à reforma democrática de 1959”, lê-se no documento, intitulado “Reforma democrática no Tibete – Sessenta anos depois”.

“O controlo das mentes através da religião” era uma forma de supressão, considera o documento.

O Dalai Lama, 83 anos, vive exilado na vizinha Índia, na sequência da frustrada rebelião de 1959.
Dondrup negou que a cultura tradicional e a religião do Tibete estejam a ser reprimidas, mas disse que a China actuaria contra a “interferência estrangeira”.

O vice-governador negou ainda a existência de qualquer apoio significativo para que o Tibete seja uma entidade política independente. “A questão da independência tibetana não existe”, realçou.

Do que andamos a fazer neste planeta

[dropcap]A[/dropcap] tradição do policial é a tradição da boa gestão dos “saberes”. Há diversas receitas, todas elas abertas a grande inventividade, mas o nó górdio da teia é sempre o mesmo: o leitor só pode – ou, pelo menos, só deve – saber o que há a saber no final da narrativa. Nem sempre assim foi, apesar de haver quem diga que a Bíblia foi o primeiro grande policial que apareceu no planeta (o argumento é de policial e nem sei como é que Simenon não pôs Maigret a tratar dele: de quem foi a culpa de nós todos, mortais, termos aparecido neste canto do cosmos?).

Na maior parte das narrativas pré-modernas, as ferramentas literárias que todos interiorizámos há muito (complicação, clímax, desenlace, etc.) não passavam de coisas de extra-terrestre. As narrativas do mundo antigo e medieval eram crípticas por natureza, ambíguas, construídas de propósito para que algo de insondável se pudesse, aqui e ali, vir a revelar. Como se um segredo governasse o mundo e fosse missão do homem interpretá-lo.

O romance moderno que foi aprendendo a libertar as urdiduras com Cervantes, Diderot ou Stern e que, depois, as vincou com Stendhal, Tolstoi ou Eça, passou a democratizar o segredo: com a devida fleuma, passaram-se a conceder ingredientes ao leitor para que, ao longo do enredo, ele pudesse conjecturar e até imaginar esse segredo que, no final, e após situações mais ou menos extremadas e polidas, lhe era dado. Geralmente, não do modo como o esperava, mas tal como o desejaria. Sim: o desejo é mais forte do que as promessas de redenção.

Antes destes arrufos modernos e frágeis, tudo era realmente diferente. Tomemos como exemplo os Portenta, também considerados presságios. No fundo, eram imagens acopladas a mensagens literárias enigmáticas que, até ao limiar de setecentos, estavam associadas aos defeitos inusitados de parto, dissociando-se da maioria das monstruosidades que correspondiam sobretudo a criaturas que, segundo as mais distintas lendas, povoavam a periferia distante e desconhecida do globo.

Estamos a falar de um mundo tal como Richard of Haldingham o desenhou no século XIII, de acordo com o tradicional modelo T-O (o chamado mapa de Hereford). Ao centro do esquema de cor dourada, por cima do traço horizontal da letra T, surgia a Ásia e, por baixo desse mesmo traço, à esquerda, surgia o Nilo e, à direita, o Dom. Por sua vez, à esquerda e à direita do traço vertical da letra T (o Mediterrâneo), aparecia a Europa e a África, respectivamente. À volta do T, duas enormes circunferências davam a ver, não o que poderíamos pensar ser a atmosfera, mas sim oceano, apenas oceano sem fim. É para além desse desconhecido e vasto oceano periférico que, segundo diversas tradições, o mundo andava povoado… por criaturas monstruosas.

Para Santo Agostinho, a natureza estava, de facto, platonicamente dividida em duas partes: a da ordem e visível, que permitia ler os sinais da divindade, e a do inesperado e do incompreensível (ou do maravilhoso) que tinha uma única finalidade: mostrar aos humanos que existem diversos graus do “saber” que só a deus dizem respeito. Não é por acaso que, ainda no século XVI, a palavra curiositas* remetia, em grande medida, para um certo tom nada cordato de heresia.

Nesta história sem fim que é a história da gestão dos saberes que pululam nos relatos da tradição literária (e imagética), o segredo foi quase sempre um presente adiado. Foi-o nas versões medievais da carta do Preste João das Índias, nas imagens de Ravenna (1557), de Boaistuau (1560) e em muitas das que aparecem na Chronica mundi de Schedel (1493). O segredo só viria a ser devolvido ao comum dos mortais, quando, na alvorada do policial e do gótico (lembro-me de Os Crimes Da Rue Morgue de Poe), os crimes em ambiente lúgubre, as tramas em atmosfera soturna e nocturna e os novos labirintos urbanos passaram a conviver com um novo formato de enredo que passou a perseguir um objectivo claro: revelar, apenas no desenlace, um segredo. Mas revelá-lo. Mesmo se fosse imaculado. Mesmo que fosse comprazidamente subentendido. Entre nós, já sem falar dos segredos da (malvada) insolvência dos bancos, nem o de Fátima resistiu.

Faltará só explicar o que andamos a fazer neste planeta.


[1] Edward Peters, Libertas Inquirendi and the Vitium Curiositas in Medieval Thought in La notion de liberté au Moyen Age – Islam, Byzance, Occident, Société d´Édition Les Belles Lettres, Paris, 1985, pp. 89-98 (91).

Sem anestesia possível

[dropcap]Q[/dropcap]uando entrei, pediram que me deitasse, baixasse a saia, levantasse a camisola e virasse o rosto para a parede. O médico não tinha como saber que eu já conhecia cada uma daquelas agulhas desde o dia anterior, do Youtube. Vai sentir um frio, uma sensação gelada, do spray anestesiante. As nádegas a descoberto, os olhos fechados. Vou começar. Um jogo de adivinhação sobre a minha carne, um-dó-li-tá. Imaginei uma mão aberta e uma faca a saltar por entre os dedos, tentando acertar no vazio. Primeiro, não doía, era apenas uma impressão enervante. Tentava não pensar nos meus pais na sala de espera. A minha mãe tentara entrar, mas fora impedida. Preferi assim. Peço desculpa, mas tenho de encontrar o lugar exacto da anestesia. Primeiro não doía, mas depois já não era um jogo afinal, ele fazia a agulha saltar vezes sem conta, aparentemente sem ritmo ou destino, até que encontrou o que buscava, e eu percebi que a anestesia era só para a carne, como é que eu não pensei nisso, como poderia não me doer o osso, como é que eu não previ isto, como é que eu. Peço desculpa. Peço desculpa. Peço desculpa.

Pensava que conseguia fazer isto sem chorar. Sem gritar. Não é só a agulha. Quem nunca levou uma injecção no rabo? Ninguém me estava a dar nada. Eu vim aqui para me tirarem uma parte de mim. Talvez para depois me tirarem a minha vida, ou o que eu acho que tenho de meu, e de vida.

Vim aqui para me cravarem uma agulha o mais fundo possível, eu que já tive tantas agulhas espetadas em mim nestes últimos anos, que viro sempre o rosto para o lado e que, quando finalmente não quis fazê-lo, fui obrigada. Vim aqui para sentir alguma coisa a ser aspirada de dentro de mim, de um lugar secreto onde nunca ninguém me tocara. Tente pensar em alguma coisa agradável. Tentei, tanto. Estava um dia tão bonito. A praia. A minha irmã. Procurei-a em vão.

Nem ela me poderia valer naquele momento. Mais tarde, dir-me-ia que a mãe entrou pelo quarto a chorar e a anunciar que eu iria morrer. A nossa mãe, sempre tão dramática, hipocondríaca, fatalista. Mas eu ainda não sabia, ainda estava ali na sala pequena, dividida em duas por uma cortina branca, tudo era branco, os ossos são brancos…

Estou aqui deitada como se fosse um chão de calçada portuguesa e o médico está a picar, picar, picar e finalmente eu consigo ouvir e sentir o meu osso a partir, este som é o meu osso a partir, quero que isto páre, eu que nunca parti nada, nem a cabeça, não literalmente pelo menos, de órgãos partidos só sei mesmo do coração, como é que se sobrevive a isto, uma fractura interna, é disto que falam quando falam disso, e agora a agulha aspira qualquer coisa e então é isto um mielograma e então é isto uma biópsia. A voz tremia, crescia numa sucessão de ais que eu cada vez controlava menos, e no entanto não me mexia. Não podia. É tão difícil respirar enquanto se sofre. Também isto me escapara. Esta simples noção, este malabarismo íntimo que eu julguei ter dominado a vida toda e que, agora, ficava provado por agulha mais carne mais osso mais medula que, afinal, eu nada sabia. Não havia Mário Viegas a recitar Armindo Mendes Carvalho. Ai a dor que tenho aqui!

A enfermeira sentou-se aos meus pés. Segurou-me na mão esquerda, braço estendido. Devo tê-la agarrado de volta, com uma força que me escapava por todos os outros lados. Um anjo que eu não via mas que visitava a minha cama, como Jesus no conto do Eça. Minha querida, tenha calma, já não falta muito, como se chama? Hesitei. Pela primeira vez na minha vida, durante segundos, eu não me lembrava do meu nome. Sentia-me prestes a perder os sentidos. Solucei uma vez mais, e disse. Consegui dizer o meu nome. Depois, acabou.

Limpeza, um penso, portou-se muito bem, vai ficar tudo bem. Daqui a duas semanas saberá os resultados, se houver alguma coisa antes nós dizemos. Esperar e sofrer, sempre. Fiquei em silêncio. Agora deixe-se estar deitada de barriga para cima uns quinze ou vinte minutos, já venho ver como está.

Olhei o tecto, incapaz de mais. Atrás da cortina, uma voz feminina com sotaque espanhol dizia, Vai sentir uma sensação fria, vou aplicar um spray. Momentos depois, um velho, Ai minha Nossa Senhora. Ai minha Nossa Senhora. Chorei por ele. Ai pobre daquele velhinho.

Vieram buscar-me. Percebi, então, que coxeava. Tantas primeiras vezes em tão pouco tempo.

Levaram-me para uma sala com cadeirões e sentei-me. Reconheci pessoas da sala de espera, o velhote que estava com o filho, um outro homem, a moça grávida. A televisão ligada mas ninguém lhe prestava atenção. Deve haver algum estudo que comprove que o zumbido de uma televisão ligada no canal mais desinteressante possível acalma os nervos físicos e burocráticos dos pacientes, como deve haver um estudo a comprovar o contrário.

Eu tinha parado de chorar. Mas havia uma rapariga à minha frente, muito pálida, careca, a quem vieram dar um pequeno-almoço líquido. Ela estava cansada e tinha covas debaixo dos olhos.

Fechou-os várias vezes, e dormitava de vez em quando. Quando as enfermeiras saíram, a minha e a dela, quando eu olhei bem em volta, um homem de pijama e pantufas, a rapariga grávida, os outros, mas sobretudo a rapariga careca, chorei como nunca antes. Pensei, não vamos todos sobreviver. Pensei, eu não vou sobreviver, eu vou morrer mesmo, estou doente, quantas vezes pode alguém escapar, quantos exames feitos e quantas certezas do que não tenho e iguais incertezas sobre o que tenho, quanto tempo mais posso aguentar sem a má notícia derradeira.

Chorava de medo, vergonha, desespero e dor, e já todos deveriam ter passado pelo mesmo, pois ninguém disse nada, como se eu ali não estivesse, ou estivesse tão calma e seca como eles, e talvez eles estivessem pior, até. Eu ainda não tenho nada, posso não ter nada, até podemos todos sobreviver, tens de aprender com isto, nada te ensinou mais na vida do que isto, vais morrer. O tempo passado num hospital, qualquer que seja a situação, é o mais próximo do Inferno que podemos experienciar.

Não fui trabalhar. Mandei uma foto do meu rabo à minha irmã. Sentia-me enjoada e fraca. O que dormi pareceu-me pouco. A viagem de carro de casa dos meus pais para a minha foi difícil, com uma respiração consciente e forçada para evitar vomitar a todo o custo. Coxeei durante uma semana, tempo que demorei a conseguir deitar-me novamente de barriga para cima. Quando deixei de precisar de pensos, apenas um ponto ínfimo mostrava que algo se passara, e era difícil dar com ele à primeira, por mais vezes que me visse ao espelho. Como se nada fosse. Como se tivesse sido um sonho. Mas não tem sido isso a minha vida? Tanta ironia. E eu tão pequenina.

Ácaros & Orgasmos

[dropcap]G[/dropcap]eorge Steiner, no discurso de agradecimento ao honoris causa atribuído pela Universidade de Lisboa, teve este desabafo: «É possível que as humanidades nos tornem menos empáticos, que elas nos proporcionem uma enorme riqueza interior que nos torna menos capazes de reagir imediata e vigorosamente à necessidade humana. A necessidade humana é frequentemente estúpida, desordenada desprovida de beleza». (Das cinzas do silencio à palavra de fogo, Porto, Exclamação, 2018)

E proferiu este juízo contra si mesmo; toda a vida defendeu que as humanidades humanizavam, ei-lo aos oitentas a pôr a hipótese contrária, embora sob ressalva: «espero estar enganado».

A hipótese levantada é terrível. Talvez a frequência excessiva da arte nos amortize a sensibilidade, reféns da literatice. Quanto mais consumidores da cultura e da arte mais alheios à sorte do que está “lá fora”? Ver a beleza de uma fotografia de Sebastião Salgado afinal imuniza-nos de questionar a pobreza?

Talvez o mal emerja do cruzamento de quatro coisas: uma mutação da cultura de massas, o “apagamento” da mathesis e da memória e a bomba demográfica.

Quando havia um vislumbre de mathesis (a hipótese de uma ciência geral que articule os diversos horizontes do saber) confiava-se numa maior correspondência entre a sensibilidade, o conhecimento (científico ou artístico) e a moral.

Hoje, alia-se à suposta falência da mathesis uma depauperação da memória e a pulverização da cultura humanística, degradada pela asfixiante auto-referencialidade das indústrias culturais – a minha filha de 15 convidou-me a ver “um filme espectacular com a Lady Gaga” e afinal era a quinta versão de A Star is Born (fraquita). Mas como ela não tem memória das outras… E lembremos como as televisões viram sobre si mesmas “as janelas para o mundo” e se saciam na circularidade auto-referencial (- fenómeno a que Eco chamava a neo-televisão).

Entretanto, o conhecimento foi preterido pelo entretenimento, o qual sustém o seu foco na sociabilidade: se não vemos a última série de televisão, a peça de teatro mais badalada ou lemos os livros mais vendidos, quem somos? As indústrias culturais oferecem catálogos de “novidades”: as emboscadas e solicitações em que enredamos gratuitamente o nosso tempo. E o gosto médio vai baixando de nível porque, de sempre, a qualidade que emerge de uma “sensibilidade prospectora” não pode ser a de todos, nem muito menos de massas. E aquela implica trabalho, erudição, distância e risco.

Se hoje se confunde na democracia (do gosto) a hierarquia da popularidade com a do prestígio, foi a forma do sistema desviar para as performances económicas os critérios que deveriam assentar na qualidade formal e orgânica das obras. Porém, apesar de José Rodrigues dos Santos vender como pãezinhos, é um lixo, não é Lobo Antunes: diferença facilmente verificável no modo como um e outro trabalham a linguagem, os seus supostos materiais.

Recordemos uma maravilhosa formulação do maliano Tierno Bokar, segundo o seu discípulo Hampaté Bâ:

“A escrita é uma coisa e o saber outra. A escrita é a fotografia do saber mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem.”

Bokar prevenia, como Platão, contra o fetichismo da letra impressa, mas o seu aviso ajusta-se hoje igualmente aos estereótipos das indústrias culturais e até ao nó cego cognitivo que impera nas redes sociais.

Ao mesmo tempo, o mercado oferece um índice de satisfação imediata que se entrosa num tipo de cultura remix (Rui Chafes), de horizontalidades, onde tudo se equivale e rapidamente fica obsoleto. Hoje, quando a opinião de um especialista se equivale à de um ignaro nas redes sociais estamos diante de letras mortas, das fotografias do saber. Contudo, o gosto da maioria, ilusoriamente reforça-se com a explosão demográfica; à maioria, que tem sempre um anseio pela metade, um querer pela metade, é indiferente que seja absolutamente distinto saber como funciona a máquina de lavar roupa ou como apertar o botão.

Quando estabelecemos com a cultura uma mera relação petisqueira, heterónoma, i.é, de divertimento e descarte, não se produz aí, em termos humanos, nenhum campo novo de valores e de relação. Pelo contrário, a experiência estética profunda, implica uma vulnerabilidade – nela, a nossa percepção sobre as coisas, o mundo, as relações, mudam; despertamos para um novo sentido, talvez o transe dessa luz de que fala Bokar e que pode estar obstruída ou ser desvelada.

Como escreve o filósofo Byung- Chul Han: «Não podemos ver de forma diferente sem nos expormos a uma vulneração. Ver pressupõe a vulnerabilidade». Eis porque de comum vemos melhor as nossas tradições de fora delas do que no seu seio, ou percebemos finalmente certas complicações da nossa vida, mercê de um distanciamento.

Do lado do entretenimento temos o Gosto (convertido em tique facebookiano), do lado da reminiscência (diria o Platão) gera-se uma flutuação das “placas continentais” que muda a nossa topografia interior. Deste lado a experiência, do outro a ilusão conectiva.

E afinal, é mesmo impossível uma mathesis? Não. É propaganda da cultura de massas, para fazer cumprir o ideário hegemónico do neoliberalismo, o qual subentende uma sinonímia do sujeito ao consumidor, esquema em que o sonho e a criatividade imaginativa ou rememorativa são menorizados na medida em que se associa a juventude a uma rápida busca ansiosa que privilegia a eficiência. Daí que a noção de subjectividade se veja substituído pela de performance.

Mas continua a haver outros paradigmas mais fecundos.

Se abraçarmos o pensamento da complexidade, de que Edgar Morin nos abriu as portas, notamos cadeias de transmissão entre diversos saberes que se observam simultaneamente nas ciências, nas artes e na vida. Há outros caminhos.

Embora tudo isto dê trabalho, e aqui se exija a educação, até para compreendermos que o trabalho que o conhecimento dá pode não só dar prazer como (um efeito lateral) até recompensar-nos. A sabedoria, meus caros, pode ser uma felicidade, já as indústrias culturais… finam-se numa lógica masturbatória: momentânea e aquém do outro.

IPOR | Bru (Margarida) Junça conta estórias portuguesas em Abril

[dropcap]E[/dropcap]stá de regresso a iniciativa do Instituto Português do Oriente (IPOR) intitulada “Ler, Escrever, Contar”. Este ano o evento é protagonizado pela autora Bru (Margarida) Junça, que estará em Macau entre os dias 1 a 5 de Abril para contar estórias em língua portuguesa.

A autora é natural da cidade de Évora e vai estar presente em cinco sessões de leitura, que vão decorrer na Escola Portuguesa de Macau, Jardim de Infância D. José da Costa Nunes, Escola Primária Luso-Chinesa da Flora, Escola Luso-Chinesa da Taipa e Escola Oficial Zheng Guanying. Um total de 500 crianças irão participar nesta iniciativa, que inclui ainda várias sessões com formandos dos cursos do IPOR e duas sessões públicas no dia 5 de Abril, a decorrer na Livraria Portuguesa, destinadas a crianças e adultos.

O IPOR considera que “as acções de narração de contos com contadores portugueses têm mostrado ser uma boa metodologia para desenvolver o contacto com a língua portuguesa, nomeadamente através de estímulos à imaginação dos ouvintes que, não raras as vezes, são também participantes activos”.

Liu Xia e Tsai Hai-Ru no Museu de Arte Contemporânea de Taipé

Na próxima segunda-feira é inaugurada em Taipé “Atemschaukel”, uma exposição conjunta de Liu Xia e Tsai Hai-Ru, ambas oriundas de famílias marcadas pelo drama das prisões políticas. A mostra abre a janela para um mundo de desolação e medo através da poesia, fotografia e pintura

 

[dropcap]T[/dropcap]aipé recebe uma mostra de arte que em nada vai agradar a Pequim, sem surpresas. Na próxima segunda-feira, 30 de Março, é inaugurada a exposição “Atemschaukel”, que reúne trabalhos de Liu Xia e Tsai Hai-Ru, e que estará em exibição até 26 de Maio no Museu de Arte Contemporânea de Taipé.

A mostra é composta por fotografias a preto e branco e aguarelas, salpicadas com poesia, que procuram transmitir as angústias de duas mulheres que viveram dramas familiares resultantes de dissidência e perseguição política.

“Atemschaukel” reúne poemas e 26 fotografias a preto e branco de Liu Xia, viúva do dissidente chinês, Liu Xiaobo laureado com o Prémio Nobel da Paz em 2010, assim como dois trabalhos inéditos de Tsai Hai-Ru, cujo bisavô, avô e pai foram todos prisioneiros políticos durante décadas na sequência do activismo pró-democracia.

A mostra tenta levar ao público um vislumbre do mundo das artistas, marcado pela desolação, incerteza, medo e impotência que resultaram da perseguição política dos seus familiares.

De acordo com a organização, a mistura de poemas e arte gráfica nos trabalhos de Liu são “de partir o coração”. Quanto à contribuição de Tsai Hai-Ru, destaque para o quadro “Floating”, que representa uma figura nua ladeada por um poema com o título “A Jail Beyond the Prison Walls: Untold Stories by Female Family Members Of White Terror Victims”. A artista oriunda de Taiwan participa ainda com uma instalação intitulada “Flower of Life”, composta por uma espécie de planta de era conhecida pela sua resiliência e por florescer no escuro.

Dor e arte

O título da exposição, “Atemschaukel”, que traduzido à letra quer dizer respiração pendular, foi inspirado num romance de Herta Müller, vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2009. O livro retrata nas experiências da minoria romena/germânica nos campos soviéticos de trabalhos forçados. O título descreve a precisa noção da respiração e de sobrevivência que ganha uma dimensão maior durante clausura.

Os trabalhos de Liu Xia e Tsai Hai-Ru enquadram-se neste panorama emocional e estético, salpicados por momentos de raiva, histeria e impotência.

Taxa de desemprego em Macau mantém-se em 1,7%

[dropcap]A[/dropcap] taxa de desemprego em Macau, entre Dezembro de 2018 e Fevereiro deste ano, foi de 1,7 por cento, mantendo o mesmo nível registado entre Novembro de 2018 e Janeiro último, anunciaram ontem as autoridades.

Esta percentagem demonstra que Macau se encontra numa situação de pleno emprego, ou seja, o território está livre de desemprego cíclico e que quem procura um trabalho, em condições normais, não demora muito tempo a empregar-se.

No período em análise, 6.700 pessoas estavam desempregadas, menos de 200 do que as registadas entre Novembro e Janeiro passados, indicou a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) de Macau, em comunicado.

A população activa totalizou 394.800 indivíduos e a taxa de actividade foi de 70,8 por cento. A DSEC destacou que o número de desempregados à procura do primeiro emprego constituiu 6,6 por cento do total da população desempregada, o que representa uma quebra de 7,1 pontos percentuais.

Entre Dezembro e Fevereiro, o número de empregados no sector do jogo desceu, registando-se um aumentou de trabalhadores nos hotéis e restaurantes, apontou a DSEC.

Em comparação com o período de Dezembro de 2017 a Fevereiro de 2018, a taxa de desemprego diminuiu 0,2 pontos percentuais.

Acidentes de trabalho | Cinco de 12 mortes relacionadas com infracções às normas de segurança

[dropcap]A[/dropcap]s infracções às normas de segurança e saúde ocupacional estiveram na origem de cinco de 12 mortes resultantes de acidentes de trabalho no ano passado. A multa mais elevada aplicada aos empregadores foi de 10.500 patacas

Os acidentes de trabalho fizeram no ano passado 7.362 vítimas, incluindo 12 mortais. Do total de fatalidades, cinco resultaram de infracções às normas de segurança e saúde ocupacional. Os dados foram revelados ontem pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).

Em conferência de imprensa, a chefe do Departamento de Segurança e Saúde Ocupacional, Lam Iok Cheong, indicou que os cinco trabalhadores que perderam a vida devido a infracções às normas de segurança e saúde ocupacional pertenciam ao sector da construção, dos quais dois eram ilegais. Dos cinco casos, quatro redundaram em multas para o empregador – o remanescente encontra-se ainda em fase de investigação – com a multa mais elevada a corresponder a 10.500 patacas.

No total, ao longo de 2018, a DSAL instaurou 144 processos por infracções às normas de segurança e saúde ocupacional, aplicando multas no valor de 652 mil patacas – a esmagadora maioria versando a construção civil. Ao longo do ano passado, a DSAL emitiu 41 ordens de suspensão de obras, das quais 39 versando estaleiros.

Conflitos laborais

A DSAL facultou ainda dados relativos aos processos instaurados devido a conflitos laborais: 1.673 contra 1.860 em 2017. Do total, foram tratados 1.688, dos quais apenas sensivelmente 4 por cento foram remetidos para os órgãos judiciais. Os 1.673 processos envolveram 2.914 trabalhadores, dos quais 1.284 eram não residentes.

Sarampo | Serviços de Saúde estimam que 95% dos clínicos estejam imunes

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde estimam que 95 por cento dos profissionais de saúde de Macau estejam imunes ao sarampo. A estimativa tem como base os dados da população em geral. No entanto, está a ser feito o levantamento de informações detalhadas, esperando-se resultados para breve

Está a ser levado a cabo um levantamento para apurar quantos profissionais de saúde estão imunes ao sarampo, ou seja, quantos foram vacinados ou já contraíram a doença anteriormente.

Os resultados devem ser conhecidos em breve, com os Serviços de Saúde a admitirem a hipótese de os divulgarem já amanhã.

A recolha de dados sobre o ponto de situação da vacinação junto de todas as instituições médicas e de saúde está a ser efectuada por via de um inquérito a preencher até hoje. Só nos últimos dias, foram vacinados 933 profissionais, indicou o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, ao HM.

Após terem admitido anteriormente desconhecer a proporção de profissionais – como médicos e enfermeiros – que se encontram vacinados ou imunes ao sarampo (por terem contraído anteriormente a doença), os Serviços de Saúde facultaram ontem uma estimativa: 95 por cento do total. Essa percentagem, segundo explicou o coordenador do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC), é calculada com base num estudo sobre a imunização da população em geral. Em causa, um estudo levado a cabo anualmente, por aquela subunidade dos Serviços de Saúde, a partir de testes serológicos, ou seja, exames realizados com amostras de sangue, sobretudo para detectar a presença de anticorpos gerados pelo sistema imunitário contra antigénios pertencentes a agentes infecciosos, de modo a determinar a sua quantidade ou concentração.

“Acreditamos que o nível de cobertura das vacinas dos profissionais de saúde seja muito melhor” do que a dos residentes em geral, porque “têm, logicamente, mais conhecimentos em relação à saúde” do que a média normal da população, realçou Lam Chong.

Segundo estimativas oficiais, Macau conta com um universo aproximado de 9.500 profissionais de saúde, distribuídos pelos hospitais, centros de saúde, clínicas ou consultórios. Só para se ter uma ideia, no final do ano passado, existiam 1.633 médicos e 2.235 enfermeiros.

Tratamentos isentos

Entre os 23 casos de sarampo sinalizados desde o início do ano existem trabalhadores não residentes que, em situações normais, teriam de pagar os encargos relativos à prestação de cuidados de saúde, mas estão a receber tratamento gratuito, segundo confirmou Lei Chin Ion ao HM.

À luz da lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis, os não residentes infectados ou suspeitos de terem contraído doenças transmissíveis podem, tendo em conta o interesse público e a sua situação económica, ser isentos do pagamento total ou parcial pelo director dos Serviços de Saúde.

CTM assina acordo com Universidade de Macau para desenvolver 5G no território

[dropcap]A[/dropcap] Companhia de Telecomunicações (CTM) anunciou ontem um lucro de 941 milhões de patacas em 2018 e assinou um protocolo com a Universidade de Macau para desenvolver a tecnologia 5G no território.

O responsável da CTM, Vandy Poon, e o reitor da Universidade de Macau, Song Yonghua, assinaram um acordo de colaboração na área da investigação e desenvolvimento da tecnologia 5G em Macau, a grande aposta da empresa no próximo ano. Em conferência de imprensa, a empresa salientou que “2019 vai ser um ano importante para o desenvolvimento do 5G” e garantiu estar preparada para a construção da rede em Macau, de forma a contribuir para a criação de uma cidade inteligente.

No que diz respeito ao 5G, Vandy Poon referiu que o Executivo e os CTT estão a ultimar o quadro legal para a implementação da tecnologia, e que nesse aspecto a CTM foi auscultada. Quanto ao número de licenças que espera serem emitidas, o director não se alongou muito, mas vincou que em termos de concorrência a empresa de telecomunicações iria “fazer ouvir a sua voz”, acrescentando que Macau é um mercado pequeno e que a Grande Baía surge como um espaço aliciante para expandir negócios.

Ainda no tópico do projecto regional, outros responsáveis da operadora de telecomunicações, como o seu director executivo, Vandy Poon, asseguraram que uma das prioridades da CTM passa pela participação na Grande Baía. Em causa está a possibilidade da CTM avançar para um ‘mercado’ de 70 milhões de habitantes e com um Produto Interno Bruto que ronda os 1,3 biliões de dólares, maior que o PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.

Com esta aposta, a CTM quer ajudar a “desenvolver Macau num centro mundial de turismo e lazer e numa plataforma de cooperação comercial entre a China e os países lusófonos”, de forma a promover uma economia diversificada, segundo a própria empresa.

Em 19 de Setembro do ano passado, a CTM tinha inaugurado em Hong Kong o primeiro centro de dados fora do território, um investimento focado na expansão da empresa e no reforço dos projectos da Grande Baía e Macau Digital. “O que torna especial este projecto é que somos os primeiros a ser aprovados pelo Governo” e pelo Gabinete de Protecção de Dados fora do território, sublinhou então Vandy Poon à Lusa.

O reforço da segurança no ‘backup’ de dados e na capacidade de recuperação dos mesmos, devido à redundância de uma rede que funciona em dois locais diferentes, em Macau e, agora, em Hong Kong foi apresentado com “uma grande vantagem para as pequenas e médias empresas”, algo que o risco associado a fenómenos como os tufões Hato e Mangkhuto veio salientar, enfatizou o responsável da CTM.

SAAM | Lucros subiram 15 por cento em 2018

[dropcap]O[/dropcap]s lucros líquidos da Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) cresceram 15 por cento no ano passado para os 89 milhões de patacas, em comparação com o período homólogo.

A informação foi avançada ontem pela empresa que explicou o aumento nos ganhos “essencialmente” com as “obras de colocação de redes e dos serviços de abastecimento de água”.

Também no ano passado o consumo total de água cresceu para os 90,94 milhões de metros cúbicos, um acréscimo de 2,8 por cento face ao ano transacto. A maior proporção do consumo foi na península de Macau, com 62,6 por cento, seguida pelas Ilhas com 36,4 por cento.

Justiça | Revista WGM acusada do crime de publicidade e calúnia

[dropcap]A[/dropcap]ndrew Scott, director-executivo da empresa O Media, que detém a revista especializada em jogo World Gaming Magazine (WGM), e Ben Blaschkle, jornalista da publicação, estão a ser acusados da prática de um crime de publicidade e calúnia contra a empresa Ho Tram Project Company.

O caso, que se encontra em julgamento no Tribunal Judicial de Base (TJB), centra-se num artigo publicado a 28 de Janeiro de 2016 sobre um acidente de viação com trabalhadores da empresa, no Vietname, que resultou na morte de uma pessoa. Na altura, foi escrito no portal que tinham morrido três pessoas, entre elas uma grávida, mas a informação era errada.

Ontem, Andrew Scott foi ouvido, admitiu o erro publicado na primeira versão do artigo online, mas negou qualquer intenção em prejudicar a empresa. “Quando soubemos que houve um erro fizemos logo a correcção”, respondeu, depois da juíza do processo ter dito que poderia ter havido intenção de prejudicar a empresa. “Nós fazemos notícias deste género sobre todas as operadoras, mesmo de Macau. Não se pode dizer que foi o caso de uma revista de moda que, de repente, escreveu um artigo sobre jogo. Este tipo de artigos faz parte do nosso dia-a-dia”, acrescentou.

O responsável considerou também que a informação errada era de pormenor: “Claro que me arrependo de termos cometido um erro de detalhe”, sublinhou. Por outro lado, defendeu que os erros acontecem em publicações de todo o mundo e que o procedimento normal passa pela correcção.

Ainda segundo Andrew Scott, a revista contactou três vezes a empresa para obter esclarecimentos, mas sem sucesso.

A WGM é uma revista de Macau que cobre o sector do jogo na Ásia. Já a Ho Tram Project Company dedica-se ao desenvolvimento de casinos e opera principalmente no Vietname.

Justiça | Rita Santos revela envio de explicações ao Governo Português

Rita Santos confessou ter tomado comprimidos para dormir após um artigo em que foi acusada, a par de José Pereira Coutinho, de vender passaportes portugueses. O Ministério Público (MP) pediu a condenação do director do jornal pela prática do crime de abuso de liberdade de imprensa

 

 

Rita Santos precisou de tomar comprimidos para conseguir dormir, logo após a publicação do artigo de opinião do jornal San Wa Ou que acusava os conselheiros das comunidades portuguesas de venderem passaportes.

A versão foi relatada ontem em tribunal, no processo em que o director do jornal, Lam Chong, responde pela prática do crime de abuso de liberdade de imprensa, na forma de difamação agravada. Além disso, os conselheiros das comunidades portuguesas, Rita Santos, José Pereira Coutinho e Armando de Jesus, exigem-lhe o pagamento de uma indemnização que ronda as 50 mil patacas, cada, num total 167.748 patacas.

“Não consegui dormir. Tomo comprimidos todos os dias para poder dormir. Pode perguntar ao meu médico. Não entendo as razões que levaram Lam Chong a fazer isto connosco. Ainda mandámos um esclarecimento por escrito para ser publicado no jornal, mas não publicou nada”, disse Rita Santos, no Tribunal Judicial de Base (TJB).

Contudo, apontou que Lam Chong mudou de comportamento face às pessoas com passaporte português, após a transição e o estabelecimento da RAEM. “Agora quando nos encontra no elevador nem nos fala. Antes do estabelecimento da RAEM ainda falava. Não sei porque mudou de atitude para com os portugueses”, revelou.

Durante o depoimento a conselheira emocionou-se algumas vezes, o que levou o representante do Ministério Público (MP) a pedir-lhe que se acalmasse.

Segundo a também presidente da Assembleia Geral da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), o artigo publicado em 2017 colocou o Conselho das Comunidades Portuguesas em causa e motivou uma reunião com o então cônsul português, Vítor Sereno.

“Nenhum facto do artigo é verdadeiro. Foi dado a entender que na altura havia conluio com o cônsul. Por isso, reuni com o cônsul e tivemos de enviar uma carta imediatamente para o Ministério dos Negócios Estrangeiros [do Governo Português] e para o Gabinete de Ligação”, explicou.

Rita Santos relatou ainda que o conselho das comunidades, que funciona na sede da ATFPM, apenas se limita a ajudar idosos e não-falantes de portugueses a marcar deslocações ao consulado para renovar passaportes. A conselheira negou qualquer cobrança pelo serviço e disse desconhecer a origem do valor de 18.000, que o artigo indicava como custo de um passaporte.

MP pede condenação

Nas alegações finais, o MP pediu a condenação de Lam Chong com base em dois argumentos: a ausência de provas nos autos para o conteúdo do artigo e ainda porque o arguido optou por manter o silêncio, em vez de apresentar factos para substanciar o que tinha sido escrito.

No mesmo sentido, também o advogado de acusação, Bruno Nunes, pediu a condenação e sublinhou que Lam Chong havia enlameado o nome dos três conselheiros. “Acusou os conselheiros de cobrarem 18.000 renminbis e deu a entender que havia conluio com o Consulado [de Portugal], sabendo que ia atingir e enlamear o nome dos conselheiros perante a Assembleia Legislativa, Conselho das Comunidades, Governo Português, Assembleia da República e, não menos importante, perante as famílias”, realçou Bruno Nunes.

Por sua vez, o advogado de defesa, Vong Keng Hei, defendeu a absolvição, argumentando não haver provas dos alegados danos cometidos. Além disso, o advogado referiu que os nomes dos conselheiros nunca foram mencionados no artigo.

A decisão ficou agendada para o dia 26 de Abril. Em caso de condenação, Lam Chong arrisca uma pena de prisão até 2 anos ou uma multa de, pelo menos, 120 dias.

Consulado em causa

Uma das questões que levou os conselheiros a apresentar queixa deveu-se aos danos para o nome do Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong. A situação foi reconhecida, ontem, por Rita Santos. “Ele [cônsul de Portugal] está ciente da gravidade do artigo, porque fala de conluio com funcionários do consulado. Foi por isso que decidimos avançar com o caso. Queríamos mostrar que era uma pura mentira e que afecta a nossa imagem”, apontou.

AL | Director dos SAFP diz que Macau tem um Governo “íntegro”

[dropcap]A[/dropcap]pesar da ausência de Macau no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional, o Governo local pode ser considerado como “íntegro”. A ideia foi deixada ontem pelo director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), Eddie Kou em resposta ao deputado Pereira Coutinho que questionava o Governo acerca das medidas a tomar para poder integrar o referido Índice.

Macau saiu do ranking da organização em 2012 por faltarem informações sobre o território. “O Governo não consegue facultar estes dados e também não é exigido que o faça. O Comissariado contra a Corrupção (CCAC) tem feito este trabalho e, como há esta restrição, vamos reforçar as outras vertentes referentes à criação de um Governo íntegro, como a formação e a fiscalização, para melhorar o nível de integridade de Macau”, indica Eddie Kou.

De acordo com o responsável, Macau tem-se mostrado empenhado “no desenvolvimento de um Governo íntegro” e tem mantido “uma atitude de abertura face à avaliação do nível de integridade realizada por entidades internacionais ou organizações não governamentais”. Apesar da posição do território ser pior do que a das regiões vizinhas, o valor de referência destas avaliações é, ainda assim, tido como “positivo”, apontou.

Críticas paralelas

A defesa da existência de um Governo íntegro por parte de Eddie Kou mereceu críticas de Sulu Sou que achou “piada” à classificação, tendo em conta que “o índice de integridade de Macau tem pouco mais pontos do que o das Filipinas tal como a existência dos casos em que os secretários contratam familiares para a função pública”, disse. O deputado pró- democrata fez ainda referência ao recente caso denunciado pelo Comissariado Contra a Corrupção (CCAC) de abuso poder de um funcionário do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e ao relatório apresentado ontem (ver Grande Plano) que denuncia condutas fraudulentas de funcionários públicos.

Song Pek Kei levantou também a questão da responsabilização dos infractores. “O relatório do CCAC apresentado ontem deixou a sociedade chocada porque revelou as deficiências do nosso sistema”, pelo que é necessário apurar responsabilidades, apontou.

Em resposta, o director dos Serviços de Administração e Função Pública revelou que “em 2019 serão objecto de revisão o regime disciplinar e o regime de aposentação e cessação e funções cujas matérias estão relacionadas com a responsabilidade administrativa”.

O responsável garantiu ainda que os Serviços têm estado empenhados na promoção de acções de formação de modo a alertar os funcionários para esta matéria.

Do lado do Executivo esteve o deputado Wi Chou Kit que elogiou o trabalho feito pelo Governo. “Os trabalhos anti-corrupção têm melhorado. Os crimes de corrupção estão a diminuir”, sublinhou.

Pereira Coutinho questionou também o Governo acerca do desenvolvimento de um sistema político mais democrático que eleja a maioria dos deputados da AL por sufrágio directo. Para Eddie Kou, Macau tem dado mostras de evolução no sentido da democracia na medida em que, “o número de deputados aumentou de 23 para 33 membros desde a primeira legislatura” e “o número de assentos para os eleitos por sufrágio directo e indirecto aumentou de 8 para 14 e 12 respectivamente”.

AL | Faltam motoristas para os autocarros locais

Os serviços de transportes públicos de Macau estão melhores mas não há motoristas suficientes para acompanhar a crescente demanda. A ideia foi deixada ontem por Raimundo do Rosário na Assembleia Legislativa

 

[dropcap]O[/dropcap]s serviços de autocarros em Macau têm melhorado mas não há motoristas suficientes. “Há falta de condutores”, disse ontem o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, em resposta aos deputados Ella Lei e Au Kam San que questionavam o Governo acerca dos gastos do erário publico para subsidiar as concessionárias de autocarros e os atrasos nos contratos de concessão.

A falta de condutores leva à redução do número de veículos em circulação que, por sua vez, implica a diminuição das receitas vindas da cobrança de tarifas, acrescentou o responsável pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Lam Hin San.

Raimundo do Rosário apontou exemplos para ilustrar a situação. “Só conseguimos contratar três condutores para a travessia da Ponte HKZM. Macau tem cota, dentro do sistema de autocarros tripartidos que ligam as fronteiras, mas ninguém quer ser condutor e as vagas destinadas aos motoristas de Macau, neste caso, estão a ser preenchidas com profissionais de Hong Kong e do continente”, afirmou.

No bom caminho

Apesar das dificuldades Lam Hin San admite que a qualidade dos transportes públicos de Macau tem sido melhorada. “Olhando para 2011, eram 370 mil passageiros por dia, em 2015 subiu até mais de 500 mil e este ano já foi de 620 mil. Há um aumento de cerca de 100 mil pessoas diariamente”, referiu. Para já o tempo de espera de autocarros é, em média, de 6,6 minutos “e nas paragens mais frequentadas de 3,9 minutos”, disse.

De acordo com o responsável, há ainda que ter em conta o aumento de despesas com este serviço. “Os autocarros ecológicos representam despesas mais elevadas. Os autocarros pequenos estão a ser substituídos por veículos maiores que dão mais despesas. Temos mais carreiras, nomeadamente para a ponte – O 101X funciona 24 h por dia. E é aqui que são gastas as verbas”, explica Lam Hin San.

Já Raimundo do Rosário admite que ainda há melhorias a fazer, mas sublinha que também há muitos avanços. “Ainda temos muitos problemas em relação aos autocarros mas já houve muitos progressos”, rematou o secretário.

 

Vagas por preencher

A falta de recursos humanos é um problema que abrange todos os serviços da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), de acordo com o secretário Raimundo do Rosário. “Desde a entrada em vigor do sistema de recrutamento centralizado que a DSSOPT abriu 39 concursos públicos para preencher 115 vagas”, disse.

Até agora foram preenchidos “cerca de metade dos lugares”. Segundo o secretário, esta situação não permite sequer preencher as vagas dos trabalhadores que se aposentam, e muito menos a aquisição de mais funcionários. Acresce ao problema as despesas tidas com estes processos. “O dinheiro envolvido teve em conta 55 mil candidatos, mas só 14 mil compareceram ao exame.

Foram desperdiçadas mais de 40 mil folhas porque os candidatos não compareceram e até à data não consegui pessoas para preencher as vagas deixadas livres”, disse. “Não consigo contratar mais”, concluiu o Raimundo do Rosário.