Panda Bonds | Portugal paga 0,62% após cobertura de risco cambial Hoje Macau - 28 Jun 2019 O ministro das Finanças português afirmou que a taxa da emissão de dívida em moeda chinesa, as ‘Panda Bonds’, que Portugal realizou em 30 de Maio, é de 0,62 por cento a três anos após aplicada a cobertura de risco [dropcap]A[/dropcap] taxa equivalente, e depois de devidamente protegida com ‘swaps’ do risco cambial, é de 0,62 por cento a três anos, o que compara mal com a taxa a que a República se financia a três anos, é verdade”, afirmou na quarta-feira Mário Centeno, sobre a emissão de ‘Panda Bonds’ de Portugal, ao falar na audição regimental da Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA) no parlamento. Em 30 de Maio, Portugal colocou dois mil milhões de renmimbi em ‘Panda Bonds’ a três anos, naquela que foi a primeira emissão em moeda chinesa de um país da zona euro e a terceira de um país europeu. Segundo um comunicado divulgado no ‘site’ do IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, a procura dos investidores pelos títulos “foi forte”, 3,165 vezes o montante colocado, tendo permitido rever em baixa a taxa de juro para 4,09 por cento. O ministro das Finanças admitiu, no parlamento, que os 0,62 por cento correspondem a “um esforço muito grande da República Portuguesa”, sublinhando que “o prémio que está a ser pago é exactamente” aquele, “para diversificar as suas fontes de financiamento”. Mário Centeno admitiu que “se calhar [a decisão] é hoje mais questionável do ponto de vista estritamente financeiro do que quando foi tomada”, porque se trata de “um processo muito longo” e actualmente as taxas dos títulos de dívida de Portugal estão muito mais baixas no mercado. O ministro referiu também que a operação foi “pequena do ponto de vista da dimensão”, mas foi “um sinal muito positivo da necessidade de diversificar os custos de financiamento”. Cobrir riscos Em declarações à Lusa, Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, explicou que, “a taxa relevante da operação são os 0,62 por cento porque analisando os ‘cash-flows’ finais em euros, entre entradas e saídas, Portugal irá pagar o equivalente a 0,62 por cento em euros”. O economista adiantou que, “de uma forma sensata e como faz normalmente nos casos em que incorre em risco cambial, o IGCP recorreu a instrumentos derivados de cobertura de risco”, que reflectem o diferencial de taxas de juro entre o euro e o yuan de uma forma inversa à da tomada do financiamento. “De facto, Portugal paga uma taxa de juro mais alta na emissão em yuan, mas é beneficiado ao cobrir o risco cambial da operação, mitigando a maior parte dessa diferença. Portanto, a cobertura cambial compensou grande parte do diferencial de taxas de juro entre as duas moedas, o que acontece pelas tecnicidades do processo de cobertura”, adiantou Filipe Garcia. Dito de outra forma, segundo o economista, “ao cobrir o risco, o IGCP também faz baixar a taxa de juro ‘implícita’ final a pagar”. Filipe Garcia admitiu também, à Lusa, que o custo final em euros foi mais alto do que um financiamento que fosse realizado nos mercados mais habituais. “Mas parece-me que a operação teve objectivos de cariz político e simbólico, deixando o ângulo financeiro para um segundo plano, até pelo montante da emissão”, frisou, acrescentando que “é uma forma abrir uma porta para diversificar fontes de financiamento e sinaliza ao mercado que Portugal tem flexibilidade nesta matéria”. A presidente do IGCP, Cristina Casalinho, disse, na semana anterior à operação, que a emissão de ‘Panda Bonds’ surgiu como “uma oportunidade” para Portugal continuar a alargar a base de investidores e adiantou que a operação demorou dois anos a ser negociada.
Renascimento italiano | Seminário marca últimos dias de exposição no MAM Andreia Sofia Silva e Sofia Margarida Mota - 28 Jun 2019 “Desenhos da Renascença Italiana do British Museum” é o nome da exposição que tem estado patente no Museu de Arte de Macau e que chega ao fim este domingo. Margarida Saraiva, curadora da mostra, explica a essência dos desenhos com foco na figura humana, sem esquecer o movimento do corpo, a luz e as sombras que dele emanavam [dropcap]A[/dropcap] exposição “Desenhos da Renascença Italiana do British Museum” chega ao fim este domingo, mas, antes disso, o Museu de Arte de Macau (MAM) organiza um seminário, este sábado às 16h, que explica precisamente a origem da mostra. A apresentação estará a cargo de Margarida Saraiva, curadora, que vai “explorar aos primeiros estágios de elaboração e planeamento até o papel do curador em projectos itinerantes”. Além disso, Margarida Saraiva “apresentará as obras de arte seleccionadas exclusivamente para a exposição em Macau e os conceitos do renascimento italiano que inspiraram tanto o design gráfico, quanto o de galeria”. Serão ainda feitas duas visitas guiadas em cantonense, no sábado e no domingo. Ao HM, a curadora traça um retrato das imagens patentes no MAM desde o passado dia 18, e que tem como principal objecto a figura humana. “A arte da renascença italiana foi dominada pelo desejo de representar com precisão a figura humana. O objectivo era envolver o espectador na narrativa apresentada na pintura e, para alcançar esse objectivo, as figuras tinham que ser naturalistas e expressivas”, adiantou a curadora. Desta forma, “a prática artística dos jovens que ambicionavam tornar-se grandes artistas concentrou-se progressivamente no desenho à vista do corpo masculino”. As descobertas arqueológicas acabaram por influenciar o trabalho destes artistas que começaram a “desenhar a partir das estátuas originais ou de gessos, procurando alcançar a musculatura característica da arte clássica”. Nesse período, eram também realizados “estudos mais detalhados de certas partes do corpo, como a cabeça de amigos ou colegas de várias idades, que mais tarde podiam ser usados para representar santos, personagens mitológicas ou heróis clássicos em obras acabadas”. Nem sempre o corpo humano era retratado tal como ele era. Nesse aspecto, Margarida Saraiva dá como exemplo as imagens com a assinatura de Leonardo Da Vinci, com retratos mais exagerados ou extravagantes, nas quais “uma compreensão profunda da forma humana constitui um trampolim para uma exploração mais criativa da personagem e do seu carácter”. A caricatura e a luz Um dos exemplos do exagero de que fala Margarida Saraiva pode ser visto nas duas obras “Caricaturas de um homem e uma mulher idosos”, e que foram feitas entre os anos 1482 e 1499, pintadas com caneta e tinta castanha. Neste período, Leonardo Da Vinci estava ao serviço do duque de Milão, sendo que as imagens em apreço “podem ter sido concebidas tanto como divertimentos para corte quanto como explorações da fisionomia, a partir da crença segundo a qual o personagem poderia ser interpretado através dos seus traços faciais”. Margarida Saraiva acrescenta que “ao longo da vida, o artista explorou obsessivamente os contrastes entre o novo e o velho, a fealdade e a beleza, em esboços rápidos de perfis, frequentes nos seus cadernos de anotações: os seus anjos e rostos femininos incorporavam a beleza ideal, mas a essa perfeição Leonardo contrapunha os extremos do ‘grotesco’”. A curadora diz ainda que “o humor das caricaturas vem em parte da apresentação incongruente dessas figuras exageradas no formato digno do perfil, associado aos retratos de imperadores e reis antigos, em medalhas e camafeus”. Segue-se “Estudos para o Juízo Final”, de Michelangelo Buonarroti, que data do ano 1534, uma imagem pintada a giz preto. Este desenho foi “especialmente requisitado pelo MAM ao British Museum para a exposição” e estão ligados à “grande obra da maturidade de Michelangelo”, que é o “Juízo Final” da Capela Sistina, no Vaticano, diz Margarida Saraiva. A obra em causa “representa o momento final da história cristã, no qual Deus julga as almas humanas para admiti-las no céu ou condená-las ao inferno”. Nesse sentido, “a imagem de Michelangelo é consolidada pelos contrastes dinâmicos das figuras, subindo e descendo, e neste desenho ele estuda figuras que se tornarão anjos no fresco final. O ambicioso esforço de detalhe das poses e a poderosa musculatura aumenta a intensidade dramática do tema”. Além da presença acentuada do movimento, o jogo de luz e sombras também fez parte da visão artística do Renascimento Italiano. “Da mesma forma que a representação naturalista do mundo se tornou fulcral para artistas da Renascença, a compreensão adequada da luz também”, lembra Margarida Saraiva. “Pelo uso eficaz de luz e sombra, numa combinação chamada em italiano chiaroscuro, um artista poderia chamar a atenção para partes específicas de uma cena, sugerir volume e solidez, e representar presenças sagradas através do brilho da luz divina. As gradações de luz serviam igualmente para criar, numa composição, a sensação de distância e perspectiva”, acrescenta. Artistas como Leon Battista Alberti, entre outros, “levaram os seus estudos de luz mais longe”, uma vez que Alberti “escreveu exaustivamente sobre a base matemática da luz”, enquanto que Leonardo da Vinci “dedicou-se a compreender a ciência da luz e da visão”, ao estudar “a óptica, a anatomia do olho e a difusão da luz na atmosfera”. Este trabalho acabaria por ter impacto no trabalho de artistas posteriores como é o caso de Ticiano, Raphael e Caravaggio, como se observa na obra “Estudos de uma jovem segurando um livro”.
Emirados Árabes Unidos | Viagens passam a estar isentas de visto Hoje Macau - 28 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] Governo dos Emirados Árabes Unidos decidiu isentar os portadores de passaporte da RAEM de visto de entrada no país. De acordo com um comunicado ontem divulgado, os titulares do passaporte passam a ter direito de permanência no país por um período máximo de 30 dias. Presentemente, existem 142 países e regiões que concedem isenção de visto ou visto à chegada aos titulares do passaporte da RAEM.
ANIMA | Falta de trabalhadores residentes põe em risco animais do canil de Coloane Sofia Margarida Mota - 28 Jun 2019 A escassez de pessoal que a ANIMA enfrenta, é agravada pelos limites à contratação de não residentes e à falta de locais que queiram ser tratadores. O entrave pode resultar na incapacidade de cuidar dos 33 cães que estão sob a tutela do IAM no canil de Coloane, e cujo cuidado é assegurado pela associação. Albano Martins teme que os cães acabem por ser abatidos [dropcap]O[/dropcap]s 33 animais que estão sob a tutela do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) no canil de Coloane podem correr o risco de ser abatidos. Em causa estão as dificuldades da Sociedade Protectora dos Animais de Macau – ANIMA, responsável por cuidar dos cães do canil, em contratar residentes para as funções de tratador. “A ANIMA assegura os cuidados prestados por um trabalhador pago totalmente pela associação e na folga semanal, este trabalhador tem de ser substituído por outro local”, explica o presidente da ANIMA, Albano Martins, ao HM. A partir de Julho vão sair da ANIMA dois tratadores residentes que não podem ser substituídos por não residentes pelo que a associação corre o risco de não conseguir cumprir este serviço no canil de Coloane. “Aqueles animais estão lá há vários anos e são a única excepção à regra do IAM no abate de animais, esse é o grande drama”, acrescenta o responsável, preocupado com a fatal possibilidade caso a associação não consiga assegurar os cuidados dos cães do canil de Coloane. Em causa está o facto de os trabalhadores não residentes só poderem estar afectos ao espaço da ANIMA, e “se ali não estiverem, violam a lei”. A associação vai perder dois trabalhadores residentes já no próximo mês de Julho e não tem como os substituir, porque não há candidatos para estas funções. “Quando pedimos estes funcionários à Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) eles dizem que não têm”, remata Albano Martins. O HM tentou saber, junto do IAM, o destino dos animais no caso da ANIMA não poder assumir o seu cuidado, mas não obteve resposta até ao final da edição. Problema abrangente A falta de pessoal afecta não só o funcionamento do canil de Coloane, mas também pode colocar em causa o trabalho da própria ANIMA, devido ao limite de quotas impostas à contratação de trabalhadores não residentes. “Estamos constantemente a ter sangrias de pessoas locais”, queixa-se o presidente da associação referindo-se às saídas de quem parte em busca de outras oportunidades, até porque “a ANIMA não é uma multinacional e não pode dar condições como os casinos”. Ainda assim, a lei do trabalho obriga a associação a ter 20 trabalhadores locais para poder empregar 15 trabalhadores não especializados e um especializado que não seja residente. A quota dos 20 locais foi atingida este mês, altura em que também terminava o prazo dado pela DSAL para que tal fosse efectuado, mas os problemas avizinham-se já para o próximo mês, altura em que vão sair dois tratadores e um administrativo. “Com a saída destes três vamos ficar com 17, sendo que já temos uma pessoa para o cargo administrativo”, refere. No entanto, a dificuldade mantém-se com a falta de tratadores para os cerca de 500 cães e 300 gatos que estão ao cuidado da ANIMA. Multifunções A alternativa passa muitas vezes por solicitar aos funcionários do secretariado que dispensam algum tempo para ajudar na lida com os animais, mas não é o suficiente. “Podem-nos ajudar nalgumas coisas, mas o cerne fundamental é haver alternativas”, sublinha Albano Martins. Acresce ainda ao problema da reposição de folgas quando há feriados. Sem elementos que possa dispensar, os trabalhadores da ANIMA “acabam por levar mais tempo do que o que a lei obriga a usufruir destas folgas, porque não há ninguém para fazer o trabalho deles”, refere o responsável. A única garantia de estabilidade reside no emprego de não residentes, que, no entanto, está sujeita à referida quota e às limitações do espaço de trabalho. “Os únicos trabalhadores que conseguimos manter são filipinos porque esses não têm o luxo de poder mudar de emprego de um dia para o outro e, como tal, não têm alternativas à ANIMA. Estas pessoas só podem mudar de emprego dentro da mesma categoria, ora não há em Macau sociedades protectoras a não ser a ANIMA. O resto não tem trabalhadores” Neste momento, a ANIMA tem 36 trabalhadores: 16 não locais, um especializado e 15 não especializados e 20 trabalhadores locais. “Era suposto começarmos a campanha de fundos apenas em Julho, mas vamos ter que o começar ainda antes do final deste mês para conseguir o dinheiro necessário para o arranjo do ar condicionado”, apontou Albano Martins. A aposta vai ser feita junto dos casinos. “Esperamos que a Wynn Resorts mantenha o apoio que nos tem vindo a dar, na ordem do 1.3 milhões de patacas, que já dá para pagar o ar condicionado. Era bom que conseguíssemos arranjar dinheiro para garantir pelo menos mais um trimestre”, ou seja, pelo menos dois milhões de patacas.
Patuá em declínio antes do Kristang, diz Joseph Santa Maria Hoje Macau - 28 Jun 2019 [dropcap]U[/dropcap]m dos representantes da minoria luso-malaia afirmou ontem que a cultura e o crioulo de matriz portuguesa de Macau vão desintegrar-se “mais rápido do que o Bairro Português em Malaca”. “Em Macau já ninguém fala o Patuá”, disse Joseph Santa Maria, em declarações à Lusa, na cidade malaia conquistada pelos portugueses em 1511. Derivado do crioulo de Malaca, o Kristang, o crioulo de base portuguesa de Macau, o Patuá, está classificado há quase uma década pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como “gravemente ameaçado”, o último patamar antes de uma língua se extinguir por completo. “Nós perdemos Macau, no sentido em que Macau pertence à China, e penso que em Macau vai-se desintegrar aos poucos, sublinhou Joseph Santa Maria. Segundo o luso-malaio, apesar de o Bairro Português de Malaca ter menos apoios que Macau, as gentes que lá vivem “têm um orgulho enorme em ter um passado português”. O Kristang surgiu há cerca de 500 anos, quando Afonso de Albuquerque desembarcou em Malaca, demoliu a Grande Mesquita, e levantou no local uma fortaleza que seria um importante entreposto comercial. Ameaçada de extinção, a língua emprega a maior parte do seu vocabulário do português, mas a sua estrutura gramatical é semelhante ao malaio e extrai influências dos dialectos chinês e indiano.
Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas visita Malaca e Macau Hoje Macau - 28 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap] secretário de Estado das Comunidades Portuguesas chega amanhã a Malaca para participar na 2ª Conferência das Comunidades Portuguesas na Ásia, seguindo na segunda-feira para Macau. José Luís Carneiro, antes de chegar a Malaca para reunir com representantes das comunidades asiáticas descendentes de portugueses, irá à capital malaia, Kuala Lumpur, encontrar-se com o secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Malásia, Muhammad Shahrul Ikram Yaakob. “Portugal tem uma responsabilidade moral, têm de ter consciência destas bolsas de comunidades portuguesas que existem na Ásia”, disse hoje o organizador da segunda edição da Conferência, Joseph Santa Maria, em declarações à Lusa, na cidade conquistada pelos portugueses em 1511. Depois da conferência, José Luís Carneiro desloca-se ao bairro português em Malaca e vai assistir à missa, à procissão e à bênção dos barcos de pesca, “no contexto da Festa de São Pedro em Malaca”, lê-se num comunicado divulgado pelo seu gabinete. O responsável português irá encontrar-se ainda com o ministro-chefe de Malaca, Adly Zahari.
Estudo | Maioria dos residentes não quer viver nem trabalhar fora de Macau João Santos Filipe - 28 Jun 2019 Um estilo de vida que não se adequa. É este o principal motivo para que os residentes de Macau não queiram viver na Grande Baía. Esta é uma das conclusões de um estudo da UM, liderado pela investigadora e deputada Agnes Lam [dropcap]A[/dropcap] maior parte dos residentes de Macau não tem vontade de trabalhar ou viver nas cidades da Grande Baía, de acordo com um estudo da Universidade de Macau, liderado pela académica e deputada Agnes Lam. No total foram inquiridos por telefone 557 residentes e os resultados foram divulgados ontem. “A maioria dos inquiridos não tem vontade de trabalhar ou viver nas cidades do Interior da China que fazem parte da Grande Baía ou em Hong Kong. A principal justificação é o ‘estilo de vida inadequado’”, pode ler-se no comunicado emitido, ontem, pelo UM. A informação revelada não mostra a percentagem de pessoas que se mostrou indisponível para emigrar para a Grande Baía. Contudo, o número de pessoas que admitem vontade de participar no projecto nacional foi de 37,9 por cento, ou seja 211 residentes. Este número permite inferir, e uma vez que não há dados sobre as pessoas que não responderam, que 346 pessoas, ou seja 62 por cento, não querem participar no projecto regional. Entre as pessoas que preferem ficar em Macau, a principal razão, ou seja 76,4 por cento das respostas, apontaram para o estilo de vida inadequado. A segunda razão foi “a diferença de valores e cultura”, que correspondeu a 28,2 por cento das respostas, e “ausência de familiares ou redes sociais”, mencionada em 23,4 por cento das respostas. Entre as pessoas que querem participar na Grande Baía, o principal aspecto sublinhado foram as perspectivas de uma carreira melhor do que a que teriam em Macau. A justificação foi utilizada em 61,2 por cento das respostas. Em segundo lugar a razão para participar no projecto de integração regional é o preço mais baixo do custo de vida, em 21 por cento das ocasiões, e o estilo de vida, em 20,8 por cento das resposta. O estudo permitiu a elaboração de um perfil tipo das pessoas que estão disponíveis para trabalhar e viver do outro lado da fronteira. Segundo as conclusões, este tipo de pessoas são principalmente deputados, chefias de departamentos do Governo, líderes de associações, gestores de topo de empresas ou estudantes. No pólo oposto, as pessoas que não querem participar são operários, trabalhadores de serviços ou pensionistas. Reformados querem ficar Uma das políticas em que o Governo tem focado estudos é a abertura de lares em Cantão. No entanto, segundo este estudo, a maioria dos reformados e idosos recusam a ideia de serem colocados num lar na Grande Baía. Entre os 557 inquiridos, 53,8 por cento disseram que não estão disponíveis para irem viver os últimos dias na Grande Baía, porque querem ficar em Macau. Também em relação a este aspecto, não foram reveladas grandes informações no comunicado da UM, mas é explicado que quanto maior qualificação têm as pessoas, maior é a disponibilidade para aceitarem a Grande Baía. Mas se a maioria não quer viver nem trabalhar no outro lado da fronteira, o mesmo aconteceu no que diz respeito a aceitar que os cidadãos das cidades que integram a Grande Baía venham para Macau. Os residentes locais mostram-se muito disponíveis para aceitar investimento e turistas, mas não para que os compatriotas se fixem na RAEM. Assim, 58,2 por cento dos inquiridos “não tem vontade” ou mostra-se “muito relutante” em receber imigrantes do Interior ou de Hong Kong. Já 21 por cento dizem estar “disponíveis” ou “muito disponíveis”. Em relação a receber mais trabalhadores não-residentes, 47,6 por cento dos inquiridos “não tem vontade” ou mostra-se “muito relutante” contra essa realidade. Já 29,3 por cento, diz-se “disponível” para aceitar trabalhadores e apenas 0,2 por cento diz estar “muito disponível”. Ainda em relação à cobertura noticiosa sobre a Grande Baía, a investigação concluiu que os meios de comunicação tradicionais focam mais as posições e políticas do Governo. Já as pessoas nas redes sociais prestam mais atenção aos motivos do quotidiano, como o trânsito, infra-estruturas, ou a economia.
Central Nuclear de Yangjiang | Registada anomalia sem consequências graves Hoje Macau - 28 Jun 2019 [dropcap]O[/dropcap]correu esta quarta-feira uma anomalia na Central Nuclear de Yangjiang sem consequências graves. De acordo com um comunicado, “durante uma operação de manutenção de carácter isolado ao tanque de água da unidade 1 da referida central nuclear, ocorreu uma anomalia na bomba auxiliar de abastecimento de água, tendo o pessoal conseguido resolver de forma atempada a falha e a bomba auxiliar retomada ao seu funcionamento normal”. O incidente foi classificado com o nível 0, o que significa que não houve problemas de segurança. Além disso, não afectou “o funcionamento seguro da central, a saúde do seu pessoal operacional, da população e do ambiente adjacente à referida central”. De frisar que esta central nuclear está localizada na província de Guangdong, a cerca de 160 quilómetros de Macau, tendo as autoridades feito uma visita ao local ontem para verificar a ocorrência.
CEM | Anunciado plano de cortes de energia durante inundações Raquel Moz - 28 Jun 2019 A segurança dos habitantes e do património, em época de tufões, levou a CEM a articular com o Governo e a protecção civil medidas de suspensão da energia eléctrica em diferentes zonas da cidade, sempre que o nível das águas suba acima do normal. A população vai ser informada com antecedência e há uma nova app de emergência [dropcap]O[/dropcap] corte no fornecimento de energia às zonas baixas da cidade, em caso de aviso de tempestade e inundações, passou a ser considerado como medida de prevenção, e não apenas de recurso, para evitar a danificação dos cabos e equipamentos de alimentação energética, bem como garantir a segurança dos cidadãos nas áreas afectadas. Os habitantes vão ser notificados através dos canais já existentes, mas também através da nova versão da aplicação móvel “GeoGuide para emergências”, apresentada ontem, com novos interfaces e mais informação disponível. O anúncio foi feito pela Companhia de Electricidade de Macau (CEM), ontem em conferência de imprensa, dedicada à “Preparação para a época de tufões” que está em curso. Segundo os responsáveis, os cortes energéticos irão acontecer em função da subida do nível das águas, nas zonas sujeitas a inundação, e de acordo com os tipos de alerta de tempestade “storm surge”, divulgados pela Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG). A medida foi acordada com o Governo e a protecção civil, podendo os cidadãos prever e antecipar as suspensões de energia, em função dos 5 graus de alerta, a que correspondem níveis de altura das águas e zonas afectadas, que podem ser consultadas na página electrónica da CEM e na nova app. De acordo com esta informação, a população deverá seguir as instruções das autoridades e, caso seja necessário, evacuar as zonas habitacionais em risco para os locais de acolhimento seguro. Segundo a previsão da SMG, este ano são esperados entre quatro a seis ciclones tropicais, que deverão concentrar-se num raio de 800 quilómetros de distância do território, podendo vir a ser içados os sinais de tufão forte. “Sob a influência do aquecimento global, as situações de clima extremo tornaram-se mais frequentes. Macau içou o sinal 10 de tufão por dois anos consecutivos, em 2017 e 2018”, tendo o nível da água do mar subido rapidamente, o que causou sérias inundações nas zonas baixas ao longo da costa de Macau, com interrupções de energia e danos consideráveis nas redes de fornecimento eléctrico. “Com a aprendizagem das experiências dos fortes tufões “Hato” e “Mangkhut”, a CEM e os departamentos governamentais relevantes efectuaram uma revisão e discussão sobre a melhoria da resiliência das instalações de energia e estabeleceram medidas de melhoramento para as áreas baixas da cidade”, assinalou ontem Gabriel Chan, engenheiro da CEM. Por esse motivo, “em situação de emergência, por forma a salvaguardar a segurança da população e das instalações de energia, e prevenir estragos permanentes por ocorrência de inundações, a CEM irá suspender o fornecimento de energia eléctrica nas zonas críticas”, até que as equipas de inspecção e reparação da empresa considerem seguro o seu restabelecimento, após o recuo das águas. App e informação A app “GeoGuide para emergências”, que já pode ser descarregada, foi desenvolvida pela Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro (DSCC) e originalmente lançada em Outubro de 2018. A nova versão 2.0, além de disponibilizar mapas de emergência online e offline, inclui ainda funções de previsão da extensão das áreas afectadas por tempestades, avisos sobre fenómenos meteorológicos severos e informações de monitorização do nível da água em tempo real. O utilizador pode contactar directamente com os canais de emergência através da aplicação, que é gratuita e está traduzida em 4 línguas: chinês tradicional e simplificado, inglês e português. Entretanto, a CEM tem vindo a adoptar medidas de optimização da rede eléctrica, elevação de infra-estruturas de energia, inspecção e substituição de instalações antigas, colocação de barreiras anti-inundação em postos de transformação, além da realização de acções de divulgação, através de seminários, folhetos, vídeos educacionais (em 500 autocarros, 600 táxis e 35 supermercados), inserções nas facturas e informação através das redes de Wechat, Facebook e no website, segundo informaram os responsáveis.
Violência doméstica | DSAJ esclarece que casos únicos podem constituir crime Andreia Sofia Silva - 28 Jun 201928 Jun 2019 [dropcap]L[/dropcap]iu Dexue, da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), esclareceu o deputado José Pereira Coutinho quanto ao tipo de casos que podem constituir o crime de violência doméstica, garantindo que actos únicos de violência também são tidos em conta pelas autoridades. “A prática reiterada ou não dos actos não faz parte dos elementos constitutivos do crime de violência doméstica, o qual abrange não só ofensas reiteradas de reduzida intensidade, mas também ofensa de uma só vez que pode causar resultados consideravelmente graves. Por isso, ao avaliar se um acto constitui crime de violência doméstica, é necessário considerar globalmente as diversas circunstâncias do caso concreto.” Em interpelação escrita, o deputado questionava se as autoridades iriam analisar melhor os factos que constituem crime de violência doméstica, além de pedir uma diferente interpretação da lei em vigor. Na resposta, Liu Dexue esclareceu também o número de acções de formação que o Governo tem realizado neste âmbito. “Actualmente, a Polícia Judiciária tem vindo a proceder à abertura de inquéritos e processamento quanto às participações que envolvem o crime de violência doméstica. Entre 2016 e 2017 foi realizado um total de 88 palestras relacionadas com a lei da violência doméstica, que contaram com um total de 5.301 participações.”
Hengqin | Empresa de ex-deputado passa a operar novo centro logístico Andreia Sofia Silva e Juana Ng Cen - 28 Jun 2019 O ex-deputado à Assembleia Legislativa Dominic Sio é vice-presidente de uma empresa instalada na Ilha de Hengqin, no Parque Industrial de Cooperação Cantão-Macau. A inauguração do novo centro logístico, operacionalizado pela Dah Chong Hong Macau Limitada, aconteceu ontem [dropcap]F[/dropcap]oi ontem inaugurado com pompa e circunstância o primeiro centro logístico a funcionar na Ilha de Hengqin, no Parque Industrial de Cooperação Cantão-Macau. O centro será operacionalizado pela empresa Dah Chong Hong Macau Limitada, cujo vice-presidente é o ex-deputado à Assembleia Legislativa Dominic Sio Chi Wai. O empresário referiu que “foi aprovada a função de armazém alfandegário para este centro logístico por parte da Administração Geral da Alfândega da China”, que terá como objectivo conservar produtos alimentares. Uma das vantagens da localização apontada por Dominic Sio é o facto de “não ser exigida cobrança de imposto”, além de que “os produtos podem ser mantidos num ambiente que ajuda ao processamento de alimentos”. Foi também referida a importância da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, que irá permitir “um transporte mais eficaz”, frisou o empresário. Dominic Sio adiantou que o novo centro logístico vai oferecer preços mais competitivos face aos que são praticados em Hong Kong e Macau, além de que o centro pode garantir a conservação de alimentos abaixo dos 40 graus celsius, o que permite a eliminação de bactérias detectadas no peixe, como é o caso do salmão. Este projecto foi seleccionado em 2014 e foi um dos primeiros a ser escolhido para o Parque Industrial de Cooperação Guangdong-Macau, num investimento de quase 2.500 milhões de renminbi. A companhia Dah Chong Hong Holdings Limited foi estabelecida em Hong Kong há mais de 70 anos, possuindo actualmente negócios e sucursais em várias cidades como Hong Kong, Macau, Zhuhai, Shenzhen, Guangzhou, Jiangmen, Xiamen e Xangai. Em Macau, a empresa opera dois grandes centros logísticos na Zona Industrial Transfronteiriça de Coloane e da Ilha Verde, fornecendo serviços de armazenamento a diferentes temperaturas. Além desta posição empresarial, Dominic Sio é também director da CESL-Ásia, empresa que opera na área da construção civil, entre outras. Figuras de topo Zhang Jijing, outro empresário presente na cerimónia de inauguração, garantiu que o centro logístico actuará como ponte com outras regiões da Grande Baía, visando abastecer Macau e Zhuhai com soluções ao nível do fornecimento e armazenamento de produtos, sem esquecer os serviços alfandegários. No evento de ontem estiveram presentes elevadas figuras do meio político, como o Chefe do Executivo, Chui Sai On, o anterior e actual vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), Edmund Ho, bem como o director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, Fu Ziying, entre outras personalidades.
Justiça | Chefe do Executivo reuniu com presidente de tribunal de Guangdong Hoje Macau - 28 Jun 2019 [dropcap]C[/dropcap]hui Sai On recebeu ontem, na Sede do Governo, o presidente do Tribunal Popular de Nível Superior da Província de Guangdong, Gong Jiali, e trocou “impressões sobre a próxima fase da cooperação judiciária entre os dois territórios”, aponta um comunicado do gabinete do Chefe do Executivo. A visita visou ainda o “aprofundamento do intercâmbio e cooperação com os tribunais e sector judiciário locais” e partiu de um convite feito por Sam Hou Fai, presidente do Tribunal de Última Instância da RAEM. Gong Jiali referiu que o Tribunal Popular de Nível Superior da Província de Guangdong “tem realizado frequentemente visitas mútuas e procedido a vários tipos de intercâmbio com os tribunais da RAEM, sendo que, no ano passado, alcançaram-se consensos no âmbito do reforço da cooperação judiciária a nível regional entre os dois territórios”. Já Sam Hou Fai defendeu que o facto de se celebrar, este ano, os 20 anos da transferência de Macau para a China “é a ocasião adequada para se fazer uma retrospectiva e também uma previsão sobre a colaboração e intercâmbio entre os órgãos judiciais dos dois territórios, especificamente no que concerne à criação de uma plataforma de cooperação entre os órgãos judiciários no âmbito da Grande Baía”. Chui Sai On lembrou que “a construção da Grande Baía é actualmente o assunto de maior destaque, salientando, porém, que a iniciativa envolve três sistemas legais diferentes, o que torna necessário um estudo sobre formas de cooperação”.
Há novos regulamentos para centrais eléctricas e terminais de combustíveis João Santos Filipe - 28 Jun 2019 O Conselho do Executivo apresentou dois regulamentos administrativos com o intuito de reduzir emissões de dióxido de enxofre, óxido de nitrogénio e partículas para a atmosfera [dropcap]O[/dropcap] Conselho Executivo apresentou ontem dois regulamentos administrativos para controlar emissões de poluentes atmosféricos para centrais termoeléctricas e terminais de combustíveis. Os detalhes técnicos não foram revelados nem por Leong Heng Teng, porta-voz do Conselho Executivo, nem pelo subdirector da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Ip Kuong Lam. Segundo a apresentação feita, tanto o regulamento para as centrais termoeléctricas como para os terminais de combustíveis têm como objectivo controlar a poluição na fonte e obrigar as entidades responsáveis pelas instalações a seguirem critérios mais rigorosos. Em ambos os casos a entidade em causa é a Companhia de Electricidade de Macau (CEM). Além de ficar obrigada a cumprir requisitos face às emissões mais “restritos”, de acordo com as palavras de Ip Kuong Lam, a empresa tem de apresentar relatórios à DSPA sobre as emissões a cada seis meses, no caso da central eléctrica de Ká-Hó, e a cada ano, em relação aos terminais de combustíveis, localizado na mesma zona. “O Governo tem adoptado por várias medidas para controlar a emissão de vários poluentes. Estamos empenhados em garantir a qualidade do ar de Macau, assim como a salvaguarda da saúde da população”, afirmou Leong Heng Teng. No caso de incumprimento, os infractores ficam sujeitos a multas que podem ir das 200 mil às 400 mil patacas. O regulamento que incide sobre os terminais de combustíveis entra em vigor a 29 de Junho, enquanto que o que vai regular emissões das centrais termoeléctricas entram em vigor um ano depois da data da publicação oficial. Padrões do Interior Para a elaboração das exigências foram adoptados padrões do Interior da China, que Ip Kuong Lam explicou serem mais completos do que os utilizados na Europa. “Os padrões do Interior da China são mais globais e a exigência é mais rigorosa. Por isso, exigimos que seja utilizado o padrão adoptado no Interior da China”, apontou. Só no caso da central da CEM foram usados padrões das regiões vizinhas, uma vez que a Central A funciona a diesel, é mais antiga, e mais poluente. Ainda no que diz respeito às centrais, o subdirector da DSPA explicou que os cortes vão afectar as emissões de dióxido de enxofre, óxido de nitrogénio e de partículas. “Se concretizarmos estes padrões podemos reduzir anualmente de 24 por cento a 64 por cento das emissões”, acrescentou. Em relação aos terminais, Ip apontou que existe uma fuga de 1,2 por cento nos vapores da gasolina que também se espera que seja reduzida. Os regulamentos administrativos apresentados ontem fazem parte de um processo que remonta a 2014, quando foi feita uma consulta pública sobre estes aspectos, e visam colmatar lacunas legais na emissão de partículas. Contudo, Ip recusou que se tivesse demorado demasiado tempo para elaborar estes regulamentos e explicou que além da consulta houve estudos, equilíbrio de interesses das diferentes partes, entre outros aspectos. “O nosso trabalho nunca esteve parado”, garantiu.
Ricardo Araújo Pereira, humorista: “Somos o único animal que ri” Sofia Margarida Mota - 28 Jun 201928 Jun 2019 Ricardo Araújo Pereira está em Macau para apresentar “Uma conversa sobre assuntos”. O primeiro espectáculo está marcado para amanhã, às 20h, na Torre de Macau e o segundo para domingo, no Instituto Politécnico de Macau, às 18h. Num encontro com jornalistas, o humorista português falou da importância do riso, das concepções de comédia ao longo da história e da única coisa sobre a qual não consegue fazer piadas [dropcap]Q[/dropcap]uais as expectativas para os espectáculos aqui em Macau? Não tenho expectativas nenhumas. Esta é a minha maneira de viver, e é boa porque assim nunca temos grandes desilusões e temos só surpresas. A primeira surpresa foi o facto do primeiro espectáculo ter esgotado e depois as pessoas terem feito uma segunda sessão. Foi muito simpático. De que assuntos vai falar? Depende das pessoas, vai haver microfones na sala e as pessoas vão fazendo perguntas. É assim que este espectáculo funciona: as pessoas perguntam-me coisas e depois eu respondo. É bom que tenham coisas para perguntar. Venho de outro continente, venho com muita sabedoria acumulada e é muito importante que as pessoas tenham curiosidade para saber coisas sobre assuntos em geral. É a primeira vez que faço este espectáculo fora de Portugal. As pessoas perguntam tudo sobre o que lhes apetece e é mesmo isso. Perguntam sobre o meu trabalho, sobre o Benfica, sobre as minhas filhas, como sou em casa, o que lhes apetecer. Com nasceu este espectáculo? Há dois anos houve em Portugal aqueles grandes incêndios. Estava em casa a ver aquilo e pensei que gostava de fazer alguma coisa. O problema é que eu não sei fazer nada. Isso prejudica muito a minha capacidade para ajudar. Falei com a minha amiga e agente para saber se podíamos fazer uma série de espectáculos gratuitos nas zonas afectadas pelo fogo. Fizemos uns 14 e a receita revertia a favor das vítimas, dos bombeiros, etc.. Basicamente, sou eu a tentar responder a perguntas de pessoas. Às vezes dizendo coisas que já escrevi, fingindo que me estão a ocorrer na altura. Tendo em conta que a realidade de Macau não é bem a mesma da realidade portuguesa, como se preparou para este espectáculo? Sim, sim. Estudei muito sobre a actualidade de Macau, perguntem o que quiserem. (risos). Ainda bem que me avisou. Sobre o assunto China, como vê a ascensão do país na economia internacional e a guerra comercial que decorre com os Estados Unidos? Aqui, em relação a Macau, fico surpreendido por estar a decorrer um banho turco contínuo. A sensação que tenho é que para vir até aqui ao consulado, estive a comer o ar até aqui chegar para poder passar. Não sei como se aguenta este banho turco constante. Eu fico encharcado em suor ao fim de 30 segundos fora do hotel. Em relação à China e à guerra comercial, não tenho nada para dizer sobre o assunto, mas conheço. Mas não faço ideia. Tenho algum receio de que seja inútil competir numa guerra comercial com a China. Eles fazem coisas muito depressa e muito baratas e, portanto, é capaz de ser difícil. É um país muito grande, e não sei se o facto de o regime chinês ser este, digamos que com um défice democrático, ajuda economicamente porque é mais fácil manter pessoas com salários baixos e tal. Nessa medida, é interessante que o Trump esteja também a tentar instituir um sistema destes no Estados Unidos. Uma coisa assim mais pobre pode ser a resposta adequada. Sou a favor da democracia, está bem? FOTO: Sofia Margarida Mota Qual é o papel do humor na análise da actualidade? O papel do humor é fazer rir as pessoas. E há muitas pessoas que me perguntam: só? Acho que quem pergunta isso, em primeiro lugar nunca tentou fazer rir ninguém, e em segundo não está exactamente a ver o que é que o riso é. O riso é uma coisa demasiado importante para que as pessoas digam: “só?”. Para mim, o “só” fazer rir é a mesma coisa que dizer que aquilo entre o D. Pedro e a Dª. Inês era “só” amor. Ou parece que houve ali uma coisa entre 1939 e 1945 mas foi “só” uma guerra. O riso é muito importante, e é fascinante que os seres humanos riam. Acho extraordinário. Somos bichos que sabem que vão morrer, convivemos diariamente com essa informação e, portanto, é muito bizarro que seres nestas condições achem graça a seja o que for, que riam. Imagine que um condenado à morte está na sua cela e depois vai a andar até à cadeira eléctrica, e nesse percurso vai a rir à gargalhada. Acharíamos isso bizarro, absurdo. No entanto, isto é capaz de ser um bom resumo condensado do que é a nossa vida. Nós sabemos perfeitamente que vamos a caminho da cadeira eléctrica. É ainda mais aflitivo porque o condenado sabe exactamente qual é o dia em que vai ser frito e nós não. Pode ser agora. O certo é que vamos a rir no caminho. Há um humorista norte americano chamado Jack Douglas que tem um livro, a sua autobiografia, que se chama “Aconteceu-me uma coisa engraçada a caminho da campa”. Basicamente, é isso. Fazer rir as pessoas é uma coisa que me parece nobre até. Fico muito satisfeito que o papel do humor seja apenas esse, fazer rir. Às vezes, as pessoas têm a ideia, para mim errada, de que o humor consegue fazer coisas. Que consegue derrubar governos ou impedir acontecimentos. No humor político especificamente, pensam que tem algum poder sobre a realidade, que é capaz de impedir que certas coisas aconteçam, que o mal aconteça e o bem prevaleça. Acho que a eleição de Donald Trump indica que isso não é verdade. O candidato mais violentamente satirizado da história foi eleito. Isso significa que os humoristas não têm assim tanto poder político e ainda bem. Ficaria bastante preocupado se o sistema, se a democracia funcionasse de forma em que as pessoas iam às urnas, votavam e eu dizia que tinha uma piada muito boa e ia derrubar isso. Acho que aquilo que o humor faz, e já é muito, é fazer rir as pessoas. Como é que é isto de aplicar o humor à realidade, que por vezes não tem grande piada? A questão é essa. É justamente porque a realidade não tem piada que é necessário o humor. Eu duvido que no paraíso, se existir, alguém ria. A minha avó dizia-me sempre que só me ria do mal. Mas do que é que rimos mais a não ser do mal? Molière escreveu comédias sobre misantropos, hipocondríacos, gente com a mania das grandezas. Comédias sobre pessoas boazinhas não existem. Uma pessoa muito boazinha só tem graça se for tão boazinha que acaba por ser prejudicada. Aí já tem graça. As pessoas riem-se do que é mau, do que é triste, e do que é errado. E o facto de nos conseguirmos rir disso é importante, faz com que nos elevemos acima de nós próprios de um certo ponto de vista. Ser capaz de rir da sua própria desgraça, é vantajoso, reduz peso às coisas. Essa operação de subtração de peso parece-me muito importante. Em 2016, na altura do europeu de futebol um filósofo português chamado Cristiano Ronaldo, proferiu umas palavras célebres no fim do jogo entre Portugal e a Polónia em que íamos a penáltis. Ele falou com o João Moutinho e disse assim: “anda bater o penálti, se perdermos que se lixe” – ele até usou um verbo mais expressivo. Acho que esta atitude é melhor para ganhar do que a atitude do temos mesmo que ganhar. Claro que podemos argumentar que o Cristiano Ronaldo está em posição de dizer “se perdermos que se lixe”, mas mortais como nós não se podem dar a esse luxo. Mas acho que a questão é ao contrário. De facto, ganhamos mais, mais vezes e mais facilmente com a atitude do “que se lixe” do que com a atitude do “temos mesmo que ganhar”. O que a comédia faz é dotar as pessoas de uma espécie de atitude do “que se lixe”. Acho muito saudável. O programa que tenho feito a noite na TVI é sobre isso, é sobre a Assembleia da República, é sobre as comissões de inquérito e sobre o Governo, e acho muito saudável que uma sociedade possa rir-se dos seus dirigentes porque também lhes retira peso a eles e porque encurta a distância. Esta capacidade de rir e amenizar os problemas políticos não limita a acção no sentido das pessoas não se mexerem para mudar as coisas? Esse é um dos muitíssimos paradoxos da comédia. O que é que a sátira política faz? Critica. Ou seja, aponta o alvo e destrói-o ou homenageia-o. Isso é interessante. Quando faço pouco do primeiro ministro, estou a atingir o primeiro ministro ou estou a suavizar o mal que eventualmente ele faz às pessoas, a fazer com que elas digam que já estão mais aliviadas e já não vão para a rua tentar mudar isto? Toda a sátira implica um interesse pelo objecto satirizado. A minha questão é: será que o que nós, humoristas, fazemos tem poder? Eu não sou ingénuo ao ponto de dizer que não tem poder nenhum. Qualquer coisa dita publicamente tem a sua repercussão. A minha questão é? Qual a dimensão dessa repercussão? Acho que é muito menos do que o que as pessoas julgam e mais uma vez acho que isso foi provado no caso do Donald Trump. Já tinha sido provado antes. Houve ali uma altura entre a primeira e segunda eleição do George Bush Júnior em que o Jon Stewart era o principal comentador político dos EUA. Toda a gente dizia que ele era o grande crítico do Bush. O Bill O’Reilly, de direita, convidou-o para o seu programa na FOX e disse-lhe: “o que é triste é que vais ter uma influência nestas eleições” e estava danado com isso. Depois aconteceram as eleições e o Bush teve mais dois milhões de votos do que tinha tido para o primeiro mandato. É possível que as coisas tenham algum poder, duvido que seja muito grande e nós não o conseguimos controlar. A comédia é muito mais termómetro do que termóstato. Mede a temperatura em determinada altura, não a regula. Os países não democráticos não encaram bem a sátira política. Mesmo que não tenha força é temida. Acha que esse papel da comédia é diferente consoante o regime político? Quando digo isto as pessoas questionam o facto de nos regimes ditatoriais o humor ser das primeiras coisas a ser reprimidas. A minha resposta é: porque eles estão enganados. Eu não concordo com os ditadores. Acho que eles não têm grande coisa a temer sobre isso. Este é mais um dos paradoxos da comédia. Dizem que uma rainha poderosa de Inglaterra – Isabel I – tinha um bobo e que quando o chamava dizia para fazer piadas mais azedas sobre ela porque quanto mais azedo ele fosse à frente dela, mais ela podia dizer que tinha poder para permitir isso. Quando uma pessoa teme aquele tipo de manifestação significa que o seu poder não é assim tão grande. De facto, esses governos reprimem a comédia mas não conseguem fazê-lo. A comédia continua clandestinamente a funcionar. No regime soviético, por exemplo, havia várias piadas muito conhecidas e que iam mudando de país para país. Houve pessoas condenadas à morte por isso. Ainda hoje, os sinos tocam a rebate numa determinada localidade germânica no dia da morte de um padre que foi morto por ter contado a seguinte anedota: “um soldado alemão está moribundo na guerra e faz o último pedido. Queria que lhe dessem uma fotografia do Hitler e outra do Goebbels. Toda a gente ficou comovida com o patriotismo daquele homem que queria ser enterrado com uma fotografia daqueles dois. O soldado acabou por dizer que queria ir como Jesus Cristo, com um ladrão de cada lado. O padre contou esta piada e foi morto. Mas há mais. Há muitas pessoas condenadas à morte por dizerem piadas. As pessoas iam aos tribunais que as julgavam por causa destas anedotas, eram sentenciadas por um juiz e no fim da audiência, o juiz ia para as traseiras do tribunal, para um bar, e contava as piadas que tinha julgado às pessoas que lá estavam. Mas comédia não é agressão. Há uma tendência perigosa e cada vez maior para se achar que uma piada é uma agressão. O que faço não é bater. Posso explicar a diferença a quem tiver dúvidas. Eu primeiro bato e depois digo uma piada muito desagradável e, em princípio, a diferença fica imediatamente clara. Há várias perspectivas sobre a comédia. Há uma que durou muito tempo, dois milénios, entre Platão e Hobbes, que diz que nos rimos por causa da súbita consciência de que somos superiores àquilo de que estamos a rir. O Thomas Hobbes criou a expressão “glória súbita” em que achamos que somos superiores àquilo de que estamos a rir. É uma manifestação agressiva de superioridade. Depois começa a haver críticas a essa perspectiva. Há um tipo chamado Francis Hutcheson que tem uma perspectiva curiosa sobre o riso em que questiona este sentimento de superioridade. Se é esse sentimento de superioridade que nos dá vontade de rir, porque não vamos todos passar o domingo numa enfermaria a rir à gargalhada dos desgraçados que lá estão? Após estas críticas, o Kant e o Schopenhauer formularam uma outra teoria: rimos da incongruência, ou seja, aquilo que nos dá vontade de rir é o facto de termos uma expectativa desfeita. Somos o único animal que ri, dizem eles, porque somos o único que é impressionado pela diferença de como as coisas deviam ser e como são na verdade. E depois o Freud veio a seguir e disse: não é bem isso. O riso tem a mesma função no ser humano do que aquela válvula tem na panela de pressão, serve para aliviar. Olhamos para as três teorias e pensamos que se calhar cada uma delas descreve uma parte do processo, mas todas juntas não conseguem descrever a totalidade do processo. Aliás, Freud, mais tarde reformulou aquilo que pensava e disse que é de facto uma questão de superioridade, mas é mais complicada do que o que parece porque é uma superioridade minha sobre mim próprio. O que o humor faz é uma superioridade paternal do super-ego sobre o ego. Entretanto, o humor tem substituído a informação em muitos programas. Com vê esta situação? Sobre a substituição, vemos um programa do John Oliver e pensamos: mas porque é que os jornais não disseram isto? Normalmente, a resposta é: porque há mais dinheiro para o entretenimento do que para o jornalismo. Porque os programas de comédia têm um orçamento maior do que uma redacção de jornal. Há uma série de questões relativamente à comunicação social. Em Portugal isso e óbvio. Os grupos de media estão todos a despedir as pessoas que ganham mais e que são os jornalistas mais experientes, e as redações ficam nas mãos de pessoas que ganham 500 euros e que são mais fáceis de controlar por causa disso. E não há grande dinheiro para fazer coisas. Não é só o jornalismo clássico. O Facebook e o Instagram são a vitória ideológica das revistas cor-de-rosa, e a sua derrota comercial. Neste momento, duvido que haja paparazzi em Lisboa. Não é preciso andar atrás da Rita Pereira para saber onde ela anda e o que está a fazer. Ela põe as fotografias no seu Instagram, voluntariamente, e mostra como a vida privada dela esta a decorrer. Já disse em alturas anteriores que não põe limites aos outros. A si, impõe? Imponho-me um limite. Se não tiver nada para fazer rir as pessoas, não digo nada. Assim de repente, se há algum tema que nunca tenha abordado? Sim, há. É um tema sobre o qual não tenho nada de engraçado para dizer. Quando uma criança morre, eu calo-me.
Conflitos que opõem EUA à China e Irão vão continuar, diz analista russo Hoje Macau - 27 Jun 2019 Pedro Caldeira Rodrigues, agência Lusa [dropcap]O[/dropcap]s EUA vão evitar a intensificação dos conflitos que os opõem à China e ao Irão mas as duas crises não serão resolvidas em breve, referiu à Lusa Andrey Kortunov, diretor de um instituto diplomático e académico em Moscovo. “Não creio que a disputa comercial entre os EUA e a China possa ser totalmente resolvida, porque as posições dos dois lados estão muito distantes”, assinalou o director-geral do Conselho de Assuntos Internacionais russo (Russian International Affairs Council, RAIC). “Os EUA pretendem que a China restruture a sua economia e fique privada das vantagens comparativas que possui, e os chineses argumentam que para cumprir as exigências norte-americanas teriam de efectuar transformações muito significativas, com os elevados riscos políticos daí decorrentes”, considerou. O analista admite “um cessar-fogo, ou uma trégua” porque nenhuma das partes pretende, de momento, uma escalada de um conflito com consequências globais. “Todos sabemos que uma verdadeira guerra comercial EUA-China conduziria a uma recessão mundial, que seria generalizada, mas provavelmente e neste caso, afectaria em particular os Estados Unidos”, disse. O calendário eleitoral nos EUA pode ser determinante para esta contenção, após o Presidente norte-americano ter anunciado planos para a reeleição em 2020. Mas que poderá intensificar-se caso Donald Trump seja reeleito para a Casa Branca. “Assim, admito de momento uma espécie conflito de baixa intensidade, com alguns compromissos e concessões, mas o problema não deverá ser resolvido em breve”, adiantou. Numa referência às crescentes tensões entre Washington e Teerão, Andrey Kortunov considera que os riscos são mais elevados. “A política dos EUA face ao Irão tem apenas ‘paus mas não tem cenouras’. Não incentiva a liderança iraniana à moderação, incluindo a nível regional. Pelo contrário, reforça os grupos mais anti-ocidentais e mais radicais em Teerão, o que julgo ser um claro erro”, indica o investigador, interveniente na Conferência anual do Conselho Europeu de relações internacionais (European Council on Foreign Relations, ECFR), que decorreu entre terça-feira e hoje na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. “Trump não está motivado para desencadear uma guerra, primeiro porque sendo um homem de negócios, em termos gerais não gosta de guerras. Para ele é um mau negócio, anunciou que os EUA vão retirar da Síria, do Afeganistão… Iniciar uma nova guerra com o Irão, e com a aproximação da campanha eleitoral para a Presidência, não seria para Trump uma jogada sensata”, antecipou. O custo de um envolvimento militar no Irão implicaria “botas norte-americanas no terreno e mortes norte-americanas”, ressalvou. No entanto admite no imediato outras opções, que Washington já promoveu na região do Médio Oriente. “Os EUA não pretendem interferir, pelo menos em larga escala, mas poderão atingir o Irão com mísseis, como por exemplo Trump atingiu por duas vezes a Síria com mísseis de cruzeiro. Mas excluindo uma operação terrestre em larga escala liderada pelas Forças armadas norte-americanas”, considerou. A eventualidade de um conflito entre o Irão e alguns dos aliados dos EUA na região, como Israel ou a Arábia Saudita, poderia alterar a situação, mas sem o envio imediato de tropas. “Nesse caso, decerto que os Estados Unidos vão fornecer todo o apoio possível aos seus aliados, incluindo diversos fornecimentos, informações, conselheiros, o que seja necessário. Mas sem um envolvimento directo em larga escala”, acrescentou. Na perspectiva de Teerão, sustentou, o objectivo actual consiste em continuar a utilizar o Acordo de Viena sobre o programa nuclear [assinado em 2015 com as principais potências mas entretanto rejeitado pelos EUA] para envolver os europeus. E não considera que o Irão tenha planos imediatos para desenvolver armas nucleares. “No entanto, o Irão possui programas balísticos, algo de sério, e muito bem-sucedido. Mas o perigo para os EUA e seus aliados na região não está limitado ao facto de o Irão obter tecnologias mais sofisticadas de sistemas balísticos”, destacou. Um cenário que envolve directamente Israel, o principal aliado dos norte-americanos na região. “Em Israel considera-se que o problema reside no facto de estas tecnologias poderem terminar nas mãos do Hezbollah [a poderosa milícia xiita no Líbano]. E no caso de um novo surto de violência, o Hezbollah poderá atingir Israel com armamento muito mais preciso, e de forma muito mais significativa que anteriormente”, afirmou. O director-geral do RAIC sustenta que as eventuais negociações em torno da redução do programa balístico iraniano também poderão ser contrariadas por Teerão, e motivadas pelo seu principal rival regional, a Arábia Saudita. “Os iranianos vão responder para se olhar para a Arábia Saudita e a forma como avançaram rapidamente nas suas capacidades balísticas. E os sauditas estão a trabalhar nesta área não apenas com os Estados Unidos mas também com os chineses, existe essa percepção”, disse. Perante um cenário muito volátil, o Irão vai continuar a argumentar que a limitação das tecnologias balísticas, deverá abranger toda a região. “E incluindo nos países que não são propriamente amigos do Irão”, concluiu.
Reunião “secreta” na AL violou lei, mas Plenário “lavou mais branco” João Santos Filipe - 27 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] Comissão de Regimento e Mandatos da Assembleia Legislativa (AL) actuou à margem da lei quando marcou uma reunião sem ter avisado os restantes deputados, a 7 de Novembro do ano passado. Contudo, o presidente da comissão, Kou Hoi In, que defende que a comissão actuou dentro da legalidade, devido a um voto favorável do Plenário, não conseguiu apontar o artigo que permite a marcação das reuniões “secretas” e falou da “prática habitual de vários anos”. O caso aconteceu ontem e a certo momento Kou deu por terminada a conferência de imprensa. Segundo o artigo 46.º do regimento da AL, a convocação das reuniões das comissões tem de ser dada a conhecer “aos restantes Deputados”, ou seja, aos que não fazem parte da comissão em questão. Mas, não foi isso que aconteceu no dia 7 de Novembro, quando a comissão se estava a debruçar sobre dois protestos de Sulu Sou, relacionados com a alteração à lei de reunião e manifestação. Ontem, após uma reunião para debater se o encontro polémico tinha cumprido as regras, Kou Hoi In afirmou ter seguido o artigo 77 do regimento, que define duas coisas. Em primeiro lugar que “cada comissão pode elaborar o seu regimento”. Em segundo que na ausência de regimento interno que se aplica “por analogia, o Regimento da Assembleia Legislativa”. O presidente da comissão foi o primeiro a admitir que não há regimento interno. Mas, no seu entender, os membros presentes na reunião votaram sobre o procedimento dos trabalhos e aceitaram que a reunião prosseguisse sem conhecimento dos restantes. O presidente defendeu ainda que é habitual que não se informem os deputados que não pertencem às comissões sobre reuniões técnicas. Porém, e apesar de dizer que a reunião foi técnica, Kou reconheceu que logo nesse dia se discutiu parte da decisão e que houve consensos que serviram de base para a decisão final. Questionado sobre o artigo que permite que na ausência de um regimento se tome esta medida, Kou Hoi In voltou a mencionar o artigo 77 e disse já ter havido um voto no Plenário, dos outros deputados, que confirmam esta leitura: “O nosso entendimento foi confirmado pelo Plenário”, afirmou Kou. Nessa sessão de 6 de Junho, apenas Sulu Sou, José Pereira Coutinho, Au Kam San e Ng Kuok Cheong se opuseram a esta leitura. Kou foi ainda questionado se uma votação do Plenário está acima da lei e se pode contrariar as regras que se aplicam aos deputados: “Foi a decisão do Plenário. O nosso entendimento foi confirmado pelo Plenário”, reiterou. Queixas de deputados No final da conferência de imprensa, Sulu Sou falou com os jornalistas e considerou que a leitura é errada: “Não é aceitável que as tradições fiquem acima do que está escrito na lei”, justificou. O pró-democrata disse também que a conduta do presidente da comissão “mostra quem está interessado em obedecer e proteger a lei”. Também José Pereira Coutinho contestou a leitura do presidente da comissão e revelou que a reunião tinha começado com uma assessora a dizer aos deputados que era fundamental que o conteúdo interno não fosse tornado público. “Para mim, não há reuniões confidenciais e secretas e não recebo nenhuma instrução ou indicações nesse sentido”, afirmou, no final, ao HM.
A receita chinesa para o choque de civilizações Jorge Rodrigues Simão - 27 Jun 2019 “Various civilizations are not destined to clash. It is foolish to believe that one’s race and civilization are superior to others’ and it is disastrous to willfully reshape or even replace other civilizations.” President Xi Jinping [dropcap]T[/dropcap]odas as civilizações do mundo sentem orgulho na sua história e realizações culturais, e escreveram a história da humanidade tornando cada uma como centro. O presidente Xi Jinping em resposta aos mais sérios desafios globais enfrentados pela sociedade humana, deu uma “receita chinesa” no seu discurso de abertura da “Conferência sobre o Diálogo das Civilizações Asiáticas (CDAC na sigla inglesa)” que teve por tema “enfrentar desafios comuns e avançar para um futuro melhor, requer força económica e tecnológica, mas também cultural e civilizacional”, realizada no Centro Nacional de Convenções de Pequim, a 15 de Maio de 2019. Devido à diversidade de civilizações, é necessário aprender umas com as outras retirando lições para o desenvolvimento. Se as civilizações humanas tivessem apenas uma cor e modelo, o mundo seria monótono e aborrecido demais. O discurso do presidente chinês analisou em profundidade a grave destruição criada pelo conceito de uniformidade em relação às civilizações do mundo. De facto, são justamente as diferentes opiniões sobre a uniformidade e a diversidade das civilizações que se tornaram um importante motivo para criar muitos conflitos, guerras e tragédias na história recente da humanidade, especialmente desde o início do século XV, devido ao grande avanço na astronomia, geografia e nas modernas tecnologias de construção naval e navegação, a interacção entre diferentes civilizações tornou-se mais frequente e generalizada. O rápido desenvolvimento da tecnologia na primeira revolução industrial, fez que a civilização da Europa Ocidental se começasse a expandir, conquistar e colonizar, o que levou a um aumento de poder da região, que foi rapidamente colocada no centro do mundo e não se tratava apenas de ligar todas as civilizações, mas também exercer diferentes graus de influência sobre as demais, que levou a um equívoco, o de acreditar que a civilização da Europa Ocidental e da civilização europeia e americana, cujos principais valores dela são derivados são melhores que as outras. As suas realizações em termos culturais, artísticos, científicos e tecnológicos, ideológico, sistema social, e modelo de desenvolvimento alcançaram o auge das civilizações humanas e acreditam que a civilização europeia e americana tem uma condição universal, isto é, tal visão causou danos extremamente dolorosos às civilizações do mundo na história da humanidade. Tal visão, gerou uma estreiteza e egoísmo na natureza humana e espalhou a semente da discórdia e de guerras com elevado grau de morticínio, sendo de relevar uma guerra colonial de quatrocentos anos, duas guerras mundiais e racismo que nunca são fáceis de erradicar e que estão indubitável e intimamente relacionados com as influências negativas e profundas deste conceito de civilização uniforme. A história milenar da humanidade é um processo no qual diferentes civilizações brilhavam em mudanças ou coexistiam de forma esplêndida e destacaram-se as antigas civilizações da Mesopotâmia, Egipto, América pré-colombiana, India e outras, incluindo a da Europa Ocidental, cujas raízes são as antigas civilizações grega e romana. Assim, incluem-se as civilizações do leste asiático, que sobreviveram por milhares de anos. Ainda que diferentes culturas tenham surgido e decaído, fundido, trocado ou colidido, a coexistência era a norma e a corrente dominante é também a base da civilização humana. As diferentes civilizações promoveram à sua maneira o progresso das regiões e impulsionaram os meios para que as suas características e fenómenos culturais se desenvolvessem, amadurecessem e estabelecessem um padrão que as fez distinguir das demais. O reconhecido historiador inglês Arnold Toynbee, afirmou que cada civilização apresenta características que não são compreendidas pelas outras. É de acreditar que especialmente nesta época de globalização, mais elementos culturais regionais tiveram a oportunidade de se tornar globais, e diferentes culturas foram ainda mais enriquecidas em termos de intercâmbio e aprendizagem mútua, o que também gerou um fenómeno de subculturas, mais diversificadas e plurais. A conotação e extensão da diversidade cultural expandiram-se. Ainda que o conceito de civilização uniforme tenha dado origem à hegemonia ou colonização cultural de uma parte poderosa sobre uma débil, o mundo vai-se dando conta que a realidade histórica tem demonstrado que este conceito não é civilizado e inclusive não é cívico. É inegável que existem diferenças entre as diversas civilizações, especialmente, nesta era de globalização, a relação entre as civilizações sofreu profundos ajustes, o que gerou interacções fortes, multidimensionais e contínuas, e até mesmo colisões entre elas. O início do século XXI, com a influência cada vez menor da Guerra Fria e uma preocupação maior na luta contra o terrorismo, fez surgir a teoria do “choque de civilizações”. É de considerar que “O Choque de Civilizações” é o título da obra de Samuel Huntington, ex-professor em Harvard e um dos mais importantes pensadores políticos contemporâneos. O livro, de 1996, é o resultado de um artigo anterior, escrito contra o livro “O Fim da História e o Último Homem”, de Francis Fukuyama, professor na Universidade Stanford, e publicado na revista “Foreign Affairs”, em 1993. A tese do artigo primitivo, que o livro expande e está repleto de detalhes, é de que uma vez terminada a Guerra Fria, outras tensões geopolíticas mundiais começarão e as suas linhas de fractura serão “civilizações”. São conjuntos normativos fechados, culturas activas com memória, capazes de estabelecer uma vontade política comum. Tal vontade é baseada apenas no que é comum aos mesmos, geralmente uma visão religiosa de si e do mundo. Há, segundo Samuel Huntington, “sete ou oito” grandes civilizações, a da Europa Ocidental que inclui a América do Norte e a Austrália; os ortodoxos cristãos, os chineses japoneses, os islâmicos, os hindus e os africanos, os latino-americanos e talvez os budistas que estão no término. O Ocidente é e será por algum tempo a civilização mais poderosa. Mas cada grande área tem um país líder e a teia do poder mundial é formada por poderes de diferentes civilizações. Assim, ninguém pode impor-se aos outros. A trama de fundo em que se desenvolve a tese de Samuel Huntington é clara, pois basta conhecer a história e a demografia. As civilizações do passado foram todas permeáveis às inovações técnicas dos seus contemporâneos, mas nunca aconteceu que uma civilização sentisse a necessidade de importar inovações morais ou políticas. As “expansões” foram feitas pelas formas religiosas que são o endurecimento das fronteiras de valor. O professor Samuel Hutington acreditava que nenhuma grande religião nova ou sincrética é apreciada no futuro e cada poder central das diferentes civilizações competirá com as outras, ou então realizará com algumas alianças estratégicas, enquanto criará os seus satélites para os países menos poderosos da sua área civilizadora. O mundo é e continuará a ser multicultural e multifocal, sem que isso garanta tolerância ou paz, porque as civilizações competirão sem remédio. Os conflitos aparecerão nas “zonas de fractura” nos países onde elas se limitam, e há fronteiras mais difíceis do que outras. A partir da análise do conflito religioso plural na ex-Jugoslávia, Samuel Huntington tira a conclusão de que o Islão é a civilização mais problemática, demográfica e valiosa, embora deva ser dada atenção especial à Índia e à China, que se tornarão superpotências económicas. Todavia, a ordem fomentada pelo Ocidente, com a sua tabela de valores e Direitos Humanos, não é universal nem será; não sendo credível e os grupos civilizacionais não a atacam directamente, não porque a obedeçam ou estão em processo de fazê-lo, mas porque ainda não têm a força para o fazer e não a vivem como universal, mas como o próprio Ocidente, exógeno e baseado na força. Nenhuma civilização prevaleceu; e, embora Arnold Toynbee se tenha inquirido se o Ocidente poderia mudar, universalizando e sobrevivendo, não parece que Samuel Huntington, que em tantos pensamentos o segue, fosse tão optimista. O Ocidente tem interesses em todas as outras civilizações, mas é uma minoria demográfica cada vez menor. Acredita-se que o conflito entre as diferentes civilizações domine o mundo e que as diferenças culturais sejam as causas essenciais desses conflitos. O chamado “choque de civilizações”, de facto, é apenas um fenómeno superficial para o pensamento chinês. As suas raízes estão na procura e captura por parte de diferentes países e grupos étnicos de poder, riqueza e segurança. A causa real é de natureza socioeconómica e é o resultado irracional e injusto da ordem política do mundo. O presidente chinês afirmou de forma lapidar durante a CDAC que não deve haver conflitos entre as diferentes civilizações, mas apenas ter olhos para apreciar a beleza de todas elas. É verdade que não existe conexão directa e inevitável entre conflitos e civilizações plurais e diversificadas. Os preconceitos e mal-entendidos devido ao isolamento e à má comunicação são um terreno fértil para criar e agravar conflitos. O respeito pela diversidade cultural do mundo, a persistência nos princípios de procura de áreas comuns que marginalizem as diferenças, e promovam os intercâmbios e aprendizagem mútua, contribuirão para o conhecimento e entendimentos completos e objectivos entre as diferentes civilizações, e encorajarão a sua coexistência em harmonia e desenvolvimento. É necessário primeiro construir plataformas de intercâmbio e deslocar o seu papel, por exemplo, com a construção de mecanismos culturais bilaterais e multilaterais, a convocação de conferências regionais sobre o diálogo entre civilizações ou o apoio a organizações como a UNESCO. É de considerar que em segundo lugar, deve ser tido em conta que cada civilização tem as suas próprias vantagens. As pessoas devem manter uma mente aberta em relação a intercâmbios e diálogos, aprender com as conquistas alcançadas e promover a prosperidade e progresso comum da civilização humana. É este o sentido de trabalhar juntos para construir uma comunidade de destino compartilhado. Em um tempo como o que vivemos, de desenvolvimento e mudanças gigantescas, a coexistência harmoniosa com outras civilizações é a oportunidade de alcançar o desenvolvimento. A CDAC oferece uma nova plataforma para os países da Ásia e do mundo, para que possam dialogar, realizar intercâmbios, aprender uns com os outros e iluminar uns aos outros, e também consolidar a base de construção conjunta da comunidade de destino da Ásia e da humanidade. Aquando da abertura da CDAC, o presidente chinês rejeitou a teoria de que diferentes civilizações estão fadadas a colidir e que era tolice acreditar que a raça e a civilização de alguém é superior à de outros, sendo desastroso reformular deliberadamente ou mesmo substituir outras civilizações, tendo feito uma proposta de quatro pontos para consolidar a base cultural da construção conjunta de uma comunidade com um futuro compartilhado para a Ásia e humanidade; como tratar uns aos outros com respeito e como iguais; apreciar a excelência de todas as civilizações; aderir à abertura, inclusão e aprendizagem mútua e acompanhar os tempos. A Ásia é o berço de muitas civilizações importantes no mundo, como as civilizações indianas, mesopotâmica e chinesa. Houve intercâmbios frequentes e aprendizagem mútua entre as civilizações asiáticas ao longo da história, por exemplo, o budismo espalhou-se pela China e outras partes da Ásia. A filosofia dos antigos pensadores chineses, como Confúcio e Mencius espalhou-se pela Ásia e pelo mundo para fornecer orientação para a conduta humana e governança. A astrologia e a ciência médica dos países árabes chegaram à China através da antiga “Rota da Seda”. Os países asiáticos sempre tiveram uma base sólida na história para o diálogo e comunicação. Os intercâmbios culturais, actualmente, continuaram em vários campos, como filmes, literatura e protecção do património cultural. O primeiro filme co-produzido pela China e Cazaquistão, “The Composer”, foi estreado em 17 de Maio de 2019, durante o CDAC. O musical narra os últimos anos de 1940 a 1945 do compositor chinês Xian Xinghai, nascido em Macau e mais conhecido pela sua “Cantata do Rio Amarelo”, em Alma-Ata, a maior cidade do Cazaquistão, e Moscovo. O presidente chinês destacou a importância das trocas e aprendizagem mútua entre civilizações em várias ocasiões. Em um discurso na sede da UNESCO em Paris, em 2014, afirmou que as civilizações tornaram-se mais ricas e mais coloridas com intercâmbios e mútua aprendizagem. Tais intercâmbios e aprendizagem formam um importante impulso para o progresso humano, paz e desenvolvimento global. A CDAC foi proposta na reunião de cúpula da “Conferência sobre Interacções e Construção de Confiança na Ásia (CICA na sigla inglesa)”, em Xangai, em 2014, e novamente na “Conferência Anual do Fórum Boao para a Ásia (FBA na sigla inglesa)” que se realizou na província de Hainan no sul da China, em 2015. A exposição no “Museu Nacional de Arte da China” em Pequim, durante a CDAC teve uma interessante mistura. Havia pinturas de artistas chineses retratando outros países da Ásia, bem como paisagens chinesas e pessoas desenhadas por artistas de outros países asiáticos. O discurso do presidente chinês aquando da abertura da CADC foi muito caloroso, expressando a sua disposição de abrir os braços a todas as civilizações na Ásia e do mundo, enfatizando a necessidade de lidar com diferentes civilizações em pé de igualdade e que nenhuma delas tinha o direito de ser superior. Todas as civilizações têm as suas singularidades e a sua parte na herança humana. Ao invés do “choque de civilizações”, afirmou a necessidade de cooperação entre civilizações e de construir uma comunidade de civilizações com um futuro partilhado, invertendo a direcção de muitas ideias de progresso no mundo que levam à existência de relações de confronto entre países e civilizações. Actualmente existem duas tendências no mundo, sendo a da globalização e a da desglobalização. Os Estados Unidos estão a tentar destruir a actual ordem mundial, tendo cancelado a sua participação em vários acordos globais como o “Acordo Climático de Paris”, mas a China lidera a globalização e oferece ao mundo grandes ideias como a “Iniciativa Faixa e Rota” e um futuro compartido para a Ásia e toda a humanidade. A China está a oferecer um novo farol de esperança. O diálogo é a aspiração comum das pessoas na Ásia. A CDAC pode aumentar a consciência da civilização asiática. A Ásia tem civilizações antigas, diversas e ricas. No entanto, por muito tempo na história, a civilização ocidental dominou o mundo e a civilização asiática foi suprimida até certo ponto. A tese chinesa é uma censura poderosa para os que defendem a teoria do “choque de civilizações”. A Ásia possui mais de 60 por cento da população mundial e um terço do PIB mundial e tornou-se um importante motor para o crescimento económico global. A civilização asiática adoptará uma renovação e o CDAC será um catalisador para essa reforma.
A história da caverna negra Luís Carmelo - 27 Jun 20196 Mar 2020 [dropcap]A[/dropcap] 6 de Dezembro de 1947, Jorge Luís Borges deu em Harvard uma conferência no contexto das “Palestras Norton”, intitulada “Contar o conto”. A passagem mais significativa do texto compara a épica com a tradição moderna do romance. Referia o autor que a diferença não se situa “entre verso e prosa”, nem “entre cantar uma coisa e dizer uma coisa”. A diferença de fundo era outra. Cito: “O que é importante no poema épico é um herói – um homem que sirva de modelo a todos os homens. Ao passo que a essência da maior parte dos romances está na falência de um homem, na degenerescência do carácter. Hoje, quando as pessoas pensam em final feliz, pensam-no como concessão ao público ou pensam-no como estratagema comercial. Contudo, durante séculos os homens puderam muito sinceramente acreditar na felicidade e na vitória, embora sentissem a dignidade essencial da derrota.” Pode resumir-se esta duplicidade, aliás já bastante estudada, do seguinte modo: ao imaginar-se o homem a dialogar e a respirar no meio dos deuses, é natural que os relatos tendam a elevá-lo quase a deus. Por seu turno, ao imaginar-se o homem livre e capaz de tomar conta de si próprio, é natural que os relatos tendam a dar conta da sua queda. As histórias de Ulisses, Jesus, Gilgamesh, Alexandre ou Sindbad nada têm que ver com as personagens presentes nos enredos criados por Kafka, Poe, Roth, Rubem Fonseca ou Houellebecq. O mundo antigo e o mundo moderno chocam, de facto, neste ponto seminal. O caso fez-me relembrar um romance de Ernesto Sabato, O Túnel, escrito quase na mesma altura em que Borges esteve em Harvard (1948). O livro começa por anunciar do que trata logo no início: “Bastará dizer que sou Juan Pablo Castel, o pintor que matou Maria Iribarne”. Aparentemente, o leitor é imediatamente lançado contra a parede. Nas páginas que se seguem, a ficção abre-se ao jeito de um desdobrável, dando conta da inauguração de uma exposição de pintura (o Salão da Primavera de Buenos Aires de 1946) em que uma mulher, Maria Iribarne, se apaixona por um pequeníssimo detalhe de um dos quadros expostos (uma janela de milímetros inscrita no fundo de um óleo onde contracenam uma mãe e um filho). Este facto viria a mudar a vida do pintor Castel. Apesar de ter observado a mulher verdadeiramente extasiada apenas durante alguns minutos, nos meses que se seguiriam – cito – “só pensei nela, na possibilidade de a voltar a ver. E de certo modo só a pintei a ela. Foi como se a pequena cena da janela começasse a crescer e a invadir toda a tela e toda a minha obra”. O ponto de viragem é habilmente explorado por Sabato, pois dá origem a uma série de contingências mais ou menos inesperadas que conduz ao encontro dos dois e à sua inevitável (e fatal) atracção. Há cartas, telefonemas, idas de comboio a uma casa de campo, ciúme e toda uma encenação fantasmática que transformará a aventura em tragédia. No final, a regra cumpre-se. Diz o protagonista: “Quando me entreguei, na esquadra, eram quase seis horas. Através da janelita do meu calabouço, vi como nascia um novo dia, como um céu sem nuvens. Pensei que muitos homens e mulheres começariam a acordar e logo tomariam o pequeno-almoço e leriam o jornal e iriam ao emprego, ou dariam de comer aos filhos e ao gato, ou comentariam o filme da noite anterior. Senti que uma caverna negra ia aumentando dentro do meu corpo”. Percebe-se que a literatura visa uma simples brecha ou um lapso premeditado. Talvez nos queira só ensinar a morrer, nobre tarefa que enche toda a história da filosofia. A janela de Maria Iribane terá sido o simples pretexto para que um ponto de viragem pudesse dar acesso à “caverna negra”, ou à queda, que tanto atraiu os modernos e que tanto continua a cativar os contemporâneos. Borges fez o diagnóstico elementar e Sabato cumpriu-o com um plot inventivo. A Argentina é um país maravilhoso, claro está. Mas estávamos ainda no plano dos livros, objectos que se abrem e fecham, quando viajamos de comboio no primeiro dia de verão, sabendo que antes contaram com editores, críticos, leitores devotados, filtros qb. Há quatro anos, neste mesmo mês de Junho, Umberto Eco esteve em Turim para um doutoramento ‘honoris causa’ e testemunhou o desígnio da actual “caverna negra” com as seguintes palavras: “No nosso tempo, as redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis que, antes destas plataformas (mesmo com romances debaixo dos braço), apenas falavam nos bares, depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a colectividade”. Se os humanos nunca se habituaram a viver fora de mediações razoavelmente restritivas, fossem elas proféticas, épicas, jornalísticas, científicas ou literárias, o actual cenário parece estar a recuar para um tempo pré-mitológico, dir-se-ia mesmo primitivo, e, portanto, anterior à noção de herói, configurando-se naquilo que Rudolf Otto designou por “numinous”. Mas este recuo alia-se ao poder da tecnologia, o que significa que o seu impacto poderá ser letal. Sem alardes de pessimismo, parece claro que a “falência do homem” e a “degenerescência do carácter”, realçadas por Borges, estão prestes ou, pelo menos, caminham no sentido de atingir uma espécie de cume. Esperemos, contudo, que seja um cume de Sísifo.
Relicário de sonhos III Gisela Casimiro - 27 Jun 2019 [dropcap]S[/dropcap]onhei que toda a gente me perguntava constantemente pelos sapatos verdes de andar para trás. E eu ficava ofendida e magoada. Sei que a dada altura queria provar que não eram assim, que não eram verdes e que não os usava com esse propósito, e procurava por eles num grupo de caixas, em frente a algumas dessas pessoas, para depois encontrar, no meio de tantos, que pertenciam aos outros, um par de sapatos verdes intactos, que eram do meu número mas que eu sabia nunca ter calçado. Estava triste, e alguém me dizia que ia falar com o Rufus Wainwright, e ligava-lhe, na verdade eu estava chateada com o namorado dele, que não me consigo lembrar quem era, mas acho que também era conhecido, e ia procurar um poema que sabia ter escrito sobre isso. Quando o achei rasguei a folha em duas sem querer. Na altura já estava noutra sala e queria fazer as pazes, visto que eram ambos meus amigos. Não estava com eles mas conseguia vê-los de onde estavam. Para além disso, antes sonhei que o Lou Reed ia lá a casa para conhecer as minhas irmãs, que eram as Jenner mais novas, e tínhamos de provar que elas faziam bodyboard porque era o desporto preferido dele, e elas tinham de fingir que não sabiam que ele vinha. Mas o Lou só queria dormir, e até tive de o aconchegar. Quando se levantou finalmente e mesmo antes da apresentação, decidiu voltar para a cama, e as miúdas ficaram muito desapontadas, sentadas na beira da banheira com os seus fatos de bodyboard e as pranchas que mal cabiam no wc. Havia um buraco na porta que estávamos todos preocupados em ocultar, embora não perceba porquê. Sonhei que fazia parte da família Kardashian e que estava com eles num hotel, e passava uma manhã inteira a nadar sem me cansar, toda a gente na piscina, Kim e Kanye inclusive, conversando, não me recordo sobre o quê, e eu tinha acabado de sair do hospital. A dada altura subia para escolher o quarto, havia muitos dentro da nossa suite, de seu nome Bairro Alto. Antes disso, andava pelas ruas com outras personagens, mas personagens mesmo, que fugiam, e talvez eu também, de alguém, e se disfarçavam, a dada altura, de apanhadores de lixo. Após passar o perigo eu tirava fotos, com as mãos, do edifício em frente, e o que fixei foi que iam sempre aparecendo cães diferentes em cada janela, que às vezes ocupavam a janela inteira, cães gigantes. O prédio estava quase em ruínas, mas viviam lá pessoas que ocasionalmente surgiam ao lado dos cães. Ao lado havia um café muito bonito, onde vivia uma senhora que, diziam, também não era bem o que parecia. Eventualmente alguém ia lá obter informações, mas não me recordo de mais nada. Sonhei que ia a uma livraria com a minha irmã, e ela dizia que eu tinha mesmo, mesmo de ler o “…Valsa Lenta” (ela nunca dizia o título todo, evitava De Profundis), e que não bastava ler o livro, tinha de ouvir a música, mas quando o folheava havia uma dedicatória para uma Joana e imagens de livro de receitas na contracapa. Havia mais dois livros que eu estava a ver, de capa preta, do mesmo autor, e um tinha capítulos minúsculos, mas do que li e agora não recordo, parecia ser muito bom; supostamente havia uma ordem correcta de leitura do conjunto de três. O dono da livraria estava ao nosso lado a aconselhar-nos, no entanto havia um casal a causar distúrbios mais à frente e então ele foi lá. Quando olhei para o lado direito (o senhor tinha estado do lado esquerdo), havia uma criança a treinar uma espécie de vira, para gáudio da avó. A mãe também aparecia, estava a arranjar a maquilhagem, e tinha um colar em forma de casa gigante e colorida que por algum motivo me lembrava os Pauliteiros de Miranda. Sei que tanto a mãe como a filha olhavam para os livros como se estivessem a ver-se ao espelho, e que antes de chegar à livraria tivemos de passar por muitos outros espaços e ficámos sempre paradas a falar com alguém. O resto ficou lá, mas fica sempre, não é? Outro dia sonhei que ia a uma faculdade que ficava numa espécie de castelo, e que se podia adicionar/fazer amigos sem ter de estar com eles, e havia um rapaz que eu ia adicionar por recomendação de um amigo, no entanto hesitei e ele acabou por aparecer e impôr-se. Entretanto, aparecia um ex-amor, amigo desse rapaz, que me dizia que já sabia que eu ali estava mas tinha esperado pelo momento certo e fazia um belo discurso que, por algum motivo eu ficava muito feliz por ouvir. Em seguida eu atravessava um campo de futebol durante um jogo e defendia-me da bola com as mãos, acabando por pedir desculpa a todos, embora não fizesse parte de nenhuma das equipas. Depois, encontrava uma foto a preto e branco do futuro vencedor, lavado em lágrimas, de um prémio que vinha numa garrafa de cerveja. No cimo da torre estavam o Jorge Gabriel e uma apresentadora que não conheço a anunciar o dito. O chão coberto de tampas de abertura fácil de cerveja, gigantes e cinzentas, mas não havia ninguém na rua. Sonhei que estava na faculdade e ia ao wc apenas para ser encurralada por três miúdas faladoras que pediam a minha opinião sobre um trabalho que iriam apresentar nesse mesmo dia, acerca da Barbie. Para além de o trabalho ser uma apresentação feita em quadro branco de sala de aula que elas transportavam para todo o lado, estava muito mal feito e parecia-me plágio de um trabalho que a minha irmã tinha apresentado. Como se não bastasse, a palavra Barbie estava mal escrita, “Barby”, e eu disse-lhes isto, mas elas não alteraram, e foram embora mas não sem antes me olharem com aquele desdém de quem sabe melhor do que eu como se escreve o nome da boneca mais famosa do mundo porque até há bem pouco tempo ainda brincavam com ela. Fui ter com a minha irmã e pelos vistos ela já estava em paz com o facto de toda a gente andar a copiar o trabalho dela, mas eu continuava preocupada com a palavra Barbie, receosa de estar errada, e não descansei enquanto não vi o logo algures e acabei o sonho dizendo, aliviada, “Eu sabia que era com ie no fim!” 2014 Sonhei que entrava no autocarro errado (ia para Sintra, vindo de muito longe), e assim que me apercebia pedia ao motorista para parar e deixar-me sair, contudo ele recusava, dizendo que se eu pagasse mais um euro ou lá o que era podia desviar-se até à cidade que me interessava. Eu ia à frente e o lugar do motorista era a meio, virado de lado, e conduzia com umas manivelas estranhas. O autocarro só tinha cinco bancos, todos eles ocupados, embora fosse de tamanho normal. Eu estava em constante assombro porque todas as pessoas estavam calmamente no meio da estrada e ninguém se desviava senão no último segundo. Era de noite e eu tinha muita pressa para ir pagar o condomínio de uma casa onde já não vivia há tanto tempo que tinha dificuldade em recordar-me da cidade e da rua onde vivera, e a única pessoa que poderia ajudar, e de quem eu só recordava o nome e o rosto, não atendia (tinha algumas pistas num papel que tentava ler, em vão, porque aparecia tudo em branco).
A Arte Ressurecta António Cabrita - 27 Jun 2019 [dropcap]D[/dropcap]izia Francis Bacon que pintar oscilava entre a intenção e a surpresa. Enfatizava as contribuições não planeadas e inconscientes no processo. Também a escultura brasileira Ana Maria Pacheco: «Obviamente, sei qual é a estrutura da composição, mas não sei como vai evoluir. É por isso que não faço modelos, de outro modo seria apenas um design. Estaríamos a lidar com aquilo que sabemos. Nas artes visuais temos de lidar com o que não sabemos». Eis-nos nos antípodas de Jeff Koons que projecta e manda fazer as suas peças, nunca se envolvendo no processo, num gesto, diria Ana Maria, de designer. Também a famosa peça de Mark Wallinger, Uma Verdadeira Obra de Arte – um ready-made vivo: um cavalo – está mais do lado do design do que da arte: ficam os trunfos jogados no momento da decisão, abolida a experiência do processo. E suspeito que diferente não seja com My Bed, de Tracey Emin, que foi finalista do Prémio Turner, uma peça que ilustra porque introduziu o poeta Craig Raine o termo “homeopático” para descrever uma obra cujo conteúdo artístico é tão diluído, que não oferece maior efeito estético que o de um placebo. Um bom placebo, igualmente, a peça referencial de Joseph Kosuth, Uma e três cadeiras, onde se dispõem os três diferentes elementos que conformam o conceito cadeira: a cadeira, a imagem da cadeira, a descrição da cadeira. A redundância no jogo dos análogos não descola a peça do já sabido, nem incita a uma nova relação ou a jogo diverso com a cadeira. Temos programado design e não arte. Estabelece-se uma nova relação quando, por exemplo, se ilumina que se traçarmos dois riscos paralelos entre si na verdade desenhamos também o risco branco que fica no meio entre eles e então somamos. 1+ 1 = 3. Se não se gera este movimento, inaugurando um âmbito, qualquer peça é amorfa, não nos transforma. Eis a superioridade da cabeça do touro de Picasso sobre o urinol de Duchamp: a escultura não só subverte a funcionalidade dos elementos que a formam, molda outra percepção. Também sobre a arte mas sobretudo quanto a como re-inaugurar o mundo. Com Duchamp, combatemos os preconceitos sobre os limites da arte, emergiram novos materiais para a arte e ganhou-se um trocadilho, mas o mictório continua um mictório: o terceiro da relação não transitou do conceito para o coração – mudou a arte mas não mudou com esta o olhar. Pura tagarelice cerebral. Aliás, para a escolha dos objectos que fossem “elevados” a ready-made, Duchamp tinha um adjectivo: indiferente. O objecto escolhido tem de destacar-se pelas suas não-qualidades. Busca-se uma isenção, uma impessoalidade. Estamos no pleno sistema dos objectos. Daí que Duchamp tenha afirmado, Eu dou àquele que observa (a obra de arte), tanta importância como àquele que a realizou. A blague de quem sabe ter-se distinguido na singularidade de reivindicar o anonimato para a arte. Era um homem fascinado pelo engenho da sua inteligência, habituado ao bluff, ou veja-se a sua última obra: «Étant donnés»; aí obriga o espectador a mirar através do buraco duma fechadura, produzindo uma situação onde não só ele controla a posição do observador e o seu ponto de vista – quando suprimira o controle na arte –, como realiza uma obra que, contra tudo o que escreveu e defendeu toda a vida, é bastardamente retiniana. O seu discípulo mais fecundo e um grande pensador foi John Cage, que se colocou contra o mestre em muitas posições. E por isso disse: O que peço à arte é que mude a minha forma de olhar. Quando reparo que um selim e um guiador de bicicletas resultam numa terceira imagem que ampliou o meu campo da percepção, flano à procura de novos nexos que despertem outras alterações no padrão com que olhava a realidade e aí o mundo torna-se de novo maravilhosamente inacabado, ficando em co-criação com ele. O artista, na concepção de Cage, é aquele que inaugura âmbitos. O âmbito abre um poro na nossa relação com o mundo, que passa a ser visto diferentemente porque fomos contaminados pelo despontar de uma nova interpretação, que nos constipou como o vento numa casa quando se escancaram as janelas. O artista transporta-nos à aventura de nos devolver um mundo inacabado e não cristalizado. E por isso passível de ser transformado. Embora seja preciso acreditarmos que o mundo existe fora de nós e não é apenas a vitrina para expor a nossa arte, o circo de pulgas do nosso engenho. Fiquei mais convencido ao deparar com uma artista conceptual que me parece dar um bigode à “esperteza” dos ready-made de Duchamp. Chama-se Cornelia Parker, a autora de uma das grandes obras-de-arte britânicas do século XX, Matéria Negra Fria: Uma Visão Explodida/ Cold Dark Matter (1991). Parker pediu ao exército britânico que fizesse explodir uma barraca de jardim cheia de objectos pessoais. Depois, como se quisesse reconstituir um frame do acto da explosão, pegou nos fragmentos sobreviventes e suspendeu-os no tecto, iluminando-os do interior por uma lâmpada, o que cria um efeito dramático e projeta sombras nas paredes da galeria. Como é nítido pela imagem, Parker pega nos fragmentos e trabalha não apenas a escala alterada e a substância das coisas, ela suga-nos (aos espectadores) para o centro daquele caos (tal a força daquela luz centrípeta) e convida-nos a reconstituir com ela a catedral da memória, de que as sombras serão os vitrais. É uma experiência que, pela força inédita que nos atinge, equivale a uma estrondosa metáfora da vida. Eis um “ready-made” que não afecta apenas o olho e a mente, cativa o coração. O que nos subtrai à “indiferença estética”: nesta galeria ficamos expostos a uma dança que nos mudará, nesse pas de deux. «O universo está morto mas tem a capacidade de ressuscitar!», assegurava o físico Michael Polanyi.
Entradas para filmes e concerto do Festival das Artes à venda a partir de sábado Hoje Macau - 27 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] partir de sábado, dia 22, e terça-feira, 25, estão disponíveis para venda os bilhetes para o 2.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, mais concretamente para duas actividades que fazem parte do cartaz do evento, nomeadamente o festival de cinema e o concerto “Instrumentos Tradicionais Chineses de Corda e Fado”, da Orquestra Chinesa de Macau. Os bilhetes para o cinema estarão à venda na Cinemateca Paixão a partir de sábado às 10h, ao preço de 60 patacas por sessão, enquanto que os bilhetes para o espectáculo musical estarão à venda na bilheteira online a partir das 10h30 de terça-feira. O “Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa” realiza-se de 4 a 17 de Julho no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) e na Cinemateca Paixão, contando com a projecção de 26 filmes em três sessões. São eles “Retrospectiva de Clássicos”, “Nova Visão da China e dos Países de Língua Portuguesa” e “Olá Macau”, complementada por conversas pré e pós-projecção. O filme de abertura “Primavera Numa Cidade Pequena”, do poeta e realizador chinês Fei Mu, será exibido no dia 4 de Julho, pelas 19:45 horas, no Pequeno Auditório do CCM. Após a projecção do filme, Dai Jinhua, Professor da Universidade de Pequim, é convidado a conduzir uma conversa para falar do cinema chinês e seu enfoque duplo na paisagem rural e na perspectiva urbana. Será também exibido o filme “A Portuguesa”, uma obra experimental da realizadora portuguesa Rita Azevedo Gomes. A película será projectada como evento de encerramento do capítulo dedicado à sétima arte. Este filme é uma adaptação do romance do austríaco Robert Musil, sendo nomeado para prémios no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2018 e Festival de Cinema de Mar del Plata 2018. Além disso, serão também exibidas diversas curtas-metragens locais. Moutinho dia 5 Os bilhetes para o concerto com Hélder Moutinho e a Orquestra Chinesa de Macau começam a ser vendidos na terça-feira, sendo que o espectáculo acontece a 5 de Julho pelas 20h no Grande Auditório do CCM. De acordo com o Instituto Cultural (IC), que organiza este festival, este concerto “irá evidenciar o impacto do intercâmbio cultural e artístico entre a China e Portugal, reflectindo o charme único da integração harmoniosa das culturas chinesa e portuguesa”. A orquestra “irá apresentar uma variedade de belas obras clássicas da música chinesa, proporcionando ao público uma experiência musical absolutamente nova”.
Orquestra de Macau convida maestro português para digressão à China e Portugal Hoje Macau - 27 Jun 2019 A celebração dos 40 anos de relações diplomáticas entre Portugal e a China foi o mote para o convite feito ao maestro Pedro Neves, que vai colaborar com a Orquestra Sinfónica Jovem de Macau numa digressão à China e Portugal [dropcap]O[/dropcap] maestro português Pedro Neves disse à Lusa que vai colaborar com a Orquestra Sinfónica Jovem de Macau numa digressão à China e Portugal para assinalar os 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países. O convite surgiu porque a Orquestra Sinfónica Jovem de Macau “gostaria de trabalhar com um maestro português nesta digressão”, que inclui três concertos em Portugal, explicou Pedro Neves, maestro principal da Orquestra Clássica de Espinho. O objectivo da digressão é celebrar não apenas o 20.º aniversário da transferência de administração de Macau, mas também o 40.º aniversário do restabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a China. Pedro Neves está já em Macau para os ensaios antes do primeiro concerto, que no sábado assinala o 22.º aniversário da Associação Orquestra Sinfónica Jovem de Macau, marcado para as 20h no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau. Numa orquestra jovem, “o maior desafio é sempre aproveitar da melhor forma a energia e a vivacidade que são próprias dessa faixa etária, colocando essa motivação ao serviço da música”, explicou Pedro Neves. A orquestra é formada por jovens músicos chineses de Macau, com a excepção do lusodescendente Júlio Miguel dos Anjos. Mas Pedro Neves acredita que “a barreira da língua é um problema quase insignificante porque o código musical é universalmente muito forte e o entendimento entre os músicos vai muito para além das palavras”. Mais concertos em Julho A colaboração de Pedro Neves continua em Julho, com o segundo espectáculo, no dia 19, às 19h30 na sala de concertos da National Library Arts Center, em Pequim. O programa do concerto na capital chinesa inclui música clássica ocidental, mas também “O Mundo dos Insectos”, da autoria de Doming Ngok-pui Lam, compositor nascido em Macau, e ainda uma canção inspirada pela lenda milenar chinesa “Os Amantes Borboleta”. “Espero que o público nos possa acolher da melhor forma, possa compreender a mensagem das obras que vamos interpretar”, disse Pedro Neves. Após visitar Pequim, a digressão continua em Portugal. A Orquestra Sinfónica Jovem de Macau toca a 21 de Julho, pelas 21h30 horas no Festival ao Largo, em Lisboa, antes de ir ao Festival das Artes em Coimbra, a 24 de Julho. A digressão termina a 27 de Julho no Festival do Marvão.
Zhuhai | Seguro médico para residentes de Macau arranca a 1 de Julho Sofia Margarida Mota - 27 Jun 2019 Estudantes e idosos de Macau que residam em Hengqin vão ter acesso ao projecto piloto de regime de seguro medico básico do continente. Para tal, só precisam ser portadores do cartão de residência chinês [dropcap]A[/dropcap] data está marcada. No próximo dia 1 de Julho entra em acção o projecto piloto de acesso de residentes de Macau ao seguro básico de saúde em Zhuhai. Para já, a iniciativa vai estar circunscrita à Ilha da Montanha e é aplicável apenas a três grupos de residentes: crianças com idade igual ou inferior a 10 anos, estudantes do ensino primário e secundário e a pessoas com idade igual ou superior a 65 anos. A informação foi dada ontem em conferência de imprensa pela sub-directora dos Serviços de Saúde, Ho Ioc San. Segundo a responsável, para que os residentes de Macau que vivem em Hengqing tenham direito ao apoio têm de ser portadores do documento de autorização e residência chinês. Recorde-se que de acordo com as directivas de Pequim, desde Setembro do ano passado, os residentes chineses de Macau, Hong Kong e Taiwan que vivam no continente há, pelo menos, seis meses, podem ter acesso ao referido documento. A medida foi criada para permitir o usufruto de condições apenas dadas aos nacionais. Um dos direitos conferidos é a adesão à segurança social, ou seja, o direito a igual tratamento nacional através do regime do seguro básico de saúde do Interior da China”, recordou Ho Ioc San. O Governo Central vai contribuir para este projecto com 590 renminbi por ano, enquanto que Macau vai apoiar os adultos – pessoas com mais de 65 anos – com 410 renminbi anualmente, enquanto os estudantes e menores de 10 anos têm o apoio de 180 renminbi. Passos maiores O presente projecto piloto vai ter a duração de seis meses a um ano, após a qual vai ser sujeito a avaliação. A ideia é aproveitar a iniciativa da Ilha da Montanha como exemplo para alargar o âmbito de acção tendo em conta as cidades que envolvem o projecto de cooperação regional da Grande Baía. “O objectivo é facilitar a integração dos residentes na Grande Baía para os estudos, para viver e na sua velhice”, apontou. “Há diferentes regimes entre Macau e Zhuhai e este projecto é para saber como combinar estes dois sistemas”, acrescentou a sub-directora dos SS. A ideia foi reforçada pela directora da Administração de Segurança da Saúde da cidade de Zhuhai, Cheng Zhitao que enquadrou o projecto como uma forma de “dar aos residentes de Macau melhores condições para viver e estudar na Ilha da Montanha, indo de encontro às directivas do presidente chinês Xi Jinping em “apoiar Hong Kong e Macau no plano de desenvolvimento da Grande Baía”. De acordo com os dados fornecidos ontem pelos representantes dos Serviços de Saúde vivem actualmente 281 residentes de Macau em Hengqin portadoras do documento de autorização se residência chinês, mas “há mais pessoas que vão pedir este cartão de autorização”. Segundo Ho Ioc San, o aumento de pedidos está relacionado com a quantidade de residentes locais, cerca de 3000, que neste momento têm negócios e escritório na área vizinha.
Eva Air | Cancelados 14 voos a partir de Macau este fim-de-semana Hoje Macau - 27 Jun 2019 [dropcap]A[/dropcap] companhia aérea Eva Air, de Taiwan, anunciou no seu portal que serão cancelados um total de catorze voos das linhas entre Taiwan e Macau agendados para este fim-de-semana. O cancelamento acontece devido à greve dos funcionários de bordo da Eva Air, que já vai no sétimo dia. Os trabalhadores exigem melhorias salariais e regalias. Os voos cancelados têm como destino Taipé e Kaoshiung.