Cimeira G7 | Agenda com Irão, divisão sobre Rússia e estreia de Boris Johnson

Amanhã e domingo, a cidade francesa de Biarritz recebe a cimeira do G7 com um forte aparato de segurança. O retorno da Rússia ao restrito grupo dos sete tem sido um dos temas prévios mais quentes, depois do afastamento de Moscovo provocado pela anexação da Crimeia e a ofensiva na Ucrânia. Outro foco de interesse vem de Londres. Com o Brexit por resolver, Boris Johnson faz a sua estreia no restrito grupo de líderes

 

[dropcap]E[/dropcap]ste fim-de-semana, volta a realizar-se a cimeira do G7, desta vez em Biarritz no sul da França, onde se vão reunir os dirigentes do Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Estados Unidos e Reino Unido, União Europeia e Nações Unidas. Porém, é de uma ausência que se tem falado nos dias que antecedem um dos mais importantes eventos da agenda política internacional.

O regresso da Rússia à mesa tem sido o aperitivo servido antes do banquete, depois do afastamento em 2014 na sequência na anexação da Crimeia e da ofensiva militar russa na Ucrânia. Por enquanto, do lado de Putin está o já habitual aliado Donald Trump, enquanto Macron entende que o regresso da Rússia é algo a debater, mas apenas face ao cumprimento do Acordos de Minsk, que implica o cessar fogo no leste da Ucrânia para colocar um ponto final num conflito que dura há cinco anos e meio.

A chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disseram ontem em Berlim ser prematuro considerar o regresso da Rússia ao G7, uma ideia avançada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.

Merkel reconheceu alguns “movimentos ténues” na aplicação dos acordos de paz na Ucrânia Oriental”, numa conferência de imprensa com o seu homólogo britânico Boris Johnson. “Se houvesse progressos com certeza que teríamos uma situação nova”, acrescentou Angela Merkel, referindo que “não foi possível avançar mais”.

Boris Johnson, que efectuou à Alemanha a sua primeira deslocação ao estrangeiro desde que assumiu a chefia do Governo britânico, no passado dia 26 de Julho, concordou com as palavras da chanceler alemã. “Penso da mesma maneira que a chanceler, que a situação que permitirá o regresso da Rússia ainda está por concretizar”, vincou.

O primeiro-ministro britânico destacou as “provocações” da Rússia não somente na Ucrânia, mas em múltiplas outras ocasiões, citando “o uso de armas químicas em solo britânico”, em Salisbury, quando um ex-agente duplo russo e a sua filha entraram em coma após terem entrado em contacto com o agente neurotóxico Novitchok, em Março de 2018. A Rússia negou sempre a sua implicação no caso.

Prazo final

Uma das novidades da cimeira deste fim-de-semana é a presença de Boris Johnson, o novo primeiro-ministro britânico. Antes da viagem para o sul de França, o sucessor de Theresa May foi a Berlim para discutir o Brexit.

Apesar de ter referido inúmeras vezes que não vê inconveniente numa saída da União Europeia sem acordo, Johnson foi desafiado por Angela Merkel a encontrar uma solução num prazo de 30 dias para evitar a saída sem acordo. A proposta da chanceler alemã volta a colocar a responsabilidade em Londres.

Depois de semanas de profunda tensão diplomática, Merkel aproveitou a reunião com Johnson na passada quarta-feira para demonstrar algum optimismo cauteloso quanto à possibilidade de se chegar a um acordo.

Porta aberta

“É relevante que a Rússia possa, a prazo, aderir ao G8″, disse ontem o Presidente francês Emmanuel Macron aos jornalistas durante uma conferência de imprensa no palácio presidencial do Eliseu, em Paris, explicando, no entanto, que “a condição prévia essencial é que seja encontrada uma solução em relação à Ucrânia com base nos acordos de Minsk”.

As declarações de Macron surgem no dia seguinte ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter defendido novamente o regresso da Rússia a este grupo de países, que desde que a Rússia saiu passou a ser conhecido como G7. “Faz muito mais sentido ter a Rússia”, disse Donald Trump em declarações aos jornalistas na Casa Branca na terça-feira, acrescentando que “poderia muito bem apoiar” o regresso da Rússia ao G7, que assim passaria novamente ao formato de G8.

Em Junho do ano passado, Trump já tinha defendido o regresso da Rússia ao grupo, introduzindo então mais um elemento de tensão nas relações entre os Estados Unidos e estes parceiros, então no auge da guerra comercial. “Porque é que estamos a ter uma reunião sem a Rússia na reunião”, questionou então o líder norte-americano, acrescentando: “Eles deviam deixar a Rússia voltar porque devíamos ter a Rússia na mesa de negociações”.

Pontos prévios

Macron recebe hoje em Paris o ministro dos negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, de acordo com a agência de notícias iraniana, citada pela sua congénere francesa. “Vou ter uma reunião com os iranianos nas próximas horas, antes do G7, para tentar propor coisas”, disse o chefe de Estado aos jornalistas que cobrem a Presidência francesa.

A França faz parte do acordo nuclear iraniano que foi celebrado em 2015 e liderou os esforços europeus para salvar o acordo desde a retirada unilateral decidida pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Maio do ano passado, que levou à restauração, pelos norte-americanos, de sanções contra o Irão.

O acordo alcançado entre o Irão e o grupo de países composto pela China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha permitiu levantar algumas das sanções contra Teerão, em troca do compromisso do Irão não adquirir armas nucleares, mas perante a incapacidade de os países ajudarem o Irão a contornar as sanções determinadas por Washington, Teerão deixou, em Julho, de cumprir alguns dos seus compromissos.

De acordo com a agência de notícias iraniana, o ministro dos Negócios Estrangeiros começou uma viagem diplomática mundial, que o levou já ao Koweit, no sábado, e que inclui a Finlândia, Suécia e Noruega, antes da França e da China, país que visitará “na próxima semana”.

Guterres biológico

O secretário-geral das Nações Unidas vai participar na cimeira do G7, seguindo depois para uma conferência sobre o desenvolvimento africano, no Japão, e ficará três dias na República Democrática do Congo para mobilizar apoio contra a epidemia de Ébola. De acordo com Stéphane Dujarric, porta-voz de António Guterres, o secretário-geral da ONU arranca hoje de Washington para participar, no fim-de-semana, na cimeira do G7, na qual intervirá em sessões sobre a biodiversidade e os oceanos, o combate às desigualdades e as parcerias entre África e a região do Sahel. Depois, o antigo primeiro-ministro português rumará para Oriente, onde participará, no dia 27, na sétima Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento Africano, tendo prevista uma reunião com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. O porta-voz de Guterres anunciou ainda que o secretário-geral aterrará na República Democrática do Congo no dia 31 para uma visita de três dias, que inclui a deslocação a um centro de tratamento de Ébola e uma reunião com o Presidente Felix Tshisekedi.

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