Chefe do Executivo | Experiência em bairros pode ser referência para LAG

Ho Iat Seng admitiu ontem que, apesar de ser tarde demais para alterar o programa político, as experiências que viveu durante a campanha podem influenciar as linhas de acção governativa

 

[dropcap]N[/dropcap]a recta final da campanha e a escassos dias de ser eleito, Ho Iat Seng visitou ontem a Associação Geral das Mulheres de Macau (AGMM), onde confessou que raramente visita instituições particulares de solidariedade social, como a Associação de Reabilitação Fu Hong de Macau e a própria AGMM.

No entanto, o candidato refere que as associações que visitou e os testemunhos ouvidos servem como uma espécie de “aula” para tomar conhecimento dos actuais serviços e para onde são canalizados os benefícios distribuídos pelo Governo no apoio ao mais carenciados.

Ainda em relação ao aspecto pedagógico da campanha, Ho Iat Seng referiu que “já não é possível modificar o programa político, mas, se for eleito, estas experiências poderão servir de referência para a elaboração do planeamento das linhas de acção governativa dos próximos anos, e no melhoramento das políticas”.

No que diz respeito aos dias de licença de maternidade remunerada, Ho Iat Seng reconheceu que a proposta do Governo não corresponde à exigência de 90 dias apresentada pela AGMM. Quanto à divergência da extensão da licença, o futuro Chefe do Executivo não expressou a sua opinião, uma vez que é ainda candidato e, como tal, deve respeitar as decisões do Executivo liderado ainda por Chui Sai On, mas lembrou que a proposta continua na Assembleia Legislativa.

Quanto à igualdade do género, Ho Iat Seng entende que em Macau as mulheres são tão respeitadas quanto os homens e que demograficamente até são em maior número. Uma resposta que não tem relação com a igualdade de género.

Na saúde e na doença

Questionado sobre a utilização dos vales de saúde, Ho Iat Seng referiu que, nos últimos anos, os problemas quanto ao uso deste benefício foram melhorando aos poucos. Ainda assim, face à evidência de os vales serem usados para compras de produtos sem qualquer relação com saúde, o candidato entende que há margem para aperfeiçoar a forma como são aplicados. Sem colocar em causa a continuidade do apoio, para evitar incómodos aos residentes, Ho Iat Seng acredita que o seu Executivo pode melhorar e equilibrar a aplicação e uso dos vales de saúde.

Ontem, o candidato visitou também o Complexo dos Serviços de Apoio ao Cidadão Sénior, onde destacou a necessidade de aposta nos cuidados a doentes diagnosticados com demência.

Cimeira G7 | Agenda com Irão, divisão sobre Rússia e estreia de Boris Johnson

Amanhã e domingo, a cidade francesa de Biarritz recebe a cimeira do G7 com um forte aparato de segurança. O retorno da Rússia ao restrito grupo dos sete tem sido um dos temas prévios mais quentes, depois do afastamento de Moscovo provocado pela anexação da Crimeia e a ofensiva na Ucrânia. Outro foco de interesse vem de Londres. Com o Brexit por resolver, Boris Johnson faz a sua estreia no restrito grupo de líderes

 

[dropcap]E[/dropcap]ste fim-de-semana, volta a realizar-se a cimeira do G7, desta vez em Biarritz no sul da França, onde se vão reunir os dirigentes do Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Estados Unidos e Reino Unido, União Europeia e Nações Unidas. Porém, é de uma ausência que se tem falado nos dias que antecedem um dos mais importantes eventos da agenda política internacional.

O regresso da Rússia à mesa tem sido o aperitivo servido antes do banquete, depois do afastamento em 2014 na sequência na anexação da Crimeia e da ofensiva militar russa na Ucrânia. Por enquanto, do lado de Putin está o já habitual aliado Donald Trump, enquanto Macron entende que o regresso da Rússia é algo a debater, mas apenas face ao cumprimento do Acordos de Minsk, que implica o cessar fogo no leste da Ucrânia para colocar um ponto final num conflito que dura há cinco anos e meio.

A chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disseram ontem em Berlim ser prematuro considerar o regresso da Rússia ao G7, uma ideia avançada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.

Merkel reconheceu alguns “movimentos ténues” na aplicação dos acordos de paz na Ucrânia Oriental”, numa conferência de imprensa com o seu homólogo britânico Boris Johnson. “Se houvesse progressos com certeza que teríamos uma situação nova”, acrescentou Angela Merkel, referindo que “não foi possível avançar mais”.

Boris Johnson, que efectuou à Alemanha a sua primeira deslocação ao estrangeiro desde que assumiu a chefia do Governo britânico, no passado dia 26 de Julho, concordou com as palavras da chanceler alemã. “Penso da mesma maneira que a chanceler, que a situação que permitirá o regresso da Rússia ainda está por concretizar”, vincou.

O primeiro-ministro britânico destacou as “provocações” da Rússia não somente na Ucrânia, mas em múltiplas outras ocasiões, citando “o uso de armas químicas em solo britânico”, em Salisbury, quando um ex-agente duplo russo e a sua filha entraram em coma após terem entrado em contacto com o agente neurotóxico Novitchok, em Março de 2018. A Rússia negou sempre a sua implicação no caso.

Prazo final

Uma das novidades da cimeira deste fim-de-semana é a presença de Boris Johnson, o novo primeiro-ministro britânico. Antes da viagem para o sul de França, o sucessor de Theresa May foi a Berlim para discutir o Brexit.

Apesar de ter referido inúmeras vezes que não vê inconveniente numa saída da União Europeia sem acordo, Johnson foi desafiado por Angela Merkel a encontrar uma solução num prazo de 30 dias para evitar a saída sem acordo. A proposta da chanceler alemã volta a colocar a responsabilidade em Londres.

Depois de semanas de profunda tensão diplomática, Merkel aproveitou a reunião com Johnson na passada quarta-feira para demonstrar algum optimismo cauteloso quanto à possibilidade de se chegar a um acordo.

Porta aberta

“É relevante que a Rússia possa, a prazo, aderir ao G8″, disse ontem o Presidente francês Emmanuel Macron aos jornalistas durante uma conferência de imprensa no palácio presidencial do Eliseu, em Paris, explicando, no entanto, que “a condição prévia essencial é que seja encontrada uma solução em relação à Ucrânia com base nos acordos de Minsk”.

As declarações de Macron surgem no dia seguinte ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter defendido novamente o regresso da Rússia a este grupo de países, que desde que a Rússia saiu passou a ser conhecido como G7. “Faz muito mais sentido ter a Rússia”, disse Donald Trump em declarações aos jornalistas na Casa Branca na terça-feira, acrescentando que “poderia muito bem apoiar” o regresso da Rússia ao G7, que assim passaria novamente ao formato de G8.

Em Junho do ano passado, Trump já tinha defendido o regresso da Rússia ao grupo, introduzindo então mais um elemento de tensão nas relações entre os Estados Unidos e estes parceiros, então no auge da guerra comercial. “Porque é que estamos a ter uma reunião sem a Rússia na reunião”, questionou então o líder norte-americano, acrescentando: “Eles deviam deixar a Rússia voltar porque devíamos ter a Rússia na mesa de negociações”.

Pontos prévios

Macron recebe hoje em Paris o ministro dos negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, de acordo com a agência de notícias iraniana, citada pela sua congénere francesa. “Vou ter uma reunião com os iranianos nas próximas horas, antes do G7, para tentar propor coisas”, disse o chefe de Estado aos jornalistas que cobrem a Presidência francesa.

A França faz parte do acordo nuclear iraniano que foi celebrado em 2015 e liderou os esforços europeus para salvar o acordo desde a retirada unilateral decidida pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Maio do ano passado, que levou à restauração, pelos norte-americanos, de sanções contra o Irão.

O acordo alcançado entre o Irão e o grupo de países composto pela China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha permitiu levantar algumas das sanções contra Teerão, em troca do compromisso do Irão não adquirir armas nucleares, mas perante a incapacidade de os países ajudarem o Irão a contornar as sanções determinadas por Washington, Teerão deixou, em Julho, de cumprir alguns dos seus compromissos.

De acordo com a agência de notícias iraniana, o ministro dos Negócios Estrangeiros começou uma viagem diplomática mundial, que o levou já ao Koweit, no sábado, e que inclui a Finlândia, Suécia e Noruega, antes da França e da China, país que visitará “na próxima semana”.

Guterres biológico

O secretário-geral das Nações Unidas vai participar na cimeira do G7, seguindo depois para uma conferência sobre o desenvolvimento africano, no Japão, e ficará três dias na República Democrática do Congo para mobilizar apoio contra a epidemia de Ébola. De acordo com Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres, o secretário-geral da ONU arranca hoje de Washington para participar, no fim-de-semana, na cimeira do G7, na qual intervirá em sessões sobre a biodiversidade e os oceanos, o combate às desigualdades e as parcerias entre África e a região do Sahel. Depois, o antigo primeiro-ministro português rumará para Oriente, onde participará, no dia 27, na sétima Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento Africano, tendo prevista uma reunião com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. O porta-voz de Guterres anunciou ainda que o secretário-geral aterrará na República Democrática do Congo no dia 31 para uma visita de três dias, que inclui a deslocação a um centro de tratamento de Ébola e uma reunião com o Presidente Felix Tshisekedi.

Manifestantes barricam-se em estação de metro de Hong Kong contra polícia anti-motim

[dropcap]C[/dropcap]entenas de manifestantes barricaram-se ao princípio da noite contra a polícia anti-motim numa estação de metro de Hong Kong, para assinalar um mês sobre o violento ataque contra dezenas de manifestantes por alegados membros do crime organizado.

O protesto realizado hoje na estação de Yuen Long, estava a ser pacífico até à chegada de carrinhas policiais. Alguns manifestantes muniram-se de chapéus de protecção da construção civil e máscaras de gás, enquanto outros usavam extintores, e espalharam detergente, cerveja e óleo na entrada da estação para tentar a entrada da polícia.

Há um mês, gangues de homens armados com cassetetes, hastes metálicas e tacos de beisebol, vestidos com ‘t-shirts’ brancas, espancaram manifestantes pró-democracia que estavam a regressar a casa depois de um protesto. O ataque de 21 de Julho deixou quase 50 pessoas feridas, incluindo transeuntes, alguns dos quais foram gravemente afectados. Nessa altura, muitas vozes se levantaram para criticar a polícia, acusada de ter demorado mais de uma hora para chegar ao local, sem ter detido qualquer atacante.

O chefe da polícia, Stephen Lo, qualificou como “difamação” a ideia de um possível conluio entre as forças de segurança e as tríades, e garantiu que os agressores seriam processados. Este ataque atingiu a confiança do povo de Hong Kong nas autoridades públicas.

Os protestos, que duram há nove semanas, focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria a extradição de suspeitos para a China.
A lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes.

Os manifestantes exigem a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão de Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

Indústrias MICE | Macau com prémio melhor cidade da Ásia em 2019

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau anunciaram ontem que o território venceu um prémio de melhor cidade para encontros, incentivos, conferências e feiras (indústrias MICE, na sigla em inglês) da Ásia em 2019.

A primeira edição do evento, que decorreu em Singapura na terça-feira e que foi organizado pelo Northstar Travel Group, distinguiu o território com o prémio “Melhor Cidade MICE da Ásia, apontou em comunicado o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau.

Para este galardão contribuiu o facto de a RAEM ter tido uma alta avaliação das instalações de hardware e software MICE e dos serviços de Macau, em conjunto como “o apoio e cooperação dos diversos sectores da sociedade”, lê-se no comunicado.

“No futuro, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau irá continuar a promover o desenvolvimento da indústria de convenções e exposições de Macau em conjunto com o sector MICE, no intuito de introduzir mais convenções e exposições de boa qualidade em Macau, permitindo que mais organizadores de MICE conheçam as vantagens de Macau para a realização de convenções e exposições”, acrescenta a nota de imprensa.

Em 2018, segundo dados divulgados pelo Governo de Macau, o território realizou “um total de 28 reuniões com uma escala de mais de 1.000 pessoas”, um aumento de 50 por cento em relação ao período homólogo de 2017.

No mesmo ano, chegaram ao território mais de 35.000 comerciantes para participarem em convenções e exposições.

Estranho, muito estranho 

[dropcap]É[/dropcap] interessante acompanhar, ainda que ao longe, esta campanha do candidato Ho Iat Seng ao cargo de Chefe do Executivo. Comparando com a campanha do actual Chefe do Executivo de 2014, a única que acompanhei como jornalista, parece-me que Ho Iat Seng está a ser um candidato mais próximo das pessoas que comenta tudo o que acontece.

Não sei se esta característica lhe pode ser favorável, uma vez que comenta alguns assuntos ainda ligados ao Governo de Chui Sai On e penso que não lhe fica bem fazê-lo.  Relativamente ao encontro com membros da comunidade lusófona, é de ressalvar o facto de Ho Iat Seng ter procurado encontrar-se com estas pessoas mesmo depois do que aconteceu na Assembleia Legislativa, relativamente à não renovação do contrato dos juristas Paulo Cardinal e Paulo Taipa.

Mais surpreendida fiquei pelo facto de este assunto não ter sido abordado por nenhum dos presentes, nem outros relativos à comunidade portuguesa em si. José Pereira Coutinho, que é conselheiro das comunidades portuguesas, optou por ficar calado, pois quis dar a hipótese a outros. Estranho, quando é alguém habituado aos holofotes. Aguardemos pelos episódios que restam desta campanha eleitoral.

Uma erótica da arte?

[dropcap]A[/dropcap] três dias de dar uma palestra sobre o Belo e as suas categorias, e a desvalorização ou a pertinência destas como elementos-chave na educação, sobretudo no enquadramento duma cidade cariada e necessitada de sacudir a orfandade de parâmetros estéticos e de valores urbanísticos, como Maputo, permaneço, como de resto sempre, indeciso.

Por um lado, acho pobres (muito pobres) e confusos os argumentos de Arthur Danto contra a beleza, à qual prefere a semântica, e creio que com demasiada facilidade se resvala para os domínios do Kitsch ou do Camp quando se pretende denigrir a beleza.

Depois não deixam de me atrair estas duas ilusões:

Camus em “O homem rebelde”, sustentava que “a beleza não faz revoluções, mas chegará o dia em que as revoluções necessitarão da beleza”; para ele a beleza prepara o caminho da dignidade do homem e do mundo em que vive.

Também o insuspeito Wittgenstein assume uma conexão entre beleza e felicidade, referindo-a expressamente à arte: “Porque há algo certamente na concepção de que o fim da arte seja o belo. E o belo é o que nos faz felizes”.

Qualquer destas posições me parecem ingénuas mas argutas, ou antes: consoladoras (contra o grande cetáceo que é a morte, e não concebo a arte alheada desse nó), embora a posição que mais me agrade seja a de Susan Sontag, no seu célebre ensaio, Contra a Interpretação, onde é defendido que em lugar de uma hermenêutica necessitamos de voltar a uma “erótica da arte”, recuperando por uma vez o fio dos sentidos, esgarçados.

A arte serviria então para recuperar os sentidos, ver mais, ouvir mais, sentir mais, vendo como é o que é e não tanto o que significa.

O esteta e músico Sixto J. Castro, numa comunicação em que enumera as diferentes perspectivas face ao desiderato, avança com uma tímida sugestão que não me parece despicienda:

«A neurologia contribuiu para assentar neste particular: os juízos estéticos de beleza provocam a activação de uma rede neuronal que de comum subjaz aos julgamentos avaliativos, de modo que sempre se combina um Substrato Neural nos julgamentos sociais e morais.

E sendo a beleza uma âncora a que a arte se encostou ao longo de sua história, como um dos factores que lhe permitiram desempenhar o importante papel que protagonizou nas nossas sociedades, não será isso um motivo suficiente para resgatar a beleza na teoria da arte?»

Talvez não, talvez sim. Mas, enquanto aguardo por uma pontada de discernimento, contra a perda de “aura” do Walter Benjamin – com certeza, um dinamitador da unicidade que cunhava a beleza – elaborei este argumento: se uma obra de arte pertence ao passado, na medida em que foi executada num tempo histórico x, a sua “beleza” será avaliada no momento presente do juízo do seu observador; ora, embora a sua recepção artística seja dependente da ulterior definição e evolução da arte, há casos em que nem isso a abala: é o que se constata com Venere degli stracci, de Michelangelo Pistoletto, que podemos descrever como uma cópia de mármore de uma estátua de Vénus semi-oculta por uma montanha de trapos. A intenção da peça é política e, sendo ao mesmo tempo um libelo contra a sociedade de consumo/do lixo, coloca no devido lugar a irrelevância em que as categorias antigas da arte (como o Belo) estacionaram, sinalizando mesmo a própria figura da “perda de aura”. Mas não deixa de ser irónico que a peça para operar o seu inteiro sentido necessite do contraste de algo que afinal não viu diluída a sua irradiação como memória de coisa bela. Se em lugar de fazer uso de um ícone grego, se Pistoletto utilizasse por exemplo o R-2-D-2, o pequeno robot e um dos principais ícones da saga Star Wars, esse pequeno droide astro-mecânico não se distinguiria do resto do lixo; a Vénus, apesar de ser uma cópia, na razão relacional que compõe a obra, dá-lhe a distancia que torna visível a intencionalidade: é o seu verdadeiro elemento de força, o que lhe dá um carácter.

Suspeito que a “felicidade” desta obra ilustra o que Baudelaire defendia: uma obra-de-arte deve comportar uma metade de novo e outra de eternidade, ao que acrescento, essa dosagem deve revelar-se indivisível. Ao ver e sentir a beleza estamos vendo e sendo um com ela, i. é, imputamos beleza às obras em que identificamos uma correspondência entre o tema e a expressão, entre o conteúdo e a forma, àquelas formas que revelam as relações internas das coisas ou, como dizia Hsieh Ho, que “revelam o ritmo do espírito nos gestos das coisas vivas”. Neste sentido, esclarece-nos o ceilonês Coomaraswamy, a beleza será mais um estado de percepção que nos apanha de golpe (e para alguns seria preciso estar em auto-abandono) do que uma categoria filosófica com mais ou menos oportunidade e vigência.

Seja como for, lembraria o velho Kant: «ante a arte somos responsáveis» – a arte demanda que nos tornemos responsáveis e activos.

De ideia semelhante comungava Marcuse, de quem se cumpriram em Julho último os cem anos do nascimento, e para quem nós éramos responsáveis pelo volume de fantasia que entregamos ao mundo. A fantasia é «a tendência contrária ao princípio da realidade, sem por isso circunscrever-se no sub-consciente nem ser tão-pouco um resíduo do arcaico», posto que a fantasia, continua Marcuse, «surge da conexão de capas do subconsciente e das mais altas produções da consciência… abrindo entre o devaneio e a realidade as maiores perspectivas de liberdade». E quem opera para que tal aconteça? Não exactamente nós, mas o descondicionamento de Eros em nós. Eis-nos remetidos para a tal “erótica da arte” que se propunha a Sontag e que, evidentemente, está nos antípodas do espírito da pornografia que instalou (- livremos, entretanto, a Linda Lovelace de acusações soezes, impoluta ainda que esplendidamente desinocente).

Os novos misticismos

[dropcap]T[/dropcap]entar explicar uma realidade que não caiba nas palavras (ou nas possibilidades mais vastas da linguagem humana) pode conduzir a dizer, não o que ela é, mas aquilo que ela não é. Por outras palavras: em vez de o raciocínio avançar com as características que seriam próprias dessa realidade (e com analogias várias que a sugerissem), prefere antes enumerar o que ela certamente não é (negando e interrogando, ao mesmo tempo). Aplicado a deus, este método denomina-se teologia negativa; na retórica recebeu a feliz designação de apófase.

O ‘Cântico Negro’ de José Régio popularizou a fórmula com versos que se tornaram famosos, o que não deixa de ter a sua graça: “Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí!”. São Tomás de Aquino também recorreu abundantemente a esta prática, mas ela acabou sobretudo por ficar conotada com a tradição mística, caso de Johannes Scheffler (1624-1677), por exemplo.

O Verão, redundantemente apelidado de “silly season”, é um período associado a uma menor densidade de carga informativa. Trata-se de um fenómeno recente que não se adequaria, com toda a certeza, à era de quase ininterrupta devastação que ligou duas das datas fundamentais do século passado: 1918 a 1945. Antes do assassinato de Sarajevo, a alegada “agenda informativa” não tinha o peso, nem o significado de pedra angular que adquiriu dos anos sessenta para cá. De forma que o tráfico comunicacional da expressão “silly season” é filha do presente imediato e seria incompreensível fora das fronteiras da nossa época.

Por vezes, penso na sorte tremenda que é ter vivido, até hoje, sem me ter cruzado com uma guerra (ou com os seus efeitos directos na pele). Por vezes, penso como é frágil pronunciar e comunicar expressões como é o caso dessa idiota “silly season”.

Uma tal expressão quer essencialmente dizer que, entre Julho e Agosto, o mundo deve ser esquecido, removido, desclassificado. A anestesia a que os veraneantes são convidados coloca as greves como um pano de fundo divertido, as mortes no Mediterrâneo como lance para extraterrestres e as quedas nas bolsas enquanto episódios para esquecer a meio do hipnótico ‘zapping’ diário. Por outras palavras: a “silly season” é uma teologia negativa, porque é um modo prático e chão de dizer o mundo pelo que ele não é.

Há contudo algo que não bate certo. A teologia negativa só existe na medida em que os humanos se encontram face a uma realidade que não conseguem traduzir (que não cabe nas possibilidades da linguagem). Quando se traduz, intenta-se uma aproximação entre dois registos, pratica-se amizade. Quando nem se consegue traduzir, é porque estamos face a qualquer coisa de que não sentimos proximidade e que se torna, portanto, inexplicável, distante. A pergunta é: qual é ‘essa coisa’ que os veraneantes não conseguem entender e que os leva em massa para esta espécie de profana e elementar teologia negativa?

A resposta parece-me clara: a turba afirma claramente e sem complexos que não entende, nem pretende entender o mundo e por isso o apaga neste recente ritual dos meses de verão.

Na larga maior parte da história dos humanos, sempre houve grandes perguntas e grandes respostas, isto é: valores óbvios, referenciais. Foi por isso que surgiu a filosofia e foi por isso que surgiram mil e um mandamentos religiosos ou ideológicos, pelo menos desde que, no alvor do mundo moderno, o homem (e não a transcendência) se colocou como objecto por excelência a ser investigado pelos saberes. O nosso tempo saiu dessa fornada de aflições carregadas de sentimento de dever. Os veraneantes querem é que não os chateiem, querem é que os deixem em paz a arrastarem os carros pelas auto-estradas, querem é que os deixem em paz nas procissões pelo deus-património, querem é que os deixem em paz entre o iphone, o fato de banho e o shopping.

Este dissociar do mundo, que se tornou crónico, passou a ter o seu clímax massificado nesta altura do ano (enfim, no hemisfério norte do planeta). Duvido que seja um período de franca realização, é-o muito mais de fluxo, de repetição, de reconstrução das rotinas diárias num novo contexto em que a irracionalidade – como acontecia nas antigas tradições do carnaval – pode dar-se ao luxo de dar uns passos de dança em falso, mas, desta feita, sem temer atropelar o outro. Os meios esquecem-se e os fins cingem-se amiúde às gargalhadas frugais do indígena (a amizade e a ideia de ‘outro’ escapam-se facilmente à voragem).

Para explicar uma realidade que não cabe nas possibilidades das expressões humanas, bastará, pois, colocar à solta um leme negativo. Repetir o que ela não é. Se os místicos o faziam com poemas particularmente elaborados (e muitas vezes foram conotados com ateísmo, refira-se), os humanos de hoje escrevem-nos através das indústrias do lúdico como se elas fossem a redenção de uma qualquer divindade ausente, irremissível e jamais superável.

O misticismo está a renovar-se, como se vê. Para o provar, deixo em baixo dois poemas: o primeiro é um original de Johannes Scheffler, o segundo é de minha autoria, embora literalmente baseado na rescrita do primeiro:

“O Deus Desconhecido.
O que é Deus, não o sabemos: ele não é luz.
Não é espírito.
Não é verdade, nem unidade, nem um, ele não é
Aquilo que chamamos divindade:
Não é sabedoria, não é intelecto, não é amor nem
Querer nem bondade.
Nem uma coisa, muito menos uma não-coisa.
Não é
Uma essência, não é um coração:
Ele é aquilo que nem eu, nem tu, nem nenhuma
Criatura
Antes de ter-se tornado naquilo que Ele é, jamais
Conhecemos.”*

O Mundo Desconhecido.
O que é o mundo, não o sabemos: ele não é uma prancha de surf.
Não é hora de ponta.
Não é androide, nem sindicato das matérias perigosas, nem CGTP, ele não é
Aquilo que chamamos ginásio ou solário:
Não é charter, não é low cost, não é bandeira verde nem
Vilamoura nem festival no passeio marítimo de Algés.
Nem uma coisa, muito menos uma não-coisa.
Não é
Um fio dental, não é um alojamento local:
Ele é aquilo que nem eu, nem tu, nem nenhuma
criatura
Antes de ter-se tornado aquilo que o mundo é, jamais
Conhecemos.


*Tradução Nícia Bonnati em Derrida J, Salvo o nome, Papirus Editora, Campinas, 1995, pp.32/33.

Cinema | Novo filme da saga 007 estreia em Abril de 2020

[dropcap]O[/dropcap] novo filme da saga 007, realizado por Cary Fukunaga chama-se “No time to die” e estreia-se no Reino Unido e nos Estados Unidos da América em Abril de 2020, foi ontem anunciado.

“Daniel Craig regressa como James Bond, 007 em… No Time to Die. Estreia-se no Reino Unido a 3 de Abril de 2020 e a 8 de Abril de 2020 nos Estados Unidos”, lê-se numa publicação na página oficial da saga no Twitter.

“No time to die” é o 25.º filme da saga centrada na figura do agente secreto James Bond, nome de código 007. Esta é a quinta vez que o britânico Daniel Craig interpreta o papel de 007, depois de “Casino Royale” (2006), “Quantum of Solace” (2008), “Skyfall” (2012) e “Spectre” (2015), o filme mais recente da saga, tendo os dois últimos sido realizados por Sam Mendes.

Neste filme, o papel de vilão foi entregue ao norte-americano Rami Malek, cuja interpretação do cantor Freddie Mercury no filme “Bohemian Rhapsody” lhe valeu vários prémios. Do elenco de “No time to die” fazem ainda parte, entre outros, a francesa Léa Seydoux e o britânico Ralph Fiennes.

O argumento de “No time to die” volta a ser da autoria de Neal Purvis e Robert Wade, que escreveram os filmes de James Bond desde “O Mundo Não Chega” (1999). “Goldfinger”, realizado em 1964 por Guy Hamilton e com Sean Connery no papel principal, é o primeiro filme da saga criada por Ian Fleming.

Depois de Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan também deram vida a James Bond.

Exposição | Creative celebra 16º aniversário com “Our Family” a 28 de Agosto

A “Nossa Família” é o tema da mostra colectiva que assinala os 16 anos do Centro das Indústrias Criativas – Creative Macau, pensada como ponto de encontro dos artistas locais em torno de uma ideia comum e um elo de pertença

 

[dropcap]O[/dropcap] Centro das Indústrias Criativas – Creative Macau – celebra o 16º aniversário com a inauguração da exposição colectiva “Our Family” no dia 28 de Agosto, às 18h30. São 29 artistas locais, que se preparam para exibir trabalhos onde interpretam de forma livre o seu conceito de família, restrita ou mais abrangente, nuclear ou alargada, real ou imaginária, presente, passada ou futura.

Foi este o desafio lançado pela coordenadora do Creative Macau, Lúcia Lemos, que definiu o tema familiar como um pretexto para estimular a imaginação dos participantes e oferecer a oportunidade de se exprimirem como entendessem a partir deste conceito. Foi também uma forma de celebrar a família artística local que, ao longo deste tempo, tem passado por aquela galeria.

“O convite foi feito aos membros da associação há alguns meses, com a intenção de assinalar o aniversário da Creative Macau nesta exposição colectiva”. Cerca de três dezenas de autores manifestaram interesse em participar, acabando por ficar vinculados ao projecto 29 artistas no final, cada um incumbido de apresentar uma obra alusiva a essa temática.

“Já recebemos a maior parte dos trabalhos, que são muito diversos e com várias técnicas, como por exemplo pintura, desenho, gravura, fotografia, instalação artística, escultura, vidro, e outros. Foi completamente livre a interpretação do tema”.

A ideia de família pode ser tal como está no título, “mas também pode sugerir uma abstracção do conceito, uma coisa mais psicológica com que cada um se identifique. É aquilo que os artistas quiserem, pode ser um sentimento de pertença, não têm que ser pessoas, podem ser lugares”, explicou Lúcia Lemos.

O comunicado de imprensa refere também que “historicamente, em muitas civilizações, a composição dos membros de uma família podia ser pequena ou enorme, extensiva a animais, escravos e outras figuras reais ou imaginárias. Muitos “retratos de família” desses tempos ficaram registados de diversas formas. E hoje o mundo está a aceitar a emergência de novas estruturas familiares como unidades sociais”.

Artistas locais

Dos trabalhos recebidos, têm surgido ideias fora do normal. A própria coordenadora apresenta também uma visão sua de família nesta mostra e, embora não tenha querido revelar muito, adiantou que se trata de “uma instalação de dois livros, feitos à mão, criados e desenvolvidos por mim”. De resto, o resultado tem sido interessante, contou, “as pessoas fizeram coisas bastante diferentes, umas representaram alguns elementos da própria família, outras interpretaram o conceito de família desde a antiguidade, a origem da família e a religiosidade, há fotografias com elementos bizarros, representação de ícones, ideias zen da mitologia chinesa, recriações da árvore da família, e coisas muito variadas”.

Os trabalhos expostos contam com as assinaturas de Alex Ao, Alice Leong, Anita Fung, António Mil-Homens, Arlinda Frota, Cheong Ut Man, Cristina Vinhas, Denis Murrell, Duarte Esmeriz, Fernando Simões, Francisco Ricarte, Gordon Zheng, Jason Lei, Jovina António, Kai Zhang, Leong Leng, Lo Yuen Yi, Lúcia Lemos, M.Chow, Madalena Fonseca, Maria Sequeira, Mavin Zin, Patrícia Mouzinho, Regina Leong, Ricardo Meireles, Rodrigo de Matos, Sou Chon Kit, Sou Un Fong e Yaia Vai, por ordem alfabética.

Cada artista terá a oportunidade de exibir uma obra, “que pode ser uma pequena composição”, das famílias possíveis no imenso mundo da criação. A mostra vai estar patente ao público até 21 de Setembro.

Metro Ligeiro | Governo apresenta troço Terminal Marítimo – Ocean Garden

Mais de dez anos depois, e de 16 mil milhões de patacas gastos, o Metro Ligeiro de Macau entra em período de testes. Ontem foi a vez dos jornalistas experimentarem a linha que une o terminal marítimo aos Ocean Garden, numa viagem marcada por alguma instabilidade. Antes de 20 de Dezembro, esta linha deverá estar a funcionar, mas para já continua sem se saber o preço das tarifas ou o horário do seu funcionamento

 

[dropcap]A[/dropcap]s portas da carruagem fechavam-se às 15h24 e o Metro Ligeiro de Macau, arrancava da estação do terminal marítimo da Taipa, numa viagem organizada para os órgãos de comunicação social. O trajecto decorre durante cerca de 25 minutos até ao fim da linha, com nove quilómetros de extensão, na estação Oceano. Pelo caminho, passa pelo aeroporto, pelo Cotai e pelo Jockey Club. Este percurso deverá abrir ainda este ano, como tem sido defendido pelo secretário dos Transportes e Obras Públicas Raimundo do Rosário.

Cada uma das 110 carruagens que fazem parte da frota têm capacidade para 100 pessoas, ou “70 se levarem equipamentos”, apontou o coordenador do Gabinete para as Infraestruturas de Transportes (GIT), Ho Cheong Kei, e cada uma das unidades de transporte vai ser constituída por duas carruagens. Em caso de maior fluxo de passageiros, Ho adiantou que pode ser adicionado um modulo idêntico. “Ter quatro carruagens, depende do número de passageiros. Vão ser duas primeiramente, mas se forem muitos passageiros usamos quatro”, esclareceu o coordenador do GIT.

No entanto, o projecto para o Metro Ligeiro e para a aquisição de equipamentos avançaram sem qualquer cálculo sobre o número de passageiros que poderá vir a usufruir da estrutura e uma estimativa a este respeito continua a ser uma incógnita. Quando questionado pelos jornalistas, Ho Cheong Kei apontou que “é uma pergunta difícil, pois não temos um número concreto”.

Cuidado com as curvas

A viagem de ontem foi marcada por alguma instabilidade das carruagens que o responsável pelo GIT atribui à sensibilidade de cada um, refutando a hipótese apresentada pelos jornalistas de que poderia ter como causa a desactualização de equipamentos, já adquiridos há dez anos. “O sentimento [de instabilidade na viagem] é muito pessoal e algumas pessoas são mais sensíveis. Depende do estado da pessoa naquela altura”, apontou. “Macau é uma cidade muito pequena e não há uma grande possibilidade de viajar numa linha directa e de longa duração, além disso não fizemos nenhuma paragem. Se fizermos a paragem a velocidade vai reduzir-se e isso pode ajudar a uma maior estabilidade”, acrescentou tendo em conta o mal-estar sentido por alguns dos jornalistas. O metro ligeiro pode atingir uma velocidade máxima de 80 km por hora.

Tudo controlado

No regresso, foi tempo de fazer uma paragem no parque de materiais e oficinas onde teve lugar uma apresentação do Centro de Operações pelo engenheiro chefe da Mitsubishi, Martin Leung. É numa sala em que são programados e monitorizados, de forma automática, todos os movimentos do Metro Ligeiro. “O ecrã principal divide-se em quatro partes em que se vê o itinerário do metro e as 11 estações com o respectivo nome”, disse, acrescentando que ali é feito o controlo das operações. “O nosso sistema é de alta tensão, podemos ver a situação da electricidade no ecrã, e se for necessário podemos fazer a manutenção ou reparação dos equipamentos”, referiu.

O ecrã central está rodeado por dois conjuntos de televisões que transmitem imagens em tempo real “das estações, das passagens superiores para peões e das carruagens, e podemos escolher as imagens especificas que queremos ver”.

Por saber

Em caso de sinal 8 de tufão as operações do metro serão suspensas. “O vento e a chuva são muito fortes e nesse período [sinal 8 de tufão] iremos suspender as nossas operações”, apontou Leung. Contudo, ainda não existe qualquer previsão quanto à antecedência com que a linha poderá vir a fechar.

Entretanto, e ainda por esclarecer estão as tarifas a cobrar, sendo a referência o preço dos autocarros, a data de constituição da empresa pública de gestão da infraestrutura e a data de abertura do metro. Também por definir está o horário de funcionamento bem como a sua frequência.

Já a linha de Seac Pai Van continua temporariamente suspensa, não havendo previsões para a retoma do projecto.

Turismo | Visitantes gastaram menos 20,7 por cento per capita

[dropcap]O[/dropcap]s gastos médios por visitante durante o 2º trimestre de 2019 – entre os meses de Abril e Junho – foram de 1.583 patacas, menos 20,7 por cento do que no mesmo período de 2018. Entre os que mais despesa fizeram durante a estadia estão os visitantes do Interior da China, Japão, Taiwan e Hong Kong, que deixaram cá 1.796, 1.641, 1.283 e 946 patacas por pessoa, o que representou descidas de 24,1 por cento, 2,4 por cento, 7,3 por cento e 15 por cento, respectivamente.

Por sua vez, as despesas dos visitantes de Singapura (1.803 patacas), da República da Coreia (1.648 patacas), dos Estados Unidos da América (1.387 patacas) e do Reino Unido (1.234 patacas), cresceram em termos anuais.

Segundo os números revelados ontem pela DSEC, a despesa total dos visitantes (excluindo a despesa no jogo) cifrou-se em 15,71 mil milhões de patacas neste último trimestre, ou seja, menos 4,8 por cento, em termos anuais.

Quanto ao tipo de gastos, os visitantes despenderam essencialmente em compras (44,8 por cento do total), alojamento (26,3 por cento) e alimentação (20,8 por cento). Analisando os gastos por motivo de vinda a Macau, observou-se que em termos anuais a despesa per capita daqueles que vieram participar em convenções e exposições aumentou 2,6 por cento (3.926 patacas), mas o dinheiro largado pelos que vieram às compras e passar férias diminuiu 36,9 por cento (2.161 patacas) e 7,6 por cento (2.191 patacas), respectivamente.

Entradas | Número de visitantes cresce mais de 20% até Julho

[dropcap]M[/dropcap]ais de 23 milhões de pessoas visitaram Macau nos primeiros sete meses do ano, um aumento de mais de 20 por cento face a igual período do ano passado, indicam dados oficiais divulgados ontem.

Entre Janeiro e Julho, o número de excursionistas (12.614.555) e de turistas (11.200.311) aumentou 33,6 por cento e 7,7 por cento respectivamente, em termos anuais, totalizando 23.814.866 de visitantes, segundo a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC).

Nos meses em análise, os visitantes permaneceram em Macau por um período médio de 1,1 dias, menos 0,1 dias, em termos homólogos.

A maioria dos visitantes que entraram em Macau, até Julho, vieram do interior da China (16.884.398), mais 21,7 por cento em relação ao período homólogo do ano passado. Já os visitantes da Coreia do Sul (505.512), de Hong Kong (4.329.336) e de Taiwan (632.272)) cresceram 4,6 por cento, 22,1 por cento e 0,9 por cento respectivamente.

Só no mês de Julho, visitaram Macau 3.530.233 de pessoas, um aumento de 18,9 por cento em relação ao período homólogo do ano passado.

Na semana passada, a responsável pela entidade que gere o sector no território afirmou que as agências de viagens estão a excluir Hong Kong dos pacotes turísticos por causa dos protestos e os últimos números continuam a mostrar crescimento de turistas em Macau. “Muitas agências de diferentes países, sobretudo daqueles que têm acesso directo a Macau, estão a fazer uma mudança nos seus pacotes para não incluírem Hong Kong”, afirmou a responsável da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) de Macau, Maria Helena de Senna Fernandes.

Transportes | Encontro empresarial sobre carris vai ligar Portugal à China

Várias associações empresariais europeias e chinesas estão a organizar um inédito evento de ‘networking’ que vai decorrer ao longo de viagens de comboio na China e Europa, abrangendo Lisboa, Porto e Macau

 

[dropcap]O[/dropcap] conceito, designado Business Rail, visa juntar empresários de diferentes sectores e países em viagens de comboio. A próxima edição, que decorre na China, entre 9 e 20 de Outubro, arranca em Pequim e termina em Macau, com passagens por Xangai, Shenzhen e Hong Kong.

Em Macau, os empresários vão participar na Feira Internacional de Comércio e Investimento. Outros itinerários, que se realizarão na Europa, incluem a península ibérica – Barcelona, Madrid, Lisboa e Porto – e a Europa Central – partida em Bruxelas e destino final Roma.

“A ideia é sempre promover Portugal”, disse à agência Lusa o presidente da Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC) e cofundador da iniciativa, Alberto Carvalho Neto. “A grande vantagem de uma viagem de comboio é que podes entrar e sair, mudam as pessoas, e acaba por ser um evento giro a nível cultural e de ‘networking'”, descreveu.

A primeira edição realizou-se na Península Ibérica, em 2018, com partida em Barcelona e destino final no Porto, onde os empresários participaram na Feira Internacional de Negócios.

Rota das carruagens

No futuro, Carvalho Neto quer aproveitar a iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, que inclui a construção de uma malha ferroviária entre China e Europa, através da Ásia Central, para alargar a iniciativa a mais países. “A ideia é que, em 2024, se consigam fazer viagens da China para a Europa: o transiberiano, que demora 10 dias, entre Pequim e São Petersburgo, e outra pelo sul, que passará pelo Cazaquistão, Uzbequistão, Turquia e Arménia”, revelou.

Os empresários não têm que fazer todo o itinerário, podendo embarcar e sair em qualquer umas das cidades abrangidas. A iniciativa é organizada em conjunto pelas associações Centro Internacional de Cultura, Young Entrepreneurs Organization of the European Union e Federação SINO PLPE (Países de Língua Portuguesa e Espanhola).

A partir do próximo ano, Alberto Neto quer alargar o projecto aos países de língua portuguesa. “Quando as pessoas se inscrevem têm de indicar o que estão à procura e por vezes pode haver correspondência dentro da delegação empresarial, mas acima de tudo é importante sabermos o que as pessoas querem e do que estão à procura, para fazermos ligação com as delegações locais”, explicou.

Ensino | Associação de Juventude pede revisão do sistema educativo

[dropcap]O[/dropcap] conteúdo do currículo do ensino secundário de Macau é relativamente fácil comparado com o do Interior da China e de Hong Kong, e os requisitos para ingressar no ensino superior são pouco exigentes, o que torna o ambiente educacional cómodo e diminui a competitividade. Esta foi uma das ideias deixadas na reunião de terça-feira da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau.

De acordo com o jornal Ou Mun, a representante da associação, Lei Ka I, referiu que, actualmente, recursos pedagógicos e os métodos de avaliação estão inadequados face à actualidade. “Os professores usam materiais antigos para ensinar, o que torna difícil a adaptação dos alunos e afecta o seu desempenho escolar e leva à reprovação”.

Os membros associativos sugeriram ainda a implementação de um sistema de avaliação com diversos critérios, além das provas escritas. Chester Ku, agente de aconselhamento da associação, disse que as escolas e o Governo têm de rever o actual sistema educativo, reunir as opiniões e o consenso social, e divulgar atempadamente ao público o procedimento da legislação do “Sistema de avaliação do desempenho dos alunos da educação regular do regime escolar local” para garantir a qualidade pedagógica.

Hotéis | Preço médio por noite subiu 3,9 por cento

[dropcap]O[/dropcap]s turistas que pernoitaram no território, durante o mês de Julho, gastaram mais 3,9 por cento do que os visitantes que vieram em igual período de 2018. A taxa de ocupação também subiu 0,4 por cento, face ao ano anterior, fixando-se nos 93,5 pontos percentuais, segundo os dados recentemente publicados pela Macau Hotel Association.

O preço médio por noite num quarto de hotel em Macau foi, no mês passado, de 1.355,5 patacas. Já o preço médio num hotel de 5 estrelas custou 1.631,2 patacas, subindo 3,3 por cento em relação a Julho de 2018. A maior subida deu-se, no entanto, nos hotéis de 3 estrelas, que cobraram mais 6,8 por cento por quarto do que no ano anterior.

A variação de preços ocorrida nos primeiros sete meses de 2019, foi de mais 2,9 por cento do que no período homólogo transacto, ficando em 1.354,9 patacas a média por quarto. A taxa de ocupação durante estes meses foi de 92,5 por cento, aumentando 1,2 pontos percentuais em relação a 2018.

A Macau Hotel Association inclui, entre os seus membros, a maioria dos hotéis localizados nos resorts dos casinos, que se situam na zona do Cotai. De acordo com as estatísticas oficiais, o território tinha até ao fim de Junho de 2019 cerca de 37.900 quartos de hotel e 800 quartos de pensão registados. Dois terços do inventário dos hotéis corresponde a unidades de 5 estrelas.

IPM | Cerca de mil novos alunos recebidos para ano lectivo 2019-2020

Cerca de mil novos alunos vão frequentar cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento no ano lectivo de 2019-2020 no Instituto Politécnico de Macau, anunciou a instituição na terça-feira

 

[dropcap]O[/dropcap]s novos alunos são oriundos de Macau, da zona da Grande Baía e dos países localizados ao longo da linha da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, indicou o IPM, num comunicado divulgado por ocasião da cerimónia de abertura do ano lectivo, durante a qual foi ouvido o hino da China e içada a bandeira nacional. O IPM atribuiu “bolsas de estudo a mais de 500 alunos”, acrescentou a nota.

Na cerimónia, o presidente do IPM, Marcus Im, reiterou que a instituição vai continuar a cumprir o “princípio pedagógico para o ensino superior ‘Amar a Pátria e Macau, enraizar-se em Macau, servir melhor a sociedade e voltar-se para todo o Mundo'” na formação de quadros qualificados “com competências profissionais e espírito inovador”.

Ao lembrar que os actuais alunos e graduados “obtiveram excelentes resultados nos concursos nas áreas do desporto e da inovação científica e tecnológica”, Marcus Im destacou que o IPM “dá muita importância ao pensamento inovador”, pedindo aos alunos que “procurassem um pensamento independente”.

Os alunos devem aprender a “saber perguntar” e a liderar “com espírito inovador, os progressos da sociedade na nova era, explorando novas áreas e novos rumos com base nos estudos tradicionais, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do país e de Macau”, disse o responsável. O presidente do IPM aconselhou ainda os alunos a “aproveitar bem as oportunidades” decorrentes da “fase chave de desenvolvimento” do país e de Macau, com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e a estratégia da Grande Baía, nas quais a região administrativa especial chinesa tem uma nova missão.

Cadeiras lusas

De acordo com dados enviados pelo IPM à agência Lusa, em Maio, o instituto tem cinco licenciaturas em português: Relações Comerciais Sino-Lusófonas, Administração Pública, Tradução e Interpretação Chinês-Português, Educação Internacional de Língua Chinesa e Língua Portuguesa.

O número de alunos matriculados nesta instituição nos cinco cursos era, àquela data, de cerca de 600, dos quais perto de uma centena era oriundo de países de língua portuguesa.

Nova secretária-geral

Lei Vai Fong foi nomeada secretária-geral do IPM, em comissão de serviço por dois anos. De acordo com despacho de Alexis Tam, publicado ontem em boletim oficial, a académica assume as novas funções a 1 de Setembro. Lei Vai Fong trabalhou no IPM como intérprete e tradutora entre 1996 e 2002. A académica desempenhou ainda funções de Chefe da Divisão de Apoio ao Conselho de Gestão do Instituto Politécnico de Macau e Chefe do Serviço de Estudos e Coordenação de Assuntos do Instituto do IPM. Entre as habilitações académicas, Lei tem mestrado em Administração Pública pela Universidade de Macau.

Pensões ilegais | Governo estuda relatório sobre criminalização

[dropcap]O[/dropcap] gabinete da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, entregou ao Chefe do Executivo o relatório elaborado por um grupo de trabalho interdepartamental sobre a possível criminalização de pensões ilegais. Segundo o jornal Ou Mun, o Governo está a estudar o documento, cujos resultados serão divulgados em breve ao público.

A lei da proibição de prestação ilegal de alojamento entrou em vigor há nove anos, mas casos de criminalidade praticados em pensões ilegais continuaram a acontecer. O relatório em questão, pedido em Dezembro do ano passado, visa avaliar a viabilidade de punir mais severamente quem explora pensões ilegais, de forma a aumentar o efeito dissuasivo.

Recorde-se que existia uma divergência no Executivo quanto a esta matéria. Alexis Tam concorda com a criminalização, enquanto Sónia Chan considera que será um crime “ligeiro” passível de punição com pena suspensa, ou seja, um efeito pouco “rentável” face à duração do processo e à dificuldade de recolha de prova.

Vigília | Jornal Ou Mun defende legalidade da actuação da polícia

[dropcap]O[/dropcap] jornal Ou Mun publicou ontem um artigo de um jurista anónimo a defender a legalidade da operação policial da noite de segunda-feira na zona do Largo do Leal Senado. Em relação às pessoas levadas a instalações policiais a quem foi pedida colaboração numa investigação, o jurista anónimo disse que, “os envolvidos eram suspeitos de participar numa reunião ilegal, portanto, as práticas da polícia não eram inadequadas e abusivas”.

O Ou Mun defendeu ainda que o reforço de polícias para a intercepção de residentes e visitantes no Largo do Senado, era uma medida extrema num período extremo, mas que “se você for ao mesmo local esta noite, ninguém vai verificar a sua identidade”.

Com base na ideia da suspeita que, supostamente, recaiu sobre quem foi conduzido à esquadra, o advogado acredita que “os órgãos de polícia criminal podem conduzir as pessoas ao posto policial mais próximo e compeli-las a permanecer ali pelo tempo estritamente necessário à identificação, em caso algum superior a seis horas”.

Dados pessoais | GPDP continua a analisar instalação de câmaras na UM 

O Gabinete de Protecção de Dados Pessoais ainda não concluiu a análise ao caso de instalação de câmaras de videovigilância na Universidade de Macau. A reitoria do estabelecimento de ensino superior assegura que as câmaras que foram instaladas nas salas de aula funcionam apenas durante a realização dos exames

 

[dropcap]E[/dropcap]stá longe de terminar o processo de análise ao caso das câmaras de videovigilância que foram instaladas em vários espaços da Universidade de Macau (UM), incluindo salas de aula. Em resposta a uma interpelação escrita do deputado José Pereira Coutinho, o reitor da UM, Song Yonghua, garantiu que o processo ainda está a decorrer, sem que tenha sido avançada uma data para a sua conclusão.

“O Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) vai publicar atempadamente o resultado do acompanhamento. O GPDP comunicou à UM, a 5 de Junho de 2019, que foi criado um grupo de trabalho especial para o assunto da instalação do sistema de CCTV na universidade, o qual tomará a iniciativa para efectuar, de modo adequado, a intervenção antecipada e a apreciação respectiva.”

Além disso, a reitoria assegura que, mesmo que o GPDP não proceda a investigações in loco, tem acesso a todos os dados. “De um modo geral, o GPDP não efectua inspecção por sua iniciativa mas tem informações concretas sobre a instalação de câmaras de videovigilância na UM, incluindo o número de câmaras no campus da UM na Ilha de Hengqin.”

Centenas de objectivas

A UM avançou com os números: “Até Junho de 2019, no campus da UM, estão instaladas 307 câmaras nos espaços públicos exteriores, incluindo 144 nos muros da fronteira.”

No que diz respeito às salas de aula, existem 19, mas a UM reconsiderou a sua utilização permanente, uma vez que esta medida “não era urgente”. “A UM instalou 19 câmaras de videovigilância em salas de aula que são utilizadas como locais para a realização desses exames, sendo que estas câmaras são apenas utilizadas durante os exames”, acrescentou o reitor da UM.

Esta questão gerou um debate em Junho, tendo levado o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, a exigir explicações à UM sobre o sucedido.

Brasil | Número de incêndios dispara este ano, com especial foco na Amazónia

A época das queimadas deste ano está a devastar a floresta amazónica a um ritmo assustador. Além disso, os dados mostram um aumento considerável da desflorestação. Depois de dizer que os alertas da comunidade científica quanto às alterações climáticas são paranoia, Jair Bolsonaro insurgiu-se contra as alcunhas “Capitão Motosserra”, por favorecer a indústria madeireira em detrimento do ambiente, e “Nero” da Amazónia

 

[dropcap]A[/dropcap]gora estou sendo acusado de tocar fogo na Amazónia. Nero! É o Nero tocando fogo na Amazónia.” Foi assim que o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, reclamou contra as acusações de nada fazer perante os incêndios que estão a consumir vastas áreas do pulmão da Terra.

O número de incêndios no Brasil cresceu 70 por cento este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, tendo o país registado 66,9 mil fogos até ao passado domingo, com a Amazónia a ser o bioma mais afectado. De acordo com a imprensa brasileira, que cita dados do “Programa de Queimadas” do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma (conjunto de ecossistemas) mais afectado é o da Amazónia, com 51,9 por cento dos casos, seguindo-se o cerrado – ecossistema que cobre um quarto do território do Brasil – com 30,7 por cento dos fogos registados no ano.

O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ficando atrás em extensão apenas da floresta amazónica, com dois milhões de quilómetros quadrados.

Segundo o portal de notícias UOL, em números absolutos, Mato Grosso é o estado com mais focos de incêndio registados no Brasil, com 13.109, seguido pelo Pará, com 7.975.

No início de Agosto, o governo do Amazonas decretou uma situação de emergência no sul do estado e na Região Metropolitana de Manaus devido ao “impacto negativo da desflorestação ilegal e queimadas não autorizadas”.

“O Amazonas registou, de Janeiro a Julho deste ano, 1.699 focos de calor (focos com temperatura acima de 47°C, registados por satélite, que indicam a possibilidade de fogo). Destes, 80 por cento foram registados em Julho, mês em que teve início o período de estiagem”, declarou o estado do Amazonas no seu ‘site’.

Depois de o Amazonas decretar a situação de emergência, o governo do Acre declarou, na sexta-feira passada, estado de alerta ambiental, também devido aos incêndios em matas.
O número de focos de incêndio no país já é o maior dos últimos sete anos.

Ao jornal Estadão, o pesquisador Alberto Setzer explicou que o clima em 2019 está mais seco do que no ano passado, o que propicia incêndios, mas garante que grande parte deles não têm origem natural. “Nesta época do ano não há fogo natural. Todas essas queimadas são originadas em actividade humana, seja acidental ou propositada. A culpa não é do clima, ele só cria as condições, mas alguém coloca o fogo”, afirmou Setzer. A expectativa do especialista é que a situação piore ainda mais nas próximas semanas com a intensificação da seca.

Capitão motosserra

Quando no final do ano passado, os fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) multaram 11 empresas madeireiras por atropelos ambientais na Amazónia, a reacção dos empresários, e funcionários desta indústria, foi protestar empunhando cartazes com menções a Jair Bolsonaro. Numa nota quase cómica, os madeireiros apelidaram a acção do IBAMA como “activismo ambiental xiita”, deixando de lado o ambientalismo sunita.

Depois citações que teorizam que existe uma conspiração internacional para dominar a Amazónia, como “o Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer”, o mandato de Bolsonaro aumentou a margem de acção da indústria madeireira. Prova disso mesmo é o relato cada vez mais frequente de agressões contra fiscais e agentes do IBAMA desde que Bolsonaro ganhou as eleições, incluindo ameaças de morte e ataques contra veículos e instalações.

Como tal, não é de estranhar que a desflorestação na Amazónia brasileira em Julho de 2019, comparando com o período homólogo de 2018, tenha aumentado 15 por cento, totalizando 5.054 quilómetros quadrados, de acordo com a organização Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia (Imazon).

O aumento da área desflorestada foi calculado pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) operado pela organização não governamental (ONG), que não depende do Governo brasileiro.

Apenas em Julho de 2019, o SAD detectou 1.287 quilómetros quadrados de desflorestação na Amazónia Legal, um aumento de 66 por cento em relação a Julho de 2018, enquanto o corte de floresta ocorreu numa área de 777 quilómetros quadrados. A desflorestação, em Julho de 2019, registou-se no Pará (36 por cento), Amazonas (20 por cento), Rondónia (15 por cento), Acre (15 por cento), Mato Grosso (12 por cento) e Roraima (2 por cento).

A Amazónia Legal engloba nove estados do Brasil pertencentes à bacia Amazónica (Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondónia, Roraima e parte de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão), que têm em parte do território autorização para algumas actividades humanas.

“As florestas degradadas na Amazónia Legal somaram 135 quilómetros quadrados em Julho de 2019, enquanto em Julho de 2018 a degradação florestal detectada totalizou 356 quilómetros quadrados, uma redução de 62 por cento”, destacou a ONG.

O Imazon classifica como floresta degradada áreas em que há “um distúrbio parcial na floresta causado pela extração de madeira e ou por queimadas florestais”. O estudo também indicou que, em Julho de 2019, a maior parte (55 por cento) das acções de desflorestação ocorreu em áreas privadas ou sob diversos tipos de posse. O Imazon detectou que 20 por cento da desflorestação mapeada em Julho foi registada em assentamentos (áreas em que vivem pessoas sem nenhum tipo de posse da terra), unidades de conservação (19 por cento), que são áreas públicas mantidas para a preservação ambiental, e outros 6 por cento em terras indígenas.

Tudo falso, claro

Jair Bolsonaro, questionou na segunda-feira as estimativas oficiais que revelaram um aumento de 88 por cento da desflorestação na Amazónia, face ao mesmo período de 2018, criticando os países que querem interferir na política ambiental brasileira.

“Não acredito que os dados que saíram no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sejam verdadeiros. Tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e por ponto final nessa questão”, afirmou o chefe de Estado durante uma reunião com a imprensa estrangeira em Brasília, chegando a insinuar que o presidente daquele instituto poderia estar “ao serviço de alguma ONG”. Importa esclarecer que o Inpe é uma instituição pública federal, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

“Em primeiro lugar, a Amazónia é do Brasil, e quem tem de saber dela somos nós, e não vocês”, acrescentou o Presidente, dirigindo-se a jornalistas estrangeiros que o questionaram sobre a sua política ambiental.

Confrontado com os números, o chefe de Estado brasileiro declarou que existe uma “psicose ambiental” no país sul-americano. “Se formos somar o desmatamento que dizem que existiu nos últimos 10 anos, a Amazónia já acabou. Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo. (…) Somos o país que mais preserva”, declarou Bolsonaro.

O mandatário acusou ainda os últimos Presidentes, referindo directamente Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff, de “fracos”, “antipatriotas” e “corruptos”. “Vocês de fora estão com saudades dos Governos corruptos e descomprometidos com o Brasil. É isso que vocês querem aqui. Se fosse outro Presidente, depois de Osaka, já teria mais 50 reservas indígenas demarcadas de forma subserviente. Isso mudou, têm que entender que isso mudou”, acrescentou o governante, referindo-se à cimeira do G20 que se realizou no Japão.

Fundo ao fundo

O ministro do Ambiente brasileiro, Ricardo Salles, anunciou na semana passada a suspensão do Fundo Amazónia após a Noruega, principal doador para a protecção da floresta amazónica, ter anunciado o bloqueio de 30 milhões de euros destinados ao Fundo.

O país escandinavo acusa Brasília de “já não querer parar a desflorestação” e de ter “rompido o acordo” com os doadores do Fundo para a Preservação da Floresta Amazónica, para o qual Oslo já transferiu 828 milhões de euros desde a sua criação, em 2008.

“O Brasil rompeu o acordo com a Noruega e com a Alemanha desde que suspendeu o conselho de administração e o comité técnico do Fundo Amazónia”, afirmou o ministro do Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, ao jornal norueguês Dagens Naeringsliv (DN). “O Brasil não pode fazer isso sem que a Noruega e a Alemanha concordem”, acrescentou o governante.

Em São Paulo, o ministro do Ambiente brasileiro, Ricardo Salles, declarou que o Fundo está “suspenso”. “As regras do Fundo Amazónia estão em discussão. É natural que qualquer transferência de verbas aguarde o desfecho acerca da definição das regras. (…) O Fundo está suspenso. Portanto, temos que aguardar o resultado”, disse Salles, após reunir-se com ministros do Ambiente dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China).

Recorde-se que desde 2017, Salles é réu num processo movido pelo Ministério Público de São Paulo sob a acusação de alterar ilegalmente o Plano de Manejo da Área de Protecção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, com a intenção de beneficiar interesses privados.

Criado em 2008, o Fundo Amazónia é mantido, maioritariamente, com doações da Noruega e Alemanha, e é gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil (BNDES).

A captação de recursos para o Fundo Amazónia é condicionada pela redução das emissões de gases de efeito estufa oriundas da desflorestação, calculados por um comité técnico, ou seja, é preciso comprovar a redução da desflorestação na Amazónia para viabilizar a captação de verbas.

Em reacção à suspensão da transferência de verbas para o Fundo Amazónia pela Noruega, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, questionou se o país nórdico “não é aquele país que mata baleias e explora petróleo”. “A Noruega não é aquele que mata baleias lá em cima, no Polo Norte? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer-nos. Peguem no dinheiro e ajudem a [chanceler alemã] Angela Merkel a reflorestar a Alemanha”, declarou o chefe de Estado, citado pela imprensa local.

Também a ministra alemã do Ambiente, Svenja Schulze, anunciou, em entrevista ao jornal alemão “Tagesspiegel”, a suspensão do financiamento de projectos para a protecção da floresta e da biodiversidade na Amazónia, no valor de 35 milhões de euros, devido ao aumento da desflorestação na região. “Apoiamos a região amazónica para que haja muito menos desflorestação. Se o Presidente [Bolsonaro] não quer isso no momento, então precisamos conversar. Eu não posso simplesmente ficar a dar dinheiro enquanto continuam a desflorestar”, acrescentou a ministra ao jornal alemão Deutsche Welle.

Bolsonaro reagiu dizendo que o seu país não “precisa” de subsídios alemães.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, com a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios pertencentes ao Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).

China confirma detenção de funcionário do consulado britânico em Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] China confirmou hoje a detenção de um funcionário do consulado britânico em Hong Kong, desaparecido desde 8 de Agosto, numa altura de tensão diplomática entre Pequim e Londres, devido aos protestos na antiga colónia britânica.

Geng Shuang, o porta-voz da diplomacia chinesa, confirmou que o homem está detido na cidade de Shenzhen, que faz fronteira com Hong Kong, por ter violado uma lei chinesa de segurança pública.

Geng não avançou detalhes ou se ele será libertado após uma detenção administrativa de quinze dias, como está previsto na lei chinesa, caso não seja formalizada uma acusação criminal.

“Perturbar a ordem pública” ou “ameaçar a segurança nacional” são acusações frequentemente usadas contra dissidentes e activistas políticos no país asiático, e que podem resultar em duras penas de prisão.

O porta-voz lembrou que o funcionário não é britânico, mas antes natural de Hong Kong. “Isto é, chinês e, portanto, trata-se inteiramente de um assunto interno”, argumentou.

Na terça-feira, o ministério britânico dos Negócios Estrangeiros disse estar “extremamente preocupado” com o desaparecimento do funcionário, durante uma viagem à China continental.

A polícia de Hong Kong confirmou também a abertura de uma investigação sobre um caso de desaparecimento, em 9 de Agosto.

Através da rede social Facebook, a sua família revelou que o funcionário, chamado Simon Cheng, foi a Shenzhen, em 8 de Agosto, para uma reunião de negócios. A família disse que ele passou a estar incontactável à noite, quando atravessava a fronteira para Hong Kong.

Segundo a sua conta oficial no LinkedIn, Cheng trabalhava como director de investimentos e comércio na Scottish Development International, uma agência de investimento da Escócia, no Consulado Geral Britânico de Hong Kong.

O Reino Unido e a China têm trocado algumas acusações, à margem dos quase três meses de protestos na antiga colónia britânica.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A China criticou já o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, no início do mês, após este ter falado com a líder de Hong Kong, Carrie Lam, sobre os protestos, e pedido uma “investigação totalmente independente” à actuação da polícia, para “reconstruir a confiança”.

“É simplesmente errado que o governo britânico fale directamente com a presidente do Executivo de Hong Kong para exercer pressão”, afirmou então um porta-voz da diplomacia chinesa.

No início do ano, a China deteve um empresário e um antigo diplomata canadianos, após a directora financeira do grupo chinês das telecomunicações Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis. Ambos os cidadãos canadianos permanecem detidos por “prejudicarem a segurança nacional”.

MNE britânico “extremamente preocupado” com desaparecimento de funcionário

[dropcap]O[/dropcap] ministério britânico dos Negócios Estrangeiros disse ontem que está “extremamente preocupado” com o desaparecimento de um funcionário do seu consulado em Hong Kong durante uma viagem à China continental.

Em comunicado, o ministério revelou que já pediu informações às autoridades de Hong Kong e da província de Guangdong, no sul da China, sobre o paradeiro do funcionário, que foi detido quando regressava a Hong Kong, a partir da cidade fronteiriça de Shenzhen. A imprensa britânica identificou o funcionário como Simon Cheng Man-kit.

Segundo a sua conta oficial no LinkedIn, Cheng trabalhava como director de investimentos e comércio na Scottish Development International, uma agência de investimento da Escócia, no Consulado Geral Britânico de Hong Kong.

O funcionário deslocou-se a Shenzhen para participar num evento de negócios, em Shenzhen, em 8 de Agosto, mas nunca mais regressou a Hong Kong, apesar do seu regresso estar previsto para o mesmo dia.

As autoridades chinesas não comentaram ainda estas informações. Segundo o jornal Financial Times, Cheng escreveu uma mensagem à namorada a pedir que rezasse por ele antes de ficar incontactável.

Da extradição

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

No início do ano, a China deteve um empresário e um antigo diplomata canadianos, após a directora financeira do grupo chinês das telecomunicações Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis.

Ambos os cidadãos canadianos foram detidos por “prejudicarem a segurança nacional”. O Reino Unido e a China têm trocado algumas críticas, à margem dos quase três meses de protestos na antiga colónia britânica.

A China criticou já o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, no início do mês, após este ter falado com a líder de Hong Kong, Carrie Lam, sobre os protestos, e pedido uma “investigação totalmente independente” à actuação da polícia, para reconstruir a confiança.

“É simplesmente errado que o governo britânico fale directamente com a presidente do Executivo de Hong Kong para exercer pressão”, afirmou então um porta-voz da diplomacia chinesa.

Contradições

[dropcap]A[/dropcap] coluna de hoje é um elogio à contradição. Na noite de segunda-feira, a polícia lançou uma operação de larga escala na Praça do Leal Senado para controlar um acontecimento que não deixou acontecer. Temeu que uma vigília contra a violência tivesse consequências violentas.

Como tal, e para proteger a estabilidade de Macau, decidiu destabilizar a noite de todos os que circundaram uma das praças mais movimentadas da cidade. De forma a proteger a harmonia que reina no território agiu de forma desequilibrada, detendo pessoas por terem autocolantes em mochilas.

Com o objectivo de conter a contaminação contestatária de Hong Kong, a polícia de Macau fez exactamente o contrário e tentou apagar com gasolina um fogo em vias de extinção. Quem teme o enfraquecimento do segundo sistema, não fica mais descansado com operações policiais deste calibre, nem com o atropelo a direitos fundamentais com justificações que ficam entre a vidência do pré-crime e as razões holísticas de uma harmonia podre, sustentada no medo e na mordaça.

Portanto, sejamos honestos quando apregoamos aos sete ventos as vantagens únicas trazidas pelo segundo sistema. Outro paradoxo no meio disto tudo foi o ajuntamento de malta de camisola branca a cirandar pelas redondezas. Pelos vistos, uma forma de expressão silenciosa e pacífica é o suficiente para meter todos os quadrantes do status quo político e social em pé de guerra. O conceito local de harmonia é qualquer coisa de extraordinário.

Do fazer nada

[dropcap]A[/dropcap]ssim: uma brisa leve, um calor inoportuno, indesejado e imprevisível. Uma rua serena, aliviada pelo abandono de Agosto. Ninguém na rua. Permitam que repita com um leve sorriso nos lábios, único ser humano que tudo pode confirmar, escudado numa esplanada do bairro ainda irredutível: ninguém na rua.

Então a entrega possível. Olhem, amigos: sem dever nem prazo, pegar num livro que de tanto lido e de tanto amado não pode ser desprezado. Todos temos um. Vários, direi. A boa notícia: nunca será o mesmo. Crescem connosco e nós, se formos espertos e sortudos, crescemos com eles. Não tenho dúvidas sobre esta matéria: é urgente um Plano Nacional de Releitura.

Haverá certamente outras prioridades. Mas não agora, não agora que me reencontro com o major Scobie de O Nó do Problema (The Heart Of The Matter) de Graham Greene. Quantas vezes terei lido o livro? Muitas. Conheço-o como a mim próprio, este característico anti-herói greeneano que confunde amor com compaixão. Um homem com uma ambição semelhante a Bartleby, pecador agostiniano na sua doce recusa à vida. O seu objectivo maior é estar sozinho; e só as paixões e Deus estão no seu caminho. O mesmo que o condena.

Mas não quero fazer aqui recensão literária. Este meu Greene, sublinhado e amarfanhado com o uso mas ainda com a possibilidade e a vida para poder fazer mais notas, é apenas um prazer recorrente, como acredito que os melhores prazeres devam ser. E, até deparar com a realidade absurda, a coisa estava a correr bem, um leitor apaixonado com tempo e sentindo a cidade que ainda respira de alívio devido à deserção da população de Agosto. Não, amigos: conhecendo a minha sorte sabia que mais cedo ou mais tarde iria levar com qualquer coisa que me maçasse.

Assim foi: os meus olhos depararam, numa pausa de leitura, com mais um sinal extraordinário destes dias. E assim, eu que estava sem horas nem intenção sentado numa cadeira fui violentamente contrariado naquilo que achava que estava a fazer: nada. Pior: soube que para fazer nada era preciso seguir uma “disciplina” ou “filosofia”. Até várias: a coisa começou na Dinamarca, com algo a que chamaram hygge e que se definia por “ficar em casa sossegado” (a sério). Não contentes com isto, os maldosos escandinavos inventaram uma declinação do conceito e – hop! – apresento-vos ao lagom, uma “filosofia” sueca cuja o princípio maior é o de “ver a vida com moderação”. O leitor dirá: para quem se dedica a querer não fazer nada, tudo isto parece dar muito trabalho. O leitor diz bem, e não está preparado para o que vem: o nyksen, uma “visão” holandesa que, de forma surpreendente, recomenda o que fazer para não fazer nada: vaguear, ouvir música, estar sentado – desde que seja sem propósito.

Até hoje não fazia ideia de que era um exímio praticante de nyksen combinado com todas as outras variantes. Provavelmente terei neste momento direito a um honoris causa. E nem me apetece dizer que o otium romano – a condição filosófica mais sublime – já anda por aí há algum tempo. Não, nem que seja só por hoje a minha irritação com estes dias, em que mesmo o que não tem destino precisa de GPS vai ter que ser interrompida por vontade própria. Até porque tenho muito nada para fazer.